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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
CONVERGÊNCIA DE SABERES E CONHECIMENTOS NO
CUIDADO DE ENFERMAGEM À FAMÍLIA
LÍGIA BARROS COSTA
FORTALEZA-CE
2005
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LÍGIA BARROS COSTA
CONVERGÊNCIA DE SABERES E CONHECIMENTOS NO
CUIDADO DE ENFERMAGEM À FAMÍLIA
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem – Doutorado –
da Faculdade de Farmácia Odontologia e
Enfermagem da Universidade Federal do
Ceará, como requisito parcial para obten-
ção do título de Doutor em Enfermagem.
Área de Concentração:
Enfermagem Comunitária.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Grasiela Teixeira
Barroso.
FORTALEZA-CE
2005
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1
C873c Costa, Lígia Barros
Convergência de saberes e conhecimentos de
Enfermagem no cuidado à família/ Lígia Barros Costa. –
Fortaleza, 2005.
ix, 131f.:il.
Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Ceará.
Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem.
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.
1. Família. 2. Saúde da família. 3. Cuidados primários de
saúde. 4. Ética. 5. Estética. 6. Enfermagem. I. Título.
CDD 613
2
CONVERGÊNCIA DE SABERES E CONHECIMENTOS NO CUIDADO DE
ENFERMAGEM À FAMÍLIA
Lígia Barros Costa
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Grasiela Teixeira Barroso
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem –
Doutorado – da Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem da
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do
Título de Doutor em Enfermagem.
Aprovada em: 08 de abril de 2005.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Grasiela Teixeira Barroso
Presidente
_________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Antonieta Rubio Tyrrell
Examinadora
_________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Josefina da Silva
Examinadora
_________________________________
Prof.ª Dr.ª Zulene Maria de Vasconcelos Varela
Examinadora
_________________________________
Prof.ª Dr.ª Mirna Albuquerque Frota
Examinadora
__________________________________
Prof.ª Dr.ª Zuíla Maria de Figueiredo Carvalho
Examinadora Suplente
__________________________________
Prof.ª Dr.ª Raimunda Magalhães da Silva
Examinadora Suplente
3
Este trabalho está inserido na linha
de pesquisa “Enfermagem,
Educação, Saúde e Sociedade”,
do Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem da Universidade
Federal do Ceará.
Este estudo contou com o auxílio
financeiro, no período de abril de
2002 a abril de 2005, em forma de
Bolsa de Demanda Social, da
Fundação Cearense de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (FUNCAP).
4
À sempre amiga de todas as horas,
A quem eu tanto estimo desde sempre,
Quem jamais me permitiu recuar,
Mesmo nos momentos mais difíceis,
Quando não parecia mais possível alcançar a chegada,
A quem me serviu como referencial na qualidade de
Ser humano fantástico, extraordinário,
A quem não se permite receber estas palavras,
Em razão de modéstia e do desapego à matéria,
A quem introduziu a Enfermagem na UFC,
Alcançou o mais alto nível onde somente
Aqueles que são realmente dignos atingem
Com todo mérito, Professor Emérito,
A ti, Doutora Grasiela Barroso,
Pelos 50 anos de conquistas,
Amizade sincera e de inestimável admiração,
Para quem os girassóis fazem reverência,
Como forma de agradecimento por tudo o que
Alcançaste até agora...
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus irmãos, sobrinhos, cunhados, primos por serem presenças valiosas e por
compartilharem comigo as alegrias de uma vida em família.
Às componentes da banca examinadora, por terem aceitado o convite em avaliar e
contribuir para o engrandecimento deste estudo.
À Diretora da Escola de Enfermagem Ana Néri – UFRJ, Prof.ª Dr.ª Maria Antonieta
Rubio Tyrrell, colega de Mestrado, amiga de muitos anos, por tudo o que já conquistou pela
área de Enfermagem Obstétrica e por ter se disponibilizado a contribuir com esta pesquisa.
A todas as enfermeiras docentes e supervisoras de campo que aceitaram participar desta
pesquisa, por meio da efetivação de estudos no CEDEFAM.
Ao Magnífico Reitor da UFC, Prof. René Teixeira Barreira, por acreditar em meu
potencial como docente e enfermeira.
Ao Ex-Pró Reitor de Extensão da UFC, Prof. Francisco de Assis Melo Lima, pela
efetiva contribuição na implementação do projeto do Centro de Parto Natural do
CEDEFAM.
Ao Pró-Reitor de Extensão da UFC, Prof. Dr. Luis Antonio Maciel de Paula, por
acreditar no potencial de todos que compõem o CEDEFAM.
À Diretora da FFOE, Prof.ª Dr.ª Neiva Francenely da Cunha Vieira, pela atuação e
coordenação do FAMEPE.
A todos os enfermeiros e funcionários do CEDEFAM, pelo apoio e compreensão quanto
a minha ausência durante o desenvolvimento deste estudo.
À Prof.ª Dr.ª Zulene Maria de Vasconcelos Varela, por ter tido a coragem de introduzir
junto à Pós-Graduação o componente mais importante de nossas existências, O Criador,
revelando a todos a importância de crermos n’Ele e o impacto de Sua Presença em nossas
vidas. Pela incomensurável contribuição em minha vida e pela sua excelência profissional.
À Ex-Coordenadora da Pós-Graduação em Enfermagem da UFC, Prof.ª Dr.ª Maria
Socorro Pereira Rodrigues, pelo acolhimento e apoio durante a sua gestão.
À atual Coordenadora da Pós-Graduação em Enfermagem da UFC, Prof.ª Dr.ª Ana
Fátima Carvalho Fernandes, pela brilhante atuação frente ao programa.
Ao Ex-Reitor da UFC, Dr. Walter de Moura Cantídio, pela imensa contribuição em
minha trajetória profissional.
Às enfermeiras Lorena, Karina, Ana Lúcia, Selene e Kelle, por terem aceitado
acompanhar uma família ao longo do curso de graduação, trazendo significativas
contribuições para o CEDEFAM e o cuidado com famílias.
Às enfermeiras Alane Andréa e Roselise, por compartilharem comigo conhecimentos
relevantes no processo de construção e resultados desta tese. Imensa gratidão.
À atual presidente da ABENFO-CE, Enfermeira Obstétrica Ms. Kaelly Virgínia de
Oliveira Saraiva, pelo apoio, amizade, intercâmbio de saberes e experiências profissionais que
contribuíram para reflexões pertinentes neste estudo.
À enfermeira Dr.ª Lygia Paim, pela amizade e contribuição desde a concepção desta tese,
bem como pela relevância da modalidade convergente-assistencial para os estudos da
Enfermagem Brasileira e, de modo particular, para a concretização desta tese.
A todos os alunos e ex-alunos do NUFEPE, pelo fato de renovarem a cada encontro o
meu entusiasmo pelo trabalho com famílias.
6
Oração À Sagrada Família
Ó Deus de bondade,
que nos destes a Sagrada Família
como exemplo.
Concedei-nos imitar em nossos lares
as suas virtudes para que,
unidos pelos laços do amor,
possamos chegar, um dia,
às alegrias da vossa casa.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém.
Invocação:
Ó Jesus, Maria e José!
Iluminai-nos, socorrei-nos, salvai-nos. Assim seja.
Rafael Sanzio (1483-1520)
7
RESUMO
Costa, Lígia Barros. Convergência de Saberes e Conhecimentos de Enfermagem
no Cuidado à Família. Fortaleza, 2005. Tese (Doutoramento em Enfermagem) -
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Ceará.
A família tem sido priorizada por meio de programas sociais, em especial, com a
descentralização das ações de saúde. Em detrimento das transformações
ocorridas, contudo, esta visão voltada para o grupo familiar continua atrelada a
um paradigma biologicista, centrado na patologia, alimentando o sistema com
dados epidemiológicos, pouco substanciais no tocante às necessidades,
condições de vida e saúde das famílias. O presente estudo emergiu da
necessidade de se desenvolver e compartilhar conhecimentos que norteiem a
atuação dos profissionais em atenção primária de saúde, com a família
ocupando o papel de sujeito ativo na busca de resolução de problemas, numa
dimensão de co-responsabilidade e cidadania. Busca-se responder às seguintes
questões: Como as enfermeiras têm aplicado os marcos teóricos no cotidiano da
prática de Enfermagem com famílias? Que saberes produzidos convergem e
expressam a tendência teórico-prática do cuidado de Enfermagem à família?
Para tanto, objetiva-se descobrir a tendência teórico-prática do cuidado de
Enfermagem com famílias, a partir da convergência do saber popular e do
conhecimento acadêmico. Optou-se pelo método qualitativo de pesquisa,
utilizando a modalidade convergente-assistencial. Os participantes do estudo
compreenderam 14 enfermeiros, dentre os quais 07 representaram a atividade
de pesquisa e 07 a prática assistencial. Dentre os que representaram a pesquisa,
04 se encontravam no nível de Doutorado e 03 no de Mestrado. Por sua vez, os
enfermeiros da prática compreenderam 02 supervisoras de campo e 05 ex-
alunos, representando o estágio supervisionado, por meio da monografia de
graduação. Efetivou-se a abordagem aos participantes por intermédio de duas
etapas, sendo a primeira mediante contato individual e a segunda, priorizando a
construção coletiva da realidade. Foram utilizados questionários, e solicitou-se
uma cópia das teses e dissertações para leitura dirigida por um roteiro
estruturado. Para segunda etapa, empregou-se a técnica de painel interativo,
tendo sido validados os marcos conceituais do cuidado com famílias em
atenção primária. A convergência dos saberes foi apresentada segundo os
padrões de conhecimento (empírico, ético, pessoal e estético) de Chinn e
Kramer (1995) e (sócio-político) de White (1995). Destes, os padrões ético e
estético encontraram-se exíguos, em relação a uma declaração explícita deles,
pelos pesquisadores participantes do estudo. Uma vez que o padrão ético esteve
presente em apenas dois dos sete trabalhos analisados, oferece, portanto, uma
lacuna para estudos posteriores, por se tratar do componente moral de tomada
de decisões pelo enfermeiro. Como propósito, construiu-se um guia prático para
utilização no cuidado com famílias em atenção primária, na perspectiva de
sugerir a enfermeiros e estudantes de Enfermagem uma ferramenta para adoção
de uma postura reflexivo-crítica diante do cuidado humano. Considerou-se que o
saber popular e o conhecimento acadêmico são convergentes, estão integrados
e integrando o cuidado de Enfermagem e respondem a demanda de atenção
primária de saúde das famílias.
Palavras-chaves: Família; Saúde da família; Cuidados primários de saúde; Ética;
Estética; Enfermagem.
8
ABSTRACT
Costa, Lígia Barros. Convergence of Nursing Beliefs and Knowledge in the Family
Care. Fortaleza, 2005. Thesis (Doctorate in Nursing) – Nursing Postgraduate
Program Nursing, Federal University of Ceará.
The family has been prioritized through social programs, especially with the
decentralization of health actions. However, to the detriment of the
transformations happened, this glance directed to the family group continues
linked to a biological paradigm, centered in the pathology, feeding the system
with epidemiological data, not substantial concerning the real needs, life
conditions and health of the families. The present study emerged from the need of
developing and sharing knowledge that orientate the professionals’ performance
in primary attention of health, with the family playing the role of active subject in
the search of solution for problems, in a co-responsibility and citizenship dimension.
We aimed to answer the following questions: How have nurses been applying the
theoretical marks in the daily practice of Nursing with families? Which knowledge
produced converges and expresses the theoretical-practical tendency of nursing
care to the family? For doing so we aimed to reveal the theoretical-practical
tendency of the nursing care with families, starting from the convergence of
popular and academic knowledge. We opted for the qualitative research
method, using the convergent-clinical modality. The participants of the study were
14 nurses, among which 07 represented the research activity and 07 represented
the clinical practice. Among the ones who represented the research, 04 were in
the Doctorate level and 03 in the Master's degree. On the other hand, the nurses
of the practice were 02 field supervisors and 05 former-students, representing the
supervised apprenticeship, through the graduation monograph. We executed the
approach to the participants through two stages, being the first, by individual
contact and the second, prioritizing the collective construction of reality. We used
questionnaires, and requested a copy of the theses and dissertations for directed
reading by structured handout. For the second stage, we used the interactive
panel technique, where the conceptual marks of care with families in primary
attention were validated. The convergence of the knowledge was presented
according to the knowledge patterns (empirical, ethical, personal and aesthetic)
of Chinn and Kramer (1995) and (socio-political) of White (1995). From these, the
ethical and aesthetic patterns were a few, in relation to an explicit declaration of
these, by the participant researchers of the study. Once the ethical pattern was
present in only two of the seven works analyzed, it offers, therefore, a gap for
subsequent studies, for being the moral component of decision making by the
nurse. As purpose, we built a practical guide to be used in the care of families in
primary attention, in the perspective of suggesting to nurses and nursing students,
a tool for the adoption of a reflexive-critic posture before the human care. We
considered that the popular knowledge and the academic knowledge are
convergent, are integrated and integrate the nursing care and answer the
families’ need for primary attention of health.
Keywords: Family; Family health; primary health care; ethics; aesthetics; Nursing.
9
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 10
2 OBJETIVO................................................................................................................................... 19
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PESQUISA DA TEMÁTICA ....................................................... 20
3.1
FAMÍLIA ESPAÇO DO CUIDADO......................................................................................... 22
3.2
O CUIDADO DE ENFERMAGEM À FAMÍLIA .......................................................................... 27
4 A TRILHA METODOLÓGICA....................................................................................................... 30
4.1
TIPO E NATUREZA DA PESQUISA............................................................................................. 30
4.2
DESCRIÇÃO DO CENÁRIO..................................................................................................... 31
4.3
PARTICIPANTES DO ESTUDO................................................................................................... 32
4.4
ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA........................................................................................... 33
4.5
ESTRATÉGIAS PARA OBTENÇÃO DAS INFORMAÇÕES........................................................ 35
Perscrutação ......................................................................................................................... 35
4.6
ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES.................................................................................. 37
Apreensão.............................................................................................................................. 37
4.7
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DAS INFORMAÇÕES............................................................... 38
Síntese..................................................................................................................................... 38
Teorização.............................................................................................................................. 41
Transferência (recontextualização).................................................................................... 41
5 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO.......................................................................... 43
P
ADRÕES DE CONHECIMENTOS DA ENFERMAGEM................................................................................ 45
Padrão Empírico.................................................................................................................... 46
A Construção do Marco Conceitual do Cuidado com Famílias ............................... 47
Ser humano...................................................................................................................... 48
Família............................................................................................................................... 50
Sociedade ....................................................................................................................... 51
Cultura.............................................................................................................................. 53
Saúde/Saúde da Família............................................................................................... 54
Enfermagem da Família ................................................................................................ 56
Ser Enfermeiro.................................................................................................................. 57
Cuidado Humano: para onde convergem os saberes e conhecimentos da
Enfermagem. ....................................................................................................................... 59
O Marco Conceitual Construído e o Conceito Central do Padrão Empírico.......... 61
Padrão Pessoal...................................................................................................................... 68
Padrão Ético .......................................................................................................................... 73
Padrão Estético ..................................................................................................................... 80
Padrão Sócio-Político ...........................................................................................................87
6 GUIA PRÁTICO PARA UTILIZAÇÃO DOS PADRÕES DE CONHECIMENTOS NO CUIDADO DE
ENFERMAGEM COM FAMÍLIAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA........................................................... 92
7 REFLEXÕES ACERCA DO CUIDADO INVESTIGADO................................................................. 95
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................ 100
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................................. 103
10 ANEXOS................................................................................................................................. 117
10
1 INTRODUÇÃO
A família constitui um espaço que garante aos seus membros
sobrevivência, desenvolvimento e proteção, propiciando aportes afetivos
e materiais, e desempenhando papel necessário na educação e
transmissão de valores que aprofundam laços de solidariedade entre
gerações (KALOUSTIAN, 1994). Esse espaço, todavia, profícuo para
atuação do profissional de saúde ainda parece distante da visão de
mundo dos diversos níveis de administração em saúde.
O Programa de Saúde da Família (PSF), fruto das transformações
do sistema de saúde de nosso País, lançado em março de 1994,
completou recentemente 10 anos de existência. Surgiu como estratégia
estruturada da atenção básica, imprimindo uma nova forma de
organização dos serviços e práticas de assistência, guiando-se por
princípios que privilegiam a relação de compromisso e de co-
responsabilidade entre os serviços de saúde, profissionais de saúde e a
sociedade. O PSF rompe com o modelo tradicional de atenção centrado
no indivíduo e sua doença e desenvolve ações de saúde direcionada à
família (SOUZA, 2002), com o qual concordamos como discurso oficial, na
qualidade de proposta governamental.
A família é priorizada por meio de programas sociais, em
especial, com a descentralização das ações de saúde como ocorre no
modelo há pouco citado. Em detrimento, porém, das transformações
ocorridas, esta perspectiva voltada para o grupo familiar continua
atrelada a um paradigma biologicista, centrado na patologia,
alimentando o sistema com dados epidemiológicos, pouco substanciais
no tocante às necessidades, condições de vida e saúde das famílias.
Inegavelmente, na proposta do PSF, para a condição de saúde
da população, registra-se uma melhoria qualitativa de recursos humanos e
11
materiais, bem como no enfoque a ser abordado junto à clientela. Ainda
se encontra, entretanto, aquém do modelo de acompanhamento de
saúde familiar, a exemplo do que acontece no Canadá. Observam-se as
famílias sendo “medicalizadas” (quando possível), sem ao menos tomarem
consciência das habilidades que lhes foram espoliadas ao longo do
avanço tecnológico, já que, no princípio, a família detinha o poder de
autocura, resguardando a saúde de seus membros das adversidades,
utilizando-se dos parcos recursos de que dispunham.
É inquietante ver que, mesmo com a implantação do PSF, as
famílias continuam sendo assistidas por um modelo que, muitas vezes,
desconsidera a cultura local, a autonomia dos indivíduos e sua
capacidade de desenvolverem mecanismos de enfrentamento e
resolução dos problemas. A rotina dessas famílias consiste em esperar que
algum profissional adentre o seu lar e determine as atividades a serem
executadas para melhoria do problema contingencial, ou, ainda, esperar
por estes na unidade de saúde, para o mesmo fim, desde que estejam
inseridas no sistema, por meio de um cadastro.
De acordo com Hanson e Kaakinen (1999), dentre as barreiras
que impedem a difusão do paradigma holístico no cuidar a essas famílias,
encontra-se a ausência de definições mais amplas de família e família
saudável. Acrescentam, ainda, o distanciamento dos profissionais, durante
a sua formação acadêmica, de conceitos que embasem esta prática,
antes considerada de senso comum; perpetua-se a visão de saúde
centrada no indivíduo, e o atendimento à família se resume ao local onde
os indivíduos são ouvidos; os serviços de saúde atendem a população em
horários em que quase sempre se torna inviável o acompanhamento dos
clientes envolvendo outros membros da família.
Ao longo do tempo, a prática de Enfermagem comunitária se
desenvolve por meio da intuição, experiência ou a “forma que me
ensinaram” (LEDDY e PEPPER, 1985); por meio das relações humanas e do
12
poder decisório de alguns de seus profissionais (LANCASTER, 1999). Como
resultado disso, verifica-se a preocupação de muitos estudiosos da
Enfermagem que, mesmo tendo construído uma base teórica voltada
para a melhoria das condições de trabalho e da população, após
profundas tentativas, ainda se encontram a longas distâncias do cotidiano
do fazer do enfermeiro, reforçando a dicotomia teoria e prática, e
perpetuando-se como exercício dependente do sistema vigente.
Conforme Stanhope (1999), para manter a integridade da
unidade familiar, dar resposta às necessidades familiares, às de seus
membros, individualmente, e às expectativas da sociedade, as famílias
possuem funções a serem desempenhadas, o que reforça o papel ativo
destes grupos na promoção da saúde. A abordagem do desenvolvimento
familiar também possibilita ao enfermeiro focalizar os estádios do ciclo vital
da família, ter a oportunidade de observar a interação dos membros e a
forma como se influenciam, perceber e reconhecer o que a família sente
num determinado momento, identificar o período mais crítico no
crescimento e desenvolvimento dos membros, individualmente, ou da
própria família, e – o mais importante – prever o que a família sentirá nas
diferentes fases do seu ciclo vital.
Referendando a aproximação com o objeto deste estudo,
partimos de nossa experiência familiar, compreendida pelos relatos de
parentes e vivência simultânea com quatro gerações em um mesmo
domicílio. Observávamos a facilidade com que as mulheres da família
solucionavam os problemas de saúde, preveniam doenças, em lugares
que o serviço público de saúde não alcançara de imediato. Diante desta
realidade, era fácil constatar que na família se encontrava a maior parte
das soluções e opções de tomada de decisão.
Nossa trajetória profissional teve seu início com a formação em
graduação na Escola de Enfermagem São Vicente de Paulo, agregada à
UFC, hoje integrante da Universidade Estadual do Ceará – UECE. Logo
13
após a formatura, iniciamos atividades profissionais, na área hospitalar,
seguida das experiências de ensino, com predominância na área
comunitária. As oportunidades de ampliar conhecimentos surgiram e
foram sempre vivenciadas com responsabilidade e dedicação. Em cada
uma foi possível armazenar subsídios que têm sido aplicados em situações
e contextos diversificados no cuidado direcionado à família, malgrado as
conjunturas de “crise” do Estado, dos serviços de saúde, da Universidade e
da sociedade brasileira.
Na formação universitária, a representação estudantil no Centro
Acadêmico Florence Nightingale, os cursos de pós-graduação, a
convivência com os consultores da OMS e com vultos nacionais e locais,
em situações de ensino-pesquisa e vida associativa, estimularam nossa
pretensão de fazer mais, buscando sempre que possível a excelência.
A Fundação Serviço Especial de Saúde Pública (FSESP) muito
contribuiu para que encontrássemos no campo de prática as
oportunidades de integrar as experiências do ensinar/fazer pesquisado. Os
estágios foram realizados em localidades do interior dos Estados de
Pernambuco e Minas Gerais.
Viagem de observação realizada como bolsista da OMS,
possibilitou-nos conhecer cursos e serviços de Enfermagem do Peru,
Colômbia, El Salvador e Porto Rico; compartilhar experiências sobre a
integração ensino/serviço e ensino-aprendizagem. Vale ressaltar que esta
foi uma modalidade de aprendizagem muito estimulante, no que diz
respeito aos aspectos profissionais e socioculturais.
Convivendo com essa realidade, na qualidade de docente da
Universidade Federal do Ceará, há quase 20 anos, temos desenvolvido, no
Centro de Desenvolvimento Familiar (CEDEFAM), experiências de cuidado
à família em todo o ciclo vital, utilizando marcos conceituais que
embasam a prática de Enfermagem Comunitária. O modelo de trabalho
14
é centrado na família mediante ações independentes e
interdependentes.
O CEDEFAM constitui-se um campo de prática para atividades
de extensão universitária na área de saúde da Faculdade de Farmácia,
Odontologia e Enfermagem – FFOE, no qual a Enfermagem é pioneira. O
acompanhamento à família efetiva-se na Unidade de Cuidado de
Enfermagem (UCE), no domicílio e com grupos específicos na
comunidade de abrangência do CEDEFAM.
A proximidade estabelecida com as famílias favoreceu o
desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e extensão, sendo
utilizado para o Estágio Curricular Supervisionado I – Área Comunitária
Urbana e práticas das disciplinas da graduação. Vem crescendo o
número de monografias de graduação e especialização, dissertações de
mestrado e, recentemente, algumas teses de doutorado ressaltam o
CEDEFAM como cenário para pesquisas direcionadas ao cuidado com
famílias. O pessoal de serviço é estimulado a buscar o seu crescimento
profissional no sentido de manter níveis coerentes com a filosofia do curso
de Enfermagem, na formação do pessoal de ensino/serviço.
A conquista do Centro de Parto Normal (Casa de Parto) e de um
Pólo de Capacitação para o CEDEFAM, junto ao Ministério da Saúde,
legitima o nosso empenho em contribuir para minimizar a problemática de
saúde da mulher e da família, por meio da qualificação profissional,
ampliando o campo de prática para o Departamento de Enfermagem da
FFOE – UFC, como também podendo ser útil aos demais cursos do Ceará.
Reportando-nos à trajetória metodológica adotada pela
Enfermagem, no CEDEFAM, o passo inicial se deu com os marcos
preconizados pela Organização Mundial de Saúde e apresentados por
15
Boyd (1990)
1
, entretanto, faltava ainda um suporte metodológico para
sistematizar a prestação do cuidado por meio do Processo de
Enfermagem, o que ocorreu mediante inclusão da etapa de Diagnóstico
de Enfermagem, da Taxionomia da NANDA (North American Nursing
Diagnosis), reconhecida como uma linguagem própria da categoria e
internacional (COSTA, 1997).
Ao final da década de 1990, novas mudanças foram requeridas,
uma vez que as reformas curriculares trouxeram para o Curso de
Enfermagem da UFC uma (re)organização, tendo como base o ciclo vital
do indivíduo, cabendo, portanto, que se embasasse a introdução do
aluno nessa modalidade, a partir da interação com o grupo familiar, logo
no primeiro semestre de graduação.
Emergiu, com efeito, a necessidade de ampliar o corpo teórico
que fundamentava as ações de Enfermagem no CEDEFAM, efetivando-se
com a introdução do Modelo de Enfermagem de Roper, Logan e Tierney
(1995) – cujo enfoque são as atividades de vida – e a Teoria de
Autocuidado, de Orem (1995) – voltada para as intervenções de
Enfermagem.
Consciente de que promover a saúde da família é investir, de
forma efetiva, na prevenção da deterioração de vínculos afetivos que
assegurem a permanência do grupo familiar, apresentamos, a partir deste
enfoque, alguns pressupostos que embasarão esta pesquisa:
¾ é na família que se constrói a identidade e se promove a
auto-estima da pessoa, assegurando, assim, a expressão de
um ser saudável.
¾ Quanto mais alto o grau de informação da mãe, melhor o
nível de saúde da família.
1
Utilizam-se os conceitos das Teorias de Desenvolvimento, Papéis, Crise, Comunicação e
Aprendizagem Social.
