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CONCEIÇÃO A. SANCHES
AIDS NA REDE:
UMA ABORDAGEM COMUNICACIONAL
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓSGRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2006
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CONCEIÇÃO A. SANCHES
AIDS NA REDE:
UMA ABORDAGEM COMUNICACIONAL
Tese apresentada em cumprimento parcial às
exigências do Programa de Pós-Graduação em
Comunicação para a obtenção do Grau de
Doutora.
Orientador: Prof. Dr. Isaac Epstein.
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL
SÃO BERNARDO DO CAMPO, 2006
3
FOLHA DE APROVAÇÃO
A tese de doutorado sob o título AIDS NA REDE: UMA ABORDAGEM
COMUNICACIONAL, elaborada por Conceição Aparecida Sanches foi defendida no dia 27
de abril de 2006, tendo sido:
Aprovada com a nota 10,0 (Dez) Com Louvor.
Banca Examinadora:
Isaac Epstein _______________________________________
Olinda Carmo Luiz __________________________________
Dinah Población ___________________________________
Maria Cristina Gobbi _________________________________
Maria Cicília Krohling Peruzzo _________________________
Paulo Henrique Bertolucci (suplente)
Wilson da Costa Bueno (suplente)
Área de concentração: Processos comunicacionais
Linha de pesquisa: Comunicação especializada
Projeto temático: Comunicação e Saúde
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Ao Edi
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Toda a nossa ciência, comparada com a realidade, é primitiva e
infantil e, no entanto, é a coisa mais preciosa que temos.
(Albert Einstein)
AGRADECIMENTOS
Ao mestre Isaac Epstein meu carinho, gratidão e respeito.
À Profa. Maria Cristina Gobbi, pelo raro talento e pela generosidade.
À Profa. Maria Cicília Krohling Peruzzo, pelos importantes ensinamentos.
Aos meus pais, filho, irmãos, nora e cunhados, a homenagem pelas horas roubadas.
Ao amigo Adilson Rogério de Almeida que não é irmão, mas é como se fosse.
Aos professores Silvio Luis da Silva, Marcos Maurício Alves da Silva e
Mamerto Granja Garcia pela ajuda.
A todos os professores do PósCom pelo muito que me ensinaram.
À Marli Gonçalves Coelho e Djalma Marcondes de Moraes Catropa, exemplos de luta.
A todos os amigos que, em algum momento, me acompanharam nesta jornada.
À UMESP e à CAPES que me ofereceram a bolsa de estudos para a realização deste trabalho.
7
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição por faixa etária .................................................................................144
Gráfico 2 - Distribuição por sexo ...........................................................................................145
Gráfico 3 - Área de estudo......................................................................................................146
Gráfico 4 - Instrução do chefe da família ...............................................................................147
Gráfico 5 - Religião ................................................................................................................148
Gráfico 6 Atração sexual.....................................................................................................150
Gráfico 7 - Virgindade............................................................................................................151
Gráfico 8 - Sexo sem camisinha .............................................................................................153
Gráfico 9 - Uso de drogas injetáveis.......................................................................................155
Gráfico 10 - Compartilhamento de agulhas............................................................................156
Gráfico 11 - Sexo nos últimos seis meses ..............................................................................158
Gráfico 12 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo anal sem camisinha...............................160
Gráfico 13 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo sem camisinha e sem ejaculação ..........161
Gráfico 14 Chance de pessoas casadas e/ou com relação estável pegar AIDS ...................163
Gráfico 15 - chances de pegar AIDS, fazendo sexo sem proteção, mas com uma pessoa que
você ama muito e em que você confia plenamente ........................................................165
Gráfico 16 - Chances de pegar AIDS, fazendo sexo com uma pessoa que você não conhece
muito bem, usando camisinha.........................................................................................167
Gráfico 17 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo com camisinha ......................................169
Gráfico 18 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo sem penetração e sem camisinha ..........171
Gráfico 19 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo oral, sem camisinha ..............................173
Gráfico 20 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo só com um parceiro, mas sem camisinha,
nos últimos 5 anos ..........................................................................................................175
Gráfico 21 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo com pessoas que você acabou de conhecer
pela Internet ....................................................................................................................177
Gráfico 22 - Chances de pegar AIDS mantendo relações sexuais com muitos parceiros,
mesmo com camisinha....................................................................................................179
Gráfico 23 - Chances de pegar AIDS ao compartilhar agulhas..............................................181
Gráfico 24 - Chances de pegar AIDS ao fazer uma transfusão de sangue .............................183
Gráfico 25 - Chances de pegar AIDS ao manter contato social com pessoas portadoras do
vírus HIV ........................................................................................................................185
8
Gráfico 26 - Chances de pegar AIDS ao usar banheiros públicos ou compartilhar objetos
pessoais como toalhas, pentes ou escovas de cabelo, pratos copos e talheres com pessoas
que você sabe que são portadoras do vírus HIV.............................................................187
Gráfico 27 - Risco de pegar AIDS..........................................................................................189
Gráfico 28 Tempo para realizar exame de AIDS ................................................................190
Gráfico 29 - Dúvida sobre AIDS ............................................................................................192
Gráfico 30 - Área da dúvida sobre AIDS ...............................................................................193
Gráfico 31- Busca de informações sobre AIDS .....................................................................194
Gráfico 32 - Internet como fonte de informação sobre AIDS ................................................195
Gráfico 33 - Site de busca preferido .......................................................................................196
Gráfico 34 - Satisfação com a resposta da Internet ................................................................198
Gráfico 35 - Confiança na informação da Internet.................................................................199
Gráfico 36 - Fonte da informação...........................................................................................200
Gráfico 37 - Site com melhor informação sobre AIDS ..........................................................202
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - trabalhos sobre Comunicação e Saúde (tema AIDS) apresentados nos
COMSAÚDE....................................................................................................................58
Tabela 2 - Descrição da 1ª fase da pesquisa ...........................................................................111
Tabela 3 - Descrição da 2ª fase da pesquisa ...........................................................................112
Tabela 4 - Relatório de Campo - Instituição 1 - Zona Leste ..................................................134
Tabela 5 - Relatório de Campo - Instituição 2 - Zona Oeste .................................................135
Tabela 6- Relatório de Campo - Instituição 3 - Zona Sul......................................................135
Tabela 7- Relatório de Campo - Instituição 4 - Zona Norte ..................................................136
Tabela 8- Questão 1 Em que faixa de idade você se encaixa? ............................................144
Tabela 9 - Questão 2 - Você é do sexo? .................................................................................145
Tabela 10 - Questão 3 -Você estuda em um curso da área de:...............................................146
Tabela 11 - Questão 4 - O grau de instrução do chefe da família é:.......................................147
Tabela 12 - Questão 5 - Qual é a sua religião? .......................................................................148
Tabela 13 - Questão 6 - Você sente atração sexual por:.........................................................150
Tabela 14 - Questão 7 - Você já fez sexo? .............................................................................151
Tabela 15 - Questão 8 - Você já fez sexo sem camisinha?...................................................153
Tabela 16 Questão 9 - Você já usou drogas injetáveis? ......................................................155
Tabela 17 Questão 10 - Se você já usou drogas injetáveis, alguma vez compartilhou
agulhas? ..........................................................................................................................156
Tabela 18 - Questão 11 - Com quantas pessoas você fez sexo nos últimos seis meses?........158
Tabela 19 - Não monogâmicos ...............................................................................................159
Tabela 20 Questão 12 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo anal sem
camisinha? ......................................................................................................................160
Tabela 21 - Questão 13 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem camisinha e
sem ejaculação? ..............................................................................................................161
Tabela 22 - Usuários que crêem não haver risco no sexo desprotegido sem ejaculação........162
Tabela 23 Questão 14 - Quais são as chances que pessoas casadas ou que têm uma relação
estável têm de pegar AIDS? ...........................................................................................163
Tabela 24 - Questão 15 - Quais são as chances de pegar AIDS, fazendo sexo sem proteção,
mas com uma pessoa que você ama muito e em que você confia plenamente?.............165
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Tabela 25 Questão 16 - Quais são as chances de pegar AIDS, fazendo sexo com uma pessoa
que você não conhece muito bem, usando camisinha?...................................................167
Tabela 26 Questão 17 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo com camisinha?
........................................................................................................................................169
Tabela 27 Questão 18 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem penetração e
sem camisinha?...............................................................................................................171
Tabela 28 - Questão 19 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo oral, sem
camisinha? ......................................................................................................................173
Tabela 29 - Questão 20 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo só com um
parceiro, mas sem camisinha, nos últimos 5 anos? ........................................................175
Tabela 30 - Questão 21 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo com pessoas que
você acabou de conhecer pela Internet? .........................................................................177
Tabela 31 Questão 22 - Quais são as chances de pegar AIDS mantendo relações sexuais
com muitos parceiros, mesmo com camisinha? .............................................................179
Tabela 32 - Questão 23 - Quais são as chances de pegar AIDS ao compartilhar agulhas?..181
Tabela 33 - Questão 24 - Quais são as chances de pegar AIDS ao fazer uma transfusão de
sangue? ...........................................................................................................................183
Tabela 34 - Questão 25 - Quais são as chances de pegar AIDS ao manter contato social com
pessoas portadoras do vírus HIV? ..................................................................................185
Tabela 35 - receio de manter contato social com pessoas infectadas .....................................186
Tabela 36 - Questão 26 - Quais as chances de pegar AIDS ao usar banheiros públicos ou
compartilhar objetos pessoais como toalhas, pentes ou escovas de cabelo, pratos copos e
talheres com pessoas que você sabe que são portadoras do vírus HIV? ........................187
Tabela 37 - Cruzamento das respostas dadas a questão número 26 com a variável idade ....188
Tabela 38 Questão 27 - Na sua opinião quem corre mais risco de pegar AIDS? (pode
assinalar mais de uma)....................................................................................................189
Tabela 39 - Questão 28 - Se você desconfiasse que está com AIDS, em quanto tempo faria o
exame de HIV? ..............................................................................................................190
Tabela 40 - Questão 29 - Você tem alguma dúvida sobre AIDS?..........................................192
Tabela 41 - Questão 30 - Sua dúvida se refere a:...................................................................193
Tabela 42 - Questão 31 - Quando você tem dúvidas sobre AIDS, onde busca informações?194
Tabela 43 - Questão 32 - Você já usou a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS?................195
Tabela 44 Questão 33 - Qual é o site de busca que você normalmente usa? ......................196
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Tabela 45 - Questão 35 - A resposta que você conseguiu na Internet esclareceu sua dúvida?
........................................................................................................................................198
Tabela 46 - Questão 36 - Na Internet, você encontrou alguma informação sobre AIDS que na
sua opinião não era verdadeira ou confiável? .................................................................199
Tabela 47 - Questão 37 - Você sabe quem deu a informação que você procurava? ..............200
Tabela 48 - Questão 38 - Que site você acha que tem a melhor informação sobre AIDS?....202
12
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABIA Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, fundada em 1986, pelo sociólogo
Herbert de Souza, o Betinho, e por um grupo de profissionais de diversos setores da vida
política e do movimento social nacional para mobilizar a sociedade brasileira para enfrentar o
HIV/AIDS no Brasil, formando uma rede de solidariedade.
ABRASCO Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva. É uma sociedade
científica, não-governamental e de utilidade pública, que atua no Brasil desde 1979 e tem
como missão Apoiar indivíduos e instituições ocupados com ensino pós-graduado, pesquisa,
cooperação e prestação de serviços em Saúde Pública/Coletiva.
AESO Associação de Ensino Superior de Olinda que foi sede do encontro da VII
COMSAÚDE, em 2004.
AIDS é a sigla original da expressão em inglês Acquired Immune Deficiency Syndrome.
Designa um processo viral que ataca o sistema imunológico do ser humano e destrói as
células que defendem o organismo das infecções. A pessoa infectada fica vulnerável a uma
grande gama de doenças, algumas graves, como pneumonia, tuberculose, meningite e a alguns
tipos de câncer, como o sarcoma de Kaposi. Tais infecções são chamadas de oportunistas,
pois atacam o organismo debilitado e podem levar o doente à morte.
AZT é a sigla derivada de azidotimidina. Também conhecida como zidovudina, é uma droga
antiretroviral do grupo dos inibidores da transcriptase reversa, utilizada no tratamento da
infecção pelo HIV. Foi o primeiro medicamento a ser utilizado no tratamento de pacientes
com AIDS.
BASICS Basic Support for Institutionalising Child Survival, fornece apoio de base para
institucionalizar a sobrevivência infantil,é um subsidiário da USAID
BIREME Centro Latino-americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. Sua
missão é contribuir ao desenvolvimento da saúde fortalecendo e ampliando o fluxo de
informação em ciências da Saúde. É um órgão da OPAS que tem por objetivo de a promoção
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da cooperação técnica em informação científica e técnica em saúde, com os países e entre os
países da América Latina e do Caribe, com o intuito de desenvolver os meios e as capacidades
para proporcionar acesso eqüitativo à informação em saúde, relevante e atualizada e de forma
rápida, eficiente e com custos adequados.
CCR Comissão de Cidadania e Reprodução. Fundada em 1991 e instalada desde então no
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), é uma entidade civil de âmbito
nacional e sem fins lucrativos cujo objetivo é a promoção dos direitos reprodutivos segundo
os princípios das Declarações da ONU, mais especificamente os da Convenção pela
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher. Sua principal meta de
trabalho é a defesa do respeito à liberdade e à dignidade da população brasileira no campo da
sexualidade, saúde e direitos reprodutivos.
CEP Comitê de Ética em Pesquisa. Na UMESP Universidade Metodista de São Paulo,
implantou-se o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UMESP) no dia 16 de maio de 2002,
quando se efetuou o registro na CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa.
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Criado em 1951,
é uma Fundação, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), para o apoio à
pesquisa brasileira. Contribuindo diretamente para a formação de pesquisadores (mestres,
doutores e especialistas em várias áreas de conhecimento), o CNPq é, desde sua criação, uma
das maiores e mais sólidas estruturas públicas de apoio à Ciência, Tecnologia e Inovação
(CT&I) dos países em desenvolvimento.
CNS – Conselho Nacional de Saúde, órgão do Ministério da Saúde, formado por Conselheiros
titulares com seus respectivos suplentes, representantes de entidades e instituições dos
segmentos governo, prestadores de serviços privados de saúde, profissionais de saúde e
usuários. Tem como objetivo atuar na formulação e controle da execução da política nacional
de saúde, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, nas estratégias e na promoção do
processo de controle social em toda a sua amplitude, no âmbito dos setores público e privado.
COMPÓS Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação,
fundada em 1991, em Belo Horizonte, pela iniciativa de pesquisadores e representantes de
Cursos de Pós-Graduação, com o apoio do CNPq. Tem por objetivos congregar os Programas
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de Pós-Graduação em Comunicação em nível de Mestrado e/ou Doutorado de instituições de
ensino superior públicas e privadas no Brasil, fortalecer e qualificar os Programas de Pós-
Graduação em Comunicação no Brasil, promover o intercâmbio entre tais Programas e
estimular a participação da comunidade acadêmica em Comunicação nas políticas do país
para a área, defendendo o aperfeiçoamento profissional e o desenvolvimento teórico, cultural,
científico e tecnológico no campo da Comunicação.
COMSAÚDE Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde, promovida Cátedra Unesco
de Comunicação em parceria com instituições de ensino superior representa uma tentativa
anual de reunir pesquisadores e profissionais de dois campos de destacada relevância
científica e social: Saúde e Comunicação.
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, uma comissão do Conselho Nacional de
Saúde - CNS, criada através da Resolução 196/96, com a função de implementar as normas e
diretrizes regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, aprovadas pelo
Conselho. Tem função consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente
com uma rede de Comitês de Ética em Pesquisa - CEP- organizados nas instituições onde as
pesquisas se realizam.
DNA é a sigla de ácido desoxirribonucléico, o material genético das células. Na pessoa
infectada, o HIV torna-se parte do DNA.
DST Doenças Sexualmente Transmissíveis, ou seja, as doenças infecciosas causadas por
microorganismos transmitidos por contato sexual. As DST são popularmente conhecidas por
doenças venéreas.
ELACOM Escola Latino-Americana de Comunicação. Conjunto de conhecimentos sobre
os fenômenos de interação simbólica, mediados pela mídia, na América Latina.
FAI Faculdades Adamantinenses Integradas, onde se realizaram a II e a III COMSAÚDE
Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde.
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, instituída em 1962,
gerida por especialistas altamente qualificados e profundamente comprometidos com as
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finalidades sociais do desenvolvimento científico e tecnológico. Tem por missão garantir a
estabilidade das linhas regulares de fomento e permitir a criação de programas especiais e de
inovação tecnológica, destinados a induzir novas áreas de investigação ou assegurar a
superação de dificuldades específicas do sistema de pesquisa do Estado de São Paulo.
FELAFACS Federación Latinoamericana de Faculdades de Comunicación Social. Criada
em 1981, é um organismo internacional de caráter não governamental que agrupa mais de 300
faculdades e escolas de Comunicação de universidades de 21 países de América Latina e tem
o propósito de contribuir para o desenvolvimento do ensino e da prática profissional da
Comunicação em suas diversas áreas.
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz. Vinculada ao Ministério da Saúde, tem a missão de
desenvolver atividades no campo da saúde, educação e desenvolvimento científico e
tecnológico. Participa da formulação e da execução da Política Nacional de Saúde, da Política
Nacional de Ciência e Tecnologia e da Política Nacional de Educação. Promove e realiza
pesquisas, propõe critérios para o desenvolvimento da pesquisa e tecnologia para a
saúde. Capacita recursos humanos para a saúde, ciência e tecnologia. Desenvolve atividades
de prestação de serviços e cooperação técnica no campo da saúde, ciência e tecnologia.
Preserva, valoriza e divulga o patrimônio histórico, cultural e científico do País e contribui
para a preservação da memória da saúde e das ciências biomédicas.
GAPA Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS, cuja missão institucional é a defesa dos
direitos humanos e integração das pessoas portadoras de AIDS na sociedade. A primeira
ONG/aids da América Latina, o Grupo de Apoio a Prevenção da AIDS de São Paulo -
GAPA/SP - foi fundado em 27 de abril de 1985 na capital paulista e passou a sintetizar ações
concretas no tratamento social da doença, cobrando de autoridades e levando a sociedade a
refletir sobre os diversos aspectos que a epidemia atinge. A partir de 1987, a idéia de novos
grupos se espalhou e foram criadas diversas iniciativas inspiradas no GAPA /SP. A REDE
GAPAs hoje é composta hoje por 17 grupos ligados ao mesmo Código de Ética, mas que
possuem autonomia para executar suas ações, com as características regionais e atuam de
forma independente com estatutos e regimentos próprios
HIV é a sigla original da expressão em inglês Human Immuno Deficiency Vírus, o vírus que
causa a AIDS. O HIV já foi isolado em diversos tipos de líquidos orgânicos: no sangue, no
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esperma, nas secreções vaginais, na saliva, na urina e no leite materno. Comprovadamente, a
infecção pelo HIV pode ocorrer por transfusões de sangue, pelo uso compartilhado de
seringas e/ou agulhas e nas relações sexuais. A mãe portadora do vírus ou doente de AIDS
pode transmitir o HIV ao bebê durante a gravidez, no parto ou na amamentação.
IBOPE Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística que fornece o maior conjunto
de informações sobre o mercado brasileiro e latino-americano e provê sistemas de informação
e gestão do conhecimento, fundamentados principalmente em pesquisa de mercado, mídia e
opinião.
INTERCOM Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Desde a
sua fundação em 1977, todos os anos, promove o Congresso Brasileiro de Ciências da
Comunicação, que já se transformou em um dos mais importantes eventos científicos,
reunindo professores, pesquisadores e profissionais de Comunicação. Nos últimos dez anos,
realizou o Congresso em diferentes instituições, cidades e regiões brasileiras, com o intuito de
discutir temas prementes do campo da Comunicação por meio de eixos temáticos centrais.
LABJOR Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, criado em 1994, pela
Unicamp. Com atividades de pós-graduação, pesquisa, extensão e consultoria, forma recursos
humanos em jornalismo científico; serve como fórum de debates jornalísticos; cria
instrumentos para o acompanhamento das mudanças na mídia impressa e eletrônica;
estabelece intercâmbio entre a universidade e empresas; pesquisa e identifica questões
relativas ao jornalismo científico.
OMC Organização Mundial do Comércio, órgão da ONU cuja finalidade é formular
propostas de políticas e programas de comércio exterior e estabelecer normas necessárias à
sua implementação.
OMS Organização Mundial da Saúde, órgão do Sistema das Nações Unidas que se dedica a
promover a saúde no mundo. Também é identificado pelo nome, em inglês, World Health
Organization (WHO). Possui representações regionais em todos os continentes.
ONU Organização das Nações Unidas. É uma instituição internacional formada por 191
Estados soberanos, foi fundada após a II Guerra Mundial para manter a paz e a segurança no
17
mundo, fomentar relações cordiais entre as nações, promover progresso social, melhores
padrões de vida e direitos humanos.
ONUSIDA Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/SIDA, criado em 1996
para ajudar a enfrentar esse desafio da AIDS.
OPAS Organização Pan-americana de Saúde, representante da OMS na América Latina, é
também conhecida como Pan American Organization PAHO.
RDH Rede de Direitos Humanos em Saúde Mental e HIV/AIDS.
RNA é a sigla do ácido ribonucléico que se localiza no núcleo das células.
SBPC Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Fundada em 1948, é uma entidade
civil, sem fins lucrativos nem inclinações político-partidárias, voltada para a defesa do avanço
científico e tecnológico e do desenvolvimento educacional e cultural do Brasil, reúne
representantes de todas as áreas da ciência.
SEMESP Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior
de São Paulo, entidade sindical de representação legal da categoria econômica das
mantenedoras de ensino superior particular localizadas no Estado de São Paulo, cuja missão
consiste no estudo, na coordenação, na proteção e na representação legal da categoria.
SIDA é a sigla usada na França, em Portugal e nos países de língua espanhola, para designar a
AIDS.
SISNEP Sistema Nacional de Informação sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres
Humanos. É um sistema de informações via internet sobre pesquisas envolvendo seres
humanos. Os usuários desta ferramenta são pesquisadores, Comitês de Ética em Pesquisas
(CEPs) , a CONEP e a população em geral.
SUS Sistema Único de Saúde. De acordo com o artigo 4º da Lei Federal 8.080, o SUS é o
conjunto de ações e serviços de saúde prestados por órgãos e instituições Públicas Federais,
18
Estaduais e Municipais, da Administração Direta e da Administração Indireta e das Fundações
mantidas pelo Poder Público e, complementarmente pela iniciativa privada.
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido é um documento fundamental para ser
apresentado ao Comitê de Ética em Pesquisa para obter parecer favorável em estudos que
envolvem seres humanos. A Resolução CNS 196/96 afirma que o TCLE assegura os direitos
dos sujeitos ao participante da pesquisa.
UDI é a sigla que designa os Usuários de Drogas Injetáveis: homens e mulheres que fazem
uso injetável de substâncias psicoativas. Compartilhar agulhas, seringas e equipamentos
contribui muito para o aumento nos índices de infecção pelo HIV.
UNAIDS é a sigla de um programa conjunto da ONU, responsável pela coordenação do apoio
prestado pelo Sistema das Nações Unidas aos programas de prevenção e assistência à AIDS
no mundo. Com sede em Genebra, na Suíça, a UNAIDS é integrada pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF), FNUAP, Banco Mundial, Agência das Nações Unidas Para
a Ciência, Cultura e Educação (UNESCO), PNUD e OMS. Sua principal função é reforçar a
capacidade dos diferentes países para dar uma resposta ampliada e consistente à questão da
AIDS.
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, criada
em 16 de novembro de 1945, logo após a 2
a
. Guerra Mundial. A premissa de sua Constituição
é: "Se a guerra nasce na mente dos homens, é na mente dos homens que devem ser
construídas as defesas da paz". Atualmente, a UNESCO conta com mais de 190 Estados
Membros e promove estudos, reflexões e reuniões com os governos, dirigentes e especialistas
dos países que a integram com o objetivo de aprofundar o exame de temas vitais para o futuro
das sociedades, buscando consensos e definindo estratégias de ação.
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância, cuja missão é a de promover o bem-
estar da criança e do adolescente, com base em sua necessidade, sem discriminação de raça,
credo, nacionalidade, condição social ou opinião política. Foi criado em 1946, por decisão
unânime, durante a primeira sessão da Assembléia Geral das Nações Unidas.
19
UNISINOS Universidade do Vale do Rio dos Sinos, onde se realizou a VIII COMSAÚDE
Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde.
USAID The US Agency for Internetional Development (Agência Americana de
Desenvolvimento Internacional), cuja missão, no Brasil, prioriza duas grandes áreas
programáticas: meio ambiente, com enfoque à preservação da biodiversidade, mudança
climática global e energias renováveis, e saúde, com prioridade à prevenção ao HIV/Aids e a
atenção a crianças e adolescentes em situação de risco.
SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................25
RESUMEN...................................................................................................................26
ABSTRACT.................................................................................................................27
INTRODUÇÃO............................................................................................................28
A TRAJETÓRIA.........................................................................................................29
CAPÍTULO I: COMUNICAÇÃO E SAÚDE NO BRASIL.....................................34
O CAMPO DA COMUNICAÇÃO.............................................................................35
1. A comunicação enquanto ciência: uma discussão antiga.......................41
2. Bases históricas do conceito de comunicação e saúde..........................42
3. Comunicação e saúde no Brasil.....................................................................47
4. Comunicação e saúde na mídia brasileira...................................................53
5. Fontes de informação em comunicação e saúde......................................56
CAPÍTULO II: AIDS...................................................................................................69
A DOENÇA.................................................................................................................70
1. A definição de caso de AIDS............................................................................71
2. As formas de transmissão................................................................................75
3. AIDS e mídia: o mundo e o Brasil...................................................................77
4. AIDS: um fenômeno social...............................................................................89
5. AIDS e Direitos Humanos..................................................................................94
6. AIDS e direitos do trabalhador.........................................................................96
21
7. Os filhos da AIDS.................................................................................................99
8. Comportamento sexual da população brasileira......................................101
9. O Programa Brasileiro de Combate à AIDS................................................104
CAPÍTULO III: MATERIAIS E MÉTODOS ..........................................................109
A PESQUISA............................................................................................................110
1. A pesquisa exploratória e descritiva............................................................112
2. A revisão bibliográfica e documental..........................................................115
3. Questões, hipóteses e objetivos...................................................................117
4. Construção do instrumento de campo........................................................118
5. Critérios de seleção da amostra....................................................................125
5.1 A amostragem não probabilística..........................................................128
5.2 A amostragem acidental ou por conveniência....................................129
5.3 A amostragem intencional ou por julgamento.....................................129
5.4 A amostragem por quotas ou proporcionais........................................130
5.5 A amostragem tipo bola de neve...........................................................131
6. Mesclando técnicas ..........................................................................................132
7. O trabalho de campo ........................................................................................134
8. A análise quantitativa.......................................................................................137
9. A analise qualitativa..........................................................................................138
10. Organização e análise dos dados e apresentação dos resultados...140
11. A construção do CD de coleta de dados..................................................140
CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................142
22
ARTICULANDO DADOS........................................................................................143
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................203
E AS RESPOSTAS.................................................................................................204
GLOSSÁRIO.............................................................................................................209
REFERÊNCIAS........................................................................................................218
RESUMO.....................................................................................................................25
RESUMEN...................................................................................................................26
ABSTRACT.................................................................................................................27
INTRODUÇÃO............................................................................................................28
A TRAJETÓRIA.........................................................................................................29
CAPÍTULO I: COMUNICAÇÃO E SAÚDE NO BRASIL.....................................34
O CAMPO DA COMUNICAÇÃO.............................................................................35
1. A comunicação enquanto ciência: uma discussão antiga.......................41
2. Bases históricas do conceito de comunicação e saúde..........................42
3. Comunicação e saúde no Brasil.....................................................................47
4. Comunicação e saúde na mídia brasileira...................................................53
5. Fontes de informação em comunicação e saúde......................................56
CAPÍTULO II: AIDS...................................................................................................69
A DOENÇA.................................................................................................................70
1. A definição de caso de AIDS............................................................................71
23
2. As formas de transmissão................................................................................75
3. AIDS e mídia: o mundo e o Brasil...................................................................77
4. AIDS: um fenômeno social...............................................................................89
5. AIDS e Direitos Humanos..................................................................................94
6. AIDS e direitos do trabalhador.........................................................................96
7. Os filhos da AIDS.................................................................................................99
8. Comportamento sexual da população brasileira......................................101
9. O Programa Brasileiro de Combate à AIDS................................................104
CAPÍTULO III: MATERIAIS E MÉTODOS ..........................................................109
A PESQUISA............................................................................................................110
1. A pesquisa exploratória e descritiva............................................................112
2. A revisão bibliográfica e documental..........................................................115
3. Questões, hipóteses e objetivos...................................................................117
4. Construção do instrumento de campo........................................................118
5. Critérios de seleção da amostra....................................................................125
5.1 A amostragem não probabilística..........................................................128
5.2 A amostragem acidental ou por conveniência....................................129
5.3 A amostragem intencional ou por julgamento.....................................129
5.4 A amostragem por quotas ou proporcionais........................................130
5.5 A amostragem tipo bola de neve...........................................................131
6. Mesclando técnicas ..........................................................................................132
7. O trabalho de campo ........................................................................................134
24
8. A análise quantitativa.......................................................................................137
9. A analise qualitativa..........................................................................................138
10. Organização e análise dos dados e apresentação dos resultados...140
11. A construção do CD de coleta de dados..................................................140
CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................142
ARTICULANDO DADOS........................................................................................143
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................203
E AS RESPOSTAS.................................................................................................204
GLOSSÁRIO.............................................................................................................209
REFERÊNCIAS........................................................................................................218
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo geral investigar se um grupo de universitários
da cidade de São Paulo tem comportamento sexual de risco em relação ao HIV, qual é o
conhecimento que o grupo tem sobre HIV/AIDS e quais são as suas dúvidas mais freqüentes
sobre o assunto. Além disso, tem como objetivo específico averiguar se o grupo usa a Internet
para esclarecer suas dúvidas, quais as estratégias de busca utiliza e se considera que a
informação obtida é confiável. Trata-se, portanto, de uma pesquisa exploratória e descritiva,
de caráter qualitativo. Como instrumento de campo, construímos um questionário digital de
coleta de dados, aplicado pela pesquisadora, usando um computador portátil tipo notebook a
400 estudantes na entrada de quatro unidades de ensino superior da cidade de São Paulo,
sendo 100 informantes em cada uma e sendo cada unidade em uma região: Norte, Sul, Leste e
Oeste. Além disso, temos ainda o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE-
conforme determina a Resolução do Conselho Nacional de Saúde CNS 196/96. Para processar
e analisar os dados e proceder ao cruzamento das variáveis foram usados procedimentos
quantitativos. Para contextualizar nosso objeto, lançou-se um olhar sobre o panorama
histórico da Comunicação e Saúde que se articula com a orientação metodológica da pesquisa
bibliográfica e documental.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação e Saúde, AIDS, Internet.
26
RESUMEN
Este trabajo tiene como objetivo general investigar si un grupo de universitarios de la
ciudad de São Paulo tiene algún comportamiento sexual de riesgo con relación al VIH, cuál es
el conocimiento que el grupo tiene sobre VIH/SIDA y cuáles son sus dudas más frecuentes
sobre el asunto. Además, tiene como objetivo específico verificar si el grupo usa Internet para
aclarar sus dudas, cuáles estrategias de busca utiliza y si considera que la información que
obtiene es confiable. Se trata, por lo tanto, de una investigación exploratoria y descriptiva, de
carácter cualitativo. Como instrumento de campo, construimos un cuestionario digital de
coleta de datos, y lo aplicó la investigadora misma, usando un ordenador portátil tipo
notebook a 400 estudiantes en la entrada de cuatro unidades de enseñanza superior de la
ciudad de São Paulo, 100 informantes en cada una y cada unidad en una región: Norte, Sur,
Este y Oeste. Además, tenemos también el “Termo de Consentimento Livre e Esclarecido”
TCLE- como determina la Resolución del Consejo Nacional de Salud CNS 196/96. Para
procesar y analizar los datos y proceder al cruce de las variables usamos procedimientos
cuantitativos. Para contextualizar nuestro objeto, pusimos una mirada sobre el panorama
histórico de la Comunicación y Salud que se articula con la orientación metodológica de la
pesquisa bibliográfica y documental.
PALABRAS CLAVE: Comunicación y Salud, SIDA, Internet.
27
ABSTRACT
This research aims to investigate whether a group of university students from São
Paulo city has a dangerous sexual behavior towards HIV, what is the group’s knowledge
about HIV and what are its most frequent doubts about the subject. It has also a specific aim
of investigating the group’s use of Internet in order to solve doubts, its strategies of searching
and faith on the information found. In this perspective, our job is a descriptive and exploratory
research with qualitative character. A digital questionnaire was elaborated and answered on a
notebook by 400 students at the gate of 4 Faculties from North, South, East and West Regions
of São Paulo 100 students each. This research is done completely under the Brazilian Laws,
especially as allowed by CNS 196/96 Resolution of National Health Counselor. In order to
process, analyze data and verify its variants, quantitative proceedings were used. Finally, in
order to contextualize our research, it was done a Health and Communication Historical
panorama that articulates the methodological orientation of the bibliographical and
documental research.
KEY WORDS: Health communication, Aids, Internet.
28
INTRODUÇÃO
29
Evidências acumuladas internacionalmente robustecem a hipótese de
que quanto melhor e mais intensa for a comunicação coletiva sobre as
questões de saúde pública, menor será o dispêndio estatal com a rede
hospitalar e outros recursos de natureza curativa. A informação
adequada, precisa e eficaz pode desempenhar papel eminentemente
preventivo, racionalizando a contabilidade comunitária. Em
contrapartida, a poupança orçamentária pode ser canalizada para
programas de lazer coletivo, preenchendo inteligentemente os
momentos de ócio da infância, adolescência ou dos segmentos da
terceira idade. Pode também ser empregada na reciclagem de recursos
humanos, habilitando os trabalhadores em idade produtiva a
vislumbrar novas oportunidades ocupacionais. Isso influirá na
geração permanente de fontes de renda, favorecendo a estabilidade
sócio-econômica, construindo o cenário de um futuro promissor.
José Marques de Melo (2001, p.18)
A TRAJETÓRIA
O presente trabalho é fruto das pesquisas realizadas sob a orientação do Professor
Doutor Isaac Epstein no Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da
Universidade Metodista de São Paulo, na área de concentração em processos comunicacionais
e na linha de pesquisa de comunicação especializada.
O estímulo para procedermos a esta empreitada reside na constatação de que a
crescente demanda por busca de informação na Internet é um assunto importante e polêmico,
pois ao mesmo tempo em que se pode considerar proveitosa a grande capacidade de
circulação de informações pela rede, também se percebe que, muitas vezes, a veiculação de
informações de fontes não qualificadas pode exercer danos ao cotidiano das pessoas.
Nesse contexto, a Comunicação da Saúde na Internet difere da Comunicação da Saúde
nos demais veículos de divulgação que têm interesse por zelar pela preservação de sua
credibilidade. Como a Internet é um meio rápido e eficiente de busca de informação a custo
reduzido, o conhecimento de informática passou a ser um requisito básico na formação de
profissionais, já que o mercado de trabalho assim exige. Para atender a essa nova necessidade,
as instituições de ensino incluíram em seus currículos disciplinas relacionadas às novas
tecnologias de informação e implementaram laboratórios que permitem ao aluno o acesso à
rede.
30
Dessa forma, um número cada vez maior de estudantes tem acesso aos conteúdos
disponibilizados. Com a presença da epidemia de AIDS no cenário social, proliferaram-se os
sites sobre o assunto na Web.
Nesse cenário, como problemas de pesquisa, definimos as seguintes questões:
a- A Internet se constitui em fonte de informações sobre AIDS para um grupo de
universitários da cidade de São Paulo?
b- A informação obtida na Internet é considerada confiável para o grupo?
c- O grupo se preocupa em identificar a fonte da informação?
d- Quais são os comportamentos de risco que o grupo pratica?
e- Qual é o conhecimento do grupo em relação à AIDS?
f- Quais são as dúvidas sobre AIDS mais freqüentes que se constatou no grupo ?
g- Quais são os portais de busca mais usados pelo grupo?
h- Quais são as palavras-chave mais usadas pelo grupo?
As hipóteses que sustentam nossa investigação e que de acordo com Luna (1998, p.
33), são uma suposição quanto aos possíveis resultados a serem obtidos, referem-se ao
comportamento e ao conhecimento que o grupo de informação tem em relação a AIDS, às
dúvidas mais freqüentes e às estratégias que usa para dirimi-las.
De acordo com vários estudos, dentre os quais destacamos o que foi encomendado
pelo Programa Nacional de DST/AIDS ao IBOPE, disponibilizado no endereço eletrônico
http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/ibope_2003/briefing2.doc, percebe-se que a falta de
conhecimento ou o acesso a informações não confiáveis exerce grande impacto sobre o
comportamento da população em relação à prevenção da infecção pelo HIV.
Por outro lado, no que se refere às informações disponíveis na Web a respeito da
AIDS, percebe-se que são comuns divulgações deturpadas ou que deixam margem para
interpretações errôneas.
Nesse contexto, consideramos que, apesar de ser o pólo irradiador de cultura do país e
de ter uma população universitária considerada bem informada:
a- Uma parcela significativa dos universitários da cidade de São Paulo ainda adota
comportamentos de risco em relação à infecção pelo HIV.
b- Uma parte expressiva de universitários da cidade de São Paulo ainda tem dúvidas e
não tem grande conhecimento sobre HIV/AIDS.
c- Uma fração desse grupo usa a Internet para dirimir suas dúvidas e acredita que a
informação obtida é confiável.
31
Sendo assim, o que pretendemos com este trabalho de pesquisa se corporifica nos
seguintes objetivos:
Objetivo Geral:
Investigar a Internet como fonte de informação sobre AIDS
Objetivos Específicos
Investigar se o grupo de universitários que compõe a amostra tem comportamento
sexual de risco em relação ao HIV;
Investigar qual é o conhecimento que o grupo tem sobre HIV/AIDS;
Identificar as dúvidas mais freqüentes do grupo em relação a HIV/AIDS.
Investigar se a Internet se constitui em fonte de informação sobre AIDS para o
grupo;
Investigar que estratégias de busca de informações que o grupo utiliza;
Investigar se a informação obtida na Internet é considerada confiável pelo grupo.
O presente trabalho de pesquisa se orienta ainda por dois instrumentos de campo. O
primeiro é um questionário digital de coleta de dados, aplicado pela pesquisadora, usando um
computador portátil tipo notebook a estudantes na entrada de quatro instituições de ensino
superior da cidade de São Paulo, sendo uma em cada região: Norte, Sul, Leste e Oeste. O
segundo é o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE conforme determina a
Resolução do Conselho Nacional de Saúde CNS 196/96.
A metodologia usada para a escolha do grupo de informação obedeceu aos princípios
da técnica de amostragem não probabilística. Para processar e analisar os dados e proceder ao
cruzamento das variáveis foram usados procedimentos quantitativos. Para contextualizar
nosso objeto, lançou-se um olhar sobre o panorama histórico da Comunicação e Saúde que se
articula com a orientação metodológica da pesquisa bibliográfica e documental.
As diferentes etapas que orientaram a execução deste trabalho impuseram a adoção de
um planejamento que considerasse os procedimentos adequados a cada uma de suas fases.
Para alcançar nossos objetivos, traçamos o seguinte plano de trabalho que orientou o
desenvolvimento da pesquisa.
32
A escolha da metodologia adequada:
- Revisão bibliográfica;
- Pesquisa exploratória descritiva;
- Pesquisa qualitativa;
- Amostragem não probabilística.
Construção do instrumento de campo:
- questionário
Pré-teste do instrumento de campo em papel:
- Tabulação dos dados;
- Análise da aplicação e dos dados;
- Alterações do questionário.
Levantamento de procedimentos e tecnologias aplicáveis à resolução do problema:
- Questionário digital;
- Criação de um aplicativo (questionário digital);
- Construção de banco de dados;
- Testes da tecnologia (do aplicativo e da geração da planilha de dados).
Pré-teste do questionário digital em campo:
- Análise da aplicação e dos dados;
- Alterações do questionário.
Trabalho de campo.
Aplicação final do questionário.
Geração de planilha de dados.
Análise dos dados e discussão dos resultados:
- Análise quantitativa.
Construção de CD para cruzamento de dados.
Para contextualizar nosso objeto no âmbito do campo da Comunicação, na subárea da
Comunicação e Saúde, no Capítulo I, julgamos oportuno proceder a uma revisão bibliográfica
capaz de fornecer um breve resgate do conhecimento produzido, apresentando as principais
tendências dos estudiosos consagrados nesta linha de pesquisa.
O Capítulo II é dedicado a tecer um panorama sobre a AIDS, a partir de uma revisão
bibliográfica sobre o tema. Esse procedimento se impôs haja vista que, apesar de todo o
33
empenho no sentido de encontrar a cura para a doença, até o momento não se chegou a uma
terapia eficaz e a informação continua sendo a única forma prevenção.
No Capítulo III, trataremos da metodologia que adotamos para orientar nosso trabalho.
Os quadros e as tabelas são usados para descrever os dados explícitos do trabalho e permitir
que, pelas diversas possibilidades de cruzamento das variáveis possamos analisar alguns
dados que afloram desse procedimento.
No Capítulo IV, apresentamos os resultados descritivos, discutindo cada questão do
questionário e apresentando gráficos e tabelas que ilustram a discussão que tecemos.
No Capítulo V, procedemos ao cruzamento de algumas variáveis que julgamos mais
interessantes e as comentamos, tecendo ainda nossas considerações finais.
Para que o leitor possa proceder a outros cruzamentos, disponibilizamos junto a este
trabalho, um CD que permite todas as possibilidades de cruzamentos.
34
CAPÍTULO I: COMUNICAÇÃO E SAÚDE NO BRASIL
Sabemos que as enfermidades transmissíveis são responsáveis,
proporcionalmente, por um quinhão maior dos índices de morbidade e
mortalidade e conseqüentemente custo social nos países emergentes,
do que nos países mais industrializados. Sabemos também que uma
população alfabetizada e informada em saúde sabe lidar melhor em
termos de prevenção e mesmo de cura com muitas das enfermidades
transmissíveis. Só este fato já nos aponta, especificamente, para a
importância da comunicação como fator de melhoria das condições de
saúde nos paises emergentes.
Isaac Epstein (2001, p.162)
O CAMPO DA COMUNICAÇÃO
Para Rabaça
1
e Barbosa
2
(2001, p.155) comunicação é uma palavra derivada do latim
communicare cujo significado é: tornar comum, partilhar, repartir, associar, trocar opiniões,
conferenciar. A comunicação implica participação, interação, troca de mensagens emissão e
recebimento de informações novas. Para os autores (p.156) não existe consenso entre as
inúmeras definições de comunicação, já que a palavra permite diferentes abordagens. Dessa
forma, consideram que “a comunicação é algo que se experimenta em vários campos”.
Nesse sentido, as considerações dos autores acima coincidem, ao menos em parte, com
as de Jensen
3
(2001, p.67) que acredita que novos rumos podem ser descobertos “na interface
do campo com outras disciplinas” já que a Comunicação se vale de “uma variedade de fontes
das Ciências Sociais e das Ciências Humanas” e que a pesquisa comunicacional pode ser
considerada um exemplo típico “de como os estudiosos do século XX se tornaram
freqüentemente interdisciplinares”. Contudo, para Jensen, a comunicação é um campo cuja
consolidação ainda não se estabeleceu.
A polêmica a respeito da consolidação e da conceituação do campo científico da
comunicação é antiga. Porém, ganhou fôlego no século XX. Para Fadul
4
, Rocha Dias
5
&
1
Carlos Alberto Rabaça é Professor e Sociólogo, pós-graduado em Comunicação Institucional pelo Center
Office of Information de Londres.
2
Gustavo Guimarães Barbosa é Professor e Mestre em Comunicação pela UFRJ.
3
Klaus Bruhn Jensen é Professor livre docente do Depto de Estudos de Cinema e Mídia da Universidade de
Copenhagen, Dinamarca.
4
Anamaria Fadul é filosofa e Doutora em Ciências da Comunicação e Professora do Programa de Pós
Graduação em Comunicação da UMESP.
36
Khun
6
(2001, p.113) “nos últimos anos, os debates sobre a comunicação como campo
científico adquiriram importância na comunidade acadêmica, o que traduz, de certa forma, a
preocupação em avaliar o conhecimento acumulado e examinar as perspectivas para os
próximos anos”.
Todas essas discussões a respeito do estatuto científico da comunicação são, contudo,
confluentes e indicam o empenho para compreender o lugar ocupado pela comunicação no
cenário geral das Ciências. Nesse sentido, as reflexões de Newcomb
7
(2001, p.75-6) são
oportunas. Para ele, a metáfora abaixo indica a especificidade da atividade comunicacional:
Algumas áreas são marcadas e cercadas, claramente delimitadas. Algumas
vezes, essas áreas são até mesmo mais severamente restritas, como na
cultura de minha juventude. Os caçadores sabiam que os proprietários de
terra podiam colocar sinais ao longo das fronteiras de suas propriedades,
identificando-os como “avisos”. Isso significava que nenhum caçador podia
cruzar legalmente aquela terra ou poderia fazer isso somente com permissão
especial. (...) Outras áreas do “campo”, entretanto, estão abertas, como um
convite a todos aqueles que quiserem explorá-las mapeá-las e medi-las. Estas
áreas, é claro, estão mais abertas sem os riscos inerentes. Aqueles que aí se
aventurarem devem se defrontar com pântanos ou brejos, atolando-se em
questões sem resposta.
