Depois desse impacto provocado pela obrigatoriedade da vacina, as ações sanitárias
passam a agregar princípios de comunicação e o esclarecimento e a persuasão são adotadas
para superar as resistências da população. Essa inclusão de fundamentos comunicacionais a
medidas de saúde pública pode ser constatada em 1920, durante a Reforma Carlos Chagas
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,
que aliou técnicas comunicacionais de propaganda nas atividades sanitárias da campanha.
Em 1925, em São Paulo, ocorre a Reforma Paula Souza
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, privilegiando os aspectos
comunicacionais, uma vez que usava a persuasão do indivíduo, como instrumento para a
formação de uma consciência sanitária. Criou-se o Centro de Saúde
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como espaço de prática,
no qual se ministravam palestras e se usava até a projeção de fitas cinematográficas para
educar a população pobre sobre os “preceitos da boa higiene, da boa nutrição e da boa
dietética” (RIBEIRO, 1993, p.259). Para esse autor (p.246):
(...) o eixo dessa nova orientação deslocou-se do policiamento para a
educação e as ações sanitárias transferiram-se da população em geral para o
indivíduo em particular. Com isso, na prática sanitária, o policiar as coisas,
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Carlos Chagas (1878-1934) não foi autor somente da descoberta da doença de Chagas, foi o precursor da
medicina social no Brasil e um inovador nas pesquisas protozoológica e biológica nos campos da saúde pública e
da administração hospitalar. Com o uso da queima de piretro, produto sulfúreo que elimina o mosquito causador
da malária, Chagas iniciou a desinfecção domiciliar, originando o DDT que tornou possível a eliminação da
malária em muitas regiões do mundo, descoberta reconhecida em 1923, em Roma. Ao descobrir o Trypanosoma
cruzi, Chagas detectou um outro protozoário denominado Pneumocystis carinii, alojado nos pulmões dos
pequenos macacos. Estava aí a protodescoberta da causa da Aids (isso em 1909!), pois o pneumocystis carinii
produz uma pneumonia de células plasmáticas intersticiais, analisa Chagas Filho, tornando-se parasito
significativo no organismo ao promover a síndrome de imunodeficiência adquirida produzida pelo vírus HIV.
Como diretor do Instituto Oswaldo Cruz (1917–34) concluiu o hospital da entidade, destinado à internação de
casos de doenças infecto-contagiosas e para lá levou os maiores nomes médico-científicos do país. Chagas foi o
primeiro brasileiro a ser distinguido com o título Honoris Causa, concedido pela Harvard University, em 1921.
Em 1925, recebeu em Manguinhos a visita de Albert Einstein. Recebeu distinções em reconhecimento ao seu
trabalho científico-social também da rainha Elisabeth, da Inglaterra, e do rei Alberto, da Bélgica. Foi responsável
pelo debelamento da gripe espanhola que matou milhares de brasileiros, chegada ao país em 1918 a bordo do
navio britânico S. S. Demerara. Responsável pela Reforma Carlos Chagas empreendida quando na direção do
Departamento Nacional de Saúde Pública. Com apoio da Fundação Rockfeller, criou a Escola de Enfermagem
Anna Nery, em 1925; mas antes, desde 1916, o cientista havia inaugurado, com o governo brasileiro, os
primeiros postos de profilaxia rural em diversas regiões do país.
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Para Nunes (2000 p. 260) a Reforma Paula Souza estabelece um novo modelo de atuação - a ação educativa
que expõe de forma mais clara, a ideologia e o autoritarismo da prática sanitária. Escamoteando as diferenças de
classe, reduzindo-as a diferenças educacionais, lança no campo da saúde pública a nova personagem, a
educadora sanitária.
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De acordo com Nilson do Rosário Costa, que pesquisou a história do controle sanitário do Brasil, na
conjuntura Carlos Chagas, a partir de 1923, sob influência da Saúde Pública norte-americana, foram criados os
primeiros centros de saúde no Brasil, organizados a partir do trabalho assistencial da enfermeira visitadora que
impunha rotina ao trabalho de visitas a serviço de uma rede básica. O primeiro Centro de Saúde brasileiro foi
implantado no Rio de Janeiro, em Inhaúma. Note bem que os centros de saúde, diferente das campanhas,
passaram a constituir uma estrutura assistencial básica permanente.