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Ele levou um choque terrível. Ele não sabia que o Ministério da
Educação tinha ficado pronto, que a obra foi um sucesso. (...) A reação
dele foi muito violenta. A princípio tive a impressão de que não gostou
daquilo (...). “Como esses jovens conseguiram fazer, num país como o
Brasil, uma coisa que eu não consigo fazer aqui na Europa? Todos os
meus projetos são frustrados, me combatem, ninguém faz meus projetos e
esses novos fazem isso? (Revista Projeto, n° 102, agosto de 1987, p.143)
Em seguida, Le Corbusier passa a publicar o risco do projeto definitivo em livros e
periódicos como de sua autoria. Uma longa e ressentida troca de correspondências vai
prolongar a questão até 1952, quando o governo brasileiro decide pela construção da Casa
do Brasil e encarrega Lucio Costa pela elaboração do projeto. Este, como tentativa de
conciliação, passa o desenvolvimento do projeto para Le Corbusier, episódio verificado
neste trecho extraído de uma carta de Lucio Costa a Le Corbusier:
(...) Você volta à questão do Ministério da Educação. O croqui que você
costuma publicar, como já lhe disse, é um falso testemunho, porque foi
feito mais tarde, baseado nas fotos do edifício construído ou maquete. E
se, quase vinte anos depois, eu ainda confio ao seu escritório a Casa do
Brasil na Cidade Universitária, é justamente por causa destes
antecedentes e para que você se sinta de uma vez por todas
recompensado no que nos diz respeito: recompensado no sentido
‘negócios’, porque o que nós, arquitetos do mundo inteiro, devemos a
você não tem preço (Carta de Lucio Costa a Le Corbusier. Fonte: Revista
Projeto, n° 102, agosto de 1987. p.105-106)
Le Corbusier alterou o caráter do projeto que era para ser apenas desenvolvido. Quanto ao
MES, a obra passa a ser publicada como de autoria da equipe sob orientação de Le
Corbusier, como relata Lucio Costa em 1995:
(...) E como tanto as revistas como os improvisados divulgadores
omitissem pormenores da participação pessoal de Le Corbusier no caso,
e os contratos diretos conosco ainda não houvessem sido restabelecidos,
ele passou a interpretar tais ocorrências como usurpação da parte que,
de direito, lhe cabia, estado de espírito que o levou, numa espécie de
revide, (...) de publicar como risco original seu para o edifício
efetivamente executado um croquis calcado sobre aquela fotografia da
maquete que lhe havíamos em tempo enviado junto como o projeto,
desenho este feito sem muita convicção e sem data (ele sempre datava
todo e qualquer risco que fizesse). Evidentemente a sua intenção fora