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Universidade de São Paulo
Faculdade de Saúde Pública
Avaliação do estado nutricional de escolares de 1ª a 4ª
série em Feira de Santana-BA: uma análise para
subsidiar políticas de intervenção.
Thais Costa Machado
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Mestre em Saúde Pública.
Área de Concentração: Saúde Materno-Infantil.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rogério Gallo.
São Paulo
2008
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Avaliação do estado nutricional de escolares de 1ª a 4ª
série em Feira de Santana-BA: uma análise para
subsidiar políticas de intervenção.
Thais Costa Machado
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Pública para
obtenção do título de Mestre em Saúde Pública.
Área de Concentração: Saúde Materno-Infantil.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Rogério Gallo.
São Paulo
2008
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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por meio
convencional ou eletrônico, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos,
desde que citada à fonte.
Citação sugerida: Machado TC. Avaliação do estado nutricional de escolares de
1ª a 4ª série em Feira de Santana-BA: uma análise para subsidiar políticas de
intervenção. São Paulo; 2008. [Dissertação de Mestrado – Faculdade de Saúde
Pública da USP]
Assinatura:
Data:
DEDICATÓRIA
Á minha mãe, Zelita Eva Costa, pela amizade,
amor e apoio incondicionais que preenchem
minha existência. Obrigada por sempre
acreditar nos meus sonhos!
Aos meus irmãos, Thaiane pelo amor, estímulo
e orgulho, e Thiago pelo carinho e
compreensão.
Ao meu dindo, Cantídio Azevedo Filho, por ser
uma estrela a iluminar meu caminho lá do
céu...
Ás crianças razão da minha busca pelo
crescimento profissional e imensa felicidade
nessa jornada.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Paulo Rogério Gallo por orientar, incentivar, acreditar e confiar na
realização deste trabalho, pelo crescimento profissional e pessoal e, principalmente,
pela paciência e relação de amizade e carinho que espero cultivar por toda a vida.
Ao Prof. Dr. Alberto Olavo Advincula Reis pela oportunidade de compor a equipe do
“Projeto da Bahia” e pelas saborosas e alegres conversas e cafés, além do intercâmbio
entre a nutrição e a psicologia durante o mestrado.
Ao Prof. Dr. Claudio Leone pelas inúmeras discussões metodológicas e estatísticas
deste trabalho, além da enorme paciência para responder a tantas perguntas.
À Profa. Dra. Sophia Cornbluth Szarfarc pela confiança e apoio indispensáveis para
realização deste trabalho e grande carinho, compreensão, conselhos e amizade,
temperada com moqueca na Bahia e almoços na FSP.
À Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana – FAMFS pela permissão
concedida para realização dessa pesquisa e, em especial, aos funcionários da Fazenda
do Menor, pela colaboração primorosa.
Ao Prof. Antônio Lopes Ribeiro pela indispensável parceria e exemplo de compromisso
social, além do tão caloroso acolhimento durante as estadias em Feira de Santana.
Aos Funcionários da FSP, particularmente aos do Departamento de Saúde Materno-
Infantil, Nutrição e da Pós-Graduação, pela atenção e carinho.
Ao Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações – LANPOP, pelo empréstimo
dos materiais utilizados para avaliação antropométrica dos escolares.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa
de estudos concedida.
À Nizete Azevedo e Marcelo Chaves, minha família em São Paulo/Jundiaí, pelo
incentivo, amparo e carinho durante toda essa jornada.
Aos meus familiares pelo apoio e por construírem comigo, com muito amor, pontes que
me auxiliaram a lidar com a saudade e a distância física.
Aos meus amigos, baianos, paulistas, gaúchos, mineiros, goianos... que com muita
alegria, criatividade e carinho deram vida e cor a minha estadia em São Paulo.
...“A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.”...
Alberto Caeiro - Fernando Pessoa
RESUMO
Machado TC. Avaliação do estado nutricional de escolares de 1ª a 4ª série em Feira
de Santana-BA: uma análise para subsidiar políticas de intervenção. São Paulo;
2008. [Dissertação de Mestrado – Faculdade de Saúde Pública da USP]
Introdução - A avaliação do crescimento infantil ultrapassa o olhar técnico
expressando, indiretamente, os cuidados sociais e culturais que a criança está
vivenciando. Objetivo - Avaliar o estado nutricional dos escolares da 1ª a 4ª série do
ensino fundamental acompanhados pela Fundação de Apoio ao Menor de Feira de
Santana (FAMFS) no Município de Feira de Santana–BA. Métodos - Trata-se de um
estudo transversal, descritivo, observacional, a partir de dados da FAMFS dos escolares
de 5 a 10 anos, de uma escola estadual, assistidos em seus programas. Foram utilizadas
medidas de peso, estatura, circunferência do braço (CB) e medidas derivadas (índices de
peso para idade – P/I; estatura para idade – E/I; CB para estatura – CB/E e, Índice de
Massa Corpórea – IMC). Os pontos de corte adotados para os índices P/I, E/I e CB/E
foram - 2,0 e + 2,0 escores z e, para IMC os percentis 5, 85 e 95, das curvas do Center
for Disease Control and Prevention (CDC 2000). As comparações foram feitas a partir
dos parâmetros de tendência central e dispersão de valores. Definiu-se nivel de
significância alfa de 5%. Resultados - A prevalência de baixa estatura, utilizando-se o
E/I, foi de 3,5% (IC95%: 1,9 – 6,5). Na avaliação do IMC, verificaram-se prevalências
de baixo peso, sobrepeso e obesidade de 5,8% (IC95%: 3,6 – 9,4), 4,7% (IC95%: 2,7 –
8,0) e 2,3% (IC95%: 1,1 – 5,0), respectivamente. Os escolares apresentam tendência
progressiva e significativa de aumento da prevalência de baixo peso, a partir de seis
anos. A ausência do pai (26,1%) foi mais freqüente que a da mãe (8,9%). O número
médio de pessoas no domicílio foi 4,9. A escolaridade dos genitores concentrou-se no
ensino fundamental e suas ocupações em atividades braçais e de pouco grau de
especialização. É grande a freqüência de mães que são donas de casa e pais pedreiros.
Conclusão - As crianças apresentam prevalência de baixo peso e baixa estatura acima
da esperada e menor que a esperada de sobrepeso e obesidade. Este cenário indica que
esta população é passível de intervenções nutricionais que podem auxiliá-las a garantir
seu potencial de crescimento. Contudo tais ações devem se inserir no contexto de
proteção social a essas crianças e suas famílias.
Descritores: Avaliação nutricional, antropometria, transição nutricional, saúde escolar,
políticas públicas de saúde.
ABSTRACT
Machado TC. Assessment of the nutritional status of school children from the 1st to
4th grade in Feira de Santana-Bahia: an analysis to support intervention policies.
São Paulo; 2008. [MSc – Dissertation – School of Public Health/University of São
Paulo].
Introduction - The assessment of children’s growth surpasses the technical view
expressing, indirectly, the social and cultural care experienced by the children.
Objective – To evaluate the nutritional status of school children from the 1st to 4th
grade of elementary school, assisted by the Fundação de Apoio ao Menor de Feira de
Santana (FAMFS) in Feira de Santana county-Bahia. Methods - It’s an observational,
descriptive and transversal study based on data from FAMFS from school children of 5
to 10 years of age, from a public school, assisted by the programs of the above
mentioned Foundation. Measures of weight, height, arm circumference and derived
measures (indexes weight-for-age, height-for-age, arm circumference-for-height and
body mass index for age – BMI-for-age) were used. The cut points adopted for the
indexes weight-for-age, height-for-age, arm circumference-for-height were -2,0 and
+2,0 z-scores and for the BMI-for-age the percentiles 5th, 85th and 95th, from the
Center for Disease Control and Prevention curves (CDC 2000). The comparisons were
made through parameters of central tendency and dispersion of values. It was accepted
significance level alpha of 5%. Results - The prevalence of short stature using the
height-for-age was 3,5% (CI95%: 1,9 – 6,5). Evaluating the BMI-for-age, it was
observed prevalence of thinness, overweight and obesity of 5,8% (CI95%: 3,6 – 9,4),
4,7% (CI95%: 2,7 – 8,0) and 2,3% (CI95%: 1,1 – 5,0) respectively. The school children
show a progressive and significant tendency to increase the prevalence of thinness, from
six years of age. The absence of father in the homes (26,1%) was more frequent than
that of mother (8,9%). The average number of people in the house was 4,9. The
schooling level of the parents was concentrated on elementary school and their
occupations were mainly physical work with low degree of specialization. There is a
high frequency of mothers who are housewives and fathers who are bricklayers.
Conclusion - The children show prevalence of thinness and short stature above the
expected one and lower than the expected of overweight and obesity. This scene
evinced that these children demand a nutritional intervention to improve their growth
pattern. But such actions should be included in the context of social protection of these
children and their families.
Descriptors: Nutritional assessment, anthropometry, nutritional transition, school
health, health public policy.
ÍNDICE:
1. INTRODUÇÃO
16
1.1 Aspectos gerais
16
1.2 A transição nutricional no Brasil
20
2. OBJETIVOS
25
2.1 Geral
25
2.2 Específicos
25
3. MÉTODOS
26
3.1 Delineamento da pesquisa
26
3.2 Local e população de estudo
26
3.3 Coleta de dados
28
3.4 Características socioeconômicas
30
3.5 Avaliação antropométrica
30
3.6 Digitação e análise dos dados
32
4. ASPECTOS ÉTICOS
34
5. RESULTADOS
35
5.1. População de estudo
35
5.2. Avaliação do estado nutricional
39
5.3. Tendência do estado nutricional dos escolares segundo idade (anos)
46
6. DISCUSSÃO
50
6.1 Aspectos socioeconômicos
51
6.2 Avaliação do estado nutricional
54
7. CONCLUSÃO
57
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
58
9. REFERÊNCIAS
59
ANEXOS
Anexo 1: Ficha avaliação dos programas da FAMFS
66
Anexo 2: Ficha de avaliação física e médica da FAMFS
67
CURRÍCULO LATTES
Thais Costa Machado
68
Paulo Rogério Gallo
69
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1
Prevalência de distúrbios nutricionais segundo indicadores
antropométricos para adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, por
sexo, no Brasil e na Bahia – período 2002-2003.