A esse respeito, Marques de Melo
8
(2003, p.33) considera que a comunicação se
constitui em um campo científico legitimado por sua inserção na estrutura acadêmica. Para
ele:
Qualquer campo do conhecimento humano surge como conseqüência de
demandas coletivas. Trata-se da resultante de um processo destinado a
5
Paulo Rocha Dias é jornalista e Doutor em Comunicação Social pela UMESP.
6
Fernando Kuhn é jornalista e Doutor em Comunicação Social pela UMESP.
7
Horace Newcomb é Professor do Programa de Telecomunicações da Faculdade de Henry Grady de Jornalismo
e Comunicação de Massa, da Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos.
8
José Marques de Melo é Jornalista, Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo,
Professor Emérito da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP, Titular da
Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.
37
compreender e controlar os fenômenos sociais emergentes. Começa na base
da sociedade, robustecido pelo senso comum. Amplia-se e desenvolve-se no
interior das organizações profissionais culminando com sua legitimação
cognitiva por parte da academia.
Marques de Melo (2003, p.35) considera ainda que o conceito de campo da
comunicação se enquadra perfeitamente na definição de campo social proposta por Bourdieu,
na qual as atividades sociais se organizam em campos: econômico, cultural, político, etc.
Para Bourdieu
9
(1988, p. 22) todos esses campos sociais exercem suas funções de
maneira reciprocamente dependente, pois compreende a Comunicação como uma disputa em
que a fala dos agentes sociais deve ser compreendida como “uma relação de força simbólica,
que se baseia numa relação de autoridadecrença relativa às condições de produção dos
discursos e, mais precisamente, à estrutura do mercado em que tais discursos são proferidos,
já que afirma que:
(...) a ciência do discurso deve levar em conta as condições de instauração da
comunicação, porque as condições de recepção esperadas fazem parte das
condições de produção. A produção é comandada pela estrutura do mercado
ou, mais precisamente, pela competência (no sentido pleno) na sua relação
com um mercado. (BOURDIEU, 1987, p.161-2)
Contudo, o campo da comunicação difere dos campos bem delimitados da ciência
básica. Os estudos comunicacionais se identificam com as ciências aplicadas “dentre as quais
a medicina, a engenharia e o direito constituem protótipos dotados de maior semelhança” na
visão de Marques de Melo (2001, p.94).
Para Martino
10
, (2001, on-line), apesar do grande volume de publicações sobre
pesquisas em comunicação, os estudos sobre seus fundamentos não ocupam um lugar de
9
Sociólogo francês e catedrático de sociologia no Colége de France. Considerado um dos intelectuais mais
influentes da sua época, elegeu a educação, a cultura, a literatura e a arte como seus objetos de estudo. Dedicou-
se ao estudo dos meios de comunicação e da política. Autor de uma sofisticada teoria dos campos de produção
simbólica, procurou mostrar que as relações de força entre os agentes sociais se apresentam sempre na forma
transfigurada de relações de sentido. Considerava a violência simbólica, outro tema central da sua obra, não
simples instrumento a serviço da classe dominante, mas como algo que é exercido através do jogo entre os
agentes sociais. Pierre Bourdieu morreu em 23 de janeiro de 2002, em Paris, aos 71 anos de idade.
10
Luiz Carlos Martino é Doutor em Sociologia pela Universidade de Sorbonne, na França, membro da
COMPÓS e professor do Departamento de Comunicação da Universidade de Brasília.
38
destaque. Para ele, “é comum encontrarmos, entre os mais renomados pesquisadores desse
campo, apontamentos sobre a fragilidade dos conhecimentos aí gerados”. O autor considera
que “as dificuldades não se limitam apenas à extensa produção sobre a matéria, mas envolvem
ainda a própria organização do conhecimento produzido, de modo que ao problema da
quantidade se sobrepõe o da qualidade da reflexão”.
Miège
11
(2000, p.129) considera que embora tenha alcançado um certo nível de
elaboração que lhe permite apreender a complexidade dos fenômenos que pretende abordar, o
pensamento comunicacional não está unificado. As reflexões de Moragas Spa
12
(1993, p.17)
também apontam nessa direção, pois indicam que a consolidação de um estatuto
epistemológico próprio” à Comunicação “nunca foi, como tampouco é agora, a melhor
condição de nosso objeto”. Para ele, há falta de especificidade da Comunicação enquanto um
saber autônomo, já que os estudos comunicacionais são um conjunto pluridisciplinar em que
vários ramos do conhecimento se aproximam cada qual com seu enfoque particular.
Balle
13
(1992, p.44) acredita que a Comunicação é institucionalizada como saber
científico por deter escolas, cursos, revistas especializadas e sociedades. Todavia, não lhe
atribui o status de ciência, posto que enxerga a Comunicação como um saber que oscila entre
uma arte e uma ciência e compara os estudos a uma “colcha de retalhos”, tamanha é a
profusão de dados e as diferenças nas abordagens que, para ele, constituem um “saber em
mosaico”. O autor indica ainda (p.45) a falta de “um acordo entre os pesquisadores sobre os
contornos do domínio estudado”.
Uma explicação coerente para esta falta de acordo entre os estudiosos é a proposta por
Marques de Melo (1973, p.13). Para ele, ao analisar o fenômeno comunicativo, cada ciência
e corrente filosófica utiliza a sua própria perspectiva, a sua própria terminologia, os seus
conceitos específicos”.
Nesse sentido, Martino (opus cit) parece entender a comunicação como uma palavra
polissêmica, ao dizer que:
A tendência dos pensadores mais cépticos é tomar o termo comunicação (o
qual grafamos em minúsculo) como sinônimo de “fenômeno
comunicacional” e compreender a Comunicação (grafado em maiúsculo)
11
Bernard Miège é Diretor da Universidade de Stendhal, Grenoble, França.
12
Miguel de Moragas i Spá é docente da Facultad de Ciencias de la Comunicación da Universidad Autonoma de
Barcelona e autor de diversas obras sobre Comunicação e Lingüística.
13
Francis Balle é professor na Universidade de Paris e autor de diversas obras sobre mídia.
39
como um campo de estudos, constituído por abordagens heterogêneas,
reunidas sob um único traço comum, a análise dos “fenômenos
comunicacionais”, não obstante toda a diversidade de origens e intenções
dessas abordagens. Já em sua versão mais branda, tende-se a aceitar a idéia
da Comunicação como uma disciplina, ainda que se critique a incapacidade
de se fornecer um objeto de estudo satisfatório.
14
O autor considera ainda necessário um vasto levantamento das diferentes abordagens
dos fenômenos comunicacionais, e essa tarefa hercúlea deve “realizar o inventário da
totalidade de teorias geradas e formular as bases da apreciação da pertinência de determinada
teoria em relação ao domínio da Comunicação”. Para ele, tais estudos devem “explicitar e
analisar criticamente os critérios que nos permitem dizer que tal ou tal teoria ou escola
pertencem ou não pertencem ao campo da Comunicação”.
Marialva Barbosa
15
, (2002, on-line) nos fornece indicações preciosas para a
consideração da comunicação como campo científico legitimado. Em seu trabalho, a autora
faz uma análise do campo da comunicação a partir da conceituação de campo fornecida por
Bourdieu (1988, p.35), que considera que “todo movimento revela a luta concorrencial entre
os atores que transitam na área em função de interesses específicos e inerentes a essa mesma
área”. Para ela, todo campo do conhecimento é um território desigual, dividido entre
dominantes e dominados. Nesse sentido Marialva Barbosa explica que:
O movimento da comunicação enquanto lugar de construção de
conhecimento válido e reconhecido deveria incluir a simbiose de diversas
articulações teóricas dos saberes, a reflexão aprofundada sobre a
contextualização histórica em suas pesquisas tentando integrar passado,
presente e futuro numa ação política e, sobretudo, a certeza de que as
pesquisas realizadas devem ter como meta fundamental a transformação do
mundo em que vivemos. Ou seja, as razões devem ser sempre de natureza
coletiva e nunca individuais. O que está em jogo é a realidade histórica do
mundo e não o caminho individual de cada pesquisador. Só pensando dessa
forma se constrói conhecimento válido e reconhecido, ainda que seja
14
Grifo do autor.
15
A Prof
a
. Dra. Marialva Barbosa é Coordenadora do curso de Mestrado de Comunicação e Informação da
Universidade Federal Fluminense.
40
impossível passar incólume pelas disputas, lutas e práticas muitas vezes
antiéticas deste campo de saber/poder.
Apesar de os pesquisadores ainda terem que se debater com essas questões, parece-nos
oportuno salientar que a comunicação perpassa toda a atividade humana e, sendo assim,
embora os diferentes ramos do conhecimento mantenham com a comunicação uma relação
inter, trans e multidisciplinar não podem, estrictu sensu ser considerados como pertencentes
ao seu campo de atuação nem à sua linha de interesse, já que possuem outros corpus como
objeto de análise e investigação.
Nesse sentido, o posicionamento de Marques de Melo parece coincidir com o de
Marialva Barbosa, já que ele considera que (2002, p.8-10) desde o primeiro paradigma
comunicacional, registrado nas obras aristotélicasPolítica e Retórica o conceito de
comunicação, por interesses evidentes, articula-se com o de política.
Por esse motivo, as designações que teimam em abrigar sob o âmbito da comunicação
um arsenal grande de disciplinas acabam por afastar da Comunicação seu status de ciência e
não traduzem o rigor que devem merecer as diferentes vertentes do saber. Marques de Melo
lembra que embora essa confusão seja freqüente, cada ciência conserva sua autonomia
orgânica, já que:
Talvez por essa estreita relação estrutural que existe entre a Comunicação e a
Política é que essa confusão se estabeleça com tanta freqüência no meio
acadêmico, já que a política é intrínseca não só às ciências como a todo o
fazer humano. A própria história das ciências, nos diferentes ramos do
conhecimento e mesmo a constituição dos meios de comunicação de massa
evidenciam esse contexto. (MARQUES DE MELO, 1985, p.11).
Nesse sentido, um esforço que se percebe para lançar uma nova luz sobre tal
problemática foi empreendido pela Revista Comunicação e Sociedade. Na edição de número
36, um dossiê coordenado pela Professora Anamaria Fadul, se constitui numa contribuição
para o aprofundamento do debate, principalmente pelo plano proposto que, considerando a
Comunicação como um campo científico, sugere ainda a localização das suas diversas
subáreas, dentre as quais a da Comunicação e Saúde (2001, p.116), assim compreendida:
41
1. Campo científico
2. Epistemologia da comunicação
3. Métodos de pesquisa em comunicação
4. Campo da comunicação
5. Grandes áreas da comunicação
5.1 Comunicação massiva
5.2 Comunicação interpessoal
5.3 Comunicação organizacional
6. Sub áreas da comunicação
6.1 História da comunicação e da mídia
6.2 Comunicação política
6.3Comunicação internacional
6.4 Comunicação para o desenvolvimento
6.5 Economia da Comunicação
6.6 Ética na comunicação
6.7 Política e regulação da comunicação
6.8 Educação para a mídia
6.9 Estudos feministas da comunicação
6.10 Comunicação e saúde
6.11 Novas tecnologias da comunicação
1. A comunicação enquanto ciência: uma discussão antiga
Aqui, consideramos oportuno, um olhar sobre o conceito de campo da Comunicação e
sobre as bases históricas do surgimento da subárea da Comunicação e Saúde.
Para Gobbi
16
(2002, p.26) “a discussão sobre o campo da comunicação enquanto
ciência é antiga”. Para ela, “caminhando entre o status de ciência ou como um campo de
intersecção de vários saberes, o mote da comunicação social tem dividido opiniões”.
Neste trabalho, não nos aventuramos a um resgate histórico detalhado a respeito do
conceito de campo da comunicação por dois motivos. O primeiro deles é que essa discussão
seria um trabalho de tão grande envergadura que nos desviaria dos objetivos deste trabalho. O
segundo é que consideramos que estudiosos que nos antecederam em seus trabalhos e que se
debruçaram com afinco sobre a questão já forneceram um robusto referencial para estudos
futuros nesse sentido. Exemplos disso não faltam e mesmo temendo cometer injustiças,
citamos os trabalhos de José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi, Anamaria Fadul,
16
Maria Cristina Gobbi é Matemática Doutora e Mestre em Comunicação Social pela UMESP Universidade
Metodista de São Paulo. Diretora Suplente da Cátedra UNESCO-UMESP, responsável pelo desenvolvimento do
Acervo do Pensamento Comunicacional Latino-Americano José Marques de Melo. Coordenadora dos Projetos
Experimentais do curso de Jornalismo, Professora do curso de Jornalismo e dos cursos Lato-Sensu UMESP,
Professora da FAENAC Faculdade Editora Nacional. Editora responsável pelo JBCC - Jornal Brasileiro de
Ciências da Comunicação e do Anuário UNESCO-UMESP.
42
Margarida Kunsh, Maria Immacolata Vassallo de Lopes, e Marialva Barbosa, no Brasil; José
Carlos Lozano Redón, Raúl Fuentes Navarro, Guilhermo Orozco, Enrique Sánchez Ruiz, no
México; Horace Newcomb, nos Estados Unidos; Klaus Bruhn Jensen, na Dinamarca; Jesus
Martín Barbero, na Colômbia; Armand Mattelard, no Chile; Miguel de Moragas i Spa e
Manuel Martín Serrano, na Espanha e Luis Ramiro Beltrán, na Bolívia. Estes, dentre outros,
legaram um quadro histórico que permite o resgate da memória a respeito do conhecimento
acumulado sobre o tema.
Apesar disso, consideramos também que se desprezássemos completamente essa
discussão nos faltaria a contextualização necessária para a compreensão mais ampla de nossa
tarefa. Sendo assim, lançamos um breve olhar sobre posicionamentos pontuais a respeito
desta problemática que se refere à própria autonomia científica dos estudos de comunicação,
apenas para melhor situar a Comunicação e Saúde, que consideramos uma subárea do campo
científico da Comunicação, a exemplo de Fadul, Rocha Dias & Khun (2001, p.116).
2. Bases históricas do conceito de comunicação e saúde
Para Ujvari
17
(2003, p.21), o povo grego acreditava que as doenças eram enviadas pelo
deus Apolo. Sendo assim, nada mais natural que recorrer a um mito para curá-la. Dessa
forma, inicia-se, no século VI a.C., o culto a Asclépio, que herda de Quíron o conhecimento
sobre o poder das plantas medicinais. De acordo com o autor (p.22), ainda no século VI a.C.,
na costa da atual Turquia, a cidade grega de Mileto se destaca como pólo irradiador da
cultura. Ali surgem os primeiros grandes pensadores que se esforçam para compreender e
interpretar a natureza, desvinculando-se dos mitos e das crenças. Entre esses estudiosos,
destaca-se a figura de Tales que influencia os demais pensadores de sua época com suas
observações alicerçadas sobre a razão.
As bases desse modo de pensar, apoiado na razão, são perpetuadas por estudiosos
como Pitágoras, Anaximandro, Anaxímenes, Parmênides, Empédocles, entre outros. Nesse
cenário, floresceu a filosofia grega que forneceu o ambiente propício para que, no século V
a.C., Hipócrates de Cós formule suas teorias.
17
Stefan Cunha Ujvari é médico infectologista, membro do corpo clínico do Hospital Carlos Chagas e do
Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Graduado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São
Paulo UNIFESP, Pós-graduado em Infectologia.
43
Historicamente, o mais antigo conceito de Comunicação e Saúde é um legado de
Hipócrates de Cós (460-377 a. C), considerado o pai da Medicina, por ter sido o primeiro a
estabelecer a relação entre saúde, doença e as influências do meio ambiente. De acordo com
Scliar
18
(2001, p.24-5), a obra, o Corpus hipocraticus, não foi escrita somente por Hipócrates,
mas também por outros médicos que o sucederam, em épocas distintas. Nessa obra, é
enfatizada a importância da observação empírica e a doença é considerada como um
desequilíbrio dos quatro humores do organismo: sangue, linfa, bile amarela e bile negra ou
atrabile. O organismo seria sadio quando esses quatro humores estivessem harmonizados. Daí
as expressões “mal-humor” e “bom-humor”.
Para Ujvari (2003, p.23), na proposta de tratamento do modelo hipocrático, o médico
apenas auxiliaria a natureza a cuidar do paciente, instruindo-o sobre uma dieta adequada,
orientando-o à prática de exercícios e banhos e ao uso de substâncias que eliminassem os
maus-humores pelo vômito ou diarréia.
Hipócrates foi quem primeiro usou a palavra epidemia para denominar doenças que
afetavam a população. Naquela época, os habitantes da cidade eram chamados de endemos e
os que ali não residiam, mas somente permaneciam por um curto período e partiam eram
conhecidos como epidemos. Com base nessa analogia, Hipócrates usou a palavra epidemia
para designar as doenças infecciosas de aparecimento súbito, porque percebeu que elas
vinham de outra região e iam embora. As idéias de Hipócrates influenciaram toda a
consolidação das ciências médicas e prevaleceram durante séculos.
De acordo com Scliar (2002, p.51-2), no Século XVII, na Alemanha, surge o conceito
de polícia sanitária, uma forma de intervenção do Estado sobre a conduta da população em
relação à alimentação, higiene e prevenção de doenças. Para o autor, esse conceito surge em
1779, com os trabalhos de Johan Peter Frank, de maneira não aleatória, quando afirma:
Este conceito não surge por acaso nessa época e nesse país. Ele resulta de
uma doutrina de governo fortemente centralizadora, que correspondia às
necessidades da política econômica e da forma de administração nos estados
alemães no final do século XVII, e no século XVIII. Na Alemanha, de então,
à diferença da Inglaterra e da França, o progresso econômico, social e
político fez-se de forma lenta, sem tender para o liberalismo, como naqueles
18
Moacir Jaime Scliar é médico, especialista em saúde pública, Doutor em Ciências, escritor, divulgador
científico e memb ro da Academia Brasileira de Letras.
44
países: o objetivo da administração pública é Gute Ordnung und Polizei. A
ordem é a condição essencial para o bem-estar dos súditos do imperador e
dos príncipes locais (SCLIAR, 2002, p. 51).
A industrialização teve como conseqüência a concentração cada vez maior da
população nas cidades e a demanda por mão-de-obra barata obrigou mulheres e crianças ao
trabalho em condições miseráveis nas fábricas. Isso forçou o Estado a intervir mais
fortemente na saúde pública que se tornou uma questão político-econômica.
Para Beltrán
19
(2001, p.355), os primeiros indícios da construção de um conceito de
Comunicação e Saúde remontam à 1
a
metade do século XIX, entre os anos de 1820 e 1840,
quando os médicos Willian Alison, escocês, e Louis René Villermé, francês, estabeleceram as
relações causais entre doença e condições sócio-econômicas e culturais da população. Esses
médicos consideraram que as precárias condições de vida e trabalho dos operários eram
responsáveis tanto pelas enfermidades que os acometiam como pela baixa expectativa de vida
registrada entre eles. O autor considera que, no posicionamento desses médicos está implícita
a origem do conceito de Comunicação e Saúde, uma vez que privilegiavam a comunicação
como ferramenta de promoção da saúde.
Outra personagem de destaque neste contexto é Florence Nightingale
20
, que entrou
para a história como mãe da enfermagem moderna pois, durante a Guerra da Criméia
promoveu uma verdadeira revolução no hospital militar do exército inglês, na Turquia, em
1854, transformando a tradicional prática da enfermagem e introduzindo mudanças
qualitativas na prestação de cuidados de saúde dos soldados, melhorando as condições
sanitárias e de higiene e implementando medidas que contribuíram para proporcionar mais
qualidade de vida aos doentes em períodos de convalescença.
O trabalho rigoroso da dedicada enfermeira e o sucesso das medidas que adotou,
levaram-na a criar, em 1860, no St. Thomas Hospital, em Londres, a primeira escola de
enfermagem que se tornou modelo inspirador do ensino da profissão no Ocidente. Por esse
motivo é considerada por Rodrigues (2001, p.78), como um marco no surgimento da
comunicação humanística com cuidados em saúde.
19
Conselheiro Regional em Comunicação e Professor da Universidade John Hopkins, na Bolívia, membro da
Geração de Pioneiros da Escola Latino-Americana de Comunicação ELACOM.
20
Florence Nightingale nasceu em 1820, em Florença,na Itália e morreu em 13 de agosto de 1910,em Londres,
na Inglaterra. Foi uma enfermeira britânica que ficou famosa por ser pioneira no tratamento a feridos de guerra,
durante a Guerra da Criméia.
45
Atualmente, percebe-se que os preceitos de Florence Nightingale quanto à importância
da Comunicação e Saúde são ainda levados em conta pelos profissionais da área da saúde.
Exemplo disso é a afirmação de Zinn et al, do Hospital Universitário de Ribeirão Preto, da
Universidade de São Paulo USP (2003, p.327), “é necessário um processo de interação entre
quem cuida e quem é cuidado, é necessária troca de informações e de sentimentos entre essas
pessoas”.
Ainda conforme Beltrán (2001, p.356) em 1848, na Alemanha, sob o conturbado clima
político que assolava a Europa, forja-se um movimento de reforma da medicina que proclama
a crença de que a saúde do povo é responsabilidade de toda a sociedade, e não só da medicina.
Por isso, passa a ser, ao menos teoricamente, dever do Estado assegurá-la. Essa convicção se
apoiou na afirmação do médico Rudolf Virchow
21
, que atribuiu a epidemia de febre tifóide, de
1847, à pobreza e à falta de acesso à informação para a adoção de hábitos saudáveis a que era
relegada a maioria da população. Assim, a saúde pública passa a ser assunto da competência
de toda a sociedade e dever do Estado. Para Virchow, as condições sócioeconômicas têm
impacto direto sobre a saúde e seus efeitos merecem tratamento científico e medidas médicas
e sociais devem ser adotadas para a promover a saúde e prevenir doenças. Esse é um
posicionamento inovador para a época.
Evidentemente, esses preceitos só começaram a merecer atenção recentemente. Porém,
em 1940, o médico Henry Sigerist
22
analisou-os criticamente e afirmou que a promoção da
saúde e a prevenção de doenças devem coordenar esforços de médicos, educadores,
industriais e trabalhadores. Suas idéias não encontraram respaldo no meio social. Contudo, a
OMS adotou o conceito de que “a saúde é um bem-estar físico, mental e social e não
simplesmente a ausência de enfermidades” (BELTRÁN, 2001, p.357).
De acordo com a ABRASCO Associação Brasileira de Pós-graduação em Saúde
Coletiva (2002, on-line), a fim de estabelecer estratégias para a América Latina, a OMS, em
janeiro de 1902, realizou, no México, uma Convenção Geral de representantes dos
organismos sanitários das repúblicas americanas para deliberar sobre a notificação de
enfermidades e intercâmbio de informação. Essa reunião levou à criação da Oficina Sanitária
Pan-americana. Em janeiro de 1947, em Caracas, foi aprovada sua transformação em
21
Médico e ativista político ligado às lutas pela melhoria das condições de vida e saúde da população de sua
época.
22
Médico francês, formado na Suíça e radicado nos Estados Unidos. Catedrático da Universidade John Hopkins
e da Universidade de Yale, consagrado como o maior historiador da medicina de todos os tempos.
46
Organização Sanitária Pan-americana. Embora o nome só tenha sido alterado em 1947, a
Oficina Sanitária foi o embrião da atual Organização Pan-americana de Saúde OPAS/OMS,
que ganha prestígio, conforme manifesta Carlyle Guerra de Macedo Diretor emérito da
OPAS/Brasil:
A 12
a
Conferência encarregou o novo Comitê Executivo da elaboração de
um projeto para ser discutido e aprovado na primeira reunião de seu
Conselho Diretor. A proposta foi preparada em abril e aprovada em
setembro. Na mesma reunião o Conselho Diretor aprovou um aumento de
150% nas contribuições dos países membros e, adicionalmente, vários
governos decidiram fazer contribuições voluntárias extraordinárias. Em 1948
o orçamento da OPAS saltou de US$ 100 mil, aproximadamente, para US$
1,3 milhão. Como resultado, a 1
a
. Assembléia Mundial de Saúde (1948) teve
que reconhecer a impossibilidade de a OMS absorver a OPAS, conduzindo
ao acordo de cooperação entre as duas organizações (maio de 1949).
Em 1947, o governo do Canadá adotou o enfoque de promoção da saúde por meio da
educação e da recreação, enfatizando uma postura preventiva sobre a curativa e já indicando,
embora de forma ainda primária, a Comunicação como caminho estratégico pois, já àquela
época, privilegiava a orientação e o esclarecimento da população em relação à adoção de
procedimentos e hábitos saudáveis como uma necessidade indispensável para a viabilização e
gerência de assuntos relativos à saúde pública, sempre tão onerosa ao Estado.
Em 1978, contudo, esta necessidade de instrumentalização da Comunicação e Saúde já
começa a se delinear com maior clareza, uma vez que o posicionamento preventivo tomou
maior fôlego com o documento conhecido como Declaração de Alma-Ata
23
, fruto da Reunião
da União Soviética, onde representantes de 134 países reunidos sob os auspícios da UNICEF
e da OMS, concordaram que “o povo tem o direito e o dever de participar individual e
coletivamente no planejamento de políticas de saúde”. Era a adoção da Comunicação como
estratégia de popularização das informações sobre saúde para as grandes massas.
Em 1979, os Estados Unidos adotaram a prevenção das enfermidades como principal
forma de manutenção da saúde da população, reforçando a convicção de que a Comunicação é
23
A primeira Conferência Internacional sobre Atenção Primaria de Saúde em Alma-Ata, Kazaquistão, em 1978,
convocou 134 países e 67 organizações internacionais. A conferência definiu e outorgou reconhecimento
internacional ao conceito de "atenção primária de saúde" como estratégia para alcançar a meta de Saúde para
Todos no ano 2000.
47
uma ferramenta de divulgação indispensável para alcançar os objetivos de programas de ação
governamental em Saúde e que, além disso, condicionam sua execução e eficácia.
No início da década de 1980, contudo, registram-se dois fatos que robustecem a
interface Comunicação e Saúde: o combate às drogas nos Estados Unidos e o advento da
AIDS no mundo são exemplos disso. No que se refere à AIDS, o Professor Tufte
24
(2003, on-
line) afirmou em artigo apresentado na 11ª Conferência da FELAFACS, Porto Rico, 4-8 de
outubro de 2003, acreditar que estratégias comunicacionais podem ajudar a deter a epidemia
e, certamente, podem desacelerar seu alastramento. Nesse sentido, Singhal & Rogers (2003,
p.388-9) afirmam que “o que é realmente necessário para mudar o mundo é uma integração
das descobertas biomédicas de base científica com intervenções e defesas baseadas na ciência
da comunicação”.
3. Comunicação e saúde no Brasil
Em nosso país, muito da história do uso da Comunicação para a promoção da saúde da
população se perdeu, impossibilitando um melhor aproveitamento da experiência brasileira
neste campo. Porto & Ponte (2003, p.726) consideram essa situação com pesar, já que nesse
material, muitas vezes, estão presentes diversas representações sobre as doenças a serem
combatidas; os ambientes onde os procedimentos de prevenção e cura eram postos em prática;
os veículos e as estratégias de convencimento e comunicação de massa, bem como o
conhecimento e as crenças que se tinha a respeito das doenças e dos recursos usados para
combatê-las. Para os autores:
Tal fato deve-se, entre outras razões, à ausência no âmbito da administração
pública, de uma política efetiva de arquivos que oriente e estimule a
preservação criteriosa de acervos e a sistematização de informações,
propiciando a perda de registros relevantes e agravando os problemas
decorrentes do elevado grau de dispersão das fontes primárias disponíveis
sobre o tema.
Por esse motivo, resgatar acontecimentos pontuais sobre a Comunicação e Saúde no
Brasil se torna uma tarefa árdua. Contudo, como a Fiocruz Fundação Oswaldo Cruz mantém
24
Thomas Tufte é Professor Associado no Departamento de Filme e Estudos de Mídia na Universidade de
Copenhague, na Dinamarca.
48
registros a respeito das campanhas de vacinação de massa em nosso país, percebe-se que o
conceito de Comunicação e Saúde se desenvolveu entre nós a partir das primeiras tentativas
de vacinação da população no território nacional.
No Brasil, o uso da comunicação como ferramenta para os profissionais de saúde,
parece ter realmente se robustecido a partir de 1960. Todavia, o uso do instrumental da
comunicação para a promoção da saúde remonta à década de 1920, quando os primeiros
passos nesse sentido foram dados.
No início do século XX, as ações que aliavam Comunicação e Saúde para a promoção
de ações sanitárias e de saúde pública eram pautadas por práticas coercitivas e repressivas,
baseadas no modelo sanitarista de inspiração militar. Uma boa ilustração dessa situação é o
episódio conhecido como a Revolta da Vacina, que entrou para a história da Comunicação e
Saúde como um movimento popular que ocorreu em 1904, no Rio de Janeiro, contra a
vacinação obrigatória de combate à varíola determinada pelo governo.
De acordo com Chiozzini
25
, naquela época, o Rio de Janeiro era a maior cidade do
país, mas não dispunha de saneamento básico e isso deixava seus 720 mil habitantes
vulneráveis a epidemias de febre amarela, varíola e outras doenças, sendo a população pobre a
principal vítima dessas moléstias. O presidente Rodrigues Alves apóia os planos do então
prefeito Pereira Passos para a urbanizar a cidade e nomeia Osvaldo Cruz para comandar o
Departamento Nacional de Saúde Pública e promover a reforma sanitária. Porém, como não
houve comunicação entre o governo e a população, o povo não entende o teor dessas medidas
e reage a elas. A remoção dos moradores dos cortiços e morros para outros bairros provoca
grande tensão social.
Chiozzini afirma ainda que, apesar disso, a lei que torna a vacina contra a varíola
obrigatória é aprovada pelo Congresso Nacional em 31 de outubro de 1904. Em 5 de
novembro, nasce a Liga Contra a Vacina Obrigatória e, em 10 de novembro, iniciam-se os
confrontos entre populares e policiais. No dia 14, os cadetes da Escola Militar da Praia
Vermelha rebelam-se contra o Governo Federal, que ordena o bombardeio dos morros do
bairro da Saúde, reduto da insurreição. Em 16 de novembro, Rodrigues Alves revoga a Lei da
Vacina Obrigatória. No dia seguinte, a polícia ocupa o bairro da Saúde com o apoio do
Exército e da Marinha e acaba com a revolta.
25
Daniel Ferraz Chiozzini é Graduado em História, Mestre pela Faculdade de Educação da Unicamp e
pesquisador da Equipe do Labjor.
49
Depois desse impacto provocado pela obrigatoriedade da vacina, as ações sanitárias
passam a agregar princípios de comunicação e o esclarecimento e a persuasão são adotadas
para superar as resistências da população. Essa inclusão de fundamentos comunicacionais a
medidas de saúde pública pode ser constatada em 1920, durante a Reforma Carlos Chagas
26
,
que aliou técnicas comunicacionais de propaganda nas atividades sanitárias da campanha.
Em 1925, em São Paulo, ocorre a Reforma Paula Souza
27
, privilegiando os aspectos
comunicacionais, uma vez que usava a persuasão do indivíduo, como instrumento para a
formação de uma consciência sanitária. Criou-se o Centro de Saúde
28
como espaço de prática,
no qual se ministravam palestras e se usava até a projeção de fitas cinematográficas para
educar a população pobre sobre os “preceitos da boa higiene, da boa nutrição e da boa
dietética” (RIBEIRO, 1993, p.259). Para esse autor (p.246):
(...) o eixo dessa nova orientação deslocou-se do policiamento para a
educação e as ações sanitárias transferiram-se da população em geral para o
indivíduo em particular. Com isso, na prática sanitária, o policiar as coisas,
26
Carlos Chagas (1878-1934) não foi autor somente da descoberta da doença de Chagas, foi o precursor da
medicina social no Brasil e um inovador nas pesquisas protozoológica e biológica nos campos da saúde pública e
da administração hospitalar. Com o uso da queima de piretro, produto sulfúreo que elimina o mosquito causador
da malária, Chagas iniciou a desinfecção domiciliar, originando o DDT que tornou possível a eliminação da
malária em muitas regiões do mundo, descoberta reconhecida em 1923, em Roma. Ao descobrir o Trypanosoma
cruzi, Chagas detectou um outro protozoário denominado Pneumocystis carinii, alojado nos pulmões dos
pequenos macacos. Estava aí a protodescoberta da causa da Aids (isso em 1909!), pois o pneumocystis carinii
produz uma pneumonia de células plasmáticas intersticiais, analisa Chagas Filho, tornando-se parasito
significativo no organismo ao promover a síndrome de imunodeficiência adquirida produzida pelo vírus HIV.
Como diretor do Instituto Oswaldo Cruz (191734) concluiu o hospital da entidade, destinado à internação de
casos de doenças infecto-contagiosas e para lá levou os maiores nomes médico-científicos do país. Chagas foi o
primeiro brasileiro a ser distinguido com o título Honoris Causa, concedido pela Harvard University, em 1921.
Em 1925, recebeu em Manguinhos a visita de Albert Einstein. Recebeu distinções em reconhecimento ao seu
trabalho científico-social também da rainha Elisabeth, da Inglaterra, e do rei Alberto, da Bélgica. Foi responsável
pelo debelamento da gripe espanhola que matou milhares de brasileiros, chegada ao país em 1918 a bordo do
navio britânico S. S. Demerara. Responsável pela Reforma Carlos Chagas empreendida quando na direção do
Departamento Nacional de Saúde Pública. Com apoio da Fundação Rockfeller, criou a Escola de Enfermagem
Anna Nery, em 1925; mas antes, desde 1916, o cientista havia inaugurado, com o governo brasileiro, os
primeiros postos de profilaxia rural em diversas regiões do país.
27
Para Nunes (2000 p. 260) a Reforma Paula Souza estabelece um novo modelo de atuação - a ação educativa
que expõe de forma mais clara, a ideologia e o autoritarismo da prática sanitária. Escamoteando as diferenças de
classe, reduzindo-as a diferenças educacionais, lança no campo da saúde pública a nova personagem, a
educadora sanitária.
28
De acordo com Nilson do Rosário Costa, que pesquisou a história do controle sanitário do Brasil, na
conjuntura Carlos Chagas, a partir de 1923, sob influência da Saúde Pública norte-americana, foram criados os
primeiros centros de saúde no Brasil, organizados a partir do trabalho assistencial da enfermeira visitadora que
impunha rotina ao trabalho de visitas a serviço de uma rede básica. O primeiro Centro de Saúde brasileiro foi
implantado no Rio de Janeiro, em Inhaúma. Note bem que os centros de saúde, diferente das campanhas,
passaram a constituir uma estrutura assistencial básica permanente.
50
habitação, água, esgoto, lixo, o vigiar a cidade ganhava um novo aliado a
persuasão do indivíduo, o uso das palavras para forjar no indivíduo a
consciência sanitária, a prática sanitária definiu-se como policiar e persuadir.
Segundo Rocha
29
(2003, p.796), nas décadas de 1920 e 1930, o rádio e o cinema
começam a ser usados na propaganda política. Na área da saúde, percebe-se o uso da
propaganda para influenciar o comportamento da população e ajustar as pessoas a normas e
prioridades definidas pelos programas de prevenção oficiais, aliando as crendices e
superstições ao conhecimento sobre transmissão de doenças. Para ela:
São, da mesma forma, reconhecidas e abordadas as lideranças locais, os
veículos de comunicação existentes, as igrejas e escolas. Os planos de ação
incluem estratégias de persuasão com a finalidade de 'levar' os indivíduos a
cumprirem as recomendações estabelecidas pelas autoridades sanitárias.
No início da década de 1940, a Comunicação com a finalidade de prevenir doenças
pelo ensinamento de hábitos de higiene, é uma preocupação que se intensifica. É quando
surgem as primeiras instituições federais voltadas exclusivamente para a saúde pública e para
o controle das endemias rurais. A autora considera ainda que na década de 1950, a função dos
especialistas era difundir, (ROCHA, 2003, p.797) “de maneira persuasiva, novas tecnologias e
produtos para receptores supostamente passivos”. Com o tempo, o conceito de comunicação
foi ampliado e passou a considerar o diálogo e a participação. Para ela, a década de 1970
assiste à adequação da linguagem à população-alvo, o que confere maior eficácia aos
procedimentos de comunicação e saúde que objetivam a modificação de comportamentos
individuais e coletivos e a incorporação de hábitos e práticas de promoção e manutenção da
saúde.
Em 1973, a informação e mobilização das comunidades intentavam assegurar a adesão
da população aos programas oficiais e, a partir da segunda metade da década de 1970, o
discurso oficial incluiu a participação comunitária. É assim que a VIII Conferência Nacional
de Saúde, em 1986, o do diretor da OPAS Organização Pan-Americana de Saúde, Carlyle
Macedo em seu discurso Saúde nas Américas, perspectivas para o ano 2000, afirma que é
29
Maria Cristina Vieira da Rocha é Coordenadora de Vigilância à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde de
Alagoas.
51
necessária: “a participação efetiva: o estabelecimento de mecanismos que permitam que todas
as pessoas interessadas, em todos os níveis, possam demonstrar, de alguma maneira, suas
necessidades e sua percepção de como essas necessidades devem ser satisfeitas”.
Nesse cenário, acontecem as grandes campanhas de vacinação em massa contra a
epidemia de poliomielite, que incluiu em suas equipes de trabalho profissionais da área da
comunicação, representantes de instituições diversas, bem como de organizações e grupos da
comunidade. A área de comunicação foi incumbida de promover estratégias específicas para
sensibilizar pais e responsáveis por menores de cinco anos e a formar representantes
comunitários entre os grupos religiosos, associações de classe, sindicatos, etc.
Foi instituído o Dia Nacional de Vacinação que, no Brasil, ajudou a consolidar uma
cultura de Comunicação e Saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, no documento A
marca de um compromisso, da Divisão Técnica de Divulgação: “fazer a mobilização nacional
para a vacinação maciça da população, é uma atividade que veio a se tornar prática comum
nos anos que se seguiram”.
Dessa forma, as campanhas de vacinação de massa se constituem em marco
importante na evolução do conceito de Comunicação e Saúde. Tanto é que em 1994, o Brasil
recebeu da Organização Mundial de Saúde o certificado de Erradicação da Poliomielite. O
País foi o primeiro no mundo a implementar o Dia Nacional de Vacinação, conforme sugestão
do Dr. Albert Sabin, criador da vacina contra a poliomielite.
De acordo com o Manual para Campanhas de Vacinação, do Ministério da Saúde de
1988, em maio de 1985, a OPAS evocou a união de esforços visando à erradicação do
poliovírus, até 1990, afirmando: “é inaceitável que qualquer criança das Américas sofra de
poliomielite”. Isso acarretou mudanças significativas no campo da Comunicação e Saúde,
pois o Ministério da Saúde, já em 1986, considerava vantajosa “a manutenção da unidade das
atividades de comunicação ao longo de todo o tempo que perdurar o plano”.
Nesse sentido, vale lembrar a figura do Zé Gotinha que se firma como sinônimo de
vacina e como símbolo de prevenção das doenças evitáveis por vacinação. Para a escolha do
nome do boneco foi promovido um concurso nacional entre os escolares de todo o país, o que
de acordo com o Ministério da Saúde, ainda no documento Manual para campanhas de
vacinação, de 1988:
(...) além de popularizar o símbolo, foi uma oportunidade para promover
uma mobilização nacional e uma participação mais efetiva em torno do tema
52
vacinação. Na divulgação do evento foi usado, como peça básica, um filme
que contava a história do nascimento do boneco, personalizando-o.
Durante o Dia Nordestino de Vacinação, o boneco ganhou um chapéu característico
que o identificava com o cangaceiro. Isso promoveu a aproximação com a cultura popular e
abarcou, além da vacinação, outras ações de saúde, como o uso do soro caseiro e o
aleitamento materno.
A partir do sucesso dessa iniciativa, em 1987, a comunicação para a promoção da
saúde adota a postura de resgatar formas de comunicação populares com oficinas de técnicas
alternativas e artesanais, passa a capacitar pessoas das comunidades para a produção de
material de divulgação, usando teatro de bonecos, literatura de cordel e repentistas.
Na segunda edição do Dia Nacional de Vacinação, em 1990, ficou claro que além do
avanço conseguido no sentido de erradicar a poliomielite, foi possível recuperar os índices
para as demais vacinas, tanto assim que, em 1990, as coberturas evoluíram para percentuais
em torno de 90%.
A estratégia comunicacional adotada nas campanhas de vacinação é usada até hoje e
os esforços para a eliminação do sarampo, com campanhas em 1991 e 1995, a vacinação de
maiores de sessenta anos contra a gripe, a eliminação dos criadouros do mosquito causador da
Dengue e o aleitamento materno são bons exemplos disso. Para Rocha (2003, p.803), nesse
sentido, “o Brasil é exemplo e modelo para outros países. Técnicos brasileiros são convidados
a prestar cooperação na montagem de estratégias de vacinação e mobilização de
comunidades”. A autora considera ainda que (p.804):
Não se pode deixar de reconhecer que a comunicação, como fator essencial
para a transformação da realidade, tem sido colocada, quase sempre, como
reprodutora de ordens com intenção de levar os interlocutores a seguirem
condutas 'corretas': Vacine seu filho!; Elimine criadouros de mosquitos!;
Beba água limpa!; Não tome banho de rio! e Faça o exame preventivo do
colo do útero! Na maior parte das vezes, no entanto, sem oferecer a
contrapartida necessária para que a prática pretendida se concretize.
53
4. Comunicação e saúde na mídia brasileira
No Brasil, a partir de 1923, o rádio passa imediatamente a ser um veiculo de
comunicação de grande penetração e começa a ser largamente usado como ferramenta de
Comunicação e Saúde.
Passa a ser comum a difusão de palestras e conferências educativas que eram o carro-
chefe do veículo fundado no Brasil pelo pioneiro Roquete Pinto
30
, conforme Assumpção
(2003, on-line). Com relação a esse fato, Chagas de Carvalho (1989, p.78-9) observa que:
A formação de hábitos saudáveis era objeto de atenções especiais. A saúde
não era somente um dos temas preferidos das preleções cívicas nas
festividades, como também objeto de celebração em inúmeras competições
esportivas oferecidas em espetáculos como modelos exemplares de
comportamento. O esporte e a vida saudável simbolizavam a energia, o
vigor, a força, a operosidade, signos de progresso inscritos no corpo que
conhece o movimento adequado e útil para cada ato. Preceitos de higiene
eram divulgados em palestras e folhetos ou constituídos, ainda, pelo
incentivo à organização de Pelotões de Saúde, em preceitos cívicos de bom
comportamento.
Nesta mesma perspectiva, Dângelo (1994, p.41), a respeito das rádios educativas no
período compreendido entre 1920 e 1940, afirma:
A institucionalização dos efeitos moralizantes preconizados pela Escola
Nova, encontraram eco com a criação de órgão específico no Manifesto da
Educação e Saúde, que se utilizava todos os meios de comunicação que a
30
Conforme Moreira & Massarani (2000, p. 634-5), Edgar Roquete Pinto nasceu em 1884, no Rio de Janeiro,
graduou-se em Medicina na Universidade do Brasil. Em 1907, foi convidado por Cândido da Silva Rondon para
participar da Missão Rondon, cujo objetivo era promover a integração do território brasileiro. O Projeto Rondon
consistia em levar as linhas de telégrafo por todo o interior do Brasil, até suas fronteiras, isso lhe permitiu
aprofundar os conhecimentos sobre a vida e a cultura indígena e a desenvolver seu conhecimento em
antropologia, do qual o livro Rondônia, 1917, é considerado uma notável contribuição aos estudos etnográficos.
A Roquete Pinto se deve a iniciativa brasileira no domínio da rádio-difusão. Interessado pelas experiências
estrangeiras de comunicação à distância pelas ondas de rádio, instalou o primeiro equipamento no Brasil,
fundando a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, mais tarde Rádio Ministério da Educação. Em 1932, fundou a
Revista Nacional de Educação e dirigiu o Instituto Nacional do Cinema Educativo. Em 1928, foi eleito para a
Academia Brasileira de Letras. Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Academia
Brasileira de Ciências. Criou também uma emissora de rádio educativo, desta vez para a Prefeitura do então
Distrito Federal, com o nome de Rádio Escola Municipal que ficou conhecida como Rádio Roquete Pinto.
Faleceu em 1954, no Rio de Janeiro.
54
técnica moderna apontava, para levar às massas os conhecimentos e as
informações, que lhes proporcionassem melhores condições de vida.
No panorama desenvolvimentista que pautou os anos 50 e 60, consolidou-se em
Comunicação e Saúde, a abordagem comunicacional característica daquele período e que
ficou conhecida como comunicação para o desenvolvimento. Paulo Freire
31
(1975, p.22)
considera que:
(...) Isso se contrapõe à busca de uma educação libertadora, o que impede a
sobreposição de um saber sobre outro. (...) essa ação extensionista envolve,
qualquer que seja o setor em que se realize, a necessidade que sentem
aqueles que a fazem, de ir até a outra parte do mundo, considerada inferior,
para à sua maneira, normalizá-la.
Contudo, tais concepções, mesmo hoje, parecem, às vezes, hegemônicas no campo da
Comunicação e Saúde, já que se constatam freqüentemente práticas que não têm outra
intenção a não ser a de modificar o comportamento do indivíduo através da mera intimidação,
pois não esclarecem a respeito do problema que se propõem a resolver. Ainda no enfoque de
Freire (1975, p.69), para que as estratégias de Comunicação e Saúde atinjam seus objetivos é
preciso considerar que a educação não é a transferência de saber, mas um encontro de
sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados” e que “a educação é
comunicação, é diálogo”.
