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“Única coisa é tomar cuidado com a saúde, e da gente. O resto é viver, erguer a
cabeça e ir pra frente. Deus é tão maravilhoso que permite ainda da gente
sobreviver. E essa medicação ajuda. Quem não faz é por bobo. Que não gosta de si
mesmo. Ah, falando outra coisa. Eu nunca tinha ido numa palestra, daí fui
convidada pra ir numa palestra. Pessoas de Porto Alegre que vieram, sobre esse
problema. Cheguei lá, foram quatro dias, eu voltei, pergunta pras meninas aí, eu
voltei com a minha auto-estima lá em cima. Eu voltei rejuvenescida, voltei super
bem, comecei a gostar mais de mim mesma, sabe”.
Nesse sentido, Rosa Vermelha constrói uma reflexão acerca de sua situação e da Aids
como um todo. Realiza uma comparação entre a Aids e tantos outros problemas que existem,
e que, para ela, são muito maiores do que aqueles que enfrenta. Ela declara:
“Pensa só gente!... tem tantas crianças sem pais, perderam os pais, tantos
inocentes ai né, com o mesmo problema que a gente, lutando pra sobreviver. A
gente não pode ser egoísta e pensar só na gente. Tem muita gente lutando por isso.
Eu chorei muito, muito, muito. O que eu chorei aqui hoje eu não chorei nada, não é
nada. No dia eu chorei, no dia eu chorei a palestra toda de ver, me desesperei de
saber quanta criança sem pai, nas creches, problema. É muito triste. A gente, a
gente pode se defender, agora os inocentes não. E as vez vão ficar lá jogados
assim, sei lá. Será que as pessoas vão adotar umas crianças assim. Por que que
nem te falei, é preconceito, muito do preconceito tu não consegue, por isso que eu
digo assim a gente tem que agradecer muito a Deus”.
Há uma outra declaração de Rosa Vermelha, que se considera de extrema relevância
nesse processo.
“Não é só, não é só a gente, que tem crianças também no meio disso. Se fosse só os
adultos tudo bem, mas tem crianças que tão envolvidas também. E as mães, têm
mães assim que engravidam, sabem que tem o problema, engravidam, não fazem
tratamento, daí vem mais uma pessoa pra sofrer. Porque eu acho sofrimento. Que
a pessoa assim, por exemplo, eu vou citar o meu exemplo. Se o meu marido não
tivesse feito isso comigo, hoje eu não estaria aqui. Entendeu? Poderia, poderia ter
casado também, podia ter qualquer outra coisa, menos, mas era, sei lá. Porque era
pra ser, não sei. Aí a sorte, às vezes eu fico pensando assim, eu sempre quis ter um
filho, e ele sempre adiava. Mas eu muito boba, muito apaixonada, muito isso, ele
dizia vamos pagar as contas e eu concordava com tudo que ele falava. Então,
depois que ele faleceu que eu comecei a pensar. Justamente, ele sabia. Se ele não
soubesse eu tinha ficado grávida dele. Se ele não soubesse como eu não sabia, a
gente poderia ter um filho e ter o mesmo problema. Mas eu, por isso que eu digo
que ele sabia”.
Questionada sobre como ela entende tudo isso, a mesma refere que evitou seu
sofrimento e o da criança, que poderia nascer com Aids e ter que enfrentar isso pela vida toda.
Salienta que hoje entende o porquê dele querer adiar a vinda de uma criança e preferir
“outras coisas”.
Para encerrar, Rosa Vermelha reafirma que entende que se as pessoas não fazem o
tratamento, é porque não querem, pois as condições para isso existem, via atendimento