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Entretanto, o governo brasileiro, após liderar em Estocolmo, na Suécia, durante a I
Conferência da ONU sobre o assunto, o bloco dos países que não reconheciam a importância
das questões ambientais, viu-se obrigado a criar agências especializadas para atenuar a
imagem internacional negativa. A exemplo das associações, o Estado limitava-se ao controle
da poluição e à preservação de algumas áreas e espécies. De acordo com os autores,
importava naquele momento crescer economicamente, ainda que em detrimento da natureza.
Havia a crença de que os recursos naturais eram infindáveis, percepção que, infelizmente
perdura, haja vista a pesquisa feita por Crespo& Leitão (1993) e Crespo (1997).
Foi a partir da década de 1980 que as propostas ecológicas começaram a influenciar o
país. De acordo com Leis & Viola, o Brasil entrou então na onda do ecologismo
multissetorial, constituído por movimentos e organizações específicas; agências estatais e de
meio ambiente, organizações e associações civis, grupos e instituições científicas,
empresariado, políticos, religiosos, educadores, comunicadores, artistas, dentre outros.
De acordo com Desirée Cipriano Rabelo (2002, p.44), vários setores da sociedade
brasileira prepararam-se para a realização da CNUMAD (Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), em 1992, no Rio de Janeiro, e isso impulsionou o
caráter multissetorial no país, fazendo crescer o interesse pelo tema e o grau de cobrança
pública por ações efetivas, não apenas do Estado mas também do mercado. Porém, segundo a
autora, ocorreram alguns “efeitos perversos”, como o desvio das questões de conteúdo para
aspectos organizacionais e houve uma certa “desorientação” após a conferência em virtude da
falta de uma agenda estruturada e concreta (LEIS & VIOLA, 1995).
Ela destaca outra questão importante, que foi a saturação de cobertura por parte da
mídia sobre a temática ambiental, o que causou certo refluxo. “Porém, [...] é inegável que o
processo de preparação do encontro, os documentos aprovados (na Rio 92, grifo meu) (entre
eles a Agenda 21) e as pressões das comunidades internacional e nacional incentivaram novos
debates e, principalmente, as experiências concretas.” (RABELO, 2002, p.45)
A Agenda 21 é um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente, por
organizações do sistema das Nações Unidas, governos e pela sociedade civil, em todas as
áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente. Constitui-se na mais abrangente
tentativa já realizada de orientar para um novo padrão de desenvolvimento para o século XXI,
cujo alicerce é a sinergia da sustentabilidade ambiental, social e econômica, perpassando em
todas as suas ações propostas. O documento contém 40 capítulos e foi construído de forma
consensuada, com a contribuição de governos e instituições da sociedade civil de 179 países,
em um processo que durou dois anos e culminou com a realização da Rio 92.