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1. A literatura naturalista, sua violência representada pelos “espaços de exclusão”
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, como
“os cortiços” e as “casas de pensão”. (Aluísio Azevedo) (PELLEGRINI, 2004, p. 19)
2. O regionalismo e a violência representada pela “temática do cangaço, das lutas entre
vaqueiros, jagunços e, de modo geral, dos heróis justiceiros do sertão.” (Graciliano
Ramos, Guimarães Rosa) (SCHOLLHAMMER, 2000, p. 239)
3. A época da ditadura militar e os textos dos escritores da chamada “geração pós-64”,
que tratam de temas como tortura, esquadrão da morte, memórias do cárcere.
(Fernando Gabeira, Caio Fernando Abreu) (SÜSSEKIND, 2004, p. 73-81)
A partir dos breves exemplos anteriores, pode-se perguntar como essa parceira da
literatura brasileira – a violência – vem sendo representada na literatura contemporânea. Para
tentar, pois, continuar traçando essa linha temporal/representacional da configuração narrativa
da violência na ficção contemporânea, observando como ela se constitui no discurso e como
discurso, estão sendo focados três diferentes textos: O Cobrador, de Rubem Fonseca; O
invasor, de Marçal Aquino, e, também, O invasor, em versão fílmica dirigida pelo cineasta
Beto Brant.
Interessa investigar o espaço como elemento/ferramenta que dá suporte à análise dos
textos em questão, já que este se faz elemento integrador e revelador de relações
sociopolíticas aí presentes.
Por isso mesmo, esse espaço que se está investigando não é e nem poderia ser o
espaço meramente geográfico, o cenário por onde transitam as personagens, já que, em um
texto, o espaço “quase nunca se reduz ao denotado.” (LINS, apud WALTY, 1985, p. 86).
Considerando tal conceito como útil operador de leitura dos textos analisados, faz-se
necessário, então, tentar definir o que ou de que é constituído esse espaço.
Santos (1997), um importante geógrafo brasileiro, já aponta para essa multiplicidade
indefinida no que se refere ao conceito de espaço dentro do campo de pensamento da
geografia. Há espaços geográficos, econômicos, sociológicos, comerciais, nacionais, mundiais
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É importante observar que o termo exclusão utilizado pela autora e também por nós não circula no tempo de
produção das obras citadas no item 1. Nesse sentido, faz-se necessário esclarecer esse termo bastante recorrente
neste texto: exclusão. Sabe-se que tal termo pode ser de significação ambígua e causador de polêmicas
dependendo da forma como é abordado e, por essa razão, é necessário deixar claro com que significado ele é
aqui adotado. Goméz (1999, p. 154), em seu texto Globalização da política: mitos, realidade e dilemas, afirma
que há um “aumento do fenômeno da exclusão social e espacial” e caracteriza os participantes deste fenômeno
como sendo “[...] grupos e categorias sociais, zonas, países e até continentes que, rapidamente, tornaram-se
irrelevantes porque não conseguem integrar-se à dinâmica da economia mundial [...].” Tal definição é bastante
apropriada pelo fato de considerar não apenas a exclusão de grupos e categorias sociais mas também a exclusão
com relação ao espaço, dialogando assim de maneira pertinente com a reflexão proposta, tendo em vista que este
trabalho tem íntima relação, como já foi dito, com o caráter espacial nos e dos textos em foco.