Freire, em sua época, já considerou a necessidade de repensar o enfoque dominante
das práticas de Comunicação e Saúde, pois entendeu comunicação como um processo de troca
simbólica, lugar de uma mensagem e de uma resposta, no qual os papéis de falante e ouvinte
31
Paulo Freire nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. É considerado um dos grandes pedagogos da
atualidade e respeitado mundialmente. Suas primeiras experiências educacionais foram realizadas em 1962 em
Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Participou
ativamente do Movimento de Cultura Popular, do Recife. Suas atividades são interrompidas com o golpe militar
de 1964, que determinou sua prisão. Exila-se por 14 anos no Chile e posteriormente vive como cidadão do
mundo. Com sua participação, o Chile, recebe uma distinção da UNESCO, por ser um dos países que mais
contribuíram à época, para a superação do analfabetismo. Retornando do exílio, continua suas atividades de
escritor e debatedor, assume cargos em universidades e ocupa o cargo de Secretario Municipal de Educação da
Prefeitura de São Paulo, na gestão da Prefeita Luisa Erundina, do PT. De sua vasta obra, destacam-se: Educação
como Prática de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné Bissau, Vivendo e Aprendendo, A
importância do ato de ler.
55
são intercambiáveis. Para Cyrino
32
& Cyrino
33
(1997, p.159), “as produções simbólicas se
assumem enquanto tal, seja remetendo a um processo permanente de interlocução,
envolvendo os interlocutores numa constante interação simbólica” ou divulgando “de modo
explícito e transparente, uma dada postura ideológica no campo da saúde”.
Nos anos 80, no Brasil, o resgate do estado democrático se reflete no setor da saúde
com a reforma sanitária e com a legitimação constitucional do direito social à saúde. Esse
novo contexto impõe novas necessidades para os domínios da Comunicação e Saúde, pois o
SUS Sistema Único de Saúde tem uma estrutura que permite, até certo ponto, a participação
da sociedade. A esse respeito, Cyrino & Cyrino (1997, p.160) consideram que:
Neste contexto passa-se a valorizar o direito à informação como condição
básica para o exercício pleno da cidadania e a buscar práticas e meios
adequados a sua difusão. Mas ao identificar-se a necessidade de não só
tornar a informação disponível mas compreensível pela maior parcela
possível da população, há uma aproximação da área de informação com os
campos da comunicação e da educação em saúde.
Essa aproximação entre a Comunicação e a Saúde facilita a interlocução entre o
serviço público de saúde e a população. Contudo essa interloução se articula sobre o eixo da
informação para o controle social, enfatizando a disseminação das informações e os meios
usados para sua produção e difusão. Para Cyrino & Cyrino (1997, p.160), é oportuno ponderar
que este eixo não é tão limitante se for observado como passo inicial para a interação entre o
serviço público de saúde e os usuários e não como um fim em si mesmo. Além disso, vale
lembrar também que as produções desse período apontam para perspectivas comuns de
desafios trazidos a diferentes áreas do saber, como a Saúde e a Comunicação que, juntas,
incorporam um viés mais antropológico em suas rotinas, o que evidencia a predisposição para
entender o cidadão.
32
Antonio Pithon Cyrino é Prof. Dda UNESP - Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu e
Coordenador de Com. e Difusão do Projeto UNI-Botucatu. http://www.interface.org.br/revista1/artigo4.pdf
33
Eliana Goldfarb Cyrino é Professora do Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de
Botucatu - UNESP. http://www.interface.org.br/revista1/artigo4.pdf.
56
5. Fontes de informação em comunicação e saúde
A constatação de que a Comunicação se articula com as demais áreas do saber como
um campo científico reconhecido e legitimado se verifica pela existência de Programas de
Pós-Graduação, publicações científicas, associações nacionais e internacionais, promoção de
simpósios e eventos de grande amplitude.
A importância da divulgação científica na área da saúde vem reforçando a
consolidação da subárea Comunicação da Saúde. Para Silva Pintos, do Uruguai, a relação
entre Comunicação e Saúde vem se firmando paulatinamente nos últimos anos; profissionais
destes campos reconheceram e provam que a articulação entre Comunicação e Saúde se
constitui em ferramenta que afeta de maneira direta a saúde e, em um sentido mais amplo, a
qualidade de vida dos indivíduos, das famílias e das sociedades. Conforme afirma a autora
(2000, p.122):
La Communicación para Salud (o Communicación y Salud) refiere no solo a la
difusión y análisis de la información actividad comúnmente denominada
periodismo científico o periodismo especializado em salud -, sino que refiere
también a la produción y aplicación de estratégias comunicacionales masivas y
comunitárias orientadas a la prevención, protección sanitária y a la promoción
de estilos de vida saludables, así como al diseño e implemento de políticas de
salud y educación más globales.
34
Ao lado dessa conscientização de que a comunicação constitui-se como ferramenta
estratégica para a obtenção de sucesso das políticas de saúde pública, tanto no que se refere à
adoção de práticas de manutenção da saúde como as de cura de doenças, a sociedade foi se
articulando e forjando os instrumentos, na tentativa de assegurar que as informações
referentes à saúde tivessem maior penetração junto à população, já que os gastos com saúde
são vultosos para os governos, planos de saúde e para a população, em geral.
Apesar de tão antiga, somente nos últimos vinte anos a interface Comunicação e Saúde
começou a configurar um novo campo interdisciplinar não apenas de práticas, mas também de
34
A Comunicação para a Saúde (ou Comunicação e Saúde) se refere não só à difusão e análise da
informação atividade comumente denominada periodismo científico ou periodismo especializado em
saúde -, mas se refere também à produção e aplicação de estratégias comunicacionais massivas e
comunitárias orientadas para a prevenção, proteção sanitária e à promoção de estilos de vida
saudáveis, assim como ao planejamento e implementação de políticas de saúde e educação mais
globais. (Tradução nossa)
57
produção sistemática de conhecimentos. Na configuração e consolidação desse novo campo
do saber, os cursos de pós-graduação em nível de Mestrado e Doutorado tanto em Ciências
Médicas como em Comunicação, e as diversas publicações sobre o assunto têm exercido um
papel de extrema importância, pois fortalecem e legitimam não só a existência do campo
como produtor de conhecimento, como também se constituem em valiosas ferramentas
disponíveis para que novas investigações avancem.
Para Beltrán, é indispensável o diálogo entre povos e governos, especialistas e leigos e
entre países pobres e ricos para a promoção da saúde. Esse é um compromisso que deve ser
articulado pelos comunicadores que, utilizando-se de diversas estratégias e de múltiplos
meios, interpessoais e massivos, estejam cientes de que os públicos-alvos compõem um
espectro amplo e que demanda dos comunicadores a segmentação. O estudioso acredita que
(2001, p.363) “em principio, la promoción aspira a llegar a toda a población, pero tiene que
hacerlo dirigindóse, em varias formas y en distintos grados, a diversas sub-audiencias com
distintos propósitos específicos”.
35
Nesse sentido, vale lembrar que está arraigado no projeto de atualização histórica do
Grupo Comunicacional de São Bernardo do Campo
36
, a preocupação com o intercâmbio
acadêmico entre os campos da comunicação e da saúde no interior da Universidade Metodista
de São Paulo. Em 1978, instalou-se o Curso de Mestrado em Comunicação Social, cujo
prestígio alcançado fortaleceu a pesquisa em ciências da comunicação, o que implementou,
em 1995, a criação do Curso de Doutorado em Comunicação Social e a instalação, em 1996,
da Cátedra UNESCOUMESP de Comunicação para o Desenvolvimento Regional.
(MARQUES DE MELO, 1999, p. 161-78).
A partir daí, foram se articulando grupos de estudos segmentados. A experiência
acumulada em um desses grupos, que orientado pelo Prof. Dr. Isaac Epstein, dedicava-se aos
temas relativos à comunicação e saúde, fez com que essa temática se transformasse em linha
de pesquisa que já produziu uma série de dissertações e teses cuja relação se encontra nos
ANEXOS e demonstra a produção em comunicação e saúde do Grupo de São Bernardo.
O trabalho desse núcleo de estudos sobre comunicação e saúde determinou a inclusão
de uma Conferência Brasileira de Comunicação e Saúde no calendário anual da Cátedra
35
Em princípio, a promoção aspira chegar a toda a população, pois tem que fazê-lo dirigindo-se, de várias
formas e em graus diferentes, a diversas sub audiências com distintos propósitos específicos. (Tradução nossa)
36
O Grupo Comunicacional de São Bernardo do Campo é constituído pelos pesquisadores atuantes no Programa
de Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e pelos mestres e doutores ali formados que atuam nas
diferentes regiões do Brasil e desenvolvem pesquisas e projetos de ensino em comunicação social.
58
UNESCO–UMESP. Este evento ficou sob a liderança do Professor Isaac Epstein que, aliando
esforços com os mestrandos, doutorandos e demais professores do PósCom, possibilitou que a
Cátedra UNESCOUMESP promovesse a I COMSAÚDE Conferência Brasileira de
Comunicação e Saúde, em 1998.
A II COMSAÚDE/1999 espelhou a preocupação da Cátedra UNESCOUMESP em
interiorizar a discussão a respeito dos temas ligados à saúde e em parceria firmada com a FAI
Faculdades Adamantinenses Integradas aconteceu na cidade de Adamantina, interior de
São Paulo. O sucesso do evento motivou a realização do III COMSAÚDE/2000 também nas
dependências da FAI.
A partir daí, o grupo se firmou academicamente por discutir temas que envolvem
questões de interesse destes dois campos do conhecimento e por se constituir em uma
oportunidade de reflexão a respeito de aspectos da comunicação e saúde, nos níveis da teoria
e da prática, contribuindo para o desenvolvimento de políticas e o implemento de práticas de
saúde voltadas para o interesse da sociedade. Nesse espírito de contribuir para a discussão, o
convite para sediar o IV COMSAÚDE/2001 veio da FAESA Faculdades Associadas do
Espírito Santo.
Os encontros dos dois anos subseqüentes, V COMSAÚDE/2002 e VI
COMSAÚDE/2003 se repetiram na UMESP.
O VII COMSAÚDE/2004 aconteceu na cidade de Olinda, Pernambuco, Brasil, na sede
da AESO Associação de Ensino Superior de Olinda e levou a discussão da Comunicação
para a promoção da saúde para o Nordeste do Brasil.
O VIII COMSAÚDE/2005 aconteceu na UNISINOS Universidade do Vale do Rio
dos Sinos, na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. No espírito que marca a
atuação do COMSAÚDE, esta edição se realizou no Sul do país, reforçando a intenção de
integrar a discussão entre estudiosos e instituições de vários pontos do país.
O resultado desses encontros reúne um total de mais de 240 trabalhos. Na tabela
abaixo, listamos os temas dos encontros e destacamos os trabalhos sobre AIDS apresentados:
Tabela 1 - trabalhos sobre Comunicação e Saúde (tema AIDS) apresentados nos
COMSAÚDE
I COMSAÚDE/1998 Mídia e Saúde Pública (UMESP-SBC)
Não foram apresentados trabalhos relacionados ao tema aids.
II COMSAÚDE/1999 Comunicação e Saúde Comunitária (FAI-Adamantina-SP)
Saúde reprodutiva nos jornais brasileiros.
Olinda do Carmo Luiz é Mestre em
59
Medicina Preventiva e Assessora Técnica da CCR Comissão de Cidadania e Reprodução
III COMSAÚDE/2000 Comunicação e Promoção da Saúde (FAI-Adamantina-SP)
- Radialistas contra a Aids: humor e cultura popular na prevenção das DST/HIV Aids
experiência do Ceará. Ranulfo Cardoso Júnior, médico e assess
or de Saúde Sexual e
Reprodutiva e Prevenção de DST/Aids da Secretaria do Estado da Saúde do Ceará.
- Aids: ainda dá tempo de se prevenir
, Lucila Masayo Kose e Aline Diniz de Carvalho,
graduadas em Comunicação Social pela FAESA, que tiveram realizaram o tr
abalho sob a
orientação da Profa. Iluska Coutinho, Doutora EM Comunicação Social pela UMESP.
Discursos Alternativos: ONG´s, Educação e Aids. Sônia Pimenta,
Doutoranda em Metodologia
do Ensino pela UNICAMP, Mestre em Metodologia do Ensino pela UNICAMP, Pr
ofessora da
Universidade Paulista UNIP.
IV COMSAÚDE/2001 Comunicação p/ a Saúde da Família (FAESA-Vitória-ES)
- Comunicação e modos de compreensão: a recepção da Aids pela literatura de cordel
.
Antonio Fausto Neto, Professor titular do Programa de Pós-
Graduação do Centro de Ciências da
Comunicação da Universidade do Vale dos Sinos
UNISINOS. Pesquisador do CNPq. Autor
de diversos livros na área de comunicação e AIDS.
- A divulgação de informações sobre Aids na imprensa. Sônia Aparecida Cabestré, Dou
tora em
Educação pela UNESP
Universidade Estadual Paulista e docente dos Cursos de Graduação e
Pós-Graduação da USC Universidade Sagrado Coração, em Bauru.
V COMSAÚDE/2002 Saúde Pública na Agenda Midiática (UMESP-SBC)
- Possibilidades de Utilização dos Princípios de Gestão da Qualidade nas Ações de
Prevenção à Aids. Sônia Aparecida Cabestré, Doutora em Educação pela UNESP
Universidade Estadual Paulista e docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação da USC
Universidade Sagrado Coração, em Bauru.
- Pastoral da Família e AIDS: comunicação, saúde e conscientização, José Trasferetti,
Padre,
Doutor em Teologia Moral, é Professor da PUC-Campinas,
Luiz Dezotti, André Luiz Fávero e
Sandro de Souza Portela são pesquisadores da PUC Campinas.
VI COMSAÚDE/2003 Mídia, Mediação e Medicalização (UMESP-SBC)
- Campanha de prevenção à aids e comunidades interpretativas: um estudo de recepção sob
a ótica cultural. Maria Inês Amarante, Mestre em Comunicação Social pela UMESP
Universidade Metodista de São Paulo, Especialista em Comunicação pela USF
SEPAC,
Licenciada em Letras pela ULB
Universidade Livre de Bruxelas; Radialista e
radiodramaturga.
- Comunicação a favor da vida: Casa de Recuperação Pró-vida
, João Carissimi e Ane Vanessa
Gardi. João Carissimi é Mestre em Relações Públicas pela UNIVALE
Universidade do Vale
do Itajaí, Santa Catarina. Ane Vanessa Gardi é Graduada em Relações Públicas também pela
UNIVALE.
VII COMSAÚDE/2004 Mídia, Saúde e Alimentação (AESO-Olinda-PE)
- “Aids é coisa séria!” Humor e Saúde: Análise de cartuns sobre Aids,
Carlos César Leal
Xavier. Pesquisador da Fiocruz
VIII COMSAÚDE/2005 Mídia Saúde e Trabalho (UNISINOS-São Leopoldo-
RS) Nesta edição
do Comsaúde não houve trabalhos dedicados ao tema AIDS.
60
Estas oito edições das COMSAÚDE já acumularam um vasto material, resultado de
pesquisas empreendidas por estudiosos brasileiros e estrangeiros e que podem ser consultadas
nos registros dos eventos, disponíveis na Cátedra UNESCO-UMESP de Comunicação para o
Desenvolvimento Regional.
Essa contribuição da Cátedra UNESCO-UMESP em fomentar o debate acadêmico em
torno dos temas oriundos da subárea da comunicação e saúde é um esforço no sentido de
atender à demanda pelo crescente interesse do grande público pela informação científica
provinda da área da saúde dos quais os cadernos e as editorias segmentadas dos veículos de
maior penetração são um exemplo corriqueiro e a criação de programas de especialização e de
projetos que articulam essas duas grandes áreas são uma realidade no terreno acadêmico,
conforme bem expõe Silva Pintos (2000, p.121).
Embora esta não seja a preocupação deste trabalho, já que outros pesquisadores já de
debruçaram sobre o assunto, dentre os quais destacamos a figura de Arquimedes Pessoni
37
,
que em 2005 empreendeu uma pesquisa que inventariou a produção da área, para ilustrar
nossa afirmação, procedemos à localização dos trabalhos que consideramos pontuais,
com a intenção de identificar as principais fontes de informações na subárea da
Comunicação para a Saúde. Os resultados obtidos foram os seguintes:
SITES
Scientific Electronic Library On-line - SciELO é uma biblioteca eletrônica que
abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. É resultado
projeto de pesquisa da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo, em parceria com a BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de
Informação em Ciências da Saúde, com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Tem por objetivo o desenvolvimento de
uma metodologia comum para a preparação, armazenamento, disseminação e avaliação
da produção científica em formato eletrônico.
37
Arquimedes Pessoni é jornalista, formado UMESP Universidade Metodista de São Paulo, onde também se
tornou Mestre e Doutor em Comunicação e Saúde. É repórter-redator na Assessoria de Imprensa da Prefeitura
de Santo André, assessor de comunicação da Fundação do ABC, mantenedora da Faculdade de Medicina do
ABC, membro do Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC e membro do Conselho
Editorial do jornal Diário do Grande ABC. É professor dos cursos de Jornalismo e Relações Públicas do
UniFIAMFAAM (SP).
61
Association of Health Care Journalists, associação de jornalistas especializados em
cobrir o tema saúde. Patrocina pesquisas e publicações e informa sobre notícias,
recursos e novos equipamentos. http://www.ahcj.umn.edu/
Health Communication Around the World, site oficial da Health Communication
Division of the Nacional Communication Association: centro de referência de Health
Communication, é mantido pela Pardue University e disponibiliza informações sobre
cursos e resultados de pesquisas; Softwares de auxílio ao trabalho do pesquisador;
nomes de pesquisadores de Health Communication, nos EUA, com linha de pesquisa,
endereço de contato e relação de publicações de cada um; mantém um jornal on-line.
http://www.sla.pardue.edu/healthcomm?News.html
Journal of Health Communication, distribuído por Taylor & Francis Group, desde
abril de 2001, articulado com a George Washington University Center for
International Health, veicula informações das áreas médica e comunicacional.
Apresenta as novidades no campo da Health Communication, publica resultados de
pesquisas, progressos tecnológicos, resenhas de livros e promove o debate e a discussão
sobre ética e políticas de saúde pública.
http://www.journalofhealthcommunication.com/
SciPICH Science Panel on Interactive Communication and Health, US
Department of Health and Human Services. Informa sobre problemas potenciais, dá
dicas de publicações, veicula artigos de interesse geral e mantém links.
www.health.gov.scipich
Projeto Radix Biblioteca Virtual de Estudos da Comunicação e Saúde. Reúne
informações sobre grupos de pesquisa, projetos em andamento, congressos nacionais e
internacionais, clipping de livros e notícias de revistas científicas, teses, dissertações,
fórum, indicação de bibliografia e artigos. http://projetoradix.org
Portal da Comunicação em Saúde: aborda a comunicação para a saúde, jornalismo em
saúde, traz artigos, bibliografia, conceitos, fontes, links e informações sobre pesquisas
em andamento. http://www.comunicasaude.com.br/fontestemas.htm
62
Centro de Informação Científica e Tecnológica Departamento de Comunicação e
Saúde da Fundação Osvaldo Cruz: disponibiliza trabalhos, produz vídeos de
comunicação e saúde, mantém cursos de especialização, projetos e pesquisas.
http://www.fiocruz.br
Oboré Projetos Especiais, Comunicações e Artes: desenvolve projetos de
Comunicação e Saúde, divulga informações, promove e encontros e seminários.
http://obore.com
Saúde e vida on-line: mantido pelo Núcleo de Informática Biomédica, da Unicamp, é
fonte de informação sobre comunicação e saúde. http://www.nib.unicamp.br/svol/
Biblioteca do Hospital Virtual: disponibiliza uma lista de links de acesso a endereços
com informações sobre comunicação e saúde.
http://www.hospvirt.org.br/port/biblioteca.htm
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diálogo. São Paulo, Lemos Editorial, 1996.
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CAPÍTULO II: AIDS
70
A epidemia de Aids trouxe uma nova luz sobre o conceito de cidadania e
tem possibilitado maiores reflexões e análises sobre a participação social, o
papel do Estado enquanto provedor e a participação da sociedade
organizada como agente do Controle Social. (...) A aids é uma doença
revolucionária, como dizia Herbert de Souza, por recolocar na agenda da
sociedade uma série de problemas vitais que durante muito tempo se quis
ignorá-los ao invés de desafiá-los. O surgimento e o crescimento da
epidemia têm potencializado uma oportunidade muito valiosa de reflexão
sobre a possibilidade de diferentes ciências atuarem sobre a mesma
realidade, complementando-se mutuamente, construindo alternativas de
enfrentamento.
Liandro Lindner (2003, p.37).
A DOENÇA
De acordo com a CNT-AIDS
38
, a AIDS é uma doença que se manifesta após a
infecção do organismo humano pelo Vírus da Imunodeficiência Humana, mais conhecido
como HIV. Esta sigla é proveniente do inglês - Human Immunodeficiency Virus. A sigla
AIDS provém do termo Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em português quer dizer
Síndrome da Imunodeficiência Adquirida.
Síndrome é um conjunto de sinais e sintomas que, considerados em conjunto,
caracterizam uma doença. Imunodeficiência é a incapacidade do organismo humano para se
proteger contra microorganismos como vírus, bactérias, etc. Adquirida significa que não
nasceu com o indivíduo, mas que é resultado de algum fator externo ao corpo. No caso da
AIDS, esse fator externo é o vírus HIV. Em outras palavras, significa que a infecção pelo
vírus HIV torna o corpo incapaz de se proteger contra microorganismos.
Quando o vírus HIV se instala, ataca os linfócitos, que são as células responsáveis pela
defesa do organismo. Isso faz com que o corpo fique sem ter como se defender das outras
infecções e doenças. Como o organismo está sem defesas, surgem as doenças
oportunistas, que receberam este nome porque aparecem quando o corpo está sem condições
de enfrentá-las.
Os sintomas da AIDS variam de pessoa para pessoa. Contudo, normalmente, os
sintomas iniciais são febre persistente, calafrios, dor de cabeça, dor de garganta, dores
38
Coordenação Nacional de AIDS
71
musculares, manchas na pele, gânglios ou ínguas embaixo do braço, no pescoço ou na virilha
e que podem levar muito tempo para desaparecer. Como esses sintomas são comuns a muitas
outras doenças, é comum que o doente os confunda com um mal passageiro e não tome
providências rapidamente.
O avanço da doença vai comprometendo o sistema imunológico e doenças como
a tuberculose, a pneumonia, alguns tipos de câncer, candidíase, toxoplasmose, meningites,
etc, se instalam.
O contágio pelo vírus HIV pode acontecer pelo contato com o sangue, o sêmen, a
secreção vaginal e o leite materno da pessoa infectada e as formas mais comuns de contágio
são o sexo vaginal, anal e oral sem camisinha, o uso da mesma seringa ou agulha por mais de
uma pessoa, a transfusão de sangue contaminado, o uso de instrumentos furam ou cortam e
que não estejam esterilizados. Além disso, a mãe infectada pode passar o HIV para o filho
durante a gravidez, na hora do parto e na amamentação.
A forma de prevenção pelo contato sexual é o uso do preservativo que, usado
corretamente tem eficácia estimada em 90-95% na prevenção da transmissão do HIV.
A forma de prevenção pelo usuário de droga injetável (UDI) é não fazer o
compartilhamento de seringas e agulhas.
A forma de prevenção da transmissão de mãe para filho é o teste de AIDS que toda
mulher grávida deve fazer durante a gestação, pois se for constatado que a mãe é soropositiva,
ela receberá tratamento para não transmitir o vírus ao bebê durante a gravidez e para que, na
hora do parto, a transmissão do HIV seja evitada. Como a transmissão vertical (de mãe para
filho) pode ocorrer na amamentação, o leite da mãe deve ser substituído.
O contágio por transfusão de sangue, atualmente, é um risco que, embora ainda exista,
é cada vez mais remoto graças às práticas preventivas adotadas pelos bancos de sangue.
1. A definição de caso de AIDS
No contexto de uma epidemia globalizada, a questão da definição clínica de caso de
AIDS é importantíssima para o desenvolvimento e implementação de medidas de vigilância,
para o controle epidemiológico e para que as pessoas que convivem com o HIV/AIDS possam
ter os seus direitos legais assegurados. Por isso, a definição clínica de caso de AIDS tem
passado constantemente por revisões nos últimos vinte e cinco anos, não só no Brasil, mas em
72
vários pontos do mundo. Em parte, essas constantes revisões decorrem também do progresso
que vai se acumulando no conhecimento da doença.
De acordo com o Boletim Epidemiológico AIDS 2003, o primeiro antecedente do
atual critério de definição de caso de AIDS surgiu em 1981, logo depois da identificação dos
primeiros relatos de casos de pneumonia por Pneumocystis carinii, sarcoma de Kaposi e de
outras infecções oportunistas nos EUA, os CDC Centers for Disease Control and
Prevention, dos Estados Unidos desenvolveram um processo de vigilância que exerceu grande
influência no cenário internacional e serviu como referência para vários países, como o Brasil.
Em 1982, os CDC criaram a primeira definição de caso de AIDS no mundo, baseada
exclusivamente na presença de infecções oportunistas. Em 1982 também foram relatados os
primeiros casos de AIDS em crianças. Essa primeira definição, contudo, foi modificada em
1985, quando foi adotada uma relação de vinte condições oportunistas. Essa segunda
definição foi endossada pela OMS. Em face às variações individuais dos casos de AIDS, em
1986, adotou-se um sistema de identificação da infecção pelo HIV em adultos, baseado em
dados de categorias clínicas. Em 1987, o mesmo sistema baseado em dados de categorias
clínicas foi adotado também para crianças. Observando-se as lacunas desses critérios, em
1987, incorporaram-se as condições de tuberculose extrapulmonar, demência ou encefalopatia
pelo HIV e síndrome de emaciação ou wasting syndrome. Isso fez com que se registrasse um
aumento de cerca de 25% no número de casos notificados nos EUA. Esse critério de definição
foi avaliado e aceito pela OMS em 1988. Até então, a definição de caso nos países europeus
era idêntica à norte-americana.
A revisão de 1992, relativa somente a adolescentes e adultos, foi implementada em
1993, nos Estados Unidos, e incluiu as condições de câncer cervical invasivo, pneumonia
bacteriana recorrente e tuberculose pulmonar, mantendo as demais vinte e três condições
clínicas anteriores, e incluindo o exame laboratorial de contagem de linfócitos TCD4+. A
adoção desse novo critério aumentou em 111% o número de casos comparados com o ano de
1992, excedendo a estimativa de aumento esperada de 75%. Foi então que a Europa
estabeleceu um critério diferente de definição de caso, ao não incluir os exames laboratoriais
entre seus critérios.
Em 1994, os Estados Unidos promoveram a revisão do sistema de classificação da
infecção pelo HIV em crianças menores de 13 anos de idade, incorporando uma classificação
que refletia o estágio da doença com categorias de classificação. Em 1995, a Europa
promoveu a revisão da definição de caso de AIDS em crianças, baseada na revisão de casos
dos CDC de 1987, incorporando a revisão do sistema de classificação da infecção.
73
No Brasil, a vigilância epidemiológica da AIDS se faz usando como referência a
notificação universal dos casos na fase mais avançada da infecção pelo HIV, incluída na
relação de doenças e agravos de notificação compulsória, em 22 de dezembro de 1986, pela
Portaria n
o
542 do Ministério da Saúde. Como aconteceu em outras partes do mundo, a
definição de caso de AIDS, com fins epidemiológicos, no Brasil, passou pela proposição,
implantação e redefinição de diferentes critérios, tanto para crianças com menos de treze anos,
como para pessoas acima dessa faixa etária. Todas essas revisões de critérios para a definição
de casos de AIDS objetivaram a adequação à realidade brasileira.
Ainda de acordo com o Boletim Epidemiológico AIDS 2003, no Brasil, a primeira
definição de caso de AIDS em crianças é de 1988, considerou como crianças os menores de
quinze anos e adotou os critérios clínicos de definição de caso de AIDS e o sistema de
classificação da infecção pelo HIV em crianças estabelecidos pelos CDC. Em 1994, essa
definição foi revista e se restringiu aos menores de treze anos que apresentavam evidência
laboratorial da infecção pelo HIV além de dois outros critérios fundamentais: o Critério CDC
Modificado e o Critério de Confirmação por Sinais. Para o estabelecimento de evidência
sorológica, definiu-se como idade de referência vinte e quatro meses. A definição dos sinais e
sintomas foi estabelecida em reunião de especialistas coordenada pelo Programa Nacional de
DST/AIDS que foi realizada em Outubro de 1993.
Em 1999 aconteceu outra revisão na definição de caso em menores de treze anos,
mantendo-se os critérios anteriores, acrescidos do diagnóstico laboratorial. Nessa revisão,
incorporou-se o critério de contagem de linfócitos TCD4+.
Para a definição de caso de AIDS, com fins epidemiológicos, vários critérios foram
propostos, implantados e redefinidos no Brasil, tanto para indivíduos com treze anos ou mais
quanto para indivíduos com menos de treze anos de idade. Todas essas revisões visaram a
adequação à realidade brasileira do SUS e ao desenvolvimento tecnológico.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de AIDS ano XVII, vol I de 2003, a
definição atual de caso de AIDS, no Brasil, entrou em vigor em janeiro de 2004 e foi o
resultado de reuniões realizadas em 2003 das quais participaram o Comitê Assessor de
Epidemiologia do Programa Nacional de DST/AIDS, técnicos do programa e representantes
da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), da Sociedade Brasileira de Doenças
Sexualmente Transmissíveis (SBDST), da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), da
Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Federação Brasileira das Sociedades de
Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Considerando o conhecimento acumulado desde
1986, a atual definição de caso de AIDS é imposta pela necessidade de simplificação dos
74
critérios, sem prejuízo à sua especificidade e em consonância com os padrões internacionais.
Pelo critério atual, definiu-se que a evidência laboratorial da infecção pelo HIV é estabelecida
pela presença de dois testes de triagem ou de um confirmatório reagente. Os principais
critérios, para fins de vigilância epidemiológica, foram revistos, mantendo-se dois:
Critério Rio de Janeiro/Caracas, caracterizado pela evidência
laboratorial e por um somatório de pelo menos dez pontos numa
escala de sinais, sintomas ou doenças, independente da presença
de outras causas de imunodeficiência.
Critério CDC Adaptado, Definido pela evidência laboratorial
associada à contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 350
células/mm3 e/ou clínica: pelo menos uma doença indicativa de
AIDS, independentemente da presença de outras causas de
imunodeficiência.
Ainda conforme o Boletim Epidemiológico AIDS 2004, a definição de caso de AIDS,
em crianças com menos de treze anos ficou estabelecida nos critérios de evidência laboratorial
de infecção pelo HIV por meio da detecção de anticorpos, para fins de vigilância
epidemiológica, modificou-se a idade de referência, passando de vinte e quatro para dezoito
meses de idade. Essa mudança permitiu o ajuste com a idade limite estabelecida pelo
Consenso de Terapia Antiretroviral em Crianças. Assim, para as crianças com dezoito meses
ou mais de idade, expostas ao HIV por transmissão vertical, ou para aquelas de qualquer
idade, cuja exposição ao HIV tenha sido outra forma de transmissão que não a vertical, segue-
se o mesmo critério descrito anteriormente para indivíduos com treze anos de idade ou mais.
Estabeleceu-se ainda que para as crianças menores de 18 meses de idade, expostas ao HIV por
transmissão vertical, a infecção é configurada quando houver a presença de RNA ou DNA
viral detectável acima de 1000 cópias/ml em duas amostras (testes de carga viral) obtidas em
momentos diferentes. Apesar da possibilidade da realização desses testes após duas semanas
de vida, o Ministério da Saúde manteve a orientação de que as amostras testadas sejam
coletadas após o segundo mês de vida, em virtude do aumento da sensibilidade observado a
partir dessa idade.
Dessa forma, os critérios CDC Modificado e CD4 passaram a compor um só critério, o
Critério CDC Adaptado. Além disso, excluiu-se o Critério de Confirmação por Sinais que foi
75
incorporado às diferentes categorias da classificação clínica e define as infecções
oportunistas. O novo critério representa uma adaptação brasileira das categorias da
classificação clínica dos CDC14: caráter leve, moderado ou grave, respectivamente A, B e C,
definidoras de imunodeficiência, assegurando a comparação internacional. Para a definição de
caso, além da evidência laboratorial da infecção pelo HIV, passam a ser necessárias duas
situações clínicas consideradas leves ou uma situação de caráter moderado ou grave.
2. As formas de transmissão
O item 5 da Resolução INSS/DC nº 089 (on-line), trata das formas de transmissão do
vírus HIV, identificando-as como: sexual, sangüínea e perinatal e afirmando que pode ocorrer
ainda a transmissão ocupacional. De acordo com o documento:
- A transmissão sexual é a forma mais comum de transmissão do HIV, sendo que a
transmissão heterossexual em relações sem o uso de preservativo, a mais freqüente de acordo
com a OMS. Na África sub-Saariana, onde se concentram, aproximadamente, 70% dos casos,
esta é a forma de transmissão mais freqüente. Os fatores que aumentam o risco de transmissão
do HIV na relação heterossexual são: viremia elevada ou presença de imunodeficiência
avançada no indivíduo infectante, relação anal receptiva, relação sexual durante a
menstruação e a ocorrência de outra DST.
- A transmissão sangüínea pode estar associada ao uso de drogas injetáveis, que se
constitui uma forma altamente arriscada de transmissão do HIV pelo uso compartilhado de
agulhas e seringas. A transmissão por transfusão de sangue e hemoderivados tem diminuído
nos países que adotaram medidas de controle de qualidade do sangue, como é o caso do
Brasil. O uso de seringas e agulhas não descartáveis e não esterilizadas foi responsável por
muitos casos de AIDS no mundo.
- A transmissão perinatal decorre da exposição da criança ao vírus HIV durante a
gestação, parto ou aleitamento materno. Na África são encontradas as maiores taxas desta
forma de infecção pelo HIV, da ordem de 30 a 40%, enquanto em outras partes do mundo,
como América do Norte e Europa, essa taxa se situa em torno de 15 a 29%. Os principais
motivos disso se devem ao fato de a prática do aleitamento materno ser muito mais freqüente
76
que nos países industrializados. A transmissão intra-uterina é possível em qualquer fase da
gravidez, porém é menos freqüente no primeiro trimestre e pode ser reduzida em cerca de
67% com o uso de AZT durante a gravidez e o parto e à administração do AZT também ao
recém-nascido no período de seis semanas. A transmissão pelo leite materno é evitada com o
uso de aleitamento artificial ou de leite provindo de bancos de leite humano.
- A transmissão ocupacional acontece quando profissionais da saúde se envolvem em
acidentes com instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue de pacientes
portadores do HIV. Estima-se que o risco médio de contrair o HIV após uma exposição
percutânea com sangue contaminado seja de aproximadamente 0,3%. Nos casos de exposição
de mucosas, este risco é de aproximadamente 0,1%. Os fatores de risco são o tamanho do
ferimento, a presença de sangue no instrumento que produziu o ferimento e o nível elevado da
carga viral do paciente infectado.
- As outras formas de transmissão são consideradas altamente improváveis, apesar
de o vírus ser encontrado em fluídos corporais como saliva, urina e lágrimas, somente o
contato com sangue, sêmen, secreções genitais e leite materno são considerados fontes de
infecção. O convívio social ou profissional, o contato interpessoal não-sexual e não-
percutâneo, vetores artrópodes, fontes ambientais, objetos inanimados, instalações sanitárias e
piscinas não oferecem risco de infecção pelo vírus HIV. Dessa forma, considera-se que
formas alternativas de transmissão são altamente improváveis e que a experiência cumulativa
é suficientemente ampla para assegurar enfaticamente não haver qualquer justificativa para
restringir a participação de indivíduos infectados em suas atividades domésticas, escolares ou
profissionais.
O vírus HIV atinge o sistema imunológico, responsável pela proteção do organismo, e
ataca um tipo de glóbulo branco chamado CD4. No processo, o HIV aloja seu material
genético no DNA da célula CD4 atingida e passa a utilizá-la para se multiplicar e, dessa
forma, contaminar novas células.
Durante esse processo de multiplicação do vírus, as células CD4 acabam morrendo.
Com a redução do número dessas células que defendem o corpo, organismo começa a perder,
cada vez mais, a capacidade de combater as doenças.
O vírus HIV é, na verdade, um retrovírus, que altera de forma permanente a célula em
que se hospeda, embora mais simples que os vírus comuns, são mais difíceis de ser
77
combatidos. Eles alojam o seu próprio DNA nas células que invadem, de modo que as novas
células produzidas também reproduzam o vírus. Quando os retrovírus do HIV reproduzem
seus genes na célula hospedeira, o fazem com uma margem de erro maior, o que somado ao
seu alto índice de reprodução, provoca mutações no vírus causador da AIDS. Além disso, o
retrovírus é revestido pelo mesmo material que algumas células humanas. Isso engana o
sistema imunológico que passa a não identificá-lo.
A infecção pelo HIV é um processo dinâmico, que evolui progressivamente.
Inicialmente assintomática, sem tratamento adequado, vai agregando o desenvolvimento de
doenças oportunistas. A característica principal da AIDS é uma imunodeficiência profunda,
causada pelo comprometimento progressivo dos linfócitos T, que apresentam uma superfície
com muitas moléculas CD4 e por esse motivo são também chamados de linfócitos ou células
TCD4+. O CD4 é o receptor primário do HIV.
3. AIDS e mídia: o mundo e o Brasil
Logo que surgiu, a AIDS foi associada, de modo preconceituoso e estigmatizante à
idéia de grupos de risco, compostos por homossexuais, prostitutas, dependentes químicos e
hemofílicos. A associação entre a AIDS e os grupos de risco propagou a falsa impressão de
que as pessoas que não faziam parte desses grupos estavam fora de perigo. Isso, além de ter
reforçado o preconceito, propiciou o alastramento da epidemia, uma vez que os indivíduos
que não se encaixavam nos grupos de risco julgavam que o perigo de contaminação não os
alcançava (LINDNER, 2003, p.37).
Ao longo das décadas de 1980 e 1990, contudo, foi-se percebendo que a AIDS atingia
um número cada vez maior de homens, mulheres, jovens e crianças, indiscriminadamente e
independente de classe social, nível de instrução e etnia, moradores de grandes centros
urbanos ou de pequenas cidades do interior e do litoral, com qualquer orientação sexual.
A epidemia de AIDS conheceu diferentes fases, todas relacionadas às diferentes
variáveis que influenciam seu impacto sobre a sociedade. É dessa forma que o acúmulo de
conhecimentos científicos, as tecnologias da informação, a política, a cultura e outros fatores
vão mudando as feições da doença. No Brasil, ficam claras quatro fases distintas, de acordo
com Pina
39
:
39
Eduardo Ribeiro Pina é Comunicólogo e mestre em Tecnologia Educacional nas Ciências da Saúde -
NUTES/UFRJ. Disponível em http://www.childhope.org.br/papos/texto1.htm
78
A 1
a
fase: 1982-1985
No contexto social, o Brasil atravessava uma crise profunda. O descontrole
inflacionário assolava a economia do país que passava pelo processo político de
redemocratização, acelerado pelo movimento das Diretas Já, em 1982. O período foi marcado
pela omissão das autoridades governamentais em relação à saúde da população. Nesse
cenário, em que a AIDS gerava uma onda de medo, preconceito e discriminação, as primeiras
tentativas de enfrentamento do problema vieram de segmentos sociais articulados a setores
dos serviços de saúde.
Isso auxiliou a criação das primeiras ONGs de AIDS. Apesar do desconhecimento
geral sobre a doença que caracterizou aquele período, foi possível acumular alguma
experiência e conhecer um pouco mais sobre ela. Alguns fatos relevantes reforçam essa
afirmação, como o estabelecimento da relação entre a transfusão de sangue e a infecção de
hemofílicos, o isolamento do vírus e o surgimento da sigla AIDS. Essa primeira fase termina
com o Brasil em segundo lugar nas estatísticas mundiais de casos de AIDS. Em 1985, surge
um teste para detectar o HIV nos Estados Unidos e o uso do preservativo como forma de
prevenção é indicado.
Apesar de tantos contratempos, a identificação do vírus causador da AIDS e as formas
de evitá-lo são conquistas importantes para começar a combater a epidemia.
A 2
a
fase: 1986-1989
Em face à imprecisão que os nomes propostos causavam, em 1986, a OMS o
denominou de HIV e, em 1988, instituiu o Dia Mundial de Luta contra a AIDS, cujo objetivo
era definir estratégias e promover uma campanha de sensibilização acerca da problemática da
AIDS. Nesse mesmo ano, ocorre a aprovação e liberação para a comercialização do AZT,
primeira droga licenciada para o combate ao HIV que acometia as pessoas infectadas com
grande impacto por conta da ausência de terapias eficientes. A doença avança entre os
usuários de drogas injetáveis e causa mudanças na distribuição geográfica da doença, que
passa a atingir cidades do interior. Isso acarreta o aumento dos casos em mulheres,
relacionado à transmissão heterossexual. Em 1985, surge o primeiro caso brasileiro de
transmissão perinatal, que se tornaria a principal causa dos casos de infecção em crianças.
A 3
a
fase: 1990-1991
Em 1990, o presidente Fernando Collor de Melo toma posse, o que determina a
modificação do modelo econômico-político-social do Brasil, o povo alimenta otimismo e
79
esperança por mudanças nas políticas relativas à AIDS que um governo eleito deveria
oferecer à sociedade. Contudo, políticas públicas inadequadas e equivocadas foram
implementadas, alguns programas foram suspensos e isso representou um retrocesso nas
conquistas até então alcançadas. As campanhas de prevenção adotaram um viés agressivo e
pouco humanitário que ofendia a dignidade dos portadores do vírus HIV. Em 1991, foi
veiculada uma campanha que tentava estabelecer uma divisão entre os infectados condenados
e as pessoas sadias que deviam ser protegidas. A morte de figuras consagradas no cenário
artístico mundial como Lauro Corona, Cazuza, Freddy Mercury, entre outros, e a notícia de
que outros grandes personagens encontravam-se infectados, promoveu grande impacto
popular e ajudou a conscientizar as pessoas a respeito da doença.
4
a
fase: 1992 até o presente
Com todo o clima político que se estabeleceu no país e que definiu a renúncia de
Fernando Collor, o país assiste à união de diferentes setores da sociedade em busca de
alternativas políticas de enfrentamento da AIDS. Isso foi possível graças ao sentimento de
necessidade de reestruturação apoiado pelas políticas financeiras internacionais.
As conquistas tecnocientíficas possibilitaram o surgimento dos medicamentos anti-retrovirais
na década de 1990. Em 1994, o Brasil começa a produzir AZT e 7 anti-retrovirais
distribuídos gratuitamente. Em 1996, nos Estados Unidos, são aprovados os inibidores de
protease. Em 1999, o então Ministro da Saúde José Serra ameaça quebrar patentes de
medicamentos demasiado onerosos para os cofres públicos. Porém, isso só se concretiza em
2001, na Conferência da OMC, em que 142 países apóiam a postura do Brasil, permitindo a
quebra de patentes para a proteção da saúde pública. O país implementa uma série de
mudanças que beneficiam os portadores de HIV/AIDS e passa a considerá-los com mais
respeito.
Conforme a doença se tornou crônica, os órgãos de saúde pública, sofreram pressão
social e adotaram o cuidado integral ao doente, o que ofereceu possibilidades de tratamento e
acrescentou alguma qualidade de vida aos que não foram atingidos pelas campanhas de
medidas preventivas. Embora tenha sido uma fase de grandes conquistas, em 2000, as
estatísticas indicam que há 34 milhões de pessoas infectadas no mundo. A incidência de casos
em mulheres cresce mais que em homens, fenômeno que fica conhecido como feminização da
AIDS e evidencia que as relações sociais de poder passam por questões de gênero.
Implementam-se, então estratégias de prevenção para as mulheres que assegurem o acesso aos
80
serviços de saúde e que considerem as especificidades relacionadas com região onde moram,
classe social e faixa etária em que se enquadram e as desigualdades entre os sexos.
De acordo com o relatório anual do Programa Conjuntos das Nações Unidas sobre
HIV/AIDS, há aproximadamente 40 milhões de pessoas vivendo com HIV/AIDS no mundo.
Isso inclui 4,9 milhões estimados de pessoas que adquiriram o HIV durante 2004. Esse total
aumentou de forma global quando comparado com os dos anos anteriores. Os maiores
aumentos foram registrados em regiões da Ásia Oriental e Central e da Europa Oriental. O
crescimento foi de 50% e de 40%, respectivamente (principalmente na China). A África
Subsaariana é a região mais vitimada, com aproximadamente 25,4 milhões de casos, o que
equivale a dois terços do total mundial. Desse número três quartos são do sexo feminino.
O Brasil soma cerca de 371 mil casos notificados de AIDS. Esse total considera as
notificações feitas desde a identificação do primeiro caso, em 1980, até junho de 2005. A taxa
de incidência foi crescente até metade da década de 90, alcançando, em 1998, cerca de 17
casos de AIDS por 100 mil habitantes. 80% desse total se concentram nas Regiões Sudeste e
Sul. O Sudeste, apesar de apresentar a mais alta taxa de incidência desde o início da epidemia,
mostra moderada estabilização desde 1998. No Sul, houve aumento das taxas de incidência
até 2003, mas a partir de 2004 as taxas começaram a apresentar queda. De acordo com o CN-
DST/AIDS
40
.
