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denominou Grupo Kaleva
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, exigiu que Uuskallio demarcasse
suas terras, e foram à Legação Finlandesa, o equivalente à
Embaixada nos dias de hoje, exigindo uma posição do Cônsul.
Cedendo às pressões, Uuskallio fez a demarcação das terras
desse grupo, e uma escritura foi registrada na própria Legação.
Esse documento não tinha valor jurídico no Brasil por não ter sido
registrada em cartório no país, e, além disso, devido à hipoteca
existente junto a Henri Lichtwardt, ela nem poderia ter sido
realizada e, portanto, seu valor era mais moral que jurídico, pois a
Fazenda Penedo não poderia ser alienada, mesmo parcialmente.
Uuskallio sempre havia demonstrado não ter vontade de
dividir a propriedade, alegando problemas referentes a impostos,
mas posivelmente tinha medo de ver seu projeto comunitário
desandar se as terras fossem divididas e cada um pudesse se
desfazer delas, sem levar em conta o projeto comunitário. Essas
pessoas eram proprietários e investidores, muitos deles fazendo
parte inclusive da organização inicial da colônia, o grupo de
amigos de Penedo, que haviam feito muito pela colônia, na
Finlândia. Alguns integrantes desse grupo já tinham vindo ao
Brasil no ano anterior buscando uma nova maneira de se
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O nome Kaleva tem relação com o livro mitológico finlandês, o Kalevala,
símbolo nacional, e que aparece em outras situações, como o nome de cidade
criada nos Estados Unidos, destinada a colonos finlandeses, em 1900, no
estado do Michigan (KERO, 1985). Segundo Asplund e Mettomäki (1998),
nomes derivados do Kalevala, como Kaleva e Sampo eram muito utilizados no
final do sécul XIX e início do XX.
administrar a colônia, mas decepcionados com os resultados,
resolveram agir de maneira mais incisiva.
O fato de procurar o representante do governo finlandês,
apesar de ter somente efeito moral, forçava Uuskallio a resolver a
questão, pois ele não pretendia criar mais problemas na
Finlândia, onde sempre buscava ajuda para seu projeto, e
também respeitava a representação no Brasil.
A escritura de compra e venda de parte da Fazenda Penedo
foi feita na Legação da Finlândia no Rio de Janeiro, em 29 de
março de 1935. De um lado estavam Toivo Uuskallio, e de outro
lado I.A. Suova, August Kuusisto, Rauha Lukkala, Anton Runman,
Petter Uusitalo, Eino Valtonen, Alfred Lalla, Eemeli Markkula e
Laila Suova. A escritura fala dos lotes demarcados no projeto
habitacional de Penedo n°s 1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 11; 12; 13; 14;
15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 25, 26, 27, 29, 31, 34, 35, 36, 37,
38, 76, 77, 78, 79, 80, 90, 91 e também as áreas de terra ligadas
a estes lotes. Estavam presentes Toivo Uuskallio, Isak. A. Suova,
Alfred Lalla, Eemeli Markkula, Yrjö Murtonen Niilo Valtonen e
E.A.Lalla, e os demais foram representados na assinatura da
escritura na Legação do Rio de Janeiro. Ao assinarem a escritura,
todos reconhecem a existência da hipoteca da Fazenda
(FAGERLANDE, 1998b).
Mesmo assim, o Grupo Kaleva tomou posse das terras
descritas na escritura, iniciando um processo de ocupação mais
independente na colônia. A mesma escritura fala de lote de Brusi,