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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
A FORMAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL DO
PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
Experiências, trajetórias e significações
Florianópolis,
Abril de 2008.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
PRICILLA CRISTINE TRIERWEILLER
A FORMAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL DO
PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
Experiências, trajetórias e significações
Florianópolis,
Abril de 2008.
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PRICILLA CRISTINE TRIERWEILLER
A FORMAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL DO
PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL:
Experiências, trajetórias e significações
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Santa Catarina
como exigência parcial para a obtenção
do título de Mestre em Educação sob a
orientação do Prof. Dr. João Josué da Silva
Filho.
Florianópolis,
Abril de 2008.
No mistério do sem
No mistério do semNo mistério do sem
No mistério do sem-
--
-fim
fimfim
fim
equilibra
equilibraequilibra
equilibra-
--
-se um planeta.
se um planeta.se um planeta.
se um planeta.
E, no planeta, um jardim,
E, no planeta, um jardim,E, no planeta, um jardim,
E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
e, no jardim, um canteiro;e, no jardim, um canteiro;
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
no canteiro uma violeta,no canteiro uma violeta,
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,
e, sobre ela, o dia inteiro,e, sobre ela, o dia inteiro,
e, sobre ela, o dia inteiro,
entre o planeta e o sem
entre o planeta e o sementre o planeta e o sem
entre o planeta e o sem-
--
-fim,
fim,fim,
fim,
a asa de uma
a asa de umaa asa de uma
a asa de uma borboleta.
borboleta. borboleta.
borboleta.
Cecília Meireles
Cecília MeirelesCecília Meireles
Cecília Meireles
À minha avó Paulina (in memória).
À minha avó Paulina (in memória). À minha avó Paulina (in memória).
À minha avó Paulina (in memória).
Dedico esta pesquisa a aquela q
Dedico esta pesquisa a aquela qDedico esta pesquisa a aquela q
Dedico esta pesquisa a aquela q
ue me ensinou a levar o olhar a
ue me ensinou a levar o olhar a ue me ensinou a levar o olhar a
ue me ensinou a levar o olhar a
passear quando menina. Com minha avó recebi os primeiros
passear quando menina. Com minha avó recebi os primeiros passear quando menina. Com minha avó recebi os primeiros
passear quando menina. Com minha avó recebi os primeiros
ensinamentos curiosos do olhar, aprendi a admirar as flores, as
ensinamentos curiosos do olhar, aprendi a admirar as flores, as ensinamentos curiosos do olhar, aprendi a admirar as flores, as
ensinamentos curiosos do olhar, aprendi a admirar as flores, as
paisage
paisagepaisage
paisagens, o entorno...
ns, o entorno...ns, o entorno...
ns, o entorno...
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
Eis que sinto que as pessoas que fazem e/ou fizeram parte de minha vida são
Eis que sinto que as pessoas que fazem e/ou fizeram parte de minha vida são Eis que sinto que as pessoas que fazem e/ou fizeram parte de minha vida são
Eis que sinto que as pessoas que fazem e/ou fizeram parte de minha vida são
como pilares a qual me dão sustentação. Todas de alguma forma
como pilares a qual me dão sustentação. Todas de alguma forma como pilares a qual me dão sustentação. Todas de alguma forma
como pilares a qual me dão sustentação. Todas de alguma forma
compartilharam comigo do que tinham de mais belo e especial. Como não
compartilharam comigo do que tinham de mais belo e especial. Como não compartilharam comigo do que tinham de mais belo e especial. Como não
compartilharam comigo do que tinham de mais belo e especial. Como não
reconhece
reconhecereconhece
reconhecer e agradecer tamanha generosidade? Como não lembrar dos gestos,
r e agradecer tamanha generosidade? Como não lembrar dos gestos, r e agradecer tamanha generosidade? Como não lembrar dos gestos,
r e agradecer tamanha generosidade? Como não lembrar dos gestos,
das palavras amigas nos momentos difíceis e das alegrias demonstradas por
das palavras amigas nos momentos difíceis e das alegrias demonstradas por das palavras amigas nos momentos difíceis e das alegrias demonstradas por
das palavras amigas nos momentos difíceis e das alegrias demonstradas por
minhas vitórias? Se tivesse que expressar e transformar esse sentimento em
minhas vitórias? Se tivesse que expressar e transformar esse sentimento em minhas vitórias? Se tivesse que expressar e transformar esse sentimento em
minhas vitórias? Se tivesse que expressar e transformar esse sentimento em
uma obra de arte, pintaria uma tela multic
uma obra de arte, pintaria uma tela multicuma obra de arte, pintaria uma tela multic
uma obra de arte, pintaria uma tela multicor para representar as diferenças e
or para representar as diferenças e or para representar as diferenças e
or para representar as diferenças e
semelhanças enriquecedoras de nossas relações
semelhanças enriquecedoras de nossas relações semelhanças enriquecedoras de nossas relações
semelhanças enriquecedoras de nossas relações –
cada cor
cada cor cada cor
cada cor-
--
-pessoa com seu
pessoa com seu pessoa com seu
pessoa com seu
efeito único e diverso, relações, combinações, diferenças, misturas...
efeito único e diverso, relações, combinações, diferenças, misturas... efeito único e diverso, relações, combinações, diferenças, misturas...
efeito único e diverso, relações, combinações, diferenças, misturas...
* * *
Aos meus pais João e Lourdes; pelos sacrifícios, lutas, tristezas,
Aos meus pais João e Lourdes; pelos sacrifícios, lutas, tristezas, Aos meus pais João e Lourdes; pelos sacrifícios, lutas, tristezas,
Aos meus pais João e Lourdes; pelos sacrifícios, lutas, tristezas, alegrias e conquistas
alegrias e conquistas alegrias e conquistas
alegrias e conquistas
que partilhamos juntos. Obrigada por sempre acreditarem em mim!
que partilhamos juntos. Obrigada por sempre acreditarem em mim!que partilhamos juntos. Obrigada por sempre acreditarem em mim!
que partilhamos juntos. Obrigada por sempre acreditarem em mim!
Ao Prof. João Josué da Silva Filho; por ter me aceitado como sua orientanda, por me
Ao Prof. João Josué da Silva Filho; por ter me aceitado como sua orientanda, por me Ao Prof. João Josué da Silva Filho; por ter me aceitado como sua orientanda, por me
Ao Prof. João Josué da Silva Filho; por ter me aceitado como sua orientanda, por me
tranqüilizar nos momentos difíceis, bem como me instigar com suas colocações
tranqüilizar nos momentos difíceis, bem como me instigar com suas colocações tranqüilizar nos momentos difíceis, bem como me instigar com suas colocações
tranqüilizar nos momentos difíceis, bem como me instigar com suas colocações
desaf
desafdesaf
desafiadoras. Agradeço por ter partilhado comigo o desafio de realizar esta pesquisa.
iadoras. Agradeço por ter partilhado comigo o desafio de realizar esta pesquisa.iadoras. Agradeço por ter partilhado comigo o desafio de realizar esta pesquisa.
iadoras. Agradeço por ter partilhado comigo o desafio de realizar esta pesquisa.
À professora Dra. Silvia Sell Duarte Pillotto pelas contribuições no momento da banca
À professora Dra. Silvia Sell Duarte Pillotto pelas contribuições no momento da banca À professora Dra. Silvia Sell Duarte Pillotto pelas contribuições no momento da banca
À professora Dra. Silvia Sell Duarte Pillotto pelas contribuições no momento da banca
de qualificação.
de qualificação.de qualificação.
de qualificação.
À professora Dra. Luciana Esmeralda Ostetto: Por ter acompanhado a
À professora Dra. Luciana Esmeralda Ostetto: Por ter acompanhado a À professora Dra. Luciana Esmeralda Ostetto: Por ter acompanhado a
À professora Dra. Luciana Esmeralda Ostetto: Por ter acompanhado algumas das “dores
lgumas das “dores lgumas das “dores
lgumas das “dores
e delicias” da pesquisa.
e delicias” da pesquisa. e delicias” da pesquisa.
e delicias” da pesquisa. Pelas importantes sugestões (dicas de leituras e percurso) no
Pelas importantes sugestões (dicas de leituras e percurso) no Pelas importantes sugestões (dicas de leituras e percurso) no
Pelas importantes sugestões (dicas de leituras e percurso) no
momento da banca de qualificação
momento da banca de qualificaçãomomento da banca de qualificação
momento da banca de qualificação. E
. E. E
. E posteriormente pela leitura crítica e sensível durante
posteriormente pela leitura crítica e sensível durante posteriormente pela leitura crítica e sensível durante
posteriormente pela leitura crítica e sensível durante
a banca de defesa.
a banca de defesa.a banca de defesa.
a banca de defesa. Agradeço não apenas por tudo isso, mas pr
Agradeço não apenas por tudo isso, mas pr Agradeço não apenas por tudo isso, mas pr
Agradeço não apenas por tudo isso, mas principalmente pelo carinho,
incipalmente pelo carinho, incipalmente pelo carinho,
incipalmente pelo carinho,
respeito e interesse para comigo.
respeito e interesse para comigo. respeito e interesse para comigo.
respeito e interesse para comigo.
À
À À
À professora Dra
professora Draprofessora Dra
professora Dra.
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. Ana Angélica Albano
Ana Angélica Albano Ana Angélica Albano
Ana Angélica Albano,
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, pela leitura atenta do texto e
pela leitura atenta do texto e pela leitura atenta do texto e
pela leitura atenta do texto e ricas contribuições
ricas contribuições ricas contribuições
ricas contribuições
no momento da
no momento da no momento da
no momento da defesa.
defesa. defesa.
defesa.
Aos professores(as) do mestrado: Maria Isabel Serrão, Ione Valle, Gilka Girardello, João
Aos professores(as) do mestrado: Maria Isabel Serrão, Ione Valle, Gilka Girardello, João Aos professores(as) do mestrado: Maria Isabel Serrão, Ione Valle, Gilka Girardello, João
Aos professores(as) do mestrado: Maria Isabel Serrão, Ione Valle, Gilka Girardello, João
Wanderley Geraldi, pelas importantes (des)estabil
Wanderley Geraldi, pelas importantes (des)estabilWanderley Geraldi, pelas importantes (des)estabil
Wanderley Geraldi, pelas importantes (des)estabilizações necessárias a todos aqueles que
izações necessárias a todos aqueles que izações necessárias a todos aqueles que
izações necessárias a todos aqueles que
buscam superar e galgar o desafio de se tornar um pesquisador.
buscam superar e galgar o desafio de se tornar um pesquisador. buscam superar e galgar o desafio de se tornar um pesquisador.
buscam superar e galgar o desafio de se tornar um pesquisador.
Aos colegas do NUPEIN
Aos colegas do NUPEIN Aos colegas do NUPEIN
Aos colegas do NUPEIN
Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação da Pequena
Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação da Pequena Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação da Pequena
Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação da Pequena
Infância, especialmente à professora Eloísa A. Rocha e Roselane Campos
Infância, especialmente à professora Eloísa A. Rocha e Roselane Campos Infância, especialmente à professora Eloísa A. Rocha e Roselane Campos
Infância, especialmente à professora Eloísa A. Rocha e Roselane Campos pelas importantes
pelas importantes pelas importantes
pelas importantes
contribuições nos debates. Também à Márcia, a Moema, à Elaine, à Jana e especialmente à
contribuições nos debates. Também à Márcia, a Moema, à Elaine, à Jana e especialmente à contribuições nos debates. Também à Márcia, a Moema, à Elaine, à Jana e especialmente à
contribuições nos debates. Também à Márcia, a Moema, à Elaine, à Jana e especialmente à
minha amiga Cris pelos momentos maravilhosos que compartilhados em nossa viagem a
minha amiga Cris pelos momentos maravilhosos que compartilhados em nossa viagem a minha amiga Cris pelos momentos maravilhosos que compartilhados em nossa viagem a
minha amiga Cris pelos momentos maravilhosos que compartilhados em nossa viagem a
Cuba
Cuba Cuba
Cuba
Agradeço a todas essas criaturas maravilhosas não pela aco
Agradeço a todas essas criaturas maravilhosas não pela aco Agradeço a todas essas criaturas maravilhosas não pela aco
Agradeço a todas essas criaturas maravilhosas não pela acolhida calorosa no
lhida calorosa no lhida calorosa no
lhida calorosa no
programa, mas principalmente por estarem sempre dispostas a responder nossas
programa, mas principalmente por estarem sempre dispostas a responder nossas programa, mas principalmente por estarem sempre dispostas a responder nossas
programa, mas principalmente por estarem sempre dispostas a responder nossas
impacientes dúvidas de calouras.
impacientes dúvidas de calouras. impacientes dúvidas de calouras.
impacientes dúvidas de calouras.
À Juliana Diniz; por nossas longas conversas sobre Bakhtin e sobre formação de
À Juliana Diniz; por nossas longas conversas sobre Bakhtin e sobre formação de À Juliana Diniz; por nossas longas conversas sobre Bakhtin e sobre formação de
À Juliana Diniz; por nossas longas conversas sobre Bakhtin e sobre formação de
professores.
professores.professores.
professores.
As minhas queridas companheiras do mestrado: A Rosi; pessoa admirável, de quem por
As minhas queridas companheiras do mestrado: A Rosi; pessoa admirável, de quem por As minhas queridas companheiras do mestrado: A Rosi; pessoa admirável, de quem por
As minhas queridas companheiras do mestrado: A Rosi; pessoa admirável, de quem por
afinidade me tornei inseparável desde a aula inaugural. Considero
afinidade me tornei inseparável desde a aula inaugural. Consideroafinidade me tornei inseparável desde a aula inaugural. Considero
afinidade me tornei inseparável desde a aula inaugural. Considero-
--
-a muito ma
a muito maa muito ma
a muito mais que uma
is que uma is que uma
is que uma
irmã. Então fico
irmã. Então ficoirmã. Então fico
irmã. Então fico-
--
-lhe grata pela acolhida, por me escutar... escutar e escutar, por nossas
lhe grata pela acolhida, por me escutar... escutar e escutar, por nossas lhe grata pela acolhida, por me escutar... escutar e escutar, por nossas
lhe grata pela acolhida, por me escutar... escutar e escutar, por nossas
longas leituras e ‘devaneios’ bakhtinianos, pela estada em terras de Biguaçu e pelos
longas leituras e ‘devaneios’ bakhtinianos, pela estada em terras de Biguaçu e pelos longas leituras e ‘devaneios’ bakhtinianos, pela estada em terras de Biguaçu e pelos
longas leituras e ‘devaneios’ bakhtinianos, pela estada em terras de Biguaçu e pelos
conselhos durante as crises de criação. Não por nossos projetos que
conselhos durante as crises de criação. Não por nossos projetos queconselhos durante as crises de criação. Não por nossos projetos que
conselhos durante as crises de criação. Não por nossos projetos que ainda virão, mas
ainda virão, mas ainda virão, mas
ainda virão, mas
principalmente pela amizade e ‘presumidos’ que compartilhamos. À Eloisa Fortkamp; ‘Elô’
principalmente pela amizade e ‘presumidos’ que compartilhamos. À Eloisa Fortkamp; ‘Elô’ principalmente pela amizade e ‘presumidosque compartilhamos. À Eloisa Fortkamp; ‘Elô’
principalmente pela amizade e ‘presumidos’ que compartilhamos. À Eloisa Fortkamp; ‘Elô’
flor de candura, pessoa iluminada e de bem com a vida que me ensinou muito mais com
flor de candura, pessoa iluminada e de bem com a vida que me ensinou muito mais com flor de candura, pessoa iluminada e de bem com a vida que me ensinou muito mais com
flor de candura, pessoa iluminada e de bem com a vida que me ensinou muito mais com
atitudes do que com palavras a boniteza e a generosidade das relaç
atitudes do que com palavras a boniteza e a generosidade das relaçatitudes do que com palavras a boniteza e a generosidade das relaç
atitudes do que com palavras a boniteza e a generosidade das relações. À Gisele Day; Na
ões. À Gisele Day; Na ões. À Gisele Day; Na
ões. À Gisele Day; Na
descontração e no sentir a vida em sua plenitude. Que bom que tive a oportunidade de
descontração e no sentir a vida em sua plenitude. Que bom que tive a oportunidade de descontração e no sentir a vida em sua plenitude. Que bom que tive a oportunidade de
descontração e no sentir a vida em sua plenitude. Que bom que tive a oportunidade de
conhecê
conhecêconhecê
conhecê-
--
-la melhor neste último ano. À Ana Cristina; pela alegria de viver e pelas
la melhor neste último ano. À Ana Cristina; pela alegria de viver e pelas la melhor neste último ano. À Ana Cristina; pela alegria de viver e pelas
la melhor neste último ano. À Ana Cristina; pela alegria de viver e pelas
gargalhadas que trocamos juntas nos corredores da UFSC, nosso acala
gargalhadas que trocamos juntas nos corredores da UFSC, nosso acalagargalhadas que trocamos juntas nos corredores da UFSC, nosso acala
gargalhadas que trocamos juntas nos corredores da UFSC, nosso acalanto nos momentos
nto nos momentos nto nos momentos
nto nos momentos
da rigidez da academia. À Solange; pela paixão de conhecer sem passar por cima dos
da rigidez da academia. À Solange; pela paixão de conhecer sem passar por cima dos da rigidez da academia. À Solange; pela paixão de conhecer sem passar por cima dos
da rigidez da academia. À Solange; pela paixão de conhecer sem passar por cima dos
outros. Por ensinar
outros. Por ensinaroutros. Por ensinar
outros. Por ensinar-
--
-nos que o respeito é a base de todas as relações. E que as diferenças são
nos que o respeito é a base de todas as relações. E que as diferenças o nos que o respeito é a base de todas as relações. E que as diferenças o
nos que o respeito é a base de todas as relações. E que as diferenças o
essenciais para a constituição dessa. A Rose Elaine; a ‘amiga
essenciais para a constituição dessa. A Rose Elaine; a ‘amiga essenciais para a constituição dessa. A Rose Elaine; a ‘amiga
essenciais para a constituição dessa. A Rose Elaine; a ‘amiga francesa’ que com gestos e
francesa’ que com gestos e francesa’ que com gestos e
francesa’ que com gestos e
palavras... fez
palavras... fezpalavras... fez
palavras... fez-
--
-me repensar padrões, idéias, atitudes e posturas.
me repensar padrões, idéias, atitudes e posturas. me repensar padrões, idéias, atitudes e posturas.
me repensar padrões, idéias, atitudes e posturas.
À Nádia G. Mendes; pela parceria de três anos que estabelecemos no CEI Manoel Cunha,
À Nádia G. Mendes; pela parceria de três anos que estabelecemos no CEI Manoel Cunha, À Nádia G. Mendes; pela parceria de três anos que estabelecemos no CEI Manoel Cunha,
À Nádia G. Mendes; pela parceria de três anos que estabelecemos no CEI Manoel Cunha,
pelo seu admirável compromisso com a educação das crianças pequenas, por m
pelo seu admirável compromisso com a educação das crianças pequenas, por mpelo seu admirável compromisso com a educação das crianças pequenas, por m
pelo seu admirável compromisso com a educação das crianças pequenas, por muitas vezes
uitas vezes uitas vezes
uitas vezes
ter assumido (no primeiro ano, quando não contava com bolsa para estudos) meu lugar no
ter assumido (no primeiro ano, quando não contava com bolsa para estudos) meu lugar no ter assumido (no primeiro ano, quando não contava com bolsa para estudos) meu lugar no
ter assumido (no primeiro ano, quando não contava com bolsa para estudos) meu lugar no
grupo do I período nas inúmeras situações em que precisei faltar por conta das viagens e
grupo do I período nas inúmeras situações em que precisei faltar por conta das viagens e grupo do I período nas inúmeras situações em que precisei faltar por conta das viagens e
grupo do I período nas inúmeras situações em que precisei faltar por conta das viagens e
compromissos do mestrado. Foram longas nossas horas de confidencias
compromissos do mestrado. Foram longas nossas horas de confidencias compromissos do mestrado. Foram longas nossas horas de confidencias
compromissos do mestrado. Foram longas nossas horas de confidencias ao telefone,
ao telefone, ao telefone,
ao telefone,
regadas à indignações, alegrias, tristezas e projeções. Ainda lembro de suas palavras de
regadas à indignações, alegrias, tristezas e projeções. Ainda lembro de suas palavras de regadas à indignações, alegrias, tristezas e projeções. Ainda lembro de suas palavras de
regadas à indignações, alegrias, tristezas e projeções. Ainda lembro de suas palavras de
convencimento quando estava quase desistindo de participar da seleção do mestrado:
convencimento quando estava quase desistindo de participar da seleção do mestrado: convencimento quando estava quase desistindo de participar da seleção do mestrado:
convencimento quando estava quase desistindo de participar da seleção do mestrado:
“Deixa de ser boba, está na hora de pôr suas idéias no papel e de acred
“Deixa de ser boba, está na hora de pôr suas idéias no papel e de acred“Deixa de ser boba, está na hora de pôr suas idéias no papel e de acred
“Deixa de ser boba, está na hora de pôr suas idéias no papel e de acreditar mais em você!,”
itar mais em você!,” itar mais em você!,”
itar mais em você!,”
Obrigada amiga, por você ser uma das primeiras a acreditar em mim!
Obrigada amiga, por você ser uma das primeiras a acreditar em mim!Obrigada amiga, por você ser uma das primeiras a acreditar em mim!
Obrigada amiga, por você ser uma das primeiras a acreditar em mim!
Às professoras e à direção do Centro de Educação Infantil Manoel Cunha, no município
Às professoras e à direção do Centro de Educação Infantil Manoel Cunha, no município Às professoras e à direção do Centro de Educação Infantil Manoel Cunha, no município
Às professoras e à direção do Centro de Educação Infantil Manoel Cunha, no município
de São José
de São Joséde São José
de São José-
--
-SC, no qual sou efetiva; pelas diferenças e semelhanças, oposições e
SC, no qual sou efetiva; pelas diferenças e semelhanças, oposições eSC, no qual sou efetiva; pelas diferenças e semelhanças, oposições e
SC, no qual sou efetiva; pelas diferenças e semelhanças, oposições e
disposições... Pela eterna torcida e carinho em meu percurso de estudos.
disposições... Pela eterna torcida e carinho em meu percurso de estudos. disposições... Pela eterna torcida e carinho em meu percurso de estudos.
disposições... Pela eterna torcida e carinho em meu percurso de estudos.
À Maria Aparecida Hahn Turnes; a minha eterna professora, que detêm minha
À Maria Aparecida Hahn Turnes; a minha eterna professora, que detêm minha À Maria Aparecida Hahn Turnes; a minha eterna professora, que detêm minha
À Maria Aparecida Hahn Turnes; a minha eterna professora, que detêm minha
admiração e respeito incondicionais. que soube exigir de mim nos momentos em que
admiração e respeito incondicionais. que soube exigir de mim nos momentos em que admiração e respeito incondicionais. que soube exigir de mim nos momentos em que
admiração e respeito incondicionais. que soube exigir de mim nos momentos em que
poderia dar mais, be
poderia dar mais, bepoderia dar mais, be
poderia dar mais, bem como respeitou
m como respeitoum como respeitou
m como respeitou-
--
-me quando ainda não era hora de exigir. Obrigada
me quando ainda não era hora de exigir. Obrigada me quando ainda não era hora de exigir. Obrigada
me quando ainda não era hora de exigir. Obrigada
pela constate presença e incentivo.
pela constate presença e incentivo. pela constate presença e incentivo.
pela constate presença e incentivo.
Às companheiras das Rodas de Dança da UFSC; que de mãos dadas, movimentos
Às companheiras das Rodas de Dança da UFSC; que de mãos dadas, movimentos Às companheiras das Rodas de Dança da UFSC; que de mãos dadas, movimentos
Às companheiras das Rodas de Dança da UFSC; que de mãos dadas, movimentos
ritmados e ao som das canções dos diferentes povos, culturas e tempos ensi
ritmados e ao som das canções dos diferentes povos, culturas e tempos ensiritmados e ao som das canções dos diferentes povos, culturas e tempos ensi
ritmados e ao som das canções dos diferentes povos, culturas e tempos ensinaram
naramnaram
naram-
--
-me a
me a me a
me a
buscar a forma
buscar a formabuscar a forma
buscar a forma-
--
-silêncio
silênciosilêncio
silêncio-
--
-beleza das relações, bem como a potencializar meu equilíbrio para
beleza das relações, bem como a potencializar meu equilíbrio para beleza das relações, bem como a potencializar meu equilíbrio para
beleza das relações, bem como a potencializar meu equilíbrio para
a realização desta pesquisa.
a realização desta pesquisa. a realização desta pesquisa.
a realização desta pesquisa.
Às professoras do Centro de Educação Infantil Pesquisado. Às crianças e aos demais
Às professoras do Centro de Educação Infantil Pesquisado. Às crianças e aos demais Às professoras do Centro de Educação Infantil Pesquisado. Às crianças e aos demais
Às professoras do Centro de Educação Infantil Pesquisado. Às crianças e aos demais
profissionais que cederam espaço e temp
profissionais que cederam espaço e tempprofissionais que cederam espaço e temp
profissionais que cederam espaço e tempo para a realização desta pesquisa.
o para a realização desta pesquisa.o para a realização desta pesquisa.
o para a realização desta pesquisa.
A todas as pessoas que fazem parte da Secretaria da Educação e Cultura do município
A todas as pessoas que fazem parte da Secretaria da Educação e Cultura do município A todas as pessoas que fazem parte da Secretaria da Educação e Cultura do município
A todas as pessoas que fazem parte da Secretaria da Educação e Cultura do município
de Santo Amaro da Imperatriz, em especial à Graciane pela gentileza com que me tratou
de Santo Amaro da Imperatriz, em especial à Graciane pela gentileza com que me tratou de Santo Amaro da Imperatriz, em especial à Graciane pela gentileza com que me tratou
de Santo Amaro da Imperatriz, em especial à Graciane pela gentileza com que me tratou
na disponibilização de documentos.
na disponibilização de documentos.na disponibilização de documentos.
na disponibilização de documentos.
À Simone T
À Simone TÀ Simone T
À Simone Turnes (in memória)
urnes (in memória) urnes (in memória)
urnes (in memória) por me ensinar sobre perseverança.
por me ensinar sobre perseverança. por me ensinar sobre perseverança.
por me ensinar sobre perseverança.
As minhas amigas artísticas das sete cores do Arco
As minhas amigas artísticas das sete cores do Arco As minhas amigas artísticas das sete cores do Arco
As minhas amigas artísticas das sete cores do Arco-
--
-íres: Soni, Carmem, Rosane (in
íres: Soni, Carmem, Rosane (in íres: Soni, Carmem, Rosane (in
íres: Soni, Carmem, Rosane (in
memória), tia Gorete e prima Angélica pelos teatros à fora...
memória), tia Gorete e prima Angélica pelos teatros à fora... memória), tia Gorete e prima Angélica pelos teatros à fora...
memória), tia Gorete e prima Angélica pelos teatros à fora...
A todos os professores que passaram em minha traj
A todos os professores que passaram em minha traj A todos os professores que passaram em minha traj
A todos os professores que passaram em minha trajetória formativa... todos de alguma
etória formativa... todos de alguma etória formativa... todos de alguma
etória formativa... todos de alguma
forma, (seja com gestos, palavras e/ou posturas) contribuíram para a minha constituição.
forma, (seja com gestos, palavras e/ou posturas) contribuíram para a minha constituição.forma, (seja com gestos, palavras e/ou posturas) contribuíram para a minha constituição.
forma, (seja com gestos, palavras e/ou posturas) contribuíram para a minha constituição.
A CAPES pela concessão de 11 meses de bolsa de estudos sem a qual tornaria mais
A CAPES pela concessão de 11 meses de bolsa de estudos sem a qual tornaria mais A CAPES pela concessão de 11 meses de bolsa de estudos sem a qual tornaria mais
A CAPES pela concessão de 11 meses de bolsa de estudos sem a qual tornaria mais
árduo o desenvolvimento desta pesquisa.
árduo o desenvolvimento desta pesquisa. árduo o desenvolvimento desta pesquisa.
árduo o desenvolvimento desta pesquisa.
“Os três campos da cultura humana – a ciência, a arte e a vida – só
adquirem unidade no indivíduo que os incorpora à sua própria unidade. [...]
Arte e vida não são a mesma coisa, mas devem tornar -se algo singular em
mim, na unidade da minha responsabilidade”
Mikhail Bakhtin (2003)
RESUMO
Este trabalho procura analisar os sentidos e concepções atribuídas pelos
professores da Educação Infantil em relação a sua formação artístico-cultural, bem
como procura desvelar os elementos constituidores/constituintes dessa formação.
Apresenta-se o pressuposto de que, geralmente, na educação formal a arte é
tratada de forma instrumental, com o objetivo de se trabalhar outras áreas de
conhecimento concebidas como de maior relevância. Considera que os cursos
responsáveis pela formação de professores para atuar na área da Educação Infantil
(Magistério e/ou Pedagogia) raramente oportunizam espaços de discussão e
ampliação das experiências estéticas dos futuros professores-pessoas, o que
culmina na presença fortuita da dimensão artística na vida e na atuação desses
profissionais. Os quais, mesmo ao reconhecerem a relevância de uma formação
artístico-cultural consistente, estão susceptíveis à fragmentação, quer pelas
condições materiais de vida, quer por experiências estéticas restritas a produtos
culturais midiáticos que são incorporados e naturalizados como referências e/ou
modelos de vida e de infância. Desse modo, para além do limiar de pensar a
palavra formação, atrelada à trajetória escolar, tomou-se como base que uma
formação por “inteiro” tem que abarcar/considerar as experiências estéticas, as
relações/interações estabelecidas sempre na relação com o outro (pessoas, livros,
músicas, poesias, imagens, histórias, instituições etc.) A pesquisa foi desenvolvida
em uma instituição filantrópica que atende crianças da Educação Infantil do
município de Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Sul do Brasil. Uma
pesquisa qualitativa, embasada nos estudos de Freitas, Amorim, Kramer, entre
outros, e que se apóia na abordagem sócio-histórica de pesquisa, utilizando como
referencial as idéias dos russos: Levi S. Vygotsky (1896-1934) e Mikhail Bakhtin
(1895-1975). Foram realizadas entrevistas individuais e semi-estruturadas com 12
professoras e também a análise da estética do espaço-ambiente da instituição
pesquisada. Para tanto, foi imprescindível atravessar o contexto e as intenções dos
que proferem os discursos, os fios das vozes dos teóricos e das minhas
contrapalavras de pesquisadora-professora-aprendiz. A partir da análise dos dados
foi possível compreender os sentidos atribuídos pelos professores em relação a sua
formação artístico-cultural. Resultando num saber construído na vivência de um
tempo fenomenológico, que quase não encontra espaço/tempo para a inteireza. O
qual freqüentemente contribui mais para a fragmentação das relações inter e
intrapessoais. Essa constatação indica a premência da instauração de políticas
públicas de investimento e de uma proposta de formação que considere o sensível e
o inteligível; uma formação em que arte e consciência crítica não sejam tratadas
como oposições, mas integrem e acompanhem os professores para todos os
lugares, não em seu espaço de atuação profissional, assim como na vida
pessoal.
Palavras-chaves: Formação artístico-cultural; Professoras; educação Infantil;
estética.
ABSTRACT
This text presents an analysis of the senses and conceptions attributed by the
teachers of the Infantile Education in relation to its artistic-cultural formation, as well
as to watch the elements that constitute and they are constituted in the process of
that formation. It comes with the presupposition that, generally, in the formal
education, the art is been in an instrumental way with the objective of working other
knowledge areas conceived as of larger relevance. It considers that the responsible
courses for the teachers' formation to act in the area of the Infantile Education
(Magistério and/or Pedagogy) rarely propitiate discussion spaces and amplification of
the future teacher-people's aesthetic experiences. Such procedure culminates in the
fortuitous presence of the artistic dimension in the life and in these professionals'
performance. Thus, same when they recognize the relevance of a consistent artistic-
cultural formation, they are subject to the fragmentation, be for the material
conditions of life, be mainly for restricted aesthetic experiences with cultural products
originating from of the means of mass communication that are incorporate and
naturalized as references and/or life models and of childhood. For besides the
threshold of thinking the word formation, harnessed to the school trajectory, it was
taken as base that a formation for " integer " should embrace the aesthetic
experiences, the relationships and interactions established in the relationship with the
other (people, books, music, poetries, images, histories, institutions etc.) The
research was developed in a philanthropic institution that assists children of the
Infantile Education of the municipal district of Santo Amaro of the Empress, Santa
Catarina, south of Brazil. A qualitative research, based in Freitas' studies, Amorim,
Kramer, among other, that leans on in the partner-historical perspective of research,
using as reference the ideas of the Russians: Levi S. Vygotsky (1896-1934) and
Mikhail Bakhtin (1895-1975). Individual semi-structured interviews are realized with
12 teachers and the analysis of the aesthetics of the space-atmosphere of the
researched institution. For that, it was indispensable to cross the context and the
intentions of the ones that utter the speeches, the threads of the voices of the
theoretical ones and of my researcher-teacher-apprentice contrapalavras. Starting
from the analysis of the data it was possible to understand the senses attributed by
the teachers in relation to its artistic-cultural formation. A knowledge built in the
existence of a time that hardly finds space for the integrity. Frequently it contributes
more to the fragmentation of the relationships. That verification indicates the urgency
of the construction of public politics of investment and of a formation proposal that
integrates the sensitive and the intelligible; a formation in that art and critical
conscience are not treated as oppositions; that integrate and accompany the
teachers for everywhere, not only in its space of professional performance, but also
in the personal life.
Key-Words: Artistic-cultural formation; Teachers; Infantile education; aesthetics.
LISTA DE ABREVIATURAS E/OU SIGLAS
ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação em Educação.
CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior.
CEI – Centro de Educação Infantil.
FACEMED – Faculdades de Educação de Medianeira – PR
LBA – Legião Brasileira de Assistência
LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
NUPEIN – Núcleo de Estudos e Pesquisas da Educação da Primeira Infância.
SAI – Santo Amaro da Imperatriz/SC
SOART – Sociedade Artística teatral.
UDESC – Universidade do Estado de Santa Catarina.
UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.
UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................13
1 AS CONTRAPALAVRAS..........................................................................................23
Das Experiências Estéticas à Pesquisa..................................................................25
Dos Caminhos da Pesquisa: A constituição de uma Arquitetônica..................50
2 FORMAÇÃO...........................................................................................................63
Um Panorama da Formação Artístico-Cultural dos
Professores nas pesquisas.....................................................................................64
Discutindo alguns Conceitos I: Fôrmas, formas, (em)formação.......................66
Discutindo alguns Conceitos II: Uma idéia de formação artístico-cultural......75
3 O CONTEXTO: Olhar o município... Adentrar no CEI... Para pensar a
formação............................................................................................................85
O Texto e o Seu Contexto: O que o município oferece?....................................88
O Centro de Educação Infantil Pesquisado e a
Educação Infantil no Município de Santo Amaro da Imperatriz........................97
Adentrando no CEI – Uma estética que comunica...........................................111
4 PROFESSORAS: NARRATIVAS, MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS
ESTÉTICAS..........................................................................................................124
Formação Artístico-Cultural: Repertórios de 'casa'...........................................131
A queixa da ausência de espaços permanentes de cultura no município...133
As mídias na constituição das subjetividades formativas das professoras....138
A ausência e a presença da literatura na vida das professoras-pessoas.....145
Formação Artístico-Cultural: Repertórios da 'escola'........................................151
A supervalorização dos trabalhos manuais: Os resquícios da LDB
5692/71...................................................................................................................153
O desenho e a música como linguagens artísticas privilegiadas ao longo
da trajetória escolar das professoras.................................................................156
A presença-fortuita da arte nos cursos de formação de professores.............162
O discurso da não memória na memória..........................................................166
Formação Artístico-Cultural: Repertórios da atuação profissional..................168
A apologia das datas comemorativas e o lugar das linguagens
artísticas.................................................................................................................170
Crianças maiores 'trabalhos melhores', crianças menores 'trabalhos
piores'?...................................................................................................................177
Nós trabalhamos de acordo com o interesse das crianças!...........................182
Os sentidos da presença da arte atribuídos pelas professoras:
uma idéia de 'pedagógico'.................................................................................185
Para além dos discursos proferidos... Os sentidos estéticos
materializados.......................................................................................................189
A ausência da constituição de uma proposta de formação continuada no
CEI...........................................................................................................................213
CONSIDERAÇÕES “FINAIS”: Em Busca da Inteireza- Conflitos entre o Aquém e
o Além ..............................................................................................................217
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................223
APÊNDICES.............................................................................................................232
APÊNDICE A - Roteiro para entrevista com os professores...............................233
APÊNDICE B - Roteiro para entrevista com a secretária e a presidente ........235
ANEXOS..................................................................................................................236
ANEXO I - Lista dos espaços de cultura do município disponibilizada
pela Prefeitura Municipal de Santo Amaro da Imperatriz................................237
13
INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
QUINO, 2006.
14
O desejo por uma formação que contemple a beleza e a
sensibilidade...
“Eu queria ter tido uma formação mais completa, em que a beleza e a
“Eu queria ter tido uma formação mais completa, em que a beleza e a “Eu queria ter tido uma formação mais completa, em que a beleza e a
“Eu queria ter tido uma formação mais completa, em que a beleza e a
sabedoria caminhassem juntas. Queria que nossa creche fosse mais
sabedoria caminhassem juntas. Queria que nossa creche fosse mais sabedoria caminhassem juntas. Queria que nossa creche fosse mais
sabedoria caminhassem juntas. Queria que nossa creche fosse mais
colorida e sensível às crianças e às suas manifestações. Mas, tudo isso
colorida e sensível às crianças e às suas manifestações. Mas, tudo isso colorida e sensível às crianças e às suas manifestações. Mas, tudo isso
colorida e sensível às crianças e às suas manifestações. Mas, tudo isso
que imagino e desejo está longe de
que imagino e desejo está longe deque imagino e desejo está longe de
que imagino e desejo está longe de acontecer... Somos privadas de tudo,
acontecer... Somos privadas de tudo, acontecer... Somos privadas de tudo,
acontecer... Somos privadas de tudo,
não somos valorizadas, não temos bons materiais para trabalhar com as
não somos valorizadas, não temos bons materiais para trabalhar com as não somos valorizadas, não temos bons materiais para trabalhar com as
não somos valorizadas, não temos bons materiais para trabalhar com as
crianças, não participamos de cursos, somos desrespeitadas como
crianças, não participamos de cursos, somos desrespeitadas como crianças, não participamos de cursos, somos desrespeitadas como
crianças, não participamos de cursos, somos desrespeitadas como
profissionais e como pessoas [...]. Arte e cultura, beleza e vida, no meu
profissionais e como pessoas [...]. Arte e cultura, beleza e vida, no meu profissionais e como pessoas [...]. Arte e cultura, beleza e vida, no meu
profissionais e como pessoas [...]. Arte e cultura, beleza e vida, no meu
trabalho e
trabalho etrabalho e
trabalho e com as condições oferecidas no município só fragmentos,
com as condições oferecidas no município fragmentos, com as condições oferecidas no município fragmentos,
com as condições oferecidas no município fragmentos,
estilhaços.” (Ana Júlia
estilhaços.” (Ana Júlia estilhaços.” (Ana Júlia
estilhaços.” (Ana Júlia –
– depoimento em: 12/06/2007)
depoimento em: 12/06/2007) depoimento em: 12/06/2007)
depoimento em: 12/06/2007)
O enunciado acima, discurso de uma das professoras participantes da
pesquisa, problematiza para além das condições de trabalho, o desejo por
uma formação não fragmentada, em que “beleza e sabedoria
caminhassem juntas”, ele nos convida a pensar na compartimentalização do
mundo e nas condições de vida que reforçam essa condição. Também,
abre espaço para anunciar a temática desta investigação, a saber: A
formação artístico-cultural dos professores da Educação Infantil, a partir de
suas trajetórias formativas, seus percursos estéticos.
A pesquisa que realizei se insere num contexto maior, NUPEIN Núcleo de
Estudos e Pesquisas da Educação da Primeira Infância, do qual faço parte. O
NUPEIN é um dos grupos de pesquisa do Programa de Pós-Graduação da
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e que vem desenvolvendo
estudos e pesquisas na área da infância desde 1990. Constitui-se juntamente
com educadores, professores e pesquisadores como um espaço profícuo de
discussões e produção do conhecimento na área da infância.
A intenção de conhecer as crianças e suas manifestações culturais, seus
modos de ser e de estar nos espaços de educação coletiva, rompendo com
as idéias de criança incapaz, passiva, romântica etc., tem motivado o
NUPEIN a buscar o diálogo com outras áreas do conhecimento, como a
15
Psicologia, a Antropologia, a História, o Direito, a Sociologia da Infância e
mais recentemente a Arte. Nesse sentido, é inegável que a definição da
especificidade da educação infantil passa a exigir orientações em relação
às ações dos professores, sendo que sua formação tem se apresentado
como um desafio. A construção de uma Pedagogia da Infância
1
que
respeite os direitos das crianças passou a exigir esforços de todos os
envolvidos com a área. Inclusive o de não confundir e/ou restringir as
linguagens artísticas na captura das expressões e movimentos das crianças,
pois corre-se o risco de transformar essa presença em um mero diagnóstico.
Num momento histórico em que discursos e posturas defendem e valorizam
as produções simbólicas das crianças, que tem se difundido a relevância das
múltiplas linguagens, não podemos olvidar a necessidade de pensar que
tipo de formação está sendo oportunizada aos professores da infância. Se
considerarmos que é premente conhecer a criança e a cultura em que esta
está inserida, igualmente o é conhecer/ considerar o adulto/professor que é
responsável pela sua formação educativa no espaço coletivo da educação
infantil.
A título legal, vale ressaltar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - LDBEN, 9394/96 (BRASIL, 1996), no que se refere à formação dos
profissionais que atuam na Educação Infantil, não faz qualquer referência a
sua formação nas linguagens artísticas. Assim, por mais que arte e as
expressões artístico-culturais estejam presentes na atuação pedagógica dos
professores e no cotidiano das crianças, geralmente sua presença tem sido
restrita a procedimentos e/ou um meio para o desenvolvimento motor, como
forma de registro e comprovação do trabalho realizado com as crianças, ou
ainda um modo de tornar o trabalho pedagógico supostamente mais
agradável/prazeroso.
1
A possibilidade de construção de uma Pedagogia da Infância que considere a
participação, os direitos e alteridade das crianças foi apontada na Tese de Doutorado
desenvolvida por Rocha (1999), a partir da análise da produção apresentada em reuniões
científicas das áreas de Psicologia, História, Educação e Ciências Sociais.
16
Efetivamente, na prática, ocorre que, em muitos países, nas
escolas da infância a arte é considerada como atividade
acessória, agradável de ter, mas não estritamente necessária.
É vista, pois, como uma atividade episódica, que não precisa
de programação e orientada à produção. (RABITTI, 1999, p.40)
Diante desse quadro, como não pensar no tipo de formação que está sendo
desenvolvida nas diversas modalidades dos cursos de formação de
professores? Se esses profissionais não possuem uma formação consistente,
que abarque o sensível e o inteligível como vão contribuir para a
constituição e ampliação das expressões artístico-culturais das crianças?
A formação artístico-cultural dos professores da infância, bem como dos
professores em geral, pouco tem sido contemplada no âmbito das políticas
públicas. Principalmente no que se alude às condições/oportunidades de
ampliação de seus próprios referencias culturais (NOGUEIRA, 2002). Por vezes,
as propostas de formação mencionam a relevância do trabalho com as
linguagens artísticas no espaço da Educação Infantil, entretanto o
conseguem articular e/ou sistematizar uma proposta de formação artístico-
cultural que transcenda o limiar dos domínios teóricos e dos ‘muros das
instituições’.
Alguns pesquisadores brasileiros como: Albano Moreira (2002), Nogueira
(2002), Ostetto e Leite (2004) (2005), Kramer (2005) apontam a necessidade
de formação estética e/ou artístico-cultural aos professores da infância. Uma
formação que ultrapasse os espaços da atuação profissional formação
como direito de cidadania e curiosidade cultural para a vida.
O contato com a experiência italiana de educação por meio de alguns
livros e textos traduzidos para o português ou em espanhol como Rabitti
(1999); Hoyuelos (2006); Becchi e Bondioli (2003); Gandini e Edwards (2002);
Edwards, Gandini e Forman (1999), entre outros, também contribuíram para
esta pesquisa, à medida que apresentam a relevância de a arte não estar
17
apenas na realização de propostas com as crianças, mais também pela
formação artístico-cultural consistente desse profissional.
Alerto para o fato de que ao defender que o professor constitua uma
formação artístico-cultural consistente não significa, de modo algum, que
esteja proclamando que esse profissional deva ser um artista, ou ainda,
licenciado em arte. Como que delegando ao professor da infância mais
uma responsabilidade a sua própria formação e, ou, ainda, que se esteja
levantando a bandeira da tão criticada polivalência. Defender uma
formação artístico-cultural do professor é no dizer de Ostetto e Leite (2004)
uma necessidade de formação de sujeitos, de platéia; de acrescentar-se à
formação do professor a inteireza do ser pelo pólo do compromisso, da
competência e da sensibilidade que lhe abrirá caminho para romper com a
fôrma do cotidiano pessoal e profissional. Ampliando olhares, escutas e
movimentos não vivenciados, adormecidos e/ou atrofiados.
As contribuições do filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin (1895-1975) e do
psicólogo Levi S. Vygotsky (1896-1934), também foram imprescindíveis tanto
em relação ao percurso metodológico adotado, quanto pela forma de
conceber a arte e a constituição dos sujeitos. Por meio desses autores, foi
possível vislumbrar que uma formação que se supõe por inteiro, não deve
sonegar e nem se opor a todos os momentos constituintes do ser. Uma
formação que o confunda arte com realidade, arte com imanência, arte
como procedimento etc. que a arte é produção/criação humana de
base social e não o fruto da genialidade e/ou dom divino.
A motivação inicial para a realização desta pesquisa, decorre de minha
trajetória pessoal e acadêmica. Uma trajetória marcada por vivências
musicais, seja no ambiente familiar com pai, avô, irmão e primos músicos
(cinco), ou no meu breve, porém intenso ingresso como flautista em uma
banda de música municipal (dois anos). Durante o curso do magistério
segundo grau (1995-1998), também freqüentei paralelamente a banda, por
dois anos, um curso e/ou grupo de teatro amador. O mesmo possibilitou-me
18
juntamente com minha atuação profissional e outras vivências em espaços
de cultura (teatros, museus, exposições, cinemas, etc.) constituir a
compreensão do quão são relevantes as linguagens artísticas na trajetória
formativa de todos, principalmente daqueles profissionais responsáveis pela
educação e/ou formação de outros sujeitos.
Ao elaborar meu projeto de pesquisa, logo de início constatei que ele não
representaria um plano fixo e imutável. Já que durante a pesquisa, por conta
das leituras, do contato com pessoas, imagens, sons, etc.; enfim, das
inúmeras vivências e experiências que foram estabelecidas, minha forma de
pensar foi como que se modificando, algumas convicções e/ou ‘certezas’
foram abaladas, outras fortalecidas e/ou enriquecidas.
Realizei a pesquisa em uma instituição filantrópica de Educação Infantil do
município de Santo Amaro da Imperatriz, Santa Catarina, Sul do Brasil. Tomei
como base os relatos das profissionais e a estética do espaço-ambiente do
Centro de Educação Infantil CEI, cruzando essas informações com outros
textos e contextos que propiciaram as significações em relação aos
sentidos/significados atribuídos pelos profissionais em relação a sua
formação artístico-cultural.
A percepção da quase que total ausência de pesquisas na área da
Educação em vel de Mestrado e Doutorado nessa localidade, também
reforçou este interesse. A única pesquisa em vel de Pós-Graduação stricto
sensu que se tem noticia é a de Turnes (2006). A autora pesquisou a
formação continuada de professores e as possíveis mudanças nas práticas
escolares a partir dos cursos Emergenciais de Licenciatura em Pedagogia
pós LDBEN (9394/96).
Durante meu primeiro ano no mestrado escutei diversas afirmações quanto
ao local em que realizaria a pesquisa, expressões do tipo: “Mas não tem
muito sobre o que você quer pesquisar!”, ”Por que você não faz sua
pesquisa em Florianópolis aqui têm mais coisas sobre arte” “Se você
19
pesquisar em Florianópolis sua pesquisa terá maior visibilidade e
reconhecimento!”.
Todas essas afirmações remetiam à suposição de que em Santo Amaro da
Imperatriz, por ser um município pequeno, afastado da capital, com poucos
espaços permanentes de cultura, não haveria o que ser pesquisado em
relação à formação artístico-cultural de seus professores. Como se o
resultado da pesquisa estivesse previsto, isto é: as profissionais não teriam
uma formação artístico-cultural ou, se possuíssem, essa seria ‘pobre’. Essas
afirmações me intrigavam, pois será que devemos pesquisar nas capitais?
As concepções de arte e cultura só são constituídas por pessoas que moram
nas capitais e supostamente têm mais acesso a esses espaços? O resultado
de pesquisas desenvolvidas nas capitais coincide com a de municípios de
pequeno porte (como o pesquisado)?
Em relação a essas questões, digo que a realidade da capital não é a
mesma que a de outros municípios, sendo que existe uma diversidade muito
grande de realidades que merecem e/ou necessitam ser conhecidas/
superadas/ transformadas. O que o significa negar que muito ainda
precisamos conhecer em relação à arte; educação; cultura; público em
espaços organizados e desenvolvidos para esse fim.
Diante do exposto, a pesquisa apresenta como tema a formação artístico-
cultural do professor de educação infantil, problematizando as seguintes
questões: ♠ Que significados/sentidos em relação à arte e à cultura são
atribuídos pelos professores? Que experiências/vivências tiveram em
relação à arte? Que condições lhe são oferecidas para constituírem essa
formação? Como oportunizar aos professores da Educação Infantil uma
formação artístico-cultural consistente?
O levantamento dessas questões desencadeou as seguintes hipóteses: ♠
Geralmente na educação formal a arte é tratada de maneira instrumental,
com o objetivo de se trabalhar outras áreas de conhecimento concebidas
20
como de maior relevância. Os cursos de formação de professores
Magistério e Pedagogia, bem como os de formação continuada pouco
discutem sobre a relevância da arte na formação de crianças e professores.
Mesmo que os professores reconheçam a necessidade da arte para a sua
formação, em sua maioria são extremamente limitados pelas condições
materiais de vida e de trabalho. Os professores geralmente têm restritas
suas experiências estéticas às produções culturais disponíveis nos meios de
comunicação de massa (TV, revistas, jornais, rádio etc.). Não negando a
dimensão crítica, mas integrando a esta São privados de uma formação
que busque ou que propicie uma maior vivência estética, que lhes
‘desperte’ o senso poético.
Muito embora este estudo seja da Pedagogia e, portanto, tenha buscado
reflexões para essa área de conhecimento e para a intervenção na prática
educativa desenvolvida no interior das instituições de Educação Infantil e
cursos de Formação de Professores; exigiu um olhar multidisciplinar, bem
como, contribuições de outras áreas de conhecimento como a filosofia da
linguagem, a arte, a história, a psicologia, a sociologia etc.
Diante dessas considerações, apresenta-se como objetivo principal:
Investigar os significados e concepções atribuídas pelos professores da
Educação Infantil em relação a sua formação artístico-cultural, bem como
desvelar os elementos constituidores/constituintes dessa formação. Em
decorrência desse objetivo fez-se necessário: Investigar a formação
artístico-cultural dos professores da educação infantil, desvelando suas
experiências formativas. Compreender a experiência estética dos
professores pelas imagens que o espaço da instituição oferece (no que
anunciam e no que silenciam). Analisar as condições que lhe são
oferecidas para essa formação, que se entende ir muito além da profissional
e acadêmica, mas que também emergem das e nas relações/interações
sociais ao longo da vida a qual estabelecem em diferentes espaços
culturais.
21
A intenção foi a de não se fechar diante das diversas possibilidades que a
imersão no campo poderia oferecer. Articulou-se a problemática da
pesquisa à luz do arcabouço teórico, estabelecendo uma rede de
significações/relações entre os universos micro e macro, tentando afastar-se
das polarizações, dogmatismos e determinações que simplificam a realidade
a dicotomias. Desse modo, o texto que se segue evidência a sistematização
dos diversos caminhos que foram trilhados para realizar tal pesquisa. O tema
revelou ser emergente e bastante complexo, aludindo possibilidades de
vislumbrar futuras pesquisas e análises diversas para uma melhor
compreensão da problemática abordada.
* * *
No Capítulo I, apresento o itinerário da pesquisa. Parto de alguns enunciados
e/ou fragmentos de minha experiência estética, os chamados caminhos
sensíveis, projetando por meio desses o interesse pela problemática
investigada. Posteriormente descrevo a arquitetônica dos caminhos da
pesquisa. Caminhos estes, relatados e considerados como um todo
arquitetônico, imbuído da unidade advinda do sentido, estando suas partes
articuladas internamente, de um modo relacional que as torna interligadas e
não alheias umas as outras.
No Capítulo II, apresento um levantamento sobre o tema: É o momento da
execução do tema por outras vozes de pesquisadores que vêm discutindo
sobre a problemática da formação artístico-cultural dos professores da
infância. Nesta seção, também empreendo uma discussão sobre os
conceitos norteadores que deram sustentação a esta pesquisa.
No Capítulo III, descrevo o contexto em que ocorreu a pesquisa o
município de Santo Amaro da Imperatriz, contexto este entendido e
estendido para além da relação direta com as professoras, suas memórias,
histórias trajetórias artístico-culturais e espaço de atuação profissional. A
intenção é a de pensar o contexto em relação a outros textos e contextos,
22
isto é, em relação à instituição, sua história e estética composicional, bem
como às possíveis articulações e condições materiais de trabalho.
No Capítulo IV, apresento, por meio das vozes das professoras, suas
memórias, histórias e experiências estéticas, os elementos constituintes e
constituídos que revelam as marcas de sua formação artístico-cultural. Nesta
sessão serão apresentados e analisados os ‘repertórios de casa’, os
‘repertórios da escola’ e os ‘repertórios da atuação profissional’ no espaço
coletivo de uma instituição filantrópica de atendimento a crianças da
Educação Infantil.
E por último trago ao leitor as Considerações Finais desta pesquisa. Isto é, os
discursos entre o aquém e o além: um compêndio da polifonia dos
sentidos/significados das múltiplas vozes que interagiram e significaram as
afirmações e/ou resultados aqui esboçados. Posicionando-me em relação à
necessidade de acesso e freqüêntação a espaços críticos de cultura; Busca-
se o repensar/a reflexão sobre os currículos e propostas dos cursos de
formação de professores (Magistério, Pedagogia e formação continuada em
serviço), bem como a necessidade de políticas públicas que promovam e
incentivem espaços de vivências/experiências estéticas aos professores-
pessoas.
23
C
CC
CAPÍTULO
APÍTULO APÍTULO
APÍTULO I
II
I
AS CONTRAPALAVRAS
AS CONTRAPALAVRASAS CONTRAPALAVRAS
AS CONTRAPALAVRAS
2
22
2
...
......
...
QUINO, 2006.
2
As contrapalavras são formadas pelo diálogo incessante das ‘minhas palavras’ com outras
palavras que me compõe. Não se fecha numa subjetividade, mas se relaciona entre a
intersecção das minhas palavras com as palavras dos outros, constituindo-se num processo
dialógico contínuo. As vozes dos outros (autores anteriores, destinatários hipotéticos)
misturam-se à voz do sujeito explícito da enunciação. Bakhtin (2003) afirma que a princípio
assimilamos a palavra do outro, para em seguida, essas "palavras alheias" serem
reelaboradas e transformadas em "minhas alheias palavras", e, por fim, em minhas palavras,
com a perda das aspas, evidenciando a possibilidade criadora.
24
No capítulo que se segue, apresento o itinerário da pesquisa. Parto de alguns
enunciados e/ou fragmentos de minha experiência estética, projetando por
meio desses o interesse pela problemática investigada. Não são registros
sistemáticos realizados em diário de campo, mas algumas de minhas
memórias estéticas. Alguns enunciados estéticos revisitados pela memória e
compreendidos por meio da sensibilização e das lentes da teoria. Caminhos
estéticos que advogo serem constituídos não pelo contato com obras de
arte, mas também pelas vivências e principalmente pelo aprendizado e/ou
a constituição dos modos de olhar, do sentir, do admirar, do criticar, do
dialogar... Um movimento complexo que integra o sensível e o inteligível. Pois
como tão bem expressa Bakhtin (1993) somos constituídos de forma
dialógica, logo o podemos admitir cisões, tal como privilegiar uma ou
outra dimensão como modo explicativo da constituição de um evento e/ou
sujeito. “A vida só pode ser compreendida como evento em processo, e não
como um ser enquanto dado.” (Idem, p. 74).
Nesta seção, também apresento a arquitetônica dos caminhos da pesquisa.
Caminhos estes, relatados e considerados como um todo arquitetônico,
imbuído da unidade advinda do sentido, estando suas partes articuladas
internamente, de um modo relacional que as torna interligadas e não alheias
umas as outras. Bem como, a compreensão do percurso metodológico
como ‘desvio’ [...] o pensamento começa sempre de novo, volta
minuciosamente à própria coisa. Esse incessante tomar fôlego é a mais
autentica forma de existência e contemplação. (BEJAMIN, 1985, p.50).
25
Das Experiências Estéticas à Pesquisa
“Se narro (ou relato por escrito) um acontecimento que acaba
de me acontecer, já me encontro, enquanto narrador (ou
escritor), fora do tempo e do espaço onde o episódio ocorreu.
A identidade absoluta de meu “eu” com o “eu” de que falo é
tão impossível quanto suspender-se a si próprio pelos próprios
cabelos. Por mais verídico, por mais realista que seja o mundo
representado, ele não pode nunca ser idêntico, do ponto de
vista espaço-temporal, ao mundo real, àquele que representa,
aquele onde se encontra o autor que criou essa imagem.”
Mikhail Bakhtin
3
Apresentarei aqui, alguns aspectos da minha trajetória formativa, que
poderão ser considerados como indícios das significações e escolhas que
me levaram a optar pela investigação da arte na formação dos professores
da educação infantil. Ir ao encontro da memória, ultrapassando as esferas
da recordação e recuperação do passado. Recordar não é fazer uma
transposição fiel do que foi vivido, isto é, não refratamos por meio da
memória todo o conjunto das nossas vivências. Trata-se, pois, de olhar o
passado com os olhos do presente e com as expectativas do futuro. Ou
ainda, de estabelecer um olhar com a face bifronte do Jano
4
, Deus da
mitologia romana, simbolizando o conhecimento do passado e do futuro.
Uma deriva que pode ser compreendida pela dinâmica do ir e vir, sem que
se perca o lugar ocupado. Trata-se de atravessar a história, tomando como
ponto de partida o espaço-temporal ocupado no presente.
O passado sempre revive no presente, porque lhe atribuímos novos sentidos.
Não se apaga o que aconteceu na história. O tempo passado é sempre um
tempo que tem futuro, pois, quando nos reportamos ao passado oferecemos
a este uma memória de futuro ressignificamo-lo. Contar sobre o passado
3
Tradução de Marília Amorim, ver: AMORIM, Marilia. Cronotopo e exotopia. In: BRAIT, Beth,
(org). Bakhtin outros conceitos. São Paulo: Contexto, 2006.
4
Jano divindade de duas faces que teria o poder de ver tanto o passado como o futuro.
Neste terceiro milênio, a simbologia do Deus romano nos inspira a refletir sobre o que
deixamos para trás e o que nos espera no porvir.
26
com os significados de hoje, recordamos a história. se vive no
acontecimento do concreto da vida irrepetível e única. Nós vivemos os
acontecimentos e os acontecimentos vividos não podem ser retomados, tal
como ocorreram, apenas com categorias explicativas. Sempre estamos
produzindo sentidos por meio das palavras e das contrapalavras. (Cf.
GERALDI, 2006). Para Benjamin (1994, p. 224): “Articular historicamente o
passado não significa conhecê-lo ‘como ele de fato foi’. Significa apropriar-
se de uma reminiscência, tal como ela relampeja no momento de um
perigo.”
Desse modo, podemos aferir que avaliar o percurso é dar aos nossos atos,
mesmo que provisoriamente um acabamento
5
. É escrever/inscrever de si
mesmo posicionando-se axiologicamente frente à própria vida,
submentendo-a a uma valoração que transcenda aos limites do apenas
vivido, e indo à busca das significações, das conexões, dos caminhos que
resultaram no acervo das próprias experiências. Não se trata de um discurso
direto de um Eu homogêneo e transparente, mas, de um Eu que narra suas
experiências: uma voz que absorve e faz ressoar em seu discurso as marcas
de outras muitas vozes alheias com que interage.
O eu que importa é aquele que existe sempre mais além
daquele que se toma habitualmente pelo próprio eu: não está
para ser descoberto, mas para ser inventado; não está para
ser realizado, mas para ser conquistado; não está para ser
explorado, mas para ser criado. (LARROSA, 2006, p.9)
Para contar sobre esses caminhos, os quais dizem um pouco do que sou, vivi
e me constitui como pessoa, não posso deixar de assumir uma outra posição,
um olhar de fora, que ao mesmo tempo esdentro tornar-me um outro
5
A idéia de acabamento está relacionada ao conceito de exotopia, trata-se da análise de
um todo que implica sempre um trabalho de fixação e de enquadramento. O espaço é a
dimensão que permite fixar, inscrever o movimento, deixar suas marcas. A fixação é o
resultado de todo trabalho de objetivação, seja científica ou artística. Logo por mais
provisória que possa ser a o acabamento produzido, ele implica sempre o extrair do puro
movimento. Isso não significa que o autor e o pesquisador vivem fora do tempo e dos
acontecimentos. (AMORIN, 2006)
27
em relação a mim mesmo. Em Bakhtin (2003), o conceito de exotopia
contribui para entender essa posição: isto é, de que precisamos olhar-nos
com certo excedente de visão e conhecimento, um excedente de visão
que emerge da alteridade com outras vozes, textos, imagens e olhares que
nos completam e constituem.
[...] torna-se o outro em relação a si mesmo, olhar a si mesmo
com os olhos do outro; [...] avaliamos a nós mesmos do ponto
de vista dos outros, através do outro procuramos compreender
e levar em conta os momentos transgredientes à nossa própria
consciência; desse modo, levamos em conta o valor da nossa
imagem externa do ponto de vista da possível interpretação
que ela venha a causar no outro [...] (BAKHTIN, 2003, p. 13-14)
Na provocação de remexer no passado em busca de alguns indícios da
constituição alteritária de minha formação estética, vieram à tona muitas
lembranças, fragmentos, marcas de uma experiência que não tem a
pretensão de um modelo a ser seguido, mas problematizado. Desse modo,
para além das recordações, o contato, o diálogo e o sentido com o ser
sensível e poético que habita a adulta-professora-pesquisadora-aprendiz
(ALBANO MOREIRA, 2002). Como discutir/falar de “repertórios”, experiências
estético-artísticas de professores sem situar-me, discutir/falar quais foram as
próprias experiências?
Pontuar apenas a trajetória acadêmica e profissional não abarcaria o
sentido da discussão a qual pretendo empreender – investigar os significados
e concepções atribuídas pelos professores da Educação Infantil em relação
a sua formação artístico-cultural. Desvelar os elementos
constituidores/constituintes dessa formação demandou, antes de qualquer
coisa, compreender-integrar as dimensões da vida pessoal e profissional.
Assim, ao buscar essas experiências na memória e no espaço de atuação
dos professores, também revisitei minhas lembranças meus caminhos
estético-sensíveis, meu itinerário.
28
O sentido do sensível tem o poder de chamar diretamente
pensamentos, como o vento toca as nuvens, como o tempo
qualidade a certos saberes, lembranças de experiências
que gostaríamos de refazer. Sentido ligado a acontecimentos
reais e imaginados que emergem do que está ainda por fazer.
Iluminuras da mente postas em imagens valiosas que insistem
em durar em nós, a ponto de querermos fazer delas um
poema, uma mensagem, um problema ou um presságio.
(MEIRA, 2007, p. 09)
Ao se propor uma formação ao professor da Educação Infantil que
considere a arte, seus caminhos sensíveis, não se está de modo algum
descartando a importância do inteligível, da consistência teórica, da
racionalidade. Apenas se pretende dar visibilidade a essa dimensão que
também é constituinte do humano, mas que por vezes é negligenciada,
descartada ou reduzida a categorias instrumentais.
Bakhtin e seu Circulo
6
contribuem consideravelmente para pensar a
intersecção dessas duas dimensões que consideram ser constitutivamente
necessárias, porque geram a unidade de sentido e apreensão do mundo.
Para Bakhtin e seu Círculo, o sensível (o mundo dado, dan em russo) e o
inteligível (a apreensão do mundo, o postulado, zadan também em russo)
estão necessariamente integrados (SOBRAL, 2007).
Com isso, quer se dizer que o sensível (plano da percepção das impressões
totais) não se sobrepõe ao inteligível (plano das categorias), pois no plano
de conhecimento do mundo, um não faz sentido sem o outro, ambos se
separam por razões teóricas, mas se encontram entrelaçados. O que
6
Mikhail Mikhailovitch Bakhtin (1895-1975), graduou-se em Letras, História e Filosofia. Dedicou-
se profundamente ao estudo da Filosofia, História da Cultura, Estética e Filologia, forjando, a
partir daí, suas idéias e seus métodos de pesquisa. Crítico da Escola Formalista Russa, opôs à
sua monológica, uma visão de mundo pluralista, polissêmica e polifônica. Pertencia a um
pequeno círculo de intelectuais e artistas entre os quais se encontravam Marc Chagall e o
musicólogo Sollertinsky, amigo íntimo de Chostakovitsch. Também fazia parte desse círculo
um jovem professor do Conservatório de Música de Vitebsk, V. N. Volochínov, e ainda P. N.
Medviédiev, empregado de uma casa editora. Os dois tornaram-se alunos, amigos
devotados e ardorosos admiradores de Bakhtin. Esse Círculo, conhecido sob o nome de
“círculo de Bakhtin”, foi um cadinho de idéias inovadoras, numa época de muita
criatividade, particularmente nos domínios da arte e das ciências humanas.
29
significa dizer que hiperbolizar a apreensão do mundo ao plano do
sensível ou do inteligível é correr o risco de o compreender/considerar a
totalidade dos atos.
Nas palavras de Sobral (2007, p. 105), isso pode acarretar:
[...] uma cisão entre o agir concreto dos sujeitos e o pensar
sobre o agir dos sujeitos, separa o conteúdo do ato/atividade
(aquilo que cada ato tem de comum com outros atos) de sua
concretude, de sua ocorrência irrepetível (aquilo que nele
se faz presente), tanto no pensamento teórico discursivo (nas
ciências naturais e na filosofia) como na descrição-exposição
histórica e na intuição estética etc. O empreendimento
bakhtiniano consiste em propor que entre o particular e o
geral, o prático e o teórico, a vida e a arte uma relação de
interconstituição dialógica que não privilegia nenhum desses
termos, mas os integra na produção de atos, de enunciados,
de obras de arte etc.
Para além do limiar de pensar a palavra formação, atrelada à trajetória
escolar, acredito que uma formação por “inteiro” deva abarcar/considerar
as experiências estéticas, as relações/interações estabelecidas sempre na
relação com o outro (pessoas, livros, músicas, poesias, imagens, histórias,
instituições etc.).
Cada história/trajetória pessoal é única e irrepetível. Aquilo que não
aconteceu, mas poderia ter acontecido, também nos constitui, faz parte de
nosso itinerário. Nunca temos a mesma seqüência de relações/interações.
Pontuar que nossas trajetórias são únicas e, portanto, não se repetem, não
quer dizer que essas não se aproximem umas das outras. Somos semelhantes
porque vivemos na mesma época histórica, em instituições, sociedade,
compartilhando e construindo cultura(s). Estar na história é entrar em relação
com o sujeito, construindo significados sempre na relação com o outro as
relações nos modificam e nós modificamos as formas de relação.
O lugar de onde falo é atravessado por essa dinâmica, trata-se de um lugar
situado, datado no tempo e no espaço. Lugar histórico, marcado por uma
30
sociedade de relações complexas e desiguais. Na relação com o outro, o
diferente de mim, reconhecimento, conflito, diferença, possibilidade de
alteridade na relação com o outro, o princípio da não indiferença
(BAKHTIN, 2003). No exercício da memória, pontos sensíveis e inteligíveis do
ser criança, do ser professora, do ser social são trazidos à superfície. Uma
linha tênue entre passado e presente funde-se, constituindo sentidos.
Ao longo deste capítulo, apresento alguns desses enunciados
7
. Eles
emergiram e foram reavivados, significados, tendo por base minhas
contrapalavras. Mantenho essa prática durante todo relato da pesquisa. São
cenas que comunicam, bombeando energia e sentimentos, puxando fios da
memória, tecendo elos que têm a intenção de ajudar a compreender a
formação artístico-cultural dos professores da infância, para além da
prescrição. Os enunciados estéticos apresentados ao longo desta seção
podem ser compreendidos como significações. “Uma história provisória, uma
história prenhe de outras histórias prenhes, marcando inclusive as outras
histórias que virão.” (MALAVASI, 2006, p. 12)
Vivi experiências conduzidas pelo fascínio da arte em contextos
diferenciados: no familiar, com avô e pai maestros, com irmão e primos
músicos, como flautista da Sociedade Musical e Cultural Santo Amaro da
Imperatriz, bem como experiência em teatro amador. Em uma trajetória
profissional que somou 15 anos
8
no espaço da educação infantil, constatei
que minha visão em relação às linguagens artísticas foi paulatinamente
(re)significada, muito mais por conta do repertório de ‘casa’, do que nos
7
Em Bakhtin (2006) e (2003), enunciado, enunciado concreto/enunciação o noções
implicadas que pode abarcar tanto uma situação, um contexto, um texto, um discurso,
como uma única palavra. O enunciado e as particularidades de sua enunciação
configuram, necessariamente, o processo interativo, ou seja, o verbal e o o verbal que
integram a situação e, ao mesmo tempo, fazem parte de um contexto maior histórico, tanto
no que diz respeito a aspectos (enunciados, discursos, sujeitos, etc.) que antecedem
específico quanto ao que ele projeta a diante. O enunciado deve ser enfrentado na sua
historicidade, na sua concretude, para deixar de ver mais do que a dimensão
exclusivamente lingüística e/ou sua fragmentação.
8
Comecei a trabalhar na função de auxiliar da Educação Infantil, por meio de bolsa de
trabalho (20 horas) em uma instituição filantrópica, aos 13 anos de idade.
31
espaços formais de educação. Não considero que essa trajetória tenha sido
tão ampla, mas percebo que fazia alguma diferença em relação a outros
companheiros de trabalho.
Na trajetória de minha infância, lembro da menina de meados dos anos
oitenta, residindo em uma cidade pequena do interior do Sul do Brasil,
fortemente marcada pela influência religiosa. Das brincadeiras de roda,
canções e histórias de assombração, dos jogos de detetives com os primos,
da nossa constante admiração (e degustação) pelas amorinhas silvestres da
‘Dona Amélia’ e como era lindo, um verdadeiro ‘tapete de amoras’. Ali
aprendi que a beleza pode ter sabor. E, nesse jogo de recordações, vou
adentrando, percorrendo meus caminhos estéticos, sensíveis e/ou
inteligíveis...
Caminho Das Flores: Percursos Do Olhar, Do Sentir, Do Admirar...
Caminho Das Flores: Percursos Do Olhar, Do Sentir, Do Admirar...Caminho Das Flores: Percursos Do Olhar, Do Sentir, Do Admirar...
Caminho Das Flores: Percursos Do Olhar, Do Sentir, Do Admirar...