Em 2004, pesquisa de abrangência nacional estimou que no Brasil cerca de
593 mil pessoas, entre 15 a 49 anos de idade, vivem com HIV e aids
(0,61%). Deste número, cerca de 204 mil são mulheres (0,42%) e 389 mil
são homens (0,80%). A mesma pesquisa mostra que quase 91% da
população brasileira de 15 a 54 anos citou a relação sexual como forma de
transmissão do HIV e 94% citou o uso de preservativo como forma de
prevenção da infecção. O conhecimento é maior entre as pessoas de 25 a 39
anos, entre os mais escolarizados e entre as pessoas residentes nas regiões
Sul e Sudeste. Os indicadores relacionados ao uso de preservativos mostram
que aproximadamente 38% da população sexualmente ativa usou
preservativo na última relação sexual, independentemente da parceria.
40
Acesso em 20.03.2006. http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS13F4BF21PTBRIE.htm
81
Ainda de acordo com o CN-DST/AIDS, o Brasil já contabilizou aproximadamente 172
mil óbitos por AIDS até dezembro de 2004. Desde o surgimento da epidemia, até 1995, a taxa
de mortalidade era proporcional à taxa de incidência, mas a implementação da política de
acesso ao tratamento antiretroviral, propiciou o declínio da taxa de mortalidade. Em
decorrência disso, em 2000, começa a ser verificada a estabilização em cerca de 6,3 óbitos por
100 mil em contraste com os dados de 1995 que eram de 9,7 por 100 mil, embora isso seja
mais evidente no Sudeste e entre os homens. Além disso, entre 1993 e 2003, houve um
aumento de aproximadamente cinco anos na idade média das mortes por AIDS, em ambos os
sexos, o que pressupõe o aumento na sobrevida dos doentes.
Tudo isso evidencia que a epidemia de AIDS, em tempos de sociedade globalizada,
impôs desafios éticos e obrigou a sociedade a uma reflexão o sobre a dignidade e os direitos
humanos. Uma onda mundial de luta contra o preconceito e a discriminação se tornou
bandeira de muitas entidades da sociedade civil organizada e, graças à pressão social, passou
a fazer parte da agenda política de muitos países. A partir dessa movimentação social aliada
aos avanços científicos, a idéia de grupo de risco cedeu lugar à de comportamento de risco.
Essa nova abordagem passou a considerar somente as práticas que a pessoa adota e que a
colocam em situação de maior ou menor grau de exposição ao vírus HIV. Associado a esse
novo posicionamento, a identificação do grau de vulnerabilidade para indivíduos ou grupos
passou a ser considerada na definição das estratégias de prevenção.
Nesse cenário, a mídia exerceu um papel de grande importância para a produção e
veiculação de representações sociais sobre a AIDS, pois apresentou a nova epidemia para a
sociedade, transpondo a AIDS do universo privado para o público e fazendo com que um
fenômeno estranho se tornasse familiar, adquirindo sentido no espaço das histórias pessoais.
No Brasil, o perigo da epidemia foi divulgado pela mídia antes mesmo que o primeiro
caso fosse oficialmente registrado. Para Jane Galvão
41
(2002, p.78) isso se deve a fatores que
podem retardar a notificação e esclarece:
Apesar do Boletim Epidemiológico AIDS, editado pelo Ministério da Saúde,
colocar o primeiro caso de AIDS no Brasil em 1980, no período que a
imprensa brasileira está noticiando os casos de AIDS nos Estados Unidos,
em 1981, este caso brasileiro ainda não havia sido reportado. Assim como
quando foi editado o primeiro Boletim Epidemiológico, em 1987, é indicado
41
Jane Galvão é antropóloga, doutoranda do Instituto de Medicina Social da UERJ e coordenadora da ABIA.
82
que o primeiro caso de AIDS no país é de 1982 (BRASIL, 1987). Mas,
tempos depois, como presente no último Boletim Epidemiológico, editado
em 2001, o primeiro caso de AIDS no país é identificado como tendo
ocorrido em 1980 (BRASIL, 2001g). Nas “Notas Técnicas” publicadas no
Boletim Epidemiológico AIDS, são mencionados fatores que podem retardar
a notificação de um caso de AIDS, assim como medidas que visam garantir
que as estatísticas reflitam, o mais próximo possível, o real numero de casos
de AIDS no país (BRASIL, 1994
a
, 1995
a
, 1995b, 2001g)
Para a autora (p.79), no início da epidemia, em face da inexistência de literatura
médica relativa ao assunto, sem casos oficialmente registrados e na ausência de iniciativas de
prevenção e cura, a mídia pode ser considerada como o único meio de informação disponível
sobre a doença, mesmo que a noticiasse como “peste gay” ou “praga gay”. A autora
considera ainda que o papel da mídia é de importância crucial para a conscientização da
população mas, sobretudo, para a construção de um conhecimento sobre a doença. Nesse
sentido, considera que:
Quando já na década de 90, a XI Conferência Internacional de AIDS,
realizada em Vancouver, consagrou a terapia tríplice, o papel da mídia foi
fundamental em trazer e traduzir, para o grande público, o que tudo aquilo
significava. Neste sentido, abordar AIDS e mídia, ou lançar um olhar sobre
como a mídia tratou a AIDS (...) é estabelecer um diálogo com uma das
principais ferramentas que, não só no Brasil, impulsionou o conhecimento
do que, hoje em dia, entendemos como AIDS. (GALVÃO, 2001, p.79-80)
Em uma análise sobre as matérias publicadas entre julho e setembro de 1996 no eixo
Rio São Paulo, o primeiro exemplar do Olhar sobre a mídia, destaca que foi encontrado um
total de 229 matérias sobre AIDS, o que demonstra o papel da mídia na veiculação de
informações, nem sempre fidedignas é verdade, sobre AIDS.
Fausto Neto
42
(1999, p.7-10) considera que a AIDS além de ser um fenômeno de
ordem biológica, “que toma corpo na corporeidade de seus pacientes e vítimas” constitui-se
numa problemática cultural, que também se manifesta no tecido social, de acordo com o
42
Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação, da Universidade do Vale do Rio dos
Sinos - UNISINOS. Rio Grande do Sul, Brasil.
83
espaço que a mídia dedica ao assunto e com o enfoque que é dado ao tratamento da
informação. O autor considera que:
Parece haver uma nova questão resultante das práticas midiáticas, que tem
provocado os pesquisadores em comunicação: como compreender as
“intenções” e os “efeitos” das mensagens midiáticas para além da própria
existência do campo das mídias enquanto fenômeno técnico-cultural? Já não
satisfaz mais constatar o que as mídias dizem todos os dias. Categorizações
múltiplas existem nesse sentido, inclusive, da parte da experiência do
próprio mundo dos leitores. A problemática que desafia o campo da pesquisa
estaria na compreensão dos modos através dos quais os processos midiáticos
nos mandam “ler” alguma coisa (FAUSTO NETO, 1999, p.9).
A “compreensão dos modos através dos quais os processos midiáticos nos mandam ‘ler’
alguma coisa”, proposta por Fausto Neto, explica como a abordagem inicialmente
equivocada, que apresentava a doença como um mal que afetava pessoas de vida sexual
promíscua, permitiu que, apesar do espaço ocupado na mídia, a doença se alastrasse. De
forma vagarosa porém gradual, as informações sobre a doença deixaram de se restringir aos
“grupos de risco”. Contudo, quando isso ocorreu, já se verificava o aumento do número de
infectados entre os heterossexuais e usuários de drogas injetáveis, uma vez que estes se
achavam fora dos “grupos de risco” e continuavam a manter seus relacionamentos habituais.
Essas considerações podem ser constatadas se consideramos os dados disponíveis no
site do CN-DST/AIDS que informa que, em 1986 havia 16 homens jovens para cada mulher
jovem infectada. Em dezembro de 1998, o número de mulheres infectadas já era igual ao dos
homens, enquanto em outras faixas de idade, essa proporção era de dois por um. O uso de
drogas injetáveis aparece como a principal causa de transmissão da AIDS entre os jovens: os
homens se contaminam pelo uso compartilhado de seringas, enquanto nas mulheres isso se dá
por relações heterossexuais, com drogados ou não. Dentre as mulheres infectadas, um número
significativo delas jamais havia concebido que isso pudesse lhes acontecer, já que não faziam
parte de nenhum dos “grupos de risco” e eram senhoras casadas. Mesmo atualmente, este é
um dos fatores que ainda leva as mulheres a subestimar sua vulnerabilidade diante da doença.
Esse quadro, construído pela mídia no imaginário popular, é considerado pela equipe do
CRT/AIDS como um procedimento que desconsiderou a possibilidade de muitas pessoas
virem a se infectar pelo vírus da AIDS, já que fez com que não adotassem os cuidados
84
necessários em seus relacionamentos. Além disso, propiciou a elevação da incidência de casos
entre jovens, mulheres e pobres. Destaca-se, neste ponto, que a dificuldade de acesso à
informação sobre a doença e aos métodos de prevenção, aliam a AIDS com a pobreza fazendo
com que a doença seja pior para os que têm mais dificuldades para enfrentá-la, o que torna a
epidemia mais pobre e mais feminina.
Fausto Neto (1999) realizou pesquisa sobre as notícias referentes à AIDS nos jornais,
considerando editoriais, cartas de leitores e artigos assinados. Para ele, a doença era um fato
novo, para o qual não havia uma história discursiva que repousasse em reservatórios
lingüísticos e culturais. Sua ocorrência influencia o cenário social e impõe a construção de
uma designação que se tece a partir dos discursos das diferentes instituições veiculados pela
mídia. Considera a AIDS como uma dupla doença da atualidade, pois ao mesmo tempo em
que se constitui em fenômeno epidemiológico, é também um fenômeno do discurso midiático.
Essa afirmação pode ser constatada se considerarmos que a mídia impressa informou
quase tudo o que se sabia sobre a doença, conforme comenta Jane Galvão (2002, p.78).
Contudo, há de se considerar que, muitas vezes, os jornais foram “presas” das fontes
especializadas, principalmente do campo médico e da indústria farmacêutica. Um bom
exemplo para ilustrar essa afirmação é o da campanha que o próprio Ministério da Saúde
veiculou em 1999 e que tinha o slogan "Se pular a cerca, use camisinha", num evidente
posicionamento preconceituoso, uma vez que reconhecia a negociação de poder que cerca o
uso de preservativo, principalmente nos relacionamentos sexuais estáveis e a conivência com
a infidelidade masculina.
Na época, os jornais noticiaram que homens casados estavam infectando as esposas em
relações extraconjugais. Numa postura pouco científica, parecia que a preocupação maior era
estabelecer a relação entre "culpado" e “vítima", prática comum nas epidemias cuja
transmissão têm um componente do comportamento sexual, já que isso ocorreu anteriormente
quando da epidemia de sífilis e se repetiu na de HIV/AIDS.
Naquele período, o cenário mostrava o crescimento do número de infectados e indicava
que os programas de prevenção não alcançaram completamente seus objetivos. “Cada um
desses novos casos representa um fracasso coletivo”, afirmou Peter Poit (on-line), diretor
executivo da Unaids questionando os resultados dos programas.
A mídia questionava as razões do fracasso, pois divulgava publicidade governamental
paga e esclarecia sobre os métodos de prevenção e, por conta disso, perguntava-se: Por que
motivo, apesar de informadas sobre a importância da prevenção, as pessoas não usam a
camisinha? Nesse sentido, vale ressaltar que o despreparo pra lidar com a AIDS não se
85
restringe à mídia e ao governo. A matéria “Descuido coloca em risco geração HIV”, do
repórter Aureliano Biancarelli, na Folha de São Paulo, mostra o despreparo do serviço de
saúde para tratar gestantes e crianças infectadas. “A grande maioria das maternidades, mesmo
na Grande São Paulo, não dispõe do AZT injetável nem tem profissionais preparados para
atender uma gestante com HIV”, informa na mesma reportagem, Grace Suleiman, do hospital
Emílio Ribas. Nesse contexto, em que não se conseguia prevenir a infecção de bebês, apesar
dos métodos disponíveis aos médicos, como prevenir jovens, mulheres e pobres, se o quadro
depende também da decisão individual de cada um?
Em 1999, o site Olhar sobre a Mídia divulga que a educação sexual ocupou 6,5% do
espaço dedicado ao tema cultura sexual, maior percentual desde dezembro de 1996, na mídia
impressa de grande penetração. Isso indica que, apesar dos problemas, a mídia efetivamente
colaborou para a educação sexual do povo, divulgando novas fontes de informação sobre
sexualidade para crianças, jovens e adolescentes. Vale lembrar que o programa MTV erótica
detinha a maior audiência em seu horário e a coluna de Rosely Saião na Folha de São Paulo
era uma outra tentativa de dialogar com os jovens.
Percebendo que a informação é a única arma capaz de deter a propagação da epidemia,
vários segmentos da sociedade foram se articulando nesse sentido. Jane Galvão (2002, p. 79)
destaca fatos pontuais dessa trajetória:
O primeiro programa governamental de AIDS foi criado em 1983
(TEIXEIRA,1997) e a primeira organização não-governamental dedicada
especificamente à AIDS, surgiu em São Paulo, em 1985 (GALVÃO, 2000).
Mas as primeiras ações de trabalho comunitário, distribuindo folheto com
informações datam de 1983 e foram do grupo gay paulista Outra Coisa, que
atualmente não mais existe (TERTO JÚNIOR, 1997, p.32). A primeira
iniciativa governamental para uma ação de abrangência nacional em AIDS
foi estabelecida no país em 1985 (BRASIL, 1994b) e o Programa Nacional
de AIDS foi consolidado, na estrutura do Ministério da Saúde, em 1988
(BRASIL, 1994c).
O ano de 1996 entrou para a história da AIDS como o “ano da cura”, pois foram
introduzidos os anti-retrovirais, conhecidos popularmente como “coquetel” no tratamento de
pacientes com AIDS. A euforia com que a mídia noticiou esse fato, em muitas ocasiões, dava
a falsa impressão de que a cura havia sido alcançada.
86
Um fato importante que aconteceu ainda em 1996 foi a aprovação da Lei 9.313 de
13.11.1996, que assegura a distribuição gratuita de medicamentos anti-AIDS no sistema
público de saúde. Com isso, o Brasil passa a ser o primeiro país do mundo a garantir o acesso
universal aos medicamentos a todos os pacientes de AIDS. Esse fato também é significativo
por alocar recursos para a compra nacional e internacional de medicamentos, desenvolver
logística de armazenagem e distribuição, treinamento de pessoal, estabelecimento de
laboratórios para testagem e fornecimento de informações ao paciente.
Todo esse conjunto de medidas que se impôs pelo fornecimento universal dos
medicamentos anti-AIDS, chamou a atenção internacional para o Brasil e reforçou a atuação
do Programa Nacional de AIDS que, ao lado dos profissionais de saúde, passa a ser o maior
provedor de informações sobre AIDS para a mídia. Galvão (2002, p.85) ilustra bem esse
cenário ao relatar que:
Outra questão destacada (...), diz respeito a quem fornece informação para a
mídia. Revertendo uma tendência dos anos 80 e início dos 90, onde a
presença de representantes de organizações da sociedade civil com
atividades em HIV/AIDS provendo informações para a AIDS, ao lado do
profissional de saúde, passou a ser, em meados dos anos 90, o governo,
sobretudo o Programa Nacional de AIDS.
Acompanhando os progressos no enfrentamento da AIDS, ocorre a explosão da
Internet. Tanto o Programa Nacional de AIDS como diferentes organizações ligadas à
AIDS e representativas de vários segmentos da sociedade passam a divulgar
informações sobre AIDS nesse novo meio de comunicação que, tem virtudes e vícios,
pois ao mesmo tempo em que imprime rapidez à veiculação da informação, também
possibilita o seu mau uso. Para Bueno
43
(2005):
Diferentemente dos veículos de massa tradicionais, que podem ter sua
imagem e credibilidade afetadas pela publicação de material equivocado (...),
os veículos na Web estão à margem da lei e, portanto, são mais suscetíveis a
informações deturpadas, muitas vezes ali inseridas exatamente para criar
43
Wilson da Costa Bueno é Jornalista, diretor da Comtexto Comunicação e Pesquisa, professor do Programa de
Pós-Graduação em Comunicação Social da UMESP e professor de Jornalismo da ECA/USP.
87
confusão, desinformar as pessoas ou induzi-las a consumir medicamentos ou
a recorrer a gurus de plantão, picaretas da Web em busca de cidadãos
vulneráveis (pessoas deprimidas, doentes etc).
Vale lembrar que a Internet possibilita o acesso à informação em qualquer parte do
mundo, a baixo custo e é um meio de comunicação muito diferente dos meios tradicionais:
rádio televisão, cinema, jornal e revista. Isto decorre de alguns fatores técnicos, do
barateamento dos custos de produção e veiculação, da interatividade, da pessoalidade e
facilidade de acesso.
Marques de Melo (1994, p.12) considera que toda a informação se articula com os
veículos que tornam públicas suas mensagens, mesmo que as mensagens ali contidas não
sejam de natureza jornalística. Dessa forma, pode-se inferir que a informação disponível na
internet se diferencia da veiculada nos demais meios de comunicação não somente pela forma
de tratamento dos dados, mas também pelas relações com os usuários. Aliás, a relação
interativa com o usuário é o diferencial mais marcante da Internet em relação aos demais
meios de comunicação.
Para Esther Hamburger
44
, a televisão, no Brasil, não acompanha o crescimento da
Internet. A jornalista afirma que, em nosso país, a Internet percorre uma trajetória semelhante
à da TV. Porém adverte que poucos estão atentos a formatos que estimulem a interatividade e
a televisão corre o risco de se tornar ultrapassada.
Mesmo considerando que, no Brasil, a Internet ainda esteja longe de ser uma mídia tão
popular quanto a televisão, a pesquisadora afirma, apoiada em dados fornecidos pelo
Ibope/NetRatings, que o Brasil se destaca no ranking internacional de uso da Internet, pois
ocupa o 8
o
lugar entre os países mais conectados do mundo, embora tenha uma média ainda
relativamente pequena de 12,2 milhões de usuários. Em número de horas na rede, o Brasil
ocupa o segundo lugar mundial, só perdendo para o Japão. A autora afirma ainda que “no
último ano o uso domiciliar da web cresceu 24,1%. O mercado está longe de se esgotar.
Pouco se sabe sobre conteúdos que atenderiam aos milhões que podem vir a se conectar”.
Outra demonstração de que a Internet é um eficiente meio para proporcionar a
comunicação eficaz na área da saúde e aumentar a prevenção de doenças entre a população é
o fato de os profissionais do jornalismo que atuam na Internet já se encontrarem articulados.
44
Esther Hamburger é antropóloga, professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São
Paulo e pesquisadora do Cebrap. È doutora em Antropologia na University of Chicago e autora do livro Brasil
Antenado e colunista do jornal Folha de São Paulo, onde faz crítica de televisão.
88
A AIAPI Associação Ibero-americana de Acadêmicos, Investigadores e Profissionais de
Jornalismo na Internet é um exemplo disso. Seus membros consideram que:
Os comunicadores devem deixar de ser simples usuários passando a
produtores dentro deste espaço de comunicação. Esta é a história que está
por escrever-se. Se todos os profissionais da comunicação não assumimos
um papel mais ativo não somente na discussão teórica -, mas também na
práxis e no desenvolvimento das potencialidades deste campo, estaremos
mal posicionados para responder as demandas da sociedade.
Os membros da AIAPI consideram ainda que a sociedade da informação não é apenas
um novo modelo que vem se impondo no cenário social, mas a estruturação de novas
plataformas de comunicação e de convivência. Para eles, este panorama é uma fonte
inesgotável de inquietações que obriga acadêmicos, pesquisadores, jornalistas, comunicadores
e demais segmentos da sociedade a refletir sobre o futuro da rede. O grupo já promoveu
quatro congressos: Costa Rica, México, Chile e Peru e publicou um livro com as conferências
do II Congresso, intitulado Explorando el ciberperiodismo ibero-americano.
A Internet é um meio de comunicação versátil, porém, algumas vezes, mal utilizado.
Uma simples consulta na rede pode constatar essa afirmação. Novas páginas, sobre os mais
diversos assuntos, proliferam-se a cada dia e desaparecem com a mesma freqüência. Isso
ocorre porque, normalmente, os sites não satisfazem as necessidades do usuário, que deixa de
visitá-las, o que determina sua retirada da rede.
Isso se deve tanto a problemas técnicos de forma como por problemas relativos à
informação disponibilizada de conteúdo. Quando esses sites tratam de temas com pequeno
impacto sobre o cotidiano do usuário, não causam grandes problemas. Contudo, vale lembrar
Epstein (2002, p.93-95), que afirma que uma parcela significativa da população toma contato
com informações de hábitos saudáveis, prevenção e cura de doenças, diretamente ou pela
intermediação de um profissional especializado em divulgação. No caso das informações
relacionadas à AIDS, essa questão pode influenciar políticas de saúde pública.
Essa afirmação, transposta para o caso específico da AIDS na Internet e somada à
quantidade de sites que oferecem toda a sorte de produtos e serviços, indica que este é um
assunto que preocupa uma grande parcela da população. Muitos desses sites exibem o livro de
visitas, que podem fornecer ao visitante a dimensão desse cenário.
Da venda de medicamentos até a informação detalhada de procedimentos que visem à
terapia e/ou prevenção, tudo se encontra na rede. Essa grande quantidade de informação, em
89
alguns casos, até dificulta a busca e impõe a necessidade de que se proceda a uma triagem,
para descartar o que não interessa e garimpar o que é interessante. Bueno (2005, on-line)
ilustra bem essa problemática quando afirma que:
Não são raros os casos em que pessoas (em número cada vez maior em todo
o mundo e também no Brasil), ao tomarem contato com informações não
qualificadas ou distorcidas sobre saúde veiculadas na Internet, se sentiram
inseguras ou entraram em pânico. Nesse momento, milhares de internautas,
incautos, podem estar tomando decisões sobre a sua saúde influenciadas por
notícias que circulam em sites, chats ou grupos de discussão.
Bueno considera ainda que os meios tradicionais também cometem muitos equívocos,
principalmente na área da saúde, contudo é necessário observar que a Internet favorece a
difusão de informações não qualificadas, na medida em que qualquer pessoa ou grupo pode,
com facilidade e sem controle, disponibilizar seus sites e mensagens. Para ele a Internet difere
dos demais veículos, que têm interesse em zelar por sua imagem e credibilidade. Para ele
(2005, on-line):
Com freqüência, notícias, parcial ou totalmente inverídicas, sobre saúde têm
como objetivo também prejudicar empresas que comercializam produtos,
vendem equipamentos ou prestam serviços. Alguém pode, inclusive,
imaginar que estas mensagens prejudiciais são postadas pelos concorrentes,
interessados em desestabilizar os adversários, que, diante dos boatos,
precisam investir recursos e tempo para resgatar a veracidade dos fatos.
Nesse contexto, a informação disponível na rede pode se tornar uma armadilha de
efeitos imprevisíveis, sobretudo quando a divulgação envolve questões relacionadas à saúde.
4. AIDS: um fenômeno social
A AIDS não é somente um fenômeno científico, é uma epidemia que envolve questões
de política científica e sua relação com os movimentos sociais. Por isso, desde o seu
surgimento, tem determinado a articulação entre os diversos ramos da ciência, os diferentes
governos e as mais variadas esferas da sociedade.
90
Essa capacidade de instalar a polêmica que se manifestou assim que a epidemia de
AIDS surgiu, já motivou embates de várias naturezas em muitos setores. No que se refere ao
segmento político-científico, foi marcante a disputa entre Estados Unidos e França
envolvendo os créditos do descobrimento do vírus HIV. Em 1983, a equipe de Luc
Montagnier, do Instituto Pasteur, de Paris, isola o vírus HIV. Simultaneamente, o americano
Robert Gallo também consegue o mesmo feito. Começa uma disputa que só termina em 1992,
quando conseguem chegar a um acordo definitivo sobre o crédito da descoberta do vírus.
Em seguida, os testes com placebos realizados pelos grandes fabricantes de
medicamentos em países africanos geraram polêmica no seio da sociedade que entendeu que
os doentes não podem ser expostos em projetos cujos riscos são desconhecidos, o que fere a
ética e os direitos humanos e se torna ainda mais inadmissível quando se consideram os
vultosos lucros da indústria farmacêutica.
Mais recentemente, a quebra das patentes dos medicamentos anti-retrovirais pelo
Brasil ocupou grande espaço na mídia e movimentou a sociedade, pois o Governo Federal
entendeu que, com base na lei brasileira de propriedade industrial, podia incentivar a
produção dos remédios anti-AIDS para deixar de se submeter aos preços praticados pelos
laboratórios internacionais.
Toda essa seqüência de acontecimentos transformou a AIDS em um problema que
extrapola a dimensão cientifica para transformar-se em um fenômeno político. Além disso, a
AIDS desafiou o conhecimento das ciências médicas e evidenciou a necessidade de posturas
interdisciplinares para o enfrentamento das novas demandas por ela geradas. Isso favoreceu o
diálogo entre os diferentes ramos do conhecimento. Para Oltramari
45
(2004, p.175):
O advento da Aids foi um grande retrocesso na supremacia do saber médico
especializado. Essa doença desafiou a ciência e foi um empecilho aos
avanços da medicina que, até então, estava concentrada na guerra contra o
câncer, e que teve de se deparar com uma síndrome tão perniciosa que,
ademais, possuía um agravante: era contagiosa. Além disso, a Aids revelou a
falência do projeto de modernidade, que tem na ciência sua condição
essencial, ao trazer à tona os problemas relativos ao embate dos "egos" e às
45
Leandro Oltramari é pesquisador do Instituto de Planejamento, Pesquisa Social e Estudos Avançados,
professor da Universidade do Vale do Itajaí Univali e da Universidade do Sul de Santa Catarina Unisul e
doutorando em ciências sociais na UFSC.
91
lutas por poder no meio científico, além de explicitar o preconceito que há
em nossa sociedade.
Nesse sentido, pode-se considerar que uma das mais marcantes características da
doença no meio social está no cruzamento de variáveis de diferentes ordens que misturam o
conhecimento científico com as imposições sociais, políticas e culturais.
Por mobilizar os diferentes setores da sociedade mundial, pelo impacto que exerce
sobre a opinião pública e por evidenciar o preconceito, o dia 1º de dezembro foi eleito Dia
Mundial de Luta Contra a AIDS, numa decisão da Assembléia Mundial de Saúde, em outubro
de 1987, com o apoio da ONU. A data foi adotada como forma de reforçar a solidariedade, a
tolerância, a compaixão e a compreensão com a população que convive com o HIV/AIDS. No
Brasil, a data foi adotada em 1988.
Num balanço de 2005, o Ministério da Saúde
46
considera que o preconceito e a
discriminação contra as pessoas vivendo com HIV/AIDS ainda são as maiores barreiras no
combate à epidemia, ao adequado apoio, à assistência e ao tratamento da AIDS e ao seu
diagnóstico. Os estigmas são desencadeados por motivos que incluem a falta de conhecimento
e informação, mitos e medos. O objetivo do Dia Mundial de Luta contra a AIDS, no Brasil, é
promover a discussão e o debate para prevenir, reduzir e eliminar o preconceito e a
discriminação que persistem mesmo em um país como o nosso, que já criou um modelo de
tratamento que é considerado como referência para o mundo pela OMS.
O símbolo de solidariedade na luta contra a AIDS é o laço vermelho. A idéia do laço
surgiu de grupo de profissionais de arte, da Visual AIDS, de New York, em 1991, pois
queriam homenagear amigos e colegas doentes ou que já haviam morrido vítimas da AIDS.
Para Frank Moore, um dos criadores, o laço vermelho foi inspirado no laço amarelo que
honrava os soldados americanos na Guerra do Golfo e o vermelho foi escolhido por ser a cor
do sangue e da paixão.
O laço vermelho foi usado publicamente, pela primeira vez, pelo ator Jeremy Irons, na
cerimônia de entrega do prêmio Tony Awards, em 1991, e logo se tornou popular, virou moda
e continua representando mundialmente a luta contra a AIDS e contra as diferentes formas de
estigma a ela associados.
46
www.ministerio.saude.bvs.br
92
Desde o seu surgimento, a relação que se estabeleceu entre AIDS e opção sexual
evidenciou preconceitos. Para Bastos (2002, p.42), todos os que não tinham uma conduta de
"sexualidade normatizada" foram condenados e categorizados como pertencentes aos "grupos
de risco". O preconceito fez com que as pessoas infectadas fossem identificadas pelos seus
comportamentos sexuais ou mesmo sociais, e adjetivados como "perversas, culpadas,
castigadas, moribundas". Foi assim que, no início da epidemia a categorização "homossexual"
foi usada como forma de discriminação. No contexto brasileiro, essa problemática pode ser
bem compreendida nas afirmações de Pedro Chequer
47
:
Em 1983, são feitos os primeiros diagnósticos da nova doença - já conhecida
então como aids - no Brasil. Adotada no Brasil como substantivo, a sigla
formada na língua inglesa pela expressão "Síndrome de Imunodeficiência
Adquirida" fora adotada como termo descritivo justamente para evitar o teor
discriminatório de denominações originalmente propostas - como GRID
(gay-related immune defficiency, imunodeficiência relacionada aos gays) -
mas, mesmo assim, a imprensa brasileira ocasionalmente ainda fala em
"câncer gay" ou "peste gay" referindo-se à aids. Quase que imediatamente, o
primeiro programa oficial de controle da doença é implantado em São Paulo,
desde seu início em cooperação entre a comunidade gay organizada e os
técnicos da secretaria de estado de saúde de SP, seguindo-se o programa do
Estado do Rio de Janeiro e a organização ainda que embrionária, do
Programa de AIDS no âmbito da Divisão de Dermatologia Sanitária,
seguindo-se a criação formal da Divisão Nacional de DST e AIDS.
Isso determinou que algumas campanhas e políticas públicas preventivas
apresentassem falhas teóricas e metodológicas. Algumas campanhas governamentais de
prevenção da AIDS, veiculadas no início da epidemia geraram conflitos entre segmentos da
sociedade e o governo. Entidades da sociedade civil organizada, como ONGs, por exemplo,
criticavam as propagandas por seu tom preconceituoso e pela sua ineficiência, já que houve
casos em que o desrespeito à dignidade da pessoa doente era evidente. Nesse sentido, Chequer
relata que:
47
Pedro Chequer é Diretor do Programa Nacional de DST/Aids.
93
Entre estes grupos, em particular, encontravam-se representantes de setores
oprimidos da sociedade brasileira, como mulheres e os homossexuais, e
também profissionais de saúde empenhados num redesenho da assistência
pública à saúde, no que ficou conhecido como movimento de reforma
sanitária. Em comum, além de militâncias cruzadas, as bandeiras de luta da
democracia e de uma perspectiva de cidadania ampliada. Beneficiados pela
promulgação ainda recente (em 1979) da anistia, importantes figuras da
resistência ao regime militar retornam do exílio e se incorporam a estas lutas.
Entre estes, os dois Herberts, Daniel de Souza - o último, à época o "irmão
do Henfil", imortalizado na canção popular que, na voz de Elis Regina,
tornou-se uma espécie de "hino da anistia".
Nesse cenário conturbado, em 1982, acontece a primeira eleição direta para
governador, depois de longo tempo. A oposição conquista alguns Estados interessados em
promover o movimento de reforma sanitária e que iniciam experiências de atenção à saúde,
que futuramente iriam viabilizar a implantação do SUS.
Assim, a luta contra a AIDS no Brasil toma um novo fôlego, com o surgimento das
primeiras ONGs, como o GAPA, em 1985, e a ABIA, fundada por Herbert de Souza
48
. Para
Chequer, todos esses acontecimentos, somados ao aumento de óbitos causados pela AIDS,
influenciam para que o Programa Nacional de DST/AIDS fosse criado em 1986. Para ele:
Ainda em 1986, a VIII Conferência Nacional de Saúde consagra as idéias do
movimento de reforma sanitária, que se tornam parte da carta magna do país
com a promulgação, em 1988, da nova constituição, marco da
redemocratização no país. Nasce o Sistema Único de Saúde, ou SUS. Ainda
em 1988, a Organização Mundial da Saúde institui o primeiro de dezembro
como dia internacional de luta contra a aids, como parte de uma estratégia de
mobilização, conscientização e prevenção em escala global, e a data passa a
48
O sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), Betinho, era hemofílico e adquiriu AIDS em transfusão de sangue.
Em 1979, fundou a ONG Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Em 1991, ganhou o
prêmio Global 500, da ONU, por suas campanhas em defesa da Amazônia e da Baía da Guanabara. Tornou-se
internacionalmente conhecido pela campanha Fome Zero. Em 1993 organizou o Conselho Nacional de
Segurança Alimentar e a ONG Ação da Cidadania Contra a Miséria e pela Vida e recebeu o Troféu Criança e
Paz da Unicef. Em 1997 foi nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para a Comunidade Solidária.
Em março de 97 lançou o movimento Democracia na Terra. Em maio de 97, três meses antes de morrer e
bastante debilitado pela aids, Betinho se afastou da campanha contra a fome.
94
ser observada também no Brasil, tornando-se mote para o lançamento de
informações e campanhas educativas.
5. AIDS e Direitos Humanos
Embora haja uma longa discussão a respeito do conceito de Direitos Humanos, que pode
ser verificada em Foucault (1987), Bobbio (1992), Comparato (2003), para citar apenas
alguns, assegurar a garantia dos direitos aos portadores do HIV/AIDS é uma prioridade social
que articula ações de diversas organizações da sociedade civil, ONGs e Estado. Os projetos de
assessoria jurídica têm papel fundamental na árdua batalha pela defesa dos direitos das
pessoas que vivem com HIV/AIDS. Essas instituições recebem denúncias, auxiliam e
assessoram vítimas de discriminação e preconceito social e tomam as providências cabíveis
nos casos em que os direitos desses cidadãos estão sendo, de alguma forma, lesados. Para
Lindner
49
, apesar disso, a situação proporcionou a possibilidade de discussão e de
engajamento de diferentes atores do quadro social. Para ele (2003, p.37):
Desde o registro dos primeiros casos, na década de 80, a preocupação com a
garantia dos direitos acompanha a discussão que gira em torno da epidemia.
Se por um lado a questão da doença e de seus entornos possibilitou à
sociedade uma discussão maior sobre a figura do doente e do infectado
suas implicações e limitações, por outro, gerou interpretações equivocadas a
medida em que se constituiu em uma resposta apartada do Sistema Único de
Saúde (SUS) e, assim, constituiu um serviço de qualidade com recursos
vindos do exterior dando margem a críticas de privilégios e benesses.
Para Duarte
50
(2003, p.9), as afrontas aos portadores da AIDS se manifestam no cotidiano
tanto nas relações de convivência trivial entre os condôminos de um edifício quanto nas
intrincadas relações trabalhistas. E expressa suas reflexões a respeito:
Ainda que a epidemia tenha surgido no Brasil há vinte e três anos, grandes
são as dificuldades encontradas pelas pessoas por ele atingidas, no que tange
49
Liandro Lindner é jornalista, Pós-graduado em Comunicação de Massa, Consultor em Comunicação
voluntário do GAPA-RS e membro do Conselho Estadual de Saúde.
50
Carlos Alberto Ebeling Duarte é membro do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e Presidente do GAPA RS.
95
à verdadeira afirmação de seus direitos, inerentes a todos os cidadãos deste
país. Com isso, permanecem na sociedade incisivas posturas preconceituosas
e discriminatórias que impingem aos portadores de HIV/aids situações
concretas de exclusão, impedindo o efetivo exercício da sua cidadania e
atingindo a sua dignidade de seres humanos. Desnecessário afirmar, aqui, a
fundamental importância que o Direito exerce no contexto da epidemia. Se é
verdade que o ordenado jurídico brasileiro através da legislação
constitucional e ordinária positiva a proibição de atos embasados em
preconceito e discriminação, também é inegável a indiferença da sociedade
em relação àquelas normas.
Em decorrência disso, foi tomando corpo uma jurisprudência relativa aos direitos das
pessoas infectadas pelo HIV/AIDS, embora ainda se encontrem embrionários os estudos
doutrinários referentes ao assunto. Apesar disso, a ação da pressão social já acumula um saldo
positivo de conquistas nesse sentido. Contudo, Guerra de Macedo
51
(2003, p.51) considera
que:
Paralelamente a isso, verifica-se que o Direito tem procurado acompanhar as
necessidades dos portadores de HIV/aids. Muitos são os aspectos a serem
estudados sobre a aids: a negativa por parte do Estado em fornecer todos os
tratamentos e medicamentos necessários, a escassez do nosso sistema de
saúde pública, a discriminação, os planos de saúde, tudo isso, só para citar
alguns exemplos.
De acordo com o RDH (http://www.aids.gov.br/direitos.htm), que articula esforços do
Ministério da Saúde, da Secretaria de Políticas de Saúde e da Coordenação Nacional de
DST/AIDS, o aumento progressivo do número de pessoas infectadas que se verifica nos
países em desenvolvimento evidencia a relação entre a incidência de AIDS e as condições de
vida das populações mais atingidas. As desigualdades sociais, econômicas e culturais são
fatores de vulnerabilidade para a transmissão da doença que, embora tenha atingido todos os
países do mundo, desenvolve-se em cada região de modo a ressaltar as desigualdades e
contradições características da localidade. Isso se constata na distribuição geográfica do
número de pessoas infectadas e demonstra a associação entre AIDS e as violações aos
Direitos Humanos.
51
Priscila Duarte Guerra é voluntária do Núcleo Jurídico do GAPA-RS.
96
6. AIDS e direitos do trabalhador
No que tange ao Ministério da Previdência e Assistência Social, os direitos
previdenciários dos soropositivos são amparados pelo Regime Jurídico Único; pelas Lei 8.112
de 11/12/90; pela Lei 8.742 de 06/12/93, Lei Orgânica da Assistência Social nos Artigos 203
e 204 da Constituição Federal de 1988; pelo Decreto 2.172 de 05/03/97 que regulamenta os
Benefícios da Previdência Social; pelo Decreto 1.744 de 08/12/95 que regulamenta a Lei
8.742/93; e, pela Medida Provisória 1.599-40 de 08/01/88.
De acordo com o Ministério da Saúde, em documento assinado pelo Dr. José Antônio
Mosquéra
52
e disponibilizado no site do Programa Nacional de DST/AIDS.
Já podemos dizer que não existe na Previdência Social brasileira benefício
que seja específicos para os doentes de aids. No âmbito do INSS, onde são
avaliados os segurados da Previdência Social, ou nas juntas Médicas
Oficiais, que avaliam os funcionários públicos a concessão dos benefícios,
por doença ou por acidente, tem por fulcro a presença ou não de
incapacidade laborativa. Portanto, não basta a presença da doença ou
acidente. É preciso que haja incapacidade laborativa.
O documento afirma ainda que a licença médica poderá ser concedida por um período de
até 2 anos. Findo este prazo poderá ocorrer a aposentadoria por invalidez, caso não tenha
havido a recuperação da capacidade laborativa ou a readaptação. A aposentadoria será
integral, no caso de AIDS, bem como no de todas as patologias que caracterizam a invalidez,
já que “embora não haja uma norma técnica específica para os casos de aids os critérios de
avaliação médico-pericial, observados pelas Juntas Médicas Oficiais, são semelhantes aos do
INSS”.
A fim de estabelecer os critérios de avaliação da incapacidade para o desempenho de
atividades profissionais e para regulamentar a concessão de benefícios decorrentes do
afastamento do trabalho por incapacidade física, psíquica ou social decorrente da AIDS, o
INSS Instituto Nacional de Seguro Social determinou que a concessão de benefícios por
incapacidade é indicada em situações em que a pessoa infectada apresente uma ou mais
doenças oportunistas estabelecidas que causem a impossibilidade de exercer suas atividades.
52
Assessor técnico médico CRPS/MPAS.
97
Para o INSS, o segurado portador de infecção pelo HIV, estando assintomático e sem
evidência clínica ou laboratorial de imunodeficiência grave, não tem direito ao benefício.
Conforme o texto do Instituto Nacional de Seguro Social, em sua Resolução INSS/DC nº
089, de 05 de abril de 2002, fundamentada legalmente na Lei nº 8.213, de 24 de julho de
1991, no Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, e alterações posteriores, considerando a
necessidade da edição de ato para regulamentação de procedimentos médico-periciais para
avaliação da incapacidade laborativa dos portadores de Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (HIV/AIDS), resolveu em seu Art. 1
o
, aprovar a Norma Técnica de Avaliação da
Incapacidade Laborativa para fins de Benefícios Previdenciários em HIV/AIDS. Este
documento encontra-se disponibilizado na íntegra no site da Coordenação Nacional de
DST/AIDS, na seção Direitos Humanos e AIDS, no endereço eletrônico
http://www.aids.gov.br/final/dh/norma_jac.htm. No item 9.2, o documento dispõe que:
Tendo em vista que o processo de infecção pelo HIV é eminentemente de
natureza crônica e o tratamento da doença considerado muito complexo, é
importante definir claramente a amplitude do conceito de paciente
sintomático, já que o próprio tratamento pode, em algumas ocasiões, trazer
efeitos colaterais importantes mesmo com a doença controlada, podendo
incapacitar o segurado temporariamente para o trabalho. As questões de
ordem psicossocial associadas ao diagnóstico, e mesmo o prognóstico da
infecção pelo HIV, também deveriam ser consideradas neste contexto mais
amplo quando se avalia a presença ou não de sintomas relacionados ao
diagnóstico e tratamento da entidade nosológica AIDS e suas complicações.
Com relação aos parâmetros laboratoriais, o INSS considera que o paciente
assintomático apresenta contagem de linfócitos T-CD4+ abaixo de 200 células/mm
3
de
sangue, já que, de acordo com o documento, pacientes com contagens entre 200 e 350/mm
3
apresentam uma taxa de progressão para AIDS mais acelerada. Contudo, ressalta que:
Independentemente do valor limite adotado para células T-CD4+, o seu uso
como parâmetro isolado não parece ser adequado para fins previdenciários,
pois com o advento da terapia combinada, este parâmetro tornou-se muito
relativo e de pouca importância. A maioria dos pacientes apresenta elevação
expressiva dos valores de células T-CD4+ não devendo, portanto, ser usado
como indicador primário para incapacidade laborativa.
98
O documento esclarece no item 2, que a o HIV se identifica com células que têm
grande quantidade de receptores CD4 em sua superfície, como células sangüíneas e células
do sistema nervoso. O DNA viral incorporado à célula do organismo pode permanecer latente
por períodos variáveis de tempo, sendo o processo de replicação viral desencadeado
posteriormente. Afirma ainda que, apesar de não se saber exatamente a origem do HIV-1 e
HIV-2, é certo que existe uma grande família de retrovírus relacionados a eles presente em
primatas não-humanos da África subsaariana. Todos os membros desta família de retrovírus
têm estrutura genômica parecida, apresentando semelhanças em torno de 50%. No mesmo
item 2, explica-se que:
Aparentemente o HIV-1 e o HIV-2 caracterizam uma zoonose que há
décadas infecta o homem. Alguns trabalhos médico-científicos recentes
sugerem que os primeiros casos tenham ocorrido entre as décadas de 20 e 40
do século XX e que o HIV-1 tem se mostrado mais virulento do que o HIV-
2. Numerosos retrovírus de primatas não-humanos encontrados no
continente africano tem mostrado grande similaridade com o HIV-1 e com o
HIV-2. O vírus da imunodeficiência símia (SIV), que infecta com muita
freqüência os macacos verdes africanos e outras espécies de símios, é muito
próximo ao HIV-2, mostrando que ambos evoluíram de uma origem comum.
Por estes fatos supõe-se que o HIV tenha origem africana. Ademais, diversos
estudos sorológicos realizados na África, utilizando amostras de soro
armazenadas desde a década de 50-60, reforçam esta hipótese.
Ainda no mesmo item 2 Resolução INSS/DC nº 089, o vírus O HIV é considerado
bastante frágil no meio externo, perecendo rapidamente em contato com o calor e com agentes
químicos como o hipoclorito de sódio, o glutaraldeído, o álcool e a água oxigenada. Entre as
características mais marcantes do HIV, encontramos sua grande capacidade de variação
genética e já foram descritos subtipos tanto do HIV-1 como do HIV-2, este último restrito à
África Ocidental, onde já se descreveram 5 subtipos. Cogita-se a possibilidade de os subtipos
terem índices de transmissibilidade e/ou patogenicidade diversos.
99
7. Os filhos da AIDS
Conforme pesquisa do PN-DST/AIDS, da Secretaria Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde, finalizada em junho de 2004 e coordenada pela Prof
a
. Rosa Maria
Marques da PUC-SP, disponível em http://www.aids.gov.br/final/dh/extencao_servico.doc, o
aumento da sobrevida dos portadores de HIV a partir de 1996/1997, alterou o entendimento
do que deve se constituir em cobertura dos riscos a que eles estão expostos
53
, já que melhorou
a qualidade de vida dos portadores de HIV e ampliou-lhes as expectativas de vida. Conforme
o documento, “estudos e estatísticas indicam que, paralelamente a essa nova realidade, houve
um processo de pauperização” e que tal constatação exige “ampliação do conceito de proteção
social para os portadores de HIV / AIDS”. Para a autora:
(...) não se pode desconsiderar um outro segmento da população, formado
dos órfãos decorrentes de AIDS materna. A condição de órfão, sobreposta a
de baixa renda, introduz um outro item a ser contemplado nesse conceito
mais amplo de proteção social.
Nos documentos citados neste trabalho que tratam dos direitos previdenciários dos
portadores de HIV/AIDS, percebe-se que os portadores de HIV/AIDS são consideradas, do
ponto de vista legal, de forma semelhante aos demais segurados, isto é, podem gozar dos
benefícios de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez. Nesse sentido, a autora considera
que o acesso ao tratamento antiretroviral reduziu o número de concessões de benefícios para
pessoas com AIDS nos últimos anos. Para ela:
A análise do perfil de benefícios concedidos no período de 1996 a 2001
mostra que, após um crescimento inicial, com a introdução da terapia
antiretroviral houve redução, nos últimos anos, da concessão de
aposentadorias em relação ao auxílio doença. Souza et al (2003) observam
que, apesar da restrição do acesso ao BPC, esse benefício vem sendo cada
vez mais demandado pelos portadores de HIV/AIDS que se encontram
abaixo da linha da pobreza.
