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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Gislene B. Moraes Rodrigues
Análise de artigos de divulgação científica e textos de livros didáticos de
Biologia sob a perspectiva da gramática sistêmica funcional
MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Gislene B. Moraes Rodrigues
Análise de artigos de divulgação científica e textos de livros didáticos de
Biologia sob a perspectiva da ramática sistêmica funcional
MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial para
obtenção do título de MESTRE em
Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob orientação da
Professora Doutora Leila Barbara.
SÃO PAULO
2008
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Banca Examinadora
MORAES RODRIGUES
iv
Só de sacanagem
“Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar, malas,
cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro que
reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós, para
cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na
bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à
prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é
certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de
meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: “Não
roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, “Esse apontador não é seu,
minha filha”. Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que
escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a
qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
mundo rouba” e vou dizer: “Não importa, será esse o meu carnaval, vou
confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos
pagar limpo a quem a
gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o
tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.”
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que
veio de Portugal”. Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal. Eu
repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dar para mudar o final!” (Tom Zé)
MORAES RODRIGUES
v
Dedico este trabalho
Aos meus pais, Emília e José Antônio,
guerreiros da sobrevivência, pelo sacrifício e renúncia pessoal
que possibilitaram as condições mínimas para que eu
e meus irmãos lutássemos pelo acesso ao conhecimento.
Aos meus filhos, Gabriel e Rafaela Beatriz, amores
eternos e meus maiores projetos em vida.
Ao meu marido, Marciel, que vem me acompanhando
e vibrando com minhas conquistas durante todo esse tempo
que dediquei-me exclusivamente a esta pesquisa.
MORAES RODRIGUES
vi
AGRADECIMENTOS
Chegando ao final deste percurso paro e reflito: como teria sido mais árduo
esse trajeto se não houvesse, em vários momentos, alguém olhando por mim,
alguém me dando uma palavra de incentivo para eu seguir em frente, ou até
mesmo apontando as inúmeras falhas que dificultariam chegar à reta final.
Portanto, foi possível a conquista desta vitória, porque não estive sozinha.
Agora, é o momento de agradecer...
Primeiramente,
Ao mestre Jesus, pelo exemplo de amor e fé.
A Deus, por conceder-me sempre mais um novo dia de vida.
Agradecimento especial àquela que por muitos momentos foi mais que minha
orientadora. Leila Barbara foi minha “mãezona”, acreditando em mim,
preocupando-se, e brigando por mim. Estas características são o singulares,
que mãe consegue nutrir por um filho! Agradeço pelas suas importantes
contribuições durante a elaboração deste trabalho, pois além de se mostrar
uma profissional altamente competente e muito comprometida com a sua
profissão, foi uma grande incentivadora para que eu, “Guiza”, (esse
hipocorístico denota que estabelecemos uma relação de parceria) pudesse
chegar “à reta final”.
Meu eterno reconhecimento.
Aos alunos que tive por não me deixarem esquecer de meu compromisso
como educadora.
Às minhas eternas amigas, Juliana, Camila e Beatriz, pessoas maravilhosas,
com quem pude dividir angústias e conquistas de muitas fases desse processo,
que me ouviram com presteza às madrugadas afora, me apoiaram, me
incentivaram e, acima de tudo, comemoram comigo a conclusão de mais essa
etapa da minha vida. Afinal, Tu és responsável por tudo aquilo que cativas!!!
Às minhas amigas de curso Fernanda, Monica Palacios, Élide, JuIiana, Izabela
e o companheiro João Paulo, pelos divertidíssimos almoços que eram
verdadeiros momentos de terapia em grupo, que transformavam o nosso
contexto de situação em momentos de diversão, prazer e muita cumplicidade,
pelas viagens enriquecedoras e nossas interessantes conversas sistêmico-
funcionais ao “pé do freezer” (isso que é epíteto!!!).
À minha secretária, Roseli, pelo cuidado comigo e com a minha alimentação,
pela preocupação com o meu bem estar, com as noites sem dormir e,
principalmente, pela sua humildade e carinho com o qual sempre me tratou,
pois, sem sua colaboração, eu jamais teria conseguido disponibilidade de
tempo para chegar até aqui.
MORAES RODRIGUES
vii
À minha querida irmã, Vivi, pelo amor e dedicação oferecidos aos meus filhos.
Ao Davi, irmão de coração, por me ajudar na formatação do trabalho, pelas
importantes contribuições, pela paciência e compreensão diante das minhas
dificuldades.
À minha adorável amiga japa, Tatiane, pelo seu incentivo, apoio e valorosa
contribuição em língua estrangeira durante o abstract.
À Regina, amiga e companheira, de quem durante esse percurso, não raro,
ouvi palavras de incentivo e amizade.
Aos colegas de orientação Fabíola, Rosário, Mauro, Zélia, Mônica Rebeca,
Jones, Cidinha, Solange, Dora, Márcia, Ciça com eles, tive a oportunidade de
conviver e crescer como pesquisadora.
À secretária do LAEL, Maria Lúcia, e à bibliotecária do Cepril, Márcia, pela
solidariedade que sempre demonstraram por mim e compreensão em relação
aos prazos.
Aos professores Orlando Vian Jr. e Maria Eugênia Batista, cujas contribuições,
na ocasião da minha qualificação, foram valiosíssimas.
Aos professores do curso de Mestrado em Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem, pela oportunidade de meu ingresso neste curso possibilitando o
aprendizado, a pesquisa e os diversos saberes compartilhados. Especialmente,
aos professores Rosinda Ramos, Antonieta Alba Celani e Tony Berber
Sardinha, pela disposição e generosidade ao compartilhar saberes.
MORAES RODRIGUES
viii
Perseguiremos [...] a hipótese de que
o professor é atravessado por uma multiplicidade de vozes
que tornam sua identidade complexa, heterogênea e
constante movimento, de modo que é possível
flagrar momentos de identificações.
(Coracini, 2003: 240)
MORAES RODRIGUES
ix
RESUMO
Esta pesquisa está inserida no Projeto DIRECT (em direção à linguagem do
trabalho), desenvolvido no Programa de Estudos de Pós-Graduação em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem PUC-SP. Neste trabalho
analisamos os contextos discursivos da ciência em artigos da revista
Superinteressante e em textos de livros didáticos de Biologia, a partir da
perspectiva da Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday, 1994 e Halliday e
Matthiessen, 2004). Dentre as várias possibilidades, a metafunção interpessoal
foi eleita como recurso lingüístico para a análise das relações entre os
participantes por meio de suas escolhas léxico-gramaticais, observando a
questão da interação entre escritor e leitor, como os participantes se nomeiam
e são nomeados, que papéis são atribuídos a eles e, ainda, discutimos o
caráter pedagógico, conforme Bernstein (1984,1990, 1996 e 1999) e Christie
(1998, 2002 e 2005). Para a Lingüística Aplicada que investiga o papel da
linguagem na construção da realidade social, é fundamental compreender as
possibilidades de construção de sentidos e de relações interpessoais
observadas através da escrita. Da mesma forma que, é essencial estudar as
relações entre ensino e aprendizagem nesses e para esses contextos, uma vez
que precisamos pensar em estratégias e condutas metodológicas mais
adequadas às características desse tipo de linguagem. A metodologia adotada
foi a Lingüística do Corpus, contando com o uso do software WordSmith Tools
(Scott, 2003). Os resultados mostraram-nos que cada contexto discursivo
possui um conjunto de funções próprias, realizado por escolhas léxico-
gramaticais específicas, de acordo com os elementos constituintes de cada
gênero, segundo Martin (1984, 1989, 2000, 2003) e Hasan (1989, 1995, 1999,
1996c).
Palavras-chaves: Gramática Sistêmico-Funcional, Educação, Análise de
Discurso, Interpessoal.
MORAES RODRIGUES
x
ABSTRACT
This research is part of the DIRECT Project (focused on language at work)
developed by Programa de Estudos de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada
e Estudos da Linguagem at PUC-SP. In this work, we examined the discursive
contexts of science in articles of the magazine Superinteressante and in texts of
Biology textbooks from the Systemic-Functional Grammar (Halliday, 2004 and
Halliday & Mathiessen, 2004). Among the several possibilities, the interpersonal
metafunction was chosen as a linguistic research for the analysis of the
participants’ relationships through their lexical-grammatical choices looking at
the writer and the reader’s interaction, at how the participants are named and at
how they names themselves, at the roles given to them, and, still, we talked
about the pedagogical character, according to Bernstein (1984, 1990, 1996 and
1999) and Christie (1998, 2002 and 2005). For the Applied Linguistics which
investigates the language role in the construction of the social reality, it is
essential to understand the meaning constructions possibilities and the
interpersonal relationships, observed through the writing. Similarly, it is
important to study the relations between teaching and learning in these contexts
and to them, since we think of strategies and conduct methodological more
suited to the characteristics of such language. The methodology adopted was
Corpus Linguistics, counting on the usage of WordSmith Tools software (Scott,
2003). The results showed us that each discursive context has a set of
functions themselves, which are specific lexicon-grammar choices, according to
the constituent elements of each gender, according to Martin (1984, 1989,
2000, 2003) and Hasan (1989, 1995, 1999, 1996c).
Keywords: Systemic-functional grammar, Education, Discourse Analysis,
Interpersonal.
MORAES RODRIGUES
xi
SUMÁRIO
Introdução .............................................................................................. 1
Capítulo 1. Fundamentação Teórica .................................................... 7
1.1. Educação e Ensino sob o olhar da Gramática Sistêmico-
Funcional ................................................................................................
7
1.1.1. Gênero e Registro no Ensino ................................................. 11
1.2. Bernstein: a questão dos códigos e sua contribuição no
campo da lingüística .............................................................................
15
1.2.1. Discurso pedagógico .............................................................. 19
1.3. Algumas considerações sobre o Livro Didático ..........................
22
1.4. Divulgação Científica ...................................................................
25
1.4.1. Breve Histórico ....................................................................... 25
1.4.2. A importância da divulgação da ciência ...............................
28
1.4.3. Divulgação científica no Brasil ...............................................
31
1.5. A Lingüística Sistêmico-Funcional: uma visão geral ...............
34
1.5.1- Metafunção Interpessoal: o envolvimento do falante com
suas afirmações e com os participantes da interação .......................
42
1.5.1.1. Os participantes e seus papéis sociais .......................... 47
Capítulo 2: Metodologia de Pesquisa .................................................. 49
2.1. Objetivos e questões de pesquisa ............................................... 49
2.1.1. Objetivos ...................................................................................
49
2.1.2. Questões de investigação .......................................................
49
2.2. O perfil do material usado na pesquisa ........................................
50
2.2.1. A revista Superinteressante (SI) ..............................................
50
2.2.2. O Livro Didático ........................................................................ 52
2.3. Descrição do corpus de estudo .................................................... 54
MORAES RODRIGUES
xii
2.3.1. Coleta e seleção dos dados .....................................................
54
2.3.2. Composição e Procedimentos de armazenamento ...............
55
2.3.3. O Contexto de Situação ........................................................... 60
2.4. Procedimentos de análise ..............................................................
62
2.4.1. A definição da metodologia .................................................... 62
2.4.2. Os instrumentos de análise .................................................... 63
2.4.3. Passos da análise .................................................................... 64
Capítulo 3: Análise e Discussão dos Dados ....................................... 65
3.1. Apresentação dos dados do corpus por meio da Wordlist ........ 66
3.2. Função Interativa ............................................................................ 67
3.2.1. Participantes do Discurso na SI e nos LDs ............................
67
a. O Escritor .................................................................................
74
3.2.2. Os diferentes contextos do pronome EU como formas de
referências ao ESCRITOR .....................................................................
76
3.2.2.1. Auto-referenciação ............................................................. 78
3.2.2.2. EU = JORNALISTA (raça humana)..................................... 79
3.2.2.3. EU = CIENTISTA ..................................................................
81
3.2.2.4. EU = NÃO-ESPECIALISTA ................................................. 82
3.3. O uso da forma referencial EU nos LDs ....................................... 84
3.3.1. EU = PESSOA POLÍTICA .......................................................... 84
3.4. As diferentes formas de interação ................................................ 87
3.4.1. Uso de proposições na SI e nos LDs ......................................
88
3.4.2. Uso de propostas nos textos da SI e dos LDs .......................
92
3.5 As diferentes vozes no discurso da SI e dos LDs ....................... 94
3.5.1. Relação Dialógica ..................................................................... 101
3.6. Diferentes escolhas léxico-gramaticais na construção de
definições de conceitos realizadas pela SI e pelos LDs ....................
104
MORAES RODRIGUES
xi
ii
3.6.1. Uso de nominalização como recurso ..................................... 111
Considerações Finais.............................................................................
114
Referências Bibliográficas ....................................................................
121
MORAES RODRIGUES
xiv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Planos de conteúdo da linguagem. (Martin,1992: 495) 8
Figura 2 - Posição do gênero para Martin ..................................... 13
Figura 3 - O Gênero em relação ao Registro e à língua (Eggins
e Martin, 1997: 243) metafunções .................................
14
Figura 4 - nero e registro em relação à linguagem (Eggins,
1994: 34) ..........................................................................
36
Figura 5 - Léxico-gramática, semântica discursiva e contexto,
segundo Eggins (1994: 113) ..........................................
37
Figura 6 - Complexo Sistêmico-Funcional de M. A. K. Halliday .. 40
Figura 7 - Registro e Léxico-gramática organizados por
metafunção ......................................................................
41
Figura 8 - Tipos de modalidade de a
cordo com Halliday
(adaptado de Thompson, 1996: 58) ...............................
46
Figura 9 - Representação da identificação e nomeação dos
participantes na SI e nos LDs ........................................
86
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 -
Percentagens dos pronomes encontrados nos dados
da SI e dos LDs ...............................................................
69
MORAES RODRIGUES
xv
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Correspondências entre conceitos da teoria
sociolingüística de Bernstein da teoria sócio-
semiótica de Halliday (Hasan, 2005: 13) .......................
19
Quadro 2 - Contexto de Situação, Semântica e léxico-gramática 44
Quadro 3 - A categoria de registro e sua relação com a
metafunção (adaptada de Eggins e Martin, 1997: 239)
44
Quadro 4 - Os três valores da Modalidade ......................................
46
Quadro 5 - Artigos de Divulgação Científica selecionados para
compor o corpus ............................................................
56
Quadro 6 - Relação dos textos selecionados dos LDs para
compor o corpus ............................................................
58
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 -
Características numéricas do corpus obtidas através da
wordlist .......................................................................................
66
Tabela 2 -
Ocorrências e percentuais de pronomes pessoais
presentes nos dados ........................................................
68
Tabela 3 -
Ocorrências e percentua
is dos pronomes EU, NÓS e
VOCÊ ..................................................................................
73
Tabela 4 - Ocorrências e percentuais do pronome pessoal EU ..... 76
Tabela 5 - Categorização da forma pronominal EU através do uso
76
MORAES RODRIGUES
Introdução
Inserido no Projeto Direct - Em direção à linguagem dos negócios (LAEL-
PUC/SP), o objeto de estudo desta pesquisa volta o seu olhar para modos de
comunicação escrita e propõe a análise e investigações lingüísticas do discurso
pedagógico inserido em contextos distintos, sob a perspectiva da Gramática
Sistêmico-Funcional (GSF), em especial a metafunção interpessoal, na qual
baseamo-nos para analisar e discutir as relações de interação entre escritor-
leitor e teorias sobre textos e técnicas pedagógicas vinculadas às correntes
pedagógicas defendidas por Basil Bernstein (1971, 1974, 1975, 1984, 1990,
1992, 1996a e 1999, Francis Christie (1998, 2002, 2005) e Jim Martin (1984,
1996, 2000) em dois contextos discursivos sobre Ciências: artigos da Revista
Superinteressante (SI), dedicada à divulgação do conhecimento científico ao
público leigo e textos de quatro livros didáticos de Biologia de autores e
editoras diferentes e, ainda, à análise da potencialidade educativa da
linguagem utilizada pelo jornalismo, mas também como estratégia de incentivo
e motivação à leitura, onde se avalia a interação entre escritor e leitor, as
técnicas e os principais conceitos interpessoais, na tentativa, também, de
assinalar características lingüísticas semelhantes e distintas entre esses dois
meios de comunicação. Para tanto, foram eleitas como categorias de análise
os estudos sobre as funções da interação, nomeação e papéis projetados ao
leitor e ao escritor baseados em Halliday (1994) e Halliday & Matthiessen
(2004) e Thompson & Thetela,(1995) a mediação, que apontam como decisiva
a participação do receptor na construção do significado das mensagens e na
aquisição e elaboração do conhecimento, consoante com Hasan (2001).
.
Embora os temas ligados à ciência sejam sempre vistos como “reservados” a
uma elite intelectual, as publicações do gênero têm conseguido crescer de
maneira significativa. Um exemplo a ressaltar é o da revista Superinteressante
que até o final de 2003 era a publicação mais lida do Brasil, segundo os
dados do Instituto Verificador de Circulação, publicados em 2004, pois “O novo
projeto editorial da Superinteressante decidiu romper de vez com as
INTRODUÇÃO
MORAES RODRIGUES
2
formulações acadêmicas, incluindo as nossas fontes fixas nas universidades e
decidimos reelaborar tudo" (Morais, 2003).
Flávio Dieguez, fundador da revista, e Jomar Morais, diretor da revista,
defenderam que a maioria das pessoas tem interesses científicos próprios na
atualidade, embora os leitores, de uma maneira geral, não se interessem pela
abordagem acadêmica dos assuntos relacionados à ciência e tecnologia. Por
outro lado, a prova de que o consumo de informação científica aumentou
independente do modelo adotado.
Ao realizar esse estudo, tínhamos, dentre outros objetivos, o intuito de
entender como um gênero sem caráter didático como a SI estava sendo
“transformado” em objeto de ensino. Tal discussão se torna importante, no
nosso contexto educacional, pois estamos presenciando, desde a publicação
dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Ensino Fundamental I e II (1998) e
do Ensino Médio (1999), uma gama de pesquisas no cenário acadêmico que
apontam para o ensino de gêneros como uma alternativa para desestabilização
de práticas pedagógicas vistas como “tradicionais” (cf. Rojo, 2000; Dionísio,
Machado & Bezerra, 2002; Lopes-Rossi, 2002). Além disso, gostaríamos de
frisar que não estamos realizando aqui uma comparação para escolher quem
faz o “melhor” trabalho didático com os gêneros. Ao contrário, ao procurar
perceber o que é comum e diferente nessas tradições, estamos justamente
enfatizando que não há apenas um único caminho.
Dessa forma, pretendíamos fazer uma análise comparativa entre os artigos de
divulgação científica e textos de livros de biologia, pois nos intrigava o “porquê”
dos alunos preferirem pesquisar, consultar e, portanto, demonstrar tanto
interesse em ler os artigos publicados na Revista Superinteressante e em
contrapartida, se apresentarem tão relutantes em executarem as mesmas
tarefas nos livros didáticos de Biologia.
De modo geral, os termos gênero e registro identificam as variáveis do contexto
que têm influência na produção do texto. O registro relaciona-se ao contexto da
INTRODUÇÃO
MORAES RODRIGUES
3
situação e o gênero ao contexto da cultura; as diferenças no contexto, dessa
forma, vão produzir também diferenças nos texto. (Vian Júnior, 1997)
Dentre as investigações que fazem parte desse projeto, temos Ramos (1997)
que investiga os papéis dos interlocutores do discurso e Soares (2005) que
estudou o potencial educativo do jornalismo científico.
Baseando-nos em Bernstein, que ao descrever os processos de comunicação
pedagógica mostra como a escola trabalha e, dessa forma, explicita como as
diferenças que ocorrem no desempenho dos alunos não estão apenas
relacionadas à estrutura social, mas também com a própria forma como estas
hierarquias se inscrevem ou são elementos constituintes do aparelho
pedagógico. Sua teoria não contém uma proposta de mudança ou alternativas
para a transformação da educação. Contudo, ao buscar desvendar elementos
intrínsecos ao aparelho escolar, que condicionam a produção e recepção
diferenciada de mensagens ou de discursos, o autor abre caminho para o
entendimento mais profundo de como as desigualdades educacionais são
produzidas e justificadas.
A partir desse entendimento, abre-se a possibilidade de se repensar a
educação. Isso significa compreendê-la realmente como direito social, que
inclui o aperfeiçoamento pessoal, a inclusão social e a participação política.
Uma educação para a cidadania, que podeser alcançada com mudanças
na estrutura vertebral da escola, naquilo que lhe é central, nas formas como o
aparelho escolar funciona na distribuição de conhecimentos de rias ordens.
Em conseqüência disso é que talvez as modas e medidas reformistas que
invadem a escola em todas as partes do globo sejam tão inócuas, porque
atingem aspectos periféricos dessa estrutura, deixando intactos os elementos
estruturais por meio dos quais a escola produz o sucesso e o fracasso escolar.
Na verdade, são inegáveis as mudanças por quais passam o exercício
profissional docente, reconhece-se que um movimento entre esses dois
pólos, pois o mundo do trabalho vem sofrendo alterações importantes como o
INTRODUÇÃO
MORAES RODRIGUES
4
abandono relativo do fordismo/taylorismo, a crítica ao toyotismo e a
transnacionalização apenas para mencionar aspectos da economia global.
Correia e Mattod (1999: 10) afirmam que:
“... de uma forma sintética, poderemos admitir que as reformas
educativas da década de 1990 se pautam pela preocupação global de
aumentar a permeabilidade da escolarização às transformações
econômicas que o são encaradas apenas como transformações
técnicas das indústrias tradicionais, mas que se integram numa rede
complexa de serviços e informações resultantes, em parte, da
terceirização das economias. Essa crescente permeabilização do
campo educativo relativamente ao tecido econômico é responsável
por importantes transformações na estrutura curricular e na definição
dos atores e dos interesses a quem se reconhece uma legitimidade
para intervir na definição da vida das escolas, bem como nos
mecanismos de planificação e gestão dos sistemas educativos”.
A dissertação discute conceitualmente as noções de informação e
conhecimento, ciência, jornalismo e produção noticiosa, dando ênfase,
sobretudo, à análise da Divulgação Científica como vetor da difusão de
conhecimentos na sociedade moderna, contrastando com Livros Didáticos
(LDs) de Biologia dirigidos aos alunos do Ensino Médio, que coincide com a
faixa-etária do público leitor da SI, segundo a própria editora da revista informa
em seu site oficial. O espaço escolar é material de estudos para vários
pesquisadores, uma vez que sua representação atravessa interesses
relacionados a questões sociais.
Para tanto, além de pesquisa bibliográfica, utilizei-me dos conhecimentos
empíricos de sala de aula, pois, como professora da rede pública estadual de
São Paulo, percebi que os alunos que se comportavam relutantes em realizar
leitura e/ou pesquisas em LDs, agiam completamente diferentes quando tais
atividades deveriam ser feitas em revistas, especialmente, na SI. Estes
mesmos alunos alegavam que a leitura na revista era mais fácil de entender,
atrativa, e muito divertida.
INTRODUÇÃO
MORAES RODRIGUES
5
Então, a partir desses relatos em sala de aula, fiquei interessada e curiosa em
descobrir o que diferenciava tanto a linguagem do LD para a utilizada pela SI.
De que recursos a SI se apropriava para criar essa atmosfera interativa, ao
ponto de despertar tal interesse pela leitura nos alunos.
A relevância desta dissertação se explica pelo nosso interesse em cooperar
com os professores na tentativa de instrumentá-los melhor quanto à avaliação
e escolha de diferentes formas de registro e gêneros objetivando facilitar o
processo ensino-aprendizagem no tocante à compreensão, interpretação de
diferentes conceitos e/ou definições, à identificação e reconhecimento de
diferentes gêneros e, ainda, o contato e a aquisição de diferentes registros
lingüísticos.
Na tentativa de atingir nossos objetivos, formulamos as seguintes perguntas de
pesquisa:
1. Que escolhas léxico-gramaticais identificam e estabelecem a
interação entre os participantes?
2. Que papéis são projetados aos participantes da interação das
escolhas lexicais?
3. Que características interpessoais nos artigos de divulgação
científica da SI se diferenciam das apresentadas nos textos de
LDs em diferentes partes do discurso?
4. Que escolhas léxico-gramaticais permitem identificar o caráter
pedagógico nos artigos de divulgação científica da SI e nos
textos de LDs?
Neste contexto, essa pesquisa apresenta a seguinte estrutura:
INTRODUÇÃO
MORAES RODRIGUES
6
No capítulo de Fundamentação Teórica, apresentaremos o contexto
educacional e de ensino sob o olhar da GSF e discutiremos os conceitos sobre
gênero e registro no ensino. Em seguida, enfocaremos alguns estudos de Basil
Bernstein em relação à questão dos códigos e sua contribuição no campo da
lingüística, o discurso pedagógico. Faremos ainda algumas considerações
sobre o livro didático e a divulgação científica e, finalmente, finalizaremos com
uma visão geral da GSF.
No capítulo 2 - Metodologia de Pesquisa, descreveremos como o corpus da
pesquisa foi coletado e organizado, apresentaremos os procedimentos de
coleta e armazenamento do corpus, os instrumentos utilizados na análise e por
fim, os procedimentos de análise dos dados.
No capítulo 3 - Análise e Discussão dos dados, traremos o levantamento da
formas pronominais e nominais que nomeiam e, conseqüentemente, conferem
papéis interacionais aos participantes, apresentaremos as diferentes
características interpessoais identificadas nos meios de comunicação que
formam o objeto de estudo dessa pesquisa e, finalmente, que escolhas léxico-
gramaticais permitem reconhecer o perfil pedagógico dos artigos de divulgação
científica da SI e dos textos dos LDs.
Seguem, por fim, nossas Considerações Finais, Referências Bibliográficas e os
Anexos.
MORAES RODRIGUES
Capítulo 1 - Fundamentação Teórica
Este capítulo tem como objetivo apresentar os pressupostos teóricos que
sustentam a discussão dos dados analisados nesta dissertação. Portanto, ele
está dividido em três partes: na primeira, descrevo o contexto da educação e,
por conseguinte, do ensino, segundo Halliday e Hasan (1985/1989), Halliday
(1995), Hasan (1999), Martin (1984, 2000) Francis Christie (1998, 2002, 2005),
Basil Bernstein (1971, 1974, 1975, 1984, 1990, 1992, 1996a e 1999); na
segunda parte, faremos algumas considerações acerca de Gêneros e Registro
(Martin, 1984 e Vian Jr, 2001), Livros Didáticos (doravante LDs) e sobre a
Divulgação Científica (doravante DC), finalmente, na última parte discutiremos
a teoria lingüística em que este estudo está ancorado - a Teoria Sistêmico-
Funcional (Halliday, 1978, 1985 1994 e Halliday & Matthiessen, 2004) e seus
seguidores, abordando os pressupostos gerais desta teoria e, mais
detalhadamente, a perspectiva interpessoal por envolver a questão das
relações entre os participantes de um evento comunicativo, foco de
investigação nesta pesquisa.
1.1. Educação e Ensino sob o olhar da Gramática Sistêmico-Funcional
“Os adultos podem tentar negar, mas as crianças em idade escolar sabem muito bem que há
uma ‘língua da ciência’. Halliday (in Halliday e Martin, 1993: 2)
A especial relevância da Gramática Sistêmico-Funcional (doravante GSF) para
o ensino de línguas e para a educação em geral, é melhor definida por Francis
Christie (Halliday e Hasan 1985/1989: 5). Como a língua é ensinada reflete
“dúvidas quanto à natureza da linguagem como um aspecto da experiência
humana, e cerca de linguagem como um recurso de importância fundamental
na construção da experiência humana”, que a língua não seja vista como algo
neutro, pois não é uma parte da experiência “mas intimamente envolvida na
forma em que nós construímos e organizamos a experiência e, ainda,
profundamente implicada na construção de significado”. Da mesma forma que,
assim, como a língua de alunos e docentes não podemos dissociar a
linguagem de significado. A GSF está fundamentalmente dirigida à forma como
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MORAES RODRIGUES
8
usamos a linguagem, como nós nos estruturamos lingüisticamente para o uso
da língua ou para uma determinada função ou funções.