Sempre aos sábados, íamos
Sempre aos sábados, íamos Sempre aos sábados, íamos
Sempre aos sábados, íamos
minha avó e eu a i
minha avó e eu a iminha avó e eu a i
minha avó e eu a igreja (dos
greja (dos greja (dos
greja (dos
04 aos 14 anos de idade). Na
04 aos 14 anos de idade). Na 04 aos 14 anos de idade). Na
04 aos 14 anos de idade). Na
lembrança o percurso, a
lembrança o percurso, a lembrança o percurso, a
lembrança o percurso, a
paisagem, não a missa, porque
paisagem, não a missa, porque paisagem, não a missa, porque
paisagem, não a missa, porque
essa me chamava a atenção
essa me chamava a atenção essa me chamava a atenção
essa me chamava a atenção
no que se referia aos cânticos,
no que se referia aos cânticos, no que se referia aos cânticos,
no que se referia aos cânticos,
principalmente, àqueles em
principalmente, àqueles em principalmente, àqueles em
principalmente, àqueles em
que eram acompanhados ao
que eram acompanhados ao que eram acompanhados ao
que eram acompanhados ao
som do belo Coral São
som do belo Coral São som do belo Coral São
som do belo Coral São
Francisco de Assis.
Francisco de Assis. Francisco de Assis.
Francisco de Assis.
No
NoNo
No caminho até a igreja e desta
caminho até a igreja e desta caminho até a igreja e desta
caminho até a igreja e desta
até sua casa, minha avó
até sua casa, minha avó até sua casa, minha avó
até sua casa, minha avó
conversava comigo sobre
conversava comigo sobre conversava comigo sobre
conversava comigo sobre
diversos assuntos, sendo que
diversos assuntos, sendo que diversos assuntos, sendo que
diversos assuntos, sendo que
desses sempre deixou
desses sempre deixou desses sempre deixou
desses sempre deixou
transparecer sua admiração por
transparecer sua admiração por transparecer sua admiração por
transparecer sua admiração por
flores...
flores... flores...
flores...
“A Rosa”
“A Rosa”“A Rosa”
“A Rosa”
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
32
Flores de diversos tipos, cores, formas e tamanhos.
Flores de diversos tipos, cores, formas e tamanhos. Flores de diversos tipos, cores, formas e tamanhos.
Flores de diversos tipos, cores, formas e tamanhos. U
UU
Uma paisagem que nunca
ma paisagem que nunca ma paisagem que nunca
ma paisagem que nunca
se repetia
se repetiase repetia
se repetia, porque a nossa forma de olhar era constantemente renovada e
, porque a nossa forma de olhar era constantemente renovada e , porque a nossa forma de olhar era constantemente renovada e
, porque a nossa forma de olhar era constantemente renovada e
estava sempre aberta a outras leituras.
estava sempre aberta a outras leituras. estava sempre aberta a outras leituras.
estava sempre aberta a outras leituras.
Brincávamos de identificar os tipos de flores... Eram margaridas, lírios,
Brincávamos de identificar os tipos de flores... Eram margaridas, lírios, Brincávamos de identificar os tipos de flores... Eram margaridas, lírios,
Brincávamos de identificar os tipos de flores... Eram margaridas, lírios,
girassóis, violetas, azaléias, orquídeas, rosas, copos
girassóis, violetas, azaléias, orquídeas, rosas, coposgirassóis, violetas, azaléias, orquídeas, rosas, copos
girassóis, violetas, azaléias, orquídeas, rosas, copos-
--
-de
dede
de-
--
-leite... E no nosso
leite... E no nosso leite... E no nosso
leite... E no nosso olhar
olhar olhar
olhar
identificávamos, sentíamos, admirávamos, demorávamos nosso olhar,
identificávamos, sentíamos, admirávamos, demorávamos nosso olhar, identificávamos, sentíamos, admirávamos, demorávamos nosso olhar,
identificávamos, sentíamos, admirávamos, demorávamos nosso olhar,
olhávamos de novo e de novo... Estava aí a medida da leveza, da intensidade e
olhávamos de novo e de novo... Estava aí a medida da leveza, da intensidade e olhávamos de novo e de novo... Estava aí a medida da leveza, da intensidade e
olhávamos de novo e de novo... Estava aí a medida da leveza, da intensidade e
da disponibilidade sem pressa de sentir a natureza, o nosso entorno.
da disponibilidade sem pressa de sentir a natureza, o nosso entorno. da disponibilidade sem pressa de sentir a natureza, o nosso entorno.
da disponibilidade sem pressa de sentir a natureza, o nosso entorno.
Para além do saudosismo, o enunciado mencionado anteriormente, nos
remete a problemática em relação à constituição do olhar estético. “O olhar
faz o pensamento dançar” afirma Meira (2007), percurso do olhar, do sentir e
dos significados que são tecidos como uma teia, que emergem e entram em
contato com outras dimensões. Um universo habitado por palavras, imagens,
sons, cheiros e ruídos o universo do sensível. Um sensível que não é nato,
mas construído, na relação com o outro, com as instituições, a sociedade, a
cultura. Ter um olhar estético não é ajustar-se ao mundo, tal como ele se
apresenta, mas buscar sentidos e significados para o modo como o
compomos, sistematizamo-lo, qualificamo-lo é refletir sobre o
imponderável, o complexo, o incalculável.
Nutrida pelas leituras de Meira (2007) e Larrosa (2006), bem como me
reportando à expressão/memória:
E no nosso olhar identificávamos, sentíamos,
admirávamos, demorávamos nosso olhar, olhávamos de novo e de novo... A
ssumo
que o olhar, e as formas de olhar estão para além das funções do olho
(aparelho biológico). Os modos como constituímos nosso olhar sobre o
mundo, nós mesmos e os outros se constituem dentro de referenciais
culturais, sociais e imagéticos. O olhar deve ser instigado, surpreendido,
mobilizado, para tornar-se crítico e sensível à vida, ao mundo e às pessoas.
Larrosa (2006, p. 50), mesmo que se referindo à experiência de leitura (seu
objeto de interesse), ao percorrer algumas obras do escritor austríaco Peter
Handke aponta a questão dos modos de olhar. Instigando-nos a pensar que
33
caminhar não é tanto ir de um lugar a outros, mas levar a passear o olhar”.
Isto é, aprender a olhar ao seu entorno, demorar e manter-se sempre aberto
para constituir esse olhar de maneira renovada.
Aprendemos a ver, ouvir, sentir e saborear. Temos biologicamente os órgãos
dos sentidos, mas o modo como fazemos uso deles, isto é, a forma como
sentimos constituí-se socialmente por meio das relações que estabelecemos
ao longo de toda uma vida. Penso que para além de estabelecer uma
supremacia do olhar e da visualidade, a questão que se coloca é a
necessidade de não naturalizar as paisagens, mas conhecer, sentir, apreciar,
criticar... levar o corpo inteiro para passear.
Ao relacionar o enunciado caminho das flores: Percursos do olhar, do sentir,
do admirar... com as palavras de Larrosa “No pensamento a menina que
caminha de tal forma, e olha de tal forma, e de tal forma, que chama a
atenção, não sobre si mesmo, mas sobre o entorno a paisagem
9
”, pergunto-
me: O que ainda ficou em relação a esse modo de olhar, da menina que
aprendeu com a avó a caminhar e admirar a paisagem? O que perdemos
ou esquecemos por conta da forma solidificada de formação/educação a
que somos submetidos?
Para além de denunciar os automatismos cotidianos, procuro, na relação
com meus fragmentos, vislumbrar um outro referencial de formação aos
professores da educação infantil. Um referencial em que os percursos do
olhar e do sentir sejam reavivados, alimentados pela beleza e desejo de
saber-se aprendiz. “La dimensión estética presupone una mirada que
descubre que admira y se emociona. Es lo contrario de la indiferencia, de la
negligencia y del conformismo” (VECCHI, 2006, p. 16)
Um convite ao olhar, pressupõe sedução, curiosidade, atenção, olhar e olhar
de novo, significar e ressignificar tendo por base experiências anteriores. A
9
Do capítulo II Do espírito de criança à criança de espírito A idéia de formação em Peter
Handke; (LARROSA, 2006, p. 50) No destaque acima no original lê-se, em vez de menina
jovem.
34
forma como vemos, olhamos, afeta nossas ações em relação a tudo o que
fazemos ou deixamos de fazer em nossa vida. Mas um convite, também
pressupõe quem convida um colega, um professor, uma instituição, uma
imagem... Isso me leva a pensar sobre quantas vezes aceitamos ou deixamos
de aceitar convites. De quando em quando um colega nos convida a ir ao
teatro, cinema, museu, galeria, exposição etc; e dizemos um não ou um sim.
O que por traz do ‘simples’ gesto de aceitar ou o um convite,
principalmente no que tange as questões de ordem estética?
Dizer que é um convite, que você aceita ou não, sutilmente pode recair na
questão de que se trata de uma simples escolha, da simples questão de se
aceitar ou não. A questão é bem mais complexa que o convite ou a
escolha em si, mas diz respeito a pensarmos na relação do que nos leva ou
não a tomar certas escolhas, o que nos move a aceitar ou recusar certos
convites ou ainda, das diversas determinações que condicionam as
escolhas.
A abertura dessa janela do passado que evoca a constituição desse modo
de olhar, do sentir e das escolhas, daquele(a) que caminha pelo puro prazer
de estar no caminho, detendo-se em seu entorno, remete-me a muitas
outras ‘janelas’, algumas diversas outras semelhantes, algumas ilegíveis
outras inteligíveis, horizontes que tentam se recompor. E, no próprio dizer da
história, teima a sensação do ilegível: aquilo que chama a atenção, mas
que não nada para ver, aquilo que sinais, mas cujo sentido não pode
ser interpretado” (LARROSA, 2006, p.67)
35
A Música Na Minha Vida, A Minha Vida Na Música...
A Música Na Minha Vida, A Minha Vida Na Música...A Música Na Minha Vida, A Minha Vida Na Música...
A Música Na Minha Vida, A Minha Vida Na Música...
Lembro de que quando era
Lembro de que quando era Lembro de que quando era
Lembro de que quando era
pequena, por ser filha e neta de
pequena, por ser filha e neta de pequena, por ser filha e neta de
pequena, por ser filha e neta de
músicos, era hábito
músicos, era hábito músicos, era hábito
músicos, era hábito
acompanharmos as apresentações
acompanharmos as apresentações acompanharmos as apresentações
acompanharmos as apresentações
da banda musical do município
da banda musical do município da banda musical do município
da banda musical do município
Sociedade Musical
Sociedade MusicalSociedade Musical
Sociedade Musical e
e e
e Cultural
Cultural Cultural
Cultural
Santo Amaro
Santo AmaroSanto Amaro
Santo Amaro”
. Meu pai por
. Meu pai por . Meu pai por
. Meu pai por
longos anos freqüentou a banda,
longos anos freqüentou a banda, longos anos freqüentou a banda,
longos anos freqüentou a banda,
desde quando meu avô era
desde quando meu avô era desde quando meu avô era
desde quando meu avô era
maestro a depois quando este
maestro a depois quando este maestro até depois quando este
maestro a depois quando este
havia de afastado por motivos de
havia de afastado por motivos de havia de afastado por motivos de
havia de afastado por motivos de
saúde.
saúde. saúde.
saúde.
Cresci, escutando meu pai tocando
Cresci, escutando meu pai tocando Cresci, escutando meu pai tocando
Cresci, escutando meu pai tocando
trompete, também tínhamos em
trompete, também tínhamos em trompete, também tínhamos em
trompete, também tínhamos em
casa u
casa ucasa u
casa um toca discos e uma coleção
m toca discos e uma coleção m toca discos e uma coleção
m toca discos e uma coleção
de discos de vinil, e outros
de discos de vinil, e outros de discos de vinil, e outros
de discos de vinil, e outros
instrumentos musicais como teclado, violão, guitarra, sax e bateria. No meio
instrumentos musicais como teclado, violão, guitarra, sax e bateria. No meio instrumentos musicais como teclado, violão, guitarra, sax e bateria. No meio
instrumentos musicais como teclado, violão, guitarra, sax e bateria. No meio
desse universo musical, adquiri o gosto por escutar músicas, de diversos
desse universo musical, adquiri o gosto por escutar músicas, de diversos desse universo musical, adquiri o gosto por escutar músicas, de diversos
desse universo musical, adquiri o gosto por escutar músicas, de diversos
gêneros, das mais populares às clássicas.
gêneros, das mais populares às clássicas. gêneros, das mais populares às clássicas.
gêneros, das mais populares às clássicas.
Quan
QuanQuan
Quando cursava o terceiro ano do segundo grau, no curso do magistério
do cursava o terceiro ano do segundo grau, no curso do magistério do cursava o terceiro ano do segundo grau, no curso do magistério
do cursava o terceiro ano do segundo grau, no curso do magistério
(1995
(1995(1995
(1995-
--
-1998), ingressei na banda de música como flautista. Sendo que, como
1998), ingressei na banda de música como flautista. Sendo que, como 1998), ingressei na banda de música como flautista. Sendo que, como
1998), ingressei na banda de música como flautista. Sendo que, como
aprendiz, cada vez que ia ensaiar em casa o ruído rompia o quarteirão e
aprendiz, cada vez que ia ensaiar em casa o ruído rompia o quarteirão e aprendiz, cada vez que ia ensaiar em casa o ruído rompia o quarteirão e
aprendiz, cada vez que ia ensaiar em casa o ruído rompia o quarteirão e
familiares e vizinhos acompanharam meu proce
familiares e vizinhos acompanharam meu procefamiliares e vizinhos acompanharam meu proce
familiares e vizinhos acompanharam meu processo.
sso. sso.
sso.
Fiquei por uns dois anos na banda, participei de algumas apresentações em
Fiquei por uns dois anos na banda, participei de algumas apresentações em Fiquei por uns dois anos na banda, participei de algumas apresentações em
Fiquei por uns dois anos na banda, participei de algumas apresentações em
concursos e festas populares, mas
concursos e festas populares, mas concursos e festas populares, mas
concursos e festas populares, mas depois, por conta da excessiva carga horária
depois, por conta da excessiva carga horária depois, por conta da excessiva carga horária
depois, por conta da excessiva carga horária
de trabalho e estudo, afastei
de trabalho e estudo, afasteide trabalho e estudo, afastei
de trabalho e estudo, afastei-
--
-me.
me. me.
me.
Na memória, ficou a lembrança das histórias, viagens, concurs
Na memória, ficou a lembrança das histórias, viagens, concursNa memória, ficou a lembrança das histórias, viagens, concurs
Na memória, ficou a lembrança das histórias, viagens, concursos, retretas e
os, retretas e os, retretas e
os, retretas e
principalmente das relações estabelecidas. Para além da musicista, ficou meu
principalmente das relações estabelecidas. Para além da musicista, ficou meu principalmente das relações estabelecidas. Para além da musicista, ficou meu
principalmente das relações estabelecidas. Para além da musicista, ficou meu
encantamento e fascinação pela sica, que se tornou minha companheira
encantamento e fascinação pela sica, que se tornou minha companheira encantamento e fascinação pela música, que se tornou minha companheira
encantamento e fascinação pela sica, que se tornou minha companheira
inseparável, pano de fundo nos diversos momentos de minha trajetória.
inseparável, pano de fundo nos diversos momentos de minha trajetória.inseparável, pano de fundo nos diversos momentos de minha trajetória.
inseparável, pano de fundo nos diversos momentos de minha trajetória.
Em relação às músicas escutadas, admiradas, cantadas, sentidas, e
criticadas durante minha trajetória formativa posso aferir que um ‘gosto’ foi e
está sendo constantemente constituído. Na memória da infância a
36
lembrança de que as músicas veiculadas pela mídia (como as dos
programas infantis da TV: Xuxa, Angélica, Eliana, Mara Maravilha entre
outros;) conviveram de forma tensa/conflituosa com outras músicas menos
veiculadas, mas reconhecidas por esse ambiente familiar como músicas de
“qualidade”. Assim tomei contado com diversos gêneros musicais: canções
da Jovem Guarda, MPB, Bossa Nova, etc., sendo que também adquiri o
gosto por escutar/apreciar música clássica.
Como enunciado anteriormente, o gosto por músicas instrumentais foi
constituindo-se de forma mais intensa por conta de meu ambiente familiar e
do meu ingresso na banda. A complexidade de tocar e compreender os
elementos que constituem a música, (melodia, harmonia e ritmo), algumas
formas musicais como Minueto, Mazurca, Gavota, Sarabanda, Chula,
Panava, Suíte, Prelúdio, Rapsódia, Sonata, Fuga e Ópera
10
, me aproximaram
de diversos tipos de músicas belas, que dificilmente são/seriam veiculadas
nos espaços midiáticos mais comuns. O contato com essas diversas
composições, constituiu em mim, o desejo pela inteireza e a sensibilidade de
conhecer/reconhecer que o belo rompe fronteiras mesmo onde poderia
passar despercebido.
Creo que la dimensión estética es parte integrante de una
estructura de pensamiento que siempre, y en cualquier caso,
es capaz de procesos evolutivos, y que en las situaciones de
10
Segundo Priolli (2004), na composição musical a forma é determinada por vários
elementos (ritmos, melódicos e harmônicos), que se consagram estabelecendo a estrutura
uniforme do trecho. Minueto antiga dançam francesa, muito em voga no século XVIII;
Mazurca dança de origem polaca, são lindíssimas e muito tocadas por Chopin; Gavota
dança francesa; Sarabanda dança de origem espanhola, andamento grave, geralmente
muito ornamentada; Chula dança regional portuguesa, costuma-se dançar com
acompanhamento rítmico do estalo dos dedos; Pavana dança de Pádua (Itália),
andamento grave; Suíte conjunto de danças antigas, no mesmo tom, de caráter diferente,
executadas sucessivamente, para o mesmo fim, para os italianos é conhecida como Partita;
Prelúdio peça de forma livre, não tem compasso nem andamento determinado; Rapsódia
peça instrumental baseada em canções folclóricas regionais, as mais conhecidas são as
de Liszt, baseadas em temas e canções húngaras; Sonata A forma musical considerada
mais elevada da música erudita; Fuga composição musical de estilo severo que reúne arte
e ciência. É considerada a mais alta expressão da música polifônica; Ópera é uma
composição dramática, música de teatro. É uma representação cantada por vozes
cultivadas acompanhadas de grande orquestra, coros e bailarinos.
37
aprendizaje puede sustentar y alimentar un conocimiento que
no sólo se nutre de información, sino que, evitando una
definición fácil de las categorias, lleve a una relación de
sensible y de empatia con las cosas, solicitando la creación de
conexiones. (VECCHI, 2006, p.17)
Crescer em um ambiente musical profícuo, escutando e admirando músicas,
bem como aprendendo a reconhecer certos tipos de composições como
obra musical, objeto artístico, diferenciando-as de outras que equivalem
muito mais a um produto a ser consumido, propiciou-me ser mais exigente
em relação as minhas preferências. Para além de analisar a complexidade
das composições estavam/estão presentes o sentir, vibrar, fruir a música,
sempre alimentada por meio de escolhas conscientes que eram/são
constantemente dialogadas, criticadas, negociadas por um ambiente
familiar musical crítico.
E assim vou andante no rastro das recordações, vislumbrando conexões,
evocando pensamentos e lembranças que julgava esquecidas. “O vivido
se torna recordação na lei da narração que é, por sua vez, a lei de sua
leitura. E aí se torna outra vez vivo, aberto, produtivo” (LARROSA, 2006, p.64)
A Arte De Representar...
A Arte De Representar...A Arte De Representar...
A Arte De Representar...
No ano de 1997, quando cursava o terceiro ano do curso do Magistério, e
No ano de 1997, quando cursava o terceiro ano do curso do Magistério, eNo ano de 1997, quando cursava o terceiro ano do curso do Magistério, e
No ano de 1997, quando cursava o terceiro ano do curso do Magistério, eu e
u e u e
u e
alguns colegas do curso, freqüentamos uma oficina de teatro ministrada por
alguns colegas do curso, freqüentamos uma oficina de teatro ministrada por alguns colegas do curso, freqüentamos uma oficina de teatro ministrada por
alguns colegas do curso, freqüentamos uma oficina de teatro ministrada por
dois estudantes do curso de teatro da UDESC
dois estudantes do curso de teatro da UDESC dois estudantes do curso de teatro da UDESC
dois estudantes do curso de teatro da UDESC
Universidade do Estado de
Universidade do Estado de Universidade do Estado de
Universidade do Estado de
Santa Catarina.
Santa Catarina. Santa Catarina.
Santa Catarina.
A oficina foi organizada por um dos participantes do curso que era dono de
A oficina foi organizada por um dos participantes do curso que era dono de A oficina foi organizada por um dos participantes do curso que era dono de
A oficina foi organizada por um dos participantes do curso que era dono de
um dos jorna
um dos jornaum dos jorna
um dos jornais do município (Teia Cultual), o qual montou um projeto e
is do município (Teia Cultual), o qual montou um projeto e is do município (Teia Cultual), o qual montou um projeto e
is do município (Teia Cultual), o qual montou um projeto e
conseguiu uma parceria com a Prefeitura Municipal de Santo Amaro da
conseguiu uma parceria com a Prefeitura Municipal de Santo Amaro da conseguiu uma parceria com a Prefeitura Municipal de Santo Amaro da
conseguiu uma parceria com a Prefeitura Municipal de Santo Amaro da
Imperatriz. Os encontros aconteciam aos sábados e duraram
Imperatriz. Os encontros aconteciam aos sábados e duraram Imperatriz. Os encontros aconteciam aos bados e duraram
Imperatriz. Os encontros aconteciam aos sábados e duraram
aproximadamente uns quatro meses, com os ministrantes, e um total de do
aproximadamente uns quatro meses, com os ministrantes, e um total de doaproximadamente uns quatro meses, com os ministrantes, e um total de do
aproximadamente uns quatro meses, com os ministrantes, e um total de dois
is is
is
anos com a organização do nosso grupo (éramos sete participantes).
anos com a organização do nosso grupo (éramos sete participantes). anos com a organização do nosso grupo (éramos sete participantes).
anos com a organização do nosso grupo (éramos sete participantes).
38
Durante este período, o
Durante este período, o Durante este período, o
Durante este período, o
grupo SOART montou
grupo SOART montou grupo SOART montou
grupo SOART montou
diversas peças de teatro as
diversas peças de teatro as diversas peças de teatro as
diversas peças de teatro as
quais encenamos em
quais encenamos em quais encenamos em
quais encenamos em
escolas, creches, praças,
escolas, creches, praças, escolas, creches, praças,
escolas, creches, praças,
igrejas, hotéis, hospitais...
igrejas, hotéis, hospitais... igrejas, hotéis, hospitais...
igrejas, hotéis, hospitais...
Representar pessoas,
Representar pessoas, Representar pessoas,
Representar pessoas,
animais, objet
animais, objetanimais, objet
animais, objetos, coisas...
os, coisas... os, coisas...
os, coisas...
Mundos, idéias, palavras
Mundos, idéias, palavras Mundos, idéias, palavras
Mundos, idéias, palavras
que provocam e seduzem,
que provocam e seduzem, que provocam e seduzem,
que provocam e seduzem,
formando e deformando
formando e deformando formando e deformando
formando e deformando
opin
opinopin
opiniões...
iões...iões...
iões...
Com a experiência de
Com a experiência de Com a experiência de
Com a experiência de
representar, descobri a
representar, descobri a representar, descobri a
representar, descobri a
beleza e a sensibilidade da
beleza e a sensibilidade da beleza e a sensibilidade da
beleza e a sensibilidade da
arte que penetra no corpo.
arte que penetra no corpo. arte que penetra no corpo.
arte que penetra no corpo.
Um corpo que projeta,
Um corpo que projeta, Um corpo que projeta,
Um corpo que projeta,
pulsa, vibra, afeta e é afetado pel
pulsa, vibra, afeta e é afetado pelpulsa, vibra, afeta e é afetado pel
pulsa, vibra, afeta e é afetado pelo outro.
o outro.o outro.
o outro.
Penso que o enunciado acima, diz muito sobre uma trajetória. Diz daquela
que aprendeu a sentir e a dizer com o corpo de outras formas, o com
palavras, mas nos gestos, na escuta atenta, na intensidade da forma-
silêncio-beleza que comunica.
Comunicar exige compartir un territorio común de
experiencias, ideas, pensamientos, teorías negociables,
sentidos, significados, etc. Evidentemente no puede existir
comunicación sin interacción. Interacción en el sentido de una
circularidad de ida y vuelta infinita. [...] La competencia
comunicativa, diversa de la competencia gramatical. La
competencia comunicativa es la de saber hablar para
escuchar. [...] Una comunicación que no sólo tiene que ver
con la palabra, sino con los ojos, el cuerpo, las manos.
(HOYUELOS, 2006, p. 54)
A Máscara
A MáscaraA Máscara
A Máscara
Fonte
FonteFonte
Fonte: newsletter.up.pt
: newsletter.up.pt: newsletter.up.pt
: newsletter.up.pt
39
Acabei levando essa experiência para a minha atuação profissional no
espaço da Educação Infantil. Na escuta e atenção às diversas formas de
expressão das crianças, aprendendo a fazer gestos e discursos não habituais,
transgredindo essa forma de educação tradicional e dualista que aprisiona e
separa copo e mente, razão e emoção, ciência e arte.
O Desenho Cego Que A Professora Queria Que Enxergasse...
O Desenho Cego Que A Professora Queria Que Enxergasse...O Desenho Cego Que A Professora Queria Que Enxergasse...
O Desenho Cego Que A Professora Queria Que Enxergasse...
Na recordação escolar, revolvo da memória a lembrança do desenho que
Na recordação escolar, revolvo da memória a lembrança do desenho que Na recordação escolar, revolvo da memória a lembrança do desenho que
Na recordação escolar, revolvo da memória a lembrança do desenho que
deveria s
deveria sdeveria s
deveria seguir o modelo e a expectativa da professora.
eguir o modelo e a expectativa da professora. eguir o modelo e a expectativa da professora.
eguir o modelo e a expectativa da professora.
Meus desenhos não foram capazes de fugir à regra e diferentemente de minha
Meus desenhos não foram capazes de fugir à regra e diferentemente de minha Meus desenhos não foram capazes de fugir à regra e diferentemente de minha
Meus desenhos não foram capazes de fugir à regra e diferentemente de minha
experiência de casa, essa última, reduto das paisagens dos quadros da sala,
experiência de casa, essa última, reduto das paisagens dos quadros da sala, experiência de casa, essa última, reduto das paisagens dos quadros da sala,
experiência de casa, essa última, reduto das paisagens dos quadros da sala,
de dois em especial que tinham como tema ‘casas do campo’
de dois em especial que tinham como tema ‘casas do campo’de dois em especial que tinham como tema ‘casas do campo’
de dois em especial que tinham como tema ‘casas do campo’, (com muitas
, (com muitas , (com muitas
, (com muitas
árvores, lagos e jardins floridos) ocupava meu tempo, observando e demorando
árvores, lagos e jardins floridos) ocupava meu tempo, observando e demorando árvores, lagos e jardins floridos) ocupava meu tempo, observando e demorando
árvores, lagos e jardins floridos) ocupava meu tempo, observando e demorando
meu olhar naquelas imagens, tomando por vezes como referência para criar
meu olhar naquelas imagens, tomando por vezes como referência para criar meu olhar naquelas imagens, tomando por vezes como referência para criar
meu olhar naquelas imagens, tomando por vezes como referência para criar
‘quadros’
‘quadros’ ‘quadros’
‘quadros’ –
– os meus próprios, mesmo que em folhas e não em telas...
os meus próprios, mesmo que em folhas e não em telas... os meus próprios, mesmo que em folhas e não em telas...
os meus próprios, mesmo que em folhas e não em telas...
Na escola, vi
Na escola, viNa escola, vi
Na escola, vi-
--
-me pinta
me pintame pinta
me pintando e copiando desenhos prontos, pois esses é que eram
ndo e copiando desenhos prontos, pois esses é que eram ndo e copiando desenhos prontos, pois esses é que eram
ndo e copiando desenhos prontos, pois esses é que eram
valorizados e admirados pela professora. E, por mais que não gostasse, tive
valorizados e admirados pela professora. E, por mais que não gostasse, tive valorizados e admirados pela professora. E, por mais que não gostasse, tive
valorizados e admirados pela professora. E, por mais que não gostasse, tive
que me adaptar, pois tudo que fugisse a “boa cópia” era rechaçado com
que me adaptar, pois tudo que fugisse a “boa cópia” era rechaçado com que me adaptar, pois tudo que fugisse a boa cópia” era rechaçado com
que me adaptar, pois tudo que fugisse a “boa cópia” era rechaçado com
palavras e gestos de desaprovação.
palavras e gestos de desaprovação. palavras e gestos de desaprovação.
palavras e gestos de desaprovação.
Mas, recordo
Mas, recordoMas, recordo
Mas, recordo-
--
-me de um dia,
me de um dia, me de um dia,
me de um dia,
em especial, foi o dia em que
em especial, foi o dia em que em especial, foi o dia em que
em especial, foi o dia em que
minha professora de arte
minha professora de arte minha professora de arte
minha professora de arte
diferentemente do habitual,
diferentemente do habitual, diferentemente do habitual,
diferentemente do habitual,
disse que desenharíamos com
disse que desenharíamos com disse que desenharíamos com
disse que desenharíamos com
os olhos fechados, de que
os olhos fechados, de que os olhos fechados, de que
os olhos fechados, de que
faríamos um tal de ‘desenho
faríamos um tal de ‘desenho faríamos um tal de ‘desenho
faríamos um tal de ‘desenho
cego’. E sem que tivéssemos
cego’. E sem que tivéssemos cego’. E sem que tivéssemos
cego’. E sem que tivéssemos
tempo de solicitar mais
tempo de solicitar mais tempo de solicitar mais
tempo de solicitar mais
informações ela foi logo
informações ela foi logo informações ela foi logo
informações ela foi logo
distribuindo as folhas e
distribuindo as folhas e distribuindo as folhas e
distribuindo as folhas e
dizendo para fecharmos os
dizendo para fecharmos os dizendo para fecharmos os
dizendo para fecharmos os
olhos e desenharmos.
olhos e desenharmos. olhos e desenharmos.
olhos e desenharmos.
Quadro: “A casa”
Quadro: “A casa”Quadro: “A casa”
Quadro: “A casa”
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine TrierweillerFoto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
40
Então o que fiz? Peguei o giz de cera e com a mão direita um pouco temerosa,
Então o que fiz? Peguei o giz de cera e com a mão direita um pouco temerosa, Então o que fiz? Peguei o giz de cera e com a mão direita um pouco temerosa,
Então o que fiz? Peguei o giz de cera e com a mão direita um pouco temerosa,
porque não sabia o que fazer, o que e como desenhar, pois naquela aula não
porque não sabia o que fazer, o que e como desenhar, pois naquela aula não porque não sabia o que fazer, o que e como desenhar, pois naquela aula não
porque não sabia o que fazer, o que e como desenhar, pois naquela aula não
havia espaço e tempo para o n
havia espaço e tempo para o nhavia espaço e tempo para o n
havia espaço e tempo para o não saber, fiquei tensa... Mas fechei os olhos,
ão saber, fiquei tensa... Mas fechei os olhos, ão saber, fiquei tensa... Mas fechei os olhos,
ão saber, fiquei tensa... Mas fechei os olhos,
procurei relaxar e fui preenchendo a folha com curvas, retas e movimentos
procurei relaxar e fui preenchendo a folha com curvas, retas e movimentos procurei relaxar e fui preenchendo a folha com curvas, retas e movimentos
procurei relaxar e fui preenchendo a folha com curvas, retas e movimentos
circulares...
circulares... circulares...
circulares...
Lembro
LembroLembro
Lembro-
--
-me de que gostei muito do movimento e da sensação de não saber no
me de que gostei muito do movimento e da sensação de não saber no me de que gostei muito do movimento e da sensação de não saber no
me de que gostei muito do movimento e da sensação de não saber no
que iriam se transformar aqueles ‘caminhos ceg
que iriam se transformar aqueles ‘caminhos cegque iriam se transformar aqueles ‘caminhos ceg
que iriam se transformar aqueles ‘caminhos cegos’ que estavam tomando
os’ que estavam tomando os’ que estavam tomando
os’ que estavam tomando
forma na folha e na minha imaginação.
forma na folha e na minha imaginação. forma na folha e na minha imaginação.
forma na folha e na minha imaginação.
Acho que terminei! Abri os olhos e fixei minha atenção no desenho... No início,
Acho que terminei! Abri os olhos e fixei minha atenção no desenho... No início, Acho que terminei! Abri os olhos e fixei minha atenção no desenho... No início,
Acho que terminei! Abri os olhos e fixei minha atenção no desenho... No início,
pareceu
pareceupareceu
pareceu-
--
-me sem sentido, mas depois ele começou a me dizer... (ou será que eu é
me sem sentido, mas depois ele começou a me dizer... (ou será que eu é me sem sentido, mas depois ele começou a me dizer... (ou será que eu é
me sem sentido, mas depois ele começou a me dizer... (ou será que eu é
que comecei a dizer dele, signifi
que comecei a dizer dele, signifique comecei a dizer dele, signifi
que comecei a dizer dele, significá
cá-
--
-lo?)
lo?) lo?)
lo?)
Como era de se esperar não tinha uma forma legível, mas vários espaços e
Como era de se esperar não tinha uma forma legível, mas vários espaços e Como era de se esperar não tinha uma forma legível, mas vários espaços e
Como era de se esperar não tinha uma forma legível, mas vários espaços e
linhas curvas que se encontravam. Resolvi que iria pintar cada um daqueles
linhas curvas que se encontravam. Resolvi que iria pintar cada um daqueles linhas curvas que se encontravam. Resolvi que iria pintar cada um daqueles
linhas curvas que se encontravam. Resolvi que iria pintar cada um daqueles
espaços, com cores diferenciadas..., mas minha empolgação não durou muito,
espaços, com cores diferenciadas..., mas minha empolgação não durou muito, espaços, com cores diferenciadas..., mas minha empolgação não durou muito,
espaços, com cores diferenciadas..., mas minha empolgação não durou muito,
porque resolvi olhar os
porque resolvi olhar osporque resolvi olhar os
porque resolvi olhar os desenhos dos colegas e percebi que alguns deles haviam
desenhos dos colegas e percebi que alguns deles haviam desenhos dos colegas e percebi que alguns deles haviam
desenhos dos colegas e percebi que alguns deles haviam
feito desenhos figurativos... Eram casas, árvores, flores, coração, apenas com
feito desenhos figurativos... Eram casas, árvores, flores, coração, apenas com feito desenhos figurativos... Eram casas, árvores, flores, coração, apenas com
feito desenhos figurativos... Eram casas, árvores, flores, coração, apenas com
um ou outro elemento que poderia dar a tal impressão de desenho cego.
um ou outro elemento que poderia dar a tal impressão de desenho cego. um ou outro elemento que poderia dar a tal impressão de desenho cego.
um ou outro elemento que poderia dar a tal impressão de desenho cego.
E
E E
E
“Desenho cego”
“Desenho cego”“Desenho cego”
“Desenho cego”
D
DD
De Pricilla C. Trierweiller
e Pricilla C. Trierweiller e Pricilla C. Trierweiller
e Pricilla C. Trierweiller
Realizado em: 1992
Realizado em: 1992 Realizado em: 1992
Realizado em: 1992
Colégio Nerêu Ramos
Colégio Nerêu Ramos Colégio Nerêu Ramos
Colégio Nerêu Ramos
41
para a minha
para a minha para a minha
para a minha -
--
- ou não
ou não ou não
ou não-
--
- surp
surp surp
surpresa foram justamente esses desenhos que não
resa foram justamente esses desenhos que não resa foram justamente esses desenhos que não
resa foram justamente esses desenhos que não
tinham nada de cegos que foram os mais festejados/admirados por minha
tinham nada de cegos que foram os mais festejados/admirados por minhatinham nada de cegos que foram os mais festejados/admirados por minha
tinham nada de cegos que foram os mais festejados/admirados por minha
professora.
professora.professora.
professora.
Como perceptível na descrição supracitada, diferentemente de casa, a
escola (principalmente no Ensino Fundamental) não oportunizou vivências
significativas em relação à arte. Na trajetória, a lembrança da
fragmentação, dos desenhos prontos, da supervalorização dos trabalhos
manuais, das provas, das disciplinas... das ambigüidades reiterativas dos
discursos dos professores que, em sua maioria, o suportavam a acuidade
da escuta, só a forma legítima e monológica do discurso instituído.
Esse modelo de escola que diz o quê, como e quando enxergar, que não
suporta a plenitude e a beleza das diferentes formas de expressão, me
ensinou muito mais o que não devo reproduzir, não na minha atuação
como professora, mas também no relacionamento com as pessoas e o
mundo. Isto é, uma modelo de escola que quer dar olhos ao desenho cego,
dizendo como e o que devemos enxergar; a qual diz que sensibilidade e
razão não combinam, que arte e vida são coisas totalmente diferentes, que
uma não toca a outra; que fragmenta o ser e que não suporta a dúvida, a
incerteza e o diálogo. E como criar sem esses elementos?
O referido enunciado revolvido e significado, que outrora se julgava
esquecido e/ou adormecido, me levaram a pensar de forma mais intensa na
formação artístico-cultural dos professores da Educação Infantil. Desse
modo, acredito que não se pode limitar a palavra formação aos
considerados espaços instituídos (cursos de formação dos professores
magistério e/ou pedagogia, e cursos de formação continuada). Pois
considerando uma trajetória mais ampla é que abarcaremos de forma mais
intensa e inteira os significados e sentidos atribuídos à arte, e que esses (bons
ou ruins) mesmo que no limiar do consciente oculto, influem em nossas
ações, constituindo nossos modos de ser e estar no mundo.
42
Ao adentrar em meus caminhos sensíveis, vou dando uma forma a esse
percurso, que não vislumbra, em seu horizonte, um caminho linear e
homogêneo. Aqui se compartilha com Hoyuelos (2006), quando este afirma
que a estética tem a capacidade de suscitar emoções esquecidas, em até
certo sentido, nostálgicas. Assim, vou percorrendo e buscando as conexões
misturando passado com o presente, não fragmentando razão e emoção.
Ele É Louco Porque É Artista Ou É Artista Porque É Louco?
Ele É Louco Porque É Artista Ou É Artista Porque É Louco? Ele É Louco Porque É Artista Ou É Artista Porque É Louco?
Ele É Louco Porque É Artista Ou É Artista Porque É Louco?
Lembro
LembroLembro
Lembro que quando estudava no ginásio
que quando estudava no ginásio que quando estudava no ginásio
que quando estudava no ginásio
(Ensino Fundamental), algumas vezes a
(Ensino Fundamental), algumas vezes a (Ensino Fundamental), algumas vezes a
(Ensino Fundamental), algumas vezes a
direção do colégio organizou exposições
direção do colégio organizou exposições direção do colégio organizou exposições
direção do colégio organizou exposições
com as obras de um
com as obras de um com as obras de um
com as obras de um artista plástico do
artista plástico do artista plástico do
artista plástico do
município. Também se tem notícia (ainda
município. Também se tem notícia (ainda município. Também se tem notícia (ainda
município. Também se tem notícia (ainda
hoje) de que o artista possui em sua casa
hoje) de que o artista possui em sua casa hoje) de que o artista possui em sua casa
hoje) de que o artista possui em sua casa
muitos documentos e objetos antigos que
muitos documentos e objetos antigos que muitos documentos e objetos antigos que
muitos documentos e objetos antigos que
contam a história do município de Santo
contam a história do município de Santo contam a história do município de Santo
contam a história do município de Santo
Amaro da Imperatriz
Amaro da ImperatrizAmaro da Imperatriz
Amaro da Imperatriz-
--
-SC.
SC. SC.
SC.
Para suas criações Bráz Campos de
Para suas criações Bráz Campos de Para suas criações Bráz Campos de
Para suas criações Bráz Campos de
Araújo
AraújoAraújo
Araújo
11
1111
11
utili
utili utili
utilizava galhos e troncos de
zava galhos e troncos de zava galhos e troncos de
zava galhos e troncos de
árvores que retirava do Rio Cubatão (rio
árvores que retirava do Rio Cubatão (rio árvores que retirava do Rio Cubatão (rio
árvores que retirava do Rio Cubatão (rio
que banha o município).
que banha o município). que banha o município).
que banha o município).
Sempre que ele ia expor no colégio, (o que
Sempre que ele ia expor no colégio, (o que Sempre que ele ia expor no colégio, (o que
Sempre que ele ia expor no colégio, (o que
por sinal aconteceu poucas vezes) a
por sinal aconteceu poucas vezes) a por sinal aconteceu poucas vezes) a
por sinal aconteceu poucas vezes) a
curiosidade tomava conta de mim.
curiosidade tomava conta de mim. curiosidade tomava conta de mim.
curiosidade tomava conta de mim. E q
E qE q
E quando éramos autorizados a ir até a
uando éramos autorizados a ir até a uando éramos autorizados a ir até a
uando éramos autorizados a ir até a
sala em que
sala em que sala em que
sala em que suas obras estavam expostas sempre queria ser a primeira a
suas obras estavam expostas sempre queria ser a primeira a suas obras estavam expostas sempre queria ser a primeira a
suas obras estavam expostas sempre queria ser a primeira a
chegar e meu olhar se “perdia em suas criações”.
chegar e meu olhar se “perdia em suas criações”. chegar e meu olhar se “perdia em suas criações”.
chegar e meu olhar se “perdia em suas criações”.
11
Bráz Campos de Araújo - nasceu em 1937 no município de Palhoça- SC. Cursou durante
quatro anos (1958 a 1962), a Academia Santa Cecília de Acordeom e órgão, discípulo de
Aldo Constancio Maciel e Demétrio Moragoiem . Participou de diversos cursos de artes
plásticas. Realizou pesquisas e criações nativas de base açoriana na Universidade Federal
de Santa Catarina, discípulo do professor Franklin Joaquim Cascaes, entre os anos de 1962 a
1970. Realizou diversos cursos e pesquisas: Pesquisa fóssil paleontológica ambiental pela
UNESCO, estágio na Pontifica Universidade Católica de Porto Alegre, cursos de arqueologia
e antropologia com o professor padre João Batista Roll, no colégio Catarinense. Escreveu
letras e compôs hinos, entre estes se destaca o do município de Santo Amaro da Imperatriz
e o de alguns colégios e fanfarras do mesmo município.
Bráz Campos de Araújo
Bráz Campos de AraújoBráz Campos de Araújo
Bráz Campos de Araújo
43
Nessas observações que se pretendiam ser mais longas, mas éramos
Nessas observações que se pretendiam ser mais longas, mas éramos Nessas observações que se pretendiam ser mais longas, mas éramos
Nessas observações que se pretendiam ser mais longas, mas éramos
constantemente interrompidas (pois o tempo era cronometrado pelos
constantemente interrompidas (pois o tempo era cronometrado pelos constantemente interrompidas (pois o tempo era cronometrado pelos
constantemente interrompidas (pois o tempo era cronometrado pelos
professores) min
professores) minprofessores) min
professores) minha imaginação vagava por outros mundos, lugares, dando
ha imaginação vagava por outros mundos, lugares, dandoha imaginação vagava por outros mundos, lugares, dando
ha imaginação vagava por outros mundos, lugares, dando-
--
-
me a leve sensação de que talvez não estivesse mais ali.
me a leve sensação de que talvez não estivesse mais ali. me a leve sensação de que talvez não estivesse mais ali.
me a leve sensação de que talvez não estivesse mais ali.
Mas, na minha memória de estudante, a imagem mais forte foi a forma como
Mas, na minha memória de estudante, a imagem mais forte foi a forma como Mas, na minha memória de estudante, a imagem mais forte foi a forma como
Mas, na minha memória de estudante, a imagem mais forte foi a forma como
esse artista era considerado e tratado por alguns de meus professores
esse artista era considerado e tratado por alguns de meus professoresesse artista era considerado e tratado por alguns de meus professores
esse artista era considerado e tratado por alguns de meus professores e
e e
e
colegas...
colegas... colegas...
colegas...
Muitas vezes escutei a expressão “Lá vem o Bráz, aquele louco” e confesso que,
Muitas vezes escutei a expressão “Lá vem o Bráz, aquele louco” e confesso que, Muitas vezes escutei a expressão “Lá vem o Bráz, aquele louco” e confesso que,
Muitas vezes escutei a expressão “Lá vem o Bráz, aquele louco” e confesso que,
no início, não entendia porque ele era denominado assim. E questionei
no início, não entendia porque ele era denominado assim. E questioneino início, não entendia porque ele era denominado assim. E questionei
no início, não entendia porque ele era denominado assim. E questionei-
--
-me por
me por me por
me por
diversas vezes: _ Ele é louco porque é artista ou ele é artista porque é louco?
diversas vezes: _ Ele é louco porque é artista ou ele é artista porque é louco?diversas vezes: _ Ele é louco porque é artista ou ele é artista porque é louco?
diversas vezes: _ Ele é louco porque é artista ou ele é artista porque é louco?
A cena supracitada me provoca a pensar no papel da arte e dos artistas na
sociedade. Algumas vezes são considerados gênios, outras loucos. É como se
tivéssemos que separar nossos sentimentos e/ou emoções do raciocínio e/ou
intelecção. E desde cedo somos ensinados a considerar esta ou aquela
profissões como de maior prestígio.
O artista plástico Tuneu
12
, em relação a essa questão menciona que: [...]
quando se decide ser artista, a sociedade não gosta; porque não se pode
ser artista artista é coisa para fim-de-semana! Eu ouvi isso.” (TUNEU apud
ALBANO,1998, p.55).
locais e atividades onde se consideram racionais apenas determinados
tipos de comportamento e de lógicas que buscam calar ao invés de
dialogar e que, em alguns recortes, infelizmente predominantes na história
da Modernidade, entendem a subjetividade e a emoção apenas no
aspecto abstrato, separadas da razão e da realidade concreta, um
obstáculo ao conhecimento do mundo.
12
Pintor contemporâneo Antônio Carlos Rodrigues, Tuneu. o obteve nenhuma formação
acadêmica, nunca freqüentou a Escola de Arte e/ou Universidade. O artista foi discípulo de
Tarsila do Amaral, relação que iniciou ainda menino. (ALBANO, 1998)
44
A forma legítima das relações estabelecidas na sociedade nos condiciona a
seguir e/ou adotar apenas os modelos e modos de produção rentáveis.
Assim, ser artista só é aceitável como ocupação diletante, mas não
profissional. Do contrário, é concebida como uma profissão desvalorizada e
sem perspectiva de futuro. E, não raro, os poucos que obtêm o chamado
‘sucesso’ nessa profissão, por vezes, renderem-se as determinações de
criação do mercado.
Os que compactuam com essa forma de pensamento consideram que
desenhar, pintar, representar, fazer esculturas, compor músicas, tocar um
instrumento etc, é algo legítimo apenas se for um passa-tempo, à medida
que se extrapola essa condição e a ordem é subvertida, o sujeito encontra-
se mais próximo do limiar do ‘insucesso’ e do preconceito social.
Para Tuneu em entrevista concedida a Albano (1998, p. 56-57):
As pessoas reagem porque subvertemos uma ordem burguesa
de percurso de vida. [...] Hoje percebo que havia muitos
discursos sublimares, onde se dizia que eu devia me preocupar
com uma formação.
Reportando-me ao enunciado/expressão: “Ele é louco porque é artista ou é
artista porque é louco”? Hoje avalio sobre as dicotomias dos referenciais
com os quais convivi O de um espaço escolar que legitimava e reforçava
uma suposta insignificância da arte na sociedade e, das minhas referências
de ‘casa’ que dialogaram e me deram mostras concretas da importância
da arte para a vida.
Na Minha Trajetória
Na Minha Trajetória Na Minha Trajetória
Na Minha Trajetória -
--
- Pedagogia, Pesquisa E Arte
Pedagogia, Pesquisa E Arte Pedagogia, Pesquisa E Arte
Pedagogia, Pesquisa E Arte
Ingressei no curso de Ped
Ingressei no curso de PedIngressei no curso de Ped
Ingressei no curso de Pedagogia no ano de 2000. Desde o inicio, busquei (por
agogia no ano de 2000. Desde o inicio, busquei (por agogia no ano de 2000. Desde o inicio, busquei (por
agogia no ano de 2000. Desde o inicio, busquei (por
conta da minha trajetória familiar, bem como experiência com o teatro
conta da minha trajetória familiar, bem como experiência com o teatro conta da minha trajetória familiar, bem como experiência com o teatro
conta da minha trajetória familiar, bem como experiência com o teatro
amador) pensar a relação Arte e Pedagogia, Arte e Vida, Arte e Formação.
amador) pensar a relação Arte e Pedagogia, Arte e Vida, Arte e Formação. amador) pensar a relação Arte e Pedagogia, Arte e Vida, Arte e Formação.
amador) pensar a relação Arte e Pedagogia, Arte e Vida, Arte e Formação.
45
Durante a Graduação e os cursos de formação continuada que
Durante a Graduação e os cursos de formação continuada que Durante a Graduação e os cursos de formação continuada que
Durante a Graduação e os cursos de formação continuada que participei,
participei, participei,
participei,
muitas foram as questões que ficaram sem respostas.
muitas foram as questões que ficaram sem respostas. muitas foram as questões que ficaram sem respostas.
muitas foram as questões que ficaram sem respostas.
O que me provocou a
O que me provocou a O que me provocou a
O que me provocou a
realizar, no período de 2002
realizar, no período de 2002 realizar, no período de 2002
realizar, no período de 2002
a 2003, na graduação
a 2003, na graduação a 2003, na graduação
a 2003, na graduação
(pedagogia
(pedagogia (pedagogia
(pedagogia
–UNIVALI), a
UNIVALI), a UNIVALI), a
UNIVALI), a
pesquisa monográfica
pesquisa monográfica pesquisa monográfica
pesquisa monográfica
intitulada: A arte como
intitulada: A arte como intitulada: A arte como
intitulada: A arte como
instrumento de possíveis
instrumento de possíveis instrumento de possíveis
instrumento de possíveis
leituras e reflexões par
leituras e reflexões parleituras e reflexões par
leituras e reflexões para o
a o a o
a o
fazer pedagógico. E
fazer pedagógico. E fazer pedagógico. E
fazer pedagógico. E
posteriormente, na pós
posteriormente, na pósposteriormente, na pós
posteriormente, na pós-
--
-
graduação em 2004
graduação em 2004 graduação em 2004
graduação em 2004
(Educação Infantil e Séries
(Educação Infantil e Séries (Educação Infantil e Séries
(Educação Infantil e Séries
Iniciais FACEMED), outra
Iniciais FACEMED), outra Iniciais FACEMED), outra
Iniciais FACEMED), outra
monografia: A produção
monografia: A produção monografia: A produção
monografia: A produção
artístico
artísticoartístico
artístico-
--
-cultural na educação infantil: múltiplas linguagens, diversas
cultural na educação infantil: múltiplas linguagens, diversas cultural na educação infantil: múltiplas linguagens, diversas
cultural na educação infantil: múltiplas linguagens, diversas
leituras e inúmeros sentidos.
leituras e inúmeros sentidos. leituras e inúmeros sentidos.
leituras e inúmeros sentidos.
Com a realiz
Com a realizCom a realiz
Com a realização dessas pesquisas, uma das constatações foi quanto à
ação dessas pesquisas, uma das constatações foi quanto à ação dessas pesquisas, uma das constatações foi quanto à
ação dessas pesquisas, uma das constatações foi quanto à
necessidade de formação e vivência dos professores no campo da arte. Os
necessidade de formação e vivência dos professores no campo da arte. Os necessidade de formação e vivência dos professores no campo da arte. Os
necessidade de formação e vivência dos professores no campo da arte. Os
professores que apresentam pouca experiência/vivência crítica em relação a
professores que apresentam pouca experiência/vivência crítica em relação a professores que apresentam pouca experiência/vivência crítica em relação a
professores que apresentam pouca experiência/vivência crítica em relação a
mesma, dificilmente, conseguem oportunizar e planej
mesma, dificilmente, conseguem oportunizar e planejmesma, dificilmente, conseguem oportunizar e planej
mesma, dificilmente, conseguem oportunizar e planejar experiências
ar experiências ar experiências
ar experiências
significativas de ampliação do repertório artístico
significativas de ampliação do repertório artísticosignificativas de ampliação do repertório artístico
significativas de ampliação do repertório artístico-
--
-cultural das crianças com
cultural das crianças com cultural das crianças com
cultural das crianças com
que trabalham
que trabalham que trabalham
que trabalham
uma vez que as experiências individuais podem organizar e
uma vez que as experiências individuais podem organizar e uma vez que as experiências individuais podem organizar e
uma vez que as experiências individuais podem organizar e
ampliar
ampliarampliar
ampliar-
--
-se na interação com outros sujeitos.
se na interação com outros sujeitos.se na interação com outros sujeitos.
se na interação com outros sujeitos.
Essa trajetória de muitos percalços, tentativas, erros, acertos e inúmeras
indagações me levaram ao Mestrado em Educação da Universidade
Federal de Santa Catarina, na linha Educação e Infância (ingresso 2006). Aos
poucos, por meio das orientações, disciplinas, reuniões pontuais do NUPEIN,
meu projeto inicial foi sendo lapidado e diversas questões foram emergindo
no processo de aprendizagem e constituição desta pesquisa. Na busca de
um aprofundamento teórico e considerando o limitado tempo de duração
do curso (apenas de dois anos), reafirmo essa necessidade de ampliação e
Teatro “O mundo da Criança”
Teatro “O mundo da Criança”Teatro “O mundo da Criança”
Teatro “O mundo da Criança”
Grupo Teatral as Sete Cores do Arco
Grupo Teatral as Sete Cores do ArcoGrupo Teatral as Sete Cores do Arco
Grupo Teatral as Sete Cores do Arco-
--
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íriíri
íris
ss
s
Foto: Acervo pessoal da pesquisadora
Foto: Acervo pessoal da pesquisadoraFoto: Acervo pessoal da pesquisadora
Foto: Acervo pessoal da pesquisadora
46
vivência estético-crítica em relação à arte na formação e constituição da
professora-pesquisadora-aprendiz.
O Ideal De Educação Cubana
O Ideal De Educação Cubana O Ideal De Educação Cubana
O Ideal De Educação Cubana
O Princípio De Uma Educação Por
O Princípio De Uma Educação Por O Princípio De Uma Educação Por
O Princípio De Uma Educação Por
“Inteiro”
“Inteiro”“Inteiro”
“Inteiro”
En Cuba se aspira a que todos los ciudadanos adquieran uma
cultura geral integral porque solo con una sólida preparación
política, un profundo conocimiento de la historia, uma
formación económica, filosófica, científica, artística, literária y
jurídica, entre otras, se podrá comprender el complexo
panorama que vive el mundo y luchar conscientemente para
conjurar los perigos que acecham a la humanidad.
(GUTIÉRREZ, 2007, p.04)
E
EE
Entre Janeiro e Fevereiro de 2007, tive a oportunidade de viajar para Cuba para
ntre Janeiro e Fevereiro de 2007, tive a oportunidade de viajar para Cuba para ntre Janeiro e Fevereiro de 2007, tive a oportunidade de viajar para Cuba para
ntre Janeiro e Fevereiro de 2007, tive a oportunidade de viajar para Cuba para
participar do Congresso P
participar do Congresso Pparticipar do Congresso P
participar do Congresso Pedagogia 2007. Nessa ocasião, além de participar do
edagogia 2007. Nessa ocasião, além de participar do edagogia 2007. Nessa ocasião, além de participar do
edagogia 2007. Nessa ocasião, além de participar do
congresso, das palestras e dos mini
congresso, das palestras e dos minicongresso, das palestras e dos mini
congresso, das palestras e dos mini-
--
-cursos, um grupo de amigas
cursos, um grupo de amigas cursos, um grupo de amigas
cursos, um grupo de amigas
pesquisadoras e eu, realizamos visitas aos Círculos Infantis (Centros que
pesquisadoras e eu, realizamos visitas aos Círculos Infantis (Centros que pesquisadoras e eu, realizamos visitas aos Círculos Infantis (Centros que
pesquisadoras e eu, realizamos visitas aos Círculos Infantis (Centros que
atendem as crianças de 1 a 5 anos de idade), ao Programa Educa a tu
atendem as crianças de 1 a 5 anos de idade), ao Programa Educa a tuatendem as crianças de 1 a 5 anos de idade), ao Programa Educa a tu
atendem as crianças de 1 a 5 anos de idade), ao Programa Educa a tu hijo
hijo hijo
hijo
(Modalidade não formal de atenção educativa a crianças de 0 a 6 anos, a
(Modalidade não formal de atenção educativa a crianças de 0 a 6 anos, a (Modalidade não formal de atenção educativa a crianças de 0 a 6 anos, a
(Modalidade não formal de atenção educativa a crianças de 0 a 6 anos, a
Menino incentivado pelo avô desenha seus
Menino incentivado pelo avô desenha seus Menino incentivado pelo avô desenha seus
Menino incentivado pelo avô desenha seus
próprios traços... ( Habana Vieja
próprios traços... ( Habana Vieja próprios traços... ( Habana Vieja
próprios traços... ( Habana Vieja –
Cuba
Cuba Cuba
Cuba
Janeiro de 2007)
Janeiro de 2007) Janeiro de 2007)
Janeiro de 2007)
Foto tirada pela pesquisadora
Foto tirada pela pesquisadoraFoto tirada pela pesquisadora
Foto tirada pela pesquisadora
Avô dialogando com o neto sobre as possíveis
Avô dialogando com o neto sobre as possíveis Avô dialogando com o neto sobre as possíveis
Avô dialogando com o neto sobre as possíveis
maneiras de desenhar no chão da rua
maneiras de desenhar no chão da rua maneiras de desenhar no chão da rua
maneiras de desenhar no chão da rua ...
... ...
...
(Habana Vieja
(Habana Vieja (Habana Vieja
(Habana Vieja
Cuba
Cuba Cuba
Cuba
Janeiro de 2007) Foto
Janeiro de 2007) Foto Janeiro de 2007) Foto
Janeiro de 2007) Foto
tirada pela pesquisadora.
tirada pela pesquisadora.tirada pela pesquisadora.
tirada pela pesquisadora.
47
partir da preparação da família desde o pré
partir da preparação da família desde o prépartir da preparação da família desde o pré
partir da preparação da família desde o pré-
--
-natal) e ao Instituto Superior
natal) e ao Instituto Superior natal) e ao Instituto Superior
natal) e ao Instituto Superior
Pedagógico Enrique José Varona (Centro Universitário onde se preparam
Pedagógico Enrique José Varona (Centro Universitário onde se preparam Pedagógico Enrique José Varona (Centro Universitário onde se preparam
Pedagógico Enrique José Varona (Centro Universitário onde se preparam
licenciados em Educação para os d
licenciados em Educação para os dlicenciados em Educação para os d
licenciados em Educação para os diferentes tipos e níveis de ensino).
iferentes tipos e níveis de ensino). iferentes tipos e níveis de ensino).
iferentes tipos e níveis de ensino).
Uma das coisas que mais me impressionou, não olvidando as complexas
Uma das coisas que mais me impressionou, não olvidando as complexas Uma das coisas que mais me impressionou, não olvidando as complexas
Uma das coisas que mais me impressionou, não olvidando as complexas
relações e determinações que atravessam esse país (embargo, regime político
relações e determinações que atravessam esse país (embargo, regime político relações e determinações que atravessam esse país (embargo, regime político
relações e determinações que atravessam esse país (embargo, regime político
etc), foi o modo como os cubanos concebem e põem em prática a educação.
etc), foi o modo como os cubanos concebem e põem em prática a educação. etc), foi o modo como os cubanos concebem e põem em prática a educação.
etc), foi o modo como os cubanos concebem e põem em prática a educação. Uma
Uma Uma
Uma
educação por
educação por educação por
educação por
inteiro
inteirointeiro
inteiro”
, em que não se descarta nenhuma dimensão humana,
, em que não se descarta nenhuma dimensão humana, , em que não se descarta nenhuma dimensão humana,
, em que não se descarta nenhuma dimensão humana,
em que todos se compreendem responsáveis pela educação não importando a
em que todos se compreendem responsáveis pela educação não importando a em que todos se compreendem responsáveis pela educação não importando a
em que todos se compreendem responsáveis pela educação não importando a
posição profissional a qual ocupam na sociedade. A educação como
posição profissional a qual ocupam na sociedade. A educação como posição profissional a qual ocupam na sociedade. A educação como
posição profissional a qual ocupam na sociedade. A educação como
compromisso de todos e para todos.
compromisso de todos e para todos. compromisso de todos e para todos.
compromisso de todos e para todos.
O Min
O MinO Min
O Ministro de Educação de Cuba, Dr. Luis Gómez Gutiérrez (2007) no
istro de Educação de Cuba, Dr. Luis Gómez Gutiérrez (2007) no istro de Educação de Cuba, Dr. Luis Gómez Gutiérrez (2007) no
istro de Educação de Cuba, Dr. Luis Gómez Gutiérrez (2007) no
momento da palestra de abertura do congresso, indicou que para alcançar esse
momento da palestra de abertura do congresso, indicou que para alcançar esse momento da palestra de abertura do congresso, indicou que para alcançar esse
momento da palestra de abertura do congresso, indicou que para alcançar esse
nível cultural tem desenvolvido em seu país uma política que almeja a justiça
nível cultural tem desenvolvido em seu país uma política que almeja a justiça nível cultural tem desenvolvido em seu país uma política que almeja a justiça
nível cultural tem desenvolvido em seu país uma política que almeja a justiça
social, implantada pelo princípio de qu
social, implantada pelo princípio de qusocial, implantada pelo princípio de qu
social, implantada pelo princípio de que todo cidadão cubano tem a
e todo cidadão cubano tem a e todo cidadão cubano tem a
e todo cidadão cubano tem a
oportunidade de estudar, isto é, livre acesso à educação em igualdade de
oportunidade de estudar, isto é, livre acesso à educação em igualdade de oportunidade de estudar, isto é, livre acesso à educação em igualdade de
oportunidade de estudar, isto é, livre acesso à educação em igualdade de
condições e permanência. A meta é a de que todo o cidadão cubano adquira o
condições e permanência. A meta é a de que todo o cidadão cubano adquira o condições e permanência. A meta é a de que todo o cidadão cubano adquira o
condições e permanência. A meta é a de que todo o cidadão cubano adquira o
maior nível educacional, para que possa tomar consciência e lutar contra as
maior nível educacional, para que possa tomar consciência e lutar contra as maior nível educacional, para que possa tomar consciência e lutar contra as
maior nível educacional, para que possa tomar consciência e lutar contra as
desi
desidesi
desigualdades do mundo.
gualdades do mundo. gualdades do mundo.
gualdades do mundo.
Galeria de Arte
Galeria de Arte Galeria de Arte
Galeria de Arte
– Habana Vieja/Cuba
Habana Vieja/Cuba Habana Vieja/Cuba
Habana Vieja/Cuba
Fevereiro de 2007.
Fevereiro de 2007.Fevereiro de 2007.
Fevereiro de 2007.
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine TrierweillerFoto de Pricilla Cristine Trierweiller
Foto de Pricilla Cristine Trierweiller
48
Outra questão passível de ser mencionada é a quantidade de galerias,
Outra questão passível de ser mencionada é a quantidade de galerias, Outra questão passível de ser mencionada é a quantidade de galerias,
Outra questão passível de ser mencionada é a quantidade de galerias,
museus, teatros e salas de cinema em Cuba. Espaços estes constantemente
museus, teatros e salas de cinema em Cuba. Espaços estes constantemente museus, teatros e salas de cinema em Cuba. Espaços estes constantemente
museus, teatros e salas de cinema em Cuba. Espaços estes constantemente
freqüentados por crianças e adultos. Os cubanos assumem a cultura em seu
freqüentados por crianças e adultos. Os cubanos assumem a cultura em seu freqüentados por crianças e adultos. Os cubanos assumem a cultura em seu
freqüentados por crianças e adultos. Os cubanos assumem a cultura em seu
s
ss
sentido amplo, que significa reconhecer e assimilar o legado que foi
entido amplo, que significa reconhecer e assimilar o legado que foi entido amplo, que significa reconhecer e assimilar o legado que foi
entido amplo, que significa reconhecer e assimilar o legado que foi
produzido em todos os níveis do saber. E demonstram reconhecer a
produzido em todos os níveis do saber. E demonstram reconhecer a produzido em todos os níveis do saber. E demonstram reconhecer a
produzido em todos os níveis do saber. E demonstram reconhecer a
importância educativa, político
importância educativa, políticoimportância educativa, político
importância educativa, político-
--
-ideológica, social e cultural da arte.
ideológica, social e cultural da arte. ideológica, social e cultural da arte.
ideológica, social e cultural da arte.
Há também um projeto em que artistas e estudantes
Há também um projeto em que artistas e estudantes Há também um projeto em que artistas e estudantes
Há também um projeto em que artistas e estudantes de cursos de formação de
de cursos de formação de de cursos de formação de
de cursos de formação de
professores compartilham e vivenciam experiências estéticas. Não há uma
professores compartilham e vivenciam experiências estéticas. Não há uma professores compartilham e vivenciam experiências estéticas. Não há uma
professores compartilham e vivenciam experiências estéticas. Não há uma
‘mitificação’ do artista, como aqui no Brasil, o que não quer dizer que os
‘mitificação’ do artista, como aqui no Brasil, o que não quer dizer que os ‘mitificação’ do artista, como aqui no Brasil, o que não quer dizer que os
‘mitificação’ do artista, como aqui no Brasil, o que não quer dizer que os
cubanos não admirem ou gostem dos artistas.
cubanos não admirem ou gostem dos artistas. cubanos não admirem ou gostem dos artistas.
cubanos não admirem ou gostem dos artistas.
Certa noite, algumas colegas e eu fic
Certa noite, algumas colegas e eu ficCerta noite, algumas colegas e eu fic
Certa noite, algumas colegas e eu ficamos admiradas ao constatar que
amos admiradas ao constatar que amos admiradas ao constatar que
amos admiradas ao constatar que
cantores e dançarinos de música flamenca que se apresentavam em um
cantores e dançarinos de música flamenca que se apresentavam em um cantores e dançarinos de música flamenca que se apresentavam em um
cantores e dançarinos de música flamenca que se apresentavam em um
programa de TV eram os mesmos que pela manhã havia se apresentado em
programa de TV eram os mesmos que pela manhã havia se apresentado em programa de TV eram os mesmos que pela manhã havia se apresentado em
programa de TV eram os mesmos que pela manhã havia se apresentado em
um dos restaurantes no qual almoçamos naquele mesmo dia.
um dos restaurantes no qual almoçamos naquele mesmo dia. um dos restaurantes no qual almoçamos naquele mesmo dia.
um dos restaurantes no qual almoçamos naquele mesmo dia.
Então per
Então perEntão per
Então percebemos que os artistas cubanos além de estarem na TV, também
cebemos que os artistas cubanos além de estarem na TV, também cebemos que os artistas cubanos além de estarem na TV, também
cebemos que os artistas cubanos além de estarem na TV, também
estão nas praças, nas escolas, enfim nos mais diversos espaços sociais. Locais
estão nas praças, nas escolas, enfim nos mais diversos espaços sociais. Locais estão nas praças, nas escolas, enfim nos mais diversos espaços sociais. Locais
estão nas praças, nas escolas, enfim nos mais diversos espaços sociais. Locais
que estão e são abertos e reconhecidos pelos cubanos como uma ‘segunda casa’.
que estão e são abertos e reconhecidos pelos cubanos como uma ‘segunda casa’. que estão e são abertos e reconhecidos pelos cubanos como uma ‘segunda casa’.
que estão e são abertos e reconhecidos pelos cubanos como uma ‘segunda casa’.
Artistas em apresentação na “Plaza de las Armes
Artistas em apresentação na “Plaza de las Armes Artistas em apresentação na “Plaza de las Armes
Artistas em apresentação na “Plaza de las Armes
Habana
Habana Habana
Habana -
--
- Cuba
Cuba Cuba
Cuba
49
Enveredar-me por esses caminhos sensíveis constituintes da minha
subjetividade formativa, tornou-se necessário não para discutir a
importância da arte na formação dos professores, mas principalmente para
compreender melhor a dimensão constitutiva e constituinte dessa formação.
Assim, durante todo o processo que antecedeu e foi concomitante a esta
pesquisa, fui aprendendo a ser pesquisadora, bem como, a ir cada vez mais
ao encontro da cultura e da arte, seja por meio de viagens, idas a museus,
teatros, galerias, apresentações musicais, cursos... e/ou por meio do
encontro com a dança, com o outro, o movimento, a sensibilidade e a
entrega. Andar pelo mundo e prestar atenção nele – (re)significá-lo – e
assumir a responsabilidade de ser um sujeito pesquisador com a pretensão
de compreender a realidade, interpretá-la e contribuir para a sua
transformação eis o desafio que se apresenta a todo e qualquer
pesquisador que a construção do conhecimento é uma obra coletiva,
inacabada, feita por muitas mãos, não estanque, bem como não parada no
tempo e no espaço.
E, por meio de minhas contrapalavras convertidas em texto, imagens,
poesias... a convicção de que nossas memórias estéticas fogem a regra da
sistematização de uma linearidade cronológica. As palavras traem e as
imagens vão para além do que supostamente representam. Enfim, no
compêndio de minhas memórias estéticas, a fidúcia de que a essas não
cabe um ponto final, porque estão em permanente construção...
50
Dos caminhos da pesquisa: A constituição de uma arquitetônica
“As ciências exatas são uma forma monológica do saber: o
intelecto contempla uma coisa e emite enunciado sobre ela.
um sujeito: o cognoscente (contemplador) e falante
(enunciador). A ele se contrapõe à coisa muda. Qualquer
objeto do saber (incluindo o homem) pode ser percebido e
conhecido como coisa. Mas o sujeito como tal não pode ser
percebido e estudado como coisa porque, como sujeito e
permanecendo sujeito, não pode tornar-se mudo;
conseqüentemente, o conhecimento, que se tem dele
pode ser dialógico”. (BAKHTIN, 2003, p. 400)
O filósofo russo da linguagem Mikhail Bakhtin (1895 -1975) não teve como
preocupação criar um método, contudo o conjunto de suas obras e as do
seu círculo, por terem um caráter dialógico, aberto, contribui para a
constituição arquitetônica de uma pesquisa nas Ciências Humanas, por
considerar o sujeito como ativo e não um objeto, uma coisa muda.
No campo da estética bakhtiniana, a arquitetônica é a construção ou
estruturação da obra partindo da sua significação. Integra o material, a
forma e o conteúdo. Pensar os caminhos percorridos por esta pesquisa
dentro dessa concepção e da estrutura do texto aqui sistematizada,
demandou considerar os caminhos metodológicos como uma unidade
advinda de sentidos, estando suas partes articuladas internamente, de um
modo relacional que as tornam interligadas e não alheias umas as outras.
Esta pesquisa caracteriza-se como qualitativa, embasando-se nos estudos de
Freitas (2002a), Amorim (2002), Kramer (2004), entre outros que se apóiam na
abordagem sócio-histórica de pesquisa, utilizando como referencial as idéias
de Vygotsky
13
e Bakhtin.
