Download PDF
ads:
LUCIANA VIANA CARPANEDA
CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENHO DE ESPAÇOS SEGUROS:
Um estudo de caso nas Superquadras do Plano Piloto de Brasília
Dissertação apresentada no Curso de
Mestrado da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Brasília, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Área de concentração: Paisagem, Ambiente e
Sustentabilidade.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Adriana Bustos
Romero.
Brasília
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Carpaneda, Luciana Viana.
Contribuições para o desenho de espaços
seguros: um estudo de caso nas Superquadras do
Plano Piloto de Brasília. / Luciana Viana Carpaneda.
Brasília. – 2008. 143 p.
Orientadora: Marta Adriana Bustos Romero.
Dissertação (mestrado) – Universidade de
Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
1. Criminalidade urbana. 2. Desenho urbano. 3.
Sustentabilidade. 4. Espaços seguros. 5.
Superquadras.
ads:
Universidade de Brasília
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Dissertação intitulada “Contribuições para o desenho de espaços seguros: um
estudo de caso nas Superquadras do Plano Piloto de Brasília”, de autoria da
mestranda Luciana Viana Carpaneda, aprovada pela Banca Examinadora
constituída pelos seguintes professores:
______________________________________________
Prof.ª Dr.ª Marta Adriana Bustos Romero – FAU/UnB
(Orientadora)
______________________________________________
Prof. Dr. Andrey Rosenthal Schlee – FAU/UnB
(Membro)
______________________________________________
Prof. ª Dr.ª Marília Luiza Peluso – GEA/UnB
(Membro externo)
______________________________________________
Prof. Dr. Frederico Rosa Borges de Holanda – FAU/UnB
(Suplente)
Brasília-DF, 16 de abril de 2008.
À Dani e ao Zeca.
AGRADECIMENTOS
Foi com muita emoção que iniciei essas linhas de agradecimento, pois o
momento condensa para mim todos os sentimentos desses dois anos.
Em primeiro lugar, agradeço a minha mãe Beatriz, sempre presente,
orientadora da minha vida e salvadora nas horas difíceis.
À minha filha Isadora, agradeço por ser a “fada da doçura” que sempre
soube dar um brilho tão especial a minha vida.
À Elisabeth (segunda mãe), Hildebrando e Winston, por tornarem nossa
família mais alegre. Quanto à Lisiane e ao Fabiano, agradeço pela longa amizade,
da mesma forma que ao Alexandre, Leila, Marcelo e Alessandra.
À Viviane, pelos esforços em mostrar-me o caminho.
Sem dúvidas, devo sempre agradecer a minha Professora Marta Romero,
que sempre soube conduzir com firmeza essa importante etapa acadêmica,
fornecendo conhecimento e a certeza de que eu podia ir além. A gradeço-a não
somente como mestra, mas também como inspiradora e amiga.
Finalmente, agradeço a meu amado companheiro Ranieri, sem o qual o
presente trabalho não teria nem começo, nem meio, nem fim. Meu maior e melhor
incentivador, cuja força tão grande guardou todos os cantos do meu percurso, para
que eu o trilhasse com tranqüilidade e segurança.
“Não temerás o terror da noite
nem a flecha que voe de dia,
nem peste que caminha na treva,
nem a epidemia que devasta ao meio-dia
(Salmo 91, 5-6).
“Ergo os olhos para as montanhas:
de onde virá meu socorro?
Meu socorro vem de Iahweh,
que fez o céu e a terra”.
(Salmo 121, 1-2).
RESUMO
A intenção do trabalho é contribuir para a segurança, sob o ponto de
vista da criminalidade urbana nos espaços públicos. Buscou-se priorizar os
aspectos relativos ao desenho urbano, de forma a estabelecer uma conexão
com o projeto de ambientes. Como objetivo específico, empenhou-se em
estabelecer critérios e disposições de desenho capazes de inibir determinados
tipos de delitos e proporcionar a efetiva apropriação dos espaços públicos pela
comunidade. Nesse sentido, foram analisados aspectos físicos, ambientais e
funcionais constituintes dos espaços públicos. O processo investigativo
abarcou a seleção do sítio onde seriam realizados os estudos de campo,
resultando na escolha do Plano Piloto de Brasília, mais especificamente das
Superquadras, em parte devido às suas peculiaridades de solo público
propiciada pelo uso generalizado de pilotis, mas também pelo surgimento de
diversos dispositivos de segurança nos edifícios residenciais. A opção
metodológica permitiu o isolamento de duas Supequadras, SQN 408 e SQN
208, para levantamento de dados in loco onde foram analisadas as qualidades
físicas, funcionais e ambientais desses espaços. Por intermédio do resultado
dessas análises foi possível avaliar quais qualidades estariam influindo na
segurança, ou na insegurança, desses locais. A partir do estabelecimento de
algumas recomendações de uso do solo e de desenho, foram realizadas
diretrizes para a área situada no limite entre as regiões comercial e residencial
da SQN 408 (Área 1). As constatações e interferências ora sugeridas, dentro
do caráter propositivo da pesquisa, visaram propiciar maior segurança para o
usuário, sem estabelecer, ao mesmo tempo, espaços excludentes. Por
conseguinte, buscou-se, de maneira mais abrangente, a sustentabilidade nas
cidades, de modo a colaborar para a composição de espaços públicos urbanos
seguros e para o incremento da qualidade de vida.
Palavras-chave: 1. Criminalidade urbana. 2. Desenho urbano. 3.
Sustentabilidade. 4. Espaços seguros. 5. Superquadras.
ABSTRACT
This research intends to contribute to security in urban public realm by
studying aspects related to urban design projects. The specific objective is to
establish criteria and design arrangements that are capable to inhibit certain
criminal acts and stimulate the appropriation of the public spaces by the
community. There were analyzed physical, environmental and functional
subjects of the public spaces. The investigation process selected the
Superquadras located at Plano Piloto, Brasília, for the present case study. This
choose was based on its project peculiarities, such as the public pilotis, and the
emerging use of electronic policing at the residential buildings. The
methodology also took into account the official data criminality, what turned
possible the selection of two Superquadras (SQN 208 and SQN 408) for case
study, where physical, environmental and functional characteristics were
analyzed and compared. Design guidelines were elaborated with the objective
of turning the place considered criminally vulnerable, the area between
commercial and residential uses at SQN 408 (Area 1) a safer place. This
research follows the objective of creating safer and inclusive public urban
places, and at the same time offers a possibility to increase the life quality and
sustainability in the cities.
Palavras-chave: 1. Urban Criminality. 2. Urban Design. 3. Sustainability. 4.
Safe palces. 5. Superquadras.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Demarcação territorial.............................................................................................. 33
Figura 2 - Demarcação territorial.............................................................................................. 33
Figura 3 - Clason Point (antes da intervenção)........................................................................ 34
Figura 4 - Clason Point (depois da intervenção)...................................................................... 34
Figura 5 - Vigilância natural...................................................................................................... 38
Figura 6 - Ausência de conexão visual e manutenção............................................................. 38
Figura 7 - Controle visual......................................................................................................... 39
Figura 8 - Ausência de controle visual..................................................................................... 39
Figura 9 - Boa relação entre comércio e espaço público......................................................... 39
Figura 10 - Ausência de relação interior x exterior de edificações............................................. 39
Figura 11 - Iluminação apropriada............................................................................................. 40
Figura 12 - Vegetação crescida e bolsões de sombras............................................................. 40
Figura 13 - Praça do Sol (Barcelona)......................................................................................... 48
Figura 14 - Westport (Irlanda).....................................................................................................48
Figura 15 - Spokane (WA, Estados Unidos).............................................................................. 49
Figura 16 - Estrasburgo (França)............................................................................................... 49
Figura 17 - Base, fronteira e entorno......................................................................................... 53
Figura 18 - Ficha bioclimática.................................................................................................... 54
Figura 19 - Rua fechada ao tráfego de automóveis................................................................... 56
Figura 20 - Espaço destinado aos pedestres............................................................................. 56
Figura 21 - Aproveitamento de esquina..................................................................................... 57
Figura 22 - Zona de estar........................................................................................................... 57
Figura 23 - Mobiliário urbano..................................................................................................... 58
Figura 24 - Mobiliário urbano..................................................................................................... 58
Figura 25 - Pátio central............................................................................................................. 58
Figura 26 - Jardim no espaço público........................................................................................ 58
Figura 27 - Água no espaço público.......................................................................................... 58
Figura 28 - Mobiliário e vegetação............................................................................................. 65
Figura 29 - Pavimento lúdico...................................................................................................... 66
Figura 30 - Sombreamento.........................................................................................................66
Figura 31 - Controle de ventos e ruído; separação de atividades.............................................. 66
Figura 32 - Água......................................................................................................................... 66
Figura 33 - Água......................................................................................................................... 66
Figura 34 - A Superquadra......................................................................................................... 74
Figura 35 - Setor residencial...................................................................................................... 75
Figura 36 - Unidade de vizinhança (Asa Sul)............................................................................. 75
Figura 37 - SQN 108.................................................................................................................. 82
Figura 38 - SQS 309...................................................................................................................82
Figura 39 - SQN 109.................................................................................................................. 82
Figura 40 - SQN 214.................................................................................................................. 83
Figura 41 - SQN 309.................................................................................................................. 83
Figura 42 - SQN 303.................................................................................................................. 83
Figura 43- SQN 214.................................................................................................................. 83
Figura 44 - SQN 214.................................................................................................................. 83
Figura 45 - SQN 214.................................................................................................................. 83
Figura 46- SQS 106.................................................................................................................. 83
Figura 47 - SQS 106.................................................................................................................. 83
Figura 48 - SQS 306.................................................................................................................. 83
Figura 49 - Mapa indicativo dos “pontos quentes” da Asa Norte............................................... 89
Figura 50 - SQN 408 e SQN 208 (imagem aérea)..................................................................... 96
Figura 51 - Área 1 (imagem aérea)............................................................................................ 98
Figura 52 - Posto de Saúde nº 2................................................................................................ 99
Figura 53 - Quadra de esportes da SQN 408............................................................................ 99
Figura 54 - Escola Classe da SQN 408..................................................................................... 99
Figura 55 - Parque infantil da SQN 408..................................................................................... 99
Figura 56 - SQN 408 (acesso Oeste)......................................................................................... 102
Figura 57 - SQN 408 (vista aérea)............................................................................................. 102
Figura 58 - SQN 408 (acesso Norte).......................................................................................... 102
Figura 59 - SQN 408 (acesso Leste).......................................................................................... 102
Figura 60 - SQN 408 (acesso Sul)..............................................................................................102
Figura 61 - Cercamento de edifício (SQN 408).......................................................................... 102
Figura 62 - Cerca viva (SQN 408).............................................................................................. 102
Figura 63 - Cerca viva (SQN 408).............................................................................................. 102
Figura 64 - Cerca viva (SQN 408).............................................................................................. 102
Figura 65 - Cerca viva (SQN 408).............................................................................................. 102
Figura 66 - Desnível de acesso a edifício (SQN 408)................................................................ 103
Figura 67 - Desnível de acesso a edifício (SQN 408)................................................................ 103
Figura 68 - Desnível de acesso a edifício (SQN 408)................................................................ 103
Figura 69 - Desnível de acesso a edifício (SQN 408)................................................................ 103
Figura 70 - Desnível de acesso a edifício (SQN 408)................................................................ 103
Figura 71 - Garagem em pilotis (SQN 408)................................................................................ 103
Figura 72 - Garagem em pilotis (SQN 408)................................................................................ 103
Figura 73 - Guarita de vigilância (SQN 408).............................................................................. 103
Figura 74 - Garagem em pilotis (SQN 408)................................................................................ 103
Figura 75 - Garagem em pilotis (SQN 408)................................................................................ 103
Figura 76 - SQN 208 (acesso Leste).......................................................................................... 104
Figura 77 - Escola Canarinho..................................................................................................... 104
Figura 78 - Cerca de concreto (SQN 208, acesso Oeste)......................................................... 105
Figura 79 - Cerca de concreto (SQN 208, acesso Oeste)......................................................... 105
Figura 80 - Limite entre SQN 208 e CLN 208............................................................................ 106
Figura 81 - Entradas e saídas de garagens (SQN 208)............................................................. 106
Figura 82 - Câmera de vídeo (SQN 208)................................................................................... 106
Figura 83 - Cerca viva (SQN 208).............................................................................................. 106
Figura 84 - Parque infantil (SQN 208)........................................................................................ 107
Figura 85 - Quadra de esportes (SQN 208)............................................................................... 107
Figura 86 - SQN 208 (acesso Oeste)......................................................................................... 107
Figura 87 - SQN 208, acessos norte sul, leste e oeste (imagem aérea)................................... 107
Figura 88 - SQN 208 (acesso Norte).......................................................................................... 107
Figura 89 - SQN 208 (acesso Leste).......................................................................................... 107
Figura 90 - SQN 208 (acesso Sul)............................................................................................. 107
Figura 91 - Obstrução: Jardins (SQN 208)................................................................................. 108
Figura 92 - Obstrução: Cerca viva (SQN 208)........................................................................... 108
Figura 93 - Obstrução: Bancos (SQN 208)................................................................................ 108
Figura 94 - Obstrução: Cerca viva (SQN 208)........................................................................... 108
Figura 95 - Obstrução: Cerca viva (SQN 208)........................................................................... 108
Figura 96 - Desnível de acesso a edifício (SQN 208)................................................................ 108
Figura 97 - Desnível de acesso a edifício (SQN 208)................................................................ 108
Figura 98 - Desnível de acesso a edifício (SQN 208)................................................................ 108
Figura 99 - Desnível de acesso a edifício (SQN 208)................................................................ 108
Figura 100 - Desnível de acesso a edifício (SQN 208)................................................................ 108
Figura 101 - Pichações (SQN 408).............................................................................................. 111
Figura 102 - Ausência de manutenção e limpeza (SQN 408)...................................................... 111
Figura 103 - Vegetação (SQN 408).............................................................................................. 111
Figura 104 - Escola Classe (SQN 408)........................................................................................ 111
Figura 105 - Jardim (SQN 408).................................................................................................... 112
Figura 106 - Jardim (SQN 208).................................................................................................... 112
Figura 107 - Área 1 (vista aérea)................................................................................................. 115
Figura 108 - Área 1 (vista aérea)................................................................................................. 115
Figura 109 - Vegetação (Área 1)................................................................................................. 116
Figura 110 - Ausência de zonas de estar (Área 1)...................................................................... 116
Figura 111 - Espaços subutilizados (Área 1)............................................................................... 116
Figura 112 - Espaços sem apropriação (Área 1)......................................................................... 116
Figura 113 - Mobiliário e j
ardins (Área 1)..................................................................................... 117
Figura 114 - Telefone público (Área 1)......................................................................................... 117
Figura 115 - Comércio limítrofe (Área 1)...................................................................................... 117
Figura 116 - Mobiliário e jardins (Área 1)..................................................................................... 117
Gráfico 1 - Acompanhamento mensal de roubo em comércio (2.ª D.P.)................................... 87
Gráfico 2 - Criminalidade por dia da semana e faixa horária (2.ª D.P.)..................................... 88
Gráfico 3 - Ocorrências por natureza do crime (SQN’s e CLN’s).............................................. 92
Gráfico 4 - Número de ocorrências criminais nas SQN’s.......................................................... 92
Gráfico 5 - Dez principais áreas de ocorrências criminais (SQN’s e CLN’s)............................. 93
Gráfico 6 - Número de ocorrências criminais nas SQN’s 400................................................... 94
Gráfico 7 - Comparativo entre ocorrências criminais (SQN’s 409, 408, 412 e 208).................. 94
Quadro 1 - Dispositivos físicos e funcionais de segurança no espaço público
excludente................................................................................................................ 43
Quadro 2 - Espaços que estimulam a permanência e a interação social.................................. 57
Quadro 3 - Aplicabilidade dos materiais de pavimentação........................................................ 62
Quadro 4 - Elementos físicos e ambientais propiciadores da sensação de conforto
nos ambientes externos........................................................................................... 65
Quadro 5 - Dispositivos físicos e funcionais para obtenção de segurança no
espaço público......................................................................................................... 73
Quadro 6 - Elementos condicionantes da acessibilidade nas Superquadras............................ 82
Quadro 7 - Elementos condicionantes da acessibilidade na SQN 408...................................... 102
Quadro 8 - Elementos condicionantes da acessibilidade na SQN 208...................................... 107
Quadro 9 - Avaliação da presença (P) e da ausência (A) de dispositivos físicos e
funcionais de segurança na SQN 408 e SQN 208
(critérios excludentes).............................................................................................. 109
Quadro 10 - Avaliação da presença (P) e da ausência (A) de dispositivos físicos e
funcionais de segurança na SQN 408 e SQN 208
(critérios inclusivos)................................................................................................. 110
Quadro 11 - Ficha bioclimática da Área 1.................................................................................... 118
LISTA DE TABELAS
1 - Número de crimes em relação à faixa horária e o dia da semana (Asa Norte)....... 88
SUMÁRIO
1 SUSTENTABILIDADE E SEGURAA: UMA INTRODUÇÃO............................................. 12
2 CRIME E ESPAÇO: MOTIVAÇÕES E MÉTODOS................................................................. 17
3 VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE NO ESPAÇO PÚBLICO..................................................... 23
4 O PAPEL DO DESENHO URBANO NA PROMOÇÃO DA SEGURANÇA
NAS CIDADES........................................................................................................................ 29
4.1 Urbanismo e segurança.......................................................................................................... 29
4.2 O papel da oportunidade na ocorrência de crimes................................................................. 35
4.3 Espaços excludentes x espaços inclusivos............................................................................ 42
5 A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO ESPAÇO PÚBLICO PARA
A PROMOÇÃO DA
SOCIABILIDADE E DA SEGURANÇA...................................................................................46
6 ATRIBUTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS QUALIFICADORES DO ESPAÇO PÚBLICO......... 52
6.1 Bioclimatismo e a escala do usuário: uma aproximação possível........................................... 52
6.2 Variáveis físicas e ambientais associadas à sensação de conforto no espaço público.......... 59
6.3 Recomendações para a obtenção de sensação de conforto................................................... 63
7 VARIÁVEIS FÍSICAS, AMBIENTAIS E FUNCION AIS ASSOCIADAS À SEGURAA. ...... 68
8 AS SUPERQUADRAS DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA.................................................. 74
8.1 A proposta de Lucio Costa....................................................................................................... 74
8.2 O conflito entre a proposta de Lucio Costa e a forma de apropriação da comunidade........... 78
8.3 Notas sobre a acessibilidade nas Superquadras..................................................................... 80
9 CRIMINALIDADE NAS SUPERQUADRAS DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA
.................. 85
9.1 Especificação das ocorrências criminais objeto da pesquisa.................................................. 85
9.2 Estatísticas criminais no âmbito da Asa Norte......................................................................... 86
9.3 As Superquadras mais vulneráveis.......................................................................................... 91
10 ENCAMINHAMENTOS PARA A ÁREA DE ESTUDO: SQN 408 E SQN 208........................ 97
10.1 Métodos e procedimentos para pesquisa de campo.............................................................. 97
10.2 Levantamento dos aspectos físicos, ambientais e funcionais da SQN 408............................. 99
10.3 Levantamento dos aspectos físicos, ambientais e funcionais da SQN 208............................. 104
11 OLHARES COMPARATIVOS: SQN 408 X SQN 208............................................................. 109
12 DIRETRIZES PAR A A ÁREA 1............................................................................................... 115
13 CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 121
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 124
ANEXOS............................................................................................................................................ 131
ANEXO A – Criminalidade na Asa Norte: SQNs e CLNs / Jan. a Out. 2007
ANEXO B – Criminalidade na Asa Norte: SQNs / Jan. a Out. 2007
ANEXO C – Criminalidade na Asa Norte: CLNs / Jan. a Out. 2007
ANEXO D – Criminalidade na Asa Norte: SQNs e CLNs 2007 (ocorrências mensais)
12
1 SUSTENTABI LIDADE E SEGURANÇA: UMA I NTRODUÇÃO
Viver nas cidades traz em si uma procura. Poder-se-ia dizer que essa busca
humana engloba a facilitação do acesso à saúde, educação, saneamento, moradia,
entre outros. Porém, o grande salto no crescimento populacional nas últimas
décadas, aliado à ocupação urbana desordenada, tem provocado, em conjunto com
o uso indiscriminado dos recursos naturais uma peculiar desarmonia nas relações
homem-natureza e homem-homem.
Como resultado desse desequilíbrio, surgem em toda parte do globo
alterações climáticas, extinção de espécies, de corpos d’água, de habitats naturais e
esgotamento dos recursos, comprometendo a vida na Terra. No âmbito das cidades,
os problemas são viveis: surgimento de assentamentos irregulares e em áreas de
risco, inexistência de infra-estrutura para toda população, poluição automotiva e
industrial, desemprego e má distribuição de renda. Além disso, a velocidade das
trocas de informações, especialmente das trocas culturais, coloca o homem
contemporâneo em uma situação de exposição constante e simultânea a uma vasta
gama de acontecimentos mundiais, fazendo com que sua interação com o mundo,
positiva ou negativa, seja cada vez maior.
A crise do petróleo na década de 1970 despertou o interesse em pesquisas
para a obtenção de fontes energéticas alternativas e desvinculadas das fontes não
renováveis. Embora esses “novos olhares” se baseassem em questões de estratégia
política e econômica, foi grande o impacto causado pela convergência de interesses
ambientais e sociais acerca dessa temática (RUANO, 1999, p. 8-9).
O efeito dessas preocupações passou a receber destaque perante o cenário
mundial com o apoio de pesquisadores e grupos de ativistas ambientais, os quais
contribuíram para o surgimento de ações como “O Dia da Terra”, instituições como o
The World Wildlife Found (WWF) e o Greenpeace.
O envolvimento de diversas camadas políticas e sociais em torno do
diagnóstico, prevenção e resolução dos emergentes problemas sócio-ambientais,
fez-se presente na Primeira Cúpula Mundial do Meio Ambiente (ECO-92), realizada
no Rio de Janeiro e da qual participaram 172 Estados.
13
Em resposta, a partir de então, o mundo vivencia o estabelecimento de um
novo paradigma calcado sob o termo sustentabilidade, que vem à tona com o intuito
de propor melhorias na qualidade de vida do homem atual e garantir qualidade de
vida para as gerações futuras. Para tanto, acredita-se que buscar alternativas que
visem à preservação dos recursos advindos da natureza é tarefa primordial.
Entretanto, a busca pela qualidade de vida não se restringe às questões
ambientais, pois perpassa também pelos aspectos que dizem respeito às relações
sociais do habitat humano por excelência: a cidade.
Essas questões vêm sendo tratadas em reuniões de caráter mundial, dentre
as quais obtém destaque a Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos
Humanos realizada em 1996, denominada Habitat II, que é produto da evolução de
uma série de conferências globais inauguradas pela Organização das Nações
Unidas, dentre as quais a já citada ECO-92.
O tema da Habitat II centrou-se na “Adequada Habitação para Todos e no
Desenvolvimento de Assentamentos Humanos em um Mundo em Urbanização”,
tendo por objetivo principal a adoção da Agenda Habitat, ou UNCHS (United Nations
Center of Human Settlements)
1
que consiste em um conjunto de princípios, metas e
compromissos, visando orientar a melhoria dos assentamentos humanos no planeta.
Uma das formas utilizadas na Conferência para fomentar o debate e a troca
de experiências foi a promoção de uma chamada internacional dirigida aos Estados,
também conhecida por Best Practices, que, juntamente com o programa de
Indicadores Urbanos, tornou a UNCHS uma referência global sobre o habitat
humano.
A partir de então, houve uma mudança em relação à maneira de pensar e
interferir nas cidades, na medida em que se passou a priorizar as questões relativas
aos centros urbanos e a buscar compromissos que levem à melhoria das condições
onde vivem e trabalham tais populações.
Novos desafios foram gradualmente incorporados nas discussões que
envolveram o desenvolvimento das cidades, como destacam Rolnik e Saule (1997,
p. 15):
A dimensão dos problemas urbanos e a própria urbanização acelerada de
todo o planeta foi, ao longo destes vinte anos, trazendo para o Habitat
1
Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos.
14
novas questões: a irregularidade e precariedade dos assentamentos
populares em todo o mundo pobre, a necessidade de expansão das infra-
estruturas e dos serviços urbanos, a nova escala dos problemas de
transportes e acessibilidades, o armazenamento, abastecimento e utilização
de energia e água, o controle e tratamento de resíduos, a poluição
ambiental decorrente da própria expansão urbana, o crescimento da
pobreza, da falta de empregos e de renda, o aumento da violência, o
acirramento dos conflitos de terra e despejos ilegais.
Nesse sentido, Machado Filho (1998, p. 156) complementa acerca da
Agenda Habitat:
O texto do documento evidencia que a sustentabilidade do meio ambiente
global não é possível ser atingida a não ser que, entre outros fatores, se
logre alcançar assentamentos humanos, sejam rurais, sejam urbanos, onde
haja um ambiente econômico e socialmente sadio em harmonia com o meio
ambiente e com o amplo respeito à diversidade, e à herança cultural,
religiosa e natural.
Referida qualidade de vida inclui-se na abrangência de significados
pertinentes ao termo sustentabilidade, que além de visar à preservação dos recursos
do planeta, objetiva também e fundamentalmente a inclusão social e a promoção da
cidadania.
Nesse tocante concorda Guimarães (1997, p. 16-17), quando diz ser
fundamental constatar que as conseqüências ambientais relativas à utilização dos
recursos do planeta revelam a estrutura e o padrão das relações sociais entre os
próprios seres humanos; e que os problemas ecológicos e ambientais revelam
problemas de um desenvolvimento desigual para as sociedades humanas e, ao
mesmo tempo, nocivos para os sistemas naturais.
Nesse grande arcabouço temático, promovido pelo vocábulo
sustentabilidade, encontram-se estudos que se referem às trocas sociais e culturais,
às práticas que favorecem a democracia, o respeito pelas diferenças, o culto à
diversidade, à convivência e à segurança nas cidades.
Dentre os problemas presentes nas cidades atuais, o aumento da violência
e da criminalidade urbana tem sido tema recorrente tanto para os estudiosos como
para a própria população. Referida temática encontra-se no topo das preocupações
políticas e sociais e demanda soluções, que por sua vez requerem investimentos em
políticas públicas que busquem a erradicação da pobreza, do desemprego, das
desigualdades sociais, da falta de moradia e da falta de acesso à educação e saúde.
15
Por conseguinte, o estudo da violência urbana, atualmente, apresenta-se
como um grande desafio face ao crescimento exacerbado da população mundial e
ao adensamento das cidades. Segundo Farias (2005, p. 168), estando a população
humana concentrada no ambiente urbano, a correlação entre o planejamento urbano
e a violência tornar-se primordial, sobretudo nas manifestações de violência contidas
na criminalidade urbana.
Em concordância com o alcance da problemática da segurança, Moura
(2006, p.6) destaca:
“Termos como insegurança, violência, medo, risco e perigo fazem parte de
um domínio semântico que tem sido empregado de forma crescente para
descrever a vida urbana. Estudos em todos os continentes identificam
processos de crescente segregação espacial e tensões sociais que elegem
os espaços urbanos como palco de batalha”.
Manifestações de violência, tais quais roubos, furtos, homicídios, estupros,
atos de vandalismo e dano ao patrimônio, relacionam-se de modo freqüente ao
âmbito urbano e ocorrem nos espaços públicos e privados das cidades. São
manifestações que desencadeiam também a presença do medo e, em conjunto, os
dois fatores promovem graves restrições à população, cujas atividades cotidianas,
possibilidades de interação, de trabalho, de lazer e de educação, são cerceadas.
Modificações no desenho urbano e nas concepções de projetos
arquitetônicos atuais, como é o caso dos condomínios fechados, são outros
aspectos que evidenciam a influência da criminalidade e da sensação de
insegurança no comportamento humano.
Diversos campos científicos dedicam-se ao estudo da violência urbana,
especialmente a sociologia, geografia, antropologia, filosofia e psicologia. De
maneira ampla, referidas áreas do conhecimento correlacionam a criminalidade a
indicadores socioeconômicos tais como: grau de escolaridade e de renda, acesso à
saúde e presença de infraestrutura, ou seja, buscam explorar as origens e causas
da criminalidade e propor formas estruturais de controlá-la.
Entretanto, há uma lacuna nas arenas ocupadas pelo estudo da arquitetura
e do urbanismo, caracterizadas especialmente pela promoção de interferências
físicas no âmbito urbano, pois se encontram ainda em formação frente a essa
problemática, onde a parcela de arquitetos e urbanistas que se dedica
especificamente ao tema ainda é pequena, sobretudo no Brasil.
16
Isso se deve, em grande parte, ao fato de que embora sejam observadas ao
longo da história modificações no espaço físico como estratégia componente do
controle da criminalidade, a idéia de que o ambiente físico influencia o
comportamento criminoso é recente, logo, as pesquisas relativas ao tema também o
são (BRANTINGHAM; BRANTINGHAM, 1993, p. 3).
Referida constatação torna necessários e contributivos estudos vinculados
ao campo da segurança ambiental e justifica a presente pesquisa, especialmente
porque o projeto de espaços urbanos, delegado à profissão de arquiteto e urbanista,
não se restringe apenas às modificações físicas do espo, mas também às
conseqüências sociais, econômicas e culturais geradas por essas interferências,
atribuindo grande responsabilidade à essa parcela profissional que atua diretamente
no desenho dos espaços urbanos.
Dentre os espaços pertinentes ao âmbito urbano, aqueles entendidos como
de uso público possuem intensa relevância para a temática objeto da presente
pesquisa, conforme explicitado nas palavras de Rogers e Gumuchdjian (2001, p.
152):
...um espaço público seguro e não excludente, em todas as suas formas
desde os grandiosos até os mais íntimos, é fator essencial para a
integração e coesão social. A democracia encontra sua expressão física nos
espaços multifuncionais de domínio público, na vitalidade de suas ruas [...]
somos, talvez, a primeira geração compromissada com a igualdade de
direitos e, portanto, a geração que tem que enfrentar o desafio de criar uma
esfera pública verdadeiramente não excludente e acessível a todos
devemos insistir nas tentativas de desenvolver essa instituição para refletir a
nova era.
Verifica-se, portanto, o efeito positivo da composição de ambientes públicos
seguros, não excludentes e acessíveis, para as possibilidades de enriquecimento
social, melhorias na qualidade de vida e formação de cidades mais democticas. Ao
mesmo tempo, constata-se a vulnerabilidade de referidas prerrogativas perante o
esvaziamento ou subutilização dos espaços públicos, grande parte em decorrência
da criminalidade presente nesses espaços, ou da sensação de insegurança por eles
transmitidos.
Com esse pensamento, foi eleito o estudo do desenho dos espaços
públicos, como instrumento dirigido à busca da segurança, do controle da
criminalidade e da melhoria na qualidade de vida dos cidadãos, sem contudo,
comprometer as relações espontâneas e cercear as trocas socioculturais.