Os estudos desenvolvidos por Martin vêm sendo aplicados em contextos que
vão desde o ensino primário e secundário, passando pelo letramento de
imigrantes, até o desenvolvimento de materiais de inglês para fins acadêmicos.
De acordo com Martin (2000a: 2), esse projeto educacional está relacionado
como dois elementos principais: o que ensinar (ou currículo) e como ensinar
(ou pedagogia). Esses aspectos, segundo o autor, estão ligados a uma
abordagem neo-vygotskiana de ensino-aprendizagem e tem como seu princípio
básico a utilização da interação em um contexto em que a aprendizagem parte
da experiência partilhada.
A proposta de Martin parte de uma necessidade prática, sendo que sua
preocupação está na aplicação social imediata, dando à lingüística um caráter
de ciência social aplicada (Stubbs, 1996):
“conforme preceituado por Halliday, na essência de sua proposta
para uma lingüística sistêmico-funcional. Isso pode ser visto como
uma conseqüência do compromisso de Martin com a lingüística
sistêmico-funcional, que possui relações estreitas com o estudo da
linguagem em situações reais de uso” (cf. Vian Jr. e Lima-Lopes,
1995).
Sendo assim, podemos observar na figura que segue, consoante a proposta de
Martin, como se estrutura em planos semióticos a inter-relação gênero-registro-
linguagem:
Figura 1 – Planos de conteúdo da linguagem. (Martin, 1992:495)
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MORAES RODRIGUES
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Hasan (1999) argumenta que os conceitos lingüísticos relevantes no exercício
da educação são aqueles que dizem respeito à língua em uso e ao discurso
como prática social e estão diretamente relacionados com a mediação
semiótica. A perspectiva de Hasan (2005: 12), em consonância com a teoria
social de Basil Bernstein e com a GSF de Halliday, concebe a linguagem como
um sistema de significações que medeia a existência humana.
Segundo ela, Vygotsky contribui para a compreensão da nossa vida mental ao
revelar a sua profunda ligação a semiosis; ao fazê-lo ele antecipa a dialética da
linguagem e da mente que são co-responsáveis pela sua evolução na espécie
humana. Halliday contribui para a compreensão da semiótica em nossa vida ao
revelar a sua estreita relação com a sociedade; ao fazê-lo, ele desenvolve a
dialética da linguagem e da sociedade que subjaz a sua co-gênese. Bernstein,
um sociólogo da educação e que tem oferecido valiosas contribuições à GSF e,
ao qual dedicamos um subitem, contribui para compreensão de nossa vida na
sociedade moderna a revelar sua consciência criada em semiose.
Segundo Halliday (1995), Bernstein procurou entender o fracasso escolar das
crianças de camadas populares quando começou a explicar a razão do
problema em termos de diferenças nas formas de percepção. Tais diferenças,
para Halliday, eram semióticas. A partir disso, Halliday mostra como Bernstein
estabeleceu uma diferença entre a linguagem formal e a linguagem pública.
Esta, por exemplo, apresenta frases curtas, gramática simples, sentenças
inacabadas, uso de conjunções, uso limitado de adjetivos e advérbios,
afirmações formuladas com questões implícitas. Em outras palavras, a
linguagem pública contém sua própria estética, uma forma de expressão
simples e direta, emocionalmente vigorosa, substancial e poderosa, e uma
gama de metáforas de considerável força e adequação. (Bernstein, 1971: 54)
Halliday (1995: 141) ressalta a importância dos trabalhos de Bernstein para o
campo da lingüística, ao afirmar que
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MORAES RODRIGUES
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Bernstein constitui, como Bühler e Malinowski, uma das figuras principais, que
não pertencendo ao campo da lingüística, influenciou criticamente nossa forma
de pensar sobre a linguagem. (...) Os lingüistas, atualmente, têm uma visão
mais rica dos processos de significação em decorrência dos trabalhos de
Bernstein.
De acordo com Bernstein (apud Hasan, 1999: 22), as relações sociais
influenciam os padrões de seleção “do que é dito, quando é dito e como é dito”.
Segundo o autor: “... o texto é a forma visível palpável e material da relação
social. Deveria ser possível recuperar a prática interacional específica original a
partir da análise do(s) texto(s) no contexto dessa prática” (Bernstein, 1990: 17).
Assim, a preferência por um tipo de significado ao invés de outro nos contextos
educacionais tem sido estudada na área da sociologia educacional. Bernstein,
aos escrever sobre orientações de alunos aos significados, usa o conceito de
significados “privilegiados” e o “privilégio” dos indivíduos para explicar de que
forma certos tipos de significados são favorecidos em lugar de outros em
cenários educacionais. Os conceitos de Bernstein são uma forma útil de pensar
sobre não apenas o que causa os significados ao serem organizados
hierarquicamente na educação, mas também as conseqüências econômicas e
sociais (ou seja, “privilégio”) de ser capaz de usar os significados mais bem
valorizados. Vejamos a seguinte citação:
Pode se útil primeiramente dar algum destaque ‘orientações para significados’.
O último refere-se a relações privilegiadas e relações referenciais que dão
privilégios. As “Privilegiadas” referem-se à prioridade de significados dentro do
contexto. As que ‘dão privilégios’ referem-se ao poder outorgado ao falante
como conseqüência dos significados selecionados. Agora a fonte de poder e
sua legitimação não advêm das relações sociais dentro do contexto, mas fora
de uma base social externa ao contexto. Privilégio refere-se a relações entre
contextos, enquanto ‘privilegiadas’ refere-se a relações dentro de um contexto.
(Bernstein, 1990: 16)
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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11
Direcionando a atenção ao ensino de ciência, muitos educadores observaram
que o processo de reproduzir o conhecimento científico na sala de aula é com
freqüência muito diferente ao processo de criar conhecimento científico no
laboratório ou de aplicá-lo na indústria. Uma das diferenças mais marcantes é a
tendência do ensino de ciência em apresentar aos alunos um “conjunto de
fatos” a serem apreendidos. Ao modelarmos a língua do ensino de ciência
devemos, portanto, introduzir uma camada adicional, uma na qual a informação
científica generalizada, tida para ser objetivamente verdadeira, é organizada e
apresentada aos alunos.
Sendo assim, Hasan e Perret argumentam que abordagens de ensino por
tarefas e abordagens centradas no aluno demandam uma teoria de descrição
da linguagem que represente a relação intrínseca entre contexto, significado e
forma lingüística. Vejamos a seguir uma citação desses autores que enfatizam
que a aprendizagem deve basear-se na compreensão dessa relação (cf. Motta-
Roth e Heberle, 2005: 28).
Se contexto é definido pelos significados que estão em jogo [no evento
discursivo], se forma é vista como um recurso para o significado, isso permite
uma compreensão de quais tarefas, quais situações, quais textos são
semelhantes, quais são diferentes e de que modo e como todos eles podem
ser usados beneficamente com diferentes alunos (Hasan e Perret, 1994: 221).
1.1.1. Gênero e Registro no Ensino
Na Lingüística Aplicada (doravante LA), principalmente a partir de 1995, tem
sido dada grande atenção às teorias de gênero no ensino de língua estrangeira
e língua materna.
“Pelo menos em parte, isso se deve aos novos referenciais nacionais
de ensino de línguas (PCNs de língua portuguesa, de línguas
estrangeiras) que fazem indicação explícita dos gêneros como objeto
de ensino ou destacam a importância de considerar as características
dos gêneros, na leitura e na produção de textos” (Rojo, 2005: 184).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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12
A GSF concebe a linguagem “como um sistema de escolhas, utilizadas em um
determinado meio social para que seus usuários possam desempenhar
funções sociais”, por isso é uma teoria sistêmico-funcional (Vian Jr.2001: 147).
Sendo assim, quando as pessoas produzem um texto, seja escrito ou falado,
as escolhas que elas fazem com respeito ao registro vai depender do contexto
de situação, enquanto as escolhas em relação ao gênero vão depender do
contexto de cultura. Portanto, as escolhas lingüísticas são socialmente
determinadas pela interação do contexto de cultura e do contexto de situação.
Christie (1999: 761) propõe um exemplo esclarecedor sobre o funcionamento
da relação entre as noções de gênero e de registro, segundo os preceitos da
GSF: a estrutura de uma narrativa “apresenta uma orientação, um problema
subseqüente ou complicação, resposta(s) avaliativas para a complicação, uma
resolução, e algumas vezes uma coda. A escolha para essa estrutura é
percebida como uma escolha de um gênero”. a escolha de um campo ou
tópico (por exemplo, a narrativa de um episódio trágico), das relações (se o
episódio é narrado em primeira ou terceira pessoa) e do modo (se o fato é
narrado por escrito, acompanhado de ilustrações, ou é oral com utilização de
fotografias em movimento, como no caso do filme) são escolhas que dizem
respeito ao registro. Desta forma, percebemos claramente que a unidade de
análise é o texto e que “suas condições de produção, o contexto em que é
produzido, bem como a maneira como os participantes organizam o texto para
a comunicação, formarão a rede de significados que permeiam a GSF” (Vian
Jr, 2001: 150).
Martin (1985: 250) define que gênero é utilizado para abarcar “cada tipo de
atividade lingüisticamente realizada que faz parte de nossa cultura”. Logo,
“é uma atividade proposital, orientada a um objetivo, desenvolvida em
etapas, na qual os falantes se envolvem como membros de nossa
cultura, como as atividades desenvolvidas em etapas ao marcar uma
hora no dentista, comprar legumes, contar uma história, escrever um
ensaio, candidatar-se a um emprego, escrever uma carta ao editor,
convidar alguém para jantar, e assim por diante” (Martin, 1984: 24).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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13
Tratando-se, especificamente, de aspectos da dimensão social do artigo, esse
tipo de comunicação jornalística “apresenta certos traços em comum com
outros gêneros jornalísticos, tais como: a interação autor/leitor não acontece
no mesmo espaço e tempo físicos; também não ocorre “de pessoa a pessoa”,
mas é “mediada” ideologicamente pela esfera do jornalismo; eles têm
determinada periodicidade (diária, semanal, mensal) e “validade” prevista (um
curso de vinte e quatro horas nos jornais diários; de uma semana; de um mês
etc.)” (Rodrigues, 1995: 170).
No entanto, conforme Rojo (1995: 187) usamos a expressão domínio discursivo
para designar uma esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade
humana. Esses domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o
surgimento de discursos bastante específicos. Do ponto de vista dos domínios,
falamos em discurso jurídico, discurso jornalístico, discurso religioso etc.,
que as atividades jurídica, jornalística ou religiosa não abrangem um gênero
em particular, mas dão origem a vários destes. Constituem práticas discursivas
dentro das quais podemos identificar um conjunto de gêneros textuais que, às
vezes, lhe são próprios (em certos casos exclusivos) como práticas ou rotinas
comunicativas institucionalizadas.
O gênero passou a ser uma noção central na definição da própria linguagem. É
um fenômeno que se localiza entre a língua, o discurso e as estruturas sociais
Figura
2
P
osição do gênero para
Martin
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MORAES RODRIGUES
14
(Meurer, 2000), “possibilitando diálogos entre teóricos e pesquisadores de
diferentes campos e, ao mesmo tempo, trazendo elementos conceituais
viabilizadores de uma ampla revisão de todo o aparato teórico da lingüística”
(Meurer, 2005: 8).
Registro é realizado através da estrutura léxico-gramatical, identificada em um
texto que engloba as três variáveis gramaticais da transitividade, do modo e do
tema e que se estrutura como resultado concreto de uma interação social (cf.
Halliday, 1978).
Podemos de outro modo, expor esse assunto por meio da figura:
Desse modo, salienta-se que, sob a ótica da linguagem sistêmica,
Figura 3 – O Gênero em relação ao Registro e à língua
(Eggins e Martin, 1997: 243) metafunções
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
15
“que relaciona o contexto social e sua influência na produção escrita
e na qual texto e contexto (da situação) estão intimamente ligados,
Halliday introduz a noção de registro para descrever a relação estreita
da língua com o propósito socialmente criado para usá-la” (Halliday e
Hasan, 1989: vii).
Diante do que foi dito, gênero assim como o registro são definidos como
sistemas abstratos materializados pela língua, ou seja,
“um texto reflete as escolhas gramaticais, lexicais e semânticas
inerentes ao contexto situacional e ao contexto cultural em que é
produzido, deixando transparecer, dessa forma, a visão
sociossemiótica de linguagem proposta por Halliday” (Vian Jr, 2001:
155).
1.2. Bernstein: a questão dos códigos e sua contribuição no campo da
lingüística
O foco dos estudos de Bernstein (1975, 1984, 1990, 1992, 1996 e 1999), desde
meados da década de 50, foram os sistemas simbólicos funcionando como
transmissores pedagógicos formais e informais. Em sua origem, o conceito de
código dizia respeito a um princípio que regulava o processo de socialização
em culturas com classes especializadas. Seus trabalhos partiam de problemas
empíricos sobre a razão do sucesso escolar e de suas relações com os
processos de socialização. Bernstein não estava satisfeito com as teorias
acerca do processo de socialização que o explicavam como um “processo
místico de internalização de valores, papéis e disposições”.
Sua obra está centrada na relação entre linguagem e educação, de forma
explícita, quando escreve trabalhos no campo da sociolingüística e, de forma
mais ampla e profunda, em trabalhos posteriores. A partir do conceito de
código, baseado nos códigos lingüísticos e estabelecendo analogias entre este
e os processos educacionais, constrói sua teoria sobre o processo de
constituição dos conhecimentos escolares. Este enraizamento na lingüística
continua presente em seus últimos trabalhos, como em um de seus últimos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
16
artigos em que analisa os diferentes tipos de conhecimento e suas intra e inter-
relações, publicado no British Journal of Sociology of Education (1999),
intitulado “Conhecimento horizontal e vertical”.
Em função disso, ele começa a estudar como diferentes posições de poder
criam diferentes modalidades de comunicação, que são valorizadas também de
formas diferentes pela escola. Teve início, então, seu trabalho sobre
modalidades de comunicação e suas relações com a educação, em ‘códigos
restritos e elaborados’. A partir do final dos anos de 1970 e início dos anos de
1980, Bernstein constrói uma explicação acerca do processo de estruturação
do discurso pedagógico.
Bernstein construiu os instrumentos para compreensão do processo de
controle simbólico que regulam diferentes modalidades do discurso
pedagógico. O autor usa o conceito de classificação para analisar as relações
entre as categorias, sejam elas sujeitos, discursos ou práticas. A expressão
classificação é geralmente usada para distinguir um atributo ou um critério que
constitui uma categoria. Bernstein enfatiza que está usando a expressão
classificação em um sentido diferente do usual, uma vez que ela não se refere
a um atributo, nem mesmo a uma categoria, mas às relações entre as
categorias.
Considerando, por exemplo, uma série de categorias de discursos escolares,
como o discurso da física, da história, da geografia, o autor argumenta que o
espaço que cria a especialização destes discursos não é interno a eles, mas é
um espaço entre estes discursos e entre os outros que a escola veicula. As
fronteiras entre estes discursos são elementos essenciais na especialização de
cada um deles, pois se seu isolamento é quebrado, a categoria fica ameaçada
de perder sua identidade. Assim, o sentido de um discurso pode ser
entendido no interior das relações com outras categorias do grupo. É o
isolamento entre as categorias do discurso que mantém os princípios
relacionados à divisão social do trabalho. Segundo Bernstein, “em outras
palavras, é o silêncio que transporta a mensagem de poder” (1996a: 21).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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17
De certa forma, o trabalho de Basil Bernstein um dos mais importantes
esforços sociológicos contemporâneos por estabelecer relações entre o poder,
as relações sociais (e seus princípios comunicativos) e as formas de
consciência e por se aprofundar nos valores intrínsecos que constituem e
distinguem as formas especializadas de transmissão no processo de
reprodução cultural destas relações.
Os códigos, então, são difundidos como os princípios que regulam os
processos de comunicação, que seriam funções de diferentes estruturas
sociais. Igualmente, a distinção entre ordens de significados particularistas e
universalistas, que permitem a Bernstein a combinação de diferentes modelos
de comunicação como elaborados e restritos. Assim, o código elaborado se
define como particularista, na medida em que sua forma está ao alcance de
algumas pessoas. Contudo, no código universalista seus significados
sintetizam meios e fins gerais, tornando-se, portanto, um modelo de fala que
todos podem ter acesso (Bernstein, 1974: 78-80;29).
Desta forma, o aceso ao código elaborado não depende de fatores sociológicos
e sim, do acesso a posições sociais especializadas dentro da estrutura social,
por meio da qual se faz possível este tipo de modelo de fala (Bernstein, 1974:
79)
Segundo Bernstein, o uso da linguagem é função do sistema de relações
sociais: a forma de relação social atua seletivamente sobre o que, quando e
como é falado, regulando as opções do falante nos níveis xico, sintático e
semântico. (cf. Soares, 1999: 23). Como conseqüência, diferentes formas de
relações sociais geram diferentes “códigos” lingüísticos que, assim, criam para
os falantes diferentes ordens de relevância e de organização da realidade: é a
estrutura social que determina o comportamento lingüístico.
Os códigos eram entendidos como formas especializadas de comunicação de
diferentes modos de solidariedade social, originando-se nas relações de poder
da divisão do trabalho e na relação social de produção.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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18
Quanto à capacidade de uso da linguagem, a distinção entre os indivíduos é
gerada através das agências de socialização: a igreja, a família, a escola, o
trabalho e o grupo de amigos. Ao examinar o processo de socialização, os
papéis sociais de uma família e seus procedimentos de controle social,
Bernstein (cf. Domingos et al, 1986) postula a existência de dois tipos de
famílias: as famílias orientadas para a posição e as famílias orientadas para a
pessoa. No primeiro tipo, a tendência é que as crianças sejam orientadas a
usarem significados particularistas, isto é, significados implícitos e altamente
dependentes de contexto de origem, de forma que a compreensão desses
significados só é possível àqueles que participam do mesmo contexto.
Tal forma de uso da linguagem determina opções gramaticais e lexicais que
resultam em um ‘código restrito’. Já, no segundo tipo, a orientação é para que
as crianças façam uso de significados universalistas, ou seja, um tipo de uso
da linguagem em que os significados são lingüisticamente explicitados e
independentes do contexto, conseqüentemente acessíveis a qualquer pessoa.
Ao usar esse tipo de linguagem, o indivíduo está propenso a desenvolver um
‘código mais elaborado’. Portanto, o código regula as regras específicas da
comunicação e demarca as comunicações legítimas das ilegítimas (1981: 5).
Com esse propósito de criar digos específicos, Bernstein reescreve a
definição geral da seguinte forma:
Práticas de interação especializadas (contextos)
Orientações para os significados (significados)
Produções textuais (realizações)
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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A teoria sociolingüística de Bernstein (1990: 14) apresenta correspondência
com a concepção da gramática sistêmico-funcional de Halliday em termos de
três níveis:
Quadro 1 - Correspondências entre conceitos da teoria
sociolingüística de Bernstein da teoria sócio-semiótica de Halliday
(Hasan, 2005: 13)
BERNSTEIN HALLIDAY
Significados relevantes Semântica
Formas para a realização desses significados Léxico-gramática
Contextos que evocam tais significados Contexto da situação
1.2.1. Discurso pedagógico
O autor inicia sua análise sobre o discurso pedagógico, mostrando que uma
clara distinção entre o dispositivo transmissor e aquilo que é transmitido.
Partindo da conceituação do dispositivo lingüístico como um dispositivo de
regras formais que governam as várias combinações realizadas na fala e na
escrita, o autor indaga se o dispositivo lingüístico seria em si mesmo neutro.
Baseando-se em Halliday, afirma que as regras do dispositivo lingüístico o
são ideologicamente neutras, mas refletem ênfases nos significados potenciais
criados pelos grupos dominantes. O dispositivo da transmissão, o
transportador, é constituído por regras relativamente estáveis, enquanto o
transmitido, a mensagem, se fundamenta em regras contextuais. Fazendo uma
analogia com o dispositivo lingüístico, o autor introduz seu conceito de
dispositivo pedagógico. Este dispositivo tem regras internas que regulam a
comunicação pedagógica e que integram este dispositivo. Dessa forma, a
comunicação pedagógica age seletivamente em relação aos significados
potenciais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
20
Bernstein identifica como significados potenciais, que fazem parte do processo
de comunicação pedagógica, os discursos potenciais que estão disponíveis
para serem pedagogizados. Apesar das diferenças, o dispositivo pedagógico
tem muitas similaridades com o dispositivo lingüístico, pois ele também torna
possível uma série de comunicações potenciais. No entanto, existe uma grande
diferença entre os dois, no que diz respeito a um aspecto: enquanto no
dispositivo pedagógico uma determinada forma de comunicação pode
subverter as regras do dispositivo, o mesmo não ocorre em relação ao
dispositivo lingüístico (Bernstein, 1996a: 41-42).
De acordo com Bernstein, o dispositivo pedagógico fornece a gramática
intrínseca do discurso pedagógico. A gramática do discurso pedagógico é
constituída por três tipos de regras: as regras distributivas, as
recontextualizadoras e as avaliativas.
As regras de recontextualização é que criam o discurso pedagógico. Bernstein
define o discurso pedagógico ''como uma regra que embute dois discursos: um
discurso de habilidades de vários tipos e suas relações mútuas e um discurso
de ordem social''. Geralmente, para o autor, no campo educacional se faz uma
distinção entre habilidades e valores, uma vez que muitos pesquisadores
trabalham como se na educação habilidades e valores fossem coisas distintas.
Contudo, na visão de Bernstein, existe apenas um discurso, pois o discurso
pedagógico não pode ser identificado com aquilo que ele transmite como a
física, a matemática etc. Afirma ainda que, o discurso pedagógico não é um
discurso, mas um princípio. Um princípio por meio do qual, outros discursos
são apropriados e colocados em uma relação especial uns com os outros, com
o propósito de uma transmissão e aquisição seletiva. É um princípio para
deslocar, relocar e focalizar um discurso, de acordo com seu próprio princípio.
Desta forma, o discurso pedagógico se constitui em um princípio de
recontextualização, que, seletivamente, se apropria, reloca, refocaliza e
relaciona outros discursos, para constituir sua própria ordem (1996a: 46).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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21
O princípio de recontextualização cria os campos recontextualizadores e seus
agentes. O autor distingue entre o campo da recontextualização oficial, criado e
dominado pelo Estado e seus agentes e o campo da recontextualização
pedagógica, constituído pelos educadores, departamentos de educação nas
universidades, pelos periódicos especializados e pelas fundações de pesquisa.
Para ele, o aspecto dominante do discurso pedagógico é o regulativo, de cunho
moral, capaz de modelar o caráter, as maneiras, as condutas e as posturas.
Bernstein afirma que é o discurso regulativo que produz a ordem do discurso
instrucional, pois não discurso instrucional que não seja dominado pelo
discurso regulativo. Qualquer disciplina escolar é recontextualizada ao ser
deslocada de seu campo de produção. Há uma seleção de conteúdos, da
seqüência e do ritmo em que serão trabalhados na escola. O processo não é
derivado da lógica existente no campo da produção desses conhecimentos. O
processo de ensino-aprendizagem é um fato social e nele o discurso regulativo
fornece as regras da ordem interna do discurso instrucional. Logo as teorias da
instrução fazem parte do discurso regulativo, uma vez que em seu interior
existe um modelo de aluno, de professor e de suas relações (1996a: 47).
Partindo dessas idéias, Bernstein mostra que o discurso pedagógico
especializa o tempo, o texto e o espaço, colocando-os em uma relação
especial. Nesse sentido, o tempo é transformado em idade, o texto em
conteúdo e o espaço em contexto. No interior das relações da prática
pedagógica, a idade (muitas vezes pensada em termos de estágios)
transforma-se em aprendizagem, o conteúdo, em avaliação e o contexto, em
transmissão.
Nesse processo, ele aponta o papel exercido na construção desses discursos
pelo campo de recontextualização oficial, dominado pelo Estado, e o campo de
recontextualização pedagógica, dominado pelos educadores. O autor mostra
como, na atualidade, o Estado, de forma centralizada, monitora o currículo, ao
mesmo tempo em que estimula a descentralização da administração escolar.
Esta descentralização, no entanto, tem-se tornado um fator importante na
criação de uma cultura empresarial competitiva no interior do sistema de
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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22
ensino. Bernstein analisa, em síntese, as estratégias adotadas em razão das
exigências do mercado e das novas formas de reorganização do capitalismo e
suas relações com as estratégias educacionais dos diferentes segmentos
sociais de origem dos alunos, ou seja, com as aspirações diferenciadas de
educação dos diferentes grupos sociais. Todas estas variáveis que interferem
no campo educacional repercutem na prática pedagógica, levando à formação
de modelos híbridos e, conseqüentemente, possibilitando uma grande
diversidade de processos relacionados à construção de identidades sociais.
Finalmente, o autor observa como a própria diversidade e as oposições
intrínsecas a esse processo de formação de identidades terminam por criar
base para resistências. Nesse sentido, para Bernstein: Tais diversidades
podem ser menos um índice de fragmentação cultural, como supõem os pós-
modernistas, e mais um ressurgimento cultural geral de rituais de interiorização
em novas formas sociais (1996a: 80).
Feita a apresentação dos preceitos teóricos que embasam esta pesquisa, faço
a seguir algumas considerações acerca da divulgação científica e do livro
didático.
1.3. Algumas considerações sobre o Livro Didático
Segundo Lajolo (1996), em sociedades como a brasileira, livros didáticos e
não-didáticos são centrais na produção, circulação e apropriação de
conhecimentos, principalmente os conhecimentos por cuja difusão a escola é
responsável. Em meio à variedade de livros existentes, todos podem ter e
efetivamente têm – papel importante na escola. Essa importância aumenta
ainda mais em países como o Brasil, onde uma precaríssima situação
educacional faz com que ele acabe determinando conteúdos e condicionando
estratégias de ensino, marcando, pois, de forma decisiva, o que se ensina e
como se ensina o que se ensina.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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23
O livro didático acompanhou o desenvolvimento do processo de escolarização
do Brasil. Se na primeira metade do século passado os conteúdos escolares
assim como as metodologias de ensino vinham com o professor, nas décadas
seguintes, com a democratização do ensino e com as realidades que ela
produziu os conteúdos escolares, assim como os princípios metodológicos
passaram a ser veiculados pelos livros didáticos.
Com relação à questão da linguagem, especificamente no livro didático de
Ciências, Nascimento (2003) diz que ela perpassa várias instâncias do Ensino
de Ciências; por exemplo: quando um professor, ao examinar um livro didático,
conclui que ele não é adequado à sua turma, por possuir muitos termos
técnicos, poucas imagens ou não proporcionar condições para o
desenvolvimento de uma visão contextualizada de ciência por parte dos alunos,
está discutindo a linguagem. Exemplos como esses povoam o cotidiano de
nossos professores e, no entanto, nós pouco refletimos sobre tais ações que se
originam e se constituem na/pela linguagem.
Vygotsky atribui ao significado, a unidade que reflete de forma mais simples a
conjunção entre pensamento e linguagem e, portanto, um traço constitutivo
indispensável da palavra, pois se configura na palavra vista no seu aspecto
interior, entendendo que a palavra desprovida de significado não é palavra, é
um som vazio. Dessa forma, a palavra é considerada por Vygotsky como
fenômeno do discurso. Nessa direção, revela que o significado da palavra é
um fenômeno do pensamento na medida em que o pensamento está
relacionado à palavra e nela materializado e vice-versa. Assim, o significado é
um fenômeno do pensamento discursivo ou da palavra consciente; em outras
palavras, é a unidade da palavra com o pensamento.
A afirmação de Rojo revela que apesar das políticas educacionais
preconizarem a Educação para Todos”, a leitura não é uma apropriação de
“todos”. As práticas de leitura, realizadas na escola, não desenvolvem senão
uma pequena parcela, se tanto, das capacidades e habilidades envolvidas nas
práticas letradas exigidas pela sociedade. Lajolo (2002) salienta que numa
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sociedade como a nossa, em que a divisão de bens, de rendas e de lucros é
tão desigual, não se estranha que desigualdade similar esteja também na
distribuição de bens culturais, que a participação em boa parte destes
últimos é mediada pela leitura, habilidade que não está ao alcance de todos,
nem mesmo de todos aqueles que foram à escola.
Do ponto de vista teórico e do ponto de vista analítico, Bernstein afirma que
poder e controle são considerados elementos distintos, apesar de estarem
mutuamente inter-relacionados nos estudos empíricos. Por meio das relações
de poder, de acordo com sua perspectiva, estabelecem-se, legitimam-se e
reproduzem-se fronteiras entre diferentes categorias de grupos, como, por
exemplo, classe e gênero, assim como entre diferentes categorias de discursos
e de agentes. O poder está, portanto, relacionado ao espaço, delimitando
fronteiras e colocando pessoas, discursos e objetos em diferentes posições.
Por sua vez, o controle estabelece formas de comunicação apropriadas para as
diferentes categorias, ou seja, o controle estabelece a comunicação legítima
para cada grupo, de acordo com as fronteiras estabelecidas pelas relações de
poder, buscando socializar as pessoas no interior destas relações. Neste
sentido, “... o poder constrói relações entre e o controle de relações dentro de
dadas formas de interação” (Bernstein, 1996: 19).
Com esses dois elementos, poder e controle, Bernstein construiu os
instrumentos para compreensão do processo de controle simbólico que
regulam diferentes modalidades do discurso pedagógico. O autor usa o
conceito de classificação para analisar as relações entre as categorias, sejam
elas sujeitos, discursos ou práticas. A expressão classificação é geralmente
usada para distinguir um atributo ou um critério que constitui uma categoria.
Bernstein enfatiza que está usando a expressão classificação em um sentido
diferente do usual, uma vez que ela não se refere a um atributo, nem mesmo a
uma categoria, mas às relações entre as categorias.
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1.4. Divulgação Científica
1.4.1. Breve Histórico
Em um mundo globalizado, as instituições perceberam o quão importante é se
comunicar com seus públicos. Apesar da globalização da comunicação ter
surgido no século XIX, torna-se, de acordo com Thompson (1998), um
fenômeno típico do século XX, pois os conglomerados passam atuar em
grande escala, as novas tecnologias desenvolvem-se bruscamente, os
produtos da mídia passam a circular num mercado internacional tendo diversas
reações na captação do material transmitido pelas redes globais.
A globalização de comunicação no século XX é progresso dirigido
principalmente por atividades de conglomerados de comunicação em grande
escala.
Artigo de Divulgação Científica é um termo comumente utilizado para designar
textos não-escolares que circulariam, em princípio, “fora” da escola. Não são,
em princípio, textos feitos para a escola. A DC representa, até certo ponto, o
espaço público da relação entre a ciência e as pessoas. Assim, enquanto
discurso, ela tem seu funcionamento próprio. Para uma melhor compreensão
deste tipo de texto específico, na esfera jornalística, esclarecemos que, “o
termo artigo é usado como sinônimo de texto jornalístico em algumas vezes e o
gênero artigo às vezes é nomeado como artigo assinado” (Rodrigues, 1995:
170).
Na década de 1980, Halliday e Martin se viram diante de um cenário, no qual
uma das preocupações dos lingüistas funcionais era em relação ao ensino do
discurso científico em escolas primárias e secundárias, este ensino estava
limitado às formas significativas de investigação da ciência canônica. A partir
disso, Halliday e Martin se dedicaram a um trabalho que se centralizava na
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necessidade da recontextualização do discurso canônico da ciência. Para
Halliday este era o resultado de reconstruir uma trajetória evolutiva para o
discurso da ciência, pois este projeto pretendia desviar a atenção de
determinadas correntes e impasses, que idealizavam a ciência como um
discurso dominante. Porém, para Martin o foco sobre a ciência canônica tinha a
ver com a análise de discurso científico nos contextos educativos onde, a maior
parte do discurso da ciência canônica é o que se espera que os alunos
aprendam (cf. Martin, 1998).
Até a década de 1990, Kress e van Leeuwen (1996/1990), tinham inspirado
alguma preocupação com o papel de fotografias em textos nas áreas da
ciência e os seus inéditos diagramas, que despertavam novos trabalhos sobre
os valores em relação ao texto. Lemke focou-se no discurso sobre ciência
como multimodal, trabalho que foi de fundamental relevância para Halliday e
Martin na recontextualização do discurso científico (Ochs et al, 1996). Esta
recontextualização visava à produtividade da abertura de diálogo – socialmente
através de uma série de perspectivas teóricas e lingüisticamente informadas,
através de uma série de discursos locais institucionais onde a ciência é
praticada, e em toda linguagem e imagem através de modalidades. E, ainda,
de promover a mudança de linguagem quando esta é interpretada de forma
extensiva para abarcar mudança em todos os níveis de linguagem, incluindo a
evolução de novas formas de discurso (cf. Martin, 1998).
Halliday, como um lingüista funcional, tem se preocupado particularmente com
a mudança semântica (semogenesis), e isto é refletido em sua descrição da
evolução científica. Criticamente, o seu trabalho demonstra que as mudanças
na função do discurso estão relacionadas com mudanças nos recursos
gramaticais de uma língua que torna possível considerar discurso.
Nestes termos, o foco da investigação de Halliday sobre a evolução do
discurso científico foi filogenética e para Martin o foco do seu trabalho (também
Lemke, 1990) na aprendizagem de ciências nas escolas foi ontogenética
(“desenvolvimento do indivíduo”), e estas duas vertentes de investigação
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dependiam de leituras individuais de textos científicos e como eles se
desdobravam (logogenesis/ “instanciação do texto/processo”) (cf.Martin, 1998).
O trabalho de Rose Veel e, em particular, sobre a correlação entre os níveis de
realização em ciências da educação e dos níveis de emprego na indústria da
ciência no contexto da mudança de fordista para organização industrial pós-
fordista são particularmente reveladores, no que diz respeito à interação de
ontogenética e filogenética.
O discurso científico é considerado por muitos autores como um discurso
privilegiado, que parece às vezes estar baseado em uma questão de poder ou
status. O poder do discurso científico provém de qualquer dúvida ao controle
sempre crescente sobre os recursos biológicos e físicos através da tecnologia.
Este controle tecnológico do meio ambiente está no centro do capitalismo,
tanto nas manifestações fordista e pós-fordista (Harvey, 1989 e Rose et al.
1992).
A realidade apresentada pela linguagem da ciência é uma realidade “fixa e
determinada, na qual os objetos predominam e os processos servem
meramente para defini-los e classificá-los” (Halliday e Martin, 1993: 20). Tal
forma de linguagem, como afirmam os autores, é antidemocrática e elitista,
apesar de progressista em sua origem, pois exclui aqueles que não
compreendem sua estrutura léxico-gramatical. A visão semântica-gramatical
hallidayana fornece uma análise particular das relações encontradas dos itens
lexicais e semânticos em uma variedade de ensino e investigação de textos,
tanto em relação à taxonomia e nominalização do processo, movido pelas
metáforas gramaticais. A constatação mais saliente é a de que o uso de
nominalizações tem aumentado historicamente dentro do discurso científico e a
escolha pela nominalização tem servido para criar maior e mais elevada ordem
que fornecem abstrações conceituais que povoam a paisagem intelectual de
especialidades científicas.
O trabalho de Bazerman (cf. Martin, 1998) sobre o discurso de Newton diz que
o seu discurso emergiu e evoluiu em resposta às condições sociais em que ele
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tentou comunicar suas investigações, foi um discurso que ele desenvolveu em
função de que outros pudessem atingir o seu trabalho, comumente, como um
cientista, entre outros.
Para Halliday e Martin, a linguagem da ciência se posiciona de forma ortogonal
em relação ao sistema semiótico mais amplo que realiza, logo, esta realização
serve de maneira funcional às práticas sociais históricas, econômica e
culturalmente localizadas, influenciadas por e geradoras de relações
assimétricas de poder (Halliday e Martin, 1993). Os autores demonstram que a
linguagem da ciência desenvolveu historicamente características que a
distinguem do sistema semiótico mais geral que reflete e materializa
características estas, que são léxico-gramaticais e se manifestariam no nível da
sentença e semântica, manifestas no discurso total.
Entretanto, eles destacam ainda, que as pessoas são mais conscientes do
vocabulário que da gramática que usam razão pela qual a linguagem da ciência
é freqüentemente associada a complexos sistemas de taxonomia e apenas
secundariamente a uma gramática técnica própria. Ambos são, no entanto,
igualmente importantes e interdependentes na construção da realidade na
perspectiva científica.
1.4.2. A importância da divulgação da ciência
É inegável a importância da divulgação da ciência para o público não-
especializado através dos meios de comunicação de massa.
É isso que Fairclough (1995) procura explicar quando afirma que, na ordem do
discurso midiático, existe sempre uma tensão entre os discursos públicos e
privados que a delineiam, devido ao papel que precisa cumprir de mediadora
nessa arena. Entretanto, sempre uma relação dialógica, nunca unilateral,
pois ao sofrer pressões advindas dessa tensão, ela também as influencia. Essa
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posição é oriunda dos trabalhos do filósofo alemão Jürgen Habermas que
retornou aos conceitos de público e privado para pensá-los de forma diferente
daquela que via esses espaços como antagônicos e antitéticos.
A questão da difusão da ciência para o grande público, conforme Massarani,
Prado e Moreira (1998), é tão antiga quanto a própria ciência. Tal questão se
intensifica na medida em que a sociedade contemporânea vivencia grandes e
profundas transformações nos diversos setores: econômicos, sociais ou
políticos. Nesse contexto, cresce a valorização do divulgador científico e,
assim, emergem discussões sobre as barreiras existentes entre os cientistas e
os jornalistas científicos, configurando o freqüente debate para saber quem
deve divulgar e/ou decodificar o discurso científico o cientista ou o jornalista.
(cf. Silva, 2003: 38).
Na construção do texto de divulgação, tanto por parte do jornalista quanto por
parte do cientista, mesmo existindo uma atividade efetiva de intermediação
entre a linguagem “incompreensível” dos textos científicos e aquela linguagem
“fácil” de alcance popular, algumas ressalvas devem ser feitas, que o
trabalho jornalístico apresenta particularidades, algumas relacionadas à própria
estrutura dos meios de comunicação da qual fazem parte. Desse modo, as
restrições impostas por decisões das editorias, que submetem o trabalho
jornalístico, na maioria das vezes, a interesses econômicos da empresa de
comunicação, vão contribuir para mudar as condições de produção do texto de
divulgação.
Moirand (2000), ao discutir o papel intermediário assumido pela mídia entre a
ciência e o grande público, afirma que nesta função, a mídia apresenta uma
imagem bastante característica. O autor destaca diferentes modos discursivos
mais ou menos imbricados, envolvidos no processo: o narrativo, o explicativo, o
argumentativo, o preventivo, o de aconselhamento. No entanto, em sua
maioria, a mídia reveste-se de um papel de conselheira para a vida cotidiana
(dietética, médica), de consultora (cartas de leitores, telefonemas), de
transmissora de know how técnico ou experimental (não somente limitados à
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vida cotidiana, mas que envolvem outros aspectos como os saberes sobre
astronomia). Conseqüentemente, a heterogeneidade deste discurso de
divulgação pode apresentar-se cada vez mais velada quando “se trata de
difundir opiniões fazendo-as passar por verdades” (Moirand, 2000: 21), ou seja,
as funções da explicação, fundamental neste tipo de discurso, estariam
estreitamente ligadas à natureza dos saberes transmitidos e aos domínios
científicos e técnicos implicados, apresentando graus na vontade de “fazer-
compreender”.
Nesse sentido, a linguagem de cunho científico reduz o âmbito de significado a
partir do momento que torna necessário um conhecimento específico tanto do
emissor quanto do receptor, na organização e decodificação, respectivamente,
da mensagem. A comunidade científica na qual se insere determinado
pesquisador utiliza um jargão específico para sua área de pesquisa que nem
sempre é inteligível para outra comunidade de pesquisadores ou ainda para o
público em geral. A fim de suprir esse “ruído de comunicação”, existem muitas
publicações voltadas exatamente para realizar a decodificação de termos
específicos da área científica numa linguagem simples e inteligível para a
população em geral.
Fowler (1991) acrescenta que na mídia a imparcialidade do profissional do
jornalismo em relação às matérias que publica tem sido discutida
minuciosamente por parte dos estudiosos da mídia. Na acepção desse autor,
toda notícia é socialmente construída, uma vez que os eventos noticiados não
são um reflexo da sua importância, mas revelam a operação de um conjunto
complexo e artificial de critérios para seleção. A notícia, uma vez selecionada,
passa por um processo de transformação ao ser codificada para publicação.
Tanto a seleção quanto a transformação são guiadas por referência,
geralmente inconsciente, a idéias e crenças. A análise final do texto que é
apresentado para o leitor, revela proposições abstratas que não são
necessariamente afirmadas e nem questionadas e tendem a ser consoantes
com as idéias dos grupos dominantes na sociedade industrial capitalista,
porque o jornal (a mídia) é uma indústria com seus próprios interesses
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comerciais. Então, a notícia é uma prática: um discurso que, longe de refletir a
realidade social e os fatos empíricos, intervém no que Berger e Luckmann
(1976) chamaram a 'construção social da realidade'. Posto que as instituições
jornalísticas estejam situadas social, econômica e politicamente, qualquer coisa
que é dita ou escrita sobre o mundo é articulada de uma posição ideológica
particular: "a língua não é uma janela límpida, mas um meio de refração e de
estruturação e, como conseqüência, a visão do mundo resultante será
necessariamente parcial", (Fowler, 1991).
O discurso científico (DC) é representado (no discurso legítimo da revista
enquanto dispositivo de enunciação) pela sua singularidade conceitual. No que
diz respeito à questão da heterogeneidade, o DC, justamente pelo seu caráter
opositivo, ou seja, para se constituir, necessita ser subtraído de sua
heterogeneidade. Assim, um trabalho, um movimento para a
monologicidade sustentando o discurso da ciência, que vai gerar a ilusão de
um discurso uno, absoluto, manifestação da verdade”, da “fala incontestável”.
Esta homogeneidade discursiva implica numa linguagem reconhecidamente
hermética e esotérica, que, de acordo com Peytard (1984, apud ZAMBONI,
2001), pode ser evidenciado no ideal de univocidade e de “monossemiotização”
do DC. De fato, o DC articula-se num nível estrutural fundamental em que as
conceptualizações em forma de teoremas, axiomas, de operações matemáticas
“enformam-se num conjunto de termos-pivô ou termos-chave imutáveis e
universais” (idem, p. 77), constituindo o que o autor denomina alta densidade
discursiva do DC.
1.4.3. Divulgação científica no Brasil
No Brasil, embora informações sobre ciência aparecessem nos periódicos
desde o início do século XIX, a prática do Jornalismo Científico começou a
se caracterizar como tal, a partir da atuação de João Ribeiro, no final daquele
século, e de José Reis, em 1948:
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Essa prática que se iniciou lentamente nos jornais diários e revistas de
interesse geral, cresceu e ganhou, além das páginas comuns dos
jornais, seções especializadas, revistas e programas de televisão,
direcionados a divulgação de notícias sobre Ciência e tecnologia. Em
1983, uma pesquisa realizada em seis grandes jornais brasileiros
mostrou que 5,5% de conteúdo editorial diário de informações era sobre
Ciência e tecnologia. Em 1984, segundo Julio Abramczyk, observou-se
um aumento no espaço para 6,3% (Carvalho, 1996a: 29).
Os anos 80, do século XX, marcaram o impulso dado pelo mercado editorial
brasileiro ao jornalismo científico. A tendência à abertura de espaços para a
divulgação da ciência pôde ser verificada tanto no âmbito da imprensa diária
quando grandes jornais do país criaram seções específicas e, até mesmo,
cadernos sobre o assunto – quanto das revistas especializadas.
Para aprofundar essa concepção, faz-se necessário compreender duas
questões, quais sejam: a necessidade de a mídia produzir a informação para
comunicar aquilo que deseja, e os mecanismos que ela utiliza na produção da
informação. Partindo-se do princípio de que a informação é constituída de
linguagem que se expressa por meio dos códigos, estes, por sua vez, só
podem ser compreendidos inseridos na cultura à qual pertencem. Dessa forma,
cada cultura possui um conjunto de códigos específicos para produzir a
informação que gera a comunicação. A informação da notícia, então, é
fabricada, formada, a partir do contexto cultural determinado socialmente
(constituído, principalmente, pelos fatores político-econômicos).
Com o advento da TV e mais tarde do computador, a informação adquire um
caráter massivo, fazendo surgir a indústria da informação que produz a
comunicação de massa. Segundo Denise Siqueira (1999: 25), “o papel da
informação na sociedade pós-guerra se torna de tal forma relevante que vem à
luz o termo sociedade da informação. Nela vive-se cultural, política, científica e
economicamente em torno da circulação de informações”. Surge a indústria da
informação e da cultura, dando origem ao fenômeno da indústria cultural. A
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informação passa a ser um produto quantificado economicamente, ou seja,
“quanto maior a quantidade de informação, maior o lucro. Informação e cultura,
inegavelmente, tornam-se bens econômicos no culo XX” (cf. Sodré, 1987:
51).
Inserida nesse contexto, a ciência é transformada em notícia; a pesquisa torna-
se fonte de divulgação científica para a massa e, mesmo que ainda em
processo de hipótese e elaboração, é rapidamente divulgada. Contudo,
geralmente, não aparece como processo e nem são apresentados os
problemas e conflitos inerentes à sua produção. Ao contrário, a pesquisa é
divulgada como a descoberta, a criação acabada ou como início de uma
descoberta que inexoravelmente alcançará o seu intento. O receptor
(telespectador, leitor etc.), sem o saber, torna-se consumidor desse tipo de
informação.
A divulgação científica cria um imaginário que, simultaneamente, atende às
necessidades e objetivos da mídia e provoca uma sensação de “satisfação” no
receptor, fazendo com que ele se sinta “bem informado”. Nesse propósito, é
criado um cenário na divulgação científica, no qual o discurso é proferido em
nome do conhecimento científico-racional, mas elabora um imaginário que
remete o receptor a uma visão “encantada” acerca da ciência. A produção da
divulgação transforma esse conhecimento em espetáculo. Assim, se um jornal,
uma revista, ou um programa de TV traz uma manchete impactante para
chamar a atenção para uma notícia, todos os concorrentes, salvo raras
exceções, seguem o mesmo exemplo, com pequenas variações na forma. A
notícia acaba adquirindo um perfil homogêneo, com discurso (texto)
semelhante. É sempre rápida, com vocabulário simples, não havendo grande
variação entre os diferentes assuntos divulgados. O perfil de texto de uma
notícia científica é semelhante ao de qualquer outra área de conhecimento. As
notícias de ciência e tecnologia, segundo Siqueira (1999: 56-58, utilizando a
leitura de Martin Esslin), “correm, inclusive, o risco de serem deturpadas e,
geralmente, são banalizadas, no afã dos meios de comunicação de massa de
tornarem esse tipo de notícia tão atraente quanto quaisquer outros”.
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Diante do exposto, os veículos especializados são de fundamental importância
para a divulgação do conhecimento científico, que ainda continua
essencialmente restrito à elite acadêmica. No entanto, não se pode perder de
vista a divulgação desse tipo de conhecimento em veículos não especializados.
Cada vez mais, notícias sobre ciência e tecnologia extrapolam as editoras ou
revistas especializadas e passam a compor o noticiário geral. Como aponta
Oliveira (1996: 62)
“No contexto da sociedade da informação que ocorre paralela à pós-
modernidade com a valorização da informação científica e tecnológica,
a divulgação da ciência em escala de massa, através dos meios de
comunicação, torna-se fenômeno cotidiano”.
1.5.A Lingüística Sistêmico-Funcional: uma visão geral
A esfera teórica em que este estudo está inserido é a Gramática Sistêmico-
Funcional (doravante GSF), proposta por Halliday (1973, 1985, 1994, 2004),
que analisa a língua (o sistema) em uso (em funcionamento). Halliday
denomina-a sistêmica por se referir à linguagem como redes de escolhas
(Eggins, 1994), relacionadas a variáveis de registro e de macro e
microestruturas e de funcional por sua relação com a atividade social em
andamento num dado contexto (Heberle, 2000: 297; Heberle, 1997). Essa
teoria concebe a língua enquanto escolha e como forma de interação entre os
falantes. Seu enfoque analítico centra-se na investigação da língua em
condições reais de ocorrência.
A discussão sobre a importância de estudar a linguagem como um sistema de
representação simbólica de experiências recorrentes em uma dada cultura,
serve de pano de fundo para a contribuição de Hasan à Lingüística Aplicada,
pois, a autora não a linguagem, simplesmente, como um sistema de regras
isolado da vivência humana (cf. Motta-Roth e Heberle, 2005: 16).
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Para Halliday (1973), a função social da linguagem não se restringe à ação do
adulto sobre a criança, mas também à atividade da própria criança que, ao
utilizar a linguagem, tenciona satisfazer a cada uma de suas necessidades.
Halliday distinguiu sete modelos de linguagem, cada uma delas exercendo
funções específicas: função instrumental, função regulatória, função
interacional, função pessoal, função heurística, função imaginativa e função
representativa. Para o autor, a função heurística refere-se à linguagem como
meio de investigação da realidade, ou seja, uma forma de aprender sobre tudo
e sobre todos, caracterizada pela elaboração de perguntas com a finalidade de
buscar explicações sobre os fatos e as generalizações sobre a realidade que a
linguagem torna possível explorar. E na função representativa ou informativa, a
criança torna-se consciente de que pode transmitir uma mensagem através da
linguagem, uma mensagem que tem referência específica ao processo,
pessoa, objetos, abstrações, qualidades, estados e relações do mundo real à
sua volta, ou melhor, pode transmitir uma informação, um conteúdo que é visto
pelo orador como sendo desconhecido pelo receptor.
No conceito de Halliday, a GSF repousa sobre a noção de linguagem como
uma semiótica social, bem como a concepção de experiência ou realidade que
é socialmente construída e constantemente sujeita a processos de
transformação. Sentida, a linguagem é um produto do processo social
(Halliday, 1978: 1). Sendo assim, Halliday (1985/1989: 4 e 5) explica o
significado do “social” no sentido de o sistema social, que tomamos como
sinônimo de cultura. Portanto, quando dizemos “semiótica social” referimo-nos
à definição de um sistema social, ou de uma cultura como um sistema de
significados. Portanto, a perspectiva sobre a linguagem adotada pela GSF é
social, interessada, sobretudo com as relações entre linguagem e estrutura
social, considerando a estrutura social como um aspecto do sistema social,
pois é uma semiótica social que constrói nossa realidade social através das
estruturas léxico-gramaticais, que são, de acordo com Halliday, os recursos de
uma cultura para fazer sentido (1984: 15).
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Além disso, a GSF a língua como uma prática social, cujo uso é motivado
por um propósito e cuja função é o próprio uso da mesma: o porquê de usar e
como usar a linguagem (Eggins, 1994; Halliday, 1985). A GSF pode ser
descrita, ainda, como uma teoria semântico-funcional porque o uso da
linguagem é funcional; a função da linguagem é realizar significados; os
significados são influenciados pelo contexto sociocultural no qual são
compartilhados e o processo de uso da linguagem é semiótico, um processo de
realização de significados através de escolhas. A visão hallidayana da
gramática evidencia o caráter dialético entre a situação (o fazer) e sua
materialização no léxico, na gramática e em todos os níveis de significação da
linguagem (o dizer). O texto é definido como a “instância de uso da linguagem
viva que está desempenhando um papel em um contexto da situação”
(Halliday, 1989: 10).
Uma das premissas básicas dessa teoria é que o uso da língua é motivado
pelas relações sociais (Eggins, 1994: 4) e que as escolhas léxico-gramaticais
realizadas pelos falantes não são aleatórias, mas sim condicionadas pelo
Figura 4 – Gênero e registro em relação à linguagem (Eggins, 1994: 34)
Contexto de
cultura
modo
Contexto de
situação
nero
Linguagem
Campo Registro Relação
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contexto. Assim, uma determinada escolha pode ser influenciada ou
determinada, ou ainda, influenciar ou determinar as escolhas à sua volta. A
GSF tem a semântica como base, e a organização da língua ocorre em torno
do texto ou discurso. Nesse sentido, a figura abaixo, traduzida de Eggins
(1994), é esclarecedora:
Nessa teoria a língua é um sistema que oferece ao falante uma série de
possibilidades para expressar os seus significados, e a gramática é um
construto operacional que organiza as funções realizadas pelo falante; os
diferentes significados possuem diferentes formas de expressão, cada uma
com diferentes probabilidades de ocorrência, dada as variações do contexto.
A GSF teve por base a teoria do lingüista Firth que, por sua vez, inspirou-se
nos trabalhos do antropólogo Malinowski (1923). Malinowski foi quem percebeu
que uma língua tem significado quando dois contextos são claros para os
interlocutores: o contexto de cultura e o contexto de situação. Nas palavras de
Malinowski (1946, apud Eggins, 1994: 50):
Figura 5 – Léxico-gramática, semântica discursiva e contexto, segundo Eggins (1994:113)
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The study of any language, spoken by a people who live under conditions
different from our own and possess a different culture, must be carried
out in conjunction with the study of their culture and their environment.
Segundo este autor, o contexto de situação representa o ‘ambiente’ de um
texto e o de cultura, o ambiente ‘cultural’, ambos envolvidos na interação
lingüística exercendo importante papel na interpretação do significado e no
adequado entendimento de um texto (oral ou escrito).
Assim, tomando por base os conceitos de Malinowski, Halliday (Halliday &
Hasan, 1989) presumiu que uma interdependência entre esses dois
contextos e, com isso, concluiu que as escolhas léxico-gramaticais (contexto de
situação) são determinadas pelas relações sociais (contexto de cultura)
instauradas. Foi a partir dos contextos de cultura e de situação que foram
traçadas as bases conceituais das noções de gênero e registro,
respectivamente.
O contexto de cultura (ou gênero) está relacionado às práticas discursivas de
uma determinada cultura; representa uma espécie de ‘pano de fundo’ no qual a
interação está inserida. Para Eggins (1994), estudar o contexto de cultura é
observar como a língua é estruturada para ser usada. É dentro do contexto de
cultura que são estudadas as diferentes manifestações textuais, mostrando
como cada uma delas se articula.
O contexto de cultura é definido como a soma de todos os significados
possíveis numa cultura particular que interferem na construção de sentidos do
texto. São as maneiras de organizar, representar e interagir e as caracterizam
como culturas diferentes.
O contexto de situação, ou registro, é definido como “o ambiente do texto”.
Halliday e Hasan (1993) consideram “contexto da situação” um termo útil para
dar conta das coisas que acontecem fora do texto e que fazem do texto o que
ele é. Consideram que:
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“A situação em que uma interação lingüística ocorre aos
participantes uma grande quantidade de informação sobre os
significados que estão sendo trocados e sobre os que provavelmente
poderão se trocados. O tipo de descrição ou interpretação do contexto
de situação que será mais adequado para o lingüista será aquele que
o caracteriza nesses termos; em termos que o tornam capaz de fazer
previsões a cerca dos significados que o ajudarão a explicar como as
pessoas interagem. (Halliday e Hasan, 1993: 10)”
O contexto de situação (ou registro) diz respeito ao contexto interno do texto e
está relacionado às escolhas lingüísticas. Segundo Eggins & Martin (1997: 234)
“...register is a theoretical explanation of the common-sense observation that
we use language differently in different situations”.
Cada “contexto de situação” é um sistema de “relevâncias motivadoras” para o
uso da linguagem (Hasan, 1996c: 37), de forma que uma determinada
atividade humana em andamento e a interação entre participantes são
mediadas pela linguagem. Por conseguinte, a percepção do que é relevante
em termos de uso da linguagem em dada situação é, ao mesmo tempo, um
processo individual (pelo pensamento) e compartilhado (pela interação), que
também define o que conta como “contexto” (p. 38).
O registro é constituído por três aspectos ou dimensões que ocorrem sempre
simultaneamente e que afetam o uso da língua nos textos, estabelecendo
diferenças entre estes. São denominadas de variáveis de registro: campo,
relações e modo. A variável campo especifica o que está acontecendo, sobre o
que se está falando. A variável relações refere-se aos participantes da
interação, seus papéis sociais e suas hierarquias (escritor/leitor,
falante/ouvinte). A variável modo compreende a modalidade de produção e de
transmissão da mensagem (oral, escrita, visual, multimodal/ impressa,
televisionada, face a face etc.).
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Figura 6 – Complexo Sistêmico-Funcional de M. A. K. Halliday
Assim, essas três dimensões do registro afetam nossas escolhas lingüísticas
porque exprimem as três funções que constituem os propósitos principais da
linguagem. (cf. Halliday, 1985).
Segundo Halliday (1985, 1994, 2004) e seguidores (Martin et al, 1997;
Thompson, 1996, 2002; Eggins, 1994), ao fazer uma escolha, ou seja, ao optar
por um determinado item lexical, o falante está realizando três tipos de
significados simultaneamente, e em analogia a uma metáfora criada por
Matthiessen (1995: 10), devemos entender que a distribuição do espectro
dessas três funções semânticas da linguagem se assemelha à distribuição do
espectro de cores em um arco-íris: acontece simultaneamente:
1 - significados relativos à representação da experiência através da língua,
sobre o que se fala e sobre quem (ou o que) age sobre quem (ou o que);
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
41
2 - significados relativos às representações de poder e solidariedade, o que
engloba atitudes em relação ao outro e os papéis sociais assumidos;
3 - significados relativos à organização do conteúdo da mensagem,
relacionando o que se diz ao que foi dito.
Cada um desses significados está relacionado a uma Metafunção da
linguagem, respectivamente, Ideacional, Interpessoal e Textual, sendo que
cada Metafunção possui um sistema que viabiliza a realização de seus
significados:
Ideacional (sistema de Transitividade)
Interpessoal (sistema de Modo e Modalidade)
Textual (sistema de Tema)
A GSF, conforme Chouliaraki, Fairclough(1999), ‘vê a língua como um sistema
semiótico, que é estruturado em termos de estratos’. A língua, dizem eles,
Registro
Léxico-gramática
Figura 7 – Registro e Léxico-gramática organizados por metafunção
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
42
conecta significados (o estrato semântico) com suas expressões faladas e
escritas (o estrato da fonologia e da grafologia). Ambos, significados e
expressões se relacionam com o extralingüístico - significados com a vida
social. A organização estratal da língua significa que o elo entre significado e
estratos de expressão é mediado por um estrato o qual por si só não se
relaciona diretamente com o extralingüístico. Esse estrato, para esses autores,
é visto como funcionalmente fundamentado, moldado, pelas funções sociais
que ele cumpre e, em particular, em torno da interseção das 'macrofunções da
língua’ - denominadas ideacional, interpessoal e textual.
Feitas essas considerações, a partir de agora, passamos a apresentar
pormenorizadamente a metafunção interpessoal, norteadora das análises
apresentadas neste estudo.
1.5.1- Metafunção Interpessoal: o envolvimento do falante com suas
afirmações e com os participantes da interação
A metafunção interpessoal diz respeito ao estabelecimento de relações
humanas: é a “intrusão” do usuário da língua no evento discursivo. Trata-se da
expressão de comentários, atitudes e avaliações realizadas, por exemplo, pelo
uso do modo imperativo ou interrogativo, pela voz ativa ou passiva e pela
modalidade (Halliday, 1973).
Ressaltamos que as três variáveis da configuração contextual o necessárias
para definir o contexto da interação pela linguagem (Halliday, 1989: 12; Hasan
1996c: 39), a saber:
o campo do discurso ou a natureza da prática social realizada
pelo uso da linguagem o tipo de ato que está sendo executado
e seus objetivos (elogiar, culpar, informar, etc.);
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
43
a natureza da relação entre os participantes do discurso os
papéis de agente (pai/mãe e filho, autor e leitor etc.); o grau de
controle de um participante sobre o outro; a relação entre eles
(hierárquica ou não-hierárquica: especialista/ palestrante com
a platéia ou amigo/a interagindo com um/a amigo/a etc.); a
distância social existente (mínima ou máxima: participantes
que interagem freqüentemente, participantes que se
conhecem fora daquele contexto específico etc.);
a natureza do modo do discurso o papel desempenhado
pela linguagem (constitutivo ou auxiliar/suplementar); o
compartilhamento do processo entre os participantes
(dialógico ou monológico); canal da mensagem (gráfico ou
fônico); meio (falado – com ou sem contato visual; ou escrito).
A hipótese de Hasan (1994) é de que os valores que associamos às variáveis
do contexto da situação (campo, relação e modo) não apenas determinam as
metafunções gramaticais por meio da definição dos padrões de escolhas de
elementos das redes de transitividade, modalidade e tema como também
determinam os padrões macroestruturais dos textos.
Um texto é criado por seu contexto, o ambiente semiótico das pessoas
e suas atividades, que concebemos por meio dos conceitos de campo,
relação e modo; ele também cria esse contexto. A relação a que nos
referimos como “realização” entre “níveis” de semiose situação
(fazer) realizada na léxico-gramática (dizer), e assim por diante... é
uma relação dialética (Halliday, 1994b, apud Hasan, 1995: 134).
A metafunção interpessoal define-se pelo nculo à variável relações no
registro, materializando as interações sociais dos usuários da língua, bem
como suas opiniões pessoais e avaliações. Os significados interpessoais
realizam-se léxico-gramaticalmente nos sistemas de modo e modalidade, que,
por sua vez, sinalizam a interação. No sistema de Modo estabelecem-se as
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
44
relações entre os participantes; o sistema de Modalidade permite perceber as
intenções e as avaliações dos participantes da interação.
Observemos a seguir, uma adaptação de uma figura realizada por Heberle
(2000: 297), com base em Halliday (1973 e 1978), Ventola (1988) e Halliday e
Hasan (1989):
Quadro 2 – Contexto de Situação, Semântica e léxico-gramática
CONTEXTO SITUACIONAL SEMÂNTICA LÉXICO-GRAMÁTICA
Relações interpessoais
(quem participa)
Significados
interpessoais
Estruturas de modo
A relação entre os
participantes envolvidos
Interação pessoal Oração com troca de
experiência
Portanto, podemos dizer que uma correlação direta entre a organização
funcional da linguagem e o contexto de situação, estabelecendo uma relação
entre a metafunção interpessoal e a variável “relações” de registro como
verificamos no quadro a seguir:
Quadro 3 - A categoria de registro e sua relação com a metafunção
(adaptada de Eggins e Martin, 1997: 239)
Tipo de
significado
veiculado
Metafunção
(organização
da língua)
Registro
(organização
do contexto)
Lexicogramática
(nível de
realização)
Papéis
assumidos pelos
participantes da
interação
Significados
interpessoais
(recursos para
interação)
Relações
(estrutura de
papéis)
Oração como
troca de
informação ou
bens-e-serviços
(sistema de
modo)
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
45
Halliday (1994: 68) diz que a oração é organizada como um evento interativo,
que envolve o falante, ou o escritor, e uma audiência. No ato de falar, o falante
adota um determinado papel de fala e, ao fazê-lo, atribui ao ouvinte um papel
complementar. Segundo o autor, os tipos mais fundamentais de papéis de fala
são dar e pedir, baseando-se na natureza do que está sendo dado ou pedido,
definimos quatro funções de fala primária: ofertas, comandos, declarações e
perguntas.
Assim, o sistema de Modo relaciona-se com:
a) os elementos do sujeito gramatical, ou seja, as pessoas que
ocupam as posições de sujeito;
b) o elemento finito, indicador do tempo e do modo verbal, além da
polaridade e dos modais;
c) o predicador, que envolve os processos verbais, seus
complementos e adjuntos.
o sistema de Modalidade es relacionado aos diversos graus de
certeza/probabilidade/possibilidade; obrigatoriedade/tendência expressos pelo
uso de diferentes elementos, tais como: finitos, modais, adjuntos modais e
expressões modais. Este sistema se subdivide em Modalização e Modulação.
A Modalização diz respeito aos graus de probabilidade (possivelmente,
provavelmente, certamente) e de freqüência (ás vezes, normalmente, sempre)
de uma proposição (pedir/oferecer informação). A Modulação refere-se aos
graus de obrigação (tem que fazer, precisa fazer etc.) ou de inclinação (querer
fazer, estar determinado a fazer etc.) de uma proposta (pedir/oferecer bens &
serviços).
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
46
A figura 8 sintetiza os tipos de Modalidade de acordo com Halliday.
Também podem ser identificados três valores de modalidade quando o falante
expressa uma idéia ou opinião, ou dá uma informação. De acordo com Halliday
(1994), os três valores de modalidade são: alta, média e baixa.
O quadro 4, traduzido de Halliday (1994: 358), mostra os três valores de
modalidade em relação aos tipos de modalidade:
Quadro 4 - Os três valores da Modalidade
Tipos de Modalidade
Valores Probabilidade
Freqüência Obrigação Inclinação
Alta Certo Sempre Necessário
Determinado
Média Provável Normalmente
Esperado
Entusiasmado
Baixa Possível Às vezes Permitido Disponível
À modalidade opõe-se o que Halliday chama de Polaridade que é a escolha
entre positivo e negativo; este aspecto é expresso pelo elemento finito da
Figura 8 – Tipos de modalidade de acordo com Halliday
(adaptado de Thompson, 1996:58)
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
47
oração, sendo que este faz parte da estrutura de Modo e é o componente que
determina o tempo verbal e a polaridade da oração.
A partir dessa visão geral da metafunção interpessoal, passo no próximo item a
tratar mais especificamente da questão dos participantes e seus papéis sociais,
atrelados a esta metafunção, por ser o foco de investigação deste estudo.
1.5.1.1. Os participantes e seus papéis sociais
Conforme Halliday (1994: 68), um evento interativo envolve o falante (ou
escritor) e o ouvinte (ou leitor). O falante, em um ato comunicativo, assume
para si um papel de fala em particular e confere ao leitor um papel
complementar que ele almeja que seu leitor adote. Em função disso, um ato de
fala pode ser denominado de interação, pelo fato de ocorrer uma troca entre os
envolvidos.
Na GSF, o conceito de papel está associado às relações de solidariedade e
poder. Nessa ótica, vários estudos acerca das relações de solidariedade e
poder manifestadas através do sistema de Modo (Halliday, 1994) já foram
realizados. Dentre esses, podemos citar: Thompson & Thetela (1995), Ramos
(1997), Baptista (1998), Bressane (2000).
Thompson & Thetela (1995), por exemplo, em seus estudos acerca da
atribuição de papéis em anúncios publicitários, afirmam que no interior da
metafunção interpessoal é preciso diferenciar duas funções:
a) pessoal: corresponde à visão do escritor (modalidade);
b) interacional: refere-se à interação (mood).
A função interacional é subdividida em: papéis desempenhados (enacted roles)
e papéis projetados (projected roles). Os primeiros são realizados
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
MORAES RODRIGUES
48
obrigatoriamente pelo ato de fala por si ou ‘papéis de fala’. Os segundos são
outorgados pelo escritor/falante aos participantes de um ato comunicativo por
meio de rotulação, ou seja, os participantes da interação são nomeados.
Levando em conta o aspecto interacional, Thompson &Thetela fazem distinção
entre o escritor-no-texto (writer-in-the-text), aquele que é responsável pelo
texto, e o leitor-no-texto (reader-in-the-text), o que se deseja posicionado como
leitor daquele texto. Assim, ao assumir um papel para si e conferir um papel ao
leitor, o escritor gerencia a interação, que esta vai do escritor para o leitor.
Desse modo, ao leitor são atribuídos papéis, os quais ele não tem como
negociar, pelo escritor do texto.
Por tudo isso nesta pesquisa, decidimos analisar as realizações do escritor-no-
texto - subdivido em jornalista, cientista e estudioso de um assunto (nos artigos
de divulgação científica); escritor (no livro didático) - e do leitor-no-texto que, no
caso da revista, é o leitor-aluno, e no caso do livro didático é o aluno. Isto
porque tais elementos foram encontrados no corpus de estudo e também
porque estas noções (escritor/leitor no texto) contribuíram para a discussão das
escolhas pronominais feitas pelo escritor nos textos estudados.
No capítulo a seguir, apresentamos a metodologia e os procedimentos de
coleta do corpus.
MORAES RODRIGUES
Capítulo 2 - Metodologia de Pesquisa
Este capítulo tem como objetivos principais: descrever como o corpus da
pesquisa foi coletado e organizado - considerando os procedimentos de coleta,
a composição do corpus, os procedimentos de armazenamento utilizados e o
contexto de situação do corpus - e descrever os critérios utilizados no
levantamento e análise dos dados, considerando, para isso, a escolha da
metodologia, as ferramentas e os procedimentos de análise. Antes disso, no
entanto, reiteramos os objetivos e as questões que norteiam a pesquisa e
traçamos o perfil da revista SI e dos LDs que utilizamos como material para a
coleta dos dados.
2.1. Objetivos e questões de pesquisa
2.1.1 – Objetivos
Esta pesquisa tem como objetivo geral entender as formas de interação entre
os participantes em artigos de divulgação científica numa revista de circulação
nacional, através de papéis projetados da parte do escritor para si mesmo e
para os leitores, verificando as relações estabelecidas entre eles. Num
segundo momento, comparar estas relações interpessoais entre escritor e leitor
em textos de livros didáticos de Biologia e, ainda, as escolhas lexicais que
caracterizam o perfil pedagógico de cada um.
2.1.2. Questões de investigação
As questões de investigação que esta pesquisa pretende responder são as
seguintes:
1- Que escolhas xico-gramaticais identificam e estabelecem a interação
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
50
entre os participantes?
2- Que papéis o projetados aos participantes da interação através das
escolhas lexicais?
3- Que características interpessoais se diferenciam das identificadas nos
artigos de divulgação científica da SI para as apresentadas nos textos
de LDs em diferentes partes do discurso?
4- Quais escolhas xico-gramaticais permitem identificar o caráter
pedagógico nos artigos de divulgação científica da SI e nos textos de
LDs?
2.2 O perfil do material usado na pesquisa
2.2.1. A revista Superinteressante (SI)
O Brasil conta hoje com várias revistas especializadas. Uma delas é a revista
Superinteressante, objeto de estudo nesta pesquisa, que surgiu em 1987,
como resultado de um acordo entre a Editora Abril e o escritório espanhol da
empresa Gruner & Jhar, responsável pelo projeto original da revista Muy
Interesante, que havia sido lançada com sucesso na Alemanha, Espanha,
França, México, Colômbia, Venezuela, Equador e Argentina. O projeto
conceituava o produto como uma revista sobre cultura geral e curiosidades,
que abrangia Ciências Físicas e Biológicas, Geografia, Sociologia, Psicologia,
Zoologia, Tecnologia, Astronomia, Artes e grandes temas atuais (Carvalho,
1996a).
Numa análise da SI, Dieguez (1996: 29) observa que a proposta da revista é
“[...] revelar a ciência onde dúvida, mistério e curiosidade, apresentando ao
mesmo tempo a ciência como a aventura do conhecimento.” O caráter de
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
51
aventura presente nessa revista também é confirmado por Carvalho (1996b). A
autora acrescenta que entre as características de SI destacam-se ainda o
grande número de matérias de origem internacional e o uso da infografia
(ilustrações informativas utilizadas para facilitar a compreensão e atrair a
atenção do leitor).
Esta atitude de preferência ao que pode ser criado (o desenho) em detrimento
da fotografia relaciona-se com o objetivo de superar o que é comum, usando
tecnologia e criatividade. É raro encontrar-se um desenho simples, pois os
infográficos da SI usam recursos de computação que possam proporcionar
uma aparência mais próxima do real. O visual arrojado é mais um atrativo para
conseguir capturar o leitor jovem buscado pela revista. (Carvalho, 1996a: 75-
76).
Dirigida, predominantemente, a leitores jovens, no setor publicitário, a revista
tenta se fixar em produtos que atendam a faixa etária de seu público. Assim, o
espaço publicitário de SI é ocupado por produtos consumidos por estudantes
universitários e colegiais.
Segundo Chaparro (1993), embora tenha como público-alvo jovens estudantes
dos níveis médio e superior, SI também procura atender à curiosidade dos
pais que pagam a assinatura ou compram mensalmente a revista nas bancas.
De acordo com esse autor, em seis anos, essa revista alcançou uma tiragem
em torno de 280 mil exemplares mensais, tendo se tornado o maior sucesso
editorial brasileiro das últimas cadas, fato que vem comprovar a existência
de uma demanda bastante significativa pela informação científica tratada em
linguagem jornalística.
Os veículos de comunicação de massa, atualmente, ocupam um espaço
significativo na divulgação do conhecimento científico, sob a forma de
informação de notícias. Outra “razão” é a de que o mero de veículos
(programas televisivos e segmentos impressos) de divulgação desse tipo de
conhecimento, não tem aumentado significativamente, quanto também têm
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
52
se tornado cada vez mais atraentes aos olhos dos receptores, que passam,
muitas vezes, a preferi-los mediantes às formas institucionalizadas de
aquisição de conhecimento (tal como a escola, por exemplo). Dessa forma, um
leitor da revista SI, por exemplo, mesmo que não possua uma formação
escolar razoável, sente-se bem informado acerca das descobertas e invenções
científicas.
2.2.2. O Livro Didático
A indiscutível importância do livro didático no cenário da educação pode ser
compreendida em termos históricos, através da relação entre este material
educativo e as práticas constitutivas da escola e do ensino escolar. Esta
importância é atestada, entre outros fatores, pelo debate em torno da sua
função na democratização de saberes socialmente legitimados e relacionados
a diferentes campos de conhecimento, pela polêmica acerca do seu papel
como estruturador da atividade docente, pelos interesses econômicos em torno
da sua produção e comercialização, e pelos investimentos de governos em
programas de avaliação. Bittencourt (2004) identifica, nas pesquisas sobre
livros didáticos, no Brasil e no exterior, uma evolução no sentido de
compreender este artefato cultural em sua complexidade. Estudos que
privilegiavam a análise de conteúdos dos textos em termos dos valores e
ideologias por eles veiculados foram sendo complementados por análises que
relacionam estes aspectos às políticas públicas e a aspectos da produção do
livro didático. Ainda segundo esta autora, as análises realizadas após os anos
80 caracterizam-se pela adição de perspectivas históricas e concentram o foco
das investigações em questões relacionadas a processos de mudança e
estabilidade de conteúdos no livro didático, bem como a sua própria
permanência como suporte preferencial de comunicação de saberes escolares
(Bittencourt, 2004: 472).
No campo da Educação em Ciências, as investigações que têm o livro didático
como objeto de investigação, tradicionalmente, concentram-se no inventário e
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
53
discussão de erros conceituais. Vários estudos têm documentado graves falhas
conceituais e imprecisões metodológicas e contribuído, juntamente com
avaliações oficiais, para a melhoria da qualidade desse material (Bizzo, 1995;
Brasil, 2005). Este esforço tem se mostrado instrumental tanto no aumento da
acurácia conceitual quanto na eliminação de textos que veiculem preconceitos
ou ponham em risco a segurança do aluno. No entanto, um levantamento dos
trabalhos apresentados nos principais congressos da área entre 1997 e 2003
revela a desproporção entre o número de trabalhos que versam sobre a forma
de apresentação dos conteúdos e aqueles que propõem ou relatam
investigações acerca de outros aspectos relevantes para a compreensão da
natureza, do papel e dos usos do livro didático de ciências, tanto em termos
específicos, tais como sua linguagem, padrões de apresentação gráfica,
práticas de utilização em sala de aula, quanto em termos mais gerais, como
políticas para livros didáticos e ideologias veiculadas pelos textos (Cassab &
Martins, 2003a).
O livro didático é um artefato cultural, isto é, suas condições sociais de
produção, circulação e recepção estão definidas com referência a práticas
sociais estabelecidas na sociedade. Enquanto tal, ele possui uma história que
não está desvinculada da própria história do ensino escolar, do
aperfeiçoamento das tecnologias de produção gráfica e dos padrões mais
gerais de comunicação na sociedade. De fato, ao longo dos anos nos quais o
livro didático esteve presente no ensino de ciências, podemos perceber várias
mudanças nos seus formatos que possuem relação com o acentuado
crescimento do conhecimento científico, com os avanços tecnológicos que
baratearam a editoração e com as diferentes políticas blicas para educação
no Brasil, notadamente a ampliação da oferta da escolarização à população
(Martins, 2000; 2003).
Freire (1994), Fairclough (1992), entre outros, nos indicam caminhos que
conduzem à conscientização da linguagem com vistas à legitimação ou
contestação da sociedade na qual o aluno está inserido servindo assim como
instrumento para a emancipação social deste aluno. A leitura então assume um
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
54
caráter “dinâmico”, inserido dentro de um contexto educacional mais amplo,
considerada como um ponto de partida útil para suscitar questões relativas aos
interesses sociais e políticos que subjazem muitas pressuposições legitimadas
por professores e alunos” (Figueiredo, 2000).
Ao focalizarmos o papel do material didático na construção do conhecimento e
do engajamento do aprendiz, o podemos deixar de considerar o Livro
Didático um dentre os instrumentos a serem utilizados para que tal
engajamento aconteça. Portanto, é importante apreciar questões sobre a
relevância social do material, sua adequabilidade às funções inicialmente
propostas e o modo como podemos utilizá-lo reflexiva e efetivamente para a
obtenção dos objetivos propostos.
2.3. Descrição do corpus de estudo
2.3.1. Coleta e seleção dos dados
O corpus utilizado para a presente pesquisa é formado por trinta textos de LDs
de Biologia do Ensino Médio e quarenta e nove artigos da Revista
Superinteressante da Editora Abril, sobre assuntos relacionados à ciência,
coletadas já informatizadas através do endereço eletrônico.
O perfil dos artigos está voltado para o contexto científico, que a referida
revista é classificada pela Editora que a publica como revista de divulgação
científica. Considerando este aspecto, concentramo-nos em analisar as
escolhas lingüísticas ligadas à função interpessoal (Halliday, 1994) para
verificar a interação nesses textos através da projeção de papéis (para o
jornalista, para o cientista e para o leitor) e das escolhas léxico-gramaticais.
Os artigos de divulgação científica constituintes da SI foram todos coletados no
ano de 2006, mas resgatamos, além dos publicados nesse ano, artigos de
2002, 2004 e 2005. Os assuntos são bastante diversificados, todavia todos se
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
55
referem à ciência, o que lhes confere, portanto, o caráter de artigos de
divulgação científica.
Os textos dos LDs foram extraídos de quatro livros de Biologia, de autores,
edições e editoras diferentes, conforme descrevemos a seguir:
Biologia Volume único, José Arnaldo Favaretto e Clarinda
Mercadante, Editora Moderna, 2005 (doravante B1);
Biologia - Volume 2, José Mariano Amabis e Gilberto Rodrigues
Martho, Editora Moderna, 2004 (doravante B2);
Biologia Volume único, César da Silva Júnior e Sezar Sasson, Editora
Saraiva, 2003 (doravante B3);
Biologia em Foco Volume único, Wanderley Carvalho, Editora FTD,
2002 (doravante B4)
Esclarecemos ainda, que todos os textos coletados foram digitados e só depois
pudemos dar andamento à pesquisa e para facilitar a identificação dos
referidos livros durante o capítulo da Análise e Discussão dos Dados,
usaremos legendas para nomeá-los, conforme descrevemos no quadro 6.
2.3.2. Composição e Procedimentos de armazenamento
Por ser o interesse principal deste trabalho, investigar como se a interação
entre os participantes em artigos de divulgação científica da SI e em textos de
LDs e, ainda como o caráter pedagógico é apresentado nesses dois veículos
de conhecimento, através de escolhas léxico-gramaticais, em relação à SI
decidimos que os textos que comporiam o corpus seriam aqueles localizados
na seção intitulada “Ciência”, tendo em vista que estamos trabalhando com o
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
56
critério de ser um texto de caráter científico. Isso explica, portanto, porque
artigos encontrados em outras seções como História, Religião,
Comportamento, Gente, Astronomia, Ambiente, dentre outras, foram excluídas.
No Quadro a seguir especificamos os artigos selecionados da SI para compor
este estudo em ordem crescente de publicação:
Quadro 5 - Artigos de Divulgação Científica selecionados para compor o corpus
Título do artigo
Edição / Ano de
publicação
1
Medicina – Homeopatia: O poder das bolinhas 172/2002
2
Caça ao planeta X 196/2004
3
Medicina alternativa 196/2004
4
A física dança Tango 197/2004
5
Que bicho vem por aí 197/2004
6
Cobaias humanas 198/2004
7
Conectados 198/2004
8
Cavucando no tempo 199/2004
9
E se... nunca dormíssemos? 200/2004
10
O quê você quer ser quando morrer? 200/2004
11
O sentido marginal 200/2004
12
Supermáquina cospe casa 200/2004
13
A cebola que ri 201/2004
14
À luz de sombras 201/2004
15
Sorria, você está sendo estudado 201/2004
16
E se... todos os chineses... 203/2004
17
Para que serve a música? 203/2005
18
Nó da matemática 204/2004
19
Câncer - A humanidade contra-ataca 206/2004
20
A misteriosa supercoca colombiana 207/2004
21
Bizarrices no divã 207/2004
22
Estupro 207/2004
23
Inteligência animal 209/2004
24
As grandes invenções 210/2005
25
Louco, eu? 211/2005
26
A busca da felicidade 212/2005
27
Os piores empregos da ciência - a seqüência 212/2005
28
Big Bang 213/2005
METODOLOGIA DE PESQUISA
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57
29
As armas mais chatas do mundo 213/2005
30
E aí, tem jeito? 213/2005
31
Se a população cresce, o peso da Terra aumenta? 214/2005
32
Design perfeito 215/2005
33
Na fronteira da morte 216/2005
34
18 coisas que não fazem sentido 217/2005
35
Supergermes, ativar! 217/2005
36
Os elementos da morte 218/2005
37
Prato do dia 218/2005
38
A natureza remodelada 219/2005
39
Aborto é assassinato? 219/2005
40
Inferno na Terra 220/2005
41
Procura-se Deus 220/2006
42
Grandes descobertas 221/2005
43
A pílula pop 221/2005
44
Uma nova morte 221/2006
45
Por que os gays são gays? 222/2006
46
A língua solta 225/2006
47
Doutores da agonia 225/2006
48
O que os olhos não vêem 232/2006
49
Segundas dimensões 233/2006
Ainda na seleção dos artigos, não se considerou o tamanho dos textos, apenas
decidiu-se que tinham que ser artigos relacionados à ciência e completos em si
mesmo, isto é, apresentando um começo e um fim.
Outro critério na escolha dos textos foi a opção por artigos publicados em
edições mais recentes da revista - entre 2002 e 2006 a fim de se verificar as
tendências atuais de representação dos participantes. A proporção do número
de artigos coletados não foi pré-definida. Consideramos que quarenta e nove
artigos constituem um corpus representativo,
Quanto aos LDs os textos foram selecionados aleatoriamente, independente do
número de páginas ou título de capítulos. No entanto, para escolher os LDs
que fariam parte desta pesquisa, fizemos uma entrevista informal, entre vários
professores, que ministram aulas de Biologia tanto no ensino público quanto no
particular, solicitando que os mesmos indicassem os nomes de quatro livros
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
58
e/ou autores que julgassem os mais adequados às propostas pedagógicas em
conformidade com os PCNs, a partir do conhecimento empírico de cada um e
considerando, portanto, os resultados obtidos em sala de aula com seus
alunos.
A seguir, apresentamos os textos dos LDs que compõem esta pesquisa,
divididos por título de livro, nome(s) de autor(es), a legenda correspondente a
cada livro e, ainda acompanhando o número da(s) página(s).
Quadro 6 - Relação dos textos selecionados dos LDs para compor o
corpus
TÍTULO DO
CAPÍTULO
AUTOR(ES)
LEGENDA
PÁGINA(s)
01 Ambiente e
sociedade:
atmosfera e
hidrosfera
José Arnaldo Favaretto e
Clarinda Mercadante
B1 40-46
02 A origem da vida e
das células
José Arnaldo Favaretto e
Clarinda Mercadante
B1 111-115
03 Herança de dois ou
mais pares alelos
José Arnaldo Favaretto e
Clarinda Mercadante
B1 138-144
04 Evolução da vida José Arnaldo Favaretto e
Clarinda Mercadante
B1 156-165
05 Tecidos conjuntivos
e imunidade
José Arnaldo Favaretto e
Clarinda Mercadante
B1 256-263
06 Vírus José Mariano Amabia e
Gilberto Rodrigues Martho
B2 28-46
07 Nutrição José Mariano Amabia e
Gilberto Rodrigues Martho
B2 470-486
08 Movimento e
suporte do corpo
humano
José Mariano Amabia e
Gilberto Rodrigues Martho
B2 534-541
09 Sistema nervoso José Mariano Amabia e
Gilberto Rodrigues Martho
B2 545-549
10 Sistema endócrino José Mariano Amabia e
Gilberto Rodrigues Martho
B2 565-575
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
59
11 Açúcares e
gordura: energia
armazenada
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 25-27
12 As substâncias da
vida: as proteínas
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 29-34
13 O metabolismo
celular
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 94-99
14 Os epitélios César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 142-146
15 O tecido muscular sar da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 162-165
16 Metabolismo,
homeostase e
nutrição
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 292-293
17 A digestão César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 300-303
18 A circulação César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 306
19 O sistema imune César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 357-361
20 As teorias da
evolução: Lamark,
Darwin e a seleção
natural
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 531-536
21 O ser humano no
ambiente: um
impacto na biosfera
César da Silva Júnior e
Sezar Sasson
B3 621-628
22 Organização básica
das células
Wanderley Carvalho B4 47-56
23 O citoplasma Wanderley Carvalho B4 64-73
24 As células e o
metabolismo
energético
Wanderley Carvalho B4 83-90
25 Nutrição e digestão Wanderley Carvalho B4 226-235
26 Os fundamentos da
genética
Wanderley Carvalho B4 424-431
27 A origem da vida Wanderley Carvalho B4 490-494
28 As teorias da
evolução
Wanderley Carvalho B4 496-498
29 A dinâmica da vida
nos ecossistemas
Wanderley Carvalho B4 550-555
30 A poluição Wanderley Carvalho B4 562-568
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
60
Os artigos de Divulgação Científica que compõem parte do corpus desta
pesquisa, disponibilizados on line, não eram totalmente de domínio público,
pois apenas quem era assinante da revista tinha acesso a esse material. Essa
revista faz parte dos chamados veículos de comunicação de massa, embora
seja vendida a um preço não muito acessível a pessoas das classes mais
populares. O público-alvo é diversificado, compreendendo, em geral,
estudantes universitários e colegiais. Os assuntos abordados são diversos:
política, religião, comportamento, ambiente, dentre outros.
Com relação aos produtores dos artigos, podemos dizer que são jornalistas,
porém não especialistas em Ciências, eles “recontextualizam” os textos
originais dos cientistas e pesquisadores, adequando a linguagem ao perfil do
público leitor da revista, conforme descrevemos no subitem 2.2.1.
Acerca do armazenamento do corpus, todos os artigos da SI e os textos dos
LDs foram salvos em formato texto simples (*txt), sem formatação, e nomeados
de acordo com os seguintes critérios: cada artigo recebeu uma legenda que
identifica a edição e o ano de publicação, como no exemplo: Antes de ler esta
reportagem, tente lembrar quantas vezes na última semana você ouviu música.
Não as baladas do rádio, mas também as pílulas de sonolência na sala de
espera do dentista. Ou o canto de alguém a seu lado no ônibus”. (203/2005)
O corpus foi organizado em dois arquivos da seguinte forma: os artigos de
divulgação científica da SI conforme o nº da edição e o ano de publicação e os
textos dos LDs segundo o título do livro, do autor, a legenda e o número de
página para proceder às análises pelo Programa WordSmith Tools. Assim,
temos dois arquivos: a) artigos de divulgação científica da SI, do período de
2002 a 2006; b) textos dos quatro LDs, do período de 2002 a 2005.
2.3.3. O contexto de situação
De acordo com o exposto no capítulo de Fundamentação Teórica, o contexto
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
61
de situação (ou registro) refere-se ao contexto interno do texto e está
relacionado às escolhas lingüísticas. Como Eggins & Martin (1997: 234)
apontam ...register is a theoretical explanation of the common-sense
observation that we use language differently in different situations.
Também, no capítulo de fundamentação, foi dito que o registro é constituído
por três aspectos ou dimensões que ocorrem sempre simultaneamente e que
afetam o uso da língua nos textos, estabelecendo diferenças entre estes, as
variáveis de registro: campo, relações e modo. O campo especifica o que está
acontecendo, sobre o que se está falando. As relações referem-se aos
participantes da interação, seus papéis sociais e suas hierarquias
(escritor/leitor, falante/ouvinte). O modo compreende a modalidade de
produção e de transmissão da mensagem (oral, escrita, visual, multimodal/
impressa, televisionada, face a face etc.).
Com base nesses conceitos, estabelecemos as três variáveis de registro para
nossa pesquisa:
Campo: é o foco da atividade na qual a língua está sendo usada.
Corresponde, no corpus de estudo, aos assuntos tratados nos artigos que,
como mencionado, são bastante diversificados; referem-se às áreas da
política, religião, ciência, história, astronomia, ambiente, dentre outras.
Relações: refere-se às relações sociais desempenhadas pelos
interactantes. No caso de nossa pesquisa, diz respeito às formas de interação
entre os participantes nos textos, aos papéis projetados para estes.
Modo: é o papel que a língua tem na interação (Eggins, 1994:
52). Temos no corpus, predominantemente, o modo escrito, que se trata de
artigos de revistas; algumas vezes os textos vêm acompanhados de figuras,
mas não analisaremos este recurso nesta pesquisa.
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
62
2.4. Procedimentos de análise
2.4.1. A definição da metodologia
Utilizamos como metodologia, para a análise quantitativa do corpus, a
Lingüística de Corpus (LC) que é uma área que “se ocupa da coleta e
exploração de corpora, ou conjunto de dados lingüísticos textuais, em formato
legível por computador, que foram coletados criteriosamente com o propósito
de servirem para a pesquisa de uma língua ou variedade lingüística”. (Berber-
Sardinha, 2000a: 3).
Segundo McEnery e Wilson (1996: 1), a LC pode ser definida simplesmente
como “o estudo da linguagem baseado em exemplos de uso da ‘vida real’”. Ela
grande importância ao caráter comunicativo do fenômeno lingüístico, o que
proporciona ao pesquisador obter dados objetivos e concretos a respeito da
linguagem, auxiliando-o a compreendê-la dentro de seu caráter social e,
portanto, inserida nos diversos contextos e propósitos comunicativos
específicos.
Biber et al. (1999: 1) afirma que a LC depende tanto de uma abordagem tanto
qualitativa quanto quantitativa pelo fato de que o levantamento numérico de
itens lexicais ou expressões nada significam sem a interpretação do
pesquisador.
Assim, por todos os motivos acima expostos, consideramos que a LC é
compatível com uma pesquisa que tem como teoria de base a Sistêmico-
Funcional, porque ambas estão preocupadas em observar a linguagem a partir
de sua realização concreta, buscando interpretações baseadas no contexto de
produção dos textos.
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
63
2.4.2. Os instrumentos de análise
Para se realizar a análise lexical do corpus, que é composto por quarenta e
nove artigos de divulgação científica da SI e vinte e oito textos de LDs,
relativamente grandes, é crucial a utilização do computador e de um software
que permitem e facilitem esta análise. Dentro da LC um Programa que
proporciona esse tipo de análise, trata-se do WordSmith Tools (Scott, 1999),
que é composto de ferramentas e utilitários. Este programa oferece ao analista
três ferramentas para a análise lingüística: Wordlist, Key Words e Concord. A
primeira (Wordlist) produz listas de palavras, uma ordenada alfabeticamente e
outra classificada por ordem de freqüência das palavras; além disso, ainda
uma terceira janela em que aparecem estatísticas relativas aos dados usados
para a produção das listas; a segunda (Key Words) extrai palavras de uma lista
cujas freqüências são estatisticamente diferentes do que as freqüências da
mesma palavra num outro corpus, chamado Corpus de Referência, ou seja,
esta ferramenta proporciona a comparação de corpora e a verificação da
chavicidade (keyness) dos itens léxico-gramaticais que compõe os corpora; a
terceira (Concord) realiza concordâncias ou listagens das ocorrências de um
item específico (chamado de palavra de busca ou nódulo, que pode ser
formado por uma ou mais palavras) acompanhado do texto ao seu redor (o co-
texto).
Dentre essas ferramentas, utilizamos a Wordlist e a Concord. Pela Wordlist
fizemos o levantamento da freqüência das palavras, estabelecemos a
quantidade de itens (tokens) e formas (types) do corpus para verificar as
escolhas léxico-gramaticais mais freqüentes relativas à interação e, ainda, o
número de sentenças, de palavras diferentes e de parágrafos de cada arquivo.
Depois, de posse das listas de freqüência, através da ferramenta Concord,
fizemos listas de concordâncias no intuito de observar como essas escolhas se
comportam no corpus e se há padrões léxico-gramaticais no âmbito
interpessoal, mais especificamente que revelem as formas de interação nos
textos.
METODOLOGIA DE PESQUISA
MORAES RODRIGUES
64
2.4.3. Passos da análise
Inicialmente fizemos o levantamento dos pronomes pessoais e de tratamento
nos textos para verificarmos as formas utilizadas para nomear os participantes
(escritor, cientista, leitor), determinar se padrões nas formas de nomeação
e, assim, analisar os papéis projetados aos participantes por meio desses
pronomes.
Certamente que apenas a análise dos pronomes não basta para observarmos
a interação no corpus. Então, pelas concordâncias, procuramos perceber
outras palavras e expressões que provavelmente estivessem relacionadas ao
estabelecimento da interação entre os participantes, como formas nominais,
por exemplo. Separamos as seguintes palavras e expressões: leitor, caro leitor,
prezado leitor, etc. Então efetuamos o mesmo procedimento para esses
elementos: fizemos listas de palavras e, com as palavras mais freqüentes,
fizemos listas de concordância. Posteriormente, selecionamos aleatoriamente
dos artigos da SI e dos textos dos LDs alguns títulos e subtítulos, trechos dos
textos, expressões informais (próprias da oralidade) e discutimos a partir de
uma análise comparativa as semelhanças, bem como as diferenças referentes
às escolhas léxico-gramaticais entre os artigos de divulgação científica e os
textos dos LDs.
Os resultados dessas análises são apresentados no próximo capítulo.
MORAES RODRIGUES
Capítulo 3 - Análise e Discussão dos Resultados
O presente capítulo tem por objetivo apresentar e discutir, à luz da teoria da
Gramática Sistêmico-Funcional (Halliday,1994), os resultados obtidos na
análise de dados lingüísticos representativos de dois espaços discursivos
ocupados pelos discursos de ciências: a) o contexto da divulgação científica
em meio de comunicação escrita dirigida ao público não especializado,
composto por quarenta e nove artigos de Divulgação Científica, veiculados pela
revista Superinteressante (SI), no período de 2002 a 2006, b) e o contexto do
livro didático de Biologia de Ensino Médio, constituído de trinta textos de quatro
livros de autores e editoras diferentes.
Halliday (1994: xv) afirma que “qualquer avaliação de um texto também requer
uma interpretação do seu contexto”., Portanto, a fim de analisar língua em uso
uma teoria da gramática terá de tomar em consideração não o texto, mas
também o contexto, tanto situacional como cultural. Assim, este modelo teórico,
colocará em conjunto contexto, sentido e realizações gramaticais.
Esse capítulo está dividido em três momentos: inicialmente, apresentaremos os
dados do corpus, objeto de estudo desta pesquisa, obtidos através da
ferramenta computacional WordSmith, conforme as descrições feitas no
capítulo 2, Metodologia e Procedimentos.
Num segundo momento analisaremos os dados referentes à questão da
interação em discurso escrito entre o escritor e leitor, o foco nesse momento
será as relações entre os participantes, verificando as escolhas que
caracterizam a relação escritor-leitor, isto é, quem está tomando parte na
interação, quem são os participantes dos textos, como se nomeiam e são
nomeados, e a interação entre eles: maior ou menor proximidade ou distância
social, verificando os papéis assumidos pelo escritor e atribuídos ao leitor
.
Nesse sentido, baseados no conceito de escolhas (Halliday, 1994: 117)
pressupomos que os textos analisados na presente pesquisa são produtos que
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
66
provêm das escolhas feitas pelos escritores, dentre as possibilidades de se
nomear os participantes para que eles transmitam sua mensagem, isto é, os
modos pelos quais as pessoas utilizam a língua a partir de suas necessidade
em determinados contextos. Por esta razão, a partir da perspectiva
interpessoal, o foco, neste momento, de nosso estudo será caracterizar a
interação entre os interactantes através da escolha de pronomes e de
referências nominais.
Num terceiro momento, discutiremos as escolhas lingüísticas realizadas nos
dois meios de comunicação para verificarmos como são constituídos os
discurso de ambos, com a intenção de constatar como o perfil pedagógico é
constituído em dois tipos de gêneros diferentes.
3. 1. Apresentação dos dados do corpus por meio da Wordlist
A seguir, na tabela 1, reproduzimos os resultados quantitativos relativos ao
corpus SI e LD, a partir da análise de dados apresentados pela ferramenta
Wordlist:
Tabela 1 - Características numéricas do corpus obtidas através da wordlist
Características SI LD
Número de textos 49 30
Número de palavras 103.140 83.193
Palavras diferentes 14.447 10.300
Relação entre nº de palavras/palavras diferentes 14,01 12,38
Relação padronizada entre nº de palavras/palavras diferentes
49,81 43,16
Orações 4.449 2.729
Parágrafos 141 1.635
Na Tabela 1 observamos que os artigos da SI são cerca de 20% MAIORES
que os textos dos LDs. No entanto, a diferença considerável que percebemos
está na relação entre orações/períodos e o número de parágrafos.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
67
Considerando, assim, esta acentuada diferença quantitativa de parágrafos
entre os dados apresentados na SI e nos LDs, de acordo com o que
conhecemos como definição de parágrafos no senso comum, podemos inferir
que nos textos dos LDs possa haver uma maior variação de assuntos
reportados pelos autores, mas, esclarecemos, que esse aspecto não foi objeto
de nossa análise.
3.2. Função Interativa
Nossa análise baseia-se na função interativa (Thompson e Thetela, 1995: 106)
voltada para a projeção de papéis através das escolhas do sistema de
pronomes pessoais, especificamente, através das escolhas pronominais da
e da 2ª pessoas do discurso e, ainda, por pronomes de tratamento. Pode-se
dizer que esses pronomes o importantes para identificar como os autores
dos conjuntos de textos estudados falam de si mesmos e de seus leitores, isto
é, essas formas de tratamento propiciam o entendimento de como o escritor
gerencia a interação, indicando, primeiramente, quem são os participantes dos
textos, como eles se nomeiam e quais os papéis que são atribuídos ao escritor,
ao leitor, ao cientista e a outros eventuais participantes do discurso, que
possam interferir na produção dos discursos da SI e dos LDs, conforme
discutiremos a seguir:
3.2.1. Participantes do Discurso na SI e nos LDs
Os pronomes pessoais, tipicamente dêiticos e referenciais, representam o
mundo do ponto de vista do falante no contexto de uma troca de fala
(cf.Halliday, 1994).
Para identificarmos quem são os participantes, como se nomeiam ou são
nomeados, realizamos um levantamento de ocorrências dos pronomes
pessoais da 1ª, e pessoas do singular e do plural, de tratamento vo e
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
68
vocês e possessivos, assim como das formas nominais: leitor, leitora, leitores,
Super, cientista, através da lista de freqüência do programa Wordlist no corpus
da SI e dos LDs
Para melhor visualizarmos o uso dos pronomes pessoais, de tratamento e
possessivos pela SI e pelos LDs, acompanhemos a tabela a seguir:
Tabela 2 Ocorrências e percentuais de pronomes pessoais
presentes nos dados
SI LDs
PRONOMES
Ocorrências Percentual Ocorrências Percentual
VÓS 1 - - -
VOSSA 1 - - -
VOCÊS 1 - - -
COMIGO 1 - - -
TU 2 - - -
MINHAS 2 - 3 -
MIM 2 - 3 -
TE 3 - - -
MEUS 3 - 1 -
LHES 3 - - -
CONOSCO 4 - 1 -
SENHOR 5 - - -
SENHORA 5 - - -
MINHA 9 - 1 -
ME 13 0,01 3 -
MEU 18 0,02 4 -
NOSSAS 19 0,02 9 0,01
LHE 21 0,02 09 0,01
NOSSOS 38 0,04 4 -
EU 46 0,04 9 0,01
NOSSA 53 0,05 14 0,02
NOSSO 62 0,06 32 0,04
ELAS 81 0,08 51 0,06
NÓS 81 0,08 6 -
ELES 137 0,13 82 0,1
VOCÊ 138 0,13 11 0,01
ELA 178 0,17 67 0,08
ELE 222 0,22 76 0,09
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
69
O levantamento apresentado na Tabela 2 mostra que os pronomes mais
usados em cada conjunto de textos caracterizam as diferenças entre eles, e
que, como podemos observar a percentagem de ocorrência de todos os
pronomes é maior em SI e alguns não ocorrem em LDs, sendo eles: tu, vós,
vossa, vocês, te, comigo, convosco, senhor e senhora.
Representamos no gráfico abaixo as formas pronominais mais freqüentes no
corpus.
Diante da apresentação percentual das formas pronominais identificadas no
corpus, começamos a discussão com os pronomes em terceira pessoa (ele(s),
ela(s)), pois como percebemos na tabela estes foram os que mais ocorreram.
Esses pronomes o tipicamente utilizados, ou substituídos por Ø, como
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
SI LDs
EU
ELE(S)
ELAS(S)
NÓS
NOSSA(S)
NOSSO(S)
VOCÊ
Gráfico 1 - Percentagens dos pronomes encontrados nos dados da SI e dos LDs
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
70
formas anafóricas
1
referenciais para identificação e nomeação de outros
participantes do discurso. Freqüentemente são usados para se referir ao
próprio escritor do texto. Este se constitui num recurso usado pelo escritor para
se distanciar do leitor em termos interacionais e focalizar no modo de transmitir
a mensagem. Observemos os exemplos de pronomes em terceira pessoa
como anáfora nos textos dos LDs e nos artigos da SI :
01. “A pele é o maior órgão do corpo, muito importante na adaptação do
organismo ao ambiente. Ela protege do atrito, de substâncias tóxicas, de
microrganismos, da perda de água em excesso, da radiação solar”. (B2)
02. “Virusóides são moléculas infecciosas de RNA com as mesmas
características dos viróides. Eles diferem dos viróides, no entanto, por
necessitar do auxílio de um vírus para se propagar (...)”(224/2006).
Observemos o que Hodge e Kress (1993: 92) dizem sobre o uso de terceira
pessoa, que corrobora com o que assinalamos nos exemplos 01 e 02: “implica
em uma transmissão neutra e a forma na qual a organização está presente
como autoridade”. (minha tradução).
A escolha por pronomes em terceira pessoa denota, também, um recurso do
escritor para trazer outras vozes para o texto, através de citações, orações
reportadas e referências (cf. Thompson, 1995), com a intenção de contrapor,
ratificar, comentar, definir e para fazer inferências sobre o assunto abordado
ou, simplesmente, apresentar depoimentos no decorrer do texto. Assim, o
escritor utiliza-se de uma estratégia, que Martin (1996) chama de
heteroglosssia. Os exemplos que seguem abaixo ilustram essa função:
1
Halliday & Hasan (1976:31) dividem as referências em duas categorias: (1) as que se relacionam a itens
fora do texto (situacionais); (2) aquelas encontradas dentro do texto (textuais). A primeira categoria é
vista pelos autores como referências exofóricas e a segunda como referências endofóricas.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
71
03. “A história da descoberta dos vírus começa em 1883, com o
pesquisador alemão Adolf Mayer (1843-1942). Ele estudava, então, a
doença conhecida como mosaico-do-tabaco, em que as folhas da planta
de fumo (Nicotina tabacum) (...).”(B2)
04. Para o biólogo Edward O. Wilson, um dos pioneiros da
sociobiologia, a predisposição para a religião é mesmo resultado da
evolução genética do cérebro. Segundo ele, nossa inclinação para
acreditar num ser superior pode ser resultado da submissão
animal”.(217/2005)
Passando agora aos pronomes possessivos: nossa(s) e nosso(s) que
podem expressar aspectos interacionais, englobando escritor e leitor.
Demonstrando, assim, uma situação de solidariedade entre escritor-leitor,
evidenciando, assim, uma maior proximidade entre os interactantes. No
entanto, consultando os dados dos LDs e da SI, não identificamos exemplos
que confirmem as características descritas acima. As ocorrências dos
pronomes possessivos, tanto nos LDs quanto na SI, referem-se à raça
humana, ou seja, essas formas pronominais estão se referindo ao coletivo,
excluindo o leitor. Portanto, demonstrando um maior distanciamento entre
leitor-escritor. Vejamos os exemplos abaixo:
05. “A enzima maltase é uma proteína encontrada no nosso sistema
digestório, e seu papel é facilitar a transformação da maltose, um
dissacarídeo, em duas moléculas de glicose, um monossacarídeo. Para
a maltase poder agir sobre a maltose, é necessário que as duas
moléculas se liguem temporariamente. Isso só é possível se a forma das
duas permitir essa ligação”. (B3)
06. “Convivemos com os vírus desde que nascemos. Ao longo da vida,
nosso corpo é invadido por diferentes tipos de vírus, que penetram em
nossas células e as utilizam para se multiplicar, em geral matando-as”.
(B2)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
72
Verificamos, também, que, exceto os pronomes em pessoa mim e minhas
com 3 ocorrências cada um, todos os outros possuem maior freqüência de uso
no conjunto de textos da SI.
Apesar das baixas ocorrências, os pronomes: tu, te, vos, conosco e comigo, os
de tratamento: senhor, senhora e, finalmente, o pronome possessivo: vossa
foram identificados apenas nos textos da SI. Podemos inferir que, talvez, esta
baixa ocorrência seja por conta dessas formas pronominais não serem usuais
em textos dirigidos ao grande, pois são consideradas formas próprias. E quanto
às formas de tratamento: senhor, senhora sugerem um certo aspecto de
cerimônia, sendo assim indicam um distanciamento do leitor, projetando uma
interação menos interpessoal.
Observamos, ainda, que estas formas pronominais, ocorrem em citações
(Discurso Direto) e reproduções de depoimentos (Discurso Indireto) (cf.
Thompson, 1996). Portanto, não são escolhas que identificam ou nomeiam o
escritor durante o discurso, o que pode ser observado nos exemplos 07 a 09:
07. Camarada, por favor, peça ao oficial que acabe conosco com uma
bala", suplicou o soldado russo. (198/2004)
08. Estou interessado em descobrir o que as pessoas consideram a
maior invenção de todos os tempos. O senhor tem alguma opinião a
respeito? O velho cavalheiro coça a cabeça e então responde: - Bem,
eu diria a garrafa térmica. (210/2005)
09. Em vez das regras tradicionais como "não matar" ou "crescei e
multiplicai-vos", médicos, doentes e familiares estão preferindo
"responsabilize-se pelas conseqüências de seus atos" e "respeite o
desejo de viver e morrer. (221/2006)
Ressaltar, nesse momento, que os pronomes eu com 0,04% (46 ocorrências),
nós com 0.08% (81 ocorrências) e você com 0,13% (138 ocorrências) se
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
73
destacaram nos textos da SI, revelando uma desigualdade percentual de
ocorrências em relação aos textos dos LDs, conforme visualizamos na tabela
abaixo:
Tabela 3 - Ocorrências e percentuais dos pronomes EU, NÓS e VOCÊ
SI LDs
PRONOMES
OCORRÊNCIAS PERCENTUAL OCORRÊNCIAS PERCENTUAL
EU 46 0,04 09 0,01
NÓS 81 0,08 06 -
VOCÊ 138 0,13 11 0,01
A partir desse primeiro olhar baseando-nos nesses dados quantitativos
relativos às escolhas pronominais, podemos identificar uma maior proximidade
entre o escritor e o leitor no conjunto de artigos da SI, característica ratificada
através do alto índice de freqüência dos pronomes você e nós e,
conseqüentemente, essas escolhas podem conferir ao leitor diferentes tipos de
papéis projetados ao escritor, assim como ao leitor.
Pennycook (1994: 75) argumenta que os pronomes estão profundamente
envolvidos em nomear pessoas, grupos e o, portanto, sempre políticos,
que eles sempre implicam em relações de poder. Os pronomes não podem
nunca ser separados do processo político de nomear um “self”, “selves” e
outros. Para esse autor, os pronomes são uma área interessante de se
investigar, principalmente no que diz respeito aos modos pelos quais eles
constantemente implicam em pressuposto de comunidade, autoridade, outros e
selves (apud Ramos, 1997).
Eggins e Martin (1997: 237) diz que é necessário reconhecer que as diferenças
entre os textos são também o reflexo de uma dimensão contextual mais
abstrata, que podemos chamar de ideologia. Esse nível de contexto foi incluído
ao modelo para concentrar a atenção na distribuição dos recursos discursivos
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
74
em uma cultura e os modos divergentes nos quais os sujeitos pessoais
interpretam ocasiões sociais. A ideologia refere-se a posições de poder, as
inclinações políticas e as premissas que todos os interactantes sociais trazem
com eles nos textos.
Portanto, segundo Ventola (1995: 28), o texto é visto como um produto de
organizações semióticas de gênero e registro, conforme explicitamos no
capítulo da Fundamentação Teórica, que são realizadas pelo plano da
linguagem, pelos sistemas e as suas estruturas dos estratos de discurso,
léxico-gramaticais e fonológicos. É somente através da análise dessas
realizações e pelo relacionamento destas com os planos semióticos propostos
que entenderemos o que as instâncias de texto realmente significam e como
elas se relacionam entre si e como formam a cultura da sociedade.
Continuando com a discussão dos dados, apresentamos a seguir, o estudo dos
participantes identificados, tanto os interactantes quanto os nomeados, no
discurso da SI e dos LDs por meio de pronomes em 1ª pessoa do singular e do
plural ou referências nominais.
Eggins (2004: 256), ao estudar os complexos oracionais, afirma que “sempre
onde escolha, significado”. Essa afirmação vai ao encontro das escolhas
probabilísticas disponíveis no sistema da língua, realizadas por usuários da
linguagem, e suscetíveis ao registro aos quais pertencem os textos.
Sendo assim, dando continuidade à análise, apresentaremos a seguir
exemplos com diferentes escolhas lingüísticas para nomear o escritor e o leitor
como estratégia discursiva, ora revelando mais ou menos interpessoalidade.
a. O Escritor
Inicialmente, esclarecemos que, nesta pesquisa adotamos o conceito de
escritor-no-texto, ou seja, aquele que corresponde ao sujeito do discurso no
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
75
que diz respeito a ser o gerador das escolhas que dão existência ao texto,
tornando-se responsável e reconhecido por ele (cf. Thompson e Thetela, 1995).
Como vemos na Tabela 2, na SI o escritor é representado, mais
freqüentemente, por formas pronominais em pessoa do plural:
nós/nos/nosso/nossa/conosco demonstradas nos exemplos 5 a 7, seguido por
pronomes em 1ª pessoa do singular: eu/meu/minha/me/comigo e, às vezes, por
referências nominais, tais como: “cientista”, “pesquisador”, “Super”, que ora
indica mais interpessoalidade, envolvendo o leitor, ora apresenta outras formas
de referência indicando mais impessoalidade ou distância do leitor, conforme
demonstraremos nas categorias e subcategorias no decorrer da análise e
discussão dos dados.
Entretanto, é importante esclarecermos que, além de confirmarmos a presença
de outros pronomes em e pessoas do singular e do plural, iniciamos a
nossa discussão a partir da análise da forma pronominal EU, pois, o que nos
despertou a atenção foi observarmos, nesse tipo específico de texto,
reconhecido pela mídia como artigos de divulgação científica, 0,04% que
equivale a 46 ocorrências não-marcadas da forma pronominal em 1ª pessoa do
singular EU nos textos da SI, conforme apresentamos e discutimos no item
3.2.2.
A partir de tal característica, passaremos a discutir os possíveis significados
que podem resultar da interação entre as escolhas léxico-gramaticais, suas
possíveis funções e as influências de forças sociais que acompanham o uso
desta forma referencial identificando os participantes do discurso na realização
da metafunção interpessoal (cf. Halliday, 1994).
Observemos os exemplos no item a seguir, que foram selecionados e divididos
conforme as categorias e subcategorias semânticas, que denotam a
apresentação das referências usadas para identificarem o escritor e,
conseqüentemente, os papéis atribuídos aos participantes.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
76
3.2.2. Os diferentes contextos do pronome EU como formas de
referências ao ESCRITOR:
Feito o levantamento das ocorrências das formas pronominais para nomear o
escritor, notamos que o uso explícito da forma pronominal EU ocorreu 46 vezes
nos textos da SI e foi utilizado por diferentes participantes no discurso.
Enquanto que, nos textos LDs confirmamos a ocorrência do mesmo pronome 9
vezes. Para observarmos melhor estes dados, apresentamos abaixo a tabela 3
contendo a quantidade de ocorrências da forma referencial em pessoa do
singular, nos 49 artigos de divulgação científica da SI e nos 30 textos dos LDs
analisados e ainda, a percentagem em relação ao corpus. Na segunda tabela,
identificamos quem são os participantes e quantas vezes se utilizaram desta
forma pronominal, de maneira explícita durante o discurso.
Tabela 4 - Ocorrências e percentuais do pronome pessoal EU
Pronome Ocorrências Percentual
SI EU 46 0,04
LDs EU 09 0,01
Tabela 5 - Categorização da forma pronominal EU através do uso
PARTICIPANTES USO DO “EU” - SI USO DO “EU” - LD
Jornalista 01 -
Cientista 24 08
Não-especialista 13 01
Outros 08 -
Esclarecemos que, na tabela 5, quando chamamos um dos participantes de
“Outros”, referimo-nos ao uso do pronome pessoal EU em situações que não
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
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esteja sendo usado como forma referencial a um participante, em particular,
mas constituindo uma explicação gramatical como no exemplo 10 ou como
uma forma de nomear e/ou identificar a espécie humana demonstrada nos
exemplos 11 e 12, conforme apresento seguir:
10. “Pronomes, como "eu" e "ela", nascem das tais palavras indicadoras
- em última análise, convenções para distinguir o próximo do distante, o
familiar do estranho, o meu do seu.”
11. "A ética considera relações entre seres, entre um 'eu' e um 'tu'. É
difícil considerar um embrião um 'tu'", diz Fermin.
12. "O doubling é a dissociação do eu, que leva à formação de uma
espécie de segundo eu", diz. Professor de Harvard.
Vejamos o que Giddens fala quanto a esse aspecto do uso de EU,
demonstrado acima, nos exemplos 10 e 11:
No contexto das Ciências Sociais, Giddens (2002: 76) fala da conscientização
do indivíduo acerca do papel social que seu “corpo exerce como parte do
projeto da “modernidade tardia”, que é “a presente fase de desenvolvimento
das instituições modernas, marcada pela radicalização e globalização dos
traços básicos da modernidade”, uma vez que “[a] reflexividade do ‘eu’ se
estende ao corpo, onde o corpo (...) é parte de um sistema de ação em vez de
ser um mero objeto passivo”(itálicos no original). Essas características
discursivas representam uma relação direta com o contexto de situação em
que o conjunto de textos da SI foi (re)textualizado.
Os exemplos que seguem abaixo estão organizados de acordo com as
subcategorias semânticas que ilustram as diferentes formas de se nomear o
escritor na SI.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
78
3.2.2.1 Auto-referenciação do jornalista
Nesta subcategoria, apresentamos o jornalista utilizando-se da forma
pronominal EU (1ª pessoa do singular) para se auto-referenciar. Nesse caso,
identificamos o escritor através das marcas lingüísticas de pessoa do
singular, logo o escritor torna-se, desta forma, o responsável pelas escolhas
lexicais realizadas; a partir dessa escolha é produzida a aproximação do
escrito-leitor, por meio da construção de imagens e do apagamento da
assimetria jornalista (detentor do saber) e leitor (que busca a informação),
como podemos constatar no exemplo 13 a seguir:
13. Ao que parece, a comunicação flui sem linguagem, os sentidos não
atuam do jeito regular e nada se assemelha muito às coisas deste
mundo. Isso não ajuda muito a compreensão daqueles que, como eu e
quase todos os estudiosos do fenômeno (não sei quanto a você), nunca
estiveram do lado de lá”. (216/2005)
No exemplo 13 temos o jornalista no papel de escritor, assumindo a autoria da
fala fazendo uso, como bem diz Ramos (1997: 133) da forma pronominal EU
que designa o escritor como um indivíduo que tem participação pessoal no
discurso. Neste sentido, o self não está personalizado, mas é também
aquele que é responsável por suas próprias palavras. Escritor e autor são a
mesma entidade e a responsabilidade restringe-se a uma única pessoa”.
Desta forma, este pronome sendo usado como auto-referência ao escritor,
corresponde ao sujeito do discurso no que diz respeito a ser o gerador de
escolhas que dão existência ao texto, adotando o papel de falante (cf Hallliday
e Hasan, 1976: 45), conferindo maior visibilidade ao escritor. É importante
salientar, como vimos na Tabela 2, que esta escolha pronominal se configura
como a menos usada nos textos da SI.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
79
Vejamos outro uso do EU nos exemplos 14 e 15, neste caso usado juntamente
com pronome informal de segunda pessoa:
14. Descrevemos objetivamente sensações subjetivas, diz Valquíria
Seixas da Silva, farmacêutica que faz avaliação aromática de produtos
na Unilever. Por que isso é tão difícil para simples mortais como você e
eu? (232/2006)
15. Guy propõe um modelo que - ele mesmo admite - é ultra-
simplificado, para que a essência seja transmitida a leigos como eu e
você. Eu sugiro que apenas 3 grupos são matéria-prima suficiente,
(...)(221/2006)
As ocorrências acima ilustram a estratégia do escritor usando “eu e você” ou
“você e eu”, invés do pronome semanticamente equivalente NÓS, optando por
linguagem informal, ou seja, mais próxima da oralidade, criando momentos no
texto de maior intimidade com o leitor. Além de essa escolha atribuir ao escritor
um papel de identificação com o leitor evidencia que tanto o escritor quanto o
leitor pertencem a um grupo de pessoas que partilham desejos, propósitos e
valores (cf Brown e Levinson, 1987: 103 apud Ramos, 1997: 135).
3.2.2.2 EU = JORNALISTA (raça humana)
Observamos nessa categoria o jornalista da revista optando pelo uso da forma
pronominal em primeira pessoa do singular para reproduzir uma fala que,
hipoteticamente, é usada por qualquer membro do público leitor.
16. “Há exceções - a acupuntura, sem dúvida, é eficaz na cura de alguns
males, não de todos - mas o ideal é não adotar uma postura radical, do
tipo "eu jamais vou a um médico convencional". (196/2004)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
80
Neste caso, temos o escritor utilizando-se do pronome em 1ª pessoa do
singular “eu” de uma forma diferente no contexto, pois ele utiliza-se da forma
pronominal EU para reproduzir uma possível fala do seu leitor como sendo
uma estratégia para persuadi-lo, tentando influenciar as suas reações e
comportamentos como, por exemplo, a de “não adotar uma postura radical”,
como o próprio escritor diz. Isto, na tentativa de sugerir ao seu interactante que
seja na medicina convencional seja na alternativa, devemos ser sempre
ponderados e maleáveis. Desta forma, em conformidade com Martin (1994), o
escritor se compromete com o que foi dito, expressando avaliações sobre os
relatos feitos neste tipo de contexto. Vejamos a seguir um trecho em que Van
Dijk (1998) afirma que artigos não são apenas um fenômeno natural:
"Parto do pressuposto que tantos os artigos como as notícias não são apenas
um fenômeno natural que emerge fatos da vida real, mas são sócio e
culturalmente determinados, pois são produzidos por pessoas que fazem parte
de uma rede de relações sociais, revelando tanto a ideologia como crenças,
valores e preconceitos do grupo social a que pertencem. Van Dijk (1998) e sua
teoria de modelos mentais (representações mentais de eventos) têm mostrado
como o conhecimento específico utilizado para o processamento do discurso
pode estar relacionado ao conhecimento geral, que irá fazer a ligação entre
conhecimento e discurso".
Dessa forma, a partir dessa escolha pronominal, o escritor lhe confere um
papel de poder, pois acredita na persuasão do seu interactante. Assim, para
Bernstein as relações de poder regulamentam o grau de isolamento, pois são
estabelecidos os limites, porque o poder estabelece a “voz”, na medida em que
delimita o que é legítimo e, portanto, na relação escritor-leitor se estabelece as
regras pelas quais a “voz” pode ser reconhecida. A distinção entre o que pode
ser reconhecido como pertencente a uma voz e uma mensagem especial é
formulada em termos de distinção entre as relações de poder e as relações de
controle (cf. Bernstein, 1990).
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
81
3.2.2.3. EU = CIENTISTA
Nesse momento, verificamos o especialista durante seu discurso, através de
citações, fazendo uso do pronome pessoal em pessoa do singular,
exercendo, conseqüentemente, o papel de escritor e responsável pelo que está
sendo dito, como demonstramos nos exemplos 17 e 18:
17. "Eu não queria ter de usar os dados nazistas. Mas não existem outra
opções para a minha pesquisa. Nem nunca existirão num mundo ético",
diz o médico John Hayward, da Universidade de Victoria, no Canadá”.
(225/2006)
18. ... afirma Fermin Roland Schramm, presidente da Sociedade de
Bioética do Estado do Rio de Janeiro (Sbrio). "(...) Um embrião num tubo
de ensaio é apenas uma possibilidade de vida, assim como eu sou um
morto em potencial, mas ainda não estou morto". (219/2005)
Nestes exemplos, o cientista é citado diretamente, tornando-se mais uma voz
no discurso da SI, utilizando-se do discurso direto, que uma das funções deste
tipo de projeção é atribuir a responsabilidade do que foi dito pelo falante e,
ainda, identificando a fonte do evento comunicativo, ou seja, são citações que
na relação interacional, chamamos de papel desempenhado (cf Thompson,
1995: 107). Como se nos exemplos 17 e 18, nos artigos de divulgação
científica da SI, pode-se dizer que o jornalista traz as vozes de cientistas para
aumentar a credibilidade que passam ao público leitor. Portanto, isso justifica
acrescentarem dados adicionais como suas atividades profissionais,
nacionalidade, a instituição a que estão filiados, etc. Logo, na linguagem
científica são fundamentais citações e informações adicionais sobre os
profissionais, pois funcionam como “credenciais”, indicadores de credibilidade.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
82
No ato da comunicação, o falante adota para si em papel de fala em particular
e atribui ao seu leitor um papel complementar que ele deseja que seu leitor
adote. Dessa forma, um “ato de fala” pode ser chamado de “interação”, isto é,
de uma troca (Halliday, 1994).
O uso do EU referencial apresentando citações aponta-nos um texto mais
formal, pois o escritor utiliza-se da fala dos especialistas nos assuntos
abordados, assim, traz a fala de autoridades, ou seja, falas menos próximas da
linguagem do leitor. Outra característica que percebemos quando o escritor faz
a escolha de trazer outras vozes para compor o texto é que, através desse
recurso, ele se isenta de qualquer responsabilidade do que está sendo dito,
atribuindo-lhe um papel neutro em termos de interpretação.
Vejamos agora, outra subcategoria na qual apresentamos discurso de pessoas
comuns, ou seja, sem qualquer especialidade científica.
3.2.2.4 EU = NÃO-ESPECIALISTA
A forma referencial EU é utilizada nesta subcategoria por pessoas não-
especialistas, que não possuem nenhuma especialidade científica, ou seja, um
pesquisador da área, todavia o jornalista adiciona o depoimentos dessas
pessoas, para dar crédito ao assunto abordado. Vejamos os exemplos 19 e 20
a seguir:
19. Quando cheguei, era um lugar diferente de tudo o que tinha visto.
Era o céu, de alguma forma eu sabia. Havia alguém me acompanhando,
mas eu não sabia quem era. Estava acima de outras pessoas, como em
uma nuvem, quando de repente vi meu pai, falecido. Fiquei feliz e
disse para ele: 'pai, traz uma escada que eu vou descer' , mas ele disse:
'não, filha, você não pode!'. E foi então que eu acordei. Inês de Chagas
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
83
Lima é agente de saúde em Pindamonhangaba, SP (cisto no ovário)”.
(216/2005)
20. "A última coisa que ouvi foi o médico dizer: 'fibrilou'. Eu estava
morrendo e me ressuscitaram. Como se fosse um sonho, entrei em um
túnel escuro. Era uma sensação de prazer, de paz e de bem-estar que
não tem explicação. José Carlos Ramos de Oliveira é médico
cardiologista em São Paulo e sofreu uma parada cardíaca em
1989.(216/2005)
Conforme mostram os exemplos 19 e 20, o uso dessa forma pronominal na
espécie de relato de pessoas “comuns”, não especialistas em divulgação
científica, identificadas pelos seus ortônimos, nome próprio, seguido da
profissão, localidade, ano e a patologia que levou estas pessoas a passarem
pela experiência relatada na SI, passa a ser um tipo de estratégia interacional
usada pelo jornalista, que serve para acrescentar credibilidade ao artigo. A
introdução de um outro tipo de voz no texto, com a qual o público leitor se
identifica, porque são pessoas, “ditas comuns”, apresentando um texto mais
informal com falas mais próximas da linguagem do cotidiano do leitor (Eggins,
1994). Motivando, assim, um espírito de solidariedade e igualdade, diminuindo,
dessa forma, a assimetria entre leitor-escritor (cf. Thompson e Thetela, 1995).
Nos exemplos que apresentamos acima, temos a forma pronominal Eu sendo
utilizada por diferentes vozes, ora representadas em discurso direto ora em
discurso indireto, marcando, conseqüentemente, atuações variadas do escritor
nos artigos de divulgação científica da SI. Cabe ressaltar, que quando se diz
“em inglês, o uso de I é determinado pelo fato de que o falante pressupõe que
tenha este papel em relação ao destinatário.” (Lyons, 1997: 574).
Para Halliday (1985: 193) toda a representação da fala pode ser classificada
em dois tipos de relação inter-oracionais chamada de ‘projeção’: (1) discurso
direto, onde há uma construção de palavras; (2) discurso indireto, onde há uma
construção de significado.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
84
Sendo assim, o uso do pronome pessoal em 1ª pessoa do singular “EU”
pressupõe quem está falando, o responsável pelas escolhas lexicais e, ainda,
que este pode ser tanto o escritor, como outros participantes do discurso,
conforme verificamos a seguir:
3.3. O uso da forma referencial EU nos LDs:
3.3.1. EU = PESSOA POLÍTICA
Nos textos selecionados nos quatro livros, conforme descritos no Capítulo 2
Metodologia de Pesquisa, este é o único exemplo que encontramos com essa
aplicação do pronome EU, no qual percebemos que foi usado em uma citação
feita por uma senadora, ou seja, um exemplo explicito de intertextualidade.
21. Leia agora um texto publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo (17
abr. 2000) da então senadora Marina Silva (AC), que assumiu o
Ministério do Meio Ambiente em janeiro de 2003. “(...) A idéia básica
está centrada na dura realidade de que ‘o que é de todos eu não
percebo como meu para cuidar, apenas para usar'”. (B3)
Neste caso, verificamos o uso da forma referencial em pessoa do singular,
sendo utilizada pela senadora durante uma citação como se esta fosse um
comportamento geral de uma determinada sociedade. Logo, o uso do pronome
EU, neste exemplo, não tem a idéia de individualizar e identificar um indivíduo,
mas, pelo contrário, uma maneira de se referir ao coletivo. A reprodução do
discurso direto da senadora, parte integrante de uma reportagem de um jornal,
identificamos mais uma voz no texto do livro didático, confirmando a prática da
intertextualidade no discurso (Martin, 1994).
Este foi o único exemplo encontrado nos quatro livros analisados nessa
pesquisa, porém, achamos relevante incluí-lo na análise dos dados para
observarmos que, mesmo tratando-se de apenas um exemplo identificado nos
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
85
textos dos LDs, o uso do pronome pessoal em pessoa do singular não foi
feito pelos autores dos LDs, mas utilizado na citação do discurso de um
político, verificamos, então, uma possível ausência da interação entre o escritor
e leitor, pois como podemos perceber a expressão "Ieitores" está se referindo à
raça humana.
Partindo desse exemplo encontrado nos LDs, de acordo com Delu (1991), nas
relações de distância social está o aspecto das relações sociais que nos
remete à noção de familiaridade entre os interactantes, pois quanto menos eles
se conhecem, menos haverá proximidade e maior será a distância social entre
os participantes. Eggins (1994) fala do ponto de vista do grau do envolvimento
afetivo, a relação de distância social refere-se à extensão ou intensidade (alta
ou baixa), em que estamos emocionalmente envolvidos ou comprometidos na
situação.
Baseando-nos nas diferenças observadas até aqui quanto ao uso e escolhas
das formas pronominais, podemos reconhecer uma característica típica no
registro utilizado nos artigos da SI e nos textos dos LDs. A análise e discussão
dos dados nos apresentam perfis de escolhas lingüísticas e uso de linguagens
diferentes nesses dois meios de comunicação, que podem estar relacionados
às características discursivas compreendidas pelo gênero (contexto de cultura).
Segundo Martin (1997: 7) o gênero está além e acima das metafunções (em
um nível maior de abstração) e explica as relações entre os processos sociais
em termos mais holísticos, com um foco especial nos estágios pelos quais os
textos são desenvolvidos. O conceito de gênero, diz Eggins (1994: 9) é usado
para descrever o impacto do contexto de cultura na linguagem, explorando
estruturas formadas por estágios que são institucionalizadas como maneiras de
se alcançar objetivos. A autora exemplifica dizendo que podemos alcançar os
nossos objetivos por meio de uma troca lingüística rápida e de poucos
estágios, como quando perguntamos a alguém que horas são e recebemos a
resposta.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
86
Eggins e Martin dizem também (1997: 236) que podemos reconhecer um
padrão típico de um determinado gênero pelo modo como co-ocorrem os
significados do texto, isto é, pela configuração dos significados do texto, e pela
seqüência de estágios ou passos funcionalmente distintos nos quais os textos
se desenrolam. A teoria de gêneros sugere, assim, que “os textos que
executam tarefas diferentes em uma cultura irão se desenrolar de maneiras
diferentes, por estágios ou passos diferentes”. Sobre esses estágios, Ventola
(1995: 3) diz que as funções sociais das interações não são produtos prontos,
mas sim negociadas e geradas dinamicamente a cada estágio. Dessa forma,
cada estágio, ou elemento da interação é funcional e contribui para a obtenção
das metas e propósitos dos interactantes.
Resumindo, quanto ao uso do pronome referencial EU nos artigos de
divulgação científica da SI e nos textos dos LDs, podemos fazer a seguinte
inferência em relação aos participantes identificados e nomeados:
3.4. As diferentes formas de interação
Em Gramática Sistêmica Funcional temos que "uma teoria científica (...) é um
subsistema semiótico delicado e parcialmente configurado que reconstrói
Figura 9 – Representação da identificação e nomeação dos participantes na SI e nos LDs
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
87
certos aspectos ou componentes da experiência humana de forma diferente no
processo de sua abertura a observação, investigação e explicação" (Halliday,
1998: 194). A noção de sistema semiótica proporciona um meio poderoso de
interpretar a língua como escolha. Se a língua é um processo de fazer
significados por escolha, ao fazer uma escolha no sistema lingüístico, o que
alguém diz ou escreve é interpretado contra aquilo que poderia ter sido
escolhido naquele contexto, mas não foi.
Numa abordagem sistêmico-funcional, estamos descrevendo o uso da língua
sob duas dimensões:
a) quais são as possíveis escolhas (quais são os possíveis significados);
b) qual é a função da escolha feita (por que fizemos tal escolha) e como
a língua é usada em diferentes contextos sociais para atingir metas
verificaremos sociais diversas. Estaremos falando de escolhas, não
como "certas" ou "erradas", mas como "adequadas" ou "inadequadas".
Logo, a seleção de padrões lingüísticos feita por um falante ou por um escritor
que tem o potencial de realizar um número infinito de contextos sociais.
Num contexto escolar, o nível interacional surge como a regulação da
transmissão/aquisição e a relação entre o professor e o que ensinou: ou seja, o
nível interacional vem se referir ao contexto pedagógico e as relações sociais
de sala de aula ou à sua equivalente. Então, o nível interacional o princípio
da aprendizagem através do contexto que a divisão social do trabalho (cf.
Bernstein, 1996). Ele define as modalidades de prática pedagógica em termos
de princípios de distinção entre contextos (reconhecimentos de regras) e para a
criação e produção de comunicação especializados dentro de contextos
(realização de regras). Bernstein (1993) argumenta que trabalhos que têm
seguido na seqüência de Vygotsky “não incluem na sua descrição como o
discurso em si é constituído e recontextualizado”.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
88
3.4.1. Uso de proposições na SI e dos LDs
Na esfera interpessoal, a realidade é representada por orações num
intercâmbio de informação entre um falante ou escritor e sua audiência. O
principal sistema gramatical envolvido nessa metafunção é o sistema do modo.
Nele os participantes no discurso adotam papéis comunicativos na interação,
oferecendo ou requisitando informação, basicamente através de orações
declarativas ou interrogativas. Através da metafunção interpessoal, realizam-se
diferentes níveis de certeza sobre a informação oferecida e uma certa atitude
sobre o que se comunica. Destaca-se, nessa metafunção, a esfera interativa da
linguagem. Quando a função semântica da oração é usada como permuta de
informação, temos uma proposição, mas para nos referirmos a oferecimentos e
ordens, ou seja, a oração possui a função semântica como permuta de bens &
serviços trata-se de uma proposta (cf. Hallliday, 1994).
Portanto, um 'ato' de fala e algo que poderia ser mais apropriadamente
chamado de uma 'interação': é uma permuta, na qual dar implica receber e
pedir implica em respostas. As línguas desenvolveram recursos gramaticais
para afirmações e perguntas, que não só constituem finalidades em si mesmas.
Desta forma, ao interpretarmos a estrutura de afirmações e perguntas,
podemos chegar a uma compreensão da oração na sua função de permuta (cf.
Halliday, 1994).
Vejamos a seguir, alguns exemplos de modalização no quais o escritor utiliza-
se de uma pergunta retórica como recurso para introduzir um assunto,
aparentemente, é o que nos parece ser como um pensamento dito em voz alta
feita pelo escritor, como se ele estivesse reproduzindo uma dúvida geral dos
leitores da revista. Assim, o escritor atribui a si o papel de questionador e ao
mesmo tempo de fornecedor de informações. Através do uso de proposições
que indicam 'probabilidade' ou 'freqüência' identificadas nos textos da SI como
papéis de atuação (cf Tompson & Thetela, 1995). Tais características podem
ser observadas nos exemplos 22 e 23 que seguem:
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
89
22. Mas que diabos é essa tal de supercoca? Bem, e um novo de
tipo de arbusto de coca - matéria-prima da cocaína - que chega a ter
mais de 3 metros de altura (o normal tem 1,5 metro), cresce em quatro
meses em vez dos habituais oito e tem folhas de coloração verde-clara
(em geral, é verde-escura) que nascem em maior quantidade e,
aparentemente, contêm uma alta concentração de alcalóide, o princípio
ativo da droga: 98% contra 25% das folhas comuns. (207/2004)
23. Como funciona a acupuntura? Meridianos energéticos,
balanceamento do yin e yang, reforço do chi... Fala sério: do ponto de
vista da medicina e da biologia, as explicações tradicionais sobre a
acupuntura o têm sentido nenhum. Mesmo assim, essa prática cujo
registro mais antigo vem do ano 90 a.C., difundiu-se a partir da China
para o Ocidente. (196/2004)
Agora, mostraremos exemplos do modo oracional interrogativo utilizado nos
textos dos LDs:
24. Pasteur foi contemplado com o prêmio da Academia de Ciências. A
partir de então, os críticos da biogênese calaram-se. Nova interrogação
passou a ocupar as mentes dos investigadores: como surgiram os
primeiros organismos vivos? duas hipóteses: Hipótese autotrófica
e Hipótese heterotrófica. (B3)
25. Em resumo, que semelhanças e diferenças existem entre a
respiração celular e a fermentação? A semelhança básica esta no fato
de que ambas permitem que a célula obtenha energia, sempre a partir
de combustíveis como a glicose. (B3)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
90
26. A água potável esta acabando?
As necessidades de água doce por parte das pessoas estão
aumentando constantemente. O crescimento da população humana, por
si só, explica esse fato. Ao mesmo tempo, a água doce esta se tornando
menos disponível. Não por causa de seu consumo maior, mas
também pela contaminação crescente de rios, lagos e lagoas.(B1)
Como percebemos nos exemplos 22 e 23 da SI e 24, 25 e 26 dos LDs, o uso
de perguntas é um tipo de estratégia muito utilizada pela SI e pelos LDs como
uma forma de introduzir um tema, realizar definições e/ou explicar as
estratégias de funcionamento sem a intenção de obter uma resposta do
interlocutor, logo não há a preocupação do escritor em estabelecer uma
relação dialógica com o leitor, conseqüentemente, as proposições
constituem finalidades em si mesmas, mas também servem para uma grande
variedade de funções retóricas.
Agora, verificaremos alguns exemplos de proposições encontrados nos artigos
da SI que apresentam um comportamento diferente do escritor em relação ao
leitor:
27. Você pode dizer: “Átomos? Quem Iiga para os rodopios dos
átomos?” Acontece que somos todos feitos de átomos. E o que eles
fazem ou deixam de fazer pode ter conseqüências dramáticas na nossa
vida. Com todo respeito, caro leitor, que tal se cada átomo do seu corpo
for entrelaçado a um átomo livre? Isso significa que uma porção de
átomos Iivres vai passar a se comportar exatamente como os seus
átomos. (197/2004)
28. Você fala direito? Aposto que sim. Mas aposto também que, no
calor de uma conversa animada, você já se flagrou engolindo o "r" de um
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
91
verbo no modo infinitivo. A letra "s”, quando indica plural, costuma ser
devorada nas rodas mais finas de bate-papo - especialmente em o
Paulo.
29. O bom pescador devolve os peixes menores ao rio, certo? Se
apenas os peixes grandes forem pescados, no entanto, a tarefa de
reprodução caberá aos peixes pequenos. (natureza)
No entanto, nos exemplos 27, 28 e 29 o escritor se dirige diretamente ao leitor,
propiciando uma situação de interação entre leitor-escritor de maior
proximidade, propondo uma relação dialógica com o interlocutor.
Uma das funções da linguagem é como um meio de construir a interação, a
oração é organizada como um evento interativo envolvendo um orador/escritor
e um ouvinte/leitor participa de uma relação social e discursiva e, assim, pelo
discurso assumindo papéis, ou seja, quando fazemos uma pergunta agimos
como solicitador de informações, bem como o destinatário pode (ou não pode)
assumir o papel de fornecedor de informações a serem procuradas (cf.
Halliday,1994).
O escritor, tanto da SI como dos LDs, demonstra como a variável de registro
reações define, em termos de registro, os recursos léxico-gramaticais, através
da metafunção interpessoal que serão utilizados na interação e na construção
das relações interpessoais. Sendo assim, ao desempenharmos papéis de fala
com o objetivo de trocarmos informações e/ou bens e serviços, bem como
expressarmos nossas atitudes em relação àquilo que enunciamos. As relações
entre os interactantes os levam a optar por diferentes escolhas lingüísticas,
definidas de acordo com o grau de envolvimento, proximidade social e afeto
entre eles.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
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3.4.2 O uso de propostas nos textos da SI e dos LDs
Apresentamos a seguir os exemplos de modulação, o uso de imperativos como
papeis de atuação, que implica em 'obrigação' ou ‘inclinação', nos textos da SI:
30. Saiba mais sobre a gravidade, a chave para entender a existência
do Universo. (197/2004)
31. Conheça os casos mais estranhos da psiquiatria. (207/2004)
32. Pense em um nariz famoso: você provavelmente se lembrara de
gente nasalmente avantajada como o ator francês Gerard
Depardieu ou de aberrações ao estilo de Michael Jackson.
(200/2004)
Notamos que na SI o uso do imperativo é freqüentemente usado no subtítulo
do artigo, conforme os exemplos 30 e 31 e, ainda, percebemos que nestes
exemplos citados, temos o uso do adjunto modal de intensidade mais,
passando a idéia que o escritor conheça o seu público leitor, tendo uma relação
de afetividade ao ponto de pressupor que seus leitores tenham algum
conhecimento do assunto tratado, por isso o uso do adjunto mais.
Enquanto que, no exemplo 32 a proposta proporciona a idéia de uma conversa,
um bate-papo, como se o leitor estivesse face a face com o escritor, porque o
escritor utiliza-se de recursos lingüísticos próximos do código oral. Esta escolha
lexical num relato de fala escrito baseia-se na interação oral, portanto, sinaliza
a busca de diálogo com o público-leitor em função dos temas tratados pela SI.
Diante disso, podemos até inferir que, a transmissão de conhecimento é
modulada pela captação e sedução do público-leitor, que regula todo o
processo: a escolha dos temas, seu enfoque e a postura do jornalista.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
93
Sobre a expansão do poder referencial da língua e da elaboração de formas
criativas de explorar seu potencial lógico-semântico, Halliday explica:
Sob uma perspectiva gramatical, estes dois processos
discursivos, que partem da linguagem cotidiana em direção a
uma linguagem elaborada de conhecimento sistemático e
teoricamente modulado, dependem ambos, sobretudo, do
mesmo recurso: a transformação metafórica de uma forma
oracional em uma forma nominal de construção. (HALLIDAY,
1998: 195)
Agora, vejamos alguns exemplos retirados dos LDs para analisarmos
comparativamente:
33. Veja a tabela abaixo, que se refere ao ser humano. (B3)
34. Veja a figura da pagina seguinte, que 1ustra bem o que dissemos
acima. (B3)
35. Veja o esquema a seguir. (B3)
36. Observe, no esquema abaixo, um resumo que relaciona as
etapas da respiração com as regiões em que acontecem, tanto no
hialoplasma com na mitocôndria. (B3)
Contudo, nos exemplos dos LDs 33, 34, 35 e 36 percebemos que o uso dos
imperativos tem a função de indicar procedimentos que devem ser seguidos
pelos alunos. As práticas educativas sugeridos pelos PCNs sugerem a adoção
de uma teoria lingüística que possa abarcar tanto o texto quanto o contexto e,
de acordo com a teoria da LSF, cada enunciado elaborado por falantes e
escritores recorre a recursos léxico-gramaticais que se desenvolvera para:
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
94
representar a realidade interna e externa (campo),
interagir e construir relações interpessoais (relações) e
organizar coerentemente a informação (modo).
3.5. As diferentes vozes no discurso da SI e dos LDs
“Tenho a impressão de há uma continuidade que vai desde
a experiência de viver a vida, de um lado, até o morfema de outro" (Ruqaya Hasan)
Investigando as maneiras que os acontecimentos são relatados no discurso da
SI e dos LDs, identificamos “vozes assinaladas no texto” que tradicionalmente,
são identificadas através dos discursos direto e indireto, que do ponto de vista
puramente gramatical, relacionamos como citação e oração reportada,
respectivamente (Thompson, 1994: 502).
A inspiração básica de tudo isso vem da estilística: de Bakhtin (1981) com o
conceito de “heteroglossia”. Para ele a idéia da língua como unitária e
homogênea é errada (conforme o conceito de Saussure), cada grupo sócio-
ideológico na sociedade tem sua própria linguagem (Backtin, 1981: 272). Na
interpretação da abordagem de Bakhtin, Kristeva desenvolveu o conceito de
intertextualidade (Moi, 1986; Fairclough, 1992) - a idéia que nenhum
pronunciamento é novo, mas que todo pronunciamento responde a, constrói-se
em, e recontextualiza pronunciamentos anteriores. Fairclough (1992) aponta
que isso pode ocorrer de duas formas: como manifesto ou como constitutivo da
intertextualidade:
In manifest intertextuality, others texts are explicitly present in the text under
analysis; they are ‘manifestly’ marked or cued by features on the surface of the
text, such as quotation marks... The constitutive intertextuality of a text,
however, is the configuration of discourse conventions that go into is
production. (Fairclough 1992: 104)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
95
Para as análises que faremos a seguir, o foco se a manifestação da
intertextualidade, ou seja, a definição de relatos de linguagem presentes nos
dados através de “vozes assinaladas nos textos”: incluiremos qualquer sinal de
linguagem onde o falante ou escritor assinala as outras vozes que entram no
texto. Isto segue na tentativa de se aplicar um critério funcional de identificação
de relatos de linguagem em diferentes contextos, pois objetivamos identificar
características lexicais que marcam esses relatos. Contudo, Martin (1992: 16)
discute isso como “permear a gramática” outros exemplos são modalidade e
causa.
Fairclough (1992, 1995), salienta a historicidade e a heterogeneidade dos
textos enfocando os recursos intertextuais apoiados em textos anteriores e
convenções de gênero e de discurso. O modelo também se refere às práticas
que envolvem a produção e a compreensão dos textos. Para Fairclough (1992:
84),
“a interpretação de textos é afetada por influências intertextuais no
sentido de que os intérpretes (leitores) trazem textos adicionais para o
processo de interpretação, além daqueles que influenciaram na sua
produção.”
Baseando-nos no que foi discutido acima, vejamos a seguir alguns exemplos
retirados da SI:
37. Em breve deve chegar ao mercado a chamada "cebola doce".
Pesquisadores da Embrapa, (...) desenvolveram um tipo de cebola com
menor acidez (...). "Usamos um método de melhoramento genético
chamado 'seleção recorrente'. Conseguimos uma nova geração de
cebola com bulbos com baixo teor de acido pirúvico", revela Carlos
Antonio Fernandes Santos, engenheiro agrônomo da Embrapa.
(201/2004)]
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
96
38. É claro que as pressões sociais também têm seu papel nas
transformações da língua. "Nós seguimos o padrão de fala do grupo
com que nos identificamos”, afirma Ana Müller, coordenadora de pós-
graduação em lingüística na USP. (225/2006)
39. “Uns tomam éter, outros cocaína. Eu já tomei tristeza, hoje tomo
alegria” , revela Manuel Bandeira. (212/2004)
40. “Há dois anos, eu mal conseguia falar devido a um enfisema no
pulmão”, diz a empresária Márcia Vasconcelos. (206/2004)
Observando os exemplos 37 a 40, constatamos, em negrito, o uso de citações,
realizadas através do discurso direto constituído por orações justapostas,
independentes, separadas por aspas e acompanhadas por verbos chamados
de 'dicendi' ou de elocução (Thompson, 1994: 521, cuja principal função é
indicar o interlocutor que está com a palavra; demonstrando, assim, que o
escritor está reproduzindo a fala de outro projetando-se nos termos de Halliday
(1994: 266), com a inserção de outras vozes de diferentes falantes, o escritor
isenta-se de qualquer responsabilidade sobre o que está sendo dito. Sendo
assim, o escritor atribui a responsabilidade da fala ao participante,
identificando-o como um especialista no assunto retratado no texto, conforme
nos exemplos 37 e 38, enfatizando informações que funcionam como
credenciais ao falante que, de certa forma, conferem autoridade, poder,
posição social ao falante: nome completo, formação acadêmica, função e o
nome da instituição a qual representa.
Nos exemplos 39 e 40, também constatamos o mesmo tipo de realização coma
diferença com que o citado não é especialista, mas pode ser reconhecido pelo
grande público como no caso do poeta e, ainda, que haja uma identificação do
leitor com o relato de uma pessoa comum, da sociedade, como a empresária,
que tenha vivenciado por uma situação parecida; trazendo, assim, o leitor para
o contexto situacional do discurso, aproximando-o da realidade do que está
lendo.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
97
Meurer (2004: 81) defende que contextos locais e globais compartilham
características que podem ser denominadas "intercontextuais". A
intercontextualidade é um termo proposto em analogia à interdiscursividade e
intertextualidade, pois indica a presença ou a inserção de aspectos de um ou
mais contextos em outro contexto.
41. A resposta mais fácil é o efeito placebo. A história ficou mais
complicada desde que um grupo de cientistas céticos, entre eles a
farmacologista irlandesa Madeleine Ennis, afirmou ter detectado
efeitos da homeopatia em glóbulos brancos, em laboratório, em
2001. (...) Madeleine afirmou que sua pesquisa não comprovava o
funcionamento da homeopatia apenas constatava um fenômeno
inexplicado. (196/2004)
42. O evolucionista Stephen Jay Gould abordou o assunto no livro
“Viva o Brontossauro”, de 1987. Ele afirmou que o clitóris e o
orgasmo feminino são acidentes da evolução com a mesma
importância para a sobrevivência da espécie que os mamilos
masculinos: nenhuma. (210/2005)
Em 41 e 42, orações reportadas, realizadas através do uso de discurso
indireto e, assim, podemos verificar que o escritor identifica diferentes
estratégias desenvolvidas para o debate proposto pela negociação dos
discursos da ciência. Indivíduos e instituições têm suas vozes textualizadas
através do recurso como citações e orações reportadas (cf. Thompson, 1994).
Dessa forma, as diferentes vozes chamadas a participar dos processos
discursivos, através dos quais o conhecimento científico é produzido e
socializado, pertencentes a membros da comunidade acadêmica ou jornalística
e do grande público, engendram múltiplas representações uns dos outros, de si
mesmos, da ciência e da realidade social. Em outras palavras, o conhecimento
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
98
científico produzido no âmbito da comunidade acadêmica necessita de gêneros
como o artigo de divulgação científica para circular na sociedade.
Observemos, agora, o comportamento de diferentes vozes em alguns
exemplos retirados dos LDs:
43. "Já indicamos que, na medida do possível, a cidade deve
estar em comunicação, ao mesmo tempo, com o interior do país, o
mar e a totalidade de seu território. A cidade deve oferecer a seus
cidadãos uma saída fácil. Antes de tudo ela deve ter águas e fontes
naturais em abundância. Eis por que, nos Estados sabiamente
governados, se todas as Fontes não sac igualmente puras e se ha
carência de Fontes de boa qualidade, as águas que servem para a
alimentação devem ser separadas das que se destinam a outras
coisas".
Aristóteles, filósofo grego (384 - 322 a.C.). (B4)
44. Leia agora um texto publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo
(17 abr. 2000) da então senadora Marina Silva (AC), que assumiu o
Ministério do Meio Ambiente em janeiro de 2003. "O imaginário social
tem alguns produtos da natureza como de livre acesso e de uso
comum. É o caso especifico da água, do ar e das florestas. A
relação estabelecida entre o ser humano e estes bens públicos é de
usufruto máximo e cuidado mínimo. (...) Então, para uma população
mundial de 8 bilhões de pessoas (estimativa para o ano de 2025), o
que se pode esperar são graves conflitos mundiais pela água do
planeta!" (B2)
Contudo, nos exemplos 43 e 44 dos LDs consideramos citações, também, pois
apesar de não termos verbos de elocução, notamos o uso de aspas e
claramente, identificamos o autor do trecho reproduzido pelo escritor.
Esclarecemos ainda que, em relação aos LDs as citações não aparecem
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
99
durante o discurso do escritor, mas como um tipo de leitura complementar
sobre o assunto que está sendo tratado num determinado capítulo.
A representação do discurso é uma forma de intertextualidade na qual partes
de outros textos são incorporadas a um texto é explicitamente marcado como
tal, com recursos, como aspas e orações relatadas (por exemplo, "ela disse" ou
"Maria afirmou") (cf. Fairclough, 1992).
Como verificamos, o escritor utiliza-se de oração citada (discurso direto),
ecoada, parafraseada, reportada (discurso indireto). De fato, citações parecem
ter duas funções. A é indicar o alto grau de confiabilidade a linguagem
original do que outras opções. Na suposição normal seria que o homem (o
indivíduo) de fato falou as palavras citadas. A 2ª principal é apresentar o evento
reportado mais vividamente ao ouvinte simulando o evento original. Essas 2
funções podem coincidir, pelo menos em grande extensão dependendo do
discurso (cf. Tamme, 1986, apud Thompson, 1996).
45. Jean Baptiste van Helmont, biólogo, que realizou importantes
pesquisas de biologia vegetal, ensinava a produzir camundongos com
uma camisa suja guardada com grãos de trigo em um local tranqüilo,
para que pudesse sofrer a ação do principio ativo (que, segundo ele,
estaria no suor humano). (B1)
46. Para Lamarck, o ambiente é, quase sempre, o responsável direto
pela mudança evolutiva: ele afirmava que, em certo ambiente, o
indivíduo adquiria determinadas características adaptativas que seriam,
então, transmitidas à descendência. (B3)
47. Dois grandes biólogos do passado, o francês Jean-Baptiste
Lamarck; no começo do século XIX, e o inglês Charles Darwin, na
segunda metade do mesmo culo, propuseram explicações
diferentes para o mecanismo da adaptação. (B3)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
100
Atentando para os exemplos 45, 46 e 47 dos LDs, temos o discurso indireto,
conhecidas como orações reportadas e, ainda, identificamos o uso do recurso
anafórico nos exemplos 45 e 46. Conforme acima explicitados, os exemplos
extraídos da SI e dos LDs representam a realidade, estabelecem relações
sociais entre os interactantes, no nível do discurso, e estruturam a realidade e
as relações sociais em mensagens que refletem e materializam o sistema
lingüístico. Esta inter-relação delimita uma gramática, ou seja, uma forma
particular de estruturar dentre as outras, a metafunção interpessoal e a
experiência humana.
As investigações acima descritas demonstram como o espaço discursivo da
ciência é atravessado pelas vozes de diferentes atores sociais, leigos,
cientistas e jornalistas, cujas identidades discursivas vão sendo tecidas à
medida mesmo que tecem os fios, por um lado, da produção do conhecimento
científico e, por outro lado, da divulgação científica. O espaço discursivo
instaurado pela ciência, longe de constituir o espaço predileto da verdade,
imune à interferência humana, é, tanto quanto o espaço discursivo político ou o
econômico, um espaço de conflito de interesses, negociação de identidades e
construção de “mundos possíveis”.
Segundo autores como Fuller (1998), Calsamiglia (2001 e 2003), Myers, (2003)
a divulgação científica que articula significados constituídos no âmbito de uma
cadeia intertextual mais ampla, dos discursos da ciência, de forma funcional,
em relação ao objetivo de ampliação dos limites de convivência social com o
conhecimento científico, para além dos círculos institucionais acadêmicos. Ao
ampliar estes limites de convivência, a divulgação científica configura-se como
um espaço de interação em que são negociadas, de forma recíproca,
identidades tais como a do cientista, a do leigo e a do próprio conhecimento
científico. Este espaço está regulado, prioritariamente, por padrões de
interação característicos do discurso midiático.
Na GSF, o processo através do qual um Escritor sinaliza a presença de
diferentes vozes em seu texto constitui uma meta-representação lingüística e
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
101
denomina-se “projeção”. Uma “projeção” estabelece “uma relação lógico
semântica na qual uma oração passa a funcionar não como uma representação
direta da experiência (não lingüística), mas como uma representação de uma
representação (lingüística)” (Halliday & Matthiessen, 2004: 441). Projeções são,
portanto, um instrumento teórico estratégico para a presente investigação.
Através delas é possível observar como diferentes vozes (representações
lingüísticas) o representadas, também verbalmente, em outro contexto
discursivo (a representação lingüística de uma representação também
lingüística). É necessário retroceder um pouco para que seja possível entender
que relação gramatical se estabelece entre uma oração projetada e sua oração
projetante na perspectiva da GSF.
3.5.1. Relação Dialógica
Na intenção de exemplificar a relação dialógica, característica tão identificada
nos textos de divulgação cientifica da SI, destacamos alguns trechos a seguir:
48. Você eslendo a Super e, de repente, sente uma dorzinha - na
cabeça, no estômago, em um dente, no joelho... Como ela insiste em
Ihe dizer “estou aqui”: você então: a) uma batida no local em
questão para ver se passa; b) finge que não é nada; c) tem vontade de
arrancar a pele para curar o mal pela raiz; d) come qualquer coisa, de
preferência bem amarga, para aliviar os sintomas; e) toma logo um
analgésico; f) faz um chá e o toma tranqüilamente, repassando tudo de
bom que leu na revista. É óbvio que não existe uma resposta certa
para a pergunta acima, mas é provável que você tenha optado pela
letra "e" sem pensar duas vezes, não? (221/2005)
49. Você fala direito? Aposto que sim. Mas aposto também que, no
calor de uma conversa animada, você já se flagrou engolindo o "r" de
um verbo no modo infinitivo. A letra "s”, quando indica plural, costuma
ser devorada nas rodas mais finas de bate-papo - especialmente em
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
102
São Paulo. os mineiros (até os doutores!) traçam sem piedade o "d"
que compõe o gerúndio. (...) Portanto, poucos se espantam ao ouvir uma
frase assim: - Num consegui durmi purquê os cara tão tocano muito
alto. Isso é errado? Depende. Se os seus olhos quase saltaram da
órbita ao fitar a frase acima, leia em voz alta para perceber que ela
não soa tão absurda. (225/2006)
Percebemos a partir de 48 e 49, que o contexto, nesse caso, as relações dos
papéis sociais, tem sido realizado na linguagem do texto, pois através do
diálogo podemos estabelecer e desenvolver os papéis sociais. Passando-nos
uma idéia de muita proximidade entre o escritor e o leitor, pois o escritor com
tal estratégia discursiva aparenta ser íntimo do leitor e conhecê-lo tão bem, que
o texto passa ter o caráter de uma conversa informal, quase como se fosse um
bate-papo entre conhecidos. Todo diálogo é inerentemente interativo (cf.
Eggins, 1994).
Dando continuidade à nossa análise, mostraremos a seguir exemplos extraídos
dos LDs, para podermos verificar como o escritor se utiliza desse recurso nos
textos:
50. A adição de fosfato a uma molécula recebe o nome de fosforilação.
A síntese de ATP a partir de ADP é uma fosforilação que, por ter
ocorrido pela ação da energia luminosa, é chamada fotofosforilação. A
síntese de ATP pode ser cíclica ou acíclica. No entanto, você deve
ter notado que os elétrons que deixaram as moléculas de clorofila
não retornaram às suas origens. Enquanto a clorofila a recebeu os
elétrons da clorofila b, esta ficou com os elétrons dos hidrogênios
provenientes da fotólise da água. (B4)
51. Células com essa estrutura são chamadas procarióticas, enquanto
os seres por elas constituídos o denominados procariontes.
Glicocálix: identidade celular. Você deve ter ouvido falar no risco
de rejeição que correm as pessoas que recebem transplantes de
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
103
órgãos. Trata-se de uma reação do organismo do receptor, que
identifica o órgão doado como estranho ou invasor. (B2)
É interessante observarmos que, comparando os exemplos acima, nos
retirados da SI, o escritor inclui o leitor no discurso simulando uma situação
possivelmente, vivida pelo leitor (“Você está lendo a Super...”/ “... mas é
provável que você...” , ou seja, passam a manter uma interação dialógica,
sobre algo que supostamente vivenciaram e, o escritor utiliza-se de
modalização (“é provável que”), projetando ao leitor o papel daquele que pode
oferecer algum tipo de informação à proposição feita por ele. Todavia, no caso
dos LDs, o escritor coloca a situação como algo certo, como se a obrigação do
leitor fosse ter visto aquilo, tanto que, ao contrário do que ocorre na SI, o
escritor dos LDs, utiliza-se da modulação (“No entanto, você deve ter notado
que”/ “Você já deve ter ouvido falar”) pois, assim, a sua fala passa a prescrever
obrigação ou inclinação, isto é, oferecimento e ordem, conferindo ao escritor
um certo poder sobre o leitor e, conseqüentemente sugerindo um
distanciamento entre eles.
Para Backtin e Voloshinvi (1992: 113) toda comunicação verbal, escrita ou
falada, é “dialógica”, ou seja, falar ou escrever é referir-se àquilo que foi
dito/escrito antes, e simultaneamente antecipar situações vivenciadas ou
imaginadas pelos leitores ou ouvintes.
Martin (2000a) defende que o registro funciona como uma forma de
instanciação do gênero, o que equivale a dizer que o registro, organizado de
acordo com escolhas no nível do campo, das relações e do modo, reflete a
diversidade metafuncional no nível da linguagem materializada pela léxico-
gramática, ao passo que o gênero o faz no nível dos processos sociais. Assim,
cada variável do contexto de situação está sistematicamente relacionada aos
padrões léxico-gramaticais existentes em um texto, permitindo sua
caracterização a partir dessas escolhas.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
104
Como explica Fuller, “a reconstrução do mundo do senso comum como um
mundo da ciência - que transforma processos em coisas ou um conceito geral
em um termo técnico não ocorre somente através do princípio monológico da
reformulação; ocorre através da negociação” (Fuller, 1998: 47).
Halliday sustenta a posição de que o estilo discursivo inaugurado por Newton,
que influenciou toda a linguagem da ciência contemporânea, elaborava
referências metafóricas e anafóricas, textualizando processos (verbos) em
orações entidades semióticas nominais (substantivos). Tais entidades
constituem: temas combinados à informação dada, atribuindo ao texto fluidez e
poder argumentativo. Estes referidos traços, no entanto, podem ser utilizados
como - sinais de prestígio e poder em outros contextos, como por exemplo, no
burocrático, em que não seriam funcionais, mas meramente ritualizados.
3.6. Diferentes escolhas léxico-gramaticais na construção de definições
de conceitos realizadas pela SI e pelos LDs
Esse foco é abordado por Halliday (1994: 13), que diz que o enfoque analítico
da LSF está na investigação do uso da língua em condições reais de
ocorrência, no que é acompanhado por Eggins (1994: 25), que diz que usar
uma abordagem sistêmico-funcional para a linguagem envolve perguntar como
as pessoas usam a linguagem e como esta é estruturada para o uso, o que os
leva a reconhecer a importância do contexto situacional e cultural para que
possamos compreender porque um texto tem o significado que tem.
A preocupação da lingüística funcional em mostrar como a organização da
linguagem é relacionada ao seu uso é tratada pela lingüística sistêmico-
funcional pela modelagem da linguagem e contexto social como sistemas
semióticos em uma relação de realização, ou codificação, entre si. Assim, o
contexto social e a linguagem têm uma relação de meta-realização, ou seja, o
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
105
contexto social contém padrões de linguagem. Essa realização ocorre na
língua em três estratos: em ordem de maior para menor abstração, estes são o
semântico, léxico-gramatical e o fonológico.
Para tanto, seguem alguns exemplos retirados da SI:
52. AI JESUS! QUE RAIO SÃO AS PARTÍCULAS "OH-MEU-
DEUS"? Imagine a força devastadora de um elefante em disparada
concentrada numa formiga - ¬que, periodicamente, derruba o muro da
sua casa. Desde 1991, cientistas observaram pelo menos 15 vezes
um fenômeno tão estarrecedor quanto esse, mas em escala muito maior:
vindas do espaço, partículas subatômicas chegam à Terra com energia
cinética equivalente à de uma bola de beisebol. (...) Por sua
capacidade de fazer qualquer físico arrancar os cabelos, essas
formigas atômicas do espaço foram apelidadas de "partículas oh-meu-
Deus". Provavelmente, são prótons viajando quase a velocidade da luz.
Elas criaram o chamado paradoxo GZK, porque violam os limites
definidos em 1966 pelos físicos Greisen, Zatsepin e Kuzmin. (217/2005)
53. POR QUE A FÍSICA TEM CONSTANTES QUE SÃO
INCONSTANTES? A categoria "constante" - grandezas que não
deveriam mudar nunca - foi bem maltratada pela ciência. No
momento, quem dor de cabeça aos físicos é a “constante da
estrutura fina”, também conhecida como alfa. (...) Em 1997, surpresa: o
astrônomo John Webb captou luz com as qualidades erradas. Isso pode
significar que a constante alfa varia ao longo da história do Universo. (...)
Se a constante alfa for mesmo variável, pode ser que a velocidade da
luz também seja - o que abre rachadura num dos principais pilares da
relatividade e da física atual. (217/2005)
54. O foco de luz passeia entre as mesas imersas na penumbra,
sublinhando o desenho hipnótico dos passos milimetricamente
combinados dos dois dançarinos. Cada movimento por mais
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
106
complicado que seja, começa e termina em sincronia exata com o do
parceiro, os dois entrelaçados numa coreografia. Pode parecer um
show de tango, mas é, de fato, a descrição de um fenômeno muito
estranho da física - sem exagero, e o recordista absoluto na categoria
das idéias incompreensíveis. É chamado de entrelaçamento porque
seu efeito é casar, dois a dois, átomos, elétrons ou moléculas,
fazendo-os dançar com a mesma concatenação de um par de
bailarinos no palco de um cabaré. Se um átomo gira assim, o outro
roda assado e vice-versa. (197/2004)
É interessante apontar que em relação aos exemplos da SI, o primeiro exemplo
(52) introduz o assunto com uma "espécie de reflexão" (aquilo que chamamos
de "pensando alto" ou protocolo verbal) do escritor como se ele estivesse
reproduzindo o pensamento de quem ouvisse falar em "partículas energéticas",
no exemplo seguinte (53) o tema é inserido com escolhas textuais
incongruentes, demonstrando uma atitude do escritor que provoca, por
conseguinte, a curiosidade e o estímulo a leitura no leitor. Nos exemplos 54 e
55 as definições começam com narrativas de exemplos do senso-comum,
cotidianos, que consiste em uma estratégia muito eficaz em técnica de leitura e
interpretação de texto, enquanto que, no exemplo (54), a narrativa funciona
como um pré-texto contextualizando o evento comunicativo, como se estivesse
preparando o interlocutor para prosseguir com êxito a leitura.
55. Ela apareceu em duas regiões distintas da Colômbia e especialistas
dizem que é transgênica. Outros afirmam que não e por isso mesmo a
supercoca está alimentando uma grande controvérsia. Mas que diabos
é essa tal de supercoca? Bem, é um novo de tipo de arbusto de
coca matéria prima da cocaína que chega a ter mais de 3 metros
de altura (o normal tem 1,5 metro), cresce em quatro meses em vez dos
habituais oito e tem folhas de coloração verde-clara (em geral, é verde-
escura) que nascem em maior quantidade e, aparentemente, contêm
uma alta concentração de alcalóide, o princípio ativo da droga: 98%
contra 25% das folhas comuns. (207/2004)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
107
Finalmente, no último exemplo (55) retirado da SI para utilizarmos nesta
categoria semântica, a introdução do tema é feita através de anáfora e uso de
orações reportadas para indicar as divergências dos cientistas em relação à
supercoca. Em seguida, o escritor utiliza-se do registro informal em uma oração
interrogativa para, na seqüência, através de uma linguagem referencial,
conceituar a tal "supercoca".
Verificamos que, durante as explicações, definições de conceitos, o escritor se
vale de diferentes formas de registro, ora formal ora informal ora cnico e,
ainda, de recursos lingüísticos como formas incongruentes de expressão,
estratégias que vão de encontro conforme é defendido por Eggins (1994: 25),
que o contexto de cultura envolve a observação de como a língua é estruturada
para o uso. Para tanto, é necessário estudar interações autênticas e completas,
de forma a observar como as pessoas “usam a língua para alcançar objetivos
culturalmente motivados”, o que ocorre por meio da análise dos diferentes
gêneros.
Dessa forma, trabalhos na variável de campo do registro concentram-se na
exploração de diferenças entre contextos que vão do “cotidiano/senso-comum”
e “técnico/especializado” (Halliday e Martin, 1993; Rose et al, 1992).
Agora, vamos observar alguns dos LDs:
56. Chama-se poluição a presença no ar, na água ou no solo de
resíduos sólidos, líquidos ou gasosos em quantidade superior a
capacidade que o ambiente tem de absorvê-los ou inativá-los, e que
podem acarretar prejuízo ao ecossistema, degradação estética ou dano
ao bem-estar e à saúde dos seres vivos. Relaciona-se, ainda, com a
presença de microrganismos causadores de doenças (como vírus,
bactérias e fungos) ou com a emissão excessiva de calor, som e luz.
(B1)
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
108
57. O processo sempre ocorre no hialoplasma. Ciclo de Krebs -
Cada molécula de ácido pirúvico penetra na mitocôndria e transforma-se
em ácido acético (ou acetil-coenzima A), com perda de CO2. O acido
acético inicia um cicIo complicado que envolve várias reações, o ciclo
de Krebs. Durante o cicIo, ocorrem duas coisas fundamentais: saída de
C02 e de hidrogênios. (B2)
58. Retrovírus o os que contêm uma cadeia simples de RNA
associada a transcriptase reversa, uma enzima que produz DNA tendo
como molde o RNA viral. Essa enzima faz uma transcrição ao contrário
(reversa) do que normalmente acontece nas células, onde o RNA e
produzido a partir de um DNA que Ihe serve e molde. (B4)
Contudo, em todos os exemplos extraídos dos LDs percebemos que as
definições são objetivas, apresentam uma linguagem referencial e impessoal,
sem considerar o tempo nem o espaço; logo, utilizam-se de rmulas químicas,
do registro científico com um léxico especifico voltado para um público-leitor
ideal e pré-estabelecido. Nos exemplos 56, 57 e 58 presenciamos a utilização
de parênteses como um recurso para apresentar exemplos como no 56 e
sinônimos de termos anteriores nos 57 e 58.
Tomando como base os exemplos da SI, citados e descritos acima,
identificamos características interacionais pertinentes à metafunção
interpessoal, realizadas a partir do uso de vocativo, de proposta e proposições
e, ainda, o escritor de divulgação científica que não é especialista em Ciências,
ele faz uma recontextualização das explicações feitas pelos cientistas e/ou
pesquisadores através de metáforas, analogias e narrativas, introduzem e
reelaboram entidades científicas em sua organização textual, têm uma
estrutura que se repete sem ser monótona, mas também preservando seu
status de fonte confiável de informação.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
109
A SI aproxima-se do discurso do entretenimento, na medida em que expõe
notícias que simulam situações dialógicas, com uma linguagem atrativa e
interativa, anunciam descobertas apresentadas como úteis, visando, sempre,
atingir um público mais amplo, pois no que tange ao campo do discurso, nota-
se sua influência maior sobre as escolhas temáticas na determinação
semântica de seus itens lexicais oriundos na sua maioria do universo social.
Enquanto que, contrastando os exemplos da SI com os dos LDs percebemos
que a linguagem utilizada nos textos dos LDs é convencional, formal,
descritiva, onde não identificamos marcas de oralidade, pois, está
comprometida em transmitir a informação de forma indiscutível, não se
caracterizando como objeto de questionamento, na qual se predomina a
construção impessoal.
Considerando a importância do desenvolvimento das funções da linguagem,
Basil Bernstein (1992) adverte para o fato de que o sistema de classes marca
profundamente a distribuição do conhecimento dentro da sociedade, confere
acesso diferencial ao sentimento de que o mundo é permeável, isola as
comunidades umas das outras e estratifica-as segundo uma escala ofensiva de
valores. Seria ingênuo acreditar, portanto, que as diferenças no conhecimento
e no sentido do possível, conjuntamente com o isolamento, não vão afetar as
formas de socialização das crianças de diferentes classes sociais. Se nos
centrarmos nas crianças da escola pública poderemos verificar que, quer ao
longo da história quer nos tempos atuais, tem lhes sido difícil o acesso à
linguagem formal e elaborada utilizada pela escola, como forma de aquisição
do conhecimento universal. Desse modo, é preciso pensar na educação das
crianças da classe trabalhadora com o devido cuidado tendo em vista que os
fins da educação não podem legitimar ainda mais as diferenças sociais.
Percebemos, ainda, nos exemplos dos LDs, a ausência de referências a
trabalhos científicos, nomes de pesquisadores ou instituição, não analogias
com abordagens reais do cotidiano, na maioria das vezes, apresenta as
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
110
informações como fatos consolidados e, desta forma, não proporciona a
interação e nem o diálogo.
Muitos estudos nesta área (cf. Berry, 1989; Davies, 1988; Francis, 1990;
Martin, 1986) sugerem que o sucesso da comunicação escrita consiste,
portanto, na habilidade do escritor em balancear com propriedade o uso da
tematização interacional e da tematização baseada no tópico (impessoal)
consoante à dinâmica requerida pelos diferentes gêneros e tarefas escritas.
Quanto ao papel da linguagem, Hasan (1989: 57-59), salienta os seguintes
aspectos: o processo de compartilhamento, o canal e o meio. O primeiro diz
respeito ao fato de a linguagem poder exercer o papel de ‘constitutiva ou
ancilar’ de uma dada atividade social. O segundo constitui a possibilidade ou
não do destinatário poder compartilhar o processo de criação de um texto
enquanto este se estrutura. Tal processo manifesta-se em diferentes graus,
podendo ir do mais ativo (diálogo) até o mais passivo (palestra formal)
dependendo do canal.
Através dos exemplos que analisamos acima, notamos que as diferenças de
uso da linguagem a sua devida importância, conforme se na tese sobre as
posições de Bernstein apreciada por Soares (1999: 29-30):
“Essas diferenças, segundo Bernstein são particularmente importantes para a
área de educação, uma vez que a escola se preocupa com a transmissão de
significados universalistas, usa e quer ver usado o código elaborado;
pressupõe, portanto, nos alunos, a vivência das formas de socialização que
conduzem a esse código e às formas de pensamento a que ele dá acesso. Isso
é que explica, na perspectiva de Bernstein, o fracasso escolar das crianças da
classe trabalhadora: ele seria culturalmente produzido, através da mediação do
processo lingüístico que essas crianças teriam vivenciado em sua socialização.
Para a criança que dispõe do código elaborado, a experiência escolar
representa apenas um desenvolvimento simbólico e social; para a criança
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
111
“limitada” a um código restrito, a experiência escolar significa uma tentativa de
transformação simbólica e social.”
3.6.1. Uso de nominalização como recurso
A nominalização é um tipo de metáfora gramatical (cf. Halliday, 2004), situação
em que um significado realizado comumente (congruentemente) por um tipo de
padrão lingüístico é realizado por outra escolha lingüística menos comum
(incongruente, metafórica).
Verifiquemos então alguns exemplos retirados da SI:
59. Ele se deve ao desenvolvimento de bactérias especiais, algumas das
quais do gênero Lactobacillus, que produzem ácido láctico como resíduo
final. O abaixamento do pH provoca a coagulação das proteínas do leite,
formando o coalho. (217/2005)
60. O conselho do Dalai-Lama é que, quando as coisas estiverem mal,
em vez de se entregar à infelicidade ou tentar apenas minimizar os
sintomas, você respire fundo e tente descobrir o porquê da situação.
Segundo ele, grande parte da dor é criada por nós mesmos, pela nossa
inabilidade de lidar com a tristeza e pela sensação de que somos
obrigados a ser sempre felizes. Ao encarar o sofrimento de frente (...).
(212/2005)
As nominalizações são objeto de escrutínio de Halliday. Sobre o recurso à
retextualização metafórica de processos e orações em formas nominais (como,
por exemplo, quando em vez de dizer “os raios propagam” ou “divergem”,
Newton se refere a sua “propagação” e “divergência”), Halliday explica que tal
recurso proporciona, por um lado, a compactação de um fenômeno complexo
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
112
em uma única entidade semiótica e, por outro, disponibiliza tal entidade para
desempenhar funções retóricas explícitas no desenrolar da argumentação
(Halliday, 1993: 60).
Halliday sustenta a posição de que o estilo discursivo inaugurado por Newton,
que influenciou toda a linguagem da ciência contemporânea, elaborava
referências metafóricas e anafóricas, textualizando processos (verbos) e
orações em entidades semióticas nominais (substantivos). Tais entidades
constituem temas combinados à informação dada, atribuindo ao texto fluidez e
poder argumentativo. A linguagem da ciência torna-se, assim, especificamente
direcionada ao especialista capaz de compreender tais operações semântico-
gramaticais. Halliday ressalta que o recurso da nominalização, “longe de ser
um traço ritualístico ou arbitrário, é um recurso essencial para construir o
discurso científico” (Halliday, 1993: 61).
No entanto, durante a análise dos dados da SI, percebemos que as
nominalizações sinalizadas por Halliday, como um traço recorrente no discurso
da ciência, não ocorrem com tanta incidência nos artigos de divulgação
científica da revista. Entendemos que, possivelmente para propiciar uma
linguagem mais simplificada e acessível ao grande público a SI tenha evitado a
abstração sugerida a partir do uso de nominalizações no discurso, sendo
assim, uma estratégia discursiva da própria SI para atender o seu público leitor.
O argumento central dos textos de Hasan é a necessidade e a possibilidade de
analisar a linguagem como um sistema sócio-semiótico. Esta perspectiva de
Hasan, em consonância com a teoria social de Basil Bernstein e com a GSF de
Halliday, concebe a linguagem como um sistema de significações que medeia
a existência humana. Cloran (2000: 155) discute a influência do trabalho de
Bernstein sobre a obra de Hasan, argumentando que ambos defendem a idéia
de que existem princípios de coerência, subjacente a sociedade, para orientar
a seleção e a organização dos significados relevantes em uma comunidade e
que tais princípios são expressos por meio de padrões de uso da linguagem
(apud Motta-Roth, 2005: 12). De acordo com Bernstein (apud Hasan, 1999:
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
MORAES RODRIGUES
113
22), as relações sociais influenciam os padrões de seleção "do que é dito,
quando é dito e como é dito".
Halliday e Matthiessen consideram a gramática de uma língua sua “unidade
central de processamento”, onde o significado é gerado, sendo “natural que os
sistemas de som e escrita, através dos quais os significados são expressos
devam refletir a organização estrutural da gramática” (Halliday & Matthiessen,
2004: 21).
“a língua é um recurso para a produção de significado, e o
significado reside em padrões de escolha sistemáticos” (Halliday
& Matthiessen, 2004: 23). Este significado, contudo, é social, daí a
abordagem da linguagem como semiótica social: “uma realidade
social (ou uma cultura) é em si mesma um edifício de significados
– um construto semiótico” (Halliday, 1978: 2).
Investigando a linguagem da ciência, Halliday chega à conclusão de que as
teorias científicas constituem releituras da experiência ecossocial mais ampla.
O autor identifica uma gramática particular, característica de uma forma
específica de conceber a realidade. Segundo Halliday, “uma teoria científica
(...) é um subsistema semiótico delicado e parcialmente configurado que
reconstrói certos aspectos ou componentes da experiência humana de forma
diferente no processo de sua abertura à observação, investigação e
explicação” (Halliday, 1998: 194).
Na seqüência, apresentamos as considerações finais deste trabalho.
MORAES RODRIGUES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“O que tem esse termo [gênero] e área de estudos que lê
representa para atrair tanta atenção?” O que lhe permite
agrupar sobre o mesmo guarda-chuva terminológico:
críticos literários, retóricos, sociólogos, cientistas
cognitivistas, especialistas em Inglês para Fins Específicos
e professores de língua? O que é isso... que nos permite
reunir sob o mesmo rótulo publicitários, especialistas em
comunicação empresarial e defensores do inglês
Simplificado?
Candlim (1993)
Este trabalho teve como objetivo investigar os contextos discursivos da ciência
em artigos de divulgação científica da revista Superinteressante (SI) e em
textos de quatro livros didáticos de Biologia (LDs) do ensino médio. O
arcabouço teórico desta pesquisa foram a Gramática Sistêmico-Funcional
(GSF) proposta por Halliday (1976, 1985, 1994, 2004) e seus seguidores
(Thompson, 1994, 1996; Eggins, 1994) e a análise de gêneros, utilizando as
proposta de Martin (1984, 1989, 1996, 2000, 2003) e Hasan (1995, 1999).
Dentre as várias possibilidades, a metafunção interpessoal foi eleita como
recurso lingüístico para a análise das relações entre os participantes por meio
de suas escolhas léxico-gramaticais, observando a questão da interação entre
escritor e leitor, como os participantes se nomeiam e são nomeados, que
papéis são atribuídos a eles, pois, para a Lingüística Aplicada que investiga o
papel da linguagem na construção da realidade social, é fundamental
compreender as possibilidades de construção de sentidos e de relações
interpessoais observadas através da escrita. Discutimos, ainda, o caráter
pedagógico, conforme Bernstein (1984,1990, 1996 e 1999) e Christie (1998,
2002 e 2005).
Neste trabalho procuramos conciliar a minha experiência profissional com as
experiências adquiridas durante a realização da pós-graduação, em particular,
adquiridas nas discussões sobre como a GSF, conforme esta teoria, “a língua é
um recurso para a produção de significado, e o significado reside em padrões
de escolha sistemáticos” (Halliday & Matthiessen, 2004: 23). Este significado,
contudo, é social, daí a abordagem da linguagem como semiótica social: “uma
realidade social (ou uma cultura) é em si mesma um edifício de significados
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MORAES RODRIGUES
115
um construto semiótico” (Halliday, 1978: 2). Uma língua é um dos sistemas
semióticos que constitui uma cultura, esta tomada como um sistema de
informação. Neste sentido, o fenômeno da linguagem é abordado sob uma
perspectiva funcional, pois a língua é um instrumento através do qual as
relações sociais são estabelecidas, desenvolvidas e mantidas.
Eggins (1994: 307) afirma que a língua, vista como um sistema de opções,
oferece ao falante/escritor uma gama variada de escolhas que são moldadas a
determinadas condições dentro de uma situação e de uma cultura de acordo
com a função a ser desempenhada. Assim, o modelo sistêmico-funcional leva a
reconhecer, primeiro, que todo comportamento lingüístico é orientado para um
propósito; segundo, que o produto das nossas escolhas é o texto; terceiro, que
as escolhas que se realizam no texto são elas mesmas a realização das
dimensões contextuais, incluindo configurações situacionais específicas de
campo, modo e relações (registro), convenções culturais (gênero) e posições
ideológicas.
Então, partindo desta premissa, nesta seção, retomaremos e responderemos
as perguntas de pesquisa apresentadas na introdução deste trabalho, a saber:
1. Que escolhas léxico-gramaticais identificam e estabelecem a interação
entre os participantes?
2. Que papéis são projetados aos participantes da interação nas escolhas
lexicais?
3. Que características interpessoais nos artigos de divulgação científica da
SI se diferenciam das apresentadas nos textos de LDs em diferentes
partes do discurso?
4. Que escolhas léxico-gramaticais permitem identificar o caráter
pedagógico nos artigos de divulgação científica da SI e nos textos de
LDs?
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MORAES RODRIGUES
116
A partir da reflexão sobre a análise de dados, podemos inferir que as escolhas
léxico-gramaticais mais usadas para identificarem os participantes: escritor,
leitor, especialista e não especialista, foram os pronomes pessoais: eu, me,
mim, nós e nos, de tratamento: você, senhor e, ainda, as formas nominais:
Super e leitor. Através destas escolhas ora percebíamos maior proximidade
entre escritor e leitor, ora maior distanciamento entre eles.
Verificamos que, tanto na SI quanto nos LDs, quando o escritor utilizava-se da
forma pronominal você a proximidade entre escritor e leitor ficava explícita, pois
a interação passava a ser interpretada como uma relação dialógica face a face,
na qual o escritor se colocava na mesma posição, status social que o leitor,
apresentando uma linguagem informal, próximo do que chamamos de
protocolo verbal. Outra situação de proximidade entre escritor e leitor nos
artigos da SI que percebemos, era quando o escritor se valia do recurso de
utilizar o nome da revista Super para se dirigir ao leitor, personificando, assim,
a revista, pois “além de ‘lembrar’ ao leitor que a revista e escritor são a mesma
pessoa, também garante a projeção de uma interação mais interpessoal cuja
função parece ser a manutenção de um certo grau de envolvimento com o
leitor” (Ramos, 1997: 139), colocando na mesma posição social do leitor,
desfazendo qualquer projeção de hierarquia conferida a uma entidade
institucional como a revista, não obstante informal.
De acordo com a GSF, portanto, a noção de escolha ajuda o lingüista a
descobrir o que se quer dizer (escolhas lingüísticas potenciais, Eggins, 1994:
22) e explica o que se diz (escolhas lingüísticas reais, Eggins, 1994: 22) do uso
da linguagem. Esse conceito de escolha é usado na presente pesquisa para
sustentar o pressuposto que os textos que o estudo analisa “são produtos
derivados de escolhas feitas pelos escritores, que as fazem dentre uma gama
infinita de opções disponíveis na língua para efetivamente transmitir suas
mensagens para uma audiência” (Ramos, 1997: 37).
Continuando com a análise das formas referenciais identificadas no corpus,
verificamos, que o uso do pronome nós, geralmente não era inclusivo, pois não
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MORAES RODRIGUES
117
se dirigia diretamente ao leitor, o escritor quando usava o referencial nós
estava se referindo à raça humana, ou seja, ao ser humano de forma genérica.
Constatamos, ainda, que quanto ao pronome pessoal eu, o escritor dos LDs
não se utilizava desta forma assumindo o papel de falante durante o discurso,
as poucas vezes que identificamos o uso deste pronome (9 ocorrências), esta
forma estava sendo utilizada por outros participantes, que reconhecemos como
não especialistas, em textos destinados à leitura complementar no final de
determinados capítulos. Entretanto, o uso desta forma pronominal nos artigos
da SI foi mais variado. Das 46 ocorrências o marcadas, identificamos o
pronome eu sendo usado pelo escritor e assumindo a responsabilidade pelo
que está sendo dito, pelos especialistas como cientista e pesquisadores
durante as citações de suas vozes assinaladas no decorrer do discurso e,
ainda, por pessoas comuns da sociedade nas reproduções de seus
depoimentos.
Finalizando esta primeira parte da análise, constatamos através das escolhas
referenciais para nomear e identificar os participantes do discurso nestes dois
contextos discursivos sobre ciência, uma maior interação entre o leitor e
escritor na SI, em relação aos dados revelados nos textos dos LDs.
De acordo com a GSF, qualquer texto estabelece algum tipo de relação
interpessoal, observamos que as proposições realizadas no discurso da SI
expressam a troca de informação, apesar de todas serem iniciadas pelo
escritor, logo sugerindo-nos uma interação unilateral, típica da mídia. Ao passo
que, nos LDs as orações nos parecem ser mais categóricas, não contendo
formas de modalização, sentidos que pudessem ficar em algum ponto entre as
polaridades do sim e do não.
Como assinala Thompson (1990: 150), o contexto social envolve dimensões
espaço-temporais constituintes de ações e interações. O tempo e o espaço
determinam que certas ações e modo de interação sejam mais adequados e
possíveis que outros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MORAES RODRIGUES
118
Para Hasan (1995: 186), “a linguagem como um sistema semiótica se
desenvolve apenas por meio de sua conexão com o exercício da vivência, com
a vida”. A partir de tal concepção, gênero corresponde à linguagem usada em
associação a contextos e funções recorrentes na experiência cultural humana.
Nesses termos, o modo como o contexto se configura determina o modo como
o conteúdo, as relações interpessoais e a estrutura da informação se
manifestam no texto.
As marcas interpessoais e de caráter pedagógico que definem e distinguem o
discurso da SI dos LDs, são as características que permeiam os diferentes
gêneros aos quais os artigos da SI e os textos dos LDs pertencem. Logo, para
a compreensão desta relação, baseamo-nos nas abordagens de Hasan e
Perret (1994: 221) sobre ensino-aprendizagem:
“Se contexto é definido pelos significados que estão em jogo [no
evento discursivo], se forma é vista como um recurso para o
significado, isso permite uma compreensão de quais tarefas, quais
situações, quais textos são semelhantes, quais são diferentes e
de que modo e como todos eles podem ser usados beneficamente
com diferentes alunos”.
Os analistas do discurso que adotam a gramática sistêmico-funcional, portanto,
vêem no trabalho de Hasan teorizações fundamentais para uma discussão
detalhada sobre o conceito de gênero e o papel da linguagem na sociedade.
Assim, Hasan se dedica a investigar o componente semântico e o modo como
sua realização lingüística varia. De acordo com Cloran (2000: 153), Hasan
recontextualiza a teoria sociolingüística de Bernstein em um pioneiro sobre
variação sócio-semântica da linguagem e nos alerta para o fato de que
qualquer tentativa de análise da linguagem deverá compulsoriamente examinar
os fatores pertinentes aos contextos em que a vida humana está em
andamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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119
Bernstein define o discurso pedagógico como “princípio que transforma ao real
em virtual ou imaginário... uma forma para algo diferente dele mesmo” (1990:
183). O discurso pedagógico nesse modelo consiste de dois componentes
gerais: discurso instrucional, que transmite “competências especializadas”, e
discurso regulatório, que transmite “princípios de ordem, relação e identidade”
A nossa argumentação é que o aluno não deve ser privado de um determinado
gênero textual em detrimento a outro, mas, pelo contrário, que o educando seja
submetido a diferentes gêneros textuais no contexto educacional, pois assim,
propiciará a ele diferentes formas de registros, nos quais terá acesso tanto ao
código restrito quanto ao elaborado, em consonância com a visão de Bernstein
em relação à importância sobre o uso de diferentes tipos de linguagem,
conforme podemos conferir a seguir:
Essas diferenças, segundo Bernstein, são particularmente importantes para a área
de educação, uma vez que a escola se preocupa com a transmissão de
significados universalistas, usa e quer ser usado o código elaborado; pressupões,
portanto, nos alunos, a vivência das formas de socialização que conduzem a esse
código e às formas de pensamento a que ele dá acesso. Isso é que explica, na
perspectiva de Bernstein, o fracasso escolar das crianças da classe trabalhadora:
ele seria culturalmente produzido, através da mediação do processo lingüístico que
essas crianças teriam vivenciado em sua socialização. Para a criança que dispõe
de código elaborado, a experiência escolar representa apenas um desenvolvimento
simbólico e social; para a criança “limitada” a um código restrito, a experiência
escolar significa uma tentativa de transformação simbólica e social. (Soares, 1999:
29-30)
Esperamos, com este trabalho, contribuir para uma melhor adequação de
métodos e estratégias de ensino e assegurar que não se percam de vista as
finalidades maiores da educação, ou seja, formar o cidadão competente para a
vida em sociedade o que inclui a apropriação crítica e criativa de todos os
recursos cnicos e lingüísticos que estão à disposição desta sociedade. E,
ainda, contribuir para a divulgação de estudos sistêmico-funcionais sobre a
relação linguagem e trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
MORAES RODRIGUES
120
Desta forma, novos desafios são lançados para o professor onde o mesmo terá
que aprender a trabalhar em equipe e a transitar com facilidade em muitas
áreas disciplinares como defende a Lingüística Aplicada. Se imprescindível
quebrar o isolamento da sala de aula convencional e assumir funções novas e
diferenciadas.
Acreditamos e, por conseguinte, defendemos que o papel do mediador entre
meios de comunicação e realidade cabe a diferentes agentes presentes nas
vidas das crianças, a começar pelos pais. É na família que a mediação deveria
acontecer diretamente, visto ser no aconchego do lar que, normalmente, ocorre
a recepção das mensagens comunicacionais (cf. Halliday e Hasan, 1989: 58).
Entretanto, cabe também à escola este papel de mediador e formador do
espectador crítico.
Pretendemos, futuramente, dar continuidade aos estudos sobre a utilização de
diferentes gêneros em diferentes contextos discursivos, mas também sobre
como poderá a escola contribuir para que os educandos se tornem usuários
criativos e críticos destas novas ferramentas e não meros consumidores
compulsivos de novas representações dos mesmos assuntos. Talvez, a
instituição escolar poderá responder a esse desafio integrando as tecnologias
de informação e comunicação ao cotidiano da escola na sala de aula, de modo
criativo, competente. Isto exigirá investimentos significativos e transformações
profundas e radicais em: formação de professores; pesquisa voltada para
metodologias de ensino; nos modos de seleção; aquisição e acessibilidade de
equipamentos; materiais didáticos e pedagógicos, além de muita criatividade.
Neste trabalho não procuramos encontrar a resposta de como renovar o ensino
de Biologia utilizando o material de divulgação científica, ao contrário, acredito
que as argumentações desenvolvidas aqui servirão como subsídio para que
outras formas de abordagens sejam pesquisadas e divulgadas no sentido de
auxiliar o professor na tarefa de ocupar-se de diferentes gêneros textuais
durante a sua atuação docente no espaço escolar.
MORAES RODRIGUES
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