16
¾ É na família que os valores humanos são aprendidos e
repassados às futuras gerações, o que repercutirá na
formação de ideais humanísticos e na saúde mental e social
de seus membros.
¾ A consciência sanitária se constrói, facilitando o exercício da
cidadania por parte dos membros da família e no meio em
que estes interatuam e os profissionais de saúde, em especial
a enfermeira, desempenhando o papel de agente facilitador
e transformador.
¾ A família conduz os seus membros para uma relação de
intimidade com Deus, incorporando, em seu cotidiano, o
exercício da fé, da oração, guiando-os segundo as suas
próprias convicções morais e religiosas. A Enfermagem precisa
respeitar a liberdade da família em expressar sua
espiritualidade.
Sabemos o quanto a família manifesta problemas graves,
acarretando conseqüências desastrosas no comportamento de crianças
e jovens de hoje, adultos de amanhã: drogadicção e alcoolismo,
prostituição infanto-juvenil, violência doméstica e urbana, gravidez na
adolescência, desesperança, suicídio. Crescem o número de idosos
mantidos em casa e o quadro de doenças crônico-degenerativas,
intensificando o sofrimento das famílias que cuidam sozinhas de seus entes
queridos.
Uma vez já recebendo a influência dos problemas do mundo
atual, a família necessita de cuidados específicos, diferentes dos cuidados
prestados ao indivíduo que busca os serviços de saúde, com as queixas já
conhecidas de todos quantos trabalham no setor.
Desse modo, reiteramos a importância de se desenvolver e
compartilhar conhecimentos que norteiem a atuação dos profissionais em
17
atenção primária de saúde, com a família ocupando o papel de sujeito
ativo na busca de resolução de problemas, numa dimensão de co-
responsabilidade e cidadania.
Segundo Nitschke et al. (1992, p.155), o termo ‘família’ apresenta
diferentes significados para as pessoas, pelo fato de estarem intimamente
relacionados ao local onde vivem, a sua cultura e, ainda, sua orientação
religiosa e filosófica. Daí a importância de identificar para onde
convergem os saberes produzidos pela Enfermagem comunitária, no
cuidado às famílias, de modo a visualizar a sua tendência teórico-prática,
haja vista a compreensão que o enfermeiro tem sobre a família e suas
complexas formas de estrutura e organização.
Chinn e Kramer (1999) diferenciam o saber (knowing) do
conhecimento (knowledge), como sendo, o primeiro, resultado dos
processos humanos individuais de vivenciar e compreender o self, o eu e o
mundo, de modo que possa ser trazido ao plano consciente. O termo
conhecimento (knowledge) refere-se ao que pode ser compartilhado ou
comunicado com os outros, seja por meio de palavras, símbolos, ações,
arte ou sons. Uma vez expresso, o conhecimento pode ser transmitido aos
outros e alcançar a consciência de outras pessoas.
O presente estudo buscou responder às seguintes indagações:
- como as enfermeiras têm aplicado os marcos teóricos no
cotidiano da prática de Enfermagem com famílias?
- Que saberes produzidos convergem e expressam a tendência
teórico-prática do cuidado de Enfermagem à família?
Consideramos a relevância desse estudo, dada a importância do
CEDEFAM no cenário da formação de enfermeiros, por ser a atenção
primária de saúde, na atualidade, que mais tem requisitado profissionais. A
verificação da convergência dos saberes utilizados e produzidos pelos
18
enfermeiros contribuirá para que se possam definir as perspectivas,
lacunas e prioridades na tendência teórico-prática do cuidado de
Enfermagem à família.
Acrescentamos a isso o incontável número de situações adversas
que requerem habilidade, competência e excelência profissional,
atribuições que só se concretizam com busca diária de estratégias
inovadoras, de bases conceituais bem definidas para “compreender e
explicar os acontecimentos passados e controlar os acontecimentos
futuros, além de respaldar a Enfermagem como uma disciplina
profissional” (LEDDY e PEPPER, 1985).
Carbonneau e Hétu (2001) salientam que a competência
(resultante da interação do saber acadêmico e do saber profissional) é
requisito imprescindível para a transformação da prática educativa, da
identidade profissional e pessoal.
Por essas razões, o CEDEFAM precisa consolidar o seu marco
teórico-filosófico na perspectiva de ampliar a sua visibilidade junto à
profissão e à sociedade em geral, e vislumbrar uma prática de
Enfermagem comprometida e que transcenda a rotina pautada em
protocolos. Faz-se necessário dar sentido ao saber popular identificado em
toda a prodão do CEDEFAM, sejam nas teses, dissertações, monografias
e, ainda, nos prontuários das famílias, uma vez que estes bem como o
conhecimento acadêmico, são considerados durante a interação com as
famílias.
Com base no exposto, defendemos a tese de que o saber
popular e o conhecimento acadêmico fundamentam o cuidado de
Enfermagem e respondem a demanda de atenção primária de saúde das
famílias.
19
2 OBJETIVO
Descobrir a tendência teórico-prática do cuidado de
Enfermagem com famílias, a partir da convergência do saber popular e
do conhecimento acadêmico.
20
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PESQUISA DA TEMÁTICA
Em pesquisa na rede internacional de computadores (Internet),
buscamos divisar lacunas, espaços o saturados para o estudo em
questão, utilizando os bancos de dados LILACS, MEDLINE, SciELO, BDENF,
bem como o banco de teses disponível na página da CAPES/MEC, bem
como especificamente os trabalhos de pós-graduação identificados na
página da ABEn-CE.
Com as palavras-chaves que seguem, identificamos um
quantitativo de trabalhos significativo, pelo refinamento.
FAMÍLIA – LILACS (6.988), BDENF (669). Dentre estes estudos que
versavam sobre família, percebemos a abordagem de temas como: o
cuidado da família em situação de hospitalização, o significado que as
famílias atribuem ao modelo de cuidado do Programa Saúde da Família,
bem como as estratégias de atuação utilizada por esse programa.
Nos estudos cujo tema era o cuidado da família em situação de
hospitalização, enfocavam-se a presença e a participação efetiva da
família durante a internação hospitalar, vislumbrando nesta atitude algo
positivo e benéfico na recuperação da saúde, o que minimizava o
impacto que tal experiência causava.
SAÚDE DA FAMÍLIA – LILACS (1.988), BDENF (416). Chamaram-nos
a atenção estudos que situavam como papel social da família a ação
terapêutica no cuidado ao membro com enfermidade, subsidiados por
seus saberes e práticas, enfatizando os recursos de que dispunham e o
alcance de suas possibilidades e limites na efetivação do cuidado.
Destacaram-se estudos cuja abordagem retratavam a
deficiência que os profissionais de saúde possuem ao direcionar seu
cuidado à família, conseqüência de lacunas presentes na sua formação
21
acadêmica, decorrendo tal fato da centralização do cuidado ao
indivíduo e sua enfermidade, revelando-se um espaço de poucas
oportunidades para se entender a experiência do processo
saúde/doença na unidade familiar.
CUIDADO DE ENFERMAGEM CENTRADO NA FAMÍLIA – LILACS
(117), BDENF (08). De acordo com a literatura identificada, o cuidado de
Enfermagem centrado na família, como foco da atenção dos
pesquisadores, trouxe consigo inúmeras contribuições acerca da utilização
de marcos conceituais para a prática de Enfermagem em atenção
primária de saúde.
Com relação aos estudos desenvolvidos em nível de Mestrado e
Doutorado encontrados no banco de teses da CAPES/MEC, os trabalhos
enfatizando a temática central do presente estudo encontraram-se
exíguos, tendo sido verificado o seguinte: Saúde da Família - (CAPES)
Doutorado – 45. Mestrado – 219. Cuidado de Enfermagem à família -
(CAPES) Doutorado – 00. Mestrado – 01.
Dentre as teses e dissertações identificadas nos arquivos da ABEn,
Seção Ceará, buscamos identificar o que a Enfermagem cearense
produziu acerca do cuidado à família, na última década. Os arquivos
constavam de teses e dissertações produzidas entre os anos de 1995 a
2003.
As linhas de pesquisa identificadas dentro da temática foram: A
Enfermagem e os estudos teóricos e históricos das práticas de saúde,
Enfermagem na saúde da família e redes sociais de apoio e Educação em
Enfermagem, saúde e sociedade, na qual o presente estudo se inclui. De
um total de 132 pesquisas, 18 encontravam-se no nível de Doutorado.
Dentre as 18 teses, 05 abordaram o cuidado à família nos
seguintes aspectos: desnutrição, famílias mutirantes, Programa Saúde da
Família, gravidez, abordagem multiprofissional. Por sua vez, dentre as 114
dissertações, 35 enfatizaram a mesma temática, apontando, além dos
22
aspectos já mencionados, os seguintes: crise familiar, gravidez na
adolescência, educação em saúde, drogadicção e alcoolismo, casal
infértil, aspectos do contexto familiar, criança-problema, mães presidiárias,
o recém-nascido e o papel de mãe, a relação família e escola.
Como se vê, muitos aspectos envolvendo a saúde da família e
seus cuidados pelo profissional da Enfermagem são explorados e nunca
esgotados, em decorrência da grande amplitude de situações
vivenciadas no ambiente familiar. Os estudos mostram que, para se cuidar
o indivíduo, há que também se integrar neste cuidado a família, numa
dinâmica de co-responsabilidade e interesse mútuo, delegando a este
grupo a função social do cuidado aos seus membros, concorrendo para
isso elementos essenciais de que dispõe a família.
À Enfermagem compete saber trabalhar da melhor forma
possível as forças de enfrentamento que toda família possui para lidar com
seus problemas, visando a melhorar o seu bem-estar e alcançar um nível
de vida satisfatório.
Sentimos que o estudo ao qual nos propomos consegue
contemplar um espaço pouco explorado, por se preocupar com uma
experiência local e que já atua, tendo marcos conceituais como eixo
norteador das ações. Resta-nos indagar e aprofundar o conhecimento
acerca dessa prática, cuja trajetória apresenta rica construção teórica e
de atenção à demanda de ensino-aprendizagem e da comunidade, sem,
no entanto, haver sido analisada profundamente em um estudo dessa
natureza.
3.1 Família – Espaço do Cuidado
Discorrer sobre a família não é tão simples, uma vez que por trás
deste conceito existem séculos de história; uma carga imensa de idéias
pré-concebidas; uma visão pessoal que todos possuímos porque
23
participamos e interagimos diariamente em um núcleo familiar. A idéia
que temos de família depende da influência que esta exerce sobre nós.
Alguns autores, selecionados por Stanhope (1999, p. 492),
definem família como:
1 Um sistema de membros interdependentes que possuem
dois atributos: comunidade dentro da família e interação
com outros membros (JANOSIK, GREEN, 1992).
2 Um grupo social único ligado por laços de geração,
emoções, preocupações, estabelecimento de metas,
orientação altruísta e uma forma própria de organização
(BENTLER et al, 1989).
3 Duas ou mais pessoas unidas por laços de proximidade
emocional e partilha mútua e que se identificam como
família (FRIEDMAN, 1992).
4 Um grupo de duas ou mais pessoas relacionadas por
nascimento, casamento ou adoção e que residem juntas
na mesma casa, tendo por objetivo a sobrevivência
econômica, a identificação individual e coletiva, e a
criação de eventuais rebentos (NACIONAL CENTER OF
HEALTH STATISTICS, 1990a, LABURTHE-TOLRA, WARNIER, 1997).
O âmbito familiar, na visão de vários autores, é definido segundo
os seus limites geográficos (proximidade, habitat) como uma estrutura
singular exclusiva que coabita, para, então, derivar para uma visão mais
ampla, com suas diversas estruturas. Johnson apud Stanhope (1999, p. 493)
considera a família como sendo
Dois ou mais indivíduos, pertencentes ao mesmo ou a outro
parentesco, que estão implicados numa adaptação contínua à
vida, residindo habitualmente na mesma casa, experimentando
laços emocionais comuns e partilhando, entre si e com outros,
certas obrigações.
24
Esta última visão mostra-se mais ampliada, uma vez que não
determina os limites geográficos como sendo a casa, bem como não
exige laços de consangüinidade, mas de luta por uma vida digna, ou seja,
são desejos comuns de bem viver, alcançar objetivos, auto-realização,
sendo que de maneira dinâmica e interativa, não necessariamente no
mesmo espaço físico.
O GAPEFAM (Grupo de Assistência, Pesquisa e Educação em
Saúde da Família), ligado ao Curso de Enfermagem da UFSC, que atua
com famílias desde 1985, coordenado pela Dr.ª Ingrid Elsen, formulou um
conceito de família complexo, ao considerar características
preponderantes ao grupo:
Uma unidade dinâmica constituída por pessoas que se percebem
como família, que convivem por determinado espaço de tempo,
como uma estrutura e organização para atingir objetivos comuns
e construindo uma história de vida. Os membros da família estão
unidos por laços consangüíneos, de adoção, interesse e/ou
afetividade. Tem identidade própria, possui e transmite crenças,
valores e conhecimentos comuns influenciados por sua cultura e
nível sócio-econômico. A família tem direitos e responsabilidades,
vive em um determinado ambiente em interação com outras
pessoas e famílias, em diversos níveis de aproximação. Define
objetivos e promove meios para o crescimento, desenvolvimento,
saúde e bem-estar de seus membros. (PENNA, 1992, p.92).
Naturalmente, entendemos que a família exerce importante
tarefa dentro do complexo sistema social. E, diante do conceito
retrocitado, faltam palavras outras que expressem com tanta propriedade
a amplitude do ser família.
Para Laburthe-Tolra e Warnier (1997), a família é o instrumento
privilegiado para o condicionamento sociocultural dos diversos povos, no
sentido de transmitir às crianças as tradições culturais próprias a uma dada
etnia.
Com base nos resultados das pesquisas, tendemos a achar que a
família não compartilha do respeito e amor mútuos, quando limita seus
horizontes, quando constrói uma barreira que a deixa impermeável à
25
troca de informações com o mundo exterior e asfixia os desejos e
liberdade de seus membros. A cumplicidade e o entrosamento
necessários para uma boa vida em conjunto são substituídos pela
indiferença e o descaso.
Segundo Guimarães (1997, p. 24), o documento de Santo
Domingo que resultou do encontro dos bispos da América Latina e do
Caribe, realizado em 1992, expressa que “a missão da família é viver,
crescer e aperfeiçoar-se como comunidade de pessoas que se
caracteriza pela unidade e indissolubilidade. A família é o lugar
privilegiado para a realização pessoal junto com os seres amados”.
Althoff (1996) salienta que, em detrimento das modificações
ocorridas na sua estrutura, ao longo do processo histórico, a família ainda
é o lugar mais adequado para que o ser humano cresça e se desenvolva.
A exemplo da relevância significativa da família, temos os
clientes em sofrimento psíquico, ou com graus de demência senil,
problemas antes indicativos de internação, apresentando recuperação
bem mais rápida quando mantidos em seu lar, junto dos seus entes
queridos. A família, se por uns é vista como causadora de conflitos e
transtornos, por outro lado fornece as ferramentas necessárias para que o
indivíduo encare os problemas e encontre as soluções com criatividade,
contradição coerente com a realidade político-social que se traduz por
um Estado e uma sociedade em crise, o que não exclui as famílias.
Penna (1992, p. 92) diagnostica família saudável como
Uma unidade que se autoestima positivamente, onde os
membros convivem e se percebem mutuamente como família
(...) Une-se por laços de afetividade exteriorizados por amor e
carinho. Tem liberdade de expor sentimentos e dúvidas;
compartilha crenças, valores e conhecimentos; aceita a
individualidade de seus membros; enfrenta crises, conflitos e
contradições, pedindo e dando apoio a seus membros e as
pessoas significativas. (...) Atua conscientemente no ambiente
em que vive, interagindo dinamicamente com outras pessoas e
26
famílias, em diversos níveis de aproximação, transformando e
sendo transformada (...)
À primeira vista, parece difícil conceber uma família saudável da
maneira como ora descrita. Para tanto, faz-se necessário que fatores
intrínsecos e extrínsecos à família trabalhem a favor, para que, desta
forma, o equilíbrio resultante a ela possibilite agir de forma flexível,
mantendo canais abertos de comunicação e de fronteiras mais
permeáveis às intervenções exteriores.
Obviamente, existem várias maneiras de as pessoas serem uma
família. Seria cair no lugar-comum encaixar esta ou aquela família em um
destes parâmetros. Decerto, o funcionamento familiar, a interação dos
próprios membros e destes com outras pessoas e grupos e o (des)equilíbrio
emocional apresentado pela família auxiliarão a entender os fatores que
influenciam na saúde ou enfermidade do grupo familiar.
As relações intrafamiliares são descritas como subsistemas. Há
dois tipos de acontecimentos que iniciam as transformações dentro da
família: normativos e paranormativos. Os acontecimentos normativos são
descritos como aqueles que ocorrem em quase todas as famílias e surgem
das funções de procriação e criação dos filhos (matrimônio, nascimento,
ingresso na escola, aposentadoria). Já os acontecimentos paranormativos
ocorrem com freqüência, mas não em todas as famílias (aborto, divórcio,
doenças, morte prematura) (BOYD, 1990). As famílias são visualizadas
como unidades de cuidado, focalizando-se os padrões de interação de
seus membros, e, como estrutura organizacional, compõem subsistemas
da comunidade e da sociedade.
De acordo com Boyd (1990, p. 192), Duvall identificou oito tarefas
básicas para cada etapa do ciclo vital da família. O êxito nas tarefas
dentro de cada etapa é imprescindível para passar à fase seguinte. São
elas:
27
(1) Prover as necessidades básicas, como alimento, teto, roupa e
cuidado de saúde; (2) Fazer frente as necessidades financeiras e
distribuir os recursos, como bens materiais, espaço, respeito e
afeto, de acordo com as necessidades familiares e individuais; (3)
Divisão de trabalho, como as tarefas da casa e o cuidado dos
filhos; (4) Socialização dos membros da família às normas e valores
da sociedade; (5) Geração e criação dos filhos; (6) Estabelecer
modos de comunicação e interação que sejam aceitáveis a
sociedade; (7) Encarregar-se da interação com outros sistemas
sociais como escolas, igrejas e empregadores; (8) Manter a
motivação e a habilidade para enfrentar as crises.
Estas funções contemplam as seguintes áreas de ação da vida
em família: biológica, sociocultural, psicológica, econômica, educacional
e afetiva. A unidade familiar se desdobra no desempenho das funções,
nestes aspectos da vida, para garantir a sobrevivência e estabilidade da
sociedade e o atendimento das necessidades de seus membros. Nesse
âmbito, encontra-se o cuidado de Enfermagem, voltado a oferecer
suporte para que as famílias alcancem o desempenho satisfatório dessas
funções.
Para fins deste estudo, consideramos o conceito de família
como: Um sistema com estrutura e organização próprias, onde seus
integrantes desfrutam de direitos e deveres. Constitui-se em espaço vital
de promoção da saúde em que os membros possuem seu campo de
atuação, desempenhando papéis e realizando tarefas que condizem
com seu estádio de vida e sua condição no contexto familiar. Os
componentes possuem uma forma particular de interação, pautada pela
afeição, solidariedade e compreensão, percebendo-se e auxiliando-se
em situações de crise. A aprendizagem social efetiva-se no seio da família,
por meio da qual se transmitem valores, crenças, virtudes e condutas. Há o
respeito à individualidade das partes, sem que esta resulte em danos à
unidade familiar e à coletividade social onde estão inseridas.
3.2 O Cuidado de Enfermagem à Família
O Cuidado de Enfermagem é definido como um processo
interativo do cuidador com o ser cuidado, no qual se desenvolvem ações,
28
atitudes e comportamentos embasados no conhecimento científico, na
experiência, na intuição e no pensamento crítico, com a finalidade maior
de promover ou recuperar a dignidade e totalidade humanas, sendo
consideradas a plenitude e integridade física, social, emocional, espiritual
e intelectual das fases do viver e do morrer, e confere transformação dos
seres envolvidos (WALDOW, 1998).
Souza (1998) comenta que há uma clara distinção entre as
concepções de cuidado holístico e biomédico, pois o primeiro considera o
ser biológico, psicossocial e espiritual, holístico, no qual a ciência é
utilizada, sem, no entanto, ser considerada como única fonte capaz de
explicar a experiência humana, em relação à saúde e à doença, o que se
evidencia claramente na concepção biomédica.
Segundo Patrício (1994), o cuidado é composto por atividades,
processos e decisões (diretas e indiretas), dirigidos ao indivíduo, grupo ou
comunidade, em situações de saúde e doença. Os atos de cuidar são
influenciados pela cultura, pelo conhecimento, nível de desenvolvimento,
entre outros fatores, e inclui, de acordo com Elsen (1994), a exigência de
conhecer o modo como as famílias se cuidam, para evidenciar suas
forças e limitações, de modo a compartilhar responsabilidades.
Para Collière (1990), o cuidado de Enfermagem é prestado em
situações individuais ou no plano da família e dos grupos, contemplando
um conjunto de ações sanitárias e sociais. O indivíduo recorre à ajuda da
enfermeira quando algo acarreta entrave às suas atividades quotidianas
ou em situações que causam obstáculo à vida, para compensar a
limitação, diminuição ou perda da autonomia. O cuidado de
Enfermagem não se resume a tratar a doença, mas consiste em permitir
aos sujeitos desenvolver a sua capacidade de viver ou de tentar
compensar o prejuízo das funções limitadas pela doença, procurando
suprir a disfunção física, afetiva ou social que acarreta.
29
O contexto do cuidado de Enfermagem a ser explicitado no
estudo se insere na atenção primária, a qual é o nível de um sistema de
serviço de saúde que fornece atenção sobre a pessoa, considerando o
meio social e físico no qual vive e trabalha, ou seja, não direcionada
apenas para a enfermidade individual, e fornece atenção para todas as
condições, exceto as muito incomuns ou raras. A atenção primária tem
como características ser responsável pelo acesso, e abordar os problemas
mais comuns na comunidade, oferecendo serviços de prevenção, cura e
reabilitação para maximizar a saúde e o bem-estar.
A atenção primária é uma abordagem que forma a base e
determina o trabalho de todos os outros níveis dos sistemas de saúde. Ela
integra a atenção quando há mais de um problema de saúde e lida com
o contexto no qual a doença existe e influencia a resposta das pessoas
aos seus problemas de saúde. É ela que organiza e racionaliza o uso de
todos os recursos, tanto básicos como especializados, direcionados para a
promoção, manutenção e melhora da saúde (STARFIELD, 2002).
O presente estudo considera o processo de cuidar a família
como sistêmico, para o qual nenhuma teoria isolada é capaz de
responder a todas as áreas de atuação da família. Por essa razão, o
cuidado de Enfermagem tem requisitado a composição de duas ou mais
teorias ou modelos, a partir dos quais se constituem os marcos conceituais.
Estes permitem ao enfermeiro pôr em ordem a complexidade de
informações resultantes da interação com as famílias, ajudando-o a
compreender também as normas e expectativas familiares; a eficácia dos
padrões de interação; os mecanismos de tomadas de decisões; a
adaptação familiar às necessidades individuais; as expectativas familiares
de seus membros; a adaptação da família à comunidade (STANHOPE,
1999; BOYD, 1990).
30
4 A TRILHA METODOLÓGICA
4.1 Tipo e Natureza da Pesquisa
Optamos pelo método qualitativo, a fim de alcançar uma
interpretação holística da realidade em estudo; este enfoque oferece
maior liberdade teórico-metodológica e favorece a identificação de
dados relevantes para o aprofundamento do estudo. Segundo Chizotti
(1995), parte-se do entendimento de que há uma relação dinâmica entre
o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o
objeto, de modo a refletir indissociabilidade entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito.
O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados,
conectados por uma teoria explicativa; o sujeito-observador é
parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os
fenômenos, atribuindo-lhes um significado. O objeto não é um
dado inerte e neutro; está possuído de significados e relações
que sujeitos concretos criam em suas ações (Ibidem, p. 79).
Selecionamos a modalidade de Pesquisa de Campo
Convergente-Assistencial, proposta por Trentini e Paim (1999), a qual
consiste na participação ativa dos sujeitos, em razão de estar orientada
para a resolução de problemas na prática ou para a realização de
mudanças nas áreas de atuação, podendo conduzir a construção
teórica; portanto, a pesquisa é compreendida e realizada, em articulação
com ações, envolvendo pesquisadores e demais pessoas representativas
da situação a ser pesquisada, numa relação de cooperação mútua. Na
perspectiva de Leopardi (2001), a modalidade convergente-assistencial
oferece suporte metodológico para as diversas situações da Enfermagem,
uma vez que se encontra pautada na prática assistencial.
Alves, Souza e Werneck (2002) salientam que, ao trabalharmos o
cotidiano considerando os valores de quem assiste e de quem é assistido,
estamos contribuindo para a axiologia no campo da Enfermagem, o que
31
está diretamente ligado à existência humana. Uma vez que o ser humano
é capaz de transformar a sua realidade, com criatividade para inovar, ou
mesmo consolidar novos valores, urge que os valores da família
contemporânea sejam considerados no processo de cuidar, contudo, o
marco conceitual indicará para onde essas famílias precisam seguir, para
se tornarem uma família saudável.
4.2 Descrição do Cenário
O CEDEFAM situa-se na área pertencente à Secretaria Executiva
Regional III, segundo territorialização da Secretaria Municipal de Saúde de
Fortaleza. Fundado em 1981, teve as atividades iniciadas a partir de um
convênio estabelecido entre a UFC e a Secretaria de Educação do
Estado do Ceará. Para sua implantação, contou com um grupo de
professores e bolsistas oriundos dos cursos de Sociologia, Enfermagem,
Economia Doméstica, Pedagogia, Farmácia, Medicina, Engenharia Civil,
Psicologia e Agronomia, no planejamento e desenvolvimento de ações
educativas e de prestação de serviços.
