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........É, o maior objetivo de uma coleção de cultura é você manter
estruturas, né, quer dizer, manter as cepas, viáveis e estáveis, OK? É
manter elas vivas e com estabilidade morfológica, biomorfológica.
Morfologia porque se não você não vai conseguir reidentificar, dizer
que realmente é aquela cepa. E bio, e bio porque se ela produzir um
corante, se ela produzir um substrato, um metabólico, ela tem que
estar conservado daquele jeitinho do dia que ela foi, é, depositada na
coleção. Então, tudo começou assim...ahhh... técnica mais prática
que tem é exatamente essa de repiques sucessivos (...) Você pega
um tubo e dura 6 meses, aquele substrato, aquele meio de cultura
seca, acaba, o fungo faz a sua nutrição e se você não passar ele pra
um outro, acaba ele morrendo. Aí você perde a sua cepa. E nenhuma
cepa é igual à outra, mesmo ela sendo do mesmo gênero e mesmo
ela sendo da mesma espécie, tá? Cada uma é particular. E objetivo
da coleção então é esse, é você manter a estrutura ali, tá? Não pode
perder nada. E nem a genética dela, principalmente, né? E esse, essa
técnica ela é fácil, mas ela tem muitos problemas, porque precisa de
mão-de-obra; porque é um gasto enorme(...) Quer dizer, mão de obra
de repicar, mão-de-obra de lavar, fazer meio de cultura. E cada vez
que você abre aquele tubo, o que que acontece? Ou contamina,
porque se não tiver uma condição certa, porque o fungo ela está no
ar, você está respirando, (...), se cair uma estrutura de propagação,
ele se mistura ali e você nunca mais consegue ter a mesma cepa,
não é isso? Tem ácaro, uma séria de fatores. Então começaram a
estudar outras técnicas que mantinham assim por mais tempo e foi,
uma das primeiras foi esse óleo mineral que você colocando um
centímetro acima do crescimento , você baixaria a dosagem, a tensão
de oxigênio e o fungo ficava ali quietinho,(...) Mas também tem o seu
problema porque toda vez tem que tirar, é, repicar, passar, dura mais
tempo, mas ainda continuo tendo problemas,(...) E... tem o problema
do aerossol porque se você não flambar direitinho aquele óleo que
fica grudado ali,(...) pode contaminar o ambiente. Então tem uma
série de...mas ainda é um dos melhores métodos. Antigo, mas serve.
Então, toda vez as pessoas vão tentando,(...), se aperfeiçoar,
melhorar, usar técnicas mais modernas.
(SARQUIS, 2001)
Na ocasião da entrevista, o método de liofilização, apesar de existente no
laboratório, ainda era de alto custo, mas bem recebido, por economizar tempo e
espaço dentro do laboratório. Como podemos verificar a seguir:
Espaço é uma outra coisa que ajudou muito a evolução das técnicas
modernas, porque você vê, olha o espaço enorme que você usa pra...
pra armazenar cepas em óleo mineral, enquanto ela é liofilizada tá lá
numa gavetinha, né, em ampolinhas. E uma delas foi essa liofilização
e nitrogênio líquido. Nós nunca conseguimos, se pra ela liofilizar já é
(riso) um custo danado, né, com nitrogênio líquido fica cada vez mais
difícil porque... é o gasto do nitrogênio. Aí você também precisa de
um ambiente de, de ventilação, toda essa estrutura. Mas nós já
chegamos na liofilização. Então num espaço de um armário que você
guarda mil cepas, numa gaveta... eu guardo dez mil, todos liofilizados,
em ampolinhas, né? Essa é também uma facilidade que você tem,
não só de mão-de-obra, quanto de espaço, porque cada vez você fica
menos. (SARQUIS, 2001)