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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
Maria Helena Ferreira de Faria
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO INCENTIVO
AO EMPREENDEDORISMO – O CASO DO
INSTITUTO NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES.
Dissertação submetida ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Produção como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Engenharia de Produção
Orientador: Prof. Carlos Eduardo Sanches da Silva, Dr.
Itajubá, março de 2008.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
Maria Helena Ferreira de Faria
FATORES CRÍTICOS DE SUCESSO NO INCENTIVO
AO EMPREENDEDORISMO – O CASO DO
INSTITUTO NACIONAL DE TELECOMUNICAÇÕES.
Dissertação aprovada por banca examinadora em 25 de março de 2008, conferindo
à autora o título de Mestre em Engenharia de Produção
Banca Examinadora:
Prof. Dr. Carlos Eduardo Sanches da Silva (Orientador)
Prof. Dr. Elzo Alves Aranha
Prof. Dr. Charbel José Chiappetta Jabbour
Itajubá, março de 2008.
Caminhar
sem destino
pra chegar.
E quem sabe
se o destino
seja sempre
caminhar.
(Diário LXXXIII, Gildes Bezzerra)
Este trabalho é dedicado a Anésio Ferreira
(in memoriam).
AGRADECIMENTOS
Ao orientador, Prof. Dr. Carlos Eduardo Sanches da Silva, pela confiança depositada desde o
início dos trabalhos.
À comunidade de Santa Rita do Sapucaí e ao Inatel pela atenção e carinho nas informações
prestadas. Meus agradecimentos à direção, funcionários, professores e alunos, sempre
acessíveis e dispostos a colaborar.
Ao programa da CAPES, que financiou o desenvolvimento deste trabalho através de bolsa de
estudos.
Aos professores do Mestrado em Engenharia de Produção e graduação em Administração de
Empresas da Universidade Federal de Itajubá.
Aos colegas e amigos de mestrado Márcia S. Bruni e Celso J. Castro pelo apoio desde o início
da caminhada.
Um agradecimento ao incentivo e revisões de texto de Ana Teresa A. Barbalho.
À Maria Auxiliadora Ferreira, Elvira Vieira Cortez, Maria de Lourdes Ferreira e Paulo César
Ferreira de Faria.
RESUMO
As Instituições de Ensino Superior (IES) atuar como ambiente favorável ao ensino do
empreendedorismo. Neste trabalho são identificados os doze Fatores Críticos de
Sucesso (FCS) no incentivo ao empreendedorismo no contexto de uma Instituição de
Ensino Superior, divididos em três grupos: Pessoais (ligados ao empreendedor),
Instituição de Ensino Superior e Instituições de apoio. Esses Fatores Críticos de Sucesso
são analisados no caso do Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL,
localizado em Santa Rita do Sapucaí (Minas Gerais) e investigados à luz da sua relação
com a criação de novas empresas de base tecnológica. Foi conduzido um estudo de caso
com 66 entrevistas estruturadas feitas com alunos, funcionários, professores, diretores e
membros da comunidade do INATEL. Conclui-se que para o caso estudado que o Fator
Crítico de Sucesso que se mostrou mais relevante foi a existência de um Núcleo de
Empreendedorismo na instituição.
Palavras-chave: Empreendedorismo; Educação Empreendedora; Instituições de Ensino
superior; Fatores Críticos de Sucesso.
ABSTRACT
The Higher Education Institution plays an important as an appropriate environment to teach
entrepreneurship. In this paper are identified the twelve Critical Success Factors (CSF) of
Entrepreneurship Education in a Higher Education Institution context, parted in three groups:
Personal, Higher Education Institution and Support Institutions. These Critical Success
Factors are analyzed in the case of the Instituto Nacional de Telecomunicações, INATEL,
placed at Santa Rita do Sapucaí (Minas Gerais) and investigated from it’s relationship with
the creation of a new technology based interprise. A case study was conducted with 66
interviews with students, employees, professors, directors and members of the of the
INATEL´s community. The conclusion is there are seven Critical Success Factors of the
Entrepreneurship Education relevant to the process, in special the entrepreneurship center.
Key-words: Entrepreneurship; Entrepreneurship Education; Higher Education´s Institution,
Critical Success Factors.
SUMÁRIO
1 - Capítulo 1 – Introdução-------------------------------------------------------------------------1
1.1 Contexto da Pesquisa ------------------------------------------------------------------------1
1.2 Justificativa------------------------------------------------------------------------------------6
1.3 Objetivo----------------------------------------------------------------------------------------7
1.4 Limitações-------------------------------------------------------------------------------------7
1.5 Estrutura do Trabalho------------------------------------------------------------------------7
2 - Capítulo 2 – Empreendedorismo --------------------------------------------------------------9
2.1 Abordagens do empreendedorismo ------------------------------------------------------ 10
2.1.1 A visão econômica ------------------------------------------------------------------------- 10
2.1.2 Empreendedor e a perspectiva econômica moderna ----------------------------------- 12
2.1.3 O aspecto comportamental e social ------------------------------------------------------ 13
2.2 Definições para empreendedorismo------------------------------------------------------ 17
2.3 O processo empreendedor----------------------------------------------------------------- 19
3 - Capítulo 3 – A educação empreendedora no ensino superior---------------------------- 25
3.1 Os Programas de Educação Empreendedora-------------------------------------------- 30
4 - Capítulo 4 – Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo -------- 35
4.1 Pessoais-------------------------------------------------------------------------------------- 37
4.2 Instituição de Ensino Superior------------------------------------------------------------ 41
4.3 Instituições de apoio ----------------------------------------------------------------------- 48
5 - Capítulo 5 – O caso do Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL--------- 52
5.1 Planejamento da Pesquisa e Coleta dos dados------------------------------------------ 52
5.2 Critérios para seleção do caso ------------------------------------------------------------ 52
5.3 Metodologia--------------------------------------------------------------------------------- 53
5.4 Contexto histórico-cultural do empreendedorismo em Santa Rita do Sapucaí. ---- 59
5.5.1 Sinhá Moreira e a fundação da ETE – Escola Técnica de Eletrônica Francisco
Moreira da Costa.------------------------------------------------------------------------------------ 61
5.5.2 Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL.--------------------------------- 63
6 - Capítulo 6 – Coleta, Disposição e Análise dos Dados ------------------------------------ 68
6.1 Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo -------------------- 71
6.1.1 Pessoais-------------------------------------------------------------------------------------- 72
6.1.2 Instituição de Ensino Superior------------------------------------------------------------ 78
6.1.3 Instituições de apoio ----------------------------------------------------------------------- 99
7 - Capítulo 7 – CONCLUSÕES ---------------------------------------------------------------102
7.1 Sugestão para trabalhos futuros ---------------------------------------------------------108
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------------------------109
ANEXO A----------------------------------------------------------------------------------------------118
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – O processo empreendedor no surgimento de um novo negócio -------------------- 21
Figura 2 – O Processo Empreendedor de Reynolds----------------------------------------------- 22
Figura 3 – Evolução de Programas de Educação Empreendedora------------------------------- 33
Figura 4 – Evolução de Programas de Educação Empreendedora no INATEL --------------- 69
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Autores e abordagens sobre empreendedorismo ------------------------------------ 16
Quadro 2 – Definições de Fatores Críticos de Sucesso------------------------------------------- 36
Quadro 3 – FCS e sua presença no caso estudado------------------------------------------------
103
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1 – Fatores Críticos de Sucesso de Educação Empreendedora-------------------------- 51
Tabela 2 – Protocolo de pesquisa para o estudo de caso------------------------------------------ 58
LISTA DE ABREVIATURAS
ANPROTEC – Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores.
APEX – Agência de Promoção de Exportações e Investimentos.
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
BNDE – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico.
EMBRATEL – Empresa Brasileira de Telecomunicações S/A.
ETE – Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa.
FCS – Fatores Críticos de Sucesso.
FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais.
FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
FETIN – Feira Tecnológica do INATEL.
FINATEL – Fundação Instituto Nacional de Telecomunicações.
FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos.
GEM – Global Entrepreneurship Monitor.
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano.
IES – Instituição de Ensino Superior.
INATEL – Instituto Nacional de Telecomunicações.
ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica.
NEMP – Núcleo de Empreendedorismo do INATEL.
PDE – Programa de Desenvolvimento de Empreendedorismo.
PEE – Programas de Educação Empreendedora.
PIB – Produto Interno Bruto.
SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresa.
SINDIVEL – Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale
da Eletrônica.
TEA – Total Entrepreneurial Activity ou Taxa Total de Atividade Empreendedora.
TELEBRÁS – Telecomunicações Brasileiras S/A.
UNIFEI – Universidade Federal de Itajubá.
1 - Capítulo 1 – Introdução
1.1 Contexto da Pesquisa
No cenário atual de mudanças nas relações de trabalho, o emprego tradicional é cada vez mais
escasso e a importância da pequena empresa cresce cada dia mais não só na geração de
riquezas para o país como também por ser fonte de emprego e mecanismo que viabiliza o
aumento da oferta de produtos para o consumidor e estimula a concorrência de preço e
qualidade (LONGEN, 1997).
O estudo do empreendedorismo pela Academia vem ganhando importância no Brasil e no
mundo, sobretudo com o destaque cada vez maior da pequena empresa tanto na geração de
empregos quanto na contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) das cidades, estados e
nações. Contribuem também o crescente papel do conhecimento na economia global, a
possibilidade de desenvolvimento pessoal, auto-realização e liberdade (PAIM, 2001) que o
empreendedorismo proporciona ao fornecer um amplo leque de opções ao aluno visando seu
aprimoramento e crescimento profissional. Ser dono do próprio negócio não é apenas uma
alternativa para a falta de trabalho formal, é também uma maneira de realizar sonhos através
do auto-emprego e mudança no estilo de vida.
Desde Adam Smith que alguns economistas explicam o desenvolvimento das nações como
resultado de três variáveis: mão-de-obra barata, matéria-prima abundante e capital disponível
para investimentos. Hoje se cogita a existência de pelo menos duas outras variáveis: a
tecnologia e o “empreendedorismo” (SOUZA NETO, 2003). É esse empreendedorismo que
congrega os diferentes elementos e os transforma em novos produtos e serviços gerando
riquezas para o país e emprego para a população.
Segundo o SEBRAE (2007), cerca de 30% das novas empresas no Brasil não sobrevivem por
mais de três anos e 40% das empresas abertas no Brasil fecham antes de completar quatro
anos. Uma das razões deste insucesso é a falta de capacidade de gestão dos proprietários
(GEM, 2006).
1
Clark et al. (1984) sugerem que o ensino de habilidades empreendedoras auxilia na criação de
novos negócios bem sucedidos e os estudiosos da educação empreendedora se dedicam a
investigar esses fatores de estímulo ao empreendedorismo. Porém, é importante também
considerar a necessidade de capacitar o empreendedor para ser administrador do seu negócio,
gerenciar a sua empresa e fazer com que ela sobreviva, sobretudo aos primeiros anos, que são
um dos períodos mais críticos da atividade empresarial. O desenvolvimento das habilidades
empreendedoras pode colocar os alunos em melhores condições para exercer suas atividades
profissionais, pois os capacita para analisar cientificamente o risco inerente aos projetos.
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2007) é o maior estudo independente do mundo
sobre a atividade empreendedora, cobrindo mais de 42 países consorciados, o que representa
95% do PIB e 2/3 da população mundial. O GEM é atualmente coordenado pela London
Business School (Inglaterra) e Babson College (Estados Unidos). A pesquisa de 2007 no
Brasil ouviu dois mil indivíduos de idade adulta, entre 18 e 64 anos, de todas as regiões do
país, selecionados por meio de amostra probabilística. O nível de confiança da pesquisa é de
95%, com erro amostral de 1,47%.
No Brasil, a taxa de empreendedores em estágio inicial - TEA (empreendedores que estão em
fase de implantação do negócio ou que já o mantêm por até 42 meses) cresceu de 11,6%, em
2006 para 12,72%, em 2007, o que equivale a 15 milhões de empreendimentos e 12,72% da
população adulta entre 18 a 64 anos de idade (118 milhões de brasileiros). Dessa forma, o
Brasil passou de 10º para o 9º lugar entre os países com o maior número de pessoas que
abrem negócios no mundo.
A pesquisa confirmou a vocação empreendedora do povo brasileiro, apresentando uma taxa
de atividade empreendedora de 12,7% ou seja, praticamente 13 em cada cem brasileiros
adultos estão envolvidos com alguma atividade empreendedora (GEM, 2007).
Entretanto, dos 7,5 milhões de brasileiros que empreendem, 41,6% o fazem por necessidade.
O fato de contarmos com um esforço produtivo tão elevado entre os indivíduos que se voltam
para a atividade empresarial pela sobrevivência pode ser uma das causas do baixo crescimento
qualitativo da economia brasileira, onde não acontecem as transformações no sentido
originalmente proferido por Schumpeter que visa a inovação e a ruptura com o existente. Ao
contrário, apenas 39% dos empreendedores agiram genuinamente motivados por uma
2
oportunidade e declararam empreender com o intuito de obter independência financeira ou
aumento da renda pessoal. A diferença entre os 56,8% de empreendedores por oportunidade
mencionados na pesquisa refere-se ao contingente de empreendedores que indicam razões de
busca pela oportunidade diferentes das citadas.
Empreender, porém, não é tarefa simples no Brasil. Empresas novas e em crescimento
enfrentam dificuldades para se inserir em novos mercados, não conseguem arcar com os
custos de entrada e ainda são passíveis de represálias por parte das empresas já atuantes no
mercado. Em parte, essas dificuldades estão relacionadas à insuficiência na oferta de recursos
financeiros para a abertura de novos negócios, incluindo aqui subsídios governamentais,
financiamentos privados, disponibilidade de capital de risco e financiamento proveniente do
lançamento de títulos públicos (GEM, 2006).
O empreendedor brasileiro tem uma representação social positiva. No período de 2003 a
2007, independente de faixa etária, escolaridade ou renda, 75% das pessoas entrevistadas
valorizam socialmente o empreendedor acreditando ser uma opção desejável de carreira,
atribuindo-lhe status e reconhecimento pela mídia (GEM, 2007).
É possível afirmar que hoje há um esforço governamental maior no sentido da disseminação
do empreendedorismo e de financiamento de novos negócios no Brasil. Nestes últimos vinte
anos, também houve o surgimento de diversos programas de desenvolvimento de
empreendedores (DORNELAS, 2001). O fenômeno empreendedor está muito ligado à
abertura ou expansão de uma nova empresa e áreas de conhecimento relacionadas à
tecnologia e, portanto, potenciais geradoras de inovação também são fortemente associadas ao
empreendedorismo (ANDRADE, 2003), desde os primeiros escritos de Schumpeter.
O setor industrial brasileiro gera 3,7 milhões de empregos (SEBRAE, 2006) e,
especificamente, o setor de alta tecnologia vem crescendo em importância e tamanho dentro
desse mercado. Nele estão abrigadas as pequenas empresas de base tecnológica que surgem a
partir de uma inovação (o que não acontece na maior parte dos novos negócios brasileiros,
onde a inovação não é regra e sim uma exceção), com produtos de alto valor agregado, com
possibilidades de serem aceitos no mercado internacional. Negócios inovadores são
relativamente raros no Brasil (GEM, 2002), mas esse setor está em expansão, apoiado em
desenvolvimento de tecnologia, sobretudo ligada a uma Instituição de Ensino Superior (IES) e
3
auxiliada por incubadoras tecnológicas que crescem em quantidade pelo país e são uma
alternativa para transferência de tecnologia gerada nas Instituições de Ensino Superior para o
mercado.
Assim, a promoção do empreendedorismo na comunidade pode servir como instrumento de
apoio ao desenvolvimento e consolidação de novas empresas e também constituir as bases
para o surgimento de novas empresas competitivas e inseridas no contexto da inovação
tecnológica.
Embora seja um tema antigo, o empreendedorismo é ainda pouco estudado no Brasil.
Enquanto nos Estados Unidos, por exemplo, a primeira aula de empreendedorismo aconteceu
em Harvard no ano de 1947 (KATZ, 2003), foi somente na década de 1980 que o
empreendedorismo foi introduzido como disciplina nas universidades brasileiras, sendo a
primeira disciplina oferecida pela Fundação Getúlio Vargas (EASP-SP) em 1981.
As pesquisas acadêmicas no Brasil sobre o tema começaram em 1990 e embora de maneira
ainda tímida, o número tem aumentado significantemente. De forma geral, é possível dizer
que os autores acadêmicos no Brasil tanto de mestrado como doutorado vêem o empreendedor
a partir da abordagem Schumpeteriana que associa o empreendedor à inovação, a uma nova
maneira de fazer as coisas.
Como exemplo, podemos citar a obra de Pinto (1991) que trata da necessidade de adequação
da educação a esse novo cenário da importância crescente da pequena empresa e dos parques
industriais de alta tecnologia e analisa o contexto do Pólo Tecnológico de Santa Rita do
Sapucaí (MG) e Torkomian (1996) que analisa a estruturação de Pólos Tecnológicos e o caso
da cidade de São Carlos (SP) e a importância da criação de novas empresas, sobretudo a partir
de tecnologia desenvolvida na universidade. Essas autoras, entretanto, ainda não utilizam o
termo “empreendedor” em seus trabalhos.
Longen (1997) pela Universidade Federal de Santa Catarina e Fowler (1997) pela
Universidade de São Paulo são pioneiros ao abordar o empreendedor no Brasil, numa época
de escassas publicações nacionais de qualquer natureza sobre o tema. Longen (1997) trata do
perfil empreendedor a partir da abordagem comportamental e Fowler (1997) investiga
Programas de Desenvolvimento de Empreendedorismo.
4
Pereira (2000) se dedica a investigar a importância da formação de empreendedores num
cenário de Parque Tecnológico e propõe um modelo de educação abordando todos os níveis,
da pré-escola à universidade. A autora é a primeira a abordar o tema empreendedorismo em
dissertações dessa Universidade Federal de Itajubá. Souza (2000) analisa educação,
desenvolvimento local e empreendedorismo a partir do Pólo Tecnológico de Santa Rita do
Sapucaí (MG). Santos (2000) investiga a aplicação do empreendedorismo no ensino
fundamental e Pereira (2001) analisa a formação do empreendedor, ambas pela Universidade
Federal de Santa Catarina. Paim (2001) trata da importância da cultura empreendedora e
investiga estratégias metodológicas para a formação de empreendedores num curso de
graduação. Destaque para a importância dada à universidade empreendedora para a formação
de alunos empreendedores. Guimarães (2002), em sua tese de doutoramento, investiga a
experiência universitária norte-americana na formação de empreendedores e analisa os casos
das universidades de Saint-Louis, Indiana e Babson. Andrade (2003) investiga a concepção
sobre empreendedorismo de alunos e docentes do Departamento de Engenharia de Produção
da Universidade Federal de São Carlos (SP). Souza Neto (2003) aborda o empreendedor
brasileiro na busca de uma compreensão para o tema a partir das características do povo
brasileiro numa tese que aborda o empreendedorismo por necessidade, batizando o
empreendedor brasileiro de “o virador”, aquele que se vira. Paiva Júnior (2004) aborda o
empreendedorismo sob o enfoque da fenomenologia sociológica de Alfred Schütz.
Esses, entre outros autores brasileiros, têm dedicado sua pesquisa acadêmica a investigar o
empreendedorismo. O presente trabalho pretende contribuir preenchendo a lacuna existente na
não investigação dos Fatores Críticos de Sucesso de estímulo ao empreendedorismo em
trabalhos acadêmicos anteriores.
O empreendedorismo é um tema amplo que necessita ainda de muitos estudos, sobretudo no
que diz respeito ao empreendedorismo brasileiro. Modelos internacionais disponíveis não
podem ser totalmente replicados para a realidade nacional porque não levam um conta um
aspecto determinante no empreendedorismo: a cultura local.
Dessa forma, esse estudo parte da análise do desenvolvimento econômico das nações e
geração de riquezas, empregos e progresso que pode ser propiciado pela ação empreendedora.
A Instituição de Ensino Superior, por seu papel na disseminação de conhecimentos, é então
5
percebida como ambiente propício para o ensino do empreendedorismo na forma de educação
empreendedora. Identificar e analisar a presença desses Fatores Críticos de Sucesso no
incentivo ao empreendedorismo pretende elucidar as práticas que podem favorecer o
desenvolvimento do empreendedorismo nos alunos e estimular iniciativas empreendedoras,
aqui medidas como abertura de empresas de base tecnológicas numa incubadora pertencente
ao ambiente universitário. Desdobra-se assim a pergunta de pesquisa: quais são os Fatores
Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo presentes no contexto de uma
Instituição de Ensino Superior que estimulam a criação de novas empresas de base
tecnológica?
1.2 Justificativa
O empreendedorismo é um tema recente que começou a ser pesquisado no Brasil a partir de
1980. Estudos atuais colocam o Brasil entre os dez países mais empreendedores do mundo,
onde 13% dos adultos estiveram envolvidos com alguma atividade empreendedora no ano de
2006 (GEM, 2007).
As pequenas e médias empresas vêm ganhando destaque no país na geração de renda, com
crescente contribuição no PIB e também aumento dos postos de trabalho ofertados. Os
estudantes de hoje precisam buscar outras possibilidades além do emprego tradicional em
grandes corporações e a abertura do próprio negócio pode ser uma opção de renda e auto-
realização. Porém, 40% das empresas brasileiras fecham antes de completar quatro anos
(SEBRAE, 2007).
Com o crescente papel do conhecimento na economia global, o empreendedorismo configura-
se como uma possibilidade de desenvolvimento pessoal, desenvolvimento do capital humano
e aumento do capital intelectual, além de oportunidade para crescimento profissional.
A Instituição de Ensino Superior pode contribuir no estímulo de atitudes empreendedoras nos
alunos que podem adotar o empreendedorismo como comportamento, independente da
carreira que seguirão (KRAAIJENBRINK et al., 2007), sendo funcionários ou donos do
próprio negócio. Porém, alunos que passam pelo ensino de empreendedorismo aprendem a
6
realizar um profundo estudo de viabilidade do seu futuro empreendimento e a diminuir os
riscos do seu projeto através da elaboração do Plano de Negócios (DOLABELA, 1999).
A identificação dos Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo pretende
auxiliar nas práticas que favoreçam o desenvolvimento do empreendedorismo nos alunos da
Instituição de Ensino Superior e colaborem no desenvolvimento de um ambiente propício
para a abertura de empresas de base tecnológicas numa incubadora pertencente ao ambiente
universitário.
1.3 Objetivo
Identificar e analisar na literatura os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao
empreendedorismo presentes no contexto de uma Instituição de Ensino Superior e sua
relação com a criação de novas empresas de base tecnológica, visando responder a seguinte
questão: quais são os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo
presentes no contexto de uma Instituição de Ensino Superior que estimulam a criação de
novas empresas de base tecnológica?
1.4 Limitações
Foi investigado o caso do Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL, localizado em
Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais. Por se tratar de um estudo de caso, as conclusões
apresentadas aqui são somente aplicáveis ao caso estudado e não são passíveis de
generalizações.
1.5 Estrutura do Trabalho
O capítulo primeiro trata da introdução do trabalho, contexto da pesquisa, objetivo,
justificativa, limitações e estrutura do trabalho. O segundo capítulo aborda o
empreendedorismo como fenômeno, discorrendo brevemente sobre a história, surgimento e
evolução da teoria empreendedora, desde os primeiros teóricos até as vertentes de pensamento
atuais.
7
A educação empreendedora é investigada e apresentada no terceiro capítulo, abrangendo o
surgimento, história, evolução e definições. São investigados os Programas de Educação
Empreendedora (ou Programas de Desenvolvimento de Empreendedorismo), sua estrutura,
diversas abordagens e formas de avaliação. O capítulo quatro apresenta os Fatores Críticos de
Sucesso no incentivo e estímulo ao empreendedorismo a partir da literatura específica
disponível.
O caso do Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL, é apresentado no quinto
capítulo. O capítulo sexto apresenta a coleta, análise e disposição dos dados relativos ao caso
escolhido, o INATEL. O capítulo sete apresenta as conclusões e considerações a respeito do
tema e do caso estudado nessa dissertação, bem como propostas para a continuidade desta
pesquisa.
8
2 - Capítulo 2 – Empreendedorismo
O termo empreendedor é um neologismo que está sendo incorporado à Língua Portuguesa e
vem sendo freqüentemente utilizado no Brasil, aceito tanto pela mídia leiga como pela
Academia. Empreendedor é uma derivação de empreender, termo surgido em Língua
Portuguesa no século XV e que tem origem no latim imprehendere (DAVID, 2004).
Ao analisarmos o fenômeno do empreendedorismo como algo ligado à inovação e
criatividade, é possível afirmar que certo “empreendedorismo humano” (Pereira, 2001)
sempre existiu através dos tempos e não permitiu à humanidade conformar-se com as
descobertas ou invenções já disponíveis. Foi esse desejo por soluções que facilitassem e
melhorassem as condições de vida que ajudou a impulsionar o desenvolvimento tecnológico e
fez surgir alternativas para problemas do dia-a-dia. O desenvolvimento de inovações
proporcionou desde uma melhora na conservação de alimentos, transporte, comunicação,
construção de casas, remédios e cirurgias até o aprimoramento de armas e equipamentos de
guerra, por exemplo. Tais descobertas científicas ajudaram a compor um cenário que resultou
em profundas transformações econômicas e sociais.
É possível afirmar que foi esse mesmo empreendedorismo que impulsionou grandes
realizações que ficaram como legados às gerações futuras. Um exemplo é a construção da
cúpula da Basílica de São Pedro por Michelangelo que teve início em 1546. De Masi (1999),
ao fazer considerações sobre o trabalho do artista, pondera que foi necessário mais do que sua
genialidade criativa para produzir essa obra de 150 metros de altura e que, aos 72 anos,
Michelangelo desenhou o projeto, convenceu o papa a financiá-lo e gerenciou ao todo 3500
pessoas por 20 anos para a realização do trabalho, morrendo antes da sua conclusão.
‘Empreendedorismo’ é um conceito amplo e a Academia tem falhado na busca por um
consenso sobre as definições e as existentes parecem refletir muito mais pontos de vista
isolados do que uma busca por padronização. Com o passar do tempo, o empreendedorismo
vem se tornando um termo onde se abrigam variadas pesquisas (SHANE &
VENKATARAMAN, 2000). Henry et al. (2005) apontam que um problema do estudo no
campo do empreendedorismo é o grande número de assuntos a serem explorados e disciplinas
9
a serem examinadas, que faz com que cada disciplina ou corrente de pensamento veja o
empreendedorismo a partir de sua própria perspectiva sem tentar se aproximar de outras.
O conceito exato de empreendedorismo tem se tornado um desafio com uma mescla de
discursos sobre a amplitude de comportamentos numa variedade de contextos e organizações
(WARREN, 2005). Porém, se os primeiros estudos sobre educação empreendedora
questionavam se era possível ou não ensinar empreendedorismo, estudos atuais procuram uma
forma de fazê-lo (GUIMARÃES, 2002), investigando temas como elaboração de conteúdos
programáticos, estabelecimento de novas metodologias de ensino e avaliação, criação de redes
de sustentação e apoio aos novos negócios e iniciativas empreendedoras no ambiente
acadêmico, por exemplo.
A Instituição de Ensino Superior pode desempenhar um importante papel estimulando
atitudes empreendedoras de maneira que o aluno possa adotar o empreendedorismo como
comportamento, independente da carreira que seguirá (KRAAIJENBRINK et al., 2007). O
objetivo dos cursos de empreendedorismo não é exclusivamente formar futuros empresários e
nem todos os alunos terão esse desejo. Porém, os alunos que se interessarem pela área
empresarial encontrarão apoio no processo de planejamento para abertura do próprio negócio,
sendo uma das principais vantagens o fato de aprenderem a diminuir os riscos do processo
através do estudo de viabilidade e elaboração do Plano de Negócios (DOLABELA, 1999).
Apesar do retorno financeiro e reconhecimento social que a carreira empreendedora pode
trazer, as dificuldades e obstáculos que o empreendedor irá enfrentar serão grandes. Petrakis e
Bourletidis (2005) chamam a atenção para o risco de se criar nos alunos uma falsa imagem de
que a atividade empreendedora só possui vantagens, é algo muito simples e fácil de obter
retorno financeiro.
2.1 Abordagens do empreendedorismo
2.1.1 A visão econômica
Na França do século XVIII, coube ao estudioso econômico Richard Cantillon utilizar, pela
primeira vez dentro da teoria econômica, o termo francês entreprendre (HÉBERT & LINK,
10
1988). Antes disso, entrepreneur (termo inglês derivado do verbo francês entreprendre) tinha
outro significado. De acordo com Peterson (1998), até o século XVIII entrepreneur estava
relacionada a expedições militares e significava “assumir empreitada que exigia esforço e
muito empenho”. Do mesmo vocábulo latino surgiu entrepreneurship, termo em inglês que
pode ser traduzido como: empreendedorismo ou empreendimento.
O primeiro a utilizar o termo empreendedor dentro da economia foi Richard Cantillon
(HÉBERT & LINK, 1988), no início do século XX. Cantillon foi um banqueiro cuja obra
revela um homem à procura de oportunidades de negócios.
De acordo com Hébert e Link (1988), foi Richard Cantillon quem, em 1775, definiu o
empreendedor como sendo “alguém que se engaja em trocas para obter lucros” e “julga
oportunidades de negócios na presença da incerteza”. Cantillon foi o primeiro a oferecer uma
visão clara sobre a função sócio-econômica do empreendedor e a assinalar que a ação de
empreender está envolvida pela incerteza, sobretudo quanto ao lucro. O empreendedor é
encarado basicamente como um detector de oportunidades, um sujeito que assume riscos
(FILION, 1999) e não necessariamente é o dono do capital investido.
O segundo autor a se aprofundar no estudo do empreendedor foi o economista francês Jean-
Baptiste Say, em 1840. Assim como Cantillon, considerava o empreendedor como uma
pessoa que “corria riscos”. O empreendedor é definido por Say como alguém que combina e
organiza os fatores para viabilizar a produção. Cabem a ele então as funções de
gerenciamento e organização de recursos. Say foi então o primeiro a associar o empreendedor
com a atividade de gestão (HEBERT & LINK, 1988). Say foi também o primeiro a definir as
fronteiras sobre o que é ser empreendedor, dentro do entendimento moderno do termo, e o
primeiro a delinear a diferença entre empreendedor e capitalista.
Fisiocratas como Quesnay, Mercier de La Rivière, Mirabeau, Condorcet, Turgot e outros
propuseram seu pensamento liberal para o desenvolvimento agrícola da sociedade. Say
utilizou-se dessas idéias e aplicou-as para ao empreendedor (FILION, 1998). Portanto, a visão
de Say sobre o empreendedor é repleta de contribuições de diversas visões correntes em sua
época.
11
Dentro do pioneirismo de Say já aparece um tema que ainda hoje é controverso dentro do
empreendedorismo. De acordo com Binks e Vale (1990), Say se preocupava que o grande
número de diferentes características exigidas para ser um empreendedor não fossem
esquecidas. Ainda hoje não há consenso entre os estudiosos sobre quais são as características
que definem um empreendedor. Say lançou suas idéias a respeito do tema, mas não disse
especificamente “quem” era o empreendedor (DRUCKER, 1998).
