responsável. Em discurso proferido como paraninfo da turma de 1960 da Escola de
Propaganda de São Paulo, Lessa relembrou as dificuldades pelas quais passou durante os
primeiros tempos da propaganda brasileira. Falou, também, dos novos tempos e das
oportunidades reais que cada profissional teria condições de conquistar através do
conhecimento e do profissionalismo, pois, os caminhos já haviam sido abertos, agora
precisavam ser aprimorados.
“Eu me sentia como um veterano sargentão feito e formado ao longo
do tempo e das batalhas, aprendendo, a poder de muitas e duras e adversas
experiências, o manejo das armas, os mistérios táticos, os segredos da arte,
enquanto os cadetes já chegavam conhecendo tudo, ou quase, faltando-lhes
apenas o trato direto com as surpresas do fogo. Eu também pertenço a uma
geração de sargentões, mas da propaganda. Lembro-me de que, vai para
muitos anos, me surpreendi numa trincheira revolucionária, nos idos de 32.
Entregaram-me um fuzil, que coloquei, marcialmente, no ombro errado. E na
hora, logo a seguir, em que me disseram que devia atirar – tudo era feito
assim, naquele atropelo de homens e armas – tive de perguntar a um
companheiro: mas como é que se maneja esta coisa? Na propaganda entrei
mais ou menos assim. Estreávamos quase todos assim, naquele tempo.
Colocados nas trincheiras por força das circunstâncias ou pelo gosto da luta,
mas tendo que aprender, no fragor da batalha, o mistério das armas e as
muitas manhas do inimigo... O tempo foi nosso mestre. A experiência nossa
escola. Cada novo dia era uma nova lição, cada hora nova uma nova
descoberta. Fomos ou somos uma geração de descobridores. Tudo para nós
foi descoberta, embora de terras já povoadas, conhecidas por outros. Nós
viemos descobrindo a pólvora ao logo do tempo. E foi esse, talvez, o grande
encanto da nossa geração de pioneiros. Enquanto em outros países, e
particularmente nos Estados Unidos, a propaganda já era uma profissão,
uma técnica avançadíssima – e um grande negócio – o Brasil se encontrava,
nesse campo, em plena idade da pedra. Propaganda, entre nós, quando muito
era a frase de estouro, a idéia brilhante, o tiro às cegas, a total inexperiência.
Existia, é claro. Existiu desde a primeira hora, mal houve algo a
vender e instrumentos onde conta-lo. Os primeiros jornais brasileiros já
traziam anúncios. E a instituição publicitária nasceu muito cedo. Há páginas
de Machado de Assis, como houvera em Balzac, onde qualquer homem de
publicidade dos nossos dias teria muito a aprender. E é interessante observar
que, quando começou a ser exigida pelo incipiente desenvolvimento
econômico do país, a propaganda arregimentou no Brasil muitos dos grandes
espíritos do tempo. (...)
A verdade é que apenas engatinhávamos, em matéria de propaganda,
quando aqui apareceu a primeira agência americana. E a verdade é que,
saindo do quase nada, em pouco tempo se formou no Brasil uma geração
admirável de profissionais, muitos dos quais ainda estão por aí, exercendo
grandes postos e carregando bandeira...
A lição que os mestres de fora traziam, um Harry Gordon, um major
I.D.Carson, um Robert Merrik e, mais tarde, tantos outros, a leitura de
revistas e livros, a procura inquieta e ansiosa dos métodos aplicados no
estrangeiro, a sua adaptação inteligente ao nosso meio e, sobretudo, o dia-a-
dia dos problemas, das experiências, dos fracassos e vitórias, num esforço
contínuo de superação, formaram esses precursores, que muito cedo