11
O veneno da serpente Crotalus durissus terrificus é composto por uma
mistura extremamente complexa de proteínas biologicamente ativas onde a
interação de cada um dos elementos causa lesões geralmente graves (DAL PAI;
NETO, 1994). O veneno é constituído de várias frações as quais apresentam como
principais toxinas a crotoxina, crotamina, giroxina e convulxina. Cerca de 50% da
fração do veneno são um complexo constituído por uma fração básica e uma ácida
na proporção 1:1 denominadas crotoxinas A e B, respectivamente, sendo que a
fração crotoxina B, com atividade fosfolipase A
2
(PLA2)
,
é responsável por exercer
atividades miotóxica, inflamatória, citotóxica e neurotóxica (VITAL BRAZIL, 1972;
OKAMOTO et al., 1983; PUIG et al., 1995; ROODT et al., 1996). A crotamina reduz o
potencial de repouso da membrana, sugerindo a ativação do canal de sódio que
agindo na membrana de células musculares de mamíferos altera a permeabilidade
dos íons Na
+
e Ca
++
aumentando o influxo desses íons, causando a despolarização
da membrana e forte contração muscular (CHEYMOL et al., 1971; CHANG; TSENG,
1978; VITAL BRAZIL, 1990). A giroxina foi isolada por Barrabin et al. (1978) e é
considerada uma neurotoxina não-letal responsável por alterações de equilíbrio e a
convulxina é responsável por convulsões, distúrbios circulatórios e respiratórios
(VITAL BRAZIL et al., 1966).
As frações do veneno crotálico exercem três atividades com
importância clínica conhecida: neurotóxica, com ações central e periférica, causando
paralisia flácida das musculaturas esquelética e facial, paralisia do globo ocular e às
vezes, paralisia dos músculos respiratórios podendo ocasionar insuficiência
respiratória (VITAL BRAZIL, 1972; AMARAL et al., 1991; JORGE; RIBEIRO, 1992);
coagulante, relacionada ao consumo de fibrinogênio e incoagulabilidade sanguínea
(AMARAL et al., 1988); miotóxica sistêmica, causando lesões de fibras musculares
esqueléticas ou rabdomiólise generalizada, podendo ocasionar como complicação
secundária insuficiência renal aguda (IRA) (AMARAL et al., 1986; AZEVEDO
MARQUES et al., 1985), além da hemolítica “in vitro” (ROSENFELD et al., 1960-62;
KELEN et al., 1960-62).
O quadro clínico causado pelo veneno crotálico, habitualmente tem
manifestações locais discretas, como dor, eritema e edema. Nishioka et al. (2000)
relataram o aparecimento de abscesso no local da picada, no entanto, esta
complicação é rara. Os efeitos de maiores importâncias clínica e gravidade são
aqueles sistêmicos que incluem neurotóxicos, miotóxicos, nefrotóxicos,