17
2 CRIME E ESPAÇO: MOTIVAÇÕES E MÉTODOS
A segurança expressa no desenho urbano, ou nas edificações, sempre
esteve presente ao longo da história, sobretudo, do ponto de vista da segurança
militar. Exemplos disso são os fossos dos castelos, as fortificações e muralhas,
normalmente voltados para a proteção contra inimigos externos. A partir do
momento em que houve uma crescente migração do campo para as cidades, e
estas passaram a contar com uma população cada vez maior, a preocupação em
relação à segurança passou a voltar-se conjuntamente para o controle social urbano
(ALMADA, 2006b, p. 1). Consequentemente, estudos e observações voltados para a
correlação entre crime e espaço passaram a constituir-se de forma mais sistemática.
Ciente da importância do espaço público para a democracia e a qualidade
de vida nas cidades, é grande a preocupação atual quanto ao seu desvanecimento,
fruto de sua desqualificação e da presença de atividades delitivas. Nesse sentido,
buscar a implementação de medidas que contribuam para elucidar vínculos
existentes entre crime e espaço passa pelos seguintes questionamentos:
a) há relação entre ocorrências criminais e o uso dos espaços?
b) o tratamento e a manutenção dada ao ambiente físico dos espaços
públicos das cidades interfere no controle da criminalidade?
c) é possível criar espaços mais seguros por meio de modificações no
desenho urbano?
d) como o urbanista pode intervir e propor melhorias espaciais que
desestimulem a prática de ilícitos, inclusive perante crimes motivados
simplesmente pelas oportunidades físico-espaciais?
De forma a apoiar-se na hipótese de que determinadas variáveis físicas,
ambientais e funcionais dos espaços públicos (tais como o uso, a manutenção, o
desenho, a sensação de conforto e a acessibilidade) têm a capacidade de contribuir
para a inibição de crimes e delitos, de propiciar a sensação de segurança e a
apropriação desses espaços pela comunidade, o obj etivo específico propositivo da
presente pesquisa centra-se em formular critérios de desenho e de uso dos espaços
sob o prisma da variável segurança.
18
Ao mesmo tempo, selecionado um espaço público considerado vulnerável
sob o ponto de vista de ocorrências de determinados tipos de crimes, a pesquisa
tem o propósito de apresentar diretrizes de desenho que outorguem maior
segurança para esse local.
Dentro desse pressuposto, a primeira etapa metodológica abarcou uma
apreciação teórica dos conceitos referentes à violência, criminalidade, segurança e
recuperação do espaço público, tendo por base teórica: Farias (2005), Michaud
(1989), Vasconcelos e Costa (2005), Jesus (1999), Costa Jr. (2003), Queiroz e
Lacerda (2005), Petrella e Vanderschueren (2003), Davis (1993), Almada (2006a;
2006b), Sennett (1988; 1991), Borja (2003), Ghel e Gemzoe (2002), Ghel e Soholt
(2002) e Romero (2000; 2001).
A seguir, foi feita a revisão bibliográfica acerca da influência do desenho e
do uso dos espaços na ocorrência de crimes onde foram utilizadas as seguintes
fontes: Felson e Clarke (1998), Beato F., Peixoto e Andrade (2004), Jane Jacobs
(2000), Oscar Newman (1973; 1995; 1996), Bill Hillier (1973; 2004), Fundación Paz
Ciudadana (2003a, 2003b), Patricia e Paul Brantingham (1993) e Shaftoe (2007).
É necessário destacar que, nessa ocasião, verificou-se a necessidade de
ampliar e enriquecer esse arcabouço teórico, haja vista as recomendações e
práticas sugeridas abarcarem alterações quanto ao uso, manutenção e manipulação
das características físicas dos espaços, omitindo a influência das questões
ambientais para a sua qualificação.
De forma a preencher essa ausência, o trabalho voltou-se, conjuntamente,
para pesquisas referentes à sensação de conforto e acessibilidade nos espaços
públicos, onde parâmetros avaliativos foram construídos com base no trabalho de
autores tais quais: Romero (2000; 2003), Romero et al. (2004), Almeida (1999), Ghel
e Gemzoe (2002), Ghel e Soholt (2002).
O referencial teórico reunido até então resultou na formulação de quadros
utilizados para a coleta e análise de dados pertinentes ao estudo de caso dessa
pesquisa.
Foram utilizadas também, nessa etapa, com alterações substanciais, as
tabelas construídas durante o curso de estágio docente da autora
2
, no âmbito da
2
No intercurso das aulas, diversos aspectos relacionados às características físico-ambientais das
Superquadras foram abordados, sobretudo aqueles referentes à acessibilidade, sustentabilidade
19
disciplina de graduação intitulada “Estudos Ambientais” na Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo - UnB, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Marta Adriana Bustos Romero, com
vistas a realizar análises relacionadas à acessibilidade.
Sobre a escolha do estudo de caso, a necessidade de aplicação e
verificação das premissas constantes nos quadros formulados induziu à escolha de
um sítio específico, onde pudessem ser feitos levantamentos in loco, de forma a
constatar a efetividade das recomendações na promoção de espaços seguros. Além
disso, o local eleito para estudo de caso deveria apresentar problemática compatível
com a proposta da pesquisa, para que pudessem ser sugeridas diretrizes
adequadas.
Nesse tocante, o Plano Piloto de Brasília, elaborado pelo urbanista Lucio
Costa, apresenta peculiaridades exclusivas não encontradas em outras cidades e
que a tornam única. Dentre as suas características relevantes podem ser
destacadas:
a) nítida setorização das atividades, evidenciada na escolha dos usos
dispostos ao longo dos dois grandes eixos rodoviários e também na
clara demarcação e separação entre as áreas residenciais e comerciais;
b) área residencial composta por Superquadras caracterizadas por edifícios
sob pilotis, conferindo permeabilidade e possibilidades de acessibilidade
aos espaços públicos internos;
c) edifícios residenciais contendo térreo público, fator a permitir a
conformação de um grande espaço destinado à coletividade.
d) para a parte residencial, também foram previstas grandes áreas verdes,
comércio local, equipamentos públicos de suporte à educação, saúde e
lazer. São atributos que propiciam a existência de atividades bastante
diversificadas e concentradas, de modo a formar um pano de fundo
urbano rico, com o propósito de fornecer conforto e qualidade de vida ao
morador.
e qualidade de vida no espaço público das quadras residenciais e comerciais do Plano Piloto de
Brasília.
A temática motivou o interesse dos alunos da disciplina, resultando na elaboração de um sistema
de coleta, arquivamento e análise das características das Superquadras. Tabelas foram
desenvolvidas a partir de tais quadrantes com o auxílio de monitores, tutores e estagiários ao
longo dos anos 2005 e 2006, em prol da observação e avaliação das Superquadras sob o ponto
de vista da acessibilidade.
20
Por essas razões acredita-se que a Superquadra configura-se como locus
favorável à análise das questões relacionadas à segurança, pois permite
correlacionar criminalidade aos seguintes fatores:
a) desenho, qualidade e manutenção dos seus espaços públicos;
b) usos e tipos de atividades presentes nas quadras residenciais e
comerciais;
c) singularidade das características de acessibilidade propiciadas pelos
pilotis.
Essas motivações tornam-se ainda mais justifiveis, devido ao fenômeno
atual de fechamento de porção dos pilotis por meio de cercas e grades, sob a
alegação de contribuir para a segurança e o controle social desses espaços.
Conjuntamente, foi constatada a ocupação do térreo dos edifícios por
bicicletários, salões de festas, academias de ginástica e brinquedotecas, a
configurar fator restritivo da acessibilidade ao longo das quadras para os pedestres e
da amplitude visual, contribuindo para a formação de espaços ora labirínticos, ora
excludentes.
Além disso, verifica-se a crescente implantação de mecanismos de controle
social e de segurança privada nos pilotis dos edifícios tais como guaritas e câmeras
de vigilância, o que evidencia claramente o problema da criminalidade a partir do
uso de referidos mecanismos de proteção.
Optou-se por focar o estudo de caso nas Superquadras da Asa Norte, por
encontrarem-se ainda em fase de consolidação, apresentando vazios urbanos,
quadras incompletas e comércio local ainda em estágio de implantação e
desenvolvimento. São esses fatores que acarretam a tendência à subutilização e
apropriação indevida dos espaços.
Portanto, o presente trabalho empenhou-se em analisar o número de
ocorrências policiais nas Superquadras da Asa Norte, relacionadas aos crimes de
roubo, furto e dano ao patrimônio público, verificadas no período de janeiro a
outubro de 2007. Referida análise, permitiu constatar que a SQN 408 e a SQN 208,
apesar de serem quadras residenciais vizinhas, apresentavam grande
discrepância quanto ao número de registros criminais perante a Secretaria de
Segurança Pública do Distrito Federal.
21
A partir de tal constatação estatística, questionou-se as razões motivadoras
e se estariam relacionadas às características de desenho urbano e de uso das
quadras residenciais em questão.
Posteriormente à coleta e análise de dados extraídos da SQN 408 e da
SQN 208, foi feito um diagnóstico dos aspectos físicos relacionados ao desenho e
ao uso dessas quadras para efeito comparativo.
Em sede de conclusão, foram elaboradas diretrizes com vistas à
intervenção em local considerado vulnerável, localizado em um ponto limítrofe da
SQN 408, denominado “Área 1”, com o intuito de contribuir para a segurança
espacial, sob o prisma da sustentabilidade e das instruções urbanísticas traçadas
por Lucio Costa.
Foram incorporadas no embasamento das diretrizes, a aplicação da Ficha
Bioclimática
3
e as recomendações do CPTED
4
disponíveis no Manual “Espacios
Urbanos Seguros”, desenvolvido pela Fundacion Paz Ciudadana do Chile.
5
.
Ainda no tocante à concepção das Superquadras e à legislação vigente,
foram estudados autores como Carpintero (1998; 2005), Ficher (2004; 2005),
Holanda e Barcelos (2003) e Romero (2000; 2001), além do Relatório para o Plano
Piloto de Brasília elaborado por Lucio Costa (DISTRITO FEDERAL, 1991).
Importante ressaltar que a presente pesquisa não pretende desviar a origem
da criminalidade das razões sociológicas, especialmente tendo em vista que os
estudos que buscam as origens e causas dos crimes urbanos vinculam-nas a
condições sociais, econômicas e culturais específicas de cada comunidade. A
afirmação de que o espaço isoladamente gera o crime é assertiva que não se
pretende fazer aqui.
3
Método desenvolvido por Romero (2001) que considera que os espaços públicos devem ser
estudados como unidades arquitetônicas. Estabelece método de análise e intervenção ambiental,
com o objetivo de se conhecer o grau de adequação das necessidades ambientais dos espaços
examinados ao lugar e às exigências de permanência e utilização dos usuários.
4
Acrônimo para “Crime Prevention Through Environmental Design” ou “Prevenção do Crime
Mediante o Desenho Ambiental”. É uma abordagem que defende a manipulação do ambiente
físico com finalidade de induzir comportamentos que contribuirão para a redução de incidências e
medo do crime.
5
Este documento caracteriza e define problemas relacionados à segurança e apresenta exemplos
de boas e más práticas, oferecendo, posteriormente, recomendações de desenho. Os espaços
urbanos analisadas pelo manual são: residências, edifícios residenciais, jardins, ruas comerciais,
estacionamentos residenciais, mobiliário urbano, equipamentos urbanos, praças, parques, lotes
vazios e galerias para passagem subterrânea.
22
Não se cogita em conjunto, defender a ocorrência delitiva exclusivamente
vinculada à morfologia espacial. Pretende-se constatar que o desenho dos espaços
urbanos pode facilitar uma ação criminosa que já se encontrava motivada por razões
diversas e presentes na intenção do indivíduo ofensor, no momento em que se
depara com um desenho espacial favorável para a execução do crime, ou seja,
quando se depara com a oportunidade físico-espacial propiciadora da prática do ato
ilícito.
23
3 VIOLÊNCIA E CRIMINALIDADE NO ESPAÇO PÚBLICO
Para a presente pesquisa, configura-se de extrema importância estabelecer
os conceitos de violência, quais são as variáveis associadas à criminalidade no
espaço urbano, a classificação dos tipos de crime que se pretende abordar e os
conceitos dicotômicos de segurança e insegurança.
Haja visto que o vocábulo “violência” abrange uma série de definições,
toma-se por conceito-base aquela estabelecida por Michaud (1989, p. 11):
Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores
agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a
uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física,
seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações
simbólicas e culturais.
Segundo o mesmo autor, a violência é representada por fenômenos tais
como guerras, violência política, criminalidade e viol ência da vida, esta
relacionada a aspectos do cotidiano, próprios de determinadas sociedades, grupos
sociais ou condições sociais.
Ressalte-se que “violência” é um conceito social, enquanto que “crime” é um
conceito de natureza jurídica; são fenômenos correlatos, contudo, não devem ser
confundidos (VASCONCELOS; COSTA, 2005, p. 34).
Sob o ponto de vista jurídico, o direito penal estabelece dois tipos de
conceituação de crime que se sobressaem (JESUS, 1999, p. 150-154):
a) formal onde o crime é um fato típico, um comportamento humano
positivo ou negativo - de ação ou omissão - que provoca um resultado e
é previsto na lei como infração;
b) material onde o crime é a violação de um bem penalmente protegido.
Neste sentido, para que ocorra crime é preciso que exista uma conduta
humana. Entretanto, nem todo comportamento do homem constitui um delito,
somente aquele que está descrito na lei penal. Além disso, o fato deve ajustar-se à
norma, ou seja, deve ser típico e contrário ao direito (antijurídico).
Dentre os diversos crimes urbanos que afligem a sociedade, segundo o
Código Penal Brasileiro (Decreto-lei nº 2.848/1940) encontram-se os Crimes contra o
24
Patrimônio, em especial furto, roubo e dano; os Crimes contra os Costumes, como o
estupro e o atentado violento ao pudor; e os Crimes contra a Vida, dentre eles o
homicídio.
Referidas infrações penais representam a maioria das considerações sobre
a violência nas cidades, cujas implicações promovem a difusão do sentimento de
insegurança na população, como destaca Petrella e Vanderschueren (2003, p. 218):
“La sensasión de inseguridad deriva de um sentido de abandono, de impotencia e
incompresión respecto de algunos delitos particularmente graves, pero sobre todo
de episodios de delincuencia menor y vandalismo”.
Para a Fundación Paz Ciudadana (2003a, p. 10-11), a insegurança é um
sentimento associado à crença na probabilidade de tornar-se vítima e na sensação
de impotência frente aos potenciais ofensores. Entretanto, esse sentimento de
insegurança, ou medo de ser vitimado, não se restringe àqueles que efetivamente
sofreram algum tipo de ofensa, surge também entre os que se sentem excluídos.
Cabe frisar, nesse momento, que mesmo o sentimento de insegurança
requer intervenções no espaço. Em diversos casos, a comunidade apercebe-se da
natureza insegura de determinados locais, como exemplo de praças mal iluminadas,
sem, contudo, haver justificativa real para tal percepção, haja vista não existir
ocorrência delitiva concreta nesta área.
Entretanto, o descaso em solucionar referido problema acarreta a não
utilização do local ou seu desvio funcional; ele se torna abandonado e passível de
abrigar atividades criminosas.
Determinados espaços urbanos tais como passagens subterrâneas para
pedestres, ruas mal iluminadas ou escuras, regiões desertas ou pouco
freqüentáveis, embora possam configurar-se seguros por não apresentarem efetivas
ocorrências criminais, são percebidos na condição de espaços inseguros devido à
composição do ambiente.
Em via de conseqüência, esse sentimento de insegurança provoca o
abandono de bairros, o surgimento da chamada “arquitetura do medo” (DAVIS,
1993), a segregação de áreas ou grupos populacionais e o surgimento de justiça
espontânea.
Sobre esse tema, Queiroz e Lacerda (2005) analisam as conseqüências que
o medo da violência reflete na produção e organização social urbana, relatando que,
ao se estabelecer uma cultura do medo nas sociedades contemporâneas, a mesma
25
pode ser utilizada para a firmação de estratégias de controle e dominação social e
política. Destacam também que o medo manifesta-se no tecido sócio-espacial da
cidade, provocando o esvaziamento do espaço público e ocasionando a
subseqüente quebra dos laços de reciprocidade e a fragmentação do tecido urbano.
Em contrapartida, o aumento do medo e da criminalidade urbana promove o
aumento expressivo de empresas de segurança privada. A segurança, então, passa
a ser um produto de mercado, um serviço privatizado, que surge como complemento
da responsabilidade exclusiva da esfera pública estatal.
6
Visto dessa maneira, a segurança não é acessível a todos
indiscriminadamente e a criminalidade passa a atingir de modo direto os grupos
sociais economicamente menos favorecidos e excluídos, conforme também afirmam
Petrella e Vanderschueren (2003, p. 220): “La privatización de la seguridad se basa
en un postulado implícito: el grado de seguridad que se obtiene es proporcional al
precio que se paga”.
Além do surgimento das empresas de segurança privada, programas
governamentais também têm sido destaque na luta pela contenção do crime. Em via
de exemplo, pode citar-se o programa “Tolerância zero” instituído pelo
Departamento de Polícia de New York durante o mandato do prefeito Rudolph
Giulliani em 1994. Esse programa baseia-se na premissa, segundo a qual, a falha
em lidar prontamente ao menor sinal de decadência ou de criminalidade em
determinada comunidade revela uma aparente falta de controle local, fator que
estimula a presença de ofensores e acarreta um processo crescente de
degeneração.
Os elementos contribuintes para o aumento da criminalidade urbana podem
ser encontrados nos aspectos sociais, institucionais e naqueles relacionados ao
ambiente físico. Em relação aos aspecto s sociais destacam-se a exclusão social, a
marginalização de grupos sociais, baixos níveis de escolaridade, analfabetismo,
relações familiares problemáticas, dificuldades em se adequar ao mercado de
6
A segurança pode ser compreendida como sinônimo de certeza e também como ausência de
riscos ou ameaças que, não se restringe à dimensão biológica do homem, motivada
exclusivamente por necessidades de proteção e subsistência, mas abrange também a
convivência com seus semelhantes (FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 10).
A idéia de segurança também se vincula ao conceito de ordem e ao funcionamento regular e
estável das regras sociais, ficando ameaçada quanto ocorre uma transformação das regras de
convivência social. Nas últimas décadas a ideologia da segurança vem se tornando mais explícita
no campo da segurança patrimonial e pessoal (ALMADA, 2006a, p. 1).
26
trabalho e diferenças socioculturais conflitantes, assim como uma grande
heterogeneidade de valores sociais dentro de uma mesma comunidade, provocando
a perda de referenciais comuns e causando uma maior tolerância em
comportamentos considerados anti-sociais (PETRELLA; VANDERSCHUEREN,
2003, p. 216 - 217).
Dentre os problemas nomeados institucionais, podem ser elencados o
distanciamento entre a polícia e a comunidade, a inadequação da linguagem
utilizada pelo sistema judiciário para a população, lentidão no andamento dos
processos e o fortalecimento do sentimento de impunidade, quando a justiça se
mostra pouco eficaz na punição de crimes relacionados à lavagem de dinheiro,
crime organizado, corrupção e violação de direitos humanos.
Peluso e Tormin (2005, p.251-273) analisaram de que maneira problemas
de falta de emprego, ausência de infra-estrutura, exclusão e segregação contribuíam
para a ocorrência de violência em Luziânia, cidade do Entorno do Distrito Federal.
Para tanto, identificaram como representações sociais da vida urbana, grupos de
jovens advindos de núcleos espaciais distintos: centro e periferia.
Dentre as premissas que nortearam respectivo trabalho teórico, encontram-
se: a sensação de impotência e desamparo em relação ao mundo; a banalização da
violência em resposta a esse desamparo por parte dos sujeitos desterritorializados e
excluídos; e, por último, a materialização do fracasso por uma vida melhor por
intermédio da forma urbana, que se apresenta na condição de espaços segregados,
carentes de infra-estrutura e trabalho. São esses os aspectos com os quais os
indivíduos observados defrontam-se cotidianamente e, para afirmarem-se frente a
eles, respondem com violência.
Quanto aos aspectos ambientais, a criminalidade associa-se à percepção
de espaços descuidados, ou com determinadas características tais como a falta de
iluminação, de limpeza ou de manutenção. Sinais de desordem social ou física como
pichações,
7
janelas quebradas, equipamentos ou mobiliário público urbano atingido
por vandalismo, evidências de dejetos humanos e lixo nas ruas sinalizam um
ambiente que está fora do controle, destituído de previsibilidade e sem apropriação
da comunidade local, fatores propulsores da percepção de espaços sem vigilância e
7
O termo “pichações” utilizado no presente trabalho refere-se à configuração de dano ao
patrimônio público ou privado, de modo diverso do chamado “grafitismo”, o qual incorpora
manifestações artísticas com a anuência do proprietário da edificação.
27
propensos a ocorrências delitivas. (FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 10-
11; TIESDELL; OC, 1998, p. 641).
Um exemplo que ilustra a convergência de aspectos sociais, institucionais e
ambientais na instalação de um estado de violência urbana é o Jardim Ângela, bairro
da Zona Sul de São Paulo, considerado em 1996 pela Organização das Nações
Unidas região mais violenta do planeta (MONTEIRO FILHO, 2006).
Acredita-se que as causas da violência estão relacionadas, nesse caso, ao
alto índice de desemprego, à quebra de laços familiares, ao tráfico de drogas e à
privação de serviços básicos (água, luz, iluminação pública e calçamento).
Dentre as medidas aplicadas para a reversão do quadro de intensa
criminalidade na região, destacam-se (MONTEIRO FILHO, 2006):
a) articulação e mobilização de toda a comunidade em prol da redução da
criminalidade e da violência;
b) investimento em serviços básicos;
c) criação de policiamento comunitário, reforçando os laços entre a polícia
e a comunidade;
d) campanha de desarmamento;
e) instituição de lei seca, obrigando o fechamento de bares a partir das 23h.
Embora o Jardim Ângela continue a apresentar problemas relacionados à
miséria, desemprego e privação de direitos, referidas estratégias obtiveram êxito
parcial quando, em 2006, verificou-se o início de reversão do problema da violência
com a queda no número de homicídios em mais de 45% (MONTEIRO FILHO, 2006).
Os parágrafos anteriores mostraram que a presença e o aumento da
criminalidade nas cidades é uma inquietação constante da população, no rol de
fatores com potencial de atingir a qualidade de vida da sociedade. Além de
promover lesões pessoais ou patrimoniais, muitas vezes de difícil ou impossível
reparação, difunde a sensação de insegurança, sentimento que compromete as
relações comunitárias e, ao mesmo tempo, empobrece o espaço público.
Notadamente, estratégias de prevenção e controle da criminalidade urbana
não devem ater-se a apenas uma das suas possíveis causas. Considerar o conjunto
de origens e, ao mesmo tempo as particularidades no cenário urbano, afigura-se
fundamental.
Nesse sentido, a busca por soluções no combate à violência e à
criminalidade urbana deve examinar, de modo mais amplo possível, as
28
características de uma comunidade, sejam sociais, econômicas, institucionais,
culturais ou mesmo referentes a aspectos físicos e ambientais dos espaços em que
está inserida.
A análise do desenho urbano pode, inclusive, representar importante
ferramenta de auxílio em prol da segurança nas cidades, com será visto a seguir.
29
4 O PAPEL DO DESENHO URBANO NA PROMOÇÃO DA SEGURANÇA NAS
CIDADES
4.1 Urbanismo e segurança
Ao pretender investigar a relação existente entre segurança e
características físicas e ambientais presentes no desenho de espaços públicos
urbanos, faz-se necessário, no presente momento, ressaltar lineamentos a respeito
da história da criminologia relacionada a análises físico-espaciais, a partir dos
estudos de Chaguiboff e Bernard (1988).
Quando o estudo do crime começou a se desenvolver como ciência, a
ênfase das respectivas pesquisas era focada no fenômeno da criminalidade e no
efeito das sentenças judiciais e prisões na prevenção do crime. Na época da
chamada Criminologia Clássica (1800-1890), pesquisadores fizeram correlação
entre crime e território ao perceberem que os delitos não estavam distribuídos de
maneira uniforme no espaço: os crimes agressivos tendiam a ocorrer em áreas
rurais, enquanto que roubos e furtos eram mais freqüentes em áreas
industrializadas.
A Escola Positivista, do final do século XIX ao início do século XX,
concentrou sua atenção no indivíduo infrator, quando o livro do antropólogo criminal
italiano Cesare Lombroso intitulado “L’uomo Delinqüente”, de 1876, tornou-se uma
importante referência a todos que quisessem aprofundar-se no tema, criando uma
doutrina que associava as características físicas dos indivíduos à sua índole
criminosa imanente. Nesse período, as causas do crime encontravam-se todas
enraizadas na mente do ofensor: o comportamento criminoso era inato e hereditário,
sendo as estratégias de prevenção e controle baseadas na reeducação e
reabilitação do indivíduo.
A denominada Escola de Chicago (1920-1945) opôs-se ao enfoque
psicobiológico dado pela escola positivista, surgindo nesse período novos olhares
para a criminalidade com fulcro nos aspectos sociais e econômicos. A conexão entre
30
crime, sociedade, cultura e espaço ficou estabelecida no modelo de Burgess
8
, o qual
mostrava a formação das cidades por zonas concêntricas, divididas em tipo de uso
do solo e nível sócio econômico. De acordo com seus estudos, quanto mais longe
do centro da cidade, menor a pobreza, a densidade e a criminalidade.
A teoria de Burgess foi aplicada por pesquisadores na cidade de Chicago,
onde se confirmou referido comportamento espacial das ocorrências criminais,
tornando esses estudos mais conhecidos como “ecologia do crime”. Entretanto, tais
direcionamentos sofreram críticas da academia por não observarem formações de
cidades diferenciadas em outros países e por resumirem os criminosos a frutos
exclusivos do meio social.
A Escola de Chicago também analisou a ocorrência e a distribuição espacial
da criminalidade, propondo a elaboração de mapas e instrumentos que permitissem
obter a visualização dos problemas decorrentes da urbanização, sendo pioneira no
que hoje é chamado de “cartografia urbana” (FARIAS, 2005).
Na década de 1960, o ambiente e as características da cena do crime
passaram a compor novos estudos. Além dos fatores sociais e institucionais
anteriormente mencionados, variáveis físicas do espaço urbano foram incluídas na
condição de elementos que influenciam a criminalidade urbana. A vulnerabilidade ao
crime não seria apenas uma questão social, mas também física e relacionada à
morfologia urbana do local onde o evento criminoso acontece.
A perspectiva de que determinados locais possuem a propriedade de
facilitar a ação do criminoso fica evidenciada por Eck, em estudo realizado nos
Estados Unidos onde (ECK, 1996 apud VIEIRA, 2002, p. 13):
“...foi estimado que 10% das vítimas dos crimes analisados estão
envolvidas em pelo menos 40% das ocorrências, 10% dos criminosos
estão envolvidos em mais de 50% das ocorrências, e em 10% dos espaços
analisados ocorrem aproximadamente 60% dos crimes...”
Ao se considerar que os criminosos tendem a selecionar os locais para o
cometimento de crimes de forma que ofereçam alta probabilidade de êxito e baixo
risco de serem surpreendidos, verifica-se que a facilidade e oportunidade oferecida
pelo espaço é decisiva (BRA NTINGHA M; BRANTINGHAM, 1993; FELSON;
CLARKE, 1998).
8
Modelo de elaborado por Ernest Burgess, pesquisador da Escola de Chicago.
31
A relação entre o espaço e a criminalidade fica clara ao atestar-se o fato de
que espaços públicos geradores da sensação de insegurança possuem as mesmas
características de lugares que atraem agressores em potencial (CORNISH;
CLARKE, 1986 apud FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003b, p. 11). Portanto, a
busca pela redução da criminalidade urbana deve passar também pela análise das
oportunidades que os espaços podem vir a oferecer a um ofensor motivado.
Pesquisas investigativas sobre as variáveis físicas e ambientais dos
espaços contribuintes para a redução de ação do criminoso ainda estão em
construção. Estudos referentes a essa temática tiveram início com as experiências
pioneiras de Jane Jacobs, relatadas em seu livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”
publicado em 1961, as quais deram importante impulso à criminologia ambiental.
Ao analisar o cotidiano de moradores nas ruas de New York, Jacobs
identificou fatores sociais e físicos que se moldavam em função da busca por
segurança. Dentre as suas premissas principais, destacam-se a necessária e nítida
separação entre o espaço público e o privado, o valor de existir “olhos voltados para
a rua” em constante vigilância natural e a importância das calçadas abrigarem
atividades coletivas e diversificadas, de modo a existir usuários transitando
ininterruptamente.
Suas teorias acerca da influência do ambiente nas relações comunitárias
motivaram uma série de estudos e pesquisas, os quais demonstraram que a
presença de determinadas características físicas contribuem no combate à
criminalidade urbana, tais como:
a) clareza e definição dos espaços públicos e privados;
b) acessibilidade;
c) boas conexões visuais e funcionais entre as residências e os espaços
abertos;
d) boa aparência e manutenção das edificações e dos espaços livres;
e) diversificação de usos.
Em concordância com referidos atributos físicos, os trabalhos efetuados por
Newman (1973) discorrem acerca da morfologia das áreas residenciais, da
densidade urbana e sua relação com a criminalidade. A pesquisa do autor volta-se,
portanto, para a análise de como o ambiente pode afetar o comportamento,
favorecendo ou impedindo delitos. Busca ainda fundamentar as razões sociais do
aumento da criminalidade nas cidades, focada na correlação entre crime e exclusão
32
social. Em contrapartida, defende Newman que o aumento da segurança nos
ambientes habitacionais configura uma das formas mais importantes de reabilitação
social para a sociedade.
Ao supor que a maioria dos criminosos seleciona locais vulneráveis para
agir, Newman sugere a reestruturação dos ambientes de forma que a falta de
visibilidade não afete sua vigilância natural, exercida pelos próprios moradores e
transeuntes. Para tanto, o autor estabelece mecanismos que estimulem a
apropriação dos espaços pela comunidade. Com o termo “Defensible Space”
(Espaço Defensável) nomeia 4 aspectos essenciais para a criação de espaços mais
seguros:
a) territorialidade;
b) vigilância natural;
c) imagem e milieu;
d) mecanismos de justaposição.
A territorialidade proposta por Newman refere-se a aspectos físicos do
ambiente que proporcionam zonas perceptíveis de influência territorial, pois defende
que o sentimento de apropriação de um espaço por determinado grupo de
moradores diminui, proporcionalmente ao aumento de pessoas no mesmo território.
A partir de mecanismos de subdivisão e articulação em áreas de ambiente
residencial, tais como a instalação de cercas, muros e grades, os espaços públicos,
“semipúblicos” e privados estariam claramente demarcados e teriam a capacidade
de reforçar nos moradores a habilidade de assumir atitudes e prerrogativas de
territorialidade (NEWMAN, 1996, p. 17).
O conceito de vigilância natural refere-se à possibilidade de a morfologia
urbana propiciar aos moradores e agentes de vigilância a capacidade de, casual e
continuamente, supervisionar áreas não privativas, “semipúblicas” e públicas tanto
dentro quanto fora do seu ambiente residencial.
Sobre os mecanismos de justaposição, refere-se o autor à idéia de que
áreas seguras influenciam positivamente os espaços situados no seu entorno.