13
Lev Semyyonovich Vygotsky (1896-1934), nasceu em Orsha, cidade da Bielo-Rússia. Viveu
em um período de profundas opressões e ao mesmo tempo de efervescência intelectual e
de dramáticas transformações históricas. Obteve uma formação sólida, sua família
forneceu-lhe desde cedo um ambiente cultural estimulante, voltado para a poesia, as Artes,
o estudo de línguas etc. Dessa forma, desenvolveu conhecimentos sobre a crítica da Arte, a
51
Os estudos qualitativos com o olhar da perspectiva sócio-
histórica, ao valorizarem os aspectos descritivos e as
percepções pessoais, devem focalizar o particular como
instância da totalidade social, procurando compreender os
sujeitos envolvidos e, por intermédio, compreender também o
contexto [...] leva em conta todos os componentes da
situação em suas interações e influências. [...] não se cria
artificialmente uma situação para ser pesquisada, mas se vai
ao encontro da situação no seu acontecer, no seu processo
de desenvolvimento. (FREITAS, 2002a, p. 27)
Na pesquisa qualitativa com enfoque sócio-histórico, não se investiga
unicamente em relação aos resultados, mas busca-se também a
compreensão dos comportamentos a partir do olhar dos sujeitos da
investigação. Trabalhar dentro dessa perspectiva é, pois, ter a preocupação
de compreender os eventos investigados, descrevendo-os e procurando as
articulações, integrando o individual com o social.
Investigar a formação artístico-cultural dos professores demandou
compreendê-los para além de sua atuação profissional, isto é, percebê-los
como sujeitos culturais, históricos, datados, produtores e produzidos na
cultura, o isolá-los do contexto social ao qual estão inseridas, das diversas
relações que estabelecem, bem como das múltiplas determinações que os
constituem como profissionais da educação e ao mesmo tempo como
sujeitos culturais de direitos.
A obra de Bakhtin configura-se como uma possibilidade instauradora de
interlocução para pensar a postura ética e responsável do pesquisador, mas
também a necessidade de considerar a prática dialógica como promotora
Lingüística, a Filosofia Clássica Alemã (Spinoza, Marx e Engels), Ciências Físicas, Biológicas,
Sociologia e a Antropologia. Vygotsky insatisfeito com o a Psicologia do seu tempo que
cindia entre mente e o corpo, entre os aspectos do subjetivismo e o objetivismo propôs uma
teoria psicológica capaz de conceber consciência e comportamento como elementos
integrados de uma mesma unidade. Apresentou bem mais que uma terceira via, um
caminho que constituía uma verdadeira ruptura, mostrando a necessidade de um
paradigma unificador que restabelecesse a integração ausente. (FREITAS, 2002b)
52
da construção de sentidos e interação das múltiplas vozes que constituem e
atravessam as vozes das professoras pesquisadas
14
.
Na relação alteritária entre os sujeitos (pesquisador e pesquisados),
estabeleceu-se à relação dialógica necessária para a constituição dos
sentidos e dos significados sobre a problemática da formação artístico-
cultural dos professores da Educação Infantil. Sendo que, o pesquisador faz
parte da pesquisa e a neutralidade lhe é impossível, pois suas ações,
relações estabelecidas no contexto do campo causam modificações nas
ações dos sujeitos. Disso resulta o fato do pesquisador estar em processo de
aprendizagem, transformação e educação, (re)significando o campo e
sendo constantemente (re)significado por ele.
Acredito que tais considerações foram pertinentes para as escolhas
realizadas, pois considerar o espaço da Educação Infantil e seus sujeitos
como possuidores de vozes que não devem ser caladas, contribuiu para
demarcar meu olhar de pesquisadora, focalizando o particular como
instância da totalidade social, procurando assim, compreender os sujeitos
envolvidos, seu contexto e suas relações, considerando as múltiplas
determinações que engendram nessa teia de significações.
Quanto à problemática pesquisada o levantamento bibliográfico no banco
de teses e dissertações da Capes e nos Grupos de Trabalho da Anped:
Educação e Infância e formação de professores propiciou um primeiro
contato em relação às pesquisas desenvolvidas em nível de mestrado e
doutorado nas Universidades Brasileiras. Foram idas e vindas, leituras e
releituras dos resumos, de alguns textos, de livros indicados em algumas
pesquisas, aproximações, distanciamentos, escolhas.
14
Ao utilizar a palavra professoras estarei me referindo especificamente às que participaram
desta pesquisa (todas do sexo feminino), sendo que quando estiver discutindo num contexto
mais geral utilizarei professores (masculino e feminino).
53
A pesquisa de campo foi desenvolvida no município de Santo Amaro da
Imperatriz/SC
15
, com doze professoras de um Centro de Educação Infantil
filantrópico que atende 100 crianças na faixa-etária de 0 a 6 anos de idade.
A referida instituição foi escolhida após um mapeamento
16
realizado no
município, visando compreender os espaços de cultura disponíveis, o
número de Centros de Educação Infantil que prestam atendimento a
crianças de 0 a 6 anos e a Proposta de Formação Continuada oferecida
pela Secretaria Municipal da Educação e Cultura. O critério da escolha do
campo foi baseado principalmente pela insipiência de pesquisas em nível de
Mestrado e Doutorado nesse município e por ser este o CEI mais antigo e que
atende ao maior número de crianças.
Entrei em contato com o Centro de Educação Infantil (CEI) pesquisado em
outubro de 2006, apresentando minha intenção de pesquisa. Após receber
uma resposta favorável dos responsáveis pela instituição, organizei dois
encontros um no período da manhã e outro no período da tarde para
apresentar minha proposta de pesquisa e convidar as professoras a
participarem dela.
Com a intenção de investigar os significados e sentidos atribuídos pelas
professoras da Educação Infantil, a sua formação artístico-cultural, utilizei
como instrumentos iniciais: entrevistas com gravação de áudio, observação
sensível em relação aos espaços e os sujeitos que nele estão inseridos
(professoras, crianças e demais funcionários), apontamentos no diário de
campo e a fotografia.
A compreensão da necessidade de não me restringir apenas às entrevistas
fez com que considerasse a estética do espaço como um dos elementos
15
Santo Amaro da Imperatriz, município pertencente à micro-região de Florianópolis,
conhecido como o Vale das Águas Por conta das fontes termais que atraem turistas e
visitantes das mais diversas regiões do Brasil e do Mundo. Está localizado a 35 Km da capital
do Estado, cortado pela Br 282, ligando a grande Florianópolis a Lages.
16
O mapeamento foi realizado em agosto de 2006, tendo como fonte os documentos
disponibilizados pela Secretaria Municipal da Educação e Cultura do município de Santo
Amaro da Imperatriz.
54
dialógicos, que juntamente com os discursos das professoras permitiram a
constituição dos sentidos em relação à formação artístico-cultural das
profissionais. Essa questão pareceu-me interessante porque a partir dela,
abriram-se outras queses necessariamente proeminentes, a qual, mesmo
ao não serem previstas no inicio da pesquisa, o consegui ignorá-las. No
dizer de Albano (1998), esse é o lado fascinante da pesquisa, pois quando
vamos em busca de uma pista, outras se revelam inesperadamente ao
longo do caminho.
A coleta de documentos sobre a instituição, como atas, regimentos, fichas
de matriculas, dados das professoras e crianças atendidas foi realizada de
01/11/2006 à 20/12/2006. A transcrição e revisão das entrevistas, as
entrevistas feitas com a Secretária e a Presidente, as observações em
relação à estética dos espaços ocorreram entre abril e setembro de 2007.
As primeiras questões elencadas em relação à formação artístico-cultural
dos professores da educação infantil, como foi mencionado anteriormente,
estão muito ligadas a minha trajetória pessoal e acadêmica no campo da
Educação e da Arte. Dos diálogos tecidos, das inquietações, da curiosidade,
do poético, do estético, das leituras, da busca pela inteireza... Ao longo dos
caminhos da pesquisa, algumas questões foram se transformando, outras
foram até mesmo descartadas devido ao tempo e pela própria estrutura do
Curso de Mestrado. Assim, aquele desejo inicial de observar a prática
pedagógica de dois professores e cruzá-la com os dados das entrevistas
tiveram que ser deixados de lado
17
.
Ao penetrar na realidade pesquisada não tive a pretensão de neutralidade,
isto é, a suposição de que iria passar despercebida/alheia ás crianças,
17 Essa questão foi revista, tendo por base a orientação da banca de qualificação
(19/06/2007): pois contava com um número elevado de dados a serem analisados e
incluir a observação da prática dos professores poderia abrir outros focos que tomariam
tempo para essa análise, atrasando o andamento da pesquisa. Outro procedimento que
inicialmente havia pensado em realizar, mas que tive que reconsiderar foi à realização de
entrevistas coletivas entre as professoras. Esse encaminhamento não foi possível ser
concretizado devido a algumas determinações instituídas pelo contexto pesquisado.
55
professores e demais funcionários. Os procedimentos metodológicos da
pesquisa foram sendo constitdos por meio do encontro entre alteridades,
isto é, pelas conversas informais, entrevistas, imagens captadas, memórias
reavivadas, pelos encontros e cruzamentos das informações e situações
associadas direta ou indiretamente à pesquisa.
Busquei ter sempre uma postura ética em que o compartilhar de
informações e o posicionamento de idéias não fossem omitidos quando
solicitados
18
. Um olhar e escuta sensível pressupõe acolhimento, o que não
exclui posteriormente uma vigilância epistemológica na realização da
análise. que como pesquisadora jamais se poderá omitir a interpretação
realizada, tendo por base o itinerário de minhas contrapalavras, ao observar
e participar do evento, acabei como que me constituindo parte dele,
entretanto procurei manter sempre uma posição exotópica.
As observações realizadas foram registradas no caderno de campo ao qual
vou me reportar para trazer à tona, no decorrer do texto, alguma situação
ou problemática analisada. Meu registro algumas vezes poético, outras vezes
formal em excesso, fez com que buscasse encontrar um caminho, desviar de
outros que inicialmente me pareceram nebulosos, rever posições, tentar
desnaturalizar algumas afirmações, enfim, aprender e estar aberta a
percorrer caminhos outros que não previstos inicialmente.
As entrevistas individuais e semi-estruturadas foram realizadas com doze
professoras, a Secreria e a Presidente responsável pela instituição,
buscando, em suas narrativas, elementos constituidores e/ou constituintes de
sua formação. Tive como aliado o gravador de voz que possibilitou
posteriormente a transcrição das entrevistas e a revisão das mesmas por
parte dos profissionais, para que modificassem e/ou reestruturassem o que
haviam dito. As professoras escolheram um nome fictício para identificarem
18
Por vezes, as professoras solicitavam informações, textos e/ou opiniões sobre materiais,
livros, músicas etc.; as quais não me furtei em atender.
56
seus discursos
19
, entretanto em relação à Secretária e a Presidente, sempre
que me referir a estas, utilizarei o cargo que ocupam para identificá-las.
Pensar as entrevistas tendo por base as idéias de Bakhtin é considerar-me
como pesquisadora participante desse evento, com minha história,
experiência, formação e vivência em relação ao objeto de pesquisa. Logo,
dentro de uma perspectiva dialógica a interação entre pesquisador e
pesquisados é essencial, compreendendo essa relação – e essas vozes e seus
textos, dentro do lugar e contexto de que estão se referindo.
A entrevista, na pesquisa qualitativa de cunho sócio-histórico,
também é marcada por essa dimensão social. Ela não se
reduz a uma troca de perguntas e respostas previamente
preparadas, mas é concebida como uma produção de
linguagem, portanto, dialógica. Os sentidos são criados na
interlocução e dependem da situação experienciada, dos
horizontes espaciais ocupados pelo pesquisador e pelo
entrevistado. (...) Na entrevista é o sujeito que se expressa, mas
sua voz carrega o tom de outras vozes, refletindo a realidade
de seu grupo, gênero, etnia, classe, momento histórico e
social. (FREITAS, 2002a, p.29)
Um diálogo compreendido não apenas em uma relação face a face, mas
de forma mais ampla considerando também uma relação entre o texto e o
contexto. De que lugar estou falando’? que não posso pensar o objeto
de pesquisa isoladamente, mas no interior das relações que o constituem.
Considerá-lo dentro de suas relações mais amplas é não
desconsiderar/descartar o ato de responsibilidade
20
que tenho diante dele
como pesquisadora.
19
Devido ao contexto da pesquisa, algumas professoras relataram que se sentiriam
constrangidas se adotassem o nome próprio para a identificação das entrevistas.
20
Responsibilidade: denominação que requer explicações. Trata-se de um neologismo em
língua portuguesa proposto por Adail Sobral (2007) que tem como intenção traduzir o termo
Russo, o neológico, otvetstvennost’, que une responsabilidade, o responder pelos próprios
atos, a responsividade, o responder a alguém ou alguma coisa. Segundo a autora o objetivo
é designar por meio de uma palavra tanto o aspecto responsivo como o da assunção de
responsabilidade do agente pelo seu uso, um responsivo responsável que envolve
necessariamente um compromisso ético do agente.
57
O Contexto Extraverbal
O Contexto ExtraverbalO Contexto Extraverbal
O Contexto Extraverbal
21
2121
21
Das Entrevistas...
Das Entrevistas... Das Entrevistas...
Das Entrevistas...
Estou em uma sala reservada para a realização das entrevistas com as
Estou em uma sala reservada para a realização das entrevistas com as Estou em uma sala reservada para a realização das entrevistas com as
Estou em uma sala reservada para a realização das entrevistas com as
profess
professprofess
professoras, espaço este denominado pela instituição como “sala dos
oras, espaço este denominado pela instituição como “sala dos oras, espaço este denominado pela instituição como “sala dos
oras, espaço este denominado pela instituição como “sala dos
idosos
idososidosos
idosos
22
2222
22
”. Um longo salão, com mesas grandes e muitas cadeiras. Nas
”. Um longo salão, com mesas grandes e muitas cadeiras. Nas ”. Um longo salão, com mesas grandes e muitas cadeiras. Nas
”. Um longo salão, com mesas grandes e muitas cadeiras. Nas
paredes muitas fotografias, essas que contam a história do grupo de
paredes muitas fotografias, essas que contam a história do grupo de paredes muitas fotografias, essas que contam a história do grupo de
paredes muitas fotografias, essas que contam a história do grupo de
idosos em seus passeios e festividades...
idosos em seus passeios e festividades... idosos em seus passeios e festividades...
idosos em seus passeios e festividades...
Mas em detrimen
Mas em detrimenMas em detrimen
Mas em detrimento da estética das paredes, portas e janelas, percebo que
to da estética das paredes, portas e janelas, percebo que to da estética das paredes, portas e janelas, percebo que
to da estética das paredes, portas e janelas, percebo que
esse espaço mesmo fechado não aprisiona as vozes, sons e/ou ruídos dos
esse espaço mesmo fechado não aprisiona as vozes, sons e/ou ruídos dos esse espaço mesmo fechado não aprisiona as vozes, sons e/ou ruídos dos
esse espaço mesmo fechado não aprisiona as vozes, sons e/ou ruídos dos
sujeitos que freqüentam, convivem e se relacionam no CEI. Esc
sujeitos que freqüentam, convivem e se relacionam no CEI. Escsujeitos que freqüentam, convivem e se relacionam no CEI. Esc
sujeitos que freqüentam, convivem e se relacionam no CEI. Escuto
uto uto
uto
diversas vozes e
diversas vozes ediversas vozes e
diversas vozes e sons: crianças chorando, crianças cantando,
sons: crianças chorando, crianças cantando, sons: crianças chorando, crianças cantando,
sons: crianças chorando, crianças cantando,
p
pp
professoras e crianças conversando... Mas um dos sons teima em se
rofessoras e crianças conversando... Mas um dos sons teima em se rofessoras e crianças conversando... Mas um dos sons teima em se
rofessoras e crianças conversando... Mas um dos sons teima em se
sobressair a todos os outros, reconheço
sobressair a todos os outros, reconheçosobressair a todos os outros, reconheço
sobressair a todos os outros, reconheço-
--
-o como uma música que escutei
o como uma música que escutei o como uma música que escutei
o como uma música que escutei
certa vez num programa de televisão...
certa vez num programa de televisão... certa vez num programa de televisão...
certa vez num programa de televisão...
Êta mulher chorona! Chora feito uma sanfona ... Chora de amor, chora
Êta mulher chorona! Chora feito uma sanfona ... Chora de amor, chora Êta mulher chorona! Chora feito uma sanfona ... Chora de amor, chora
Êta mulher chorona! Chora feito uma sanfona ... Chora de amor, chora
de paixão,
de paixão, de paixão,
de paixão, chora de saudade...
chora de saudade...chora de saudade...
chora de saudade...
23
2323
23
Enquanto aguardo a professora Júlia para a realização da entrevista,
Enquanto aguardo a professora Júlia para a realização da entrevista, Enquanto aguardo a professora Júlia para a realização da entrevista,
Enquanto aguardo a professora Júlia para a realização da entrevista,
um turbilhão de coisas passa por minha cabeça em relação à pesquisa, o
um turbilhão de coisas passa por minha cabeça em relação à pesquisa, o um turbilhão de coisas passa por minha cabeça em relação à pesquisa, o
um turbilhão de coisas passa por minha cabeça em relação à pesquisa, o
que irei encontrar? Tenho um roteiro, mas não pretendo fechar
que irei encontrar? Tenho um roteiro, mas não pretendo fecharque irei encontrar? Tenho um roteiro, mas não pretendo fechar
que irei encontrar? Tenho um roteiro, mas não pretendo fechar-
--
-me nele...
me nele... me nele...
me nele...
Como agir para não
Como agir para não Como agir para não
Como agir para não intimidar as professoras diante das perguntas que
intimidar as professoras diante das perguntas que intimidar as professoras diante das perguntas que
intimidar as professoras diante das perguntas que
pretendo realizar? E ainda há essa música...
pretendo realizar? E ainda há essa música... pretendo realizar? E ainda há essa música...
pretendo realizar? E ainda há essa música...
Chora quando quer, Chora sem parar, Mulher Chorona, Chega de
Chora quando quer, Chora sem parar, Mulher Chorona, Chega de Chora quando quer, Chora sem parar, Mulher Chorona, Chega de
Chora quando quer, Chora sem parar, Mulher Chorona, Chega de
chorar...
chorar... chorar...
chorar...
Qual a intenção, se é que alguma em relação à música que escuto?
Qual a intenção, se é que alguma em relação à música que escuto? Qual a intenção, se é que alguma em relação à música que escuto?
Qual a intenção, se é que alguma em relação à música que escuto?
Quem a colocou e
Quem a colocou e Quem a colocou e
Quem a colocou e por quê? [...] (Registro do Diário de Campo
por quê? [...] (Registro do Diário de Campo por quê? [...] (Registro do Diário de Campo
por quê? [...] (Registro do Diário de Campo
01/11/2006)
01/11/2006)01/11/2006)
01/11/2006)
21
O contexto extraverbal é o que torna as palavras plenas de sentidos. Segundo Bakhtin
(1976, p.04): “Este contexto extraverbal do enunciado compreende três fatores: 1) o
horizonte espacial comum dos interlocutores (a unidade do visível – [...] a sala, a janela, etc),
2) o conhecimento e a compreensão comum das situações por parte dos interlocutores, e
3) sua avaliação comum dessa situação.”
22
Este é um espaço reservado às atividades do clube dos idosos da comunidade, sendo
que o mesmo se encontra no prédio do CEI pesquisado e está juntamente vinculada a uma
instituição filantrópica que presta atendimentos no município.
23
Depois descobri pela internet que a referida música se chama Mulher Chorona,
composição da dupla: Teodoro e Sampaio, dupla Sertaneja.
58
A compreensão do enunciado acima, com seus sons, ruídos, indagações,
compõe juntamente com a estética do espaço essa que vai para além do
visual O cenário que antecede o movimento da primeira entrevista a ser
realizada por mim e a constituição dos sentidos em relação aos sujeitos que
nele convivem. A compreensão desse enunciado, e de outros, (de outras
entrevistas, cenas, situações, estéticas, falas, pensamentos...)
acompanharam o percurso desta pesquisa e vieram sempre acompanhadas
de uma atitude de responsibilidade.
No percurso da realização das entrevistas, mesmo baseada em um roteiro
não permaneci totalmente presa, amarrada a ele, pois procurei escutar as
professoras, compreendê-las, construir os sentidos, indagando e devolvendo
minha compreensão em relação as suas falas.
Ao transcrever as entrevistas, senti um grande incomodo, que por mais
atenta e fiel às palavras de cada uma das professoras, não foi possível
captar todos os enunciados por mim vividos e identificados inicialmente.
Gestos, pausas, expressões, postura, entonação... Isso significa dizer que um
enunciado implica muito mais do que aquilo que es incluído dentro dos
fatores da língua. Solicita um olhar para outros elementos que o constituem.
Resulta que é impossível abarcar nas transcrições todas as significações
possíveis tal e como ocorreram, tanto do lado do pesquisador como do
entrevistado. “O texto impresso, manuscrito ou oral = a gravado não se
equipara a toda a obra em seu conjunto (ou objeto ‘objeto estético’). A
obra é integrada também pelo seu contexto extratextual.” (BAKHTIN, p.406,
2003).
Bakhtin/Voloshinov em Discurso na Vida e Discurso na Arte”
24
cita que de
maneira alguma o discurso reflete a situação extraverbal do modo como o
24
Esse texto foi originalmente publicado em russo, em 1926, sob o titulo “Slovo v zhizni i slovo v
poesie”, na revista Zvezda 6, e assinada por V. N. Voloshinov. A tradução para o
português, feita por Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza, para uso didático, tomou como
base a tradução inglesa de I. R. Titunik (“Discourse in life and discourse in art concerning
sociological poetics”), publicada em V. N. Voloshinov, Freudism, New York. Academic Press,
1976.
59
espelho reflete um objeto. Os enunciados concretos unem os sujeitos como
co-participantes de um mesmo evento, sendo que a situação extraverbal
está longe de ser meramente externa de um enunciado. Ela não age sobre
o enunciado de fora para dentro, de forma mecânica, mas intera-se ao
enunciado como uma parte constituída e constituinte de sua significação.
Kramer (2004, p.7), discorrendo em relação ao mesmo assunto aponta que
“[...] para entender o que é dito é preciso conhecer não o enunciado,
mas fundamentalmente o contexto da enunciação. [...]”.
Porque segundo a autora, a produção dos discursos, o lugar que as pessoas
ocupam influencia no significado produzido. “Ou seja, o contexto é
importante para entender o texto. Na enunciação, os lugares e as condições
de onde são proferidas as palavras produzem sentidos.” (Idem)
O horizonte extraverbal das entrevistas realizadas, o discurso verbal e os
enunciados foram por mim considerados para que, em relação ao dito,
pudesse indagar em relação ao não-dito. A entonação foi compreendida
como a fronteira entre o verbal e o não-verbal, do dito com o o dito O
discurso entra em contato diretamente com a vida, a entonação é social
por excelência e está susceptível a todas as vibrações da atmosfera social
que envolve os falantes – entrevistador e entrevistado.
Na análise dos dados, optei pela compreensão dos dados em seu conjunto
sem negar a singularidade de cada um dos participantes da pesquisa Isto
é, os contextos de interpretação, o diálogo, infinito e inacabado, o sentido
que não morre, mas é constituído, tecido como uma trama Os fios das
vozes dos teóricos e de minhas contrapalavras como pesquisadora-
professora-aprendiz.
A interpretação como correlacionamento com outros textos e
reapreciação em um novo contexto (no meu, no atual, no
futuro). O contexto antecipável do futuro: a sensação de que
estou dando um novo passo (saí do lugar). Etapas do
movimento dialógico da interpretação: o ponto de partida
60
um dado texto, o movimento retrospectivo contextos do
passado, movimento prospectivo antecipação (e início) do
futuro contexto. (Bakhtin, 2003, p.401)
A coincidência nos discursos dos professores com outros discursos sociais, a
singularidade que distancia uns dos outros, as palavras/respostas mais
freqüentes, a inteireza e a fragmentação. A busca dos significados e dos
sentidos atribuídos a sua formação artístico-cultural, na articulação entre o
macro e o micro, sem descartar as múltiplas relações que engendram a
realidade pesquisada. “Ouvindo as falas, mergulhando nos textos,
atravessando cada transcrição, procuramos captar, compreender, explicar
significados.” (KRAMER, 2004, p.07)
Um enunciado que também é estético. Em relação às imagens, entendo o
meu olhar fotográfico como algo não neutro e omisso, mas constituído e
orientado pela cultura a que pertenço. Lidar com imagens, montar imagens,
catar imagens
25
, discutir sobre elas e com elas, é algo que muito tempo
me fascina, intriga, questiona e constituí. Assim, levei meu olhar para passear
no interior da instituição investigada e por meio da câmera fotográfica,
instrumento iconográfico, criei um outro texto, um texto estético-imagético
que se tornou imprescindível para a captura e constituição dos sentidos e
significados da trama que envolve a problemática investigada.
A fotografia foi empregada/compreendida nesta pesquisa tomando como
referência dois princípios: 1) em algumas situações sucedendo-se ao texto,
anunciando-se como uma explicação adicional/complementar ou como
evidência de um aspecto descrito ou comentado; ou ainda, 2) funcionando
como ponto de partida para uma reflexão. (GURAN, 2000)
Fotografar foi um ato que me provocou durante todo o percurso, fez com
que de certa forma, apurasse meu olhar, perpetuando uma imagem que
25
Expressão utilizada por Fernando Hernández no Livro: Catadores da cultura visual:
proposta para uma nova narrativa educacional (HERNÁNDEZ, 2007), no sentido figurado
atribuído aos catadores contemporâneos nos filmes de Agnès Varda (Les Glaneurs et la
Glaneuse, 2000; Lês Glaneurs et la Glaneuse... Deux Ans Aprés, 2002).
61
contribuiu para comunicar-me algo que inicialmente não havia
percebido/compreendido. A intenção foi a de também compreender a
experiência estética dos professores pelas imagens que o espaço da
instituição oferece, procurando entendê-las no que anunciam e no que
silenciam numa tentativa de leitura de alguns indícios e/ou condição das
subjetividades formativas das crianças e profissionais.
As imagens nos dizem de modo diverso das palavras. Elas nos abrem a uma
forma diversa de compreensão. Não são tão diretas, utilizá-las é ter a
consciência de que sempre podem ser interpretadas de outro modo.
Entretanto essa constatação não invalida sua utilização, pelo contrário
enriquece no âmbito das possibilidades e dos inúmeros sentidos a serem
constituídos em relação à problemática pesquisada.
Para Vigotsky (2003), os sentidos não estão evidentes na imagem, pois ela se
caracteriza como ponto de desvio e não de evidência. O processo de
significação da imagem vincula-se à memória e à imaginação. Logo as
imagens como recortes congelados da realidade são fontes de memória, de
imaginação e de indagação. Significam, suscitam múltiplos sentidos, apóiam
e organizam a consciência individual e social experiências organizadas na
memória e para a memória.
Desse modo, as imagens também foram tratadas como instrumento de
memória/recordação. que, por vezes, as professoras em seus discursos
informais reportaram-se a elas como um indicativo da experiência artística
vivenciada. Um recorte do vivido como fotos, imagens, desenhos, objetos,
obras artísticas... o imagens, sons, aromas evocados pela rememoração,
um esforço: o trabalho da memória na busca por lembranças da
experiência formativa que nos habitam e nos constituem como seres
humanos.
As professoras ao discursarem em relação as suas experiências artísticas
como desenhos, danças, pinturas, colagem, teatros etc.; trouxeram à tona,
62
algumas situações que as marcaram e disseram contar com recordações
como: fotos, ou trabalhos” que fizeram na época em que estudaram.
Algumas dessas imagens foram reproduzidas e serão trazidas ao longo desta
pesquisa para comunicar ou provocar alguma reflexão.
Diante dessas elucidações, as imagens/fotografias incorporadas nesta
pesquisa serão empregadas tanto como texto estético-poético quanto
crítico/indagativo. Logo não serão ocorrências sem importância que
necessitem de constantes notas para justificar o porquê de sua inclusão e
seu lugar no texto. A relação entre palavras e imagens, uma relação
dinâmica, não comporta um significado fixo, unívoco, unilateral, mas
pressupõe a leitura do contexto em que a imagem foi capturada e o sentido
atribuído a ela dentro do texto em que será inserida.
63
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO II
IIII
II
FORMAÇÃO...
FORMAÇÃO...FORMAÇÃO...
FORMAÇÃO...
QUINO, 1999.
64
Neste capítulo, apresento um panorama da formação artístico-cultural do
professor: é o momento da execução do tema por outras vozes (de
pesquisadores) que vêm discutindo sobre a problemática da formação
artístico-cultural dos professores da infância. Nesta seção também procuro
esclarecer o que entendo por formação artístico-cultural, bem como,
exponho outros conceitos que se entrecruzam nessa investigação, tais como
o de arte e cultura. Alerto para o fato de que mesmo esses conceitos terem
sido sistematizados aqui, não se esgotam, pois emergem e são ressignificados
ao longo da dissertação. Sendo que encontrei em Bakhtin e Vygotsky, as
principais referências que em intersecção com outros autores (vozes)
propiciaram essas significações.
Um panorama da formação artístico-cultural dos professores nas
pesquisas
Em relação à temática pesquisada, realizei um amplo levantamento de
pesquisas em universidades brasileiras, no banco de dissertações e teses da
CAPES, nos GT’s Educação e Infância e, Formação de Professores da ANPED,
que me ofereceu um panorama em relação às pesquisas desenvolvidas
sobre a temática da formação artístico-cultural dos professores da infância e
da arte nos espaços educacionais. Com essa aproximação foi possível
entrar em contato com algumas pesquisas, aprofundar questões, (re)visitar
outros textos e tecer várias considerações que contribuíram para a
delimitação do tema e a constituição de sua problemática.
Partindo da leitura de alguns resumos, foram elencadas e lidas na integra
algumas pesquisas essas dialogaram no sentido de enriquecer as discussões
e análises esboçadas ao longo desta incursão. Desse modo, o referido
levantamento o será tratado no texto como secção à parte, que esse
não foi tão aprofundado a ponto de que justificasse tal procedimento. O
65
que no meu entender demandaria a necessidade da realização de uma
outra pesquisa.
De modo geral, em relação à incursão realizada, pode-se aferir que: foram
insuficientes as pesquisas que tratam especificamente em relação à
formação artístico-cultural dos professores da infância. A maioria das
pesquisas refere-se a alguma linguagem artística (teatro, música, dança,
desenho etc.,) e dentro de seu texto apontam como problemática a
formação do professor para desenvolver o trabalho em relação a tal
linguagem. Foram preponderantes os estudos realizados no espaço do
ensino fundamental em detrimento dos realizados no espaço da Educação
Infantil. Essa questão pode ter como uma das suas explicações o fato do
Ensino Fundamental contar em sua maioria com um profissional
especializado na área, enquanto que no espaço da Educação Infantil, isso
seja raro.
No levantamento realizado na CAPES, por meio das palavras-chave:
formação cultural do professor e arte-educação apurados 258 trabalhos.
Destes selecionei 10 pesquisas que mencionaram em seu resumo a
modalidade da Educação Infantil e que tratavam sobre a formação do
professor e sua relação com a arte, bem como a prática com as linguagens
artísticas no interior das instituições. Teses: Giovannoni (1999), Japiassu (2003),
De Lara (2003), Nogueira (2002); Dissertações: Feitosa (1997), Pilotto (1997),
Costa (1998), Gomes (2000), Pontes (2001), Anghinoni (2003). Algumas
considerações esboçadas nessas pesquisas serão mencionadas ao longo do
texto.
Em sua maioria, as pesquisas criticam uma concepção tradicional de arte
que descarta o processo e a vivência de crianças e professores, ressaltando
a relevância da vivência com as expressões artísticas como uma
oportunidade de ampliação dos repertórios e/ou referenciais de professores
e crianças. Essas pesquisas contribuíram no sentido de pensar a educação
do professor para além de uma visão formalista, cognitivista, apontando
66
uma formação que não descarta a necessidade de vivência/experiência
estética, a arte e a cultura para se atuar no espaço da Educação Infantil.
Alertam para o fato de que oportunizar condições para a freqüência a
espaços culturais contribuirá, sobretudo para tornar a prática do professor
mais plural, dinâmica e significativa.
Discutindo alguns conceitos I: Fôrmas, formas (em)formação...
Como mencionado no primeiro capítulo, a concepção de formação aqui
delineada transcende os domínios da escola, abarcando também as
significações da vida pessoal, pois no meu entender, antes de serem
professores são pessoas, possuem trajetórias, experiências e memórias no
âmbito da dimensão artístico-cultural, que rompem com uma possível
limitação desse conceito a esfera dos cursos destinados à sua formação
acadêmica.
Ressalto ainda que o fato desta pesquisa delimitar a temática da formação
artístico-cultural dos professores da Educação Infantil, não significa, de modo
algum que estarei propondo uma educação e/ou formação através da
arte
26
, como se ela pudesse por si só ser suficiente e resolver todos os
problemas da educação, sendo enclausurada no espaço educacional. Tal
como não compreendo que sejam suficientes apenas experiências estético-
artísco-criticas para aqueles profissionais que irão atuar ou atuam no espaço
da Educação. Longe das dicotomias e/ou hiperbolizações, a proposta é
pensar de modo relacional.
26
A proposta de Educação Através da Arte foi difundida no Brasil a partir das idéias do
filósofo inglês Herbert Red (1948) e apoiada por educadores, artistas, filósofos, psicólogos
etc. A base desse pensamento é ver a arte não apenas como uma das metas da
educação, mas sim como o seu próprio processo, que é considerado também criador. Se
caracterizou, muito mais por um posicionamento idealista, direcionado para uma relação
subjetiva com o mundo. Embora tenha tido pouca repercussão na educação formal,
contribuiu com a enunciação de uma visão de arte e de educação com influências
recíprocas.
67
Ao buscar um sentido para a palavra formação, percebi que os termos
vivência e experiência demarcam presença nas suas diversas significações.
Também constatei que alguns autores empregavam, para tais termos,
denominações análogas. Entretanto, ao longo da pesquisa, utilizei à
distinção esboçada por Vygotsky (VYGOTSKI, 1996 ; VIGOTSKY, 2003), para o
qual as vivências estão ocorrendo sempre na relação com o meio de forma
imediata, como feitos concretos, mais ou menos tangíveis e, portanto são
irrepetíveis e únicas. O conjunto dessas vivências ao longo de toda uma
trajetória converte-se no acervo da experiência. Sentido, aqui, não
confundido com o mero somatório das vivências. Porque abarca a dinâmica
complexa, as idas e vindas, as tensões, constâncias e distâncias do vivido.
temos experiência porque vivenciamos. Isso significa que não podemos
hiperbolizar nem uma e nem outra. O que podemos primar é pela
potencialização de nossas vivências, para que tenhamos um rico acervo de
experiências a serem compartilhadas na relação com o outro. A experiência
(perezhivanie) para Vygotsky, faz-se na formação da personalidade, aquilo
que se repetem várias vezes, que envolve sentimento e emoção em todos os
modos socialmente constitutivos frente ao mundo. A experiência como o
resultado daquilo que nos impacta, compreende-se e significa.
Voltando a formação, o conceito bildung
27
, a iia de formação e/ou
constituição do sujeito, o se trata de algo novo, existem variações para as
explicações em torno dessa definição, no dizer de Larrosa (2006), talvez sejam
versões diferentes em torno da questão: Como se chega a ser o que se é
(Nietzshe), e das mais diferentes versões e/ou explicações em torno da
constituição/formação humana. De forma geral, as explicações em relação a
essa questão circulam entre dois pólos, por um lado, apostam na autonomia,
por outro, na adaptação, sendo que, de forma dialética, esses pólos ora se
27
No sentido específico que essa palavra assume em filosofia e pedagogia, o dicionário de
filosofia Abbagnano (1998), indica que formação Bildung (alemão), corresponde o
processo de educação ou de civilização, que expressa duas significações de cultura,
entendida como educação e como sistema de valores simbólicos.
68
aproximam, ora se afastam, compondo assim a dinâmica comum a um
fenômeno social relevante. (NOGUEIRA, 2002)
Diante dessas elucidações, ao tomar por referência um quadro educativo
construído ao longo da história, percebo que esses dois pólos supracitados
permearam e permeiam como modelo de formação. Esse que circunda em
torno da autonomia, da constituição de uma personalidade livre e integrada a
humanidade, e uma outra, que anuncia que o homem deve habitar e dar
continuidade a linguagem e a cultura produzida no mundo. No dizer de Larrosa
(2006), trata-se de dilemas entre a construção individual e o sentido do mundo,
bem como a possibilidade de supe-lo.
No Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis (1998, p. 979), para a
palavra ‘formação’, dentre outros, extraímos os seguintes significados:
Formação (Lat. formatione): 1) Ato ou efeito de formar ou formar-se. 2) Modo
por que uma coisa se forma. [...] 7) Modo como se constitui um caráter ou
uma mentalidade. De maneira geral, esse conceito refere-se à constituição
do ser que será formado; sobre os efeitos e modos de formação; e sobre a
constituição da personalidade que será formada.
Ao relacionar essas definições com a problemática da formação dos
professores, principalmente no que tange a sua formação artístico-cultural,
acredito que as mesmas podem fomentar a discussão em relação ao modo
como está sendo realizada essa formação, das maneiras como estão sendo
organizados os programas/currículos dos cursos de formação de professores
da infância, os tipos de conhecimentos que estão sendo selecionados e os
que são descartados.
Tal como Nogueira (2002) e Ostetto (2004), acredito que a formação
acadêmica não resolverá totalmente os percalços de uma formação
artístico-cultural inconsistente e/ou debilitada, mas isso não omite a
responsabilidade dos cursos de formação de professores e de formação
continuada, frente a uma proposta de trabalho não fragmentada,
69
oportunizando discussões estético-crítico-indagativas, que provoquem aos
futuros professores-pessoas a busca pela intensidade e a inteireza de uma
formação artístico-cultural mais ampla.
Essas não são questões inaugurais, mas idéias fortemente
apontadas/defendidas em estudos anteriores, corroborando o quão são
restritas e/ou frágeis a formação dos professores no Brasil, principalmente no
que tange o exercício de sua cidadania na plenitude do termo. Isso, no
entender de Kramer (2005) seria um desafio que exigiria por parte dos mais
diversos setores assumirem a devida responsabilidade frente ao
reconhecimento e a disseminação da cultura, o que provavelmente
contribuiria para não dicotomização entre conhecimento científico e
artístico.
Larrosa (2006), mesmo que se referindo à experiência de leitura, apresenta
um conceito de formação bastante instigante:
A formação é uma viagem aberta, uma viagem que não
pode estar antecipada, e uma viagem interior, uma viagem
na qual alguém se deixa influenciar a si próprio, se deixa
seduzir e solicitar por quem vai ao seu encontro, na qual a
questão é esse próprio alguém, a constituição desse próprio
alguém, e a prova e desestabilização e eventual
transformação desse próprio alguém. Por isso, não suporta o
imperativo, não pode nunca intimidar, não pode pretender
dominar aquele que aprende, capturá-lo, apoderar-se dele.
(LARROSA, 2006, p.53)
Esse autor contribui com este debate no sentido de desnaturalizar uma
concepção de formação linear e homogênea. Como se houvesse um
caminho traçado e predeterminado que bastasse seguir e alcançar de
antemão. A formação dentro de seus escritos emerge como algo não
normatizado, em que o sujeito só aprende a ler e percorrer o mundo depois
de dissolver os esquemas arraigados e predispostos de interpretação. A
experiência dessa forma é entendida
70
[...] como uma expedição em que se pode escutar o
‘inaudito’ e em que se pode ler o não-lido, isto é, um convite
para romper com os sistemas de educação que dão o mundo
interpretado, configurado de uma maneira, já lido e,
portanto, inteligível. (LARROSA, p.10-11)
Os sentidos das ações e dos fazeres cotidianos, as relações estabelecidas e
interpretações que constituímos e que nos constituem, os afetos, as vivências
que integram o nosso ser são o que nos movem no mundo. As interpretações
aqui, o são compreendidas como passivas, mas negociadas,
reestruturadas, transformadas, estão em movimento e nos movimentam.
Larrosa (2002) nos propõe a pensar esse mundo e a experiência como
discurso e lugar de memória, como capacidade de formação e
transformação, um saber que se por meio das relações estabelecidas em
sociedade. A formação não como um caminho até um objetivo previsto,
mas uma abertura para o que não se pode antecipar “pré-ver” nem “pré-
dizer”. Essa forma de pensar nos desafia a desnaturalizar os esquemas e
linguagens da cultura que nos entregam o mundo de tal forma, tão lidos,
inteligíveis, estabilizados que parecem não permitir uma outra forma de
compreensão e/ou criação.
Embora Bakhtin e Vygotsky não se refiram especificamente à temática da
formação de professores, o modo como conceberam o homem, a arte e
cultura, contribui para discutirmos sobre a constituição do sujeito.
Sobral (2007) aponta que em Bakhtin o sujeito o se perde nas
especificidades generalizantes de classe, tão pouco recai na singularidade
absoluta do eu. Significa dizer que a pluralidade dos homens não encontra
seu sentido na multiplicação quantitativa do eu, mas no complemento
necessário do outro. Uma relação não conformadora, mas tencionada por
no nimo duas consciências, relação eu tu. Ainda que pudéssemos
abranger a consciência do outro dentro dessa relação, nossa própria
consciência a superaria como um dos indícios vindouros de sua
singularidade e não conformidade.
71
Desse modo, estar aberto à experiência do outro, não significa de modo
algum esvaziamento da própria experiência, mas diálogo, tensão,
complexidade, enriquecimento, alteridade. Na relação com o diferente de
mim, o reconhecimento e o distanciamento necessário a minha formação.
Não vou até o outro vazio, vou até o outro embevecido dos elementos da
cultura a que pertenço. Isso pode significar não enriquecimento,
crescimento, mas também fechamento, alienação. Nas relações que
estabelecemos o fugimos dos presumidos (juízos de valores
28
), pois
tomamos sempre por base nosso horizonte espacial e ideacional, esses que
não nos eximem da responsabilidade pelos atos que tomamos frente as mais
diversas situações (Bakhtin, 1976).
Cada um de nós, em sua singularidade apresenta-se frente a
cada situação específica com suas histórias e intenções, mas é
nesta presentificação do contexto que abre espaço para a
ação, para os projetos como devires disponíveis para o que
ainda não foi vivido. (MARTINS, 2006, p.234)
Bakhtin (2003) também se dedicou a compreender a constituição da
consciência e por meio deste estudo, buscou apreender as especificidades
da criação artística. Em o Autor e o Herói na atividade estética
29
, um dos seus
manuscritos iniciais, esboçou certa preocupação com os processos de
formação do eu, apontando que esse processo se pela tríade: eu-para-
mim (como percebo, minha própria consciência), eu-para-o-outro (como
apareço aos olhos do outro) e o outro-para-mim (como percebo o outro),
base do que denomina de sujeito situado. Trata-se especificamente de um
28
A constituição de um juízo de valor, atribuição de valores, não se esgota na experiência
vivida, sendo que a forma de um juízo, seu momento transcendente de composição,
constitui o momento da atividade de nossa razão: somos nós que produzimos as categorias
de síntese. Se o juízo é desligado da unidade histórica do ato-procedimento real, e remetido
para uma determinada unidade teórica, na sua faceta semântica não lugar para o
dever e para o evento real e único do ser. A tentativa de ultrapassar o dualismo é
infecunda. O conteúdo isolado do ato cognitivo se desenvolve por livre arbítrio, lei
autônoma que nos coloca fora do ato pela abstração, como responsáveis e
individualmente ativos. (Cf. GERALDI, 2006)
29
Esse texto foi escrito em meados dos anos 20 e ficou sem conclusão, faltou o manuscrito
do primeiro capítulo, não se conhece o título dado pelo autor (Foi o organizador que o deu
para essa edição). In: Marxismo e Filosofia da Linguagem, Bakhtin (2003)
72
principio dialógico em que o eu, não suporta o acabamento, lançando-se
ao encontro do outro. E por mais que tente olhar a si próprio com os olhos do
outro, na vida sempre supera essa condição ressignificando-a. que não
pode viver do seu próprio acabamento e do acabamento do
acontecimento, porque o que o lança ao ativismo
30
é o princípio do
inacabamento e sua constante necessidade de conhecer. (BAKHTIN, 2003).
Bakhtin (2003) em O Romance de Educação e sua Importância na História
do Realismo aborda o espaço-tempo e a imagem do homem no romance
de formação. Algumas questões que emergem no interior desse texto, longe
de transposições, que o objetivo do autor foi o de discutir a imagem da
personagem e a idéia de mundo nos romances de viagem, podem nos
fornecer alguns indicativos para nos posicionarmos contra uma idéia de
formação, sujeito e de mundo estáticas.
Formava-se o homem e não o próprio mundo: o mundo, ao
contrário, era imóvel ponto de referência para o homem em
desenvolvimento. A formação do homem era, por assim dizer,
assunto pessoal dele, e os frutos dessa formação também
eram de ordem privado-biográfica: no mundo tudo
permanecia em seus lugares. (BAKHTIN, 2003, p.221-222)
Em contraposição a essa idéia de formação e de mundo, Bakhtin (2003)
apresenta uma idéia de formação que está totalmente inter-relacionada
com uma formação histórica. Uma formação que deve se efetuar no tempo
e no espaço histórico e real, com suas necessidades/expectativas, com suas
projeções, criações, imaginações, em toda a sua inteireza. Uma formação
profundamente de caráter cronotópico, em que o homem se forma
concomitantemente com o mundo, uma relação dialógico-responsiva em
30
Segundo Paulo Bezerra, tradutor de Estética da Criação Verbal (2003) aktívnost é
derivado do Latim activus, traduzido muito freqüentemente como “atividade” sendo que
atividade em russo: deiátielnost,aparece muito em Bakhtin como o exercício de alguma
ação, o desempenho de alguma função atividade estética, por exemplo, sem a
necessária intensidade. o termo aktivnost significa atividade enérgica, ação intensa do
sujeito sobre o objeto. Por essa razão durante a tradução utilizou para aktivnost o termo
‘ativismo’ por considerá-lo efetivamente apropriado.
73
que o homem “[...] é obrigado a tornar-se um homem, ainda inédito”
(BAKHTIN, 2003, p.222). Assim, essas transições se efetuam nele e através
dele – uma formação como acontecimento.
O todo do homem em relação indissolúvel com os respectivos momentos de
sua vida é o eixo da queso bakhtiniana. Por isso, não corresponde a um
futuro em termos privado-biográfico, mas históricos, datados e produzidos
nas relações que são tecidas por esses sujeitos que se lançam ao encontro
do mundo, produzindo e sendo produzidos nessa relação.
Tal como Bakhtin, Vigotski (2001) compreende o sujeito o como produto
dos fenômenos internos, tão pouco como reflexo do meio. O sujeito se
constitui na relação com o outro, em sua incessante interação com um
contexto social e cultural que influi sobre ele, mas não se sobrepõe a ele. Na
relação com o outro, o diferente, a significação e a constituição dialética do
ser. A realidade significada é o meio do desenvolvimento psicológico
superior do sujeito. Assim, dialeticamente o sujeito transforma o meio e é
capaz de transformar-se a si próprio na relação com aquele. Essa
transformação não ocorreria, se o mesmo não vivesse em sociedade,
produzindo signos e estabelecendo relações com o outro.
Guillermo Arias Beatón, pesquisador cubano, interpretador de Vygotsky,
aponta que:
[...] el contenido psicológico no es un producto solo de las
condiciones sociales, culturales o ambientales, ni tampoco un
producto de las fuerzas internas de los procesos psicológicos o
producto de esquemas iniciales o condiciones a priori de la
psicología humanas. Es esencialmente un proceso que se
produce en la unidad dialética y en la interdependencia de
las condiciones que dan lugar al surgimiento del contenido
psicológico humano. (BEATÓN, 2005, p.23)
A afirmação acima nos indica que não podemos considerar a consciência
como um receptáculo de signos, mas o resultado deles. Portanto,
74
pensamento e consciência não podem ser tratados como emanação de
características funcionalistas internas, mas pelo contrário são fortemente
influenciados e constituídos pela dinâmica de um ambiente social produto
de determinações hisrico-culturais produzidas.
Essa compreensão em relação ao sujeito pode nos levar a esboçar uma
idéia de formação/constituição do professor, sustentada pelo não
acabamento, pela não linearidade, isto é, a não presunção de que todos
vão dar as mesmas respostas, gostar das mesmas coisas, pensar do mesmo
modo. Lançar-se ao encontro do outro, compartilhar experiências não
significa passividade, conformidade, homogeneidade, transposição de
consciências. O que faz com que eu pense deste e não de outro modo? O
que me motiva a gostar disso e não daquilo? Daí a importância de
refletirmos essas e outras questões sempre de modo relacional, considerando
o contexto em que os sujeitos estão imersos. Trata-se de analisar as reais
condições e oportunidades oferecidas, sem eximir ou culpabilizar os sujeitos,
como que subestimando sua capacidade crítica frente à realidade que se
apresenta.
Com Vigotsky (2003), aprendemos que o ser humano é um produto pessoal
do seu tempo, dos feitos que realiza e influem sobre ele, do modo como
cada ser particular vivência, interpreta e conceitua o mundo e a si mesmo.
O ser humano como produtor e produzido das relações e condições
históricas que determinam essa condição. Mas, não como um processo de
assimilação direta, linear e/ou mecânica da experiência social e cultural,
pois do mesmo modo que esta determina, contribui também para manter,
transformar e/ou superar essa condição.
Beatón (2005) menciona que a formação do sujeito em Vygotsky se
apresenta como um processo muito complexo, que tem sua origem ou fonte
nas condições e na organização social e cultural que influi sobre o sujeito ao
longo de sua trajetória pessoal, mas que se produz definitivamente, como
75
resultado da acumulação de sua experiência individual, a partir de suas
vivências.
Estas vivencias y experiencias son de naturaleza y contenido
efectivo cognitivo, consciente e inconsciente, social e personal
o individual y como precisa Vygotski tienen una orientación
biosocial, relacionando el medio con la personalidad.
(BEATÓN, p.116).
Tomando como referência o que foi dito até aqui, podemos dar visibilidade
a uma concepção de formação artístico-cultural que não vislumbra a
prescrição, a homogeneização, a linearidade, uma formação que não
aprisiona os sujeitos a fôrmas, regras, modos de ser, sentir e estar no mundo.
Temos trajetórias diferentes o que não quer dizer que possamos justificar
nosso interesse ou não por certa área de conhecimento como dado/natural.
A questão é bem mais complexa do que a simples ordem das preferências
e/ou escolhas, pois como tão bem expressa
(BAKHTIN, 2004, p.11):
Para entrar na história é pouco nascer fisicamente: assim
nasce o animal, mas ele não entra na história. É necessário
algo como um segundo nascimento, um nascimento social.
[...] Todas as tentativas de evitar esse segundo nascimento o
social e deduzir tudo das premissas biológicas da existência
do organismo são irremediáveis e estão condenadas ao
fracasso: nenhum ato do homem integral, nenhuma formação
ideológica concreta (o pensamento, a imagem artística, ao
conteúdo de um sonho) pode ser explicada e entendida sem
que se incorporem as condições socioeconômicas.
Discutindo alguns conceitos II: Uma idéia de formação artístico-
cultural
Quando me refiro a uma formação artístico-cultural, estou me reportando a
uma formação que trata especificamente enquanto recorte dos elementos
da cultura que são considerados e/ou qualificados como artísticos. Neste
sentido, não estou tratando, nesta pesquisa, sobre todos os elementos da
76
cultura, que também são igualmente necessários e importantes à
constituição dos sujeitos. Poderia até soar redundante a expressão artístico-
cultural, que é de se pressupor que tudo o que é artístico é, por certo,
cultural. Entretanto, nem sempre essa questão é considerada ponto de
consenso, que ainda convivemos com posturas e crenças que sustentam
que a arte é um dom, fruto dos gênios e que é por geração espontânea.
Desse modo, reafirmo a necessidade de utilizar o binômio artístico-cultural,
sem a intenção de prescrever uma oposição e/ou fragmentação dessa
expressão. A idéia de formação artístico-cultural defendida nesta pesquisa
vai, portanto, além de uma possível dicotomia entre o que é artístico e o que
é cultural. Ela busca aproximação em relação à alusão da temática aqui
esboçada enquanto termos passíveis de serem separados como categorias
de análise.
Ao procurar uma concepção de cultura e arte que em intersecção com as
significações tecidas sobre experiência, vivência e formação orientasse esta
pesquisa, verifiquei uma ampla flutuação semântica para a palavra cultura.
Foram-lhes atribuídos diferentes significados que vão desde uma perspectiva
mais global, a uma mais particular. Desde cultura como modo de produção
humana (tudo o que não é da natureza), até as formas particulares e
específicas de cada sociedade (cultura Guarani, cultura Inca, cultura
Maia...).
Não pretendi dar conta de todo esse debate, que o mesmo seria amplo e
não constituiu foco central desta pesquisa, mas entendo ser necessário
aprofundar e assumir uma concepção de cultura não preconceituosa e
elitista, visão esta que no meu entender contribuiu para a não culpabilização
dos sujeitos pesquisados, bem como para a sistematização desta pesquisa.
Mantendo a coerência do referencial aqui adotado, busquei nas obras de
Vigotski e Bakhtin os sentidos para a compreensão de uma concepção de
cultura que em articulação com outros autores e conceitos possibilitem a
77
compreensão dos sentidos e significados em relação à temática aqui
delimitada.
Do ponto de vista etimológico, a palavra cultura é uma transposição para o
português do termo latino cultura; substantivo derivado do verbo colere,
cuja significação “trabalhar a terra” nos remete ao campo da produção
humana. Produção material em primeiro lugar, mas também, em sentido
metafórico, a produção mental, como expressão cultura mentis (cultivo da
mente). (PINO, 2005a).
Atualmente no conjunto das mais diversas definições ou formas de conceber
a cultura, constata-se que seus conceitos e compreensões estão
intimamente imbricados com o desenvolvimento da modernidade. Também
se tem tentado relacionar o conceito de cultura de maneira direta ao saber
e aos conhecimentos, inclusive com os índices de escolaridade. Hoje
praticamente não se fala de cultura no singular, mas de culturas, para
designar uma pluralidade de manifestações e contextos em que elas são
produzidas. As culturas também são relacionadas às etnias, aos povos, aos
costumes etc. Alguns desses enfoques chegam a pregar a defesa de manter
cada povo em sua cultura, reivindicando um suposto respeito pela cultura
do outro.
Beáton (2005) afirma que essas ‘cruzadas’ culturais, de modo algum tentam
compartilhar valores culturais, todavia, simplesmente, procuram eliminar uns
para impor outros, são por vezes muito mais ‘cruzadas’ da intolerância, do
não respeito e da incompreensão, baseadas numa suposta superioridade
cultural. Ainda segundo esse autor, os que se supõem superiores não
enxergam, e não se dão conta de que é extremamente importante a
criação e a compreensão da diversidade, pois essa é condição para a
unidade e a universalidade da cultura.
Vygotsky em seus escritos não se deteve a elaborar uma definição precisa
do que compreende por cultura. Mas ao longo de suas produções/reflexões
78
é possível aferir o que tal autor compreende em relação a esse conceito.
Beatón (2005, p.168), aponta que em Vygotsky, a concepção de cultura
“[...] es la más general que se puede aplicar al considerar, todo aquello que
ha creado o construido el ser humano en sus años de formación de la
sociedad humana”. Aponta ainda que o papel do cultural para Vygotsky
esteja intimamente imbricado/relacionado ao desenvolvimento e formação
das funções psíquicas superiores. Um ‘cultural’ que é produzido nas relações
e que influi sobre a constituição/formação dos sujeitos, de sua
autoconsciência e de seu juízo crítico.
Para Vygotsky, a idéia de cultura está relacionada a tudo aquilo que não é
da natureza, porém é produto da criação humana, ou seja, tudo aquilo que
não encontramos de forma natural e que o homem teve que construir para
poder adaptar-se ao meio e as suas possibilidades. Um cultural que permitiu
ao homem, ao longo dos tempos, dialogar, constituir e/ou formar novas
necessidades e vivências, o resultado de suas fantasias, idéias e criações que
foram e são constantemente materializadas, significadas e memorizadas por
meio de suas interações e relações, dentro do contexto histórico-cultural em
que está inserido.
Para Bakhtin (2003) e (1987) a cultura é movida pelas práticas culturais, pelas
posições axiológicas e responsivas das relações socioculturais dos sujeitos
que as constituem. O ato cultural é constituído pela experiência dessas
representações e manifestações frente à temporalidade em que se situam
os sujeitos. Um fazer histórico, valorativo e social, construído nas e pelas
relações e representações estético-culturais dentro de um cronotopo, no
qual os sujeitos organizam e hierarquizam convencionalmente os elementos
que compõem e representam à cultura.
Diante das questões discutidas até aqui, pode-se dizer que almejar um
projeto de formação artístico-cultural que ultrapasse o limiar da
normatização, da escolarização, corresponde a um desafio àqueles que
79
estão envolvidos direta e indiretamente com a educação. Penso que o
grande tempo da cultura deve demonstrar o compromisso da práxis com a
manifestação viva das relações sociais. Reivindica-se uma cultura que
ultrapasse a compreensão da acumulação e materialização de signos, mas
que seja concebida como produto das relações e interações humanas em
sociedade, culturas emersas em contextos de interações dialogicizadas não
apenas pela palavra, mas pelo pensar e o agir de sujeitos situados.
No dizer de Gusmão (1999, p. 46):
[...] a cultura e seu movimento incorpora uma outra dimensão,
que é seu caráter de mediação, ou seja, aquilo que faz com
que as condições objetivas de vida sejam expressas pelos
sujeitos sociais, não pelo que de fato são e representam, mas
pela forma pela qual o próprio real é significado, percebido e
interpretado.
Na cultura, tanto a experiência quanto as representações são datadas e
significadas pelas relações em sociedade. Ela é de base social, mesmo que
ao longo da história, na vida em sociedade o homem em suas relações
tenha transformado a natureza, projetado e materializado os produtos da
sua imaginação e/ou criatividade. Acredito que não é admissível considerar
a cultura como um mundo à parte, um mundo de relações fragmentadas. A
cultura não é um mundo autônomo o qual devamos apenas incorporar,
como se ele fosse dado de antemão e não se participasse de sua
elaboração. Penso que as organizações culturais se movem dentro de uma
atmosfera axiológica intensa de inter-determinações, estas que não podem
sonegar aos sujeitos, o ativismo
31
consciente dentro desse processo
historicamente constituído.
Bakhtin não apresenta um conceito fechado de cultura, para ele a cultura é
uma unidade aberta não um sistema fechado em suas possibilidades. Toda
a sua obra está pautada por um princípio de dialogicidade. Suas críticas em
31
No sentido bakhtiniano de compreensão.
80
relação à cisão entre a vida e a cultura, isto é, entre a realidade e a sua
representação nos alertam para o fato que a cultura (representação) se
funda na vida, no mundo ético e o pode ser descolada desse. Como se
fosse um mundo a parte, autônomo. Compreender a cultura dentro do seu
sistema de pensamento exige a inserção/compreensão desse mundo real,
isto é, no contexto em que ela é/foi/está sendo concebida. Dessa forma, a
cultura transforma as relações, e as relações transformam a cultura.
Os sentidos em relação à formação, vivência, experiência e cultura
sinalizados aaqui provoca-nos a refletir sobre a idéia do que é arte e do
status de artístico que aprendemos a constituir ao longo dos espaços
educacionais (e outros espaços institucionais) que freqüentamos. De uma
significação extremamente atrelada às hierarquizações das disciplinas, dos
conhecimentos que receberam/recebem maior atenção e/ou status no
currículo. Por exemplo, desde cedo aprendemos o lugar e/ou status de
disciplinas como a Arte e a Educação sica, em detrimento da Matemática
e do Português. As primeiras associadas quase sempre ao lazer e as
festividades, as segundas a uma ‘cientificidade’ e/ou complexidade dos
cálculos e/ou das regras.
Em relação a essa questão, Ostetto e Leite (2004) apontam que mesmo a
arte possuindo como mola propulsora a transgressão, no espaço
educacional, ela é normatizada e regulada por expectativas e ações de
comportamentos padronizados e homogeneizantes. O trabalho com as
linguagens artísticas apresenta-se geralmente limitado às amarras de um
currículo cerceador, que restringe e/ou ‘espreme’ sua presença, entre uma e
outra disciplina, considerada mais ‘científica’ e, portanto, bem mais legítima.
também casos em que a arte é trazida à tona, para tornar mais
‘prazeroso’ e menos ‘árido’ o fazer pedagógico e os conhecimentos
considerados mais complexos.
O pensamento de Bakhtin pode nos ajudar a compreender essas formas de
oposição/cisão, nos diferentes campos da cultura. Em Para Uma Filosofia do
81
Ato
32
e Arte e Responsabilidade
33
, buscou demonstrar dentre outras coisas, os
danos da dissociação entre arte e cultura, sensível e inteligível, conteúdo e
processo, teórico e prático. O pensamento bakhtiniano propõe a não-cisão
e sobreposição entre nenhum desses termos, pois a esses não cabem
oposições, que se constituem dialogicamente, não nos competindo
privilegiar e/ou recusar nenhum desses como elementos necessários a
significação/constituição do mundo, do homem e das relações/interações.
Para Bakhtin (1993) e (2003) arte, ciência e vida, adquirem unidade no
indivíduo que os incorpora à sua própria unidade. Denomina de todo
mecânico se alguns de seus elementos permanecerem unificados no
espaço e no tempo por uma relação externa que não os penetre na
unidade do sentido. Assim, uma das grandes oposições que geralmente
encontramos ao longo de nossa existência – ciência/arte nada mais são que
modos de objetivação e, como tais, compõem um momento da cognição
do mundo. Ocupam um lugar essencial e especial, no entanto, restrito, o
podendo ser tomados isoladamente, ou como totalidades da realidade,
estas que não devem ser compreendidas como imanências (em si e por si).
O mundo que é conhecido teoricamente não é o mundo por inteiro, mas um
mundo que tem leis próprias, pois se referem ao universo do possível.
Logo tanto a ciência como a arte tomadas isoladamente são incapazes de
explicar e apreender a eventicidade e o devir. Temos que encontrar o ponto
de intersecção entre essas formas de conhecimento. Isso pressupõe pensar
eticamente e veridicamente, uma ação responsável não deve se opor à
32
Trata-se do mais antigo dos textos confirmado de Mikhail Bakhtin, datado de 1919-1921,
um texto não acabado e/ou preparado para publicação. Segundo nota do Prefácio da
edição americana escrito por Michael Holquist: Era difícil ler o manuscrito original, não
apenas pelos estragos do tempo, mas também porque, na sua maior parte, foi escrito com
pressa, com algumas partes mais claras sob a letra de sua esposa, que transcrevia o ditado
do marido durante os períodos em que sua doença óssea impedia-o de escrever com a
própria mão. (Bakhtin, 1993)
33
É uma das primeiríssimas manifestações de Bakhtin na imprensa, publicada pela primeira
vez no almanaque diário O dia da arte (Nevel, 1919, 13 de setembro, pp. 3-4). Em Nevel, o
autor morou e trabalhou em 1918-1920, após o término de seus estudos na universidade de
Petersburgo. (Notas – Bakhtin, 2003)
82
teoria e ao pensamento, bem como não pode tomá-los como realidade
e/ou verdades absolutas, mas como momentos necessários para a
constituição desta. O que garante o nexo interno dos elementos do indivíduo
é a unidade da responsibilidade, pelo que vivenciou e sentiu. Assim sendo,
Bakhtin com seu pensamento, de um golpe, refuta a idéia da “arte pela
arte”, o realismo socialista e a dialética do marxismo vulgar vigente na União
Soviética de seu tempo. Além de outras tendências “parciais” que o
pensamento bakhtiniano não cessa de criticar e de superar por meio de
propostas integradoras, sem relativismos nem absolutismos.
A arte foi constante na vida de Bakhtin, pois ele se dedicou quase que
exclusivamente aos estudos literários. Além de uma nova psicologia, uma
nova poética, também desejou uma nova estética. Uma estética não
fragmentada que não hiperbolizasse um ou outro aspecto da forma,
conteúdo e/ou material. Vigotski (2001) em seus estudos sobre a psicologia
da arte, compreende a forma como elemento dinâmico o que o aproxima
de Bakhtin, ambos contrários aos formalistas Russos
34
. Esses que definiram a
forma como elemento vivo à qual se opõe um conteúdo passivo. Cabe
observar que os dois chegaram a essa percepção praticamente semelhante
a partir da reflexão sobre procedimentos do formalismo. (FREITAS, 2002)
Bakhtin (2003) compreende a arte como produto do gênero humano, em
que se orquestram as mais diversas nguas, representações e imagens
criadas pelo autor-criador-contemplador. Em seu entender, a arte não pode
ser tratada como produção/criação imanente, descolada do social, mas é
de base social, situada e datada no tempo e no espaço. Na arte,
encontramos elementos da vida, mas ela não é a própria vida, mas uma
34
O Formalismo russo ou Escola Formal – denominados assim, um grupo de críticos, de
lingüistas e de escritores russos do séc. XX. Os formalistas mantêm relações incertas com o
marxismo e o dominam as instituições. Para os mesmos, a arte e a literatura se definem
não por servirem a fins externos, mas por encontrarem sua justificação em si mesma. Os
formalistas rejeitam qualquer psicologismo na construção de uma teoria da arte. E
estudavam a forma artística como algo absolutamente objetivo e independente das idéias
e sentimentos que lhe integram a composição e de qualquer outro material psicológico.
Bakhtin (2003) e Vigotski (2001).
83
representação sensível dessa. Em relação a essa questão, Vigotski (2001) e
(2004) aproxima-se de Bakhtin quando problematiza que a verdade da arte
e a verdade da realidade são de uma relação estritamente complexa.
que a arte emerge sumariamente transfigurada a tal ponto que não
qualquer possibilidade de transferir fidedignamente o sentido dos fenômenos
da arte para os fenômenos da vida.
Pensamento e sentimento é que movem à criação humana, o sentimento
mais sincero por si só não se transforma em arte. É necessário para além do
sentimento um ato criador, uma ação do homem que transforme e supere
essa condição inicial. A arte só se materializa quando conseguimos vencer
esse sentimento. É um ato de criação que envolve a cognição e a
linguagem utilizada para expressá-la. Os sentimentos fazem parte da obra
de arte, mas não se transformam nela, é necessária uma ação humana, que
plasme esse sentimento, desvelando nele algo novo, uma condição mais
elevada.
Vigotski (2004) revela discordar de uma pedagogia tradicional que segundo
o mesmo, reduz e/ou descarta o sentido educativo das vivências estéticas
na formação dos sujeitos. O que não quer dizer que compactue com
aqueles que exageram em relação aos sentimentos e emoções estéticas,
pois estes não podem ser confundidos e empregados como recursos
pedagógicos para resolver problemas complexos e difíceis da educação.
Para ele trata-se de um
[...] equivoco cometido pela pedagogia tradicional quando
reduz a estética ao sentimento do agradável, ao prazer pela
obra de arte e vê nela um objetivo em si, noutros termos, reduz
todo sentido das emoções estéticas ao sentimento imediato
de prazer e alegria que elas suscitam [...] (VIGOTSKI, 2004, p.
331).
Tendo por base as idéias de Bakhtin e Vygotsky em relação à arte, sem
perder de vista o contexto em que foram constituídos ambos os
84
pensamentos, ainda não é de se surpreender que existam aqueles
considerem a arte como imanência, como um recurso para se trabalhar
outras áreas do conhecimento, ou ainda um meio de provocar e/ou
despertar certas emoções. Devemos assumir que a arte como uma
produção humana, constituída socialmente, traz especificidades por vezes
diversas daquelas caracterizadas como escolares (em sua versão
tradicional), mas essências dentro de um projeto de formação que considere
o ser em sua inteireza.
Diante das considerações a aqui esboçadas, compreendo a arte como
um produto concreto e material da subjetividade humana, ou seja, uma
cristalização de um processo histórico-cultural que insufla e contribui de
forma peculiar para a constituição e expressões humanas dentro da
convivência em sociedade. O ser humano expressa toda a sua capacidade
imagética e criativa construindo e sublimando sentimentos de
pertencimento e de identidade. Sejam por meio de pinturas, desenhos,
dramatizações, esculturas, literatura e/ou poesias etc.
Uma formação por inteiro baseia-se no propósito de levar a todos,
independente da profissão ou posição ocupada na sociedade, o direito e
garantia de acesso às diferentes manifestações da arte, da ciência e da
tecnologia. Esse princípio é possível identificar nos escritos de Vygotsky e
Bakhtin (mesmo que não denominado deste modo pelos autores). Vygotsky
foi um defensor deste projeto, que teve enquanto trajetória constitutiva o
amor pela arte e a cultura em geral, questões estas que foram de certo
modo ‘cultivadas’ e/ou estruturadas em seu meio familiar, bem como nas
diversas relações que estabeleceu e desenvolveu intensamente ao longo do
curto tempo de sua vida. Bakhtin ao propor a unidade do sujeito pelos três
campos da cultura ciência, arte e vida nos fornece a mesma indicação
de inteireza defendida nesta pesquisa. De que uma educação por ‘inteiro’
não pode sonegar todos os momentos constitutivos do ser que os incorpora
na unidade de sua responsibilidade.
85
CAPÍTULO
CAPÍTULO CAPÍTULO
CAPÍTULO III
IIIIII
III
O CONTEXTO: OLHAR O MUNICÍPIO...
O CONTEXTO: OLHAR O MUNICÍPIO...O CONTEXTO: OLHAR O MUNICÍPIO...
O CONTEXTO: OLHAR O MUNICÍPIO...
ADENTRAR NO CEI... PARA PENSAR A
ADENTRAR NO CEI... PARA PENSAR A ADENTRAR NO CEI... PARA PENSAR A
ADENTRAR NO CEI... PARA PENSAR A
FORMAÇÃO...
FORMAÇÃO...FORMAÇÃO...
FORMAÇÃO...
“Não se pode traçar limites absolutos para a cultura. Logo é
falso acreditar que se compreende uma cultura simplesmente
mergulhando dentro dela. Pelo contrário, um observador
enxerga a cultura alheia quando se coloca de um ponto de
vista exterior a ela. Isso é o que Bakhtin denomina
extraposição. É no contracampo que surge, a compreensão
responsiva.”
(MACHADO, 2007, p. 160 )
86
Ao buscar compreender o contexto em que as professoras pesquisadas
vivem e trabalham, percebi que seria necessário olhar o município, para
além das superficiais aparências/impressões imediatas. Dessa forma,
considerei o contexto pesquisado como uma unidade aberta e não um
sistema fechado em suas possibilidades. O passado (a história), para além de
um saudosismo, ou uma mera sucessão harmônica de fatos que expliquem o
presente, foi tratado como uma unidade de sentido, que sempre pode ter a
dizer sobre o presente. que a história não é como uma roupa suja que se
possa tirar (Cf. GERALDI, 2006) e muito menos uma camisa de força que
sentencia os sujeitos a um futuro pré-determinado.
Um olhar extraposto, onde o limites absolutos para sua análise, que
sejam explicados em si e por si. Pelo contrário, demandou um olhar
exotópico, um excedente de visão que transcendesse o proclamado,
permitindo um limiar de tensão entre pelo menos dois lugares: entre
aquele(a) que vive e olha de onde vive, e o daquele(a) que, estando fora
da experiência do primeiro, tenta mostrar o que do olhar do outro, uma
posição axiológica que demanda uma atitude de responsibilidade.
(BAKHTIN, 2003).
Dessa forma, neste capítulo procuro apresentar o contexto em que ocorreu
a pesquisa, contexto este entendido e estendido para além da relação
direta com as professoras, suas memórias, histórias trajetórias artístico-culturais
e espaço de atuação profissional. A intenção é a de pensar o contexto em
relação a outros textos e contextos, isto é, em relação à constituição das
subjetividades formativas de sujeitos situados e datados.
As três idéias/questões centrais deste capítulo são:
Olhar o Município Situo o município de Santo Amaro da Imperatriz para
além da sua geografia e das tão proclamadas belezas naturais
35
. Procuro no
35
Refiro-me as exaltações e apresentações costumeiras nos meios de comunicação que
sempre se reportam ao município como uma localidade de ricas belezas naturais.
