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naqueles tempos, colhia muito milho, muito feijão, batatinha, então tudo
ajudou”.
- “(...) depois de tempo de casado eu não tinha tempo pra estudar nem pra pegar
num livro (...) Sempre, gosto muito de ler, escrever (...) no primeiro tempo que a
gente era casado, que compramos o terreno, a gente tinha pouco tempo, mas
sempre gostava e o tempo não permitia”.
- “(...) nós éramos pra ir lá comprar (o terreno para a família viver), (...), mas
uns meses depois a gente já não, não vamos (fomos) mais pra lá, por causa da
malária, por que lá o pessoal reclamava, tinha aquele terreno bonito que não
adiantava nada, a maior parte tava de cama por causa da malária. (...) quando
eu cheguei aqui (no outro terreno escolhido), não tinha nada, nada, nada nem
pasto, nem roça nada! (...) aqui era perigoso, tinha muitas feras, bichos, cobra
tinha muita. Eu já fui mordido três vezes. Se eu não tinha seguido o conselho de
um amigo (de não andar mais descalço), eu já não tava mais vivo”.
Resistência apesar das perdas
- “(...) eu fui pra lá, ali pelas onze horas e não encontrei-o (filho), a casa tava
toda a aberta, eu tava vendo o serviço dele que ele tava fazendo (...), mas eu
não encontrei com ele, fui pra baixo (...), olhamos dentro de casa, pra lá, pra
cá, e nós fomos embora. Quando estávamos aqui em casa já falaram no telefone
que ele tinha morrido... E nós estivemos ali, mas não lembramos de olhar
embaixo da casa, eu vi que tava aberto ali, mas ninguém se lembrou de dar uma
olhada ali. Ninguém olhou em baixo da casa e quando chegamos aqui já
avisaram por telefone que ele tinha morrido (eletrocutado). (...) Ah, sim! Era
muito ligado a ele... (...) Faz três anos que ele faleceu”.
- “Ah, muito... A primeira foi assim: ela tinha malaria e então eu fui dar o
remédio da malaria e tinha escrito assim: criança pequena não sustenta o
remédio, e dei o remédio e a criança logo morreu. Ela já começou a ficar ruim e
o médico disse: pode dar remédio, mas a criança não sobrevive. Mas eu tinha fé
que ela podia sarar. Mas, já logo que tomou o remédio, já faleceu. Isso me
mexeu muito... E a outra faleceu pra pneumonia. Começou no meio dia e já no
outro dia já tava morto... Toda a vida gritando...” (relatando o quanto a morte
de duas filhas mexeram com ele)
- “No primeiro dia (após a morte da primeira esposa) a gente já não sabia mais o
que fazer... (...) mas depois de um tempo (dois anos), (...) aí eu casei com a
Catarina (segunda esposa)”;
- “Não teve grandes mudanças (após a morte da esposa), toda a vida era o
mesmo, trabalhar na roça, ir pra igreja”.
- “(...) primeiro eu achei que não ia casar mais, mas depois... e foi um outro
amigo também, era viúvo, o ‘Iube’. Ele falou comigo: ‘nós dois não podemos
ficar viúvos por que nos somos muito novos’ (...)”.