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Aliado a essa idéia, surge o sofrimento com ares de negativismo, angústia, tristeza e desespero,
levando a pessoa a uma vulnerabilidade frente ao mundo que a cerca.
Para RAMOS (1994), de acordo com o modelo da Psicologia Analítica Junguiana, o
corpo e o psiquismo são abordados como duas dimensões que se interagem, compondo o
indivíduo em sua totalidade. Portanto, a racionalização do mundo em categorias, que separam a
alma do corpo, o subjetivo do objetivo, impede o homem de ser tratado como a unidade que
realmente é. Valoriza tudo o que é objetivo ao humano, mas falha quando exclui significativos e
subjetivos elementos da natureza humana, pois as manifestações patológicas do corpo são os
representantes fiéis de um sofrimento, que é ao mesmo tempo experimentado psiquicamente.
O presente trabalho tem como base teórica, nas análises dos dados, o referencial da
Psicologia Analítica Junguiana
1
e o conceito de Homem junguiano
2
. O objetivo de tal escolha
se deu pela importância que esta linha da psicologia mantém em ver o paciente como indivíduo
na busca de seu auto-conhecimento, sendo reconhecido como um ser total, onde o corpo não
pode ser separado da identidade pessoal. “Os sintomas físicos e psíquicos não são mais do que
manifestações simbólicas de complexos patogênicos.” (JUNG, 1997, p.727).
Dentro desse referencial, Jung delineia uma possibilidade de união, em que as marcas
do corpo e da alma são tratadas como manifestações de um mesmo núcleo, que são os
complexos
3
, estes ligados ao inconsciente pessoal
4
. Esta é uma forma, por assim dizer, onde
surge a possibilidade da compreensão humana, na saúde ou na doença, como uma experiência
simbólica
5
, que expressa aspectos de uma totalidade somatopsíquica.
1
“É o nome que o próprio Jung deu à escola de pensamento fundada com base em seu trabalho para distingui-la da
psicanálise freudiana. Ela não descreve uma teoria e, sim, uma tentativa de explicar os fenômenos que encontramos
quando observamos a psique.” (FIERZ, 1997, p.25).
2
“O conceito de homem junguiano é fundamentalmente o de um homem que nasce para se individuar, que tem uma
busca no sentido de realizar os seus potenciais. Ele não é um homem aleatório, que pode ser fabricado ou moldado,
dentro de uma visão comportamental. Tem as suas características básicas.(...) O homem junguiano é muito
indivíduo. O sentido da vida dele é completar a sua individuação e fazer a sua mandala da vida, “religar-se”àquilo de
onde ele nasce e para onde retorna no fim da vida.”(PSYCHÉ, 1991, p.147).
3
“É a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional e, além disso, incompatível com as
disposições ou a atitude habitual da consciência. Esta imagem é dotada de poderosa coerência interior e tem sua
totalidade própria e goza de um grau relativamente elevado de autonomia, vale dizer: está sujeita ao controle das
disposições da consciência até um certo limite e por isso se comporta, na esfera do consciente, como um corpus
alienum (corpo estranho) animado de vida própria. Com alguma força de vontade, pode-se, em geral, reprimir o
complexo, mas é impossível negar a sua existência, e na primeira ocasião favorável ele volta à tona com toda sua
força original." (JUNG, 1984, § 201).
4
“O que é exclusivo de uma psique individual, mas não-consciente.”(HALL, 2003, p.14).
5
“Os símbolos são como coisas vivas, repletos de significados, (...) nascem no nível mágico arcaico da psique, onde
são potencialmente criativos, destrutivos ou proféticos. As imagens simbólicas são verdadeiros transformadores de
energia psíquica, porque uma imagem simbólica evoca a totalidade do arquétipo que ela reflete.” (EISENDRATH,
DAWSON, 2002, p.79).