O empreendedor para Say é mais voltado aos negócios, sendo o responsável por, entre outras
coisas, reunir os fatores de produção, estabelecer o valor dos salários, o juro pago, aluguel e
lucros que lhe pertencem (CIELO, 2001). Hebert e Link (1988) afirmam que foi Say quem
tornou a atividade empreendedora sinônimo de gestão, embora nem todos os autores da área
compartilhem da mesma opinião.
Por serem os pioneiros, Richard Cantillon e Jean-Baptiste Say são considerados pensadores
clássicos dentro do tema empreendedorismo, fazendo com que suas idéias sejam ponto de
partida obrigatório no início do estudo. Cantillon e Say influenciaram toda a teoria sobre o
empreendedor que dispomos nos dias de hoje. Como Say foi o primeiro estabelecer os
alicerces desse campo de estudo, ele é descrito como o “pai do empreendedorismo” (FILION,
1988).
2.1.2 Empreendedor e a perspectiva econômica moderna
O economista austríaco Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) é um dos autores modernos de
maior expressão dentro da teoria do empreendedorismo. Foi Schumpeter quem redefiniu o
papel do empreendedor (que perdurava desde os teóricos clássicos da economia) e introduziu
a função de criar mudanças na alocação de recursos como própria do empreendedor.
A obra de Schumpeter (1982) foi publicada no início do século XX e hoje é referência para os
estudiosos desse tema. O autor destaca, principalmente, o papel do empreendedor como
“motor da atividade econômica” e sua função de romper com a ordem econômica pré-
estabelecida, sendo o primeiro a preocupar-se com o impacto do empreendedorismo no
desenvolvimento econômico e social das nações.
12
Schumpeter foi um dos primeiros a ressaltar o papel da inovação no processo empreendedor,
no que ele chamou de “destruição criativa”, onde estruturas de mercado eram destruídas por
meio da introdução de novos produtos e serviços.
"A essência do empreendedorismo encontra-se na percepção e exploração de novas
oportunidades no campo dos negócios”
(Schumpeter, 1982).
Desde Schumpeter, economistas e acadêmicos têm destacado a importância da iniciativa no
processo de empreender. Os requisitos essenciais de um empreendedor apontados por
Schumpeter são o julgamento, a perseverança, conhecimento sobre o mundo, sobre os
negócios e sobre administração. Schumpeter (1982) entendia o empreendedorismo mais como
um “evento” do que um estado permanente de ser para uma pessoa.
Com o intuito de resumir as principais tendências dentro do pensamento econômico a respeito
do empreendedorismo, Baumol (1993) propôs duas categorias de empreendedor: o
empreendedor organizador de negócios e o empreendedor inovador. Dessa forma, o autor
buscou abranger as diferenças e congruências a respeito do tema dentro do pensamento
econômico.
Dentro da categoria empreendedor organizador de negócios, encaixa-se o empreendedor
clássico descrito por Say como “aquele que combina e organiza os fatores para viabilizar a
produção” (HEBERT & LINK, 1988). Na categoria empreendedor inovador encaixa-se o
empreendedor descrito por Schumpeter (1982).
Uma crítica a abordagem Schumpeteriana é o mito do “herói” empreendedor, o self-made
man, aquele que se fez sozinho. Essa concepção romântica do “grande homem” está presente
na literatura de negócios e hoje é sabido que empreender não é vencer contra tudo e contra
todos e que o contexto e o ambiente exercem grande influência nesse processo.
2.1.3 O aspecto comportamental e social
A partir de 1960, começaram a surgir estudos e pesquisas relacionados às características e
habilidades específicas de comportamento na tentativa de definir um perfil e personalidade
para o empreendedor. Tais abordagens se baseavam na crença de que o eventual sucesso do
13
novo empreendimento dependia principalmente do comportamento do empreendedor. Essa
corrente de pensamento pode ser chamada de comportamental.
Guimarães (2002) afirma que o dilema em classificar e agrupar os teóricos do
empreendedorismo se dá pela superposição dos conceitos e a dificuldade em isolar as
interpretações como puramente de origem comportamental ou social. Essas divisões,
entretanto, cumprem um papel didático ao ajudarem a compor o cenário da investigação e
evolução da visão do empreendedorismo através da História.
O primeiro estudo sobre as características comportamentais dos empreendedores foi
conduzido por McClelland em 1961. Segundo Kilby (1971), os estudiosos dessa perspectiva
se dedicaram a identificar aspectos comportamentais do empreendedor, pois acreditavam que
a principal motivação para empreender fosse interna, psicológica e não fundamentada em
aspectos econômicos como retorno financeiro ou influenciada por estímulos ou restrições à
atividade empresarial.
Os estudos de McClelland já sinalizavam que o reconhecimento é algo muito valioso dentro
da cultura empresarial e que o desejo por esse reconhecimento pode estar presente, em
diferentes níveis, em pessoas de diversas origens. Segundo Duchéneaut (1997), o desejo de
não depender de ninguém é um fator poderoso na decisão do empreendedor em abrir o próprio
negócio, expresso geralmente como “ser meu próprio patrão”. O mesmo autor aponta como
outro motivador o desejo de realização pessoal entendido como reconhecimento social e
valorização no ambiente onde está inserido pelo fato de ser um empreendedor. Portanto, a
imagem coletiva da figura do empreendedor e a cultura local de valorização ou repulsa da
atividade empresarial podem influenciar na decisão de abrir o próprio negócio.
McClelland (1971) realizou vários estudos sobre a questão da motivação e desenvolveu uma
teoria sobre a motivação psicológica, baseado na crença de que o estudo da motivação
contribui de maneira significativa para o entendimento do empreendedor.
Enquanto os pesquisadores do desenvolvimento econômico delineavam um perfil
comportamental dos empreendedores a partir de observações de suas ações e conseqüências,
pesquisadores da linha comportamental realizaram estudos e experimentos para definir
14
cientificamente as diferenças comportamentais entre empreendedores e não empreendedores e
assim estabelecer um perfil psicológico com traços que os caracterizam.
Para McClelland (1971), é a necessidade de realização que impulsiona o indivíduo a alcançar
seus objetivos através de atividades desafiantes, com uma acentuada preocupação em fazer
bem feito e cada vez melhor, independente das recompensas que possam ser obtidas, sejam
elas financeiras ou em forma de reconhecimento. Foi a partir da definição das “características
pessoais empreendedoras” propostas por McClelland (1971) que foi possível delinear cursos
de capacitação na área, assim como apresentar essas características a empresários e demais
interessados. Dessa forma, esse autor foi um dos precursores na estruturação de programas de
treinamento e capacitação para a formação de empreendedores.
Longen (1997) foi um dos trabalhos acadêmicos no Brasil pioneiro em empreendedorismo e
tentou definir o perfil do empreendedor a partir da perspectiva comportamental. A autora
analisou a teoria de motivação psicológica proposta por McClelland (1971) identificando
necessidade de:
a) Realização: é a necessidade que o indivíduo tem de pôr a prova seus limites, de fazer
um bom trabalho. Essa necessidade é apontada como a primeira identificada entre os
empreendedores bem sucedidos.
b) Poder: o indivíduo tem uma forte preocupação em exercer poder sobre os outros.
c) Afiliação: existe apenas quando há alguma evidência sobre a preocupação em
estabelecer, manter ou restabelecer relações emocionais positivas com outras pessoas.
As conclusões apontadas por McClelland dão conta de que o crescimento econômico não
pode ser explicado unicamente pelas condições favoráveis do ambiente como estabilidade
política, disponibilidade de recursos ou existência de ampla infra-estrutura de apoio.
Guimarães (2002) explica que elementos internos vinculados a valores e motivos humanos
poderiam também explicar o desenvolvimento econômico alcançado. Esses elementos
serviriam de estímulo para as pessoas na identificação das oportunidades de negócio e decisão
de assumir os riscos do processo.
15
A abordagem social analisa o papel do contexto na atividade empreendedora e investiga
variáveis como crença religiosa, estrutura familiar, modelo de empreendedor, rede de
relacionamentos e a história de vida do indivíduo. Max Weber (1996) compreende o
empreendedor como inovador, independente e desempenhando papel de liderança nos
negócios. Weber (1996) conduziu uma análise sociológica do empreendedor relacionando
origem e papel social dos indivíduos com a opção pela atividade empreendedora. O autor
investigou o desenvolvimento da sociedade americana e sua relação com a configuração
religiosa instaurada, seguidora das igrejas protestantes, onde havia a valorização do trabalho,
da prosperidade econômica e da acumulação de riqueza.
A inclinação pela atividade empreendedora foi explicada na abordagem social a partir de
valores culturais e expectativas em relação ao comportamento ou papel que o indivíduo
deveria desempenhar na sociedade.
Elementos sociais e culturais têm influência no contexto onde estão inseridas as pessoas e,
dessa forma, podem influenciar positiva ou negativamente a concepção de sucesso ou
fracasso. A visão positiva da atividade empreendedora pode ser um estímulo para a abertura
de novos negócios. Graças aos estudos na área psicológica e comportamental, teorias sobre
atributos pessoais têm ajudado na identificação de empreendedores com maior potencial de
sucesso.
Porém, uma crítica pertinente às abordagens comportamental e social é a tentativa de explicar
o surgimento de iniciativas empreendedoras baseadas apenas em variáveis sociais e culturais,
de forma isolada, desprezando outros fatores importantes como a existência de capital
disponível, conhecimento de gestão, rede de apoio, oportunidade de negócios, entre outros.
Tentar explicar o empreendedor através de sua personalidade é presumir que as variáveis
características do empreendedor e o ambiente sejam estáticos e imutáveis.
Variadas são as abordagens que tentam explicar e entender o empreendedorismo através dos
tempos, cada uma sob um prisma diferente. O empreendedorismo caracteriza-se pela inovação
e oportunidades geradas e aproveitadas.
16
O Quadro 1 apresenta alguns autores de acordo com a abordagem e entendimento do
empreendedorismo na época dos seus estudos e que servem de base para a compreensão do
tema.
Autor
Publicação da
obra
Principais características do
empreendedor
Abordagem
Richard Cantillon
Século XVIII
Correr riscos, identificar oportunidade
de negócios, incerteza, não ser
necessariamente o dono do negócio.
Econômica
Jean Baptiste Say
Século XIX
Desempenhar atividades de gestão,
correr riscos, avaliar oportunidades.
Econômica
Joseph Alois Schumpeter
Primeira metade do
século XX
Inovador, “motor da atividade
econômica”.
Econômica moderna
David McClelland.
Segunda metade do
século XX
Motivação interna, psicológica,
necessidade de realização
Comportamental
Max Weber
Segunda metade do
século XX
Inovador, líder, influenciado pelo
contexto cultural e social.
Social
Quadro 1 – Autores e abordagens sobre empreendedorismo
Agregar diferentes elementos ajuda a analisar o empreendedor a partir de diferentes
perspectivas e visões.
“Percebe-se claramente a impossibilidade de classificar empreendedores como um grupo de
características de personalidade e comportamentais homogêneas, detentores de atributos,
habilidades e traços visivelmente similares. Pelo contrário, o que parece prevalecer é a
diversidade, a heterogeneidade interna no grupo que dificulta tanto o estabelecimento de
relações causais entre comportamento e desempenho empresarial quanto o desenvolvimento de
programas educacionais dirigidos unicamente ao fortalecimento de tais atributos.”
(GUIMARÃES, 2002, p. 73-74)
Essa dissertação entende o empreendedor como um detector de oportunidades, que influencia
e é influenciado pelo meio onde está. Após descrever essas abordagens, busca-se definir a
palavra empreendedorismo.
2.2 Definições para empreendedorismo
O termo ‘empreendedor’ evoluiu através da História. Adam Smith, em 1937, o define como
um proprietário capitalista, um fornecedor de capital e, ao mesmo tempo, um administrador
que se interpõe entre o trabalhador e o consumidor.
17
Kilby (1971) afirma que o empreendedor é um Heffalump, um lendário personagem de
estórias infantis que muitos afirmam terem visto e tocado mas na hora de descrevê-lo, cada
um o detalha de uma maneira diferente, sem consenso entre as versões.
Para Filion (1998) não existe consenso entre os autores e estudiosos do tema e sim uma
imprecisão sobre sua definição. O termo ‘empreendedor’ é um assunto de conceito ambíguo e
de múltiplas leituras possíveis (WARREN, 2005).
Gibb (1995) descreve o empreendedor como um indivíduo que identifica uma visão,
compromete-se com ela e a conduz, praticamente sozinho, até que consiga implementá-la com
sucesso.
Paiva Júnior (2004) sintetiza o pensamento de diversos autores sobre o empreendedorismo
como sendo o ato de criação de uma organização econômica inovadora com o propósito de
obter lucratividade ou crescimento sob condições de risco e incerteza.
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM, 2003) descreve o empreendedorismo como sendo
“qualquer tentativa de criação de uma nova empresa ou de expansão um negócio existente por
um indivíduo, equipe ou empresa".
Para Drucker (1987), os empreendedores são pessoas que criam algo novo, diferente, mudam
ou transformam valores, não restringindo o seu empreendimento a instituições exclusivamente
econômicas. São essencialmente inovadores, com capacidade para conviver com riscos e
incertezas envolvidas nas decisões. No entanto, o mesmo autor afirma que espírito
empreendedor não é característica da personalidade e que é possível um indivíduo aprender a
se comportar de forma empreendedora.
Kirzner (1983) afirma que o empreendedor é aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma
posição clara e positiva em um ambiente de caos e turbulência. Em concordância com o
pensamento de Schumpeter, o autor é enfático ao afirmar que o empreendedor é um exímio
identificador de oportunidades, um indivíduo curioso, atento às informações e consciente de
que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta.
18
A criação de empresas está comumente associada ao termo empreendedor. E o empreendedor
está associado ao fazer acontecer, inovar. Em 1911, o austríaco Joseph Schmpeter incorporou
esses elementos à definição de empreendedor.
Sendo assim, na impossibilidade de haver na literatura uma única definição aceita sobre
empreendedorismo, este trabalho adota a visão dada por Schumpeter por ser uma das mais
antigas, mais abrangentes e talvez a mais simples de todas:
"O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos
produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos
recursos materiais."
(SCHUMPETER, 1947)
Dessa forma, essa dissertação compreende o processo empreendedor na abertura de empresas
de alta tecnologia como resultante da interação entre a figura do empreendedor (aquele que
decide criar a empresa e se arriscar no mercado), a tecnologia desenvolvida pelo
empreendedor (aplicada num produto comercializável) e o ambiente onde estão inseridos o
empreendedor, a empresa, tecnologia, os funcionários contratados, fornecedores, clientes
entre outros. O objetivo é investigar como a educação empreendedora colaborou no estímulo
ao empreendedorismo no processo de surgimento de novas empresas de base tecnológica.
Para tanto foi selecionado o caso do Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL, no
Pólo Tecnológico de Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais.
2.3 O processo empreendedor
A atividade empresarial vai depender da junção de uma oportunidade de negócio identificada,
um ambiente propício, recursos e a figura do empreendedor para aproveitar esse cenário.
Aspectos pessoais podem influenciar no resultado desse processo empreendedor.
Bygrave (1997) acredita que novas empresas dão ‘vitalidade’ ao mercado gerando uma
dinâmica transformadora capaz de criar novos hábitos de consumo e novos conceitos para
produtos, empresas e serviços. Assim, o processo empreendedor definido pelo autor tenta
apontar os fatores críticos que influenciam no surgimento de um novo negócio.
19
Nesse modelo do processo empreendedor proposto por Bygrave (1997), a inovação é o ponto
de partida para o surgimento de novos negócios. Essa inovação é então influenciada por
fatores impulsionadores que a conduzem à fase de implementação da inovação e, depois
disso, ao crescimento. Da inovação até a consolidação e crescimento, diversos aspectos –
aspectos pessoais, sociais, organizacionais e ambientais – influenciam no resultado desse
processo.
O processo de inovação dentro da atividade empresarial envolve características especiais que
se manifestam em indivíduos também especiais, os empreendedores (SCHUMPETER, 1982).
O mesmo autor afirma que as inovações são motivadas pela percepção de oportunidades de
mercado, transformadas em ganho pelos agentes econômicos (indivíduos ou organizações
empreendedoras) mais audaciosos e efetivos.
Aspectos pessoais podem exercer grande influência na decisão de abrir o próprio negócio.
Dyer (1992) analisou os dilemas dos empreendedores em início de carreira – na faixa dos 20
anos a 30 anos – e concluiu que, entre eles, estão o fato de identificar-se como empreendedor,
seguido da dúvida de como conseguir recursos (capital, matéria prima, equipamentos, entre
outros) para implementar a sua idéia, como gerenciar a empresa nascente e, por fim, como
manter o equilíbrio entre as necessidades da empresa e da família, que em muitos casos está
sendo formada paralelamente à empresa.
Schumpeter (1982) aponta a existência de cinco tipos de inovação: a introdução de um novo
produto ou a melhoria da qualidade de um já existente; a introdução de um novo método de
produção; a abertura de um novo mercado; a conquista de novas fontes de matérias-primas; a
criação de um novo tipo de organização industrial.
“A inovação é o motor da competitividade e do desenvolvimento das nações. Inovar em
produtos e serviços, inovar em processos, inovar em tecnologias de gestão e em modelos de
negócios é a palavra de ordem para estabelecerem diferenciais competitivos que permitam
enfrentar o avanço da concorrência nos mercados nacional e internacional”
(GEM, 2006, p.
143).
Na Figura 1 é apresentado o modelo do processo empreendedor no surgimento de um novo
negócio (adaptado do processo empreendedor de BYGRAVE, 1997), onde a inovação só
20
chega à fase de implementação se for influenciada pelos ‘fatores impulsionadores’. Estes são
elementos de estímulo ao empreendedorismo que favorecem o desenvolvimento da atividade
empreendedora.
Dentre os fatores impulsionadores pessoais estão aspectos relacionados à pessoa do
empreendedor, como sua experiência, conhecimento, educação recebida, valores pessoais e
disposição para os riscos. Assim, esses fatores são únicos para cada pessoa e a junção deles,
em maior ou menor intensidade, está relacionada não só à personalidade do indivíduo como
também à história de vida que esse indivíduo construiu através do tempo.
Já os chamados fatores impulsionadores sociais estão ligados à vida em sociedade, rede de
contatos desse indivíduo, relação com sua família, equipes e também modelos positivos que
essa pessoa tenha se deparado ao longo da vida. Os fatores impulsionadores ambientais
dizem respeito ao contexto onde esse indivíduo e essa inovação então, com influência dos
recursos disponíveis, políticas governamentais de auxílio, incubadoras, ambientes de inovação
ou cenário de competição, por exemplo.
Inovação
FATORES IMPULSIONADORES
Implementação
Crescimento
Pessoais
- Experiência
- Educação
- Conhecimento
- Valores pessoais
- Disposição para os riscos
Sociais
- Rede de contatos
- Família
- Modelos
- Equipes
Ambientais
- Recursos
- Políticas governamentais
- Incubadoras
- Competição
Figura 1: O processo empreendedor no surgimento de um novo negócio.
Fonte: Adaptado de Bygrave, 1997.
21
Portanto, não apenas um empreendedor com uma boa e inovadora idéia é suficiente para que
surja um empreendimento de sucesso. A literatura mostra que o contexto tem papel
preponderante nesse processo. A Figura 1 apresenta a inovação como o ponto de partida para
um novo negócio que só irá se viabilizar a partir dos elementos de estímulo ao
empreendedorismo. São esses elementos que permitem que a idéia inovadora se configure em
um novo negócio que possa ser implementado e desenvolvido.
A presença exclusiva tanto da inovação quanto do empreendedor isolados desses elementos
de estímulo não garantem a viabilidade do novo negócio. O processo empreendedor é algo
complexo e influenciado por um grande número de fatores (ANDRADE, 2003). O surgimento
de uma inovação (ou detecção de uma oportunidade de negócio) deve ser seguido de uma
análise detalhada dos elementos que compõe o futuro negócio para verificar sua viabilidade.
O Processo Empreendedor descrito por Reynolds et al. (2005) compreende a criação de um
novo empreendimento como um processo e faz a distinção de quatro fases, com três pontos de
transição marcando as barreiras típicas do empreendedorismo. Esse processo, descrito na
Figura 2, é continuamente influenciado por fatores políticos, sociais e econômicos.
Concepção Nascimento da empresa Persistência
Empreendedores Iniciais
Potencial
Empreendedor:
Conhecimento e
Capacidade
Empreendedor
nascente: à frente
de um negócio em
implantação
Empreendedor
Novo: à frente de
empreendimentos
com menos de 42
meses.
Empreendedor
Estabelecido: à
frente de
empreendimentos
com mais de 42
meses.
Figura 2 - O Processo Empreendedor de Reynolds
Fonte: Reynolds et al. (2005)
A primeira fase do processo empreendedor descrito na Figura 2 está ligada ao fato das
pessoas terem a idéia de iniciar uma empresa. Seus motivos podem ser variados e estar
relacionados desde a visualização de uma oportunidade de negócio até a necessidade gerada
pela falta de emprego. Uma vez que tenham iniciado algumas atividades concretas
22
relacionadas à criação da empresa, essas pessoas passam da concepção para o processo de
nascimento do negócio e podem ser consideradas empreendedores nascentes.
A segunda fase de transição reflete a empresa nascente na medida em que ela se desenvolve e
se torna um negócio operacional, ou seja, descreve a fase do nascimento da empresa. A
distinção entre a terceira e a última fase está relacionada à idade da empresa criada pelo
empreendedor.
As empresas que pagaram salários por mais de três meses e menos de três anos e meio (42
meses) são consideradas “novas”. As que pagaram salários por mais de três anos e meio são
consideradas “empresas estabelecidas”, empresas que sobreviveram ao “risco da novidade”,
ou seja, o processo de abertura de um novo negócio.
Os empreendedores podem ser divididos em duas categorias: iniciais ou estabelecidos. Os
empreendedores iniciais estão à frente de negócios com até 42 meses de vida (três anos e
meio) e compõem uma taxa denominada TEA (Total Entrepreneurial Activity ou Taxa de
Atividade Empreendedora Total). Esses empreendedores subdividem-se em dois tipos:
nascentes – que estão à frente de negócios em implantação (envolvidos em questões como
busca de espaço, escolha de setor, estudo de mercado, entre outros) e novos – onde seus
negócios já estão em funcionamento e geraram remuneração por pelo menos três meses. Os
empreendedores estabelecidos, por sua vez, são aqueles à frente de empreendimentos com
mais de 42 meses de existência (GEM, 2007).
Quanto à motivação para empreender, os empreendedores podem ser orientados por:
oportunidade, quando motivados pela percepção de um nicho de mercado em potencial; ou
necessidade, quando motivados pela falta de uma alternativa satisfatória de trabalho e renda
(GEM, 2006).
Embora não haja consenso entre os autores quanto a uma definição para empreendedor, o
empreendedorismo se caracteriza pela presença da inovação e da identificação de uma
oportunidade de negócios. Desde o século XVIII que autores com diferentes abordagens se
dedicam a investigar o tema através de enfoques como o econômico, comportamental ou
social, por exemplo.
23
A Instituição de Ensino Superior pode oferecer o ensino de empreendedorismo para seus
alunos para que busquem, no ambiente de trabalho, um comportamento empreendedor,
independente da carreira que forem seguir. Uma vantagem dos alunos que passam por um
curso de empreendedorismo é aprender a minimizar os riscos do processo de abertura de uma
empresa, porém nem todos serão empresários. Os incentivos ao empreendedorismo no
contexto da educação empreendedora numa Instituição de Ensino Superior são elementos de
destaque dentro do Processo Empreendedor e serão abordados detalhadamente no capítulo 3.
24
3 - Capítulo 3 – A educação empreendedora no ensino
superior
Ao abordar a educação empreendedora, é importante considerar o comportamento
empreendedor como uma forma de ser, uma postura que engloba as atividades da pessoa
como um todo, compreendendo aspectos como estilo de vida, visão de mundo, reação diante
das incertezas, inovação, capacidade de produzir mudanças em si mesmo e no meio ambiente,
meios e formas de se buscar a auto-realização (DOLABELA, 2003).
Segundo Jones e English (2004), a educação empreendedora é o processo de fornecer aos
indivíduos destreza para reconhecer uma oportunidade de negócios e também auto-estima,
conhecimento e habilidades para agir em função dessa oportunidade. Fowler (1997, p. 19)
define o termo educação empreendedora como sendo “formas de organização que
transformam as pessoas, desenvolvendo-as nas mesmas características e atributos
empreendedores que buscam atingir graus mais elevados de realização pessoal e bem-estar
social.”
Andrade (2003, p. 39) define a educação empreendedora como “o processo que objetiva o
desenvolvimento do ser humano no âmbito da identificação e aproveitamento de
oportunidades e sua posterior transformação em realidade, contribuindo assim para a geração
de valores financeiros, sociais e culturais para a sociedade.”
O temo educação empreendedora usado no Brasil é uma tradução do inglês Entrepreneurship
Education (utilizado no Canadá e Estados Unidos) e Enterprise Education (utilizado no Reino
Unido) que, embora possuam significados semelhantes, apresentam diferentes enfoques que
correspondem à realidade cultural de cada lugar. Os programas de Entrepreneurship
Education dão ênfase ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos que motivam para
a criação do próprio negocio visando o lucro financeiro. No contexto da economia capitalista
da América do Norte, a utilização do sistema educacional como estímulo para a criação de
empresas é aceito pela sociedade. Já os programas de Enterprise Education visam
desenvolver habilidades e atributos de um indivíduo empreendedor, mas não necessariamente
motivando para negócios que visem o lucro financeiro (FOWLER, 1997).
25
Pesquisas feitas por Ibrahim e Soufan (2002) demonstram que empreendedores que tiveram
cursos de empreendedorismo têm maior tendência de iniciar seu próprio negocio comparando-
se com aqueles que não tiveram cursos de empreendedorismo.
“Até recentemente, a maioria dos estudantes dos cursos de graduação direcionavam suas
ações profissionais, após saírem dos bancos universitários, baseados em algumas premissas
atualmente inaceitáveis. Em primeiro lugar, eles acreditavam que o objetivo da profissão
seria unicamente tornar produtivo o trabalho manual uma vez que a principal meta das
organizações era alcançar metas de produtividade. Achavam também que o processo
inovador, que surge com o exercício constante da criatividade, não era obrigação do
profissional”
(Paim, 2001, p. 9).
O objetivo dos cursos de empreendedorismo é estimular a criatividade, reforçar a auto-estima
do aluno e a capacidade para ser bem sucedido na vida pessoal e profissional para que, além
de ter um emprego, a pessoa realize seus sonhos e esteja preparada para enfrentar riscos e
mudanças (RABBIOR, 1990; GIBB, 1993; DOLABELA, 1999; PAIM, 2001).
“o empreendedorismo não está ligado somente à criação de empresas. Mas um de seus
grandes temas é a liberdade, conquistada também pela capacidade do cidadão de extrair de
sua integração produtiva com a sociedade a sua auto realização (sic)”
(PAIM, 2001, p. 05).
Não há a pretensão de que todos os alunos de uma Instituição de Ensino Superior que passem
por cursos de formação empreendedora sejam atraídos para a atividade empresarial e nem
todos serão empreendedores de sucesso (HEGARTY, 2005). A função da educação
empreendedora é fornecer uma opção a mais aos alunos.
Ocorre que a mídia em geral ajuda na propagação do mito da “receita pronta” dos programas
que solucionarão no curto prazo todos os problemas das empresas e ajudarão qualquer pessoa
a se tornar um empreendedor de sucesso. Nessa linha, alguns livros, palestras e cursos são
vendidos.
É preciso ter cuidado com esse tipo de conteúdo porque os programas para a formação de
empreendedores não fazem “milagres” em pouco tempo e precisam levar em conta muitos
aspectos como, por exemplo, o contexto local para que possam obter sucesso.
26
Para Brazeal e Herbert (1999), o estudo e ensino do empreendedorismo ainda estão
incipientes e, por conseqüência, na fase de debate sobre conceitos e metodologia. Assim,
embora haja algumas tentativas de estabelecimento de modelos sobre a figura do
empreendedor ou como desenvolvê-lo, tudo ainda é passível de reflexão e aperfeiçoamento,
não existindo fórmula pronta ou definitiva aceita pela Academia.
Reduzida a polêmica sobre a possibilidade de ensinar habilidades empreendedoras, o desafio
passa a ser o como ensinar. Para Guimarães (2002), é necessária a elaboração de conteúdos
programáticos, novas metodologias de ensino e avaliação, criação de redes de sustentação e
apoio aos novos negócios e iniciativas empreendedoras estimuladas no ambiente acadêmico.
Nesse campo que valoriza a criatividade, são necessárias formas inovadoras de transmissão do
conteúdo para aumentar as chances de sucesso. É o que afirma Dolabela:
“Um dos maiores equívocos da Educação Empreendedora no Brasil é não considerar o
empreendedorismo um fenômeno cultural, o que enseja a adoção de uma estratégia
pedagógica inadequada porque supõe enganosamente que os elementos que definem o
empreendedor são conhecimentos que podem ser transferidos na forma do ensino
convencional”
(DOLABELA, 2001, p. 83)
Apesar da percepção positiva que a maioria dos empreendedores e especialistas brasileiros
têm sobre a capacidade empreendedora do empresário nacional, o Relatório GEM (2007)
chama a atenção para o despreparo das pessoas para iniciar novos negócios, independente de
serem criativas, flexíveis, objetivas e comprometidas com o trabalho. Apesar das
oportunidades existentes no país, o empreendedor brasileiro ainda é pouco qualificado e
preparado para empreender, pois desconhece as características e a dinâmica do setor em que
está se inserindo.
O empresário brasileiro também não está preparado para minimizar os riscos e enfrentar as
dificuldades inerentes a uma atividade empreendedora como, por exemplo, as financeiras.
Ainda de acordo com o Relatório GEM (2007), a maioria das pessoas não sabe como iniciar e
administrar um negócio de alto crescimento nem tem a habilidade necessária para organizar
recursos para a abertura de um negócio.
27
Estudos em educação empreendedora que levaram em conta a importância do contexto do
aluno concluíram que as intenções empreendedoras desses alunos são afetadas tanto por
características de personalidade quanto por barreiras e apoios encontrados no ambiente
externo (LÜTHJE & FRANKE, 2003).
Políticas de educação empreendedora devem focar no desenvolvimento de uma relação
próxima entre as instituições educacionais e comunidade local onde estão inseridas, incluindo
a comunidade empresarial regional (DEAKINS et al., 2005).
É preciso levar em conta a diferença que existe entre estudantes que querem aprender sobre
empreendedorismo e aqueles que querem ser empreendedores. Para os primeiros,
Kraaijenbrink et al. (2007) apontam que o conhecimento geral em empreendedorismo é,
provavelmente, suficiente; para o segundo grupo, no entanto, pode ser mais benéfico à
utilização de treinamento prático orientado em como abrir uma empresa.
