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As novas lideranças sindicais reconquistaram na prática o direito de greve e
o papel dos sindicatos oficiais como espaço de representação coletiva. Neste
processo, puderam dar visibilidade às suas propostas de mudança e
conquistar legitimidade para reivindicar o reconhecimento legal de direitos
fundamentais, como o direito de greve e a liberdade e autonomia sindicais.
O novo sindicalismo permitiu que a comunicação entre os trabalhadores, bem como
entre empresários e trabalhadores, também evoluísse. Nori lembra que, nessa época, a
comunicação era uma novidade. Segundo ele, o relacionamento das empresas, tanto com a
imprensa quanto com os funcionários, evoluía à medida que outras diferentes formas de
comunicação também evoluíam no Brasil:
Esse tipo de diálogo estava apenas começando, porque, desde 1964,
estávamos no período da ditadura. O país ficou sem voz. Os jornais
publicavam receitas de bolo ou poesias para substituir as notícias que não
podiam ser divulgadas. As pessoas andavam assustadas, tinham medo das
coisas. O sindicalismo ficou muito tempo parado. Não sei o que havia antes
de 1964, mas, dentro deste contexto, podemos dizer que esse era o início de
um diálogo entre trabalhador e empregador. E esta relação foi de
aprendizagem. Como ninguém contestava e ninguém reclamava de nada, as
próprias áreas de recursos humanos das empresas tinham pouca experiência
neste assunto. Foi todo um aprendizado, tanto do lado dos trabalhadores, que
provocavam, quanto do lado da empresa, que discutia o assunto
internamente.
Para transmitir suas reivindicações – como, por exemplo, aumento salarial, melhores
condições de trabalho, direito ao Fundo de Garantia, assistência médica, vale-transporte e
pagamento de hora-extra – e arregimentar pessoas para as greves, os sindicalistas usavam
carros de som e panfletos. Segundo Nori, os sindicalistas eram bastante organizados e se
comunicavam de forma muito eficiente naquela época:
O fato aconteceu agora e, depois de meia hora, os sindicalistas já estavam
com milhares de cópias do panfleto. A competência deles era muito maior
que a nossa, a ponto de nós, quando surgiu a possibilidade com orçamento
da área de Imprensa e Comunicação, conseguirmos verba para fazermos um
jornal quinzenal, chamado Jornal da Gente VW.
Com o jornal quinzenal, o objetivo da Volkswagen, de acordo com Nori, era ter uma
forma de comunicação mais ágil com os trabalhadores
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, por meio da qual a empresa pudesse
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Naquela época, a montadora produzia uma revista mensal, chamada Família VW, que era feita pelo
departamento de comunicação, juntamente com o de recursos humanos, e trazia informações como benefícios
para os trabalhadores, aniversariantes do mês, etc. No entanto, por ser uma publicação mensal, não era utilizada
para tratar de assuntos sindicais, porque ficavam desatualizados.