53
No documento Terapia anti-retroviral y salud publica: un balance de la experiência brasileña, elaborado pela
Coordenação Geral de DST/AIDS do MS para a ONUSIDA, há indicações de que o uso de medicamentos
antiretrovirais reduz o custo do tratamento, já que a elevação dos gastos ambulatória é mais que compensadas
pela redução dos gastos hospitalares.
100
Atualmente, o Brasil implementa diferentes programas de assistência social cujo
acesso é reservado a alguns segmentos. Dentre tais programas, podem-se destacar o Bolsa
Família, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, o Programa Renda Mínima, Programa
Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, o Programa Apenados, Programa
Micro-crédito, Programa de Atenção às Pessoas Portadoras de Deficiência, Programa de
Atenção à Pessoa Idosa, Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e
Adolescentes.
Contudo, examinando-se os documentos que regem o acesso a tais programas, não se
percebe nenhum que se manifeste em relação aos órfãos da AIDS. A Prof
a
. Rosa Maria
Marques considera que talvez isso ocorra porque o número de órfãos decorrentes da AIDS
tem apresentado taxas decrescentes “o que permite o estabelecimento de políticas de apoio
com um horizonte bastante estável”.
Para a autora, outra política que poderia ser examinada é a da Atenção à Criança e o
Adolescente, do Governo Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei nº
8.069 de 13/07/90), explicitando em seu conteúdo a questão do cuidado ao órfão da AIDS, já
que o artigo 34 dessa lei, na subseção II - "Da Guarda" reza: "O Poder Público estimulará,
através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a forma de
guarda, de criança ou adolescente órfão ou abandonado". A sugestão da autora é que se
acrescente a esse texto, após a palavra órfão, “inclusive àquele de pais que foram ao óbito por
AIDS”. Além disso, considera oportuna a concessão de auxílio monetário para adoção de
órfãos da AIDS, no valor: um salário mínimo concedido até a maioridade da criança, como
rege a lei.
Apesar disso, tem surgido o problema do teste anti-aids em casos de adoção. A
Declaração Universal dos Direitos da Criança é clara quando proíbe práticas que possam gerar
discriminação contra crianças. O ECA também veda submeter crianças a situações
constrangedoras. Nesse sentido, o Programa Nacional de Controle de DST/Aids, do
Ministério da Saúde, em 1993, já declarou que:
O que se assiste no país é que a testagem tem servido de argumento
discriminatório. As crianças soropositivas, além de não serem adotadas,
passam a ser depositadas em locais nem sempre dotados de condições
adequadas para o desenvolvimento normal (...) Além disso, com a rápida
disseminação do HIV entre as mulheres em idade fértil, e por conseqüência
em crianças, do ponto de vista epidemiológico, torna esta medida além de
101
inócua na prática, uma medida ainda mais desfavorável à criança que já
acumula tantos problemas sociais. Portanto reafirma-se a posição de não
recomendar o teste nestes casos.
8. Comportamento sexual da população brasileira
54
Conhecer o comportamento sexual da população brasileira é ter referências capazes de
pautar a adoção de políticas públicas, garantir a efetividade das intervenções relativas à saúde
coletiva e subsidiar as medidas preventivas para as DST/AIDS. Nesses aspectos reside o valor
do estudo a respeito do comportamento da população brasileira com vida sexual ativa,
encomendado pelo Programa Nacional de DST/AIDS ao IBOPE, disponibilizado no endereço
eletrônico http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/ibope_2003/briefing2.doc, realizado entre
26 e 29 de janeiro de 2003 numa amostra de 1.882 entrevistados brasileiros, com idades acima
de 14 anos, residentes nas áreas urbanas. O nível de confiança foi estipulado em 95% e a
estimativa da margem de erro é de 3,1% para mais ou para menos.
De acordo com os resultados, 69% da população brasileira acima de 14 anos tiveram
relação sexual nos 6 meses anteriores à pesquisa, ou seja, dos 1882 entrevistados que
compuseram a amostra, 1298 foram considerados sexualmente ativos. A região Sul
apresentou maior proporção de pessoas sexualmente ativas (76,5%), seguida pelas regiões
Norte e Centro-Oeste (71,4%). Entre os homens, 76,2% deles são sexualmente ativos,
proporção que cai para 62,7% entre as mulheres. Com relação à idade, 91,3% das pessoas
entre 30 e 39 anos são sexualmente ativas. Na faixa entre 40 e 49 anos a porcentagem cai para
83% e é de 81,3% entre as pessoas entre 20 e 29 anos.
Com relação à faixa de idade e sexo, percebe-se que há 113 homens sexualmente ativos
para cada grupo de 100 mulheres, já que 53,1% da população sexualmente ativa são do sexo
masculino e 46,9% é feminina. Na amostra, entre os entrevistados sexualmente ativos, 28,5%
têm entre 20 e 29 anos, 27,2% têm entre 30 e 39 anos e 20,2% têm entre 40 e 49 anos.
Na faixa entre os 14 e os 19 anos, encontram-se 6,7% da população brasileira
sexualmente ativa. Esta faixa é composta por 8,5% de homens e 5,1% de mulheres. Entre a
população de 20 a 49 anos, a proporção de homens e mulheres é a mesma. Já na faixa das
pessoas com mais de 50 anos de idade, concentram-se 17,3%, dos quais o total de homens
sexualmente ativos é o dobro do das mulheres.
54
http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/ibope_2003/briefing2.doc
102
Com relação ao grau de instrução, o estudo demonstra que, na amostra, percebe-se que
quanto mais elevado é o nível de escolaridade, menor é a proporção de pessoas sexualmente
ativas. 36,1% dos sexualmente ativos têm até a 4ª Série do Ensino Fundamental e 34,5% têm
mais que o Ensino Médio e aproximadamente 29,0% têm entre a 5ª e a 8ª Séries.
Para os estudos relativos à classe econômica, a pesquisa se pautou no Critério Brasil,
disponível no endereço eletrônico http://www.anep.org.br/codigosguias/CCEB.pdf. Segundo
a ANEP Associação Nacional de Empresas de Pesquisa, em janeiro de 2003, 29% da
população brasileira pertencia à classe A/B, 36% à classe C e 35% à classe D/E. A pesquisa
constatou que quanto mais alta é a classe econômica, menor é a proporção de pessoas
sexualmente ativas. Quase metade das pessoas sexualmente ativa pertence às classes
econômicas D e E. Essa proporção é quase três vezes maior do que a observada de pessoas
das classes A e B. Isso significa que para cada pessoa sexualmente ativa das classes A e B
existem três pessoas das classes D e E.
Quanto ao número médio de relações sexuais por mês nos últimos 6 meses, na
população sexualmente ativa de 14 anos ou mais, a pesquisa da amostra revelou a média
mensal de 10,2 relações sexuais. Na região Sul, a média é de duas relações sexuais a mais por
mês do que na região Nordeste. A média mensal masculina de relações sexuais dos homens é
27,3% maior do que a das mulheres, o que indica que os homens têm em média, 2,4 relações
sexuais por mês mais do que as mulheres. As pessoas de 20 a 29 anos têm em média 12,2
relações sexuais por mês e as de 30 a 39 anos têm 11,6 relações. Esse número é 47,8% maior
do que a observada entre as de 14 a 19 anos e quase o dobro das que têm mais de 50 anos.
É alarmante perceber que o número médio de relações sexuais mensais de pessoas que
não usam preservativo regularmente é 35,0% maior do que o observado entre as pessoas que
sempre usam o preservativo. Esse dado revela que uma pessoa que não usa preservativos
sempre tem quase 3 relações a mais em média por mês do que uma pessoa que usa.
O estudo constatou ainda que as pessoas que têm apenas um parceiro fixo apresentam
uma média de relações sexuais mensais 46,4% maior os que têm apenas parceiros eventuais.
Pessoas que mantêm relacionamento com parceiros eventuais e fixos têm um número médio
mensal 2,6 relações a mais que os que têm só parceiros fixos e 6 a mais que os que têm só
parceiros eventuais.
91,8% das pessoas sexualmente ativas declararam ter parceiro fixo nos últimos 6
meses, desses 9,0% tiveram também parceiro eventual. 75,8% das pessoas sexualmente ativas
relataram estar casadas e 9,5% declararam estar noivos ou namorando firme, o que indica que
85,3% das pessoas sexualmente ativas têm parceria fixa. Por outro lado, 9,5% declararam não
103
ter nenhum relacionamento no momento e 72,8% disseram estar namorando sem
compromisso, o que representa 14,7% das pessoas sexualmente ativas com parceria eventual.
Nesse contexto, deve-se considerar que 6,4% declararam ter parceiros fixos e eventuais.
Dos entrevistados que declararam ter só um parceiro fixo, 52,4% eram mulheres,
26,4% tinham de 20 a 29 anos, 28,3% tinham entre 30 e 39 anos e 38,4% tinham até a 4ª Série
do Ensino Fundamental. Dentre os que tinham apenas parceiro eventual, 87,7% eram homens,
39,5% tinham entre 20 e 29 anos, 36,6% tinham da 5ª a 8ª Série do Ensino Fundamental e
74,4% declararam não ter nenhum relacionamento. Entre os que declararam ter os dois tipos
de parceiros, 84,4% eram homens, 43,8% tinham entre 20 e 29 anos, 40,6% tinham da 5ª a 8ª
Série do Ensino Fundamental e 40,6% declararam ser casados.
Só fixo Só eventual Fixo e eventual
Homens 76,4 13,4 10,2
Mulheres 95,7 2,2 2,2
Até 19 anos 59,1 30,3 10,6
20 a 29 anos 78,9 11,3 9,9
30 a 39 anos 89,2 4,8 5,9
40 a 49 anos 91,6 4,0 4,5
50 a 59 anos 93,9 4,0 2,0
60 anos e mais 91,8 5,5 2,7
Até 4ª série do fundamental 90,5 5,6 3,9
De 5ª a 8ª série do fundamental 80,8 10,3 8,9
Ensino médio 85,1 8,9 5,9
Superior ou mais 78,4 10,8 10,8
Está casado(a) 96,5 0,0 3,5
Está noivo(a) ou namorando firme 84,2 0,0 15,8
Namorando, porém sem compromisso 45,1 27,5 27,5
Está livre 20,0 64,2 15,8
Fonte: IBOPE, Pesquisa de Opinião Pública 2003.
Tipo de parceria
Características
Características da população de 14 anos e mais sexualmente ativas nos últimos 6 meses por tipo de
parceria segundo o sexo, a faixa etária, a escolaridade e o tipo de relacionamento - Brasil, 2003
79,5% das pessoas sexualmente ativas que tiveram parceiros eventuais nos últimos 6
meses usaram preservativo na última relação, enquanto 57,8% usaram em todas as relações
em igual período. Entre as pessoas sexualmente ativas com parceiro fixo nos últimos 6 meses,
20,2% usaram preservativo na última relação. Considerando o uso em todas as relações dos
últimos 6 meses, essa proporção cai para 11,4%. Entre os jovens com menos de 19 anos,
65,2% declararam ter usado preservativo em sua primeira relação sexual.
O uso de preservativo na última relação sexual com parceiro fixo foi maior no Norte e
Centro-Oeste. As pessoas sexualmente ativas residentes na região Sudeste usam mais o
104
preservativo em suas relações sexuais que as residentes nas outras regiões do país,
independentemente da parceria (67,3% com parceiro eventual e 13,4% com parceiro fixo).
Dentre os que não usaram preservativo com o parceiro fixo, 53,0% declararam que não o
fizeram por ter confiança no parceiro/esposo ou então por ser casado(a) e ter parceiro fixo.
11,0% declararam não ter usado preservativo com parceiro fixo na última relação, pois usam
algum outro tipo de método anticoncepcional. 5,0% não usaram porque não gostam.
9. O Programa Brasileiro de Combate à AIDS
55
Embora ainda haja muito por fazer, a política brasileira de combate à AIDS é considerada
exemplar quando comparada a dos demais países em desenvolvimento. Como resultado da
luta contra a AIDS, que articula a sociedade civil e o governo, podemos contar com algumas
conquistas, dentre as quais se destacam a garantia de acesso gratuito ao tratamento para todos
os pacientes com AIDS e a quebra de patentes dos medicamentos componentes do coquetel
antiretroviral.
A garantia de acesso ao tratamento a todos os pacientes é resultado de um processo na
história brasileira de enfrentamento à epidemia de AIDS, que se iniciou por volta de 1980,
com a construção coletiva de uma política nacional de combate à AIDS, resultado da
organização entre segmentos da sociedade civil. Desse projeto coletivo se originou o atual
programa brasileiro.
De acordo com a publicação Brasil: contexto, do Ministério da Saúde, “os princípios
gerais que orientam o Programa são: descentralização, integralidade das ações, universalidade
de acesso aos bens e serviços de saúde e o controle social. A estes princípios acrescentem-se
as diretrizes que norteiam a resposta brasileira”:
a- Garantia da cidadania e direitos humanos das pessoas com HIV/aids;
b- Garantia de acesso aos insumos de prevenção e assistência para toda a população;
c- Direito de acesso ao diagnóstico para o HIV/AIDS;
d- Direito ao acesso universal e gratuito aos recursos disponíveis ao tratamento da doença.
55
http://www.netpsi.com.br/noticias/200503_oms_progr_bras.htm
105
Além disso, as ações adotadas pata enfrentar a epidemia são constituídas levando em
conta as diferenças individuais e coletivas da população, de acordo com os fatores de
vulnerabilidade e exposição aos riscos. Sendo assim são tidas como estratégias prioritárias:
1- Intervenção comportamental;
2- Política de acesso aos insumos de prevenção e assistência;
3- Veiculação de campanhas de massa;
4- Estabelecimento de parcerias com outras esferas de governo e com o setor privado;
5- Mobilização e articulação com a sociedade civil;
6- Organização de redes para diagnóstico e aconselhamento;
7- Implantação e implementação de serviços de alternativas assistenciais para HIV/aids ;
8- Implementação de serviços para atendimento às DST;
9- Prevenção da transmissão materno-infantil do HIV e sífilis congênita;
10- Avaliação da qualidade dos serviços de saúde para melhorar a adesão ao tratamento, com
ênfase na terapia antiretroviral;
11- Rede nacional de direitos humanos em HIV/aids.
Com relação à quebra de patentes dos medicamentos anti-retrovirais usados no
tratamento dos pacientes, a história mostra que, já em 1991, o Governo Brasileiro, atendendo
às reivindicações de diversos segmentos da sociedade civil organizada, passou a distribuir o
AZT para milhares pacientes. Essa política foi sendo aperfeiçoada e, em 1996, surgiram os
inibidores de protease, que juntamente com o AZT passaram também a ser disponibilizados à
população alvo. Essa conduta se manteve para os demais medicamentos que foram sendo
desenvolvidos. De acordo com o Labjor
56
:
O programa nacional de combate à Aids no Brasil, regulamentado pelo
governo federal em 1996, garante aos doentes infectados com o vírus HIV
acesso gratuito à medicação necessária para o seu tratamento. O coquetel de
medicamentos anti-retrovirais usado no tratamento da doença é comprado
pelo Ministério da Saúde e distribuído para a rede pública de saúde do país.
Segundo o Boletim Epidemiológico publicado em dezembro do ano passado
pelo Ministério da Saúde (...) em 1996 (...) o governo federal gastou R$ 40
milhões com medicamentos anti-Aids. Em 1997, esse gasto saltou para mais
de R$ 250 milhões.
56
http://www.labjor.unicamp.br/ acesso em 20.09.2005
106
Embora a política de distribuição de medicamentos tenha demonstrado ser acertada em
decorrência da economia alcançada com a diminuição do gasto com internações hospitalares,
a necessidade de assegurar sua continuidade foi se impondo, pois a inclusão de novas drogas e
o surgimento de novos casos aumentava os gastos com a compra de medicamentos.
Nesse contexto, a produção local de medicamentos e a quebra das patentes foram se
impondo à política brasileira de distribuição dos anti-retrovirais. Já que, ainda conforme o
Labjor, à época, 1% da produção de medicamentos cabia aos laboratórios privados brasileiros,
18% aos laboratórios públicos brasileiros e 81% aos laboratórios internacionais.
Para conseguir a quebra de patentes, o Brasil teve que travar uma luta internacional,
uma vez que a patente é um mecanismo legal que protege a propriedade intelectual e garante
ao seu detentor os direitos de reprodução e comercialização, assegurando-lhe assim os lucros
daí decorrentes. Ocorre que implicações sócio-econômicas podem prevalecer, estabelecendo a
polêmica sobre a quebra de patente. Dentre tais implicações, coloca-se a defasagem
tecnológica dos países em desenvolvimento quando comparados aos países ricos e o baixo
poder de compra desses países.
Essa problemática, transferida para o contexto dos medicamentos anti-Aids, exerce
impacto profundo sobre a sociedade pois condena à morte a população dos países que não têm
recursos financeiros para custear a medicação. Na África, a epidemia já alcançou um
contingente tão grande de pessoas que a polêmica instalada a respeito da quebra de patentes e
das cifras praticadas pelos laboratórios internacionais chamou a atenção da opinião pública
mundial. Em inúmeros países da África, a infecção pelo vírus HIV/AIDS vem causando
enormes danos à economia, uma vez que tem relação direta com a diminuição da força de
trabalho.
No que se refere à produção dos medicamentos em território nacional, pela falta de
investimentos do setor, algumas ações tiveram que ser implementadas. De acordo com
reportagem do Labjor, veiculada em 25.07.01:
De 1994 até 1999, o investimento global em pesquisa e desenvolvimento no
Brasil não apresentou evolução no âmbito privado e sofreu um considerável
declínio na esfera pública. Segundo a Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), no setor
privado, as despesas em P&D se mantiveram na faixa de 1% do faturamento
bruto das empresas, entre 1995 e 1999.
107
De acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia, o governo federal
investiu mais de R$ 2 bilhões em P&D em 1994. Esse investimento caiu
gradativamente ano a ano, e em 1999, foi abaixo de R$ 1,5 bilhão. E dos
recursos estaduais aplicados em ciência e tecnologia, o percentual destinado
à P&D caiu de cerca de 40% em 1996 para menos de 30% em 1999.
Para fazer frente às urgentes necessidades de desenvolvimento, a área de pesquisa em
fármacos recebeu os estímulos da política federal de incentivo à produção de genéricos. Em
2001, o Laboratório Farmoquímico Cristália, em Itapira-SP, anunciou o início da produção do
princípio ativo de quatro medicamentos anti-retrovirais. O Crisália foi o primeiro laboratório
brasileiro a fazer a síntese da matéria-prima dos anti-retrovirais, até então importada.
A Far-Manguinhos, laboratório FIOCRUZ, ligado ao Ministério da Saúde, passa a
produzir um teste para diagnóstico de AIDS, até então importado e alguns medicamentos anti-
retrovirais. Dessa forma, a Far-Manguinhos cuja participação na produção em 1999 estava
abaixo de 20%, salta para 50% em 2000 e atinge os 75% em 2001. A matéria-prima
sintetizada em Itapira passa a ser disponibilizada para a produção dos remédios em outros
laboratórios brasileiros.
Esse contexto possibilita que o Brasil, pela redução de gastos com a compra de
medicamentos, garanta aos pacientes com Aids, o acesso aos medicamentos.
A quebra de patentes, que provocou acirradas disputas internacionais por envolver
quantias bilionárias, finalmente foi reconhecida internacionalmente, por assegurar um direito
humano fundamental. Para o Labjor essa é uma conquista justa “primeiro, para aqueles que
não têm condição de pagar o preço de sua defasagem tecnológica. Por fim, para os que ainda
podem investir na própria capacitação e minimizar sua dependência da ciência e tecnologia
produzida nos países desenvolvidos.”
Atualmente, a distribuição universal e gratuita dos anti-retrovirais é o aspecto mais
relevante da política brasileira de combate à AIDS que, desde 1996, levou a uma diminuição
de 50% das mortes por AIDS no Brasil e reduziu em mais de 80% as internações hospitalares
por AIDS no SUS. Registrou-se também a diminuição de até 80% no tratamento de doenças
oportunistas. No âmbito do atendimento público, a Brasil conta com cinco tipos diferenciados
de serviços disponíveis aos portadores do HIV/AIDS:
a- Serviços Ambulatoriais Especializados;
b- Hospitais-Dia;
c- Serviços de Assistência Domiciliar Terapêutica;
108
d- Hospitais Convencionais, e;
e- Serviços de Atendimento às DST.
Neste trabalho não se tem a intenção de esgotar este aspecto da luta no combate à
AIDS, mas somente tecer um panorama a respeito de questões que levaram o país a ocupar a
liderança na produção de remédios contra a doença. A declaração de Jamil Chade
57
, da
Agência Estado:
A política de combate à aids do Brasil será a base da nova política da
Organização Mundial da Saúde (OMS), a ser implementada nos próximos
cinco anos. Sobre a possibilidade de aplicar o programa brasileiro em todo o
mundo, Teixeira
58
argumenta que não será uma tarefa impossível. "A
experiência brasileira mostrou que mesmo em regiões pobres há como tornar
o tratamento viável", afirmou o especialista, que ainda nesta semana começa
a trabalhar na equipe de transição da OMS.
Para o Coordenador do Programa Brasileiro de Combate à AIDS, Paulo Teixeira “a OMS
não será a primeira a adotar o programa brasileiro. Em três anos, 31 países em
desenvolvimento já adotaram as diretrizes do Brasil e, no Quênia e na África do Sul, os
governos já trabalham com remédios doados pelo País”.
57
Jamil Chade é graduado em Relações Internacionais na PUC-SP e Mestre em Ciências Políticas na
Universidade de Genebra. É repórter de O Estado de S. Paulo, da Agência Estado e da Rádio França
Internacional em Genebra. http://www.netpsi.com.br/noticias/200503_oms_progr_bras.htm
58
Paulo Teixeira, então Chefe do Programa Brasileiro de Combate à AIDS.
CAPÍTULO III: MATERIAIS E MÉTODOS
110
É precisamente neste ponto que o estudante poderá ver concretamente
as dificuldades de realização existentes mesmo nos problemas de
pesquisa mais simples. Freqüentemente é fácil criticar um relatório
publicado apontando meios que teriam melhorado o seu formulário
básico, simplificando ou elaborando seu plano. O fato de serem essas
críticas relativamente fáceis reflete o que pode ser denominado o
aspecto “autocorretivo” da ciência. Em outras palavras, a idéia de que
o resultado das melhores pesquisas é indicar como um problema
semelhante poderá ser mais bem resolvido na próxima oportunidade.
As críticas à pesquisa são sempre bem-vindas e constituem a base
significativa para o trabalho futuro.
(Willian J. Goode & Paul K. Hatt, 1972, p.172)
A PESQUISA
O presente trabalho tem como orientação metodológica a pesquisa exploratória e
descritiva. É exploratória porque busca ampliar e aprofundar conhecimentos a respeito de um
tema sobre o qual não há muita informação e faz um diagnóstico preliminar a respeito de um
contexto. É descritiva porque permite que se obtenha um panorama de como o fenômeno em
estudo se dá no meio em que ocorre.
A revisão bibliográfica e documental foi usada em todas as fases, orientando a
definição das questões de pesquisa e das hipóteses e indicando os objetivos gerais e
específicos. Além disso, contribuiu na escolha da técnica de campo adequada, na definição da
população e guiou a construção do instrumento de campo.
A aplicação do instrumento de campo impôs o conhecimento de técnicas de
informática para criação do aplicativo, construção do banco de dados, geração de planilhas, e
tabulação. Nesta fase também nos socorreram as obras dos autores da área. Da pesquisa de
marketing vieram as contribuições que forneceram os critérios de seleção da amostra e da
abordagem quantitativa e qualitativa.
A banca de qualificação nos alertou da necessidade do parecer favorável do
CEU/UMESP Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Metodista de São Paulo,
conforme a legislação que rege experimentos com seres humanos. Para atender essa
exigência, a revisão bibliográfica, principalmente na Internet, também se mostrou o caminho
apropriado.
111
A título de esquematização, dividimos nosso trabalho em duas fases: a 1
a
fase
compreende a pesquisa realizada até o Exame de Qualificação e a 2
a
. fase, à continuidade do
trabalho com a incorporação das orientações da Banca Examinadora. As tabelas a seguir
representam a forma como a pesquisa se deu e ilustram as relações e funções que
correlacionam o desenvolvimento de cada uma dessas fases. Os comentários que sucedem os
quadros explicam cada um dos passos.
Tabela 2 - Descrição da 1ª fase da pesquisa
1. PESQUISA EXPLORATÓRIA E DESCRITIVA
2- Revisão Bibliográfica e Documental
a- Comunicação primária
b- Comunicação secundária
3- Definição da população
4. Definição
a- das questões de pesquisa
b- das hipóteses de pesquisa
5- Estabelecimento dos Objetivos
a- Gerais
b- Específicos
6. Escolha da técnica de campo adequada
a- questionário
- formato das perguntas
- seqüência das perguntas
- perguntas indiscretas
7. Construção do instrumento de campo
a- Pré-teste do questionário em papel
b- Modificações tecnologia e conteúdo
c- Criação de aplicativo
d- Construção de banco de dados
e- Pré-teste do questionário via Internet
f- Teste do aplicativo e do banco de dados
8. Critérios de seleção da amostra
a- Amostragem não probabilística
b- Amostragem por conveniência
c- Determinação do tamanho da amostra
9. Aplicação do teste piloto via Internet
a- Geração de planilha de dados
b- Tabulação dos dados
c- Análise quantitativa dos dados
d- Análise qualitativa dos dados
e- Apresentação dos resultados
f- Comentários
10. EXAME DE QUALIFICAÇÃO
112
Tabela 3 - Descrição da 2ª fase da pesquisa
11. INCORPORAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES PROPOSTAS PELA BANCA
12. Comitê de Ética em Pesquisa
a-
Apresentação do Projeto de Pesquisa
CÉU/UMESP para obter permissão para
conduzir trabalho com seres humanos.
b- Obtenção de parecer favorável para dar
continuidade ao trabalho.
13. Modificações necessárias
a- Ajustes no questionário
b- Adaptação do aplicativo
c- Adaptação do banco de dados
d- Substituição: Internet X notebook
e- Pré-teste
14. Revisão dos critérios de seleção da
amostra
a- Amostragem não probabilística
b- Amostragem por julgamento
c- Amostragem por conveniência
d- Determinação do tamanho da amostra
15. Trabalho de campo
a- Aplicação final do questionário
b- Construção do relatório de campo
16. Organização dos dados
a- Geração de planilha de dados
b- Tabulação dos dados
17. Análise dos dados
a- Quantitativa
b- Qualitativa
18. Apresentação dos resultados e comentários
19. DEFESA
1. A pesquisa exploratória e descritiva
Embora muito já se tenha investigado tanto a respeito da Internet como a
respeito da AIDS, este trabalho se dedicou à veiculação da AIDS pela Internet e teve a
pesquisa exploratória e descritiva como caminho metodológico adequado aos nossos
propósitos.
Consultando os nomes consagrados, encontramos em Mattar (1996, p.84), a
indicação inicial da trajetória a seguir, já que o autor considera a pesquisa exploratória
apropriada aos primeiros estágios de investigação quando a familiaridade, o
113
conhecimento e a compreensão do fenômeno são, geralmente, insuficientes.
Verificamos que as afirmações de Mattar são reforçadas pelas Aeker et al (2001, p.94)
quando afirmam que “a pesquisa exploratória é usada quando se busca um
entendimento sobre a natureza geral de um problema, as possíveis hipóteses
alternativas e variáveis relevantes que precisam ser consideradas”. A contribuição de
Pinheiro et al (2004, p.84) nos auxiliou na definição das questões e das hipóteses de
pesquisa, pois esclarece que:
A pesquisa exploratória colabora na definição do problema de pesquisa,
ajuda a definir o foco e as prioridades de estudo e visa a compreender o
comportamento e as atitudes (...), explorando as possíveis relações (...)
existentes servindo para levantar hipóteses e descobrir características
desconhecidas sobre assuntos nos quais não se possui conhecimento ou
domínio.
A pesquisa exploratória pode ser experimental ou descritiva. Como pretendemos
descrever uma realidade sem a intenção de nela interferir, nosso trabalho se caracteriza pela
pesquisa exploratória qualitativa e descritiva conforme esclarece Godoy (1995, p.62):
A pesquisa qualitativa é descritiva. A palavra escrita ocupa lugar de destaque
nessa abordagem, desempenhando papel fundamental tanto no processo de
obtenção de dados quanto na disseminação dos resultados. (...) O interesse
desses investigadores está em verificar como determinado fenômeno se
manifesta nas atividades, procedimentos e interações diárias. Não é possível
compreender o comportamento humano sem a compreensão do quadro
referencial (estrutura) dentro da qual os indivíduos interpretam seus
pensamentos, sentimentos e ações.
Percebemos que nessa mesma direção seguem as considerações de Malhotra (204,
p.108) quando afirma: “como o nome indica, o principal objetivo da pesquisa descritiva é
descrever alguma coisa”. Acrescenta que este tipo de trabalho pode ser realizado para
“descrever as características de grupos relevantes (...). Estimar a porcentagem de unidades
numa população específica que exibe um determinado comportamento”.
114
A contribuição desses autores da área da Comunicação foi valiosa. Contudo, como
nossas preocupações se situam no âmbito da comunicação e saúde, procuramos também
conhecer como os pesquisadores da área da saúde se colocam diante da pesquisa exploratória
qualitativa e descritiva. Encontramos em Piovesan e Temporini (1995, p.321), um
posicionamento que valoriza o indivíduo, seus modos de agir, pensar e sentir. Para eles,
crenças, atitudes, valores, emoções e motivações são componentes importantes a
condicionarem a percepção dos indivíduos acerca de fenômenos biológicos, psíquicos e sócio-
ambientais, conforme se constata no trecho abaixo:
As experiências de vida, ao lado do ensino formal, concorrem para a
construção de conhecimentos, crenças, atitudes, valores, emoções e
motivações, componentes importantes a condicionarem a percepção dos
indivíduos acerca de fenômenos biológicos, psíquicos e sócio-ambientais.
Assim, a percepção constitui experiência sensorial que adquire significado à
luz dessas influências. Em geral, variáveis relativas à conduta em saúde e
seus determinantes oferecem maiores dificuldades metodológicas para sua
identificação, compreensão e mensuração.
Por ter essa natureza descritiva, para desenvolver a pesquisa, observamos, registramos,
analisamos, classificamos e interpretamos dados, o que impôs o trabalho com fontes
primárias, cujos dados foram colhidos pelo próprio pesquisador a fim de responder o
problema de pesquisa. Para proceder ao teste das hipóteses e alcançar o objetivo, nos vimos
obrigados a definir uma população.
Triola (1998, p.3) nos esclareceu que “população é uma coleção completa de todos os
elementos a serem estudados”, “é um conjunto de elementos com uma ou mais características
em comum”. Como nos debruçamos sobre a veiculação das informações sobre AIDS na
Internet, o traço comum de nossa população é a intimidade com essa nova tecnologia da
informação. Os informantes tinham que ser usuários freqüentes com acesso assegurado e com
necessidades de consulta e interação contínua. Identificamos a especificidade de nossa
população quando percebemos que ela não seria encontrada em grande concentração se
focássemos categorias como sexo, ramo de atividade, faixa de idade, orientação sexual, nível
cultural, religião, etc. Nesse impasse, fomos excluindo segmentos, mas ao proceder assim,
verificamos que nossa população precisava incluir todas essas variáveis. Neste ponto, uma
questão se apresentou: onde encontrar usuários de Internet familiarizados com os
115
procedimentos de busca, de ambos os sexos, idades, opção sexual, nível cultural, religião, etc.
variados? Responder a essa pergunta não foi difícil e o segmento que atendia a todas essas
exigências foi a população universitária. Essa população se demonstrou apropriada por incluir
os atributos acima e porque, em suas atividades corriqueiras verificação de notas, estudo,
pesquisas para trabalhos e outras atividades curriculares, troca de e-mails, etc têm
assegurado o acesso à Internet, mesmo que somente na instituição em que estudam. São Paulo
foi escolhida por ser a cidade do Brasil que concentra o maior número de universitários.
59
2. A revisão bibliográfica e documental
Para Luna (1998, p.83), a investigação científica requer um arcabouço teórico que só
pode ser obtido em uma bibliografia de obras de referência e de trabalhos sobre o tema. A
revisão bibliográfica descreve e explica o conhecimento acumulado sobre o assunto,
pontuando trabalhos expressivos, bem como indica as instituições que se dedicam ao assunto
e os autores mais importantes. Para Luna (1998, p.82), a revisão bibliográfica também pode
identificar “quais as principais lacunas”, pois:
Entre as muitas razões que tornam importantes os estudos com esse objetivo,
deve-se lembrar que eles constituem uma excelente fonte de atualização para
pesquisadores fora da área na qual se realiza o estudo, na medida em que
condensam os pontos importantes do problema em questão.
O fato de nosso tema se situar na intersecção da área da comunicação com a da saúde,
por si só, já obriga a uma revisão bibliográfica extensa. Quando se somam a ele assuntos
como AIDS e Internet, ocorre um aumento significativo no volume de leituras que o
pesquisador tem que empreender. Por isso, a revisão bibliográfica e documental, que foi
desenvolvida teve dois momentos: o da comunicação primária e o da comunicação
secundária. Essa divisão foi oportuna por categorizar as informações de acordo com suas
fontes, conforme esclarece Epstein (2002, p.98):
A comunicação da ciência pode ocorrer entre os próprios cientistas
(Interpares) ou entre os cientistas e o público leigo (diretamente ou pela
59
Dados do INEP relativos ao Censo do Ensino Superior.
116
mediação dos divulgadores científicos). No primeiro caso denomina-se
comunicação primária ou disseminação e, no segundo, comunicação
secundária ou divulgação (vulgarisation em francês e popularization em
inglês).
Para a comunicação primária, consideramos livros, revistas e jornais especializados,
teses e sites consagrados na Internet. Destacamos que consideramos como consagrados
somente os sites de instituições reconhecidamente científicas. Na comunicação secundária
foram considerados os jornais e revistas de grande tiragem e os sites de divulgação.
Neste trabalho, a pesquisa bibliográfica da comunicação primária se debruçou
primeiramente sobre o campo da comunicação como ciência e do lugar ocupado pela subárea
da comunicação e saúde nesse cenário. Para isso, usamos livros, revistas e jornais científicos e
Internet. Esse procedimento nos orientou quanto aos principais centros de pesquisa,
bibliografia e sites sobre a interface comunicação e saúde.
Num segundo momento, e seguindo a mesma conduta de pesquisa, nos ativemos às
obras pontuais sobre AIDS. Igualmente, esta parte do nosso trabalho não pretendeu esgotar o
assunto, mas traçar um panorama sobre a doença, seu impacto sobre a realidade social no
mundo e no Brasil, principalmente no que se refere à garantia dos direitos das pessoas
infectadas, bem como à problemática gerada pelos “filhos da AIDS”. Algumas considerações
sobre o comportamento sexual da população brasileira e sobre o Programa Nacional de
Combate à AIDS também nos pareceram oportunas. Depois disso, procedemos ainda a uma
investigação sobre a forma como os meios de comunicação de massa, inclusive a Internet,
veiculam informações sobre a AIDS, em que consideramos a comunicação primária e a
secundária.
Para satisfazer a necessidade teórica de conhecimento sobre a Internet, a pesquisa
bibliográfica da comunicação primária foi usada. Contudo, como este trabalho envolveu
criação de aplicativos, construção de banco de dados, geração de planilhas e tabulação de
dados, fomos forçados a deter conhecimentos técnicos, de ordem prática, sobre informática.
Para isso, usamos fontes primárias e secundárias e consultamos técnicos da área.
Quando a necessidade de um questionário se impôs, a revisão bibliográfica e
documental também foi o caminho oportuno para nos equipar de conhecimento para a
construção do questionário. Para isso, também nos valemos de fontes da comunicação
primária e secundária. Embora nosso trabalho de revisão bibliográfica tenha sido árduo e
extenso, compreendeu um prazeroso período de frutífero amadurecimento acadêmico.
117
3. Questões, hipóteses e objetivos
Enquanto a revisão bibliográfica e documental construía o arcabouço teórico que
sustenta o trabalho, as incertezas sobre as questões e as hipóteses de pesquisa se aclaravam.
Pinheiro et al (2004, p.73-4) consideram que somente a partir da definição das questões de
pesquisa é que se pode proceder ao planejamento, uma vez que consideram que as questões
definem os objetivos. Para eles (p.74) “apesar da relevância de todas as etapas de uma
pesquisa (...), a definição das questões é fundamental para o adequado desenvolvimento do
processo”. Neste trabalho, constatamos a verdade dessas palavras pois, enquanto a revisão
avançava, surgiam novos obstáculos a vencer. Nesse ponto, verificamos que as idéias de
Pinheiro et al, coincidem com as de Theodorson e Theodorson (1970, p.293), que sustentam:
O estudo exploratório (...) permite ao investigador definir seu problema de
pesquisa e formular de forma mais acurada sua hipótese. Permite também ao
pesquisador escolher as técnicas de pesquisa mais apropriadas ao seu
trabalho e decidir-se sobre as questões que precisam de maior ênfase e de
investigação detalhada, e pode alertá-lo sobre as potenciais dificuldades,
sensibilidades e áreas de resistência.
60
Durante a realização deste trabalho, percebemos que as questões de pesquisa
estabeleceram nosso foco de estudo e determinaram que informações eram necessárias para
respondê-las. Isso nos indicou a população adequada e nos levou à definição das hipóteses e
dos objetivos gerais. Com relação aos objetivos, Sâmara e Barros (2001, p.12) informam:
Os objetivos da pesquisa são determinados de maneira a trazer informações
que solucionam o problema de pesquisa. É um processo interdependente e
que exige total coerência entre o problema definido e os objetivos do projeto
de pesquisa.
Vencido esse percurso inicial, percebemos que somente os objetivos gerais não
davam conta das questões de pesquisa e do teste das hipóteses. Por isso, foram
60
(Tradução nossa) A preliminary study the major purpose of which is to become familiar with a phenomenon
that is to investigate (…) it permits the investigator to define his research problem and formulate his hypothesis
more accurately. It also enables him to choose the most suitable techniques for his research and to decide on the
questions most in need of emphasis and detailed investigation, and it may alert him to potential difficulties,
sensitivities, and areas of resistance
118
complementados com os objetivos específicos. Os objetivos gerais foram o fio condutor na
busca das informações e impediram o desvio de foco, armadilha constante em trabalhos
acadêmicos. Os objetivos específicos forneceram o detalhamento das informações necessárias
para responder às questões de pesquisa.
Com os objetivos, as questões, as hipóteses de pesquisa e a população definidos,
impôs-se a necessidade de um trabalho de campo. O trabalho de campo apresenta duas
possibilidades de abordagem: a quantitativa e a qualitativa.
A abordagem qualitativa tem como métodos mais usados de coleta de dados os grupos
de discussão e as entrevistas de profundidade (PINHEIRO et al, 2004, p.135). Os grupos de
discussão foram descartados, pois requerem grupos homogêneos. Conforme Aeker et al
(2001, p.214) “(...) não é desejável combinar pessoas de classes sociais diferentes, ou (...) em
estágios diferentes da vida, por causa das diferenças em suas percepções, experiências e
habilidades”. A entrevista apresentou a desvantagem do contato pessoal.
A abordagem quantitativa tem como principais métodos de coleta de dados a
entrevista: pessoal, pelo correio, por telefone ou pela internet, todos orientados por um
instrumento que permite a posterior tabulação dos dados. O fato de não exigir o contato
pessoal e a facilidade na tabulação foram determinantes em nossa opção pela abordagem
quantitativa. Sendo assim, foi preciso construir um instrumento de campo.
O instrumento de campo, na abordagem quantitativa, pode ser um formulário de
autopreenchimento ou um questionário. Com o uso do formulário, o pesquisador depende do
informante para devolver o instrumento preenchido. O questionário pode ser usado em
entrevista pessoal ou por telefone, mas também pode ser disponibilizado na Internet, o que
elimina o contato pessoal. Por esse motivo e pelas possibilidades de mensuração que permite,
o questionário foi escolhido e passamos a nos dedicar à sua construção.
4. Construção do instrumento de campo
Os objetivos deste trabalho estabeleceram que a coleta de dados fosse
obrigatoriamente feita em fontes primárias, junto aos universitários. A metodologia adotada
para a construção do questionário teve influência dos estudos de Malhotra (2004), Prado
(1998), Rea e Parker (2000), Chagas (2000), Goode e Hatt (1972), Luck, Wales e Taylor
(1970) no que diz respeito à seqüência das perguntas, da necessidade de um esclarecimento
introdutório e dos agradecimentos, pois conforme Rea e Parker (2000, p.41) afirmam:
119
É importante informar os entrevistados em potencial, a respeito da finalidade
do estudo para comunicar sua importância e amenizar quaisquer objeções
que ele possa ter. Do ponto de vista do pesquisador, existe a necessidade de
convencer os entrevistados em potencial de que sua participação é útil tanto
para o patrocinador da pesquisa, ou cliente, quanto para eles próprios.
Quaisquer temores que possam ter com relação ao tempo e inconveniência,
privacidade e segurança devem ser atenuados. O entrevistado deve ter
certeza de que todas as respostas são valiosas que não há respostas
“corretas” ou “incorretas”.
Para Malhotra (2004, p.275) a elaboração do questionário é o ponto crítico do trabalho
de pesquisa, pois, para ele, “o principal ponto fraco da elaboração de um questionário é a
ausência de teoria. Como não existem princípios científicos que garantam um questionário
ótimo ou ideal sua concepção é uma habilidade que se adquire com a experiência”. As
palavras de Malhotra demonstraram-se verdadeiras, pois em nossa trajetória, o questionário
sofreu diversas alterações, tanto no conteúdo das perguntas como na sua forma de aplicação.
Goode e Hatt (1972, p.173) consideram que “questionário se refere a um meio de obter
respostas a questões por uma fórmula que o próprio informante preenche”. Chagas (2000 on-
line), que também avalia as dificuldades que esta tarefa apresenta, afirma:
(...) um questionário é tão somente um conjunto de questões, feito para gerar
os dados necessários para se atingir os objetivos do projeto. Embora (...) nem
todos os projetos de pesquisa utilizem essa forma de instrumento de coleta
de dados, o questionário é muito importante na pesquisa científica,
especialmente nas ciências sociais. (...) construir questionários não é uma
tarefa fácil e aplicar tempo e esforço adequados para a construção do
questionário é uma necessidade, um fator de diferenciação favorável. Não
existe uma metodologia padrão para o projeto de questionários, porém
existem recomendações de diversos autores com relação a essa importante
tarefa no processo de pesquisa científica.
Para construir as perguntas, procedemos a uma pesquisa sobre AIDS na Internet, em
sites, salas de bate-papo e grupos de discussão. Assim, identificamos as dúvidas mais
freqüentes e tentamos nos afastar dos riscos de cair na mesmice.
120
O formato das questões também foi concebido de modo a fornecer uma lista fixa de
alternativas de respostas que permitisse a tabulação. Por isso, optamos por questões fechadas,
mas a inclusão da alternativa “outros” nas questões 30 e 33 trouxe um elemento de abertura
para o formato fechado. Para Rea e Parker (2000, p.46) “em nome da simplicidade, e da
facilidade da resposta, o uso dessa opção deve ser cuidadosamente controlado (...) e deve se
basear em evidencias obtidas durante o pré-teste”.
Na elaboração do questionário, a recomendação de Luck, Wales e Taylor (1970,
p.182) de que se deve estruturar um primeiro modelo do questionário, foi atendida. O
conselho de Chagas (2000, online), de que se deve ter alguma forma de identificação do
respondente, mesmo quando seu anonimato está assegurado e de que as questões são
relacionadas às hipóteses e os objetivos da pesquisa e com a população a ser pesquisada,
também foi respeitado.
Com base nessas contribuições, construímos o primeiro instrumento de coleta de
dados, embrião do questionário definitivo, e procedemos ao pré-teste, já que Chagas (2000,
on-line) aconselha um “ensaio geral”.
É importante a realização de um pré-teste porque é provável que não se
consiga prever todos os problemas e/ou dúvidas que podem surgir durante a
aplicação do questionário. Sem o pré-teste, pode haver grande perda de
tempo, dinheiro e credibilidade caso se constate algum problema grave com
o questionário já na fase de aplicação. Nesse caso o questionário terá que ser
refeito e estarão perdidas todas as informações já colhidas.
O pré-teste que empreendemos confirmou a preocupação de Chagas e vimos a
necessidade de proceder a algumas modificações, tanto no conteúdo, como na forma de
aplicação. Com relação ao conteúdo, percebemos que muitos informantes desconheciam o
assunto, o que obrigava a inclusão da alternativa “não conheço” em algumas respostas. Outros
tantos tinham dificuldades em responder alternativas com números pontuais.
Para contornar a dificuldade relativa aos números foi Malhotra (2004, p.280) que nos
socorreu afirmando que um fator delicado, na elaboração de questionários, são as perguntas
que o informante pode considerar como indiscretas. Uma possibilidade que o pesquisador
dispõe para minimizar esta dificuldade é a adoção de “categorias de respostas, ao invés de
valores específicos”. Seguindo esta orientação, adotamos uma escala de porcentagens na
maioria das respostas.
