hoje, tudo que a gente faz é Kratera (...) É a pegada da banda, a banda tem uma pegada única
(informação verbal, grifos meus)
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Os músicos apontam a combinação entre suas diferentes influências e gostos musicais
como o principal fator para a construção do estilo particular da banda. Neste sentido, é
interessante o depoimento de Heráclito, percussionista da Euthanasia:
(...) o legal é que apesar de cada um na banda ter preferência por um estilo musical, a gente se
respeita bastante, e termina sendo até uma virtude pra banda que a gente consiga conciliar os nossos
gostos musicais diversos em prol de um estilo único da banda, que é meio mistureba assim, mas que
tem uma cara bem própria. Não se parece com nada, eu acho (informação verbal)
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Muitas bandas apresentam um de seus integrantes como principal compositor, casos
de Willy, na Lixo Organico, Gastão, na Kratera, ou Boratto, chamado pelos colegas da banda
de “coração” da Zoidz. Entretanto, há sempre uma dinâmica entre o trabalho individual e do
grupo, a assinatura individual e a do grupo. O estilo da banda é construído a partir da
interação entre os músicos, dos estímulos que cada um exerce no outro e das formas com que
cada um responde a eles. Partindo de Durkheim, Seca (1988) considera a banda “um campo
de forças cujo produto é superior à soma de seus componentes individuais” (: 177). A banda
é um projeto comum que une e combina a expressão da personalidade de seus membros.
Neste sentido, “(O) fazer musical é projetado na interioridade da banda em forma de projeto
comum, revelando, nas diferentes singularidades, o grupo como um todo, pois nessa prática,
cada um é o grupo e o grupo é cada um” (Maheirie, 2001: 83). Sobre esse projeto comum,
cito o que disse Cristiane sobre como lidaria com a dinâmica entre seu estilo pessoal e o das
diferentes bandas em que toca:
Na verdade isso aí é bem fácil, porque é uma coisa meio natural, não é programado, a própria
banda conduz. Por exemplo, uma banda, o Kratera, a idéia é um som pesado, arrastado. Pesado e
arrastado, pra trás. Então você já tem essa idéia. É como o que eu falei é natural, não tem muito o que
pensar, eu não vou tocar arrastado no Ambervisions, porque a idéia do Ambervisions é tocar rápido, é
um som mais pra frente. (...) Muitas vezes os próprios músicos, um ajuda o outro. Por exemplo, se
chega alguém com uma composição nova, é muito comum o músico já ter a idéia de (...) como ele
queria a bateria, como ele queria o baixo. É claro que normalmente nunca fica exatamente como o
compositor planejou, porque cada integrante coloca a sua idéia, coloca a sua identidade. Então,
resumindo, não é planejado, é bem natural, você junta a proposta da banda com a sua naturalidade
(informação verbal, grifos meus)
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Entrevista realizada em 24 de março de 2006.
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Entrevista realizada em 30 de março de 2006.
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Entrevista realizada em 06 de abril de 2006. Note-se que aqui, Cristiane usa o artigo “o” para Kratera.