87
diálogo com a paisagem que se transforma, na estética indagadora e no
estabelecimento de um olhar estrangeiro
36
, fazer algumas articulações
necessárias que possam viabilizar conexões que contribuam para responder
as questões elencadas durante o processo da pesquisa.
Adentrar no CEI Apresento o espaço de trabalho das professoras
pesquisadas, bem como as primeiras impressões sobre esse local. Um local
que tem uma história a qual não pode ser descartada, perdida no passado.
Assim, a mesma será trazida à tona, como uma possibilidade de se
estabelecer as redes de conexão necessárias para a contextualização deste
espaço.
Pensar a Formação Esta é uma das questões da pesquisa que
atravessará este capítulo, alimentando e construindo nexos com o restante
do texto da dissertação. Nesta sessão, têm-se como meta suscitar o olhar,
estabelecendo critérios estéticos indagativos, rompendo com idéias e
imagens impostas ao olhar e as formas de olhar, projetando o desejo por
uma curiosidade cultural que se supõem perdida/adormecida/esquecida.
36
Denominação utilizada por Miriam Celeste Martins que designa um olhar surpreso, que
estranha o familiar, tal como torna familiar o que lhe parece estranho. Uma inquietude, que
impulsiona na curiosidade e no desejo que instiga a conhecer mais os enigmas e as belezas
escondidas das paisagens, das obras de arte, dos objetos, da vida. (MARTINS, s/d)
.
88
O Texto e o Seu Contexto: O que a Município Oferece?
Sobre as formas d
Sobre as formas dSobre as formas d
Sobre as formas de olhar
e olhare olhar
e olhar
37
3737
37
...
......
...
Cachoeira “Cobrinha de Ouro”
Cachoeira “Cobrinha de Ouro” Cachoeira “Cobrinha de Ouro”
Cachoeira “Cobrinha de Ouro”
Santo Amaro da
Santo Amaro da Santo Amaro da
Santo Amaro da
Imperatriz
Imperatriz Imperatriz
Imperatriz
– fonte:
fonte: fonte:
fonte: www.flickr.com
www.flickr.comwww.flickr.com
www.flickr.com
[...] Santuário de rara beleza
[...] Santuário de rara beleza[...] Santuário de rara beleza
[...] Santuário de rara beleza
Onde a natureza é fonte de fé e
Onde a natureza é fonte de fé e Onde a natureza é fonte de fé e
Onde a natureza é fonte de fé e
inspiração
inspiraçãoinspiração
inspiração
Roda baiana para saudar Pai Oxalá
Roda baiana para saudar Pai OxaláRoda baiana para saudar Pai Oxa
Roda baiana para saudar Pai Oxalá
Das águas doces Oxum é o Orixá [...]
Das águas doces Oxum é o Orixá [...]Das águas doces Oxum é o Orixá [...]
Das águas doces Oxum é o Orixá [...]
Olhar o município de Santo Amaro da Imperatriz
38
com a inquietude de
quem contempla sem perder a postura e o julgamento crítico daquele(a)
que observa para além das supostas aparências. Olhar o município e saber-
se olhado por ele, estabelecendo critérios estéticos indagativos sem perder a
sensibilidade necessária a toda e qualquer descrição que não se pretende
prescritiva. Para isso, no dizer de Hoyuelos (2006, p. 32) “es necesario que se
rompan as barreras de lo obvio, de los conceptos manidos y habituales, de
las rutinas establecidas, del destino anticipado.” Uma estética do conhecer,
da indagação, da comunicação – uma poética do irredutível.
37
Em 2007, a escola de samba da capital catarinense, Unidos da Coloninha, homenageou
Santo Amaro da Imperatriz com o enredo "A Imperatriz das Águas, Coloninha Canta Santo
Amaro" de autoria de Eloá Miranda. O samba é de autoria de Juninho Zuação, André
Piração, Boqueira e Mangaya. E alguns trechos da letra servirão como pequenos
enunciados que auxiliarão na descrição do município.
38
A história de Santo Amaro da Imperatriz remonta aos anos de 1795, quando se calcula a
chegada dos primeiros desbravadores de origem portuguesa que habitavam Enseada do
Brito e São José da Terra Firme, esses subiram pelo rio, chegando a um belíssimo vale
coberto por densa floresta e habitado por índios Xoklengs, que foram expulsos e dizimados
pelos colonizadores portugueses e alemães que adentraram a região.
89
Costumeiramente, Santo Amaro da Imperatriz, localizado a 35Km de
Florianópolis-SC, cortado pela Br 282, que liga Florianópolis a Lages, com uma
extenção de 352Km² e uma população de aproximadamente 23.000
habitantes
39
, é descrito nos guias turísticos, nas notas de jornal da grande
Florianópolis e em livros que contam sobre sua história e cultura como: “Vale
das Águas’, “Santuário de Raras Belezas”, “Verde Vale das Termas”. Todas
essas denominações são referências aos seus 72% de área de preservação
permanente dos quais 63% encontram-se dentro do Parque Estadual da
Serra do Tabuleiro, considerada legalmente área de preservação ambiental.
Um lugar em que a combinação do hídrico, fauna e flora compõem o
cenário e enriquecem o olhar dos apreciadores da natureza.
Mas, basta um olhar mais atento para descobrir outras particularidades que
vão para além das referências citadas acíma. Trata-se de uma localidade
que vem modificando-se consideravelmete em prol de um suposto
progresso, baseado na exploração e degradação. No centro da cidade,
mais especificamente em seu entorno, onde antes se encontravam a
exuberância das árvores e bosques, hoje se avistam construções (casas e
prédios comerciais), a arquitetura do período colonial foi praticamente
colocada abaixo em prol da construção de prédios ‘mais modernos’ e salas
comerciais. Nem o prédio da Igreja Matriz do município foi poupado durante
a última reforma, sendo praticamente descaracterizado. (TURNES, 2006)
O município tem o direito de ‘progredir’, mas eu também tenho o direito de
ficar decepcionada, por não encontrar mais lá, aquilo que antes eu
encontrava
40
. Sem um planejamento coletivo e a valorização da memória
arquitetônica, o município tem sua paisagem modificada aleatoriamente. O
‘progresso’ vem constantemente poluindo os rios, devastando as áreas
verdes, substituindo a paisagem viva pela paisagem morta do concreto.
39
Dados do Programa de Saúde Familiar (2003).
40
Formulação baseada a partir das idéias de João Cabral de Melo Neto.
90
Mas, mesmo na busca pelo asfálto e concreto das construções, Santo
Amaro da Imperatriz ainda não perdeu a atmosfera de cidadezinha do
interior, onde os habitantes conhecem a vida uns dos outros. As ruas mesmo
com o asfalto continuam estreitas, a igreja Matriz (católica) continua no
mesmo lugar e anunciando pelo auto-falante os avisos paroquiais (festas e
óbitos). Na política, observa-se uma postura francamente conservadora, em
que a alternância de poder ocorre pela sucessão dos chamados partidos de
direita
41
.
Destacando-se que históricamente as mudanças no âmbito da política não
aconteceram por conta de lutas populares, mas eso praticamente ligadas
aos interesses de uma pequena elite
42
detentora de influência e poder.
Modos de Produção
Modos de ProduçãoModos de Produção
Modos de Produção
[...] Santo Amaro é festa
[...] Santo Amaro é festa[...] Santo Amaro é festa
[...] Santo Amaro é festa
e muita devoção
e muita devoçãoe muita devoção
e muita devoção
Paraíso que encanta o coração
Paraíso que encanta o coraçãoParaíso que encanta o coração
Paraíso que encanta o coração
É a crença superando a dor
É a crença superando a dorÉ a crença superando a dor
É a crença superando a dor
Deste povo lutador [...]
Deste povo lutador [...]Deste povo lutador [...]
Deste povo lutador [...]
Os produtos de Santo Amaro da Imperatriz
Os produtos de Santo Amaro da Imperatriz Os produtos de Santo Amaro da Imperatriz
Os produtos de Santo Amaro da Imperatriz
Fonte:
Fonte: Fonte:
Fonte:
WWW
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WWW.clicknoticia.com.br
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Até o ano de 1980, os modos de produção prevalentes eram a agricultura e
o comércio para atender as necessidades dos moradores do município e
região, especialmente os municípios em direção a Serra. Quanto à
população, pode-se dizer que aumentou pouco, pois enquanto recebiam
pessoas que ali vinham morar, via o afastamento dos filhos que saiam para
41
Por conta dessa atitude politicamente conservadora, destaca-se que somente no pleito
de 2004, após várias tentativas, duas mulheres foram eleitas para o cargo de vereadora
(PSDB e PFL).
42
Essa denominada elite é aqui identificada por aquelas famílias que possuem além de
maior capital, influência e prestígio no município, por conta de ter seu nome ligado
historicamente a algum feito no município.
91
estudar, trabalhar e fixarem residência em municípios vizinhos,
principalmente, São José e Florianópolis. (TURNES, 2006)
A partir dos anos 90, a agricultura passa a perder força para a indústria, o
comércio e a especulação imobiliária, logo as terras que antes eram
destinadas ao plantio passam a ser loteadas. Para os municípios menores
oferecia como atrativo a possibilidade de trabalho e moradia mais centrais,
para municípios economicamente mais desenvolvidos seria um entreposto,
uma espécie de cidade dormitório, que grande parte dos jovens estuda
e/ou trabalham fora do município.
Hoje, basta circular pelos bairros do município para ver o contraste das
paisagens dos modos de produção, ocupação e lazer. No centro os modos
de produção giram em torno do comécio (lojas de roupas, calçados e
artesanatos); nos bairros do Sul do Rio, as plantações de grãos e hortaliças;
em Caldas da Imperatriz, o turismo com a exploração das fontes de águas
termais; no Pagará se transformando em reduto de grandes sítios
particulares, comumente utilizados para descanço, festas ou moradias de
pessoas provenientes de outras regiões.
Expressões Culturai
Expressões CulturaiExpressões Culturai
Expressões Culturais do município...
s do município...s do município...
s do município...
[...] De Portugal chegou a Festa do
[...] De Portugal chegou a Festa do [...] De Portugal chegou a Festa do
[...] De Portugal chegou a Festa do
Divino
DivinoDivino
Divino
Com bandeiras colorindo
Com bandeiras colorindoCom bandeiras colorindo
Com bandeiras colorindo
E a pomba branca a voar no céu
E a pomba branca a voar no céuE a pomba branca a voar no céu
E a pomba branca a voar no céu
Em missão de ajudar [...]
Em missão de ajudar [...]Em missão de ajudar [...]
Em missão de ajudar [...]
Pintura sobre a Festa do Divino
Pintura sobre a Festa do Divino Pintura sobre a Festa do Divino
Pintura sobre a Festa do Divino
fonte em:
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fonte em:
www.portaldodivino.com
www.portaldodivino.com www.portaldodivino.com
www.portaldodivino.com
92
A marca religiosa e colonial é visível nas expressões da cultura popular
santoamarense, seja nas festividades, tradições, banda de música, valores
e/ou costumes que giram em torno dessa orientação. Uma cultura
predominantemente conservadora, aspecto facilmente comprovado, basta
observarmos as festas principais do calendário do município, como a Festa
de Santo Amaro (padroeiro da cidade), Festa do Colono, do Milho Verde e a
do Divino Espírito Santo (entre outras). Essa última, realizada anualmente,
desde 1854, uma forte manifestação de e cultura de base açoriana, sua
origem remonta ao século XII e é creditada às confrarias do Espírito Santo na
França e na Alemanha. A precursora em Portugal, segundo a tradição
historiográfica, foi a rainha Isabel, no século XIV em Alencar.
Em Santo Amaro da Imperatriz, a Festa do Divino Espírito Santo é realizada
com pompa e circunstância atraindo, anualmente, milhares de devotos e
foliões. Fortemente inserida na cultura popular da região, essa festividade é
cercada de representações religiosas e profanas as quais incidem no modo
de ver e compreender o mundo da comunidade local. Introduzida em
meados do século XIX a Festa do Divino sobreviveu ao processo de
romanização desencadeado pela igreja católica e se afirmou como o
grande evento social e religioso de Santo Amaro da Imperatriz.
Mãos de luz...
Mãos de luz... Mãos de luz...
Mãos de luz...
[...] Unindo o povo num
[...] Unindo o povo num [...] Unindo o povo num
[...] Unindo o povo num
só coração
só coraçãosó coração
só coração
A cura força viva dessa
A cura força viva dessa A cura força viva dessa
A cura força viva dessa
região
regiãoregião
região
Mãos de luz a dar
Mãos de luz a dar Mãos de luz a dar
Mãos de luz a dar
saúde e proteção [...]
saúde e proteção [...]saúde e proteção [...]
saúde e proteção [...]
Frei Hugulino
Frei Hugulino Frei Hugulino
Frei Hugulino
conventinho do Espírito Santo
conventinho do Espírito Santo conventinho do Espírito Santo
conventinho do Espírito Santo
fonte:
fonte: fonte:
fonte:
www.arquifloripa.org.br
www.arquifloripa.org.brwww.arquifloripa.org.br
www.arquifloripa.org.br
93
Por organização da igreja, posso também citar um prédio que abriga peças
religiosas, que contam a história da religiosidade local – É o “Conventinho do
Espírito Santo”, construção de 1904, em estilo barroco, no qual originalmente
funcionava um convento de freiras. Trata-se de um belo prédio que abriga a
história da religiosidade local, mostrando ao público as dependências do
lugar utilizado para estudo das doutrinas religiosas pelas freiras e
franciscanos.
Ainda hoje, os móveis de época ficam expostos dentro do convento, assim
como o jardim e a capela, que o mantidos para preservar a história do
lugar. também uma loja de artigos sacros ao lado do Convento. É ali que
vive e trabalha Frei Hugolino, famoso parapsicólogo o qual desde 1978
atente fiéis que o procuram em busca de alívio para doenças. Cerca de 30
mil pessoas por ano chegam à cidade à procura de Frei Hugolino, que é
conhecido pela cura pela imposição das mãos.
Na área de produção e divulgação cultural o município, conta com dois
jornais locais e duas estações de rádio, (uma com frequência modulada e
outra comunitária). Entretanto deve-se mencionar que é visivel a quase que
total ausência de espaços permanentes de promoção e divulgação da
cultura (museu, teatro, galerias etc), tempos chegou a ter cinema, mas
hoje seus habitantes têm de se deslocar para outros municípios ou recorrer a
locadoras.
Além das tradicionais festas de capela que ocorrem durante todo o ano, o
municipio também conta com três escolas de samba: Escola de Samba
Unidos da Imperatriz, Escola de Samba Vale das Termas e Grêmio Recreativo
Escola de Samba Império de Santana.
Em 2006, como parte desta pesquisa, realizei um levantamento dos espaços
permanentes de cultura no município, sendo que em resposta a Prefeitura
94
Municipal de Santo Amaro da Imperatriz indicou três espaços: a Casa da
Cultura; a Banda de Música e a Biblioteca Pública Municípal
43
.
A Casa da Cultura promove alguns cursos e realiza algumas exposições
artísticas com crianças e adultos, bem como abriga a Academia
Santoamarese de Letras. Oferece alguns projetos para a comunidade como
“Projeto conhecendo arte” que trabalha principalmente com aulas de
cerâmica.
A banda de música do município “Sociedade Municipal e Cultural de Santo
Amaro” foi fundada em 09 de março de 1944, com mais de 60 anos de
existência, surgiu da união de membros de duas antigas bandas rivais do
município
44
. A banda de música é uma entidade sem fins lucrativos que
desde a sua fundação recebe doações/colaborações de empresas, da
sociedade civil, do município, Governo Federal e do Estado. Tem como
finalidade promover e desenvolver a cultura e a tradição musical, realizando
apresentações em festas, procissões, participando de concursos, assim
como, mantendo uma escola gratuita para aprendizes de músicos.
A comunidade de Santo Amaro da Imperatriz como dito anteriormente é
bastante religiosa, sendo que essa característica é perceptível nas
atividades/compromissos que a banda assume com a Paróquia. É tradição a
banda participar anualmente das seguintes cerimônias: Corpus Christi, Festa
do Padroeiro “Santo Amaro”, Festa do Divino Espírito Santo e na procissão de
Sexta-Feira Santa (entre outras).
Mesmo tendo uma significância reconhecida pela sua história e pela arte
musical oferecida à população, a banda passa por dificuldades financeiras,
pois teve inclusive de locar para a prefeitura uma parte de sua instalação.
43
Ver Anexo 1
44
Banda Musical Natividade (1899- ?)
44
e Banda Musical Glória a 7 de Setembro (1912-1932).
O nome da banda de música foi sugestão do Frei Vito Benscheid, Vigário da paróquia que
estava juntamente com representantes da comunidade durante a reunião para discutir
sobre a sua fundação.
95
Todos os gastos com equipamentos, instrumentos, salário do maestro e
manutenção da sede são custeados por algumas verbas que recebe e
pelas apresentações que realiza, entretanto o montante não permite que a
mesma possa ir além daquilo que oferece à comunidade.
A biblioteca Pública Municipal foi criada pela Lei 169, de 22 de Junho de
1971 e atualmente denomina-se Maria do Carmo Bozzano Derner. A
biblioteca funciona das 08:00 às 12:00, das 14:00 às 18:00 e das 18:00 às 22:00.
Conta com quatro funcionários, três responsáveis pelo atendimento dos
usuários e um para a realização dos serviços gerais. (BRAND, 2006)
Segundo a Bibliotecária do município:
A Biblioteca é, pois, uma instituição que agrupa e proporciona
o acesso aos registros do conhecimento e das idéias do ser
humano através de suas expressões criadoras. É o espaço
privilegiado do desenvolvimento das práticas leitoras, e através
do encontro do leitor com o livro forma-se o leitor crítico e
contribui-se para o florescimento da cidadania. A Biblioteca
Pública é um elo de ligação [sic!) entre a necessidade de
informação de um membro da comunidade e o recurso
informacional que nela se encontra organizado e sua
disposição. (BRAND, 2006, p.09)
O acervo da Biblioteca é atualizado por doações da comunidade e pela
Prefeitura Municipal. Entre seus projetos estão “Contos na Biblioteca Pública”
e “Informática na Biblioteca” - conta com quatro computadores com acesso
a internet.
Durante o processo de pesquisa, ao organizar os dados em relação à
biblioteca pública, percebi que esse espaço era freqüentado em sua
maioria por estudantes do ensino fundamental e médio, para a realização
de suas pesquisas escolares. Ao questionar a bibliotecária em relação a essa
questão, ela me relatou que ocorriam algumas visitas de escolas e que
esporadicamente algum professor aparecia.
96
Assim, ao considerar a biblioteca, a banda, a casa da cultura e outros
espaços provisórios de cultura (como festas, apresentações, exposições
itinerantes), bem como a partir do olhar sobre o município, sua paisagem,
sua estética, sua poética, suas transformações como possibilidades de
ampliação e constituição formativas, percebi a necessidade não de
saber quanto à freqüência dos professores de Educação Infantil a esses
espaços, mas também suas formas de olhar e significar em relação a eles. O
fato de o município praticamente não contar com espaços permanentes de
cultura como: museu, cinema, teatro, galerias... provoca-nos também a
indagar em relação ao lugar da arte e da cultura, bem como a constituição
das subjetividades formativas dos sujeitos que nessa localidade habitam.
Olhar o município é inquirir sobre a sua paisagem e os paradoxos que
oscilam entre a exaltação das tradições e a ânsia pelas ‘transformações da
modernidade’, uma paissagem que sinais de passageira, na qual tudo
pode ser destruído e construído a qualquer momento, em que histórias são
apagadas e substituídas por outras. Penso que não devemos só ver a
estética do município, mas olhá-la, porque olhar é diferente de ver, olhar
demanda muito mais que ver. Porquanto só ver não basta, é necessário
olhar de novo e de novo. O olhar nos lança para o mundo, faz com que
enxerguemos as coisas do mundo de forma diferente. Por que não
potencializar as formas de olhar em relação à estética do município? Um
olhar que vagueia andante, instigante, questionador, pelas paisagens que
ficaram, pelas que se foram. “[...] a mesma inquietude que nos faz em
formação constante, na processualidade de um devir que nos move e nos
impulsiona para experiência de vida” (MARTINS, s/d).
Durante o processo da pesquisa, sempre que se referiam ao município, as
professoras deixavam transparecer suas queixas em relação à ausência de
espaços permanentes de cultura. Expressões do tipo: “Aqui não nada!”,
“O município não propicia”; “Arte aqui? nos livros e na TV!” etc.; foram
constantes e as principais explicações para sua freqüência ou não a
97
espaços culturais
45
. Não tenho a pretenção de esgotar as questões
pontuadas, pois respondê-las de forma mais consistente demandaria uma
outra pesquisa. O que pode nos interessar aqui, é o estabelecimento de um
olhar indagativo-poético que se volta para um determinado lugar, um
contexto situado histórico-socialmente. Indago em relação à primazia da
‘vida vivida’, do real concreto, como origem da formação da consciência,
em total oposição ao idealismo hegeliano do espírito absoluto, não se
perdendo em generalizações, mas nem por isso caindo numa singularidade
absoluta. (SOBRAL, 2007)
O Centro de Educação Infantil Pesquisado e a Educação Infantil
no Município de Santo Amaro da Imperatriz
A intituição escolhida para a realização desta pesquisa tem uma história que
se difere das demais formas de atendimentos prestados em instituições de
Educação Infantil administradas pela Prefeitura Municipal de Santo Amaro
da Imperatriz. Não apenas por ser a primeira creche criada neste (1974), mas
também por se tratar de uma instituição filantrópica.
Uma das dificuldades encontradas na contextualização histórica da
instituição não foi apenas falta de documentos, mas também a ausência de
uma sistematização dos poucos encontrados a respeito de sua trajetória
constituidora. Por não ser intenção desta pesquisa contar a história do
atendimento da Educação Infantil no município, tal como o da instituição
pesquisada em seus quase 40 anos, aqui, deveremos expor alguns dados
históricos e outros mais atuais que possam contribuir para a
contextualização das possíveis diferenciações e semelhanças entre as
formas de atendimento de responsabilidade do município e da filantropia.
Os dados utilizados para essa sistematização foram alguns documentos
45
Essa questão será tratada de forma mais especifica no próximo capítulo.
98
como: Atas, Regimento, Proposta Pedagógica Para a Educação Infantil de
Santo Amaro da Imperatriz (versão preliminar - 2004), dados do Censo Escolar
de 2006, a dissertação de Mestrado de Turnes (2006), relatos de alguns
profissionais com maior tempo de serviço na instituição e as fotos do arquivo
da instituição pesquisada.
Os documentos (Atas, regimento, Proposta Pedagógica Para a Educação
Infantil de Santo Amaro da Imperatriz) apontam que desde a sua origem, o
CEI pesquisado esteve ligado a uma instituição filantrópica e sem fins
lucrativos, de duração ilimitada, que iniciou seus trabalhos na comunidade
em 1970, sendo que seu estatuto de criação foi registrado em cartório dois
anos após sua criação. Segundo alguns relatos
46
, a creche surge por conta
da necessidade de atender os filhos e filhas cujas mães freqüentavam as
oficinas de trabalhos manuais (crochê, tricô, bordado, pintura em tecido
etc). No início, esse atendimento ocorreu de modo improvisado, em uma
área do Salão Paroquial da Igreja Matriz cedida pela igreja, ali foram
atendidas crianças entre 4 a 6 anos de idade e posteriormente na Escola
Básica Municipal Lourdes Garcia (de 1974-1989). No decorrer dos anos, a
entidade expande seu atendimento, criando nos bairros periféricos do
município a mesma proposta de atendimento, que o ampliando para
crianças menores de 1 ano de idade, chegando a contar com cinco
“casulos” até o ano de 2002
47
.
As creches que pertenciam a essa instituição filantrópica eram denominadas
de Casulo, pelo fato da história da política de atendimento em creches e
pré-escolas no Brasil ter sofrido a influência da atuação de dois setores de
politicas públicas – o da Educação e o da Assistência Social. O projeto
Casulo foi criado em 1970 pela antiga Legião Brasileira de Assistência- LBA,
46
Tanto da atual presidente quanto da secretaria e outras duas professoras de maior tempo
na instituição.
47
Segundo a Proposta Pedagógica Para a Educação Infantil de Santo Amaro da Imperatriz
(2004): A instituição até o ano de 2002, [...] contava com cinco núcleos, em bairros
periféricos dete municipio, sendo que quatro deles foram assumidos pela prefeitura
municipal de Santo Amaro da Imperatriz no ano de 2003”.
99
entidade extinta em 1995. Segundo Vieira (1988), esse projeto teve
significativa expansão na década de 80, sendo concretizado por meio de
convênios com instituições privadas e com prefeituras que mantinham
crianças oriundas de famílias de baixa renda, em creches e pré-escolas. Essa
ampliação ocorreu em maior escala na década de 80, sendo que se dava
por meio da utilização de espaços ociosos disponíveis nas comunidades e,
freqüentemente, com pessoal sem formação específica, atuando em
péssimas condições de trabalho.
Segundo Kuhlmann Jr. (2000, p.11), o Projeto Casulo emergiu como uma
Doutrina de Segurança Nacional, praticamente como um temor que a
grande parcela da população de baixa renda reconhecesse o alto grau de
exploração e desigualdade social de nosso país. Desse modo, “Era chegado
o momento de oferecer algumas migalhas do bolo da produção nacional”
para que a família brasileira não caísse nas garras das “idéias alienígenas do
comunismo”, assim ao camuflar a pobreza, dando-lhe o ar de destino divino,
promoveu-se o atendimento as crianças menores de 6 anos de idade, de
modo improvisado e barato.
O estatuto da instituição pesquisada que vigora aos dias de hoje, aponta
como principal objetivo da entidade:
[...] realizar estudos sobre os problemas de assistência social e
de educação de base, visando a [sic!] promoção humana,
promover atividades, cursos e palestras, visando a [sic!]
formação intelectual, profissional e moral, proporcionar
assistência de primeira necessidade aos pobres, sobretudo
velhinhos, escolares e gestantes, através da distribuição de
alimentos, roupas e medicamentos, auxiliar na reconstrução e
melhoria de casas das pessoas necessitadas, coloborar na
formação da consciência privada e pública, para que, no
ambiente social, vigorem a solidariedade humana, a justiça
social e a caridade cristã, providenciar, mediante connios
com organismos públicos, campanhas junto a comunidade
local, ou qualquer outro meio honesto, recursos materiais e
humanos para seus programas. [...] (SANTO AMARO DA
IMPERATRIZ, Ata de Fundação,1972, Artigo 2º)
100
Desde a sua criação, a instituição contou com a ajuda da comunidade e
convênios firmados com o poder público, associações e a igreja. Sendo que
essa última exercia uma influência muito grande na entidade, juntamente
com representantes poticos e algumas “senhoras da sociedade” as quais
geralmente faziam parte da diretoria que a administrava.
Em relação as palavras caridade e filantropia, palavras demasiadamente
comuns e historicamente encontradas em textos, documentos, Leis,
princípios e/ou objetivos de instituições e associações de atendimento as
crianças, foram as palavras mais usadas nos textos das Atas analisadas.
Entretanto, é necessario mecionar que tanto a palavra caridade, como
filantropia, assumiram significados diferenciados ao longo da história. Assim
sendo, não podem ser consideradas em seu sentido, como conceitos únicos,
lineares e/ou explicativos no processo hisrico, sob o risco de perderem a
sua historicidade.
Segundo Kuhlmann Jr (1999), a palavra caridade vem de um período
anterior assumindo significados diferentes ao longo da história, referindo-se
ao Estado, a religião, ou a um sentimento de ordem individual em relação à
pobreza. A palavra filantropia pode se referir a secularização, iniciativa não
governamental, ou à organização racional da assistência. Esses termos são
trazidos à tona, pois contribuem para a o banalização dos objetivos da
instituição aqui analisada, sob o risco de considerá-la sem uma proposta
educacional para a finalidadade que se presta e/ou prestava.
Kuhlmann Jr (1999); (2000), aponta que historicamente o antendimento das
crianças em creches e pré-escolas destinadas às classes populares não se
caracterizava pela ausência de uma proposta educativa, mas uma
proposta educacional diferenciada da educação dos filhos dos dirigentes.
Uma educação pobre para os pobres, para formar um ser morigerado e
adaptado à sociedade vigente. E uma educação consistente para os filhos
dos ricos, estes que seriam responsáveis para comandar/dirigir o país.
101
Ainda, segundo o seu Estatuto de Fundação (1972), a instituição deveria ser
administrada por: Presidente de honra; presidente; vice-presidente; primeiro
secretário; segundo secretário; primeiro tesoureiro e segundo tesoureiro.
Quem deveria ocupar o cargo de presidente de honra era o sacerdote da
paróquia, exercendo a função de animador. O cago de presidente da
instituição geralmente foi/é ocupado em sua hisria por alguma “senhora
da sociedade” que possuía/possui sua figura fortemente ligada a alguma
liderança política (geralmente o marido).
Compete ao presidente e na sua ausência ao vice-presidente:
[...] convocar e presidir a assembléia geral, convocar e presidir
as reuniões da diretoria; representar ativa e passivamente,
judicial e extrajudicialmete a instituição; assinar e endossar
cheques e ordens bancárias; receber subvenções e auxílios
governamentais e particulares; assinar contratos, convênios e
outros documentos que envolvem responsabilidades juridicas
da entidade; assinar e passar procuração e praticar tudo o
que for necessário ao desempenho de suas funções/ e na
defesa dos interesses da entidade. (SANTO AMARO DA
IMPERATRIZ, Ata de Fundação, 1972, Artigo 11º)
Aos demais membros da diretoria, compete “[...] administrar a instituição de
acordo com seus objetivos; presidir ao planejamento técnico administrativo;
preparar proposta orçamentária; executar as providencias para a execução
dos objetivos da entidade [...]” (SANTO AMARO DA IMPERATRIZ, Ata de
Fundação, 1972, Artigo 12º)
Por meio da leitura das Atas, percebi que a partir de quinze de dezembro de
mil novecentos e oitenta e seis, a figura do presidente de honra não figurou
mais durante a constituição da eleição da diretoria. O que não significou a
ausência da igreja na relação com a entidade, que no corpo do texto,
irmãs e padres aparecem engajados na arrecadação/doação de verbas
em prol da entidade, bem como eram convidados a dar palestras aos
membros da referida associação.
102
As Atas também revelam que a referida entidade passou por problemas
financeiros praticamente desde a sua fundação, situação que perdura até
os dias de hoje, exigindo um verdadeiro ‘malabarismo’ por parte da sua
direção para pagar os funcionários e gastos administrativos.
[...] a Presidente expôs a situação da entidade que enfrenta
bastante dificuldade em matéria financeira visto o grande
aumento de preço de toda a mercadoria. (SANTO AMARO DA
IMPERATRIZ, Ata Nº1, 29/11/1982)
[...] a presidente reeleita falou sobre o convênio para o ano de
1990 com a Legião Brasileira de Assistência Social, LBA, este
que não foi aprovado, pediu uma opinião sobre o que os
voluntários acham e o que deveria ser feito. (SANTO AMARO
DA IMPERATRIZ, Ata Nº1, 07/03/1990)
[...] vão ficar para a próxima diretoria, muitas dívidas, inclusive
a dívida para com o FGTS da [sic!] qual não foi possível
parcelar. Para um melhor entendimento a Senhora presidente
entregou a futura diretoria uma relação de credores [...].
(SANTO AMARO DA IMPERATRIZ, Ata Nº3, 13/12/2004)
Os registros das Atas também dão mostras das soluções propostas para
resolver essa problemática:
[...] retomando a palavra a presidente colocou o problema
dos casulos e que o Hotel Plaza se propôs a fazer um convênio
com a ação social. (SANTO AMARO DA IMPERATRIZ, Ata Nº1,
06/03/1986);
[...] lembrou a todos os presentes que a verba dos clubes
ainda não havia chegado, mais [sic!] que havia uma previsão
por parte da Assistente Social [...], que a verba viria na semana
seguinte, falou ainda que a igreja havia feito a doação de cr$
4.840,00 para alimentação dos casulos [...]. (SANTO AMARO DA
IMPERATRIZ, Ata Nº1, 16/06/1986)
Constato que a instituição pesquisada, durante suas quase quatro décadas
de existência, sempre esteve à margem de políticas públicas que, por vezes,
omitiram-se ou destinaram recursos insuficientes para propiciar o
atendimento digno e de respeito às crianças, professores e famílias. Diante
de tal omissão, a comunidade era chamada a assumir uma suposta
103
responsabilidade baseada na “caridade” e “amor as criancinhas”. Ressalto
que muitas dessas expressões e formas de pensar ainda ressoam nas práticas
e objetivos atuais desta.
Apenas nove anos após a instituição filantrópica oportunizar atendimento às
crianças da Educação Infantil no município é que, por responsabilidade da
Prefeitura Municipal ocorre a oferta de vagas para crianças da Educação
Infantil. Para esse fim, a mesma contou com recursos do PRO-CRIANÇA
(extinta LBA), criando 5 instituições e atendendo crianças entre 4 e 6 anos de
idade por quatro horas diárias. No ano de 2003 a prefeitura assumiu quatro
CEI’s dos cinco CEI’s da instituição filantrópica supracitada, ampliando sua
responsabilidade, o que não significou a ampliação da oferta de
atendimento no município. Assim sendo, como mencionado
anteriormente, a partir de 2003 o único CEI que permaneceu ligado à
instituição filantrópica é aquele em que ocorreu a pesquisa.
Segundo Turnes (2006), demarca-se na história da Rede de Ensino do
município de Santo Amaro da Imperatriz o agravante de que a secretaria
que responde pela educação também está vinculada a outras áreas
48
,
comprometendo a destinação dos recursos, e em conseqüência, a
qualidade dos serviços prestados. Situação que perdura aos dias de hoje.
Dessa forma, mesmo o município apresentando um bom trabalho na área
do esporte (futebol de salão e campo), não conta com uma política de
valorização a cultura. Já que possui poucos espaços permanentes de cultura
e os que existem não são potencializados. Falta, pois, um maior investimento,
bem como a criação de projetos de incetivo em relação a frequencia
desses espaços tanto em relação as escolas como ao público em geral.
48
Serviço de Educação, Cultura, Assistência e Turismo, criado pela Lei 101, de 2 de setembro
de 1968; Secretaria de Educação, Saúde e Desenvolvimento Social, criada pela Lei 562, de
24 de maio de 1984; Secretaria de Educação, Cultura, Esportes e Turismo, alterada a
nomenclatura e estrutura básica pela Lei 71, de 28 de setembro de 1988; Secretaria de
Educação, Cultura e Esportes, denominação que é utilizada até o momento, alterada a
nomenclatura e estrutura básica em 1993. (TURNES, 2006, p.24)
104
O quadro a seguir propicia uma visualização em relação à quantidade de
turmas de Educação Infantil atendidas no ano de 2006
49
pelo município:
Quadro 1
Quadro 1 Quadro 1
Quadro 1
Quanto às instituições de atendimento:
Quanto às instituições de atendimento: Quanto às instituições de atendimento:
Quanto às instituições de atendimento:
Natureza
NaturezaNatureza
Natureza
Denominação
DenominaçãoDenominação
Denominação
Quantidade
QuantidadeQuantidade
Quantidade
Centro de Educação Infantil (0-6 anos) 02
Centro de Educação Infantil (2-6 anos) 03
Municipal
Pré-escolar (4- 6 anos) 10
Centro de Educação Infantil _ Estadual
Pré-Escolar 04
Centro de Educação Infantil 04 Particular
Pré-Escolar _
Centro de Educação Infantil 01 Filantrópica
Pré-escolar _
Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006
A Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes de Santo Amaro da
Imperatriz têm por responsabilidade 15 instituições de Educação Infantil, bem
como possui um convênio com a instituição filantrópica pesquisada.
Segundo a presidente e a secretária dessa última, o valor do convênio com
a prefeitura é de 12 parcelas de 16.000,000 reais divididos em 12 meses.
Sendo que se trata do principal recurso da instituição. Este valor é destinado
ao pagamento dos funcionários e os encargos com a previdência social.
também um convênio com o Fundo Municipal de Assistência Social no valor
de 1.787,10 reais mensais para o CEI, um outro valor de 611,55 reais para o
49
No ano em que foi realizada a coleta de dados na prefeitura as crianças de 6 anos ainda
estavam matriculadas na Educação Infantil, situação em que sofreu alteração no ano
posterior por conta da Lei 11.274/2006 que aumentou de 8 para 9 anos o Ensino
Fundamental, incluindo as crianças de 6 anos. A referida Lei alterou a redação do artigo 32
da LDB (Brasil, 1996), que passou a vigorar da seguinte forma: O ensino fundamental
obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, [...]”
105
clube dos idosos, que também es vinculado à instituição filantrópica
supracitada.
Os quadros 2 e 3 revelam o número total de atendimento das crianças
matriculadas na Educação Infantil da Rede Municipal e o da instituição
conveniada:
Quadro 2
Quadro 2 Quadro 2
Quadro 2 -
--
-
Matrículas
Matrículas Matrículas
Matrículas
Instituições de Responsabilidade da
Instituições de Responsabilidade da Instituições de Responsabilidade da
Instituições de Responsabilidade da
Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.
Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.
Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes.
Educação Infantil
Educação InfantilEducação Infantil
Educação Infantil
Instituições
InstituiçõesInstituições
Instituições
Creche
CrecheCreche
Creche
Pré
PréPré
Pré-
--
-Escola
EscolaEscola
Escola
E.B.M Professora Lourdes
E.B.M Professora LourdesE.B.M Professora Lourdes
E.B.M Professora Lourdes Garcia
Garcia Garcia
Garcia
_
__
_
56
5656
56
E.B.M Prefeito Augusto Althoff
E.B.M Prefeito Augusto AlthoffE.B.M Prefeito Augusto Althoff
E.B.M Prefeito Augusto Althoff
20
2020
20
33
3333
33
E.B. M Judite Schürhaus
E.B. M Judite SchürhausE.B. M Judite Schürhaus
E.B. M Judite Schürhaus
40
4040
40
41
4141
41
C.E.M Antônio R. Fabrício
C.E.M Antônio R. FabrícioC.E.M Antônio R. Fabrício
C.E.M Antônio R. Fabrício
42
4242
42
26
2626
26
E.M Alvim Duarte da Silva
E.M Alvim Duarte da SilvaE.M Alvim Duarte da Silva
E.M Alvim Duarte da Silva
_
__
_
28
2828
28
E.M Estrada Velha
E.M Estrada VelhaE.M Estrada Velha
E.M Estrada Velha
_
__
_
05
0505
05
E.M Vila Santana
E.M Vila SantanaE.M Vila Santana
E.M Vila Santana
42
4242
42
23
2323
23
E.M Braço São João
E.M Braço São JoãoE.M Braço São João
E.M Braço São João
_
__
_
14
1414
14
E.M Sul do Rio Cubatão
E.M Sul do Rio CubatãoE.M Sul do Rio Cubatão
E.M Sul do Rio Cubatão
_
__
_
14
1414
14
E.M J
E.M JE.M J
E.M José Higino Martins
osé Higino Martinsosé Higino Martins
osé Higino Martins
_
__
_
12
1212
12
P.E.M Recanto Feliz
P.E.M Recanto FelizP.E.M Recanto Feliz
P.E.M Recanto Feliz
28
2828
28
_
__
_
P.E.M O Mundo da Criança
P.E.M O Mundo da CriançaP.E.M O Mundo da Criança
P.E.M O Mundo da Criança
_
__
_
10
1010
10
P.E.M Caracol
P.E.M CaracolP.E.M Caracol
P.E.M Caracol
_
__
_
13
1313
13
P.E.M Pedacinho de Gente
P.E.M Pedacinho de GenteP.E.M Pedacinho de Gente
P.E.M Pedacinho de Gente
_
__
_
14
1414
14
P.E.M Soni Cecília Kloppel
P.E.M Soni Cecília KloppelP.E.M Soni Cecília Kloppel
P.E.M Soni Cecília Kloppel
_
__
_
15
1515
15
Total
TotalTotal
Total
172
172172
172
304
304304
304
Número total de crianças atendidas
Número total de crianças atendidasNúmero total de crianças atendidas
Número total de crianças atendidas
476
476476
476
Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006
106
Qu
QuQu
Quadro 3
adro 3 adro 3
adro 3 -
--
-
Número total de Crianças Atendidas pela Filantropia
Número total de Crianças Atendidas pela Filantropiamero total de Crianças Atendidas pela Filantropia
Número total de Crianças Atendidas pela Filantropia
Instituição
InstituiçãoInstituição
Instituição
Educação Infantil
Educação InfantilEducação Infantil
Educação Infantil
Instituição Filantrópica do
Instituição Filantrópica do Instituição Filantrópica do
Instituição Filantrópica do
Município
Município Município
Município
100
100100
100
Número total de crianças atendidas
Número total de crianças atendidasNúmero total de crianças atendidas
Número total de crianças atendidas
100
100100
100
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado Fonte: Secretaria do CEI pesquisado
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado
– dados 2006
dados 2006 dados 2006
dados 2006
Conforme os números do quadro 2, a Educação Infantil no município de
Santo Amaro da Imperatriz é predominantemente de responsabilidade do
Poder blico Municipal. A prefeitura municipal atende em torno de 476
crianças. Entretanto no quadro 3, percebo que a filantropia desempenha
um importante papel quanto ao atendimento das crianças pequenas, uma
vez que concentra o maior número de crianças por instituição. Bem como,
segundo a presidente da entidade, é a única instituição de Educação
Infantil que presta atendimento em período das 7 às 19h, diferenciando-se
do horário de atendimento das instituições de Educação Infantil da
prefeitura que ocorrem em sua maioria das 8 às 17h, com exceção de
algumas instituições que por demanda e organizações internas abrem um
pouco antes das 8h e encerram no máximo até das 18h.
Segundo a Proposta Pedagógica Para a Educação Infantil de Santo Amaro
da Imperatriz (2004), os professores do município começam a se reunir para
participarem de cursos de formação em serviço no final dos anos 90. Por
conta dessa formação alguns profissionais começaram a vislumbrar uma
possibilidade de mudança em seu trabalho. Segundo consta esse tinha “[...]
um caráter educativo assistencialista que conseqüentemente educava mais
para a submissão do que para a emancipação das crianças” (2004, p.02).
Por conta dessa primeira iniciativa de formação em serviço, no ano de 2000,
algumas professoras pensando numa outra forma de trabalho, diversa da
habitual, passaram a se reunir e empolgadas chegaram a produzir
cartilhas”. As contradições quanto a essa organização, muito próxima de
107
uma configuração escolar, fizeram surgir questionamentos que
desencadearam outras formas de trabalhos como a utilização de temas
geradores. No entanto segundo o que consta no documento supracitado,
não havia um entendimento claro sobre a forma de planejar, sobre o que
fazer, que a prática de copiar planos entre as profissionais vigorou num
sentido de distanciamento das crianças reais com que trabalhavam. Ou
seja, a atividade pela atividade, o tema pelo tema, o plano pelo plano. O
que acusou a essas a necessidade de pensar mais sobre sua formação e seu
trabalho nesse nível da educação básica.
Ressalto que essa inquietação de pensar e concretizar uma nova proposta
de trabalho com as crianças, coincide com o ingresso de um número
expressivo de professoras do município na Universidade. O ingresso das
professoras em licenciaturas do curso de pedagogia ocorreu mediante
parceria-convênio entre a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e a
Prefeitura Municipal de Santo Amaro da Imperatriz. Situação ocorrida por
força da LDBEN (2006) que exigia que os professores da Educação Básica
obtivessem a licenciatura em nível superior até o final da Década da
Educação (1996-2006).
Segundo Turnes (2006), foi assinado um convênio de cooperação em que ao
município coube a responsabilidade pelas instalações físicas, serviços gerais,
equipamentos necessários e a aquisição de acervo para a biblioteca; e a
UNIVALI a gestão pedagógica e administrativa do curso. Desse modo, no
ano de 1999 ocorreu um processo seletivo para o preenchimento de 110
vagas ao curso de pedagogia na modalidade emergencial no município
50
.
Os dados dos quadros 4 e 5 (abaixo) demonstram o vel de formação das
professoras que atuam na Educação Infantil em CEI’s da prefeitura e no CEI
50
A denominação emergencial foi utilizada porque o curso acontecia em situação e
condição diversa do regular. Por vezes em condições precárias, turno e carga-horária
suprimidos ou condensados, bem como estrutura física inadequada. Essa situação ocorreu
por influência da Lei LDBEN (1996) que previa que os professores da Educação Básica sem
formação em nível superior deveriam até o final da Década da Educação (anos
compreendidos de 1996 a 2006) obter a devida formação para atuarem na área, mas não
criou condições adequadas que garantissem aos professores essa formação.
108
pesquisado. O quadro 4 revela que até o ano de 2006, dos 32 professores da
rede pública municipal 28 eram graduados, sendo que desses 25 tinham pós-
graduação, os demais estavam cursando a graduação e 1 profissional
possuía apenas o vel médio. O quadro 5 demonstra que não muita
diferença em relação ao vel de formação dos professores da rede
municipal e do CEI pesquisado, pois em uma amostra de 12 professores 8
possuem graduação, inclusive a maior parte deles com pós-graduação
(especialização) 7 professores, os demais são formadas no segundo grau-
magistério (4 deles).
Quadro 4
Quadro 4 Quadro 4
Quadro 4
O nível de Formação dos Professores Municipais
O nível de Formação dos Professores Municipais O nível de Formação dos Professores Municipais
O nível de Formação dos Professores Municipais
Nível de Formação
Nível de FormaçãoNível de Formação
Nível de Formação
Professores
Professores Professores
Professores
Efetivos
EfetivosEfetivos
Efetivos
Professores ACT
Professores ACTProfessores ACT
Professores ACT
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
(Especialização)
(Especialização) (Especialização)
(Especialização)
/concluída
/concluída/concluída
/concluída
22
2222
22
03
0303
03
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
(Especialização)/cursando
(Especialização)/cursando(Especialização)/cursando
(Especialização)/cursando
01
0101
01
_
__
_
Curso superior/concluído
Curso superior/concluídoCurso superior/concluído
Curso superior/concluído
01
0101
01
01
0101
01
Curso superior/cursando
Curso superior/cursandoCurso superior/cursando
Curso superior/cursando
_
__
_
03
0303
03
Magistério
MagistérioMagistério
Magistério
_
__
_
_
__
_
Ensino Médio
Ensino MédioEnsino Médio
Ensino Médio
01
0101
01
_
__
_
Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006Fonte: Censo Escolar/2006
Fonte: Censo Escolar/2006
Quadro 5
Quadro 5 Quadro 5
Quadro 5
O nível de Formação dos Professores do CEI pesquisado
O nível de Formação dos Professores do CEI pesquisado O nível de Formação dos Professores do CEI pesquisado
O nível de Formação dos Professores do CEI pesquisado
Nível de Forma
Nível de FormaNível de Forma
Nível de Formação
çãoção
ção
Total de Professores
Total de ProfessoresTotal de Professores
Total de Professores
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
(Especialização)/concluída
(Especialização)/concluída(Especialização)/concluída
(Especialização)/concluída
7
77
7
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
(Especialização)/cursando
(Especialização)/cursando(Especialização)/cursando
(Especialização)/cursando
_
__
_
Curso superior/concluído
Curso superior/concluídoCurso superior/concluído
Curso superior/concluído
01
0101
01
Curso superior/cursando
Curso superior/cursandoCurso superior/cursando
Curso superior/cursando
_
__
_
Magistério
MagistérioMagistério
Magistério
04
0404
04
109
Ensino Médio
Ensino MédioEnsino Médio
Ensino Médio
_
__
_
Total
TotalTotal
Total
12
1212
12
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado 2007
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado 2007Fonte: Secretaria do CEI pesquisado 2007
Fonte: Secretaria do CEI pesquisado 2007
Assim, penso que a mobilização e/ou inquietação por parte de algumas
profissionais em relação às suas práticas e formas de encarar a situação da
Educação Infantil no município, de certa forma, estão intimamente
relacionados, com o ingresso dessas profissionais no curso de Pedagogia.
Destaco, pois, que das reuniões de discussão/estudo entre algumas dessas
profissionais resultou na construção de um documento que foi apresentado à
Secretaria Municipal de Educação, Cultura e Esportes, reivindicando
melhorias para a Educação Infantil. Dentre as reivindicações, pontuou-se a
necessidade de formação e assessoria para os professores da Educação
Infantil.
No ano de 2003 a Secretaria da Educação, Cultura e Esportes atende a
reivindicações das professoras e contrata profissionais para a realização de
formação em serviço e consultoria para a Educação Infantil. Esse processo
de formação foi organizado em encontros mensais que acontecem a
hoje, com o objetivo de discutir, analisar e interpretar os materiais produzidos
pelos profissionais, bem como estudar a produção teórica da área da
educação.
Ressalto que muitas das professoras do CEI pesquisado, marcaram presença
nesse processo de reivindicação e formação, sendo que até o final do ano
de 2005, participaram do processo de formação, juntamente com as
professoras do município. Atualmente essas profissionais não foram mais
liberadas pela instituição para participarem da formação continuada
oferecida pela prefeitura. Tal situação emergiu em todas as entrevistas
realizadas com as professoras no final do ano de 2006
51
.
51
Essa questão será abordada de forma mais detalhada no Capítulo IV.
110
Em relação ao CEI pesquisado, atualmente um dos principais critérios para a
efetivação da matrícula é a mãe comprovar que está trabalhando. O outro
critério mencionado, diz respeito à renda, isto é, as crianças deveriam ser
oriundas de famílias de baixa renda. Essas constatações iniciais tomando por
base as fichas de matriculas, posteriormente foram corroboradas nas
entrevistas realizadas com a secretaria e a presidente da instituição.
“O objetivo da creche é
“O objetivo da creche é “O objetivo da creche é
“O objetivo da creche é atender as crianças carentes de mães
atender as crianças carentes de mães atender as crianças carentes de mães
atender as crianças carentes de mães
trabalhadoras [...], temos muita procura só que não conseguimos atender
trabalhadoras [...], temos muita procura só que não conseguimos atender trabalhadoras [...], temos muita procura só que não conseguimos atender
trabalhadoras [...], temos muita procura só que não conseguimos atender
a demanda, então anotamos o nome dessas crianças numa lista de
a demanda, então anotamos o nome dessas crianças numa lista de a demanda, então anotamos o nome dessas crianças numa lista de
a demanda, então anotamos o nome dessas crianças numa lista de
espera, sendo que ter o nome na lista não é uma garantia de que vão
espera, sendo que ter o nome na lista não é uma garantia de que vão espera, sendo que ter o nome na lista não é uma garantia de que vão
espera, sendo que ter o nome na lista não é uma garantia de que vão
conseguir a vaga
conseguir a vagaconseguir a vaga
conseguir a vaga.” (Secretaria
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52
5252
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em: 07/08/2007)
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em: 07/08/2007)
“Nosso objetivo é atender os idosos do município e as crianças carentes, as
“Nosso objetivo é atender os idosos do município e as crianças carentes, as “Nosso objetivo é atender os idosos do município e as crianças carentes, as
“Nosso objetivo é atender os idosos do município e as crianças carentes, as
de idade de creche, que o município ainda não conseguiu atender a
de idade de creche, que o município ainda não conseguiu atender a de idade de creche, já que o município ainda não conseguiu atender a
de idade de creche, que o município ainda não conseguiu atender a
todas essas crianças, ainda existem comunidades sem esse atendimento.
todas essas crianças, ainda existem comunidades sem esse atendimento. todas essas crianças, ainda existem comunidades sem esse atendimento.
todas essas crianças, ainda existem comunidades sem esse atendimento.
A dificu
A dificuA dificu
A dificuldade é que o município não presta esse atendimento em período
ldade é que o município não presta esse atendimento em período ldade é que o município não presta esse atendimento em período
ldade é que o município não presta esse atendimento em período
integral e nossa instituição faz isso. [...] Acho que até poderíamos
integral e nossa instituição faz isso. [...] Acho que até poderíamos integral e nossa instituição faz isso. [...] Acho que até poderíamos
integral e nossa instituição faz isso. [...] Acho que até poderíamos
atender mais crianças, mas o espaço e as condições que temos não
atender mais crianças, mas o espaço e as condições que temos não atender mais crianças, mas o espaço e as condições que temos não
atender mais crianças, mas o espaço e as condições que temos não
suportam um número maior de crianças [...]” (Presidente
suportam um número maior de crianças [...]” (Presidentesuportam um número maior de crianças [...]” (Presidente
suportam um número maior de crianças [...]” (Presidente
53
5353
53
em
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28/09/2007)
28/09/2007)28/09/2007)
28/09/2007)
Por meio do contato com as fichas de matrículas do ano de 2007,
constatei que as crianças que freqüentam o CEI pesquisado, em sua maioria
estão matriculadas em período integral. Suas famílias recebem em média
três salários mínimos. As mães estão na profissão informal, são, quase em sua
totalidade, prestadoras de serviços gerais (faxineira e/ou doméstica), e os
pais exercem a profissão de carpinteiro, pedreiro ou trabalham em hotéis da
região. Algumas famílias não possuem casa própria, em torno de 30% (de
52
A secretária tem 33 anos de idade, formou-se em Pedagogia Habilitação Educação
Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental pela UNIVALI (2003); possui especialização e
Educação Infantil e Séries Iniciais (FACEMED). Trabalha na instituição há aproximadamente
14 anos, inicialmente exercendo a função de professora e atualmente de secretária.
53
A presidente tem 55 anos de idade, formou-se em Serviço Social pela UNISUL (2000).
assumiu esse cargo em anos anteriores e está ligada a instituição há aproximadamente 30
anos.
111
uma amostra de 100 matrículas). São predominantemente oriundas do
Centro do município (onde está localizada o CEI) ou outros bairros próximos.
Adentrando no CEI – Uma estética que comunica
O prédio do CEI pesquisado não é apenas uma estrutura física, um mero
espaço passível de ser descrito e analisado mecanicamente. Digo que
tempo&espaço
54
caminham juntos, que as pessoas é que dão vida ao
espaço, dentro de uma lógica temporal, situacional e histórica. Elas é que o
habitam com suas histórias, memórias e experiências. A forma de
organização e significação em relação ao tempo&espaço do CEI está
vinculada ao modo como professoras e crianças organizam e vivenciam
suas relações concretas e imagéticas. A arquitetônica composicional desse
espaço admite questões do tipo: quem ou quais pessoas pensaram essa
estética? Para quem e para quê? Em que circunstância essa forma de
composição dialógica apresenta a marca de uma trajetória formativa, ao
mesmo tempo suscita outras?
Alfredo Hoyuelos (2006) apresenta uma concepção de estética baseada no
pensamento e obra pedagógica de Loris Malaguzzi, identificando-a como
integrante de uma estrutura de pensamento que é sempre capaz de
processos evolutivos. Uma inteireza sustentada pela curiosidade em relação
ao conhecimento, que não apenas se nutre de informação e, ao contrário
da indiferença, da negligência e do conformismo nos conduz a uma relação
de sensibilidade sem perder a dimensão ética e crítica necessária à tomada
de uma posição axiológica frente ao mundo.
Todas as instituições educacionais (ou qualquer outra forma de instituição)
apresentam uma estruturação composicional, um acabamento
55
passível de
54
Escrita empregada dessa forma para representar que tempo&espaço são compreendidos
de forma indissociável
55
Consultar nota 4.
112
ser analisado esteticamente. Por mais que a dimensão estética receba
pouca ou nenhuma atenção no planejamento coletivo, isso não a torna
invisível, tão pouco natural ou menos comunicativa que as ações mais
pensadas pelo fazer pedagógico. Como mencionado em pesquisas
anteriores Agostinho (2003), Barbosa (2000), Batista (1998) e Cunha (2007), a
estética e a organização do espaço sempre são constituídas pelas marcas
das vivências e presenças, sejam elas físicas ou conceituais, instituídas ou
instituíntes, criadoras ou confirmadoras.
Diante de tais considerações afirmo que o CEI pesquisado possui uma
arquitetônica composicional que insufla e revela aspectos da constituição
das subjetividades formativas dos sujeitos que nesse espaço convivem.
Características estas que necessitam ser compreendidas dentro de uma
dinâmica contextual mais ampla, abarcando aspectos estéticos, sensíveis,
inteligíveis, indo além das micro-relações, porque estão inseridos e dialogam
com um contexto social e histórico mais amplo.
O prédio onde está instalado o CEI, de cor salmão, apresenta em sua
fachada o desenho de um painel da turma do Mickey, caracterizados como
bebês. O referido painel foi pintado durante a única reforma realizada na
instituição uns 10 anos. A pintura externa, desgastada pelo tempo suscita
as seguintes indagações: Como seria a cor e a forma desse prédio no
imaginário das crianças e dos professores que ali convivem? Quais seriam as
produções artísticas e estéticas produzidas e oferecidas entre professores e
crianças?
No portão da entrada, com grades de ferro nas cores azul e amarela, vejo
escrito numa placa: Atenção, Crianças: Favor manter o portão fechado
(com algumas letras apagadas). Um visível alerta aos familiares e demais
pessoas que circulam por esse espaço para terem atenção e/ou cuidado.
113
Após passarmos pelo portão de entrada encontramos uma grande porta,
sendo que, quando fechada, é depositária de avisos/recados e imagens aos
familiares e comunidade. Desse modo, para além da entrada e saída dos
sujeitos, também exerce a função de mural de recados.
Também encontramos um pequeno portão de madeira (pela metade), o
mesmo permite que professoras e crianças visualizem quem chega à
instituição, local onde são realizados os primeiros contatos e em que
visitantes e/ou familiares são indagados em relação aos motivos da visita.
Ao passar por esse pequeno portão, nos deparamos com o refeitório, um
espaço não muito amplo, que atende ao número de 100 crianças,
principalmente por conta das inúmeras funções que exerce no cotidiano do
CEI. Nele encontramos duas mesas compridas de madeira, pintadas na cor
branca. Nelas são servidas quatro refeições diárias a quatro grupos: maternal
Alusão à festa do Divino Espírito Santo
Alusão à festa do Divino Espírito Santo Alusão à festa do Divino Espírito Santo
Alusão à festa do Divino Espírito Santo
Porta de Entra
Porta de EntraPorta de Entra
Porta de Entrada do CEI
da do CEIda do CEI
da do CEI
Foto tirada pela pesquisadora
Foto tirada pela pesquisadoraFoto tirada pela pesquisadora
Foto tirada pela pesquisadora
114
I, maternal II, Jardim I, Jardim II, apenas o grupo do Berçário realiza suas
refeições na sala.
Percebi que existe certo período de tempo destinado aos grupos, pois são
dois os grupos servidos por vez. Sendo que também não um
planejamento/organização desse espaço para torná-lo esteticamente mais
agradável nos momentos das refeições (toalhas, um vaso de flor, os
alimentos dispostos e de fácil acesso para escolha das crianças etc.;), que
cada criança recebe seu prato preparado de acordo com o cardápio do
dia e as refeições são sempre servidas pelas professoras e/ou outra
profissional.
Compartilho das idéias de Hoyuelos (2006) quando esse afirma que é
necessária uma organização do ambiente que o compreenda como
conteúdo do conteúdo, método do método. Um ambiente que não esteja
sistematizado em prol de uma rotina gida, mas em função dos sujeitos que
compartilham desse espaço, respeitando não apenas suas necessidades
imediatas (de alimentação), mas também as sensíveis/estéticas.
Un ambiente que es necesario pensar y vivir dentro de un
proyecto cultural-educativo, que los niños deben de sentir
nominalmente presente, capaz de solicitar polisensorialmente
su presencia y sus múltiples formas de interacción. (idem, p. 97-
98)
No refeitório, encontramos um bebedouro e uma pequena mesa
posicionada próxima à porta de uma das salas, em cima dela visualizamos a
imagem de Nossa Senhora Aparecida. Próximo às mesas em que as crianças
estão, um balcão branco na altura dos adultos, nele são depositados os
pratos, copos, jarras, talheres e os recipientes com os alimentos que serão
servidos às crianças. O refeitório também pode ser descrito como um espaço
de encontros/interações entre os grupos, mesmo que com restrições e/ou
regras impostas pelas profissionais. Nele, todos os dias pela manhã e final da
tarde as turmas enquanto realizam as refeições assistem às programações
115
da TV - ou filme/desenho -, tendo seu tempo estendido nesse local por
aproximadamente 2 horas.
A sala do Berçário possui cinco espaços bem circunscritos tanto para
crianças como para os adultos. Na entrada, uma parede azul com a
seguinte mensagem: “Fico feliz com sua visita, porém silêncio, pois posso
estar dormindo”. O primeiro espaço é o da entrada, nele encontramos um
espelho, que pela altura pode ser de fácil acesso dos bebês, mas nos dias
em que estive presente, não percebi que esses se dirigissem a ele e nem que
os adultos disponibilizassem esse acesso. que na porta da sala que
permanecem boa parte do tempo, existe uma grade, limitando seu
deslocamento pelo espaço. Os carrinhos das crianças geralmente são
depositados e/ou encostados na parede próximos a esse espelho. A sala da
esquerda lembra mais um depósito, um local não utilizado, nele foram
agrupados aproximadamente oito berços, bem próximos uns dos outros. Ao
indagar a professora responsável se as crianças dormiam naquela sala, ela
respondeu que não, pois “elas” (crianças), preferiam ficar todas juntas na
sala da direita.
Na sala que não é freqüentada pelos bebês, existem diversos painéis e
pinturas (pátina), tendo como tema de um lado a Turma da Mônica na
Fazenda e do outro um trenzinho com as vogais e a data de aniversário das
crianças. A sala da direita é o espaço em que os bebês permanecem boa
parte do tempo. Nela, também pudemos encontram alguns berços
encostados nas paredes, mas o espaço é mais amplo e os bebês se
relacionam entre si, brincando com objetos e almofadas coloridas por sobre
o edredom. Também nessa sala lhes é servida a alimentação.
Nas paredes, encontramos diversas imagens, todas numa altura de difícil
acesso para os bebês, tanto visual como tátil. Num dos lados da parede dois
‘coelhinhos da Páscoa’ um descansando por sobre um grande ovo colorido
e outro como que se apoiando sobre o ovo do ‘dorminhoco’, completam o
116
referido cenário, uma grama verde, sol com rosto, nuvens, flores coloridas
confeccionadas com emborrachado.
Em outra parede da mesma sala, quase que colado ao teto estão os
personagens da Turma da Mônica, representando a comemoração da data
do aniversário das crianças: chapéus coloridos, ngua-de-sogra, presentes. E
na porta dessa fixado ao alto encontramos a “Moranguinho em seu triciclo”.
O som sintonizado na estação de uma das rádios locais, toca uma música
sertaneja, ela se mistura ao som produzido pelos bebês e adultos e, ajudam
a compor esse cenário.
Entre a sala da direita e a da esquerda encontramos uma outra em que fica
o fraldário e a banheira, espaço de bastante movimento devido o número
de bebês (15). Na parede acima da banheira, um outro painel
representando a função desse espaço: “um bebê tomando banho”. Junto à
imagem, a seguinte mensagem: “Que banho gostoso”. Podemos reparar
que a letra S da frase está com a escrita espelhada.
As decorações do berçário
As decorações do berçárioAs decorações do berçário
As decorações do berçário
117
Fotos
FotosFotos
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
de Pricilla Cristine Trierweiller de Pricilla Cristine Trierweiller
de Pricilla Cristine Trierweiller
No Maternal I, no alto da porta visualizamos uma Hello Kitty. No interior da
sala, todas as paredes são preenchidas com algum painel e/ou cartaz
confeccionado pelas professoras, bem no alto estão algumas letras do
alfabeto e números. Numa das paredes mochilas, as toalhas penduradas,
peixinhos confeccionados com emborrachados, em outra a Bela
Adormecida. No chão, um tapete verde e uma caixa de madeira onde
são guardados os brinquedos.
As decorações do Maternal I
As decorações do Maternal IAs decorações do Maternal I
As decorações do Maternal I
118
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Na porta da sala do Maternal II, pintada na cor azul, encontramos um
móbile de uma centopéia. Que de certo modo chamou minha atenção,
que de todas as portas das salas observadas essa foi à única decoração que
contou com a participação das crianças. No interior da sala, está um outro
móbile, o de um pequeno caracol amarrado na luminária. Até a metade da
parede, uma faixa azul pintada e na divisão dessa encontra-se um
palhaço amarelo equilibrando-se apenas com uma das mãos e com as
pernas para o alto. Destaco que o referido painel também foi
confeccionado pelas professoras.
119
As decorações do Maternal II
As decorações do Maternal IIAs decorações do Maternal II
As decorações do Maternal II
F
FF
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
otos de Pricilla Cristine Trierweillerotos de Pricilla Cristine Trierweiller
otos de Pricilla Cristine Trierweiller
Na porta do Jardim I, deparamo-nos com um cartaz rosa fazendo o fundo
do cenário da ‘Moranguinho com seu querido Pônei’. No interior da sala,
está um quadro na altura das crianças e acima desse, desenhos
mimeografados contendo a ‘carinha’ do coelho da Páscoa pintado pelas
crianças do grupo. Um pouco mais acima estão as letras do alfabeto e os
numerais todos confeccionados com alternância de cores. Também
encontramos uma mesa grande com banco, lugar em que são geralmente
realizadas as ‘atividades’.
120
As decorações do Jardim
As decorações do JardimAs decorações do Jardim
As decorações do Jardim I
I I
I
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Na porta do Jardim II, visualizamos um cartaz que representa uma menina e
um menino de mãos dadas. Para a sua confecção foram utilizados tecidos e
lã. Abaixo do referido cartaz, o coelho da Páscoa segurando um ovo. Essa é
a menor sala da creche, as mesas ficam encostadas na parede e acima
delas são depositadas as cadeiras. A sala é contornada por diversos
personagens de desenhos animados como o Homem Aranha e a Hello Kitty,
também se visualiza um cartaz de pregas com o nome das crianças, mas
esse se encontrava numa altura que não permitia o acesso das crianças.
121
As Decorações de Jardim II
As Decorações de Jardim IIAs Decorações de Jardim II
As Decorações de Jardim II
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
O parque do CEI é um lugar bem diferente dos outros parques de instituições
de Educação Infantil que conheço. que esses locais geralmente possuem
brinquedos como gangorras, escorregas, balanços, casinha, trepa-trepa...
além de algumas árvores que não servem de abrigo nos dias de sol, mas
também pode ser um esconderijo, um lugar para brincadeiras ou ainda um
lugar para descanso. Em 2006, neste local havia apenas um escorregador,
mas em meados de 2007, a instituição recebeu como doação uma estrutura
com uma pequena casinha e dois escorregadores acoplados, se tornando
um brinquedo bastante disputado.
122
O parque
O parqueO parque
O parque...
......
...
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
123
Um outro grande contraste que observei: apenas uma pequena árvore
no parque e que também é a única em todo o CEI. Então percebo que as
árvores estão do lado de fora, que o verde está ao entorno, será que isso é
sentido/percebido pelos sujeitos que nesse espaço convivem? Como não
comparar? Como não se sentir incomodo em estar em um lugar no qual
crianças não têm brinquedos? Um lugar sem brinquedos é um lugar sem
brincadeiras? Será que nesse local não espaço para as expressões
artístico-culturais das crianças e professoras?
124
C
CC
CAPÍTULO
APÍTULO APÍTULO
APÍTULO IV
IVIV
IV
PROFESSORAS: NARRATIVAS, MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E
PROFESSORAS: NARRATIVAS, MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E PROFESSORAS: NARRATIVAS, MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E
PROFESSORAS: NARRATIVAS, MEMÓRIAS, HISTÓRIAS E
EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS
EXPERIÊNCIAS ESTÉTICASEXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS
EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS
Matisse
Matisse Matisse
Matisse
Estão aqui, quantas, vinte pessoas e cada uma delas
Estão aqui, quantas, vinte pessoas e cada uma delasEstão aqui, quantas, vinte pessoas e cada uma delas
Estão aqui, quantas, vinte pessoas e cada uma delas
seria uma história, nem se imagina, anos e anos a
seria uma história, nem se imagina, anos e anos aseria uma história, nem se imagina, anos e anos a
seria uma história, nem se imagina, anos e anos a
viver é muito tempo e muito caso, se cada um
viver é muito tempo e muito caso, se cada umviver é muito tempo e muito caso, se cada um
viver é muito tempo e muito caso, se cada um
escrevesse a sua vida, que grande biblioteca, teríamos
escrevesse a sua vida, que grande biblioteca, teríamosescrevesse a sua vida, que grande biblioteca, teríamos
escrevesse a sua vida, que grande biblioteca, teríamos
de levar os livros para a Lua e quando quiséssemos
de levar os livros para a Lua e quando quiséssemosde levar os livros para a Lua e quando quiséssemos
de levar os livros para a Lua e quando quiséssemos
sab
sabsab
saber quem Fulano é ou foi, viajaríamos pelo espaço
er quem Fulano é ou foi, viajaríamos pelo espaçoer quem Fulano é ou foi, viajaríamos pelo espaço
er quem Fulano é ou foi, viajaríamos pelo espaço
para descobrir aquele mundo, não a Lua, mas a vida.
para descobrir aquele mundo, não a Lua, mas a vida.para descobrir aquele mundo, não a Lua, mas a vida.
para descobrir aquele mundo, não a Lua, mas a vida.
José Saramago
José SaramagoJosé Saramago
José Saramago (2007)
(2007) (2007)
(2007) -
--
-
Levantado do Chão
Levantado do ChãoLevantado do Chão
Levantado do Chão
125
Nesta seção, busco nas entrevistas realizadas com as professoras os sentidos
e significados atribuídos em relação a sua formação artístico-cultural. Tomo
como base não os relatos das experiências estéticas que essas
profissionais obtiveram nos espaços dos cursos de formação de professores a
qual freqüentaram (Magistério e/ou Pedagogia), mas também as marcas de
outros espaços sociais (familiar, cultural, de atuação profissional etc.).
No capítulo anterior, apresentei o contexto em que as professoras
pesquisadas vivem e atuam como profissionais da infância. Um contexto
situado, não isolado, que congrega as marcas de discursos sociais
hegemônicos que são por vezes incorporados e adotados como referenciais.
Essa compreensão possibilitou-me não considerar em si e por si, as
entrevistas
56
que foram realizadas com as doze professoras do CEI
pesquisado. Como se os sentidos e/ou os significados que essas profissionais
atribuíssem em relação a sua formação ou prática com as linguagens
artísticas fosse fruto de uma subjetividade e/ou de uma particularidade que
estivesse isolada de um contexto sócio-cultural mais amplo.
Diante das narrativas das professoras, (aqui na escrita do texto e no
campo) tive como pressuposto não culpabilizá-las. O que não significou
naturalizar todas as posturas e respostas atribuídas às questões elencadas.
Tive como base o que Bakhtin (2003) denominou de responsibilidade
57
, isto é
o princípio de que sempre respondemos por nossos atos, independente de
termos ou não consciência dos mesmos. E respondemos sempre a nós
mesmos e aos outros. Logo, não culpabilizá-las não as exime (ou nos exime)
do princípio de responsibilidade.
Os discursos das professoras participantes da pesquisa foram considerados
“como memória coletiva do passado, consciência crítica do presente e
premissa operativa do futuro” (KRAMER, 2004, p.03). Isso implica
compreender os discursos das professoras para além das palavras proferidas,
56
Ver Apêndice.
57
Consultar nota 17.
126
para além das superficiais impressões. Nesse sentido, foi imprescindível
atravessar o contexto e as intenções dos que proferem os discursos. Para
Bakhtin (2003), o texto possui vida quando interligado com outro texto
(contexto). nessa relação o diálogo ganha vida e ilumina a relação entre
sujeitos.
Antes de adentrarmos nos discursos das professoras, é necessário explicitar
quem são essas profissionais. O quadro a seguir, visibilidade a um breve
perfil das mesmas, contendo alguns aspectos de sua trajetória, formação e
escolaridade.