Atualmente, constitui-se campo de prática para as disciplinas e
estágios curriculares supervisionados dos cursos da Faculdade de
Farmácia, Odontologia e Enfermagem da Universidade Federal do Ceará
(FFOE-UFC). Abriga a Unidade do Cuidado de Enfermagem (UCE), onde se
priorizam ações independentes de Enfermagem, com alunos de
graduação, especialização, mestrado e doutorado.
A UCE é composta por uma equipe de 07 (sete) profissionais de
Enfermagem: 04 enfermeiros, sendo 01 coordenadora e 03 supervisores de
campo/assistenciais; 01 técnico e 02 auxiliares de Enfermagem. Com a
ampliação de sua estrutura, em virtude da inauguração do Centro de
Parto Natural e Pólo de Capacitação de Recursos Humanos para o
Cuidado Humanizado, a equipe foi subdividida para atender à demanda
das duas unidades.
32
Atualmente, cerca de 4.400 famílias encontram-se cadastradas
no CEDEFAM, sendo acompanhadas na UCE, no CPN e no domicílio.
Percebe-se uma interação satisfatória com as instituições básicas da
comunidade (igreja e escola) e associações de bairro, o que permite
maior acessibilidade às famílias. Por sua vez, ainda não dispõe de parceria
ou incentivo das secretarias municipal ou estadual de saúde, ficando
estas apenas ligadas ao CEDEFAM por meio do Programa de Fitoterapia,
coordenado pelo Curso de Farmácia, e do Projeto Extra-Muros,
coordenado pelo Curso de Odontologia, ambos da FFOE/UFC.
4.3 Participantes do Estudo
Os participantes do estudo compreenderam 14 enfermeiros,
dentre os quais 07 representaram a atividade de pesquisa e 07 a prática
assistencial. Dentre os que representaram a pesquisa, 04 se encontravam
no nível de doutorado e 03 de mestrado. Por sua vez, os enfermeiros da
prática compreenderam 02 enfermeiras supervisoras de campo e 05 ex-
alunos, representando o estágio supervisionado, por meio da monografia
de graduação. Os participantes do estudo foram considerados
informantes-chaves, em razão da estreita relação mantida com o campo,
o que favoreceu a compreensão da amplitude do cuidar efetivado no
CEDEFAM.
A seleção das enfermeiras pesquisadoras teve como base as
pesquisas por elas desenvolvidas, e que continham:
¾ temática central direcionada ao cuidado de Enfermagem com
famílias.
¾ Sujeitos do estudo - famílias cadastradas no CEDEFAM/CPN.
Os ex-alunos foram selecionados por meio da monografia de
graduação orientada pela doutoranda, a partir do ano 2000, porque este
foi um marco para a implantação da estrutura teórico-metodológica
atual, decorrente da reforma curricular de 1997.
33
Durante a elaboração dos marcos conceituais, devidamente
descrita na apresentação e discussão dos resultados, consideramos salutar
assegurar o sigilo das identidades, no sentido de ressaltar uma proposta de
construção coletiva, razão por que foram identificados com o código
alfanumérico de P1 a P14. Por sua vez, nas demais etapas de
apresentação dos resultados, optamos por fazer referência às
pesquisadoras, com o devido destaque e obedecendo as normas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT-NBR 10520).
Desse modo, pudemos obter como fonte de informações, de um
lado, a teoria, representada pelas pesquisadoras, e do outro, a prática,
configurada na experiência das enfermeiras do serviço e ex-alunos de
graduação, sendo esses últimos inseridos na pesquisa, em razão da
concreta utilização dos marcos conceituais, tanto no consultório quanto
no domicílio, durante o estágio supervisionado. Assim, toda e qualquer
transformação que se pretende efetivar na forma de cuidar, desenvolvida
no CEDEFAM, será viabilizada com a participação ativa de todos os
elementos da equipe, uma vez que estes participaram ativamente do
processo crítico-reflexivo acerca da prática.
Kershaw e Salvage (1988) salientam que, estando a base teórica
consistente com a prática, é possível utilizar-se criativamente de outras
fontes de apoio, desde que esteja de acordo com esta base.
Considerando que o CEDEFAM está sempre buscando aprimorar sua
prática e sintonizá-la às demandas das famílias, acreditamos que a
produção científica e a releitura da prática, juntamente com os sujeitos,
revelaram o que nos propusemos a pesquisar.
4.4 Aspectos Éticos da Pesquisa
A pesquisa de Enfermagem junto à comunidade tem um sentido
social, e por isso responde aos princípios éticos gerais, aos valores morais e
34
ao código de ética profissional, respeitando-se o direito humano à
liberdade e ao consentimento informado.
Na produção científica em Enfermagem, os pesquisadores têm
responsabilidades e obrigações sociais e individuais, porque se está
lidando com pessoas autônomas, com agentes morais autodeterminantes,
e estas responsabilidades e obrigações incluem o dever de proteger e
melhorar a saúde e o bem-estar dos indivíduos, ou seja, promover o bem
de outrem. Para a relação pesquisador-participante do estudo, a
confiança é fundamental. O respeito à dignidade humana deve ser um
dos parâmetros a ser seguido na pesquisa e a supressão da vontade é
uma condição a ser evitada prevenindo conseqüências indesejáveis.
Obedecendo às normas que regulamentam a pesquisa em seres
humanos, do Conselho Nacional de Saúde – Ministério da Saúde,
Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996, e Resolução Nº 251, de 07 de
agosto de 1997, o projeto da presente tese foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa e do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do
Ceará – COMEPE (ANEXO 01).
Seguindo as normas das resoluções retrocitadas, foi enviada ao
campo da pesquisa uma solicitação para coleta de dados (ANEXO 02).
Uma vez que esta pesquisadora é coordenadora da Unidade onde foi
desenvolvida a pesquisa, a solicitação foi encaminhada à Pró-Reitoria de
Extensão da Universidade Federal do Ceará.
As participantes selecionadas assinaram um termo de
consentimento pós-informado (ANEXO 03), e, por meio deste, foram
asseguradas sobre o sigilo de suas identidades, as etapas da pesquisa e o
direito de declinarem da participação assim que o desejem. Foi obtida a
permissão para gravar as falas, durante o painel interativo.
35
4.5 Estratégias para Obtenção das Informações
Perscrutação
Após a seleção e convite, a abordagem aos participantes
efetivou-se por intermédio de duas etapas, sendo a primeira mediante
contato individual, e a segunda priorizando a construção coletiva da
realidade.
Na primeira etapa, foi entregue às participantes um questionário,
diferenciado entre os grupos de pesquisadores e representantes da
prática (ANEXO 04 e 05), por meio dos quais foram levantados aspectos
pertinentes ao cuidado efetivado com famílias cadastradas no CEDEFAM.
Paralelamente, solicitamos uma cópia das teses e dissertações e
realizamos uma leitura orientada, mediante roteiro (ANEXO 06), extraindo
partes significativas dos estudos para a convergência almejada. Ao
mesmo tempo, as enfermeiras supervisoras e os ex-alunos foram
direcionados a repensar a prática e as transformações ocorridas nas
famílias, com a forma de cuidar adotada. Embora apenas 05
participantes tenham respondido ao questionário e nos enviado em
tempo hábil, essa etapa foi importante para favorecer aproximação com
os construtos dos enfermeiros pesquisados e sedimentar a visão do
cuidado em relação com as demandas das famílias.
Após a devolução dos questionários, análise dos dados e
confrontação desses indicadores com as teses/dissertações foi
programada a segunda etapa da pesquisa, na qual foi realizado um
encontro com as participantes para validação das respostas, bem como
para uma construção coletiva dos marcos conceituais da atenção
primária às famílias. A técnica de painel foi selecionada para o encontro
com as participantes, em razão de contemplar o proposto.
Segundo Andrade (1995), Hirtz (1963), o painel caracteriza-se por
uma reunião questionadora, cujo objetivo principal consiste em reunir um
36
grupo de especialistas para discutirem sobre determinado assunto, sob
diversos pontos de vista. Compreende duas etapas: simpósio e mesa-
redonda. Na primeira etapa, um orador e até quatro painelistas expõem
os diversos aspectos do problema em foco, seguindo-se de uma mesa-
redonda, onde todos os participantes são encorajados a questionar o
assunto até que se alcance ampla compreensão. No caso de haver uma
assistência, eles poderão participar, mediante inscrição de perguntas.
As vantagens reconhecidas desta técnica são: possibilidade de
exprimir opiniões, pontos de vista e experiência de pessoas bem
informadas em vários campos da atividade (neste caso, pesquisadores e
cuidadores que atuam com famílias); há adequada oportunidade para
participação coletiva; e, o mais importante, dentro de um grupo
homogêneo: favorece o desenvolvimento de concepções novas,
resultantes do intercâmbio de idéias (ibidem).
O painel interativo se deu com a participação de 05 enfermeiras
pesquisadoras e 02 enfermeiras supervisoras de campo. Conduzimos, por
etapas, o encontro com as painelistas. Primeiramente, esclarecemos o
motivo do encontro e de sua importância para o desenvolvimento do
estudo; logo depois, uma visão geral sobre a tese e de como esta estava
transcorrendo foi mostrada por intermédio de um pôster, para, então, ser
realizada a leitura dos marcos conceituais emergidos das teses e
dissertações com o grupo, também expostos na forma de pôster. Neste
momento, cada uma das presentes pôde se familiarizar com os 09 marcos
conceituais, e assim puderam concordar com o que estava escrito ou
opinar sobre mudanças pertinentes na sua formulação. Dos 09 marcos
conceituais apresentados, 08 (ser humano, família, sociedade, cultura,
saúde, Enfermagem da família, saúde da família, ser enfermeiro) foram
validados com pequenas modificações, e 01 (cuidado humano) foi
acrescentado ao trabalho como síntese de todos os demais, ou seja, para
onde convergem os saberes. Ao final, as enfermeiras supervisoras de
37
campo e docentes foram chamadas a opinar acerca da realidade da
prática do cuidado à família desenvolvida no CEDEFAM.
Esta técnica do painel foi utilizada pela primeira vez na
Universidade da Califórnia, em Berkeley, por Overstreet (Harry A.), em 1929,
entretanto, a popularização e denominação de painel somente
ocorreram em 1932, em uma reunião da Associação Americana para
Educação de Adultos, sendo que até hoje é uma ferramenta pedagógica
importante no processo de socialização do conhecimento. Consideramos
que a técnica selecionada foi de significativa importância para o alcance
do objetivo.
4.6 Organização das Informações
A análise dos dados ocorreu seguindo as etapas de apreensão,
síntese, teorização e transferência, no sentido de favorecer a “imersão
gradativa do pesquisador nos relatos das informações” (TRENTINI e PAIM,
1999, p. 101).
Apreensão
Consistiu da classificação das informações obtidas, e refinadas
em:
¾ Notas de questionário (NQ) – compreenderam todos os dados
obtidos nas respostas dos questionários preenchidos pelas participantes.
¾ Notas Teóricas (NT) – foram obtidas durante a leitura da
tese/dissertação, como resultado de uma reflexão; compuseram ainda
essas notas os sentimentos, impressões e acontecimentos diários em
relação à pesquisa, devidamente correlacionados e aprofundados.
¾ Notas de Painel (NP) - oriundas da gravação e transcrição dos
comportamentos evidenciados pelas falas, durante o painel. Essas notas
ocuparam posição de destaque dentro do presente estudo, pois serviram
38
tanto para acrescentar nuanças não identificadas durante a análise das
teses/dissertações, como para validação das respostas dos questionários.
Assim, pudemos alcançar a convergência do conhecimento acadêmico
e do saber popular no cuidado com famílias, sob a óptica dos docentes
pesquisadores, das enfermeiras supervisoras de campo e dos ex-alunos
que vivenciaram a maneira de cuidar com respaldo em marcos
conceituais adotados no CEDEFAM.
4.7 Análise e Interpretação das Informações
Síntese
Após a classificação de todas as informações, essa etapa serviu
para que pudéssemos nos familiarizar com as pesquisas, ao ponto de
conseguirmos recontá-las. Para tanto, montamos quadros com papel-
madeira, nos quais visualizamos todos os trabalhos, em uma leitura vertical
(síntese do trabalho) e horizontal (agrupamento dos pontos comuns). Em
seguida, com o uso do computador, utilizando o programa Microsoft
Word, repassamos os pontos convergentes para um quadro, subdividindo
as citações, de acordo com a parte do trabalho de onde foram
coletadas (revisão da literatura, referencial teórico-metodológico e
resultados da interação com as famílias). Destacamos palavras-chaves e
montamos uma planilha no programa Microsoft Excel, agrupando-as
segundo afinidade, diferenciando-as por meio de cores (ANEXO 07). De
posse dessa planilha, realizamos um novo agrupamento, dessa vez
destacando o conceito central de cada grupo, de onde resultaram nove
componentes: ser humano, família, saúde, sociedade, cultura,
Enfermagem da família, cuidado de Enfermagem, saúde da família, ser
enfermeiro.
Passamos, então, para a etapa de construção dos marcos
conceituais do cuidado de Enfermagem às famílias, em atenção primária
de saúde. Para tanto, retornamos ao quadro de papel-madeira e
39
retiramos as partes dos trabalhos onde os conceitos estavam presentes. A
culminância dessa etapa ocorreu com a montagem de um último quadro,
no qual, de posse das citações das pesquisadoras, montamos os conceitos
retromencionados (ANEXO 08).
Após a validação dos conceitos, no painel interativo,
categorizamos as informações segundo os quatro padrões cognitivos de
Carper, apresentados por Chinn e Kramer (1999), os quais são: empírico,
ético, pessoal e estético; e introduzimos um quinto padrão (sócio-político),
emergido da produção científica analisada e do encontro com as
participantes, no painel interativo. Importante é salientar que, no
momento em que construíamos o quinto padrão, evidenciamos, em
pesquisa na rede internacional de computadores (Internet), que White
(1995), ao rever os padrões de Carper, havia acrescentado um padrão
sócio-político aos padrões de conhecimento da Enfermagem.
Cada um destes padrões constitui uma parte do todo, pois eles
oferecem uma contribuição única e são igualmente vitais. Encontram-se
descritos nas dimensões criativa e expressiva – esboço da experiência/do
que possa vir a ser no futuro e as ações humanas. Segundo Heat (1998), a
compreensão destes padrões de conhecimento torna possível a
formação de uma consciência da complexidade e diversidade do saber
existente na Enfermagem. Salienta ainda que tais padrões servem para
respaldar a prática reflexiva, voltada para a construção do corpo teórico
da Enfermagem.
Para fins deste estudo, os padrões foram apreendidos com base
nos processos criativos, expressões formais, processos de autenticação e
as expressões não discursivas dos saberes na prática. Embora os padrões
estejam intimamente relacionados, cada uma dessas dimensões é única
para o padrão específico, portanto, diferenciando-os, conforme o quadro
a seguir:
40
QUADRO 1. Dimensões associadas de cada um dos Padrões de
Conhecimento.
Processos Empírico Ético Pessoal Estético
Questões Críticas O que é?
E como se faz?
Está certo?
Isto é prudente?
Eu conheço o que
faço?
Eu faço o que
conheço?
O que isto
significa?
Quão si
g
nificativo é
isto?
Processos
criativos
Explicativo,
Estrutural
Valorativo,
elucidativo
Abertura,
Convergência
Pressentimento/
intuição
Ensaio/
repetição
Expressões
formais do saber
Fatos,
Modelos,
Teorias,
Descrições.
Princípios,
Códigos,
Teorias éticas.
Autobiografia,
O autêntico self
Apreciação
estética,
Obra de arte
Processos de
autenticação
Replicação
Validação
Diálogo
Justificação
Resposta
Reflexão
Aprovação
Inspiração
Expressões não
discursivas do
saber na prática
Competência
científica
Comportamento
moral-ético
Uso terapêutico do
self
Conversão arte/ato
FONTE: Chinn e Kramer (1999, p. 09).
Por sua vez, o quinto padrão (sócio-político), segundo White
(1995), é o contexto da Enfermagem e o foco está na relação enfermeiro-
cliente, dentro da amplitude na qual a Enfermagem e o cuidado em
saúde se efetivam. São considerados os componentes políticos, sociais e
econômicos que produzem algum impacto no enfermeiro e no cliente
(em nosso estudo, nas famílias).
Este padrão se faz necessário, em razão da necessidade de
compreendermos a construção cultural dos significados e a realidade das
famílias, no sentido de oferecer um cuidado coerente com a realidade
das famílias. O conhecimento sócio-político diz respeito ainda às
limitações encontradas na prática de Enfermagem, seja no âmbito da
profissão quanto nas condições de que dispõem as famílias (desemprego,
desnutrição, alienação, violência, drogadicção, condições sanitárias
etc.). É importante também em virtude da necessidade do despertar da
consciência política dos enfermeiros, em defesa das conquistas da
profissão, fazendo respeitar a lei do exercício profissional.
41
Teorização
Durante essa etapa, confrontamos o referencial teórico-
metodológico utilizado no CEDEFAM com os marcos conceituais validados
no painel interativo, visando à identificação dos saberes convergentes no
cuidado de Enfermagem à família, e que são consumidos no cotidiano
desta prática. Para facilitar a visualização, a compreensão das inter-
relações e a influência de cada conceito sobre os demais, elaboramos
uma representação gráfica (Fig. 1) na qual dispusemos os conceitos e os
marcos conceituais validados. Salientamos a convergência em um ponto
central da figura, denominado CUIDADO HUMANO.
Um dos pontos importantes dessa etapa consistiu na
identificação do caminho que pretendemos trilhar, a partir de então no
cuidado de Enfermagem com famílias.
Transferência (recontextualização)
De posse da compreensão do marco norteador do cuidado de
Enfermagem com famílias em atenção primária de saúde, resultante do
encontro com os participantes da pesquisa, no painel interativo, foi
possível generalizar os saberes considerados eficazes e convergentes,
provocando transformação dos sujeitos e na sua forma de cuidar, a partir
de então.
A concretização dessas transformações ocorreu mediante a
elaboração de um Guia Prático para Utilização dos Padrões de
Conhecimentos no Cuidado de Enfermagem com Famílias em Atenção
Primária, visando a uma postura reflexivo-crítica, a ser utilizado tanto por
estudantes de Enfermagem quanto por enfermeiros que atuam com
cuidado à saúde das famílias, em atenção primária.
Acreditamos que, ao repensar a sua prática, o enfermeiro torna-
se capaz de identificar os aspectos que não está contemplando, amplia a
42
sua visão de cuidado e faz com que desenvolva mecanismos para lutar
por melhores condições de trabalho e de transformações sociais,
favorecendo o “empowerment” das famílias e revelando quanto a
Enfermagem se faz necessária junto à sociedade.
43
5 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO
O presente estudo, além de constituir um esforço de síntese de
pesquisas empíricas realizadas por enfermeiras, nos patamares de
mestrado e doutorado, também buscou o aprofundamento de questões
teóricas, acerca dos saberes mobilizados e utilizados por enfermeiros em
sua prática com famílias, em atenção primária de saúde. Consideramos
imprescindível incorporar um corpo teórico-conceitual, privilegiando o
processo de trabalho, os resultados alcançados pelas pesquisadoras e as
relações sociais que permeiam esse cuidar.
Verificamos que todas as pesquisadoras adotaram uma postura
holística diante das famílias, fato este evidenciado com base nos
referenciais teóricos por elas utilizados, e que se identificam com o
paradigma holístico; apenas um trabalho não utilizou referencial teórico,
entretanto preocupou-se com as histórias de vida dos participantes,
utilizando uma abordagem compreensiva e dando uma visão da
totalidade do vivido destes. Os referenciais utilizados pelas pesquisadoras
foram os seguintes:
Teoria da Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural
de Leininger (01).
Modelo de Enfermagem de Roper, Logan e Tierney (02).
Teoria das Relações Interpessoais de Peplau (01).
Teoria das Representações Sociais segundo Schutz (01).
Teoria Transpessoal de Jean Watson (01).
Teoria da Enfermagem Humanística de Paterson e Zderad e
Teoria do Vínculo de Pichón-Riviére (01).
Embora apenas dois trabalhos tenham coincidido com o
referencial adotado no CEDEFAM, foi possível verificar a amplitude de
cuidado que os conceitos e referenciais teóricos utilizados oferecem ao
44
cuidado com famílias na referida instituição. Mesmo que a idéia não
tenha sido a de incorporá-los, foi possível inserir os construtos das
pesquisadoras e os conhecimentos acumulados pelas enfermeiras
supervisoras de campo no que representou a culminância do presente
estudo, ou seja, em nossa proposta de padrões de conhecimento, os quais
servirão para nortear o cuidado de Enfermagem com famílias, em
atenção primária de saúde.
Os (novos) conhecimentos produzidos na Enfermagem
constituem e desenvolvem a profissão e, no campo da prática, as
enfermeiras trazem conhecimentos oriundos de experiências prévias de
suas vidas, somando-se a eles o conhecimento estruturado, formal,
adquirido na academia, em sua formação. Deve ser incluído nesse
mesmo patamar o conhecimento acumulado pelas enfermeiras,
resultante do seu diálogo com as famílias, para que o cuidado seja
realmente composto pela voz dos que recebem e a dos agentes que o
executam (WALDOW, 1995).
De acordo com Lacerda (1998), além de a Enfermagem ser uma
disciplina prática, constitui matéria acadêmica, uma vez que requer saber
o quê, o como e o porquê, em relação ao significado, valores, intenções e
objetivos, o que revela a necessidade do saber científico para o
desenvolvimento da prática, e sua adequada aplicação nos conduzindo
à arte do fazer. Esse aspecto, ao ser analisado por Leopardi (1999), recebe
uma ênfase no sentido de que as práticas de saúde precisam estar
coerentes para os indivíduos que as exercem e de fácil compreensão
para os que as demandam, facilitando a adoção de escolhas
mutuamente aceitáveis.
45
Padrões de Conhecimentos da Enfermagem
A construção de padrões de conhecimentos para a prática de
Enfermagem com famílias emergiu da necessidade de expressar
formalmente o pensar que tem norteado esse fazer. E essa tentativa não é
recente pois, Carper, em 1978, publicou um trabalho, no qual apresentava
04 padrões fundamentais de conhecimento (empírico, ético, pessoal e
estético), que foram aprimorados por Chinn e Kramer (1995, 1999) e White
(1995) e adotados no presente estudo, durante o desvelamento das
categorias teóricas.
Tardif (2002, p.11) não concebe que seja abordado qualquer
tema acerca do saber, sem antes relacioná-lo com os condicionantes e
com o contexto de trabalho: “o saber é sempre o saber de alguém que
trabalha alguma coisa, no intuito de realizar um objetivo qualquer”.
Aproximando o seu pensamento para o contexto do cuidado de
Enfermagem, temos que o saber consumido pelos enfermeiros é resultante
do saber deles, com sua experiência de vida, sua história profissional e
com as relações estabelecidas com os clientes (famílias), na atenção
primária de saúde.
Leopardi (1999) salienta a necessidade de renovação ou
ampliação do conhecimento, como um saber específico para a
Enfermagem por meio do enfrentamento de seus limites, das suas origens,
das teorias científicas gerais que lhes servem de base e até mesmo dos
seus critérios de validação. Segundo a autora, é preciso transcender as
bases pragmáticas e empíricas (cuja finalidade tem sido a de favorecer
trabalhos cujos resultados sejam previsíveis e avaliáveis), e buscar uma
análise também de suas bases filosófico-ideológicas, no sentido de
incorporar filosofia e teoria como instrumentos para a realização do
cuidado competente, pois que não se há de considerar os fazeres alheios
e separados do pensar.
46
Padrão Empírico
O padrão empírico compreende a ciência da Enfermagem,
englobando desde o que é percebido pelos sentidos – visão, audição,
tato, olfato e paladar – como também os estudos desenvolvidos desde a
década de 1950 e que apresentam a observação como um dos métodos
de obtenção de informações (CHINN e KRAMER, 1995). Os empiristas
lógicos consideravam que, para produzir conhecimento, a teoria deveria
se basear na observação e na experimentação (CARVALHO, 1995).
A atuação do enfermeiro, inicialmente, se pautava no fazer, na
execução de tarefas, daí a concepção de ser a Enfermagem uma
disciplina prática. Em sua evolução, foi ocupando espaços na educação,
administração, até alcançar uma visão da necessidade de teorizar
acerca de seu fazer e refletir sobre a sua filosofia do cuidar.
Segundo Leopardi (1999), o pensamento de Kant revela que o
conhecimento surge com a experiência e não da experiência. E desse
modo foi se desenvolvendo o conhecimento na Enfermagem. Torres (1993)
salienta que, semelhante ao que ocorre em disciplinas das ciências sociais
ou de comportamento, a Enfermagem vem buscando consolidar um
corpo de conhecimentos em termos de conceitos e teorias que dão
suporte à prática.
Segundo Demo (1996, p. 52), “o conhecimento empírico
enriquece a argumentação, traduz familiaridade maior frente à
problemática em foco, especifica e precisa tendências, relevos,
informações, além de poder colaborar na direção da prática”.
Dalarosa (2000, p. 98-99) considera o saber empírico como algo
que revela espontaneidade, improviso, experiência diária, e o classifica
como “subjetivo, particular, generalizador, valorativo e assistemático”. Por
sua vez, o conhecimento científico é por ele classificado como “reflexivo,
sistemático, analítico, lógico” e que transpõe o saber comum; apesar de
47
não representar a verdade absoluta e eterna, serve para desqualificar os
preconceitos e reconstruir uma realidade pautada em nova perspectiva.
Utilizamos, no CEDEFAM, conceitos propostos por Boyd (1990)
para o cuidado com famílias, o Modelo de Atividades de Vida, de Roper,
Logan e Tierney (1995); e o Modelo de Autocuidado, de Orem (1995).
Cada um destes oferece suporte para uma modalidade de cuidado ou
etapa do Processo de Enfermagem e são apreendidos em nossa prática,
segundo o ANEXO 09.
A abordagem sistêmica apresentada por Boyd (op.cit.) é
utilizada no acompanhamento domiciliar à família, como forma de
contemplar as áreas de atuação das famílias sobre os processos básicos.
Por sua vez, os modelos de Roper, Logan e Tierney (op.cit.), e de Orem
(op.cit.) são utilizados em diferentes etapas da Consulta de Enfermagem.