Quanto à imagem e milieu, entende-se que a manutenção dos espaços
públicos contribui para a redução da percepção de abandono dos espaços
residenciais e aparente vulnerabilidade dos habitantes. Também faz alusão ao
cuidado em não situar em áreas próximas atividades ou equipamentos que possuem
33
usos incompatíveis, como exemplo a instalação de bares ao lado de parques
infantis.
Relativo a esse aspecto, é conveniente destacar pesquisa focada em duas
praças públicas (Praça do DI e Praça do Bicalho) na cidade de Taguatinga, Distrito
Federal, no qual SALLES (2007) enfoca o papel do bioclimatismo e do urbanismo na
formação de espaços públicos inibidores de delitos.
Suas constatações elevam a importância do uso do solo para a manutenção
de ambientes seguros. Segundo referida autora, estabelecimentos que propiciam o
uso de bebida alcoólica desempenham relevante influência sobre o nível de
criminalidade, conforme foi diagnosticado na Praça do DI, onde a presença de bares
contribuiu significativamente para a elevação de atividades delitivas na região
(Salles, 2007, p. 109).
As sugestões propostas por Newman foram aplicadas com o intuito de
promover uma revitalização de bairros residenciais nos Estados Unidos e ao mesmo
tempo reduzir a criminalidade. Dentre os exemplos de interferências baseadas no
“Defensible Space”, podem ser destacados The Five Oaks Community em Dayton
(Ohio) e Clason Point, área residencial localizada no Bronx, New York.
Essa última área residencial recebeu projeto de reabilitação que envolveu a
reestruturação dos seus jardins, onde 80% deles passaram de espaço público,
mantido pelo Estado a espaço privado controlado pelos moradores das residências.
As intervenções (FIG. 1 a 4) buscaram por intermédio da instalação de grades,
cercas e demarcações físicas, não obstrutivas da visibilidade, estabelecer limites
físicos bem definidos entre os espaços coletivos e os privados, com o objetivo de
conter possíveis agressores, bem como estimular a apropriação e o sentido de
territorialidade na comunidade (NEWMAN, 1995, p. 152).
Grades estabelecendo limites entre espaços coletivos e privados
FIGURA 1- Demarcação territorial
FONTE: Newman, 1996, p. 69
FIGURA 2 Demarcação territorial
FONTE: Newman, 1996, p. 77
34
Demarcação e apropriação de jardins frontais pela comunidade
FIGURA 3 Clason Point, antes da intervenção
FONTE: Newman, 1996, p. 75
FIGURA 4 Clason Point, depois da intervenção
FONTE: Newman, 1996, p. 75
As propostas de Newman, ao encorajarem um comportamento territorialista
nos residentes, de forma a estimular a vigilância natural das áreas públicas e semi
públicas, foram muito criticadas por criminologistas e cientistas sociais por defender
um tipo de “determinismo ambiental” e por realizar vínculos simplistas acerca da
territorialidade. Além disso, teria cometido sérios erros estatísticos em suas
pesquisas, e baseado suas propostas muitas vezes na criação de espaços
excludentes (HILLIER, 1973).
Em crítica contundente, Patricia e Paul Brantingham (1993, p. 13)
consideraram que Newman não distinguiu tipos de crime, características e
motivações dos criminosos, não observou o cenário em que os crimes ocorriam e
focalizou sua tese nas características físicas de uma maneira determinista e
genérica (“...acima de sete andares é ruim, dupla escada em apartamentos é ruim,
edifícios de pouca altura com número limitado de famílias por acesso é bom...”).
Nesse sentido, todos os tipos de crimes poderiam ser evitados, sem levar em conta,
inclusive, a possibilidade dos delitos serem cometidos pelos próprios moradores.
Para Patricia e Paul Brantingham, o “espaço defensávelaplica-se melhor para a
redução do sentimento de insegurança do que o efetivo controle da criminalidade.
Em abordagem divergente, Hillier (2004) sugere que os conhecimentos
proporcionados pela Sintaxe Espacial
9
promovem uma nova maneira de lidar com a
temática da segurança. Destaca que não se pode estudar a distribuição espacial de
crimes sem investigar de modo conjugado os aspectos sociais e econômicos,
sugerindo a utilização dessa teoria como instrumento na verificação da influência do
espaço em determinados tipos de crimes.
9
A Sintaxe Espacial é uma teoria desenvolvida por Bill Hillier e colegas da University College of
London, focada na análise de padrões de movimento de pedestres e veículos.
35
Dentre os elementos utilizados pela “Sintaxe Espacial”, a acessibilidade e o
nível de “Integração Local” são relevantes, pois informam a facilidade para se
movimentar em uma rede local de vias e espaços, estabelecendo como linhas mais
integradas aquelas que possuem maior potencial de movimento.
A “Sintaxe Espacial” oferece indicações dos potenciais percursos a serem
utilizados para a realização de determinados crimes, permite obter dados em
diferentes escalas ou micro escalas, além disso, permite a comparação entre as
variáveis espaciais e as sócio-econômicas.
Como exemplo da utilização dessa teoria, Hillier (2004) destaca estudo
realizado por Simon Shu, o qual se centrou na ocorrência de roubos a residências
localizadas em culs-de-sac
10
, tendo concluído que o acesso dos assaltantes dava-se
pela rede de trilhas que circundavam ou envolviam as laterais e os fundos das
residências e não pela entrada única dos culs-de-sac. Em sua análise, os roubos
concentravam-se no interior da via, onde os assaltantes procuravam acessar por
locais de pouco movimento e visibilidade, com conexão visual limitada.
4.2 O papel da oportunidade na ocorrência de crimes
Após o surgimento dos conceitos e das teorias de Newman na proposta do
espaço defensável, estudos acerca da criminalidade passaram a concentrar-se em
fatores físicos que apoiariam a oportunidade de eventos delitivos.
No campo da criminologia ambiental, a oportunidade passa a ser analisada
como fator contribuinte para a consumação do crime, diferentemente das teorias
criminais usuais, pois concentra-se na hipótese de que nenhum crime pode ocorrer
sem que existam oportunidades físicas possibilitando sua ocorrência concreta. Se
facilidade ou oportunidade física para se cometer um crime, um ofensor motivado o
fará.
As estratégias preventivas baseadas nesta teoria da oportunidade procuram
reduzir as oportunidades de se cometer um delito, dificultando o acesso do ofensor
ao alvo e aumentando a possibilidade e a sensação do criminoso ser surpreendido.
10
Rua sem saída, onde geralmente no final é provida de área para manobra de veículos.
36
Segundo seus preceitos, modificações no ambiente teriam a capacidade de diminuir
as vantagens de se cometer determinados delitos.
Sobre o papel da oportunidade na ocorrência de crimes, ressalta-se que as
teorias criminais usuais lidam com tendências comportamentais. Mas, explicar a
predisposição ao crime não é o mesmo que explicar o crime, pois para que um crime
ocorra é necessário um ofensor motivado e a oportunidade sica de consumar a
motivação, portanto, é importan te observar também os aspectos físicos e
ambientais do local.
Felson e Clarke (1998) salientam o papel da oportunidade na ocorrência de
todos os tipos de crimes, não apenas, como se costuma acreditar, nos crimes que
atingem o patrimônio sendo que, para cada tipo de crime deverá ser adotada uma
estratégia particular.
Exemplo disso é a tendência que os crimes de oportunidade possuem de se
concentrar e ocorrer em locais e horários determinados, quando vinculados a
atividades cotidianas (v.g.: ladrões de carteiras escolhem locais cheios, no centro da
cidade, enquanto aqueles que pretendem assaltar residências dirigem-se a locais
distantes, no período sabido que os moradores estarão no trabalho ou no colégio).
Os métodos de prevenção e redução da oportunidade de se cometer um
crime buscam, de diversas maneiras, aumentar a dificuldade de acesso ao alvo e os
riscos de ser surpreendido, de forma a diminuir a probabilidade de recompensa e a
possibilidade de fuga. Um dos efeitos decorrentes da adoção de tais medidas é
provocar uma difusão de benefícios no entorno (FELSON; CLARKE, 1998;
NEWMAN, 1973).
Para efeito do presente trabalho, o aprofundamento teórico na tese dos
crimes de oportunidade faz-se indispensável, motivo porque a seguir veremos que
essa teoria incorpora três modos diferenciados de aproximação.
A Teoria das Atividades Rotineiras (Routine Activity Theory), a Teoria do
Padrão do Crime (Crime Pattern Theory) e a Perspectiva da Escolha Racional
(Rational Choice Perspective) são abordagens teóricas que apontam a oportunidade
na condição de elemento motivador, cada qual examinando o evento criminoso sob
um prisma diferente sem, contudo, desviar-se da concepção inicial de que a
oportunidade é o fator essencial para a ocorrência delitiva (FELSON; CLARKE,
1998).
37
A Teoria das Atividades Rotineiras admite que, para que um crime ocorra, é
necessária a presença de três elementos, quais sejam:
a) ofensor motivado;
b) alvo apropriado (podendo ser uma pessoa ou objeto, cujo potencial de
risco varia de acordo com o seu valor, sua inércia, sua visibilidade e seu
acesso);
c) ausência de guardião capaz de conter o crime.
Na Teoria do Padrão do Crime, são fixadas três categorias espaciais que
oferecem maior oportunidade para a ocorrência de delitos:
a) nós (nodes): espaços que concentram o tráfego de pessoas;
b) trilhas (paths): caminhos utilizados pelas pessoas em determinados dias
e horários;
c) limites (edges): extremidades das áreas residenciais, dos locais de
trabalho, estudo e lazer.
Na Teoria da Perspectiva Racional, o modus operandi do indivíduo é a
questão central, com foco nas suas motivações acerca do tipo de crime a ser
cometido, seu alvo, horário e lugar, estudando o processo de tomada de decisão do
agressor.
Diversos países têm adotado políticas públicas compostas por programas
que visam diminuir as ocorrências criminais e aumentar a sensação de segurança,
com base nas teorias da oportunidade, tais como o “Safe Cities” no Canadá e o
“Secured by Design” na Inglaterra (FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003b, p. 11).
Além desses programas, há outros que trabalham com a perspectiva de
redução das oportunidades de se cometer delitos por meio do aumento da
dificuldade física e do risco de ser apreendido, como é o caso do “Situational
Prevention”, nascido na Inglaterra e do “Crime Prevention Through Environmental
Design” (CPTED), desenvolvido nos Estados Unidos.
O “Situational Crime Prevention”, diferentemente do CPTED e do
“Defensible Space”, possui abordagem que vai além do desenho ambiental e
arquitetônico e da preocupação com roubos e furtos, engloba tamm outros tipos
de crime (CLARKE, 1989). Enquanto o CPTED orienta suas estratégias para
modificações no entorno e na redução do sentimento de segurança, o “Situational
Crime Prevention” centra-se em técnicas aplicáveis a algum alvo específico.
38
Para alcançar seu êxito, o CPTED estabelece modificações no desenho e
nas variáveis sociais e ambientais de espaços criminalmente vulneráveis, as quais
englobam (FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, 2003b):
a) o reforço dos laços afetivos e de pertencimento da comunidade
envolvida;
b) a criação de espaços que priorizem a visibilidade;
c) o incentivo à apropriação dos espaços vazios e mal utilizados;
d) a manutenção e o cuidado com os espaços públicos;
e) a redução da imagem de isolamento e abandono dos espaços
residenciais;
f) o desenho e planejamento de bairros em escalas menores.
Nesse sentido, a presença de pontos de comércio nas esquinas atrai a
circularidade de pessoas, prática propiciadora da vigilância natural da área (FIG. 5).
De maneira oposta, grandes extensões de muros não incentivam a permanência e
dificultam a conexão visual dos transeuntes (FIG. 6).
Prática positiva Prática negativa
FIGURA 5 Vigilância natural
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 21
FIGURA 6 Ausência de conexão visual e manutenção
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 22
O fechamento dos espaços por meio de grades e muros, quando essencial,
deve especificar materiais transparentes ou que permitam manter a visibilidade (FIG.
7). A prática comum de instalar fachadas cegas, ou grades totalmente vedadas para
as ruas, não só contribui para a sensação de insegurança, mas oferece também a
oportunidade para práticas ilícitas que tendem a ocorrer em locais de visibilidade
comprometida (FIG. 8).
39
Prática positiva
Prática negativa
FIGURA 7 Controle visual
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 24
FIGURA 8 Ausência de controle visual
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 24
A relação entre o interior dos edifícios com a rua deve ser priorizada com a
instituição de zonas intermediárias dedicadas aos transeuntes, no sentido de
favorecer a apropriação do local e sua conseqüente manutenção (FIG. 9 e 10). Para
atingir esse objetivo, o uso de mobilrio urbano destinado ao descanso pode
configurar-se medida adequada.
Prática Positiva Prática negativa
FIGURA 9 Boa relação entre comércio
e espaço público.
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 30
FIGURA 10 Ausência de relação exterior X interior das
edificações
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 32
A visibilidade e a vigilância ficam comprometidas quando não há adequada
iluminação no período noturno. Praças, parques, jardins e trilhas devem estar bem
iluminados, evitando-se zonas de sombra (FIG. 11 e 12).
40
Prática positiva Prática negativa
FIGURA 11 Iluminação apropriada que permite amplo controle
dos espaços.
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, p. 37
FIGURA 12 Vegetação crescida e bolsões de
sombras.
FONTE: FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a,
p. 36
As técnicas oferecidas pelo CPTED estão sendo largamente utilizadas em
diversos países, tais como: EUA, África do Sul, Austrália, Canadá, Inglaterra e Chile,
onde ferramentas de apoio (manuais, guias de desenho e cursos) são amplamente
formulados para os profissionais técnicos e a própria comunidade. Além disso,
existem países (EUA, Austrália e África do Sul) onde normas e regulamentos de
ordenamento urbano voltados para o espaço seguro são vigentes (FUNDACIÓN
PAZ CIUDADANA, 2003b, p. 3-7).
Estudo realizado no espaço urbano La Granja em Santiago, Chile, relata
processo de modificação física, baseado no CPTED, em áreas vulneráveis
acometidas pela delinqüência e criminalidade. Referida pesquisa demonstra que a
região apresentava espaços vazios, sem destinação e sem apropriação pela
comunidade. Am disso, aspectos tais como: iluminação noturna deficiente;
obstrução dos campos visuais por elementos vegetais, cercas e muros; acúmulo de
lixo e pichações; estavam relacionados ao aumento da criminalidade na região,
juntamente com o sentimento de insegurança da população moradora no entorno
dessas áreas (STEPHENS; RAU, 2000).
As recomendações elaboradas com vistas a diminuir a criminalidade
envolveram estratégias de apropriação e utilização dos espaços públicos,
constituindo-se de:
a) incentivo ao comércio local;
b) instalação de feiras que ocupassem espaços livres;
c) manutenção de áreas verdes pela comunidade;
d) instalação de mobiliário urbano para acolher atividades durante o dia e
a noite;
41
e) a criação de rotas para pedestres e bicicletas.
O crime vinculado à distribuição espacial de pessoas e objetos, aos padrões
de atividades rotineiras realizadas no cotidiano e à maneira como as pessoas
percebem o ambiente também foi objeto de pesquisa de Patrícia e Paul Brantingham
(1993). Esses pesquisadores investigaram a distribuição espacial de crimes e os
percursos realizados por criminosos, tendo concluído que nós (ponto de
convergência e concentração de atividades e pessoas), trilhas (espaços utilizados
para realização de percursos) e limites (espaços que dividem usos e funções
diferentes no meio urbano) são os espaços que concentram as maiores
probabilidades de ocorrências criminais.
Estudos recentes no Brasil também deslocam o enfoque dado aos
criminosos para as características espaciais onde ocorrem os delitos. É o caso das
pesquisas realizadas por Beato F., Peixoto e Andrade (2004), as quais exploram a
dinâmica de fatores ambientais na distribuição de crimes no espaço urbano. Suas
indagações firmam-se sob o prisma da teoria da oportunidade e são avaliadas a
partir de dados de vitimização realizados em Belo Horizonte no ano de 2002.
Os crimes estudados por Beato F., Peixoto e Andrade (2004, p. 75-77)
restringiram-se ao furto, roubo e agressão, efetivados ou em sua modalidade
tentada. Foi investigada a influência do estilo de vida do indivíduo nas oportunidades
geradas para a ocorrência de determinados tipos de delitos. Nesse estudo, foram
também consideradas as seguintes variáveis: características pessoais,
características da residência, características da vizinhança, variáveis de hábitos
pessoais e de segurança residencial.
Em resultado, a análise aponta fatores que influem na vitimização, dentre
eles a exposição e a proximidade da vítima ao agressor e sua capacidade de
proteção. Além disso, referida pesquisa tamm atestou que alguns elementos do
espaço urbano têm a capacidade de inibir ou estimular o ofensor, como na hipótese
de presença ou não de edifícios abandonados nas proximidades.
Dentre as críticas às diretrizes fixadas no CPTED encontra-se a
possibilidade de, após a implementação de alterações físicas visando à diminuição
da criminalidade, ocorrer o deslocamento do crime para outros locais. Entretanto,
estudos demonstram que, se a oportunidade para atividades criminais não está
presente, os delitos não irão, necessariamente, deslocar-se para outro espaço
urbano (FELSON; CLARKE, 1998).
42
4.3 Espaços excludentes x Espaços inclusivos
Conforme abordado anteriormente, a revisão teórica aponta práticas de
desenho urbano formando um conjunto de ações e medidas direcionadas à
redução da probabilidade de ocorrência de crimes de oportunidade e ao incremento
da sensação de segurança.
Entretanto, quando transpostas para o âmbito público, referidas ações e
medidas apresentam posicionamentos divergentes quanto à concepção do espaço
público na condição de local de acessibilidade universal, de exaltação das
diferenças e da liberdade. Visto que nem todas as ações e medidas propostas
apóiam e favorecem esses quesitos, algumas ao contrário, eliminam possibilidades
de interação, tornam os ambientes urbanos repressivos, opressivos, divididos
socialmente e excludentes, impedindo os habitantes de desfrutarem experiências
urbanas mais ricas.
Espaços públicos privatizados em formas de parques, shopping centers,
complexos empresariais e bairros residenciais fechados, de acordo com MOURA
(2006, p. 6), são representativos de uma “clausura voluntária”, que utilizam o uso
massivo de tecnologias de vigilância.
Passa então a ser possível, encontrar nas políticas públicas atuais,
intervenções no ambiente físico que apresentam sugestões excludentes, com
predomínio de técnicas de desenho propondo fechamentos, circuito fechado de
câmera e televisão, sensores de movimento, controle eletrônico e limitações de
usos, fatores que conduzem à formação de verdadeiras fortalezas e espaços
panópticos
11
(TIESDELL; OC, 1998) (QUADRO 1).
A título exemplificativo, essas medidas de segurança adotadas nos espaços
constituem-se conjuntamente de vigília uniformizada, vigilância eletrônica e barreiras
físicas, bastante comuns e carregadas de aspectos dubiamente positivos e
negativos.
11
Que permite visão total. Relaciona-se também ao Panopticon criado por Jeremy Bentham e
discutido por Foucault, onde o desenho arquitetônico deste edifício seria tal que permitiria o
controle dos prisioneiros, os quais se encontrariam em constante vigilância, a partir de um único
ponto.
43
QUADRO 1
Dispositivos físicos e funcionais de segurança no espaço público excludente
ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONAIS P ARA ANÁLISE
REFERENCIAL
TRICO
Controle dos acessos e definição territorial
NEWMAN (1995;
1996); ODPM (2007)
Fechamentos dos limites por meio de muros, cercas, grades ou desníveis
de terreno
Limitações de acessos
Vigilância
ODPM (2007)
Presença de circuito fechado de câmera e televisão
Sensores de movimento
Guaritas de vigilância e controle eletrônico
Vigília uniformizada
A vigília uniformizada, realizada por funcionários de empresas
especializadas, possui efeito tranqüilizador e redutor do medo, pode inibir um
possível ofensor a partir da vigilância operacionalizada, mas, de outro lado, afigura-
se medida repressora para qualquer um que adentre ao espaço vigiado, onde
pessoas “indesejáveis” têm sua permanência restringida. Além disso, agentes
privados têm compromisso vinculado estritamente ao estabelecimento e muito pouca
ação fora desse ambiente ou no espaço público (TIESDELL; OC, 1998; SHAFTOE,
2007).
O uso da vigilância eletrônica, por meio de câmeras e sensores de
movimento, aumenta o alcance de observação e oferece um anel de segurança,
mas se torna um meio repressivo para o controle de indivíduos excluídos. O circuito
fechado de televisão apresenta também o perigo de uso e abuso das informações
captadas pelas câmeras, admitindo a possibilidade de se tornar instrumento de
controle e repressão, enfraquecendo a noção de liberdade (TIESDELL; OC, 1998;
SHAFTOE, 2007).
As barreiras físicas, de outro lado, conseguem manter um possível ofensor
separado do alvo, com o contraponto de enclausurar os respectivos moradores.
Quando associadas à entradas e saídas mal sinalizadas, essas barreiras dificultam a
obtenção de socorro externo, formam espaços labirínticos e impedem o duo
acessibilidade-visibilidade (SHAFTOE, 2007).
Instrumentos de segurança de natureza reguladora e restritiva de acesso
têm sido largamente utilizados na composição dos espaços urbanos, com vistas a
tornar seu uso previsível e disciplinado.
44
Os casos mais perceptíveis são encontrados no surgimento de condomínios
fechados, os quais proliferam em diversas cidades brasileiras (v.g.: Brasília e
Goiânia). Referidos condomínios possuem como características os seus limites
murados, guaritas e vigilância uniformizada que realiza a identificação e a
autorização das pessoas interessadas em adentrar nesses espaços.
São, portanto, exemplos de respostas arquitetônicas para uma cultura do
medo, muitas vezes injustificada estatisticamente, mas que reflete na “profilaxia” das
suas medidas, um comportamento preocupante por estimular a segregação e a
exclusão, ao passo em que se torna símbolo de status social e colaborador do
emergente valor comercial da indústria de segurança (MOURA, 2006).
De modo diverso, há políticas públicas defensoras do uso misto e da
maximização de atividades nos espaços públicos, de forma a diminuir a sensação de
insegurança e a ocorrência de atividades criminais. São políticas que procuram,
acima de outros fatores, o desenvolvimento de ambientes permeáveis, com
atividades diversificadas, repletos de espaços públicos “desejáveis” pela
comunidade, em uma tentativa deliberada de se construir uma sociabilidade e um
senso comunitário (SHAFTOE, 2007).
A criação e a manutenção de espaços instigantes do contato público e da
diversidade urbana tanto colaboram para o controle de atos ilícitos, quanto
contribuem para a formação de uma ambiência urbana mais rica, diferentemente de
programas centrados exclusivamente na meta de redução da criminalidade.
Nesse sentido, argumentos a favor de espaços inclusivos vão além do foco
na segurança, passam pela saúde, bem-estar e pela prosperidade da civilidade:
“Somos, afinal, espécie social e sociável e precisamos de interação com os outros
humanos, para nossa saúde e bem estar” (SHAFTOE, 2007, p. 5). A segurança,
então, depende do contexto geográfico, socioeconômico e cultural, ou seja, de uma
realidade contextual que irá formar um cenário diferenciado para cada localidade.
Logo, o contexto socioeconômico e cultural deve ser trabalhado em conjunto com o
desenho dos espaços públicos.
Trabalhos tais como o “Urban Task Force” (2005) e o “CABE Space” (2004)
possuem princípios a favor do desenho urbano inclusivo, como forma de se obter
espaços públicos mais seguros, e defendem a existência de vínculos entre
segurança urbana, qualidade de vida e ambiente construído. Os espaços mais
45
seguros seriam aqueles permeados por usuários e transeuntes, que exercem o
papel de vigilantes naturais.
Entretanto, Shaftoe (2007), aponta como o principal obstáculo a ausência de
estudos relacionados a esse tipo intervenção e sua contribuição para a segurança,
ao contrário das estratégias de desenho direcionadas unicamente à prevenção do
crime.
Embora esteja comprovada a eficácia dos espaços fechados e exclusivos
no combate à criminalidade (NEWMAN, 1996), há, de forma divergente, fortes
argumentos a favor da integração do fator sociabilidade. Portanto, existem
elementos físicos que favorecem a segurança nos espaços por intermédio do
estímulo à inclusão, do contato social e do respeito à diversidade. O desafio consiste
em isolar estratégias propiciadoras de espaços seguros, inclusivos, democráticos e
acessíveis a todos.
Com essa intenção, os trabalhos realizados pelo ODPM (2004) obtêm
destaque, pois buscam a união das práticas consideradas excludentes (QUADRO 1)
com outras que favorecem a socialização.
Como anteriormente verificado, há vários exemplos de abordagens
socialmente inclusivas envolvendo espaços urbanos e medidas para torná-los mais
seguros, entretanto, não foi detectada, até o momento, a incorporação dos aspectos
ambientais e bioclimáticos nesses estudos com a finalidade específica de
estabelecer uma correlação entre qualidade ambiental e segurança.
Conclui-se que não são comuns versões científicas que vinculem a
adequação ambiental dos espaços à sensação de conforto dos usuários. Em sentido
inverso, a presente pesquisa pressupõe que, ao instituir melhor conforto aos
espaços, tais locais serão passíveis de maior fruição por parte dos cidadãos, de
modo a potencializar seu uso, a vigilância natural e, consequentemente, a própria
segurança.
Por conseguinte, os dois capítulos seguintes tratarão da importância da
qualidade do espaço público para a promoção da sociabilidade, da segurança e dos
atributos físicos e ambientais que qualificam os espaços públicos.
46
5 A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE DO ESPAÇO PÚBLICO PARA A
PROMOÇÃO DA SOCIABILIDADE E DA SEGURAA
A esfera pública, a partir da conceituação de Habermas, é onde cidadãos
livres podem mediar sobre temas políticos (GHIRARDO, 2002, p. 45). O espaço
público, nesse sentido, também é palco para manifestações de outros valores
sociais, tais como: a cidadania, a democracia, o pluralismo e a tolerância à
diversidade (TIESDELL; OC, 1998, p. 639).
Para Hannah Arendt (2001), o âmbito do público permite, através da
memória de fatos ocorridos no espaço público, desenvolver um senso histórico e
social nos indivíduos; por ser arena de interação entre grupos diversos, estabelece-
se um senso de coletividade passível de uso a todos.
O âmbito do espaço público é, portanto, na sua concepção mais idealizada,
capaz de simbolizar a coletividade e a sociabilidade em detrimento da
individualidade e da privacidade; é socialmente inclusivo e pluralista, acessível a
todos e neutro (TIESDELL; OC, 1998, p. 639-640).
Do ponto de vista físico e ambiental, os espaços públicos urbanos são
compostos por elementos construídos, síntese de material, linhas, planos e texturas
que lhes outorgam características espaciais de uso coletivo. São elementos
essenciais da paisagem urbana, espaços onde é possível “perceber” a cidade, pois
constituem espaços da vida. Possível exemplificar tipologias de espaços públicos
em ruas, praças, pracinhas, largos de herança portuguesa e espaços residuais entre
os edifícios (ROMERO, 2001, p. 29 - 30).
A partir do estudo elaborado por Romero (2001, p. 37- 44), verifica-se que
as praças representam um dos mais simbólicos espaços públicos urbanos. Dentre
outros aspectos, podem representar cenários de manifestações de poder por meio
da arquitetura e da decoração (Place Royale); de desenvolvimento de atividades
comerciais (Praça do Comércio em Lisboa); de manifestações lúdicas, festejos e
cerimônias (Plaza Mayor espanhola) ou, simplesmente, um lugar onde as pessoas
habitam (praças inglesas).
O espaço público sempre foi lugar de encontro, comércio e circulação. Sua
vitalidade é aspecto fundamental para que permaneça na condição de ambiente
acessível, popular e instigador de trocas coletivas, sociais e culturais. Conforme
47
afirma Sennett (1998, p. 29), “o espaço público morto é uma das razões, e a mais
concreta delas, pelas quais as pessoas procurarão um terreno íntimo que em
território alheio lhes é negado”.
Atualmente, tem sido observado o declínio da importância do âmbito
público, com destaque para fatos sociais, políticos e econômicos que levam à
privatização da vida e da cultura das sociedades. Dentre esses fatores, o tráfego e
as atividades comerciais foram atingidos por mudanças cruciais onde os carros
tomaram as ruas e o comércio passou a ser realizado em locais fechados
(privatizados) excluído da arena pública, restringindo-se à esfera privada.
Os novos centros de encontro social são privados e fechados fora dos
horários comerciais. Neles, as atividades para pedestres e outras atividades urbanas
estão sujeitas a restrições relativas ao caráter comercial do local (GEHL; GEMZOE,
2002, p. 17).
Consequentemente, o papel tradicional da cidade como lugar de encontro
para os cidadãos transformou-se radicalmente nos últimos séculos, com o
surgimento de novas formas de locomoção, de tecnologias de informação e
comunicação que alçam o contato humano ao virtual. Entretanto, o espaço público
ainda se mantém complemento valioso para essas novas relações sociais.
Segundo Ghel e Gemzoe (2002, p. 14-19), existem, de forma bastante
simplificada, quatro tipos diferentes de cidades com espaços públicos de usos
diferenciados:
a) cidade tradicional (FIG. 13) onde os lugares de encontro, comércio e
circulação coexistem em equilíbrio. São locais onde a escala, a
dimensão das ruas, as distribuições dos usos, o detalhamento e a escala
dos edifícios, encontram-se em harmonia com os sentidos humanos. As
oportunidades de movimento favorecem o caminho dos pedestres e o
encontro entre as pessoas;
b) cidade invadida (FIG. 14) é o local onde os usos individuais, a redução
da variedade de funções urbanas (especialização de funções)
12
e o
tráfego dos carros se apropriaram do território destinado a outros usos
urbanos. Além do pouco espaço físico para circulação e estar, o
12
O termo especialização de funções refere-se à pequena variedade ou diversidade de comércio e
serviços em determinado local. Por exemplo: área comercial constituída ou especializada
somente em materiais de construção acarreta a restrição, inclusive quanto ao horário, do público
que irá transitar por esse espaço.
48
pedestre encontra, também, sujeira, ruído e poluição visual.
Consequentemente, esses espaços tornam-se deteriorados e as
pessoas tendem a evitá-los;
FIGURA 13 Praça do Sol, Barcelona.
FONTE: GHEL; GEMZOE, 2002, p. 8
FIGURA 14 - Westport, Irlanda.
FONTE: GHEL; GEMZOE, 2002, p. 15
c) cidade abandonada (FIG. 15) é aquela onde o transitar a pé é confuso
e desestimulador. A vida no espaço público, juntamente com outras
atividades desenvolvidas nessa arena desaparecem. Caminhar torna-se
desconfortável devido às distâncias, o ambiente é esteticamente
inadequado, sujo e perigoso. Não existem calçadas, acessibilidade ou
conforto. Esses fatores geram uma situação de exclusão para crianças,
idosos, portadores de necessidades especiais ou aqueles que não estão
aptos a fazer uso do automóvel. O comércio e a circulação adaptam-se
ao carro, oferecendo passarelas aéreas entre um centro comercial
privado e outro, além do surgimento de galerias subterrâneas vinculadas
às linhas de metrô;
d) cidade recuperada (FIG. 16) é aquela em que foram mobilizadas ações
em busca do equilíbrio entre os usos urbanos: encontro, comércio e
circulação. O conceito de “cidade recuperada”, criado a partir de novas
políticas de atuação no espaço público de Barcelona, na década de
1980, levou propostas inovadoras de valorização do âmbito público a
outros países.
49
FIGURA 15 - Spokane, WA, Estados Unidos.
FONTE: GHEL; GEMZOE, 2002, p. 16
FIGURA 16 - Estrasburgo, França
FONTE: GHEL; SOHOLT, 2002, p. 13
Atualmente, o resgate e a recuperação do espaço público constituem
medidas recorrentes nas políticas públicas de diversas cidades. A proposição de
desenhos urbanos criativos que possibilitem o surgimento de modelos que busquem
priorizar a qualidade de vida da comunidade é encontrada em cidades como
Barcelona, Melbourne, Estrasburgo e Copenhague. A política de diminuição da
circularidade dos automóveis e de oferta de melhores condições de vida urbana
pode ser encontrada em cidades da América do Norte e do Sul como Portland, nos
EUA, e Curitiba, no Brasil.
Atendo-se à contribuição da arquitetura e do urbanismo, o espaço público
ainda permanece representação física da democracia, da diversidade e da cultura
dos povos, imbuído de grande simbolismo e significado para a ambiência urbana. A
manutenção e o fomento do espaço público, nesse aspecto, constituem diretrizes
para obtenção da segurança, visto que, ao sofrer mutilações de suas funções,
quando mal utilizado ou abandonado, torna-se lugar inacessível.
Insta trazer a lume a lição de Petrella e Vanderschueren (2003, p. 230)
acerca da relação existente entre delito e manutenção do espaço público, ao
asserirem que “esta doble relación entre delincuencia y organización del espacio
produce un círculo vicioso en el cual el espacio se degrada, los fenómenos delictivos
y la inseguridad se consolidan recíprocamente”.
Ademais, a participação popular ativa na vida urbana também se apresenta
essencial, quando se deseja evitar a perda da vitalidade e o esvaziamento do
espaço público, haja vista tais fatores contribuírem para que se torne desqualificado,
perigoso e objeto de depredações e de apropriação ilegal.
50
Dentre os diversos e variados fatores que desencadeiam a crise do espaço
público nas cidades latino-americanas, Borja (2003, p. 93) destaca:
La opción que ha prevalecido es la de la vialidad para el tráfico automotor y
la alternancia entre la construcción vertical que no hace calle ni plaza y las
edificaciones periféricas, casi siempre horizontales, que constituyen piezas
aisladas. Es decir, hay una crisis del espacio público en sus dos
dimensiones: como elemento ordenador y polivalente, como lugar de
intercambio y de vida colectiva, y también como elemento de continuidad,
de articulación de las distintas partes de la ciudad, de expresión comunitaria
y de identidad ciudadana.
A crise do espaço público deixa marcas evidentes no meio urbano e na
sociedade, com o empobrecimento da paisagem urbana onde as ruas tornam-se
inseguras e inóspitas; resulta, portanto, na perda da animação urbana e na restrição
do trânsito de pedestres. Os equipamentos coletivos tendem a tornar-se espaços
especializados, isolados uns dos outros, ao invés de relacionarem-se e
beneficiarem-se mutuamente.
Logo, um espaço público desqualificado não apenas contribui para a
degradação social, mas estimula, em conjunto, comportamentos depredadores em
relação aos equipamentos e serviços urbanos. Verifica-se que há uma situação de
reciprocidade na relação entre o espaço público e o seu uso pela comunidade, onde
um espaço público inseguro irá afastar o cidadão da mesma forma que um espaço
vazio, sem a apropriação do corpo social, irá estimular a sua depredação.
A relação entre o desenho e a manutenção dos espaços e a criminalidade
constitui-se uma teoria de grande relevância diante da problemática atual levantada
pela criminalidade urbana. Constata-se, portanto, a urgência em buscar-se uma
constante qualificação e adequação dos espaços públicos às exigências da
sociedade, sobretudo no que se refere à segurança dos usuários.
Algumas intervenções em cidades latino-americanas foram realizadas com
o objetivo de resgatar o espaço público, dentre elas, destaca-se o trabalho de
organização do transporte público e a oferta de opções recreativas em forma de
parques urbanos na cidade de Curitiba (RUANO, 1999).
Outro exemplo chamativo reporta-se à atividade da associação “Viva o
Centro”
13
, na cidade de São Paulo, onde se buscou a revalorização “civil” dos
centros, na condição de lugares de animação urbana. As recuperações propostas
13
http//:www.vivaocentro.org.br.
51
atingem o caráter lúdico e comercial de certos tecidos urbanos, mediante a criação
de vias para pedestres, jardins, mobiliário urbano e praças.
É importante citar também as intervenções realizadas na cidade de
Medellín, Colômbia, onde as intenções principais centraram-se na melhoria das
condições do meio urbano, de forma a elevar a qualidade do espaço público. Para
esse fim, dentre outras medidas, foi adotada a implementação de um novo sistema
de transporte público, coletivo, cujo objetivo é assegurar o acesso e a conectividade
entre os espaços mais isolados. A recuperação de avenidas e áreas da cidade
estimula a reativação do comércio e da economia, com especial contribuição
direcionada ao controle da delinqüência (BOHIGAS, 2007, p. 1-5).
É possível concluir, a partir dos exemplos e estudos expostos, que a
manutenção dos espaços públicos e sua adequação às necessidades de seus
usuários têm constituído significativas estratégias de promoção da sociabilidade nas
cidades e de controle de atividades delitivas, requerendo estudos que aprofundem
essa temática.
A esse respeito, o estabelecimento de atributos físico-ambientais capazes
de qualificar o espaço público e, ao mesmo tempo, contribuir para a sua apropriação
pela comunidade será discutido no próximo item.
52
6 ATRIBUTOS FÍSICOS E AMBIENTAIS QUALIFICADORES DO ESPAÇO
PÚBLICO
6.1 Bioclimatismo e a escala do usuário: uma aproximação possível
Esse item baseia-se na premissa de que espaços confortáveis em seus
aspectos ambientais e funcionais possuem maior expressão qualitativa e melhor
capacidade de atrair usuários. Ao se constatar que intervir no desenho dos espaços
públicos em prol de sua qualificação requer o estabelecimento de princípios
norteadores de projeto, o objetivo desse tópico é especificar os aspectos físico-
ambientais e as atividades que devem ser observados no momento da criação ou da
recuperação dos espaços urbanos.
Respalda-se também na intenção de preencher a lacuna existente nas
medidas incorporadas às modificações de desenho urbano para obtenção de
segurança, as quais não reúnem sugestões de adequação ambiental dos espaços
objetivando a sensação de conforto do usuário e sua maior apropriação pela
comunidade.
A fundamentação teórica encontra-se calcada nos trabalhos de Ghel e
Gemzoe (2002) e Ghel e Soholt (2002), por valorizarem as peculiaridades e
particularidades das cidades, sem abandonar a perspectiva e a escala humana do
pedestre e do usuário.
Gehl empenha-se em formular meios urbanos inclusivos, onde a qualidade
dos espaços associa-se à capacidade de estimular o trânsito de pedestres e os
encontros sociais. Para atingir referido objetivo, o autor firma que o espaço público
deve oferecer proteção, conforto e lazer (GEHL; SOHOLT, 2002, p. 11).
Dentro dessa mesma temática, destaca-se a original abordagem realizada
por Romero (2001), ao estabelecer uma concepção arquitetônica do espaço público,
onde elementos ambientais, climáticos, históricos, culturais e tecnológicos
apresentam importante papel na sua configuração.
Ao enfatizar a relação existente entre as características do espaço público e
o modo de urbanização adotado, Romero (2001, p. 10) observa que:
53
As experiências conduzidas pela arquitetura moderna, atrás de uma
ordenação diferente do espaço coletivo aberto, têm sido malogradas desde
sua origem pelas novas formas de urbanização capitalista e por uma
intervenção pública somente defensiva, que não soube alternar áreas
verdes e os espaços abertos num sistema global, reduzindo-os a um
simples fato quantitativo fragmentado, concebido como um serviço auto-
suficiente.
E mais a frente, complementa a autora: “acreditamos numa situação
arquitetônica possível nesses espaços que atenue os efeitos de uma aplicação
equivocada dos postulados do movimento moderno” (ROMERO, 2001, p. 10).
Por conseguinte, Romero defende desenhos de espaços externos urbanos
condicionados e adaptados à topografia, cobertura do solo, ecologia, latitude, massa
construída, de modo a levar em consideração os impactos que afetam a qualidade
ambiental, o conforto e a salubridade da população. Ao buscar uma concepção
bioclimática do espaço público, propõe a “Ficha Bioclimática” como instrumento
balizador de projetos de ambientes.
A aplicação da “Ficha Bioclimática” (FIG. 18) abrange duas categorias
temáticas: o ambiente e o espaço. O espaço é conformado pelas características do
entorno (espaço urbano mais imediato do espaço público estudado), da base
(espaço sobre o qual se assenta o espaço público) e da fronteira (espaço que forma
o limite do espaço em questão) (FIG. 17).
FIGURA 17 Base, fronteira e entorno
FONTE: ROMERO, 2001, p. 154
54
Ao se analisar o entorno, destacam-se os seguintes aspectos: condições de
iluminação e exposição ao sol, condições de ventilação, condução e canalização dos
ventos, identidade acústica, fontes de som, propriedades acústicas do entorno,
características espaciais da massa construída e a condução do ar entre os edifícios.
No tocante à base, esta abrange os elementos sobre os quais o espaço
público se instala: pavimentos, vegetação, presença de água, mobiliário urbano e
propriedades físicas dos materiais.
Em relação à superfície fronteira, são analisadas a convexidade, a
continuidade, a tipologia edificadora do construído, a tensão das superfícies e as
aberturas que permitem vislumbrar o céu.
FIGURA 18 Ficha bioclimática
FONTE: ROMERO, 2001, p. 158
Em uma visão bioclimática, juntamente com a análise do espaço, são
examinados os componentes ambientais: entorno climático (analisa a energia
advinda da radiação solar), estética da luz (a partir do nível de luminância e da
55
direção da luz é possível criar ritmo, ênfase, contrastes, efeitos plásticos e cenários
visuais), atributos da cor (permite criar cenários a partir da sazonalidade da
vegetação, dos aspectos simbólicos, da tonalidade, da claridade e da saturação),
espaço do som (permite trabalhar com materiais acústicos refletores, absorventes ou
difusores, com a intenção de conferir uma individualidade acústica ao local).
Com a aplicão do conjunto desses componentes, pretende-se formular
espaços públicos harmônicos esteticamente e destituídos de excessivo recobrimento
do solo, de concentração de gases contaminantes, do aumento da temperatura pela
baixa difusão de calor e evaporização e de cacofonia, haja visto que afetam a
satisfação e a inclinação dos usuários na fruição desses locais.
Romero (2003) divide o tecido urbano o qual irá sofrer interferências
urbanísticas e arquitetônicas, em microescalas espaciais, de dimensões específicas,
dentre elas a chamada escala específica do lugar. Essa escala caracteriza-se por
espaço coletivo e de valor cujos atributos são: identidade, otimização das relações
pessoais, especificidade das funções, caracterização estética, apelo às emoções e
segurança.
Fomentar a qualidade do espaço público na escala do lugar inclui o controle
dos efeitos ambientais pela ação dos usuários, da posição dos elementos que
auxiliam a ambientação, do conforto do ambiente, de barreiras ou elementos que
facilitem os fluxos de pessoas e da unificação dos espaços.
Para Gehl e Soholt (2002, p. 11), o espaço público requer proteção contra
acidentes de trânsito, efeitos climáticos indesejáveis e crimes; requer a presença de
trilhas confortáveis e a ausência de obstáculos que inviabilizem ou dificultem a
acessibilidade nos espaços e edifícios. De forma a propiciar conforto, zonas de
estar e descanso devem ser previstas com atenção à escala e às dimensões
humanas. O estímulo ao contato com elementos do clima, qualidades estéticas e
sensoriais por intermédio da exploração dos cones visuais, da vegetação, da água,
da visão e da audição, também afiguram-se importantes para o autor.
Com a preocupação de complementar as medidas sugeridas por outros
autores, as quais sugerem modificações físicas nos espaços para controlar a
oportunidade de cometimento de delitos, foram isoladas variáveis físicas e
ambientais que aferem qualidade ao espaço público e devem ser observados no
momento do projeto ou da recuperação de referido espaço. Essas variáveis
56
reportam-se a aspectos relacionados à segurança, ao conforto, à acessibilidade e ao
lazer.
Portanto, para lograr a segurança, propõe-se a promoção de espaços
seguros com o controle dos acidentes de trânsito, do crime e da violência urbana.
FIGURA 19: Ruas fechadas ao tráfego de automóveis.
FONTE: ODPM, 2004, p. 19
FIGURA 20: Espaços destinados aos pedestres
FONTE: ODPM, 2004, p. 41
Em relação ao conforto, acessibilidade e lazer, esses são obtidos pela
promoção de espaços que favoreçam o caminhar através de trilhas confortáveis, da
ausência de obstáculos (FIG. 19 e 20), da permeabilidade e da acessibilidade.
Além disso, é importante lembrar a importância do estímulo à permanência
e à interação da comunidade nos espaços públicos, os quais podem ser obtidos por
meio de (QUADRO 2):
a) controle do clima, do ruído e da iluminação;
b) aproveitamento da posição estratégica das esquinas;
c) criação de zonas e pontos definidos de estar;
d) suporte para descanso;
e) criação de mobiliário lúdico adaptado à variedade de usuários;
f) presença de vistas.
Em complemento, observa-se tamm:
a) a criação de espaços adequados ao entorno climático que estimulam a
prática de exercícios físicos, jogos e brincadeiras em qualquer estação
do ano;
57
b) o valor da estética da luz;
c) dos atributos da cor;
d) do som;
e) da vegetação;
f) da água na composição dos espaços.
QUADRO 2
Espaços que estimulam a permanência e a interação social
APROVEITAMENTO
DE EXTREMIDADES
E ESQUINAS
FIGURA 21 Aproveitamento de esquinas.
FONTE: GHEL; SOHOLT, 2002, p. 77
ZONAS DE ESTAR
FIGURA 22 - Criação de zonas e pontos definidos de estar.
FONTE: GHEL; SOHOLT, 2002, p. 47
58
MOBILIÁRIO
URBANO
FIGURA 23 - Mobiliário
FONTE: GEHL; SOHOLT, 2002, p. 47
FIGURA 24 Apelo ao lúdico.
FONTE: GEHL; SOHOLT, 2002, p. 47
ESTÉTICA DA LUZ,
ATRIBUTOS DA COR
E ESPAÇO DO SOM
FIGURA 25 Luz e cor
FONTE: UTF, 2005, p.
7
VEGETAÇÃO E
ÁGUA NA
COMPOSÃO DOS
ESPAÇOS
FIGURA 26 - Jardim
FONTE:ODPM, 2004, p. 42
FIGURA 27 - Água
FONTE: ODPM, 2 004, p. 38
59
Quando a junção de atributos físicos e ambientais às atividades de
interação social resulta em espaços acessíveis, confortáveis e seguros, torna-se um
componente inigualável para o reforço dos vínculos comunitários, para a melhoria da
qualidade de vida dos indivíduos e para a devida apropriação dos espaços públicos
pelos cidadãos.
Dessa forma, o arranjo dos espaços influi de maneira fundamental no
comportamento humano e, como já visto nos capítulos 4 e 5, tem a capacidade de
interferir na sensação de segurança, assim como no caráter de segurança dos
lugares.
Conforme já explanado, o conforto é aspecto importante para garantir a
permanência dos usuários nos ambientes, de forma que esses temas serão
abordados isoladamente nos próximos itens.
6.2 Variáveis físicas e ambientais associadas à sensação de conforto no espaço
público
O homem interage com o meio físico e com todas as características
ambientais do lugar onde está inserido, estabelece trocas térmicas com o meio
ambiente por radiação, convecção e evaporação e, para manter a temperatura do
corpo em torno de 37°c, possui vários mecanismos de regulação térmica que podem
ser tanto fisiológicos quanto comportamentais.
Portanto, aspectos constituintes do clima, tais como temperatura, radiação,
ventilação, iluminação e umidade, em conjunto, atuam na percepção térmica do
homem e darão o grau de conforto de determinado edifício ou espaço urbano.
Nesse sentido, ROMERO (2000, p. 82) afirma que:
O homem não é um elemento passivo em relação ao ambiente, ele realiza
processos de trocas térmicas com o meio. Sobre a percepção térmica,
fisiológica e comportamental do homem atuam os elementos climáticos, em
especial a temperatura, a radiação e o movimento do ar.
Acerca da importância desses elementos climáticos e das estratégias
direcionadas ao seu controle, a autora elenca concepções bioclimáticas que buscam
60
a eliminação de elementos nocivos do clima, comprometedores do conforto térmico
do homem, apoiada na relação existente entre os edifícios, a vegetação, as ruas, as
praças e o mobiliário urbano (ROMERO, 2000, p. 85-100).
São várias as propostas ou modelos que analisam a influência das
condições térmicas de um ambiente no homem, com destaque para o diagrama de
conforto térmico, ou carta bioclimática, desenvolvida por Victor Olgyay; o diagrama
de conforto térmico desenvolvido por Givoni; a zona de conforto térmico proposta
por Vogt e Melter-Chagas; e o diagrama de temperatura efetiva e corrigida criada
por Houghton e Yaglou.
Esses modelos de conforto térmico são instrumentos importantes para o
desenvolvimento de técnicas de controle do ambiente, pois visam atingir condições
de conforto almejadas por intermédio do projeto de arquitetura. À guisa de exemplo,
o diagrama desenvolvido por Olgyay ilustra fatores que têm a capacidade de
modificar uma zona de conforto, sem alterar a temperatura e a umidade do ar do
local, os quais se relacionam à ventilação, à movimentação humana e à exposição
ao sol.
Entretanto, sobreditos modelos possuem uma série de limitações, dentre
elas a dificuldade em representar as atividades humanas de maneira fiel como elas
acontecem no dia a dia, acarretando a obtenção de resultados por vezes
divergentes da realidade (ROMERO, 2000, p. 51-54).
A caracterização do clima chama a atenção, pois as exigências de conforto
são diferentes a depender de suas características, as quais variam de acordo com a
altitude e a latitude dos territórios. A região de Brasília, por exemplo, possui
condições semelhantes ao clima tropical úmido no período das chuvas e ao clima
tropical seco durante a seca. Por situar-se na área central do país e possuir uma
altitude média de 1.000 metros, sofre grandes amplitudes térmicas, especialmente
no período seco. Esses atributos tornam a radiação solar, os ventos e a chuva os
principais elementos a influenciar o espaço construído da cidade (ROMERO, 2001,
p. 127-128).
De forma a enfatizar as últimas considerações, criou-se em 2003 uma
norma reguladora do desempenho térmico de edifica
ç
ões,
tomando-se por base a “Carta Bioclimática” sugerida por Givoni. A citada
regulamentação leva em conta as diferentes características do país, ao estabelecer
61
um zoneamento bioclimático brasileiro, e propõe diretrizes construtivas para
habitações familiares de interesse social.
Em estudo direcionado à construção de indicadores de sustentabilidade
urbana para o alcance de conforto nos espaços externos (ruas, praças, avenidas ou
outros espaços abertos), Silveira e Romero (2005) propuseram a análise da
geometria dos edifícios, dos materiais de revestimento, dos pavimentos e
mobiliários, do tipo e distribuição da vegetação e da relação entre área pavimentada
e vegetação.
Tomando por base referido estudo, a presente pesquisa restringiu a análise
dos elementos contribuintes para a sensação do conforto, concentrando-se no
sombreamento de áreas mais intensamente utilizadas; no efeito da canalização dos
ventos nos locais visitados; nas características de pavimento usado nas principais
passagens de pedestres; na existência de zonas de estar e de descanso; na
presença de mobiliário urbano adequado e no desempenho sonoro.
Segue, portanto, que para essa pesquisa a radiação, a vegetação, os
pavimentos, o mobiliário, a ventilação e o som são elementos que podem e devem
ser explorados com o intuito de obter conforto no espaço público. São conceitos que
serão brevemente abordados nos parágrafos seguintes.
Os espaços recebem radiações solares sob a forma de ondas magnéticas.
Ao penetrar na atmosfera, a intensidade da radiação é reduzida e sofre absorção,
reflexão e difusão por meio de diversos componentes do ar (v.g.: ozônio, vapor
d’água, dióxido de carbono e poeira). A radiação que chega à superfície da terra
influi na temperatura, na medida em que refletida ou absorvida no ambiente, a
depender da cor e das características dos materiais constituintes do solo,
coberturas, paredes e anteparos expostos a essa energia.
Dessa maneira, o aumento significante de pavimentos impermeabilizados
tem reduzido os espaços verdes e contribuído para o aumento da temperatura nas
cidades. O controle da radiação em um espaço densamente ocupado deve ser feito
por intermédio do uso de materiais e cores pouco reflexivas e, conjuntamente, pela
vegetação que absorve a radiação solar, aproveitando-a para realizar o processo de
evaporação que ocorre nas suas folhas, elevando a umidade do meio ambiente.
Am disso, o uso da vegetação é importante para obtenção de
sombreamento, diminuição da temperatura nos percursos e zonas de estar e fixação
de contaminantes e de poeira.
62
A vegetação deve constituir, de modo conjugado e sempre que possível, o
pavimento utilizado favorecendo a retenção da umidade. Quando aliada à água
produz ambientes mais úmidos e mais agradáveis, além de propiciar ao usuário
contato maior com a natureza.
Em relação aos pavimentos, os percursos devem ser facilitados de modo a
não oferecer superfícies desiguais ou o uso de materiais que provoquem sensação
térmica desagradável. Para Romero (2001, p. 97), os pavimentos dos espaços
públicos devem tirar proveito das qualidades superficiais dos materiais constituintes,
em correspondência direta com as características do espaço e com a temperatura
ambiental (QUADRO 3):
QUADRO 3
Aplicabilidade dos materiais de pavimentação
Característica do espaço Tipos de materiais correspondentes
Zonas de sombra durante o dia e abertas
durante a noite.
Concreto, cerâmica, brita e pedra.
Zonas de sombra durante o dia e cobertas
durante a noite.
Peças pré-fabricadas de materiais porosos com
circulação de água no seu interior; concreto,
pedra cerâmica e brita.
Zonas expostas
Superfícies pesadas, cores médias, concreto,
pedra e terreno vegetal.
Além disso, em relação aos pavimentos, insta destacar a largura e a textura
dos mesmos, com a previsão do trânsito de cadeira de rodas e carrinhos de bebê.
Quanto ao mobiliário urbano, deve-se observar a sua presença e
adequação funcional, o material de que é construído e seu nível de conservação e
limpeza. O material a compor o mobiliário tem relevância à medida que resistente às
intempéries e à demanda de uso no espaço público, ou seja, não deve ser
constitdo de materiais frágeis, nem tampouco, prejudicar o conforto, a estética e a
ludicidade.
Podem ser considerados mobiliários urbanos: bancos, mesas, lixeiras,
bebedouros, elementos de proteção e separação (grades protetoras de garagens
subterrâneas, vasos ornamentais e jardineiras), pérgolas, jogos, fontes, estátuas,
monumentos, cabines telefônicas, postes de iluminação, suporte para bicicletas e
placas de informação e sinalização.
FONTE: ROMERO, 2001, p.98.
63
A ventilação, em uma escala microclimática, afeta principalmente os
pedestres e as edificações. No caso específico das Superquadras, devido à
presença dos pilotis, ou características da massa de edifícios, podem surgir diversos
efeitos aerodinâmicos indesejáveis, os quais podem ser minimizados mediante o uso
de vegetação. Barreiras vegetais, não obstrutoras da visão, evidenciam-se
instrumentos eficazes para aumentar ou diminuir o vento nas regiões próximas ao
solo.
Romero (2001, p. 157) afirma que o espaço do som é fundamental e, ao
entender o espaço público na condição de espaço arquitetônico, defende que esse
ambiente funciona como uma caixa de ressonância que responde aos passos, às
vozes, aos materiais e ao ruído do tráfego presentes no entorno. O uso de materiais
acústicos refletantes, absorventes ou difusores possibilitam a proteção a ruídos
indesejáveis, assim como possibilitam tirar partido dessa reflexão sonora para a
criação de uma “poética do som”, em prol da geração de uma “personalidade
acústica ao recinto”.
6.3 Recomendações para a obtenção de sensação de conforto
Foi destacada nesse capítulo, a importância dos aspectos ambientais
(radiação, ventilação, vegetação e som) e dos aspectos físicos representados pelos
pavimentos e mobiliário urbano, para a obtenção de espaços públicos confortáveis.
Com base nesse escopo teórico, foi formulada uma série de
recomendações pela pesquisadora, mediante as quais se pretende subsidiar
diretrizes de desenho urbano, especificamente para o estudo de caso dessa
pesquisa. Para fins de organização metodológica, referidas recomendações foram
reunidas no QUADRO 4, juntamente com ilustrações que as tornam mais claras.
Acerca da metodologia, uma análise apurada do conforto nos espaços
depende de medições das condições de temperatura, umidade, sonoridade,
velocidade e direção dos ventos; ademais, necessita de instrumentos e mecanismos
que identifiquem a influência da vegetação, dos aromas e da cor no conforto dos
usuários.
Entretanto, para o presente trabalho, as análises acerca da sensação de
conforto dos lugares examinados basearam-se nas percepções da pesquisadora,
experimentadas durante as visitas. Essa particularidade justifica-se pelo enfoque da
64
pesquisa não se centrar no estudo do conforto propriamente dito, mas na influência
das sensações de conforto na utilização dos espaços analisados, a qual pode ser
obtida por meio de avaliações pessoais e subjetivas.
É importante trazer à tona, a depender de características peculiares de cada
local, a possibilidade de as recomendações acerca do conforto não se fazerem
positivas, diante do que caberá ao proponente do projeto de ambientes avaliar a sua
adequação.
Para a presente pesquisa, recomenda-se o uso da vegetação que possua
as seguintes características:
a) variedade de textura, cor e aromas;
b) sombreamento de equipamentos urbanos tais como: escolas, postos de
saúde, pontos de táxi e bancas de revista;
c) sombreamento de mobiliário urbano tais como: bancos, mesas e jogos;
d) sombreamento de percursos de grande atividade, que conduzam a
equipamentos urbanos;
e) opção por maciços vegetais, arbustos ou árvores não impeditivos da
visibilidade e da mobilidade;
f) quando utilizado em conjunto com a iluminação noturna, não provoque a
obstrução visual, levando à presença de áreas escuras.
São recomendações para a constituição dos pavimentos públicos:
a)
usar pisos antiderrapantes;
b)
estar associado à vegetação sempre que possível, reservando faixa com
textura uniforme e largura satisfatória para a passagem de cadeiras de
rodas e carrinhos de bebê;
c)
oferecer resistência e adequação do material ao clima e tráfego de
pessoas;
d)
propiciar caminhadas sem interrupções e desníveis;
e)
oferecer possibilidades de interações lúdicas (v.g.: jogos de amarelinha e
desenhos);
f)
oferecer possibilidade de demarcação e diferenciação de territórios.
Sobre o mobiliário urbano, foram consideradas as seguintes
características:
65
a) presença de mobiliário urbano que outorgue ao espaço atividades
diversificadas, tais como: descansar (bancos), estar (bancos, mesas e
rgolas), interação e lazer (jogos, parque e elementos lúdicos),
contemplação (esculturas e fontes) e apoio (lixeiras, suporte para
bicicletas, bebedouros e placas de sinalização);
b) adequação à diversidade de usuários e às faixas etárias diferenciadas;
c) manutenção e limpeza;
d) apelo ao lúdico e à estética.
Finalmente, sobre o desempenho sonoro dos espaços, foram observados
os seguintes aspectos:
a) ausência de sons altos e ruídos que impeçam o bom desempenho de
atividades cotidianas, tais como conversar, ler e estar;
b) presença de dispositivos físicos reguladores de desconforto sonoro;
c) exploração do ambiente sonoro por meio da água, vegetação e fauna.
Os elementos descritos nos parágrafos anteriores foram tomados como
base para a formulação do QUADRO 4, o qual se destina a balizar projetos de
ambientes externos que busquem promover a sensação de conforto nos usuários.
QUADRO 4
Elementos físicos e ambientais propiciadores da sensação de conforto nos
ambientes externos
Vegetação analisa a relação proporcional entre vegetação e espaço construído e o
sombreamento de áreas mais intensamente utilizadas.
Textura, cor e aromas.
Sombreamento de equipamentos urbanos tais como: escolas, postos de
saúde, pontos de táxi e bancas de revista.
Sombreamento de mobiliário urbano tais como: bancos, mesas e jogos.
Sombreamento de percursos de grande atividade, que levem aos
equipamentos urbanos ou constitua vias de pedestres.
Maciços vegetais, arbustos ou árvores não impeditivos da visibilidade e
da mobilidade.
Vegetação não obstrutiva de iluminação noturna
FIGURA 28 Mobiliário e
vegetação
FONTE: GEHL; GEMZOE, 2002,
p. 227
66
Pavimentos analisa as características dos pavimentos utilizados na circulação da quadra.
Utilização de pisos antiderrapantes.
Associação à vegetação sempre que possível, reservando faixa com
textura uniforme e largura satisfatória para passagem de cadeiras de
rodas e carrinhos de bebê.
Resistência e adequação do material ao clima e tráfego de pessoas.
Caminhadas sem interrupções e desníveis,
Interações lúdicas (v.g.:jogos de amarelinha e desenhos), demarcação e
diferenciação de territórios
.
FIGURA 29 Pavimento lúdico
FONTE: GEHL; GEMZOE, 2002,
p. 75
Mobiliário analisa o tipo, a localização e a adequação do mobiliário presente nos espaços
públicos.
Mobiliário urbano que outorgue ao espaço atividades diversificadas
como: descansar (bancos), estar (bancos, mesas e pérgolas), interação
e lazer (jogos, parque e elementos lúdicos), contemplação (esculturas e
fontes) e apoio (lixeiras, suporte para bicicletas, bebedouros, placas de
sinalização).
Conforto e adequação à diversidade de usuários e às faixas etárias
diferenciadas.
Manutenção e limpeza.
Apelo ao lúdico e à estética.
FIGURA 30 Sombreamento de
mobiliário
FONTE: GEHL; GEMZOE, 2002,
p. 64.
Ventilação analisa a interferência dos ventos dominantes no conforto dos usuários
Canalização dos ventos ou qualquer outro efeito que possa gerar
desconforto.
FIGURA 31 Controle de ventos
e ruído; separação entre ruas e
áreas de serviço ao ar livre.
FONTE: GEHL; GEMZOE, 2002,
p. 83
.
Sonoridade verifica o desempenho sonoro dos espaços
Sons altos e ruídos que impedem o bom desempenho de atividades
cotidianas tais como conversar, ler e estar.
Dispositivos físicos reguladores de desconforto sonoro estão presentes
quando necessário.
Exploração do ambiente sonoro por meio da água, vegetação e fauna.
