Download PDF
ads:
NINOSHKA UCEDA-GÓMEZ
DEGRADAÇÃO DE INTERFACES ADESIVAS APÓS
DESMINERALIZAÇÃO E DESPROTEINIZAÇÃO DA DENTINA
São Paulo
2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Ninoshka Uceda-Gómez
Degradação das interfaces adesivas formadas após
desmineralização e desproteinização da dentina
Tese apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade de São
Paulo, para obter o título de Doutor pelo
Programa de Pós-Graduação em
Odontologia.
Área de Concentração: Dentística
Orientador: Prof
a
Dr
a
Margareth Oda
São Paulo
2007
ads:
Catalogação-na-Publicação
Serviço de Documentação Odontológica
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
Uceda-Gómez, Ninoshka
Degradação de interfaces adesivas formadas após desmineralização e
desproteinização da dentina. / Ninoshka Uceda-Gómez; orientador: Margareth
Oda. – São Paulo, 2007.
93p. : fig., tab., graf.; 30cm.
Tese (Doutorado– Programa de Pós-Graduação em Odontologia. Área de
Concentração: Dentística) -- Faculdade de Odontologia da Universidade de
São Paulo.
1. Adesivos dentinários – Dentina – Resistência de união 2. Dentística
CDD 617.695
BLACK D15
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO,
POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E
PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E COMUNICADO AO AUTOR A
REFERÊNCIA DA CITAÇÃO
.
São Paulo, ____/____/____
Assinatura:
E-mail:
FOLHA DE APROVAÇÃO
Uceda-Gómez N. Degradação das interfaces adesivas formadas após
desmineralização e desproteinização da dentina [Tese de Doutorado]. São Paulo:
Faculdade de Odontologia da USP; 2007.
São Paulo, / /
Banca Examinadora
1) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
2) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
3) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
4) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
5) Prof(a). Dr(a).____________________________________________________
Titulação: _________________________________________________________
Julgamento: __________________ Assinatura: __________________________
DEDICATÓRIA
À Deus, por sempre ter me protegido e por não ter me abandonado nos momentos
mais difícieis da minha vida.
Ao meu amado marido Achim Betz, grande companheiro e fiel amigo nos momentos
bons ou ruins. Você me ensinou o significado da palavra Amor, com todos os teus
atos de cavalheirismo e firmeza perante as adversidades que passamos juntos
nestes últimos três anos. Você me deu o melhor presente do mundo, o nosso
“Pequeno Milagre”: Heinrich Philipp Santiago. Apesar de que a vida iniclalmente não
nos ter oferido esta chance, procuramos e continuamos com nosso Sonho de
sermos pais e graças ao Senhor, hoje estou aqui ao seu lado com nosso amado
filho. Simplesmente, amo-te por tudo!.
Aos meus pais, Manuel Enrique Uceda Castillo e Natalia Gómez Jurado de Uceda,
grande fonte de inspiração. Vocês me ofereceram a oportunidade, me deram apoio,
carinho, serviram de fortaleza para que eu saisse do meu país Peru e viesse ao
Brasil para começar a graduação na melhor universidade da America Latina, a tão
sonhada Universidade de São Paulo (USP) e não bastando isto ainda me deram
forças para engressar no curso de Pós-graduação. Esta tese é também para vocês
que se sentem orgulhosos de ter uma filha dentista, que trabalhou em parceria em
algumas universidades americanas como a Universidade do Alabama e do Texas e
que aindam me amam por eu ter lhes dado um lindo neto. Dedico do fundo do meu
coração este trabalho para vocês pois vocês me motivaram e me deram asas para
sair de casa. Muito obrigada por tudo ¡Mis queridos Viejos!.
Ao meu amado filho Heinrich Philipp Santiago Betz, agora que você chegou, minha
vida ficou mais feliz e o meu sol mais brilhoso, principalmente quando olho para
esses gigantes olhos azuis. Eu te amo!
Aos meus irmãos José Ramon Dominguez Gómez (Papo), Emerson André e Erick
Alexander Uceda Gómez. Senti muito a falta de vocês todo o tempo em que fiquei
longe de casa. Desejo que este trabalho seja fonte de inspiração para vocês.
Acreditem que todo grande esforço tem sempre um bom resultado. Amo-os demais.
À toda minha família, por seu constante amor, carinho e apoio nos momentos mais
difícieis da minha vida. Em especial, dedico este trabalho também aos meus
queridos tios Rosita Uceda de Chavez, Carmen Uceda, Luis Chavez Vega e Pablo
Uceda que sempre se preocuparam com minha saúde, dando me apoio e ajuda.
Aos meus queridos sogros, Michael e Lore Betz, por terem me acolhido e sempre ter
se preocupado e cuidado de mim como uma filha. Obrigada por tudo o que vocês
têm feito por mim!
A minhas lindas avós Josefina Castillo de Uceda e Clelia Jurado de Gómez
“Mamalala”, que sempre oraram por mim, e vibraram por cada vitória minha. Eu as
amo muito. Aos meus avôs Enrique Uceda (in memoriam) e Demostenes Gómez
“Tatita” (in memoriam), porque sei que mesmo daí de cima estão orgulhosos por
mim. Os amarei sempre.
Aos meus novos irmãos Zoyla Rios de Dominguez e Markus Betz. Muito obrigada
pelos bons momentos que passamos juntos e pela grande ajuda em todo momento.
AGRADECIMENTO ESPECIAL
À Professora Dr
a
. Margareth Oda, pela orientação desse trabalho, pela ajuda
continua e pela grande amizade que teve comigo desde o tempo da minha
graduação. Lembro-me dos momentos de atenção que você me deu durante a
Monitora da Disciplina de Escultur e de Dentística Operatória. O mesmo se repetiu
ao passar por todas as Dentísticas Restauradoras. Você, sempre esteve presente
para me aconselhar quando mais o precisava. Seu apoio foi fundamental para eu
poder enfrentar e superar todas as dificuldades que a vida me apresentou. Minha
eterna gratidão!
AGRADECIMENTOS
À Professora Dra. Alessandra Reis, você me ensinou o que é o Brasil,
principalmente o interior de Minas Gerais, especificamente a linda cidade de Campo
do Meio. Aprendi contigo o que é pesquisa odontológica, você foi grande fonte de
inspiração pela quantidade de artigos publicados e pelo amor e emoção com que
realiza as suas pesquisas. Você é uma incomparável amiga e excelente pessoa com
um coração enorme. Muito obrigada por tudo! Já estou com saudades de você!
À Professora Dra. Rosa Helena Grande, grande Tia Rosa, sempre preocupada com
as crianças, independentemente do curso de Pós-Graduação ao qual pertenciam.
Nunca vou esquecer o meu primeiro contato com você na disciplina de Materiais
Dentários, quando me explicou o que era minhoca, algo muito importante para
entender óxido de zinco. Sempre preocupada comigo nos momentos mais difícies da
minha vida; obrigada pelos conselhos e pela sua grande ajuda!
Ao Prof. Dr. Glauco Fioranelli Vieira. Nem lembro mais quantas monitorias e estágios
realizei no curso de Escultura Dental. Se não fosse por você, não teria realizado o
curso de Pós-Graduação na Dentística. Você sempre estava muito simpático e
alegre e sempre com muitos projetos sobre o tema. Obrigada por estes anos de
convivência.
Ao Prof. Dr. Leonardo Eloy Rodrigues filho, meu primeiro orientador com bolsa
FAPESP. Muito obrigada pela ajuda científica e por todos os relatórios corrigidos, e
principalmente pela sua amabilidade e capacidade com que explica as coisas.
Ao Prof. Dr. Alessandro Loguercio pela ajuda na análise e interpretação estatística.
Aos Profs. Drs. Camilo Machado, Jack Lemons e William R. Lancefield, por terem
me proporcionado a oportunidade de realizar parte dessa tese na Universidade de
Alabama em Birmingham (UAB).
Ao Sr. Preston Beck, funcionário da UAB, que me ajudou na Microscopia Eletrônica
de Varredura e por ter me ensinado detalhes fundamentais para o preparo de
amostras.
À Profa. Dra. Márcia Martins Marquez, Coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Dentística, pelo excelente trabalho desenvolvido no curso de Pós-
Graduação nesses últimos anos e pela constante atenção que dedica aos alunos,
especialmente comigo nestes dois últimos anos. Muito obrigada!
Aos Professores Doutores Adriana Bona Matos, Miriam Lacalle Turbino, Michel
Nicolau Youssef, Narciso Garone Neto e Rubens Corte Real de Carvalho pela
orientação em muitas das minhas atividades acadêmicas desde a época da
graduação.
Ao Prof. Dr. John M. Powers. Apesar desta tese não contemplar os trabalhos que
realizamos juntos, na Universidade do Texas em Houston, aproveito para agradecer
a oportunidade de terem permitido trabalhar com vocês em uma das melhores
universidades do estado do Texas.
Aos amigos de longa data, Alexander Kraul, Rosangela Araki, Eduardo Chorres,
Jorge Saldivar, José Roberto de Oliveira Bauer e Marcela Carrilho. Muito obrigada
por todos os conselhos, ajuda, exemplo de vida e estórias vividas juntas. Agradeço
por tudo de bom que vivemos juntos nesses lindos e maravilhosos anos que vivi no
Brasil. Adoro vocês meus irmãos!
Aos amigos latinos que moram nos Estados Unidos: Lilliam Marie Pinzón e Enrique
Tabarini, que me apoiaram e me proporcionaram um porto seguro nas minhas idas
para Houston e Alabama, respectivamente. Muito obrigada!
Às minhas queridas amigas e irmãzinhas, Ana Paula Petri Hasegawa, Tatiana Abib
Penna e Priscila Corraini. Vocês e suas familias fizeram que a solidão fosse embora
da minha vida quando me adotaram.
Aos amigos da pós-graduação: Alessandra, Márcio, Bia, Kátia, Paty Loret, Paty
Freitas, Beto, Thaís, Ana Cecília, Ana del Carmen, Sheila, Arlene, Ricardo, Vinícius
e Washington.
À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES), meus
sinceros agradecimentos pela concessão da bolsa de doutorado.
Aos funcionários do Departamento de Dentística Neusa, Ana, David, Aldo, Sônia e
Arnaldo pela ajuda, atenção e compreensão que ao longo destes anos sempre
foram demonstradas.
Às secretárias do Departamento de Materiais Dentários, Rosa Cristina e Mirtes, e
aos técnicos Antônio e Silvinho, que desde minha época de iniciação científica
nesse departamento sempre foram muito colaboradores comigo.
Às funcionárias do serviço de Pós-graduação Cátia, Nair e Alessandra pelo auxílio e
dedicação.
À Universidade de São Paulo, por todos estes anos que me acolhei desde minha
fase de graduação, graças ao Programa do Convênio de Intercâmbio Peru-Brasil de
estudantes internacionais.
A todos os professores, colegas, técnicos, amigos e pessoas que de alguma forma
contribuíram com a elaboração deste trabalho. Que a omissão de nomes não atenue
minha imensa gratidão.
“O êxito na vida não se mede pelo que você conquistou, mas sim pelas dificuldades
que superou no caminho”.
Abraham Licoln
“Nada acontece por mero acaso. Não existe sorte. Existe um significado por detras
de cada pequeno fato. Talvez não o consigamos ver de imediato com clareza, mas
não será preciso muito tempo para que isso aconteça”.
Richard Bach
Uceda-Gómez N. Degradação das interfaces adesivas formadas após
desmineralização e desproteinização da dentina [Tese de Doutorado]. São Paulo:
Faculdade de Odontologia da USP; 2007.
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência de união de 2 sistemas adesivos
convencionais de dois passos (Single Bond-SB, 3MESPE e One Step-OS, Bisco)
aplicados à dentina desmineralizada [SH] e desmineralizada e desproteinizada com
NaOCl a 10% [CH], tanto no tempo imediato [IM] como após 12 meses de imersão
em água [12M]. Realizou-se também a observação da morfologia das interfaces de
união entre os sistemas adesivos e a superfície de dentina em Microscópio
Eletrônico de Varredura (MEV) para cada grupo experimental. O esmalte oclusal de
20 molares permanentes hígidos foi removido para expor as superfícies planas de
dentina, que foram condicionadas com H
3
PO
4
a 37%, lavadas e secas (grupos SH).
Para os grupos CH após o condicionamento ácido foi aplicado hipoclorito de sódio a
10% durante 60 s, seguido de lavagem por 15 s. Os sistemas adesivos foram
aplicados de acordo com as recomendações dos fabricantes. Coroas de resina
composta (Z-250, 3MESPE) foram construídas de forma incremental (600 mW/cm²
por 40 s). Após armazenagem em água por 24h a 37°C, os espécimes foram
secionados para obter corpos-de-prova na forma de palitos (0,8mm²), que foram
testados sob tração (0,5 mm/min) no tempo imediato [IM] ou após 12 meses de
armazenamento em água. Dois dentes de cada grupo foram observados em MEV
nos dois períodos de tempo. Os dados de resistência de união foram submetidos à
uma análise de variância de três fatores e teste de Tukey para contraste das médias
(p = 0,05). As interações duplas e triplas não foram estatisticamente significantes (p
> 0,05), assim como o fator principal Tratamento de superfície (p = 0,05). Somente
os fatores principais Adesivo e Tempo de armazenagem foram significantes (p =
0,04 e p = 0,03, respectivamente). O adesivo SB (43,3 ± 9,1 MPa) apresentou altos
valores de resistência de união quando comparado com o OS (33,3 ± 11,6 MPa). A
resistência de união do grupo IM (42,5 ± 8,7) foi estatisticamente superior à grupo
12M (33,3 ± 11,8).
Palavras-Chave: Dentina, Hipoclorito de sódio, Microtração, Resistência de união,
Sistemas adesivos.
Uceda-Gómez N. Long-term bond strengths of adhesive systems applied to etched
and deproteinized dentin [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de
Odontologia da USP; 2007.
ABSTRACT
The aim of this study was to evaluate the early and 12-month bond strengths of two
adhesive systems (Single Bond-SB, 3MESPE and One Step-OS, Bisco) applied to
demineralized dentin (WH) and demineralized/NaOCl-treated dentin (H). The
adhesive interfaces were also micromorphologically evaluated by Scanning Electron
Microscopy (SEM). Twenty flat dentin surfaces were exposed. They were etched,
rinsed and slightly dried. For the H groups, a solution of 10% NaOCl was applied for
60s, rinsed (15 s) and slightly dried. The adhesives were applied according to the
manufacturer’s instructions and composite resin crowns were incrementally
constructed. After 24 h (water-37°C), the sample was sectioned in order to obtain
resin-dentin sticks (0.8 mm²). The specimens were tested in tension (0.5 mm/min)
immediately (IM) or after 12 months of water storage (12M). Two teeth from each
experimental group were restored as described previously and evaluated under SEM,
under the two storage periods. The data (MPa) were subjected to three-way ANOVA
and Tukey’s test (α = 0.05). No significant effects for the triple and double
interactions (p > 0.05) as well as for the main factor Surface treatment were observed
(p > 0.05). Only the main factors Adhesive and Storage time were statistically
significant (p = 0.004 and p = 0.003, respectively). The adhesive SB (42.3 ± 9.1)
showed higher bond strengths than OS (33.6 ± 11.6). The mean bond strength for
IM-group (42.5 ± 8.7) was statistically superior to 12M (33.3 ± 11.8). The use of 10%
sodium hypochlorite, after acid etching, did not improve the immediate and the long-
term resin-dentin bond strengths for acetone and water/alcohol based adhesive
systems.
Key-words: Dentin, Sodium Hypochlorite, Micro-tensile bond strength, Adhesive
systems.
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.1 - Sistemas adesivos One-Step (Bisco, USA) e Single Bond (3M Espe,
USA)......................................................................................................49
Figura 4.2 - Desenho esquemático do corpo-de-prova em forma de palito. .............50
Figura 4.3 - Desenho do corpo-de-prova coberto com esmalte unha antes de ser
imerso em solução de nitrato de prata (3mol/l)......................................54
Figura 5.1 – Interface de união do grupo OSC IM.....................................................59
Figura 5.2 – Interface de união do grupo OSH IM......................................................60
Figura 5.3 – Interface de união do grupo SBC IM......................................................61
Figura 5.4 – Interface de união do grupo SBH IM......................................................62
Figura 5.5 – Interface de união do grupo OSC 12M...................................................63
Figura 5.6 – Interface de união do grupo OSH 12M...................................................64
Figura 5.7 – Interface de união do grupo SBC 12M...................................................65
Figura 5.8 – Interface de união do grupo SBH 12M...................................................66
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 - Composição e forma de aplicação dos sistemas adesivos..................52
Tabela 5.1 - Médias e desvios-padrão em MPa dos sistemas adesivos aplicados na
forma convencional ou depois da desproteínização............................57
Tabela 5.2 - Médias e desvios-padrão em MPa para cada sistema adesivo............57
Tabela 5.3 - Médias e desvios-padrão em MPa para os grupos IM e 12M...............58
LISTA DE ABREVIATURAS
AgNO
3 nitrato de prata
ANOVA Análise de Variãncia
AM fratura localizada na interface resinadentina ou mista com falhas
coesivas dos substratos adjacentes
Bis-GMA bisfenol glicidil metacrilato
BPDM bifenil dimetacrilato
CEP-FOUSP Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da
Universidade de São Paulo
CONEP Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
C fratura exclusivamente coesiva em substrato dentinário ou resina
composta
cm centímetro(s)
cp corpo(s)-de-prova
EDR espessura de dentina remanescente
EDTA Etileno Diamino Tetra Acético
h hora(s)
HEMA 2-hidroxietilmetracrilato
IR índice de resistência de união
MEV microscopia eletrônica de varredura
mlmin mililitros por minutos
mm milímetro(s)
mm
2
milímetro(s) ao quadrado
MPa Mega Pascal
mW/cm
2
miliwatts por centímetro ao quadrado
mol/l molar por litro
n tamanho da amostra ou número de variáveis
A/M
n número de corpo-de-prova com fratura tipo A/M;
NaOCl hipoclorio de sódio
CD
n número de corpo-de-prova com fratura coesiva de dentina;
CR
n número de corpo-de-prova com fratura coesiva de resina;
nm nanômetro(s)
P
n número de corpo-de-prova perdidos durante o corte.
NPG-GMA N-fenil glicina e glicidil metacrilato
OS One Step
pH potencial de hidrogeniônico
CD
R resistência coesiva da dentina;
CR
R resistência coesiva da resina;
A/M
R média de resistência de união dos corpo-de-prova com fratura
tipo A/M
P
R valor médio da resistência de união atribuída aos corpos-de-
prova perdidos durante o corte
RU resistência de união
SB Single Bond
SiC carbeto de silício
TEG DMA Trietilenoglicol dimetacrilato
UDMA Uretano dimetacrilato
µl microlitro(s)
µm micrômetro(s)
v velocidade
LISTA DE SÍMBOLOS
s segundo(s)
o
C graus Celsius
# granulação
% porcentagem
> maior
< menor
SUMÁRIO
p.
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................22
2 REVISÃO DA LITERATURA ..............................................................25
2.1 Condicionamento ácido e Sistemas Adesivos................................................25
2.2 Dentina................................................................................................................31
2.3 Tratamento da dentina com hipoclorito de sódio...........................................36
2.4 Longevidade das interfaces adesivas..............................................................42
3 PROPOSIÇÃO ....................................................................................46
4 MATERIAL E MÉTODOS....................................................................47
4.1 Preparação do substrato dental em dentina...................................................47
4.2 Procedimento adesivo e restaurador...............................................................48
4.3 Ensaio de resistência da união por microtração............................................51
4.4 Análise da penetração de nitrato nas interfaces adesivas em microscopia
eletrônica de varredura (MEV) ................................................................................52
4.3 Análise dos dados da resistência de união.....................................................54
5 RESULTADOS....................................................................................56
5.1 Ensaio de resistência da união por microtração.............................................56
5.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da interface dentina-resina......58
6 DISCUSSÃO .......................................................................................67
7 CONCLUSÕES ...................................................................................78
REFERÊNCIAS......................................................................................79
ANEXOS.................................................................................................92
22
1 INTRODUÇÃO
Na atualidade, tem-se como consenso que a união dos materiais resinosos à
dentina se deve a retenção micromecânica dada pela formação da camada híbrida.
Para a formação da camada híbrida, é fundamental que ocorra a exposição de
fibrilas de colágeno pela desmineralização de um ácido seguido pela subseqüente
aplicação de um sistema adesivo hidrofílico, na técnica conhecida como
condicionamento ácido total. Desta forma, a formação da camada híbrida é a
responsável pela boa performance clínica inicial de restaurações de resina composta
(avaliações clínicas de curta duração) quando associadas a sistemas adesivos.
Avaliações clínicas de longa duração são consideradas o método ideal de
validar a qualidade dos sistemas adesivos atuais. Infelizmente, este tipo de análise é
de difícil execução por demandar muito tempo e ter um custo elevado. Além disto,
quando avaliações longas são publicadas, os produtos avaliados já foram retirados
do mercado tendo sido lançada uma nova versão do material. Ainda que estudos
clínicos sejam ideais, testes in vitro são considerados importantes, pois podem
avaliar, num curto espaço de tempo, a eficiência da adesão de sistemas adesivos,
apresentando uma boa correlação com os estudos in vivo.
Entretanto, existem dificuldades no que se refere à infiltração do monômero
dentro da rede de fibrilas colágenas. Quando a dentina desmineralizada é seca com
jatos de ar, as fibrilas de colágeno se aproximam, tendo por resultado o colapso da
matriz orgânica, que consequentemente reduz a permeabilidade da zona
desmineralizada. Alguns pesquisadores afirmam que a eliminação do colágeno
exposto com hipoclorito de sódio diminui a sensibilidade da técnica e possibilita o
23
alcance de uma superfície mais porosa, semelhante ao esmalte, que é responsável
por valores de resistência de união semelhantes àqueles obtidos em esmalte
condicionado por ácido fosfórico. Além disso, a desproteinização elimina o passo
crítico de umedecimento da dentina, devido à ausência do componente orgânico.
A retenção dos sistemas adesivos nesta técnica se basearia tão e
exclusivamente no embricamento mecânico dos monômeros resinosos no substrato
mineralizado e poroso formado após desmineralização e deproteinização através da
maior formação de tags resinosos mais volumosos e a um maior número de
anastomoses entre os mesmos, já que não é possível haver formação da camada
híbrida quando se remove o colágeno exposto pelo condicionamento ácido. Com
relação aos resultados de resistência de união, a literatura consultada ainda é
controversa. Há estudos que verificaram aumento nos valores de resistência após
utilização de hipoclorito de sódio a 10% por 60 s. Outros estudos encontraram
valores de resistência de união semelhantes ou dependentes (maiores ou menores)
dos sistemas adesivos utilizados. Valores de resistência de união inferiores também
já foram reportados com a técnica de deproteinização.
Por outro lado, há estudos que mostram que a resistência de união à dentina
com os sistemas adesivos que preconizam o condicionamento ácido total e
aplicados de acordo com as recomendações dos fabricantes tende a diminuir após
armazenagem de 6 meses a 3 anos em água. Alguns autores acreditam que esta
redução de resistência de união se deve a hidrólise ou mesmo degradação por
proteases exógenas ou endógenas das fibrilas de colágeno que não foram
adequadamente encapsuladas pelo adesivo. Se este for o caso, espera-se não
detectar degradação de resistência de união quando o procedimento de união é feito
24
em substrato sem material orgânico, ou seja que sobre a dentina desmineralizada e
desproteinizada.
Deste modo, este estudo teve como objetivo avaliar a resistência de união,
através do teste de microtração, de dois sistemas adesivos aplicados de forma
convencional e modificada (com hipoclorito de sódio) após dois períodos de
armazenagem e observar pelo microscópio eletrônico de varredura a qualidade da
interface de união entre os sistemas adesivos e a superfície de dentina.
25
2 REVISÃO DA LITERATURA
Os achados de Buonocore (1955) revolucionaram a prática da Odontologia
Restauradora tornando-a mais preventiva. Isto foi possível graças a aplicação de um
ácido sob a superfície do esmalte, que permitiu a infiltração da resina acrílica nas
superfícies tratadas. Esta observação permitiu abandonar os preparos cavitários
com macro-retenções substituindo-os por micro-retenções proporcionadas pelo
condicionamento ácido. Assim diminuiu-se o desgaste de tecido sadio, aumentando
a retenção, melhorando a adaptação e diminuindo a microinfiltração marginal dos
materiais resinosos. Com tudo isto, têm sido propostos inúmeros esforços na
tentativa de manter a interface de união de restaurações adesivas intacta e,
conseqüentemente, garantir a proteção do complexo dentino-pulpar (CARVALHO et
al., 2004).
Para melhor compreensão do trabalho devido à complexidade do tema, a
revisão da literatura foi dividida por assuntos, com a finalidade de torná-la mais
didática.
2.1 Condicionamento ácido e sistemas adesivos
26
Os sistemas adesivos chegaram para melhorar em todo aspecto a
odontologia preventiva. Quase na mesma época em que Buonocore (1955)
descobriu o efeito do condicionamento ácido em esmalte, Bowen (1956) já estava
trabalhando no desenvolvimento dos primeiros materiais resinosos de baixa
contração através da associação entre resinas epóxicas e resinas acrílicas. Isto
permitiu a sintetização do monômero dimetacrilato de alto peso molecular Bis-GMA
(bisfenol-glicidil-dimetacrilato), um monômero que apresentava ligações cruzadas e
com cadeia polimérica orgânica, insolúvel e de alta viscosidade. Mais tarde o mesmo
autor em 1965, realizou pesquisas com o N-fenil glicina glicidil metacrilato (NPG-
GMA), mas não foram completamente alcançados os objetivos esperados.
Os adesivos são descritos como substâncias capazes de permearem pelos
espaços livres entre as superfícies a serem unidas, aproximando as mesmas e
criando, condições propícias para o surgimento de atrações intermoleculares
(ANUSAVICE, 1998; BUONOCORE; ROCHESTER, 1963). Assim segundo
Anusavice (1998), o termo adesão, com conotação química, só poderia ser
corretamente empregado para àqueles materiais que comprovadamente realizam
algum tipo de ligação química forte com os tecidos dentários. E os únicos exemplos
na odontologia seriam os cimentos de ionômero de vidro e os cimentos de
policarboxilato de zinco. Por enquanto, esse termo vem sendo empregado para
caracterizar um tipo de união que seria melhor definido como união micromecânica.
Buonocore, Wileman e Brudevold (1956) avaliaram a possibilidade de adesão
à dentina, e demonstraram que o tratamento prévio da superfície dentinária úmida
com ácido clorídrico a 7 % por 1 min foi capaz de aproximadamente duplicar a
adesão da resina acrílica à dentina. Nas superfícies dentinárias não tratadas com
ácido e que foram imersas em água, a adesão foi mais estável, enquanto nos
27
espécimes que foram condicionados com o ácido, ocorreu um decréscimo
acentuado nos valores de adesão após 5 meses de imersão em água.
Assim a pesquisa em busca de um adesivo que proporcionasse uma boa
retenção e adesão à dentina tornou-se condição prioritária para o sucessso das
restaurações de resina composta. Alguns clínicos naquela época não conseguiam
aceitar o uso de ácido sobre a superfície de dentina, acreditando que poderia ser
nocivo para polpa.
Até a década de 70 do século passado a camada de esfregaço (smear layer)
não era removida, pois os sistemas adesivos não eram compatíveis com o substrato
úmido da dentina. Desta forma a adesão se baseava na interação do adesivo com a
camada de esfregaço, sendo assim muito frágil rompendo-se apenas com a
contração de polimerização da resina composta (GARONE NETTO, 2003). A
camada de esfregaço constitui-se de restos de matéria orgânica e inorgânica
produzidos durante os procedimentos de corte/abrasão com instrumentos rotatórios
e/ou pontas de diamante no substrato em questão e a espessura dependem do tipo
de instrumento ou técnica de instrumentação utilizada. Esta camada é o resultado de
remanescentes do substrato secionado, saliva, sangue, bactérias, oléo, fragmentos
do abrasivo, que se ligam à dentina intertubular e penetram nos túbulos dentinários
formando assim o smear plug (PASHLEY, 1984; TANI; FINGER, 2002; GWINNETT,
1994b). A camada de esfregaço pode apresentar diferentes espessuras e
composições de acordo com a localização do corte e o tipo de instrumento utilizado
(PASHLEY, 1984).
Fusayama et al. (1979) propuseram pela primeira vez o condicionamento
ácido da dentina com ácido fosfórico a 40% por 60 s possibilitando a eliminação da
camada de esfregaço e facilitando a penetração do sistema adesivo Clearfil Bond
28
System-F (Clearfil-Kuraray), que era um adesivo dentinário à base de fenil fosfato
(Phenyl-P), hidroxietilmetacrilato (HEMA) e bisfenol glicidil dimetacrilato (Bis-GMA).
Nakabayashi, Kojima e Masuhara (1982), conseguiram uma adesão na
dentina inter e peritubular, levando à formação de um substrato de natureza
composta que foi denominada mais tarde como camada híbrida. Segundo os autores
a técnica de condicionamento ácido da dentina através da utilização de uma solução
de ácido cítrico a 10% e cloreto férrico a 3% (solução 10:3) promovia nesse
substrato uma desmineralização superficial, expondo uma trama de fibrilas
colágenas que era posteriormente penetrada pelo adesivo hidrofílico, previamente à
utilização de um adesivo hidrófobo. Após estar mais esclarecido o potencial
agressivo dos ácidos sobre o complexo dentino-pulpar, foi sugerida a total remoção
da camada de esfregaço para esses sistemas adesivos durante o procedimento
operatório com o uso de ácidos (FUSAYAMA et al., 1979).
Antigamente, a crença era de que a adesão à dentina poderia ser obtida pela
formação de uniões químicas entre a resina e o componente orgânico ou inorgânico
da dentina. Os componentes mais comumente visados eram o colágeno ou os íons
de cálcio da hidroxiapatita. Acreditava-se que os grupamentos fosfatados aderiam
ao cálcio durante a aplicação do primer. Então durante a polimerização, o
grupamento metacrilato da mólecula iria reagir com o compósito e formar uma união
química do compósito com a dentina. Os compostos que se acreditavam possuírem
estas propriedades eram o NPG-GMA (N-fenil glicina e glicidil metacrilato), fosfatos
polimerizavéis e ácidos poli(alquenóicos). Outro agente de união utilizado era o
glutaraldeído, um composto conhecido por aderir ao colágeno. Pela adesão de uma
molécula como hidroxietilmetacrilato (HEMA) ao colágeno aderido ao glutaraldeído
e, utilizando-se o grupamento metacrilato do HEMA para aderir ao compósito
29
durante a polimerização, acreditava-se que a união química poderia ser formada
entre o colágeno e o compósito. Embora este conceito possa parecer razoável,
estudos clínicos revelaram que esses sistemas não funcionavam tão bem quanto se
acreditava originalmente (ANUNSAVICE, 1998).
A técnica de condicionamento ácido da dentina só passou a ser utilizada a
partir de meados da década de 80 (SWIFT JUNIOR; PERDIGÃO; HEYMANN, 1995),
pois houve muita controvérsia sobre uso de substâncias ácidas sobre a dentina. Na
atualidade, sabe-se que o condicionamento ácido da dentina não age como um
irritante pulpar devido à capacidade tampão exercida pela dentina (CAMPS;
PASHLEY, 2000).
A partir de então, os sistemas adesivos desenvolvidos apresentaram um
protocolo de três passos durante o procedimento adesivo, incluindo: o
condicionamento ácido da dentina que é sempre lavado após sua ação em um
determinado período; o uso de primers constituídos por uma solução de monômeros
bifuncionais (hidrofóbicos e hidrofílicos) dissolvidos em acetona, álcool e/ou água, e
finalmente o uso de uma resina fluida, com ou sem carga, contendo monômeros
hidrofóbicos como Bis-GMA, o TEGDMA e o UDMA (BARATIERI et al., 2001). Com
o passar do tempo, os fabricantes simplificaram o procedimento adesivo juntando os
componentes do primer e da resina fluida em um único frasco, produzindo então os
adesivos de frasco único (GARONE NETTO, 2003).
De forma resumida pode-se dizer que os sistemas adesivos são combinações
de monômeros resinosos hidrofóbicos e hidrofílicos de diferentes pesos moleculares
e solventes que atualmente são classificados em número de passos (1, 2 e 3), de
acordo com a associação entre as três etapas básicas do procedimento de adesão:
condicionamento ácido, primer e adesivo (bond). De forma sucinta pode-se dizer que
30
o ácido faz uma desmineralização que aumenta a porosidade; os poros são
preenchidos pelo primer que é subsequentemente coberto pelo agente hidrofóbico
(bond) para garantir a união com o material resinoso restaurador através da
formação da camada híbrida (NAKABAYASHI; KOJIMA; MASUHARA, 1982).
Ainda pode-se dizer que os sistemas adesivos disponíveis empregam uma
dentre os dois tipos de abordagem de união existentes: abordagem convencional
ou autocondicionante. Os adesivos convencionais são aqueles que utilizam o
condicionamento ácido como passo separado e podem ser encontrados em 2 ou 3
passos. Já os adesivos autocondicionantes associam, em geral, o condicionamento
ácido ao primer, e podem assim ser apresentados em 1 ou 2 passos (VAN
MEERBEEK et al., 2003; CARVALHO et al., 2004). Os sistemas adesivos
autocondicionantes não serão abordados nesta revisão da literatura em função de
não terem sido o foco principal desta pesquisa.
A camada híbrida além de ser responsável pelo mecanismo de retenção dos
sistemas adesivos permite também uma boa performance clínica inicial quando
estes sistemas adesivos convencionais foram associados com resinas compostas
(SWIFT JUNIOR et al., 2001; TYAS; BURROW, 2002). Van Meerbeek et al. (1992),
utilizando diferentes adesivos e agentes condicionadores, mostraram que a
profundidade de desmineralização da dentina e formação da camada híbrida
depende do tempo e do tipo de aplicação do agente condicionador empregado.
Também mostrou através de análise em microscopia eletrônica de varredura (MEV)
a formação dos tags resinosos. Altos valores de resistência de união já foram
relatados com estes sistemas (PRATI; PASHLEY, 1992; YOSHIYAMA et al., 1996a,
1996b).
31
A adesão destes materiais à dentina, porém, não tem mostrado resultados tão
consistentes e, nestes últimos anos, pesquisas têm sido dirigidas na busca de um
material ou sistema adesivo que se ligue à dentina, promova selamento e,
especialmente, seja durável, permanecendo inalterado por um longo tempo, em um
ambiente desfavorável úmido e submetido a freqüentes variações térmicas, como é
a cavidade bucal. O desafio dos pesquisadores de adesivos foi, e continua sendo, o
desenvolvimento de agentes que possam aderir à dentina. Embora a pesquisa nesta
área esteja em progresso desde a década de 50, tornou-se a principal prioridade nos
últimos anos, à medida que emergiam as aplicações práticas dos adesivos
dentinários. Porém para compreender as dificuldades adesivas que apresentam os
sistemas adesivos, é preciso conhecer as características morfológicas que
apresentam o tecido dental, especificamente a dentina.
2.2 Dentina
A composição aproximada da dentina em volume é de 50% de apatita rica em
carbonato e deficiente em cálcio, 30% de matéria orgânica, principalmente colágeno
tipo I e aproximadamente 20% de fluido similar ao plasma (MARSHALL JUNIOR,
1993). São os cristalitos de hidroxiapatita que conformam a fase mineral da dentina,
sendo menores, e com orientação menos sistemática do que àqueles encontrados
no esmalte.
Cada unidade do cristal de hidroxiapatita tem como fórmula
3Ca3(PO4).Ca(OH)2 (BHASKAR, 1989). A fase orgânica é conformada em quase
32
90% de uma densa trama de fibrilas de colágeno e o restante é formado por
proteínas solúveis. Na dentina, o colágeno tipo I presente é composto por um arranjo
não ordenado de inúmeras fibrilas dispostas em camada. Essas fibrilas, por sua vez,
são formadas por milhares de moléculas de colágeno, agregadas de maneira
escalonada e sobrepostas. Cada molécula de colágeno é um triplo filamento
helicoidal de 3 cadeias polipeptídicas, compostas por milhares de aminoácidos,
sendo a glicina, prolina, e hidroxiprolina os mais importantes. As três cadeias se
entrelaçam através de ligações laterais que envolvem certas combinações de
aminoácidos (BUTLER; RICHARDSON, 1984).
O colágeno é uma proteína fibrosa, insolúvel e resistente à ação de
proteases, devido ao denso empacotamento molecular. A desestruturação do
colágeno só pode ser possível após clivagem da tripla hélice, através da enzima
colagenase deixando-o susceptível à ação das outras proteases (BUTLER;
RICHARDSON, 1984). Os proteoglicanos são proteínas solúveis presentes na
dentina, formadas por uma família de macromoléculas compostas por 2
componentes poliméricos e um núcleo protéico ao qual se ligam cadeias laterais de
carboidratos (glicosaminoglicanos, como o ácido hialurônico e a heparina) e criam
uma força repulsiva entre as cadeias de carboidratos, devido à natureza acídica dos
glicosaminoglicanos. Assim essas cadeias atuam como peneira molecular excluindo
macromoléculas maiores que os poros da rede. Outro constituinte da fase orgânica
são as fosfoproteínas, que possuem características aniônicas (BUTLER;
RICHARDSON, 1984).
O estudo de Perdigão e Lopez (1999) demonstrou o importante papel das
proteínas não fibrosas (proteoglicanos e fosfoproteínas) no processo de união com
os adesivos atuais. É bem provável que em virtude da característica hidrofílica
33
destas moléculas, elas sejam removidas ou alteradas durante o procedimento
adesivo, em virtude da ação dos solventes orgânicos presentes nos sistemas
adesivos.
A dentina apresenta também propriedades muito mais resilientes que o
esmalte. Na junção entre o esmalte e a dentina (junção amelodentinária – JAD) há
uma mudança no tamanho e na orientação dos cristais da apatita. Na dentina, os
cristais de hidroxiapatita são muito menores (MARSHALL JUNIOR et al., 1997) e
limitados entre si pelas fibrilas colágenas (HAYASHI, 1992). A dentina apresenta
uma rede altamente organizada de túbulos, inicialmente ocupados pelos
prolongamentos odontoblásticos, que se estendem e se ramificam desde a câmara
pulpar até a JAD, apresentando numerosas interligações ao longo de sua extensão,
denominadas canalículos dentinários. Estes são envoltos pela dentina peritubular,
um tecido com maior deposição mineral e que promove suporte adicional. Entre os
túbulos e canalículos, encontra-se a dentina intertubular, com maior conteúdo
orgânico, característica fibrosa e rica em matriz intercelular (KATCHBURIAN;
ARANA, 1999).
Os túbulos dentinários são como delicados cilindros ocos dentro da dentina,
preenchidos por líquido tecidual e ocupados em parte ou na sua totalidade de seu
comprimento, pelo prolongamento dos odontoblastos (TEN CATE, 2001). O diâmetro
e o número de túbulos por mm², assim como a área total ocupada por eles não é
uniforme. A porcentagem de túbulos por área e seu diâmetro variam de 22% e 2,5
μm junto à polpa para 1% e 0,8 μm na junção amelodentinária. Os túbulos são mais
separados nas camadas periféricas e mais agrupados próximo da polpa. Além disso,
possuem maior diâmetro junto à cavidade pulpar (3 a 4 µm), e menor em suas
extremidades (1 µm). É cerca de 4:1 a proporção entre o número de túbulos por
34
unidade de área nas superfícies próximo à polpa e junção amelodentinária
(BHASKAR, 1989). A densidade de túbulos da dentina oclusal varia de 15.000 a
24.500 por mm² na dentina superficial, de 35.000 a 40.400 na média e 43.000 a
65.000 na profunda (MARSHALL et al., 1997). Essa variabilidade estrutural implica
em diferentes graus de permeabilidade dentinária dependendo da região e da
proximidade em relação à polpa (PASHLEY et al., 1987).
Assim, o substrato da dentina é muito complexo e vivo sofrendo alterações
segundo a localização, idade ou em resposta a estímulos. Porém, a umidade, o
conteúdo mineral, a porosidade, a quantidade e as condições da matriz orgânica, a
disposição dos túbulos, a face do dente considerada, a vitalidade pulpar, a
proximidade da polpa, a condição de dentina normal ou alterada, são alguns fatores
intrínsecos que propiciam ampla variabilidade no substrato.
No entanto, ainda existem dificuldades na infiltração de monômeros resinosos
pelas fibrilas de colágeno sendo muito crítica esta técnica, e alguns fatores dificultam
a formação da camada híbrida. Já foi demonstrado que se as fibrilas de colágeno,
expostas pelo condicionamento ácido da dentina, se colapsarem pelo ressecamento
da superfície, haverá redução da permeabilidade dentinária e, conseqüentemente,
diminuição da capacidade de infiltração dos monômeros (CARVALHO; BREWER;
PASHLEY, 1996; CARVALHO et al., 1996). Desta forma, torna-se fundamental
mantê-la úmida, previamente à aplicação do sistema adesivo (GWINNETT, 1992;
KANCA III, 1992). Kanca III (1992) mostrou as vantagens de um adesivo que
pudesse interagir com a superfície dentinária intrinsecamente úmida, baseando-se
nas características hidrofílicas do adesivo All Bond (Bisco Dental). Segundo o autor
como o adesivo testado apresentava um primer hidrofílico à base de acetona, a
umidade presente na superfície da dentina condicionada deixava de ser um
35
inconveniente e passava a ser um requisito para alcançar uma ótima adesão. O
excesso de umidade na superfície dentinária também afeta negativamente o
processo adesivo, pois evita uma completa polimerização dos monômeros resinosos
(PAUL et al., 1999), dada à diluição de seus componentes e a separação de fases
entre os monômeros hidrofóbicos e hidrofílicos (TAY et al., 1996; TAY; GWINNETT;
WEI, 1996a).
Segundo Tay et al. (1996) as situações de ressecamento e super
umedecimento da superfície dentinária desmineralizada representariam os extremos
de um espectro que reflete a influência antagônica da umidade na interação entre o
adesivo e o substrato. Quando os túbulos dentinários e a trama colágena intertubular
estão saturados com água, pode-se observar glóbulos resinosos na interface de
união que são resultantes da separação de fases dos componentes do primer e
ainda espaços bolhosos, que representam regiões previamente ocupadas por água
que não foram preenchidas pelo sistema adesivo (TAY; GWINNETT; WEI, 1996b).
Os autores concluíram que, para uma ótima hibridização da dentina poder ser
atingida, deve-se manter a trama de colágeno úmida durante o procedimento
adesivo evitando um excesso de água na superfície dentinária (TAY et al., 1996).
Além disso, esta umidade adequada é dependente do tipo de solvente presente em
cada sistema adesivo e situações ideais para um sistema à base de água/etanol
pode representar uma dentina muito seca para adesivos à base de acetona (REIS et
al., 2003a). Para adesivos à base de água aplicados em substrato muito úmido,
apesar de não terem sido observadas formações como micelas uma camada híbrida
deficiente também é formada (TAY; GWINNETT; WEI, 1998).
Assim, nota-se que a manutenção da trama de colágeno, exposta pelo
condicionamento ácido é critica e ainda restam muitas dúvidas a cerca do seu papel
36
na retenção e eficiência de selamento da dentina com os sistemas adesivos atuais.
Sendo assim, alguns autores passaram a remover o colágeno exposto da dentina
com agentes desproteinizadores (GWINNETT, 1994b; VARGAS; COBB;
ARMSTRONG, 1997; WAKABAYASHI et al., 1994).
2.3 Tratamento da dentina com hipoclorito de sódio
O hipoclorito de sódio (NaOCl) é a solução auxiliar da instrumentação dos
canais radiculares mais utilizada por cirurgiões dentistas de todo o mundo, devido às
suas propriedades altamente desejáveis como coadjuvante do preparo químico-
mecânico do canal radicular. Entre estas propriedades, podemos incluir lubrificação,
remoção de debris, destruição de microrganismos e dissolução de tecidos orgânicos
(COHEN; BURNS, 1998). A solvência de tecidos orgânicos a esta solução é devido
à ação do cloro sobre as proteínas formando cloraminas solúveis em água, reação
com rapidez diretamente proporcional à concentração de cloro ativo presente na
solução (GROSSMAN; MEIMAN, 1941; HAND; SMITH; HARRISON, 1978;
MOORER; WESSELINK, 1982). O princípio ativo do hipoclorito de sódio se deve às
moléculas de HOCl não-dissociadas, responsáveis pela ação oxidante e hidrolisante
do composto (MOORER; WESSELINK, 1982).
A dentina humana possui cerca de 18% em material orgânico, sendo o
colágeno o principal constituinte desta fração (MJÖR; FEJERSKOV, 1990). Assim
como os remanescentes pulpares, o colágeno também pode sofrer a ação solvente
pelo hipoclorito de sódio (NAKAMURA et al., 1985; TREPAGNIER; MADDEN;
37
LAZZAR, 1977). Barbosa, Safavi e Spangberg (1994) relataram que o hipoclorito de
sódio a 5,0% promove uma degradação de aproximadamente 14% do peso seco em
amostras de dentina submetidas à esta solução por 24 horas.
Alguns pesquisadores afirmam que a eliminação do colágeno exposto pelo
condicionamento ácido através de soluções com hipoclorito de sódio diminui a
sensibilidade da técnica adesiva e possibilita o alcance de uma superfície mais
porosa, semelhante ao esmalte que é responsável por valores de resistência de
união semelhantes àqueles obtidos em esmalte condicionado por ácido fosfórico.
(WAKABAYASHI et al., 1994). Além disso, a desproteinização eliminaria o passo
crítico de umedecimento da dentina, devido à ausência do componente orgânico
(REIS et al., 2000).
A retenção e o selamento produzido pelos sistemas adesivos atuais confiam
uma completa formação da camada híbrida (NAKABAYASHI; KOJIMA; MASUHARA,
1982). Entretanto, ainda apresentam-se dificuldades ao respeito da infiltração do
monômero dentro da rede das fibrilas de colágeno. Quando a dentina
desmineralizada é seca com jato de ar, as fibrilas de colágeno se aproximam tendo
por resultado o colapso da matriz orgânica que reduz a permeabilidade da zona
desmineralizada (PASHLEY et al., 2001). Isto foi observado na marcante diminuição
da resistência de união de adesivos à dentina desmineralizada e seca por jatos de ar
(GWINNETT, 1992; NAKAJIMA et al., 2000). Por outro lado, um excesso da água
causa a diluição dos monômeros resinosos e a separação de metade das fases
hidrofóbicas e hidrofílicas que finalmente compromete a infiltração da resina (TAY et
al., 1996; TAY; GWINNETT; WEI, 1998), conforme já descrito anteriormente.
Os problemas acima mencionados destacam que a manutenção da rede
desmineralizada das fibrilas de colágeno, exposta pelo condicionamento ácido, é
38
crítica. Além disso, a profundidade total da desmineralização da dentina não
infiltrada completamente pelos monômeros (SPENCER et al., 2000), como a trama
das fibrilas de colágeno, perto da dentina não afetada é susceptível à degradação
hidrolítica ao longo do tempo (BURROW; SATOH; TAGAMI, 1996; CARRILHO et al.,
2007; SANO et al., 1995).
Baseado nisso, o uso do hipoclorito de sódio (NaOCl), como um agente
proteolítico não específico, poderia ser útil porque elimina a rede desmineralizada
das fibrilas de colágeno, exposta após o condicionamento ácido (GWINNETT,
1994a; VARGAS; COBB; ARMSTRONG, 1997; WAKABAYASHI, 1994) reduzindo a
sensibilidade da técnica relatada para a adesão úmida (REIS et al., 2000).
O hipoclorito de sódio age na dentina, alterando sua ultra-estrutura
morfologica, removendo as fibrilas de cólageno expostas pelo condicionamento
ácido, tornando a abertura dos túbulos dentinários mais ampla e expondo uma rede
de canais laterais secundários e anastomoses, impossível de ser visualizada em
dentina apenas condicionada (INABA et al., 1995; MARSHALL et al., 2001;
PERDIGÃO et al., 1999; UNO; FINGER, 1995; VARGAS; COBB; ARMSTRONG,
1997). Esta nova morfologia proporciona excelente retenção mecânica entre o
substrato dental e as resinas adesivas (MARSHALL et al., 2001; PERDIGÃO et al.,
1999; VARGAS; COBB; ARMSTRONG, 1997), promove interações químicas pelo
fato da superfície dentinária resultante ser essencialmente mineral (GWINNETT,
1994a). Dessa forma, o mecanismo de união entre dentina e resina, após o
tratamento com hipoclorito de sódio, acontece por meio da penetração dos
monômeros resinosos na dentina mineralizada nos túbulos dentinários e canais
laterais (GWINNETT, 1994a) formando prolongamentos resinosos. Segundo alguns
autores, pode-se afirmar que há formação de uma camada híbrida reversa (PRATI;
39
CHERSONI; PASHLEY, 1999) onde há penetração de monômeros nas porosidades
submicrométricas da fase mineral decorrentes da remoção das fibrilas de colágeno.
Porém quando a desproteinização é realizada, os resultados da resistência de união
relatada na literatura são controversos (FRANKENBERGER et al., 2000;
GWINNETT, 1994a; SABOIA; RODRIGUES; PIMENTA, 2000; WAKABAYASHI et
al., 1994).
Avaliações clínicas de longa duração são consideradas o método ideal de
validar a qualidade destes novos sistemas adesivos. Infelizmente, este tipo de
análise é de difícil execução por demandar muito tempo e ter um custo elevado
(NIKAIDO et al., 2002). Assim testes in vitro são considerados importantes por
avaliar, num curto espaço de tempo, a eficiência da adesão de sistemas adesivos,
apresentando uma boa correlação com os estudos in vivo (VAN MEERBEEK et al.,
2003).
Já foi relatado que a resistência de união à dentina com os sistemas adesivos
que preconizam o condicionamento ácido total e aplicados de acordo com as
recomendações dos fabricantes tende a diminuir após armazenagem de 6 meses a 3
anos e observa-se também uma elevada nanoinfiltração da interface adesiva
(BURROW; SATOH; TAGAMI, 1996; CARRILHO et al., 2004; HASHIMOTO et al.,
2000; LI; BURROW; TYAS, 2000; LOGUERCIO et al., 2005; OKUDA et al., 2001).
Essencialmente dois dos principais componentes da camada híbrida são
susceptíveis à degradação ao longo do tempo: o constituinte orgânico, representado
pelas fibrilas de colágeno, encapsuladas pelos monômeros resinosos ou pelo
polímero formado entre as fibrilas de colágeno após a fotoativação (REIS et al.,
2004). Caso a degradação hidrolítica ocorra nas fibrilas de colágeno, como sugerido
por alguns autores
(HASHIMOTO et al., 2000; HASHIMOTO et al., 2003) é bem
40
provável que as interfaces de união formadas após a desproteinização com
hipoclorito de sódio sejam mais resistentes após armazenamento em água que
àquelas interfaces produzidas de forma convencional.
O benefício do tratamento com NaOCl sob a dentina desmineralizada foi
relatado por Pioch et al. (2001) e Chersoni et al. (2004).
Pioch et al. (2001)
mostraram que a aplicação do hipoclorito de sódio durante 60 s, reduziu a
penetração de prata nas porosidades situadas perto da dentina mineralizada
inalterada e dentro rede rica de fibrilas de colágeno. Chersoni et al. (2004)
mostraram que o pré tratamento da dentina reduz o movimento da água através da
camada híbrida reduzindo a degradação a longo prazo da união adesiva.
A retenção nesta técnica se basearia tão e exclusivamente no embricamento
mecânico da resina no substrato mineralizado e poroso e a maior formação de tags
resinosos mais volumosos e a um maior número de anastomoses entre os mesmos,
já que não é possível haver formação da camada híbrida quando remove-se o
colágeno exposto pelo condicionamento ácido (PERDIGÃO et al., 1999; VARGAS;
COBB; ARMSTRONG, 1997).
Wakabayashi et al. (1994) verificou aumento nos valores de resistência após
utilização de hipoclorito de sódio a 10% por 60 s. Outros estudos encontraram
valores de resistência de união semelhantes (ARMSTRONG; BOYER; KELLER,
1998; GWINNETT, 1994b; TOLEDANO et al., 2000; VARGAS; COBB;
ARMSTRONG, 1997) ou dependentes (maiores ou menores) dos sistemas adesivos
utilizados (INAI et al., 1998; PRATI; CHERSONI; PASHLEY, 1999; SABOIA;
RODRIGUES; PIMENTA, 2000).
Valores de resistência de união inferiores também são reportados a seguir:
uma gota de NaOCl a 10% foi aplicada à superfície dentinária de todas as amostras
41
durante 0 s (controle), 15, 30, ou 60 s. As amostras foram divididas em dois grupos,
e cada grupo recebeu um sistema adesivo convencional. Após a termociclagem os
espécimes foram testados em cisalhamento e os resultados obtidos demonstraram
que o aumento do tempo de aplicação resultou na diminuição progressiva dos
valores de resistência de união à dentina para todos os sistemas adesivos e resinas
compostas testados (PERDIGÃO et al., 2000). Outros autores demonstram também
que após o tratamento da dentina com hipoclorito de sódio foi observada uma
diminuição significativa nos valores resistência de união (em média de 30%) para
todos os grupos experimentais. Os autores concluíram que o tratamento com NaOCl
após o condicionamento ácido da dentina provocou efeitos deletérios a adaptação
marginal e resistência de união de resinas compostas, independente da natureza do
sistema adesivo (FRANKENBERGER et al., 2000).
Quando se avaliou o efeito do hipoclorito de sódio em dentina superficial e
profunda, observou-se que os valores de resistência de união em dentina superfícial
foram estatisticamente superiores àqueles obtidos em dentina profunda, sendo que
a aplicação de hipoclorito de sódio resultou em valores de resistência de união
menores para ambos os tipos de dentina estudada (UCEDA-GÓMEZ et al., 2003).
Barbosa de Souza et al. (2004), demonstraram pelos resultados obtidos que
as características químicas de cada sistema adesivo (como o pH, o tipo e a
quantidade do solvente, monômero) podem influenciar na adesão das superfícies
desproteinizadas. Outros estudos (DE MUNCK et al., 2007) não detectaram
diferença estatística naqueles grupos onde as superfícies de esmalte foram tratadas
com NaOCl antes da técnica adesiva.
Mas, quais serão os motivos para tais resultados? Talvez as variáveis
inerentes a cada metodologia utilizada, que vão desde o tipo de teste realizado, seja
42
esse cisalhamento, microcisalhamento, tração, microtração, microinfiltração ou
nanoinfiltração até o tipo de dente empregado [humano (decíduo ou permanente) ou
bovino]. Após revisão da literatura pertinente ao tema, observa-se que o uso do
hipoclorito de sódio no substrato dentinário, utilizando sistemas adesivos dentinários
ainda é um assunto controverso e não completamente esclarecido, aspecto que
favorece a realização de mais pesquisas sobre o assunto.
2.4 Longevidade das interfaces adesivas.
No que tange a durabilidade destes materiais, sabe-se que esta propriedade
dos polímeros depende, entre outros, do grau de conversão de monômeros em
polímeros e de sua característica hidrofílica. Assim, pode-se inferir que o grau de
conversão dos adesivos é bem inferior quando comparado, por exemplo, às resinas
compostas, devido ao fato da formação do polímero ocorrer na presença de água,
solventes residuais (JACOBSEN; SODERHÖLM, 1995; PAUL et al., 1999) e menor
formação relativa da camada inibida pelo oxigênio. Um polímero sub-polimerizado e
rico em terminações hidrofílicas tende a absorver maior quantidade de água do meio
oral, o que afeta suas propriedades mecânicas imediatas e ao longo do tempo
(CARRILHO et al., 2005; REIS et al., 2005).
Recentes evidências demonstraram que os materiais simplificados funcionam
como membranas permeáveis, permitindo passagem de fluidos (TAY et al., 2005)
pela camada híbrida e de adesivo. Por diferenças de concentração osmótica, há
43
passagem de água da dentina subjacente em direção ao material restaurador. Isto é
particularmente desastroso quando a polimerização do material restaurador é lenta,
como nos casos de ativação química. A água em trânsito se acumula na interface
resina/adesivo e compromete a união entre ambos, o que pode levar ao
descolamento prematuro de restaurações diretas ou peças protéticas. Tal
permeabilidade vem sendo evidenciada micromorfologicamente por estudos que
identificam por meio da infiltração pela prata, finos canais deixados pela passagem
de água (water-trees) na camada de adesivo (TAY; PASHEY, 2003). A densidade e
quantidade destas water-trees vêm sendo relacionadas com a redução da
resistência adesiva e o aumento da nano-infiltração (LI; BURROW; TYAS,
2003;
OKUDA et al., 2002).
A degradação dos componentes poliméricos, por sua vez, deixa as fibrilas de
colágeno expostas à ação de metaloproteinases endógenas que podem degradar o
componente orgânico da camada híbrida (CARRILHO et al., 2007; PASHLEY et al.,
2004). Este mesmo fenômeno pode ocorrer quando a penetração dos monômeros
resinosos entre as fibrilas desmineralizadas é insuficiente deixando regiões não
infiltradas expostas à água (SPENCER; SWAFFORD, 1999). Esta degradação
implica na redução da resistência de união entre o tecido dentinário e os sistemas
adesivos comprometendo assim a durabilidade das restaurações adesivas
(CARRILHO et al.,
2007; REIS et al., 2005).
Estudos verificaram que a rede colágena dentinária desmineralizada, quando
exposta a ação da água durante mais de 3 meses, apresentou-se desorganizada,
com seu espaço interfibrilar mais delgado assim como o diâmetro das fibrilas
colágenas e a espessura da camada de dentina condicionada (HASHIMOTO et al.,
2003; PASHLEY et al., 2004). Os efeitos adversos da degradação hidrolítica em
44
restaurações adesivas também foram observados em diferentes tempos de função
clínica (HASHIMOTO et al., 2000). Quanto maior o tempo de função da restauração,
menores foram os valores de resistência de união encontrados, o que sugeriu que
as fibrilas colágenas expostas à umidade da cavidade bucal e possivelmente à ação
de metaloproteinases sofrem uma progressiva degradação com o passar do tempo.
Estes conceitos teóricos possuem diversas implicações clínicas que podem
resultar em falha de selamento com conseqüente sensibilidade pós-operatória,
infiltração, descoloração marginal e cárie secundária, podendo ainda ocasionar falha
de retenção com perda prematura de restaurações confeccionadas em cavidades
não retentivas, como lesões de Classe V (PEUMANS et al., 2005; VAN MEERBEEK
et al., 2003). Assim, a frágil e transiente estabilidade das restaurações adesivas
acarreta em ônus direto aos pacientes que são expostos a re-tratamentos
restauradores periódicos, nos quais não se pode evitar a perda gradativa dos tecidos
dentais sadios.
A distinção entre os sistemas mais ou menos suscetíveis à degradação, ou
seja, que tendem a possuir desempenho mais favorável e maior credibilidade em
longo prazo é um importante quesito para alcance de maior longevidade das
restaurações.
Indiscutivelmente, a simplificação da técnica propicia conforto e economia de
tempo para o paciente e o clínico e é em prol desta vantagem que uma avalanche
de produtos simplificados foram lançados no mercado. Contudo, fica evidente que,
contrariamente à tendência de produção de sistemas adesivos simplificados, os
dados oriundos de pesquisas laboratoriais e clínicas, até o presente momento, são
convergentes em mostrar que os sistemas convencionais de três passos ou
autocondicionantes de 2 passos são os que apresentam melhor desempenho no
45
maior número de quesitos (DE MUNCK et al., 2005; PEUMANS et al., 2005; TAY;
PASHLEY, 2003).
46
3 PROPOSIÇÃO
O objetivo deste estudo foi avaliar a resistência de união e a qualidade da
interface de união entre dois sistemas adesivos convencionais e simplificados à
dentina, aplicados de forma convencional e modificada (com hipoclorito de sódio)
após dois períodos de armazenagem.
47
4 MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi aprovado pelo Cômite de Ética em Pesquisa (CEP-
FOUSP) da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), sob
o protocolo número 213/03 e conduzido após aprovação para a Comissão Nacional
de Ética em Pesquisa (CONEP/CNS/MS), pelo envio de materiais orgânicos para o
exterior, sob o número protocolo de 620/2004 (Anexo A-B). O Banco de Dentes
Humanos da FOUSP forneceu 32 dentes terceiros molares hígidos para a realização
deste trabalho.
Com o intuito de facilitar a compreensão do texto, o mesmo será apresentado
na forma de tópicos.
4.1 Preparação do substrato dental em dentina
Todos os dentes foram desinfetados em cloramina a 0,5% (DE WALD, 1997)
e após a remoção dos debris com curetas, permaneceram armazenados a 37ºC em
solução de soro fisiológico a 0,9%.
Os dentes tiveram a superfície oclusal de esmalte desgastada em politriz
Ecomet 3 (Buehler, EUA) através de uma lixa de granulação #180 com abundante
48
irrigação. Tomou-se o cuidado de verificar com lupa de aumento se, após o desgaste
dos dentes, se não existiam áreas de esmalte, procurando manter uma dentina
superficial em todos os dentes. A seguir foi feito um controle da espessura da
dentina remanescente (EDR) a fim de uniformizar a profundidade do substrato
(UCEDA-GÓMEZ et al., 2003). Todas as superfícies de dentina foram polidas em
uma velocidade de 100 rpm com lixas de carbeto de silício, de granulações 220, 320
e 400 (Buehler, EUA) em seqüência, cada uma por 10 s e, finalmente o polimento
final foi executado com a lixa 600 (Buehler, EUA) por 60 s, sempre rotacionando o
dente em 90º para conseguir uma camada de esfregaço relativamente padronizada.
4.2 Procedimento adesivo e restaurador
Quando obtidas as superfícies desejadas de dentina para o trabalho, os
dentes foram lavados em água corrente e suavemente secos com ar comprimido,
sendo imediatamente restaurados segundo as indicações de cada grupo. A
aplicação dos sistemas adesivos foi realizada por um único operador segundo
recomendações do fabricante (Tabela 4.1).
Metade dos 32 molares hígidos foram aleatoriamente selecionados e
restaurados com o sistema adesivo Single Bond (3M ESPE, USA), à base de
água/etanol (Figura 4.1). Os adesivos foram aplicados de forma convencional,
segundo as recomendações do fabricante (Tabela 4.1) ou modificada. Na forma
modificada, após o condicionamento ácido com ácido fosfórico, realizou-se a
49
aplicação de hipoclorito de sódio a 10% por 60 s, afim de remover as fibrilas de
colágeno expostas pelo condicionamento ácido anterior. A outra metade dos dentes
foram restauradas com o adesivo One-Step (Bisco, USA) (Figura 4.1) da mesma
forma descrita para o Single Bond. A composição e a forma de utilização de cada
sistema adesivo está apresentada na Tabela 4.1.
Figura 4.1- Sistemas adesivos One-Step (Bisco, EUA) e Single Bond (3M ESPE, EUA)
Nos grupos que foram restaurados de forma convencional (8 dentes para
cada adesivo), foi realizado o condicionamento ácido, lavagem, secagem e a dentina
foi umedecida de acordo com o padrão de umidade para cada um dos sistemas
(REIS et al., 2003a). A seguir o sistema adesivo foi aplicado de acordo com as
instruções do fabricante (Tabela 4.1). Nos grupos que foram restaurados de forma
modificada (8 dentes para cada adesivo), após o condicionamento ácido, as
superfícies foram tratadas com duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 10%
esfregando a superfície por 60 s para remoção do colágeno exposto pelo
condicionamento (YAMAUTI et al., 2003). A seguir, as superfícies foram lavadas
com água corrente por 15 s e o adesivo foi aplicado da mesma forma como nos
grupos convencionais (Tabela 4.1).
50
Foram adicionadas três porções de resina composta Z-250 (3M ESPE, EUA)
com cerca de 4,5 mm de altura, fotoativadas por 40 s cada porção com o aparelho
VIP (Bisco, Schaumburg, IL, USA) com intensidade de luz de 600 mW/cm
2
. Após o
procedimento restaurador, os espécimes foram armazenados água destilada por 24
h a 37
o
C. Cada espécime foi colado com cera pegajosa a um dispositivo da máquina
para corte de tecido duro Labcut 1010 (Extec, EUA) onde os espécimes foram
submetidos a cortes seriados e perpendiculares à interface de união, com um disco
de diamante (Labcut 1010 – Extec Corp, Enfield, CT, USA) de modo a obter corpos-
de-prova (cps) na forma de palitos, com área de secção transversal de
aproximadamente 0,8 mm
2
(Figura 4.2). Para controle da profundidade dentinária foi
realizada a mensuração da espessura do remanescente dentinário (ERD) de cada
cp com paquímetro digital com precisão de 0,01 mm (Absolute Digimatic, Mitutoyo,
Tóquio, Japão).
Figura 4.2. Desenho esquemático do corpo-de-prova em forma de palito
O passo seguinte foi a divisão aleatória dos palitos provenientes do mesmo
dente em dois diferentes grupos: 1) IM – os espécimes foram testados
imediatamente após o corte; 2) 12M – 12 meses. Os cps deste último grupo foram
testados após armazenagem em solução de azida sódica a 0,5% (Sigma Ultra, Lote
51
58H2504) por 12 meses. A solução de azida sódica a 0,5% (Sigma Ultra, Lote
58H2504) previne o crescimento bacteriano durante a armazenagem (BURROW et
al., 1996). O pH das soluções nas quais os cps estiveram armazenados foi
mensurado mensalmente. Caso verificada alteração do pH (7 ± 0,5) a solução era
trocada (KITASAKO et al., 2000).
4.3 Ensaio de resistência da união por microtração
Para esta parte do estudo, foram utilizados 5 dentes por condição
experimental. Assim os palitos provenientes destes dentes foram colado com cola a
base de cianocrilato (Zapit, DVA, USA), por suas extremidades à um paquímetro
modificado para testes de microtração (BIANCHI, 1999) e adaptada a máquina de
ensaios universal Kratos (Kratos Dinamômetros, Brasil), de maneira que as tensões
ocorressem perpendicularmente à interface da colagem. Os cps foram submetidos a
tensões de tração a uma velocidade de 0,5 mm/min. Para calcular a tensão de
ruptura de cada cp em Mega Pascal (MPa), a área e seção transversal dos
espécimes foi medida com um paquímetro digital (Absolute Digimatic, Mitutoyo,
Japão) e convertida em cm².
O modo de fratura de cada cp foi observado em Lupa Estereoscópica
(aumento 2x) e classificado nos seguintes padrões de fratura: 1) adesiva (A); 2)
coesiva (C) e; 3) adesiva mista (A/M).
52
Tabela 4.1 – Composição e forma de aplicação dos sistemas adesivos
Material/ Lote Composição
Modo de
aplicação
Single Bond
3M Espe
(OEH)
1. Scotchbond – ácido fosfórico a 37%
2. Adesivo – Bis-GMA; HEMA; dimetacrilatos;
copolímero de ácido polialquenóico; iniciador,
água e álcool.
a, b, c, d,
e, f, g
One Step
Bisco
(010007932)
1. Uni-Etch – ácido fosfórico a 32%
2. Adesivo – Bis-GMA; BPDM; HEMA, iniciador,
acetona.
a, b, c, d,
e, f, g
Z-250
3M Espe
(FL293)
1. Matriz inorgânica: 60% em volume de
zircônia/sílica com tamanho. médio das
partículas 0,19 a 3,3µm
2. Matriz orgânica: Bis-GMA; UDMA, Bis-EMA.
h, i
a – condicionamento ácido (15 s); b – lavagem com jato água-ar (15 s); c – secagem com jato de
ar (30 s); d – dentina umedecida com 1,5
μ
l de água para o Single Bond e 3,5
μ
l para o One-
Step ; e – aplicação de duas camadas de adesivo sob agitação por 10 s cada; f – aplicação de
jato de ar por 10 s à distância de 20 cm; g – fotoativação (600 mW/cm
2
por 10 s); h – três
porções de resina composta; i - fotoativação (600 mW/cm
2
por 40 s cada porção).
4.4 Análise da penetração de nitrato nas interfaces adesivas em microscopia
eletrônica de varredura (MEV)
Foram utilizados para esta parte do estudo os 12 molares restantes, sendo 3
representativo de cada condição experimental. A região de dentina utilizada foi a
face oclusal. Esta parte teve a finalidade de observar as interfaces de união entre os
sistemas adesivos e a superfície de dentina através do MEV, imediatamente após
seccionamento e após armazenamento em água por 12 meses. A superfície de
dentina foi tratada com lixa de carbeto de silício (granulação 600) por 60 s para se
obter uma superfície de dentina coberta com uma smear layer fina (TAY; PASHLEY,
53
2001). Ambos sistemas adesivos (SB e OS) foram aplicados em ambos grupos
(convencional e modificada - hipoclorito de sódio a 10%) de acordo com a forma já
descrita para o teste de microtração. Ao término, as unidades experimentais foram
armazenadas por 24 h em água destilada a 37ºC e seccionadas para o teste de
microtração como descrito anteriormente e divididos em dois grupos para os
diferentes períodos de armazenamento. Os corpos-de-prova, em seus respectivos
períodos de armazenamento foram cobertos com duas camadas de verniz para
unhas (YvesSaintLaurent cor vermelho), exceto 0,5 mm ao redor da interface de
união (Figura 4.3). Após impermeabilização os cps foram imersos em solução de
nitrato de prata (AgNO3) (3mol/l) por 1 h em ambiente escuro. Após imersão no
AgNO3, os cps foram lavados com água corrente durante 5 min e revelados por 12 h
em solução reveladora (KODAK CAT, Lote 861 0248). Ao término deste período, os
espécimes foram lavados por 2 min em água corrente e embutidos em resina
epóxica. Seguiu-se então o polimento dos corpos-de-prova. Para tanto, empregou-
se uma politriz Ecomet 3 (Buehler, EUA) com lixas de carbeto de silício, de
granulações 1200, 2000, 2400 e 4000 (Buehler, Lake Bluff, IL, EUA). Ao término do
polimento com lixas, os mesmos foram polidos em pano de feltro Ultrapad e Ultrapol
(Buehler, Lake Bluff, IL, EUA) com pastas de diamante de granulação decrescente
de 6, 3, 1 e 0,25 µm. A cada troca de abrasivos, os cps foram colocados em um
recipiente de vidro com água deionizada em um aparelho de ultra-som (Thorton,
INPEC Eletrônica Ltda., Vinhedo, São Paulo, Brasil), por 5 min, para que as
vibrações geradas eliminassem os detritos produzidos pelo polimento. A seguir, os
espécimes foram secos em temperatura ambiente, e logo depois mantidos por 24 h
em condições de vácuo (aproximadamente 20 mbar) contendo sílica gel e cobertos
54
com uma fina camada de ouro para visualização em MEV (JSM T330A, JEOL Co.,
Tóquio, Japão) em aumentos de 1500x, 3000x e 5000x.
Figura 4.3 Desenho do corpo-de-prova coberto com esmalte unha antes de ser imerso em solução de
nitrato de prata (3mol/l)
4.3 Análise dos dados da resistência de união
Como a freqüência dos diferentes padrões de fratura pode estar relacionada
com a resistência obtida sob os diferentes sistemas adesivos nas diferentes
condições de umidade, utilizou-se um índice que conjuga os três tipos de fraturas na
medida da resistência de união.
Para cada dente no respectivo tempo teste foi calculado um índice da
resistência de união de acordo com a seguinte expressão:
Onde:
PCRCDA/M
PPCRCRCDCDA/MA/M
d
nnnn
nRnRnRnR
I
+++
×
+
×
+
×
+
×
=
55
A/M
R - média de resistência de união dos cps com fratura tipo A/M;
A/M
n - número de cps com fratura tipo A/M;
CD
R - resistência coesiva da dentina;
CD
n - número de cps com fratura coesiva de dentina;
CR
R - resistência coesiva da resina;
CR
n - número de cps com fratura coesiva de resina;
P
R - valor médio da resistência de união atribuída aos cps perdidos durante
o corte;
P
n - número de cps perdidos durante o corte.
O valor de
CR
R e
CD
R , foi uma constante e foi a média dos corpos-de-
prova com este padrão de fratura para cada dente. O valor de resistência de união
para os palitos perdidos (
P
R ) foi o valor médio entre zero e o menor valor de
resistência de união aferido no estudo (REIS et al., 2003b). Os valores de área
(mm
2
) e de dentina remanescente (mm) foram analisados por um teste qui-quadrado
(p = 0,05). Os valores de resistência de união foram submetidos a uma análise de
variância de três fatores cruzados, sendo considerados os fatores Adesivos,
Tratamento de superfície e Período de armazenagem com um nível de significância
estabelecido em p = 0,05. A dependência dos valores obtidos para palitos
provenientes do mesmo dente foi levada em consideração durante a análise
estatística. Para comparação entre as médias, se aplicou o teste de Tukey (p =
0,05).
56
5 RESULTADOS
5.1 Ensaio de resistência da união por microtração
A espessura de dentina remanescente (EDR) para todos os cps foi de
aproximadamente entre 3,3 e 3,6 mm, o que indica que a interface de união foi
localizada na dentina média. A área de seção transversal média variou de 0,84 a
0,89 mm
2
e não foi detectada nenhuma diferença estatística entre os grupos de
tratamento (p > 0,05). O pH das soluções armazenadas não variou ao longo do
tempo (pH = 7,1 ± 0,1).
A tabela 5.1 apresenta as médias de resistência de união para todos os
grupos experimentais. Os valores de resistência de união foram submetidos a uma
análise de variância de três fatores cruzados e não foi detectada nenhuma
significância estatística para as triplas e duplas interações (p > 0,05). O fator
principal Tratamento de superfície também não foi estatisticamente significante (p >
0,05). A aplicação do hipoclorito de sódio não melhorou a média da resistência de
união em ambos adesivos nos dois diferentes tempos de avaliação (p > 0,05).
57
Tabela 5.1 – Valores de resistência de união de todos os grupos experimentais do presente estudo
Hipoclorito de Sódio Sem Com
Sistemas adesivos /
Tempo
IM 12M IM 12M
SB
47,7 ± 7,2 39,4 ± 14,1 41,0 ± 4,9 36,0 ± 8,5
OS
36,5 ± 9,2 29,4 ± 6,9 45,9 ± 6,8 23,5 ± 9,0
Um efeito significativo foi detectado para os fatores principais Sistema adesivo
e Tempo de armazenamento na resistência de união à dentina (p = 0,004 e p =
0,003, respectivamente). A tabela 5.2 apresenta as médias e os respectivos desvios
padrões para cada sistema adesivo. O adesivo OS apresentou menor valor de
resistência de união quando comparado com o adesivo SB (p < 0,05).
Tabela 5.2 - Médias e desvios padrões (MPa) para cada sistema adesivo
Sistemas Adesivos
Single Bond
One Step
42,3 ± 9,14 33,6 ± 11,6
Com respeito à longevidade da resistência de união, pode-se observar na
tabela 5.3 que houve diferenças significativas na resistência de união após um
período de 12 meses para ambos sistemas adesivos (p > 0,05), mostrando que
58
ambos materiais se degradaram ao longo do tempo independentemente da condição
de Tratamento de superfície.
Tabela 5.3 - Médias e desvios padrões (MPa) para os dois diferentes tempos de armazenamento.
Período Testado
Imediato
12 Meses
42,5 ± 8,7 33,3 ± 11,7
5.2 Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da interface dentina-resina
Para ilustrar este capítulo foram selecionadas as micrografias mais
representativas dos grupos experimentais obtidas através da observação no
microscopio eletrônico de varredura.
59
Figura 5.1 – Interface de união do grupo One Step seguindo as recomendações do fabricante no
tempo imediato. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000x; (c) aumento de 5000x.
R: resina; D: dentina; asteriscos: prolongamentos resinosos; seta branca: penetração
da prata na camada hibrida (nanoinfiltração)
D
a
D
b R
*
*
*
*
c
D
R
* * * *
60
Figura 5.2 – Interface de união do grupo One Step com hipoclorito de sódio no tempo imediato. (a)
aumento de 1500x; (b) aumento de 3000 x; (c) aumento de 5000x. Asteriscos:
prolongamentos resinosos; D: dentina; R: resina; seta branca: penetração da prata na
camada hibrida (nanoinfiltração); seta preta microtag resinoso
A análise das Figuras 5.1 e 5.2 mostra claramente que o uso do
hipoclorito de sódio juntamente com o adesivo One Step não foi capaz de
prevenir a penetração de nitrato de prata na interface de união, mostrando
que mesmo na ausência de fibrilas de colágeno, há uma infiltração
monomérica defeituosa, principalmente na base da camada híbrida. Outro
detalhe que pode-se observar nestas micrografias é que a espessura da
camada híbrida + camada de adesivo no grupo de tratamento convencional
a b
c
*
* *
*
*
*
*
*
R R
D
D
D
R
61
foi significantemente maior (Figura 5.1c) que àquela observada nos grupos
onde houve desproteinização da dentina mineralizada (Figura 5.2c).
Figura 5.3 – Interface de união do grupo Single Bond convencional, sem tratamento com hipoclorito
de sódio no tempo imediato. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000 x; (c)
aumento de 5000x. Asteriscos: prolongamentos resinosos; D: dentina; R: resina; seta
branca: penetração da prata na camada hibrida (nanoinfiltração)
a b
c
*
*
*
* *
*
*
*
*
D
D
D
R
R
R
R R
62
Figura 5.4 - Interface de união do grupo Single Bond com tratamento com hipoclorito de sódio no
tempo imediato. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000 x; (c) aumento de 5000x.
Asteriscos: prolongamentos resinosos; D: dentina; R: resina; seta branca: penetração
da prata na camada hibrida (nanoinfiltração)
A análise das Figuras 5.3 e 5.4 mostra claramente que o uso do
hipoclorito de sódio juntamente com o adesivo Single Bond não foi capaz de
prevenir a penetração de nitrato de prata na interface de união, da mesma
forma que o observado para o adesivo One Step. Nenhuma diferença
marcante foi observada no que se refere a espessura da camada híbrida para
este adesivo (Figura 5.3c e 5.4c).
a b
D D
*
* *
*
*
*
*
c R
D
*
*
63
Figura 5.5 - Interface de união do grupo One Step convencional, sem hipoclorito de sódio após 12
meses de armazenamento em água. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000x; (c)
aumento de 5000x. Asteriscos: prolongamentos resinosos; D: dentina; R: resina; seta
branca: penetração da prata na camada hibrida (nanoinfiltração); seta preta microtag
resinoso
*
*
* *
*
*
*
*
R
c
b a R
D
D
R
64
Figura 5.6 - Interface de união do grupo One Step com hipoclorito de sódio após 12 meses de
armazenamento em água. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000 x; (c) aumento
de 5000x. Asteriscos: prolongamentos resinosos; D: dentina; seta branca: penetração
da prata na camada hibrida (nanoinfiltração)
A análise das Figuras 5.5 e 5.6 evidencia que após doze meses de
imersão em água para o adesivo One Step com ou sem hipoclorito de sódio
houve penetração de nitrato na interface de união. Porém esta penetração
não foi restrita a base da camada híbrida como fora comumente observado
nos grupos deste adesivo no tempo imediato. Observa-se penetração de
nitrato de prata também dentro da camada de adesivo, principalmente para o
grupo do One Step tratado com hipoclorito de sódio.
D
D
b
a
A
*
*
*
*
*
*
c
D
65
Figura 5.7 - Interface de união do grupo Single Bond convencional, sem tratamento com hipoclorito
de sódio após 12 meses de armazenamento em água. (a) aumento de 1500x; (b)
aumento de 3000 x; (c) aumento de 5000x. Asteriscos: prolongamentos resinosos; D:
dentina; R: resina; seta branca: penetração da prata na camada hibrida
(nanoinfiltração)
D
R
D
D
R
R
c
a b
*
*
*
*
*
*
* *
*
66
Figura 5.8 - Interface de união do grupo Single com hipoclorito de sódio após 12 meses de
armazenamento em água. (a) aumento de 1500x; (b) aumento de 3000 x; (c) aumento
de 5000x. Asteriscos: prolongamentos resinosos; D: dentina; R: resina; seta branca:
penetração da prata na camada hibrida (nanoinfiltração)
Achados semelhantes ao adesivo One Step após 12 meses de
armazenamento foram encontrados para o adesivo Single Bond no mesmo
período (Figuras 5.7 e 5.8). Houve penetração de nitrato na interface de
união tanto na camada híbrida quanto na camada de adesivo
independentemente do tipo de tratamento de superfície (com ou sem
hipoclorito de sódio.
R R
D
D
D
a
b
c
*
*
*
*
* *
*
*
*
*
R
67
6 DISCUSSÃO
Estudos clínicos de longo prazo são considerados como os métodos mais
efetivos para a avaliação da eficiência de materiais restauradores. Entretanto, devido
ao tempo e custos envolvidos, acabam sendo muitas vezes quase impraticáveis.
Portanto, tendo em vista tais limitações e o constante surgimento de diferentes
materiais e técnicas, torna-se necessário e de grande utilidade o desenvolvimento de
estudos laboratoriais, como os testes de tração, microtração, cisalhamento,
microcisalhamento, infiltração ou nanoinfiltação marginal, sendo estes métodos
amplamente utilizados na pesquisa odontológica (GUZMAN-ARMSTRONG;
ARMSTRONG; QUIAN, 2003).
Uma boa adesão inicial dos materiais restauradores ao substrato dental é
muito importante principalmente para contrapor os efeitos da contração de
polimerização da resina composta. Porém, é de igual importância estudar os efeitos
da magnitude da adesão em função do tempo, como forma de predizer o
comportamento das restaurações adesivas em função na cavidade bucal com o
passar do tempo (GALE; DARVELL, 1999). Um bom resultado imediato não garante
sua efetividade em longo prazo, e alguns sistemas adesivos apresentam diminuição
significativa de sua resistência de união após armazenamento em água (DE MUNCK
et al., 2005). Em estudos clínicos de longa duração, ou seja, estudos in vivo, é muito
difícil estabelecer as causas da falha, devido à interação de múltiplos fatores
envolvidos no envelhecimento da restauração (DE MUNCK et al., 2005).
68
A atual preocupação dos pesquisadores é alcançar uma adesão efetiva e
durável dos materiais restauradores à estrutura dental. Diversas alternativas clínicas
e técnicas restauradoras têm sido propostas na tentativa de atingir este objetivo.
Porém, isto ainda é fruto atual de pesquisas. Um dos aspectos que vem sendo
questionado é sobre o papel das fibrilas de colágeno, expostas pelo
condicionamento ácido, na adesão de sistemas adesivos à dentina.
Alguns autores relatam que o colágeno dentinário não oferece contribuição
quantitativa direta para a resistência de adesão interfacial (GWINNETT, 1994a;
GWINNETT et al., 1996) podendo até, interferir negativamente devido à sua frágil
estrutura após o condicionamento ácido (INABA et al., 1995; TOLEDANO et al.,
2002; VARGAS; COBB; ARMSTRONG, 1997).
Enquanto o condicionamento ácido somente remove a hidroxiapatita e expõe
a rede intertubular de colágeno hidratado, a posterior desproteinização da dentina
desmineralizada com hipoclorito de sódio, remove o colágeno e expõe vários túbulos
secundários laterais que não são usualmente observados nas superfícies
condicionadas em dentina sem tratamento com hipoclorito de sódio (INAI et al.,
1998). Desta forma o uso do hipoclorito de sódio após o condicionamento ácido cria
uma estrutura dentinária mais porosa com múltiplas irregularidades, ricas em cristais
de hidroxiapatita e com um alto molhamento, sendo similar à do esmalte
condicionado com ácido fosfórico (TOLEDANO et al., 1999). Isto facilita o acesso
dos monômeros resinosos a um substrato mais permeável (INABA et al., 1995) e
pode segundo alguns autores promover aumento da longevidade das restaurações
(HASHIMOTO et al., 2000).
O hipoclorito de sódio, apesar de ser uma solução cáustica e tóxica em
contato direto com mucosas e tecido conjuntivo, não é danoso em contato com a
69
dentina, até mesmo em cavidades muito profundas (TANAKA; NAKAI, 1993), assim
após sua ação sobre a matéria orgânica, o hipoclorito de sódio é totalmente
inativado, tendo como produtos a formação de íons de sódio e cloro, os quais são
inócuos para os organismos vivos (MOORER; WESSELINK, 1982).
Os estudos encontrados na literatura variam a concentração e tempo de
aplicação do hipoclorito de sódio sobre a dentina. Concentrações de 1,3%
(CHERSONI et al., 1998) a 13% (INAI et al., 1998) e tempos de aplicação de 5 s
(MARSHALL et al., 2001) a 6 h (YOSHIDA et al., 2004) já foram relatados na
literatura. Porém, os parâmetros mais comumente empregados são: concentração
de 10% durante 60 s (PERDIGÃO et al., 2000; PIMENTA et al., 2004; REIS et al.,
2000; SABOIA; PIMENTA; AMBROSANO, 2002; SABOIA et al., 2006; UCEDA-
GÓMEZ et al., 2003) e 5% durante 120 s (CHERSONI et al., 2004; FERRARI et al.,
2000; KANCA; SANDRIK, 1998; PERDIGÃO et al., 1999; TOLEDANO et al., 2000;
TOLEDANO et al., 2002; VARGAS; COBB; ARMSTRONG, 1997).
Neste estudo utilizou-se a concentração de hipoclorito de sódio a 10% por um
tempo de 60 s, em concordância com inúmeros estudos de resistência adesiva
encontrados na literatura (REIS et al., 2000; PERDIGÃO et al., 2000; UCEDA-
GÓMEZ et al., 2003; PIMENTA et al., 2004, SABOIA; PIMENTA; AMBROSANO,
2002; SABOIA et al., 2006).
Os resultados de nosso estudo demonstraram que valores similares de
resistência de união podem ser alcançados independentemente de se realizar um
tratamento adicional da superfície dentinária desmineralizada. A literatura nesse
assunto ainda é controversa. Os resultados de nosso estudo não estão de acordo
com os resultados de outros autores que relatam altos valores de resistência de
união à dentina, quando se utiliza o hipoclorito de sódio a 10% (GWINNETT, 1994a;
70
KANCA; SANDRIK, 1998; REIS et al., 2000; WAKABAYASHI et al., 1994). Por outro
lado, outros pesquisadores demonstraram baixos valores de resistência de união em
dentina (FRANKENBERGER et al., 2000; PERDIGÃO et al., 2000; UCEDA-GÓMEZ
et al., 2003; YOSHIDA et al., 2004), independente dos diferentes tipos de solventes
presentes nos sistemas adesivos (acetona, água ou etanol). Outros grupos de
pesquisadores demonstraram que o tratamento de desmineralização da dentina com
NaOCl é dependente do sistema adesivo empregado (DE CASTRO; HARA;
PIMENTA, 2000; MUNKSGAARD, 2002; PRATI; CHERSONI; PASHLEY, 1999), ou
seja, este tratamento não pode ser generalizado para qualquer material presente no
mercado. Porém, é importante ressaltar que diferenças na metodologia de aplicação
dos sistemas adesivos e das porcentagens e duração da aplicação do hipoclorito de
sódio podem acarretar nas diferenças observadas entre os estudos.
O hipoclorito de sódio, além de remover as fibrilas de colágeno expostas na
dentina condicionada, também deixa solúveis as fibrilas existentes na matriz
mineralizada subjacente, criando porosidades submicrometricas na fase mineral.
Assim segundo Prati, Chersoni e Pashley (1999) a ação dos agentes adesivos sobre
as superfícies de dentina resultaria na formação de uma camada híbrida reversa.
Estas incongruências na literatura evitam o uso generalizado desta técnica, já que o
conhecimento do desempenho clínico e funcional desta técnica ainda é insuficiente.
Por ser um agente proteolítico não-específico, o hipoclorito de sódio é capaz
de dissolver a matéria orgânica da dentina – formada principalmente por fibras
colágenas do tipo I – por meio da fragmentação severa da longa cadeia peptídica do
colágeno pelo cloro, transformando os terminais de proteínas em cloraminas, as
quais são, por sua vez, transformadas em fragmentos cada vez menores (DI RENZO
et al., 2001; INABA et al., 1995).
71
Sabe-se que a impregnação dos monômeros resinosos dos sistemas
adesivos diminui do topo até o fundo da camada híbrida quando aplicados
convencionalmente seguindo a técnica de adesão úmida (SPENCER et al., 2000;
MIYASAKI; ONOSE; MOORE, 2002). Isto significa que nas regiões mais profundas
da camada híbrida há uma concentração maior de fibrilas de colágeno não-
encapsuladas pelo polímero do adesivo, que pode ser exposta à degradação
enzimática e hidrolítica ao longo do tempo (SANO et al., 1995; HASHIMOTO et al.
2000; CARRILHO et al., 2007). O espaço em torno das fibrilas expostas de colágeno
permite a penetração de ácidos, dos metabólitos bacterianos e da água, e pode
assim acelerar a degradação da interface adesiva.
Yamauti et al. (2003) e Yoshida et al. (2004) demonstraram uma deterioração
na resistência de união para um adesivo convencional simplificado (total-etch)
quando as interfaces de união do material com a dentina foram armazenados em
solução de hipoclorito de sódio a 10% por 1 a 5 horas. De acordo com os autores,
esta deterioração adesiva foi resultado da desproteinização, causada pelo NaOCl,
da zona basal da camada híbrida, que é rica em colágeno não encapsulado pelo
adesivos.
Baseado nisso, o rompimento destas fibrilas de colágeno expostas passou a
ser considerado como parcialmente responsável pela degradação da adesão à
dentina, como relatada pela literatura (HASHIMOTO et al., 2000; HASHIMOTO et al.,
2003). Posteriormente Pashley et al. (2004) mostraram que a degradação do
colágeno acontece ao longo do tempo, através da ação colagenolítica de proteases
endógenas – genericamente conhecidas como metaloproteinases (MMPs), que são
liberados lentamente ao longo do tempo, mesmo na ausência das bactérias. Ao
contrário do etileno-diamineo-tetra-acetato (EDTA) que condiciona e também inibe a
72
ação de MMPs, o condicionamento com ácido fosfórico não inibe a atividade de
MMPs (CARVALHO et al., 2000; OSORIO et al., 2005).
Tay, Pashley e Yoshiyama (2002) encontraram depósitos de prata dentro da
camada híbrida formada por sistemas adesivos autocondicionantes. Os autores
explicaram tal observação, devido às regiões de aumentada permeabilidade dentro
da matriz resinosa polimerizada, que permitem alto fluxo de fluídos e acelerariam a
sorção de água e a extração de monômeros degradados ou não-polimerizados. Na
realidade, isto pode explicar a degradação da resistência de união que ocorreu nos
grupos adesivos submetidos ao tratamento convencional, pois as superfícies
tratadas com hipoclorito de sódio parecem estar livres das fibrilas de colágeno
frouxos (VARGAS; COBB; ARMSTRONG, 1997; KANCA; SANDRIK, 1998;
PERDIGÃO et al., 1999).
Por outro lado, isto não explica a degradação dos grupos tratados com NaOCl
após 12 meses do armazenamento na água. Uma redução significativa da
resistência de união da união à dentina ocorreu também nos grupos tratados com
NaOCl, como demonstrado também em um estudo precedente (PIMENTA et al.,
2004).
Perdigão et al. (2000) observaram em Microscopia Eletrônica de Transmissão
que para o sistema adesivo Single Bond a aparência geral da camada híbrida
permaneceu inalterada, independente do tempo de desproteinização. A aplicação do
NaOCl a 10% por 60 s resultou na ausência de um arranjo fibrilar e presença de uma
camada amorfa, provavelmente formada por colágeno gelatinizado. Os autores
concluíram que a integridade das fibrilas colágenas expostas exercem um papel
fundamental no mecanismo de adesão para os sistemas adesivos testados. Isto é
uma informação interessante de mencionar, pois pode-se observar nas figuras
73
obtidas por MEV no presente estudo, que há uma marcante penetração da prata na
interface adesiva principalmente dos grupos restaurados com Single Bond.
Existe uma desvantagem dos sistemas muito hidrofílicos, devido ao fato
destes sistemas possuírem uma grande capacidade de absorver e atrair água,
difundindo-a pela camada de adesivo. Segundo Jacobsen e Soderholm (1995), a
água inibe a polimerização da resina, além de plastificar os polímeros já formados
(BASTIOLI; ROMANO; MIGLIARESI, 1990), diminuindo as propriedades mecânicas
da camada do adesivo (SODERHOLM, 1984). Os monômeros hidrofílicos tendem a
se agrupar antes da polimerização do adesivo em forma de glóbulos ou bolhas como
se fossem domínios hidrofílicos (SPENCER; WANG, 2002).
Em um estudo foi observado a hidrofilicidade dos adesivos
autocondicionantes de um passo, onde também há formação de canais
microscópicos preenchidos por água, mais conhecidos como (water-trees), no
interior da camada de adesivo, resultantes da umidade absorvida da dentina
normalmente hidratada ou do aprisionamento da água contida na própria
composição do adesivo e que é dificilmente removida antes da sua polimerização
(TAY; PASHLEY; YOSHIYAMA, 2002). Sano et al. (1999) em um trabalho in vivo
observou que houve um aumento na degradação da interface resina-dentina de
restaurações classe V após um ano de estresse oclusal.
Posteriormente, em um estudo de nanoinfiltração realizado por Tay et al.
(2003), os autores observaram após 24 h a presença de grãos de prata dentro da
camada híbrida nos locais onde houve uma incompleta infiltração da resina. Após 6
e 12 meses de armazenamento, houve uma maior penetração de íons de prata que
aumentaram de tamanho e densidade. Os autores especularam que a absorção da
água poderia preceder à degradação hidrolítica. A expansão da resina dentro da
74
camada híbrida, causada pela absorção da água, parece começar na zona mais
basal desta camada e ir aproximando-se lentamente da interface com o material
restaurador.
Assim, como relatado na literatura, sabe-se que polímeros altamente
hidrofílicos, como os adesivos simplificados utilizados neste estudo, funcionam como
membranas permeáveis que permitem o movimento de água através de sua
espessura, mesmo após polimerizados (Tay et al., 2004a, 2004b).
De acordo com os estudos de Lai et al. (2001) e Yiu et al. (2004), a
diminuição dos valores de resistência de união, após o tratamento da dentina com
NaOCl, não poderia ser atribuída apenas à desproteinização incompleta, como
também à mudanças no potencial de oxi-redução dos substratos, devido à ação
oxidante desta substância química. Além disto, o tratamento com hipoclorito de sódio
pode deixar oxigênio residual na estrutura dentinária, e este por ser inibidor da
polimerização de resina composta poderia ocasionar polimerização incompleta dos
monômeros resinosos, o que explicaria o comprometimento dos valores de
resistência de união quando este tratamento é realizado. Confirmando esta hipótese,
alguns autores observaram maiores valores da resistência de união após a aplicação
do ascorbato de sódio (efetivo agente neutralizador) na dentina desproteinizada.
A ausência das fibrilas de colágeno expostas nos grupos onde foi aplicado
hipoclorito de sódio sugere que o polímero dos adesivos formado após a
fotoativação poderia ser degradado ao longo dos 12 meses de armazenamento, já
que as resinas hidrofílicas, tais como àquelas que compõem os adesivos atuais, são
altamente propensas a serem hidrolisadas pela água (BURROW; INOKOSHI;
TAGAMI, 1999).
75
No presente trabalho, todos os adesivos usados contêm quantidades
significativas de monômeros hidrofílicos. Assim, a absorção da água ao longo da
camada de adesivo pode ser considerada como um contribuinte para redução da
resistência de união (CARRILHO et al., 2004). Além disso, a falha em remover toda
a água residual nas regiões mais profundas da dentina desmineralizada e
desproteinizada induz a formação de cadeias poliméricas com baixo grau de
conversão e ligações cruzadas (PAUL et al., 1999), que poderia tornar esta interface
o elo mais fraco da união.
Isto foi comprovado cientificamente através da imersão de espécimes de
adesivo em água. Adesivos dentinários relativamente hidrofílicos mostraram uma
redução de 30% a 40% nas suas propriedades mecânicas quando armazenados na
água por períodos de 3 a 6 meses (CARRILHO et al., 2004), devido ao efeito de
plasticidade da água nas propriedades mecânicas das resinas (FERRACANE;
HOPKIN; CONDON, 1995). A absorção da água reduz as forças de fricção entre as
cadeias do polímero, causando uma diminuição de suas propriedades mecânicas
(SODERHOLM, 1984).
Uno e Finger (1995), apesar de encontrar bons valores de resistência de
união de adesivos à dentina quando utilizou o hipoclorito de sódio como agente
desproteinizante, observaram que a adaptação marginal piorou. Segundo os
autores, isto se deve ao fato da camada híbrida atuar como um coxim elástico,
capaz de absorver parte das tensões geradas pela contração de polimerização da
resina, já que apresenta um módulo de elasticidade intermediário entre a dentina
mineralizada e a resina composta. Assim os autores concluíram que o risco de
microinfiltração não poderia ser minimizado com o uso desta técnica de
desproteinização. Tais suspeitas ganharam maior credibilidade em um estudo in
76
vivo, no qual uma maior microinfiltração foi associada com o uso de hipoclorito de
sódio (VICHI; FERRARI; DAVIDSON, 1997).
O uso do hipoclorito de sódio representa um passo extra entre os diversos
passos críticos de adesão à dentina, além disto, o emprego desta substância não
assegura desempenho superior ao tratamento convencional (FERRARI et al., 2000;
SABOIA; PIMENTA; AMBROSANO, 2002; TORRES; DE ARAUJO; TORRES, 2004).
Por exemplo, Ferrari et al. (2000) conduziu um estudo in vivo/in vitro, e avaliou a
eficiência da aplicação de NaOCl na microinfiltração das margens oclusal e cervical
das restaurações, após 60 e 90 dias de função clínica. Os autores observaram que o
melhor selamento marginal foi observado nas cavidades não tratadas com
hipoclorito de sódio.
Por outro lado, Saboia et al. (2006) estudaram o comportamento clínico (in
vivo) de dois sistemas adesivos à base de água-etanol e acetona (Single Bond e
Prime & Bond 2.1, respectivamente) sobre lesões cervicais não cariosas tratados
com e sem hipoclorito de sódio a 10 % após o condicionamento ácido. A análise
estatística não revelou nenhuma diferença significativa em qualquer um dos grupos
tanto após o primeiro quanto após o segundo ano em função, observando que a
infiltração marginal foi mínima.
No estudo de Gregoire, Akon e Millas (2002), foi demonstrado que a utilização
dos sistemas adesivos à base de acetona aplicados após o condicionamento ácido à
dentina, resultaram em uma camada híbrida continua e densa, com prolongamentos
resinosos em forma de cone invertido e em contato próximo às paredes dentinárias.
A utilização de sistemas adesivos à base de água resultou em uma camada híbrida
mais fina com alguns túbulos dentinários incompletamente selados. Quando
77
aplicado o NaOCl ao 10% aumenta a microinfiltração na dentina marginal,
dependendo do sistema adesivo utilizado (SHINOHARA et al., 2004).
Parece coerente afirmar, diante aos resultados obtidos em nosso estudo e
com base na literatura consultada, que a desproteinização da dentina com
hipoclorito de sódio é um procedimento desnecessário, desde que a técnica adesiva
seja realizada de forma correta. Ainda, a técnica de desproteinização deve ser
estudada com maior profundidade, devido às dúvidas geradas pelas inúmeras
controvérsias encontradas na literatura com relação à ação do hipoclorito de sódio
sobre a superfície dentinária e a influência do tipo de sistema adesivo utilizado.
Conseqüentemente, o uso desta técnica deve ser evitado em uma base clínica,
porque não há suficiente evidência de sua completa eficácia.
78
7 CONCLUSÃO
Os resultados obtidos permitiram-nos concluir que:
7.1 A resistência de união foi influenciada apenas pelo sistema adesivo. O
sistema adesivo One Step (solvente à base de acetona) apresentou os menores
valores de resistência de união quando comparado com o sistema adesivo Single
Bond (solvente à base de água-álcool).
7.2 A aplicação de hipoclorito de sódio a 10% durante 60 segundos após
condicionamento ácido da dentina, não melhorou a média da resistência de união
em ambos adesivos (Single Bond e One Step), independentemente do tempo
(imediato ou após 12 meses) em que foram testados.
7.3 Os valores de resistência de união diminuiram para todos os grupos
testados após 12 meses de armazenamento.
79
REFERÊNCIAS
1
Anusavice KJ. Philips-Materiais Dentários. 10 ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 1998.
180p.
Armstrong SR; Boyer DB; Keller JC. Microtensile bond strength testing and failure
analysis of two dentin adhesive. Dent Mater 1998;14:44-50.
Bastioli C, Romano G, Migliaresi C. Water sorption and mechanical properties of
dental composites. Biomaterials 1990;11(3):219-23.
Baratieri LN, Monteiro Junior S, Andrada MAC, Vieira LCC, Ritter AC, Cardoso AC.
Odontologia restauradora: fundamento e possibilidades. 1ª ed. São Paulo: Livraria
Santos; 2001.
Barbosa SV, Safavi KE, Spangberg LSW. Influence of sodium hypochlorite on the
permeability and structure of cervical human dentine. Int Endod J 1994;27(X):309-12.
Barbosa de Souza F, Silva CH, Guenka Palma DR, Sincler DC, Carneiro de Souza
BL. Bonding performance of different adhesive systems to deproteinized dentin:
microtensile bond strength and scanning electron microscopy. J Biomed Mater Res B
Appl Biomater 2005;75(1):158-67.
Bhaskar SN. Histologia e embriologia oral de Orban. São Paulo: Editora Artes
Médicas; 1989.
Bianchi J. Estudo sobre a resistência à microtração em função das dimensões, modo
de preensão e formato do corpo-de-prova [Tese de Doutorado]. São Paulo:
Faculdade de Odontologia da USP; 1999.
Bowen RL. Adhesive bonding of various materials to hard tooth tissues, V. the effect
of a surface active comonomer on adhesion to diverse substracts. J Dent Res
1965;44(6):1369-76.
Bowen RL. Use of epoxy resin in restorative materials. J Dent Res 1956;35(3):360-9.
1
De acordo com Estilo Vancouver. Abreviatura de periódicos segundo base de dados MEDLINE.
80
Buonocore MG. A simple method of increasing the adhesion of acrylic filling materials
to enamel surfaces. J Dent Res 1955;34(6)849-53.
Buonocore MG, Rochester NY. Principles of adhesion retention and adhesive
restorative materials. J Am Dent Assoc 1963;67:382-91.
Buonocore MG, Wileman W, Brudevold F. A report on a resin composition capable of
bonding to human dentin surfaces. J Dent Res 1956;35(6):846-51.
Burrow MF, Inokoshi S, Tagami J. Water sorption of several bonding resins. Am J
Dent 1999;12(6):295-8.
Burrow MF, Satoh M, Tagami J. Dentin bond durability after three years using a
dentin bonding agent with and without priming. Dent Mater 1996;12(5):302-7.
Burrow MF, Nikaido T, Stoh M, Tagami J. Early bonding of resin cements to dentin-
effect of bonding environment. Operative dent 1996;21:196-202.
Butler WT, Richardson WS. Bioquímica das proteínas do dente. In: Menaker L,
Morhart RE, Navia JM. Cáries dentárias – bases biológicas. 1. ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan ; 1984. 150-69.
Camps J, Pashley DH. Buffering action of human dentin in vitro. J Adhes Dent 2000
Spring;2(1):39-50.
Carrilho MRO, Carvalho RM, Tay FR, Pashley DH. Effects of storage media on
mechanical properties of adhesive systems. Am J Dent 2004;17(2):482-490.
Carrilho MRO, Tay FR, Pashley DH, Tjaderhane L, Carvalho RM. Mechanical
stability of resin-dentin bond components. Dent Mater 2005;21:232-41.
Carrilho MR, Geraldeli S, Tay F, de Goes MF, Carvalho RM, Tjaderhane L, et al. In
vivo preservation of the hybrid layer by chlorhexidine. J Dent Res 2007;86:529-33.
81
Carvalho RM, Brewer PD, Pashley DH. Dimensional changes of demineralized
human dentine during preparation for scanning electron microscopy. Arch Oral Biol
1996;41:379-86.
Carvalho RM, Yoshiyama M, Pashley EL, Pashley DH. In vitro study on the
dimensional changes on human dentine after demineralization. Arch Oral Biol
1996;41:369-77.
Carvalho RM, Carrilho MRO, Pereira LCG, Garcia FCP, Marquezini Jr L, Andrade e
Silva SM, et al. Sistemas adesivos: fundamentos para a compreensão de sua
aplicação e desempenho clínico. Biodonto 2004;2:1-85.
Chersoni S, Prati C, Montanari G, Mongiorgi R. Effect of dentin treatment on bond
strength [abstract 1062]. J Dent Rest 1998;77:238.
Chersoni S, Suppa P, Breschi L, Ferrari M, Tay FR, Pashley DH, et al. Water
movement in the hybrid layer after different dentin treatments. Dent Mater 2004;
20(9):796-803.
Cohen S, Burns RC. Pathways of the pulp. 7ª. Ed. St. Louis: Mosby; 1998.
De Castro AK, Hara AT, Pimenta LA. Influence of collagen removal on shear bond
strength of one-bottle adhesive systems in dentin. J Adhes Dent 2000;2(4) 271-7.
De Munck J, Van Landuyt K, Peumans M, Poitevin A, Lambrechts P, Braem M, et al.
A critical review of the durability of adhesion to tooth tissue: methods and results. J
Dent Res 2005;84(2):118-32.
De Munck J, Ermis RB, Koshiro K, Inoue S, Ikeda T, Sano H, et al. NaOCl
degradation of a HEMA-free all-in-one adhesive bonded to enamel and dentin
following two air-blowing techniques. J Dent 2007;35(1):74-83.
De Wald JP. The use of extracted teeth for in vitro bonding studies: a review of
infection control considerations. Dent Mater 1997;13:74-81.
Di Renzo, Ellis TH, Sacher E, Stangel I. A photoacoustic FTIRS study of the chemical
modifications of human dentin surfaces: II. Deproteinização. Biomaterials
2001;22(8):793-7.
82
Ferracane JL, Hopkin JK, Condon JR. Properties of heat-treated composites after
aging in water. Dent Mater 1995;11(6):354-8.
Ferrari M, Mason PN, Vichi A, Davidson CL. Role of hybridization on marginal
leakage and bond strength. Am J Dent 2000;13(6):329-36.
Frankenberger R, Kramer N, Oberschachtsiek H, Petschelt A. Dentin bond strength
and marginal adaption after NaOCl pre-treatment. Oper Dent. 2000;25(1):40-5.
Fusayama T, Nakamura M, Kurosahi N, Iwaku M. Non-pressure adhesion of a new
adhesive restorative resin. J Dent Res 1979;58:1364-70.
Gale MS, Darvell BW. Thermal cycling procedures for laboratory testing of dental
restorations. J Dent 1999;27(2):89-99.
Garone Netto N. Introdução à dentística restauradora. In: Garone Netto N, editor.
Dentística. São Paulo: Artes Médicas; 2003. p. 195-215.
Gregoire GL, Akon BA, Millas A. Interfacial micromorphological differences in hybrid
layer formation between water-and solved-based dentin bonding systems.
2002;87:633-41.
Grossman LI, Meiman BW. Solution of pulp tissue by chemical agents. J Am Dent
Assoc 1941;28:223.
Guzman-Armstrong S, Armstrong SR, Quian F. Relationship between nanoleakage
and microtensile bond strength at the resin-dentin interface. Oper Dent
2003;28(1):60-6.
Gwinnett AJ. Altered tissue contribution to interfacial bond strength with acid
conditioned dentin. Am J Dent 1994a;7(5):243-6.
Gwinnett AJ. Dentin bond strengths after air-drying are re-wetting. Am J Dent
1994b;7:144-9.
Gwinnett AJ. Moist versus dry dentin: its effect on shear bond strength. Am J Dent
1992,5:127-9.
83
Gwinnett AJ, Tay FR, Pang KM, Wei SH. Quantitative contribution of the collagen
network in dentin hybridization. Am J Dent 1996;9(4):140-4.
Hand RE, Smith ML, Harrison JW. Analysis of the effect of dilution on the necrotic
tissue dissolution property of sodium hypochlorite. J Endod 1978;4(2):60-4.
Hashimoto M, Ohno H, Kaga M, Endo K, Sano H, Ogushi H. In vivo degradation of
resin-dentin bonds in humans over 1 to 3 years. J Dent Res 2000;79(6):1385-91.
Hashimoto M, Ohno H, Kaga M, Endo K, Sano H, Ogushi H. In vitro degradation of
resin-dentin bonds analyzed by microtensile bond test, scanning and transmission
electron microscopy. Biomaterials 2003a;24(21):3795-803.
Hashimoto M, Tay FR, Ohno H, Sano H, Kaga M, Yiu C, et al. SEM and TEM
analysis of water degradation of human dentinal collagen. J Appl Biomater 2003b;
66B:287-97.
Hayashi Y. Review: High resolution electron microscopy in the dentin-enamel
junction. J Electron Microsc 1992;41(5):387-91.
Inaba D, Duschner H, Jongebloed W, Odelius H, Takagi O, Arends J. The effects of a
sodium hyplochlorite treatment on demineralized root dentin. Eur J Oral Sci
1995;103:368-74.
