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MARCIA DE MELLO PROVENZANO FARIA
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE MÉTODOS DE LOCALIZAÇÃO DA
POSIÇÃO DO DISCO ARTICULAR POR MEIO DE IMAGENS DE
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
São Paulo
2007
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Marcia de Mello Provenzano Faria
Estudo comparativo entre métodos de localização da posição do
disco articular por meio de Imagens de Ressonância Magnética
Dissertação apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade de São
Paulo, para obter o título de Mestre, pelo
Programa de Pós-graduação em
Odontologia.
Área de concentração: Diagnóstico bucal.
Orientador: Prof. Dr. Israel Chilvarquer.
São Paulo
2007
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Faria MMP. Estudo comparativo entre métodos de localização da posição do disco
articular por meio de imagens de ressonância magnética [Dissertação de Mestrado].
São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2007.
São Paulo: ___/___/2007.
Banca Examinadora
1) Prof(a). Dr(a).
Titulação:____________________________________________________________
Julgamento:_________________Assinatura:________________________________
2) Prof(a). Dr(a).
Titulação:____________________________________________________________
Julgamento:_________________Assinatura:________________________________
3) Prof(a). Dr(a).
Titulação:____________________________________________________________
Julgamento:_________________Assinatura:________________________________
DEDICATÓRIA
Aos professores da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, em
especial ao meu orientador Prof. Dr. Israel Chilvarquer, por toda experiência e pelos
ensinamentos que me foram dedicados.
À minha família, por todo carinho, apoio e compreensão ao longo do período de
elaboração deste trabalho.
Ao meu marido Marcelo, por estar sempre do meu lado, me dando forças e
incentivando todas as minhas conquistas. Sem você, este projeto não seria
realizado.
AGRADECIMENTOS
A todos os amigos do curso de Pós-graduação, em especial a Gabriela Ártico e a
Patrícia Loureiro, pela amizade e convívio.
Às funcionárias Maria Cecília Fortes Muniz e Iracema Mascarenhas Pires, por toda
ajuda e paciência.
Aos funcionários da biblioteca da FO-USP, por todo o auxílio.
Aos pacientes, pelo interesse e pela confiança nesta pesquisa.
Ao Prof. Dr. Cláudio F. de Freitas, pela amizade e pelo incentivo ao meu ingresso
nos estudos de Pós-graduação nesta Universidade.
À Profª Drª Marlene Fenyo S. de M. Pereira, pelo apoio, orientações e sugestões na
realização deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Israel Chilvarquer, pela acolhida, pela oportunidade e por me inspirar a
seguir seu exemplo profissional.
Ao Dr. Luiz Alberto M. de Souza, por todo seu apoio na viabilização desta pesquisa.
À Dra. Florence Sekito, pelos ensinamentos prestados.
Ao Dr. André Monteiro, pelas valiosas informações e conhecimento.
À UFRJ, através da Clínica de Dor e Disfunção Orofacial, pelo espaço cedido e pelo
incentivo a este trabalho.
Ao técnico Vandeir, pela ajuda e dedicação para a realização dos exames de
Ressonância Magnética.
À Vanessa, Cecília, Liliane e Bianca, pela dedicação e apoio em todos os momentos
em que estive ausente.
Ao meu pai, que sempre foi fiel incentivador.
À minha mãe, sempre presente nos momentos importantes.
À minha irmã, por toda sua força que me mostra que podemos sempre ir mais longe.
Ao meu marido Marcelo, pelas noites mal dormidas, pelas críticas constantes e pelo
carinho de acreditar.
À tia Lais, por toda sua afetuosa atenção na minha permanência em São Paulo.
À tia Rosina, por todo incentivo, torcida e reconhecimento.
Faria MMP. Estudo comparativo entre métodos de localização do disco articular por
meio de imagens de ressonância magnética [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:
Faculdade de Odontologia da USP; 2007.
RESUMO
O objetivo do presente estudo foi comparar dois métodos utilizados para determinar
a posição do disco articular em boca fechada por meio de imagens sagitais
corrigidas de Ressonância Magnética (RM). Um método analisa a localização da
banda posterior em relação aos ponteiros de um relógio, e o outro analisa a
localização da zona intermediária do disco articular em relação à cabeça da
mandíbula e o tubérculo articular. Este estudo também avaliou a correlação entre o
diagnóstico clínico e o diagnóstico obtido por cada método. Uma amostra de 20
pacientes com sinais e sintomas de disfunção temporomandibular foi examinada
clinicamente e um diagnóstico clínico foi obtido. Imagens sagitais corrigidas de RM
foram obtidas de ambas as articulações utilizando um aparelho de 0,3T com bobinas
de superfície bilaterais. O método baseado nos ponteiros de horas de um relógio
resultou numa maior percentagem de discos articulares com deslocamento anterior
(52,5%) quando comparado ao segundo método (30,0%). Foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre os dois métodos. A concordância geral entre
ambos os métodos foi de 77,5%, a concordância entre o diagnóstico clínico e o
método do relógio foi de 70,0%, e a concordância entre o diagnóstico clínico e o
método da zona intermediária foi de 87,5%. Não foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre o diagnóstico clínico e o método baseado na
localização da zona intermediária.
Palavras-Chave: Articulação temporomandibular; Disco articular; Desordens
internas; Ressonância Magnética
Faria MMP. Comparative study of the position of the articular disc by magnetic
resonance images [Dissertação de Mestrado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia
da USP; 2007.
ABSTRACT
The purpose of the present study was to compare two methods used to determine
disc position with the mouth closed based on corrected sagittal Magnetic Resonance
(RM) images. One method analyzes the posterior band location in terms of hours on
a clock face, and the other analyzes the location of the intermediate zone of the disc
in relation to the mandibular head and the articular tubercle. This study also
evaluated the correlation between the clinical diagnosis with the diagnosis obtained
by each method. A series of 20 patients with signs and symptoms of
temporomandibular dysfunction was clinically examinated and a clinical diagnosis
was reached. Corrected sagittal RM images were acquired for both joints using a
0.3T equipment with bilateral surface coils. The method based on the posterior band
location in terms of hours on a clock face yielded a higher percentage of anterior
displaced discs (52.5%) when compared with the second method (30.0%).
Statistically significant difference between the two methods was found. The overall
agreement between both methods was 77.5%, the agreement between the clinical
diagnosis and the clock face method was 70.0%, and the agreement between the
clinical diagnosis and the intermediate zone method was 87.5%. No statistically
significant difference was found between the clinical diagnosis and the method based
on the location of the intermediate zone.
Keywords: Temporomandibular joint; Articular disc; Internal derangements; Magnetic
resonance
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 2.1 - Próton em movimento, que se comporta como um magneto,
produzindo seu próprio campo magnético em miniatura com pólos
norte e sul. Modificado de Westbrook e Kaut (2000)..........................18
Figura 2.2 - Comportamento dos prótons sob ação de um campo magnético
externo. (A) Os momentos magnéticos dos prótons únicos que
constituem os núcleos dos átomos de hidrogênio se apresentam
orientados aleatoriamente na ausência de um campo magnético. (B)
Quando submetidos a um campo magnético externo (Bo), os prótons
de baixa energia se alinham no mesmo sentido de Bo (spin up) e os
prótons de alta energia se alinham no sentido contrário ao campo
magnético (spin down). Modificado de Westbrook e Kaut (2000).......20
Figura 2.3 - Movimento de precessão. O spin passa a oscilar numa trajetória
rotacional circular paralela ao eixo do campo magnético externo.
Modificado de HARMS et al. (1984) ...................................................21
Figura 2.4 - Comprimento de onda do espectro eletromagnético. Fonte: White e
Pharoah (2004)...................................................................................22
Figura 2.5 - Aplicação de um pulso de radiofreqüência de 90
0
, levando a excitação
dos prótons de hidrogênio, que passam a oscilar no eixo transverso.
Modificado de Westbrook e Kaut (2000).............................................23
Figura 2.6 - Núcleos spin up e spin down precessando fora de fase (A) e em fase
(B). Modificado de Westbrook e Kaut (2000)......................................24
Figura 2.7 - Liberação de energia pelo próton de hidrogênio. O processo de
relaxamento leva a recuperação no plano longitudinal e ao declínio no
plano transverso. Modificado de Westbrook e Kaut (2000)................25
Figura 2.8 - Estruturas da articulação temporomandibular. Fonte: Sobotta (2000)29
Figura 2.9 - Corte sagital de peça anatômica ilustrando as estruturas internas da
ATM. Fonte: Palacios et al. (1990) .....................................................30
Figura 2.10 - Corte coronal de peça anatômica ilustrando as estruturas internas da
ATM. Fonte: Palacios et al. (1990) .....................................................31
Figura 2.11 - Estruturas da articulação temporomandibular. A - Tubérculo articular;
B - Disco articular; C - Cabeça da mandíbula; D - Zona Bilaminar; E -
Fibras superiores do músculo pterigóideo lateral; F - Fibras inferiores
do músculo pterigóideo lateral. Fonte: Palacios et al. (1990).............32
Figura 2.12 - Cápsula articular. Cedido pela Profª Florence Sekito ..........................33
Figura 4.1 - Fotografia do aparelho Airis II (Hitashi®), cedido pela Clínica CT-Scan
para a realização dos exames de RM ................................................74
Figura 4.2 - Imagem de apresentação do programa MicroStation versão 8.1
(Bentley Systems, Inc)........................................................................77
Figura 4.3 - Banda posterior do disco articular localizada na posição de 12 horas
de acordo com o ponteiro de horas de um relógio. Modificado de
Orsini et al. (1998)..............................................................................77
Figura 4.4 - Aplicação do Método 1 na imagem de RM por meio do programa
MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc) .................................78
Figura 4.5 - A localização da zona intermediária do disco articular é determinada
em relação a uma linha reta imaginária que passa pelo centro da
cabeça da mandíbula e do tubérculo articular. Modificado de Orsini et
al. (1998) ............................................................................................78
Figura 4.6 - Aplicação do Método 2 na imagem de RM por meio do programa
MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc) .................................79
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 - Dados categorizados obtidos pela primeira avaliação.........................81
Tabela 5.2 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para cada uma
das comparações entre os métodos....................................................82
Tabela 5.3 - Dados categorizados obtidos pela segunda avaliação........................82
Tabela 5.4 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para cada uma
das comparações entre os métodos....................................................83
Tabela 5.5 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para o
examinador A em relação ao Método 1 e ao Método 2.......................86
Tabela 5.6 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para o
examinador B em relação ao Método 1 e ao Método 2.......................86
Tabela 5.7 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para o
examinador C em relação ao Método 1 e ao Método 2.......................87
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 5.1 - Número de articulações com disco articular em posição normal e em
posição anterior obtidos pelos dois métodos e pelo exame clínico, de
acordo com a primeira avaliação ........................................................81
Gráfico 5.2 - Número de articulações com disco articular em posição normal e em
posição anterior obtidos pelos dois métodos e pelo exame clínico, de
acordo com a segunda avaliação........................................................83
Gráfico 5.3 - Número de articulações com disco articular em posição anterior obtido
pelos dois métodos e pelo exame clínico em ambas as avaliações ...84
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ATM Articulação temporomandibular
ATMs Articulações temporomandibulares
Bo Campo magnético externo
cm Centímetros
DP Densidade protônica
DDCR Deslocamento anterior do disco articular com redução
DDSR Deslocamento anterior do disco articular sem redução
DTM Disfunção da articulação temporomandibular
FOV Campo de visão (Field of Fiew)
GE Gradiente-eco
H Hidrogênio
mm milímetros
ms milisegundos
RF Radiofreqüência
RM Ressonância Magnética
SE Spin-eco
seg segundos
TC Tomografia Computadorizada
TE Tempo de eco
TR Tempo de repetição
T1 Tempo de relaxamento longitudinal
T2 Tempo de relaxamento transverso
VME Vetor de Magnetização Efetiva
LISTA DE SÍMBOLOS
T Tesla
G Gauss
MHz Megahertz
γ
Razão giromagnética (expressa a freqüência de
precessão do núcleo ativo a 1,0 T)
ω
Freqüência de Precessão
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................14
2 REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................17
2.1 Princípios físicos da Ressonância Magnética..................................................17
2.2 Aspectos anatômicos da ATM.........................................................................28
2.3 Estudos sobre RM e ATM................................................................................34
3 PROPOSIÇÃO ................................................................................................70
4 CASUÍSTICA-MATERIAL E MÉTODOS..........................................................71
4.1 Casuística-material..........................................................................................71
4.2 Método ............................................................................................................72
4.2.1 Exame subjetivo e Exame clínico....................................................................72
4.2.2 Exame de Ressonância Magnética.................................................................73
4.2.3 Padronização das leituras ...............................................................................76
5 RESULTADOS................................................................................................80
5.1 Análise dos métodos .......................................................................................80
5.2 Avaliação inter-examinador.............................................................................85
5.3 Avaliação intra-examinador.............................................................................85
6 DISCUSSÃO ...................................................................................................88
7 CONCLUSÃO................................................................................................103
REFERÊNCIAS.......................................................................................................104
APÊNDICES............................................................................................................112
ANEXOS .................................................................................................................119
14
1 INTRODUÇÃO
A disfunção da articulação temporomandibular (DTM) se caracteriza por
distúrbios funcionais do sistema mastigatório (ISBERG, 2005; OKESON, 2000) e
compreende um conjunto de sintomas clínicos que podem envolver a musculatura
mastigatória, a articulação temporomandibular (ATM), ou ambas (BARCLAY et al.,
1999; USUMEZ; OZ; GURAY, 2004). Sua etiologia é multifatorial, acometendo
principalmente mulheres na terceira década de vida, porém fatores psico-sociais e
hábitos para-funcionais têm demonstrado desempenhar papel importante na
determinação da DTM (GOLDSTEIN, 1999).
O diagnóstico “padrão ouro” da DTM envolve uma avaliação da história do
paciente e um completo exame clínico, complementado, quando apropriado, por
exames de imagem da ATM (GOLDSTEIN, 1999; USUMEZ; OZ; GURAY, 2004). O
exame clínico deve incluir a palpação muscular, determinação da amplitude dos
movimentos mandibulares e de abertura, identificação de maloclusões e alterações
oclusais, além da palpação e auscultação da ATM (OKESON, 2000).
O deslocamento do disco articular é uma das causas mais comuns de
distúrbio intra-capsular, e é definido como um posicionamento anômalo do disco
articular em relação à cabeça da mandíbula, à fossa mandibular e ao tubérculo
articular do osso temporal (LARHEIM, 1995; MURAKAMI et al., 1993), sendo assim
utilizado como sinônimo de desarranjo interno (ISBERG, 2005; WESTESSON,
1985). Clinicamente, a presença de distúrbios intra-capsulares está associada à dor
articular, creptação e/ou estalido, dores de cabeça e limitação de abertura
15
mandibular (SANCHEZ-WOODWORTH et al., 1988; TASKAYA-YULMAZ;
OGUTCEN-TOLLER, 2002).
No que se refere ao diagnóstico por imagem, a Ressonância Magnética (RM)
é um método capaz de fornecer excelente contraste de tecido mole de forma não
invasiva e sem o uso de radiação ionizante (HARMS et al., 1985; HELMS et al.,
1989; MANZIONE et al., 1986). A RM tem sido utilizada no estudo das estruturas
internas da ATM desde 1984 (MUSGRAVE at al., 1991). Atualmente, este método é
utilizado para avaliação da posição, intensidade de sinal e morfologia do disco
articular, estudo da condição do tecido retrodiscal, do osso medular e das superfícies
ósseas, e identificação de tecidos cicatriciais e edema inflamatório (KATZBERG et
al., 1986; SENER; AKGUNLU, 2004).
A avaliação clínica quanto a presença de deslocamento do disco articular nem
sempre pode ser confirmada por imagens de RM (BROOKS; WESTESSON, 1993;
KERSTENS et al., 1989; MARGUELLES-BONNET et al., 1995; SANTLER;
KÄRCHER; SIMBRUNNER, 1993; SCHWAIGHOFER et al., 1990; TASAKI;
WESTESSON, 1993). A presença de diagnósticos falso-positivos e falso-negativos
encontrados nos exames de RM também pode ser observada quando este método é
comparado com outros métodos de imagem como a artrografia e a tomografia
computadorizada (TC) (HARMS et al., 1985; WESTESSON et al., 1987).
O método mais utilizado para a determinação da posição normal do disco
articular é o método do ponteiro de horas de um relógio (DRACE; ENZMANN, 1990;
WESTESSON; BRONSTEIN; LIEDBERG, 1985). Nesta avaliação, a localização da
banda posterior em relação à cabeça da mandíbula, tanto na posição de máxima
intercuspidação habitual quanto de máxima abertura bucal, é utilizada como um
indicador de uma posição normal ou de uma posição alterada do disco articular. Na
16
literatura, podemos encontrar poucos estudos que validam este método (DRACE;
ENZMANN, 1990; RAMMELSBERG et al., 1997). Entretanto, quando este método é
aplicado a uma população de indivíduos assintomáticos, observa-se que cerca de
33% dos indivíduos apresentam distúrbios intra-capsulares (KATZBERG et al., 1996;
LARHEIM; WESTESSON; SANO, 2001; RAMMELSBERG et al., 1997; TASAKI et
al., 1996). Esta observação sugere que ou o critério de avaliação não representa os
padrões de normalidade ou uma percentagem de indivíduos com ATMs
aparentemente normais possuem distúrbios intra-capsulares assintomáticos.
17
2 REVISÃO DA LITERATURA
Visando facilitar a compreensão da revisão de literatura, organizamos este
capítulo em três tópicos:
2.1 Princípios físicos da Ressonância Magnética
Os princípios gerais da imagem por meio de Ressonância Magnética (RM)
estão baseados nos estudos dos físicos Felix Bloch
1
(1946, apud SANTLER;
KÄRCHER; SIMBRUNNER, 1993) e Edward Purcel
2
(1946, apud SANTLER;
KÄRCHER; SIMBRUNNER, 1993), que em 1946 desenvolveram, in vitro,
experimentos em espectroscopia e provaram que certos núcleos funcionam
independentemente como magnetos em miniatura, possuindo pólos norte e sul e
denominados momentos magnéticos, que podem ser alterados pela aplicação de um
pulso de radiofreqüência (RF) externo. Em 1974, tal exame foi realizado em um ser
humano, requisitando um tempo de exame de mais de quatro horas e fornecendo
uma qualidade de imagem bastante inferior quando comparada aos padrões atuais.
A formação da imagem por meio de RM se baseia no comportamento do
próton presente em átomos de hidrogênio (H) quando submetidos a um forte campo
magnético externo (Bo) (FULLERTON, 1987; HARMS et al., 1984).
1
Bloch F, Hansen W, Packard M. Nuclear induction. Phys Rev 1946;69:127.
2
Purcell E, Torrey H, Powel R. Resonance absorption by nuclear magnetic moments in solids. Phys
Rev 1946;69:37.
18
Devemos considerar que a estrutura atômica do átomo de H possui um próton
com carga positiva e um nêutron com carga zero, ambos situados no núcleo
atômico, além de um elétron com carga negativa transitando em orbitais ao redor do
núcleo (FULLERTON, 1987; HARMS et al., 1984; WESTBROOK; KAUT, 2000).
Nesta estrutura, podem-se identificar três tipos de movimento: (1) o movimento do
elétron ao redor de seu próprio longo eixo; (2) o movimento do elétron em torno do
núcleo e (3) o movimento do núcleo girando em seu próprio longo eixo (spin)
(WESTBROOK; KAUT, 2000). De acordo com a lei de indução eletromagnética,
cargas elétricas em movimento produzem um campo magnético ou momento
magnético. Logo, a rotação do próton do núcleo de H forma um pequeno campo
magnético que age como um pequeno magneto, apresentando um pólo norte e um
pólo sul de igual potência (Figura 2.1) e constituindo um momento magnético
(FULLERTON, 1987; HARMS et al., 1984; WESTBROOK; KAUT, 2000).
Figura 2.1 - Próton em movimento, que se comporta como um magneto,
produzindo seu próprio campo magnético em miniatura com pólos
norte e sul. Modificado de Westbrook e Kaut (2000)
19
De acordo com a física quântica, cada núcleo tem uma grandeza associada
chamada spin, quantificado em unidades de valores fracionários, denominado
número quântico de spin (WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
O núcleo de H é usado na formação da imagem por RM pois, além de ser o
átomo mais abundante do corpo humano, seu único próton lhe proporciona um
momento magnético mais intenso que qualquer outro elemento. O núcleo de H
também é considerado um núcleo ativo em RM, ou seja, apresenta tendência em
alinhar seu momento magnético a um campo magnético externo por apresentar
número ímpar de massa atômica no núcleo. Exemplos de núcleos ativos em RM são
o carbono, o nitrogênio, o oxigênio, o flúor, o sódio e o fósforo (HARMS et al., 1984;
WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
Na ausência de um Bo, os momentos magnéticos dos núcleos de H estão
distribuídos aleatoriamente. Quando colocados sob a ação de um forte Bo, os
momentos magnéticos se alinham na mesma direção deste campo. Os núcleos de H
apresentam dois estados de energia térmica. Os núcleos de baixa energia alinham
seu momento magnético paralelamente ao Bo e são denominados núcleos spin up.
Os núcleos de alta energia alinham seu momento magnético em sentido antiparalelo
ao Bo e são denominados núcleos spin down (Figura 2.2) (HARMS et al., 1984;
FULLERTON, 1987; HENDRICK, 1994; WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE;
PHAROAH, 2004).
A resultante do somatório dos núcleos spin up e spin down é denominada
Vetor de Magnetização Efetiva (VME), que será utilizada para a formação da
imagem. Quanto maior a potência do Bo, maior será a população de núcleos spin up
e maior será o VME resultante e, portanto, melhor será a resolução da imagem
(FULLERTON, 1987; WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
20
Assim, aparelhos de RM que produzem campos magnéticos mais potentes fornecem
imagens de melhor resolução espacial (GAREL et al., 1998; WESTBROOK; KAUT,
2000).
Figura 2.2 - Comportamento dos prótons sob ação de um campo magnético externo. (A) Os
momentos magnéticos dos prótons únicos que constituem os núcleos dos
átomos de hidrogênio se apresentam orientados aleatoriamente na ausência de
um campo magnético. (B) Quando submetidos a um campo magnético externo
(Bo), os prótons de baixa energia se alinham no mesmo sentido de Bo (spin up)
e os prótons de alta energia se alinham no sentido contrário ao campo
magnético (spin down). Modificado de Westbrook e Kaut (2000)
No Sistema Internacional de Unidades e Medidas (INMETRO, 2007), a
intensidade de um campo magnético é medida em Tesla (T) ou Gauss (G), onde 1
Tesla corresponde a 10.000 Gauss. O campo magnético da Terra possui uma
intensidade aproximada de 0,2G. Um aparelho de RM de 1,5T de potência produz
um campo magnético de 15.000G (WESTBROOK; KAUT, 2000).
Além de alinhar os momentos magnéticos, a aplicação de um Bo provoca
uma rotação adicional do spin. Além de se mover ao redor de seu longo eixo, o spin
21
passa a oscilar numa trajetória rotacional circular paralela ao eixo do Bo. Este
movimento é denominado precessão (Figura 2.3) (HARMS et al., 1984; HENDRICK,
1994; WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004). A freqüência de
precessão (ω) é determinada pela equação de Larmor:
ω = Bo x γ
onde γ é a razão giromagnética e expressa a freqüência de precessão de
cada núcleo ativo específico a 1,0T. Sua unidade é o MHz/T. A razão giromagnética
do H é de 42,57MHz/T (WESTBROOK; KAUT, 2000).
Ressonância é o fenômeno físico em que se registra a transferência de
energia de um sistema oscilante para outro quando a freqüência de oscilação do
primeiro coincide com a freqüência do segundo. Este fenômeno tem aplicações
importantes em todas as áreas da ciência, sempre que há a possibilidade de troca
de energia entre sistemas oscilantes (WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE;
PHAROAH, 2004).
Figura 2.3 - Movimento de precessão. O spin passa a oscilar numa trajetória
rotacional circular paralela ao eixo do campo magnético externo.
Modificado de HARMS et al. (1984)
22
Um núcleo exposto a uma perturbação externa com oscilação semelhante a
sua própria freqüência natural ganha energia da fonte externa. O núcleo ganha
energia e entra em ressonância caso a energia seja aplicada a exatamente sua
freqüência de precessão (HARMS et al., 1984; HENDRICK, 1994; WESTBROOK;
KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004). A ressonância não ocorre se a energia é
aplicada a uma freqüência diferente da freqüência de Larmor do núcleo
(WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004). Em todas as potências de
campo magnético da RM clínica, a energia com freqüência igual à precessão do
hidrogênio corresponde à faixa de radiofreqüência do espectro eletromagnético
(Figura 2.4) (FULLERTON, 1987; WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH,
2004).
Figura 2.4 - Comprimento de onda do espectro eletromagnético. Fonte: White e Pharoah (2004)
Quando um pulso de energia na forma de ondas de RF é fornecido, o
alinhamento dos prótons se modifica. Os prótons de baixa energia absorvem energia
e passam a se comportar como prótons de alta energia, fazendo com que a
23
resultante dos momentos magnéticos (VME) se afaste do alinhamento em relação ao
Bo, ou seja, perca magnetização longitudinal e oscile no plano transverso formando
um ângulo de inclinação (flip angle). A magnitude deste ângulo depende da
amplitude e duração do pulso de RF. Este processo de ganho de energia é
denominado excitação (Figura 2.5) (HARMS et al., 1984; WESTBROOK; KAUT,
2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
Figura 2.5 - Aplicação de um pulso de radiofreqüência de 90
0
, levando a
excitação dos prótons de hidrogênio, que passam a oscilar
no eixo transverso. Modificado de Westbrook e Kaut (2000)
A segunda conseqüência da ressonância é que os momentos magnéticos dos
núcleos de H no VME transverso passam a oscilar em fase em relação uns aos
outros (Figura 2.6), ou seja, os momentos magnéticos encontram-se no mesmo
ponto da trajetória de precessão (HARMS et al., 1984; WESTBROOK; KAUT, 2000;
WHITE; PHAROAH, 2004).
24
Figura 2.6 - Núcleos spin up e spin down precessando fora de fase (A) e em fase
(B). Modificado de Westbrook e Kaut (2000)
Uma vez suspensa a estimulação de RF, o sistema recupera o equilíbrio. Os
prótons retornam ao seu alinhamento com o Bo à medida que perdem a energia
absorvida, num processo denominado relaxamento (Figura 2.7). Esta liberação de
energia é dada na forma de ondas de RF e utilizada como sinal para formar a
imagem de RM (HARMS et al., 1984; WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE;
PHAROAH, 2004).
Durante o relaxamento, os prótons de H liberam a energia absorvida de RF e
retornam ao seu alinhamento com Bo. O relaxamento leva à recuperação da
magnetização no plano longitudinal e ao declínio da magnetização no plano
transverso. A recuperação da magnetização longitudinal é causada pelo processo
designado como recuperação T1. O declínio da magnetização transversa é
causado por um processo designado como declínio T2 (HARMS et al., 1984;
WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
25
Figura 2.7 - Liberação de energia pelo próton de hidrogênio. O processo
de relaxamento leva a recuperação no plano longitudinal e ao
declínio no plano transverso. Modificado de Westbrook e Kaut
(2000)
A recuperação no plano longitudinal é causada pelos núcleos liberando sua
energia no ambiente ou retículo circundante. A constante de tempo que descreve a
taxa na qual o momento magnético retorna ao equilíbrio por esta transferência de
energia é chamada de tempo de relaxamento T1 ou tempo de relaxamento spin-
lattice (HARMS et al., 1984; HENDRICK, 1994; PLEWES, 1994). O tempo de
relaxamento T1 é o tempo necessário para a recuperação de 63% da magnetização
longitudinal do tecido. T1 varia em diferentes tecidos e com a capacidade do núcleo
transferir seu excesso de energia para o meio. Uma imagem ponderada em T1 é
produzida com tempo de repetição (TR) entre os pulsos de RF curto e tempo de eco
ou recuperação do eco (TE) curto (BROWN; SEMELKA, 1999; WHITE; PHAROAH,
2004). Como T1 possui um tempo de recuperação exponencial constante, um tecido
de curto T1 produz uma imagem de RM com intenso sinal, indicado por um brilho
26
branco em imagem ponderada em T1. O tecido de longo T1 produz baixa
intensidade de sinal e aparece escuro na imagem de RM (WESTBROOK; KAUT,
2000).
O declínio da magnetização transversa é causado pela troca de energia entre
núcleos vizinhos. A troca de energia é causada pela interação dos campos
magnéticos de cada núcleo com seu vizinho (HARMS et al., 1984; HENDRICK,
1994; PLEWES, 1994). A constante de tempo que descreve a taxa de perda da
magnetização transversa é chamada de tempo de relaxamento T2 ou tempo de
relaxamento transverso (spin–spin). O tempo de relaxamento T2 é o tempo
necessário para a perda de 63% da magnetização transversa. A magnetização
transversa rapidamente (exponencialmente) declina para zero, como acontece com
a amplitude e a duração do sinal de radiofreqüência detectado. A imagem
ponderada em T2 é adquirida usando TR entre os pulsos de RF longo e TE longo
(BROWN; SEMELKA, 1999; WHITE; PHAROAH, 2004). Um tecido com longo T2
produz um sinal de alta intensidade e um brilho na imagem. Um tecido com curto T2
produz um sinal de baixa intensidade e uma imagem escura (WESTBROOK; KAUT,
2000).
O contraste da imagem dos vários tecidos do corpo é manipulado pela
variação da seqüência, na qual, os pulsos de RF foram transmitidos. Um TR curto de
500ms entre os pulsos e um TE curto de 20ms produz uma imagem ponderada em
T1; um longo TR (2000ms) e um longo TE (80ms) produz uma imagem ponderada
em T2 (PICKENS; ERICKSON, 1985).
É importante compreender que os tempos de relaxamento T1 e T2 estão
ocorrendo simultaneamente (WESTBROOK; KAUT, 2000).
27
O sistema deve ser capaz de localizar espacialmente o sinal em três
dimensões, de modo a poder posicionar cada sinal no ponto correto da imagem.
Uma vez selecionado o corte, o sinal é localizado ou codificado ao longo de ambos
os eixos da imagem por meio da utilização de gradientes (KNEELAND; HYDE, 1989;
MANCUSO; HARNSBERGER; DILLON, 1989; WESTBROOK; KAUT, 2000).
Gradientes são alterações do campo magnético principal, e são gerados por
bobinas localizadas no corpo do magneto (KNEELAND; HYDE, 1989). A passagem
de uma corrente elétrica por uma bobina gradiente induz um campo magnético
(gradiente) em torno dele, que é subtraído da potência do campo magnético principal
Bo ou acrescentado a esta. A magnitude de Bo é alterada de forma linear pelas
bobinas gradientes, de modo que se pode predizer a potência do campo magnético
e, portanto, a freqüência de precessão experimentada por núcleos ao longo do eixo
gradiente. Isto é denominado codificação espacial (HARMS et al., 1984;
WESTBROOK; KAUT, 2000; WHITE; PHAROAH, 2004).
A imagem de RM depende não somente das propriedades inerentes aos
tecidos, mas também de aspectos técnicos tais como as seqüências de pulso ou
fatores de tempo que forem escolhidos. Além disso, propriedades inerentes aos
tecidos podem mudar com a utilização de aparelhos de diferentes potências de
campo magnético (WESTBROOK; KAUT, 2000).
As seqüências de pulsos permitem controlar a maneira pela qual se aplicam
pulsos e gradientes. Desta forma, determina-se a qualidade e a ponderação da
imagem. Existem diferentes seqüências disponíveis, cada qual projetada para um
objetivo específico. A seqüência de pulso mais comumente utilizada em RM é a
Spin-eco (SE). Esta seqüência permite a obtenção de imagens do sistema músculo-
28
esquelético com contraste ponderado em T1, T2 ou densidade protônica (DP)
(MANCUSO; HARNSBERGER; DILLON, 1989; WESTBROOK; KAUT, 2000).
Um conhecimento básico dos parâmetros seqüenciais é essencial para a
interpretação das imagens. Uma seqüência pode ser ajustada para fornecer imagens
ponderadas em T1, T2 e DP. Isto se dá pelo ajuste do TR e TE relativos ao tempo
de relaxamento específico do tecido observado. As seqüências SE e Gradiente-eco
(GE) fornecem aquisições bi e tridimensionais. Imagens ponderadas em T1 obtidas
pela seqüência SE são ideais para demonstrar o disco articular, músculos e
ligamentos. Imagens ponderadas em T2 obtidas pela seqüência GE podem ser
usadas para demonstrar a presença de fluído nos espaços articulares. Imagens na
seqüência GE também são ideais para demonstrar a fibrocartilagem ao redor da
cabeça da mandíbula (HASSO; CHRISTIANSEN; ALDER, 1989; MANCUSO;
HARNSBERGER; DILLON, 1989).
2.2 Aspectos anatômicos da ATM
A articulação crânio-mandibular é a articulação da mandíbula com o crânio,
sendo composta por duas articulações temporomandibulares (ATMs) e pela oclusão
dentária. A ATM é uma das mais complexas articulações do corpo humano, sendo
considerada uma articulação gínglimo artroidal por realizar movimentos de rotação e
translação. É uma articulação sinovial verdadeira, sendo altamente especializada e
contendo características anatômicas e funcionais que a distinguem de outras
29
articulações. Como o disco articular da ATM funciona como um osso, ela é
considerada uma articulação composta (OKESON, 2000).
A ATM é formada por um componente ósseo e um disco articular (Figura 2.8).
O componente ósseo é constituído posteriormente pela parte timpânica do osso
temporal, medialmente pela fossa mandibular e anteriormente pelo tubérculo
articular. Lateralmente, correlaciona-se com as regiões anterior e posterior do arco
zigomático. A cabeça da mandíbula constitui a porção inferior do componente ósseo
da ATM, variando consideravelmente de tamanho e forma entre os indivíduos,
podendo-se encontrar as formas elipsóide, côncavo-convexa e ovóide (HASSO,
ALDER; KNEPEL, 1990).
Figura 2.8 - Estruturas da articulação temporomandibular. Fonte:
Sobotta (2000)
Numa visão anterior, a cabeça da mandíbula apresenta uma projeção medial
e lateral, denominada pólo. O pólo medial é geralmente mais saliente que o lateral. A
cabeça da mandíbula possui uma dimensão transversal duas vezes maior que sua
30
dimensão ântero-posterior. A superfície articular da cabeça da mandíbula se estende
anteriormente e posteriormente à sua porção superior, sendo a superfície articular
posterior maior que a anterior (ISBERG, 2005; OKESON, 2000).
O disco articular é uma estrutura bicôncava localizada entre a cabeça da
mandíbula e o osso temporal (Figura 2.9). É constituído principalmente por tecido
conjuntivo fibroso denso, não possuindo vascularização ou inervação. Seu formato é
determinado pela morfologia da cabeça da mandíbula e da fossa mandibular,
variando de circular a oval. A parte central do disco articular é mais fina, sendo
chamada de zona intermediária. As porções anterior e posterior, mais espessas do
disco articular, são denominadas banda anterior e banda posterior, respectivamente.
O disco articular se insere firmemente aos pólos medial e lateral da cabeça da
mandíbula (Figura 2.10) (CROWLEY et al., 1996; ISBERG, 2005; KATZBERG, 1989;
OKESON, 2000).
Figura 2.9 - Corte sagital de peça anatômica ilustrando as estruturas internas da
ATM. Fonte: Palacios et al. (1990)
31
Figura 2.10 - Corte coronal de peça anatômica ilustrando as estruturas internas
da ATM. Fonte: Palacios et al. (1990)
O disco articular é inserido posteriormente a uma região de tecido conjuntivo
frouxo que é altamente inervada e vascularizada (NANCE JR; POWERS, 1990;
OKESON, 2000). Esta área é conhecida como zona bilaminar ou tecido retrodiscal.
Ela proporciona ao disco articular a capacidade de se mover anteriormente. Ao
contrário do disco articular, este tecido não é capaz de resistir à carga de qualquer
natureza, podendo alterar facilmente sua estrutura (HASSO; CHRISTIANSEN;
ALDER, 1989; HELMS et al., 1989; OKESON, 2000). O termo bilaminar foi escolhido
pois consiste de uma lâmina superior de tecido fibroelástico frouxo e uma lâmina
inferior de fibras colágenas. A lâmina superior insere o disco articular na face inferior
do rochedo temporal e a lâmina inferior conecta o disco articular à porção posterior
do colo da cabeça da mandíbula (HELMS et al., 1989). Anteriormente, a inserção
superior e inferior do disco articular está no ligamento capsular, que circunda a maior
parte da articulação. A inserção superior se une a margem anterior da superfície
articular do osso temporal e a inserção inferior se une a margem anterior da
superfície articular da cabeça da mandíbula. Entre as inserções do ligamento
32
capsular, o disco articular também se insere à fibras superiores do músculo
pterigóideo lateral (Figura 2.11) (ISBERG, 2005; OKESON, 2000).
Figura 2.11 - Estruturas da articulação temporomandibular. A - Tubérculo articular; B -
Disco articular; C - Cabeça da mandíbula; D - Zona Bilaminar; E - Fibras
superiores do músculo pterigóideo lateral; F - Fibras inferiores do
músculo pterigóideo lateral. Fonte: Palacios et al. (1990)
O disco articular também está unido à cápsula articular tanto medial quanto
lateralmente. Isto divide a cavidade articular em dois compartimentos, os espaços
articulares superior e inferior, estando localizados acima e abaixo do disco articular,
respectivamente. O espaço articular inferior é 3 a 4 vezes maior que o superior.
Suas superfícies internas são revestidas por células endoteliais especializadas que
formam a membrana sinovial. Esta membrana, juntamente com outra membrana
sinovial localizada na borda anterior do tecido retrodiscal, produzem o líquido
sinovial. Este líquido age como lubrificante, além de ter a função de prover as
necessidades metabólicas da articulação avascular (NANCE JR; POWERS, 1990;
OKESON, 2000).
33
Os limites anatômicos funcionais da articulação são delimitados por uma
cápsula articular fibrosa (Figura 2.12), suficientemente firme para estabilizar a
mandíbula durante seus movimentos laterais, e frouxa anterior e posteriormente para
permitir a abertura mandibular. A cápsula articular engloba completamente as
superfícies articulares da fossa mandibular côncava e do tubérculo articular convexa,
se inserindo no periósteo da região do colo da cabeça da mandíbula. Anteriormente,
a cápsula articular se fixa a aproximadamente 4mm a frente do vértice do tubérculo
articular. Posteriormente, se insere na porção anterior da fissura petrotimpânica,
incluindo assim o processo retroarticular na articulação. A cápsula se insere na
sutura esfenoescamosa (HASSO; ALDER; KNEPEL, 1990; NANCE JR; POWERS,
1990).
Figura 2.12 - Cápsula articular. Cedido pela Profª Florence Sekito
A anatomia normal da ATM é mais bem avaliada nas imagens ponderadas em
T1. O disco articular apresenta baixa intensidade de sinal por ser constituído de
tecido fibroso denso. A banda anterior tem aspecto homogêneo de baixo sinal
34
(HARMS et al., 1985; KATZBERG, 1989). A porção central da banda posterior,
entretanto, apresenta sinal mais intenso que a zona intermediária e a banda anterior.
Esta região representa a maior porção da banda posterior e está delimitada por
linhas de baixo sinal das superfícies da banda posterior. O limite posterior da banda
posterior pode ser distinguido da zona bilaminar por estar representado por uma
linha vertical de baixo sinal (DRACE; YOUNG; ENZMANN, 1990; KATZBERG et al.,
1985; SCAPINO, 1991).
A zona bilaminar, que contém vasos e nervos organizados num tecido
conjuntivo frouxo, apresenta imagem de hipersinal. Este aspecto é delimitado por
duas linhas de baixo sinal que representam a lâmina superior e inferior (CROWLEY
et al., 1996; SCAPINO, 1983).
2.3 Estudos sobre RM e ATM
Em 1985, Katzberg et al. (1985) relataram um dos primeiros estudos onde
imagens da ATM foram obtidas por meio de RM utilizando bobinas de superfície. O
exame foi realizado em ambas as articulações de um paciente que apresentava
deslocamento anterior do disco articular com redução (DDCR) unilateral,
diagnosticado previamente por artrografia, e em um grupo controle de três
voluntários assintomáticos. As bobinas de superfície melhoram a relação sinal-ruído,
fornecendo imagens de alta resolução espacial e proporcionando aquisições mais
finas. Foram utilizadas bobinas de 6,5cm de diâmetro posicionadas próximas a ATM
estudada e realizadas aquisições orto-sagitais em posição de máxima
35
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal num aparelho de 1,5T. Foi
possível observar que a RM produziu imagens detalhadas do disco articular e da
zona bilaminar de forma não invasiva, sem o uso de radiação ionizante e com
redução do tempo de exame.
Westesson (1985) investigou a relação entre alteração óssea e distúrbio intra-
capsular. O estudo foi baseado em 128 pacientes (128 ATMs) com sinais e sintomas
de DTM, onde a articulação menos sintomática foi excluída do estudo. Os pacientes
foram submetidos a exames radiográficos convencionais como submentovertex,
transcraniana, transmaxilar e tomografia lateral corrigida, sendo avaliada a presença
de erosão, aplainamento, osteófito e esclerose como sinais de alteração óssea.
Posteriormente, os pacientes foram submetidos a artrotomografia de duplo contraste
para avaliar o tipo de deslocamento, a forma do disco articular e a presença de
perfuração. Foi observado que 41 pacientes (32%) apresentavam alteração óssea,
onde a presença de aplainamento, osteófito, erosão ou esclerose foi observada em
23, 18, 17 e cinco pacientes, respectivamente, sendo que 16 pacientes
apresentavam mais de uma alteração. Alterações ósseas puderam ser encontradas
na metade dos pacientes com deslocamento anterior do disco articular sem redução
(DDSR), mas foram bastante incomuns em pacientes com DDCR. Alterações ósseas
também foram encontradas em todas as articulações com perfuração de disco
articular, porém a perfuração não estava associada a nenhuma alteração específica.
Foi observada relação entre o formato bicôncavo do disco articular e o DDCR,
enquanto que a deformidade do disco articular estava relacionada ao DDSR. A
presença de perfuração também estava associada a deformidade do disco articular.
O estudo concluiu que as alterações ósseas ocorrem predominantemente em
36
paciente com distúrbios intra-capsulares avançados e podem ser interpretadas como
sinais de progressão da doença.
Westesson, Bronstein e Liedberg (1985) descreveram a morfologia dos
distúrbios intra-capsulares da ATM e realizaram uma comparação com seus
aspectos funcionais. Foram removidas 58 articulações de cadáveres frescos e
submetidas a exame por meio de artrografia e fluoroscopia com objetivo de registrar
a dinâmica da articulação. As mesmas foram posteriormente congeladas e
seccionadas no plano sagital a cada 3mm de distância. As secções sagitais foram
avaliadas de acordo com a posição e a forma do disco articular, presença de
perfuração e irregularidades na superfície articular. A posição normal do disco
articular foi definida pelo posicionamento da porção central da banda posterior em
posição de 12 horas, sendo a porção central a parte mais espessa do mesmo. Os
resultados mostraram que articulações que apresentavam o disco articular em
posição superior raramente apresentavam alterações morfológicas. Em articulações
com deslocamento parcial do disco articular, a deformidade do mesmo ocorreu com
mais freqüência (31%) e estava localizada em sua porção mais anterior. Articulações
com deslocamento anterior completo apresentavam deformidade dos discos
articulares em 77% dos casos e irregularidades na superfície articular em 65%. Os
autores sugerem que o deslocamento do disco articular precede sua deformidade e
concluem que a deformidade do disco articular está relacionada com alteração na
função articular e deve ser considerada como um fator importante no tratamento.
Harms et al. (1985) avaliaram 115 ATMs com sintomas clínicos de dor,
crepitação, estalidos ou outras alterações funcionais sugestivas de DTM em 67
pacientes por meio de RM de alta resolução (1,5T). Foram obtidas imagens
ponderadas em T1 e T2 nas posições de máxima intercuspidação habitual e máxima
37
abertura bucal pela seqüência SE utilizando bobina de superfície. Artrografia foi
realizada em oito pacientes e TC foi realizada em apenas um. Todos os pacientes
foram submetidos a exames radiográficos convencionais e a tomografia
convencional. Cirurgia foi realizada em 15 pacientes. Os autores puderam observar
que houve correlação entre as imagens de RM e os resultados observados
cirurgicamente em todos os 15 pacientes operados. A definição da imagem das
estruturas de tecido mole fornecidas pela RM, incluindo o disco articular, é superior à
dos métodos de imagem convencional. Contudo, os movimentos mandibulares não
são tão bem avaliados como na artrografia. Os autores concluíram que a RM é um
excelente método de avaliação inicial das alterações da ATM.
Em 1986, Manzione et al. (1986) realizaram imagens de RM em 73
indivíduos, sendo 7 assintomáticos e 68 sintomáticos, com o objetivo de discutir os
conceitos básicos da RM. Em 36 articulações, as informações da RM puderam ser
comparadas com as obtidas por artrografia, TC ou achados cirúrgicos/patológicos.
Foram obtidas de seis a oito imagens orto-sagitais contíguas de 3mm de espessura
em máxima intercuspidação habitual, ponderadas em T1 pela seqüência SE ou
parcial saturation, e imagens ponderadas em T1 em máxima abertura bucal pela
seqüência parcial saturation. A RM demonstrou as estruturas internas articulares
melhor do que as outras modalidades tanto em pacientes sintomáticos quanto
assintomáticos, com a vantagem de não expor o paciente à radiação ionizante, não
utilizar injeções intra-articulares de contraste e não ser invasiva. Entretanto, a
artrografia fornece uma avaliação dinâmica da ATM durante sua função e identifica
perfurações no disco articular ou no tecido retrodiscal. Em comparação com a TC, a
RM fornece melhor resolução dos tecidos moles, porém o detalhe das estruturas
38
ósseas é melhor na TC. As imagens podem ser produzidas em planos axiais e
coronais sem modificação do posicionamento do paciente.
Com o objetivo de demonstrar a aplicação clínica da RM no diagnóstico da
ATM normal e com alterações, Katzberg et al. (1986) realizaram um estudo
comparativo entre a RM e os achados obtidos por meio de artrografia, TC e cirurgia.
Foram avaliadas 74 articulações em 37 pacientes sintomáticos e cinco voluntários
assintomáticos. Os voluntários apresentavam ausência de história de sinais e
sintomas de dor e DTM. Os exames de RM foram realizados utilizando-se aparelho
de 1,5T com bobina de superfície, e obtidas imagens orto-sagitais de 3mm de
espessura, ponderadas em T1, nas posições de máxima intercuspidação habitual e
máxima abertura bucal. A correlação cirúrgica foi obtida em quatro pacientes (cinco
articulações) previamente avaliadas por artrografia e RM. A TC foi realizada em sete
pacientes (11 articulações) e a artrografia em 11 pacientes (13 articulações), sendo
que uma articulação foi avaliada por ambos os métodos de imagem. Foram
observados um diagnóstico falso-negativo obtido pela artrografia e dois pela TC.
Vários graus de deformidade morfológica foram observados pela RM nos pacientes
com deslocamento do disco articular. Alterações ósseas da ATM foram menos
observadas pela RM quando comparadas com a TC. O estudo pode demonstrar o
potencial da RM em fornecer informações sobre a posição e a morfologia do disco
articular e aspectos histológicos que não podem ser estudados pela artrografia e
pela TC. Além disso, a RM pode produzir imagens dos tecidos moles com alta
resolução sem o uso de radiação ionizante, anestesia ou injeção de meios de
contraste, sendo um método capaz de substituir a artrografia e a TC no diagnóstico
do distúrbio intra-capsular.
39
Em 1987, Westesson et al. (1987a) compararam imagens de ATMs obtidas
por meio de TC e RM com a secção das peças anatômicas. Foram obtidas e
congeladas por repetidas aplicações de nitrogênio líquido 15 ATMs de cadáveres na
posição de máxima intercuspidação habitual. As peças foram submetidas a exame
por meio de TC e posicionadas com o longo eixo da cabeça da mandíbula
perpendicular a luz de referência, de forma que fossem obtidas imagens sagitais
corrigidas. Foram realizados cortes diretos de 5mm de espessura, com intervalo
entre os cortes de 3mm, em filtro para tecido mole. Posteriormente, as peças foram
submetidas a exame por meio de RM e realizadas aquisições pela seqüência parcial
saturation, ponderadas em DP, com 3mm de espessura, na mesma altura dos cortes
obtidos por TC. As peças anatômicas foram seccionadas na posição das imagens e
os achados observados foram comparados com os exames de TC e RM. Os autores
não observaram diferença significante no tratamento estatístico entre os dois
métodos na detecção de alterações ósseas e do posicionamento do disco articular.
Entretanto, as imagens de RM identificaram o disco articular tanto em posição
normal quanto em posição anterior, enquanto que a TC só demonstrou o disco
articular adequadamente quando localizado anteriormente. Os autores concluíram
que as imagens de RM podem demonstrar as estruturas de tecido mole da ATM com
detalhe superior as imagens de TC, enquanto que a TC é superior na avaliação das
estruturas ósseas.
Westesson et al. (1987b) realizaram um estudo para determinar a eficácia das
imagens sagitais corrigidas de RM em diagnosticar o distúrbio intra-capsular e
também avaliar o ganho de informação adquirida com a obtenção de imagens
coronais corrigidas. O estudo utilizou 15 ATMs removidas de autópsias e, sendo
realizadas imagens sagitais e coronais corrigidas de 3mm de espessura ponderadas
40
em DP. Após a aquisição das imagens, as peças foram submetidas a criosecção e
comparadas com as imagens de RM. Foi observado que as imagens sagitais
corrigidas demonstraram corretamente a posição do disco articular em 11
articulações (73%). A forma do disco articular pode ser corretamente avaliada em
nove articulações (60%), não podendo ser observada em uma (7%). Os erros de
interpretação encontrados nas imagens sagitais corrigidas estavam relacionados aos
deslocamentos no sentido médio-lateral. Entretanto, esses distúrbios puderam ser
estudados nas imagens coronais corrigidas.
Sanchez-Woodworth et al. (1988) avaliaram por meio de RM ambas as
articulações de 211 pacientes com sinais e sintomas de DTM. Um grupo
assintomático de 12 indivíduos serviu como grupo controle. Imagens sagitais
corrigidas de 3mm de espessura, ponderadas em T1, foram obtidas em máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal com o uso de bobina de
superfície. Das 422 articulações examinadas, 29% (61) dos pacientes apresentaram
ambas as articulações normais, 21% (45) apresentaram uma ATM normal e a outra
com distúrbio intra-capsular e 50% (105) dos pacientes possuíam ambas as ATMs
com distúrbio intra-capsular. Dos pacientes com distúrbio unilateral, 48% (22)
apresentaram DDCR e 52% (105) DDSR. Nos pacientes com distúrbio bilateral, 21%
(22) tinham DDCR, 54% (57) tinham DDSR e 25% (26) tinham DDCR em um lado e
DDSR no outro. Foi possível concluir que pacientes com sinais e sintomas de DTM
apresentam uma alta probabilidade de comprometimento bilateral.
Katzberg et al. (1988) avaliaram a capacidade das imagens sagitais e
coronais corrigidas de RM em determinar a presença de deslocamentos rotacionais
e laterais do disco articular. O tipo rotacional implicaria numa combinação do
deslocamento anterior com o medial ou o lateral, e o deslocamento lateral seria o
41
deslocamento no sentido medial ou lateral somente. Foram obtidas imagens sagitais
e coronais corrigidas de 3mm de espessura de 18 ATMs removidas por meio de
autópsias e comparadas com as secções correspondentes da peça anatômica.
Também foram avaliadas imagens de RM obtidas de 61 ATMs sintomáticas em 37
pacientes. A RM pode demonstrar o posicionamento médio-lateral do disco articular
em 15 articulações (83%). A anatomia óssea foi corretamente observada em 17
(94%) casos. Das peças seccionadas, seis (33%) apresentavam deslocamento
medial e duas (11%) apresentavam deslocamento lateral. Dessas oito articulações,
cinco apresentavam também deslocamento anterior, ou seja, deslocamento
rotacional. No grupo dos pacientes, o deslocamento medial ou lateral foi encontrado
em 16 articulações (26%). Os autores concluíram que os deslocamentos rotacionais
e laterais são características importantes do distúrbio intra-capsular, e que
aquisições multiplanares são indicadas na avaliação dessas alterações.
Com a finalidade de verificar alterações na intensidade de sinal e na forma do
disco articular e sua relação na severidade do distúrbio intra-capsular, Helms et al.
(1989) realizaram um estudo por meio de RM em 216 articulações de 133 pacientes
com história de DTM. Cada caso foi avaliado com relação à morfologia, intensidade
de sinal e posição do disco articular, além da presença de osteoartrite. Os discos
articulares considerados normais não apresentavam deslocamento anterior e
possuíam formato semelhante ao de uma “gravata borboleta”. Os discos articulares
eram classificados em grau 1 quando apresentavam deslocamento anterior sem
alteração de forma e grau 2 quando apresentavam deslocamento anterior e
alteração de forma. A presença de osteoartrite era identificada se houvesse
alteração na intensidade de sinal ou presença de osteófitos, erosões ou
espessamento cortical. Articulações consideradas normais totalizaram 19% e
42
nenhuma apresentou osteoartrite. As articulações grau 1 representaram 64% dos
casos, sendo que 17% das mesmas apresentaram osteoartrite. As articulações grau
2 totalizaram 17% dos casos, onde 95% apresentaram osteoartrite. Todas as
articulações normais não apresentaram alteração de sinal, porém as articulações
com osteoartrite tinham maior percentagem de discos articulares com diminuição de
intensidade de sinal. Foi possível observar que existe uma relação entre a duração
dos sintomas e a severidade da DTM, e que a doença articular degenerativa é uma
complicação em longo prazo.
Kerstens et al. (1989) realizaram imagens unilaterais de RM em 55 pacientes
com sinais e sintomas de DTM para avaliar a presença de deslocamento parcial.
Neste deslocamento, apenas uma das bordas laterais do disco articular estaria numa
posição mais anterior, e não o disco articular todo. Foram obtidas imagens
ponderadas em T1 com 4mm de espessura e intervalo de 1mm pela seqüência SE,
tanto na posição de máxima abertura bucal quanto em máxima intercuspidação
habitual. A posição do disco articular foi avaliada nas imagens mais medial, lateral e
central, e os resultados comparados com a artrografia ou dados clínicos/cirúrgicos.
Foi observado que a RM pode estabelecer a posição antero-posterior do disco
articular em relação às bordas medial e lateral. Os resultados obtidos pela RM foram
semelhantes aos da artrografia. O diagnóstico clínico foi confirmado em 93% dos
casos. Dos 33 pacientes submetidos à cirurgia, os achados da RM foram
confirmados em 31 ATMs. Pode-se concluir que a RM demonstrou ser uma
modalidade de diagnóstico importante na diferenciação dos deslocamentos
anteriores parcial e completo. Como melhores resultados terapêuticos são obtidos
em pacientes com deslocamento anterior parcial de disco articular, esses pacientes
43
seriam beneficiados pelo tratamento conservador. Já os deslocamentos completos
crônicos estariam associados à piores resultados.
Hansson et al. (1989) compararam imagens de RM de ATMs obtidas em
aparelhos de 0,3T e 1,5T com a criosecção da peça anatômica. A proposta do
estudo era determinar qual intensidade de campo magnético fornece a melhor
aquisição de imagem da ATM. Os mesmo protocolos de aquisição foram utilizados
nos aparelhos de 0,3T e 1,5T. Foi observado que as imagens de RM obtidas em
1,5T puderam confirmar a posição, a morfologia do disco articular e alterações
ósseas da ATM em 85%, 77% e 100% dos casos, respectivamente. Já as imagens
de RM obtidas em 0,3T confirmaram esses dados em 46%, 41% e 85% dos casos,
respectivamente. Quando o tempo de aquisição da imagem era aumentado em
quatro vezes, a confiabilidade do diagnóstico das imagens obtidas em 0,3T se
assemelhavam ao equipamento de 1,5T com uma precisão de 73% para a posição
do disco articular e 67% para a morfologia do disco articular. O estudo pode concluir
que a qualidade da imagem obtida a 1,5T é melhor do que aquela obtida a 0,3T
quando o mesmo tempo de aquisição é utilizado.
Com o objetivo de determinar a posição normal do disco articular e critérios
de distinção entre uma articulação normal e a presença de distúrbio intra-capsular,
Drace e Enzmann (1990) realizaram um estudo por meio de RM com 50 articulações
de 30 voluntários assintomáticos, onde 20 voluntários foram avaliados bilateralmente
e 10 foram avaliados unilateralmente. Os autores puderam definir que a melhor
forma de se avaliar as estruturas da ATM seria em posição de máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal, e que a posição da banda
posterior não deve permanece mais do que 10
0
anterior a posição de 12 horas para
ser considerada dentro da variação do posicionamento normal. Entretanto, pode-se
44
observar a prevalência de pequenas alterações numa população assintomática.
Logo, o significado clínico de pequenos deslocamentos ainda precisaria ser
estabelecido.
Em 1990, Schwaighofer et al. (1990) estudaram o valor das imagens coronais
corrigidas de RM no diagnóstico da ATM. Imagens sagitais e coronais corrigidas de
22 ATMs de cadáveres foram comparadas com secções das peças anatômicas. O
estudo observou que o uso somente de imagens coronais corrigidas determinou
corretamente a posição do disco articular em 77% dos casos (13 normais e quatro
alteradas), sendo que imagens sagitais corrigidas complementares foram
necessárias para o diagnóstico em 9% dos casos. Os autores concluíram que é
recomendável a aquisição de imagens sagitais e coronais corrigidas para uma
completa avaliação da ATM.
Helms e Kaplan (1990) realizaram uma revisão sobre os métodos de imagem
utilizados para estudo da ATM. Foram avaliadas as indicações e limitações dos
exames convencionais, da artrografia, da TC e da RM. Segundo os autores, os
exames convencionais só são capazes de avaliar estruturas ósseas e deveriam ser
utilizados para determinar a posição da cabeça da mandíbula na fossa mandibular
ou identificar a presença de alterações congênitas, fraturas, tumores ou artrite
inflamatória. A artrografia é um método capaz de identificar a posição e a dinâmica
do disco articular, a presença de perfurações ou alterações ósseas. Entretanto, é um
método invasivo e não determina a morfologia do disco articular, podendo ser
substituída pela TC ou pela RM. A TC é superior a artrografia para avaliar as
estruturas ósseas da ATM, e pode identificar a presença do deslocamento do disco
articular pela avaliação da densidade do tecido anterior a cabeça da mandíbula. Se
o tecido tiver densidade de músculo, o disco articular está em posição normal. Se a
45
densidade for maior que a de músculo, haveria um deslocamento anterior. Portanto,
a TC é capaz de demonstrar a posição do disco articular e o detalhe das estruturas
ósseas, não avaliando a morfologia e a dinâmica do disco articular ou a presença de
perfurações. A RM seria o método de escolha na avaliação de distúrbios intra-
articulares pois é o único método capaz de demonstrar as estruturas de tecido mole
com alto detalhe, sem ser um método invasivo ou que utiliza radiação ionizante.
Porém, se o objetivo do exame é a identificação de perfurações ou da dinâmica
articular, a artrografia deve ser considerada.
A junção da banda posterior do disco articular com a zona bilaminar é uma
importante referência anatômica para se determinar a presença de deslocamento
anterior em imagens de RM. Com o objetivo de correlacionar as estruturas intra-
articulares com seus aspectos nas imagens de RM, Drace, Young e Enzmann (1990)
realizaram imagens sagitais corrigidas de RM em seis ATMs de cadáveres num
aparelho de 1,5T com várias combinações de TR e TE usando tanto bobinas de
superfície padrões como bobinas solenóides especialmente desenvolvidas. Secções
histológicas correspondentes foram correlacionas com as imagens para se identificar
a estrutura anatômica e sua característica tecidual. As imagens resultantes também
foram correlacionadas com imagens de RM de 70 ATMs de pacientes sintomáticos e
30 ATMS de voluntários assintomáticos. Essa comparação mostrou que a banda
posterior apresenta normalmente sinal de maior intensidade do que a banda anterior
e a zona intermediária. Também se observou a existência de uma linha vertical de
baixo sinal como um importante marco representando a junção da banda posterior
com a zona bilaminar. Os autores concluíram que o reconhecimento das
intensidades de sinal do centro e das superfícies da banda posterior do disco
articular assim como a identificação de sua inserção na zona bilaminar aumenta a
46
confiança no reconhecimento da posição do disco articular. Porém, alterações nas
características dos tecidos articulares podem dificultar a identificação desta anatomia
e resultar em diagnósticos falso-positivos.
Em 1991, Musgrave et al. (1991) realizaram um estudo para determinar se a
qualidade das imagens de RM poderia ser aperfeiçoada pela obtenção de imagens
sagitais e coronais corrigidas orientadas de acordo com a angulação individual da
cabeça da mandíbula. O estudo foi realizado em 21 indivíduos, onde 14 pacientes
apresentavam sinais e sintomas de DTM e sete pacientes eram voluntários
assintomáticos. Foram obtidas imagens de RM em um aparelho de 1,5T com bobina
de superfície e realizadas aquisições de 3mm de espessura ponderadas em T1 nos
planos orto-sagital e orto-coronal e nos planos perpendicular e paralelo ao longo
eixo da cabeça da mandíbula. Uma imagem de cada aquisição que melhor
demonstrasse a anatomia da articulação foi utilizada para posterior comparação. As
imagens sagitais e coronais corrigidas foram avaliadas como sendo superiores as
suas correspondentes ortogonais por ambos os avaliadores. A maior diferença foi
observada nas imagens coronais corrigidas do que nas sagitais corrigidas. Os
resultados sugerem que imagens oblíquas obtidas perpendiculares e paralelas ao
longo eixo da cabeça da mandíbula fornecem melhor distinção e visibilização das
estruturas internas da ATM.
Em 1992, Westesson e Brooks (1992) correlacionaram a evidência de efusão
observada em imagens de RM com sintomas de dor e presença de deslocamento
anterior do disco articular. Os autores avaliaram ambas as ATMS de 379 pacientes
com sintomas clínicos de DTM e de 11 voluntários assintomáticos. Foram obtidas
imagens sagitais e coronais corrigidas ponderadas em DP e T2, nas posições de
máxima intercuspidação habitual e máxima abertura bucal. As imagens de RM não
47
evidenciaram a presença de efusão articular no grupo assintomático. Entre os
pacientes, a presença de efusão foi observada em 7% das 261 articulações com
posição normal do disco articular, 40% das 216 articulações com DDCR, 50% das
221 articulações com DDSR e 27% das 82 articulações com artrose. A presença de
efusão foi vista em 46% das articulações do lado mais dolorido e 13% das
articulações do lado menos dolorido. Foi encontrada uma forte associação entre
efusão e dor articular. Os resultados mostraram que a efusão articular ocorre
principalmente em articulações com deslocamento anterior do disco articular e está
fortemente associada a dor.
Westesson et al. (1992) realizaram um estudo para determinar se a qualidade
da imagem da ATM obtida pela seqüência SE poderia ser aperfeiçoada com a
redução da espessura da aquisição da imagem. Foram obtidas imagens sagitais e
coronais corrigidas de 3,0mm e 1,5mm de espessura de 31 ATMs (20 pacientes,
cinco voluntários e seis cadáveres), e a seqüência SE foi modifica, prolongando-se
os pulsos de RF e reduzindo sua freqüência. As imagens foram avaliadas com
relação a sua capacidade em delinear o disco articular e a cortical e o trabeculado
medular da cabeça da mandíbula. As imagens coronais corrigidas de 1,5mm de
espessura demonstraram melhor as estruturas avaliadas do que as imagens de
3,0mm. As imagens sagitais corrigidas de 1,5mm demonstraram melhor o padrão
trabeculado da cabeça da mandíbula. Portanto, pode-se concluir que aquisições de
menor espessura melhoram a qualidade da imagem, especialmente nas imagens
coronais corrigidas.
Santler, Kärcher e Simbrunner (1993) realizaram um estudo com o objetivo de
demonstrar a aplicação clínica da RM. Foram realizadas imagens de RM em 37
pacientes sintomáticos num equipamento de 1,5T de potência com o uso de bobinas
48
de superfície. Em posição de máxima intercuspidação habitual, oito a 10 imagens
sagitais corrigidas ponderadas em T1 foram obtidas com intervalo de 3mm na
seqüência SE. Imagens sagitais corrigidas em posição da máxima abertura foram
realizadas pela seqüência de GE. Em três pacientes (três articulações), também foi
realizada artrotomografia do espaço articular inferior para confirmar a presença de
perfuração. Em 15 articulações, cirurgia para reposicionamento do disco articular foi
realizada. O diagnóstico obtido pelo exame de RM foi comparado com os achados
cirúrgicos e com o diagnóstico obtido por meio de artrografia. Em 80% dos casos, a
posição do disco articular foi detectada corretamente pela RM. Todos os casos
diagnosticados como deslocados anteriormente pela RM puderam ser confirmados
cirurgicamente, não resultando em casos falso-positivos. Os diagnósticos falso-
negativos totalizaram 20% pela dificuldade em se identificar o limite posterior do
disco articular pelo espessamento e redução de sinal da zona bilaminar. Entre as
ATMs com suspeita de perfuração, a RM falhou em identificar dois em três casos e
mais duas perfurações foram encontradas durante a cirurgia. Foi possível concluir
que a RM é um método confiável na determinação da posição, morfologia e
dinâmica do disco articular, sendo a artrografia ainda indicada em casos de
perfuração.
Imagens sagitais corrigidas são as mais utilizadas para a avaliação da ATM
por meio de RM. Entretanto, de acordo com Brooks e Westesson (1993), de um
quarto a um terço dos pacientes com sinais e sintomas DTM apresentam um
componente medial ou lateral no deslocamento do disco articular. Alguns desses
deslocamentos podem ser observados em imagens sagitais corrigidas obtidas além
dos pólos medial e lateral da cabeça da mandíbula, porém é difícil de diferenciar
cápsula articular da imagem do disco articular. Portanto, as imagens sagitais
49
corrigidas poderiam resultar em diagnósticos falso-negativo ou falso-positivo. Com o
objetivo de avaliar o valor das imagens coronais corrigidas na determinação de
deslocamentos mediais e laterais, os autores realizaram exames de RM em 79
pacientes sintomáticos para DTM. Foi possível observar que imagens coronais
corrigidas reduziram o número de diagnósticos falso-negativos em 11% e o número
de falso-positivos em 2% para deslocamentos laterais, aumentando assim a precisão
do diagnóstico. Portanto, foi possível concluir que o uso de imagens coronais
corrigidas soma informação para o diagnóstico e devem ser utilizadas como
suplementar às imagens sagitais corrigidas na avaliação da ATM por meio de RM.
Apesar da RM ser a modalidade de escolha na avaliação da posição do disco
articular, Murakami et al. (1993) afirmam que a visibilização do deslocamento do
disco articular se torna, às vezes, difícil de se determinar. Com a proposta de
quantificar a posição do disco articular em máxima intercuspidação habitual e
máxima abertura bucal de acordo com o posicionamento da banda posterior em
relação à cabeça da mandíbula, os autores avaliaram 273 pacientes com
diagnóstico clínico de DTM. Também foi realizada uma comparação entre posição e
configuração do disco articular. Todos os pacientes foram submetidos a exames de
RM em equipamento de 0,5T com bobina de superfície. Foram obtidas imagens
sagitais corrigidas ponderadas em T1 nas posições de máxima intercuspidação
habitual e máxima abertura bucal pela seqüência SE. As articulações foram divididas
em quatro grupos de acordo com a posição do disco articular, e a forma do disco
articular foi classificada em cinco configurações. A maioria dos discos articulares que
apresentava discreto deslocamento anterior reduzia para a posição normal durante a
abertura, demonstrando que quanto menor o grau de deslocamento, maior a
freqüência de sua redução. Uma maior parte (76%) dos discos articulares
50
deformados estava completamente deslocada anteriormente e sem redução. Como
nenhum disco articular deformado foi observado em posição normal, o estudo
conclui que a deformidade do disco articular é um processo que ocorre depois de
seu deslocamento.
Com o objetivo de determinar a precisão de diagnóstico, sensibilidade e
especificidade da RM na determinação da posição e forma do disco articular e
presença de alterações nos componentes ósseos, Tasaki e Westesson (1993)
avaliaram imagens sagitais e coronais corrigidas em RM de 55 cadáveres. Foram
obtidas imagens de 3mm de espessura ponderadas em T1, com bobina de
superfície, em posição de máxima intercuspidação habitual. Posteriormente, as
peças foram congeladas e seccionadas no plano coronal em sua porção mais
central. As articulações eram então remontadas e seccionadas novamente no plano
sagital da porção medial à lateral na altura correspondente a imagem sagital
corrigida obtida na RM. As peças seccionadas foram fotografadas para comparação
com as imagens de RM. A RM apresentou uma precisão de 95% na detecção da
posição e forma do disco articular e 93% na presença de alterações de estruturas
ósseas. Os três casos falso-negativos, onde a RM não detectou o deslocamento,
estavam confinados a uma pequena parte da articulação. As imagens coronais
corrigidas permitiram evitar diagnósticos falso-negativos em 13% dos casos. Os
exame por meio de RM com o uso de bobinas de superfície mostrou ser confiável na
avaliação dos tecidos duros e moles da ATM.
Steenks, Bleys e Witkamp (1994) realizaram um estudo para comparar
imagens orto-sagitais com imagens sagitais corrigidas de RM em relação à
identificação das estruturas anatômicas da ATM. Duas articulações provenientes do
mesmo cadáver foram submetidas a exame por meio de RM e posteriormente
51
seccionadas. Foram realizadas seqüências SE com bobina de superfície em posição
de máxima intercuspidação habitual das ATMs. Do lado esquerdo, foram obtidas
nove imagens orto-sagitais de 3mm de espessura ponderadas em T1. Do lado
direito, foram obtidas sete imagens sagitais corrigidas de 3mm de espessura
perpendiculares ao longo eixo da cabeça da mandíbula, ponderadas em T1. Após a
secção, os fragmentos foram fotografados e comparados com as imagens de RM.
Foi observado que a banda anterior, a zona intermediaria e o tecido retrodiscal
podiam ser identificados em ambos os tipos de aquisição, porém a banda posterior
era melhor visibilizada nas imagens sagitais corrigidas. Os autores concluíram que a
RM é capaz de representar as estruturas internas da ATM, e que aquisições
perpendiculares ao longo eixo da mandíbula proporcionam um melhor registro da
banda posterior.
Kirk (1994) comparou alterações observadas em exames de RM pré-
operatórios de 73 pacientes com os achados cirúrgicos de 104 articulações com
distúrbios intra-capsulares. Os pacientes apresentavam dor articular crônica e DTM
que não respondeu a tratamento conservador ou ortodôntico por meses ou anos. As
articulações foram classificadas segundo Schellas
3
(1989, apud KIRK, 1994) em
estágios II, III, IV e V de acordo com as alterações observadas no exame de RM.
Estágio II representava discreta a moderada deformidade e DDCR durante abertura.
Estágio III representava DDSR com deformidade acentuada e/ou ocasional redução
da intensidade de sinal, alterações indicativas de degeneração por tecido fibroso ou
mixóide. Estágio IV incluía as alterações vistas no estágio III como também
alterações ósseas, tais como erosões, alteração da intensidade de sinal nas
superfícies articulares e osteófitos. Estágio V incluía as alterações vistas no estágio
3
Schellas KP. Internal derangement of the temporomandibular joint: radiologic staging with clinica,
surgical and pathological correlation. Magn Reson Imaging 1989;7:495-515.
52
IV, entretanto de forma mais severa com presença de colapso da articulação,
remodelação e doença artrítica. Os autores concluíram que a RM é capaz de
detectar precocemente alterações tanto das estruturas ósseas quanto dos tecidos
moles. Também foi possível observar que as articulações classificadas em estágios
avançados apresentavam maior duração dos sintomas.
O deslocamento anterior pode ocorrer de forma completa ou parcial. O
deslocamento parcial é observado quando apenas um lado do disco articular está
deslocado. O deslocamento rotacional ocorre quando ambos os lados do disco
articular estão deslocados, porém o grau de deslocamento de um lado é maior que
do outro. Deslocamentos laterais constituem deslocamentos medial ou lateral puros,
sem um componente anterior. Para avaliar os deslocamentos rotacionais e laterais,
Matsuda, Yoshimura e Lin (1994) avaliaram 48 articulações em 24 pacientes com
sinais e sintomas de DTM por meio de imagens sagitais e coronais corrigidas de RM.
Nas imagens coronais corrigidas, um deslocamento medial ou lateral foi observado
em 10 (20,8%) articulações, sendo seis laterais e quatro mediais. Nas imagens
sagitais corrigidas, o DDSR foi observado em 20 articulações (17 pacientes). O
deslocamento rotacional foi observador em oito articulações, sendo seis desses
deslocamentos no sentido antero-lateral e dois antero-medial. Os resultados
sugerem que a rotação antero-lateral é mais comum que a rotação antero-medial e o
deslocamento medial propriamente dito. Os autores concluíram que as imagens
sagitais e coronais corrigidas são complementares.
Com o objetivo de comparar imagens de RM com achados cirúrgicos em
pacientes com DTM, Takaku et al. (1995) avaliaram 43 ATMS (43 pacientes) que
foram submetidos à meniscectomia e 30 voluntários assintomáticos e. As imagens
sagitais corrigidas de RM foram obtidas em posição de máxima intercuspidação
53
habitual e máxima abertura bucal pela seqüência FISP-3D. Em 28 pacientes,
rupturas acompanhadas por áreas de hipersinal e diagnosticadas na RM como
perfurações no disco articular foram confirmadas cirurgicamente em 26 (93%) casos.
A deformidade do disco articular foi encontrada em todos os pacientes e alguns
discos articulares apresentaram aumento de sinal, resultando num aspecto
heterogêneo. A presença de deslocamento do disco articular foi confirmada
cirurgicamente em oito de nove deslocamentos vistos em RM. Foi observado
hipersinal no espaço articular de 30 ATMs, nas quais efusão articular foi confirmada
cirurgicamente. Pode-se concluir que distúrbios intra-capsulares podem ser
demonstradas pela seqüência FISP-3D, e que este método é particularmente útil
para diagnosticar alterações no disco articular e no tecido retrodiscal.
Marguelles-Bonnet et al. (1995) realizaram estudo para comparar o
diagnóstico obtido pela avaliação clínica com achados de RM em pacientes com
DTM. O exame clínico foi realizado em 242 pacientes que apresentavam distúrbios
intra-capsulares unilaterais (51%) ou bilaterais (49%), classificando clinicamente a
articulação em cinco categorias: (1) normal; (2) DDCR; (3) DDSR; (4) disco articular
"preso", tendo seu movimento restringido devido a adesões; (5) artrose degenerativa
com ou sem uma das categorias acima. Foram obtidas bilateralmente imagens
sagitais e coronais corrigidas ponderadas em DP nas posições de máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal. Não houve diferença estatística
significante entre a distribuição dos distúrbios no lado direito e esquerdo e entre
distúrbios unilaterais e bilaterais. Houve uma alta correlação estatística entre o
diagnóstico clínico e os achados da RM em todos os tipos de distúrbios. Apesar
desta alta correlação, a RM pode confirmar o diagnóstico clínico em apenas 287 das
484 articulações estudadas. Os autores concluíram que o diagnóstico clínico por si
54
só não pode determinar todas as alterações estruturais presentes, sendo insuficiente
para determinar o estado da articulação.
Numa abordagem sobre os métodos de diagnóstico por imagem da ATM,
Larheim (1995) enfatizou que a RM é o método “padrão ouro” no diagnóstico de
alterações da ATM, superando a artrografia. A RM seria um método capaz de avaliar
desde distúrbios intra-capsulares e alterações inflamatórias e artríticas até
alterações tumorais. Alterações no osso medular podem ser detectadas. Imagens
ponderadas em T2 são capazes de demonstrar reações inflamatórias como efusão
articular e edema no osso medular. Em pacientes com doenças inflamatórias
crônicas, a RM pode demonstrar alterações que não são observadas por nenhum
outro método de imagem. O estudo afirma que a obtenção de imagens por meio de
RM proporciona uma precisão de 90% no diagnóstico de alterações da ATM.
Katzberg et al. (1996) determinaram a prevalência e o tipo de deslocamento
de disco articular presente em pacientes assintomáticos e sintomáticos por meio de
RM. Foram examinados 66 voluntários assintomáticos e 102 pacientes com sinais e
sintomas de DTM e submetidos a exame por meio de RM com bobina de superfície
para obtenção de imagens sagitais corrigidas nas posições de máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal. Em toda a amostra, 25 (33%)
voluntários assintomáticos e 79 (77%) pacientes sintomáticos apresentaram
deslocamento de disco articular em pelo menos uma articulação. Ambas as
articulações possuíam distúrbios intra-capsulares em 11 voluntários (14%) e 52
pacientes (51%). A presença de DDSR em pelo menos uma articulação foi
encontrada em dois voluntários (2,6%) e em 38 (37%) pacientes. Já a presença de
DDCR foi encontrada em uma ou ambas as articulações de 23 (30%) voluntários e
41 (40%) pacientes. Não foi observada diferença estatística significante entre os dois
55
grupos quanto ao tipo de deslocamento do disco articular. Entretanto, foi observada
probabilidade de 3,91 para DDCR em uma ou ambas as ATMs e de 42,71 para
DDSR em uma ou ambas as ATMs. Foi possível concluir que, apesar de haver uma
prevalência de 33% de deslocamento de disco articular em voluntários
assintomáticos, houve diferença estatística na prevalência do distúrbio intra-capsular
em indivíduos sintomáticos.
Tasaki et al. (1996) realizaram um estudo para propor uma classificação dos
tipos de deslocamento de disco articular e determinar sua prevalência em pacientes
e voluntários assintomáticos. A amostra constituiu de 300 indivíduos (243 pacientes
e 57 voluntários) que foram submetidos a exame por meio de RM. Baseado em
estudo anterior com secções anatômicas de ATMs, os autores puderam identificar
oito tipos de deslocamento de disco articular, além de uma nona categoria
indeterminada. O deslocamento do disco articular estava presente em 21% do grupo
assintomático, sendo que o deslocamento antero-lateral era o mais freqüente,
seguido pelo deslocamento anterior parcial localizado no pólo medial. Nos pacientes,
18% das articulações estavam normais, 24% apresentavam deslocamento unilateral
e 58% deslocamento bilateral, sendo os deslocamentos mais comuns o anterior e o
antero-lateral. Os outros tipos de deslocamento apresentaram distribuição
semelhante. Os autores observaram que a maior prevalência do deslocamento de
disco articular nos pacientes sintomáticos está relacionado a dor e DTM.
Cholitgul et al. (1997) descreveram os achados clínicos e de RM em
pacientes com deslocamento de disco articular. Uma amostra de 88 articulações
sintomáticas (51 pacientes) com suspeita de deslocamento do disco articular foi
avaliada. O achado clínico mais observado foi a presença de estalido (47 ATMs).
Dor foi relatada em 39 articulações. O DDCR foi encontrado em 39 articulações, o
56
DDSR foi encontrado em 31 articulações, os deslocamentos combinados (antero-
medial e antero-lateral) em 13 articulações e deslocamentos laterais em cinco
articulações. Em cerca de um quarto da amostra, observou-se alterações de forma
tanto no disco articular quanto na cabeça da mandíbula. Foi detectada a presença
de osteófito em 9 articulações e a presença de efusão articular em 19. Dos 14
pacientes com efusão, 6 apresentavam dor na região da ATM. Foi possível concluir
que as alterações ósseas e de tecidos moles podem ser mais encontradas em
pacientes com deslocamento anterior sem redução, e que a dor não é característica
de nenhum deslocamento específico.
Rammelsberg et al. (1997) determinaram a variabilidade da posição do disco
articular em voluntários assintomáticos e em pacientes com diagnóstico clínico de
deslocamento de disco articular através de imagens de RM. A amostra incluiu 119
pacientes com estalido recíproco ou limitação de movimento mandibular em uma ou
ambas articulações. Como apenas 56 pacientes tinham sintomas bilaterais, foram
analisadas um total de 175 ATMs. O grupo controle foi formado por 47 voluntários
assintomáticos. A posição do disco articular foi quantificada pelo ângulo formado
pela linha perpendicular ao plano de Frankfurt passando pelo centro da cabeça da
mandíbula e pela linha paralela a borda posterior do disco articular passando pelo
mesmo ponto no centro da cabeça da mandíbula. Foi avaliada a imagem medial que
melhor representasse o limite posterior do disco articular, cabeça da mandíbula, e a
fossa mandibular. Também foram escolhidas as imagens mais laterais com 4mm de
distância, 8mm de distância e 12mm de distância da primeira imagem. A posição do
disco articular variou consideravelmente em ATMs assintomáticas com tendência a
deslocamento anterior nas imagens mais laterais. De 52 ATMs com restrição de
mobilidade da cabeça da mandíbula, 47 (90%) estavam associadas ao DDSR. De
57
123 ATMs com estalido recíproco, 100 ATMs (81%) apresentaram DDSR. Os
resultados sugerem que a posição do disco articular em até +15
0
nas imagens
mediais e +30
0
nas imagens laterais representa uma variação da normalidade.
Com o objetivo de comparar imagens e determinar se o exame por meio de
RM pode identificar alterações intrínsecas do disco articular e do tecido retrodiscal,
Takaku et al. (1998) compararam achados pré-operatórios em RM e achados
histológicos em 11 pacientes (11 ATMs). Os pacientes apresentavam quadro de
disfunção crônica associado a deslocamento de disco articular sem perfuração e
sem resposta a tratamento conservador por quatro a seis meses, sendo
encaminhados para posterior realização de meniscectomia. O grupo controle era
constituído de 30 ATMs em 30 voluntários assintomáticos e de 12 discos articulares
e seus correspondentes tecidos retrodiscais de cadáveres humanos frescos. Foram
obtidas imagens sagitais corrigidas de 2mm de espessura em máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal, com bobina de superfície na
seqüência FISP-3D. A banda anterior e zona intermediária do disco articular
apresentaram baixo sinal na RM correspondente a feixes colagenosos densos que,
nos pacientes sintomáticos, possuíam suave degeneração hialina. Nestes pacientes,
a banda posterior apresentava sinal mais intenso, que correspondia, no exame
microscópico, a degeneração mixomatosa. Alterações edematosas foram
encontradas no tecido retrodiscal de sete articulações, tornando o limite entre a
banda posterior e o tecido retrodiscal indistinguíveis. A seqüência FISP-3D na RM
representou precisamente as alterações presentes no disco articular e tecido
retrodiscal.
Com o objetivo de comparar diferentes critérios de determinação da posição
do disco articular, Orsini et al. (1998) avaliaram imagens de RM de 137 pacientes e
58
23 voluntários e compararam com a avaliação clínica. Três observadores
interpretaram as imagens separadamente. Quatro critérios (10, 11, 12 horas e
posição da zona intermediária) foram testados em máxima intercuspidação habitual
e um critério (zona intermediária) foi testado em máxima abertura bucal com relação
a sua habilidade de definir posição normal e deslocamento anterior do disco
articular. Nas 46 articulações do grupo assintomático, o critério que compreendeu a
maior percentagem de diagnósticos de posição normal do disco articular foi o critério
da zona intermediária (93,5%). Os critérios baseados nos ponteiros de horas do
relógio obtiveram os seguintes resultados: 10 horas, 82,6%; 11 horas, 63%; e 12
horas, 39,1%. Resultados similares foram obtidos para o grupo sintomático. Em
ambos os grupos, a medida que o número de diagnósticos normais diminuía, a
percentagem de articulações com deslocamento anterior aumentava. Entretanto, os
casos de DDSR não sofreram influência do método avaliado. Foi possível concluir
que o método da zona intermediária é o critério mais confiável e o que permite o
menor número de diagnósticos falso-positivos quando o disco articular é observado
na imagem sagital corrigida em máxima intercuspidação.
Com o objetivo de determinar quais sinais e sintomas clínicos podem fornecer
uma predição válida do deslocamento de disco articular na ATM, Orsini et al. (1999)
realizaram um estudo com 137 pacientes com DTM e 23 voluntários assintomáticos.
O exame clínico de todos os indivíduos incluídos no estudo foi realizado pelo mesmo
examinador. Os parâmetros clínicos avaliados foram: dor à palpação muscular, dor à
palpação articular, limitação de movimento mandibular, presença de ruídos
articulares, desvio mandibular durante abertura e dor durante abertura mandibular.
Todos os indivíduos foram submetidos à exame por meio de RM, realizado em
equipamento de 1,5T, com aquisição de imagens sagitais corrigidas ponderadas em
59
T1 na seqüência fast spin-eco em posição de máxima intercuspidação habitual, e
imagens sagitais corrigidas ponderadas em DP na seqüência GE em posição de
máxima abertura bucal. Três avaliadores determinavam a posição do disco articular
de acordo com quatro critérios. Três critérios eram baseados na posição da banda
posterior do disco articular localizada em 12, 11 e 10 horas de acordo com ponteiros
de um relógio. O quarto critério era baseado na localização da zona intermediária do
disco articular entre a cabeça da mandíbula e o tubérculo articular. Na posição de
máxima abertura bucal, a posição normal do disco articular era determinada pela
localização da zona intermediária entre a cabeça da mandíbula e o tubérculo
articular. Os autores observaram que nenhum dos parâmetros clínicos avaliados
independentemente pode prever com total precisão o diagnóstico encontrado na
imagem, e que o uso combinado de parâmetros deve ser usado para aumentar a
previsibilidade clínica. O critério baseado na zona intermediária foi o que forneceu o
menor número de diagnósticos falso-positivo e falso-negativo.
Numa revisão de literatura que incluía 500 artigos científicos sobre ATM e dor
crônica, Goldstein (1999) abordou o diagnóstico, a conduta e o tratamento da DTM.
O diagnóstico da DTM se baseia numa avaliação da história do paciente e num
exame clínico minucioso que inclui a palpação muscular e articular, avaliação dos
movimentos mandibulares e da oclusão, e identificação de sons articulares, e
identificação de fatores psicológicos e de comportamento. Esta última avaliação tem
importância pois estaria diretamente relacionada ao sintoma de dor. Uma vez que
uma população de pacientes normais pode apresentar distúrbios intra-capsulares, a
necessidade de tratamento estaria diretamente relacionada a presença de dor.
Barclay et al. (1999) compararam o diagnóstico clínico com os resultados
obtidos por meio de RM. Uma avaliação clínica foi realiza em 78 articulações de 39
60
pacientes com DDCR em pelo menos uma articulação. Posteriormente, os pacientes
foram submetidos a exame por meio de RM. A concordância entre o diagnóstico
clínico e da imagem de RM foi de 53,8%. A maior discordância foi observada nas
articulações assintomáticas com diagnóstico clínico falso-negativo. O estudo
concluiu que a avaliação clínica apresenta valor limitado na determinação da real
posição do disco articular.
Milano et al. (2000) analisaram a prevalência do deslocamento de disco
articular e de deformidades vistas em RM em pacientes sintomáticos para DTM. Foi
realizado um estudo retrospectivo de 192 articulações em 98 pacientes que se
submeteram à exame por meio imagens sagitais e coronais corrigidas de RM, sendo
4 pacientes avaliados unilateralmente, em máxima intercuspidação habitual e
máxima abertura bucal. Os deslocamentos foram divididos em dois grupos: estático
(que compreendia os deslocamentos anterior, posterior, antero-lateral, antero-
medial, medial propriamente dito e lateral propriamente dito) e dinâmico (com
redução, sem redução, com redução incompleta e não determinado). As
deformidades de disco articular eram sub-divididas em espessamento da banda
posterior, formato bicôncavo reverso, biplanar (achatado) e biconvexo. Os autores
observaram que 80% dos pacientes apresentavam deslocamento bilateral, 15%
apresentavam deslocamento unilateral e 5% estavam em posição normal. O tipo de
deslocamento mais comum era o tipo anterior e os mais incomuns eram os
deslocamentos lateral e medial puros. Observou-se redução em 58% das
articulações, 26% não apresentavam redução e 4% tinham redução incompleta.
Redução não determinada totalizou 12%. Os deslocamentos combinados eram os
mais passíveis de redução. A deformidade mais encontrada foi a biplanar, e
espessamento da banda posterior o mais incomum. Os autores concluíram que há
61
uma alta prevalência de deslocamentos e deformidades do disco articular em
pacientes com DTM. Entretanto, essas alterações não parecem induzir dor, mas
podem predispor o surgimento de osteoartrose.
Larheim, Westesson e Sano (2001) realizaram um estudo com o objetivo de
comparar a prevalência e o tipo de deslocamento de disco articular em voluntários
assintomáticos e em pacientes. O estudo avaliou imagens sagitais e coronais
corrigidas de RM de 62 voluntários e 58 pacientes com sinais e sintomas de DTM
em uma ou ambas ATMs. A maioria dos pacientes sintomáticos (78%) apresentou
deslocamento de disco articular comparado com o grupo assintomático (35%). O
deslocamento completo do disco articular foi verificado em 46 (40%) das 116
articulações dos pacientes comparados com três (2,4%) das 124 articulações dos
voluntários, onde o deslocamento parcial ocorreu em 26 (22,6%) e 27 (21,8%)
ATMs, respectivamente. O deslocamento completo do disco articular mais
freqüentemente encontrado nos pacientes foi o tipo anterior e antero-lateral. O
deslocamento apresentou redução em todos os voluntários e em 76% dos pacientes.
Os autores concluíram que o deslocamento de disco articular é menos prevalente e
de tipo diferente nos voluntários assintomáticos quando comparado com pacientes
com dor e DTM.
Haiter-Neto et al. (2002) estudaram a aparência e o comportamento da zona
bilaminar em indivíduos sem sinais, sintomas ou história de DTM. Um grupo de 40
indivíduos foi submetido a exame por meio de RM de ambas as ATMs. Foram
obtidas imagens sagitais e coronais corrigidas, ponderadas em T1, nas posições de
máxima intercuspidação habitual e máxima abertura bucal. A posição normal do
disco articular foi observada em 33 (82,5%) pacientes, onde cinco apresentavam
deslocamento unilateral e dois deslocamento bilateral. A porção superior da zona
62
bilaminar pode ser identificada em todas as articulações, embora a porção inferior
tenha sido identificada em 54 ATMs (77,5%). Em todos os casos, a porção superior
da zona bilaminar se encontrava em contato com o teto da fossa mandibular durante
a abertura mandibular. Os autores concluiram que a avaliação de ambas as imagens
sagitais e coronais corrigidas são importantes na determinação da posição do disco
articular, e que a imagem coronal corrigida fornece informação complementar à
avaliação no plano sagital.
Em 2002, Emshoff et al. (2002) propuseram um estudo para avaliar a
prevalência de distúrbios intra-capsulares em pacientes sem diagnóstico clínico
específico DTM, porém com presença de dor articular. O estudo utilizou 177 ATMs
de pacientes que foram submetidos a uma avaliação clínica prévia e determinada a
ausência de distúrbios intra-capsulares segundo Truelove et al.
4
(1992, apud
EMSHOFF et al., 2002). Imagens sagitais e coronais corrigidas foram adquiridas por
meio de RM. A presença de distúrbios intra-capsulares foi encontrada em 55,9% das
ATMs avaliadas por RM. A análise dos resultados revelou que a presença de dor
articular está associada mais significativamente ao DDSR do que ao DDCR. Os
resultados sugerem que ATMs com ausência de DTM estão associadas a alta
prevalência de distúrbios intra-capsulares, e que nesses casos o parâmetro clínico
de dor pode não refletir o diagnóstico visto na imagem de RM. O estudo confirma
que os critérios de diagnóstico clínico constituem um instrumento não confiável para
prever o diagnóstico de DTM.
Taskaya-Yylmaz e Ogutchen-Toller (2002) estudaram 131 ATMs em
pacientes com DTM por meio de RM como avaliação complementar ao exame
clínico. O objetivo do estudo foi correlacionar dados clínicos com o distúrbio intra-
4
Truelove EL, Sommers EE, Leresche L, Dworkin SF, Von Korff M. Clinical diagnostic criteria for
TMD. New classification permits multiple diagnosis. J Am Dent Assoc 1992;123:47-54.
63
capsular observado na imagem. Os resultados demonstraram uma correlação entre
a presença de deslocamento do disco articular e sensibilidade à palpação do
músculo pterigóideo lateral. Das 77 articulações com DDCR que apresentavam
estalido durante a abertura mandibular, 32 (42%) tinham disco articular de aspecto
bicôncavo e 24 (30%) tinham disco articular de aspecto aplainado. As articulações
com DDSR possuíam disco articular de aspecto oval ou dobrado, e estavam mais
associadas a presença de creptação. O tipo de ruído articular apresentou correlação
significativa com o grau do deslocamento do disco articular. Discos articulares de
formatos oval ou dobrado causaram creptação, que era um sinal de estágio
avançado de DDCR. Quanto mais deformado o disco articular se apresentavam na
imagem de RM, sinais e sintomas clínicos mais definidos eram observados. Os
autores concluíram que os resultados observados em RM apresentam boa
correlação com dados clínicos.
Güller et al. (2003) correlacionaram os achados vistos em imagens de RM
com características clínicas de dor e ruído articular em pacientes com e sem hábito
de bruxismo. O estudo constituiu de pacientes diagnosticados clinicamente como
portadores de distúrbios intra-capsulares, sendo 64 pacientes (128 articulações) com
hábitos de bruxismo e 30 pacientes (60 articulações) sem hábito de bruxismo. O
deslocamento do disco articular foi confirmado pela RM em 102 ATMs do grupo com
bruxismo, sendo que 53 ATMs (52%) apresentavam DDCR e 49 ATMs (42%)
apresentavam DDSR. No grupo controle, 16 articulações apresentavam posição
normal do disco articular, 27 (61%) apresentavam DDCR e 17 (39%) DDSR.
Alterações ósseas na cabeça da mandíbula foram encontradas em 55% e 38% das
articulações com DDCR no grupo com e sem bruxismo, respectivamente. Nas ATMs
com DDSR, essas alterações foram observadas em 86% das articulações do grupo
64
com bruxismo e 24% das articulações do grupo controle. Pode-se observar
correlação estatística entre a presença de ruído articular e deslocamento com
redução. Foi encontrada uma forte relação entre dor e presença de efusão articular,
onde 30% das ATMs com DDSR no grupo com bruxismo apresentavam dor e 59%
das ATMs com dor no grupo controle possuíam hipersinal no espaço articular na
imagem ponderada em T2. Os autores concluíram que existe uma alta prevalência
de alterações ósseas em articulações com DDCR em pacientes com bruxismo.
Usumez, Oz e Guray (2004) realizaram um estudo com o objetivo de
comparar o diagnóstico clínico de pacientes com DTM com os resultados obtidos por
meio de RM. O exame clínico foi realizado em 40 pacientes sintomáticos e incluiu
avaliação dos movimentos mandibulares, palpação muscular e da ATM, e
auscultação da articulação. Posteriormente, os pacientes foram submetidos a exame
por meio de RM bilateral. Das 46 articulações diagnosticadas clinicamente como
tendo DDCR, 33 (72%) foram confirmadas pela RM, 10 (22%) estavam normais e
três (7%) apresentavam DDSR. 16 articulações foram clinicamente diagnosticadas
como apresentando DDSR, onde 13 (81%) foram confirmadas pela RM e três (19%)
possuíam DDCR na RM. Das 18 articulações normais clinicamente, 15 (83%)
apresentavam posição normal do disco articular na RM, duas (11%) tinham DDCR e
uma (6%) tinha DDSR. A avaliação clínica demonstrou uma precisão no diagnóstico
do distúrbio intra-capsular de 83% para articulações normais, 72% para o
diagnóstico de DDCR e 81% para o diagnóstico de DDSR. Houve concordância de
76% entre o diagnóstico clínico e o resultado obtido pela RM. Os resultados sugerem
que o deslocamento anterior do disco articular pode ser diagnosticado clinicamente
com considerável eficácia quando uma completa avaliação clínica é realizada.
65
Portanto, embora o exame de RM seja o “padrão ouro” na avaliação da DTM, nem
todos os pacientes necessitam realizar este exame previamente ao tratamento.
Kurita et al. (2005) estudaram as mudanças em longo prazo das alterações
degenerativas evidentes radiograficamente nos tecidos ósseos e nas estruturas
internas da ATM de pacientes com distúrbios intra-capsulares. Um grupo de 21
pacientes (33 articulações) foi incluído no estudo, sendo que 9 pacientes foram
submetidos a RM da ATM unilateral. Foram comparados os resultados das imagens
de RM e de tomografias convencionais obtidas no exame inicial e após pelo menos
46 meses de tratamento. As alterações avaliadas foram a posição e a morfologia do
disco articular, a angulação horizontal e a presença de alterações degenerativas na
cabeça da mandíbula, a morfologia do tubérculo articular e a presença de
reabsorção do pólo lateral da cabeça da mandíbula. O estudo observou que não
houve diferença estatística significante na posição do disco articular, embora cinco
articulações que apresentavam posição normal do disco articular passaram a ter o
disco articular deslocado. A morfologia do disco articular apresentou diferença
estatística significante, adquirindo uma deformidade. Não se observou diferença
estatística significante quanto aos outros critérios. Portanto, apesar dos sintomas
aliviarem com o tratamento, o disco articular continua a se adaptar e alterar sua
forma se estiver deslocado. Os autores concluíram que as alterações degenerativas
que ocorrem em pacientes com disfunção articular na fase aguda tendem a
estabilizar quando os sinais e os sintomas regridem embora a deformidade do disco
articular progrida.
Em 2005, Sener e Akgunlu (2005) avaliaram a correlação das alterações
observadas na imagem de RM com a presença de DDCR e DDSR. Uma amostra de
200 pacientes com sintomas de DTM foi clinicamente avaliada e submetida a exame
66
por meio de RM. O protocolo de aquisição das imagens incluiu a aquisição de
imagens sagitais e coronais corrigidas com 3mm de espessura, ponderadas em T1,
T2 e DP, nas posições de máxima intercuspidação habitual e máxima abertura
bucal. Foram incluídos no estudo 130 pacientes com DDCR e 45 pacientes com
DDSR que apresentaram o mesmo diagnóstico tanto no exame clínico quanto na
imagem de RM. As imagens de RM foram avaliadas quanto a posição, morfologia e
intensidade de sinal do disco articular, presença de alterações ósseas
degenerativas, efusão, necrose avascular, tecido cicatricial e hipermobilidade da
cabeça da mandíbula. Os achados de alterações osteoartriticas e efusão podiam ser
encontrados em ambos os tipos de distúrbios intra-capsulares, porém com
severidades diferentes. Enquanto que achados de RM tais como alteração na
intensidade de sinal do disco articular, deformidade do disco articular, tecido
cicatricial, necrose avascular e deslocamento rotacional eram mais freqüentes no
DDSR, a prevalência de subluxação era maior no DDCR. Estes resultados sugerem
que, à medida que a disfunção articular progride, o disco articular se torna mais
deformado, seu sinal altera e tecidos cicatriciais e necrose avascular se
desenvolvem.
Katzberg e Tallents (2005) realizaram uma avaliação das características da
imagem em RM do disco articular e do tecido retrodiscal da ATM de pacientes
sintomáticos e assintomáticos. A amostra constituiu de 61 voluntários assintomáticos
e 58 pacientes, que foram submetidos a exame por meio de RM da ATM bilateral.
Foram obtidas imagens orto-coronais e orto-sagitais de 3mm de espessura,
ponderadas em T1 e T2, na posição de máxima intercuspidação habitual, e imagens
orto-sagitais ponderadas em DP na posição de máxima abertura bucal. Os
resultados obtidos mostram que 20 (32,5%) voluntários e 45 pacientes (77,5%)
67
possuíam pelo menos uma ATM alterada. A deformidade do disco articular foi
observada em 34 (29,3%) articulações dos pacientes e duas (4%) articulações dos
voluntários. Foi possível observar uma região de maior intensidade de sinal na
banda posterior do disco articular nas imagens ponderadas em T1 em 13 (11,2%)
articulações dos pacientes e uma (0,8%) articulação dos voluntários. Nas imagens
ponderadas em T2, observou-se uma imagem de maior sinal em nove (7,8%)
articulações dos pacientes e em nenhuma articulação dos voluntários. Os resultados
mostraram correlação estatística entre dor e aumento de intensidade de sinal na
imagem ponderada em T2. A deformidade do disco articular estava associada ao
deslocamento anterior do disco articular e era mais prevalente quanto maior o grau
de deslocamento, como nos casos de DDSR. Além disso, o estudo mostrou haver
um aumento na intensidade de sinal da banda posterior observado na imagem
ponderada em T1 em pacientes com deslocamento ou deformidade do disco
articular. Os autores concluíram haver diferença estatisticamente significante entre o
disco articular e a zona retrodiscal em indivíduos sintomáticos e assintomáticos e
entre articulações normais e com distúrbios intra-capsulares.
Whyte et al. (2006) realizaram uma estudo para determinar a prevalência de
distúrbios intra-capsulares numa população com 144 pacientes com DTM por meio
de RM. Na amostra, 79% dos pacientes eram do gênero feminino e 21% eram do
gênero masculino. Dos 82,5% dos casos com deslocamento anterior de disco
articular, 59,5% apresentaram redução durante a abertura mandibular e 40,5% não
reduziram a posição normal. A percentagem de articulações com posição normal do
disco articular variou de 15% (ATM esquerda) a 20% (ambas os lados). O tipo de
deslocamento mais freqüente foi o deslocamento anterior (44%). O deslocamento
antero-lateral foi observado em 29% das articulações e o deslocamento antero-
68
medial foi encontrado em 6% das articulações. O deslocamento apenas lateral foi
incomum, sendo encontrado em apenas 4% dos casos (3% lateral e 1% medial). Foi
possível concluir que a avaliação da ATM por meio de RM deve ser realizada em
ambas as articulações mesmo que não haja sinais ou sintomas de DTM.
Ogura (2006) realizou um estudo para determinar se as alterações
encontradas na imagem de RM podem predizer a presença de dor durante os
movimentos de abertura ou fechamento mandibular. A amostra consistiu de 1252
ATMs com deslocamento de disco articular de 640 pacientes que realizaram exame
por meio de RM para detectar a presença de distúrbios intra-capsulares. Os
pacientes foram separados clinicamente em dois grupos de acordo com a presença
ou ausência de dor. Foram realizadas imagens sagitais corrigidas ponderadas em
DP nas posições de máxima intercuspidação habitual e máxima abertura bucal, e
imagens ponderadas em T2 na posição de máxima intercuspidação habitual. Foi
observada significativa relação entre presença de dor durante máxima abertura e
DDSR. Também foi observada relação entre dor durante movimento de abertura e
presença de fluído articular.
Limchaichana, Petersson e Rohlin (2006) realizaram uma revisão da literatura
de artigos científicos sobre a eficácia da RM na avaliação da ATM. Os artigos foram
avaliados de acordo com sua metodologia em determinar à eficácia, sensibilidade e
especificidade da imagem de RM. Dos 494 artigos encontrados, apenas 22 estavam
relacionados à proposta do estudo, sendo que nenhum foi considerado de alta
relevância, 12 apresentavam relevância moderada e 10 relevância baixa. Nenhum
artigo científico apresentou nível de evidenciação suficiente para determinar a
precisão de diagnóstico da RM. Doze artigos apresentaram nível de evidenciação
moderado. Os artigos científicos selecionados relataram sensibilidade e
69
especificidade de 0,86 e 0,63, respectivamente, das imagens sagitais corrigidas em
identificar a posição do disco articular. Na identificação do deslocamento anterior, a
sensibilidade e especificidade das imagens sagitais corrigidas foi de 0,87 e 0,59,
respectivamente, e das imagens coronais corrigidas foi de 0,80 e 0,92,
respectivamente. A especificidade das imagens sagitais corrigidas em determinar a
morfologia do disco articular foi baixa (0,50). Os autores puderam concluir que as
evidências existentes cientificamente são insuficientes para determinar a precisão de
diagnóstico da RM, e que são necessários artigos científicos que se baseiem em
metodologia adequada.
70
3 PROPOSIÇÃO
O objetivo deste estudo visa:
1. Comparar dois métodos utilizados para a determinação da posição do disco
articular da ATM em máxima intercuspidação habitual, por meio de imagens
sagitais corrigidas de RM em pacientes sintomáticos para disfunção articular.
2. Avaliar a correlação da hipótese de diagnóstico clínico com os métodos de
localização do disco articular.
71
4 CASUÍSTICA-MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Casuística-material
O material constou de 20 indivíduos adultos considerados clinicamente
sintomáticos para DTM pertencentes à Clínica de Disfunção Mastigatória da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Anexo A). A
seqüência de recrutamento seguiu a mesma seqüência da ordem da fila de espera
por atendimento, sendo o paciente recrutado à medida que havia abertura de vaga
para tratamento. O grupo constou de 17 indivíduos do gênero feminino e três
indivíduos do gênero masculino, faixa etária de 15 a 60 anos (média de idade de 33
anos), totalizando 40 ATMs avaliadas. A seleção dos pacientes foi realizada
seguindo critérios que excluíam a possibilidade da origem do quadro de DTM ter
sido oriunda de procedimentos anteriores como tratamentos oclusais, cirurgias,
traumatismos, tratamento ortodôntico, próteses totais ou desequilíbrio oclusal pela
ausência de mais de cinco elementos dentários. Também foram excluídos do estudo
pacientes já tratados previamente para DTM. Não houve distinção de etnia ou sexo.
Todos os pacientes foram devidamente informados e/ou esclarecidos sobre a
pesquisa, conforme o documento “Termo de Livre Consentimento Esclarecido”
(BRASIL, 1996) (Apêndice A), e o trabalho obteve aprovação do Comitê de Ética e
Pesquisa (Anexo B e C).
72
4.2 Método
Previamente ao exame clínico, os pacientes preencheram um questionário de
sintomas clínicos para obtenção do índice de disfunção anamnético como proposto
por Pullinger e Monteiro (1988) (Anexo D). De acordo com este índice, o paciente
era classificado ou não como sintomático para DTM.
4.2.1 Exame subjetivo e Exame clínico
O exame subjetivo e o exame clínico foram registrados em ficha clínica no
prontuário do paciente, visando uma seqüência lógica que padronizasse a
metodologia empregada para o exame (Anexo E, F e G). Todos os pacientes foram
examinados clinicamente pelo mesmo profissional.
O exame subjetivo foi realizado por meio de um questionário preenchido pelo
profissional, contendo informações sobre a queixa principal, características da dor
atual e história pregressa do paciente.
No exame clínico, foi realizada a palpação extra-oral dos músculos temporal,
masséter, digástrico, esternocleidomastóideo, trapézio e cervical posterior, e a
palpação intra-oral do tendão do músculo temporal e dos músculos pterigóideo
medial e lateral.
Durante o exame intra-oral, avaliou-se a dentição quanto à ausências
dentárias, oclusão cêntrica, presença de maloclusões, dinâmica dos movimentos
73
mandibulares, mobilidade dentária e edentação da língua ou da mucosa. Também
foram avaliados os movimentos de abertura e fechamento mandibular, além dos
movimentos excursivos anterior e laterais.
Para o exame da ATM, foi realizada a auscultação com estetoscópio
Lightweight (LittmannTM) e a palpação lateral e dorsal da articulação.
Após a coleta dos dados, foi formulada uma hipótese de diagnóstico para
ausência ou presença de deslocamento do disco articular em cada articulação.
4.2.2 Exame de Ressonância Magnética
Os pacientes selecionados foram submetidos a exame de Ressonância
Magnética da ATM bilateralmente, com o uso de bobina de superfície. Os exames
foram realizados utilizando-se o aparelho Airis II (Hitashi®) de 0,3T (Figura 4.1), da
Clínica CT-Scan, cedido pelo diretor médico Dr. Luiz Alberto M. de Souza (Anexo H).
O paciente era posicionado em decúbito dorsal, com o Plano Sagital Mediano
paralelo ao Plano Horizontal e com o Plano de Reidh (Plano orbito-meatal)
perpendicular ao Plano Horizontal.
Como protocolo de exame, foi realizada seqüência SE para obtenção de
imagens sagitais corrigidas (perpendiculares ao longo eixo do côndilo) e ponderadas
em T1, em posição de máxima intercuspidação habitual, com espessura de 3,0mm e
intervalo de 0,5mm. Posteriormente, foi realizada seqüência GE para obtenção de
imagens coronais corrigidas (paralelas ao longo eixo do côndilo) e ponderadas em
DP, posição de máxima intercuspidação habitual, com espessura de 3,0mm e
74
intervalo de 0,5mm. Em seguida, foi realizada nova seqüência GE para aquisição de
imagens sagitais corrigidas e ponderadas em DP, em posição de máxima
intercuspidação habitual e máxima abertura bucal, com espessura de 3,0mm e
intervalo de 3,5mm.
Figura 4.1 - Fotografia do aparelho Airis II (Hitashi®), cedido pela Clínica CT-
Scan para a realização dos exames de RM
Os parâmetros técnicos para cada seqüência aplicada foram:
Spin-eco (Máxima intercuspidação habitual - T1):
Matriz 1024 x 1024
TR 450ms
TE 20ms
FOV 170mm
75
Espessura 3,0mm / Incremento 0,5mm
Tempo de aquisição 4min 48 seg
6 aquisições de cada articulação
Gradinte-eco (Máxima intercuspidação habitual - DP):
Matriz 1024 x 1024
TR 380ms
TE 14ms
FOV 150mm
Espessura 3,0mm / Incremento 0,5mm
Tempo de aquisição 2min 26 seg
4 aquisições de cada articulação
Gradiente-eco (Máxima abertura bucal - DP):
Matriz 1024 x 1024
TR 200ms
TE 18ms
FOV 170mm
Espessura 3,0mm / Incremento 3,5mm
Tempo de aquisição 51 seg
3 aquisições de cada articulação
A manipulação do aparelho de RM foi realizada pelo mesmo técnico em todos
os exames, sempre acompanhado e seguindo orientações de um mesmo cirurgião-
dentista especialista em Radiologia Odontológica e com experiência em
76
Ressonância Magnética. As imagens foram impressas em película fotográfica de
impressão à laser medindo 35cm x 43cm, marca Kodak.
4.2.3 Padronização das leituras
As imagens de RM foram analisadas por três examinadores especialistas em
Radiologia Odontológica com média de 10 anos de experiência em Ressonância
Magnética. Foi selecionada uma imagem sagital corrigida ponderada em T1 que
melhor representasse as estruturas internas da articulação, totalizando 40 imagens
selecionadas. A interpretação das imagens foi feita em condições de “simples cega”,
isto é, as imagens foram identificadas por códigos ocultando assim a identificação do
paciente para que não fossem feitas correlações com os dados clínicos. Os
examinadores realizaram a interpretação das imagens em duas ocasiões diferentes,
com intervalo de 40 dias entre elas.
Os examinadores foram orientados a realizarem dois traçados em cada
imagem, utilizando o programa MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc.)
(Figura 4.2), cedido pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC),
Petrópolis, Rio de Janeiro. As imagens foram escaneadas em tons de cinza com
resolução de 400dpi, utilizando o escaner HP Scanjet 4890 (Helwet Packart®) e
arquivadas em formato JPEG.
77
Figura 4.2 - Imagem de apresentação do programa MicroStation versão 8.1 (Bentley
Systems, Inc.)
Os traçados foram realizados para determinar a posição ântero-posterior do
disco articular de acordo com os seguintes métodos:
- Método 1: posição da banda posterior do disco articular de acordo com o
ponteiro de horas de um relógio (Figura 4.3);
Figura 4.3 - Banda posterior do disco articular localizada na posição de 12 horas de acordo
com o ponteiro de horas de um relógio. Modificado de Orsini et al. (1998)
78
A Figura 4.4 ilustra a aplicação do Método 1 na imagem de RM por meio do
programa MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc.).
Figura 4.4 - Aplicação do Método 1 na imagem de RM por meio do programa
MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc.)
- Método 2: posição da zona intermediária do disco articular em relação a uma
linha reta imaginária passando pelo centro da cabeça da mandíbula e do tubérculo
articular (Figura 4.5).
Figura 4.5 - A localização da zona intermediária do disco articular é determinada em
relação a uma linha reta imaginária que passa pelo centro da cabeça da
mandíbula e do tubérculo articular. Modificado de Orsini et al. (1998)
79
A Figura 4.6 ilustra a aplicação do Método 2 na imagem de RM por meio do
programa MicroStation versão 8.1 (Bentley Systems, Inc.).
Figura 4.6 - Aplicação do Método 2 na imagem de RM por meio do programa MicroStation
versão 8.1 (Bentley Systems, Inc.)
A posição do disco articular foi definida como normal ou como deslocada
anteriormente de acordo com cada um dos métodos descritos.
80
5 RESULTADOS
A amostra constituiu de 20 pacientes com sintomas de DTM, sendo 17
indivíduos do gênero feminino e três indivíduos do gênero masculino, totalizando 40
ATMs avaliadas. A faixa etária variou de 15 a 60 anos (média de idade de 33 anos).
Os Apêndices B, C e D apresentam, respectivamente, as hipóteses de diagnóstico
obtidas pelo exame clínico e os resultados da primeira e da segunda avaliação das
imagens pelos examinadores de acordo com cada método.
5.1 Análise dos métodos
Para análise estatística dos dados, os resultados obtidos em cada método
pelos três examinadores foram sintetizados em um resultado final. Neste caso, para
determinar se a articulação apresentava deslocamento anterior do disco articular,
pelo menos dois examinadores deveriam identificar o disco articular em posição
anterior. A Tabela 5.1 apresenta os erros padrão, os desvios padrão e as proporções
da primeira avaliação. O Gráfico 5.1 representa os resultados obtidos pelos dois
métodos e pelo exame clínico na primeira avaliação.
81
Tabela 5.1 - Dados categorizados obtidos pela primeira avaliação
Posição
anterior
Posição
normal
Proporção DP EP Total
Exame clínico 11 29 0,275 0,452 0,071 40
Método 1 21 19 0,525 0,506 0,080 40
Método 2 12 28 0,300 0,464 0,073 40
DP = Desvio padrão; EP = Erro padrão
0
5
10
15
20
25
30
Método 1 Método 2 Exame clínico
Posição normal
Posição anterior
Gráfico 5.1 - Número de articulações com disco articular em posição normal e em posição anterior
obtidos pelos dois métodos e pelo exame clínico, de acordo com a primeira avaliação
Foi aplicado o teste de Cochrane para determinar se pelo menos um dos
diagnósticos apresenta resultados discrepantes entre os demais, sendo obtido o
valor de Q
2
= 14 e p = 0,0018. Como esta análise apresentou significância
estatística, foram realizadas comparações dois a dois entre os três métodos de
avaliação. Para esta análise, foi utilizado o teste de McNemar e os resultados estão
demonstrados da Tabela 5.2.
82
Tabela 5.2 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p
para cada uma das comparações entre os métodos
a) Método 1
sim não
sim 12 0 Q
2
= 7,11
Método 2
não 9 19 p = 0,77%
b) Método 1
sim não
sim 10 1 Q
2
= 6,75
Exame
clínico
não 11 18 p = 0,94%
c) Método 2
sim não
sim 9 2 Q
2
= 0,17
Exame
clínico
não 4 25 p = 68,31%
Os resultados da segunda avaliação foram sintetizados de acordo com o
mesmo critério utilizado na primeira avaliação, e os desvios padrão, erros padrão e
as proporções desta avaliação são demonstrados na Tabela 5.3. O Gráfico 5.2
representa os resultados obtidos pelos dois métodos e pelo exame clínico na
segunda avaliação.
Tabela 5.3 - Dados categorizados obtidos pela segunda avaliação
Posição
anterior
Posição
normal
Proporção DP EP Total
Exame clínico 11 29 0,275 0,452 0,071 40
Método 1 19 21 0,475 0,506 0,080 40
Método 2 13 27 0,335 0,464 0,075 40
DP = Desvio padrão; EP = Erro padrão
83
0
5
10
15
20
25
30
Método 1 todo 2 Exame clínico
Posição normal
Posição anterior
Gráfico 5.2 - Número de articulações com disco articular em posição normal e em posição anterior
obtidos pelos dois métodos e pelo exame clínico, de acordo com a segunda avaliação
Foi aplicado novamente o teste de Cochrane, sendo obtido o valor de Q
2
= 9,5
e p = 0,018. O teste de McNemar também foi aplicado em comparações dois a dois,
e seus resultados são observados na Tabela 5.4.
Tabela 5.4 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p
para cada uma das comparações entre os métodos
a) Método 1
sim não
sim 13 0 Q
2
= 4,17
Método 2
não 6 21 p = 4,12%
b) Método 1
sim não
sim 10 1 Q
2
= 4,90
Exame
clínico
não 9 20 p = 2,69%
c) Método 2
sim não
sim 9 2 Q
2
= 0,17
Exame
clínico
não 4 25 p = 68,31%
84
As Tabelas 5.2 e 5.4 mostram que, para um nível de significância de 5%, há
diferença estatística entre o Método 1 e os demais métodos e não há diferença
estatística entre o Método 2 e o exame clínico. Portanto, a primeira e a segunda
avaliação apresentam resultados semelhantes.
O Gráfico 5.3 demonstra o número de articulações com disco articular em
posição anterior obtido pelos dois métodos e pelo exame clínico em ambas as
avaliações.
0
5
10
15
20
25
1ª Avaliação 2ª Avaliação
Método 1
Método 2
Exame clínico
Gráfico 5.3 - Número de articulações com disco articular em posição anterior obtido pelos dois
métodos e pelo exame clínico em ambas as avaliações
A comparação entre os dados demonstra que a concordância dos resultados
do Método 1 e do Método 2 é de 77,5% (EP=6,7%), sendo que o Método 1 e o
exame clínico apresentam concordância de 70,0% (EP=7,3%) e o Método 2 e o
exame clínico apresentam concordância de 87,5% (EP=5,3%).
85
5.2 Avaliação inter-examinador
Com a finalidade de determinar se há ou não discrepância entre os três
avaliadores, foi aplicado o teste de Cochrane com os resultados obtidos pelos três
avaliadores para o Método 1. Nos dados obtidos pela primeira avaliação, foram
encontrados quatro resultados diferentes, porém foi encontrado Q
2
de 0,5 (p = 0,78)
indicando que não há diferença estatisticamente significante entre os três
examinadores para o Método 1. Também não foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre os três examinadores para o Método 2.
O teste de Cochrane foi novamente aplicado nos dados da segunda avaliação
para determinar se há ou não discrepância entre os três avaliadores. No Método 1,
foram encontrados cinco resultados diferentes. Foi obtido um valor Q
2
de 1,6 (p =
0,45), indicando não haver diferença estatisticamente significante entre os três
examinadores para o Método 1. Também não foi encontrada diferença
estatisticamente significante entre os três examinadores para o Método 2.
5.3 Avaliação intra-examinador
O teste de McNemar foi utilizado para verificar se houve discrepância
significativa entre os resultados dos examinadores nas duas ocasiões de avaliação.
As Tabelas 5.5, 5.6 e 5.7 apresentam a análise dos resultados dos Métodos 1
e 2 pelos três examinadores.
86
A Tabela 5.5 apresenta quatro resultados diferentes entre a primeira e a
segunda avaliação pelo Método 1. Porém, não há diferença estatisticamente
significante entre estas avaliações (p = 61,71%). Entretanto, pelo Método 2, não há
nenhum resultado diferente entre as duas avaliações.
Tabela 5.5 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p
para o examinador A em relação ao Método 1 e ao
Método 2
Método 1 Avaliação 1
sim não
sim 18 2 Q
2
= 0,25
Avaliação 2
não 2 18 p = 61,71%
Método 2 Avaliação 1
sim não
sim 13 0 Q
2
= 0
Avaliação 2
não 0 27 p = 0
Tabela 5.6 apresenta apenas um resultado diferente no Método 1, não
havendo discrepância entre as duas avaliações (p = 0,001). Pelo Método 2,
observam-se dois resultados discrepantes entre a primeira e a segunda avaliação.
Porém, não há diferença estatisticamente significante (p = 47,95%).
Tabela 5.6 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p
para o examinador B em relação ao Método 1 e ao
Método 2
Método 1 Avaliação 1
sim não
sim 20 0 Q
2
= 0
Avaliação 2
não 1 19 p = 100%
Método 2 Avaliação 1
sim não
sim 12 1 Q
2
= 0,50
Avaliação 2
não 1 26 p = 47,97%
87
Na Tabela 5.7, não se observa resultados discrepantes nas duas avaliações
pelo Método 1. Pelo Método 2, há apenas um resultado discrepante, não havendo
diferença estatisticamente significante entre as avaliações (p=100%).
Tabela 5.7 - Testes de McNemar com respectivos valores de Q
2
e p para
o examinador C em relação ao Método 1 e ao Método 2
Método 1 Avaliação 1
sim não
sim 20 0 Q
2
= 0
Avaliação 2
não 0 20 p = 0
Método 2 Avaliação 1
sim não
sim 12 1 Q
2
= 0,50
Avaliação 2
não 0 27 p = 100%
88
6 DISCUSSÃO
Distúrbios intra-capsulares constituem alterações no relacionamento
anatômico normal entre o disco articular e a cabeça da mandíbula. O deslocamento
anterior do disco articular tem sido associado a sinais e sintomas de DTM. Na
literatura, Harms et al. (1985), Katzberg et al. (1985) e Marguelles-Bonnet et al.
(1995) descrevem o deslocamento anterior do disco articular pela localização da
banda posterior do disco articular em posição anterior a de 12 horas.
Entretanto, outros autores observaram que o deslocamento do disco articular
pode ser visto em voluntários assintomáticos de acordo com este método. Katzberg
et al. (1996) observaram prevalência de distúrbios intra-capsulares em 33% dos
indivíduos assintomáticos. Outro estudo realizado por Tasaki et al. (1996) obteve
uma prevalência de 21%. No estudo de Larheim, Westesson e Sano (2001) foi
observada prevalência de 35%. Essa constatação gerou um questionamento sobre
qual posição do disco articular deveria ser considerada uma posição anômala.
De acordo com Fullerton (1987), Harms et al. (1984), Westbrook e Kaut
(2000) e White e Pharoah (2004), a RM é uma modalidade de diagnóstico por
imagem capaz de demonstrar estruturas de tecido mole, pois seu princípio de
formação da imagem está baseado no comportamento de prótons de hidrogênio
corporais quando submetidos a fortes campos magnéticos. Katzberg et al. (1985)
observaram que alterações nas estruturas internas da ATM podem ser visibilizadas
por meio de RM. Crowley et al. (1996), comparando imagens sagitais corrigidas de
RM da ATM com a secção correspondente da peça anatômica, encontraram grande
correlação entre a imagem e as estruturas observadas na peça anatômica,
89
afirmando que a RM é um método bastante preciso na identificação da posição do
disco articular.
Outros estudos confirmaram a precisão da RM quando comparadas às peças
anatômicas seccionadas. Westesson et al. (1987b) encontram precisão de 73% na
determinação da posição do disco articular, 60% na determinação da morfologia do
disco articular e 60% na detecção de alterações ósseas. Em estudo semelhante,
Hansson et al. (1989) observaram precisão de 85%, 77% e 100% para identificação
da localização, da forma e de alterações ósseas das superfícies articulares,
respectivamente. Tasaki e Westesson (1993) obtiveram valores maiores, relatando
uma precisão de 95% da RM em detectar a posição e a forma do disco articular e de
93% em determinar alterações ósseas. Na comparação entre RM e criossecção,
Westesson et al. (1987a) observaram precisão de 73%, sensibilidade de 86% e
especificidade de 63% em demonstrar a posição do disco articular. Na correlação
entre achados cirúrgicos e imagens de RM, Harms et al. (1985) foram capazes de
confirmar corretamente todos os diagnósticos observados por meio de RM. Barclay
et al. (1999) encontraram sensibilidade de 78% da RM para identificar o DDSR.
Entretanto, de acordo com Limchaichana, Petersson e Rohlin (2006), que
realizaram uma revisão da literatura sobre a eficácia da RM na avaliação da ATM,
nenhum artigo científico apresentou nível de evidenciação suficiente para determinar
a precisão de diagnóstico da RM, havendo a necessidade de estudos que
apresentem metodologia adequada para esta determinação.
No presente estudo, dois métodos de localização do disco articular foram
comparados para determinar a existência de resultados discrepantes entre eles.
Posteriormente, uma segunda comparação entre ambos os métodos e o diagnóstico
clínico foi realizado com a proposta de identificar qual método estaria mais
90
compatível com a avaliação clínica, e, portanto, resultaria num menor número de
falsos diagnósticos.
Diferenças inter-examinadores durante a avaliação de imagens de RM são
comuns de ocorrer e podem influenciar significativamente no diagnóstico da doença.
Portanto, a consistência de cada avaliador foi investigada pela comparação de seus
desempenhos nos diagnósticos obtidos em intervalos de tempo entre os momentos
de avaliação das imagens. A experiência profissional de cada examinador dispensou
treinamento prévio dos mesmos. Foi utilizado um o programa de computação para a
realização dos traçados, o que minimizou a existência de variações que são
operador-dependente. A constatação de uma homogeneidade entre as análises dos
três examinadores excluiu a possibilidade de discordância inter-examinador,
demonstrando a reprodutibilidade dos resultados.
Os pacientes da amostra foram selecionados de acordo com a mesma
seqüência da ordem da fila de espera para tratamento, desde que não
preenchessem os critérios de exclusão. Esta medida foi adotada de maneira a tentar
representar, de forma mais fiel possível, a população de pacientes sintomáticos em
busca de tratamento.
A comparação entre o método dos ponteiros de horas de um relógio com o
método da zona intermediária mostrou haver diferença estatística significante entre
seus respectivos resultados. O método dos ponteiros de horas de um relógio
identificou o disco articular em posição anterior em 21 articulações (52,5%) contra 12
articulações (30,0%) com deslocamento anterior pelo método da zona intermediária
na primeira avaliação. O mesmo ocorre na segunda avaliação, onde o primeiro
método também resulta em maior número de articulações com deslocamento
anterior do disco articular (47,5%) em comparação com o método da zona
91
intermediária (32,5%). Esta análise pode sugerir que o Método 1 incorre num maior
números de casos com deslocamento anterior do disco articular que o Método 2,
produzindo maior número de diagnósticos falso-positivos, ou que o Método 2 tem
menor sensibilidade em detectar o deslocamento anterior do disco articular,
produzindo maior número de diagnósticos falso-negativos. Na análise estatística
pelo teste de McNemar, observa-se que, para um nível de significância de 5%, há
diferença estatística entre os dois métodos.
A razão de considerarmos o método da zona intermediária como um critério
mais apropriado de avaliação advém de alguns fatos. Primeiramente, seus
resultados se mostraram mais compatíveis com a avaliação clínica. Segundo, este
método não se baseia na posição da banda posterior somente, e sim se o disco
articular está localizado entre as superfícies articulares ativas da cabeça da
mandíbula, da fossa mandibular e do tubérculo articular.
Nossos resultados corroboram os achados observados por Orsini et al.
(1998). Os autores também realizaram estudo comparativo entre o método da zona
intermediária e o método do ponteiro de horas de um relógio, onde também foi
encontrada diferença estatisticamente significante entre os métodos. Das 46
articulações utilizadas para o estudo, 28 articulações (60,9%) foram identificadas
com o disco articular em posição anterior e 18 articulações (39,1%) foram
consideradas normais pelo método dos ponteiros de horas de um relógio. O método
da zona intermediária identificou 43 articulações (93,5%) normais e 3 articulações
(6,5%) com deslocamento anterior do disco articular. Os autores consideraram o
método da zona intermediária como o melhor método de avaliação, pois foi o método
que gerou o menor número de casos falso-positivos, reduzindo também freqüência
de distúrbios intra-capsulares em indivíduos assintomáticos.
92
Esta observação apresenta concordância com o estudo realizado por
Rammelsberg et al. (1997), que estudaram 47 pacientes assintomáticos por meio de
RM das ATMs. Em seu trabalho, os autores observaram que a média de localização
da banda posterior do disco articular em pacientes assintomáticos varia de -5
0
a
+10
0
anterior em relação à posição de 12 horas de um relógio. Como resultado, a
localização da banda posterior em posição de 11 horas poderia ser considerada
dentro dos padrões de normalidade. Este fato sugere que uma percentagem de
articulações normais possui a banda posterior do disco articular em posição anterior
a de 12 horas. Assim, podemos imaginar que, dependendo do comprimento do disco
articular, esta localização da banda posterior em 11 horas se assemelha a posição
do disco articular observado pelo método da zona intermediária.
Drace e Enzmann (1990), avaliando uma amostra somente de indivíduos
assintomáticos, observaram que a posição do disco articular é mais bem avaliada na
posição de máxima intercuspidação habitual do que de boca semi-aberta. Segundo
seu estudo, para ser considerada em posição normal, a localização da posição da
banda posterior do disco articular não deve estar a mais do que 10
0
da posição de
12 horas. Portanto, a posição normal da junção da banda posterior com a zona
bilaminar está situada 10
0
anterior a posição de 12 horas. Semelhante observação
foi encontrada por Tasaki et al. (1996). Num estudo para classificar os tipos de
distúrbios intra-capsulares, os autores não usaram o método do relógio. O
posicionamento era considerado normal quando o disco articular se encontrava
interposto entre as superfícies articulares. Nos indivíduos assintomáticos da
amostra, observaram que nos casos classificados como em posição normal, nem
todas as bandas posteriores se encontravam em 12 horas, e sim em posição
ligeiramente anterior.
93
Outros autores, Tasaki e Westesson (1993), observaram que em alguns
casos, mesmo onde a banda posterior está localizada anteriormente a posição de 12
horas, a zona intermediária estava localizada entre a porção posterior do tubérculo
articular e proeminência anterior da cabeça da mandíbula.
A interpretação do conjunto de imagens sagitais corrigidas de uma articulação
possibilita uma interpretação tridimensional da localização do disco articular articular
em toda sua extensão. A existência de deslocamentos incompletos, onde apenas
uma porção medial ou lateral do disco articular se apresenta deslocada e a outra
está em posição normal, só pode ser identificada por aquisições sagitais de RM
quando este tipo de análise é realizado. Segundo Milano et al. (2000), os
deslocamentos parciais são mais difíceis de se identificar, pois combinam posições
normal e alterada na mesma articulação.
Katzberg et al. (1988) observaram que, em deslocamentos no sentido medial
ou lateral, não é possível se observar a imagem do disco articular no corte sagital do
lado oposto, dando uma aparência de “fossa mandibular vazia”. Seus resultados
mostraram que os deslocamentos rotacionais antero-mediais e os deslocamentos
medias verdadeiros são mais comuns do que os deslocamentos rotacionais antero-
lateriais e os deslocamentos laterais verdadeiros. O estudo realizado por Kerstens et
al. (1989) também encontrou a aparência de “fossa mandibular vazia” presente nos
deslocamentos no sentido medio-lateral. Schwaighofer et al. (1990) também
relataram maior prevalência de deslocamentos no sentido antero-medial. Já Sener e
Akgunlu (2004) relataram maior prevalência de deslocamentos no sentido medial.
Outros autores observaram resultados divergentes. Matsuda, Yoshimura e Lin
(1994) observaram que 20,8% das articulações apresentavam um componente de
deslocamento no sentido medio-lateral, sendo que o deslocamento lateral era mais
94
freqüente do que o medial. Larheim, Westesson e Sano (2001) encontraram maior
prevalência do deslocamento anterior completo, seguido pelo deslocamento antero-
lateral em indivíduos sintomáticos. O deslocamento parcial foi mais comum em
voluntários, onde a posição mais freqüente foi a superior. O mesmo foi visto por
Emshoff et al. (2002), Milano et al. (2000) e Whyte et al. (2006), sendo que este
último encontrou prevalência de 44% para o deslocamento anterior completo e 29%
para o deslocamento antero-lateral.
Estudos têm determinado que o deslocamento seria causado pelo aumento
da pressão intra-articular, levando o disco articular a deslocar para a região de
menor resistência física. Esta hipótese é apoiada por Katzberg et al. (1996), que
observaram maior freqüência de deslocamento anterior em população assintomática.
Segundo os autores, a direção anterior teria menor resistência e seria facilitada
durante os movimentos mandibulares, uma vez que as porções medial e lateral são
mais resistentes pela presença da cápsula articular e dos ligamentos articulares.
Milano et al. (2000) também estipulam que a direção anterior teria menor resistência
durante os movimentos mandibulares, e que as porções medial e lateral seriam mais
resitentes. Whyte et al. (2006) associam uma maior prevalência de deslocamentos
laterais do que mediais devido a pouca resistência da cápsula articular na porção
lateral, que é facilmente distendida. Além disso, há uma maior pressão no sentido
lateral durante o movimento mastigatório. A porção medial da cápsula articular seria
fortalecida pela inserção do músculo pterigóideo lateral.
Entretanto, o presente estudo utilizou para a avaliação dos métodos apenas
uma imagem sagital corrigida que melhor representava o disco articular e sua banda
posterior. Esta metodologia foi adotada uma vez que a proposta era de comparar
dois métodos de localização do disco articular no sentido antero-posterior, o que
95
seria mais bem realizado pela imagem que melhor representasse esta estrutura.
Neste caso, não houve nenhum intuito de se determinar deslocamentos medio-
laterais. Outro fator levado em consideração foi a maior prevalência de
deslocamentos anteriores relatado na literatura. Os deslocamentos rotacionais, onde
há a associação de deslocamento no sentido anterior com deslocamento no sentido
medio-lateral, apresentariam localização anterior do disco articular em todas as
imagens sagitais corrigidas.
A avaliação da posição do disco articular da ATM por meio de RM é realizada
utilizando-se principalmente aquisições sagitais. Contudo, sabe-se que o uso
combinado de imagens sagitais corrigidas com imagens coronais corrigidas de RM
aumenta a precisão do diagnóstico deste método. Brooks e Westesson (1993)
observaram que a utilização de imagens coronais corrigidas reduziu a incidência de
diagnósticos falso-positivos e falso-negativos, modificando o diagnóstico obtido
somente por aquisições sagitais em 11% dos casos. Tasaki e Westesson (1993)
obtiveram resultado semelhante, onde o uso de imagens coronais corrigidas evitou
diagnósticos falso-negativos em 13% dos casos. Schwaighofer et al. (1990)
demonstraram que as imagens coronais corrigidas identificaram a correta posição do
disco articular em 77% dos casos em relação à peça anatômica seccionada. A
combinação de imagens sagitais e coronais corrigidas aumentou a precisão do
diagnóstico para 86%. Também afirmaram que a RM pode identificar corretamente o
disco articular em articulações normais e alteradas, com exceção dos casos com
doença degenerativa severa. Matsuda, Yoshimura e Lin (1994) observaram que as
aquisições coronais e sagitais são complementares. Katzberg et al. (1988) encontrou
uma precisão de 83% das aquisições coronais e sagitais de RM em identificar a
posição do disco articular. Os autores afirmam que as aquisições coronais podem
96
determinar melhor a real posição do disco articular uma vez que se pode encontrar
deslocamentos laterais propriamente ditos sem a presença de deslocamento
anterior.
O presente estudo não levou em consideração os achados vistos por meio de
imagens coronais corrigidas da ATM. A utilização de somente imagens sagitais
corrigidas favorece o aparecimento de diagnósticos falso-positivos e falso-negativos
uma vez que os deslocamentos anteriores incompletos e as rotações não são
considerados. O Método 1 foi o que mais originou diagnósticos falso-positivos
quando comparado com o exame clínico, resultando em 11 casos (27,5%) na
primeira avaliação e 9 casos (22,5%) na segunda. Já o Método 2 resultou em 4
casos em ambas avaliações (10%). Entretanto, ambos os métodos originaram
números semelhantes de diagnósticos falso-negativos, sendo 1 caso (2,5%) para o
Método 1 e 2 casos (5,0%) para o Método 2. Portanto, a associação dos achados de
aquisições coronais aos resultados observados nas imagens sagitais corrigidas pelo
Método 2 pode tornar este método ainda mais sensível na identificação do
deslocamento anterior, aumentando sua predição no diagnóstico final.
A presença de diagnósticos falso-positivos e falso-negativos pode ser
explicada de algumas formas. Se a imagem selecionada for obtida o mais próximo
do pólo medial ou do pólo lateral da cabeça da mandíbula, haverá o efeito de volume
parcial, gerando nesta região uma redução da qualidade da imagem, podendo
confundir cortes da cápsula articular com o disco articular. Devido a este fato, ao
propormos nosso estudo, nos preocupamos em ponderar nossas imagens por meio
de cortes orto-radiais em diversos planos no sentido latero-lateral.
Westesson et al. (1987b) observou que os diagnósticos falso-positivos e falso-
negativos encontrados nas aquisições sagitais de RM estavam associados a
97
componentes mediais ou laterais, e que os casos falso-negativos se deram pela
incapacidade de se distinguir o disco articular da cápsula articular na porção lateral
da articulação. Westesson et al. (1987a) observaram que os diagnósticos falso-
positivo e falso-negativo estavam associados a deslocamentos laterais e mediais.
Brooks e Westesson (1993) observaram que imagens obtidas além dos pólos medial
e lateral da cabeça da mandíbula não demonstram consistentemente deslocamentos
lateral e medial, resultando em diagnósticos falso-positivos e falso-negativos. Haiter-
neto et al. (2002) também relatou dificuldades em identificar o disco articular nas
porções laterais da articulação pela redução da espessura do disco articular nesta
área.
Erros de interpretação da posição do disco articular também podem ocorrer
em casos com alterações degenerativas das estruturas articulares. Crowley et al.
(1996) afirmaram que a dificuldade de interpretação das estruturas internas da ATM
surge quando estruturas adjacentes com intensidade de sinal diferentes apresentam
alteração de sinal, gerando intensidades de sinal semelhantes.
Em seu estudo, Scapino (1991) observou que a variação na intensidade de
sinal normal da banda posterior do disco articular pode surgir devido a alterações
degenerativas como a variação na vascularidade e no conteúdo de glicosamina na
região, resultando em hipersinal da banda posterior e dificuldade na identificação do
limite entre a banda posterior e o tecido retrodiscal. Já Helms et al. (1989)
identificaram redução de sinal em discos articulares deslocados. Scapino (1983)
também relatou a presença de alterações histológicas e fibrose no tecido retrodiscal
em articulações com deslocamento de disco articular devido ao aumento de carga
na região, levando ao espessamento da banda posterior e fibrose do tecido
retrodiscal. Drace, Young e Enzmann (1990) observaram que os casos de
98
diagnósticos falso-negativos encontrados em seu estudo estavam associados à
redução de sinal da porção anterior da zona bilaminar. Santler, Kärcher e
Simbrunner (1993) relataram casos de diagnósticos falso-negativos associados ao
espessamento da banda posterior do disco articular e redução de sinal da zona
bilaminar. Neste caso, a zona bilaminar seria interpretada com parte do disco
articular. Os mesmos achados foram descritos por Katzberg et al. (1985) e Katzberg
et al. (1986), Katzberg (1989) e Manzione et al. (1986).
Entre as alterações morfológicas do disco articular, Larheim (1995) concluiu
que a deformidade do disco articular mais prevalente é o espessamento da banda
posterior. As mesmas observações foram relatadas por Westesson, Bronstein e
Liedberg (1985) e Sener e Akgunlu (2004), que constataram que esta deformidade é
a mais prevalente tanto no DDCR quanto no DDSR. Entretanto, o estudo realizado
por Milano et al. (2000) verificou que o espessamento da banda posterior era a
deformidade mais incomum, sendo que a alteração de forma mais encontrada foi o
formato biplanar do disco articular. Schwaighofer et al. (1990) também observaram
que a determinação incorreta da posição do disco articular ocorre principalmente nas
ATMs com adelgaçamento da anatomia do disco articular devido a alterações
degenerativas severas.
Westesson, Bronstein e Liedberg (1985) observaram que a presença de
deformidade é incomum em discos articulares em posição normal, e que 77% dos
discos articulares completamente deslocados apresentavam algum tipo de
deformidade. Katzberg e Tallents (2005) encontraram prevalência de deformidade de
disco articular em 29,3% dos pacientes e 4% dos voluntários. Os autores também
mostraram haver associação entre deformidade e deslocamento sem redução,
concluindo que esta alteração ocorreria posteriormente ao deslocamento anterior do
99
disco articular. A mesma associação foi descrita por Katzberg (1989), Murakami et
al. (1993), Milano et al. (2000), Sener e Akgunlu (2004) e Taskaya-Yulmaz e
Ogutcan-Toller (2002). Murakami et al. (1993) relataram que quanto menor o grau de
deslocamento, maior a possibilidade de redução. A mesma observação foi realizado
por Taskaya-Yulmaz e Ogutcan-Toller (2002) e Sener e Akgunlu (2004), que
mostraram haver correlação entre a severidade do distúrbio intra-capsular e o tipo de
deslocamento de disco articular. As deformidades de disco articular precoces e
moderadas eram mais comuns no deslocamento com redução, enquanto que as
alterações morfológicas mais severas eram observadas no deslocamento sem
redução.
Se considerarmos o diagnóstico obtido clinicamente com relação à presença
de deslocamento anterior do disco articular e compararmos estes resultados com os
resultados obtidos pelos Métodos 1 e 2, observamos que, na primeira avaliação, o
diagnóstico clínico identifica 11 articulações (27,5%) com deslocamento anterior do
disco articular, contra 21 articulações (52,5%) pelo Método 1 e 12 articulações
(30,0%) pelo Método 2. De acordo com a segunda avaliação, o Método 1 identifica
19 articulações (47,5%) com deslocamento do disco articular, enquanto o Método 2
identifica 13 articulações (32,5%). Assim, observamos uma concordância no
diagnóstico do deslocamento anterior de 70,0% entre o exame clínico e o Método 1,
de 87,5% entre o exame clínico e o Método 2 e de 77,5% entre o Método 1 e o
Método 2. Portanto, observa-se que o Método 2 apresenta resultados semelhantes
aos resultados obtidos pelo exame clínico, não havendo diferença estatisticamente
significante entre ambos, enquanto que o Método 1 possui diferença
estatisticamente significante do exame clínico.
100
Uma completa avaliação clínica tem grande importância na formulação de um
diagnóstico em pacientes portadores de DTM. Ao considerarmos os resultados,
podemos afirmar que o Método 2 apresentou uma boa correlação com os resultados
encontrados no exame clínico, levando a crer que este método deve ser aplicado
durante a interpretação de imagens da ATM por meio de RM, o que reduziria a
prevalência de distúrbios intra-capsulares em indivíduos assintomáticos. Desta
forma, o Método 1 ocasiona maior número de diagnósticos falso-positivos do que o
Método 2.
A precisão do exame clínico tem demonstrado resultados divergentes na
literatura. Barclay et al. (1999) avaliaram a confiabilidade do exame clínico no
diagnóstico da ATM comparada ao diagnóstico pela imagem de RM. Foram
observadas concordâncias de 33% no grupo assintomático e de 71,8% no grupo
com DDCR, resultando numa concordância geral de 53,8% entre o diagnóstico
clínico e o exame de RM. Este baixo valor foi atribuído ao grande número de
diagnósticos falso-negativos observados nas articulações assintomáticas contra-
laterais. Marguelles-Bonnet et al. (1995) encontraram percentagens de 57% para o
DDCR, 73% para o DDSR e 42% no grupo assintomático, resultando numa
concordância geral de 59%. Entretanto, outros estudos observaram graus de
concordância mais elevados. Usumez, Oz e Guray (2004) verificaram haver
concordância de 76%, sendo 83% em indivíduos assintomáticos e 72% em
pacientes com DDCR. Num estudo semelhante, Rammelsberg et al. (1997)
demonstraram uma concordância de 81% entre o diagnóstico clínico e as imagens
de RM num grupo de pacientes com DDCR.
Analisando os autores pregressos, notamos que a formulação do diagnóstico
clinico é realizado com base nos sinais e sintomas apresentados pelo paciente. Na
101
comparação destes sinais e sintomas clínicos com as imagens obtidas pela RM,
verificamos que nenhum parâmetro clínico considerado separadamente apresenta
forte associação com o distúrbio intra-capsular. Desta forma, podemos compreender
que existem diagnósticos não concordantes entre clínica e imagem. Portanto,
devemos alicerçar nossa hipótese de diagnóstico de forma crítica e multifatorial.
Na literatura, a existência de distúrbios intra-capsulares em indivíduos
assintomáticos é justificada por autores como Larheim (1995), Katzberg et al. (1996),
Tasaki et al. (1996) e Milano et al. (2000), que comparam a ATM a outras
articulações do corpo, como joelho e colunas lombar e cervical, que apresentam
uma prevalência semelhante de distúrbios intra-capsulares em indivíduos
assintomáticos. A posição alterada do disco articular nestas articulações pode ou
não estar associada a sintomas clínicos. Nossos achados concordam com esta
afirmação uma vez que obtivemos 4 casos falso-positivos pelo Método 2.
Assim, o distúrbio intra-capsular nem sempre está associado a sinais e
sintomas clínicos. Segundo este autores, a causa do sintoma de dor em pacientes
com deslocamento de disco articular não está completamente entendida. O
deslocamento de disco articular provavelmente possui papel importante no processo
de dor, mas o deslocamento sozinho não está sempre associado a dor, já que é
possível observar deslocamento em assintomáticos. Alterações de posição e
morfologia do disco articular podem ser interpretadas como fatores de predisposição
ao aumento do risco de sinais e sintomas de DTM ou fatores de aparecimento de
doenças degenerativas em longo prazo, como a osteoartrose. A posição alterada do
disco articular não é, portanto, o único fator no surgimento da dor. O deslocamento
de disco articular, combinado com disfunção articular ou reação inflamatória são
chaves importantes no sintoma de dor. Estudos como o realizado por Westesson e
102
Brooks (1992) têm demonstrado que a prevalência de efusão está mais fortemente
associada a dor do que ao deslocamento puramente, sugerindo que o deslocamento
de disco articular pode causar alguma reação na articulação que pode iniciar dor.
Esta reação pode ser sinovite, capsulite, pressão interna na cápsula ou
pressão/compressão da zona bilaminar.
Essas observações nos fazem concluir que a decisão do tratamento não deve
estar baseada apenas nos achados das imagens de RM, fortalecendo a
necessidade de comparação dos sinais e sintomas clínicos com a imagem, pois
somente a imagem não é diagnostico de doença. Os sintomas dos pacientes devem
instituir a necessidade de tratamento, enquanto que as informações das imagens
devem ajudar a determinar o tipo de tratamento a ser realizado.
103
7 CONCLUSÃO
Com base nos resultados desta pesquisa, conclui-se que:
1. Existe diferença estatisticamente significante entre os dois métodos de
localização da posição antero-posterior do disco articular.
2. Na comparação entre a hipótese de diagnóstico formulada a partir dos dados
clínicos e a posição antero-posterior do disco articular determinada pelos dois
métodos, observa-se que:
a) há diferença estatisticamente significante entre o método do ponteiro de horas
de um relógio e a hipótese de diagnóstico;
b) não há diferença estatisticamente significante entre o método da posição da
zona intermediária e a hipótese de diagnóstico;
Portanto, o método da posição da zona intermediária apresenta melhor
correlação com os resultados encontrados pelo exame clínico.
104
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112
APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre Esclarecido para Pesquisa Clínica
TERMO DE CONSENTIMENTO / ESCLARECIMENTO
Você esta sendo convidado a participar da pesquisa
ESTUDO COMPARATIVO
ENTRE MÉTODOS DE LOCALIZAÇÃO DA POSIÇÃO DO DISCO ARTICULAR POR
MEIO DE IMAGENS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA. Você precisa decidir se quer
participar ou não. Por favor, não se apresse em tomar a decisão. Leia cuidadosamente o
que se segue e pergunte ao responsável pelo estudo qualquer dúvida que você tiver. Este
estudo está sendo conduzido pela Dra. Márcia de Mello Provenzano.
O objetivo deste estudo é comparar duas formas de avaliar a posição do disco da
articulação da boca (Articulação Têmporo-mandibular ou ATM) pelo exame de Ressonância
Magnética. Um outro objetivo é comparar as informações de seu exame clínico com o
exame de Ressonância Magnética.
Poderão participar deste estudo pacientes que apresentem sintomas relacionados
com a articulação da boca e que não tenham se submetidos a tratamentos anteriores como
desgaste de dentes para ajustes na mordida, cirurgias, traumatismos na face, tratamento
ortodôntico, próteses totais ou desequilíbrio na mordida pela ausência de dentes. Um grupo
de 30 pessoas será utilizado para o estudo.
Para realização deste estudo, você será entrevistado e examinado sobre seus
sintomas relacionados com a articulação da boca e encaminhado para realização de exame
de Ressonância Magnética.
Não foram relatados efeitos colaterais ou riscos aos pacientes que se submetem a
este exame desde que
as contra-indicações do exame sejam seguidas. Não poderão
participar deste estudo paciente cujo exame de Ressonância Magnética esteja contra-
indicado como portadores de marcapasso, clips cerebrais, clips aórticos, corpos estranhos
ferromagnéticos em áreas nobres, implantes ferromagnéticos, neuroestimuladores, bomba
de insulina, bomba de infusão de drogas implantáveis, expansores de tecido, estimuladores
de crescimento ósseo, estimuladores cardíacos implantáveis, eletrodos, aparelhos auditivos,
implantes oculares, válvula cardíaca artificial, DIU, próteses e implantes dentários, lentes de
contacto, implantes ortopédicos, maquiagem permanente, casos de gravidez ou pessoas
que não atendam aos critérios técnicos acima estipulados pelo pesquisador. Você poderá
experimentar desconforto uma vez que o tempo do exame é longo (aproximadamente 25
minutos) e este tempo poderá ser aumentado de acordo com a necessidade clínica de cada
paciente. Alguns pacientes podem apresentar sensação de claustrofobia, impedindo o
exame. Você será solicitado a se apresentar somente uma vez em local previamente
marcado, sendo beneficiado com a realização de um exame de alta tecnologia. Este exame
possui alto custo e você não pagará nada por ele.
Você participará deste estudo apenas para o exame clínico sobre seus sintomas
relacionados com a articulação e para a realização do exame de Ressonância Magnética.
Sua participação é voluntária. Você tem o direito de não participar ou se retirar do estudo, a
qualquer momento, sem que isto represente qualquer tipo de prejuízo ao seu tratamento
dentro da faculdade. Você não perderá qualquer benefício a que tem direito. Você não será
proibido de participar de novos estudos. Você poderá ser solicitado a sair do estudo se não
colaborar durante a coleta de informações ou realização do exame, inclusive não
comparecendo as consultas. Você receberá uma via assinada deste termo de
consentimento.
113
Você não receberá nenhum pagamento ou ressarcimento de despesa por participar
deste estudo. Este estudo não visa fins lucrativos. Se você concordar em participar, seu
nome e identidade serão mantidos em sigilo. Somente terão acesso a suas informações seu
dentista, o responsável e a equipe do estudo, o Comitê de Ética e inspetores de agências
regulamentadoras do governo (quando necessário). Seus dados clínicos e seu exame
poderão ser publicados em revistas científicas sem que sua identidade seja revelada,
preservando seu anonimato. Você será informado periodicamente de qualquer nova
informação que possa modificar a sua vontade em continuar participando do estudo.
Para perguntas ou problemas referente ao estudo ligue para a responsável Márcia de
Mello Provenzano (Tels: 9766-2866 / 2225-4561). Para perguntas sobre seus direitos como
participante no estudo chame o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da
UFMS, no telefone 7873093 - Ramal 2299.
Declaro que li e entendi este formulário de consentimento e todas as minhas dúvidas
foram esclarecidas. e que sou voluntário a tomar parte neste estudo.
Rio de Janeiro, ____ de ___________ de ________.
__________________________________________
(Assinatura do paciente ou responsável)
_______________________________
(Testemunha 1)
_______________________________
(Testemunha 2)
114
APÊNDICE B Hipótese de diagnóstico da presença de deslocamento anterior do disco articular
obtido pelo exame clínico
EXAME
CLÍNICO
EXAME
CLÍNICO
EXAME
CLÍNICO
EXAME
CLÍNICO
ATM 01 Sim ATM 11 Sim ATM 21 Não ATM 31 Sim
ATM 02 Não ATM 12 Sim ATM 22 Não ATM 32 Sim
ATM 03 Não ATM 13 Não ATM 23 Não ATM 33 Não
ATM 04 Não ATM 14 Não ATM 24 Não ATM 34 Não
ATM 05 Não ATM 15 Não ATM 25 Sim ATM 35 Não
ATM 06 Não ATM 16 Não ATM 26 Não ATM 36 Não
ATM 07 Não ATM 17 Não ATM 27 Sim ATM 37 Não
ATM 08 Sim ATM 18 Não ATM 28 Sim ATM 38 Não
ATM 09 Não ATM 19 Não ATM 29 Sim ATM 39 Não
ATM 10 Não ATM 20 Não ATM 30 Não ATM 40 Sim
115
APÊNDICE C – Resultados obtidos pelos três examinadores na primeira avaliação da presença de
deslocamento anterior do disco articular pelos Métodos 1 e 2
AVALIAÇÃO 1
EXAMINADOR A EXAMINADOR B EXAMINADOR C
EXAME
CLÍNICO
Método 1 Método 2 Método 1 Método 2 Método 1 Método 2
ATM 01 Sim Não Não Não Não Não Não
ATM 02 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 03 Não Não Não Sim Não Não Não
ATM 04 Não Sim Não Sim Sim Não Não
ATM 05 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 06 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 07 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 08 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 09 Não Sim Sim Sim Não Sim Não
ATM 10 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 11 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 12 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 13 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 14 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 15 Não Sim Não Não Não Sim Não
ATM 16 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 17 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 18 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 19 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 20 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 21 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 22 Não Não Não Não Não Não Não
116
EXAMINADOR A EXAMINADOR B EXAMINADOR C
EXAME
CLÍNICO
Método 1 Método 2 Método 1 Método 2 Método 1 Método 2
ATM 23 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 24 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 25 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 26 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 27 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 28 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 29 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 30 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 31 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 32 Sim Não Não Sim Não Sim Não
ATM 33 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 34 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 35 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 36 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 37 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 38 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 39 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 40 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
117
APÊNDICE D – Resultados obtidos pelos três examinadores na segunda avaliação da presença de
deslocamento anterior do disco articular pelos Métodos 1 e 2
AVALIAÇÃO 2
EXAMINADOR A EXAMINADOR B EXAMINADOR C
EXAME
CLÍNICO
Método 1 Método 2 Método 1 Método 2 Método 1 Método 2
ATM 01 Sim Não Não Não Não Não Não
ATM 02 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 03 Não Não Não Sim Não Não Não
ATM 04 Não Não Não Sim Não Não Não
ATM 05 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 06 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 07 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 08 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 09 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 10 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 11 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 12 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 13 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 14 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 15 Não Não Não Não Não Sim Não
ATM 16 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 17 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 18 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 19 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 20 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 21 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 22 Não Não Não Não Não Não Não
118
EXAMINADOR A EXAMINADOR B EXAMINADOR C
EXAME
CLÍNICO
Método 1 Método 2 Método 1 Método 2 Método 1 Método 2
ATM 23 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 24 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 25 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 26 Não Sim Não Sim Não Sim Não
ATM 27 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 28 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 29 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 30 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 31 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 32 Sim Não Não Sim Não Sim Não
ATM 33 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 34 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 35 Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim
ATM 36 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 37 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 38 Não Sim Não Não Não Sim Não
ATM 39 Não Não Não Não Não Não Não
ATM 40 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
119
ANEXO A Autorização para realização da pesquisa na Clínica de Disfunção Mastigatória da
Faculdade de Odontologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
120
ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro
121
ANEXO C – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da USP
122
ANEXO D – Índice de Disfunção Anamnético proposto por Pullinger e Monteiro (1994)
MARQUE A RESPOSTA QUE DESCREVA O SEU PROBLEMA DA FORMA MAIS
PROPRIADA:
FREQUÊNCIA DE ESTALIDO OU TRANCAMENTO
Com que frequência ocorrem estalidos na articulação
temporomandibular (à frente do ouvido)?
0 – Nunca ou raramente
1 – Às vezes, ou quando abro muito a boca
2 – Durante certos períodos
3 – Quase toda vez que mastigo ou mordo
Ao abrir a boca, a mandíbula prende impedindo que você complete o movimento?
0 - Nunca
1 - Ocasionalmente, mais eu posso abaixá-la contornando o ponto em que prende
2 - Ocasionalmente prende por um certo período
3 - Está continuamente presa
LIMITAÇÃO FUNCIONAL
Quanto o estalido perturba a sua fala ou mastigação?
0 - Não ocorrem estalidos
1 - Eu estou ciente de estalidos mais não afetam a mastigação
2 - Por vezes é difícil ou doloroso completar certos movimentos mandibulares
3 - Eu não posso completar alguns movimentos. Eu tenho que mover a mandíbula
em torno do ponto em que ela prende. O estalido desapareceu mas agora não posso
abrir a boca por completo
Como o componente de dor
perturba atualmente sua função mandibular?
0 - Não tenho dor. Não incomoda.
1 - Perturba continuamente
2 - Pode impedi-la temporariamente
3 - Limita severamente a função mandibular
Qual o problema que você tem atualmente com a mastigação?
0 - Nenhum
1 - Algum ou dificuldade ocasional
2 - Eu tenho que evitar alguns tipos ou tamanhos de comidas.
3 - Preciso apoiar a mandíbula para comer, ou limitar muito a mastigação. Não
posso comer o suficiente
INTENSIDADE DE DOR MASTIGATÓRIA
Você sente dor quando mastiga ou usa a boca?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
A dor continua quando você não está mastigando ou usando a boca?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
0 1 2 3
123
Você sente a boca cansada depois de comer ou usa-la?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
DESCONFORTO OCLUSAL
Você sente dor nos dentes?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
Você sente a sua mordida desconfortável, do modo que os dentes tocam?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
LIMITAÇÃO SOCIAL
O quanto seu problema lhe afeta socialmente ?
0 - não afeta o relacionamento familiar ou social
1 - família ou amigos estão cientes do meu problema
2 - causa aborrecimentos ocasionais ou modifica meus planos
3 - algumas vezes eu tenho que planejar minha vida em função do meu problema
O quanto o seu problema atualmente afeta o seu trabalho ?
0 - não afeta
1 - continuamente afeta minha concentração
2 - afeta a habilidade, a qualidade e a produção
3 - eu estou incapacitado de trabalhar.
FREQUÊNCIA DAS POSSIVEIS RESPOSTAS
(considere a mais severa de cada categoria)
DOR PERIFÉRICA
Você sofre de dor de cabeça?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
Você sente dores no pescoço ou ombro?
0-Nunca 1-suave 2-moderada 3-severa
Você sofre de dor de cabeça frequente?
0 - Não
1 - Uma ou duas por mês
2 - Uma ou duas por semana
3 - Diariamente ou quase diariamente
CRITÉRIO DO ÍNDICE DE INCAPACITAÇÃO E NOTA
Baseado no relato mais severo de cada uma das 6 categorias
MAIS
DOR PERIFÉRICA
SEVERIDADE SEVERIDADE CRITÉRIO ÍNDICE
ÍNDICE
0
ASSINTOMÁTICO
Categorias sem resposta positiva
0 1
1
SUAVE
Categorias somente sintomas suaves
2 3
2i
MODERADO
1-2 Categorias com sintomas moderados
4 5
2ii
3-5 Categorias com sintomas moderados
6 7
3i
SEVERO
1-2 Categorias com sintomas severos
8 9
3ii
3-5 sintomas severos
10 11
0 1 2 3
não sim
124
ANEXO E – Ficha do Exame Subjetivo e do Exame Clínico
125
ANEXO F – Ficha do Exame Clínico
126
ANEXO G – Ficha do Exame Clínico
127
ANEXO H – Autorização para utilização do aparelho de Ressonância Magnética
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