posição é confirmada nas Meditações, onde, tanto a interpretação do cogito à luz
de uma anterioridade absoluta da manifestação imanente da vida egológica a si, e
portanto da realidade do eu, antes da efetuação de qualquer consciência e
independentemente dela, quanto a que faz do cogito uma verdade exemplar que
funciona como telos das outras efetuações da consciência evidente sendo, como
tal, a condição da verdade dos conceitos relativos ao conhecimento ôntico em
geral, convivem lado a lado. De todo modo, no entanto, é mediante essa redução
que a subjetividade humana vê-se conduzida pela primeira vez à posição
ontológica de fundamento absoluto da manifestação.
Em uma breve digressão, vale notar, ainda, como Deleuze na Terceira
Série de Lógica do Sentido, ao tratar da natureza da proposição, traça um
importante quadro de suas dimensões internas e com elas a manifestação.
Segundo ele, na relação da proposição comumente chamada de manifestação,
que se constitui a partir da relação da proposição ao sujeito que fala e que se
exprime, encontramos o desejo como causalidade interna de uma imagem, de
modo que, o que se busca verificar é a existência do objeto ou estados de coisas
correspondentes a essa imagem mental. Correlativamente, temos ainda a crença
(Urdoxa), que se constitui como a espera desse objeto ou estados de coisas,
evidência primeira, ele afirma que o cogito, do ponto de vista epistemológico seria, dentre tantas
verdades racionais possíveis, somente a mais certa delas; não podendo assumir jamais o papel de
fundamento de toda a verdade possível. “Precisamente porque permitiu à consciência se elevar, do
interior do seu ser singular, à ordem da racionalidade, (o cogito) permanece sendo esse ideal de
uma busca que se realizou aí pela primeira vez, confirmando uma finalidade definida: a obtenção
de conteúdos que possam se prevalecer do título de “verdades””. Cf. HENRY, Michel. L'Essence
de la manifestation. Paris: P. U. F., 1990, p. 12. E por fim, para Henry, “a dificuldade da leitura dos
grandes textos filosóficos de Descartes diz respeito ao fato de que neles a redução galileniana e
sua contra-redução, a saber, a redução fenomenológica, se entrecruzam constantemente segundo
o jogo dos objetivos perseguidos, de modo que ainda é difícil ao leitor de hoje, apesar de tantos
comentários esclarecedores, dissociar essas duas reduções e pensá-las cada uma em seu sentido
próprio”. HENRY, Michel. Descartes et la question de la technique. In: GRIMALDI, N. et MARION
J-L. (Org.). Le discours et sa méthode. Paris: P. U. F., 1987, p. 287.