FIGURAS 32 e 33 Água
FONTE: GEHL; GEMZOE, 2002,
p. 227
.
67
A aplicação do quadro supra constituiu-se base para a elaboração de
diretrizes propiciadoras da sensação de conforto, juntamente com a aplicação da
ficha bioclimática, com referência à área da Superquadra escolhida nessa pesquisa
(ÁREA 1), em prol da reformulação de seus espaços.
Passa-se a analisar as variáveis físicas, ambientais e funcionais associadas
à segurança nos espaços públicos.
68
7 VARIÁVEIS FÍSICAS, AMBIENTAIS E FUNCIONAIS ASSOCIADAS À
SEGURAA
Qualidades físicas, funcionais e ambientais ideais para o espaço público
urbano estão vinculadas à segurança, enquanto elemento primordial para que
exerça efetivamente seu papel na sociedade, na medida em que espaços inseguros
não atraem usuários.
Jane Jacobs (2000) identificou basicamente três atributos capazes de
influenciar na segurança dos espaços. Conforme a autora, a vigilância natural
exercida pelos próprios moradores e transeuntes, o uso contínuo das calçadas por
pedestres e a clara definição territorial entre as áreas públicas e privadas promovem
a segurança dos espaços.
Em concordância com Jacobs acerca da importância da vigilância natural, a
Fundación Paz Ciudadana (2003a; 2003b) afirma que o projeto dos ambientes deve
evitar vegetação densa, muros, grades e mobiliário urbano impedidores da conexão
visual casa-rua, comércio-rua e entre transeuntes. Destaca, em conjunto, a
necessidade de instalação de iluminação noturna adequada, que evite a formação
de áreas escuras indutoras da sensação de insegurança e facilitadora de ações
delitivas.
O segundo atributo destacado por Jacobs relaciona-se ao uso contínuo das
calçadas e dos espaços públicos pela comunidade; ações que dependem do grau de
acessibilidade aos espaços.
O termo acessibilidade possui uma vasta gama de aplicações e enfoques,
relacionados ao processo de deslocamento de pessoas em ambientes urbanos. Dito
deslocamento vincula-se à separação ou distribuição espacial de atividades e
sistemas de transportes. A acessibilidade configura-se parâmetro essencial de
análise do grau de sustentabilidade espacial, pois mensura a possibilidade igualitária
de os indivíduos efetuarem deslocamentos e acessarem todos os espaços públicos
de uma cidade.
Sob a ótica de Almeida (1999, cap. 5.2), o conceito de acessibilidade pode
ser entendido como uma forma de medir as dificuldades frente à separação espacial
entre o indivíduo e as atividades sociais. Sobre esse conceito, afirma o autor:
69
A evolução do conceito de acessibilidade pode ser percebida na literatura,
podendo envolver conotações singulares de distância entre pontos de uma
área urbana, até uma conceituação mais elaborada e complexa que leva em
conta outros parâmetros e um grande número de restrições ao acesso a
uma atividade por um indivíduo.
Com o intuito de definir o conceito de acessibilidade a ser considerado
nesse trabalho, será utilizada a concepção segundo a qual os parâmetros de
acessibilidade relacionam-se às atividades urbanas, tendo por atributos principais de
análise: calçadas, vias, distribuição espacial e capacidade física das pessoas
(ROMERO et al., 2004, p. 15).
14
A partir desses atributos de análise, barreiras físicas (traduzidas por
desníveis, taludes, trincheiras, ausência de rampas para portadores de
necessidades especiais), má conservação de calçadas/vias e ocupação indevida do
espaço público, configuram-se impeditivas da acessibilidade e, em conseqüência, do
livre caminhar e das possibilidades de trocas socioculturais.
Além de interferir nas interações sociais, a acessibilidade vincula-se à
segurança dos espaços. A partir da instalação de fechamentos e obstruções
(grades, muros, cercas vivas), a acessibilidade fica restringida ao controle de
acessos, tendendo a atuar como elemento excludente (item 4.3). Outro aspecto
relevante é a formação de espaços labirínticos a partir da distribuição equivocada de
barreiras físicas. São espaços que geram sensação de insegurança, à medida que
reduzem a possibilidade de fuga ou de socorro.
Essa teoria é apoiada por Shu e Huang (2003) e Voordt e Wegen (1988), os
quais sustentam que espaços com maior potencial de movimento tendem a ser mais
seguros nos casos de roubo a residências. Nesse sentido, medidas facilitadoras dos
acessos podem ser alcançadas por intermédio de uma boa integração de vias com o
entorno, instalação de rotas bem definidas e sinalizadas, além da ausência de
obstáculos.
Ao confirmar a relação existente entre acessibilidade e segurança nos
espaços, Hillier (2004) e Shu e Huang (2003) também ressaltam que o sistema viário
da rua, seja tradicional, seja formado por cul-de-sac, deve estar bem integrado com
as vias principais. Deve, conjuntamente, ser desenhado de forma a permitir o
14
O critério “iluminação”, apesar de referido pelos autores, não será aqui analisado, visto que
presente em outras partes do trabalho.
70
contato visual com as rotas de acesso, com vistas a evitar a formação de complexos
hierárquicos e segregados do principal sistema de circulação local.
Em complemento ao atributo “uso contínuo das calçadas” destacado por
Jacobs, a par das estratégias promotoras da acessibilidade já destacadas, Shaftoe
(2007) defende o desenho de espaços inclusivos que visem à diversão e ao
entretenimento de todos os segmentos da sociedade, na condição de importante
aliado no controle da criminalidade.
Para referido autor, a presença de atividades recreativas diversificadas e
para todas as faixas etárias estimulam a convivência. O comércio deve ser
diversificado, evitando-se a especialização de atividades. Sempre que possível, a
área comercial deve conter estabelecimentos que funcionem 24 horas, de forma a
conceder vigilância no período noturno, quando os espaços tendem a se esvaziar.
Uma alternativa que propicia o uso e a ocupação dos espaços em horários
não usuais é o incentivo às atividades noturnas atrativas de grupos diferenciados de
pessoas, conjugadas a espaços de uso misto que abriguem mais de uma atividade
em turnos alternados. No entanto, Newman (1973) adverte que o conflito de usos
pode ocorrer; por isso, atividades incompatíveis não devem ocupar espaços
aproximados (v.g.: parque infantil e bares).
Com a mesma finalidade
,
Gehl e a Fundación Paz Ciudadana destacam a
exploração de esquinas para a criação de espaços de maior fluxo de pessoas e
interação. Outras medidas englobam reservar locais distantes do fluxo de
automóveis para atividades de descanso, contemplação e destinadas ao público
infantil.
Nesse sentido, áreas de estar devem prever mobiliário urbano apto a
receber de forma confortável os diferentes públicos (v.g.: crianças, adolescentes,
idosos e portadores de necessidades especiais).
Quanto ao terceiro atributo destacado por Jacobs, representado pela
definição territorial dos espaços de usos diferenciados, concorda Newman (1973;
1995) que elementos físicos do ambiente devem proporcionar zonas perceptíveis de
influência territorial, com nítida separação entre os espaços público e privado, por
meio de mecanismos de subdivisão ou elementos diferenciadores de áreas que
possuem usos diversos.
Atividades que estimulam o cuidado com os jardins coletivos, a construção
de equipamento de lazer com a participação da comunidade e a utilização dos
71
espaços públicos para festas comunitárias são atividades que desenvolvem esse
sentido de apropriação. Neste tocante, os espaços devem apresentar de forma clara
sua diversidade, nem que para esse fim sejam utilizados elementos físicos
simbólicos de diferenciação, os quais podem constituir-se de pavimentos, esculturas
ou vegetação.
Além disso, o sentimento de apropriação de um espaço por determinado
grupo de moradores incentiva a sua manutenção e cuidado, a par de contribuir para
a redução da imagem de isolamento e abandono dos espaços residenciais e
públicos (NEWMAN, 1973; FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA, 2003a, 2003b),
especialmente mediante a ausência de apropriação ilegal ou invasão, pichações,
atos de vandalismo, presença de lixo e equipamentos ou mobiliários deteriorados.
Por último, em complemento às sugestões de Jacobs, estudos mostram que
espaços limítrofes no meio urbano, devido ao fato de criarem “zonas de
amortecimento”, constituem áreas de altos índices criminais onde estranhos são
mais facilmente aceitos e permitidos, ao contrário das áreas situadas em seu interior
(BRANTINGHAM; BRANTINGHAM, 1993, p. 18).
O espaço urbano é repleto de locais onde há diferenciações suficientemente
perceptíveis de modo a configurem limites. Podem ser considerados limites as
bordas de um rio, residências localizadas linearmente atrás de uma zona comercial,
vias ou fronteiras entre dois tipos de áreas e usos. Caracterizam-se, em conjunto,
por barreiras físicas ou pontos de orientão com qualidades direcionais (LYNCH,
1997, p. 69-74).
Atendidas específicas características, “espaços-limites” formam regiões sem
apropriação devida e favorecedora de atividades criminosas. Áreas urbanas que
utilizam o zoneamento ou a malha viária para acomodar equipamentos urbanos,
centros de atividades e trilhas para passagens, criam, consequentemente, espaços
propiciadores de ocorrências infracionais (BRANTINGHAM; BRANTINGHAM, 1993).
Juntamente com os limites, nós de grandes atividades (pólos geradores de
tráfego e equipamentos urbanos), trilhas e vias de tráfego intenso (que ligam esses
nós) constituem espaços vulneráveis onde as oportunidades de consumar atividades
delitivas apresentam-se maiores. Em razão disso, tais espaços merecem projetos
destinados a diminuir e atenuar a criminalidade.
72
A partir da consideração do corpo teórico apresentado acima, foram
estabelecidas as seguintes variáveis a serem observadas, em prol da obtenção de
ambientes seguros:
a) acessibilidade;
b) conservação e manutenção dos espaços, equipamentos e mobiliário
urbano;
c) conexões visuais;
d) estímulo aos laços de pertencimento;
e) clareza de definição territorial;
f) cuidado especial com os espaços representados por nós, trilhas e
limites;
g) estímulo ao lazer e interação social.
Esses atributos, quando respeitados, possuem a capacidade de auxiliar na
segurança dos espaços públicos urbanos, ressaltar suas qualidades cívicas e, em
conseqüência, fomentar a própria sociabilidade.
A reunião de referidos atributos permitiu à pesquisadora conceber o
QUADRO 5, constituído de dispositivos físicos e funcionais que facilitam a obtenção
de segurança no espaço público. Nele está registrado, também, o referencial teórico
que inspirou a formulação dessas medidas e ações, cuja ausência ou presença
influenciam na oportunidade para o cometimento de atos delitivos.
Referido quadro aborda aspectos relativos à acessibilidade
15
e incentivo ao
pedestre, conservação do espaço público e mobiliário urbano, vigilância natural e
elementos obstrutores das visuais; há conjuntamente aspectos relativos à
apropriação do espaço público pela comunidade, definição do espaço público,
“semipúblico” e privado, diversidade de atividades e cuidado especial a trilhas, nós e
limites de grandes atividades.
15
Salienta-se também que o aspecto nomeado acessibilidade, será explorado conjuntamente com o
auxílio das tabelas desenvolvidas na disciplina ‘Estudos Ambientais’, ministrada pela Prof.Drª
Marta Adriana Bustos Romero, as quais serão abordadas no próximo capítulo.
73
QUADRO 5
Dispositivos físicos e funcionais para obtenção de segurança no espaço público
ASPECTOS FÍSICOS E FUNCIONAIS PARA ANÁLISE
REFERENCIAL TRICO
Acessibilidade/ incentivo ao pedestre
Jane Jacobs (2000); Shu (1999; 2003)
Ausência de obstáculos impeditivos de acessar espaços públicos e equipamentos urbanos
Rotas bem definidas com sinalização adequada
Integração com o entorno
Conservação do espaço público e mobiliário
urbano
CPTED Fundación Paz Ciudadana (2003ª,
2003b)
Ausência de pichações
Ausência de atos de vandalismo
Ausência de apropriação ilegal ou invasão do espaço público
Acondicionamento correto do lixo
Limpeza do espaço público
Manutenção do mobiliário e dos equipamentos públicos
Vigilância Natural / Elementos sicos obstrutores
das visuais
CPTED - Fundación Paz Ciu dadana (2003a,
2003b); Jane Jacobs (2000);
Ausência de cercas, grades ou muros que impeçam a conexão visual
Ausência de vegetação que impeça a conexão visual
Ausência de edificações ou mobiliário que impeçam a conexão visual
Iluminação noturna
Apropriação do espaço público pela comunidade
CPTED - Fundación Paz Ciu dadana (2003a,
2003b); Jane Jacobs (2000); Shaftoe (2007)
Cuidado com jardins e áreas verdes
Construção de elemento de lazer pela comunidade
Utilização do espaço público para festividades comunitárias
Definição espaço público X semipúblico X
privado
Definição de espaços de usos diferenciados
Jane Jacobs (2000); CPTED - Fundación Paz
Ciudadana (2003a, 2003b); Newman (1995)
Presença de elementos físicos simbólicos diferenciadores dos espaços
Diversidade de atividades
Shaftoe (2007
)
Atividades comerciais diversificadas
Espaços com uso misto
Atividades recreativas diversificadas
Presença de áreas de estar
Presença de atividades noturnas
Cuidado especial a trilhas, nós e limites de grande
atividade
Patricia e Paul Brantingham (1993)
Em levantamentos realizados in loco nas Superquadras SQN 408 e na SQN
208, o QUADRO 5 auxiliou na identificação da presença ou ausência dos aspectos
físicos e funcionais acima listados. Sua grande cooperação consistiu em identificar
pontos vulneráveis nos espaços examinados e o estabelecimento de análises
comparativas entre as quadras. Esse último fator colaborou para a identificação dos
aspectos físicos, ambientais e funcionais influenciadores no número de ocorrências
criminais estudadas e causadores dos diferentes índices infracionais observados.
74
8 AS SUPERQUADRAS DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA
8.1 A proposta de Lucio Costa
Com referência ao planejamento residencial do Plano Piloto de Brasília,
Lucio Costa propôs uma seqüência contínua de grandes quadras constituídas por
blocos residenciais e servidas por equipamentos comunitários, áreas de lazer,
comércio local, correio, posto de saúde, biblioteca, templo e unidade educacional
(CARPINTERO, 2005).
A partir de tais conceitos urbanísticos, as Superquadras estariam dispostas
em ambos os lados da faixa rodoviária, envoltas por uma cinta arborizada com
árvores de porte, chão gramado, arbustos e folhagens, que formam extensas áreas
sombreadas para o passeio e o lazer (FIG. 34 e 35).
FIGURA 34 A Superquadra
FONTE: DISTRITO FEDERAL, 1991, p. 63
75
Lucio Costa idealizou, ainda, que o agrupamento de 4 em 4 Superquadras
(FIG. 36) iria propiciar a coexistência comunitária, evitando-se a estratificação social.
Evidenciou-se clara a preocupação do urbanista em minimizar as diferenças sociais,
onde as alterações de padrão entre uma quadra e outra seriam “neutralizadas pelo
próprio agenciamento urbanístico proposto” (DISTRITO FEDERAL, 1991).
FIGURA 35 - Setor residencial
FONTE: DISTRITO FEDERAL, 1991, p. 25
FIGURA 36 - Unidade de vizinhança, Asa Sul
FONTE: DISTRITO FEDERAL, 1991, p. 60
Tomando por base o Relatório do Plano Piloto de Brasília (DISTRITO
FEDERAL, 1991, p. 28), o item 16 assim descreve as intenções para a área
residencial:
Dentro dessas “super-quadras”, os blocos residenciais podem dispor-se de
maneira mais variada, obedecendo porém, a dois prinpios gerais: o
gabarito máximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do
tráfego de veículos do trânsito de pedestres, mormente acesso à escola
primária e às comodidades existentes no interior de cada quadra.
Embora na citação supra a proposta do uso dos pilotis já estivesse bastante
clara, em seu trabalho posteriormente elaborado na década de 1980, intitulado
“Brasília Revisitada”, Lucio Costa (1987) reafirma seu empenho para que sejam
mantidas as funções originais desse elemento:
76
A escala residencial, com a proposta inovadora da Superquadra, a
serenidade urbana assegurada pelo gabarito uniforme de seis pavimentos,
o chão livre e acessível a todos através do uso generalizado dos pilotis e o
franco predomínio do verde, trouxe consigo o embrião de uma nova maneira
de viver, própria de Brasília e inteiramente diversa da das demais cidades
brasileiras.
E mais adiante, complementa no sentido de que (COSTA, 1987):
A proposta de Brasília mudou a imagem de ‘morar em apartamento’, e isto
porque morar em apartamento na Superquadra significa dispor de chão
livre e gramados generosos contíguos à ‘casa’ numa escala que um lote
individual normal não tem possibilidade de oferecer.
Em diversos momentos, Lucio Costa estabeleceu que o livre caminhar, o
chão livre e acessível a todos, são aspectos essenciais para a coexistência,
interação e integração social nas quadras residenciais.
Essa constatação coincide com os pressupostos atuais que buscam, na
sustentabilidade, soluções para um futuro mais harmonioso nas cidades, com o
estabelecimento do âmbito público como local de troca, enriquecimento cultural,
respeito e exaltação das diferenças (ROGERS; GUMUCHDJIAN, 2001, p. 152).
Entretanto, o desenho das Superquadras pode causar a impressão de
impessoalidade em decorrência de sua proposta morfológica homogênea, atingindo,
sobretudo, sua legibilidade.
Embora seja possível notar a inspiração do desenho modernista, verifica-se
também um forte sentido do lugar moldando o espaço. A acomodação do traçado ao
lago Paranoá, a presença marcante do céu preservado, a maior referência de
orientação fixada nos quatro pontos cardeais, são escolhas indutoras da percepção
da natureza presente no Plano Piloto.
A concepção original do Plano Piloto de Brasília elaborada por Lucio Costa
sofreu várias modificações ao longo do processo de construção e consolidação da
cidade. Após o concurso que elegeu o projeto para a nova capital, a NOVACAP
16
promoveu sua revisão, a qual resultou em mudanças na concepção originalmente
formulada, dentre as quais se destacam: o deslocamento de cerca de 500m do
conjunto urbano para Leste; acréscimo nas áreas disponíveis para residências e
serviços (uma faixa para Superquadras, uma para residências geminadas e mais
16
Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil.
77
duas para serviços); ampliação e transferência das residências individuais norte e
Sul para a outra margem do lago Paranoá; e criação de uma rodovia sobre o divisor
de águas com o intuito de proteger a bacia do lago (CARPINTERO, 1998, p. 156-
158).
Além dessas alterações, surgem modificações dispersas e pontuais a partir
de meados da década de 1970, representadas a título exemplificativo pela ocupação
das áreas públicas, fronteiras ou contíguas às casas da W3 e o bloqueio do acesso
público aos pilotis das Superquadras (CARPINTERO, 1998, p. 217-218).
As modificações quanto ao acesso aos pilotis integraram alguns projetos,
ainda na fase de construção dos edifícios, ao elevarem um pouco o piso dos pilotis
em um degrau ou mais, para permitir a ventilação de garagens em subsolo.
Posteriormente, alguns edifícios passaram a ser nivelados pelo ponto mais
alto da topografia, fato que permitia a criação de novo andar térreo, usado para
garagens. Com os pilotis elevados, ocorreu o fechamento da livre passagem dos
pedestres sob os pilotis. Além desses tipos de bloqueios, em outros casos sob a
alegação de segurança, foi verificado o fechamento com cercas vivas, folhagens e
arbustos (CARPINTERO, 1998, p. 218).
No tocante à legislação, cumpre ressaltar que o primeiro Código de Obras
foi aprovado logo após a inauguração de Brasília, em 1960. Nessa normativa, para o
parcelamento do solo e locação do edifício foi introduzido o chamado “sistema de
projeção”.
O Código de 1960 concedia aos proprietários de suas proj eções
diferentemente do que ocorre com lotes ou frações ideais o direito de construção
apenas acima do andar térreo, cuja superfície deveria permanecer aberta, na
condição de servidão pública franqueada aos transeuntes (FICHER et al., 2004).
A norma evidenciava, ainda, o uso público do térreo e proibia o seu
fechamento para outras finalidades que não vestíbulos e quadros de medidores. O
espaço térreo era, na verdade, um prolongamento das áreas circundantes ao
edifício, ou seja, um espaço público contíguo sem desníveis ou vedações.
No Código superveniente de 1967, foi autorizado o fechamento descontínuo
de até 40% do térreo, para uso do bloco na instalação de vestíbulos, apartamentos
de zelador e depósito de lixo. Além de referidos permissivos, o último Código de
Obras datado de 1998 também passou a autorizar dependência para faxineiros,
guaritas, bicicletários e salão de festas. Tais alterações provocaram uma
78
descaracterização do uso original do térreo dos blocos, ocasionando uma diminuição
do espaço público até então presente nesses locais (FICHER et al, 2005).
Nesse tocante, Ficher et al. (2005, p. 16) ressaltam que:
Concebido inicialmente como prolongamento dos jardins (excelente para
abrigar jogos infantis em dias chuvosos), o térreo vem sendo tratado cada
vez mais como um espaço cenográfico, de modo a se tornar uma vitrina
para a sofisticação dos seus apartamentos.
E mais a frente, complementa os autores no sentido de que “as
transformações envolvendo seu tratamento e a delimitação do seu entorno imediato
com jardins diferenciados e cercas vivas ajudam a estabelecer fronteiras mais
nítidas entre o público e o privado no interior das Superquadras” (FICHER et al.,
2005, p. 16).
Dentre os projetos para as Superquadras do Plano Piloto, destaca-se o
projeto realizado por Holanda e Barcelos (2003) relativo à SQN 109. A proposta
buscou estabelecer uma diferenciação espacial na quadra, com base em
implicações topoceptivas (facilitadoras da orientabilidade), co-presenciais
(relacionadas à ocorrência de presença ou ausência de pessoas no espaço público)
e funcionais (complementariedade entre equipamentos e espaços abertos).
Esse projeto valorizou elementos tais como a entrada da quadra, ponto de
ônibus e ligações com o comércio local, com a intenção de estabelecer uma relação
mais fluida da quadra com seu entorno. Propôs-se, ainda, aumentar a legibilidade da
quadra, localizar os equipamentos coletivos em áreas mais acessíveis aos não
moradores, priorizar os pedestres e utilizar elementos da vegetação e da iluminação,
no sentido de reforço da identidade do lugar.
8.2 O conflito entre a proposta de Lucio Costa e a forma de apropriação da
comunidade
A gradual apropriação dos pilotis pelos blocos na condição de áreas de uso
privativo, além de descaracterizar as intenções iniciais do projeto original de Brasília,
79
demonstra-se impeditiva do livre caminhar, da acessibilidade e, especialmente, da
amplitude visual.
Esse último item, aliás, merece ser ressaltado pela sua importância, eis que
elemento primordial para a segurança das áreas sob os blocos e nas áreas
contíguas a esses. É a partir do controle visual feito pelos próprios moradores e
transeuntes que se viabiliza inicialmente a segurança da área. Para tanto, destaca-
se a importância da presença da comunidade na fruição desses espaços, seja para
lazer, seja para passagem, o que induz a uma necessidade maior em oferecer
espaços bem cuidados, confortáveis, acessíveis aos moradores e usuários.
A comunidade moradora das Superquadras demonstra precisar de uma
melhor definição territorial dos espaços; conclusão essa atestada pela adoção
generalizada de dispositivos físicos simbolizadores de limites (barreiras formadas
por cercas vivas e bancos) e, em alguns casos, de muros e grades ao redor dos
pilotis.
Tais impeditivos contribuem, entretanto, de forma inversa ao esperado,
diminuindo a amplitude visual do espaço público, favorecendo o aumento de áreas
vazias e, conseqüentemente, denotando menor sensação de segurança para o
usuário; o que acarreta, em conjunto com outros fatores, a restrição ao uso das
áreas públicas comuns, de modo a contribuir para a diminuição dos encontros e
trocas sociais diversificadas.
A pretensão crescente em tornar os pilotis de uso privativo dos moradores
dos blocos evidencia-se nas mudanças ocorridas na legislação, em virtude das
alterações concretas já consolidadas, conforme mostrado na evolução dos Códigos
de Obras acerca da matéria.
Os impedimentos relacionados à acessibilidade e à conexão visual,
conquistados por meio da instalação dos referidos dispositivos físicos, embora
possam satisfazer a necessidade de demarcação territorial dos moradores, são
obstáculos irrefutáveis ao controle natural eficaz. Alternativas se fazem necessárias
para a satisfação da necessidade de diferenciação dos espaços limítrofes sem,
contudo, comprometer a vigilância natural.
80
8.3 Notas sobre a acessibilidade nas Superquadras
Nessa ocasião, faz-se necessário citar as pesquisas realizadas no âmbito
da disciplina “Estudos Ambientais”, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Marta Adriana Bustos
Romero na Universidade de Brasília, as quais estabelecem parâmetros de avaliação
para a acessibilidade do pedestre nas Superquadras. Por fornecerem grande volume
de elementos que subsidiam propostas de melhorias no espaço, seu método será
utilizado, em parte, para a aquisição de informações acerca da acessibilidade no
presente trabalho.
Referidas pesquisas destacam que, para o caso específico das
Superquadras, nos edifícios residenciais deve ser evitada a presença de muros,
cercas vivas, parapeitos e grades, ou seja, elementos redutores da acessibilidade.
Sempre que possível, as curvas do terreno devem ser preservadas e os edifícios
adaptados a elas; dessa maneira, busca-se evitar grandes desníveis que
desestimulem o acesso.
Foram priorizadas as investigações relativas aos acessos e formas de
circulação nas quadras pelo pedestre, devendo eles constituirem-se de pavimento
em bom estado de conservação e sombreamento. Além disso, focalizou-se o grau
de ocupação dos pilotis, considerada a premissa segundo a qual quanto mais
vedados por salões de festas, bicicletários, etc., pior se configuram as possibilidades
de circulação do pedestre no térreo dos edifícios residenciais.
São considerados portanto, para o presente estudo, elementos passíveis de
análise para a acessibilidade nas Superquadras: formas de circulação, acessos aos
edifícios, desníveis e ocupação dos pilotis. Nos próximos parágrafos será explanado
cada um desses elementos.
A circulação refere-se às possibilidades de movimento do pedestre na
quadra residencial para acessar os edifícios, os equipamentos públicos e o comércio
local. No QUADRO 6, item 1, em azul estão representadas as vias de automóveis e,
em lilás, as vias exclusivas para pedestres. Referido item também avalia as
características dos pavimentos constituintes das vias para transeuntes.
Esses levantamentos foram feitos através de visitas às Superquadras (in
loco) e análise de imagens aéreas extraídas do programa Google. O objeto de
análise concentrou-se nas calçadas, nas quais foi identificada a presença ou a
81
ausência de sombreamento, o estado de conservação (se o calçamento é contínuo
ou sofre interrupções), a presença ou não de grandes desníveis e de rampas para
portadores de necessidades especiais.
As análises das imagens aéreas e visitas in loco, buscaram verificar se
existe pavimentação para o caminhante que ligue todos os edifícios, equipamentos
públicos e comércio local, ou se o pedestre é obrigado a abrir trilhas espontâneas.
Esses elementos receberam notas que variam entre: “ótimo”, “bom” e “ruim”,
com o objetivo de estabelecer um parâmetro classificatório. O QUADRO 6, item 1,
mostra exemplos
17
onde as características da SQN 108 (FIG. 37) obtiveram
classificação “ótima”, as da SQS 309 (FIG. 38) “bom” e as da SQN 109 (FIG. 39)
“ruim”.
O item 2 do QUADRO 6, refere-se a obstruções nos edicios e analisa os
acessos aos pilotis e sua permeabilidade. É identificada a presença de cercas vivas,
grades, muros ou obstáculos que impedem ou reduzem a acessibilidade. São
considerados “ótimo” os acessos que não possuem as obstruções ou os
fechamentos acima listados (FIG. 40).
Os acessos classificados como “bom” são aqueles que, embora possuam
fechamentos, ofertam muitas possibilidades de acesso (FIG. 41).
A classificação “ruim” é atribuída aos edifícios com
obstruções que
restringem as opções de entrada e saída do bloco, ou que possuem somente acesso
único, acarretando a baixa permeabilidade nos pilotis (FIG. 42).
O item 3 do QUADRO 6, chamado desníveis, examina a implantação dos
edifícios em relação ao terreno, bem como a necessidade de presença ou ausência
de escadas e rampas para portadores de necessidades especiais.
Recebem a classificação “ótima” (FIG. 43) quando os blocos são adaptados
às curvas do terreno e não precisam da instalação de rampas e escadas; “bom”
(FIG. 44) quando os desníveis são vencidos por rampas e escadas; e “ruim” (FIG.
45) quando os desníveis são muito acentuados formando trincheiras e taludes, às
quais não existe forma alguma de acesso.
O item 4, do QUADRO 6, demonstra o grau de ocupação dos pilotis e
verifica a relação entre o espaço público livre e o espaço público ocupado com uso
17
Os exemplos presentes no QUADRO 6 provêm de levantamentos realizados por alunos da
disciplina “Estudos Ambientais”, ministrada pela Prof.ª Dr.ª Marta Adriana Bustos Romero, nos
anos de 2005 e 2006.
82
privado nos pilotis dos blocos das Superquadras, a partir da legislação vigente que
permite ocupação máxima de 40% do térreo.
São calculadas as áreas tomadas pela instalação de bicicletários, salões de
festas, academias de ginástica, brinquedotecas ou outros espaços fechados e de
uso restrito aos moradores do edifício, bem como os espaços ocupados pelos
pilares, acessos verticais e guaritas. Ressalta-se que, quando os pilotis são
utilizados na condição de estacionamento, essa área também é considerada de uso
privativo (FIG. 46 a 48).
Após as medições das referidas áreas, elas são comparadas com o restante
do espaço livre. Quando se verifica a ocupação superior aos 40% permitido por lei,
considera-se que o espaço tem sua permeabilidade reduzida e, por conseqüência, a
acessibilidade também, pois dificulta o caminhar do pedestre pelos espaços térreos
e públicos dos edifícios das quadras, tornando os pilotis espaços excludentes e de
uso privado.
QUADRO 6
Elementos condicionantes da acessibilidade nas Superquadras
1. Circulação - analisa a circulação no interior da quadra identificando todos os acessos aos
equipamentos públicos, estacionamentos e ao comércio local.
ÓTIMO BOM RUIM
FIGURA 37 - SQN 108
FIGURA 38
-
SQS 309
FIGURA 39
-
SQN 109
Passagens
sombreadas.
Calçadas contínuas,
uniformes, sem grandes
desníveis e em bom estado de
conservação.
Ausência de trilhas
feitas por pedestres.
Passagens sombreadas
em grande parte dos percursos,
ou ao menos, naqueles que
vencem grandes distâncias ou
levam aos equipamentos
públicos e mobiliários urbanos
(ex: parada de ônibus, orelhão).
Calçadas contínuas,
uniformes, sem grandes
desníveis e em estado bom
estado de conservação.
Presença de trilhas feitas
por pedestres.
Passagens sem
sombreamento.
Calçadas descontínuas
com desníveis e obstáculos,
sem conservação ou ausentes.