22
Tabela 1
Distribuição dos escolares segundo sexo, idade, série e número de
pessoas no domicílio. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
36
Tabela 2
Distribuição dos escolares segundo escolaridade materna. FAMFS,
Feira de Santana-BA, 2007.
37
Tabela 3
Distribuição dos escolares segundo escolaridade paterna. FAMFS,
Feira de Santana-BA, 2007.
37
Tabela 4
Distribuição dos escolares segundo ocupação materna. FAMFS, Feira
de Santana-BA, 2007.
38
Tabela 5
Distribuição dos escolares segundo ocupação paterna. FAMFS, Feira
de Santana-BA, 2007.
38
Tabela 6
Distribuição da média, valores mínimos e máximos e desvio padrão
das variáveis: idade, peso, estatura, circunferência do braço e Índice de
Massa Corpórea (IMC) segundo sexo. FAMFS, Feira de Santana-BA,
2007.
39
Tabela 7
Distribuição dos escolares segundo classificação do crescimento com
base no escore z de estatura para idade (E/I) e sexo. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
40
Tabela 8
Distribuição dos escolares segundo classificação do crescimento com
base no escore z de estatura para idade (E/I) e idade (anos). FAMFS,
Feira de Santana-BA, 2007.
40
Tabela 9
Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional
com base no escore z de peso para idade (P/I) e sexo. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
41
Tabela 10
Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional
com base no escore z de peso para idade (P/I) e idade (anos). FAMFS,
Feira de Santana-BA, 2007
41
Tabela 11
Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional
com base no percentil de Índice de Massa Corpórea (IMC) e sexo.
FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
42
Tabela 12
Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional
com base no percentil de Índice de Massa Corpórea (IMC) e idade
(anos). FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
42
Tabela 13
Distribuição dos escolares segundo classificação com base no escore z
da circunferência do braço para estatura (CB/E) e sexo. FAMFS, Feira
de Santana-BA, 2007.
43
Tabela 14
Distribuição dos escolares segundo classificação com base no escore z
da circunferência do braço para estatura (CB/E) e idade (anos).
FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
44
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Cidade de Feira de Santana – Estado da Bahia – Brasil. 27
Figura 2
Curvas de distribuição de freqüência dos escolares segundo
índices estatura para idade e peso para idade em escores z.
FAMFS, Feira de Santana-BA.
45
Figura 3
Curvas de distribuição de freqüência dos escolares segundo
índices circunferência do braço para idade e índice de massa
corpórea para idade em escores z. FAMFS, Feira de Santana-
BA, 2007.
46
Figura 4
Tendência do escore z de peso para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
47
Figura 5
Tendência do escore z de estatura para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
47
Figura 6
Tendência do escore z do IMC para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
48
Figura 7
Tendência do escore z de CB para estatura dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
49
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CB - Circunferência do Braço
CB/E - Circunferência do Braço para Estatura
CDC - Center for Disease Control and Prevention
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
E/I - Estatura para Idade
FAMFS - Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IMC - Índice de Massa Corpórea
IOTF - International Obesity Task Force
LANPOP - Laboratório de Avaliação Nutricional de Populações
ME - Ministério do Esporte
MF - Ministério da Fazenda
MS - Ministério da Saúde
NCHS - National Center for Health Statistics
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
P/E - Peso para Estatura
P/I - Peso para Idade
PST - Programa Segundo Tempo
RF - Receita Federal
OMS - Organização Mundial da Saúde
OPAS - Organizacion Panamericana de la Salud
UNICEF - United Nations Children’s Fund
WHO - World Health Organization
16
1. INTRODUÇÃO
1.1 Aspectos gerais:
O estudo da nutrição na infância vai além da alimentação da criança na família,
pois nesse período ela é vulnerável ao meio cultural, social e físico em que vive. Avaliar
o crescimento nesta etapa é, na prática, mensurar o desempenho de peso, altura e
composição corporal da criança comparando as medidas observadas com as de uma
população de referência (WHO 1995). Contudo, esta avaliação ultrapassa o olhar
técnico, pois os valores aferidos expressam, indiretamente, os cuidados sociais e
culturais que a criança está vivenciando.
Neste sentido, a antropometria, avaliação das dimensões físicas e da composição
do corpo, tem sido utilizada na prática clinica e epidemiológica para o diagnóstico do
estado nutricional de indivíduos e de populações (SIGULEM et al. 2000,
VASCONCELOS 2007). A base teórica pode ser resumida no fenômeno biológico da
redução na velocidade de crescimento corporal como manifestação precoce e detectável
de exposição do indivíduo às condições nutricionais/alimentares inadequadas (OMS
1971). Além desses aspectos que alocam a antropometria como indicador sensível dos
cuidados alimentares, é preciso destacar que seu uso em escala populacional, em
pesquisas envolvendo crianças e adolescentes, decorre, também, dos aspectos
relacionados ao baixo custo, à inocuidade e grande aceitabilidade pela população
(SIGULEM et al. 2000).
Desde 1987, a Organização Mundial de Saúde preconiza a vigilância do
crescimento e desenvolvimento infantil no âmbito das Ações Básicas de Saúde por ser a
melhor expressão da saúde da criança (OPAS 1987). Do ponto de vista específico, a
17
avaliação da estatura, em estudos epidemiológicos, tem sido utilizada como indicador
da situação socioeconômica do ambiente no qual a criança e/ou adolescente estão
inseridos (NÓBREGA 1991, IUNES e MONTEIRO 1993).
A utilização da antropometria para avaliar o estado nutricional depende da
existência de referências de comparação. A primeira experiência brasileira na
construção desses referenciais ocorreu sob a liderança do professor Eduardo Marcondes
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP. Em 1971, o professor
Marcondes e seu grupo de trabalho publicaram o referencial de Santo André. Neste
estudo, crianças da classe socioeconômica IV (com gasto médio mensal per capita da
família equivalente a 111,78% do salário mínimo vigente no período do estudo) do
Município de Santo André-SP foram pesadas e medidas em estatura e elaboradas curvas
de crescimento, na forma de referencial, que foram utilizadas no Programa de
Assistência à Criança e ao Adolescente da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e
Ministério da Saúde – MS até o início da década de 1980 (MARCONDES et al. 1971).
Ainda nesta revisão histórica, em 1977, a partir da composição seriada dos dados
obtidos em três estudos populacionais pelo National Center for Health Statistcs – NCHS
(1977) foram elaborados gráficos de crescimento do nascimento até os 18 anos de idade
de indivíduos de ambos os sexos para os indicadores antropométricos peso para idade e
estatura para idade (FRISANCHO 1990). Os referenciais do NCHS passaram, no início
da década de 1990, a serem utilizados e preconizados pelo Ministério da Saúde como
alternativa ao referencial de Santo André. Em 2000, o Center for Disease Control and
Prevention – CDC apresentou melhorias na análise dos dados e na estatística das curvas
do NCHS de 1977 projetando curvas para melhor representar as diversidades étnico-
raciais e cuidados com a saúde com a combinação de crianças em aleitamento materno e
em uso de fórmulas infantis (CDC 2000).
18
No mesmo ano, 2000, COLE et al. propuseram o uso do Índice de Massa
Corpórea – IMC, medida derivada da relação entre o peso em quilos e o quadrado da
estatura em centímetros, para classificação do estado nutricional de indivíduos na faixa
etária de 2 a 18 anos a partir do uso de percentis de uma curva de referência baseada em
estudos transversais representativos de seis países, dentre eles o Brasil. Neste estudo os
autores apresentam valores de ponto de corte, para as crianças e adolescentes,
equivalentes aos valores de IMC de 25 kg/m
2
(sobrepeso) e 30 kg/m
2
(obesidade)
utilizados para população adulta.
Dessa maneira, tal qual o IMC, a partir das medidas de peso e estatura, obtemos
índices através de combinações relacionando-as ou não com a idade cronológica. Ao se
definir os índices para avaliar o estado nutricional de uma comunidade ou como
parâmetro clínico individual, deve-se considerar as vantagens e desvantagens de cada
índice e os objetivos da pesquisa.
O índice peso para idade (P/I) tem como vantagem, principalmente em lactentes, a
alta sensibilidade e baixa especificidade às ações de cunho individual, mas também
permite avaliações globais do estado nutricional da população (DOUEK e LEONE
1995). Neste sentido, a proporção de crianças abaixo ou acima dos pontos de corte de
peso para idade tem sido usada como indicador de saúde.
Os primeiros estudos sobre nutrição infantil utilizavam o indicador P/I para
avaliar o grau de desnutrição de populações. Dentre esses, destaca-se as contribuições
do pediatra mexicano Gomez no campo das políticas públicas ligadas à área de nutrição.