Inai N, Kanemura N, Tagami J, Watanabe LG, Marshall SJ, Marshall GW. Adhesion
between collagen depleted dentin and dentin adhesives. Am J Dent 1998;11(3):123-
7.
Jacobsen T, Soderholm KJ. Some effect of water on dentin bonding. Dent Mater
1995;11(2):132-6.
Kanca J, Sandrik J. Bonding to dentin. Clues to the mechanism of adhesion. Am J
Dent 1998;11(4):154-9.
Kanca III J. Effect of resin primer solvents and surface wetness on resin composite
bond strength to dentin. Am J Dent 1992;5:213-5.
Katchburian E, Arana V. Histologia e embriologia oral: texto-atlas-correlações
clínicas. 1. ed. Bogotá: Panamericana; 1999. 381p.
84
Kitasako Y, Burrow MF, Nikaido T, Tagami J. The influence of storage on dentin
bond durability of resin cement. Dent Mater 2000;16(1):1-6.
Lai SC, Mak YF, Cheung GS, Osorio R, Toledano M, Carvalho RM, Tay FR, Pashley
DH. Reversal of compromised bonding to oxidized etched dentin. J Dent Res
2001;80(10):1919-24.
Li H, Burrow MF, Tyas MJ. Nanoleakage of cervical restorations of four dentin
bonding systems. J Adhes Dent 2000;2(1):57-65.
Li H, Burrow MF, Tyas MJ. The effect of concentration and pH of silver nitrate
solution on nanoleakage. J Adhes Dent 2003;5:19-25.
Loguercio AD, Uceda-Gómez N, Carrilho MRO, Reis A. Influence of specimen size
and regional variation on long-term resin-dentin bond strength. Dent Mater
2005;21(3):224-31.
Marshall GW Jr. Dentin: microstructure and characterization. Quintessence Int
1993;24(9):606-17.
Marshall GW Jr, Marshall SJ, Kinney JH, Balooch M. The dentin substrate: structure
and properties related to bonding. J Dent 1997;25(6):441-58.
Marshall GW Jr, Yücel N, Balooch M. Kinney JH, Habelitz S, Marshall SJ. Sodium
hypochlorite alterations of dentin and dentin collagen. Surface Sci 2001;491:444-55.
Miyasaki M, Onose H, Moore BK. Analysis of the dentin-resin interface by use of
laser Raman spectroscopy. Dent Mater 2002;18(8):576-80.
Mjör IA, Fejerskov O. Embriologia e histologia oral humana. São Paulo: Ed.
Panamericana, 1990.
Moorer WR, Wesselink PR. Factors promoting the tissue dissolving capability of
sodium hypochlorite. Int Endod J 1982;15:187-96.
85
Munksgaard EC. Wet or dry, normal or deproteinized dentin surfaces as substrate for
dentin adhesives. Acta Odontol Scand 2002;60(1):60-64.
Nakabayashi N, Kojima K, Masuhara E. The promotion of adhesion by the infiltration
of monomers into tooth substrates. J Biomed Mater Res 1982;16:265-73.
Nakajima M, Kanemura N, Pereira PNR, Tagami J, Pashley DH. Comparative
microtensile bond strength and SEM analysis of bonding to wet and dry dentin. Am J
Dent 2000;13(6):324-8.
Nakamura H, Asai K, Fujita H, Nakazato H, Nishimura Y, Furuse Y, et al. The solvent
action of sodium hypochlorite on bovine tendon collagen, bovine pulp and bovine
gingival. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1985;60(3):322-6.
Nikaido T, Kunzelmann KH, Chen H, Ogata M, Harada N, Yamaguchi S, et al.
Evaluation of thermal cycling and mechanical loading on bond strength of a self-
etching primer system to dentin. Dent Mater 2002 May;18(3):269-75.
Okuda M, Pereira PN, Nakajima M, Tagami J. Relationship between nanoleakage
and long-term durability of dentin bonds. Oper Dent 2001;26(5):482-90.
Okuda M, Pereira PNR, Nakajima M, Tagami J, Pashley DH. Long-term durability of
resin dentin interface nanoleakage vs. microtensile bond strength. Oper Dent
2002;27:289-96.
Osorio R, Erhardt MC, Pimenta LA, Osorio E, Toledano M. EDTA treatment improves
resin-dentin bonds' resistance to degradation. J Dent Res 2005;84(3):736-40.
Pashley DH. Smear layer: physiological considerations. Oper Dent Suppl 1984;3
Suppl:13-29.
Pashley DH, Andriga HJ, Derkson GD, Kalathoor SR. Regional variability in the
permeability of human dentine. Arch Oral Biol 1987;32(7):519-23.
Pashley DH, Tay FR, Yiu C, Hashimoto M, Breschi L, Carvalho RM, et al. Collagen
degradation by host-derived enzymes during aging. J Dent Res 2004;83(3):216-21.
86
Paul SJ, Leach M, Rueggeberg FA, Pashley DH. Effect of water content on the
physical properties of model dentine primer and bonding resins. J Dent 1999; 27:209-
14.
Perdigão J, Lopes M. Dentin bonding--question for the new millennium. J Adhes Dent
1999;1(3):191-209.
Perdigão J, Thompson JY, Toledano M, Osorio R. An ultra-morphological
characterization of collagen-depleted etched dentin. Am J Dent 1999;12:250-5.
Perdigão J, Lopes M, Geraldeli S, Lopes GC, Garcia-Godoy F. Effect of a sodium
hypochlorite gel on dentin bonding. Dent Mater 2000;16(5):311-23.
Peumans, Kanumilli P, De Munck J, Van Landuyt K, Lambrechts P, Van Meerbeek B.
Clinical effectiveness of contemporary adhesives: A systematic review of current
clinical trials. Dent Mater 2005;21:864-81.
Pimenta LA, Amaral CM, Bedran de Castro AK, Ritter AV. Stability of dentin bond
strengths using different bonding techniques after 12 months: total-etch,
deproteinization and self-etching. Oper Dent 2004;29(5):592-8.
Pioch T, Kobaslija S, Huseinbegovic A, Müller K, Dörfer CE. The effect of NaOCl
treatment on nanoleakage formation. J Biomed Mater Res 2001;56(4):578-83.
Prati C, Pashley DH. Dentin wetness permeability and thickness and bond strength of
adhesive systems. Am J Dent 1992;5:54-8.
Prati C, Chersoni S, Pashley DH. Effect of removal of surface collagen fibrils on resin
– dentin bonding. Dent Mater 1999;15(5):323-31.
Reis A, Bozzo A, Bocangel JS, Kraul A, Matson E. Influência do colágeno na
resistência de união à dentina úmida e seca. RPG 2000;7(2):133-9.
Reis A, Loguercio AD, Azevedo CLN, Carvalho RM, Singer JM, Grande RHM.
Moisture spectrum of demineralized dentin for different solvent based adhesive
system. J Adhes Dent 2003a;5:183-92.
87
Reis A, Loguercio AD, Carvalho RM, Grande RH. Durability of resin dentin interfaces:
effects of surface moisture and adhesive solvent component. Dent Mater 2004;20(7)
669-76.
Reis A, Grandi V, Carlotto L, Bortoli G, Patzlaff R, Rodrigues Accorinte ML, et al.
Effect of smear layer thickness and acidity of self-etching solutions on early and long-
term bond strength to dentin. J Dent 2005;33:549-59.
Saboia VP, Pimenta LA, Ambrosano GM. Effect of collagen removal on microleakage
of resin composite restorations. Oper Dent 2002;27(1):38-43.
Saboia VP, Rodrigues AL, Pimenta LA. Effect of collagen removal on shear bond
strength of two single-bottle adhesive systems. Oper Dent 2000;25(5):395-400.
Saboia VP, Almeida PC, Rittet AV, Swift EJ Jr, Pimenta LA. 2-year Clinical evaluation
of sodium hypochlorite treatment in the restoration of non-carious cervical lesions: a
pilot study. Oper Dent 2006;31(5):530-5.
Sano H, Takatsu T, Ciucchi B, Russell CM, Pashley DH. Tensile properties of resin-
infiltrated demineralized human dentin. J Dent Res 1995;74(4):1679-88.
Sano H, Yoshikawa T, Pereira PNR, Kanemura N, Morigami N, Tagami J, et al.
Long-term durability of dentin bonds made with a self-etching primer, in vivo. J Dent
Res 1999;78(4):906-911.
Shinohara MS, Bendran-de-Castro AKB, Amaral CM, Pimenta LAFl. The Effect of
sodium hypochlorite on microleakage of composite resin restorations using three
adhesive systems. J Adhes Dent 2004;6:123-7.
Soderholm KJ. Water sorption in a bis(GMA)/TEGDMA resin. J Biomed Mater Res
1984;18(3):271-9.
Spencer P, Wang Y. Adhesive phase separation at the dentin interface under wet
bonding conditions. J Biomed Mater Res 2002;62(3):447-56.
Spencer P, Wang Y, Walker MP, Wieliczka DM, Swafford JR. Interfacial chemistry of
the dentin/adhesive bond. J Dent Res 2000;79(7):1458-63.
88
Spencer P, Swafford JR. Unprotected protein at the dentin-adhesive interface.
Quintessence Int 1999;30:501-7.
Swift EJ Jr, Perdigão J, Heymann HO. Bonding to enamel and dentin: a brief history
and state of the art. Quintessence Int 1995;26(2):95-110.
Swift EJ Jr, Perdigao J, Wilder AD Jr, Heymann HO, Sturdevant JR, Bayne SC.
Clinical evaluation of two one-bottle dentin adhesives at three years. J Am Dent
Assoc 2001;132:1117-23.
Tanaka J, Nakai H. Application of root canal cleaning agents having dissolving
abilities of collagen to the surface treatment for enhance bonding of resin to dentin.
Dent Mater 1993;12(2):196-208.
Tani C, Finger WJ. Effect of smear layer thickness on bond strength mediated by
three all-in-one self-etching priming adhesive. J Adhes Dent 2002;4(4):283-9.
Tay FR, Gwinnett AJ, Pang KM, Wei SH. Resin permeation into acid-conditioned,
moist and dry dentin: A paradigm using water-free adhesive primers. J Dent Res
1996;75:1034-44.
Tay FR, Gwinnett AJ, Wei SHY. Micromorphological spectrum from overdrying to
overwetting acid-condicioned dentin in water-free, acetone-based, single bottle
primer/adhesives. Dent Mat 1996a;12:236-44.
Tay FR, Gwinnett AJ, Wei SHY. The overwet phenomenon: a scanning electron
microscopic study of surface moisture in the acid conditioned resin-dentin interface.
Am J Dent 1996b;9(3):109-14.
Tay FR, Gwinnett AJ, Wei SHY. Micromorphological spectrum of acid-conditioned
dentin following the application of a water-based adhesive. Dent Mater
1998;14(5):329-38.
Tay FR, Hashimoto M, Pashley DH, Peters MC, Lai SCN, Yiu CKY, Cheong C. Aging
affects two modes of nanoleakage expression on bonded dentin. J Dent Res
2003;82(7):537-41.
Tay FR, Pashley DH. Water-treeing a potential mechanism for degradation of dentin
adhesives. Am J Dent 2003;16:6-12.
89
Tay FR, Pashley DH. Aggressiveness of contemporary self-etching systems. I: Depth
of penetration beyond dentin smear layers. Dent Mater 2001;17(4):296-308.
Tay FR, Pashley DH, Yoshiyama M. Two modes of nanoleakage expression in
single-step adhesive. J Dent Res 2002;81(7):472-6.
Tay FR, Pashley DH, García-Godoy F, Yiu CKY. Single step, self-etch adhesives
behave as permeable membranes after polymerization. Part II. Silver tracer
penetration evidence. Am J Dent 2004a;17(5):315-22.
Tay FR, Pashley DH, Suh B, Carvalho R, Miller M. Single step, self-etch adhesives
behave as permeable membranes after polymerization. Part I. Bond strength and
morphological evidence. Am J Dent 2004b;17(4):271-8.
Tay FR, Pashley DH, Suh BI, Hiraishi N, Yiu CKY. Water treeing in simplified
adhesives – déjà vu? Oper Dent 2005;30:561-79.
Ten Cate R. Histologia bucal. Desenvolvimento, estrutura e função. 5ªed. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan; 2001.
Trepagnier CM, Madden RM, Lazzari EP. Quantitative study of sodium hypochlorite
as an in vitro endodontic irrigant. J Endod 1977;3(5):194-6.
Toledano M, Osorio R, Perdigão J; Osorio E. Effect of acid etching and collagen
removal on dentin wettability and roughness. J Biomed Mater Res 1999;47(2):198-
203.
Toledano M, Perdigão J, Osorio R, Osorio E. Effect of dentin deproteinization on
microleakage of class V composite restorations. Oper Dent 2000;25:497-504.
Toledano M, Perdigão J, Osorio E, Osorio R. Influence of NaOCl deproteinization on
shear bond strength in function of dentin depth. Am J Dent 2002;15(4):252-5.
Tyas MJ, Burrow MF. Three-year clinical evaluation of one-step in non-carious
cervical lesions. Am J Dent 2002;15:309-311.
Torres CRG, de Araujo MA, Torres AC. Effects of dentin collagen removal on
microleakage of bonded restorations. J Adhes Dent 2004;6(1):33-42.
90
Uceda-Gómez N, Reis A, Carrilho MRO, Loguercio AD, Rodrigues Filho LE. Effect of
sodium hypochlorite on the bond strength of an adhesive system to superficial and
deep dentin. J Applied Oral Science 2003;11(3):223-8.
Uno S, Finger WJ. Function of the hybrid zone as a stress-absorbing layer in resin-
dentin bonding. Quintessence Int 1995;26(2):733-8.
Van Meerbeek B, Inokoshi S, Braem M, Lambrechts P, Vanherle G. Morphological
aspects of the resin-dentin interdiffusion zone with different dentin adhesive systems.
J Dent Res 1992;71(8):1530-1540.
Van Meerbeek, De Munck, Yoshida Y, Inoue S, Vargas M, Vijay P. Buonocore
memorial lecture. Adhesion to enamel and dentin: current status and future
challenges. Oper Dent 2003;28(3):215-35.
Vargas MA, Cobb DS, Armstrong SR. Resin-dentin shear bond strength and
interfacial ultrastructure with and without a hybrid layer. Oper Dent 1997;22:159-166.
Vichi A, Ferrari M, Davidson CL. In vivo leakage of an. adhesive system with and
without NaOCl as pre-treatment [abstract 3077]. J Dent Res 1997;76:398.
Yamauti M, Hashimoto M, Sano H, Ohno H, Carvalho RM, Kaga M, et al.
Degradation or resin-dentin bonds using NaOCl storage. Dent Mater 2003;19(5):399-
405.
Yiu CK, King NM, Pashley DH, Suh BI, Carvalho RM Carrilho MR et al. Effect of resin
hydrophilicity and water storage on resin strength. Biomater 2004;24(26):5789-96.
Yoshida E, Hashimoto M, Hori M, Kaga M, Sano H, Oguchi H. Deproteinizing effects
on resin-tooth bond structures. J Biomed Mater Res B. Appl Biomater 2004;68(1):29-
35.
Yoshiyama M, Carvalho RM, Sano H, Hornewr JA, Brewer PD, Pashley DH.
Regional bond strength of resin to human root dentin. J Dent 1996a;24:435-442.
Yoshiyama M, Sano H, Ebisu S, Tagami J, Ciucchi B, Carvalho RM, et al. Regional
strengths of bonding agents to cervical sclerotic root dentin. J Dent Res
1996b;75:1404-13.
91
Wakabayashi Y, Kondou Y, Suzuki Y, Yatani H, Yamashita A. Effect of dissolution of
collagen on adhesion to dentin. Int J Prosthodont 1994;7:302-6.
92
ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
93
ANEXO B – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo