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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
A DISTILIA EM ESPÉCIES DE RUBIACEAE DO BIOMA CERRADO
Hélder Nagai Consolaro
Brasília – DF
2008
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA
A DISTILIA EM ESPÉCIES DE RUBIACEAE DO BIOMA CERRADO
Hélder Nagai Consolaro
Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação
em Ecologia da Universidade de Brasília
como parte das exigências para obtenção do
título de Doutor em Ecologia.
Orientador: Prof. Dr. John Du Vall Hay
Brasília – DF
2008
ii
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HÉLDER NAGAI CONSOLARO
A distilia em espécies de Rubiaceae do bioma Cerrado
Tese aprovada junto ao Programa de Pós Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Ecologia.
Banca Examinadora:
_______________________________ _________________________________
Prof. Dr. John Du Vall Hay Prof. Dr. Eddie Lenza
Orientador – UnB Membro Titular – UNEMAT
__________________________________ _________________________________
Prof. Dr. Raimundo P. B. Henriques Prof. Dr. Paulo Eugênio de Oliveira
Membro Titular – UnB Membro Titular – UFU
_______________________________ _________________________________
Profa. Dra. Cibele Cardoso de Castro Profa. Dra. Carolyn Elinore Barnes Proença
Membro Titular – UFRPE Suplente – UnB
Brasília, março de 2008
iii
“Cada um pensa como pode”
Mário Quintana
iv
Dedico este trabalho a minha família que sempre me
incentiva e apóia na longa e eterna jornada de
formação acadêmica.
v
AGRADECIMENTOS
Esta tese não poderia ter sido realizada sem o auxílio de outras pessoas que, da maneira que
puderam, procuraram me ajudar nessa longa fase de minha vida. São poucas as palavras, mas elas
tentam transmitir a minha mais pura gratidão.
Ao Prof. Hay por ter me aceito como seu orientando e também por ter depositado confiança
em meu trabalho.
Ao Prof. Paulo Eugênio por sanar minhas dúvidas durante o desenvolvimento da tese, por
ter lido meus manuscritos e também por ter me auxiliado nos momentos difíceis gerados pela falta
de bolsa de estudos no início do doutorado. Paulo, mais uma vez, obrigado!
Aos herbários e seus curadores por permitirem a coleta de dados em suas coleções.
Ao Prof. Dr. Piero Delprete pela simpatia e dedicação na identificação das plantas e
correções dos nomes científicos.
À Prof. Dra. Solange Cristina Augusto pela identificação das abelhas.
À Prof. Dra. Antonieta Salomão por, gentilmente, ter cedido seu laboratório para o
experimento de germinação de sementes.
À Prof. Dra. Carolyn Proença, Prof. Dr. Paulo Eugênio de Oliveira e Prof. Dr. Eddie Lenza
por terem dado valiosas sugestões em minha qualificação.
Ao estudante de biologia Hélder Antunes Pereira pela identificação das borboletas.
A Universidade Federal de Uberlândia, especialmente o Prof. Paulo Eugênio, por
disponibilizar a microscopia de fluorescência.
Ao Parque Nacional de Brasília, à Estação Ecológica de Águas Emendadas, à Reserva
Ecológica do IBGE e à Fazenda Água Limpa por permitirem a coleta de dados em suas áreas.
Sou muito grato ao Gilvan e ao Seu Miguel por, integralmente, terem me ajudado no
trabalho de campo na Estação Ecológica de Águas Emendadas.
À Betânia, Marina, Iracema, Mirian, Aparecida e demais funcionários da Reserva Ecológica
do IBGE, pela gentileza e hospitalidade demonstrada na convivência durante minhas visitas.
Aos amigos Alan e Francisco por me auxiliarem na identificação dos beija-flores.
Aos meus queridos estagiários que me auxiliaram eficientemente no trabalho de campo e
nos procedimentos laboratoriais. São eles: Mayara, Rafaela, Rafael, Alexandre, Renata, Gabriela,
Pedro Marques, Camila, Pedro Naves, Estevão, Danielle, Gabriel e Hugo. Galera, valeu mesmo!
Aos funcionários Fabiana, Irióde e Fábio, por me ajudarem nos procedimentos burocráticos
exigidos em um Programa de Pós-Graduação.
vi
Ao Felipão e Eddie pelo auxílio nas análises estatísticas.
Aos amigos Daniel Vieira e Luís Henrique pelas sugestões dadas referentes ao manuscrito
do primeiro capítulo.
Aos professores e funcionários do Departamento de Botânica, em especial os do Herbário,
pelo convívio diário durante minha atuação como Professor Substituto. Agradeço em especial a
Prof. Dra. Lúcia Helena Soares e Silva pela compreensão no ajustamento de minha carga horária na
fase final da tese. Não poderia também deixar de agradecer aos meus alunos que, passivamente e
pacientemente, foram minhas cobaias na jornada docente.
Aos meus amigos que, esporadicamente, me auxiliaram no trabalho de campo: Maurício,
Luís Henrique, Daniel, Belzinha e Régina.
À Paty, Flavinha e Liliane por terem me acolhido na chegada a Brasília e também por terem
me aceitado como membro de uma república feminina.
Aos membros pioneiros da minha atual república por terem me acolhido num momento
crucial de minha vida. Tchesco, Gugu e Butão, valeu mesmo pela força!
Ao Luís e Mateus pelo convívio diário em nossa república.
À minha amiga Erika (Bugra), pelos inúmeros cafés da tarde que serviram para aliviar a
tensão durante a elaboração da tese e pela correção do abstract.
À Régina, minha ex-companheira, por ter estado fielmente ao meu lado no decorrer dessa
caminhada. Gostaria que soubesse que sua presença foi fundamental, que suas palavras em nossas
conversas foram necessárias, que seu carinho foi essencial, que seu incentivo e encorajamento
foram incomparáveis, que sua generosidade foi importantíssima, que seu companheirismo não tem
preço e que o nosso convívio diário nunca se apagará da minha mente. Régina, você é uma pessoal
muito especial.
À minha grande família brasiliense que, no decorrer desses quatro anos, cresceu
exponencialmente: Daniel, Ernestino, Luís Henrique, Mateus, Erika, Henrique, Aninha, Alan, Bel,
Belzinha, Sebben, Verônica, Bruno, David, D. Eliana, Alan Fecchio, Eddie, Maurício, Isis, Aldicir,
Xandão, Isabel, Horizonte, Rodrigo Baiano, João Bernardo, Karina, Fabíola, Lu, Flavinha, Fred,
Jerry, Fabrício, Tamiel, Paty, Patrícia, Soha, etc. Povo, desculpe se esqueci de alguém!
À Belzinha, por ter me dado apoio em um momento delicado de minha vida.
Ao amigo Eddie Lenza, pelas infindáveis conversas a respeito da tese. Eddie, te considero
meu terceiro orientador!
Aos integrantes do grupo de discussão “Disney Club”, realizado semanalmente na
EMBRAPA – CENARGEN.
Aos amigos que me hospedaram nas viagens aos herbários: Paty, Ari, Ismael, Luís
Henrique, Rubão e Grazi, Japa e Lourenço e Família Uberlandense.
vii
À minha linda, Joana, pelo carinho, amor e compreensão que foram essenciais nessa etapa
final da tese. Sua companhia é fundamental!
A minha família que sempre me incentivou e apoiou nas horas difíceis. Mãe, pai, Tai, Yuri,
Vô, Vó, Tio Zé e Du, amo vocês!
Aos professores que fizeram parte de minha formação acadêmica.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia pelo apoio na elaboração e desenvolvimento
deste trabalho.
A CAPES e CNPq pela bolsa de estudo.
A FUNPE – UnB pelo apoio financeiro referente ao primeiro capítulo.
viii
ÍNDICE
RESUMO GERAL..............................................................................................................................xi
ABSTRACT.......................................................................................................................................xii
LISTA DE FIGURAS E TABELAS.................................................................................................xiii
INTRODUÇÃO GERAL...................................................................................................................01
CAPÍTULO 1 - DISTILIA E FENOLOGIA DAS ESPÉCIES DISTÍLICAS DE RUBIACEAE DO CERRADO,
BRASIL. ..............................................................................................................................................09
Introdução...............................................................................................................................09
Materiais e Métodos...............................................................................................................13
Resultados...............................................................................................................................16
Discussão................................................................................................................................26
Considerações finais...............................................................................................................42
Conclusão...............................................................................................................................43
CAPÍTULO 2 - ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FREQÜÊNCIA DOS MORFOS FLORAIS EM ESPÉCIES
DISTÍLICAS DE
RUBIACEAE DO CERRADO DO BRASIL CENTRAL. ....................................................45
Introdução...............................................................................................................................45
Materiais e Métodos...............................................................................................................47
Resultados...............................................................................................................................51
Discussão................................................................................................................................56
ix
CAPÍTULO 3 - SISTEMA DISTÍLICO DE QUATRO ESPÉCIES DE PALICOUREA AUBL. (RUBIACEAE)
DO
CERRADO DO BRASIL CENTRAL. .................................................................................................62
Introdução............................................................................................................................62
Materiais e Métodos............................................................................................................64
Resultados............................................................................................................................67
Discussão.............................................................................................................................77
CONSIDERAÇÕES GERAIS............................................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................................85
x
RESUMO GERAL
Distilia é um tipo de sistema reprodutivo que apresenta características morfológicas (morfos
florais) e fisiológicas (sistemas de incompatibilidade) como forma de potencializar a xenogamia.
Dentre as 28 famílias de Angiospermas que apresentam esse sistema, Rubiaceae é a que tem a
maior riqueza. No Cerrado, o destaque da família não é diferente, pois ela é considerada a sétima
mais rica do bioma. Este estudo foi estruturado em três capítulos e, conjuntamente, teve como
objetivo a caracterização do sistema distílico das espécies de Rubiaceae do bioma Cerrado. A coleta
de dados foi composta por trabalhos de campo desenvolvidos na região do Distrito Federal,
especificamente no Parque Nacional de Brasília, Estação Ecológica de Águas Emendadas e Área de
Proteção Ambiental das bacias do Gama e Cabeça de Veado, e por informações obtidas de
herbários, referências bibliográficas, observações de campo e comunicação pessoal com outros
pesquisadores. O primeiro capítulo verificou por meio de dados de herbários, referências
bibliográficas, observações de campo e comunicação pessoal a ocorrência dos morfos e a fenologia
das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado. Foram analisadas 175 espécies, das quais 88%
foram tipicamente distílicas e 12% foram consideradas espécies variantes. A floração e a
frutificação das espécies analisadas ocorreram ao longo do ano, contudo o pico da floração se
concentrou de novembro a janeiro e o da frutificação de fevereiro a maio. O segundo capítulo
utilizou somente dados de campo, averiguando a morfometria floral e a razão dos morfos de 17
espécies distribuídas no Distrito Federal. As populações de Psychotria capitata, P.
hoffmannseggiana, P. leiocarpa, P. mapourioides, P. racemosa, P. trichophoroides, uma população
de P. carthagenensis, Palicourea marcgravii, P. officinalis, P. rigida, Galianthe peruviana, G.
valerianoides e Declieuxia fruticosa apresentaram os dois morfos florais com razão equilibrada de
1:1, enquanto as populações de Coccocypselum lanceolatum, Psychotria prunifolia e uma outra de
P. carthagenensis apresentaram monomorfismo longistilo. A presença de hercogamia recíproca
precisa foi encontrada apenas em D. fruticosa, Psychotria mapourioides e na população distílica de
P. carthagenensis. A maioria das espécies apresentou o comprimento da corola, os lóbulos
estigmáticos e/ou a separação estigma-antera maiores no morfo brevistilo. Por fim o terceiro, um
capítulo que também utilizou dados de campo, estudou os aspectos distílicos ligados à biologia
reprodutiva de quatro espécies de Palicourea. As espécies Palicourea marcgravii e P. officinalis
apresentaram-se como tipicamente distílicas em função da presença dos dois morfos florais, da
razão equilibrada dos mesmos e do sistema de auto e intramorfo incompatibilidade. Já as espécies
P. coriacea e P. macrobotrys apresentaram-se como variantes pela ocorrência de indivíduos
homostilos junto aos morfos distílicos na primeira espécie e pelo morfo homostilo ser exclusivo na
segunda espécie. Levando em consideração os resultados encontrados no presente estudo, é possível
dizer que o sistema distílico das espécies de Rubiaceae do Cerrado é pouco variável. Entre os taxa
que apresentaram variação, parece que a homostilia e o monomorfismo são os caminhos evolutivos
mais comuns. Não se sabe ainda as forças evolutivas que determinam essas variações, contudo
acredita-se que as características genéticas intrínsecas de cada táxon têm uma considerável
influência e que cada espécie pode responder de forma diferente, ou até mesmo não responder,
perante as mesmas pressões seletivas a que estão submetidas.
Palavras-chave: Heterostilia, isopletia, polinização, biologia reprodutiva, morfologia floral,
fenologia.
xi
ABSTRACT
Distyly is a type of reproductive system whose morphological (floral morphs) and
physiological features (incompatibility system) are used as a mechanism for increasing xenogamy.
Among the 28 Angiosperm families presenting this system, Rubiaceae is the richest. In the Cerrado,
the importance of this family is not different, since it is considered to be the seventh richest. This
study was organized in three chapters and the objective was to characterize the distylous system of
Rubiaceae species from the Cerrado biome. Data were collected during fieldwork carried out in the
region of the Distrito Federal (National Park of Brasília, Águas Emendadas Ecological Station and
Environmental Protection Area “Gama e Cabeça de Veado”). Further, information was gathered in
Herbaria, bibliographic references, observation of field and communication with researchers. The
Chapter 1 studied the occurrence of morphs and phenology of Rubiaceae distylous species from
Cerrado. Were analyzed 175 species, of which 88% were considered typically distylous and 12% as
variants. The flowering and fructification of the species analyzed occurred continuously along the
year, although the peaks flowering was of November - January and fructification was February at
May. The Chapter 2 studied floral morphometric with the morph ratio of 17 species found in
Distrito Federal. Populations of Psychotria capitata, P. hoffmannseggiana, P. leiocarpa, P.
mapourioides, P. racemosa, P. trichophoroides, single populations of P. carthagenensis,
Palicourea marcgravii, P. officinalis, P. rigida, Galianthe peruviana, G. valerianoides and
Declieuxia fruticosa showed a balanced ratio (1:1) of the two floral morphs, while populations of
Coccocypselum lanceolatum, Psychotria prunifolia and another of P. carthagenensis showed pin
monomorphism. The presence of reciprocal herkogamy was observed only in D. fruticosa,
Psychotria mapourioides and P. carthagenensis distylous population. The majority of the species
presented the corolla length, stigma lobe length and/or separation stigma-anther larger in thrum
morph. The Chapter 3 studied distylous aspects to reproductive biology of four Palicourea species.
The species Palicourea marcgravii and P. officinalis were typically distylous due to the presence of
two floral morphs, the in ratio, and also the self and intramorph incompatibility. However, P.
coriacea and P. macrobotrys were variants because homostylous individuals occur together with
distylous morphs in first specie, and because the homostyle morph is dominant in the second.
Considering the results achieved in this study, it is possible to state that the distyly system of
Rubiaceae species from Cerrado is stable. Among these groups that presented variation, homostyly
and monomorphism may be the most common evolutionary pathways. It is still unknown which
evolutional drivers determine those differences. However, it is likely that intrinsic genetics
characteristics of each taxon have a considerable influence, and also that species may respond
differently to the same selective pressures, or they may not present any response.
Key words: Heterostyly, isoplethy, pollination, reproductive biology, floral morphometric,
phenology.
xii
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
CAPÍTULO 1 - DISTILIA E FENOLOGIA DAS ESPÉCIES DISTÍLICAS DE RUBIACEAE DO CERRADO,
BRASIL.
Figura 1.1. Curso da freqüência dos morfos quando indivíduos autocompatíveis dos morfos
homostilos longistilos (HL) e homostilos brevistilos (HB) são inseridos em populações
heterostílicas. Nessa simulação foi utilizada “s”=0,8 e “δ”=0,44. Gráfico adaptado de Charlesworth
& Charlesworth (1979a).....................................................................................................................11
Figura 1.2. Categorias morfológicas estabelecidas a partir das características estruturais observadas
em flores de exsicatas de espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. (L) morfo longistilo;
(B) morfo brevistilo; (H) morfo homostilo; (AH) morfologia “Approach Hercogamy”; (HR)
morfologia Hercogamia Reversa; (H*) morfologia semelhante ao morfo homostilo. A (s)
subdivisão (ões) dentro dos quadros de cada categoria refere-se (m) a (s) combinação (ões)
morfológica (s) existente (s) em tais grupos. As categorias (A) a (F) apresentaram de três a 30
exsicatas por subdivisão (ões), enquanto as categorias (G) e (H) entre uma e duas exsicatas por
morfo também de acordo com a sua subdivisão...............................................................................15
Tabela 1.1 Lista das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. Morfos florais encontrados
(Longistilo [L], Brevistilo [B] e Homostilo [H]), sistemas reprodutivos retirados de fontes
bibliográficas, hábito e suas fitofisionomias de ocorrência. As informações de hábito e
fitofisionomia foram coletadas nas exsicatas e em Mendonça et al., no prelo. As espécies que não
apresentam referências são aquelas que fizeram parte da coleta de dados nos herbários. Os códigos
xiii
das referências, as abreviações e o significado do (*) estão apresentadas ao final da tabela. Sistema
de classificação adotado por Delprete et al. (2004)............................................................................17
Tabela 1.2. Ocorrência de distilia e não-distilia, número de espécies analisadas e forma de variação
distílica encontrada por gênero nas espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. “X”
combinação morfológica observada, numeração entre paresenteses “sem asterisco” corresponde ao
número de espécies observadas com tal combinação em no mínimo três exsicatas, numeração entre
paresenteses “com asterisco” corresponde ao número de espécies observadas com tal combinação
em apenas um ou duas exsicatas. Morfo longistilo (L), brevistilo (B), homostilo (H),
monomorfismo longistilo (Mono L) e monomorfismo brevistilo (Mono B).....................................22
Figura 1.3. Variações nos padrões distílicos que podem ser encontradas nas espécies de Rubiaceae
do Cerrado, Brasil, suas porcentagens e os respectivos gêneros com tal condição. A porcentagem do
item “Homostilia” e “Monomorfismo” correspondem à categoria C e D, a do “Distilia” ao
somatório das categorias A e G e a do “Distilia atípica” ao somatório das categorias B e H. Gêneros
com (*) indicam que os resultados são compostos apenas por espécies dentro das categorias G e H.
Morfo longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo (H)..........................................................................23
Figura 1.4. Fluxograma evolutivo baseado nas variações morfológicas encontradas nas espécies
distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil, tendo como apoio os resultados da simulação
computacional realizada por Charlesworth & Charlesworth (1979a). Morfo longistilo (L), brevistilo
(B) e homostilo (H)............................................................................................................................25
Figura 1.5. Floração e frutificação de 141 espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. As
barras cinzas correspondem a fenofase floração e as pretas a frutificação........................................27
xiv
Figura 1.6. Fenograma geral de floração e frutificação das espécies distílicas de Rubiaceae do
Cerrado, Brasil....................................................................................................................................30
Figura 1.7. Fenograma de floração e frutificação dos hábitos das espécies distílicas de Rubiaceae do
Cerrado, Brasil. A. floração, B. frutificação.......................................................................................31
Figura 1.8. Fenograma de floração e frutificação das fitofisionomias das espécies distílicas de
Rubiaceae do Cerrado, Brasil. A. floração, B. frutificação................................................................32
Figura 1.9. Fenograma de floração e frutificação dos cinco gêneros mais representados no estudo
fenológico das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. Acima floração, abaixo
frutificação..........................................................................................................................................33
CAPÍTULO 2 - ASPECTOS MORFOLÓGICOS E FREQÜÊNCIA DOS MORFOS FLORAIS EM ESPÉCIES
DISTÍLICAS DE
RUBIACEAE DO CERRADO DO BRASIL CENTRAL.
Figura 2.1. Mapa da área de estudo das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito
Federal, Brasil. Fonte: mapas modificados da WWF e Revisão PDOT.............................................48
Figura 2.2 Mensurações morfométricas (mm) retiradas das flores das espécies distílicas de
Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil. CE: comprimento do estigma. CEs: comprimento do
estilete. CC: comprimento do tubo da corola. CF: comprimento do filete. CA: comprimento da
antera. OV: ovário..............................................................................................................................50
Tabela 2.1 Morfometria floral e isopletia das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito
Federal, Brasil (mm, média ± DP). Coluna Morfo: longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo (H). F e
xv
p valores da ANOVA. Coluna Hercogamia: (-) presença de reciprocidade, (x) ausência de
reciprocidade. χ
2
e p valores do Qui-quadrado. Letras diferentes indicam diferenças estatísticas
significativas (p<0,05). ESECAE (Estação Ecológica de Águas Emendadas), FAL (Fazenda Água
Limpa), RECOR (Reserva Ecológica do IBGE) e PARNA (Parque Nacional de Brasília)..............52
Figura 2.3. Flores das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil que
apresentaram o morfo longistilo (
1
) e brevistilo (
2
). (A) Psychotria capitata; (B) P. carthagenensis;
(C) P. racemosa, (a) brevistilo e (b) longistilo; (D) P. leiocarpa; (E) P. hoffmanneggiana; (F) P.
trichophoroides; (G) P. mapourioides; (H) Declieuxia fruticosa; (I) Galianthe peruviana; (J) G.
valerianoides; (L) Palicourea marcgravii; (M) P. officinalis; (N) P. rigida. Barras: 2 mm. Fotos:
Consolaro, H.......................................................................................................................................53
Figura 2.4. Gráficos das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil que
apresentaram o morfo longistilo e brevistilo. (A) Declieuxia fruticosa; (B) Galianthe peruviana; (C)
G. valerianoides; (D) Palicourea rigida; (E) P. officinalis; (F) P. marcgravii; (G) Psychotria
hoffmanneggiana; (H) P. capitata; (I) P. mapourioides; (J) P. trichophoroides; (L) P.
carthagenensis. () flor longistila, () flor brevistila.......................................................................54
Figura 2.5. Flores das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil que
apresentaram variação na apresentação dos morfos florais. (A) Morfo longistilo de Coccocypselum
lanceolatum; (B) Morfo longistilo de Psychotria prunifolia; (C) Morfo homostilo de Palicourea
macrobotrys; (D1), (D2) e (D3), flor longistila, brevistila e homostila, respectivamente. Escala: 2
mm. Fotos: Consolaro, H………………………………………………...................................................55
Figura 2.6. Gráficos das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil que
apresentaram variação na apresentação dos morfos florais. (A) Coccocypselum lanceolatum; (B)
xvi
Psychotria prunifolia; (C) Palicourea macrobotrys; (D) P. coriaceae. () flor longistila, () flor
brevistila, () flor homostilia………………………………………………………………………55
Tabela 2.2. Coeficientes de correlação de Spearman para Comprimento do tubo da corola (CO),
Altura do estame (AEs), Altura do estigma (AEg) e Separação estigma-antera (SP) para os morfos
longistilos (L) e brevistilos (B) das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal,
Brasil. * p<0,05..................................................................................................................................56
CAPÍTULO 3 - SISTEMA DISTÍLICO DE QUATRO ESPÉCIES DE PALICOUREA AUBL. (RUBIACEAE)
DO
CERRADO DO BRASIL CENTRAL.
Figura 3.1. Mensurações morfométricas (mm) retiradas das flores das espécies de Palicourea
estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. CE: comprimento do estigma. CEs: comprimento do
estilete. CC: comprimento do tubo da corola. CF: comprimento do filete. CA: comprimento da
antera. OV: ovário..............................................................................................................................65
Figura 3.2. Flores das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. (A1)
morfo longistilo e ( A2) morfo brevistilo de P. officinalis; (B1) longistilo e (B2) brevistilo de P.
marcgravii; (C1) longistilo, (C2) brevistilo e (C3) homostilo de P. coriaceae; (D) homostilo de P.
macrobotrys. Escala: 2 mm. Fotos: Consolaro, H..............................................................................68
Figura 3.3. Gráficos das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. (A)
distribuição bimodal da separação estigma-antera em flores de P. officinalis; (B) distribuição
bimodal em P. marcgravii; (C) ocorrência de três morfos em P. coriaceae; (D) representação
gráfica da homostilia em P. macrobotrys. Barras brancas morfo brevistilo, preta morfo longistilo e
pontilhada morfo homostilo...............................................................................................................68
xvii
Tabela 3.1. Morfometria das estruturas florais e isopletia das espécies de Palicourea estudadas no
Cerrado, Distrito Federal, Brasil (valores em mm, média ± SD). Coluna Morfo: longistilo (L),
brevistilo (B) e homostilo (H), entre parênteses o tamanho amostral. F e P são valores da ANOVA..
Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05). Coluna Hercogamia:
(-) morfos com reciprocidade, (x) ausência de reciprocidade. χ
2
e P são valores do Qui-
quadrado.............................................................................................................................................69
Figura 3.4. Fluxograma evolutivo, representação da HR e relações de incompatibilidade das
espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. (L) morfo longistilo. (B)
brevistilo. (HB) homostilo brevistilo. (HL) homostilo longistilo. (--) ausência de HR. (–) presença
de HR Anteras pretas=autocompatibilidade. Anteras brancas=auto e intramorfo incompatibilidade.
©=intermorfo compatibilidade...........................................................................................................71
Tabela 3.2. Resultados dos experimentos de polinização manual [% de frutificação, (número de
flores utilizadas)] das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. Coluna
Morfo: longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo (H), entre parênteses o número de indivíduos
envolvidos. PInter: polinização intermorfo. PIntra: polinização intramorfo. AP: autopolinização.
Co: controle. Dentro de cada espécie, a primeira letra representa comparações entre morfos, já as
letras conseguintes comparações entre experimentos. Letras diferentes indicam diferenças
estatisticamente significativas (p<0,05). Coluna PInter para P. coriacea: p. ex. BxL, primeiro morfo
representa o doador de pólen..............................................................................................................72
Tabela 3.3. Visitantes florais, número total de visitas, freqüência e categoria do visitante de três
espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. MF=muito freqüente (>5
visitas/hora). F=frequente (±1 visita/hora). R=raro (<1 visita/hora). PP=polinizador principal.
PO=polinizador ocasional..................................................................................................................74
xviii
Figura 3.5. Visitantes florais das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal,
Brasil. (A) Amazilia fimbriata e (B) Chlorostilbon aureoventris visitando flores de P. officinalis.
(C) A. fimbriata visitando flores de P. marcgravii. (D) Thalurania furcata visitando flores de P.
macrobotrys. (E) Bombus sp. e (F) Heliachitin cornuta visitando flores de P. coriaceae. Escala: 5
mm (A – E) e 2 cm (F). Fotos: Consolaro, H.....................................................................................75
Figura 3.6. Freqüência dos visitantes florais por intervalo de tempo de P. coriacea no Cerrado,
Distrito Federal, Brasil.......................................................................................................................76
Tabela 3.4. Volume, concentração e quantidade total de açúcar no néctar das espécies de Palicourea
estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. Coluna Morfo: longistilo (L), brevistilo (B) e
homostilo (H), entre parênteses o tamanho amostral.........................................................................76
xix
INTRODUÇÃO GERAL
Ampla distribuição geográfica, diferentes agentes polinizadores e fatores ligados a
perturbações ambientais podem exercer pressões seletivas em sistemas reprodutivos de espécies
vegetais, fazendo com que estratégias sexuais voltadas à fertilização cruzada sejam selecionadas,
podendo-se destacar os sistemas genéticos de auto-incompatibilidade. Em alguns casos, tais
sistemas genéticos operam conjuntamente com dispositivos morfológicos evitando a
autopolinização e otimizando a produção de pólen (Heslop-Harrison 1983, Lewis 1943). Dentre
esses mecanismos que tentam evitar a autogamia, o sistema de incompatibilidade heteromórfico ou
heterostilia é o mais conhecido entre as Angiospermas (Ganders 1979, Barrett & Richards 1990,
Barrett 1992).
A heterostilia foi primeiramente observada por Clusius em 1583 no gênero Primula (van
Dijk 1943 apud Ornduff 1992), mas foram Hildebrand e Darwin, na metade do século XIX, que
estudaram o tema com mais afinco (Ganders 1979). Em 1877, Darwin registrou, por meio de
coleções botânicas, a morfologia floral ligada à heterostilia em várias famílias tropicais, entre elas,
Rubiaceae (Barrett & Richards 1990). O primeiro trabalho detalhado da morfologia distílica na
família Rubiaceae foi desenvolvido na Patagônia em Cruckshanskia glacialis no início do século
XX (Skottsberg 1915), entretanto foi Alfred Ernst (1932) com Psychotria malayana (Bir Bahadur
1968) que pioneiramente desenvolveu um estudo que levava em consideração tanto aspectos
morfológicos quanto testes experimentais com polinização.
A heterostilia é um polimorfismo floral geneticamente controlado, sendo normalmente
identificado por duas características principais: hercogamia recíproca, que é o posicionamento
recíproco de estigmas e anteras entre os diferentes morfos florais, e um sistema de
incompatibilidade auto e intramórfico, no qual somente grãos de pólen em anteras posicionadas no
mesmo nível do estigma do morfo oposto são compatíveis (Ganders 1979, Kohn & Barrett 1992,
Passos & Sazima 1995). Esse polimorfismo floral pode ser encontrado em duas condições
1
diferentes: distilia, na qual são encontradas flores com dois morfos distintos, e mais raramente
tristilia, com três morfos distintos (Ganders 1979). Durante o século XIX, muitos taxonomistas
ainda não tinham conhecimento da existência de espécies distílicas, sendo os morfos florais, muitas
vezes, tratados como espécies distintas (Bir Bahadur 1968).
Em populações distílicas, como descrito por Darwin (1877 apud Barrett 1992), alguns
indivíduos contêm flores com estilete maior que os estames (chamados morfologicamente de
longistilas ou “pin”) e outros contêm flores com estilete menor que os estames (chamados
morfologicamente de brevistilas ou “thrum”). Uma vez que a produção de frutos em espécies
distílicas é geralmente dependente do fluxo de pólen entre os morfos, o sucesso reprodutivo está
fundamentalmente ligado à freqüência dos morfos na população (seleção dependente da freqüência)
(Thompson et al. 2003). Por esse motivo, em populações em que os dois morfos possuem o mesmo
potencial reprodutivo, normalmente espera-se encontrar uma razão equilibrada entre eles (isopletia),
sendo essa também uma característica típica de espécies heterostílicas (Lewis 1979, Hamilton
1990).
Explicar o surgimento da heterostilia e, conseqüentemente, entender seu significado é um
tema que vem sendo discutido em vários trabalhos. Charlesworth & Charlesworth (1979a) sugerem
que a heterostilia desenvolveu-se em populações com alto nível de depressão endogâmica e que a
evolução do sistema de incompatibilidade antecedeu o estabelecimento do posicionamento
recíproco do estigma e das anteras entre os morfos florais. Já Lloyd & Webb (1992) apresentam e
fundamentam quatro postulados básicos em relação à evolução da distilia: 1) os ancestrais
imediatos de espécies heterostílicas apresentavam “approach herkogamy”, ou seja, hercogamia
semelhante à de flores longistilas; 2) a evolução da hercogamia recíproca antecedeu à do sistema de
incompatibilidade; 3) o passo inicial para a hercogamia recíproca foi a evolução do polimorfismo
estigma-antera; 4) auto-incompatibilidade heteromórfica dialélica é qualitativamente distinta da
auto-incompatibilidade homomórfica multialélica.
2
Sistemas de incompatibilidade são conhecidos desde o século XVIII e os mecanismos
genéticos envolvidos nestes processos foram definidos desde a década de 20 do século passado
(Richards 1986). Três mecanismos diferentes parecem estar envolvidos nestes sistemas genéticos de
incompatibilidade, sendo eles o gametofítico (SG), o esporofítico homomórfico (SEHo) e o
esporofítico heteromórfico (SEHet) (Gibbs 1990). Esses sistemas parecem ser geneticamente mais
complexos e, de certa forma, não englobam todas as situações encontradas em espécies com alguma
incompatibilidade. O processo de rejeição do SG se dá pelo reconhecimento gametofítico dos
organismos envolvidos, sendo a ruptura do tubo feita ao longo do estilete (Gibbs 1990). Já a
rejeição do sistema esporofítico é definida pelo genótipo dos tecidos do esporófito (Gibbs 1986,
Richards 1986), de modo que a reação de incompatibilidade normalmente ocorre na superfície
estigmática (Richards 1986). Esse processo de rejeição pode ser semelhante àquele ocorrente no
sistema esporofítico homomórfico, contudo em algumas espécies distílicas tropicais a reação de
incompatibilidade pode ocorrer ao nível do estilete (Bawa & Beach 1983).
Embora os padrões morfológicos e de incompatibilidade sejam tidos como estáveis em
plantas heterostílicas, existe uma variedade de modificações evolutivas nesse grupo. Essas
modificações podem ocorrer em diferentes graus, tanto entre populações da mesma espécie,
separadas por barreiras geográficas ou ecológicas, quanto entre gêneros e espécies distílicas (Li &
Johnston 2001). Espécies pertencentes a grupos polimórficos, ou seja, que apresentam desvios em
suas características, não são consideradas tipicamente distílicas (Hamilton 1990, Pailler &
Thompson 1997). Essas variações podem dar origem a diversas condições reprodutivas, tais como a
homostilia longistílica, a homostilia brevistílica, o monomorfismo longistílico e o monomorfismo
brevistílico (Bawa & Beach 1983, Hamilton 1990).
A condição homostílica é caracterizada quando flores apresentam anteras e estigmas no
mesmo nível, sendo essa nova disposição morfológica geralmente acompanhada da
autocompatibilidade (Hamilton 1990). A origem dessa condição derivada é interpretada como
resultado de uma recombinação dentro do supergene que controla a distilia, gerada, normalmente,
3
por pressões ecológicas, como a falta de polinizadores eficientes (Charlesworth & Charlesworth
1979a, Barrett & Richards 1990). Essas mudanças no sistema reprodutivo podem conduzir a
eventos evolutivos importantes, como processos rápidos de especiação (Baker 1958).
O monomorfismo é caracterizado quando apenas um dos morfos é encontrado numa
população, podendo esse ser longistílico ou brevistílico (Ganders 1979). Esse desequilíbrio extremo
na razão dos morfos pode ser alcançado por algum grau de autocompatibilidade no morfo
predominante, por uma taxa elevada de crescimento clonal ou simplesmente pela perda eventual de
um dos morfos florais (Baker 1966, Nicholls 1985, Sobrevila et al. 1983). Tal perda pode ser
atribuída ainda aos efeitos de perturbações ambientais, como a fragmentação ambiental que pode
afetar diretamente a transferência dos grãos de pólen entre os morfos, reduzir o tamanho
populacional de uma espécie, ou ainda eliminar total ou parcialmente um dos morfos (Hamilton
1990, Endels et al. 2002).
Rubiaceae é a quarta maior família botânica dentre as Angiospermas, possuindo
aproximadamente 650 gêneros e 12.000 espécies de distribuição Pantropical. Nos Neotrópicos, é a
maior família de eudicotiledônea, com aproximadamente 200 gêneros e 5.000 espécies (Delprete
2004). No Brasil, ocorrem cerca de 130 gêneros e 1500 espécies, sendo considerada uma das
principais famílias da flora brasileira (Souza & Lorenzi 2005). No Cerrado a importância da família
não é diferente, já que possui uma riqueza de 376 espécies distribuídas em todas as fitofisionomias,
além de ser considerada a sétima família mais rica do bioma (Mendonça et al., no prelo).
O número de subfamílias dentro de Rubiaceae varia de acordo com a classificação de
diferentes autores. De acordo com Delprete (1999), existem classificações que propõem três
subfamílias, tais como Cinchonoideae, Rubioideae e Guettardoideae (Verdcourt 1958), outras com
oito, como Cinchonoideae, Rubioideae, Ixoroideae, Pomazotoideae, Urophylloideae,
Gleasonioideae, Hillioideae e Guettardoideae (Bremekamp 1966) e algumas com quatro, como
Cinchonoideae, Rubioideae, Antirheoideae e Ixoroideae (Robbrecht 1988). Recentemente, Delprete
et al. (2004) utilizaram um sistema que também considera três subfamílias, entretanto parcialmente
4
diferente da proposta por Verdcourt (1958). Eles dividiram a família em Cinchonoideae, Ixoroideae
e Rubioideae, sendo essa a classificação adotada no presente estudo.
Estudos taxonômicos de Rubiaceae não levam em consideração os sistemas sexuais
presentes na família, contudo é possível atribuir estratégias reprodutivas às suas subfamílias: a
dicogamia mais comum em Ixoroidae, Cinchonoidae apresentando heterostilia e dicogamia e, por
fim Rubioidae com representantes heterostílicos (Robbrecht 1988). Um trabalho específico de
heterostilia em Rubiaceae realizado na década de 60 (Bir Bahadur 1968) fornece uma distribuição
mais detalhada de taxa heterostílicos na família e sugere padrões de ocorrência de espécies distílicas
a algumas categorias taxonômicas menos inclusivas, como tribo e gêneros.
Barrett (1990) divide os estudos da heterostilia em duas grandes fases. A primeira até a
década de 60, onde os trabalhos eram desenvolvidos em casas de vegetação e se concentravam na
área genética usando o polimorfismo como um modelo para estudos mendelianos, de linkage,
supergenes e vários fenômenos dependentes da freqüência. A segunda e atual fase caracterizada por
estudos de campo com populações heterostílicas e pela elaboração de modelos teóricos relacionados
à evolução e quebra desse polimorfismo.
Nos últimos anos, alguns trabalhos teóricos englobando o tema “heterostilia” foram
desenvolvidos, podendo-se destacar seis artigos clássicos e amplamente citados na literatura. Em
“The origin and evolutionary development of heterostyly in the angiosperms” (Vuilleumier 1967), o
autor reconstroe a história evolutiva da heterostilia com base em trabalhos já desenvolvidos na
literatura, sugerindo a base genética do polimorfismo, a sua distribuição nas Angiospermas e os
possíveis sistemas reprodutivos que a heterostilia pode dar origem. Ganders (1979), em seu trabalho
intitulado “The biology of heterostyly”, introduz os conceitos básicos da heterostilia e discute os
aspectos morfológicos e genéticos em várias famílias heterostílicas. Já Charlesworth &
Charlesworth (1979b) em “A model for the evolution of distyly”, discutem os modelos de evolução
da distilia já criados por outros autores e descrevem um novo modelo baseado em análises
computacionais. Oportunamente, os mesmos autores publicaram no mesmo ano o trabalho
5
denominado “The maintenace and breakdown of distyly”, no qual exploram o modelo criado por
eles na publicação anterior e explicam a quebra da distilia com base nas possíveis vantagens
seletivas que um recombinante alcançaria. Alguns anos depois, o artigo “Heterostyly in Tropical
Plants” (Barrett & Richards 1990), discute em várias famílias tropicais aspectos funcionais e
evolutivos da heterostilia. Por fim, o último estudo teórico publicado foi o livro “Evolution and
Function of Heterostyly” (Barrett 1992) que reúne diversos estudos heterostílicos com intuito de
suprir a deficiência temporal do trabalho pioneiro de Darwin (1877) e promover uma atualização
deste tema sob uma perspectiva evolutiva.
Estudos teóricos específicos de distilia em Rubiaceae são raros, podendo-se citar
“Heterostyly in Rubiaceae: A Review” (Bir Bahadur 1968) e “A Morphological Hypothesis for the
Origin of Heterostyly in the Rubiaceae” (Anderson 1973). Esses trabalhos, conjuntamente com os
estudos populacionais, têm encontrado as mais variadas situações, tanto com espécies tipicamente
distílicas quanto com espécies com perda total ou parcial dos padrões distílicos. Dentro da família,
alguns gêneros são considerados tipicamente distílicos, contudo observam-se espécies desses
gêneros que apresentam diferentes graus de alterações. Destacam-se como gêneros variáveis
Palicourea, Psychotria, Manettia e Guettarda (Sobrevila et al. 1983, Hamilton 1990, Richards &
Koptur 1993, Faivre & McDade 2001, Coelho & Barbosa 2003, Consolaro 2004, Consolaro et al.
2005).
Estudos de sistemas reprodutivos em espécies distílicas de Rubiaceae têm também
demonstrado variações nas reações de incompatibilidade dentro do padrão esporofítico, de forma
que o local de inibição do crescimento do tubo polínico se diferencia tanto entre espécies quanto
entre os morfos florais. Sete espécies estudadas na Costa Rica mostraram diferentes locais de
inibição do tubo polínico entre morfos, enquanto duas espécies apresentaram o mesmo local de
inibição (Bawa & Beach 1983). As variações no padrão esporofítico ocorrem com maior freqüência
em indivíduos longistilos após autopolinizações e cruzamentos intramorfos, sendo a variação
6
caracterizada pelos diversos locais de inibição do tubo polínico, sobretudo ao longo do estilete
(Bawa & Beach 1983, Passos & Sazima 1995, Silva 1995, Grandisioli 1997).
Na verdade, o que parece ocorrer na família é que quando não existe a manifestação
completa do SEHet, a variação parece manifestar-se principalmente no morfo longistilo. O
comportamento da interrupção do crescimento do tubo polínico nesse morfo ocorre de forma
similar às espécies com Sistemas Gametofíticos, o que nos leva a pensar que o SEHet não é tão
simples, forte e homogêneo quanto parece. Essa variação no local de reação da incompatibilidade
entre os morfos pode ser uma etapa da quebra do sistema para a auto e/ou intramorfo
compatibilidade, característica comum na família. O morfo longistilo com auto-incompatibilidade
muito forte é menos freqüente, tendo como exemplos Hedyotis, Pentas, e Oldenlandia (Bir Bahadur
1966 apud Bir Bahadur 1968, Bir Bahadur 1970a, b, c apud Ganders 1979). Estudos comparativos
com táxons intimamente relacionados fornecem fortes evidências de repetidas quebras da auto e/ou
intramorfo incompatibilidade em ambos os sistemas homomórfico e heteromórfico (Nettancourt
1977, Barrett 1988), tendo como possível caminho a estabilização de uma nova forma de “approach
herkogamy” auto-fértil.
Estudos com enfoque reprodutivo em Rubiaceae no Brasil têm sido realizados com maior
frequência nos últimos anos (e. g. Monteiro et al. 1991, Jung-Mendaçolli & Melhem 1995, Silva
1995, Passos & Sazima 1995, Grandisoli 1997, Almeida & Alves 2000, Machado & Loiola 2000,
Castro & Oliveira 2001, Castro & Oliveira 2002, Coelho & Barbosa 2003, Martin-Gajardo &
Morellato 2003, Coelho & Barbosa 2004, Teixeira & Machado 2004a e b, Castro et al. 2004, Castro
& Araújo 2004, Consolaro et al. 2005, Ramos & Santos 2005, Lopes & Buzato 2005, Rossi et al.
2005, Amorin & Oliveira 2006, Ramos & Santos 2006, Pereira et al. 2006), tendo eles grande
importância na medida que ajudam a explicar parte dos padrões gerais de diversidade e estrutura de
comunidades (Ashton 1969, Bawa 1974, Kaur et al. 1978, Bawa 1990, apud Oliveira & Gibbs
2000). Porém, esses estudos estão mais concentrados em ambientes florestais tropicais, como a
Mata Atlântica, do que em savanas neotropicais, como o Cerrado. No Cerrado, espécies distílicas de
7
Rubiaceae são ainda pouco estudadas, com trabalhos com espécies isoladas, como Psychotria
barbiflora (Monteiro et al. 1991), P. carthagenensis (Consolaro, H., dados não publicados), P.
poeppigiana (Coelho & Barbosa 2004), P. deflexa e Declieuxia fruticosa (Oliveira & Oliveira
2004), Palicourea rigida (Silva 1995), P. macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003) e Manettia
cordifolia (Consolaro et al. 2005).
Pelo intensivo impacto ambiental e pelos poucos estudos heterostílicos demonstrarem que o
conhecimento da distilia na família no Cerrado ainda é escasso, o objetivo geral do presente estudo
foi caracterizar a atual situação das espécies distílicas de Rubiaceae do bioma Cerrado. Para isso, a
tese foi estruturada em três capítulos. O primeiro capítulo utiliza dados de herbário e referências
bibliográficas com a finalidade de elaborar uma avaliação geral da distilia e da fenologia da família
no bioma. O segundo capítulo, desenvolvido em três áreas da Reserva da Biosfera do Cerrado
(Centro-Oeste, Distrito Federal), faz uma análise da morfologia floral e da razão dos morfos de
algumas espécies distribuídas na região. E por fim, o terceiro capítulo, é composto por estudos de
caso relacionados ao sistema distílico de quatro espécies do gênero Palicourea.
8
CAPÍTULO 1
Distilia e fenologia das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil
INTRODUÇÃO
Espécies de plantas distílicas são caracterizadas por apresentarem populações com
aproximadamente metade dos indivíduos portando flores com estilete maior que os estames (morfo
longistilo) e a outra metade portando flores com estilete menor que os estames (morfo brevistilo),
sendo tal equilíbrio na freqüência dos morfos denominado isopletia (Ganders 1979). Juntamente
com essa expressão morfológica, espécies distílicas, normalmente, apresentam um sistema de
incompatibilidade, de forma que apenas cruzamentos entre os morfos resultam em formação de
frutos (Bir Bahadur 1968). Dentre os mecanismos genéticos de incompatibilidade encontrados em
Angiospermas, o Sistema Esporofítico Homomórfico (SEHo) tem como característica particular a
interrupção do crescimento tubo polínico ocorrer na superfície estigmática, um tecido esporofítico
(Richards 1986). O sistema de incompatibilidade de espécies distílicas, denominado Sistema
Esporofítico Hetermórfico (SEHet), é considerado um mecanismo derivado do SEHo, de modo que
é esperado que a reação de incompatibilidade também ocorra na mesma região, porém em algumas
espécies distílicas a interrupção parece ocorrer em locais diferentes desse tecido (Bawa & Beach
1983, Barrett 1988, Gibbs 1986).
Estudos preliminares com Rubiaceae (Baker 1958), aliados as evidências de importantes
famílias heterostílicas como Primulaceae (Ernst 1955 apud Bir Bahadur 1968) e Plumbaginaceae
(Baker 1966), indicam que a expressão dos morfos florais e do SEHet é resultante da manifestação
de um único lócus, formado por dois alelos compostos por subunidades, caracterizando um
mecanismo de controle integrado denominado supergene (Bir Bahadur 1968, Ganders 1979).
Embora o supergene seja considerado estável para espécies distílicas de Rubiaceae, existe uma
variedade de modificações evolutivas nessa família (Baker 1958; Bawa & Beach 1983; Sobrevila et
al. 1983; Hamilton 1990; Richards & Koptur 1993; Pailler et al. 1998; Faivre & McDade 2001;
9
Coelho & Barbosa 2003; Castro et al. 2004; Consolaro et al. 2005). Modificações nos padrões
heterostílicos podem ocorrer em diferentes graus, tanto entre populações da mesma espécie
separadas por barreiras geográficas ou ecológicas, quanto entre gêneros e espécies (Li & Johnston
2001). Espécies pertencentes a grupos que apresentam desvios em suas características, denominadas
formas variantes, são consideradas, na maioria das vezes, produtos da quebra do supergene,
podendo dar origem a homostilia e ao monomorfismo (Ganders 1975, Bawa & Beach 1983,
Hamilton 1990).
A homostilia é uma forma derivada da heterostilia com suas flores apresentando,
normalmente, autocompatibilidade (Bir Bahadur 1968). De acordo com trabalhos desenvolvidos
com Primula (Primulaceae) (Dowrick 1956 apud Ganders 1979), morfos homostilos são originados
a partir de permutação do supergene (crossing over) entre as subunidades que determinam à altura
do estilete de um morfo e as subunidades que determinam da antera do seu morfo compatível. Já o
monomorfismo é caracterizado quando apenas um dos morfos florais é encontrado na população
(Ganders 1979). Essa condição pode ocorrer quando um dos morfos adquire algum grau de
autocompatibilidade gerada pela quebra do supergene, pelo crossing over dentro do supergene sem
o rearranjo morfológico, quando há uma taxa elevada de crescimento clonal ou simplesmente
quando ocorre perda eventual de um dos morfos florais (Baker 1966, Nicholls 1985, Sobrevila et al.
1983).
A mudança de um sistema que exige reprodução cruzada obrigatória para outro que permite
autofertilizações é um caminho evolutivo comum em Angiospermas (Barrett & Shore 1987).
Homostilia e monomorfismos autoférteis são exemplos desse tipo de mudança, já que são
considerados grupos derivados do SEHet (Charlesworth & Charlesworth 1979a, Shore & Barrett
1985, Barrett & Richards 1990, Lewis & Jones 1992, Richards & Barrett 1992). Estudo
experimental utilizando modelo computacional com a capacidade de controlar a entrada, a saída, a
taxa de autofertilidade (s) e a depressão endogâmica (δ) de um morfo, demonstrou que indivíduos
homostilos longistilos com “s” maior do que zero e “δ” menor do que ½, quando inseridos em
10
populações distílicas, tendem a aumentar sua freqüência e, gradualmente ao longo das gerações,
substituir os outros morfos (Figura 1.1) (ver Charlesworth & Charlesworth 1979a). O estudo notou
ainda que quando o morfo inserido era do tipo homostilo longistilo, a substituição total dos morfos
longistilo, brevistilo e/ou homostilo brevistilo era inevitável, enquanto que a dominância total da
forma homostila brevistila só era possível quando o homostilo longistilo estava ausente (Figura 1.1)
(ver detalhes em Charlesworth & Charlesworth 1979a).
Geração
Freqüência do morfo
HL
L
B
HB
Figura 1.1. Curso da freqüência dos morfos quando indivíduos autocompatíveis dos morfos
homostilos longistilos (HL) e homostilos brevistilos (HB) são inseridos em populações
heterostílicas. Nessa simulação foi utilizada “s”=0,8 e “δ”=0,44. Gráfico adaptado de Charlesworth
& Charlesworth (1979a)
Rubiaceae é a família que possui a maior número de espécies distílicas dentre as 28 famílias
de Angiospermas que apresentam heterostilia (Barrett et al. 2000). Estudos gerais de distilia na
família são escassos, podendo-se citar os trabalhos intitulados “Heterostyly in Rubiaceae: A
Review” (Bir Bahadur 1968), “A Morphological Hypothesis for the Origin of Heterostyly in the
Rubiaceae” (Anderson 1973) e “Self-incompatibility Systems in the Rubiaceae of a Tropical
Lowland Wet Forest” (Bawa & Beach 1983). Alguns outros trabalhos a respeito da distilia na
11
família existem, porém eles são restritos a determinadas regiões, podendo-se destacar Skottsberg
(1944 apud Bir Bahadur 1968) desenvolvido no Hawaii e Baker (1958) na África. No Brasil,
levando em consideração trabalhos gerais em relação ao tema, Jung-Mendaçolli & Melhem (1995)
desenvolveram um estudo palinológico com 25 espécies heterostílicas de Rubiaceae. Entretanto,
trabalhos específicos de caracterização da distilia no país são raros e realizados apenas com espécies
isoladas ou com alguns grupos de espécies, sendo eles concentrados na Floresta Atlântica, como os
trabalhos com Manettia luteo-rubra (Passos & Sazima 1995), Psychotria suterella (Grandisoli
1997, Lopes & Buzato 2005) P. jasminoides, P. birotula, P. mapourioides e P. pubigera (Castro &
Oliveira 2002, Castro et al. 2004), P. nuda (Castro & Araújo 2004), P. barbiflora e Sabicea cinerea
(Teixeira & Machado 2004a, b, respectivamente), P. ipecacuanha (Rossi et al. 2005) e Palicourea
longepedunculata, P. marcgravii, Psychotria conjugens, P. hastisepala, P. higrophiloides, P. nuda,
P. sessilis e Rudgea lanceolata (Pereira et al. 2006).
A família é considerada uma das principais famílias da flora brasileira, com cerca de 130
gêneros e aproximadamente 1500 espécies (Souza & Lorenzi 2005). No Cerrado, Rubiaceae é
representada por 376 espécies, sendo considerada a sétima família mais rica do bioma (Mendonça et
al., no prelo). Devido à sua importância taxonômica, o comportamento fenológico de suas espécies
pode influenciar a dinâmica e a estrutura da vegetação de um bioma, pois várias de suas espécies
funcionam como fonte alimentar para animais (Castro & Oliveira 2002, Melo et al. 2003, Lopes &
Buzato 2005). Estudos fenológicos exclusivos com Rubiaceae no Brasil são escassos e restritos a
Floresta Atlântica, podendo citar os estudos com duas espécies de Psychotria (Almeida & Alves
2000), com espécies de sub-bosque (Martin-Gajardo & Morellato 2003), com Psychotria
tenuinervis (Ramos & Santos 2006), com Psychotria suterella em oito fragmentos (Lopes & Buzato
2005) e com espécies de diversos gêneros em um fragmento florestal do Sudeste brasileiro (Pereira
et al. 2006). Para o Cerrado, dados fenológicos da família são fornecidos apenas com estudos
populacionais de biologia reprodutiva (Coelho & Barbosa 2003, Consolaro 2004, Coelho &
Barbosa 2004, Amorim & Oliveira 2006).
12
De maneira semelhante, estudos com aspectos reprodutivos de Rubiaceae no Cerrado são
restritos e desenvolvidos com espécies isoladas, como Psychotria barbiflora (Monteiro et al. 1991),
P. carthagenensis (Consolaro, H., dados não publicados), P. poeppigiana (Coelho & Barbosa
2004), P. deflexa e Declieuxia fruticosa (Oliveira & Oliveira 2004), Palicourea rigida (Silva 1995),
P. macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003) e Manettia cordifolia (Consolaro et al. 2005). Pelo pouco
que se conhece a respeito da distilia e da fenologia de Rubiaceae no Cerrado, juntamente com o
intenso impacto ambiental que o bioma vem sofrendo nas últimas décadas (Ratter et al. 1997,
Marini 2001), o principal objetivo do presente trabalho é avaliar a atual situação das espécies
distílicas de Rubiaceae do Cerrado para poder assim responder questões a respeito da morfologia
floral e da fenologia reprodutiva da família no bioma, como: Quantos táxons de Rubiaceae do
Cerrado são distílicos? Quais formas variantes podem ser encontradas a partir da distilia? A partir
das formas variantes, quais são os caminhos evolutivos que a distilia está seguindo? Qual o
comportamento fenológico reprodutivo de suas espécies no bioma?
Os dados utilizados nesse estudo têm como fonte principal material de herbário e
informações de artigos científicos. Trabalhos de herbários geralmente não possibilitam um
completo entendimento da origem das variações encontradas a partir da distilia, principalmente
relacionadas a sistemas genéticos de incompatibilidade e análises populacionais (Hamilton 1990).
Contudo, análises diretas em coleções vegetais podem descrever comportamentos fenológicos
gerais (Primack et al. 2004, Miller-Rushing et al. 2006) e responder questões morfológicas e
evolutivas relevantes a respeito da distilia, como aqueles desenvolvidos para Connaraceae
(Lemmens 1989) e Psychotria (Rubiaceae) (Hamilton 1990).
MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido principalmente a partir de material de herbário e incorporação de
informações de artigos científicos. Foram incluídas ainda informações procedentes de trabalhos
científicos não publicados, observação direta no campo, comunicação pessoal e dados referentes ao
13
segundo capítulo do presente estudo. Os herbários visitados foram: Universidade de Brasília (UB),
EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia (CEN), Reserva Ecológica do IBGE (IBGE),
Universidade Federal de Uberlândia (HUFU), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(CGMS), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Universidade Federal de Goiás (UFG),
Universidade Federal de Minas Gerais (BHCB), Instituto Agronômico de Campinas (IAC),
Universidade de Campinas (UEC) e Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB). Vale ressaltar que os
materiais analisados eram, em sua maioria, identificados por especialistas na taxonomia da família.
Os espécimes observados perfazem um total de 175 espécies e tiveram como fonte
bibliográfica original as listagens em Cavalcanti & Ramos (2001), Mendonça et al. (1998) e
Delprete, P. (com. pess.). Foram examinadas espécies pertencentes a gêneros tidos como distílicos e
espécies que apresentavam informações dúbias da existência de distilia no táxon (Bir Bahadur 1968,
Ganders 1979, Robbrecht 1988), como a confirmação recente de distilia em Damnacanthus
(Rubiaceae) (Naiki & Nagamasu 2003). Também foram incluídos os gêneros citados como
distílicos por trabalhos reprodutivos, mas que em estudos taxonômicos não mencionavam tal
polimorfismo na descrição do táxon.
Foi estabelecido um número máximo de 30 exsicatas por espécie. Em cada exsicata foi
averiguada a morfologia floral, a data da coleta, a presença de flores e/ou frutos, a fitofisionomia de
ocorrência e o nome e o número do coletor como forma de evitar dupla-análise nos herbários
visitados. Não foi possível diferenciar a maturidade em que os frutos se encontravam. Quando não
foi possível a observação direta da morfologia floral e, quando autorizado pelo curador do herbário,
foram retiradas flores das exsicatas que possuíam duplicatas e, posteriormente, em laboratório,
hidratadas, analisadas e morfotipadas. De acordo com as condições morfológicas encontradas,
foram estabelecidas oito grandes categorias (Figura 1.2). Para considerar uma espécie entre as
categorias (A) a (F), foi estabelecido um número mínimo de três exsicatas por morfo. Muitas vezes,
algumas espécies não apresentaram essa numeração pré-estabelecida, com isso foram criadas duas
outras categorias consideradas como grupos parcialmente inconclusivos (G) e (H) (Figura 1.2). As
14
espécies em que foi registrado apenas um morfo por meio de uma ou duas exsicatas e que,
eventulamente, fariam parte de uma categoria denominada “Supostamente monomórfica”, foram
enquadradas na categoria (G) (Figura 1.2).
Espécie distílica típica
LB
A
LB
H
Espécie distílica atípica
BH LH
Espécie monomórfica
Figura 1.2. Categorias morfológicas estabelecidas a partir das características estruturais
observadas em flores de exsicatas de espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. (L)
morfo longistilo, (B) brevistilo e (H) homostilo. (AH) morfologia “Approach Hercogamy”, (HR)
morfologia Hercogamia Reversa e (H*) morfologia semelhante ao morfo homostilo. Categoria
(F) representa gêneros que não apresentaram ao menos uma espécie na categoria (A). A (s)
subdivisão (ões) dentro dos quadros de cada categoria refere-se (m) a (s) possível (eis)
combinação (ões) morfológica (s) existente (s) em tais grupos. As categorias (A) a (F)
apresentaram de três a 30 exsicatas por subdivisão (ões), enquanto as categorias (G) e (H) entre
uma e duas exsicatas por morfo, também de acordo com a sua subdivisão.
L
B
Espécie homostílica
H
L
B
Espécie distílica típica
Gênero não-distílico
Espécie não-distílica
AH
HR
H*
Espécie supostamente
stílica típica
LB
di
LB
H
Espécie supostamente distílica atípica
BH LH
B
F
D
C
E
G H
15
16
RESULTADOS
Distilia – Todas as três subfamílias amostradas, Cinchonoideae, Ixoroideae e Rubioideae,
apresentaram representantes distílicos. Algumas tribos não apresentaram ao menos uma espécie
distílica típica, enquanto outras apresentaram espécies distílicas típicas, atípicas e não distílicas
(Tabela 1.1).
Foram analisados 19 gêneros e 175 espécies, dos quais Psychotria (49 espécies), Declieuxia
(22), Rudgea (17), Palicourea (15), Galianthe (14), Faramea (11) e Coussarea (10) foram os mais
ricos (Tabela 1.2). Em 15 espécies distribuídas em cinco gêneros não foi possível obter informações
morfológicas das exsicatas e também nenhum dado em relação a distilia foi encontrado na
literatura. Quatro gêneros, compreendendo nove espécies, foram considerados como não-distílicos,
sendo eles Geophila, Ladenbergia, Perama e Sipanea (Tabela 1.2). O gênero Gonzalagunia e
Malanea foram monoespecíficos e, mesmo apresentando poucas exsicatas, foram classificados
como distílicos por terem sido observados flores dos dois morfos (Tabela 1.2).
Alguns gêneros são integralmente distílicos, como Sabicea, Machaonia, Coccocypselum,
Declieuxia, Rudgea e Galianthe. Os gêneros Psychotria, Palicourea e Manettia apresentaram
espécies tipicamente distílicas e formas variantes. Psychotria e Palicourea foram os gêneros que
mais apresentaram formas variantes. Oldenlandia, Coussarea e Faramea apresentaram espécies
distílicas, juntamente com espécies supostamente distílicas atípicas. Guettarda apresentou espécies
supostamente distílicas, monomórficas e distílicas atípicas (Tabela 1.1, 1.2 e Figura 1.3). De acordo
com a lista de espécies de Rubiaceae do Cerrado elaborada por Mendonça et al., no prelo (376
espécies), aliado aos dados de ocorrência de distilia nos gêneros do presente estudo, é possível
estimar que no Cerrado as espécies distílicas representem, aproximadamente, 41% dessa riqueza.
Algumas espécies consideradas distílicas no presente trabalho, como Coccocypselum
lanceolatum, manifestaram em estudos populacionais a condição de monomorfismo longistílico
(Consolaro, H., dados do segundo capítulo). Especificamente para Psychotria carthagenensis, além
de populações distílicas no Distrito Federal e no Mato Grosso do Sul (Consolaro, H., dados do
Tabela 1.1. Lista das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil com seus respectivos morfos florais, sistemas reprodutivos retirados de fontes
bibliográficas, hábito e fitofisionomias de ocorrência. As informações de hábito e fitofisionomia foram coletadas nas exsicatas e em Mendonça et al.,
no prelo. As espécies que não apresentam referências são aquelas que fizeram parte apenas da coleta de dados nos herbários. Códigos, abreviações e
significado do (*) estão apresentadas ao final da tabela. Sistema de classificação taxonômico adotado por Delprete et al. (2004).
LBH L B H
CINCHONOIDEAE
Cinchoneae
Ladenbergia cujabensis Klotzsen (2)
X**
árvore Cerrado (stricto sensu)
Ladenbergia graciliflora K. Schum. (1)
X*
árvore Cerrado (stricto sensu)
Guettardeae
Guettarda angelica Mart. ex Muell. Arg. (3)
X
arbusto/subarbusto Cerrado (lato sensu), Savanas amazônicas
Guettarda platypoda DC. (4)
X* X
arbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu), Transição com Mata Atlântica
Guettarda pohliana Muell. Arg. (14)
XXX
árvore Mata de Galeria, Cerradão
Guettarda spruceanaMuell. Arg. (1)
X*
árvore Cerrado (lato sensu)
Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl (30)
XX
árvore Borda de Mata de Galeria, Cerradão, Cerrado (lato sensu)
Machaonia acuminata Bonpl. (7)
XX
arbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria
Machaonia brasiliensis (Humb.) Cham. & Schltdl (20)
XX
arbusto escandente Mata Ciliar
Machaonia spinosa Cham. & Schltdl (10)
XX arbusto
Mata Ciliar, Mata de Galeria
Gonzalagunia dicocca Cham. & Schltdl (8)
XX* Mata
IXOROIDEAE
Sabiceae
Sabicea brasiliensis Wernh. (17)
XX
subarbusto Cerrado (stricto sensu), Vereda, Campo Sujo (Seco ou Úmido)
Sabicea grisea Cham. & Schltdl (4)
X** X**
arbusto Mata Ciliar
Sabicea humilis S. Moore
Sabicea villosa Willd. ex Roem. & Schult.
Sipaneae
Sipanea hispida Benth. ex Wernh. (21)
X
erva Cerradão, Cerrado (stricto sensu), Campo Sujo, Brejo
Sipanea veris S. Moore (1)
X*
Cerrado (lato senu)
RUBIOIDEAE
Coccocypseleae
Coccocypselum aureum (Spreng.) Cham. & Schltdl
XX erva
Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu)
4
Coccocypselum condalia Pers.
XX erva 5. 4
Coccocypselum erythrocephalum Cham. & Schltdl
X X erva Mata de Galeria 4
Coccocypselum guianense (Aubl.) K. Schum.
XX erva
Mata de Galeria Inundável, Cerrado (lato sensu)
4
Coccocypselum hasslerianum Chod.
XX 4
Coccocypselum hirsutum Bartl. ex DC.
XX erva
Cerrado (lato sensu), Savanas amazônicas, Transição com Amazônia e Mata Atlântica
4
Coccocypselum lanceolatum (Ruiz & Pav.) Pers
X X erva Mata de Galeria, Mata Seca, Cerradão 4
Coccocypselum lyman-smithii Standl.
X X erva prostrada Mata de Galeria, Brejo, Transição com Mata Atlântica 4
Declieuxia amaranthoides Mart. & Zucc. ex Schltdl (1)
X* Cerrado
Declieuxia aspalathoides Muell. Arg. (18)
X X subarbusto
Cerrado (stricto sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia cacuminis Muell. & Arg. var. cacuminis (5)
XX arbusto
Campo Rupestre (lato sensu)
Fitofisionomia
Sistema ReprodutivoMorfos
Referência
SUBFAMÍLIA/Tribo/espécie (número de exsicatas)
Hábito
17
LBH L B H
Declieuxia cacuminis Muell. & Arg. var. decurrens (4)
X X subarbusto
Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia cordigera var. angustifolia Muell. Arg. (5)
X* X
erva perene Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia cordigera var. cordigera Mart. & Zucc. ex. Schult. & Schult. (30)
XX
erva perene Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre (lato sensu)
5, 6
Declieuxia cordigera var. divergentiflora (DC.) J. H. Kirkbr. (20)
XX
erva perene Borda de Mata, Cerradão, Cerrado Ralo, Campo Limpo
Declieuxia dasyphylla K. Schum. ex Steyerm. (6)
XX
subarbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre
Declieuxia deltoidea Muell & Arg. var. deltoidea (12)
XX
subarbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia diamantinea J. H. Kirkbr. (2)
X**
erva perene Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia diantheroides Standl. (3)
X* X**
subarbusto Mata de Galeria, Campo Limpo, Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia fruticosa (Roem. & Schult.) Kuntze X X Estil. Estig. subarbusto/arbusto
Mata de Galeria (encosta), Cerrado (stricto sensu ), Vereda, Campo Sujo, Campo com Murundus, Campo
Rupestre (lato sensu), Savanas amazônicas 7
Declieuxia gracilis J. H. Kirkbr. (2)
X* X*
erva perene Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia irwinii J. H. Kirkbr. (5)
XX
erva perene Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia juniperina St. Hil. (2)
X* X*
subarbusto Mata de Galeria, Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia lancifolia J. H. Kirkbr. (14)
XX
erva perene Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu)
Declieuxia lysimachioides Zucc. ex Schult. & Schult. (9)
XX
subarbusto Cerrado Ralo, Campo Sujo, Campo Limpo
Declieuxia oenanthioides Mart. & Zucc. ex Schult. & Schult. (28)
XX
erva perene Cerrado (stricto sensu), Campo Limpo, Campo Úmido, Brejo, Campo Rupestre
Declieuxia pruinosa Pohl. ex DC. (8)
XX
subarbusto Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia saturejoides Mart. &. Zucc. ex Schult & Schult. (8)
XX
subarbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu), Ambiente rupestre
Declieuxia spergulifolia Mart. & Zucc. ex Schult. & Schult. (2)
X* X*
subarbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Declieuxia verticillata Muell. Arg. (7)
XX
erva/subarbusto Cerrado (stricto sensu), Campo Seco
Coussareae
Coussarea congestiflora Muell. Arg.
arbusto
Mata Ciliar, Cerrado (lato sensu)
Coussarea contracta (Walp.) Benth. & Hook. ex Muell. Arg. (2)
X* X* árvore Mata de Galeria (de encosta), Mata Higrófila 5
Coussarea cornifolia (Benth.) Benth. & Hook. f. (7)
X X arbusto/arvoreta Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca Decídua, Cerradão, Campo com Murundus
Coussarea hirticalyx Standl. (1)
X* arbusto Mata Ciliar
Coussarea hydrangeifolia (Benth.) Benth. & Hook.ex Muell. Arg. (19)
X X X* arbusto ou arvoreta Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Seca Decídua, Cerradão, Campo com Murundus 5, 6
Coussarea nodosa Muell. Arg. (8)
X X arbusto ou arvoreta
Mata, Cerrado (lato sensu ), Típica de Mata Atlântica
Coussarea ovalis Standl.
Coussarea paniculata (Vahl.) Standl.
Coussarea platyphylla Muell. Arg. (11)
XX arbusto
Mata Ciliar, Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu), Mata Atlântica
Coussarea tenuiflora Standl.
Mata
Faramea bracteata Benth. (2)
X* X*
árvore Mata de Galeria
Faramea cyanea Muell. Arg.
XX
árvore/arbusto Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Faramea glandulosa Poepp. & Endl.
Faramea montevidensis (Cham. & Schldl.) DC.
XX
arbusto Cerrado (lato sensu)
5
Faramea multiflora A. Rich. (15)
XXX*
arbusto Mata de Galeria, Mata Seca
Faramea nettoana Muell. Arg. (1)
X*
árvore/arbusto Mata
Faramea nigrescens Mart. (2)
X* X* arbóreo
Mata
Faramea nitida Benth. (2)
X* X*
arbusto Mata Seca, Campo Úmido
Faramea occidentalis (L.) A. Rich. (6)
XXX*
arbusto Mata
Faramea sessilifolia Aubl. (2)
X* X* arbustivo
Mata
Faramea warmingiana Muell. Arg. (2)
X* X* arbóreo
Mata Ciliar
Hedyotideae
Manettia cordifolia Mart.
XEstil.
trepadeira Campo Rupestre (lato sensu), Área antrópica
1
Manettia irwinii Steyerm.
XX
erva Campo Sujo
2
Manettia luteo-rubra (Vell.) Benth.
X X Estil. Estig.
trepadeira Mata de Galeria
3
Oldenlandia corymbosa L. (3)
X** X* erva
Mata e Campo Limpo
Oldenlandia lancifolia (Schumacher) DC. (1)
X* erva
Oldenlandia salzmannii (DC.) Benth. & Hook. f. ex Jacks. (30)
XX
erva Mata Ciliar
,
Borda de Mata de Galeria
,
Cam
p
o Ru
p
estre
(
lato sensu
),
Bre
j
o
Psychotrieae
Geophila repens (L.) Johnst. (3)
X
erva Mata de Galeria
8
Malanea macrophylla Bart. ex Griseb. (5)
X** X
arbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria
Fitofisionomia Referência
SUBFAMÍLIA/Tribo/espécie
Morfos Sistema Reprodutivo
Hábito
18
LBH L B H
Palicourea coriacea (Cham.) K. Schum. (27)
XXX
subarbusto Cerrado (stricto sensu), Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre (lato sensu)
6, 9
Palicourea crocea (Sw.) Roem. & Schult. (28)
XX
arbusto Mata Ciliar, Cerrado (lato sensu ), Campo Rupestre (lato sensu)
Palicourea gardneriana (Muell. Arg.) Standl. (3)
X* X**
arbusto Mata, Cerrado (lato sensu )
Palicourea grandifolia (Kunth) Standl. (5)
XX*X* arbusto
Mata
Palicourea guianensis Aubl. (26)
XXX*
árvore Cerrado (lato sensu)
Palicourea longepedunculata Gardn. (5)
X X** Estil. Estig. arbusto
Mata de Galeria
6, 10
Palicourea macrobotrys (Ruiz & Pav.) Roem. & Schult.
XAC
arbusto/arvoreta Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu)
9, 11
Palicourea marcgravii St. Hil.
XX
arbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria, Cerradão, Campo Rupestre (lato sensu )
5, 9
Palicourea multiflora A. Rich. var. salicifolia (Presl) Steyerm. (1)
X*
arbusto Mata
Palicourea nitidella (Muell. Arg.) Standl. (12)
XX*
arbusto/arvoreta Mata, Cerradão
Palicourea officinalis Mart.
XX
subarbusto Cerrado Ralo, Campo Sujo
9
Palicourea rigida Kunth
XX
arvoreta/arbusto Borda de Mata de Galeria, Cerrado (stricto sensu), Vereda, Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre
9, 12
Palicourea tetraphylla Cham. & Schltdl (10)
XX
arbusto Cerrado (lato sensu)
Palicourea triphylla DC. (4)
X* X
arbusto Borda de Mata, Cerrado (lato sensu)
Palicourea urbaniana Standl. (2)
X**
subarbusto Campo Rupestre (lato sensu)
Psychotria amplectens Benth. (7)
XX
subarbusto Mata Seca
Psychotria anceps Kunth (6)
X** X
arbusto Mata de Galeria, Savanas amazônicas
Psychotria bahiensis DC. (2)
X* X*
arbusto Mata de Galeria, Campo Rupestre (lato sensu), Amazônia e Mata Atlântica
Psychotria barbiflora DC.
X X Estil. Estig.
subarbusto/arbusto Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu), Vereda, Savanas amazônicas
13, 14
Psychotria brachybotrya Muell. Arg. (3)
X** X* arbusto
Mata
Psychotria bracteocardia (DC.) Muell. Arg. (6)
X** X arbusto
Mata
Psychotria capitata Ruiz & Pav.
XX
subarbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria, Cerrado Rupestre
9
Psychotria carthagenensis Jacq.
XXXAC
árvore/arbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria
9, 15, 20
Psychotria cephalantha (Muell. Arg.) Standl. (12)
XX
arbusto Mata
5, 6
Psychotria colorata (Roem. & Schult.) Muell. Arg. (22)
XX
subarbusto Mata de Galeria, Mata Seca
Psychotria deflexa DC.
X X Estil. Estig.
subarbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu)
7
Psychotria erecta (Aubl.) Standl. & Steyerm. (2)
X** arbusto Mata
Psychotria formosa Cham. & Schltdl (1)
X*
arbusto Mata
Psychotria forsteronioides Muell. Arg. (3)
X** X* erva
Mata Ciliar
Psychotria hastisepala Muell. Arg. (4)
X** X** Estil. Estig.
arbusto Mata Ciliar
10
Psychotria hoffmannseggiana (Roem. & Schult.) Muell. Arg.
XX
subarbusto Mata de Galeria, Cerradão, Campo Rupestre (lato sensu)
9
Psychotria hygrophiloides Benth. (5)
X** X Estig.
arbusto Mata, Campo Rupestre (lato sensu )
10
Psychotria involucrata Sw.
Psychotria iodotricha Muell. Arg. (9)
XX erva
Mata de Galeria
Psychotria leiocarpa Cham. & Schltdl
XX
arbusto/subarbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria, Mata Higrófila, Brejo
9
Psychotria lupulina Benth. (20)
XX
arbusto Mata de Galeria
5, 6
Psychotria malaneoides Muell. Arg.
X
arbusto/arvoreta Mata, Cerradão
5
Psychotria mapourioides DC.
X X Estil. Estig.
árvore/arvoreta Mata de Galeria, Vereda
9, 16
Psychotria microcarpa Muell. Arg. (2)
X* X*
arbusto Mata de Galeria, Campo Rupestre (lato sensu)
Psychotria myriantha Muell. Arg. (5)
X* X X*
subarbusto Mata de Galeria
6, 10
Psychotria nitidula Cham. & Schltdl (4)
X
arbusto Mata
Psychotria nemorosa Gardn.
XX
subarbusto Mata de Galeria
5
Psychotria niveobarbata (Muell. Arg.) Britton (6)
X** X erva
Mata
Psychotria platypoda DC. (6)
XX*
arbusto Mata
Psychotria poeppigiana Muell. Arg.
X X Estil. Estig.
subarbusto/arbusto Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu)
17
SUBFAMÍLIA/Tribo/espécie
Morfos Sistema Reprodutivo
Hábito Fitofisionomia Referência
19
LBH L B H
Psychotria proxima Standl. (4)
XX*
arbusto Mata Ciliar, Mata de Galeria, Buritizal, Vereda
Psychotria prunifolia (Kunth) Steyerm.
X
subarbusto Mata de Galeria, Cerradão, Vereda
9
Psychotria pubigera Schltdl (10)
X X Estil. Estig. árvore Mata 16
Psychotria racemosa (Aubl.) Raeusch
XX
subarbusto Mata
9
Psychotria regnellii Muell. Arg. (2)
X* X*
arbusto Mata Seca, Cerrado (lato sensu)
Psychotria ruelliifolia (Cham. & Schltdl) Muell. Arg. (5)
X** X arbusto
Mata
5, 6
Psychotria rupestris Muell. Arg.
Psychotria sciaphila longicalyx Steyerm. (1)
X*
subarbusto Mata de Galeria
Psychotria sphaerocephala Muell. Arg. (3)
X** X*
arbusto Mata, Cerrado (lato sensu )
Psychotria stachyoides Benth.
XX
arbusto Mata de Galeria, Cerrado (lato sensu ), Campo Úmido
5
Psychotria stipulosa Muell. Arg. (9)
XX
arbusto Mata, Cerradão
Psychotria subtriflora Muell. Arg. (7)
X** X
arbusto Cerrado (lato sensu)
Psychotria trichophora Muell. Arg. (2)
X**
erva Mata
Psychotria trichophoroides Muell. Arg.
XX
erva Mata de Galeria
9
Psychotria tristicula Standl. (2)
X**
arbusto Mata, Cerrado (lato sensu )
Psychotria umbellata Vell. (2)
X* X* arbusto
Mata
Psychotria vellosiana Benth. (syn. P. sessilis )
X X Estig. Estig.
arbusto Mata Ciliar, Mata Higrófila, Mata Seca, Campo Rupestre (lato sensu )
5
Psychotria warmingii Muell. Arg. (4)
XX*
arbusto Mata de Galeria
Psychotria paracatuensis Standl. (2)
X** arbusto Mata, Vereda, Campo Úmido
Rudgea burchelliana Muell. Arg.
arbusto Cerrado (lato sensu)
Rudgea celestrinea Muell. Arg.
Rudgea coriacea (Spreng.) K. Schum. (2)
X* X* Mata Atlântica e Mata de Galeria
Rudgea cornifolia (Roem. & Schult.) Standl. (7)
X** X arbusto Mata Ciliar
Rudgea corymbulosa Benth. (2)
X* X* arbusto Mata
Rudgea discolor Benth. (2)
X* X* arbusto
Rudgea erioloba Benth. (6)
XX*
arbusto/arvoreta Mata de Galeria, Mata Seca, Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu)
Rudgea goyazensis Muell. Arg.
Rudgea jacobinensis Muell. Arg.
XX arbusto 5
Rudgea lacerostipula K. Schum.
Rudgea lanceolata (Cham. &Schltdl.) Benth.
X X Estig. Estig.
arbusto Mata
10
Rudgea myrsinifolia Benth.
X* arbusto
Rudgea obtusa Standl. (6)
XX*
arbusto Cerrado (lato sensu)
Rudgea parquioides (Cham.) Muell. Arg. (6)
XX arbusto Mata
Rudgea parvifolia (Cham.) Muell. Arg.
arbusto Mata, Cerrado (lato sensu ), Campo Rupestre (lato sensu)
Rudgea tomentosa Rusby
Rudgea viburnoides (Cham.) Benth.(23)
XX
arvoreta/arbusto Mata de Galeria, Mata Seca, Cerradão, Cerrado (lato sensu ), Vereda, Campo Sujo
Spermacoceae
Galianthe angustifolia (Cham. & Schlecht) E. L. Cabral (8)
XX
subarbusto Cerrado (lato sensu), Campo Rupestre (lato sensu), Área antrópica
6, 18
Galianthe brasiliensis (Spreng.) E. L. Cabral & Bacigalupo (8)
XX
subarbusto Campo Rupestre (lato sensu ), Margem de córrego
Galianthe corymbosa (Ruiz. & Pav.) E. L. Cabral (18)
XX arbusto
Campo rupestre, Campo limpo, Cerrado (lato sensu)
Galianthe cristata (S. Moore) E. L. Cabral (2)
X**
subarbusto Cerrado (lato sensu)
Galianthe dichasia (Sucre & C. G. Costa). E. L. Cabral (3)
X** X* erva
Cerrado (lato sensu)
Galianthe eupatoriodes (Cham.& Schltdl) (2)
X**
subarbusto Cerrado (stricto sensu
), Vereda, Campo Sujo
Galianthe grandifolia E. L. Cabral (28)
XX
subarbusto Cerrado (lato sensu), Vereda, Campo Sujo, Campo Limpo, Campo Rupestre (lato sensu)
Galianthe laxa (Cham. & Schltdl.) E. L. Cabral (7)
XX erva
Campo sujo. Mata
Galianthe liliifolia (Standl.) E. L. Cabral (10)
X X erva Campo limpo. Campo rupestre
SUBFAMÍLIA/Tribo/espécie
Morfos Sistema Reprodutivo
Hábito Fitofisionomia Referência
20
21
Morfos: Longistilo (L), Brevistilo (B) e Homostilo (H). (X) observação do morfo em no mínimo três e no máximo 30 exsicatas. (X*) morfo floral
observado em apenas uma exsicata. (X**) morfo floral observado em apenas duas exsicatas. Sistema Reprodutivo: Estil.: Interrupção do tubo polínico
ao longo do estilete. Estig.: Interrupção do tubo polínico no estigma. AC: Autocompatível. Referência: 1. Consolaro et al. 2005. 2. Macias 1998. 3.
Passos & Sazima 1995. 4. Costa 2004. 5. Jung-Medaçolli & Melhem 1995. 6. Dados do presente trabalho aliado com informações bibliográficas. 7.
Oliveira & Oliveira 2004. 8. Observação pessoal. 9. Dados não publicados. 10. Pereira et al. 2006. 11. Coelho & Barbosa 2003. 12. Silva 1995. 13.
Monteiro et al. 1991. 14. Teixeira & Machado 2004. 15. Consolaro 2004. 16. Castro et al. 2004. 17. Coelho & Barbosa 2004. 18. Freitas & Sazima
2006. 19. Cabral 2004. 20. Comunicação pessoal com pesquisadores.
LBH L B H
Galianthe longisepala E. L. Cabral (2)
X* X*
subarbusto Cerrado (stricto sensu ), Campo Sujo, Campo Rupestre (stricto sensu )
19
Galianthe matogrossiana E. L. Cabral (2)
X* X*
subarbusto Cerrado (lato sensu)
19
Galianthe peruviana (Pers.) E. L. Cabral
XX
subarbusto Campo Sujo
9
Galianthe valerianoides (Cham. & Schltdl.) E. L. Cabral
XX
erva Mata de Galeria, Cerrado Ralo, Campo Sujo, Campo Úmido
9
Galianthe verbenoides (Cham. & Schltdl.) Griseb. (6)
XX**
subarbusto Cerrado (stricto sensu ), Campo Úmido
Peramae
Perama hirsuta Aubl. (29)
XX*
erva Cerrado (lato sensu), Vereda, Campo Úmido, Savanas amazônicas
Perama harleyi J. H. Kirkbr. & Steyerm. (3)
X
erva perene Campo Rupestre (lato sensu)
Perama holosericea (Naud.) Wurd. & Steyerm. (2)
X**
erva Campo Rupestre (lato sensu)
Perama sparsiflora Standl. ex Steyerm & J. H. Kirkbr. (1)
X*
erva perene Campo Rupestre (lato sensu)
Total de espécies = 175
Fitofisionomia Referência
SUBFAMÍLIA/Tribo/espécie
Morfos Sistema Reprodutivo
Hábito
22
Número de
espécies
L, B e H L e H B e H H Mono L Mono B
Distílico
Integral Coccocypselum 8
Declieuxia 22
Galianthe 14
Gonzalagunia 1
Machaonia 3
Malanea 1
Rudgea
Sabicea
Parcial Coussarea
Faramea
Guettarda X (1)
Manettia (1)
Oldenlandia
Palicourea
Psychotria (2) X (1)
Não-distílico Geophila
Ladenbergia
Perama
Sipanea
Total 19
Forma de variação
GêneroCategoria
Levando em consideração as oito categorias sugeridas para documentar a distilia em
Rubiaceae, é possível afirmar que o sistema da família no Cerrado é pouco variável, já que as
espécies distílicas típicas e as supostamente distílicas perfazem 88% das espécies analisadas,
enquanto as condições derivadas da distilia somam apenas 12% (Figura 1.3). Foram encontrados
gêneros com todas as espécies distílicas até gêneros considerados como distílicos por alguns
trabalhos, por exemplo, Geophila e Perama (Bir Bahadur 1968), mas cuja morfologia floral das
espécies não correspondeu a tal condição (Tabela 1.1 e Figura 1.3). Dentre as espécies estudadas,
71 (47%) são distílicas típicas, 58 (38%) supostamente distílicas, quatro (3%) distílicas atípicas, 11
segundo capítulo), foram encontradas populações monomórficas longistílicas no Triângulo Mineiro
e no DF (Consolaro, H., dados do segundo capítulo, Consolaro 2004) e populações homostílicas no
nordeste do país (Machado, I. C., com. pess.).
Tabela 1.2. Ocorrência de distilia e não-distilia, número de espécies analisadas e forma de variação
distílica encontrada por gênero nas espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. “X”
combinação morfológica observada, numeração entre paresenteses “sem asterisco” corresponde ao
número de espécies observadas com tal combinação em no mínimo três exsicatas, numeração entre
paresenteses “com asterisco” corresponde ao número de espécies observadas com tal combinação
em apenas um ou duas exsicatas. Morfo longistilo (L), brevistilo (B), homostilo (H),
monomorfismo longistilo (Mono L) e monomorfismo brevistilo (Mono B).
17
4
10 X (1*)
11 X (1*) X (1*) X (1*)
5 X (1) X (1)
3X
3 X (1*)
15 X (1 e 2*) X (1*) X (1)
49 X (1 e 1*) X (1*) X
1
2
4
2
175
23
LB
Distilia (85%)
LBH
H
Distilia atípica (10)
LB
BH
Distilia com homostilia
Homostilia (1)
Monomorfismo com homostilia
LH
Monomorfismo (4)
Palicourea, Guettarda,
Coussarea*, Faramea*,
Psychotria*
Palicourea e
Psychotria
Guettarda e
Faramea*
Faramea*, Palicourea*,
Psychotria* e
Oldenladia*
Manettia e
Psychotria
Guettarda e
Psychotria
Manettia, Sabicea, Gonzalagunia, Guettarda, Machaonia, Malanea, Coccocypselum, Coussarea,
Faramea, Oldenlandia, Declieuxia, Palicourea, Psychotria, Rudgea e Galianthe
LB
Distilia (85%)
LBH
H
Distilia atípica (10)
LB
BH
Distilia com homostilia
Homostilia (1)
Monomorfismo com homostilia
LH
Monomorfismo (4)
Palicourea, Guettarda,
Coussarea*, Faramea*,
Psychotria*
Palicourea e
Psychotria
Guettarda e
Faramea*
Faramea*, Palicourea*,
Psychotria* e
Oldenladia*
Manettia e
Psychotria
Guettarda e
Psychotria
Manettia, Sabicea, Gonzalagunia, Guettarda, Machaonia, Malanea, Coccocypselum, Coussarea,
Faramea, Oldenlandia, Declieuxia, Palicourea, Psychotria, Rudgea e Galianthe
Figura 1.3. Variações nos padrões distílicos que podem ser encontradas nas espécies de Rubiaceae do Cerrado, Brasil, suas porcentagens e os
respectivos gêneros com tal condição. A porcentagem do item “Homostilia” e “Monomorfismo” correspondem à categoria C e D, respectivamente, a
do “Distilia” ao somatório das categorias A e G e a do “Distilia atípica” ao somatório das categorias B e H. Gêneros com (*) indicam que os resultados
são compostos apenas por espécies dentro das categorias G e H. Morfo longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo (H).
24
(7%) supostamente distílicas atípicas, seis (4%) monomórficas e uma (1%) homostílica (Figura
1.3). Vale enfatizar que as espécies consideradas como não-distílicas não entraram nesses cálculos.
Reunindo todas essas categorias morfológicas, de maneira exploratória, foi elaborado um
fluxograma evolutivo baseado nos resultados encontrados na simulação computacional de
Charlesworth & Charlesworth (1979a), parcialmente descrita na Introdução (Figura 1.1). As etapas
de substituição gradual do morfo homostílico observada por esses autores foram aqui chamadas de
fases evolutivas, sendo elas representadas pelas categorias em que o morfo homostilo estava
presente. Mesmo que a simulação tenha sido realizada no âmbito populacional e o fluxograma pela
junção das variações distílicas da família, a exploração dessa simulação é oportuna, pois a
“substituição gradual” e as “fases evolutivas” representam, na verdade, estágios de um processo
com causas finais, até certo ponto, semelhantes, ou seja, a dominância do morfo homostilo (Figura
1.4).
Sistema de incompatibilidade - O sistema reprodutivo das espécies analisadas de Rubiaceae
do Cerrado mostram que o SEHet não atua de acordo com o esperado de um sistema esporofítico,
pois os dados obtidos indicam que existem variações nos locais de interrupção dos tubos polínicos
entre e dentro das espécies (Tabela 1.1). Nove das 15 espécies observadas apresentam mecanismo
que diferem principalmente no comportamento do crescimento dos tubos polínicos no morfo
longistilo, enquanto apenas duas seguem os padrões do SEHet. Esse comportamento diferenciado
nas espécies analisadas é marcado pela interrupção ao longo do estilete no morfo longistilo. Os
outros comportamentos reprodutivos encontrados nas espécies estudadas são referentes à presença
de variações morfológicas dentro dos padrões distílicos, como autocompatibilidade na homostílica
Palicourea macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003, Consolaro, H., dados do terceiro capítulo),
autoincompatibilidade e intramorfo-compatibilidade na monomórfica longistílica Manettia
cordifolia (Consolaro et al. 2005) e autocompatibilidade na população monomórfica longistílica de
25
Figura 1.4. Fluxograma evolutivo baseado nas variações morfológicas encontradas nas espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil, tendo como
apoio os resultados da simulação computacional realizada por Charlesworth & Charlesworth (1979a). Morfo longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo
(H).
LB
Distilia
LBH
H
LB
BH
Distilia com homostilia
Homostilia
Monomorfismo com homostilia
LH
Monomorfismo
Fase I
Fase II
Fase III
Caminho I Caminho II
LB
Distilia
LBH
H
LB
BH
Distilia com homostilia
Homostilia
Monomorfismo com homostilia
LH
Monomorfismo
Fase I
Fase II
Fase III
Caminho I Caminho II
Psychotria carthagenensis (Consolaro 2004). As informações referentes à P. hygrophiloides
(Pereira et al. 2006)não permitem conclusões mais detalhadas, já que o comportamento dos tubos
polínicos foi observado apenas para o morfo brevistilo.
Fenologia - A floração das Rubiaceae do Cerrado ocorreu ao longo do ano, contudo houve
uma maior concentração durante a segunda (outubro a dezembro) e o início da primeira (janeiro)
estação chuvosa do ano. Houve uma ligeira queda entre os meses de fevereiro e setembro com os
menores valores concentrados no período mais seco do ano (maio a setembro). A frutificação
também foi observada ao longo do ano, mas houve uma maior ocorrência durante o período
chuvoso e início da seca (fevereiro a maio) (Figuras 1.5 e 1.6). O mesmo comportamento de
floração e frutificação foi observado quando os dados foram analisados por hábito, fitofisionomia e
nos gêneros mais ricos (Figuras 1.7, 1.8 e 1.9).
DISCUSSÃO
Dúvidas e dificuldades na interpretação da origem das formas consideradas derivadas da
distilia podem surgir, visto que elas podem ser tanto formas morfológicas ancestrais quanto
representantes realmente derivados da distilia (Barrett & Shore 1987). No entanto, pela distilia ser
uma característica primitiva e comum em Rubiaceae (Bir Bahadur 1968, Anderson 1973) e, além
disso, ser uma condição natural em muitos dos gêneros tratados no presente estudo, as formas
variantes foram consideradas como derivadas da distilia.
As distintas formas de expressão dos grupos variantes entre taxa heterostílicos são
consideradas produtos da quebra do supergene em função da instabilidade genética gerada por
possíveis alterações ambientais e, principalmente por pressões de seleção diferenciadas impostas
pela qualidade do serviço de polinização (Charlesworth & Charlesworth 1979a, Barrett & Richards
1990). Essa instabilidade genética pode variar entre os taxa de modo que cada táxon pode responder
26
Taxon Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Coussarea cornifolia
Coussarea hirticalyx
Coussarea hydrangeifolia
Coussarea nodosa
Coussarea platyphylla
Coussarea tenuiflora
Declieuxia amaranthoides
Declieuxia aspalathoides
Declieuxia cacuminis var. cacuminis
Declieuxia cacuminis var. decurrens
Declieuxia cordigera var. angustifolia
Declieuxia cordigera var. cordigera
Declieuxia cordigera var. divergentiflora
Declieuxia dasyphylla
Declieuxia deltoidea var. deltoidea
Declieuxia diamantinea
Declieuxia diantheroides
Declieuxia fruticosa
Declieuxia gracilis
Declieuxia irwinii
Declieuxia juniperina
Declieuxia lancifolia
Declieuxia lysimachioides
Declieuxia oenanthioides
Declieuxia pruinosa
Declieuxia saturejoides
Declieuxia spergulifolia
Declieuxia verticillata
Faramea bracteata
Faramea multiflora
Faramea nigrescens
Faramea nitida
Faramea occidentalis
Faramea sessilifolia
Faramea warmingiana
Galianthe angustifolia
Galianthe brasiliensis
Galianthe corymbosa
Galianthe cristata
Galianthe dichasia
27
continuação
Taxon Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Galianthe eupatoriodes
Galianthe grandifolia
Galianthe laxa
Galianthe liliifolia
Galianthe verbenoides
Geophila repens
Gonzalagunia dicocca
Guettarda angelica
Guettarda burchelliana
Guettarda platypoda
Guettarda pohliana
Guettarda spruceana
Guettarda viburnoides
Ladenbergia cujabensis
Ladenbergia graciliflora
Machaonia acuminata
Machaonia brasiliensis
Machaonia spinosa
Manettia cordifolia
Manettia luteo-rubra
Malanea macrophylla
Oldenlandia corymbosa
Oldenlandia lancifolia
Oldenlandia salzmannii
Palicourea coriacea
Palicourea crocea
Palicourea gardneriana
Palicourea grandifolia
Palicourea guianensis
Palicourea longepedunculata
Palicourea macrobotrys
Palicourea marcgravii
Palicourea multiflora var. salicifolia
Palicourea nicoteaneafolia
Palicourea nitidella
Palicourea officinalis
Palicourea rigida
Palicourea tetraphylla
Palicourea triphylla
Palicourea urbaniana
Palicourea weddelliana
28
continuação
Taxon Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Perama hirsuta
Perama harleyi
Perama holosericea
Perama sparsiflora
Psychotria amplectens
Psychotria anceps
Psychotria barbiflora
Psychotria brachybotrya
Psychotria bracteocardia
Psychotria capitata
Psychotria carthagenensis
Psychotria cephalantha
Psychotria colorata
Psychotria deflexa
Psychotria erecta
Psychotria formosa
Psychotria forsteronioides
Psychotria hastisepala
Psychotria hoffmannseggiana
Psychotria hygrophiloides
Psychotria iodotricha
Psychotria leiocarpa
Psychotria lupulina
Psychotria malaneoides
Psychotria mapourioides
Psychotria microcarpa
Psychotria myriantha
Psychotria nitidula
Psychotria niveobarbata
Psychotria platypoda
Psychotria poeppigiana
Psychotria proxima
Psychotria prunifolia
Psychotria pubigera
Psychotria racemosa
Psychotria regnellii
Psychotria ruelliifolia
Psychotria sciaphila longicalyx
Psychotria sessilis
Psychotria sphaerocephala
Psychotria stipulosa
29
continuação
Taxon Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Psychotria subtriflora
Psychotria trichophora
Psychotria trichophoroides
Psychotria tristicula
Psychotria umbellata
Psychotria warmingii
Psychotria paracatuensis
Rudgea cornifolia
Rudgea corymbulosa
Rudgea discolor
Rudgea erioloba
Rudgea jacobinensis
Rudgea myrsinifolia
Rudgea obtusa
Rudgea parquioides
Rudgea viburnoides
Sabicea brasiliensis
Sabicea grisea
Sipanea hispida
Figura 1.5. Floração e frutificação de 141 espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. As
barras cinzas correspondem a fenofase floração e as pretas a frutificação.
Chuva Chuva
Seca
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Meses
% de espécies
Figura 1.6. Fenograma geral de floração e frutificação de 141 espécies distílicas de Rubiaceae do
Cerrado, Brasil. () Floração e () Frutificação.
30
espé es
Meses
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
ci
e
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
A
B
% d
Chuva Chuva
Seca
Figura 1.7. Fenograma de floração (A) e frutificação (B) dos hábitos de 141 espécies distílicas de
Rubiaceae do Cerrado, Brasil. () Arbóreo, () Arbustivo e () Erva.
de forma diferente perante as mesmas alterações, uma vez que a manutenção e quebra da distilia
dependem da força de ligação dos genes que formam o supergene distílico (Charlesworth &
Charlesworth 1979a, Lewis & Jones 1992, Richards & Barrett 1992, Li & Johnston 2001).
Nas mesmas áreas onde foram encontradas populações variantes de Psychotria
carthagenensis também foram encontradas espécies de Rubiaceae tipicamente distílicas. Na área do
Triângulo Mineiro e do DF onde a população de P. carthagenensis caracterizava-se pelo
monomorfismo, foram encontradas populações homostílicas de P. macrobotrys (Coelho & Barbosa
2003) e populações tipicamente distílicas de Declieuxia fruticosa e Psychotria deflexa (Oliveira &
31
Figura 1.8. Fenograma de floração (A) e frutificação (B) das fitofisionomias de 141 espécies
distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. () Mata, () Cerrado e () Mata e Cerrado.
Oliveira 2004), P. poeppigiana (Coelho & Barbosa 2004), Faramea cyanea (Amorin, F. W., com.
pess.) e Psychotria mapourioides e Palicourea officinalis (Consolaro, H., dados do segundo
capítulo). Na mata de galeria do DF onde foi encontrada a única a população distílica de P.
carthagenensis também foi encontrada uma população homostílica de Palicourea macrobotrys e
populações distílicas de outras Psychotria (P. capitata, P. trichophoroides, e P. hoffmanneggiana)
(Consolaro, H., dados do segundo capítulo). Essas observações, por mais que as espécies possuam
Meses
% de es cies
Chuva Chuva
Seca
A
B
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
32
éci
% de esp es
Meses
Chuva Chuva
Seca
A
B
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
90
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Figura 1.9. Fenograma de floração (A) e frutificação (B) dos cinco gêneros mais representados no
estudo fenológico de 141 espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Brasil. () Psychotria, ()
Declieuxia, () Rudgea, () Palicourea e () Galianthe.
biologia floral e agentes polinizadores distintos, podem indicar que, nas Rubiaceae, a instabilidade
genética pode variar entre os taxa e entre populações, provavelmente, em função do nível de coesão
dos genes que formam o supergene de cada espécie.
Trabalhos com Turnera ulmifolia (Turneraceae), uma espécie distílica que apresenta um
complexo de quatro variedades vegetais separadas por barreiras geográficas, encontraram
variedades tipicamente distílicas, variedades monomórficas e variedades homostílicas (Shore &
Barrett 1985, Barrett & Shore 1987). Os autores concluíram que, provavelmente, cada mudança
33
ocorreu de forma independente em diferentes ocasiões e que essas mudanças no supergene podem
fazer parte de eventos de especiação gerados por fatores externos de seleção e também pela
integridade do supergene (Barrett & Shore 1987). Esse mesmo processo pode estar ocorrendo em
populações de Psychotria carthagenensis e em outras espécies variantes de Rubiaceae do Cerrado,
mas ainda não é possível confirmar com exatidão, pois estudos genéticos em relação à coesão do
supergene na família, estudos taxonômicos mais detalhados e estudos ecológicos direcionados
teriam que ser desenvolvidos.
À medida que os trabalhos com enfoque na distilia vêm se intensificando nas últimas
décadas, nota-se que a quebra da distilia em direção a homostilia ocorre em muitos taxa, podendo
manifestar-se como caráter exclusivo em uma população ou, mais frequentemente, com apenas
alguns indivíduos dentro de uma população distílica (Vuilleumier 1967, Ganders 1979, Keegan et
al. 1979, Shore & Barrett 1985, Hamilton 1990, Coelho & Barbosa 2004). Dentre as espécies
analisadas no presente estudo, apenas Palicourea macrobotrys e uma população de Psychotria
carthagenensis apresentaram a condição homostílica como exclusiva (Fase III), ao passo que outras
espécies, dentro desses e de outros gêneros, apresentaram a forma homostílica como um dos morfos
que compõem a população (Fase I e II). Em meio aos taxa das espécies distílicas atípicas,
Palicourea coriacea é uma espécie que chama a atenção pela sua condição morfológica, pois
apresenta no campo e em exsicatas de herbário indivíduos longistilos, brevistilos e homostilos (Fase
I) (Consolaro, H., dados do segundo e terceiro capítulo). Outros casos de homostilia em populações
distílicas de Rubiaceae já foram registrados, como Pentas lanceolata, P. zanzibarica, P. parviflora,
Adenosacme longifolia, Pleiocraterium verticillare, Parapentas setigera, Hedyotis subviscosa,
Oldenlandia herbacea, O. umbellata (Bir Bahadur 1968, em tabela com dados compilados de outros
autores), Mitchella repens (Ganders 1975), algumas espécies de Psychotria (Hamilton 1990),
Palicourea alpina (Tanner 1982) e P. macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003).
Em particular para Oldenlandia umbellata e Mitchella repens, a coexistência do morfo
homostílico com o longistilo e o brevistilo assemelha-se à encontrada em Palicourea coriacea,
34
sendo essa a primeira fase sugerida como início da substituição total do morfo homostílico perante
o longistilo e o brevistilo (Fase I). Uma diferença que merece destaque entre essas espécies é que
apenas em P. coriaceae o morfo homostílico ocorre com maior freqüência na população (67
homostilos [H], 45 longistilos [L] e 33 brevistilo [B]), enquanto em O. umbellata (10 H, 9246 L e
8807 B) e M. repens (não fornece número, apenas diz que o morfo homostílico é menos freqüente e
restrito a uma pequena área) as formas homostílicas são menos freqüentes. Charlesworth &
Charlesworth (1979a) demonstrou que, realmente, é possível ocorrer a troca gradual e a
subseqüente dominância do morfo homostilo em uma população distílica (Figura 1.1), de modo que
o observado nas espécies da fase evolutiva I e II pode ser considerado como uma fase de
substituição gradual dos morfos distílicos pelo homostilo. Dessa maneira, é possível dizer que em
P. coriaceae a substituição está numa fase adiantada devido ao fato do morfo homostilo ser mais
freqüente. Ao passo que em O. umbellata a substituição se encontra numa etapa inicial e em
Palicourea macrobotrys ela já se completou (Fase III), visto que a homostilia nessas espécies é
acompanhada da autocompatibilidade (Consolaro, H., dados do terceiro capítulo, Bir Bahadur 1968,
Ganders 1979). No entanto, em M. repens tal discussão não pode ser utilizada pelo fato do morfo
homostilo ser auto-incompatível e, segundo o autor, esses indivíduos homostílicos podem ser
formas mutantes recentes que serão eliminadas em poucas gerações. Devido a isso, é possível que
essa espécie possua caminho evolutivo diferente para o alcance ou não da homostilia plena quando
comparada com as espécies que apresentem formas homostílicas autocompatíveis.
Variações evolutivas da heterostilia podem ser refletidas não apenas pela morfologia floral e
pelo sistema de incompatibilidade, mas também pela freqüência dos morfos dentro de uma
população, podendo até, em alguns casos, ocorrer a total dominância de um deles (Barrett 1985,
Endels et al. 2002). Esta condição, denominada monomorfismo, pode ocorrer de forma integral em
uma espécie ou em algumas populações distílicas, como as Rubiaceae do Cerrado Manettia
cordifiolia (Consolaro et al. 2005), Psychotria carthagenensis (Consolaro 2004), P. nitidula, P.
malaneoides e Guettarda angelica (Tabela 1.1). Dois mecanismos têm que funcionar em conjunto
35
para que os morfos longistilos e brevistilos ocorram de maneira isoplética: o sistema de
incompatibilidade e fluxo de pólen intermorfo (Heuch 1979). Caso o sistema de incompatibilidade
apresente algum tipo de falha, independentemente se o fluxo de pólen estiver funcionando, o
desequilíbrio tende a aparecer (anisopletia). Caso o fluxo de pólen intermorfo seja unidirecional e o
sistema de incompatibilidade estiver funcionando, o sistema pode manter a isopletia por certo
tempo, mas uma possível quebra do supergene em função desse desequilíbrio tende a ocorrer sob
essas circunstâncias, podendo o monomorfismo ser selecionado (Endels et al. 2002).
A dominância de um dos morfos distílicos acompanhada da condição de
autocompatibilidade pode ocorrer pontualmente sem a perda da estrutura morfológica original como
resultado do crossing over entre o gene da incompatibilidade e os demais que compõem o
supergene (Baker 1966, Nicholls 1985). Manettia cordifolia e Psychotria carthagenensis são
espécies interessantes de serem discutidas a esse respeito porque existem para esses taxa dados de
herbários aliados a dados de campo. O gênero Manettia é tido como distílico, porém a espécie em
questão é considerada monomórfica longistílica e intramorfo compatível (Consolaro et al. 2005). P.
carthagenensis está inserida no maior gênero distílico da família (Robbrecht 1988), mas dentre as
suas formas variantes, o monomorfismo longistílico e autocompatibilidade foram constatados em
algumas populações (Consolaro 2004). Como a distilia é um sistema de reprodução facilmente
influenciado por pressões externas e o polimorfismo é uma condição primitiva em Psychotria, à
medida que estudos em relação a heterostilia aumentam, observam-se várias formas de variação
presentes nas espécies (Vuilleumier 1967, Ganders 1979, Beach & Bawa 1980, Hamilton 1990).
Como discutido anteriormente para homostilia, e como visto nas populações de P. carthagenensis, a
quebra da distilia e as suas causas podem variar entre os taxa e entre populações, provavelmente,
devido à força de integridade do supergene e aos fatores ambientais que estão submetidos
(Charlesworth & Charlesworth 1979a, Lewis & Jones 1992, Richards & Barrett 1992, Li &
Johnston 2001). Por esse motivo, é de certa forma aceitável encontrar espécies ou até mesmo
populações mais vulneráveis que as outras em relação à manutenção da distilia. Dentre as 49
36
espécies de Psychotria analisadas no presente estudo, apenas quatro apresentaram a condição
monomórfica (levando em consideração as populações do Triângulo Mineiro e DF), mostrando que
apesar das variações, a distilia para o gênero no Cerrado é de certa forma equilibrada. As alterações
encontradas em P. carthagenensis podem explicar e predizer o surgimento de espécies
verdadeiramente monostílicas em grupos distílicos ou até mesmo configurar-se como eventos de
especiação, contudo alguns pontos precisam ser esclarecidos. Em uma revisão taxonômica para o
gênero Manettia da América do Sul (Macias 1998), nota-se que a distilia é presente em algumas de
suas espécies, como M. luteo-rubra (Passos & Sazima 1995) e M. irwinii (Tabela 1), mas não é uma
característica comum do gênero como em Psychotria. Afirmar que o monomorfismo é uma
condição derivada da distilia em M. cordifolia ou em qualquer outro gênero no qual a distilia não é
uma característica natural e comum não é o mais indicado, pois para tal é necessário ter
conhecimento da filogenia da heterostilia no táxon, informações estas ainda não disponíveis.
O serviço de polinização desempenha um papel importante nos processos de manutenção e
quebra do sistema heterostílico (Ganders 1979), ao passo que os fatores que afetam a eficiência da
polinização também podem ser configurados como agentes causadores do monomorfismo. Estudos
relatam diversos fatores que afetam a relação planta-polinizador em espécies heterostílicas e,
consequentemente, podem causar o monomorfismo, tais como perturbações ambientais (Janzen
1974, Barrett 1988, Agren 1996), tamanho populacional reduzido (Jennersten 1988, Kéry et al.
2000) e isolamento geográfico (Sobrevila et al. 1983, Jennersten 1988, Washitani et al. 1994,
Matsumura & Washitani 2000). Por dependerem de polinizadores especializados para intermediar
um eficiente fluxo de pólen intermorfo, as espécies distílicas são mais vulneráveis a perda do vetor
do que espécies que são polinizadas por visitantes generalistas (Washitani 1999). Aliados a esse
fato, em ambientes fragmentados, uma realidade do bioma Cerrado, flutuações na diversidade de
polinizadores é maior do que em ambientes não perturbados (Matsumura & Washitani 2000) e, com
isso, a assimetria no fluxo de pólen tende a causar um potencial reprodutivo desigual entre os
morfos e o monomorfismo se tornar cada vez mais freqüente. Poucas espécies analisadas
37
apresentaram a condição de monomorfismo, porém estudos direcionados teriam que ser
desenvolvidos para dizer com mais exatidão se esse baixo número é conseqüência da integridade da
distilia na família ou se o fluxo de pólen é eficiente mesmo nas condições de perturbação ambiental
na qual o bioma se encontra.
Pela homostilia e pelo monomorfismo terem sido observados em diferentes gêneros, até
mesmo em gêneros que não fazem parte da mesma subfamília e tribo, é possível dizer que a
evolução dessas formas variantes no Cerrado ocorreu independentemente dentro da família, já que
elas não surgiram num táxon particular. Além disso, a distilia surgiu mais de uma vez na família
(Pailler & Thompson 1997) e os dois caminhos evolutivos observados podem ser interpretados
como variações procedentes dos distintos pontos de origem do polimorfismo na família.
Trabalhos de caracterização da heterostilia indicam a ocorrência de distilia aos gêneros
Geophila, Ladenbergia, Perama e Sipanea (Bir Bahadur 1968, Ganders 1979, Robbrecht 1988),
contudo nas espécies do Cerrado tal condição não foi encontrada. É possível que alguns trabalhos
atribuam distilia a determinados gêneros de forma equivocada, entretanto pelo pequeno número de
espécies analisadas dentro desses taxa, a classificação desses gêneros como não distílicos será
restrita ao bioma Cerrado e não ao gênero de uma maneira geral.
No Cerrado, as espécies hermafroditas que necessitam de polinização cruzada possuem em
sua maioria algum sistema de incompatibilidade (Oliveira & Gibbs 2000). O SEHet muitas vezes é
associado ao SEHo pelo fato da reação de incompatibilidade normalmente ocorrer na superfície
estigmática (Nettancourt 1977), contudo estudos mostram que os dois mecanismos possuem
diferentes origens e locais de inibição do crescimento dos tubos polínicos (Barrett 1990). Em
plantas heterostílicas, as regiões do pistilo que ocorrem a interrupção do tubo polínico diferem entre
os morfos e podem envolver o estigma, estilete ou ovário (Anderson & Barrett 1986). Estudos de
incompatibilidade em espécies distílicas de Rubiaceae têm demonstrado claramente essas
diferenças, de forma que o local de inibição do crescimento do tubo polínico diferencia tanto entre
espécies quanto entre os morfos florais, sendo caracterizado principalmente pela interrupção dos
38
tubos polínicos ao longo do estilete no morfo longistilo e no estigma no brevistilo (Bawa & Beach
1983, Passos & Sazima 1995, Teixeira & Machado 2004a, Coelho & Barbosa 2004, Pereira et al.
2006). Em um trabalho realizado com sistema de incompatibilidade de 10 espécies de Rubiaceae na
Costa Rica, em sete espécies a interrupção ocorreu ao longo do estilete no morfo longistilo e no
estigma no brevistilo, duas apresentaram a superfície estigmática como local de interrupção para
ambos os morfos e em apenas uma espécie a incompatibilidade ocorreu ao longo do estilete para os
dois morfos (Bawa & Beach 1983). Os resultados obtidos no presente estudo para espécies de
Rubiaceae do Cerrado, juntamente com outros trabalhos da literatura, sugerem que o SEHet e o
SEHo são fundamentalmente diferentes, que eles não podem ser tratados de forma conjunta e que,
possivelmente possuem origens distintas (Bawa & Beach 1983, Gibbs 1986, Barrett 1988, Barrett
1990).
Alguns trabalhos discutem que o comportamento diferenciado do SEHet em Rubiaceae seria
uma derivação evolutiva do Sistema Esporofítico, enquanto outros trabalhos acreditam que na
família existam dois ou mais sistemas de incompatibilidade atuando (Bir Bahadur 1968, Bawa &
Beach 1983). Especificamente Bir Bahadur (1968) discute que mais de um tipo de sistema poderia
ocorrer em espécies distílicas de Rubiaceae em função da família apresentar grãos de pólen bi e
trinucleados. Segundo Brewbaker (1957 apud Bir Bahadur 1968), esses números estariam
associados aos sistemas de incompatibilidade gametofíticos e esporofíticos, respectivamente.
Contudo, estudos moleculares a respeito das forças que regem tais mecanismos de
incompatibilidade seriam necessários para entender as relações filogenéticas entre os sistemas
esporofíticos e gametofíticos presentes em Angiospermas e poder, assim, compreender melhor o
sistema que atua nas espécies distílicas de Rubiaceae.
É comum tentar compreender o comportamento fenológico das espécies do Cerrado baseado
apenas em uma das características mais marcantes do bioma, a sazonalidade climática. Alguns
trabalhos têm indicado diferenças entre o comportamento do estrato lenhoso e herbáceo aliados a
esse fator, contudo outros estudos discutem que essas diferenças estão mais relacionadas a formas
39
de potencializar estratégias de sobrevivência do que propriamente as condições climáticas que se
encontram (Sarmiento & Monasterio 1983, Mantovani & Martins 1988, Oliveira 1998). A floração
ao longo do ano encontrada nas espécies analisadas, independentemente do hábito e da
fitofisionomia, contribui para essa discussão e apoia o ponto de vista de que o ajustamento da
floração nas espécies do Cerrado está mais ligada ao período de dispersão de suas sementes, as suas
relações filogenéticas e à disponibilidade de polinizadores do que ao regime climático (Sarmiento &
Monasterio 1983, Oliveira & Gibbs 2002).
Apresentar plantas floridas durante todo ano é uma estratégia vantajosa para comunidades
distílicas, já que assim disponibiliza recursos energéticos constantemente aos visitantes e, de certo
modo, potencializa o fluxo de pólen entre os morfos compatíveis (Matsumura & Washitani 2000).
A diminuição na floração próxima ao período da seca foi semelhante tanto em estudo fenológico de
Rubiaceae desenvolvido em outro bioma (Martin-Gajardo & Morellato 2003) quanto em estudos de
Cerrado com outras famílias (Mantovani & Martins 1988, Batalha & Mantovani 2000). Esse
comportamento parece ser comum na família em função do déficit hídrico da época e/ou ser um
ajustamento por no período anterior a frutificação encontrar-se em seu pico para, assim, suas
sementes germinarem nas primeiras chuvas.
Trabalhos de Cerrado com fitofisionomias savânicas mostram diferenças no padrão de
floração entre o estrato lenhoso e o herbáceo relacionadas à síndrome de dispersão, sendo em sua
maioria anemocóricos para o herbáceo e zoocóricos para o lenhoso (Sarmiento & Monasterio 1983,
Mantovani & Martins 1988). Porém, para Rubiaceae tal separação não foi encontrada nem entre os
estratos vegetacionais e nem entre as fitofisionomias, de modo que esse comportamento similar,
possivelmente indica uma pressão seletiva conjunta relacionada à síndrome de dispersão, na qual a
zoocoria parece ser a mais comum à família no bioma (obs. pess.). Essa suposição pode ser
fortalecida pelos gêneros que ocorrem com maior freqüência nas matas apresentarem
comportamento fenológico semelhante aos gêneros de cerrado sentido restrito (Psychotria, Rudgea
e Palicourea, Declieuxia e Galianthe, respectivamente). Estudo fenológico com Rubiaceae de sub-
40
bosque da Floresta Atlântica (Martin-Gajardo & Morellato 2003) encontrou que o padrão de
floração de suas espécies difere do padrão das espécies arbóreas da família da mesma área
(Takahasi 1998 apud Martin-Gajardo & Morellato 2003). Os autores discutem que essa diferença
entre os estratos pode indicar uma possível ausência de limitações filogenéticas na expressão das
estratégias de floração em Rubiaceae. Contudo, por eles reconhecerem que é raro encontrar
variações no comportamento fenológico entre espécies de uma mesma família, a idéia de que a
síndrome de dispersão realmente possa ser o fator seletivo na organização fenológica é reforçada.
A maior concentração de espécies frutificando na época das chuvas no Cerrado,
possivelmente está vinculada ao comportamento fisiológico das sementes e à maior atividade de
seus dispersores nessa fase (zoocoria) (Gottsberger & Gottsberger 1983, Wetzel 1997). Para as
espécies analisadas, a concentração de frutificação na primeira estação chuvosa do ano (janeiro a
março) pode estar relacionada justamente a esse fator ecológico e fisiológico, já que seus frutos
parecem ser zoocóricos e a floração ter sequencialmente alcançado seu pico na estação chuvosa
anterior (novembro-dezembro). A dispersão das sementes dessas espécies que estão frutificando
nessa primeira estação chuvosa, provavelmente será feita na próxima estação úmida e, pelo fato das
sementes de Rubiaceae do Cerrado apresentarem dormência (Wetzel 1997), seus diásporos
possivelmente resistirão à estação seca, de forma a ajustar a germinação com a estação chuvosa
seguinte, potencializando, assim o período de estabelecimento de suas plântulas.
Para uma avaliação mais precisa dos fatores que influenciam e ajustam a floração e a
frutificação seriam necessários estudos mais detalhados a respeito dos fatores abióticos e das
interações ecológicas a que essas espécies estão submetidas. Estudos que tiveram como um dos
objetivos averiguar a fidelidade dos dados de herbário aos dados fenológicos de campo mostraram
que informações retiradas das coleções são fontes confiáveis não só quando utilizadas
paralelamente aos dados de campo, mas também quando utilizadas de forma exclusiva (Primack et
al. 2004 e Miller-Rushing et al. 2006). Para os dados específicos, vale ressaltar que algumas
espécies do presente estudo tiveram poucas exsicatas observadas em função do número reduzido de
41
exemplares nas coleções e, com isso, algumas informações são descontínuas, podendo funcionar
apenas como ponto de partida para o entendimento da fenologia dessas plantas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das espécies que apresentaram variações na expressão dos morfos florais, é possível
sugerir que a distilia na família pode seguir dois caminhos evolutivos, a origem da homostilia
exclusiva e o monomorfismo. As situações morfológicas da categoria “distilia atípica” são
sugeridas como diferentes fases no processo de dominância integral do morfo homostílico, de modo
que elas podem apresentar vias diferentes em função das condições ambientais e das características
intrínsecas da espécie. Tendo como base fontes da literatura, observações de campo e comunicações
pessoais com outros pesquisadores, nota-se que as fases I, II e III, juntamente com o Caminho I,
podem manifestar-se em cada população ou ser um caráter exclusivo de uma espécie. A partir
dessas informações, é possível caracterizar cinco diferentes grupos morfológicos:
Grupo 1) Populações homostílicas em espécies distílicas; situação encontrada em uma
população de Psychotria carthagenensis estudada no nordeste do país (I. C. Machado, com. pess.).
Existem dificuldades para determinar esse grupo a partir de dados de herbários, pois não é possível
expor situações populacionais por meio de exsicatas.
Grupo 2)
Indivíduos homostílicos em espécies distílicas: situação, possivelmente
encontrada em Guettarda pohliana, Coussarea hydrangeifolia, Faramea multiflora, F. occidentalis,
Palicourea coriaceae, P. grandifolia, P. guianensis, Psychotria myriantha e P. carthagenensis.
Também para esse grupo é difícil atribuir de maneira generalizada à condição morfológica, pois as
exsicatas analisadas podem ter sido originadas tanto de espécies que se enquadram no Grupo 1
quanto de espécies do presente grupo. P. carthagenensis só faz parte desse grupo pelo fato dos três
morfos terem sido registrados na Tabela 1.1. No entanto, é sabido que a homostilia para espécie se
enquadra no Grupo 1. Para Palicourea coriacea, estudos de campo comprovam a condição
morfológica descrita para o presente grupo (Consolaro, H., dados do segundo e terceiro capítulo).
42
Grupo 3) Espécies homostílicas em gêneros distílicos; situação encontrada apenas em
Palicourea macrobotrys. Em um trabalho com biologia reprodutiva na região do Triângulo Mineiro,
a homostilia foi encontrada na população estudada e em mais nove populações, porém os autores
não classificam a espécie como integralmente homostílica (Coelho & Barbosa 2003). Perante os
resultados descritos no trabalho de Coelho & Barbosa (2003), juntamente com estudos de campo
desenvolvidos na região do Distrito Federal (Consolaro, H., dados do segundo e terceiro capítulo),
P. macrobotrys será classificada como uma espécie integralmente homostílica.
Grupo 4) Populações monomórficas em espécies distílicas; situação encontrada em
populações de Psychotria carthagenensis e Coccocypselum lanceolatum (Consolaro, H., dados do
segundo capítulo). Existem dificuldades para determinar esse grupo a partir de dados de herbários,
pois não é possível expor situações populacionais por meio de exsicatas.
Grupo 5) Espécies monomórficas em gêneros distílicos; levando em consideração apenas as
espécies com número de exsicatas conclusivas consideradas na metodologia, a situação de
monomorfismo longistilo foi encontrada em Manettia cordifolia (Consolaro et al. 2005) e
Psychotria malaneoides e a de monomorfismo brevistilo em Guettarda angelica.
CONCLUSÃO
Os resultados apresentados no presente trabalho fornecem informações relevantes a respeito
do sistema distílico e da fenologia das Rubiaceae do Cerrado, contudo várias linhas de pesquisas
adicionais teriam que ser trabalhadas para uma compreensão mais detalhada das situações aqui
mencionadas, como: A) Análises filogenéticas para confirmar ou refutar os caminhos evolutivos e
as fases evolutivas sugeridas na Figura 1.4; B) Estudos de campo para as espécies dos Grupos 1 a 5
para confirmar ou rejeitar as situações encontradas no presente estudo e tamm para revelar outras
características distílicas, como sistema de incompatibilidade, biologia da polinização e isopletia; C)
Estudos ecológicos elaborados para responder a questões básicas, como: quais pressões seletivas
fazem com que a distilia evolua para os caminhos I e II?; D) Estudos taxonômicos aliados a
43
pesquisas genéticas para compreender a origem da distilia em determinados gêneros; E) Estudos
moleculares para entender os mecanismos que atuam na origem dos morfos variantes homostílicos e
monomórficos; F) Análises filogenéticas para confirmar e diferenciar o SEHet do SEHo; G)
Estudos fenológicos de campo para confirmar ou rejeitar o comportamento encontrado para família.
44
CAPÍTULO 2
Aspectos morfológicos e freqüência dos morfos florais em espécies distílicas de
Rubiaceae do Cerrado do Brasil Central
INTRODUÇÃO
Estudos de variações nas estruturas florais podem ser um dos caminhos para compreender as
modificações evolutivas de um sistema reprodutivo, de modo que a distilia é um polimorfismo
floral útil para trabalhos desse tipo, pois a expressão morfológica é uma de suas principais
características (Mal & Lovett-Doust 1997). A distilia é tida como uma estratégia reprodutiva que
aumenta as chances de polinização cruzada, visto que o arranjo morfológico dos verticilos
reprodutivos potencializa a xenogamia (Kohn & Barrett 1992). Espécies distílicas possuem dois
morfos florais morfologicamente distintos, caracterizados por apresentar a posição do estigma
acima do nível das anteras no morfo longistilo e o inverso ocorrendo no morfo brevistilo (Bir
Bahadur 1968). Essa diferença na posição dos órgãos, geralmente, é acompanhada de uma
reciprocidade na altura do verticilo feminino e masculino entre os morfos (hercogamia recíproca -
HR), tendo como característica funcional o melhor aproveitamento do pólen por meio do fluxo
polínico intermorfo intermediado por essa equivalência na altura (Ganders 1975b, Webb & Lloyd
1986). Além disso, por essas espécies possuírem um sistema genético de incompatibilidade
heteromórfico, a HR desempenha um importante papel na manutenção da distilia, pois é por meio
dela que a polinização intermorfo é realizada e a formação de frutos e sementes é viabilizada
(Charlesworth & Charlesworth 1979b, Ganders 1979). Tanto a presença dos dois morfos florais
quanto à HR é considerada característica básica da distilia (Hamilton 1990).
Contudo, para que a HR desempenhe eficientemente sua função é necessário que o serviço
de polinização realmente esteja intermediando o fluxo de pólen entre os morfos compatíveis
(Washitani et al. 1994). Agentes polinizadores têm uma importância direta na seleção da morfologia
floral em qualquer mecanismo reprodutivo que dependa da polinização cruzada, de modo que
45
mudanças na relação planta-polinizador pode explicar variações na expressão desses mecanismos
(Faivre & McDade 2001). Uma vez que as espécies distílicas necessitam de um eficiente serviço de
polinização, elas são muito vulneráveis aos efeitos negativos da perda do polinizador, podendo até
apresentar desvios em suas características morfológicas em função da quebra e/ou permutação
(crossing over) do supergene distílico estimulado por essa pressão seletiva (Matsumura &
Washitani 2000). Esses desvios podem manifestar-se de diferentes maneiras, como populações
homostílicas, indivíduos homostílicos em populações com os dois morfos, populações
monomórficas e, por fim, espécies monomórficas (Consolaro, H., dados do primeiro e terceiro
capítulo).
Mudanças evolutivas da distilia podem ser expressas não apenas na morfologia floral, mas
também na freqüência dos morfos dentro de uma população. Os morfos florais são esperados
ocorrer em uma razão equilibrada de 1:1 (isopletia), ao passo que desvios na isopletia podem
indicar quebra da distilia e, em casos extremos, um dos morfos florais pode tornar-se extinto em
uma população (Charlesworth & Charlesworth 1979a, Barrett 1985, Faivre & McDade 2001).
Vinte e oito famílias de Angiospermas possuem espécies distílicas e a família Rubiaceae é a
que possui maior riqueza de espécies com tal característica (Barrett 1992). A distilia na família não
é restrita a um grupo, podendo as espécies distílicas ser encontradas em todas as suas subfamílias
(Bir Bahadur 1968). Ela é eminentemente tropical, sendo muito bem representada no Brasil (Souza
& Lorenzi 2005). No Distrito Federal, uma região situada na área central do bioma, a família é bem
representada, apresentando aproximadamente 28% da riqueza da família no Cerrado (Mendonça et
al., no prelo, Cavalcanti & Ramos 2001). A partir da construção de Brasília em 1960, o cerrado da
região central do país vem sofrendo grande impacto ambiental em função da expansão habitacional
do território do DF, levando à redução e a fragmentação dos ambientes naturais (Cavalcanti &
Ramos 2001), especialmente florestas onde as Rubiaceae são elementos importantes.
46
Os objetivos do presente trabalho foram determinar se um grupo de Rubiaceae da região
central do Brasil são morfologicamente distílicas, se apresentam hercogamia recíproca, se possuem
algum tipo de variação nos padrões distílicos e se os morfos ocorrem em isopletia.
M
ATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo – O presente estudo foi desenvolvido na região da Reserva da Biosfera do
Cerrado (RBC), região Centro-Oeste, Distrito Federal, Brasil. A parte nuclear da RBC engloba
cerca de 50.500 ha distribuídos em grandes áreas de proteção ambiental: Parque Nacional de
Brasília – PARNA/BSB (30.000 ha), Estação Ecológica de Águas Emendadas – ESECAE (10.500
ha) e Área de Proteção Ambiental das bacias do Gama e Cabeça de Veado – APA/GCV (10.000 ha)
(Figura 2.1) (UNESCO 2002).
O PARNA/BSB é considerado uma Unidade de Proteção Integral, porém encontra-se apenas
a 10 km da região central de Brasília, sendo considerado por agências ambientais o PARNA mais
ameaçado por pressões urbanas do país (Sá & Ferreira 2000). A ESECAE também é uma Unidade
de Proteção Integral, localizada a 50 km de Brasília, fortemente ameaçada por perturbações
ambientais uma vez que é delimitada por estradas, comunidades rurais e urbanas. A APA/GCV é
composta por três áreas de proteção também ameaçadas por ações antrópicas, sendo o estudo
desenvolvido especificamente na Reserva Ecológica do IBGE (RECOR), uma reserva de 1.360 ha
que se encontra a 35 km ao sul de Brasília, e na Fazenda Água Limpa (FAL), uma área com cerca
de 3.600 ha localizada a 30 km do centro da cidade.
O clima das áreas de coleta é do tipo CW (classificação de Köppen) com estação seca de
maio a setembro e chuvosa de outubro a abril. Temperatura média de 21°C, precipitação média de
1550 mm e altitude de 1000 a 1150 metros. O trabalho de campo foi realizado de agosto de 2005 a
janeiro de 2007.
Espécies estudadas – A escolha das espécies foi feita ao longo do trabalho de campo de
acordo com o estado fenológico das mesmas. Foram estudadas 17 espécies distribuídas em cinco
47
Brasília
Cerrado
Brasil
7 km7 km7 km
Distrito Federal
Região Central
N
Figura 2.1. Mapa da área de estudo das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito
Federal, Brasil. Fonte: mapas modificados da WWF e Revisão PDOT.
48
gêneros, sendo 8 espécies em Psychotria L.: P. capitata R. & P., P. carthagenensis Jacq., P.
hoffmannseggiana (Roem. & Schult.) Muell. Arg., P. leiocarpa Cham. & Schltdl., P. mapourioides
DC., P. prunifolia (Kunth) Steyerm., P. racemosa (Aubl.) Raeusch e P. trichophoroides Muell.
Arg.; 5 em Palicourea Aublet: P. coriacea (Cham.) K. Schum., P. macrobotrys (Ruiz & Pav.)
Roem. & Schult., P. marcgravii St. Hil., P. officinalis Mart. e P. rigida Kunth; 2 em Galianthe
Griseb.: G. peruviana (Pers.) E. L. Cabral e G. valerianoides (Cham. & Schltdl.) E. L. Cabral e 1
em Coccocypselum P. Browne e em Declieuxia (Kunth): C. lanceolatum (Ruiz &. Pav.) Pers e D.
fruticosa (Roem. & Schult.) Kuntze. Essas espécies representam 16% da flora de Rubiaceae do DF
e, aproximadamente 34% das espécies distílicas da família localizadas na região (Cavalcanti &
Ramos 2001). Os espécimens testemunho foram depositados no Herbário da Universidade de
Brasília (UB 38156 a 38176) e no Herbário da Reserva Ecológica do IBGE (IBGE 64300 a 64324).
Psychotria é considerado um dos maiores gêneros de Angiospermas (>2000 espécies) e o
maior gênero distílico dentre todas as famílias com esse polimorfismo (Baker 1958, Bir Bahadur
1968, Robbrecht 1988). Palicourea possui aproximadamente 200 espécies (Taylor 1997), sendo a
distilia considerada uma condição ancestral no gênero (Vuilleumier 1967). Galianthe é um gênero
tido como distílico que compreende ca. de 49 espécies, tendo como centro de ocorrência a América
(Cabral 1991, Cabral 2004). Seu ponto de concentração é o Brasil com 45 espécies, das quais 20 são
endêmicas (Cabral 2004). Declieuxia possui aproximadamente 30 espécies endêmicas nas savanas
da América (Kirkbride 1976) com muitas espécies apresentando distilia (Consolaro, H., dados do
terceiro capítulo). Coccocypselum também é um gênero distílico com ca. de 35 espécies de ampla
distribuição nos Neotrópicos, sendo o Brasil o local de maior riqueza do gênero (21 espécies)
(Costa & Mamede 2002).
Morfometria floral e Razão dos morfos - As mensurações morfométricas foram realizadas
com o auxílio de um paquímetro digital (erro 0,01mm) e um estereomicroscópio Carl Zeiss DL
0195. As flores foram coletadas em diferentes indivíduos de forma aleatória e, posteriormente,
49
armazenadas em álcool 70%. O número de flores por morfo variou de acordo com as situações
populacionais encontradas no campo (Tabela 2.1). As medidas tomadas das flores estão
discriminadas na Figura 2.2. Comparações entre os morfos de cada espécie foram obtidas por meio
da ANOVA para dois fatores (morfo e verticilo reprodutivo). Quando os dados não alcançaram
normalidade, o teste foi realizado com os valores ranqueados. O teste Tukey (HSD) foi utilizado
para comparações múltiplas a posteriori após interação significativa entre os fatores. Coeficientes
de Correlação de Spearman foram calculados para espécies que apresentaram diferenças no
tamanho da corola. Todas as análises acima descriminadas foram realizadas utilizando o Programa
Statistica versão 6.0 (StatSoft Inc. 2001). Como Palicourea coriacea apresenta uma forma variante
juntamente com os dois morfos distílicos, a análise MANOVA foi utilizada para averiguar o efeito
do morfo na morfotipagem. Posteriormente, foi realizada Análise de Discriminantes (ADM) para
constatar o grau de confiabilidade dessa separação (Versão R).
CE
CEs
CA
CF
CC
OV
AE
(CE+CEs)
AA
(CA+CF)
SP
(AE-AA)
Figura 2.2 Mensurações morfométricas (mm) retiradas das flores das espécies distílicas de
Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil. CE: comprimento do estigma. CEs: comprimento do
estilete. CC: comprimento do tubo da corola. CF: comprimento do filete. CA: comprimento da
antera. OV: ovário. SP: separação estigma-antera. AA: altura da antera. AE: altura do estigma.
50
51
Para averiguar a ocorrência de isopletia, foi utilizado o método de varredura, no qual foram
levantados ao acaso os indivíduos em floração e verificado o morfo floral. Foi realizado o teste de
Qui-quadrado para testar a razão isoplética dos morfos florais na população (p<0,05) também
utilizando o Programa Statistica versão 6.0 (StatSoft Inc. 2001).
RESULTADOS
Das 17 espécies estudadas, 13 podem ser consideradas tipicamente distílicas e quatro
distílicas atípicas (Tabela 2.1). Onze espécies das 13 distílicas apresentaram as populações com os
morfos florais em uma razão estatisticamente equilibrada de 1:1 (isopletia) (Tabela 2.1). A
população de Psychotria racemosa e P. carthagenensis também apresentaram os dois morfos
distílicos, porém o pequeno número de indivíduos inviabilizou a análise estatística da isopletia
(Tabela 2.1, Figura 2.3 e 2.4).
As quatro espécies que apresentaram variação nos morfos foram Palicourea coriaceae com
indivíduos portando flores longistilas, brevistilas ou homostilas, P. macrobotrys somente com
indivíduos com flores homostilas e Coccocypselum lanceolatum e Psychotria prunifolia com
monomorfismo longistilo (Tabela 2.1, Figura 2.5 e 2.6).
Entre as espécies com dimorfismo, a presença de HR foi encontrada apenas em Declieuxia
fruticosa, P. mapourioides e P. carthagenensis. As demais espécies apresentaram HR de forma
parcial, com a reciprocidade ocorrendo somente entre um dos morfos (Tabela 2.1). A maioria das
espécies apresentou o comprimento da corola, os lóbulos estigmáticos e/ou a separação estigma-
antera (SP) significativamente maiores no morfo brevistilo do que no longistilo (Tabela 2.1). Para
as espécies que apresentaram diferença no tamanho da corola entre os morfos, diferentes resultados
de correlação foram encontrados (Tabela 2.2). Para Palicourea coriacea, a MANOVA indicou que
existe diferença entre os três morfos (F
6,128
=47,003; p<0,05; Wilk´s=0,097) e a ADM mostrou que a
separação pré-estabelecida entre os morfos possui cerca de 97% de fidelidade.
Tabela 2.1 Morfometria floral e razão entre morfos de populações das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil
(mm, média ± DP). N=número de flores. L=longistilo, B=brevistilo e H=homostilo. F e p valores da ANOVA para comparação entre
morfos. (x) presença de reciprocidade entre as anteras do primeiro morfo com o estigma do segundo morfo. χ
2
e p valores do Qui-quadrado.
Letras diferentes indicam diferenças estatísticas significativas (p<0,05). ESECAE (Estação Ecológica de Águas Emendadas), FAL (Fazenda
Água Limpa), RECOR (Reserva Ecológica do IBGE) e PARNA (Parque Nacional de Brasília).
Morfo
Comprimento Comprimento
Separação
Área de
(N)
da Corola do Estigma
estigma-antera Razão (L:B:H)
χ
2
Pcoleta
Coccosypselum lanceolatum L (40) 5.916 (2.15) 1.471 (0.363) 5.44 ( 1.30) 9.76 (1.51) 4.31 (1.66)
––
Monomorfismo longistilo
ESECAE
L (84) 2.99 (0.64) A 0.95 (0.21) A 3.22 (0.43) A 5.46 (0.71) A 2.2 (0.56) A L x B ESECAE
B (90) 3.60 (0.48) A 0.96 (0.29) A 5.53 (0.81) B 3.53 (0.59) B - 2.01 (0.79) B B x L
L (50) 1.36 (0.31)
A
0.60 (0.12)
A
2.17 (0.42) A 3.80 (0.57)
A
1.61 (2.4) A FAL
B (98) 1.56 (0.29) B 0.74 (0.17) B 3.34 (0.62) B 2.13 (0.68) B - 1.28 (1.04) B B x L
L (72) 2.07 (0.53) A 0.97 (0.22) A 3.46 (0.46) A 5.03 (0.57) A 1.57 (0.57) A L x B RECOR
B (38) 2.71 (0.65) B 1.21 (0.32) A 4.94 (0.85) B 2.76 (0.52) B - 2.17 (0.63) B
L (106) 8.72 (1.42) A 1.56 (0.36) A 7.81 (1.39) A 9.21 (1.49) A 1.82 (0.66) A L x B/L x H RECOR
B (118) 9.15 (1.34)
A
1.92 (0.53)
A
9.83 (1.53) B 8.07 (1.34) B - 1.97 (0.67) B B x L
H (91) 8.79 (1.43)
A
1.62 (0.55)
A
8.68 (1.52) A 8.33 (1.21) B 0.09 (0.55) C H x B
Palicourea macrobotrys H (255) 13.26 (1.78) 1.31 (0.83) 11.99 (1.56) 12.49 (1.51) 0.5 (1.71)
1,91 >0.05
ESECAE
L (77) 16.13 (1.08) A 1.23 (0.21) A 13.66 (1.49) A 18.48 (1.70) A 4.8 (1.39) A ESECAE
B (130) 19.44 (2.48) B 5.19 (1.00) B 19.91 (3.03) B 14.00 (1.86) B - 5.9 (2.6) B
L (224) 12.15 (1.51) A 1.14 (0.35)
A
9.62 (1.33) A 12.31 (1.50) A 2.88 ((1.05) A PARNA
B (174) 12.86 (1.72) B 2.31 (0.67) B 11.88 (1.74) B 8.30 (1.27) B - 3.54 (1.52) B
L (33) 13.09 (1.28) A 1.43 (0.42) A 12.15 (1.30) A 15.43 (1.76) A 3.28 (1.54) A RECOR
B (33) 13.61 (2.19) A 3.63 (1.03) B 16.29 (2.63) B 10.78 (1.74) B - 5.51 (2.83) B B x L
L (73) 6.69 (0.82)
A
1.22 (0.29)
A
6.42 (0.88) A 9.92 (1.04)
A
3.46 (0.77)
A
ESECAE
B (46) 5.91 (0.70) B 2.35 (0.36) B 9.42 (1.07) B 5.84 (0.86) B - 3.6 (0.97) B B x L
L (173) 2.59 (0.37) A 1.02 (0.20) A 3.12 (0.46) A 4.89 (0.55) A 1.78 (0.57) A L x B ESECAE
B (12) 2.88 (0.41)
A
0.93 (0.16)
A
4.67 (1.09) B 3.1 (0.52) B - 1.57 (0.9) B B x L
L (56) 4.23 (0.56)
A
0.74 (0.32)
A
4.00 (0.49) A 5.68 (0.75)
A
1.71 (0.5) A RECOR
B (30) 4.55 (0.63) A 1.68 (0.35) B 5.72 (0.71) B 3.40 (0.62) B - 2.33 (0.84) B B x L
L (03) 10.08 (0.58) 2.03 (0.11) 11.21 (0.36) 11.87 (0.64) 0.66 RECOR
B (09) 9.33 (2.34) 2.11 (0.36) 11.56 (2.36) 7.63 (1.79) - 3.93
L (73) 5.69 (0.73)
A
2.63 (1.46)
A
6.27 (1.06) A 8.61 (1.12)
A
2.33 (0.75)
A
L x B PARNA
B (77) 6.26 (0.76) B 2.18 (0.68) A 9.10 (1.30) B 5.84 (0.74) B - 3.26 (1.01) B B x L
Psychotria prunifolia L (103) 11.27 (1.55) 1.17 (0.34) 10.24 (1.58) 12.28 (2.45) 2.03 (1.3)
––
Monomorfismo longistilo
ESECAE
L (03) 3.19 (0.32) 0.81 (0.14) 3.64 (0.51) 5.16 (0.74) 1,51 ESECAE
B (03) 3.97 (0.30) 0.89 (0.16) 6.18 (0.56) 3.01 (0.14) -3,17
L (21) 10.26 (0.86) A 1.39 (0.29) A 9.44 (0.86) A 12.65 (1.02) A 3.2 (0.82) A ESECAE
B (22) 10.10 (1.47) A 2.49 (0.60) B 11.84 (2.04) B 7.79 (1.16) B - 4.05 (1.53) B B x L
––
Galianthe peruviana
Declieuxia fruticosa
Palicourea officinalis
Palicourea marcgravii
Palicourea coriaceae
Galianthe valerianoides
Psychotria hoffmanneggiana
Psychotria carthagenensis
Psychotria capitata
Palicourea rigida
Psychotria trichophoroides
Psychotria racemosa
Psychotria mapouridoides
Psychotria leiocarpa
79,28 <0.05
194,33 <0.05
83,43
584,02
112,22
168,43 <0.05
<0.05
<0.05
<0.05
<0.05
<0.0574,33
428,1
<0.05233,8
<0.05
<0.05250,95
419,14
Isopletia
Altura AnteraEspécie ReciprocidadepFAltura Estigma
0,003
27:25 0,07 0,78
0,261,2322:30
0,60,26 28:32
11,645:34:67 29,72 <0.05
Homostilia
0,860,0217:18
0,530,3910:13
0,073,0721:34
08:05
0,760,09 47:50
0,01 26:25
0,171,84 45:33
0,660,1922:25
_
50:50
08:07
0,88
52
A
1
A
2
B
1
B
2
C
D
1
D
2
E
1
F
1
F
2
G
1
G
2
H
2
I
1
I
2
J
1
M
1
M
2
N
2
E
2
J
2
H
1
Figura 2.3. Flores das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil
que apresentaram o morfo longistilo (
1
) e brevistilo (
2
). (A) Psychotria capitata; (B) P.
carthagenensis; (C) P. racemosa, (a) brevistilo e (b) longistilo; (D) P. leiocarpa; (E) P.
hoffmanneggiana; (F) P. trichophoroides; (G) P. mapourioides; (H) Declieuxia fruticosa; (I)
Galianthe peruviana; (J) G. valerianoides; (L) Palicourea marcgravii; (M) P. officinalis;
(N) P. rigida. Barras: 2 mm. Fotos: Consolaro, H.
L
2
L
1
N
1
a
b
53
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080100
-6
-4
-2
0
2
4
6
050100150
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 5 10 15 20 25
-6
-4
-2
0
2
4
6
0102030
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080
-6
-4
-2
0
2
4
6
020406080
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080100
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080100
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 102030405060
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 50 100 150 200
A
Figura 2.4. Gráficos das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal,
Brasil que apresentaram o morfo longistilo e brevistilo. (A) Declieuxia fruticosa; (B)
Galianthe peruviana; (C) G. valerianoides; (D) Palicourea rigida; (E) P. officinalis; (F) P.
marcgravii; (G) Psychotria hoffmanneggiana; (H) P. capitata; (I) P. mapourioides; (J) P.
trichophoroides; (L) P. carthagenensis. () flor longistila, () flor brevistila.
B
C
D
E
F
G
H
I
J
L
Separação estigma-antera (mm)
Número de flores
54
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 50 100 150 200 250
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080100120
-6
-4
-2
0
2
4
6
0 20406080100
-6
-4
-2
0
2
4
6
010203040
AB
CD
Número de flores
Separação estigma-antera (mm)
A
B C
D
1
D
2
D
3
Figura 2.5. Flores das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal, Brasil
que apresentaram variação na apresentação dos morfos florais. (A) Morfo longistilo de
Coccocypselum lanceolatum; (B) Morfo longistilo de Psychotria prunifolia; (C) Morfo
homostilo de Palicourea macrobotrys; (D
1
), (D
2
) e (D
3
), flor longistila, brevistila e
homostila, respectivamente. Escala: 2 mm. Fotos: Consolaro, H.
55
Figura 2.6. Gráficos das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal,
Brasil que apresentaram variação na apresentação dos morfos florais. (A) Coccocypselum
lanceolatum; (B) Psychotria prunifolia; (C) Palicourea macrobotrys; (D) P. coriaceae.
() flor longistila, () flor brevistila, () flor homostilia.
Tabela 2.2. Coeficientes de correlação de Spearman para Comprimento do tubo da corola (CO),
Altura da antera (AA), Altura do estigma (AE) e Separação estigma-antera (SP) para os morfos
longistilos (L) e brevistilos (B) das espécies distílicas de Rubiaceae do Cerrado, Distrito Federal,
Brasil que apresentaram diferenças no tamanho do tubo da corola entre os dois morfos. * p<0,05.
Morfo
(N) CO x AA CO x AE CO x SP
L (50) 0,24 -0,23 -0,36*
B (98) 0.50* 0,02 -0,41*
L (72) -0,15 0,02 0,12
B (38) 0.32* 0,19 -0,26
L (77) 0.64* 0.34* -0,16
B (130) 0.81* 0.46* -0,66*
L (216) 0.70* 0.67* 0.15*
B (182) 0.86* 0.50* -0,58*
L (85) 0.48* 0.49* 0,03
B (216) 0.28* 0.90* 0.74*
L (73) 0,51 0.56* 0,19
B (77) 0.33 * 0,17 -0,19
Correlações
Espécie
Psychotria mapouridoides
Psychotria capitata
Palicourea officinalis
Palicourea marcgravii
Galianthe valerianoides
Galianthe peruviana
DISCUSSÃO
Polinizadores tem um papel direto na seleção da morfologia floral em espécies
heterostílicas, de modo que mudanças na interação planta-polinizador pode explicar variações na
expressão de suas características (Faivre & McDade 2001). Por espécies distílicas dependerem de
um eficiente serviço de polinização em função de apresentarem um sistema de auto e intramorfo
incompatibilidade, variações muito grandes na SP e conseqüente imprecisãona HR, poderia gerar
algum tipo de impacto no sucesso reprodutivo do grupo (Ganders 1979). Contudo, apesar da HR
não ser precisa na maioria das espécies do presente trabalho, a isopletia foi constatada para as 11
espécies distílicas em que foi possível testar a razão entre os dois morfos. A HR precisa é tida por
alguns autores como um requisito básico para uma espécie ser considerada tipicamente distílica e
também o principal mecanismo que intermedia a troca de pólen intermorfo (Heuch 1979, Barrett
1992, Faivre & McDade 2001). Entretanto, na realidade, a situação encontrada no presente estudo
56
reforça a discussão de que o fluxo de pólen entre morfos florais não é muito bem entendido
(Dulberger 1992, Pailler & Tohmpson 1997) e sugere ainda que a ausência de HR precisa nem
sempre afeta o fluxo de pólen e a isopletia, não sendo, desse modo, um requisito coerente para não
considerar uma população e/ou espécie como distílica típica.
Por mais que a HR precisa não tenha sido observada, a principal característica das espécies
estudadas foi a clara SP. Variações na SP entre morfos ocorrem em varias espécies distílicas,
podendo ser maior no morfo brevistilo, como na maioria das espécies estudadas e em Cordia (Opler
et al. 1975) e Guettarda scabra (Richards & Koptur 1993), maior no morfo longistilo, como em
Palicourea padifolia (Ree 1997) e Lithrum salicaria (Mal & Lovett-Doust 1997) ou não haver
diferença, como em Gaertnera vaginata (Pailler & Thompson 1997). O grau de SP pode influenciar
diretamente o processo de polinização, pois quanto menor for à separação, maiores são as chances
de autopolinização (Ganders 1975b, Barrett 1979, Glover & Barrett 1986, Barrett & Shore 1987,
Mal & Lovett-Doust 1997). Muitos estudos tentam explicar essa oscilação na separação baseado no
comprimento do tubo da corola já que seus estames são epipétalos, mas tal discussão não pôde ser
utilizada nas espécies do presente estudo em função da diversidade de comportamentos encontrados
nas correlações realizadas.
Flores brevistilas com estruturas morfológicas maiores do que longistilas parecem ser
comum tanto em Rubiaceae quanto em outras famílias distílicas (Baker 1956, Ganders 1979, Li &
Johnston 2001). Discute-se que o morfo brevistilo receba uma quantidade menor de grãos de pólen,
devido à disposição estrutural de seus verticilos reprodutivos dificultar a chegada do pólen, sendo
suas estruturas maiores uma maneira de compensar essa assimetria no fluxo polínico (Ganders
1979, Webb & Lloyd 1986). Alguns trabalhos têm demonstrado que o “display” floral realmente
exerce uma função importante em sistemas reprodutivos intermediado por insetos, pois à medida
que aumenta o “display”, por exemplo, o tamanho da corola, o poder de atração de polinizadores e o
fluxo de pólen também aumentam (Galen & Stanton 1989, Mal & Lovett-Doust 1997). Porém,
57
estudos direcionados para espécies distílicas são necessários para constatar até que ponto diferenças
no tamanho da corola exerce alguma função na atração do polinizador.
A maioria dos trabalhos de fato mostra que em Rubiaceae o tubo da corola em flores
brevistilas é maior do que em flores longistilas, como em Rudgea jasminoides (Baker 1956),
Hedyostis caerulea (Ornduff 1980), Palicourea petiolaris e P. fendleri (Sobrevila et al. 1983), P.
padifolia (Ree 1997, Contreras & Ornelas 1999), P. longepedunculata (Pereira et al. 2006), Luculia
(Murray 1990), Guettarda scabra (Richards & Koptur 1993), Manettia luteo-rubra (Passos &
Sazima 1995), Gaertnera vaginata (Pailler & Thompson 1997), Psychotria jasminoides, P.
birotula, P. mapourioides e P. pubigera (Castro et al. 2004) e Sabicea cenerea (Teixeira &
Machado 2004b). Contudo, não é aconselhado fazer generalizações para família, pois em
Psychotria suarrensis (Stone 1995) e P. capitata o tamanho da corola é maior nas flores longistilas
e em Psychotria jasminoides, P. nuda e P. pubigera (Castro & Araújo 2004), P. barbiflora
(Monteiro et al 1991, Teixeira & Machado 2004a), P. poeppigiana (Coelho & Barbosa 2004), P.
suterella (Lopes & Buzato 2005), P. conjugens, P. hastisepala, P. hygrophiloides, P. nuda, P.
sessilis, Rudgea lanceolata e Palicourea marcgravii (Pereira et al. 2006) o tamanho não difere entre
os morfos.
Os estudos que encontraram flores brevistilas maiores acreditam que quando seus estames
são epipétalos, diferenças no comprimento tubo da corola (CO) entre os morfos são necessárias para
que as anteras se posicionem em um nível equivalente ao estigma do morfo longistilo e a HR seja
caracterizada (Pailler & Thompson 1997). Galianthe peruviana, G. valerianoides e Psychotria
mapourioides poderiam de fato ser inseridas nessa discussão, entretanto nas outras espécies a
correlação corola-altura da antera (COxAA) foi presente em ambos os morfos. Nota-se que em
Palicourea marcgravii, P. officinalis e Psychotria capitata a correlação COxAA existe juntamente
com a correlação entre a corola-altura do estigma (COxAE). Por também existir correlação COxAA
no morfo longistilo, duas outras relações, necessariamente, teriam que ocorrer: a correlação COxAE
para caracterizar a SP no morfo longistilo e a correlação COxAE no morfo brevistilo para o possível
58
alcance da HR. A existência desses variados caminhos de correlação fenotípica entre as espécies,
aliadas à distribuição taxonômica das espécies distílicas dentro da família, pode sugerir pressões de
seleção diferenciadas e indicar que a distilia, realmente evoluiu mais de uma vez em Rubiaceae (Bir
Bahadur 1968, Barrett & Richards 1990).
Ainda dentro do maior tamanho morfológico exibido pelo morfo brevistilo, das sete espécies
que apresentaram dimorfismo no comprimento do estigma, todas tiveram maiores dimensões em
flores brevistilas. Essa situação parece ocorrer com maior freqüência em Rubiaceae (Baker 1956,
Ornduff 1980, Sobrevila et al. 1983, Murray 1990, Dulberger 1992, Richards & Koptur 1993,
Castro & Araújo 2004, Castro et al. 2004, Coelho & Barbosa 2004, Rossi et al. 2005, Pereira et al.
2006), todavia espécies distílicas de outras famílias apresentaram lóbulos estigmáticos maiores nas
flores longistilas (Ornduff 1971, Dulberger 1992, Richards & Barrett 1992). Acredita-se que a
maior superfície estigmática do morfo brevistilo é necessária para aumentar as chances de contato
com o pólen presente no corpo do visitante, diminuindo assim a assimetria no fluxo polínico (Ree
1997). Entretanto, como mencionado para o tamanho da corola, generalizações para família não
devem ser feitas, sobretudo por existirem espécies que não apresentam diferenças no tamanho dos
lóbulos (Castro et al. 2004, Pereira et al. 2006).
O serviço de polinização em espécies heterostílicas desempenha um papel importante na
manutenção da isopletia (Ganders 1979) ao passo que os fatores que afetam a eficiência desse
processo são considerados agentes causadores do monomorfismo. Entre os fatores que afetam a
relação planta-polinizador e, consequentemente, podem causar o monomorfismo, são citados:
perturbações ambientais (Janzen 1974, Barrett 1988, Agren 1996), tamanho populacional reduzido
(Jennersten 1988, Kéry et al. 2000) e isolamento geográfico (Sobrevila et al. 1983, Jennersten 1988,
Washitani et al. 1994, Matsumura & Washitani 2000). Dentre as 17 espécies estudadas, duas
apresentaram populações monomórficas longistilas, sendo a de Coccosypselum lanceolatum o
primeiro relato na espécie e a de Psychotria prunifolia uma situação já encontrada em outras
populações do gênero (Hamilton 1990), inclusive populações homostílicas (Machado, I. C., com.
59
pess.) e monomórifcas longistilas (obs. pess.) de P. carthagenensis. Esse pequeno número de
grupos variantes pode nos levar a pensar que no Cerrado do Brasil Central, por mais que esteja
submetido a intensas perturbações ambientais, o serviço de polinização exerce eficientemente sua
função. Estudos específicos teriam que ser desenvolvidos para dizer com mais exatidão se esse
baixo número é conseqüência dessa eficiência, se o processo de perturbação ainda é recente para se
notar alguma influência ou se é em função da força de coesão do supergene na família. Contudo,
vale ressaltar que por mais que a maioria das espécies do presente estudo tenha apresentado
isopletia, a ausência majoritária de HR pode ser entendida como o primeiro passo para a quebra do
sistema distílico em função do possível desequilíbrio no fluxo polínico ainda não refletido nessas
espécies.
A quebra da distilia em direção a homostilia ocorre em muitos taxa distílicos, podendo
manifestar-se como caráter exclusivo em uma população ou, mais frequentemente, com apenas
alguns indivíduos dentro de uma população distílica (Vuilleumier 1967, Ganders 1979, Keegan et
al. 1979, Shore & Barrett 1985, Hamilton 1990, Coelho & Barbosa 2003). Dentre as espécies
analisadas no presente estudo, apenas Palicourea macrobotrys apresentou o morfo homostílico
como exclusivo, ao passo que Palicourea coriacea apresentou no campo e em exsicatas de herbário,
indivíduos longistilos, brevistilos e homostilos. Em um trabalho de biologia reprodutiva
desenvolvido na região do Triângulo Mineiro com P. macrobotrys, a homostilia com traços florais
referentes ao morfo longistilo também foi encontrada, como menor superfície estigmática e uma
leve tendência a separação estigma-antera longistílica (Coelho & Barbosa 2003). Outros casos de
homostilia em populações distílicas de Rubiaceae já foram registrados, como Pentas lanceolata, P.
zanzibarica, P. parviflora, Adenosacme longifolia, Pleiocraterium verticillare, Parapentas setigera,
Hedyotis subviscosa, Oldenlandia herbacea, O. umbellata (Bir Bahadur 1968), Mitchella repens
(Ganders 1975a), algumas espécies de Psychotria (Hamilton 1990) e Palicourea alpina (Tanner
1982). Charlesworth & Charlesworth (1979a) sugere que se um morfo homostílico possui
autocompatibilidade maior do que zero e depressão endogâmica menor do que ½, quando
60
introduzido em populações distílicas, ele tende a substituir os outros morfos. Esse estágio de
substituição pode estar ocorrendo em Palicourea coriaceae e já ter ocorrido em P. macrobotrys,
visto que nessas espécies a condição de autocompatibilidade do morfo homostilo já foi constatada
(Consolaro, H., dados do terceiro capítulo, Coelho & Barbosa 2003).
Diante dos resultados encontrados, a distilia não pôde ser confirmada apenas nas populações
de Pyschotria prunifolia, Coccocypselum lanceolatum, Palicourea macrobotrys e P. coriacea.
Estudos de campo são necessários para constatar se essas condições são restritas as populações
estudadas ou se é uma característica comum na espécie. As demais populações das 13 espécies, por
mais que não apresentassem integralmente todas as características, foram consideradas enquadradas
dentro do grupo distílico, tendo com base a diferenciação morfológica e/ou a isopletia. Acredita-se
que o sistema de polinização e/ou de incompatibilidade são os responsáveis pela manutenção da
distilia nessas espécies, porém experimentos populacionais específicos são necessários para
confirmar ou refutar tal importância.
61
CAPÍTULO 3
Sistema distílico de quatro espécies de Palicourea Aubl. (Rubiaceae) do Cerrado
do Brasil Central
INTRODUÇÃO
Dentre as 28 famílias distílicas, Rubiaceae é considerada a mais rica, tendo, provavelmente,
mais espécies do que todas as outras famílias juntas (Ganders 1979, Barrett et al. 2000). Acredita-se
que a distilia tenha surgido mais de uma vez na família, porém para Palicourea é considerada
monofilética e comum em quase todas as espécies do gênero (Pailler & Thompson 1997, Taylor
1997). Embora a distilia seja considerada primitiva e bem estabelecida na família e também no
gênero, existem estudos que encontraram diversas modificações evolutivas (Baker 1958; Bawa &
Beach 1983; Sobrevila et al. 1983; Hamilton 1990; Richards & Koptur 1993; Pailler et al. 1998;
Faivre & McDade 2001; Coelho & Barbosa 2003; Castro et al. 2004; Consolaro et al. 2005). É
relatado que a distilia pode originar a dioicia e o monomorfismo (Ganders 1979, Sobrevila et al.
1983, Hamilton 1990), contudo para Palicourea parece que a homostilia é a forma derivada mais
comum. Trabalho com P. petiolaris (Sobrevila et al. 1983) até mostra que algumas populações
podem ser monomórficas, contudo o esperado se confirma nas populações homostílicas de P. alpina
(Tanner 1982) e P. macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003), esta última, uma espécie típica de mata
de galeria do Cerrado brasileiro.
O Gênero Palicourea tem uma riqueza de 200 espécies representadas por arbustos e
arvoretas localizadas em diversas formações vegetacionais do Novo Mundo (Taylor 1997). O
Cerrado possui aproximadamente 14 dessas espécies distribuídas em suas variadas fitosionomias
(Mendonça et al., no prelo), de modo que a região do Planalto Central é considerada como um dos
centros de riqueza do gênero. Suas flores apresentam corola tubular, sem odor, de cores fortes e
polinizadas principalmente por beija-flores (Taylor 1997).
62
Um trabalho teórico que utiliza programas computacionais capazes de gerenciar a entrada, a
saída, a taxa de autofertilidade (s) e a depressão endogâmica (δ) de determinados morfos, demonstra
que indivíduos homostilos com “s” maior do que zero e “δ” menor do que ½, quando são inseridos
em populações distílicas hipotéticas, tendem a aumentar sua freqüência e, gradualmente, ao longo
das gerações, substituir os outros morfos. Este estudo também demonstra que quando o morfo
inserido é do tipo homostilo longistilo, a substituição total dos morfos tipicamente distílicos e/ou do
homostilo brevistilo é inevitável, ao passo que a dominância total da forma homostila brevistila só é
possível quando inserido na ausência do homostilo longistilo (ver detalhes em Charlesworth &
Charlesworth 1979a).
Espécies ou populações que apresentam desvios em suas características distílicas são
consideradas, na maioria das vezes, produtos da quebra e/ou permutação (crossing over) do gene
que controla a distilia (supergene) (Bawa & Beach 1983, Hamilton 1990). A relação planta-
polinizador desempenha um importante papel na manutenção do sistema distílico em função da
dependência do fluxo do pólen intermorfo, ao passo que um desequilíbrio nessa interação pode
exercer pressões seletivas a favor da quebra do supergene (Ganders 1979). Diversos fatores podem
afetar a relação planta-polinizador; como perturbações ambientais (Janzen 1974, Barrett 1988,
Agren 1996), tamanho populacional reduzido (Jennersten 1988, Kéry et al. 2000) e isolamento
geográfico (Sobrevila et al. 1983, Jennersten 1988, Washitani et al. 1994, Matsumura & Washitani
2000).
O presente estudo tem como finalidade investigar os aspectos reprodutivos relacionados ao
sistema distílico, como morfologia floral, isopletia e sistema de incompatibilidade de quatro
espécies de Palicourea distribuídas no Cerrado do Brasil Central. Paralelamente foi estudada a
biologia da polinização dessas espécies, com intuito de auxiliar na discussão de possíveis variações
distílicas.
63
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de estudo – O presente estudo foi desenvolvido entre agosto de 2005 e janeiro de 2007
em três áreas pertencentes a Reserva da Biosfera do Cerrado, Distrito Federal, Brasil: Parque
Nacional de Brasília (PARNA/BSB), Estação Ecológica de Águas Emendadas (ESECAE) e
Reserva Ecológica do IBGE (RECOR).
O PARNA/ BSB possui 30.000 ha e encontra-se a 10 km da região central de Brasília, sendo
considerado por agências ambientais o PARNA mais ameaçado por pressões urbanas do país (Sá &
Ferreira 2000). A ESECAE tem cerca de 10.500 ha e está localizada a 50 km de Brasília, uma
região fortemente ameaçada por perturbações ambientais. A RECOR tem aproximadamente 1.360
ha e encontra-se a 35 km ao sul de Brasília delimitada por estradas e por outras reservas ambientais.
O clima das áreas de coleta é do tipo CW (classificação de Köppen) com estação seca de
maio a setembro e chuvosa de outubro a abril. Temperatura média de 21°C, precipitação média de
1550 mm e altitude de 1000 a 1150 metros (Sá & Ferreira 2000).
Espécies estudadas - Foram estudadas quatro espécies de Palicourea: duas de hábito sub-
arbustivo distribuídas nos campos limpos e sujos do bioma, P. coriacea (Cham.) K. Schum.e P.
officinalis Mart., e as outras duas por arvoretas de matas de galeria, P. macrobotrys (Ruiz & Pav.)
Roem. & Schult. e P. marcgravii St. Hil.. Para cada espécie, foi estudada uma população, sendo a
de P. coriacea localizada na RECOR, a de P. officinalis no PARNA/ BSB e a de P. macrobotrys e
P. marcgravii na ESECAE. As flores dessas espécies possuem corola tubular, antese nas primeiras
horas da manhã, longevidade floral de aproximadamente 12 horas, receptividade estigmática e
liberação polínica logo após a antese e o néctar como o principal recurso floral oferecido.
Os espécimens testemunhos foram depositados no Herbário da Universidade de Brasília
(UB 38156 e 38164) e no Herbário da Reserva Ecológica do IBGE (IBGE 64301 a 64303, 64306 a
64309 e 64310 a 64312).
Morfometria floral e Razão dos morfos - As mensurações morfométricas foram realizadas
com o auxílio de um paquímetro digital (erro 0,01mm) e um estereomicroscópio Carl Zeiss DL
64
0195. As flores foram coletadas em diferentes indivíduos de forma aleatória e, posteriormente,
armazenadas em álcool 70%. O número de flores por morfo variou de acordo com as situações
populacionais encontradas no campo. As medidas retiradas estão discriminadas na Figura 3.1.
Comparações entre os morfos de cada espécie foram obtidas por meio da ANOVA para dois fatores
(morfo e verticilo reprodutivo). Quando os dados não alcançaram normalidade, o teste foi realizado
com os valores ranqueados. O teste Tukey (HSD) foi utilizado para comparações múltiplas a
posteriori após interação significativa
CE
CEs
CA
CF
CC
OV
AE
(CE+CEs)
AA
(CA+CF)
SP
(AE-AA)
Figura 3.1. Mensurações morfométricas (mm) retiradas das flores das espécies de Palicourea
estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. CE: comprimento do estigma. CEs: comprimento do
estilete. CC: comprimento do tubo da corola. CF: comprimento do filete. CA: comprimento da
antera. OV: ovário. SP: separação estigma-antera. AA: altura da antera. AE: altura do estigma.
entre os fatores. Coeficientes de Correlação de Spearman foram calculados para espécies que
apresentaram diferenças no tamanho da corola. Todas as análises acima descriminadas foram
realizadas utilizando o Programa Statistica versão 6.0 (StatSoft Inc. 2001). Como Palicourea
coriacea apresenta uma forma variante juntamente com os dois morfos distílicos, a análise
MANOVA foi utilizada para averiguar o efeito do morfo na morfotipagem. Posteriormente, foi
realizada Análise de Discriminantes (ADM) para constatar o grau de confiabilidade dessa separação
(Versão R).
65
Para P. coriacea, uma espécie que, aparentemente, apresentava desvios na manifestação dos
morfos distílicos, foram analisadas exsicatas em herbários com o intuito de verificar a posição das
anteras e dos estigmas em flores de outras populações. O mesmo não foi feito para P. macrobotrys
por tal análise já ter sido realizada por Coelho & Barbosa (2003). Por algumas flores não
permitirem a observação direta dos verticilos reprodutivos, com a autorização do curador do
herbário, elas foram retiradas em exsicatas com duplicatas e, posteriormente, em laboratório,
hidratadas, analisadas e morfotipadas. Os herbários visitados foram: Universidade de Brasília (UB),
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (CGMS), Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT), Universidade Federal de Goiás (UFG), Universidade Federal de Minas Gerais (BHCB) e
Universidade de Campinas (UEC).
Para averiguar a ocorrência de isopletia, foi utilizado o método de varredura, no qual foram
morfotipados ao acaso os indivíduos em floração. Foi realizado o teste de Qui-quadrado para testar
a razão isoplética dos morfos florais na população (p<0,05).
Sistema reprodutivo - O sistema de incompatibilidade foi determinado a partir da taxa de
frutificação quantificada após experimentos de polinização manual e observações do crescimento
dos tubos polínicos. Os tipos de tratamentos de polinização seguiram o protocolo adotado em
estudos de sistema reprodutivo de espécies distílicas (Bawa & Beach 1983). As polinizações
manuais foram realizadas entre 08:00 e 16:00h e, para as espécies que apresentaram o morfo
homostilo, os botões desse morfo foram emasculados antes da antese para evitar autopolinização e
aumentar a confiabilidade do tratamento proposto. As observações do crescimento dos tubos
polínicos foram feitas usando a técnica de fluorescência (Martin 1959) a partir dos tratamentos de
autopolinização, polinização intermorfo e polinização intramorfo realizados em pistilos fixados 4, 7
e 10 horas após as polinizações manuais. Foi utilizado no mínimo 10 indivíduos por morfo e um
número mínimo de sete pistilos por tratamento e por intervalo de tempo.
Visitantes florais e produção de néctar – Os visitantes florais foram determinados por
observação direta das 06:00 às 18:00h em diferentes dias. O tempo total de observação por espécie
66
foi de 15 h para Palicourea officinalis e P. macrobotrys, 30 h para P. marcgravii e 32 h para P.
coriacea. Os polinizadores principais foram determinados de acordo com a sua morfologia,
comportamento na flor e freqüência de visitas. A identificação das aves visitantes foi feita por meio
de documentação fotográfica e observação direta no campo, já os insetos por meio de coletas e
posterior envio a especialistas.
O volume total, concentração de açúcar e quantidade total de açúcar no néctar foram
determinados para os dois morfos em flores ensacadas em pré-antese. O volume de néctar foi
medido com auxílio de capilares micrometrados, a concentração de açúcar com refratômetro de mão
e a quantidade de açúcar estimada, pelo protocolo descrito em Galetto & Bernardello (2005). As
medidas foram coletadas ao final do dia antes da queda da flor. As análises estatísticas para
comparar as características mensuradas do néctar entre os morfos foram feitas com o teste Mann-
Whitney (U) para espécies com dois morfos e teste de Kruskal-Wallis (H) para espécies com três
morfos (StatSoft Inc. 2001).
RESULTADOS
Morfometria floral e Razão dos morfos – Dentre as quatro espécies estudadas de Palicourea,
duas apresentaram os padrões distílicos e outras duas apresentaram variação. Em meio as variantes,
uma espécie é de mata e outra de formações campestres, com a mesma distribuição ocorrendo com
as espécies tipicamente distílicas. As populações de P. marcgravii e P. officinalis foram
consideradas tipicamente distílicas por apresentaram os dois morfos com isopletia (Figura 3.2 e 3.3,
Tabela 3.1). Porém, a hercogamia recíproca (HR) não foi encontrada nessas espécies. O
comprimento da corola, os lóbulos estigmáticos e a separação estigma-antera (SP) foram
significativamente maiores no morfo brevistilo do que no longistilo em ambas as espécies (Tabela
3.1).
A população de P. coriacea apresentou variação na manifestação dos morfos, pois foi
constatado os morfos longistilos e brevistilos, juntamente com uma terceira forma homostila, sendo
67
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
-9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
0
5
10
15
20
25
30
35
-11-9-7-5-3-11357911
0
20
40
60
80
100
120
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
Separação estigma-antera (mm)
Número de flores
A
1
A
2
B
1
B
2
C
1
C
2
C
3
D
A
B
CD
Figura 3.2. Flores das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil.
(A
1
) morfo longistilo e (A
2
) morfo brevistilo de P. officinalis; (B
1
) longistilo e (B
2
) brevistilo
de P. marcgravii; (C
1
) longistilo, (C
2
) brevistilo e (C
3
) homostilo de P. coriaceae; (D)
homostilo de P. macrobotrys. Escala: 2 mm. Fotos: Consolaro, H.
68
Figura 3.3. Gráficos das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal,
Brasil. (A) distribuição bimodal da separação estigma-antera em flores de P. officinalis; (B)
distribuição bimodal em P. marcgravii; (C) ocorrência de três morfos em P. coriaceae; (D)
representação gráfica da homostilia em P. macrobotrys. Barras brancas morfo brevistilo,
preta morfo longistilo e pontilhada morfo homostilo.
69
Tabela 3.1. Morfometria das estruturas florais e isopletia das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil (valores em mm,
média ± SD). Coluna Morfo: longistilo (L), brevistilo (B) e homostilo (H), entre parênteses o tamanho amostral. F e p são valores da ANOVA.. Letras
diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas (p<0,05). Coluna Hercogamia: (-) morfos com reciprocidade, (x) ausência de
reciprocidade. χ
2
e p são valores do Qui-quadrado.
Morfo
Comprimento Comprimento
Separação
(N)
da Corola do Estigma
estigma-antera Razão (L:B)
χ
2
P
L (106)
8.72 (1.42) A 1.56 (0.36) A 7.81 (1.39) A 9.21 (1.49) A 1.82 (0.66) A
L - B/L - H
B (118)
9.15 (1.34) A 1.92 (0.53) A 9.83 (1.53) B 8.07 (1.34) B - 1.97 (0.67) B
B - L/B x H
H (91)
8.79 (1.43) A 1.62 (0.55) A 8.68 (1.52) A 8.33 (1.21) B 0.09 (0.55) C
H - B/H x L
Palicourea macrobotrys H (255)
13.26 (1.78) 1.31 (0.83) 11.99 (1.56) 12.49 (1.51) 0.5 (1.71)
1.91 >0.05
L (77)
16.13 (1.08) A 1.23 (0.21) A 13.66 (1.49) A 18.48 (1.70) A 4.8 (1.39) A
L x B
B (130)
19.44 (2.48) B 5.19 (1.00) B 19.91 (3.03) B 14.00 (1.86) B - 5.9 (2.6) B
B x L
L (224)
12.15 (1.51) A 1.14 (0.35) A 9.62 (1.33) A 12.31 (1.50) A 2.88 ((1.05) A
L x B
B (174)
12.86 (1.72) B 2.31 (0.67) B 11.88 (1.74) B 8.30 (1.27) B - 3.54 (1.52) B B x L
1.84 0.17Palicourea officinalis 419.14 <0.05 45:33
Homostilia
Palicourea marcgravii 250.95 <0.05 22:25 0.19 0.66
Palicourea coriaceae 29.72 <0.05 45:34:67 (H) 11.6 0.003
FPHercogamia
Isopletia
Espécie Altura Antera Altura Estigma
ela a mais freqüente na população (Figura 3.2 e 3.3, Tabela 3.1). Entre as 30 exsicatas observadas,
foi também constatada a presença de flores das três morfologias. Vale ressaltar que todas as flores
definidas como homostilas foram analisadas em laboratório. Os exemplares com flores homostilas
foram provenientes dos estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás, sendo
algumas coletadas no mesmo município de exemplares com flores brevistilas e longistilas. A HR foi
encontrada entre os morfos tipicamente distílicos e também entre as anteras do morfo longistilo com
o estigma do homostilo e entre as anteras do homostilo com o estigma do brevistilo (Tabela 3.1).
Juntamente com essa combinação, a igualdade significativa da altura das anteras entre o morfo
longistilo e o homostilo com o mesmo ocorrendo entre a altura do estigma do morfo brevistilo com
o homostilo, indicam que, possivelmente, a forma homostila encontrada é do tipo brevistila (Tabela
3.1, Figura 3.2 e 3.3). A SP foi o único parâmetro que o morfo brevistilo apresentou maior tamanho
que o longistilo (Tabela 3.1). A MANOVA indicou que segundo a altura da antera e altura do
estigma existe diferença entre os três morfos (F
6,128
=47,003; p<0,05; Wilk´s=0,097) e a ADS
mostrou que a separação entre os morfos possui cerca de 97% de fidelidade.
As análises estatísticas realizadas nas flores mensuradas de Palicourea macrobotrys não
demonstraram diferenças significativas no tamanho dos verticilos reprodutivos, caracterizando a
homostilia (Tabela 3.1, Figura 3.2 e 3.3). Porém, é possível notar que suas flores apresentam
características do morfo longistilo (homostilo longistilo); como tamanho dos lóbulos estigmáticos,
localização do estigma próximo à entrada da corola e uma discreta e não significativa disposição do
estigma acima do nível das anteras (Figura 3.2 e 3.3, Tabela 3.1).
A partir das condições morfológicas encontradas nas populações das quatro espécies
estudadas, foi elaborado um fluxograma evolutivo para populações do gênero que apresentam tais
características. Esse fluxograma foi baseado nos resultados encontrados no modelo computacional
criado por Charlesworth & Charlesworth (1979a), de modo que a substituição gradual do morfo
homostilo observada no modelo foi aqui representada pelas espécies que o morfo homostilo estava
presente (Figura 3.4). Embora o modelo tenha sido realizado ao nível populacional e o fluxograma
70
L B
HB HL
L
B B
L
©
©
©
©
©
©
©
P. marcgravii e P. officinalis
Distilia típica
P. macrobotrys
P. coriacea
Figura 3.4. Fluxograma evolutivo, representação da HR e relações de incompatibilidade das
espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. (L) morfo longistilo. (B)
brevistilo. (HB) homostilo brevistilo. (HL) homostilo longistilo. (--) ausência de HR. (–) presença
de HR Anteras pretas=autocompatibilidade. Anteras brancas=auto e intramorfo incompatibilidade.
©=intermorfo compatibilidade.
elaborado pela junção das variações distílicas do gênero, o uso desse modelo como referência é
aceitável, pois a “substituição gradual” e as “espécies”, na verdade, representam estágios de um
processo com causas finais, até certo ponto, semelhantes, ou seja, a dominância da homostilia.
Sistema de reprodutivo – Os resultados dos tratamentos de polinização controlada de
Palicourea marcgravii e P. officinalis foram muito parecidos. As populações dessas espécies
produziram significativamente mais frutos por meio de polinizações intermorfos do que por
autopolinizações e polinizações intramorfos em ambos os morfos. Esses resultados indicam a
condição de auto e intramorfo incompatibilidade em suas populações (Tabela 3.2, Figura 3.4). A
frutificação após polinização intermorfo, intramorfo, autopolinização e controle foi semelhante
entre os morfos. O tratamento controle não apresentou diferença entre os morfos, sendo sua
frutificação semelhante à polinização intermorfo e significativamente mais alta do que em auto e
intramorfo polinização (Tabela 3.2).
As observações do crescimento do tubo polínico para P. marcgravii e P. officinalis também
mostraram semelhanças. Após 8 h do tratamento já foi possível notar tubos no ovário, porém não
foi observado penetração nos óvulos, possivelmente, pela sobreposição dos tecidos ovarianos. Os
tubos gerados por polinizações intermorfos cresceram sem qualquer tipo de interrupção e,
aparentemente, apresentaram-se consistentes (maior diâmetro e mais fluorescência que os tubos de
polinizações incompatíveis). A única diferença notada no sistema reprodutivo das duas espécies foi
71
Tabela 3.2. Resultados dos experimentos de polinização manual das espécies de Palicourea
estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. N=número de indivíduos; L=longistilo; B=brevistilo
e H=homostilo. PInter: polinização intermorfo. PIntra: polinização intramorfo. AP: autopolinização.
Co: controle. Dentro de cada espécie, a primeira letra representa comparações entre morfos, já as
letras conseguintes comparações entre experimentos. Letras diferentes indicam diferenças
estatisticamente significativas (p<0,05). Coluna PInter para P. coriacea: p. ex. BxL, primeiro morfo
representa o doador de pólen.
Morfo
L (15)
64
a,b
(44) 11
h,j
(28) 6
d,j
(51) 70
c,b
(36)
B (15)
78
a,b
(41) 2
h,i
(56) 2
d,i
(48) 57
c,b
(35)
L (17)
37
a,d
(44) 16
l,n
(42) 5
c,n
(43) 48
d
(40)
B (14)
35
a,d
(41) 2
l,m
(43) 2
c,m
(41) 36
d
(45)
Palicourea macrobotrys H (26)
76
a
(112) 67
a
(115) 75
a
(100)
L (15)
BxL: 36
e
(33)/HxL: 25
a,d,r
(44) 4
o,p,r,s
(28) 5
b,d,f,p
(42) 24
a,e
(42)
B (11)
LxB: 38
e
(40)/HxB: 2.4
f,g,u
(42) 4
o,q,t,u
(45) 3
f,q
(36) 22
e
(41)
H (33)
LxH: 5
a,c
(40)/BxH: 23
f,g,v
(35) 25
a,s,t,v
(40) 13
b,c,f
(46) 23
a,e
(69)
Palicourea coriaceae
Palicourea marcgravii
Palicourea officinalis
PInter(N) PIntra AP
% frutificação (número de flores)
Espécie
Co
em relação ao comportamento dos tubos polínicos. No morfo brevistilo de P. marcgravii a
interrupção do tubo polínico ocorreu no estigma após polinização auto e intramorfo, enquanto no
morfo longistilo ocorreu ao longo do estilete. Já em Palicourea officinalis, a interrupção ao longo
do estilete foi observada nos dois morfos.
A população estudada de P. macrobotrys apresenta a condição de autocompatibilidade,
formando frutos tanto por autopolinizações quanto por polinizações cruzadas (Tabela 3.2, Figura
3.4). Os tubos polínicos já se encontravam no ovário de forma consistente a partir das 4 h após
aautopolinização e polinização cruzada, contudo não foi observado penetração nos óvulos,
provavelmente pelo mesmo motivo acima mencionado.
A relação de incompatibilidade entre os morfos longistilos e brevistilos de P. coriacea
seguiu o padrão heterostílico (Figura 3.4). A produção de frutos foi significativamente maior após
polinizações intermorfos do que após auto e intramorfo polinizações em ambos os morfos. A
72
frutificação de cada tratamento realizado foi semelhante entre os morfos. A formação de frutos pelo
tratamento controle foi semelhante à polinização intermorfo nos dois morfos, contudo foi
significativamente mais alta do que em polinização auto e intramorfo (Tabela 3.2). O tubo polínico
já se encontra no ovário após 6 h do tratamento, mas não foi observado penetração nos óvulos. As
observações mostraram que em polinização auto e intramorfo a interrupção do tubo polínico no
morfo brevistilo ocorre no estigma, enquanto no longistilo ocorre ao longo do estilete, mais
precisamente no início do estilete.
Os resultados reprodutivos dos morfos distílicos de Palicourea coriacea com sua forma
variante homostílica mostraram-se um pouco obscuras. Foi encontrado que o morfo homostílico é
autocompatível e que seu grão de pólen é compatível tanto com o morfo longistilo quanto com o
brevistilo. Além disso, a compatibilidade também ocorreu entre o pólen longistilo e o morfo
homostilo, porém o pólen brevistílico foi incompatível com o morfo homostilo. Algumas diferenças
foram encontradas envolvendo polinizações cruzadas intermorfos e o tratamento controle. A
frutificação do morfo homostilo gerada pelo pólen longistilo foi significativamente menor que o
controle, o mesmo ocorrendo na recepção do pólen homostilo pelo morfo brevistilo. Já a formação
de frutos do tratamento controle foi semelhante à frutificação do morfo longistilo produzida pela
recepção do pólen homostilo e semelhante à frutificação do morfo homostilo gerada pelo pólen
provindo do morfo brevistilo (Tabela 3.2, Figura 3.4). Em todos os tratamentos compatíveis, o
crescimento do tubo polínico já se encontra no ovário após 6 h do tratamento, mas não foi possível
observar penetração nos óvulos. A interrupção do tubo polínico brevistilo no morfo homostilo
ocorreu ao longo do estilete. Já as análises entre os morfos distílicos mostraram que em auto e
intramorfo polinização a interrupção do tubo polínico no morfo brevistilo ocorre no estigma;
enquanto no longistilo ocorre ao longo do estilete.
Visitantes florais e produção de néctar – Beija-flores visitaram as flores de todas as espécies
estudadas, independentemente da fitofisionomia, contudo eles foram considerados como os únicos
polinizadores principais em P. marcgravii, P. macrobotrys e P. officinalis. Para essas espécies,
73
visitas esporádicas de borboletas também foram registradas, porém comportando-se como
polinizadores ocasionais (Tabela 3.3, Figuras 3.5 e 3.6).
Tabela 3.3. Visitantes florais, número total de visitas, freqüência e categoria do visitante de três
espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. MF=muito freqüente (>5
visitas/hora). F=frequente (±1 visita/hora). R=raro (<1 visita/hora). PP=polinizador principal.
PO=polinizador ocasional.
Espécie visitada Visitantes florais Total de visitas Frequência Categoria
Palicourea officinalis
Apodiformes
Amazilia fimbriata (Gmelin 1788)
26 F PP
Chlorostilbon aureoventris (d´Orbigny & Lafresnaye 1838)
25 F PP
Heliactin cornuta (Wied 1821)
2RP
Lepidoptera
Phoelis philea (Johansson 1767)
11 R PO
Xeniades chalestra (Hewitson 1866)
1RP
Palicourea marcgravii
Apodiformes
Amazilia frimbiata (Gmelin 1788)
35 MF PP
Chlorostilbon sp.
3RP
Lepidoptera
Heliconius erato phyllis (Fabricius 1775)
3RP
H. ethilla macaea (Godan 1819)
3RP
Palicourea macrobotrys
Apodiformes
Thalurania furcata (Gmelin 1788)
152 MF PP
Lepidoptera
Hypothyris ninonia (Boisduval 1836)
5RP
O
O
O
O
O
O
Abelhas foram observadas apenas em Palicourea coriacea (Bombus atratus Frankin 1913,
Halictidae e Euglossa melanotricha Moure 1967), sendo elas e o beija-flor Heliactin cornuta (Wied
1821) considerados os principais visitantes. Também foram observados visitas de outras espécies de
abelhas (Oxaea flavescens Klug 1807 e Epicharis bicolor Smith 1854), de uma espécie de Diptera e
dos Lepdopteras Stalachtis phlegia (Cramer 1775) e Lerema veadeira (Mielke 1968) (Figura 3.6).
O volume total, concentração de açúcar e quantidade total de açúcar no néctar não diferiram
significativamente entre os morfos para as quatro espécies estudadas (Tabela 3.4).
74
Figura 3.4. Visitantes florais das espécies de Palicourea estudadas no Cerrado, Distrito
Federal, Brasil . (A) Amazilia fimbriata e (B) Chlorostilbon aureoventris visitando flores de
P. officinalis. (C) A. fimbriata visitando flores de P. marcgravii. (D) Thalurania furcata
visitando flores de P. macrobotrys. (E) Bombus sp. e (F) Heliachitin cornuta visitando flores
de P. coriaceae. Escala: 5 mm (A – E) e 2 cm (F). Fotos: Consolaro, H.
A
B
C
D
E
F
75
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
06:00-08:00 08:00-10:00 10:00-12:00 12:00-14:00 14:00-16:00 16:00-18:00
Horário
Frequênci
a
Heliactin cornuta
Lepidoptera
Abelhas
Bombus atratus
Halictidae
Euglossa melanotricha
Figura 3.6. Freqüência dos visitantes florais por intervalo de tempo de P. coriacea no Cerrado,
Distrito Federal, Brasil.
Tabela 3.4. Volume, concentração e quantidade total de açúcar no néctar das espécies de Palicourea
estudadas no Cerrado, Distrito Federal, Brasil. Coluna Morfo: longistilo (L), brevistilo (B) e
homostilo (H), entre parênteses o tamanho amostral.
L (15) 2,02 ± 0,94 25,6 ± 2,5 0,57 ± 0,28
B (5) 1,93 ± 0,55 21,4 ± 4,1 0,42 ± 0,06
H (33) 1,92 ± 0,93 27 ± 2,63 0,56 ± 0,23
Palicourea macrobotrys
H (10) 4,99 ± 3,17 17,9 ± 2,18 0,89 ± 0,42
L (15) 5,83 ± 3,07 17,47 ± 2,35 1,03 ± 0,44
B (15) 5,83 ± 2,96 16,46 ± 2,06 0,98 ± 0,43
L (32) 3,39 ± 1,59 14,76 ± 5,5 0,49 ± 0,26
B (30) 3,64 ± 1,31 14,63 ± 5,56 0,63 ± 0,41
Palicourea officinalis
Volume (μL) Concentração (%) Quantidade (mg)MorfoEspécie
Palicourea coriaceae
Palicourea marcgravii
76
DISCUSSÃO
Alguns autores afirmam que a HR é necessária para considerar uma espécie ou população
verdadeiramente distílica (Lloyd & Webb 1992, Pailler & Thompson 1997, Faivre & McDade
2001), entretanto a distilia pode ser atribuída às populações de P. marcgravii e P. officinalis pela
presença dos morfos florais, pelo sistema de incompatibilidade, pelos dados de tubos polínicos e
pela isopletia. Todavia, tal atribuição não pôde ser feita a P. coriacea e P. macrobotrys em função
da presença do morfo homostilo em suas populações.
A origem da homostilia ocorre em muitos taxa distílicos de Rubiaceae, podendo manifestar-
se como caráter exclusivo em uma população ou, mais frequentemente, com apenas alguns
indivíduos dentro de uma população distílica (Vuilleumier 1967, Ganders 1979, Keegan et al. 1979,
Shore & Barrett 1985, Hamilton 1990, Coelho & Barbosa 2004). Cada espécie ou população pode
responder de forma diferente perante as mesmas pressões seletivas a que estão submetidas
(Charlesworth & Charlesworth 1979a, Li & Johnston 2001), contudo parece que nas espécies de
Palicourea a homostilia é o caminho evolutivo mais freqüente, como encontrado em P. alpina
(Tanner 1982), P. macrobotrys (Coelho & Barbosa 2003) e, possivelmente, em P. grandifolia, P.
guianensis e P. nitidella (Consolaro, H., dados do primeiro capítulo). Outros casos de homostilia
originada de espécies distílicas de Rubiaceae também já foram registrados, como Pentas lanceolata,
P. zanzibarica, P. parviflora, Adenosacme longifolia, Pleiocraterium verticillare, Parapentas
setigera, Hedyotis subviscosa, Oldenlandia herbacea, O. umbellata (Bir Bahadur 1968, em tabela
com dados compilados de outros autores), Mitchella repens (Ganders 1975a) e algumas espécies de
Psychotria (Hamilton 1990).
Com base no modelo de Charlesworth & Charlesworth (1979a), suspeita-se que P.
coriaceae possa estar passando pelo mesmo processo de substituição gradual dos morfos observado
no trabalho desses autores, já que o morfo homostilo é autocompatível e os morfos distílicos são
auto e intramorfo incompatíveis. Paralelamente a isso, a ocorrência integral da homostilia em P.
macrobotrys, aliada com a mesma constatação feita em populações da região do Triângulo Mineiro
77
(Coelho & Barbosa 2003), pode sugerir que essa espécie já tenha passado pela fase evolutiva que
Palicourea coriacea se encontra e que a quebra da distilia para homostilia pode ocorrer
independentemente em várias espécies ou populações. Levando em consideração as situações
encontradas em P. coriacea e P. macrobotrys, juntamente com a ausência de HR em P. marcgravii
e P. officinalis, é possível afirmar que cada uma dessas quatro espécies possa estar em um estágio
evolutivo diferente na evolução da homostilia e a não reciprocidade nessas duas espécies
representaria o primeiro passo para a quebra da distilia. Alguns trabalhos demonstram que mesmo
se o sistema de incompatibilidade esteja funcionando, como encontrado nas espécies em questão, se
o fluxo de pólen estiver em desequilíbrio, talvez pela ausência de HR, uma possível quebra do
supergene distílico tende a ocorrer (Endels et al. 2002).
A HR é tida como o principal fator que intermedia a troca de pólen intermorfo via interação
com os polinizadores, de maneira que imprecisão na reciprocidade e conseqüente desequilíbrio
nessa interação podem explicar variações na expressão de suas características morfológicas e
quedas no sucesso reprodutivo do grupo (Ganders 1979, Faivre & McDade 2001). Entretanto, de
acordo com os resultados encontrados de biologia da polinização, produção de néctar e sistema
reprodutivo, esse desequilíbrio ainda não se manifestou em P. marcgravii e P. officinalis, uma vez
que foram constatados eficientes agentes polinizadores, nenhuma oferta diferenciada de néctar por
parte dos morfos e sucesso reprodutivo similar entre as flores longistilas e brevistilas.
A síndrome ornitofilia é considerada como dominante no gênero Palicourea (Taylor 1997),
sendo confirmada em vários trabalhos que abordam a biologia da polinização (Sobrevila et al. 1983,
Silva 1995, Ree 1997, Contreras & Ornelas 1999, Coelho & Barbosa 2003, Ornelas et al. 2004),
inclusive no presente estudo. Palicourea coriacea foi a única espécie que as abelhas também foram
consideradas como polinizadores principais, uma condição rara para o gênero. Em um estudo com
Palicourea padifolia, as abelhas também foram os visitantes principais, entretanto a sua eficiência
no fluxo de pólen intermorfo foi questionada, sobretudo a respeito do seu papel na quebra da distilia
(Ree 1997). Pela ornitofilia ser considerada exclusiva no gênero e pela melitofilia ser a principal
78
síndrome de uma espécie com variação nos seus padrões distílicos, é de certa forma coerente
imaginar que essa mudança no tipo de polinizador, independentemente do fator da mudança, pode
ter influenciado de alguma maneira na evolução de indivíduos homostílicos na população de P.
coriacea. Da mesma forma, a homostilia em P. macrobotrys poderia ser questionada a esse respeito,
porém pelas observações de seus visitantes seguirem a síndrome do gênero e por eles,
aparentemente, desempenharem de maneira eficiente sua função, provavelmente a pressão seletiva
nesse caso não foi a mesma de P. coriacea.
A homostilia derivada da distilia por meio do crossing over do supergene pode manifestar-
se por meio de estames na mesma altura do estigma longistilo (homostilia longistila - HL), estames
no mesmo nível do estigma brevistilo (homostilia brevistila - HB) e estames e estigma em um nível
intermediário entre os verticilos reprodutivos dos morfos longistilos e brevistilos (homostilia
intermediária) (Hamilton 1990). A combinação de reciprocidade encontrada entre a forma
homostila e os morfos distílicos de P. coriacea, conjuntamente com as manifestações de
incompatibilidade, sugerem que a homostilia encontrada na população realmente é do tipo HB.
Segundo o modelo de Charlesworth & Charlesworth (1979a), essa forma homostílica somente
substitui os morfos longistilos e brevistilos na ausência de um HL, uma situação que parece ocorrer
na população estudada em função da HB ser exclusiva e significativamente mais freqüente que os
outros dois morfos. Já em P. macrobotrys a condição é diferente, pois suas características
morfológicas indicam que a homostilia é do tipo HL. As duas formas homostílicas encontradas em
Palicourea sugerem que a origem da homostilia pode ocorrer de maneira independente num mesmo
táxon e que as pressões seletivas locais somadas as características genéticas intrínsecas de cada
espécie podem determinar o sentido do caminho evolutivo a ser seguido.
Morfo brevistilo com estruturas morfológicas maiores do que o longistilo, como encontrado
na maioria das estruturas morfológicas aqui mensuradas, é comum em sistemas distílicos, na família
Rubiaceae e em Palicourea (Ganders 1979, Sobrevila et al. 1983, Ree 1997, Contreras & Ornelas
1999, Li & Johnston 2001, Castro et al. 2004). Acredita-se que as estruturas fenotípicas maiores no
79
morfo brevistilo é uma maneira de compensar uma possível assimetria no fluxo de pólen em sua
direção, devido a disposição estigmática do morfo longistilo facilitar a polinização (Ganders 1979,
Webb & Lloyd 1986). Aliados a esse fator, alguns trabalhos têm demonstrado que o “display” floral
exerce uma função importante em sistemas reprodutivos intermediado por animais, contudo estudos
direcionados para grupos distílicos seriam necessários para constatar até que ponto estruturas
morfológicas maiores entre os morfos influenciam na atração do polinizador (Galen & Stanton
1989, Mal & Lovett-Doust 1997).
Variações no comportamento reprodutivo entre espécies cogenéricas são frequentemente
encontradas (Washitani et al. 1994, Castro et al. 2004), podendo, muitas vezes, manifestar-se na
própria frutificação. A frutificação gerada a partir da polinização intermorfo entre os morfos
distílicos dentro de P. marcgravii, P. officinalis e P. coriacea foi semelhante, porém nota-se uma
diferença na frutificação entre as espécies. Muitas espécies distílicas de Rubiaceae (Castro et al.
2004) apresentam taxa de frutificação similar a P. officinalis e P. coriacea, entretanto ela é
considerada baixa quando comparada à frutificação encontrada nas populações estudadas de P.
marcgravii e P. macrobotrys, em Palicourea fendleri (82,4% brevistilo e 60% longistilo) (Sobrevila
et al. 1983), Psychotria jasminoides (70% e 72,1%) (Castro et al. 2004) e P. popeppigiana (76,2% e
84,2%) (Coelho & Barbosa 2004). Visto que a população de P. coriaceae não é tipicamente
distílica, seria compreensível pensar que a sua menor frutificação seria uma conseqüência da
variação morfológica apresentada, contudo, pela população de P. officinalis ter sido considerada
tipicamente distílica e por elas terem frutificação parecida, tal suposição foi descartada. Pelas
populações terem sido estudadas em áreas separadas e pelas populações que apresentaram
frutificação diferente não ocorrerem na mesma fitofisionomia, acredita-se que a variação encontrada
entre elas pode estar associada a algum fator abiótico (Sutherland 1986).
Os variados comportamentos de incompatibilidade observados nas espécies estudadas geram
as incertezas quanto à origem e os mecanismos que atuam nesse processo. Pelo sistema de
incompatibilidade de espécies distílicas ser do tipo esporofítico, esperava-se que a reação de
80
incompatibilidade ocorresse na superfície estigmática, contudo os resultados encontrados,
juntamente com estudos recentes mostram que em plantas heterostílicas as regiões de interrupção
do tubo polínico diferem entre os morfos e podem envolver o estigma, estilete ou ovário (Anderson
& Barrett 1986). Estudos de incompatibilidade em espécies distílicas de Rubiaceae têm
demonstrado claramente essas diferenças, de maneira que o local de inibição diferencia tanto entre
espécies quanto entre os morfos, sendo caracterizado principalmente pela interrupção ao longo do
estilete no morfo longistilo e no estigma no brevistilo (Bawa & Beach 1983, Passos & Sazima
1995, Teixeira & Machado 2004b Coelho & Barbosa 2004, Pereira et al. 2006), como encontrado
em Palicourea marcgravii e nos morfos distílicos de P. coriacea. Porém, para enfatizar mais ainda
a diversidade de mecanismo que pode ser encontrado nesses grupos, em P. officinalis e em um
estudo com P. longepedunculata Gardner (Pereira et al. 2006) foi observado que a interrupção em
ambos os morfos ocorreu ao longo do estilete.
Os resultados encontrados para as quatro espécies de Palicourea revelam situações
evolutivas e ecológicas interessantes a respeito do tema, de modo que é possível fazer algumas
observações. A) Espécies distílicas cogenéricas podem diferir quanto à instabilidade genética e
quanto às variações morfológicas, devido, provavelmente, a diferentes respostas às pressões
seletivas, por exemplo alterações ambientais. B) Tanto espécies de formações florestais, como P.
macrobotrys, quanto de formações campestres, como P. coriacea, estão sujeitas a pressões seletivas
e possíveis variações. C) Por mais que a síndrome de polinização se mantenha dentro do esperado
para um determinado gênero, variações evolutivas podem surgir. D) Quando o gênero Palicourea
apresenta variações distílicas no Cerrado do Brasil Central, elas são caracterizadas pela homostilia.
Os resultados descritos no presente trabalho representam um dos primeiros passos no estudo da
evolução e ecologia da distilia no bioma Cerrado, com isso várias linhas de pesquisas adicionais
devem ser desenvolvidas para melhor entender e esclarecer as forças que regem o sistema, como: 1)
Análises filogenéticas para confirmar ou refutar o fluxograma evolutivo sugerido para o gênero; 2)
Estudos ecológicos direcionados para descobrir as pressões seletivas que agem na derivação da
81
homostilia; 3) Estudos moleculares para entender os mecanismos que atuam na origem dos morfos
homostílicos.
82
CONSIDERAÇÕES GERAIS
De acordo com os resultados encontrados nos três capítulos, é possível dizer que o sistema
distílico das espécies de Rubiaceae do Cerrado é pouco variável. Muitos trabalhos atribuem
características mínimas para que uma espécie e/ou população seja considerada tipicamente distílica,
por exemplo, a presença de HR precisa, contudo acredita-se que a ausência de uma dessas
condições não seja suficiente para enquadrá-las como atípicas. A partir das espécies que
apresentaram variações no presente estudo, é aceitável dizer que a distilia na família segue
comumente dois caminhos evolutivos, a homostilia e o monomorfismo. Entre as espécies de
Palicourea, a homostilia parece ser o mais freqüente, como encontrado em P. coriaceae e P.
macrobotrys (Consolaro, H., dados do segundo e terceiro capítulo), na população de P. macrobotrys
do Triângulo Mineiro (Coelho & Barbosa 2003) e, possivelmente, em P. grandifolia, P. guianensis
e P. nitidella (Consolaro, H., dados do primeiro capítulo). O motivo dessas variações ainda não é
claro, porém acredita-se que as características genéticas intrínsecas de cada táxon têm uma
considerável influência, de modo que cada um pode responder de forma diferente, ou até mesmo
não responder, perante as mesmas pressões seletivas em que estão submetidas.
Apesar do primeiro capítulo fornecer somente dados de ocorrência dos morfos florais, seu
conjunto de informações é bastante útil, pois permite subsidiar e incentivar estudos futuros, além
também de possibilitar conclusões relevantes a respeito da distilia em Rubiaceae no bioma Cerrado.
Quando esse capítulo é analisado conjuntamente com os demais, é possível observar que muitas das
condições encontradas se repetem no campo e outras, não possíveis de serem observadas nos
herbários, são descobertas. Essas confirmações e complementaridades podem ser notadas na
corroboração do padrão de rejeição dos tubos polínicos do capítulo 3 e do primeiro capítulo e
também por meio de informações adicionais a respeito da razão isoplética observadas nas espécies
do segundo capítulo.
83
A maioria dos dados morfométricos obtidos no capítulo 2 seguem o que é frequentemente
encontrado para flores distílicas, ou seja, as estruturas morfológicas do morfo brevistilo são maiores
do que as do longistilo. Entretanto, generalizações para família não devem ser feitas, já que em
outras espécies trabalhadas por outros autores e em algumas aqui estudadas não foram encontradas
diferenças.
Acredita-se que o ajustamento do comportamento de floração e frutificação das espécies
analisadas não está ligado aos fatores abióticos, mas sim ao período de dispersão de suas sementes,
as suas relações filogenéticas e à disponibilidade de polinizadores.
Os resultados apresentados na presente tese fornecem informações relevantes a respeito do
sistema distílico e da fenologia das Rubiaceae do Cerrado, entretanto vários estudos adicionais
devem que ser trabalhados para uma compreensão mais detalhada das situações aqui encontradas,
como: A) Análises filogenéticas para confirmar ou refutar os caminhos evolutivos e as fases
evolutivas sugeridas no capítulo 1 e 3; B) Estudos de campo para confirmar ou rejeitar as situações
morfológicas e fenológicas encontradas nas espécies do primeiro capítulo; C) Revelar novas
características distílicas, como sistema de incompatibilidade, biologia da polinização e isopletia
para as espécies não incluídas no capítulo 3; D) Estudos ecológicos direcionados para tentar
responder questões básicas, como: quais pressões seletivas fazem com que a distilia evolua para os
caminhos sugeridos no capítulo 1 e 3?; E) Estudos taxonômicos aliados a pesquisas genéticas para
compreender a origem da distilia em determinados gêneros; F) Estudos moleculares para entender
os mecanismos que atuam na origem dos morfos variantes homostílicos e monomórficos para
também poder compreender o grau de coesão dos genes que formam o supergene da família.
84
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