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SANDRA LIA RODRIGUES FRANCO
A MÍDIA IMPRESSA E OS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO
ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
Universidade Metodista de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007
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SANDRA LIA RODRIGUES FRANCO
A MÍDIA IMPRESSA E OS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DO
ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
Tese apresentada em cumprimento parcial às
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social, da UMESP - Universidade
Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de
Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra
Universidade Metodista de São Paulo
Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social
São Bernardo do Campo, 2007
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FOLHA DE APROVAÇÃO
A Tese de Doutorado sob o título
A MÍDIA IMPRESSA E OS ASPECTOS PSICOSSOCIAIS
DO ESTUDANTE UNIVERSITÁRIO
elaborada por Sandra Lia Rodrigues Franco, foi defendida e aprovada no dia 22 de
fevereiro de 2007, perante a Banca Examinadora formada por
Prof. Dr. José Tolentino Rosa UMESP
Profa. Dra. Elizabeth Moraes Gonçalves UMESP
Profa. Dra. Noeli Prestes Padilha Rivas USP/RP
Prof. Dr. Laan Mendes de Barros FCL
____________________________________
Prof. Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra
Orientador
____________________________________
Prof. Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
São Bernardo do Campo, 22 de fevereiro de 2007.
Área de concentração: Processos Comunicacionais
Linha de pesquisa: Comunicação Especializada
Projeto Temático: Comunicação e Tecnologias
Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto, ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.
Carlos Drummond de Andrade
Parabenizo-a, Sandra Lia, pela intuição e
criatividade no empenho de aplicar a EDAO Escala
Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada oriunda de minha
Teoria da Adaptação ao estudo dos problemas relativos
aos fenômenos sociais.
Procurou ampliar a visão do psicólogo clínico, que
necessariamente se ocupa da adaptação individual e
familiar, ao âmbito mais amplo das interações intergrupais.
Coloca, assim, ao alcance de um grande número
de profissionais das ciências humanas um instrumento que,
de outro modo, permaneceria inacessível.
Acredito que sua disciplinada aplicação permitirá
efetuar uma nova mirada, possibilitando vértices de
observação inéditos, propiciando a descoberta de aspectos
originais. E, como a operacionalização favorece a integração
entre a teoria e a técnica, provavelmente serão alcançados
resultados práticos muito aproveitáveis.
Ryad Simon
Agradecimentos
Este processo “criativo-científico” foi acompanhado, direta e indiretamente, por
tantas pessoas, e a todas elas eu dedico meu agradecimento, com carinho e respeito. Há,
porém, algumas a quem gostaria de agradecer de maneira especial e, por isso, deixo seus
nomes registrados para que os leitores possam conhecer um pouco daqueles que estiveram
perto de mim durante este trajeto e, com certeza, permanecem ao meu lado, cada um de seu
jeito, e dentro de suas possibilidades.
Ao Criador, Aquele que habita o meu ser, Aquele que me ensina a essência do
amor.
Aos meus pais (in memoriam), Sylvio Rodrigues e Dra. Vitalina Conceição
Rodrigues, que são o alicerce de minha vida no que tange ao meu caráter, à minha educação e
à minha eterna garra de viver, amar e trabalhar.
Ao meu marido Augusto que, como sempre, abriu mão do seu tempo de lazer e
descanso para me ajudar; ouviu-me de maneira atenta, prestativa, paciente e, incansavelmente,
deu-me continência e irrestrito apoio nos momentos de inquietação.
Aos meus filhos, Gabriel e Gustavo, meus meninos de amor e de ouro que,
muitas vezes, precisaram abaixar o volume dos jogos do computador, do vídeo-game, o
volume da televisão; e, ainda tantas outras vezes, diminuíram o barulho das brincadeiras com
amigos, enfim, reduziram a “bagunça geral”, para não atrapalhar as minhas leituras, as minhas
digitações, os meus pensamentos.
À minha psicoterapeuta, Dra. Maria José Ferreira Mota, que acompanhou e
incentivou meu trabalho através de sua forma tão especial de ouvir, compreender e acolher.
À profa. Dra. Noeli Prestes Padilha Rivas que, por acreditar em meu trabalho,
ajudou-me a abrir portas importantes de minha vida profissional.
Ao jovem Fábio Alexandre de Oliveira, que me auxiliou na idealização e
confecção dos primeiros gráficos desta tese e a quem admiro pela competência e forma
carinhosa de ajudar.
À equipe da Universidade Metodista de São Paulo, em especial às minhas
queridas áreas de estudo: Psicologia e Comunicação Social, iniciando por aquela que tem sido
meu alicerce há tantos anos, aquela que me ensinou coisas essenciais, e me auxiliou na trilha
do dia a dia profissional e pessoal, e à qual devo respeito e admiração:
Psicologia
Ao Prof. Dr. José Tolentino Rosa a quem, carinhosamente, chamo de meu CD
ambulante e, hoje, “pendrive”, devido à sua invejável capacidade de armazenar minhas
dúvidas e informações e à sua forma tão profunda de entender a essência do meu trabalho:
ajudou-me a construí-lo com eficácia, fortificando ainda mais a admiração que tenho por ele,
desde a época em que foi meu professor no Mestrado.
Ao Prof. Dr. Ryad Simon que, ao me “emprestar um pouco” a sua fabulosa
EDAO, e ao me incentivar na ousadia de transportá-la para a área da Comunicação Social,
deixou-me mais segura e, também, mais desejosa de arcar com tal responsabilidade.
À Secretária Elisabeth Chiroto, arrimo de tantos alunos e de tantos professores,
que através de seu trabalho tão íntegro e disponível, esteve sempre no meu coração.
Comunicação Social
Ao Prof. Dr. Sebastião Carlos de Moraes Squirra que, ao me ensinar o beabá
da Comunicação e a entender a mídia de forma mais crítica, ajudou-me transpor os obstáculos
do desconhecido.
À Profa. Dra. Elizabeth Moraes Gonçalves que me deu tantos “puxões de
orelha” e, por outro lado, tantos “colos” que me ajudaram a suportar alguns momentos
críticos, facilitando, desta forma, a minha “entrada” na Comunicação Social.
À equipe da Secretaria Acadêmica que, dentro de seu modo reservado e
carinhoso de me receber, ajudou-me nas questões burocráticas, facilitando a trajetória desde o
momento da minha transferência da Psicologia para a Comunicação Social, até o dia da defesa
desta Tese.
A todos profissionais da Comunicação Social que me apoiaram no
desenvolvimento deste trabalho, pois, ao responder ao questionário com valiosos comentários,
ajudaram-me a obter amplos resultados. Não obstante, fizeram crescer o meu entendimento
sobre essa área tão rica que, se anteriormente, era por mim vista como algo que “apresentava
relação” com a Psicologia, hoje, sinto-a bem próxima, não só enquanto profissional, mas
enquanto pessoa. Este trabalho na área da Comunicação Social tornou-me uma leitora mais
crítica e, portanto, mais questionadora dos bastidores da mídia.
A todos, muito obrigada.
Conteúdos
Introdução...........................................................................................................................
12
1. Justificativa ............................................................................................................
2. Problema da Pesquisa .............................................................................................
3. Hipóteses..................................................................................................................
4. Objetivos..................................................................................................................
5. Material e Método....................................................................................................
Capítulo I Comunicação e Psicologia...............................................................................
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18
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27
Capítulo II A articulação da linguagem nos processos comunicacionais ........................
32
Capítulo III O estudante universitário e suas representações sociais............................... 39
Capítulo IV Eficácia adaptativa de estudantes universitários..........................................
1. Narrativas de Melissa..............................................................................................
2. Narrativas de Tácio..................................................................................................
3. Queixas freqüentes no discurso de universitários....................................................
4. Características psicológicas do discurso de universitários......................................
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66
69
Capítulo V Análise dos resultados dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo
e A Tribuna..........................................................................................................................
73
Parte 1 - Análise da incidência setorial..........................................................................
1. Incidência dos setores adaptativos forma pura.....................................
2. Incidência das mesclas setoriais duplas e trios.....................................
3. Incidência setorial total............................................................................
4. Ranking da incidência setorial.................................................................
5. Abrangência setorial................................................................................
Parte 2 - Análise do setor afetivo-relacional..................................................................
1. Incidência de comportamentos “aceitos” e “não aceitos”........................
2. Análise do setor AR ................................................................................
Parte 3 - Análise da aplicabilidade da EDAO no discurso da mídia impressa...............
Parte 4 - Análise do questionário enviado aos jornalistas..............................................
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128
Capítulo VI Considerações finais.....................................................................................
Conclusões e Sugestões.......................................................................................................
Referências..........................................................................................................................
146
156
162
Anexo 1 Termo de consentimento da pesquisa psicológica
Anexo 2 Questionário enviado aos jornalistas
FRANCO, Sandra Lia Rodrigues. A mídia impressa e os aspectos psicossociais do
estudante universitário. São Bernardo do Campo - SP. Universidade Metodista de São
Paulo- UMESP, 2007.
Resumo
A mídia impressa não especializada apresenta variados assuntos sobre estudantes
universitários e esta tese objetiva verificar que aspectos psicossociais desses estudantes são
abordados com mais freqüência. Para o desenvolvimento da pesquisa foram selecionadas
notícias sobre estudantes de graduação veiculadas pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado
de S. Paulo e A Tribuna. A análise das notícias foi norteada pela Teoria Evolutiva da
Adaptação, de Ryad Simon, mais especificamente, no que tange aos setores adaptativos
afetivo-relacional, produtivo, orgânico e sócio-cultural. Verificou-se que a mídia impressa dá
mais relevância aos setores produtivo e sócio-cultural dos alunos, em detrimento dos setores
afetivo-relacional e orgânico. Com a finalidade de investigar o posicionamento de jornalistas
frente aos resultados da análise setorial, foi-lhes enviado um questionário com base nos
resultados obtidos, e verificou-se que a maioria desses profissionais está ciente da hegemonia
dos setores produtivo e sócio-cultural, mas consideram importante a presença de todos os
setores adaptativos nas notícias publicadas.
Palavras-chave: Comunicação Psicologia mídia impressa estudante universitário
EDAO.
FRANCO, Sandra Lia Rodrigues. La prensa escrita y los aspetos psicosociales del
estudiante universitário. São Bernardo do Campo. Universidade Metodista de São Paulo
UMESP, 2007.
Resumen
La prensa escrita no especializada presenta variados temas sobre estudiantes universitários, y
esta tesis busca verificar que aspectos psicosociales de esos estudiantes son abordados com
más frecuencia. Para el desarrollo de la investigación fueron seleccionadas noticias sobre
estudiantes de graduación, dirigidas por los diários Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo y
A Tribuna. El análisis de las noticias fue orientado por la Teoría Evolutiva de la Adaptación,
de Ryad Simon, más específicamente, en lo que atañe a los sectores adaptativos afectivo-
relacional, productivo, orgánico y sócio-cultural. Se verifico que la prensa escrita da más
relevancia a los sectores productivo y sócio-cultural de los alumnos, em detrimento de los
sectores afectivo-relacional y orgánico. Con la finalidad de investigar el posicionamiento de
periodistas frente a los resultados del análisis sectorial, lês fue enviado um cuestionario con
base em los resultados obtenidos, y se verifico que la mayoría de esos profesionales está
conciente de la hegemonía de los sectores producivo y socio-cultural, pero consideran
importante la presencia de todos los sectores adaptativos en las noticias publicadas.
Palabras-clave: Comunicación Psicología prensa escrita estudiante universitario
EDAO.
FRANCO, Sandra Lia Rodrigues. The printed media and university students’ psycho-
social aspects. São Bernardo do Campo SP. Universidade Metodista de São Paulo
UMESP, 2007.
Abstract
The non specialized printed media shows several pieces concerning university students and
this thesis aims to verify which psycho-social aspects are most frequently included. Selected
news about university students were chosen from Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo and
A Tribuna newspapers. The news analysis was led by the Ryad Simon’s Adaptative Evolution
Theory, especially with the concern of adaptative sectors named relational-affective,
productive, organic and social-cultural. It was verified that the printed media cares more
intensively of the students’ productive and social-cultural sectors rather than the relational-
affective and organic ones. Aiming to investigate the journalists’ way of thinking about these
results, they were requested to fill out a questionnaire and it was verified that the majority of
journalists are aware of the productivity and social-cultural sectors’ relevancy, but still
consider all adaptative sectors’ presence important in their articles.
Index terms: Communication Psychology newspapers - university student - EDAO.
Introdução
Ao ler os jornais com observação atenta ao estudante universitário, percebe-se que
dentre as diferentes matérias veiculadas sobre esses jovens que, em geral, se encontram em
final de adolescência e início de vida adulta, existem diversos assuntos relativos à sua
produtividade. É como se, durante a época de graduação, seu sucesso ou fracasso estivessem
voltados, com maior intensidade, às questões de estudo ou trabalho.
Por outro lado, aspectos como a afetividade, os cuidados com a saúde e também
com a sexualidade parecem portar menor relevância. A mídia impressa, ao noticiar sobre
universitários, sinaliza a intenção de representá-los “positivamente” através daquilo que
produzem (participação em congressos, produções científicas etc) e, por outro lado,
“negativamente”, ao veicular notícias a respeito de seus comportamentos socialmente
inadequados, como “rachas”, “crimes por ciúme”, participação “agressiva” em greves etc.
Tomando como ponto de partida essas observações feitas apenas empiricamente,
torna-se necessário entender de que forma o estudante universitário é, realmente, representado
por essa mídia, ou seja, que imagem é levada ao leitor no que tange aos seus sucessos e
fracassos, sua história de vida, seu modo de pensar, agir, estudar e se relacionar consigo
mesmo, e com o outro.
A idéia de desenvolver este trabalho em Comunicação Social é originária de um
estudo psicológico realizado em serviço de apoio psicopedagógico universitário, denominado
Pronto Socorro Psicopedagógico PSP. Desta forma, é importante que se faça um elo entre as
duas ciências, Comunicação e Psicologia: a Comunicação, ciência que dentre tantas
especificidades, “empresta-nos”, agora, a mídia impressa para análise; e a segunda, a
Psicologia, ciência que sustenta o estudo psicológico anterior, berço do presente trabalho, e
também nos empresta um de seus instrumentos de trabalho, a Escala Diagnóstica Adaptativa
Operacionalizada EDAO (SIMON, 1989). Assim como a pesquisa psicológica anterior fez
uso desta escala, aqui, também, optou-se por utilizá-la, mais especificamente, os seus quatro
setores adaptativos que serão, gradativamente, abordados no decorrer deste trabalho.
O teor que se quer ressaltar neste presente estudo é a incidência setorial que
apresenta maior relevância nas notícias da mídia impressa veiculadas por três jornais: Folha
de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e A Tribuna. Como conseqüência, são tecidas
considerações a respeito da “aplicabilidade ou não” da EDAO nos discursos escritos, haja
vista que esta escala foi, originariamente, elaborada para uso em discursos orais que
contemplam entrevistas psicológicas, anamneses, triagens e indicações psicoterapêuticas.
Não obstante, como se primou por analisar apenas um aspecto da mídia - notícias
sobre universitários - não se discorrerá sobre as diversas teorias da Comunicação Social,
sendo estas analisadas apenas quanto aos construtos teóricos de linguagem, discurso e forma
de abordagem de seus autores, na medida em que proporcionam a intersecção entre
Comunicação e Psicologia.
Visando obter uma coleta ampla, variada e consistente de notícias para a
realização da pesquisa, o instrumento utilizado para a seleção dos exemplares de jornais foi a
“semana construída” (RIFFE; AUST; LACY, 1993, p.93). Por outro lado, a incidência
setorial das notícias foi analisada à luz da Teoria Evolutiva da Adaptação (SIMON, 1989),
mais especificamente, os setores adapativos da EDAO, sendo que ambos os instrumentos
serão descritos em outro momento.
Após a leitura das notícias e análise dos resultados setoriais foi elaborado e
enviado a diversos jornalistas um questionário para verificar a forma de este profissional
entender e se posicionar frente aos resultados obtidos na incidência setorial.
Tomando-se como ponto de partida as situações aqui pinceladas, dá-se início ao
desenvolvimento desta tese que contempla esta Introdução, cujo conteúdo se divide nas
seguintes partes: Justificativa, Problema da Pesquisa, Hipóteses, Objetivos, Material e
Método.
Em seguida, seguem-se três capítulos que se calcam nos referenciais teóricos e
fundamentam sobre os seguintes temas: Comunicação e Psicologia, Articulação da
Linguagem e as Representações Sociais do estudante universitário, respectivamente, 1º, 2º e
3º. capítulos. Quanto aos referenciais teóricos, optou-se por utilizá-los de maneira gradual,
isto é, ao invés de se fazer dos referenciais e respectivos autores um capítulo à parte, eles
foram, pouco a pouco, incorporados a cada capítulo.
O primeiro capítulo - Comunicação e Psicologia - retrata as diversas intersecções
entre as duas ciências, e a forma como as interfaces as aproximam, levando em consideração
o estudo do homem enquanto um ser biopsicossocial e cultural.
O segundo capítulo - A articulação da linguagem nos processos comunicacionais -
aborda a maneira como a linguagem se articula durante os processos da comunicação das duas
ciências e, dentre as suas diversas dimensões, são analisadas a psicológica e a social.
O terceiro capítulo - O estudante universitário e suas representações sociais -
discorre sobre alguns aspectos psicossociais dos jovens que se encontram no período de
graduação, bem como as representações sociais criadas sobre esses estudantes através das
notícias veiculadas pela mídia impressa.
Após esse corpo teórico, chega-se ao quarto capítulo Eficácia adaptativa de
estudantes universitários - que apresenta e discute a pesquisa psicológica realizada junto à
universidade que, conforme já mencionado, propiciou as condições para o desenvolvimento
desta tese.
O quinto capítulo Análise dos resultados refere-se à análise das notícias
veiculadas pelos três jornais acima mencionados e, devido à extensão, foi dividido em quatro
partes:
1. Análise da incidência setorial diz respeito aos resultados obtidos pelos
setores adaptativos;
2. Análise do setor afetivo-relacional concerne, exclusivamente, aos resultados
das notícias sobre o comportamento dos jovens;
3. Análise da aplicabilidade da EDAO no discurso da mídia impressa; e
4. Análise do questionário enviado aos jornalistas e suas considerações sobre as
notícias que a mídia impressa publica sobre universitários.
Após esses capítulos com a revisão da literatura, considerações sobre a pesquisa
psicológica e análise dos resultados, chega-se ao sexto capítulo - Considerações Finais. Para
finalizar a tese, encontram-se as Conclusões e algumas Sugestões para pesquisadores que
tenham por objetivo o estudo dos aspectos psicossociais do ser humano. Em seguida, são
listadas as Referências (ENDNOTE, 1988-2002) que incluem as referências específicas da
tese e aquelas utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa junto ao PSP Pronto Socorro
Psicopedagógico. Em separado, listam-se as referências das notícias utilizadas como material
desta pesquisa.
Finalizando, encontram-se dois anexos: I- Termo de consentimento da pesquisa
psicológica, e II- Modelo do questionário enviado aos jornalistas.
Para melhor situar o leitor, é importante pontuar que o embrião desta tese data do
ano 2001, quando tiveram início os atendimentos a estudantes universitários junto ao serviço
de apoio psicopedagógico de uma universidade particular da Baixada Santista. Mais tarde, em
2002, a pesquisa referente aos atendimentos já estava em andamento sob a supervisão docente
do Programa de Pós-Graduação em Psicologia, da Universidade Metodista de São Paulo. Em
2004, houve a transferência da aluna para o Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Social, da mesma universidade, e optou-se por utilizar os mesmos resultados que ainda não
haviam sido publicados, para verificar de que forma esses jovens se encontram representados
pela mídia impressa.
1. Justificativa
A constante leitura da mídia impressa e a observação de que o universitário parece
ser representado muito mais por aquilo que ele produz do que por sua forma de ser, pensar e
de se relacionar, levou-me a refletir sobre o trabalho que desenvolvi, durante alguns anos,
numa universidade particular da Baixada Santista.
Entre os anos 2001 e 2005, época em que era docente da disciplina de Psicologia
em diversos cursos dessa universidade, alguns alunos costumavam me procurar nos intervalos
das aulas para conversar sobre assuntos e dificuldades de ordem pessoal. Desde o início,
embora encontrasse certa dificuldade para ouvi-los, dado o restrito tempo dos intervalos entre
as aulas e o espaço não adequado para se falar “a dois”, a atitude de escuta já surtia efeito,
pois alguns deles voltavam a me procurar mais tarde, e agradeciam-me como se eu tivesse
resolvido o seu problema; na realidade, nada mais fazia do que ouvi-los, pontuando-lhes,
quando possível, algumas de suas dificuldades, ajudando-os a percorrer o seu próprio
caminho.
Muitos alunos traziam como queixa algum problema acadêmico, porém, após
alguns minutos de bate-papo (como eles diziam), deixavam transparecer conflitos pessoais,
como sentimentos de solidão por estarem longe de casa, dificuldade para lidar com alguns
colegas e com pessoas da família, resistência para aceitar determinações acadêmicas e,
também, inseguranças pessoais e profissionais (no caso daqueles que já atuavam como
profissionais em profissões correlatas e não correlatas ao curso de escolha).
Eram situações rotineiras de um ambiente universitário, porém, quando somadas à
história de vida de cada um, tornavam-se, às vezes, obstáculos para um desenvolvimento
satisfatório tanto acadêmico como pessoal.
Há alguns anos, venho observando e estudando o comportamento do estudante
universitário e tal experiência se fortalece a partir de três vivências diferentes que convergem,
de alguma forma, para essa faixa etária: experiência enquanto docente universitária,
atendimentos a jovens na faixa etária entre 18 a 25 anos (final de adolescência e início de vida
adulta) e, finalmente, minha pesquisa de Mestrado em Psicologia da Saúde, na Universidade
Metodista de São Paulo, sobre o grau de eficácia adaptativa dos alunos do curso de Psicologia
(FRANCO, 2001).
Com base nessas experiências e no desejo de aprofundar meus estudos nessa área,
propus à universidade onde eu era docente que criássemos um serviço de orientação
psicológica aos alunos, Pronto Socorro Psicopedagógico - PSP, ajudando-os, dessa forma, a
encontrar respostas ou soluções adequadas para as diversas situações em que encontravam
dificuldade
Até meados de 2002, quando o Pronto Socorro Psicopedagógico que, doravante
será chamado de PSP, ainda não contava com uma ampla divulgação devido à recente
instalação, muitos daqueles jovens eram ou já haviam sido meus alunos. Era como se essas
pessoas encontrassem um tipo de autoridade que não tivesse apenas a conotação de
obediência ou superioridade; ali, na universidade, essa autoridade era sentida como respeito
ou mesmo idealização para aqueles jovens (PHILLIPS, 1997, pp.105-116). Isto significa que
o fato de ser docente e, ao mesmo tempo, responsável pelos atendimentos, não interferiu na
procura por esse tipo de ajuda ou, se o fez, aconteceu de maneira positiva; era, inclusive,
comum, durante os atendimentos, ouvir dos alunos:
[...] a Psicologia mexe tanto comigo, acho que quando a senhora estava
falando naquele tal mecanismo de projeção, eu me vi direitinho quando a
minha mãe joga a culpa na gente porque ela não se dá com o meu pai[...] ou
ainda: [...] sabe aquele dia que você falou sobre o tal do id, quando a gente
se liga mais em ficar com a galera do que estudar? Eu fiquei até quente, de
tão vermelho. Parecia que eu ‘tava levando uma dura, mas valeu [...]”.
Durante os atendimentos, muitas queixas denotavam dificuldades de ordem
emocional e, quando se referiam a problemas de baixo rendimento deviam-se, às vezes, a
algum tipo de desarranjo emocional, desavenças em casa, dificuldades financeiras e, também,
pouco tempo para estudar. Raramente se constatava que aquelas limitações para o
aprendizado ocorriam por causa de dificuldades de ordem cognitiva, ou mesmo, dificuldade
de organização de pensamento. O que se percebia é que havia uma gama de situações difíceis
naquele momento de suas vidas que os impedia de seguir com tranqüilidade as diversas etapas
dos anos de graduação.
Ora, se o estudante universitário apresenta tantas inquietações em seus aspectos
psicossociais, isto é, na forma de estar no mundo e com ele se relacionar nas mais diversas
situações, será que a imagem do estudante que a mídia impressa leva ao leitor também reflete
essas situações a ponto de propiciar uma ampla visão sobre quem é esse jovem?
Visando dirimir esta dúvida e, possivelmente, contribuir para uma ligação mais
estreita entre Comunicação e Psicologia, julguei necessário fazer uma leitura cuidadosa,
crítica e, cientificamente, mensurada das notícias que envolvem esses jovens estudantes. Não
obstante, cuidar da imagem do universitário, isto é, entendê-lo e, quando necessário, procurar
meios de auxiliá-lo é, também, atentar aos futuros profissionais que, em breve, estarão no
comando de nossas escolas, empresas e sociedade civil.
2. Problema da Pesquisa
O tema desta pesquisa versa sobre os aspectos psicossociais que a mídia impressa,
mais especificamente, o jornal, veicula sobre o estudante universitário. Na pesquisa
psicológica realizada no PSP, foi constatado que, embora o universitário apresente queixas
sobre dificuldades de aprendizagem e/ou dificuldades financeiras e, às vezes, também sobre
algum problema de saúde, o foco da busca de ajuda, em geral, são as situações relativas aos
relacionamentos interpessoais. As queixas sobre aprendizagem, dificuldades para custear os
estudos e saúde também podem aparecer relatadas como o motivo que leva o universitário a
buscar ajuda junto ao serviço de apoio, mas, às vezes, podem encobrir outras dificuldades de
ordem pessoal.
Da mesma forma que essas diferentes queixas podem camuflar a verdadeira
necessidade do pedido de ajuda por parte do aluno, também o corpo docente, em geral,
solicita-lhes atendimento devido a dificuldades cognitivas e, muitas vezes, financeiras. O que
se constata é que, aparentemente, a necessidade da busca de ajuda psicopedagógica nem
sempre é clara e nem sempre reflete a real necessidade do aluno. Isto significa que a imagem
que se tem do estudante universitário, mesmo dentro da universidade, é, muitas vezes, criada
pelos motivos aparentes e não pela sua essência. Enfim, os aspectos produtivos, sociais e
orgânicos são, de forma geral, menos passíveis de preconceitos e constrangimentos e,
portanto, mais aceitos; por outro lado, os aspectos afetivos não podem ser desprezados ou
colocados em segundo plano, pois constituem a essência do ser humano.
Ora, se dentro do próprio ambiente acadêmico, espaço que deveria estar voltado
ao acolhimento do aluno como um todo, existe dificuldade para ver e lidar com algumas
necessidades que vão além da transmissão do conhecimento, isto é, permeiam as questões de
sociabilização, cidadania, bem como inserção no mercado de trabalho, como será o
comportamento de outros âmbitos a que pertencem esses estudantes? Se a época de graduação
é capaz de aflorar ou acentuar os mais diversos sentimentos e, também algumas inquietações
frente às questões acima mencionadas, será que em outros espaços, a situação é a mesma? Em
sendo a mídia, dentre as suas mais diversas especificidades, propagadora da imagem que se
cria sobre os acontecimentos e sobre as pessoas, será que consegue abstrair do universitário
alguns desses aspectos mais profundos ou também fica na superficialidade? Ao noticiar o
universitário, a mídia abarca essas questões pessoais, ou o seu papel é apenas retratar o
universitário como sendo mais um fato, um acontecimento que faz notícia porque produz
ciência, instrumento que mantém o ibope e, portanto, mantém ativo o jornal a que pertence?
3. Hipóteses
Considerando os resultados obtidos na pesquisa psicológica quanto à hegemonia
de aspectos afetivos e produtivos nas queixas dos atendimentos ao jovem universitário, em
detrimento dos aspectos sócio-culturais e orgânicos;
Considerando que as notícias sobre comportamentos inadequados chamam à
atenção do leitor, sendo motivo de constantes comentários nas diversas camadas da sociedade;
Considerando que a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionalizada - EDAO,
devido à sua consistência instrumental, foi de grande valia na identificação dos entraves que
interferem negativamente na vida de estudantes, durante a época de graduação, levantam-se
algumas hipóteses:
1. A mídia impressa, ao noticiar o estudante universitário, prioriza os assuntos relativos
aos aspectos afetivo-relacionais e produtivos desses jovens;
2. Ao abordar notícias sobre o setor afetivo-relacional de universitários, a mídia
impressa dá mais ênfase aos comportamentos considerados inadequados, em
detrimento daqueles socialmente aceitos;
3. A EDAO, utilizada em entrevistas e atendimentos (discurso falado), pode ter sua
utilização ampliada para área da Comunicação Social, no que tange à análise do
discurso da mídia (discurso escrito).
4. Objetivos
. Geral
Através da análise setorial da EDAO, verificar de que forma os jornais Folha de S.
Paulo, O Estado de S. Paulo e A Tribuna fazem a representação social do estudante
universitário e, em que medida este instrumental se adequa à análise da mídia impressa.
. Específicos
1. Identificar qual é o setor da EDAO de maior incidência nas notícias publicadas
pela mídia impressa sobre o estudante universitário;
2. Verificar se, ao abordar notícias sobre o setor afetivo-relacional, a mídia
enfatiza os comportamentos socialmente aceitos, ou se as notícias sobre
comportamentos considerados inadequados são aquelas que veiculam com
predominância;
3. Analisar em que medida a EDAO pode ser útil na área da Comunicação no que
tange ao discurso da mídia impressa; e
4. Verificar o posicionamento de jornalistas frente aos resultados obtidos na
análise da incidência setorial de notícias sobre estudantes universitários.
5. Material e Método
Para o desenvolvimento, bem como posterior análise quali-quantitativa desta
pesquisa, foram utilizados dois instrumentos: a semana construída (RIFFE; AUST; LACY,
1993) e a EDAO (SIMON, 1989). Além desses instrumentos que serviram, respectivamente,
para selecionar as notícias e analisar sua incidência setorial, foi elaborado e enviado a
jornalistas um questionário, com a finalidade de se verificar como esses profissionais se
posicionam frente aos resultados obtidos na análise setorial adaptativa. Tendo em vista os
diferentes instrumentos que ajudaram a construir este trabalho, as questões metodológicas
encontram-se descritas em três etapas, a saber:
1ª. etapa - Seleção dos exemplares dos três jornais e das notícias sobre
universitários;
2ª. etapa - Análise setorial das notícias; e
3ª. etapa - Questionário enviado aos jornalistas.
1ª. etapa
Nesta primeira etapa, foi utilizada a semana construída (RIFFE; AUST; LACY,
1993) para selecionar os dias de coleta dos exemplares produzidos por três jornais impressos:
Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, jornais de repercussão no Estado, e A Tribuna,
principal jornal da Baixada Santista, local onde foi realizada a pesquisa psicológica anterior,
descrita no Capítulo IV desta tese.
A semana construída tem sido um dos instrumentos utilizados em pesquisas para
se estipular o número ideal de exemplares de jornais a serem confeccionados para atingir uma
determinada população.
Através da análise de outras pesquisas com semelhantes objetivos, esses
estudiosos fizeram uma comparação entre três técnicas diferentes. A primeira técnica
consistia em escolher os dias de emissão dos jornais de maneira aleatóriatécnica randômica.
A segunda técnica consistia em analisar as notícias de jornais emitidos em dias
consecutivos. Finalmente, a semana construída, resumia-se em iniciar o trabalho de análise
num determinado dia da semana e, na semana seguinte, dar seqüência à análise utilizando o
dia posterior, e assim por diante, até que todos os dias da semana fossem utilizados.
Após alguns estudos esses pesquisadores verificaram que a semana construída era
a mais confiável, pois apresentava o menor número de falhas.
“Semanas construídas poduzem melhores estimativas do que as amostras
puramente randomizadas porque evitam que os domingos sejam utilizados
como amostra, de maneira repetida […] amostras retiradas de dias
consecutivos são bem fáceis e mais convenientes de se usar e, desta forma,
os dias da semana conseguem ser representados, porém este tipo de
instrumento pode não ser um meio confiável para se fazer estimativas de
períodos de seis meses ou mais”. (RIFFE; AUST; LACY, 1993, p.93).
1
(tradução da autora da tese).
Desta forma, para o desenvolvimento desta tese foi utilizada a semana construída,
porém, ao invés de apenas 01 semana, foram utilizadas 02 semanas construídas visando
coletar um número maior de notícias veiculadas na mídia impressa sobre estudantes
universitários e, conseqüentemente, dar mais consistência aos resultados obtidos.
A coleta das amostras teve início no dia 07 de agosto de 2005 (domingo), e
terminou no dia 19 de novembro (sábado) do mesmo ano:
As notícias analisadas, num total de 61, foram coletadas em 42 exemplares
veiculados durante 14 semanas, conforme demonstrado na tabela acima; desta forma, os
jornais foram lidos em dias diferentes, a cada semana, obtendo-se, assim, uma visão
panorâmica sobre as notícias que tratavam do estudante universitário durante os meses de
agosto a novembro de 2005.
Para delimitar o campo de trabalho de forma clara e consistente, foram
selecionadas apenas as notícias que se reportavam ao aluno universitário, excluindo, portanto,
as notícias sobre cursos oferecidos pelas universidades, ofertas de emprego para
universitários, estágios, lista de aprovações em vestibular, publicações de professores,
pesquisas de pós-graduandos, etc.
1
Texto no original: “Constructed weeks produce better estimates than purely random samples of days because
they avoid the possibility of over sampling Sundays […] consecutive day samples are very easy and convenient
to use and different weekdays may be represented, but they are not a reliable means of estimating content for a
six-month period or longer” (RIFFE; AUST; LACY, 1993, p.93).
Ressalta-se que o termo notícia deve ser entendido no sentido jornalístico do
termo, isto é, um artefato lingüístico que representa aspectos da realidade sendo um resultado
de um processo de construção onde também interagem outros fatores de natureza pessoal,
social, ideológica, cultural (SOUZA, 1999). Esta apreciação do termo notícia parece também
ampliar o pensamento de Alsina quando de sua conotação enquanto representação social da
realidade cotidiana que se produz institucionalmente e se manifesta na construção de um
mundo possível (ALSINA, 1989).
Desta forma, aqui, a notícia deve ser entendida como um dos elementos
primordiais à construção das sociedades, pois, também, é a partir delas que se constróem as
representações sociais do objeto de estudo, neste caso, o estudante universitário. Assim,
devido ao papel relevante que as notícias ocupam na imagem que constróem da realidade, o
seu acesso vai, pouco a pouco, auxiliando a formar uma identidade comum na população
leitora daquela mídia, fazendo com que novas realidades sejam construídas.
A mídia, por sua vez, vocábulo originário da língua inglesa (media) deve ser aqui
entendido como meio de comunicação que, segundo Fausto Neto, estrutura e estrutura-se no
espaço público (FAUSTO NETO, 1999). Desta forma, serve como mediadora de diferentes
campos da sociedade e, neste caso específico, com base no discurso escrito, auxiliou no
processo de representação social criada sobre o estudante universitário.
2ª. etapa
Após a seleção dos exemplares e das notícias, partiu-se para a segunda etapa, ou
seja, a verificação da incidência setorial em cada notícia publicada sobre o estudante
universitário.
Decorridos os dias estipulados para a semana construída, as notícias foram
analisadas de acordo com os setores adaptativos da Escala Diagnóstica Adaptativa
Operacionalizada - EDAO, pertencente à Teoria Evolutiva da Adaptação (SIMON, 1989).
Nessa teoria, Simon afirma que todos os indivíduos se encontram, de alguma
forma, adaptados, isto é, para estar adaptado, basta estar vivo; o que varia é o grau de sua
adaptação à vida. Desta forma, pode-se dizer que existem indivíduos que se encontram mais
eficazmente adaptados e outros que, por algum motivo, encontram-se menos adaptados.
Resumidamente, a adaptação pode ser entendida como o conjunto de respostas que uma
pessoa apresenta para satisfazer as suas necessidades com a finalidade de se manter viva.
A EDAO é o instrumento diagnóstico criado a partir desses estudos e começou a
ser elaborada em 1970, quando Simon assumiu a coordenação do Setor de Saúde Mental do
Serviço dos Alunos, a cargo do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de
Medicina.
O objetivo da escala era fazer uma triagem da população estudantil de maneira
mais simples que as escalas psiquiátricas tradicionais, evitando, inclusive, que os alunos que
se encontravam mais desgastados emocionalmente, tivessem que aguardar muito tempo na
fila de atendimento.
Através das respostas que um indivíduo emite durante uma entrevista diagnóstica,
a EDAO consegue detectar qual é a sua situação-problema, isto é, pontua os fatores
ambientais que, ao interagirem com fatores intrapsíquicos desse sujeito, podem lhe provocar
algum tipo de desequilíbrio.
Para fins didáticos, o autor divide o ser humano em quatro setores adaptativos
(SIMON, 1989):
Pelos dados colhidos na entrevista, pode-se avaliar a adequação de cada um
desses setores e, desta forma, detectar em que setor se encontram as questões em que esses
indivíduos apresentam maior dificuldade.
Deve-se levar em conta que a adequação ou inadequação de um setor pode
interferir substancialmente em outro, como se fossem as próprias reações colaterais do
indivíduo (SIMON, 2005, p. 89).
Isto significa que o fato de um setor se encontrar desestruturado pode levar ao
comprometimento de qualquer outro setor. Por exemplo, uma situação de perda de emprego
(PR) pode levar um indivíduo a adoecer (OR)
2
.
Por outro lado, quando um setor se apresenta de maneira bastante eficaz, também
poderá auxiliar na reestruturação de um outro setor que esteja comprometido. Por exemplo, o
fato de se sentir querido e apreciado (AR) pode levar este mesmo indivíduo a lutar por uma
2
OR a abreviação deste setor, segundo Simon, é ORG. Aqui, optou-se pela utilização de apenas duas letras
para ficar semelhante aos outros setores adaptativos (AR, PR e SC)
nova colocação no mercado de trabalho (PR) e, conseqüentemente, o setor OR, que também
estava desestabilizado tende a se recuperar com mais rapidez.
Como se vê, a EDAO também objetiva “classificar” os indivíduos em grupos de
maior ou menor adequação, e, desta forma, identifica a melhor forma de lidar com este
indivíduo, seja através de orientação psicológica ou outro tipo de intervenção.
Como o objetivo desta tese não é a classificação dos estudantes ou de notícias
sobre os mesmos em grupos diagnósticos, tampouco fazer intervenções clínicas, ater-se-á
apenas à identificação do setor adaptativo e sua maior ou menor incidência nas notícias
publicadas sobre esses jovens, pelos três jornais mencionados.
Na pesquisa psicológica realizada com os universitários (capítulo IV), verificou-se
que a maioria das queixas dos estudantes se refere ao setor afetivo-relacional. Questões
relativas à produtividade, embora também apareçam em grande escala, são menos incidentes
quando comparadas às do setor afetivo-relacional e, quando surgem, servem, muitas vezes,
como uma forma de camuflagem de uma dificuldade afetiva, talvez uma maneira menos
angustiante de trazer à tona as dificuldades de ordem pessoal.
Finalmente, queixas referentes ao setor orgânico apresentam baixa incidência e
não há queixas referentes ao setor sócio-cultural, salvo quando essas queixas se mesclam ao
setor afetivo-relacional.
Estes dados foram colhidos através de entrevistas, atendimentos e orientações
psicológicas, e ajudam a compreender o aluno como um todo. Nesta tese, portanto, a partir da
análise setorial das notícias sobre universitários, busca-se verificar se alguns desses dados
obtidos na pesquisa psicológica costumam ser retratados pela mídia impressa e que grau de
importância ela lhes atribui.
Ressalta-se, ainda, que a EDAO, diferentemente da forma por que foi elaborada,
isto é, visando o discurso falado, análise setorial, identificação de situações-problema, bem
como indicação de modalidades psicoterapêuticas (breve, tradicional, etc) foi, nesta tese,
utilizada como eixo de identificação setorial de notícias veiculadas pela mídia impressa.
Como se pode perceber, existem duas inovações quanto à utilização da EDAO
nesta tese: em primeiro lugar, a aplicação da escala em área diferente da Psicologia, isto é, na
Comunicação Social; em segundo lugar, a sua utilização para analisar a incidência setorial de
notícias veiculadas através do discurso escrito e não falado.
3ª. etapa
A terceira e última etapa metodológica envolveu um questionário enviado a 100
jornalistas (Anexo II) e que, por questões éticas, não foram identificados por nome, tampouco
por seu local de trabalho ou moradia. Trata-se de um questionário com 10 perguntas de
múltipla escolha, cada uma com 04 alternativas (a, b, c, d), e tem como base os resultados
obtidos na análise setorial da EDAO sobre as notícias selecionadas através da semana
construída.
Devido à multiplicidade de respostas, os resultados quantitativos foram
demonstrados gradativamente, abordando uma questão de cada vez, iniciando pelo maior
percentual obtido até o percentual mais inferior, de cada questão, separadamente. Isto
significa que a ordem em que as alternativas aparecem nesta análise (Capítulo V parte 4)
não é, necessariamente, a mesma em que apareceram no questionário enviado aos jornalistas.
Quando da ocorrência de respostas que acusassem as alternativas a, b ou c, foi
feita a respectiva tabulação e os resultados foram analisados quantitativa e qualitativamente.
As respostas relativas às alternativas d foram, em geral, analisadas apenas
qualitativamente, pois se referem aos comentários dos jornalistas quando de sua discordância
sobre as alternativas apresentadas pela pesquisadora, ou momentos em que esses profissionais
quiseram expor opiniões sobre o questionário. Desta forma, optaram pela alternativa d que,
além de se referir a um espaço aberto e, portanto, mais difícil de levantamento estatístico, a
freqüência pela sua escolha foi relativamente baixa, o que reforça a não necessidade de
análise quantitativa, na maioria dos casos.
Por outro lado, quando o percentual relativo a esta alternativa foi relevante, isto é,
mais alto do que o maior percentual alcançado pelas demais alternativas, o levantamento
quantitativo da questão foi, naturalmente, realizado.
Após essas três etapas metodológicas que nortearam o desenvolvimento da
pesquisa sobre os aspectos psicossociais do estudante universitário veiculados pela mídia
impressa, isto é, seleção das notícias, análise da incidência setorial e o questionário enviado
aos jornalistas, foram feitas algumas sugestões sobre as possibilidades da utilização da EDAO
em outros tipos de discurso.
Antes, porém, de descrever os resultados obtidos, é interessante que se canalize a
atenção para os aspectos teóricos abordados, bem como à descrição da pesquisa psicológica
junto ao PSP, embrião da presente tese.
Capítulo I - Comunicação e Psicologia
Embora a Comunicação e a Psicologia pertençam, acadêmica e profissionalmente,
a campos diferentes de atuação, estabelecem, por vezes, algumas intersecções.
Levando-se em conta a Comunicação enquanto área de desenvolvimento desta
tese, em especial no que concerne à mídia impressa, e a Psicologia enquanto área de estudo do
homem, seu comportamento e, também, sua subjetividade, cabe fazer alguns paralelos entre
as duas ciências, através da alusão a autores que, há muito, corroboram estes estudos.
Não se pretende, aqui, discorrer sobre os diversos conceitos teóricos da
Comunicação ou da Psicologia, mas se quer apontar como o ato comunicacional subsidia o
comportamento do homem e as relações que ele estabelece com o meio, e de que forma os
aspectos psicológicos também acabam por subsidiar o ato da comunicação.
Partindo da premissa que as duas áreas visam o homem enquanto um ser
biopsicossocial e cultural, analisam-se, então, as possíveis intersecções que permeiam as duas
ciências, a forma como a linguagem se articula para constituir o processo comunicacional,
bem como as implicações nele envolvidas.
Para introduzir o conceito de linguagem, mesmo que de forma resumida, é
importante situar, no tempo e no espaço, a Teoria da Informação cuja essência é a transmissão
da mensagem e a relação entre os elementos desta transmissão.
Vários estudos foram realizados com base em sistemas matemáticos e, conforme
Matterlart, a Teoria da Informação foi elaborada pelo matemático e engenheiro elétrico
Claude Elwood Shannon, por ocasião de seu trabalho com códigos secretos, durante a
Segunda Guerra Mundial. (MATTELART; MATTELART, 2004, pp.58-59)
Shannon entendia que o sistema geral de comunicação consistia na reprodução,
em um dado ponto, de uma mensagem selecionada em outro ponto, o que significa que o
sistema comunicacional funcionava de maneira linear. O sistema consistia da fonte
(informação) que produzia uma mensagem (a palavra no telefone), ainda, o emissor que
transformava a mensagem em sinais (telefone), o canal (cabo telefônico), o receptor, que
reconstruía a mensagem, e, finalmente, a destinação, isto é, a quem a mensagem era
transmitida.
O objetivo de Shannon era delinear o quadro matemático no interior do qual se
tornava possível quantificar o custo de uma mensagem e obter a diminuição deste custo
através da redução de seus ruídos, isto é, as perturbações aleatórias que poderiam distorcer a
correspondência entre os dois pólos, emissor e receptor.
O modelo criado por Shannon teve origem em diversos estudos, dentre os quais se
destacam os trabalhos de Markov sobre as cadeias de símbolos na literatura, o dígito binário e
a oposição binária de Hartley e o esquema para tratar essa informação, de Turing, a máquina
de calcular eletrônica para medir as trajetórias balísticas de Neumann e, finalmente, os
estudos ligados à cibernética, de Wiener.
Como se pode observar, o processo da comunicação baseado nesses modelos
acima citados é linear, ou seja, a mensagem é emitida pelo emissor e decodificada pelo
receptor, sem que seja levado em conta o sentido que o receptor atribui à mensagem,
tampouco a intenção do emissor no momento em que a emite.
Mais tarde, ainda de acordo com Mattelartt, o antropólogo Gregory Bateson,
auxiliado por estudiosos de diversas áreas, impulsionou a criação da Escola de Palo Alto, nos
Estados Unidos, em 1940 (MATTELART, 2002, p.67). Essa escola era também chamada
Colégio Invisível, e seus estudos culminaram no modelo circular de comunicação que,
anteriormente, já havia sido proposto por Wiener. Este estudioso via a necessidade de a
informação se estender aos meios de utilizar, estocar e de ser transmitida através da utilização
do rádio, da imprensa, enfim, uma forma de evitar que tal informação pudesse circular de
forma deficiente.
Os estudiosos que primavam pela idéia de circularidade na transmissão de uma
mensagem entendiam que a comunicação deveria ser estudada pelas ciências humanas, com
embasamento em uma abordagem sistêmica, isto é, interativa, levando-se em conta a
Lingüística e a Lógica. O grupo já pontuava que as relações entre os elementos da
comunicação tinham considerável importância no processo comunicacional e fundamentaram
a existência de uma lógica no que concerne à relação entre as mensagens do contexto
horizontal (sucessivas), e aquelas do contexto vertical (relação entre os elementos e o
sistema).
Esta teoria também admitia que as perturbações psíquicas pudessem ocasionar
perturbações da comunicação entre o indivíduo e o meio (MATTERLART, op.cit., p.68);
inclusive, Bateson e seus colaboradores foram criticados por desprezarem algumas situações
de conflito que predominam em diferentes fases psicossexuais (MARCONDES, 2003, p.228),
o que poderia interferir sobremaneira nas futuras relações interpessoais dos indivíduos. Esta
idéia, de alguma forma, contradiz as premissas da Escola de Palo Alto porque para os
estudiosos da escola, o comportamento humano possui uma gramática que, de forma
consciente ou não, é utilizada nas relações interpessoais e, portanto, afeta a comunicação e,
sendo assim, as fases psicossexuais deveriam ser lembradas enquanto possíveis geradoras de
conflitos durante a vida adulta.
A despeito de críticas que, sem dúvida, foram construtivas porque levam à
reflexão e ao aprofundamento da análise, a Escola de Palo Alto foi pioneira no entendimento
da Comunicação enquanto um processo circular de informação e entende o comportamento
humano, seja verbal ou não-verbal, como um processo contínuo e conjunto.
A postura Batesoniana reforça a utilização de uma linguagem que, embora
manifesta através de gramáticas e regras talvez inconscientes, é calcada em escolhas de uma
determinada cultura e dentro de um processo sócio-histórico. É esta linguagem que permeia o
discurso humano e, portanto, acompanha a sua evolução, mantendo-se como o elo central que
propicia a interface do homem psíquico e social e o meio, através dos tempos.
A linguagem, veículo da comunicação enquanto elemento de interação social,
vem sendo estudada há muitos anos, sendo Ferdinand de Saussure, no início do século XX, o
precursor do estudo sistematizado da linguagem humana, a Lingüística.
Ainda, por volta de 1930, encontra-se Pierce que, através de seus estudos na área
da Semiologia, apresenta uma preocupação voltada não só à linguagem humana, como
também animal. No que se refere à comunicação, preocupa-se com a dinâmica existente entre
emissor e receptor, não no sentido de uma simples transferência da informação entre os dois,
mas numa transferência do sistema de um para o sistema do outro (TEMER; NERY, 2004,
p.128). Isto significa que a comunicação precisa levar em conta não apenas “o quê”, mas “de
que forma” e “sob que condições” as mensagens são elaboradas e emitidas, pois se trata de
uma ciência voltada aos signos e à forma como esses signos se inserem nos aspectos
humanos, sejam eles culturais ou psicológicos.
Corroborando a idéia de que as línguas e, conseqüentemente, a linguagem,
existem na medida em que se associam aos grupos humanos, Orlandi sugere que as questões
históricas implicam nas questões sociais e vice-versa, não existindo autonomia quanto às
modificações que ocorrem tanto na língua como nas sociedades em que esta língua se insere
(ORLANDI, 1987, p.90).
No que diz respeito à mídia impressa, este construto teórico remete à idéia de uma
ligação intrínseca e circular entre homem-discurso-mundo-homem, isto é, a comunicação só
se torna produtiva na medida em que consegue enxergar e respeitar a presença e a atuação do
homem no ambiente que o cerca; caso contrário, um fato ocorrido, ao ser analisado de forma
alheia a um determinado contexto sócio-cultural, seria apenas um fato estanque e, portanto,
não se tornaria notícia.
Na realidade, o interesse pela linguagem e pelos textos, data de muitos anos e se
divide em duas práticas, a interpretativa e a retórica. A prática interpretativa teve início com
os antigos oráculos gregos sendo, mais tarde, utilizada nos textos religiosos, jurídicos e
literários, enfim, uma prática voltada às ciências humanas e sociais, isto é, História,
Sociologia, Antropologia, Lingüística e Psicologia.
A prática retórica, por sua vez, teve origem nas colônias gregas da Sicília, no ano
484 a.C.; era conceituada como um conjunto de técnicas para criação de texto políticos, de
tribunal e de homenagem e tratava de textos proferidos ao vivo (PINTO, 2002, p.67).
Percebe-se, então, que desde tempos muitos remotos, a comunicação já engatinhava como
forma de interação social; a escrita, por exemplo, encontra suporte na utilização de tabuletas
de madeira, marfim, bambu, pétalas de flor, papiro, papel e, enfim, a imprensa (PENA, 2005,
p. 27), objeto de investigação desta tese.
Como se vê, o conceito de comunicação vem, há muito, sendo estudado e, desta
forma contribui, substancialmente, para o entendimento do homem em seus aspectos diversos.
Dentre esses aspectos, ressaltam-se os fatores biopsicossociais, isto é, o homem enquanto um
ser que se comunica para expressar seus anseios, dificuldades, sentimentos, enfim, as diversas
possibilidades de garantir sua existência no mundo.
Por outro lado, este entendimento da comunicação também se estende ao homem-
trabalho, ou seja, aquele que se utiliza da ciência Comunicação para realizar projetos
profissionais, dentre os quais, o auxílio no processo de captação, redação e divulgação de
ocorrências de fatos, de maneira rápida e eficaz, isto é, a mídia.
A priori, embora o papel da mídia não seja acelerar a comunicação entre emissor e
receptor, acaba por fazê-lo e, neste sentido é que se torna importante entender como acontece
o processo comunicacional, não apenas enquanto processo de transmissão da informação, ou
como a rapidez com que este processo acontece, mas também, através das inúmeras
transformações técnicas por ele sofridas e que o mantêm em constante progresso.
Para lembrar Squirra, o progresso das técnicas de comunicação, em especial, nos
último 40 anos, representa uma conquista e um desafio para a Humanidade (SQUIRRA,
1995). Não obstante, há que levar em conta não apenas as mudanças de ordem técnica, mas a
situação atual da profissão jornalista que, no passado, embora dependesse dos grandes
proprietários e da autoridade do capital, ainda conseguia exercer poder através do uso da
sensibilidade da opinião pública. Hoje, esse mesmo profissional se vê pressionado por uma
qualidade diferente do poder, isto é, ele se desloca em relação direta com as pessoas, através
da tecnologia (MARCONDES, 2002, pp.57-58).
Corroborando esta visão da importância da tecnologia, Veronezzi acrescenta que,
no lugar da mensagem, o meio se tornou o principal pólo do processo da comunicação pois é
transferido ao receptor o poder de decidir quando, o quê, quanto e onde ele quer ver, ouvir, ler
ou arquivar as informações sobre as quais tem acesso e interesse (VERONEZZI, 2005, p.196).
Assim, há a necessidade de aceitar e lidar com os constantes avanços tecnológicos, ficando à
mercê das mudanças e sendo, então, obrigado a romper com alguns paradigmas construídos
ao longo dos tempos.
É a partir deste desafio que também acontece a interdisciplinaridade científica,
neste caso, da Comunicação e da Psicologia. Se por um lado, a Comunicação está preocupada
em colocar no mercado profissionais preparados para abarcar os avanços tecnológicos, a
Psicologia, neste caso, a Psicologia Social, preocupa-se em entender e auxiliar a adaptação do
homem aos novos valores do processo comunicacional.
Quando se fala sobre processo comunicacional, pensa-se na circularidade da
informação e, neste caso específico, faz-se referência à informação prestada pela mídia
impressa e sua chegada ao leitor. Este processo, embora não verbal, é contínuo e implica um
todo comunicacional calcado em construtos teóricos, tanto da Comunicação como da
Psicologia e, portanto, envolve diversos aspectos do ser humano, em especial, a sua forma de
se situar no mundo.
É como se as duas ciências, em alguns momentos, estivessem ligadas pela
existência do homem; aqui, especialmente, alude-se à linguagem enquanto uma das formas
que este homem, não apenas técnico, mas também psicológico e social, encontra para
expressar seu trabalho, isto é, produzir a notícia.
Capítulo II - A articulação da linguagem nos processos
comunicacionais
Com base nesses diferentes estudos citados no capítulo anterior, pode-se perceber
que a linguagem perpassa as questões lingüísticas, sendo constituída, desde a sua mais antiga
utilização, por outras duas dimensões: uma dimensão psicológica e uma dimensão social. Em
seu aspecto psicológico, a linguagem é vista como uma forma de conhecimento, ou seja, uma
forma de cognição. Por outro lado, em seu aspecto social, a linguagem é concebida como um
instrumento do qual o indivíduo se vale para interagir com o mundo que o rodeia.
Transcendendo as origens do estudo da linguagem cujo objetivo é vencer o espaço
e abolir a distância (JAKOBSON, 1997, p.24) e, de certa forma, também rompendo com a
tradição estruturalista de Saussure e de Pierce, em que o processo de comunicação tinha como
base as formas gramaticais e o entendimento de códigos lingüísticos, começaram a surgir
outros autores, que entendem o processo comunicacional como um fenômeno social. Bakhtin,
por exemplo, faz uma crítica à função apenas comunicativa da linguagem e julga necessário
que o ato de nos comunicar com o outro seja configurado como um processo comunicacional
(BAKHTIN, 1997, p. 290).
Isto significa que, em detrimento da passividade do receptor, como rezava o
esquema estruturalista anterior, faz-se, então, necessário que o processo implique em um
“todo” comunicacional porque o receptor, ao receber a mensagem, concorda ou discorda,
completa, adapta-se, enfim, seu papel é tão ativo quanto o do emissor.
Tendo em vista esses aspectos da Comunicação referentes à linguagem e de que
forma ela se articula para constituir a comunicação é que foi desenvolvido este trabalho. Neste
caso, a articulação da linguagem não deve ser entendida como relativa à clareza que propicia
uma compreensão adequada de mensagens, mas como a ligação entre duas coisas
(O'SULLIVAN; HARTLEY; SAUNDERS; MONTGOMERY; FISKE, 2001, p.28), isto é, a
linguagem e suas interfaces em cada discurso noticiado. Desta forma, leva-se em conta a
função de representação e simbolização (FREITAS, 1992, pp.24-25), sendo entendida não
apenas como um acessório do ser humano que se comunica através da veiculação da notícia,
mas inerente a todo um sistema psicossocial, onde acontecem as interações homem-mundo.
Partindo da premissa que o processo comunicacional possui um modelo circular,
seja no discurso falado ou escrito, infere-se que a comunicação da mídia impressa, neste caso,
o jornal, também se constitui desta forma.
O jornalista, ao se manifestar, tem a intenção de atingir um determinado público,
ou seja, manifesta-se ativa e intencionalmente. O leitor, por sua vez, reage de maneira
favorável ou não e, conforme citado, este receptor se posiciona de forma tão ativa quanto o
emissor, o jornalista.
É, pois, esta circularidade que mantém ativo o processo comunicacional; neste
caso específico, quanto ao processo “jornalista notícia sobre estudantes universitários
leitor”, pode-se, então, inferir que o jornalista, ao noticiar sobre o universitário, traz em seu
discurso uma fala que, embora técnica, tem como autor não apenas o jornalista enquanto
“profissional”, mas o “homem jornalista”, um ser biopsicossocial e cultural que recebe
interferências, conscientes ou não, em seu modo de pensar, agir e, naturalmente, redigir.
O leitor, por sua vez, ao receber a mensagem, compreende-a não só do ponto de
vista da decodificação lingüística, mas a recepção desta mensagem também perpassa este
leitor “homem”, este leitor “social”, implicando uma reação particular de cada um que a lê.
Em ambos os casos, com base na circularidade da mensagem que liga os
componentes dessa relação, jornalista e leitor, há que se levar em conta a subjetividade de
cada um e dos diferentes grupos sociais que têm acesso a essa leitura, bem como o fato de a
mídia pertencer a um âmbito de domínio público. Isto significa que esses discursos
transcendem a esfera da linguagem enquanto instrumento de comunicação e alcançam a
dimensão de uma prática social.
Como exemplo desta prática social, alude-se ao jornalista que, ao noticiar sobre
universitários, também necessita atingir leitores de outros níveis culturais, isto é, além dos
próprios universitários, suas mensagens são, aleatoriamente, também destinadas aos alunos de
Ensino Médio que se preparam para adentrar a universidade, aos pais desses alunos, aos
acadêmicos, aos desportistas que buscam patrocínio universitário, às donas de casa que
folheiam o jornal, enfim, as mensagens destinam-se a pessoas de diferentes interesses e níveis
culturais. Isto sugere a existência de uma preocupação que se volta não apenas à
acessibilidade léxica dos leitores da mídia não especializada, mas necessita apresentar um
discurso através de enfoques sociais que despertem o interesse de diversos leitores, em
detrimento de posturas que, embora abstraídas da ciência, necessitam ser transformadas em
teor de interesse público.
Como exemplo da situação apontada, poder-se-ia pensar em notícias de
catástrofes, onde o teor poderia ser um terremoto, uma chuva mais intensa ou mesmo um
clima exaustivamente quente; ora, se estas situações não forem contextualizadas, isto é,
colocadas como precursoras de um risco social local, nacional ou mesmo internacional, o fato
estanque, por si só, parece ficar sem sentido. Por outro lado, na medida em que este fato é
apresentado na relação com os riscos sociais que provocou, acontece a notícia. Se um jovem,
por exemplo, é noticiado como usuário de drogas, será o contexto social que sustentará esta
notícia, o que significa adjetivá-lo como “universitário”, “morador de determinado bairro”,
enfim, são-lhe atribuídas características sociais que formam o todo desse jovem e, é desta
forma, que existe a identificação deste ou daquele leitor com esta ou aquela notícia.
Além dessa atitude social que engloba a intencionalidade do emissor e a atitude
responsivo-ativa do receptor apontadas por Bakhtin, dois outros aspectos da linguagem
merecem destaque: a persuasão e o silêncio.
A persuasão, via de regra, é vista como prejudicial para um discurso jornalístico,
pois cabe ao jornalista expor o conteúdo de sua matéria de forma imparcial, ou seja, isenta de
seus pontos de vista.
Esta imparcialidade é, muitas vezes, entendida como “neutralidade”. Pinto, ao
tecer comentários sobre o papel do emissor no processo comunicacional, afirma não existir
discurso neutro, objetivo ou imparcial, mas uma interação emissor-receptor em que o primeiro
tenta agir, persuasivamente, sobre o segundo, reproduzindo ou reforçando ou até mesmo
modificando algumas hierarquias sociais daquela instituição (PINTO, 2002, p.67).
À luz desta forma de entender a “suposta” neutralidade do jornal, constata-se que:
se “persuadir” significa levar a aceitar, induzir e convencer, tal neutralidade jornalística,
certamente, inexiste.
Esta forma de entender o ato comunicacional, isto é, isento de neutralidade, é
amplamente comentada no texto O jornalismo e as questões da linguagem (KRONKA, 2001),
onde a autora se manifesta sobre a inviabilidade da neutralidade, uma vez que a linguagem se
encontra atravessada por outros aspectos além dos lingüísticos, como por exemplo, a
transformação dos fatos em notícias, as notícias em textos, e os textos em informação.
Nesta mesma linha de pensamento, Abramo enfatiza que a existência de
documentos que regulamentam a padronização como, por exemplo, os manuais de redação, e
a divulgação das normas da empresa jornalística ao público, levam o leitor a crer que o jornal
seria, realmente, confeccionado de acordo com todos aqueles rigores e estipulações
jornalísticas (ABRAMO, 1991, p.41); desta forma, a imagem que o leitor tem do jornal é
ilusória, pois, certamente não se trata de uma produção objetiva e neutra.
De certa forma, as pontuações acima indicam que o emissor, por mais
arbitrariedade que demonstre em seu texto, terá sempre a intenção de atingir um determinado
público e, em havendo esta intenção na linguagem de seu discurso, torna-se este, também,
parcial e persuasivo, ou seja, não neutro.
Parece ser aí que também se encontram os aspectos inconscientes, tanto do
emissor como do receptor. Aludindo a Pêcheux, sempre existe uma mudança de sentido nas
palavras de acordo com a forma de se posicionar por aqueles que a empregam (PÊCHEUX,
1975, p.160), então, no que diz respeito às notícias sobre universitários e outras, embora
muitas vezes “padronizadas” nos moldes de cada empresa jornalística, é mister que se atente à
presença constante da subjetividade humana em detrimento de uma posição neutra, seja por
parte do jornalista ou do leitor.
O que se quer dizer é que, embora pareça haver arbitrariedade nos textos
jornalísticos, também existem as questões gramaticais, redacionais e, lembrando o experiente
jornalista Mino Carta, ao afirmar que a mídia está ligada ao dinheiro (CARTA, 2005, p. 36),
há questões de interesse do jornal enquanto empresa. Além das situações acima elencadas,
chama-se a atenção para a forma de redigir que também é permeada pelo ser humano que
compõe a notícia (jornalista) e esta, ao chegar ao leitor, também irá ao encontro das
características gramaticais e, sem dúvida, pessoais de cada um.
Da mesma forma que a persuasão no uso da linguagem e, conseqüentemente, a
ausência de neutralidade, podem ser entendidas de maneira equivocada no processo
comunicacional, também o silêncio é motivo de discussão.
De acordo com Antonio Pereira, o comportamento humano é um ato da
comunicação, intencional ou não, mesmo em momentos em que o homem não faz nada, ou
também, quando fica em silêncio (PEREIRA, 2003, p.14). Ora, se o silêncio é o estado de
quem se cala e também significa a interrupção do ruído, aqui entendido enquanto
“manifestação escrita do jornalista”, presume-se que o silêncio seja a situação inversa da fala,
neste caso, o discurso escrito e, desta forma, os dois não poderiam coexistir. Porém, ao
entender a fala como uma manifestação da linguagem e, portanto, do pensamento humano, a
ausência da fala ou do discurso, isto é, a interrupção do ruído, deve ser analisada como
intencional ou até mesmo, inconsciente.
Esta inferência também poderia ser ampliada levando-se em conta os elementos
visuais não-verbais do discurso, como participantes ativos na construção do sentido
(MORAES, 2004). Em ambos os casos, o discurso jornalístico deixa de ser um conjunto de
enunciados apenas verbais, isto é, ruma de forma gestáltica e plena de significado e permeia
as mais diversas ocorrências, como por exemplo, o som, o olhar, o gesto, o silêncio. A
propósito, conforme expressa Orlandi:
O silêncio deve ser visto como pleno de significado [...] o real da
significação é o silêncio [...] o homem está ‘condenado’ a significar. Com ou
sem palavras, diante do mundo, há uma injunção à interpretação: tudo tem
que fazer sentido. (ORLANDI, 2002, pp.31-39)
Nesta mesma linha de pensamento, o psicanalista Mahony entende que a
comunicação entre duas ou mais pessoas deve ser compreendida levando-se em conta também
o seu oposto, isto é, a contracomunicação, ou, como ele diz, a comunicação errada, em seus
três níveis: intrapessoal, interpessoal e intercultural (MAHONY, 1996. p.69).
Esses três níveis podem ser estudados do ponto de vista da subjetividade humana,
isto é, o nível intrapessoal concerne aos mecanismos que impedem que o material
inconsciente torne-se consciente, e o nível interpessoal leva em conta as resistências tão
comuns que permeiam as mais diversas situações; finalmente, o nível intercultural refere-se às
diversas informações transmitidas através da cultura.
A existência de tais ocorrências faz retomar as questões da intencionalidade. O
que se quer dizer é que, da mesma forma que a veiculação da notícia sobre o estudante
universitário pode refletir a intencionalidade do jornalista no sentido de publi-la, o seu
silêncio, ou seja, a “não publicação” daquela notícia ou a “não continuidade” de sua
publicação, ou ainda, a “permanência da publicação” de uma notícia em detrimento de outra,
também podem refletir outras intenções que não são explicadas pela empresa jornalística.
O leitor, por sua vez, pode apenas “perceber” que determinada notícia não teve
continuidade porque outras foram mais importantes ou poderá também fazer inferências sobre
a “não publicação” ou a “permanência da publicação”, de acordo com o seu parecer (técnico
ou leigo), isto é, a sua subjetividade e intenção com a mídia.
Embora todos esses aspectos psicológicos acima citados permeiem o ato
comunicacional envolvendo o jornalista, as notícias sobre universitários e o leitor, nem
sempre são percebidos por seus protagonistas, o próprio jornalista e o próprio leitor. Esta
dicotomia ação-percepção, embora, a priori, possa ser vista como reflexo da rapidez com que
ocorrem os processos da comunicação, também pode estar subsidiada nos fatores
inconscientes já apontados, levando à grande intersecção da Comunicação com a Psicologia.
A abordagem psicodinâmica teórica da Psicologia que analisa esses conteúdos
inconscientes e sustentadores dessa relação midiática é a Psicanálise que, dentre os
infindáveis trabalhos publicados na área psicológica e afins, forneceu embasamento teórico-
prático à pesquisa psicológica com universitários, e também é a linha teórica que norteia esta
tese no que tange aos aspectos psicológicos.
O termo Psicanálise foi usado pela primeira vez em 1896, por Sigmund Freud, e
se apresenta de três formas diferentes, isto é, método de investigação do inconsciente, método
psicoterápico e conjunto de teorias psicológicas e psicopatológicas de investigação e
tratamento (LAPLANCHE; PONTALIS, 1997, pp. 384-385).
Talvez, por datar de longos anos com reconhecimento mundial, a Psicanálise
permanece viva, sendo uma das teorias psicológicas mais difundidas e, portanto, conhecidas
tanto na comunidade clínica e acadêmica, em estudos científicos, e também no senso comum.
Dentre seus inúmeros estudos, Freud elabora uma teoria sobre a formação do
aparelho psíquico, apresentando-o dividido, para fins didáticos, em três regiões. a) consciente:
área onde estão os conteúdos a que temos acesso; b) pré-consciente: área onde se encontram
os conteúdos não presentes na consciência, mas que, frente ao nosso desejo, podem se tornar
conscientes; c) inconsciente: área onde estão os conteúdos inacessíveis à consciência.
Anos mais tarde, Freud reelabora esta teoria, compondo-a da seguinte forma: a)
id: reservatório de energia psíquica, onde estão localizadas as pulsões de vida e de morte; b)
ego: sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id e do superego; c) superego:
é representado pelas nossas exigências sociais e culturais (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
1999, p. 77).
Para afastar situações que possam gerar angústia no homem, o aparelho psíquico,
em especial, a parte inconsciente do ego, cria mecanismos de defesa. Dentre os diversos tipos
de mecanismos, optou-se por apontar e conceituar apenas alguns que, talvez, por serem os
mais comumente utilizados pelo ser humano, também fizeram parte do repertório de defesas
dos universitários analisados na pesquisa anterior e que, certamente, por fazerem parte do
escopo psíquico humano, também sustentam pensamentos e comportamentos de jornalistas.
Estes mecanismos de defesa são: a) repressão: impedimento ao acesso de pensamentos
dolorosos ou perigosos à nossa consciência; b) cisão: sentimentos ambíguos de amor e ódio
em relação a uma mesma pessoa ou objeto; c) negação: é a impossibilidade de perceber
aspectos que possam nos magoar ou que possam ser dolorosos; d) projeção: é a atribuição ao
outro de sentimentos, pensamentos e ações que não admitimos em nós mesmos; c)
racionalização: ato de encontrar justificativas para explicar sentimentos ou vivências afetivas
que não nos são agradáveis; d) formação reativa: atitude ou hábito oposto ao nosso desejo
recalcado; e) regressão: volta a níveis anteriores do desenvolvimento, através de
comportamentos infantilizados (RAPPAPORT; FIORI; DAVIS, 1981, pp. 30-31).
As vivências do ser humano são constantemente permeadas por esses
mecanismos, porém o seu uso exacerbado pode ser prejudicial, pois no intuito de não querer
sofrer, o ser humano pode distorcer a realidade, isto é, enxerga apenas o que quer, tem
dificuldade de se perceber enquanto um ser que, eventualmente, falha e, desta forma, acaba
por se distanciar do próprio “eu”.
Em se tratando de relações midiáticas, neste caso, jornalista-notícia-leitor, esta
tendência humana de distorcer a realidade através de mecanismos inconscientes reforça a
possibilidade de que também existem distorções inconscientes nessa relação.
Tendo em vista o conceito de discurso como prática social e sua linguagem
enquanto elemento de interação social e, portanto, humana, as notícias sobre universitários
também são passíveis de distorções e merecem investigação quanto ao seu foco de atenção.
Fazendo alusão ao pesquisador jornalista José Marques de Melo, entender o
jornalismo enquanto forma de conhecimento que permite aos cidadãos acompanhar, participar
e influir na História de seu tempo (MELO, 2003, p. 191), é importante lembrar que a notícia
se constrói a partir da relevância que tem o fato para um determinado contexto social. Desta
forma, requer-se investigar que aspectos são relevantes sobre o estudante universitário e
fazem dele uma notícia.
Capítulo III - O estudante universitário e suas
representações sociais
O caminho para investigar o que existe, na literatura, sobre estudantes
universitários pode ser feito em diversas direções, sejam acadêmicas, sociais, políticas, enfim,
diferentes vertentes que permeiam os seus variados âmbitos de atuação. Como o cerne desta
tese é a intersecção Comunicação-Psicologia no que tange às notícias que a mídia impressa
veicula sobre eles, há que se discorrer sobre estes jovens e, também, sobre as representações
sociais que lhes são atribuídas.
O aluno universitário, em geral, encontra-se no final da adolescência e início da
vida adulta, período por si só turbulento e, conseqüentemente, ansiógeno. Ao adentrar a
universidade este jovem se vê um pouco “solto”, como se houvesse uma ruptura na passagem
do ensino médio para a etapa da graduação:
Nesse momento da vida, a adolescência, aquele sujeito que, muitas vezes,
andava na mesma “turma de rua” desde a primeira infância, vê-se desligado
de algumas dessas pessoas de seu relacionamento, o seu grupo se dispersa e,
muitas vezes, não mais se recompõe [...] (FRANCO, 2001, p. 8)
Devido às situações de instabilidade emocional emergentes desta e de outras
situações típicas dessa faixa etária, muito se tem estudado para compreender melhor o
desgaste emocional acarretado por estas situações de ruptura, novos ambientes, novos
relacionamentos e, também, preparo para vida profissional.
Alguns estudiosos da área “psi” vêm direcionando suas pesquisas para este âmbito
e, desta forma, têm sido criados diversos serviços psicológicos para atender a ampla demanda
de alunos graduandos, cuja faixa etária compreende, justamente, o final da adolescência e o
início de vida adulta, ou seja, jovens entre 17 ou 18 até 23 ou 24 anos, aproximadamente.
Na Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, desde 1975, existe o Serviço
de Prevenção à Adaptação Ineficaz - SEPAI, cujo atendimento psicológico é realizado por
terapeutas que, em geral, são ex-alunos os alunos do Curso de Especialização em Psicoterapia
Breve Operacionalizada. Esses profissionais realizam atendimentos psicológicos aos alunos
da universidade e da comunidade, e também proporcionam orientação psicológica quanto a
tomadas de decisão em situações de mudança de emprego, escolha profissional etc.
Outros trabalhos acadêmicos, como o estudo de Amélia Curti, também
demonstram preocupação com esses jovens. Em sua pesquisa, verificou a eficácia adaptativa
dos alunos da Universidade Estadual de Londrina, Paraná, e concluiu que a baixa regularidade
nas matrículas devia-se à existência de alunos com pouca maturidade emocional e que esta
imaturidade tinha base na forte dependência em relação a seus pais (CURTI, 1993).
Na USP de Ribeirão Preto, Fernandez e Cianflone perceberam que existem
diferenças acadêmicas significativas entre o segundo grau e a universidade que podem criar
dificuldades emocionais, o que coincide com o final da adolescência e início da vida adulta
(FERNANDEZ; CIANFLONE, 1991).
Estes e outros tantos trabalhos que optam por pesquisas no âmbito acadêmico
superior acabam por aprofundar a análise dessa faixa etária e, desta forma, encontram
diversos caminhos: estes trabalhos poderão trilhar sobre os aspectos produtivos ou afetivos do
aluno, situações relativas à saúde ou aos valores sociais, enfim, diferentes vertentes que,
independentemente de quais sejam, terão a universidade como o seu espaço, não só quanto às
questões geográficas, físicas, mas também, emocionais.
A universidade, embora permeada por situações administrativas, isto é,
funcionando com um organograma semelhante ao de uma empresa, com diretores e
subordinados, encontra seus clientes-alunos, envolvidos de maneira muito semelhante. Isto
significa que os percalços que decorrem das mais variadas situações têm de ser resolvidos
quase que de imediato. São situações rotineiras pertinentes ao ambiente universitário e, em
geral, refletem a história e, conseqüentemente, a maneira de ser de cada um.
Poder-se-ia dizer que a universidade é o palco desse ambiente emocional para o
qual o equilíbrio do aluno bem como dos outros personagens deste teatro (corpo docente e
administrativo) é de extrema importância e merece ser considerado. Na realidade, todos esses
atores funcionariam como se fossem os “hospedeiros” das possíveis perturbações psíquicas
(SIMON, 1977) que, dependendo do momento, poderão ou não se instalar.
Algumas vezes, trata-se de situações em que os “ânimos” se alteram e, depois
voltam ao seu estado de equilíbrio. Não obstante, em outras ocasiões, poderá existir um tenso
clima favorecedor de conflitos que, por motivos diversos, podem não levar a um clímax de
enfrentamento, mas também podem não se resolver. É como se ficasse “no ar” uma situação
crítica permanente, porém, apenas latente. Aliando-se à sugestão de Vigneron em que o
campus universitário precisaria ser o local onde o estudante pudesse desenvolver todas as suas
potencialidades sensoriais (VIGNERON, 1996, p.177), sugere-se, ainda, que além dessas
potencialidades, também devessem ser incluídas e trabalhadas as questões relacionais desses
jovens. Assim, o estudante universitário seria entendido e auxiliado de forma mais completa,
isto é, em relação a si mesmo e ao mundo que o cerca.
As situações aqui expostas são muito comuns entre os alunos, não só pelo fato de
sua maioria ser ainda bastante jovem, mas também, por fazerem parte de um grupo, por vezes,
heterogêneo seja quanto à idade, ao sexo, à classe sócio-econômica, enfim, quanto à maneira
de pensar e agir de cada um.
O que se quer mostrar é apenas um panorama do ambiente universitário
envolvendo algumas das questões conscientes e inconscientes comentadas anteriormente nesta
tese (Capítulo II); e, como se pode observar, vários são os estudos desenvolvidos nas últimas
décadas que têm por objetivo retratar a essência desses jovens e, dessa forma, ajudá-los nesse
período específico da vida, a época da graduação.
No que tange à mídia impressa e à forma como ela se posiciona frente ao
estudante universitário, percebe-se que alguns desses aspectos costumam ser por ela
abordados, sendo desta forma que a imagem do estudante universitário é divulgada e,
portanto, construída. As notícias sobre esses jovens acabam por subsidiar, reforçar e também
ser reforçadas pelas representações já existentes em nosso mundo mental como decorrência de
um decurso sócio-histórico.
Tanto a cognição como os afetos que estão presentes nas representações
sociais encontram a sua base na realidade social, sua produção se encontra
nas instituições, nas ruas, nos meios de comunicação de massa, nos canais
informais de comunicação social, nos movimentos sociais [...] É quando as
pessoas se encontram para falar, argumentar, discutir o cotidiano, ou quando
elas estão expostas às instituições, aos meios de comunicação, aos mitos e à
herança histórico-cultural de suas sociedades, que as representações sociais
são formadas (GUARESCHI; (ORG.), 2003, p.20).
Quando se fala sobre os aspectos sócio-históricos que sustentam a criação, a
manutenção e a evolução das representações sociais, está-se reportando às infindáveis
situações ambientais das representações sociais: a mídia, as conversas na rua, na universidade,
na comunidade em geral, nos meios políticos, etc. Neste caso específico, portanto, as
representações sociais levam em conta as características dos estudantes como sendo jovens,
brasileiros, e, mais especificamente, habitantes do estado de São Paulo, em sua maioria, local
onde foi realizada a pesquisa psicológica com os estudantes universitários, junto ao PSP
(Capítulo IV).
Moscovici, estudioso dessa área e considerado o iniciador da Teoria das
Representações Sociais, entende as representações como entidades sociais e históricas que
possuem vida própria, mas que dependem sobremaneira do local onde são criadas
(MOSCOVICI, 2003, p. 105), como por exemplo, país de origem das representações,
costumes etc., o que sugere que locais diferentes poderiam gerar costumes diferentes e,
conseqüentemente, representações sociais também diferentes. É por este fato que a imagem
do universitário que é levada ao leitor através das notícias também implica o local a que
ambos pertencem, neste caso, universitários paulistas e jornais produzidos no estado de São
Paulo.
Possivelmente, se as notícias analisadas se referissem a estudantes de outros
estados, países, continentes em que a cultura fosse diversa da nossa, haveria possíveis
divergências. Por exemplo, um aluno que, ao praticar a poligamia e entrar em desavença com
uma das esposas, tornar-se-ia, em nosso país, notícia. Naturalmente, esta notícia chamaria a
atenção pela poligamia e não, talvez, pelo comportamento inadequado, isto é, a desavença ou
mesmo a agressividade.
Em outro país, onde a poligamia fizesse parte da cultura local, dar-se-ia, talvez,
relevância à desavença e não à poligamia. Sendo assim, caso essas notícias fossem analisadas
quanto à incidência setorial, haveria discrepância entre os dois locais: em nosso país, seria
analisada a inadequação de dois setores, o afetivo-relacional (desavença, agressividade) e o
sócio-cultural (poligamia).
Em outro país, em que a poligamia fizesse parte do costumes locais, o setor sócio-
cultural seria considerado adequado e o setor afetivo-relacional, inadequado, ou seja,
diferentes locais, diferentes representações sociais e, portanto, diferentes resultados de análise
setorial.
Seguindo esta linha de pensamento, infere-se que o hábito da poligamia, caso se
tornasse legalmente aceito em nosso país, também provocaria alterações numa eventual
análise setorial, bem como na representação social atual do casamento. Isto significa que as
representações, da mesma forma que são criadas, também adquirem vida própria e estão
sempre em evolução, isto é, a imagem que se faz de algum objeto, acontecimento ou de
alguma pessoa pode existir num certo momento e em outro, poderá deixar de existir, dando
oportunidade para novas representações.
Por conseguinte, atribui-se a importância das representações sociais justamente a
esta dupla função, isto é, encaixar objetos, acontecimentos e pessoas dentro de uma
determinada categoria, e acompanhar o decurso sócio-histórico de um determinado local,
através das gerações.
Diferentemente da visão de Durkheim, onde as representações abrangem formas
intelectuais como ciência, religião, mitos e que devido a tal amplitude seriam, aí, incluídas
quaisquer crenças ou idéias de uma comunidade, Moscovici acrescenta às representações duas
outras qualificações: para ele, as representações sociais são uma maneira específica de
compreender e comunicar o que nós já sabemos, e, também, possuem plasticidade
(MOSCOVICI, op. cit. pp. 46 e 47).
Para clarear as diferenças entre esses dois autores, Guareschi mostra como
Sperber identificou, com bastante clareza, algumas diferenças entre os conceitos de
representações sociais. (GUARESCHI; JOVCHLOVITCH, op. cit., pp. 195-196). Em sua
análise, refere-se às diferenças entre os conceitos de Moscovici e Durkheim e pontua que as
representações mais duradouras, mais amplamente distribuídas na sociedade, estariam mais
ligadas ao conceito de Durkheim, as representações coletivas.
Por outro lado, as representações típicas das culturas modernas que possuem uma
difusão rápida pela população seriam as representações sociais de Moscovici. Isto significa
que as primeiras (coletivas) seriam mais cristalizadas e estruturadas do que as outras (sociais),
que apresentariam uma maior mobilidade, isto é, seriam mais passíveis de alteração em
função da evolução sócio-histórica de um determinado lugar.
Quando se fala sobre as representações como forma de se compreender as coisas
que já conhecemos, percebe-se a dicotomia imagem-significação, o que sugere que as
representações fazem com que toda imagem seja igualada a uma idéia e, vice versa. Desta
forma, levando-se em conta as representações do estudante universitário, pode-se afirmar que
a imagem que o leitor tem deste jovem está intrinsecamente ligada à idéia transmitida pela
mídia, e também às outras idéias obtidas por diversos ambientes comunicacionais, conforme
apontado anteriormente.
Quanto à plasticidade das representações, isto é, seu caráter móvel e, portanto,
dinâmico, implica uma existência ou uma ausência das mesmas (representações), de acordo
com as maneiras de pensar e agir de uma determinada comunidade. O que se quer dizer é que
as representações sociais que se constróem sobre os estudantes universitários têm sua
existência calcada na forma de pensar desta comunidade que a construiu; e, da mesma forma
que a maneira de pensar desta mesma comunidade é capaz de criar tais representações, as
mesmas poderão, conforme a maneira de pensar da comunidade, sofrer alteração ou, até
mesmo, deixar de existir, dando lugar a outras representações.
Ora, se a comunidade é capaz de gerar e, também, gerir tal processo, os meios de
comunicação, não só apenas a mídia impressa, mas, e principalmente, a internet, poderiam
acelerá-lo, pois acabam, quase que instantaneamente, sedimentando as representações e, da
mesma forma, que as sedimentam, também podem ser responsáveis pela sua alteração e/ou
substituição por outras representações.
De acordo com Moscovici, as representações sociais são criadas por dois
mecanismos: ancoragem e objetivação (MOSCOVICI, 2003, p. 105). A ancoragem significa
colocar um objeto, um acontecimento e, neste caso específico, um universitário, dentro de
uma determinada categoria. Desta forma, ao rotulá-lo, a criação da imagem-significação não
causa tanta resistência para ser aceita, pois o fato de categorizar o universitário significa
aproximá-lo de outras imagens que já estão familiarizadas, isto é, estudante, jovem,
adolescência, transformações físicas e psíquicas, etc.
Conseqüentemente, atribuir ao universitário certa dose de comportamentos
inadequados, a categoria adolescência vai, naturalmente, “aceitar” tais características; por
conseguinte, “estudante universitário que, em geral, se encontra em final de adolescência”,
pode remeter à idéia de “comportamentos inadequados”, ou mesmo, “grupinhos que estudam
em conjunto”, que também pertencem à categoria “adolescência”.
De certa forma, a ancoragem é uma forma de catalogação que auxilia o nosso
processamento cerebral quanto à organização das imagens das significações que a elas
atribuímos; também se pode dizer que este processo acaba por facilitar a nossa forma de
pensar e atribuir valores às coisas e pessoas que nos rodeiam.
No caso do estudante universitário, a mídia deve ser considerada um dos veículos
responsáveis pela manutenção desse processo de catalogação, pois, levando-se em conta a
linguagem como prática social, mantém vivo o rótulo do estudante universitário, catalogando
suas adjacências, e auxiliando na formação de suas representações sociais.
O outro conceito a que Moscovici se refere, a objetivação, significa dar uma
imagem a algo ou a alguém, isto é, objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia.
Quanto ao estudante universitário, é comum ouvir comentários a respeito de suas
vestimentas, como por exemplo, a tão conhecida calça “jeans”. A objetivação, neste sentido,
parece clarear o significado das questões sócio-históricas das representações sociais da
seguinte forma: tomando como exemplo a calça “jeans” e a representação social do jovem do
final dos anos 60 e início dos anos 70, este indivíduo seria representado pela utilização de
cintura baixa, a tão famosa boca de sino e a denominação “Lee”.
Naquela época, as calças que não tivessem o logo “Lee”, não seriam vistas como
representantes do jovem da época. Nos anos 80 e 90, a cintura baixa deixa de representar o
jovem, mas sua força é retomada nos anos 2000, e até o presente momento, a calça jeans,
embora não seja vestida apenas pelo jovem, continua sendo uma de suas representações
icônicas.
Esta mobilidade imagética e também de significação reforça a idéia de que as
representações sociais são criadas, consciente ou inconscientemente, pela coletividade,
mantêm-se vivas durante algum tempo e podem ou não, ser substituídas por outras. Isto
significa que na medida em que se categorizam novos conceitos e os iconizam, integram-se e
ampliam-se os dois universos, físico e mental, do ser humano.
[...] toda cognição, toda motivação e todo comportamento somente existem e
têm repercussões uma vez que eles signifiquem algo e significar implica, por
definição, que pelo menos duas pessoas compartilhem uma linguagem
comum, valores comuns e memórias comuns. É isto que distingue o social
do individual, o cultural do físico e o histórico do estático. (MOSCOVICI,
2003, p. 105).
Percebe-se que os fatores que sustentam as idéias aqui descritas encontram-se
bastante voltados a assuntos comportamentais do ser humano, e talvez seja por isso que a
maioria dos trabalhos com este teor esteja mais concentrada no campo da Psicologia, através
da leitura de revistas especializadas, publicações diversas a que a grande massa popular, por
motivos diversos, pode não ter acesso.
Enquanto a mídia “especializada” costuma retratar a essência dos jovens
universitários através de pesquisas científicas, a mídia “não especializada” se vê mais livre
para ir além do fato científico e abordar algumas questões ligadas ao senso comum, aos mitos
e também às representações que, embora criadas espontaneamente com base no decurso
sócio-histórico de uma comunidade, sustentam e difundem a imagem que se constrói desses
estudantes.
É através deste prisma que se verificam as imagens que a mídia impressa reflete e
também ajuda a construir sobre eles. Seu discurso, embora se digne a fazer um retrato
embasado na apreensão de fatos que se tornam notícia, também pode se encontrar imbuído de
inúmeras outras imagens e significações elaboradas ao longo dos processos sócio-históricos a
que eles pertencem e, desta forma, poderá não retratá-los de maneira fiel.
Considerar e analisar todos esses fatores enquanto participantes ativos na
construção dessa representação, isto é, dessa imagem que se tem e que se cria sobre o
estudante universitário foi o que levou à investigação proposta nesta tese.
Não obstante, visando ampliar a imagem que se tem sobre esses jovens estudantes
e, desta forma, analisar as notícias que a mídia impressa veicula sobre os mesmos, cabe
apresentar, embora de maneira resumida, a pesquisa psicológica realizada com estudantes
universitários, estudo que originou esta tese.
Capítulo IV - Eficácia adaptativa de estudantes
universitários
Este capítulo compreende o resumo de uma pesquisa, à luz da teoria psicanalítica,
sobre a eficácia adaptativa de estudantes universitários. Foi realizada junto ao Pronto Socorro
Psicopedagógico PSP de uma universidade particular da Baixada Santista, durante os anos
2001 e 2005.
Lembrando ter sido a mola propulsora para o desenvolvimento desta tese em
Comunicação Social, reitera-se a importância do estudo das interfaces Comunicação-
Psicologia através da transformação desta pesquisa em capítulo. Estes achados, além de
subsidiar a elaboração do questionário enviado aos jornalistas, propiciam, de certa forma, uma
leitura mais crítica sobre os resultados da análise setorial da mídia impressa que serão
abordados no próximo capítulo.
Ressalta-se que os achados sobre os estudantes pesquisados não universalizam a
essência do estudante universitário, mas formam paradigmas a seu respeito, isto é, podem
sinalizar que estudantes de universidades particulares, na faixa etária entre 17 e 25 anos,
pertencentes à classe sócio-econômica média possuem, em sua maioria, estas formas de
pensar, agir e se relacionar.
Da mesma forma que essas inferências subsidiam as representações sociais a
respeito deste tipo de estudante universitário, outras inferências sobre a mídia impressa
também podem ser satisfeitas. O que se quer dizer é que, através das notícias analisadas,
pode-se inferir que a tônica dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, e A Tribuna
é a produtividade do aluno seguida de aspectos sócio-culturais. Possivelmente, outros jornais
da mesma região, isto é, do estado de São Paulo, podem apresentar características
semelhantes. Por outro lado, jornais de outras regiões, onde os costumes e, consequëntemente,
as representações sociais sejam diferentes, poderão veicular notícias com incidência setorial
totalmente diferente da obtida.
Para o desenvolvimento da pesquisa junto ao PSP, foram feitas entrevistas com os
alunos de graduação, utilizando-se a EDAO, já descrita anteriormente, instrumento que
também foi utilizado para fazer a análise setorial das notícias da mídia impressa sobre os
estudantes.
Ressalta-se que por se tratar de uma universidade particular, supõe-se um
ambiente freqüentado, predominantemente, por indivíduos com condições financeiras
favoráveis para arcar com os diversos custos de taxas de matrícula, mensalidades, material e,
naturalmente, rotinas sócio-culturais pertencentes à classe média ou alta.
No ambiente pesquisado, também se encontravam muitos alunos provindos de
outras cidades e até de outros estados, fator preponderante nas despesas do dia a dia. Outros
alunos, embora pertencentes a uma classe sócio-econômica menos favorecida, costumavam
trabalhar fora do período escolar para custear os estudos. Outrossim, havia alunos com bolsas
parciais ou plenas, cujo critério, além de não ser do conhecimento da pesquisadora, também
não foi relevante para esta pesquisa.
Durante os anos de funcionamento do PSP, foram atendidos 282 alunos (homens e
mulheres), na faixa etária entre 17 e 25 anos, faixa predominante universitária. Verificou-se
que os setores adaptativos afetivo-relacional e produtivo foram hegemônicos nas queixas
trazidas pelos alunos quando comparados aos setores orgânico e sócio-cultural.
Do total de alunos atendidos junto ao PSP, 122 (42%) apresentaram queixas no
setor AR, em sua forma pura. São queixas referentes à maneira de os alunos amarem e se
sentirem amados e também expressam a forma com que esses alunos enfrentam as
dificuldades de relacionamento interpessoal, como o ciúme, a solidão, as dificuldades no
relacionamento familiar, problemas com colegas e comunidade em geral.
Em segundo lugar, ficaram as queixas relativas a conteúdos de AR e PR (AR/PR),
num total de 44 alunos (16%). Essas queixas, em sua maioria, referem-se a dificuldades de
relacionamento interpessoal e de baixa auto-estima, mescladas a dificuldades de cunho
produtivo, como por exemplo, pouca retenção do conteúdo aprendido em sala de aula e
inquietações profissionais.
Em terceiro lugar, foram encontradas queixas de conteúdo apenas produtivo (PR),
quer nos assuntos acadêmicos, quer naqueles relativos ao âmbito profissional. Houve 33
alunos (12%) que apresentaram este tipo de queixa, sendo importante ressaltar que essas
queixas, embora tenham, a priori, um cunho produtivo, em algumas situações aparecem como
forma de camuflagem de dificuldades do setor afetivo-relacional.
Em quarto lugar, constataram-se 28 queixas (10%) relativas ao trio setorial
AR/PR/OR sugerindo que, embora ainda presente nas queixas, o setor AR apresenta uma
queda em seu percentual quando mesclado a conteúdos que concernem à forma de os
estudantes lidarem com a saúde do corpo e com a sexualidade (OR).
O número de queixas de conteúdo AR/OR, isto é, questões afetivas e também
relativas aos cuidados com a saúde e sexualidade, foi bastante semelhante à mescla anterior
(AR/PR/OR). Houve 25 queixas desse tipo, o que equivale a 9% do total, mostrando que o
conteúdo provocador da diferença entre esses dois percentuais é a presença do setor PR. Desta
forma, o quarto lugar do ranking foi ocupado pela mescla AR/PR/OR (10%), e o quinto lugar
foi ocupado pela dupla AR/OR (9%), sendo que as três notícias que fazem a diferença entre
seus percentuais são pertinentes ao setor PR.
Do total de alunos atendidos (282), houve apenas 17 (6%) com queixas tangentes
ao setor OR, ocupando o sexto lugar, sugerindo que os universitários não apresentam
dificuldades quanto à saúde física, tampouco concernentes à sexualidade.
Com percentual bastante semelhante, encontra-se a dupla setorial AR/SC. Houve
13 queixas (5%) relativas a dificuldades afetivo-relacionais mescladas ao sócio-cultural,
ocupando o sétimo lugar do ranking setorial adaptativo.
Diferentemente dos outros setores, ressalta-se que o setor SC, em sua forma pura,
foi o único que não incidiu sobre as queixas dos alunos, inferindo-se, portanto, que os
universitários lidam bem com situações de estrutura social, isto é, sentimentos e atitudes
frente aos valores sociais, morais, religiosos e políticos da comunidade a que pertencem.
Através dos resultados, verifica-se a hegemonia dos setores AR e PR nas queixas
dos alunos. Não obstante, é notória a constância de AR puro nas queixas (42%) e, ainda,
constata-se a seguinte situação: quando essas queixas afetivo-relacionais se mesclam aos
outros setores, há uma queda em seu percentual, conforme apontado anteriormente
(AR/PR=16%, AR/PR/OR=10%, AR/OR=9% e AR/SC=6%), sugerindo que, além de o setor
afetivo relacional ser hegemônico nas queixas, ainda se faz presente nesses discursos mesmo
quando o aluno apresenta dificuldades para lidar com outros aspectos de seu dia a dia, isto é, a
produtividade, a saúde e as questões sócio-culturais.
Para se ter uma idéia mais global a respeito da incidência setorial adaptativa nas
queixas dos estudantes universitários atendidos, é importante que se faça uma análise sobre a
incidência total de cada setor, isto é, de que forma cada um dos setores adaptativos se
comporta nos assuntos trazidos como pedido de ajuda desses jovens.
Em sua totalidade, o setor AR incide sobre 232 queixas, isto é, aproximadamente,
82% do total de queixas apresentadas pelos alunos, reforçando a idéia de que as dificuldades
afetivo-relacionais são preponderantes no pedido de ajuda desses estudantes. Isto significa
que o estudante universitário tem necessidade de falar sobre seus sentimentos, sua forma de
agir intra e interpessoalmente, visando se manter num equilíbrio emocional satisfatório.
A exemplo de AR, a incidência total de PR nas queixas dos alunos também é
bastante alta. Ao todo foram encontradas 210 queixas (74%), reforçando a idéia de que o
estudante universitário, além de buscar ajuda para seus aspectos afetivo-relacionais, também
prima por ser auxiliado nas questões de sua produtividade no que tange às diferentes sortes de
trabalhos acadêmicos e, muitas vezes, à sua vida profissional.
No que tange ao setor OR em sua totalidade, isto é, mesclado a outros setores, há
um aumento considerável em sua incidência. Se a incidência de OR em sua forma pura era de
17 queixas ( 6%), a sua presença mesclada a outros setores passa para 70 queixas, isto é 25%
do total de queixas apresentadas. Isto significa que os assuntos relativos aos cuidados com o
corpo e com a sexualidade, embora não surjam como tônica no pedido de ajuda dos jovens,
isto é, OR puro, representam ¼ (um quarto) de suas dificuldades quando mescladas às
dificuldades de outros âmbitos, ou seja, OR total.
Finamente, quanto aos aspectos sócio-culturais que incidem nas queixas dos
estudantes, verifica-se que este setor, a exemplo do comportamento apresentado em sua forma
pura, isto é, nenhuma queixa, apresenta, em sua totalidade, apenas 13 queixas (5%). A
nulidade setorial na forma pura e a baixa incidência alcançada por este setor, mesmo quando
mesclado a outros, sugerem que o universitário, em geral, não apresenta dificuldade para lidar
com assuntos voltados aos valores e costumes da comunidade em que vive, nem relativos à
sociedade de um modo geral.
Para que se possa conhecer um pouco dos aspectos psicológicos pertinentes aos
estudantes universitários, e de que forma esses fatores interferem em sua forma de pensar,
agir e se relacionar, apresentam-se as narrativas de dois alunos contendo história clínica,
análise e discussão do caso.
A história clínica contempla a queixa do aluno, seus comentários, história de vida,
bem como as pontuações da terapeuta durante as sessões. A análise das narrativas é norteada
pela Teoria Adaptativa da Evolução (SIMON, 1989) e pela Análise de Discurso (MAHONY,
2002).
Finalmente, a discussão do caso é feita com base na teoria psicanalítica e procura
apontar as dificuldades internas e potencialidades de cada aluno observadas e trabalhadas pela
terapeuta.
Reitera-se que devido ao PSP se encontrar dentro do espaço universitário, as
sessões tiveram tempo e objetivos limitados, isto é, foram realizadas na modalidade de
psicoterapia breve. Nas situações que se percebiam dificuldades mais acentuadas, foram feitos
os devidos encaminhamentos.
1. Narrativas de Melissa
Melissa era aluna da área de Humanas. Quando procurou o PSP, tinha acabado de
completar 21 anos, era solteira e morava num bairro próximo à universidade. Tinha ido àquela
cidade para estudar e seus pais haviam ficado em sua cidade de origem, no interior do Estado
de São Paulo. Pertencia a uma família pequena e tinha 2 irmãos mais velhos que ainda
moravam com os pais. Ela era a única que estudava fora da cidade natal. Nos feriados
prolongados os pais a visitavam, mas Melissa não gostava de retornar à sua cidade de origem,
pois dizia não haver nada para se fazer lá, devido à monotonia.
Algumas semanas anteriores ao seu pedido de ajuda ao PSP, alguns professores e
também funcionários da universidade já haviam procurado esse serviço de apoio no intuito de
ajudá-la, pois, segundo relatos, ela necessitava urgentemente de um acompanhamento
psicológico, já que fora vítima de um acidente de moto, no qual o rapaz que pilotava e que era
seu colega, morrera.
Decorridos dois meses do acidente, Melissa fez o agendamento; por coincidência,
naquela época não havia fila de espera e ela foi, de pronto, atendida. Sorridente, entrou na sala
e, no momento em que lhe eram explicados a finalidade do serviço de atendimento, o número
de sessões e, mais especificamente, quando perguntada por que havia procurado ajuda, ela
respondera: Perdi o celular no acidente. Você soube do acidente, né?
Em outra situação, essa fala talvez pudesse ser atribuída a situações rotineiras,
pequena ruptura de pensamentos, lapsos etc, mas naquele momento, chamou-me à atenção a
associação entre a minha pergunta e a perda do celular durante um acidente de moto que
causara a morte de um de seus amigos, com quem dividia um apartamento (república mista de
estudantes).
Talvez quisesse se garantir que seria ouvida, que poderíamos fazer contato, que eu
saberia exatamente o que ela estaria fazendo lá. De que acidente estaria falando? Do acidente
real que acontecera e no qual havia perdido um amigo? ou do “acidente” que o “acidente”
teria causado nela?
Melissa parecia falar sobre uma história qualquer, não demonstrava tristeza,
arrependimento ou quaisquer sentimentos relativos à perda. Preocupava-se, apenas, com a
possibilidade de que alguém a culpasse: Mas eu não tive culpa, fiz dosagem alcoólica e deu
negativo, Graças a Deus [...] Eu tinha bebido pouco [...] Na realidade ela não queria dizer
graças a Deus por ter bebido pouco. Dizia graças a Deus, como se fosse um pensamento
mágico (FREUD, 1917-1986; KLEIN, 1947-1968), regredido e também onipotente, isto é, um
suposto “deus” capaz de tornar um exame negativo ou positivo, o que independeria da
quantidade de álcool ingerida: Foi horrível, era tudo lama quando caímos naquele chão sujo,
enlameado. A que “lama” ela se referia? Seria a sujeira propriamente dita ou a sujeira, o
enrosco em que se metera?
Conseguimos nos levantar, olha o meu braço, ainda está arranhado, o da minha
outra amiga que também ‘tava na garupa também ficou machucado. Acho que foi a lanterna
da moto, sei lá, ou o cimento do chão. Em nenhum momento referia-se ao colega que
morrera, não mencionou sequer arranhões no corpo do mesmo. Era como se apenas ela e a
colega que também sobrevivera tivessem se machucado. Parecia impossível falar do rapaz,
seria como reviver algo que a perturbava demais e com o qual ainda não tinha condições de
entrar em contato.
Ele estava vivo quando a moto caiu e disse que tinha visto a morte de perto. Ao
falar da morte, esboçou um sorriso nos lábios da mesma forma que um adulto faz ao se referir
a algum absurdo dito por uma criança, quando olha ao seu interlocutor de maneira levemente
irônica, como quem diz: Vê se é possível imaginar uma coisa dessas [...]
Melissa falava incessantemente, parecia não poder calar; era como se apenas um
minuto de silêncio pudesse ser tão fatal quanto o acidente que vivenciara. Utilizou o tempo
destinado àquele encontro para falar do acidente; era como se sua vida se resumisse naquele
momento ímpar.
Tudo o que acontecera antes do acidente não lhe dizia respeito; e tudo o que
poderia lhe acontecer depois seria, em sua fantasia, uma conseqüência daquele ato. Por duas
vezes, durante o nosso encontro, perguntou que horas eram.
Olhava a sala de maneira dispersa, porém, agitada. Não denotava preocupação ou
qualquer outra sensação de desconforto ao falar sobre tudo aquilo; o seu desconforto era estar
ali, comigo, falando de algo com o qual não podia entrar em contato; agia como um
adolescente que, ao ser solicitado pelos pais a falar sobre algo que não o agrada, pergunta as
horas para se ver livre daquela situação.
Na semana seguinte, ao adentrar a sala do PSP, Melissa falou sobre algumas
questões burocráticas da universidade, fez uma pequena crítica a um professor quanto à forma
de avaliação e retomou o assunto do acidente como se não houvesse passado uma semana
entre o nosso primeiro encontro e aquele: Foi tudo tão difícil [...] Imaginando que pudesse
estar falando sobre o problema junto à secretaria da universidade, perguntei-lhe se havia
conseguido resolvê-lo. Disse-me que sim e, rapidamente, retomou seu discurso. Na realidade,
estava fazendo referência às questões burocráticas da internação do amigo, que chegara vivo
ao hospital, referia-se ao exame de sangue que o hospital lhe havia solicitado para checar sua
dosagem alcoólica.
Falava do rapaz e de si mesma, num só tempo. De forma confusa, parecia atribuir
as situações de dor e de angústia a coisas relativas a ela mesma como se ela fosse a
protagonista da história. Ao outro era atribuída a responsabilidade por tudo o que acontecera.
Dessa maneira projetiva (FREUD, 1917-1986; KLEIN, 1947-1968; SCABORO, 1993;
SCABORO, 2001), Melissa encontrava uma forma de aliviar o turbilhão de sensações que,
por ventura, pudesse dela se apoderar: Tivemos que ligar para os pais dele, como é que íamos
falar que ele tinha morrido? Não dava, né? (sorriu, de esguelha). Dava a sensação de falar
sobre a morte do colega como um assunto proibido para ser falado ao telefone, da mesma
forma que abaixava a voz para falar comigo, como se me contasse um segredo sobre uma
amiguinha de pré-escola.
O assunto a ser tratado ao telefone tinha o aspecto de um segredo, seria como algo
proibido, não pelo que pudesse causar à família, mas como um tipo de segredo infantil que
escondemos de nossos pais por medo da represália.
Naquele momento, Melissa pareceu se aproximar do ápice de sua história. Era
como se narrasse um conto de suspense em que o leitor já soubesse o que ia acontecer ao
personagem principal e a ênfase seria feita com foco na narrativa, a sua maneira de chamar a
atenção. Enquanto isso [...] (referia-se à burocracia o que, na sua fala também englobava o
citado telefonema) [...] fiquei lá no hospital. De repente, eles (referia-se à equipe hospitalar)
entraram com ele na UTI e aí, minha outra colega logo percebeu que alguma coisa não ia
bem. Na realidade, Melissa continuava a negar e a projetar sua angústia em todos que a
cercavam, como se apenas “ela” não sentisse absolutamente nada com o ocorrido.
A negação era tão grande que mantinha o tom irônico na voz como se quisesse
passar a idéia do absurdo que permeava tanto a situação como o sentimento de perda que
poderia ter: E depois vieram nos avisar que ele tinha morrido [...] o problema foi chegar ao
velório, eu tinha medo de dar de cara com a mãe dele. O que parecia dizer era que tudo
aquilo não passava de um pesadelo e que o fato de não ser vista pela mãe do colega que
falecera poderia fazê-la despertar e começar o seu dia como se fosse outro qualquer.
Reproduzia em sua narrativa, de forma mimética, a negação de tudo o que acontecera e
propunha que se acreditasse que nada havia acontecido, tudo se passava como se fosse um
pesadelo e que , ao acordar poderia refazer a realidade à sua moda.
Este mimetismo da narrativa (MAHONY, 1996) estava presente durante o sonho,
no hospital, quando se “escondeu” da mãe de seu amigo. Fantasiava que também ali, ao final
de nosso encontro, pudesse acordar e se ver livre da triste realidade.
No 3
º
encontro, embora ainda um pouco “alheia”, Melissa esteve mais centrada
naqueles momentos que passamos juntas. Falamos de sua vida na universidade, seus amigos,
enfim, aspectos de sua vida, mas “trabalhar” com Melissa ainda era difícil. Embora solícita às
questões que lhe eram feitas e, apesar de tecer comentários sobre assuntos corriqueiros de sua
sala de aula e sobre sua família, ela parecia impenetrável. A senhora me perguntou sobre os
meus amigos? Ah, sei lá, a gente se dá super bem, eles são legais. Estou bem aqui na escola,
sem problemas.
Mesmo parecendo mais próxima de si mesmo, este nosso contato transcorreu de
forma semelhante aos anteriores: Melissa permanecia repleta de pensamentos mágicos e,
também, refratária.
Ao final da sessão, ao acompanhá-la até a porta, apontou para uma senhora
sentada adiante, e disse: Aquela é minha mãe, ela veio nos ajudar a fazer a mudança de
apartamento. Você sabe, não dá mais pra viver no mesmo apartamento, eu tenho medo
dessas coisas, queria até desistir da faculdade...
Ao apresentar a mãe, parecia demonstrar o quanto se sentia impotente frente
àquela situação específica e, possivelmente, a muitas outras das quais também escapava
“aparentemente” ilesa. Embora Melissa dissesse que a mãe estava ali para ajudá-la a mudar de
apartamento, era como se me “entregasse” a mãe, para ser cuidada “também”. Cumprimentei
a senhora e as acompanhei até a saída principal da universidade. A mãe, muito angustiada,
falou: Ah! Doutora... nem sei como agradecer, ela fala tanto na senhora, ainda bem que a
senhora está aqui [...] a senhora também deve ser mãe e sabe do que eu estou dizendo...uma
filha longe de casa numa cidade de praia, tão longe [...]
Ao retornar à sala de atendimento, lembrei-me da fala da mãe quanto à
importância a mim atribuída por Melissa, pois esta nunca havia procurado pela Psicologia
anteriormente ao acidente. Talvez pudéssemos atribuir essa “importância” à terapeuta como
questões associadas ao complexo tanatolítico, como a posse de fantasias onipotentes e a
idealização de um ser também onipotente que poderiam retardar, ou mesmo, impedir a
chegada da morte. Neste caso específico, ambas, mãe e filha, teriam depositado em mim,
terapeuta, a sua confiança, como se eu pudesse “descobrir” o caminho de sua cura psíquica
(FRANCO, 2001; SIMON, 1971).
1.1. Análise dos setores da EDAO
A forma alheia com que Melissa se referia à família e aos seus relacionamentos
sugere dificuldades nas relações intra e interpessoais. Isto significa que os aspectos afetivo-
relacionais estavam comprometidos, haja vista as resistências que se caracterizam pelo
discurso evasivo quanto às questões da afetividade, bem como a dificuldade para entrar em
contato com seus sentimentos, inclusive com ausência total de expressões faciais que
pudessem denotar qualquer sorte de emoção.
Por outro lado, os aspectos produtivos encontravam-se eficazmente adaptados.
Melissa não tinha atividade remunerada, sendo relativamente eficaz nas atividades propostas
pelo curso de graduação que freqüentava, enfim, não havia problemas de rendimento escolar
que pudessem chamar a atenção ou que precisassem um cuidado mais específico.
Os aspectos sócio-culturais eram típicos de adolescentes universitários, isto é,
repletos de “barzinhos e baladas”, reuniões com amigos e passeios nos finais de semana.
Quanto à religiosidade, mencionara que há uns meses havia começado a
freqüentar uma determinada Igreja próxima à sua casa, mas não fazia disso um hábito, pois
sentia que era desnecessário, alegava que podia ter fé mesmo estando em casa, e lá também
podia rezar quando quisesse.
O setor orgânico estava satisfatoriamente adequado, embora tivesse feito
referência a uma gripe que a acometera no início do ano letivo e a forçara perder alguns dias
de aula. Costumava fazer exames preventivos e, de acordo com seu relato, não apresentava
qualquer anormalidade no estado geral de saúde física. Sexualmente era ativa e, por não estar
namorando na época em que foi atendida, havia parado de usar anticoncepcionais.
Embora não tivesse se negado a responder as questões que lhe eram feitas, parecia
não dar importância ao que ela mesma dizia, discursando sem, ao menos, pestanejar.
Se, por um lado, três setores da EDAO (PR, OR e SC) estivessem adequados e
seus dados tenham sido apresentados de maneira bastante “tranqüila”, os aspectos afetivo-
relacionais, não tiveram muito espaço em seu discurso, mas conforme apontado acima,
certamente necessitavam de cuidados, tendo em vista os mecanismos de defesa de negação e
projeção dos quais se utilizara, com freqüência, durante os atendimentos.
Se esses mecanismos fossem utilizados em outro tipo de situação, ou seja, se não
estivessem atrelados à situação da perda de um grande amigo, poderiam ser apenas
passageiros como as defesas que, em geral, as pessoas usam para evitar entrar em contato com
desgastes corriqueiros do dia a dia. Porém, dada a gravidade da situação, a forma alheia com
que se comportava e, acima de tudo, o medo que estava vivenciando, pode-se inferir que
Melissa, realmente, necessitava ser cuidada.
Por se tratar de um pronto socorro psicopedagógico que, como o nome já diz,
implica em uma ajuda psicológica de modalidade breve, resolvi, de maneira cautelosa,
sugerir-lhe que buscasse auxílio psicológico fora do ambiente universitário para cuidar de
seus medos. Naquele momento, qualquer intervenção mais profunda do que aquelas que eu já
havia feito durante os três encontros, poderia “assustá-la” ainda mais, impedindo-a, talvez, de
se cuidar adequadamente.
1.2. Análise do discurso sob a ótica de Mahony
Há uma mescla de dois tipos de discurso na fala de Melissa, o discurso expressivo
e o discurso referencial (MAHONY, 1996).
O discurso expressivo se fez presente através da desorganização dos dados que
Melissa apresentou ao longo das consultas, mantendo a ênfase da narrativa nela mesma, o
emissor. Em sua fala, não há preocupação com a existência do outro, este “outro” não aparece
nos diálogos, não há referência àquilo que o outro diz, como diz, e o quê diz.
O discurso referencial, por sua vez, foi apresentado através do acidente, e foi este
referente que permeou o seu discurso como um todo.
Embora do tipo referencial, o discurso de Melissa não tem o tom dialético que, em
geral, se encontra numa situação psicoterápica, ou seja, com controvérsias e questões que
parecem intermináveis; ao contrário, faz lembrar o discurso referencial científico, de natureza
fechada, onde se busca a verdade através do levantamento de hipóteses e, assim como na
ciência, não deixa que a subjetividade humana interfira nos resultados da pesquisa.
Retomando a idéia de que Melissa, por dificuldade de lidar com seus aspectos
afetivos, via-se impossibilitada de se sentir envolvida com perdas em geral, possivelmente,
tenha se utilizado do acidente como o grande referencial de seu discurso, eximindo-se da
responsabilidade de estar ali, em plenitude, na sala de atendimento.
1.3. Discussão do caso
A utilização dos tempos verbais no pretérito perfeito do indicativo dá a idéia de
que a história de Melissa tinha acontecido da forma tal e qual ela relatava, isto é, de modo
determinado, com a impossibilidade de serem levantadas quaisquer hipóteses que pudessem
divergir daquilo que ela dizia.
Sua narrativa contém vários “pontos finais”, como se ao me contar a sua história,
a sua história “interior” pudesse, talvez, ficar inerte e intocável. Desta forma, seriam
enterrados todos os sentimentos e negadas todas as angústias naquele passe de mágica. É
como se uma mãe, ao terminar de contar uma história ao filho, fechasse o livro e lhe dissesse:
isto é apenas um conto de fadas, não aconteceu; durma e ficará tudo bem...
Com referência à perda ocasionada pelo acidente, parecia não haver um “luto
normal” (FREUD, 1917-1986) em que o desapego à pessoa amada ou a alguma abstração que
ocupara o lugar de um ente querido, como por exemplo, o país, a liberdade ou o ideal de
alguém, fosse se fazendo aos poucos.
Por outro lado, pode-se pensar que o objeto externo, ou seja, o colega, tenha sido,
por motivos desconhecidos, introjetado de forma idealizada, não podendo, após sua morte, ser
substituído no self, dificultando a elaboração do luto. Dessa forma, Melissa se sentia
perseguida pelas sombras, pelo medo de morar no mesmo apartamento de quem havia
morrido. Tal fato se relaciona com questões de vingança que o objeto interno apresenta
posteriormente a morte (HELENO, 2000; HISADA, 2000; HOROWITZ; MILBRATH;
EWERT; SONNEBORN; STINSON, 1994; NORONHA, 2000; ROSA, 1991; SCABORO,
1993; SILVA, 1989; SIMON, 1984). Para se livrar das ansiedades presentes desde a primeira
infância, o ego do bebê se vê forçado a criar mecanismos de defesa. Isto significa que os
mecanismos de defesa bem como as ansiedades que o ego produz para se defender destas
últimas, influenciam de maneira contundente todos os aspectos do desenvolvimento do
indivíduo, seja de seu próprio ego e de suas relações de objeto, bem como de seu superego
(KLEIN, 1947-1968).
No caso de Melissa, possivelmente o seu primeiro objeto bom, isto é, o seio
materno, pode ter ficado cindido entre aspectos ou gratificantes ou frustrantes, fazendo com
que as relações que fazia com os outros ficassem sensivelmente marcadas pela interação entre
introjeção e projeção. Assim, a cisão que o seu próprio ego criava para se defender das
ansiedades, pode ter proporcionado sensações polares marcadas ou pelo que é bom, levando-a
a sentimentos de amor por tudo aquilo que sentia como bom, ou pelo que é mau,
proporcionando-lhe sentimentos de ódio por esse mesmo objeto.
Se, por um lado, a introjeção do objeto bom ajudara o ego de Melissa a lidar com
suas ansiedades, por outro lado, deve ter tido a necessidade de projetar no ambiente tudo
aquilo que era considerado mau, com a finalidade de se livrar do perigo que essas coisas más
lhe pudessem causar.
Possivelmente, ao serem lançados no ambiente, seus impulsos destrutivos se
prenderam ao objeto externo bom, e uma outra parte desses mesmos impulsos destrutivos foi
mantida no organismo, através da libido. Dessa forma, nenhum desses dois processos
conseguiu cumprir sua meta, fazendo com que a ansiedade de ser destruída fosse,
permanentemente, mantida. Então, a posição paranóide, caracterizada pelas sensações
persecutórias e, conseqüentemente, bastante ansiógenas, teve grande influência na vida
psíquica de Melissa, levando-a a apresentar dificuldade em aprofundar as relações que
mantinha com o mundo externo.
Por outro lado, esses medos persecutórios, embora intensos, pareciam não lhe
impedir de elaborar esta posição, porém, em algumas situações de ameaça, como no caso do
acidente, podem ter dificultado a elaboração da posição depressiva; daí, as sensações de
medo, de insegurança em permanecer no mesmo local de moradia que, anteriormente, fora
compartilhado com o amigo “real”, o amigo de “vida” e que agora teria se transformado em
“imaginário”, o amigo das “sombras”.
2. Narrativas de Tácio
Tácio foi um dos primeiros alunos atendidos pelo PSP. Mesmo antes de procurar
ajuda, eu já o conhecia dos corredores da universidade, pois ele costumava freqüentar as
Semanas Acadêmicas, Cursos, Exposições. Era um aluno que se fazia presente nas mais
diversas situações e, ao se fazer presente, costumava se portar de forma humilde, acatava
ordens de maneira demasiadamente respeitosa e procurava ser solícito a todos. Além disso,
caso a universidade precisasse de voluntários para qualquer atividade, ele também se
candidatava.
Sua aparência era simples e fazia questão de se mostrar como alguém calejado
pela vida dura da pobreza, da privação cultural. Na realidade, apresentava-se como um
produto das desigualdades sociais. Procurou o PSP alegando dificuldade para se concentrar
em leitura o que, segundo ele, seria o motivo de seu fracasso em “todas” as disciplinas: vim
aqui porque tenho dificuldade de concentração. Queria que a senhora me ajudasse a me
concentrar. Foi por causa da vida da infância. A senhora nem pode imaginar o que eu sofria
naquela época [...]
Em seus relatos, deixava sempre claro que havia sido infeliz na infância; sua fala
era ilustrada por marcas negativas, dolorosas, de trabalho exaustivo e pela falta de carinho dos
pais, em especial, da figura paterna a quem dizia muito respeitar. Tinha vários irmãos, porém
verbalizava não ser possível contar com eles, caso necessitasse: Meus irmãos? Não dá pra’
contar com eles, não se saíram bem na vida.
Da mesma forma que falava da impossibilidade de contar com os irmãos,
denotava seu descrédito frente a todas as pessoas que conhecia. Não havia ninguém, nada
nesse mundo com quem ele pudesse contar. Anteriormente ao curso que fazia, já havia
tentado outros, porém, sem sucesso. Ao ser questionado sobre o motivo de não ter conseguido
passar em outros exames vestibulares de outras universidades, ou mesmo por ter desistido de
outro curso que havia começado, mas não continuara, alegava desconhecer o motivo. É [...]
eu não consegui [...] não sei o que aconteceu, não consegui.
Colocava um ponto final em seu discurso verbal, um ponto final destinado ao
outro, isto é, não ia além, não discutia sobre seu comportamento, nem dava abertura para
quaisquer intervenções.
Tácio não denotava tristeza ou qualquer outro sentimento que demonstrasse
insatisfação consigo mesmo por seus insucessos; era como se atribuísse, projetivamente, toda
a responsabilidade à estrutura da universidade, à má elaboração das provas. Ao ser
questionado mais a fundo sobre o assunto, voltava seu fracasso à pobreza de sua infância e
aos deslizes de seus genitores.
Em nosso segundo encontro, retomou a fala sobre a infância: A senhora não
sabe, mas a minha vida nunca foi fácil [...] até no vestibular eu não passei, mas não foi por
minha causa [...] a senhora conhece a desorganização dessas coisas. Hoje, graças a Deus,
estou aqui, vou levando.
De alguma forma, começava a surgir a possibilidade de que algo poderia ser bom
para ele. Embora sua fala fizesse referência à universidade, parecia acreditar que aqueles
atendimentos psicológicos podiam, de alguma forma, ajudá-lo.
Fiquei até doente, mas já passou, às vezes ainda tenho alguns probleminhas de
saúde, mas logo passa, às vezes me dá um nó na garganta [...] no fundo, a faculdade é boa.
Se não fosse isso aqui (referia-se à Universidade), eu nem sei o que seria de mim. Era uma luz
no fim do túnel, algo muito tênue que poderia se dissipar se não houvesse muita cautela.
Sobre suas perspectivas futuras, costumava dizer que seu objetivo era apenas conseguir o
diploma, pois sentia que logo “sairia” deste mundo. A amargura era presente em sua fala e em
suas expressões faciais, denotando estar de mal com a vida, ou melhor, era a vida que estava
de mal com ele.
No terceiro encontro, ao ser questionado sobre a saúde, disse: Não vou ao médico
porque estou bem e, de qualquer maneira, se eu precisasse, eles sempre se atrasam e nem
vale à pena esperar. A senhora gosta de horário, como eu [...] a senhora não se atrasa para
as consultas.Parecia que o vínculo que fazia comigo começava a acontecer. Denotava querer
acreditar em alguém, mas era como se a vida toda tivesse sofrido tanto que o levara a perder
qualquer esperança de melhora.
Ao falarmos a respeito de sua família, mostrava bastante rigidez na educação que
dava aos três filhos. Quanto à esposa, era vista como “batalhadora”, mas achava que ela
poderia ficar mais em casa, já que não trabalhava fora.
Tácio não dava chance para que o outro pudesse querer ou fazer diferentemente
do que ele pensava ou determinava. Alegava, inclusive, que algumas pessoas já tinham dito
que ele era sisudo, mas ele dizia que não poderia mudar, atribuindo à vida dura, o seu próprio
“endurecimento”: Já me falaram que eu sou sisudo, mas não adianta, não adianta eles me
falarem, eu sou mesmo assim. A gente que tem a vida dura, fica assim também.
Fechava-se para o mundo e sabia disso. Ao falar sobre a vida dura, deixava claro
que sabia que ele também estava endurecido, sabia de sua inflexibilidade, mas talvez ainda
fosse muito cedo para trabalhar com tudo isso.
Ao final do terceiro encontro, foi sugerido que procurasse ajuda psicológica para
poder se conhecer melhor e, conseqüentemente, aliviar o seu sofrimento. Negou-se, de
imediato, mas ao sair da sala de atendimento, disse: Acho que a senhora me falou coisas que
eu já tinha pensado, mas não achava que isso pudesse acontecer comigo. Eu acho que já está
bom assim. Muito obrigado.
Agradeceu de maneira formal. Algo havia mudado em Tácio, algo o havia tocado,
as transferências negativas que ocorreram no início dos nossos encontros começavam a se
tornar positivas. As resistências continuavam bem fortes, tão fortes quanto a racionalização de
sua fala, enfim, mecanismos de defesa que se faziam presentes de forma exacerbada em seu
discurso e, provavelmente, ainda permaneceriam como um traço marcante de sua
personalidade. Porém, mesmo deixando claro que não procuraria ajuda psicológica para se
conhecer melhor, demonstrava que aquela luz no fim do túnel parecia um pouco mais
fortalecida.
Ao acompanhar Tácio à porta, deparamo-nos com uma das copeiras da
universidade que nos ofereceu café. Tácio aceitou, sorrindo pela primeira vez: É, .parece que
está bem quentinho [...] Conseguia, pela primeira vez, aceitar e admirar algo que lhe
ofereciam, sem criticar. Parecia mais ameno consigo mesmo, menos invejoso, menos cruel.
Ao verbalizar “café quentinho”, talvez quisesse se referir ainda ao atendimento, ao fato de ter
se sentido “acolhido” e, portanto, “aquecido” assim como o café que lhe fora servido. Mesmo
no caso de uma interpretação ousada, já havíamos percorrido alguns passos daquele imenso
caminho. Decorridos, aproximadamente, dois meses de nossa última sessão, Tácio me
procurou novamente.
Ao entrar na sala de atendimento, disse-me, de imediato, que tinha ciência de não
poder ser atendido novamente por causa das normas da universidade (obs: para cada aluno,
eram disponibilizadas entre três e cinco sessões, devido ao fato de aquele serviço acontecer
dentro do ambiente universitário e, desta forma, evitava-se a criação de fortes vínculos
terapêuticos). Eu apenas sorri e pedi que se sentasse. Tácio sentou-se e, utilizando seu
costumeiro e sério tom de voz, contou-me que assim que estivesse em férias, procuraria a
ONG (Organização não governamental) de Psicologia para onde eu encaminhava os alunos
que precisavam de terapia tradicional e que não tinham condições financeiras de arcar com
sessões de um consultório particular.
2.1. Análise dos setores da EDAO
O setor afetivo-relacional apresentava pouquíssima adequação. Sentimentos de
rejeição e inveja permeavam seu discurso. Sua fala era carregada de mecanismos de defesa
que denotavam a imensa dificuldade que tinha nos seus relacionamentos interpessoais.
Embora relatasse ser capaz de amar e ser amado, descrevia seus relacionamentos como
repletos de “amigos falsos, pessoas em que não se pode acreditar ou confiar”.
Embora Tácio se mostrasse contente por ter, recentemente, arranjado emprego, o
setor da produtividade também se encontrava pouquíssimo adequado, pois não se estava
satisfeito com o local em que trabalhava, sentindo-se injustiçado por dois motivos: não se
sentia reconhecido por seus superiores e percebia que alguns colegas o invejavam.
Quanto ao curso de escolha estava satisfeito, porém achava que a universidade
deixava muito a desejar quanto ao nível de dificuldade necessário a um curso de graduação;
porém, embora reclamasse desse nível, referia dificuldades em algumas disciplinas, pois,
segundo seu relato, apresentava “dificuldade de concentração, embora fosse muito
estudioso”.
O setor sócio-cultural também apresentava pouca adequação. Tácio alegava não
possuir uma vida socialmente ativa devido às dificuldades financeiras, mas quando
questionado sobre o seu desejo de sair para passear, deixava claro que tal desejo não existia,
embora sua esposa sempre o convidasse para caminhar, para ir a um restaurante etc., e ele se
negasse.
O setor orgânico encontrava-se adequado, cuidava de seu corpo, embora tivesse
dificuldade de ser atendido por médicos devido aos atrasos que mencionara nos atendimentos
junto ao PSP, e não denotava quaisquer dificuldades quanto à sexualidade.
2.2. Análise do discurso sob a ótica de Mahony
Tácio apresenta um discurso gramaticalmente correto, pontuado, cauteloso e
também coerente com a forma através da qual queria se mostrar aos outros, isto é, comedido,
honesto e trabalhador.
Trata-se de um discurso do tipo expressivo, pois seu foco mantém-se no emissor,
com ênfase na primeira pessoa do singular.
Aspectos retóricos também se fazem presentes, isto é, Tácio tentava, a todo o
momento, persuadir-me com sua fala, apresentando manobras retóricas como, por exemplo, a
lógica defensiva e, às vezes, o silêncio (KUBIE, 1950).
Em geral, durante os atendimentos, não houve, sequer, uma pontuação que eu
fizesse que não fosse por ele refutada e, embora verbalizasse “apreciar uma boa conversa em
que duas pessoas trocam idéias”, relutava em aceitar que aquilo que pensava ou que fazia
pudesse ser criticado, denotando, assim, dificuldade acentuada de escuta.
2.3. Discussão do caso
A postura de Tácio era exacerbadamente humilde, porém apresentava um tom de
voz de desdém, inveja e estreiteza mental inigualáveis. Parecia não pensar coerentemente com
a forma que utilizava para se expressar, deixando que algumas coisas que dizia ficassem um
pouco sem sentido no momento em que expressava o seu discurso.
Da mesma forma que pensava sobre a área médica, talvez tivesse pensado sobre
aqueles momentos de atendimento psicológico, isto é, ao mesmo tempo em que depositava no
outro as suas expectativas, não acreditava que pudesse ser ajudado. A única esperança era o
fato de que, embora com uma queixa racionalizada, ele havia conseguido procurar ajuda
psicológica, então, o fato de estar ali, sentindo-se acolhido, tinha evitado que ele “escapasse”
e permanecesse divagando sobre os seus infortúnios passados e também presentes, ou seja,
canalizando suas queixas para as questões socialmente mais aceitas, como, por exemplo, a
dificuldade de leitura e de concentração, atribuindo a outrem toda a responsabilidade possível.
Na realidade, pode-se inferir que existisse, realmente, dificuldade de
concentração, porém, não referente à leitura dos textos acadêmicos que lhe eram solicitados,
mas à leitura das próprias dificuldades e conflitos.
Os mecanismos de defesa, em geral, a negação, a racionalização e a projeção se
faziam presentes na maior parte de seu discurso, o que tornava difícil a relação terapeuta-
cliente. Fazia-se necessário que suas defesas fossem apontadas, o que deveria ser feito não
apenas com o respeito necessário daquele que se dedica à prática psicoterápica (RODMAN,
1987), como também era necessária muita cautela para que Tácio não se fechasse de uma só
vez e impedisse o atendimento por completo.
Por outro lado, apenas compreender tais defesas não era a melhor maneira de
diminuí-las ou desfazê-las. Tácio também se fazia de vítima, mas ao falarmos sobre o quanto
sofria, reagia negando tal situação, relatando estar acostumado com desgraças. Seu tom de
voz era baixo, calmo, não tinha a entonação costumeira de alguém que se lamuria. É como se
estivesse fechado para tudo aquilo de bom que pudesse vir do mundo externo já que o seu
mundo interno fora destruído desde que nascera. Há pessoas que não sabem receber e por isso
acham que sua missão é apenas doar para o outro; e, por isso, vivem com o sentimento de
abandono e ignomínia (NUNES; SOCZKA, 1993).
Por outro lado, denotava certa onipotência no modo de falar sobre as coisas de
que era capaz, como se em seu mundo interno predominassem os instintos de morte, fazendo
com que o orgulho de ter conseguido se salvar do “desastre” de sua vida tivesse sido
transformado em arrogância (BION, 1994). Sentia-se discriminado, excluído, nunca
lembrado pelos outros e, ao ser questionado se ficava triste, dizia que não, pois já se
acostumara a esse tipo de situação.
Parecia não reagir à sua vida catastrófica, dando a sensação de que, embora
desejasse ser elogiado, desprezava tais elogios como se não fossem suficientes. Em seu
discurso, a onipotência, embora apresentada apenas de maneira latente, era traída pelo alto
grau de negação, racionalização e projeção, mecanismos contidos em sua fala, conforme já
apontados. Era como se existisse uma fantasia de um self onipotente e objetos também
onipotentes que pudessem satisfazer seus desejos em situações de ameaça de falha do
ambiente protetor, o que propiciava a manutenção dessas estruturas narcísicas (ROSENFELD,
1988). Dessa forma, para Tácio, o mundo externo era o responsável por tudo aquilo que lhe
acontecia de bom ou de ruim, assim como o bebê que ao projetar suas emoções sobre a mãe,
converte-a em um objeto bom ou perigoso (KLEIN, 1991).
Durante os três encontros, parecia tentar me manipular para que eu acreditasse o
quão verdadeiro e também prejudicado ele tinha sido ao longo de sua vida. Não levantava o
tom de voz, seu olhar era parado. Pode-se inferir que, da mesma forma que sua voz e seu
olhar pareciam estar sempre distantes, sua vida também devia ter ficado “silenciosamente”
interrompida desde a infância da qual só possuía lembranças ruins.
Os encontros terapêuticos, embora não tenham sido suficientes para que ele
conseguisse reestruturar sua forma de viver, serviram para clarear e desfazer alguns “nós” que
trazia consigo. Como se pôde perceber, mesmo negando que a ajuda de outro profissional
pudesse ampará-lo, Tácio parecia estar menos fechado para novas descobertas a seu respeito,
situação que o levou, num momento posterior, a buscar ajuda psicológica de forma mais
consciente e realista, naturalmente, fora do ambiente universitário.
3. Queixas freqüentes no discurso de universitários
Esses dois casos foram, aqui, apresentados como ilustração e, naturalmente, não
servem para teor estatístico; são apenas emblemas de discursos de estudantes universitários
atendidos junto a um serviço de apoio psicopedagógico universitário e que, portanto, se
assemelhariam a discursos de serviços de apoio de outras universidades.
Conforme já descrito no início deste capítulo, a grande maioria das queixas refere-
se ao setor afetivo-relacional, isto é, são queixas de cunho pessoal que concernem à maneira
de esses alunos amar (ou não) e de se sentirem (ou não) amados. Também expressam a sua
forma de lidar com as diversas dificuldades de relacionamento pessoal, como por exemplo, o
ciúme, a solidão, relacionamento com a família e colegas, enfim, situações humanas
rotineiras, para as quais, naquele momento da vida, não encontravam respostas satisfatórias
(SIMON, 1989).
Questões relacionadas à produtividade surgem com uma freqüência menor quando
comparadas às do setor afetivo-relacional e, algumas vezes, servem para camuflar as
dificuldades deste último. Tais queixas parecem ser um jeito menos angustiante de trazer à
tona as dificuldades de ordem pessoal; inclusive, em algumas situações, ao adentrar a sala de
atendimento, alguns alunos verbalizavam uma queixa relativa ao setor da produtividade, como
por exemplo, baixo rendimento escolar, mas ao se sentirem “ouvidos”, “acolhidos”, deixavam
transparecer problemas de relacionamento em sala de aula que, de alguma forma, poderiam
estar influindo negativamente em seu desempenho como um todo.
Queixas referentes aos demais setores, isto é, sócio-cultural e orgânico não
apareceram como tônicas dos discursos, mas surgiram vinculadas às demais queixas, com o
decorrer das sessões.
Para se ter uma idéia mais clara das queixas trazidas pelos alunos, foram,
aleatoriamente, escolhidas duas por curso, indicando o curso a que pertencem, bem o como o
setor da EDAO a que se referem, proporcionando, assim, um panorama geral do tipo de
queixa que o universitário apresenta:
Curso de Administração de Empresas
Nem sei por que estou aqui [...] aliás, eu acho tudo isso um saco, mas tanto
me encheram que eu vim. Eu sei que a senhora não vai poder fazer nada por
mim, porque o problema é da faculdade, não é meu, aliás, eu não tenho
nenhum problema, tô super cheio de coisas pra fazer, não agüento mais...o
que a senhora acha? (AR/PR)
Acho que não escolhi o curso certo. Lá na classe, todo mundo consegue falar
lá na frente, durante os trabalhos. Eu não sei o que acontece comigo, parece
que eu travo. Lá no serviço eu também sou um pouco assim, não tenho
tantos problemas, mas só de pensar que os outros podem estar me julgando,
eu travo mesmo. Acho que quando fico sob pressão, parece que não sei
resolver nada (AR/PR)
Curso de Análise de Sistemas
Sou tímida, voltei a estudar com dificuldade, meu ex-marido nunca me
deixou estudar, ele usava drogas, morreu, mas eu não sinto vontade de sair,
sou super fechada, não consigo fazer amizade (AR)
Conheci uma garota há 10 anos, estava apaixonado, terminou comigo entrei
nas drogas, lidei com traficantes. Já estou noutra. Hoje não consigo me
aproximar das pessoas, se ninguém me pergunta nada, eu não falo nada, sou
calado (AR)
Curso de Comunicação Social
Vim aqui por curiosidade, não tenho me sentido bem, parece que estou
perseguido, já faz um ano que não ganho num campeonato, sempre fui o
primeiro. Agora que consegui um emprego, vou ter que mudar de cidade,
meu pai foi transferido. Minha mãe é dominadora, eu sou a miniatura do
meu pai, mas ele é distante (AR/PR)
Estou desempregado, fiz tanta coisa, trabalhei direitinho, mas acho que o
pessoal não gosta de mim, me dispensaram. Não consigo me concentrar nas
leituras; eu tento, mas não sei o que acontece (PR)
Curso de Direito
Foi minha mãe que falou para eu pedir ajuda, mas eu me sinto bem mais
próxima do meu pai. Eles são separados e eu morava com ele, minha mãe
achava que era por causa do dinheiro dele. Meu pai tem uma amante,
cheguei até a trabalhar com ela, não me envolvo nas brigas do meu pai com
minha mãe. Só que ele perdeu muito dinheiro, foi até preso, então eu voltei
para minha mãe (AR)
É porque eu tenho TPM, fico muito depressiva, chego até a bater no meu
namorado [...] cheguei atrasada de novo, não sei o que acontece. Consegui
um emprego, já tem duas semanas, mas acho que ninguém gosta de mim.
Vou ficar estressada com tanta coisa (AR/OR)
Curso de Educação Física
Vim aqui porque gosto de conversar, gosto de me comunicar, de esclarecer
dúvidas, sei lá, pedir conselho, orientação. Queria terminar o namoro, não
tenho vontade de sair com ele, mas ele é envolvente, parece psicólogo [...]
(AR)
Vivo correndo, parece que não tem fim, é como se alguém me cobrasse.
Voltei a estudar agora depois de tanto tempo. Trabalho muito, mas tenho que
dar contra de tudo, inclusive as festas lá em casa, sou eu quem prepara tudo,
não pode faltar nada, gosto de estar com as pessoas e não me sinto bem se eu
falho com elas (AR/PR)
Curso de Enfermagem
Eu tô indo bem na faculdade, mas algumas matérias são chatas,eu me aperto,
mas não consigo pedir ajuda para as pessoas, tenho sempre dúvida se elas
querem me ajudar ou não. Minha amiga veio aqui e disse que eu também
deveria vir que a senhora ia me ajudar...a gente pode falar sobre sexo aqui,
né? (AR/PR/OR)
Nem sei se tenho problema, acho que sou tímida, sou muito calada, até na
sala de aula, a senhora percebe, né? Quando eu tô perto de muita gente, acho
que fico insegura (AR)
Curso de Fisioterapia
Precisava conversar com alguém, me sinto sozinha, às vezes eu fico doente,
tenho falta de ar, hoje eu estou com um pouco de tosse, gosto de ficar rouca,
é legal, a voz fica diferente. Minha mãe está longe, ela não pode saber de
algumas coisas. Quando estou rouca eu posso gritar e ninguém ouve, assim
não podem pensar que eu estou louca (AR/OR)
É que eu choro muito, tenho tanto cansaço, eu finjo que sou feliz, nunca tive
nada, quero se alguém na vida, não consigo nem pagar a faculdade, tá difícil
sobreviver aqui, mas não quero voltar pra onde minha mãe está, ela pensa
que eu estou bem, não posso dizer pra ela que não estou bem, não posso
decepcioná-la (AR/PR)
Curso de Odontologia
Quando fico ansiosa, fico com muito medo, tenho até ânsia de vômito, me dá
uma dor de cabeça. Tenho pavor de briga, minha mãe pega muito no meu pé,
ela é super controladora, mas minha irmã é aventureira, fuma , bebe, chega
tarde. Meu defeito é ser preguiçosa, só, mas isso ela não enxerga (AR)
Moro com uma colega, mas a gente é tão diferente, ela tem uma vida muito
solta, não tem limite com o namorado, ele quase que mora lá no nosso
apartamento, usa droga, não consigo fazer com que ela o tire de lá (AR)
Curso de Pedagogia
Sou muito dependente, minha irmã é diferente, não mede o que fala, é
estourada. Eu não tenho nem pique para estudar, parece que nem sei falar
com as pessoas, nem sei se é porque sou tímido (AR)
Tenho dificuldade para lidar com a pobreza e com espancamento de jovens.
Faço parte de um projeto com adolescentes, mas meu marido pega no meu
pé, acha que não vale à pena...o pior é que isso faz parte do meu trabalho e
mesmo com todas as minhas dificuldades, eu me sinto bem, mas ele não quer
que eu trabalhe nisso, não sei o que fazer (PR)
Curso de Telecomunicações
Tenho dificuldade de concentração, não controlo minhas emoções, às vezes
reajo muito nervoso. Preciso correr, não posso apenas caminhar na praia, não
posso perder tempo. Preciso aprender a me concentrar (AR /PR)
Gosto da faculdade, mas à vezes me dá um cansaço. Sei que o desemprego é
grande, mas eu chego lá. Meus pais me incentivam, aliás, pegam no pé...eu
já fiz uma pá de amigos aqui, mas ainda me sinto sozinha [...] (AR/PR)
4. Características psicológicas do discurso de universitários
A exemplo das queixas apresentadas, as características psicológicas agora
descritas não se resumem à análise dos dois casos clínicos apresentados, mas abrangem os
diversos conteúdos observados nos atendimentos junto ao PSP. Neste momento, portanto,
devem ser entendidas emblematicamente, isto é, como uma representação manifesta do
discurso de estudantes universitários.
A existência de um pensamento mágico é uma das características encontradas
nesses discursos, possivelmente, devido a uma necessidade interna de transformar uma
realidade já existente em algo menos doloroso. Alguns alunos, embora denotem querer ajuda,
o que pode levá-los a sofrer por falar sobre assuntos que não lhes são agradáveis, tendem a
evitar o conflito, como se, num passe de mágica, possam se sentir curados.
Embora uma análise lingüística rigorosa da sintaxe do discurso não tenha sido o
objetivo central da pesquisa, parece merecedora de destaque em algumas situações como
forma de ajudar no aprofundamento das expressões do conteúdo, tanto emocional como
lingüisticamente.
Como ilustração, alude-se aos tempos verbais que, em geral, são apresentados no
pretérito perfeito do indicativo, talvez como uma forma de deixar cada história inerte,
imutável assim que relatada, objetivando, inconscientemente, evitar o conflito. Ainda, com a
utilização de algo apenas passado, ou seja, com a certeza de ter relatado a história “certinha”,
“como manda o figurino”, seus sentimentos ou pensamentos mais dolorosos poderão ser
enterrados e, então, não haverá sofrimento.
Parece que o fato de apenas falar sobre algo ruim ou sobre algo que incomoda,
mas sem entrar em contato com o que acontece internamente de maneira profunda, já seja
uma forma de resolver o incômodo e a angústia dele decorrentes.
Outro tempo verbal bastante utilizado, embora não com tanta freqüência como o
pretérito perfeito, é o imperfeito também do modo indicativo, denotando uma tendência a
utilizar comportamentos regredidos, como forma de conseguir gratificação, possivelmente
como na infância. A utilização de parlendas também se faz presente, reforçando a tendência
de uma fala infantilizada embasada num tom sistematizado e rimado; assim, os termos
utilizados são associados muito mais foneticamente do que pelo sentido que contêm
(GALVÃO, 1999).
Além das parlendas, há casos em que esses discursos apresentam a mesma
estrutura estruturante do discurso das histórias infantis, como representante de um desejo
inconsciente.
Não deixando tais questões lingüísticas de lado, porém considerando mais
especificamente os aspectos emocionais, pode-se perceber que as situações projetivas
aparecem com bastante freqüência nesses discursos. Em geral, alguns mecanismos de defesa
surgem quando os alunos se sentem incomodados com o fato de não conseguirem se
sobressair ou de não alcançarem algum objetivo em determinados momentos de sua vida.
Desta forma, assim, sentem-se impelidos e, automaticamente, aliviados ao atribuir seus
fracassos a alguém, ou seja, o mundo externo fica sendo o único responsável por tudo aquilo
que lhes acontece de bom ou de ruim (FREUD, 1917-1986; KLEIN, 1947-1968; SCABORO,
1993).
Em situações de grande perda de pessoas queridas, como, por exemplo a morte, há
uma tendência à elaboração do luto, porém não de um luto considerado normal, isto é, sentir
as perdas de maneira profunda, dolorida e, aos poucos, conseguir se reerguer e voltar à vida
cotidiana.
Em alguns desses discursos de luto, o objeto externo deve ter sido introjetado de
maneira idealizada e, após a sua morte não pôde ser substituído no self. Como conseqüência,
o indivíduo sente-se perseguido por sombras, o que lhe causa muito medo, como se a pessoa
que morreu pudesse voltar à antiga moradia e se vingar de todos aqueles que ainda estivessem
vivos e saudáveis (HELENO, 2000; HISADA, 2000; HOROWITZ; MILBRATH; EWERT;
SONNEBORN; STINSON, 1994; NORONHA, 2000; ROSA, 1991; SCABORO, 1993;
SILVA, 1989; SIMON, 1984).
Há, também, casos constantes de surgimento do mimetismo de Mahony, isto é,
situações de atendimento em que o aluno tende a repetir com a terapeuta a mesma relação que
tem com outra pessoa de seu relacionamento, em geral, pessoas que lhe são bem próximas
(MAHONY, 1996). Por exemplo, se as relações que este ou aquele aluno mantém com outras
pessoas forem superficiais, sem aprofundamento, esta mesma superficialidade aparecerá
durante os atendimentos, na forma como se relaciona com a terapeuta. Se, por exemplo, a
forma de falar sobre seus sentimentos em geral for racionalizada, haverá também uma
tendência a racionalizar os assuntos tratados durante as sessões.
Nos discursos, em geral, por mais racionalizados que tenham sido, pode-se
perceber que existe confiança no acompanhamento junto ao serviço de apoio. Em algumas
situações, parece haver exacerbação dessa confiança depositada na terapeuta como se ela
fosse a responsável pelo caminho da cura (FRANCO, 2001). Por outro lado, em alguns
discursos, percebe-se dificuldade em poder se sentir cuidado por alguém. É como se houvesse
uma cisão em seu ego, isto é, uma parte sua consegue ser cuidada, auxiliada, enquanto sua
outra parte que não consegue suportar qualquer tipo de atenção ou cuidado (JOSEPH, 1990-
1975).
Casos mais esparsos mostram que alguns alunos apresentam dificuldade em
encontrar um espaço mental para registrar suas emoções. Nesses casos específicos, pode-se
perceber o quanto esses alunos desconhecem o que lhes acontece internamente, isto é,
parecem totalmente alienados de seus sentimentos tanto de prazer como de dor, parecendo
não possuir um mundo interno subjetivo, apenas seu corpo físico. Desta forma, seu discurso
frente ao mundo e, conseqüentemente, frente ao atendimento, é repleto de alusões às partes do
corpo as quais são exteriorizadas através de metáforas verbais, como por exemplo, nó na
garganta [...] Me aperta o peito [...] refletindo a grande dificuldade para registrar suas
questões emocionais (GRASSANO, 1998).
Este tipo de comportamento é, possivelmente, originário de uma desorganização
psíquica demonstrada através de repetidas queixas sobre sintomas corporais como se o self
desses indivíduos estivesse localizado no corpo e não na mente (YÁZIGI; MINERBO;
ATTUX, 2000).
Tendo em vista os resultados da pesquisa realizada com estudantes universitários,
reitera-se que o âmbito central do pedido de ajuda desses jovens é o afetivo-relacional, sendo
que muitas vezes há certa camuflagem desse setor, possivelmente devido a mecanismos de
defesa naturais do ser humano.
De modo geral, os quatro setores adaptativos estão presentes em quase todos os
discursos, independentemente de possuírem ou não eficácia adaptativa, reiterando-se que os
setores que mais prescindem de atenção são o afetivo-relacional e o produtivo. De qualquer
forma, o discurso desses estudantes encontra-se imbuído de questões e afetos múltiplos que,
se não considerados adequadamente, podem se tornar entraves no percurso da graduação e,
conseqüentemente, interferir sobremaneira no futuro profissional.
Não obstante, estando o âmbito universitário calcado de situações e ânimos
diversos e, levando-se em conta o tempo relativamente longo que os alunos aí permanecem, é
mister que as universidades disponham de serviços de apoio psicopedagógico visando formar
cidadãos mais completos e, portanto, eficazes para a nossa sociedade.
Ainda, tendo em vista a hegemonia dos setores afetivo-relacional e produtivo
frente aos setores orgânico e sócio-cultural, retoma-se a hipótese levantada no início desta
tese que, ao tomar como exemplo a situação ocorrida junto ao PSP, sugere que os setores
afetivo-relacional e produtivo também sejam predominantes nas notícias veiculadas pela
mídia impressa. Desta forma, dá-se início à apresentação dos resultados obtidos na análise da
incidência setorial das notícias, bem como ao posicionamento de jornalistas frente a esses
resultados.
Capítulo V - Análise dos resultados dos jornais Folha de S.
Paulo, O Estado de S. Paulo e A Tribuna
A partir da leitura dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e A
Tribuna, respectivamente identificados como Folha, Estadão e Tribuna, foram encontradas e
analisadas 61 notícias sobre estudantes universitários. Dessas 61 notícias, 25 (41%) foram
publicadas na Folha, 21 (34,5%) no Estadão, e 15 notícias (24,5%) na Tribuna, conforme
gráfico:
Como o objetivo desta tese é analisar de que forma o universitário se encontra
representado na mídia impressa, isto é, quais os setores adaptativos que mais incidem nas
notícias veiculadas, os três jornais foram analisados quantitativa e qualitativamente, de forma
individual e, também, como um todo, isto é, com relação às 61 notícias.
Os setores adaptativos AR, PR, OR e SC foram analisados no que diz respeito à
sua forma pura, mesclada em duplas, e mesclada em trios. Forma pura significa que houve a
incidência de apenas um setor adaptativo na notícia; forma mesclada em duplas indica a
incidência de dois setores adaptativos e forma mesclada em trios indica a incidência de três
setores adaptativos em uma mesma notícia.
Abaixo, encontram-se fragmentos de todas as notícias selecionadas para esta
pesquisa e, ao final de cada uma, aponta-se a respectiva incidência setorial, lembrando que o
período de coleta dessas notícias ocorreu entre os meses de agosto e novembro de 2005,
conforme descrição anterior (Material e Método).
A seguir, estão os fragmentos das 25 notícias sobre estudantes universitários
publicadas pela Folha de S. Paulo, bem como a indicação da incidência setorial em cada
notícia:
1. O clima foi de tristeza ontem na USP entre os amigos e colegas do estudante [...], morto com
uma facada [...] Na classe dos estudantes os colegas também estavam chocados. ‘Vai ser
muito difícil. Eu era muito ligada a eles, afirmou chorando uma estudante que não quis se
identificar [...] (BASSETE, F; BRITO, L., 2005, p. C 3) setor AR.
2. O genro [...] está em choque. No enterro [...] estudantes da Universidade Municipal de São
Caetano do Sul [...] estavam presentes. “Ela adorava os alunos”. (BASSETE; LEITE;
TÓFOLI, 2005, p. C 4) setor AR
3. Antes de o mercado mostrar necessidade, já formávamos profissionais polivalentes [...] Carlos
Henrique, que pretende seguir carreira acadêmica após a formatura, no final deste ano,
aconselha quem está entrando na universidade agora a buscar uma visão mais aberta [...]
(BAPTISTA, 2005, p. 3) setor PR
4. Chineses e americanos enxergam o mundo de jeitos distintos-literalmente, a julgar por uma
pesquisa publicada hoje. Pesquisadores de Michigan em Ann Arbor, nos Estados Unidos,
sugerem que os olhos asiáticos tendem a ver uma imagem no seu conjunto. (CHINESES...,
2005, p. A 18) setor PR.
5. Um estudo inédito realizado na USP mapeou as causas da evasão no ensino superior. [...]
Outros 30,7% desistem por não gostarem da estrutura do curso [...]. Os que desanimam por
razões pessoais-como problemas familiares, financeiros, afetivos são 10,5%. (HARNIK, 2005,
p. 6) dupla setorial AR/PR
6. Com a economia a passo lento e o número de formados pelo ensino universitário crescendo a
cada ano, [...] não haverá empregos de qualidade para todos. [...] Na FACAMP, o aluno não é
um número e sim uma pessoa em estreito contato com professores, coordenadores e diretores.
(PROFISSIONAIS..., 2005, p. 2) dupla setorial AR/PR
7. Pelo segundo dia seguido, recife viveu uma onda de violência e depredações durante protesto
de estudantes secundaristas e universitários contra o aumento da passagem de ônibus na
cidade. (EM PROTESTO..., 2005, p. C 8) - dupla setorial AR/SC
8. Na madrugada de ontem [...] disse à sua mãe que teria que ficar até tarde fazendo um trabalho
para a faculdade de Direito [...] Por volta da 13h30 [...] a mãe da vice-campeã brasileira em
2004 encontrou o corpo da filha frio, imóvel na cama. A causa da morte será divulgada apenas
após a elaboração do laudo de autópsia. O médico do Minas [...] disse que era impossível falar
a causa sem um exame detalhado. Na segunda-feira [...] treinou normalmente[...] (FERRARI,
2005, p. D 3) dupla setorial PR/OR
9. Alguns exemplos apontados no relatório: 2,5% dos negros estão no ensino superior [...]. O
relatório aponta que a porcentagem de homens negros com curso superior completo em 2000
era menor do que a dos homens brancos em 1960 [...]. A pesquisa apontou também problemas
no mercado de trabalho (TAKAHASHI, 2005, p. C 6) - dupla setorial PR/SC
10. Os pesquisadores da Faculdade de Medicina [...] descobriram que 38% dos adolescentes que
experimentaram cigarros o fizeram porque haviam visto pessoas fumando em filmes. [...]
(LARKIN, 2005, p. A 3) - dupla setorial PR/SC.
11. A demanda por mais vagas nas universidades públicas brasileiras, assim como a exigência de
facilitações para o ingresso de candidatos socioeconomicamente carentes, fazem parte de um
movimento legítimo em um contexto de grande desigualdade social. [...] O próprio diploma
universitário, [...] não tem garantido inserção no mercado de trabalho (ANTUNES, 2005, P. A
3) dupla setorial PR/SC.
12. Os 150 universitários do Projeto Rondon [...] receberão seguro gratuito. [...] A Caixa Seguros
doou a cada voluntário do programa uma apólice de acidentes pessoais no valor de R$ 10 mil
(DOAÇÃO..., 2005, p. B 2) dupla setorial PR/SC
13. Até a aprovação da Lei de Biossegurança [...] Entre os poucos trabalhos com células-tronco
embrionárias está o de Antonio Carlos Campos de Carvalho, da UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro. [...] (LOPES, 2005, p. A 22) dupla setorial PR/SC
14. O dia começa muito cedo na Academia de Polícia Militar do Barro Branco [...]. O segundo
movimento dos estudantes é ficar em forma para cantar o hino e desfilar. [...] “Não tive muitas
surpresas quando entrei, pois já havia buscado informações antes e sabia que não era fácil”
(BARRO..., 2005, p. 3) dupla setorial PR/SC
15. Na década de 70, 20 famílias de pescadores viviam no local [...]. Segundo pesquisadores da
UFF (Universidade Federal Fluminense), apenas cinco famílias de pescadores tradicionais
continuam a morar por lá. (EX-PESCADOR, 2005, p. C 6) dupla setorial PR/SC
16. Nossa gestão é democrática [...] estudantes elegem reitores e direções acadêmicas, [...] há
diálogo constante com as entidades associativas dos três segmentos. [...] o financiamento à
produção de conhecimento teve de ser arcado pela própria universidade. (VÉRAS, 2005, p. A
3) dupla setorial PR/SC.
17. [...] A Fundação Seade prepara um estudo [...] mostrando que além da queda da violência,
melhora a nota e a taxa de evasão de alunos. [...] uma experiência [...] na formação de
diretores de escolas e professores para envolver as famílias, o bairro e a cidade nas escolas.
(DIMENSTEIN, 2005, p. C 8) dupla setorial PR/SC
18. Quando Andrew Yao [...] foi abordado pela universidade de Pequim [...] com um convite para
chefiar um programa de estudos avançados em computação, ele não hesitou [...] O país já
realizou [...] em matéria de expansão de ensino [...] multiplicando por cinco nos últimos dez
anos o número de universitários. [...] O modelo [...] é contratar especialistas chineses, [...]
cercá-los de estudantes mais inteligentes (FRENCH, 2005, p. A 1) - dupla setorial PR/SC.
19. Dois universitários de Direito foram presos na madrugada de sábado [...] sob a acusação de
tráfico de drogas e de associação para o tráfico [...] eles estavam com 800 comprimidos de
ecstasy. Em Vitória (ES), um universitário de 19 anos foi preso [...] com mil comprimidos de
ecstasy na mochila. (POLÍCIA..., 2005, P. C 6) dupla setorial OR/SC
20. O estresse de quem vai escolher uma profissão [...] “burn out”[...]. Muitos chegam a ter esses
sintomas mesmo na faculdade. [...] “Há pesquisas que indicam que uma pessoa, aos 45 anos,
já ganhou quatro ou cinco habilitações diferentes de trabalho. Isso só por ter curso superior e
ter ingressado no mercado. (ESTRESSE..., 2005, p. 7) trio setorial AR/PR/OR.
21. A primeira fase do ‘provão’ para médicos [...]teve o comparecimento de 90% [...]Todos os
que acertaram pelo menos 60% das questões passarão à segunda etapa [...] Ontem, estudantes
se manifestaram contra a prova em frente ao local do exame [...]Em protesto, chegaram a
queimar os aventais de médico [...] Afirmam ainda que as avaliações devem ocorrer durante a
formação e que o exame é paliativo e não resolve os problemas de saúde do país.
(APESAR..., 2005, p. C 3) trio setorial AR/PR/SC
22. Sem uma posição definida sobre a adoção de cotas, a USP e a UNESP preferiram implementar
medidas menos radicais para atrair estudantes da escola pública [...]. Na USP, apenas fazem a
redação os alunos que atingem a nota de corte e conseguem ir para a segunda fase.[...]
desmotivados com a competição com estudantes da rede particular e de cursinhos.
(TAKAHASHI, 2005, p. C 4) - trio setorial AR/PR/SC
23. [...] Dados de setembro apontam que a faixa etária dos 21 aos 30 anos é a que mais concentra
pessoas com o “nome sujo” por dívidas. [...]. O jovem compra por impulso, mas só pode fazer
isso se tiver acesso ao crédito. [...] embora as contas universitárias existam há quase 20 anos
no país, [...] começaram a descobrir o jovem [...]. Gabriel [...] “vendo o que minha família está
sofrendo, percebi que cartão é só para uso emergencial”. (LIMA , 2005, p. B 3) - trio setorial
AR/PR/SC.
24. [...] a expansão de vagas. [...]. Foi o ponto inicial para a inclusão social. [...]. Pode e deve
crescer mais um pouco, mas uma universidade de pesquisa não pode ser muito maior do a
USP já é. [...] Os alunos não têm aquela vivência, os docentes não se relacionam [...]. Isso,
sim, são problemas que deveríamos discutir. (TAKAHASHI, 2005, p. A 14) - trio setorial
AR/PR/SC
25. Cerca de 150 estudantes e funcionários das universidades estaduais de São Paulo, que cobram
mais verbas para a educação, passaram a noite na Assembléia Legislativa. [...] ficaram em
protesto ao confronto com a Polícia Militar. [...] Eles tentaram fechar uma avenida; a polícia
interveio com bombas de gás lacrimogêneo. [...] Os manifestantes dormiram nas galerias [...]
“Está difícil. Estamos sem tomar banho. E só comendo pão”, disse Michele [...] , da Unesp de
Marília. (ESTUDANTES..., 2005, p. C 10) trio setorial AR/OR/SC.
A seguir, estão os fragmentos das 21 notícias sobre estudantes universitários
publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, bem como a indicação da incidência setorial em
cada notícia:
1. O Conselho Nacional de Justiça [...] arquivou [...] o habeas-corpus que liberou a estudante
Suzane von Richthofen, acusada de matar os pais. (CONSELHO..., 2005, p. C 5) setor AR.
2. Estudantes do último ano de Medicina fizeram ontem em São Paulo e Ribeirão Preto a
primeira fase da avaliação organizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São
Paulo. (ESTUDANTES..., 2005, p. A 12) setor PR.
3. Uma cadeira de rodas [...] está sendo desenvolvida pela Wolmer, microempresa incubada n o
Centro de Incubação de Atividades Empreendedoras (Ciaem), da Universidade Federal de
Uberlândia [...] (CADEIRA..., 2005, p. B 16) setor PR.
4. [...]. Pesquisadores da Escola de Economia de Administração de Negócios norueguesa e da
Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), nos EUA, analisaram toda a população
da Noruega na faixa de 16 a 74 anos entre 1986 a 2000. (PRIMOGÊNITOS..., 2005, p.
A 18) setor PR.
5. [...]. A equipe envolvida na pesquisa [...] do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade de Stanford, da Califórnia, analisou as informações genéticas [...] (HOMEM...,
2005, p. A 16) setor PR.
6. Enquanto morava em Winter Park [...], o estudante de relações internacionais Daniel
Barbarini, de 28 anos, participou de quase 20 expedições ao backcountry com os amigos.
(CAMPOS, 2005, p. V 16) setor SC.
7. Mas afinal, do que se trata esse tal Ragnarök?[...] A estudante de Moda [...] é uma das pessoas
que além de jogar com uma bruxa, aproveita o jogo para conversar com os colegas.
(LACERDA, 2005, p. B 10) setor SC.
8. Todos já ouviram piadas de advogado [...] os turismólogos também têm o seu estigma [...] ’as
pessoas brincam que Turismo é curso de vagabundo’[...] todos os cursos superiores de
Turismo deveriam ter um laboratório específico para as atividades práticas. (CAMPOS, 2005,
p. V 13) dupla setorial AR/PR.
9. O estudante de Jornalismo [...] que matou com uma facada, o amigo e colega [...] Uma
estudante que pediu para não ser identificada lembrou da proximidade que tinha com os dois e
se emocionou [...]”Num dia a gente estava rindo à toa e discutindo as chapas que iram
concorrer ao Centro Acadêmico”[...] (RAMPAZZO, 2005, p. C4) dupla setorial AR/SC
10. A capital mineira ferve e, em pouco tempo vai pôr na mesa brasileira novos e talentosos
artistas. Na mesma noite [...] curtiam os shows [...]. Levou o público em sua grande maioria,
universitários ao delírio. Para fechar o evento, o cantor, compositor e congadeiro [...].
(DEODATO, 2005, p. D 5) dupla setorial AR/SC.
11. Eles estavam proibidos de circular pela Cidade Universitária desde 25 de abril, quando a
instituição impediu o acesso de ciclistas que não fossem alunos, funcionários e professores.
[..]. Para a universidade, os ciclistas que treinam no campus são uma ameaça e estudantes,
professores e funcionários. (TRIATLETAS.., 2005, p. C 3) - dupla setorial AR/SC.
12. Em setembro, a Geely receberá a matrícula de cerca de 20 mil estudantes em todas as áreas de
ensino, da engenharia ao inglês, passando pela educação do caráter. [...] A sociedade inteira,
incluindo o ensino superior, está em transição. [...] “Isto é muito importante”, insiste,
afirmando que o jovem cidadão com formação ao sólida é essencial para o futuro da China.
(NEWCOMB, 2005, p. A 18) dupla setorial PR/SC.
13. [...]. Um dos pontos importantes diz respeito ao modelo de universidades no Brasil, públicas
versus privadas, seu papel no projeto de desenvolvimento do País, seu modelo de gestão e
financiamento. [...] As universidades européias e americanas têm convênios com
universidades chinesas para intercâmbio de professores e alunos e desenvolvimento de
pesquisas em conjunto. (FLEURY, 2005, p. A 2 ) - dupla setorial PR/SC
14. [...] Como não enxergar [...] uma forma de assegurar espaço aos escassos portadores de títulos
que vêm sendo recusados no magistério superior pelo alto custo de seus diplomas [...]? Ao
ensino superior são destinadas mais verbas que ao fundamental, embora a base da pirâmide
tenha mais alunos do que no topo. [...] mas pela mentalidade geral de nossa economia [...] os
privilégios de quem a ela tem acesso [...]. (ROGÉRIO, 2005, p. A 10) dupla setoria l PR/SC.
15. “Costumávamos viajar nos feriados prolongados, mas hoje não tínhamos nada para fazer.
Decidimos gastar”, disse Elaine. Ana trabalha em uma agência de turismo e faz Direito à
noite. “Durante a semana, não consigo fazer nada”. ( CARRANCA, 2005, p. C 8) - Dupla
setorial PR/SC
16. {...] o substitutivo determina que “as instituições públicas federais de educação superior [...]
reservarão [...] cinqüenta por cento de suas vagas”. [...] Não há dúvidas quanto à necessidade
urgente de ações afirmativas para a inclusão social e étnica no ensino superior. As medidas
tomadas pela UNICAMP [...] em lugar de reservar vagas para um ou outro grupo, são
adicionados pontos aos candidatos oriundos de escolas públicas e mais pontos aos que [...] se
declararem pretos, pardos ou indígenas. (TESSLER, 2005, p. A 2) -dupla setorial PR/SC
17. A judoca mineira [...] foi encontrada morta ontem [...] Conforme o técnico... chegou em casa
vinda do treino, comeu um lanche, conversou com familiares e começou a fazer um trabalho
para a Faculdade de Direito, antes de dormir. O médico [...] disse que foi surpreendido com a
morte súbita da judoca, que não havia relatado dores recentes. O técnico [...] também
desconhecia qualquer outro problema de saúde. ‘Por causa dos problemas do futebol, os
atletas [...] vêm sendo monitorados’. A Federação Mineira de Judô colocou uma nota de luto
[...] Era namorada do judoca [...] que ganhou medalha de bronze no mundial do Egito.
‘Estávamos orgulhosos porque ela conseguia conciliar o esporte com os estudos’[...]
(KATTAH, E.; FELIPPE, H., 2005, p. E 4) trio setorial AR/PR/OR
18. “Não parei mais”. Patrícia Coelho, de 33, faz faculdade de manhã e estágio à tarde. Sobra a
noite para correr. “Por puro prazer”. [...]. São Paulo, com mais de 10 milhões de habitantes,
oferece 34 parques públicos [...]. Também é grande o número de pessoas que , por
trabalharem, não têm tempo de freqüentá-los. (TEM..., 2005, p. C 3) trio setorial
AR/PR/OR.
19. Mulheres que perdem o desejo sexual podem não ser vítimas das mudanças hormonais
desencadeadas durante a menopausa, [...] de acordo com um estudo desenvolvido por
cientistas da Universidade de Penn State, [...] publicado no periódico científico. [...] Entre as
mulheres estudadas [...], cerca de 21% [...] dizendo-se totalmente insatisfeitas com sua
imagem diante do espelho. (NEM..., 2005, p. A 21) - Trio setorial AR/PR/OR.
20. Cerca de 150 alunos das Universidades de São Paulo [...] passaram a madrugada de ontem no
plenário da Assembléia. Eles decidiram não deixar o prédio depois do confronto entre
manifestantes e policiais [...]os jovens receberam sanduíches de mortadela e água [...] Fabrício
Galvani [...] reclamou que a polícia não permitiu que entrasse com seu remédio para asma
‘minha mãe ficou desesperada quando soube, mas não somos baderneiros’[...] (CAFARDO,
R., 2005, p. A 22) trio setorial AR/OR/SC
21. [...]. “Estamos estarrecidos. Ainda não colocamos os pés no chão”. Em 2003, a estudante de
Enfermagem [...] foi baleada dentro da Universidade Estácio de Sá e ficou tetraplégica. A
Justiça obrigou a universidade a indenizá-la em R$ 400 mil. “Perdi a esperança nesta cidade”.
(PENNAFORT, 2005, P. C 8) trio setorial AR/OR/SC.
A seguir, estão os fragmentos das 21 notícias sobre estudantes universitários
publicadas pelo jornal A Tribuna, bem como a indicação da incidência setorial em cada
notícia:
1. No primeiro exame de formandos realizado pelo Conselho Regional da Medicina do Estado de
São Paulo, cinco das 23 faculdades avaliadas não obtiveram 50% da aprovação [...]
(CREMESP..., 2005, p. A-5) setor PR.
2. Serão realizados em Santos, [...] os Congressos Nacional e Internacional de Iniciação
Científica [...]. Participam do evento estudantes de graduação do Brasil e do exterior. Os
projetos aprovados serão apresentados em exposições orais e em painéis. [..] O objetivo [..] é
estimular a transformação de idéias em projetos, despertando a vocação para a ciência e a
tecnologia. (INICIAÇÃO..., 2005, p. A-7) setor PR.
3. Reunindo surfistas regularmente matriculados em faculdades de todo o Estado, o Circuito
Volcom Paulista de Surf Universitário [...] terá início [...], em São Sebastião. (PAULISTA...,
2005, p. B-8 ) setor SC.
4. O índice de inadimplência registrado no primeiro semestre nas universidades da Baixada
Santista está entre 15% e 25%.[...]. Algumas instituições [...] se encontram em negociação
com os alunos [...]. A terapeuta [...] afirmou que tentou pagar a mensalidade e dividir a dívida
[...] “e eu estou assistindo às aulas como aula ouvinte” [...]. (INADIMPLÊNCIA..., 2005, p.
A-7) dupla setorial PR/SC.
5. Os alunos que foram selecionados para o [...] (Enade) [...] terão a chance de regularizar [...]
Uma portaria do Ministério da Educação [...] oferece a [...] possibilidade de participarem do
Enade deste ano [...].O exame avaliará [...] os cursos das áreas de Arquitetura, [...] e Química.
(UNIVERSITÁRIO..., 2005, p. A-5) dupla setorial PR/SC.
6. Os alunos [...] foram convidados a apresentar suas criações em desfile no Shopping
Praiamar[...] (GESTÃO..., 2005, p. B-8) dupla setorial PR/SC
7. [...] Com o grande número de pediatras, clínicos, [...] os egressos dos bancos universitários
correm atrás de novas frentes de trabalho. [...] Para os jovens médicos que não podem fazer
residência por motivos financeiros ou por terem sido reprovados na seleção, uma alternativa é
integrar a equipe do Programa de Saúde da Família (PSF) [...]. O programa consiste em fazer
visitas domiciliares à população carente. (CIRURGIA..., 2005, p. A-7) - dupla setorial PR/SC.
8. O objetivo do encontro [...], foi o de reivindicar para que alunos [...] possam reproduzir [...]
trechos dos livros [...] Mas um dos artigos da lei, [...] está dando margem a diferentes
interpretações. Ele diz que “não constitui ofensa aos direitos autorais a reprodução, em um só
exemplar, de pequenos trechos, para uso privado do copista [...]”. (UNIVERSIDADES...,
2005, p. A-6) dupla setorial PR/SC.
9. Terminam amanhã as inscrições para o programa Jovens Acolhedores, [...]. Serão 464 vagas
disponíveis aos universitários interessados em trabalhar nos hospitais estaduais.[...] Após a
triagem, os estudantes selecionados irão receber um treinamento específico para dar amparo
aos pacientes e acompanhantes que buscam atendimento nos hospitais. (JOVENS..., 2005, p.
A-6) dupla setorial PR/SC.
10. A falha começa no ensino fundamental e se agrava nos bancos das faculdades. Na última
avaliação mundial, o Brasil ficou entre os piores no quesito leitura.[...] A prática de copiar
trabalhos alheios pode trazer conseqüências legais quando se repete na vida profissional.
(SANTOS, 2005, p. A-3) - dupla setorial PR/SC.
11. Assim como a cópia pirata de um CD [...], a cópia reprográfica de um livro é crime no Brasil.
[...] Segundo a diretora [...], “o assunto é polêmico, pois os alunos precisam ter acesso às
publicações e nós buscamos incentivar a leitura sempre”. [...] Quanto aos diretórios
acadêmicos, “foram enviadas orientações, mas a diretoria é autônoma, portanto, responsável
juridicamente”.(MERGUIZO, 2005, p. A-3) - dupla setorial - PR/SC.
12. Uma pesquisa do Departamento de Investigações sobre narcotráfico [...] aponta um
crescimento preocupante no número de universitários presos por tráfico de drogas [...] a droga
é oferecida em festas conhecidas como raves e até mesmo em danceterias. (MALZONE, 2005,
p. A-3) dupla setorial OR/SC.
13. [...] De olho em gordas margens de lucro, certos empresários não muito afeitos às questões da
cidadania passaram a abrir escolas médicas [...] sem se preocupar com as seqüelas sociais que
tal movimento deixaria. [...] Boa parte dos jovens médicos recém-formados investe o que têm
e o que não têm em um sonho e [...] não recebe a contrapartida a que fez juz: uma formação
digna e de qualidade. (JORGE, 2005, p. A-13) trio setorial AR/PR/SC.
14. Era pouco antes das 9 manhã e a classe estava em aula quando o chão começou a tremer. [.
Dos 400 alunos da faculdade, estima-se que mais de 250 morreram. [...] Mesmo com
profundos cortes nas mãos [..] conseguir se arrastar [..] levando consigo o amigo. [...] . Sem
sinal de que ajuda exterior estava chegando [...] remexiam os escombros e retiravam os corpos
(MORTOS..., 2005, p.C 4) - trio setorial AR/OR/SC.
15. Maurício Pelé [...] Rose Santana, de São Vicente saíram na frente no Volcom Paulista de Surf
Universitário [...] Maurício Pelé [...] superou as dores de uma torção no joelho [...] A
guarujaense [...] teve um grande desempenho na fase classificatória [...] (CIRCUITO..., 2005,
p. B-4) trio setorial PR/SC/OR
Para facilitar a compreensão dos resultados obtidos, foram selecionadas,
aleatoriamente, 12 notícias que mostram, descritiva e gradativamente, como foi feita a análise
da incidência setorial, sendo essas notícias representantes de cada setor ou mesclas setoriais.
Reitera-se que para estas notícias emblemáticas da descrição da análise setorial, a
escolha do jornal que as veiculou foi apenas aleatória, pois o que se quer mostrar é o conteúdo
da notícia, ou seja, o teor que levou a analisá-la como pertencente a este ou aquele setor
adaptativo.
Há alguns exemplos em que uma mesma notícia foi utilizada por duas vezes, ou
seja, foi notícia em dois jornais diferentes, o que reforça a idéia de diferentes formas de
pensar e trabalhar de cada jornal.
O clima foi de tristeza ontem na USP entre os amigos e colegas do estudante
[...], morto com uma facada [...] Na classe dos estudantes os colegas também
estavam chocados. ‘Vai ser muito difícil. Eu era muito ligada a eles,
afirmou chorando uma estudante que não quis se identificar [...]
(BASSETE, F; BRITO, L., 2005, p. C 3) setor AR.
O único setor que incide sobre esta notícia é o afetivo-relacional, pois fala do
sentimento de tristeza dos estudantes devido à perda de um de seus colegas, assassinado por
outro colega da mesma universidade.
Embora o vocábulo “morte” também possa fazer alusão às questões orgânicas em
outros momentos da notícia, o teor da notícia não se atém aos aspectos da saúde, isto é, o fato
de estar saudável ou não saudável não aparece”, mas diz respeito aos aspectos afetivo-
relacionais, isto é, aos sentimentos de perda e luto em que ficaram envolvidos os colegas da
universidade.
A idéia de afetividade também é acentuada em várias partes da notícia: são
mencionadas palavras e expressões de conotação afetiva, como clima de tristeza, colegas
chocados, muito difícil (referindo-se à situação de perda do colega) e o gerúndio do verbo
chorar, chorando, o que também sugere sentimentos de tristeza no momento do relato aos
profissionais que cobriram a reportagem.
No primeiro exame de formandos realizado pelo Conselho Regional da
Medicina do Estado de São Paulo, cinco das 23 faculdades avaliadas não
obtiveram 50% da aprovação [...] (CREMESP..., 2005, p. A-5) setor
PR.
Embora o fragmento desta notícia seja bastante resumido, percebe-se, claramente,
o setor produtivo como seu eixo principal e único, isto é, ausência de quaisquer outros setores
adaptativos. Este eixo encontra-se amparado por vocábulos típicos da produtividade, como
exame de formandos e faculdades avaliadas.
Mas afinal, do que se trata esse tal Ragnarök?[...] A estudante de Moda [...] é
uma das pessoas que além de jogar com uma bruxa, aproveita o jogo para
conversar com os colegas. (LACERDA, 2005, p. B 10) setor SC.
Aqui, a graduanda de Moda é apresentada como estudante, embora não haja
qualquer alusão aos seus aspectos produtivos. O que se enfatiza é a sua forma de utilizar o
tempo de lazer; além da diversão propiciada pelo jogo em referência, a aluna utiliza-o como
forma de relacionamento social, caracterizando aspectos sócio-culturais típicos da maioria dos
jovens.
Todos já ouviram piadas de advogado [...] os turismólogos também têm o
seu estigma [...] ’as pessoas brincam que Turismo é curso de vagabundo’[...]
todos os cursos superiores de Turismo deveriam ter um laboratório
específico para as atividades práticas. (CAMPOS, 2005, p. V 13) dupla
setorial AR/PR.
Ao mencionar “estigma”, o estudante que dá tal depoimento, também está se
referindo aos sentimentos desencadeados por esta situação, o que sugere a presença do setor
afetivo-relacional, isto é, sentimentos de exclusão, portanto, um possível rebaixamento em sua
auto-estima. Por outro lado, a indicação da necessidade de laboratórios específicos no curso
de Turismo refere-se aos aspectos produtivos da universidade sendo, inclusive, apresentadas
sugestões para a melhoria do ensino.
O estudante de Jornalismo [...] que matou com uma facada, o amigo e colega
[...] Uma estudante que pediu para não ser identificada lembrou da
proximidade que tinha com os dois e se emocionou [...]”Num dia a gente
estava rindo à toa e discutindo as chapas que iram concorrer ao Centro
Acadêmico[...] (RAMPAZZO, 2005, p. C4) dupla setorial AR/SC
Ao se referir à proximidade que a aluna entrevistada tinha dos dois alunos
envolvidos no crime, existe a presença do setor afetivo-relacional. Mais adiante, denota-se a
presença do setor sócio-cultural, quando a mesma aluna se refere ao Centro Acadêmico da
universidade e à discussão havida a respeito dos valores dos estudantes frente aos objetivos
das chapas concorrentes. Embora haja nuances da presença do setor produtivo, como por
exemplo, a identificação do curso (Jornalismo), a notícia não dá consistência a essa idéia; o
nome do curso parece ter sido colocado apenas como ilustração, isto é, a notícia poderia se
referir a um universitário de qualquer outro curso.
Na madrugada de ontem [...] disse à sua mãe que teria que ficar até tarde
fazendo um trabalho para a faculdade de Direito [...] Por volta da 13h30 [...]
a mãe da vice-campeã brasileira em 2004 encontrou o corpo da filha frio,
imóvel na cama. A causa da morte será divulgada apenas após a elaboração
do laudo de autópsia. O médico do Minas [...] disse que era impossível falar
a causa sem um exame detalhado. Na segunda-feira [...] treinou
normalmente[...] (FERRARI, 2005, p. D 3) dupla setorial PR/OR
Os aspectos orgânicos são o eixo desta notícia e estão representados pelos
seguintes vocábulos: corpo frio, imóvel na cama, causa da morte, laudo de autópsia. Por
outro lado, o setor da produtividade encontra-se embasado nos conteúdos voltados à tarefa da
faculdade e ao treino que a atleta havia praticado na segunda-feira anterior à sua morte.
Embora a mãe da estudante tenha sido citada, o setor afetivo-relacional não
incide sobre esta notícia, pois a presença da mãe parece apenas identificar a pessoa com quem
a estudante havia falado na noite anterior e também a pessoa que a havia encontrado morta; o
discurso, portanto, apresenta a mãe como uma pessoa, ser humano, mas não faz alusão aos
aspectos afetivo-relacionais, isto é, não se atém aos vínculos estabelecidos com a figura
materna.
Os alunos[...] foram convidados a apresentar suas criações em desfile no
Shopping Praiamar[...] (GESTÃO..., 2005, p. ) dupla setorial PR/SC
Nesta notícia, os aspectos produtivos e sócio-culturais encontram-se vinculados
um ao outro, pois o desfile no Shopping que se refere aos aspectos sociais, também é fruto da
produção acadêmica desses alunos, o que também caracteriza os seus conteúdos produtivos.
Uma pesquisa do Departamento de Investigações sobre narcotráfico [...]
aponta um crescimento preocupante no número de universitários presos por
tráfico de drogas [...] a droga é oferecida em festas conhecidas como raves e
até mesmo em danceterias. (MALZONE, 2005, p. A-3) dupla setorial
OR/SC
O conteúdo droga vincula-se aos aspectos orgânicos dos estudantes, isto é, a
saúde desses jovens. Por outro lado, a notícia apresenta as festas do gênero rave, o que sugere
o envolvimento dos estudantes em grupos sociais, neste caso específico, pessoas que se
identificam com este gênero de música. Além disso, denota-se outro conteúdo sócio-cultural
no momento em que a notícia alude à preocupação com o crescimento do número de
universitários presos por tráfico de drogas, isto é, a detenção dos jovens para evitar
transtornos de ordem social.
A judoca mineira [...] foi encontrada morta ontem [...] Conforme o técnico...
chegou em casa vinda do treino, comeu um lanche, conversou com
familiares e começou a fazer um trabalho para a Faculdade de Direito, antes
de dormir. O médico [...] disse que foi surpreendido com a morte súbita da
judoca, que não havia relatado dores recentes. O técnico [...] também
desconhecia qualquer outro problema de saúde. ‘Por causa dos problemas do
futebol, os atletas [...] vêm sendo monitorados’. A Federação Mineira de
Judô colocou uma nota de luto [...] Era namorada do judoca [...] que ganhou
medalha de bronze no mundial do Egito. ‘Estávamos orgulhosos porque ela
conseguia conciliar o esporte com os estudos’[...] (KATTAH, E.;
FELIPPE, H., 2005, p. E 4) trio setorial AR/PR/OR
Os aspectos afetivos incidem nesta notícia ao se mencionar o sentimento de
orgulho que o técnico nutria pela atleta, bem como a menção à nota de luto colocada pelo
jornal.
Por outro lado, embora seja feita alusão ao seu namoro com outro desportista,
parece tratar-se de um campo referencial, ou seja, o namoro é citado, porém não como um
aspecto da afetividade, mas como a idéia de esporte, que acaba por vincular os dois atletas;
incidem, ainda, os aspectos produtivos do casal: ela, enquanto estudante de Direito que
executa suas tarefas antes de dormir, sendo também esforçada no esporte e ele, como detentor
de medalha de judô. A saúde é representada pelo conteúdo relativo à nutrição lanche, bem
como ausência de dores recentes e monitoramento de atletas.
A primeira fase do ‘provão’ para médicos [...]teve o comparecimento de
90% [...]Todos os que acertaram pelo menos 60% das questões passarão à
segunda etapa [...] Ontem, estudantes se manifestaram contra a prova em
frente ao local do exame [...]Em protesto, chegaram a queimar os aventais de
médico [...] Afirmam ainda que as avaliações devem ocorrer durante a
formação e que o exame é paliativo e não resolve os problemas de saúde do
país. (APESAR..., 2005, p. C 3) trio setorial AR/PR/SC
A produtividade se manifesta através do percentual necessário para que os
estudantes cheguem à segunda etapa, isto é, 60% de acertos nas questões da prova. O setor
afetivo-relacional refere-se ao comportamento inadequado dos alunos, aos seus protestos, à
agressividade ao queimar os aventais.
Quanto ao setor sócio-cultural, sua presença está contida na crítica social sobre a
saúde do Brasil, ou seja, há uma crítica ao exame, pois embora considerado difícil e
necessário, não apresenta soluções para a saúde do país.
Cerca de 150 alunos das Universidades de São Paulo [...] passaram a
madrugada de ontem no plenário da Assembléia. Eles decidiram não deixar
o prédio depois do confronto entre manifestantes e policiais [...]os jovens
receberam sanduíches de mortadela e água [...] Fabrício Galvani [...]
reclamou que a polícia não permitiu que entrasse com seu remédio para
asma ‘minha mãe ficou desesperada quando soube, mas não somos
baderneiros’[...] (CAFARDO, R., 2005, p. A 22) trio setorial
AR/OR/SC
O setor afetivo-relacional incide sobre esta notícia na medida em que a mãe de um
dos alunos é citada como alguém que se preocupa com a saúde do filho e fica desesperada
com a situação. O setor da saúde é representado pela nutrição, ou seja, a presença do lanche
recebido pelos alunos (mortadela e água). Finalmente, o setor sócio-cultural é representado
pelo ato de reivindicação dos alunos frente à Assembléia.
Maurício Pelé [...] Rose Santana, de São Vicente saíram na frente no
Volcom Paulista de Surf Universitário [...] Maurício Pelé [...] superou as
dores de uma torção no joelho [...] A guarujaense [...] teve um grande
desempenho na fase classificatória [...] (CIRCUITO..., 2005, p. ) trio
setorial PR/SC/OR
Os aspectos produtivos e sociais relacionam-se ao desempenho dos atletas no
campeonato de surf e ao evento em si. Por outro lado, ao ser mencionada a superação das
dores originadas por uma torção no joelho, a notícia faz referência aos assuntos de ordem
orgânica dos universitários.
Reiterando que os fragmentos das notícias acima servem apenas para clarear a
forma como foram selecionadas, passa-se agora à análise dos resultados obtidos na coleta das
notícias sobre estudantes universitários publicadas pelos três jornais.
Tendo em vista as 61 notícias, foram obtidos os seguintes resultados: a Folha
veiculou 25 notícias sobre estudantes universitários distribuídas da seguinte forma: AR= 02
notícias, PR= 02 notícias, AR/PR= 02 notícias, AR/SC= 01 notícia, OR/SC= 01 notícia,
PR/OR= 01 notícia, PR/SC= 10 notícias, AR/OR/SC= 01 notícia, AR/PR/OR= 01 notícia e
AR/PR/SC= 04 notícias.
O Estadão veic ulou 21 notícias abordando os setores: AR= 01 notícia, PR= 04
notícias, SC= 02 notícias, AR/PR= 01 notícia, AR/SC= 03 notícias, PR/SC= 05 notícias,
AR/OR/SC= 02 notícias e AR/PR/OR= 03 notícias.
A Tribuna veiculou apenas 15 notícias sobre estudantes universitários, abordando os
seguintes setores adaptativos: PR= 02 notícias, SC= 01 notícia, OR/SC= 01 notícia , PR/SC= 08
notícias, AR/OR/SC= 01 notícia AR/PR/SC= 01 notícia e PR/SC/OR= 01 notícia.
Analisando-se os três jornais em conjunto, as 61 notícias abordaram 12 itens
compreendendo 03 setores adaptativos em sua forma pura, e 09 combinações: AR= 03 notícias,
PR= 08 notícias, SC= 03 notícias, AR/PR= 03 notícias, AR/SC= 04 notícias, OR/SC= 02 notícias,
PR/OR= 01 notícia , PR/SC= 23 notíc ias, AR/OR/SC= 04 notícias, AR/PR/OR= 04 notícias,
AR/PR/SC= 05 notícias e PR/SC/OR= 01 notícia.
Devido à extensão dos resultados obtidos, optou-se por dividi-los em 04 partes, sendo
que cada uma corresponde a 01 objetivo específico do trabalho. Desta forma, as partes que
compõem a análise dos resultados são:
Parte 1 - Análise da incidência setorial;
Parte 2 - Análise do setor afetivo-relacional;
Parte 3 - Análise da aplicabilidade da EDAO; e
Parte 4 - Análise do questionário enviado aos jornalistas.
Parte 1- Análise da Incidência setorial
Para atender ao primeiro objetivo específico desta tese, isto é, analisar a
incidência setorial nas notícias publicadas sobre universitários, é necessário verificar a
abrangência de cada setor adaptativo, individualmente, e em conjunto com outros setores. A
tabela abaixo faz a descrição numérica dessa incidência setorial frente ao total de notícias e,
em seguida, a sua análise:
Obs: para facilitar a análise dos resultados, não foram utilizadas casas decimais nos
percentuais obtidos. Quando o percentual foi acima de meio, arredondou-se para o
número imediatamente superior e, quando o percentual foi abaixo de meio,
arredondou-se para o número imediatamente inferior (Ex: 7,6% = 8% e 7,4%=7%,
respectivamente)
A análise do comportamento de cada setor, tanto individualmente como em grupo,
está dividida nos seguintes itens:
1. Incidência dos setores adaptativos - forma pura;
2. Incidência das mesclas setoriais - duplas e trios;
3. Incidência setorial total;
4. Ranking setorial; e
5. Abrangência setorial.
1. Incidência dos setores adaptativos - forma pura
A incidência setorial em sua forma pura consiste na demonstração e análise dos
setores adaptativos, individualmente, isto é, sem mesclas com outros setores. Estes setores
encontram-se analisados quanto à sua incidência no total nas notícias selecionadas nos três
jornais em conjunto e, também, de forma individual, isto é, quanto à incidência dos setores em
cada jornal.
1.1. AR
Analisando-se a incidência do setor AR puro, foram encontradas 03 notícias, o
que equivale a 5% do total de notícias selecionadas. Essas 03 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias da Folha encontram-se 02 (8%), das 21 notícias do Estadão,
encontra-se apenas 01 (5%) e das 15 publicadas pela Tribuna, não há notícia que aborde este
setor puro. Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 02
notícias da Folha equivalem a 3% e a notícia do Estadão equivale a 2%. Com relação ao total
de notícias em AR puro (03), esses números equivalem a 67% e 33%, respectivamente, Folha
e Estadão.
1.2. PR
Analisando-se a incidência do setor PR puro, foram encontradas 08 notícias, o que
equivale a 13% do total de notícias selecionadas. Essas 08 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias da Folha, 02 (8%) abordam este setor, das 21 notícias do
Estadão, encontram-se 04 (19%) e das 15 notícias da Tribuna, encontram-se 02 (13%). Tendo
em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 02 notícias publicadas
pela Folha equivalem a 03%, as 04 notícias do Estadão equivalem a 7%, e as 02 notícias
publicadas pela Tribuna equivalem a 3% do total. Com relação ao total de notícias no setor
PR (8), esses números equivalem a 25%, 50% e 25%, respectivamente.
1.3. OR
Não houve notícias sobre universitários referentes ao setor orgânico - forma pura.
1.4. SC
Analisando-se a incidência do setor SC puro, foram encontradas 03 notícias, o que
equivale a 5% do total de notícias selecionadas. Essas 03 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: a Folha não veiculou notícias nesse setor adaptativo puro. Das 21 notícias do
Estadão, encontram-se 02 (10%) e das 15 notícias da Tribuna encontra-se apenas 01 (7%).
Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 02 notícias do
Estadão equivalem a 3% e única notícia publicada pela Tribuna equivale a 2% . Com relação
ao total de notícias em SC puro (03), esses números equivalem a 67% e 33%,
respectivamente, Estadão e Tribuna.
1.5. Análise da incidência setorial em sua forma pura
Os três jornais, em conjunto, publicaram 14 notícias nos setores em sua forma pura
(23%), das quais 04 (29%) pertencem à Folha, 07 (50%) pertencem ao Estadão e 03 (21%)
pertencem à Tribuna. Em relação ao total de notícias (61), esses números equivalem a 7%, 11% e
5%, respectivamente. É importante observar que os setores abordados neste item não se
encontram mesclados com outros setores adaptativos.
Em AR, foram publicadas 03 notícias (5%). A Folha obteve o primeiro lugar (02
notícias=3%), o Estadão ficou em segundo (01 notícia=2%), e a Tribuna em terceiro, com
ausência de notícias neste setor. Embora o número de notícias em AR tenha sido pequeno,
verificou-se que, dos três jornais analisados, a Folha é o que mais se preocupa com assuntos sobre
os aspectos afetivo-relacionais dos estudantes, isto é, sua forma de amar e serem amados e,
conseqüentemente, sua maneira de se relacionar com o mundo e com as pessoas que os rodeiam,
sendo que este tipo de notícia é veiculado sem a presença de outros setores adaptativos.
Quanto ao setor PR, foram publicadas 08 notícias (13%). Aqui, a liderança é do
Estadão (04 notícias=7%), ficando a Folha e a Tribuna em segundo lugar, com 02 notícias (3%),
cada. Desta forma, infere-se que o Estadão é o jornal que mais se preocupa com assuntos voltados
à produtividade do universitário, isto é, se comparado aos outros dois jornais, apresenta o dobro
de notícias neste setor. A Folha, por sua vez, repete o número de notícias que apresentou no setor
afetivo relacional, o que indica que seu interesse em veicular notícias sobre a produtividade dos
estudantes é semelhante ao interesse em publicar notícias sobre a forma de esses estudantes se
relacionarem com as outras pessoas. Finalmente, a Tribuna, diferentemente de sua posição no
setor afetivo-relacional em que não apresenta nenhuma notícia, assemelha-se à Folha no que tange
aos aspectos produtivos dos alunos.
No que tange ao setor SC, foram publicadas 03 notícias (5%). O Estadão mantém o
primeiro lugar (02 notícias=3%), a Tribuna fica em segundo (01 notícias=2%) e a Folha em
terceiro, com ausência de notícias nesse setor. Similarmente ao setor PR, o Estadão também é o
que mais se atém aos aspectos sócio-culturais dos universitários. A Tribuna, embora apresente um
número menor de notícias neste setor se comparada ao setor produtivo, ainda supera a Folha no
que concerne às notícias sobre os aspectos sócio-cuturais dos alunos.
Finalmente, quanto aos aspectos orgânicos do universitário, não houve notícia, o que
sugere que os jornais, de uma maneira geral, não estão preocupados em noticiar assuntos
exclusivos sobre os cuidados do universitário em relação à sua saúde física e à sua sexualidade. O
setor orgânico só se fez presente quando mesclado a outros setores.
2. Incidência das mesclas setoriais (duplas e trios);
Esta análise teve como ponto de partida o setor AR e, a partir daí, foram feitas as
mesclas. Ao se esgotarem as mesclas de AR, o setor PR foi o ponto de partida e, assim por
diante, até que todas as combinações fossem analisadas A seguir, encontram-se descritas as
seguintes mesclas setoriais encontradas nas notícias: AR/PR, AR/SC, PR/OR, PR/SC, OR/SC,
AR/PR/OR, AR/PR/SC, AR/OR/SC e PR/SC/OR. Obs: neste momento, não foram
considerados os resultados obtidos pelos setores em sua forma pura, pois já se encontram
descritos no item anterior.
2.1. AR/PR
Analisando-se a incidência da dupla AR/PR, foram encontradas 03 notícias, o que
equivale a, aproximadamente, 5% do total de notícias selecionadas. Essas 03 notícias estão
distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha foram encontradas 02 (8%), das 21
notícias do Estadão, foi encontrada apenas 01 (5%) e a Tribuna não veiculou notícia na dupla
AR/PR. Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 02
notícias publicadas na Folha equivalem a 3% e a notícia do Estadão equivale a 2%. Com
relação ao total de notícias em AR/PR (03), esses números equivalem a 67% e 33%,
respectivamente.
2.2. AR/SC
Analisando-se a incidência da dupla AR/SC, foram encontradas 04 notícias, o que
equivale a 7% do total de notícias selecionadas. Essas 04 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias da Folha foi encontrada apenas 01 (4%), das 21 notícias do
Estadão, foram encontradas 03 (14%), e a Tribuna não veiculou notícia na dupla AR/SC.
Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: a notícia publicada
na Folha equivale a 2% e as 03 notícias do Estadão equivalem a 5%. Com relação ao total de
notícias em AR/SC (04), esses números equivalem a 25% e 75%, respectivamente.
2.3. PR/OR
Analisando-se a incidência da dupla PR/OR, foi encontrada apenas 01 notícia
publicada pela Folha, o que equivale a 2% do total de notícias selecionadas.
2.4. PR/SC
Analisando-se a incidência da dupla PR/SC, foram encontradas 23 notícias, o que
equivale a 38% do total de notícias selecionadas. Essas 23 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias publicadas pela Folha, 10 (40%) abrangem assuntos relativos
à produtividade e aos aspectos sócio-culturais dos jovens. Das 21 notícias do Estadão,
encontram-se 05 (24%) e das 15 notícias da Tribuna, encontram-se 08 (53%). Tendo em vista
o total de notícias (61), chega-se aos seguintes resultados: as 10 notícias publicadas na Folha
equivalem a 16%, as 05 notícias do Estadão equivalem a 8%, e as 08 notícias da Tribuna
equivalem a 13%. Com relação ao total de notícias em PR/SC puros (23), esses números
equivalem a 43%, 22% e 35%, respectivamente.
2.5. OR/SC
Analisando-se a incidência da dupla OR/SC, foram encontradas 02 notícias, o que
equivale a 3% do total de notícias selecionadas. Essas 02 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias da Folha foi encontrada 01 notícia (4%) e das 15 notícias
publicadas pela Tribuna, também foi encontrada apenas 01 (7%). O Estadão não veiculou
notícia na dupla OR/SC. Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses
resultados: a notícia publicada na Folha equivale a 2%, da mesma forma que a notícia
publicada pela Tribuna. Com relação ao total de notícias na dupla OR/SC (02), esses números
equivalem a 50% da Folha e 50% da Tribuna.
2.6. AR/PR/OR
Analisando-se a incidência do trio AR/PR/OR, foram encontradas 04 notícias, o
que equivale a 7% do total de notícias selecionadas. Essas 04 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias publicadas pela Folha, foi encontrada 01 (4%), das 21 notícias
do Estadão, foram encontradas 03 (14%) e não houve notícia publicada pela Tribuna
abordando o trio AR/PR/OR. Tendo em vista o total de notícias (61), chega-se aos seguintes
resultados: a notícia publicada na Folha equivale a 2%, as 03 notícias do Estadão equivalem a
5%. Com relação ao total de notícias em AR/PR/OR (04), esses números equivalem a 25% e
75%, respectivamente.
2.7. AR/PR/SC
Analisando-se a incidência do trio AR/PR/SC, foram encontradas 05 notícias, o
que equivale a 8% do total de notícias selecionadas. Essas 05 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias publicadas pela Folha, foram encontradas 04 (16%) e das 15
notícias da Tribuna foi encontrada apenas 01 (7%); o Estadão não veiculou notícias em
AR/PR/SC. Tendo em vista o total de notícias (61), chega-se aos seguintes resultados: as 04
notícias publicadas na Folha equivalem a 7%, e a única notícia publicada pela Tribuna
equivale a 2%. Com relação ao total de notícias em AR/PR/SC (05), esses números equivalem
a 80% e 20%, respectivamente.
2.8. AR/OR/SC
Analisando-se a incidência do trio AR/OR/SC, foram encontradas 04 notícias, o
que equivale a 7% do total de notícias selecionadas. Essas 04 notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias publicadas pela Folha, foi encontrada apenas 01(4%), das 21
notícias do Estadão, foram encontradas 02 (10%) e das 15 notícias da Tribuna, foi encontrada
01 (7%). Tendo em vista o total de notícias (61), chega-se aos seguintes resultados: a notícia
publicada na Folha equivale a 2% , da mesma forma que a notícia publicada pela Tribuna, e as
02 notícias do Estadão equivalem a 3%. Com relação ao total de notícias em AR/OR/SC (04),
esses números equivalem a 25%, 50% e 25%, respectivamente.
2.9. PR/SC/OR
Analisando-se a incidência do trio PR/SC/OR, foi encontrada apenas 01 notícia
veiculada pela Tribuna, o que equivale a 2% do total de notícias selecionadas. Com relação ao
total de notícias em PR/SC/OR (01), esse número equivale a 100%.
2.10. Análise da incidência das mesclas setoriais (duplas e trios)
Levando-se em consideração o universo de 61 notícias sobre estudantes
universitários, no que tange à dupla AR/PR, notícias que perfazem 5% do total, a Folha ocupa
o primeiro lugar (3%), o Estadão o segundo (2%) e a Tribuna, o terceiro, com ausência de
notícias nesta dupla de setores. A Folha é o jornal que mais se preocupa com assuntos sobre
os aspectos afetivo-relacionais dos estudantes mesclados aos produtivos. O ranking obtido
pela dupla AR/PR é exatamente igual ao obtido pelo setor AR em sua forma pura, isto é, em
ambos os casos (AR/PR e AR), a Folha é o jornal que mais se destaca, ficando o Estadão em
segundo lugar e a Tribuna em terceiro. Em comparação com PR em sua forma pura, em que o
Estadão lidera o ranking, aqui em AR/PR este jornal faz inversão de lugar com a Folha e
ocupa o segundo lugar. A Tribuna, embora em PR ocupe o segundo lugar juntamente com a
Folha, em AR/PR ela se exclui, o que significa que suas notícias dão mais ênfase a assuntos
apenas produtivos e menos ênfase àqueles em que essa produtividade se mescla às relações
humanas, isto é, PR mesclado com AR.
Quanto à dupla AR/SC, o Estadão ocupa o primeiro lugar (03 notícias=5%), a
Folha o segundo (01 notícia=2%) e a Tribuna o terceiro, com ausência de notícias nesta dupla
de setores. Estes resultados significam que dos três jornais, o Estadão é o que mais se
preocupa em veicular notícias que compreendam os aspectos afetivos relacionais dos
universitários, mesclados aos seus aspectos produtivos.
Quando, porém, as notícias abordam apenas as relações humanas, o Estadão não
apresenta tal destaque. A Tribuna, da mesma forma que se comporta nos setores AR e AR/PR,
também se ausenta da veiculação de notícias sobre assuntos abrangendo as relações humanas
em conjunto com os aspectos sócio-culturais dos estudantes. A Folha, por sua vez, repete o
comportamento apresentado no setor SC, isto é, não veicula notícias sobre relações humanas
em conjunto com aspectos sócio-culturais (AR/SC).
Quanto à dupla PR/OR, a única notícia (2%) pertence à Folha indicando que,
embora haja uma baixa incidência de notícias compreendendo a produtividade mesclada a
aspectos orgânicos dos universitários, a Folha é o único jornal que contempla este tipo de
notícia.
Comparada às outras combinações de setores, a dupla PR/SC apresenta grande
incidência nos três jornais. a Folha ocupa o primeiro lugar (10 notícias=16%), a Tribuna
ocupa o segundo (08 notícias=13%) e o Estadão ocupa o terceiro (05 notícias=8%). Desta
forma, infere-se que embora os três jornais estejam preocupados na divulgação de notícias
abordando a produtividade dos universitários aliada aos aspectos sócio-culturais, a Folha
lidera o ranking dessas notícias e, ainda, obtém o dobro de notícias veiculadas pelo Estadão.
A dupla OR/SC, a exemplo de PR/OR, pouco incide sobre as notícias (01
notícia=2%). Seu comportamento, porém, é diferente de PR/OR: enquanto em PR/OR, a
Folha é o único jornal que aborda este tipo de notícia, agora, em OR/SC, a Tribuna também
alcança este percentual. O Estadão, em ambos os casos, PR/OR e OR/SC, não veicula
notícias. Esses resultados denotam que a preocupação dos jornais em veicular notícias que
contemplam aspectos orgânicos mesclados aos sócio-culturais ou aos produtivos, é baixa.
O trio AR/PR/OR coloca o Estadão em primeiro lugar, com 03 notícias (5%), a
Folha em segundo (01 notícia=2%) e a Tribuna, em terceiro, com ausência de notícias
contemplando aspectos afetivos relacionais mesclados aos produtivos e aos orgânicos. É
interessante observar que o fato de o Estadão ocupar o primeiro lugar deve-se à presença de
AR, pois na dupla analisada anteriormente (PR/OR), não há notícias publicadas pelo Estadão.
Por outro lado, a presença de AR é responsável por essa liderança do Estadão, apenas
enquanto setor mesclado, pois quando AR é analisado em sua forma pura, perfaz apenas 2%.
As notícias que abordam aspectos afetivos relacionais mesclados aos produtivos e
aos sócio-culturais (AR/PR/SC) levam a Folha a ocupar o primeiro lugar (04 notícias=7%), a
Tribuna, o segundo (01 notícia=2%) e o Estadão, o terceiro, com ausência desses setores em
conjunto. Constata-se que nesses últimos trios (AR/PR/OR e AR/PR/SC), o Estadão apresenta
uma inversão no ranking, isto é, quando se trata de aspectos afetivos e produtivos somados
aos orgânicos, ele ocupa o primeiro lugar, porém, quando o setor orgânico dá lugar ao setor
sócio-cultural, o Estadão cai para o último lugar.
Quanto ao trio AR/OR/SC, isto é, a combinação dos setores afetivo, orgânico e
sócio-cultural, o Estadão retoma o primeiro lugar (02 notícias=3%), ficando a Folha (2%) e a
Tribuna (2%), em segundo, com apenas 01 notícia, cada.
Finalmente, quanto ao trio PR/SC/OR, a Tribuna ocupa o primeiro lugar (01
notícia=2%), ficando a Folha e o Estadão em segundo, ambos com ausência de notícias que
contemplam aspectos produtivos, sócio-culturais e orgânicos, em conjunto. Este resultado
leva a Tribuna a uma situação diferente das anteriores: é a primeira vez que ela alcança o
primeiro lugar, tanto no que concerne às mesclas setoriais quanto à incidência setorial em sua
forma pura. Possivelmente, este resultado se deve à ausência de AR, pois quando se trata de
notícias abrangendo aspectos afetivo-relacionais, mesmo quando mesclados a outros setores, a
Tribuna, em geral, não veicula notícias e, quando o faz, alcança percentuais relativamente
baixos, em geral, 2%.
Tendo em vista os resultados obtidos pelas mesclas setoriais (duplas e trios) e,
excluindo-se a incidência dos setores adaptativos em sua forma pura, analisada anteriormente,
verifica-se de que maneira os setores adaptativos realizam essas combinações. Tomando
como ponto de partida a incidência do setor AR mesclado com outros setores (excetuando-se
AR puro), foram encontradas 20 notícias o que equivale a 33% do total de notícias: 03 em
AR/PR, 04 em AR/SC, 04 em AR/PR/OR, 05 em AR/PR/SC e 04 em AR/OR/SC. Essas 20
notícias estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha foram encontradas 09
(36%), das 21 notícias do Estadão, também foram encontradas 09 (43%), e das 15 notícias
publicadas pela Tribuna, foram encontradas 02 (13%). Tendo em vista a totalidade de notícias
(61), chega-se a esses resultados: as 09 notícias da Folha e do Estadão equivalem a 15%, cada,
e as 02 notícias da Tribuna equivalem a 3%. Com relação ao total de notícias em AR
mesclado (20), esses números equivalem a 45%, 45% e 10%, respectivamente.
Tomando-se como ponto de partida a incidência do setor PR mesclado
(excetuando-se PR puro), foram encontradas 37 notícias o que equivale a 60% do total de
notícias: 01 em PR/OR, 23 em PR/SC, 01 em PR/SC/OR, 03 em AR/PR, 04 em AR/PR/OR,
05 em AR/PR/SC. Essas 37 notícias estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da
Folha foram encontradas 18 (72%), das 21 notícias do Estadão, foram encontradas 09 (43%),
e das 15 notícias publicadas pela Tribuna, foram encontradas 10 (67%). Tendo em vista a
totalidade de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 18 notícias da Folha equivalem a
30%, as 09 notícias do Estadão equivalem a 15%, e as 10 notícias da Tribuna equivalem a
16%. Com relação ao total de notícias em PR mesclado (37), esses números equivalem a 49%,
24% e 27%, respectivamente.
Quanto ao setor OR, verifica-se que a sua incidência está distribuída em 12
notícias (20%). Todas as notícias pertencentes ao setor OR foram encontradas de forma
mesclada: 04 em AR/PR/OR, 04 em AR/OR/SC, 01 em PR/OR, 01 em PR/SC/OR e 02 em
OR/SC. (Obs.: das 12 notícias, 10 já foram analisadas nas demonstrações relativas aos setores
AR e PR).
As 12 notícias estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha
foram encontradas 04 (16%), das 21 notícias do Estadão, foram encontradas 05 (24%) e das
15 notícias publicadas na Tribuna, foram encontradas 03 (20%). Tendo em vista a totalidade
de notícias (61), chega-se a esses resultados: as 04 notícias da Folha equivalem a 7%, as 05
notícias do Estadão equivalem a 8%, e as 03 notícias da Tribuna equivalem a 5%. Com
relação ao total de notícias em OR mesclado (12), esses números equivalem a 33%, 42% e
25%, respectivamente.
Finalmente, analisando as mesclas de SC (excetuando-se SC puro), foram
encontradas 39 notícias, o que equivale a 64%: 04 em AR/SC, 23 em PR/SC, 02 em OR/SC,
05 em AR/PR/SC, 04 em AR/OR/SC, e 01 em PR/SC/OR. Essas notícias estão distribuídas da
seguinte forma: das 25 notícias da Folha foram encontradas 17 notícias (68%), das 21 notícias
do Estadão, foram encontradas 10 (47%) e das 15 notícias publicadas na Tribuna, foram
encontradas 12 (80%). Tendo em vista a totalidade de notícias (61), chega-se a esses
resultados: as 17 notícias da Folha equivalem a 28%, as 10 notícias do Estadão equivalem a
16% e as 12 notícias da Tribuna equivalem a 20%. Com relação ao total de notícias em SC
mesclado (39), esses números equivalem a 44%, 26% e 31%, respectivamente.
Se considerado o universo total de notícias, as mesclas de AR perfazem 33% das
notícias. A Folha e o Estadão ficam na liderança, perfazendo 15%, cada, e a Tribuna fica em
segundo lugar, com 3%. Embora a incidência obtida pelas mesclas de AR não seja muito alta,
se comparada às mesclas de PR e SC (analisadas a seguir), o fato de a Folha e o Estadão
compartilharem o primeiro lugar denota que esses dois jornais apresentam linhas de
pensamento parecidas quando de suas notícias sobre a afetividade e relacionamentos
interpessoais, isto é, colocam-na em terceiro lugar no ranking de assuntos sobre universitários,
dando mais importância à produtividade e aos aspectos sócio-culturais.
Quanto às mesclas de PR (37 notícias=60%), a Folha mantém o primeiro lugar
(30%), porém, com o dobro de notícias veiculadas nas mesclas de AR (15%). Desta forma,
parece dar mais ênfase ao setor da produtividade, mesmo quando este setor não está em sua
forma pura, mas mesclado a outros setores. A Tribuna permanece em segundo lugar (16%) e,
finalmente, encontra-se o Estadão, em terceiro lugar, com 15%.
É interessante perceber que o Estadão, embora apresente o maior percentual
quando as notícias abordam o setor PR em sua forma pura (ele obtém o dobro conseguido
pela Folha e pela Tribuna), quando se trata deste setor mesclado a outros, o Estadão fica em
último lugar. Isto implica uma certa tendência em isolar os aspectos produtivos de outros
setores, ou seja, é enfático na apresentação de notícias em que o jovem é representado
unicamente por aquilo que produz, mas quando essas notícias se somam aos outros setores
adaptativos, o que poderia enriquecer a imagem construída pela mídia, sua preocupação
parece decrescer.
No que concerne às mesclas de OR (20%), o Estadão ocupa o primeiro lugar
(8%), seguido da Folha (7%) e, finalmente, da Tribuna, com 5%. Os percentuais obtidos pelas
mesclas do setor orgânico são os mais baixos das mesclas setoriais e reforçam a idéia de que a
mídia, em geral, não demonstra preocupação com noticiar o estudante através de seus
cuidados com a saúde física e sexualidade, lembrando, inclusive que a incidência deste setor
OR em sua forma, é 0%.
Finalmente, quanto às mesclas de SC (39 notícias=64%), a Folha ocupa o
primeiro lugar (28%), a Tribuna, o segundo (20%) e, finalmente, o Estadão, com 16%. O
percentual obtido pelas mesclas de SC é similar ao obtido pelas mesclas de PR (60%). Ainda,
o ranking das duas mesclas (PR e SC) também é igual e, além disso, seus percentuais não
apresentam muita discrepância: a Folha apresenta 30% nas mesclas de PR e 28% nas mesclas
de SC. A Tribuna obtém 16% nas mesclas de PR e 20% nas mesclas de SC, e o Estadão, 15%
nas mesclas de PR e 16% nas mesclas de SC. Estes resultados sobre o comportamento dos
três jornais sugerem que a preocupação em veicular notícias sobre aspectos produtivos e
sócio-culturais quando mesclados a outros setores, é bastante semelhante.
3. Incidência setorial total
A incidência setorial em sua totalidade abrange as notícias pertencentes a um setor
“em sua forma pura”, somadas às notícias pertencentes àquele mesmo setor “em sua forma
mesclada”, tanto em duplas como em trios setoriais.
3.1. Incidência do setor AR
O setor AR, em sua totalidade, incide sobre 23 notícias perfazendo,
aproximadamente, 38% do total, sendo 03 (5%) em AR puro e 20 (33%) em AR mesclado
com outros setores. Com relação às 23 notícias, as 03 notícias em AR puro equivalem a 13%,
e as 20 em AR mesclado com outros setores equivalem a 87%. O total de notícias em AR (23)
encontra-se distribuído da seguinte forma: das 25 notícias da Folha, foram publicadas 11
(44%), das 21 do Estadão, foram publicadas 10 (47%) e das 15 da Tribuna, foram publicadas
02 (13%). Tendo em vista o total de notícias (61), as 11 notícias da Folha equivalem a 18%,
as 10 do Estadão equivalem a 16% e, as 02 da Tribuna equivalem a apenas 3%. Com relação
ao total de notícias em AR (23), esses números equivalem a 48%, 43% e 9%,
respectivamente.
3.2. Incidência do setor PR
O setor PR incide sobre 45 notícias, perfazendo 74% do total de notícias, sendo 08
(14%) em PR puro e 37 (60%) em PR mesclado com outros setores. Com relação às 45
notícias, as 08 em PR puro equivalem a 18%, e as 37 em PR mesclado equivalem a 82%. O
total de notícias em PR (45) encontra-se distribuído da seguinte forma: das 25 notícias da
Folha, foram publicadas 20 (80%), das 21 do Estadão foram publicadas 13 (62%) e das 15
notícias da Tribuna, foram publicadas 12 (80%). Tendo em vista o total de notícias (61), as 20
notícias da Folha equivalem a 33%, as 13 do Estadão equivalem a 21% e as 12 da Tribuna
equivalem a 20%. Com relação ao total de notícias em PR (45), esses números equivalem a
44%, 29% e 27%, respectivamente.
3.3. Incidência do setor OR
O setor OR incide sobre 12 notícias, perfazendo 20% do total de notícias, e todas
essas notícias se encontram em OR mesclado com outros setores. Essas 12 notícias
encontram-se distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha, foram publicadas 04
(16%), das 21 do Estadão, foram publicadas 05 (24%) e das 15 notícias da Tribuna, foram
publicadas 03 (20%). Tendo em vista o total de notícias (61), as 04 notícias da Folha
equivalem a 7%, as 05 notícias do Estadão equivalem a 8%, e as 03 notícias da Tribuna
equivalem a 5%. Com relação ao total de notícias em OR (12), esses números equivalem a
33%, 42% e 25%, respectivamente.
3.4. Incidência do setor SC
O setor SC incide sobre 42 notícias, perfazendo 69% do total de notícias, sendo 03
(5%) em SC puro e 39 (64%) em SC mesclado com outros setores. Com relação às 42
notícias, as 03 em SC puro equivalem a 7%, e as 39 em SC mesclado equivalem a 93%. Essas
42 notícias encontram-se distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha, foram
publicadas 17 (68%), das 21 notícias do Estadão, foram publicadas 12 (57%) e das 15 notícias
da Tribuna, foram publicadas 13 (87%). Tendo em vista o total de notícias (61), as 17 notícias
da Folha equivalem a 28%, as 12 notícias do Estadão equivalem a 20% e as 13 notícias da
Tribuna equivalem a 21%. Com relação ao total de notícias em SC (42), esses números
equivalem a 40%, 29% e 31%, respectivamente.
3.5. Análise da incidência setorial total
Em AR total, foram publicadas 23 notícias (38%). Tendo em vista o número de
total de notícias publicadas (61), a Folha obteve o primeiro lugar (11 notícias=18%), o
Estadão ficou em segundo (10 notícias=16%), e a Tribuna em terceiro (02 notícias=3%).
Estes resultados indicam que dos três jornais a Folha é o que mais se preocupa em
noticiar o universitário através de sua forma de sentir e de se relacionar com as outras pessoas.
Este ranking é semelhante ao obtido em AR puro, porém com percentuais bem mais elevados,
o que sugere que embora haja pouca preocupação em apresentar o universitário unicamente
através de seu setor AR, esta preocupação parece ser maior quando a imagem do jovem se
estende aos outros setores adaptativos. Por outro lado, chama a atenção o baixo percentual
obtido pela Tribuna que, além de ser o menor no que tange ao setor AR, é também o
percentual mais baixo quando comparado aos obtidos nos setores em sua totalidade.
Em PR total foram publicadas 45 notícias (74%). Tendo em vista o número total
de notícias publicadas (61), obtém-se o mesmo ranking do setor AR total, porém, com
percentuais diferentes e bem mais elevados: a Folha se mantém em primeiro lugar (20
notícias=33%), o Estadão fica em segundo (13 notícias=21%) e a Tribuna, em terceiro
(12notícias=20%). A exemplo do setor AR total, a Folha mantém a sua preocupação em
representar o estudante através daquilo que ele produz e apresenta suas notícias mesclando
essa produtividade com outros setores adaptativos. Quanto aos três jornais, estes resultados
sugerem que a produtividade dos jovens é altamente priorizada quando de sua comparação
com as questões que envolvem a afetividade.
O setor OR foi incidente em 12 notícias (20%). Tendo em vista o número total de
notícias publicadas (61), o Estadão fica em primeiro lugar (05 notícias =8%), a Folha, em
segundo (04 notícias=7%) e a Tribuna, em terceiro (03 notícias=5%). Devido ao baixo
percentual obtido neste setor, mesmo estando mesclado a outros setores, denota-se que a
mídia não está preocupada em representar o jovem através dos cuidados que ele tem com o
corpo e com a sexualidade, constatação que se reforça com o percentual obtido por OR
enquanto setor puro (0%). Embora os percentuais em OR total sejam bem baixos com relação
aos outros setores adaptativos, o Estadão é o jornal que mais se preocupa com este tipo de
notícia.
Finalmente o setor SC abrange 42 (69%). Tendo em vista o número total de
notícias (61), a Folha retoma o primeiro lugar (17=28%), a Tribuna fica em segundo (13
notícias=21%) e o Estadão, em terceiro (12 notícias=20%). A exemplo dos altos percentuais
obtidos pelo setor PR em sua totalidade, a Folha mantém-se em primeiro lugar. Agora, porém,
há uma pequena inversão relativa às posições ocupadas pelo Estadão e pela Tribuna, isto é,
enquanto no setor PR, o Estadão ocupa o segundo lugar (21%) e a Tribuna ocupa o terceiro
(20%), no setor SC, a Tribuna incide sobre 21% e o Estadão sobre 20%. Esta pequena
diferença percentual significa que esses dois jornais possuem preocupação bastante
semelhante ao fazer a representação dos aspectos produtivos e sócio-culturais dos estudantes
universitários.
Os resultados obtidos pelos setores em sua totalidade assemelham-se aos obtidos
pelas mesclas setoriais, isto é, estando ausentes os setores em forma pura. Esta semelhança
deve-se ao fato de a incidência setorial “pura” ser relativamente baixa, isto é, os setores AR,
PR e SC aparecem em apenas 14 notícias (23%), e suas formas mescladas aparecem nas 47
notícias restantes (77%).
Através dos resultados de incidência setorial, verifica-se que os setores PR e SC
aparecem com predominância em relação aos setores AR e OR. Percebe-se que o setor PR,
quando de sua forma pura, encontra-se em primeiro lugar, e SC em segundo. Quanto à forma
mesclada em duplas, PR/SC ocupam, destacadamente, o primeiro lugar. Quanto à forma
mesclada em trios, PR e SC também se encontram na liderança ao compor o trio AR/PR/SC.
Tendo em vista a grande incidência desses dois setores, torna-se relevante analisar como se
comportam PR e SC enquanto setores puros e também quando se mesclam com os outros
setores.
Verificando-se o número de notícias que abrangem os setores PR puro, PR
mesclado, SC puro e SC mesclado, foram encontradas 58 notícias, o que equivale a 95% do
total de notícias selecionadas (61). As outras 03 notícias (5%) correspondem à incidência dos
outros setores, isto é, AR e OR, quando não se mesclam a PR e SC. Essas 03 notícias têm a
incidência do setor AR puro e pertencem à Folha (01 notícia=3%) e ao Estadão (01
notícia=2%).
Sobre o total de notícias em PR e SC (puros e mesclados), isto é, 58, 23 notícias
(40%) pertencem à Folha, 20 (34%) pertencem ao Estadão e 15 notícias (26%) foram
publicadas pela Tribuna.
A Folha veiculou 23 notícias em PR/SC total que correspondem a 40% sobre as
58 notícias nesses setores e estão distribuídas da seguinte forma: PR/SC= 10 notícias, PR= 02
notícias, AR/PR= 02 notícias, AR/SC= 01 notícia, OR/SC= 01 notícia, PR/OR= 01 notícia,
AR/OR/SC= 01 notícia, AR/PR/OR= 01 notícia e AR/PR/SC= 04 notícias.
O Estadão veiculou 20 notícias em PR/SC total que correspondem a 34% sobre as
58 notícias nesses setores e estão distribuídas da seguinte forma: PR/SC= 05 notícias, PR= 04
notícias, SC= 02 notícias, AR/PR= 01 notícia, AR/SC= 03 notícias, AR/OR/SC= 02 notícias e
AR/PR/OR= 03 notícias.
A Tribuna, por sua vez, veiculou 15 notícias e essas 15 notícias foram
contempladas por PR e SC; suas mesclas equivalem a 26% sobre as 58 notícias desses setores,
e estão distribuídas da seguinte forma: PR/SC= 08 notícias, PR= 02 notícias, SC= 01 notícia,
OR/SC= 01 notícia, AR/OR/SC= 01 notícia, AR/PR/SC= 01 notícia e PR/SC/OR= 01 notícia.
Constata-se, então, que no que concerne à veiculação de notícias nos setores PR e
SC (total), a Folha lidera com 23 notícias (40%) de notícias nesses setores, frente a 20 notícias
(34%) do Estadão e 15 notícias (26%) da Tribuna.
É interessante observar que na comparação do setor PR com o setor SC, os
rankings obtidos são semelhantes quanto à presença exclusiva de um apenas um setor e,
também, quanto à presença mesclada de um desses setores com outros: quando se trata de
notícias que abordam o setor PR puro ou o setor SC puro, o Estadão encontra-se em primeiro
lugar, porém, quando a notícia abrange PR e SC mesclados a outros setores, ou seja,
ampliando e, conseqüentemente, aprofundando o conteúdo relativo aos aspectos produtivos e
sócio-culturais do jovem, o Estadão não mantém a liderança. Neste sentido, a Folha é o jornal
que demonstra mais preocupação representar o jovem universitário através daquilo que ele
produz e de sua forma de lidar com valores sociais e culturais. A Tribuna não lidera em
nenhum dos dois casos.
Ressalta-se, porém, que se as notícias sobre PR e SC (total) forem comparadas ao
total de notícias nesses setores publicadas por cada jornal em separado, a situação fica
bastante diferente: as 23 notícias da Folha equivalem a 92% do total de notícias que ela
publicou (25). As 20 notícias do Estadão equivalem a 95% do total de suas notícias (21).
Finalmente, as 15 notícias que a Tribuna publicou em PR/SC e suas mesclas equivalem a
100% de seu total de notícias (15). Desta forma, embora a Folha e o Estadão tenham sua
atenção bastante voltada a esses dois aspectos, isto é, produtivo e sócio-cultural, as notícias da
Tribuna apresentam dedicação total aos mesmos.
Quanto aos setores PR/SC enquanto dupla, isto é, sem a presença dos outros
setores, a Folha veicula 10 notícias, o que equivale a 43% sobre o total de notícias nesses
setores (23) e a 16% frente ao total de notícias selecionadas (61). As 05 notícias do Estadão
correspondem a 22% do total de notícias nesses setores e a 8% do total de notícias
selecionadas (61). As 08 notícias publicadas pela Tribuna em PR/SC equivalem a 35% das
notícias nesses setores e a 13% do total de notícias selecionadas (61). Frente ao total de
notícias publicadas por cada jornal, as 10 notícias da Folha equivalem a 40%, as 05 notícias
do Estadão equivalem a 23% e as 08 notícias da Tribuna equivalem a 53%.
Tendo em vista todos os percentuais obtidos nesta dupla (PR/SC), obtêm-se os
seguintes resultados. Frente ao total de notícias selecionadas (61), a Folha fica em primeiro
lugar (10 notícias=16%), a Tribuna fica em segundo (08 notícias=13%) e o Estadão em
terceiro (05 notícias=8%). Frente ao total de notícias na dupla PR/SC (23), A Folha mantém a
liderança (10 notícias=43%), a Tribuna continua em segundo (08 notícias=35%) e,
finalmente, em terceiro lugar, mantém-se o Estadão (05 notícias=22%). Finalmente, se essas
notícias forem analisadas frente ao número de notícias publicadas por cada jornal, a Tribuna
alcança a liderança (08 notícias=53%), a Folha fica em segundo lugar (10 notícias=40%) e o
Estadão, em terceiro (05 notícias=23%.
Estes resultados são semelhantes aos obtidos na dupla PR/SC mesclada a outros
setores, isto é, quando essas notícias são analisadas frente ao total de notícias que cada jornal
publicou, a Tribuna lidera nas duas situações: no primeiro caso (PR/SC e mesclas) com 100%,
frente a 95% do Estadão e a 92% da Folha, e no segundo caso (PR/SC) com 53% frente a 40
% da Folha e a 23% do Estadão. Em ambos o caso, vê-se a presença maciça da Tribuna
quando está envolvida na veiculação de notícias sobre estudantes universitários.
De maneira geral, tendo em vista os quatro setores adaptativos que incidem nas
notícias sobre universitários veiculadas pelos três jornais, pode-se fazer a seguinte
constatação: ao noticiar sobre o universitário, a mídia impressa enfatiza ações dos
universitários frente aos estudos, ou seja, situações ligadas ao aprendizado (facilidades e
dificuldades no ato de aprender, desenvolvimento de pesquisa, participação em cursos etc),
não havendo, entretanto, notícias que abordem a produtividade junto ao ambiente de trabalho
do universitário.
A ausência de notícias que abordam o ambiente de trabalho do universitário deve-
se, possivelmente, ao fato de que a mídia, ao publicar suas notícias, está interessada em
divulgar assuntos relativos ao jovem enquanto estudante” e não enquanto “trabalhador”.
Além disso, nos casos em que o jovem é noticiado com referência ao seu trabalho,
o enfoque da mídia estará voltado ao que ele, enquanto ser humano”, produz dentro do
ambiente de trabalho e, desta forma, a palavra universitário nem sempre aparecerá, isto é, a
notícia a ser publicada referir-se-á ao jovem, ao rapaz, ao trabalhador e não, necessariamente,
ao universitário. Talvez, nas notícias coletadas para este trabalho, tenha havido uma ou outra
em que o trabalho do jovem possa ter sido o motivo da publicação, porém, como não se pode
afirmar que aquele jovem citado seja universitário, a notícia não foi selecionada para análise.
Esta situação também pode ter acontecido aos outros setores (AR, OR e SC) e o
procedimento para a seleção das notícias foi o mesmo, isto é, apenas as notícias em que
apareciam as palavras “universitário”, “graduação”, “3º. grau” etc, foram selecionadas.
Somadas a essas notícias sobre a produtividade do estudante, também são
enfatizados os sentimentos e atitudes dos estudantes frente aos recursos oferecidos pela
comunidade e seu modo de pensar e agir visando o bem-estar social, isto é, notícias referentes
ao setor SC. Além disso, denota-se uma preocupação da mídia em veicular notícias ligadas
aos direitos e deveres humanos, situações de confronto social, violência, pressões sociais,
enfim, dá-se ênfase aos assuntos sobre os valores e costumes pertinentes à cultura e ao meio
sócio-comunitário em que vivem esses universitários.
Levando-se em consideração os três jornais em conjunto, constata-se que a
Tribuna é o jornal que apresenta o maior índice deste tipo de notícia: todas as notícias que
publicou abordam a dupla PR/SC esteja ela só ou em companhia de outros setores; isto
significa que, dentre os três jornais, é ela que mais se preocupa com os sentimentos e atitudes
dos jovens frente à sua vida produtiva combinados com os demais conteúdos sócio-culturais.
4. Ranking da incidência setorial
O ranking da incidência setorial refere-se à posição que os setores e suas mesclas
ocupam nas 61 notícias selecionadas. A demonstração numérica deste ranking encontra-se na
tabela abaixo e, em seguida, a descrição de cada um de seus itens:
4.1. Ranking dos setores em sua forma pura
O setor que mais incidiu sobre as 61 notícias foi PR (08 notícias=13%). Dos três
jornais, o que mais veiculou notícias sobre este setor em sua forma pura foi o Estadão (04
notícias=7%). Em seguida, tem-se a Folha e a Tribuna, com 02 notícias, cada (3%). Desta
forma, infere-se que o Estadão é o jornal que mais se atém a representar o estudante
universitário sob aspectos exclusivos de sua produção acadêmica, em detrimento de outros
assuntos a ele referentes.
Em segundo lugar, os setores de maior incidência foram AR e SC com 03
notícias, cada (5%). O jornal que mais veiculou notícias abordando o setor AR em sua forma
pura foi a Folha (02 notícias=3%). Em seguida, o Estadão (01 notícia=25%) e a Tribuna (0%).
Quanto ao setor SC, o Estadão também lidera (02 notícias=3%). A Tribuna vem em seguida
(01 notícia=2%) e finalmente, a Folha (0%). Embora os setores AR e SC não tenham
alcançado os altos percentuais de PR, podem ser feitas as seguintes inferências: a Folha é o
jornal que mais se preocupa em abarcar assuntos de ordem exclusivamente pessoal dos alunos
e o Estadão é o que mais se volta aos seus aspectos exclusivamente sócio-culturais.
Em terceiro e último lugar, encontra-se o setor OR, com ausência total de notícias,
o que denota ausência de preocupação dos três jornais em publicar notícias que abordem
assuntos sobre a saúde física e a sexualidade desses estudantes.
4.2. Ranking dos setores em sua forma mesclada
4.2.1. Duplas setoriais
Considerando os resultados dos setores em sua forma mesclada (duplas),
verificou-se que a dupla de maior incidência foi PR/SC (23 notícias=38%). O jornal que mais
veiculou notícias abordando esta dupla de setores foi a Folha (10 notícias=16%). Em segundo
lugar, ficou a Tribuna (08 notícias=13%) e, em terceiro, o Estadão (05 notícias=8%). Infere-
se, portanto, que no que tange à publicação de notícias sobre os aspectos produtivos
conjuntamente aos sócio-culturais dos estudantes, a manifestação da Folha é hegemônica em
relação aos outros jornais; porém, relativamente às notícias em PR/SC, a Tribuna obtém
100%, ficando em primeiro.
A dupla AR/SC (04 notícias=7%) obteve o segundo lugar. A Folha publicou 01
notícia (2%) e o Estadão publicou 03 (5%). Embora com percentuais bem mais baixos que
PR/SC, a dupla AR/SC encontra-se em segundo lugar e tem o Estadão como seu líder.
A dupla AR/PR (03 notícias=5%) ficou em terceiro lugar. A Folha obteve a
liderança, com 02 notícias (3%) e o Estadão ficou em segundo lugar, publicando apenas 01
notícia (2%). A Tribuna não veiculou notícias que abordando esta dupla de setores. Desta
forma, a Folha repete a liderança alcançada em PR/SC, porém como percentuais bem mais
baixos.
A dupla OR/SC (02 notícias=3%) ficou em quarto lugar, com a liderança da Folha
e da Tribuna (01 notícia=2%, cada). O Estadão não publicou notícias abordando esta dupla de
setores. Aqui, também, a Folha se destaca, possivelmente devido à presença de SC na dupla
analisada.
Finalmente, a dupla de setores PR/OR incidiu apenas sobre 01notícia (2%) e esta
notícia foi veiculada pela Folha.
4.2.2. Trios setoriais
Considerando os resultados dos setores em sua forma mesclada (trios), verificou-
se que os setores adaptativos de maior incidência foram AR/PR/SC (05 notícias=8%). A
Folha obteve a liderança com 04 notícias (7%) e a Tribuna ficou em segundo lugar, com
apenas 01 notícia (2%). O Estadão não veiculou notícias neste trio de setores. Isto significa
que a Folha é jornal que mais se destaca quando da representação do universitário através da
comunhão de aspectos afetivos, produtivos e sócio-culturais.
Os trios AR/PR/OR e AR/OR/SC ficaram em segundo lugar, num total de 04
notícias, cada (7%), cada. Quanto ao trio AR/PR/OR, o jornal que veiculou o maior número
de notícias foi o Estadão (03 notícias=5%) e a Folha obteve o segundo lugar, com apenas 01
notícia (2%). A Tribuna não veiculou notícias neste trio setorial.
Com referência ao trio AR/OR/SC, o Estadão foi o jornal que mais veiculou
notícias (02 notícias=3%), e a Folha e a Tribuna publicaram apenas 01 notícia, cada (2%).
Através desses resultados, o Estadão demonstra ser o jornal que mais se preocupa em divulgar
o estudante por seus aspectos afetivos e orgânicos mesclados aos sócio-culturais.
Finalmente, encontra-se o trio PR/SC/OR, com a publicação de apenas 01 notícia
(2%) e esta notícia foi veiculada pela Tribuna, denotando bastante discrepância quanto à
dupla PR/SC. Isto significa que, embora os aspectos produtivos e sócio-culturais sejam
contundentes nos três jornais, quando a eles se unem os aspectos orgânicos, a tendência é que
as notícias diminuam sensivelmente.
4.3. Ranking dos setores em sua totalidade
Considerando a incidência setorial em sua totalidade, isto é, a somatória das
notícias de um determinado setor “em sua forma pura” com as notícias deste mesmo setor
“em sua forma mesclada (duplas e trios)”, verificou-se que o setor de maior incidência nas
notícias sobre estudantes universitários é o PR (45 notícias=74%). Com relação ao total de
notícias selecionadas (61), a Folha ocupa o primeiro lugar (20 notícias=33%), o Estadão
ocupa o segundo (13 notícias=21%), e a Tribuna, o terceiro (12 notícias=20%). Frente ao total
de notícias em PR (45), a Folha também mantém o primeiro lugar (44%), o Estadão mantém o
segundo (29%) e a Tribuna, o terceiro (27%).
Em seguida, e com um diferencial de apenas 05 pontos percentuais, encontra-se o
setor SC (42 notícias=69%). Com relação ao total de notícias selecionadas (61), a Folha
mantém o primeiro lugar (17 notícias=28%), o Estadão mantém o segundo (12 notícias=20%)
e a Tribuna, o terceiro (13 notícias=21%). Frente ao total de notícias em SC (42), a Folha
permanece em primeiro lugar (40%), a Tribuna ocupa o segundo (31%) e o Estadão vai para o
último lugar (29%).
O setor AR vem em seguida (23 notícias=38%), com uma diferença de PR em,
aproximadamente 50%, e de SC, em 30%. Com relação ao total de notícias selecionadas (61),
a Folha ocupa o primeiro lugar (11 notícias=18%), o Estadão fica em segundo (10
notícias=16%) e a Tribuna, em terceiro (02 notícias=3%). Frente ao total de notícias em AR
(23), a Folha fica em primeiro lugar (48%), o Estadão em segundo (43%), e a Tribuna, com
um percentual bastante inferior (9%) ocupa o último lugar.
Finalmente, em quarto lugar, está o setor OR, com apenas 12 notícias (20%). Com
relação ao total de notícias selecionadas (61), o Estadão é líder (05 notícias=8%), a Folha vai
para o segundo lugar (04 notícias=7%) e a Tribuna permanece em terceiro (03 notícias=5%).
Frente ao total de notícias em OR (12), o Estadão mantém a liderança (42%), a Folha
permance em segundo lugar (33%) e a Tribuna permanece em terceiro (25%).
5. Abrangência setorial
A abrangência setorial refere-se ao número (quantidade) de setores que abordam
as notícias selecionadas, independentemente de este setor ser AR, PR, OR ou SC. O que se
quer averiguar é a profundidade do assunto, isto é, quanto maior o número de setores, mais
ampla é a imagem do universitário representada pela mídia impressa e, naturalmente, quanto
menor o número de setores, mas restrita fica essa imagem. Das 61 notícias sobre os
estudantes, 14 (23%) são abordadas por 01 setor adaptativo apenas, 33 (54%) são abordadas
por 02 setores adaptativos e 14 (23%) são abordadas por 03 setores. Não houve notícia com
incidência dos 04 setores adaptativos.
5.1. Abrangência de 01 setor adaptativo
As 14 notícias abordadas por apenas 01 setor perfazem 23% do universo total de
notícias selecionadas (61) e estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha, há
04 (16%), das 21 notícias do Estadão, há 07 (33%), e das 15 notícias da Tribuna, há 03 (20%).
Se analisadas frente ao universo de 61, as 04 notícias da Folha equivalem a 7%, as 07 notícias
do Estadão equivalem a 11,5% e as 03 notícias da Tribuna equivalem 05%. Com relação ao
total de notícias que têm a incidência de apenas 01 setor (14 notícias), as 04 notícias da Folha
equivalem a 29%, as 07 do Estadão equivalem a 50%, e as 03 da Tribuna equivalem a 21%.
5.2. Abrangência de 02 setores adaptativos
As 33 notícias abordadas por 02 setores perfazem 54% do universo total de
notícias selecionadas (61) e estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias da Folha, há
15 (60%), das 21 notícias do Estadão, há 09 (43%) e das 15 notícias da Tribuna, há 09 (60%).
Se analisadas frente ao universo de 61, as 15 notícias da Folha equivalem a 25%, e as 09
notícias veiculadas tanto pelo Estadão como pela Tribuna equivalem a 15%, cada. Com
relação ao total de notícias abordadas por 02 setores (33 notícias), as 15 notícias da Folha
equivalem a 45%, as 09 notícias do Estadão equivalem a 27% e, igualmente ao Estadão,
encontra-se a Tribuna, com 09 notícias (27%).
5.3. Abrangência de 03 setores adaptativos
As 14 notícias que abordadas por 03 setores perfazem 23% do universo total de
notícias selecionadas (61) e estão distribuídas da seguinte forma: das 25 notícias publicadas
na Folha, 06 (24%) abordam três setores em conjunto. Com o mesmo percentual, tem-se o
Estadão que, dentre as suas 21 notícias, apresenta 05 (24%). Com percentual ainda mais
baixo, tem-se a Tribuna que, num universo de 15 notícias, veicula apenas 03 notícias (20%).
Se analisadas frente ao universo total de 61, as 06 notícias da Folha equivalem a 10%, as 05
notícias do Estadão equivalem a 8% e as 03 notícias da Tribuna equivalem a 5%. Com relação
ao total de notícias abordadas por 03 setores (14 notícias), as 06 notícias da Folha equivalem a
43%, as 05 notícias do Estadão equivalem a 36%, e as 03 notícias da Tribuna equivalem a
21%.
5.4. Análise da abrangência setorial
Analisando-se a incidência de abordagem de apenas 01 setor (14 notícias=23%),
verifica-se que o Estadão é o jornal ocupa a liderança, vindo a Folha em segundo lugar e
Tribuna, em terceiro. Nesse sentido, isto é, dentre as 14 notícias de apenas 01 setor, o Estadão
veicula 07 (50%), isto é, metade das notícias deste tipo; a Folha veicula 04 (29%) e a Tribuna,
03 (21%). Se analisadas frente ao total de notícias (61), as 07 notícias do Estadão equivalem a
11%, as 04 da Folha equivalem a 7% e as 03 da Tribuna, 5%.
Estes resultados sugerem que o Estadão é o jornal que apresenta o estudante
universitário de forma mais fragmentada, ou seja, se comparado aos outros dois jornais, o
Estadão é o que menos se preocupa em representar o jovem de maneira gestáltica, isto é,
global; suas notícias não se atêm à multiplicidade de situações que, correlacionadas,
poderiam, certamente, aprofundar os assuntos voltados ao estudante universitário e,
conseqüentemente, ampliar o entendimento do leitor.
A existência de apenas 01 setor acaba limitando a imagem do jovem a um único
aspecto de vida, ou seja, quando a notícia aborda o setor AR, ou apenas PR, ou OR ou mesmo
SC, os outros aspectos a ele inerentes são, automaticamente, excluídos de seu contexto, de sua
história de vida e, conseqüentemente, da compreensão do leitor.
Embora se possam fazer inferências quanto aos setores que não foram abordados
numa determinada notícia, a compreensão fica, por certo, prejudicada. Poder-se-ia, também,
inferir que a veiculação de notícias fragmentadas também exime o jornal da responsabilidade
de se aprofundar no assunto, seja por questões de interesse, espaço, ou mesmo, determinação
da direção editorial, assunto que talvez mereça investigação em trabalhos futuros.
No que tange às notícias de 02 setores (33 notícias=54%), a Folha ocupa o
primeiro lugar, o Estadão, o segundo, e a Tribuna, o terceiro. Dessas 33 notícias, a Folha
apresenta 15 (45%), o Estadão 09, e a Tribuna 09 notícias (27%, cada). Se analisadas frente
ao total de notícias (61), as 15 da Folha equivalem a 24% e as 09 notícias do Estadão e da
Tribuna equivalem a 15%, cada.
O alto percentual de notícias que abordadas por 02 setores (54%) pode ter origem
numa dificuldade jornalística em abranger as diferentes facetas do estudante universitário,
impedindo, a exemplo das notícias de 01 setor, que o leitor construa uma imagem nítida e
ampla sobre a essência deste jovem, sua forma de sentir, pensar e agir sobre o mundo.
Ainda, da mesma forma que as notícias de apenas 01 setor, estas notícias de 02
setores fazem com que o universitário seja apresentado de maneira fragmentada, apenas
setorial: neste caso, ou são abordados assuntos sobre as atividades escolares e sociais
(PR/SC), ou se abordam situações de seu comportamento e saúde (AR/OR); por outro lado,
ou se abordam situações afetivas e sócio-culturais (AR/SC), ou se abordam situações relativas
à saúde e à produtividade (OR/PR) etc.
Tomando-se como base esses exemplos e outras combinações já constatadas nos
itens anteriores, constata-se que ao se falar apenas sobre PR/SC, acaba-se por excluir AR/OR,
ao se falar apenas sobre AR/SC, acaba-se por excluir OR/PR e assim por diante, como se os
setores que foram excluídos não tivessem interferido na história de vida do aluno ou no fato
que levou à publicação daquela determinada notícia.
No que tange às notícias de 03 setores (14 notícias=23%), A Folha ocupa o
primeiro lugar, o Estadão, o segundo, e a Tribuna, o terceiro. Dessas 14 notícias, a Folha
apresenta 06 (43%), o Estadão 05 (36%), e a Tribuna 03 (21%). Se analisadas frente ao total
de notícias (61), as 06 da Folha equivalem a 10%, as 05 do Estadão equivalem a 8%, e as 03
da Tribuna equivalem a 5%. Essas notícias que foram abordadas por 03 setores adaptativos
ainda não chegam a ser o ideal, ou seja, a construção da imagem do jovem universitário só
estaria representada de maneira bem ampla, caso os 04 setores estivessem presentes, pois,
conforme citado anteriormente (Material e Método), de acordo com a Teoria Evolutiva da
Adaptação (SIMON, 1989), os 04 setores adaptativos formam o eixo que sustenta os aspectos
globais de um indivíduo; porém, se estas notícias de 03 setores forem comparadas àquelas de
01 ou 02 setores adaptativos, já apresentam um conteúdo mais consistente sobre o estudante.
Isto acontece porque, ao se excluir apenas 01 setor, a presença dos outros dois ainda mantém
quase intacta a construção da imagem que a mídia leva ao leitor.
Resumidamente, a Folha é o jornal que faz a representação do estudante
universitário de maneira mais ampla e consistente, isto é, com incidência de 03 setores
adaptativos nas notícias. Frente ao total selecionado (61), perfaz 10% contra 8% do Estadão e
5% da Tribuna, e frente às notícias de 03 setores, perfaz 43% contra 36% do Estadão e 21%
da Tribuna.
Quanto à abordagem de 02 setores adaptativos, a Folha também é líder. Frente ao
total selecionado (61), perfaz 24% contra 15% do Estadão e 15% da Tribuna. Frente às
notícias de 02 setores, perfaz 45% contra 27% do Estadão e 27% da Tribuna.
Por outro lado, o Estadão é o jornal que apresenta a imagem do universitário de
maneira mais fragmentada, isto é, com incidência de apenas 01 setor adaptativo nas notícias.
Frente ao total selecionado (61), perfaz 11% contra 7% da Folha e 5% da Tribuna. Frente às
notícias de apenas 01 setor, perfaz 50% contra 29% da Folha e 21% da Tribuna.
Parte 2 - Análise do setor afetivo-relacional
Após a análise da incidência setorial, atende-se, agora ao segundo objetivo específico
da tese, ou seja, verificar se a mídia, ao abordar notícias sobre o setor afetivo-relacional, dá ênfase
aos comportamentos socialmente aceitos, que serão representados pela sigla AR+, ou se as
notícias sobre comportamentos considerados inadequados, representadas por AR-, são as que
veiculam com predominância.
Para atender a este objetivo, foram quantificados e analisados os percentuais de
notícias obtidos em AR, seja em relação ao total de notícias selecionadas para este trabalho (61),
bem como em relação ao total de notícias neste setor específico (AR).
Verificou-se que no universo de 61 notícias, foram publicadas 23 (03 em AR puro e
20 em AR mesclado), o que equivale a 38%. Subtraindo-se as 23 notícias do total selecionado
(61), restam 38 notícias (62%), que se referem aos setores PR e/ou OR e/ou SC, cuja análise não
se faz relevante neste momento.
Ressalta-se que para atender a este objetivo, o setor AR foi analisado em sua
totalidade. Isto significa que foram consideradas as notícias em que este setor incidiu, seja em
sua forma pura, como mesclada (duplas e trios); na realidade, o que se quer saber é que tipo
de comportamento do estudante universitário serve de notícia para a mídia; isto significa que
mesmo que assuntos pertinentes ao setor AR tenham aparecido numa determinada notícia de
forma conjunta com qualquer outro setor adaptativo, consegue-se verificar se a mídia: a)
enaltece os comportamentos considerados adequados, como por exemplo, demonstrações de
amizade e afeto, amor, compreensão, sentimentos de dor frente a situações difíceis, empatia
em relação ao sofrimento do outro, etc, ou b) enaltece os comportamentos considerados
inadequados, como por exemplo, agressividade verbal ou física, demonstrações de desafeto
nas relações humanas, ciúme excessivo, sensações exacerbadas de culpa, idéias suicidas,
desejo de matar, auto-agressão, etc
Das 25 notícias publicadas na Folha, 11 (44%) pertencem ao setor AR. Das 21
notícias do Estadão, foram publicadas 10 (48%) e das 15 notícias publicadas pela Tribuna,
apenas 02 (13%) abordam este setor. As notícias restantes, isto é, 14 da Folha, 11 do Estadão
e 13 veiculadas pela Tribuna, num total de 38 notícias, pertencem aos demais setores
adaptativos, perfazendo 62% do total selecionado (61).
Com relação ao número de notícias em AR (23), as 11 notícias da Folha equivalem
a 48%, as 10 do Estadão equivalem a 43% e as 02 da Tribuna equivalem a 9%. Se analisadas
frente ao universo total de notícias selecionadas (61), as 11 notícias da Folha perfazem 18%,
as 10 do Estadão perfazem 16% e as 02 notícias veiculadas pela Tribuna, 3%. Conforme
citado durante a análise da incidência setorial, a Folha é jornal que mais tende a noticiar o
universitário através de seus aspectos afetivos e também de seus relacionamentos
interpessoais.
1. Incidência de comportamentos “aceitos” e “não aceitos”
Quanto aos comportamentos socialmente aceitos e não aceitos” desses
universitários, respectivamente AR+ e AR-, foram obtidos os seguintes resultados na Folha:
das 11 notícias publicadas em AR, 07 (64%) referem-se a AR+ e 04 (36%) referem-se a AR-.
Em relação às notícias em AR veiculadas pelos três jornais (23), as 07 notícias em AR+
publicadas pela Folha equivalem a 30%, e as outras 04 (AR-) equivalem a 17%. Se as notícias
em AR publicadas pela Folha forem analisadas frente ao total selecionado (61), as 07 notícias
em AR+ equivalem a 11% e as outras 04 em AR-, perfazem 7%.
Quanto ao Estadão, os resultados são os seguintes: das 10 notícias que publicou
em AR, 07 (70%) encontram-se em AR+ e 03 (30%) referem-se a AR-. Em relação às notícias
em AR veiculadas pelos três jornais (23), as 07 notícias em AR+ publicadas pelo Estadão
equivalem a 30%, e as outras 03 notícias em AR- equivalem a 13%. Se as notícias em AR
publicadas pelo Estadão forem analisadas frente ao total de notícias selecionadas (61), as 07
em AR+ equivalem a 11% , e as 03 em AR-, equivalem a 5%.
A Tribuna veiculou apenas 02 notícias em AR e ambas referem-se a AR+ (100%).
Em relação às notícias em AR veiculadas pelos três jornais (23), as 02 notícias em AR+
publicadas por este jornal equivalem a, aproximadamente, 9%. Em relação ao total de notícias
(61), essas 02 notícias em AR+ perfazem 3%. Não houve, portanto, por parte da Tribuna,
veiculação de notícia em AR-.
2. Análise do setor AR no que tange aos comportamentos “aceitos”
e “não aceitos”
Com base na descrição dos três jornais em conjunto e levando-se em consideração
o número de notícias em AR (23), as 16 notícias em AR+ equivalem a 70%, e as 07 em AR-
equivalem a 30%. Desta forma, verifica-se que os comportamentos “aceitos” se sobrepõem
aos “não aceitos”, de modo geral.
Analisando-se cada jornal individualmente no que diz respeito ao total de notícias
em AR (23), a Folha e o Estadão, através da publicação de 07 notícias (30%) cada, lideram o
ranking de comportamentos considerados socialmente aceitos. A Tribuna fica em segundo e
último lugar, com apenas 02 notícias (4%). Porém, se as notícias em AR forem analisadas em
proporção ao número de notícias em AR de cada jornal, os percentuais serão bastante
diferentes: a Tribuna alcança a liderança, pois todas as notícias que publicou em AR (02)
referem-se a AR+, ou seja 100%. O Estadão fica em segundo lugar, com 07 notícias em AR+,
isto é, 70% sobre o total de 10 notícias em AR. Em último lugar encontra-se a Folha, cujas 07
notícias em AR+ equivalem a 64% das 11 notícias que publicou em AR. Desta forma, existem
dois tipos de resultados: com relação ao total de notícias publicadas sobre comportamentos
(AR), a Folha e o Estadão ocupam o primeiro lugar e, proporcionalmente ao número de
notícias em AR publicadas por cada jornal em separado, a Tribuna lidera o ranking.
Considerando que a mídia, de certa forma, poderia priorizar os comportamentos
não “aceitos”, devido ao ibope causado por este tipo de notícia, estes resultados sobre a
hegemonia de comportamentos “aceitos” chamam a atenção, e também podem, a priori,
parecer incipientes. O que se quer dizer é que, numa análise superficial, parece não fazer
sentido o fato de a mídia priorizar aquilo que “não dá ibope”, aquilo que “não vende”, afinal,
os jornais analisados não têm ideais filantrópicos e, portanto, se mantêm através da auto-
sustentabilidade.
Ora, se a mídia, no que tange ao estudante universitário, age desta forma,
presume-se que seu comportamento, em outros assuntos, seja o mesmo. Então, como ficaria a
situação acima? Como seria uma mídia mantida por notícias que não dão ibope e, portanto,
não vendem? Através, porém, de uma análise mais cuidadosa sobre estes resultados, verifica-
se que os números que foram obtidos durante as 02 semanas construídas fizeram com que as
notícias selecionadas servissem de base para as inferências sobre o “tipo” de notícia, sobre o
“setor de incidência” que a mídia prioriza e não sobre a “intensidade” com que essa notícia
atinge o leitor. Isto quer dizer que se o método utilizado fosse outro que, por exemplo,
selecionasse as notícias pelo número de dias que elas se mantêm na mídia, possivelmente os
comportamentos considerados “não aceitos” seriam os hegemônicos se comparados aos
“aceitos”.
No caso desta tese, porém, considerando o objetivo de apontar qual o tipo de
notícia publicada” pela mídia e não qual o tipo de notícia que se mantém na mídia”, constata-
se que a mídia, embora necessite de “ibope” para se manter viva, faz a representação do
estudante universitário através de seus aspectos positivos.
Parte 3 - Análise da aplicabilidade da EDAO no discurso da mídia
impressa
Esta análise refere-se à viabilidade ou não, da utilização da EDAO no que
concerne ao discurso da mídia impressa, e atende ao quarto objetivo da tese. Conforme citado
na revisão da literatura e em tantos outros trabalhos científicos que utilizam a EDAO como
eixo metodológico, ou mesmo como ferramenta de trabalho nos consultórios de psicologia,
esta escala foi criada por Simon (1977) para atender às questões de saúde mental de
indivíduos.
Dentro do que já se sabe a respeito da utilização desta escala, é importante que se
ressalte que até o momento anterior a esta tese, ela vinha sendo utilizada para análise de
discursos “falados”, e da área “psi”. Ciente das diversas utilidades desta escala, buscou-se,
neste trabalho, inovar sua utilização “transportando-a” para a área da Comunicação Social,
mais especificamente, no que concerne à mídia impressa.
Neste caso específico, a EDAO não foi utilizada como instrumento diagnóstico,
isto é, às respostas apresentadas não foram atribuídas notas como se faria em caso de
diagnóstico psicológico. Apenas os setores adaptativos foram utilizados para identificar e
analisar a sua incidência nas notícias que a mídia impressa veiculou, entre os meses de agosto
e novembro de 2005 (Material e Método).
Desde a primeira leitura dos exemplares selecionados, percebeu-se que assim
como acontece nas entrevistas psicológicas onde a EDAO é utilizada, existem algumas
dificuldades para identificar os setores abordados, num primeiro momento.
Quando se trata de entrevista psicológica, caso haja alguma dificuldade para
identificar o setor adaptativo, seja por falta de experiência do terapeuta no manuseio da
escala, por dificuldade de expressão verbal do paciente ou, até mesmo, ansiedade de ambos,
pode-se retomar o assunto solicitando ao entrevistado que repita a resposta, que apresente
mais detalhes e, desta forma, consegue-se, aos poucos, fazer um mapeamento de sua eficácia
adaptativa.
Por outro lado, como nesta tese se tratava de notícia veiculada pela mídia
impressa, a situação apresentou outro viés: o fato de se tratar de discurso escrito pareceu, em
princípio, facilitar a identificação do setor adapativo, pois, em algumas situações quando não
havia compreensão do discurso num primeiro momento, a pesquisadora pôde, inúmeras vezes,
retomar a leitura deste ou daquele trecho, buscando apurar o entendimento e proceder a
análise.
Ao contrário, porém, do discurso falado, em que se pode solicitar ao entrevistado
que repita uma ou outra fala, facilitando a compreensão, aqui, no discurso escrito, a
pesquisadora não teve acesso ao emissor daquele discurso, o jornalista: a notícia estava ali,
inerte, cabendo à pesquisadora a absorção de seu conteúdo, única e exclusivamente, através
do que estava escrito, não houve como pedir ajuda.
Pensou-se, inclusive, em solicitar aos profissionais que haviam redigido a matéria
que expusessem seu ponto de vista para que se pudesse identificar o setor de incidência; mas,
além da natural inviabilidade de acesso, acredita-se que o fato de ter decorrido um
determinado tempo entre o momento da redação da matéria e o momento da análise setorial,
levaria a possíveis distorções dessa análise.
Não obstante, deve-se levar em conta que a leitura que, em geral, é feita pelo
leitor não recebe interferência pessoal do emissor, ou seja, a matéria é recebida de forma
pronta e, como se está falando das representações sociais do estudante universitário, a forma
que o leitor “recebe” a notícia é o subsídio que também constrói tal representação social, foco
desta análise. Então, da mesma forma que o leitor “recebe” a notícia, a pesquisadora também
a recebeu, embora de maneira científica, isto é, buscando resultados técnicos, e não como uma
mera apreensão de conteúdo.
Se por um lado, o discurso escrito pôde facilitar, quase que de imediato, a
identificação setorial, por outro também chegou a suscitar dúvidas quando da releitura de
algumas notícias. O se que quer dizer é que o aprofundamento na compreensão da notícia fez
correr o risco de entender melhor o assunto tratado e, da mesma forma, aumentar a
possibilidade de distorções ou inferências pessoais, levando-se em conta as questões da
intencionalidade inconsciente abordadas anteriormente (Capítulo II).
Cabe ressaltar que os percalços havidos durante a análise setorial não foram
obstáculos para o alcance de resultados satisfatórios; além disso, a utilização da EDAO, além
de obter sucesso na análise quali-quantitativa de cada setor adaptativo, fez repensar suas
possibilidades de uso.
A exemplo da facilidade de manuseio no discurso falado e, levando-se em conta
as condições teórico-práticas dos pesquisadores, o uso da EDAO nesta pesquisa provou a
possibilidade de seu transporte para outros campos de pesquisa científica que objetivem
identificar e analisar aspectos psicossociais, seja em situações de discurso falado ou escrito.
Parte 4 - Análise do questionário enviado aos jornalistas
Esta análise refere-se ao quarto objetivo da tese e diz respeito à forma como os
jornalistas entendem a mídia impressa quanto à redação e à publicação de notícias sobre
estudantes universitários.
Durante 04 meses do ano 2005, procedeu-se ao envio das perguntas (Anexo II) e à
coleta das respostas, sendo que a elaboração das questões teve embasamento nos resultados da
análise setorial adaptativa (Partes 1 e 2 deste capítulo). Durante esses meses, foram enviados
100 questionários e desse total, houve a adesão de 35 jornalistas, o que representa 35% do
universo total.
É a partir desse universo de respostas, isto é, 35 questionários respondidos, que se
obtiveram os resultados representados pelos gráficos e descrições abaixo.
O primeiro gráfico é o panorama geral das respostas dos jornalistas, servindo
apenas para se ter uma idéia geral da disposição das questões, alternativas escolhidas e
respectivos percentuais.
A primeira pergunta feita aos jornalistas refere-se aos motivos que levam à
publicação de notícias sobre estudantes universitários.
A grande maioria dos jornalistas (66%) responsabiliza os períodos de vestibular,
exames da Ordem dos Advogados e outros de repercussão nacional, como os maiores
responsáveis pela veiculação de notícias sobre estudantes universitários.
Em seguida, com um percentual mais baixo, porém relevante, 29% dos jornalistas
entendem que a edição e publicação de notícias sobre esses jovens seguem as mesmas normas
das notícias de outros níveis acadêmicos, isto é, o estudante universitário é tão noticiado
quanto qualquer outro estudante, não havendo discriminação positiva ou negativa pelo fato de
pertencer ao nível superior. Os 6% restantes apresentaram pontos de vista diferentes daqueles
abordados nas alternativas do questionário.
De modo geral, acrescentaram que notícias sobre o estudante universitário
deveriam ser publicadas com mais constância devido ao fato de esses jovens estarem se
preparando para um futuro profissional e, portanto, podem se sentir sobrecarregados e um
tanto ansiosos. Pontuam, também, que um outro fator que leva à publicação de notícias sobre
os universitários é quando eles são premiados por fazerem sucesso com pesquisas acadêmicas.
Pelos dados obtidos, constata-se que os jornalistas, em geral, entendem que os
motivos que impelem a publicação de notícias sobre o estudante universitário são as épocas
de vestibular ou exames acadêmicos que têm bastante repercussão nacional, reforçando a
premissa de que a produtividade aparece como fator preponderante nos assuntos que
envolvem esses estudantes.
A segunda pergunta refere-se à conotação da palavra “universitário”, isto é, qual
sentido os jornalistas atribuem à expressão “estudante universitário” no que tange ao âmbito
de publicação de notícia.
Do total de jornalistas, 40% responderam que “universitário” tem conotação de
juventude. Com um percentual bem próximo, 37%, responderam que “universitário” tem uma
conotação voltada às questões da cultura e, por isso, “vende mais”.
Em seguida, com um percentual bem mais baixo, encontram-se 17% dos
participantes que responderam que “universitário” remete à idéia de classe social abastada no
universo brasileiro. Os 6% restantes apontaram outras possibilidades que diferiram de todas as
alternativas anteriores, isto é, apontaram que a classificação “universitário” é como outra
qualquer, mas que também contém uma certa dose de glamour, denota um certo bem estar
familiar e, de alguma forma, sugere que este jovem é importante, pois será, brevemente, um
profissional.
Com base nos resultados, constata-se que os jornalistas se encontram divididos
entre dois posicionamentos, isto é, uma parte deles entende que a veiculação de notícias sobre
estudantes universitários tem como mola propulsora a idéia de serem jovens e outra parte
afirma que isto acontece devido ao fato de o vocábulo “universitário” remeter à idéia de
cultura. Estes posicionamentos também reforçam as questões da produtividade como
embasamento das representações sociais do universitário, também quando profissionais do
jornalismo emitem seu parecer.
A terceira questão alude à maneira como os profissionais de jornalismo percebem
o interesse da mídia em publicar notícias sobre o estudante universitário.
Do total de colaboradores, 31% responderam que essas notícias não dão ibope,
26% responderam que essas notícias não vendem e 6% responderam que notícias sobre
universitários não têm repercussão social.
Um percentual bastante elevado, isto é, 37% que se referem às respostas de 13
jornalistas, compuseram um quadro discordante de todas as alternativas sugeridas pelo
questionário e, portanto, optaram pela alternativa “d”.
Desse total de 13 (37%), obtiveram-se os seguintes números: 09 (69%) discordam
das alternativas anteriores, afirmando que a mídia tem interesse em publicar notícias sobre
universitários; 03 (23%) consideram que os universitários só são notícia em razão de greves
ou vestibulares.
Finalmente, apenas 01 jornalista (8%) pensa que o motivo pelo qual a mídia não
tem interesse em publicar notícias sobre universitários é porque esses jovens não lêem jornal.
Se esses resultados forem considerados frente ao total de jornalistas que
responderam ao questionário (35), haveria os seguintes percentuais: 26%, 9% e 3%,
respectivamente que somados, perfariam os 37% obtidos pela alternativa “d”.
Como se pode observar, dentro dos 37% de jornalistas que optaram pela
alternativa “d”, 69% discordaram das alternativas anteriores, afirmando que a mídia possui,
sim, interesse em publicar notícias sobre universitários.
Se os 69% obtidos pela alternativa “d”, fossem analisados individualmente dentro
das opções, isto é, se fossem considerados como mais uma opção do questionário, esses 69%
representariam 26%, o que se assemelha aos percentuais obtidos quanto ao fator ibope (31%)
que se refere à alternativa “a” e quanto à não vendagem de notícias sobre universitários
(26%), que se refere à alternativa “b”.
Esta situação, isto é, o alto percentual obtido pela alternativa “d” aponta a
relevância do desmembramento dessa alternativa, em especial, no que concerne à
discordância dos jornalistas frente à premissa abordada na questão.
Esses resultados sugerem que na formulação da questão, deveria haver uma
alternativa que se opusesse à premissa pontuada; desta forma, haveria mais consistência nos
resultados.
De qualquer forma, considerando o alto percentual obtido, verifica-se que maioria
dos jornalistas, embora diversificada quanto ao tipo de interesse que a mídia demonstra sobre
o estudante universitário, afirma a existência de tal interesse.
Na quarta questão, foi solicitado aos jornalistas que assinalassem os aspectos
psicossociais relativos aos universitários que deveriam aparecer com maior freqüência nas
edições.
Verificou-se que 57% dos jornalistas responderam que os quatro setores, isto é,
afetivo-relacional, produtivo, sócio-cultural e orgânico, precisariam constar das notícias.
Com um percentual menor, mas ainda considerado alto, 37% responderam que os
aspectos psicossociais abordados pela mídia deveriam ser os produtivos e os sócio-culturais.
O restante dos jornalistas (6%), dividiu-se igualmente: 3% indicaram a
importância dos aspectos afetivos e os cuidados com o corpo, e os 3% restantes apontaram
que o assunto em si não importa, mas aquilo que faz notícia.
Através desses resultados, constata-se que os jornalistas atribuem bastante
importância à gama de setores adaptativos que deveriam representar o estudante universitário,
embora tal posicionamento não seja compartilhado pelos resultados obtidos na análise setorial
desta tese, onde apenas os setores produtivos e os sócio-culturais aparecem com destaque.
Por outro lado, a hegemonia desses dois setores verificada na análise setorial vai
ao encontro dos 37% obtidos no questionário enviado aos jornalistas que, neste caso, ocupa o
segundo lugar no ranking desta quarta questão.
Esta situação acima significa que embora a mídia priorize apenas os setores
produtivos e sócio-culturais, os próprios jornalistas aderem à necessidade de se representar o
universitário, mais amplamente, através dos quatro setores adaptativos.
A questão número 5 refere-se aos resultados obtidos na análise da incidência
setorial em que os aspectos produtivos e sociais do universitário apareceram com maior
freqüência em relação aos afetivos e os cuidados com a saúde física, o que também engloba a
sexualidade.
Nesta questão, 49% dos colaboradores responderam que os aspectos produtivos e
sócio-culturais do universitário aparecem com maior freqüência na mídia porque atingem o
leitor de maneira mais global do que os aspectos afetivos e os cuidados com a saúde e com a
sexualidade.
Outros jornalistas, 31%, pontuaram que os assuntos relacionados à produtividade
e às questões sócio-culturais, em geral, interessam mais aos leitores. Ainda, 11% discordaram
das alternativas anteriores e apontam que os aspectos produtivos e sociais do universitário são
mais específicos ao universo dos estudantes, sendo que já existem revistas específicas sobre
afetividade e saúde física, o que tornaria desnecessária a sua presença na mídia não
especializada. Finalmente, 9% responderam que os aspectos produtivos e sócio-culturais
aparecem com maior freqüência na mídia porque são menos invasivos que os outros dois
setores.
Como se pode observar, o fato de quase 50% dos jornalistas terem optado pela
alternativa referente à globalidade do universitário, mostra que tal globalidade, em seu ponto
de vista, resume-se em apenas dois aspectos, o que também sugere que, possivelmente, esses
profissionais entendam os aspectos produtivos e sócio-culturais como o eixo sustentador do
ser humano, em detrimento dos outros dois, afetivo-relacional e orgânico.
A sexta questão refere-se à baixa freqüência dos aspectos afetivos verificada na
análise setorial.
Dos 35 jornalistas que responderam ao questionário, 34% responderam que a
freqüência dos aspectos afetivos é baixa porque o veículo (ou o jornalista) tem pouco
conhecimento sobre a área psicológica.
Outros 31% responderam que isto acontece porque o veículo (ou o jornalista) tem
pouco interesse sobre a área psicológica. Os jornalistas que optaram pela alternativa “d”, ou
seja, aqueles que discordaram das alternativas anteriores ou que acrescentaram alguma
opinião, perfizeram 20% e sua maioria discordou das alternativas anteriores, afirmando que,
certamente, a mídia tem interesse em publicar esse tipo de matéria, e que a baixa freqüência
talvez se deva à especificidade do assunto, idéia que corrobora a alternativa sobre o restrito
conhecimento do jornalista sobre a área psicológica.
Os restantes concordaram com as três anteriores, isto é, na opinião desses
jornalistas, a baixa incidência de aspectos afetivos nas notícias se deve ao pouco
conhecimento sobre a área psicológica, à falta de interesse pela mesma, bem como à
interferência da direção editorial.
Finalmente, 14% responderam que a direção editorial do jornal interfere
sobremaneira no assunto a ser tratado (estudante universitário), fazendo com que, muitas
vezes, o jornalista se sinta limitado.
O que se pôde constatar é que há bastante semelhança entre os percentuais das
alternativas que aludem ao pouco conhecimento e ao pouco interesse dos jornalistas no que
tange à área psicológica, isto é, 34% e 31%, respectivamente.
Tal constatação sugere que se houvesse uma outra alternativa aludindo ao pouco
interesse do veículo como decorrência de um restrito conhecimento sobre a área psicológica,
possivelmente, os percentuais seriam diferentes, levando-se em conta a tendência do ser
humano em afirmar falta de interesse por determinado assunto, quando lhe falta conhecimento
sobre o mesmo.
A sétima questão refere-se ao posicionamento dos jornalistas quanto à escolha de
uma ou outra notícia sobre universitários, em casos de pouco espaço na edição.
Os jornalistas, em sua grande maioria (74%), responderam que o jornal
preferência à notícia que cause mais repercussão junto aos leitores. Outros 17% responderam
que o jornal opta pela notícia indicada pela direção editorial.
Os 9% restantes apontaram que tal situação vai depender da decisão editorial ou
mesmo do repórter que fizer aquela cobertura. O alto percentual obtido pela alternativa que se
menciona o fator “repercussão da notícia” (74%) faz emergir uma discussão tão comum sobre
o que é notícia e o que faz de um assunto, notícia.
Um exemplo dado por um dos jornalistas que responderam ao questionário reflete
bem esta questão quando afirma que se um cão morde um homem, não é notícia, mas se um
homem morde um cão, tem-se uma notícia.
Na realidade, partindo da premissa que o veículo é vendável e, portanto, necessita
sustentação da apreciação do cliente, esse alto percentual não surpreende, apenas constata
que, em algumas situações, muitos acontecimentos podem não se tornar notícia simplesmente
porque não teriam repercussão junto a um grande público.
A oitava questão solicitou aos jornalistas que indicassem o tipo de comportamento
apresentado pelos jovens que costuma ser selecionado para divulgação na mídia.
Constatou-se que 43% dos jornalistas responderam que é a presença de aspectos
negativos no comportamento dos jovens que leva à publicação das matérias.
Outros 26% responderam que essas matérias são selecionadas quando apresentam
enfoques socialmente “construtivos”.
Ainda, 17% informaram que essas matérias são selecionadas quando apresentam
situações bizarras.
Os 14% dos jornalistas restantes responderam que o que interessa é a notícia, e
que notícias negativas são priorizadas. Além disso, também indicaram que tal situação vai
depender da pauta, e podem englobar todas as alternativas anteriores.
Tendo em vista os percentuais acima, verifica-se que os jornalistas consideram os
comportamentos negativos como base para publicação das matérias.
É interessante pontuar que, embora esse posicionamento tenha obtido um
percentual relativamente alto ou, pelo menos, o mais alto se considerado frente às outras
alternativas da questão em voga, tal resultado não se assemelha ao obtido junto à análise da
incidência setorial desta tese. O que se constata na análise é que o número de notícias sobre
comportamentos negativos do estudante universitário é inferior ao número de
comportamentos socialmente aceitos.
Reiterando a explicação anterior (Parte 2 deste capítulo), verifica-se que isto
acontece porque os números foram obtidos durante 02 semanas construídas e fizeram com que
as notícias selecionadas servissem de base para as inferências sobre o “tipo” de notícia, sobre
o “setor de incidência” que a mídia prioriza, e não sobre a “intensidade” com que essa notícia
atinge o leitor.
Isto quer dizer que se o instrumento utilizado fosse outro que, por exemplo,
selecionasse as notícias pelo número de dias que elas se mantêm na mídia, possivelmente os
comportamentos considerados “não aceitos” seriam os hegemônicos se comparados aos
“aceitos”.
No caso específico da oitava questão, certamente os jornalistas também se
posicionaram com base no “tipo” de notícia e não a “intensidade” com que a notícia sobre
comportamentos inadequados atinge o leitor.
Quanto aos outros 26% que optaram por “enfoques socialmente construtivos”,
possivelmente, levaram em conta o processo comunicacional enquanto prática social,
conforme rezavam as premissas de Bakhtin em sua obra A estética da criação verbal, já
analisada anteriormente (Capítulo II). O que se quer dizer é que, no momento em que esses
jornalistas consideram a importância de enfoques sociais, também estão se referindo à não
passividade do leitor e à relevância social do fato que impulsiona a publicação da notícia.
A nona questão indagou aos jornalistas se, em caso de comportamentos negativos
do universitário, existiriam preocupações mercadológicas com relação ao nome da instituição
onde o fato se dá.
Do total de jornalistas, 40% responderam que pode existir uma preocupação
mercadológica devido aos interesses financeiros da empresa à qual o jornal está vinculado.
Outros 26% responderam que pode existir uma preocupação mercadológica frente
a possíveis repercussões “negativas” da instituição, e 23% responderam que essa preocupação
mercadológica não existe.
Os 11% restantes apontaram que essa preocupação pode existir quando envolve
questões legais, situação que também vai depender do veículo, isto é, para alguns jornais mais
sérios, o fato será noticiado, independentemente da preocupação que o veículo possa ter junto
à universidade.
De posse desses resultados, verifica-se que grande parte dos jornalistas (40%)
pontua a existência de preocupação frente à empresa a que se vincula, o que sugere que, em
algumas situações, esses profissionais podem se sentir coagidos quanto à expressão da
verdade e à forma como devem redigir ou divulgar o fato. Mesmo os 26% dos jornalistas que
se dizem preocupados com a repercussão negativa da instituição, parecem pensar de forma
semelhante.
Tal posicionamento remete às características subjetivas inerentes ao discurso
falado (Capítulo II), o que significa que a situação sugerida pela questão poderá interferir na
maneira de expressão do jornalista, mesmo que de forma inconsciente, levando-o a distorcer a
realidade através da constante utilização de mecanismos de defesa de negação.
Finalmente, a décima questão indagou aos jornalistas sobre os procedimentos que
adotam quando da existência de críticas de algum aluno à universidade onde estuda.
A grande maioria (80%) informou que o jornal entra em contato com a
universidade para checar se o aluno “fala a verdade” ou se “aumenta o fato”.
Outros 11% assinalaram a alternativa “d” e apontaram que essa situação é relativa
porque esses casos fazem parte da realidade do jornalismo e dependem de cada situação
específica.
Alcançando um percentual bem menor, 6% dos responderam que o jornal publica
a notícia, pois tem livre arbítrio, e apenas 3% responderam que o jornal não publica a notícia
na íntegra por receio de retaliação da universidade para com o jornal.
Esses resultados sugerem que os jornais, de maneira geral, denotam um
posicionamento consciente frente à possibilidade de assuntos polêmicos que, se por um lado,
podem fazer notícia, por outro, também poderão ser fraudulentos levando à falta de
credibilidade, seja da instituição denunciada, quanto do próprio veículo. Infere-se, portanto,
que embora existam preocupações mercadológicas naturais de uma área comercial, o cuidado
com o que é divulgado ainda é hegemônico.
Ao final do questionário, havia um espaço destinado aos possíveis comentários
dos jornalistas. Esses posicionamentos envolveram tanto aspectos técnicos da área quanto
críticas à elaboração das questões. Os aspectos técnicos, isto é, comentários sobre alguma
questão específica, foram incorporados, gradativamente, a cada questão, conforme descrição
acima.
As críticas e sugestões dos jornalistas foram devidamente consideradas: do total
de jornalistas que responderam ao questionário, 27 (77%) não preencheram o campo opcional
para fazer críticas ou sugestões, limitaram-se a responder às questões e, quando da existência
de comentários, fizeram-nos, gradativamente, ao longo de suas respostas, contribuindo
sobremaneira com a pesquisa.
Dos 08 jornalistas que fizeram comentários ao final do questionário, 03
profissionais (9%) acharam algumas questões tendenciosas, mas como esses profissionais não
especificaram quais eram essas questões e, tampouco, o conteúdo ou as palavras que as
tornaram tendenciosas, não foi possível fazer a identificação específica das questões
avaliadas.
Outros 02 profissionais (6%) pontuaram que algumas questões precisariam ser
analisadas e, talvez, reelaboradas para melhor compreensão do leitor. Esta situação
assemelha-se à anterior e, da mesma forma, não pôde ser interpretada, pois esses profissionais
também não foram específicos, isto é, houve a crítica, mas ela não identificou qual ou quais
itens poderiam ser reformulados. Ainda, outros 02 jornalistas (6%) criticaram a restrita
atenção que a mídia dá à publicação de matérias sobre a Educação, em especial ao ensino
superior, situação que, se fosse revertida, seria uma forma de as próprias instituições
acadêmicas reavaliarem sua metodologia de ensino, seu corpo docente e sua estrutura física.
Finalmente, 01 jornalista (3%) pontuou a importância da “abertura” de expressão
proporcionada pelas questões, o que, na sua opinião, foi bastante positivo, pois facilitou o
posicionamento dos profissionais de forma dissertativa e, portanto, mais ampla.
Certamente, as críticas e as sugestões acima apontadas serviram para a reflexão
sobre o tema analisado e sobre a forma de conduzir o questionário. Possivelmente, o fato de a
pesquisadora pertencer à área da Psicologia enquanto formação acadêmica e atuação
profissional, contribuiu substancialmente para que o questionário fosse elaborado desta forma.
Embora as perguntas tenham sido, previamente, aprovadas para a liberação e
envio do questionário, e, acima de tudo, embasadas nos resultados obtidos na análise dos
setores adaptativos, com certeza, o embasamento teórico psicológico interferiu na elaboração
das perguntas.
É importante ressaltar que, embora fosse interessante e proveitosa uma
manifestação mais específica por parte dos colaboradores da pesquisa, neste momento, essas
sugestões ou críticas que, com certeza, foram bastante construtivas, talvez não pudessem ser
aproveitadas. O que se quer dizer é que, mesmo sendo essas colaborações fortuitas, estariam
além dos objetivos propostos na tese. Por outro lado, seriam extremamente úteis para outros
trabalhos com semelhantes enfoques.
. Algumas considerações sobre o questionário enviado aos
jornalistas
Com base nos resultados obtidos em cada questão, constata-se que alguns itens
alcançaram percentuais bastante elevados e, portanto, merecem atenção.
Desta forma, retomam-se os percentuais mais elevados de cada pergunta: 23
jornalistas (66%) consideram que os períodos de vestibular e de outros exames de repercussão
nacional são os grandes motivos que levam a mídia veicular notícias sobre universitários.
Este alto percentual reforça o posicionamento apontado na Introdução da tese
quando se alude ao setor da produtividade enquanto fator primordial observado nas leituras
dessa mídia impressa não especializada.
É interessante observar que tanto os vestibulares como os exames acadêmicos
(OAB, residências psicológicas e médicas) são realizados, respectivamente, antes e após a
graduação, portanto, talvez nem pudessem ser indicadores do aluno enquanto “universitário”.
Não obstante, quando se fala nesses eventos, mesmo precedendo e sucedendo o período de
graduação, a tônica é este aluno caracterizado como “universitário” nas duas situações.
No caso do exame vestibular, o aluno é representado por “quase” universitário o
que, possivelmente, acontece porque este jovem não é mais visto como pertencente ao quadro
de adolescentes catalogados como “ensino médio”.
No caso dos exames que sucedem o período de graduação, este jovem ainda é
visto como arraigado à universidade onde passou tantos anos de sua vida. Desta forma, parece
ser representado como tal, inclusive, ao responder a esta questão que deu início ao
questionário, os jornalistas sequer teceram comentários a esse respeito, fortalecendo, assim, a
representação deste jovem como “universitário” e não como qualquer outro status acadêmico.
Quando indagados sobre o sentido da expressão “estudante universitário” no que
tange ao âmbito de publicação de notícia, 14 jornalistas (40%) responderam que
“universitário” tem conotação de juventude. Tal situação reforça o tônus da produtividade
abordada pela mídia e também reflete questões sócio-culturais: o fato de conotar universitário
como “juventude” remete às representações sociais do jovem, isto é, insere-o no grupo e
entende seus comportamentos como pertencentes a uma determinada faixa etária, a juventude,
e a uma determinada camada sócio-cultural, a camada universitária.
Quanto ao interesse da mídia em publicar notícias sobre estudantes universitários,
13 jornalistas (37%) acreditam que este interesse está acima da necessidade do ibope, da
vendagem de exemplares, ou mesmo da necessidade de repercussão social.
Quanto à presença de aspectos psicossociais nas notícias sobre universitários, 20
jornalistas (57%) sugerem que os quatro aspectos da EDAO deveriam constar das notícias,
isto é, os setores afetivo-relacional, produtivo, sócio-cultural e orgânico.
No que tange à hegemonia dos aspectos produtivos e sócio-culturais do
universitário em relação aos afetivos e orgânicos, 17 jornalistas (49%) acreditam que isto
acontece porque os primeiros atingem o leitor de maneira mais global que os outros.
Relativamente à baixa freqüência dos aspectos afetivos verificada na análise
setorial, 12 jornalistas (34%) acreditam que isso se deve ao pouco conhecimento que o
veículo (ou o jornalista) tem sobre a área psicológica.
Em situação de pouco espaço na edição, 26 jornalistas (74%) afirmam que o
jornal dá preferência à notícia de cause mais repercussão junto aos leitores.
Quanto ao tipo de comportamento dos jovens que costuma ser selecionado para
divulgação na mídia, 15 jornalistas (43%) responderam que é a presença de aspectos
negativos no comportamento dos jovens que leva à publicação das matérias. Estes resultados
são contrários aos obtidos na análise setorial, em que das 23 notícias sobre AR publicadas
pelos três jornais, 16 (70%) referem-se a comportamentos socialmente aceitos e, apenas 07
(30%) referem-se a comportamentos considerados inadequados. O posicionamento dos
jornalistas também pode estar imbuído de conteúdos relativos à “permanência” da notícia
sobre comportamentos inadequados, descrita na análise de resultados (Capítulo V, parte 2).
Em situações de comportamentos negativos do jovem, dentro da própria
universidade, 14 jornalistas (40%) responderam que existe uma preocupação mercadológica
em publicar a divulgar a matéria devido aos interesses financeiros da empresa à qual o jornal
está vinculado.
Finalmente, ao serem questionados sobre a atitude do jornal frente a situações de
crítica de um aluno dirigida à universidade, 28 jornalistas (80%) responderam que o jornal,
antes de divulgar a matéria, entra em contato com a universidade para checar se o aluno “fala
a verdade” ou se “aumenta o fato”.
Capítulo VI- Considerações finais
Tendo em vista as diferentes etapas de resultados, de acordo com cada objetivo
específico da tese, optou-se por condensar estas etapas neste capítulo visando obter um
panorama geral. Desta forma, encontram-se abaixo descritas as considerações finais sobre
cada uma dessas etapas, bem como a refutabilidade ou não das hipóteses levantadas.
1. Considerações sobre a incidência setorial
Consideram-se, aqui, as incidências setoriais na forma pura e mesclada (duplas e
trios setoriais).
1.1. Setores na forma pura
O setor que mais incide nas notícias sobre universitários é o da produtividade (08
notícias=13%). Em segundo lugar, encontram-se os setores sócio-cultural e afetivo-relacional
(03 notícias, cada=5%). Não há incidência do setor orgânico nas notícias.
Quanto ao setor da produtividade, a liderança é do Estadão (04 notícias=7%) e,
desta forma, pode ser considerado o jornal que mais se preocupa em noticiar o universitário
por aquilo que ele, exclusivamente, produz, isto é, sua dedicação aos estudos e a outras
atividades do ambiente acadêmico, lembrando que não houve notícias sobre a produtividade
desses jovens em ambiente de trabalho. Em segundo lugar, aparecem, eqüitativamente, a
Folha e a Tribuna (02 notícias, cada=3%).
Quanto ao setor SC, a exemplo da incidência setorial alcançada em PR, o Estadão
também é líder (02 notícias=3%). Isto significa que além de se destacar pela alta incidência de
notícias sobre os aspectos produtivos dos universitários, o Estadão também se sobrepõe aos
outros jornais quando essas notícias se referem aos aspectos sócio-culturais dos alunos, isto é,
lazer, roda de amigos e critério de valores morais, éticos, religiosos e sociais. Em segundo
lugar, encontra-se e Tribuna (01 notícia=2%). Nas notícias da Folha não houve incidência
deste setor.
Quanto à incidência de AR, a Folha é o jornal que mais veicula notícias (02
notícias=3%), ou seja, é aquele que mais se preocupa em representar o universitário,
exclusivamente, através de sua afetividade, sua forma de amar e de se sentir amado, enfim,
através de seu jeito de se relacionar com as outras pessoas, seja em casa, no ambiente
acadêmico ou nos grupos sociais. Em seguida, vem o Estadão (01 notícia=2%). Nas notícias
da Tribuna não houve incidência deste setor.
Quanto ao setor OR, não há incidência de notícias, ou seja, a mídia impressa não
costuma abordar assuntos sobre a saúde física do universitário, nem sobre a sua sexualidade.
Estes assuntos recebem a atenção da mídia apenas quando se encontram mesclados a outros
aspectos dos estudantes, o que significa que quando estão sozinhos não fazem notícia.
É importante ressaltar que esses resultados não indicam a alta ou a baixa
incidência de um determinado setor no que se refere à sua totalidade (formas: pura +
mesclada), apenas a sua presença enquanto forma pura, isto é, em que não há a presença de
outros setores adaptativos.
Assim, verifica-se que a Folha e o Estadão apresentam lideranças, porém essas
lideranças manifestam-se em diferentes aspectos: enquanto a Folha se destaca no setor AR, o
Estadão lidera as notícias tangentes aos setores PR e SC. A Tribuna, por sua vez, não se
destaca em nenhum setor específico, isto é, apenas ocupa o segundo ou terceiro lugares nas
notícias que envolvem aspectos afetivo-relacionais, produtivos e sócio-culturais dos
universitários.
1.2. Duplas setoriais
No que concerne às duplas setoriais, PR/SC é a que aparece com mais freqüência
(23 notícias=38%) e, também, de forma destacada. Sua incidência, além de ser a maior
ocorrida nas duplas de setores, é também a mais alta se comparada aos trios setoriais e,
naturalmente, aos setores em sua forma pura. Em seguida e, bem distantes de PR/SC,
encontram-se as duplas AR/SC (04 notícias=7%), AR/PR (03 notícias=5%), OR/SC (02
notícias=3%) e PR/OR (01 notícia=2%). A alta incidência de PR/SC denota que os três
jornais possuem acentuada preocupação em veicular notícias sobre a produtividade dos alunos
mesclada aos aspectos sócio-culturais e a Folha é o jornal que mais demonstra tal
preocupação (10 notícias=16%). Em seguida, encontra-se a Tribuna (08 notícias=13%) e, em
último lugar, o Estadão (05 notícias=8%).
Na dupla AR/SC, o Estadão lidera (03 notícias=5%), ou seja, é aquele que mais se
preocupa em representar o universitário através de seus aspectos afetivo-relacionais, quando
estes aspectos se encontram mesclados aos sócio-culturais. A Folha ocupa o segundo lugar
(01 notícia=2%) e a Tribuna não veicula notícias em que haja a incidência desta dupla
setorial. A ausência destes setores, em conjunto, nas notícias publicadas pela Tribuna em
contraste com a incidência dupla PR/SC (13%), sugere que este jornal prima por representar o
jovem universitário através daquilo que ele produz juntamente com sua forma de lidar com
aspectos que envolvam questões sociais e valores éticos, morais e religiosos, deixando de lado
os assuntos sobre os aspectos afetivo-relacionais desses jovens.
Em AR/PR, a Folha lidera (02 notícias=3%) sendo, portanto, o jornal mais
preocupado em noticiar o universitário através de sua afetividade, quando estes aspectos
afetivo-relacionais se encontram mesclados aos produtivos. O Estadão ocupa o segundo lugar
(01 notícia=2%), e a Tribuna não veicula notícias em que haja a incidência desta dupla
setorial. A exemplo da situação que ocorre na dupla AR/SC e no setor AR, as notícias da
Tribuna também se eximem de representar o universitário através de aspectos produtivos em
conjunto com os afetivos, isto é, embora os aspectos produtivos apareçam em grande escala,
não se sustentam quando em conjunto com a afetividade e relacionamentos interpessoais.
A dupla OR/SC só se manifesta nas notícias da Folha e da Tribuna (01 notícia,
cada=2%); este percentual reforça a idéia de que os jornais, em geral, não se atêm a assuntos
voltados aos cuidados com a saúde e com a sexualidade, conforme se constatou,
anteriormente, em OR puro; mesmo quando esses assuntos aparecem mesclados aos aspectos
sócio-culturais, como é o caso de OR/SC, sua incidência é, também, quase nula.
A dupla PR/OR só incide sobre as notícias da Folha (01 notícia=2%), e, mais uma
vez, repete-se a irrelevante consideração que a mídia dá às questões orgânicas dos
universitários, mesmo quando essas questões se encontram mescladas a outro setor de grande
porte, no caso, o setor PR que, sozinho, é o líder dos setores em sua forma pura.
1.3. Trios setoriais
O trio setorial de maior incidência é AR/PR/SC (05 notícias=8%). Em segundo
lugar, encontram-se os trios AR/PR/OR e AR/OR/SC (04 notícias, cada=7%) no e, em
terceiro, PR/SC/OR (01 notícia=2%). O fato de AR/PR/SC aparecer com mais freqüência,
indica que os jornais, em geral, ao veicularem notícias sobre o universitário representando-o
de forma mais ampla, isto é, utilizando 03 setores, dão ênfase aos aspectos afetivos,
mesclados aos produtivos e aos sócio-culturais. Dentre os três jornais, a Folha se destaca neste
tipo de notícia (04 notícias=7%), deixando a Tribuna em segundo lugar (01 notícia=2%), e o
Estadão não veicula notícias em que incida este trio setorial.
A incidência de AR/PR/OR é a mesma de AR/OR/SC. Em ambos os casos, a
liderança é do Estadão (03 notícias=5% e 02 notícias=3%, respectivamente), o que denota
uma tendência em se destacar dos outros jornais quando as notícias mostram o universitário
através de aspectos afetivos e orgânicos mesclados aos produtivos, da mesma forma que
mesclados aos sócio-culturais.
A incidência do trio PR/SC/OR é bem menor que as anteriores e pertence,
unicamente, à Folha. Isto significa que, embora notícias desse teor, isto é, assuntos produtivos
e sócio-culturais mesclados aos orgânicos, sejam praticamente inexistentes, a Folha ainda
supera os outros dois jornais. Este baixo percentual também sugere que, se por um lado, os
três jornais denotam grande preocupação em veicular notícias sobre conteúdos produtivos
aliados aos sócio-culturais (PR/SC), a presença do setor orgânico interfere sobremaneira nesse
percentual, fazendo com que o número de notícias caia vertiginosamente quando essa dupla
(PR/SC) encontra-se mesclada a conteúdos orgânicos, ou seja, relativos à saúde e à
sexualidade.
1.4. Incidência setorial total
Quanto à incidência setorial total, ou seja, a somatória dos setores em suas formas
pura e mesclada em duplas e trios, os resultados são semelhantes àqueles obtidos pelos setores
na forma pura: PR (45 notícias=74%) é o setor que apresenta maior incidência sobre as
notícias. Em segundo lugar e, incidentemente, bem próximo a PR, encontra-se SC (42
notícias=69%). Finalmente, com incidências bem menores do que PR e SC, estão os setores
AR (23notícias=38%) e OR (12 notícias=20%). Conclui-se, portanto, que os jornais, de forma
geral, estão mais voltados aos assuntos sobre a produtividade dos alunos, bem como à forma
de eles lidarem com os aspectos sócio-culturais de sua comunidade, deixando para um
segundo plano os assuntos relativos à afetividade, à saúde física e à sexualidade.
Paralelamente à incidência dos setores nas notícias selecionadas, verificou-se,
também, como se comporta a abrangência setorial, ou seja, quantos setores incidem sobre
uma mesma notícia.
Constatou-se que a maioria das notícias (33notícias=54%) possui a abrangência de
02 setores, o que denota uma fragmentação na imagem do universitário representada pela
mídia impressa sendo que, dos três jornais, a Folha é o que veicula o maior número de
notícias deste tipo (15 notícias=45% sobre o total de notícias de 02 setores). As notícias
abordadas por 01 e 03 setores apresentam a mesma incidência entre si (14 notícias,
cada=23%), porém, são bem menos presentes que as de 02 setores. No caso das notícias de
apenas 01 setor, o Estadão é o líder (07 notícias=50%) e, quanto às de 03 setores, a Folha
retoma o primeiro lugar (06 notícias=43%).
Verifica-se que embora a mídia não tenha por hábito veicular notícias de 04
setores, ou seja, notícias que dêem consistência total à imagem do estudante universitário, a
Folha pode ser apontada como o jornal que mais se aprofunda neste âmbito; as suas notícias
podem ser consideradas as mais abrangentes, representando, então, o estudante universitário
de forma mais ampla.
Por outro lado, o Estadão, devido à liderança em notícias de 01 só setor, é o jornal
que apresenta o estudante universitário de forma mais fragmentada, o que sugere restrita
preocupação ou interesse em representá-lo de maneira gestáltica, isto é, global; suas notícias
não se atêm à multiplicidade de situações, fazendo com que a imagem levada ao leitor pela
mídia seja incipiente, se comparada aos outros dois jornais.
A Tribuna não apresenta liderança, seja em 01, 02 ou 03 setores, mas se
comparada ao Estadão, é hegemônica quanto à profundidade na representação social do
universitário, tendo em vista a seguinte constatação: quando da presença de 02 setores
adaptativos, a Tribuna alcança o mesmo percentual que o Estadão (09 notícias=27%) e,
quando da presença de 03 setores, o Estadão a supera (05 notícias=36% contra 03
notícias=21% da Tribuna). Se, por outro lado, for levado em conta o número de notícias de
apenas 01 setor adaptativo, isto é, indicando a maior fragmentação da imagem do estudante, o
Estadão veicula mais do que o dobro (50%) das notícias publicadas pela Tribuna (21%).
Ainda, se comparadas essas notícias frente ao total veiculado por cada jornal em separado, as
07 notícias do Estadão representam 33% e as 03 da Tribuna representam 20%.
Com relação aos resultados gerais da incidência setorial, tendo em vista a
liderança dos aspectos produtivos e sócio-culturais sobre os afetivo-relacionais e orgânicos,
pode-se refutar, em parte, a primeira hipótese levantada pela autora.
No início da tese, embasada nos resultados obtidos na pesquisa psicológica com
universitários, havia sido levantada a hipótese de que a mídia impressa, a exemplo dos
resultados nos discursos dos estudantes, isto é, hegemonia das queixas sobre os setores AR e
PR, também daria ênfase a estes aspectos.
Verificou-se, porém, que embora PR seja o mais relevante para a mídia, esteja ele
em forma pura, como acompanhado de assuntos sócio-culturais (SC), o setor AR não se
apresenta de forma contundente, ficando, inclusive atrás do setor SC. Desta forma, parte da
hipótese pode ser confirmada quando da alta freqüência do setor PR sobre os outros setores e,
parte deve ser refutada, tendo em vista que o setor SC foi preponderante em relação a AR.
Mesmo se for levada em conta a presença de um setor enquanto dupla, PR/SC ainda são
hegemônicos.
1.4.1. Paralelo entre a incidência setorial da mídia impressa e do
discurso dos estudantes universitários
Quando comparada a incidência setorial total obtida pelas notícias dos três jornais
à totalidade setorial obtida no discurso de universitários, obtêm-se estes resultados.
Quanto ao setor AR, verifica-se que a incidência setorial total obtida pelas
notícias veiculadas nos três jornais analisados é bem mais baixa que a obtida nos discursos
dos estudantes universitários.
Enquanto a mídia analisada perfaz apenas 38% de notícias que abordam os
assuntos sobre a afetividade e o modo de os estudantes se relacionarem, o discurso dos
estudantes encontra-se repleto (82%) desses assuntos, indicando ser este tema a tônica do seu
dia a dia. Verifica-se, portanto, que a mídia analisada não está preocupada em veicular a
essência afetiva desses jovens, tampouco assuntos sobre as relações interpessoais por eles
construídas ao longo do período de graduação.
Quanto ao setor PR, tanto a mídia analisada quanto o discurso dos estudantes
atendidos perfazem 74%, o que sugere que os assuntos relativos aos aspectos produtivos dos
alunos é, em ambas as situações, amplamente abordado.
No que tange às questões orgânicas, a mídia analisada não se mostra preocupada
em abordar notícias, perfazendo apenas 20% das notícias veiculadas. Da mesma forma,
encontra-se um percentual relativamente baixo (25%) no discurso dos estudantes. Estas
situações, isto é, os baixos percentuais obtidos pela mídia analisada e pelo discurso de
universitários sugerem que este assunto não causa, ou não é motivo de preocupação na faixa
etária analisada, quando se refere a esses alunos enquanto estudantes universitários.
Finalmente, quanto ao setor SC, há uma discrepância entre as duas situações.
Enquanto a mídia impressa analisada dá relevância aos assuntos relativos aos valores sociais
dos alunos (69%), o discurso desses estudantes universitários não se atém a essas situações,
perfazendo apenas 5% dos assuntos abordados nos atendimentos.
Estes resultados indicam que o estudante universitário, em geral, não acusa
problemas de ordem social; ao contrário, de acordo com a pesquisa, este setor é o menos
afetado na época da graduação.
Por outro lado, a mídia, ao priorizar esses aspectos sociais em suas notícias, acaba
por levar ao leitor uma imagem bastante amena desses alunos, reforçando a idéia de que o
aluno universitário é, mais intensamente, representado por seus aspectos sociais e produtivos
do que por suas características afetivas e orgânicas.
Levando-se em conta todos esses resultados e paralelos sobre a mídia impressa
analisada e o discurso dos estudantes universitários, há que se ressaltar, mais uma vez, a
importância interdisciplinar das duas Ciências, Comunicação e Psicologia, que se reafirmam
como ponto de partida para possíveis reestruturações de paradigmas concernentes aos
aspectos psicossociais do ser humano.
2. Considerações sobre a incidência do setor afetivo-relacional
Quanto às notícias sobre o setor afetivo-relacional, isto é, o tipo de
comportamento do jovem que é mais enfatizado pelas notícias dos três jornais analisados,
constata-se que os comportamentos considerados socialmente “aceitos” (16 notícias=70%) se
sobrepõem sobre os considerados “não aceitos” (07 notícias=30%).
Verificou-se que tanto a Folha como o Estadão são os jornais que veiculam o
maior número de notícias sobre comportamentos socialmente “aceitos”. Dentre as 16 notícias
em AR+, cada um deles veicula 07 notícias (30%), enquanto a Tribuna veicula apenas 02
notícias (9%).
Por outro lado, há que se considerar que a Tribuna, relativamente às notícias que
publicou e que foram abordadas pelo setor afetivo-relacional, alcançou 100% de
comportamentos “aceitos”, sendo este percentual superior aos percentuais alcançados pela
Folha (07 notícias em AR+=64%, sobre as 11 notícias publicadas em AR) e pelo Estadão (07
notícias em AR+=70%, sobre as 10 notícias publicadas em AR).
Estes resultados refutam a segunda hipótese levantada no início da tese, isto é,
diferentemente do que se supunha, a mídia impressa dá prioridade aos comportamentos
socialmente aceitos. Conforme já comentado anteriormente (Capítulo V, parte 2), estes
resultados teriam, possivelmente, sido diferentes se fosse feita uma análise sobre o número de
dias que as notícias sobre o setor afetivo-relacional permanecem na mídia objetivando
verificar a incidência de comportamentos considerados socialmente aceitos ou não.
Como o objetivo era apenas verificar a incidência de AR+ e AR-, nas notícias
selecionadas através da “semana construída”, refuta-se, então, a hipótese da hegemonia dos
comportamentos inadequados.
3. Considerações sobre a aplicabilidade da EDAO
Devido à consistência e à flexibilidade da EDAO, esta escala mostrou valiosa
utilização no discurso jornalístico. É uma ferramenta que, para fins didáticos, “divide” o ser
humano em setores facilitando, desta forma, a análise da notícia e proporcionando,
conseqüentemente, uma leitura mais ampla e crítica.
O “transporte” desta escala das “áreas psi” para aquelas consideradas “não psi” é
recomendável desde que se tenha por objetivo analisar aspectos psicossociais do ser humano.
Tendo em vista estes resultados, confirma-se a terceira e última hipótese levantada pela autora
de que a Escala Diagnóstica Adaptativa Operacionaliza, de Simon, pode ser utilizada em
outros campos além da Psicologia.
Conclusões e Sugestões
De acordo com todos os resultados obtidos nesta tese, descrevem-se algumas
conclusões que, se por um lado, conseguem refletir a representação social do estudante
universitário criada pela mídia impressa analisada, com base nos objetivos a que a autora se
propôs analisar, não esgotam as possibilidades de outras vertentes de análise. Após essas
conclusões, são apresentadas algumas sugestões para pesquisadores que cultuam os aspectos
psicossociais como cerne de seus estudos.
Conclusões
A representação social do estudante universitário feita pela mídia impressa
envolve, hegemonicamente, os assuntos voltados à sua produtividade (PR puro), e o jornal
que se destacou neste setor em sua forma pura foi o Estadão. Em segundo lugar e, também, de
forma relevante, encontram-se os assuntos voltados aos aspectos sociais, valores e costumes
da sociedade a que pertence (SC puro), onde também o Estadão apresentou liderança.
Com freqüência bem menor, aparece o setor afetivo-relacional (AR puro), com a
liderança da Folha, e o setor relativo aos cuidados com o corpo e com a sexualidade (OR
puro) não esteve presente quando de sua forma pura, isto é, só incidiu sobre as notícias
quando mesclado a outros setores.
Quanto às mesclas setoriais, a dupla que mais incidiu sobre as notícias foi PR/SC,
e o trio setorial, AR/PR/SC, ambos liderados pela Folha. Este jornal também liderou nas
seguintes mesclas: AR/PR, PR/OR, PR/SC, e OR/SC.
As mesclas AR/SC, AR/PR/OR e AR/OR/SC tiveram a liderança do Estadão.
Finalmente, as mesclas setoriais PR/SC/OR e OR/SC foram lideradas pela Tribuna, sendo que
nesta última mescla (OR/SC), compartilhou a liderança com a Folha.
Quanto à incidência de setores em sua forma total (forma pura + mesclada), o
primeiro lugar também foi ocupado pelo setor PR (total) e, também de forma relevante, pelo
setor SC (total).
Os setores AR e OR (totais) apareceram mais distantes, isto é, com freqüências
bem menores. Verificou-se, inclusive, que o ranking dos setores em sua totalidade assemelha-
se ao alcançado na forma pura.
Considerando os três jornais, as notícias da Folha lideraram em AR, PR e SC, e o
Estadão liderou em OR. A Tribuna não apresentou liderança neste aspecto.
Ao abordar assuntos do setor afetivo-relacional, a mídia prioriza notícias que
envolvem comportamentos socialmente aceitos em detrimento daqueles considerados
inadequados do ponto de vista social.
Considerando os três jornais frente ao total de notícias em AR, a Folha e o
Estadão foram hegemônicos à Tribuna; porém, se considerados os três jornais frente ao total
de notícias em AR publicadas por cada jornal, a Tribuna foi o líder.
A maioria das notícias sobre estudantes universitários foi abordada por 02 setores
adaptativos, cuja liderança foi obtida pela Folha.
As notícias abordadas por 01 setor ou 03 setores ao mesmo tempo obtiveram
percentuais iguais, sendo que a liderança em apenas 01 setor foi do Estadão, e em 03 setores,
da Folha. Desta forma, conclui-se que o fato de o Estadão ser líder nas notícias que abordam
apenas 01 setor, coloca-o em desvantagem frente à Tribuna, tendo em vista que quanto maior
o número de setores numa determinada notícia aprofunda o seu conteúdo. Conclui-se,
portanto, que a Folha é o jornal que mais se aprofunda nos assuntos voltados ao estudante
universitário. Em seguida, vem a Tribuna e, por último, o Estadão.
Quanto aos setores adaptativos da EDAO, embora, nesta tese, utilizados na forma
escrita e, portanto, diferente de sua costumeira utilização (discurso falado), mostraram
bastante flexibilidade e sucesso. Outrossim, feitas algumas ressalvas nas peculiaridades de
manuseio, os setores adaptativos indicaram condições favoráveis de utilização em área
diversa da Psicologia e, certamente, podem ser transportados, além da Comunicação Social, a
outras áreas científicas que objetivem analisar aspectos psicossociais do ser humano.
Finalmente, com referência ao posicionamento dos jornalistas frente aos motivos
que levam à publicação de notícias sobre universitários, a maioria responsabiliza os períodos
de vestibular e exames de repercussão nacional.
Quanto ao seu posicionamento frente à escolha de uma ou outra notícia sobre
universitários em caso de pouco espaço na edição de um jornal, conclui-se que o jornal
preferência à notícia que cause mais repercussão junto aos leitores.
Ainda, quanto à forma de pensar desses profissionais frente à presença dos setores
adaptativos nas notícias sobre os estudantes universitários, é apontada a necessidade da
presença de todos eles. Isto significa que embora tenham sido informados, no questionário,
sobre a hegemonia dos setores produtivo e sócio-cultural, julgam que a mesma importância
deveria ser atribuída aos setores afetivo-relacional e orgânico.
Como se observa, estas conclusões sintetizam as possibilidades das representações
sociais sobre estudantes universitários criadas pela mídia impressa. Não obstante, também
propiciam sugestões para outros estudos com a utilização da EDAO.
Sugestões
A partir dos setores adaptativos, infere-se que a EDAO, embora tenha sido
elaborada “na” e “para” a área da Saúde, visando entrevistas psicológicas, triagens e mesmo
psicodiagnósticos, pode ampliar seu campo de atuação, principalmente na área de Humanas.
Esta ampliação diz respeito à utilização dos setores adaptativos para análise de diversos tipos
de discurso, isto é, discursos pertinentes a diferentes áreas de estudo em que se queiram
identificar aspectos psicossociais de um indivíduo. Aqui, não se está sugerindo que a EDAO
seja utilizada por profissionais alheios à área psi no que tange aos grupos classificatórios da
escala, pois isto requereria formação e fundamentação teórica específica.
Por outro lado, em se tratando da identificação dos setores adaptativos e, talvez,
de uma análise das características de cada setor, a exemplo do que se fez na Comunicação
Social, outras áreas como, por exemplo, o Serviço Social, o Direito, a Administração de
Empresas etc., teriam consideráveis benefícios.
No caso do Serviço Social, o assistente social poderia se valer dos setores
adaptativos para nortear uma entrevista de aquisição de bolsa de estudos acadêmica. Através
da utilização setorial, faria comparações entre os alunos que estivessem pleiteando a bolsa e
verificaria qual o aluno que, não obstante às dificuldades financeiras, teria um perfil mais
adequado para recebê-la.
Na área do Direito, o advogado, ao utilizar os setores da EDAO, teria melhores
condições de traçar um perfil de seu cliente evitando possíveis desgastes. Um desses
desgastes, por exemplo, poderia ser esta situação fictícia, tão comum nesse âmbito: um de
seus clientes deixa transparecer que o ciúme exacerbado que tem pela ex-esposa teria sido o
motivo da separação.
Grosso modo, poder-se-ia dizer que o setor afetivo-relacional se encontra
ineficazmente adaptado, o que poderia ser constatado pelo advogado, mas nem sempre pelo
cliente, devido às dificuldades naturais para entrar em contato com as próprias mazelas em
momentos de crise.
Uma vez percebendo este tipo de dificuldade relativa às emoções, isto é,
categorizando esta dificuldade dentro dos aspectos afetivo-relacionais e, portanto, voltando à
atenção a este setor específico, este advogado teria, possivelmente, mais condições de
entender a forma como este cliente estabelece relações com as pessoas que o rodeiam,
inclusive com ele (advogado), facilitando, assim, o seu contato durante o decorrer do processo
e evitando desgastes pessoais desnecessários.
Quanto à área da Administração de Empresas, os setores da EDAO poderiam ser
utilizados em momentos de promoção de funcionário para preencher uma vaga de substancial
importância.
Nessas situações, algumas vezes, o responsável pela área costuma analisar a
possibilidade de ascensão de um funcionário devido à sua produtividade e, esquece-se, muitas
vezes, de analisar o setor afetivo-relacional deste funcionário, ou seja, de que forma ele
estabelece relações com as pessoas que o cercam; mais tarde, porém, o funcionário poderá
decepcioná-lo, apresentando dificuldades para lidar com os subordinados de seu setor, como
rigidez exacerbada e, por vezes, até, hostilidade.
Ora, se o setor afetivo-relacional deste funcionário for, de antemão, “percebido e
mapeado” pelo responsável da área, possivelmente, as dificuldades interpessoais já chamarão
sua atenção e, conseqüentemente, o cargo poderá ser ocupado por uma outra pessoa mais
adequada e, desta forma, também serão evitados desgastes burocráticos e pessoais
desnecessários.
Certamente, outras possibilidades estatísticas também poderiam ser utilizadas para
ampliar e aprofundar os resultados de diversas pesquisas, inclusive, é natural que esses
exemplos não esgotam as infindáveis situações do nosso dia a dia, seja nas situações acima
citadas, como em outras não elencadas neste momento. O que se quer pontuar é que existem
inúmeras formas e áreas de atuação que se beneficiariam com a utilização da EDAO, mesmo
que os profissionais que a aplicarem não sejam da área “psi”.
A priori, as idéias aqui descritas podem parecer utópicas ou talvez imaturas, mas,
tendo em vista o espírito científico e uma certa dose de ousadia, cabe, certamente, aos atuais e
futuros pesquisadores, continuar a incessante busca do conhecimento e da
interdisciplinaridade, ou seja, levar adiante o “transporte” da EDAO e de outros recursos
cientificamente comprovados, a outros horizontes.
Uma outra sugestão é que se ampliem os resultados desta tese, da seguinte forma:
os resultados aqui obtidos concernem à análise setorial adaptativa e, a partir daí, elaborou-se
um questionário para verificar o posicionamento dos jornalistas frente aos mesmos. Pois bem,
ampliando e, naturalmente, aprofundando a pesquisa, seria interessante que além da visão dos
jornalistas, pais e estudantes também tivessem a oportunidade de expor seus pontos de vista
frente à representação do aluno universitário criada pela mídia impressa. Desta forma, ter-se-
ia uma visão bem mais ampla sobre o assunto, uma forma mais global de entender o mundo
universitário do aluno, seja externo, como interno, isto é, psíquico.
Nesse momento, o aluno, que no presente trabalho foi o referencial do processo
comunicacional, tornar-se-ia menos passivo, deixaria de ser apenas sobre “quem se fala” e, da
mesma forma que hoje se entende a comunicação, isto é, dentro de um processo circular, em
que emissor e receptor possuem consideráveis doses de intencionalidade e subjetividade, tanto
o aluno como seus pais poderiam, no papel de constantes emissores e receptores de opinião,
colaborar com o surgimento de novos paradigmas.
Relativamente à área do Jornalismo, mais especificamente, a mídia impressa, uma
outra possibilidade de utilização da EDAO seria analisar a profundidade com que cada setor
adaptativo incide sobre as notícias, isto é, escalonar a presença dos setores adaptativos em três
níveis gradativos, da seguinte forma: para cada notícia em que o setor aparecesse de forma
clara, isto é, através de vocábulos que o identificassem e não apenas através da idéia que
remete ao setor, seria atribuído o número 03.
Para cada notícia, cuja idéia apenas remetesse ao setor de incidência, seria
atribuído o número 02. Finalmente, quando dois ou mais setores aparecessem num mesmo
trecho da notícia, dificultando a sua identificação imediata, seria atribuído o número 01.
A profundidade da presença dos setores adaptativos seria mensurada através dos
números atribuídos a cada setor ou setores, ou seja, quanto mais alto o número, maior
profundidade setorial teria a notícia.
Finalmente, tendo em vista todos os resultados obtidos e, mais especificamente, as
respostas dos profissionais da área do Jornalismo, também se sugere uma maior atenção aos
quatro setores adaptativos do estudante universitário nas notícias que a mídia impressa
veicula.
Conforme se constatou, embora os setores produtivo e sócio-cultural tenham sido
hegemônicos durante todo o processo da pesquisa, há que se envidar esforços para ampliar
estes achados. Na medida em que as notícias da mídia impressa conseguirem abordar a
totalidade de setores poderão ampliar e, conseqüentemente, aprofundar a imagem que se faz
do estudante universitário e, naturalmente, de outros assuntos cujo foco seja o ser humano.
Através deste aprofundamento, a representação social do estudante ficará menos
fragmentada e, portanto, mais próxima de sua essência. Estas notícias proporcionarão
representações sociais repletas de características afetivas, produtivas, orgânicas e também,
sociais, eixos que sustentam o ser humano, e que neste período específico da vida, ou seja, a
passagem para a vida adulta, manifestam-se de forma tão intensa.
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ESTRESSE por profissão é precoce. Folha de S. Paulo. 18 out. 2005. FOVEST, p. 7
ESTUDANTES de Medicina fazem prova de avaliação. O Estado de S. Paulo. 10 out. 2005.
Vida, p. A 12.
ESTUDANTES passam a noite na Assembléia. Folha de S. Paulo. 16 set. 2005. Cotidiano, p.
C 10.
EX-PESCADOR agora é flanelinha. Folha de S. Paulo. 07 ago. 2005. Cotidiano, p. C 6.
FERRARI, Luís. Vice-campeã brasileira morre em casa, aos 22, enquanto dormia. Folha de
S. Paulo. 03 nov. 2005.Esporte, p. D 3
FLEURY, Maria Tereza L. Um olhar sobre a China. O Estado de S. Paulo. 15 ago. 2005, p.
A 2.
FRENCH, Howard. China quer ser país de muitas Harvards. Folha de S. Paulo. 19 nov.
2005. Folha Mundo, p. A 1.
GESTÃO em moda. A Tribuna. 15 ago. 2005 p, B-8
HARNIK, Simone, Má escolha é a maior causa de evasão escolar. Folha de S. Paulo. 18 out.
2005. FOVEST, p. 6.
HOMEM moderno surgiu na África. O Estado de S. Paulo. 18 out. 2005. Vida&, p. A16.
INADIMPLÊNCIA na BS varia de 15% a 25%. A Tribuna. 23 ago. 2005. Universidades, p.
A-7
INICIAÇÃO científica é tema de congressos do Semesp. A Tribuna. Tecnologia, p. A-7
JORGE, Isac Filho. Exame de Habilitação para médicos. A Tribuna. 15 ago. 2005, p. A-13
JOVENS acolhedores encerra inscrições. A Tribuna 07 ago. 2005. Programa, p. A-6
KATTAH, Eduardo; FELIPPE, Heleni. Judoca de 22 anos tem morte súbita em Minas. O
Estado de S. Paulo. 03 nov. 2005. Esportes, p. E 4.
LACERDA, Ana Paula. Jogo virtual atrai 500 mil brasileiros para reinos de fantasia medieval.
O Estado de S. Paulo. Economia, p. B 10.
LARKIN, Catherine. Cinema leva jovens a fumar, diz estudo. Folha de S. Paulo. 19 nov.
2005. Cinema faz mal à saúde, p. A 3
LIMA, Bruno. Jovens são faixa etária líder no ranking dos endividados. Folha de S. Paulo.
02 out. 2005. Dinheiro, p. B 3.
LOPES, Reinaldo J. Verba não atinge pesquisas com embrião. Folha de S. Paulo. 31 ago.
2005. Folha Ciência, p. A 22.
MALZONE, Valéria. Relação perigosa. A Tribuna. 31 out. 2005. Drogas, p. A-3
MERGUIZO, Marcelo. Cópia não-autenticada. A Tribuna. 02 out. 2005. Xerox, p. A-3
MORTOS podem chegar a 30 mil na Ásia. A Tribuna. 10 out. 2005. Terremoto, p.C-4
NEM sempre menopausa afeta sexo. O Estado de S. Paulo. 11 nov. 2005. Vida&, p. A 21.
NEWCOMB, Amélia. O grande salto da educação chinesa. O Estado de S. Paulo. 07 ago.
2005. Internacional, p. A 18
PAULISTA universitário será disputado em Maresias. A Tribuna. 07 ago. 2005, p. B-8
PENAFORT, Roberta. Vítimas de assassinos sem rosto. O Estado de S. Paulo. 07 ago. 2005.
Cidades/Metrópoles, p. C 8.
POLÍCIA prende dois estudantes com 800 comprimidos de ecstasy. Folha de S. Paulo. 31
ago. 2005. Cotidiano, p. C 6.
PRIMOGÊNITOS alcançam melhor nível educacional. O Estado de S. Paulo. 23 ago. 2005.
Vida&, p. A 18.
PROFISSIONAIS de elite dominarão mercado no século 21. Folha de S. Paulo. 23 ago.
2005. FOVEST, p. 2.
RAMPAZZO, Fabiano. Aluno da USP que matou colega vai para CDP. O Estado de S.
Paulo. 18 out. 2005. Cidades/Metrópoles, p. C 4.
ROGÉRIO, René. Exigir das universidades 1/3 de professores com dedicação exclusiva é
manter privilégios. O Estado de S. Paulo. 07 ago. 2005, p. A 10
SANTOS, Rivaldo. Pérolas escolares. A Tribuna. 26 out. 2005. Educação, p. A-3
TAKAHASHI, Fábio. Brasil dos negros é o 105º. de ranking social. Folha de S. Paulo. 19
nov. 2005. Cotidiano, p. C 6.
TAKAHASHI, Fábio. Para reitor, USP precisa frear o seu ritmo de crescimento. Folha de S.
Paulo. 10 out. 2005. Entrevista da 2ª., p. A 4
TAKAHASHI, Fábio. USP e Unesp buscam aluno da escola pública. Folha de S. Paulo. 08
set. 2005. Cotidiano, p. C 4.
TEM verde, corrida, mas também cultura. O Estado de S. Paulo. 19 nov. 2005.
Cidades/Metrópoles, p. C 3.
TRESSLER, Leandro. R. Cotas e reforma universitária. O Estado de S. Paulo. 26 out. 2005.
Espaço aberto, p. A 2.
TRIATLETAS voltam a treinar na USP. O Estado de S. Paulo. 31 ago. 2005.
Cidades/Metrópoles, C 3.
UNIVERSIDADES querem ter direito de reproduzir livros. A Tribuna. 10 out. 2005.
Direitos autorais, p. A-6.
UNIVERSITÁRIO faltoso terá nova chance. A Tribuna. 08 set. 2005. ENADE, p. A-5
VÉRAS, Maura. PUC-SP: jovem aos 60 anos. Folha de S. Paulo. 15 ago. 2005. Opinião, p.
A 3
Anexos
Anexo I Termo de consentimento da pesquisa psicológica
P S P Pronto Socorro Psicopedagógico
I DADOS DE IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO
Nome:...................................................................Registro:...................
Documento de identidade: tipo.......... n.º..................... sexo:.................
Data de Nascimento: ........../........../..........
Endereço:................................................................n.º......... apto........
Bairro:...............................Cidade:.......................................Estado:....
CEP:.........................Tel:...............................e-mail:......................................
II- REGISTRO DAS EXPLICAÇÕES DA PSICÓLOGA AO ALUNO
O seu atendimento está sendo realizado no Pronto Socorro Psicopedagógico. Este serviço visa o
apoio emocional ao aluno e a pesquisa. Desta forma, a sua participação nesta entrevista, bem
como nos atendimentos subseqüentes, nos ajudarão no conhecimento científico na área de
Psicologia, o que poderá reverter em benefícios para toda a comunidade.
III ESCLARECIMENTOS DADOS PELA PSICÓLOGA SOBRE GARANTIAS
DO ALUNO CASO HAJA PARTICIPAÇÃO NAS PESQUISAS
1 O (a) Sr. (Sra.) poderá ter acesso quando quiser, a qualquer informação sobre o andamento
do trabalho, inclusive para eventuais dúvidas
2 - O (a) Sr. (Sra.) tem total liberdade para retirar seu consentimento a qualquer momento e
deixar de participar do estudo sem que isto lhe traga qualquer prejuízo.
3 - O (a) Sr. (Sra.) tem garantia de confidencialidade, sigilo e privacidade em toda sua
participação.
IV CONSENTIMENTO PÓS-ESCLARECIDO
Declaro ter entendido o que me foi explicado e consinto em participar do serviço prestado pelo
Pronto Socorro Psicopedagógico, bem como das pesquisas que nele forem realizadas.
_____/____/____ ___________________________ __________________
Data Assinatura do aluno Sandra Lia R. Franco
CRP 06/49072
Psicóloga Responsável
Ψ
Ψ
Anexo II Questionário enviado aos jornalistas
Sr. Jornalista:
Sou Psicóloga e Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social, na
Universidade Metodista de São Paulo. Minha pesquisa tem por objetivo analisar quais aspectos
psicossociais do estudante universitário aparecem com maior freqüência nas notícias veiculadas pela
mídia impressa. Para análise das notícias foram selecionados exemplares de três jornais: Folha de S.
Paulo, O Estado de S. Paulo e A Tribuna. Nos resultados parciais desta pesquisa, foi constatado que a
mídia dá ênfase a aspectos produtivos e sócio-culturais (aprendizado, lazer, valores sociais etc) do
universitário, em detrimento de assuntos referentes às relações humanas (sentimentos, relacionamentos
afetivos) e orgânicos (cuidados com a saúde e sexualidade).
Para finalizar a tese de doutoramento, gostaria de obter mais informações, e, para tal,
peço sua colaboração para responder às questões abaixo:
Obs.:
1. Favor responder este questionário via e-mail e devolvê-lo em dois ou três dias;
2. Caso haja algum comentário que julgue necessário, gentileza fazê-lo ao final da última
resposta;
3. Por questões éticas, o seu endereço eletrônico não será divulgado.
Agradeço antecipadamente e coloco-me à disposição para quaisquer esclarecimentos
adicionais.
Sandra Lia Rodrigues Franco
CRP-06/ 49072 - fones: (13) 9714-9150 e 3238-2874 (consultório)
ASSINALE A ALTERNATIVA QUE JULGAR MAIS ADEQUADA:
1. Quanto às notícias sobre o mundo do estudante universitário, você acha que:
a) não há motivo especial para sejam publicadas notícias ( )
b) a edição e a publicação dessas notícias seguem as mesmas normas de estudantes de outros
níveis acadêmicos ( )
c) a publicação dessas notícias costuma acontecer, preferencialmente, em época de vestibular ou
exames de repercussão nacional, como OAB etc ( )
d) a alternativa a( ) ou b( ) ou c( ) está correta, porém deve ser acrescentado que:
___________________________________________
2. A palavra “universitário” tem uma conotação voltada às questões da:
a) cultura e, por isso, “vende mais” ( )
b) juventude ( )
c) classe social abastada no universo brasileiro ( )
d) outra (s) (especificar) _________________________
3. A mídia não tem interesse em publicar notícias sobre o estudante universitário porque,
geralmente, essas notícias:
a) não dão ibope ( )
b) não vendem ( )
c) não têm repercussão social ( )
d) outro (s) (especificar) _________________________
4. No que diz respeito ao mundo do estudante universitário, se você tivesse que escolher,
quais das opções abaixo deveriam aparecer com maior freqüência nas edições?
a) aspectos produtivos e sociais ( )
b) afetivos e cuidados com o corpo ( )
c) os quatro aspectos: afetivos, produtivos, sociais e orgânicos
d) outro(s) especificar ___________________________
5. Quando presentes nas edições jornalísticas, os aspectos produtivos e sociais do
universitário aparecem com maior freqüência em relação aos “afetivos e cuidados com o
corpo” porque:
a) são menos invasivos. ( )
b) atingem o leitor de maneira mais global. ( )
c) interessam mais aos leitores
d) outro(s) especificar: ___________________________
6. Os aspectos afetivos aparecem com pouca freqüência nos jornais porque o veículo (ou o
jornalista), em geral, tem pouco:
a) conhecimento sobre a área psicológica ( )
b) interesse sobre a área psicológica ( )
c) a direção editorial do jornal interfere sobremaneira no assunto a ser tratado (estudante
universitário), fazendo com que, muitas vezes, o jornalista se sinta limitado ( )
d) outro (s) especificar: ___________________________
7. Quando há duas ou mais notícias sobre o universitário e, por outro lado, “pouco espaço”,
o jornal:
a) dá preferência àquela que possa dar maior repercussão junto aos leitores ( )
b) otimiza o espaço para que as duas notícias possam ser publicadas, independentemente da
repercussão ( )
c) opta pela notícia indicada pela direção editorial
d) outro(s) especificar: ___________________________
8. Ao redigir uma notícia sobre comportamento dos jovens, as matérias são selecionadas por
serem reveladoras de :
a) aspectos “negativos” desse comportamento ( )
b) situações bizarras ( )
c) enfoques socialmente “construtivos” ( )
d) outro(s) especificar: ___________________________
9. Ao redigir a matéria sobre aspectos “negativos” de comportamento do universitário, o
jornalista (ou a direção) tem preocupações “mercadológicas” com relação ao nome da
instituição acadêmica onde o fato se dá, devido a:
a) repercussão “negativa” da instituição ( )
b) interesses financeiros da empresa à qual o jornal está vinculado ( )
c) essa preocupação não existe ( )
d) outro(s) especificar: _________________________
10. Quando a notícia se refere a alguma crítica do aluno dirigida à universidade, o jornal:
a) publica-a, pois tem livre arbítrio ( )
b) entra em contato com a universidade para checar se o aluno fala a verdade ou se “aumenta” o
fato ( )
c) não publica a notícia na íntegra por receio de retaliação da universidade para com o jornal ( )
d) outro (s) especificar: __________________________
Comentários: (o preenchimento deste campo não é obrigatório, mas poderá auxiliar a análise
qualitativa da pesquisa)
SUA PARTICIPAÇÃO FOI MUITO VALIOSA, OBRIGADA!
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