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demonstrava todo seu conhecimento e sua experiência com o novo
processo terapêutico: “Tratamento da Esquizofrenia pelo choque
hipoglicêmico” (Método de Sakel) (1989, p. 173).
Também quanto ao uso do eletrochoque, Moretzsohn ressalta seu caráter
revolucionário na terapêutica psiquiátrica, como se pode observar em suas próprias
palavras: “este método é usado até hoje e, por vezes, com êxitos verdadeiramente
espetaculares, sobretudo depois que sua técnica foi muito aperfeiçoada graças à
introdução, por A. E. Bennet, em 1941, da narcose e da curarização prévia do
paciente” (1989, p. 174). Esta técnica chega a Belo Horizonte em 1958. Em 1979,
depois de algumas discussões sobre a ética médica, a imprensa consegue
presenciar e relatar à população uma sessão de eletroconvulsoterapia (ECT)
realizada no Hospital Raul Soares. Antes do início da sessão, o funcionário do
hospital descreve ao jornalista o funcionamento do aparelho eletroconvulsor, bem
como o processo que provoca reiteradas convulsões no paciente submetido à
mencionada técnica. Como veiculou o Jornal O Estado de Minas:
Isso aqui é um eletroconvulsor (um aparelho com marcador de voltagem e
duas tomadas, ligadas a dois fios). E isso aqui se chama “ambu”, somente
usado para emergências. Se o paciente tem uma parada respiratória após o
choque, como é comum acontecer, acompanhada de parada cardíaca, aí
temos de lançar mão deste aparelho (uma espécie de máscara nasal e
bucal de sucção). [...] O coração parou mais de 60 segundos, a gente então
lança mão dele. Já isso aqui é um pedaço de látex, uma espécie de
borracha grossa, que é colocada na boca do paciente. Senão, ele quebra os
dentes, quando o eletroconvulsor for ligado. [...] Nos homens, geralmente
nós aplicamos 120 volts. Nas mulheres, temos que aumentar a dosagem
um pouco. Eu por exemplo, aplico uns 130 volts. A mulher é muito mais
resistente que o homem (FIRMINO, 1982, p. 48).
Após conceder tais informações ao jornalista Hiram Firmino, o trabalhador
prossegue em sua jornada cotidiana. Sob o olhar e temor dos internos, ele, assim
mesmo, obedece à prescrição médica, conforme narra o jornalista:
Teve início a sessão.
O primeiro foi um rapaz ainda, de uns 25 anos, que acompanha a nossa
conversa com os olhos arregalados. O ajudante do aplicador de ECT subiu
literalmente - em cima dele e colocou uma perna em cima de cada braço,
assentando-se sobre sua barriga, imobilizando-o completamente. Passou
um algodão molhado nas duas frontes do paciente, segundo ele para
aumentar o contado e passar maior carga elétrica. Colocou o látex na boca
do rapaz e segurou, firme, com as duas mãos, o seu queixo. O rapaz ficou
olhando para cima, sob o olhar passivo, alheio, dos outros dois pacientes.
O aplicador chegou para trás. Colocou as duas tomadas de uma só vez, na
sua cabeça. O rapaz deu um grito. E começou a pular sem parar, na cama.