Presença de trilhas feitas
por pedestres.
83
2. Obstruções nos edicios - identifica e analisa a permeabilidade dos acessos aos pilotis
dos edicios.
ÓTIMO BOM RUIM
FIGURA 40
SQN 214
FIGURA 41 SQN 309
FIGURA 42
SQN 303
Acessos sem obstruções
(cercas vivas, grades e muros)
mantendo os pilotis permeáveis.
Obstruções que
permitem várias opções de
entrada e saída, mantendo os
pilotis semipermeáveis.
Obstruções que
dificultam a existência de várias
opções de entrada e saída do
bloco, neste caso, provocando a
ausência de acessos neste lado
do edifício.
3. Desníveis - analisa a implantação dos edicios em relação ao terreno.
ÓTIMO BOM RUIM
FIGURA 43
SQN 214
FIGURA 44
SQN 214
FIGURA 45
SQN 214
Edifícios adaptados às
curvas do terreno.
Ausência de necessidade
de instalação de escadas e
rampas.
Desníveis vencidos por
rampas e escadas.
Desníveis muito
acentuados formando
trincheiras e taludes.
Ausência de escadas e
rampas necessárias.
4. Ocupação dos pilotis verifica a relação entre o espaço público livre e o espaço público
ocupado nos pilotis dos blocos das Superquadras.
ÓTIMO BOM RUIM
FIGURA 46
SQS 106, bloco D
FIGURA 47
SQS 106, bloco A
FIGURA 48
SQS 306, bloco E
Ocupação dos pilotis que
se restringem aos acessos
verticais, pilares e guarita.
Obtendo um somatório total de
ocupação inferior aos 40%
permitidos na legislação.
Ocupação dos pilotis por
jardineiras. Porém a área não
ultrapassa o percentual de 40%
permitido por lei.
Ocupação intensa e acima
do percentual permitido por lei,
acarretando na diminuição da
permeabilidade do espaço e
dificultando o trânsito pelos
pilotis deste bloco.
84
Embora eficaz, o método de análise acima descrito torna-se comprometido
quando envolve áreas muito extensas, pois demonstra ser mais adequado em
análises pontuais, centradas especificamente nos edifícios e no entorno imediato a
eles.
Por esse motivo, a sistemática foi apenas parcialmente utilizada na presente
pesquisa, excluída a classificação “ótimo”, “bom” e “ruim” e o cálculo de ocupação
dos pilotis.
18
A respeito do tópico circulação, optou-se por restringir a análise aos
acessos marginais das Superquadras (Norte, Sul, Leste e Oeste).
De outro lado, referido método fez-se eficaz na obtenção do indicativo “grau
de acesso” às quadras estudadas, ao permitir comparações entre criminalidade,
permeabilidade e acessibilidade, como será visto no capítulo 10.
18
O presente trabalho não obteve acesso às medições das áreas ocupadas pelos pilotis da SQN
408 e SQN 208. A avaliação dessas quadras no tocante ao quesito “ocupação dos pilotis” foi
empírica, atendo-se mais ao uso evidenciado nas referidas áreas que à porcentagem de
ocupação das mesmas.
85
9 CRIMINALIDADE NAS SUPERQUADRAS DO PLANO PILOTO DE BRASÍLIA
9.1 Especificação das ocorrências criminais objeto da pesquisa
Uma pesquisa incluindo os crimes contra a pessoa e costumes, é de
extrema relevância, inclusive aquelas que oferecem atenção especial aos casos de
estupro e atentado violento ao pudor, que dependem da oportunidade física por
excelência para acontecer.
Entretanto, optou-se na presente pesquisa por não incluir os crimes contra a
pessoa, dentre os quais se inclui o homicídio, haja vista os manuais da Fundación
Paz Ciudadana, o qual embasará boa parte das diretrizes e práticas desse trabalho,
não realizarem nenhuma menção a este tipo específico de crime. Ademais,
considera-se que no homicídio existe um papel especialmente relevante de fatores
sociais e pessoais envolvidos na sua ocorrência, que muitas vezes sobrepujam a
importância das características físicas do espaço. Contudo, referida temática fica
como sugestão de aprofundamento em trabalhos futuros.
Embora tenha sido destacada a importância desse estudo para os casos de
estupro e atentado violento ao pudor, as quadras residenciais escolhidas para a
pesquisa não apresentam, no período analisado, registros de ocorrência de tais
crimes nas estatísticas fornecidas pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito
Federal, motivo porque foram eliminados da abrangência da investigação.
De acordo com o Código Penal brasileiro, os crimes de furto, roubo e dano
são assim tipificados, acrescidos dos comentários do penalista Costa Jr. (2003):
a) FURTO Art. 155 subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
A pena aumenta-se de um terço, se o crime é praticado durante repouso
noturno. “A falta de luz favorece a execução do crime; e o repouso a que
se entregam as pessoas durante a noite suspende a vigilância
patrimonial, debilitando os meios defensivos e tornando mais difícil a
proteção de bens” (COSTA JR., 2003, p. 252);
86
b) ROUBO Art. 157 Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,
mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la por
qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Existe uma
diferença entre roubo e extorsão porque “nesta, a vítima entrega
constrangida o objeto ao agente” (COSTA JR., 2003, p. 257). Dentro
dessa categoria encontram-se ainda o roubo qualificado e o roubo
acompanhado de lesão grave;
c) DANO Art. 163 Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia. O dano
diferencia-se dos demais crimes contra o patrimônio pois “não procede
ao agente movido por uma finalidade lucrativa. Ao prej zo sofrido pelo
ofendido não corresponde, como nos demais delitos patrimoniais, um
lucro equivalente” (COSTA JR., 2003, p. 270). Há também o dano
qualificado, quando for atingido o patrimônio público.
9.2 Estatísticas criminais no âmbito da Asa Norte
Para o presente trabalho foram considerados os crimes ocorridos no espaço
público das Superquadras, mais especificamente nas Superquadras da Asa Norte do
Plano Piloto de Brasília, descritos como crimes contra o patrimônio, aqui restringidos
às hipóteses de furtos, roubos e danos.
Entretanto é pertinente traçar um panorama mais amplo e abrangente que
relate a problemática da criminalidade nessa região, envolvendo o levantamento de
ocorrências registradas no ano de 2006 em outros locais, além das Superquadras.
A partir das informações estatísticas fornecidas pelo relatório de análise
criminal n.º 2/2007 (PCDF, 2007)
19
relativo ao peodo de janeiro a dezembro de
2005/2006 , é possível identificar a variação anual e trimestral de cada fenômeno
criminológico, observando o dia, a hora, o local e o delito de maior incidência na
circunscrição da 2ª Delegacia de Polícia (responsável pela Asa Norte do Plano Piloto
de Brasília). Também estão incluídos dados de ocorrências registradas em
delegacias especializadas, ocorridas no âmbito territorial da circunscrição da 2ª D. P.
19
Relatório elaborado pela Polícia Civil do Distrito Federal e disponível na internet pelo site:
www.pcdf.df.gov.br.
87
O objetivo de referido documento formulado pela Polícia Civil do DF
consiste em (PCDF, 2007):
Dotar as unidades da Polícia Civil do Distrito Federal e demais órgãos de
segurança pública de mais um instrumento de avaliação da situação de
violência e criminalidade em cada área circunscricional, bem como
subsidiar o desenvolvimento de ações com vistas à redução desses índices
de criminalidade.
Ao avaliar os dados referentes à variação da criminalidade nos anos
2005/2006, foi possível verificar que os crimes roubo em comércio, roubo seguido de
morte, tentativa de latrocínio, roubo a transporte coletivo, roubo a posto de
combustível e extorsão, apresentaram maior progressão quando comparados os
dados de 2006 com os de 2005.
Ao analisar somente o ano de 2006, o mês de maio destacou-se com o
maior número de ocorrências do período (GRAF. 1).
GRÁFICO 1 Acompanhamento mensal de roubo em comércio dos últimos 12 meses da 2º Delegacia da Polícia do DF
(janeiro a dezembro de 2006).
FONTE: http://www.pcdf.df.gov.br
Quanto ao dia da semana e à faixa horária das ocorrências criminais, a
sexta-feira lidera os números de ocorrências, embora sem grande destaque sobre os
outros dias da semana. Não obstante, a faixa horária compreendida entre 12h00min
e 17h59min destacou-se sobre as demais apresentando 32,28% dos registros de
ocorrências (TAB. 1).
88
TABELA 1 Número de crimes em relação à faixa horária e ao dia da semana.
FONTE: http//:www.pcdf.df.gov.br
Se considerados somente os crimes praticados mediante violência ou grave
ameaça à pessoa, tem-se que o dia da semana de destaque é a sexta-feira, com
freqüência predominante compreendida na faixa horária de 18h00min às 23h59min
(GRAF. 2).
GRÁFICO 2 Criminalidade por dia da semana e faixa horária na circunscrição da 2ª DP (janeiro a dezembro de 2006).
FONTE: http://www.pcdf.df.gov.br
Em relação aos locais com maior incidência criminal (“Pontos Quentes”) e
aqueles com maior progressão em 2006, o relatório apresenta os crimes praticados
mediante violência ou grave ameaça à pessoa. As naturezas criminais de maior
destaque no ano de 2006 foram: roubo a transeunte, roubo em comércio, roubo de
veículo, roubo a posto de combustível, tentativa de roubo, roubo com restrição de
liberdade, tentativa de homicídio, estupro e roubo em concurso com extorsão (FIG.
49).
89
FIGURA 49 - Mapa indicando ospontos quentes” da Asa Norte. Apresenta a natureza criminal, a localidade e o número de
ocorrências registradas no ano de 2006.
FONTE:
http://www.pcdf.df.gov.br
Os locais de maior destaque para os crimes mostrados na FIG. 44 foram:
Rodoviária, SDN (Setor de Diversões Norte), Torre de TV, Vila Planalto e Estádio.
Quanto aos crimes praticados mediante violência ou grave ameaça à
pessoa, em uma comparação entre os anos de 2005 e 2006, verifica-se que alguns
locais apresentaram uma variação mais expressiva, como exemplo a CLN 408 onde
no ano de 2006 apresentou 6 ocorrências de roubo a transeunte, 2 ocorrências de
roubo a comércio, 1 ocorrência de roubo em concurso com extorsão, 1 ocorrência de
90
roubo a veículo e 1 tentativa de homicídio, apesar de apenas 1 ocorrência geral
no ano de 2005.
O Relatório de Análise Criminal oferece também um mapeamento
criminológico onde são realizados comparativos dos crimes que mais evoluíram no
ano de 2006 em relação a 2005 (latrocínio, roubo em comércio, roubo a posto de
combustível e roubo a transeunte).
O relatório apresenta até sete locais por tipo de delito, dentre os quais foram
isolados aqueles correspondentes às Superquadras (SQN) e ao comércio local
(CLN), de maior interesse para a presente pesquisa:
a) quanto ao crime de latrocínio (tentado e consumado), destaca-se o mês
de novembro de 2006, a faixa horária entre 12h00min e 17h59min e o
dia da semana é o sábado. É importante ressaltar a CLN 315 como uma
das quadras onde se registrou 1 ocorrência específica no ano de 2006;
b) quanto ao crime de roubo em comércio, o ano de 2006 registrou 28
ocorrências a mais que o ano de 2005, com destaque para o mês de
fevereiro, as faixas horárias centradas entre 12h00min e 17h59min e
entre 18h00min e 23h59min, com os dias da semana focados na
segunda-feira e no sábado. As quadras comerciais de maior incidência
foram: CLN 307, CLN 209, CLN 411 e CLN 408;
c) quanto ao crime de roubo a posto de combust
ível, tem-se que essa
natureza criminal obteve significativo aumento de 26 registros de
ocorrências no ano de 2006 em relação ao ano de 2005. Os meses de
destaque são setembro e novembro de 2006, a faixa horária é aquela
compreendida entre 00h00min e 06h50min, tendo por dia da semana o
sábado. Ressalta-se que, de acordo com o relatório, essa é uma
natureza criminal que vem apresentando crescimento nas ocorrências da
circunscrição da 2ª DP. Observa-se, ainda, que houve aumento nas
quadras SQN 305 e CLN 210;
d) quanto ao crime de roubo a transeunte, essa é a natureza infracional
que apresenta o maior número de ocorrências na área da 2ª D. P. O
local com maiores registros é a Rodoviária do Plano Piloto. A quadra
comercial ressaltada pelo Relatório por apresentar maior evolução desse
tipo de crime é a CLN 408, com 6 registros de ocorrências (FIG. 44).
91
Feitas as considerações introdutórias acerca das estatísticas gerais
disponibilizadas pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, passa-se
à análise da criminalidade verificada especificamente no âmbito das Superquadras
da Asa Norte.
9.3 As Superquadras mais vulneráveis
Com a intenção de centrar a pesquisa na área residencial da Asa Norte, foi
especialmente solicitado à Divisão de Estatística e Planejamento Operacional da
Polícia Civil do Distrito Federal (DEPO), o fornecimento de dados estatísticos mais
específicos que demonstrassem os índices de criminalidade relativos às
Superquadras. Em resposta, o órgão viabilizou o acesso aos dados relativos ao
período de janeiro a outubro de 2007 (Anexos A, B, C e D).
Referidas informações abrangem somente os crimes de estupro, roubo,
furto e dano ao patrimônio público, a partir das quais foram gerados os GRAF. 3 a 7
pela pesquisadora, que permitem visualizar o número de ocorrências por natureza
do crime, por região e por quadra residencial e comercial.
Esses dados foram utilizados também como critério para escolha das
Superquadras que configuram o objeto de análise da pesquisa.
No GRAF. 3 estão demonstradas as naturezas criminais e seus respectivos
números de ocorrências. A partir disso, é possível identificar que furto a transeunte,
furto em veículo e furto de veículo constituem as ocorrências delitivas mais
cometidas na área residencial e comercial da Asa Norte.
92
786
484
434
207
101
89
64
54
34
19
753
2111
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
FURTO
A
TR
A
N
S
EUNTE
F
UR
TO
E
M V
EI
C
U
L
O
FU
R
TO DE VEICULO
R
OU
BO A
TR
A
NSE
U
NTE
FURTO
E
M RESIDENCI
A
FU
R
TO
EM
C
O
ME
R
C
I
O
FU
RT
OS
D
I
V
ER
SOS
ROUBO A POSTO DE CO
MB
U
S
T
I
VEL
R
O
UBO
EM COME
R
C
IO
ROUBO DE VEICULO
RO
U
B
O
E
M
R
ES
I
D
ENC
IA
RO
U
B
O
C
/RES
T
RIC
A
O
LIBE
RDAD
E
R
OU
B
O A
T
RAN
S
PORTE COLETI
V
O
R
OU
B
O
C
O
N
CUR
S
O
C/
E
XTO
RSA
O
E
STU
P
R
O
R
O
UBO
S
DIV
ER
S
O
S
D
A
NOS
AO
P
A
T
R
I
MO
NIO
PU
B
L
I
C
O
Natureza do crime
de ocorrências
GRÁFICO 3 Número de ocorrências por natureza do crime nas Superquadras e Comércio Local da Asa Norte
(janeiro a outubro de 2007)
Atendo-se somente às quadras residenciais, o GRAF. 4 demonstra que, se
somado o total de delitos, as Superquadras 400’s apresentam-se mais vulneráveis,
com registro de 460 ocorrências gerais, seguidas sucessivamente pelas quadras
300’s, 100’s e 200’s.
20
460
281
323
352
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
SQN 400 SQN 200 SQN 100 SQN 300
Superquadras
mero de ocorrências
GRÁFICO 4 Número de ocorrências nas Superquadras da Asa Norte no período de janeiro a
outubro de 2007.
20
As quadras residenciais do Plano Piloto de Brasília intituladas “Superquadras” estão dispostas ao
longo do eixo rodoviário, que também as divide em 400’s e 200’s (situadas no lado Leste) e 300’s
e 100’s (situadas no lado Oeste).
93
Ao elencar os dez locais mais acometidos pelos delitos em referência,
conclui-se que as quadras residenciais ocupam as cinco primeiras posições,
ultrapassando a criminalidade presente nas quadras comercias locais, conforme
consta no GRAF. 5.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
SQN 409 SQN 408 SQN 312 SQN 203 SQN 405 CLN 201 CLN 102 SQN 416 CLN 202 SQN 316
Supe rquadras e Comércio Local
de ocorrências
GRÁFICO 5 Dez principais áreas de ocorrências criminais nas Superquadras (vermelho) e nos Comércios Locais (amarelo)
da Asa Norte no período de janeiro a outubro de 2007
Verifica-se que as SQN’s 409 e 408 (GRAF. 6) são as que apresentam
maior número de incidentes criminais, concentrando, respectivamente, 59 e 52
ocorrências registradas perante a 2.ª D.P. no interstício de janeiro a outubro de
2007, enquanto que as quadras 402 e 412 foram as menos acometidas pelos delitos
aqui focados.
94
59
52
46
34
38
34
37
35
34
30
20 20 20
SQN
409
SQN
408
SQN
405
SQN
416
SQN
406
SQN
410
SQN
403
SQN
415
SQN
411
SQN
407
SQN
404
SQN
412
SQN
402
Superquadras
de ocorrências
GRÁFICO 6 Número de ocorrências nas Superquadras 400’s da Asa Norte no período de janeiro a outubro de 2007.
Ao realizar comparação entre as quadras SQN 409 e SQN 412, fica clara a
diferença entre o número de ocorrências registradas e a natureza dos crimes mais
cometidos, constando diferença de 13 ocorrências para furto à transeunte, 10
ocorrências para furto de veículo e 3 para furto em residência (GRAF. 7).
1
2
1
4
2
20
18
7
3
15
22
5
1
55
8
14
5
2
1
0
5
10
15
20
25
SQN 409 SQN 408 SQN 412 SQN 208
Superquadras
de ocorrências
ROUBO POSTO COMBUST ROUBO A TRANSEUNTE ROUBO DE VEICULO FURTO A TRANSEUNTE
FURTO DE VEICULO FURTO EM RESIDENCIA FURTO EM VEICULO FURTOS DIVERSOS
GRÁFICO 7 Gráfico comparativo entre o número de ocorrências na SQN 409, SQN 408, SQN 412 e SQN 208 por natureza
do crime no período de janeiro a outubro de 2007.
95
Após a certificação de que a SQN 409 e a SQN 408 representam as
quadras mais violentas do conjunto residencial da Asa Norte do Plano Piloto de
Brasília (GRAF. 6 e 7), sobrepujando inclusive quadras comerciais, optou-se por dar
preferência à SQN 408 no estudo de caso deste trabalho.
Em conjunto, com a finalidade de obter um referencial comparativo, foi
escolhida uma outra quadra da Asa Norte com baixos índices de criminalidade a fim
de obter, por intermédio de comparação entre as quadras, elementos que reforcem a
influência de determinadas características físicas e ambientais para a ocorrência de
crimes.
A quadra selecionada para fins de paradigma foi a SQN 208, por apresentar
apenas 10 ocorrências criminais registradas (GRAF. 7). Uma segunda motivação
complementar para a escolha das quadras ora cotejadas foi a sua localização
fronteiriça, cuja proximidade contribui para revelar fatores físicos, ambientais e
funcionais demonstrativos da diferença de vulnerabilidade desses espaços (FIG.
50
21
).
21
A FIG. 50 foi elaborada pela pesquisadora a partir de imagens adquiridas no GoogleEarth, em
setembro de 2007.
96
SQN 208
SQN 408
L
2
N
O
R
T
E
E
I
X
O
L
SQN 208
SQN 408
L
2
N
O
R
T
E
E
I
X
O
L
COMÉRCIO LOCAL – CLN 408
COMÉRCIO LOCAL – CLN 208
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 3 pavimentos
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 6 pavimentos
ESCOLA CANARINHO
ESCOLA CLASSE
POSTO DE SAÚDE
QUADRA DE ESPORTES
PARQUE INFANTIL
ACESSO DE VEÍCULO MOTORIZADO
BARREIRA DE CANTEIRO DE OBRA
COMÉRCIO LOCAL – CLN 408
COMÉRCIO LOCAL – CLN 208
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 3 pavimentos
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 6 pavimentos
ESCOLA CANARINHO
ESCOLA CLASSE
POSTO DE SAÚDE
QUADRA DE ESPORTES
PARQUE INFANTIL
ACESSO DE VEÍCULO MOTORIZADO
BARREIRA DE CANTEIRO DE OBRA
FIGURA 50 SQN 408 e SQN 208
FONTE: http://earth.google.com (com alterações inseridas pela pesquisadora)
Definidas as áreas objeto de estudo, quais sejam, a SQN 408 e a SQN 208,
a seguir será feito o levantamento dos aspectos físicos, ambientais e funcionais
pertinentes, destinado à posterior aplicação de diretrizes.
97
10 ENCAMINHAMENTOS PARA A ÁREA DE ESTUDO: SQN 408 E SQN 208
10.1 Métodos e procedimentos para a pesquisa de campo
A coleta e análise dos dados das quadras SQN’s 408 e 208 obedeceram a
etapas distintas, consoante se verá a seguir.
Com relação ao levantamento dos aspectos sicos, ambientais e
funcionais gerais, foram realizadas visitas às quadras, quando se procurou extrair
características relevantes para o estudo, tais como presença de equipamentos
públicos, áreas de lazer e mobiliário urbano. Buscou-se também analisar a relação
das quadras com o comércio local, além de explorar sensorialmente suas
características ambientais.
Essas análises basearam-se em alguns aspectos pertencentes ao
QUADRO 4 e resultaram em relatórios elaborados de maneira informal, os quais
acrescentam conversas com moradores e trabalhadores das quadras, bem como as
percepções sensoriais da pesquisadora. Houve, em conjunto, a aplicação do
QUADRO 5, instante em que se detectou importantes diferenças quanto à
acessibilidade das quadras sob análise.
Em um segundo momento, foi feito um diagnóstico dos dispositivos
relacionados à segurança presentes nas SQN’s 408 e 208 e, para tanto, foram
utilizados os QUADROS 1 e 5. A aplicação desses quadros também permitiu uma
análise comparativa, a qual resultou em importantes constatações acerca das
razões físicas e funcionais que estariam vinculadas à maior segurança atestada nos
espaços da SQN 208 em relação à SQN 408.
A partir da reunião de todos os dados adquiridos, foi escolhida uma área
específica para abrigar diretrizes que visem à segurança, mediante as modificações
aqui propostas no desenho dos espaços. A denominada Área 1 (FIG. 51) engloba a
passagem para pedestres, localizada nos limites entre as áreas comercial (CLN 408)
e residencial (SQN 408), e os espaços contíguos a ela, ocupados pelos jardins e
pilotis dos edifícios residenciais próximos. A escolha de referida área baseou-se nas
categorias espaciais representadas por nós, trilhas e limites, anteriormente
98
destacadas na condição de espaços potencialmente vulneráveis sob o prisma da
segurança.
SQN 208
SQN 408
L
2
N
O
R
T
E
E
I
X
O
L
Área1
SQN 208
SQN 408
L
2
N
O
R
T
E
E
I
X
O
L
Área1
COMÉRCIO LOCAL – CLN 408– diversificado
COMÉRCIO LOCAL – CLN 208 – especializado
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 3 pavimentos
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 6 pavimentos
ESCOLA
POSTO DE SAÚDE
QUADRA DE ESPORTES
PARQUE INFANTIL
ÁREA 1 – Passagem de pedestre localizada no
limite da quadra comercial (CLN 408) e
residencial (SQN 408)
COMÉRCIO LOCAL – CLN 408– diversificado
COMÉRCIO LOCAL – CLN 208 – especializado
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 3 pavimentos
EDIFÍCIOS RESIDENCIAIS – SQN – 6 pavimentos
ESCOLA
POSTO DE SAÚDE
QUADRA DE ESPORTES
PARQUE INFANTIL
ÁREA 1 – Passagem de pedestre localizada no
limite da quadra comercial (CLN 408) e
residencial (SQN 408)
FIGURA 51 Área 1 destinada à elaboração de diretrizes.
FONTE: http://earth.google.com (com alterações inseridas pela pesquisadora)
Para o espaço concentrado na Área1 foram elaboradas diretrizes de projeto,
embasadas nos dados anteriormente coletados e na aplicação da ficha bioclimática.
99
10.2 Levantamento dos aspectos físicos, ambientais e funcionais da SQN 408
A SQN 408 possui as seguintes fronteiras: a Leste a Avenida L2 Norte, a
Sul a SQN 407, a Oeste a SQN 208 e a Norte a CLN 408. É formada por 17 edifícios
de 3 pavimentos sob pilotis, todos obedecendo a orientação Leste-Oeste (FIG. 50).
A maioria dos edifícios apresenta o mesmo desenho de fachada, sendo que alguns
mostram uma tipologia diferenciada como o Bloco “I”.
O acesso de automóveis ao interior da quadra se dá pela SQN 407, visto
que a SQN 408 possui o acesso à L1 bloqueado na sua extremidade norte pelo
Posto de Saúde (FIG. 52) e pela Escola Canarinho. O acesso à quadra por
transporte público é feito pela via L2, onde nas proximidades da quadra existe uma
parada de ônibus.
FIGURA 52 - Posto de Saúde nº 12 FIGURA 53 - Quadra de esportes.
FIGURA 54 - Escola Classe 408 Norte FIGURA 55 - Parque infantil
100
O comércio local da quadra (CLN 408), em conjunto com a CLN 409,
apresenta-se bastante diversificado, abrigando uma grande variedade de serviços
que incluem dentre outros: bares, restaurantes, lanchonetes, lojas de materiais de
construção, papelarias, supermercado, farmácia, aluguel de fantasias, escola de arte
infantil. A quadra encontra-se também próxima a dois grandes centros universitários:
IESB (Instituto de Educação Superior de Brasília) e UnB (Universidade de Brasília).
Constata-se a presença de pólos geradores de tráfego, tais como IESB,
UnB, Supermercado Big Box e o Bar Pôr do Sol, sendo o último ponto atrativo de
jovens.
A SQN 408 é uma quadra em que, ao se aproximar como pedestre pelo
lado Norte, logo se depara com cercas vivas cerceando o acesso aos blocos
residenciais. São deixadas pequenas passagens para o trânsito a pé, com o restante
do espaço formando jardins quase que homogêneos em toda a quadra (com
exceção do jardim do Bloco “H”), compostos por gramados, árvores, pequenos
arbustos e plantas que requerem pouca manutenção de jardinagem.
Em conversa informal com moradores e zeladores no local, foi afirmado que
a presença de cercas vivas se justifica por serem elementos de proteção ao jardim e
condicionamento das travessias, fator facilitador do controle dos passantes, inclusive
“para manter o chão dos pilotis mais limpo”.
Quanto aos equipamentos e mobiliários urbanos, a quadra possui um Posto
de Saúde (FIG. 52), uma escola pública (FIG. 54), uma escola particular, uma
quadra de esportes (FIG. 53) e um parque infantil (FIG. 55). Em conversa com os
moradores, foi informado que a quadra não possui “prefeitura”.
22
Todos os equipamentos da quadra acima listados são cercados por
alambrados e não se relacionam com o espaço público circundante, como por
exemplo, o Posto de Saúde, que não possui bancos ou mesas no espaço externo,
destinados a acomodarem pacientes ou acompanhantes. O mesmo ocorre com
relação à escola pública que, por ser totalmente cercada, não permite laços
espaciais integrativos com a comunidade, nem tampouco, com o parque infantil
localizado a poucos metros de distância.
22
Algumas Superquadras possuem as chamadas “prefeituras”, criadas por iniciativa dos próprios
moradores sob a forma de associação civil, cuja finalidade centra-se na prestação de suporte à
manutenção do espaço público, promoção de atividades comunitárias e representatividade
informal perante órgãos governamentais.
101
Não foi encontrado espaço destinado às manifestações comunitárias e
cívicas no âmbito da SQN 408. Ademais, não há manutenção e limpeza aparentes
dos equipamentos públicos de lazer, tampouco apelo à estética e ao lúdico. Quanto
às zonas de estar, não foram encontrados espaços destinados e apropriados para
as múltiplas faixas etárias com a utilização de mobiliário adequado.
Não há exploração das esquinas e das extremidades para a criação de
espaços de maior fluxo de pessoas e maior interação. Da mesma forma, não há
previsão de áreas mais reservadas e distantes do fluxo de automóveis para
atividades de descanso e contemplação.
A maioria dos espaços dos pilotis aparenta bem cuidado pelos condomínios
e muitos passaram por reforma recentemente. Não foi observado o uso generalizado
de câmeras nos edifícios residenciais como dispositivo de controle e segurança,
além de apenas dois edifícios conterem guaritas.
Constatou-se a presença de pichações em vários blocos da SQN 408,
especialmente naqueles que fazem limite com a via L2 e com o Posto de Saúde.
Nesses edifícios também foi constatada má manutenção do piso de concreto dos
pilotis, atestadas diversas rachaduras.
Quanto às análises de acessibilidade, foi percebido que a circulação de
pedestres (QUADRO 7) nos limites Norte, Sul, Leste e Oeste da quadra ocorre por
meio de pavimentos de concreto, sem grandes desníveis, com estado de
conservação precário em alguns trechos, sobretudo no lado Leste (FIG. 59), onde se
verifica a presença de rachaduras e trilhas secundárias abertas pelos passantes.
Os acessos Oeste (FIG. 56) e Leste (FIG. 59) são bastante arborizados,
conferindo passagens sombreadas, propiciadoras de sensação térmica agradável,
especialmente na região onde se localiza o Posto de Saúde.
102
QUADRO 7
Elementos condicionantes da acessibilidade na SQN 408
Circulação
FIGURA 56 Acesso Oeste
FIGURA 57 SQN 408, acessos norte,
sul, leste e oeste
FIGURA 58 Acesso Norte
FIGURA 59 Acesso Leste
Passagens sombreadas
em grande parte dos percursos,
ou ao menos, naqueles que
vencem grandes distâncias ou
levam aos equipamentos
públicos e mobiliários urbanos
(ex: parada de ônibus, orelhão e
Posto de Saúde).
Calçadas contínuas,
uniformes, sem grandes
desníveis com trechos
danificados.
Presença de trilhas feitas
por pedestres.
FIGURA 60 Acesso Sul
Obstruções nos edicios
FIGURA 61 - Cerca
FIGURA 62 Cerca viva
FIGURA 63 Cerca viva
FIGURA 64 Cerca viva
Presença de vários tipos
de fechamentos (cercas vivas,
de madeira e grades),
entretanto, permitem várias
opções de entrada e saída.
FIGURA 65 Cerca viva
103
Desníveis
FIGURA 66 - Desnível
FIGURA 67 - Desnível
FIGURA 68 - Desnível
FIGURA 69 - Desnível
Desníveis vencidos por
meio de rampas e escadas.
FIGURA 70 - Desnível
Ocupação dos pilotis
23
FIGURA 71 Garagem sob pilotis
FIGURA 72 Garagem sob pilotis
FIGURA 73 Guarita
FIGURA 74 Garagem sob pilotis
Embora a quadra, com
exceção de dois blocos, não
possua guaritas, nem salões de
festas nos edifícios, os pilotis
são ocupados por veículos dos
moradores, funcionando como
garagem.
FIGURA 75 Garagem sob pilotis
Ao tratar-se dos acessos aos pilotis, identificou-se a presença generalizada
de cercas vivas (FIG. 61 a 65), algumas atingindo a altura de até 1 (um) metro (FIG.
64). De maneira geral, a quadra não apresenta desníveis formadores de trincheiras
ou taludes limitadores do acesso aos pilotis; os desníveis verificados nas visitas são
vencidos por rampas e escadas (FIG. 66 a 70).
Em relação às obstruções presentes nos pilotis dos blocos, é pertinente
informar a grande ocupação do térreo por estacionamento de veículos (FIG. 71, 72,
23
Para esse trabalho, optou-se por analisar as atividades e usos verificados nos pilotis.
104
74 e 75), fator que reduz a permeabilidade desses espaços e acarreta a precária
acessibilidade por entre os pilotis. Quanto à ocupação dos pilotis para outros fins,
foram detectados apenas quatro salões de festas em quatro edifícios da quadra.
Não foram feitos levantamentos socioecomicos da área, entretanto, a
SQN 408, assim como outras quadras vizinhas (SQN 407 e SQN 409) possuem a
peculiaridade de abrigar repúblicas estudantis, em virtude da proximidade à
Universidade de Brasília (UnB) e à Faculdade IESB (Instituto de Educação Superior
de Brasília). Além da alta rotatividade de pessoas relativa ao término ou troca de
turnos, os bares localizados no comércio local da SQN 408 atuam como pólos de
atração.
Esses dois fatores tendem a atuar em conjunto, tanto para o
desconhecimento das pessoas que transitam pela SQN 408, afetando a fixação de
laços de pertencimento da comunidade e a eficácia da vigilância natural, quanto
para a facilitação de comportamentos vinculados ao uso de bebidas alcoólicas.
10.3 Levantamento dos aspectos físicos, ambientais e funcionais da SQN 208
A SQN 208 possui as seguintes fronteiras: a Leste, Posto de Saúde nº 2 e a
Escola Canarinho; a Sul, CLN 208; a Oeste, Eixo L; e a Norte, entrequadra EQN
208/209. O acesso por automóveis dá-se pela porção Sul, próxima ao comércio da
quadra, visto que também possui seu lado Leste bloqueado pelo Posto de Saúde e a
Escola Canarinho (FIG. 76 e 77). Possui 8 edifícios de 6 pavimentos cada, com
tipologia aproximada, apenas o Bloco “D” possui orientação Norte-Sul, os demais
obedecem a orientação Leste-Oeste.
FIGURA 76 - Acesso Leste. FIGURA 77 - Escola Canarinho, acesso Leste.
105
O comércio local da quadra (CLN 208) possui a característica peculiar de
ser especializado, ou seja, com o predomínio de atividades específicas, tratando-se,
nesse caso, de produtos e serviços de informática. Esse fator torna o comércio local
bastante homogêneo e pouco diversificado.
No tocante à circulação nos limites da SQN 208 (QUADRO 8), essa
apresenta diversos impeditivos de acesso. A porção Oeste, a qual faz fronteira com
o Eixo L (via bastante movimentada), encontra-se totalmente cercada por muro de
concreto, oriundo do fechamento de canteiro de obra de futuro edicio a ser
construído no local (FIG. 78 e 79),
24
além disso, não existe pavimentação para
pedestre nessa área.
A porção Sul, apesar de prever pavimentação para pedestre, conta com
cercas vivas e desníveis, algumas atingindo a altura superior a 1 (um) metro (FIG.
80), fator que restringe a conexão entre as partes comerciais e residenciais da
Superquadra.
O lado Norte afigura-se de difícil acesso aos passantes e transeuntes
devido à construção de valetas que levam às garagens subterrâneas (FIG. 81) e,
quanto ao o lado Leste da quadra, esse possui pavimentação de concreto e fronteia
o Posto de Saúde e a Escola Canarinho. Referidas características físicas fazem
alusão à uma fortaleza murada e protegida.
FIGURA 78 - Cerca de concreto, acesso Oeste. FIGURA 79 - Cerca de concreto, acesso Oeste.
24
Ressalta-se que a existência da murada de concreto coincide com o período abrangido pelos
dados estatísticos fornecidos pela Polícia Civil do Distrito Federal (janeiro a outubro de 2007).
106
FIGURA 80 - Limite entre CLN e SQN 208,
acesso Sul.
FIGURA 81 - Entradas e saídas de garagens, acesso
Norte.
Mencionado aspecto é reforçado com a presença genérica nos edifícios de
guarita com vigília uniformizada e dispositivos de controle de acesso, tais como
câmeras e sensores de movimento (FIG. 82). Grande parte dos edifícios possui
também cercas vivas emoldurando jardins e regulando a entrada aos pilotis (FIG.
83).
FIGURA 82 Câmera de vídeo FIGURA 83 Cerca viva
Em relação aos atributos ambientais, a quadra é pouco servida de árvores
de grande porte e de sombreamentos, mas se destaca sobremaneira por seus
jardins bem cuidados e apropriados pelo condomínio dos blocos. Não há nenhum
equipamento público no interior da quadra, com exceção de uma quadra de esportes
e três parques infantis, utilizados pelos moradores dos edifícios mais próximos (FIG.
84 e 85).
107
FIGURA 84 Parque infantil FIGURA 85 - Quadra de esportes
Ficou clara a apropriação dos espaços dos pilotis dos blocos por salões de
festas, brinquedotecas e academias de ginástica. A partir de informações obtidas
dos trabalhadores da quadra, constatou-se que a quadra possui “prefeitura”.
Segue QUADRO 8, onde se analisa a acessibilidade da SQN 208:
QUADRO 8
Elementos condicionantes da acessibilidade na SQN 208
Circulação
FIGURA 86 Acesso Oeste sem
pavimento nem áreas sombreadas.
Fechamento da área a partir do
cercamento do canteiro de obras
.
FIGURA 87 SQN 208, acessos
norte, sul, leste e oeste.
FIGURA 88 Acesso Norte sem
pavimento nem áreas sombreadas.
Fechamento da área a partir da
instalação de garagens.
FIGURA 89 Acesso Leste com
pavimentos regulares, sem desníveis,
porém há ausência de
sombreamento.
existe
pavimentação para circulação
de pedestres nos limites
Leste e Sul. Os outros limites
não possuem pavimentação e
estão obstruídos por
elementos físicos.
Acesso Sul
possui passagens com vários
desníveis, porém com
sombreamento adequado. Há
grande desnível entre a área
comercial e residencial,
tornado sua conexão
espacial, inacessível em
alguns pontos.
FIGURA 90 Acesso sul
108
Obstruções nos edicios
FIGURA 91 - Jardins
FIGURA 92 Cerca viva
FIGURA 93 - Bancos
FIGURA 94 Cerca viva
Obstruções por
cercas vivas, jardins,
jardineiras e bancos. Porém
há várias opções de entrada e
saída, mantendo os pilotis
semipermeáveis.
FIGURA 95 - Jardins
Desníveis
FIGURA 96 - Desníveis
FIGURA 97 - Desníveis
FIGURA 98 - Desníveis
FIGURA 99 - Desníveis
Desníveis vencidos
por meio de escadas e
rampas
FIGURA 100 - Desníveis
Ocupação dos pilotis
A quadra possui
guaritas em todos os blocos e
dispõe também de salões de
festas e, até mesmo,
academia de ginástica e
brinquedoteca no espaço dos
pilotis.
109
11 OLHARES COMPARATIVOS: SQN 408 X SQN 208
Apoiado nas descrições feitas nos itens 10.2 e 10.3, verificou-se que os
espaços pertencentes à SQN 208 possuem diversos dispositivos de proteção. Os
limites dessa quadra encontram-se fechados, há uma constante limitação de
acessos proporcionada pelas cercas vivas que contornam praticamente todos os
blocos. A presea de câmeras e de sensores de movimento é notada em todos os
edifícios, assim como guaritas com vigília uniformizada.
Aliado a esses fatores há uma clara definição do limites entre a área
destinada ao comércio e a área residencial, onde um renque de árvores, desníveis
do terreno e vegetação estabelecem um perceptível delimitação.
Conclui-se que os fatores físicos e funcionais acima descritos outorgam
segurança a esta Superquadra e que, entretanto, não estão presentes na SQN 408,
consoante se extrai da comparação realizada no QUADRO 9, com base nos
dispositivos considerados excludentes:
QUADRO 9
Avaliação da presença (P) ou ausência (A) de dispositivos físicos e funcionais
de segurança na SQN 408 e SQN 208 (critérios excludentes)
SQN 208 SQN 408
Controle dos acessos e definição territorial
Fechamentos dos limites por meio de muros, cercas, grades ou desníveis
de terreno
P A
Limitações de acessos
P A
Vigilância
Presença de circuito fechado de câmera e televisão
P A
Sensores de movimento
P A
Guaritas de vigilância e controle eletrônico
P A
Vigília uniformizada
P A
Quanto à acessibilidade, nenhuma da quadras possui rotas bem definidas,
sinalizadas e integradas com o entorno, entretanto, a SQN 208 apresenta-se mais
impermeável quanto à acessibilidade de seus espaços públicos internos, conforme
já demonstrado no QUADRO 8.
110
Outros dispositivos também foram objetos de análise conforme consta no
QUADRO 9, o qual permite efeito comparativo entre as quadras SQN 208 e SQN
408, sob o prisma de dispositivos de segurança de natureza inclusiva:
QUADRO 10
Avaliação da presença (P) ou ausência (A) de dispositivos físicos e funcionais
que interferem na segurança na SQN 408 e SQN 208 (critérios inclusivos)
SQN 208 SQN 408
Acessibilidade/ incentivo ao pedestre
Obstáculos impeditivos de acessar espaços públicos e equipamentos
urbanos
P A
Rotas bem definidas com sinalização adequada
A A
Integração com o entorno
A A
Conservação do espaço público e mobiliário urbano
Pichações
A P
Vandalismo
A P
Apropriação ilegal ou invasão do espaço público
A A
Acondicionamento do Lixo
P P
Limpeza do espaço público
P A
Manutenção do mobiliário e dos equipamentos públicos
P A
Vigilância Natural / Elementos sicos o bstrutores das visuais
Cercas, grades ou muros que impeçam a conexão visual
P A
Vegetação que impeça a conexão visual
A P
Edificações ou mobiliário que impeçam a conexão visual
A P
Iluminão noturna adequada
P A
Apropriação do espaço público pela comunidade
Cuidado com jardins e áreas verdes
P P
Construção elemento de lazer pela comunidade
A A
Utilização do espaço público para festividades comunitárias
A A
Definição espaço público X semipúblico X privado
Definição de espaços com usos diferenciados
Elementos físicos diferenciadores dos espaços
A A
Diversidade de ativ idades
Atividades comerciais diversificadas
A P
Espaços de uso misto
A A
Atividades recreativas diversificadas
A A
Áreas de estar
A A
Atividades noturnas
A A
Trilhas, nós e limites de grande atividade
A P
Quanto ao aspecto referente à conservação do espaço público e mobiliário
urbano, a SQN 408 possui pichações, ausência de limpeza e manutenção do
mobiliário e dos equipamentos públicos (FIG. 101 e 102).
111
FIGURA 101 Pichações FIGURA 102 Ausência de manutenção e limpeza
Em relação à vigilância natural, a SQN 408 encontra-se mais vulnerável por
apresentar vegetação e edificações obstrutoras da conexão visual e iluminação
pouco adequada para o período noturno (FIG. 103 e 104).
FIGURA 103 Maciço vegetal impeditivo da
visibilidade.
FIGURA 104 Equipamento urbano impedindo a conexão
visual.
Tratando-se do grau de apropriação dos espaços públicos das quadras pela
comunidade, percebe-se que, nas quadras estudadas, não há evidências de
utilização dos espaços comuns para a realização de atividades comunitárias. O
sentido de apropriação restringe-se ao cuidado com os jardins contíguos aos pilotis,
fator evidenciado em ambas as quadras e em graus diferenciados de apelo estético
(FIG. 105 e 106).
112
FIGURA 105 Jardim na SQN 408 FIGURA 106 Jardim na SQN 208
A definição territorial no interior das quadras restringe-se ao entorno
imediato dos edifícios, constitui-se, geralmente, pela franca utilização de cercas
vivas, jardins e pavimentos diferenciados.
Na fronteira entre a SQN e a CLN 408, há uma mudança espacial de uso
(residencial/comercial), entretanto, não foram encontrados dispositivos simbólicos
que representassem claramente e gradualmente essa diferenciação finalística.
No caso da região limítrofe SQN/CLN 208, há um nítido isolamento entre
essas duas áreas.
No entanto, a quadra comercial fronteiriça à SQN 408 (CLN 408) apresenta-
se muito mais diversificada que a quadra comercial equivalente à SQN 208 (CLN
208), vez que se apresenta bastante homogênea, especializada em equipamentos
de informática, fato restritivo do público e do horário de freqüência.
Diante do exposto, é possível concluir a existência de grandes diferenças
presentes no desenho, na forma de apropriação e manutenção dos espaços da SQN
208 e da SQN 408.
Acredita-se que a SQN 208 apresente-se mais segura devido à conjugação
de vários fatores, dentre os quais os dispositivos de segurança eletrônica, vigília
uniformizada, cuidado e manutenção dos espaços. Contudo, atribui-se aos
obstáculos presentes nos seus limites, os quais impedem acessibilidade
generalizada por todos os lados da quadra, relevância para a segurança da área,
por torná-la quase impermeável.
Esse fator, se aliado ao comércio local pouco diversificado e atrativo, sem
pólos geradores de tráfego, confere pequena atratividade para a região.
113
Essas constatações contrastam com todos os pressupostos apresentados
no trabalho, que defendem a intensa utilização dos espaços públicos e apoio às
trocas sociais para obtenção de segurança e do enriquecimento social, o que
conduz à consideração de que a segurança obtida na SQN 208 é efetiva, porém, de
caráter excludente, em plena contraposição aos princípios norteadores da
reabilitação dos espaços públicos contemporâneos.
Além de proporcionarem espaços com acesso limitado e restrito aos
moradores e transeuntes no âmbito da SQN 208, tais constatações vão de encontro
à proposta urbanística feita por Lucio Costa para as Superquadras, conforme já visto
no capítulo 8.
De outro lado, a Superquadra mais acometida pelos delitos delimitados na
presente pesquisa, qual seja a SQN 408, possui indicativos potenciais que alertam
para a sua vulnerabilidade. Dentre eles, destacam-se:
a) a proximidade de limites, nós e trilhas de grande atividade (Via L2, CLN
408, UnB, IESB, supermercado BIG BOX, Posto de Saúde, Escola
Classe, Escola Canarinho e Bar Pôr do Sol);
b) ambígua demarcação dos territórios de usos diferenciados;
c) ausência de apropriação e subutilização de diversos espaços livres
coletivos;
d) baixa manutenção dos equipamentos, mobiliários e espaços públicos;
e) vegetação e equipamentos obstrutivos da visibilidade;
f) ausência de espaços de permanência ou de convivência que incentive
experiências comuns;
g) presença de alta rotatividade de moradores em razão da existência de
repúblicas estudantis nas redondezas;
h) presença de bares, de grande público consumidor e passantes,
funcionando sem restrição de horário e viabilizando o consumo de
bebidas alcoólicas.
Também não foi encontrado nessa quadra, de forma consistente, nenhum
tipo de dispositivo de controle ou vigilância, eletrônica ou pessoal, representado por
câmeras de TV, ou guaritas com vigilância uniformizada.
Somado a esses fatores, a SQN 408, é uma Superquadra permeável para o
pedestre e para o automóvel, não oferecendo grandes obstáculos para acessar seus
espaços internos. Esse fator, quando aliado aos supracitados, tende a produzir
114
espaços de maior vulnerabilidade delitiva, provocando conjuntamente uma maior
sensação de insegurança.
Feita as considerações acerca dos aspectos físicos e funcionais que
outorgam maior segurança à SQN 208 e menor segurança à SQN 408, cumpre,
portanto, passar ao estágio seguinte, o qual busca estabelecer diretrizes de
interferências físicas e funcionais para a melhoria da segurança nos espaços da
SQN 408.
Para atingir esse intento, e em virtude da metodologia escolhida, optou-se
por restringir o objeto à denominada ÁREA 1, eleita para inspirar referidas diretrizes,
conforme será visto no próximo capítulo.
115
12 DIRETRIZES PARA A ÁREA 1
Conforme já exposto, referida ÁREA 1 foi selecionada para abrigar as
sugestões de modificação espacial ora propostas, por localizar-se no limite entre as
áreas residencial (SQN 408) e comercial (CLN 408), região de troca de uso, e por
configurar-se trilha de passagem de pedestres (FIG. 107 e 108).
FIGURA 107 Área 1
F
I
G
.
1
1
3
F
I
G
.
1
1
4
F
I
G
.
1
0
9
F
I
G
.
1
1
0
F
I
G
.
1
1
1
F
I
G
.
1
1
2
F
I
G
.
1
1
3
F
I
G
.
1
1
4
F
I
G
.
1
0
9
F
I
G
.
1
1
0
F
I
G
.
1
1
1
F
I
G
.
1
1
2
FIGURA 108 Área 1 com indicação dos locais onde foram tiradas as fotografias das FIG. 109 a 114.
Acerca dos aspectos comprometedores da segurança da área podem ser
elencados:
116
a) vegetação impeditiva da vigilância natural (FIG. 109);
b) ausência de apropriação dos espaços situados entre os edifícios
residenciais (FIG.111) e entre os edifícios comerciais (FIG. 112);
c) baixa delimitação simbólica dos espaços de usos diferenciados;
d) ausência de zonas de estar (FIG. 110);
e) presença de pichações;
f) falta de manutenção dos mobiliários existentes.
FIGURA 109 Vegetação FIGURA 110 Ausência de zonas de estar e baixa delimitação
simbólica.
FIGURA 111 Área residencial com espaços livres
subutilizados
FIGURA 112 Espaços entre comércio sem apropriação e
manutenção
Nesse local há presença de lixeiras, um telefone público, bancos e mesas
de concreto para apoio de bares durante o funcionamento noturno (FIG. 113 e 114).
A iluminação é feita por postes altos, dispostos em fileira, e afigura-se inadequada
por permitir sombreamento em determinados locais no período da noite.
117
FIGURA 113 Área 1, mobiliário e jardins FIGURA 114 Área 1, telefone público pichado
A maioria do comércio local fecha durante a noite, com exceção de bares,
os quais se apropriam de parte do espaço circundante para disposição de mesas,
cadeiras e jardins, que são compostos de vegetação densa, impeditiva do contato
visual e da vigilância natural (FIG. 115 e 116).
FIGURA 115 Tentativa de estabelecer relação dos bares
com o espaço público circundante
FIGURA 116 mobiliário e vegetação obstrutiva das
conexões visuais
A partir de resultados obtidos com a aplicação da Ficha Bioclimática
elaborada para a área (QUADRO 11), percebeu-se que os locais analisados são
bem ventilados, sem apresentar canalização dos ventos ou qualquer outro efeito que
possa gerar desconforto relacionado à ventilação.
A maior parte do percurso está exposta ao sol, fator positivo durante os
meses frios, porém, negativo com relação aos meses quentes e de baixa umidade.
O percurso não conta com mobiliário para descanso e permanência.
A pavimentação de concreto, embora antiderrapante, não oferece interação
lúdica com os pedestres e contribui para o conjunto homogêneo de cores frias, com
predomínio do verde advindo da vegetação.
118
Os sons advindos do comércio local e do tráfego de automóveis conferem
ruído constante ao local, contudo, não há presença de dispositivos reguladores do
conforto sonoro e não há exploração do som por meio da água, flora ou fauna.
QUADRO 11
Ficha Bioclimática da Área 1
Espaciais Ambientais
ENTORNO
ACESSOS
Sol
parcialmente
aberta à passagem do
sol
Vento
suave
canalização dos
ventos
Condução dos
ventos
os ventos leste
não encontram anteparos
Continuidade da
massa
não possui
massa contínua, edifícios
isolados
Som
exposta a
ruído intenso e
constante do tráfego de
veículos e pessoas
COR
SOM
Velocidade do vento
baixa
Temperatura do ar
acompanha o entorno
Sensação de cor
neutra
Ressonância do recinto
conserva pouco os sons
próprios
CLIMA
Umidade relativa
acompanha o entorno
Refletida
- escassa
Sombra acústica -
escassa
Direta -
acentuada
Difusa -
escassa
RADIAÇÃO
119
A partir das informações acima relacionadas, e de forma a contribuir para a
melhoria da segurança por meio de interferência físicas na ÁREA 1, foram sugeridas
as seguintes diretrizes:
Espaciais
Ambientais
A FRONTEIRA
Continuidade da
supercie
não há
Tensão
provocada por
escadas de acesso, colunas e
espaçamento dos edifícios
Aberturas
janelas, varandas
vazadas e pilotis
Tipologia arquitetônica
edifícios residenciais isolados sob
pilotis e comerciais com galerias
avarandadas
LUZ NATURAL
Personalidade acústica
espaço de dinâmico e de
atividades variadas,
impressão de volume sonoro
Luminância -
baixa
Incidência da luz
pontual
e direta
COR
Claridade
predominante
na fachada dos edifícios
Matizes
dominantes
cinzas e verdes
Direção do fluxo
normal à fonte
Absorção
dada pelas
áreas com vegetação
Refleo
dada pelos
edifícios de fachada clara
CLIMA
Detalhes arquitetônicos
pilotis, colunas, para peitos e
escadas
mero de lados
2 lados
Altura
3 ou 2 pavimentos
Qualidade superficial dos
materiais -
duros
SOM
Espaciais
Ambientais
A BASE
Component es e propriedades sicas dos
materiais
Área da base
290X30
Pavimentos
concreto e grama
Mobiliário Urbano
postes, jardineiras,
bancos, mesas, e
telefone público
Água -
inexistente
Vegetação
abundante em locais
pontuais
CLIMA
SOM
Estética da luz
sem
destaque
Temperatura Superficial
elevada em exposição total
Albedo
baixo, com
predomínio de cores escuras
LUZ NATURAL
Manchas de luz
dos
postes e estabelecimentos
comerciais
Tonalidade
dominante
cor cinza
Ambiente sonoro
ruidoso, soma ao sons
próprios sons do entorno
Variação sazonal
pontual
Conjunto de cores
cores frias; verdes, cinzas e
marrom
COR
120
a) exploração do piso dos percursos para diferenciação entre as áreas
comerciais e residenciais e para interação com o pedestre (jogos,
sinalizações etc.);
b) incentivo à apropriação das áreas entre os blocos comerciais (FIG.
112) para instalação de zonas de estar, providas de mobiliário para
permanência, iluminação de efeito plástico, esculturas ou elementos
que as diferenciem dos outros espaços;
c) incentivo à apropriação das áreas entre edifícios (FIG. 111), para
prolongamento dos seus jardins e instalação de zonas de estar,
munidas de mobiliário urbano que permitam atividades diversificadas
(v.g.: alças de rede, churrasqueiras, mesas, bancos e brinquedos
lúdicos);
d) substituição das cercas vivas, delimitadoras e restritivas do acesso ao
pilotis, por jardins que permitam diferenciação entre os edifícios
residenciais por meio de esculturas, fontes de água, vegetação e
pérgolas, ou outras formas não limitativas de acesso e visibilidade;
e) exploração dos salões de festas, quando presentes nos pilotis, para
atividades não comerciais oferecidas à comunidade, sobretudo no
período noturno, tais como: aulas de dança, bazares, lanches e outros;
f) iluminação noturna com alturas variadas (iluminação de piso, de
percurso e de vegetação), além dos postes já presentes no local,
verificando a não obstrução dos feixes de luz por vegetação cerrada;
g) intensa manutenção dos mobiliários e equipamentos existentes;
h) substituição dos maciços vegetais obstrutores da conexão visual por
combinação estética mais esparsa e de menor volume;
i) instalação de bancas de revistas e quiosques nas extremidades do
percurso analisado;
j) regulação das atividades noturnas, com investimento em normativas
que solicitem a estipulação de horário para o fechamento dos bares no
local.
121
13 CONCLUSÃO
A temática objeto do presente trabalho é inovadora. Introduz-se como um
desafio para o arquiteto e urbanista em face da sua responsabilidade em projetar
espaços para uso público, diante da carência de procedimentos que avaliem,
cientificamente, as causas, influências e conseqüências das correspondentes
intervenções físicas na ocorrência de atos delitivos.
A presença do sentimento de insegurança e os resultados provocados pelo
aumento da criminalidade estão fisicamente expressos nos projetos de arquitetura,
nos condomínios fechados, na gradual preferência pelo shopping center, na
condição palco de trocas socioculturais excludentes e na generalização do uso de
barreiras físicas e tecnológicas para obtenção de segurança.
A disseminação de práticas de proteção evidencia que a associação entre
espaços públicos de qualidade e estratégias de segurança, alcançadas por
intermédio do desenho urbano, é um caminho necessário para a obtenção de
espaços seguros e, ao mesmo tempo, socialmente democráticos.
Nesse sentido, foi conferido um grande esforço para combinar literaturas
que contribuíssem para a formulação de uma análise sistemática, com parâmetros
específicos (sensação de conforto, acessibilidade, manutenção e conservação,
vigilância natural, apropriação dos espaços, definição territorial, tipo, intensidade e
diversidade de usos) que possibilitassem sua transposição para o desenho de
espaços públicos.
A mobilização científica em questão resultou em uma modesta contribuição
metodológica para avaliação dos ambientes das Superquadras e para o desenho
dos seus espaços, com vistas a obter melhorias relacionadas à diminuição da
criminalidade e ao aumento da segurança.
Para tanto, foram reunidas varveis físicas, ambientais e funcionais
constituintes do espaço público que, com acréscimo das tabelas destinadas a avaliar
a acessibilidade nas Superquadras, permitiram inferir quais dessas características
exercem influência na segurança desses espaços.
Em acréscimo, por acreditar que os aspectos bioclimáticos são importantes
para o projeto de ambientes que buscam a apropriação dos espaços pela
122
comunidade, foram reunidas diversas variáveis propiciadoras da sensação de
conforto, além da aplicação da “Ficha Bioclimática”.
Alguns percalços foram encontrados no método utilizado, especialmente por
necessitar de adequações às características particulares dos espaços, ou seja, não
se sabe da sua eficácia concreta, se transposto para outras áreas que não sejam as
Superquadras do Plano Piloto de Brasília. Isso se deve, preponderantemente, ao
fato de que a criminalidade é um estado dependente, seja dos aspectos avaliados
nesse trabalho, seja da sua evidente conexão a valores sociais singulares
relacionados às expressões culturais, econômicas e institucionais de cada
comunidade.
Embora a todo o momento a presente pesquisa tenha, teoricamente,
insistido que a composição de ambientes acessíveis resultaria em espaços mais
seguros, o resultado dos levantamentos sugeriu resposta divergente, a qual aponta
para a Superquadra menos acessível (SQN 208) como aquela que é, segundo os
levantamentos estatísticos, a mais segura em relação aos crimes isolados na
pesquisa.
A partir de referida constatação, supõe-se que a acessibilidade, conforme
conceituada e abordada nessa pesquisa, possui vantagens e desvantagens a
depender da sua combinação com outros fatores e da composição do entorno.
Nesse tocante, espaços pouco acessíveis aliados à presença de guarita,
vigilância uniformizada e eletrônica, ausência de nós, trilhas e limites compostos por
espaços de grande atividade e ausência de uso do solo favorável ao cometimento
de delitos (bares), conferem um resultado positivo de maior segurança à
Superquadra em relação aos crimes de roubo e furto, como ocorre no caso da SQN
208.
Não se sabe, porém, até que ponto referida segurança pode ser atribuída
unicamente às características de acessibilidade ou se, na verdade, é resultado da
reunião de todos os fatores acima elencados. Por outro lado, em desvantagem, o
florescimento da civilidade fica cerceado, condicionado e limitado às trocas
socioculturais realizadas estritamente entre os moradores da quadra.
Sem dúvida, a diversidade de atividades comerciais e institucionais é maior
na SQN 408. Por esse motivo, medidas de desenho que outorguem ao espaço
público maior segurança, sem comprometer sua função de espaço agregador e
democrático, é o ideal maior dessa pesquisa. Nesse tocante, instigar a redução dos
123
acessos e o ostensivo controle social seria um erro, especialmente sob o prisma da
sustentabilidade.
Referidas constatações conduzem a um grande desafio e à urgente
necessidade de estabelecer um entrelaçamento entre os estudos arquitetônicos e
urbanísticos com outras disciplinas acadêmicas, de forma a enriquecer os
instrumentos de pesquisa focados no requisito da segurança nas cidades, sob o
ponto de vista das alterações físicas e funcionais dos espaços públicos.
A busca por soluções no combate à violência e à criminalidade urbana
passa por uma avaliação das mais abrangentes características de uma comunidade,
sejam elas de cunho social, econômico, institucional, cultural ou mesmo referente a
aspectos físicos e ambientais dos espaços públicos. Por essa razão, a análise do
desenho urbano representa importante ferramenta de auxílio.
Acredita-se, portanto, que a presente pesquisa representa um pequeno
passo, de caráter introdutório, para um futuro aprimoramento que leve à
sistematização, aplicação e avaliação de diretrizes físicas, ambientais e funcionais
nos espaços públicos das Superquadras do Plano Piloto e, quiçá, de outras
localidades, com o intuito de possibilitar a efetiva constituição de espaços públicos
seguros.
124
REFERÊNCIAS
ALMADA, Mauro. Segurança e espaço (parte I). Revista ViverCidades, Rio de
Janeiro, 7 jul. 2006a. Disponível em:
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1177
&sid=21>. Acesso em: 20 set. 2006.
ALMADA, Mauro. Segurança e espaço (parte II). Revista ViverCidades, Rio de
Janeiro, 21 jul. 2006b. Disponível em:
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1082
&sid=21>. Acesso em: 20 set. 2006.
ALMEIDA, Lourdes Maria Werle de. Desenvolvimento de uma metodologia para
análise locacional de sistemas educacionais usando modelos de interação
espacial e indicadores
de acessibilidade, 1999. 171 f. Tese (Doutorado em
Engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de
Produção, Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Disponível em:
<http://www.eps.ufsc.br/teses99/werle>. Acesso em: 25 jul. 2006.
ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. 10. ed. Rio de
Janeiro: Editora Forense Universitária, 2001.
BEATO F., Cláudio; PEIXOTO, Betânia Totino; ANDRADE, Mônica Viegas. Crime,
oportunidade e vitimização. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.
19, n. 55, p. 73-90, Jun. 2004.
BOHIGAS, Oriol. Mudanças em Medellín. Revista ViverCidades, Rio de Janeiro, 30
nov. 2007. Disponível em:
<http://www.vivercidades.org.br/publique222/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1283
&sid=5>. Acesso em: 4 dez. 2007.
BORJA, Jordi. Ciudad y planificación: la urbanística para las ciudades de América
Latina. BALBO, Marcello; JORDÁN, Ricardo; SIMIONI, Daniela (comp.). La ciudad
inclusiva, Santiago de Chile: CEPAL, 2003. p. 81-104.
BRANTINGHAM, Patrícia L.; BRANTINGHAM, Paul J. Nodes, Paths and Edges:
Considerations on the Complexity of the Crime and the Physical Environment.
Journal of En vironmental Psychology, v. 13, p. 3-28, 1993.
CABE SPACE (HOOLLEY, Helen; ROSE, Sian). The Value of Public Space: How
High Quality Parks and Public Spaces create Economic, Social and Environmental
Value. Londres: Commission for Architecture and the Built Environment, 1 mar. 2004.
19 p. Relatório. Disponível em: <http://www.cabe.org.uk/AssetLibrary/2021.pdf>.
Acesso em: 5 out. 2007.
125
CARPINTERO, Antônio Carlos Cabral. Brasília: prática e teoria urbanística no
Brasil, 1956-1998. 1998. 257 f. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo)
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.
____. Plano Piloto: fundamentos sobre a implantação da cidade: a Superquadra.
Jornal do CREA DF, Brasília, Nov. 2005. Projetos Históricos, p. 3.
CHAGUIBOFF, Jean; BERNARD, Yvonne. The Spacial Representation of Insecurity.
In: INTERNATIONAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL ASSOCIATION
FOR PEOPLE-ENVIRONMENT STUDIES (IAPS), 10., 1988, Delft. Proceedings
Disponível em:
<http://iaps.scix.net/data/works/att/iaps_10_1988_1_056.content.pdf>. Acesso em:
25 set. 2007.
CLARKE, Ronald V. Theoretical Background to Crime Prevention Through
Environmental Design (CPTED) and Situational Prevention. In: DESIGNING OUT
CRIME: CRIME PREVENTION THROUGH ENVIRONMENTAL DESIGN, 1989,
Australian Institute of Criminology and NRM Insurance, Sydney.
Conferência...Sydney, 1989. Disponível em:
<http://www.aic.gov.au/conferences/cpted/clarke.pdf>. Acesso em: 18 set. 2007.
CORNISH; CLARKE.
The Reasoning Criminal: Rational Choice Perspectives on
Offending. New York: Springer-Verlag, 1986 apud FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA
(REIN, Andreas; RAU, Macarena). Estudio comparado de políticas de prevención
del crimen mediante el diseño ambiental - CPTED. Santiago de Chile: Fundación
Paz Ciudadana, 17 nov. 2003b. 81 p. Relatório. Disponível em:
<http://www.pazciudadana.cl/upload/areas_info_diseno/PAZ-
DISENO_20071114103618.pdf>. Acesso em: 19 abril 2006.
COSTA, Lucio. Brasília revisitada. Diário Oficial do Distrito Federal Decreto n°
10.829, de 14 de Outubro de 1987.
COSTA JR., Paulo José da. Direito penal o
bjetivo: comentários atualizados ao
Código Penal e ao Código de Propriedade Industrial. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2003.
DAVIS, Mike. Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. Trad.
Renato Aguiar. São Paulo: Editora Página Aberta, 1993. p. 205-235.
DISTRITO FEDERAL. Arquivo Público do Distrito Federal; Companhia do
Desenvolvimento do Planalto Central; Departamento do Patrimônio Histórico e
Artístico. Relatório do Plano Piloto de Brasília. Brasília, 1991.
ECK, J. E. Preventing Crime: What works, what doesn’t, what’s promising. A Report
to the United States Congress. University of Maryland, 1996 apud VIEIRA, Liése
Basso. Influência do espaço contruído na ocorr
ência de crimes em conjuntos
habitacionais. 2002. 310 f. Dissertação (Mestrado em Planejamento Urbano e
Regional) Programa de Planejamento Urbano, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre.
126
FARIAS, Paulo José Leite. Ordem Urbanísica e Prevenção da Criminalidade.
Revista de Informação Legislativa, Brasília, n. 168, p. 167-183, Out./Dez. 2005.
FELSON, Marcus; CLA RKE, Ronald V. Oportunity makes the Thief: Political Theory
for Crime Prevention. Police Research Series, Londres, n. 88, 1998. Disponível em:
<http://www.homeoffice.gov.uk/rds/prgpdfs/fprs98.pdf>. Acesso em: 27 abril 2007.
FICHER, Sylvia et al. Os blocos residenciais das Superquadras de Brasília: 1ª parte.
Jornal do CREA DF, Brasília, Out. 2004. IAB-DF, p. 16.
_____. Os blocos residenciais das Superquadras de Brasília: 2ª parte. Jornal do
CREA DF, Brasília, Jan. 2005. IAB-DF, p. 16.
FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA. Espacios urbanos seguros: recomendaciones de
diseño y gestión comunitária para la obtención de espacios urbanos seguros.
Santiago de Chile: Ministerio de Vivienda y Urbanismo, Ministerio del Interior,
Fundación Paz Ciudadana, 17 nov. 2003a. 88 p. Relatório. Disponível em:
<http://www.pazciudadana.cl/upload/areas_info_diseno/PAZ-
DISENO_20071114101422.pdf>. Acesso em: 25 jul. 2006.
FUNDACIÓN PAZ CIUDADANA (REIN, Andreas; RAU, Macarena). Estudio
comparado de políticas de prevención del crimen mediante el diseño ambiental
- CPTED. Santiago de Chile: Fundación Paz Ciudadana, 17 nov. 2003b. 81 p.
Relatório. Disponível em:
<http://www.pazciudadana.cl/upload/areas_info_diseno/PAZ-
DISENO_20071114103618.pdf>. Acesso em: 19 abril 2006.
GEHL, Ian; GEMZOE, Lars. Novos espaços urbanos. Trad. Carla Zollinger.
Barcelona: Editora Gustavo Gilli, 2002.
GEHL, Ian; SOHOLT, Helle Lis. Pub
lic Spaces and Public Life - City of Adelaide:
2002. Copenhague: Guel Architects Aps, 2002. 83 p. Relatório. Disponível em:
<http://www.adelaidecitycouncil.com/adccwr/publications/reports_plans/public_space
s_public_life.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2006.
GHIRARDO, Diane. Arquitetura contemporânea: uma história concisa. Trad. Maria
Beatriz Medina. Editora: Martins Fontes, São Paulo, 2002.
GUIMARÃES, Roberto Pereira. Desenvolvimento sustentável: da retórica à
formulação de políticas públicas. In: BECKER, Bertha K.; MIRANDA, Mariana. A
geografia política do desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Editora
UFRJ, 1997. p. 13-44.
HILLIER, Bill. Designing Safer Streets: An Evidence Based Approach. Planning
in
London, Londres, p. 45-49, Jan. 2004. Disponível em
<http://eprints.ucl.ac.uk/1025/1/Hillier_2004_safer_streets.pdf>. Acesso em: 28 set.
2006.
127
_____. In Defence of Space. Royal Institute of British Architects Journal,
Londres, p. 539-544. Nov. 1973. Disponível em
<http://eprints.ucl.ac.uk/1030/1/hillier-1973.pdf>. Acesso em: 28 set. 2006.
HOLANDA, Frederico de; BARCELOS, Vicente. SQN-109, Brasília: Permanência e
Inovação. In: HOLANDA, Frederico de (org.). Arquitetura & Urbanidade. São
Paulo: ProEditores, 2003. p. 115-134.
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Trad. Carlos S. Mendes Rosa.
o Paulo: Martins Fontes, 2000.
JESUS, Damásio E. Direito penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 1.
LYNCH, Kevin R. A im agem da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
MACHADO FILHO, Haroldo de Oliveira. A II Conferência das Nações Unidas sobre
A
ssentamentos Humanos. Boletim da Sociedade Brasileira de Direito
Internacional, Rio de Janeiro, n. 113/118, p. 155-172, jan./dez. 1998.
MICHAUD, Yves. A violência. Trad. L. Garcia. São Paulo: Editora Ática, 1989.
MONTEIRO FILHO, Maurício. Das manchetes policiais para a revolução social. ONG
Repórter Brasil, São Paulo, 12 jan. 2006. Disponível em:
<http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1700>. Acesso em: 14 fev. 2008.
MOURA, Cristina Patriota de. A fortificação preventiva e a urbanidade como perigo.
rie Antropologia, Brasília: DAN/UnB, vol. 407. 2006. Disponível em;
<http://www.unb.br/ics/dan/Serie407empdf.pdf >. Acesso em: 14 fev. 2008.
NEWMAN, Oscar. Creating D efensible Space. Institute for Community Design
Analysis, 1996. 126 p. Relatório. Disponível em: <http://www.humanics-
es.com/defensible-space.pdf>. Acesso em: 9 out. 2006.
_____. Defensible Space: A New Physical Planning Tool for Urban Revitalization.
Journal o
f the American Planning Association. v. 61, n. 2, p. 149-155, 1995.
____. Defensible Space: Crime Prevention through Urban Design. New York:
Macmillan Publishing Co., 1973.
OFFICE OF DEPUTY PRIME MINISTER (ODPM). Safer Places: The Planning
System and Crime Prevention. Londres: ODPM, 2004. 108 p. Relatório. Disponível
em: <http://www.communities.gov.uk/documents/planningandbuilding/pdf/147627>.
Acesso em: 5 out. 2007.
PELUSO, Marília Luiza; TORMIN, Cassiana Vaz. Violência, contradições espaciais e
representações sociais em Luziânia, no Entorno de Brasília/DF. In: PAVIANI, Aldo;
FERREIRA, Ignez Costa Barbosa; BARRETO, Frederico Flósculo Pinheiro (org.).
Brasília: dimensões da violência urbana. Brasília: Editora Universidade de Brasília,
2005. p. 251-273.
128
PETRELLA, Laura; VANDERSCHUEREN, Franz. Ciudad y violencia: seguridad y
ciudad. BALBO, Marcello; JORDÁN, Ricardo; SIMIONI, Daniela (comp.). La ciudad
inclusiva. Santiago de Chile: CEPAL, 2003. p. 215-236.
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL (PCDF). Relatório de análise criminal n.º
2/2007. Brasília: Divisão de Estatística e Planejamento Operacional, 2007. 14 p.
Relatório. Disponível em: <http://www.pcdf.df.gov.br>. Acesso em: 27 set. 2007.
QUEIROZ, Ivan da Silva; LACERDA, Norma. Do espaço urbano sob a égide do
medo à cidade que medra: representações sociais e práticas cotidianas num
ambiente marcado pelo medo da violência urbana. In: ENCONTRO NACIONAL DA
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM
PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL ANPUR, 11., 2005, Salvador. 2005.
Anais
… Disponível em <http://www.xienanpur.ufba.br/624.pdf>. Acesso em: 20 abril
2007.
ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta.
Trad. Anita Regina Di Marco. Barcelona: Editorial Gustavo Gilli, 2001.
ROLNIK, Raquel; SA ULE, Nelson Júnior. Habitat II assentamentos humanos como
tema global. In: BONDUKI, Nabil (org.). Habitat: as práticas bem sucedidas em
habitação, meio ambiente e gestão urbanas nas cidades brasileiras. São Paulo:
Studio Nobel, 1997. p.13-17.
ROMERO, Marta Adriana Bustos. Arquitetura bioclimática do espaço p
úblico.
Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001.
____. A sustentabilidade do ambiente urbano da capital. In: PAVIANI, Aldo;
GOUVÊA, Luiz Alberto (org.). Brasília: controvérsias ambientais. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 2003. p. 241-265.
____. Princípios bioclimáticos para o desenho urbano. 2. ed. São Paulo:
ProEditores, 2000.
ROMERO, Marta Adriana Bustos et al. Indicadores de sustentabilidade dos espaços
públicos urbanos: aspectos metodológicos e atributos das estruturas urbanas. In:
SEMINÁRIO A QUESTÃO AMBIENTAL URBANA : EXPERIÊNCIAS E
PERSPECTIVAS, 2004, Brasília. Anais… Disponível em
<http://www.unb.br/fau/pesquisa/sustentabilidade/pesquisadores/Alberto/curr%EDcul
o%20liza/3.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2006.
RUANO, Miguel. Ecourbanismo: entornos humanos sostenibles: 60 proyectos.
Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 1999.
SA
LLES, Adriana de Vasconcellos Santos. Diretrizes para o espaço urbano
público inibidor de delitos: Estudo de Ca so. 2007. 132 f. Dissertação (Mestrado
em Arquitetura e Urbanismo) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de Brasília, Bralia.
129
SENNETT, Richard. La conciencia del ojo. Trad. Miguel Martínez-Lage. Barcelona:
Ediciones Versal, 1991. Original inglês.
____. O declínio do homem público: as tiranias da intimidade. Trad. Lygia Araújo
Watanabe. São Paulo: Companhia das letras, 1998.
SHAFTOE, Henry. (Henry.Shaf[email protected]). Securing an Exclusive or
Inclusive Urban Realm [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por
[email protected] em 9 jun. 2007.
SHU, Simon C. F. Housing Layout and Crime Vulnerability. In: INTERNATIONAL
SPACE SYNTAX SYMPOSIUM, 2., 1999, Brasília. Proceedings… Disponível em:
<http://www.spacesyntax.net/symposia/SSS2/SpSx%202nd%20Symposium%2099%
20-2003%20pdf/2nd%20Symposium%20Vol%201%20pdf/29%20Shu%20300.pdf>.
Acesso em: 28 out. 2007.
SHU, Simon C. F.; HUANG, Jason N. H. Spacial Configurational Vulnerability of
Residential Burglary: A Case Study of a City in Taiwan. In: INTERNATIONAL SPACE
SYNTA
X SYMPOSIUM, 4., 2003, Londres. Proceedings… Disponível em:
<http://www.spacesyntax.net/symposia/SSS4/fullpapers/46Shu-Huangpaper.pdf>.
Acesso em: 27 out. 2007.
SILVEIRA, Ana Lucia R. C.; ROMERO, Marta A. B. Indicadores de sustentabilidade
urbana. In: ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-
GRADUAÇÃO E PESQUISA EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL
ANPUR, 11., 2005, Salvador. 2005. Anais… Disponível em
<http://www.xienanpur.ufba.br/341.pdf>. Acesso em: 20 abril 2007.
STEPHENS, Robert; RAU, Macarena. La Granja y Peñalolén: informe final de
vulnerabilidad espacial delictiva 2000. Santiago de Chile: Fundación Paz Ciudadana.
64 p. Relatório. Disponível em: <http://www.cpted.cl/publicaciones>. Acesso em: 23
set. 2004.
TIESDELL, S.; OC, T. Beyond ‘Fortress’ and ‘Panoptic Cities’: Towards a Safer
Urban Public Realm. Environment and Planning B: Planning
and Design, v. 25, n.
5, p. 639-655, Set. 1998.
URBAN TASK FORCE (UTF). Towards a Strong Urban Renaissance: An
Independent Report by Members of the Urban Task Force chaired by Lord Rogers of
Riverside. 2005. 20 p. Relatório. Disponível em:
<http://www.urbantaskforce.org/UTF_final_report.pdf>. Acesso em: 26 out. 2007.
VASCONCELOS, Ana Maria N.; COSTA, Arthur. Demografia da violência no Distrito
Federal: evolução e caracterísiticas. In: PAVIANI, Aldo; FERREIRA, Ignez Costa
Barbosa; BARRETO, Frederico Flósculo Pinheiro (orgs.). Brasília: dimensões da
violência urbana. Brasília: Editora UnB, 2005. p. 33-56.
VOORDT, Theo J. M. van der; WEGEN, Herman B. R. van. A Checklist on Crime
Prevention through Environmental Design: Usefulness and Limitations. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL ASSOCIATION FOR
130
PEOPLE-ENVIRONMENT STUDIES (IAPS), 10., 1988, Delft. Proceedings
Disponível em:
<http://iaps.scix.net/data/works/att/iaps_10_1988_1_058.content.pdf>. Acesso em:
25 set. 2007.
131
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL
DEPO - DIVISÃO DE ESTATÍSTICA E PLANEJAMENTO
OPERACIONAL
ANEXO A - Criminalidade na Asa Norte: SQNs e CLNs/ Jan.a Out. 2007
QUADRAS
ESTUPRO
ROUBO POSTO COMBUST
ROUBO A TRANSEUNTE
ROUBO A TRANSP COLETIVO
ROUBO C/REST LIBERDADE
ROUBO CONC C/EXTORSAO
ROUBO DE VEICULO
ROUBO EM COMERCIO
ROUBO
EM RESIDENCIA
ROUBOS DIVERSOS
FURTO A TRANSEUNTE
FURTO DE VEICULO
FURTO EM COMERCIO
FURTO EM RESIDENCIA
FURTO EM VEICULO
FURTOS DIVERSOS
DANOS PATRIM PUBLICO
TOTAL
SQN 409
1 2 2 20 15 5 14
59
SQN 408
1 18 22 5 5 1
52
SQN 312
1 5 8 20 1 10 5
50
SQN 203
6 1 7 11 1 1 21
48
SQN 405
6 4 11 9 1 4 10 1
46
CLN 201
3 1 9 1 29 3
46
CLN 102
1 27 3 5 4 1
41
SQN 416
2 1 14 6 5 5 1
34
CLN 202
4 7 1 26
38
SQN 316
2 13 14 6 3
38
CLN 116
7 1 1 2 16 5 4 1 1
38
132
SQN 210
1 1 2 13 9 8 1
35
SQN 406
3 9 5 6 14 1
38
SQN 410
3 3 9 4 5 9 1
34
SQN 108
3 6 6 18
33
SQN 403
2 1 10 9 1 7 4 3
37
SQN 415
3 2 1 1 1 12 7 1 3 3 1
35
SQN 411
2 2 11 7 1 2 9
34
CLN 203
5 1 9 2 12
29
SQN 112
3 4 17 5 2
31
SQN 407
1 4 1 4 5 5 8 2
30
SQN 111
3 2 6 8 9 1
29
SQN 116
3 9 12 1 4
29
SQN 314
1 5 11 9 3
29
CLN 409
2 2 1 8 6 1 2 3 2
27
SQN 215
5 1 9 2 3 6 1
27
SQN 308
2 1 7 10 2 5
27
SQN 202
6 2 4 2 11
25
SQN 211
5 1 1 1 1 7 1 1 7
25
SQN 306
1 4 9 6 2 1 2
25
SQN 307
1 3 15 5 1
25
CLN 209
3 1 9 3 3 6
25
SQN 107
1 3 7 4 2 8
25
SQN 113
1 3 9 2 4 2 4
25
CLN 307
3 1 3 10 2 1 1
21
SQN 209
4 5 9 3
21
CLN 210
1 1 1 12 3 1 1 1
21
CLN 303
1 3 12 1 2 2
21
SQN 105
4 4 7 2 6
23
SQN 115
1 4 7 8
20
133
SQN 311
1 6 10 3 2
22
SQN 404
1 6 4 1 1 5 2
20
CLN 316
3 1 9 2 1 4
20
SQN 304
2 8 8 2 1
21
SQN 412
7 5 8
20
CLN 110
1 2 6 2 1 7
19
SQN 109
1 3 1 7 1 6
19
SQN 313
4 9 1 4 1
19
SQN 402
6 2 2 3 7
20
CLN 115
1 2 1 12 2
18
CLN 408
11 5 1 1
18
SQN 104
2 5 6 4 1
18
SQN 106
5 7 3 4
19
SQN 309
1 2 7 2 1 4 1
18
SQN 315
4 1 3 8 1
17
CLN 105
3 6 2 3 1
15
CLN 310
1 9 1 3 3 1
18
SQN 305
4 1 5 3 5
18
CLN 405
1 1 8 1 3 3
17
CLN 411
3 1 1 1 4 5 2
17
SQN 102
3 8 4 1 1
17
SQN 310
1 7 6 2
16
CLN 309
1 7 2 4 1 1
16
CLN 402
1 1 6 2 3 2
15
CLN 410
2 3 5 2 3
15
SQN 103
2 1 3 2 2 6
16
SQN 212
1 4 4 1 3 2
15
SQN 214
1 1 7 3 2
14
SQN 303
2 5 4 3 1
15
134
CLN 107
1 8 1 3 2
15
CLN 111
1 8 2 2 2
15
CLN 306
1 7 1 2 1 2 1
15
CLN 311
1 1 8 2 1 2
15
CLN 312
6 1 4 1 2
14
CLN 406
1 5 2 2 1 2 1
14
SQN 110
1 5 1 1 4 3
15
SQN 216
1 6 1 6
14
CLN 204
1 6 1 1 5
14
CLN 214
1 3 1 4 1 3
13
CLN 314
1 1 1 8 2 1
14
CLN 407
1 1 6 1 1 2
12
SQN 204
1 7 1 2 1
12
CLN 106
2 2 5 1 3
13
CLN 302
2 2 7 2
13
CLN 313
1 1 6 1 1
10
CLN 403
9 1 1 1
12
CLN 112
4 2 3 2
11
CLN 114
7 2
9
CLN 212
4 2 2 3
11
CLN 308
8 2 2
12
SQN 213
1 5 4 1 1
12
SQN 302
1 1 4 2 1 1 1 1
12
SQN 208
4 3 1 2
10
CLN 108
1 1 1 6 1
10
CLN 207
1 1 1 6
9
CLN 305
1 6 3
10
SQN 206
3 1 1 5
10
CLN 103
5 1 1
7
135
CLN 104
1 1 4 1 1 1
9
CLN 113
4 1 1 1
7
CLN 208
1 7 1
9
CLN 109
4 1 1
6
CLN 206
1 1 1 3 1 1
8
CLN 211
1 4 1 1
7
CLN 213
1 2 5
8
CLN 215
2 1 2 1 1
7
CLN 216
1 1 1 3 1 1
8
CLN 404
1 2 1 1 3
8
CLN 412
2 1 2 2
7
SQN 205
2 4 2
8
CLN 304
1 4 1
6
CLN 315
4 1 1
6
CLN 415
2 1 1 2
6
CLN 413
2 2 1
5
SQN 114
1 1 2
4
SQN 207
2 2
4
CLN 205
1 1
2
CLN 416
2
2
CLN 414
1
1
SQN 201
1
1
SQN 4041
1
1
SQN 701
1
1
TOTAL 1 54 207 3 5 2 19 34 7 1 786 434 89 101 484 64 1 2292
Fonte: Bco Millenium /583871 - Reflete nr de ocorrências.
136
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO
FEDERAL
DEPO - DIVISÃO DE ESTAT ÍSTICA E PLANEJAMENTO OPERACIONAL
ANEXO B - Criminalidade na Asa Norte: SQNs/ Jan. a Out. 2007
QUADRAS
ESTUPRO
ROUBO POSTO COMBUSTIVEL
ROUBO A TRANSEUNTE
ROUBO A TRANSP COLETIVO
ROUBO C/RESTRICAO LIBERD
ROUBO CONC C/EXTORSAO
ROUBO DE VEICULO
ROUBO EM COMERCIO
ROUBO EM RESIDENCIA
ROUBOS DIVERSOS
FURTO A TRANSEUNTE
FURTO DE VEICULO
FURTO EM COMERCIO
FURTO EM RESIDENCIA
FURTO EM VEICULO
FURTOS DIVERSOS
DANOS AO PATR
IM PUBLICO
TOTAL
SQN 409
1 2 2 20 15 5 14
59
SQN 408
1 18 22 5 5 1
52
SQN 312
1 5 8 20 1 10 5
50
SQN 203
6 1 7 11 1 1 21
48
SQN 405
6 4 11 9 1 4 10 1
46
SQN 416
2 1 14 6 5 5 1
34
SQN 316
2 13 14 6 3
38
SQN 210
1 1 2 13 9 8 1
35
SQN 406
3 9 5 6 14 1
38
SQN 410
3 3 9 4 5 9 1
34
SQN 108
3 6 6 18
33
137
SQN 403
2 1 10 9 1 7 4 3
37
SQN 415
3 2 1 1 1 12 7 1 3 3 1
35
SQN 411
2 2 11 7 1 2 9
34
SQN 112
3 4 17 5 2
31
SQN 407
1 4 1 4 5 5 8 2
30
SQN 111
3 2 6 8 9 1
29
SQN 116
3 9 12 1 4
29
SQN 314
1 5 11 9 3
29
SQN 215
5 1 9 2 3 6 1
27
SQN 308
2 1 7 10 2 5
27
SQN 202
6 2 4 2 11
25
SQN 211
5 1 1 1 1 7 1 1 7
25
SQN 306
1 4 9 6 2 1 2
25
SQN 307
1 3 15 5 1
25
SQN 107
1 3 7 4 2 8
25
SQN 113
1 3 9 2 4 2 4
25
SQN 209
4 5 9 3
21
SQN 105
4 4 7 2 6
23
SQN 115
1 4 7 8
20
SQN 311
1 6 10 3 2
22
SQN 404
1 6 4 1 1 5 2
20
SQN 304
2 8 8 2 1
21
SQN 412
7 5 8
20
SQN 109
1 3 1 7 1 6
19
SQN 313
4 9 1 4 1
19
SQN 402
6 2 2 3 7
20
SQN 104
2 5 6 4 1
18
SQN 106
5 7 3 4
19
SQN 309
1 2 7 2 1 4 1
18
138
SQN 315
4 1 3 8 1
17
SQN 305
4 1 5 3 5
18
SQN 102
3 8 4 1 1
17
SQN 310
1 7 6 2
16
SQN 103
2 1 3 2 2 6
16
SQN 212
1 4 4 1 3 2
15
SQN 214
1 1 7 3 2
14
SQN 303
2 5 4 3 1
15
SQN 110
1 5 1 1 4 3
15
SQN 216
1 6 1 6
14
SQN 204
1 7 1 2 1
12
SQN 213
1 5 4 1 1
12
SQN 302
1 1 4 2 1 1 1 1
12
SQN 208
4 3 1 2
10
SQN 206
3 1 1 5
10
SQN 205
2 4 2
8
SQN 114
1 1 2
4
SQN 207
2 2
4
SQN 201
1
1
SQN 4041
1
1
SQN 701
1
1
TOTAL
1 36 136 2 2 2 10 4 3 1 400 360 12 85 316 46 1 1417
Fonte: Bco Millenium /583871 - Reflete nr de ocorrências.
139
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL
DEPO - DIVISÃO DE ESTAT ÍSTICA E PLANEJAMENTO
OPERACIONAL
ANEXO C - Criminalidade na Asa Norte: CLNs/ Jan. a Out. 2007
QUADRAS
ROUBO POSTO COMBUSTIVEL
ROUBO A TRANSEUNTE
ROUBO A TRANSP COLETIVO
ROUBO C/RESTRICAO LIBERD
ROUBO DE VEICULO
ROUBO EM COMERCIO
ROUBO EM RESIDENCIA
FURTO A TRANSEUNT
E
FURTO DE VEICULO
FURTO EM COMERCIO
FURTO EM RESIDENCIA
FURTO EM VEICULO
FURTOS DIVERSOS
TOTAL
CLN 201
3 1 9 1 29 3
46
CLN 102
1 27 3 5 4 1
41
CLN 202
4 7 1 26
38
CLN 116
7 1 1 2 16 5 4 1 1
38
CLN 203
5 1 9 2 12
29
CLN 409
2 2 1 8 6 1 2 3 2
27
CLN 209
3 1 9 3 3 6
25
CLN 307
3 1 3 10 2 1 1
21
CLN 210
1 1 1 12 3 1 1 1
21
CLN 303
1 3 12 1 2 2
21
CLN 316
3 1 9 2 1 4
20
CLN 110
1 2 6 2 1 7
19
140
CLN 115
1 2 1 12 2
18
CLN 408
11 5 1 1
18
CLN 105
3 6 2 3 1
15
CLN 310
1 9 1 3 3 1
18
CLN 405
1 1 8 1 3 3
17
CLN 411
3 1 1 1 4 5 2
17
CLN 309
1 7 2 4 1 1
16
CLN 402
1 1 6 2 3 2
15
CLN 410
2 3 5 2 3
15
CLN 107
1 8 1 3 2
15
CLN 111
1 8 2 2 2
15
CLN 306
1 7 1 2 1 2 1
15
CLN 311
1 1 8 2 1 2
15
CLN 312
6 1 4 1 2
14
CLN 406
1 5 2 2 1 2 1
14
CLN 204
1 6 1 1 5
14
CLN 214
1 3 1 4 1 3
13
CLN 314
1 1 1 8 2 1
14
CLN 407
1 1 6 1 1 2
12
CLN 106
2 2 5 1 3
13
CLN 302
2 2 7 2
13
CLN 313
1 1 6 1 1
10
CLN 403
9 1 1 1
12
CLN 112
4 2 3 2
11
CLN 114
7 2
9
CLN 212
4 2 2 3
11
CLN 308
8 2 2
12
CLN 108
1 1 1 6 1
10
CLN 207
1 1 1 6
9
141
CLN 305
1 6 3
10
CLN 103
5 1 1
7
CLN 104
1 1 4 1 1 1
9
CLN 113
4 1 1 1
7
CLN 208
1 7 1
9
CLN 109
4 1 1
6
CLN 206
1 1 1 3 1 1
8
CLN 211
1 4 1 1
7
CLN 213
1 2 5
8
CLN 215
2 1 2 1 1
7
CLN 216
1 1 1 3 1 1
8
CLN 404
1 2 1 1 3
8
CLN 412
2 1 2 2
7
CLN 304
1 4 1
6
CLN 315
4 1 1
6
CLN 415
2 1 1 2
6
CLN 413
2 2 1
5
CLN 205
1 1
2
CLN 416
2
2
CLN 414
1
1
TOTAL
18 71 1 3 9 30 4 386 74 77 16 168 18 875
Fonte: Bco Millenium /583871 - Reflete nr de ocorrências.
142
POLÍCIA CIVIL DO DISTRITO FEDERAL
DEPO - DIVISÃO DE ESTAT ÍSTICA E PLANEJAMENTO OPERACIONAL
ANEXO D - Criminalidade na Asa Norte: SQNs e CLNs 2007 (ocorrências mensais)
NATUREZAS
jan fev mar abr mai jun jul ago set out
TOTAL
FURTO A TRANSEUNTE 83 74 99 82 85 80 77 71 67 68
786
FURTO EM VEICULO 47 58 68 52 39 52 70 44 19 35
484
FURTO DE VEICULO 65 51 60 34 32 45 38 43 33 33
434
ROUBO A TRANSEUNTE 13 12 27 22 24 18 21 27 22 21
207
FURTO EM RESIDENCIA 9 9 5 6 9 17 10 18 10 8
101
FURTO EM COMERCIO 7 5 11 4 11 11 11 8 6 15
89
FURTOS DIVERSOS 5 14 5 1 6 8 9 5 6 5
64
ROUBO A POSTO DE COMBUSTIVEL
11 6 7 7 5 4 2 5 1 6
54
ROUBO EM COMERCIO 2 2 4 3 6 6 5 1 3 2
34
ROUBO DE VEICULO 2 4 4 3 2 2 1 1
19
ROUBO EM RESIDENCIA 1 1 1 1 1 2
7
ROUBO C/RESTRICAO LIBERDADE
1 2 1 1
5
ROUBO A TRANSPORTE COLETIVO
3
3
ROUBO CONCURSO C/EXTORSAO
2
2
ESTUPRO 1
1
ROUBOS DIVERSOS 1
1
DANOS AO PATRIMONIO PUBLICO
1
1
143
TOTAL 245 235 290 218 224 244 244 227 168 197 2292
Fonte: Bco Millenium /583871 - Reflete nr de ocorrências.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo