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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
NANCY MARYA SANTANA BANEVICIUS
ASPECTOS ECOLÓGICOS DA LONTRA (Lontra longicaudis) NO
ECOSSISTEMA DA LAGOA DO PERI, SC, BRASIL.
Itajaí, SC
2005
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ii
NANCY MARYA SANTANA BANEVICIUS
ASPECTOS ECOLÓGICOS DA LONTRA (Lontra longicaudis) NO
ECOSSISTEMA DA LAGOA DO PERI, SC, BRASIL.
Dissertação apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Ciência e Tecnologia
Ambiental, na Universidade do Vale do
Itajaí, Centro de Ciências Tecnológicas da
Terra e do Mar.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Ricardo Schwingel
Co-orientador: Prof. Dr. Oldemar Carvalho Junior
Itajaí, SC
2005
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iv
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .................................................................................... VI
LISTA DE TABELAS.................................................................................... VIII
RESUMO ..................................................................................................... IX
ABSTRACT.................................................................................................. XI
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 13
1.1 Área de Estudo ...................................................................................... 20
2 OBJETIVOS.............................................................................................. 24
2.1 Objetivo Geral ........................................................................................ 24
2.2 Objetivos Específicos............................................................................. 24
3 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 25
3.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e Estudo
de Hábitat das Tocas ................................................................................... 25
3.2 Ocorrência de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri .... 29
3.3 Hábitos Alimentares de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e
Estudo do Oportunismo Alimentar ............................................................... 31
4 RESULTADOS.......................................................................................... 32
4.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e Estudo
de Hábitat das Tocas ................................................................................... 32
4.1.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri 32
4.1.2 Estudo de Hábitat das Tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri............................................................................................... 35
4.1.2.1 Freqüência de Utilização das Tocas ................................................ 35
4.1.2.2 Freqüência Dia/Noite de Utilização das Tocas................................. 40
4.2 Ocorrência de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri .... 42
4.3 Hábitos Alimentares de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e
Estudo do Oportunismo Alimentar ............................................................... 47
5 DISCUSSÃO............................................................................................. 50
5.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e Estudo
de Hábitat das Tocas ................................................................................... 50
5.1.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri 50
5.1.2 Estudo de Hábitat das Tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri............................................................................................... 54
5.1.2.1 Freqüência de Utilização das Tocas ................................................ 54
5.1.2.2 Freqüência Dia/Noite de Utilização das Tocas................................. 59
5.2 Ocorrência de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri .... 62
5.3 Hábitos Alimentares de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri e
Estudo do Oportunismo Alimentar ............................................................... 65
6 CONCLUSÕES......................................................................................... 69
v
7 REFERÊNCIAS......................................................................................... 73
8 ANEXOS ................................................................................................... 79
8.1 Anexo 1.................................................................................................. 79
8.2 Anexo 2.................................................................................................. 80
vi
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1. Área de distribuição de Lontra longicaudis na América do Sul (em
preto)............................................................................................................ 14
FIGURA 2. Exemplar de Lontra longicaudis na região amazônica (Foto: D.
Graham)....................................................................................................... 16
FIGURA 3. Localização da Lagoa do Peri na Ilha de Santa Catarina, SC... 21
FIGURA 4. Barragem construída pela CASAN na Lagoa do Peri (Foto:
UNISINOS)................................................................................................... 22
FIGURA 5. Lontra longicaudis no interior da Toca 2 na Lagoa do Peri (a seta
aponta uma das “Armadilhas de Pegadas”) (Foto:Projeto Lontra)............... 27
FIGURA 6. Checagem da “Armadilha de Pegadas” de Lontra longicaudis no
interior da Toca 2 (Foto: acervo da autora).................................................. 27
FIGURA 7. Excremento de Lontra longicaudis (Foto: Evandro Mafra)......... 29
FIGURA 8. Disposição das sete tocas de Lontra longicaudis em mapa
georeferenciado do Ecossistema da Lagoa do Peri. O mapa encontra-se na
escala 1:25000, o erro é de 0,5 pixel com confiabilidade de 15m na geração do
mapa. Pode existir um erro de até 5m na localização das tocas devido a plotagem
das coordenadas do GPS no programa Spring............................................ 33
FIGURA 9. Pegadas de Lontra longicaudis nas margens da Lagoa do Peri (Foto:
acervo da autora)......................................................................................... 34
FIGURA 10. Distribuição binomial da utilização das sete tocas de Lontra
longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri nas 24 visitas realizadas durante os
meses de agosto de 2003 a julho de 2004 .................................................. 36
FIGURA 11. Entrada emersa da Toca 3 na Lagoa do Peri (durante período de
estiagem) (Foto: acervo da autora).............................................................. 38
FIGURA 12. Entrada submersa da Toca 6 na Lagoa do Peri (durante período de
estiagem) (Foto: acervo da autora).............................................................. 38
FIGURA 13. Uma das entradas da Toca 7 na Lagoa do Peri (durante período de
estiagem) (Foto: acervo da autora).............................................................. 40
FIGURA 14. Distribuição binomial da freqüência dia/noite de utilização das tocas
por Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri ........................... 41
vii
FIGURA 15. Gel 1 resultante da eletroforese dos excrementos de Lontra
longicaudis coletados no Ecossistema da Lagoa do Peri mostrando os alelos A, B,
C, E e F encontrados e suas posições......................................................... 43
FIGURA 16. Gel 2 resultante da eletroforese dos excrementos de Lontra
longicaudis coletados no Ecossistema da Lagoa do Peri mostrando os alelos A, B,
C, D e F encontrados e suas posições ........................................................ 44
FIGURA 17. Mapa do Ecossistema da Lagoa do Peri com a localização das sete
tocas estudadas e os respectivos genótipos encontrados para Lontra longicaudis
em cada toca................................................................................................ 46
FIGURA 18. Porcentagem de ocorrência dos quatro principais “táxons” que
compõem a dieta alimentar de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do
Peri............................................................................................................... 48/49
FIGURA 19. Lontra longicaudis no interior da Toca 2 (Foto:Projeto Lontra) 55
FIGURA 20. Esquema ilustrativo dos hábitos alimentares de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri (Esquema: Evandro Mafra)......................... 68
viii
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Freqüência de utilização das tocas de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri durante os meses de agosto de 2003 a julho de
2004............................................................................................................. 35
TABELA 2. Número de sucessos em 24 visitas a cada toca de Lontra longicaudis
no Ecossistema da Lagoa do Peri durante os meses de agosto de 2003 a julho de
2004............................................................................................................. 36
TABELA 3. Probabilidade de utilização de cada toca de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri..................................................................... 37
TABELA 4. Número da toca, freqüência de utilização, densidade foliar média e
profundidade média do húmus do entorno de cada toca de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri..................................................................... 39
TABELA 5. Probabilidade da freqüência dia/noite de utilização das tocas de
Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri.................................. 41
TABELA 6. Freqüência dos genótipos nos 18 excrementos de Lontra longicaudis
coletados no Ecossistema da Lagoa do Peri em novembro e dezembro de 2004
..................................................................................................................... 45
TABELA 7. Local de coleta de cada amostra, os respectivos genótipos e data de
coleta dos excrementos de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri
..................................................................................................................... 45
TABELA 8. Tamanho em pares de bases e freqüência dos alelos nas amostras de
excrementos de Lontra longicaudis coletados no Ecossistema da Lagoa do Peri.
..................................................................................................................... 46
TABELA 9. Número total da ocorrência dos diferentes “táxons” encontrados nos
excrementos de Lontra longicaudis na Lagoa do Peri ................................. 47
TABELA 10. Família de peixes presentes na dieta alimentar de Lontra longicaudis
no Ecossistema da Lagoa do Peri................................................................ 49
TABELA 11. Aspectos Alimentares obtidos através da análise dos excrementos de
Lontra longicaudis na América do Sul, em especial, nos diferentes Estados do
Brasil ......................................................................................................................... 66
ix
RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo ecológico da população de lontras no
Ecossistema da Lagoa do Peri. O objetivo foi contribuir para o conhecimento da
ecologia e comportamento de Lontra longicaudis no seu ambiente natural. Para
tanto, fez parte da análise o papel da espécie no ambiente e a forma como ela
utiliza os recursos disponíveis. Coletas mensais foram realizadas, durante os
períodos de agosto de 2003 a setembro de 2004, ao redor de toda a margem da
Lagoa do Peri, o leito do Rio Cachoeira Grande e o Canal Sangradouro asua
desembocadura no mar (Praia da Armação). Para a determinação do número
mínimo de indivíduos na Lagoa do Peri, foi realizada uma análise dos
excrementos de Lontra longicaudis com o auxílio de marcadores moleculares do
tipo microsatélites. Esta técnica não invasiva de pesquisa genética embora com
baixo rendimento, mostrou-se eficiente na determinação de um número mínimo
para Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri. Com a análise dos
dados foi possível determinar que, no mínimo, existem seis lontras habitando a
lagoa. Com o auxílio de sinais indiretos da lontra (e.g. pegadas e excrementos) e
de ferramentas de geoprocessamento (SIG) foi possível determinar a distribuição
da espécie dentro do Ecossistema da Lagoa do Peri. Lontra longicaudis desloca-
se pelo leito do Rio Cachoeira Grande, local onde foram encontradas latrinas,
mas não foi verificada a presença de tocas; ocupa a maior parte da região
costeira da Lagoa do Peri, tanto nas regiões de costão rochoso quanto nas de
restinga; e transpõe a barragem construída pela CASAN percorrendo toda a
extensão do Canal Sangradouro até sua desembocadura no mar, local onde se
encontram diversas latrinas. Através de um estudo de habitat do entorno das
tocas foi possível verificar que algumas tocas são mais utilizadas que outras e
que este grau de utilização está diretamente ligado à densidade da vegetação e
húmus do entorno da toca. Tocas com maior densidade de vegetação e húmus
são mais utilizadas, pois esses dois garantem, além de camuflagem, o isolamento
térmico, muito importante, em especial, na época de procriação. Foi encontrada
também uma sincronização na ocupação das tocas relacionada com o ciclo
dia/noite, indicando uma maior atividade de utilização das tocas durante o período
noturno. Este uso noturno das tocas pode estar relacionado como o fato de Lontra
longicaudis ter o seu período de maior atividade concentrado durante a noite. A
dieta de Lontra longicaudis é composta basicamente por peixes (63,16%) e
crustáceos (30,36%). Os outros itens alimentares, como aves (3,65%) e
mamíferos (2,63%), apareceram poucas vezes. Dentro do item peixes a Família
mais encontrada foi a Cichlidae, em especial, as espécies Tilapia rendalli (tilápia)
e Geophagus brasiliensis (cará), não sendo, no entanto, distinguido entre as duas
na análise dos excrementos. Ambas as espécies estão distribuídas por toda a orla
da lagoa e rio Cachoeira Grande e vivem em associação às macrófitas aquáticas
(Scirpus californicus e Nymphoide indica). Dentro do item crustáceos, o Gênero
que pode ser identificado foi o Macrobrachium, apresentando-se abundantes nas
bordas da lagoa, próximos às pedras e macrófitas aquáticas. O fato da dieta da
lontra estar baseada nas espécies mais abundantes e que apresentam uma
distribuição confinada às margens do corpo d’água indica que o indivíduo
concentra seus esforços na captura da presa com um gasto mínimo de energia, o
x
que parece indicar um comportamento estratégico e oportunista do animal na
Lagoa do Peri.
xi
ABSTRACT
This work presents an ecological study of the otter population in the Ecosystem of
the Peri Lake. The objective was to contribute to the knowledge of ecology and
behavior of the Lontra longicaudis river otter in its natural environment. For this
purpose, an analysis was carried out on the role of the species in the environment
and the way in which it uses the available resources. Monthly collections were
carried out, during the period August 2003 to September 2004, around the entire
perimeter of the Peri Lake, the bed of the Cachoeira Grande river and the
Sangradouro Chanel, up to the river mouth at the sea (Armação Beach). In order
to determine the minimum number of individuals in the Peri Lake, an analysis was
carried out of the excrement of the Lontra longicaudis, with the help of molecular
markers of the microsatellite type. This non-invasive genetic research technique,
although affording a low yield, proved to be efficient for determining a minimum
number for the Lontra longicaudis in the Ecosystem of the Peri Lake. From the
data analysis, it was possible to determine that there exist at least six river otters
inhabiting the lake. With the help of indirect signs of the otter (e.g. footprints and
excrement) and geoprocessing (GIS) tools, it was possible to determine the
distribution of the species in the Ecosystem of the Peri Lake. Lontra longicaudis
travels from the bed of the Cachoeira Grande river, where latrines were found, but
the presence of dens was not observed; it occupies the majority of the coastal
region of the Peri Lake, both in the regions of the rocky outcrop and in the salt
marshes; and crosses the dam built by CASAN, traversing the entire extension of
the Sangradouro Canal up to its mouth at the sea, where various latrines were
found. Through a study of the habitat around the shelters it was possible to
observe that some shelters are more frequently used than others and that this
level of use is directly linked to the density of vegetation and humus around the
shelters. Shelters with a higher density of vegetation and humus are more
frequently used, since these ensure, besides camouflage, thermal isolation, which
is very important, particularly during the mating season. A synchronization was
also observed in the occupation of the shelters in relation to the day/night cycle,
indicating a higher activity of use of shelters during the nocturnal period. This
nocturnal use of the shelters may be related to the fact that the Lontra longicaudis
is more active at night. The diet of the Lontra longicaudis consists mainly of fish
(63.16%) and crustaceans (30.36%). Other dietary items, such as birds (3,65%)
and mammals (2.63%), appear infrequently. For the item fish, the Family most
found was the Cichlidae, particularly the Tilapia rendalli (Tilapia) and Geophagus
brasiliensis (Cará) species. However, there is no distinction between the two in the
analysis of excrement. Both species are distributed throughout the shores of the
lake and Cachoeira Grande river, and live in association with aquatic macrophytes
(Scirpus californicus and Nymphoide indica). For the item crustaceans, the
Species that can be identified was the Macrobrachium, which is abundant at the
edges of the lake, close to stones and aquatic macrophytes. The fact that the diet
of the otter is based on the most abundant species and that its distribution is
confined to the edges of the body of water indicates that the individual
concentrates its efforts on capturing its prey with minimum expenditure of energy,
xii
which appears to suggest a strategic and opportunistic behavior of the animal in
the Peri Lake.
13
1 INTRODUÇÃO
Os mustelídeos constituem a família mais diversificada da Ordem Carnívora
(Wozencraft, 1989), ocorrendo em todas as áreas terrestres do mundo, com
exceção da Antártida, Oceania, algumas ilhas costeiras e a maioria das ilhas
oceânicas, e também nas águas costeiras do pacífico Norte (Nowak, 1999). A
família Mustelidae contém 65 espécies, é uma das maiores famílias dentre os
carnívoros (Bininda–Emonds et al., 1999) e encontra-se dividida em cinco
subfamílias: Mustelinae (irara, furão), Mellivorinae (martas, doninhas), Melinae
(texugos), Mephitinae (cangambás) e Lutrinae (lontras e ariranha).
Segundo Estes (1989), as 13 espécies da subfamília Lutrinae são consideradas
aquáticas, pois apresentam ligação obrigatória a habitats aquáticos e adaptações
morfológicas, fisiológicas e comportamentais para a vida neste ambiente:
membranas interdigitais e cauda achatada dorsoventralmente, que auxiliam na
natação; cristalino mais esférico que nos demais mustelídeos, permitindo
acuidade visual tanto na água como no ar; tato proveniente das vibrissas;
pelagem densa e taxa metabólica alta; alta concentração de hemoglobina e
pulmões grandes (Chanin, 1985). Outros autores (e.g. Emmons, 1990)
consideram a lontra um animal semi-aquático, pois, apesar das adaptações ao
meio aquático, elas precisam de terra firme nos períodos de repouso e para criar
os filhotes. Van Zyll de Jong (1987) realizou um estudo com as espécies da
subfamília Lutrinae, utilizando a metodologia cladística e 12 caracteres
morfológicos qualitativos. Esta análise, embora preliminar, é a única disponível
para a realização de comparações entre essas espécies. Segundo o autor, o
gênero Lutra aparece como parafilético, as espécies do Velho Mundo formando
um clado com Pteronura brasiliensis (Ariranha), e as espécies do Novo Mundo
formando um clado com as espécies do gênero Aonyx e com Enhydra lutris.
Desta forma Van Zyll de Jong (op.cit.) propõe, então, a transferência das espécies
do Novo Mundo do gênero Lutra para o gênero Lontra. Assim, Lontra longicaudis
forma um clado com as demais espécies neárticas e neotropicais deste gênero (L.
provocax, L. canadensis e L. felina). A taxonomia do gênero ainda tem sido
14
discutida, mas a atual tendência é a adoção do gênero Lontra para as lontras do
Novo Mundo (Larivière, 1999).
A lontra (Lontra longicaudis) está distribuída desde o México até o Uruguai (Nowak,
1999), sendo que no Brasil, ocorre em quase todo o território nacional (Figura 1).
Apesar de uma distribuição ampla, é uma espécie pouco estudada, sendo pouca a
literatura disponível sobre o animal. A lontra, recentemente, foi retirada da Lista
Brasileira de Animais Ameaçados de Extinção elaborada pelo Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), mas segundo
observações dos pesquisadores do Projeto Lontra–Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI)/Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), a
população de lontras na Lagoa do Peri (Florianópolis/SC) experimentou um declínio
nos últimos dez anos (Carvalho Junior, com.pess.). De acordo com a CITES
(Convention on International Trade in Endangered Species), acordo internacional
entre 160 países que impede o comércio internacional da fauna e flora, a Lontra
longicaudis é considerada uma espécie ameaçada de extinção. A lontra está listada
no apêndice I, que trata das espécies com maior risco de extinção devido ao
comércio ilegal de animais. O CITES foi assinado em 3 de Março de 1973 e
amendado em 22 de Junho de 1979.

Figura 1. Área de distribuição de Lontra longicaudis na América do Sul (em preto).
15
A lontra, historicamente, tem sido alvo de caçadores, cuja pele atinge altos
valores no mercado internacional. Esta situação vem sendo modificada nos
últimos anos devido a ações governamentais e não governamentais. Mas,
atualmente, a destruição do habitat natural das lontras representa o principal fator
de impacto na população. O desmatamento da mata ciliar, a erosão das encostas,
o assoreamento e represamento dos cursos de água, e a poluição das águas por
organoclorados provenientes de pesticidas, e metais pesados originados de
efluentes industriais o alguns dos problemas associados à diminuição do
número de lontras (Mason & Macdonald, 1986). Além disso, a caça e a ausência
de informações sobre a ecologia da espécie também contribui para dificultar a sua
preservação.
A espécie Lontra longicaudis, também conhecida como lontra neotropical (Figura
2), tem seu peso variando de cinco a quinze quilos, possui um corpo alongado,
flexível e musculoso, cabeça arredondada e achatada, com um pescoço curto,
patas com membranas interdigitais e orelhas pequenas que podem ser fechadas
quando na água. Possui uma pelagem muito densa de cor marrom, sempre mais
escura no dorso do que no ventre, uma das mais densas dentre todos os
mamíferos, composta de duas camadas que aprisionam o ar e servem como um
ótimo isolante térmico (Walker, 1975). As lontras, diferente de outros mamíferos
aquáticos, não possuem uma camada de gordura (o “blubber”) como isolante
térmico, sendo esta função exclusiva de sua pelagem (Walker, 1975). O focinho
não possui pêlos e na ponta tem grandes vibrissas que auxiliam na localização da
presa embaixo d’água. Sua cauda longa e achatada na extremidade pode atingir
até um terço de seu tamanho, o qual varia de 0,89 a 1,40 metros de comprimento
(Cimardi, 1996; Carvalho Junior, 1990).
Estudos sobre os hábitos alimentares são muito importantes no ponto de vista
ecológico. Através do acréscimo de conhecimento sobre uma espécie, é possível
entender as relações tróficas de uma comunidade, o que é importante em projetos
de manejo e conservação (Helder-José, 1997). Os trabalhos realizados até o
momento demonstram que os peixes compõem o item principal da dieta da lontra,
16
sendo seguidos por alguns invertebrados (principalmente crustáceos). Todas as
demais presas (anfíbios, répteis, aves e mamíferos) são ocasionais, em especial
aqueles com hábitos não-aquáticos (Pardini, 1996).
Figura 2. Exemplar de Lontra longicaudis na região amazônica (Foto: D. Graham).
As lontras podem ser encontradas tanto em águas interiores (rios e lagos), como
em estuários, manguezais e enseadas marinhas (Carvalho Junior, 1990). São
animais que necessitam de uma boa provisão de alimento e locais de criação
adequados. Devido à maior produtividade, rios de planície, costões rochosos
abrigados e lagoas são considerados habitats ideais (Blacher, 1988). As lontras
utilizam as tocas localizadas nas áreas marginais desses corpos d’água por
diferentes razões (e.g. para repousar entre os períodos de atividade, dormir, se
proteger das intempéries ou dar a luz e criar os filhotes (Pardini et al., 1999)). As
tocas podem ser utilizadas por mais de um indivíduo, mas não ao mesmo tempo,
com exceção da fêmea e os filhotes (Arden-Clarke, 1986; Melquist & Hornocker,
1983). A tocas podem ser cavidades naturais entre as rochas, construídas entre
as raízes das árvores, pela lontra ou outro mamífero e mesmo estruturas
construídas pelo homem (Chanin, 1993; Melquist & Hornocker, 1983). Na Lagoa
do Peri, Carvalho Junior (1990) verificou que a lontra ocupa espaços pré-
existentes entre rochas e raízes de árvores, sendo que a construção de tocas não
é observada.
17
Estudos sobre a descrição das tocas de lontras realizados por Schmidt et al.
(2000) em três ambientes distintos, a Lagoa do Peri, em Florianópolis, o Morro
dos Macacos, em Camboriú e a Ilha de João da Cunha, em Porto Belo mostram
que as tocas são similares quanto à estrutura e organização, formadas pela
sobreposição de rochas de granito Guabiruba intrusivos. Tal fato se deve a
própria história da formação geológica do litoral do Estado de Santa Catarina.
Esta formação geológica resulta em ambientes internos semifechados, com a
parte externa coberta por vegetação típica de Mata Atlântica. As raízes das
árvores e uma espessa camada de húmus servem para preencher os espaços
deixados pela sobreposição das rochas.
A presença de vegetação nas margens do corpo d’água é um fator importante
para a utilização de um habitat pela lontra. Parece existir uma preferência por
corpos d’água com margem com vegetação de grande porte àqueles com
margem sem vegetação (Waldemarin, 1997). Contato et al. (2002), mostra que a
interação entre a estrutura geológica e a vegetação resultaria em um ambiente
protegido contra as intempéries, ajudando a regular a temperatura e luminosidade
interna. Desta forma, a vegetação funcionaria como tampão da temperatura,
mantendo esta praticamente constante no interior da toca, atuando como isolante
térmico.
De hábito crepuscular/noturno e temperamento reservado, a pesquisa com lontras
exige um planejamento metodológico, minucioso e criativo (Carvalho Junior,
1990). Evidências indiretas, como excrementos e pegadas, são importantes para
o estudo da espécie. Seus excrementos estão associados à secreção de
glândulas de cheiro e urina e parecem desempenhar um importante papel social.
Um exemplo disso é a delimitação de territórios, podendo ainda indicar a condição
sexual de cada indivíduo e “status” dentro de uma estrutura hierárquica (Mason &
Macdonald, 1986). Os excrementos podem ser encontrados sobre rochas e
troncos nas margens de ambientes aquáticos, em confluências de cursos de
água, entrada de tocas e áreas de descanso.
18
A utilização de marcas odoríferas por Lontra longicaudis (Olfers, 1818) é um
aspecto marcante de seu comportamento (Spínola & Vaughan, 1995; Soldateli &
Blacher, 1996; Quadros et al., 2002). De forma geral, este comportamento é
observado pela deposição de fezes e muco anal em locais conspícuos do
ambiente e no interior de abrigos (Soldateli & Blacher, 1996). Kasper (2004)
constatou a utilização de muco-anal de forma análoga às fezes, sendo possível
supor que o muco-anal desempenhe funções semelhantes às fezes, embora com
freqüência de deposição mais baixa. Jenkins & Burrows (1980) estudaram o uso
de fezes como indicador de densidade e distribuição de Lutra lutra na Escócia.
Através destes estudos foi possível inferir mudanças no tamanho da população,
entretanto, o número total de indivíduos não pôde ser calculado com os dados
obtidos.
Alguns autores (e.g. Kruuk et al., 1989; van der Zee, 1982) têm demonstrado que
o número de tocas ativas de lontras é constante através do ano em um ambiente
de costão rochoso e que existe uma correlação entre o número de tocas em uso e
o número de lontras residentes na região. Dessa forma, o número de tocas ativas
pode ser um melhor indicativo do tamanho da população de lontras do que o
número de fezes.
Atualmente, novas técnicas da genética vêm auxiliando os estudos ecológicos.
Métodos não invasivos para o estudo do tamanho e da genética de populações
naturais foram desenvolvidos através do uso da cnica de Reação da polimerase
em cadeia (“PCR Polymerase Chain Reaction”) e do descobrimento de
marcadores moleculares como os microsatélites, seqüências simples repetidas
(“SSR - Simple Sequence Repeats”), de um a quatro nucleotídeos de
comprimento, comuns em genomas de eucariontes. As regiões contendo estas
seqüências simples repetidas podem ser amplificadas individualmente através de
PCR utilizando-se um par de “primers” (oligonucleotídeos iniciadores) específicos
(de 20 a 30 bases) complementares a seqüências únicas que flanqueiam o
microsatélite (Ferreira & Grattpaglia, 1995). Portanto, através desta técnica é
possível individualizar, por exemplo, os excrementos de uma dada espécie
19
coletados em uma dada área (Weber, 2002), estimando assim um número mínimo
de animais vivendo em uma área.
O acompanhamento temporal da densidade populacional de espécies de animais
é de suma importância para o seu manejo e preservação no ambiente. Estudos
da utilização do hábitat e distribuição das espécies permitem verificar se o tipo de
habitat é um fator determinante para a sua ocupação e desta maneira identificar
áreas importantes a serem preservadas para a sua conservação. A importância
destes estudos torna-se mais evidente no caso de predadores do topo da cadeia
alimentar, uma vez que estes têm um importante papel no controle das
populações de presas (Waldemarin, 1997).
O conhecimento da distribuição dos indivíduos, também pode indicar se estes
migram para outras regiões, garantindo assim um fluxo gênico adequado e
gerando variabilidade dentro da população. Segundo Carvalho Junior (1990) a
população mínima residente, na Lagoa do Peri, durante o período de estudo, era
de cerca de 10 indivíduos, o que correspondia a uma densidade média de 1
lontra/1,1 km de linha de praia. Novas estimativas devem ser feitas de forma a
podermos conhecer a evolução da população dentro do sistema.
Uma nova técnica utilizada no estudo da distribuição de uma espécie é o uso de
Sistemas de Informação Geográfica (SIG), que hoje é numa ferramenta
imprescindível para um número crescente de estudos de ecologia (Walker, 1990).
O SIG é uma tecnologia de Geoprocessamento que capta, armazena, manipula,
analisa e apresenta dados geo-referenciados (Aronoff, 1989). Estes dados,
coletados através do auxílio de um GPS (Global Positioning System), permitem
que se conheça a estrutura geométrica das feições espaciais (e.g. casas, rios,
lagoas e tocas) bem como sua posição no espaço geográfico. De acordo com
Alves (1990) estes sistemas manipulam dados de diversas fontes, como mapas,
imagens, cadastros e outras, permitindo recuperar e combinar informações e
efetuar os mais diversos tipos de análises.
20
O presente trabalho apresenta um estudo da densidade e distribuição da
população de lontras no Ecossistema da Lagoa do Peri. O objetivo foi contribuir
para o conhecimento da ecologia e comportamento de Lontra longicaudis no seu
ambiente natural. Para tanto, faz parte da análise o papel da espécie no ambiente
e a forma como ela utiliza os recursos disponíveis. Além disso, os estudos
também visam obter subsídios que possibilitem a preservação do animal e
também pode servir como uma importante fonte de referência para o
planejamento e manejo de unidades de conservação.
1.1 ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo está situada na faixa costeira sudeste da Ilha de Santa Catarina
(27°43’30”S e 48°32’18”W) (Figura 3) e compreende a bacia hidrográfica e a
própria Lagoa do Peri. A área total da bacia hidrográfica representa 20,1 km
2
e o
espelho de água da lagoa corresponde a 5,1 km
2
(IPUF, 1978). O corpo lagunar é
delimitado no lado ocidental por uma cadeia de montanhas do composto
cristalino, área bastante acidentada, onde as maiores altitudes são representadas
pelos morros da Chapada (440 m) e Tapera (371 m). A porção leste apresenta
uma faixa plana de restinga que separa a lagoa do Oceano Atlântico. O corpo
d’água está alinhado na direção Norte-Sul e apresenta um interessante processo
de formação de “spit” que representa a formação de um pontal de areia que
estrangula a largura da lagoa no seu meio (Rego et al., 1987). A vegetação do
ecossistema lagunar é diversificada e constituída basicamente pela mata pluvial
atlântica, vegetação de restinga, vegetação arbustiva e macrófitas aquáticas no
corpo lagunar (Carvalho Junior, 1990).
21
Figura 3. Localização da Lagoa do Peri na Ilha de Santa Catarina, SC.
A lagoa é abastecida por pequenos mananciais hídricos formados nas encostas
do sul, o Rio cachoeira Grande e o Rio dos Padres, e mantém contato com o mar
através do Canal Sangradouro; entretanto, não é afetada diretamente pelas águas
marinhas. Na área marginal da Lagoa do Peri, percebe-se a formação de
compartimentos geomorfológicos que incluem: praias arenosas, costão rochoso e
vargens. Esses compartimentos são resultados de um longo processo de
evolução do sistema e fazem parte da história natural do ambiente. O fundo da
lagoa varia de lodoso, próximo à desembocadura das cachoeiras, ao arenoso,
próximo às restingas. As diferentes espécies de macrófitas se distribuem de
acordo com sua preferência pelo tipo de substrato (Carvalho Junior, 1990).
No ano de 1975, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS),
drenou e retificou o canal que liga a lagoa ao mar. Como conseqüência, o nível da
lagoa rebaixou cerca de dois metros. No ano de 1978 a lagoa foi tombada para a
instalação do “Parque Municipal da Lagoa do Peri”. Desde então, diferentes
fatores vêm modificando o meio. O turismo, aliado a um maior fluxo de pessoas e
22
veículos motorizados, trafegando na margem lagunar, passam a representar uma
nova fonte de pressão ao meio.
Cerca de vinte anos depois, a Companhia de Águas e Saneamento do Estado de
Santa Catarina-CASAN construiu uma barragem na entrada do canal e passou a
captar água da lagoa para abastecimento público. A construção da barragem da
CASAN resultou em uma elevação no nível da água de mais de dois metros,
inundando áreas de restinga, utilizadas pelas lontras e possivelmente inundando
também algumas tocas, diminuindo a disponibilidade de abrigos.
Junto à construção da barragem (Figura 4), foi construída uma escada, com
abertura de fundo, para a passagem de peixes e crustáceos. Estes organismos
desenvolvem parte de seu ciclo de vida dentro da lagoa e a outra parte no mar,
por exemplo, pitus (Macrobrachium sp.), tainhas (Mugil sp.), robalos
(Centropomus sp.) e carapicús (Eucinostomus sp.), sendo importantes para a
produtividade e manutenção da cadeia trófica local (Carvalho Junior et al., 1988).
Figura 4. Barragem construída pela CASAN na Lagoa do Peri (Foto: UNISINOS).
Interferências como estas podem causar uma diminuição na diversidade e no
estoque de peixes como a tainha, o robalo e de crustáceos, que servem de
23
alimento para a lontra e outros animais que habitam o ecossistema da Lagoa do
Peri (Mafra et al., 2003).
24
2 OBJETIVOS
2.2 OBJETIVO GERAL
Estudar os aspectos ecológicos de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri, Florianópolis, SC.
2.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
a. Estimar a provável distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema
da Lagoa do Peri;
b. Estimar a ocorrência de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa
do Peri;
c. Verificar a existência de uma diferença na freqüência de utilização das
tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri;
d. Caracterizar o entorno das tocas utilizadas por Lontra longicaudis neste
Ecossistema;
e. Determinar a freqüência dia/noite de utilização das tocas por Lontra
longicaudis;
f. Determinar a distribuição espacial de tocas e latrinas de Lontra
longicaudis;
g. Caracterizar os bitos alimentares de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri.
25
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente estudo foi baseado em observações e coletas de dados de campo que
posteriormente foram analisados em laboratório através do uso de análises
genéticas, a aplicação de sistemas de informações geográficas e de métodos
estatísticos. Os trabalhos com sistemas de informações geográficas foram
realizados no Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da
UNIVALI/CTTMar, sob orientação da Profª. Rosana Rodrigues. As análises
genéticas foram realizadas no Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da
UNIVALI/CTTMar, sob a orientação da Profª. Laura Weber.
3.1 DISTRIBUIÇÃO DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI E ESTUDO DE HÁBITAT DAS TOCAS
Para a condução dos trabalhos foram realizadas duas (2) saídas de campo
mensais. Inicialmente foram realizadas idas ao campo com a finalidade de
localizar as tocas e áreas de latrinas, cujas coordenadas foram marcadas com o
auxílio de um GPS (Global Positioning System). Tocas e latrinas foram
identificadas através de sinais indiretos. Foram consideradas tocas as cavidades
naturais, nas margens da Lagoa do Peri, que continham sinais como
excrementos, pegadas ou marcas de unhas. Também foram consideradas tocas
isoladas aquelas que se encontravam a mais de cinqüenta (50) metros de
distância uma da outra. A localização e contagem das tocas foram acompanhadas
de uma descrição detalhada do seu entorno, como presença, tipo e grau de
conservação da vegetação, profundidade da camada de húmus, altura do nível
d’água, presença de trilhas e grau de atividade humana ao redor da toca.
Para a verificação da distribuição da lontra no Ecossistema da Lagoa do Peri
foram analisados os sinais indiretos da espécie (e.g. excrementos, pegadas e
marcas de unha) neste ecossistema, e também as coordenadas das tocas,
obtidas através do auxílio do GPS, as quais foram plotadas em mapas
georeferenciados no programa Spring (Sistema de Processamento de
Informações Georeferenciadas).
26
Para verificar a freqüência de utilização das tocas, sete tocas foram visitadas
duas (2) vezes ao s durante os meses de agosto de 2003 a julho de 2004. A
freqüência de uso foi obtida com a soma dos meses com presença de sinais e
foram definidas três classes de uso: 1-4 meses tocas de uso temporário; 5-8
meses tocas de uso intermediário; 9-12 meses - toca principal, segundo
metodologia utilizada por Pardini et al. (1999). Ao entrar nas tocas, evidências
indiretas, como excrementos e pegadas, foram observadas. Para a ausência de
sinais foi denotado o valor zero (0) e para a presença o valor hum (1). Como
foram realizadas duas (2) saídas de campo mensais, em um período de um (1)
ano, uma toca podia ter no mínimo zero (0) sucessos de utilização e no máximo
vinte e quatro(24) sucessos. Para calcular a probabilidade de utilização de cada
toca foi aplicada a distribuição binomial aos resultados. As pegadas foram
apagadas e os excrementos coletados para futura análise da dieta alimentar.
Para a verificação da freqüência dia/noite de utilização das tocas, duas tocas
foram selecionadas e monitoradas duas vezes por mês, em dois períodos do dia,
um ao amanhecer e outro ao anoitecer, cumprindo um ciclo de doze horas de
intervalo, durante os meses de maio de 2003 a julho de 2004. Os horários não
foram fixos devido às diferenças no comprimento do dia durante as estações do
ano. Estas tocas foram selecionadas através do critério de facilidade de acesso,
tanto por meio de trilhas, quanto de canoa. Nestas tocas, foram demarcadas
parcelas de 1m
2
, onde uma mistura de areia fina e água foi depositada de forma a
resultar em um bom meio de impressão de pegadas. Para a ausência de pegadas
foi denotado o valor menos um (-1) e para a presença, o valor um (1). Verificada a
presença, as pegadas foram apagadas e a areia novamente umedecida com
água. Esta metodologia, desenvolvida pelos pesquisadores do Projeto Lontra–
UNIVALI/CTTMar, foi denominada de “Armadilha de Pegadas” (Figuras 5 e 6).
Para o estudo da relação entre a utilização das tocas e fatores como densidade
foliar média e a profundidade média da camada de húmus foi realizado um teste
de correlação para verificar se existia uma correlação positiva entre a densidade
foliar média e a profundidade média do húmus do entorno de cada toca e também
27
para saber se existia uma correlação positiva entre a freqüência de utilização de
cada toca e a densidade foliar média do entorno das mesmas. A análise da
freqüência de utilização dia/noite das tocas foi realizada através da distribuição
binomial dos resultados, juntamente com o lculo da probabilidade do
acontecimento de cada evento (e.g. sem utilização, utilização durante o período
do dia e utilização durante o período da noite).
Figura 5. Lontra longicaudis no interior da Toca 2 na Lagoa do Peri (a seta aponta uma das
“Armadilhas de Pegadas”) (Foto: Projeto Lontra).
Figura 6. Checagem da “Armadilha de Pegadas” de Lontra longicaudis no interior da Toca 2 (Foto:
acervo da autora).
As latrinas utilizadas por Lontra longicaudis também foram monitoradas, sendo
observado se suas distribuições permaneceram constantes durante o período de
28
estudo e se existia uma relação entre a distribuição das latrinas e das tocas de
lontra ao longo das margens da Lagoa do Peri.
29
3.2 OCORRÊNCIA DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI
Os estudos sobre a ocorrência de Lontra longicaudis na Lagoa do Peri foram
realizados através da análise genética (DNA-microsatélites) dos excrementos da
espécie. Os excrementos de Lontra longicaudis (Figura 7) foram coletados em
diferentes pontos do Ecossistema da Lagoa do Peri. Os excrementos coletados,
quando secos, foram acondicionados em Placas de Petri previamente
esterilizadas com raio ultravioleta e quando frescos foram acondicionados em
tubos, também previamente esterilizados, contendo sílica para a dessecação dos
mesmos. Os excrementos foram separados da sílica através de um papel filtro. A
extração de DNA-microsatélites desses excrementos foi realizada seguindo a
metodologia da sílica-guanidina (Hoelzel, 1998), descrita no Anexo 1. Os
microsatélites foram obtidos a partir do DNA extraído dos excrementos, utilizando
a técnica da reação em cadeia de polimerase (PCR) e um “primer”
(oligonucleotídeos iniciadores) descrito por Dallas & Piertney (1998) para Lutra
lutra, uma espécie européia, chamado Lut733, seguindo as condições descritas
por Colares (2001) e Weber (2002) e apresentadas no Anexo 2.
Figura 7. Excremento de Lontra longicaudis (Foto: Evandro Mafra).
As variantes de microsatélites foram separadas por eletroforese vertical em gel
desnaturante de poliacrilamide 6%, seguindo as seguintes condições: 1) Pré-
corrida sem amostras a aproximadamente 1330volts, 55mA e 75W até atingir
30
65ºC; 2) Desnaturação das amostras e do Marcador Molecular de 10 bp (Gibco)
em tampão loading (95% Formamida; 20mM EDTA, pH 8,0; 0,05% Azul de
Bromofenol; 0,05% Xilene Cianol), numa relação 1:1, a 92ºC durante 5 min; 3)
Colocação das amostras e do marcador molecular (Ladder) no gel: de 7 a 10µl de
cada amostra e 2µl do marcador molecular; 4) Corrida eletroforética a 1200volts,
30-40mA, 45W, mantendo a temperatura constante a 55ºC.