Quadro 5: As professoras participantes da pesquisa
Quadro 5: As professoras participantes da pesquisaQuadro 5: As professoras participantes da pesquisa
Quadro 5: As professoras participantes da pesquisa
Professoras
ProfessorasProfessoras
Professoras
Formação
FormaçãoFormação
Formação
Idade
IdadeIdade
Idade
Tempo de
Tempo de Tempo de
Tempo de
Serviço na
Serviço naServiço na
Serviço na
EI
EIEI
EI
Carga
CargaCarga
Carga-
--
-horária
horária horária
horária
de trabalho
de trabalhode trabalho
de trabalho
Na instituição
Na instituiçãoNa instituição
Na instituição
Renda
Renda Renda
Renda
Familiar
FamiliarFamiliar
Familiar
N
NN
Número de
úmero de úmero de
úmero de
pessoas da
pessoas da pessoas da
pessoas da
família
famíliafamília
família
1
11
1
Júlia
JúliaJúlia
Júlia
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
27 anos
27 anos27 anos
27 anos
9 anos como
9 anos como 9 anos como
9 anos como
Professora
ProfessoraProfessora
Professora
Da EI
Da EI Da EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado) -
--
-
Matutino
MatutinoMatutino
Matutino
20 horas (na
20 horas (na 20 horas (na
20 horas (na
Educação
Educação Educação
Educação
Especial)
Especial) Especial)
Especial) -
--
-
Vespertino
Vespertino Vespertino
Vespertino
5 salários
5 salários5 salários
5 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
3 pessoas
3 pessoas3 pessoas
3 pessoas
2
22
2
Cláudia
CláudiaCláudia
Cláudia
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
32 anos
32 anos32 anos
32 anos
1 ano e
1 ano e 1 ano e
1 ano e
meio como
meio como meio como
meio como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Matutino
MatutinoMatutino
Matutino
20 horas (Em
20 horas (Em 20 horas (Em
20 horas (Em
outro CEI
outro CEI outro CEI
outro CEI
Prefeitura
Prefeitura Prefeitura
Prefeitura
Municipal de
Municipal de Municipal de
Municipal de
Florianópolis)
Florianópolis) Florianópolis)
Florianópolis)
Vespertino
VespertinoVespertino
Vespertino
6 salários
6 salários 6 salários
6 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
2 pessoas
2 pessoas2 pessoas
2 pessoas
3
33
3
Ana Júlia
Ana JúliaAna Júlia
Ana Júlia
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI
(UNIVALI(UNIVALI
(UNIVALI)
) )
) –
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
37 anos
37 anos37 anos
37 anos
20 anos
20 anos 20 anos
20 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
40 horas (CEI
40 horas (CEI 40 horas (CEI
40 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Integral
IntegralIntegral
Integral
4 salários
4 salários 4 salários
4 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
4 pessoas
4 pessoas4 pessoas
4 pessoas
4
44
4
Ana Maria
Ana MariaAna Maria
Ana Maria
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
40 anos
40 anos40 anos
40 anos
16 anos
16 anos 16 anos
16 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
40 horas (CEI
40 horas (CEI 40 horas (CEI
40 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
I
II
Integral
ntegralntegral
ntegral
4 salários
4 salários 4 salários
4 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
5 pessoas
5 pessoas5 pessoas
5 pessoas
5
55
5
Isabela
IsabelaIsabela
Isabela
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
22 anos
22 anos22 anos
22 anos
6 anos como
6 anos como 6 anos como
6 anos como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Matutino
MatutinoMatutino
Matutino
20 horas
20 horas 20 horas
20 horas
(Educação
(Educação (Educação
(Educação
6 salários
6 salários 6 salários
6 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
5 pessoas
5 pessoas5 pessoas
5 pessoas
127
Especial)
Especial) Especial)
Especial) –
Vespertino
VespertinoVespertino
Vespertino
6
66
6
Beatriz
BeatrizBeatriz
Beatriz
Ped
PedPed
Pedagogia
agogia agogia
agogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
41 anos
41 anos41 anos
41 anos
14 anos
14 anos 14 anos
14 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Matutino
MatutinoMatutino
Matutino
4 salários
4 salários 4 salários
4 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
4 pessoas
4 pessoas4 pessoas
4 pessoas
7
77
7
Bianca
BiancaBianca
Bianca
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI) (UNIVALI)
(UNIVALI)
Pós
PósPós
Pós-
--
-graduação
graduação graduação
graduação
EI e SI
EI e SIEI e SI
EI e SI
29 anos
29 anos29 anos
29 anos
8 anos como
8 anos como 8 anos como
8 anos como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
40 horas (CEI
40 horas (CEI 40 horas (CEI
40 horas (CEI
pesq
pesqpesq
pesquisado)
uisado) uisado)
uisado)
Integral
IntegralIntegral
Integral
5 salários
5 salários 5 salários
5 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
5 pessoas
5 pessoas5 pessoas
5 pessoas
8
88
8
Joana
JoanaJoana
Joana
Pedagogia
Pedagogia Pedagogia
Pedagogia
(UNIVALI)
(UNIVALI)(UNIVALI)
(UNIVALI)
30 anos
30 anos30 anos
30 anos
11 anos
11 anos 11 anos
11 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EI Da EI
Da EI
20 horas (em
20 horas (em 20 horas (em
20 horas (em
outra
outra outra
outra
instituição
instituição instituição
instituição
efetiva no
efetiva no efetiva no
efetiva no
município SAI)
município SAI) município SAI)
município SAI)
Matutino
Matutino Matutino
Matutino
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Vespertino
VespertinoVespertino
Vespertino
3 salários
3 salários 3 salários
3 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
3 pessoa
3 pessoa3 pessoa
3 pessoas
ss
s
9
9 9
9
Mariana
MarianaMariana
Mariana
Faculdade em
Faculdade em Faculdade em
Faculdade em
Desing de
Desing de Desing de
Desing de
interiores
interiores interiores
interiores
Magistério
Magistério Magistério
Magistério
Segundo
Segundo Segundo
Segundo
Grau
GrauGrau
Grau
29 anos
29 anos29 anos
29 anos
11 anos
11 anos 11 anos
11 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EI Da EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Vespertino
VespertinoVespertino
Vespertino
8 salários
8 salários 8 salários
8 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
3 pessoas
3 pessoas3 pessoas
3 pessoas
10
1010
10
Gabriela
GabrielaGabriela
Gabriela
Magistério
Magistério Magistério
Magistério
Segundo
Segundo Segundo
Segundo
Grau
GrauGrau
Grau
e adicional da
e adicional da e adicional da
e adicional da
pré
prép
pré-
--
-escola
escolaescola
escola
31 ano
31 ano31 ano
31 anos
ss
s
10 anos
10 anos 10 anos
10 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
período
período período
período
intermediário
intermediáriointermediário
intermediário
6 salários
6 salários 6 salários
6 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
4 pessoas
4 pessoas4 pessoas
4 pessoas
11
1111
11
Nayana
NayanaNayana
Nayana
Magistério
Magistério Magistério
Magistério
Segundo
Segundo Segundo
Segundo
Grau
GrauGrau
Grau
47 anos
47 anos47 anos
47 anos
18 anos
18 anos 18 anos
18 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
Da EI
Da EIDa EI
Da EI
40 horas (CEI
40 horas (CEI 40 horas (CEI
40 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
período integral
período integralperíodo integral
período integral
9 salários
9 salários 9 salários
9 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
4
4 4
4 pessoas
pessoaspessoas
pessoas
12
1212
12
Laiza
LaizaLaiza
Laiza
Magistério
Magistério Magistério
Magistério
Segundo
Segundo Segundo
Segundo
Grau
GrauGrau
Grau
29 anos
29 anos29 anos
29 anos
10 anos
10 anos 10 anos
10 anos
como
como como
como
professora
professoraprofessora
professora
da EI
da EIda EI
da EI
20 horas (CEI
20 horas (CEI 20 horas (CEI
20 horas (CEI
pesquisado)
pesquisado) pesquisado)
pesquisado)
Vespertino
VespertinoVespertino
Vespertino
3 salários
3 salários 3 salários
3 salários
mínimos
mínimosmínimos
mínimos
2 pessoas
2 pessoas2 pessoas
2 pessoas
Fonte: entrevistas individuais com as professoras que participaram da pesquisa. Dados
obtidos entre novembro e dezembro de 2006
O quadro anterior demarca que as professoras pesquisadas possuem entre
22 e 47 anos. Que em sua maioria são formadas em Pedagogia pela
Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) e Pós-Graduação em Educação
Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental. Essas profissionais concluíram o
128
curso entre os anos de 2003 e 2004, sendo que apenas quatro delas contam
apenas com a formação em magistério (nível de segundo-grau).
Constata-se que muitas dessas profissionais possuem mais de dez anos de
experiência profissional na Educação Infantil (oito delas) e, das que
apresentam menos de dez anos, apenas uma tem tempo inferior a dois anos.
As demais possuem entre seis, oito e nove anos. A renda familiar está em
torno de três a nove salários nimos. Outro aspecto importante, diz respeito
à carga horária de trabalho dessas profissionais, oito delas trabalham 40
horas semanais, sendo que dessas a metade está vinculada à outra
instituição que não a pesquisada. As demais trabalham apenas 20 horas.
“[...] Nós estudamos juntas! Fiz a faculdade com quase todas as
“[...] Nós estudamos juntas! Fiz a faculdade com quase todas as “[...] Nós estudamos juntas! Fiz a faculdade com quase todas as
“[...] Nós estudamos juntas! Fiz a faculdade com quase todas as
meninas que trabalham aqui. Tivemos as mesmas disciplinas, os
meninas que trabalham aqui. Tivemos as mesmas disciplinas, os meninas que trabalham aqui. Tivemos as mesmas disciplinas, os
meninas que trabalham aqui. Tivemos as mesmas disciplinas, os
mesmos professores, fizemos trabalhos juntas... Todas nós de alguma
mesmos professores, fizemos trabalhos juntas... Todas nós de alguma mesmos professores, fizemos trabalhos juntas... Todas nós de alguma
mesmos professores, fizemos trabalhos juntas... Todas nós de alguma
forma conhecemos umas as outras. Sabemos das dificuldad
forma conhecemos umas as outras. Sabemos das dificuldadforma conhecemos umas as outras. Sabemos das dificuldad
forma conhecemos umas as outras. Sabemos das dificuldades de cada
es de cada es de cada
es de cada
uma. Estabelecemos uma relação que vai para além da profissional.
uma. Estabelecemos uma relação que vai para além da profissional. uma. Estabelecemos uma relação que vai para além da profissional.
uma. Estabelecemos uma relação que vai para além da profissional.
[...]” (Ana Maria
[...]” (Ana Maria [...]” (Ana Maria
[...]” (Ana Maria
– entrevista realizada em: 01/11/06).
entrevista realizada em: 01/11/06). entrevista realizada em: 01/11/06).
entrevista realizada em: 01/11/06).
O discurso da profissional acima resume o que compreendo ser um dos
principais aspectos em relação ao horizonte espacial e ideacional comum
às professoras. Suas palavras nos fornecem indicativos do que Bakhtin (1972)
denomina de contexto extraverbal. Ana Maria nos indica que freqüentou o
curso de Pedagogia com muitas das colegas com as quais trabalha/convive
no CEI. Sendo que eu, ainda que durante a pesquisa estivesse em papel
e/ou lugar diverso, no de pesquisadora, também freqüentei o curso de
Pedagogia na mesma modalidade do que as professoras pesquisadas.
Desse modo, além dos presumidos
58
constituídos no espaço da pesquisa,
ambas (professoras e eu) compartilhamos de outros presumidos, os da
formação acadêmica. Isso facilitou em alguns aspectos, como por exemplo,
compreender a estrutura do curso, seu funcionamento, a carga horária das
58
Bakhtin (1972) denomina de presumidos quando conhecemos o horizonte espacial e
ideacional compartilhado pelos falantes.
129
disciplinas, conhecer alguns professores, etc., mas também em outros
dificultou, já que também tive que realizar constantemente o complexo
movimento de estranhar o familiar e familiarizar o que me parecia estranho.
(MARTINS, s/d)
Durante a realização das entrevistas individuais, bem como em outros
momentos/situações em que conversamos, constatei que as profissionais
queixavam-se constantemente em relação ao salário e a carga-horária
excessiva de trabalho. Essa questão foi recorrente em seus discursos sendo
utilizada até mesmo como um fator/explicação para as diversas dificuldades
que estavam enfrentando tanto no espaço de atuação profissional, quanto
na vida pessoal.
Ao entrar em contato com os discursos das professoras, constatei o
incomodo que estas atribuíram em relação a sua trajetória formativa. Isto é,
por meio da memória foi possível acessar polaridades, dualidades,
lembranças boas e ruins, as reminiscências das imagens perdidas, do
desenho esquecido, das brincadeiras interrompidas, do movimento
atrofiado, etc. (ALBANO MOREIRA, 2002).
Ao atravessar o passado, com os olhos do presente e as expectativas do
futuro, podemos dar visualidade (dentre outros) a um conjunto de vivências
estéticas que influíram em suas constituições de professoras-pessoas. Para
Molon (2006, p.101), quando as professoras discursam sobre suas trajetórias
passadas, recontam-nas tomando por base as referências presentes. “Assim,
tanto as histórias como seu sentido vão sendo (re) elaborados ao longo do
tempo, a partir de formas distintas de ver as próprias histórias” (idem). Essas
formas distintas que permanecem na memória e são constantemente
(re)significadas pelo ato de narrar, e que são/estão circunscritas no corpo,
servem como referenciais (contrapalavras e/ou polifonia para Bakhtin) nas
ações e/ou vivências, sendo tratadas aqui como Repertório.
Para Nogueira (2002, p. 16):
130
(...) a formação cultural do indivíduo é mesmo semelhante a
uma bagagem que acumulamos ao longo da vida e, vez por
outra, encontramos em nossos guardados pequenos objetos
dos quais lançamos mão para nos ajudar a destrinchar os
desafios que a vida nos apresenta.
Para analisar a formação artístico-cultural das professoras pesquisadas, parti
dessa idéia de ‘repertório, e/ou bagagem’ que vamos acumulando
significativamente ao longo de nossa trajetória formativa. Para isso, dividi
esse capítulo em três partes: Repertórios de casa; Repertórios da escola;
Repertórios da Atuação Profissional. Mas devo ressaltar que essas categorias
as quais foram separadas para análise são compreendidas dentro do
princípio de inteireza, já referendado anteriormente, isto é, o de não sonegar
e nem polarizar a formação/constituição dos sujeitos a apenas uma
dimensão. Essas três partes em sua integridade constituem o que será
denominado de Repertório Artístico-Cultural das Professoras.
131
Formação artístico-cultural: Repertórios de “casa”
“Eu adoro música, a sica
“Eu adoro música, a sica “Eu adoro música, a sica
“Eu adoro música, a sica
faz parte da minha vida.
faz parte da minha vida. faz parte da minha vida.
faz parte da minha vida.
Tenho paixão pela escola de
Tenho paixão pela escola de Tenho paixão pela escola de
Tenho paixão pela escola de
Samba Unidos da Imperatriz.
Samba Unidos da Imperatriz. Samba Unidos da Imperatriz.
Samba Unidos da Imperatriz.
Sempre estou envolvida com a
Sempre estou envolvida com a Sempre estou envolvida com a
Sempre estou envolvida com a
organização e as quest
organização e as questorganização e as quest
organização e as questões dos
ões dos ões dos
ões dos
desfiles no município. (...) Não
desfiles no município. (...) Não desfiles no município. (...) Não
desfiles no município. (...) Não
consigo imaginar minha vida
consigo imaginar minha vida consigo imaginar minha vida
consigo imaginar minha vida
pessoal sem isso.” (Ana lia
pessoal sem isso.” (Ana lia pessoal sem isso.” (Ana lia
pessoal sem isso.” (Ana lia
depoimento em 12/06/2007)
depoimento em 12/06/2007)depoimento em 12/06/2007)
depoimento em 12/06/2007)
Os repertórios de casa nos fornecem um panorama do circuito de relações
das professoras pesquisadas, das suas limitações e possibilidades. Portanto
das reais condições de acesso e permanência a espaços sociais de cultura e
das condições materiais de existência que oportunizaram/oportunizam ou
não tal acesso. Tais condições e situações, em sua maioria, não se restringem
apenas às professoras pesquisadas, pois emergem de um contexto sócio-
cultural mais amplo.
Trata-se da constituição de sentidos e/ou significados que fazem com que o
eu-para-mim se constitua depois de ir ao encontro com o outro. Da
interação do sujeito entre sujeitos, da polifonia urbana com seus gêneros
discursivos e formativos, com seus códigos culturais da linguagem da
comunicação mediada, que rompem o limiar da interação verbal, do dito,
abarcando também a esfera do não-dito da enunciação concreta e
culturalmente configurada uma composição estética baseada em critérios
de julgamento de base sócio-histórica.
132
Penso que a justificativa para acessarmos a formação artístico-cultural -
repertórios de casa das professoras; es(dentre outras coisas) na afirmação
lançada por Kramer (2005, p.21):
A formação cultural de professores é parte do processo de
construção da cidadania, é direito de todos, se considerarmos
que todos crianças e adultos, somos indivíduos sociais,
sujeitos históricos, cidadãos e cidadãs produzidos na cultura e
produtores de cultura. Cidadãos que têm direitos sociais, entre
eles, direito à educação e à cultura.
Discutir sobre os repertórios de casa, os referenciais artístico-culturais das
professoras-pessoas, perpassa pela problemática do acesso. Não olvidando
o contexto e/ou horizonte espacial e ideacional em que essas profissionais
da infância vivem e trabalham. Um contexto como assinalado
anteriormente, situado no sul do Brasil, limitado em termos de espaços
permanentes de cultura (apenas a Banda de Música, a Casa da Cultura e
uma Biblioteca Pública Municipal), mas concomitantemente atravessado
por condicionantes universais da organização social vigente que dialogam e
insuflam no itinerário formativo de todos os sujeitos.
Baseada em tais contrapalavras, lancei os seguintes questionamentos: O que
as professoras-pessoas fazem em seu “tempo livre”? Visitam espaços de
cultura (cinema, teatro, galerias de arte, museu etc.,)? Viajam? Lêem livros
de literatura? Escutam que tipos de música? Que sentidos perpassam em
relação aos seus discursos que podem contribuir para pensarmos a
problemática da formação e/ou ampliação de seus repertórios de casa?
Isto é, do acesso e permanência a espaços de cultura, a ampliação de seus
referenciais literários, artísticos e imagéticos como direito de todos e não de
alguns?
133
A queixa da ausência dos espaços permanentes de cultura no município
Os espaços culturais são compreendidos aqui como locais privilegiados e
indispensáveis para o acesso, criação e divulgação da cultura,
oportunizando aos sujeitos em suas mais diversas formas de interação e
produção, o enriquecimento e a ampliação de seu referencial artístico-
cultural.
Para Bakhtin (2003), a polifonia de uma obra diz respeito à pluralidade de
vozes que, guiadas para fins múltiplos, apresentam-se libertas da idéia
incorporada do autor. Uma obra exposta representa a possibilidade da
interação entre consciências inacabadas, a multiplicidade de sentidos,
desvios, (des)combinações. Essempre além do sentido inicial do criador e
para além da captura do contemplador. Estar diante de uma obra de arte
é estar diante de tensões, é atestar a presença do outro, a quem minha
palavra se dirige, mas que nem sempre se identifica comigo, daquele a
quem tento capturar, mas que sempre me escapa.
Segundo Coli (2006), a freqüentação serve de lugar de encontro, de
comunhão intuitiva com uma obra particular materializada pelas mãos de
um outrem. Argumenta ainda, a necessidade do contato direto com a obra.
Uma possibilidade inigualável de percorrer e descobrir outros caminhos que
uma reprodução igualmente não nos forneceria. “A arte não nos coloca de
acordo ela nos irmana” Coli (2006, p.126). Entretanto esse autor argumenta
que falar desse direito é fácil. O difícil é encontrarmos essa condição na
prática, que as circunstâncias materiais de existência não são igualmente
oportunizadas a todos.
Quando questionadas em relação ao que costumavam fazer nos finais de
semana, as professoras pesquisadas expuseram que geralmente freqüentam
a casa de algum parente e/ou amigo. Ou ainda, as denominadas “festas de
Capela” realizadas na comunidade e/ou proximidade de onde residem e,
que, apenas, vez ou outra, saem do município, para ir ao cinema e/ou
134
shopping. Mas raramente deslocam-se para fora do município com a
intenção de ir ao museu, teatro, galerias e exposições.
“Nos fins de semana a gente passeia bastante! Vamos para a casa dos
“Nos fins de semana a gente passeia bastante! Vamos para a casa dos Nos fins de semana a gente passeia bastante! Vamos para a casa dos
“Nos fins de semana a gente passeia bastante! Vamos para a casa dos
familiares, do meu sogro, da minha sogra... a gente vai bastante
familiares, do meu sogro, da minha sogra... a gente vai bastante familiares, do meu sogro, da minha sogra... a gente vai bastante
familiares, do meu sogro, da minha sogra... a gente vai bastante
também para o cinema... no Shopp
também para o cinema... no Shopptambém para o cinema... no Shopp
também para o cinema... no Shopping Itaguaçu”. (Cláudia
ing Itaguaçu”. (Cláudia ing Itaguaçu”. (Cláudia
ing Itaguaçu”. (Cláudia
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)
“Nos finais de semana s saímos para ir ao Shopping, na casa da
“Nos finais de semana s saímos para ir ao Shopping, na casa da “Nos finais de semana nós saímos para ir ao Shopping, na casa da
“Nos finais de semana s saímos para ir ao Shopping, na casa da
minha mãe, de algum parente, algum amigo. Também participamos
minha mãe, de algum parente, algum amigo. Também participamos minha mãe, de algum parente, algum amigo. Também participamos
minha mãe, de algum parente, algum amigo. Também participamos
das festas que acontecem na comunidade” (Joana
das festas que acontecem na comunidade” (Joana das festas que acontecem na comunidade” (Joana
das festas que acontecem na comunidade” (Joana
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
reali
realireali
realizada em: 12/12/2006)
zada em: 12/12/2006)zada em: 12/12/2006)
zada em: 12/12/2006)
“Nos finais de semana nós passeamos, vamos ao Shopping, às vezes no
“Nos finais de semana nós passeamos, vamos ao Shopping, às vezes no “Nos finais de semana nós passeamos, vamos ao Shopping, às vezes no
“Nos finais de semana nós passeamos, vamos ao Shopping, às vezes no
cinema, vamos a festas de capelas, almoçamos fora, vamos para a
cinema, vamos a festas de capelas, almoçamos fora, vamos para a cinema, vamos a festas de capelas, almoçamos fora, vamos para a
cinema, vamos a festas de capelas, almoçamos fora, vamos para a
piscina, ou então às vezes ficamos em casa descansando” (Naiana
piscina, ou então às vezes ficamos em casa descansando” (Naiana piscina, ou então às vezes ficamos em casa descansando” (Naiana
piscina, ou então às vezes ficamos em casa descansando” (Naiana
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Ao procurar, nos discursos das professoras, algumas das razões que atribuem
como explicação para a não diversificação de suas vivências, poderemos
encontrar as seguintes indicações:
“Eu não freqüento, porque a gente mora aqui e fica muito difícil. Ess
“Eu não freqüento, porque a gente mora aqui e fica muito difícil. Ess“Eu não freqüento, porque a gente mora aqui e fica muito difícil. Ess
“Eu não freqüento, porque a gente mora aqui e fica muito difícil. Esses
es es
es
espaços geralmente têm no centro
espaços geralmente têm no centroespaços geralmente têm no centro
espaços geralmente têm no centro
59
5959
59
, né? E aos finais de semana nós não
, né? E aos finais de semana nós não , né? E aos finais de semana nós não
, né? E aos finais de semana nós não
saímos porque temos as crianças e meu marido não gosta de ir até o
saímos porque temos as crianças e meu marido não gosta de ir até o saímos porque temos as crianças e meu marido não gosta de ir até o
saímos porque temos as crianças e meu marido não gosta de ir até o
“centro” de carro... É muito longe... É muito perigoso... Então ficamos
“centro” de carro... É muito longe... É muito perigoso... Então ficamos “centro” de carro... É muito longe... É muito perigoso... Então ficamos
“centro” de carro... É muito longe... É muito perigoso... Então ficamos
por aqui!” (Beatriz
por aqui!” (Beatriz por aqui!” (Beatriz
por aqui!” (Beatriz –
– Entrevista realizada e
Entrevista realizada e Entrevista realizada e
Entrevista realizada em: 03/11/2006)
m: 03/11/2006)m: 03/11/2006)
m: 03/11/2006)
“Não! É muito difícil, que aqui o poucos os espaços disponíveis.
“Não! É muito difícil, que aqui o poucos os espaços disponíveis. “Não! É muito difícil, que aqui são poucos os espaços disponíveis.
“Não! É muito difícil, que aqui o poucos os espaços disponíveis.
Não temos museu, não temos teatro, não temos cinema... acho que na
Não temos museu, não temos teatro, não temos cinema... acho que na Não temos museu, não temos teatro, não temos cinema... acho que na
Não temos museu, não temos teatro, não temos cinema... acho que na
verdade não temos nada! No centro é que tem mais opções, mais é muito
verdade não temos nada! No centro é que tem mais opções, mais é muito verdade não temos nada! No centro é que tem mais opções, mais é muito
verdade não temos nada! No centro é que tem mais opções, mais é muito
longe, sai muito caro se deslocar
longe, sai muito caro se deslocarlonge, sai muito caro se deslocar
longe, sai muito caro se deslocar até com a família, então não vou,
até com a família, então não vou, até com a família, então não vou,
até com a família, então não vou,
não porque não quero, mas porque fica difícil” (Joana
não porque não quero, mas porque fica difícil” (Joana não porque não quero, mas porque fica difícil” (Joana
não porque não quero, mas porque fica difícil” (Joana –
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 12/12/2006)
realizada em: 12/12/2006)realizada em: 12/12/2006)
realizada em: 12/12/2006)
59
Quando as professoras utilizam a expressão ‘centro’, estão se referindo à Capital
Florianópolis.
135
“Não vou, mas não é porque não procuro, porque não gosto, é que dentro
“Não vou, mas não é porque não procuro, porque não gosto, é que dentro “Não vou, mas não é porque não procuro, porque não gosto, é que dentro
“Não vou, mas não é porque não procuro, porque não gosto, é que dentro
do nosso município não tem muito disso aí..., mas se
do nosso município não tem muito disso aí..., mas se do nosso município não tem muito disso aí..., mas se
do nosso município não tem muito disso aí..., mas se tivesse com
tivesse com tivesse com
tivesse com
certeza eu iria porque eu adoro sica... música... Arte eu adoro!“ (Ana
certeza eu iria porque eu adoro sica... música... Arte eu adoro!“ (Ana certeza eu iria porque eu adoro sica... música... Arte eu adoro!“ (Ana
certeza eu iria porque eu adoro sica... música... Arte eu adoro!“ (Ana
Júlia
Júlia Júlia
Júlia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Das doze professoras pesquisadas, apenas uma professora, em seu discurso
afirmou freqüentar espaços de cultura:
“Sempre qu
“Sempre quSempre qu
“Sempre que viajamos, visitamos os museus, pelo menos uma vez no
e viajamos, visitamos os museus, pelo menos uma vez no e viajamos, visitamos os museus, pelo menos uma vez no
e viajamos, visitamos os museus, pelo menos uma vez no
ano. A gente foi para a serra, daí conhecemos o museu lá. Também
ano. A gente foi para a serra, daí conhecemos o museu lá. Também ano. A gente foi para a serra, daí conhecemos o museu lá. Também
ano. A gente foi para a serra, daí conhecemos o museu lá. Também
fomos para São Francisco do Sul e visitamos o de também, foi bem
fomos para São Francisco do Sul e visitamos o de também, foi bem fomos para São Francisco do Sul e visitamos o de também, foi bem
fomos para São Francisco do Sul e visitamos o de também, foi bem
legal! Quando vou ao museu gosto ver as obras e conhecer a vida dos
legal! Quando vou ao museu gosto ver as obras e conhecer a vida dos legal! Quando vou ao museu gosto ver as obras e conhecer a vida dos
legal! Quando vou ao museu gosto ver as obras e conhecer a vida dos
artistas, os detalhes, ano, nascimento, tudo! [...] Acho que é bom
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artistas, os detalhes, ano, nascimento, tudo! [...] Acho que é bom
sabermos mais... para podermos ensinar melhor as crianças [...]”
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(Cláudia
(Cláudia (Cláudia
(Cláudia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Desse modo, os discursos das professoras, além de denunciar a ausência de
espaços permanentes de cultura no município, também apontam como
motivo e/ou fator, explicação esta de que para deslocarem-se a outros
municípios mais urbanos seria difícil, por conta de: distância, cansaço,
perigos, falta de tempo, questão financeira etc. Tais fatores combinados a
outros que não são supracitados inicialmente representam explicações
naturalizadas do porquê não ir, do porquê não vivenciar outras experiências
para além das cotidianas e/ou rotineiras. Acrescentemos a isso, o dado de
que os poucos espaços permanentes de cultura do município praticamente
não o freqüentados por elas e que muitas dessas profissionais sequer
mencionam e/ou conhecem tais locais.
Não desconsidero que esses fatores são limitadores, mas penso que os
motivos da sua não freqüência a espaços permanentes de cultura o para
além dos indicados acima. Assim, discutir sobre a freqüentação não é
esgotar e/ou naturalizar os motivos e/ou explicações atribuídas pelas
professoras, mais ir um pouco além desses. Não devemos esquecer as
condições sócio-culturais que produzimos e que nos produzem. E se vivemos
136
em uma sociedade de classes, em que uns tem mais que os outros, não é de
surpreender-se que, por vezes, devido a todo esse aparato social e
ideológico (instituições, mídias, classe, gênero, geração etc.,) naturalizamos
essa condição atribuindo-lhes sentidos que reforcem em vez de superar essa
condição, o que contribui para legitimarmos determinadas posturas, gostos
e/ou preferências em detrimento de outras. (BOURDIEU, 1988)
Para Coli (2006, p.126), ainda, soma-se a essa problemática o fato de que
As parcas manifestações artísticas de algum interesse nesse país o pouco
freqüentes, em geral muito caras e sempre se localizam nas grandes
capitais.” Desse modo, o problema de acesso não é meramente pessoal,
mas essencialmente social. O direito à freqüentação está atrelado ao modo
como nossa sociedade compreende a arte e a cultura. Enquanto discurso
hegemônico, a reconhecem essas como indispensáveis, mas em sua
maioria secundarizam as ações que poderiam contribuir para a
concretização de tais direitos. Logo se tornando premente colocarmo-nos a
favor da instauração de políticas públicas de investimento ao
acesso/freqüentação/criação de espaços permanentes de cultura a todos
como direito à cidadania.
É relevante mencionar que durante as entrevistas percebi certo desconforto
por parte de algumas profissionais em admitir o seu não hábito em ir a
espaços de cultura. Também constatei que as entrelinhas dos discursos
demarcavam a suposição de que a relevância da arte estaria no
desenvolvimento de um bom ‘trabalho’ com as crianças. Isto é, na
realização de uma prática mais ‘prazerosa e/ou significativa com as
mesmas. Por isso a relevância da arte e da freqüência a espaços culturais,
esteve muito mais atrelada a outrem (as crianças), do que a si próprias.
que em suas entrevistas praticamente não encontrei esse reconhecimento
a de que a arte e a freqüentação a espaços de cultura seria igualmente
importante para suas vidas.
137
De certo modo, ao longo da trajetória de formação e atuação profissional,
vamos construindo a idéia de que tudo o que fazemos (ou deixamos de
fazer) será cobrado. E assim, constituímos a compreensão de que ao
participarmos de algum curso e/ou espaço cultural, teríamos a incumbência
e/ou obrigação de repassar essa experiência a alguém (crianças e outros
profissionais). Não que isso não possa acontecer como o resultado de tal
vivência, que igualmente nos tocou, nos impactou, encantou e
surpreendeu... mas, se em vez disso, essa for a principal motivação e/ou
intenção, ficaremos como que ‘amarrados’ e perderemos a oportunidade
de vivenciar tal situação em sua inteireza. Para Ostetto e Leite (2004, p. 19),
devemos “superar uma proposta, comumente desenvolvida, de fazer com
adultos para que façam com as crianças ou fazer com adultos mostrando
como fazer com as crianças”.
Outra questão importante de ser mencionada é que a ausência de espaços
de cultura configura um fator limitador, mas que a presença deles por si só,
não garante o acesso dos sujeitos. Em relação a essa questão, podemos
citar a pesquisa de Nogueira (2002) a qual realizou um mapeamento dos
hábitos culturais de professores da Educação Básica da Rede Municipal de
Ensino de Goiânia.
Há, em geral, muitos eventos gratuitos e outros de preço bem
acessível em Goiânia. A Orquestra Sinfônica do Estado faz
apresentações mensais com entrada franca, a Escola de
Música da UFG tem uma programação intensa dentro e fora
do campus, sempre de forma gratuita, os museus da cidade
oferecem acesso livre em determinados dias da semana, a
cinemateca do Estado (sintomaticamente chamada Cine
Cultura) oferece programação de alto nível a preços
populares, as galerias funcionam de portas abertas durante
todo o dia: toda essa programação (e outros tantos eventos
não citados aqui) acontece em espaços acessíveis e são [sic!]
amplamente divulgados pela TV e pelas rádios. (NOGUEIRA,
2002, p.48)
Diante do referido contexto favorável em relação a espaços disponíveis,
Nogueira (2002) aponta, ainda, que um significativo percentual de
138
professores respondeu gostar de atividades culturais, em torno de 90 a 100%
de uma amostra de 180 questionários. Entretanto, apenas uma pequena
faixa efetivamente freqüenta espaços culturais - 22,9% dos entrevistados.
Tomando por base as considerações esboçadas até aqui, podemos aferir
que a presença ou não em espaços culturais, as condições de acesso, o
fator econômico e tudo o mais são extremamente relevantes. Entretanto não
podemos ignorar que também se faz necessário concomitantemente a eles
a resolução dessas questões, a constituição do ‘hábito’ de apreciação e
fruição da arte, a constituição de experiências estéticas. Se é indispensável
o contato e/ou freqüência a esses espaços para nos colocarmos diante da
obra artística como condição para acessarmos outras dimensões que não as
racionais e/ou lógicas (mas que igualmente contribuem para nossa
constituição), então é difícil aceitar que as experiências estéticas das
professoras-pessoas se limitem a esparsas visitas e/ou passeios esporádicos
ao shopping, cinema, às comemorações, festas da comunidade e ao reduto
do lar, relegando suas experiências estéticas aos referenciais midiáticos.
As Mídias na constituição das subjetividades formativas das professoras
Diante de um contexto limitado em termos de espaços permanentes de
cultura como: museus, teatros, galerias, cinemas etc., é presumido que as
professoras tenham restringidas suas experiências estéticas aos produtos
midiáticos de fácil veiculação. Conseqüentemente, a arte e cultura não são
acessadas por todos de forma igual, principalmente dentro de uma
sociedade de classes e um sistema econômico que prioriza o lucro, que cria
valores e necessidades para vender seus produtos.
Apesar da íntima parte consagrada à cultura, a TV, o rádio, o
disco, a reprodução em cores, são, para muitos dentre nós, o
139
único veículo que permite chegar à arte e nos familiarizarmos
com as obras. (COLI, 2006, p. 127-128)
O reconhecimento de que as dias são em sua maioria os únicos meios de
acesso à constituição dos reperrios artístico-culturais dos sujeitos, não quer
dizer que elas “(...) substituem a relação direta com a obra.” (COLI, 2006,
p.128). Dessa forma, por melhor que seja a reprodução de uma obra, a
qualidade da gravação, dos aparelhos de som, a imagem do vídeo etc. em
nada se compara a relação direta com uma obra artística. Uma cópia e/ou
reprodução no máximo nos fornecerá alguns elementos aproximados do
que seja, mas de modo algum equivale ou causará o mesmo efeito.
Conforme mencionado anteriormente, as professoras pesquisadas
praticamente não freqüentam espaços permanentes de cultura, o que as
deixa limitadas aos produtos de fácil veiculação da mídia, principalmente a
televisão e o rádio. Em seus discursos, dez das doze professoras revelaram
que o rádio faz parte de suas vidas, que o som das músicas e as
programações é pano de fundo durante a realização dos trabalhos
domésticos. Apenas duas professoras afirmaram que não têm o hábito de
ligar o rádio, dizem que preferem à TV. Entre as estações de rádio apontadas
estão a Rádio Regional e a Rádio Comunitária Termal. Ambas as estações
são do município em que vivem e trabalham, e as professoras demonstraram
estar informadas sobre tais programações.
“Em relação à rádio mais ouvid
“Em relação à rádio mais ouvid“Em relação à rádio mais ouvid
“Em relação à rádio mais ouvida, a gente varia entre a rádio termal e a
a, a gente varia entre a rádio termal e a a, a gente varia entre a rádio termal e a
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rádio regional. Eu escuto um pouco de cada uma [...]”. (Júlia
rádio regional. Eu escuto um pouco de cada uma [...]”. (Júlia rádio regional. Eu escuto um pouco de cada uma [...]”. (Júlia
rádio regional. Eu escuto um pouco de cada uma [...]”. (Júlia
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“São várias, mas as mais ouvidas são a Rádio Termal e a Regional”
“São várias, mas as mais ouvidas são a Rádio Termal e a Regional” “São várias, mas as mais ouvidas são a Rádio Termal e a Regional”
“São várias, mas as mais ouvidas são a Rádio Termal e a Regional”
(Bianca
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– Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006) Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
“Escuto a Regional e a Termal, as outras eu nem escuto mais” (Gabriela
“Escuto a Regional e a Termal, as outras eu nem escuto mais” (Gabriela “Escuto a Regional e a Termal, as outras eu nem escuto mais” (Gabriela
“Escuto a Regional e a Termal, as outras eu nem escuto mais” (Gabriela
– Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006) Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
140
Em relação aos programas de TV acompanhados, as professoras
demonstraram que as novelas das duas grandes emissoras nacionais (Rede
Globo e do SBT) fazem parte de seu cotidiano, seja durante a noite quando
toda a família está reunida, apenas dando uma ‘olhadinha’, ou escutando
durante a realização das atividades domésticas. Mesmo as que afirmaram
que quase não possuem tempo de acompanhar uma programação em
específico, revelaram detalhes e listaram diversos programas.
“Quando estamos em casa assistimos jornal, globo esporte e novelas. Os
“Quando estamos em casa assistimos jornal, globo esporte e novelas. Os “Quando estamos em casa assistimos jornal, globo esporte e novelas. Os
“Quando estamos em casa assistimos jornal, globo esporte e novelas. Os
meninos em casa assistem desenhos, mas o que predomina são as
meninos em casa assistem desenhos, mas o que predomina são as meninos em casa assistem desenhos, mas o que predomina o as
meninos em casa assistem desenhos, mas o que predomina são as
novelas, o Globo Esporte e o Jornal Nacional
novelas, o Globo Esporte e o Jornal Nacionalnovelas, o Globo Esporte e o Jornal Nacional
novelas, o Globo Esporte e o Jornal Nacional. A novela que a gente assiste
. A novela que a gente assiste . A novela que a gente assiste
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é
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é Páginas da Vida’
Páginas da Vida’Páginas da Vida’
Páginas da Vida’, porque, passa no momento que estamos todos
, porque, passa no momento que estamos todos , porque, passa no momento que estamos todos
, porque, passa no momento que estamos todos
reunidos... no horário das oito, um horário que eu estou um pouco mais
reunidos... no horário das oito, um horário que eu estou um pouco mais reunidos... no horário das oito, um horário que eu estou um pouco mais
reunidos... no horário das oito, um horário que eu estou um pouco mais
descansada, até porque eu trabalho aqui até na creche até as sete da
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noite... e chego em c
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noite... e chego em casa por volta das sete e meia” (Ana Júlia
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Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 01/11/2006)
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“Eu assisto os programas da Rede Globo e do SBT: Novelas e o Zorra
“Eu assisto os programas da Rede Globo e do SBT: Novelas e o Zorra Eu assisto os programas da Rede Globo e do SBT: Novelas e o Zorra
“Eu assisto os programas da Rede Globo e do SBT: Novelas e o Zorra
Total” (Ana Maria
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– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Parto da premissa que os sentidos veiculados pelas programações são
constantemente ressignificados pela circularidade das relações sociais.
Músicas são tocadas e/ou deixadas de tocar. Programações são criadas
e/ou substituídas de acordo com ‘interesses’. Notícias ganham maior ou
menor destaque. Mensagens são transmitidas ou deixadas de transmitir.
Logo, por mais que os indivíduos não sejam totalmente subjugados, não
podemos afirmar que temos uma posição consciente e crítica diante de
tudo e que as mídias veiculam. Os sentidos são móveis, o unidirecionais,
sendo que não podemos negar que alguns deles são naturalizados,
penetram em nossas vidas, em nossos pensamentos, regem nossas ações
sem que necessariamente tenhamos consciência em relação a seus efeitos.
Seja, pois, para o mal ou para bem, as mídias exercem considerável
influência na constituição de nossas subjetividades formativas.
141
Para Cunha (2007), as produções midiáticas, por vezes, de modo impositivo
condicionam nosso olhar, ouvir e sentir a naturalização de um ideal de
homem, mulher, criança, infância, arte, cultura etc., limitando, por
conseguinte nossos modos de dialogar e se relacionar com o mundo. Essa
questão nos faz pensar nos sentidos da linguagem midiática de fácil
veiculação como preponderantes na constituição de um referencial
estético, em detrimento de outros. Principalmente no que alude à rapidez,
constância e naturalização de uma multiplicidade de paisagens e objetos
produzidos e/ou gerados para o telespectador.
Os reperrios musicais das professoras em sua maioria tomam como base as
músicas e bandas legitimadas no espaço midiático. Em seus discursos
emergiu a referência de que a ‘boa música’, a música de ‘qualidade
musical’ é aquela tocada nas ‘paradas’. Em relação às denominadas
preferências musicais, oito das doze professoras pesquisadas se intitulam
ecléticas. Definindo seus ecletismos pela posição de que aproveitam os mais
variados gêneros musicais, veiculado pela televisão e o rádio.
“Gosto de todos os estilos, só que tenho preferência por música sertaneja”
“Gosto de todos os estilos, só que tenho preferência por música sertaneja” “Gosto de todos os estilos, só que tenho preferência por música sertaneja”
“Gosto de todos os estilos, só que tenho preferência por música sertaneja”
(Bianca
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(Bianca
– Entr
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Entrevista realizada em: 20/12/2006)
evista realizada em: 20/12/2006)evista realizada em: 20/12/2006)
evista realizada em: 20/12/2006)
“Meu gosto varia muito, bem na verdade depende da letra... se eu gostar,
“Meu gosto varia muito, bem na verdade depende da letra... se eu gostar, “Meu gosto varia muito, bem na verdade depende da letra... se eu gostar,
“Meu gosto varia muito, bem na verdade depende da letra... se eu gostar,
mas escuto um pouco de cada e as que mais prevalecem são as músicas
mas escuto um pouco de cada e as que mais prevalecem são as músicas mas escuto um pouco de cada e as que mais prevalecem são as músicas
mas escuto um pouco de cada e as que mais prevalecem são as músicas
sertanejas... qual é a outra que têm aí? Ah! São todas essas aí!... As
sertanejas... qual é a outra que têm aí? Ah! São todas essas aí!... As sertanejas... qual é a outra que têm aí? Ah! São todas essas aí!... As
sertanejas... qual é a outra que têm aí? Ah! São todas essas aí!... As
músicas qu
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músicas que tocam na rádio, as variadas, [...]” (Beatriz
e tocam na rádio, as variadas, [...]” (Beatriz e tocam na rádio, as variadas, [...]” (Beatriz
e tocam na rádio, as variadas, [...]” (Beatriz
entrevista
entrevista entrevista
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realizada em: 03/11/2006)
realizada em: 03/11/2006)realizada em: 03/11/2006)
realizada em: 03/11/2006)
Entretanto percebi que mesmo inicialmente se intitulando ecléticas, as
professoras demonstraram prevalência a um gênero musical em detrimento
de outros. As músicas das duplas sertanejas e grupos de pagode
predominaram nos discursos dessas. O motivo para tal escolha, recaiu na
alusão a um determinado estado emocional que por sua vez leva a apreciar
determinados tipos de músicas.
142
“Engraçado mesmo que eu não queira cantar
“Engraçado mesmo que eu não queira cantar “Engraçado mesmo que eu não queira cantar
“Engraçado mesmo que eu não queira cantar ou pensar em tal
ou pensar em tal ou pensar em tal
ou pensar em tal
música... de tanto escutar e dela tocar no rádio e na TV... não consigo
música... de tanto escutar e dela tocar no rádio e na TV... não consigo música... de tanto escutar e dela tocar no rádio e na TV... não consigo
música... de tanto escutar e dela tocar no rádio e na TV... não consigo
parar, quando vejo estou cantado e gosto [...] Também depende do
parar, quando vejo estou cantado e gosto [...] Também depende do parar, quando vejo estou cantado e gosto [...] Também depende do
parar, quando vejo estou cantado e gosto [...] Também depende do
meu estado emocional, daquilo que estou sentido no momento.” (Bianca
meu estado emocional, daquilo que estou sentido no momento.” (Bianca meu estado emocional, daquilo que estou sentido no momento.” (Bianca
meu estado emocional, daquilo que estou sentido no momento.” (Bianca
– Entrevista realizada em: 20/
Entrevista realizada em: 20/ Entrevista realizada em: 20/
Entrevista realizada em: 20/12/2006).
12/2006).12/2006).
12/2006).
Em relação ao enunciado acima, seria ingênuo ou simplista considerar que o
gosto se constitui de forma natural, tomando por base apenas um estado
emocional condicionado por uma situação pessoal vivida. E que as
produções midiáticas sejam igualmente produções naturais que representem
um suposto modelo de cultura geral a todos. O consumo não es
desvinculado das condições culturais dos grupos sociais. Seus discursos
levam-nos a aferir que as professoras constroem a sua identidade na relação
dialógica com os objetos consumidos.
Para Bourdieu (1988), o gosto é definido e idealizado culturalmente, sendo
constantemente legitimado e reafirmado dentro de uma sociedade de
classes. Logo, por ser constituído nas relações sociais, compreendê-lo requer
muito mais que chegar às evidências primárias. É imprescindível, assim,
penetrar nas condições sociais instituídas que o produzem examinar as
instituições, a educação e os meios de veiculação que reforçam e
naturalizam tal posição.
Em relação a essa questão, podemos aferir que o gosto não apresenta nada
de natural, mas é social, formado nas interações sociais as quais vivenciamos
ao longo da vida, no âmbito das (não)qualidades dessas relações
estabelecidas. Ainda segundo essa questão, vivemos em um tempo em que
a música deixa-se reger pelos ditames do mercado. Logo um possível objeto
artístico que poderia circunscrever sua marca no grande tempo da cultura é
facilmente substituído por uma mercadoria, um produto empacotado, com
acordes repetitivos e de sonoridade estridente. (OSTETTO, 2004)
143
Dessa maneira, é inexeqüível tratar de gosto sem considerar as reais
condições de escolhas diante de toda uma gama de criações acumuladas
pelo gênero humano. Assim nos cabe considerar o itinerário dos sujeitos: as
relações entre sujeitos, às relações estabelecidas com as produções e
veiculações midiáticas, sua posição ocupada na sociedade e os caminhos
percorridos por meio dessas escolhas. A questão não é dizer que tudo que a
mídia veicula seja ruim, que não possui ‘qualidade musical’ e que serve ou
pertence apenas a uma cultura de consumo e alienação, porém é a de
termos consciência de que, quando nos propomos a escutar ou cantarolar
uma sica, estamos diante de algo bem mais complexo que uma razão
emocional e/ou um estado de espírito.
As professoras indicam que os Cds que mais escutam são os cantores de
algumas bandas, duplas, e cantores de “sucesso” apresentados e mais
veiculados pelas dias. Mesmo aquelas que indicam possuir um gosto
denominado eclético, definem seu ecletismo citando as bandas de axé, as
duplas sertanejas de maior destaque, e a paixão por pagodeiros etc.
“Os Cds que eu mais tenho são os de Axé e Pagode: Ivete Sangalo,
“Os Cds que eu mais tenho são os de Axé e Pagode: Ivete Sangalo, “Os Cds que eu mais tenho são os de Axé e Pagode: Ivete Sangalo,
“Os Cds que eu mais tenho são os de Axé e Pagode: Ivete Sangalo,
Babado Novo, esses são os que eu mais curto”. (Laiza
Babado Novo, esses são os que eu mais curto”. (Laiza Babado Novo, esses são os que eu mais curto”. (Laiza
Babado Novo, esses são os que eu mais curto”. (Laiza –
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 20/12/
realizada em: 20/12/realizada em: 20/12/
realizada em: 20/12/2006)
2006)2006)
2006)
“Os CDs que temos em casa são: Tradição, Garotos de Ouro, Daniel...
“Os CDs que temos em casa são: Tradição, Garotos de Ouro, Daniel... “Os CDs que temos em casa o: Tradição, Garotos de Ouro, Daniel...
“Os CDs que temos em casa são: Tradição, Garotos de Ouro, Daniel...
Pagode, eu gosto do [grupo] Raça Negra, Alexandre Pires, também
Pagode, eu gosto do [grupo] Raça Negra, Alexandre Pires, também Pagode, eu gosto do [grupo] Raça Negra, Alexandre Pires, também
Pagode, eu gosto do [grupo] Raça Negra, Alexandre Pires, também
gosto da Sandy e Junior, sou bem eclética. O que tiver na parada vem e
gosto da Sandy e Junior, sou bem eclética. O que tiver na parada vem e gosto da Sandy e Junior, sou bem eclética. O que tiver na parada vem e
gosto da Sandy e Junior, sou bem eclética. O que tiver na parada vem e
morre!” (Gabriela
morre!” (Gabriela morre!” (Gabriela
morre!” (Gabriela
– Entrevista realizada em
Entrevista realizada em Entrevista realizada em
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
: 12/12/2006): 12/12/2006)
: 12/12/2006)
As professoras também citaram um acervo de Cds “infantis”, inclusive o de
algumas apresentadoras de programas infantis da TV. Os Cds mais citados
são os da Xuxa, da Angélica, da Eliana, Gugu para crianças, da Dupla
Sandy e Junior, da Molecada, das Rebeldes entre outros.
“Os CDs que eu mais tenho comprado e até ganhado de presente são os
“Os CDs que eu mais tenho comprado e até ganhado de presente são os “Os CDs que eu mais tenho comprado e até ganhado de presente são os
“Os CDs que eu mais tenho comprado e até ganhado de presente são os
de educação infantil, músicas infantis, até o último que a gente
de educação infantil, músicas infantis, até o último que a gente de educação infantil, músicas infantis, até o último que a gente
de educação infantil, músicas infantis, até o último que a gente
144
comprou, comprei um bem bom agora em junho ‘As mais Tradicionais
comprou, comprei um bem bom agora em junho ‘As mais Tradicionais comprou, comprei um bem bom agora em junho ‘As mais Tradicionais
comprou, comprei um bem bom agora em junho ‘As mais Tradicionais
de festa Junina’. Agora a
de festa Junina’. Agora ade festa Junina’. Agora a
de festa Junina’. Agora a eu estava dizendo para as ‘meninas’, eu
eu estava dizendo para as ‘meninas’, eu eu estava dizendo para as ‘meninas’, eu
eu estava dizendo para as ‘meninas’, eu
queria ver se encontrava uns com músicas de natal!” (Júlia
queria ver se encontrava uns com músicas de natal!” (Júlia queria ver se encontrava uns com músicas de natal!” (Júlia
queria ver se encontrava uns com músicas de natal!” (Júlia
entrevista
entrevista entrevista
entrevista
realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)
“Tenho muitos Cds em casa é difícil listar... tenho do Daniel, do
“Tenho muitos Cds em casa é difícil listar... tenho do Daniel, do “Tenho muitos Cds lá em casa é difícil listar... tenho do Daniel, do
“Tenho muitos Cds em casa é difícil listar... tenho do Daniel, do
Leonardo, do Djavan... também tenho Cds infan
Leonardo, do Djavan... também tenho Cds infanLeonardo, do Djavan... também tenho Cds infan
Leonardo, do Djavan... também tenho Cds infantis da Xuxa, da
tis da Xuxa, da tis da Xuxa, da
tis da Xuxa, da
Angélica, da Eliana que são os Cds que eu trabalho com as crianças”
Angélica, da Eliana que são os Cds que eu trabalho com as crianças” Angélica, da Eliana que são os Cds que eu trabalho com as crianças”
Angélica, da Eliana que são os Cds que eu trabalho com as crianças”
(Joana
(Joana (Joana
(Joana
– Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006) Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Nogueira (2002), ao discutir quanto às preferências musicais dos professores
sujeitos de sua pesquisa, obteve alguns dados que se aproximam das
constatações aqui esboçadas:
(...) todos os entrevistados (100 %) asseveram gostar de música,
o que de certa forma confirma Snyders (1992), no que diz
respeito ao impacto da linguagem musical nas atuais
gerações. Por outro lado, apenas 11,16 % costumam
freqüentar espaços de música ao vivo, como shows, recitais e
concertos. Penso que a relação destes [sic!] professores com a
música, que parece tão intensa, se por meio dos grandes
canais de comunicação, como televisão e rádio, já que a
compra freqüente de CDs não parece ser possível para a
maioria pelas óbvias questões financeiras, também declaradas
no final deste questionário. (NOGUEIRA, 2002, 46)
As doze professoras pesquisadas também referendam alguns dos dados
apontados na pesquisa acima. Todas mencionaram em seus discursos sua
paixão pela música e adotam como referência para esse gosto as músicas
veiculadas pelas mídias. Essa questão que foi facilmente confirmada pela
listagem das canções e CDs adquiridos. Suas freqüências a shows e
apresentações musicais também se pautam nessas referências, isto é, nas
apresentações de duplas sertanejas, pagodeiros, cantores ‘românticos’ e/ou
‘infantis’ das paradas de sucesso.
145
A ausência e a presença da literatura na vida das professoras-pessoas
“[...] a viagem desenvolve-se sobre os rastros de outra viagem,
o olhar desenvolve-se sobre os rastros de outros olhares, a
leitura desenvolve-se sobre os rastros de outras leituras; e nesse
desenvolver-se da viagem, do olhar a leitura, constitui-se, para
além da evocação, a recordação, isso é a própria história
daquele que narra”(LARROSA, 2006, p.62)
As palavras de Jorge Larrosa (2006) nos reportam as viagens literárias
realizadas ou não pelas professoras-pessoas. A prática de leitura como
acontecimento, pluralidade e diferença. A aventura rumo ao desconhecido
e a produção múltipla de sentidos. Isto é, o ato de ler como possibilidade de
formação e metamorfose do olhar, do sentir e do constituir-se.
Em relação ao tempo e tipo de leitura realizada pelas professoras
pesquisadas, onze delas declaram que gostavam de ler. Apenas uma disse
que nem sempre gostava, às vezes, dependendo do tipo de leitura. Mas,
o que prevaleceu em seus discursos foi à afirmação de que gostavam de ler,
que a literatura era fundamentalmente importante. Porém, ao ir um pouco
mais além de um suposto gosto, ao indagar-lhes quanto ao gênero literário,
o tempo dedicado à leitura, o último livro que haviam lido e o título desse, os
livros que possuíam etc.; de modo geral foram atribdas as seguintes
respostas:
“Hum?... gosto. Mas ler me um sono! faz bastante tempo que o
“Hum?... gosto. Mas ler me um sono! faz bastante tempo que o “Hum?... gosto. Mas ler me um sono! faz bastante tempo que não
“Hum?... gosto. Mas ler me um sono! faz bastante tempo que o
leio, então não lembro do último livro, acho que faz uns dois anos ou
leio, então não lembro do último livro, acho que faz uns dois anos ou leio, então não lembro do último livro, acho que faz uns dois anos ou
leio, então não lembro do último livro, acho que faz uns dois anos ou
três, eu leio mais textos. Eu li mais durante a pedagogia, sobre o meu
três, eu leio mais textos. Eu li mais durante a pedagogia, sobre o meu três, eu leio mais textos. Eu li mais durante a pedagogia, sobre o meu
três, eu leio mais textos. Eu li mais durante a pedagogia, sobre o meu
tema que
tema que tema que
tema que era leitura. Utilizei aquele autor que a gente usa bastante na
era leitura. Utilizei aquele autor que a gente usa bastante na era leitura. Utilizei aquele autor que a gente usa bastante na
era leitura. Utilizei aquele autor que a gente usa bastante na
leitura... Agora não lembro mais o nome... (?) O último livro que
leitura... Agora não lembro mais o nome... (?) O último livro que leitura... Agora não lembro mais o nome... (?) O último livro que
leitura... Agora não lembro mais o nome... (?) O último livro que
comprei, é difícil dizer, não lembro... Na verdade tenho só uns três livros
comprei, é difícil dizer, não lembro... Na verdade tenho só uns três livros comprei, é difícil dizer, não lembro... Na verdade tenho só uns três livros
comprei, é difícil dizer, não lembro... Na verdade tenho só uns três livros
em casa, um deles é ‘A passagem” de Zibia Gasparett
em casa, um deles é ‘A passagem” de Zibia Gasparettem casa, um deles é ‘A passagem” de Zibia Gasparett
em casa, um deles é ‘A passagem” de Zibia Gasparetto, te admito que
o, te admito que o, te admito que
o, te admito que
não cheguei a lê
não cheguei a lênão cheguei a
não cheguei a lê-
--
-lo todinho, eu comprei mais não cheguei a ler”.
lo todinho, eu comprei mais não cheguei a ler”. lo todinho, eu comprei mais não cheguei a ler”.
lo todinho, eu comprei mais não cheguei a ler”.
(Claudia
(Claudia (Claudia
(Claudia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
146
“Gosto, o último livro que li foi na época da faculdade, faz
“Gosto, o último livro que li foi na época da faculdade, faz “Gosto, o último livro que li foi na época da faculdade, faz
“Gosto, o último livro que li foi na época da faculdade, faz
aproximadamente três anos [...] foi um livro que um professor so
aproximadamente três anos [...] foi um livro que um professor soaproximadamente três anos [...] foi um livro que um professor so
aproximadamente três anos [...] foi um livro que um professor solicitou
licitou licitou
licitou
que lêssemos. Um pequeninho do Paulo Freire, aquele eu utilizo até hoje,
que lêssemos. Um pequeninho do Paulo Freire, aquele eu utilizo até hoje, que lêssemos. Um pequeninho do Paulo Freire, aquele eu utilizo até hoje,
que lêssemos. Um pequeninho do Paulo Freire, aquele eu utilizo até hoje,
às vezes tem dias no meu serviço que me deixam para baixo. Ele é o meu
às vezes tem dias no meu serviço que me deixam para baixo. Ele é o meu às vezes tem dias no meu serviço que me deixam para baixo. Ele é o meu
às vezes tem dias no meu serviço que me deixam para baixo. Ele é o meu
ponto de estímulo, nesse trabalho. [...]” (Ana Júlia
ponto de estímulo, nesse trabalho. [...]” (Ana Júlia ponto de estímulo, nesse trabalho. [...]” (Ana Júlia
ponto de estímulo, nesse trabalho. [...]” (Ana Júlia
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)
Os enunciados supracitados nos fornecem elementos que vão para além do
primeiro indicativo de que essas profissionais gostam de ler. Igualmente nos
interpelam sobre o sentido desse gostar. Que gostar é esse quando não
recordo o último livro que li? Quando faz aproximadamente uns três anos
que o leio? Que gostar é esse quando limito minhas leituras a um único
gênero literário?
O maior motivo apontado para explicar o porquê de ficarem tanto tempo
sem a realização de leituras está na falta de tempo, de que possuem uma
carga horária cheia e trabalhos domésticos que impedem a realização de
leituras. As professoras que indicaram por meio de seus discursos terem o
hábito de leitura revelaram que suas preferências se alternam entre livros de
auto-ajuda, livros espíritas e romances da coleção: Júlia, Bianca e Sabrina.
Durante os discursos, por oito vezes, foram listados livros de auto-ajuda; por
cinco vezes, livros espíritas; por quatro vezes livros de religião e por três livros
de romance.
“Gosto de ler e o último li
“Gosto de ler e o último li“Gosto de ler e o último li
“Gosto de ler e o último livro que li foi o do Roberto Shinyashiki, aquele
vro que li foi o do Roberto Shinyashiki, aquele vro que li foi o do Roberto Shinyashiki, aquele
vro que li foi o do Roberto Shinyashiki, aquele
livro... como é mesmo o nome... ‘Pais brilhantes, professores
livro... como é mesmo o nome... ‘Pais brilhantes, professores livro... como é mesmo o nome... ‘Pais brilhantes, professores
livro... como é mesmo o nome... ‘Pais brilhantes, professores
fascinantes’... eu acho que é esse o nome. Depois li aquele ‘Vencer’ que
fascinantes’... eu acho que é esse o nome. Depois li aquele ‘Vencer’ que fascinantes’... eu acho que é esse o nome. Depois li aquele ‘Vencer’ que
fascinantes’... eu acho que é esse o nome. Depois li aquele ‘Vencer’ que
foi indicado na época da faculdade pela professora de Psicologia, [...]
foi indicado na época da faculdade pela professora de Psicologia, [...] foi indicado na época da faculdade pela professora de Psicologia, [...]
foi indicado na época da faculdade pela professora de Psicologia, [...] A
A A
A
Arte de Vencer’ é alguma coisa assim, fala sobre as três montanhas,
Arte de Vencer’ é alguma coisa assim, fala sobre as três montanhas, Arte de Vencer’ é alguma coisa assim, fala sobre as três montanhas,
Arte de Vencer’ é alguma coisa assim, fala sobre as três montanhas,
sobre as vivências, sobre as montanhas da transcendência... cada
sobre as vivências, sobre as montanhas da transcendência... cada sobre as vivências, sobre as montanhas da transcendência... cada
sobre as vivências, sobre as montanhas da transcendência... cada
capítulo é uma montanha. É tipo auto
capítulo é uma montanha. É tipo autocapítulo é uma montanha. É tipo auto
capítulo é uma montanha. É tipo auto-
--
-ajuda, mas não é tão simples,
ajuda, mas não é tão simples, ajuda, mas não é tão simples,
ajuda, mas não é tão simples,
porque ele fala em superação, em que devemos vencer os
porque ele fala em superação, em que devemos vencer osporque ele fala em superação, em que devemos vencer os
porque ele fala em superação, em que devemos vencer os obstáculos. O
obstáculos. O obstáculos. O
obstáculos. O
livro que eu mais gostei foi ‘Pais brilhantes, professores fascinantes’. O
livro que eu mais gostei foi ‘Pais brilhantes, professores fascinantes’. O livro que eu mais gostei foi ‘Pais brilhantes, professores fascinantes’. O
livro que eu mais gostei foi ‘Pais brilhantes, professores fascinantes’. O
último que eu comprei foi um vermelho eu acho que ele se chama ‘A arte
último que eu comprei foi um vermelho eu acho que ele se chama ‘A arte último que eu comprei foi um vermelho eu acho que ele se chama ‘A arte
último que eu comprei foi um vermelho eu acho que ele se chama ‘A arte
de vencer’ [...].” (Isabela
de vencer’ [...].” (Isabela de vencer’ [...].” (Isabela
de vencer’ [...].” (Isabela –
– Entrevista realizada em: 03/11/2006)
Entrevista realizada em: 03/11/2006) Entrevista realizada em: 03/11/2006)
Entrevista realizada em: 03/11/2006)
147
“Gosto. Eu gosto muito de l
“Gosto. Eu gosto muito de l“Gosto. Eu gosto muito de l
“Gosto. Eu gosto muito de livros de auto
ivros de autoivros de auto
ivros de auto-
--
-ajuda, o último que li foi
ajuda, o último que li foi ajuda, o último que li foi
ajuda, o último que li foi
‘Nunca desista de seus sonhos’, eu acho que é do Augusto Cury, eu não
‘Nunca desista de seus sonhos’, eu acho que é do Augusto Cury, eu não ‘Nunca desista de seus sonhos’, eu acho que é do Augusto Cury, eu não
‘Nunca desista de seus sonhos’, eu acho que é do Augusto Cury, eu não
sei ao certo dizer ao certo se é dele, mais se não me falhe a memória o
sei ao certo dizer ao certo se é dele, mais se não me falhe a memória o sei ao certo dizer ao certo se é dele, mais se não me falhe a memória o
sei ao certo dizer ao certo se é dele, mais se não me falhe a memória o
titulo é ‘Nunca desista de seus sonhos’! Eu não leio muito sabe, mas eu
titulo é ‘Nunca desista de seus sonhos’! Eu não leio muito sabe, mas eu titulo é ‘Nunca desista de seus sonhos’! Eu não leio muito sabe, mas eu
titulo é ‘Nunca desista de seus sonhos’! Eu não leio muito sabe, mas eu
g
gg
gostei muito, muito mesmo, talvez tu até lembra dele: ‘A Pedagogia da
ostei muito, muito mesmo, talvez tu até lembra dele: ‘A Pedagogia da ostei muito, muito mesmo, talvez tu até lembra dele: ‘A Pedagogia da
ostei muito, muito mesmo, talvez tu até lembra dele: ‘A Pedagogia da
Autonomia’ de Paulo Freire. Este é meu livro de cabeceira! Sempre que é
Autonomia’ de Paulo Freire. Este é meu livro de cabeceira! Sempre que é Autonomia’ de Paulo Freire. Este é meu livro de cabeceira! Sempre que é
Autonomia’ de Paulo Freire. Este é meu livro de cabeceira! Sempre que é
preciso ajudar alguém a fazer algum trabalho de escola cito esse livro. É
preciso ajudar alguém a fazer algum trabalho de escola cito esse livro. É preciso ajudar alguém a fazer algum trabalho de escola cito esse livro. É
preciso ajudar alguém a fazer algum trabalho de escola cito esse livro. É
simples, todo mundo tem, mas eu gosto mui
simples, todo mundo tem, mas eu gosto muisimples, todo mundo tem, mas eu gosto mui
simples, todo mundo tem, mas eu gosto muito dele. Comprado por mim
to dele. Comprado por mim to dele. Comprado por mim
to dele. Comprado por mim
mesmo assim ... faz muito tempo que eu não compro nenhum livro,
mesmo assim ... faz muito tempo que eu não compro nenhum livro, mesmo assim ... faz muito tempo que eu não compro nenhum livro,
mesmo assim ... faz muito tempo que eu não compro nenhum livro,
até esse ‘Nunca desista de seus sonhos’ eu ganhei de um amigo [...]”
até esse ‘Nunca desista de seus sonhos’ eu ganhei de um amigo [...]” até esse ‘Nunca desista de seus sonhos’ eu ganhei de um amigo [...]”
até esse ‘Nunca desista de seus sonhos’ eu ganhei de um amigo [...]”
(Júlia
(Júlia (Júlia
(Júlia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“Gosto... mas é difícil, antes eu lia muito, ma
“Gosto... mas é difícil, antes eu lia muito, ma“Gosto... mas é difícil, antes eu lia muito, ma
“Gosto... mas é difícil, antes eu lia muito, mas agora como eu estou
s agora como eu estou s agora como eu estou
s agora como eu estou
trabalhando 40 horas, chego em casa e ainda tenho que arrumar a casa,
trabalhando 40 horas, chego em casa e ainda tenho que arrumar a casa, trabalhando 40 horas, chego em casa e ainda tenho que arrumar a casa,
trabalhando 40 horas, chego em casa e ainda tenho que arrumar a casa,
fazer comida, lavar e passar roupas, não tive mais tempo. Mas eu gosto
fazer comida, lavar e passar roupas, não tive mais tempo. Mas eu gosto fazer comida, lavar e passar roupas, não tive mais tempo. Mas eu gosto
fazer comida, lavar e passar roupas, não tive mais tempo. Mas eu gosto
muito dos livros da coleção Sabrina, Bianca, Julia, sobre a educação
muito dos livros da coleção Sabrina, Bianca, Julia, sobre a educação muito dos livros da coleção Sabrina, Bianca, Julia, sobre a educação
muito dos livros da coleção Sabrina, Bianca, Julia, sobre a educação
infantil... eu adoro rom
infantil... eu adoro rominfantil... eu adoro rom
infantil... eu adoro romance!.” (Naiana)
ance!.” (Naiana)ance!.” (Naiana)
ance!.” (Naiana)
As professoras parecem buscar em livros de auto-ajuda, de autores recordes
em vendas como Augusto Cury e Roberto Shinyashiki; e em livros espíritas e
de religião um sentido para as suas vidas, a motivação necessária para a
realização do seu trabalho, bem como a busca de um sucesso como que
milagroso para a resolução de todos os seus problemas. Constata-se que
elas praticamente não lêem livros de literatura, bem como livros da sua área
de atuação. Esses livros entram em cena quando necessário prestar
contas a alguém, isto é quando ingressam em algum curso e necessitam
realizar/produzir algum trabalho.
Segundo Asbahr (2005) a literatura de auto-ajuda é um fenômeno
relativamente recente da indústria cultural. É de difícil categorização devido
a sua vasta variedade de estilos. Mas de modo geral os livros de auto-ajuda
podem ser divididos entre aqueles que abordam questões objetivas e os que
abordam questões subjetivas, tomando como base a idéia central de que
148
podemos alcançar tudo que desejamos através da ‘otimização’ de nossas
‘forças interiores’.
O indivíduo como peça chave nesse processo é responsável
pelo bom aproveitamento das oportunidades que, segundo os
defensores desse modelo postulam, são oferecidas a todos.
Alguns fazem bom uso dessas oportunidades, outros não.
Nesse contexto, os livros de auto-ajuda trazem uma série de
informações que apresentam como proposta ajudar o
indivíduo a se tornar “um vencedor”, aprender a manipular as
outras pessoas e, assim, levar vantagem nas relações
interpessoais. Embora também exista uma outra vertente de
livros de auto-ajuda mais espiritualizada (ligada à religião),
ligada à medicina (psiquiatria, psicologia ou psicanálise) ou
ainda, numa perspectiva pedagógica (de educação dos
filhos). A auto-ajuda apresenta discursos universais, atendendo
a um vasto repertório de expectativas de demanda no
mercado editorial. (
ASBAHR, 2005,
p.10)
A questão que se coloca não é a de um mero julgamento em relação à
leitura dos livros de auto-ajuda, espíritas, ou romances que as professoras
lêem. O fundamental é buscar compreender a emergência e persistência
dessa categoria no mercado editorial e em suas vidas. Devemos nos
questionar acerca das necessidades culturais criadas, as quais motivam
milhões de pessoas a elegerem certas leituras em detrimento de outras.
Os discursos das professoras pesquisadas que se intitulam leitoras para logo
em seguida listarem livros de auto-ajuda como seus prediletos argumentam
que este tipo de literatura fornece indicativos para a resolução de seus
problemas profissionais e pessoais. Lançam-se a esse tipo de leitura no
sentido de buscarem respostas para a resolução de problemas íntimos,
afetivos e para compreensão de si mesmos.