121
A construção do questionário foi uma fase extremamente delicada deste trabalho, que
exigiu empenho para fazer acertos diversos. Contudo, nosso esforço encontrou alento nas
palavras de Rea e Parker (2000, p.39) que advertem:
Esteja ciente de que nenhum questionário pode ser considerado ideal para
obter todas as informações necessárias a um estudo. Quase todos têm
vantagens e falhas. O pesquisador precisa usar de experiência e critério (...)
na construção de uma série de perguntas que maximizem as vantagens e
minimizem as desvantagens em potencial.
Outra coisa que comprometia o trabalho era o constrangimento que o contato pessoal
causava, pois as perguntas são de foro íntimo e o anonimato ficava comprometido. Para sanar
essas dificuldades, hospedamos o questionário na Internet e convidamos os informantes a
respondê-lo. Esse procedimento orientou a aplicação do teste piloto, com 200 informantes.
Nossa surpresa foi que os próprios informantes nos diziam, felizes, que convidavam amigos e
familiares a responderem ao questionário que, estando disponibilizado na rede, não nos
fornecia meios de controle sobre a amostra que se mostrou viciada e, portanto, inválida. Além
disso, impôs-se a necessidade legal de obter dos informantes, o TCLE, que não havia sido
considerado.
Para solucionar os problemas da obtenção do TCLE e do controle sobre a amostra,
substituímos a disponibilização da Internet para um computador portátil, tipo notebook. Para
colher as respostas, dirigimo-nos aos informantes e os convidamos a responder o questionário
no próprio notebook, depois de assinar o TCLE. Esse procedimento, além de afastar o
constrangimento, já que o questionário tinha o botão “enviar resposta”. Assim, quando o
notebook era devolvido à pesquisadora, na tela não constava nenhum elemento que pudesse
identificar o informante.
Novamente, procedemos ao pré-teste do questionário, do aplicativo, do banco de
dados e da geração de planilhas. Como o resultado foi favorável e demonstrou atender à
necessidade do trabalho, o questionário, os procedimentos e a tecnologia foram adotados para
a fase final da pesquisa. A seguir, apresentamos o modelo do questionário, precedido pela
explicação dos quatro núcleos em que ele foi dividido.
122
Núcleo 1
Idade, sexo, escolarização, inclinação religiosa, orientação e iniciação sexual
O núcleo 1tem as questões administrativas, cuja finalidade é caracterizar o informante
para que, na fase de tabulação dos dados, possa-
se proceder ao cruzamento. Para Rea e
Parker (2000, p.47) “as primeiras perguntas devem estar relacionadas ao a
ssunto
declarado no preâmbulo, mas devem ser relativamente fáceis de responder”.
Núcleo 2
Comportamento sexual de risco
O núcleo 2 investiga o comportamento de risco do respondente em relação à exposição
ao HIV. Comportamento de risco é a conduta da
pessoa que pode aumentar ou diminuir
a chance de ela ficar doente e transmitir a doença para outros.
Núcleo 3
Conhecimento sobre AIDS
Conforme boletim veiculado pela Coordenação Nacional de DST/AIDS, ainda não há
respostas satisfatórias para muitas questões, como, por exemplo, para
a relação entre o
conhecimento sobre AIDS e o comportamento sexual seguro que não está de todo
equacionado e demanda estudos específicos com recorte transdisciplinar
61
. Por esse
motivo, julgamos conveniente incluir as questões que compõem este núcleo.
Núcleo 4
Dúvidas e as estratégias de busca de informação na Internet
O núcleo 4 busca identificar as dúvidas mais freqüentes e investiga se a Internet é uma
das fontes de busca da informação sobre AIDS, procurando identifica
r ainda quais os
sites preferidos e as palavras-
chave mais utilizadas e investigando se a informação
conseguida foi satisfatória.
61
http://www.aids.gov.br/udtv/bolepi/desafios.htm
123
Questionário
AIDS na Rede: Uma abordagem comunicacional
Em momento algum será necessária sua identificação, pedimos a gentileza que responda
o questionário com sinceridade pois esta é uma pesquisa de Doutorado que tem por
objetivo conhecer o comportamento dos universitários internautas com relação à AIDS.
Obrigado.
1 - Em que faixa de idade você se encaixa?
_ Entre 17 e 20 _ Entre 21 e 30 _ Entre 31 e 40 _ Mais de 40
2- Você é do sexo:
_ Masculino _ Feminino
3- Você estuda em um curso da área de:
_ Humanas e Sociais (Letras, administração, psicologia, pedagogia, comunicação e etc.)
_ Exatas (Matemática, estatística, informática, engenharia e etc.)
_ Biomédicas (Fisioterapia, odontologia, veterinária e etc.)
4- O grau de instrução do chefe da família é:
_ até o Ensino Fundamental _ até o Ensino Médio _ até o Ensino Superior
5- Qual é a sua re ligião?
_ Católico _ Evangélico _ Espírita _ Outros
6- Você sente atração sexual por:
_ Pessoas do mesmo sexo que você _ Pessoas do sexo oposto ao seu _ Pessoas de ambos os
sexos
7- Você já fez sexo?
_ Sim _ Não
8- Você já fez sexo sem camisinha?
_ Nunca _ 1vez _ de 2 a 10 vezes _ mais de 10 vezes
9- Você já usou drogas injetáveis?
_ Sim _ Não
10- Se você já usou drogas injetáveis, alguma vez já compartilhou agulhas?
_ Sim _ Não _ Não usei drogas injetáveis
11- Com quantas pessoas você fez sexo nos últimos seis meses?
_ Nenhuma _ Uma _ Duas _ Três _ Quatro _ Mais de cinco
12- Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo anal sem camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
13-
Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem camisinha e sem
ejaculação
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
124
14-
Quais são as chances que pessoas casadas ou que têm uma relação estável
têm de pegar AIDS?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
15-
Quais são as chances de pegar AIDS, fazendo sexo sem proteção, mas com
uma pessoa que você ama muito e em que você confia plenamente?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
16- Quais são
as chances de pegar AIDS, fazendo sexo com uma pessoa que
você não conhece muito bem, usando camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
17- Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo com camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
18-
Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem penetração e sem camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
19- Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo oral, sem camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
20-
Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo só com um parceiro,
mas sem camisinha, nos últimos 5 anos?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
21- Quais são as chances de pegar AIDS f
azendo sexo com pessoas que você
acabou de conhecer pela Internet?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
22-
Quais são as chances de pegar AIDS mantendo relações sexuais com
muitos parceiros, mesmo com camisinha?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
23- Quais são as chances de pegar AIDS ao compartilhar agulhas?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
24- Quais são as chances de pegar AIDS ao fazer uma transfusão de sangue?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
25- Quais são as chances de pegar AIDS ao manter contato social com pessoas
portadoras do vírus HIV?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
26- Quais são as chances de pegar AIDS ao utilizar banheiros públi
cos ou
compartilhar utensílios de uso pessoal, como toalhas, pentes ou escovas de cabelo,
prato, copos e talheres, com pessoas que você sabe que são portadoras de HIV?
_ 0% _ 25% _ 50% _ 75% _ 100% _ Não conheço
27- Na sua opinião quem corre
mais risco de pegar AIDS? (pode assinalar
mais de uma)
_ Heterossexuais _ Homossexuais _ Bissexuais _ Usuários de drogas injetáveis
28- Se você desconfiasse que está com AIDS, em quanto tempo faria o exame de HIV?
_ Não faria o teste _ Imediatamente _ Esperaria 15 dias _ Esperaria 1 mês
125
_ Esperaria 3 meses _ Esperaria 6 meses
29- Você tem alguma dúvida sobre AIDS?
_ Sim _ Não
30- Sua dúvida se refere a:
_ Como se pega AIDS _ Como se faz o teste para saber se tem AIDS
_ Sintomas da AIDS _ Outras Quais? ___________
31- Quando você tem dúvidas sobre AIDS, onde busca informações?
_ Jornal/ revista _ Internet _ Radio/ TV _ Médico / Livro _ Outros
32- Você já usou a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS?
_ Sim _ Não
33- Qual é o site de busca que você normalmente usa?
_ Terra _ IG _ UOL _ Google _ Outros Qual ________
34- Quais palavras que você utilizou para fazer a busca sobre AIDS na Internet?
_______________________________
35- A resposta que você conseguiu na Internet esclareceu sua dúvida?
_ Sim _ Não
36-
Na Internet, você encontrou alguma informação sobre AIDS que na sua
opinião não era verdadeira ou confiável?
_ Sim _ Não
37- Você sabe quem deu a informação que você procurava?
_ Sim _ Não
38- Que site você acha que tem a melhor informação sobre AIDS?
_ de uma ONG
_ do governo
_ de um instituto de pesquisa
_de um laboratório
_ de pessoas interessadas em ajudar o próximo
5. Critérios de seleção da amostra
Em todo trabalho de pesquisa em que se intenta obter informações acerca de uma
população, impõe-se a adoção de técnicas de amostragem. População é o conjunto formado
por todos os elementos de um grupo e que compartilha de características comuns. Como
normalmente é impossível, por questões de tempo ou custo, ter acesso a toda população,
retira-se dela uma amostra. A amostra é um subgrupo da população selecionado para
126
participar do estudo. Por isso, a amostragem é uma etapa importante no delineamento da
pesquisa.
As técnicas de amostragem se classificam em probabilística e não probabilística. Na
probabilística, cada categoria da população tem a mesma chance de ser incluído na amostra,
pois as unidades são escolhidas ao acaso. Para Mattar (1996 p.132), amostragem
probabilística é aquela em que cada elemento da população tem chance de ser selecionado
pois, a partir de uma relação com todos os elementos da população, são sorteados os
elementos que constituirão a amostra. Neste trabalho, diante da impossibilidade de obtermos a
relação com todos os elementos da população, escolhemos as técnicas da amostragem não
probabilística. Oliveira
62
(2001) que procedeu a uma minuciosa revisão de literatura a respeito
do tema ‘amostragem’ para a FECAP, também influenciou nossa opção, por considerar que:
Por meio da revisão de literatura, percebe-se que a amostragem não
probabilística pode ser usada em pesquisas acadêmicas e pesquisas de
mercado trazendo contribuições aos estudos nos quais ela é empregada,
desde que seja utilizada em determinadas situações e suas limitações sejam
consideradas. É preciso ficar claro para os pesquisadores e para os usuários
da pesquisa que esse método possui inúmeras limitações, sendo inferior à
amostragem probabilística em termos de precisão de resultados.
Malhotra (2001, p.305) nos conscientizou de que “a amostragem não probabilística pode
oferecer boas estimativas das características da população” embora não permita uma avaliação
da precisão amostral, já que “as estimativas obtidas não são estatisticamente projetáveis sobre a
população”.
A tomada de decisão quanto ao método foi crucial neste trabalho. Por isso,
prosseguimos com a revisão bibliográfica a fim de fornecer maior fundamentação a nossa
escolha. Essa fundamentação foi encontrada em diversos autores. Dentre eles destacamos
Mattar (1996, p.133), para quem, na escolha do processo de amostragem, o pesquisador deve
levar em conta o tipo de pesquisa, o acesso aos elementos da população, a representatividade
desejada, a disponibilidade de tempo e recursos financeiros e humanos, etc. Oliveira (2001,
on-line) também nos auxiliou ao considerar que:
62
Tânia Modesto Veludo de Oliveira é Professora de Marketing da UNIFECAP/SP. Mestre em Administração,
com Especialização em Marketing pela FEA/USP.
127
A decisão de usar ou não uma amostra probabilística é um aspecto crítico que os
pesquisadores enfrentam quando estão determinando os métodos de amostragem
mais adequados para solucionar seu problema de pesquisa. Apesar da
impossibilidade de generalização de resultados, uma amostra não probabilística
pode ser útil e até mesmo preferível em relação a amostra probabilística em uma
série de situações. O importante é que suas limitações estejam claras para que não
haja erros na análise dos resultados.
Hansen, Hurwitz, & Madow (1966, p.68), nos esclareceram a respeito da natureza de
nossas inquietações ao declararem que quando as probabilidades de seleção de amostras
probabilísticas são desconhecidas e não podem ser estimadas, restam ao pesquisador as
inferências sobre a população por critérios arbitrários e por amostras informais. Os autores
(1966 p.73-4) consideram ainda que, se a situação de pesquisa aceitar uma amostra não
probabilística, o custo e o trabalho de uma amostra precisa pode não se justificar. Afirmam
que o menor rigor dos métodos não probabilísticos pode ser a única alternativa diante da
impossibilidade dos métodos probabilísticos precisos. Para os autores, há casos em que a
amostra probabilística é impossível, como a amostra dos peixes do oceano.
Kish (1965, p.18) nos auxiliou sustentando que muitas pesquisas científicas se
baseiam em itens selecionados a esmo e as compara com o costume de julgar um cacho de
uvas pelo sabor de apenas uma e com o hábito consolidado de um comprador aceitar uma
entrega após verificar alguns elementos ao acaso. Para Kish, os pesquisadores podem julgar
que os elementos selecionados são típicos e têm as características do restante da população.
Curwin e Slater (1991, p.8) nos advertiram que, ao contrário do que se crê, nem
sempre os métodos probabilísticos asseguram precisão. Para eles, se um grupo pertence à
população, mas resiste em se envolver com o assunto, tem que ser excluído da amostra. Se
esse grupo se posiciona de forma diferente do restante da população, a posição do grupo
excluído não é representada, o que caracteriza uma amostragem não probabilística. Para os
autores (1991, p.8), trabalhos conduzidos com amostragem não probabilística bem realizada,
são capazes de fornecer resultados satisfatórios. Mattar (1996, p.157) resume bem essa
situação que foi adequada para robustecer nossa convicção:
Uma razão para o uso de amostragem não probabilística pode ser a de não
haver outra alternativa viável porque a população não está disponível para
ser sorteada. Outra razão é que apesar da amostragem probabilística ser
tecnicamente superior na teoria, ocorrem problemas em sua aplicação na
128
prática o que enfraquece essa superioridade. O resultado de um processo de
amostragem probabilístico a priori pode resultar em um estudo não
probabilístico devido a erros (...). Outro motivo pode ser o de que a obtenção
de uma amostra de dados que reflitam precisamente a população não seja o
propósito principal da pesquisa. Se não houver intenção de generalizar os
dados obtidos na amostra para a população, então não haverá preocupações
quanto à amostra ser mais ou menos representativa da população. A última
razão para usar amostragem não probabilística se refere às limitações de
tempo, recursos financeiros, materiais e "pessoas" necessários para a
realização de uma pesquisa com amostragem probabilística.
Dessa forma, consolidamos a convicção de que a amostragem não probabilística é
mais indicada neste trabalho. Contudo, ainda havia a necessidade de determinar o tamanho da
amostra. Nesse sentido, Pinheiro et al (2004, p.127-8) consideram:
As amostras da pesquisa qualitativa são pequenas e selecionadas mediante
critérios subjetivos e arbitrários, não sendo necessário nenhum cálculo para
se determinar o tamanho da amostra. Aqui está a principal limitação do
estudo qualitativo: os resultados encontrados não podem ser extrapolados
para o universo. Como o processo de seleção de amostras é arbitrário,
excluindo-se qualquer parâmetro estatístico, para se chegar à composição
final da amostra de pesquisa, os resultados não são representativos do
universo.
5.1 A amostragem não probabilística
Nosso levantamento bibliográfico e documental identificou três tipos básicos de
amostras não probabilísticas: amostra acidental ou por conveniência, amostra intencional ou
por julgamento, amostras por quotas ou proporcionais. Malhotra (2001, p.307) e Rea e Parker
(2000, p.113-16) consideram ainda a existência de uma quarta técnica de amostragem que
intitulam amostragem tipo ‘bola de neve’.
129
5.2 A amostragem acidental ou por conveniência
A amostragem acidental ou por conveniência é adequada e facilmente justificada em
pesquisas exploratórias. Conforme Kinnear & Taylor, (1979, p.187) e Churchill, (1998,
p.301). É apropriada quando se deseja obter informações de maneira barata. Para Aaker,
Kumar e Day (1995, p.376), tal procedimento depende de que se estabeleça contato com os
elementos convenientes. Por isso, é possível obter respostas de alunos na sala-de-aula,
compradores de shoppings centers, conhecidos, amigos e vizinhos.
Esse tipo de amostragem consiste em obter uma amostra dos elementos da população
que estão disponíveis ao pesquisador. Para Malhotra (2001, p.306) “não raramente os
entrevistados são escolhidos pois se encontram no lugar exato no momento certo” e
exemplifica a situação com pesquisas com: “(1) estudantes, grupos de igrejas e membros de
organizações sociais, (2) entrevistas em centros comerciais, (3) lojas de departamentos, (4)
questionários destacáveis incluídos em revistas, (5) entrevistas com pessoas de rua”. O autor
considera ainda que:
De todas as técnicas de amostragem, a amostragem por conveniência é a que
menos tempo consome e a menos dispendiosa. As unidades amostrais são
acessíveis, fáceis de medir e cooperadoras. (...) As amostras por
conveniência não são representativas de qualquer população definível. Logo,
não tem sentido teoricamente fazer generalizações sobre qualquer população
a partir de uma amostra por conveniência.
Um exemplo de amostragem de conveniência é oferecido por Malhotra (2001, p.307)
quando relata um trabalho de pesquisa envolvendo 1300 dos 1700 líderes estudantis que
assistiram à 51
a
. Conferência Anual Estudantil de Associação nacional de Conselhos
Estudantis. Com 39 questões, os resultados demonstraram que as coisas mais desejáveis por
ordem de importância são: carreira de sucesso, bom casamento, ser bom pai ou boa mãe,
contribuir com a sociedade e ganhar dinheiro.
5.3 A amostragem intencional ou por julgamento
A amostragem intencional ou por julgamento é feita conforme o julgamento do
pesquisador. Para Malhotra (2001, p.307) a amostragem por julgamento não permite
generalizações sobre a totalidade da população, mas é eficiente em testes para determinar o
130
potencial de um novo produto ou em situações em que alguns elementos são selecionados por
que são considerados representativos de uma categoria, dentre outras situações. Para o autor:
A amostragem por julgamento é uma forma de amostragem por
conveniência em que os elementos da população são selecionados com base
no julgamento do pesquisador. Este, exercendo seu julgamento ou aplicando
sua experiência, escolhe os elementos a serem incluídos na amostra pois os
considera representativos da população de interesse ou apropriados por
algum outro motivo.
Se for adotado um critério razoável de julgamento, pode-se chegar a resultados
favoráveis. É útil quando se precisa incluir um pequeno número de unidades na amostra. É um
método muito adotado para eleger uma localidade "representativa" do país na qual
normalmente são empreendidas várias pesquisas, sendo às vezes até preferida para a escolha
de uma localidade que os métodos probabilísticos. Para Aaker, Kumar, & Day, (1995, p.376);
Hansen, Hurwitz, & Madow, (1966, p.72), em tais contextos, a amostra por julgamento pode
ser mais fidedigna e representativa que uma amostra probabilística. Segundo Kish (1965,
p.19) e Aaker, Kumar e Day (1995, p.376), isso pode ser constatado pela escolha freqüente de
uma cidade típica para representar a realidade urbana ou rural do Brasil.
Como exemplo de amostragem intencional ou por julgamento, podemos citar uma
hipotética pesquisa a respeito de um determinado produto consumido pela classe A em um
shopping freqüentado por essa classe.
5.4 A amostragem por quotas ou proporcionais
A amostra por quotas ou proporcional é considerada como uma amostragem
intencional em dois estágios. De acordo com Malhotra (2001, p.307) o primeiro estágio
consiste em estabelecer categorias ou quotas de controle dos elementos da população,
relacionando características relevantes, como sexo, idade, escolaridade, etc. Dessa forma, as
quotas são atribuídas de modo que a proporção de elementos da amostra que possuem as
características de controle seja a mesma que a proporção de elementos da população com as
mesmas características. No segundo estágio, os elementos da amostra são escolhidos com
base na conveniência, no julgamento ou na experiência do pesquisador, já que, depois de
atribuídas as quotas, o pesquisador tem liberdade para escolher os elementos. Nesse ponto, a
131
única exigência é que os elementos escolhidos sejam adequados às características de controle.
Para Cochran (1965, p.190) o entrevistador aplica o instrumento de campo até atingir a quota
necessária em cada estrato.
Esse tipo de amostragem pode ser aconselhável quando o pesquisador tem clareza
sobre as características relevantes para controle da amostra são conhecidas e disponíveis ao
pesquisador. Para Oliveira (2001):
A idéia de amostragem por quotas sugere que se as pessoas são
representativas em termos de características, elas também poderão ser
representativas em termos da informação procurada pela pesquisa. Depois de
serem identificadas as proporções de cada tipo a ser incluído na amostra, o
pesquisador estabelece um número ou quota de pessoas que possuem as
características determinadas e que serão contatadas pela pesquisa. (...) Uma
pesquisa com amostragem por quotas poderá ser utilizada e trazer bons
resultados quando as características relevantes para controle e delineamento
da amostra forem conhecidas, estiverem disponíveis ao pesquisador,
estiverem relacionadas ao objeto de estudo e se constituírem em poucas
categorias.
A amostragem por quotas ou proporcional é o método usado em prévias eleitorais. O
pesquisador preocupa-se em descobrir as proporções (porcentagens) das características da
população. Por exemplo, se em uma determinada população de 1.000 pessoas a serem
entrevistadas, 400 são homens e 600 mulheres, os entrevistadores devem selecionar uma
amostra onde 40% são mulheres e 60% homens.
5.5 A amostragem tipo bola de neve
A amostragem bola de neve é não-probabilística. Nela, um grupo de informantes é
selecionado inicialmente. A partir de indicações fornecidas por esse primeiro grupo, são
selecionados os informantes subseqüentes. Essa técnica pode ser reproduzida inúmeras vezes,
proporcionando a obtenção de informações a partir de indicações e referencias de informantes
anteriores, o que justifica sua designação. Para Malhotra (2001, p.308):
Mesmo que se use a amostragem probabilística para selecionar os
entrevistados iniciais, a amostra final é não-probabilística. As referências
132
terão características demográficas e psicográficas mais semelhantes às
pessoas que os referem, do que poderia ocorrer ao acaso. Um objetivo
principal da amostragem tipo bola de neve é estimar características raras na
população.
Como exemplo, Malhotra cita os usuários de determinados serviços ou produtos cujos
nomes não podem ser revelados publicamente e grupos especiais como, por exemplo, viúvos
com menos de 35 anos ou grupos minoritários muito dispersos dentre a população. Percebe-se
que a vantagem principal deste tipo de amostragem é a possibilidade de localização dos
elementos portadores de uma característica específica e não muito comum. Além disso, o
baixo custo e a economia de tempo são benefícios importantes, que não podem ser
desconsiderados.
6. Mesclando técnicas
O levantamento bibliográfico que empreendemos sobre técnicas de amostragem
indica que os autores fazem pouca distinção entre os diversos tipos de técnicas de
amostragem, excetuando-se a técnica bola de neve, descrita apenas por Malhotra e Rea e
Parker. No geral, os conteúdos apresentados se repetem e as obras dos diferentes autores
reservam maior espaço à amostragem probabilística. Normalmente, o enfoque dos livros é
explicar os conceitos básicos de cada tipo de amostra não probabilística, destacar suas
limitações e as situações em que seu uso é adequado.
Pela análise do trabalho desses autores, constatamos que é possível afirmar que as
técnicas de amostragem não probabilística são adequadas a inúmeras situações desde que o
pesquisador esteja bem ciente de suas limitações quanto a generalizações.
Neste trabalho, mesclamos técnicas de amostragem para a execução das diferentes
etapas da pesquisa. Esclarecemos que a escolha das instituições de ensino usou dois critérios
de seleção: o da amostra intencional ou por julgamento e o da amostra acidental ou por
conveniência. Como desejávamos que estivessem incluídos na amostra alunos das quatro
regiões da cidade de São Paulo: Norte, Sul, Leste e Oeste, escolhemos uma unidade de Ensino
Superior em cada região. Para que nossa amostra considerasse as diferentes áreas, optamos
por unidades que mantêm cursos nas áreas de Exatas, Humanas e Biológicas, nas quais os
alunos tivessem o acesso assegurado à rede. Consideramos ainda que as instituições que
forneceriam os informantes deveriam se localizar num perímetro de até 15km a partir do
133
Centro da cidade de São Paulo para obter uma amostra urbana. Não julgamos conveniente
selecionar duas unidades de uma mesma instituição. Essas delimitações caracterizam a
amostragem intencional ou por julgamento.
Em seguida, procedemos a uma pesquisa no site do Sindicato das Entidades
Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo SEMESP
63
. Aí, pela amostragem
acidental ou por conveniência, escolhemos as instituições de ensino fornecedoras da amostra.
Esclarecemos que os nomes das instituições escolhidas não foram citados neste
trabalho porque nos pareceu embaraçoso informar que tantos alunos desta ou daquela
instituição de ensino superior já usaram drogas, têm comportamento sexual de risco, etc.
Além disso, preocuparam-nos ainda os possíveis comprometimentos legais que podem advir
de tais implicações. Por esse motivo, as instituições são identificadas apenas com a
numeração 1, 2, 3 e 4.
Além do mais, o trabalho de coleta de dados foi realizado na rua, na entrada que dá
acesso à instituição, uma vez que, para procedermos a este trabalho no interior das
dependências da instituição, necessitaríamos de uma autorização. Esclarecemos que chegamos
a solicitar a autorização a uma das instituições, mas ela foi negada pela reitoria que declarou
que seria embaraçoso se fossem divulgados os números de alunos que ali estudam e que têm
comportamento sexual promíscuo, “fora dos padrões” ou que são usuários de drogas.
Depois de escolhidas as instituições, dirigimo-nos à entrada de cada uma delas, no
horário que antecede a entrada dos alunos dos períodos diurno e noturno e, portando um
computador tipo notebook no qual estava armazenado o questionário de coleta de dados,
escolhíamos a esmo um aluno para respondê-lo.
Embora, até este ponto, a seleção da amostra tenha seguido técnicas não
probabilísticas, neste ponto foi incluído um procedimento probabilístico já que, depois que o
primeiro aluno respondia, o quinto aluno a passar era novamente convidado a responder o
questionário, independente de sexo, idade, curso, etc. Se caso ele não concordasse, era
convidado o seguinte, sucessivamente. Optamos pela adoção desse procedimento para
garantir que todos os alunos daquela unidade tivessem a oportunidade de participar da
pesquisa. Este procedimento é um dos elementos que configura a amostragem sistemática, de
cunho probabilístico.
63
http://www.semesp.org.br/portal/index.php?p=ies_associadas&regiao=SÃO%20PAULO
134
7. O trabalho de campo
O trabalho de campo é uma fase importante da pesquisa, consiste na aquisição dos
dados junto ao grupo de interesse do pesquisador, é o processo pelo do qual o estudioso entra
em contato com o grupo que deseja investigar. Malhotra (2004, p.365) considera que a coleta
de dados sempre exige o uso de alguma força de campo. Para ele, a qualidade do trabalho de
campo depende da eficiência e do grau de controle de todo o processo de coleta de dados.
Para Godoy (1995, p.29) este aspecto do trabalho de pesquisa “é exploratório por natureza”.
Concordamos com tais considerações por julgarmos que o trabalho de campo é a fase em que
o pesquisador terá acesso aos dados que constituirão o pilar de sustentação de todo o trabalho.
Na atualidade, o trabalho de campo é tido como ferramenta valiosa para os
pesquisadores das ciências humanas e sociais, uma vez que se configura em um diferencial
para a construção do conhecimento. Thomaz Jr. (1991, p.17), analisando os grandes trabalhos
de campo da FCT/UNESP, destaca a "atenção que se vem dando para esta atividade como
forma de garantir um maior aprofundamento e entendimento da realidade brasileira”.
O trabalho de campo teve início no dia 08 de agosto e terminou no dia 07 de outubro.
Abaixo, apresentamos os relatórios de campo que detalham a quantidade de questionários
respondidos em cada noite.
Tabela 4 - Relatório de Campo - Instituição 1 - Zona Leste
ia
Data Respostas
Horário
Tempo
1
o
. 08 de agosto de 2005 9 9h às 11h15min 2h15min
2
o
. 09 de agosto de 2005 11 17h às 19h20min 2h20min
3
o
. 10 de agosto de 2005 13 17h às 19h15min 2h15min
4
o
. 11 de agosto de 2005 10 7h15min às 9h10min 1h55min
5
o
. 12 de agosto de 2005 14 17h às 19h30min 2h30min
6
o
. 15 de agosto de 2005 13 9h às 11h15min 2h15min
7
o
. 17 de agosto de 2005 12 17h às 19h15min 2h15min
8
o
. 18 de agosto de 2005 9 17h30min às 19h 1h30min
9
o
. 19 de agosto de 2005 9 7h30min às 9h 1h30min
Total
9 dias 100 18h45min
135
Tabela 5 - Relatório de Campo - Instituição 2 - Zona Oeste
Dia Data Respostas
Horário Tempo
1
o
. 29 de agosto de 2005 8 7h10min às 9h 1h50min
2
o
. 30 de agosto de 2005 12 17h às 19h30min 2h30min
3
o
. 31 de agosto de 2005 13 7h às 9h10min 2h10min
4
o
. 01 de setembro de 2005 12 17h15min às 19h15min
2h
5
o
. 02 de setembro de 2005 14 7h às 9h30min 2h30min
6
o
. 12 de setembro de 2005 15 7h às 19h35min 2h35min
7
o
. 13 de setembro de 2005 13 7h às 9h15min 2h15min
8
o
. 14 de setembro de 2005 13 17h10min às 19h10min
2h
9
o
. 15 de setembro de 2005 10 17h20min às 19h 1h40min
Total 9 dias 100 19h30min
Tabela 6- Relatório de Campo - Instituição 3 - Zona Sul
Dia Data Respondidos
Horário Tempo
1
o
. 13 de setembro de 2005 8 17h30min às 19h10min
1h40min
2
o
. 14 de setembro de 2005 13 7h às 9h30min 2h30min
3
o
. 15 de setembro de 2005 11 17h às 19h 2h
4
o
. 19 de setembro de 2005 14 17h às 19h15min 2h15min
5
o
. 20 de setembro de 2005 16 7h às 9h30min 2h30min
6
o
. 21 de setembro de 2005 14 7h às 9h10min 2h10min
7
o
. 22 de setembro de 2005 14 17h10min às 19h20min
2h10min
8
o
. 26 de setembro de 2005 10 9h às 10h50min 1h50min
Total
8 dias 100 16h05min
136
Tabela 7- Relatório de Campo - Instituição 4 - Zona Norte
Dia Data Respondidos
Horário Tempo
1
o
. 28 de setembro de 2005 10 17h às 19h 2h
2
o
. 29 de setembro de 2005 13 7h às 9h30min 2h30min
3
o
. 30 de setembro de 2005 13 17h10min às 19h10min
2h
4
o
. 03 de outubro de 2005 15 7h às 9h45min 2h45min
5
o
. 04 de outubro de 2005 15 17h às 19h15min 2h15min
6
o
. 05 de outubro de 2005 14 7h10min às 9h20min 2h10min
7
o
. 06 de outubro de 2005 12 17h às 19h10min 2h10min
8
o
. 07 de outubro de 2005 13 7h às 11h 4h
Total 8 dias 100 19h50min
O encerramento das atividades de campo marcou o final de outra fase de nosso
trabalho de pesquisa. E embora tenha sido uma tarefa árdua, confessamos que o contato com
os alunos foi especialmente interessante. Um fato que nos chamou a atenção durante a
realização do trabalho de campo foi a constatação de que a AIDS é uma realidade com a qual
esses alunos convivem e que é bem manifestada principalmente pelos mais jovens, pois eram
comuns os que se aproximavam e, a título de puxar conversa, perguntavam se era eu a pessoa
que estava pesquisando sobre AIDS e que este era um “problema muito importante”, “etc. e
tal”. A partir daí, passavam a discorrer sobre suas vivências. Falavam de parentes, amigos,
colegas e conhecidos que “pegaram AIDS” e que tinham ficado ou estavam “maus”, que se
recuperavam ou que já haviam partido. Outros relatavam passagens pessoais pautadas por
marcas lingüísticas sempre recorrentes como: “uma vez eu saí com uma mina ou com um
cara” e passavam a falar sobre a oportunidade em que haviam tido comportamento de risco.
Finalmente, falavam como tinham ficado preocupados e, infalivelmente, como haviam se
sentido e que “graças a Deus, deu tudo certo”.
Conforme o trabalho de campo ia se desenvolvendo, percebia-se que mesmo com toda
a divulgação, esses alunos não têm muitas oportunidades de interlocução a respeito da AIDS
no cotidiano, a não ser entre si próprios e que isso lhes faz falta, já que muitos, literalmente,
“se confessavam” a uma pessoa estranha só por saberem que ela pesquisava sobre AIDS “pra
fazer um trabalho” a respeito do qual eles não faziam a menor idéia. Alguns tinham tanta
urgência em falar, que o simples gesto de ouvi-los despertava neles o carinho retribuído com
137
beijos, convites pra “ir pra balada”, votos de “boa sorte pra você no seu trabalho” e
afirmações como “você é legal”. Vale ressaltar que as “confissões” se constituiriam em
material riquíssimo para pesquisa se esta tivesse sido nossa intenção e se elas tivessem sido
registradas, pois são o retrato fiel das sensações e sentimentos desses indivíduos em relação à
AIDS, no contexto da vida real do dia-a-dia.
Essas sensações e sentimentos, que experimentamos em nossa breve interação com os
alunos, reforçaram nossa convicção sobre o acerto da escolha de uma técnica de análise que,
embora considerando os aspectos quantitativos, da mensuração fria, permite ao pesquisador
um olhar humanista sobre os resultados, típico da abordagem qualitativa, o que possibilita
inferências baseadas na intimidade que o pesquisador estabeleceu com seu objeto. Além
disso, acrescenta ao difícil trabalho de pesquisa, um elemento lúdico que torna o trabalho de
tabulação de dados menos árido e solitário quando aquecido pelas boas recordações que o
pesquisador guarda na memória.
8. A análise quantitativa
Neste trabalho, na fase de análise dos dados, foram usados procedimentos de análise
quantitativos que serviram para responder as questões de pesquisa, testar a hipótese e atingir
os objetivos. Além disso, os resultados demonstram que foi possível acrescentar algum
conhecimento a respeito do tema.
A análise quantitativa, embora comum às ciências humanas e sociais, é prática
tradicional das ciências duras por se colocar num contexto de objetividade e verificação que
intenta a própria neutralidade da ciência. Para conferir ao trabalho essas possibilidades de
objetividade, verificação e neutralidade é que optamos pela análise quantitativa e foi
Moreira
64
(2000, p. 1) que nos ajudou nessa decisão, ao afirmar que:
A coleta de dados enfatizará números (ou informações conversíveis em
números) que permitam verificar a ocorrência ou não das conseqüências, e
daí então a aceitação (ainda que provisória) ou não das hipóteses. Os dados
são analisados com apoio da Estatística (inclusive multivariada) ou outras
técnicas matemáticas.
64
Daniel Augusto Moreira é Coordenador do Programa de Pós Graduação em Administração de Empresas, em
nível de Mestrado, da FECAP Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado e Professor convidado da FEA
Faculdade de Economia e Administração da USP.
138
Em nosso trabalho, isso se deu com as possibilidades de mensuração que a tabulação
de dados ofereceu, o que permitiu uma visão ordenada das respostas, que apesar de não ser a
essência última do trabalho, lança alguma luz sobre o tema. Senra (1989, p.10) ilustra o desejo
humano de mensuração quando afirma que “a pesquisa tem início quando alguém, (...) sente a
necessidade de que se produza uma medida para algum fenômeno”
9. A analise qualitativa
Embora a abordagem qualitativa não seja a principal em diversos campos do
conhecimento, tem tradição nas ciências humanas e sociais. Segundo Godoy (1995, p.59), os
estudos qualitativos surgiram em 1855, quando o sociólogo Fréderic de le Play publicou a
obra Les ouvriers européens, a partir de dados coletados em suas viagens pela Europa e
organizados em uma série de monografias sobre as famílias típicas de trabalhadores. Entre
1851 e 1862, Henry Mayhew publicou, em quatro volumes, a obra London labour and
London poor, que igualmente tratava das condições miseráveis dos trabalhadores londrinos.
Sidnei e Beatrice Webb, descreveram essa técnica de investigação na obra Methods of social
investigation, de 1932. Para Godoy (1995, p.21):
Hoje em dia, a pesquisa qualitativa ocupa um reconhecido lugar entre as
várias possibilidades de se estudar os fenômenos que envolvem os seres
humanos e suas intrincadas relações sociais, estabelecidas em diversos
ambientes. Algumas características básicas identificam os estudos
denominados “qualitativos”. Segundo essa perspectiva, um fenômeno pode
ser mais bem compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte,
devendo ser analisado numa perspectiva integrada.
Entre 1930 e 1960, há um declínio no desenvolvimento de trabalhos qualitativos. A
partir dos anos 60, a pesquisa qualitativa se espraia da sociologia e da antropologia para
outros campos do conhecimento e o debate com os adeptos da abordagem quantitativa se
instalou. Esse diálogo favoreceu o conhecimento do instrumental metodológico da pesquisa
qualitativa e de suas possibilidades de aplicação. A respeito disso, consideramos a reflexão de
Minayo (1999, p.22) oportuna por relacionar o esforço qualitativo a partir de uma perspectiva
da área da saúde:
139
A rigor qualquer investigação social deveria contemplar uma característica
básica de seu objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de
estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado
grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Se falarmos
de Saúde ou Doença essas categorias trazem uma carga histórica, cultural,
política e ideológica que não pode ser contida apenas numa fórmula
numérica ou num dado estatístico.
As características da pesquisa qualitativa fazem dela o caminho metodológico acertado
para estudos que não pretendem a generalização, em muitas áreas do conhecimento. Pinheiro
et al (2004, p.1285) exemplificam bem essa situação quando afirmam que:
Seria ingênuo imaginar que um grupo entre 8 e 12 mulheres que compram
cosméticos é representativo de todas as mulheres que compram cosméticos
em shopping centers ou com consultoras de vendas por meio de catálogo.
Contudo, isso não significa que a pesquisa qualitativa possui uma
“deficiência irreparável”. Seu propósito simplesmente não é conferir
representatividade aos resultados, mas garantir que estes sejam profundos.
Para Godoy (1995, p.63), quando se trabalha com dados pouco conhecidos e a
pesquisa é exploratória, a análise quantitativa pode ser o caminho adequado. Para ela, os
estudos qualitativos sempre estiveram presentes nas investigações de natureza social.
Contudo, foram desprezados temporariamente devido à forte influencia quantitativa derivada
de pressupostos positivistas. Para Pinheiro et al (2004, p.125) a pesquisa qualitativa é
recomendada quando não se pode contar com um mapeamento anterior a respeito do
fenômeno que se deseja estudar.
Esclarecemos que embora a metodologia adotada para a coleta e análise dos dados
obedeça aos princípios da análise quantitativa, acrescentamos aos resultados expressos em
gráficos e tabelas, comentários e inferências eminentemente qualitativos. Acreditamos que
essa articulação entre as noções de quantitativo e qualitativo, neste trabalho, amplia nosso
foco de análise e enriquece a discussão.
140
10. Organização e análise dos dados e apresentação dos resultados
Depois de completada a coleta dos dados, a fase de tabulação e processamento foi
necessária e envolveu a aplicação de técnicas de informática para agrupar e designar códigos
alfanuméricos às perguntas e às diferentes possibilidades de resposta. Por isso, a construção
do questionário incluiu um número reduzido de perguntas abertas.
A tabulação dos dados possibilitou a contagem do número de informantes que
escolheram esta ou aquela alternativa de resposta. Isso gerou estatísticas descritivas, aqui
manifestas em gráficos e porcentagens. Para Aeker et al (2001, p.450) “as estatísticas
descritivas podem oferecer números precisos, simples e significativos para sumarizar as
informações de um grande conjunto de dados.”
O uso da estatística descritiva nos permitiu o cruzamento de dados que, conforme
Pinheiro et al (2004, p.119) “é a verificação das respostas de uma pergunta em relação à
resposta de uma outra ou mais perguntas de um questionário”.
Os comentários que apresentamos são uma tentativa de diálogo entre os resultados e
os dados, relativos a cada pergunta, colhidos na fase da revisão bibliográfica.
11. A construção do CD de coleta de dados
Os dados colhidos em campo permitem uma vasta gama de cruzamentos e uma
infinidade de possibilidades de análise. Por esse motivo, julgamos conveniente criar uma
estrutura facilitadora que permitisse os cruzamentos de forma rápida e prática.
Foi assim que surgiu a idéia de abrigar todas as respostas fornecidas pelos 400
questionários, com aproximadamente 160 variáveis, em um CD que, além de disponibilizar
todas as informações sobre o trabalho, possui ainda uma estrutura de cruzamento acessível a
todos.
Na busca deste objetivo, após diversos testes, concluímos que a melhor opção, dentre
tantas, seria não a criação de uma nova ferramenta, que implicaria a necessidade de que os
interessados tivessem que aprender como a utilizar, além do inconveniente de ter de instalar
programas de apoio. Por isso, optamos pela conversão dos dados para o programa Microsoft
Excel, que é amplamente conhecido e utilizado.
O CD está organizado em Apresentação; Dados, com Manual de explicações para o
cruzamento dos dados e Planilha com todos os dados da pesquisa.
141
Com relação ao Questionário, esclarecemos que os objetivos deste trabalho
estabeleceram que a coleta de dados fosse obrigatoriamente feita em fontes primárias, junto
aos universitários. O formato das questões também foi concebido de modo a fornecer uma
lista fixa de alternativas de respostas que permitisse a tabulação. Nessa seção do CD,
apresentamos o questionário em extensão DOC, para guiar a tabulação dos dados, e o
questionário on-line que usamos durante o trabalho de pesquisa e que permite a visualização
da aplicação. A Tese completa e os Anexos também têm seus links.
Desta maneira, os resultados alcançados se configuram como um ponto de partida
para futuras investigações e uma contribuição a quem se interessa pela temática.
-
CAPÍTULO IV: RESULTADOS E DISCUSSÃO
143
Não são raros os casos em que pessoas (em número cada vez maior em
todo o mundo e também no Brasil), ao tomarem contato com informações
não qualificadas ou distorcidas sobre saúde veiculadas na Internet, se
sentiram inseguras ou entraram em pânico. Nesse momento, milhares de
internautas, incautos, podem estar tomando decisões sobre a sua saúde
influenciadas por notícias que circulam em sites, chats ou grupos de
discussão. [...] Como o terreno da Web é movediço, pode-se, se não se tem
cuidado, cair em uma armadilha de efeitos catastróficos, sobretudo quando
a divulgação envolve questões relacionadas à saúde.
Wilson da Costa Bueno (2005, anotação de aula)
65
ARTICULANDO DADOS
A motivação principal da pesquisa é a obtenção de resultados dos quais se possam
extrair informações significativas que justifiquem todas as etapas do trabalho empreendido. É
pelo trabalho de pesquisa que se chega ao conhecimento que buscamos. Por isso, nos
preocupamos em articular cada uma das fases deste trabalho para que os resultados
alcançados fossem válidos.
Neste trabalho, os resultados expressam um panorama a respeito de nossas questões de
pesquisa, testam nossas hipóteses de trabalho e nos conduzem ao objetivo. São ainda os
resultados que justificam a escolha de toda uma trilha metodológica e de procedimentos como
propostas de direções adequadas.
Seguindo essa orientação que adotamos até aqui, chegamos aos resultados que são
expressos em tabelas e gráficos. O cruzamento das variáveis expõe relações interessantes
entre idade, sexo, religião, orientação sexual, etc. Para enriquecer o produto final de nossa
investigação, procedemos a uma busca na rede e acrescentamos aos resultados de cada
questão a respeito de conhecimento sobre AIDS e comportamento de risco, uma informação
colhida na Internet. Esse procedimento tem duas finalidades. A primeira delas é permitir ao
leitor um elemento de comparação entre o que é veiculado na rede e a percepção de nossos
informantes. A segunda é oferecer um cenário a respeito de como a rede veicula a informação
relativa a cada questão.
65
http://www.comtexto.com.br/comjorsaudecontato.htm
144
Tabela 8- Questão 1 Em que faixa de idade você se encaixa?
1
2
3
4
TOTAL
a- Entre 17 e 20 9
22
20
31
82
b- Entre 21 e 30 53
53
50
43
199
c- Entre 31 e 40 17
22
23
14
76
d- Mais de 40 21
3
7
12
43
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 1 - Distribuição por faixa etária
21%
49%
19%
11%
Entre 17 e 20
Entre 21 e 30
Entre 31 e 40
Mais de 40
Fonte: Estudo realizado pela autora
A tabela mostra pouca variação de idade nas instituições 2, 3 e 4. A diferença que se
nota é que a instituição 1 tem menos alunos na faixa entre 17 e 20 anos e mais alunos na faixa
de mais de 40 anos quando comparada com as demais.
145
Tabela 9 - Questão 2 - Você é do sexo?
1
2
3
4
TOTAL
a- Masculino 43
55
41
59
188
b- Feminino 57
45
59
41
212
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 2 - Distribuição por sexo
47%
53%
masculino
feminino
Fonte: Estudo realizado pela autora
Nas instituições 2 e 4 o número de homens é maior que o de mulheres e nas
instituições 1 e 3 o número de mulheres é predominante. Quando se considera a totalidade da
amostra, o número de mulheres é 6% maior que o de homens.
Verificamos que, conforme o Censo do Ensino Superior, o número de mulheres é
1,6% superior ao de homens, em todo o Brasil, o que indica o salto quantitativo das mulheres
nos cursos universitários. No período entre 2000 e 2002, o aumento da presença feminina em
instituições de ensino superior foi de 7,7%. Ainda de acordo com o Censo, o número de
concluintes mulheres é 24% maior que o de homens, o que permite inferir que as mulheres
abandonam o curso com menor freqüência que os homens.
No cruzamento das variáveis, sexo e idade, não se percebe muita variação do número
de homens e mulheres nas faixas entre 17 e 40 anos. Porém, na faixa de mais de 40 anos, há
35 mulheres para somente 8 homens. Das 212 mulheres da amostra, há 24 que declaram
nunca ter feito sexo.
146
Tabela 10 - Questão 3 -Você estuda em um curso da área de:
1
2
3
4
TOTAL
a- Humanas 57
63
53
49
222
b- Exatas 38
34
38
37
152
c- Biomédicas 5
3
9
14
31
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 3 - Área de estudo
54%
38%
8%
Humanas
Exatas
Biomédicas
Fonte: Estudo realizado pela autora
Em nossa amostra, verifica-se a predominância de alunos provindos das áreas de
Ciências Humanas, onde a presença feminina é expressivamente maior, com 68,5% do total.
O oposto se verifica nas áreas de Ciências Exatas e Biomédicas onde prevalece o público
masculino.
Percebe-se que, dos 43 alunos com mais de 40 anos, 35 são mulheres e 27 delas
cursam Ciências Humanas e Sociais.
Essa superioridade quantitativa dos cursos de Ciências Humanas e Sociais pode ser
constatada pela consulta do número de vagas oferecidas pelas instituições de ensino superior,
tanto públicas quanto particulares. Percebe-se que há um número muito superior de oferta de
cursos da área de Ciências Sociais e Humanas. Talvez essa oferta se explique pela demanda,
pois o número de candidatos para esta área é proporcionalmente maior.
147
Tabela 11 - Questão 4 - O grau de instrução do chefe da família é:
1
2
3
4
TOTAL
a- Fundamental 15
32
29
24
100
b- Médio 35
31
29
45
140
c- Superior 50
37
42
31
160
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 4 - Instrução do chefe da família
25%
35%
40%
Fundamental
Médio
Superior
Fonte: Estudo realizado pela autora
Em nossa amostra 40% dos elementos são oriundos de famílias cujo chefe alcançou o
nível superior de instrução. 35% provêem de famílias cujo chefe chegou ao Ensino Médio e
apenas 25% dos alunos advêm de famílias cujo chefe chegou apenas até o nível Fundamental
de escolaridade.
Para a Fiocruz
66
, o grau de instrução do chefe da família é um dos fatores mais
relacionados à propagação de doenças contagiosas. Em nosso trabalho, não consideramos se
os níveis de escolaridade foram concluídos ou não pelo chefe da família, já que a inclusão
desta questão intenta ao cruzamento com as demais perguntas do questionário.
66
http://www.fiocruz.br/ccs/novidades/mai03/tuberculose_plo.htm
148
Tabela 12 - Questão 5 - Qual é a sua religião?
1
2
3
4
TOTAL
a- Católico 53
53
40
40
186
b- Evangélico 15
17
24
21
77
c- Espírita 14
22
21
17
74
d- Outros 18
8
15
22
63
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 5 - Religião
46%
19%
19%
16%
a- Católico
b- Evangélico
c- Espírita
d- Outros
Fonte: Estudo realizado pela autora
A tabulação das respostas a esta questão chegou a um resultado próximo do que se
verifica no cenário social onde a maioria católica é seguida pelos que têm orientação religiosa
evangélica, espírita, etc.
O cruzamento com a variável ‘sexo’ encontrou similaridade entre os católicos com 93
mulheres e 93 homens. Dentre os evangélicos esta proporção se altera, pois encontramos 50
mulheres para apenas 27 homens. Entre os espíritas, a liderança numérica feminina também é
marcante pois há 456 mulheres para 29 homens. Na alternativa outros, a presença masculina é
superior com 39 homens para 24 mulheres.
Esta pergunta foi incluída por causa do posicionamento contrário ao uso do
preservativo adotado pela igreja católica. Contudo, em nossa busca, localizamos um estudo da
Faculdade de Saúde Pública da USPSP, divulgado em 22.08.03 que evidencia a relação entre
a religião o HIV. A assistente social e educadora de saúde pública Sônia Maria de Almeida
149
Figueira declara que “a força do discurso religioso está, inclusive, em prometer salvação para
uma doença que, pela ciência, ainda não tem cura. Além disso, existe uma visão de que os que
seguem fielmente os preceitos religiosos não se contaminam”. No caso de pessoas já
infectadas, os médicos afirmam que a religião leva o paciente a adotar uma vida mais regrada,
o que facilita o tratamento. “Além disso, eles identificam uma mudança espiritual: vontade de
sarar e maior disposição frente à doença”.
150
Tabela 13 - Questão 6 - Você sente atração sexual por:
1
2
3
4
TOTAL
a- Mesmo sexo 6
10
6
5
27
b- Sexo oposto 91
87
90
86
354
c- Ambos os sexos 3
3
4
9
19
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 6 – Atração sexual
7%
88%
5%
Mesmo sexo
Sexo oposto
Ambos os sexos
Fonte: Estudo realizado pela autora
Encontramos em nossa amostra 27 elementos que declaram sentir atração sexual por
pessoas do mesmo sexo, distribuídas em todas as faixas de idade. Destes, 15 são homens e 12
são mulheres. Da mesma forma, 19 elementos afirmam sentir atração sexual por pessoas de
ambos os sexos. Destes, 13 são do sexo masculino e 6 do feminino. O cruzamento das
variáveis religião, área do curso que estudam e instrução do chefe da família não foram
significativas.
Em nossa revisão de literatura, vimos que o conceito de comportamento de risco
substituiu o de grupos de risco
67
. Apesar disso, são inúmeros os trabalhos que estudam a
relação entre a opção sexual e o comportamento de risco
68
.
67
http://www.redesaude.org.br/assets/docs/CartilhaAidsHIV-2004.pdf.
68
Sanches, Kátia Regina de Barros. A AIDS e as mulheres jovens: uma questão de vulnerabilidade. São Paulo,
Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Tese de Doutorado, 1999
151
Tabela 14 - Questão 7 - Você já fez sexo?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 93
91
92
94
370
b- Não 7
9
8
6
30
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 7 - Virgindade
92%
8%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 400 informantes, 30 pessoas nunca fizeram sexo. Destas 24 são mulheres e 6 são
homens. Das 24 mulheres, 12 têm entre 17 e 20 anos e são todas evangélicas. 9 têm entre 21 e
30 e 3 têm mais de 40, não havendo prevalência de religião. Dentre os 6 homens, 5 têm entre
17 e 20 e apenas 1 tem entre 20 e 30 anos. Dos cinco homens entre 17 e 20 anos que nunca
tiveram relações sexuais, 4 são evangélicos. Talvez esta seja uma indicação de que os jovens
evangélicos estão começando a vida sexual mais tarde. Nas demais variáveis, a religião não
demonstrou maior impacto.
Embora alguns considerem que a virgindade é proteção contra a AIDS, cientistas das
Universidades de Yale e Colúmbia divulgaram em 18.03.05, no Journal of Adolescent Health
que isso não é verdadeiro e que essa crença pode incentivar uma a conduta sexual de alto
risco
69
. Para a professora de sociologia da Universidade de Yale, Hannah Brückner, “os
resultados surpreendem pois os que prometem ter menos parceiros sexuais iniciam suas
69
http://www.agenciaaids.com.br/noticias-resultado.asp?Codigo=2297
152
relações sexuais mais tarde, casam-se antes e, portanto, seu nível de doenças venéreas deveria
ser menor que os que não prometem nada. Mas não acontece assim”. Para ela, uma das
principais razões é que “os jovens que se mantêm virgens pelo maior tempo possível não
usam camisinha quando se iniciam no sexo. Além do mais, jovens que preservam a
virgindade podem praticar outras atividades sexuais, com o sexo anal e o oral”.
Tabela 15 - Questão 8 - Você já fez sexo sem camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- Nunca 20
24
21
18
83
b- Uma vez 5
4
6
14
29
c- De 2 a 10 vezes 20
19
26
16
81
d- Mais de 10 vezes 55
53
47
52
207
TOTAL 100
100
100
100
400
Gráfico 8 - Sexo sem camisinha
21%
7%
20%
52%
Nunca
Uma vez
De 2 a 10 vezes
Mais de 10 vezes
Figura 1
Na amostra, 83 pessoas declaram nunca ter feito sexo sem camisinha (27
homens e 56 mulheres), descontando-se desse total os 30 que nunca fizeram sexo,
restam 53. Isso demonstra que 13,2% do total de informantes nunca mantiveram
relacionamento sexual sem camisinha.
Esse resultado segue a mesma direção do trabalho, com jovens de 16 a 24 anos,
que o Cebrap
70
empreendeu e cujos resultados foram divulgados em 09.12.05. De
acordo com os resultados dessa pesquisa, os brasileiros se iniciando sexualmente mais
cedo e a maioria usa camisinha na primeira relação. Em média, os homens de 16 a 19
anos disseram ter tido a primeira relação sexual com 14 anos, enquanto os de 20 a 24
70
http://noticias.uol.com.br/uolnews/saude/entrevistas/2005/12/09/ult2748u83.jhtm (uol news-da redação-
09/12/2005)
154
anos dizem que isso se deu aos 15. As mulheres de 20 a 24 anos tiveram a primeira
relação aos 16 anos, em média. Já as mais novas, da faixa de 16 a 19 anos, iniciaram a
vida sexual aos 15. A psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade
do Hospital das Clínicas de São Paulo, diz que os jovens têm realmente usado mais
camisinha, mas que este é um tema que ainda precisa ser muito discutido a fim de
conscientizar os jovens.
155
Tabela 16 – Questão 9 - Você já usou drogas injetáveis?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 3
3
2
7
15
b- Não 97
97
98
93
385
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 9 - Uso de drogas injetáveis
4%
96%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dentre os 400 elementos da amostra, 15 (3,7%) já usaram drogas injetáveis, seis deles
estão na faixa de idade entre 21 e 30 anos e inclui o mesmo número de homens e mulheres.
Na faixa dos 17 aos 20 anos, há 4 elementos, na faixa entre 31 e 40 anos há 3, todos do sexo
masculino. Na faixa com mais de 40 anos, encontramos duas mulheres.
De acordo com informação da Folha Online
71
, de 04/10/2005, que afirma que o
Relatório Mundial Sobre a Juventude da ONU/2005, aponta o crescente uso de drogas no
mundo e isso se deve à globalização, à urbanização e à ação dos meios de comunicação. O
uso de drogas é dos hábitos de ricos e pobres que tem se tornado mais semelhante entre
jovens. A AIDS, outra preocupação constante da ONU, é a maior causa de morte entre os
jovens, seguida pela violência. A ONU estima que 10 milhões de jovens estão com
contaminados pelo HIV no mundo, principalmente na África.
71
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u113754.shtml
156
Tabela 17 – Questão 10 - Se você já usou drogas injetáveis, alguma vez compartilhou
agulhas?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 2
2
1
4
9
b- Não 1
1
1
3
6
c- Nunca usei 97
97
98
93
385
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 10 - Compartilhamento de agulhas
96%
2%
2%
Sim
Não
Nunca usei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Preocupante é constatar que há 15 usuários de drogas injetáveis no grupo e 8
deles já compartilharam agulhas. Dos que compartilharam agulhas, 1 teve relações
com mais de 3 pessoas nos últimos seis meses, 3 tiveram com quatro e 4 tiveram com
mais de 5. Isso permite estabelecer uma relação entre uso de drogas e promiscuidade.
Além disso, percebe-se que o grupo de 8 usuários que compartilha agulhas expõe a
risco, no mínimo, 39 pessoas, já que nenhum deles tem relacionamento monogâmico.
Vale ressaltar que todos são homossexuais, 2 do sexo masculino e seis do sexo
feminino.
Segundo o "Projeto Brasil"
72
, estudo epidemiológico realizado entre 1995 e 1996 com
701 usuários de drogas injetáveis, em vários centros do país, e coordenado pelo Instituto de
72
http://www.grea.org.br/publicacoes/drogas/drogas_cocaina.htm
157
Estudos e Pesquisas em AIDS de Santos (IEPAS), as taxas de prevalência de infecção pelo
HIV entre usuários de drogas injetáveis chegavam a 71% em Itajaí, 64% em Santos e 51% em
Salvador. O uso de drogas injetáveis, na época, estava associado a cerca de 50% de todos os
casos de AIDS nas regiões de São Paulo e Santa Catarina. No âmbito nacional, 21,3% dos
casos de AIDS registrados até maio de 1997, referia-se a categoria de usuário de drogas
injetáveis. Embora esse quadro tenha sofrido alterações, o uso de drogas injetáveis ainda se
constitui em grande risco de contaminação pelo vírus HIV e ainda há uma relação direta entre
o uso de drogas injetáveis e a contaminação pelas DST/AIDS.
158
Tabela 18 - Questão 11 - Com quantas pessoas você fez sexo nos últimos seis meses?
1
2
3
4
TOTAL
a- Nenhuma 13
16
15
14
58
b- Uma 55
61
51
45
212
c- Duas 18
9
16
22
65
d- Três 2
4
3
7
16
e- Quatro 2
5
6
3
16
f- Mais que cinco 10
5
9
9
33
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 11 - Sexo nos últimos seis meses
15%
53%
16%
4%
4%
8%
a- Nenhuma
b- Uma
c- Duas
d- Três
e- Quatro
f- Mais que cinco
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 400 informantes, 58 não mantiveram relações sexuais nos últimos 6 meses.
Destes, 14 são homens e 44 são mulheres. A expressiva maioria, de 212 elementos,
tem relacionamento monogâmico e 87 são homens e 125 são mulheres. A variável
religião não é significativa nesse cruzamento e os não monogâmicos são representados
na tabela abaixo:
159
Tabela 19 - Não monogâmicos
Quantidade
N
o
.de relacionamentos Homens
mulheres
65 2 pessoas 38 27
16 3 pessoas 13 3
33 + de 5 pessoas 26 7
Fonte: Estudo realizado pela autora
A redução do número de parceiros sexuais e uso simultâneo de preservativo como
medida eficaz no controle das DST/AIDS
73
é tema de pesquisa do CDC - Center for Disease
and Control e do Departamento de Saúde Pública de São Francisco, USA, em 1983.
O estudo considera que a redução de parceiros é uma estratégia eficaz no controle das
DST. Para AIDS vários estudos demonstram, desde o início da epidemia, que a sua
transmissão por via sexual está diretamente ligada ao número de parceiros. Em 1983, foi feito
um estudo de caso-controle para identificar os fatores de risco para a ocorrência de Sarcoma
de Kaposi e Pneumocystis carinii em homens homossexuais de 4 cidades dos USA (Jaffe H.
W. et al. National Case-Control Study of Kaposi’s Sarcoma and Pneumocystis carinii
Pneumonia in Homossexual Men: Part 1, epidemiologic Results. Annals of Internal Medicine.
99(2)145-151, 1983). A conclusão do estudo mostrou que a ocorrência das duas doenças está
associada ao estilo de vida e considera o número de parceiros como o mais importante fator
de risco.
Outro estudo concluiu que a probabilidade de infecção para o HIV em indivíduos que
têm relação apenas com um parceiro é menor do que em indivíduos que tem um número
maior de parceiros. (Eisenberg B. The Number of Partners and the Probability of HIV
Infection. Statistics in Medicine. vol 8, 83-92, 1989). Vários outros estudos têm relatado que a
redução de parceiros simultaneamente a adoção do uso do preservativo tem reduzido o risco
de contrair o HIV por via sexual.
73
Esta pesquisa foi apresentada à Comissão Nacional de Aids, em reunião ordinária do dia 22 de setembro de
1999 e está disponível na integra em http://www.aids.gov.br/amps/pesq_reduc_parceiros.htm
160
Tabela 20 – Questão 12 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo anal sem
camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 4
0
2
2
8
b- 25% 2
9
13
14
38
c- 50% 11
10
17
8
46
d- 75% 18
12
7
11
48
e- 100% 64
53
48
42
207
f- Não sei 1
16
13
23
53
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 12 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo anal sem camisinha
2%
10%
12%
12%
51%
13%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 400 questionários, há 8 em que os respondentes declaram crer que não há risco
de infecção pelo HIV na prática de sexo anal sem camisinha, 4 homens e 4 mulheres.
Felizmente, nenhum deles manteve contato sexual nos últimos 6 meses.
A relação anal oferece alto risco de infecção de AIDS, pois o sêmen pode estar
contaminado pelo vírus da AIDS e a mucosa é uma entrada para o vírus HIV. Caso a mucosa
apresente alguma lesão, o risco de contágio é mais elevado porque o vírus, através da mucosa,
entra diretamente na circulação sanguínea e se instala no organismo.
74
74
Fonte: http://www.lincx.com.br/lincx/saude_a_z/sexo_drogas/resposta.asp?perg=132&autor=3
161
Tabela 21 - Questão 13 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem
camisinha e sem ejaculação?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 3
0
2
14
19
b- 25% 2
12
8
19
41
c- 50% 19
8
11
9
47
d- 75% 13
13
12
7
45
e- 100% 62
53
61
34
210
f- Não sei 1
14
6
17
38
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 13 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo sem camisinha e sem ejaculação
5%
10%
12%
11%
52%
10%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Entre os 19 que crêem não haver risco no sexo desprotegido sem ejaculação, 10
são homens e 9 são mulheres, que se distribuem em todas as faixas de idade e
religiões. Um deles se relacionou com mais de 5 pessoas, é usuário de drogas
injetáveis e já compartilhou agulhas. Os demais estão representados na tabela abaixo:
162
Tabela 22 - Usuários que crêem não haver risco no sexo desprotegido sem ejaculação
Quantidade N
o
de parceiros Homens Mulheres
2 Nenhum 0 2
8 Um 4 4
7 2 pessoas 4 3
1 3 pessoas 1 0
1 4 pessoas 1 0
Fonte: Estudo realizado pela autora
Percebe-se que, mesmo com a grande divulgação de notícias sobre AIDS, esta é uma
informação que ainda não atingiu quase 5% da amostra. É interessante notar que 15 dentre os
19 informaram já terem usado a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS. Em nossa busca,
dentre outras, destacamos as seguintes informações sobre AIDS obtidas na Internet.
Fonte: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_simulado/sextips/semana/perg0611.htm#2
Fonte: http://www.reprodusite.hpg.ig.com.br/duvidas.htm#semgo
PERGUNTA:
Gostaria de saber se, no caso de haver penetração, mas não
ejaculação dentro da vagina, há perigo de contaminação?
RESPOSTA: O vírus da AIDS está no esperma de um homem infectado, mas
também está no sangue e na secreção vaginal da mulher infectada. Se o
homem tiver alguma lesão no pênis, mesmo não ejaculando ele tanto pode
infectar como ser infectado pela mulher. Além disso, os agentes causadores
das outras DSTs não estão no esperma. As doenças sexualmente
transmissíveis podem ser adquiridas só pelo contato pele com pele, ou vagina
com o pênis, ou qualquer outro contato entre mucosas (pele bem fina e úmida,
que recobre cavidades do organismo como a da boca e da vagina).
PERGUNTA
: Me
smo sem gozar, corre
-
se o risco de pegar doença?
RESPOSTA
: Sim, se houver contato entre os órgãos sexuais e/ou troca de
secreções com uma pessoa contaminada, corre-
se o risco de se pegar uma doença.
Por isso é importante colocar a camisinha antes de qualq
uer contato entre os
órgãos sexuais.
163
Tabela 23 – Questão 14 - Quais são as chances que pessoas casadas ou que têm uma
relação estável têm de pegar AIDS?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 23
23
19
36
101
b- 25% 29
8
12
18
67
c- 50% 19
23
22
14
78
d- 75% 8
4
6
6
24
e- 100% 20
26
26
10
82
f- Não sei 1
16
15
16
48
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 14 – Chance de pessoas casadas e/ou com relação estável pegar AIDS
26%
17%
20%
6%
21%
10%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 400 elementos da amostra, há 25%, equivalentes a 101 informantes, que
acreditam que não há perigo de contágio em relação estável. Destes, 69 declaram já ter
usado a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS. Dos 101, 63 são jovens entre 17 e 30
anos. 47 são do sexo feminino e 54, do masculino. A variável religião não parece ter
influência significativa.
As mulheres têm sido, muito freqüentemente, as maiores vítimas da AIDS em
relacionamentos estáveis. O depoimento abaixo, colhido na Internet ilustra bem a
164
situação em que muitas mulheres se encontram diante do parceiro e do risco de
infecção pelo HIV.
Fonte:
http://qa.hopkins-aids.edu/forum/view_question.html?section_id=161&id=21367&category_id=448
PERGUNTA:
A minha situação é que estou pensando em me casar com um
rapaz, mas este sempre foi muito mulherengo. Sempre uso preservativo com
ele, por medo, embora ele já fez 2 sorologias negativas. Existe algum teste
que
dá certeza que a pessoa não tem o vírus? Gostaria de saber o que fazer para
poder liberar esta camisinha sem culpas. Estou muito aflita, pois ele está
sempre me culpando de que estou ‘maluca com isso’. Por favor me respondam.
Obrigada. Marise.
RESPOSTA: (Dra.Vanja Maria Bessa Ferreira)
11
Cara Marise, os testes anti-
HIV fornecem resultados confiáveis para a pessoa que se submete a eles. Isto
quer dizer que um resultado de teste deve ser aceito junto com uma avaliação
do risco pessoal e deve ter sido re
alizado, pelo menos, depois de um período
de três meses após a última relação suspeita. Um resultado de teste negativo
informa, com certeza, que a pessoa é soronegativa até aquele momento, caso
não tenha se exposto nos últimos três meses a uma relação desp
rotegida. Este
resultado não significa que ela não se infectará no futuro, caso torne a se expor
ao risco. Portanto, a opção de um casal de se relacionar sexualmente sem o uso
de preservativos depende do compromisso, da confiança e do respeito que um
tem p
elo outro. Os parceiros podem se submeter, cada um, a uma testagem
anti-
HIV (respeitando o período de três meses de sexo seguro) e, caso ambos
sejam negativos, avaliar se devem ou não abrir mão do preservativo e se
comprometerem a, caso tenham relações com
outras pessoas, usarem sempre a
camisinha nestas relações. Esta é uma decisão difícil e pessoal. Tenha em
mente o fato de que existem mulheres que se infectaram através de relações
desprotegidas com parceiros estáveis, com quem mantinham relacionamentos
e
xclusivos.
Tabela 24 - Questão 15 - Quais são as chances de pegar AIDS, fazendo sexo sem
proteção, mas com uma pessoa que você ama muito e em que você confia plenamente?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 18
19
17
35
89
b- 25% 16
10
13
18
57
c- 50% 20
21
20
19
80
d- 75% 11
8
9
3
31
e- 100% 34
31
33
12
110
f- Não sei 1
11
8
13
33
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 15 - chances de pegar AIDS, fazendo sexo sem proteção, mas com uma
pessoa que você ama muito e em que você confia plenamente
22%
14%
20%
8%
28%
8%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Na amostra, 89 elementos acreditam que não há risco em manter relacionamento
sexual sem proteção com que se ama em quem se confia. Desse total, 43 são do sexo feminino
e 46 do sexo masculino. Dentre os 89, somente 6 nunca fizeram sexo sem proteção, o que
permite inferir que a camisinha é descartada quando a pessoa se apaixona. Percebe-se que a
idéia de fidelidade preside os relacionamentos e se constitui em um grande fator de risco de
infecção pelo HIV. As variáveis religião e idade não são significativas neste cruzamento.
Em um outro estudo que também relaciona universitários com AIDS, os resultados são
idênticos. A socióloga Kátia Cibelle Pirotta, em sua tese de doutoramento, defendida em
2002, na Faculdade de Saúde Pública da USP, analisou a vida reprodutiva dos alunos da USP,
166
com ênfase na contracepção e na prevenção de DST e constatou que, quando se trata de
sexo casual, esporádico e sem envolvimento afetivo, o uso do preservativo é muito freqüente.
Mas quando há envolvimento, o uso do preservativo é substituído pela pílula.
A conclusão é que o receio de contrair o DST/AIDS faz com que a maioria dos jovens
não abra mão da camisinha apenas na primeira relação sexual; com o tempo, o medo da AIDS
cai por terra, e só fica o receio de uma gravidez indesejada.
Da amostra da pesquisadora, 82% disseram se prevenir na primeira relação. Destes,
80% usam o preservativo. Quando a pergunta não especificava se a prevenção ocorria na
primeira relação, 96% disseram se prevenir, mas só 44% destes disseram usar camisinha.
Nesses casos, outros métodos, como o coito interrompido, são utilizados. Pirotta detectou que
abandonar a camisinha é um sinal de confiança entre o casal: “É uma prova de amor e uma
forma de pressionar o parceiro a ser fiel”, diz.
Quando o assunto é evitar a gravidez, os homens se ausentam: “Culturalmente, foi
dada à mulher essa tarefa”, diz Pirotta, que também atribui o abandono do preservativo à
ausência de programas eficientes de prevenção. “Os jovens se queixam da falta de atenção dos
profissionais de saúde e do curto tempo das consultas”, diz.
75
75
http://www.universia.com.br/portada/actualidad/noticia_actualidad.jsp?noticia=29803
167
Tabela 25 – Questão 16 - Quais são as chances de pegar AIDS, fazendo sexo com uma
pessoa que você não conhece muito bem, usando camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 40
44
42
31
157
b- 25% 21
24
22
33
100
c- 50% 8
9
9
13
39
d- 75% 12
9
12
7
40
e- 100% 18
11
13
8
50
f- Não sei 1
3
2
8
14
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 16 - Chances de pegar AIDS, fazendo sexo com uma pessoa que você não
conhece muito bem, usando camisinha
38%
25%
10%
10%
13%
4%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
229 elementos de nossa amostra, equivalentes a 57%, acreditam que há algum risco de
contrair AIDS, mesmo em uma relação com proteção, se o parceiro for uma pessoa que não se
conhece muito bem. Essa constatação confirma os resultados da questão 15 e reforçam a idéia
de que a confiança no parceiro provoca o abandono do preservativo.
Em um site de orientação sexual, mantido na Internet por um plano de saúde,
colhemos o aconselhamento abaixo, da qual a pessoa mal informada pode deduzir que
168
somente há risco de contaminação se a mulher estiver menstruada ou se apresentar lesões
genitais.
Fonte: http://www.lincx.com.br/lincx/saude_a_z/sexo_drogas/resposta.asp?perg=577&autor=3
PERGUNTA:
Há possibilidade de contaminação do vírus da Aids numa única
relação sexual?
RESPOSTA:
Muitas. O vírus da Aids é transmitido pelo esperma e pelo sangue.
Numa única relação sexual, as chances do homem transmitir o HIV são maiores
por
causa do esperma. Mas lembramos que na relação sexual com mulher
menstruada há riscos também para o homem. Outro risco é se a mulher apresenta
doença sexualmente transmissível que pode facilitar a transmissão do vírus da
Aids, caso de ferida causada na reg
ião genital pela sífilis. A lesão pode aparecer
na vagina, no colo do útero, nos grandes lábios ou no ânus. Também é preciso
cuidado se a parceira tem herpes genital, que pode levar a feridas.
Tabela 26 – Questão 17 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo com
camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 53
60
55
56
224
b- 25% 27
23
26
28
104
c- 50% 5
8
7
5
25
d- 75% 3
4
4
1
12
e- 100% 11
2
5
4
22
f- Não sei 1
3
3
6
13
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 17 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo com camisinha
56%
26%
6%
3%
6%
3%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Quanto às chances de se contagiar pelo vírus HIV/AIDS fazendo sexo com proteção,
5,5% dos respondentes, equivalentes a 22 elementos, acreditam que existem 100% de chance
de contágio pelo HIV/AIDS na prática de sexo protegido. Desses, 17 são mulheres, duas
estudantes de Biomédica.
Ao todo, 159 pessoas, crêem que existe algum risco de contágio mesmo na prática
de sexo protegido. Somente 13 responderam desconhecer a porcentagem desse risco e 244, de
ambos os sexos, crêem que não há nenhum risco.
170
O uso da camisinha é o método mais eficiente de proteção contra a AIDS. Contudo,
conforme o Conselho Nacional de DST/AIDS
76
, a maioria das mulheres não usa camisinha
por considerá-la apenas um método contraceptivo e não como forma de prevenção do HIV. A
convicção de não se proteger está relacionada à opinião do parceiro. Nos depoimentos a
seguir, percebe-se a subordinação feminina e a confiança que depositam na fidelidade do ao
parceiro.
É de notar também que, algumas mulheres declaram que, além de o companheiro
não querer, elas também não gostam de usar o preservativo, reiterando representações do
senso comum:
Fonte: http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/fios_vid/cap2_9.htm
Fonte: http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/fios_vid/cap2_9.htm
As mulheres heterossexuais, com parceiro fixo, normalmente não têm
consciência dos riscos a que se expõem. Substituem o uso do preservativo pelas idéias
de fidelidade e confiança do parceiro como formas de prevenção.
76
http://www.aids.gov.br/final/biblioteca/fios_vid/cap2_9.htm
(....) Por que antes era bem freqüente, pra não pintar a gra
videz. Depois
eu fiz a cirurgia (....) Aí, ficou assim mais relaxado (....).
(....) ele não usa porque ele não gosta (....) Eu aceito.
Não uso porque o meu companheiro, o meu marido, ele não gosta (....) e
pra falar a verdade até eu não gosto. E tem um d
izer (....) que diz assim,
que transar, que fazer sexo com camisinha é a mesma coisa que chupar
bala com papel. E eu acho que é, e apesar que eu não devia falar isto na
conjuntura atual, que sei lá você nunca sabe, mas (...) eu não gosto, nunca
gostei da c
amisinha.
não uso, porque se ele não anda com outras mulheres como é que eu vou
pegar? (....)
eu confio nele, porque ele não estaria praticando sexo fora de casa.
171
Tabela 27 – Questão 18 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo sem
penetração e sem camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 27
23
26
42
118
b- 25% 21
26
21
26
94
c- 50% 19
15
20
8
62
d- 75% 6
5
7
1
19
e- 100% 26
18
16
10
70
f- Não sei 1
13
10
13
37
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 18 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo sem penetração e sem
camisinha
29%
23%
16%
5%
18%
9%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
118 respondentes crêem que, na prática de sexo sem penetração não há risco de
infecção pelo HIV/AIDS. Tal crença se equilibra entre ambos os sexos, com metade de
homens e metade de mulheres. Desses, há 10 alunos da área de Biomédicas, 6 são homens e 4
são mulheres. Dos homens, 1 declara ter usado drogas injetáveis e compartilhado agulhas.
Conforme o Núcleo de Epidemiologia do Hospital da Fiocruz, transar sem
penetração e sem camisinha diminui o risco de contaminação pelo HIV, mas não o evita
1
72
completamente.
77
Nossa busca encontrou, no guia do sexo UOL, as seguintes consultas que
ilustram como a informação disponibilizada na Internet pode atenuar a idéia de risco, como se
vê no primeiro quadro.
Fonte: http://guiadosexo.uol.com.br/perguntaserespostas/ginecologia_2.htm
Fonte: http://guiadosexo.uol.com.br/perguntaserespostas/ginecologia_2.htm
77
Núcleo de Epidemiologia - Hospital Evandro Chagas http://members.tripod.com/themedpage/faq_aids4.htm
PERGUNTA:
Sexo sem penetração tem risco?
RESPOSTA: (Dr. Antônio Barbato - ginecologista e obstetra)
Nunca poderemos
falar em risco ausente, porém ele será muito baixo, já que não acontecendo a
ejaculação na mucosa vaginal ou anal não haverá contato do esperma (que é o
veículo de transporte do vírus) com as "portas de entrada" que podem esta
r
presentes como pequenos ferimentos, fissuras e "feridas" no colo uterino.
PERGUNTA:
gostaria de saber se há possibilidade de contaminação por HIV
quando há apenas o contato do pênis com a superfície externa da vagina, sem
penetração, mesmo ela estando bastante lubrificada.Obrigado.
RESPOSTA: (Dra. Loreta Burlamaqui da Cunha)
1
Embora o contato sem
penetração apresente menor risco de contaminação, sempre que há contato de
secreção sexual (principalmente se for em maior quantidade) com a mucosa do
pênis, é possível a ocorrência de infecção. Um abraço.
173
Tabela 28 - Questão 19 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo oral, sem
camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 40
44
42
31
157
b- 25% 21
24
22
33
100
c- 50% 8
9
9
13
39
d- 75% 12
9
12
7
40
e- 100% 18
11
13
8
50
f- Não sei 1
3
2
8
14
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 19 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo oral, sem camisinha
38%
25%
10%
10%
13%
4%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
As respostas colhidas nesta questão revelam que 59 elementos do grupo acreditam
que a prática de sexo oral não expõe a risco de contrair o HIV/AIDS. Desses, 22 são homens e
37 são mulheres. Contudo, os demais crêem que existe um risco que varia de 25 a 100% em
contrair AIDS na prática de sexo oral.
Para o Dr. Marcos Tadeu Nolasco, Infectologista especialista em AIDS, da
Unicamp, a probabilidade de contrair HIV pela prática de sexo oral é extremamente baixa. Os
174
casos comprovados são apenas relatos esporádicos. Não é possível sequer estabelecer um
risco percentual.
78
Os quadros abaixo fornecem um panorama dessa preocupação entre os usuários da
rede e nos dão a chance de comparar a linguagem de dois diferentes serviços de orientação
sexual.
Fonte: http://www.aids.gov.br/livro/c410.htm
Fonte: http://www2.uol.com.br/aprendiz/n_simulado/sextips/semana/perg3010.htm#3
78
http://www.saudevidaonline.com.br/c88.htm
PERGUNTA:
O sexo oral é seguro?
RESPOSTA: O
sexo oral é de risco moderado se praticado sem proteção e de baixo
risco com a proteção de preservativos de látex não-
lubrificados. Tais ponderações são
feitas
em virtude do vírus poder ser isolado a partir de amostras de saliva com
freqüência menor que 10%. Por técnicas tipo PCR, células infectadas por vírus foram
raramente encontradas na saliva mesmo na presença de doença periodontal. Os baixos
índices de HIV n
a saliva podem refletir não apenas baixa carga viral, mas possíveis
propriedades antivirais ou presença de substâncias inibidoras do vírus e não específicas
tais como fibronectina e glicoproteínas. Desta forma o sexo oral impõe menor risco que
o sexo anal
ou vaginal mas não há estudos sobre índices de infecções em pessoas que
praticam única e exclusivamente sexo oral.
PERGUNTA:
Gostaria de saber se o risco de se infectar com o vírus da AIDS é maior
ou menor no sexo oral. E se a camisinha rasgar, pode oco
rrer a contaminação do homem
em uma relação oral?
RESPOSTA:
O sexo oral é uma das práticas sexuais que oferece o menor risco em
infecção por HIV (vírus da AIDS). No entanto, se ambos apresentarem qualquer lesão,
seja na boca, ou na região genital, a proba
bilidade aumenta. Ou seja: se o garoto não
está com camisinha, ou ela rasgou durante o sexo oral, ele só irá ser infectado, se ele
tiver alguma lesão aberta no pênis e a garota algum tipo de ferimento na boca (tipo:
lesão por aparelho nos dentes).
175
Tabela 29 - Questão 20 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo só com um
parceiro, mas sem camisinha, nos últimos 5 anos?
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 20 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo só com um parceiro, mas sem
camisinha, nos últimos 5 anos
27%
17%
23%
8%
17%
8%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 109 (27%) que acham que não há risco em relações sexuais sem proteção com um
único parceiro nos últimos cinco anos, 54 são homens e 55 são mulheres. Nesta questão, as
variáveis religião e idade não são significativas. Aqui novamente percebe-se como a idéia de
fidelidade se encontra arraigada entre os elementos da amostra.
Esse resultado encontra eco no estudo de Vera Paiva
79
, doutora em Psicologia Sexual e
autora do livro Fazendo arte com a camisinha, fruto de suas pesquisas. Vera afirma existir um
79
Fonte: http://www.zaz.com.br/istoe/1597/comportamento/1597virus.htm
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 21
22
24
42
109
b- 25% 19
12
16
22
69
c- 50% 28
27
26
10
91
d- 75% 11
5
9
7
32
e- 100% 20
22
18
8
68
f- Não sei 1
12
7
11
31
TOTAL 100
100
100
100
400
176
terrível culto à monogamia, como se ter parceiro fixo fosse garantia de saúde. “Com seis
meses de namoro, o casal abandona a camisinha, pois um acredita no outro e acha que isso
basta para a prevenção”, explica.
Segundo pesquisa Ibope/Coordenação Nacional de DST/AIDS, enquanto o uso de
camisinha com parceiros eventuais cresceu nos últimos quatro anos, apenas 20% dos
brasileiros fazem questão de usar preservativo com um parceiro fixo (53% deles citaram a
confiança como o principal fator para dispensarem a camisinha). Carmita Abdo avalia que
"Tudo o que é arriscado acaba sendo uma prova para o jovem, que gosta de perigo. Transar
sem camisinha pode ser considerado uma prova de amor, mas, certamente, não é uma prova
de amor próprio".
80
80
Fonte: http://www.giv.org.br/noticias/noticia.php?codigo=212
Tabela 30 - Questão 21 - Quais são as chances de pegar AIDS fazendo sexo com pessoas
que você acabou de conhecer pela Internet?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 6
9
8
1
24
b- 25% 2
4
5
3
14
c- 50% 16
12
14
16
58
d- 75% 20
14
16
14
64
e- 100% 55
55
54
49
213
f- Não sei 1
6
3
17
27
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 21 - Chances de pegar AIDS fazendo sexo com pessoas que você acabou de
conhecer pela Internet
6%
4%
15%
16%
52%
7%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Na amostra, 24 pessoas declaram acreditar que o risco de contrair o vírus HIV no
contato sexual com pessoas que acabaram de conhecer na Internet é zero. Desses, 18 são
mulheres e 11 nunca procuraram a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS, o que pode indicar
que elas desconheçam a prática, cada vez mais usual, de conhecer alguém pela Internet, em
salas de bate-papo, marcar encontro e manter um relacionamento sexual eventual.
Contudo, é fácil conseguir relacionamento sexual pela Internet ou nas páginas de
classificados dos jornais de grande circulação. Para o blogger Alexandre Cruz Almeida
81
.
Hoje em dia, para conseguir uma prostituta, não é mais necessário passear de carro pela orla
81
http://www.sobresites.com/alexandrecruzalmeida/artigos/sexosem.htm
178
de Copacabana, ler os classificados dos grandes jornais ou nem mesmo folhear caderninhos
em barracas na praia. Acompanhantes, de todas as raças, credos e preços, podem ser
encontradas na Internet, em sites próprios, de agências ou mesmo de cooperativas”.
É comum que a imprensa denuncie agenciadores que oferecem garotas aos turistas.
Contudo, esses “escândalos” só surpreendem quem nunca navegou na Internet, ou não folheia
os classificados dos próprios jornais que fazem tais denúncias.
179
Tabela 31 – Questão 22 - Quais são as chances de pegar AIDS mantendo relações sexuais
com muitos parceiros, mesmo com camisinha?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 19
38
36
30
123
b- 25% 14
15
14
18
61
c- 50% 24
19
23
11
77
d- 75% 24
12
15
19
70
e- 100% 18
12
10
12
52
f- Não sei 1
4
2
10
17
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 22 - Chances de pegar AIDS mantendo relações sexuais com muitos parceiros,
mesmo com camisinha
31%
15%
19%
18%
13%
4%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Dos 123 elementos de nossa amostra que afirmaram crer que o relacionamento
sexual com muitos parceiros não é arriscado quando se usa o preservativo, há 67
homens e 56 mulheres. Percebe-se que essa variável não sofre influencia da crença
religiosa, faixa de idade ou grau de instrução do chefe da família.
Contudo, essa crença é discutida na cartilha Prevenindo contra drogas e DST/AIDS,
do Programa Nacional de DST/AIDS, segundo a qual “é importante saber que os riscos de
180
infecção pelo HIV são maiores no caso de muitos parceiros sexuais; quando a parceria
não é mutuamente exclusiva e antiga, o uso da camisinha é indispensável.”
82
Para Adriana Melo, da Fiocruz, “apesar de o risco de contrair o HIV continuar sendo
maior para os grupos vulneráveis - homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis e
profissionais do sexo - houve um aumento desproporcional de casos de AIDS entre a
população heterossexual. Isso se deve, principalmente, a uma mudança no comportamento
dos jovens. "Hoje as pessoas começam a vida sexual mais cedo e se casam mais tarde, o que
as leva a ter uma maior atividade sexual, mais relações sexuais espontâneas com um maior
mero de parceiros", explica Célia Landmann
83
. Esse comportamento, aliado a uma baixa
percepção de vulnerabilidade, determina situações de risco para a transmissão de DST.
82
Texto extraído e adaptado da Cartilha Prevenindo contra as drogas e DST/AIDS: cartilha do educador -
Programa Nacional de DST/AIDS. R. Bucher. 2ª ed., p. 17, p.18 - Brasília, 1995.
Fonte: http://www.saude.rj.gov.br/ViverSaude/Infos/AIDS.htm
83
Célia Landmann é coordenadora do projeto de Monitoramento de Indicadores do Programa Nacional de
Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids (Monitoraids).
Fonte: http://www.fiocruz.br/ccs/especiais/aids/monitoraids_adr.htm
Tabela 32 - Questão 23 - Quais são as chances de pegar AIDS ao compartilhar agulhas?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 1
0
0
1
2
b- 25% 0
0
1
3
4
c- 50% 4
7
4
7
22
d- 75% 10
15
14
14
53
e- 100% 84
76
79
69
308
f- Não sei 1
2
2
6
11
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 23 - Chances de pegar AIDS ao compartilhar agulhas
6%
13%
77%
3%
1%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Nossa amostra demonstra estar bem consciente do risco que o uso de drogas injetáveis
e o compartilhamento de agulhas representam. Contudo, vale ressaltar que um dos que
respondeu que o risco de contrair AIDS ao compartilhar agulhas é zero, já adotou essa prática.
Sabe-se que a associação entre consumo de drogas e atividade sexual é freqüente. Para
Tim Rhodes do site Álcool e Drogas, mantido pelo Hospital Israelita Albert Einstein,
“invenções recentes, como o cybersex e o sexo virtual (sexo pela internet), apontam novas
fronteiras no entendimento da sexualidade humana. Tratada com reservas pela saúde pública
durante longo tempo, a sexualidade passou a receber atenção após o surgimento da AIDS nos
182
anos 80. A AIDS repercutiu sobre as forças sociais, econômicas e culturais e influenciam
diretamente as práticas sexuais e a sexualidade dos indivíduos. Desde então, a combinação de
sexo e drogas, resultando na prática de risco, preocupa pesquisadores e agentes de saúde
pública”.
Para o autor, as drogas causam desinibição e aumento do desejo sexual, o que pode
levar a práticas sexuais de risco. Além disso, é preciso considerar que os adolescentes, muitas
vezes, não se consideram em situação de risco; muitos heterossexuais crêem que podem
distinguir quem está suscetível ou não à infecção: mulheres cedem ao não-uso da camisinha
por seus parceiros e; muitos heterossexuais tomam atitudes apenas à frente daquilo que
aprenderam ser uma situação de risco. As drogas e o álcool, usados por adolescentes com
essas crenças, adicionam um risco a mais, dentro de um contexto potencialmente causador de
complicações.
Nesse sentido, o autor considera ainda que estudos com usuários evidenciam a relação
entre uso de drogas e aumento das práticas sexuais de risco à infecção pelo HIV, pois “tais
estudos, por outro lado, investigaram populações ou situações específicas capazes de
possuírem outros fatores para o sexo de risco. Não deixam claro, assim, se há relação de
causalidade, isto é, se o consumo de drogas por si só leva ao aumento do risco, ou se este é
mais uma faceta da vida social destes indivíduos, marcada por diversos comportamentos de
risco”.
Rhodes considera ainda que traços particulares da personalidade possam influenciar a
quantidade de parceiros e o consumo de drogas, já que “o consumo de drogas leva à
desinibição, mas é importante considerar que antes do consumo, já havia o desejo do
intercurso sexual”.
As drogas alterarem as percepções de risco e beneficiarem imediatamente as ações de
recompensa; “o consumo de álcool e drogas, facilita interações que levam ao sexo; os
encontros que potencialmente levam ao sexo acontecem em bares e casas noturnas e o álcool
e as drogas, coincidentemente, estão disponíveis nesses locais”, finaliza.
183
Tabela 33 - Questão 24 - Quais são as chances de pegar AIDS ao fazer uma transfusão
de sangue?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 24
18
23
18
83
b- 25% 20
31
29
25
105
c- 50% 27
17
22
23
89
d- 75% 9
8
5
9
31
e- 100% 19
18
16
12
65
f- Não sei 1
8
5
13
27
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 24 - Chances de pegar AIDS ao fazer uma transfusão de sangue
21%
26%
22%
8%
16%
7%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Na amostra, 83 informantes, correspondentes a 20%, consideram que não há risco de
infecção pelo HIV em transfusões de sangue. Dez deles estudam um curso na área de Ciências
Biomédicas.
Para os técnicos do Hospital Israelita Albert Einstein, a transfusão de sangue é o ato
de infundir sangue, ou um de seus componentes, num paciente com a finalidade de
restabelecer ou estabilizar determinadas condições clínicas. Conforme o PN-DST/AIDS, nos
últimos 10 anos houve grandes progressos técnicos na triagem sorológica de todo sangue
doado e nos métodos de inativação de vírus e a transmissão do HIV por transfusão pôde ser
quase completamente prevenida. Contudo, ainda não foi possível atingir a segurança absoluta
184
e a maior parte dos riscos se deve a doações em períodos de janela imunológica, em que os
anticorpos anti-HIV não são detectáveis. “Tais riscos são bastante reduzidos, da ordem de
uma infecção para cada 450.000 a 600.000 doações nos Estados Unidos, de 1:520.000 na
Áustria, I:900.000 na Alemanha e 1:580.000 na França. No Brasil há razões para suspeitar
que os riscos sejam maiores, considerando-se que grande parte das doações são dirigidas ou
de reposição efetuadas sob pressão, fato que pode inibir a auto-exclusão dos doadores,
interferindo negativamente na seleção e aumentando a prevalência de doadores
potencialmente infectados. Além disto, nas localidades onde testes confidenciais, anônimos e
gratuitos não são facilmente disponíveis, indivíduos sob risco podem ainda estar procurando
hemocentros visando a realização de tais exames”.
84
84
Fonte: http://www.aids.gov.br/livro/c112.htm
Tabela 34 - Questão 25 - Quais são as chances de pegar AIDS ao manter contato social
com pessoas portadoras do vírus HIV?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0%
81
86
89
72
328
b- 25%
5
5
5
13
28
c- 50%
2
5
2
3
12
d- 75%
8
1
2
2
13
e- 100% 3
0
0
3
6
f- Não sei
1
3
2
7
13
TOTAL
100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 25 - Chances de pegar AIDS ao manter contato social com pessoas portadoras
do vírus HIV
82%
3%
3%
2%
3%
7%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
A questão do preconceito em relação aos portadores do HIV/AIDS se evidencia na
amostra quando 18% dos respondentes, de ambos os sexos e em todas as faixas de idade
alimentam algum tipo de receio de manter contato social com pessoas infectadas.
186
Tabela 35 - receio de manter contato social com pessoas infectadas
17 E 20
21 E 30
31 E 40
+ 40
TOTAL
ZERO 56
173
66
33
328
25% 6
13
5
4
28
50% 9
2
1
12
75% 5
3
5
13
100% 1
3
2
6
NÃO SEI 5
5
2
1
13
TOTAL
82
199
76
43
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Em nossa busca, identificamos inúmeros exemplos em que a ignorância é a
causa maior do preconceito. O quadro abaixo demonstra como isso se dá no universo
de uma dona-de-casa e mãe e que, coincidentemente, se relaciona com os 18% da
amostra que acreditam que o contato social com pessoas portadoras do vírus HIV.
Fonte: http://www.reprodusite.hpg.ig.com.br
PERGU
NTA:
Eu e uma outra amiga estamos na mesma situação,
convivemos com uma terceira amiga a quem queremos muito, sentimos
muito carinho, mas que é soropositivo. (...) como nossa amiga sempre
brincou com as nossas crianças temos receio, porém ela não está com
nenhuma doença (ainda) somente tosse muito (perto das crianças: com
idades de 14,10,04 anos e um bebê de sete meses).
Pergunto quais são os riscos reais que nossos filhos estão correndo? Há o
risco de contaminação das doenças oportunistas? Obrigada, não qu
eremos
perder nossa amiga, mas não podemos por em risco nossos filhos. Nos
ajudem. Obrigada. Mirtes e Sarah.
RESPOSTA:
Dra.Norma Rubini (...) Prezadas Mirtes e Sarah, não existe
risco de transmissão do HIV no convívio familiar e social, seja através de
b
rincadeiras como as que vocês referem ou em manifestações de afeto
(beijos na face e abraços). As doenças oportunistas são assim denominadas
porque só se desenvolvem em pessoas com défict imunológico, ou seja, são
causadas por agentes infecciosos que neces
sitam de uma "oportunidade",
gerada em conseqüência do enfraquecimento do hospedeiro, para que
possam ocasionar doença nestes indivíduos.
Tabela 36 - Questão 26 - Quais as chances de pegar AIDS ao usar banheiros públicos ou
compartilhar objetos pessoais como toalhas, pentes ou escovas de cabelo, pratos copos e
talheres com pessoas que você sabe que são portadoras do vírus HIV?
1
2
3
4
TOTAL
a- 0% 52
62
66
64
244
b- 25% 16
14
12
20
62
c- 50% 5
6
5
2
18
d- 75% 15
1
3
3
22
e- 100% 11
7
6
2
26
f- Não sei 1
10
8
9
28
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 26 - Chances de pegar AIDS ao usar banheiros públicos ou compartilhar objetos
pessoais como toalhas, pentes ou escovas de cabelo, pratos copos e talheres com pessoas
que você sabe que são portadoras do vírus HIV
60%
15%
5%
6%
7%
7%
0%
25%
50%
75%
100%
Não sei
Fonte: Estudo realizado pela autora
Percebe-se que o preconceito se reforça quando os informantes são perguntados a
respeito da chance de pegar AIDS ao compartilhar banheiros públicos e objetos de uso
pessoal com pessoas portadoras do vírus. A tabela abaixo evidencia uma queda de mais de
1/3 entre os que acham que o risco de contrair AIDS no contato social é zero, quando
comparada com o risco de contrair AIDS ao compartilhar objetos com portadores do HIV.
Constata-se que 79 pessoas que responderam zero na questão anterior, ficaram na faixa dos
25% na questão 26. Essa crença perpassa ambos os sexos, todas as idades e religiões e,
188
inclusive, inclui 5 alunos da área de Biomédicas. A tabela abaixo representa o cruzamento da
questão com a variável idade e o quadro que a segue articula o resultado de nossa amostra
com as preocupações dos usuários da rede, estabelecendo entre ambos uma relação de
semelhança.
Tabela 37 - Cruzamento das respostas dadas a questão número 26 com a variável idade
17 E 20
21 E 30
31 E 40
+ 40
TOTAL
ZERO 52
127
42
23
244
25% 9
28
16
9
62
50% 4
9
3
2
18
75% 4
7
4
7
22
100% 4
12
9
1
26
NÃO SEI 9
16
2
1
28
TOTAL 82
199
76
43
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Fonte: http://www.reprodusite.hpg.ig.com.br/duvidas.htm#banhpu
PERGUNTA:
É possível pegar AIDS usando roupas de outras pessoas ou
banheiros públicos?
RESPOSTA: Não, o vírus da AI
DS, o HIV, vive pouco tempo fora do corpo
humano e em contato com o ar morre rapidamente. Lembre-
se que roupas
íntimas não se emprestam. É uma questão de higiene.
PERGUNTA
: Se uma pessoa comer junto com um portador do vírus da
AIDS ou usar os mesmos tal
heres (prato, garfo, faca, copo), ela pode ser
contaminada com o vírus?
RESPOSTA
: Não, a AIDS não pode ser transmitida pelos talheres usados
pelo portador. Na verdade o portador pode ter um contato normal com as
pessoas a sua volta, pois não passará o vír
us por estar no mesmo ambiente,
por picadas de inseto, pelo suor, por um abraço ou aperto de mão.
Tabela 38 – Questão 27 - Na sua opinião quem corre mais risco de pegar AIDS?
(pode assinalar mais de uma)
1
2
3
4
TOTAL
a- Heterossexuais 36
43
25
26
130
b- Homossexuais 70
60
50
49
229
c- Bissexuais 59
55
63
48
225
d- Usuários/drogas 91
87
87
82
347
TOTAL 256
245
225
205
931
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 27 - Risco de pegar AIDS
14%
25%
24%
37%
Heterossexuais
Homossexuais
Bissexuais
Usuários/drogas
Fonte: Estudo realizado pela autora
Como no questionário, esta questão possibilitava mais de uma alternativa, a
tabela e o gráfico apenas demonstram que os respondentes acreditam que os usuários
de drogas são o segmento mais suscetível à infecção pelo HIV. É interessante perceber
que a alternativa ‘heterossexuais’ é a menos citada, o que confirma a existência da
crença de que os heterossexuais não adotam práticas de risco.
190
Tabela 39 - Questão 28 - Se você desconfiasse que está com AIDS, em quanto tempo
faria o exame de HIV?
1
2
3
4
TOTAL
a- Não faria 6
5
8
7
26
b- Imediatamente 78
78
82
64
302
c- Em 15 dias 4
3
1
3
11
d- Em 1 mês 0
2
0
1
3
e- Em 3 meses 4
6
2
8
20
f- Em 6 meses 8
6
7
17
38
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 28 – Tempo para realizar exame de AIDS
6%
78%
4%
4%
8%
Não faria
Imediatamente
Em 15 dias
Em 1 mês
Em 3 meses
Em 6 meses
Fonte: Estudo realizado pela autora
302 pessoas da amostra declararam que se desconfiassem estar com AIDS,
fariam o teste imediatamente. Desses, 168 informam que já usaram a Internet para tirar
dúvidas sobre AIDS. Esta variável não demonstra variação significativa quando
cruzada com as variáveis, idade, sexo e religião. Contudo, percebe-se que os homo e
bissexuais são mais bem informados a respeito de como proceder para a testagem, já
que entre os 38 que esperariam 6 meses, há 8 (21%) respondentes que não se declaram
heterossexuais.
191
Nenhum dos respondentes parece saber sobre o período denominado janela
imunológica, que é tempo compreendido entre a infecção e a soroconversão é de 6 a
12 semanas após a aquisição do vírus, com o período médio de aproximadamente 2,1
meses. Os testes utilizados apresentam geralmente níveis de até 95% de soroconversão
nos primeiros 5,8 meses após a transmissão. Por isso, é necessário um período de
seguimento sorológico, com a repetição do exame a determinados intervalos.
Geralmente este período de acompanhamento é de 18 meses após a última exposição
considerada de risco. A periodicidade da realização do exame anti-HIV é variável de
acordo com o serviço de saúde
85
.
85
Fonte: http://www.aids.gov.br/livro/c507.htm
Tabela 40 - Questão 29 - Você tem alguma dúvida sobre AIDS?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 53
60
59
72
244
b- Não 47
40
41
28
156
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 29 - Dúvida sobre AIDS
61%
39%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
Da amostra, 61% dos elementos (120 homens e 124 mulheres) informaram ter
alguma dúvida sobre AIDS. É interessante perceber que 156 destes (39% da amostra),
informam também que já usaram a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS. Dos 156
(igualmente 39% da amostra) que não têm nenhuma dúvida, 88 são mulheres e 68 são
homens e 31 deles buscam informações sobre AIDS junto aos médicos ou recorrendo
aos livros.
Tabela 41 - Questão 30 - Sua dúvida se refere a:
1
2
3
4
TOTAL
a- Como se pega 10
20
32
26
88
b- Como se faz teste 7
13
22
15
57
c- Sintomas 62
42
37
36
177
d- Outras 21
25
9
23
78
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 30 - Área da dúvida sobre AIDS
22%
14%
44%
20%
Como se pega
Como se faz teste
Sintomas
Fonte: Estudo realizado pela autora
Embora nosso trabalho tenha constatado que a maior parte das preocupações do
universitário em relação à AIDS se relacione aos sintomas provocados pela doença,
uma parcela significativa de 44% da amostra respondeu que suas dúvidas se referem a
outros aspectos, dentre os quais os mais freqüentes são tratamento, outras formas de
contágio, chance de pegar, beijo na boca e outros sintomas .
Tabela 42 - Questão 31 - Quando você tem dúvidas sobre AIDS, onde busca
informações?
1
2
3
4
TOTAL
a- Jornal/revista 6
3
4
6
19
b- Internet 44
52
54
60
210
c- Rádio/TV 3
1
2
4
10
d- Médico/livro 38
36
35
19
128
e- Outros 9
8
5
11
33
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 31- Busca de informações sobre AIDS
5%
52%
3%
32%
8%
Jornal/revista
Internet
Rádio/TV
Médico/livro
Outros
Fonte: Estudo realizado pela autora
A Internet foi apontada por 52% da amostra como o meio mais usado para obter
informações sobre AIDS. A maioria dos que procuram informação na Internet se encaixa nas
faixas de idade entre 17 e 30 anos. É interessante notar que, nestas faixas somente 1 elemento
não busca informação na Internet.
195
Tabela 43 - Questão 32 - Você já usou a Internet para tirar dúvidas sobre AIDS?
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 32 - Internet como fonte de informação sobre AIDS
58%
42%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
Percebe-se que, embora apenas 210 respondentes tenham informado na questão
anterior que normalmente buscam informação na Internet, esse número aumenta cerca de 10%
nesta questão, o que indica que mesmo para os que não usam a Internet normalmente como
fonte de informação o fazem quando se trata de dúvida sobre AIDS. Talvez isso se deva ao
anonimato que a rede permite.
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 47
59
56
71
233
b- Não 53
41
44
29
167
TOTAL 100
100
100
100
400
196
Tabela 44 – Questão 33 - Qual é o site de busca que você normalmente usa?
1
2
3
4
TOTAL
a- Terra 3
4
5
10
22
b- Ig 3
3
5
6
17
c- UOL 11
4
19
16
50
d- Google 67
73
60
58
258
e- Outros 16
16
11
10
53
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 33 - Site de busca preferido
6%
4%
13%
64%
13%
Terra
Ig
UOL
Google
Outros
Fonte: Estudo realizado pela autora
O Google deteve a preferência dos universitários com 64,5% do total. A opção
“Outros”, com 13%, abriga uma infinidade de portais (Cadê, Yahoo, Radix, AOL, Ibest,
Itelefônica, Miner, Altavista, Aonde, etc). O cruzamento desta variável com sexo, idade, área
de estudo, preferência sexual, etc, não foi significativa.
197
34. Que palavras você usou para fazer a busca sobre AIDS na Internet?
Os termos mais usados na busca foram AIDS, com 231 ocorrências, 58% do
total da amostra, seguido por HIV com 48 buscas. Os termos DOENÇA(S) e DST
tiveram 10 registros cada um. O termo SIDA foi usado pela amostra em 4
oportunidades e em outras 3 a busca foi realizada com o termo, TUDO SOBRE AIDS.
Os que disseram nunca ter procurado sobre AIDS na Internet são 27 e os demais
usaram diversos outros termos, alguns mais comuns no vocabulário popular.
198
Tabela 45 - Questão 35 - A resposta que você conseguiu na Internet esclareceu sua
dúvida?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 64
68
66
73
271
b- Não 36
32
34
27
129
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 34 - Satisfação com a resposta da Internet
68%
32%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
Na amostra, 68% responderam que a informação encontrada na Internet
esclareceu a dúvida. Dos 32% restantes, 79 já haviam declarado que nunca buscaram
informação sobre AIDS na rede. Daí, pode-se especular sobre a confiança na
veracidade da informação oferecida.
Nesse sentido, alguns segmentos já se manifestam e denunciam a falta de
confiabilidade nas fontes, o grau de isenção do produtor da informação e o método que
fez o informante chegar a esta ou àquela conclusão. Além disso, problemas gerados
pelo overload information, decorrentes do próprio caráter caótico e desorganizado da
rede, muitas vezes, confundem o usuário em sua busca pela informação.
199
Tabela 46 - Questão 36 - Na Internet, você encontrou alguma informação sobre AIDS
que na sua opinião não era verdadeira ou confiável?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 42
41
40
52
175
b- Não 58
59
60
48
225
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 35 - Confiança na informação da Internet
44%
56%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
44% da amostra demonstram ter algum tipo de desconfiança em relação à
informação veiculada pela Internet. Essa questão da credibilidade da Internet já
começa a ser debatida e os possíveis prejuízos acarretados por informações
inverídicas, principalmente no campo da comunicação e saúde, já são tema de
discussão. Para Wilson Bueno, “este é um tema que se caracteriza tanto pela
relevância como pela controvérsia. Isso porque se pode saudar o incremento da
circulação de informações sobre saúde na Web (os jornalistas e cidadãos em geral têm
lucrado com este crescimento), ao mesmo tempo em que se levantam restrições ao
impacto que elas possam ter sobre os cidadãos”.
86
Para ele, muitas pessoas, ao
tomarem contato com informações não qualificadas ou distorcidas sobre saúde
veiculadas na Internet, se sentiram inseguras ou entraram em pânico.
86
Fonte: http://www.comunicasaude.com.br/artigostemas.htm
200
Tabela 47 - Questão 37 - Você sabe quem deu a informação que você procurava?
1
2
3
4
TOTAL
a- Sim 30
30
29
34
123
b- Não 70
70
71
66
277
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 36 - Fonte da informação
31%
69%
Sim
Não
Fonte: Estudo realizado pela autora
A preocupação com a idoneidade da fonte ainda não se constitui uma
preocupação para os usuários da Internet que, muitas vezes, tomam decisões com base
em informações incorretas. No que tange à comunicação e saúde esta é uma conduta
arriscada, uma vez que a estrutura anárquica da rede não privilegia a conduta científica
e a revisão pelos pares.
Nossa amostra se comportou de forma a negligenciar a fonte da informação e o
cruzamento com as demais variáveis não se mostrou frutífero, pois esta é uma conduta que
perpassa todas as variáveis.
No caso específico da veiculação de informações sobre AIDS na rede, é comum
encontrar sites construídos por adolescentes que juntam informações daqui e dali e as jogam
na rede. Além disso, pessoas sem formação para discutir a problemática também se lançam a
essa aventura, muitas vezes, com o intuito de vender produtos. Há também os mal
201
intencionados que pretendem, pela manipulação da informação disponibilizada, obter
vantagens ou lucros. Bueno nos fornece um panorama dessa questão no quadro abaixo.
Fonte: http://www.comunicasaude.com.br/artigostemas.htm
Para não especialistas, identificar com certeza as informações verdadeiras ou
faltas na área da saúde, representa um desafio imenso, certamente
intranspon
ível. Basta lembrar que, em Medicina, estamos, quase sempre, nos
referindo a especialidades e que, mesmo entre a comunidade médica, não se
encontrará uma única pessoa que esteja em condições de acumular todas as
informações sobre saúde. Um ortopedista não
se sentirá à vontade para discorrer
sobre os últimos avanços no tratamento de doenças cardiovasculares, sobre
clonagem terapêutica ou sobre oncologia e menos ainda sobre próteses dentárias
ou acupuntura, já que, para nós, aqui, saúde não se limita à área m
édica. Logo,
não se pode esperar que um comunicador (jornalista ou não) possa ser capaz de
decidir sozinho pela qualidade das informações que recebe ou veicula.
Isso quer dizer que será necessário, em todos os casos (para um ortopedista,
cardiologista, den
tista, fisioterapeuta ou jornalista que se dispõe a abraçar a
tarefa de divulgação na saúde) recorrer a especialistas a cada momento,
dependendo do objeto da notícia. Nós, em jornalismo em saúde, chamamos estes
especialistas de fontes que, na verdade, se c
onstituem na matriz das informações
que publicamos.
Tabela 48 - Questão 38 - Que site você acha que tem a melhor informação sobre AIDS?
1
2
3
4
TOTAL
a- ONG 13
13
11
16
53
b- Governo 18
25
25
25
93
c- Inst.Pesquisa 40
38
42
27
147
d- Laboratório 15
11
10
21
57
e- Ajuda ao Próximo 14
13
12
11
50
TOTAL 100
100
100
100
400
Fonte: Estudo realizado pela autora
Gráfico 37 - Site com melhor informação sobre AIDS
13%
23%
37%
14%
13%
ONG
Governo
Inst.Pesquisa
Laboratório
Ajuda ao Próximo
Fonte: Estudo realizado pela autora
Nossos resultados demonstram que 37% da amostra consideram melhor a informação
sobre AIDS fornecida por sites de institutos de pesquisa. Surpreendentemente, o site do PN-
DST/AIDS, várias vezes premiado e mundialmente consagrado, foi tido como o melhor por
apenas 23% dos respondentes. Preocupante é perceber que 27% acreditam que a melhor
informação sobre AIDS provém de sites de laboratórios e de pessoas interessadas em ajudar
ao próximo.
O cruzamento desta questão com as demais variáveis não foi significativo e mesmo
entre os que se declararam não heterossexuais não houve diferença expressiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
204
Enfim, para resumir a discussão (...) ela deve ser estudada, não em
virtude de algumas respostas definitivas às suas questões, visto que
nenhuma resposta definitiva pode, por via de regra, ser conhecida
como verdadeira, mas sim em virtude daquelas próprias questões;
porque tais questões alargam nossa concepção do que é possível,
enriquecem nossa imaginação intelectual e diminuem nossa
arrogância dogmática que impede a especulação mental; mas acima
de tudo porque através da grandeza do universo (...), a mente também
se torna grande, e se torna capaz daquela união com o universo que
constitui seu bem supremo.
Bertrand Russell
E AS RESPOSTAS...
Finalmente, chegamos ao ponto de nossa empreitada em que já procedemos à maior
parte do trabalho, juntamos todo o material suficiente e podemos responder às questões de
pesquisa, proceder ao teste das hipóteses e verificar se alcançamos nossos objetivos.
Com relação às questões de pesquisa, percebemos, pela tabulação dos dados
fornecidos pelo instrumento de campo, que a Internet se constitui em fonte de informações
sobre AIDS para 58% dos elementos da amostra. 10% da amostra declararam que, embora
não busquem informação sobre AIDS na Internet, já o fizeram alguma vez. Os demais usam
como fonte informação de médicos e livros (32%), jornais e revistas (5%), rádio e TV (3%) e
Outros (8%). Esse posicionamento perpassa as variáveis de idade, sexo e religião.
Embora a informação que a amostra obtém na Internet seja considerada verdadeira ou
confiável por 56% da amostra (questão 36) , 32% declaram que a informação sobre AIDS
conseguida na Internet não esclareceu sua dúvida (questão 35).
A preocupação com a fonte da informação (questão 37) não é central para o grupo de
componentes da amostra, já que 69% afirmam não saber quem deu a informação que
procuraram.
Com relação ao comportamento sexual de risco em relação ao HIV/AIDS, percebe-se
que a amostra, embora seja composta por universitários da cidade de São Paulo, com acesso
assegurado à informação, inclusive a provinda da Internet, em sua maioria, ainda não adotou o
uso do preservativo em todas os seus relacionamentos sexuais, já que 79% admitiu já ter feito
sexo sem proteção ao menos uma vez. Dos 21% que nunca fizeram sexo sem camisinha, 30
declaram nunca ter feito sexo. (questão8)
205
Outras questões do nosso instrumento de coleta de dados reforçam a constatação de
que o comportamento preventivo não foi adotado por uma parcela significativa dos elementos
do grupo. Na questão 9, há 4% dos respondentes que assumem já terem usado drogas
injetáveis e na questão 10, há 2% que admitem já terem compartilhado agulhas. O
relacionamento com parceiro único não é observado em 32% da amostra, pois declaram ter
mantido relacionamento sexual com duas ou mais pessoas nos últimos seis meses, o que
também se configura em comportamento sexual de risco.
O grupo demonstra ter um razoável conhecimento sobre a problemática que envolve a
AIDS e que pode ser verificado nas questões 12 a 29 e em seus cruzamentos.
No que tange ao sexo anal (questão 12), o grupo demonstra ter clareza do risco que
sua prática sem proteção acarreta, já que 85% acreditam que há entre 25 e 100% de chances
de contrair o vírus HIV nesse tipo de relacionamento.
A questão 13 trata do risco de contrair o HIV no sexo sem proteção e sem ejaculação.
Entre os 19 (5%) que crêem não haver risco no sexo desprotegido sem ejaculação, 10 homens
e 9 mulheres, há um elemento que se relacionou com mais de 5 pessoas, é usuário de drogas
injetáveis e já compartilhou agulhas.
Na questão 14, 26% da amostra demonstram crer que pessoas casadas ou que têm uma
relação estável não correm nenhum risco de pegar AIDS. Observa-se nesta mesma questão
que 10% dos respondentes dizem não saber qual é o risco que tal situação oferece. A questão
15 reforça esse contexto expresso na questão anterior pois, para o 22% do grupo, fazer sexo
sem proteção, não traz riscos desde que haja amor e confiança no parceiro.
As questões 14, 15 e 20 tentam evidenciar qual é a percepção do grupo quando se
relaciona AIDS com a idéia de fidelidade. Dos 101 que acham que não há perigo de contágio
em relação estável (questão 14), 47 são do sexo feminino e 54 masculino. Dos 89 que acham
que não há risco em manter relacionamento sexual sem proteção com que se ama em quem se
confia (questão 15) 43 são do sexo feminino e 46 do sexo masculino. Dos 109 que acham que
não há risco em relações sexuais sem proteção com um único parceiro nos últimos cinco anos,
54 são homens e 55 são mulheres. Nestas questões verifica-se ainda que a variável religião
não é significativa. Percebe-se que a tendência que a crer que o homem é menos fiel que a
mulher tende a se igualar.
A proteção que o preservativo oferece (questão 16) parece levar 38% do grupo a agir
como se o número de parceiros não se constituísse em pratica sexual de risco. Isso,
comparado ao resultado da questão anterior, reforça a indicação de que a confiança no
parceiro é um argumento consistente para o abandono do uso do preservativo.
206
A questão 17 trata das chances de se contagiar pelo vírus HIV/AIDS fazendo sexo
com proteção. 5,5% da amostra crêem que há 100% de chance de contágio pelo HIV/AIDS na
prática de sexo protegido. Desses, 17 são mulheres, duas estudantes de Biomédicas. Ao todo,
41% crêem que existe algum risco de contágio pelo HIV mesmo no sexo seguro. Somente 3%
responderam desconhecer a porcentagem desse risco e 56%, de ambos os sexos, crêem que
não há nenhum risco.
O sexo sem penetração e sem camisinha, tratado na questão 18, evidencia que 29% do
grupo de informantes consideram como seguro, 69% acreditam que essa prática oferece uma
margem de risco entre 25 e 100% e 9% do total da amostra assumem desconhecer a esse
respeito.
Embora o sexo oral desprotegido (questão 19) seja tido pelos especialistas como a que
menos arriscada, 58% dos elementos da amostra crêem que há risco de 25 a 100% de contrair
AIDS nessa prática.
A questão 20 se articula com as questões 14 e 15 e com a idealização da fidelidade do
parceiro. Embora a maioria (65%) acredite que há risco de contrair AIDS mesmo para quem
se relaciona sem proteção com parceiro único há mais de cinco anos, há 27% que dizem que
este comportamento é seguro e 8% que não sabem a respeito.
Parece haver certa clareza de que a prática de sexo com pessoas que se conhece pela
internet (questão 21) é um procedimento arriscado, já que apenas 6% acreditam que esse
comportamento é seguro. Porém, vale dizer que desses 18 elementos que compõem os 6%,
onze nunca usaram a Internet para esclarecer dúvidas sobre AIDS.
31% da amostra acreditam que o sexo protegido com muitos parceiros não é arriscado
(questão 22). Embora 4% declarem desconhecer o assunto, 65% demonstram saber do risco
que esse tipo de comportamento oferece.
O risco que o compartilhamento de agulhas impõe (questão 23) é do conhecimento da
esmagadora maioria dos informantes. Percebe-se que somente duas pessoas consideraram que
o risco desse comportamento é zero.
O risco de contágio pelo HIV/AIDS em transfusões de sangue (questão 24), embora
seja mínimo, conforme especialistas, ainda não é 100% seguro. Contudo, percebe-se que 21%
da amostra acreditam que esse procedimento seja completamente isento de riscos, o que
embora esteja muito próximo da realidade, não é verídico.
A questão do preconceito, provocado pela falta de informação, em relação aos
portadores do HIV/AIDS, evidencia-se na questão 25, pois se percebe que 18%, de ambos os
sexos e em todas as faixas de idade alimentam algum tipo de receio de manter contato social
207
com pessoas infectadas. Percebe-se ainda que o preconceito se reforça quando os informantes
são perguntados a respeito da chance de pegar AIDS ao compartilhar banheiros públicos e
objetos de uso pessoal com pessoas portadoras do vírus (questão 26).
Os usuários de drogas injetáveis (questão 27) são tidos pela amostra como o segmento
que é mais suscetível a adotar comportamentos de risco em relação ao HIV/AIDS.
Assim fica demonstrado o conhecimento do grupo em relação a algumas questões
sobre HIV/AIDS. Contudo (questão 28), 78% de pessoas da amostra declararam que se
desconfiassem estar com AIDS, fariam o teste imediatamente. No cruzamento desta resposta
com a variável opção sexual, percebe-se que os homo e bissexuais são mais bem informados a
respeito de como proceder para a testagem, já que entre os 38 que esperariam 6 meses, há 8
(21%) respondentes que não se declaram heterossexuais. Apesar disso, o grupo tem a
percepção de que carece de informações, já que 61% declaram ter dúvidas sobre AIDS.
Com relação às estratégias de busca, 52% da amostra declaram que usam a Internet
para buscar informações sobre AIDS. O portal de busca mais usado nessas ocasiões é o
Google. 68% disseram que a informação encontrada na Internet foi esclarecedora e 56%
acham que ela é verdadeira ou confiável, embora a preocupação com a identificação da fonte
da informação só esteja presente em 31% das respostas e o melhor site para obtenção de
informações tenha sido o de um instituto de pesquisa. As palavras-chave mais usadas pelo
grupo para pesquisar sobre AIDS na Internet foram AIDS, HIV, Doenças e DST.
Na tarefa de responder a todas as questões de pesquisa, percebemos que as hipóteses
de nosso trabalho também foram testadas, pois verificamos que uma parcela significativa de
universitários ainda adota comportamento de risco em relação ao HIV/AIDS apesar de terem
acesso à informação sobre as formas de prevenção. Nossos resultados demonstram ainda que
uma parcela desses estudantes tem algum tipo de dúvida em relação à AIDS e que somente
parte deles usa a rede para dirimir dúvidas, mesmo tendo o acesso à Internet assegurado.
Com relação ao nosso objetivo geral, de investigar se a Internet é fonte de informação
sobre AIDS, percebemos que a rede se constitui em ferramenta de busca de informações sobre
AIDS para 52% da amostra, o que é significativo quando comparado aos demais meios.
Sabemos que este trabalho, em virtude da técnica de amostragem que foi possível
adotar, não é generalizante para o universo da população universitária. Contudo, no decorrer
da trajetória que trilhamos e que nos trouxe este ponto, foi possível perceber tantas
possibilidades que o trabalho não se esgota aqui e se constitui apenas na indicação de algumas
pistas para investigações futuras.
208
Este trabalho, como tantos outros trabalhos de pesquisa, visa em primeiro lugar à
busca pelo conhecimento e, por esse motivo, mesmo percebendo que não chegamos a
respostas definitivas, consideramos que essa incerteza é o nosso grande trunfo.
Por outro lado, as respostas provisórias a que chegamos nos fazem perseverar na
esperança de encontrar outras respostas, mais completas, e a buscar novos rumos e outras
abordagens. Esse mistério mantém em nós a chama acesa da curiosidade e do espírito
especulativo que morreria com as respostas definitivas, pois o conhecimento tem que se
submeter ao método e às limitações que ele impõe. Dessa forma, o valor da trajetória
científica não reside no conhecimento seguro e definitivo, mas na sua própria incerteza.
A ciência, mesmo incerta e incapaz de responder às questões que ela mesma nos
impõe, nos força a empreender a busca pela verdade. Nessa busca nos educamos, nos
forjamos e nos tornamos humildes ao percebermos a dimensão de nossa própria ignorância.
GLOSSÁRIO
AGENTE é o nome genérico que designa qualquer tipo de microorganismo responsável por
algum tipo de infecção.
AIDÉTICO é a expressão usada para identificar os doentes com AIDS. As ONGs que se
dedicam à AIDS no Brasil e a Coordenação Nacional de DST/AIDS combatem e discordam
da utilização deste termo, pelo caráter pejorativo e discriminatório que se associa a ele.
AMOSTRA é uma porção de material de qualquer tecido do corpo para ser submetido à
análise clinica.
ANTICORPO é um tipo de proteína (gamaglobulina) formada como resposta a um estimulo
de defesa contra microorganismos estranhos.
ANTI-RETROVIRAL é a denominação genérica para os medicamentos utilizados no
tratamento da infecção pelo HIV, que é um retrovírus.
BACTÉRIA é um microorganismo que se reproduz, normalmente, fora das células no tecido
humano.
CASO é o nome empregado para estudar uma determinada ocorrência de doença. Pode se
referir a manifestações individuais ou coletivas.
CASO ESPORÁDICO é quando a ocorrência de uma doença é rara na região estudada.
CAMISINHA é um revestimento fino de borracha que deve ser colocado no pênis ereto,
antes da penetração, evitando que o esperma entre em contato com o corpo da(o) parceira(o).
A camisinha, também conhecida como camisa-de-Vênus, condom ou preservativo masculino
é o meio mais efetivo de prevenção das DST e da infecção pelo vírus da AIDS sexualmente
transmitida. É também um bom método de prevenção da gravidez.
210
COMPORTAMENTO DE RISCO é a conduta da pessoa dentro e fora da sua comunidade e
que pode aumentar ou diminuir a chance de ela ficar doente e passar a doença para os outros.
COMPORTAMENTO SEXUAL é a maneira como os indivíduos exercem sua sexualidade.
O comportamento sexual se desenvolve a partir das experiências de relacionamento familiar,
social e amoroso e sofre ainda influências educacionais, socioculturais, psicológicos e
biológicos.
CONTÁGIO é a transmissão infecciosa da doença de um individuo para outro.
CONTAMINAÇÃO é o processo de transmissão de bactérias, vírus ou fungos para materiais
sólidos, líquidos ou gasosos. É próprio falar em sangue, solo, água ou agulha contaminada.
Seres humanos são infectados e não contaminados.
CONTATO é uma das formas de contágio da doença. É a transmissão de um microorganismo
de um indivíduo para outro.
COQUETEL é o termo popularmente empregado para designar o que tecnicamente se
denomina TERAPIA COMBINADA que é o uso de dois ou três medicamentos antiretrovirais
associados, que se caracteriza pela ingestão de um grande número de cápsulas ou
comprimidos por dia.
DOENÇAS OPORTUNISTAS são as enfermidades causadas por agentes que geralmente
não causam doenças, mas que no caso das pessoas infectadas pelo HIV causam sérias
complicações no estado clínico do paciente em virtude da diminuição da capacidade de defesa
do organismo.
DROGAS INJETÁVEIS são substâncias, como a cocaína e a heroína, que podem ser
injetadas nas veias ou sob a pele. O hábito de compartilhar seringas e agulhas entre os
usuários de drogas aumenta o risco de contrair o HIV.
EPIDEMIA é a doença infecciosa ou qualquer problema de saúde pública que surge de forma
súbita e se desenvolve rapidamente, atingindo grande número de pessoas em uma localidade
ou região.
211
EPIDEMIOLOGIA é o estudo da maneira como uma doença se propaga nos grupos
populacionais. Os estudos epidemiológicos permitem identificar os fatores que facilitam ou
dificultam a disseminação da doença, contribuindo para sua prevenção e seu controle.
ERRADICAR significa extirpar ou extinguir uma doença.
EVOLUÇÃO é a palavra empregada para descrever como está caminhando uma doença em
determinado paciente.
FEMINIZAÇÃO DA AIDS é o termo que define a tendência de aumento do número de
mulheres infectadas ou doentes infecção pelo HIV.
GAY é o termo empregado para designar o homossexual masculino, isto é, o homem que faz
sexo com homem.
HEMODERIVADOS são todos os elementos derivados do sangue, como o plasma, as
plaquetas e as hemácias, e que são utilizados na transfusão se sangue, para tratamento de
diversas doenças.
IMUNIDADE é a resistência natural ou adquirida de um organismo vivo ou um agente
infeccioso.
IMUNODEFICIÊNCIA é a condição patológica temporária ou permanente que causa
deficiência do sistema imunológico, predispondo o organismo a adquirir doenças infecciosas.
IMUNODEPRIMIDO é o indivíduo cujo sistema imunológico se encontra debilitado.
IMUNOSSUPRESSÃO é a situação em que a capacidade da pessoa para resistir a uma
infecção e supera-la é reduzida.
INFECÇÃO é a penetração, desenvolvimento e multiplicação de microorganismos no corpo
humano, que pode trazer conseqüências diversas, normalmente prejudiciais à saúde. No caso
da aids, trata-se de penetração, desenvolvimento e multiplicação do HIV.
212
INFECÇÕES OPORTUNISTAS são infecções geradas por microorganismos aos quais o
corpo humano normalmente é imune. Quando o sistema imunológico está debilitado, as
infecções oportunistas tendem a se alastrar e causar sérios problemas de saúde.
INCIDÊNCIA é o número de casos novos de uma determinada doença em período de tempo,
população e em área geográfica determinados.
INIBIDOR DE PROTEASE é a droga capaz de inibir a ação da protease viral específica,
essencial para a formação da partícula infecciosa do HIV. Se a partícula viral não estiver
corretamente formada, o HIV não conseguirá infectar novas células.
INIBIDOR DE TRANSCRIPTASE REVERSA é a droga capaz de inibir a transcriptase
reversa, enzima responsável pela conversão do RNA do HIV em DNA. Sem isso, o vírus não
consegue se replicar.
INQUÉRITO EPIDEMIOLÓGICO é o termo que se refere ao conjunto de dados sobre
determinada infecção com o propósito de elucidar sua causa, origem, etc.
INTERIORIZAÇÃO DA AIDS é a tendência de ocorrência de casos em municípios de
médio e pequeno porte.
ISOLAR é o ato de separar o agente infeccioso dos outros tecidos.
JANELA IMUNOLÓGICA é o período que compreende a infecção e o início da formação
de anticorpos específicos contra o agente causador. Normalmente, tal período demora
algumas semanas em que o paciente, apesar de ter o agente infeccioso em seu organismo,
apresenta resultados negativos nos testes para detecção de anticorpos.
LEUCÓCITOS são os glóbulos brancos do sangue, responsáveis pela defesa do organismo.
Cada tipo de leucócito tem uma função diferente no organismo.
LINFÓCITO T é um tipo específico de leucócito que combate células cancerosas e infecções
virais. O HIV ataca os linfócitos T, reduzindo a imunidade do organismo.
213
MITOS SEXUAIS são concepções errôneas e falaciosas sobre a sexualidade, criadas a partir
de rumores, superstições ou falhas na educação sexual. Exemplos disso são as crenças de que
o álcool é um estimulante sexual; de que os homens sentem mais desejo sexual do que as
mulheres; de que a masturbação causa distúrbios sexuais, físicos ou psicológicos.
MORTALIDADE é o número de óbitos causados por determinada enfermidade, dividido
pela população num determinado período de tempo e área geográfica.
MUTAÇÃO designa as mudanças genéticas que torna os microorganismos mais agressivos e
com maior poder de letalidade ao individuo infectado.
NORMAS SEXUAIS são padrões de comportamento sexual socialmente aceitos. Como não
existem padrões universais, tais normas variam de uma sociedade para outra e de época para
época.
PANDEMIA é a epidemia que se dissemina a partir de uma área restrita e atinge outras
localidades.
PARASITAS são organismos que habitam em outros organismos e deles dependem para
sobreviver. Alguns desses organismos vivem dentro de seres humanos e podem causar
doenças.
PAUPERIZAÇÃO DA AIDS é o processo de evolução epidemiológica da infecção pelo
HIV que se caracteriza pela crescente incidência da epidemia junto às camadas de baixa renda
e com menores níveis de instrução formal.
PERÍODO DE INCUBAÇÃO é o espaço de tempo entre o contato infeccioso e o
aparecimento dos sintomas de determinada doença. No caso da AIDS, o período de incubação
médio é de 10 a 15 anos.
PERÍODO DE LATÊNCIA é o mesmo que período de incubação.
PLACEBO é uma substância que não é um princípio ativo.
214
PLASMA á a parte líquida do sangue do qual se retiraram as células vermelhas e brancas.
PODER DE INVASÃO é a capacidade que o microorganismo tem de invadir o organismo e
causar a doença.
PORTADOR ASSINTOMÁTICO é a pessoa infectada pelo HIV e que não apresenta
sintomas de AIDS, mas que pode transmitir o vírus.
PORTADOR SINTOMÁTICO é a pessoa infectada pelo HIV e que apresenta sintomas da
AIDS.
PÓS-TESTE é a sessão de aconselhamento na entrega do resultado do teste, em que o
indivíduo recebe o adequado suporte emocional e é reforçada a percepção de risco, a adoção
de práticas preventivas ao HIV e outras DST e a adesão ao tratamento no caso do indivíduo
infectado pelo HIV.
PRÉ-TESTE é a sessão de aconselhamento em que a troca de informações sobre HIV/AIDS,
situações de risco, medidas preventivas e o resultado de um teste para detectar infecções pelo
HIV ajuda o indivíduo na realização do teste.
PRESERVATIVO é o mesmo que camisa-de-vênus, camisinha ou condom.
PREVALÊNCIA é o número de casos registrados de uma doença em uma área geográfica e
em um período de tempo definido.
PREVENÇÃO é o conjunto de medidas destinadas a deter a propagação de uma moléstia. No
caso da AIDS, a propagação do HIV. Como ainda não se chegou a uma vacina, a prevenção é
a medida mais eficaz contra o HIV. Para que a prevenção seja eficiente, é preciso implantar
ações de informação e educação sistemáticas junto à população em geral e aos grupos de
maior vulnerabilidade.
PROFILAXIA é o conjunto de medidas usadas para prevenir ou evitar o adoecimento de
uma pessoa.
215
QUIMIOTERAPIA é o tratamento de enfermidades por meio de substâncias químicas.
RELACIONAMENTO MONOGÂMICO é o tipo de relacionamento em que duas pessoas
limitam sua atividade sexual exclusivamente às relações sexuais mantidas uma com a outra.
RETROVÍRUS é o tipo de vírus que se reproduz usando o processo de conversão reversa e
outras enzimas das células do indivíduo infectado. O HIV é um exemplo de retrovírus.
RISCO é a situação em que o indivíduo fica mais vulnerável à infecção pelo HIV.
RITONAVIR é o nome de um inibidor de protease usado no tratamento da infecção pelo
HIV.
SANGUE é o líquido que transita pelo coração, artérias, capilares e veias, constituído de
plasma e células, e que tem, entre outras funções, a de distribuir, pelas células do organismo,
oxigênio e substâncias nutritivas.
SARCOMA DE KAPOSI é um tipo raro de câncer que acomete freqüentemente os pacientes
com AIDS, principalmente os homens, sendo a pele o local normalmente mais atingido.
SECREÇÃO CORPORAL é qualquer tipo de fluído presente no organismo ou por ele
expelido, como sangue, urina, sêmen, esperma, lágrima e secreções vaginais.
SECREÇÕES VAGINAIS são os fluidos produzidos por glândulas do aparelho reprodutor
feminino e que servem para lubrificar a vagina.
SÊMEN é o fluído composto de espermatozóides e outras secreções produzidas por glândulas
do aparelho reprodutor masculino.
SENSIBILIDADE À MEDICAÇÃO é o conjunto de efeitos colaterais causados por um
medicamento. Alergia.
216
SEXO SEGURO é a relação sexual em que ambos os parceiros estão protegidos. São
consideradas estratégias de sexo seguro o uso de preservativos, a monogamia, a fidelidade
mútua entre parceiros sadios, entre outras.
SÍNDROME é o conjunto de sinais ou sintomas.
SINTOMAS são os fenômenos provocados por uma doença no organismo, quando descritos
pelo paciente, auxiliam o médico a estabelecer um diagnóstico.
SISTEMA IMUNOLÓGICO é o sistema orgânico responsável pela defesa contra agentes
nocivos.
SORO é a parte líquida do sangue da qual foram retiradas as células brancas, vermelhas e as
substâncias de coagulação.
SOROLOGIA é o estudo dos soros do sangue do paciente. Por reações químicas, pode-se
obter o diagnostico de infecções como a AIDS.
SORONEGATIVO é a pessoa que não possui anticorpos anti-HIV ou que ainda não os
possui em níveis detectáveis.
SOROPOSITIVO é a pessoa que possui anticorpos anti-HIV em níveis detectáveis.
SURTO EPIDÊMICO é a súbita elevação do número de casos de uma doença.
TESTE SOROLÓGICO é a verificação laboratorial da presença ou ausência de anticorpos
anti-HIV no sangue de uma pessoa.
TESTE DE CONTAGEM DE LINFÓCITOS T CD4 POSITIVO é uma metodologia que
permite contar o número de linfócitos T com receptor CD4. Quanto mais avançado o estágio
da infecção pelo HIV, menor é o número destas células, indicando a falência do sistema
imunológico do paciente.
217
TRANSCRIPTASE REVERSA é uma enzima viral específica dos retrovírus, responsável
pela conversão de seu RNA em DNA.
TRANSMISSÃO VERTICAL é a transmissão do HIV de mãe para filho. Pode ocorrer
durante a gestação, no parto ou no período de aleitamento.
TRANSMISSÃO PERINATAL é o mesmo que transmissão vertical.
TRANSEXUALISMO é a condição na qual um indivíduo, apesar de ter os órgãos sexuais
normais de um dos sexos, sente-se como se pertencesse ao outro sexo. Os transexuais
freqüentemente se definem como homens aprisionados em um corpo feminino e vice-versa. O
transexualismo não deve ser confundido com a homossexualidade.
TRATAMENTO DE SUPORTE é o tratamento empregado não diretamente contra o agente
infeccioso, mas para melhorar as condições básicas de vida do paciente.
TRAVESTISMO é a condição em que o indivíduo sente prazer erótico em usar vestes do
sexo oposto. Embora possa vir associado à homossexualidade, não deve ser confundido com
ela, pois ocorre também em heterossexuais.
VÍRUS são agentes microscópicos que podem causar doenças infecciosas. Os vírus só se
reproduzem dentro das células. No caso do HIV, sua reprodução se dá dentro da célula T4.
WESTERN BLOT é o tipo de teste feito com amostras de sangue, para verificar se a pessoa
teve contato com o HIV. Por fornecer resultados muito precisos, geralmente é utilizado na
confirmação de um resultado anterior.
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