A visualização seguiu a coloração com Nitrato de Prata, seguindo as seguintes
etapas: 1) 3 min em Fixador: 10% etanol e 0,5% de ácido acético; 2) 10 min em
Solução de Impregnação: 0,1% AgNO
3
3) Duas lavagens em água deionizada; 4)
20 min em Solução de Revelação Principal: 1,5% NaOH, 0,01% NaBH
4;
0,15%
Formaldeído; 5) 10 min em Solução de Revelação Secundária: 0,75% Na
2
CO
3;
6)
Uma lavagem em água deionizada; 7) Uma lavagem em Fixador; 8) 30min em
Solução Preservadora: 1,5% Glicerol.
Essas variantes de microsatélites foram comparadas com um marcador molecular
(“Ladder”) para a medição do número aproximado de pares de base de cada alelo
encontrado e a individualização das amostras, e, em conseqüência, dos
excrementos.
31
3.3 HÁBITOS ALIMENTARES DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA
LAGOA DO PERI E ESTUDO DO OPORTUNISMO ALIMENTAR
Para a análise dos hábitos alimentares de Lontra longicaudis, de setembro de
2003 a setembro de 2004, foram coletados duas vezes ao mês os excrementos
encontrados em tocas e latrinas da Lagoa do Peri. Estes excrementos coletados
foram identificados e acondicionados em sacos plásticos para posterior análise.
Na base do Projeto Lontra (Ilha de Santa Catarina/SC), os excrementos foram
colocados em peneiras com malhas de diferentes tamanhos e lavados em água
corrente para separação de partes duras (e.g. escamas, otólitos, carapaças de
crustáceos, penas e pêlos). Com o auxílio de uma lupa, estas partes duras foram
analisadas e comparadas com guias de identificação.
A abundância numérica de cada “taxa” na dieta foi calculada pela divisão do total
de vezes que cada item esteve presente pelo número total de amostras, e
expressa em porcentagem. Os diferentes “táxons” também foram estudados
separadamente para verificar se existia uma diferença na distribuição das presas
consumidas por Lontra longicaudis ao longo do período de estudo.
32
4. RESULTADOS
Os resultados a seguir foram agrupados em três tópicos de forma a facilitar o
entendimento. O primeiro tópico diz respeito ao estudo da distribuição da lontra no
Ecossistema da Lagoa do Peri e para isso foram utilizadas cnicas de
geoprocessamento e observação de sinais indiretos do animal (e.g. pegadas,
marcas de unhas e excrementos) ao longo de todo este ecossistema. Neste
mesmo tópico também foram realizados estudos de habitat das tocas, com a
descrição do entorno das mesmas, e estudos de freqüência de utilização dessas
tocas. Tais dados foram coletados entre os meses de agosto de 2003 a julho de
2004, num total de doze (12) meses de coleta. O segundo tópico está relacionado
com o estudo da ocorrência de Lontra longicaudis, neste mesmo ecossistema,
através da análise genética de excrementos coletados em novembro e dezembro
do ano de 2004. Os resultados estão expostos na forma de tabelas e mapas pra
facilitar a compreensão. No terceiro e último tópico foram abordados os hábitos
alimentares de Lontra longicaudis e também o oportunismo alimentar associado a
esta espécie. Os dados referentes à alimentação e o oportunismo foram coletados
de setembro de 2003 a setembro de 2004, perfazendo treze (13) meses de coleta.
4.1 DISTRIBUIÇÃO DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI E ESTUDO DE HÁBITAT DAS TOCAS
4.1.1 Distribuição de
Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri
A Figura 8 aponta um mapa com a localização e distribuição das sete tocas de
Lontra longicaudis estudadas e analisadas durante os meses de agosto de 2003 a
julho de 2004 no Ecossistema da Lagoa do Peri. A plotagem das coordenadas
das latrinas no mesmo mapa, para o estudo da relação de distribuição das tocas e
latrinas, foi impossível, pois a distribuição das latrinas mostrou-se muito variável
durante o período de estudo, sendo os excrementos encontrados ao longo de
todo o corpo lagunar, não existindo locais fixos para a deposição dos mesmos.
Devido a este fato, das latrinas serem encontradas nas margens de todo o corpo
33
lagunar, não foi verificada uma relação direta entre a distribuição das tocas e das
latrinas.
Figura 8. Disposição das sete tocas de Lontra longicaudis em mapa georeferenciado do
Ecossistema da Lagoa do Peri. O mapa encontra-se na escala 1:25000, o erro é de 0,5 pixel com
confiabilidade de 15m na geração do mapa. Pode existir um erro de até 5m na localização das
tocas devido a plotagem das coordenadas do GPS no programa Spring.
Observando o mapa georeferenciado da lagoa (Figura 8) e a disposição das tocas
pôde-se perceber que as sete tocas estudadas encontram-se na região da lagoa
com feição de costão rochoso. As tocas 1 e 2 possuem acesso por trilha e por
barco e as outras tocas tem acesso por água. Nas áreas de praias arenosas,
próximas às tocas, foram encontradas pegadas, indicando o deslocamento do
animal, não sendo, no entanto, encontrados excrementos nestas áreas. Na região
de restinga também foram encontradas pegadas do animal, mas em poucas
ocasiões.
34
Através das observações realizadas e dos sinais indiretos, e.g. pegadas (Figura
9) e excrementos, verificou-se que Lontra longicaudis desloca-se pelo leito do Rio
Cachoeira Grande, local onde foram encontradas latrinas, mas não foi verificada a
presença de tocas; ocupa a maior parte da região costeira da Lagoa do Peri, tanto
nas regiões de costão rochoso quanto nas de restinga; e transpõe a barragem
construída pela CASAN percorrendo toda a extensão do Canal Sangradouro a
sua desembocadura no mar, local onde se encontram diversas latrinas. O
deslocamento pelo Canal Sangradouro, tanto em direção à lagoa quanto em
direção ao mar, foi observado, em várias ocasiões, pelos colaboradores do
Projeto Lontra. Foram realizadas visitas ao Rio dos Padres, mas em nenhuma
delas foram encontrados sinais da lontra, indicando que, aparentemente, a
espécie não ocupa este rio na Lagoa do Peri.
Figura 9. Pegadas de Lontra longicaudis nas margens da Lagoa do Peri (Foto: acervo da autora).
35
4.1.2 Estudo de Hábitat das Tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri
4.1.2.1 Freqüência de Utilização das Tocas
As freqüências de utilização das tocas para diferentes meses podem ser
visualizadas na Tabela 1. Durante os doze meses de coleta, a toca mais utilizada,
em número de meses, foi a Toca 7, situada em uma região mais preservada da
Lagoa do Peri, seguida pelas Tocas 1 e 2, localizadas em uma região com
influência humana.
Tabela 1. Freqüência de utilização das tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do
Peri durante os meses de agosto de 2003 a julho de 2004.
Toca 1
Toca 2
Toca 3
Toca 4
Toca 5
Toca 6
Toca 7
ago/03
0 1 0 1 1 0 1
set/03
1 1 1 0 1 1 1
out/03
1 1 1 1 1 0 1
nov/03
1 1 - 1 0 0 1
dez/03
1 1 0 1 1 1 1
jan/04
1 0 1 1 1 1 1
fev/04
1 1 1 1 1 0 1
mar/04
1 1 0 1 0 0 1
abr/04
1 1 1 1 0 1 1
mai/04
1 1 0 1 0 0 1
jun/04
1 1 1 1 0 0 1
jul/04 1 1 1 0 0 1 1
Total 11 11 7 10 6 5 12
As tocas foram classificadas quanto à sua utilização e, seguindo esta
classificação, as Tocas 3, 5 e 6 foram consideradas tocas de utilização
intermediária (5 a 8 meses em uso) e as Tocas 1, 2, 4 e 7 foram consideradas
tocas principais (9 a 12 meses de uso). Como foram realizadas duas (2) coletas
por mês, foi construída a Tabela 2, mostrando em quantas, das 24 visitas, obteve-
se sucesso, ou seja, as tocas foram utilizadas. Através da distribuição binomial foi
construído um gráfico (Figura 10) e calculada a probabilidade de cada toca ser
utilizada (Tabela 3).
36
Tabela 2. Número de sucessos em 24 visitas a cada toca de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri durante os meses de agosto de 2003 a julho de 2004.
Toca 1
Toca 2
Toca 3
Toca 4
Toca 5
Toca 6
Toca 7
ago/03
0 2 1 2 2 1 2
set/03
2 2 2 0 2 1 2
out/03
2 2 1 1 1 0 2
nov/03
1 1 1 2 0 0 2
dez/03
2 2 0 1 2 2 2
jan/04
1 0 1 2 2 2 2
fev/04
2 1 2 2 1 0 2
mar/04
2 1 0 1 0 0 2
abr/04
2 2 0 1 0 1 2
mai/04
2 1 0 2 0 0 2
jun/04
1 1 1 2 0 0 2
jul/04 2 2 2 0 0 1 2
Total 19 17 11 16 10 8 24
-0,05
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
0,4
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
Número de sucessos em 24 visitas às tocas
Valores de p
Toca 1
Toca 2
Toca 3
Toca 4
Toca 5
Toca 6
Toca 7
Figura 10. Distribuição binomial da utilização das sete tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema
da Lagoa do Peri nas 24 visitas realizadas durante os meses de agosto de 2003 a julho de 2004.
37
Tabela 3. Probabilidade de utilização de cada toca de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri.
Toca
Probabilidade de utilização
1 0,7916
2 0,7083
3 0,5000
4 0,6666
5 0,4166
6 0,3333
7 1
Na Figura 10 é possível observar que as tocas encontram-se agrupadas de
maneira muito similar à classificação realizada quanto aos meses em uso. As
Tocas 3, 5 e 6 apresentaram uma menor probabilidade de utilização. Em cem
(100) visitas a Toca 3 teria 50% de chance de ser utilizada, a Toca 5, 41,66% e a
Toca 6, 33,33%. As toca mais utilizada foi a Toca 7 com 100% de chance de ser
utilizada, seguida pela Toca 1 com 79,16%, a Toca 2 com 70,83% e a Toca 4 com
66,66%. Observando-se as caudas da curva de cada toca é possível afirmar que
a probabilidade da Toca 6, a menos utilizada, vir a se tornar uma toca como as
Tocas 1 e 2 é muito baixa e é praticamente nula quando comparada com a Toca
7.
As sete tocas estudadas encontravam-se nas margens da lagoa, algumas sujeitas
à inundação como o aumento do nível da lagoa. As únicas tocas que se
encontravam acima do nível da água da lagoa eram as Tocas 1 e 2. Essas tocas
também eram as únicas que possuíam acesso por trilhas entre a vegetação além
do acesso por água. As tocas eram formadas pela sobreposição de rochas de
granito Guabiruba de diversos tamanhos, formando câmaras de várias
dimensões, muitas vezes interligadas entre si por corredores estreitos e de difícil
acesso para um ser humano, com diversas aberturas e frestas. A maioria das
tocas possuía entradas emersas e submersas e estavam muito ligadas à
38
vegetação de Mata Atlântica (Figuras 11 e 12). Na Lagoa do Peri não foi
encontrada nenhuma evidência de que as lontras escavam os seus refúgios.
Figura 11. Entrada emersa da Toca 3 na Lagoa do Peri (durante período de estiagem) (Foto:
acervo da autora).
Figura 12. Entrada submersa da Toca 6 na Lagoa do Peri (durante período de estiagem) (Foto:
acervo da autora).
Para verificar qual a importância da vegetação do entorno, foi realizada a medição
da densidade foliar e da camada de húmus de seis pontos ao redor de cada toca
estudada e tirada uma média aritmética em percentagem. A Tabela 4 mostra a
toca, a freqüência de utilização, a densidade foliar média e a profundidade média
da camada de húmus do entorno de cada toca. Foi realizado um teste de
39
correlação entre esses dois últimos grupos de dados (densidade foliar e
profundidade do húmus) e obteve-se um valor D=0, 863346, indicando que a
correlação entre a densidade foliar média e a profundidade média da camada de
húmus é positiva e bastante razoável. Então, locais como maior densidade foliar
média tendem a ter uma maior profundidade média da camada de húmus. Foi
realizado também um teste de correlação entre a densidade foliar média e a
freqüência, em meses, de utilização das tocas e obteve-se o valor D=0, 385984,
indicando que existe uma correlação positiva, em menor grau, entre a densidade
foliar média e a freqüência de utilização das tocas na Lagoa do Peri. Sendo
assim, tocas que possuem uma maior densidade foliar e conseqüente maior
profundidade da camada de húmus em seu entorno são mais utilizadas do que
aquelas que apresentam uma menor densidade foliar em seu entorno.
Tabela 4. Número da toca, freqüência de utilização, densidade foliar média e profundidade média
do húmus do entorno de cada toca de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri.
Toca
Freqüência de
utilização
Densidade Foliar
média em %
Profundidade média do
húmus em cm
1 11 78,1% 5,22cm
2 11 83,5% 6,56cm
3 7 88,6% 6,2cm
4 10 64% 1,4cm
5 6 39,6% 1,5cm
6 5 59,5% 1,69cm
7 12 62,5% 1,33cm
A Toca 7 (Figura 13), a mais visitada, possui duas grandes entradas por água,
mas que não podem ser consideradas submersas. A vegetação do entorno além
de servir como um “escudo” protetor (as entradas da toca não podiam ser
avistadas de longe) também garantia um isolamento térmico, isolamento este
verificado pessoalmente, em especial, no inverno, onde a sensação térmica
dentro das tocas era muito mais agradável do que fora delas. A utilização de um
termômetro comprovou tal fato, mostrando que no interior das tocas, às seis horas
da manhã, a temperatura podia variar 8 ºC para mais com relação à temperatura
ambiente.
40
Figura 13. Uma das entradas da Toca 7 na Lagoa do Peri (durante período de estiagem)
(Foto: acervo da autora).
Nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril e maio de 2004 foi observado um
aumento do nível da lagoa, devido ao alto regime pluviométrico nesses períodos,
que causou, em conseqüência, a inundação parcial das tocas 3 e 4, e total das
tocas 5 e 6. No s de junho de 2004 o nível da lagoa diminuiu e as tocas
deixaram de ser inundadas.
4.1.2.2 Freqüência Dia/Noite de Utilização das Tocas
Entre os meses de maio de 2003 a julho de 2004, utilizando a metodologia da
“Armadilha de Pegadas”, foram realizadas 188 observações para determinar em
que período do dia as tocas eram mais utilizadas. Foram obtidos os seguintes
resultados, sendo que se entende por sinal a presença de pegadas nas camas de
areia que compõem a “Armadilha de Pegadas”.
Sem sinal – 133 observações;
Sinal às 6:00 hrs (utilizou a toca de noite) – 34 observações;
Sinal às 18:00 hrs (utilizou a toca de dia) – 21 observações.
41
Foi calculada a distribuição binomial para os resultados, apresentada na Figura
14. A Tabela 5 mostra a probabilidade de ocorrência de cada evento (e.g. sem
utilização, utilização durante o dia e utilização durante a noite).
-0,01
0
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,06
0,07
0,08
0,09
1 5 9 13 17
Número de sucessos em 188 visitas
Valores de p
Uso de dia
Uso de noite
Sem utilização
Figura 14. Distribuição binomial da freqüência dia/noite de utilização das tocas por Lontra
longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri.
Segundo os dados apresentados na Tabela 5, em cem visitas realizadas, a
probabilidade de encontrar uma Toca sem pegadas na “Armadilha de Pegadas”
seria de 71%, a de encontrar pegadas durante o período do dia seria de 11% e a
de encontrar pegadas durante a noite seria de 18%. Os dados mostram que na
maior parte do tempo as tocas analisadas o foram visitadas e indica também
uma tendência a uma utilização noturna das tocas.
Tabela 5. Probabilidade da freqüência dia/noite de utilização das tocas de Lontra longicaudis no
Ecossistema da Lagoa do Peri.
Evento Probabilidade
Sem utilização 0,71
Utilização durante o dia 0,11
Utilização durante a noite 0,18
42
4.2 OCORRÊNCIA DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI
Os dados aqui apresentados são resultado da análise genética de dezoito (18)
excrementos de Lontra longicaudis coletados na Lagoa do Peri nos meses de
novembro e dezembro de 2004. Através da análise dos géis obtidos pela técnica
de eletroforese realizada com as amostras desses dezoito (18) excrementos,
foram identificados seis alelos diferentes. Esses alelos foram separados segundo
o número aproximado de pares de bases (pb) que possuíam, tendo como
parâmetro o marcador molecular Ladder: Alelo A (155pb), Alelo B (151pb), Alelo C
(84pb), Alelo D (70pb), Alelo E (65pb) e Alelo F (53pb) conforme Figuras 15 e 16.
Estes alelos combinaram-se de seis formas diferentes, formando os seguintes
genótipos: AA, AB, AC, AE, DD e FF. A Tabela 6 mostra todos os genótipos
possíveis de serem formados com os seis alelos encontrados, i.e A, B, C, D, E e
F, e a freqüência de cada genótipo nas amostras. O genótipo AB (F
genotípica
=
0,388) foi o mais freqüente nas amostras coletadas na Lagoa do Peri. Foi possível
afirmar, que durante o período de estudo, foram encontradas, ocorrendo ao
mesmo tempo, no mínimo, seis (6) genótipos, ou seja, seis (6) lontras diferentes
na Lagoa do Peri. A Tabela 7 aponta o número das amostras, os locais onde elas
foram coletadas, os genótipos encontrados e a data da coleta. Foi calculada
também a freqüência de cada alelo nas amostras, o que está representado na
Tabela 8. O alelo A (F
alélica
= 0,556) foi o mais freqüente nas amostra, seguido pelo
alelo B (F
alélica
= 0,195). Foi possível verificar que uma toca pode ser visitada por
mais de um indivíduo em um curto período de tempo. A Figura 17 mostra os seis
genótipos encontrados e em qual das sete tocas estudadas eles foram
encontrados.
43
Figura 15. Gel 1 resultante da eletroforese dos excrementos de Lontra longicaudis coletados no
Ecossistema da Lagoa do Peri mostrando os alelos A, B, C, E e F encontrados e suas posições.
44
Figura 16. Gel 2 resultante da eletroforese dos excrementos de Lontra longicaudis coletados no
Ecossistema da Lagoa do Peri mostrando os alelos A, B, C, D e F encontrados e suas posições.
45
Tabela 6. Freqüência dos genótipos nos 18 excrementos de Lontra longicaudis coletados no
Ecossistema da Lagoa do Peri em novembro e dezembro de 2004.
Genótipos
possíveis
Freqüência nas
amostras
Freqüência Genotípica nas
amostras
AA 5/18 0,278
AB 7/18 0,388
AC 2/18 0,112
AD - -
AE 1/18 0,055
AF - -
BB - -
BC - -
BD - -
BE - -
BF - -
CC - -
CD - -
CE - -
CF - -
DD 1/18 0,055
DE - -
DF - -
EE - -
EF - -
FF 2/18 0,112
Tabela 7. Local de coleta de cada amostra, os respectivos genótipos e data de coleta dos
excrementos de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri.
Amostra
Local de Coleta
Genótipo
Data da Coleta
1 Toca 7 AA 24-nov-04
6 Toca 7 AA 08-dez-04
11 Toca 4 AA 08-dez-04
12 Toca 4 AA 08-dez-04
16 Toca 1 AA 08-dez-04
3 Toca 3 AB 24-nov-04
4 Toca 3 AB 24-nov-04
8 Toca 7 AB 08-dez-04
9 Toca 7 AB 08-dez-04
13 Toca 2 AB 08-dez-04
15 Toca 2 AB 08-dez-04
17 Toca 1 AB 08-dez-04
2 Toca 6 AC 24-nov-04
14 Toca 2 AC 08-dez-04
7 Toca 7 AE 08-dez-04
10 Toca 4 DD 08-dez-04
5 Toca 7 FF 08-dez-04
18 Toca 1 FF 08-dez-04
46
Tabela 8. Tamanho em pares de bases e freqüência dos alelos nas amostras de excrementos de
Lontra longicaudis coletados no Ecossistema da Lagoa do Peri.
Alelos
Tamanho aproximado
Freqüência nas amostras
A 155pb 0,556
B 151pb 0,195
C 84pb 0,055
D 70pb 0,055
E 65pb 0,028
F 53pb 0,111
Figura 17. Mapa do Ecossistema da Lagoa do Peri com a localização das sete tocas estudadas e
os respectivos genótipos encontrados para Lontra longicaudis em cada toca.
47
4.3 HÁBITOS ALIMENTARES DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA
LAGOA DO PERI E ESTUDO DO OPORTUNISMO ALIMENTAR
Durante o período de setembro de 2003 a setembro de 2004 foram coletados 358
excrementos. A dieta de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri é
composta basicamente por peixes (63,2%) e crustáceos (30,5%) sendo que o
item peixes apareceu em 100% das amostras. Os outros itens alimentares, como
aves (3,7%) e mamíferos (2,6%), apareceram poucas vezes. A Tabela 9 mostra a
composição da dieta alimentar de Lontra longicaudis na área de estudo e a Figura
18 apresenta os resultados de ocorrência para os diferentes “táxons”, ao longo do
período de estudo, em porcentagem.
Tabela 9. Número total da ocorrência dos diferentes “táxons” encontrados nos excrementos de
Lontra longicaudis na Lagoa do Peri.
Meses
Crustáceos
Peixes
Répteis
Aves
Mamíferos
Total de itens
Set/03
10 21 0 0 0 31
Out/03
9 12 0 0 2 23
Nov/03
8 14 0 2 1 25
Dez/03
14 36 1 0 0 51
Jan/04
19 27 0 0 0 46
Fev/04
4 9 0 0 0 13
Mar/04
18 25 0 0 0 43
Abr/04
9 13 0 1 0 23
Mai/04
15 28 0 3 0 46
Jun/04
14 32 0 6 2 54
Jul/04
22 49 0 3 5 79
Ago/04
6 24 0 2 3 35
Set/04
2 22 0 1 0 25
Total
150 312 1 18 13 494
Dentro do item peixes a Família mais encontrada foi a Cichlidae (96,8% das
ocorrências), em especial, as espécies Tilapia rendalli (tilápia) e Geophagus
brasiliensis (cará), não sendo, no entanto, distinguido entre as duas na análise
dos excrementos. Outra Família de peixe que também pôde ser identificada foi a
Mugilidae (tainha - Mugil sp.), mas esta família só foi registrada em poucas
ocasiões (3,2% das ocorrências) (Tabela 10). Dentro do item crustáceo, o Gênero
48
encontrado foi o Macrobrachium. Foi observado um maior consumo de aves em
relação aos mamíferos e durante os meses de cheia na lagoa, não foi verificado o
consumo de espécimes destes dois táxons. Foi possível identificar as penas de
duas espécies de aves, o biguá (Phalacrocorax olivaceus) e a garça-branca
pequena (Egretta thula).
0%
20%
40%
60%
80%
100%
set/03
nov/03
jan/04
ma
r
/0
4
ma
i/04
jul/04
set/04
Meses
Porcentagem de
ocorrência
Peixes
0%
20%
40%
60%
80%
100%
set/
03
nov/03
jan/04
ma
r
/0
4
ma
i
/04
jul/0
4
set
/04
Meses
Porcentagem de
ocorrência
Crustáceos
0%
20%
40%
60%
80%
100%
set/03
nov/03
jan/04
ma
r
/0
4
ma
i/04
j
ul/04
set/04
Meses
Porcentagem de
ocorrência
Aves
49
0%
20%
40%
60%
80%
100%
set/
03
nov
/03
j
an/04
ma
r
/0
4
ma
i
/04
jul/0
4
set/04
Meses
Porcentagem de
ocorrência
Mamíferos
Figura 18. Porcentagem de ocorrência dos quatro principais “táxons” que compõem a dieta
alimentar de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri.
Tabela 10. Família de peixes presentes na dieta alimentar de Lontra longicaudis no Ecossistema
da Lagoa do Peri.
Meses
Cichlidae
Mugilidae
Total
Set/03 19 2 21
Out/03 10 2 12
Nov/03
13 1 14
Dez/03
36 0 36
Jan/04 27 0 27
Fev/04
9 0 9
Mar/04
25 0 25
Abr/04 13 0 13
Mai/04 28 0 28
Jun/04 32 0 32
Jul/04 46 3 49
Ago/04
22 2 24
Set/04 22 0 22
Total 302 10 312
50
5. DISCUSSÃO
5.1 DISTRIBUIÇÃO DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI E ESTUDO DE HÁBITAT DAS TOCAS
5.1.1 Distribuição de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri
Segundo os resultados, Lontra longicaudis desloca-se pelo leito do Rio Cachoeira
Grande, ocupa a maior parte da região costeira da Lagoa do Peri, tanto nas
regiões de costão rochoso quanto nas de restinga e transpõe a barragem
construída pela CASAN percorrendo toda a extensão do Canal Sangradouro a
sua desembocadura no mar. O que pode ser observado é que além da própria
constituição geomorfológica da Lagoa do Peri (costão rochoso, restinga e praias
arenosas) a presença humana também contribui para a atual distribuição dos
refúgios e presença de Lontra longicaudis neste ecossistema.
Em 1978 foi tombado o Parque Municipal da Lagoa do Peri e segundo o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação SNUC (2002), “o Parque Municipal tem
como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande
relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas
científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação
ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico”. No
entanto, a região da Lagoa do Peri começou a sofrer pressões devido a uma
ocupação turística em massa e desordenada. Foi construída uma sede do parque,
na face nordeste da lagoa, e junto com esta sede, que contém local para festas,
churrascos e um restaurante, foram também delimitadas trilhas ecológicas, a
Trilha da Restinga e a Trilha da Gurita. Com a instalação do parque e o aumento
da procura da região, principalmente aos finais de semana, estabelecimentos
locais começaram a alugar caiaques e barcos a vela.
51
As tocas foram encontradas nas regiões de costão rochosos encontradas nas
porções sul/sudoeste da lagoa, afastadas da sede do Parque Municipal. Nas
regiões de costão rochoso nas porções norte/noroeste, próximas e em frente à
sede do parque, não foram observadas tocas e muito poucos foram os sinais da
presença do animal. Na região de restinga, próxima à sede do parque e da
barragem da CASAN, Carvalho Junior (1990) havia encontrado, no canal
sangradouro, tocas possíveis de serem estudadas, porém neste presente trabalho
estas tocas não foram encontradas, indicando que a pressão desordenada do
turismo fez com que a região tornasse-se imprópria para esta finalidade.
No entorno da lagoa, encontram-se moradias, em sua maioria da população que
residia no local antes da criação do parque, que ao contrário do que estabelece
o SNUC (2002) não foram desapropriadas, e pousadas que foram construídas
devido ao aumento da procura pela região. A presença dessas moradias na
chamada zona de transição de uma unidade de conservação, quando não bem
planejada pode exercer uma pressão negativa sobre esta. A própria Trilha da
Restinga, delimitada quando da criação do Parque Municipal, passa por regiões
antes ocupadas por Lontra longicaudis. Para a criação desta trilha foi construída
uma ponte sobre o canal sangradouro muito próximo do local onde antes eram
encontradas as tocas descritas por Carvalho Junior (1990). A Trilha da Gurita, que
leva ao Rio Cachoeira Grande, recebe durante os feriados e verão, uma
quantidade muito grande de turistas, que além de sua presença trazem consigo o
lixo, facilmente encontrado nas trilhas e nos rios que abastecem a lagoa.
Outro problema verificado durante as coletas foi a construção de trilhas no meio
da vegetação por “pescadores de final de semana”, muitas dessa trilhas próximas
às tocas 1 e 2, o que em algumas ocasiões dificultou a coleta de dados, em
especial, no período de verão. A presença desses pescadores além de estar
comprometendo o deslocamento de Lontra longicaudis para as tocas 1 e 2 (de
alta utilização) também trouxe o lixo, como por exemplo, linhas de nylon, muitas
vezes abandonadas aos rolos nas margens, restos de embalagens plásticas,
panos e fogueiras, muito perigosas nas épocas de seca. Além da presença dos
52
pescadores nas trilhas, em algumas ocasiões, barcos alugados eram encontrados
próximos às outras tocas e muito lixo também era encontrado nessas áreas
quando das coletas.
Em seu estudo na região do Vale do Ribeira, em São Paulo, Pardini (1996)
encontrou Lontra longicaudis utilizando tocas ou refúgios situados em trechos de
rio onde a mata foi retirada e/ou existem perturbações humanas com a mesma
intensidade que os de áreas preservadas. Green et al. (1984) demonstrou que a
perturbação humana também não influencia a distribuição e o grau de utilização
dos refúgios de Lutra lutra em rios ou em ambiente marinho (MacDonald &
Mason, 1980). No entanto, na Lagoa do Peri foi verificada uma relação inversa
entre o grau de perturbação humana e a distribuição das tocas de Lontra
longicaudis. Em locais onde a influência humana era acentuada poucos eram os
sinais de presença de animal e de seus refúgios.
Foram realizadas poucas amostragens no Rio dos Padres, um rio com baixa
vazão, pequena largura, com uma inclinação muito grande e de difícil acesso
tanto por terra quanto por água. A ausência de sinais da lontra neste rio pode
indicar que ele não oferece os recursos (abrigos ou alimento) necessários para a
espécie ou estes são insuficientes.
Com a construção da barragem para coleta d’água da CASAN, a passagem de
Lontra longicaudis da lagoa para o canal sangradouro passou a ser feita através
da barragem, local onde a espécie deposita vários excrementos. O deslocamento
do animal pelo canal foi observado várias vezes e sinais indiretos foram
encontrados ao longo de toda a extensão do canal até a sua desembocadura na
praia. Na região de praia foram encontradas várias latrinas, mas não foi verificada
a presença de tocas. O deslocamento da lagoa para o ambiente marinho também
não pôde ser observado embora, fossem encontrados vários excrementos ao
longo dos costões da Praia da Armação até a Praia da Lagoinha do Leste. Sabe-
se também que Lontra longicaudis desloca-se com facilidade em áreas de
costões rochosos marinhos.
53
Com os dados coletados através dos sinais indiretos da espécie (e.g.
excrementos e pegadas) não foi possível descobrir se a lontra que atravessa o
canal sangradouro em direção ao mar desloca-se para outras regiões do sul da
Ilha de Santa Catarina ou se retorna à lagoa após passar algum tempo na região
estuarina e marinha. No entanto, a presença de excrementos ao longo de todo o
costão desde a desembocadura do canal sangradouro na Praia da Armação aa
Praia de Lagoinha do Leste, local onde se encontram várias tocas, indica que tal
deslocamento pode estar acontecendo. Na Praia de Naufragados, no extremo sul
da Ilha de Santa Catarina, a presença de tocas e latrinas de Lontra longicaudis
também foi descrita por Mafra et al. (2004).
Novas pesquisas devem ser realizadas, em especial com o auxílio da
radiotelemetria, para verificar se a população de Lontra longicaudis do sul da Ilha
de Santa Catarina pode ser considerada uma metapopulação, ou seja, pequenas
sub-populações, onde alguns indivíduos migram entre elas. A análise genética de
excrementos coletados nas diferentes praias e costões do sul da ilha quando
comparados com os excrementos da lagoa também poderão indicar se este
deslocamento existe. Estudos mais aprofundados de genética também poderão
mostrar se existe um fluxo gênico entre os indivíduos de Lontra longicaudis que
formam estas sub-populações.
Foi observado que as latrinas não eram fixas. Quando o nível da água da lagoa
aumentou e algumas tocas e latrinas foram inundadas, novas latrinas surgiram na
margem da lagoa o que não pôde ser observado com relação às tocas. As latrinas
eram rochas existentes na beira da lagoa e os excrementos eram sempre
depositados em locais conspícuos nestas rochas. Pardini (1996) também
encontrou os excrementos de Lontra longicaudis dispostos aleatoriamente em
locais conspícuos do Rio Betari (SP).
Kasper (2004) sugeriu que a falta de locais conspícuos no ambiente podia
favorecer a deposição de excrementos no interior das tocas. Embora existissem
várias latrinas, em locais conspícuos, ao redor da Lagoa do Peri, a maioria dos
54
excrementos foram coletados no interior das tocas. Quadros et al. (2002) também
encontrou um maior número de excrementos no interior de tocas e sugeriu que tal
fato devia ocorrer devido a uma maior permanência das marcas odoríferas no
interior das tocas em relação a locais abertos. A importância das marcas
odoríferas, geralmente relacionada à marcação de territórios, não foi estudada
neste trabalho, mas os resultados obtidos através da análise genética dos
excrementos mostraram que uma mesma toca (a Toca 7) foi utilizada por até
quatro indivíduos diferentes em um intervalo de quinze dias.
5.1.2 Estudo de Hábitat das Tocas de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri
5.1.2.1 Freqüência de Utilização das Tocas
As sete tocas estudadas na Lagoa do Peri eram formadas pela sobreposição de
rochas de granito Guabiruba de diversos tamanhos, formando câmaras de várias
dimensões, muitas vezes interligadas entre si por corredores estreitos e de difícil
acesso para um ser humano, com diversas aberturas e frestas. Em rios
pertencentes ao Município de Lontras, em Santa Catarina, as únicas tocas
encontradas também eram formadas pela sobreposição de rochas e nesta região
ainda não foi encontrada evidência de que a lontra constrói o seu refúgio (Vani
Sasse com.pess.) confirmando o observado na Lagoa do Peri.
A presença de trilhas próximas pareceu não influenciar na utilização das tocas por
Lontra longicaudis. As Tocas 1 e 2, únicas tocas que possuíam acesso por trilha,
foram, juntamente com as Tocas 4 e 7, as tocas mais utilizadas durante o período
de estudo (Figura 19).
55
Figura 19. Lontra longicaudis no interior da Toca 2 (Foto: Projeto Lontra).
Dois fatores podem estar contribuindo para uma maior utilização das Tocas 1, 2, 4
e 7 em relação às Tocas 3, 5 e 6: um foi um maior índice pluviométrico observado
durante os meses de janeiro a maio de 2004 e o outro a densidade da vegetação
e profundidade do húmus do entorno das tocas.
O Ecossistema da Lagoa do Peri, em decorrência da sua localização, está
inserido em região de clima subtropical, superúmido, com temperaturas bastante
elevadas. A precipitação de modo geral, se distribui por todos os meses do ano,
tendo porem uma máxima nos meses de verão e uma mínima nos meses de
inverno. Embora ocorram períodos de maior e menor precipitações, a área em
questão não apresenta uma estação (IPUF, 1978; Carvalho Junior, 1990).
Durante os períodos do verão e outono de 2004 foi verificado um índice
pluviométrico médio muito superior ao normal para a área da Lagoa do Peri.
Como conseqüência, o nível da lagoa se elevou em aum (1) metro e ocasionou
a inundação parcial das entradas das Tocas 3 e 4 e a inundação total das Tocas 5
e 6.
As Tocas 3 e 4 deixaram de possuir entradas emersas e os locais onde antes
eram depositados os excrementos estavam submersos. Foi possível verificar que
56
alguns pontos do interior da toca permaneciam acima do nível da água, no
entanto, não foi possível observar se existiam excrementos no interior das
mesmas. O odor exalado do interior das tocas, característico dos locais com
grande deposição de excrementos, estava muito fraco ou era inexistente. Vale
ressaltar que mesmo a Toca 4 estando parcialmente inundada, foram
encontrados excrementos em uma laje de pedra, que permaneceu emersa, em
frente à esta toca e estes excrementos foram contabilizados com sendo sinal da
presença da lontra na toca. As Tocas 5 e 6 foram totalmente inundadas, não
restando nenhum ponto emerso em seu interior. O odor de excrementos era
inexistente.
Através da correlação entre a densidade foliar e profundidade do húmus do
entorno de cada toca, com a freqüência de utilização das mesmas (D=0,385984)
foi verificado que as tocas que possuem uma maior densidade foliar em seu
entorno são mais utilizadas por Lontra longicaudis. Como exceção podemos citar
a Toca 3 que obteve um maior índice de densidade foliar (88,6%), mas não foi a
mais utilizada. Isto pode ser explicado pelo fato desta toca ter permanecido
parcialmente inundada durante uma parte do período de estudo.
A vegetação era constituída de árvores de grande porte e com caule de pequeno
diâmetro, com predominância de espécies da Família das Lianas (trepadeiras). As
raízes de algumas árvores de grande porte e de caules com grandes diâmetros
possuem um importante papel ao ocuparem as frestas das rochas e auxiliam na
estabilidade das tocas. O húmus, presente na região da serapilheira estava
presente ao redor e sobre as tocas, sendo encontrado em pouca quantidade no
interior das mesmas. Waldemarin (1997) apontou que a distância que a
vegetação encontra-se da água é importante no grau de ocupação do hábitat pela
lontra, de maneira que áreas em que a vegetação está em contato direto com a
água tendem a ser mais utilizadas do que aquelas em que existe uma distância
entre a vegetação e a água. Na Lagoa do Peri a vegetação encontrava-se
próxima da água e em alguns casos eram encontradas árvores dentro da água,
próximas ou em frente às tocas.
57
Pardini (1996) afirma que no Rio Betari (SP) o grau de conservação da vegetação
não influencia a freqüência com que uma toca é utilizada, pelo menos quando
áreas preservadas nas adjacências das regiões mais degradadas. Mafra et al.
(2004) verificou que na região da Praia de Naufragados a presença de vegetação
ao redor das tocas utilizadas por Lontra longicaudis era rara ou inexistente, o que
sugere que em regiões de costão rochoso marinho a presença de vegetação não
é um dos fatores principais para a seleção do hábitat pelas lontras. Com relação à
vegetação foi observado que, na Lagoa do Peri, a lontra prefere ocupar regiões
com vegetação mais densa, pois esta vegetação além de servir como
camuflagem para a entrada das tocas também garante um isolamento térmico,
muito importante durante o período de inverno e durante as intempéries, em
especial na época de procriação. A quantidade de húmus ao redor e sobre a toca
também exerce uma importante função no isolamento térmico, pois este
preenche, juntamente com as raízes de plantas, as frestas entre as rochas
impedindo a entrada de vento e chuva.
Diferente do que aconteceu com as latrinas, que se distribuíram aleatoriamente
pelas margens do corpo lagunar, novas tocas não surgiram com a inundação de
algumas delas. Mesmo existindo locais potenciais (entradas entre rochas)
contendo as características necessárias para uma ocupação pela lontra, em
nenhum deles foram encontrados sinais da espécie.
As tocas foram utilizadas durante todas as quatro estações do ano e mesmo
durante o período em que as Tocas 3, 4, 5 e 6 permaneceram inundadas não foi
percebido um aumento na deposição de excrementos no interior das tocas que
permaneceram secas. De fato foi observada uma diminuição na quantidade de
excrementos coletados devido à constante lavagem, pelas chuvas, das rochas
que margeavam a lagoa. O fato de algumas tocas terem permanecido inundadas
durante alguns meses pode ter influenciado nos resultados apresentados neste
estudo. No entanto, os períodos naturais de enchentes não foram considerados
um problema para Lontra longicaudis, mas certamente fazem parte da dinâmica
de uso do habitat.
58
Para o estudo da freqüência de utilização das tocas foram utilizados os sinais
indiretos encontrados no interior das mesmas (e.g. excrementos, escavados na
areia com marcas de unhas e pegadas). Foi observado que em algumas tocas um
dos sinais aparecia mais que o outro. Este foi o caso da Toca 2, onde as pegadas
foram muito mais importantes na constatação de uso pela lontra do que os
excrementos, ao contrário da Toca 4 onde os excrementos foram mais
importantes. Tal diferença nesta importância dos sinais deveu-se à própria
constituição do interior das tocas onde algumas eram mais suscetíveis para a
formação de pegadas do que outras.
Sabe-se que as tocas podem ser utilizadas por mais de um indivíduo, mas nunca
ao mesmo tempo, com exceção da mãe e dos filhotes (Arden-Clarke, 1986;
Melquist & Hornocker, 1983). Analisando os resultados obtidos com a análise
genética dos excrementos, descobriu-se que, por exemplo, a Toca 7 foi visitada
por quatro indivíduos diferentes em um intervalo de quinze dias. Tal descoberta
confronta a hipótese de territorialismo apontado para a maioria dos carnívoros, e
também que os excrementos teriam a função de demarcação de território.
Na Lagoa do Peri não foi verificado um territorialismo por parte de Lontra
longicaudis. Neste ambiente as lontras parecem estar utilizando os excrementos
como gerenciamento de recursos, ou seja, naquele momento ou dia, uma
determinada lontra pode estar utilizando uma toca ou forrageando em um
determinado ponto da lagoa. Tal marcação serviria para evitar encontros
indesejáveis ou conflitos. Trowbridge (1983) sugere que as relações sociais e
espaciais entre as lontras são independentes da posse de território, e que os
excrementos têm o papel de transmitir informações necessárias para que o
espaço seja dividido temporalmente entre os indivíduos da população, evitando
conflitos.
O uso, pelos mamíferos, de excrementos e urina na defesa de territórios tem sido
amplamente estudado (Johnson, 1973). López-Martín et al. (1998) afirmam que
comparadas aos outros mamíferos terrestres, as lontras utilizam uma restrita área
59
do meio ambiente, o rio e suas margens. Por isso a demarcação de territórios
através de odor é tão importante na organização espacial e temporal das
populações de lontras (Melquist & Hornocker, 1983). O comportamento de
deposição de sinais químicos é conhecido como marcação odorífera e pode
apresentar diversas finalidades, tais como o mapeamento de recursos como fonte
de alimento ou locais de descanso, o alarme, o reconhecimento individual, o
atrativo sexual e a demarcação de território (Johnson, 1973).
5.1.2.2 Freqüência Dia/Noite de Utilização das Tocas
Para a montagem da “Armadilha de Pegadas” as Tocas 1 e 2 foram escolhidas
por serem as únicas que possuíam acesso por trilhas e assim as coletas podiam
ser realizadas mesmo quando as saídas por água eram impossíveis (dias com
muito vento e chuva). As armadilhas também foram colocadas em dois pontos
previamente conhecidos no interior da toca e onde sempre eram encontrados
excrementos: uma na entrada submersa e outra no interior da toca, para garantir
que estando o animal dentro da toca, ele passaria pela “armadilha de pegadas”.
Os dados obtidos através da distribuição binomial indicam uma tendência a uma
utilização das tocas mais intensa durante o período da noite (p=0,18) do que no
período do dia (p=0,11). Na maior parte do tempo de estudo, não foram
verificadas pegadas na armadilha, indicando que a toca não foi visitada (p=0,71).
Este uso noturno das tocas pode estar relacionado como o fato de Lontra
longicaudis ter um hábito crepuscular/noturno, ou seja, o seu período de maior
atividade concentra-se durante a noite. Esta atividade está relacionada aos
períodos de caça e ao deslocamento de uma determinada área para outra dentro
do ecossistema da lagoa ou para fora dela através do canal de ligação com o
mar. Trabalhos sobre a freqüência dia/noite de utilização das tocas e ritmo
circadiano de Lontra longicaudis o raros, sendo conhecido apenas o de
Carvalho Junior (1990), que na Lagoa do Peri encontrou uma sincronização de
60
ocupação relacionada com o ciclo dia/noite, indicando uma maior atividade de
utilização das tocas durante o período noturno.
Embora os resultados apontem para uma maior utilização das tocas durante o
período da noite, elas também foram utilizadas durante o dia, indicando que
Lontra longicaudis também se desloca pela lagoa durante o período do dia. De
fato, as várias observações visuais de lontras, que foram realizadas pelos
colaboradores do Projeto Lontra, foram realizadas quando o dia havia clareado
(entre 7:00 e 8:00 horas da manhã). Observações visuais próximas ao período do
meio-dia também foram realizadas, mas estas aconteceram em dias onde o
tempo estava nublado, com garoa forte e também com bastante vento. Nestas
condições climáticas, a lagoa costuma não apresentar presença humana, com
exceção dos pesquisadores e colaboradores.
O fato de a espécie estar ausente, nas Tocas 1 e 2, em grande parte do tempo
parece indicar que a lontra utiliza as tocas durante o seu deslocamento. Este
deslocamento pode estar associado aos períodos de forrageamento (procura de
alimento) ou a procura de parceiros. Não se de afirmar se era a mesma lontra
visitando as tocas, pois a coleta de dados foi realizada através da presença ou
ausência de pegadas, e estas não puderam ser individualizadas. Em algumas
ocasiões foram encontradas pegadas de dois tamanhos diferentes indicando que
possivelmente uma lontra fêmea com filhote visitou aquela toca. Confirmando esta
hipótese, uma lontra adulta e um filhote foram avistado nadando juntos, em mais
de uma ocasião, entre as Tocas 1 e 2.
Não foi possível verificar o local onde Lontra longicaudis passa a maior parte do
dia. Talvez a lontra permaneça nas cinco tocas restantes e que só possuem
acesso por água, no entanto, foi observado que em várias coletas onde foi
realizada a vistoria completa das margens e tocas da lagoa, durante todo o
percurso, nenhum exemplar de Lontra longicaudis pode ser avistado. A lontra
também pode estar deslocando-se pelo leito do Rio Cachoeira Grande ou ainda
sair do Ecossistema da Lagoa do Peri através do Canal Sangradouro. O emprego
61
de técnicas como a radiotelemetria serviriam para elucidar estas dúvidas e traçar
o ritmo circadiano da espécie.
62
5.2 OCORRÊNCIA DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA LAGOA DO
PERI
Os dados coletados e neste trabalho analisados geneticamente são preliminares
e abrangem apenas um “locus” da espécie (Lut 733). As amostras classificadas
como sendo de um mesmo indivíduo podem vir a torna-se diferentes quando mais
“loci“ forem estudados. Então, com os dados obtidos e neste trabalho analisados
foi possível identificar seis (6) genótipos diferentes para Lontra longicaudis na
Lagoa do Peri. Este número pode vir a se tornar maior se, com a continuação dos
estudos, mais “loci” forem pesquisados para confirmar se as amostras
classificadas como sendo de um indivíduo pertencem a uma lontra ou a mais
de uma. Portanto, este número encontrado é o número mínimo de lontras
existentes na lagoa no período de estudo.
Segundo o estudo de Carvalho Junior (1990) a população mínima residente na
Lagoa do Peri, durante o período de março de 1986 a outubro de 1989, era de
cerca de 10 indivíduos, o que correspondia a uma densidade média de 1
lontra/1,1 km de linha de praia. De acordo com os dados obtidos com a análise
genética dos excrementos coletados, a população mínima residente, durante os
meses de agosto de 2003 a julho de 2004, foi de seis (6) indivíduos, o que
corresponde a uma densidade média de 1 lontra/1,83 km de linha de praia.
Outra característica que pode ser observada é que devido ao fato dos
excrementos dos indivíduos com genótipos AA, AB e AE terem sido coletados no
mesmo dia (08/12/04), em um intervalo de tempo pequeno e na mesma toca
(Toca 7), conforme mostrado na Figura 17, pode indicar um grau de parentesco
entre estes indivíduos, por possuírem um alelo em comum (o alelo A). Apesar do
excremento do indivíduo AC ter sido coletado no mesmo dia, mas em uma toca
diferente, ele compartilha um alelo em comum com os indivíduos AA, AB e AE e
também pode existir um grau de parentesco entre eles. Observando os dados da
Figura 17 é possível verificar que os excrementos dos indivíduos AA e AB foram
coletados novamente juntos na mesma data (08/12/04) e em outra toca (Toca 1)
63
indicando que eles parecem estar se deslocando juntos pela lagoa, o que sugere
serem mãe e um filhote. No entanto, tal grau de parentesco entre estes quatro
indivíduos poderá ser confirmado se mais loci forem estudados, se for
realizada a sexagem de cada indivíduo e também realizado um exame de DNA.
Os excrementos do indivíduo com genótipo AB, o mais freqüente nas amostras
(F
genotípica
= 0,388), foram coletados, com um intervalo de quinze dias, em quatro
tocas diferentes (tocas 1, 2, 3 e 7), mostrando que um indivíduo pode desloca-se
por entre a maioria das tocas em um curto espaço de tempo, não sendo, portanto,
apontado nenhum indício de territorialismo. Os indivíduos com genótipos DD e FF
mostraram-se bem diferentes dos outros indivíduos amostrados por não
possuírem nenhum alelo em comum e, portanto parecem não possuir nenhum
parentesco com os indivíduos que compartilham o alelo A.
Se os dados aqui apresentados forem comparados como os encontrados no
estudo de Carvalho Junior (1990), onde eram encontradas em média dez (10)
lontras habitando o Ecossistema da Lagoa do Peri, aparentemente ocorreu um
declínio na população de Lontra longicaudis neste ecossistema, pois no ano de
2004 foram encontrados seis (6) indivíduos habitando a lagoa. No entanto, ficou
claro que os dados apresentados aqui são preliminares, ou seja, pode ser que,
com o estudo de mais loci chegue-se a um número maior que seis (6) indivíduos.
Weber (2002) e Colares (2001), estudando Lontra longicaudis na Estação
Ecológica do Taim (Rio Grande do Sul) e utilizando seis (6) “lócus”, a partir de 27
amostras de excrementos encontraram 24 indivíduos diferentes.
Este aparente declínio na população de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri, de dez indivíduo para seis, e a possibilidade deste número atual vir
tornar-se maior com mais análises, poderia ser explicado de duas maneiras
diferentes:
64
1- O número de espécimes de Lontra longicaudis no Ecossistema da Lagoa
do Peri permaneceu constante durante estes quatorze (14) anos de intervalo
entre os dois estudos, apesar das pressões aplicadas sobre a espécie;
2- A espécie apresentou em declínio na década de 90, mas com a
instalação do Projeto Lontra em 1999 e o início da conscientização da população
do entorno do Parque Municipal da Lagoa do Peri com relação à lontra, as
pressões sobre a espécie podem ter diminuído e a população de lontras pode ter
se restabelecido neste ecossistema, e aumentado nestes últimos cinco anos.
Foi verificado que o número de excrementos não é um bom indicador da
densidade, pois estes variaram em número ao longo de todo o estudo, sendo que
muitos deles, devido às intempéries, desapareceram e o puderam ser
contabilizados. No entanto, o número mínimo de lontras encontrado através da
análise genética foi de seis indivíduos e o número de tocas estudadas foi de sete
(7), indicando que o número de refúgios em uma área possa ser um indicador da
capacidade mínima de suporte do ambiente, ou seja, pode dizer quantas lontras
no mínimo podem coabitar em uma determinada região. Kruuk et al. (1989),
encontrou uma relação direta entre o número de tocas em utilização e o número
de lontras residentes em uma área de costão rochoso no Reino Unido, concluindo
que o número de tocas em utilização é um índice mais fiel do número de lontras
em uma região do que o número de excrementos encontrados nela.
Por último, a obtenção de DNA microsatélites a partir dos excrementos de uma
espécie é uma técnica cara e de baixo rendimento, no entanto, ela representa
uma técnica não invasiva e que permite estudos populacionais sem interferir
diretamente com os indivíduos da espécie sob estudo e sem a necessidade de
licenças dos órgãos fiscalizadores (e.g. IBAMA, FATMA e outros órgãos
ambientais).
65
5.3 HÁBITOS ALIMENTARES DE Lontra longicaudis NO ECOSSISTEMA DA
LAGOA DO PERI E ESTUDO DO OPORTUNISMO ALIMENTAR
Conforme os resultados apontados, o item peixes foi o mais expressivo (100% das
amostras) na composição da dieta alimentar de Lontra longicaudis e dentro deste
item, duas espécies de peixes da família Cichlidae, Geophagus brasiliensis (cará) e
Tilapia rendalli (tilápia) foram as mais coletadas. Ambas as espécies estão
distribuídas por toda a orla da lagoa e rio Cachoeira Grande e vivem em associação
às macrófitas aquáticas (Scirpus californicus e Nymphoide indica) (Banevicius et al.,
2003). Possuem uma alimentação baseada em plâncton e insetos. Outra espécie de
peixe coletada em menor número, a tainha (Mugil sp.), distribuía - se por áreas mais
abertas do corpo d’água da Lagoa. Este é um gênero que está em constante
movimento e forma pequenos cardumes.
No caso da Lagoa do Peri, não existe uma variação na composição da dieta com
relação aos peixes. Durante o inverno e início da primavera, escamas de peixes
como a tainha (Mugil sp.) tornam-se mais comuns nos excrementos de lontra, mas
as espécies da família Cichlidae (tilápia e cará) continuam sendo as mais
abundantes, independente da época do ano. Crustáceos, o segundo item em
abundância, do gênero Macrobrachium também foram registrados nos excrementos,
apresentando-se abundantes nas bordas da lagoa, próximos às pedras e macrófitas
aquáticas.
A habilidade de escape da presa é provavelmente o fator principal que influencia
a seleção de presas por Lontra longicaudis (Pardini et al., 1999). A mesma autora
encontrou como presas mais freqüentes da lontra no Rio Betari (Vale da Ribeira-
SP) os peixes da família Loricariidae (cascudos), animais bentônicos e
relativamente sedentários. A Tabela 11 apresenta um panorama dos hábitos
alimentares de Lontra longicaudis em diferentes regiões.
Considerando que a velocidade de um peixe é dada pela forma de seu corpo, os
peixes da família Cichlidae possuem um corpo abaulado, pouco hidrodinâmico,
66
então a velocidade não é uma característica das espécies dessa família (Zavala-
Camin, 2004). Já, os peixes como a tainha, a traíra ou o robalo, que possuem um
corpo fusiforme, desenvolvem grandes velocidades de escape. Portanto, os
peixes da família Cichlidae podem ser capturados com maior facilidade pela
lontra, quando comparados com os da família Mugilidae. Outro fator que pode
contribuir para um maior captura de peixes da família Cichlidae é que o
Geophagus brasiliensis é ativo durante a manhã, descansando nas margens do
corpo d’água durante a noite (Lowe-MConnell, 1975). Como as lontras são ágeis
e possuem hábito noturno, estes peixes tornam-se presas fáceis (Helder-José,
1997).
Tabela 11. Aspectos Alimentares obtidos através da análise dos excrementos de Lontra
longicaudis na América do Sul, em especial, nos diferentes Estados do Brasil.
Principais táxons encontrados
Autor
Local do
estudo
Crustáceos
Peixes
Répteis
Aves
Mamíferos
Família
mais
consumida
Hábito
Carvalho
Junior
(1990)
Santa
Catarina
Brasil
X
X
X
X
Cichlidae Oportunista
Parera
(1993)
Rio
Iguaçú
Argentina
X
X
X
X
Loricariidae
Oportunista
Helder-
José et
al.
(1997)
Espírito
Santo
Brasil
X
X
X
X
Cichlidae Oportunista
Pardini
(1998)
São
Paulo
Brasil
X
X
X
X
X
Loricariidae
Oportunista
Colares
et al.
(2000)
R.Grande
do Sul
Brasil
X
X
X
X
X
- Oportunista
Quadros
et al.
(2001)
Santa
Catarina
Brasil
X
X
X
X
- Especialista
Gori et
al.
(2003)
Lago
Ibera
Argentina
X
X
X
X
Cichlidae -
Kasper
et al.
(2004)
R.Grande
do Sul
Brasil
X
X
X
X
Loricariidae
-
Presente
estudo
Santa
Catarina
Brasil
X
X
X
X
Cichlidae Oportunista
67
O oportunismo das lontras tem sido reportados por muitos autores, o que pode
ser observado para Lontra longicaudis na Tabela 10. Com relação à ecologia
alimentar, as lontras são conhecidas como predadores oportunistas porque elas
apresentam uma alta plasticidade da dieta entre os diferentes habitats (Chanin,
1985). Jenkins & Harper (1980) estudando Lutra lutra, verificaram que as lontras
eram predadoras oportunistas, capturando o que estava disponível. Tumlison &
Karnes (1987) reforçaram a hipótese de que Lontra canadensis, espécie da
América do Norte, é oportunista, uma vez que constataram um revezamento
sazonal na importância de peixes e crustáceos provavelmente relacionados à
disponibilidade desses itens na área de estudo.
Na Lagoa do Peri parece existir um comportamento estratégico e oportunista de
Lontra longicaudis. O fato da dieta da lontra estar baseada nas espécies de
peixes mais abundantes e que apresentam uma distribuição confinada às
margens do corpo d’água indica que o indivíduo concentra seus esforços na
captura da presa com um gasto mínimo de energia. Pode-se afirmar que a lontra
escolhe sua presa em função da abundância (maior disponibilidade) e facilidade
de captura (menor mobilidade). Isto também pode estar associado com o
deslocamento da lontra, longitudinal e próximo da costa, onde as presas
preferenciais estão localizadas. Com relação aos crustáceos, o segundo item em
abundância na dieta alimentar, ocorre o mesmo fato. Os crustáceos do gênero
Macrobrachiumo são muito abundantes na lagoa, mas devido ao seubito de
vida concentrado sob pedras nas margens da lagoa eles tornam-se presas fáceis
para a lontra.
Um maior consumo de aves com relação aos mamíferos pode estar relacionado à
presença de aves como os biguás (Phalacrocorax olivaceus) e garças (Egretta
thula) que buscam na Lagoa do Peri o seu alimento e a água doce para ingerirem
e limparem as penas. De fato os biguás apresentam uma dificuldade para alçar
vôo quando estão dentro da água o que facilita a sua captura pela lontra. a
garça forrageia próximo às margens, mantendo, em muitas ocasiões, a sua
cabeça dentro da água, facilitando também a sua captura. Os pêlos encontrados
68
nos excrementos não foram identificados, mas comumente são encontradas
cotias (Dasyprocta spp.) e bandos de ratos silvestres nas margens da lagoa e
estes exemplares da Família Rodentia podem constituir a dieta da lontra. De fato,
uma ossada de cotia foi encontrada próxima a uma das tocas indicando que a
lontra pode ter se alimentado deste mamífero. Os bitos alimentares de Lontra
longicaudis estão esquematizados na Figura 20.
Figura 20. Esquema ilustrativo dos hábitos alimentares de Lontra longicaudis no Ecossistema da
Lagoa do Peri (Esquema: Evandro Mafra).
69
6. CONCLUSÕES
a. O emprego de técnicas de genética em estudos populacionais mostrou-se
muito eficiente na estimativa de uma densidade mínima de Lontra
longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri;
b. Através da extração de DNA dos excrementos de lontra, da técnica de
PCR (Polymerase Chain Reaction) e de marcadores moleculares
microsatélites foi possível encontrar seis (6) genótipos diferentes para
Lontra longicaudis na Lagoa do Peri, indicando a existência de, no mínimo,
seis (6) lontras diferentes habitando a lagoa;
c. Aparentemente ocorreu uma diminuição no número de lontras que habita a
lagoa, pois em 1990 eram encontrados dez (10) indivíduos, entretanto o
número obtido através da análise genética é mínimo e abrange apenas um
“locus”. Através do estudo de mais “loci”, este número pode vir a tornar-se
maior;
d. O compartilhamento de um mesmo alelo, o alelo A, pelos indivíduos AA,
AB, AC e AE parece indicar algum grau de parentesco entre eles;
e. Através de técnicas de geoprocessamento (Sistemas de Informações
Geográficas SIG) e com o auxílio de um GPS (Global Positioning
System) foi possível descrever uma provável distribuição de Lontra
longicaudis no Ecossistema da Lagoa do Peri;
f. A lontra desloca-se pelo leito do Rio Cachoeira Grande, local onde foram
encontradas latrinas, mas não foi verificada a presença de tocas; ocupa a
maior parte da região costeira da Lagoa do Peri, tanto nas regiões de
costão rochoso quanto nas de restinga; e transpõe a barragem construída
pela CASAN percorrendo toda a extensão do Canal Sangradouro até sua
desembocadura no mar, local onde se encontram diversas latrinas. Devido
70
a falta de sinais indiretos no local a lontra parece o estar utilizando o Rio
dos Padres;
g. As tocas de Lontra longicaudis, na Lagoa do Peri, são formadas pela
sobreposição de rochas pré-existentes no ambiente e devido à própria
constituição geomorfológica da lagoa foi verificado que as tocas
concentram-se na feição de costão rochoso, na região sul/sudoeste da
lagoa, afastadas da sede do Parque Municipal da Lagoa do Peri (região
nordeste da mesma);
h. A forte presença de turistas próximos à sede do parque e à barragem da
CASAN levaram a uma menor ocupação pela lontra das áreas de costão
rochoso e restinga próximas a este dois locais;
i. Através de um estudo de freqüência de utilização das tocas e do habitat do
entorno das mesmas foi verificado que existe uma diferença nesta
freqüência de utilização, sendo as tocas 1, 2, 4 e 7 as mais utilizadas o que
pode estar relacionado com o grau de vegetação e de húmus que existiam
no entorno da toca. As tocas mais utilizadas foram aquelas que possuíam
uma maior densidade foliar e profundidade de húmus no seu entorno;
j. A importância da vegetação e do húmus está relacionada com a
camuflagem e isolamento térmico que proporcionam ao preencher as
frestas e buracos resultantes da sobreposição das rochas de granito
Guabiruba que compõem as tocas utilizadas por Lontra longicaudis na
Lagoa do Peri;
k. Durante o estudo algumas tocas permaneceram inundadas por alguns
meses devido a um maior índice pluviométrico registrado para a Lagoa do
Peri, no entanto os períodos naturais de enchentes não foram
considerados um problema para Lontra longicaudis, mas certamente fazem
parte da dinâmica de uso do habitat;
71
l. Os resultados da análise genética também mostraram que uma mesma
toca foi visitada, em um intervalo de 15 dias, por 4 indivíduos de Lontra
longicaudis diferentes, indicando que o territorialismo apontado para a
espécie não existe no Ecossistema da Lagoa do Peri;
m. Nesse ambiente as lontras parecem estar utilizando os excrementos como
gerenciamento de recursos, ou seja, naquele momento ou dia, uma
determinada lontra pode estar utilizando uma toca ou forrageando em um
determinado ponto da lagoa. Isto serviria para evitar conflitos ou encontros
indesejados;
n. Foi encontrada uma sincronização na ocupação das tocas relacionada com
o ciclo dia/noite, indicando uma maior atividade de utilização das tocas
durante o período noturno e isto pode estar relacionado como o fato de
Lontra longicaudis ter o seu período de maior atividade concentrado
durante a noite;
o. A metodologia da “Armadilha de Pegadas”, normalmente utilizada para o
levantamento da fauna de uma área, mostrou-se muito eficiente na coleta
de dados de freqüência de utilização das tocas;
p. O item peixes (63,16%) foi o mais expressivo (100% das amostras) na
composição da dieta alimentar de Lontra longicaudis seguido do item
crustáceos (30,36%). Os outros itens alimentares, como aves (3,65%) e
mamíferos (2,63%), apareceram poucas vezes;
q. Dentro do item peixes, duas espécies de peixes da família Cichlidae,
Geophagus brasiliensis (Cará) e Tilapia rendalli (Tilápia) foram as mais
coletadas. Ambas as espécies estão distribuídas por toda a orla da lagoa e
rio Cachoeira Grande e vivem em associação às macrófitas aquáticas
(Scirpus californicus e Nymphoide indica);
72
r. Dentro do item crustáceos, o Gênero encontrado foi o Macrobrachium que
se apresenta abundante nas bordas da lagoa, próximos às pedras e
macrófitas aquáticas;
s. O fato da dieta da lontra estar baseada nas espécies de peixes mais
abundantes na região e que apresentam uma distribuição confinada às
margens do corpo d’água indica que o indivíduo concentra seus esforços
na captura da presa com um gasto mínimo de energia. Isto parece indicar
um comportamento estratégico e oportunista do animal na Lagoa do Peri;
73
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79
8. ANEXOS
8.1 ANEXO 1
Protocolo de Extração de DNA – Método da Sílica-Guanidina
1. Pesar de 50-100 mg de excremento;
2. Adicionar 1 ml de Tampão de Lisis;
3. Agitar em vórtex vigorosamente e deixar em temperatura ambiente por
uma noite;
4. Centrifugar a 14000rpm, a 16 ºC, durante 12 min;
5. Remover 700 µl do sobrenadante e passar para um novo tubo;
6. Adicionar 700 µl de solução Tampão DNA Binding Solution;
7. Agitar brevemente em vórtex;
8. Incubar em roda de rotação por 2 hr;
9. Centrifugar a 14000rpm, a 16 ºC, durante 4min;
10. Descartar o sobrenadante em lixo de NaOH 0,1% - 1,4 ml/amostra;
11. Adicionar 700 µl de Etanol 70% e agitar brevemente em vórtex;
12. Centrifugar a 14000rpm, a 16 ºC, durante 4 min;
13. Descartar o sobrenadante;
14. Repetir mais 2X os itens 11, 12 e 13;
15. Deixar o “pellet” secar em estufa a 56 ºC durante 30 min;
16. Eluir o “pellet” com 80 µl de Tampão TE e incubar a 56 ºC por 10 min.
Agitar brevemente em vórtex e incubar por mais 20 min a 56 ºC.
80
8.2 ANEXO 2
PCR - REAÇÃO EM CADEIA DE POLIMERASE
1ª Amplificação
5µl de DNA Extraído
20µl de Mix
Componentes do Mix p/1 reação
H
2
O ultra - pura
12,74µl
Buffer 10x
2,5µl
Albumina Sérica Bovina
2,5µl
MgCl
2
1,5µl
d NTPs – mix (nucleotídeos)
0,32µl
Primer F
0,12µl
Primer R
0,12µl
Taq Polimerase Platinum
0,2µl
Volume do Mix
20µl
DNA Extraído
5µl
Volume Final
25µl
2ª Amplificação
1µl de Produto da 1ª Amplificação
24µl de Mix
Componentes do Mix p/1 reação
H
2
O ultra - pura
16,74µl
Buffer 10x
2,5µl
Albumina Sérica Bovina
2,5µl
MgCl
2
1,5µl
d NTPs – mix (nucleotídeos)
0,32µl
Primer F
0,12µl
Primer R
0,12µl
Taq Polimerase Platinum
0,2µl
Volume do Mix
24µl
Produto da 1ª Amplificação
1µl
Volume Final
25µl
81
Programa do Termociclador para PCR
1) 1ª Amplificação
- 94ºC durante 2min e 30s (desnaturação inicial: ativação da Taq Polimerase
Platinum);
- 20 ciclos: 90ºC durante 20s (desnaturação);
60ºC (menos 0,5ºC a cada ciclo) durante 20s (anelamento);
72ºC durante 20s (extensão);
- 15 ciclos: 90°C durante 20s (desnaturação);
50°C durante 20s (anelamento);
72°C durante 20s (extensão);
- 72°C durante 2 min (extensão final).
2) 2ª Amplificação – repetindo as condições anteriores.
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