Gurgel e Soares (2000, p.74) salientam que, estando a prática de
Enfermagem fundamentada em marcos conceituais, é possível consolidar
uma relação mais efetiva e afetiva junto ao cliente, aprimorar os
conhecimentos de modelos teóricos de Enfermagem, pelo fato de
“ampliar a visão e dimensão multifacetada do ser humano, no seu
universo de vivências e experiências”. Por se tratar, deste modo, de um
campo de atuação específico da Enfermagem e que muito tem
contribuído para a formação de graduandos, faz-se necessário o apoio
teórico que respalde as diversas atividades que ali se efetivam.
A Construção do Marco Conceitual do Cuidado com Famílias
No sentido de repensar a nossa prática, foram apreendidos
conceitos extraídos das teses e dissertações, os quais foram sintetizados
para fins de construção do marco conceitual do cuidado de Enfermagem
com famílias em atenção primária de saúde, vivenciado no CEDEFAM
(ANEXO 08). De acordo com Leopardi (1999), em razão de sua
característica sistematizadora, o marco conceitual serve para sustentar
48
uma dada prática; e, embora a prática de Enfermagem resulte da ação
de forças com características diferentes, sejam sociais, culturais,
epistemológicas, dentre outras, precisa estar integrada com outros saberes
de sua época.
Segundo Torres (1993), os conceitos mais significativos, e que
influenciam e determinam a prática de Enfermagem, incluem; 1. homem
ou indivíduo; 2. sociedade/ambiente; 3. saúde; 4. Enfermagem. Destes, o
conceito que é referido como o centro da atenção da Enfermagem é o
indivíduo; para a autora, sem qualquer um deles, a Enfermagem não
poderá evoluir, seja como ciência ou como campo de prática profissional.
A utilização apenas de conceitos, todavia, sem respaldar a prática com
teorias, é de pouca valia para promover transformações significativas.
Polit, Beck e Hungler (2004) reforçam a idéia de que as teorias e modelos
conceituais servem para organizar os achados, conduzindo-os a um
contexto conceitual mais amplo, o que não ocorreria com a simples
utilização de conceitos isolados.
Roper, Logan e Tierney (1988) enfatizam que os modelos não se
constroem da noite para o dia, e sim, implica esta elaboração um longo
processo de construção e aperfeiçoamento. A flexibilidade dentro do
modelo permite que a nossa compreensão de Enfermagem se amplie,
sem que para isso cessem a criatividade e a busca contínua de novos
conhecimentos. Desse modo, destacaremos, a seguir, os conceitos
oriundos da construção interativa de enfermeiras representantes do
ensino, pesquisa, extensão e prática, cuja finalidade maior consiste em
oferecer eco às demandas das famílias.
Ser humano
Ao falarmos filosoficamente de existência, consideramos ex-
istência, uma vez que essa se dá a partir do meio externo; o ser é moldado
segundo nossa liberdade, mediante os enfrentamentos e intimidações do
real; o ser humano é visto como ser de enraizamento, pois está preso a
49
uma família, a uma língua específica, com limitações de afetividade,
inteligência e amorosidade; por outro lado, é um ser de abertura, sempre
se construindo, capaz de transpor limitações, um ser nunca pronto, capaz
de transcender (BOFF, 2000). Em confirmação ao pensamento de Boff,
evidenciamos as seguintes conceituações:
É um ser consciente e a consciência é intencionalmente dirigida para algo no
mundo (P5).
Integrado funcionalmente (...) apresenta necessidades particulares e
genéricas que perpassam as questões físicas (...) valorizado para ser cuidado,
respeitado, nutrido, compreendido e auxiliado...(P6).
Desempenha atividades de vida em seu cotidiano, ao longo de sua vida (...) é
influenciado por cinco grupos de fatores (biológicos, psicológicos,
socioculturais, ambientais e político-econômicos)... (P2, P7).
Está em constante interação com o meio, influenciando-o e sendo
influenciado por ele (...) é um ser único com suas peculiaridades e problemas
próprios, distinto e, como tal, deve ser atendido de forma singular e
acompanhado em suas angústias (P4).
Possui uma visão de mundo, por meio da qual percebem o seu mundo e nele
buscam alternativas para adequar-se às transformações (P1).
Possui vocação para transcendência (...) é autônomo (...) possui um ambiente
social, no qual desenvolve a maioria de suas atividades (...) capaz de avaliar
de forma flexível e com sabedoria (P3).
Ser envolvido em um contexto social, considerando-se sua individualidade,
tensões, anseios, dificuldades e histórias de vida (P4).
SER HUMANO
É um ser único, dotado de corpo, mente e espírito, com suas
peculiaridades, autônomo, solidário, integrado funcionalmente;
valorizado para ser cuidado, respeitado, nutrido, compreendido
e auxiliado em prol de seu autocrescimento e auto-realização; é
transcendente. Encontra-se envolvido em um contexto social, no
qual desempenha atividades de vida, sendo influenciado pelos
fatores biológicos, psicológicos, espirituais, ambientais,
socioculturais e político-econômicos; tem potencial para avaliar
de forma flexível e com sabedoria todos os eventos que
permeiam o seu viver.
50
Família
Num contexto social, a família possui funções essenciais a
desempenhar, as quais estão relacionadas aos seus membros e à
sociedade, ou seja, a promoção da saúde física dos membros é uma
função historicamente conhecida da família, como também o fato de
atuar na socialização dos membros, segundo os valores e as normas
sociais. O discurso elaborado sobre a família ainda é permeado de
reflexões em torno de sua funcionalidade. É um argumento constante e
que encontramos facilmente em reflexões de autores que se dedicam a
entender melhor a unidade familiar. Sentimo-nos feliz em perceber que as
participantes do estudo revelaram, em seus trabalhos, conceitos amplos
de família, como segue:
É uma instituição social composta por pessoas com laços afetivos, que
interagem compartilhando interesses comuns, atitudes, estilos e valores de
vida num determinado espaço, promovendo a socialização, mantendo a
cultura e o desenvolvimento da sociedade (P5).
Possui um papel de importância vital para a sobrevivência do ser humano e
também para sua felicidade (P6).
É importante como apoio no momento de refúgio, reabastecendo seus
membros e somando esforços para uma relação intrafamiliar saudável (P7).
Funciona como unidade de saúde ou doença (...) grupo primário do indivíduo
que compartilha riscos do meio ambiente, biológicos, psicológicos, sociais, de
comportamento ou estilo de vida (P8).
É o mais forte vínculo que a pessoa estabelece ao longo da vida (...) é na
família onde o sentimento de pertença se realiza mais fortemente (...) refúgio,
lugar de proteção, demarcação entre o eu, os meus e o todos nós (...) é o
grupo mais próximo e duradouro de todos os grupos sociais primários, onde os
contatos são mais íntimos, e as zonas de atrito são maiores (...) constitui-se
preocupação da Enfermagem desde o seu surgimento como profissão (P3).
FAMÍLIA
É o mais forte vínculo que uma pessoa estabelece ao longo da
vida. É o grupo mais próximo e duradouro de todos os grupos
sociais primários, onde os contatos são mais íntimos e as zonas de
atrito são maiores; compartilha os riscos do meio ambiente,
biológicos, psicológicos, sociais, de comportamento ou estilo de
vida. É por meio da família que valores, crenças, costumes,
enfim, os componentes culturais são mais fortemente repassados,
ao longo das gerações.
51
Sociedade
A saúde da sociedade é o que chamamos de justiça. Se vivemos
em uma sociedade injusta, corremos o risco de comprometer a nossa
saúde social e psicológica (LELOUP, 2002).
Tomando como eixo norteador o pensamento de Hegel, temos
que a sociedade moderna tem vinculado as pessoas entre si, à medida
que buscam satisfazer as suas necessidades, tornando-as produtoras ou
consumidoras; desse modo, o princípio de configuração dessa sociedade
é a divisão do trabalho, e, partindo desse ponto, o homem vai à busca de
seu direito fundamental de apropriar-se das coisas (OLIVEIRA, 1993). Com
esse princípio, temos como resultado a concentração de renda, os
privilegiados e os desvalidos.
É nessa sociedade (e no caso das marginalizadas, a exemplo, a
desse estudo), repleta de desigualdades que a Enfermagem se faz
necessária, como suporte para as famílias, no sentido de ajudá-las a lidar
com as carências materiais, e com o consumismo desenfreado que leva o
ser humano a acumular insatisfações.
Ao analisarmos os trabalhos, evidenciamos um contexto social no
qual a mulher é vista, limitada pela questão de gênero, como a principal
responsável pela saúde dos membros da família, pois o marido ocupa-se
de assegurar a sobrevivência de todos, por meio de seu trabalho
marginalizado, invisível e não remunerado (âmbito privado). A
necessidade de ampliar a renda familiar, porém, se por um lado vem
contribuir para as conquistas femininas em termos de mercado de
trabalho (âmbito público), tem, de outra parte, contribuído para que ela
acumule papéis visíveis e remunerados a serem desempenhados.
Ao regressar ao lar, a mulher que cumpre a mesma jornada de
trabalho do homem, com um salário inferior ao deste, depara-se com
afazeres domésticos, cuidado dos filhos, do esposo, e demais membros da
52
família que com eles residam. No contexto do CEDEFAM, essa é a
sociedade que se afigura, entretanto, buscamos com base nos achados
que seguem ampliar esse conceito, por acreditarmos no potencial
transcendente do ser humano:
As necessidades psicossociais incluem as condições de solidez ou fragilidade
da rede social de apoio (...) sua capacidade de inserir-se e viver no mundo,
seu grau de conflito ou equilíbrio com os seres que a cercam, seu papel diante
das demandas sociais, sua imagem pública, todos esses aspectos
desembocam em sua capacidade de autocuidar-se e do quanto ela é
cuidada por seus semelhantes... (P6).
A sociedade está presente dentro e fora de cada indivíduo, portanto, a ação
do sujeito sobre o meio e do meio sobre o indivíduo constitui uma contínua
espiral dialética. Cada conduta, ação, tudo que se passe com o indivíduo
está incluído em seu passado, presente ou futuro, tornando a dimensão de
temporalidade imprescindível para a análise de um fenômeno (P8).
A mulher, nos dias de hoje, tem conquistado vários espaços nos âmbitos social,
econômico e político, os quais, antes eram restritos ao homem. Com isso, a
mulher tem adquirido vários papéis e status que tem acarretado maior
acúmulo de funções e responsabilidades fora e dentro de casa, implicando
uma dupla jornada de trabalho, levando-a a uma sobrecarga física e mental
(P1).
O homem é socializado para o espaço exterior à casa, para enfrentar e ser
capaz de manter uma família. Já que a mulher teve como processo de
socialização o mundo do lar (...) as pessoas têm um ambiente social no qual
desenvolvem a maioria de suas atividades (profissionais, lúdicas, religiosas,
afetivas)... (P3).
A sociedade acredita que a mulher é a melhor pessoa e a única capaz de
cuidar corretamente dos filhos; e que eles exigem sua presença contínua e
exclusiva. A mulher deve incorporar todas as qualidades tradicionalmente
associadas à feminilidade, tais como acolhimento, ternura e intimidade com a
criança (Forna, 1999, p.146). (P4).
SOCIEDADE
Constitui-se um espaço de relações, intrinsecamente
relacionadas à temporalidade, estando presente dentro e fora
de cada indivíduo. A ação resultante da influência do sujeito
sobre o meio e deste sobre o indivíduo é visualizada como
transformações qualitativas. É nesse contexto social onde as
atividades do indivíduo são desempenhadas no cotidiano.
53
Cultura
O conceito de cultura passou ao longo da história, com diversos
enfoques teóricos, tornando-se difícil compreendê-lo como um todo.
Trata-se de uma idéia importante para a Enfermagem, em razão de
influenciar fortemente o modo de vida das famílias, bem como na sua
maneira de lidar com as circunstâncias da vida.
A abordagem cultural é objeto de interesse de enfermeiras
pesquisadoras, no âmbito regional, nacional e internacional. Recebe forte
influência da Antropologia, como é o caso de Leininger, em sua Teoria da
Diversidade e Universalidade do Cuidado Cultural, por meio da qual
buscou oferecer às clientes um cuidado culturalmente congruente
(XIMENES, 2001).
O conceito foi amplamente contemplado nos trabalhos, tanto
em sua conceituação como em exemplos da influência exercida por esse,
como segue:
É o conjunto de valores, crenças e modos de vida que são apreendidos,
compartilhados e transmitidos às gerações vindouras que direcionam as
decisões e ações de cuidar...(P1).
O conhecimento individual, atitudes e comportamentos, (...) relacionados
com as atividades de vida são influenciados por uma variedade de fatores
que podem ser categorizados amplamente como físicos, psicológicos,
socioculturais, ambientais e político-econômicos (P2).
A busca da saúde e a cura da doença ainda eram, no tempo de juventude
dos nossos narradores, assuntos da esfera privada da família ou entregues aos
responsáveis pela cura, a qual dependia de cada grupo de problemas. Na
esfera do mágico: curador, rezador, benzedeira, comadre, santos, divindades.
Na esfera do religioso: pai-de-santo, padres. Na esfera do empírico: doutores
em raízes, os mais velhos, comadre e etc. (P3).
... O sistema popular de saúde é constituído por pessoas que através de suas
experiências no cuidado com os outros ou de um “poder de cura adquirido
ou nato” se tornaram curandeiros populares. Dentre eles destacam-se as
rezadeiras, parteiras, raizeiros, pais de santo e espiritualistas (P5).
... A gravidez aumenta suas necessidades de cuidado e autocuidado, e
percebendo essa necessidade, a sociedade reage através dos indivíduos, das
leis e da cultura. Como parte dessa reação, encontramos as funções da
Enfermagem voltadas para a assistência pré-natal, sendo esta uma das mais
54
belas e complexas tarefas a serem executadas pela enfermeira obstétrica
(P6).
A convivência com essas mulheres no consultório, o acompanhamento em
seus domicílios, apreendendo o contexto ambiental e sócio-cultural no qual
estão inseridas, possibilitaram-me o compartilhamento de seus sentimentos,
pensamentos, anseios e dúvidas. Possibilitando, assim, a abertura necessária a
uma intervenção consciente e coerente, com as forças internas destas jovens,
argumentando formas e soluções práticas para os problemas com os quais se
deparavam (P7).
A visão ou representação que as mães têm da aparência corporal de seus
filhos é historicamente construída, os hábitos familiares e culturais são
repassados a cada geração...(P8).
CULTURA
Conjunto de valores, crenças, normas e modos de vida que são
apreendidos, compartilhados e transmitidos às gerações
vindouras, influenciando diretamente no modo de as pessoas se
comportarem diante dos eventos da vida, determinando as
relações de gênero e as interações interpessoais.
Saúde/Saúde da Família
O conceito de saúde esteve presente de maneira clara em
quase todos os trabalhos, entretanto, mesmo em relação aos que não
abordaram diretamente o que para eles significava saúde, estava
implícito que o objetivo do cuidado prestado vislumbrava, em especial, a
condição de vida e saúde das famílias.
Wolff (1996) salienta que todo profissional de Enfermagem precisa
ter claramente a certeza de que saúde é uma concepção individual e,
portanto, precisa ser respeitada para que a relação de ajuda,
denominada cuidado de Enfermagem, possa ser efetivada e alcance os
objetivos propostos.
Uma vez que nosso estudo contempla o cuidado à família,
partimos do conceito de saúde para então alcançarmos a dimensão de
saúde da família, tendo como suporte as respostas evidenciadas na
sequência:
55
O processo saúde/doença está ainda relacionado ao estilo de vida das
pessoas que, por sua vez, possui determinantes de ordem pessoal, do grupo
social a que pertence e de toda uma gama de condições ambientais e de
vida, em que o ser humano se encontra envolvido no cotidiano (...) Apresenta-
se associado ao trabalho, destacando-se a noção de corpo como
instrumento de trabalho (...) Está relacionada à concepção de equilíbrio do
homem consigo mesmo(...), com o seu meio natural e social e com os agentes
sobrenaturais... (P5).
(...) foi compreendida por nós numa perspectiva de qualidade de vida, de
promoção da saúde, assim como o ajustamento de um ser ao mundo e aos
outros seres humanos, quando os laços afetivos e o enfrentamento do estresse
tem respostas satisfatórias. Nessa perspectiva, a partir dos resultados
encontrados, podemos afirmar que nossos narradores conseguiram preservar,
nas mais diferentes situações, durante a maior parte de suas vidas, sua saúde
mental (P3).
Alto nível de funcionamento físico, mental e social (...). Um nível geral de
adaptação-manutenção aos fenômenos funcionais. A ausência de patologias
relativas ao processo gestacional. Presença de esforços da própria gestante,
que levam à ausência de patologias. Estado de unidade e harmonia na
mente, corpo e alma/espírito (P6).
Podem existir problemas (reais ou potenciais) com as atividades de vida,
sendo que o conceito de problema potencial incorpora a promoção e
manutenção da saúde e a prevenção da doença; e identifica o papel da
enfermeira como promotora de saúde, mesmo numa situação de doença
(P7).
...É necessária para a sobrevivência e freqüentemente é enunciada como
meta da Enfermagem (...) a saúde é experienciada no processo de viver, de
envolver-se com cada momento vivido. Não é suficiente o “bem-estar” que
sugere uma situação de estabilidade, mas devemos buscar o “estar melhor
que é o processo de se tornar cada vez mais e tornar todas as aspirações
humanas possíveis (P8).
Estar bem era ser capaz de executar atividades do cotidiano de forma
rotineira. Não havia preocupação com a prevenção ou a identificação de
sinais de alerta, pois esse não era um conhecimento socializado no seu
universo doméstico e cultural. Estar bem é não ter nenhuma manifestação
orgânica, isto é, sinais e sintomas. O bem-estar é alterado quando se
manifestam sintomas principalmente associados à dor (P3).
O reconhecimento do papel da família no diagnóstico, tratamento e cura das
doenças faz parte das preocupações da Enfermagem, desde seu surgimento
como profissão no século passado, na Inglaterra, embora a integração da
família nesses espaços terapêuticos não tenha sido valorizada (P3).
SAÚDE
É o estado de bem-estar em que mente, corpo e espírito
encontram-se em harmonia, sendo determinados por fatores de
ordem pessoal, social, cultural, ambiental e espiritual.
SAÚDE DA FAMÍLIA
É a meta da família; é experienciada no processo de viver da
família na busca do estar melhor para realizar suas atividades
cotidianas.
56
Enfermagem da Família
Muitas vezes, deparamo-nos com profissionais que afirmam estar
trabalhando com o grupo família, e, na verdade, sua visão encontra-se
voltada para os problemas dos indivíduos, separadamente de seu núcleo.
Em conseqüência, pelo fato de não visualizar as interconexões que
existem na dinâmica familiar, profissionais continuam a prescrever
“remédios” para males cuja solução encontra-se facilmente detectável,
tendo como base a leitura da família como um todo.
A “totalidade” da família é muito mais do que a simples adição
de cada membro, pois os indivíduos são mais bem compreendidos dentro
de um contexto maior, em razão de seu funcionamento individual
manifestar-se como resultado da interação com os demais. Estudar
separadamente os membros individuais da família não é o mesmo que
estudar a família como uma unidade (WRIGHT e LEAHEY, 2002).
Ciência humana de experiência de saúde doença humanas, mediada pelas
transações profissionais, pessoais, científicas, estéticas e éticas (...) possui como
principal objetivo ajudar a atingir um alto grau de harmonia, através dos
processos de cuidar, o que promoverá cura, autoconhecimento e insight
sobre os acontecimentos da vida(P6).
A função específica da Enfermagem é ajudar o indivíduo a prevenir, aliviar,
solucionar ou ainda suportar os problemas reais e potenciais relacionados
com as atividades de vida (P7, P2).
É vista como uma experiência que se vive entre os seres humanos (...) é uma
relação intersubjetiva, pois os participantes (enfermeira, cliente, família)
participam ativamente dos acontecimentos que o envolvem, sendo assim
interdependentes (P8).
...Conhecendo e compreendendo como as pessoas se cuidam, a partir de
suas visões e significados determinados em seus comportamentos, é que a
enfermeira poderá promover um cuidado cultural harmonioso, que poderá
levar ao bem-estar ou saúde do indivíduo (P1).
Utilização de estratégias criadas pela enfermeira para auxiliar a paciente a
alcançar os objetivos desejados (P4).
57
ENFERMAGEM DA FAMÍLIA
Ciência humana de experiência de saúde-doença, mediada
pelas relações profissionais, pessoais, científicas, estéticas e
éticas. É vista como uma experiência intersubjetiva, uma vez que
os participantes (enfermeira, família) atuam ativamente nos
acontecimentos que a envolvem, sendo assim interdependentes.
Possui como função específica a
j
udar as famílias, e os seus
membros individualmente, na prevenção, resolução ou ainda no
suporte aos problemas reais e potenciais, por meio do processo
de cuidar, o que contribuirá com a melhoria da qualidade de
vida, o autoconhecimento e identificação de insights sobre
acontecimentos de suas vidas.
Ser Enfermeiro
A imagem que muitos de nós temos projetado para a sociedade
leiga quanto às funções e à riqueza da Enfermagem, embora não
constituam a verdade sobre nossa profissão, tem se afigurado como uma
crença, de modo que, até quando somos retratadas pelos media,
apresentamos uma postura de omissão, subserviência, e, algumas vezes,
de incompetência. Expressões como “achava que a enfermeira era
praticamente inútil; era só pra aplicar injeção”, exemplificam essa visão
deturpada do ser enfermeiro.
Associemos a reduzida participação da enfermeira no incremento de políticas
e tecnologias de saúde, já que esta tarefa é assumida pelos médicos; com
sua reduzida participação no contato direto com os clientes – já que essa
tarefa é realizada por auxiliares de Enfermagem; ressaltando que esses papéis
são mais curativos do que cuidativos, e finalmente teremos bem formada e
justificada, a imagem distorcida de nossa profissão (P6).
No cuidado às famílias, os enfermeiros encontram um espaço
para ampliar sua imagem, uma vez que desenvolvem ações
independentes e interdependentes, sendo o profissional que mais
demanda para a estrutura da atenção primária de saúde.
Essa postura decorre do fato de que a formação do enfermeiro
está direcionada ao cuidado e à promoção da saúde, por meio da qual
58
vivencia diversas situações de interação com famílias e demais grupos,
nos mais variados contextos.
Outra razão reside na utilização de referenciais teóricos que
ampliam a visão de mundo do enfermeiro, direcionando para um
paradigma holístico, o que vem a ser confirmado nas teses e dissertações
analisadas:
Ao identificar os problemas de maneira sistematizada, tendo como apoio
modelos ou conceitos, a enfermeira direciona as famílias para o atendimento
de suas necessidades de cuidado, reconhece os problemas que fogem a sua
competência e as encaminha para o profissional qualificado para o assunto
em questão. Enquanto saída do sistema, reavalia as ações direcionadas à
família, oferecendo suporte, até que se possa alcançar a independência na
solução de seus problemas de saúde
(P7).
Conhecendo e compreendendo como as pessoas se cuidam, a partir de suas
visões e significados determinados em seus comportamentos, é que a
enfermeira poderá promover um cuidado cultural harmonioso, que poderá
levar ao bem-estar ou saúde do indivíduo (P1).
Os modelos possibilitam o direcionamento do trabalho das enfermeiras, de
forma a poder atender a clientela na sua integralidade e de forma
individualizada (P2).
Sugiro às enfermeiras que prestam cuidados a famílias que têm um de seus
membros gestante, que estabeleçam vínculo no sentido de dar continuidade
à relação, no período puerperal. Proponho que as enfermeiras trabalhem com
o modelo estudado, explicitado por Peplau (1993), obedecendo às fases do
relacionamento interpessoal (orientação, identificação, exploração e
resolução). Por último, sugiro a utilização das categorias teóricas e dos
indicadores propostos e analisados como meios para as enfermeiras avaliarem
o processo de maturação saudável de mulheres nutrizes (P4).
Para além das tarefas técnicas, a enfermeira precisa executar funções de
natureza psíquica, direcionadas para o ser da pessoa cuidada, e deve estar
atenta para sua saúde mental, seu potencial humano e sua condição
anímica; deve orientar para a elaboração e a realização de um projeto de
vida relacionado com a saúde holística da pessoa e com sua realização
íntima, ajudando na reconstituição energética/psíquica e na cura (P6).
Devemos valorizar as competências relacionadas ao ser humano em suas
dimensões psíquica, espiritual e sócio-cultural, além da biológica, ao invés de
somente valorizarmos as competências técnicas do saber fazer (P6).
Empatia e compaixão são competências ontológicas com as quais a
enfermeira reconhece como é difícil para a mulher assumir as
responsabilidades biológicas e sociais da gestação, parturição e puerpério,
bem como para seu companheiro e seus familiares (P6).
A enfermeira, enquanto promotora de saúde, no contexto de saúde ou
doença, deve sentir-se responsável pela orientação das adolescentes
59
grávidas, encorajando-as a adotarem comportamentos saudáveis no
desempenho das atividades de vida (P7).
Estar alerta aos problemas, agir responsavelmente, compreender o porquê
dos fenômenos, refletindo constantemente sobre o que está por trás da raiva,
frustração, silêncio, apatia, confusão, surpresa, alegria e outros sentimentos
humanos. Através do compromisso autêntico, a enfermeira valoriza a
Enfermagem como uma situação em que existem condições necessárias para
a realização humana. Logo, a enfermeira humanista é aberta às possibilidades
do aqui e agora, intimamente compartilhadas com o cliente (P8).
SER ENFERMEIRO
Promotor da saúde, por meio do ato de cuidar. Interage com o
cliente (indivíduo, família ou comunidade), respeitando a
autonomia deste e valorizando as competências do ser humano
em suas dimensões biológica, psíquica, espiritual e sociocultural,
priorizando ações “cuidativas”.
Cuidado Humano: para onde convergem os saberes e
conhecimentos da Enfermagem.
O cuidado é a essência da Enfermagem, e, como tal, esteve
presente em todos os trabalhos. Independentemente de qual seja o
conceito que cada um tenha sobre ele, ou se são diferentes, o que
parece importante é saber o que estamos pensando sobre o cuidado
como “natureza” viva da produção de nossos conhecimentos e de nossas
ações (FIGUEIREDO e MACHADO, 2001).
O cuidado emerge a partir da visão de mundo das clientes e das interações
estabelecidas com os outros (P5).
De acordo com Figueiredo e Machado (Ibidem), a experiência
de pensar e fazer o cuidado se reporta à possibilidade de que existe um
raciocínio sobre o cuidado de Enfermagem que não é geral, nem para as
enfermeiras e muito menos para a sociedade. Haja vista a quantidade de
ações e saberes de que a Enfermagem se utiliza para cuidar, bem como a
amplitude das abordagens utilizadas que não são mais apenas as das
ciências biológicas e da vida, estende-se às ciências sociais (Antropologia,
Sociologia), à Filosofia e à História, na perspectiva de propiciar a
compreensão do “SER do CUIDADO – o homem e a mulher, nas mais
diversas situações de viver”.
60
Em todos os estudos analisados, pudemos verificar concepções,
definições de cuidado, como seguem os exemplos:
Fenômeno relacionado a assistir, apoiar ou habilitar a multigesta ou a sua
família a adaptar-se satisfatoriamente à experiência de uma nova gravidez
(P1).
Outro tipo de ocupação que é atribuído essencialmente à mulher é o papel
de cuidador. A mulher, pela divisão sexual do trabalho, já assume esse papel
rotineiramente (...) O cuidado é uma via de mão dupla: o ser cuidador pode
ser cuidado, assim como o que recebe o cuidado pode ser, em algum
momento, cuidador (P3).
Embora a enfermeira não tenha a capacidade de suprir todas as
necessidades, deve conhecer os recursos de que a comunidade dispõe e
estimular o paciente a utiliza-los de modo que venha a desenvolver uma vida
saudável (P4).
Dentre os pressupostos para a ‘ciência do cuidado’, destacamos os
considerados mais relevantes para nosso estudo:
a) o cuidado humano somente pode ser demonstrado e praticado através de
relações interpessoais;
b) o cuidado efetivo promove a saúde e o crescimento do indivíduo e de sua
família;
c) para cuidar é necessário aceitar a pessoa não apenas como ela é, mas
também como ela poderá vir a ser;
d) um ambiente de cuidado é aquele que oferece o desenvolvimento do
potencial humano (auto-realização) e permite a liberdade de escolha;
e) o cuidado possui uma maior capacidade de autogenia, quando
comparado com a cura, ou seja, por ser autógeno, o cuidado gera cuidado;
f) a prática do cuidado é o centro ou a essência da Enfermagem. É o atributo
mais valioso que a profissão dispõe para oferecer à humanidade. Denota a
reciprocidade entre enfermeira e pessoa cliente, participando entre si numa
relação transpessoal (P6).
O conceito de cuidado foi apreendido da seguinte forma, tendo
como base os trabalhos das pesquisadoras, enfim, aproximando ensino,
pesquisa, extensão e prática de Enfermagem:
CUIDADO HUMANO
É um ato empírico, pessoal, ético, estético e sócio-político direcionado a
assistir, apoiar ou habilitar a família a adaptar-se satisfatoriamente às
experiências de saúde-doença e que integra o conhecimento biofísico
com o conhecimento do comportamento humano, por meio de uma
reciprocidade entre enfermeira e família, ambos voltados para a
promoção da saúde. O ser cuidador contempla no seu cuidar as
dimensões biológica, psicossocial e cultural/espiritual visualizando o
cuidado holístico, individualizado, efetivo.
61
O Marco Conceitual Construído e o Conceito Central do Padrão
Empírico
Aproximando a estrutura adotada no CEDEFAM dos marcos
conceituais retromencionados, foi possível evidenciar a convergência dos
saberes que compõem o padrão empírico da prática de Enfermagem
com famílias, tendo como centro da convergência o conceito de
CUIDADO HUMANO.
SOCIEDADE
FAMÍLIA
SAÚDE
CUIDADO
HUMANO
CULTURA
SER
HUMANO
SER
ENFERMEIRO
ENFERMAGEM
DA FAMÍLIA
SAÚDE
DA FAMÍLIA
DESENVOLVIMENTO
ATIVIDADES DE VIDA
PAPÉIS
COMUNICAÇÃO
CRISE
APRENDIZAGEM SOCIAL
AUTOCUIDADO
FIGURA 1. REPRESENTAÇÃO DA CONVERGÊNCIA DE SABERES PARA O
CUIDADO DE ENFERMAGEM COM FAMÍLIAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA,
CEDEFAM, FORTALEZA, 2005.
A prática de Enfermagem na atenção primária com famílias,
considerando o contexto atual, vem consolidar uma missão social que
privilegia os menos favorecidos. Na abordagem sistêmica, apresentada
por Boyd (1990), o cuidado de Enfermagem tem se orientado por marcos
conceituais que enfatizam o desenvolvimento familiar, como também o
62
enfrentamento de crises situacionais, e utilização das parcerias
comunitárias ativas, visando a um processo de mudança na postura da
clientela, que durante muito tempo foi vista como simples receptora das
ações de saúde. Estes marcos proporcionam um mecanismo para
organizar o volume de informações resultantes da interação da
Enfermagem com as famílias, os quais são indispensáveis à compreensão
da dinâmica familiar.
Segundo Liss e Bub (2002), são necessários três componentes
fundamentais para o atendimento das necessidades de cuidado:
determinar o estado atual, os objetivos das necessidades para cuidado de
Enfermagem, o objeto da necessidade – o que é, qual a intervenção de
Enfermagem é necessária. Ressaltam ainda que, tanto para o
atendimento das necessidades do indivíduo quanto da comunidade,
esses passos precisam ser seguidos, o que também se aplica às famílias.
A pretensão dos modelos de Roper, Logan e Tierney (1995) e de
Orem (1995) é fazer com que cada pessoa seja mais responsável pelos
próprios cuidados de saúde. Isso reflete num crescente reconhecimento
de que todos necessitamos ter mais responsabilidade sobre nossas vidas.
Uma forma de se alcançar tais propósitos é, em primeiro lugar, dar ênfase
maior à promoção da saúde e, em segundo lugar, valorizar o
componente de autocuidado preconizado pela Enfermagem, em favor
da vida. Ambos representam significativo valor para esta prática e
possuem elementos conceituais de fácil aplicabilidade. Em consonância
com o Editorial (2001), esse tem sido um dos maiores desafios para a
Enfermagem – o de fortalecer a sua prática cientificamente, revelando o
significado da qualidade do seu cuidado.
Waldow (2004) reforça o argumento de que o ensino representa
a convergência de todas as questões que dizem respeito à prática de
Enfermagem, seja exercício educacional, nas escolas, mediante seus
currículos e, principalmente, no cotidiano acadêmico, que se educam os
63
enfermeiros, palco onde são socializados para o cuidar. Enfatiza que não
se trata de desconhecer a influência que a estrutura social e as relações
de poder dentro da organização, onde a Enfermagem trabalha, exercem
sobre as maneiras de cuidar e o significado que assumem.
Uma vez que o cuidado de Enfermagem efetivado no CEDEFAM
também é realizado por alunos do Estágio Curricular Supervisionado,
verificamos que, segundo as falas que seguem, referidas pelas supervisoras
de campo, docentes e ex-alunas, durante o painel interativo, algumas
reflexões acerca do perfil do enfermeiro que vem sendo construído são
necessárias:
...Tem as coisas que são específicas de cada etapa da vida, e o que falta
para o pessoal é estudar isso aí, para poder ser trabalhado, e além do mais só
vêem o lado biológico e outra coisa, perguntam as coisas e não fazem a
interrelação... O que está faltando é sintonizar os assuntos... (P12).
... Se cada disciplina passar a associar uma visão do que acontece com cada
atividade de vida em cada etapa de vida, quando ela chegar em outra fase,
ela já estará bem mais dominando o assunto... Outro aspecto que eu vejo é o
seguinte, ou se dá uma pertinência à função da Enfermagem no programa
de saúde, porque não somos médicos... É a confusão que fica porque não
querem que prescreva, não querem que faça isso... Nós ficaremos em que
condição? (P13).
A aplicação do modelo no CEDEFAM tem sido muito boa porque a gente
passou a ter um registro bem mais completo. A dificuldade que eu vejo é a
falta de exercício do aluno em registrar, ficando registros incompletos não
porque eles não saibam, e nós vemos que depois quando eles amadurecem,
ampliam a visão acerca do trabalho com a família realmente eles saem
enriquecidos... Aqueles que colocaram uma barreira maior quando chegaram
aqui quando saem para uma prática em outro local, eles depois retornam
para agradecer pelo que aprenderam... (P 14).
A importância dos marcos para a prática com famílias está mais do que
validada... Os conceitos ajudam a compreensão do aluno... Quando foi feita
a introdução do modelo de atividades de vida, nós ficamos receosos com a
reação dos alunos, mas as primeiras turmas estiveram entusiasmadas e
contagiavam a gente também... Hoje os alunos chiam porque tem que ler o
livro todo... E ao longo do semestre, nós vemos que eles amadurecem muito...
Eles passam a compreender porque não podem estudar só uma atividade de
vida... Uma coisa que eu vejo na operacionalização dele é a nossa
dificuldade com os registros, pois demanda mais tempo, o aluno precisa se
debruçar mais, nós temos pensado em estruturar um formulário que padronize,
seja contemplado todo o modelo, e que nos dê condição de visualizar todas
as atividades de vida... (P8).
64
...O curso, ao utilizar o modelo poderia atribuir a cada disciplina, um somatório
de informações que não desse a impressão ao aluno de que o que fazemos
aqui é uma coisa isolada...(P13).
...O que eles dizem é que é muito tarde para eles estarem aprendendo isso...
Porque eles não associam as informações... (P10).
...Tem uma realidade que está extinguindo a Enfermagem do seu campo de
visão...(P13).
Em seus discursos, um aspecto em comum relata a efetivação
dos modelos utilizados pelos alunos nas abordagens à saúde da família e
de seus membros, porém, sem alcançar a eficiência tão desejada. Para
elas, isto decorria do pouco tempo que os alunos tinham para apreender
os modelos e pô-los em prática. As participantes consideram evidente que
os modelos tornam mais completa a visão do indivíduo e facilitam a
compreensão da dinâmica familiar. Acreditam que se fosse possível dar a
conhecer estes modelos nos primeiros semestres aos alunos, isso facilitaria
sua adaptação e emprego nas consultas realizadas à família no CEDEFAM
no penúltimo semestre de graduação.
Sentimos a necessidade de verificar a congruência dos
conceitos, mencionados anteriormente, aos marcos conceituais do Curso
de Enfermagem da UFC, uma vez que, como já mencionado, os marcos
conceituais são a base para determinar o perfil do profissional que vem
sendo lançado no mercado, a cada semestre, e, portanto, precisa estar
refletido em todos os espaços ocupados pelo aluno; embora
reconheçamos que no caso de descrever os marcos conceituais da
atenção primária de saúde no CEDEFAM, sejam limitados a um campo de
práticas de disciplinas e estágio supervisionado, dirigidos às famílias e aos
alunos do Curso de Graduação, ao contrário do Departamento de
Enfermagem da UFC, que é uma instituição de ensino superior (IES),
responsável pela formação do enfermeiro, em diferentes modalidades de
atuação e qualificação, em todos os níveis de atenção, em diversos graus
de complexidade e de variedade de campos de estágio, dentre outros.
65
QUADRO 2. COMPARATIVO ENTRE OS MARCOS CONCEITUAIS DO CUIDADO
COM FAMÍLIAS E DO CURSO DE ENFERMAGEM DA UFC.
MARCOS CONCEITUAIS DO CUIDADO COM FAMÍLIAS EM
APS (COSTA, 2005)
MARCOS CONCEITUAIS DO CURSO DE ENFERMAGEM DA
UFC
SER HUMANO
É um ser único, com suas peculiaridades, autônomo,
solidário, integrado funcionalmente; valorizado para ser
cuidado, respeitado, nutrido, compreendido e
auxiliado em prol do autocrescimento e auto-
realização; é transcendente. Encontra-se envolvido em
um contexto social, no qual desempenha atividades
de vida, sendo influenciado pelos fatores biológicos,
psicológicos, espirituais, ambientais, socioculturais e
político-econômicos; tem potencial para avaliar de
forma flexível e com sabedoria todos os eventos que
permeiam o seu viver.
O SER HUMANO é um ser único na sua integridade bio,
psico, sócio-político, cultural e espiritual. É um ser
histórico, capaz de transformar-se e transformar a
sociedade em que se insere. Os aspectos de sua vida
estão ligados à sua história e estruturas sociais,
políticas, éticas e culturais. Em função disso constrói e
adota valores e significados próprios à saúde, à
doença e às necessidades de cuidado. Toma decisões
e elege condutas de acordo com sua visão de mundo.
É um ser gregário, possuidor de capacidade afetiva, de
relacionamento e de comunicação, principalmente
por meio da linguagem. Situa-se numa família,
atravessa fases de crescimento e desenvolvimento,
ocupando posições na estrutura social, assumindo
papéis e tarefas.
SOCIEDADE/AMBIENTE
Constitui-se um espaço de relações, intrinsecamente
relacionadas à temporalidade, estando presente
dentro e fora de cada indivíduo. A ação resultante da
influência do sujeito sobre o meio e deste sobre o
indivíduo é visualizada como transformações
qualitativas. É nesse contexto social onde as atividades
do indivíduo são desempenhadas no cotidiano.
Sociedade se constitui numa forma de organização
que se expressa por sua historicidade, seus projetos e
conflitos de interesses dos seus diferentes segmentos
que a compõem. Deve ser capaz de promover
desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento
pessoal, possibilitando a maximização das
potencialidades de seus componentes. Utiliza como
instrumentos de redistributividade as políticas sociais,
dentre elas as políticas de saúde. As sociedades
organizam-se segundo um contrato social, o qual,
dependendo do momento histórico, representa ou não
os interesses da maioria. A sociedade, como ente
externo ao homem, constitui seu meio ambiente mais
abrangente, onde se dão as transações sociais,
econômicas, culturais, políticas e afetivas.
Dependendo das condições de inclusão/exclusão
social, o homem está mais ou menos vulnerável a
agravos à saúde física, mental e social.
SAÚDE
É o estado de bem-estar em que mente, corpo e
espírito encontram-se em harmonia, sendo
determinados por fatores de ordem pessoal, social,
cultural, ambiental e espiritual.
SAÚDE DA FAMÍLIA
É a meta da família; é experienciada no processo de
viver da família na busca do estar melhor para realizar
suas atividades cotidianas.
Saúde pode ser compreendida como a busca da
maximização das potencialidades individuais pela
capacidade do autocuidado no contexto ecológico. A
saúde é considerada como um direito universal e uma
virtude elementar e a base para as demais, desejada
em si mesma e para atuar bem, de modo que além de
ser um bem em si mesma é fonte de outros bens. A
saúde é um bem e um direito cujo acesso é universal e
igualitário, garantidos pela Constituição brasileira
mediante políticas sociais e econômicas, com
abrangência intersetorial. É compartilhada
individualmente, embora seja um bem coletivo.
Decorre das decisões políticas e dimensões
ideológicas, comportamentais, hereditárias,
socioeconômicas, e da organização dos serviços de
saúde.
66
FAMÍLIA
É o mais forte vínculo que uma pessoa estabelece ao
longo da vida. É o grupo mais próximo e duradouro de
todos os grupos sociais primários, onde os contatos são
mais íntimos e as zonas de atrito são maiores;
compartilha os riscos do meio ambiente, biológicos,
psicológicos, sociais, de comportamento ou estilo de
vida. É por meio da família que valores, crenças,
costumes, enfim, os componentes culturais são mais
fortemente repassados, ao longo das gerações.
É um grupo social primário, com uma história e um
futuro próprio, e que se caracteriza pelo contato direto,
face a face, pelas relações íntimas, afetivas e
espontâneas, pelo seu reduzido tamanho e pela
cooperação direta de seus membros. Sua estrutura, o
tipo de ligação e a interação dos seus membros são
determinados por fatores éticos, culturais,
socioeconômicos, políticos e psicológicos. Tem um
ciclo de vida próprio que define uma seqüência de
estágios iniciados com sua formação e prosseguindo
até sua dissolução. A família interage com o contexto
do qual faz parte. Possui funções e áreas de atuação
que variam de acordo com a organização social, mas
que preserva algumas funções básicas como a
reprodução, socialização de seus membros,
transferência cultural, apoio psicológico, afetivos,
educação, economia e saúde.
ENFERMAGEM DA FAMÍLIA ENFERMAGEM
Possui como função específica ajudar as famílias, e aos
seus membros individualmente, na prevenção,
resolução ou ainda no suporte aos problemas reais e
potenciais, por meio do processo de cuidar, o que
contribuirá com a melhoria da qualidade de vida, o
autoconhecimento e identificação de insights sobre
acontecimentos de suas vidas. Ciência humana de
experiência de saúde-doença, mediada pelas
relações profissionais, pessoais, científicas, estéticas e
éticas. É vista como uma experiência intersubjetiva,
uma vez que os participantes (enfermeira, família)
atuam ativamente dos acontecimentos que a
envolvem, sendo, assim, interdependentes.
É uma profissão com um corpo de conhecimentos
próprios e peculiar, cujo núcleo profissional é o cuidar
em situação de saúde/doença. É regida por legislação
específica, que orienta a formação ético-científica e
regulada por um código de ética e deontologia.
CUIDADO
O ato de cuidar operacionaliza-se por meio de ações
individuais e coletivas numa abordagem dialógica. É o
princípio norteador, essência da profissão de
Enfermagem. O cuidar compreende a sistematização
de ações/atividades de Enfermagem e construção de
possibilidades de autonomia dirigidas ao ser humano,
família e grupos sociais numa perspectiva ecológica,
bioética, social culturalmente significativa e biofísica.
Abrange comportamentos, técnicas, processos,
padrões cognitivos e ações interativas de autocuidado.
Efetiva-se a partir de relação estabelecida entre o
profissional de Enfermagem e a clientela,
fundamentando-se na confiança mútua, na
competência, na responsabilidade profissional e na
solidariedade, recebendo influência das contingências
institucionais, políticas e do mercado de trabalho em
saúde.
SER ENFERMEIRO PROCESSO DE TRABALHO EM ENFERMAGEM
Promotor da saúde, por meio do ato de cuidar.
Interage com o cliente (indivíduo, família ou
comunidade), respeitando sua autonomia e
valorizando as competências do ser humano em suas
dimensões biológica, psíquica, espiritual e sociocultural,
priorizando ações “cuidativas”.
CULTURA
Conjunto de valores, crenças, normas e modos de vida
que são apreendidos, compartilhados e transmitidos às
gerações vindouras, influenciando diretamente no
modo de as pessoas se comportarem diante dos
eventos da vida, determinando as relações de gênero
e as interações interpessoais.
É o processo de cuidar, que compreende juízos e atos
dirigidos à conservação, promoção e
restabelecimento do equilíbrio da pessoa/indivíduo,
família e grupos sociais. Efetiva-se por meio da
sistematização da assistência de Enfermagem através
de intervenções nas respostas humanas a problemas
atuais e potenciais de saúde. Está embasada em um
corpo de conhecimento fundamentado em princípios
científicos e teorias, validadas pela pesquisa e expresso
em práticas que vão do estado de saúde ao estado
de doença, mediado por transações sociais,
profissionais, científicas, estéticas, éticas e políticas do
cuidar do ser humano.
67
Sentimos a necessidade de aproximar os marcos conceituais
anteriormente descrita, uma vez que, de acordo com Cunha (1997), tem
se requisitado da universidade as providências de preparar
adequadamente e oferecer mão-de-obra qualificada para a sociedade,
e até a resolução dos problemas sociais pela pesquisa e extensão. O
investimento a ela direcionado, contudo, é inversamente proporcional ao
que se exige como produto. Neste caso, confirma-se o requisito apontado
pela autora.
Inegavelmente, as transformações sociais, bem como
ideológicas, exigem do profissional de saúde novas responsabilidades que
decorrem da necessidade de reorganização da formação, desde os
conteúdos que o compõem, a forma como se inter-relacionam, e o tipo
de treinamento considerado útil para o desenvolvimento de práticas mais
resolutivas (LEOPARDI, 1999). Enfermeiras e docentes de todo o mundo têm
buscado incorporar as novas tendências, porém correm o risco de resultar
em modismos, utilizando, por exemplo, o cuidado, mais como um slogan,
do que como a essência da prática de Enfermagem (WALDOW, 2004).
Neste caso, o que se evidencia é que o CEDEFAM representa
uma instituição que fortalece uma formação profissional preconizada pelo
Departamento de Enfermagem da UFC, numa perspectiva inovadora de
cuidar a família, configurando uma prática profissional resolutiva, o que de
fato contribui no processo de formação do enfermeiro com o perfil
requerido na legislação vigente (Parecer 314/94 do MEC) que
corresponde à formação de generalista.
68
Padrão Pessoal
O saber pessoal é uma dinâmica formação do self consciente e
do reconhecimento do valor e da totalidade do outro (holismo), o qual
pode ser um indivíduo, pequenos e grandes grupos vistos como um todo. É
base da expressão da autenticidade, refere-se ao que é genuinamente
do ser e diferencia-se do que foi absorvido da interação deste com o
meio, conduzindo-o a uma tomada de consciência e autonomia para
direcionar o seu viver (WOLFF, 1996).
Está relacionado à experiência individual, de tomada de
consciência de sua totalidade, e não é diretamente expresso na
linguagem; torna-se forma discursiva, quando transformado em histórias
de vida, e fundamental nas relações interpessoais (CHINN e KRAMER,
1999). É importante salientar que o amadurecimento pessoal está na
conquista da autonomia do pensar e do agir (LEOPARDI, 1999).
Para favorecer o desenvolvimento do self, de acordo com
Blumer, assumir o lugar do outro consiste em uma atividade de alta
relevância (interação social), ou seja, a ação dos seres humanos na
relação com os outros. A ação humana compreende um processo ativo
de tomada de decisão, resultante da interação do self com os outros.
Quando a coletividade enfrenta situações nas quais é chamada a agir,
denomina-se ação conjunta, percebendo-se o ser humano como ator.
Quando o indivíduo com o qual interagimos passa a ter um significado
particular, é denominado o outro significante (HAGUETTE, 1987).
A busca do autoconhecimento, entretanto, o mergulho dentro
de si, não é uma trajetória tão simples de se trilhar, pois exige de quem o
faz que aceite despir-se para reconhecer seus pontos fortes e fracos, o
que Wolff (op.cit.) denomina como “descobrir-se e reconhecer as suas
fraquezas, suas limitações, as suas culpas e omissões”. Esse caminho ao ser
69
trilhado, no entanto, contribui para que o indivíduo encontre a auto-
realização pela descoberta de suas potencialidades.
Desse modo, ele precisa interagir com o mundo e atribuir-lhe
significado, e assim acontece com os enfermeiros ao interagirem com as
famílias, abrindo-se para experiências, reformulando seus conceitos e
adequando a sua prática, com base em uma experiência reflexiva.
Para Kant, a experiência não é mera recepção de dados, mas
sua transformação em objeto para o homem (...) o sujeito é o
elemento decisivo no conhecimento e na ação humanos, pois é
o elemento de determinação do processo. (...) tal associação só
é possível através da referência à unidade da autoconsciência,
ao eu penso transcendental, que é a condição última de
possibilidade do conhecimento objetivo do homem (OLIVEIRA,
1989, p.17).
Ao profissional moderno é exigido que possua uma postura
pautada na autonomia de formulação própria, distante da mera
execução de tarefas predeterminadas; é preciso que ele saiba criar
soluções para situações inesperadas e para novos desafios, ou seja, que
ele saiba manejar o conhecimento e não apenas recebê-lo pronto, para
somente consumir e reproduzir (DEMO,1997).
Esta formulação própria a que se refere Demo diz respeito ao
exercício da produção científica, da pesquisa. Não é pesquisa, porém,
aquela que ainda permanece em simples “considerações finais”,
“reflexões mais ou menos dispersas” ou descrições externas dos fenômenos
e problemas, mas, sim, aquela que implica atividade sistemática e que
requer exercício acurado de argumentação própria (idem, 2001), e de
utilidade político-social.
Contribuições das Pesquisadoras e Supervisoras de Campo para
Construção do Padrão Pessoal
O saber pessoal esteve abordado nas teses e dissertações,
variando de acordo com os referenciais por elas adotados, contudo
70
salientando aspectos comuns que enaltecem o ser enfermeiro e que já
foram mencionados na construção desse conceito.
Pinheiro (1998) evidenciou que, por meio da abertura, o ser
humano tem a capacidade de comunicar sua experiência pessoal e suas
relações naturais com outros seres e objetos. Por sua vez, para que haja
intersubjetividade, precisamos entender e ver a outra pessoa como
indivíduo distinto e individual, protagonista de uma relação singular.
Girão (1996) utilizou o conceito de Husserl, segundo o qual o
homem é um ser consciente e a consciência é intencional, sendo esta
intencionalidade dirigida a alguma coisa no mundo. E a totalidade dessas
experiências de um indivíduo, para os estudiosos da Sociologia, é
denominada mundo vivido, o qual é delimitado pelos objetos, pessoas e
eventos encontrados na busca dos objetivos pragmáticos do viver.
Pinheiro (op. cit.) salientou aspectos do relacionamento
interpessoal que influenciaram as participantes de seu estudo, no sentido
de se aceitarem como mães, de vivenciarem esse papel com prazer, e de
saberem exprimir suas angústias, aborrecimentos e ansiedades em
desempenhar tal função. A Teoria do Relacionamento Interpessoal
fornece subsídios para a enfermeira cuidar (...) de forma que permaneça
aberta à compreensão dos sentimentos (...) e então possa ajudar o
indivíduo a identificar suas dificuldades, aplicando princípios do
relacionamento humano.
Outros elementos são requisitados para compor o saber pessoal,
e um deles consiste na humanização do cuidado. Segundo Saraiva, K.
(2003), pressupõe-se o desenvolvimento de algumas características
essenciais ao ser humano, entre elas a sensibilidade, o respeito e a
solidariedade. Uma vez que “humanizar é cuidar”, o cuidado promove a
plenitude do ser humano, relaciona o macro e o microcosmo,
compreendendo-o em seus aspectos físico, psíquico e social, todavia,
71
nem sempre as necessidades psicológicas e sociais, próprias do ser
humano, são supridas pelos profissionais que dispensam o cuidado, daí a
necessidade da enfermeira elaborar seu sistema de valores humanísticos e
altruístas para com as famílias. Ela própria deve levar a cabo em sua
prática um comportamento humanístico-altruísta.
Esse exercício da humanização inclui o reconhecimento de que
como profissional de saúde, a enfermeira é um ser humano como
é seu cliente, podendo adoecer, enganar-se, irritar-se, ausentar-
se e falhar no cuidado também. Ao reconhecer seus riscos de
errar, ela se sentirá impulsionada para lapidar seus
conhecimentos científicos e seus valores morais, transcendendo a
si mesmo em sua própria promoção da saúde. Defendendo a
humanização, a enfermeira deve humanizar-se também,
entendendo que isso se traduz num processo lento, seqüencial e
transcendental, dependente, muito mais, de seu potencial
anímico do que técnico (Ibidem, p. 112).
Por sua vez, o agir humanístico, segundo Pinheiro (1998),
compreende o estar alerta aos problemas, agir responsavelmente,
compreender o porquê dos fenômenos, refletindo constantemente sobre
o que está por trás da raiva, frustração, silêncio, apatia, confusão,
surpresa, alegria e outros sentimentos humanos.
Silva, M. (2001) salienta que a abordagem compreensiva
possibilita ver a partir do olhar do outro o que às vezes é muito difícil para
nós, profissionais de classe média. Para ela, a família deveria funcionar
como um refúgio, um lugar de proteção, de aceitação inconteste e de
demarcação entre o eu, os meus (família) e o todos nós (sociedade).
A dimensão espiritual esteve presente como um recurso de
enfrentamento utilizado pelas famílias: “Os problemas que nossos
entrevistados enfrentam, eles entregam a Deus e, quando pedem com fé,
afirmam obter respostas” (Ibidem, p. 237). Defensores do movimento
transpessoal reconheceram a existência e a importância desta dimensão,
compreendendo o ser humano como holístico, em comunhão com uma
consciência cósmica. Assim foi cunhado o termo ‘transpessoal’. Reforçam,
ainda, o potencial inato de cada pessoa para promover sua saúde,
72
transformar-se, crescer, promover auto-realização e auto-afirmação
(SARAIVA, K., 2003).
Ao utilizar-se de uma terapia alternativa, denominada
imaginação guiada, Saraiva, K. (Ibidem) verificou a necessidade de
adquirir considerável nível de conhecimentos sobre condução de grupos
e aspectos psicológicos, vivenciando, ela própria, exercícios de
imaginação relacionados com seu eu mais íntimo (self) e seu
autoconhecimento. Desse modo, reforça a importância de o ser
enfermeiro encontrar-se aberto para interagir com o outro.
73
Padrão Ético
É considerado o componente moral do conhecimento na
Enfermagem. Envolve o confronto e a resolução de conflitos de valores,
normas, interesses ou princípios. Compreende todas as normas que regem
a profissão, exercício profissional.
A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos
homens em sociedade, que se ocupa de um objeto próprio: o setor da
realidade humana que se chama moral, constituído por um tipo peculiar
de fatos ou atos humanos. A origem etimológica da palavra Ética vem do
grego ethos, que significa analogamente “modo de ser” ou “caráter”. Sua
função fundamental é a mesma de toda teoria: explicar, esclarecer ou
investigar uma determinada realidade, elaborando os conceitos
correspondentes (VÁZQUEZ, 1984).
A ética não é a única ciência a tratar do agir humano, pois
outras ciências, sob ângulos diversos, estudam as relações e o
comportamento dos homens em sociedade, como a Psicologia,
Antropologia, Sociologia, História, Economia, o Direito, a Teologia, porém,
cada uma delas possui o próprio enfoque, o seu objeto formal específico.
O objeto da ética é o compromisso com o dever, a verdade, a justiça, o
valor, a virtude (CAMARGO, 1999).
Toda profissão possui código de ética para orientar, disciplinar e
fiscalizar a conduta profissional. Nas atividades de trabalho, a pessoa
adota um comportamento condizente com o que é prescrito pelas
normas e exigências éticas, como forma de amparar os interesses do
cliente, e do relacionamento deste com o profissional, porém, “os códigos
de ética por si não tornam melhores os profissionais, mas representam uma
luz e uma pista para seu comportamento” (Ibidem, p. 34).
Na Enfermagem os atos praticados no exercício da profissão
regem-se por deveres e obrigações. Não basta se munir de saberes
74
técnico-científicos; a enfermeira tem que adotar uma conduta moral de
respeito à vida, à dignidade e à liberdade humana, na atenção às
demandas de saúde do paciente, famílias e comunidades.
Para Chinn e Kramer (1999), a Enfermagem é uma profissão que
exige conhecimento ético para guiar a prática. Seja uma enfermeira
experiente ou em início de carreira, quer trabalhando em um ambiente de
cuidado intensivo ou em uma escola primária, os resultados dependem do
seu saber ético e de sua moralidade; ou seja, todas as ações de
Enfermagem são declarações éticas.
Como Walker (apud CHINN e KRAMER, 1999, p. 158) sugere, “a
perícia moral de uma enfermeira não é uma questão de dominar códigos
e leis, mas uma questão de ser a arquiteta do espaço moral dentro do
ajuste do cuidado de saúde e mediadora nas conversações que
acontecem”. Cooper, também citado pelas autoras, fala da necessidade
de se tomar as demandas morais de cuidado seriamente no
desenvolvimento da ética, e fazendo assim serão exigidas respostas
radicais e coragem moral, como também astúcia política. E
complementa, afirmando que as escolhas éticas não só deveriam ser
guiadas por papéis e princípios, mas também por análise de sentimentos,
intuições e experiências.
O componente ético de Enfermagem é focalizado em assuntos
de obrigação ou o que deveria ser feito. O conhecimento de
moralidade vai além de saber as normas ou códigos éticos da
disciplina simplesmente. Inclui todas as ações voluntárias que são
deliberadas e sujeitas ao julgamento de certo e errado. (CARPER
apud CHINN e KRAMER, 1999, p. 159).
No âmbito do ensino, na formação de enfermeiros, a transmissão
de conhecimentos para o desenvolvimento da competência profissional
deve conter o despertar do compromisso ético, que será essencial na
prática do cuidado. Tal compromisso pode-se apoiar em sentimentos de
solidariedade, de humanização do trabalho e de virtude ética.
75
A virtude ética introduz o caráter da pessoa como um
determinador importante da tomada de decisão. Se o comportamento
ético se reduzisse à aplicação de regras ou cálculos de bem, então o
caráter seria irrelevante. O caráter, entretanto, determina como
percebemos ou moldamos situações; então, focalizar as virtudes da
enfermeira é extremamente importante (CHINN e KRAMER, 1999).
De acordo com Sá (2004, p. 76), “Na conduta ética, a virtude é
condição basilar, ou seja, não se pode conceber o ético sem o virtuoso
como princípio, nem deixar de apreciar tal capacidade em relação a
terceiros”. Camargo (1999), citando Aristóteles, enumera as virtudes
básicas como sendo: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança.
A virtude supõe uma disposição estável ou uniforme de querer o
bem, ou seja, comportar-se moralmente de maneira positiva.
Tradicionalmente, uma pessoa virtuosa está sempre disposta a preferir o
bem e a realizá-lo. Num mundo como o de hoje, fala-se de virtudes como
a solidariedade, a ajuda mútua, o companheirismo, a cooperação, a
disciplina consciente, entre outros. São virtudes morais que não florescem
no indivíduo, pois são adquiridas e cultivadas, e exigem condições sociais
favoráveis na formação do seu caráter (VÁZQUEZ, 1984).
Contribuições das Pesquisadoras e Supervisoras de Campo para
Construção do Padrão Ético
Nos estudos desenvolvidos no CEDEFAM, que serviram de fonte
de dados para a presente tese, o padrão ético foi abordado de maneira
declarada em apenas dois trabalhos: Saraiva, K. (2004) e Silva, M. (2001).
No estudo de Saraiva, K. (2003), vemos uma abordagem mais
direta, pois que o referencial teórico utilizado em seu trabalho enfatiza a
importância do resgate da dimensão ética na prática cotidiana da
Enfermagem, visto que assim haveria a valorização do ser humano no
76
cuidado holístico tão necessário no contato do eu cliente com o eu
profissional.
Silva, M. (2001) contempla em seu trabalho a autonomia, como
capacidade de tomar decisões, talvez o aspecto mais importante em
todas as fases da vida. Com enfoque principal na velhice, a autora diz
que a autonomia é um dado importante na vida do idoso, principalmente
nas atividades de vida diária.
Na Enfermagem, o respeito à autonomia do cliente e família é
fundamental, porquanto o ser humano tem o direito de ser responsável
por seus atos, de exercer o direito de escolha como ser autodeterminante,
com respeito aos seus valores, crenças, desejos e vontades,
reconhecendo seu domínio pela própria vida e o respeito à sua
intimidade. Pessoas com autonomia diminuída, isto é, com capacidade
de decidir reduzida, devem ser protegidas.
A vida humana está acima de qualquer regra; respeitar o outro é
respeitar a si mesmo em sua complexidade e individualidade. A
solidariedade é um elemento essencial na sociedade de hoje, tempo em
que a moral em voga é a individualista, a de defesa dos interesses
pessoais. O respeito ao direito à vida de cada ser humano deve ser o valor
supremo de uma sociedade, portanto, o comportamento moral que deve
prevalecer é o da ética da solidariedade e do respeito.
Para Kelly (1990), o respeito pelas pessoas e o cuidado são
idealmente integrantes à prática de Enfermagem. As teóricas de
Enfermagem têm, em sua grande parte, concentrado suas atenções nos
papéis de enfermeira e cliente, com pequena discussão das dimensões
moral e ética inerentes à relação. Isto nem sempre foi o caso, pois
Florence Nightingale, inclusive, discutiu o papel ético da Enfermagem.
Uma explicação para a omissão lamentável é que, enquanto os sábios de
Enfermagem rejeitam o modelo médico e sua influência na Enfermagem,
77
uma revisão do desenvolvimento do conhecimento em Enfermagem
provê ampla evidência de reducionismo e empirismo.
Em seu estudo, Kelly (Ibidem) quis mostrar que o respeito e o
cuidado são a ética e a essência da Enfermagem, e que, sem respeito e
sem cuidado, a Enfermagem não é possível. A essência do cuidar é
desejar uma pessoa o bem – querendo o que é melhor para ele ou ela.
Esta atitude é logicamente impossível na ausência de respeito.
A tese que Kelly (Ibidem) defende em seu estudo é de que a
tomada de decisão ética é central a todo ato de Enfermagem. A tomada
de decisão fundamentada na ética não é um modo particular de
raciocínio a qual é referida em certas situações. É um elemento da
Enfermagem.
Kant (2005, p. 59) assim afirma: “Age de tal maneira que possas
usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer
outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como
um meio”; ou seja, o indivíduo deve agir sempre de tal modo a tratar
cada homem como um fim em si, jamais como um meio. É mediante
nossa vontade racional que pertencemos ao “reino dos fins”, ao qual
pertencem todos os seres racionais. Para Kant, o grande fundamento
ético é o respeito, classificando-o como sentimento moral. E ele distinguiu
as pessoas de coisas, afirmando que "respeito sempre se aplica a pessoas,
nunca para coisas".
O indivíduo ético é o que, superando sua particularidade
biológica, respeita em si e em cada indivíduo a humanidade.
Portanto, a ação ética é fundamentalmente uma passagem, que
é emancipação: a passagem de um eu empírico, de uma
vontade particular, para uma vontade universal, portanto,
passagem para a razão, para a liberdade, para a comunhão das
liberdades (OLIVEIRA, 1993, p. 141).
Na visão de Silva (apud Kelly, 1990),a sociedade e a Enfermagem
têm um contrato social, que implica obrigações, um dever para cuidar. A
Enfermagem é uma profissão autônoma, uma arte moral. A arte moral da
78
Enfermagem é cuidar das famílias, tocando-as, ensinando-as,
confortando-as, escutando-as, e geralmente fazendo por elas o que não
podem fazer por si.
A situação socioeconômica na qual se encontram milhares de
brasileiros, a configuração de um rosto excluído, tem negado a toda uma
coletividade as condições mínimas para se ter uma vida digna, de
alcançar um nível maior de saúde. Uma coletividade exposta a condições
ambientais e de trabalho insalubres, com acesso inadequado aos serviços
de saúde preventiva e curativa, e com menor possibilidade e capacidade
de adotar comportamentos sadios.
Neste momento, cabe aos profissionais de saúde uma reflexão
acerca do papel social que vêm desenvolvendo face a face com essas
pessoas. Inúmeras são as indagações que permeiam essa temática,
entretanto, direcionemos esta análise para os elementos que constituem a
ação humana, sem a qual é irrelevante pensar em ética comunitária.
Sendo a ação humana o resultado de razão, vontade, intenção,
meios e liberdade, observamos a incoerência que há entre muitos
discursos e a prática, recaindo no que Silva, Márcio (1995) considera
“demagogismo”. Por ser o homem o único ser capaz de raciocinar,
inteligir, como se permite trabalhar em condições inapropriadas para
atender às necessidades da população miserável, sem se indignar? Muito
simples, por que é preciso cumprir os direitos assegurados na Constituição
Federal e não somente vontade, o segundo componente da ação
humana, senão um dos mais importantes.
A razão e a vontade precisam de um motivo, o qual nesse
contexto é facilmente identificado como a oferta de um sistema de saúde
que disponha de recursos para a promoção da saúde. Então, é possível
indagar a razão de não acontecer a esperada mudança, pois o
79
problema já foi racionalizado, há um desejo e o motivo está claramente
expresso.
Esbarramos então nos dois últimos constituintes da ação humana:
os meios viáveis para a obtenção do fim e a liberdade de agir, mudar,
recusar-se, enfim, efetuar a sua vontade. E, na dimensão social, exige-se
um juízo valorativo, uma tomada de posição frente a essa realidade. A
escolha, mais cedo ou mais tarde, implicará conseqüências inevitáveis,
como perdas, sacrifício, renúncia e até mesmo, desvantagens.
Os espaços pretendidos pela Enfermagem em benefício da
saúde da comunidade vêm, em sua maioria, acompanhados de inúmeras
adversidades, intrínsecas ou extrínsecas à profissão. Conforme ressalta
Silva, Márcio (Ibidem, p. 83), entretanto,
A responsabilidade efetiva sempre está determinada pela
posição de estar diante de outro homem, que é o próximo. A
proximidade, indubitavelmente, é o ponto de referência para se
captar o sentido de responsabilidade “engajada”, de forma que
esta sempre se dá condicionada a um campo de atuação e de
praticidade, onde se é próximo deste indivíduo singular, de um
grupo de pessoas, de uma comunidade.
Desse modo, urge que a relação ética transcenda o idealizado e
se torne realidade para a Enfermagem. Como resultado da interação
com as famílias, na perspectiva de afirmação da vida, efetive-se uma
práxis comunitária de libertação, na qual a consciência ética seja uma
consciência humanizadora, de valorização à vida, dignidade e
integridade da pessoa humana.
No caso desta pesquisa, a lacuna do padrão ético na produção
do conhecimento, na atenção à família, deve ser aprofundada em outros
estudos a fim de reaver o preconizado por Chinn e Kramer (1995, 1999)
quando ao determinante moral da tomada de decisão na perspectiva do
cuidado de Enfermagem.
80
Padrão Estético
O saber estético é visualizado por intermédio das ações,
condutas, atitudes e interações da enfermeira em resposta aos outros. É
considerada a arte da Enfermagem. Sem a estética, torna-se difícil
aprofundar o conhecimento, uma vez que o fazer da Enfermagem, ao
longo do tempo, tem sido a base de transmissão do seu conhecimento
próprio. Compreende-se, ainda, nesse saber, a dimensão teológica, uma
vez que esta é o eixo norteador das condutas, atitudes do enfermeiro, em
relação com o mundo das famílias.
O conhecimento estético envolve os processos criativos de
engajamento, intuição e imaginação inovadora. Assim como o
conhecimento pessoal, a estética não é expressa na linguagem,
mas artisticamente no momento da experiência/ação (CHINN e
KRAMER, 1995, p. 10).
Segundo Waldow (1998, p.164), a dimensão estética do cuidar
revela “os sentidos e valores que fundamentam a ação, num contexto
inter-relacional, de modo que haja coerência e harmonia entre o sentir, o
pensar (conhecer/saber) e o fazer”. Desse modo, considera-se a
expressão artística da Enfermagem.
Johnson (1994) apresenta cinco sentidos de arte em
Enfermagem: 1 - habilidade em extrair significado nos encontros com os
pacientes; 2 - habilidade em estabelecer uma conexão significativa com
o paciente; 3 - habilidade em realizar atividades de Enfermagem com a
necessária competência; 4 - habilidade em usar a lógica ao prescrever o
curso de uma ação de Enfermagem; 5 - habilidade em conduzir
moralmente a sua prática de Enfermagem.
Para Beck (1997), além do cuidado técnico competente, os
pacientes necessitam de uma Enfermagem composta pelo cuidado
artístico (entendido como aquele que tem a relação interpessoal como
indissociável do processo de cuidar) e pelo cuidado ético. Fazendo assim,
a enfermeira rejeita a aproximação do paciente com o objeto e busca
81
estabelecer um relacionamento autêntico entre duas pessoas, sendo
essencial desenvolver o conhecimento intuitivo e a sensibilidade.
Como disse Morin (1998), o homem é o único ser que sonha
acordado e é capaz de construir, não “o melhor dos mundos, mas um
mundo melhor”. A imaginação do homem o liberta das amarras da
repetição, fazendo-o viver a criatividade e improvisação, criando soluções
diferentes para um mesmo problema, tornando os espaços de vida o
cenário perfeito para o desvelamento da sensibilidade, espiritualidade e
intuição.
Budó (1997) ressalta a sensibilidade como a emergência da arte
de Enfermagem, e que na realidade está associado à racionalidade, pois
a sensibilidade e a racionalidade não são dois temas isolados, mas
elementos do ser humano que age e reage de maneira integrada, como
um todo constituído por várias dimensões. Embora, como lembra Santin
(apud BUDÓ, 1997), na formação do enfermeiro o docente trabalhe a
teoria e a prática muitas vezes dissociando a condição humana do
profissional em formação. A sensibilidade é posta à margem e a
racionalidade científica domina toda a formação profissional;
esquecendo-se de que se trata de uma profissão que se propõe a cuidar
de pessoas e, portanto, o indivíduo em formação deve ser trabalhado no
sentido de ser aprimorado no seu todo.
O trabalho de Enfermagem se desenvolve na relação com o
outro, não ocorre de forma isolada, e sim no compartilhar de experiências,
sentimentos, emoções e idéias entre a enfermeira e o cliente. Conforme
Budó (op. cit., p. 57), a Enfermagem é uma profissão que, por sua
natureza, é humana, por isso faz parte dos fundamentos da disciplina de
Enfermagem evidenciar o humano, o singular, o subjetivo, o sensível. “Isto
porque o conhecimento empírico também contém a dimensão sensível,
pois nele estão expressos os valores que influenciam”.
82
Mas falar do corpo como primeiro instrumento privilegiado dos
cuidados, não é, apenas, evocar os sentidos, é reencontrar a
sensitividade: procurar o que o outro experimenta, o que se
sente, e tentar perceber, com mais clareza, o que nós próprios
sentimos. (COLLIÈRE, 1990, p. 264.).
Em um estudo sobre o conhecimento intuitivo no cuidado de
Enfermagem, as autoras Silva, Baldin e Nascimento (2003) relatam o
interesse crescente pelo conhecimento intuitivo na literatura da
Enfermagem norte-americana, nas últimas duas décadas, bem como em
outras áreas do conhecimento. Tal fato decorre da crise da racionalidade
ocidental, na qual se baseia o paradigma da ciência tradicional, visto que
nesse paradigma valoriza-se o uso da lógica analítica e linear de
raciocínio.
A desvalorização da intuição explica-se pelo forte enfoque dado
ao raciocínio científico e lógico na educação, à tradição cultural da
identificação da intuição com determinados grupos de indivíduos que
tendem a ter relativamente pouco poder em circunstâncias nas quais a
racionalidade é valorizada, incluindo aí as mulheres. Evidencia-se também
essa desvalorização nos currículos de Enfermagem, cujo paradigma é o
da ciência tradicional (ibidem).
As autoras ora mencionadas concluem:
Verificamos que há na prática do cuidado de Enfermagem um
importante elemento analítico, mas há também um insight
artístico e imaginativo que dirige a tomada de decisões e a ação
criativa, o qual se dá também através da intuição. A
Enfermagem, ao englobar a arte e a ciência, requer o uso da
intuição. Neste sentido, uma abordagem exclusivamente
científica na Enfermagem e, conseqüentemente, no cuidado,
reduziria a qualidade e a excelência da ação profissional. Esta
premissa abre espaço para considerarmos a intuição enquanto
uma forma legítima de conhecimento na Enfermagem (ibidem,
p.10).
Para Carper (apud WOLFF, 1996, p. 35), “o conhecimento
estético auxilia a compreensão da Enfermagem como expressão de
qualidades e habilidades profissionais, conhecimento subjetivo,
percepções e empatia, no sentido de contribuir para a saúde da
83
humanidade”. Empatia, do grego empátheia, que significa entrar no
sentimento, como uma estratégia para o relacionamento terapêutico e,
portanto, para um efetivo cuidado ao ser humano, é ainda um tema que
precisa ser aprofundado e está longe de ser esgotado, conforme estudos
a seu respeito (CARRARO, RANDÜNZ, 1996).
Como salienta Beck (1997), as relações estabelecidas com a
família nos momentos de sofrimento e dor são instrumentos que habilitam
o uso de empatia, do autoconhecimento e da compaixão pelas
enfermeiras para com seus pacientes/familiares. Deste modo, a
Enfermagem como profissão estará cumprindo o seu objetivo social, pois
estará intensificando os laços de compromisso com os pacientes/familiares
e atendendo às suas necessidades.
Contribuições das Pesquisadoras e Supervisoras de Campo para
Construção do Padrão Estético
As pesquisadoras apresentaram, mesmo implicitamente,
aspectos que salientam a estética na Enfermagem:
De acordo com Silva, M. (2001), a pressa no atendimento ao
cliente, por parte dos profissionais que estão no front do sistema, tem sido
justificada por diversas razões. Enquanto isso, porém, continuam a cometer
erros, “medicalizando” problemas que não necessitam de tratamento
medicamentoso, mas de conversa, orientação, demonstração de afeto
ou, por outro lado, desvalorizando problemas sérios de saúde ao fazerem
diagnósticos precipitados.
Pinheiro (2003) salienta que cuidado de Enfermagem comunitária
consiste na utilização de estratégias criadas pela enfermeira para auxiliar
a paciente a chegar aos resultados desejados. Embora a enfermeira não
tenha a capacidade de suprir todas as necessidades, deve conhecer os
recursos de que a comunidade dispõe e estimular o paciente a utilizá-los,
de modo que venha a desenvolver uma vida saudável.
84
Por sua vez, Saraiva, K. (2003) propõe que, ao optar por uma
abordagem alternativa, a enfermeira pode dispor da massagem
terapêutica, oferecendo um excelente recurso para minimizar os
desconfortos da grávida, e, se realizada em conjunto com membros da
família, favorece o vínculo conjugal e a participação masculina no
período gravídico. A autora utilizou-se de vários recursos baseados na
criatividade, na intuição, empatia, no sentido de favorecer o cuidado
individualizado e o caráter independente das ações de Enfermagem.
Atualmente as Terapias Alternativas e Complementares mais
difundidas e usadas no mundo são: acupuntura, fitoterapia,
homeopatia, musicoterapia, florais de Bach, aromaterapia,
reflexologia, iridologia, toque terapêutico, moxabustão, shiatsu
(digitopressura ou acupressura), do-in, reiki, quiroprática,
cromoterapia, massagem, geoterapia, meditação, nutrição
alternativa e ortomolecular. Tão variado quanto o número de
TA/C, tem se mostrado o número de pesquisas a elas
relacionadas (Ibidem, p. 29).
Saraiva, K. (Ibidem) salienta que Jean Watson defende uma
direta ligação entre o cuidado, a arte e a estética, exemplificando da
seguinte forma: quando compramos um quadro ou decoramos uma casa,
isso promoverá bem-estar, satisfação, conforto, e outras sensações
agradáveis. O cuidado de Enfermagem deve atingir a dimensão estética,
guiando-se pela arte.
Um exemplo do uso criativo da arte no cuidado com famílias
esteve presente no trabalho de Costa e Costa (2000), onde as autoras
utilizaram-se da ficção para entender a dinâmica familiar em situação real
de acompanhamento a famílias. Segundo as autoras, o amplo campo
para análise da família proporcionado pelos filmes e a interação com a
família durante visitas domiciliares forneceram a real dimensão desta
magnífica instituição social.
Pinheiro (1998) defende a noção de que,através do compromisso
autêntico, a enfermeira valoriza a Enfermagem como uma situação em
que existem condições necessárias para a realização humana. Respeita a
85
singularidade de cada ser humano e assim detecta as peculiaridades de
cada pessoa. Proporciona uma relação intersubjetiva, pois os
participantes estão envolvidos ativamente nos acontecimentos, sendo
assim, interdependentes.
Saraiva, M. (2003), ao desenvolver seu estudo, utilizou-se de
clássicos da literatura infantil (Cinderela, Branca de Neve e Rapunzel) para
descrever a história de vida das adolescentes grávidas acompanhadas.
Mediante uma leitura da realidade das adolescentes, identificou
semelhanças entre a fantasia dos contos de fadas e suas histórias de vida.
