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revele sua personalidade, mas receba uma pré-definida para ele e se comporte
orientado por ela, como um “animal adestrado” [utilizando aqui a mesma
nomenclatura utilizada por Freire (2003:76)]
1
, o que pode trazer conseqüências
para sua formação, principalmente quando passa anos seguidos na mesma
escola, perpassando as diversas séries e níveis (Básico e Fundamental). Ao sair
de uma escola com tais características, o aluno pode se inserir na sociedade com
deficiências que irão implicar negativamente na prática de sua cidadania e de
uma vida social autônoma e independente.
Procurando lançar luz a essa problemática, pretendo nesse trabalho
responder as seguintes perguntas:
1. Como adolescentes da mesma idade constroem pontos de vista em
contextos sociais distintos, no ambiente presencial (sala de aula) e no
ambiente virtual (sala de bate-papo)? E o que isso sinaliza?
2. Como a questão da diversidade de respostas em diferentes contextos de
situação pode contribuir para a formulação de metodologias mais
eficazes de ensino da língua materna?
A busca pelas respostas às perguntas formuladas nesta pesquisa será
realizada a partir de uma incursão no Sistema de Avaliatividade, que é um
campo de pesquisa incorporado à Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), que
pretende lançar luz à metafunção interpessoal proposta por Halliday
2
(1994),
uma vez que se volta para os discursos produzidos pelos falantes em diferentes
contextos. Martin & Rose (2003:22) descrevem o Appraisal como um sistema
interpessoal de produção de sentidos.
Por sua natureza sistêmica, o Sistema de Avaliatividade, de acordo com
Martin & White (2005), está preocupado com o vínculo entre a organização da
linguagem e sua utilização social, ou seja, na relação dialética entre
1
“A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar mas sobretudo para transformar a
realidade, para nela intervir, recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do
nível do adestramento dos outros animais ou cultivo das plantas”.
2
No corpo teórico construído por Halliday (1994) o sistema de Avaliatividade não recebe um
tratamento específico como o dado por Martin. A forma como Halliday aborda esta temática
aparece nas discussões que faz sobre modalização e modulação, duas subcategorias da
modalidade, ligadas aos significados interpessoais. Martin (1992, 1997), por sua vez, amplia
esta conceituação e lança então o sistema de Avaliatividade (appraisal), que ele entende como
um sistema de significados interpessoais, no qual aparecem as categorias de atitude,
engajamento e gradação.