Guimarães (2002) investigou a inserção de disciplinas de empreendedorismo nos cursos de
graduação e MBA em universidades norte-americanas e constatou que as disciplinas
direcionadas à formação empreendedora se caracterizam pela ampla participação do aluno no
processo de ensino/aprendizagem, com a utilização de metodologias de ensino baseadas na
pesquisa e vivência prática. A autora identificou também a participação de empresários da
comunidade local como apoio ao empreendedorismo nas atividades de ensino em forma de
depoimentos, avaliação dos projetos e aconselhamento aos iniciantes no mundo dos negócios,
por exemplo. Inserir pessoas da comunidade empresarial nas atividades acadêmicas também
pode ser uma forma das escolas de negócios estreitaram as relações com representantes
dotados de capacidade financeira para apoiar as reformas e projetos desenvolvidos na
Instituição de Ensino Superior.
Segundo Perrenoud (2000), para que o aluno aprenda é necessário que esteja motivado. E isso
ocorre se o assunto for do seu interesse e condizente com desejos e expectativas criados pelo
próprio aluno. Isso se aplica também ao empreendedorismo, como qualquer outro conteúdo a
ser ensinado.
Outro fator que não pode ser ignorado quando se aborda o tema inserção do
empreendedorismo no currículo das escolas é o suporte financeiro que pode vir. Guimarães
28
(2002) constatou que um importante estímulo ao empreendedorismo e sua incorporação nos
cursos de MBA nos Estados Unidos foi a possibilidade de incremento no percentual de
doações via contribuição de ex-alunos.
Embora a educação empreendedora no Brasil seja algo recente que tenha se iniciado na
década de 1980, ela já ocorria em outros países, com relativo sucesso, muito tempo antes de
chegar ao Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, a primeira aula de empreendedorismo e
pequenos negócios foi dada em 1947, em Harvard, por Myles Mace.
Num próximo passo, será analisado o caso de uma Instituição de Ensino Superior de
expressão nacional que está inserida num Pólo Tecnológico. Através dos elementos
levantados na literatura e apresentados aqui, a relação Instituição de Ensino Superior-
empreendedorismo será investigada partindo da premissa básica que norteou a condução
desse trabalho: a educação empreendedora nas Instituições de Ensino Superior é um
fenômeno amplo de disseminação da cultura do empreendedorismo que pode propiciar um
contexto de estímulo à inovação e abertura de novos negócios.
O objetivo é verificar se esses fatores influenciaram na disseminação da cultura do
empreendedorismo voltada à abertura de novas empresas. Assim, será verificada a existência
ou não desses elementos apontados pela literatura como capazes de estimular o espírito
empreendedor e a criação de empresas dentro de uma incubadora vinculada a uma Instituição
de Ensino Superior.
Dessa maneira, este estudo não considera definitivo qualquer modelo de formação
empreendedora ou desenvolvimento de empreendedorismo existente. Porém, a partir de
elementos levantados na literatura específica, este trabalho pretende apresentar alguns fatores
da educação empreendedora que podem estar presentes nos cursos de graduação e verificar se
esses fatores tiveram alguma influência na disseminação da cultura do empreendedorismo
voltada à abertura de novas empresas.
29
3.1 Os Programas de Educação Empreendedora
Andrade (2003, p. 39) define um Programa de Educação Empreendedora como sendo “a
estruturação, no tempo, de diversas atividades que têm por objetivo promover o
desenvolvimento do espírito empreendedor em seus participantes.”
Para estimular o empreendedorismo nas pessoas, vários países do mundo têm desenvolvido
Programas de Educação Empreendedora (PEE), sobretudo através de suas Instituições de
Ensino Superior (IES). O objetivo é proporcionar às pessoas condições para externar seus
potenciais através de ações empreendedoras.
Henry et al. (2005) apontam que, apesar do crescimento do número de Programas de
Educação Empreendedora, há pouca semelhança entre eles embora haja consenso entre esses
programas de que pelo menos uma parte dos aspectos do empreendedorismo possa ser
ensinada.
A implantação e evolução de um PEE representa uma profunda e contínua mudança nos
valores e crenças da Instituição de Ensino Superior. Esse processo deve compreender e levar
em conta a cultura da organização para que essa transição seja conduzida com sucesso
(ANDRADE, 2003). Além disso, é preciso chamar a atenção para o risco da criação de
processos padronizados de atuação de Programas de Educação Empreendedora tentando
reproduzir experiências bem sucedidas em ambientes muito diversos de onde elas ocorreram.
Isso pode ser danoso para as experiências, uma vez que cada Instituição de Ensino Superior
possui características próprias inseridas num contexto. Bons modelos estrangeiros, por
exemplo, podem funcionar apenas em seus países de origens onde a cultura local, leis, valores
e disponibilidades de recursos são outros.
Embora seja um tema ainda pouco investigado, Kraaijenbrink et al. (2007) apontam que
estudos anteriores já se dedicavam a analisar o apoio da IES no desenvolvimento do
empreendedorismo nos alunos, sendo que alguns explicam a intenção empreendedora como
resultado da educação recebida pelos alunos no seu contexto estudantil.
No Brasil, os Programas de Educação Empreendedora (PEE) seguem mais a linha da
Entrepreneurship Education quando se preocupam principalmente com a criação de empresas
30
visando o lucro financeiro (FOWLER, 1997). Essa posição pode ser comprovada pela
constante associação da mídia leiga e da comunidade em geral de todo pequeno empresário
com o termo empreendedor.
Um Programa de Educação Empreendedora (PEE) é uma alternativa no combate ao
desemprego porque proporciona às pessoas o contato com os aspectos relacionados à pequena
empresa, como vantagens, oportunidades, desafios e dinamismo. Para isso, é aconselhável que
tenha a participação de agentes como instituições de apoio financeiro, sistema educacional,
agências de desenvolvimento do governo e legislação de apoio.
Souitaris et al. (2007) apontam que a maior contribuição dos Programas de Educação
Empreendedora é a inspiração para empreender que despertam nos alunos. Andrade (2003)
apresenta a descrição de cinco estágios de PEE como uma tentativa de traduzir as estratégias
adotadas nas diversas Instituições de Ensino Superior:
a) Atividade Isolada: estágio inicial, caracterizado geralmente por atividades informais
relacionadas a informações ou projetos para criação de empresas, mercado de trabalho
e tendências do mercado.
b) Disciplina Específica: estágio onde o estímulo ao empreendedorismo já acontece de
maneira formalizada, agora através de uma disciplina regular do curso que pode
abordar temas como plano de negócios, aspectos de mercado entre outros.
c) Conjunto de disciplinas específicas: inserção de várias disciplinas dentro de uma
estratégia de formação empreendedora que podem, por exemplo, ter foco em negócios
ou aspectos comportamentais.
d) Cultura empreendedora nas disciplinas do programa: direcionamento das
atividades previstas nas disciplinas do programa para o estímulo ao
empreendedorismo. Sensibilização e capacitação do corpo docente do programa para
isso e então, mesmo as disciplinas técnicas que não são relacionadas ao ambiente de
negócios, buscam o desenvolvimento indireto do empreendedorismo através de
exemplos e associações.
31
e) Centro de Empreendedorismo: elevado grau de estímulo à cultura empreendedora
dentro da Instituição de Ensino Superior. Observa-se a integração com a comunidade
empresarial, presença de incubadora de empresas, empresas juniores, prestação de
serviços para a comunidade envolvendo consultoria, vivência empresarial dos alunos
na comunidade, assessoria e treinamento em aspectos de criação e gestão de empresas
e integração da cultura empreendedora nas disciplinas do programa por parte dos
docentes.
Os cinco estágios descritos por Andrade (2003) são estratégias para abordagem de
implantação de um PEE. O mesmo autor destaca que um Programa de Educação
Empreendedora implantado numa Instituição de Ensino Superior é influenciado por vários
fatores externos, entre eles o contexto organizacional, a compreensão dos conceitos
associados ao empreendedorismo, processo de ensino-aprendizagem e as articulações
necessárias com a comunidade. Além disso, é influenciado por fatores organizacionais que
dizem respeito à cultura da instituição e dos grupos distintos que formam a organização, como
professores, alunos e funcionários.
O modelo descrito na Figura 3 pode orientar na elaboração de um plano de implantação de
um Programa de Educação Empreendedora por uma Instituição de Ensino Superior
fornecendo um roteiro a ser cumprido, começando por atividades informais ligadas ao
empreendedorismo, que podem ocorrer de forma isolada (com um concurso de Plano de
Negócios, uma gincana ou um evento anual sobre o tema, por exemplo). O próximo passo
previsto no modelo seria a criação de uma disciplina específica de empreendedorismo, sendo
que essa atitude já formaliza a intenção da instituição em abordar o tema. Essa disciplina pode
ser voltada à elaboração de Planos de Negócios, por exemplo. Outras disciplinas ligadas ao
empreendedorismo que podem ter foco em criação de negócios ou aspectos comportamentais
(como desenvolvimento de liderança, criatividade), por exemplo, seriam então criadas,
somando-se à primeira, formando um conjunto de disciplinas específicas ao longo da grade
curricular. Um passo de grande complexidade seria a introdução (ou tentativa) da atitude
empreendedora nas disciplinas da grade curricular, as disciplinas técnicas, teóricas,
introdutórias e que não necessariamente tenham a ver com criação de negócios. Esse passo é
difícil de ser alcançado por muitos fatores, entre eles a resistência dos próprios professores.
Como um último passo proposto pelo modelo seria a criação de um Centro de
Empreendedorismo que coordenasse muitas atividades variadas sobre esse tema.
32
CENTRO DE
EMPREENDEDORISMO
CULTURA EMPREENDEDORA NAS
DISCIPLINAS DO PROGRAMA DE GRADUAÇÃO
CONJUNTO DE DISCIPLINAS
ESPECÍFICAS
DISCIPLINA ESPECÍFICA
Complexidade
Atitude
Formal
Atitude
Informal
Figura 3 – Evolução de Programas de Educação Empreendedora
Fonte: Andrade, 2003
Westhead et al. (2001) apontam para a necessidade de metodologias precisas e cuidadosas
para avaliar programas de treinamento em empreendedorismo, sendo que a forma mais
comum de avaliação está baseada nas impressões dos participantes do curso questionadas ao
final. McMullan et al. (2001) alertam que esse tipo de julgamento subjetivo pode acabar
determinando a satisfação dos participantes e não os resultados do treinamento. Entre as
limitações existentes na adoção de uma forma puramente subjetiva, estão: ao responder uma
survey os participantes podem se preocupar mais em dar a resposta que o avaliador quer do
que expressar a opinião honesta; o impacto do programa só pode ser julgado comparando com
o que teria acontecido se o participante não tivesse estado no curso; o comportamento dos
participantes depois do curso é mais importante do que suas opiniões a respeito.
Medidas apropriadas a respeito dos cursos de empreendedorismo devem incluir dados como
número de empresas abertas, empresas salvas da falência, faturamento, crescimento, criação
de postos de trabalho, financiamentos obtidos ou lucratividade (McMULLAN et al., 2001).
33
“A procura da produtividade em educação e da eficiência nos processos de ensino suscita a
necessidade de definir uma nova pedagogia distinta da tradicional, modelo este que privilegia a
exposição verticalizada de um saber pronto e acabado, estabelecendo uma relação
hierarquizada entre professor e aluno. O repensar da ação acadêmica aponta para a
emergência de novas bases sobre as quais possa ser apoiada e reformulada a conduta do
docente, não mais como agente ativo e exclusivo da transmissão do saber mas, como
coordenador e facilitador de múltiplas atividades na construção do conhecimento, uma nova
postura que abre espaço para o diálogo, para a efetividade de um processo didático, no qual
professor e aluno são atores.”
(PAIM, 2001, p. 39)
Avaliar a eficácia de Programas de Educação Empreendedora não é tarefa fácil e os modelos
desenvolvidos precisam levar em conta as características específicas do local onde está sendo
realizado o programa como nível de renda da população, poder de compra, facilidades para o
desenvolvimento da atividade empresarial, por exemplo, e aspectos culturais como a
valorização ou repulsa da atividade empresarial por parte dos habitantes. Adotar
indiscriminadamente um padrão de mensuração sem adaptá-lo à realidade local pode induzir a
resultados imprecisos e sem consistência.
A seguir serão investigados os Fatores Críticos de Sucesso de estímulo ao empreendedorismo
no contexto de uma Instituição de Ensino Superior, que podem estar presentes nos Programas
de Educação Empreendedora que buscam estimular o empreendedorismo nos alunos. O foco
será o papel do PEE no estímulo de surgimentos de empresas de base tecnológica dentro do
ambiente da IES, sobretudo através da incubadora de empresas.
34
4 - Capítulo 4 – Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao
empreendedorismo
A expressão "Fatores Críticos de Sucesso" (FCS) foi cunhada por Rockart (1979) em um
artigo que examina diversos métodos utilizados para fornecer informação a gestores de
empresas. Dentro da literatura sobre gerenciamento de executivos, Rockart (1979) relata a
experiência de um diretor da McKinsey & Company onde se constata que ao fim de cada dia
de trabalho era produzida uma grande quantidade de informações pouco úteis ao desempenho
dos gerentes. A partir disso, o autor passou a questionar qual tipo de informação seria
realmente necessária para sustentar as atividades administrativas.
Fatores Críticos de Sucesso são pontos do projeto que devem correr bem, a fim de não
comprometer o trabalho (NIELSEN, 2002). São áreas que devem receber constante e
cuidadosa atenção por parte dos gestores uma vez que constituem as coisas que devem ocorrer
corretamente, mesmo que em prejuízo de outras, para que os objetivos sejam alcançados
(FURLAN, 1997).
Dessa forma, os FCS são os fatores-chave de uma organização que podem colaborar para a
realização da missão da empresa (OAKLAND, 1994). Devem ser gerenciados corretamente
para não comprometer o trabalho. Identificar os Fatores Críticos de Sucesso de um processo
permite priorizar os pontos a serem cuidados e atendidos para o melhor desempenho possível.
Além disso, os Fatores Críticos de Sucesso representam uma forma de agir num ambiente de
incerteza e permitem encaminhar corretamente um projeto visando o sucesso para a
organização (PEDROSO, 2006).
Com a utilização dos FCS, a tarefa de manter o foco fica facilitada, pois é possível identificar
as prioridades, ou seja, o que deve ser monitorado, quais informações devem ser coletadas,
evitando o acúmulo de dados desnecessários (FURLAN, 1997).
Jonker (2004) compila a visão de diferentes autores sobre o tema e apresenta definições
variadas, expressas no Quadro 2:
35
Fatores críticos de sucesso são áreas que se obtiverem resultados satisfatórios, a performance competitiva de
uma organização estará assegurada. (DAFT, 1988).
Fatores críticos de sucesso são componentes da estratégia onde a organização precisa sobressair para ser
competitiva (JOHNSON & SCHOLES, 1999).
O método dos Fatores Críticos de sucesso direciona os gerentes para determinar aquelas coisas que precisam
dar certo para ter sucesso nas metas e objetivos traçados. Assim, permite focalizar a atenção do gerenciamento
sobre o que precisa ser feito para alcançar sucesso (BULLEN, 1995).
Fatores críticos de sucesso são características, condições, fatores ou objetivos secundários que são essenciais
para alcançar a realização da missão da organização e o sucesso final (HARDACKER & WARD, 1987).
Fatores críticos de sucesso são características, condições, ou variáveis que podem ter um impacto significativo
no sucesso da empresa em termos de competitividade (BRUNO, 1984).
Fatores críticos de sucesso são as fontes, habilidades e atributos de uma organização que são essenciais para
produzir sucesso no mercado (LYNCH , 2003).
Utilizar os Fatores Críticos de sucesso permite focalizar a atenção do gerenciamento sobre o que precisa ser
feito para alcançar sucesso (BULLEN, 1995).
Quadro 2: Definições sobre Fatores Críticos de Sucesso
Fonte: Adaptado de Pedroso (2006).
Essa dissertação utiliza a expressão Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao
empreendedorismo como sendo um conjunto de elementos essenciais à disseminação do
empreendedorismo que devem estar presentes num PEE. Esses elementos são prioritários e a
sua ausência pode comprometer o sucesso do programa. Esses FCS foram selecionados por
serem gerenciáveis e passíveis de controle, uma vez que o ambiente universitário é um
cenário muito amplo. Os FCS relacionados à pessoa do empreendedor, entretanto, dizem
respeito à história de vida do aluno antes de entrar na IES e aos outros acontecimentos que se
sucedem no percurso e não são controláveis ou gerenciáveis, podendo apenas ser
identificados.
O entendimento comum do tema empreendedorismo (também chamado de visão holística) diz
respeito à compreensão exata e uniforme do termo pelos diversos setores e agentes da IES, da
alta direção passando por professores, alunos e funcionários. É importante que todos
compreendam o empreendedorismo como a mesma coisa, para evitar visões conflitantes.
36
Distorções no entendimento do empreendedorismo podem prejudicar o processo de formação
de empreendedores.
Ainda não existe um grande número de estudos brasileiros que relacionam o papel da
Instituição de Ensino Superior no desenvolvimento de empreendedores. Porém, a adoção
padronizada de um modelo estrangeiro, sem considerar os aspectos peculiares ao país, pode
comprometer o resultado do trabalho.
O processo de criação de um novo negócio é complexo e envolve vários elementos. Entre
eles, a figura do empreendedor, que ainda necessita ser melhor investigada. Autores têm se
dedicado a definir um perfil desse empreendedor a partir de fatores como sua formação
familiar, infância, atributos genéticos, meio em que está inserido, entre outros. A partir dessa
ampla gama de abordagens, buscou-se estabelecer uma tabela que resumisse diferentes
abordagens vindas de autores e épocas variadas que ajudassem a compor os Fatores Críticos
de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo no contexto de uma IES, que foram agrupados
por afinidade em:
4.1 Pessoais
Esses Fatores Críticos de Sucesso estão relacionados à pessoa do empreendedor, sua história
de vida, contexto em que está inserido, modelos de empreendedores que admira e rede de
relacionamentos, por exemplo. São as experiências acumuladas que antecedem sua vida
acadêmica e que ajudarão a formar o empreendedor. Estão relacionados ao aluno e não são
controláveis ou gerenciáveis, podendo apenas ser identificados
“O empreendedor não nasce pronto, muito pelo contrário, ele é fruto do meio em que vive, do
tipo de educação recebida pelos pais, pela escola, o jeito de ser e de agir da família e as
experiências vividas tanto na infância quanto na adolescência. Ele se desenvolve de diferentes
maneiras devido ao ambiente social e cultural no qual está inserido, sendo que as condições
ambientais, políticas e econômicas favorecem ou não seu surgimento e o seu crescimento.”
(SOUZA NETO, 2003, p. 76)
O Modelo Pessoal é subdividido em três partes, que são:
37
4.1.1 Modelo de empreendedor
Modelos e exemplos positivos de empreendedores podem influenciar favoravelmente os
jovens na opção pela carreira empreendedora. Os modelos são um dos fatores sociais
considerados por Bygrave (1997) como impulsionadores no processo empreendedor no
surgimento de um novo negócio.
Paim (2001) acredita que conhecer o perfil de um empreendedor de sucesso poderá servir de
parâmetro para o aluno no desenvolvimento e aperfeiçoamento das suas características, já que
os seres humanos são fruto da relação entre os talentos e características herdadas e do meio
onde se encontram. Além disso, a autora acredita que ao conhecer as características do
empreendedor bem sucedido, o aluno pode fazer comparações e refletir sobre suas próprias
características, identificando quais possui e quais precisa desenvolver.
Um dos desafios da sociedade no desenvolvimento do empreendedorismo é a criação de
modelos de empreendedores não só dentro como também fora do ambiente familiar
(DUCHÉNEAUT, 1997). Para isso, o autor afirma ser muito importante que os jovens tenham
contato com empreendedores e proprietários do próprio negócio, sendo que as Instituições de
Ensino Superior podem desempenhar um importante papel fazendo essa ponte entre ambiente
educacional e o mundo empresarial.
A abordagem do empreendedorismo nos meios de comunicação apresenta uma variedade de
imagens que influenciam o processo de entendimento dos estudantes. Entre os anos de 1980 e
1990, jornais e redes de televisão estavam repletos de exemplos como o de Bill Gates,
reforçando a idéia do empreendedor herói (WARREN, 2005).
Colocar os jovens em contato com gerentes de pequenas e médias empresas é uma grande
necessidade (DUCHÉNEAUT, 1997) para colaborar na construção de uma imagem positiva
da figura do empreendedor. Além disso, pais que trabalham por contra própria se tornam um
modelo para o novo empreendedor (NIEUWENHUIZEN & GROENWALD, 2004).
38
Pereira (2000) acredita que é de fundamental importância que o aluno tenha contato e possa
conhecer os caminhos percorridos por empreendedores próximos, que alcançaram o sucesso e
também por aqueles que conheceram o fracasso para enriquecer sua visão sobre o perfil do
empreendedor.
Mais do que um exemplo a ser seguido, o Modelo de Empreendedor pode ajudar o aluno a se
avaliar, conhecer suas fraquezas e pontos fortes através da comparação com as características
dos indivíduos que eles consideram modelos de sucesso.
4.1.2 Histórico familiar
Blackburn e Curran (1993) assim como Scott e Twomey (1988) identificam uma variedade de
fatores de impulso à carreira empreendedora, tais como histórico de um negócio da família,
influência paterna e da experiência de trabalho. Assim, a existência de empreendedores na
família pode estimular os alunos a abrirem o próprio negócio. Os antecedentes familiares são
um dos componentes que podem ser relevantes no processo empreendedor na abertura de um
novo negócio (GASSE et al., 1995).
Os modelos são exemplos de empreendedores e, segundo Duchéneaut (1997), em grande
parte das vezes são encontrados na própria família e no círculo íntimo de relacionamento do
empreendedor. O exemplo conta muito no desenvolvimento do espírito empreendedor. Pais
que trabalham por contra própria se tornam mentores e geralmente incentivam o espírito
empreendedor em seus filhos (NIEUWENHUIZEN & GROENWALD, 2004).
Duchéneaut (1997) compartilha da opinião de Curran e Burrows (1988) ao afirmar que a
família é o elemento essencial relacionado aos modelos que inspiram os empreendedores na
criação do seu próprio negócio.
Uma pesquisa de Bonneau e Francoz (1996) com fundadores de empresas na França apontou
que 41% deles tinham alguém da família próxima como proprietário do próprio negócio. A
família é um elemento essencial no modelo que inspira os criadores de empresas (CURRAN
& BURROWS, 1988) e desempenha um significante papel no desenvolvimento de traços
empreendedores (NIEUWENHUIZEN & GROENWALD, 2004).
39
Os itens 4.1.1 e 4.12 são complementares, uma vez que o modelo de empreendedor para o
aluno possa estar dentro do próprio ambiente familiar.
4.1.3 Experiência pessoal
Blackburn e Curran (1993) assim como Scott e Twomey (1988) identificam uma variedade de
fatores de impulso à carreira empreendedora, tais como histórico de um negócio da família,
influência paterna e a experiência de trabalho. O contato precoce com a atividade profissional
é apontado na literatura como um dos Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao
empreendedorismo que pode estimular os estudantes a abrirem o próprio negócio.
Atos simples como trabalhar nas férias podem contribuir no desenvolvimento de traços
empreendedores como independência, inovação ou disposição ao risco (NIEUWENHUIZEN
E GROENWALD, 2004).
“A construção da compreensão dos estudantes sobre o empreendedorismo não ocorre no
ambiente hermeticamente fechado da universidade” (WARREN, 2005, p. 4). Toda a história
de vida do indivíduo compõe sua personalidade e o contato com o mundo do trabalho pode
ajudar a desenvolver o espírito empreendedor. Empreendedores são gerados a partir de suas
experiências individuais enquanto crescem e aprendem com a família, amigos, professores,
mentores e outros modelos de papéis da sociedade (HEGARTY, 2005).
Bygrave (1997) considera a experiência um dos fatores impulsionadores no processo
empreendedor no surgimento de um novo negócio.
Vivenciar aspectos relacionados ao mundo dos negócios pode ser um estímulo decisivo para
os estudantes desenvolverem o gosto pela atividade empresarial e passarem a considerar a
opção pelo auto-emprego.
40
4.2 Instituição de Ensino Superior
A Instituição de Ensino Superior é apontada na literatura como um Fator Crítico de Sucesso
no incentivo ao empreendedorismo.
Em sua tese de doutoramento, Guimarães (2002) constatou que disciplinas direcionadas à
formação empreendedora se caracterizam por pressupor a ampla participação do aluno no
processo de ensino/aprendizagem. Essas disciplinas também utilizam metodologias de ensino
baseadas na pesquisa e vivência prática, buscam a participação de empresários e outros atores
da comunidade de apoio ao empreendedorismo nas atividades de ensino, principalmente por
meio de depoimentos, de avaliação dos projetos e de serviços de tutoria e aconselhamento aos
iniciantes no mundo dos negócios. Por intermédio dessas estratégias para inserção de pessoas
da comunidade empresarial nas atividades acadêmicas, as escolas de negócios estreitaram as
relações com tais representantes com capacidade financeira que podem apoiar projetos
desenvolvidos na Instituição de Ensino Superior.
É necessária a capacitação dos educadores no “aprender a desaprender”, na busca de novas
estratégias metodológicas e reestruturação curricular (PAIM, 2001). Para formar
empreendedores, é aconselhável uma abordagem empreendedora.
4.2.1 Participação do aluno no processo de ensino/aprendizagem
Petrakis e Bourletidis (2005) defendem o ensino com participação ativa dos estudantes e
resoluções de problemas que sejam bem próximos aos encontrados no ambiente empresarial.
Jones (2005) defende a liberdade no processo de aprendizagem e a opção por atividades de
ensino que favoreçam o desenvolvimento de habilidades empreendedoras como a utilização
de estudo de caso e workshop. Porém, para o autor, a atividade de ensino mais completa seria
responsabilizar o aluno pela preparação e apresentação de um conteúdo da matéria para os
colegas. Essa atividade de ensino poderia desenvolver habilidades como comunicação,
trabalho em equipe, resolução de problemas, iniciativa, organização e planejamento, auto-
gerenciamento, aprender a aprender, negociação e rede de relacionamentos, entre outros.
41
Pereira (2000) acredita que um Programa Educacional para a Formação de Empreendedores
deve ter a visão de que o educando precisa ser considerado o sujeito de sua própria formação
em um processo interativo onde educador e educando se complementam.
Esse novo papel do professor de empreendedorismo como facilitador do processo de ensino e
aprendizagem é comentado também por outros autores, como:
“O repensar da ação acadêmica aponta para a emergência de novas bases sobre as quais
possa ser apoiada e reformulada a conduta do docente, não mais como agente ativo e exclusivo
da transmissão do saber, mas como coordenador e facilitador de múltiplas atividades na
construção do conhecimento, uma nova postura que abre espaço para o diálogo, para a
efetividade de um processo didático, no qual professor e aluno são atores.”
(PAIM, 2001, p.
39).
É aconselhável que o professor de empreendedorismo, sobretudo em uma Instituição de
Ensino Superior, esteja imbuído da necessidade de uma imersão não somente no saber
especializado e técnico, mas na horizontalidade da abordagem didática, saia do centro
propulsor e responsável do processo de ensino e aprendizagem para se tornar um facilitador,
um animador, um estudante pronto a romper, a transgredir e a lançar desafios (PAIM, 2001).
“As recomendações didático-pedagógicas assinalam a necessidade de adoção de métodos de
ensino que possam ser classificados como ativos e vivenciais, em que a participação discente
no processo de ensino/aprendizagem é permanentemente exigida para que resultados de
formação de competências para iniciativas autônomas, criatividade, persistência e inovação
possam ser desenvolvidas.”
(GUIMARÃES, 2002, p. 25)
Filion (1999) acredita que o ensino do empreendedorismo é possível a partir de uma
concepção pedagógica e ensino/aprendizagem diferentes da relação de aprendizagem passiva
entre professor/aluno, como são as abordagens tradicionais. Além disso, as disciplinas de
formação empreendedora subentendem a participação do aluno no processo de
ensino/aprendizagem (GUIMARÃES, 2002).
4.2.2 Participação de empresários nas atividades de ensino
Nieuwenhuizen e Groenwald (2004) apontam a importância de convidar empreendedores para
falar sobre suas experiências aos alunos. Não apenas nomes mundialmente consagrados como
Bill Gates, mas empreendedores locais que possam servir como modelos realísticos de
empreendedores para os alunos.
42
“Empreendedores de sucesso têm valiosas lições para ensinar e podem desempenhar um
importante papel de modelo para os alunos” (NIEUWENHUIZEN & GROENWALD, 2004,
p.11). O contato direto com empresários de sucesso, sobretudo da comunidade local, ajuda no
processo de estímulo para o empreendedorismo nos estudantes da IES.
Os professores podem e devem aproveitar a experiência de seus próprios alunos que são
empresários para que compartilhem com os colegas (PETRAKIS & BOURLETIDIS, 2005).
Além de terem uma visão concreta da prática empresarial, esses alunos empreendedores
podem contribuir com sua perspectiva de alunos, expressando necessidades de aprendizagem,
contribuições do curso aplicadas na atividade empresarial e assim enriquecer o ambiente de
ensino/aprendizagem.
Pereira (2000) destaca como uma das técnicas de aprendizado de um Programa Educacional
para a Formação de Empreendedores a utilização de depoimentos de empreendedores no
ambiente de aprendizado para contar aos alunos suas experiências no mercado. Baseando-se
no panorama sobre a formação empreendedora nas universidades norte-americanas,
Guimarães (2002) constatou que disciplinas direcionadas à formação empreendedora também
incluem a participação de empresários e outros atores da comunidade no apoio ao
empreendedorismo nas atividades de ensino, principalmente por meio de depoimentos, de
avaliação dos projetos de negócios e de serviços de tutoria e aconselhamento aos iniciantes no
mundo dos negócios.
4.2.3 Metodologias de ensino baseadas na pesquisa e vivência prática
Petrakis e Bourletidis (2005) defendem que o professor deve ser um intermediário, um
facilitador que ofereça aos estudantes a oportunidade de “aprender fazendo” em atividades
como trabalho em grupo e outras que estimulem a criatividade e tenham abordagens mais
chamativas do que a simples exposição oral. Hisrich (1992) afirma que os métodos
tradicionais de ensino não são os mais adequados para a educação empreendedora.
Filion (1999) defende mudanças na abordagem pedagógica do ensino que favoreçam o
desenvolvimento de habilidades necessárias a esse novo profissional que irá atuar em um
43
ambiente marcado pela incerteza, pela escassez de recursos e pela pouca definição dos
elementos da composição organizacional.
Metodologias tradicionais de ensino são aqui consideradas como aquelas com aula expositiva
onde o aluno tem o papel de absorver o conhecimento dado oralmente pelo professor. Davies
e Gibb (1991) criticam a adoção de métodos tradicionais de ensino com foco apenas na teoria
e os classificam como ‘inapropriados’ para a educação empreendedora.
Da mesma maneira Young (1997) critica a utilização de métodos tradicionais de ensino e
justifica que a experiência e habilidades práticas usadas pelos empreendedores não são algo
que possam ser adquiridos com uma abordagem de ensino convencional.
Jones (2005) defende o ensino do empreendedorismo através de metodologias alternativas da
convencional e relata uma experiência utilizando estudo de caso e jogos que simulem a
realidade do contexto empresarial, onde os alunos precisam resolver problemas, assumir
riscos, enfrentar desafios e serem responsáveis por parte do conteúdo a ser aprendido pela
turma.
Abordagens pedagógicas tradicionais podem não ser as mais apropriadas para o
desenvolvimento de habilidades, comportamentos e conhecimento empreendedor (GIBB,
2002; JONES, 2005). Para formar pessoas criativas, dinâmicas e com iniciativa, por exemplo,
é aconselhável ir além da reprodução teórica do conhecimento e ousar abordagens que
despertem a atenção dos alunos da Instituição de Ensino Superior e os motivem a pensar de
forma inovadora.
Considerando que o desenvolvimento de empreendedores está diretamente ligado em
trabalhar com as atitudes ou qualidades que devem ser desenvolvidas no educando, os
métodos de aprendizagem utilizados são tão importantes quanto o conteúdo a ser ensinado em
educação empreendedora (FOWLER, 1997). Assim, “a procura da produtividade em
educação e da eficiência nos processos de ensino suscita a necessidade de definir uma nova
pedagogia distinta da tradicional” (PAIM, 2001)
As recomendações didático-pedagógicas assinalam a necessidade de adoção de métodos de
ensino que possam ser classificados como ativos e vivenciais, em que a participação discente
44
no processo de ensino/aprendizagem é permanentemente exigida para a formação de
competências para iniciativas autônomas e a criatividade, persistência e inovação possam ser
desenvolvidas. (GUIMARÃES, 2002, p. 25)
4.2.4 Formas alternativas de avaliação do conteúdo
Ulrich e Cole (1987) apontam elementos que dificultam o processo de avaliação dos alunos
em cursos de empreendedorismo. Para os autores, o ensino baseado nas técnicas direcionadas
ao empreendedorismo nem sempre é concreto e, assim, a avaliação geralmente é feita em
cima de padrões mais subjetivos e difusos. Os estudantes estão acostumados a trabalhar com
padrões de avaliação bem objetivos e facilmente mensuráveis, modelo utilizado na estrutura
escolar desde a infância. Essa nova forma de avaliação também demanda mais tempo dos
docentes já que o acompanhamento mais orientado do processo de aprendizagem faz parte
desse modelo de ensino assim como dar permanente feed-back aos alunos sobre seu
desempenho.
Para um curso de empreendedorismo, é importante a adoção de formas alternativas de
avaliação do conteúdo que vão além da tradicional prova escrita. Esse é um dos Fatores
Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo apontado pela literatura específica
como mais relevante.
Pereira (2000) defende que um Programa Educacional para a Formação de Empreendedores
deve dar especial atenção a avaliação e esta deve ser contínua e cumulativa, privilegiando os
aspectos qualitativos sobre os quantitativos, sendo um acompanhamento valioso do processo
de ensino/aprendizagem.
Petrakis e Bourletidis (2005) defendem a participação do aluno como o responsável por passar
aos colegas parte do conteúdo a ser ensinado e sendo avaliado e cobrado por essa atividade.
Jones (2005) também defende uma auto-avaliação por parte dos alunos após as atividades
propostas e também o processo de avaliação aos pares.
45
4.2.5 Alunos com potencial empreendedor
Alguns autores chamam a atenção para o fato de se recrutar alunos com potencial
empreendedor para melhorar os resultados obtidos com o programa de empreendedorismo.
Potencial empreendedor seria o indivíduo que apresenta características latentes de um
empreendedor e pode vir a criar e dirigir empreendimentos (FOWLER, 1997). Essa visão está
dentro da corrente de pensamento que acredita que alguns traços e características específicas
dos empreendedores são natos e podem ser aperfeiçoados.
Hisrich (1992) destaca a necessidade de atrair para o empreendedorismo estudantes criativos,
confiantes e com imaginação. Dessa forma, o curso de empreendedorismo atingiria o
resultado esperado. Fowler (1997) chama a atenção para o fato de ser desejável que “algumas
características inerentes ao perfil empreendedor já sejam desenvolvidas nos candidatos ao
programa (PEE)”, ou seja, ao aluno que ingressará na Instituição de Ensino Superior. Isso,
entretanto, está fora do alcance da realidade das IES públicas brasileiras onde a seleção é feita
por meio do concurso chamado vestibular e que avalia conhecimentos teóricos de nível médio
por meio de uma prova escrita.
4.2.6 Professores com experiências empreendedoras
Os membros envolvidos com o Programa de Educação Empreendedora devem ter o ‘espírito
empreendedor’, ou seja, familiaridade principalmente com o processo de criação de empresas
(HISRICH, 1992). Fowler (1997) aponta como desejável ao professor de empreendedorismo
que, além da formação de pesquisador e titulação, ele possua experiência como empresário ou
executivo.
A realidade das IES públicas brasileiras é outro obstáculo nesse aspecto porque os docentes
efetivos trabalham em regime de dedicação exclusiva e são proibidos de exercer determinadas
atividades profissionais paralelas.
É aconselhável que o professor do PEE tenha um comportamento empreendedor já que o
docente é um dos mais importantes modelos dos estudantes e os exemplos dado por ele terão
muita relevância para os alunos (RABBIOR, 1990).
46
4.2.7 Centro de Empreendedorismo, Incubadora e Empresa Júnior
Entre os diversos mecanismos existentes para o apoio à inovação estão a interação e
cooperação entre empresas, Instituições de Ensino Superior e as incubadoras de empresas,
especialmente no caso de novos empreendimentos.
Uma das principais vantagens oferecidas pelas incubadoras é a maior facilidade de acesso às
linhas de crédito e financiamento disponibilizadas por instituições como a Financiadora de
Estudos e Projetos (FINEP), por exemplo. A incubadora também oferece vantagens na
divulgação da empresa e do produto, além de oferecer suporte e apoio ao novo empresário.
A existência de estruturas de apoio como incubadoras compõem o que Bygrave (1997) define
como fatores ambientais que impulsionam no processo empreendedor no surgimento de um
novo negócio
O centro de empreendedorismo (também chamado de núcleo de empreendedorismo) visa
dirigir, promover e dar suporte ao desenvolvimento da educação empreendedora (HEGARTY,
2005). Guimarães (2002) destaca a importância da sustentação do modelo norte-americano de
formação empreendedora nas universidades a partir de centros de empreendedorismo que
servem para estreitar os laços com a comunidade empresarial e entidades de suporte aos
novos negócios.
O papel da Instituição de Ensino Superior na sua relação com o setor produtivo pode ir além
do ensino e da formação e estimular, por exemplo, a cooperação entre empresas,
universidades e centros de pesquisa para a transferência de tecnologia gerada no meio
acadêmico para o mercado. Essas atividades de extensão podem incluir a formação de centros
de pesquisa para o desenvolvimento tecnológico cooperativo, incubadoras e parques
tecnológicos (GEM, 2006), por exemplo.
Embora no Brasil vários cursos de nível superior abordem o estudo do empreendedorismo,
ainda não há uma boa e adequada preparação que possibilite aos alunos lidar com empresas
em fase de início e crescimento (GEM, 2006). Este é considerado o período crítico da
atividade empresarial. Centros de empreendedorismo, incubadoras ou empresas juniores
podem auxiliar decisivamente a empresa nesse processo contribuindo para o seu sucesso.
47
4.3 Instituições de apoio
Instituições de apoio financeiro e de desenvolvimento são de grande importância no processo
de estímulo ao empreendedorismo. Esses mecanismos de suporte auxiliam com recursos,
assessoria, estrutura e até recursos financeiros.
Ações governamentais como a Lei de Patentes e a Lei da Inovação ou mesmo as facilidades
do acesso das pequenas empresas às diversas linhas de financiamento para a inovação
contribuem para uma melhoria do cenário brasileiro com relação ao apoio à inovação
empresarial (GEM, 2006).
O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é uma das mais
completas instituições de apoio ao desenvolvimento de pequenos empreendimentos no Brasil
e presta assessoria ao crédito, tecnologia, gestão, mercado, capacitação e orientação
empresarial. Foi criado dentro da estrutura do Ministério do Planejamento, oriundo de
iniciativas de apoio aos pequenos estabelecimentos realizadas no Nordeste. Entrou em
atividade em 1972 como Centro Brasileiro de Assistência Gerencial à Pequena
Empresa (CEBRAE). Em 1990, assumiu a nova denominação e passou a atuar como uma
entidade associativa de direito privado, sem fins lucrativos, sob a forma de serviço social
autônomo. O SEBRAE tem desempenhado um importante papel como coordenador de
informações sobre oportunidades de negócios e como facilitador de atividades
empreendedoras no Brasil.
Entre os produtos da educação empreendedora oferecidos pelo SEBRAE visando tornar mais
eficiente a gestão dos pequenos negócios estão cursos e palestras; informações e consultorias;
publicações; promoção de eventos e premiações.
4.3.1 Agências de desenvolvimento do governo
Fowler (1997) corrobora com a teoria existente quanto à necessidade das redes de apoio no
estímulo à criação e desenvolvimento de pequenas empresas dentro de um Programa de
Educação Empreendedora e destaca a importância de ações de agências de desenvolvimento,
bancos, políticos e outros nesse processo de suporte.
48
Políticas governamentais de auxílio são definidas como fatores ambientais que impulsionam o
processo empreendedor no surgimento de um novo negócio (BYGRAVE, 1997). Uma
iniciativa formal por parte dos órgãos oficiais do governo pode auxiliar na disseminação do
empreendedorismo no Brasil. Iniciativas nesse sentido vindas dos governos municipal,
estadual e federal acontecem de forma isolada no país através de programas que
principalmente tentam favorecer a micro e pequena empresa. O SEBRAE, por exemplo,
oferece capacitação, assessoria e consultoria para o pequeno empresário.
Andrade (2003) destaca a importância da existência de políticas governamentais e condições
macroeconômicas favoráveis para estimular o surgimento de novos negócios. Em um
contexto econômico extremamente adverso, lançar-se na atividade empresarial é ainda mais
complicado.
Pereira (2000) acredita que em um Programa Educacional para a Formação de
Empreendedores devem atuar não só a Instituição de Ensino Superior como os governos,
principalmente os municipais, por meio da sua capacidade de agir localmente.
4.3.2 Instituições de apoio financeiro
Fowler (1997) afirma, em concordância com a teoria existente, a necessidade e importância
das redes de apoio no estímulo à criação e desenvolvimento de pequenas empresas dentro de
um PEE e destaca a relevância das ações de agências de desenvolvimento, bancos, políticos e
outros nesse processo de suporte.
Recursos são fatores ambientais que impulsionam o processo empreendedor no surgimento de
um novo negócio (BYGRAVE, 1997). Recursos financeiros são essenciais para qualquer tipo
de empreendimento, sobretudo no início das atividades.
Van de Ven (1993) ressalta a importância de uma infra-estrutura de apoio institucional que
estimule o empreendedorismo e auxilie a obter bons resultados, como linhas de financiamento
obtidas junto aos órgãos de fomento tais como FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de Minas Gerais), FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), FAPESP
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico), entre outros.
49
Os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo no contexto de uma
Instituição de Ensino Superior foram identificados ao longo do capítulo e estão sintetizados na
Tabela 1, divididos em três grupos. Fruto da revisão na literatura específica do
empreendedorismo, esses FCS serão avaliados no estudo de caso selecionado e apresentado
no Capítulo 5.
50
51
5 - Capítulo 5 – O caso do Instituto Nacional de
Telecomunicações, o INATEL
“Pois os homens não são somente eles; são também a região onde nasceram, a
fazenda ou o apartamento da cidade onde aprenderam a andar, os brinquedos
que brincaram quando crianças, as lendas que ouviram dos mais velhos, a
comida de que se alimentaram, as escolas que freqüentaram, os esportes em
que se exercitaram, os poetas que leram e o Deus em que acreditaram.”
(William Somerset Maugham, O Fio da Navalha).
5.1 Planejamento da Pesquisa e Coleta dos dados
Foi estudado o caso do Instituto Nacional de Telecomunicações – o INATEL, fundado em
1965, localizado em Santa Rita do Sapucaí, sul de Minas Gerais. O INATEL possui os cursos
de graduação em Engenharia Elétrica, na modalidade Eletrônica e especializada em
Telecomunicações e Engenharia da Computação. É uma instituição particular de ensino
mantida por uma fundação de direito privado sem fins lucrativos.
5.2 Critérios para seleção do caso
As principais razões pelas quais o INATEL foi escolhido para ser o objeto de estudo desse
trabalho foram:
Quanto ao reconhecimento como “caso de sucesso” - o INATEL é campeão do “Prêmio
Melhores Universidades Guia do Estudante e Banco Real 2006”, na categoria
Empreendedorismo; vencedor do prêmio Melhor programa de incubação de empreendimentos
inovadores orientados para o uso intensivo de tecnologias, concedido pela ANROTEC, em
2005; obteve em 2002 o certificado de qualidade da norma ISO 9000:2000, inserindo-se no
seleto grupo de incubadoras de empresas certificadas em todo o mundo; Santa Rita foi a
primeira cidade da região Sudeste a receber, em 2001, o Prêmio Mário Covas Prefeito
Empreendedor, concedido pelo SEBRAE a municípios que apóiam o investimento em
pequenos negócios.
52
Quanto ao acesso – em contato com a diretoria do INATEL, a mesma foi receptiva ao
desenvolvimento da pesquisa, que era compatível com os recursos disponíveis e o prazo
estipulado para a realização dessa dissertação de mestrado.
Quanto ao pioneirismo - Pelo fato da cidade de Santa Rita do Sapucaí sediar a primeira
escola técnica de eletrônica do país, a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da
Costa, a ETE, fundada em 1958 e sediar também a primeira instituição isolada de ensino
superior em telecomunicações do Brasil, o INATEL, fundado em 1965.
5.3 Metodologia
A escolha da metodologia utilizada na pesquisa define onde e como esta será realizada
(SILVA & MENEZES, 2005). O método de pesquisa adotado foi escolhido em função das
características específicas da questão a ser respondida. No presente trabalho, a questão de
pesquisa é:
Quais são os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo presentes no
contexto de uma Instituição de Ensino Superior que estimulam a criação de novas empresas
de base tecnológica?
Tendo em vista que a definição do instrumento de coleta de dados deve ser feita de acordo
com os objetivos pretendidos com a pesquisa e o universo a ser investigado, o presente
trabalho utilizará de observação, análise documental de dados secundários e entrevista. A
escolha desses três métodos visa minimizar a perda de possíveis informações que não seriam
coletadas utilizando apenas um ou outro método de maneira isolada por causa das suas
características. As técnicas de coleta de dados utilizadas buscam uma triangulação que
possibilita aumentar a confiabilidade confrontando resultados obtidos através de diferentes
fontes.
Há muito que o estudo de caso foi e continua sendo estereotipado como o "parente pobre"
entre os métodos de ciência social sendo denegrido como se contivesse precisão, objetividade
e rigor insuficientes (YIN, 2005). Tal preconceito, porém, é equivocado. Em situações em que
53
o volume de informações disponíveis é reduzido, o estudo de caso é técnica mais
recomendada para a execução da pesquisa. Por esse motivo, o estudo de caso foi utilizado
nesse trabalho.
“O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e
significativas nos acontecimentos da vida real - tais como o ciclo de vida, processos
organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações
internacionais e a maturação de setores econômicos.”
(YIN 2005, p. 20).
Bryman (1989) aponta como uma das vantagens do estudo de caso confirmar os resultados de
pesquisas aplicáveis no mundo real. O estudo de caso é a estratégia utilizada para abordagem
qualitativa do objeto de estudo para, geralmente, responder a questões do tipo “como” e “por
que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e o foco está em
fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005). O caso do
INATEL será abordado considerando a evolução histórica do contexto onde está inserido que
é o município de Santa Rita do Sapucaí, localizado no sul de Minas Gerais. Dissociar a
evolução da educação empreendedora no INATEL e o papel no estímulo de aberturas de
empresas de base tecnológicas por seus alunos e ex-alunos, objeto de estudo dessa
dissertação, da evolução do município seria desconsiderar o contexto local, a estrutura física e
cultural que permeia o fenômeno de criação de novos negócios. Essa variável municipal,
embora não relacionada especificamente como um Fator Crítico de Sucesso de estímulo ao
empreendedorismo, será analisada como contexto cultural e sua influência será considerada.
Definida a metodologia, o problema passou a ser a opção por um único caso ou múltiplos
casos. A segunda alternativa foi descartada em favor da opção por um caso único por permitir
a elaboração de um estudo mais rico e aprofundado, o que dificilmente ocorreria de outra
forma por limitações de recursos e tempo.
As fontes de evidências selecionadas para a coleta de dados são a observação direta, análise
documental e entrevista estruturada. Com relação à documentação, Yin (2005) chama a
atenção para a utilização cuidadosa dos mesmos, que não devem ser tomados como registros
literais dos eventos que ocorreram sendo que sua maior importância está em corroborar e
valorizar as evidências oriundas de outras fontes. Bryman (1989) destaca que esse método é
54
usualmente utilizado em combinação com outros, sobretudo associado à entrevista e
questionários.
Entre os documentos utilizados nessa dissertação de mestrado estão cartas, memorandos,
documentos administrativos, recortes de jornais e revistas. Entre os pontos fortes da utilização
dessa fonte de evidência estão: exatidão em relação a nomes, referências e detalhes de um
evento; poder ser revisadas inúmeras vezes pelo pesquisador; cobertura ampla ao longo do
tempo e espaço (YIN, 2005).
A observação é um dos instrumentos de coleta de dados onde o pesquisador utiliza os sentidos
na obtenção de dados e determinados aspectos da realidade (SILVA & MENEZES, 2005).
Nesse método, o pesquisador faz observações planejadas a respeito de algo já definido
previamente (BRYMAN, 1989). Como uma das vantagens existentes na utilização desse
método está a percepção em relação a comportamentos abordando os acontecimentos em
tempo e contexto que ocorrem (YIN, 2005). Neste trabalho será utilizada a observação como
forma de investigar a percepção da valorização ou repulsa a atividade empreendedora como
carreira por parte dos docentes, alunos, funcionários, direção do INATEL e empresários,
graduados ou incubados.
Essa questão está associada à percepção cultural e a visão, positiva ou negativa, pode ter
influencia na visão coletiva do empreendedorismo. Durante a realização das entrevistas, essa
questão foi observada através de sinais não verbais, não presentes na fala, mas que
forneceram evidências que auxiliassem na compreensão do fenômeno empreendedor por parte
dos entrevistados.
As entrevistas são apontadas como uma das principais fontes de informações para um estudo
de caso (YIN, 2005) e como principais vantagens da utilização desse método estão serem
direcionadas ao tópico estudado e fornecerem inferências causais perceptíveis. Entre os
pontos fracos estão as imprecisões que podem ocorrem devido a falhas de memória do
entrevistado. Para minimizar esse problema foi utilizado, em conjunto, o método de análise
documental.
55
Foi conduzida uma entrevista estruturada, com roteiro pré-definido (Anexo A), não havendo,
porém, rigidez para melhor explorar algumas questões. Essas entrevistas foram gravadas com
o consentimento dos entrevistados e transcritas.
Devido ao número de entrevistados, eles foram agrupados em Ei (Empresário Incubado, com
empresa ainda residente na incubadora de empresas do INATEL), Eg (Empresário Graduado,
ou seja, que a empresa já deixou a incubadora do INATEL por ter completado o período de
incubação), P (Professor do INATEL), A (Aluno de graduação do INATEL), Dir (diretor ou
ex-diretor do INATEL), Gi (Gerente da incubadora), Si (Secretário da incubadora).
Foram realizadas 66 entrevistas estruturadas com membros da comunidade do INATEL
divididos em cinco grupos: docentes, funcionários de parte administrativa, alunos,
empresários incubados (proprietários de empresa residente na incubadora do INATEL) e
empresários graduados (proprietários de empresa graduada pela incubadora do INATEL).
Dos 63 docentes do quadro do INATEL, 34 foram ouvidos, o que representa 54% dos
professores. Essa proporção tomada por seleção aleatória se justifica porque o objetivo da
pesquisa centrava-se em investigar o INATEL enquanto Instituição de Ensino Superior
estimulando a formação empreendedora nos alunos através de elementos de estímulo ao
empreendedorismo. Ouvir os docentes, sobretudo através de entrevistas estruturadas foi uma
forma de dar voz às práticas de sala de aula, de investigar o real sentimento do
empreendedorismo que chega aos alunos através de uma comunicação não intencional por
parte dos professores.
Dos empresários em processo de incubação foram ouvidos 55%, ou seja, 6 empresários dos
11 existentes. Essa proporção se justifica pela facilidade de acesso, disponibilidade e pela
ligação direta desses empresários com os elementos da educação empreendedora. Por estarem
inseridos no NEMP (Núcleo de Empreendedorismo do INATEL), esses empresários
participam de várias atividades do Núcleo de Empreendedorismo e vivenciaram a expansão
da educação empreendedora na instituição como alunos. Em apenas uma empresa das
entrevistadas, os sócios são formados há mais de cinco anos. As outras empresas todas
possuem como sócios ou um aluno de graduação ou um ex-aluno recém formado.
56
Com relação aos empresários graduados a proporção de entrevistas foi menor, 25% do total.
Foram ouvidos 6 empresários dos 24 já graduados. Os proprietários dessas empresas,
sobretudo as mais antigas, não viveram os programas de empreendedorismo oferecidos pelo
INATEL (que só tiveram início em 1999 com o NEMP, sendo que a incubadora já existia
formalmente desde 1992). Alunos que se formaram antes de 2000 não cursaram também as
disciplinas de empreendedorismo, que até então não eram oferecidas. A importância de ouvi-
los está em perceber a existência ou não de fatores da educação empreendedora capazes de
estimular a abertura de negócios de base tecnológica antes da estruturação do
empreendedorismo no INATEL, sobretudo anterior à criação do Núcleo de
Empreendedorismo, o NEMP. Foram selecionadas empresas recém graduadas, empresas
graduadas há mais tempo e, inclusive, empresas que fizeram parte da primeira turma de
empresas incubadas, contemporâneas da criação do Vale da Eletrônica.
A outra categoria de funcionários inclui a direção do INATEL, coordenação pedagógica,
gerente da incubadora, coordenador pedagógico do NEMP, ex-diretor do INATEL e outros
funcionários. Essa categoria, por ser abrangente, não possui um número máximo de
entrevistados e foram selecionados, baseados na relevância e acessibilidade, pessoas-chave
que pudessem ajudar a compor o cenário de evolução da educação empreendedora na
instituição.
Foram ouvidos 15 alunos de graduação do INATEL selecionados de maneira aleatória e
independente do curso de graduação cursado. Esses alunos foram classificados em três
categorias, com 5 entrevistados cada: iniciantes (cursando os primeiros períodos),
intermediários (cursando a metade da graduação) ou avançados (cursando os últimos períodos
da graduação). Dos entrevistados iniciantes, 2 eram alunos de primeiro período, 2 alunos de
segundo período e 1 aluno de terceiro período. Dos entrevistados intermediários, 2 eram
alunos de quinto período e 3 eram alunos do sexto período do INATEL. Quanto aos alunos
avançados, 3 eram alunos do nono período e 2 eram alunos do décimo período.
O protocolo de pesquisa para o estudo de caso contendo os Fatores Críticos de Sucesso a
serem investigados e a forma de obtenção dos dados a ser utilizada está descrito na Tabela 2.
57
58
5.4 Contexto histórico-cultural do empreendedorismo em Santa Rita do
Sapucaí.
Santa Rita do Sapucaí é um município localizado no sul de Minas Gerais, na Serra da
Mantiqueira, distante 150 km de São José dos Campos, 220 km de São Paulo e 430 km de
Belo Horizonte. Possui 35 mil habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) duas vezes maior
do que o brasileiro. O índice de desemprego é baixo e o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) de Santa Rita é 0,789, pouco maior do que o IDH brasileiro, que é 0,775 (MARQUES,
2006) e toda a sua vida urbana gira em torno da eletrônica (PINTO, 1991).
Em torno de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) de Santa Rita do Sapucaí é gerado pelas 120
empresas de base tecnológica que atuam na cidade (RUBIN, 2007). Dessas empresas de
pequeno e médio porte, 95% atuam em segmentos como eletrônica, automação industrial,
matéria-prima, informática, telecomunicações e prestação de serviços (MAIA, 2007). Juntas,
faturaram no ano de 2006 mais de R$ 680 milhões em vendas de produtos de alta tecnologia,
o que significa aumento de 48% em relação ao volume registrado em 2005 (BAETA, 2007).
Cerca de 20% dessa receita foi obtida com exportações, somando R$ 60 milhões no ano de
2006. Esse valor representa de 12% da produção total no período (BAETA, 2007). A meta
dessas empresas tecnológicas situadas no município é aumentar em 30% as vendas para o
mercado internacional e conquistar novos mercados. O Mercosul é hoje o principal destino
das exportações das empresas de base tecnológica de Santa Rita do Sapucaí (MAWAKDIYE,
2007). Em dezembro de 2006, o Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e
Similares do Vale da Eletrônica (SINDIVEL) fechou um acordo com o governo federal
através da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos, a APEX. A partir dessa
parceria, as empresas sindicalizadas, o que corresponde a quase 100%, contarão com o know-
how da APEX para participar de feiras internacionais, missões empresariais e cursos de
capacitação voltados para a exportação.
As empresas de tecnologia de Santa Rita do Sapucaí crescem, em média, 30% ao ano (MAIA,
2007), sendo que a inovação é um fator constante nas indústrias da cidade. Cerca de 20% dos
produtos fabricados em Santa Rita do Sapucaí têm menos de um ano e meio de vida. São
produzidos mais de 6 mil itens de ponta, que vão de sensores eletrônicos a sistemas de
59
automação industrial, de equipamentos de segurança a aparelhos de MP3 e componentes para
TV a cabo (MAWAKDIYE, 2007). Juntas, essas empresas de tecnologia empregam 35% da
população economicamente ativa da cidade, estimada em 15mil habitantes, em forma de
6.300 empregos diretos, o que corresponde a quase metade das atividades econômicas do
município (MAIA, 2007). A prefeitura atual destinou R$ 6,3 milhões para a implantação de
um novo distrito industrial no município. Parte da verba será usada na construção de um
espaço para feiras e eventos.
Porém, se a realidade da cidade difere das outras pequenas cidades do interior, a história de
Santa Rita do Sapucaí, não. Os primeiros habitantes da região foram uma família de
portugueses que chegaram por volta de 1800, trazendo consigo uma imagem de Santa Rita de
Cássia, santa de devoção. Para pagar uma promessa feita à santa, a família doou um pedaço
equivalente a oito alqueires de terra para a construção de uma capela. No dia 22 de maio de
1825 o Padre Mariano Accióli de Albuquerque celebrou a 1ª missa, marco da fundação de
Santa Rita do Sapucaí. Em 1892 foi elevada à cidade, conservando o nome da padroeira.
A cidade foi erguida às margens do Rio Sapucaí, que nasce na Serra da Mantiqueira, em
Campos do Jordão, no estado de São Paulo, a uma altitude de 1650m e desce a serra em lado
oposto ao oceano. Atravessa 309 km em Minas Gerais até desaguar no Lago de Furnas a
780m de atitude, num percurso total de 343 km (SINGE, 2007), onde encontra o Rio Grande e
seus afluentes.
O nome “Sapucaí”, de origem indígena, pode ter relação com uma árvore da família das
Lecitidáceas (Lecythidaceae), existente na floresta amazônica e na Mata Atlântica, que chega
a atingir 30m de altura e 1,5m de diâmetro. Sapucaia (Lecythis ollaria) em Tupi significa
“árvore que grita”, uma alusão ao barulho que o fruto da árvore faz ao estourar. Muito comum
na região, hoje a sapucaia praticamente desapareceu das margens do Rio Sapucaí ou “rio que
grita”, como foi chamado pelos índios.
Da sua fundação até a metade do século XX, a cidade teve uma vida típica de pequenos
municípios do interior sul mineiro, onde a atividade que se destacava era a agropecuária, com
destaque para as plantações de café e a pecuária leiteira. No cenário político, a atividade
agropecuária do Sul de Minas tinha prestigio e elegeu dois presidentes da República: Delfim
60
Moreira (governou de 1918 a 1919) e Wenceslau Braz (governou de 1914 a 1918), numa
época da História do Brasil que ficou conhecida como “política do café-com-leite” e
consolidou o poder das elites rurais do sudeste. A presidência do Brasil se alternava nas mãos
de paulistas (apoiados pelo poder econômico do café) e mineiros (apoiados pela pecuária
leiteira).
5.5.1 Sinhá Moreira e a fundação da ETE – Escola Técnica de Eletrônica Francisco
Moreira da Costa.
De acordo com o Dicionário Aurélio, “sinhá” era o tratamento dado pelos escravos a sua
senhora. Quando Luzia Rennó Moreira nasceu em Santa Rita do Sapucaí, no ano de 1907, a
escravidão já havia acabado no Brasil e o café e o leite eram os principais produtos da cidade.
Filha do banqueiro e líder político Francisco Moreira da Costa e descendente de uma família
de políticos tradicionais, a “Sinhá Moreira”, como ficou conhecida, era prima do ex-
presidente Delfim Moreira e membro de uma das famílias mais tradicionais da cidade.
Casada com o diplomata Antônio Moreira de Abreu, a Sinhá Moreira viveu no Japão como
embaixatriz nos anos 30 e conheceu diversos países como Estados Unidos, México, Bélgica,
Portugal e Colômbia. Separou-se em 1936 e voltou a morar com os pais em Santa Rita do
Sapucaí. Assumiu o papel de líder comunitária e benfeitora, oferecendo bolsas de estudos,
remédios e outros tipos de ajuda aos pobres da cidade. Visionária, lançou nos anos 50 uma
empresa que construía casas populares para trabalhadores de baixa renda e financiava o
pagamento a longo prazo, numa época em que mal se falava em casas e loteamentos
populares. O Banco Nacional de Habitação (BNH), criado pelo governo federal para financiar
casas populares, só foi criado após 1960.
O maior projeto de Sinhá Moreira era a construção da Escola Técnica de Eletrônica Francisco
Moreira da Costa, que começou a funcionar em 1959 em Santa Rita do Sapucaí. A instituição
foi construída praticamente com recursos próprios e o nome homenageia o pai da Sinhá
(FONTES, 2007).
Na cidade de Santa Rita do Sapucaí, há quem afirme que foi graças ao que Sinhá Moreira
acompanhou do processo de industrialização do Japão e seu investimento em tecnologia no
período que antecedeu a 2ª Guerra Mundial que a inspirou e convenceu de que aquele era o
61
modelo de desenvolvimento e prosperidade. Outros afirmam que, como a tecnologia
desenvolvida no Japão daquela época era de cunho militar, a idéia de criar a escola técnica em
Santa Rita do Sapucaí pode ter surgido em algumas visitas que a Sinhá Moreira fez ao
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) na década de 50 e a Escola de Engenharia de
Eletrônica de Itajubá. Certo é que no período em que o Brasil ainda importava a maioria dos
seus aparelhos de rádio (MAWAKDIYE, 2007), a Sinhá Moreira começa a trabalhar pela
implantação de um curso voltado à tecnologia na cidade de Santa Rita do Sapucaí, que não era
mais do que um povoado, num país onde não existia nenhum curso técnico em atividade
(FONTES, 2007).
Em 17 de setembro de 1958, o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira assinou o decreto
n° 44.490 que criava o curso técnico em eletrônica no Brasil. Em 1959 entra em
funcionamento a ETE – Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa, a primeira
escola técnica de eletrônica da América Latina e que foi, durante alguns anos, a única
fornecedora de mão-de-obra especializada em eletrônica do país. Para o primeiro concurso de
seleção se inscreveram 46 candidatos, sendo que apenas 13 foram aprovados. Para a condução
da proposta educativa foi convidada a Companhia de Jesus e até hoje a ETE é conduzida
pelos padres jesuítas. O curso sempre foi integral com disciplinas técnicas e matérias do
ensino regular. O curso era tão pioneiro que os alunos estudavam a teoria da televisão sem
tem televisão em casa (FONTES, 2007).
O ambiente tecnológico trazido pela ETE Francisco Moreira da Costa não se restringia apenas
às salas de aulas e dependências da instituição. Ao poucos a presença dos estudantes, vindos
de todo o Brasil, foi se misturando à tradicional sociedade local influenciando e se deixando
influenciar por esse contexto.
Luzia Rennó Moreira, a Dona Sinhá, inovou, rompeu paradigmas e fez do seu sonho, da sua
visão, um marco no crescimento e desenvolvimento da comunidade onde ela estava. As
condições do município não eram as mais favoráveis (agrícola e distante das capitais); as
condições sociais não eram as mais favoráveis (tradicional sociedade mineira onde o poder
estava nas mãos da elite agropecuária), mas a partir da criação da ETE o município tomou
novos rumos e hoje é nacionalmente conhecido por sua tecnologia.
62
A ETE foi criada com uma proposta de educação e modelo de ensino ousados para a época,
apoiados no conceito de escola de tempo integral, numa estrutura de residência estudantil e na
condução e orientação dos padres jesuítas.
“a escola de eletrônica não é uma escola jesuíta, eu não sei se você sabe disso. É uma escola
dirigida por jesuítas. A Dona Sinhá criou a escola toda e disse: ‘eu não sei tocar escola. Mas o
jesuíta sabe’. Então, por estatuto, o presidente da fundação tem que ser um padre jesuíta”
(P32, professor)
ETE e INATEL compartilham, desde sua origem, de princípios, reflexões, tendências
educacionais e tecnológicas, análise de mercado de trabalho, atualização docente e
administrativa, iniciativas de aproximação escola-empresa, integração do aluno ao ambiente
externo ao acadêmico, entre outras.
5.5.2 Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL.
Em março de 1965 começou a funcionar o Instituto Nacional de Telecomunicações – o
INATEL, a primeira instituição brasileira de ensino superior em telecomunicações (RNT,
2006) oferecendo o curso de Engenharia de Operação em Telecomunicações, com duração de
três anos. Eleito primeiro diretor do INATEL, o professor José Nogueira Leite comandou os
esforços para que o instituto fosse criado.
A Fundação Dona Mindoca Rennó Moreira homenageia a mãe da Sinhá Moreira, Maria
Palma Rennó Moreira, mais conhecida como Mindoca, e foi formada para viabilizar o projeto
da ETE Francisco Moreira da Costa. Foi a instituição criadora do INATEL, num acordo onde
a ETE cederia laboratórios, salas de aula, biblioteca e instalações desportivas para os alunos
do recém criado instituto, na medida da sua disponibilidade (SOUZA, 1994).
“sem sede própria, sem dinheiro para pagamento de salários, sem equipamentos para sustentar
o seu ensino teórico e com dificuldades para o reconhecimento do curso (...) o seu projeto
sobreviveu por causa do idealismo e da perseverança daqueles que estiveram à sua frente em
todos os momentos.”
(SOUZA, 1994, p. 31).
O próximo diretor a assumir o INATEL foi o professor Fredmarck Gonçalves Leão. Sob sua
gestão foi criada, em dezembro de 1969, a Fundação Instituto Nacional de Telecomunicações
– FINATEL – entidade sem fins lucrativos, mantenedora e gestora do INATEL.
63
Os primeiros anos de existência do INATEL foram marcados por esforços para evitar o
fechamento do instituto. Até mesmo uma sala de aula foi construída com recursos vindos de
doações da comunidade santarritense. Os professores passavam longos períodos sem receber
salários, as instalações eram improvisadas e os alunos eram chamados a colaborar com a
escola. É o que diz um ex-aluno, hoje professor do INATEL, ao lembrar o início do seu curso:
“eu me lembro que a gente não sabia se a escola iria continuar (...). O diretor era o prof.
Fredmark e um dia nos reuniu e falou o seguinte: ‘semana que vem não tem aula. Cada um vai
pra sua casa e vai ver em que pode ajudar a escola. Se seu pai tiver uma olaria, você traz
tijolo. E semana que vem a gente se reúne’. Eu me lembro que o meu pai era diretor
administrativo da Rede Ferroviária Federal e, portanto, a gráfica da Rede Ferroviária estava
sob o comando dele. Foi o primeiro ‘folder’, o primeiro ‘flyer’ do INATEL; e foi feito na Rede
Ferroviária Federal. O que eu podia colaborar era isso. Era um ‘flyer’ azul, com uma
parábola. A equipe da Rede Ferroviária desenvolveu o texto, com dicas que eu dei, e meu pai
mandou imprimir.”
(P32, professor).
A partir de 1970, houve muitos investimentos governamentais e grande crescimento nacional
no setor de telecomunicações, com a criação da EMBRATEL (Empresa Brasileira de
Telecomunicações) e a TELEBRÁS (Telecomunicações Brasileiras S/A) para promover a
pesquisa e desenvolvimento em telecomunicações. Isso teve um impacto muito positivo para
o INATEL e houve grande absorção dos profissionais formados pelo instituto pelo mercado.
Cerca de 30% dos engenheiros contratados pelo grupo TELEBRÁS eram ex-alunos do
INATEL. Nessa mesma época, assumiu a direção do INATEL o professor Luiz Gomes da
Silva Júnior que permaneceu no cargo de 1970 a 1985.
Porém, a partir de 1980, o Brasil passou por uma crise econômica provocada pelo
endividamento externo que levou o governo a instaurar uma política de recessão e a encerrar
os investimentos no setor de telecomunicações (Moragas, 1999), o que gerou desemprego e
dificuldade de absorção dos profissionais formados pelo INATEL. Dificuldade por um lado,
oportunidade por outro. O processo de empreendedorismo no INATEL e em Santa Rita do
Sapucaí acelerou-se nessa época.
"a escassez de investimentos públicos no setor das telecomunicações acabou por desafiar
muitos profissionais formados em Santa Rita do Sapucaí, principalmente em engenharia pelo
INATEL, a criar seus próprios negócios, uma vez que eram grandes o desemprego e a crise nos
centros maiores, tradicionais empregadores dos jovens formados pelas escolas dessa cidade"
(SOUZA,1994, p. 38)
64
Em agosto de 1985, logo após assumir a direção do INATEL, o professor Navantino Barbosa
foi procurado pelo então vice-prefeito da cidade Paulo Frederico Toledo, o “Paulinho
Dentista”, que buscava uma forma de gerar empregos para os moradores de Santa Rita do
Sapucaí. A inspiração foram as malharias do Sul de Minas Gerais, como Monte Sião e
Jacutinga, onde famílias inteiras trabalhavam em suas próprias casas fornecendo bordados e
acabamentos, entre outros, para as indústrias locais.
Foi realizada a primeira Feira Industrial de Santa Rita do Sapucaí numa tentativa de descobrir
uma vocação natural da cidade e verificar o que já existia na área empresarial, mesmo que a
empresa não fosse registrada. As pessoas da comunidade foram convidadas para expor seus
produtos, fossem de tecnologia ou não. Para essa feira, foi utilizado o ginásio poliesportivo do
INATEL.
O resultado da feira entusiasmou a prefeitura, INATEL e a comunidade local:
“E nós nos surpreendemos quando vimos lá dentro algumas dezenas, talvez duas a três dezenas
de iniciativas que podiam se transformar realmente em indústrias com um pequeno
empurrãozinho”
(Dir48, ex-diretor do INATEL).
Por iniciativa da Prefeitura Municipal, do INATEL e de alguns empresários locais, decidiu-se
criar em Santa Rita do Sapucaí um pólo industrial nas áreas de telecomunicação, eletrônica e
informática. A partir desta iniciativa, foi lançado pela prefeitura um programa oficial de
incentivo às indústrias e criou-se o chamado “Vale da Eletrônica”.
O INATEL passou a incentivar a criação de produtos e empresas a partir de sua infra-
estrutura, atendendo prioritariamente à sua comunidade acadêmica. Teve início o que viria a
se chamar mais tarde de “Programa de Incubação de Empresas e Produtos do INATEL”.
De 1985 a 1992, estas atividades foram gerenciadas pelo INATEL de maneira informal, sendo
cada caso analisado e tratado individualmente e julgado de acordo com suas particularidades.
“E aí que a gente começou a incentivar aqui dentro (do INATEL), a dar salinhas para alunos
que quisessem desenvolver projeto. Naquela época não se usava a expressão "incubadora". O
nome ‘incubadora de empresas’ nós fomos conhecer depois.”
(Dir48, ex-diretor do
INATEL).
65
Durante vários anos o INATEL cedeu pequenas salas e laboratórios para alunos e ex-alunos
que se dedicavam a desenvolver um projeto de produto para comercialização. Professores
auxiliavam na parte técnica, os laboratórios estavam disponíveis para utilização e assim idéias
foram amadurecendo, conquistando mercado e tornando-se empresas. Tudo de maneira
informal. Portanto, o processo de incubação de empresas do INATEL é anterior à existência
da incubadora; ao contrário do que geralmente acontece, para essas empresas a incubadora
não foi a causa do seu surgimento e sim o contrário, ou seja, esse processo caseiro de
incubação que resultou na criação da incubadora de empresas do INATEL.
“No começo ela era informal. O cara chegava e eu decidia: ‘ desocupa aquela sala ali que e
cede para o fulano’. Não tinha contrato. Não tinha nada assinado. Ele entrava lá e daí a seis
meses era: ‘como é que é, vai sair? Tem mais gente precisando, não tem mais espaço.’ Tudo na
base da informalidade.”
(Dir48, ex-diretor do INATEL).
Em 1992, o Programa Incubadora de Empresas e Produtos do INATEL passou a ter
instalações próprias e um regulamento específico. A instituição escolheu um professor e
deixou seu cargo o processo de estruturação da incubadora de empresas do INATEL. Ele
lembra:
“o processo de empreendedorismo veio caminhando pelo INATEL muito antes de 1999 e veio
caminhando de modo muito informal. E eu te confesso que um dos grandes receios meus era
normalizar algo que informalmente era eficiente, mas eu tinha que profissionalizar e isso foi
feito gradativamente até que nós conseguimos chegar no ponto que nós estamos hoje.”
(P32,
professor).
O INATEL oferece os cursos de graduação em Engenharia Elétrica (Eletrônica e
Telecomunicações) e Engenharia da Computação. Além disso, oferece especializações em
Engenharia de Redes e Sistemas de Telecomunicações, Engenharia Biomédica e
Especialização em Sistemas de TV Digital (pioneiro no país), além do curso de Mestrado em
Telecomunicações. Mais de 5000 alunos já se formaram pelo INATEL. O corpo docente é
composto por 63 professores divididos em “horistas” (que recebem por hora trabalhada), em
regime parcial de trabalho e efetivos, de dedicação integral.
Os dois cursos são ministrados em período integral e o Instituto disponibiliza um programa de
bolsas de estudos para alunos comprovadamente carentes, concedidas a critério da fundação
mantenedora da instituição, a FINATEL. A mensalidade da graduação custa
aproximadamente 3 salários mínimos (R$ 987,00 mensais).
66
Os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo que serão identificados
estão inseridos num contexto histórico que aborda no município de Santa Rita do Sapucaí, a
relevância de Sinhá Moreira e a criação do INATEL. Assim, o ambiente do município
influencia nos FCS de incentivo ao empreendedorismo no INATEL e é influenciado por este.
Compreender a evolução peculiar que teve o empreendedorismo no município de Santa Rita
do Sapucaí é fundamental para entender o surgimento, a evolução e a posterior consolidação
do ensino do empreendedorismo no INATEL, bem como o papel dos Fatores Críticos de
Sucesso para o estímulo da atividade empreendedora manifestada através de pequenas
empresas de base tecnológica abertas na incubadora do INATEL.
O contexto histórico mencionado contribuiu para o pioneirismo do INATEL no
desenvolvimento da atitude empreendedora no ambiente da organização. Verifica-se assim
que o empreendedorismo faz parte da história e do contexto da cidade de Santa Rita do
Sapucaí, influenciando o ambiente da Instituição de Ensino Superior (INATEL) num ciclo
dinâmico. Além disso, a atividade empresarial não ocorre de forma isolada e restrita apenas
ao ambiente da incubadora de empresas do INATEL; essa atividade exige interação com a
comunidade da cidade de Santa Rita do Sapucaí e a valorização da carreira empreendedora
dentro da cultura local constitui um aspecto favorável ao surgimento e desenvolvimento das
pequenas empresas de base tecnológica. Aspectos como este tornam relevante a identificação
dos Fatores Críticos de Sucesso de incentivo ao empreendedorismo no INATEL.
67
6 - Capítulo 6 – Coleta, Disposição e Análise dos Dados
O presente capítulo analisa os Fatores Críticos de Sucesso (FCS) de incentivo ao
empreendedorismo presentes no contexto de uma Instituição de Ensino Superior (IES),
analisados no caso do Instituto Nacional de Telecomunicações – o INATEL. Serão abordados
os FCS referentes aos fatores pessoais dos empreendedores, os relacionados à Instituição de
Ensino Superior e os FCS relacionados às instituições públicas ou privadas de auxílio.
Tomando-se o modelo de Andrade (2003) que apresenta os passos a serem cumpridos por
uma Instituição de Ensino Superior na implantação de um Programa de Educação
Empreendedora, começando por atividades informais ligadas ao empreendedorismo descrito
na Figura 3 desta dissertação, é possível analisar o processo de elaboração e implantação do
um Programa de Educação Empreendedora no INATEL na Figura 4.
Seguindo uma ordem própria, o processo de empreendedorismo desenvolveu-se de maneira
informal pelo INATEL muito antes da criação da incubadora de empresas ou da introdução de
uma disciplina específica na grade curricular. Desde 1981 que o INATEL realiza anualmente
a FETIN – Feira Tecnológica do INATEL, onde os alunos expõem projetos desenvolvidos por
eles mesmos a partir de uma tecnologia aprendida no INATEL. O Pólo Tecnológico de Santa
Rita do Sapucaí conhecido como “Vale da Eletrônica” foi criado em 1985 através da junção
de esforços da parte educacional (principalmente apoiada pelo INATEL) e a Prefeitura
Municipal.
O programa de incubação de empresas do INATEL foi oficializado em 1992. Antes disso,
funcionou muitos anos de maneira informal, ajudando empresas nascentes de base tecnológica
a se desenvolverem e servindo de ponte na transferência entre a tecnologia gerada no
INATEL para um produto comercializável e rentável.
O Núcleo de Empreendedorismo do INATEL, o NEMP, foi criado em 1999 e engloba a
incubadora e uma série de outros projetos desenvolvidos como o Concurso de Plano de
Negócios (criado em 2000), a FETIN (Feira Tecnológica do INATEL, criada em 1982), o
Programa de Milhagens (criado em 2002), a Olimpíada do Empreendedor, Empresa Jr. CP2e
68
Pré-incubadora do INATEL (ambos criados em 2003) e a Semana do Engenheiro
Empreendedor, criada em 2005.
ATIVIDADES ISOLADAS
DISCIPLINA ESPECÍFICA
INCUBADORA
NÚCLEO DE
EMPREENDEDRRISMO
Atitude
Informal
Atitude
Formal
Com
p
lexidade
Figura 4: Evolução de Programas de Educação Empreendedora no INATEL
Nota-se que as atividades depois incorporadas ao NEMP como a FETIN e a incubadora de
empresas já existiam antes da criação do Núcleo de Empreendedorismo e antes da introdução
de disciplinas de empreendedorismo no INATEL. A criação do Vale da Eletrônica foi
realizada pela Prefeitura Municipal de Santa Rita do Sapucaí e pelas instituições de ensino da
cidade.
Durante a realização da pesquisa foi possível verificar a existência de um grande número de
empresas fundadas por ex-alunos do INATEL não só na cidade de Santa Rita do Sapucaí
como espalhadas pelo Brasil. Porém, devido à impossibilidade de monitorar todas essas
iniciativas pelo fato de não ser o foco do trabalho e também pela não existência de um
controle desses ex-alunos que montaram empresas (que ainda existem ou já existiram) feito
nem pelo INATEL nem pelo seu Núcleo de Empreendedorismo, este trabalho considera
apenas a abertura de empresas na incubadora do INATEL.
A abertura de uma empresa na incubadora do INATEL foi considerada a manifestação da
eficácia da educação empreendedora como estímulo para abertura de novos empreendimentos
69
de base tecnológica. Essas empresas continuam em contato com a instituição através do
NEMP. Há um convênio para utilização dos 16 laboratórios do INATEL, consulta aos
professores e contato direto com a instituição. O apoio a essas empresas residentes vai muito
além das atividades do NEMP e o vínculo com o INATEL é mantido durante a permanência
na incubadora e após a graduação. Não foram consideradas na pesquisa as empresas abertas
por alunos e ex-alunos fora da cidade de Santa Rita do Sapucaí, as empresas abertas na
incubadora municipal de Santa Rita do Sapucaí nem as empresas abertas de forma
independente em Santa Rita do Sapucaí por alunos, ex-alunos e membros da comunidade do
INATEL.
A estrutura da incubadora, porém, é pequena e pode apoiar um número bem limitado de
empresas ao mesmo tempo. O número de vagas para empresas residentes na incubadora é
reduzido (11 empresas simultaneamente). Além disso, o tempo de permanência de cada
empresa na incubadora é alto (até 36 meses por empresa), o que diminui a rotatividade de
empresas. Existe também a limitação à cidade de Santa Rita do Sapucaí, onde incubadora está
inserida e a restrição às empresas de base tecnológica, que são o único foco da incubadora do
INATEL.
Esta dissertação considerou apenas as empresas de base tecnológicas abertas na incubadora do
INATEL, que somam 26 graduadas e 10 residentes. Porém, o ambiente da cidade de Santa
Rita do Sapucaí é voltado para a área tecnológica. A cidade possui 120 empresas que juntas
faturaram 680 milhões de reais em 2006 (SINDIVEL, 2007). Essas empresas são divididas em
sete setores de atuação: eletro-eletrônica, telecomunicações, informática, automação
(industrial, predial e comercial), tecnologia da informação, matéria-prima e prestação de
serviços. Desses, o segmento de maior destaque é setor de matéria-prima, já que muitas
empresas fabricam peças e componentes que serão utilizadas por outras indústrias durante sua
cadeia de produção para a confecção do produto final, como placas de circuito impresso,
chicotes, cabos entre outros.
“Nós tivemos casos de empresas aqui na incubadora (do INATEL) que chegaram a utilizar seis
a sete empresas aqui em Santa Rita na sua cadeia produtiva.”
(P32, professor do INATEL).
Esse tipo de acesso foi considerado fundamental pelos empresários na hora de optar por abrir
uma empresa em Santa Rita do Sapucaí:
70
“(o Pólo de Tecnologia) influenciou demais, demais... Hoje Santa Rita está ganhando projeção
nacional. Todo mundo está falando em Santa Rita. Você sai, expõe sua empresa, que é uma
empresa de tecnologia, se você falar: ‘eu sou de uma cidadezinha do interior de qualquer outro
lugar do Brasil’, eles nem te dão atenção direito. Mas agora se você fala: ‘Santa Rita do
Sapucaí’, que é uma cidade de 40.000 habitantes mas tem respeito na área de eletrônica, na
área de tecnologia. Faz toda diferença”
(Ei7, empresário incubado)
“O ambiente de Santa Rita hoje ficou muito facilitado porque tem vários segmentos que ajudam
demais na montagem de uma empresa. Por exemplo, o segmento de caixas. Existem três
empresas especializadas em fabricar caixas e chassis. Isso é um custo alto (...). Como as
empresas aqui são geralmente de ex-alunos, o acesso é muito fácil. Eu geralmente conheço o
dono da empresa, converso direto com o dono da empresa e quero três caixas. Ele faz a minha
demanda de três caixas.”
(P35, professor)
“Se o pólo de tecnologia teve influência na decisão de abrir a empresa? Ah, bastante. Porque
se você for olhar de uma certa forma, o bom de Santa Rita é isso: todo e qualquer tipo de
serviço você consegue encontrar aqui. É montagem, parte de embalagem, parte de ‘design’
para dar um’ layout’ ao produto, tudo isso é possível encontrar aqui. Então, digamos assim, é
algo bastante viável se abrir uma empresa aqui hoje. Tanto é que tive contato com outros
empresários que haviam até comentado isso da facilidade de ferramentas que você tem aqui
dentro de Santa Rita.”
(Ei2, empresário incubado).
Além disso, a cultura local de valorização do próprio negócio e a associação da criação da
própria empresa como "realização de um sonho" é compartilhada tanto pela comunidade de
Santa Rita do Sapucaí como pelo INATEL.
6.1 Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo
Os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo levantados a partir do
referencial teórico podem ser divididos em três grupos: Pessoais, Instituição de Ensino
Superior e Instituições de Apoio. O primeiro grupo diz respeito a características que não são
gerenciáveis ou controláveis e fazem parte da pessoa do aluno. O grupo relacionado a
Instituição de Ensino Superior é composto de Fatores Críticos de Sucesso gerenciáveis pela
instituição, que podem ser incorporados, estimulados, de acordo com a política da instituição.
O terceiro grupo está ligado ao contexto, embora possa também ser gerenciado.
71
6.1.1 Pessoais
Esses Fatores Críticos de Sucesso estão relacionados à pessoa do empreendedor, sua história
de vida, experiências, contexto, rede de relacionamentos, por exemplo. Não são passíveis de
controle e já existem anteriormente à entrada do aluno na IES. São as experiências
acumuladas ao longo da vida que ajudarão a formar o empreendedor. Os Fatores Críticos de
Sucesso encontrados na literatura foram divididos em Modelo de empreendedor, Histórico
familiar e Experiência pessoal.
Fazem parte das motivações para empreender presentes na literatura o desejo pela realização
pessoal e o forte desejo de não depender de outras pessoas expresso por “ser meu próprio
patrão”. Esses traços estão presentes nos discursos dos empresários de Santa Rita do Sapucaí
ao relatarem a sua motivação para abrirem o próprio negócio. A habilidade de assumir riscos
calculados é um dos traços determinantes da personalidade empreendedora e o NEMP auxilia
a minimizar as chances de insucesso no processo de abertura de uma empresa.
O contexto local foi citado pelos empresários como algo muito relevante. A experiência
anterior como empresário também, mesmo que tenha sido apenas um projeto com colegas de
um produto ainda que não formalizado, influenciou na visão positiva da atividade empresarial
e no reconhecimento da vontade de empreender.
“Tive uma empresa com colegas quando estava no 1º ano do INATEL. (...) Apesar dessa
experiência que tive não ter dado certo, eu gostei do que eu fazia”
(Ei2, empresário
incubado)
“Eu sempre quis ser o dono do próprio negócio e a cultura aqui de Santa Rita é voltada para
isso. Você vê aqui o pessoal da incubadora dando certo, empresas crescendo (...) isso
influencia. Que você consegue enxergar que você também tem chance. Se você tentar, pode ser
que vá dar certo também.”
(Ei1, empresário incubado)
“o sucesso das empresas da cidade, dos colegas, dos amigos, deixam você desafiado a também
fazer o mesmo, também ter uma grande idéia, transformar num bom produto e trabalhar nisso”
(A63, aluno do INATEL).
Outro empresário explica o desejo de ter o próprio negócio como um processo, que tem início
com o desejo de empreender:
72
“A vontade de ter o próprio negócio. Primeiro surge disso. E depois, com a criação do plano
de negócios você poder visualizar a possibilidade desse negócio virar realidade.“
(Ei3,
empresário incubado)
Por esse discurso percebe-se que o próximo passo, depois da vontade pelo empreendedorismo
ter sido despertada, foi buscar o NEMP para analisar e viabilizar a idéia.
O Núcleo de Empreendedorismo é essencial nesse processo, e sempre citado pelos
empresários como grande auxilio na abertura e desenvolvimento da empresa na incubadora.
Antes de ser criado em 1999, o apoio do INATEL às novas empresas resumia-se a uma sala,
laboratórios que poderiam ser utilizados e consultoria dos professores. É o que conta um
empresário graduado que teve sua empresa incubada antes da criação do NEMP pelo
INATEL:
“Na minha época de estudante do INATEL não existia nada disso. Não se falava em
empreendedorismo e essas coisas. Era tudo muito diferente do que é hoje(...). A incubadora era
apenas a chave de uma sala que INATEL cedia para que você pudesse colocar lá uma mesa,
cadeiras, e trabalhar. Na verdade, dividiram espaço do laboratório para salinhas pequenas e
cada um trabalhava na sua maneira. Podíamos usar os laboratórios e tínhamos acesso aos
professores, mas era somente isso.”
(Eg46, empresário graduado)
A realização pessoal é também é citada como grande estímulo ao empreendedorismo:
“principal razão para empreender? Independência. Você tem várias possibilidades, você tem
vários caminhos e pode optar por um caminho onde, no futuro, você tem uma realização
pessoal muito maior, o prazer de empregar pessoas, o prazer de gerar negócios, de poder
desenvolver a região, eu acho que é muito importante. Contribui mais ainda.”
(Ei3,
empresário incubado)
“eu acredito que foi mais na área da realização pessoal mesmo. Eu estar criando algo do zero,
com meus esforços e construindo alguma coisa que eu fiz, que eu comecei. Essa é realização. A
minha realização vai ser olhar daqui a 5,10 anos, para minha empresa formada, faturando
milhões, e falar "pôxa, eu que comecei isso daí, fui eu que criei isso." é isso que me motiva. Não
é dinheiro... mas a realização pessoal mesmo.”
(Ei7, empresário incubado)
“Vontade de trabalhar por conta própria, eu sabia que queria fazer, já tinha experiência como
funcionário. Trabalhei em empresa durante toda minha graduação no INATEL. Sabia o que
queria fazer e onde queria chegar, sabia que tinha capacidade para isso. Era minha chance de
fazer o que iria ou ficar para sempre trabalhando para os outros.”
(Eg46, empresário
graduado)
73
O Pólo Tecnológico de Santa Rita do Sapucaí está presente no discurso dos empresários como
muito importante na decisão de abrir o próprio negócio, sendo apontado como o grande
diferencial competitivo por alguns:
“a gente utiliza terceirização na área de produção. Então desde a fabricação da placa até a
montagem das placas, montagem das caixas, tudo é feito aqui também em Santa Rita... tudo
conspira a favor das empresas de eletrônica. A FAI... você conhece a FAI também... a FAI é
uma faculdade de administração que está formando o pessoal para gerir essas indústrias de
eletrônica que estão sendo criadas no Vale... então, é um projeto bem legal.”
(Ei7, empresário
incubado)
“Quando chego em Campinas, na minha cidade, e falo que eu com 20 poucos anos já tenho
uma empresa, todo mundo fica: ‘nossa, com 20 poucos anos, já é empresário... como? Já tem
um empresa’. Muita gente até não acredita. Mas aí você chega aqui ... risos... aqui em Santa
Rita e isso é normal. Não tem nada de extraordinário. A cultura daqui é assim.”
(Ei17,
empresário incubado)
Os exemplos empreendedores saídos do INATEL e que obtiveram sucesso são comentados,
divulgados e valorizados na comunidade acadêmica e servem de modelo empreendedor para
os alunos. Todos os empresários incubados entrevistados, ao serem questionados sobre um
empreendedor em que se inspiravam, citaram ao menos um empresário do Pólo Tecnológico
de Santa Rita do Sapucaí.
“É mais em termos de conhecer exemplo de pessoas que se deram bem na vida, de
empreendedores que tiveram sucesso. No caso, nós até desenvolvemos um trabalho que era
fazer uma entrevista com um empreendedor que seguia um dos tópicos (...) para saber que
passos que a pessoa tomava, se ela tinha decepções, se chegava ao ponto de ela querer desistir
ou não... essas coisas”.
(Ei2, empresário incubado)
“ah, ter o exemplo (de empreendedores) é importante sim. Você vai, como se diz, ambientando
àquela coisa de empreendedor, empreendedor, empreendedor e de uma certa forma, você vai se
influenciando com aquilo, de tanto ouvir falar coisas como ‘ah, o INATEL, já saiu bastante
empreendedores com sucesso’. Então, de uma certa forma, você vai se influenciando. Até que te
dá aquela vontade, aquela luz ‘ah, eu vou tentar fazer o que outros fizeram e deu tão certo...’
foi o que aconteceu com a gente. Nós vimos que o produto era muito bom. E tivemos proposta
para a compra do projeto, para uma outra empresa produzir... mas aí nós pensamos ‘ah não,
vamos tentar um processo de incubação para gente começar a produzir’. E a gente conseguiu o
êxito na incubação.”
(Ei12, empresário incubado)
Os empresários graduados mais antigos de Santa Rita do Sapucaí mostraram a preocupação de
inserir os novos empresários num contexto amigável, de cooperação e amizade. Por se tratar
de uma cidade pequena, muitos desses empresários já se conheciam, freqüentam os mesmos
74
lugares, as mesmas rodas, e essa rede de contato informal é muito importante para favorecer a
cooperação entre as empresas.
“Mas o fato da região ser um pólo de tecnologia é fundamental para a nossa e todas as
empresas aqui. Existe um espírito de cooperação muito grande, que fez o fortalecimento de
todas as empresas, até hoje. Mesmo empresas concorrentes, se você ligar precisando de uma
peça, ele passa para você e vice-versa. Isso eu acho que veio do INATEL. De uma maneira
muito sutil que chega a ser imperceptível, o INATEL incutiu na cabeça dos alunos o espírito de
cooperação. Se você estudar em grupo, se você ensinar para os seus colegas você vai aprender
mais. E assim, sem perceber, se desenvolve um senso de cooperação, de ajuda mútua, de um
puxar outro.”
(Eg46, empresário graduado)
Apenas 34% dos empresários incubados que foram entrevistados, ou seja, dois dos seis
empresários incubados, não fizeram curso técnico em Santa Rita do Sapucaí ou em outra
cidade. Esse dado é importante porque vários deles tiveram a chance de trabalhar em
empresas como técnicos e depois voltar para cursar engenharia no INATEL, tendo uma
experiência de mercado. Esse amadurecimento é apontado por alguns como um fator que
encoraja na hora de abrir o próprio negócio. A vivência pessoal foi apontada como importante
nesse processo, inclusive para a construção da confiança em si, essencial ao empreendedor.
Os empresários incubados, mesmo que tenham empresas ainda recém-formadas, demonstram
saber claramente o que querem, tendo também uma visão bem completa do seu negócio. Fato
não muito comum se considerada a pouca idade desses empresários, sendo que alguns ainda
cursam a graduação no INATEL.
Em mais da metade das empresas incubadas entrevistadas havia sócios que são alunos que
ainda não concluíram a graduação no INATEL. Já nas empresas graduadas pesquisadas não
foi encontrado nenhum sócio ainda cursando a graduação do INATEL.
Essa experiência ajudou também na identificação de uma oportunidade de negócios e na
construção de uma visão positiva do auto-emprego:
"(amigos) diziam: ‘ah rapaz, você tem que abrir o seu negócio mesmo, seria um desperdício
você ser só empregado e tal’ (...) se hoje eu trabalho, dou um duro, faço o que o puder aqui, eu
sei que amanhã eu vou ter esse retorno. O que, geralmente, infelizmente... na maioria das
empresas não acontece. Quando você, mesmo que faça o máximo de si, você dá o diferencial
seu, no final das contas o cara simplesmente diz que você não fez mais do que a sua obrigação.
O seu salário no final do mês é o mesmo. Ter uma empresa é uma forma de que o que você faz é
retornado para você mesmo.”
(Ei2, empresário incubado)
75
O histórico familiar também foi apontado como relevante nesse processo. De uma maneira
geral, nenhum dos empresários entrevistados encontrou grande objeção da família a sua
decisão de abrir o próprio negócio. Os amigos e familiares, se não apoiaram totalmente, foram
no máximo indiferentes ao fato. Entre os empresários incubados, 80% possuem dentro da
família um parente bem próximo (pai, mãe, irmão, esposa) que é dono do próprio negócio.
Um empresário possui mãe e pai empreendedores, por exemplo. Essa vivência familiar da
atividade empreendedora e contribui tanto para uma visão positiva do assunto como para a
construção de apoio para empreender. A família também foi apontada como patrocinadora do
início das atividades empresariais, sendo que alguns pais são sócios capitalistas das empresas
nascentes.
“o capital da empresa é capital particular, é o ‘love money’ do ‘paitrocínio’... risos... o meu
pai que é o financiador da empresa.”
(Ei7, empresário incubado)
Para 34% desses empresários incubados, seu destino seria o mercado de trabalho se não fosse
a graduação do INATEL. As experiências, as atividades e principalmente os projetos do
NEMP foram decisivos na hora de decidir pela carreira empreendedora. O INATEL desperta
a vontade de empreender e fornece meios para que isso ocorra. Isso é muito importante
porque apenas a existência de um perfil favorável ao empreendedorismo não é suficiente para
um jovem laçar-se na carreira empreendedora. O diferencial do INATEL está em
proporcionar condições de viabilizar esse desejo.
“Antes de abrir a minha empresa eu achava que tinha conhecimento suficiente pra ser dono do
meu próprio negócio... mas estava completamente errado. Mas tinha a ciência de que tinha que
aprender bastante coisa.”
(Ei3, empresário incubado)
Porém a carreira intra-empreendedora, ou seja, o empreendedor como funcionário numa
empresa, também é incentivada. Nem todos os alunos com potencial empreendedor serão
donos do próprio negócio. Dos 15 alunos de graduação ouvidos, 60% afirmam não ter
vontade de abrirem um negócio próprio e sim trabalharem com funcionários numa empresa na
área em que se formaram. Já 13% que pensam em abrir uma empresa depois de formados no
caso de não conseguirem um emprego formal. Outros 20% afirmaram que o pensamento de
abrir uma empresa existe, embora não tenham feito ainda nada de concreto para realizá-lo.
Outros 7% já possuem ou estão trabalhando num projeto para ter uma empresa.
76
Assim, os Fatores Críticos de Sucesso no incentivo ao empreendedorismo presentes na
literatura específica relacionados aos aspectos Pessoais abordam a figura do empreendedor.
Quanto ao Modelo de Empreendedor, esse Fator Crítico de Sucesso mostrou-se relevante e
contribuindo de forma positiva para alunos que decidem montar a própria empresa. Destaque
para os empreendedores locais que foram citados por todos os empresários incubados
entrevistados ao serem indagados sobre um modelo de empreendedor que os inspirassem.
Essa cultura de valorização e exaltação dos empresários do Pólo Tecnológico de Santa Rita do
Sapucaí oriundos do INATEL esteve presente também no discurso de outras categorias
entrevistadas, como professores, diretores e empresários graduados.
O contato direto com a experiência empreendedora foi apontado como um estímulo à vontade
de abrir o próprio negócio. Conhecendo histórias bem sucedidas de ex-alunos do INATEL, os
empresários declararam sentirem-se motivados a trilhar o mesmo caminho. Vale ressaltar que
numa consulta aos alunos, 60% afirmaram não terem vontade de abrir uma empresa. A
importância que os alunos ou ex-alunos que se tornaram empresários dão à proximidade com
casos de sucesso é maior, já que o caminho empresarial era o seu objetivo. Outros, que não
têm a vontade de empreender, podem até considerar as experiências relatadas como válidas,
mas ainda assim, de forma isolada, não serão capazes de motivá-los a se tornarem
empresários.
O Histórico Familiar foi avaliado pelos empresários como “muito importante” na hora de
decidir pela carreira empreendedora, sendo comum que os empresários tivessem algum
familiar próximo (pai, mãe, irmão, por exemplo) empresário também. Isso é importante não
só como um incentivo, mas auxílio em aspectos práticos de negócios, como rede de relações e
troca de experiências, por exemplo.
A Experiência Pessoal anterior ao negócio atual como empreendedor, ainda que não tenha
sido positiva, foi citada como um importante Fator Crítico de Sucesso no estímulo aos alunos
para abrirem o próprio negócio. As atividades pedagógicas do NEMP permitem ao aluno
tomar contato com a atividade empresarial desde o início do curso e essa vivência foi
apontada por alguns empresários como o fator responsável para estimulá-los na carreira
empreendedora.
77
6.1.2 Instituição de Ensino Superior
Esses Fatores Críticos de Sucesso estão diretamente relacionados à interação professor/aluno
que acontece no INATEL. Por ser uma instituição pequena (apenas dois cursos de graduação)
há um relacionamento muito próximo entre esses dois agentes, sobretudo fora da sala de aula.
Os Fatores Críticos de Sucesso apontados na literatura que descrevem esse aspecto são:
Participação do aluno no processo de ensino/aprendizagem, Participação de empresários
nas atividades de ensino, Metodologias de ensino baseadas na pesquisa e vivência prática
e Formas alternativas de avaliação do conteúdo, Alunos com potencial empreendedor,
Professores com experiências empreendedoras e a existência de Centro de
Empreendedorismo, Incubadora e Empresa Júnior.
A investigação referente à metodologia de ensino e avaliação utilizada pelos professores da
disciplina buscou entender a preocupação e a adoção de formas alternativas. Com relação à
metodologia de ensino utilizada nas aulas, considera-se tradicional a aula teórica expositiva
com a utilização de quadro-negro ou outros recursos visuais (como projetor e power point).
Um fator restritivo à adoção de metodologias de ensino baseadas na pesquisa e vivência
prática é o grande número de alunos por turma em algumas disciplinas, que pode chegar a
120 numa sala de aula dependendo do período, tipo da disciplina ou índice de reprovação, por
exemplo. Esse quesito foi apontado pelos professores como um dos fatores que dificultam a
adoção de metodologias de aula e de avaliação inovadoras.
“São 96, 98 (alunos) numa sala. Tem uma turma com 119. Teve um cara que pediu a cadeira
do professor para sentar. Aí são 5 por bancada, quando 4 já fica apertado.”
(P27, professor)
Outro fator restritivo a adoção de metodologias de ensino baseadas na pesquisa e vivência
prática foi o caráter técnico e teórico das disciplinas, o que não permitiria grandes inovações;
quantidade grande de matéria a ser cumprida dentro do calendário da instituição, o que não
deixaria tempo para outras tentativas de aula; e a cultura própria do Brasil e dos próprios
alunos, acostumados ao modelo tradicional de aula desde a infância.
“eu realmente tentei montar um cenário diferente de aula onde o aluno fosse mais
participativo, onde ele desse opinião, falasse, estudasse a matéria, que ele fosse na frente, lesse
e viesse tirar dúvida, conversar com professor. Então eu achei que aí seria muito mais
produtivo para o aluno, para o professor, para escola. Mas a resposta foi zero, ...abaixo do
zero, menos... na outra semana voltei: ‘você sentam aí bonitinho e eu vou dar aula aqui porque
78
não tem jeito, não tem condições. Então, Maria Helena, é isso, questão de cultura, e cultura a
gente não quebra do dia para noite. Eu agora resolvi ficar quadradinho, do jeito normal, dar
aula no quadro negro ... os alunos gostam muito que a gente carregue eles, que a gente pegue e
explique tudo... eles falam ‘ah, agora sim, agora estou pagando é para aprender desse jeito,
né? Professor tem que vir aqui e explicar passo a passo’. Então infelizmente é a cultura
brasileira.”
(P8, professor).
“(...) a minha aula é ‘uma bagunça’ no seguinte sentido de que as melhores aulas são aquelas
em que reina o caos... e tenho tentado explorar mais o lado lúdico da engenharia, eu tento fazê-
los vivenciar. É um exercício de encarar estudantes mesmo que de primeiro período como
sendo pessoas adultas. Realmente dar direitos e deveres de pessoas adultas. (...) é uma
proposta totalmente diferente do formalismo que existe principalmente na área de exatas.”
(P36, professor)
Outro professor deixa claro no discurso a importância de uma turma menor na condução de
uma disciplina específica que possibilita a adoção de metodologias alternativas de aula e
avaliação quando responde sobre as três disciplinas em que ministra e enfatiza que nas duas
primeiras tanto aulas como avaliação são tradicionais, já na terceira, de turma menor, é
diferente:
“nas disciplinas básicas de (...) que são geralmente turmas bastante grandes, uso a exposição
de temas (...), Já na disciplina de (...) a metodologia privilegiada é a discussão na sala, pois são
turmas pequenas, a partir do estudo de textos, análise de situações e documentação de estudos
bibliográficos - análise da estrutura de textos e elaboração de resumos - e avaliação, através
das atividades de sala de aula e da participação dos alunos nas aulas.
(P50, professor).
Assim, dos 34 professores entrevistados, 70% afirmaram utilizar metodologias de ensino
tradicionais como aula expositiva no quadro negro ou power point; 21% afirmaram utilizar
metodologias inovadoras de ensino e 9% já utilizaram metodologias inovadoras e agora
voltaram a utilizar as tradicionais. Entre as justificativas para isso estão principalmente a
apatia dos alunos e o costume pela aula expositiva, numa cultura de platéia.
Os docentes do INATEL foram ouvidos quanto às formas alternativas de avaliação do
conteúdo, respondendo sobre suas práticas em sala de aula. A prova escrita foi considerada a
forma tradicional, assim como os relatórios de laboratório (prática comum num curso de
Engenharia).
“Já teve alunos, por exemplo, que eu dispensei da prova regular. Porque estava fazendo um
projeto, e eu acompanhei o projeto, e disse que se ele tivesse tais e tais resultados não
precisaria nem fazer a minha prova. Então estava todo mundo fazendo a minha prova e ele não
precisava fazer, ele estava sendo avaliado por um outro caminho. E se todos pudessem estar
nesse caminho, talvez fosse melhor do que se estivessem fazendo a prova”
(P11, professor)
79
“Eu nunca fui um professor que ficasse estagnado. Eu já que lecionei com jornal, eu já lecionei
com pesquisa da Internet, eu já lecionei com várias inovações para trazer a atenção do
aluno...”
(P12, professor)
“Prova escrita, é a única maneira de eu fazer prova, viu? Eu tenho mais ou menos 250 alunos.
É impossível você fazer de uma outra maneira . Relatório e trabalho escrito eu desisti de fazer
porque existe muita cópia, e cópia literal da Internet. Eu recebi trabalho em que aparece o link
da página. Então não dá... Trabalho oral é pior ainda porque aí você vai ter que perder tempo
na aula. Então, do jeito que está hoje, a única maneira de avaliar é prova escrita.”
(P27,
professor).
“Existe uma mística de que o aluno só gosta dessas coisas interativas. Então quando ouvi essa
mística pela primeira vez, eu tentei fazer aulas puramente virtuais (...) eu percebi que o aluno
não gosta tanto disso. O aluno gosta quando você mescla as coisas para que não seja tedioso.
Então a minha abordagem atual é dividir aula em três estágios: apresentação do conceito,
simulação do conceito e o exercício do conceito. Essa solução eu não sei se era ótima mais tem
apresentado algum resultado, o aluno tem demonstrado interesse.”
(P41, professor)
Quanto às formas de avaliação do conteúdo das disciplinas, 60% dos professores
entrevistados afirmaram utilizar formas tradicionais de avaliação do conteúdo como provas
escritas, 33% utilizam avaliações alternativas, sobretudo baseadas em projeto e 7% já
utilizaram metodologias inovadoras e agora voltaram a utilizar as tradicionais.
Portanto, com exceção das disciplinas de empreendedorismo, onde o processo de ensino e
avaliação segue metodologias alternativas e dentro das orientações da educação
empreendedora, as aulas no INATEL seguem o modelo tradicional presente em IES.
A próxima questão a ser investigada foi a participação de empresários nas atividades de
ensino em forma de palestras, relatos de experiências. Esse FCS apontado pela literatura
sugere que os alunos que têm contato com o mundo real das empresas e travam conhecimento
com a visão de um empresário sobre a sua atividade, podem ter o interesse pelo
empreendedorismo despertado. O NEMP se encarrega de promover seminários e cursos onde
empresários – na grande maioria ex-alunos do INATEL – relatam suas experiências para os
alunos e ficam assim conhecendo também os nomes de destaque na cidade de Santa Rita do
Sapucaí. Talvez por isso 5 dos 6 empresários incubados citaram como modelo de
empreendedor um empresário de Santa Rita do Sapucaí ex-aluno do INATEL. A cultura do
reconhecimento do valor da atividade empresarial é muito forte no Vale da Eletrônica.
80
O resultado foi que 23% dos professores têm o costume de trazer empresários para
participarem das atividades de ensino. Algumas das razões apontadas foram:
“(para despertar o empreendedorismo nos alunos) trazendo pessoas que... embora fuja um
pouquinho da minha disciplina, eu não ligo não. Se tem um conhecido que às vezes tá
trabalhando numa grande empresa e eu acho que essa pessoa deve vir fazer uma palestra para
os alunos, eu trago aqui. Por exemplo, há um mês atrás eu trouxe um profissional (...) para ele
vir falar um pouco sobre intra-empreendedorismo, ou seja, empreendedorismo dentro da
empresa. Você pode ser funcionário e ter uma mentalidade própria do empreendedor também,
você não precisa ser empreendedor só dono do próprio negócio. Você pode trabalhar numa
grande empresa e ser empreendedor lá dentro de diversas maneiras.”
(P8, professor)
Por outro lado 77% dos professores do INATEL não utilizam a presença de empresários nas
atividades de ensino. Entre as principais razões apontadas estão a realização desse tipo de
atividade pelo NEMP, falta de tempo, matéria muito básica e teórica e utilização da sua
própria experiência como empresário em sala de aula.
“como eles (alunos) têm uma semana de estudo, semana do empreendedor, eles têm um monte
de coisa que a própria instituição faz, então eu acho que não precisaria de mais alguém
fazendo. Chega uma hora que satura também, não é? Satura... e o cara que não está
interessado nisso, aí fica complicado.” (P27, professor)
Os empresários que são ex-alunos do INATEL avaliaram como positivo esse contato com
profissionais que atuam no mercado, seja ele dentro de sala de aula ou através de atividades
realizadas pelo NEMP. Especificamente em relação às disciplinas, um empresário incubado
afirma:
“nós até desenvolvemos um trabalho que era fazer uma entrevista com um empreendedor. E
dentro dessa entrevista, que seguia uns tópicos... era pra saber que passos que a pessoa
tomava, se ela tinha decepções, se chegava ao ponto de ela querer desistir ou não... então, é um
conto da vida do cara que você pode começar a tirar como base... claro que, nem sempre, você
vai ter só acertos... mas ajuda muito conhecer esse caminho já trilhado”.
(Ei2, empresário
incubado)
Isso contribui ainda mais para a valorização dos projetos para a FETIN, por exemplo, que é a
atividade mais antiga e já abrigou projetos que se tornaram empresas de sucesso hoje em dia.
A repetição dessas estórias pelos corredores do INATEL, entre os alunos, cria um clima de
valorização e estímulo ao desenvolvimento de um produto que possa a ser um negócio novo.
O exemplo empreendedor foi valorizado por todos os empresários entrevistados, sendo que
81
casos de sucesso sempre eram conhecidos e festejados. Essa cultura colabora em muito para o
estímulo da atividade empresarial.
Com relação a professores com experiência empresarial, verificou-se que metade dos
professores do INATEL tem ou teve participação na abertura de uma empresa própria, o que é
um número significativo. Desses, 53% tiveram ou têm empresa na área de tecnologia como
desenvolvimento de software ou consultoria na área de telecomunicações. Há também
professores com empresas incubadas e empresas graduadas pela incubadora do INATEL.
Merece destaque o fato de que 30% dos professores ouvidos têm empresa numa área que em
nada tem a ver com as atividades do INATEL ou de tecnologia como empresa de bucha para
banho, lavanderia ou joalheria. Essa junção de docência com atividade empresarial fica
facilitada por se tratar de IES privada. Nas IES públicas, por exemplo, há determinadas
restrições quanto às atividades remuneradas que os professores efetivos de dedicação
exclusiva podem desempenhar juntamente com suas funções.
A experiência empresarial foi citada pelos professores como positiva e uma forma de poder
levar para o aluno não só a teoria como também exemplos práticos do dia a dia.
“eu acho que se você fica só na parte de dar aula, você perde um pouco, você deixa de praticar
e tal, você fica um pouco para trás. Então a idéia de você trabalhar, está mexendo, te dá uma
visão diferente, inclusive para passar para a aula. Então, uma coisa ajuda a outra.”
(P51,
professor)
“não tive mas pretendo ter. Mas participar do processo (entrar na incubadora) precisa de um
tempo. Não é você chegar simplesmente com o nome. Você tem que fazer um estudo de
mercado, então isso leva tempo, custa dinheiro.”
(P27, professor)
Ouvir os docentes, sobretudo através de entrevistas estruturadas foi uma forma de dar voz às
práticas de sala de aula, de investigar o real sentimento do empreendedorismo que chega aos
alunos através de uma comunicação não intencional por parte dos professores. Os docentes do
INATEL, independente da disciplina que ministram, têm uma visão positiva do
empreendedorismo, o que é compreensível, dado o investimento que o INATEL faz no
desenvolvimento do tema.
“(...) então eu acho que se você vai dar empreendedorismo se você já teve uma empresa é
melhor mesmo.”
(P32, professor)
82
Outra característica apontada é que o professor que é empresário transmite ao aluno sua visão
positiva da carreira empreendedora, ainda que de forma não intencional. No INATEL também
aconteceu de uma empresa ser montada na incubadora a partir da parceria de professor com
aluno. Essa integração é muito positiva, sobretudo para a disseminação do empreendedorismo
como uma coisa boa.
Os empresários que são ex-alunos do INATEL também valorizam o fato dos professores
serem empreendedores como algo que ajuda a ter uma visão realista do que é ser empresário e
auxilia a troca de informações cruciais sobre o dia-a-dia de uma empresa.
“tem bastante professore aqui que também é dono de empresa e isso ajuda abrir a cabeça, o
professor enxerga o mundo de outra maneira, partilha seus exemplos e isso é muito bom para
nós alunos.”
(Ei2, empresário incubado)
Conforme apontado na literatura, a pesquisa verificou que professores que são também
empresários exercem um importante papel no estímulo ao empreendedorismo servindo de
exemplo para os alunos.
A visão holística do empreendedorismo diz respeito à compreensão global do tema. É
possível afirmar que tanto a alta direção, como os professores, alunos e empresários vêem a
atividade empreendedora como algo positivo, atrelado à realização pessoal e quase uma
‘vocação natural’ de Santa Rita do Sapucaí, um diferencial do INATEL e da comunidade do
Vale da Eletrônica.
Quando questionados sobre o empreendedorismo, 100% dos professores afirmaram ser algo
positivo embora em cerca de 6% dos professores os discursos deixaram transparecer algumas
restrições como:
“Eu acho que (o empreendedorismo) é uma coisa positiva para alguns, mas há de se respeitar,
o perfil de cada pessoa. Aqui no INATEL existe uma forte veia empreendedora de certa forma
tem criado a seguinte imagem para os alunos: que o objetivo de todo engenheiro é ser
empreendedor. Eu entendo que existem personalidades diferentes que devem ser respeitadas
também. Eu perdi excelentes alunos que eu via que tinham veia para a pesquisa mais que por
causa da cultura de empreendedorismo que reina aqui no INATEL foram para esse lado (...)
porque eu entendo que a engenharia tem várias faces, tem várias coisas que o engenheiro pode
fazer. Por exemplo, dar aula. E se você polariza, se o chique, ideal é ser empreendedor, você
mata todas as outras partes da engenharia e talvez alunos que possam ser brilhantes
professores se sintam frustrados porque talvez eles não têm essa veia empreendedora.”
(P36,
professor).
83
E ainda há a resistência do aluno de engenharia em pensar sobre coisa da área de Humanas,
aprender práticas administrativas:
“De forma geral, eu não sei como os alunos estão encarando hoje. Mas na minha época (cerca
de cinco anos atrás) elas (de empreendedorismo) não eram disciplinas levadas muito a sério
pelos alunos por não serem técnicas e serem voltadas principalmente a área administrativa”
(P25, professor)
Essa boa receptividade do empreendedorismo no INATEL pode ter varias explicações. Uma
delas é o tempo que o assunto é tratado na instituição, ou seja, desde 1992 e principalmente a
forma pacífica como ele foi abordado, encabeçada por pessoas de prestigio dentro da
INATEL, com livre trânsito entre os diversos segmentos da escola – alunos, funcionários,
direção, empresários entre outros – que souberam conduzir o processo e vencer as resistências
com diálogo e resultados. A figura do líder da divulgação do empreendedorismo precisa ser
alguém com essas características para que a rejeição seja minimizada. Ao contrário, se for
alguém que já encontre algumas barreiras dentro da instituição, o tema pode ser
‘contaminado’ por essa resistência ao líder do projeto e assim todo o processo ficar
prejudicado.
“A resistência ao empreendedorismo aqui já existiu. Falando em vida de NEMP, de 1999 para
cá, nós tivemos muito problema. Porque a escola, a Academia é muito conservadora. Agora já
está bem mais fácil. A gente é muito respeitado mas eu tive muita... briga não, porque eu nunca
briguei, acho que agregar valor não é por briga. É por resultado. Então aconteceu dos
próprios alunos começarem a elogiar muito as aulas. Mais isso levou muito tempo, é um
processo bem lento, um processo de agregação de cultura e o paradigma do emprego,
paradigma da cátedra ainda está muito forte.”
(P32, professor)
Grande parte dos professores do INATEL é formada na própria instituição e acompanharam o
desenvolvimento do processo de empreendedorismo em Santa Rita do Sapucaí e no INATEL.
Dos professores entrevistados, 59% declaram-se ex-alunos da graduação do INATEL.
A vivência dentro do INATEL também pode ser apontada como um dos FCS relevantes no
caso estudado. Os professores são experientes, conhecem a instituição, estudaram e se
formaram nela e transmitem através de suas aulas o que aprenderam na sua passagem pela
instituição, ou seja, a visão positiva do empreendedorismo e da atividade empresarial. O
INATEL considera a formação de empreendedores um diferencial da instituição e motivo de
84
orgulho. Ao serem perguntados pelo empreendedorismo na instituição, os docentes se
apressavam em enumerar os prêmios recebidos pela incubadora e o sucesso do NEMP, o
Núcleo de Empreendedorismo. Esse marketing interno dos bons resultados alcançados é
muito importante na construção da imagem positiva do empreendedorismo no INATEL.
Além disso, a média de tempo no INATEL como professor gira em torno dos 14 anos, sendo
que tem professor que dá aulas no INATEL há 36 dos 42 anos da instituição. A longa
vivência dentro da instituição ajuda a formar o entendimento do empreendedorismo como
algo bom e que tem dado destaque nacional ao INATEL.
“Eu fiz o INATEL de 1989 a 1994. Na época no INATEL existia sempre um incentivo para que
os alunos tivessem algumas ações empreendedoras, que montassem suas empresas, nos eventos
eram trazidos os empresários locais para dar seu depoimento...tanto que na minha turma um
número significativo de ex-colegas tem empresas atualmente, mesmo que na época não tenham
passado em uma estrutura ligada a incubadora ou mesmo ao núcleo de Empreendedorismo mas
eles tiveram empresa porque justamente na época ele já tinham contato com essa realidade que
a cidade já vivia em função de que já existiam em várias empresas.”
(P43, professor)
Em relação ao Fator Crítico de Sucesso alunos com um potencial empreendedor isso se
mostrou pouco relevante no processo de decisão dos empresários pela abertura de uma
empresa na incubadora do INATEL. Embora a maioria dos empresários admita a vontade de
empreender anterior à entrada no INATEL, as facilidades encontradas dentro da instituição
proporcionadas pelo núcleo de Empreendedorismo e pelo Pólo Tecnológico de Santa Rita do
Sapucaí que o circunda foram apontados como fator decisivo na decisão de empreender.
“o fato da região ser um pólo de tecnologia foi essencial para abertura da minha empresa. Eu
sou do interior do estado do Rio e a minha mãe vive me perturbando: 'ah, vêm trabalhar aqui e
tal...'. Mas não tem jeito. Lá não existe esse ambiente propício para a eletrônica como existe
aqui. E que faz toda diferença”.
(Eg51, empresário graduado)
“Se não fosse isso (o pólo de tecnologia), acho que a gente não abriria (a empresa) não. Se eu
morasse numa cidade que não tivesse essa vocação do empreendedorismo, acho que não
abriria não. Eu tenho tudo aqui em Santa Rita. O que eu faço fora é comprar os componentes
que no Brasil ninguém fabrica. O resto é tudo feito aqui em Santa Rita. Então tá tudo perto,
fácil.”
(Eg1, empresário graduado)
A visão coletiva positiva sobre a atividade empresarial confere ao empreendedor o status de
"senhor do seu destino", auto-estima e confiança em si próprios. Segundo a teoria do
empreendedorismo, o conceito positivo de si mesmo é um dos requisitos para que o
empresário tenha força e confiança no seu potencial para se arriscar no empreendimento.
85
“existe uma coisa que é a ‘moral da instituição’, que chama a tradição e o nome da instituição
e esse negócio pesa pra caramba; então a auto-estima dos alunos quando entram no INATEL
cresce.”
(P8, professor)
O INATEL goza de grande prestígio junto à comunidade de Santa Rita do Sapucaí e ao
ingressar nesse ambiente o aluno também adquire esse prestígio dentro da comunidade, o que
influência na sua auto-estima e confiança. As facilidades oferecidas pelo contexto do
INATEL foram apontadas como essenciais estímulos no processo de abertura de empresas de
base tecnológica da incubadora do INATEL.
A condição sócio-econômica dos alunos também é outra questão a ser analisada uma vez que
o capital inicial das empresas incubadas é basicamente próprio ou dos pais. O investimento
inicial é uma grande barreira na abertura do próprio negócio, embora as empresas incubadas
não tenham que desembolsar grandes quantias para se lançar no mercado. A inexistência de
acesso ao capital necessário poderia ser um fator restritivo. O nível sócio-econômico dos
alunos é um ponto relevante é uma vez que a mensalidade do INATEL, que é uma instituição
particular, gira em torno dos 3 salários mínimos mensais.
Alguns empresários apontaram como capital inicial utilizado na abertura da empresa prêmios
recebidos no próprio INATEL dentro da FETIN ou concurso de plano de negócios, sociedade
com os pais e reservas pessoais.
“(...) eu ia para os Estados Unidos e negaram meu visto. Ai eu tinha o dinheiro que eu ia gastar
lá e foi esse dinheiro que eu pus na firma.”
(Eg1, empresário graduado).
Outro empresário conta a experiência de dois colegas que abriram uma empresa na
incubadora e que por falta de condições econômicas tiveram que desistir e fechar o negócio:
“(...) eles não tinham finanças, não tinham dinheiro para rodar a empresa. Então eles
acabaram ficando um tempo aqui (na incubadora do INATEL), viram que não dava para
manter a empresa, com o dinheiro que eles ganhavam eles não conseguiam sobreviver, então
fecharam. É triste, mas hoje no nosso país assim: você só consegue abrir uma empresa se você
tiver capital. E conseguir financiamento, do zero, você sendo um menino que está abrindo com
20 anos uma empresa, é complicado. Você tem que ter um respaldo inicial para poder depois
chegar no SEBRAE, depois chegar em algum outro órgão, mais você tem que ter um capital
inicial forte, bom, para você poder buscar essas oportunidades.”
(Ei7, empresário incubado)
86
A Direção Geral do INATEL compactua com uma visão holística sobre o empreendedorismo
e há um comprometimento institucional com o tema, da alta direção passando pelos
professores, funcionários e alunos. A palavra “empreendedorismo” é associada sempre a
aspectos positivos como realização, sucesso e inovação, sendo que o INATEL considera esses
aspectos como uma vocação natural da instituição e da cidade de Santa Rita do Sapucaí.
Segundo um dos diretores do INATEL:
“Hoje a gente já entende que o empreendedorismo é até uma forma do aluno se posicionar de
forma pedagogicamente ativa diante do curso, para ele depois desenvolver a sua profissão ou
como um empresário ou como um profissional, empregado, não importa.”
(Dir16, Diretor do
INATEL)
Há o entendimento de que o ensino do empreendedorismo forma tanto empresários, que
montarão seu próprio negocio, quanto profissionais para empresas que terão características
empreendedoras, essenciais hoje para se destacar no mercado de trabalho, os intra-
empreendedores. Essa visão é também partilhada pelos professores:
“Eu costumo dizer para os garotos o seguinte: que eles não devem ser só empreendedores de
empresa; eles podem ser empreendedores de produtos e eles precisam ser empreendedores
deles mesmos. Porque se eles não tiverem um plano de negócios para eles, se eles não tiverem
uma visão de futuro, se eles não souberem o que eles vão fazer e o que gostariam de fazer, eles
não vão ser nada na vida.”
(P11, professor)
“Acredito que o INATEL pode formar alguém para ser dono do próprio negócio ou não, formar
alguém para ser um excelente funcionário.”
(P19, professor)
“nós fazemos algo que talvez seja um dos diferenciais do INATEL que é focar no
empreendimento e não no emprego. Embora ele (aluno) saiba que pode sair daqui, pode atuar
como empregado e pode ser bem sucedido, ele não precisa ser empresário. Ele tem que ser
empreendedor mesmo como empregado. Mas nós mostramos também as possibilidades de ser
empresário para aqueles que realmente querem (...). Vontade nem sempre é tudo. Mas aquele
que tem vontade e que tem os requisitos que o empresário precisa ter pode começar a ter o seu
negócio enquanto aluno no INATEL. Ele sai com amplo conhecimento do que é ser empresário.
Mas nós temos alunos que preferem optar por chegar aqui e fazer aquele curso tradicional (...)
e no fim de cinco anos ele vai receber o diploma dele sem ter agregado nada dessas outras
oportunidades que ele poderia ter usufruído e não usufruiu. Porque nós temos muitas
atividades que também não são atividades curriculares, elas não são obrigatórias, exatamente
para você não impingir em quem não quer algo que não é obrigado a ter.”
(P12, professor)
“O NEMP dá um apoio muito grande para os alunos aqui para que eles saiam com total
conhecimento de empreendedorismo ou um conhecimento muito grande de inovação,
tecnologia, plano de negócio, marketing, financeiro...ou seja, o aluno aqui é capaz de sair e
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montar seu próprio negócio. É claro que existem alunos que não têm interesse. Mas aqueles
que têm, precisam buscar o NEMP que encontrarão ajuda”
(P19, professor)
Existem somente duas disciplinas semestrais de empreendedorismo ao longo dos 5 anos de
engenharia INATEL e essas têm um caráter mais amplo que buscam dar uma visão do que é
tema. Todas as outras atividades pedagógicas relacionadas ao empreendedorismo ficam a
cargo do núcleo de Empreendedorismo, o NEMP, e não são obrigatórias embora as atividades
sejam muito divulgadas e a participação dos alunos incentivada. É o que afirma o coordenador
pedagógico do Núcleo de Empreendedorismo:
“nós no NEMP temos como objetivo mostrar outros caminhos. E o cara adota o caminho que
quiser. Se os caminhos que os alunos quiserem seguir são os nossos, nós apoiamos. Temos
incubadora, concurso de plano de negócios, etc. Mas se ele não quiser, é nosso amigo do
mesmo jeito, tomara que ele seja feliz. Por que todo mundo tem que abrir empresa? Não tem
que abrir a empresa. O INATEL não forma para abrir o próprio negócio porque isso também é
errado. Se todo mundo abrir empresa, como é que faz? Quem é que vai trabalhar? Se for a
opção da pessoa ela vem aqui que nós vamos apoiar.”
(P32, professor).
Essa posição do INATEL também confirmada pelos alunos que se tornaram empresários. De
uma forma geral, eles tomaram conhecimento do empreendedorismo, participaram das
atividades do NEMP e conseguiram conciliar uma habilidade e um desejo pessoais com a
possibilidade fornecida pelo ambiente do INATEL. Desenvolveram projetos com auxílio de
consultoria tecnológica dos professores do INATEL e consultoria empresarial e de elaboração
de um plano de negócios do NEMP. Com essa idéia transformada em um produto com uma
boa dose inovação e comprovada aceitação do mercado, esses alunos candidataram-se a uma
vaga na incubadora. Mas para isso tiveram que se interessar pelas atividades do NEMP,
procurar conhecer, experimentar. E mesmo depois do plano de negócios confeccionado e do
projeto bem estruturado ainda passaram pela concorrência por uma vaga na incubadora.
“Eu participei de bastante coisa até chegar na empresa (... )participei de concurso de plano de
negócios, sempre participei da olimpíada do empreendedor, programa de milhagem, tudo
quanto é palestra que vai valer milha eu tô participando, o NEMP organiza qualquer coisa e eu
tô... sempre estive dentro. Isso foi desenvolvendo minha vontade e eu consegui pegar a base
para abrir a minha empresa, não abri do nada, sem experiência, sem nada. E consegui
aprender muita coisa até abrir.”
(Eg7, empresário graduado)
Segundo a gerência, a procura por uma vaga na incubadora do INATEL pode chegar a trinta
projetos para uma vaga. É feita uma triagem para descartar aqueles projetos que ainda não se
encontram em estágio de virarem empresas imediatamente, alguns são encaminhados para a
88
Pré-Incubadora e somente aqueles com potencial é que vão para a seleção, o que dá uma
média de oito empresas para cada vaga.
O FCS de maior destaque dentro da Instituição de Ensino Superior foi a existência de um
Núcleo de Empreendedorismo englobando e centralizando diversas atividades ligadas á
disseminação do empreendedorismo na instituição.
O NEMP: o Núcleo de Empreendedorismo do INATEL foi criado em 1998 e começou a
atuar em 1999 para cumprir uma das metas estratégicas da Direção Geral do INATEL da
época que era o desenvolvimento da cultura do empreendedorismo na instituição.
Inicialmente, o NEMP foi criado no Departamento de Ciências Auxiliares do INATEL e hoje
está ligado diretamente à Pró-Diretoria de Acadêmica, funcionando como um organismo
dentro da estrutura pedagógica do INATEL. Atua na disseminação do empreendedorismo
entre os alunos, professores do INATEL e na comunidade de Santa Rita do Sapucaí, como
forma de extensão.
Foram investidos mais de R$ 1,9 milhão na criação do NEMP, sendo que R$ 725 mil foram
provenientes de parceiros e órgãos de fomento e o restante foram recursos do próprio
INATEL. A estrutura do NEMP conta com três prédios que, juntos, ocupam uma área de 500
m2 no campus do INATEL.
O INATEL continua sendo financiador do NEMP, aportando anualmente recursos para que
ele se mantenha. O complemento vem de parceiros e órgãos de fomento, como FAPEMIG,
SEBRAE, FINEP, CNPq entre outros. A direção da instituição espera que, em longo prazo, o
NEMP seja auto-suficiente em termos de recursos financeiros.
Entre os prêmios recebidos pelo INATEL através das atividades desenvolvidas pelo NEMP,
estão:
Prêmio Melhores Universidades Guia do Estudante 2006 na categoria
Empreendedorismo, que foi idealizado pela Editora Abril em parceria com Banco Real e
contou com mais de 140 projetos de todo o Brasil.
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Prêmio ANPPROTEC de empreendedorismo e Inovação 2005, nas categorias Melhor
Ensino Empreendedor do Brasil.
Prêmio de Melhor Incubadora do País pela ANPROTEC, em 2005, que deu maior
visibilidade para a instituição em projeção nacional. Hoje a Incubadora do INATEL é
referência no Brasil presta assessoria na implantação de várias outras incubadoras dentro e
fora do Estado de Minas Gerais.
NEMP contribui não só para a formação do aluno empreendedor, como também para o
surgimento de empreendimentos inovadores e de base tecnológica. O núcleo é visto hoje, pela
instituição, como o grande promotor do empreendedorismo para alunos e professores e
também como instrumento de difusão do empreendedorismo na comunidade local de Santa
Rita do Sapucaí participando e desenvolvendo projetos de extensão do INATEL de cunho
social como o projeto Casa Viva para alfabetização tecnológica e inclusão social de crianças
carentes, cursos de empreendedorismo básico para os professores da rede municipal da cidade
entre outros. Segundo a Pró-Direção Acadêmica:
“o NEMP tem que desenvolver projetos, ações educacionais, dentro da instituição porque é o
foco dele, mas também não pode abandonar a contribuição que a instituição tem que ter com a
comunidade”.
(E16, diretor do INATEL)
O NEMP engloba atividades acompanhadas diretamente por um professor que atua como
assessor pedagógico, cuidando sempre que o núcleo cumpra sua função educacional. Entre as
atividades do NEMP, estão:
a) – Incubadora de Empresas do INATEL
O processo de incubação no INATEL começou efetivamente em 1985, como uma iniciativa
isolada, mas foi em 1991 que o processo de incubação foi formalizado e regulamentado. A
atual sede social da Incubadora do INATEL foi construída em 1999. A incubadora já graduou
26 empresas, sendo que dessas apenas duas não existem mais. Portanto, a taxa de sucesso das
empresas graduadas é de 92%. Das 26 graduadas, 22 continuam instaladas em Santa Rita do
Sapucaí, faturando juntas mais de 24 milhões de reais por ano, gerando 1000 empregos
diretos e 2500 empregos indiretos (RELATÓRIO DA INCUBADORA, 2005).
90
As nove empresas residentes, somadas, faturaram 2 milhões de reais no ano de 2006, uma
marca expressiva ao considerar-se que 50% delas estão no primeiro ano de existência e nem
todas já têm faturamento com venda de produtos.
A Incubadora de Empresas do INATEL existe para abrigar projetos de inovação e tecnologia
desenvolvidos por membros do INATEL. Ao todo, são 70 pessoas envolvidas, sendo:
20 sócios proprietários: 11 alunos, 7 ex-alunos e 3 pessoas externas ao INATEL;
43 colaboradores: 10 funcionários com carteira assinada, 30 estagiários e 3 bolsistas.
7 pessoas trabalhando na parte administrativa.
O tempo de permanência de uma empresa na incubadora é de 24 meses, extensível a 36
meses. Atualmente, 90% da captação de recursos vêm de órgãos de fomento através de editais
abertos. A incubadora possui profissionais de diversas áreas para auxiliar tanto as empresas
residentes como a própria incubadora como, por exemplo, um estagiário de Direito que presta
assessoria às empresas na parte jurídica de contratos, por exemplo, e também colabora na
elaboração dos processos para os editais de recursos, que têm sido fundamentais para garantir
o financiamento dos projetos da incubadora.
A Incubadora do INATEL foi a 2ª. Incubadora do estado de Minas Gerais a receber a
certificação ISO 9000, tendo até hoje certificação ISO 9001:2000.
O INATEL elaborou, através do NEMP e em parceria com a FAI (Faculdade de
Administração e Informática de Santa Rita do Sapucaí) e com o SEBRAE, o Software
Pronto! versão incubadora, uma ferramenta de gerenciamento destinada a medir o
desempenho de empresas incubadas pelos gestores das Incubadoras. Utilizado há mais de três
anos na Incubadora do INATEL, esse software está sendo disponibilizado gratuitamente e
hoje já é utilizado em muitas incubadoras do país.
O custo médio para uma empresa incubada é R$ 350,00 por mês, já incluído o custo com a
sala que é, em média, R$ 120,00 mensais. Uma sala do lado direito da incubadora é maior,
possui 30 m2 e o empresário começa pagando 14% da mensalidade escolar do INATEL. A
sala do lado esquerdo é um pouco menor, de 25 m2, e o empresário paga 12% da mensalidade
escolar. Além disso, há a taxa ao Sindicato das Indústrias de Santa Rita do Sapucaí,
91
SINDIVEL, de R$ 40,00 por mês. A partir de um convênio firmado entre incubadora do
INATEL e o sindicato, as empresas incubadas pagam a metade da taxa normal de R$ 80,00
por mês. Outra despesa é a conta de telefone que fica por conta de cada empresa. Fora da
incubadora do INATEL, caso o empresário decidisse começar um negócio por conta própria,
o aluguel de uma sala comercial na cidade de Santa Rita do Sapucaí já seria algo em torno
desses R$ 350,00 mensais.
A significativa economia financeira que a incubadora proporciona ao empresário pode ser
considerada como uma das menores vantagens oferecidas por ela quando comparada a
assessoria empresarial completa que esse engenheiro, agora tornado empresário, recebe e a
visibilidade conferida a empresa pela marca INATEL associada à marca da incubadora do
INATEL, que tem recebido vários prêmios nacionais. A incubadora do INATEL recebe
constantes visitas que vão desde representantes de cidades interessadas em criar uma
incubadora de empresas a caravana de empresários do Brasil e do exterior em busca de bons
negócios. Um recente convênio da incubadora do INATEL com a Agência Nacional de
Exportação Brasileira, APEX, está auxiliando as empresas a colocarem seu produto no
mercado internacional.
Além disso, o INATEL elaborou, em parceria com a FAI e com o SEBRAE, o Software
Pronto!, versão incubadora. O software funciona como uma ferramenta de gerenciamento
destinada a medir e comparar o desempenho das empresas incubadas pelos gestores da
incubadora e contém um conjunto de 17 indicadores de desempenho nas áreas de
Administração Financeira, Recursos Humanos, Produção e Marketing. Fornece informações
necessárias para tomadas de decisões relevantes por parte dos gestores das Incubadoras junto
aos empresários residentes.
O processo de incubação de empresas vai muito além de uma sala com telefone a baixo custo.
A Incubadora do INATEL, particularmente, cumpre seu papel amparando e cuidando da nova
empresa como um ovo frágil e quebradiço (alegoria que remonta a origem da expressão
"incubadora de empresas"). Nesse sentido, além de ensinar o empreendedor a cuidar da parte
gerencial da sua empresa através de cursos, a incubadora acompanha e presta consultoria
gerencial para cada empresa individualmente. Uma vez a cada dois meses é feita uma reunião
com cada empresa separadamente onde os dados da sua contabilidade gerencial são lançados
no Software Pronto! e um relatório com 17 indicadores de desempenho é gerado fornecendo,
92
inclusive, uma nota individual para cada empresa. Dessa forma, é conhecida a situação real da
empresa e então é possível compará-la com as outras residentes na incubadora, identificar
seus pontos fracos e fortes e planejar melhorias, sendo que uma empresa não toma
conhecimento do relatório da outra.
De posse dos dados obtidos com o Pronto!, a gerência da incubadora se reúne separadamente
com cada empresa e a situação gerencial é avaliada. Por exemplo, se as vendas não atingiram
o patamar desejado, esse ponto é questionado e juntos, incubadora e empresa, pensam numa
solução para fazer com que a empresa possa vender mais. Se várias empresas da incubadora
do INATEL apresentam o mesmo problema, é planejado um curso de capacitação para vendas
para todas as empresas, já que essa é uma carência detectada.
Os indicadores gerados pelo Pronto! dão subsídios para que seja decidido o melhor caminho a
partir da identificação dos pontos fracos das empresas. A cada rodada, o gerente da
incubadora fica sabendo qual a necessidade de capacitação do grupo e a partir disso o
planejamento de cursos e consultoria externa é traçado para solucionar problemas reais que já
foram identificados.
“Isso (reunião com o empresário a partir dos dados gerados pelo Software Pronto! Para cada
empresa residente) eu acho que é o momento mais forte do nosso sistema. Porque quando ele
(empresário) sai, ele acostumou a fazer a tal da contabilidade gerencial, ele vai usar o Pronto!
ou qualquer outra coisa que ele queira, mais ele tem a visão de que os números são fatores de
decisão muito importantes, de que ele pode ter a empresa dele na mão.”
(P32, professor)
Esse controle foi sendo implementado ao longo do tempo e hoje é regulamentado pela ISO,
abrangendo tanto as reuniões de controle do bimestre quanto as reuniões semestrais de
checagem. A intenção é acompanhar e provocar uma evolução nas empresas. Há um número
mínimo de créditos para que a empresa seja considerada saudável em cada um dos pontos em
que ela se encontra. Por exemplo, em seis meses a empresa precisa obter, no mínimo, 15
créditos para não correr o risco de sair da incubadora.
Porém, na incubadora do INATEL é feita essa avaliação de forma amistosa tendo em vista a
instabilidade do mercado e a rapidez das mudanças. Se a empresa não conseguiu obter os
índices desejados não por culpa sua, nem do produto, nem da incubadora, mas por uma súbita
mudança no mercado, por exemplo, isso é levado em consideração. Mas serve como sinal de
alerta. Em outras incubadoras onde o INATEL presta assessoria essa retirada de empresas da
93
incubadora por não alcançar os índices desejáveis para o software Pronto! ocorre com mais
freqüência.
“(... ) na nossa incubadora aqui do INATEL, geralmente a saída assim como a graduação é por
consenso e a saída da empresa por não atingir os indicadores aconteceu pouquíssimas vezes e
já dava para ver que ia acontecer. E não foi na nossa história recente. Porque nós fomos
aprendendo. A vantagem da ISO é a melhoria contínua, então você vai melhorando, vai vendo
onde que o problema está caminhando.”
(P32, professor)
O Núcleo de Empreendedorismo (NEMP) tem conseguido êxito junto a órgãos de fomento
para capacitação dos empresários residentes, sendo que, em alguns casos, o INATEL atua
como incubadora âncora na captação de recursos e treinamento para um grupo um de
incubadoras. Porém, há um cuidado muito grande por parte da gerência da incubadora e do
núcleo de Empreendedorismo na oferta de cursos de capacitação para os empresários porque,
além do tempo limitado desses empresários que geralmente ainda são alunos, existe a
possibilidade dos conhecimentos adquiridos no curso não serem imediatamente repassados.
Por conta disso, o NEMP tem optado em utilizar essa verba para consultoria individual com
cada empresa residente, onde um consultor externo especialista em determinado assunto é
contratado para passar algumas horas discutindo individualmente com as empresas o seu
problema real e tentar buscar soluções. Nas palavras do coordenador pedagógico do NEMP:
“Então a gente nem tem uma bateria de cursos muito grande. Dia desses, eu estava dando uma
orientação para uma incubadora que está fazendo o projeto com a gente eles perguntaram ‘e
dinheiro para cursos e tal?’. Eu falei: exatamente, cuidado com curso. É uma coisa bacana,
você vai relatar para agência de fomento, as pessoas vão gostar ou não... porque o empresário
reclama que ele tem muito pouco tempo e ele tem mesmo porque ele é aluno e empresário (...)
você traz o cara, ele dá um curso durante a semana, o pessoal acha maravilhoso... E aí
segunda-feira ele (empresário) cai na vida... risos... e fala ‘ah, semana que vem vou começar a
aplicar aquela metodologia que o consultor falou’. Então nós aqui usamos pouco o recurso de
cursos. Mas nós usamos muito para consultoria.”
A incubadora do INATEL conta com um gerente que não é funcionário do INATEL nem do
núcleo de Empreendedorismo, mas atua como um consultor. Além de ser responsável por
alguns cursos de formação, ele traça individualmente com cada empresa planejamento
estratégico, plano de ação e proporciona todo o suporte administrativo para esses empresários.
Sua função é atender individualmente as onze empresas que existem na incubadora. Os cursos
de formação também podem ser abertos não só para os empresários residentes como seus
funcionários, estagiários, membros da Pré-Incubadora e empresários graduados.
94
b) – Concurso de Planos de Negócios
Cronologicamente, o concurso de plano de negócios surgiu depois da FETIN, que já existia
desde 1982 e por isso é tratado como segunda atividade do NEMP. No entanto, o concurso foi
o primeiro programa lançado pelo Núcleo de Empreendedorismo após a sua criação e surgiu
em 2000, por sugestão do professor Fernando Dolabela. Teve em 2006 sua 7ª edição, com 80
grupos inscritos e cerca de 250 alunos participando.
O concurso é composto por quatro fases eliminatórias, sendo que os cinco projetos melhores
classificados vão para a final e concorrem aos prêmios: R$2.500,00 para o 1º colocado,
R$1.500,00 para o 2º colocado, R$1.000,00 para o 3º colocado, R$600,00 para o 4º e
R$400,00 para o 5º colocado. O evento conta com vários patrocinadores, entre eles o Banco
do Brasil. A comissão julgadora é composta de dois professores da parte técnica e de dois a
quatro profissionais de diversas áreas.
Para participar do concurso, não é necessário que os grupos desenvolvam um protótipo do
produto, apenas que desenvolvam um Plano de Negócios mostrando a viabilidade
mercadológica da idéia e a inovação tecnológica. O NEMP fica encarregado de prestar toda a
assessoria para os alunos na elaboração do Plano de Negócios (pesquisa mercadológica,
financeira, de marketing, recursos humanos e os outros aspectos que compõem o plano de
negócios).
A última fase acontece no auditório do INATEL, em cerimônia solene, com a presença da
diretoria da instituição e pessoas da comunidade. Cada um dos cinco grupos tem dez minutos
para defender a viabilidade mercadológica e a inovação do seu projeto, que são os critérios
básicos do concurso.
Hoje na incubadora do INATEL existem cinco projetos de sucesso que saíram do Concurso
de Plano de Negócios e se tornaram empresas incubadas.
c) – Olimpíada do Empreendedor
É mais um evento promovido anualmente pelo NEMP que, em 2006, teve a sua 4ª edição. O
intuito é despertar as características empreendedoras nos participantes, exercitando sua
95
capacidade de criar, de resolver problemas e encontrar soluções, de tomar decisões, trabalhar
com flexibilidade e melhorar o desempenho profissional. É uma gincana para até dez equipes,
num total de 100 alunos participantes por edição.
d) – Programa de Milhagem
O Programa de Milhagem foi criado em 2002 para estimular a participação dos alunos nas
atividades promovidas e patrocinadas pelo do NEMP, como palestras, cursos, feiras,
seminários entre outros. Desde o inicio da sua implantação, é crescente a participação e
presença dos alunos nas atividades desenvolvidas pelo NEMP, motivados a “ganhar milhas” e
acumulá-las.
“no começo do NEMP, a gente sentia muita rejeição dos alunos em relação a certas atividades
por uma questão de paradigma. Você sabe, aluno de engenharia acha difícil mexer com área de
humanas, uma coisa que diz para ele que o emprego não é só a única saída, que fala para ele
pensar no que ele quer da vida, optar...”
(P32, professor)
A inspiração para a criação desse programa veio das companhias aéreas e empresas de cartão
de crédito que usam desse sistema cumulativo de pontos para "fidelizar" seus clientes. As
atividades promovidas pelo núcleo foram mapeadas. Para cada atividade foi atribuída uma
quantidade de “milhas” que os alunos obtêm ao participar. Ao assistirem uma palestra,
podem ganhar 5 milhas; participando da Olimpíada do Empreendedor, podem ganhar 15
milhas; expondo trabalho na FETIN, podem ganhar 25 milhas; participando do Concurso de
Plano de Negócios, podem ganhar 40 milhas, por exemplo, após comprovarem a participação
com certificados.
Ao final, os alunos que obtém mais “milhas” recebem um título dentro dos três níveis
existentes: “Empreendedor Master”, “Empreendedor Sênior” e “Empreendedor Premium”,
além de prêmios distribuídos pelo NEMP. Mas obter essa titulação não tem sido tarefa fácil,
já que apenas quatro alunos conseguiram atingir o grau máximo.
“qual o grande problema hoje, Maria Helena? Você que está na universidade sabe, vem um
palestrante de fora, você traz o cara de não sei lá de onde, e aí tem dez pessoas assistindo. A
gente passa a maior vergonha. Então não é só no INATEL, não é só na sua universidade, isso é
geral, eu viajo por aí e isso sempre se confirma. Agora isso não acontece por aqui, porque a
palestra vale 5 milhas”
(Gi5, gerente da incubadora)
96
A reforma pedagógica que está sendo promovida no INATEL prevê que o Programa de
Milhagem amplie suas ações para nível institucional agora, não apenas restrito às atividades
do NEMP. O Programa de Milhagem passará a contemplar aspectos científicos,
comportamentais e de empreendedorismo. Passarão a contar ponto atividades de
responsabilidade social desenvolvidas pelos alunos (como o Projeto Casa Viva, mantido pelo
INATEL), monitoria, participação em atividades culturais como o Coral do INATEL, grupo
de teatro, cursos de extensão universitária entre outros, além de todos os eventos realizados
pelo NEMP que já contavam ponto. Se aprovado, o programa poderá premiar os alunos que
atingirem uma determinada pontuação máxima com bolsas de estudos, computadores entre
outros prêmios.
e) – FETIN – Feira Tecnológica do INATEL
Foi criada em 1982 pelo Diretório Acadêmico do INATEL. Hoje sua realização foi
incorporada ao NEMP. As primeiras edições da FETIN tiveram caráter basicamente técnico e
os projetos eram expostos em bancadas improvisadas. A 25ª edição da FETIN, ocorrida em
2006, contou com cerca de 90 projetos nas áreas de automação, informática,
telecomunicações, engenharia biomédica e eletrônica desenvolvidos pelos alunos dos cursos
de graduação em Engenharia Elétrica e Engenharia da Computação. A idéia da feira é servir
de vitrine para os alunos aplicarem seus conhecimentos e demonstrarem suas idéias
inovadoras. A 25ª edição foi patrocinada pela Caixa Econômica Federal do INATEL. Só a
montagem da estrutura dos estandes custa em torno de R$ 45.000,00 por edição.
O aluno ou equipe que vai expor recebe um estande montado com a iluminação, os pontos de
energia e os pontos de rede com acesso à internet. As demais coisas como decoração,
equipamentos, computadores e ornamentação do estande, por exemplo, ficam a cargo das
equipes que podem utilizar recurso próprio ou buscar um patrocinador, coisa que acontece
com freqüência.
Na FETIN de 2006 participaram 80 estandes. Para participar, os alunos precisam inscrever o
seu projeto apresentando um pré-descritivo com as características técnicas do produto e as
características de mercado. O NEMP orienta os alunos na escolha e elaboração dos projetos
visando a inovação e aceitação pelo mercado enquanto a orientação técnica é dada pelos
97
professores do INATEL. O NEMP oferece palestras, boletins informativos e atende
individualmente as equipes que assim desejarem. Tudo para que o produto desenvolvido não
só funcione bem como seja uma solução inovadora para um problema que o mercado tem e
está disposto a pagar pela solução. Assim, os alunos aprendem a calcular o preço do projeto,
lidar com o interesse de um possível cliente, apresentar a sua idéia, técnicas de venda e
marketing, entre outros.
A FETIN funciona como uma feira de negócios e balcão de oportunidade de contratação.
Antes que sejam abertas as inscrições dos projetos, o NEMP faz uma pesquisa com todas as
empresas do Pólo Tecnológico de Santa Rita do Sapucaí (Vale da Eletrônica) sobre quais
produtos elas teriam interesse em ver na FETIN. O resultado é divulgado para os alunos que,
a partir disso, podem ou não orientar seus projetos naquelas áreas de interesse do seu mercado
consumidor.
Na edição de 2006, por exemplo, foi identificado um interesse das empresas para soluções
eletrônicas na área de agro-negócios. O resultado foi que um dos projetos expostos na FETIN
nessa área foi tão bem aceito pelo mercado que estruturou um Plano de Negócios, participou
do processo de seleção da incubadora, foi aprovado e hoje é uma das empresas incubadas
dentro do INATEL. A motivação para transformar o produto em uma empresa formal veio
através da FETIN e da grande receptividade que os alunos encontraram a partir dos
empresários locais.
“A FETIN serviu para nós como uma grande pesquisa de mercado. Como resultado foi muito
positivo, nós resolvemos apostar na idéia."
(Ei28, empresário incubado)
Além disso, durante a FETIN ocorre o Programa Jovens Talentos, uma parceria da FETIN
com o núcleo de estágios, com o intuito de aproximar os alunos do mercado de trabalho,
facilitando o processo de recrutamento das empresas. O programa tem por objetivo realizar
durante o evento uma “vitrine viva” para os alunos apresentarem de forma profissional seus
talentos e conhecimentos. Doze empresas realizaram seleção para estagiários e profissionais
no próprio ambiente da FETIN, entre elas o Instituto Edvaldo Lodi, CPqD, Linear
Equipamentos Eletrônicos, Líder, FINATEL e outras empresas da Incubadora do INATEL.
Nessa primeira edição, 18 alunos foram selecionados por essas empresas para estágio.
98
Antes do início da FETIN, as empresas são procuradas, divulgam a vaga que elas querem
preencher e o perfil desejado do aluno que elas esperam contratar. A coordenação da feira
divulga essas vagas para os alunos do INATEL que se candidatam enviando o currículo para a
coordenação da feira informando a vaga pretendida. Nos dois primeiros dias da FETIN
acontece o Programa Jovens Talentos onde as empresas selecionam, dentre os alunos
inscritos, quais serão contratados. É marcada uma entrevista individual com cada aluno, mas o
diferencial é que essas empresas assistem a apresentação do aluno candidato no seu estande,
conhecem o produto, têm a oportunidade de discutir aspectos técnicos com alunos, observar
sua postura e características pessoais e usar todas essas informações na hora da escolha.
Embora o programa jovens talentos fosse aberto para todos os alunos do INATEL, aqueles
que estavam expondo na FETIN tiveram mais atenção por parte das empresas contratantes e
melhores resultados.
Os trabalhos são divididos em quatro categorias e em cada uma delas são premiados os três
primeiros colocados. Entre outras coisas, a FETIN já distribuiu como prêmio pendrives,
walkman, multímetros além de troféus e cursos de capacitação no INATEL Competence
Center.
“a FETIN ajuda a fazer a pessoa ter idéias, colocar o projeto em prática, pegar um primeiro
contato com a parte de montagem (...).Por exemplo, um circuito, às vezes na teoria você calcula
de um jeito, tem seus ganhos, suas interferências, quando você monta na prática você vê que
muda um pouco a situação, por que você passa a ter interferência de outros meios que você às
vezes não levou em conta no cálculo. Então, de uma certa forma, você tem um primeiro contato
com a tecnologia aplicada.”
(Ei2, empresário incubado)
6.1.3 Instituições de apoio
A estrutura de apoio mostrou ser decisiva no processo de abertura de empresas de base
tecnológica dentro da incubadora do INATEL e manifesta-se de variadas formas. Foram
analisados as Agências de desenvolvimento do governo e Instituições de apoio financeiro
como Fatores Críticos de Sucesso relacionados a esse aspecto.
Enquanto nos Estados Unidos no Vale do Silício, por exemplo, grande parte dos recursos que
impulsiona o crescimento das empresas de tecnologia vem dos angels ou investidores
privados que acreditam numa idéia e apostam no seu retorno financeiro, no Brasil a realidade
99
é um pouco diferente, sendo mais comum a abertura de empresas com capital próprio ou
financiado.
Uma das formas de organização que merece destaque é a Rede de Cooperação Empresarial
que constitui um agrupamento de empresas que buscam objetivos comuns. Este tipo de
organização empresarial tem apresentado experiências de sucesso no mundo e no Brasil,
auxiliando na sobrevivência principalmente dessas empresas associadas que, juntas, se
fortalecem e se tornam mais competitivas. A formação de redes de cooperação tem impactos
na produtividade e escala, na inovação das empresas envolvidas, além de permitir, em alguns
casos, a formação de novos negócios (PORTER, 1998).
No caso Santa Rita do Sapucaí, a principal fonte de recurso para as empresas incubadas que
impulsiona o seu desenvolvimento é proveniente das agências públicas de fomento,
especialmente a fundo perdido. Essa fonte de recursos é essencial também para o
desenvolvimento da Pré-Incubadora do INATEL, já que 90% de todos os recursos da
incubadora vêm dessas agências. Há, inclusive, uma equipe atenta para captação de recurso
que conta, inclusive, com um profissional de Direito para auxiliar no processo. Vários
empresários incubados relataram que ao ingressar na incubadora já contavam com essa verba
de fomento para planejar uma expansão da empresa, investir em estagiários, desenvolvimento
de produto e equipamentos, entre outros.
“a gente prospecta muitos recursos... agora em 2006, nós ganhamos R$690.000 só para
capacitação comercial, mercadológica.”
(E5, gerente da incubadora)
O concurso de plano de negócios oferece uma premiação em dinheiro para os cinco primeiros
colocados, o que também foi apontado como os empresários residentes vencedores desses
prêmios como muito importante na abertura da empresa na incubadora. Além de fatores como
o aumento da auto-estima com o prêmio, o reconhecimento de que o projeto é uma boa idéia,
que possui mercado potencial e o aval do NEMP para aquele projeto de empresa, o prêmio em
dinheiro pode ser utilizado na confecção do protótipo do produto, registro de patente e para
cobrir os custos iniciais da empresa, por exemplo. Em 2006 o concurso de plano de negócios
deu ao primeiro colocado R$2.500,00, ao segundo R$1.500,00, R$1.000,00 para o terceiro
colocado e depois R$600,00 e R$400,00.
100
A FETIN também distribui premiações, mas até 2006 eram dadas em forma de equipamentos
como multímetros e osciloscópios. Além disso, o INATEL e o núcleo de empreendedorismo
travaram alguns convênios e parcerias com entidades como a GTZ, Cooperação Técnica
Alemã, com o objetivo de gerenciar os projetos de cooperação técnica e atuando como
responsável pela implementação da contribuição alemã no fornecimento de equipamentos,
treinamento de profissionais e envio de profissionais especializados ao Brasil.
Mesmo levando-se em consideração o perfil econômico dos alunos do INATEL (uma
instituição privada cuja mensalidade gira em torno de 3 salários mínimos), o apoio financeiro
foi apontado como decisivo no processo de estímulo a abertura de empresas.
101
7 - Capítulo 7 – CONCLUSÕES
A Instituição de Ensino Superior pode desempenhar um importante papel estimulando
atitudes empreendedoras nos alunos para que possam adotar o empreendedorismo como
comportamento, independente do fato de atuarem no futuro como funcionários de uma
empresa (intra-empreendedores) ou donos do próprio negócio (empreendedores).
O objetivo da formação empreendedora não é exclusivamente formar futuros empresários e
nem todos os alunos têm esse desejo. Porém, para àqueles com interesse pela área
empresarial, os Programas de Educação Empreendedora (PEE) podem servir de apoio no
processo criação da própria empresa, auxiliando em aspectos decisivos para o sucesso deste
novo negócio como a diminuição dos riscos através do estudo de viabilidade e elaboração do
Plano de Negócios. No caso estudado, dos 15 alunos de graduação entrevistados, 60%
afirmaram não ter o desejo de se tornarem empresários, mesmo o INATEL oferecendo várias
oportunidades para a formação empreendedora.
Este trabalho investigou a seguinte questão: “quais são os Fatores Críticos de Sucesso no
incentivo ao empreendedorismo presentes no contexto de uma Instituição de Ensino Superior
que estimulam a criação de novas empresas de base tecnológica?”.
O caso selecionado para estudo foi o Instituto Nacional de Telecomunicações, o INATEL,
localizado em Santa Rita do Sapucaí (MG), e atendeu os critérios estabelecidos para seleção
do caso, além de estar inserido em um contexto sócio-cultural de empreendedorismo
(relevância, acesso e pioneirismo) reconhecido mundialmente.
Os dados foram coletados através de 66 entrevistas estruturadas, análise documental e
observação. Foram ouvidos 34 professores, 7 empresários incubados (que possuem empresa
residente na incubadora do INATEL), 4 empresários graduados (que possuem empresa que
deixou a incubadora do INATEL por ter completado o período de incubação), 6 membros da
comunidade do INATEL (diretores, ex-diretos, gerente da incubadora) e 15 alunos de
graduação do INATEL.
102
Após uma revisão na literatura específica, foram encontrados doze Fatores Críticos de
Sucesso (FCS) de incentivo ao empreendedorismo no contexto de uma Instituição de Ensino
Superior (Quadro 3):
FCS Comentário
Modelo de
empreendedor
Fator preponderante identificado na coleta de dados que
evidencia que a cultura da cidade de Santa Rita do Sapucaí é
empreendedora.
Experiência pessoal
Diz respeito às experiências acumuladas ao longo da vida do
aluno. Porém, mecanismos oferecidos pela IES podem propiciar
a vivência e socialização de experiências empreendedoras.
Pessoais
Histórico familiar
Fator preponderante identificado nas entrevistas com os
empresários incubados, empresários e alunos que pretendem
tornar-se empreendedores.
Participação de
empresários nas
atividades de ensino
Este fator encontra-se presente através das ações desenvolvidas
pelo NEMP, sendo não tão importante quando desenvolvido em
disciplinas isoladas.
Alunos com potencial
empreendedor
Este fator foi identificado como de pouca relevância entre todos
os entrevistados.
Metodologias de
ensino baseadas na
pesquisa e vivência
prática
Este fator apresenta-se pouco presente, visto que a maioria das
disciplinas utiliza metodologias de ensino tradicionais.
Professores com
experiências
empreendedoras
Fator identificado entre os entrevistados. A metade dos
professores do INATEL tem ou teve participação na abertura de
uma empresa própria e acabam compartilhando suas
experiências com seus alunos.
Formas alternativas
de avaliação do
conteúdo
Participação do
aluno no processo de
ensino e
aprendizagem
Identificado como preponderante na coleta de dados,
acrescentado-se que existe uma sinergia entre as atividades
desenvolvidas pelo NEMP, que são incorporadas a algumas
disciplinas em sua sistemática de avaliação e propiciam aos
alunos participarem do processo de ensino e aprendizagem.
Instituição de
Ensino Superior
Centro de
Empreendedorismo,
Incubadora e
Empresa Júnior
Identificada na coleta de dados como preponderante, sendo
enfatizado pelos entrevistados a existência do NEMP.
Agências de
desenvolvimento do
governo
Instituições de
apoio
Instituições de apoio
financeiro
Na coleta de dados foi enfatizado como preponderante a
disponibilidade de capital financeiro de fundo perdido alocado
nas empresas de base tecnológica, principalmente a dependência
das empresas incubadas e da própria incubadora.
Quadro 3 – FCS e sua presença no caso estudado.
Os Fatores Críticos de Sucesso Pessoais estão ligados à figura do empreendedor, sua história
de vida, experiências, e não são gerenciáveis ou passíveis de controle, existindo anteriormente
à entrada do aluno na IES. Foram divididos em experiência pessoal, modelo de
103
empreendedor e histórico familiar e, para o caso estudado, os dois últimos demonstraram
ser preponderantes no estímulo ao empreendedorismo.
O modelo de empreendedor refletiu o orgulho local pelas empresas de base tecnológicas e
demonstrou ser um dos Fatores Críticos de Sucesso preponderantes para o caso estudado. Os
entrevistados citaram como modelo vários empresários da comunidade de Santa Rita do
Sapucaí, a maioria ex-alunos do INATEL. Esses empreendedores locais são muito conhecidos
no meio acadêmico, recebem convites para partilhar suas experiências com os alunos,
empregam alguns deles como estagiários ou funcionários e formam uma rede de cooperação
entre as empresas de base tecnológica do município. Esse sentimento de respeito pelos
empreendedores locais serve de estímulo ao empreendedorismo, traduzido pelos alunos
entrevistados como a “sensação de que eu também posso chegar lá um dia”.
A experiência pessoal está relacionada à vivência do aluno no período anterior ao negócio
atual e soma fatos ocorridos durante toda a vida do aluno. Esse estágio foi citado como um
período de amadurecimento e aprendizagem para os alunos, ainda que a experiência não tenha
sido positiva. Atividades simples como trabalhar durante as férias pode familiarizar o aluno
com o ambiente empresarial e despertar seu interesse pelo auto-emprego. O INATEL colabora
proporcionando oportunidades de experiências empresariais para os alunos através do NEMP.
Porém, esse FCS é mais abrangente e engloba atividades buscadas pelo aluno mesmo numa
época anterior à sua entrada na IES.
Os empresários graduados e incubados que foram ouvidos pela pesquisa citaram o histórico
familiar relacionado ao empreendedorismo como um FCS preponderante no estímulo à
atividade empreendedora. Muitos dos empresários ouvidos afirmaram ter na família próxima
(pai, mãe, irmão, esposa) uma pessoa que é dona do próprio negócio. O familiar que é
empreendedor e conhece as características de trabalhar por conta própria contribui tanto para
uma visão positiva do assunto como para a construção de apoio para empreender, com
recursos financeiros (a família foi apontada como primeira patrocinadora do início das
atividades empresariais dos empresários incubados, sendo que alguns pais são sócios
capitalistas das empresas nascentes), redes de contato, entre outros.
104
O grupo relacionado à Instituição de Ensino Superior é composto de FCS gerenciáveis pela
instituição, que podem ser incorporados, estimulados de acordo com a política da instituição.
São subdivididos em:
A participação de empresários nas atividades de ensino foi apontada por professores,
alunos e empresários como não tão necessária, já que o Núcleo de empreendedorismo do
INATEL (NEMP) realiza eventos e proporciona esse tipo de atividade. A existência de
alunos com potencial empreendedor foi identificada como de pouca relevância. Embora
alguns alunos já afirmassem ter o desejo de empreender mesmo antes de ingressarem no
INATEL, a participação das atividades do NEMP foi o fator decisivo de estímulo à atividade
empreendedora citado pelos empresários.
A utilização de metodologias de ensino baseadas na pesquisa e vivência prática não ocorre
de maneira significativa dentro da instituição. Em matérias específicas de empreendedorismo
e negócios, são utilizadas metodologias de ensino diferentes das tradicionais (aula expositiva).
Porém, em matérias técnicas de engenharia ou de formação básica, por exemplo, a
metodologia utilizada é a tradicional, o que é compreensível devido ao caráter teórico da
disciplina. Mais importante do que a adoção exclusiva de técnicas e metodologias inovadoras
em toda a grade curricular é a utilização de formas alternativas de ensino dentro das
disciplinas específicas de empreendedorismo, o que ocorre no INATEL. Um professor de
empreendedorismo relata, por exemplo, que propunha desafios aos alunos para situações
inusitadas onde não havia uma solução correta. Numa certa ocasião, ele contou uma estória
sobre alguém que perdeu uma prova porque o despertador não tocou e propôs que os alunos
criassem um dispositivo que pudesse despertá-los de 15 em 15 minutos até completar 1 hora,
sem usar nenhum mecanismo de relojoaria, eletricidade ou eletrônica. Surgiram soluções
muito criativas como um relógio movido a água, relógio de fogo e até um sistema de velas
calibradas que acionavam “bombinhas de São João” a cada 15 minutos.
A existência de professores com experiências empreendedoras foi identificada no processo
de estímulo ao empreendedorismo dentro da IES. Metade dos professores do INATEL tem ou
teve participação na abertura de uma empresa própria, sendo 53% na área de tecnologia. Há
professores proprietários de empresas incubadas e graduadas pela incubadora do INATEL. A
concepção positiva do empreendedorismo que estes professores podem passar aos alunos,
somados aos exemplos do mundo empresarial que usam em sala de aula, foram citados pelos
105
alunos como muito úteis. Porém, a proximidade com outros empreendedores da região fez
com que a existência de professores empreendedores fosse considerada positiva pelos alunos,
mas não essencial no estímulo ao empreendedorismo.
As formas alternativas de avaliação do conteúdo, (diferente das tradicionais provas
escritas), independente da disciplina, foram consideradas como relevantes ao estímulo do
empreendedorismo. A estrutura do INATEL colabora com isso, sendo que muitas atividades
do NEMP são aproveitadas e valem nota dentro de disciplinas teóricas de Engenharia, por
exemplo. A ativa participação do aluno no processo de ensino e aprendizagem, também é
incentivada por projetos desenvolvidos pelo NEMP.
A existência de centro de empreendedorismo, incubadora e empresa júnior foi apontada
como preponderante no processo de estímulo ao empreendedorismo no INATEL e como o
FCS decisivo no sucesso do caso. O NEMP (Núcleo de Empreendedorismo do INATEL) foi
criado em 1998 e centraliza os programas de empreendedorismo da instituição, como a
incubadora de empresas, o concurso de Planos de Negócios, Pré-incubadora, Programa de
milhagens, Olimpíada do Empreendedor, Semana do engenheiro empreendedor, FETIN, além
de cursos, palestras e treinamentos em empreendedorismo.
O NEMP possui uma sede própria e recebe alunos para aconselhamento sobre estratégia
empresarial, o que é fundamental no processo de estímulo à atividade empreendedora, já que
o curso de engenharia tradicional capacita tecnicamente os alunos a buscarem soluções e
invenções para seus produtos, mas não fornece a formação gerencial, que é essencial para que
uma empresa seja bem sucedida. O índice de sucesso das empresas graduadas pela incubadora
do INATEL é de 92% e o que contribui fortemente pra isso é o apoio em gestão que o NEMP
oferece ao empreendedor.
A existência do NEMP é resultado da política de estímulo ao empreendedorismo adotado pela
direção do INATEL, que investiu mais de R$ 1 milhão na sua criação. Hoje a área construída
do NEMP é de 500m2, ocupando três prédios no campus. O INATEL continua sendo
financiador do NEMP, aportando anualmente recursos para que ele se mantenha. O
complemento vem de parceiros e órgãos de fomento, como FAPEMIG, SEBRAE, FINEP,
CNPq entre outros.
106
O terceiro grupo de FCS está ligado ao contexto e é composto por instituições de apoio como
agências de desenvolvimento do governo e instituições de apoio financeiro e demonstrou
ser preponderante no estímulo ao empreendedorismo no INATEL. As agências públicas de
fomento, especialmente as de fundo perdido, são a principal fonte de recurso para as empresas
incubadas e para a própria incubadora de empresas do INATEL, que capta 90% de todos os
seus recursos nestas fontes. Destaque para a Rede de Cooperação Empresarial entre as
empresas de Santa Rita do Sapucaí que compõem o Vale da Eletrônica, com resultados
positivos na inovação, surgimento de novos negócios, produtividade entre outros.
O presente trabalho se propôs a identificar e analisar na literatura os Fatores Críticos de
Sucesso no incentivo ao empreendedorismo presentes no contexto de uma Instituição de
Ensino Superior e sua relação com a criação de novas empresas de base tecnológica. Para o
caso estudado, a pesquisa identificou como preponderantes no estímulo ao
empreendedorismo os seguintes FCS: modelo de empreendedor e histórico familiar
(ligados aos aspectos pessoais do empreendedor); formas alternativas de avaliação do
conteúdo, participação do aluno no processo de ensino e aprendizagem, centro de
empreendedorismo, incubadora e empresa júnior (ligados à Instituição de Ensino
Superior, no caso, o INATEL) e agências de desenvolvimento do governo e instituições de
apoio financeiro (ligados às Instituições de Apoio).
O FCS central para o caso estudado é a existência do centro de empreendedorismo,
incubadora e empresa júnior apontado na literatura que, no INATEL, se chama NEMP –
Núcleo de Empreendedorismo do INATEL e centraliza a condução de atividades voltadas
para a formação empreendedora dos alunos. O NEMP auxilia diretamente na prospecção de
recursos junto às agências de desenvolvimento do governo e instituições de apoio
financeiro e mantém uma equipe para auxiliar nesse processo, sendo que uma parte dos
recursos obtidos é utilizada para financiar atividades desenvolvidas pelo próprio NEMP.
Essas atividades não são obrigatórias e os alunos participam voluntariamente. Algumas delas
são incorporadas a disciplinas da grade curricular do INATEL e propiciam a participação do
aluno no processo de ensino e aprendizagem de maneira ativa, dinâmica e servem também
como formas alternativas de avaliação do conteúdo. Para elaborar um projeto a ser exposto
na FETIN, por exemplo, que é uma atividade do NEMP, os alunos necessitam de pesquisar,
buscar auxílio com professores, testar experimentos, utilizar laboratórios e aprender
detalhadamente um conteúdo ou tecnologia específica. Esse projeto será avaliado por uma
107
banca e os alunos participantes poder receber nota em determinadas disciplinas relacionadas
com o tipo de projeto que desenvolveram. Esse sistema é utilizado no INATEL até em
disciplinas técnicas de engenharia com alto índice de reprovação.
Os Fatores Críticos de Sucesso Pessoais estão ligados à figura do empreendedor, sua história
de vida, experiências, e não são gerenciáveis ou passíveis de controle. Exemplo disso é o
histórico familiar de empreendedores que foi identificado como um FCS preponderante no
estímulo ao empreendedorismo, mas não tem relação com outros FCS identificados. Porém,
as atividades desenvolvidas pelo NEMP auxiliam no desenvolvimento de um modelo de
empreendedor local pelos alunos, uma vez que a cultura da cidade de Santa Rita do Sapucaí
é empreendedora e vários entrevistados citaram como modelo de empreendedores de sucesso
empresários locais.
7.1 Sugestão para trabalhos futuros
Como sugestão para trabalhos futuros fica:
A investigação sobre o surgimento e desenvolvimento das empresas de base tecnológica do
Pólo Tecnológico de Santa Rita do Sapucaí não vinculadas à incubadora do INATEL ou
outra incubadora municipal e sim abertas de forma independente.
Análise dos ex-alunos do INATEL e a opção pelo empreendedorismo (serem donos do
próprio negócio), em qualquer ramo de negócios e independente de processos de incubação.
análise das outras incubadoras de empresas de Santa Rita do Sapucaí.
As limitações desse trabalho decorrem principalmente da metodologia utilizada, que foi o
estudo de caso e as conclusões aqui apontadas só têm efeito para o caso do Instituto Nacional
de Telecomunicações, o INATEL, situado em Santa Rita do Sapucaí.
108
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117
ANEXO A
Roteiro para realização de entrevistas
Roteiro tipo 1: Empresários incubados
Nome do entrevistado:
Nome da empresa:
Cargo na empresa:
Data da fundação da empresa:
Participou da fundação da empresa?
Período de estudo no INATEL
A empresa é incubada? Há quanto tempo?
O senhor cursou o 2º grau técnico? (Na ETE em Santa Rita?)
1. Qual foi o produto que deu origem à empresa? Comente como foi o inicio das atividades
empresariais.
2. Com relação à sua empresa:
2.1. um ou mais sócios trabalharam na empresa júnior do INATEL?
2.2. um ou mais sócios cursaram disciplinas de empreendedorismo?
2.3. um ou mais sócios desenvolveram pesquisas sobre empreendedorismo?
2.4. um ou mais sócios participaram de atividades do centro de empreendedorismo?
2.5. um ou mais sócios participaram de atividades de pré-incubação de empresas?
3. Durante a sua vida acadêmica, você participou de alguma atividade extra-classe voltada à
criação de negócios?
3.1. Sim. Qual?
3.1.1. pesquisa em empreendedorismo?
3.1.2. empresa júnior?
3.1.3. pré-incubadora de projetos?
3.1.4. centro de empreendedorismo?
3.1.5. outros? Comente
3.2. Não. Por quê? Comente.
4. Qual foi a principal motivação para a criação da empresa?
4.1. detecção de uma oportunidade de negócios?
4.2. oportunidade de colocar em prática uma tecnologia desenvolvida no INATEL?
118
4.3. realização pessoal em trabalhar por conta própria?
4.4. incentivo de familiares e amigos?
4.5. dificuldade em conseguir emprego formal?
4.6. facilidade proporcionada pelo INATEL?
4.7. outros? Comente
5. Você acha que o INATEL estimula o empreendedorismo nos alunos?
5.1. Sim. Como?
5.1.1. através de disciplinas específicas sobre o tema?
5.1.2. através de pesquisas que visam desenvolvimento de novas tecnologias?
5.1.3. através de palestras, seminários, feiras e outros eventos?
5.1.4. outros? Comente
5.2. Não. Comente
6. De que alguma forma o INATEL desestimula o empreendedorismo nos alunos?
6.1. Sim. Como?
6.1.1. ao prepará-los exclusivamente para o mercado formal de trabalho?
6.1.2. ao não incluir matérias de negócios nos seus currículos?
6.1.3. ao privilegiar o ensino voltado para a técnica e não para a aplicação de
tecnologia em soluções do dia-a-dia?
6.1.4. ao incentivarem a abertura de empresas ainda durante o período de estudo?
6.1.5. outros? Comente
6.2. Não, de forma alguma. Comente.
7. Os professores do INATEL estimulam o empreendedorismo os alunos?
7.1. Sim. Como?
7.1.1. através do exemplo de serem eles mesmos empreendedores?
7.1.2. incentivando a participação do aluno no processo de ensino?
7.1.3. através do estímulo à pesquisa tecnológica?
7.1.4. através de atividades que obriguem os alunos a tomar contato com o mercado é
a criação de empresas?
7.1.5. através da teoria do empreendedorismo?
7.1.6. outros? Comente
7.2. Não. Comente.
8. De que alguma forma os professores do INATEL desestimulam o empreendedorismo nos
alunos?
8.1. Sim. Como?
8.1.1. ao prepará-los exclusivamente para o mercado formal de trabalho?
119
8.1.2. incentivando a participação do aluno no processo de ensino?
8.1.3. ao não incluir matérias de negócios nos seus currículos?
8.1.4. ao privilegiar o ensino voltado para a técnica e não para a aplicação de
tecnologia em soluções do dia-a-dia?
8.1.5. outros? Comente
8.2. Não, de forma alguma. Comente.
9. Você acha que o fato de alguns professores desenvolverem atividades empreendedoras
têm impacto favorável na postura destes docentes em relação à abertura de empresas?
Isso é percebido em sala de aula?
10. De que alguma maneira o contexto estudantil influenciou na sua decisão de abrir o próprio
negócio? Explique.
11. O que pode ser mudado no contexto do INATEL para que este seja mais eficaz do
processo de estímulo para que os alunos abram o próprio negócio?
12. Qual tipo de apoio foi decisivo na época da criação da empresa?
12.1. cursos, palestras e feiras?
12.2. laboratórios?
12.3. capital?
12.4. estrutura física?
12.5. apoio tecnológico?
12.6. apoio administrativo?
12.7. outros
13. Por qual meio você recebeu as primeiras informações a respeito da incubadora de
empresas?
13.1. palestras?
13.2. jornais, revistas, rádios?
13.3. professores?
13.4. cartazes no INATEL?
13.5. colegas?
13.6. outros?
14. Na época da abertura da empresa, você conhecia alguma empresa incubada que obteve
sucesso? Esse modelo foi importante para orientar no início do trabalho? Comente.
15. Há a participação de empresários nas atividades de ensino?
16. Sua empresa conta com algum financiamento?
120
16.1. Sim. Qual?
16.2. Não. Por quê?
17. O fato da sua região ser um pólo de tecnologia teve influência na decisão de abrir sua
empresa?
17.1. Sim. Como?
17.2. Foi indiferente?
17.2.1. Totalmente? Por quê?
17.2.2. Facilitou muito? Quais?
17.2.3. Em partes. Facilitou em algumas coisas. Quais?
17.3. Não
17.3.1. Até dificultou em algumas coisas? Quais?
18. O que você considera um empreendedor de sucesso?
19. Alguém da sua família é dono do próprio negócio?
19.1. Sim. Quem?
19.1.1. parceiro ou parceira
19.1.2. pais e familiares
19.1.3. outros. Quem?
19.2. Não.
20. Antes de abrir o seu próprio negócio, você achava que possuía conhecimento suficiente
para ser dono de uma empresa?
21. Pessoas do seu relacionamento próximo o incentivaram abrir o próprio negócio?
21.1. Sim. Quem?
21.1.1. parceiro ou parceira
21.1.2. pais e familiares
21.1.3. colegas de faculdade
21.1.4. amigos
21.1.5. professores
21.1.6. outros. Quem?
22. Pessoas do seu relacionamento próximo o desestimularam a abrir o próprio negócio?
22.1. Sim. Quem?
22.1.1. parceiro ou parceira
22.1.2. pais e familiares
22.1.3. colegas de faculdade
121
22.1.4. amigos
22.1.5. professores
22.1.6. outros. Quem?
23. Você possui algum modelo de empreendedor de sucesso?
23.1. Sim. Qual?
23.2. Ele teve formação superior?
24. Você acredita que o ensino do INATEL está comprometido com o empreendedorismo?
25. Qual era a sua maior preocupação durante a vida acadêmica?
25.1. tirar notas boas?
25.2. conhecer tecnologias que pudessem ser aplicadas?
25.3. travar o bom relacionamento com colegas, professores e pessoas do INATEL?
25.4. conseguir o diploma do curso superior?
26. O INATEL possui alguma forma de incentivo formal voltado para a criação de empresas?
Qual? Isso influenciou na decisão de abrir uma empresa? De que maneira?
122
Roteiro tipo 2: Questionário Empresas Graduadas
Data da fundação da empresa:
Período de estudo do senhor no INATEL:
A empresa é graduada há quanto tempo? Ficou quanto tempo incubada?
O senhor cursou o 2º grau técnico? (Na ETE em Santa Rita?)
27. Qual produto deu origem à empresa? Ele ainda está sendo comercializado? Ele surgiu de
alguma atividade ligada ao INATEL (FETIN, concurso de Plano de Negócios, pesquisa
etc?)
28. Qual foi a principal motivação para a criação da empresa?
29. Durante a sua graduação no INATEL, o senhor participou de atividades ligadas ao
empreendedorismo e criação de novos negócios? Marque com um X para “sim”
( ) FETIN
( ) disciplinas de empreendedorismo
( ) atividades do Núcleo de Empreendedorismo. Quais?
( ) outras. Quais?
30. De que maneira o INATEL auxiliou no processo de criação da sua empresa? O INATEL
foi decisivo na sua opção de tornar-se empresário?
31. Qual tipo de apoio foi decisivo na época da criação da empresa?
32. Como a sua empresa se relaciona com o INATEL atualmente? E com a incubadora do
INATEL?
33. O fato de a região ser um pólo de tecnologia teve influência na decisão de abrir sua
empresa?
34. Qual era a sua maior preocupação durante a vida acadêmica? (notas boas, conhecer
tecnologias que pudessem ser aplicadas, bom relacionamento com colegas, diploma etc)
35. Na sua época de estudante, o INATEL estimulava o empreendedorismo nos alunos? E
quanto aos professores?
36. O que poderia ser mudado no contexto do INATEL para que ele fosse mais eficaz no
processo de estímulo para que os alunos abram o próprio negócio?
123
Roteiro tipo 3: Docentes
Nome do entrevistado:
Disciplinas que ministra na graduação do INATEL:
Há quanto tempo é professor no INATEL?
É ex-aluno do INATEL?
37. Há a participação de empresários nas atividades de ensino dentro da sala de aula? (na
forma de palestras ou relato de experiência)
37.1. Sim. Qual o objetivo?
37.1.1. para servirem de exemplo aos alunos e motivá-los a abrir o próprio negócio?
37.1.2. para prepará-los para as dificuldades enfrentadas pelos empreendedores?
37.1.3. para que os alunos tomem contato com a
37.2. Não. Por quê?
38. Para o senhor, o empreendedorismo é uma coisa positiva ou negativa? Está relacionado:
38.1. negócios inovadores?
38.2. abertura de empresas de qualquer tipo?
38.3. habilidades pessoais?
38.4. outras? Comente
39. O senhor acha que ter experiências empreendedoras no sentido de abertura de empresas é
importante para compreender o empreendedorismo?
40. O senhor já teve alguma experiência empreendedora no sentido de abertura de empresas?
O negócio ainda está em operação?
41. Nas suas aulas, o senhor utiliza quais metodologias de ensino? (tradicionais, com aulas
expositivas, ou outras?)
42. O senhor acha importante inovar nas formas de ensino? Há alguma orientação da
instituição sobre isso?
43. Qual a sua forma de avaliar o conteúdo da disciplina?
44. O senhor acha importante inovar nas formas de avaliação? Há alguma orientação da
instituição sobre isso?
45. O curso de graduação do INATEL prepara os alunos para serem donos do próprio
negócio?
124
Roteiro tipo 4: Gerência da incubadora e Núcleo de Empreendedorismo
Nome do entrevistado:
Cargo:
46. Participou da fundação da incubadora? Quais os requisitos para que um projeto seja
escolhido pra ser incubado?
47. Participou da fundação do núcleo de empreendedorismo? Quais os requisitos para que um
projeto seja escolhido pra ser incubado?
48. Como a incubadora estimula o empreendedorismo nos alunos? E o Núcleo de
Empreendedorismo?
49. De que maneira a incubadora oferece apoio aos alunos que pretendem abrir o próprio
negócio? E o Núcleo de Empreendedorismo?
50. Quantas empresas em incubação existem hoje?
51. O que a incubadora e o núcleo de empreendedorismo consideram um aluno
empreendedor?
52. Há algum tipo de financiamento ou ajuda financeira para a abertura do próprio negócio?
53. Há algum apoio formal (em forma de parceria, por exemplo) obtido junto às agências de
desenvolvimento para abertura do próprio negócio?
54. Qual o perfil da maioria dos empresários das empresas em incubação?
54.1. estudantes ainda na graduação
54.2. estudantes já graduados.
54.3. estudantes de pós-graduação
54.4. professores?
54.5. outros. Quem?
55. Qual a taxa de sobrevivência de empresas ‘desencubadas’ (graduadas)? Qual o
faturamento médio das empresas incubadas? Qual a empresa graduada mais antiga?
Quantos funcionários? Qual o faturamento médio?
56. Qual a principal fonte de recursos da incubadora e do núcleo de empreendedorismo?
57. Qual o principal papel da incubadora e do núcleo de empreendedorismo?
125
Roteiro tipo 5: Direção do INATEL
Nome do entrevistado:
Cargo:
58. De que maneira o como o INATEL, enquanto instituição, encara o empreendedorismo?
59. Que tipo de orientação institucional existe para os professores a respeito da abordagem do
empreendedorismo? Quais projetos educacionais abordam o tema?
60. Como e quando o núcleo de empreendedorismo foi criado? Como que ele é mantido?
61. Qual o futuro que o INATEL vislumbra, onde que ele pretende chegar, em termos de
empreendedorismo, ensino de empreendedorismo para os alunos?
126
Roteiro tipo 6: Alunos do INATEL
Nome do entrevistado:
Período que cursa na graduação do INATEL:
Ano de entrada na graduação do INATEL:
É ex-aluno da ETE?
62. Você conhece o empreendedorismo?
63. Para você, empreendedorismo é uma coisa positiva?
64. Você tem vontade de abrir um negócio próprio?
64.1. Sim
64.1.1. Já tem uma empresa
64.1.2. Pretende abrir durante a graduação?
64.1.3. Pretende abrir depois de formado?
64.1.4. Abrirá depois de formado somente se não conseguir um emprego formal?
64.2. Não
65. Você já tinha ouvido falar de empreendedorismo antes de ser aluno de graduação no
INATEL?
66. Já participou de alguma atividade do NEMP? Qual?
67. As facilidades oferecidas pelo NEMP estimulam você a pensar em ter um negócio
próprio?
127
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