De acordo com esse autor, a desnutrição pode ser classificada em leve (1° grau),
moderada (2° grau) e grave (3° grau e, neste caso ainda como kwashiorkor e/ou
marasmática) apresentando respectivamente 10 a 25%, 25 a 40% e acima de 40% de
déficit de peso esperado para a idade (GOMEZ 1946). Depois dele, vários outros
19
pesquisadores propuseram o uso simples ou combinado do indicador P/I (SEOANE e
LATHAN 1971,WATERLOW 1972, BATISTA FILHO et al. 1976). Entretanto, o uso
isolado desse índice possui como principal desvantagem o fato de não diferenciar
processos agudos dos crônicos, o que dificulta o planejamento de intervenções
nutricionais.
Em 1972, WATERLOW sugeriu uma classificação combinada, avaliando a
desnutrição de forma dinâmica ao longo do tempo com a utilização das relações entre
peso para altura, refletindo a proporção corporal, e altura para idade dimensionando o
processo de crescimento. O déficit de peso para a altura (também chamado de
“wasting”) caracteriza uma perda de peso atual em uma criança que vinha apresentando
um crescimento satisfatório. Já o déficit de estatura para idade (também chamado de
“stunting”) indica crescimento estatural comprometido devido às inadequadas condições
de vida ou de saúde, inclusive nutrição, de maneira crônica (WHO 1995).
O uso isolado do índice estatura para idade (E/I) possui a vantagem de avaliar
processos crônicos, ou seja, de maior duração, e permitir estimar antecedentes
nutricionais, mas, possui como desvantagem, a baixa sensibilidade nos processos
agudos (WHO 1995).
A relação entre o peso e a altura pode ser avaliada tanto por meio do índice peso
para estatura (P/E) quanto pelo IMC ou ainda pelo índice ponderal (IP) de Röhrer. O
P/E possui como vantagens não necessitar da idade cronológica da criança e avaliar
processos agudos e, como desvantagens, a baixa sensibilidade e não detectar processos
crônicos (WHO 1995).
O IP de Röhrer é obtido pela relação entre o peso em gramas multiplicado por 100
e dividido pelo cubo do comprimento em centímetros. Sendo mais utilizado no período
neonatal, o IP de Röhrer descreve quão pesado é o recém-nascido em relação ao
20
comprimento e idade. Na classificação do peso fetal, é importante a separação dos que
são grandes ou pequenos por constituição (simétricos) daqueles com crescimento
patológico exagerado ou diminuído (assimétricos). Neste sentido, a restrição de
crescimento com IP de Röhrer menor que 2,25 tem sido descrita como aquele recém-
nascido que não atingiu seu potencial de crescimento intra-uterino (RUDGE 2005).
O IMC é um indicador antropométrico preconizado a partir dos 2 anos de idade
(WHO 1995). Porém, diferente do seu uso para adultos, em crianças, o IMC deve ser
contextualizado em relação à idade cronológica (CDC 2000). Desde 1999, a
International Obesity Task Force – IOTF recomenda a utilização do IMC para idade
devido a capacidade de estimar a obesidade infantil (BELLIZZI e DIETZ 1999).
Destaca-se, na utilização do IMC para diagnóstico nutricional na infância, o período
compreendido entre 5 e 7 anos de idade, crítico para o desenvolvimento de peso
excessivo no escolar pelos possíveis reflexos sobre a adolescência e a fase adulta (WHO
2000).
A circunferência do braço vem sendo empregada desde a década de 1960,
inicialmente com a finalidade de diagnosticar a desnutrição e, atualmente, como
complemento ao diagnóstico de sobrepeso/obesidade. É uma medida simples de se obter
e se correlaciona bem com as medidas de peso e com a relação peso para estatura,
representando uma composição aproximada das reservas de massa gorda e magra
(WHO 1995).
1.2. A transição nutricional no Brasil:
O termo transição nutricional compreende mudanças seculares no padrão
nutricional com implicações na estrutura da dieta, atividade física e composição
21
corporal sob determinado contexto social, econômico, demográfico e relacionados à
saúde (POPKIN 1999). Nesse âmbito destaca-se a convivência simultânea dos extremos
nutricionais, tanto de déficit quanto de excesso de peso na mesma população, com
tendência a diminuição da ocorrência da primeira e aumento da segunda (MONTEIRO e
CONDE 2000a, WANG et al. 2002, AMIGO 2003, OLIVEIRA e FISBERG 2003,
MONTEIRO et al. 2007).
Segundo BATISTA FILHO e RISSIM (2003), a transição nutricional consiste em
um processo marcado por quatro etapas: o desaparecimento do kwashiorkor como
evento epidemiológico; o desaparecimento do marasmo nutricional; o aparecimento do
sobrepeso/obesidade, em escala populacional e a correção do déficit estatural. Esses
autores ressaltam que a transição nutricional ocorre concomitantemente à transição
epidemiológica das doenças, na qual se percebe a alteração da prevalência das
principais doenças existentes em nosso meio, com diminuição das infecto-contagiosas e
aumento das taxas de morbimortalidade derivadas das doenças crônico-degenerativas.
Em 2006, foi publicada a análise do estado nutricional de crianças e adolescentes
brasileiros referente aos dados da Pesquisa Nacional de Orçamento Familiar – POF
2002-2003. Este estudo, que utilizou o referencial do CDC (2000) para avaliação do
estado nutricional, descreveu prevalências de déficit de peso para idade (abaixo de -2
escores z), em crianças de 5 a 9,9 anos, de 4,6% como média geral no Brasil (5,2% no
sexo masculino e 3,9% no sexo feminino) e, na região nordeste, de 5,9% (5,6% na área
urbana e 6,6% na área rural do nordeste). A partir dos 10 anos de idade, a POF utiliza,
para diagnóstico nutricional, os índices E/I para déficit de estatura e IMC para idade
para baixo peso, sobrepeso e obesidade (Quadro 1). Na faixa etária de 10 a 19 anos, a
prevalência de déficit de estatura, no Brasil, foi de 11,3% no sexo masculino e 8,3% no
sexo feminino e particularmente no Estado da Bahia de 11,3% e 6,6%, respectivamente.
22
As prevalências de baixo peso, no Brasil foi de 5,8% no sexo masculino e 9,0% no sexo
feminino, e na Bahia de 9,5% e 12,6%, respectivamente; de sobrepeso, no Brasil foi de
10,4% no sexo masculino e 14,4% no sexo feminino, e na Bahia 3,9% e 8,6%,
respectivamente; de obesidade, no Brasil, 1,8% no sexo masculino e 2,9% no sexo
feminino, e na Bahia, 0,6% e 2,2%, respectivamente (IBGE 2006a).
Quadro 1 - Prevalência de distúrbios nutricionais segundo indicadores antropométricos
para adolescentes entre 10 e 19 anos de idade, por sexo, no Brasil e na Bahia – período
2002-2003.
Indicadores antropométricos para adolescentes entre 10 e 19 anos de
idade, por sexo (%)
Região
Déficit de E/I Baixo peso Sobrepeso Obesidade
Masculino
Brasil 11,3% 5,8% 10,4% 1,8%
Bahia 11,3% 9,5% 3,9% 0,6%
Feminino
Brasil 8,3% 9,0% 14,4% 2,9%
Bahia 6,6% 12,6%, 8,6% 2,2%
Fonte: IBGE, 2006a
Observa-se, no cenário brasileiro, a coexistência entre déficit e excesso de peso.
Vale ressaltar que esses desequilíbrios na adolescência, tanto na estatura quanto no
peso, por sua vez, refletem situações de inadequação alimentar e condições ambientais
adversas nos primeiros anos de vida, período de crescimento acelerado, e que a
depender da duração e gravidade, podem comprometer o crescimento de forma
definitiva (UNICEF 1980).
23
Embora diversos fatores possam estar contribuindo para a determinação da
obesidade infanto-juvenil, aparentemente, a adoção do “estilo de vida ocidental” é o
grande responsável para esse processo (EBBELING et al. 2002).
A esses dois extremos, desnutrição e o excesso de peso, associam-se danos à
saúde tanto durante a infância e adolescência quanto na vida adulta. À desnutrição na
infância associa-se o aumento na incidência e na gravidade de enfermidades infecciosas,
a elevação das taxas de mortalidade infantil, o retardo do desenvolvimento psicomotor,
dificuldades no aproveitamento escolar e diminuição da estatura e da capacidade
produtiva (OMS 1999). No outro extremo, a obesidade em crianças e adolescentes
associa-se ao aumento na incidência de hipertensão, dislipidemia, hiperinsulinemia,
doenças cardiovasculares, ortopédicas e transtornos psíquicos, para citar os mais
importantes (WHO 2000, FREEDMAN et al. 2001, EBBELING et al. 2002).
O trabalho parte da hipótese de que a transição nutricional, responsável pelo
deslocamento à direita da curva de crescimento das crianças das zonas urbanas,
refletindo a presença de sobrepeso e obesidade, também se manifestaria nas periferias
das cidades e nos estratos socioeconômicos mais baixos (MONTEIRO e CONDE
2000a, WANG et al. 2002).
A avaliação nutricional na infância é importante para fornecer subsídios para a
implantação de políticas e ações efetivas na diminuição dos problemas nutricionais.
Assim torna-se relevante para a gestão de políticas públicas, buscar a produção de
informações sobre situação de saúde de crianças semi-institucionalizadas, socialmente
vulneráveis e que residem em uma determinada região.
Como conseqüência busca-se desvelar um período crítico da vida dos indivíduos
na definição de hábitos alimentares e sociais, no qual as políticas públicas devem ser
capazes de resultar em adultos social e nutricionalmente mais competentes e incluídos.
24
Para tal procedeu-se à avaliação do estado nutricional, bem como alguns dos seus
condicionantes sociais, em uma população de crianças de baixo nível socioeconômico
atendidas por uma Fundação, numa região urbana periférica do Estado da Bahia.
25
2. OBJETIVOS
2.1. Geral:
Avaliar o estado nutricional dos escolares da 1ª a 4ª série do ensino fundamental
acompanhados pela Fundação de Apoio ao Menor de Feira de Santana (FAMFS) no
Município de Feira de Santana–BA.
2.2. Específicos:
2.2.1. Avaliar a prevalência de baixa estatura, baixo peso e excesso de peso.
2.2.2. Caracterizar alterações nutricionais na população de estudo.
2.2.3. Descrever características socioeconômicas dos escolares e de suas
famílias.
26
3. MÉTODOS
3.1 Delineamento da pesquisa:
Adotou-se um delineamento do tipo transversal, descritivo e observacional.
3.2 Local e população de estudo:
A FAMFS, uma entidade não governamental, operacionaliza o Programa Segundo
Tempo – PST voltado a estimular a atividade física das crianças e adolescentes
institucionalizados. O PST foi proposto pelo Ministério do Esporte – ME, e a FAMFS é
co-responsável por cerca de 50 mil crianças e adolescentes em cerca de 140 cidades do
estado da Bahia. Além desse programa de promoção da atividade física, duas vezes na
semana, a FAMFS oferece um reforço alimentar ao final do dia de atividades, composto
por biscoitos de mandioca (200 gramas) e suco artificial.
O principal “campus” da FAMFS, a Fazenda do Menor, localiza-se na região do
subúrbio rural de Feira de Santana, bairro Aviário, e possui uma área de 700 mil metros
quadrados. Feira de Santana é a maior cidade do interior baiano (Figura 1), com uma
população de 535.284 habitantes no município segundo o Censo de 2000 (IBGE 2004).
27
Em 2007, segundo dados do
DATASUS para Feira de Santana, a taxa
bruta de natalidade foi 15,4 crianças por
1000 habitantes; a mortalidade geral de
3,9 óbitos por 1000 habitantes e o
coeficiente de mortalidade infantil 19,5
óbitos em menores de um ano para cada
1000 nascidos vivos, sendo este último
menor que o observado em 2005 na
Bahia de 35,6 e próximo ao do Brasil de
17,8 óbitos (BRASIL 2008).
Figura 1 - Cidade de Feira de Santana –
Estado da Bahia – Brasil.
Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), índice construído a partir
da média de três condicionantes básicos de uma população (longevidade, nível
educacional e renda), de Feira de Santana foi de 0,74, valor menor que o observado em
mesmo ano no Brasil de 0,79 e em Salvador de 0,805 (PNUD 2000). O Produto Interno
Bruto (PIB) per capita de Feira de Santana, em 2005, foi R$ 6635,00 (IBGE 2007).
A Fazenda do Menor possui um complexo esportivo (dois campos de futebol, um
ginásio poli-esportivo e uma pista de atletismo); um conjunto de indústrias composto
por fábricas de material esportivo, de reciclagem de pneus e uma usina de
processamento de mandioca. Além disto, a fazenda mantém um programa educacional
do qual fazem parte uma escola estadual (a partir da alfabetização até a 4ª série do
ensino fundamental) e cursos de qualificação profissional e treinamento para inserção
no mercado de trabalho.
28
A população de estudo, uma amostra de conveniência, foi composta por escolares
de 5 a 10 anos de idade, inclusive, de ambos os sexos, matriculados nas 1
as
, 2
as
, 3
as
e 4
as
séries do ensino fundamental da escola estadual localizada na Fazenda do Menor em
Feira de Santana. Nesta escola, no ano letivo de 2007, encontravam-se matriculados 396
alunos da 1ª a 4ª série, nos turnos da manhã (8:00 às 11:00h) e da tarde (14:00 às
17:00h). Além dos biscoitos oferecidos pela FAMFS aos escolares, esta escola oferece
um lanche em cada turno seguindo o cardápio padrão da rede estadual de ensino.
Esses escolares possuem também acesso a uma refeição principal, o almoço,
oferecida pela FAMFS para cerca de 50% dos escolares, de terça a sexta, no refeitório
central da Fazenda do Menor. Às segundas-feiras não é oferecido almoço às crianças
por razões operacionais. A produção do almoço para apenas metade das crianças é
resultado da experiência das cozinheiras com a demanda alimentar dos escolares e o
cardápio mensal é elaborado por um nutricionista.
3.3 Coleta de dados:
Os dados utilizados fazem parte de fichas padronizadas utilizados pela FAMFS,
no primeiro semestre de 2007, para avaliação das crianças e adolescentes acompanhados
na sede da organização e favorecidos em seus programas de atividade física e reforço
alimentar (anexos 1 e 2). Os dados de composição familiar e da rotina alimentar foram
coletados a partir da ficha para avaliação dos programas da FAMFS (anexo 1), cujas
informações foram fornecidas diretamente pelos escolares. Os dados de sexo, data de
nascimento, série escolar e os antropométricos (peso, estatura e circunferência do braço)
foram obtidos a partir da ficha de avaliação física e médica da FAMFS (anexo 2).
29
A equipe da FAMFS de coleta dos dados antropométricos da ficha de avaliação
física e médica de 2007 foi composta por dois professores de educação física
(antropometristas) e dois anotadores (estagiários de educação física), que foram re-
qualificados e padronizados previamente segundo as normas da World Health
Organization – WHO (1995), pela pesquisadora por sugestão e autorização da FAMFS.
A equipe de coleta dos dados da ficha para avaliação dos programas foi composta por
três engenheiras de alimentos treinadas anteriormente para o preenchimento das fichas
pela pesquisadora, também em concordância com a FAMFS. Todo o processo de
padronização das tomadas antropométricas, coleta e digitação dos dados foi conduzido e
supervisionado no próprio local pela pesquisadora.
Essa equipe da FAMFS obteve o peso dos escolares utilizando uma balança
digital portátil solar (Tanita®), com capacidade para 150 kg e precisão de 100 g e o
aluno foi posicionado no centro da balança com o corpo na posição vertical, descalço e
vestindo roupas leves. A estatura foi aferida utilizando-se um estadiômetro portátil
(Seca®), graduado em décimos de centímetros, afixado a uma superfície plana e, para a
leitura da medida, o escolar posicionou-se firmemente, enquanto a haste móvel do
estadiômetro deslocava-se até a parte superior da cabeça e a medida foi registrada no
milímetro mais próximo. A circunferência do braço foi obtida através de uma fita
métrica inextensível (Seca®), com espessura de 0,5 cm, envolvida, levemente, no ponto
médio do braço esquerdo e efetuada a leitura. Estes instrumentos foram devidamente
calibrados e cedidos a título de empréstimo pelo LANPOP (Laboratório de Avaliação
Nutricional de Populações do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo), e já foram utilizados em outras pesquisas (MAGNI
2003, KOGA 2005).
30
3.4 Características socioeconômicas:
As características socioeconômicas obtidas a partir das fichas da FAMFS foram:
Número de pessoas no domicílio incluindo o escolar;
Escolaridade materna e paterna em anos de estudo completos;
Ocupação do pai e da mãe as quais foram posteriormente categorizadas
segundo classificação da Receita Federal (BRASIL 2007a).
A renda familiar é um dos critérios de inclusão nos programas oferecidos pela
FAMFS. Contudo, esta variável não faz parte das fichas da fundação, ela é obtida na
entrevista entre o técnico da FAMFS e a família e, por razões éticas, os valores não são
anotados na ficha do aluno. Os escolares estudados foram classificados pela fundação
como pertencentes a famílias de baixo nível socioeconômico.
3.5 Avaliação antropométrica:
Para caracterização do estado nutricional foram utilizados os parâmetros: índice
Peso para Idade – P/I; índice Estatura para Idade – E/I; Índice de Massa Corpórea –
IMC, e índice Circunferência do Braço para Estatura (CB/E).
Para caracterizar um déficit de crescimento linear, utilizou-se o índice estatura
para idade e, como ponto de corte, o segundo escore z abaixo da média de altura para a
idade das curvas do CDC (2000).
Para classificação do baixo peso de acordo com o IMC para idade, utilizou-se o
percentil 5; em risco de sobrepeso em medidas iguais ou maiores que o percentil 85 e
31
menores que o do percentil 95; e sobrepeso quando o escolar apresentou IMC para idade
igual ou maior que o percentil 95 da curva de referência do CDC (2000).
Embora o CDC (2000) não classifique diretamente obesidade com base no IMC,
uma vez que este índice pode refletir outras variações corpóreas que não só as da massa
gorda, por uso consagrado do termo obesidade (BATISTA FILHO e RISSIM 2003,
OLIVEIRA et al. 2003, OLIVEIRA e FISBERG 2003, COSTA et al. 2006,
MONTEIRO et al. 2007), será utilizada nesse estudo à terminologia obesidade quando o
escolar apresentar IMC para idade igual ou maior que o percentil 95 da curva do CDC e
sobrepeso para medidas iguais ou maiores que o percentil 85 e menores que o do
percentil 95.
Para a circunferência do braço para a estatura utilizou-se como ponto de corte o
segundo escore z acima e abaixo da média de CB/E das curvas do CDC (MEY et al.
1997, CDC 2005). Neste índice há um número menor de crianças nas tabelas, pois
algumas delas encontravam-se fora dos limites de estatura adotados pelo CDC (2005),
65 a 145 cm (MEY et al.1997), não sendo possível realizar os cálculos.
O índice peso para idade foi utilizado com a finalidade de observar a tendência do
peso na população segundo a progressão da idade e a distribuição da curva normal dos
escolares em relação à de referência do CDC (2000). Utilizaram-se como pontos de
corte para este índice o segundo escores z acima, para caracterizar o excesso de peso, e
abaixo, para caracterizar o baixo peso, da média de peso para a idade deste referencial.
O índice peso para estatura não foi utilizado, pois mais de 70% das crianças
estudadas encontrava-se fora dos limites de estatura adotados pelo referencial para o
índice P/E, 77 a 121 cm (CDC 2000, 2005).
32
3.6 Digitação e análise dos dados:
Todos os questionários foram revisados, para conferir a resposta e o código de
cada pergunta, eliminando possíveis erros na codificação realizada em campo. O banco
de dados foi construído utilizando-se o aplicativo Microsoft Excel 2003. A checagem da
qualidade da digitação das medidas antropométricas foi verificada a partir de gráficos de
dispersão e revisaram-se os dados antropométricos das crianças com valores “outlier”
para essas medidas. Considerou-se medidas “outlier” afastamentos para mais e para
menos 4 desvios padrão da média dos referenciais específicos adotados para idade. Não
se observou crianças que mantiveram medidas “outlier” após verificação e correção dos
seus dados. Para tais análises utilizou-se o programa Epi Info 2000, versão 3.3.2 (CDC
2005).
Algumas tabelas diferem no número total de alunos por não ter sido possível
efetuar cálculos, a partir do software utilizado, Epi Info 2000 (CDC 2005), e do
referencial adotado, CDC (2000), de escolares que se encontravam fora dos limites de
estatura apresentada por esse referencial no índice CB/E.
Do ponto de vista de análise de precisão da população em torno da média,
sorteou-se uma amostra sistemática preenchendo 10% da amostra total de escolares nos
quais foram conferidos todos os dados digitados das fichas originais, inclusive as
medidas antropométricas e os indicadores, para checagem de precisão. Foram raros (3
casos) os imprecisos e todos foram corrigidos.
As análises dos dados foram realizadas com uso dos aplicativos Microsoft Excel
2003 e Epi Info 2000, onde se calcularam as freqüências, proporções e as médias.
Comparações foram feitas a partir dos parâmetros de tendência central e dispersão de
valores, teste t de Student e ANOVA. Para proporções utilizou-se o teste do qui
33
quadrado (χ
2
) ou o teste exato de Fisher quando uma das caselas apresentava valor
esperado menor que cinco. Definiu-se como limite de significância um alfa de 5% e
adotou-se um Intervalo de Confiança (IC) de 95%.
34
4. ASPECTOS ÉTICOS
A realização deste estudo obedece aos princípios éticos para pesquisas com seres
humanos, conforme resolução CNS 196/96, e foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, em sua 3ª/07
Sessão Ordinária, conforme documento COEP n° 094/07.
A diretoria da FAMFS autorizou a utilização de seu cadastro por meio de um
termo de consentimento no qual a pesquisadora se comprometeu a manter a
confidencialidade e o anonimato dos sujeitos de pesquisa. Este procedimento, na
opinião do COEP, foi suficiente para cumprir com a resolução CNS 196/96. Não houve,
portanto, necessidade específica da assinatura de um Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE) individual.
Durante o levantamento antropométrico, a identificação de escolares com
problemas nutricionais foi objeto de orientação específica por parte da pesquisadora
juntamente com a FAMFS. Uma vez decidida a melhor alternativa para o cuidado do
escolar, este foi encaminhado ao serviço público (Serviço de Saúde ou de Educação) de
Feira de Santana, mediante a um prévio contato com as equipes de saúde.
35
5. RESULTADOS
5.1 População de estudo
Dos 396 escolares matriculados entre a 1ª e 4ª série da escola estadual, 295
estavam na faixa etária selecionada para o estudo (5 a 10 anos) e, desses, a FAMFS
possuía o cadastro com informações das famílias de 257 escolares (87,1%) que
compuseram a amostra final considerada para análise.
Na distribuição dos escolares de acordo com o sexo (Tabela 1) percebeu-se um
discreto predomínio do sexo masculino (diferença de 9%) em relação ao sexo feminino.
Quanto à idade, os escolares se distribuem em maior proporção nas idades de 8, 9 e 10
anos (64,2%) quando comparado às idades de 5, 6 e 7 anos (35,8%). Em relação à série
escolar pode-se notar que à medida que há uma progressão na série há um afunilamento
no número de alunos com 70,8% desses freqüentando as duas primeiras séries do ensino
fundamental e 29,2% nas duas últimas.
Na Tabela 1, quanto ao número de pessoas no domicílio, 28% desses eram
ocupados por 6 ou mais pessoas e, no outro extremo, lares com 3 e menos pessoas,
incluindo a criança, não ultrapassam os 17%. Assumindo-se que as crianças pertenciam
a famílias diferentes, ou seja, apenas uma criança por família, o número médio de
pessoas nas famílias foi de 4,9.
36
Tabela 1 - Distribuição dos escolares segundo sexo, idade, série e número de pessoas
no domicílio. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
Características Escola estadual
n%
Sexo
M 140 54,5
F 117 45,5
Total 257 100,0
Idade (anos)
5 10 3,9
6 36 14,0
7 46 17,9
8 56 21,8
9 51 19,8
10 58 22,6
Total 257 100,0
Série escolar
110 42,8
72 28,0
40 15,6
35 13,6
Total 257 100,0
N° de pessoas no domicílio
2 4 1,6
3 39 15,2
4 60 23,3
5 67 26,1
6 39 15,2
7 e mais 33 12,8
Sem informação 15 5,8
Total 257 100,0
Nas tabelas 2 e 3 pode-se destacar que mais de 50% dos escolares entrevistados
não souberam informar qual o grau de escolaridade dos pais nos cadastros preenchidos
pela FAMFS. Quanto à ausência do pai nos domicílios, observou-se uma relação maior
que o dobro da verificada para a ausência da mãe. Nota-se ainda que o grau de
escolaridade de ambos os genitores estavam concentrados no ensino fundamental.
37
Tabela 2 - Distribuição dos escolares segundo escolaridade materna. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Escolaridade materna Escola estadual
n%
Não alfabetizada 2 0,8
Até 4 anos de estudo 44 17,1
Entre 5 e 8 anos de estudo 29 11,3
Entre 9 e 11 anos de estudo 22 8,6
12 anos e mais de estudo - -
Ausência de mãe no domicílio 23 8,9
Sem informação 137 53,3
Total 257 100,0
Tabela 3 - Distribuição dos escolares segundo escolaridade paterna. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Escolaridade paterna Escola estadual
n%
Não alfabetizado 2 0,8
Até 4 anos de estudo 26 10,1
Entre 5 e 8 anos de estudo 16 6,2
Entre 9 e 11 anos de estudo 8 3,1
12 anos e mais de estudo - -
Ausência de pai no domicílio 67 26,1
Sem informação 138 53,7
Total 257 100,0
A distribuição da ocupação das mães dos escolares na Tabela 4 mostra uma
predominância de trabalhadoras de serviços diversos (42,4%), como donas de casa,
domésticas, diaristas e costureiras. Destaca-se também a presença (6,2%) de mães
estudando e cerca de 20% referidas como desempregadas pelos escolares.
38
Tabela 4 - Distribuição dos escolares segundo ocupação materna. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Ocupações Escola estadual
n%
Trabalhadoras de serviços diversos 109 42,4
Vendedoras e prestadoras de serviços do comércio 7 2,8
Estudante 16 6,2
Desempregada 54 21,0
Ausência de mãe no domicílio 23 8,9
Sem informação 48 18,7
Total 257 100,0
Quanto à ocupação dos pais, nota-se uma maior diversidade de ocupações
destacando-se os operários, com 14,8%, e trabalhadores de serviços diversos, como
motorista, segurança, pintor e marceneiro, com 19,8% dos pais. Vale ressaltar ainda que
4,7% dos pais foram referidos como desempregados pelos escolares (Tabela 5).
Tabela 5 - Distribuição dos escolares segundo ocupação paterna. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Ocupações Escola estadual
n%
Trabalhadores das indústrias 38 14,8
Trabalhadores de reparação e manutenção 12 4,7
Vendedores e prestadores de serviços do comércio 8 3,1
Trabalhadores de serviços diversos 51 19,8
Militares 2 0,8
Beneficiários de pensão alimentícia judicial 2 0,8
Trabalhadores do setor primário 1 0,4
Desempregado 12 4,7
Ausência de pai no domicílio 67 26,1
Sem informação 64 24,8
Total 257 100,0
39
5.2 Avaliação do estado nutricional
Construiu-se a Tabela 6 com a intenção de comparar os valores antropométricos
de peso, estatura, circunferência do braço (CB) e Índice de Massa Corpórea (IMC)
médios de acordo com sexo. Além disso, apresentam-se também os valores mínimos e
máximos para cada variável estudada. Nesta tabela, pode-se observar que não há
diferenças estatísticas, entre os sexos, para nenhuma das variáveis apresentadas.
Destaca-se que a idade média foi de 8,5 anos com mínima de 5,6 anos; o peso médio foi
igual a 26,5 Kg, variando entre 16,8 e 55,8 kg; estatura média igual a 128,6 cm com
máxima de 161,4 cm; CB média igual a 18,5 cm, variando entre 14,1 e 30,6 cm e, IMC
médio igual a 15,8 Kg/m
2
variando entre 12,6 e 24,4 Kg/m
2
.
Tabela 6 - Distribuição da média, valores mínimos e máximos e desvio padrão das
variáveis: idade, peso, estatura, circunferência do braço e Índice de Massa Corpórea
(IMC) segundo sexo. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
Sexo Variáveis
Feminino* Masculino* Total
p*
Idade (anos) 8,7 ±1,5
(5,8 – 10,9)
8,4 ± 1,5
(5,6 – 10,9)
8,5 ± 3,8
(5,6 – 10,9)
0,065
Peso (kg) 27,3 ± 7,0
(16,8 – 55,8)
25,9 ± 5,8
(17,0 – 52,4)
26,5 ± 6,4
(16,8 – 55,8)
0,093
Estatura (cm) 129,9 ± 9,7
(110,7 – 155,4)
127,5 ± 10,4
(103,7 – 161,4)
128,6 ± 10,2
(103,7 – 161,4)
0,051
Circunferência do
braço (cm)
18,8 ± 2,6
(14,1 – 30,6)
18,3 ± 1,9
(15,5 – 26,8)
18,5 ± 2,2
(14,1 – 30,6)
0,054
IMC (kg/m
2
) 15,9 ± 2,2
(12,6 – 24,4)
15,8 ± 1,6
(13,5 – 24,0)
15,8 ± 1,9
(12,6 – 24,4)
0,545
n = 257 (117 meninas e 140 meninos)
*valor de p calculado a partir da comparação entre os sexos para cada variável independente.
40
A avaliação de baixa estatura, segundo o índice estatura para idade menor que -2
escores z, indicou prevalência igual a 3,5%, com Intervalo de Confiança (IC) entre 1,9 e
6,5 e sem diferença significativa entre os sexos (Tabela 7). A idade onde se observou
maior percentual de escolares com baixa estatura foi aos 7 anos (Tabela 8).
Tabela 7 - Distribuição dos escolares segundo classificação do crescimento com base
no escore z de estatura para idade (E/I) e sexo. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
Sexo
Feminino* Masculino* Total
Crescimento
n % n % n %
IC 95%
p*
Baixa estatura 2 1,7 7 5,0 9 3,5 1,9 – 6,5 0,188
Estatura normal 115 98,3 133 95,0 248 96,5 - -
Total 117 100,0 140 100,0 257 100,0 - -
*valor de p calculado a partir da comparação entre os sexos.
Tabela 8 - Distribuição dos escolares segundo classificação do crescimento com base
no escore z de estatura para idade (E/I) e idade (anos). FAMFS, Feira de Santana-BA,
2007.
Idade (anos)
5 6 7 8 9 10
Crescimento
n % n%n%n%n % n %
Baixa estatura
0 0,0 2 5,4 4 7,8 2 3,9 1 1,9 0 0,0
Estatura normal
10 100,0 35 94,6 47 92,2 49 96,1 52 98,1 55 100,0
Total
10 100,0 37 100,0 51 100,0 51 100,0 53 100,0 55 100,0
n = 257 (117 meninas e 140 meninos)
Segundo o índice peso para idade (Tabela 9), a avaliação de baixo peso, menor
que -2 escores z, indicou prevalência igual a 2,7% (IC95%: 1,3 – 5,5), e de excesso de
peso, maior que 2 escores z, prevalência de 0,8% (IC95%: 0,2 – 2,8), sem diferença
significativa entre os sexos. A idade onde se observou a presença de escolares com
excesso de peso foi aos 8 anos (Tabela 10).
41
Tabela 9 - Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional com
base no escore z de peso para idade (P/I) e sexo. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
Sexo
Feminino* Masculino* Total
Estado
nutricional com
base no P/I
n % n % n % IC 95%
p*
Baixo peso 4 3,4 3 2,1 7 2,7 1,3 – 5,5 0,705
Peso normal 111 94,9 137 97,9 248 96,5 - -
Excesso de peso 2 1,7 0 0,0 2 0,8 0,2 – 2,8 0,206
Total 117 100,0 140 100,0 257 100,0 - -
*valor de p calculado a partir da comparação entre os sexos.
Tabela 10 - Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional com
base no escore z de peso para idade (P/I) e idade (anos). FAMFS, Feira de Santana-BA,
2007.
Idade (anos)
5 6 7 8 9 10
Estado
nutricional com
base no P/I
n % n%n%n%n % n %
Baixo peso
0 0,0 1 2,7 2 3,9 1 2,0 2 3,8 1 1,8
Peso normal
10 100,0 36 97,3 49 96,1 48 94,1 51 96,2 54 98,2
Excesso de peso
0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 3,9 0 0,0 0 0,0
Total
10 100,0 37 100,0 51 100,0 51 100,0 53 100,0 55 100,0
n = 257 (117 meninas e 140 meninos)
A Tabela 11 apresenta a avaliação do estado nutricional segundo Índice de Massa
Corpórea para idade e mostra prevalência de baixo peso (<p5) igual a 5,8% (IC95%: 3,6
– 9,4), valor um pouco acima do esperado para o p5 (5%). Em relação ao sobrepeso
(p85 e <p95) observa-se prevalência de 4,7% (IC95%: 2,7 – 8,0), menos da metade
dos 10% esperados para o intervalo, e à obesidade (p95), cerca de metade desta
prevalência, 2,3% (IC95%: 1,1 – 5,0), também inferior ao esperado para o p95 (5%).
Não foi observada diferença significativa na classificação do estado nutricional segundo
sexo.
A Tabela 12 mostra o comportamento do IMC segundo a idade das crianças.
Nota-se que, nas faixas etárias de 6, 7 e 10 anos, a proporção de baixo peso mantém-se
ao redor de 5,5%, porém na faixa etária de 9 anos seu valor salta para aproximadamente
42
11%, mais que o dobro esperado para o p5. No outro extremo nutricional (sobrepeso e
obesidade), observa-se que não havia problemas na idade de 5 anos, contudo, o
sobrepeso surge a partir dos 6 anos e a obesidade, propriamente dita, aparece, em média
ao redor de 3,8%, nas crianças com 8 anos e mais de idade.
Tabela 11 - Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional com
base no percentil de Índice de Massa Corpórea (IMC) e sexo. FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Sexo
Feminino* Masculino* Total
Estado
nutricional com
base no IMC
n % n % n % IC 95%
p*
Baixo peso 9 7,7 6 4,3 15 5,8 3,6 – 9,4 0,519
Peso normal 98 83,8 126 90,0 224 87,2 - -
Sobrepeso 6 5,1 6 3,6 12 4,7 2,7 – 8,0 0,774
Obesidade 4 3,4 2 2,1 6 2,3 1,1 – 5,0 0,416
Total 117 100,0 140 100,0 257 100,0
- -
*valor de p calculado a partir da comparação entre os sexos.
Tabela 12 - Distribuição dos escolares segundo classificação do estado nutricional com
base no percentil de Índice de Massa Corpórea (IMC) e idade (anos). FAMFS, Feira de
Santana-BA, 2007.
Idade (anos)
5 6 7 8 9 10
Estado
nutricional com
base no IMC
n % n % n % n % n % n %
Baixo peso
0 0,0 2 5,4 3 5,9 1 2,0 6 11,3 3 5,5
Peso normal
10 100,0 33 89,2 43 84,3 47 92,1 44 83,0 47 85,4
Sobrepeso
0 0,0 2 5,4 5 9,8 1 2,0 1 1,9 3 5,5
Obesidade
0 0,0 0 0,0 0 0,0 2 3,9 2 3,8 2 3,6
Total
10 100,0 37 100,0 51 100,0 51 100,0 53 100,0 55 100,0
n = 257 (117 meninas e 140 meninos)
A distribuição dos escolares segundo o índice circunferência do braço para
estatura (CB/E), Tabela 13, mostra que 6,2% (IC95%: 3,8 – 10,0) dos escolares
apresentavam valores abaixo da compleição esperada para estatura (<-2 escores z) e
43
0,8% (IC95%: 0,2 – 3,0) acima (>2 escores z), sem diferença significativa entre os
sexos.
A Tabela 14 dispõe os valores do CB/E segundo a idade das crianças. Em
primeiro lugar destaca-se que não há tendência estatística significativa com o aumento
das idades, p=0,054, qui-quadrado (χ
2
) igual a 10,85 e graus de liberdade (gl) igual a 5.
Considerando-se o período etário completo desse estudo, é interessante notar também
que os problemas nutricionais com a CB concentram-se entre os 6 e 9 anos de idade e,
nesta última, 13,5% das crianças apresentaram valores baixos para estatura. Contudo,
salienta-se, como parte do estudo, que uma análise específica do estrato de 7 a 10 anos
de idade (período escolar propriamente dito) mostra uma queda significativa (p=0,024,
χ
2
=9,42 e gl=3) da CB com o correr da idade.
Tabela 13 - Distribuição dos escolares segundo classificação com base no escore z da
circunferência do braço para estatura (CB/E) e sexo. FAMFS, Feira de Santana-BA,
2007.
Sexo
Feminino* Masculino* Total
Circunferência do
braço para
estatura
n % n % n % IC 95%
p*
<-2 escores z 10 9,2 5 3,8 15 6,2 3,8 – 10,0 0,082
-2 e 2 escores z 98 89,9 127 95,4 225 93,0 - -
>2 escores z 1 0,9 1 0,8 2 0,8 0,2 – 3,0 1,000
Total 109 100,0 133 100,0 242 100,0 - -
*valor de p calculado a partir da comparação entre os sexos.
44
Tabela 14 - Distribuição dos escolares segundo classificação com base no escore z da
circunferência do braço para estatura (CB/E) e idade (anos). FAMFS, Feira de Santana-
BA, 2007.
Idade (anos)
5* 6* 7* 8* 9* 10*
Circunferência do
braço para
estatura
n % n % n % n % n % n %
<-2 escores z*
0 0,0 2 5,4 5 9,8 1 2,0 7 13,5 0 0,0
-2 e 2 escores z
10 100,0 35 94,6 45 88,2 49 98,0 45 86,5 41 97,6
>2 escores z
0 0,0 0 0,0 1 2,0 0 0,0 0 0,0 1 2,4
Total
10 100,0 37 100,0 51 100,0 50 100,0 52 100,0 42 100,0
n = 242 (109 meninas e 133 meninos)
*valor de p calculado pelo teste exato de Fisher a partir da comparação entre as idades: p (5 a 10 anos) =
0,054; p (7 a 10 anos)=0,024.
A Figura 2 mostra as curvas de distribuição de freqüência dos índices peso para
idade (P/I) e estatura para idade (E/I). Para o P/I, a média, Intervalo de Confiança (IC) e
desvio padrão são, respectivamente, -0,41 (IC95%: -0,52 – -0,29) e ±0,91 escores z.
Para o E/I, os mesmos indicadores apresentam, respectivamente, valores iguais a -0,28
(IC95%: -0,41 – -0,15) e ±1,04 escores z. As curvas de distribuição de freqüência dos
escolares, por seus Intervalos de Confiança, mostram um deslocamento significante
estatisticamente, de ambas as curvas, em direção a valores menores em relação à
distribuição do referencial do CDC (2000). Apesar da Figura sugerir uma tendência de
deslocamento maior para a esquerda do P/I em comparação ao E/I, a diferença entre as
médias não foi estatisticamente significante (p=0,132).
45
Figura 2 - Curvas de distribuição de freqüência dos escolares segundo
índices estatura para idade e peso para idade em escores z. FAMFS,
Feira de Santana-BA, 2007.
A Figura 3 apresenta as freqüências dos índices circunferência do braço para
estatura (CB/E) e Índice de Massa Corpórea (IMC) para idade. A média, Intervalo de
Confiança (IC) e desvio padrão para CB/E são, respectivamente, -0,72 (IC95%: -0,83 –
-0,61) e ±0,86 escores z. Na distribuição de freqüência do IMC para idade os mesmos
indicadores apresentam valores, respectivamente, iguais a -0,32 (IC95%: -0,43 – -0,21)
e ±0,88 escores z. As curvas de distribuição de freqüência dos escolares, por seus IC,
mostram um deslocamento significante estatisticamente, de ambas as curvas, para a
esquerda em relação à distribuição do referencial do CDC (2000) e que há um
comprometimento maior do indicador CB/E em relação ao IMC para idade com
diferença estatisticamente significante entre as médias (p<0,0001).
46
Figura 3 - Curvas de distribuição de freqüência dos escolares segundo
índices circunferência do braço para idade e índice de massa corpórea para
idade em escores z. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
5.3 Tendência do estado nutricional dos escolares segundo idade (anos)
As Figuras 4, 5 e 6 apresentam respectivamente o estudo de tendência dos índices
peso para idade; estatura para idade e, do IMC em relação à progressão da idade. As
retas que cortam as distribuições são expressões de equações de 1° grau resultantes de
análises de regressão linear aplicada a valores segundo a idade das crianças.
Na Figura 4 observa-se que os escolares apresentam uma tendência aparentemente
progressiva, de comprometimento do peso nas diferentes idades, porém não significante
estatisticamente (r
2
= 0,013 e p= 0,066).
47
5 6 7 8 9 10 11
-3
-2
-1
0
1
2
3
Idade
P/I z
Na Figura 5, nota-se nos escolares uma reta de tendência com aparência menos
acentuada de diminuição do crescimento linear do que verificado para o peso, que
também não é significante (r
2
= 0,002 e p= 0,503).
5 6 7 8 9 10 11
-3
-2
-1
0
1
2
3
Idade
E/I z
Figura 4 - Tendência do escore z de peso para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
r
2
= 0,013
p= 0,066
r
2
= 0,002
p
= 0
,
503
Figura 5 - Tendência do escore z de estatura para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
48
Pode-se observar na Figura 6 que os escolares apresentam uma tendência
progressiva e estatisticamente significante (r
2
= 0,016 e p= 0,045) de aumento da
probabilidade de baixo peso com o aumento da idade. Como o IMC é um índice de
relação entre peso e estatura ao quadrado, e observando-se a inclinação das retas dos
índices P/I e E/I, pode-se supor que de fato o ganho de peso desses escolares é
proporcionalmente menor que o aumento da estatura esperado ao longo do tempo.
5 6 7 8 9 10 11
-3
-2
-1
0
1
2
3
Idade
IMC z
Na figura 7 observamos que os escolares apresentam uma tendência de manter a
média da circunferência do braço para estatura (-0,7 escores z) abaixo da média
esperada para a idade ao longo do tempo (r
2
= 0,0002 e p= 0,830).
Figura 6 - Tendência do escore z do IMC para idade dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
r
2
= 0,016
p
= 0
,
045
49
5 6 7 8 9 10 11
-3
-2
-1
0
1
2
3
Idade
CBzE
r
2
= 0,000
p= 0,830
Figura 7 - Tendência do escore z de CB para estatura dos escolares
segundo idade em anos. FAMFS, Feira de Santana-BA, 2007.
50
6. DISCUSSÃO
O presente estudo, por ser transversal, não avalia a dinâmica do processo
nutricional e assim não tem poder para apreender tendências populacionais. Como esse
estudo foi realizado com escolares de uma única escola estadual de Feira de Santana, as
prevalências observadas podem não refletir a situação populacional dos escolares da
região. Contudo, o percentual de perdas (12,9%), autoriza a análise dos valores
encontrados para retratar o estado nutricional dos escolares dessa escola estadual.
Outro aspecto a ser considerado é que nas fichas disponíveis da instituição há
poucos dados familiares e alimentares que propicie a caracterização mais adequada do
processo de transição nutricional nessa população. Quanto à qualidade das informações
antropométricas, é preciso destacar que a coleta e organização do banco de dados foram
realizadas de forma padronizada e supervisionada diretamente pela pesquisadora.
Informação ainda importante que circunscreve o cenário deste trabalho diz
respeito à metodologia empregada pela instituição para levantamento dos dados sociais
das famílias dos escolares da escola estadual. Pela metodologia, as crianças devem
responder ao formulário da instituição. Esta operação pode comprometer a
confiabilidade dos dados. Desta maneira, o estudo, embora valorizando a informação
fornecida pelas crianças, procura mantê-la dentro dos limites confiáveis comparando
com informações de fontes oficias como dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística – IBGE e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.
Os principais resultados verificados mostram que os escolares apresentam
prevalência acima do esperado de baixo peso e baixa estatura e tendência progressiva e
significativa de aumento da prevalência de baixo peso, segundo o IMC para idade, a
51
partir de seis anos. Estes achados evidenciam um acometimento crônico do estado
nutricional dos escolares avaliados.
A ausência do pai foi mais freqüente que a da mãe. A escolaridade dos genitores
concentrou-se no ensino fundamental e suas ocupações em atividades braçais e de
pouco grau de especialização. É grande a freqüência de mães que são donas de casa e
pais pedreiros.
6.1 Aspectos socioeconômicos:
Os escolares estudados habitam uma região com características rurais, no
subúrbio de Feira da Santana. Em relação a seus lares, a média de pessoas por domicílio
foi menor que a média observada por CESAR et al. (2005), 6,4 pessoas por domicílio,
em pesquisa realizada em outras áreas pobres das regiões norte e nordeste do país.
Segundo DORIA FILHO (1999), a média calculada para uma amostra dificilmente será
igual à média (real) da população. Nesse sentido, há dois aspectos a serem considerados.
Em primeiro lugar, este estudo procurou descrever a situação de todas as crianças
matriculadas numa escola estadual de Feira de Santana atendida pela FAMFS em seu
principal campus, ao passo que no estudo de CESAR et al. (2005) trabalhou-se com
uma amostra de vários lugares carentes do norte e nordeste do Brasil.
Um segundo aspecto, que se sobrepõe ao primeiro, diz respeito ao Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) das áreas estudadas. Feira de Santana ocupa uma
posição mais próxima à média nacional (IDH=0,74), enquanto que as áreas estudadas
por CESAR et al. (2005) ocupam uma posição menos privilegiada nesse ranking, com o
IDH variando entre 0,43 e 0,63 (PNUD 2000). No mesmo sentido, neste estudo, não foi
possível quantificar o número de moradores no lar das crianças como indicador da
52
condição de vida de suas famílias. Além do IDH de Feira de Santana, deparou-se com a
evidência de que, apesar das associações em outros estudos (GUIMARÃES et al. 1999,
GALLO et al. 2000), ela não teria sido evidenciada nesse, seja pelo pequeno número de
lares com menos de 4 pessoas, o que diminui o poder do teste, ou ainda porque a
prevalência de crianças com baixo peso (5,8%) é próxima ao esperado para o ponto de
corte (5%).
Quanto à ausência dos pais referida pela criança nas suas casas, cabe realçar que é
mais freqüente a ausência do pai (mais que o dobro) que a da mãe. Nas últimas décadas,
observa-se uma modificação da estrutura familiar com um crescente aumento do
número de lares com ausência paterna (FISHMAN 1996, MONTOGMERY 1998,
PETRINI e CAVALCANTI 2005). FISHMAN (1996) considera que a maioria das
famílias com um único genitor provavelmente é chefiada por mulheres separadas ou
divorciadas. Segundo dados do IBGE (2006b), de 1995 para 2005 a chefia de famílias
por mulheres aumentou de 22,9% para 30,6% e, a proporção de lares com mulheres e
filhos sem seu cônjuge na região nordeste passou de 17,4% para 20,1%, o que nos leva
a um novo entendimento sobre os padrões familiares nordestinos. O presente estudo
corrobora essa tendência atual de maior presença de lares onde as mães são,
possivelmente, chefes de família. Vale realçar que quanto à influência da ausência
paterna no desenvolvimento dos filhos, MONTOGMERY (1998) refere que crianças
com famílias nesta situação têm duas vezes mais probabilidade de repetir o ano escolar,
fato esse que pode auxiliar no entendimento do afunilamento observado entre a 1ª e 4ª
série nesse estudo.
Vários autores (GUIMARÃES et al. 1999, CESAR et al. 2005, NEVES et al.
2006) utilizam a variável grau de escolaridade dos pais para verificar associação entre
condição socioeconômica das famílias e as de saúde de crianças. Nesta pesquisa, os
53
dados apontam para uma escolaridade dos pais ao redor do primeiro ciclo do primeiro
grau. Entretanto, mais da metade dos escolares não souberam responder essa
informação o que pode conduzir a uma discussão sobre a consistência da informação e o
porquê deste fato. Não foram encontrados estudos que quantifiquem ou qualifiquem o
conhecimento de crianças na faixa etária estudada a respeito do grau de escolaridade de
seus pais. De qualquer maneira, não parece ser uma informação relevante para as
famílias e particularmente para as crianças entrevistadas, o conhecimento do grau de
escolaridade dos seus pais. Pode-se supor que o universo relacional dessas famílias
parece não valorizar a escolaridade como elemento estruturante das relações sócio-
familiares, em outras palavras, parece não ser essencial ter alto grau de escolaridade
para seguir a ocupação da maioria dos pais. Esta sim uma informação valorizada pela
criança já que os escolares souberam informar duas vezes mais a ocupação dos pais se
comparado ao item grau de escolaridade. Ressalta-se em relação à ocupação tanto das
mães quanto dos pais que a maioria não exige curso técnico ou superior como os de
dona de casa, pedreiro, doméstica, motorista, pintor e costureira.
O desemprego aparece em maior intensidade para as mães (cerca de 4 vezes mais
que o dos pais). Dados que contrastam em intensidade com os valores nacionais, uma
vez que se observa uma diferença nas taxas de desemprego entre os sexos também nos
dados nacionais. Segundo o IBGE (2006b), o desemprego entre as mulheres é 1,5 vezes
mais freqüente que entre os homens. De qualquer forma, é possível que as taxas de
desemprego observadas estejam em transição dado que o IDH de Feira de Santana de
1991 para 2000 mostrou uma melhora no ranking nacional (PNUD 2000). A evolução
do IDH de Feira de Santana pode indicar, indiretamente, a industrialização da região e
oferta de outros serviços que ocasionam agregação de mão de obra e provável alteração
das taxas de desemprego e padrão de desenvolvimento econômico da região.
54
6.2 Avaliação do estado nutricional:
Com relação à avaliação do estado nutricional por meio da antropometria, os
resultados apontam para a necessidade de discutir a situação de déficit nutricional e a de
excesso de peso nas mesmas tabelas expositivas. Essa situação parece respaldar os
achados de MONTEIRO e CONDE (2000a), ABRANTES et al. (2002), COSTA et al.
(2006) e MONTEIRO et al. (2007) de que o Brasil está na vigência da transição
nutricional e, como tal, muitos esforços devem ser deslocados para desenvolver
políticas de alimentação saudável.
Nesse estudo, não foram identificadas diferenças estatísticas na média dos pesos e
estaturas entre os sexos. As curvas de distribuição de freqüência dos escolares, por seus
Intervalos de Confianças, mostram um deslocamento, estatisticamente significante, dos
escolares, em seu conjunto, para a esquerda, se comparados a distribuição de escore z da
curva do CDC (2000).
A redução do crescimento linear de crianças é uma das conseqüências mais
importantes observadas em populações que vivem sob condições nutricionais
inadequadas (OMS 1971). A prevalência de baixa estatura segundo E/I apresentou-se
quatro vezes menor que a observada em estudo realizado na região nordeste do país,
com escolares de 7 a 10 anos (BURLANDY e ANJOS 2007), porém, um pouco maior,
1,5 vezes, que a observada por KOGA (2005) em pesquisa com escolares, de 7 a 10
anos, de escolas pública e privada de São Paulo e maior também que as prevalências
verificadas por ANJOS et al. (2003), em escolares do Rio de Janeiro com idades entre 4
e 10 anos (1,9% nas meninas e 2,8% nos meninos). No presente estudo, a tendência
negativa observada na estatura para idade, em escores z, dos escolares em relação à
mediana, difere de outros estudos que verificaram uma tendência positiva com aumento
55
da estatura média de crianças nas últimas décadas (MONTEIRO e CONDE 2000b,
ESPIN NETO e BARROS FILHO 2004).
A desnutrição na infância é indicada pelo comprometimento do crescimento e/ou
pelo excessivo emagrecimento da criança. Nesta pesquisa, notou-se uma tendência
estatisticamente significativa de diminuição do escore z do IMC com o aumento da
faixa etária dos escolares. Este fato diverge do atual cenário de aumento do peso em
proporções maiores que o aumento da estatura e, conseqüentemente a tendência ao
aumento da obesidade tanto nos Estados Unidos da América – EUA como no Brasil
(MONTEIRO e CONDE 2000a, EBBELING et al. 2002, WANG et al. 2002, AMIGO
2003, MONTEIRO et al. 2007).
Este achado, peculiar a esse estudo, conduz a discussão a um patamar
reflexivo/especulativo. Como explicar o emagrecimento de crianças após os 7 anos de
idade? Face às altas taxas de desemprego e à ausência dos responsáveis nas famílias,
parece provável que estas crianças maiores aliem-se aos outros moradores na luta pelo
orçamento familiar. Portanto, é possível que ainda pequenos sejam estimulados a
trabalhar e por serem crianças da área rural o trabalho na roça parece a hipótese mais
provável. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL 1990) e
CARVALHO (1996) apresentam o trabalho infantil como forma de violência social, por
retirar-lhes a possibilidade da infância. Nesse estudo, parece ser também uma agressão
nutricional.
Na transição nutricional há um deslocamento para a direita do perfil nutricional da
população (POPKIN 2001, WANG et al. 2002, BATISTA FILHO e RISSIM 2003,
IBGE 2006a, MONTEIRO et al. 2007). Em sua explicação, encontram-se
principalmente os fatores ambientais, dos quais os alimentares são os mais
responsabilizados (POPKIN 1999, EBBELING et al. 2002). Contudo, associam-se a
56
eles, melhorias nas condições de trabalho, renda e acesso aos serviços de saúde
(MONTEIRO e CONDE 2000a, BATISTA FILHO e RISSIM 2003).
A análise dos indicadores nutricionais mostra que os valores de sobrepeso e
obesidade nos escolares de Feira de Santana ainda pode ser considerada abaixo do
esperado do ponto de vista estatístico. Por outro lado, a presença de desnutrição
encontra-se acima dos valores compatíveis com o esperado para o ponto de corte. Em
2003, estudo realizado em Feira de Santana por OLIVEIRA et al., em crianças de
escolas públicas e privadas com na faixa etária similar a desse estudo (5 a 9 anos),
obteve prevalência de excesso de peso dos escolares da escola pública (9,2%) próxima
aos resultados ora apresentados. A observação integrada desses fatos permite pressupor
que o processo de transição nutricional ainda não ocorreu de forma expressiva na
população escolar de Feira de Santana.
Neste sentido, pode-se supor que a FAMFS cumpra um papel protetor nessa
população evitando prevalências mais elevadas de desnutrição. Os escolares assistidos
por essa Fundação têm acesso à suporte alimentar elaborado por um nutricionista e à
atividade física regular monitorada por um educador físico. Estas intervenções são
concordantes com recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS 1999,
WHO 2000) no âmbito da atenção ao estado nutricional da população.
No entanto, do ponto de vista das políticas públicas, deve-se considerar para o
planejamento de intervenções nessa população tanto a presença de sobrepeso e
obesidade quanto à de baixo peso e de baixa estatura. Neste sentido, o Ministério da
Saúde (BRASIL 2007b) preconiza que o combate a má-nutrição deve seguir a
implementação de políticas que promovam a alimentação adequada dirigida para
diminuição dos riscos associados aos dois extremos nutricionais.
57
7. CONCLUSÃO
As crianças da FAMFS em Feira de Santana apresentam prevalência acima da
esperada de baixo peso (5,8%) e baixa estatura (3,5%) e prevalência abaixo do esperado
de sobrepeso (4,7%) e obesidade (2,3%).
Do ponto de vista nutricional isso indica que existe nessa população a presença de
desnutrição crônica.
Todas as crianças são provenientes de famílias de nível socioeconômico baixo,
portanto, possivelmente vivendo em condições ambientais desfavoráveis.
58
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este contexto deve servir de incentivo para a implementação de políticas públicas
com intuito de modificá-lo, pois a redução da prevalência de baixo peso e baixa estatura
pode diminuir os prejuízos à saúde a eles associados.
Entretanto, do ponto de vista das políticas públicas, o cenário atual de transição
nutricional no Brasil, impõe que as ações educativas também se voltem para a
prevenção do excesso de peso.
Do ponto de vista das políticas sociais, o estudo aponta para a necessidade de
intervir precocemente nas crianças de maneira a lhe oferecer a possibilidade de uma
nutrição e um crescimento adequados. Deste modo, faz-se necessário também a
construção de uma rede de proteção social a estas crianças e suas famílias devido às
condições socioeconômicas.
59
9. REFERÊNCIAS
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crianças e adolescentes das regiões Sudeste e Nordeste. J Pediatr (Rio J). 2002;
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66
ANEXO 1
Ficha avaliação dos programas da FAMFS
67
ANEXO 2
Ficha de avaliação física e médica da FAMFS
68
CURRÍCULO LATTES: Thais Costa Machado
69
CURRÍCULO LATTES: Paulo Rogério Gallo
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