Ela também identificou aspectos de relevância estética na
descrição do ambiente do consultório de Enfermagem onde eram
atendidas as gestantes do seu estudo:
Os consultórios dispõem de uma mesa redonda, com a finalidade
de revelar a enfermeira atuando como parceira da família, uma
vez que há permissão para outros membros participarem da
consulta. Embora se perceba o compromisso dos profissionais, o
ambiente é bastante descontraído, e não há filas de espera,
devido ao agendamento das consultas (Ibidem, p. 52).
Nesse espaço familiar, acolhedor e favorável ao cuidado, a
expressão estética se revela, em detrimento das restrições orçamentárias,
oferece qualidade, não permitindo, inclusive, que as famílias retornem aos
seus lares sem atendimento.
O trabalho de Saraiva, M. (2003) delineou aspectos relacionados
ao uso da criatividade e improvisão, na busca de soluções para as
necessidades de cuidado das gestantes, considerando os recursos de que
dispunham e estimulando o desenvolvimento de suas potencialidades:
Valorizei os pontos fortes tanto da jovem quanto de sua família,
enfatizando o seu grau de maturidade diante das dificuldades.
Recomendei que utilizasse uma cadeira como apoio, ao se
locomover dentro da casa, tanto para realizar alguma tarefa
doméstica, quanto para se cuidar (...) Orientei a utilização de
uma rede, a ser colocada sobre a cama, com o intuito de
facilitar a mudança de decúbito à noite, e prevenir acidentes.
Parabenizei pela retirada do cigarro. Recomendei que buscasse
86
ajuda do esposo para solucionar o problema da torneira do
chuveiro, contanto que não mais subisse no vaso sanitário.
Como se vê, a dimensão estética acompanha a enfermeira nas
diversas situações de prática do cuidado, valorizando a expressão de
sentimentos, o agir com intuição e empatia, a utilização de elementos
novos no momento do cuidar, ou seja, mostrando que a arte também
conduz a Enfermagem.
Para Milligan (2002, p. 10), “A enfermeira que pratica a arte da
Enfermagem se esforça em conectar-se com o cliente, acha significado
na situação do cliente, age artisticamente e reconhece a singularidade
do indivíduo”. A arte da Enfermagem é expressa pela criatividade, o que
explica algumas diferenças no desempenho das enfermeiras. A aplicação
artística de todos os modos do saber fornece a singularidade da
qualidade do cuidado individualizado ao cliente.
87
Padrão Sócio-Político
O saber sócio-político é inerente ao homem, em razão de que
este é um ser social e ao mesmo tempo político por natureza. No espaço
da Enfermagem cuidando da saúde das famílias, o enfermeiro exerce o
papel de advocacy, com o desafio de lutar por melhores condições de
vida e saúde para a população e sua inserção no sistema, por meio de
parcerias, participações populares, intersetoriais com o propósito de
otimizar os recursos disponíveis e “... que garantam sua aplicação em
políticas que respondam mais efetiva e integradamente às necessidades
das comunidades” (SPAGNUOLO e GUERRINI, 2004).
Segundo Fonseca (1996),
Enquanto prática social da área da saúde, a Enfermagem articula-
se às demais práticas da sociedade e, como tal, é determinada
pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas e das
relações de produção vigentes em um dado espaço social, em um
dado tempo histórico. Desenvolve-se a partir de saberes e práticas
próprios cuja finalidade é, pelo menos no nível discursivo,
transformar o processo saúde-doença da coletividade, através de
processos de trabalho que podem ser: assistencial, administrativo
ou de gerenciamento, ensino e investigação.
Em analogia às premissas de Tardif (2002), o qual debate os
saberes docentes e a formação profissional, identificamos similitudes que
se adequam facilmente ao ser enfermeiro, uma vez que, em atenção
primária, ele também exerce papel de educador das famílias e
comunidades. Grande parte de suas ações, nesse setor, estão
compreendidas no âmbito do “sistema de apoio e educação” (OREM,
1995). O saber é social, em conseqüência de inúmeras razões, consoante
os destaques adiante:
v é partilhado por um grupo de agentes – enfermeiros
comunitários – que possuem uma formação comum,
trabalham numa mesma organização e estão sujeitos a
condicionamentos e recursos comparáveis;
v sua utilização e posse não representam apropriações
exclusivas do enfermeiro, individualmente, pois dependem
88
de um sistema que garanta sua legitimidade e oriente a sua
definição e utilização: como as universidades, conselhos
federal e regionais, associações de classe, Ministério da
Saúde, grupos científicos etc. Não se trata, portanto, de um
saber cognitivo ou epistemológico, e sim de um saber
construído socialmente;
v seus próprios objetos são sociais, que são as práticas sociais
de cuidado à saúde, compostas pelo sistema formal e
informal;
v a história da Enfermagem, das idéias e das práticas de
Enfermagem (o que os enfermeiros fazem, ensinam, e o seu
modo de fazê-los) evolui com o tempo e as mudanças
sociais.
Contribuições das Pesquisadoras e Supervisoras de Campo para
Construção do Padrão Sócio-Político
Para Watson, visto que o ser humano precisa, por sua natureza,
integrar-se com os outros, experienciando suas necessidades psicossociais
de afeto, afirmação, aceitação, papel social, a ajuda da enfermeira
diante dessas necessidades de agregação social é considerada relevante
para a promoção da saúde (SARAIVA, K. 2003).
De acordo com Girão (1996), o processo saúde/doença
relaciona-se diretamente ao estilo de vida das pessoas e, por sua vez,
possui determinantes de ordem pessoal, do grupo social a que pertence e
de toda uma gama de condições ambientais e de vida, em que o ser
humano se encontra envolvido no cotidiano.
Na dimensão da estrutura cultural e social, incluem-se os valores
religiosos, de parentesco (social), políticos (e até legais), econômicos,
educacionais, tecnológicos e culturais (XIMENES, 2001).
89
A vida comunitária caracteriza-se pela presença da pessoa em
grupos sociais. É entendida como o compartilhar dos problemas em
comum, chegando a soluções proveitosas para todos (...) conhece e
utiliza uma rede social de apoio, como a igreja, serviços de saúde, grupos
comunitários, representantes políticos, dentre outros (PINHEIRO, 2003).
A Enfermagem holística inclui, também, processos reflexivos que
facilitam o contínuo desenvolvimento e a renovação de seus profissionais
e das pessoas cuidadas, vivenciados não somente na prática, mas sim
desde sua formação acadêmica, constituindo-se em socialização do
cuidado (SARAIVA, K. 2003).
A influência cultural foi um aspecto mencionado nos estudos de
Girão (1996), Pinheiro (1998, 2003), Saraiva, K. (2003), Saraiva, M. (2003),
Silva, M. (2001), Sobreira (2003), Ximenes (2001), em especial em relação a
aspectos que reforçam o papel da mulher como provedora do cuidado
informal. O mito da mãe ideal é repassado por meio de gerações, e
expresso nos estudos como algo ainda predominante em nossa
sociedade, mesmo com a inserção da mulher no mercado de trabalho, o
que só lhe tem acrescentado mais atribuições, resultando em sobrecarga
de papéis.
De acordo com Jones e Trabeaux (1999), o impacto do emprego
remunerado para a mulher pode variar de uma sensação de bem-estar e
realização pessoal a um estado de estresse e autonegligência, por não
conseguir assimilar a diversidade de papéis a desempenhar. Com isso,
sugerem que o papel do enfermeiro comunitário resida muito mais em
apoiá-la a encontrar mecanismos de divisão do trabalho com os demais
membros da família, além de aprenderem a gerir o tempo e o estresse.
Esses aspectos são importantes para a Enfermagem por duas
razões: de um lado está a profissão que, em sua maioria, é composta de
mulheres; e do outro lado está a mulher cliente, gerente da saúde da
90
família (GSF), responsável por aproximar a família do serviço de saúde e
muitas vezes ser esquecida. Segundo Corrêa-Pinto (1992), inspirada em
Hannah Arendt, para que homens e mulheres sejam considerados
humanos, faz-se necessário incluir a ação política, uma vez que esta é a
um só tempo pessoal, comunitária, livre e orientada para o bem da
sociedade. Constitui um espaço onde as pessoas podem livremente
expressar a peculiaridade do próprio pensamento e ouvir o outro.
A autora salienta que é nos espaços da ação política
denominada práxis e lexis onde a mulher possui voz e vez, em
equivalência com o homem livre, e mais, assumindo o discurso com o qual
se identifica como cidadã. Embora as mulheres estejam vivenciando um
aumento gradativo no espaço fora de casa, nas empresas, corcio,
medicina, administração, dentre outros serviços antes executados
maciçamente por homens, porém, a sua participação nas políticas
públicas, em especial nas decisões de saúde, ainda é tímida (JONES e
TRABEAUX, 1999).
Por meio do diálogo e da expressão de nossos conhecimentos
mediados pela experiência na Enfermagem, podemos gerar propostas
sociais que contribuam para reduzir tais disparidades, ajudando os grupos
a vislumbrarem opções para alcançar seus propósitos (WALDOW, 1998).
A prática de Enfermagem na atenção primária é analisada,
considerando o contexto atual, em nosso entendimento, não como um
sacerdócio, mas imbuída de uma missão social que privilegia os menos
favorecidos. Na perspectiva de oferecer os cuidados primários,
enfermeiros trabalham, em meio a recursos escassos, com o intuito de
fazer cumprir o direito à saúde para todos, assegurado pela Constituição
Federal de 1988.
91
QUADRO 3. Síntese dos Padrões de Conhecimentos para o Cuidado de
Enfermagem com Famílias em Atenção Primária de Saúde, Fortaleza, 2005.
PADRÕES DE
CONHECIMENTO
FILOSOFIA MARCOS CONCEITUAIS/
CARACTERÍSTICAS DEFINIDORAS
EMPÍRICO
Filosofia do conhecimento;
Ciência da Enfermagem;
Pesquisas, paradigmas
teóricos;
Experiências de vida e
profissional.
Pensamento reflexivo-crítico;
Convergência teoria-prática;
Objetos de estudo das
pesquisas;
Marco teórico-prático para a
prática com famílias.
ÉTICO
Componente moral;
Humanismo;
Ética do cuidado;
Tomada de decisão.
Código de ética;
Condutas profissionais;
Virtude ética;
Valorização do ser humano;
Autonomia; Solidariedade;
Vontade.
PESSOAL
Filosofia pessoal da
Enfermagem;
Visão de mundo;
Tomadas de decisão.
Intersubjetividade;
Ser consciente;
Humanização;
Altruísmo;
Transcendência;
Agir humanístico;
Espiritualidade (Fé);
Autoconhecimento;
Competência.
ESTÉTICO
Arte da Enfermagem;
Enfermeira como cuidadora;
Promotora da saúde.
Acolhida das famílias;
Formas de cuidar; criatividade
e improvisação;
Adequação à realidade do
cliente;
Ambiente como expressão da
estética;
Com-paixão; Intuição;
Sensibilidade;
Terapias Holísticas;
Promoção da Saúde.
SÓCIO-
POLÍTICO
História das práticas de
Enfermagem com famílias;
As políticas públicas (SUS, PSF,
PACS, PAISM);
O contexto político-social e a
inserção da Enfermagem;
O contexto da prática de
Enfermagem no CEDEFAM.
Empowerment;
Transformações dos sujeitos;
Transformações no contexto
da prática;
Trajetória da prática com
famílias;
A voz dos sujeitos.
92
6 GUIA PRÁTICO PARA UTILIZAÇÃO DOS PADRÕES DE
CONHECIMENTOS NO CUIDADO DE ENFERMAGEM COM
FAMÍLIAS EM ATENÇÃO PRIMÁRIA.
O presente guia foi elaborado, tendo como base a
categorização teórica dos saberes e conhecimentos de Enfermagem
convergentes para efetivação do cuidado com famílias, por sua vez
efetuada segundo os padrões de conhecimentos (empírico, ético, pessoal
e estético) apresentados por Chinn e Kramer (1995, 1999) e o sócio-político
de White (1995).
Propósito: nortear a postura profissional de enfermeiros
comunitários, bem como servir como uma ferramenta para auxiliar
estudantes de Enfermagem a proverem uma aprendizagem pautada em
uma prática reflexivo-crítica.
PADRÃO EMPÍRICO: compreende a ciência da Enfermagem, utilização de
teorias da Enfermagem, Psicologia, Filosofia, Sociologia, Biologia e
Antropologia; inclui o conhecimento fatual da Enfermagem.
QUESTIONAMENTOS PARA REFLEXÃO AO CUIDADO COM FAMÍLIAS
1. Quais teorias você tem utilizado para o cuidado de Enfermagem
com famílias em atenção primária de saúde?
2. Como você tem utilizado as teorias das diversas áreas e da
Enfermagem para o cuidado com famílias?
3. Como a pesquisa na Enfermagem tem contribuído para a
promoção da saúde das famílias que você presta cuidado?
4. Identifique o problema ou evidências que demandam cuidados de
Enfermagem junto às famílias e qual referencial oferece melhor
suporte para a tomada de decisão.
OBS: verifique o quadro dos conceitos que respaldam o cuidado com
famílias no CEDEFAM (ANEXO 7).
PADRÃO PESSOAL: está relacionado à experiência individual, de tomada
de consciência de sua totalidade; refere-se ao que é genuinamente do
ser e diferencia-se do que foi absorvido da interação deste com o meio,
93
autonomia para direcionar o seu viver. Ao interagirem com as famílias, os
enfermeiros se abrem para novas experiências, reformulando seus
conceitos e adequando a sua prática, com base em uma experiência
reflexiva. O self é construído no relacionamento com as famílias, na
intersubjetividade.
QUESTIONAMENTOS PARA REFLEXÃO AO CUIDADO COM FAMÍLIAS
1. Que sentimentos e preconceitos você experiencia durante o
acompanhamento com as famílias?
2. Como você maneja seus sentimentos e preconceitos no sentido de
agir apropriadamente?
3. Como você maneja a sua ansiedade?
4. Que hipóteses você propõe acerca de seu cliente-família?
5. Que consciência você desenvolveu acerca da cultura, costumes,
crenças e emoções do cliente-família, durante o cuidado?
6. Que mudanças pessoais você verificou, como resultado da
interação com as famílias?
7. Em interações futuras, o que você modificaria no seu agir?
PADRÃO ESTÉTICO: é visualizado por meio das ações, condutas, atitudes e
interações da enfermeira em resposta aos outros. É considerada a arte da
Enfermagem. Compreende os sentidos e valores que fundamentam a
ação, num contexto inter-relacional, de modo que haja coerência e
harmonia entre o sentir, o pensar (conhecer/saber) e o fazer” (WALDOW,
1998). Desse modo, considera-se a expressão artística da Enfermagem.
QUESTIONAMENTOS PARA REFLEXÃO AO CUIDADO COM FAMÍLIAS
1. Que habilidades e aperfeiçoamentos foram efetivados durante a
interação com as famílias?
2. Foi possível extrair significado nos encontros com os pacientes?
3. Como você respondeu a uma situação especial durante a consulta
de Enfermagem centrada na família? Como você identificou as
intervenções necessárias para essa situação especial? Foi possível
utilizar-se de experiências anteriores?
4. Como você utilizou-se da criatividade para solucionar problemas ou
propor estratégias para as famílias?
5. Você estabeleceu empatia com a família? Em algum momento
precisou utilizar-se da intuição?
6. Que elementos da arte você utilizou em seu cuidado (músicas,
poemas, cartazes, jogos, outros)? Fez uso de alguma prática
alternativa?
PADRÃO ÉTICO: é considerado o componente moral do conhecimento na
Enfermagem. Envolve o confronto e a resolução de conflitos de valores,
normas, interesses ou princípios. Compreende todas as normas que regem
a profissão, exercício profissional. Como resultado da interação com as
94
famílias, na perspectiva de afirmação da vida, a consciência ética se
traduz numa consciência humanizadora, de valorização à vida, dignidade
e integridade da pessoa humana.
QUESTIONAMENTOS PARA REFLEXÃO AO CUIDADO COM FAMÍLIAS
1. Que dilemas éticos você identificou na sua prática com famílias?
2. Houve conflitos de crenças e valores dentro de você ou entre você
e os outros?
3. De que modo as suas ações foram equivalentes às suas crenças?
4. Até que ponto, como parte de um sistema de saúde, você tem
exercido seu papel ético junto à comunidade e à família a quem
prestou cuidado?
PADRÃO SÓCIO-POLÍTICO: o saber sócio-político é inerente ao homem, em
razão de que este é um ser social e ao mesmo tempo político por
natureza. Na dimensão da estrutura cultural e social, incluem-se os valores
religiosos, de parentesco (social), políticos (e até legais), econômicos,
educacionais, tecnológicos e culturais (XIMENES, 2001). Dentre as áreas
sócio-políticas, encontram-se as condições de vida das famílias, como
estrutura familiar, adversidades, desemprego, desnutrição, dependência a
drogas, violência, enfim, condições ambientais e de vida, em que o ser
humano se encontra envolvido no cotidiano.
QUESTIONAMENTOS PARA REFLEXÃO AO CUIDADO COM FAMÍLIAS
1. Quais fatores sócio-políticos afetam as famílias e comprometem o
seu cuidado? Você verificou algum tipo de constrangimento?
2. Como você associa as políticas públicas de saúde e o cuidado que
você dispensa às famílias?
5. Como você tem atendido as famílias, ao adentrar o seu lar ou
mesmo quando elas comparecem à unidade de saúde? Tem
contemplado as condições econômicas e culturais?
3. A sua consciência ética tem se concretizado, no sentido de
modificar essa realidade?
95
7 REFLEXÕES ACERCA DO CUIDADO INVESTIGADO
A Enfermagem, por ser ramo científico prático, propicia o
surgimento de idéias inovadoras naturalmente, desencadeando em
alguns profissionais a motivação para novas experiências. A prática de
Enfermagem deve arrimar-se em bases teóricas e deve permitir a geração
de mais teorias, como também a reformulação do modelo por ela
utilizado. A utilização e aplicação de modelos que atendam ao complexo
sistema de cuidado tornam mais fáceis a tomada de decisão e a
execução qualificada na Enfermagem, quer seja na atenção à saúde na
comunidade ou em uma instituição hospitalar.
A atuação do enfermeiro, inicialmente, se pautava no fazer, na
execução de tarefas, daí a concepção de ser a Enfermagem uma
disciplina prática. Em sua evolução, foi ocupando espaços na educação,
administração, até alcançar uma visão da necessidade de teorizar
acerca de seu fazer e refletir sobre a sua filosofia do cuidar.
Desse modo, destacamos os conceitos oriundos da construção
interativa de enfermeiras representantes do ensino, pesquisa, extensão e
prática, cuja finalidade maior consiste em oferecer eco às demandas das
famílias e propor um padrão empírico centrado em um paradigma
holístico.
1 Ser humano – conceito importante para lembrar à
Enfermagem a necessidade de ver a si e ao outro como seres
dignos de respeito e para quem são direcionadas ações de
Enfermagem. Ao interagirem, ambos, profissional e cliente
visam a um objetivo comum, com base em suas experiências
prévias, intuição, empatia, crenças, valores, condições
biopsicossociais, espirituais, político-econômicas.
96
2 Família – conceito central do presente estudo, uma vez que
atuamos em um espaço de cuidado à família. Priorizado, no
sentido de ampliar a visão de profissionais que ainda afirmam
cuidar de famílias, quando, na realidade, visualizam em suas
práticas os componentes da família separadamente de sua
dinâmica familiar.
3 Sociedade – conceito relevante para o cuidado de
Enfermagem, em razão de estar diretamente ligado ao modo
como as pessoas se relacionam, estando presente dentro e
fora de cada indivíduo. Contexto social onde as atividades do
indivíduo são desempenhadas no cotidiano.
4 Cultura – conceito indispensável para o cuidado de
Enfermagem por estar diretamente relacionado ao modo
como as famílias se comportam, determinando as relações de
gênero e as relações interpessoais.
5 Saúde e Saúde da Família – conceitos integrados em razão da
já mencionada ação interativa entre enfermeiro e família.
Meta da família que necessita da atuação da Enfermagem
para alcançar o bem-estar.
6 Enfermagem da Família – conceito fundamental para nortear
a atuação do enfermeiro junto às famílias. Ciência humana
de experiência de saúde-doença, mediada pelas relações
político-sociais profissionais, pessoais, científicas, estéticas e
éticas. É vista como uma experiência intersubjetiva, uma vez
que os participantes (enfermeira, família) atuam ativamente
nos acontecimentos que a envolvem, sendo assim
interdependentes.
7 Ser Enfermeiro – conceito-chave por meio do qual o
profissional responsável pelo ato de cuidar revela as nuanças
de sua prática, com fundamentação teórica.
97
As transformações sociais, bem como ideológicas, vêm exigir do
profissional de saúde novas responsabilidades, do que decorre a
necessidade de reorganização da formação, desde os conteúdos que o
compõem, a forma como inter-relacionam e o tipo de treinamento,
considerado útil para o desenvolvimento de práticas mais resolutivas
(LEOPARDI, 1999).
Nesse sentido, vemos os demais padrões, ou seja, pessoal, ético,
estético e sócio-político, complementando o padrão empírico de
conhecimento, conforme o guia prático e as evidências extraídas das
pesquisas apresentados neste estudo, para avaliação do desempenho
profissional. Morin (2000) ressalta a separação do sujeito e objeto
repercutindo na ciência, e mesmo nas relações entre as disciplinas; as
coisas afastadas do seu ambiente natural, como se fosse possível
compreender algo sem contextualizá-lo. Eis que se apresenta a relevância
do campo de estágio para a competência profissional, por oferecer ao
aluno a possibilidade de visualizar o mundo complexo da clientela.
Um dos caminhos possíveis seria promover uma aproximação
mais concreta entre as construções teóricas que se efetivam nas
academias e o principal interessado, ou seja, o aluno, para que possa
tomar consciência do pensamento que rege o curso que ele abraçou e,
diante disso, possa optar acerca do caminho que deseja seguir, ou ainda,
contribuir para que ele possa verificar se o curso por ele escolhido
compreende a profissão que deseja abraçar.
Indiscutivelmente, o conhecimento é a principal ferramenta
capaz de provocar mudanças significativas em uma profissão, restando,
para isso, que haja vontade, gana, desejo em fazê-lo, por parte de quem
o detém. Nesse sentido, o padrão pessoal conduz o enfermeiro a
repensar, meditar ou ainda mergulhar dentro de si, realizando um
verdadeiro exame de consciência acerca de sua posição, na qualidade
de agente provocador de mudanças.
98
Ao mesmo tempo, o enfermeiro que entra em contato com os
elementos do padrão ético passa a entender a conduta humana, em
favor da vida, por meio dos caminhos básicos que deve assumir,
enfrentando os dilemas éticos vivenciados pelas famílias. A ação humana
é pautada no código de ética profissional. De acordo com Sá (2004, p.52),
“embora sem perder a autonomia científica, a Ética tem, por conseguinte,
ligações muito fortes com as doutrinas mentais e espirituais, pois, (...) são
fontes de conhecimentos que interessam diretamente à análise das
virtudes”. Uma vez que o cliente buscou ajuda profissional, deve ser
considerado e merece todo o respeito, pois depositou sua fé, na certeza
de encontrar a solução para o seu problema.
O padrão estético se afigura como a arte da Enfermagem, sendo
utilizado para descrever muitos aspectos da Enfermagem. Cada
enfermeira desempenha diversas atividades, várias vezes ao dia, e a
expressão dessa arte consiste exatamente no fato de que o modo como
cada uma o faz é único. A singularidade de cada enfermeira em
combinação com a do cliente (família) traduz a beleza do conhecimento
estético e representa a qualidade do cuidado individualizado, no qual há
um respeito mútuo do modo de ser de ambos. No cuidado com famílias, o
conhecimento estético se traduz por meio da criatividade utilizada para
solucionar os problemas apresentados. O enfermeiro, ao revisar o
conhecimento estético, verifica que necessita de agir com empatia,
intuição, percepção da realidade, ternura, compaixão.
O ser humano é social e político por natureza, razão pela qual o
enfermeiro precisa desenvolver uma consciência política. O padrão sócio-
político compreende o leque de ações políticas a serem desempenhadas
pelo enfermeiro, em face das condições de trabalho, de reconhecimento
profissional, bem como no trabalho em parceria com as famílias na busca
pelo seu empowerment, dentro de uma relação dialogada, recíproca e
solidária.
99
O cuidado realizado por docentes, enfermeiras supervisoras e
alunos do último semestre de graduação precisa estar sintonizado com as
demandas das famílias e os conceitos que revelem a tendência teórico-
prática que oferece visibilidade a essa filosofia do cuidar.
100
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática de Enfermagem em atenção primária representa uma
das áreas de atuação do enfermeiro mais requerida na atual política de
saúde no País, cuja principal intenção é promover e preservar a saúde da
população, exigindo do profissional enfermeiro a competência para tomar
decisões, viabilizar intervenções compatíveis com os aspectos ético-legais,
permitindo-lhe estabelecer a ligação entre o cuidado ao indivíduo,
família, outros grupos e seus contextos.
A busca de referenciais teóricos que sistematizem a forma de
cuidar as famílias tem sido algo marcante na existência da equipe de
enfermeiros de serviço e docentes do CEDEFAM, uma vez que,
acompanhar alunos ao final da graduação e em campo de estágio
requer do profissional um conhecimento básico que percorre desde a
Pedagogia, a Clínica, a Sociologia e Filosofia, em especial quando a
clientela assistida pelos alunos encontra-se em um ambiente repleto de
adversidades. É imprescindível reconhecer que, embora se busque
contribuir para a melhoria da qualidade de vida e saúde da comunidade,
o principal beneficiado é o aluno, por adquirir conhecimentos e
habilidades inerentes à prática profissional.
Reafirmando o pensamento de Gaarder (1995), o
questionamento sempre foi a alavanca do conhecimento; e pensar a
prática exige a apreciação de questionamentos pautados na vivência
dos profissionais, nas demandas das famílias que recebem o cuidado,
bem como nas transformações ocorridas ao longo do tempo vivido.
E foi esse comportamento questionador que conduziu, desde o
início, nossa experiência docente para a busca de estratégias de ensino-
aprendizagem que melhor respaldassem um perfil de Enfermagem
101
holístico, com bases pautadas no compromisso ético e na capacidade de
transcender os limites preestabelecidos.
E a cada busca, novos elementos eram-nos apresentados. Assim
ocorreu com o Modelo de Roper, Logan e Tierney (1995), cujos
idealizadores levaram 19 anos para sua implantação; bem como os
padrões de conhecimentos de Enfermagem de Carper, apresentados por
Chinn e Kramer (1995, 1999) embora em menor tempo. Pudemos constatar
que os enfermeiros consomem e produzem conhecimentos diversos como
resultado da interação com as famílias, contudo requerem uma
organização para que realmente sejam validados no cuidar de outros
enfermeiros e promovam transformações significativas na profissão.
Pensamos haver dois caminhos essenciais – primeiramente, o investimento
na formação acadêmica e, em segundo lugar, a prática reflexivo-crítica
no cotidiano dos enfermeiros.
A proposta de um guia norteador do processo reflexivo-crítico na
prática de Enfermagem, tanto na vivência acadêmica quanto na
experiência profissional, consolida o ideal de estarmos contribuindo para
transformações significativas no perfil profissional, bem como na
visibilidade da profissão. Faz-se necessário direcionar a visão dos
enfermeiros cada vez mais para o cuidado humano, o qual, segundo
Waldow (2004), é um tema pouco explorado, sendo menos, ainda, na
Educação em Enfermagem.
Demo (1997) considera que o conhecimento pós-moderno é
tipicamente desconstrutivo, pelo menos no ponto de partida, pois
mudança exige desconstrução de algo para que o novo se manifeste.
Não significa, entretanto, com efeito, descartar o antigo, o objeto da
inquietação, e sim amadurecer as idéias que estão postas e agregar
outras que servirão para torná-la condizente com a realidade vigente.
102
Esse processo ocorreu em nosso estudo, uma vez que a equipe
de enfermeiras pesquisadoras, de serviço e ex-alunas se encontraram para
debater a realidade do cuidado às famílias; e desse repensar a prática,
emergiu um conjunto de padrões de conhecimentos que são
considerados imprescindíveis para a atualidade na Enfermagem. Só será
possível, todavia, incrementar tais contribuições com a união de forças
que atuam no ensino, pesquisa, extensão e assistência, daí a nossa
preocupação em salientarmos as contribuições da convergência
desvelada oferecidas por e direcionadas para cada uma dessas
instâncias.
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paradigma da ciência. Campinas, SP: Papirus, 2002. 268 p.
117. VÁZQUEZ, A. S. Ética. 7. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1984.
118. XIMENES, L. B. Toda gravidez é diferente e cada uma tem sua história.
Fortaleza, 2001. Tese (Doutoramento em Enfermagem) - Programa
de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do
Ceará.
116
119. WALDOW, V. R. Examinando o Conhecimento na Enfermagem. In:
WALDOW, V. R.; LOPES, M. J. M. MEYER, D. E. Maneiras de Cuidar,
Maneiras de Ensinar – A Enfermagem Entre a Escola e a Prática
Profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p. 53-85.
120. ______. Cuidado Humano: O Resgate Necessário. Porto Alegre: Sagra
Luzzatto, 1998. 204p.
121. ______. O Cuidado na Saúde: as relações entre o eu, o outro e o
cosmos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
122. WHALL, A. L.; FAWCETT, J. Family Theory Development in Nursing:
State of the Science and Art. Philadelphia: F.A. Davis Company,
2000. 347p.
123. WHITE, J. Patterns of knowing: review, critique and update.
Advanced Nursing Science, 17(4). 73-86. 1995.
124. WOLFF, L. D. G. Uma Contribuição à Reflexão Sobre o
Conhecimento e o Cuidado de Enfermagem. Cogitare Enferm.,
Curitiba, v. 1, n. 1, p. 34-38, jan./jun. 1996.
125. WRIGHT, L. M.; WATSON, W. L.; BELL, J. M. Beliefs: The Heart of Healing
in Families and Illness. Basic Books, 1996. 324p.
126. WRIGHT, L. M.; LEAHEY, M. Enfermeiras e Famílias: um guia para
avaliação e intervenção na família. 3. ed. São Paulo: Roca, 2002.
127. ZAGONEL, I. P. S. Epistemologia do cuidado humano – arte e ciência
da Enfermagem abstraída das idéias de Watson. Texto e Contexto
Enfermagem. Florianópolis, v.5, n.1, p.64-81, jan./jun., 1996.
117
ANEXOS
10. ANEXOS
118
ANEXO 01
119
ANEXO 02
TERMO DE CONSENTIMENTO DE UTILIZAÇÃO DO CAMPO
Ilmo. Sr. Pró-Reitor de Extensão:
Estou cursando Doutorado em Enfermagem na Universidade
Federal do Ceará (UFC), e desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo
de desvelar a tendência teórico-prática do cuidado de Enfermagem com
famílias, a partir da convergência do saber popular e do conhecimento
acadêmico.
Neste sentido, solicito sua permissão para: ingressar ao Centro de
Desenvolvimento Familiar (CEDEFAM), como pesquisadora; utilização do
nome da instituição na pesquisa, bem como obter informações dos
prontuários das famílias.
Os dados serão apresentados ao curso de Doutorado em
Enfermagem e divulgados junto à comunidade acadêmica, respeitando o
caráter confidencial das identidades. Ressaltamos a importância dessa
pesquisa para melhoria da assistência prestada às famílias atendidas por
aquela unidade, uma vez que se trata de um campo de estágio e
práticas de disciplinas dos cursos de Farmácia, Odontologia e
Enfermagem.
No caso de dúvidas, estou a sua disposição no Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal do Ceará, telefone: 288-8455.
Atenciosamente,
_______________________________________
GIA BARROS COSTA
Doutoranda em Enfermagem
Eu, ___________________________________________ tendo recebido as
informações acima, e ciente do conteúdo e relevância da pesquisa,
autorizo a doutoranda Lígia Barros Costa a desenvolver o estudo na
referida unidade.
Fortaleza, _____ de ________________ de 2004.
____________________________
Representante legal
120
ANEXO 03
TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO
Colega Enfermeira:
Estou cursando Doutorado em Enfermagem na Universidade
Federal do Ceará (UFC), e desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo
de desvelar a tendência teórico-prática do cuidado de Enfermagem com
famílias, a partir da convergência do saber popular e do conhecimento
acadêmico. Neste sentido, solicito sua permissão para utilizar sua
tese/dissertação como fonte de informações, cedendo-me uma cópia,
bem como convidá-la a responder ao questionário (em anexo) acerca da
pesquisa, e a participar de um painel interativo que servirá para validar os
marcos conceituais adotados no CEDEFAM para prática com famílias, e
que será agendado em breve.
Estará garantido o sigilo de todas as informações referidas pela
senhora, além do direito de aceitar ou não participar do estudo ou deixar
de participar deste, a qualquer momento, sem que isto traga algum
prejuízo. Os dados serão apresentados ao curso de Doutorado em
Enfermagem e divulgados junto à comunidade acadêmica, respeitando o
caráter confidencial das identidades. Ressaltamos a importância da sua
participação para a melhoria da assistência prestada às famílias
atendidas por aquela unidade.
No caso de dúvidas ou desistência, estou a sua disposição no
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará,
telefone: 288-8455, ou ainda no CEDEFAM, telefone: 290-7098.
Atenciosamente,
________________________________________
LÍGIA BARROS COSTA
Doutoranda em Enfermagem
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Eu, ___________________________________________ RG
_________________, tendo recebido as informações acima, e ciente de
meus direitos acima relacionados, concordo em participar da pesquisa e
declaro que não me oponho à entrevista gravada.
Fortaleza, _____ de ________________ de 2004.
____________________________ __________________________
Representante legal Participante do estudo
121
Colega Enfermeira:
Estou cursando Doutorado em Enfermagem na Universidade
Federal do Ceará (UFC), e desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo
de desvelar a tendência teórico-prática do cuidado de Enfermagem com
famílias, a partir da convergência do saber popular e do conhecimento
acadêmico. Neste sentido, gostaria de convidá-la a responder ao
questionário (em anexo) acerca da sua experiência com famílias no
CEDEFAM, bem como participar de um painel interativo que servirá para
validar os marcos conceituais da prática com famílias adotados na
referida unidade. A data para o encontro será comunicada em breve.
Estará garantido o sigilo de todas as informações referidas pela
senhora, além do direito de aceitar ou não participar do estudo ou deixar
de participar deste, a qualquer momento, sem que isto traga algum
prejuízo. Os dados serão apresentados ao curso de Doutorado em
Enfermagem e divulgados junto à comunidade acadêmica, respeitando o
caráter confidencial das identidades. Ressaltamos a importância da sua
participação para a melhoria da assistência prestada às famílias
atendidas por aquela unidade.
No caso de dúvidas ou desistência, estou a sua disposição no
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Ceará,
telefone: 288-8455, ou ainda no CEDEFAM, telefone: 290-7098.
Atenciosamente,
________________________________________
LÍGIA BARROS COSTA
Doutoranda em Enfermagem
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Eu, ___________________________________________ RG
_________________, tendo recebido as informações acima, e ciente de
meus direitos acima relacionados, concordo em participar da pesquisa e
declaro que não me oponho à entrevista gravada.
Fortaleza, _____ de ________________ de 2004.
____________________________ __________________________
Representante legal Participante do estudo
122
ANEXO 04
QUESTIONÁRIO DAS ENFERMEIRAS PESQUISADORAS
IDENTIFICAÇÃO DA OBRA ( )TD ( ) DM
Título da pesquisa
Referencial teórico ou conceitual
Abordagem ( ) qualitativa ( ) quantitativa
Sujeitos da pesquisa
Duração da pesquisa
Métodos de coleta
QUESTIONAMENTOS
1. Como você avalia a utilização do referencial que você selecionou para efetivação do
cuidado em seu estudo?
2. Qual conceito de família embasou sua pesquisa?
3. Cite algumas transformações ocorridas nos sujeitos após a pesquisa.
4. Que contribuições você identifica, em seu estudo, para a prática com famílias?
5. Em que o estudo modificou a sua visão acerca do cuidado de Enfermagem?
6. Em que o estudo modificou a sua vida?
7. Em que o estudo modificou a sua conduta profissional?
8. Que saberes você considera indispensáveis para a efetivação do cuidado com famílias?
9. Que conhecimentos você identifica como tendo sido produzidos em seu estudo para o
cuidado com famílias?
10. Sintetize a pesquisa com 06 palavras-chaves.
123
ANEXO 05
QUESTIONÁRIO DAS ENFERMEIRAS SUPERVISORAS E EX-ALUNOS
IDENTIFICAÇÃO DO PARTICIPANTE DO ESTUDO
Relação com o CEDEFAM: ( ) SUPERVISORA ( ) EX-ALUNO
Contato anterior com o CEDEFAM: ( ) NÃO ( ) SIM _________________________
Período de atuação: de_______________________ a ______________________.
Atividades desenvolvidas:
QUESTIONAMENTOS
1. Qual conceito de família embasa (ou) a sua prática?
2. Utilização de Marcos Teóricos ou Conceituais: ( )NÃO ( ) SIM ___________________
3. Em quais situações de cuidado com famílias você utiliza(ou) os Marcos?
4. Que contribuições você identifica, na utilização dos marcos, para a prática com famílias?
5. Em que a prática com famílias do CEDEFAM modificou a sua visão de cuidado?
6. Em que a prática com famílias modificou a sua vida?
7. Em que a prática com famílias modificou a sua postura profissional?
8. Sintetize a experiência no CEDEFAM com 06 palavras-chaves.
124
ANEXO 06
ROTEIRO PARA ANÁLISE DE TESES/DISSERTAÇÕES
IDENTIFICAÇÃO DA OBRA ANALISADA
ESTUDO N. _____________
Título da pesquisa
Referencial teórico
Abordagem ( ) quantitativa ( ) qualitativa
Sujeitos da pesquisa
Duração da pesquisa
Métodos de coleta
PONTOS A CONSIDERAR NOS QUADROS:
1. Propósitos da Teoria utilizada
2. Conceitos básicos da Teoria
3. Definições
4. Interrelação dos conceitos
5. Estrutura
6. Hipóteses
7. Reflexões críticas sobre a Teoria
8. Validação da Teoria nas ações de Enfermagem com famílias
9. Informações complementares
125
ANEXO 07
CONCEITOS/PALAVRAS CHAVES 1D 2D 3D 4D 1T 2T 3T 4T
1 Processo saúde/doença - concepções X
2 Saúde OMS X
3 Modelos e conceitos de saúde X X
6 Sistema Informal de saúde X X
8 Sistema popular de saúde X X X X X
27 Ser saudável X
28 Ser enfermo X
29 Definição de situação - cuidado na saúde/doença X X
38 Saúde Mental X X
30 Saber Popular X
37 Bem-estar X
40 CEDEFAM - suporte para as famílias X
44 Multidisciplinaridade X
5 Família X X X X X X X X
10 Funções da Família X X
21 Inclusão da família no cuidado X X X X
18 Exclusão da família no cuidado X
33 Rede Social de Apoio X X
30 Visão de mundo das famílias X
7 Mulher GSF X X
14 Ser humano X
11 Socialização dos membros da família X
19 Sobrecarga social da mulher X
2 Fatores Intervenientes do casal X
22 Aleitamento e família X
23 Papel social da amamentação X
12 Família no cuidado à saúde X
48 Interação Enfermeira - Cliente - Família X X X X X
60 Mercado de trabalho x Aleitamento materno X
62 Enfrentamento da adolescente em face da gravidez X
63 Gravidez na adolescência X
15 Eventos estressores/acontecimentos paranormativos X X X
24 Função do homem na unidade familiar X
28 Comunicação na família X
32 Capacidade adaptativa X
40 CEDEFAM - suporte para as famílias X
43 Papel de mãe X
13 Cuidado X X X X
10 Cuidado individualizado - profissional e cliente X X X
126
20 Cuidado obstétrico efetivo X
24 Agir humanístico X
37 Cuidado Transpessoal X
42 Cuidado Terapêutico Alternativo e Humanizado X
57 Intersubjetividade X
17 Cuidado de Enfermagem Comunitária X X
20 Assistência Pré-natal X
21 Riscos reprodutivos X
9 Pré-natal - paradigma biológico X
31 Recursos da abordagem tradicional x alternativa no PN X
45 Pré-natal - início tardio X
52 Enfermeira - promotora de saúde X
12 Humanização X
16 Experiência holística X
40 Enfermeira holística X
41 Transcendência X
43 Imagem distorcida da Enfermeira X
24 Agir humanístico X
48 Interação Enfermeira - Cliente - Família X X X X X
54 Atuação da enferm. nos diver. níveis de complexidade X
64 Visita Domiciliária X X X X X X X X
22 Consulta de Enfermagem X X X X X X X X
42 Acadêmicos de Enfermagem X
46 Enfermeiras do CEDEFAM X
47 Relacionamento Interpessoal X
48 Fortalecimento do Vínculo X
15 Enfermagem - Humanização X
24 Agir humanístico X
17 Paradigma holístico X
32 Terap. Alternat./Complement. (TA/C) e Prom. da Saúde X
53 Empoderamento X
17 Cuidado de Enfermagem Comunitária X X
27 Modelo - contribuições para o cuidado de Enfermagem X X X X X
40 CEDEFAM - suporte para as famílias X X X X X X X X
42 Acadêmicos de Enfermagem X X
47 Relacionamento Interpessoal X
1 Gravidez X X
5 Enfrentamento da gravidez X X X X
21 Riscos reprodutivos X
25 Estar grávida (sentimentos e padrões comport.) X
63 Gravidez na adolescência X
11 Sobrecarga de papéis - eventos próprios da gravidez X
127
11 Sobrecarga de papéis - eventos próprios da gravidez X
4 Mudanças de Papéis/CRISES X X
7 Mulher GSF X X
19 Sobrecarga social da mulher X
6 Papel social/cultural /status da mulher X X X
7 Questões de gênero/ concepção de papéis X X
24 Função do homem na unidade familiar X
43 Papel de mãe X
55 Desemp. consciente do papel de mãe pela adol. X
23 Papel social da amamentação X
25 Viver X
4 Cotidiano X X X X
26 Morte - associada a dor, crenças e perdas X
39 Espiritualidade - Fé - Enfrentamento X X X X
44 Ambiente circundante X
46 Atividades de Vida - alterações identificadas X X X*
47 Fatores que influenciam as AV's X X
49 Manutenção de um ambiente seguro X X
50 Respiração X X
51 Expressão da sexualidade X X
56 Fator histórico e cultural X
58 Felicidade e segurança emocional X
59 Estilo de vida X X
61 Perdas X
31 Independência nas AVD's * X
34 Crises X X X X
3 Fatores Potencializadores de Crise X
4 Mudanças de Papéis/CRISES X X
35 Autocuidado X
8 Cultura X X X X
36 Sociedade e Cultura X
23 Crenças X
30 Saber Popular X
36 Cidadania regulada X
13 Autonomia X
31 Independência nas AVD's * X
19 Educação em saúde X
28 Comunicação na família X
14 Ser humano X
30 Saber Popular X
32 Capacidade adaptativa X
33 Solidariedade X
128
34 Visão de mundo X
35 Auto-imagem X
37 Bem-estar X
40 CEDEFAM - suporte para as famílias X
46 Enfermeiras do CEDEFAM X
48 Fortalecimento do Vínculo X
129
ANEXO 08
QUADRO 4. Marcos Conceituais do Cuidado com Famílias, Fortaleza, 2005.
SER HUMANO
É um ser único, dotado de corpo, mente e espírito, com suas peculiaridades, autônomo,
solidário, integrado funcionalmente; valorizado para ser cuidado, respeitado, nutrido,
compreendido e auxiliado em prol de seu autocrescimento e auto-realização; é
transcendente. Encontra-se envolvido em um contexto social, no qual desempenha
atividades de vida, sendo influenciado pelos fatores biológicos, psicológicos, espirituais,
ambientais, socioculturais e político-econômicos; tem potencial para avaliar de forma
flexível e com sabedoria todos os eventos que permeiam o seu viver.
FAMÍLIA
É o mais forte vínculo que uma pessoa estabelece ao longo da vida. É o grupo mais
próximo e duradouro de todos os grupos sociais primários, onde os contatos são mais
íntimos e as zonas de atrito são maiores; compartilha os riscos do meio ambiente,
biológicos, psicológicos, sociais, de comportamento ou estilo de vida. É por meio da família
que valores, crenças, costumes, enfim, os componentes culturais são mais fortemente
repassados, ao longo das gerações.
SOCIEDADE
Constitui-se um espaço de relações, intrinsecamente relacionadas à temporalidade,
estando presente dentro e fora de cada indivíduo. A ação resultante da influência do
sujeito sobre o meio e deste sobre o indivíduo é visualizada como transformações
qualitativas. É nesse contexto social onde as atividades do indivíduo são desempenhadas
no cotidiano.
CULTURA
Conjunto de valores, crenças, normas e modos de vida que são apreendidos,
compartilhados e transmitidos às gerações vindouras, influenciando diretamente no modo
de as pessoas se comportarem diante dos eventos da vida, determinando as relações de
gênero e as interações interpessoais.
SAÚDE
É o estado de bem-estar em que mente, corpo e espírito encontram-se em harmonia,
sendo determinados por fatores de ordem pessoal, social, cultural, ambiental e espiritual.
SAÚDE DA FAMÍLIA
É a meta da família; é experienciada no processo de viver da família na busca do estar
melhor para realizar suas atividades cotidianas.
ENFERMAGEM DA FAMÍLIA
Ciência humana de experiência de saúde-doença, mediadas pelas relações profissionais,
pessoais, científicas, estéticas e éticas. É vista como uma experiência intersubjetiva, uma
vez que os participantes (enfermeira, família) atuam ativamente nos acontecimentos que
a envolvem, sendo assim interdependentes. Possui como função específica ajudar as
famílias, e os seus membros individualmente, na prevenção, resolução ou ainda no suporte
aos problemas reais e potenciais, por meio do processo de cuidar, o que contribuirá com a
melhoria da qualidade de vida, o autoconhecimento e identificação de insights sobre
acontecimentos de suas vidas.
SER ENFERMEIRO
Promotor da saúde, por meio do ato de cuidar. Interage com o cliente (indivíduo, família
ou comunidade), respeitando a autonomia destes e valorizando as competências do ser
humano em suas dimensões biológica, psíquica, espiritual e sociocultural, priorizando ações
“cuidativas”, com fundamentação teórica.
130
ANEXO 09
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO ADOTADO NO CEDEFAM (COSTA, 2005).
BASE CONCEITUAL APRESENTADA POR BOYD (1990)
DESENVOLVIMENTO
Encontra-se relacionado ao processo de transformações estruturais progressivas em
seqüência cronológica organizada, ou seja, através do tempo, reportando-se aos aspectos
gerais e comuns do cotidiano familiar, por meio de uma visão longitudinal, dividindo em
etapas ou fases qualitativa e quantitativamente diferentes das antecedentes e das que a
sucedem.
PAPÉIS
Para manter o sistema familiar em equilíbrio, os papéis dos indivíduos estão bem definidos e
cada um sabe exatamente as tarefas que deve cumprir, caso isso não ocorra, resultará em
tensão no desempenho de papéis. Porém, os papéis não são estáticos, uma vez que as
tarefas podem ser compartilhadas entre os membros da família.
CRISE
Estado de tensão na família, autodelimitado, com duração em média de 4 a 6 semanas,
que tende a aumentar diante de um sentimento geral de desamparo, podendo resultar em
uma perda de funcionamento eficaz (BOYD, 1990; TAYLOR, 1992).
COMUNICAÇÃO
É um processo dinâmico, cuja principal característica refere-se ao intercâmbio de
informações, idéias, crenças, sentimentos, e atitudes entre duas ou mais pessoas. É por meio
desta que se estabelece o vínculo familiar; as necessidades dos membros são identificadas
e os conflitos alcançam a resolução. O indivíduo comunica-se, em todos os momentos,
desde o nascimento, por toda sua vida. Qualquer que seja a condição na qual se encontre
o indivíduo, um outro estará recebendo informações a seu respeito (TAYLOR, 1992).
APRENDIZAGEM SOCIAL
A aprendizagem se dá primariamente por meio da interação e o contato entre pais e filhos;
o modelo mais utilizado é o de Bandura e apresenta três fatores interdependentes: os
fatores comportamentais (as ações do indivíduo); os fatores pessoais (experiências prévias
na família, de cuidado com crianças, status socioeconômico, idade); fatores ambientais
(experiências relacionadas à paternidade, como o presenciar os pais banhando um
irmãozinho).
MODELO DE ATIVIDADES DE VIDA DE ROPER, LOGAN E TIERNEY
ATIVIDADES DE VIDA
Constituem o viver do indivíduo, categorizado em 12 atividades, comuns a todos e que são
as seguintes: Manutenção de um ambiente seguro; Comunicação; Respiração;
Alimentação; Eliminação; Higiene pessoal e vestuário; Controle da temperatura do corpo;
Mobilidade; Trabalho e lazer; Expressão da sexualidade; Sono; Morte.
ETAPAS DE VIDA
A duração da vida e os fenômenos característicos de cada etapa são de vital importância
para a Enfermagem; o crescimento e desenvolvimento do indivíduo repercutirão
diretamente na sua capacidade de executar as atividades de vida, como também no
modo de ser influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos. Por essa razão, este
componente encontra-se fortemente ligado ao desempenho das atividades de vida. São
consideradas as seguintes etapas: estágio pré-natal, primeira infância, infância,
adolescência, idade adulta e terceira idade.
131
GRAU DE DEPENDÊNCIA/INDEPENDÊNCIA
Para o desenvolvimento das atividades de vida, cada indivíduo apresenta um grau que
varia da total independência para a dependência completa de outros indivíduos. Mesmo
que duas pessoas encontrem-se vivenciando a mesma etapa de vida, poderão apresentar
diferenças em desempenhar algumas atividades, ou seja, as particularidades de cada
indivíduo/família.
FATORES QUE INFLUENCIAM AS ATIVIDADES DE VIDA
As autoras ao criarem o modelo reuniram todos os fatores que podem alterar o
desempenho das atividades de vida em cinco grandes grupos: físicos, psicológicos,
socioculturais, ambientais e político-econômicos. São as ações desses fatores sobre o
desempenho das atividades de vida que resultarão no grau de
dependência/independência, bem como na individualização do cuidado.
ENFERMAGEM INDIVIDUALIZADA
Segundo Roper, Logan, Tierney (1995), têm-se como objetivo principal do modelo contribuir
para um planejamento de Enfermagem individualizada, com intervenções diretamente
ligadas com as atividades de vida. Encontra-se com espaço para acatar o caráter
interdisciplinar da assistência à saúde do cliente/família.
MODELO DE AUTOCUIDADO DE OREM
AUTOCUIDADO
É definido como a prática das atividades, iniciadas e executadas pelos indivíduos em seu
próprio benefício, para a manutenção da vida, saúde e bem-estar. A capacidade em
engajar-se no autocuidado denomina-se ação de autocuidado, e esta se acha
condicionada à idade, sexo, estado de desenvolvimento, estado de saúde, orientação
sócio-cultural, fatores do sistema de atendimento de saúde, fatores do sistema familiar,
experiência de vida, fatores ambientais e a adequação e a disponibilidade de recursos, os
quais denominam-se fatores condicionantes básicos (OREM,1995).
SISTEMAS DE ENFERMAGEM
Orem identificou três classificações de sistemas de Enfermagem para preencher os requisitos
de autocuidado do paciente: sistema totalmente compensatório, em que a enfermeira
compensa o déficit total de autocuidado já que o paciente pode fazer pouco ou nada por
si mesmo; sistema parcialmente compensatório, quando o paciente é capaz de realizar
parte de seu autocuidado; sistema de apoio-educação, se o paciente consegue
desempenhar todos os seus requisitos de autocuidado, mas necessita que a enfermeira seja
fonte de conselho e orientação.
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