“[...] Agora estou lendo um livro da Irene Maciel, q
“[...] Agora estou lendo um livro da Irene Maciel, q“[...] Agora estou lendo um livro da Irene Maciel, q
“[...] Agora estou lendo um livro da Irene Maciel, que foi lançado
ue foi lançado ue foi lançado
ue foi lançado
recentemente: Ame seu inimigo!, ele trata sobre as pessoas que sempre
recentemente: Ame seu inimigo!, ele trata sobre as pessoas que sempre recentemente: Ame seu inimigo!, ele trata sobre as pessoas que sempre
recentemente: Ame seu inimigo!, ele trata sobre as pessoas que sempre
colocam a culpa nos outros, o livro diz que a culpa está na gente, porque
colocam a culpa nos outros, o livro diz que a culpa está na gente, porque colocam a culpa nos outros, o livro diz que a culpa está na gente, porque
colocam a culpa nos outros, o livro diz que a culpa está na gente, porque
a gente é que muitas vezes cria uma antipatia. [...]” (Ana Maria
a gente é que muitas vezes cria uma antipatia. [...]” (Ana Maria a gente é que muitas vezes cria uma antipatia. [...]” (Ana Maria
a gente é que muitas vezes cria uma antipatia. [...]” (Ana Maria
entrevista realizada em: 01/11
entrevista realizada em: 01/11entrevista realizada em: 01/11
entrevista realizada em: 01/11/2006)
/2006)/2006)
/2006)
149
A pesquisa de Nogueira (2002, p.46) referenda essa discussão quando afirma
que de uma amostra de 180 questionários aplicados aos professores:
91,06 % afirmam gostar de ler, em especial romances (27,93 %)
e informativos (23,46 %), contudo apenas 41,95 % costumam
utilizar bibliotecas. A grande maioria não citou o último título
lido e, quando o fazia, referia-se a títulos escolares.
As professoras ao discursarem se costumavam freqüentar a Biblioteca
Municipal Maria do Carmo Bozzano Dernner revelaram que esse espaço não
faz parte de suas vidas. Nove delas dizem que não são freqüentadoras, que
geralmente iam à biblioteca quando estavam cursando a graduação, mas
que aquele espaço não disponibilizava os livros de que necessitavam. E que
hoje, por falta de tempo nunca mais foram até a biblioteca.
“Sim eu freqüentei a biblioteca municipal, mas foi durante a
“Sim eu freqüentei a biblioteca municipal, mas foi durante a Sim eu freqüentei a biblioteca municipal, mas foi durante a
“Sim eu freqüentei a biblioteca municipal, mas foi durante a
pedagogia, naquela época eu freqüentei bastante, peguei livros do
pedagogia, naquela época eu freqüentei bastante, peguei livros do pedagogia, naquela época eu freqüentei bastante, peguei livros do
pedagogia, naquela época eu freqüentei bastante, peguei livros do
Vygotsky, do Piaget” (Claudia
Vygotsky, do Piaget” (Claudia Vygotsky, do Piaget” (Claudia
Vygotsky, do Piaget” (Claudia
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
01/11/2006)
01/11/2006)01/11/2006)
01/11/2006)
“Não costumo f
“Não costumo f“Não costumo f
“Não costumo freqüentar a biblioteca municipal. Depois que eu me
reqüentar a biblioteca municipal. Depois que eu me reqüentar a biblioteca municipal. Depois que eu me
reqüentar a biblioteca municipal. Depois que eu me
formei... faz aproximadamente um ano e meio, não procurei mais
formei... faz aproximadamente um ano e meio, não procurei mais formei... faz aproximadamente um ano e meio, não procurei mais
formei... faz aproximadamente um ano e meio, não procurei mais
nada!” (Isabela
nada!” (Isabela nada!” (Isabela
nada!” (Isabela
– Entrevista realizada em: 03/11/2006)
Entrevista realizada em: 03/11/2006) Entrevista realizada em: 03/11/2006)
Entrevista realizada em: 03/11/2006)
Três professoras dizem que vez ou outra vão até a biblioteca, destas duas
dizem que é para pegarem emprestado algum livro para os seus filhos
realizarem o trabalho da escola, mas que é mais para os filhos do que para
elas. Apenas uma disse que vai até aquele espaço para pegar algum livro
de literatura, mas que geralmente acabava comprando, porque a
biblioteca não disponibiliza os livros de sua preferência.
Eu vou pouco à biblioteca, quando minha filha precisa, quando ela
Eu vou pouco à biblioteca, quando minha filha precisa, quando ela Eu vou pouco à biblioteca, quando minha filha precisa, quando ela
Eu vou pouco à biblioteca, quando minha filha precisa, quando ela
tem que pesquisar alguma coisa para a escola. É mais para ela do que
tem que pesquisar alguma coisa para a escola. É mais para ela do que tem que pesquisar alguma coisa para a escola. É mais para ela do que
tem que pesquisar alguma coisa para a escola. É mais para ela do que
pra mim, na verdade pra mim não!” (Ana Maria
pra mim, na verdade pra mim não!” (Ana Mariapra mim, na verdade pra mim não!” (Ana Maria
pra mim, na verdade pra mim não!” (Ana Maria
Entrevista realizada
Entrevista realizada Entrevista realizada
Entrevista realizada
em: 01/11/2006)
em: 01/11/2006)em: 01/11/2006)
em: 01/11/2006)
150
“Não freqüento a biblioteca municipal. vou quando meus filhos têm
“Não freqüento a biblioteca municipal. vou quando meus filhos têm “Não freqüento a biblioteca municipal. vou quando meus filhos têm
“Não freqüento a biblioteca municipal. vou quando meus filhos têm
que fazer algum trabalho de aula. É como eu falo pra ti, é por falta de
que fazer algum trabalho de aula. É como eu falo pra ti, é por falta de que fazer algum trabalho de aula. É como eu falo pra ti, é por falta de
que fazer algum trabalho de aula. É como eu falo pra ti, é por falta de
tempo, porque eu entro aqui dez horas da manhã e saio daqui às sete e
tempo, porque eu entro aqui dez horas da manhã e saio daqui às sete e tempo, porque eu entro aqui dez horas da manhã e saio daqui às sete e
tempo, porque eu entro aqui dez horas da manhã e saio daqui às sete e
meia
meiameia
meia da noite, tudo fechado e final de semana é limpeza de casa.
da noite, tudo fechado e final de semana é limpeza de casa. da noite, tudo fechado e final de semana é limpeza de casa.
da noite, tudo fechado e final de semana é limpeza de casa.
Lógico que o tempo quem tem que tirar é a gente, né? Talvez seja até
Lógico que o tempo quem tem que tirar é a gente, né? Talvez seja até gico que o tempo quem tem que tirar é a gente, né? Talvez seja até
Lógico que o tempo quem tem que tirar é a gente, né? Talvez seja até
uma falha minha, mas não dá!” (Ana Júlia
uma falha minha, mas não dá!” (Ana Júlia uma falha minha, mas não dá!” (Ana Júlia
uma falha minha, mas não dá!” (Ana Júlia
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
01/11/2006)
01/11/2006)01/11/2006)
01/11/2006)
“[...] Geralmente eu compro os livros, mas
“[...] Geralmente eu compro os livros, mas“[...] Geralmente eu compro os livros, mas
“[...] Geralmente eu compro os livros, mas quando eu quero ler algum e
quando eu quero ler algum e quando eu quero ler algum e
quando eu quero ler algum e
não tenho vou alá. Penso que o pessoal freqüenta mais aquele espaço
não tenho vou alá. Penso que o pessoal freqüenta mais aquele espaço não tenho vou até lá. Penso que o pessoal freqüenta mais aquele espaço
não tenho vou alá. Penso que o pessoal freqüenta mais aquele espaço
para fazer trabalhos de escola, dificilmente a gente encontra os livros
para fazer trabalhos de escola, dificilmente a gente encontra os livros para fazer trabalhos de escola, dificilmente a gente encontra os livros
para fazer trabalhos de escola, dificilmente a gente encontra os livros
que quer” (Laiza
que quer” (Laiza que quer” (Laiza
que quer” (Laiza –
– Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006) Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Nesse sentido, a ausência da literatura na vida das professoras-pessoas é
assim denominada por considerar a não freqüência da literatura em suas
trajetórias. Apenas esparsas leituras realizadas e limitadas à prestação de
contas a algum curso de formação freqüentado. E a presença da literatura
na vida das professoras-pessoas es condicionada a um único gênero
literário: aos livros de auto-ajuda, aos livros espíritas e/ou as coleções de livros
de romance Sabrina, Júlia e Bianca.
As declarações das professoras me reportam à epígrafe inicial desta secção:
[...] a viagem desenvolve-se sobre os rastros de outra viagem, o olhar
desenvolve-se sobre os rastros de outros olhares, a leitura desenvolve-se
sobre os rastros de outras leituras”. (LARROSA, 2006, p.62). No rastro das
(não)leituras realizadas uma forma de pensar e agir está sendo constituída.
Viagens estão ou não sendo realizadas. O olhar se revigora ou se embota
dependendo dos caminhos e das paisagens contempladas.
151
Formação artístico-cultural: Repertórios da ‘escola’
‘A cam
‘A cam‘A cam
‘A caminho da escola’
inho da escola’inho da escola’
inho da escola’
Desenho de Gabriela
Desenho de GabrielaDesenho de Gabriela
Desenho de Gabriela
Adicional da pré
Adicional da préAdicional da pré
Adicional da pré-
--
-escola
escola escola
escola
Qual é a alfândega de
Qual é a alfândega de Qual é a alfândega de
Qual é a alfândega de
ensinante colada na pele da
ensinante colada na pele da ensinante colada na pele da
ensinante colada na pele da
instituição, do(a)
instituição, do(a) instituição, do(a)
instituição, do(a)
educador(a), da família, da
educador(a), da família, da educador(a), da família, da
educador(a), da família, da
sociedade, do olhar do outro
sociedade, do olhar do outro sociedade, do olhar do outro
sociedade, do olhar do outro
colado também em sua própria
colado também em sua própria colado também em sua própria
colado também em sua própria
pele? Como a alfândega
pele? Como a alfândega pele? Como a alfândega
pele? Como a alfândega
analisa o passap
analisa o passapanalisa o passap
analisa o passaporte do
orte do orte do
orte do
passageiro para conhecer sua
passageiro para conhecer sua passageiro para conhecer sua
passageiro para conhecer sua
história, seus sonhos, suas
história, seus sonhos, suas história, seus sonhos, suas
história, seus sonhos, suas
expectativas, seus desafios?
expectativas, seus desafios? expectativas, seus desafios?
expectativas, seus desafios?
Reconhecendo a bagagem de
Reconhecendo a bagagem de Reconhecendo a bagagem de
Reconhecendo a bagagem de
cada aprendiz dentre muitas
cada aprendiz dentre muitas cada aprendiz dentre muitas
cada aprendiz dentre muitas
outras?
outras?outras?
outras?
(MARTINS, 2004, p.239)
(MARTINS, 2004, p.239)(MARTINS, 2004, p.239)
(MARTINS, 2004, p.239)
O enunciado supracitado oferece indicativos do que será discutido nesta
secção. Isto é, os repertórios artístico-culturais constituídos pelas professoras-
pessoas ao longo da trajetória escolar – isto é, dentro do lugar em que
histórico e socialmente nos são “cobradas e despachadas muitas de nossas
bagagens”.
Para Martins (2004), olhar a arte no espaço escolar, especialmente quando
temos a incumbência desafiadora de ensinar e aprender, é perceber a
alfândega interpretante o dentro e o fora o cruzamento entre os
repertórios pessoais constituídos no entreposto do tempo&espaço, e o
diálogo com as produções do grande tempo da cultura. Trata-se de ir
sempre, cada vez mais além, que raramente convivemos com alfândegas
intrigantes, vibrantes que experimentam e ousam na argila, no papel, no
152
movimento, no recorte, na fotografia, na dança e em tudo o que for possível
ou quase impossível. Mas, excessivamente, temos convivido com alfândegas
perigosas que mais se aproximam de ‘formâs’, e que agem tal como
achassem feio tudo o que não é espelho, tudo o que não é repetição.
No espaço escolar, o belo foi e, por vezes, ainda é considerado como algo
exterior aos sujeitos. Ele é apresentado assim, com o intuito de disciplinar o
corpo e homogeneizar os sentidos. Segundo Veiga (2003), durante o período
republicano, a estética pautou-se nos valores da modernidade, que teve (e
tem) por preceito a supervalorização das culturas nacionais e um projeto de
sujeito autônomo, individualizado e racionalizado. Aagora estão presentes
as marcas históricas e a tentativa de implantação de um projeto que
relegue as dinâmicas culturais diversificadas, sobrepondo um ideal universal
de emoções, todavia esses mesmo valores estéticos, o são universais e
tampouco eternos, cabendo-nos considerá-los no bojo da estrutura histórica
da criação, da contemplação e da circulação artística.
Tradicionalmente tivemos, no Brasil, um modelo de educação e de arte que
fazia (e ainda faz) transposições do exterior. Copiávamos e ainda copiamos
o que vem de fora como um modelo ideal do que é ‘bom’, do que é ‘belo’
e ‘desenvolvido’, realizando apenas a sobreposição de contextos. O
resultado foram verdadeiras distorções e descalabros educacionais
cometidos em nossa história.
Considerar as experiências estéticas constituídas no espaço escolar, não é
dissociá-las dos repertórios de casa, bem como de todo um percurso
histórico que circunscreve nossas trajetórias formativas. Se vamos à escola e
nela ampliamos nossa experiência de forma intencional, não chegamos
vazios até esse espaço, levamos um conjunto de vivências que dialogarão
com ele.
Na memória das professoras, a possibilidade de (re)visitar suas lembranças,
de que exponham suas bagagens de (não) viajantes, revolvendo os
153
sentidos e/ou significados que as habitam que as constituem como pessoas.
Que marcas artísticas atestam nossas passagens no âmbito escolar? Que
significados/sentidos atribuímos a elas?
A valorização dos “ trabalhos manuais”: Os resquícios da LDB 5692/71
(TONUCCI, 1997, p.82)
A justificativa para a discussão desse item está no mote das professoras
pesquisadas que ao mencionarem o quão foram valorizados os
denominados ‘trabalhinhos manuais’ nas aulas de Educação Artística trazem
à tona tal questão. Quando buscamos um pouco do contexto histórico,
compreendemos que a prática dos ‘trabalhinhos manuais’ representa o fruto
de um condicionante político que influiu na constituição de muitos
educadores e estudantes brasileiros. As marcas mencionadas pelas
professoras foram consideradas como resquícios mais diretos da LDB 5692/71
a qual vigorou por um período maior dentro do recorte de suas trajetórias
escolares. Muitas das professoras pesquisadas conviveram com a influência
da força dessa lei até o período em que freqüentaram o curso do Magistério
(curso do segundo grau), entre os anos de 1993 e 1996. E, mesmo após a
154
aprovação da nova LDBN, Lei 9394/96, não podemos aferir que as marcas
ficaram no passado.
Porém é necessário salientar que ao considerar a influência da Lei 5692/71
não estou afirmando que os ‘trabalhos manuais’ emergiram com ela. Basta
atravessarmos os diversos períodos históricos para encontrarmos essa prática
(embora com sentidos diferentes). A título de exemplo, podemos citar que
no período colonial as relações escravistas de produção impediram o
desenvolvimento das atividades artesanais e manufatureiras do homem livre,
atribuindo o trabalho manual a ‘coisa de escravo’. no período
republicano, encontramos os motes da preocupação por uma educação
estética ao ‘povo’. Tal educação estética, de um lado, considerou um
aporte mais teórico e de outro um mais prático. Em relação ao último,
destacam-se as atividades escolares propriamente ditas, como os trabalhos
manuais, o desenho, a música, as festas escolares etc., bem como toda uma
concepção de estética das ambiências escolares. (VEIGA, 2003, p.409).
A Lei 5692/71 refletiu os princípios da ditadura, embasados no significado da
racionalização do trabalho escolar e da adoção do ensino profissionalizante
do grau (FERRAZ; REZENDE e FUSARI, 1999). A educação artística foi
incluída oficialmente no currículo escolar com a pretensão da tentativa de
melhorar o ensino da arte nas escolas. Por força dessa, incorporou-se um
currículo que valorizou estritamente a tecnicidade e a profissionalização em
detrimento de uma cultura humanística e científica preponderante em anos
anteriores.
A lei supracitada também consolidou a polivalência das áreas artísticas
como referência metodológica assumida no espaço escolar. Entretanto
devemos mencionar que, quando emergiu a Educação Artística como
atividade curricular, ainda não se contava com professores preparados para
atuar dentro dessa disciplina, isto é, um professor que dominasse ao mesmo
tempo: Artes Plásticas, Música e Teatro. Somente em 1973, foram criados os
cursos de Licenciatura Curta, destinados a preparar o professor polivalente
155
que iria atuar no grau e de Licenciatura Plena, habilitado em uma das
áreas em específico para atuar no 2º grau. (BELLOCHIO, 2004)
A Lei 5692/71 eliminou qualquer possibilidade de criticidade e
criatividade no interior da escola. Por meio do princípio de uma educação
utilitarista e pragmática, foi instituído o ensino da Educação Artística, que
segundo Duarte Jr. (2002) se transformou em tudo: artes manuais, artes
industriais, desenho geométrico, artes domésticas, fanfarras etc., menos arte.
[...] Eu lembro assim, de fazer trabalhinhos manuais, com gr
[...] Eu lembro assim, de fazer trabalhinhos manuais, com gr[...] Eu lembro assim, de fazer trabalhinhos manuais, com gr
[...] Eu lembro assim, de fazer trabalhinhos manuais, com grampinho
ampinho ampinho
ampinho
de roupa, palitos de picolé, sucatas e pintura.” (Mariana
de roupa, palitos de picolé, sucatas e pintura.” (Mariana de roupa, palitos de picolé, sucatas e pintura.” (Mariana
de roupa, palitos de picolé, sucatas e pintura.” (Mariana
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 12/12/2006)
realizada em: 12/12/2006)realizada em: 12/12/2006)
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“[...] Eu me recordo de que na aula de arte os meninos faziam suportes
“[...] Eu me recordo de que na aula de arte os meninos faziam suportes [...] Eu me recordo de que na aula de arte os meninos faziam suportes
“[...] Eu me recordo de que na aula de arte os meninos faziam suportes
e também faziam aqueles desenhos com palitos de fósforos, e, a
e também faziam aqueles desenhos com palitos de fósforos, e, a e também faziam aqueles desenhos com palitos de sforos, e, a
e também faziam aqueles desenhos com palitos de fósforos, e, a
professora dava
professora dava professora dava
professora dava o molde e eles colavam em cima. nós, as meninas,
o molde e eles colavam em cima. nós, as meninas, o molde e eles colavam em cima. nós, as meninas,
o molde e eles colavam em cima. nós, as meninas,
fazíamos trabalhos direcionados ao crochê, tricô e também receitas
fazíamos trabalhos direcionados ao crochê, tricô e também receitas fazíamos trabalhos direcionados ao crochê, tricô e também receitas
fazíamos trabalhos direcionados ao crochê, tricô e também receitas
caseiras” (Ana Maria
caseiras” (Ana Maria caseiras” (Ana Maria
caseiras” (Ana Maria –
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“[...] Quando eu estudava no ensino fundamental era trabalhinhos
“[...] Quando eu estudava no ensino fundamental era trabalhinhos “[...] Quando eu estudava no ensino fundamental era trabalhinhos
“[...] Quando eu estudava no ensino fundamental era trabalhinhos
manuais,
manuais,manuais,
manuais, colagem, dancinhas, desenho livre, mimeografado, datas
colagem, dancinhas, desenho livre, mimeografado, datas colagem, dancinhas, desenho livre, mimeografado, datas
colagem, dancinhas, desenho livre, mimeografado, datas
comemorativas, não tínhamos nada teórico, prático” (Naiana
comemorativas, não tínhamos nada teórico, prático” (Naiana comemorativas, o nhamos nada teórico, prático” (Naiana
comemorativas, não tínhamos nada teórico, prático” (Naiana
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
“[...] quando eu estudava no ensino fundamental a gente fazia as
“[...] quando eu estudava no ensino fundamental a gente fazia as “[...] quando eu estudava no ensino fundamental a gente fazia as
“[...] quando eu estudava no ensino fundamental a gente fazia as
coisas e não compreendia o sentid
coisas e não compreendia o sentidcoisas e não compreendia o sentid
coisas e não compreendia o sentido que elas tinham. Era só prova,
o que elas tinham. Era só prova, o que elas tinham. Era só prova,
o que elas tinham. Era só prova,
desenho livre, desenho pontilhado, e até hoje eu não sei qual o sentido... e
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desenho livre, desenho pontilhado, e até hoje eu não sei qual o sentido... e
para que serviu tudo aquilo? Eram figuras geométricas e linhas a
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professora passava no quadro e a gente tinha que copiar no caderno”
professora passava no quadro e a gente tinha que copiar no caderno” professora passava no quadro e a gente tinha que copiar no caderno”
professora passava no quadro e a gente tinha que copiar no caderno”
(Ana Maria
(Ana Maria (Ana Maria
(Ana Maria –
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Consoante o que se enunciou nos discursos das professoras pesquisadas foi
possível encontrar a influência da Lei 5692/71. Nas narrativas, encontramos a
denúncia do modo como foi considerada e/ou trabalhada a arte em suas
trajetórias formativas. As professoras deixam transparecer o quão foram
restritas suas experiências com a arte no espaço escolar, alegam que na
156
escola, principalmente no Ensino Fundamental e no curso do Magistério
(segundo-grau), não tiveram “conteúdos propriamente ditos”, apenas
produziram muitos trabalhinhos manuais seguindo modelos e a orientação
da professora. Também enumeraram uma enorme listagem de ‘trabalhinhos
manuais’ como: confecção de enfeites, suportes, pinturas, colagens,
desenhos. Inclusive uma das professoras menciona que essas atividades
eram diferenciadas segundo o gênero, um tipo de trabalho para as meninas
e um outro para os meninos, demarcando conseqüentemente uma
educação diferenciada para assumir posições profissionais também
diferenciadas.
O desenho e a música como linguagens artísticas privilegiadas ao longo da
trajetória escolar das professoras.
A grande maioria das professoras (dez delas) disse ser o desenho e a música
às linguagens mais trabalhadas ao longo de toda a sua trajetória escolar.
Isso nos leva a pensar no porquê de algumas linguagens serem consideradas
mais próprias do que outras.
Em relação ao desenho Barbosa (2005) afirma que ainda hoje persistem, no
ensino da Arte, métodos e conteúdos que se originaram no século XIX e que
se reafirmaram educacionalmente no início do século XX. Segundo a autora,
foi especialmente na década de 70 que se consolidaram muitos desses
métodos no ensino da Educação Artística, disciplina esta que foi
historicamente associada como sinônimo de desenho.
Os discursos das professoras pesquisadas mencionam que suas vivências em
relação ao desenho estão intimamente ligadas às formas apreciativas da
realidade e sua representação, como: cópias, pinturas de desenhos
mimeografados, exercícios psicomotores e ‘desenho livre’ etc. Também
foram utilizados por seus professores como uma forma de verificação do
desenvolvimento-aprendizagem em relação a algum tema trabalhado.
157
Em relação à relevância atribuída aos desenhos e às formas apreciativas da
realidade, Leite (2001) aponta que a imagem vem ganhando contornos
contundentes de poder, de verdade e o de verossimilhança com o objeto,
tendo até mesmo distorcida sua percepção e seu entendimento.
“A experiência com a arte na época em que eu estudava..
“A experiência com a arte na época em que eu estudava..“A experiência com a arte na época em que eu estudava..
“A experiência com a arte na época em que eu estudava... bem, eu lembro
. bem, eu lembro . bem, eu lembro
. bem, eu lembro
do desenho, a gente trabalhava o desenho em si. Onde eu estudava
do desenho, a gente trabalhava o desenho em si. Onde eu estudava do desenho, a gente trabalhava o desenho em si. Onde eu estudava
do desenho, a gente trabalhava o desenho em si. Onde eu estudava
não tinha teatro, como hoje tem na educação infantil, hoje temos a hora
não tinha teatro, como hoje tem na educação infantil, hoje temos a hora não tinha teatro, como hoje tem na educação infantil, hoje temos a hora
não tinha teatro, como hoje tem na educação infantil, hoje temos a hora
da história, fazemos dramatizações, desenhamos sobre a história
da história, fazemos dramatizações, desenhamos sobre a história da história, fazemos dramatizações, desenhamos sobre a história
da história, fazemos dramatizações, desenhamos sobre a história
contada. Eu quando estudei era o
contada. Eu quando estudei era ocontada. Eu quando estudei era o
contada. Eu quando estudei era o desenho propriamente dito, o
desenho propriamente dito, o desenho propriamente dito, o
desenho propriamente dito, o
desenho livre, a professora dava o caderno e nós tínhamos que desenhar
desenho livre, a professora dava o caderno e nós tínhamos que desenhar desenho livre, a professora dava o caderno e s tínhamos que desenhar
desenho livre, a professora dava o caderno e nós tínhamos que desenhar
livremente [...]” (Ana Júlia
livremente [...]” (Ana Júlia livremente [...]” (Ana Júlia
livremente [...]” (Ana Júlia –
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“Era bastante desenho... até quando eu estava na pré
“Era bastante desenho... até quando eu estava na pré“Era bastante desenho... até quando eu estava na pré
“Era bastante desenho... até quando eu estava na pré-
--
-escola lembro que
escola lembro que escola lembro que
escola lembro que
gostava bastant
gostava bastantgostava bastant
gostava bastante de desenhar. Gostava de pintar, a professora contava
e de desenhar. Gostava de pintar, a professora contava e de desenhar. Gostava de pintar, a professora contava
e de desenhar. Gostava de pintar, a professora contava
alguma historinha, dava desenhos para a gente pintar, nós
alguma historinha, dava desenhos para a gente pintar, nós alguma historinha, dava desenhos para a gente pintar, nós
alguma historinha, dava desenhos para a gente pintar, nós
cantávamos, dançávamos. No ensino fundamental, tinha que fazer
cantávamos, dançávamos. No ensino fundamental, tinha que fazer cantávamos, dançávamos. No ensino fundamental, tinha que fazer
cantávamos, dançávamos. No ensino fundamental, tinha que fazer
aquelas letras no caderno quadriculado era horrível, eu não gostava.
aquelas letras no caderno quadriculado era horrível, eu não gostava. aquelas letras no caderno quadriculado era horrível, eu não gostava.
aquelas letras no caderno quadriculado era horrível, eu não gostava.
Lembro que
Lembro que Lembro que
Lembro que quando as letras não ficavam bem feitas ela apagava tudo.
quando as letras não ficavam bem feitas ela apagava tudo. quando as letras não ficavam bem feitas ela apagava tudo.
quando as letras não ficavam bem feitas ela apagava tudo.
Cores primárias, secundárias, terciárias... [...]” (Laiza
Cores primárias, secundárias, terciárias... [...]” (Laiza Cores primárias, secundárias, terciárias... [...]” (Laiza
Cores primárias, secundárias, terciárias... [...]” (Laiza
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 20/12/2006)
realizada em: 20/12/2006)realizada em: 20/12/2006)
realizada em: 20/12/2006)
Durante a trajetória escolar (principalmente durante o Ensino Fundamental),
as professoras pesquisadas deixaram transparecer por meio de suas
memórias, as marcas dos desenhos aprisionados em folhas, desenhos
modelados, desenhos estereotipados. Podemos notar também que foram
em sua maioria realizados após um passeio, para registrar os acontecimentos
das férias, para representar uma paisagem, aprender as cores, retas, curvas,
linhas etc. Assim, em seus discursos, ao referirem-se ao desenho esse emergiu
relacionado à combinação da utilização das cores, primárias, secundárias,
terciárias, bem como, a obrigação de prestar contas a alguém. Isto é, a
verificação da aprendizagem em relação a algum tema ou assunto
trabalhado.
158
Antes de entrar na escola eu gosta de desenhar... lembro que brincava
Antes de entrar na escola eu gosta de desenhar... lembro que brincava Antes de entrar na escola eu gosta de desenhar... lembro que brincava
Antes de entrar na escola eu gosta de desenhar... lembro que brincava
de desenhar em casa, mas na escola nossos desenhos tinham que ser
de desenhar em casa, mas na escola nossos desenhos tinham que ser de desenhar em casa, mas na escola nossos desenhos tinham que ser
de desenhar em casa, mas na escola nossos desenhos tinham que ser
com
comcom
como a professora queria. (Joana
o a professora queria. (Joanao a professora queria. (Joana
o a professora queria. (Joana
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
12/12/2006
12/12/200612/12/2006
12/12/2006)
))
)
Esse trecho denuncia a escola como o espaço que aprisionou seu desenho.
Na sua lembrança, antes de entrar para o espaço escolar o desenho era
como que vivo, pois gostava de desenhar, mas depois, ao entrar na escola
como que perdeu esse gosto. Moreira Albano (2002) afirma que a escola,
desde cedo, indica-nos que a linguagem oral e escrita possuem mais
relevância que outras. Para a autora, longe de dizer que a leitura e a escrita
não são importantes, quer-se legitimar a necessidade de indagar sobre a
supremacia da leitura e da escrita. que, por conta disso, o desenho por
mais que seja utilizado, por mais que seja trabalhado’ atrofia-se, como que
se esvai e é praticamente substituído pela estereotipia.
“No magistério fizemos bastante desenho de observação... a professora
“No magistério fizemos bastante desenho de observação... a professora “No magistério fizemos bastante desenho de observação... a professora
“No magistério fizemos bastante desenho de observação... a professora
sempre dava um modelo ou solicitava que a gente escolhesse algum e
sempre dava um modelo ou solicitava que a gente escolhesse algum e sempre dava um modelo ou solicitava que a gente escolhesse algum e
sempre dava um modelo ou solicitava que a gente escolhesse algum e
copiasse.” (Beatriz
copiasse.” (Beatriz copiasse.” (Beatriz
copiasse.” (Beatriz
– entrevista realizada em: 03/11/2006)
entrevista realizada em: 03/11/2006) entrevista realizada em: 03/11/2006)
entrevista realizada em: 03/11/2006)
“Eram as cores primárias, secundárias, ter
“Eram as cores primárias, secundárias, ter“Eram as cores primárias, secundárias, ter
“Eram as cores primárias, secundárias, terciárias, sobre pontos, linhas,
ciárias, sobre pontos, linhas, ciárias, sobre pontos, linhas,
ciárias, sobre pontos, linhas,
curvas, formas, desenho geométrico” (Gabriela
curvas, formas, desenho geométrico” (Gabriela curvas, formas, desenho geométrico” (Gabriela
curvas, formas, desenho geométrico” (Gabriela
Entrevista realizada
Entrevista realizada Entrevista realizada
Entrevista realizada
em: 12/12/2006)
em: 12/12/2006)em: 12/12/2006)
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159
“No magistério [...] nós éramos obrigadas a utilizar modelos, nós
“No magistério [...] nós éramos obrigadas a utilizar modelos, nós “No magistério [...] nós éramos obrigadas a utilizar modelos, nós
“No magistério [...] nós éramos obrigadas a utilizar modelos, nós
passamos praticamente o curso todo pintando desenhos nas janelas
passamos praticamente o curso todo pintando desenhos nas janelas passamos praticamente o curso todo pintando desenhos nas janelas
passamos praticamente o curso todo pintando desenhos nas janelas da
da da
da
nossa sala de aula [...]” (Joana
nossa sala de aula [...]” (Joana nossa sala de aula [...]” (Joana
nossa sala de aula [...]” (Joana –
– Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006) Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
durante o curso do magistério (segundo-grau), algumas professoras dizem
que a imagem do desenho emergiu atrelada ao diagnóstico de um suposto
estado interior:
[...] no magist
[...] no magist[...] no magist
[...] no magistério o professor falava sobre as crianças que pintavam de
ério o professor falava sobre as crianças que pintavam de ério o professor falava sobre as crianças que pintavam de
ério o professor falava sobre as crianças que pintavam de
preto, que talvez elas tivessem algum problema psicológico. Alguma
preto, que talvez elas tivessem algum problema psicológico. Alguma preto, que talvez elas tivessem algum problema psicológico. Alguma
preto, que talvez elas tivessem algum problema psicológico. Alguma
coisa ruim guardada dentro delas. Que quando ela desenhava era bom
coisa ruim guardada dentro delas. Que quando ela desenhava era bom coisa ruim guardada dentro delas. Que quando ela desenhava era bom
coisa ruim guardada dentro delas. Que quando ela desenhava era bom
porque daí descarregava, colocava aquela coisa ruim para fora, p
porque daí descarregava, colocava aquela coisa ruim para fora, pporque daí descarregava, colocava aquela coisa ruim para fora, p
porque daí descarregava, colocava aquela coisa ruim para fora, poderia
oderia oderia
oderia
se sentir melhor, liberta do trauma. (Nayana, entrevista realizada em:
se sentir melhor, liberta do trauma. (Nayana, entrevista realizada em: se sentir melhor, liberta do trauma. (Nayana, entrevista realizada em:
se sentir melhor, liberta do trauma. (Nayana, entrevista realizada em:
20/12/2006)
20/12/2006)20/12/2006)
20/12/2006)
Desenho de Observação
Beatriz – adicional da pré-escola
160
Desse modo, tal trecho revela que durante o curso do magistério os
desenhos foram utilizados e avaliados como uma oportunidade de
compreender o interior das crianças. Essa questão é considerada válida por
parte de algumas das professoras as quais, inclusive, dão exemplos positivos
em relação à consideração do desenho como uma forma de revelar o
interior das crianças.
“Eu consigo compreender as crianças, no que estã
“Eu consigo compreender as crianças, no que estã“Eu consigo compreender as crianças, no que estã
“Eu consigo compreender as crianças, no que estão pensando e sentido
o pensando e sentido o pensando e sentido
o pensando e sentido
por meio dos seus desenhos [...]” (Bianca
por meio dos seus desenhos [...]” (Bianca por meio dos seus desenhos [...]” (Bianca
por meio dos seus desenhos [...]” (Bianca
entrevista realizada em:
entrevista realizada em: entrevista realizada em:
entrevista realizada em:
20/12/2006)
20/12/2006)20/12/2006)
20/12/2006)
Para Leite (2001), nossa sociedade ‘letrada’ como que institui a supremacia
da leitura. Entretanto é inócua a desconcertante postura de descrever o
perfil psicológico daquele que desenha tomando por parâmetro apenas o
que desenhou. Para a autora, a criança desenha do mesmo modo que
brinca, que dança, que canta... como mais uma das suas muitas formas de
se relacionar com o mundo.
Cinco das doze professoras entrevistadas mencionam que seus professores
discutiram sobre os repertórios, cantigas e/ou canções para a infância. Uma
delas mencionou que sua professora mencionou sobre cantores brasileiros,
sua história e importância, mas que hoje não se recordava mais sobre tal
discussão.
“Na graduação teve algumas discussões. A professora discutiu sobre os
“Na graduação teve algumas discussões. A professora discutiu sobre os “Na graduação teve algumas discussões. A professora discutiu sobre os
“Na graduação teve algumas discussões. A professora discutiu sobre os
repertórios musicais e também sobre a importância de não dar desenhos
repertórios musicais e também sobre a importância de não dar desenhos repertórios musicais e também sobre a importância de não dar desenhos
repertórios musicais e também sobre a importância de não dar desenhos
prontos para as crianças, sobre a importância de dei
prontos para as crianças, sobre a importância de deiprontos para as crianças, sobre a importância de dei
prontos para as crianças, sobre a importância de dei-
--
-las criar e
las criar e las criar e
las criar e
imaginar. Na grad
imaginar. Na gradimaginar. Na grad
imaginar. Na graduação, discutimos sobre o Referencial Curricular
uação, discutimos sobre o Referencial Curricular uação, discutimos sobre o Referencial Curricular
uação, discutimos sobre o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil, sobre a avaliação em arte, sobre o
Nacional para a Educação Infantil, sobre a avaliação em arte, sobre o Nacional para a Educação Infantil, sobre a avaliação em arte, sobre o
Nacional para a Educação Infantil, sobre a avaliação em arte, sobre o
repertório musical, sobre a importância da arte...” (Joana
repertório musical, sobre a importância da arte...” (Joana repertório musical, sobre a importância da arte...” (Joana
repertório musical, sobre a importância da arte...” (Joana
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 12/12/2006)
realizada em: 12/12/2006)realizada em: 12/12/2006)
realizada em: 12/12/2006)
161
Na escola, durante toda minha trajet
Na escola, durante toda minha trajet Na escola, durante toda minha trajet
Na escola, durante toda minha trajetória, nós fazíamos muito
ória, nós fazíamos muito ória, nós fazíamos muito
ória, nós fazíamos muito
desenho e também aprendemos a cantar os hinos. Então, era assim, eles
desenho e também aprendemos a cantar os hinos. Então, era assim, eles desenho e também aprendemos a cantar os hinos. Então, era assim, eles
desenho e também aprendemos a cantar os hinos. Então, era assim, eles
davam muita música e desenho [...]” (Laiza
davam muita música e desenho [...]” (Laiza davam muita música e desenho [...]” (Laiza
davam muita música e desenho [...]” (Laiza
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
20/12/2006)
20/12/2006)20/12/2006)
20/12/2006)
“A música fez e ainda faz parte de minha vida. Durante toda minha
“A música fez e ainda faz parte de minha vida. Durante toda minha “A música fez e ainda faz parte de minha vida. Durante toda minha
“A música fez e ainda faz parte de minha vida. Durante toda minha
trajetória e
trajetória etrajetória e
trajetória escolar, s cantávamos muito... no dia dos pais, dia das
scolar, s cantávamos muito... no dia dos pais, dia das scolar, nós cantávamos muito... no dia dos pais, dia das
scolar, s cantávamos muito... no dia dos pais, dia das
mães, nas festas cívicas... pra tudo tinha uma ‘musiquinha’. [...]”
mães, nas festas cívicas... pra tudo tinha uma ‘musiquinha’. [...]” mães, nas festas cívicas... pra tudo tinha uma ‘musiquinha’. [...]”
mães, nas festas cívicas... pra tudo tinha uma ‘musiquinha’. [...]”
(Mariana
(Mariana (Mariana
(Mariana –
– entrevista realizada em: 12/12/2006)
entrevista realizada em: 12/12/2006) entrevista realizada em: 12/12/2006)
entrevista realizada em: 12/12/2006)
Nogueira (2003) aponta que, em relação a uma concepção de música, é
notória o predomínio de pedagogias tradicionais as quais a reduzem a uma
canção a ser trabalhada como estratégia de desenvolver algum
comportamento. Ou seja, por conta dessa atitude, praticamente o se
exploram “[...]as possibilidades expressivas da música, deixando de
proporcionar à criança um contato mais exploratório e prazeroso com a
linguagem musical, cuidando apenas do resultado final [...]” (idem, p.03)
Em relação aos depoimentos das professoras, ficou demarcado, dentre
outras coisas, o quanto o desenho e a música foram predominantes durante
suas trajetórias no espaço educacional. Isso nos leva a questionar e até
mesmo aferir que ao terem como preponderantes as linguagens do desenho
e da música em seu repertório escolar, de certo modo essas linguagens
também podem ser preponderantes em sua atuação profissional, em
detrimento das muitas outras que são igualmente necessárias. Dizer que a
linguagem musical e do desenho foram prevalecentes na
formação/constituição das professoras pesquisadas, não é descartar a
importância destas para sua formação, mas é imprescindível nos perguntar:
Porque apenas essas e não outras? Há uma hierarquia entre as linguagens?
162
A presença-fortuita da arte nos cursos de formação de professores
Diferentemente do que acontece com outras disciplinas provenientes de
campos mais legítimos, a arte sempre teve que justificar o porquê de sua
presença no espaço escolar (HERNÁNDEZ, 2000), situação esta não muito
diferente no que concerne aos locais destinados à formação do educador.
Hoje, a problemática relativa ao ensino das artes no Brasil põe em questão a
formação dos professores oferecida nas licenciaturas em arte, nos cursos de
pedagogia e nas habilitações para o magistério de nível médio. Os
professores habilitados para trabalhar na Educação Infantil, em sua maioria
são também os responsáveis para desenvolver um trabalho na ampliação
dos referenciais artísticos das crianças dessa faixa-etária.
Entretanto como o pedagogo vai proporcionar algo que ele próprio, por
vezes, não experienciou durante sua formação acadêmica? (ALBANO
MOREIRA, 2002). Como irá trabalhar com as linguagens artísticas (visuais,
dança, música e teatro); se, no geral, ao longo de toda uma trajetória
formativa, apenas uma ou outra linguagem foi priorizada? Será o profissional
da Educação da infância um professor polivalente? A demanda para
respondermos a tais questionamentos nos levaria a realização de outras
pesquisas. Não podemos, contudo, furtar-nos de fazê-lo, à medida que a
intenção de levantar tais questões perpassa pela complexa problemática
da formação do profissional da infância. E a arte é apenas mais uma das
muitas faces dessa esfinge.
Pillotto (1997), defende que cada instituição de educação infantil tenha um
profissional habilitado no ensino da arte, sendo que esse deve desenvolver
projetos em parceria com os demais educadores. Tal autora compreende
que o professor de Educação Infantil e o Arte-Educador devem trabalhar em
conjunto, desenvolvendo projetos, aprofundando conceitos e ampliando
suas próprias linguagens artísticas e as das crianças com as quais convive.
163
Para a autora a função do profissional em arte-educação não é apenas a
de ministrar aulas fragmentadas; mas, sobretudo, de organizar um espaço
de cultura que possibilite a ampliação das expressões e das linguagens das
crianças.
Ainda segundo a autora supracitada, historicamente a arte na educação
infantil assumiu um perfil de recreação e de desenvolvimento emotivo e
motor. Mas que hoje essa forma de compreensão encontra-se em processo
de ruptura. O que exige dos cursos de formação de professores, bem como
das políticas públicas um maior comprometimento em relação aos aspectos
cognitivos, sensíveis e culturais.
Pires (2006), em sua pesquisa de mestrado aponta a ausência da arte nos
cursos responsáveis pela formação das professoras que trabalham na
educação infantil no município de São Paulo. Segundo a autora, apesar da
importância das experiências artísticas com as crianças, as professoras
pesquisadas não as valorizavam, pois passaram por uma formação na qual
não aprenderam a apreciar a arte para além dos referenciais midiáticos.
Em sua formação profissional, nos cursos de Magistério e
Pedagogia, não existe a disciplina Arte em qualquer de suas
manifestações. Como então esperar dessas profissionais que
entendam a música como uma das linguagens da infância?
(PIRES, 2006, p.23)
Diferente dessa constatação, as professoras por mim pesquisadas tiveram
nos currículos dos cursos que freqüentaram (seja no magistério ou
pedagogia) no mínimo uma disciplina de arte. Essa contribuiu seja para o
mal ou para o bem na constituição de sua formação artístico-cultural. Ao
buscar nas narrativas dessas profissionais suas possíveis experiências com a
arte, reforçou-me o quanto essa idéia de não-ausência, mas de uma
presença-fortuita.
164
Nas narrativas, as professoras que arrolaram sobre as discussões que tiveram
durante o curso, apontaram que na disciplina de arte-educação, um dos
debates girou em torno da questão das datas comemorativas - sobre a
importância de não apenas comemorá-las, mas discutir o sentido de cada
uma delas. Isto é, de não apenas trabalhar a data em si, mas seu real
sentido, do porque foi criada, bem como da importância de elas serem
comemoradas.
“No magistério e na faculdade, a gente sempre ti
“No magistério e na faculdade, a gente sempre ti“No magistério e na faculdade, a gente sempre ti
“No magistério e na faculdade, a gente sempre tinha espaço para estar
nha espaço para estar nha espaço para estar
nha espaço para estar
discutindo a importância da arte. Eu senti isso mais forte na
discutindo a importância da arte. Eu senti isso mais forte na discutindo a importância da arte. Eu senti isso mais forte na
discutindo a importância da arte. Eu senti isso mais forte na
graduação até pensando na educação infantil, do quanto é importante.
graduação até pensando na educação infantil, do quanto é importante. graduação até pensando na educação infantil, do quanto é importante.
graduação até pensando na educação infantil, do quanto é importante.
Discutíamos sobre a importância da arte na educação durante a
Discutíamos sobre a importância da arte na educação durante a Discutíamos sobre a importância da arte na educação durante a
Discutíamos sobre a importância da arte na educação durante a
faculdade, isto é, sobre as datas comemor
faculdade, isto é, sobre as datas comemorfaculdade, isto é, sobre as datas comemor
faculdade, isto é, sobre as datas comemorativas. Segundo a professora,
ativas. Segundo a professora, ativas. Segundo a professora,
ativas. Segundo a professora,
deveríamos mudar nossa prática, por exemplo, no dia do índio, não
deveríamos mudar nossa prática, por exemplo, no dia do índio, não deveríamos mudar nossa prática, por exemplo, no dia do índio, não
deveríamos mudar nossa prática, por exemplo, no dia do índio, não
trabalhar o dia do índio quando chegar aquela ‘semaninha’ ali, né?
trabalhar o dia do índio quando chegar aquela ‘semaninha’ ali, né? trabalhar o dia do índio quando chegar aquela ‘semaninha’ ali, né?
trabalhar o dia do índio quando chegar aquela ‘semaninha’ ali, né?
ir sempre trabalhando as questões do índio. Na Páscoa estar
ir sempre trabalhando as questões do índio. Na Páscoa estar ir sempre trabalhando as questões do índio. Na Páscoa estar
ir sempre trabalhando as questões do índio. Na Páscoa estar
respeitando as diferenças r
respeitando as diferenças rrespeitando as diferenças r
respeitando as diferenças religiosas, de não naquele período da
eligiosas, de não naquele período da eligiosas, de não só naquele período da
eligiosas, de não naquele período da
Páscoa, isso ficou bem forte, não a data comemorativa pela data
Páscoa, isso ficou bem forte, não a data comemorativa pela data Páscoa, isso ficou bem forte, não a data comemorativa pela data
Páscoa, isso ficou bem forte, não a data comemorativa pela data
comemorativa. A questão da festa junina que a gente caracteriza a
comemorativa. A questão da festa junina que a gente caracteriza a comemorativa. A questão da festa junina que a gente caracteriza a
comemorativa. A questão da festa junina que a gente caracteriza a
criança, eu penso assim, é minha opinião, posso até estar
criança, eu penso assim, é minha opinião, posso até estar criança, eu penso assim, é minha opinião, posso até estar
criança, eu penso assim, é minha opinião, posso até estar
proporcionando uma festa que
proporcionando uma festa queproporcionando uma festa que
proporcionando uma festa que eles venham trajados, mas explicar que
eles venham trajados, mas explicar que eles venham trajados, mas explicar que
eles venham trajados, mas explicar que
hoje não é mais aquele traje que a pessoa da roça usa. Propriamente um
hoje não é mais aquele traje que a pessoa da roça usa. Propriamente um hoje não é mais aquele traje que a pessoa da roça usa. Propriamente um
hoje não é mais aquele traje que a pessoa da roça usa. Propriamente um
tema, eu não me recordo, mas isso ficou bastante gravado, um assunto
tema, eu não me recordo, mas isso ficou bastante gravado, um assunto tema, eu não me recordo, mas isso ficou bastante gravado, um assunto
tema, eu não me recordo, mas isso ficou bastante gravado, um assunto
que foi bastante debatido” (Júlia
que foi bastante debatido” (Júlia que foi bastante debatido” (Júlia
que foi bastante debatido” (Júlia
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
01/11/2006)
01/11/2006)01/11/2006)
01/11/2006)
Duas das professoras associam a sua experiência nos cursos de formação de
professores (magistério e pedagogia) não diretamente à disciplina de arte-
educação, mas a outras experiências formativas. Uma delas reconhece a
importância da arte devido a sua experiência com o teatro, por ter
participado e utilizado essa linguagem e o quanto essa foi significativa para
a sua formação e constituição enquanto professora e pessoa. A outra
aponta que lembra não, especificamente, da disciplina de arte, mas das
aulas de educação física, das cantigas de roda que sua professora
165
promovia. De que hoje reconhece a importância das músicas infantis e
tradicionais por conta dessa experiência.
“Na graduação aprendi muito, porque fazia parte de um grupo de
“Na graduação aprendi muito, porque fazia parte de um grupo de “Na graduação aprendi muito, porque fazia parte de um grupo de
“Na graduação aprendi muito, porque fazia parte de um grupo de
trabalho que utilizava o t
trabalho que utilizava o ttrabalho que utilizava o t
trabalho que utilizava o teatro para apresentar os textos, livros,
eatro para apresentar os textos, livros, eatro para apresentar os textos, livros,
eatro para apresentar os textos, livros,
trabalhos das disciplinas. Foi muito bom, aprendi muito, que a arte
trabalhos das disciplinas. Foi muito bom, aprendi muito, que a arte trabalhos das disciplinas. Foi muito bom, aprendi muito, que a arte
trabalhos das disciplinas. Foi muito bom, aprendi muito, que a arte
pode ser diferente, que a gente pode aprender com ela, que as coisas
pode ser diferente, que a gente pode aprender com ela, que as coisas pode ser diferente, que a gente pode aprender com ela, que as coisas
pode ser diferente, que a gente pode aprender com ela, que as coisas
podem ser mais prazerosas, mais legais quando a gente utiliza a arte”
podem ser mais prazerosas, mais legais quando a gente utiliza a arte” podem ser mais prazerosas, mais legais quando a gente utiliza a arte”
podem ser mais prazerosas, mais legais quando a gente utiliza a arte”
(Joana
(Joana (Joana
(Joana
– Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006) Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
Em sua maioria, as professoras acusam a quase total ausência de discussões
sobre a relevância da arte na/para a educação. que, segundo essas,
foram poucas as discussões e as que ocorreram foram consideradas, por
elas, superficiais.
“No magistério foram poucas as discussões sobre a arte. O que a gente
“No magistério foram poucas as discussões sobre a arte. O que a gente No magistério foram poucas as discussões sobre a arte. O que a gente
“No magistério foram poucas as discussões sobre a arte. O que a gente
fazia era aquela montoeira de caderninhos enfeitados e bonitinhos, mas
fazia era aquela montoeira de caderninhos enfeitados e bonitinhos, mas fazia era aquela montoeira de caderninhos enfeitados e bonitinhos, mas
fazia era aquela montoeira de caderninhos enfeitados e bonitinhos, mas
na verdade aquilo servia para enfeitar porque não tinha nada a ver
na verdade aquilo servia para enfeitar porque não tinha nada a ver na verdade aquilo servia para enfeitar porque não tinha nada a ver
na verdade aquilo servia para enfeitar porque não tinha nada a ver
com a realidade. Acho
com a realidade. Acho com a realidade. Acho
com a realidade. Acho que não tive discussões sólidas em relação à arte.
que não tive discussões sólidas em relação à arte. que não tive discussões sólidas em relação à arte.
que não tive discussões sólidas em relação à arte.
A arte foi bem mal trabalhada. Na graduação ocorreram algumas
A arte foi bem mal trabalhada. Na graduação ocorreram algumas A arte foi bem mal trabalhada. Na graduação ocorreram algumas
A arte foi bem mal trabalhada. Na graduação ocorreram algumas
discussões mais foram poucas” (Ana Maria
discussões mais foram poucas” (Ana Maria discussões mais foram poucas” (Ana Maria
discussões mais foram poucas” (Ana Maria
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
01/11/2006)
01/11/2006)01/11/2006)
01/11/2006)
O compêndio dos discursos das professoras em relação aos sentidos da arte
no espaço dos cursos de formação de professores (seja o magistério -
segundo grau ou o curso de Pedagogia) foram em geral semelhantes entre
si, demarcando o horizonte espacial e ideacional dos informantes
pesquisados (BAKHTIN, 1976). Nas semelhanças dos discursos, as
contrapalavras das professoras pesquisadas tomaram como presumidos a
mesma instituição, o mesmo professor de arte, o mesmo período histórico, e
o fato da disciplina arte-educação ter sido oferecido apenas na fase do
curso de pedagogia - com uma carga-horária de 60h.
166
O discurso da não memória na memória,
Algo que chamou minha atenção acerca dos discursos das professoras foi o
fato de constantemente afirmarem suas não-lembranças em torno das
discussões no âmbito da disciplina de arte-educação no curso de
Pedagogia. Aqui, cabe um esclarecimento, considero normal não
lembrarmos de tudo o que vivemos, pois como assinalado no segundo
capítulo, as vivências são únicas, não se repetem, ocorrem de forma mais ou
menos tangíveis e que, nem todas elas resultam no acervo de nossas
experiências. No entanto seria, por suposto, durante seus discursos que
utilizassem expressão do não lembrar, principalmente, no que tange aos
acontecimentos mais antigos (como os ocorridos no Ensino Fundamental).
Mas algo que me chamou atenção durante as transcrições das
entrevistas foi a quantidade de expressões da não memória. Essas expressões
das não-lembranças foram bem mais reiteradas nos relatos da experiência
vivida na disciplina arte-educação oferecida no curso de Pedagogia.
Destaco que fazia apenas de 2 a 3 anos do período da conclusão do curso
até a data dos depoimentos.
No discurso da não memória na memória, foram explícitas expressões do
tipo: Não recordo do que foi trabalhado na disciplina arte-educação na
época da graduação” (Cláudia); “Na graduação tive a disciplina de artes,
mas não me lembro de quase nada” (Isabela); “Não lembro, acho que é
porque foi trabalhado bem pouco” (Júlia); Não lembro do assunto, acho
que foi fraco, porque não lembro”(Bianca); “Arte ? não me lembro ao
certo...” (Ana Júlia); “[arte] Não me recordo muito sobre isso” (Beatriz);
“Olha.. sobre o que foi feito (?) acho que não me lembro” (Joana).
No dizer de Smolka (2006), a experiência é uma palavra que mobiliza
significados, sentidos, lembranças, imagens, conceitos e/ou pré-conceitos. E,
então diante da o memória o que dizer da experiência? Ou, diante da
não experiência o que dizer da não memória? Falar de experiência é falar
167
de corpo/sujeito afetado pelo outro/signo. É falar da vida impregnada de
sentido. Não existe experiência sem significação. Se a memória pode nos
fornecer uma relação profunda com nossa experiência, o apoio para a
constituição de nossas histórias, nossos referenciais, o que dizer da não
memória das professoras? Da qualidade das vivências estéticas que
estabeleceram ao longo da trajetória escolar?
Dentre as reminiscências e o esquecimento, as professoras justificam a
denominada não memória por meio do argumento de que, se não se
recordam é porque não foi significativo. Diante de tal afirmação é de se
aludir que existam vivências sem significação. Assim sendo, podemos afirmar
que para as professoras pesquisadas suas declaradas não memórias como
que desfalca e/ou empobrece seus repertórios artístico-culturais.
168
A FORMAÇÃO ARTÍSTICO-CULTURAL: REPERTÓRIOS DA ATUAÇÃO
PROFISSIONAL
TONUCCI, 1997.
É necessário mencionar previamente, que na constituição dessa categoria
analítica, formação artístico-cultural: repertórios da atuação profissional
utilizei, como dados, as narrativas e/ou discursos das professoras sobre tal
item, bem como algumas imagens captadas durante os dias em que estive
presente no CEI. Embora não se tratando da observação e/ou análise
sistemática de suas práticas, esta secção nos fornece alguns indicativos
sobre as representações e sentidos tecidos sobre o contexto em que as
professoras trabalham, bem como as condições da atuação profissional.
Geertz (1989), nos estudos da antropologia, indica que nas entrevistas ou ao
ouvir o outro, mesmo que informalmente, não obteremos uma descrição
169
fidedigna da realidade pesquisada, mas representações, por vezes,
secundárias dessas. Secundárias, aqui utilizadas, no mesmo sentido que
Bakhtin atribui a não coincidência da realidade com sua representação. Ou
seja, ao descrever algo (ou a nós mesmo), não o fazemos dá mesma
forma como o de fato ocorreu. Incluídas nas narrativas e/ou discursos das
profissionais sobre sua prática, estão suas representações e sentidos
atribuídos à realidade e a si próprios. Assim, como igualmente em minha
condição de ouvinte, de pesquisadora, estão presentes minhas significações
que interferem na objetivação dos discursos enunciados pelas professoras
pesquisadas. Não se trata de relativizar a realidade, mas de entendê-la em
seu movimento dinâmico de representação e/ou aproximação.
Para compreendermos os sentidos atribuídos pelas professoras pesquisadas
em relação aos seus repertórios da atuação profissional não podemos
olvidar todos os outros repertórios – os de casa e o da escola. Quando cada
professora se dirige ao espaço da atuação profissional, ao se relacionar com
crianças, pais, comunidade, instituição, etc., sempre farão uso de suas
contrapalavras, isto é, seus repertórios, suas bagagens que em diálogo com
os conhecimentos novos adquiridos no espaço da atuação profissional serão
ressignificadas.
Em relação à questão citada, devo salientar que não se trata de uma
simples soma: repertório artístico-cultural de casa + repertório artístico-cultural
da escola + repertório artístico-cultural da atuação profissional = a ‘inteireza’
e/ou formação artístico-cultural por ‘inteiro’. Essa compreensão poderia
aludir a que a formação teria um final, a que a formação levaria os sujeitos a
uma identidade estável, a que pudéssemos nos tornar alguém de uma
forma definitiva, sem desvios e nem fissuras. Isto é, a compreensão de que
por meio de uma fórmula pré-determinada pudéssemos chegar a um
resultado previsto de antemão. Para Bakhtin (2003), discorrer em relação à
formação é considerar o movimento dialógico de constituição dos sujeitos e
de sua relação com o mundo. Uma formação situadamente hisrica, dentro
170
de uma realidade demarcada por múltiplas e heterogêneas linguagens
sociais que influem em sua constituição e relação com o mundo.
A apologia das datas comemorativas e o lugar das linguagens artísticas
TONUCCI, 1997.
Ao longo dos discursos, constatei que as professoras faziam uma relação
direta entre datas comemorativas e arte. Sendo que essa última entrou em
cena para tornar as ‘comemorações’, ‘as festividades’ mais agradáveis e/ou
prazerosas. A seleção das datas comemorativas para o planejamento anual,
como ilustra a imagem de Tonucci (1994), forja uma previsão do que será
trabalhado durante todo o ano: fevereiro o carnaval, março ou abril a
Páscoa, maio – as mães, junho – festa junina, agosto – dia dos pais, setembro
a primavera, outubro dia da criança, a chegar dezembro com o
Natal. Tais comemorações são consideradas motivos para incluir atividades
manuais, aludindo à idéia da inclusão da arte no contexto da educação
171
infantil. Fazer a ‘lembrancinha’ das mães ou dos pais, fazer a cestinha da
Páscoa, se maquiar para parecer o coelho, decorar a sala para o natal,
desenhar sobre a temática comemorativa, cantar melodias, entre outras
atividades, representam para as profissionais entrevistadas sentidos e/ou
espaços destinados à arte.
Onze das doze professoras investigadas dizem que trabalham com as
datas comemorativas, entretanto argumentam que não são todas as datas
do calendário consideradas em seu planejamento. “Só as que a ‘sociedade’
atribui maior importância’ (Beatriz), “As que a sociedade elege” (Ana Júlia)”.
As datas comemorativas e as ‘lembrancinhas’ coladas nas age
As datas comemorativas e as ‘lembrancinhas’ coladas nas ageAs datas comemorativas e as ‘lembrancinhas’ coladas nas age
As datas comemorativas e as ‘lembrancinhas’ coladas nas agendas
ndasndas
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172
173
“Lembrancinhas das Agendas”
“Lembrancinhas das Agendas” “Lembrancinhas das Agendas”
“Lembrancinhas das Agendas” -
--
-
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
174
Eu trabalho com as datas comemorativas, sempre pontuando a
Eu trabalho com as datas comemorativas, sempre pontuando a Eu trabalho com as datas comemorativas, sempre pontuando a
Eu trabalho com as datas comemorativas, sempre pontuando a
importância de cada data, e através da conversação com os ‘aluninhos’
importância de cada data, e através da conversação com os ‘aluninhos’ importância de cada data, e através da conversação com os ‘aluninhos’
importância de cada data, e através da conversação com os ‘aluninhos’
daí vem os trabalhinhos manu
daí vem os trabalhinhos manudaí vem os trabalhinhos manu
daí vem os trabalhinhos manuais... ou a escrita de acordo com alguma
ais... ou a escrita de acordo com alguma ais... ou a escrita de acordo com alguma
ais... ou a escrita de acordo com alguma
palavra
palavrapalavra
palavra-
--
-chave desses temas, sempre trabalho assim... até, porque eu
chave desses temas, sempre trabalho assim... até, porque eu chave desses temas, sempre trabalho assim... até, porque eu
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penso, se passa na televisão, né...? Por exemplo, a preparação que
penso, se passa na televisão, né...? Por exemplo, a preparação que penso, se passa na televisão, né...? Por exemplo, a preparação que
penso, se passa na televisão, né...? Por exemplo, a preparação que
antecede o dia das crianças, aí a gente vai e trabalha na escola também,
antecede o dia das crianças, aí a gente vai e trabalha na escola também, antecede o dia das crianças, aí a gente vai e trabalha na escola também,
antecede o dia das crianças, aí a gente vai e trabalha na escola também,
ai tem
ai tem ai tem
ai tem alguma ‘musiquinha’ de alguma propaganda, quando a gente
alguma ‘musiquinha’ de alguma propaganda, quando a gente alguma ‘musiquinha’ de alguma propaganda, quando a gente
alguma ‘musiquinha’ de alguma propaganda, quando a gente
vê, eles estão cantando o que ouviram na TV.” Júlia
vê, eles estão cantando o que ouviram na TV.” Júlia vê, eles estão cantando o que ouviram na TV.” Júlia
vê, eles estão cantando o que ouviram na TV.” Júlia
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 01/11/2006.
realizada em: 01/11/2006.realizada em: 01/11/2006.
realizada em: 01/11/2006.
“Nas datas comemorativas eu distribuo desenhos para as crianças
“Nas datas comemorativas eu distribuo desenhos para as crianças “Nas datas comemorativas eu distribuo desenhos para as crianças
“Nas datas comemorativas eu distribuo desenhos para as crianças
pintarem, fazemos
pintarem, fazemos pintarem, fazemos
pintarem, fazemos trabalhinhos manuais
trabalhinhos manuaistrabalhinhos manuais
trabalhinhos manuais, exp
, exp, exp
, explicando o porquê de cada
licando o porquê de cada licando o porquê de cada
licando o porquê de cada
comemoração” Bianca
comemoração” Bianca comemoração” Bianca
comemoração” Bianca –
– entrevista realizada em: 20/12/2006.
entrevista realizada em: 20/12/2006. entrevista realizada em: 20/12/2006.
entrevista realizada em: 20/12/2006.
“[...] Embora canse de ir a cursos e eles dizerem que o é importante
“[...] Embora canse de ir a cursos e eles dizerem que o é importante “[...] Embora canse de ir a cursos e eles dizerem que não é importante
“[...] Embora canse de ir a cursos e eles dizerem que o é importante
trabalhar com as datas comemorativas... eu trabalho, sim! Porque eu
trabalhar com as datas comemorativas... eu trabalho, sim! Porque eu trabalhar com as datas comemorativas... eu trabalho, sim! Porque eu
trabalhar com as datas comemorativas... eu trabalho, sim! Porque eu
creio que tudo aquilo que faz pa
creio que tudo aquilo que faz pacreio que tudo aquilo que faz pa
creio que tudo aquilo que faz parte do cotidiano da criança é
rte do cotidiano da criança é rte do cotidiano da criança é
rte do cotidiano da criança é
importante. Por exemplo, eu não posso privar a criança de saber a
importante. Por exemplo, eu não posso privar a criança de saber a importante. Por exemplo, eu o posso privar a criança de saber a
importante. Por exemplo, eu não posso privar a criança de saber a
cultura do índio, de saber a cultura do negro, de saber as estações...? Se
cultura do índio, de saber a cultura do negro, de saber as estações...? Se cultura do índio, de saber a cultura do negro, de saber as estações...? Se
cultura do índio, de saber a cultura do negro, de saber as estações...? Se
é uma coisa a qual faz parte do dia
é uma coisa a qual faz parte do diaé uma coisa a qual faz parte do dia
é uma coisa a qual faz parte do dia-
--
-a
aa
a-
--
-dia delas então não podemos
dia delas então não podemos dia delas então não podemos
dia delas então não podemos
omitir. Se eu não c
omitir. Se eu não comitir. Se eu não c
omitir. Se eu não comentar, o pai e a mãe vão, a televisão, também. [...]
omentar, o pai e a mãe vão, a televisão, também. [...] omentar, o pai e a mãe vão, a televisão, também. [...]
omentar, o pai e a mãe vão, a televisão, também. [...]
Então eu utilizo a arte dentro das datas comemorativas que estou
Então eu utilizo a arte dentro das datas comemorativas que estou Então eu utilizo a arte dentro das datas comemorativas que estou
Então eu utilizo a arte dentro das datas comemorativas que estou
trabalhando. A gente canta musiquinhas, faz pinturinhas, teatrinho,
trabalhando. A gente canta musiquinhas, faz pinturinhas, teatrinho, trabalhando. A gente canta musiquinhas, faz pinturinhas, teatrinho,
trabalhando. A gente canta musiquinhas, faz pinturinhas, teatrinho,
trabalhinhos manuais e eles aprendem muito. [..]” (Ana Júlia
trabalhinhos manuais e eles aprendem muito. [..]” (Ana Júlia trabalhinhos manuais e eles aprendem muito. [..]” (Ana Júlia
trabalhinhos manuais e eles aprendem muito. [..]” (Ana Júlia
Entre
EntreEntre
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
vista realizada em: 01/11/2006)vista realizada em: 01/11/2006)
vista realizada em: 01/11/2006)
Os discursos e as imagens mencionadas demarcam, entre muitas outras
coisas, o lugar da arte no espaço do CEI pesquisado. Por conta de um
planejamento baseado em datas comemorativas, as linguagens artísticas
assumem a forma de ‘atividades’, ora associadas ao agradável, mediante
as comemorações e/ou festividades, ora ao diagnóstico e/ou verificação do
trabalho realizado, seja por meio da solicitação de um desenho, a
representação da quantidade, a identificação de cores e formas etc. Aliada
a isso ainda temos toda uma questão ideológica, que é veiculada e legitima
às crianças, famílias e comunidade uma única concepção e/ou visão em
detrimento de muitas outras. Como desvela a explicação de Ana Júlia, ao
175
dizer que não pode privar a criança de saber a cultura do índio e ou do
negro, suas palavras transmitindo-nos a compreensão de homogeneidade, a
de uma imagem ideal em detrimento das mais diversas e complexas
constituídas socialmente.
Ao discutir sobre as diversas formas de planejamento adotadas na
Educação Infantil, Ostetto (2002, p. 182) aponta que as implicações
pedagógicas da perspectiva do planejamento por datas comemorativas
(...) torna-se tediosa na medida em que é cumprida ano a
ano, o que não amplia o repertório cultural da criança.
Massifica e empobrece o conhecimento, além de
menosprezar a capacidade da criança de ir além daquele
conhecimento fragmentando e infantilizando.
Apenas uma das doze professoras disse não trabalhar com datas
comemorativas; entretanto, ao começar a descrever mais sobre seu
trabalho, verificamos que o sentido do não trabalho está atrelado à idéia da
realização de um planejamento por escrito.
“Não eu não trabalho com datas comemorativas, comento porque a gente
“Não eu não trabalho com datas comemorativas, comento porque a gente “Não eu não trabalho com datas comemorativas, comento porque a gente
“Não eu não trabalho com datas comemorativas, comento porque a gente
faz uma rodinha no início da
faz uma rodinha no início dafaz uma rodinha no início da
faz uma rodinha no início da manhã... então eu comento porque eles
manhã... então eu comento porque eles manhã... então eu comento porque eles
manhã... então eu comento porque eles
precisam estar sabendo. Por exemplo: Por que aman não vai ter
precisam estar sabendo. Por exemplo: Por que aman não vai ter precisam estar sabendo. Por exemplo: Por que amanhã não vai ter
precisam estar sabendo. Por exemplo: Por que aman não vai ter
creche? Ah! Porque é Finados! Então explico sobre. Mas trabalhar
creche? Ah! Porque é Finados! Então explico sobre. Mas trabalhar creche? Ah! Porque é Finados! Então explico sobre. Mas trabalhar
creche? Ah! Porque é Finados! Então explico sobre. Mas trabalhar
especificamente não! Eu converso sobre o tema, eles participam das
especificamente não! Eu converso sobre o tema, eles participam das especificamente não! Eu converso sobre o tema, eles participam das
especificamente não! Eu converso sobre o tema, eles participam das
que a creche prom
que a creche promque a creche prom
que a creche promove. [...] a gente faz umas lembrancinhas que tem
ove. [...] a gente faz umas lembrancinhas que tem ove. [...] a gente faz umas lembrancinhas que tem
ove. [...] a gente faz umas lembrancinhas que tem
que ser igual a de todas as salas. Sobre a Páscoa, comentei com as
que ser igual a de todas as salas. Sobre a Páscoa, comentei com as que ser igual a de todas as salas. Sobre a Páscoa, comentei com as
que ser igual a de todas as salas. Sobre a Páscoa, comentei com as
crianças o que era, que não era ganhar balas. Mas que é quando
crianças o que era, que não era ganhar balas. Mas que é quando crianças o que era, que não era ganhar balas. Mas que é quando
crianças o que era, que não era ganhar balas. Mas que é quando
Jesus morreu e ressuscitou. Que o Natal não é presente, mas é
Jesus morreu e ressuscitou. Que o Natal não é presente, mas é Jesus morreu e ressuscitou. Que o Natal não é presente, mas é
Jesus morreu e ressuscitou. Que o Natal não é presente, mas é
nascimento
nascimentonascimento
nascimento. Trabalho o dia do índio, que esse dia existe porque o índio é
. Trabalho o dia do índio, que esse dia existe porque o índio é . Trabalho o dia do índio, que esse dia existe porque o índio é
. Trabalho o dia do índio, que esse dia existe porque o índio é
especial foi o primeiro habitante do nosso país. Faço apenas uma
especial foi o primeiro habitante do nosso país. Faço apenas uma especial foi o primeiro habitante do nosso país. Faço apenas uma
especial foi o primeiro habitante do nosso país. Faço apenas uma
conversa para eles estarem por dentro. Porque existe o Sete de Setembro,
conversa para eles estarem por dentro. Porque existe o Sete de Setembro, conversa para eles estarem por dentro. Porque existe o Sete de Setembro,
conversa para eles estarem por dentro. Porque existe o Sete de Setembro,
porque a gente estava marchando, até porque foi o prim
porque a gente estava marchando, até porque foi o primporque a gente estava marchando, até porque foi o prim
porque a gente estava marchando, até porque foi o primeiro ano deles no
eiro ano deles no eiro ano deles no
eiro ano deles no
desfile cívico. Também converso para motivá
desfile cívico. Também converso para motivádesfile cívico. Também converso para motivá
desfile cívico. Também converso para motivá-
--
-los e explico essas coisas
los e explico essas coisas los e explico essas coisas
los e explico essas coisas
assim, mas fazer um planejamento escrito para isso, não! É uma
assim, mas fazer um planejamento escrito para isso, não! É uma assim, mas fazer um planejamento escrito para isso, não! É uma
assim, mas fazer um planejamento escrito para isso, não! É uma
conversa que é realizada de acordo com o interesse deles e que surge
conversa que é realizada de acordo com o interesse deles e que surge conversa que é realizada de acordo com o interesse deles e que surge
conversa que é realizada de acordo com o interesse deles e que surge
176
quando eles se interessam. É uma
quando eles se interessam. É umaquando eles se interessam. É uma
quando eles se interessam. É uma conversa informal! Eu digo para eles:
conversa informal! Eu digo para eles: conversa informal! Eu digo para eles:
conversa informal! Eu digo para eles:
Que legal! Mas não é só isso foram a igreja?” Isabela
Que legal! Mas não é só isso foram a igreja?” Isabela Que legal! Mas não é isso foram a igreja?” Isabela
Que legal! Mas não é só isso foram a igreja?” Isabela –
– Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 03/11/2006.
realizada em: 03/11/2006.realizada em: 03/11/2006.
realizada em: 03/11/2006.
Em relação a um planejamento baseado por datas comemorativas
devemos ter sempre em mente que muitas concepções e/ou ideologias
estão sendo transmitidas de forma acrítica. Questões do tipo: O que é
comemorado/trabalhado e por quê? Por que uma e não outras datas são
comemoradas no calendário oficial? Por que uma e não outra data é
comemorada no espaço coletivo da educação infantil?
No interior de um espaço da educação coletiva, convivemos com uma
diversidade de valores e crenças, então como veicular e reforçar apenas um
modo de pensar, diante de tantos outros? Ostetto (cf. 2007) diz que o
trabalho com datas comemorativas no interior da educação infantil
pressupõe escolhas. Afirma que não é mera questão pessoal, portanto deve
ser pensada no âmbito do coletivo. É um projeto da instituição? E, se a
resposta for positiva, não descartar as seguintes questões: é festa ou
atividade? É diversão ou atividade? É participação ou é consumo? É cultura
ou ideologia?
As possíveis justificativas para as questões elencadas pela autora nos levam
a indagar, dentre outras, sobre o papel da Educação Infantil e também
sobre a problemática da formação artístico-cultural desse profissional. Faz
com que pensemos nas vivências e experiências reforçadas e naturalizadas
no espaço de atuação profissional, nas experiências dos repertórios de casa
e da escola os quais outrora foram criticados, porém sem que nos demos
conta são, por vezes, os únicos referenciais para a atuação nesse espaço.
177
Crianças maiores ‘trabalhos melhores’, crianças menores ‘trabalhos piores’?
TONUCCI, 1997.
As professoras que atuam nos grupos das crianças menores (de até três anos
de idade) argumentam que dificilmente utilizam as linguagens artísticas em
sua prática, que por serem crianças pequenas não conseguem manusear
e/ou dominar alguns instrumentos como: pincel, tesoura, folhas etc. Isto é,
não conseguem produzir/ realizar as atividades com a mesma qualidade
estética do que as crianças maiores. Assim, a partir do que dizem, podemos
aferir que fazem a seguinte analogia: quanto maior a criança, melhor será o
produto final.
“Eu utilizo a arte para trabalhar o movimen
“Eu utilizo a arte para trabalhar o movimen“Eu utilizo a arte para trabalhar o movimen
“Eu utilizo a arte para trabalhar o movimento, a dança, teatro com
to, a dança, teatro com to, a dança, teatro com
to, a dança, teatro com
fantoches, musiquinhas... no berçário de trabalhar isso.
fantoches, musiquinhas... no berçário de trabalhar isso. fantoches, musiquinhas... no berçário de trabalhar isso.
fantoches, musiquinhas... no berçário de trabalhar isso.
quando estou no maternal eles fazem mais coisas porque são maiores e
quando estou no maternal eles fazem mais coisas porque são maiores e quando estou no maternal eles fazem mais coisas porque são maiores e
quando estou no maternal eles fazem mais coisas porque são maiores e
entendem mais. No berçário a gente fala do papai, da mamãe, daí eu
entendem mais. No berçário a gente fala do papai, da mamãe, daí eu entendem mais. No berçário a gente fala do papai, da mamãe, daí eu
entendem mais. No berçário a gente fala do papai, da mamãe, daí eu
faço o desenho na folha, canto
faço o desenho na folha, cantofaço o desenho na folha, canto
faço o desenho na folha, canto uma musiquinha, conto historinhas. Na
uma musiquinha, conto historinhas. Na uma musiquinha, conto historinhas. Na
uma musiquinha, conto historinhas. Na
outra sala, de utilizar massinha, para eles fazerem bonequinhos,
outra sala, de utilizar massinha, para eles fazerem bonequinhos, outra sala, já de utilizar massinha, para eles fazerem bonequinhos,
outra sala, de utilizar massinha, para eles fazerem bonequinhos,
178
pintarem desenhos em folhas coletivas ou individuais, eles pintam com
pintarem desenhos em folhas coletivas ou individuais, eles pintam com pintarem desenhos em folhas coletivas ou individuais, eles pintam com
pintarem desenhos em folhas coletivas ou individuais, eles pintam com
guache utilizando a mão... pincel, não! Recortam com as mãos, porque
guache utilizando a mão... pincel, não! Recortam com as mãos, porque guache utilizando a mão... pincel, não! Recortam com as mãos, porque
guache utilizando a mão... pincel, não! Recortam com as mãos, porque
eu não
eu não eu não
eu não dou tesoura tenho medo que eles se machuquem (...)” (Naiana
dou tesoura tenho medo que eles se machuquem (...)” (Naiana dou tesoura tenho medo que eles se machuquem (...)” (Naiana
dou tesoura tenho medo que eles se machuquem (...)” (Naiana
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)Entrevista realizada em: 20/12/2006)
Entrevista realizada em: 20/12/2006)
“Eu utilizo o livro com as crianças para contar histórias, manusear é
“Eu utilizo o livro com as crianças para contar histórias, manusear é “Eu utilizo o livro com as crianças para contar histórias, manusear é
“Eu utilizo o livro com as crianças para contar histórias, manusear é
difícil, porque os livros aqui são de papel, eles podem rasgar. A música
difícil, porque os livros aqui são de papel, eles podem rasgar. A música difícil, porque os livros aqui são de papel, eles podem rasgar. A música
difícil, porque os livros aqui são de papel, eles podem rasgar. A música
que a gente c
que a gente cque a gente c
que a gente conta para eles é: ‘Fui morar numa casinha’, cantigas de
onta para eles é: ‘Fui morar numa casinha’, cantigas de onta para eles é: ‘Fui morar numa casinha’, cantigas de
onta para eles é: ‘Fui morar numa casinha’, cantigas de
roda. Eu não coloco filme para eles! Por quê? Eu não sei! Boa pergunta...
roda. Eu não coloco filme para eles! Por quê? Eu não sei! Boa pergunta... roda. Eu não coloco filme para eles! Por quê? Eu não sei! Boa pergunta...
roda. Eu não coloco filme para eles! Por quê? Eu não sei! Boa pergunta...
A creche tem DVD, mas eu nunca pensei na possibilidade de colocar
A creche tem DVD, mas eu nunca pensei na possibilidade de colocarA creche tem DVD, mas eu nunca pensei na possibilidade de colocar
A creche tem DVD, mas eu nunca pensei na possibilidade de colocar,
,,
,
mas acho que não coloco por eles serem bebê e não entendere
mas acho que não coloco por eles serem bebê e não entenderemas acho que não coloco por eles serem bebê e não entendere
mas acho que não coloco por eles serem bebê e não entenderem nada.”
m nada.” m nada.”
m nada.”
(Claúdia
(Claúdia (Claúdia
(Claúdia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“(...) E também eles não ficam muito tempo concentrados, são muito
“(...) E também eles não ficam muito tempo concentrados, são muito “(...) E também eles não ficam muito tempo concentrados, são muito
“(...) E também eles não ficam muito tempo concentrados, são muito
pequenos e não permanecem em silêncio para assistir ao vídeo, é muito
pequenos e não permanecem em silêncio para assistir ao vídeo, é muito pequenos e não permanecem em silêncio para assistir ao deo, é muito
pequenos e não permanecem em silêncio para assistir ao vídeo, é muito
barulho, tem a hora do café... a gente, às vezes, utiliza al
barulho, tem a hora do café... a gente, às vezes, utiliza albarulho, tem a hora do café... a gente, às vezes, utiliza al
barulho, tem a hora do café... a gente, às vezes, utiliza alguns livros...
guns livros... guns livros...
guns livros...
músicas a gente canta, mas quase não dá, porque trabalhar no berçário
músicas a gente canta, mas quase não dá, porque trabalhar no berçário músicas a gente canta, mas quase não dá, porque trabalhar no berçário
músicas a gente canta, mas quase não dá, porque trabalhar no berçário
é complicado tem hora de dar mamadeira, tem hora de trocar a frauda,
é complicado tem hora de dar mamadeira, tem hora de trocar a frauda, é complicado tem hora de dar mamadeira, tem hora de trocar a frauda,
é complicado tem hora de dar mamadeira, tem hora de trocar a frauda,
dar a sopa... é quando a gente termina de dar a sopinha e realizar a
dar a sopa... é quando a gente termina de dar a sopinha e realizar a dar a sopa... é quando a gente termina de dar a sopinha e realizar a
dar a sopa... é quando a gente termina de dar a sopinha e realizar a
troca que a gente tem um tempi
troca que a gente tem um tempitroca que a gente tem um tempi
troca que a gente tem um tempinho livre... é uma hora em que estão
nho livre... é uma hora em que estão nho livre... é uma hora em que estão
nho livre... é uma hora em que estão
limpinhos, alimentados, então estão mais calmos, daí a gente canta
limpinhos, alimentados, então estão mais calmos, daí a gente canta limpinhos, alimentados, então estão mais calmos, daí a gente canta
limpinhos, alimentados, então estão mais calmos, daí a gente canta
uma musiquinha, conta uma historinha para eles se acalmarem e
uma musiquinha, conta uma historinha para eles se acalmarem e uma musiquinha, conta uma historinha para eles se acalmarem e
uma musiquinha, conta uma historinha para eles se acalmarem e
esperarem para irem embora.” Mariana
esperarem para irem embora.” Mariana esperarem para irem embora.” Mariana
esperarem para irem embora.” Mariana
Entrevista realizada
Entrevista realizada Entrevista realizada
Entrevista realizada
em:12/12/2006.
em:12/12/2006.em:12/12/2006.
em:12/12/2006.
As professoras que trabalham no berçário dizem que dificilmente
disponibilizam livros ou vídeos, apontam que as crianças são muito pequenas
e devido a esse fator podem rasgar os livros. em relação aos vídeos,
segundo essas, as crianças não demonstram ter concentração suficiente
para permanecerem na frente da TV.
“Eu não misturo as crianças do berçário com as crianças maiores... eles
“Eu não misturo as crianças do berçário com as crianças maiores... eles “Eu não misturo as crianças do berçário com as crianças maiores... eles
“Eu não misturo as crianças do berçário com as crianças maiores... eles
podem bater nelas, elas podem cair e se machucar, então eu evito o
podem bater nelas, elas podem cair e se machucar, então eu evito o podem bater nelas, elas podem cair e se machucar, então eu evito o
podem bater nelas, elas podem cair e se machucar, então eu evito o
máximo. Quando eu vou outras professoras me ajudam, mas raramente
máximo. Quando eu vou outras professoras me ajudam, mas raramente máximo. Quando eu vou outras professoras me ajudam, mas raramente
máximo. Quando eu vou outras professoras me ajudam, mas raramente
vou, porque pela manque é quando estou com os bebês, temos que
vou, porque pela manque é quando estou com os bebês, temos que vou, porque pela manhã que é quando estou com os bebês, temos que
vou, porque pela manque é quando estou com os bebês, temos que
trocar, dar comida, dar banho, colocar para dormir... e eles também não
trocar, dar comida, dar banho, colocar para dormir... e eles também não trocar, dar comida, dar banho, colocar para dormir... e eles também não
trocar, dar comida, dar banho, colocar para dormir... e eles também não
179
se concentram para assistir ao DVD, também é muita correria, não
se concentram para assistir ao DVD, também é muita correria, não se concentram para assistir ao DVD, também é muita correria, não dá
se concentram para assistir ao DVD, também é muita correria, não
tempo. Os livros que a gente trabalha são os da c
tempo. Os livros que a gente trabalha são os da ctempo. Os livros que a gente trabalha são os da c
tempo. Os livros que a gente trabalha são os da creche, a gente
reche, a gente reche, a gente
reche, a gente
para as crianças maiores porque os menores rasgam e comem os livros”
para as crianças maiores porque os menores rasgam e comem os livros” para as crianças maiores porque os menores rasgam e comem os livros”
para as crianças maiores porque os menores rasgam e comem os livros”
Naiana
Naiana Naiana
Naiana
– Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006. Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Das doze professoras investigadas, seis delas fazem referência a uma suposta
incapacidade das crianças menores de três anos. Donde podemos concluir,
por relação direta, que para as crianças menores a compreensão das datas
comemorativas, bem como a realização das atividades que envolvam as
linguagens artísticas são limitadas. Desse modo, segundo essas profissionais,
as crianças menores de três anos, que supostamente não dominariam
corretamente os instrumentos na realização das atividades, devem apenas
receber lembrancinhas prontas, ter a sala confeccionada com
painéis/decorações pelos adultos e participar das festividades oportunizadas
no CEI.
“No dia do Índio a gente coloca peninha na cabecinha deles, soldado um
“No dia do Índio a gente coloca peninha na cabecinha deles, soldado um “No dia do Índio a gente coloca peninha na cabecinha deles, soldado um
“No dia do Índio a gente coloca peninha na cabecinha deles, soldado um
chapeuzinho, cantamos as musiquinhas a gente ensina eles a
chapeuzinho, cantamos as musiquinhas a gente ensina eles a chapeuzinho, cantamos as musiquinhas a gente ensina eles a
chapeuzinho, cantamos as musiquinhas a gente ensina eles a
marcharem pela sala, eles batem os pezinhos, enfeita eles. as datas
marcharem pela sala, eles batem os pezinhos, enfeita eles. as datas marcharem pela sala, eles batem os pezinhos, enfeita eles. as datas
marcharem pela sala, eles batem os pezinhos, enfeita eles. as datas
menores, essas que não
menores, essas que não dãmenores, essas que não dã
menores, essas que não dão para trabalhar e até o são tão
o para trabalhar e até não são tão o para trabalhar e até não são tão
o para trabalhar e até não são tão
importantes, a gente coloca um cartãozinho na agenda para que os pais
importantes, a gente coloca um cartãozinho na agenda para que os pais importantes, a gente coloca um cartãozinho na agenda para que os pais
importantes, a gente coloca um cartãozinho na agenda para que os pais
trabalhem em casa. Como, por exemplo, dia do professor foi um
trabalhem em casa. Como, por exemplo, dia do professor foi um trabalhem em casa. Como, por exemplo, dia do professor foi um
trabalhem em casa. Como, por exemplo, dia do professor foi um
recadinho na agenda, dia das crianças uma ‘coisinhas na mãozinha
recadinho na agenda, dia das crianças uma ‘coisinhas na mãozinha recadinho na agenda, dia das crianças uma ‘coisinhas na mãozinha
recadinho na agenda, dia das crianças uma ‘coisinhas na mãozinha
deles para levarem para
deles para levarem para deles para levarem para
deles para levarem para casa... um solzinho, uma balinha, uma
casa... um solzinho, uma balinha, uma casa... um solzinho, uma balinha, uma
casa... um solzinho, uma balinha, uma
coisinha, a gente sempre dá, para que eles tenham uma noção. As datas
coisinha, a gente sempre dá, para que eles tenham uma noção. As datas coisinha, a gente sempre dá, para que eles tenham uma noção. As datas
coisinha, a gente sempre dá, para que eles tenham uma noção. As datas
mais trabalhadas são a Páscoa, festa junina... na verdade todas são
mais trabalhadas são a Páscoa, festa junina... na verdade todas são mais trabalhadas são a Páscoa, festa junina... na verdade todas são
mais trabalhadas são a Páscoa, festa junina... na verdade todas são
lembradas e, de alguma forma, são trabalhadas só que algumas mais,
lembradas e, de alguma forma, são trabalhadas só que algumas mais, lembradas e, de alguma forma, são trabalhadas que algumas mais,
lembradas e, de alguma forma, são trabalhadas só que algumas mais,
outras menos.
outras menos.outras menos.
outras menos. Na festa junina houve crianças que trouxeram roupinha
Na festa junina houve crianças que trouxeram roupinha Na festa junina houve crianças que trouxeram roupinha
Na festa junina houve crianças que trouxeram roupinha
daí a gente vestiu neles e eles ficaram felizes... quando a gente
daí a gente vestiu neles e eles ficaram felizes... quando a gente daí a gente vestiu neles e eles ficaram felizes... quando a gente
daí a gente vestiu neles e eles ficaram felizes... quando a gente
trabalhou o dia das bruxas eles trouxeram fantasias e participaram das
trabalhou o dia das bruxas eles trouxeram fantasias e participaram das trabalhou o dia das bruxas eles trouxeram fantasias e participaram das
trabalhou o dia das bruxas eles trouxeram fantasias e participaram das
festividades. É importante a gente trabalhar com as datas
festividades. É importante a gente trabalhar com as datas festividades. É importante a gente trabalhar com as datas
festividades. É importante a gente trabalhar com as datas
comemo
comemocomemo
comemorativas, porque desde pequenina a criança leva com ela essa rica
rativas, porque desde pequenina a criança leva com ela essa rica rativas, porque desde pequenina a criança leva com ela essa rica
rativas, porque desde pequenina a criança leva com ela essa rica
recordação [...]. (”Gabriela
recordação [...]. (”Gabriela recordação [...]. (”Gabriela
recordação [...]. (”Gabriela –
– entrevista realizada em: 12/12/2006)
entrevista realizada em: 12/12/2006) entrevista realizada em: 12/12/2006)
entrevista realizada em: 12/12/2006)
180
Constatei que em alguns discursos das professoras que trabalhavam no
grupo dos bebês (três delas), quando se referiam à falta de materiais,
deixavam em evidência que o que estava faltando para as crianças
menores de três anos eram brinquedos e não folhas, tintas, papéis etc.
“[...] A gente deixa a desejar, porque não se tem materiais, não se tem
“[...] A gente deixa a desejar, porque não se tem materiais, não se tem “[...] A gente deixa a desejar, porque não se tem materiais, não se tem
“[...] A gente deixa a desejar, porque não se tem materiais, não se tem
recursos para trabalhar c
recursos para trabalhar crecursos para trabalhar c
recursos para trabalhar com as crianças melhor, dar uma qualidade de
om as crianças melhor, dar uma qualidade de om as crianças melhor, dar uma qualidade de
om as crianças melhor, dar uma qualidade de
conhecimento para eles. Faltam ‘legos’, bem coloridos, dominós para que
conhecimento para eles. Faltam ‘legos’, bem coloridos, dominós para que conhecimento para eles. Faltam ‘legos’, bem coloridos, dominós para que
conhecimento para eles. Faltam ‘legos’, bem coloridos, dominós para que
eles possam contar as bolinhas... é brinquedo mais é um brinquedo
eles possam contar as bolinhas... é brinquedo mais é um brinquedo eles possam contar as bolinhas... é brinquedo mais é um brinquedo
eles possam contar as bolinhas... é brinquedo mais é um brinquedo
didático. Não dou folhas, não dou papeis, porque o muito pequenos,
didático. Não dou folhas, não dou papeis, porque o muito pequenos, didático. Não dou folhas, não dou papeis, porque são muito pequenos,
didático. Não dou folhas, não dou papeis, porque o muito pequenos,
comem
comemcomem
comem, botam na boca, então eu não trabalho” Mariana
, botam na boca, então eu não trabalho” Mariana , botam na boca, então eu não trabalho” Mariana
, botam na boca, então eu não trabalho” Mariana
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 12/12/2006.
realizada em: 12/12/2006. realizada em: 12/12/2006.
realizada em: 12/12/2006.
Para Vigotsky (2003), a atividade criadora encontra relação e faz
combinação com a diversidade da experiência humana acumulada pelo
homem. Essa experiência é que serve de base para a materialidade.
A queixa ou justificativa de que as crianças menores de três anos não
correspondem às expectativas estéticas de um padrão de beleza adulta, de
que elas não manuseiam ou criem tal como às crianças que tem mais idade,
é, por conseguinte, naturalizar sua condição a uma suposta essência infantil.
Como a de que as crianças menores de três anos devam esperar até ter
certo vel de desenvolvimento para adquirir certa capacidade e/ou
habilidade. Talvez pelo fato de que as crianças menores têm menos tempo
de vida e menos quantidades de relações estabelecidas, avaliem que seu
acervo para as combinações e/ou criações es em vel inicial de
constituição. No entanto isso não deve justificar a limitação e/ou restrições
das possíveis experiências estéticas que podem lhes ser propostas.
Nas escolas infantis de Reggio Emília
60
, região Norte da Itália, desenvolveu-se
um sistema de educação que considera as crianças e a infância em suas
60
Reggio Emília é uma cidade de 130.000 habitantes situada na região próspera e
progressista de Emília Romagna, no Nordeste da Itália. Seu sistema municipal de
181
mais diversas formas de se relacionar, conviver e comunicar no mundo. Para
tanto, a arte é valorizada e compreendida enquanto processo. Para além
do desenho, da escultura e das mais diversas linguagens materializadas, a
preocupação é com o seu autor com a criança que transforma seu
pensamento em criação.
Segundo Rabitti (1999), independente da idade da criança, cada
representação é compreendida em Reggio como um ato comunicativo no
qual não podemos simplificar e/ou menosprezar. Por trás de cada gesto,
movimento, criação, sempre uma história a ser narrada e compartilhada.
“ É a integração e a fusão de experiências diversas que levam a uma
aprendizagem de alta qualidade, e não uma atividade altamente dirigida.”
(RABITTI, 1999, p.150).
As considerações empreendidas aaqui assinalam que encontrar beleza e
sentido nas produções das crianças menores de três anos, em suas vivências
com as mais diversas formas de expressão artística, é um desafio para os
profissionais que, em sua grande maioria, não possuem uma formação
consistente. Como propor para as crianças aquilo que não se viveu e/ou
experienciou?
Penso que a expressão a qual emergiu nas entrelinhas dos discursos das
professoras Crianças maiores ‘trabalhos melhores’, crianças menores
‘trabalhos piores’ exige desvelamento a não suposição de uma mera
condição de natureza infantil aos pequenos, bem como a necessidade de
uma escuta e um olhar sensível ao educador, para que possa acolher as
produções das crianças independentes da fase da vida em que se
encontram. Indicam dentre outras coisas, a necessidade de uma formação
que procure acolher as crianças em seus movimentos e escolhas,
educacional foi proclamado um dos melhores do mundo (Neswsweek, 2 de dezembro de
1991). A cidade opera 11 escolas pré-primárias para crianças de 3 a 6 anos, bem como 13
centros para crianças de 0-3 anos. Esse sistema, nos últimos 30 anos desenvolveu um
conjunto singular e inovador de propostas que reconhecem dentre outras coisas, a
representação simbólica por meio das 100 linguagens (referência ao poema de Loris
Malaguzzi – Invece il cento c’é). (EDWARDS; GANDINI; FORMAM, 1999).
182
oportunizando-as as mais diversas possibilidades da experimentação
estética.
Nós trabalhamos de acordo com o interesse das crianças!
Muitas das professoras utilizaram a justificativa de que trabalham de acordo
com o "interesse" das crianças, contudo no decorrer de seus discursos, fica
evidente que por vezes a linguagem que prevalece em suas práticas são as
de sua própria preferência. a música foi a linguagem que teve maior
prevalência em suas narrativas.
Gosto muito de música, trabalho muito a música na minha sala de
Gosto muito de música, trabalho muito a música na minha sala de Gosto muito de música, trabalho muito a música na minha sala de
Gosto muito de música, trabalho muito a música na minha sala de
aula, para tudo eu envolvo a música. Se vou dar uma aula de
aula, para tudo eu envolvo a música. Se vou dar uma aula de aula, para tudo eu envolvo a música. Se vou dar uma aula de
aula, para tudo eu envolvo a música. Se vou dar uma aula de
matemática... através da música; se vou dar uma aula de português...
matemática... através da música; se vou dar uma aula de português... matemática... através da música; se vou dar uma aula de português...
matemática... através da música; se vou dar uma aula de português...
através da músi
através da músiatravés da músi
através da música; de higiene... através de música. Então eu uso muito,
ca; de higiene... através de música. Então eu uso muito, ca; de higiene... através de música. Então eu uso muito,
ca; de higiene... através de música. Então eu uso muito,
muito mesmo a música na minha sala de aula!” Ana Júlia
muito mesmo a música na minha sala de aula!” Ana Júlia muito mesmo a música na minha sala de aula!” Ana Júlia
muito mesmo a música na minha sala de aula!” Ana Júlia
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 01/11/2006.
realizada em: 01/11/2006.realizada em: 01/11/2006.
realizada em: 01/11/2006.
Os cds e dvds disponibilizados são os que as crianças trazem de casa;
também utilizam as músicas das estações de rádios locais, ou dos cds infantis
disponíveis na instituição. em segundo lugar, aparece o desenho, que é
compreendido como uma forma de a criança revelar o seu interior; em
terceiro, a dramatização com fantoches que foi citada por sete professoras.
“Colocamos músicas, e não só infantis, pois eles gostam das outras
“Colocamos músicas, e não só infantis, pois eles gostam das outras Colocamos sicas, e não infantis, pois eles gostam das outras
“Colocamos músicas, e não só infantis, pois eles gostam das outras
também. O Som na sala fica ligado direto, colocamos na rádio
também. O Som na sala fica ligado direto, colocamos na rádio também. O Som na sala fica ligado direto, colocamos na rádio
também. O Som na sala fica ligado direto, colocamos na rádio
Regional (...)” Gabriela
Regional (...)” Gabriela Regional (...)” Gabriela
Regional (...)” Gabriela –
– Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006. Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006.
“Damos desenhos para as crianças pintarem, porque elas
“Damos desenhos para as crianças pintarem, porque elas “Damos desenhos para as crianças pintarem, porque elas
“Damos desenhos para as crianças pintarem, porque elas gostam
gostam gostam
gostam
bastante... Com o que desenham conseguimos saber o que escondem
bastante... Com o que desenham conseguimos saber o que escondem bastante... Com o que desenham conseguimos saber o que escondem
bastante... Com o que desenham conseguimos saber o que escondem
dentro do pensamento, lendo as cores, as formas, os rabiscos (...)”.
dentro do pensamento, lendo as cores, as formas, os rabiscos (...)”. dentro do pensamento, lendo as cores, as formas, os rabiscos (...)”.
dentro do pensamento, lendo as cores, as formas, os rabiscos (...)”.
Bianca
Bianca Bianca
Bianca
– Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006. Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006.
183
Ao serem questionadas em relação às músicas, filmes e livros disponibilizados
às crianças, bem como a forma como os mesmos entram no planejamento,
pude constatar que as professoras utilizam-se desses, como meros
recursos/instrumentos, sendo que os mesmos emergem esporadicamente,
que estão à mercê de um planejamento dicotômico que ora proclama
partir do interesse das crianças “deixando as crianças soltas” ora restringe
e/ou elege músicas, filmes e livros de acordo com uma suposta opinião
individual do que consideram ou não mais relevante/importante (visão
adultocêntrica).
“Os livros, a gente tem algumas coleções aqui, e eu também trago de
“Os livros, a gente tem algumas coleções aqui, e eu também trago de “Os livros, a gente tem algumas coleções aqui, e eu também trago de
“Os livros, a gente tem algumas coleções aqui, e eu também trago de
casa que são atividades que podem ser trabalhadas, porque querendo ou
casa que são atividades que podem ser trabalhadas, porque querendo ou casa que são atividades que podem ser trabalhadas, porque querendo ou
casa que são atividades que podem ser trabalhadas, porque querendo ou
não querendo, nós temos que dar alguma atividade, de acordo com a
não querendo, nós temos que dar alguma atividade, de acordo com a não querendo, nós temos que dar alguma atividade, de acordo com a
não querendo, nós temos que dar alguma atividade, de acordo com a
idade deles, a gente tem aqui algumas coleçõ
idade deles, a gente tem aqui algumas coleçõidade deles, a gente tem aqui algumas coleçõ
idade deles, a gente tem aqui algumas coleções boas, mas a gente
es boas, mas a gente es boas, mas a gente
es boas, mas a gente
sempre procura uma coisa de fora, pega emprestada de algum colega. Eu
sempre procura uma coisa de fora, pega emprestada de algum colega. Eu sempre procura uma coisa de fora, pega emprestada de algum colega. Eu
sempre procura uma coisa de fora, pega emprestada de algum colega. Eu
tenho uns livros muitos bons do tipo “Vamos Colorir?” Eu tiro muitas
tenho uns livros muitos bons do tipo “Vamos Colorir?” Eu tiro muitas tenho uns livros muitos bons do tipo “Vamos Colorir?” Eu tiro muitas
tenho uns livros muitos bons do tipo “Vamos Colorir?” Eu tiro muitas
coisas para eles, atividades pontilhadas, o maior e o menor, a gente
coisas para eles, atividades pontilhadas, o maior e o menor, a gente coisas para eles, atividades pontilhadas, o maior e o menor, a gente
coisas para eles, atividades pontilhadas, o maior e o menor, a gente
trabalha ‘pinte o maior’,
trabalha ‘pinte o maior’, trabalha ‘pinte o maior’,
trabalha ‘pinte o maior’, ‘pinte o menor’. Eu uso muito aquele “Vamos
pinte o menor’. Eu uso muito aquele “Vamos pinte o menor’. Eu uso muito aquele “Vamos
pinte o menor’. Eu uso muito aquele “Vamos
Colorir?” Os filmes eu uso quando quero trabalhar, por exemplo, a
Colorir?” Os filmes eu uso quando quero trabalhar, por exemplo, a Colorir?” Os filmes eu uso quando quero trabalhar, por exemplo, a
Colorir?” Os filmes eu uso quando quero trabalhar, por exemplo, a
semana dos animais, daí eu alugo, não é da instituição. Se eu quero
semana dos animais, daí eu alugo, não é da instituição. Se eu quero semana dos animais, daí eu alugo, não é da instituição. Se eu quero
semana dos animais, daí eu alugo, não é da instituição. Se eu quero
trabalhar os dentes, daí eu tenho uma fita muito boa que era da época
trabalhar os dentes, daí eu tenho uma fita muito boa que era da época trabalhar os dentes, daí eu tenho uma fita muito boa que era da época
trabalhar os dentes, daí eu tenho uma fita muito boa que era da época
da faculd
da faculdda faculd
da faculdade, que eu pedi para gravarem para mim que é “Vamos
ade, que eu pedi para gravarem para mim que é “Vamos ade, que eu pedi para gravarem para mim que é “Vamos
ade, que eu pedi para gravarem para mim que é “Vamos
escovar os dentes?”
escovar os dentes?” escovar os dentes?”
escovar os dentes?”
que trabalha a importância de escovar a língua.
que trabalha a importância de escovar a língua. que trabalha a importância de escovar a língua.
que trabalha a importância de escovar a língua.
Enfim, para tudo isso eu pego uma fita para trabalhar.” Ana Maria
Enfim, para tudo isso eu pego uma fita para trabalhar.” Ana Maria Enfim, para tudo isso eu pego uma fita para trabalhar.” Ana Maria
Enfim, para tudo isso eu pego uma fita para trabalhar.” Ana Maria
– Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006. Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Os Livros disponibilizados são os Clássicos infantis, os DVDS são os que as
crianças trazem ou quando as professoras locam - desenhos do universo da
Disney. As canções são as da dia, as denominadas infantis como Xuxa,
Angélica, Eliana, ou as das paradas. A programação da TV, principalmente
o ‘Sitio do Pica Pau Amarelo’ faz parte das manhãs das crianças. Também,
encontrarmos na instituição pesquisada, livros com atividades prontas do
tipo: ‘Vamos colorir?’ limitando as possibilidades de criação e ampliação dos
repertórios/referenciais das crianças.
184
“As músicas da Xuxa, da Angélica, das Rebeldes, músicas
“As músicas da Xuxa, da Angélica, das Rebeldes, músicas “As músicas da Xuxa, da Angélica, das Rebeldes, músicas
“As músicas da Xuxa, da Angélica, das Rebeldes, músicas
tradicionais, infantis, adultas, ‘as das paradas’, os filmes quando
tradicionais, infantis, adultas, ‘as das paradas’, os filmes quando tradicionais, infantis, adultas, ‘as das paradas’, os filmes quando
tradicionais, infantis, adultas, ‘as das paradas’, os filmes quando
eu alugo, a creche não disponibiliza, e os filmes da Disney que eles
eu alugo, a creche não disponibiliza, e os filmes da Disney que eles eu alugo, a creche não disponibiliza, e os filmes da Disney que eles
eu alugo, a creche não disponibiliza, e os filmes da Disney que eles
mais gostam. Os livros são os Cl
mais gostam. Os livros são os Clmais gostam. Os livros são os Cl
mais gostam. Os livros são os Clássicos Infantis: Branca de Neve, Os
ássicos Infantis: Branca de Neve, Os ássicos Infantis: Branca de Neve, Os
ássicos Infantis: Branca de Neve, Os
três porquinhos, A bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho, mas
três porquinhos, A bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho, mas três porquinhos, A bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho, mas
três porquinhos, A bela e a Fera, Chapeuzinho Vermelho, mas
geralmente utilizo os meus livros porque os da creche tenho até medo de
geralmente utilizo os meus livros porque os da creche tenho até medo de geralmente utilizo os meus livros porque os da creche tenho até medo de
geralmente utilizo os meus livros porque os da creche tenho até medo de
pegar, porque é tudo controlado, eles não podem manusear, porque se
pegar, porque é tudo controlado, eles não podem manusear, porque se pegar, porque é tudo controlado, eles não podem manusear, porque se
pegar, porque é tudo controlado, eles não podem manusear, porque se
estragarem tem que
estragarem tem que estragarem tem que
estragarem tem que repor. As crianças têm mais contato com as
repor. As crianças têm mais contato com as repor. As crianças têm mais contato com as
repor. As crianças têm mais contato com as
linguagens artísticas... Eu utilizo para trabalhar algum assunto, ou
linguagens artísticas... Eu utilizo para trabalhar algum assunto, ou linguagens artísticas... Eu utilizo para trabalhar algum assunto, ou
linguagens artísticas... Eu utilizo para trabalhar algum assunto, ou
tema que quero que eles aprendam” Joana
tema que quero que eles aprendam” Joana tema que quero que eles aprendam” Joana
tema que quero que eles aprendam” Joana
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
12/12/2006.
12/12/2006.12/12/2006.
12/12/2006.
Entretanto as professoras se queixam de que a instituição não disponibiliza de
muitos tulos que possam fazer relação com o que estão trabalhando, bem
como se queixam de que são obrigadas a controlar as ações das crianças
no manuseamento dos livros; porque, se por desventura, um livro sofrer
algum dano terão que repor. Então em seus discursos fica evidente que
quem tem o “poder” sobre os livros são elas e de que as crianças terão
acesso se essas disponibilizarem.
“Geralmente uso os meus livros, porque os da creche tenho até medo
“Geralmente uso os meus livros, porque os da creche tenho até medo “Geralmente uso os meus livros, porque os da creche tenho até medo
“Geralmente uso os meus livros, porque os da creche tenho até medo
de pegar, porque é tudo contro
de pegar, porque é tudo controde pegar, porque é tudo contro
de pegar, porque é tudo controlado, eles não podem manusear, porque se
lado, eles não podem manusear, porque se lado, eles não podem manusear, porque se
lado, eles não podem manusear, porque se
estragar tem que repor.” Joana
estragar tem que repor.” Joana estragar tem que repor.” Joana
estragar tem que repor.” Joana –
– Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006. Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006.
“(...) eu pego os livros da secretária, na sala não temos livros
“(...) eu pego os livros da secretária, na sala não temos livros “(...) eu pego os livros da secretária, na sala não temos livros
“(...) eu pego os livros da secretária, na sala não temos livros
disponíveis, eles ficam na secretaria. Eu tenho que ficar cuidando o
disponíveis, eles ficam na secretaria. Eu tenho que ficar cuidando o disponíveis, eles ficam na secretaria. Eu tenho que ficar cuidando o
disponíveis, eles ficam na secretaria. Eu tenho que ficar cuidando o
tempo todo
tempo todotempo todo
tempo todo, para que não rasguem” Beatriz
, para que não rasguem” Beatriz , para que não rasguem” Beatriz
, para que não rasguem” Beatriz
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
03/11/2006.
03/11/2006.03/11/2006.
03/11/2006.
“As músicas que eu utilizo são as infantis, o filme é o do ‘Sítio do
“As músicas que eu utilizo são as infantis, o filme é o do ‘Sítio do “As músicas que eu utilizo são as infantis, o filme é o do ‘Sítio do
“As músicas que eu utilizo são as infantis, o filme é o do ‘Sítio do
Pica
PicaPica
Pica-
--
-pau Amarelo’ e outros; mas, é difícil, eles não ficam muito tempo
pau Amarelo’ e outros; mas, é difícil, eles não ficam muito tempo pau Amarelo’ e outros; mas, é difícil, eles não ficam muito tempo
pau Amarelo’ e outros; mas, é difícil, eles não ficam muito tempo
parados na frente da TV, não tem concentr
parados na frente da TV, não tem concentrparados na frente da TV, não tem concentr
parados na frente da TV, não tem concentração, é 10 minutos no
ação, é 10 minutos no ação, é 10 minutos no
ação, é 10 minutos no
máximo! Os livros que eu dou para eles são os de histórias infantis, as
máximo! Os livros que eu dou para eles são os de histórias infantis, as ximo! Os livros que eu dou para eles são os de histórias infantis, as
máximo! Os livros que eu dou para eles são os de histórias infantis, as
revistas da sala eu olho primeiro, porque às vezes têm algumas figuras
revistas da sala eu olho primeiro, porque às vezes têm algumas figuras revistas da sala eu olho primeiro, porque às vezes têm algumas figuras
revistas da sala eu olho primeiro, porque às vezes têm algumas figuras
que não são legais eles estarem olhando. Os livros que eles gostam são
que não são legais eles estarem olhando. Os livros que eles gostam são que não são legais eles estarem olhando. Os livros que eles gostam são
que não são legais eles estarem olhando. Os livros que eles gostam são
185
os que têm bruxa, lo
os que têm bruxa, loos que têm bruxa, lo
os que têm bruxa, lobo, os três porquinhos, do cachorrinho, do cavalinho,
bo, os três porquinhos, do cachorrinho, do cavalinho, bo, os três porquinhos, do cachorrinho, do cavalinho,
bo, os três porquinhos, do cachorrinho, do cavalinho,
eles só gostam das coisas infantis” Beatriz
eles só gostam das coisas infantis” Beatriz eles gostam das coisas infantis” Beatriz
eles só gostam das coisas infantis” Beatriz
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
03/11/2006.
03/11/2006.03/11/2006.
03/11/2006.
“Eu acho que eu trabalho mais com historinhas, músicas, brincadeiras
“Eu acho que eu trabalho mais com historinhas, músicas, brincadeiras “Eu acho que eu trabalho mais com historinhas, músicas, brincadeiras
“Eu acho que eu trabalho mais com historinhas, músicas, brincadeiras
de roda, apesar deles gostarem mais da
de roda, apesar deles gostarem mais da de roda, apesar deles gostarem mais da
de roda, apesar deles gostarem mais da boladona
boladonaboladona
boladona..
....
... então a gente
. então a gente . então a gente
. então a gente
procura resgatar essas músicas mais tradicionais, mais infantis como
procura resgatar essas músicas mais tradicionais, mais infantis como procura resgatar essas músicas mais tradicionais, mais infantis como
procura resgatar essas músicas mais tradicionais, mais infantis como
a do Boi da Cara Preta... utilizando fantoches, desenhos, fazendo
a do Boi da Cara Preta... utilizando fantoches, desenhos, fazendo a do Boi da Cara Preta... utilizando fantoches, desenhos, fazendo
a do Boi da Cara Preta... utilizando fantoches, desenhos, fazendo
relação com algum assunto que eu queira trabalhar” Laiza
relação com algum assunto que eu queira trabalhar” Laiza relação com algum assunto que eu queira trabalhar” Laiza
relação com algum assunto que eu queira trabalhar” Laiza
entrevista
entrevista entrevista
entrevista
realizada em: 20/12/2006.
realizada em: 20/12/2006.realizada em: 20/12/2006.
realizada em: 20/12/2006.
Os sentidos da presença da arte atribuídos pelas professoras - Uma idéia de
‘pedagógico’
Quando solicitadas a relatarem sobre a importância da arte para a
educação infantil, foi possível verificar em seus discursos não só suas
concepções de arte, mas também de criança e de infância.
Podemos dizer que algumas professoras englobam em seus discursos não
apenas uma concepção, em específico, mesmo que uma predomine,
algumas idéias complementam outras e a forma de pensamento por vezes
soa contraditória.
“Em minha
“Em minha“Em minha
“Em minha opinião, a arte engloba tudo! Porque a música, a
opinião, a arte engloba tudo! Porque a música, a opinião, a arte engloba tudo! Porque a sica, a
opinião, a arte engloba tudo! Porque a música, a
dramatização, a pintura, nesse momento que eles vão estar,
dramatização, a pintura, nesse momento que eles vão estar, dramatização, a pintura, nesse momento que eles vão estar,
dramatização, a pintura, nesse momento que eles vão estar,
expressando a personalidade deles, que vão estar em contato com o
expressando a personalidade deles, que vão estar em contato com o expressando a personalidade deles, que vão estar em contato com o
expressando a personalidade deles, que vão estar em contato com o
conhecimento, que vão estar se socializando, porque se desde
conhecimento, que vão estar se socializando, porque se desde conhecimento, que vão estar se socializando, porque se desde
conhecimento, que vão estar se socializando, porque se desde
pequenininho votr
pequenininho votrpequenininho votr
pequenininho votrabalha o teatro com eles, você irá contribuir para
abalha o teatro com eles, voirá contribuir para abalha o teatro com eles, voirá contribuir para
abalha o teatro com eles, voirá contribuir para
que no futuro, quando se tornar adulto ele não tenha medo de falar em
que no futuro, quando se tornar adulto ele não tenha medo de falar em que no futuro, quando se tornar adulto ele não tenha medo de falar em
que no futuro, quando se tornar adulto ele não tenha medo de falar em
público, de estar se expressando, até para respeitar o espaço do outro,
público, de estar se expressando, até para respeitar o espaço do outro, blico, de estar se expressando, até para respeitar o espaço do outro,
público, de estar se expressando, até para respeitar o espaço do outro,
agora não é minha vez e a vez dele. E de reconhecer de que hoje
agora não é minha vez e a vez dele. E de reconhecer de que hojeagora não é minha vez e a vez dele. E de reconhecer de que hoje
agora não é minha vez e a vez dele. E de reconhecer de que hoje eu fiz
eu fiz eu fiz
eu fiz
um trabalho, a minha professora disse que eu poderia ter feito bem
um trabalho, a minha professora disse que eu poderia ter feito bem um trabalho, a minha professora disse que eu poderia ter feito bem
um trabalho, a minha professora disse que eu poderia ter feito bem
melhor, então eu vou me esforçar para chegar até lá. Ou então, levantar
melhor, então eu vou me esforçar para chegar até lá. Ou então, levantar melhor, então eu vou me esforçar para chegar até lá. Ou então, levantar
melhor, então eu vou me esforçar para chegar até lá. Ou então, levantar
a auto
a autoa auto
a auto-
--
-estima da criança, porque através da arte você levanta muito a
estima da criança, porque através da arte você levanta muito a estima da criança, porque através da arte você levanta muito a
estima da criança, porque através da arte você levanta muito a
auto
autoauto
auto-
--
-estima da criança. Para mim, é a c
estima da criança. Para mim, é a cestima da criança. Para mim, é a c
estima da criança. Para mim, é a chave do ‘povão’ é a arte na
have do ‘povão’ é a arte na have do ‘povão’ é a arte na
have do ‘povão’ é a arte na
186
educação infantil, embora a gente pudesse ir mais além...”lia
educação infantil, embora a gente pudesse ir mais além...”lia educação infantil, embora a gente pudesse ir mais além...”lia
educação infantil, embora a gente pudesse ir mais além...”lia
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006.Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
“É muito importante trabalhar a arte na educação infantil porque a arte
“É muito importante trabalhar a arte na educação infantil porque a arte “É muito importante trabalhar a arte na educação infantil porque a arte
“É muito importante trabalhar a arte na educação infantil porque a arte
trabalha a auto
trabalha a autotrabalha a auto
trabalha a auto-
--
-estima deles. Eu vejo que quando el
estima deles. Eu vejo que quando elestima deles. Eu vejo que quando el
estima deles. Eu vejo que quando eles estão produzindo
es estão produzindo es estão produzindo
es estão produzindo
alguma coisa... quando eles estão conhecendo materiais diferentes...
alguma coisa... quando eles estão conhecendo materiais diferentes... alguma coisa... quando eles estão conhecendo materiais diferentes...
alguma coisa... quando eles estão conhecendo materiais diferentes...
quando eles estão criando alguma coisa nova ou reformando... eles se
quando eles estão criando alguma coisa nova ou reformando... eles se quando eles estão criando alguma coisa nova ou reformando... eles se
quando eles estão criando alguma coisa nova ou reformando... eles se
empenham... eles se concentram mais naquilo, prestam atenção, tu não
empenham... eles se concentram mais naquilo, prestam atenção, tu não empenham... eles se concentram mais naquilo, prestam atenção, tu não
empenham... eles se concentram mais naquilo, prestam atenção, tu não
precisa chamar a atenção dele
precisa chamar a atenção deleprecisa chamar a atenção dele
precisa chamar a atenção deles. Mas, se ficamos do desenho para a
s. Mas, se ficamos do desenho para a s. Mas, se ficamos do desenho para a
s. Mas, se ficamos do desenho para a
música e dessa para o desenho, eles não se prendem tanto, mas quando
música e dessa para o desenho, eles não se prendem tanto, mas quando sica e dessa para o desenho, eles não se prendem tanto, mas quando
música e dessa para o desenho, eles não se prendem tanto, mas quando
tem um material diferente eles se concentram muito mais. Trabalhar a
tem um material diferente eles se concentram muito mais. Trabalhar a tem um material diferente eles se concentram muito mais. Trabalhar a
tem um material diferente eles se concentram muito mais. Trabalhar a
arte de forma diferente, para mim, é quando você oferece para as
arte de forma diferente, para mim, é quando você oferece para as arte de forma diferente, para mim, é quando você oferece para as
arte de forma diferente, para mim, é quando você oferece para as
crianças um m
crianças um mcrianças um m
crianças um material novo ou faz um passeio, daí eles se concentram
aterial novo ou faz um passeio, daí eles se concentram aterial novo ou faz um passeio, daí eles se concentram
aterial novo ou faz um passeio, daí eles se concentram
tanto (...)” Isabela
tanto (...)” Isabela tanto (...)” Isabela
tanto (...)” Isabela –
– Entrevista realizada em: 03/11/2006.
Entrevista realizada em: 03/11/2006. Entrevista realizada em: 03/11/2006.
Entrevista realizada em: 03/11/2006.
A relevância da arte es associada, para muitas das professoras (cinco
delas, mais especificamente), ao trabalho da auto-estima, da libertação dos
possíveis medos e angústias que por ventura podem dominar o universo
infantil. Assim ela é concebida por excelência como uma forma de
expressão dos sentimentos, de revelar/exteriorizar o que se esconde no
interior (aquilo que lhe é subjetivo).
A arte também aparece como uma forma de conhecimento, uma cultura a
ser apropriada pelas novas gerações, conforme três professoras demarcam.
Emerge uma visão de criança como vir a ser artista. Para algumas dessas
profissionais, demarcadamente seis delas, é função da educação infantil
trabalhar com a arte, porque quem sabe no futuro a criança possa vir a ser
um artista. Ou até mesmo adotar uma outra profissão em que necessite falar,
expor suas idéias, ser criativo, resolver soluções e possa se sair bem.
(...) vai que tem uma criança que no futuro vai ser um desenhista
(...) vai que tem uma criança que no futuro vai ser um desenhista (...) vai que tem uma criança que no futuro vai ser um desenhista
(...) vai que tem uma criança que no futuro vai ser um desenhista
famoso, vai estudar para isso, vai se formar. Penso que temos que fazer
famoso, vai estudar para isso, vai se formar. Penso que temos que fazer famoso, vai estudar para isso, vai se formar. Penso que temos que fazer
famoso, vai estudar para isso, vai se formar. Penso que temos que fazer
tudo o que pudermos para que no futuro a criança possa ser melhor que
tudo o que pudermos para que no futuro a criança possa ser melhor que tudo o que pudermos para que no futuro a criança possa ser melhor que
tudo o que pudermos para que no futuro a criança possa ser melhor que
a gente” Gabriela
a gente” Gabriela a gente” Gabriela
a gente” Gabriela
– Entrevista realizada em: 12/
Entrevista realizada em: 12/ Entrevista realizada em: 12/
Entrevista realizada em: 12/12/2006)
12/2006)12/2006)
12/2006)
187
“Eu acho que a arte é importante porque desenvolve a criança. Quando
“Eu acho que a arte é importante porque desenvolve a criança. Quando “Eu acho que a arte é importante porque desenvolve a criança. Quando
“Eu acho que a arte é importante porque desenvolve a criança. Quando
ela tem a oportunidade de ser trabalhada com a arte pode, no futuro, se
ela tem a oportunidade de ser trabalhada com a arte pode, no futuro, se ela tem a oportunidade de ser trabalhada com a arte pode, no futuro, se
ela tem a oportunidade de ser trabalhada com a arte pode, no futuro, se
tornar um grande professor, um grande artista. É muito importante a
tornar um grande professor, um grande artista. É muito importante a tornar um grande professor, um grande artista. É muito importante a
tornar um grande professor, um grande artista. É muito importante a
arte na educação infantil” Naiana
arte na educação infantil” Naiana arte na educação infantil” Naiana
arte na educação infantil” Naiana
E
E E
Entrevista realizada em:
ntrevista realizada em: ntrevista realizada em:
ntrevista realizada em:
20/12/2006.
20/12/2006.20/12/2006.
20/12/2006.
Também podemos constatar a supervalorização da visão estética do adulto,
assim como uma concepção de que a arte não é para todos, mas para
alguns, concebendo a questão do gosto como algo natural e não
constituído social e historicamente, segundo podemos notar na fala de duas
professoras.
“A arte é um momento em que a criança expressa a emoção dela, do
“A arte é um momento em que a criança expressa a emoção dela, do A arte é um momento em que a criança expressa a emoção dela, do
“A arte é um momento em que a criança expressa a emoção dela, do
momento, expressa a criatividade, demonstra o quanto ela é capaz de
momento, expressa a criatividade, demonstra o quanto ela é capaz de momento, expressa a criatividade, demonstra o quanto ela é capaz de
momento, expressa a criatividade, demonstra o quanto ela é capaz de
criar através da arte. Através da arte a gente pod
criar através da arte. Através da arte a gente podcriar através da arte. Através da arte a gente pod
criar através da arte. Através da arte a gente pode trabalhar a oralidade
e trabalhar a oralidade e trabalhar a oralidade
e trabalhar a oralidade
dela, trabalhar a timidez, porque a gente encontra na educação infantil
dela, trabalhar a timidez, porque a gente encontra na educação infantil dela, trabalhar a timidez, porque a gente encontra na educação infantil
dela, trabalhar a timidez, porque a gente encontra na educação infantil
bastante criança com dificuldades de se impor, de se impor mesmo. É
bastante criança com dificuldades de se impor, de se impor mesmo. É bastante criança com dificuldades de se impor, de se impor mesmo. É
bastante criança com dificuldades de se impor, de se impor mesmo. É
através da arte que você é capaz de corrigir e conseguir tudo isso na
através da arte que você é capaz de corrigir e conseguir tudo isso na através da arte que você é capaz de corrigir e conseguir tudo isso na
através da arte que você é capaz de corrigir e conseguir tudo isso na
criança” Júlia
criança” Júlia criança” Júlia
criança” Júlia
– Entre
Entre Entre
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
vista realizada em: 01/11/2006.vista realizada em: 01/11/2006.
vista realizada em: 01/11/2006.
“É importante... eu sempre gostei de trabalhar, mas tem criança que não
“É importante... eu sempre gostei de trabalhar, mas tem criança que não “É importante... eu sempre gostei de trabalhar, mas tem criança que não
“É importante... eu sempre gostei de trabalhar, mas tem criança que não
se desenvolve, não desperta, assim como também tem colegas que
se desenvolve, não desperta, assim como também tem colegas que se desenvolve, não desperta, assim como também tem colegas que
se desenvolve, não desperta, assim como também tem colegas que
nunca gostaram da arte, não gostam de desenhar de pintar. A arte pode
nunca gostaram da arte, não gostam de desenhar de pintar. A arte pode nunca gostaram da arte, não gostam de desenhar de pintar. A arte pode
nunca gostaram da arte, não gostam de desenhar de pintar. A arte pode
despertar o gosto
despertar o gosto despertar o gosto
despertar o gosto de alguns (...)” Gabriela
de alguns (...)” Gabriela de alguns (...)” Gabriela
de alguns (...)” Gabriela
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
12/12/2006.
12/12/2006.12/12/2006.
12/12/2006.
Duas professoras argumentam que o trabalho com as linguagens artísticas,
desde que a instituição tenha materiais variados e recursos para realizar
muitos passeios, contribui para que a criança desenvolva a concentração. E
que isso é importante, porque as crianças fazem as atividades com maior
"autonomia", aqui, entendida como a capacidade de o falar alto, não
incomodar e fazer corretamente o que foi solicitado.
Duas professoras, ainda, trazem em suas falas a idéia de arte enquanto
linguagem, sendo que uma delas acrescenta a essa posição a idéia da arte
188
traduzida como possibilidade de formação integral dos sujeitos. Isso traz à
tona a idéia de que o professor necessita ter trabalhado em sua formação a
arte, porque assim conseguirá compreender e oportunizar vivências
artísticas significativas para o grupo de crianças ao qual trabalha.
“Arte é linguagem, sendo que é importante trabalhar com a arte para
“Arte é linguagem, sendo que é importante trabalhar com a arte para “Arte é linguagem, sendo que é importante trabalhar com a arte para
“Arte é linguagem, sendo que é importante trabalhar com a arte para
estimular a criatividade e a imagin
estimular a criatividade e a imaginestimular a criatividade e a imagin
estimular a criatividade e a imaginação das crianças, para que eles não
ação das crianças, para que eles não ação das crianças, para que eles não
ação das crianças, para que eles não
sintam medo, possam ir além, para que não fiquem igual a nós... que
sintam medo, possam ir além, para que não fiquem igual a nós... que sintam medo, possam ir além, para que não fiquem igual a nós... que
sintam medo, possam ir além, para que não fiquem igual a nós... que
não sabemos desenhar, porque casinha, nuvenzinha, arvorezinha,
não sabemos desenhar, porque casinha, nuvenzinha, arvorezinha, não sabemos desenhar, porque casinha, nuvenzinha, arvorezinha,
não sabemos desenhar, porque casinha, nuvenzinha, arvorezinha,
isto não é arte! Arte é muito mais que isso! Eles, através da arte, podem
isto não é arte! Arte é muito mais que isso! Eles, através da arte, podem isto não é arte! Arte é muito mais que isso! Eles, através da arte, podem
isto não é arte! Arte é muito mais que isso! Eles, através da arte, podem
ter mais li
ter mais liter mais li
ter mais liberdade, nós não tínhamos, tínhamos que fazer o que o
berdade, nós não tínhamos, tínhamos que fazer o que o berdade, nós não tínhamos, tínhamos que fazer o que o
berdade, nós não tínhamos, tínhamos que fazer o que o
professor mandava sem poder se quer questionar” Beatriz
professor mandava sem poder se quer questionar” Beatriz professor mandava sem poder se quer questionar” Beatriz
professor mandava sem poder se quer questionar” Beatriz
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em: 03/11/2006.
realizada em: 03/11/2006.realizada em: 03/11/2006.
realizada em: 03/11/2006.
“A arte é fundamental para a criança se desenvolver de maneira
“A arte é fundamental para a criança se desenvolver de maneira “A arte é fundamental para a criança se desenvolver de maneira
“A arte é fundamental para a criança se desenvolver de maneira
integral. Até porque, na educação infantil,
integral. Até porque, na educação infantil,integral. Até porque, na educação infantil,
integral. Até porque, na educação infantil, tudo o que a gente trabalha
tudo o que a gente trabalha tudo o que a gente trabalha
tudo o que a gente trabalha
marca muito eles. Eu percebo que se eu tivesse sido mais trabalhada
marca muito eles. Eu percebo que se eu tivesse sido mais trabalhada marca muito eles. Eu percebo que se eu tivesse sido mais trabalhada
marca muito eles. Eu percebo que se eu tivesse sido mais trabalhada
quanto ao teatro, a dança, o desenho, as inúmeras linguagens
quanto ao teatro, a dança, o desenho, as inúmeras linguagens quanto ao teatro, a dança, o desenho, as inúmeras linguagens
quanto ao teatro, a dança, o desenho, as inúmeras linguagens
artísticas, faria um trabalho ainda melhor. Eu ainda tenho muita
artísticas, faria um trabalho ainda melhor. Eu ainda tenho muita artísticas, faria um trabalho ainda melhor. Eu ainda tenho muita
artísticas, faria um trabalho ainda melhor. Eu ainda tenho muita
dificuldade de me expressar, mas
dificuldade de me expressar, mas dificuldade de me expressar, mas
dificuldade de me expressar, mas percebi que melhorei um pouco na
percebi que melhorei um pouco na percebi que melhorei um pouco na
percebi que melhorei um pouco na
faculdade, porque tinha um grupo de amigas e nós apresentávamos os
faculdade, porque tinha um grupo de amigas e nós apresentávamos os faculdade, porque tinha um grupo de amigas e s apresentávamos os
faculdade, porque tinha um grupo de amigas e nós apresentávamos os
trabalhos sempre em forma de teatro, então eu acho que isso é um
trabalhos sempre em forma de teatro, então eu acho que isso é um trabalhos sempre em forma de teatro, então eu acho que isso é um
trabalhos sempre em forma de teatro, então eu acho que isso é um
grande aliado para o desenvolvimento da criança. A criança tea
grande aliado para o desenvolvimento da criança. A criança tea grande aliado para o desenvolvimento da criança. A criança terá a
grande aliado para o desenvolvimento da criança. A criança tea
ganhar se o professor
ganhar se o professor ganhar se o professor
ganhar se o professor tiver uma formação cultural. A arte é
tiver uma formação cultural. A arte é tiver uma formação cultural. A arte é
tiver uma formação cultural. A arte é
extremamente relevante, porque mobiliza, questiona, alegra,
extremamente relevante, porque mobiliza, questiona, alegra, extremamente relevante, porque mobiliza, questiona, alegra,
extremamente relevante, porque mobiliza, questiona, alegra,
sensibiliza. Sem a arte a gente não é nada. Com a arte a gente é tudo...
sensibiliza. Sem a arte a gente não é nada. Com a arte a gente é tudo... sensibiliza. Sem a arte a gente não é nada. Com a arte a gente é tudo...
sensibiliza. Sem a arte a gente não é nada. Com a arte a gente é tudo...
podemos ser tudo o que quisermos, porque ela trabalha com a
podemos ser tudo o que quisermos, porque ela trabalha com a podemos ser tudo o que quisermos, porque ela trabalha com a
podemos ser tudo o que quisermos, porque ela trabalha com a
imaginação. Tudo pode ser
imaginação. Tudo pode serimaginação. Tudo pode ser
imaginação. Tudo pode ser mais prazeroso de ser ensinado quando
mais prazeroso de ser ensinado quando mais prazeroso de ser ensinado quando
mais prazeroso de ser ensinado quando
utilizamos a arte. A arte é inteireza, éo fragmentação. É uma
utilizamos a arte. A arte é inteireza, éo fragmentação. É uma utilizamos a arte. A arte é inteireza, é não fragmentação. É uma
utilizamos a arte. A arte é inteireza, éo fragmentação. É uma
dimensão do humano e a educação não pode descartar isso.”Joana
dimensão do humano e a educação não pode descartar isso.”Joana dimensão do humano e a educação não pode descartar isso.”Joana
dimensão do humano e a educação não pode descartar isso.”Joana –
Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006.Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Entrevista realizada em: 12/12/2006.
Para além dos discursos proferidos... Os sentidos estéticos materializados
Ao relatarem sobre, como e em que situações utilizam as linguagens
artísticas, percebi que as professoras em sua maioria utilizam-se das
189
linguagens artísticas como um instrumento para trabalhar algum
tema/assunto de seu interesse. O desenho, a pintura, a música, o teatro com
fantoches, as histórias contadas, a dança etc., tiveram seus sentidos
reduzidos a procedimentos agradáveis/prazerosos para se "ensinar", reforçar
regras, valores e/ou algum tema/assunto que estivesse em evidência.
Vigotski (2004) aponta que a pedagogia tradicional ao reduzir a estética ao
sentimento do agradável, do prazer e das reações hedonísticas perde a
possibilidade e o próprio significado dessa educação, obtendo quase
sempre resultados contrários aos esperados. Também não devemos reduzir a
estética e o trabalho com a arte a um mero recurso pedagógico com a
intenção de resolver todos os problemas difíceis e igualmente complexos da
educação. Ao contrário, devemos caminhar no sentido da ampliação dos
referenciais artístico-culturais dos sujeitos, o que concerne a não propagar a
visão de que a arte essempre a serviço de algo mais relevante. Pois essa
compreensão estaria contribuindo para perpetuar uma visão utilitarista em
relação à arte e à estética. Para esse autor, uma obra de arte, uma vivência
estética não deve estar a serviço de algo que não ela própria.
Uma obra de arte vivenciada pode efetivamente ampliar a
nossa concepção de algum campo de fenômenos, levar-nos
a ver esse campo com novos olhos, a generalizar e unificar
fatos amiúde inteiramente dispersos. É que, como qualquer
vivência intensa, a vivência estética cria uma atitude muito
sensível para os atos posteriores, e, evidentemente, nunca
passa sem deixar vestígios para o nosso comportamento. [...]
De forma idêntica, toda vivência poética parece acumular
energia para futuras ações, a essas ações um novo sentido
e leva a ver o mundo com novos olhos. (VIGOTSKI, 2004, p.
342-343)
Desse modo, ao longo dos discursos das professoras pesquisadas encontrei
como predominante a compreensão e/ou sentido de que o artístico e o
estético na educação infantil estaria(m) na possibilidade da realização de
um trabalho mais agradável e/ou prazeroso com as crianças. Como, se ao
utilizar alguma linguagem artística, por si só, tornaria o trabalho considerado
190
mais ‘sério’ e mais ‘difícil’ com outras áreas e/ou ‘disciplinas’: Português,
Matemática, Ciências Sociais etc., menos árduo e mais agradável.
“Eu trabalho a arte quando dou revistas, músicas, dob
“Eu trabalho a arte quando dou revistas, músicas, dobEu trabalho a arte quando dou revistas, músicas, dob
“Eu trabalho a arte quando dou revistas, músicas, dobraduras,
raduras, raduras,
raduras,
trabalhinhos manuais, conversando com as crianças. Meu objetivo é
trabalhinhos manuais, conversando com as crianças. Meu objetivo é trabalhinhos manuais, conversando com as crianças. Meu objetivo é
trabalhinhos manuais, conversando com as crianças. Meu objetivo é
fazer com que elas aprendam a manusear as revistas, a ver as
fazer com que elas aprendam a manusear as revistas, a ver as fazer com que elas aprendam a manusear as revistas, a ver as
fazer com que elas aprendam a manusear as revistas, a ver as
gravuras, a manusear os objetos. [...]” (Bianca
gravuras, a manusear os objetos. [...]” (Bianca gravuras, a manusear os objetos. [...]” (Bianca
gravuras, a manusear os objetos. [...]” (Bianca
entrevista realizada
entrevista realizada entrevista realizada
entrevista realizada
em: 20/12/2006).
em: 20/12/2006). em: 20/12/2006).
em: 20/12/2006).
Utilizo a arte em todos os m
Utilizo a arte em todos os mUtilizo a arte em todos os m
Utilizo a arte em todos os momentos, ela é um meio para trabalhar as
omentos, ela é um meio para trabalhar as omentos, ela é um meio para trabalhar as
omentos, ela é um meio para trabalhar as
cores, as formas, as letras, os números [...]” (Júlia
cores, as formas, as letras, os números [...]” (Júlia cores, as formas, as letras, os números [...]” (Júlia
cores, as formas, as letras, os números [...]” (Júlia
entrevista
entrevista entrevista
entrevista
realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)realizada em: 01/11/2006)
realizada em: 01/11/2006)
“[...] Elas [as crianças} aprendem bem mais quando a gente utiliza a
“[...] Elas [as crianças} aprendem bem mais quando a gente utiliza a “[...] Elas [as crianças} aprendem bem mais quando a gente utiliza a
“[...] Elas [as crianças} aprendem bem mais quando a gente utiliza a
arte. Fica tudo mais gostoso, prazeroso e significa
arte. Fica tudo mais gostoso, prazeroso e significaarte. Fica tudo mais gostoso, prazeroso e significa
arte. Fica tudo mais gostoso, prazeroso e significativo. Nas datas
tivo. Nas datas tivo. Nas datas
tivo. Nas datas
comemorativas, quando a gente quer trabalhar algum valor, alguma
comemorativas, quando a gente quer trabalhar algum valor, alguma comemorativas, quando a gente quer trabalhar algum valor, alguma
comemorativas, quando a gente quer trabalhar algum valor, alguma
regra, as letras do nome, as vogais, daí nós utilizamos a arte” ( Joana
regra, as letras do nome, as vogais, daí nós utilizamos a arte” ( Joana regra, as letras do nome, as vogais, daí nós utilizamos a arte” ( Joana
regra, as letras do nome, as vogais, daí nós utilizamos a arte” ( Joana
entrevista realizada em 12/12/2006)
entrevista realizada em 12/12/2006)entrevista realizada em 12/12/2006)
entrevista realizada em 12/12/2006)
O conjunto dos discursos das professoras nos reporta a uma idéia de
pedagógico que se utiliza da arte como um instrumento para se chegar a
outros fins que não os estéticos e/ou artísticos. Não estou afirmando que as
linguagens artísticas e/ou o estético não possam ser utilizados dentro do
cotidiano educativo por meio da realização de atividades e/ou situações
significativas propostas com outros objetivos que se articulem aos artísticos e
estéticos. Penso que o que não deve acontecer é a limitação da utilização
da arte no espaço educativo e/ou escolar a uma condição de recurso, de
procedimento metodológico.
Os sentidos atribuídos a esse ponto ajudam a perpetuar uma idéia de
pedagógico, de artístico e de estético que reforça a compreensão de que a
finalidade e/ou o espaço da arte na educação infantil se resume(m) a uma
mera condição de instrumento e/ou procedimento pedagógico. É por
exemplo, o caso da utilização de folhas mimeografadas com desenhos para
191
colorir, traços a completar, letras, cores e formas a identificar, ou
simplesmente para adquirir a noção de limites.
Um outro sentido atribuído à arte o qual foi previamente apontado no
capítulo III, na apresentação do espaço estético no CEI, refere-se à
subjugação da arte como ornamento. Uma concepção de estética
associada a um sentido de beleza e perfeição que tem como parâmetro os
elementos de fácil veiculação da dia e que se pautam em uma visão de
criança, infância, estética, arte e cultura quase sempre naturalizadas. Essa
questão apareceu não apenas nos discursos das professoras, bem como de
forma bastante intensa nos elementos da composição arquitetônica da
instituição.
Por mais que as professoras profiram discursos sobre sua concepção e/ou
prática com as linguagens artísticas no espaço de atuação profissional, os
sentidos estéticos materializados não passaram despercebidos. Isto é, nem
tudo é proferido, faz-se necessário combinar seus discursos com a estética
desse espaço-ambiente, que concomitantemente ao revelar alguns
elementos da formação, também forma os sujeitos que nele estão inseridos.
A concepção de estética aqui adotada baseia-se na idéia de que o objeto
estético materializa escolhas composicionais e de linguagem que resultam
em um posicionamento axiológico frente ao mundo. Um processo que
envolve uma posição refratada e refratante. Refratada porque envolve um
viés valorativo do(s) sujeitos que a compõem e refratante porque é a partir
dela que se reordenam esteticamente os eventos da vida. Resulta de um
processo de busca pelo belo (diferente do sublime de Kant) e da
participação com responsibilidade no mundo, marcada e situada
historicamente (BAKHTIN, 2003). Trata-se de uma estética que comunica
que está em movimento, dialoga, sistematiza e significa as ações dos sujeitos
que nesse espaço convivem.
Ou ainda no dizer de Hoyuelos (2006):
192
[...] una arquitectura conformada por un conjunto de
elementos físicos, sociales y culturales configurados por
espacios, mobiliario, objetos, decoraciones y construcciones
de los niños y de los adultos que provocan diversas
informaciones, comunicacions, vivencias personales y
colectivas. Un espacio ambiente no neutral con respecto al
proyecto educativo, y que trata de buscar una coherencia
entre la arquitectura y el modelo educativo elegido, de outra
menera se pueden producir deficiências e interferências
funcionales (culturales, educativas) que impidan llevar a buen
término los objetivos del proprio proyecto. Es decir que, el
proyecto educativo adquire sentido y significado, sólo si el
espacio ambiente participa del mismo. Para la realización de
esta idea es necesaria la imprescindible colaboración y
diálogo entre la arquitectura y a pedagogia. (HOYUELOS, 2006,
p. 117)
Trago algumas cenas presenciadas por mim nos momentos em que estive
presente no CEI, no sentido de dar ao leitor essa dinâmica de estética em
movimento, a dinâmica de um espaço habitado, formado e transformado
cotidianamente pelos sujeitos. Isto é, a articulação entre os discursos
proferidos e os discursos materializados.
Olhos que tentam olhar...
Olhos que tentam olhar...Olhos que tentam olhar...
Olhos que tentam olhar...
193
Refeitório
Refeitório Refeitório
Refeitório
– vídeos
vídeos vídeos
vídeos
fotos
fotos fotos
fotos tiradas pela pesquisadora
tiradas pela pesquisadoratiradas pela pesquisadora
tiradas pela pesquisadora
[...] As crianças parecem contentes, conversam entre si, cantam as
[...] As crianças parecem contentes, conversam entre si, cantam as [...] As crianças parecem contentes, conversam entre si, cantam as
[...] As crianças parecem contentes, conversam entre si, cantam as
músicas que aparecem no desenho, dançam com o corpo... Sendo que
músicas que aparecem no desenho, dançam com o corpo... Sendo que músicas que aparecem no desenho, dançam com o corpo... Sendo que
músicas que aparecem no desenho, dançam com o corpo... Sendo que
seus olhos vagueiam entre os alimentos dispostos na mesa, as cenas que
seus olhos vagueiam entre os alimentos dispostos na mesa, as cenas que seus olhos vagueiam entre os alimentos dispostos na mesa, as cenas que
seus olhos vagueiam entre os alimentos dispostos na mesa, as cenas que
passam na TV e, os consta
passam na TV e, os constapassam na TV e, os consta
passam na TV e, os constantes apelos das professoras que solicitam que
ntes apelos das professoras que solicitam que ntes apelos das professoras que solicitam que
ntes apelos das professoras que solicitam que
essas se mantenham em silêncio. Há dois grupos nesse local, ambos
essas se mantenham em silêncio. Há dois grupos nesse local, ambos essas se mantenham em silêncio. dois grupos nesse local, ambos
essas se mantenham em silêncio. Há dois grupos nesse local, ambos
demarcados pela mesa que ocupam, são crianças entre três e cinco anos
demarcados pela mesa que ocupam, são crianças entre três e cinco anos demarcados pela mesa que ocupam, são crianças entre três e cinco anos
demarcados pela mesa que ocupam, são crianças entre três e cinco anos
de idade.
de idade. de idade.
de idade.
Enquanto as crianças lancham e assistem à TV, as professoras
Enquanto as crianças lancham e assistem à TV, as professoras Enquanto as crianças lancham e assistem à TV, as professoras
Enquanto as crianças lancham e assistem à TV, as professoras
c
cc
conversam entre si, trocam informações sobre diversos assuntos
onversam entre si, trocam informações sobre diversos assuntos onversam entre si, trocam informações sobre diversos assuntos
onversam entre si, trocam informações sobre diversos assuntos
relacionados à sua vida pessoal, os lugares que foram no final de
relacionados à sua vida pessoal, os lugares que foram no final de relacionados à sua vida pessoal, os lugares que foram no final de
relacionados à sua vida pessoal, os lugares que foram no final de
semana, as festas da cidade, algum colega que adoeceu, sobre os filhos
semana, as festas da cidade, algum colega que adoeceu, sobre os filhos semana, as festas da cidade, algum colega que adoeceu, sobre os filhos
semana, as festas da cidade, algum colega que adoeceu, sobre os filhos
etc.; sendo que interrompem o assunto para chamar a at
etc.; sendo que interrompem o assunto para chamar a atetc.; sendo que interrompem o assunto para chamar a at
etc.; sendo que interrompem o assunto para chamar a atenção de
enção de enção de
enção de
alguma criança que no seu entender parece
alguma criança que no seu entender parecealguma criança que no seu entender parece
alguma criança que no seu entender parecem
mm
m estar fazendo barulho
estar fazendo barulho estar fazendo barulho
estar fazendo barulho
demais.
demais. demais.
demais.
194
No meu olhar, as crianças não estão fazendo barulho e/ou bagunça...
No meu olhar, as crianças não estão fazendo barulho e/ou bagunça... No meu olhar, as crianças não estão fazendo barulho e/ou bagunça...
No meu olhar, as crianças não estão fazendo barulho e/ou bagunça...
Mas estão interagindo, trocando impressões em relação ao desenho a que
Mas estão interagindo, trocando impressões em relação ao desenho a que Mas estão interagindo, trocando impressões em relação ao desenho a que
Mas estão interagindo, trocando impressões em relação ao desenho a que
estão assistindo, estão envolvid
estão assistindo, estão envolvidestão assistindo, estão envolvid
estão assistindo, estão envolvidas...
as... as...
as...
O silêncio que as profissionais exigem das crianças, é rompido nesse
O silêncio que as profissionais exigem das crianças, é rompido nesse O silêncio que as profissionais exigem das crianças, é rompido nesse
O silêncio que as profissionais exigem das crianças, é rompido nesse
tempo
tempotempo
tempo
&
espaço por suas próprias conversas, os sons das vozes
espaço por suas próprias conversas, os sons das vozes espaço por suas próprias conversas, os sons das vozes
espaço por suas próprias conversas, os sons das vozes
‘transgressoras
transgressorastransgressoras
transgressoras
das crianças que assistem à TV, bem como de outros
das crianças que assistem à TV, bem como de outros das crianças que assistem à TV, bem como de outros
das crianças que assistem à TV, bem como de outros
sons/ruídos que chegam até esse local [...] (Regist
sons/ruídos que chegam até esse local [...] (Registsons/ruídos que chegam até esse local [...] (Regist
sons/ruídos que chegam até esse local [...] (Registro do Diário de Campo
ro do Diário de Campo ro do Diário de Campo
ro do Diário de Campo
– 11/06/2007)
11/06/2007) 11/06/2007)
11/06/2007)
É imperativo afirmar que costumeiramente as crianças do CEI pesquisado
passavam horas em frente à televisão, assistindo desenhos e a filmes
animados da Disney. Muitos desses desenhos e filmes eram vistos mais de
uma vez (segundo o relato de algumas das professoras, isso acontece
porque não possuem outro disponível para substituir).
Nadie niega que haya un riesco constante de adoptar una
actitud estética, superficial, que pueda llegar a ocultar la
fragilidad de los contenidos, ya que está en marcha un fuerte
proceso de globalización sobre los modelos imperantes
divulgados por los medios de comunicación, en los que a
menudo la belleza se ve confinada a lo fútil e supérfluo.
(VECCHI, 2006, p.25)
Dessa forma, justamente quem deveria fazer o papel de ampliação e não
de reprodução acrítica dessas produções, é quem quase sempre as veicula
e perpetua no espaço da educação infantil. Para Cunha (2007), isso
propicia a modelagem de um suposto ideal de ‘gosto infantil’ que retiram
das crianças suas singularidades e direitos de escolha em relação a outros
universos imagéticos e simbólicos.
Vivemos em um sistema econômico capitalista que transforma imagens em
produtos a serem consumidos, cabendo-nos uma postura crítica que não
tome as decorações/painéis, bem como desenhos e filmes do universo
Disney como imagens que representem à infância. que essas imagens
195
produzem visões de mundo, de (não) pertencimento, culminando em
escolhas e tomadas de decisões nem sempre conscientes.
[...] o ambiente midiático do qual as crianças hoje fazem parte,
as fronteiras estão cada vez mais difusas, tanto entre as mídias
quanto entre os textos em si. [...] essas transformações são
viabilizadas pelas mudanças tecnológicas, mas também
amplamente orientadas pelos interesses comerciais. Assim, esse
ambiente pressupõe tipos muito diferentes de competências e
conhecimentos e que parece encorajar diferentes modos de
‘atividade’ por parte das audiências. As mídias
contemporâneas cada vez mais se dirigem às crianças como se
elas fossem consumidoras altamente ‘alfabetizadas
midiaticamente. (BUCKINGHAM, 2004, p.70)
O pesquisador Inglês David Buckingham (2004), se referindo à questão
acima, afirma que os filmes e desenhos não são apenas programas de TV ou
histórias destinadas para entretenimento das crianças. Que eles também são
filmes, discos, histórias em quadrinho, jogos de computador, brinquedos,
camisetas, pôsteres, lancheiras, bebidas, álbuns de figurinhas, comidas e
uma miríade de outros produtos a serem consumidos.
A questão aferida anteriormente, demonstra que cada vez mais a cultura
midiática infantil está atrelada a outros textos e formas de mercadorias
empacotadas e comercializadas. Uma lógica movida pelo consumo e pelo
lucro. Logo o que dá lucro as grandes corporações não é tanto o filme em si,
mas as imagens dos personagens e produtos fabricados em relação a esse.
Diante desse universo de consumo desenfreado, não me furto de lançar a
questão: Será papel das instituições de Educação Infantil reforçar essa lógica
de consumo, adotando essas imagens e produtos midiáticos como modelo
estético e ideal de infância?
Onde estão as produções das Crianças?
Onde estão as produções das Crianças?Onde estão as produções das Crianças?
Onde estão as produções das Crianças?
196
197
198
Decorações/painéis do
Decorações/painéis do Decorações/painéis do
Decorações/painéis do Refeitório
RefeitórioRefeitório
Refeitório
-
--
-Fotos de Pricilla Cristine Trierwe
Fotos de Pricilla Cristine TrierweFotos de Pricilla Cristine Trierwe
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
illeriller
iller
199
[...] O refeitório do CEI se apresenta como um espaço predominantemente
[...] O refeitório do CEI se apresenta como um espaço predominantemente [...] O refeitório do CEI se apresenta como um espaço predominantemente
[...] O refeitório do CEI se apresenta como um espaço predominantemente
adultocêntrico, em que a lógica de organização e composição dos espaços é
adultocêntrico, em que a lógica de organização e composição dos espaços é adultocêntrico, em que a lógica de organização e composição dos espaços é
adultocêntrico, em que a lógica de organização e composição dos espaços é
sistematizada pelos adultos, não contando com a participação das
sistematizada pelos adultos, não contando com a participação das sistematizada pelos adultos, não contando com a participação das
sistematizada pelos adultos, não contando com a participação das
crianças. Além de passar uma imagem e
crianças. Além de passar uma imagem e crianças. Além de passar uma imagem e
crianças. Além de passar uma imagem e visão de infância romanesca,
visão de infância romanesca, visão de infância romanesca,
visão de infância romanesca,
também expressa a concepção de estética valorizada e veiculada pela
também expressa a concepção de estética valorizada e veiculada pela também expressa a concepção de estética valorizada e veiculada pela
também expressa a concepção de estética valorizada e veiculada pela
instituição. As imagens verbo
instituição. As imagens verboinstituição. As imagens verbo
instituição. As imagens verbo-
--
-visuais dispostas nesse local além de
visuais dispostas nesse local além de visuais dispostas nesse local além de
visuais dispostas nesse local além de
expressarem aspectos da formação dessas profissionais (Não pela
expressarem aspectos da formação dessas profissionais (Não pela expressarem aspectos da formação dessas profissionais (Não pela
expressarem aspectos da formação dessas profissionais (Não pela
confecção dos painéis, p
confecção dos painéis, pconfecção dos painéis, p
confecção dos painéis, pela não participação das crianças, ou ainda pela
ela o participação das crianças, ou ainda pela ela o participação das crianças, ou ainda pela
ela o participação das crianças, ou ainda pela
suposta neutralidade em relação ao planejamento desse espaço, mas
suposta neutralidade em relação ao planejamento desse espaço, mas suposta neutralidade em relação ao planejamento desse espaço, mas
suposta neutralidade em relação ao planejamento desse espaço, mas
principalmente pela concepção de criança, de infância, de arte e de
principalmente pela concepção de criança, de infância, de arte e de principalmente pela concepção de criança, de infância, de arte e de
principalmente pela concepção de criança, de infância, de arte e de
cultura que estão sendo veiculadas) também influem na constituição
cultura que estão sendo veiculadas) também influem na constituição cultura que estão sendo veiculadas) também influem na constituição
cultura que estão sendo veiculadas) também influem na constituição
das su
das sudas su
das subjetividades formativas dos sujeitos que nesse espaço convivem.
bjetividades formativas dos sujeitos que nesse espaço convivem. bjetividades formativas dos sujeitos que nesse espaço convivem.
bjetividades formativas dos sujeitos que nesse espaço convivem.
Diante de tal constatação é imperativo perguntar: Onde estão as
Diante de tal constatação é imperativo perguntar: Onde estão as Diante de tal constatação é imperativo perguntar: Onde estão as
Diante de tal constatação é imperativo perguntar: Onde estão as
produções das crianças? Sendo tal espaço de uso coletivo, não deveria ser
produções das crianças? Sendo tal espaço de uso coletivo, não deveria ser produções das crianças? Sendo tal espaço de uso coletivo, não deveria ser
produções das crianças? Sendo tal espaço de uso coletivo, não deveria ser
um local que expressasse essa condição? Penso que a es
um local que expressasse essa condição? Penso que a esum local que expressasse essa condição? Penso que a es
um local que expressasse essa condição? Penso que a estética do local
tética do local tética do local
tética do local
poderia ser pensada e projetada juntamente com as crianças, tornando
poderia ser pensada e projetada juntamente com as crianças, tornandopoderia ser pensada e projetada juntamente com as crianças, tornando
poderia ser pensada e projetada juntamente com as crianças, tornando-
--
-se
se se
se
um lugar agradável, acolhedor, bonito e sensível, em que as crianças,
um lugar agradável, acolhedor, bonito e sensível, em que as crianças, um lugar agradável, acolhedor, bonito e sensível, em que as crianças,
um lugar agradável, acolhedor, bonito e sensível, em que as crianças,
profissionais, familiares e visitantes conseguissem visualizar e
profissionais, familiares e visitantes conseguissem visualizar e profissionais, familiares e visitantes conseguissem visualizar e
profissionais, familiares e visitantes conseguissem visualizar e
identificar que as produções das
identificar que as produções das identificar que as produções das
identificar que as produções das crianças são valorizadas e reconhecidas.
crianças são valorizadas e reconhecidas. crianças são valorizadas e reconhecidas.
crianças são valorizadas e reconhecidas.
[...] (Registro do Diário de Campo
[...] (Registro do Diário de Campo [...] (Registro do Diário de Campo
[...] (Registro do Diário de Campo –
– 19/04/2007)
19/04/2007) 19/04/2007)
19/04/2007)
Uma questão importante a ser apontada é que nos dias em que estive
presente no CEI, praticamente não encontrei as produções das crianças,
mas painéis prontos feitos com emborrachado, alguns grandes e bem
coloridos, outros pequenos e delicados que preenchiam os espaços
disponíveis nas paredes. Esses painéis sempre fixados numa altura não
disponível para o acesso das crianças, possuem junto às imagens alguns
dizeres do tipo: “Crianças, adoramos estar com vocês!”, Meu anjo da
guarda meu bom amiguinho, guiai-me sempre para o bom caminho”, Mãe
é a palavra primeira que se aprende ao balbuciar! Mãe, nossa amiga
verdadeira! Doce rainha do lar!”.
200
Abaixo, alguns trechos da entrevista que foi realizada com a secretária da
instituição (em 07/08/2007), ela foi apontada pelas professoras como autora
dos principais painéis/decorações
61
que estão fixados no refeitório.
Pesquisadora: Esses painéis/decorações que estão no refeitóri
Pesquisadora: Esses painéis/decorações que estão no refeitóriPesquisadora: Esses painéis/decorações que estão no refeitóri
Pesquisadora: Esses painéis/decorações que estão no refeitório, os
o, os o, os
o, os
painéis/decorações expostos... Quem os produziu? Também gostaria que
painéis/decorações expostos... Quem os produziu? Também gostaria que painéis/decorações expostos... Quem os produziu? Também gostaria que
painéis/decorações expostos... Quem os produziu? Também gostaria que
você comentasse um pouco sobre eles. Qual a intenção em relação a eles,
você comentasse um pouco sobre eles. Qual a intenção em relação a eles, vocomentasse um pouco sobre eles. Qual a intenção em relação a eles,
você comentasse um pouco sobre eles. Qual a intenção em relação a eles,
o que representam no espaço do refeitório e para a instituição?
o que representam no espaço do refeitório e para a instituição?o que representam no espaço do refeitório e para a instituição?
o que representam no espaço do refeitório e para a instituição?
Secretária: [...] Eu que fiz.
Secretária: [...] Eu que fiz. Secretária: [...] Eu que fiz.
Secretária: [...] Eu que fiz. Esses painéis
Esses painéis Esses painéis
Esses painéis maiores são de segunda mão...
maiores são de segunda mão... maiores são de segunda mão...
maiores são de segunda mão...
É que aqui quase não temos materiais. Eu trouxe de uma outra escola
É que aqui quase não temos materiais. Eu trouxe de uma outra escola É que aqui quase não temos materiais. Eu trouxe de uma outra escola
É que aqui quase não temos materiais. Eu trouxe de uma outra escola
em que trabalhei. Os painéis menores, nós, professoras, fazemos
em que trabalhei. Os painéis menores, nós, professoras, fazemos em que trabalhei. Os painéis menores, nós, professoras, fazemos
em que trabalhei. Os painéis menores, nós, professoras, fazemos
quando tem alguma data comemorativa. [...] Acho que sem painéis,
quando tem alguma data comemorativa. [...] Acho que sem painéis, quando tem alguma data comemorativa. [...] Acho que sem painéis,
quando tem alguma data comemorativa. [...] Acho que sem painéis,
sem decorações a creche fica
sem decorações a creche fica sem decorações a creche fica
sem decorações a creche fica feia, sem cor, sem vida... Então damos
feia, sem cor, sem vida... Então damos feia, sem cor, sem vida... Então damos
feia, sem cor, sem vida... Então damos
vida, colocamos cor. Sabe aquele ambiente morto que não diz nada? Era
vida, colocamos cor. Sabe aquele ambiente morto que não diz nada? Era vida, colocamos cor. Sabe aquele ambiente morto que não diz nada? Era
vida, colocamos cor. Sabe aquele ambiente morto que não diz nada? Era
assim antes de eu colocá
assim antes de eu colocáassim antes de eu colocá
assim antes de eu colocá-
--
-los onde estão agora. Quando eles não estavam
los onde estão agora. Quando eles não estavam los onde estão agora. Quando eles não estavam
los onde estão agora. Quando eles não estavam
ali o ambiente era triste, agora está mais alegre. Eu fico contente porque
ali o ambiente era triste, agora está mais alegre. Eu fico contente porque ali o ambiente era triste, agora está mais alegre. Eu fico contente porque
ali o ambiente era triste, agora está mais alegre. Eu fico contente porque
e
ee
eles ainda estão lá, que ao mesmo tempo sei que estão marcados,
les ainda estão lá, que ao mesmo tempo sei que estão marcados, les ainda estão lá, que ao mesmo tempo sei que estão marcados,
les ainda estão lá, que ao mesmo tempo sei que estão marcados,
estão no mesmo lugar muito tempo, deveriam ser substituídos por
estão no mesmo lugar muito tempo, deveriam ser substituídos por estão no mesmo lugar muito tempo, deveriam ser substituídos por
estão no mesmo lugar muito tempo, deveriam ser substituídos por
outros. O sentido seria estar mudando... A gente até tem muitas idéias,
outros. O sentido seria estar mudando... A gente até tem muitas idéias, outros. O sentido seria estar mudando... A gente até tem muitas idéias,
outros. O sentido seria estar mudando... A gente até tem muitas idéias,
mas por falta de materiais elas não são concreti
mas por falta de materiais elas não são concretimas por falta de materiais elas não são concreti
mas por falta de materiais elas não são concretizadas.
zadas. zadas.
zadas.
Pesquisadora: Há quanto tempo eles estão ali?
Pesquisadora: Há quanto tempo eles estão ali?Pesquisadora: Há quanto tempo eles estão ali?
Pesquisadora: Há quanto tempo eles estão ali?
Secretária: Ah! faz muito tempo, acho que desde novembro de 2005
Secretária: Ah! faz muito tempo, acho que desde novembro de 2005 Secretária: Ah! faz muito tempo, acho que desde novembro de 2005
Secretária: Ah! faz muito tempo, acho que desde novembro de 2005
[...] O ideal seria mudar, mas como te falei, o temos materiais, da
[...] O ideal seria mudar, mas como te falei, o temos materiais, da [...] O ideal seria mudar, mas como te falei, não temos materiais, daí a
[...] O ideal seria mudar, mas como te falei, o temos materiais, da
gente fica desestimulada. [...] O ideal seria que nosso ref
gente fica desestimulada. [...] O ideal seria que nosso refgente fica desestimulada. [...] O ideal seria que nosso ref
gente fica desestimulada. [...] O ideal seria que nosso refeitório fosse
eitório fosse eitório fosse
eitório fosse
mais colorido, com painéis próprios para crianças, com personagens dos
mais colorido, com painéis próprios para crianças, com personagens dos mais colorido, com painéis próprios para crianças, com personagens dos
mais colorido, com painéis próprios para crianças, com personagens dos
filmes de desenhos animados da TV. Também acho que as crianças têm
filmes de desenhos animados da TV. Também acho que as crianças têm filmes de desenhos animados da TV. Também acho que as crianças têm
filmes de desenhos animados da TV. Também acho que as crianças têm
que estar em tudo, tem que participar e estar em tudo. [...]
que estar em tudo, tem que participar e estar em tudo. [...]que estar em tudo, tem que participar e estar em tudo. [...]
que estar em tudo, tem que participar e estar em tudo. [...]
Diante do que foi dito, interpreto que na visão da profissional acima, os
painéis/decorações presentes na unidade tem a função de preencher o
espaço vazio das paredes com imagens definidas como infantis,
61
Refiro-me às decorações/painéis dispostos em locais de maior espaço, destaque e de
maior circulação de sujeitos, portanto no meu entender estratégicos para sua exposição.
São os painéis que se destacam em relação aos outros, o pelo seu tamanho, mas
principalmente pelas mensagens verbo-visuais que insuflam.
201
relacionadas a uma produção midiática e comercial que atravessam os
limites da própria instituição. Apesar da menção comunicativa que a
profissional assinala sobre as decorações/painéis, relacionando-os às idéias
de alegria, cor e vida, identificadas como características da infância, não
uma reflexão sobre aquilo que está sendo exposto. Desse modo, a
intenção proclamada em relação à confecção e disposição dos mesmos
encontra-se atrelada a uma visão de infância e criança
veiculadas/reforçadas pelas mídias, geralmente isentas de uma leitura crítica
e sensível. também uma contradição, quando afirma que as crianças
têm que estar em tudo, porque as imagens confeccionadas e
disponibilizadas pelos adultos no espaço do refeitório reforçam justamente o
contrário. De que naquele local não espaço para a produção das
crianças, mais para crianças, um para baseado na visão de criança
consumidora e passiva de cultura.
A profissional aponta ainda a falta de materiais como empecilho para a
confecção e substituição dos painéis/decorações que estão depositadas no
refeitório. O fato de não terem materiais/recursos, realmente é um fator
limitador. Não desmerecendo essa condição, mas atrelada a ela, trata-se
também de uma questão de formação e concepção de estética que es
em jogo. Diante das afirmações aqui esboçadas, seria suficiente
disponibilizar tais materiais sem uma formação estética consistente?
Acredito que disponibilizar materiais sem uma formação estética consistente
pouco iria influir nesse espaço, no modo de compreender a infância, a
criança e a estética. Para tanto, é premente uma formação que integre o
sensível e o inteligível, uma formação por inteiro, em que sensibilidade,
beleza, e consciência crítica não sejam tratadas como oposições, mas
integrem e acompanhem esses sujeitos para todos os lugares, não em seu
espaço de atuação profissional, mas também para a vida pessoal. Assim
sendo, por melhor que sejam os materiais isso não será suficiente para que os
202
professores compreendam e promovam uma educação consistente.
(ALBANO MOREIRA, 2007).
A disposição dos painéis, sua localização, tamanho, cores e formas, suas
mensagens verbo-visuais, bem como a autoria e intenção de quem os
produziu não podem ser reduzidos a uma suposta subjetividade particular,
individual, e/ou pessoal de quem os confeccionou. Pois compreendo que a
subjetividade seja constituída na relação com o outro, seja de base social
a consciência é essencialmente plural. Ou ainda nas palavras de Bakhtin:
A única definição objetiva possível da consciência é de ordem
socioideológica. A consciência não pode derivar diretamente
da natureza [...] A consciência adquire forma existência nos
signos criados por um grupo organizado no curso das relações
sociais”.
(BAKHTIN, 2006 p. 36-37)
As imagens que povoam as paredes da creche, de algum modo, contam
sobre aqueles que nesse espaço convivem, seja na disposição dos
mobiliários, desgastados pelo tempo, com suas cores beges e frias,
amontoadas, por vezes, em salas estreitas que limitam a ação de crianças e
professores, ou na constante luta por parte de algumas profissionais de
supostamente tornar esse espaço mais “infantil”, colorido e vistoso, fazendo
com que as paredes e portas da instituição sejam deposirias de painéis e
mensagens quase que permanentes. Digo quase que permanentes, porque,
muitos deles, já estão há pelo menos dois anos fixadas no mesmo local,
fazendo com que sua sutil permanência dê a impressão de serem como que
pintados nas paredes.
Para Cunha (2007), os cenários das instituições de Educação Infantil
fornecem elementos reguladores para as ações dos sujeitos que no espaço
estão inseridos, formando e conformando modos de ver, ser, ler, elaborar,
pensar, imaginar e criar. A autora denomina essas imagens/decorações
como Pedagogia da Visualidade, que para além de decorar ou
203
supostamente representar imagens idealizadas de infância e criança,
convertem-se em ações pedagógicas quase sempre isentas de uma postura
crítica/consciente em relação ao que está sendo veiculado.
Um exemplo da questão mencionada acima são os painéis/decorações
fixados nas portas das salas do CEI pesquisado, uma prática bastante
comum em outros espaços de educação infantil. Essas imagens fixadas nas
portas das salas geralmente confeccionadas pelos adultos, além de se
juntarem aos outros painéis/decorações da instituição, contribuem não
apenas para disseminar uma imagem hedônica de criança e infância, mas
também demarcam a estereotipia
62
.
Um pouco além das entradas e saídas dos sujeitos...
Um pouco além das entradas e saídas dos sujeitos...Um pouco além das entradas e saídas dos sujeitos...
Um pouco além das entradas e saídas dos sujeitos...
A estética das Portas das
A estética das Portas das A estética das Portas das
A estética das Portas das
salas...
salas...salas...
salas...
Berçário
Berçário Berçário
Berçário Maternal I
Maternal I Maternal I
Maternal I
62
Segundo Roland Barthes (in: “O Prazer do Texto”) apud Vianna s/d: “O estereótipo é a
[imagem]* repetida, fora de toda a magia, de todo entusiasmo: como se fosse natural,
como se por milagre, essa [imagem] que retorna fosse a cada vez, adequada por razões
diferentes, como se imitar pudesse deixar de ser sentido como uma imitação. Imagem sem
cerimônia que prende a consistência e ignora sua própria insistência”.
204
Maternal II
Maternal II Maternal II
Maternal II
Jardim I
Jardim IJardim I
Jardim I
Jardim II
Jardim IIJardim II
Jardim II
As Portas das Salas
As Portas das SalasAs Portas das Salas
As Portas das Salas
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
205
Compreendo os painéis/decorações do espaço da instituição investigada
como mensagens verbo-visuais, que circulam determinados discursos,
suscitando padrões ideais do que as crianças devem ou não sentir, gostar,
brincar, imaginar, achar belo ou feio, bom ou ruim. Penso que não podemos
ignorar que dentro do tempo&espaço do CEI, ocorrem várias formas de
interação. Logo as formas de interação não ocorrem apenas verbalmente e
intencionalmente pela relação professor-criança(s) e/ou criança-criança.
Pois, tal como Cunha (2007), considero a estética do espaço como mais um
mediador, que nem sempre tem sua organização verbo-visual pensada
como constituinte formativo das subjetividades dos que nesse espaço
convivem.
Assim sendo, acredito que esses profissionais os quais esteticamente
organizam e disponibilizam nas paredes da creche imagens de personagens
de desenhos animados adquiridos em casas de festas ou confeccionados
sem a participação e planejamento conjunto com as crianças, na verdade
se utilizam de referenciais sociais, modelos que, na maioria das vezes, são
incorporados, naturalizados, sem que sejam postos em questão.
Histórias do Sol e da Terra
Histórias do Sol e da TerraHistórias do Sol e da Terra
Histórias do Sol e da Terra...
......
...
206
Crianças reunidas para escutarem a história da “Centopéia Dorotéia”
Crianças reunidas para escutarem a história da “Centopéia Dorotéia” Crianças reunidas para escutarem a história da “Centopéia Dorotéia”
Crianças reunidas para escutarem a história da “Centopéia Dorotéia” -
--
-
Fotos de Pricilla
Fotos de Pricilla Fotos de Pricilla
Fotos de Pricilla
Cristine Trierweiller
Cristine TrierweillerCristine Trierweiller
Cristine Trierweiller
[...] É um dia de sol forte, as crianças estão sentadas em uma calçada,
[...] É um dia de sol forte, as crianças estão sentadas em uma calçada, [...] É um dia de sol forte, as crianças estão sentadas em uma calçada,
[...] É um dia de sol forte, as crianças estão sentadas em uma calçada,
próxima do
próxima dopróxima do
próxima do parque. A professora Júlia
parque. A professora Júlia parque. A professora Júlia
parque. A professora Júlia conta a história da
conta a história da conta a história da
conta a história da Centopéia
CentopéiaCentopéia
Centopéia
Dorotéia
DorotéiaDorotéia
Dorotéia” para um grupo de crianças entre 4 e 5 anos de idade. que
para um grupo de crianças entre 4 e 5 anos de idade. que para um grupo de crianças entre 4 e 5 anos de idade. que
para um grupo de crianças entre 4 e 5 anos de idade. que
as crianças estão de frente para o sol e não conseguem visualizar as
as crianças estão de frente para o sol e não conseguem visualizar as as crianças estão de frente para o sol e não conseguem visualizar as
as crianças estão de frente para o sol e não conseguem visualizar as
gravuras que ela vai mostrando enquanto conta a história.
gravuras que ela vai mostrando enquanto conta a história. gravuras que ela vai mostrando enquanto conta a história.
gravuras que ela vai mostrando enquanto conta a história. Ao fundo,
Ao fundo, Ao fundo,
Ao fundo,
escuta
escutaescuta
escuta-
--
-se o som de uma música que sai de uma sala próxima ao local:
se o som de uma música que sai de uma sala próxima ao local: se o som de uma música que sai de uma sala próxima ao local:
se o som de uma música que sai de uma sala próxima ao local:
...Ai bota aqui, ai bota aqui o teu pezinho... O teu pezinho bem juntinho
...Ai bota aqui, ai bota aqui o teu pezinho... O teu pezinho bem juntinho ...Ai bota aqui, ai bota aqui o teu pezinho... O teu pezinho bem juntinho
...Ai bota aqui, ai bota aqui o teu pezinho... O teu pezinho bem juntinho
ao meu... E depois não vai dizer que teu par se arrependeu...
ao meu... E depois não vai dizer que teu par se arrependeu...ao meu... E depois não vai dizer que teu par se arrependeu...
ao meu... E depois não vai dizer que teu par se arrependeu...
A professora está sentada em uma pequen
A professora está sentada em uma pequenA professora está sentada em uma pequen
A professora está sentada em uma pequena cadeira, posicionada contra
a cadeira, posicionada contra a cadeira, posicionada contra
a cadeira, posicionada contra
o sol, enquanto conta a história vai indagando as crianças sobre cenas
o sol, enquanto conta a história vai indagando as crianças sobre cenas o sol, enquanto conta a história vai indagando as crianças sobre cenas
o sol, enquanto conta a história vai indagando as crianças sobre cenas
e significados de algumas palavras.
e significados de algumas palavras. e significados de algumas palavras.
e significados de algumas palavras.
As crianças incomodadas com o sol que lhes dificulta a visão não se
As crianças incomodadas com o sol que lhes dificulta a visão não se As crianças incomodadas com o sol que lhes dificulta a visão não se
As crianças incomodadas com o sol que lhes dificulta a visão não se
concentram na história. E com a ponta dos dedos,
concentram na história. E com a ponta dos dedos, concentram na história. E com a ponta dos dedos,
concentram na história. E com a ponta dos dedos, desenham na terra,
desenham na terra, desenham na terra,
desenham na terra,
fazendo estradas motanhas, afundam os pés na areia fofa, e com a
fazendo estradas motanhas, afundam os pés na areia fofa, e com a fazendo estradas motanhas, afundam os pés na areia fofa, e com a
fazendo estradas motanhas, afundam os pés na areia fofa, e com a
outra mão cobrem os olhos, protegendo
outra mão cobrem os olhos, protegendooutra mão cobrem os olhos, protegendo
outra mão cobrem os olhos, protegendo-
--
-se do sol.
se do sol. se do sol.
se do sol.
Diante da situação exposta, emerge em meu pensamento que a história
Diante da situação exposta, emerge em meu pensamento que a história Diante da situação exposta, emerge em meu pensamento que a história
Diante da situação exposta, emerge em meu pensamento que a história
que está sendo contado é bem diversa daquela que a pr
que está sendo contado é bem diversa daquela que a prque está sendo contado é bem diversa daquela que a pr
que está sendo contado é bem diversa daquela que a professora conta.
ofessora conta. ofessora conta.
ofessora conta.
207
trata
tratatrata
trata-
--
-se de uma outra história, uma história contada pelas crianças,
se de uma outra história, uma história contada pelas crianças, se de uma outra história, uma história contada pelas crianças,
se de uma outra história, uma história contada pelas crianças,
pelo ambiente, pela estética, pela não sensibilidade em relação ao sol e o
pelo ambiente, pela estética, pela não sensibilidade em relação ao sol e o pelo ambiente, pela estética, pela não sensibilidade em relação ao sol e o
pelo ambiente, pela estética, pela não sensibilidade em relação ao sol e o
desejo das crianças por brincar e mexer na terra. (Registro escrito
desejo das crianças por brincar e mexer na terra. (Registro escrito desejo das crianças por brincar e mexer na terra. (Registro escrito
desejo das crianças por brincar e mexer na terra. (Registro escrito
29/05/2007)
29/05/2007) 29/05/2007)
29/05/2007)
De mão em m
De mão em mDe mão em m
De mão em mão... Um litrão!
ão... Um litrão!ão... Um litrão!
ão... Um litrão!
208
Crianças no parque
Crianças no parque Crianças no parque
Crianças no parque
– brincando com litrão
brincando com litrão brincando com litrão
brincando com litrão -
--
- Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
[...] Estou no parque com um grupo de crianças entre três e quatro anos
[...] Estou no parque com um grupo de crianças entre três e quatro anos [...] Estou no parque com um grupo de crianças entre três e quatro anos
[...] Estou no parque com um grupo de crianças entre três e quatro anos
de idade e as professoras do grupo, percebo que aqui as crianças
de idade e as professoras do grupo, percebo que aqui as crianças de idade e as professoras do grupo, percebo que aqui as crianças
de idade e as professoras do grupo, percebo que aqui as crianças
pratic
praticpratic
praticamente não tem nada com que brincar. A única coisa que avisto
amente não tem nada com que brincar. A única coisa que avisto amente não tem nada com que brincar. A única coisa que avisto
amente não tem nada com que brincar. A única coisa que avisto
são dois escorregadores fortemente disputados pelas crianças. A estética
são dois escorregadores fortemente disputados pelas crianças. A estética são dois escorregadores fortemente disputados pelas crianças. A estética
são dois escorregadores fortemente disputados pelas crianças. A estética
desse local me incomoda bastante, não porque não vejo nada sendo
desse local me incomoda bastante, não porque não vejo nada sendo desse local me incomoda bastante, não porque não vejo nada sendo
desse local me incomoda bastante, não porque não vejo nada sendo
proposto às crianças, mas principalmente pelo fato d
proposto às crianças, mas principalmente pelo fato dproposto às crianças, mas principalmente pelo fato d
proposto às crianças, mas principalmente pelo fato de não encontrar
e não encontrar e não encontrar
e não encontrar
nenhum brinquedo, nem sequer sucatas...
nenhum brinquedo, nem sequer sucatas...nenhum brinquedo, nem sequer sucatas...
nenhum brinquedo, nem sequer sucatas...
Mas observo que uma das crianças encontrou um litrão peti e com um
Mas observo que uma das crianças encontrou um litrão peti e com um Mas observo que uma das crianças encontrou um litrão peti e com um
Mas observo que uma das crianças encontrou um litrão peti e com um
leve sorriso nos lábios enchia
leve sorriso nos lábios enchialeve sorriso nos lábios enchia
leve sorriso nos lábios enchia-
--
-o com areia. Após preenchê
o com areia. Após preenchêo com areia. Após preenchê
o com areia. Após preenchê-
--
-lo, vai aos
lo, vai aos lo, vai aos
lo, vai aos
poucos esvaziando e fazendo montinhos de areia. Depois de vazi
poucos esvaziando e fazendo montinhos de areia. Depois de vazipoucos esvaziando e fazendo montinhos de areia. Depois de vazi
poucos esvaziando e fazendo montinhos de areia. Depois de vazio,
o, o,
o,
preenche o litrão novamente com areia e passa a andar pelo parque
preenche o litrão novamente com areia e passa a andar pelo parque preenche o litrão novamente com areia e passa a andar pelo parque
preenche o litrão novamente com areia e passa a andar pelo parque
fazendo movimentos com o corpo e brincando com a sobra do litrão.
fazendo movimentos com o corpo e brincando com a sobra do litrão.fazendo movimentos com o corpo e brincando com a sobra do litrão.
fazendo movimentos com o corpo e brincando com a sobra do litrão.
Outra criança observa seu colega, aproxima
Outra criança observa seu colega, aproximaOutra criança observa seu colega, aproxima
Outra criança observa seu colega, aproxima-
--
-se e pede o objeto, mas o
se e pede o objeto, mas o se e pede o objeto, mas o
se e pede o objeto, mas o
menino oferece a ele um pequeno pedaço de papel qu
menino oferece a ele um pequeno pedaço de papel qumenino oferece a ele um pequeno pedaço de papel qu
menino oferece a ele um pequeno pedaço de papel que ele havia
e ele havia e ele havia
e ele havia
utilizando como tampa do litrão, o que fez com que os dois entrassem
utilizando como tampa do litrão, o que fez com que os dois entrassem utilizando como tampa do litrão, o que fez com que os dois entrassem
utilizando como tampa do litrão, o que fez com que os dois entrassem
em conflito.
em conflito. em conflito.
em conflito.
A Professora Ana Júlia vendo a situação diz: _ Acho bom vocês dois
A Professora Ana Júlia vendo a situação diz: _ Acho bom vocês dois A Professora Ana Júlia vendo a situação diz: _ Acho bom vocês dois
A Professora Ana Júlia vendo a situação diz: _ Acho bom vocês dois
pararem, porque senão vou tirar o litrão, daí não têm mais briga!
pararem, porque senão vou tirar o litrão, daí não têm mais briga!pararem, porque senão vou tirar o litrão, daí não têm mais briga!
pararem, porque senão vou tirar o litrão, daí não têm mais briga!
209
Depois de um tempo, parec
Depois de um tempo, parecDepois de um tempo, parec
Depois de um tempo, parece que as crianças esqueceram a disputa e
e que as crianças esqueceram a disputa e e que as crianças esqueceram a disputa e
e que as crianças esqueceram a disputa e
brincam com outras crianças. O litrão que antes era objeto de desejo
brincam com outras crianças. O litrão que antes era objeto de desejo brincam com outras crianças. O litrão que antes era objeto de desejo
brincam com outras crianças. O litrão que antes era objeto de desejo
agora passa de mão em mão. [...] (Registo Diário de campo
agora passa de mão em mão. [...] (Registo Diário de campo agora passa de mão em mão. [...] (Registo Diário de campo
agora passa de mão em mão. [...] (Registo Diário de campo
11/06/2007)
11/06/2007)11/06/2007)
11/06/2007)
A Grande Tela
A Grande TelaA Grande Tela
A Grande Tela
210
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine TrierweillerFotos de Pricilla Cristine Trierweiller
Fotos de Pricilla Cristine Trierweiller
211
[...]
[...] [...]
[...] U
UU
Uma criança desenha no chão... concentrada, solitária... com as
ma criança desenha no chão... concentrada, solitária... com as ma criança desenha no chão... concentrada, solitária... com as
ma criança desenha no chão... concentrada, solitária... com as
pontas dos dedos na areia seu pensamento vagueia...
pontas dos dedos na areia seu pensamento vagueia...pontas dos dedos na areia seu pensamento vagueia...
pontas dos dedos na areia seu pensamento vagueia...
Um lugar que esteticamente era sem vida, sem brinquedos, sem
Um lugar que esteticamente era sem vida, sem brinquedos, sem Um lugar que esteticamente era sem vida, sem brinquedos, sem
Um lugar que esteticamente era sem vida, sem brinquedos, sem
brincadeiras, sem cantigas, sem expressões artísticas... de repente se
brincadeiras, sem cantigas, sem expressões artísticas... de repente se brincadeiras, sem cantigas, sem expressões artísticas... de repente se
brincadeiras, sem cantigas, sem expressões artísticas... de repente se
transfo
transfotransfo
transforma...
rma... rma...
rma...
Com uma pitada de imaginação e criação, o chão se transforma numa
Com uma pitada de imaginação e criação, o chão se transforma numa Com uma pitada de imaginação e criação, o chão se transforma numa
Com uma pitada de imaginação e criação, o chão se transforma numa
grande tela... Carros, estrelas, bolas, bonecos, casinhas... E o que ela
grande tela... Carros, estrelas, bolas, bonecos, casinhas... E o que ela grande tela... Carros, estrelas, bolas, bonecos, casinhas... E o que ela
grande tela... Carros, estrelas, bolas, bonecos, casinhas... E o que ela
ensina? Que as expressões artístico
ensina? Que as expressões artísticoensina? Que as expressões artístico
ensina? Que as expressões artístico-
--
-culturais estão em todos os lugares;
culturais estão em todos os lugares; culturais estão em todos os lugares;
culturais estão em todos os lugares;
que devemos deter nossa atenção pa
que devemos deter nossa atenção paque devemos deter nossa atenção pa
que devemos deter nossa atenção para o que às crianças produzem nas
ra o que às crianças produzem nas ra o que às crianças produzem nas
ra o que às crianças produzem nas
grandes telas dos parques e tios dos CEI’s; que as linguagens
grandes telas dos parques e tios dos CEI’s; que as linguagens grandes telas dos parques e pátios dos CEI’s; que as linguagens
grandes telas dos parques e tios dos CEI’s; que as linguagens
artísticas também se constituem fora dos espaços das ‘salas de aula’.
artísticas também se constituem fora dos espaços das ‘salas de aula’. artísticas também se constituem fora dos espaços das ‘salas de aula’.
artísticas também se constituem fora dos espaços das ‘salas de aula’.
[...] (Registro Diário de Campo
[...] (Registro Diário de Campo [...] (Registro Diário de Campo
[...] (Registro Diário de Campo –
– 06/06/2007)
06/06/2007) 06/06/2007)
06/06/2007)
Como enunciado, as crianças normalmente me deram mostras de que,
mesmo quando não lhes é proposto algo, quando não lhes é oferecido
brinquedos, elas subvertem a ordem, encontram alternativas. Habitam, dão
cor e vida, pela imaginação e criatividade, movimentando e modificando a
estética desse espaço.
Desse modo, tanto a arquitetônica desse espaço como em sua maioria os
discursos proferidos comunicam, de certo modo, um modelo de beleza, de
estética adultocêntrica. Em que os painéis/decorações das ambiências e as
‘atividades’ realizadas são de pouco valor. Sendo que é justamente o
professor quem realiza a maior parte dos trabalhos, ou um acabamento
final aos que são produzidos com a participação das crianças, como que
indicando às crianças o que fazer, o como fazer e o como deve ficar.
Segundo Bakhtin (2003), durante a criação, se faz uso dos elementos da vida,
esses que são atravessados por valores sociais, que insuflam em um outro
plano, o da materialização da obra. Assim sendo, o ato estético não é
neutro, não é condição natural dos sujeitos, todavia é criado ‘na’ e ‘pelas’
relações que são estabelecidas socialmente. Falar em estético é pensar
212
nesse complexo caldo axiológico que se verte nas relações. Logo, embora
perfeição e beleza também estejam contidas nas expressões artísticas, não
podemos naturalizar essa condição a uma forma superficial de
compreensão.
Hoyuelos (2006), Ostetto e Leite (2004) afirmam que o plano estético se move
entre o belo e o feio, o bom e o mal, a certeza e a dúvida, trabalha com as
polaridades. Trata-se de um território em que as verdades não são tão óbvias
e tão pouco neutras.
Os materiais disponibilizados, a estrutura sica, as condições de trabalho, a
formação dos profissionais, o ter ou não uma proposta coletiva de trabalho,
tudo isso influi e é legível no ambiente em que convivêm essas crianças e
profissionais. A forma como são dispostas e adornadas paredes, portas,
janelas, pisos, mesas, dizem/comunicam e dão sustentação a uma
pedagogia. Dizem também dos sujeitos que fazem essa decoração, dos seus
repertórios e concepções. Para tanto, resulta necessário pensar esse
ambiente com uma postura consciente, como um local que precisa ser
habitado e planejado contando com a participação de todos que nele
convivem. No dizer de Hoyuelos (2006, p.77): Esta habitabilidad cultural que
alberga a niños y adultos, les proporciona los necesarios sentimientos de
seguridad y de pertenencia para sentirse acogidos por la instituición”. Assim
sendo, não basta ter um espaço, mas é fundamental pensar sobre como
esse espaço é/ou não planejado/potencializado.
213
A ausência da constituição de uma proposta de formação continuada no
CEI
Em relação à participação em cursos de formação continuada que
discutissem e/ou abordassem acerca das linguagens artísticas, as professoras
responderam para além dessa questão. Apontaram que são praticamente
interditadas de participarem de qualquer tipo de cursos de formação. Sendo
que a instituição praticamente não oferece/oportuniza cursos de formação
que contemplem as linguagens artísticas, como também qualquer outra
forma de linguagem.
Ao serem questionadas quanto a participarem de algum curso que discutisse
sobre as linguagens artísticas, nove dentre as professoras revelaram em seus
discursos que freqüentaram no início do ano, um ou dois encontros de um
curso oferecido pela prefeitura. Tais encontros eram realizados uma vez por
mês, em período integral. Era um curso o qual estava dando continuidade a
um projeto de formação oportunizado pela Secretaria Municipal da
Educação de Santo Amaro da Imperatriz. As professoras ressaltam que os
motivos da interdição pela entidade é atribuído ao fato de as crianças não
poderem ficar sem atendimento.
“Nós começamos durante este ano a fazer um curso na Municipal,
“Nós começamos durante este ano a fazer um curso na Municipal, Nós começamos durante este ano a fazer um curso na Municipal,
“Nós começamos durante este ano a fazer um curso na Municipal,
inclusive era um curso muito bom, [...] er
inclusive era um curso muito bom, [...] erinclusive era um curso muito bom, [...] er
inclusive era um curso muito bom, [...] era direcionado para a música,
a direcionado para a música, a direcionado para a música,
a direcionado para a música,
para a arte. que a presidente cortou, porque era o dia inteiro, e a
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para a arte. que a presidente cortou, porque era o dia inteiro, e a
creche o poderia fechar o dia inteiro, daí ela não deixou a gente fazer
creche o poderia fechar o dia inteiro, daí ela não deixou a gente fazer creche não poderia fechar o dia inteiro, daí ela não deixou a gente fazer
creche o poderia fechar o dia inteiro, daí ela não deixou a gente fazer
mais. Então a gente começou, mas não concluímos esse curso. Nós
mais. Então a gente começou, mas não concluímos esse curso. Nós mais. Então a gente começou, mas não concluímos esse curso. Nós
mais. Então a gente começou, mas não concluímos esse curso. Nós
tentamos até fazer
tentamos até fazertentamos até fazer
tentamos até fazer um movimento no sentido de continuar a participar
um movimento no sentido de continuar a participar um movimento no sentido de continuar a participar
um movimento no sentido de continuar a participar
desse curso, mas é assim:
desse curso, mas é assim: desse curso, mas é assim:
desse curso, mas é assim: ‘Uma andorinha sozinha não faz verão!’
‘Uma andorinha sozinha não faz verão!’ ‘Uma andorinha sozinha não faz verão!’
‘Uma andorinha sozinha não faz verão!’
é
é é
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que aqui a coisa é assim, todo mundo fala, chega na hora, todo mundo
que aqui a coisa é assim, todo mundo fala, chega na hora, todo mundo que aqui a coisa é assim, todo mundo fala, chega na hora, todo mundo
que aqui a coisa é assim, todo mundo fala, chega na hora, todo mundo
tira o corpo fora e você acaba sozinho no barco. Então é uma coisa.
tira o corpo fora e você acaba sozinho no barco. Então é uma coisa.tira o corpo fora e você acaba sozinho no barco. Então é uma coisa.
tira o corpo fora e você acaba sozinho no barco. Então é uma coisa... a
.. a .. a
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gente até conversou com a secretária, reunimos todas as professoras,
gente até conversou com a secretária, reunimos todas as professoras, gente até conversou com a secretária, reunimos todas as professoras,
gente até conversou com a secretária, reunimos todas as professoras,
ficamos indignadas, porque o curso é um direito nosso, mas a
ficamos indignadas, porque o curso é um direito nosso, mas a ficamos indignadas, porque o curso é um direito nosso, mas a
ficamos indignadas, porque o curso é um direito nosso, mas a
secretária também ficou de mãos atadas, ela disse que esse era um
secretária também ficou de mãos atadas, ela disse que esse era um secretária também ficou de mãos atadas, ela disse que esse era um
secretária também ficou de mãos atadas, ela disse que esse era um
assunto que nós teríamos que falar com a presidente. Ma
assunto que nós teríamos que falar com a presidente. Maassunto que nós teríamos que falar com a presidente. Ma
assunto que nós teríamos que falar com a presidente. Mas a presidente
s a presidente s a presidente
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214
deixou bem claro que fechar a creche o dia inteiro, não iria fechar e esse
deixou bem claro que fechar a creche o dia inteiro, não iria fechar e esse deixou bem claro que fechar a creche o dia inteiro, o iria fechar e esse
deixou bem claro que fechar a creche o dia inteiro, não iria fechar e esse
curso é o dia inteiro. Então a gente não concluiu, chegou
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curso é o dia inteiro. Então a gente não concluiu, chegou-
--
-se a ir a
se a ir a se a ir a
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dois encontros. Quando nós estávamos esperando ansiosas para
dois encontros. Quando nós estávamos esperando ansiosas para dois encontros. Quando nós estávamos esperando ansiosas para
dois encontros. Quando nós estávamos esperando ansiosas para
participar do encontro que seria s
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participar do encontro que seria sobre artes plásticas fomos proibidas”
obre artes plásticas fomos proibidas” obre artes plásticas fomos proibidas”
obre artes plásticas fomos proibidas”
(Ana Júlia
(Ana Júlia (Ana Júlia
(Ana Júlia
– Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006) Entrevista realizada em: 01/11/2006)
Entrevista realizada em: 01/11/2006)
“Só participo quando a prefeitura fornece, porque o CEI não
“Só participo quando a prefeitura fornece, porque o CEI não participo quando a prefeitura fornece, porque o CEI não
“Só participo quando a prefeitura fornece, porque o CEI não
disponibiliza. A prefeitura forneceu um curso no início do ano, mas
disponibiliza. A prefeitura forneceu um curso no início do ano, mas disponibiliza. A prefeitura forneceu um curso no início do ano, mas
disponibiliza. A prefeitura forneceu um curso no início do ano, mas
como a presidente não deixou mais a gen
como a presidente não deixou mais a gencomo a presidente não deixou mais a gen
como a presidente não deixou mais a gente freqüentar para não fechar a
te freqüentar para não fechar a te freqüentar para não fechar a
te freqüentar para não fechar a
creche uma vez por mês, tivemos que desistir. Eu trabalho na Prefeitura
creche uma vez por mês, tivemos que desistir. Eu trabalho na Prefeitura creche uma vez por mês, tivemos que desistir. Eu trabalho na Prefeitura
creche uma vez por mês, tivemos que desistir. Eu trabalho na Prefeitura
como professora pela manhã, então fica bem ruim, quando tem curso
como professora pela manhã, então fica bem ruim, quando tem curso como professora pela manhã, então fica bem ruim, quando tem curso
como professora pela manhã, então fica bem ruim, quando tem curso
posso ir um período, depois à tarde tenho que vir trabalhar. Perco
posso ir um período, depois à tarde tenho que vir trabalhar. Perco posso ir um período, depois à tarde tenho que vir trabalhar. Perco
posso ir um período, depois à tarde tenho que vir trabalhar. Perco
muita coisa boa
muita coisa boa muita coisa boa
muita coisa boa e isso é muito chato”(Joana
e isso é muito chato”(Joana e isso é muito chato”(Joana
e isso é muito chato”(Joana
Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em: Entrevista realizada em:
Entrevista realizada em:
12/12/2006)
12/12/2006)12/12/2006)
12/12/2006)
Onze das doze professoras limitaram-se a dizer que não freqüentam nenhum
grupo de estudo. A problemática da falta de formação continuada, da
participação em cursos específicos que discutam sobre a arte, formação e
infância, também emergiu no discurso de nove professoras. Elas reclamam
seu direito ao aperfeiçoamento e à busca por uma formação de um olhar
mais artístico, menos rotineiro - viciado. Almejam a valorização, a busca de
um planejamento coletivo, seu direito de pensar em relação ao trabalho
que desenvolvem - desejam uma formação consististe e consciente.
“[...] estão faltando ainda muitas coisas, entre elas materiais didáticos
“[...] estão faltando ainda muitas coisas, entre elas materiais didáticos “[...] estão faltando ainda muitas coisas, entre elas materiais didáticos
“[...] estão faltando ainda muitas coisas, entre elas materiais didáticos
para trabalharmos com as crianças, transporte para
para trabalharmos com as crianças, transporte parapara trabalharmos com as crianças, transporte para
para trabalharmos com as crianças, transporte para realizarmos
realizarmos realizarmos
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passeios, sermos liberadas para participarmos de cursos... é ainda falta
passeios, sermos liberadas para participarmos de cursos... é ainda falta passeios, sermos liberadas para participarmos de cursos... é ainda falta
passeios, sermos liberadas para participarmos de cursos... é ainda falta
muita coisa!” Bianca
muita coisa!” Bianca muita coisa!” Bianca
muita coisa!” Bianca –
– Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006. Entrevista realizada em: 20/12/2006.
Entrevista realizada em: 20/12/2006.
“Se tivéssemos mais cursos, sinto que poderíamos ir mais longe... fazer
“Se tivéssemos mais cursos, sinto que poderíamos ir mais longe... fazer “Se tivéssemos mais cursos, sinto que poderíamos ir mais longe... fazer
“Se tivéssemos mais cursos, sinto que poderíamos ir mais longe... fazer
um trabalho bem melhor. Eu tenho cons
um trabalho bem melhor. Eu tenho consum trabalho bem melhor. Eu tenho cons
um trabalho bem melhor. Eu tenho consciência do quanto falta para
ciência do quanto falta para ciência do quanto falta para
ciência do quanto falta para
que possamos dizer:
que possamos dizer: que possamos dizer:
que possamos dizer: Esse é um bom trabalho!”
Esse é um bom trabalho!”Esse é um bom trabalho!”
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Júlia Júlia
Júlia
Entrevista
Entrevista Entrevista
Entrevista
realizada em:01/11/2006.
realizada em:01/11/2006.realizada em:01/11/2006.
realizada em:01/11/2006.
215
“[...] nunca está perfeito, acredito que estão faltando mais cursos, para
“[...] nunca está perfeito, acredito que estão faltando mais cursos, para “[...] nunca está perfeito, acredito que estão faltando mais cursos, para
“[...] nunca está perfeito, acredito que estão faltando mais cursos, para
dar suporte para gente estar trabalhando com as crianças” Cláu
dar suporte para gente estar trabalhando com as crianças” Cláudar suporte para gente estar trabalhando com as crianças” Cláu
dar suporte para gente estar trabalhando com as crianças” Cláudia
dia dia
dia
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006.Entrevista realizada em: 01/11/2006.
Entrevista realizada em: 01/11/2006.
“[...] Acho que tenho
“[...] Acho que tenho“[...] Acho que tenho
“[...] Acho que tenho pouca formação artística
pouca formação artística pouca formação artística
pouca formação artística. Penso que m
. Penso que m. Penso que m
. Penso que meu trabalho
eu trabalho eu trabalho
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poderia ser melhor se tivesse formação. Eu não faço cursos, não aprendo
poderia ser melhor se tivesse formação. Eu não faço cursos, não aprendo poderia ser melhor se tivesse formação. Eu não faço cursos, não aprendo
poderia ser melhor se tivesse formação. Eu não faço cursos, não aprendo
coisas novas, fico sempre na mesma, no pouquinho do que aprendi.
coisas novas, fico sempre na mesma, no pouquinho do que aprendi. coisas novas, fico sempre na mesma, no pouquinho do que aprendi.
coisas novas, fico sempre na mesma, no pouquinho do que aprendi.
Para melhorar penso
Para melhorar pensoPara melhorar penso
Para melhorar penso que
que que
que todas nós deveríamos participar de mais
todas nós deveríamos participar de mais todas nós deveríamos participar de mais
todas nós deveríamos participar de mais
cursos. Para que possamos aprender coisas novas, lidar com coisas
cursos. Para que possamos aprender coisas novas, lidar com coisas cursos. Para que possamos aprender coisas novas, lidar com coisas
cursos. Para que possamos aprender coisas novas, lidar com coisas
novas, ensinar coisas novas (...)” Ana Maria
novas, ensinar coisas novas (...)” Ana Maria novas, ensinar coisas novas (...)” Ana Maria
novas, ensinar coisas novas (...)” Ana Maria
entrevista realizada em:
entrevista realizada em: entrevista realizada em:
entrevista realizada em:
01/11/2006.
01/11/2006.01/11/2006.
01/11/2006.
Creio que essas falas despertam em nós a possibilidade de pensarmos
criticamente em relação ao espaço de atuação dessas profissionais e as
condições da não possibilidade de formação continuada. Desse modo,
penso tal como Leite (2001), ou seja, que a formação das professoras
deveria contemplar outros aspectos que não apenas aqueles de aplicação
imediata, é necessária uma formação permanente, uma formação que
contemple ‘o todo’ que se nutre da arte, da cultura e da ciência. A alusão
ao profissional da educação como cidadão do mundo e que tem o direito
de conhecer outras coisas para além do aspecto técnico-instrumental.
O fato de não participarem de cursos de formação e de não terem a
oportunidade de discutir coletivamente seu trabalho acaba direcionando-as
a práticas fragmentadas e dicotômicas, em que, por vezes, a dimensão
privilegiada é a cognitiva em detrimento da artística. Como vemos no
discurso de uma das professoras os materiais (folhas) são poucos na
instituição, o que faz com que acabe reservando-os para a realização de
"atividades" de escrita das letras, dos números etc. e que por esse motivo
não pode fazer muitas "atividades artísticas", assim lutamos com adversários
os mais básicos possíveis.
Projetar uma proposta de formação artístico-cultural dos professores da
educação infantil, não é descartar que a ‘qualificação’ desse profissional
216
também perpassa pela garantia da melhoria salarial, de reais condições
materiais de existência. Isto é, como exigir do professor que freqüente
eventos culturais, como ir ao cinema, se falta dinheiro para o básico?
Obviamente a questão é crucial, mas nem por isso devemos entendê-la
como definitiva. Portanto não basta apenas defender uma formação
artístico-cultural aos professores da educação infantil. Isso seria equivalente a
dizermos que bastaria criar espaços culturais e oportunizar a freqüentação a
esses espaços. Pensar uma formação consistente a esse profissional, é
garantir-lhe uma valorização profissional, aqui entendida também pela
questão salarial. Entretanto sabemos que a questão financeira, apesar de ser
um indicativo relevante, nem sempre é o único determinante para a não
ampliação dos repertórios artístico-culturais dos professores.
(...) É preciso pensar estratégias tanto de formação continuada
para as educadoras de crianças pequenas, quanto de
formação inicial das alunas dos cursos de magistério e de
pedagogia pré-escolar, que ao levar em consideração as
pessoas que são, suas histórias de vida, seu contexto
sociocultural possibilita a recuperação do lúdico e da
capacidade artística. (CERISARA, 2002, p.123)
De tal modo, é imprescindível que às professoras-pessoas não lhes sejam
negadas a oportunidade de ampliação de seus referenciais artístico-
culturais. Como pode um professor que não cria, não vive em plenitude a
forma-beleza, que não aprecia, que não estranha, que não conhece e/ou
crítica os mais diversos elementos da criação humano, oportunizar e/ou
conhecer as produções das crianças com as quais convive no espaço
coletivo da educação infantil? Essa deve ser a indagação-eixo para se
pensar uma proposta de formação dos professores da infância.
217
CONSIDERAÇÕES “FINAIS”:
CONSIDERAÇÕES “FINAIS”:CONSIDERAÇÕES “FINAIS”:
CONSIDERAÇÕES “FINAIS”:
Em Busca d
Em Busca dEm Busca d
Em Busca da Inteireza: Conflitos Entre O Aquém E O Além...
a Inteireza: Conflitos Entre O Aquém E O Além...a Inteireza: Conflitos Entre O Aquém E O Além...
a Inteireza: Conflitos Entre O Aquém E O Além...
CRISÁLIDA
Deixe-me sair!
Trazes-me abafado, oprimido.
Deixe-me sair.
Romper o casulo em que me prendes,
Abraçar a luz que não me acendes.
Deixe-me sair.
Percorrer todas as páginas
Que hoje adivinho serem o meu destino.
Não uma meta, mas um caminho.
Descer um rio por capítulos e
No fim dessas viagens ter achado
O meu destino, não na foz,
Mas ao longo das margens.
Deixe-me sair!
Já não sou d’aqui.
Deixe-me por fim sair de ti, sair de mim.
(autor desconhecido)
Esta dissertação, ao buscar nas memórias das professoras-pessoas os sentidos
em relação a sua formação artístico-cultural, percorreu e elegeu um
caminho, assumiu uma forma-texto que não coincide inteiramente ao que
foi vivido durante o processo de pesquisa. Aqui me reporto aos escritos
bakhtinianos, na idéia de que a descrição do evento o coincide com o
seu devir, ou seja, o texto pesquisado impresso não se equipara a inteireza
da realidade estudada em seu conjunto, mas se define por uma
objetivação, um recorte interpretativo passível de outras interpretações.
A pesquisa foi desenvolvida em uma instituição filantrópica de Educação
Infantil. Sendo que tomei como base os relatos das profissionais e a estética
do espaço-ambiente do Centro de Educação Infantil CEI, cruzando essas
informações com outros textos e contextos. O caminho trilhado permitiu a
compreensão da necessidade de não me restringir aos discursos das
218
professoras, fazendo com que considerasse a estética do espaço-ambiente
do CEI como um dos elementos dialógicos, que combinados aos discursos
contribuíram para as significações em relação à formação artístico-cultural
dessas profissionais.
Na construção desse percurso não olvidei meu itinerário estético, tanto na
constituição em relação à temática, como nas escolhas realizadas durante
o processo da pesquisa. Foram enunciados estéticos revisitados pela
memória e compreendidos por meio da sensibilização e das lentes da teoria.
Ao não omitir meus repertórios, minhas experiências artístico-culturais, situei-
me como pesquisadora-professora-aprendiz, questão que advogo
estritamente necessária principalmente quando dialogamos sobre
formação/constituição de sujeitos, trajetórias.
Uma Pedagogia da Infância, especificamente no âmbito da Educação
Infantil, não pode descartar a formação artístico-cultural dos professores que
atuam com essa faixa-etária. No sentido de considerar todos os momentos
vindouros de constituição dos sujeitos no plano do sensível e no plano do
inteligível. Isto é, não podemos hiperbolizar a apreensão do mundo ao
plano do sensível ou do inteligível que isso pode acarretar a não
compreensão/consideração da totalidade dos atos. O professor poderá
provocar/dialogar/propor as crianças dentro das possibilidades e dos limites
que percorreu. Logo não basta o teórico-instrumental, devemos advogar
também a necessidade de vivências em espaços de cultura, como direito
de vivenciar e constituir experiência.
Uma formação por ‘inteiro’ baseia-se no propósito de levar a todos,
independente da profissão ou posição ocupada na sociedade, o direito e
garantia de acesso às diferentes manifestações da arte, da ciência e da
tecnologia. A formação artístico-cultural dos professores da Educação
Infantil, não pode ser considerada como questão privado-biográfica, mas
como resultante de um dado processo histórico, produzido nas relações que
são tecidas por sujeitos que se lançam ao encontro do mundo, produzindo e
219
sendo produzidos nessa relação. A pesquisa também apontou que não se
pode limitar a palavra formação aos considerados espaços instituídos (cursos
de formação dos professores magistério e/ou pedagogia, e cursos de
formação continuada). Pois considerando uma trajetória mais ampla é
que abarcaremos de forma mais intensa e inteira os significados e sentidos
atribuídos à arte.
Na dissertação considerei que, se por um lado se faz necessário uma
formação artístico-cultural ao professor da infância, por outro igualmente
não podemos responsabilizá-lo inteiramente por ela. Como que delegando
a este profissional mais uma responsabilidade a sua própria formação e, ou,
ainda, que se esteja levantando a bandeira da tão criticada polivalência.
Devemos considerar o contexto e as determinações materiais que vivem
e/ou possuem esse profissional. Isso reforça a significação da não
compreensão da formação como questão privado-biográfica (BAKHTIN,
2003). O que não significa omitir o papel de responsabilidade dos professores
diante de suas escolhas, mas de advogar que as escolhas não são naturais e
sim constituídas.
Defender uma formação artístico-cultural aos professores da infância não é
propor uma educação através da arte, tão pouco afirmar que sejam
suficientes apenas experiências estético-artísco-criticas para aqueles
profissionais que irão atuar e/ou atuam no espaço da Educação infantil.
Defender uma formação artístico-cultural ao professor é no dizer de Ostetto
e Leite (2004) uma necessidade de formação de sujeitos, de platéia; de
acrescentar-se à formação do professor a inteireza do ser, abrindo caminho
para romper com a fôrma do cotidiano pessoal e profissional.
Os divórcios entre corpo e mente; razão e emoção, ciência e arte etc.; é
fruto do projeto hegemônico da Modernidade, que reitera a idéia de uma
razão decifradora e de uma realidade pré-determinada. Desse modo, com
a cisão entre o fazer e o pensar sobre, passou-se a modelar e disciplinar o
espírito pela hegemonia de uma concepção de razão que descarta a
220
dimensão do sensível na constituição/formação do ser. O que contribui para
a concretização de uma proposta de educação que hierarquiza as
disciplinas e modela o desempenho racional dos sujeitos no espaço sociais
em que convivem. É necessário advogar que precisamos pensar/viver as
relações sociais indissociavelmente no mundo, bem como compreender a
necessidade de intersecção de todos os momentos vindouros do nosso ser.
Além disso, ter um olhar estético o é ajustar-se ao mundo, tal como ele se
apresenta, mas buscar sentidos e significados para o modo como o
compomos, sistematizamo-lo, qualificamo-lo. Os modos como constituímos
nosso olhar sobre o mundo, nós mesmos e os outros se constituem dentro de
referenciais culturais, sociais e imagéticos. Portanto, não são neutros, mas
constituídos socialmente nas relações entre os sujeitos, os quais são
historicamente datados.
Ao optar pela arquitetônica bakhtiniana como metodologia de estudo e
referencial teórico, foi possível a aproximação com os sujeitos pesquisados,
ouvir suas vozes, compreender seus discursos para além do que proferiram. O
contexto pesquisado foi tratado como uma arena na qual estiveram em
questão: concepções, posturas, diálogos, limitações... Essa forma de pensar
procurou não culpabilizar os sujeitos, mas também não omitir sua
responsibilidade diante das múltiplas facetas da realidade social a que estão
inseridos (a consideração de que sempre respondemos a nós mesmos e aos
outros).
Ao adentrar nos repertórios artístico-culturais das professoras conectei-me
com trajetórias, tempos e lugares (não) visitados, movimentos (não)
realizados, experiências marcadas pela constituição de significados e
sentidos vivenciados ao longo da vida. Das canções, livros, danças, pinturas,
desenhos, teatros... Memórias que constituíram o acervo da experiência.
Pensar os repertórios de casa, da escola e da atuação profissional das
professoras, no escopo de sua integridade nos forneceu um compêndio de
vivências que outrora muitas delas julgavam esquecidas, perdidas no tempo
221
e no espaço, mas que deixaram marcas indeléveis em sua
formação/constituição. Os discursos verbo-visuais narrados e dispostos na
arquitetônica do espaço, revelam a imagem de um corpo e olhar
embotados. Igualmente marcado por um conjunto de vivências atrofiadas
nos desenhos, nos movimentos, nas representações, nas criações...
As restrições e/ou limitações da experiência estética dos professores os
impedem de projetar o futuro para além do vivido. Os impelem e/ou os
condicionam a contentar-se com pouco, a o olhar ao seu entorno, a não
perceber o mundo estético-criticamente. A não reconhecer e/ou produzir
belezas, mas apenas reproduzir os discursos monológicos instituídos. Emerge
uma existência fenomenológica das relações, que basta a si mesma em
cada episódio, de modo a tornar cada vez mais simples e cômoda as
relações. A conseqüência dessa postura são a fragmentação e
naturalização das relações, das paisagens, das pessoas, da formação e do
mundo.
Tanto a formação dos professores da infância, como de qualquer outra
modalidade de ensino além de deverem se pautar na inteireza e na
continuidade, devem considerar o professor-pessoa em sua inteireza. que
sua identidade profissional está imbricada a pessoal. São partes da mesma
coisa. o partes do ser-professor-pessoa que carrega consigo para
qualquer lugar que o , suas crenças, valores e projeções. Logo, é
imperativo considerar nos espaços formativos essas questões como partes a
serem dialogadas/consideradas.
No mergulho das experiências narradas e rememoradas emergiram
trajetórias que revelam os mais diversos sentidos em relação a arte,
entretanto, o que destaco é o fato de praticamente não apontarem em
seus discursos a importância da arte para a vida. As professoras pesquisadas
em sua maioria delegam a arte um suposto papel de tornar a aprendizagem
mais agradável e menos árdua, tanto em suas trajetórias pessoais como em
seus discursos sobre a atuação profissional. Nesse sentido, a arte emerge
222
como que subordinada a outros ‘assuntos/atividades” concebidas como de
maior importância.
Esta pesquisa poderá se tornar relevante na medida em que oportunizar
maior visibilidade quanto à importância de se considerar as linguagens
artísticas nos espaços formativos e culturais, desvelando a aparente
naturalização em relação à dominação cultural imposta pela sociedade
vigente, bem como à necessidade de acesso e freqüêntação a espaços
críticos de cultura.
223
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232
APÊNDICES
APÊNDICESAPÊNDICES
APÊNDICES
233
Apêndice A - Roteiro para entrevista com os professores
Idade:
Formação:
Instituição pública ou privada? Período? Dias da semana?
Carga horária de trabalho;
Tempo que trabalha na educação infantil;
Você tem alguma experiência formativa ligada a arte (desenhista,
pintora, escultora, musicista, cantora, artesã, etc)?
Você considera importante que o professor da educação infantil
tenha alguma dessas experiências? Por quê?
O que você e sua família costumam fazer aos fins de semana?
Qual a estação de rádio mais ouvida pela família?
Qual seu estilo musical (sertanejo, pagode, samba, reggae, axé, MPB,
música clássica...)?
Quais os Cds que predominam?
Você tem o habito de freqüentar espaços de cultura (museu, teatro,
galerias, exposições, apresentações musicais...)? Sim ou não e por
quê?
Quais os programas de TV que você e sua família costumam assistir?
Você gosta de ler? Quando e qual foi o último livro que leu? Qual o
que mais gostou? E qual o último que adquiriu?
Quantos livros aproximadamente você tem em casa? (citar a no
máximo cinco)
Você costuma freqüentar a biblioteca municipal Maria do Carmo
Bozzano Dernner? por quê? (outras...)
Quantas pessoas moram em sua casa, qual a renda mensal da
família?
Em sua trajetória escolar quais foram as suas experiências com a arte?
Durante a graduação e/ou ensino médio, ocorreram discussões sobre
a relevância da arte para a infância? Se ocorreram de quais recorda?
234
Quais os conteúdos relacionados à arte que foram trabalhados?
Durante o curso foram realizadas visitas a espaços de cultura (museu,
teatro, galerias, exposições, apresentações musicais...)? Se foram,
quais, quando e como foi?
Você participou de algum curso durante os dois últimos anos que
abordassem as linguagens artísticas (musical, teatral, visual e dança)
e/ou formação artístico-cultural do professor? Se participou, quando,
onde e como foi a experiência?
Participa de algum grupo de estudo? (se sim, quais as temáticas
discutidas, qual a freqüência dos encontros e o local dos encontros)
Em sua prática com as crianças, em que situações e como você utiliza
as linguagens artísticas?Com qual(is) objetivos?
Quais as músicas, filmes e livros disponibilizados para as crianças e
como entram dentro do planejamento/projeto?
Você trabalha com datas comemorativas? (se trabalha, de que
forma? se não, por quê?)
Você acredita que vem utilizando as linguagens artísticas com as
crianças de forma correta? Acredita que está faltando alguma coisa
para melhorar seu trabalho? Em que sentido poderia melhorar?
Em sua opinião qual a relevância de se trabalhar a arte na educação
infantil?
Com suas palavras, o que é arte?
235
Apêndice B - Roteiro para entrevista com Secretária e a
Presidente
Idade;
Formação;
Tempo de serviço;
Quando e como assumiu o cargo na instituição;
Possui alguma experiência formativa ligada à arte (desenho, pintura,
escultura, musica, canto, etc.);
Na trajetória escolar quais foram as experiências com a arte;
Qual o papel frente o CEI;
Os objetivos do CEI;
Perfil das crianças atendidas;
O papel das professoras que trabalham no CEI;
São realizadas reuniões com as professoras para
planejamento/estudo/organização do trabalho da instituição;
Sobre a origem dos recursos financeiros para o pagamento das
professoras e demais funcionários, compra de materiais e
alimentação?
Que materiais são adquiridos/comprados para a realização dos
trabalhos/projetos desenvolvidos com as crianças? Como e quando
ocorre essa distribuição?
Em sua opinião qual a imporncia da arte: na vida das crianças, das
professoras e na sua?
Com suas palavras defina o que é arte?
236
ANEXOS
ANEXOSANEXOS
ANEXOS
237
ANEXO I - Lista dos espaços de cultura do município
disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Santo Amaro da
Imperatriz
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo