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Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Física
Estrutura de vidros fosfatos ternários no sistema Pb-Al
metafosfato.
Jefferson Esquina Tsuchida
São Carlos – SP
2007
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Universidade Federal de São Carlos
Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia
Programa de Pós-Graduação em Física
Estrutura de vidros fosfatos ternários no sistema Pb-Al
metafosfato.
Jefferson Esquina Tsuchida
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Pizani
Co-orientador: Prof. Dr. José Fábian Schneider
São Carlos – SP
2007
Dissertação apresentada no Departamento
de Física, da Universidade Federal de São
Carlos, para a obtenção do titulo de Mestre
em Física
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Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da
Biblioteca Comunitária da UFSCar
T882ev
Tsuchida, Jefferson Esquina.
Estrutura de vidros fosfatos ternários no sistema Pb-Al
metafosfato / Jefferson Esquina Tsuchida. -- São Carlos :
UFSCar, 2007.
99 f.
Dissertação (Mestrado) -- Universidade Federal de São
Carlos, 2007.
1. Vidro metafosfato. 2. Estrutura vítrea. 3. Ligação
química. I. Título.
CDD: 530.412 (20
a
)
Dedico este trabalho para aquela
que nunca esqueço minha mãe Fátima (in
memorium), ao meu grande herói meu pai
Shumitiro, às mulheres da minha vida
minhas irmãs Janaina e Elizabete e ao meu
maior feito meu filho Igor e a minha outra
metade minha esposa Talita.
Agradecimentos
Ao Profº José Fabian Schneider por sua orientação, apoio, incentivo em
todo desenvolvimento deste trabalho e também por sua grande amizade.
Ao Profº Paulo Sérgio Pizani por sua orientação, apoio incentivo em todo
desenvolvimento deste trabalho e também por sua amizade.
Aos técnicos do grupo de RMN: Edson, Odir e Joãozinho pelo apoio e
pelas boas risadas.
Ao Caio Eduardo Tambelli pelas boas dicas, discussões, conselhos e pela
grande amizade.
À Terezinha da BSF e à Dona Neuza pela grande amizade e paciência.
Aos meus amigos que encontrei aqui em São Carlos durante estes 6 anos
de graduação e mestrado, sem os quais tornariam impossível a realização disto tudo que
consegui. Sendo eles meu irmão, compadre, conselheiro e também o cara que mais me
colocou em frias, mas mesmo assim o que mais me tirou de frias Willber; a minha
irmãzinha feia Lara; o cara mais inteligente que conheço Botero; o grande pensador
Jaka; o cara mais ruim de sinuca que conheço Mateus; o gordo que se acha forte Fabião;
o único urso que é físico Wagner; o maluco que esta se achando o Santos Drumont
Borba, o mineirinho mais sossegado de Bueno Toninho; amigos estes que são a minha
família aqui em São Carlos.
Aos meus companheiros de república, Marco, Jedah, Daniel, Carioca,
Bixão, Bixinho, Pedro e Caneca, que sempre bolavam um jeito de descontrair durante
tempos difíceis.
Aos meus grandes primos Xandão e Diórgenes pela grande amizade e
companherismo em tantos momentos bons e ruins da minha vida.
Aos meus grandes amigos da minha cidade Natal os Rockero´s:
Jãozinho, Douglas, Cirção, Devaldo, Renan que sempre arrumam um violão ou um bom
cd de rock para alegrar muitas noites.
Agradeço a todos que direta ou indiretamente me ajudaram neste
trabalho e que por um lapso de memória esqueci de mencionar.
“Para ser feliz nesta vida nos basta simples coisas: uma família que nos
ame; amigos, não necessariamente muitos, mas que sejam bons amigos e alguém para
amar e que seja amado por ela...” Autor desconhecido
Índice i
__________________________________________________________________________________________________________
Índice
Índice
i
Lista de Figuras
v
Lista de Tabelas
ix
Epígrafe
x
Resumo
xi
Abstract
xii
Capitulo 1 – Introdução
1
Capitulo 2 – Vidros 5
2.1 – Introdução 5
2.1.1 – Diagrama V-T 5
2.2 – Princípios de Formação de vidros 6
2.3 - Fosfatos: Propriedades, estrutura, ligação química
8
2.3.1 - Ligação química e estrutura em fosfatos 9
Capitulo 3 – Técnicas Experimentais 13
3.1 - Ressonância Magnética Nuclear 13
3.1.1 - Introdução 13
3.1.2 – Teoria Básica de RMN 14
3.1.3 – Interações do Spin Nuclear em Sólidos 15
3.1.3.1 – Desvio Químico 16
3.1.3.2 – Acoplamento Quadrupolar Elétrico 19
3.1.4 – Técnicas de RMN 24
3.1.4.1 – Ângulo Mágico - MAS 24
Índice ii
__________________________________________________________________________________________________________
3.1.4.1.1 –
31
P – MAS 26
3.1.4.1.2 –
27
Al – MAS 27
3.1.4.2 – Triplo Quantum – MAS 27
3.1.3.2.1 –
27
Al – 3Q-MAS 28
3.1.3.3 – Variable offset cumulative spectroscopy (VOCS) 28
3.1.3.3.1 –
207
Pb – VOCS 29
3.2 – Espalhamento Raman 30
3.2.1 – Introdução 30
3.2.2 – Princípios Básicos do Espalhamento Raman
30
3.2.2.1 – Teoria Macroscópica 31
3.2.2.2 – Teoria Microscópica
33
3.2.2.2.1 – Lei da Conservação 33
3.2.2.2.1 – Regras de Seleção 34
3.2.3 – Espectroscopia Raman 35
3.3 – Técnicas Complementares 36
3.3.1 – Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raio-X (EDX) 36
3.3.2 – Difração de Raios-X (DRX) 36
3.3.3 – Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) 37
3.3.4 – Densimetria – Método de Arquimedes 37
Capitulo 4 – Montagem Experimental 39
4.1 – Espectrômetro Raman 39
4.1.1 – Fonte 39
4.1.2 – Sistema Dispersivo 40
4.1.3 – Detectores 41
4.1.4 – Acessórios 41
4.2 – O Espectrômetro de RMN 41
4.2.1 – Sondas 43
4.2.1.1 – Sondas de alta de alta resolução 43
Índice iii
__________________________________________________________________________________________________________
4.2.1.2 – A sonda de medidas estáticas. (Wideline) 44
4.2.2 – Parâmetros dos experimentos de RMN 44
4.2.3 – Software de simulação de espectros estáticos 45
Capitulo 5 – Preparação das Amostras 46
5.1 – Preparação
46
5.1.2 – Fosfatações 46
5.1.2.1 - Fosfatação 1 (F1) 47
5.1.2.2 - Fosfatação 2 (F2)
47
5.1.2.3 - Fosfatação e Fusão Simultâneas (FFS)
48
5.1.2.4 - Fosfatação 3 (F3) 48
5.1.2.4.1 - Método 1 (M1) 49
5.1.2.4.2 - Método 2 (M2) 50
5.1.2.4.3 - Método 3 (M3) 50
5.1.2.4.4 - Método 4 (M4) 50
5.1.2.4.5 - Método 5 (M5) 50
5.1.3 – Preparação dos Vidros 51
Capitulo 6 – Resultados 54
6.1 – Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raio-X (EDX)
54
6.2 – Difração de Raios-X (DRX)
55
6.3 – Densidade (Método de Arquimedes)
57
6.4 – Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC)
58
6.5 – Espectroscopia Raman
59
6.6 – Espectroscopia por Ressonância Magnética Nuclear (RMN)
63
6.6.1 –
31
P – MAS RMN 63
6.6.1.1 – Precursor Cristalino (Pb(PO
3
)
2
) 63
6.6.1.2 – Vidros 65
Índice iv
__________________________________________________________________________________________________________
6.6.2 –
31
P – estático 68
6.6.3 –
207
Pb – VOCS RMN 72
6.6.4 –
27
Al – MAS RMN 74
6.6.5 –
27
Al –3QMAS RMN 76
Capitulo 7 - Discussão dos Resultados 79
7.1 – Evolução da T
g
e densidade com a composição 79
7.2 – Modos Vibracionais Raman
80
7.3 - Grupos Fosfatos
82
7.4 – Modelagem
86
Capitulo 8 – Conclusão 93
Capítulo 9 – Referências e Bibliografia
96
Apêndice A – Teoria Básica de RMN I
A.1 – Movimento de um momento magnético em um campo estático I
A.1.2 - Campo Magnético Variável no Tempo III
A.1.2.1 - Campo Rotante
III
2.2.3.2 – Campo Oscilante VI
A.2 – O Sinal de RMN VIII
A.2.1 – Sistema de Muitos Spins – Magnetização VIII
A.2.2 – Relaxação X
A.3 – Equações de Bloch
XII
Lista de Figuras v
__________________________________________________________________________________________________________
Lista de Figuras
Figura 2.1: Diagrama V-T para um liquido capaz de vitrificar 6
Figura 2.2 a)estrutura periódica do cristal, b)estrutura aleatória do vidro de um sólido
imaginário Me
2
O
3
7
Figura 2.3: a) os traços em vermelho mostram o tetraedro fosfato, b) cadeia de fosfatos
com tetraedros tipo 8
Figura 2.4: a) Regime I, b) Regime II, c) Regime III 11
Figura 3.1 : Niveis de Energia de um spin com I = ½ 15
Figura 3.2: A variação da freqüência de ressonância natural do núcleo devido ao desvio
químico 18
Figura 3.3: Padrões de pó simulados com parâmetro de assimetria variando de 0 até 1
19
Figura 3.4: Representação geométrica de núcleos com spin I = ½ e I > ½. 20
Figura 3.5:Desdobramento quadrupolar dos níveis de energia de um spin I = 3/2 com
correções de 1ª ordem 22
Figura 3.6: Padrões de pó simulados com parâmetro de assimetria variando de 0 até 1,
onde estão ilustradas as transições das a)linhas satélites e b)linha central
23
Figura 3.7: Rotação macroscópica da amostra segundo um ângulo β em relação a H
0
25
Figura 3.8: Diagrama da distribuição do espalhamento da luz em função da freqüência
31
Figura 4.1: Representação esquemática do aparato utilizado em um experimento
Raman 39
Figura 4.2: Diagrama ilustrando o caminho percorrido pela luz dentro do sistema
dispersivo T64000 40
Lista de Figuras vi
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 4.3: Diagrama de Blocos do Espectrometra Oxford 42
Figura 5.1: Ciclo térmico utilizado na preparação das fosfatações 49
Figura 6.1: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor
cristalino Al(PO
3
)
3
55
Figura 6.2: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor
cristalino Pb(PO
3
)
2
56
Figura 6.3: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor
cristalino PbO
56
Figura 6.4: Densidade em função da quantidade de fração molar de Al(PO
3
)
3
57
Figura 6.5: Volume molar em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
57
Figura 6.6: Gráfico típico de uma medida de DSC 58
Figura 6.7: T
g
em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
, as retas são usadas como um
guia para os olhos a fim de indicar a presença de dois regimes 59
Figura 6.8: Evolução do sistema vítreo (1 – x)Pb(PO
3
)
2
. xAl(PO
3
)
3
, desde x = 0 à x = 1
60
Figura 6.9: Espectro a Raman do vidro de x = 0, com as identificações dos modos
vibracionais Raman
61
Figura 6.10: Variação da freqüência dos modos vibracionais com o aumento da fração
molar do Al(PO
3
)
3
62
Figura 6.11: Espectro de
31
P dos precursores cristalinos Pb(PO
3
)
2
preparado com
diferentes processos
63
Figura 6.12: Espectros de
31
P – RMN MAS dos vidros, com o aumento da fração molar
x. Os asteriscos indicam bandas laterais. 65
Figura 6.13: Ajuste realizado do vidro com x = 0, onde foi possível identificar a
presença das espécies Q
1
, Q
2
e Q
2p
66
Figura 6.14: a) Intensidade, b) δ
iso
, c) Largura da linha em função de x 67
Figura 6.15: Espectros estáticos de
31
P 69
Figura 6.16: δ
iso
médio em função da fração molar x 69
Figura 6.17: Simulação numérica do espectro estático de
31
P do vidro com x = 0 70
Lista de Figuras vii
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.18: Simulação numérica do espectro estático de
31
P do vidro com x = 1 71
Figura 6.19: Espectros de
207
Pb obtido através da técnica de VOCS 72
Figura 6.20: Espectro soma do
207
Pb obtido através da soma dos espectros parciais 73
Figura 6.21: NC médio em função da fração molar x 73
Figura 6.22:
Espectros de
27
Al – RMN MAS dos vidros, com o aumento da fração
molar x 74
Figura 6.23: Quantidade percentual para cada tipo de Al em função da fração molar x 75
Figura 6.24: Nc médio Al em função da fração molar x 76
Figura 6.25: Espectros de
27
Al-3Q-MAS dos vidros de (a) x = 0.25 e (b) x = 0.95. F2:
dimensão anisotrópica. F1: dimensão isotrópica. Asteriscos: bandas laterais
76
Figura 6.27: δ
iso
em função de x.As linhas são guias 77
Figura 7.1: Número de tetraedros fosfatos PO
4
em função da quantidade de Al, as
linhas tracejadas são apenas “guias para os olhos”, a reta crescente diz respeito à
quantidade de N
TAl
obtida através dos cálculos estequiométricos e a reta
decrescente à quantidade N
TPb
obtida da mesma forma 89
Figura 7.2: Concentração critica x
c
(x), onde a reta representa a relação linear x
c
= x e
os valores de xc(x) obtido a partir dos valores experimentais de
Al
CN 90
Figura 7.3: Número de Coordenação médio do Pb, onde representa os valores
experimentais de
P
b
CN e a linha representa a equação 7.11 92
Figura 1: Niveis de Energia de um spin com I = ½. II
Figura 2: Movimento de precessão do núcleo com momento magnético μ, na presença
de um campo externo H
o
. III
Figura 3: Esquema de aplicação do campo rotante V
Figura 4: Cone de Precessão ao redor do campo efetivo no sistema de coordenadas
rotante.
VI
Figura 5: Aplicação de pulsos tipo: a)π/2 e b)π
VII
Figura 6: Decomposição de um campo oscilante linear em duas componentes rotantes
VIII
Lista de Figuras
viii
__________________________________________________________________________________________________________
Figura 7: Magnetização macroscopica M e a soma vetorial dos momentos magnéticos.
IX
Figura 8: Amostra dentro da bobina de recepção orientada no eixo y, que capta o sinal
da fem X
Figura 9: FID a diminuição do sinal se deve aos efeitos de relaxação XI
Figura 10: Retorno da magnetização ao equilíbrio termodinâmico devido à relaxação
longitudinal XII
Figura 11: a) Aplicação de um pulso de rf de 90º, b) diminuição da magnetização
devido à relaxação transversal XIII
Figura 12: a) retorno da magnetização longitudinal ao equilíbrio termodinâmico M
0
devido à relaxação T
1
, b) decaimento da magnetização transversal relacionado
com a relaxação num tempo T
2
XIII
Lista de Tabelas ix
__________________________________________________________________________________________________________
Lista de Tabelas
Tabela 5.1: Descrição dos ciclos térmicos utilizados para os diferentes métodos de
fosfatação 49
Tabela 5.2: Tempos e temperaturas de fusão dos vidros Pb
(1-x)
.Al
x
.(PO
3
)
(2+x)
52
Tabela 6.1: Razões obtidas utilizando a técnica de EDX para confirmar a
estequiometria do sistema vítreo 54
Tabela 8.2:Temperatura de transição vítrea 59
Tabela 6.3: Designações dos modos vibracionais Raman e suas respectivas posições
para o vidro de x = 0 61
Tabela 6.4: Quantidade das Espécies Q
n
presentes nos precursores cristalinos 64
Tabela 6.5: Intensidade, δ
iso
e largura de linha para cada espécie Q
n
67
Tabela 6.6: Dados obtidos através da analise de Herzfeld-Berger 68
Tabela 6.7: Valores obtidos a partir da simulação numérica do espectro estático de
31
P
para o vidro com x = 0 71
Tabela 6.8: δ
iso
e Pq obtidos dos espectros de
27
Al-3QMAS RMN. 72
“Somos quem podemos ser,
sonhos que podemos ter...”
Humberto Gessinger
Resumo
Neste trabalho foi analisado o sistema vítreo metafosfato de Pb-Al, (1-x)
Pb(PO3)2 xAl(PO3)3, com o objetivo de analisar o efeito sobre a estrutura da rede vítrea
causado pela substituição de Pb por Al. Nesta série de vidros, com 0 x 1, foi mantida a
composição meta [O/P] = 3, de forma que a rede de grupos fosfatos resultante seja constituída
predominante por tetraedros em condensação Q2 (cadeias ou anéis), simplificando assim a
elaboração de modelos estruturais. A informação sobre a estrutura deste sistema foi obtida
fundamentalmente das técnicas de espectroscopia Raman e Ressonância Magnética Nuclear
(RMN). Foram analisados os ambientes estruturais das espécies formadoras e modificadoras de
rede através de RMN de 31P, 27Al e 207Pb, quantificando a distribuição de espécies de grupos
fosfatos e determinando os números de coordenação de Al e Pb. Foram identificadas diferentes
espécies Q2 de acordo com o número de ligações P-O-Pb e P-O-Al estabelecidas por cada
tetraedro. Da análise quantitativa da evolução das populações com a concentração de Al, foi
possível inferir comportamentos preferenciais na organização dos poliedros de coordenação e os
tetraedros fosfatos. Os fosfatos compartilham preferencialmente um vértice com os poliedros de
coordenação de O ao redor de Al, com alto número de coordenação, e o outro com o poliedro do
Pb. Foi determinado que esta organização de médio alcance é mantida até certa concentração
crítica (x = 0.43), através da redução progressiva do número de coordenação do Al. Acima
dessa concentração esta organização não é mais sustentada, aparecendo fosfatos compartilhando
dois vértices com poliedros de coordenação de Al. No caso do Pb, os ambientes ao redor do íon
possuem alto número de coordenação e há compartilhamento de vértices entre Pb. O número de
coordenação tem uma dependência da composição governada pela quantidade de Onp
disponível, sem modificação apreciável no grau de compartilhamento de Onp com outros
poliedros ao redor do Pb. Os comportamentos observados para a ordem local ao redor de Al e a
organização dos poliedros de coordenação são semelhantes aos observados em metafosfatos de
Ca-Al e de Na-Al, indicando um possível comportamento geral para vidros fosfatos ternários.
Abstract
In this work, the Pb-Al meta-phosphate glass system (1-x) Pb(PO
3
)
2
xAl(PO
3
)
3
was studied, with the aim of determining the structural effects induced in the glass network by
the substitution of Pb by Al. In the series of glasses encompassing the range 0 x 1 the
composition meta [O/P] = 3 was maintained. In this way, the resulting phosphate network will
be composed mainly by phosphate tetrahedra in condensation Q
2
(chains or rings), simplifying
the formulation of structural models. The structure of this system was analyzed trough a
combination of Raman spectroscopy and Nuclear Magnetic Resonance (NMR). The structural
environments around the network former and modifiers species were analyzed by
31
P,
27
Al and
207
Pb-NMR, quantifying the distribution of phosphate groups and determining the coordination
numbers of Al and Pb. For phosphate groups, several Q
2
species were identified according to
the number of P-O-Pb and P-O-Al bonds established by each tetrahedron. Through the
quantitative analysis of the evolution of the population of these species with the concentration
of Al, it was possible to infer specific characteristics of organization of the Al coordination
polyhedra and phosphate tetrahedra. Phosphates share preferentially only a single corner with an
Al-O polyhedron, which is found with high coordination number, and the other corner with a
Pb-polyhedron. As x is increased, this medium range arrangement around Al is maintained
through the progressive decrease of the Al coordination number, up to a certain critical
concentration (x = 0.43). Above this concentration, the arrangement is not sustained and
phosphates sharing two corners with Al-polyhedrons appear. On the other hand, the
environments around Pb have high coordination numbers and a considerable degree of corner-
sharing between Pb-polyhedra was determined. The dependence of Pb coordination number
with composition is determined by the quantity of available O
np
, without apparent modification
in the degree of O-sharing. The behavior observed for the local order around the Al and the
arrangement of coordination polyhedra is similar to the observed in tow other meta-phosphates
(Ca-Al and Na-Al), pointing out to a possible general trend for ternary phosphate glasses.
Capitulo 1 Introdução 1
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 1
Introdução
Os vidros fosfatos são materiais com grande potencialidade de aplicação
tecnológica, por exemplo, como biomateriais, dispositivos ópticos, sensores, baterias de
estado sólido, selos herméticos vidro-metal, etc
[2-8]
. Algumas composições têm sido
consideradas para utilização como matrizes imobilizadoras de resíduos industriais e
radiativos
[9,10]
. O problema da baixa estabilidade química dos vidros fosfatos comparada com
outros vidros óxidos, quando expostos a condições atmosféricas normais ou em contato com
soluções aquosas, é um aspecto fundamental que deve ser resolvido para utilizar o material
em aplicações tecnológicas. Com relação a este problema, a adição de Al nas composições de
fosfatos é um fator que tende a incrementar substancialmente a estabilidade química dos
vidros fosfatos
[11]
.
O estudo da estrutura destes sistemas é um tópico de importância básica e
tecnológica, pois existe uma estreita correlação entre a estrutura da rede vítrea (em escala de
curto e médio alcance
) e propriedades macroscópicas tais como densidade, resistência
mecânica, expansão térmica, estabilidade química, índice de refração, condutividade térmica e
temperatura de transição vítrea.
[7-9]
O objetivo dessa dissertação foi estudar, em um vidro metafosfato ternário, as
propriedades da ordem de curto
alcance em função do tipo de cátion modificador e
determinar seu efeito sobre a estrutura de médio alcance. Foi considerado o sistema vítreo
Utilizaremos a terminologia de ordem de curto alcance para designar a estrutura num raio de duas ligações
atômicas com relação a um átomo em particular. No entanto, consideraremos ordem de médio alcance até quatro
ligações atômicas.
Capitulo 1 Introdução 2
_________________________________________________________________________________________________________________
metafosfato de Pb e Al, onde foi variada sistematicamente a concentração relativa entre os
dois cátions modificadores mantendo a composição meta ([O/P]=3) para todos os vidros da
série. Espera-se que as mudanças estruturais observadas sejam induzidas fundamentalmente
pela troca de espécies (Al por Pb). A escolha destas espécies modificadoras está baseada nas
propriedades de estabilização química que ambas conferem sobre o vidro fosfato.
Desde o ponto de vista metodológico, os fosfatos apresentam uma rede vítrea
potencialmente mais simples de simular que, por exemplo, os silicatos. Em fosfatos, a
distribuição de espécies de tetraedros formadores é binária, ou muito próxima, para uma
grande variedade de composições
[1]
, sendo esta uma vantagem fundamental na hora de
estabelecer modelos da rede ou determinar detalhes da estrutura de curto alcance ao redor dos
grupos formadores. O fato de considerar neste estudo composições metafosfato permite uma
simplificação adicional da descrição estrutural, pois neste caso a rede vítrea é formada
fundamentalmente por cadeias e/ou anéis de grupos fosfatos. O estudo do sistema Pb-Al
metafosfato apresentado nesta dissertação faz parte de um estudo em andamento mais
abrangente dos sistemas vítreos metafosfatos ternários
[38,39]
. Através da análise sistemática de
metafosfatos com duas espécies catiônicas diferentes, idealmente atuando como
modificadoras de rede, procura-se determinar o efeito de certos parâmetros característicos
destas espécies sobre a organização do sistema em médio alcance. Alguns parâmetros
relevantes são, por exemplo, valência, raio iônico, números de coordenação e intensidade de
ligação com O.
No trabalho desenvolvido, foi utilizada a técnica de Espectroscopia Raman
para obter informações sobre mudanças no caráter das ligações P-O-Me (Me = Pb ou Al) e
como tais mudanças afetam as vibrações relativas à ligação O-P-O, de modo a obter
informações sobre a ordem estrutural de médio alcance. Também foram utilizadas técnicas da
Ressonância Magnética Nuclear de alta e baixa resolução de
31
P,
27
Al e
207
Pb para obter a
Capitulo 1 Introdução 3
_________________________________________________________________________________________________________________
informação estrutural e química ao redor das espécies formadoras e modificadoras. Como
técnicas complementares foram utilizadas: Espectroscopia Dispersiva de Raio-X a fim de
verificar a estequiometria do sistema vítreo estudado Pb-Al metafosfato; Difração de Raios-X
para verificar a qualidade dos compostos utilizados tanto no preparo do precursor cristalino
Pb(PO
3
)
2
, como nos vidros; Calorimetria Diferencial Exploratória e Densimetria via método
de Arquimedes a fim de obter informações sobre duas propriedades macroscópicas: a
temperatura de transição vítrea e a densidade, respectivamente.
Do ponto de vista da aplicação da técnica de RMN, é de interesse considerar
sistemas vítreos onde seja possível fazer espectroscopia do maior número possível de espécies
químicas componentes, com a finalidade de obter um conjunto abrangente de informação dos
ambientes estruturais ao redor das espécies formadoras e modificadoras para ser combinados
num modelo estrutural significativo. No sistema proposto, é possível realizar espectroscopia
por RMN de três espécies:
31
P,
27
Al e
207
Pb, requerendo técnicas especificas para
particularidades de cada uma delas.
No Capitulo 2 são apresentados brevemente alguns conceitos gerais sobre o
estado vítreo, e sobre propriedades estruturais particulares dos vidros fosfatos. No Capitulo 3
são discutidas as técnicas experimentais utilizadas no estudo das propriedades e estrutura do
sistema vítreo Pb-Al metafosfato, assim como os fundamentos teóricos relativos a cada
técnica empregada. O Capitulo 4 apresenta as montagens e equipamentos utilizados nos
experimentos de Espectroscopia Raman e de Ressonância Magnética Nuclear. No Capitulo 5
são apresentados os métodos utilizados na síntese do precursor cristalino Pb(PO
3
)
2
e a
preparação dos vidros do sistema Pb-Al metafosfato. Os resultados obtidos através do
conjunto de técnicas aplicadas, é uma discussão preliminar, são apresentados no Capitulo 5. A
discussão abrangente dos resultados é apresentada no Capitulo 7. No Capitulo 8 são
Capitulo 1 Introdução 4
_________________________________________________________________________________________________________________
apresentadas as conclusões obtidas neste trabalho. Finalmente, no Apêndice A, são discutidos
os fundamentos básicos da Ressonância Magnética Nuclear.
Capitulo 2 Vidros 5
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 2
Vidros
2.1 - Introdução
Segundo a ASTM (American Society for Testing Materials) todo material
inorgânico rígido produto de uma fusão que foi rapidamente resfriada fora da cristalização é
considerado um vidro, entretanto esta definição é restrita, pois existem muitos sistemas
vítreos orgânicos conhecidos e fusão não é o único meio de se produzir um vidro.
Os vidros são essencialmente sólidos de estrutura atômica desordenada. A
densidade, as propriedades mecânicas e as propriedades térmicas dos vidros são similares aos
seus correspondentes cristais
[12]
. Por outro lado há diferenças com relação aos cristais, os
vidros não possuem ponto de fusão definido, não tem direções de clivagem preferenciais. Na
ausência de forças aplicadas e stress interno, os vidros são essencialmente isotrópicos. A
isotropicidade das propriedades físicas faz com que os vidros assemelham-se a líquidos. O
arranjo atômico nos vidros possui desordem em longo alcance tipicamente de líquidos,
portanto, pode-se definir um vidro de maneira mais geral como sendo um “sólido com
estrutura semelhante a um líquido”, ou simplesmente um sólido não cristalino.
[13]
2.1.1 – Diagrama V-T
Para melhor compreensão, o estado vítreo pode ser definido, utilizando o
diagrama V-T, mostrado na figura 2.1.
Capitulo 2 Vidros 6
_________________________________________________________________________________________________________________
Seja um pequeno volume de material em alta temperatura na forma liquida. No
resfriamento, este volume gradualmente decresce ao longo do segmento ab, onde o ponto b
corresponde à temperatura de fusão T
m
de um cristal.
Se a taxa de resfriamento for lenta o sistema tende ao estado de mínima
energia, no ponto d (estado cristalino), e o material torna-se um cristal. Porém, se a taxa de
resfriamento é alta, a massa de liquido se move a longo do segmento be, onde este é o estado
vítreo, ao longo do processo não ocorre descontinuidade no diagrama V-T. O ponto de
intersecção entre a extrapolação da linha vítrea f e o segmento be é chamado de temperatura
fictiva T
f
, onde está é a temperatura onde a estrutura do liquido super resfriado é
instantaneamente solidificado se tornando um vidro.
[13]
2.2 – Princípios de Formação de vidros.
Os vidros possuem uma rede atômica tridimensional aleatória. Uma
conseqüência direta dessa aleatoriedade resulta que vidros possuem uma energia interna maior
que seu correspondente cristal. Esta diferença de energia é pequena segundo Zachariasen
[12]
, o
que sugere uma estrutura aberta e flexível. Na figura 2.2 é mostrada a estrutura periódica de
um cristal e a estrutura aleatória de um sólido desordenado.
a
b
c
d
f
T
m
T
f
Figura 2.1: Diagrama V-T para um liquido capaz de vitrificar.
cristal
vidro
e
Região de transição
vitrea
Capitulo 2 Vidros 7
_________________________________________________________________________________________________________________
Em um cristal iônico, os poliedros de coordenação de oxigênios ao redor dos
cátions se ligam por vértices e este tipo de ligação é um dos primeiros quesitos para a
realização de uma estrutura aberta e flexível.
Figura 2.2: a)estrutura periódica do cristal, b)estrutura aleatória de um vidro.
Zachariasen propôs algumas regras a fim de estabelecer o que são os íons
formadores e modificadores da rede vítrea.
Os íons formadores de uma rede vítrea apresentam algumas características
importantes, como: número de oxigênios de coordenação baixo, as ligações entre os metais
(Me) e os oxigênios são tipicamente covalentes e estão conectados por vértices.
Os íons modificadores de uma rede vítrea, também apresentam algumas
características importantes, tais como: números de oxigênios de coordenação alto, as ligações
entre os metais e os oxigênios são tipicamente iônicas e os poliedros são conectados por
vértices, arestas e até faces.
Existem critérios quantitativos para classificar os íons formadores e
modificadores. Tais critérios são: intensidade da ligação Me-O, medida a partir da energia de
dissociação da molécula MeOn
[14]
e intensidade do campo elétrico, ou seja, a força entre as
ligações.
[15]
O íons presentes neste trabalho são Pb e Al, que atuam como modificadores da
rede vítrea. As ligações estabelecidas entre O e Al são mais fortes que as O e Pb, este fato
Capitulo 2 Vidros 8
_________________________________________________________________________________________________________________
pode ser verificado calculando-se o potencial catiônico de ambas as ligações, onde verifica-se
que o potencial catiônico para as ligações Al-O e Pb-O são respectivamente: 6 e 1,67. Onde
este fato mostra que as ligações Al-O são mais fortes que as Pb-O.
2.3 - Fosfatos: Propriedades, estrutura e ligação química.
Os vidros fosfatos possuem uma rede formada por grupos tetraédricos PO
4
(grupos formadores) estabelecendo ligações covalentes (figura 2.3) e cátions modificadores
ligados, usualmente, de maneira mais fraca aos átomos de oxigênio. Na descrição da estrutura
e da química destes materiais é conveniente definir o grau de condensação de cada grupo
fosfato como o número de oxigênios ligando dois átomos de P
[1,16]
. Geometricamente, cada
um destes oxigênios (ditos de pontes: O
p
) correspondem a um vértice comum a dois tetraedros
PO
4
. Assim, o estado de condensação de um fosfato particular é identificado de acordo com o
número n de O
p
através da notação Q
n
(n = 0,...,3)
[16]
. O estado de conectividade da rede de
fosfatos no vidro é caracterizado através da distribuição de espécies Q
n
que a compõem. Por
outro lado, os cátions modificadores (Me) coordenam os oxigênios não-ponte (O
np
) dos
tetraedros, transferindo carga ao anion fosfato.
O
P
O
-
O
-
O
P
O
O
np
O
-
O
p
P
O
-
O
-
Q
2
O
P
O
O
-
O
-
a) b)
Figura 2.3: a) os traços em cinza mostram o tetraedro fosfato, b) cadeia de fosfatos com tetraedros tipo Q
2
Capitulo 2 Vidros 9
_________________________________________________________________________________________________________________
Muitas propriedades macroscópicas do material dependem do grau de
condensação da rede de fosfatos, da intensidade das ligações Me-O
np
e da conectividade entre
os anions fosfatos estabelecida pelos modificadores através de ligações P-O-Me-O-P.
2.3.1 - Ligação química e estrutura em fosfatos
Uma descrição primária da estrutura da rede vítrea pode ser obtida fornecendo
os seguintes parâmetros:
a) o grau de condensação dos grupos fosfatos, através da distribuição de Q
n
b) o número de oxigênios de coordenação NC ao redor dos modificadores Me
c) as formas predominantes de conexão entre os tetraedros PO
4
e os poliedros de
coordenação MeO
NC
, através de pontes P-O-Me.
A distribuição de espécies Q
n
em vidros fosfatos pode ser explicada em
inúmeros casos através do modelo proposto por Van Wazer
[1]
. Partindo da composição
ultrafosfato (P
2
O
5
), que é a de maior condensação possível em fosfatos (Q
3
= 100%), a adição
de um óxido produz uma despolimerização da estrutura devido ao aumento da razão [O/P].
Por exemplo, para o caso de um óxido alcalino Me
2
O o processo pode ser descrito através da
pseudo-reação 2Q
n
+ Me
2
O Æ 2Q
n-1
, que permite calcular facilmente as populações de Q
n
em
função da composição
[1,17]
. A distribuição resultante é de tipo binário: somente duas espécies
Q
n
compõem a rede vítrea numa dada concentração. Isto é observado não somente em vidros
binários, senão também em sistemas mais complexos
[18]
. Eventualmente, pode existir uma
reação de desproporção do tipo 2Q
n
Æ Q
n-1
+ Q
n+1
quando algum dos cátions também atua
com caráter de formador, causando uma maior distribuição de espécies Q
n[17]
. Alguns dos
parâmetros relevantes para descrever o efeito dos modificadores sobre a organização da rede
Capitulo 2 Vidros 10
_________________________________________________________________________________________________________________
de fosfatos
*
são: a valência v do íon Me, o potencial catiônico efetivo
*
(definido como a carga
iônica Z dividida pelo raio iônico efetivo a na ligação Me-O
[19,20]
) e os valores possíveis para
o número de coordenação NC. Uma questão básica a ser respondida, com relação ao item (c)
mencionado acima, é quantos grupos fosfatos diferentes estão envolvidos na esfera de
coordenação do cátion Me, ou equivalentemente, quantos O
np
de um tetraedro particular serão
coordenados por um mesmo íon Me
v+
. Dependendo destas condições, a rede vítrea pode ser
formada por tetraedros compartilhando vértices com poliedros MeO
NC
, ou arestas ou faces,
em ordem de conectividade crescente.
Para o caso dos sistemas de fosfatos binários, do tipo Me
v/2
O – P
2
O
5
, Uwe
Hoppe propôs um modelo estrutural da rede vítrea que permite correlacionar as propriedades
da ligação Me-O com a estrutura de curto e médio alcance
[21]
. Partindo da composição
ultrafosfato e incrementando a concentração de Me
v/2
O, Hoppe e colaboradores determinaram
a existência de três regimes estruturais, descritos sucessivamente em ordem de concentração
crescente de Me
v/2
O
[21]
:
I) Despolimerização da rede de fosfatos e repolimerização por pontes P-O-Me: A
adição do óxido aumenta a razão [O/P], gerando unidades Q
2
e são estabelecidas pontes
P-O-Me através de O
np
dos grupos Q
2
. A esfera de coordenação do Me envolve também
oxigênios terminais (P=O) dos grupos Q
3
, os quais apresentam uma leve localização de
carga negativa
[21]
. O Me atua com máximo NC. A conexão entre tetraedros P e
poliedros Me é através de arestas (para baixa concentração de Me) e vértices (maiores
concentrações de Me) (figura 2.4a).
II) Final da repolimerização P-O-Me: para uma certa concentração de Me
v/2
todos
os oxigênios pontes já foram coordenados por íons Me
v+
, e a rede está formada por
tetraedros e poliedros compartilhando unicamente vértices (figura 2.4b). Neste regime,
*
Alternativamente, pode ser conveniente considerar a força de ligação Z/a
2
em lugar do potencial.
Capitulo 2 Vidros 11
_________________________________________________________________________________________________________________
o aumento da concentração de Me é possível somente através da redução no NC. Ainda
não existem contatos Me-O-Me; esta condição é desfavorecida frente a redução de NC.
A densidade de empacotamento atinge um mínimo no limite superior deste regime.
III) Pontes Me-O-Me: quando o número de O
p
disponíveis é menor que o mínimo
NC estável para o íon Me, o incremento na concentração de Me é possível unicamente
se os poliedros de coordenação MeO
NC
compartilham vértices, arestas ou até faces,
formando pontes Me-O-Me (figura 2.4c). A densidade de empacotamento aumenta
progressivamente.
Estes regimes envolvem modificações substanciais da organização da rede a
curto e médio alcance, ditas de reconstruções, que causam variações nas propriedades do
vidro. Hoppe identificou duas reconstruções de importância em fosfatos binários
monovalentes e bivalentes
[21]
. A primeira acontece quando os grupos Q
2
passam a
compartilhar vértices em lugar de arestas com os Me
v+
, ou seja que os O
np
de grupos Q
2
são
coordenados por dois cátions Me diferentes. Esta reconstrução explica satisfatoriamente as
anomalias observadas experimentalmente nas dependências composicionais das vibrações
P=O e no desaparecimento do desdobramento no primeiro pico de difração de RX
[22-25]
. A
segunda reconstrução corresponde à transição do regime II ao III, onde é observado o mínimo
na densidade de empacotamento do vidro e ocorre ao redor do valor crítico )vNC(vy
C
=
a)
b)
c)
Figura 2.4: a) Regime I, b) Regime II, c) Regime III.
Capitulo 2 Vidros 12
_________________________________________________________________________________________________________________
para a razão molar
52v/2
OPOMey = , sendo NC o mínimo número de coordenação para o Me
estabilizado no sistema
[21,26]
. É possível neste caso prever como a valência do Me influencia
no regime estrutural da rede, com drásticos efeitos sobre o comportamento das propriedades
com a composição.
Implicitamente, os regimes estruturais observados permitem inferir critérios
semi-empíricos de preferência para as ligações Me-O efetivamente estabelecidas em
ultrafosfatos, os quais podem ser formulados da seguinte forma
[21]
:
(i) o Me atua com seu máximo NC compatível com a concentração do O
np
(ii) os poliedros de coordenação MeO
NC
compartilharão arestas ou vértices com
tetraedros fosfatos:
a. Arestas: para concentrações baixas de Me
b. Vértices: para maiores concentrações de Me (e maior número de O
np
disponíveis)
(iii) A formação de pontes Me-O-Me não é favorecida: se a razão de O
np
/Me não é
suficientemente alta, a condição (i) é relaxada e NC diminui tanto como o sistema
permita estabilizar.
A condição (ii).b pode ser expressa de maneira equivalente:
(ii) b. Desde que a razão O
np
/Me seja suficientemente alta, os tetraedros Q
2
estabelecem ligações dos seus dois O
np
com dois cátions Me
v+
diferentes.
Estas condições de ligação impõem uma ordem de curto alcance particular, que
determina o tipo de conectividade entre grupos fosfatos e formadores. Variando a composição
do sistema, a impossibilidade de satisfazer alguma de estas condições determina uma
reconstrução estrutural na rede. A importância da proposta de Hoppe radica na possibilidade
de estabelecer, em linhas gerais, a estrutura de curto e médio alcance em vidros fosfatos em
base ao conhecimento da estequiometria e das propriedades do modificador.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 13
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 3
Técnicas Experimentais
Neste capítulo serão apresentados os fundamentos teóricos das técnicas
experimentais utilizadas para a caracterização do sistema vítreo Pb-Al metafosfato, sendo
elas: Ressonância Magnética Nuclear (RMN), Espalhamento Raman e técnicas
complementares como: Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raios-X (EDX), Difração de
Raios (DRX), Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC) e Densimetria pelo método de
Arquimedes.
3.1 - Ressonância Magnética Nuclear
Nesta seção serão tratadas somente os conceitos relativos às interações de spin
nuclear. Em apêndice está a parte relativa à teoria básica em RMN
3.1.1 - Introdução
Ressonância Magnética Nuclear diz respeito ao acoplamento magnético entre o
momentum magnético do núcleo estudado, com um campo magnético externo aplicado. A
primeira condição para que ocorra este acoplamento é que o núcleo possua momentum
angular de spin diferente de zero, pois, núcleos com momentum angular igual a zero não
possuem momentum magnético.
O termo ressonância implica que a absorção da radiação eletromagnética
ocorre quando a freqüência coincide com a freqüência de transição entre os possíveis estados
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 14
_________________________________________________________________________________________________________________
de energia assumidos por uma determinada espécie nuclear na presença de um campo
magnético estático externo.
Uma das razões do impacto da Ressonância Magnética na Física e na Química
esta na habilidade de fornecer informações sobre o ambiente ao redor do núcleo em estudo
[27]
.
3.1.2 – Teoria Básica de RMN
Um sistema magnético com um núcleo consiste em muitas partículas acopladas
em um dado estado. O núcleo possui um momentum magnético total
μ
e um momentum
angular total
J
. Podendo ser escritos como:
J
γμ
=
(3.1)
onde γ é um escalar chamado de fator giromagnético.
Quanticamente,
μ
e
J
são tratados como operadores, supondo que seja
definido um operador momentum angular da seguinte forma:
JI
=
(3.2)
Com a aplicação de um campo magnético externo
H sobre um spin nuclear,
ocorre um desdobramento dos níveis de energia desse spin, que é chamado de desdobramento
Zeeman, devida à interação do momentum magnético nuclear com o campo
H. Supondo que
o campo esteja sendo aplicado ao longo da direção z, temos que, a Hamiltoniana é:
0 z
HI
γ
Η
=−
(3.3)
Cujos autovalores da Hamiltoniana são:
0
, 1,...,E H m m I I I
γ
=− =
(3.4)
Para o caso de um spin, com I = ½, existem dois níveis de energia
representados na figura 3.1, cuja diferença é:
0
EH
γ
Δ
=
(3.5)
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 15
_________________________________________________________________________________________________________________
Dessa forma é possível induzir transições entre estados de spins através da
radiação eletromagnética, assim substituindo a equação 3.5 na relação de Planck,
E
ω
Δ=
,
temos:
00
H
ω
γ
=
(3.6)
que é a condição fundamental de ressonância, para que ocorram transições entre os níveis
nucleares de energia, onde
ω
0
é chamado de freqüência de Larmor. Nota-se que a constante de
Planck desapareceu da equação de ressonância, este fato sugere que este resultado esperado
na mecânica quântica comporte-se classicamente segundo o teorema de Ehrenfest.
[28]
3.1.3 – Interações do Spin Nuclear em Sólidos
Em um sólido, sob a visão da RMN, as interações entre os spins nucleares e a
sua vizinhança (ambiente químico), ocorrem através do seu momentum magnético de spin e
do momentum quadrupolar elétrico. Estas interações possuem um caráter anisotrópico, ou
seja, dependem da orientação dos seus eixos cristalográficos em relação ao campo magnético
externo. Estas interações são as que determinam a forma do espectro de RMN (posição e
largura das linhas), dando informações importantes sobre a geometria, estrutura e movimentos
moleculares em um sólido.
Todas estas interações podem ser descritas como componentes da
Hamiltoniana de spin total de um conjunto de spins I sob a ação de um campo magnético
estático externo B
0
.
m = ½
m = -½
Δ
E
Figura 3.1 : Níveis de Energia de um spin com I = ½.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 16
_________________________________________________________________________________________________________________
Distinguindo primeiramente as interações de spin nuclear entre campos
externos e os campos internos, temos que:
int
Z
HH H
HHH
ext
ext rf
=+
=+
(3.7)
Sendo
H
z
e H
rf
interações Zeeman com os campos B
0
e B
rf
respectivamente.
As interações internas são: dipolar H
D
, desvio químico H
DQ
, quadrupolar H
Q
e
acoplamento J H
J
. Pelo fato das interações internas serem muito menores que o campo
magnético externo B
0
, estas podem ser tratadas como perturbações da interação Zeeman.
int D DQ Q J
HHHHH
=
+++
(3.8)
Somente serão abordadas as interações de desvio químico e quadrupolar neste
capitulo, pois, apenas estas são relevantes no estudo dos sistemas considerados neste trabalho.
3.1.3.1 – Desvio Químico
Os elétrons ao redor de um núcleo sentem o campo magnético externo usado
no experimento de RMN, produzindo um campo magnético que contribui com o campo total
sentido pelo núcleo, fazendo com que ocorra uma mudança na freqüência de ressonância do
núcleo. Esta interação, devida a este campo secundário produzido pelos elétrons ao redor do
núcleo, é chamada de
desvio químico, cujo efeito é descrito como uma blindagem.
A determinação do desvio químico é uma ferramenta poderosa na
caracterização e determinação da estrutura de materiais, pois, tal interação leva a
deslocamentos em freqüências de ressonância que são um reflexo do ambiente químico ao
redor do núcleo de um átomo.
De maneira geral a distribuição eletrônica ao redor de um núcleo em uma
molécula não possui uma simetria esférica, dessa forma a blindagem depende da orientação
dos núcleos em relação ao campo externo aplicado, da seguinte forma:
Capitulo 3
Técnicas Experimentais 17
_________________________________________________________________________________________________________________
DQ 0
BB
σ
=
(3.9)
onde o termo
σ
é chamado de tensor de blindagem. O tensor de blindagem pode ser descrito
da seguinte forma:
x
xxyxz
yx yy yz
zx zy zz
σσσ
σσσσ
σσσ
⎛⎞
⎜⎟
=
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
(3.10)
Dessa forma a Hamiltoniana de desvio químico que descreve o acoplamento
dipolar magnético do
nuclear
μ
com o campo de blindagem resulta:
DQ
DQ 0
HIB
HIB
D
Q
γ
γσ
=
−⋅
=
−⋅
(3.11)
É possível encontrar um sistema de coordenadas onde o tensor de blindagem
seja da forma diagonal, este sistema é chamado de
sistema de eixos principais (SEP ou PAS
do inglês
Principal Axis System)
[28]
. Em geral, este sistema de coordenadas não coincide com
o sistema de coordenadas convencional, o sistema laboratório, definido pela direção do campo
magnético aplicado externamente
A Hamiltoniana de desvio químico no SEP é:
{}
22
0
0
H
3cos 1 sin cos2
2
DQ z DQ
DQ iso
I
ω
ω
ω
ωσ θ η θ φ
=
Δ
=− +
(3.12)
onde
φ
e
θ
são os ângulos de Euler entre o SEP e sistema do laboratório e
iso
σ
, Δ e
η
, são
chamados de desvio isotrópico, parâmetro de anisotropia e parâmetro de assimetria
respectivamente e são da seguinte forma:
3
e
PAS PAS PAS
xx yy zz
iso
P
AS PAS
xx yy
PAS
zz iso
PAS
zz
σσσ
σ
σσ
σσ η
σ
++
=
Δ= =
(3.13)
A Hamiltoniana total do sistema é da seguinte forma:
Capitulo 3
Técnicas Experimentais 18
_________________________________________________________________________________________________________________
{}
22
0
00
3cos 1 sin cos2
2
zDQ
zzisoz
isotrópico
anisotrópico
HH
II I
ω
ω
ωσ θ η θ φ
=
+
Δ
⎛⎞
=− + +
⎜⎟
⎝⎠
H
H


(3.14)
O desvio com relação a
ω
0
depende da orientação do SEP. Portanto depende da
orientação das ligações químicas ao redor da espécie ressonante com relação ao campo
externo aplicado. Na figura 3.2, pode se observar o desvio de freqüência causado pela
interação de desvio químico.
Um policristal é formado por um conjunto de pequenos cristais (cristalitos),
cujos eixos cristalográficos referente a cada cristalito possuem uma orientação inteiramente
aleatória em relação ao campo magnético externo usado em um experimento de RMN. Dessa
forma cada cristalito possui o SEP orientado de maneira diferente em relação ao sistema do
laboratório, tendo, portanto diferentes ângulos de Euler, o que acarreta em diferentes
freqüências de ressonância no espectro de RMN, o espectro resultante é chamado de
padrão
de pó
, que é a superposição das linhas de ressonância individuais de todos os cristalitos. Na
figura 3.3 podemos observar os padrões de pó resultantes da interação de desvio químico para
diferentes valores do parâmetro de assimetria, de uma amostra policristalina com um único
sítio magneticamente não equivalente, com as orientações do tensor
σ
para cada cristalito
definidas pela equação 3.12. Nota-se que o efeito sobre o espectro é o deslocamento com
relação à freqüência de Larmor.
ω
0
ω
desvio
químico
Figura 3.2: A variação da freqüência de ressonância natural do núcleo no espectro de RMN devido ao desvio
químico
Capitulo 3
Técnicas Experimentais 19
_________________________________________________________________________________________________________________
Outro parâmetro importante para o espectro do padrão de pó é a anisotropia,
que é uma característica própria do estado sólido da amostra e causa alargamentos no espectro
para amostras policristalinas. A anisotropia devido à interação de desvio químico é apenas um
exemplo particular, pois, outras interações de spin que apresentem dependência de orientação
de alguma propriedade vinculada com a ligação química de maneira tensorial ou vetorial,
também apresentam um comportamento anisotrópico, como por exemplo a interação
quadrupolar elétrica.
3.1.3.2 – Acoplamento Quadrupolar Elétrico
A energia eletrostática de uma distribuição de cargas, como prótons em um
núcleo, não pode ser adequadamente descrita apenas em termos de uma simples especificação
da carga elétrica total. Uma descrição apropriada requer uma expansão da função distribuição
de carga em séries de multipolos.
[29]
50 0 -50 -100
η
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
Figura 3.3: Padrões de pó para anisotropia de desvio químico simulados com parâmetro de assimetria
variando de 0 até 1
Capitulo 3
Técnicas Experimentais 20
_________________________________________________________________________________________________________________
Todo núcleo com spin maior que ½ necessariamente possui um momento
quadrupolar elétrico, pois a densidade de carga elétrica não é esfericamente simétrica
[30]
.
Portanto, um núcleo com spin maior que ½ não interage apenas com o campo magnético
aplicado e todo campo magnético local, mas também com o gradiente de campo elétrico
presente na posição do núcleo.
A interação quadrupolar se deve ao fato que o núcleo não possui simetria
esférica (
I > ½), sua forma agora se parece mais com uma elipsóide, como pode ser
observado na figura 3.4.
Figura 3.4: Representação geométrica de núcleos com spin I = ½ e I > ½
Para altos campos magnéticos a interação quadrupolar é uma perturbação da
Hamiltoniana Zeeman e de maneira geral seu efeito anisotrópico é mais forte que na interação
de desvio químico. A intensidade da interação depende da magnitude do momento
quadrupolar e do gradiente de campo elétrico. A Hamiltoniana Quadrupolar pode ser escrita
na forma tensorial
[29]
:
Q
H
2(2 1)
eQ
I
VI
II
=
⋅⋅

(3.15)
onde o termo
eQ representa o momento de quadrupolo elétrico do núcleo e
V
é o tensor que
representa as componentes do gradiente do campo elétrico no sitio do núcleo. Em
coordenadas cartesianas.
,,
i
ij
j
j
E
V
r
r x y z e j=1,2,3
=
=
(3.16)
z
Capitulo 3
Técnicas Experimentais 21
_________________________________________________________________________________________________________________
De maneira análoga à interação de desvio químico, o tensor
V
pode ser escrito
de forma diagonal em seu sistema de eixos principais (SEP).
()
()
,
22
Q
H3
62 1
ii
SEP
i
i
eQ
IIV
II
=−
(3.17)
É conveniente definir três parâmetros:
η
, eq e
ω
Q
, sendo o parâmetro de
assimetria, valor principal do gradiente de campo elétrico e a freqüência quadrupolar
respectivamente, reescrevendo a Hamiltoniana temos:
()
()
22
2
22 122
Q
, e
3
H
42 1
SEP SEP
yy xx
SEP
zz Q
SEP
zz
Zxy
Q
VV
Ve
q
Q
eq V
Vz
IIe II
II
ηω
η
ω
====
⎡⎤
−+
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
(3.18)
Os eixos do SEP são escolhidos convencionalmente de modo que
zz yy xx
VVV≥≥.
Como já fora dito anteriormente, para altos campos magnéticos, a interação
quadrupolar pode ser considerada uma perturbação da Hamiltoniana Zeeman e portanto os
autovalores da energia podem ser calculados utilizando teoria de perturbação. Dessa forma a
correção quadrupolar da energia total do spin nuclear será:
(0) (1) (2)
mm m m
EE E E=++ (3.19)
O primeiro termo corresponde à energia Zeeman, o segundo termo é a correção
em primeira ordem e o terceiro termo é a correção em segunda ordem que é da seguinte
forma:
()
()
()
(0)
0
22 2
(1)
2
(2)
(0) (0)
'
'
3cos 1 cos2 3 1
82 1
'
m
Q
m
Q
m
mm
mm
EBm
sen m I I
E
II
mH m
E
EE
γ
ωθηθϕ
=−
⎡⎤
−+ +
⎣⎦
=
=
(3.20)
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 22
_________________________________________________________________________________________________________________
Portanto as freqüências de ressonância são definidas por:
(1) (2)
1
0
...
mm
mmm
EE
h
ωωωω
==+++ (3.21)
Em primeira ordem a linha de ressonância se desdobra em 2I componentes,
com intensidade relativa das transições m m – 1 igual a I(I + 1) – m(m – 1). Para spins
semi-inteiros, a freqüência da transição central -½ ½ não é deslocada em primeira ordem
pela interação quadrupolar, entretanto as freqüências das outras transições são deslocadas,
produzindo um desdobramento do espectro com linhas satélites simetricamente disposta em
torno da linha central.
Para o caso de um spin 3/2, considerando por simplicidade simetria axial
η
= 0, temos a presença de três linhas, sendo uma central devido a transição -½ ½ e duas
linhas satélites devido as transições -3/2-1/2 e 3/21/2, como pode ser observado na figura
(3.5)
[32,33]
.As freqüências de ressonância serão:
()
00
1/2 3/ 2
2
2
,2
22
3cos 1
4
0
BB
eqQ
h
γγ
ωω ω
ππ
θ
±
== = Δ
Δ=
(3.22)
Utilizando a teoria de perturbação de segunda ordem a correção na freqüência
de transição para a linha central é dada por
[28]
:
3/2
Figura 3.5: a)Desdobramento quadrupolar dos níveis de energia de um spin I = 3/2 com correções de
ordem, b)espectro de um cristal simples.
ω
0
ω
0
ω
0
ω
0
+ 2
Δ
ω
0
- 2
Δ
ω
0
1/2
-1/2
-3/2
ω
0
2
Δ
2Δ
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 23
_________________________________________________________________________________________________________________
()
()
()
() ()
()
()
(
)
22
2
(2)
2
2
2
2
0
2
22
1
3279 3
1cos
282 82
3
34 1 2 1cos
48 2 1
2
6
27 9
1 cos 2 cos 1
82
Q
Q
II
sen I I
II iI
II
II
θθ
ω
ω
θ
ω
η
ϕθ
⎧⎫
+
⎛⎞
+++
⎪⎪
⎜⎟
⎝⎠
⎪⎣
⎪⎪
⎪⎪
⎛⎞
=
⎨⎬
−++
⎜⎟
⎝⎠
⎪⎪
+
⎪⎪
⎛⎞
⎪⎪
+− +
⎜⎟
⎪⎪
⎝⎠
⎩⎭
(3.23)
Portanto observa-se que tanto as linhas satélites como a linha central são
interações anisotrópicas devida sua dependência angular com os ângulos de Euler. Da mesma
forma que a interação de desvio químico, para uma amostra policristalina a interação de
acoplamento quadrupolar elétrico produz alargamentos, como pode ser observado na figura
3.6. Padrões de pó para diferentes valores do parâmetro de assimetria, para as transições das
linha satélites e da linha central.
Satélites (1ª Ordem) Central (2ª Ordem)
Figura 3.6: Padrões de pó simulados com o parâmetro de assimetria variando de 0 até 1, onde estão
ilustradas as transições das a)linhas satélites e b)linha central. Reproduzido da referencia 34.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 24
_________________________________________________________________________________________________________________
3.1.4 – Técnicas de RMN
A espectroscopia por Ressonância Magnética em sólidos visa obter
informações sobre a estrutura e dinâmica a escala atômica. Porém, as linhas de ressonância
em sólidos são alargadas devido as anisotropias das interações de spin, fato que causa uma
perda de resolução espectral. O objetivo da RMN de alta resolução é justamente eliminar esta
componente anisotrópica das interações (desvio químico, acoplamento quadrupolar elétrico),
de modo a obter apenas a componente isotrópica, onde a freqüência de transição já não
dependa dos ângulos de orientação dos tensores de interação.
[35]
Esta componente isotrópica é
de grande valia (não depende da orientação da ligação química), pois, a partir delas é possível
identificar sítios estruturais diferentes ao redor do núcleo analisado, ainda em amostras
policristalinas ou vítreas.
Nesta seção serão tratadas duas técnicas de RMN de alta resolução: a técnica
de rotação em torno do Ângulo Mágico (MAS, do inglês Magic Angle Spinning) e a técnica
de triplo quantum MAS (3Q-MAS, do inglês Triple Quantum MAS), a fim de eliminar
respectivamente as anisotropias das interações de desvio químico e acoplamento quadrupolar
elétrico. Será apresentada também uma técnica de RMN de baixa resolução: a técnica de
VOCS (do inglês, Variable Offset Cumulative Spectroscopy), utilizada para medir espectros
de RMN de largura muito maior que o espectro de irradiação de rf.
3.1.4.1 – Ângulo Mágico - MAS
Esta técnica consiste em aplicar uma alta rotação macroscópica da amostra em
torno de um eixo R (figura 3.7) a fim de eliminar a parte anisotrópica da interação de desvio
químico. Na seqüência será explicado com esta rotação elimina a anisotropia de desvio
químico.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 25
_________________________________________________________________________________________________________________
A anisotropia da interação de desvio químico apresenta uma dependência
angular
()
22
3cos 1 2 sen sen
θ
ηϕθ
−+ . A alta rotação do tensor de interação faz com que o
ângulo polar do tensor médio temporal seja o ângulo
θ
do eixo de rotação R (fig 3.7), fazendo
este tensor axialmente simétrico, com
η
= 0 e dessa forma sem a dependência azimutal.
A rotação coerente em torno de um eixo inclinado que faz um ângulo
β
com o
campo magnético externo (figura 3.7) com a freqüência de rotação
ω
r
, define para cada vetor
principal do SEP uma função geométrica do tipo:
()()
222
1
3cos 1 3cos 1 3cos 1
2
θβχ
−= (3.24)
Em um sólido rígido o parâmetro
χ
, é fixo, embora possa assumir todos os
valores possíveis se este sólido estiver na forma de pó. Para o caso de
β
= 54.74º o termo
dependente de
β
se anularia e portanto a equação 3.24 também se anularia para qualquer valor
de
χ
. Esta técnica foi proposta a fim de anular a anisotropia da interação de desvio químico,
ficando apenas com o desvio químico isotrópico δ
iso
, porém este fato depende da rotação da
amostra e se esta é comparável à largura da banda estática.
Por outro lado a rotação macroscópica da amostra não é suficientemente alta a
ponto de ser maior que a largura da anisotropia de desvio químico, dessa forma ocorre o
Figura 3.7: Rotação macroscópica da amostra segundo um ângulo
β
em relação a H
0
θ
χ
β
ˆ
SEP
z
R
φ
z
H
0
y
x
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 26
_________________________________________________________________________________________________________________
aparecimento de “bandas laterais” nos espectros de RMN, onde estas bandas são reproduções
da linha de ressonância isotrópica e aparecem em múltiplos inteiros da freqüência de rotação
macroscópica. Estas bandas apresentam dependências com os parâmetros de assimetria (η) e
anisotropia (Δ), dessa forma, Herzfeld-Berger
[57]
criaram uma analise gráfica que leva em
consideração a intensidade (área debaixo da curva) dessas bandas em relação à linha central
de modo a obter os valores desses parâmetros a partir do experimentos de MAS. A
determinação confiável das quantidades relativas à cada banda lateral é de extrema
importância para a eficácia deste método.
3.1.4.1.1 –
31
P - MAS
O δ
iso
do
31
P é fortemente sensível ao grau de condensação n da espécie Q
n
analisada
[36]
, deslocando entre -10 a –15 ppm por cada oxigênio ponte O
p
ligado ao P. Como a
intensidade das linhas de RMN é diretamente proporcional ao número de núcleos nessa
ligação química, é possível obter as frações Q
n
através da integração numérica do espectro de
RMN do
31
P. Os cátions Me ligados aos oxigênios O
np
também tem efeito sobre o δ
iso
de cada
Q
n
. Quanto maior é a força da ligação O
np
-Me, menor será a freqüência de RMN
correspondente
[37]
, fato que pode ser aproveitado para diferenciar e identificar os ambientes
químicos não equivalentes de Q
2
, que diferem nas espécies catiônicas na segunda esfera de
coordenação. Para o sistema Pb-Al metafosfato, através dos experimentos de
31
P-RMN de alta
resolução é possível:
i)
Conferir se a rede de fosfatos possui uma única conectividade (estritamente Q
2
para metafosfato) ou existe desproporção (Q
1
e Q
3
).
ii)
Para uma conectividade dominante Q
2
, em principio é possível identificar a
presença de fosfatos associados com as duas espécies de cátions, especialmente no caso de Al
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 27
_________________________________________________________________________________________________________________
e Pb. A possibilidade de quantificar as frações de ligações P-O-Al e P-O-Pb, tal como no Na-
Al metafosfato, é muito importante para propor modelos quantitativos da rede vítrea
[21, 38]
3.1.4.1.2 –
27
Al – MAS
O
27
Al possui um spin nuclear igual a 5/2, devido a este fato este possui um
momento de quadrupolo elétrico que causa um alargamento anisotrópico no espectro de
RMN, com a aplicação da técnica de MAS é possível eliminar do espectro de RMN parte do
alargamento anisotrópico devido à interação de desvio químico. A partir de uma integração
numérica dos espectros de
27
Al – MAS é possível avaliar as populações de Al nas respectivas
coordenações e obter o valor de CN médio da seguinte forma
[39]
,
(
)
(
)
(
)
() () ()
456
Al
Al IV Al V Al VI
CN
Al IV Al V Al VI
++
=
++
(3.25)
onde os termos Al(IV), Al(V) e Al(VI) são as intensidades espectrais das linhas associadas aos
diferentes ambientes de coordenação.
3.1.4.2 – Triplo Quantum – MAS
A técnica de 3Q-MAS permite eliminar das linhas de ressonância os
alargamentos anisotrópicos devidos à interação quadrupolar elétrica de segunda ordem, que
não são suprimidos pela técnica de MAS convencional
[34]
. A transição de spin de 3Q
m = -3/2
ÅÆ m = 3/2 não está influenciada pelas anisotropias da interação quadrupolar de
segunda ordem
[40]
, porém, não é uma transição diretamente observável devida às regras de
seleção (Δm = 1) para uma grandeza física observável em RMN, o operador I
+
.Através de
uma seqüência de dois pulsos é possível a excitação da coerência de 3Q e sua reconversão em
coerência observável de ordem –1. O tempo entre pulsos é que determina qual é a evolução da
coerência de ordem 3, cujo valor é codificado como um fator de fase no sinal gerado após o
segundo pulso, durante o período de tempo de observação do sinal de eco (dimensão temporal
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 28
_________________________________________________________________________________________________________________
direta). A variação sistemática do tempo de evolução (dimensão temporal indireta) permite
reconstruir a evolução temporal completa da coerência de ordem 3, com freqüência
independente da anisotropia. Desta forma, o experimento de 3Q-MAS fornece um espectro
bidimensional onde a freqüência indireta é insensível à anisotropia, na dimensão de
freqüência
[40]
. Através da medida das posições das linhas isotrópicas e dos centros de
gravidade das projeções sobre a dimensão anisotrópica é possível determinar os parâmetros de
interação de spin de cada um dos sítios não equivalentes ocupados pelo núcleo quadrupolar:
δ
iso
e a constante de acoplamento quadrupolar elétrico Cq, que depende diretamente do valor
principal eq do tensor de gradiente de campo elétrico no sítio do núcleo
[40,41]
. Eventualmente,
se existe uma boa resolução de detalhes no padrão anisotrópico medido no experimento MAS,
uma simulação numérica deste espectro permite refinar os valores de δ
iso
e eq, e determinar o
parâmetro de assimetria do tensor gradiente de campo elétrico
η
[40]
.
3.1.4.2.1 –
27
Al – 3Q-MAS
Foi utilizada a técnica de alta resolução de RMN 3Q-MAS para o
27
Al, para
encontrar os parâmetros δ
iso
e Cq. Os parâmetros de interação de spin δ
iso
e Cq são os que
permitem resolver sítios de ligação diferentes para Al. O número de coordenação afeta
fortemente o valor de δ
iso
, da ordem de –20 ppm por cada O adicional partindo desde
coordenação IV até VI
[42]
. Por outro lado, a simetria e distorções do poliedro de coordenação
afetam principalmente ao valor de eq
[42]
. Ambas grandezas são importantes, pois permitem
inferir as propriedades de ligação e agrupamentos formados pelo Al.
3.1.4.3 – Variable offset cumulative spectroscopy (VOCS)
Existe o problema da deposição de rf sobre a linha de ressonância, onde a faixa
de excitação por rf do espectrômetro não consegue abrange-la totalmente, devido ao fato que
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 29
_________________________________________________________________________________________________________________
a anisotropia causada pelas interações internas no núcleo (desvio químico, dipolar
homonuclear), é muito forte (espectro muito largo cerca de 2000 ppm, com é o caso do
207
Pb)
A técnica de VOCS é usada a fim de eliminar este problema. A técnica de
VOCS se torna muito importante, pois, através dela é possível obter o espectro estático de
RMN de um material, a partir de espectros parciais obtidos variando a freqüência de
ressonância a passos constantes
[43,44]
.
3.1.4.3.1 –
207
Pb - VOCS
A RMN de
207
Pb não é uma técnica de rotina no estado sólido, devido à alta
anisotropia de desvio químico do Pb
[27,45]
. Por este motivo, as linhas de RMN de
207
Pb
resultam de dezenas ou centenas de KHz de largura e portanto a técnica de MAS é de
utilidade limitada, especialmente em vidros
[45]
. Assim, em muitas oportunidades resulta
conveniente realizar os experimentos em condições estáticas. A análise do espectro estático de
207
Pb é mais complexa que em núcleos de baixo número atômico. Isto se deve à alta
polarizabilidade da densidade eletrônica que causa grande sensibilidade das componentes do
tensor de desvio químico frente a mudanças de ambiente estrutural e químico. Porem é
possível distinguir Pb covalente ou iônico e inferir informação sobre a coordenação, a partir
da grandeza das anisotropias de desvio químico e das faixas de valores do desvio isotrópico,
através de correlações empíricas estabelecidas em cristais de estrutura conhecida
[45]
. Uma
expressão obtida a partir deste método, válida para CN 6
[45]
, é:
4122.8
349.7
iso
Pb
CN
δ
= (3.26)
onde
iso
δ
é o desvio químico isotrópico médio.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 30
_________________________________________________________________________________________________________________
3.2 – Espalhamento Raman
3.2.1 – Introdução
O efeito Raman consiste no espalhamento inelástico da luz pela matéria.
Inicialmente foi observado em materiais transparentes, atualmente é aplicado ao estudo de
uma vasta gama de diferentes materiais em condições experimentais diversas. Sua
versatibilidade atual é resultado de progressos que tornaram disponíveis para a experiência
aparelhos de altíssima precisão como fontes de luz monocromática com grandes diversidades
de comprimentos de onda (lasers ajustáveis), espectrômetros altamente sensíveis
(multidispersivos, a transformada de Fourier, redes holográficas), sistemas de detecção
especiais (contagem de fótons, arranjo de diodos como CCD) e sistemas automatizados com
tratamento de dados.
3.2.2 – Princípios Básicos do Espalhamento Raman
Quando uma amostra é irradiada por luz visível, apenas uma pequena parte é
espalhada com orientações da polarização diferentes da orientação da luz incidente. No
espectro da luz que deixa a amostra pode-se observar um pico no centro do espectro que é a
contribuição dos fótons espalhados elasticamente, o chamado espalhamento Rayleigh;
observam-se mais picos correspondentes ao espalhamento inelástico e suas mudanças em
freqüência normalmente ocorrem em duas partes separadas do espectro. Os picos mais
próximos à freqüência da luz incidente (1 a 10 cm
-1
) aparecem devido ao espalhamento
Brillouin, e é resultado do espalhamento por fónons acústicos. Os picos na região de mais
altas freqüências são devido ao espalhamento Raman e são resultado do espalhamento
inelástico da luz por fonons ópticos ou por vibrações internas em casos de cristais
moleculares.
A contribuição inelástica esta subdividida em duas faixas de freqüências:
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 31
_________________________________________________________________________________________________________________
Componentes Stokes cuja freqüência ω
S
é menor que a freqüência da luz
incidente,
Componentes Anti-Stokes cuja freqüência ω
AS
é maior que a freqüência da luz
incidente.
Cada fóton espalhado na componente Stokes está associado com o ganho de
um quantum de energia ħω pela amostra (equação 3.27) e na componente Anti-Stokes está
associado com a perda de um quantum de energia ħω pela amostra (equação 3.28):
(3.27)
(3.28)
eiS
eASi
ω
ωω
ωω ω
=
=−


onde ħω
i
e ħω
e
referem-se a um quantum de energia incidente e espalhada na amostra
respectivamente.
Na figura 3.8 é apresentado um diagrama onde é possível observar o espectro
com as contribuições elástica (Rayleigh) e inelástica (Brillouin e Raman)
3.2.2.1 – Teoria Macroscópica
Quando um cristal é submetido a um campo elétrico, os elétrons oscilam em
torno do núcleo, provocando um momento de dipolo induzido
[47]
. Para pequenos campos, o
momento de dipolo induzido é proporcional à intensidade do campo:
(
)
(
)
,,Prt Ert
α
=

(3.29)
Brillouin
Brillouin
Raman
Raman
Rayleigh
Stokes
Anti-Stokes
Figura 3.8: Diagrama da distribuição do espalhamento da luz em função da freqüência.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 32
_________________________________________________________________________________________________________________
onde α é o tensor polarizabilidade do cristal.
Em um ponto r do cristal o campo elétrico de uma onda plana monocromática
propagando-se na direção de k
i
é dado por:
()
(
)
0
,cos
ii
Ert E t k r
ω
=
−⋅
(3.30)
onde
0
E
é a amplitude do campo elétrico e ω
i
é a freqüência de radiação. Se os átomos do
cristal estiverem vibrando com uma freqüência ω
p
, o deslocamento nuclear é dado por:
()
(
)
0
,cos
pppp
Qrt Q tqr
ω
=
−⋅

(3.31)
onde Q
p0
é a amplitude vibracional e
p
q
é o vetor de onda que define a direção de propagação
dessas vibrações.
O momentum de dipolo induzido em primeira ordem é:
()
()
00 0
0
,cos() cos() .
ii p ie ip
p
p
Prt E t k r E Q t k q r
Q
α
αω ωω
⎛⎞
=−+ ±
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠



(3.32)
O primeiro termo corresponde à contribuição elástica (Rayleigh) e o segundo
termo corresponde ao processo do espalhamento Raman.
A espectroscopia Raman é uma técnica baseada na interação radiação-matéria.
Ela pode ser descrita como uma técnica de analise onde são estudadas as correlações entre as
propriedades de um feixe de luz incidente e aquelas do feixe de luz espalhado ineslaticamente
pela amostra. O feixe de luz incidente (espalhado) é caracterizado por quatro parâmetros:
freqüência ω
i
(ω
e
), vetor de onda
(
)
ie
kk
, polarização
(
)
ie
ee
e intensidade I
i
(I
e
). A
interpretação de um experimento Raman consiste em fazer a ligação entre esses vários
parâmetros e as propriedades do material. Esta correlação pode ser traduzida pelas leis de
conservação e pelas regras de seleção descritas na teoria microscópica do espalhamento
Raman.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 33
_________________________________________________________________________________________________________________
3.2.2.2 – Teoria Microscópica
3.2.2.2.1 – Lei da Conservação
A partir da teoria macroscópica obtém-se que os espalhamentos Stokes e anti-
Stokes ocorrem com a mesma intensidade. De fato isto não ocorre e a explicação só é
alcançada via teoria microscópica.
O espalhamento de luz é interpretado como sendo a analise da radiação emitida
por um conjunto de dipolos induzidos no interior da matéria pelo campo elétrico da radiação
incidente. Admitindo apenas que os elétrons sentem os campos elétricos de altas freqüências
(aproximação adiabática), então o fenômeno de espalhamento está intimamente ligado à
polarizabilidade eletrônica
α
, propriedade tensorial dos materiais. O espalhamento está
relacionado com a modulação, espacial e temporal, desta quantidade
()
,rt
δα

.
As variações temporal (ω) e espacial (
k
), dessa modulação são regidas por
duas leis de conservação de energia e de momentum:
ie
ie
kk k
ω
ωω
=
−=



(3.33)
Se ω = 0, o espalhamento é elástico e é denominado espalhamento Rayleigh.
Se ω 0, o espalhamento é inelástico e é denominado espalhamento Raman, se ω > 0, o
espalhamento é do tipo Stokes, se ω < 0, o espalhamento é do tipo anti-Stokes.
Se a variação na modulação é pequena em comparação à radiação incidente
(ω
ω
i
), temos que:
2
ei
ie
i
kk
ω
ω
π
λ
=

(3.34)
Para um comprimento de onda muito grande comparado com as distâncias
interatômicas a, tem-se:
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 34
_________________________________________________________________________________________________________________
max
2
a
k
π
(3.35)
o espalhamento Raman de primeira ordem excita apenas fônons com freqüências próximas ao
centro da zona de Brillouin.
3.2.2.2.1 – Regras de Seleção
A partir de considerações sobre a simetria do material e sobre as polarizações
das radiações incidente e espalhada, as regras de seleção permitem prever se o espalhamento
Raman para um dado modo de vibração é observável.
As regras de seleção foram estabelecidas por Loudon
[47]
e determinadas
associando-se a cada representação irredutível das componentes do tensor susceptibilidade a
uma matriz
R
, denominada tensor Raman. Seu calculo consiste na procura das condições de
simetria e geometria de realização do espalhamento de forma que a seção de choque não seja
nula. Se a coordenada normal associada a um modo de vibração possuía a mesma simetria que
uma das representações do tensor Raman, diz-se então que um modo é Raman ativo. Assim,
para que haja atividade Raman é necessário que pelo menos uma das componentes do tensor
de susceptibilidade seja não nula na configuração desejada.
A intensidade de um sinal de Raman depende da polarização das radiações
incidente (
i
e
) e espalhada (
s
e
):
2
Ri s
I
eRe
⋅⋅
(3.36)
A analise experimental das intensidades Raman, assim como em todas as
medidas ópticas, é muito difícil, principalmente quando as intensidades estão sendo analisadas
em valores absolutos
[48]
.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 35
_________________________________________________________________________________________________________________
3.2.3 – Espectroscopia Raman
O espectro de fônons de um material é sensível à substituição atômica quer por
efeito de massa, de mudança de simetria local ou global e pelo tipo das ligações químicas. No
primeiro caso, as freqüências dos modos normais de vibração do sólido variam inversamente
com a massa atômica do átomo substituto. No caso de a substituição atômica induzir
mudanças de simetria, quer local ou global, podem ocorrer mudanças drásticas no espectro
Raman, com o surgimento/desaparecimento de modos vibracionais ativos no espalhamento
Raman. Quanto ao tipo de ligação química através da qual o átomo substituto se liga à rede
hospedeira, duas possibilidades se apresentam:
i)
comportamento a um modo, em que o espectro vibracional preserva o mesmo
número de modos ativos no espalhamento Raman, mas cujas freqüências variam com a
concentração do átomo substituto;
ii)
comportamento a dois modos, em que as duas sub-redes podem vibrar de forma
quase independente, porém acopladas.
De um modo geral o comportamento a um modo ocorre quando a interação
entre os átomos possui componentes de forças de longo alcance, como as Coulombianas,
enquanto que o comportamento a dois modos ocorre quando as interações são de curto
alcance como no caso de ligações covalentes.
A partir do espectro Raman é possível observar se a substituição atômica de Pb
por Al causa o aparecimento ou desaparecimento de algum modo normal de vibração e
também como a freqüência dos modos vibracionais variam com esta substituição atômica. A
identificação dos modos vibracionais Raman
[49,50]
relativos a cada espécie Q
n
é de suma
importância para validar modelos quantitativos de rede.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 36
_________________________________________________________________________________________________________________
3.3 – Técnicas Complementares
Foram utilizadas quatro técnicas complementares: EDX, DRX, DSC e
densimetria; a fim de verificar a estequiometria das amostras (EDX e DRX), e também obter
dados sobre as características macroscópicas das amostras: temperatura de transição vítrea T
g
(DSC) e densidade (densimetria).
Nas seções seguintes serão descritas estas técnicas de maneira introdutória.
3.3.1 – Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raio-X (EDX)
A espectroscopia de energia dispersiva de raios-X (EDX, do inglês Energy
Dispersive X-Ray Spectroscopy), é uma técnica onde a amostra é irradiada por um feixe
eletrônico de alta energia (5 a 30 keV) finamente focalizado. A interação do feixe de elétrons
com a amostra causa a liberação de elétrons secundários, raios-X característicos dos
elementos químicos presentes na amostra e vários outros tipos de radiação
[51,52]
.
O detector de raios-X de um equipamento de EDX mede a intensidade dos
raios-X emitidos pela correspondente energia. A energia dos raios-X é característica do
elemento do qual foi emitido. Um espectro da energia versus contagens de fótons relativas dos
raios-X detectados é obtido e pode ser utilizado para estudos qualitativos e quantitativos dos
elementos presentes na amostra estudada.
As medidas foram realizadas num espectrômetro LEO-440 utilizando um
detector de Silício-Lítio, no Instituto de Química de São Carlos.
3.3.2 – Difração de Raios-X (DRX)
A Difração de Raios-X é uma técnica onde um feixe de raios-X é incidido
sobre a amostra, este feixe difrata na amostra e estes feixes difratados são captados pelo
aparelho e as medidas dos ângulos de difração dos raios emergentes fornecem informações
(distância entre planos cristalinos, distância interatômica) sobre a estrutura da amostra.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 37
_________________________________________________________________________________________________________________
As medidas foram realizadas num difratômetro Rigaku Rotaflex RU200B
utilizando a linha K
α
1
do Cu, no Grupo de Cristalografia do IFSC.
3.3.3 – Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)
A Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC, do inglês Differential Scanning
Calorimetry) é uma técnica na qual as diferenças no fluxo de calor na amostra e na referência
são medidas como uma função da temperatura da amostra enquanto ambas estão submetidas a
uma variação de temperatura controlada. A DSC por fluxo de calor foi realizada a fim obter a
temperatura de transição vítrea (T
g
), ou seja, a temperatura característica onde ocorre a
mudança de estrutura do estado vítreo ao estado cristalino de cada amostra estudada.
As medidas foram realizadas, num calorímetro TA Instruments DSC-2910, no
Grupo de Crescimento de Cristais do IFSC.
3.3.4 – Densimetria – Método de Arquimedes
As medidas de densidade via o método de Arquimedes, são realizadas
medindo-se a massa de um material: em contato com o ar e submerso em um liquido cuja
densidade é conhecida.
Estas medidas são realizadas a fim de verificar se existem regimes onde a
compactação das cadeias de fosfatos sofrem variações apreciáveis ou se a mudança de
densidade deve-se apenas pela mudança atômica de Pb por Al cujas características como: raio
iônico e/ou diferença de massa, serem diferentes.
Foi utilizado etileno glicol como o fluido de imersão com densidade conhecida
(1.114g/cm
3
à 27ºC), foram realizadas 5 medidas da massa aparente do vidro e o valor tomado
para o cálculo da densidade foi a média aritmética destas cinco medidas.
Capitulo 3 Técnicas Experimentais 38
_________________________________________________________________________________________________________________
As medidas foram realizadas no Laboratório do Grupo de Crescimento de
Cristais do IFSC, utilizando-se duas balanças METTLER AG 285 e acessórios METTLER
para medidas de densidade.
Capitulo 4 Montagem Experimental 39
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 4
Montagem Experimental
4.1 Espectrômetro Raman
Em linhas gerais, o aparato experimental utilizado em um experimento de
espectroscopia Raman divide-se em quatro partes principais: Fonte; Sistema dispersivo;
Detectores e Acessórios.
4.1.1 – Fonte
Empregou-se com fonte de radiação um laser de Argônio-Criptonio cujo
comprimento de onda varia 350,7 nm até 800 nm (coherent – INNOVA 70C Spectrum).
Sistema Dispersivo
(T64000)
Microcom
p
utador
Detector
PMT/CCD
Fonte de
Radiação
(Laser)
Feixe
incidente
Feixe
espalhado
Amostra
Figura 4.1: Representação esquemática do aparato utilizado em um experimento Raman.
Capitulo 4 Montagem Experimental 40
_________________________________________________________________________________________________________________
4.1.2 – Sistema Dispersivo
Foi utilizado um conjunto Jobin-Yvon T64000 que é formado por um
monocromador triplo equipado com redes de difração de 1800 linhas/mm, adequado para
trabalhar na faixa de comprimentos de onda variando de 400 à 950 nm. A detecção é feita
com um sistema CCD acoplada a um microcomputador, responsável pela aquisição e
armazenamento de dados. A figura 4.2 ilustra de maneira esquemática este espectrômetro.
Basicamente o modulo dispersivo é constituído por um pré-monocromador
duplo e um espectrógrafo. Este sistema pode operar em uma de duas configurações possíveis:
aditiva ou subtrativa.
Este conjunto T64000 pode ser operado de dois modos diferentes: o modo
Macro-Raman e o modo Micro-Raman. No modo micro-Raman a amostra é iluminada através
de um microscópio óptico, o que permite sondagens em pequenas regiões micrométricas.
E13
E12
E9
E8
E1
E2
E6
E4
E3
E7
E10
E11
E14
G3
G2
G1
F1
F1/2
F2
F3
E5
amostra
F2/3
F4
PMT
CCD
Módulo Aditivo
Pré-monocromador duplo
Espectrógrafo
E = espelho
F = fenda
G = grade de difração
Figura 4.2: Diagrama ilustrando o caminho percorrido pela luz dentro do sistema dispersivo T64000.
Capitulo 4 Montagem Experimental 41
_________________________________________________________________________________________________________________
4.1.3 – Detectores
Os sinais de Raman são tipicamente muito fracos (da ordem de 10
-9
da
intensidade da radiação incidente), tornando-se assim imprescindível o emprego de detectores
de alta sensibilidade acoplados a sistemas amplificadores de sinal. Existem dois tipos de
detectores disponíveis para este fim: a célula fotomultiplicadora, que converge fótons em sinal
elétrico e o dispositivo de carga acoplada ou CCD (do inglês, Charge Coupled Device),
sistema formado por uma matriz de diodos de silício.
4.1.4 – Acessórios
Existem alguns acessórios no Laboratório de Espectroscopia Raman que
podem ser utilizados juntamente com todo o aparato descrito previamente, tornando possível
experimentos de espalhamento Raman em condições diferentes de temperatura (10 a 1300 K)
e pressão hidrostática (nominalmente até 50 GPa).
4.2 – O Espectrômetro de RMN
Nesta seção é feita uma breve descrição dos equipamentos básicos que compõe
o espectrômetro Varian Associates modelo Unity INOVA 400. Na figura 4.3 apresenta um
diagrama em blocos do espectrômetro.
O campo magnético externo é produzido por um magneto supercondutor
Oxford de intensidade de 9,4 T de 89mm de diâmetro e o sistema de bobinas de shimming
a
é
de 18 canais também da Oxford. A geração de tensões alternadas que alimentam a bobina de
radiofreqüência é feita continuamente por um sintetizador da marca PTS modelo D500 que
opera em duas bandas de freqüência: a de alta freqüência que opera entre 370 MHz e 500MHz
a
bobinas de shimming são bobinas que geram campos magnéticos que corrigem a perca da homogeneidade do campo
magnético estático aplicado à amostra
Capitulo 4 Montagem Experimental 42
_________________________________________________________________________________________________________________
e a banda de baixa freqüência, utilizada para a excitação de núcleos entre 1MHz e 220MHz. A
potência do sinal sintetizado é da ordem de mW.
Figura 4.3: Diagrama de Blocos do espectrômetro de RMN
O sinal gerado pelo sintetizador passa por dois transmissores sem ganho de
potência. O transmissor 1 recebe o sinal de alta freqüência, modulando-o em um pulso
retangular de mesma duração que o tempo de aquisição do sinal emitido pelo núcleo de
interesse, tipicamente da ordem de ms. O transmissor 2 recebe parte do sinal de baixa
freqüência produzidos pelo sintetizador, destinado a irradiar o núcleo de interesse e o
transforma em um pulso de duração pw pré determinado pelo usuário no micro-computador.
Após a passagem destes sinais pelos seus respectivos transmissores, eles são
encaminhados para dois amplificadores de potência, com valores máximos de 100W para o
canal de desacoplamento e 300W para o canal de excitação dos núcleos (canal de
observação).
Capitulo 4 Montagem Experimental 43
_________________________________________________________________________________________________________________
Após a excitação do sistema de spins de interesse, o sinal (FID) induzido na
bobina pela variação temporal da magnetização, com amplitude da ordem de
μV, é
encaminhado para o pré-amplificador passando por uma chave eletrônica
[35]
controlada pelo
gerador de eventos, que abre ou fecha a passagem de sinais para o pré-amplificador, através
de um cabo de
λ/4 (¼ do comprimento de onda do canal de observação). A finalidade deste
cabo é a proteção do pré-amplificador contra possíveis ruídos residuais da aplicação das altas
potencias de irradiação
[53]
. Após a passagem pelo pré-amplificador a magnitude do FID é da
ordem de V. Este sinal é encaminhado ao sistema de detecção em fase de quadratura,
posteriormente sendo conduzidos ate filtros passa baixa (P.B.), que permitirão somente a
passagem dos sinais de baixa freqüência da ordem de KHz. Estes sinais são conduzidos para
conversores analógicos digitais (A/D) com máxima freqüência de digitalização de 1 MHz e
finalmente para um computador onde são medidos e processados.
4.2.1 – Sondas
Agora serão descritas as sondas utilizadas nos experimentos de RMN de alta e
baixa resolução.
4.2.1.1 –Sondas de alta de alta resolução
A sonda usada para a aquisição dos espectros de RMN utilizando alta rotação
em torno do ângulo mágico (rotação em torno de 10 KHz, para este estudo) é da marca Doty
Scientific modelo CP/MAS-XC4, cujo porta amostras é apropriado para rotores de 4mm,
possibilita irradiação em freqüências na faixa de 40 MHz ate 180 MHz e pulsos de
π/2 em até
mínimos de 1.8
μs para
13
C com no máximo de 880 W em 100.6 MHz. Para o presente
trabalho o pulso de
π/2 foi de 3.3 μs para o
31
P e de 2.8 μs para o
27
Al.
Capitulo 4 Montagem Experimental 44
_________________________________________________________________________________________________________________
A sonda utilizada para medidas com média rotação em torno do ângulo (5KHz
para o presente trabalho) é da marca Varian, cujo porta amostras é apropriado para rotores de
7mm, possibilita radiação em freqüências na faixa de 35MHz até 160MHZ e pulsos de
π/2 em
até mínimos de 3
μs para
13
C com no máximo de 300W.
4.2.1.2 – A sonda de medidas estáticas. (Wideline)
Esta sonda utilizada para realizar medidas estáticas é da marca Doty Scientific
modelo Wideline, cujo porta amostra é apropriado para rotores de 7 mm, possibilita irradiação
em freqüências na faixa de 66 MHz até 170 MHZ e pulsos de
π/2 em até mínimos de 3.4 μs
para
13
C com no máximo de 545 W em 100.5 MHz.
4.2.2 – Parâmetros dos experimentos de RMN.
Agora serão descritos os parâmetros utilizados nos experimentos de RMN.
Todos os experimentos foram realizados com campo de 9.4 T.
As medidas de alta resolução do
31
P-MAS foram realizadas na freqüência de
161.84MHz, com pulsos de π/2 com duração de 3μs à 3.5μs, com rotações de 7.5KHz e
10KHz. As medidas de baixa resolução do
31
P em condições estáticas foram realizadas, com
pulsos de π/2 e π com duração de 3μs e de 6μs, respectivamente. As medidas de alta resolução
do
27
Al-MAS foram realizadas na freqüência de 104.18MHz, com pulsos de π/2 com duração
de 3.5μs à 4μs e com uma rotação de 9KHz. As medidas de alta resolução do
27
Al-3QMAS
foram na freqüência de 161.84MHz, com pulsos de 3π/2 e π/4 com duração de 6μs e de 2μs,
respectivamente. As medidas de baixa resolução do
207
Pb-VOCS foram realizadas na
freqüência de 83.35MHz, com pulsos de π/2 e π com duração de 3μs e de 6μs,
respectivamente. Foram realizadas 4 experimentos, para cada vidro, com passos constantes da
freqüência de irradiação de 60KHz.
Capitulo 4 Montagem Experimental 45
_________________________________________________________________________________________________________________
4.2.3 – Software de simulação de espectros estáticos.
O software utilizado para a simulação dos espectros estáticos do 31P, foi
desenvolvido pelo Profº José F. Schneider coorientador dessa dissertação de mestrado.
O software simula os espectros estáticos construindo um histograma calculado
a partir das freqüências associadas às possíveis orientações do SEP, fazendo uma amostragem
discreta. Sendo o espectro simulado através de convolução utilizando funções gaussianas cuja
largura é controlada pelo usuário.
Capitulo 5 Preparação das Amostras 46
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 5
Preparação das Amostras
5.1 – Preparação
Para a preparação dos vidros do sistema metafosfato Al – Pb, foram utilizados
os seguintes compostos:
-
Metafosfato de Alumínio (Al(PO
3
)
3
), de origem comercial (Alfa Aesar – Al
2
O
3
19,4%,
P
2
O
5
78,9%);
-
Metafosfato de Chumbo (Pb(PO
3
)
2
), fosfatado a partir do óxido de Pb (Alfa Aesar).
Para a fosfatação do metafosfato de chumbo foram testados quatro métodos de
fosfatação diferentes usando agentes fosfatantes e ciclos térmicos diferentes. Após definido o
melhor método de fosfatação, foram realizadas cinco variações (otimizações) do ciclo no
forno onde foi efetivamente implementado. A seguir serão descritos os métodos e otimizações
da fosfatação do Pb(PO
3
)
2
utilizada na preparação dos vidros.
5.1.2 - Fosfatações
Inicialmente foram utilizados quatro métodos distintos de fosfatação do
metafosfato de chumbo, utilizando dois agentes fosfatantes diferentes: fosfato de amônio,
(NH
4
)
2
HPO
4
(Alfa Aesar, P
2
O
5
53% min), e fosfato de amônio monobásico, NH
4
H
2
PO
4
(Mallinckrodt, NH
4
H
2
PO
4
100,1% ), juntamente com o óxido PbO (Alfa Aesar ), e diferentes
ciclos térmicos.
As reações químicas utilizadas foram:
42 4 32 3 2
2( ) ( ) 4 3PbO NH HPO Pb PO NH H O+⇒++ (5.1)
Capitulo 5 Preparação das Amostras 47
_________________________________________________________________________________________________________________
42 4 32 3 2
2()23PbO NHHPO PbPO NH HO+⇒++ (5.2)
A seguir serão descritos os quatro métodos testados de fosfatação. Sendo
utilizado como parâmetro de avaliação (eficiência do método) a quantidade de metafosfato de
Pb, obtidos a partir da integração numérica (método de mínimos múltiplos quadrados MMQ),
de espectros de alta resolução de
31
P-MAS RMN, identificando as linhas referentes ao
metafosfato de Pb.
5.1.2.1 - Fosfatação 1 (F1)
Esta fosfatação foi realizada de acordo à reação (5.1), o ciclo térmico utilizado
está descrito na tabela 5.1 e figura 5.1, cuja temperatura característica de fosfatação em cerca
de 400°C, foi utilizado um forno MAITEC SL 1300, com um controlador FLYEVER
SE50RP, do Grupo de Crescimento de Cristais do IFSC. Ambos os compostos estavam na
forma de pó, foram misturados em placas de Patri da Pyrex (diâmetro de 60mm e altura de 15
mm), nas quantidades de 12.27g de PbO e 14.52g de (NH
4
)
2
HPO
4
, a fim de obter como
produto da fosfatação 20g de Pb(PO
3
)
2
, foram aquecidos até a fosfatação total.
Para este método foi verificada uma eficiência de 42% na produção de
Pb(PO
3
)
2
.
5.1.2.2 - Fosfatação 2 (F2)
Esta fosfatação foi realizada de acordo à reação (5.2), foram mantidos os
mesmos procedimentos e equipamentos utilizados na F1, a fim de verificar dentre as duas
reações utilizadas, qual seria a mais eficaz. Onde esta apresentou uma eficiência de 82% na
produção de Pb(PO
3
)
2
.
Capitulo 5 Preparação das Amostras 48
_________________________________________________________________________________________________________________
5.1.2.3 - Fosfatação e Fusão Simultâneas (FFS)
Este método consiste na fosfatação e fusão dos reagentes simultaneamente,
com uma temperatura de fosfatação de cerca de 500°C por um tempo de 5 horas (reação de
fosfatação) e imediatamente após este tempo segue-se a fusão do vidro propriamente dito, à
uma temperatura característica de fusão (para cada composição), por uma hora. Ao final desta
reação obtemos como produto final o vidro, cuja reação seguida foi a seguinte:
42 4 33
32 3 2 33
(100 )( 2 ) ( ( ) )
(100)(()2 3 )(())
x PbO NH H PO x Al PO
x Pb PO NH H O x Al PO
−+ +
⇒− + + +
(5.3)
Onde as moléculas de amônia e água evaporam durante a fosfatação, ficando
somente o metafosfato de Pb e posteriormente obtemos o vidro na composição desejada. Este
método é encontrado na literatura para a preparação de diferentes vidros fosfatos
[26]
, porém
não existem estudos comparativos de sua eficiência comparada com métodos com fosfatação
prévia do precursor.
5.1.2.4 - Fosfatação 3 (F3)
Esta fosfatação foi realizada de acordo à reação (5.2), modificando somente o
ciclo térmico em relação as fosfatações anteriores (F1 e F2). Foram adicionados dois
patamares um de 600 ºC e outro de 200 ºC(figura 5.1 e tabela 5.1) a fim de que a fosfatação se
desse por completo e que houvesse a evaporação total da amônia e água produto da reação, no
patamar de 600 ºC e tratamento térmico para eventualmente melhorar a cristalinidade do
produto final no patamar de 200 ºC.
Este foi o método que obteve maior eficiência na produção do Pb(PO
3
)
2
(cerca
de 94%), como poderá ser visto mais detalhadamente na tabela 7.4. Tentou -se reproduzir este
processo em outro forno modelo EDG1800, cujo volume interno era bem diferente do forno
anteriormente utilizado (cerca de 8 vezes menor), e não produziu resultados comparáveis.
Capitulo 5 Preparação das Amostras 49
_________________________________________________________________________________________________________________
Portanto, foram realizadas variações sobre este processo, de maneira de aperfeiçoar as
condições para o forno que seria utilizado. Foram testados cinco ciclos térmicos descritos na
tabela 5.1 e figura 5.1. Estes métodos estão descrito abaixo.
Métodos T
1
(ºC) T
2
(ºC) T
3
(ºC) T
4
(ºC) t
1
(h) t
2
(h) t
3
(h) t
4
(h)
F1
220º 400º - - 2 4 - -
F2
220º 400º - - 2 4 - -
F3
200º 400º 600º 200º 5 5 2 6
FFS
500º - - - 5 - - -
M1
200º 400º 600º 200º 5 5 2 6
M2
200º 400º 600º - 5 5 2 -
M3
200º 400º 500º - 5 5 2 -
M4
200º 400º 500º - 5 3 4 -
M5
200º 500º - - 5 7 - -
Tabela 5.1: Descrição dos ciclos térmicos utilizados para os diferentes métodos de fosfatação.
5.1.2.4.1 - Método 1 (M1)
Seguindo a reação 5.2, este método é idêntico à fosfatação 3, diferindo apenas
no forno do qual foi preparado, cujos patamares mostrado na figura 5.1 e descritos na tabela
5.1, são utilizados para: evaporação de eventuais moléculas de água da hidratação nos
10 °C
10 °C
10 °C
10 °C
t
1
t
2
t
3
t
4
T
1
T
2
T
3
T (°C)
Figura 5.1: Ciclo térmico utilizado na preparação das fosfatações.
Capitulo 5 Preparação das Amostras 50
_________________________________________________________________________________________________________________
reagentes; inicio da reação de fosfatação; reação de fosfatação em si e eliminação de água e
amônia e tratamento térmico para eventualmente melhorar a cristalinidade do produto final.
Este método apresentou uma eficácia de 84 % na produção do metafosfato de
chumbo.
5.1.2.4.2 - Método 2 (M2)
Seguindo a reação (5.2), foi retirado o último patamar a fim de verificar sua
validade em relação a melhora da cristalinidade do metafosfato de Pb. E não foi verificado
uma melhora satisfatória, pois a eficiência foi de 83% na produção do metafosfato.
5.1.2.4.3 - Método 3 (M3)
Seguindo a reação (5.2), a única mudança em relação ao M2 foi o decréscimo
de 100°C no terceiro patamar, este decréscimo foi feito a fim de verificar se está ocorrendo
evaporação de ultrafosfato (P
2
O
5
) nessa faixa de temperatura, o que não foi verificado, pois,
obteu-se uma eficiência de 84%.
5.1.2.4.4 - Método 4 (M4)
Seguindo a reação (5.2), modificamos os tempos dos 2° e 3° patamares, tendo
o cuidado de manter constante a soma do tempo destes dois patamares, a fim de verificarmos
qual dentre estes é o mais importante para a reação de fosfatação e verificou-se que
duplicando o tempo do terceiro patamar, houve um aumento satisfatório na eficiência do
processo(cerca de 91%), indicando que este patamar é o mais relevante para a reação de
fosfatação.
5.1.2.4.5 - Método 5 (M5)
Seguindo a reação (5.2), aumentamos a temperatura do 2° patamar e a
igualamos à temperatura do 3° patamar, ficando apenas com um único patamar por um tempo
Capitulo 5 Preparação das Amostras 51
_________________________________________________________________________________________________________________
total de 7 horas a 500°C, a fim de verificar se o segundo patamar tem caráter relevante na
reação de fosfatação e verificou-se uma ligeira diminuição na eficiência de produção do
metafosfato (cerca de 89%).
Portanto, após realizar todos estes métodos diferentes verificou-se que o M4 é
o método que nos garante uma maior eficiência na produção do metafosfato de chumbo, cerca
de 92%, e portanto, foi o método escolhido para a preparação do precursor cristalino, toda a
série de vidros estudada nessa dissertação foi feita a partir do Pb(PO
3
)
2
, sintetizado utilizando
o M4.
5.1.3 – Preparação dos vidros
Após encontrado o método mais eficiente na produção do Pb(PO
3
)
2
,
começamos a preparação dos vidros do sistema Al – Pb metafosfato. Seguindo a seguinte
proporção:
Pb(P
2
O
6
)
(1 – x)
. Al(P
3
O
9
)
x
Pb
(1-x)
.Al
x
.(PO
3
)
(2+x)
Os vidros com 0 x 0,38, foram preparados em um forno elétrico EDG 1800
IP com temperatura máxima de 1300°C, em atmosfera normal utilizando cadinhos de
porcelana JIPO modelo 2/40 (40 mm diâmetro frontal). A pesagem dos compostos de partida
foi realizada com precisão de 10
-3
g.
Estes vidros foram preparados segundo o método de fusão-quenching, onde
são mantidos a uma temperatura de fusão característica (tabela 5.2) para cada composição, são
mantidos por uma hora nesta temperatura de fusão e são feitas duas homogeneizações nos
primeiros 30 minutos e os últimos 30 minutos são mantidos nesta temperatura para que ocorra
um refino, após este tempo de uma hora, as amostra foram vertidas em um molde de latão
circular de 53 mm de diâmetro à temperatura ambiente.
Capitulo 5 Preparação das Amostras 52
_________________________________________________________________________________________________________________
Para altas concentrações de Al a temperatura de fusão do vidro é alta (maior
que 1350 ºC), portanto os vidros com 0,38 < x 1, foram preparados em fornos: elétricos CM
– BLOOMFIELD, NJ com temperatura máxima de 1600 °C, em atmosfera normal; EDG
7000 – EDG3P-S a uma temperatura de 850°C e EDGCON3P 1800 a uma temperatura de 300
°C, sendo estes fornos disponibilizados pelo Laboratório de Materiais Vítreos (LAMAV/DM
– UFSCar). Foram utilizados cadinhos de porcelana JIPO modelo 2/40 (40 mm diâmetro
frontal) e um cadinho ZAS (50mm de diâmetro frontal, feito no próprio LAMAV) para a
preparação do vidro com x = 1, pois, a temperatura característica de fusão para esta
composição, é cerca de 1600°C e estava acima da temperatura máxima que o cadinho de
porcelana suportava. A pesagem dos compostos de partida foi realizada em uma balança
Chyo JEX-200 com uma precisão de 10
-3
g.
Os vidros foram preparados segundo o método de fusão-quenching, porém o
tempo total de fusão foi menor do que na outra série preparada (vide tabela 5.2), pois, o
material foi aquecido até uma temperatura máxima maior que a atingida anteriormente, os
vidros foram feitos à uma temperatura cerca de 25°C acima da sua temperatura característica
de fusão, a fim de diminuir a viscosidade do material vítreo fundido e por isso utilizamos um
tempo total de 45 minutos (sendo que nos 20 primeiros minutos foram realizadas duas
homogeneizações e os 25 minutos restantes foi deixado o vidro a fim de que ocorresse um
melhor refino do material), com o intuito de minimizar a perca de fosfato (P
2
O
5
) por
evaporação.
Vidro
(x)
Temperatura
do Forno (°C)
Tempo Total
de Fusão (min)
0 1000 60
0.03 1050 60
0.08 1050 60
0.12 1050 60
0.15 1100 60
0.22 1100 60
0.25 1150 60
0.28 1150 60
Capitulo 5 Preparação das Amostras 53
_________________________________________________________________________________________________________________
0.38 1250 60
0.48 1300 45
0.61 1300 45
0.73 1350 45
0.8 1375 45
0.85 1400 45
0.89 1450 45
0.94 1600 45
1 1600 45
Foi adotado um procedimento a fim de evitar trincas nos cadinhos de porcelana
devido ao forte choque térmico e tornar a preparação dos vidros mais rápida. O procedimento
consiste em deixar os cadinhos em um forno a uma temperatura de cerca de 850°C por um
tempo de 15 minutos e imediatamente retirados deste forno e colocados no outro forno à
temperatura característica de fusão por 5 minutos e logo em seguida colocou-se o material
devidamente pesado dentro deste cadinho, que foi novamente colocado no forno. O vidro foi
vertido em um molde de latão pré-aquecido a uma temperatura de 300°C, a fim evitar um
choque térmico muito brusco que acarretaria em trincas nos vidros devido às tensões
mecânicas do material. Posteriormente todas as amostras foram tratadas termicamente
(recozimento) por 4 horas à temperatura de 250°C para diminuir as tensões mecânicas do
material, para que as mesmas possam ser lixadas e polidas para serem feitas as medidas em
EDX
Tabela 5.2: Tempos e temperaturas de fusão dos vidros Pb
(1-x)
.Al
x
.(PO
3
)
(2+x)
Capitulo 6 Resultados 54
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 6
Resultados
6.1 – Espectroscopia de Energia Dispersiva de Raio-X (EDX)
Foram utilizadas pastilhas de Al(PO
3
)
3
e PbO em pó compactadas (13mm
diâmetro e 1.5 mm de espessura), como referências para a obtenção das quantidades de Pb,
Al, P e O presente nos vidros. Os vidros foram previamente lixados sobre uma base de latão,
sendo lixados utilizando etileno glicol e carbeto de silício na primeira fase e etileno glicol e
alumina 3.0 micra na segunda fase; em seguida foram polidos utilizando um base de cera de
abelha, etileno glicol, lixa 2000 em uma primeira fase e alumina 0.3 micra na fase final.
A tabela 6.1 mostra as razões O/P, O/Pb e P/Pb e suas respectivas quantidades:
razão medida e razão esperada; como também os valores para x: nominal (utilizado nos
cálculos das massas do Pb(PO
3
)
2
e Al(PO
3
)
3
para o preparado dos vidros) e medido (valor
real). O valor de x medido será utilizado na identificação dos vidros e na apresentação dos
resultados de agora em diante.
O/P O/Pb P/Pb x
(nominal)
Medido Esperado Medido Esperado Medido Esperado
x
(medido)
0 3.01 3 4.88 6 1.62 2 0
0.05 2.52 3 5.66 6.26 2.24 2.09 0.03
0.1 2.7 3 6 6.78 2.22 2.26 0.08
0.15 2.8 3 6.67 7.23 2.38 2.41 0.12
0.2 3.15 3 7.46 7.53 2.37 2.51 0.15
0.24 2.55 3 7.51 8.54 2.95 2.85 0.22
0.28 2.48 3 7.69 9 3.09 3 0.25
0.3 2.82 3 9.19 9.5 3.26 3.17 0.28
0.4 2.74 3 11.06 11.52 4.03 3.84 0.38
0.5 3 3 14.31 14.32 4.71 4.77 0.48
0.6 2.64 3 16.43 18.43 6.22 6.14 0.58
0.62 2.98 3 19.35 20.08 6.49 6.69 0.61
0.75 2.98 3 29.27 30.09 9.82 10.03 0.73
Capitulo 6 Resultados 55
_________________________________________________________________________________________________________________
0.8 2.93 3 41.82 43.39 14.26 14.46 0.8
0.85 2.81 3 52.62 55.82 18.73 18.61 0.85
0.9 2.85 3 74.08 78.08 26.03 26.03 0.89
0.95 2.91 3 146.89 147 50.47 49 0.94
1 2.67 3 - - - - 1
Tabela 6.1: Razões obtidas utilizando a técnica de EDX para confirmar a estequiometria do sistema vítreo.
É possível observar uma pequena variação entre os valores medido e esperado
para todas as razões entre os elementos presentes no vidro, esta variação indica que uma
pequena porcentagem de fosfato está evaporando durante o preparado dos vidros, porém este
fato já era esperado; nos vidros com maior quantidade de Al este processo tende a diminuir.
6.2 – Difração de Raios-X (DRX)
Foram realizadas medidas de difração de raios-x a fim de verificar a qualidade
dos precursores utilizados na preparação dos vidros (Pb(PO
3
)
2
e Al(PO
3
)
3
) e do PbO utilizado
no preparo da fosfatação. As figuras 6.1, 6.2 e 6.3 mostram uma comparação feita entre a base
de dados de Difração de Raios-X (JCPDS) e as medidas realizadas.
Figura 6.1: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor cristalino Al(PO
3
)
3
[54]
Capitulo 6 Resultados 56
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.2: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor cristalino Pb(PO
3
)
2
[54]
Figura 6.3: Comparação entre a base de dados JCPDS e medida realizada do precursor cristalino PbO
[54]
.
Observa-se que os principais picos de difração em todos os compostos que
foram realizadas as analises de DRX estão de acordo com a base de dados de difração de
raios-X (JCPDS)
Capitulo 6 Resultados 57
_________________________________________________________________________________________________________________
6.3 – Densidade (Método de Arquimedes)
A figura 6.4 mostra os resultados da densidade em função da fração molar x de
Al(PO
3
)
3
. Na figura 6.5 é mostrado o volume molar calculado desses valores de densidade em
função da fração molar x de Al(PO
3
)
3
.
Figura 6.4: Densidade em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
Figura 6.5: Volume molar em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
Observa-se em ambos os gráficos um comportamento praticamente linear, a
partir de x > 0.1, mostrando que a densidade tende a diminuir com a mudança do cátion
modificador devida à diferença de massa entre o Pb e o Al. No entanto nos vidros na faixa de
Capitulo 6 Resultados 58
_________________________________________________________________________________________________________________
composição entre x = 0 até x = 0.08, onde a taxa de decréscimo da densidade teve uma queda
mais acentuada, indicando que para baixa concentrações de Al ocorre um empacotamento
mais efetivo de cadeias de fosfatos adjacentes.
6.4 – Calorimetria Diferencial Exploratória (DSC)
Para as medidas de DSC as amostras foram moídas em um almofariz de ágata,
de modo que o tamanho médio estimado dos grãos é da ordem de dezenas de μm. Na figura
6.6 é mostrado um gráfico típico de uma medida de DSC, onde podemos ver a região de
transição vítrea muito claramente.
Figura 6.6: Gráfico típico de uma medida de DSC, correspondente ao vidro com x = 0.12
Na tabela 6.2 é mostrada a T
g
para cada vidro.
Vidro (x) T
g
(ºC)
0
356
± 1
0.08
402
± 1
0.12
423
± 1
0.25
466
± 2
0.38
503
± 1
0.48
544
± 1
0.58
551
± 3
0.73
604
± 4
Tabela 5.2:Temperatura de transição vítrea
Capitulo 6 Resultados 59
_________________________________________________________________________________________________________________
A figura 6.7 mostra a T
g
em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
. Com o
aumento da quantidade de Al, a T
g
tende a aumentar indicando que o aumento na rigidez das
cadeias de fosfatos devido ao fato que a ligação Al-O possui caráter mais covalente que a
ligação Pb-O
. Observa-se a presença de dois regimes, cuja variação ocorre em torno de x =
0.1, faixa onde também foi observada a mudança súbita na densidade destes vidros.
Figura 6.7: T
g
em função da fração molar de Al(PO
3
)
3
, as retas são usadas como guia.
6.5 – Espectroscopia Raman
Na figura 6.8, podemos observar os espectros Raman dos vidros com o
aumento da fração molar do Al(PO
3
)
3
(x), partindo do extremo onde x = 0 ao outro extremo
onde x = 1, bem como os respectivos cristais (Pb(PO
3
)
2
e Al(PO
3
)
3
).
O fato da ligação Al-O ser mais forte que a Pb-O pode ser observado calculando o potencial catiônico referente
a cada íon, tendo o Al um potencial de 6 e o Pb um potencial de1.67. De forma que as ligações Al-O são muito
mais fortes que as Pb-O.
Capitulo 6 Resultados 60
_________________________________________________________________________________________________________________
200 400 600 800 1000 1200 1400 1600
x = 0.08
x = 0
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Pb(PO
3
)
2
cristal
x = 0.15
x = 0.28
x = 0.38
x = 0.48
x = 0.58
x = 0.61
x = 0.73
x = 0.80
x = 0.89
x = 0.94
x = 1
Al(PO
3
)
3
cristal
Figura 6.8: Evolução do sistema vítreo (1 – x)Pb(PO
3
)
2
. xAl(PO
3
)
3
, desde x = 0 à x = 1.
Para análise dos espectros Raman, foi considerado a região entre 600 à 1600
cm
-1
, pois corresponde às vibrações vinculadas aos O
p
e O
np
[49,55]
. A região de freqüência
entre 200 e 600 cm
-1
não foi analisada, pois, diz respeito a vibrações de grupos mais massivos,
onde existem ambigüidades com relação à atribuição dos modos vibracionais.
Na figura 6.9 podemos observar os ajuste do espectro Raman do vidro de x = 0
utilizando o método de mínimos quadrados e também as identificações feitas para os modos
vibracionais Raman. Foram utilizadas funções tipo gaussianas e lorentzianas.
Capitulo 6 Resultados 61
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.9: Espectro a Raman do vidro de x = 0, com as identificações dos modos vibracionais Raman.
O espectro indica a existência de seis modos vibracionais, de acordo com os
dados da literatura
[49,55]
. A banda no intervalo de 690 à 800 cm
-1
é atribuída como vibrações
tipo stretching (ν
as
e ν
s
) relativo os oxigênios não pontes (O
np
) da espécie fosfato Q
2
, a banda
no intervalo de 960 à 1140 cm
-1
é atribuída a vibrações tipo stretching (ν
as
e ν
s
) relativo à
unidades Q
1
e a banda no intervalo de 1148 à 1321 cm
-1
é atribuída à vibrações tipo stretching
(ν
as
e ν
s
) relativo os oxigênios pontes (O
p
) da espécie fosfato Q
2
. Na tabela 6.3 esta indicada as
designações e posições dos modos vibracionais Raman
Designações
P-O-P (O
p
)
Stretching
Simétrico
P-O-P (O
p
)
Stretching
Assimétrico
PO
-2
3
Stretching
Simétrico
PO
-2
3
Stretching
Assimétrico
O
np
Stretching
Simétrico
O
np
Stretching
Assimétrico
Posição (cm
-1
) 691 731 966 1067 1150 1220
Tabela 6.3: Designações dos modos vibracionais Raman e suas respectivas posições para o vidro de x = 0.
Observando os espectros dos precursores cristalinos na região de altas
freqüências (1000 – 1400 cm
-1
) e observando a evolução das freqüências dos modos
vibracionais, onde são intermediarias entre as freqüências dos extremos de composição, nos
indica que o comportamento da solução sólida pode ser considerado como a um modo onde o
Capitulo 6 Resultados 62
_________________________________________________________________________________________________________________
espectro vibracional preserva o mesmo número de modos ativos no espalhamento Raman,
mas cujas freqüências variam com a concentração do átomo substituto. Este fato fica mais
claro comparando os extremos de composição:
o vidro com x = 0 e seu respectivo cristal: nota-se uma correspondência direta
das freqüências dos modos vibracionais presentes no vidro com o seu cristal.
o vidro com x = 1 e seu respectivo cristal: esta correspondência não é tão
evidente como no caso anterior, porém este fato se deve que no vidro existem
alumínios com diferentes números de coordenação (Al(VI), Al(V) e Al(IV)) enquanto
no cristal existe um único tipo de Al (Al(VI)).
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
600
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
ν
s
(PO
-2
3
)
Deslocamento Raman (cm
-1
)
Al(PO
3
)
3
fração molar
ν
s
(O
p
)
ν
as
(O
p
)
ν
as
(PO
-2
3
)
ν
s
(O
np
)
ν
as
(O
np
)
Figura 6.10: Variação da freqüência dos modos vibracionais com o aumento da fração molar do Al(PO
3
)
3
.
A figura 6.10 mostra a variação da freqüência dos modos vibracionais. Dentro
da incerteza associada à determinação da posição dos picos nos espectros observa-se um
incremento uniforme das freqüências de vibração com um incremento da concentração de Al,
devido ao fato da substituição atômica de Pb por Al, pois as freqüências dos modos
vibracionais são inversamente proporcionais à massa atômica do átomo substituto.
Capitulo 6 Resultados 63
_________________________________________________________________________________________________________________
6.6 – Espectroscopia por Ressonância Magnética Nuclear
6.6.1 –
31
P – MAS RMN
Primeiramente será apresentado os resultados referentes ao preparo do
precursor cristalino Pb(PO
3
)
2
e posteriormente os resultados referentes aos vidros estudados
nesta dissertação.
6.6.1.1 – Precursor Cristalino (Pb(PO
3
)
2
)
Como fora descrito no capitulo 5 (seção 5.1.2), foram estudados inicialmente 4
métodos distintos de fosfatações e após conhecermos o melhor método de fosfatação foram
realizadas 5 variações neste método a fim de otimizar este processo.
Na figura 6.11 está mostrado o espectro de
31
P-MAS RMN dos materiais
resultantes das fosfatações obtidos por diferentes métodos.
Figura 6.11: Espectro de
31
P do precursor cristalino Pb(PO
3
)
2
preparado com diferentes processos
Observando a figura 6.11 é possível verificar que a presença de espécies do
tipo: Q
0
, Q
1
, Q
e Q
2
.
As espécies Q
n
observadas identificadas em função da posição:
0 ppm: espécie Q
0
devido a presença de orto-fosfato (Pb
3
(PO
4
)
2
)
Capitulo 6 Resultados 64
_________________________________________________________________________________________________________________
-10 ppm: espécie Q
1
devido à presença de piro-fosfato (Pb
2
P
2
O
7
)
-25 ppm: espécie Q
devido à presença de metafosfato (Pb(PO
3
)
2
), que podem
estar vinculados a presença de cadeias curtas de fosfatos, -30 ppm: espécie Q
2
devido à presença de metafosfato (Pb(PO
3
)
2
), que são vinculados a presença de
longas cadeias de fosfatos
Para o metafosfato de chumbo ideal é esperado apenas a presença de espécies
do tipo Q
2
, que indicam que a rede fosfato é formada por cadeias infinitas
[56]
. A presença da
espécie do tipo Q
é a mais preocupante, pois está relacionada a defeitos ou alterações na
estequiometria da fase metafosfato, indicando que tais cadeias deixam de ser infinitas e se
quebram devido a ligações com grupos OH. Na figura 5.10 observa-se a presença de inúmeras
linhas vinculadas a espécie tipo Q
2
, este fato se deve a gama de possíveis ambientes de
coordenação diferentes para o Pb.
[56]
A tabela 6.4 mostra a quantidade das espécies Q
n
, obtidas através da integração
numérica (método dos mínimos quadrados) das linhas de RMN, para os diferentes processos.
Métodos Q
0
(%) Q
1
(%) Q
(%) Q
2
(%)
F1
5.7 15 49 31
F2
3.9 7.4 13 76
F3
5 0.7 0.9 93
M1
1.6 7 6.9 84
M2
0.6 6.8 5.7 87
M3
1.8 5.3 6.5 86
M4
1.7 3 3.2 92
M5
1.1 4.2 3.8 91
Tabela 6.4: Quantidade das espécies Q
n
presentes nos precursores cristalinos
O parâmetro usado para avaliar qual dentre todos os métodos é o melhor para a
preparação do Pb(PO
3
)
2
, foi a razão entre a quantidade das espécies Q
2
e Q
. O produto
obtido do M4 foi aquele que obteve maior razão, e dessa forma foi usado na preparação de
todos os vidros estudados nesta dissertação.
Capitulo 6 Resultados 65
_________________________________________________________________________________________________________________
6.6.1.2 – Vidros
A figura 6.12 mostra a evolução dos espectros de RMN de alta resolução de
31
P
para o sistema vítreo (1-x)Pb(PO
3
)
2
. xAl(PO
3
)
3
, em função do aumento da fração molar x.
Figura 6.12: Espectros de
31
P – RMN MAS dos vidros, com o aumento da fração molar x. Os asteriscos indicam
bandas laterais.
No intervalo com 0 x 0.48, foi possível identificar a presença de linhas
espectrais em torno de -10, -25 e -36ppm, como pode ser observado na figura 6.13 que mostra
o ajuste pelo método de mínimos quadrados do espectro do vidro com x = 0, onde as funções
ajustadas foram do tipo gaussianas, sendo cada gaussiana correspondente à uma espécie Q
n
.
Tais linhas foram identificadas como sendo espécies Q
1
,Q
2
e Q
2
(mAl) através de uma
comparação com trabalhos existentes na literatura.
[36,38,39,59]
Capitulo 6 Resultados 66
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.13: Ajuste realizado do vidro com x = 0, onde foi possível identificar a presença das espécies Q
1
, Q
2
e
Q
2’
.
Para cada oxigênio ponte O
p
ligado ao P, o δ
iso
desloca-se entre -10 a –15
ppm
[36]
. Portanto, podemos identificar a espécie Q
n
em torno de -10 ppm como sendo uma
espécie Q
1
e a espécie Q
n
em torno de -25 ppm como sendo uma espécie tipo Q
2
que
compartilham os O
np
com Pb, formando duas pontes P-O-Pb. A presença da espécie Q
1
indica
que a cadeia de tetraedros fosfato não é infinita, sendo os extremos dessas cadeias os
tetraedros tipo Q
1
. Observamos uma espécie Q
2’
no vidro com x = 0 diferenciada dos Q
2
mais
abundantes que atribuímos às cadeias longas, onde tais espécies podem estar associadas à
presença de anéis curtos (de três a quatro tetraedros no máximo). Com o incremento de Al ao
sistema vítreo ocorre o surgimento de outros ambientes de Q
2
chamados de Q
2
(mAl)
vinculados a tetraedros tipo Q
2
que possuem ligações com um Al ou ate dois Al, o δ
iso
deste
grupo acidentalmente cai na região dos Q
2’
, de forma que perdemos resolução e agora a linha
Q
2
mais blindada é uma mistura de linhas: Q
2
(mAl) e Q
. Em geral, acreditamos que a linha
Q
2
mais blindada é principalmente devida a Q
2
(mAl) devido ao fato do aumento da
Capitulo 6 Resultados 67
_________________________________________________________________________________________________________________
incorporação de Al ao sistema vítreo e que a linha Q
desaparece com o aumento de Al. O
termo Q
2
é adotado como sendo tetraedros Q
2
ligados a apenas Pb, esta nomenclatura será
seguida em toda esta dissertação.
Na tabela 6.5 esta indicada a quantidade de cada espécie Q
n
presente no vidro,
bem com o δ
iso
e a largura da linha.
Q
1
Q
2
Q
2
(mAl)
Vidro
δ
iso
(ppm)
Intensidade
(%)
Largura
(ppm)
δ
iso
(ppm)
Intensidade
(%)
Largura
(ppm)
δ
iso
(ppm)
Intensidade
(%)
Largura
(ppm)
0 -10 11 8 -25 85 10 -36 (Q
) 4(Q
) 13(Q
)
0.03 -10 13 8 -25 75 11 -34 12 13
0.08 -11 6 9 -26 71 11 -36 23 13
0.15 -11 3 9 -26 43 11 -33 54 18
0.25 -11 3 9 -26 24 10 -32 73 20
0.38 -11 1 7 -27 13 10 -34 88 20
0.48 -12 1 6 -27 6 8 -34 94 20
0.61 - - - - - - -35 100 20
0.73 - - - - - - -37 100 20
0.85 - - - - - - -37 100 18
0.94 - - - - - - -37 100 17
1 - - - - - - -37 100 17
Tabela 6.5: Intensidade, δ
iso
e largura de linha para cada espécie Q
n
.
Na figura 6.14 esta ilustrado a intensidade de cada espécie Q
n
, o δ
iso
e a largura
da linha em função de x.
b) a)
Capitulo 6 Resultados 68
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.14: a) Intensidade, b) δ
iso
, c) Largura da linha em função de x. As linha são guias.
Pela figura 6.14
a) observa-se uma composição (x 0.48) onde não é possível
distinguir a presença das espécies Q
2
e Q
1
, este fato está de acordo com a figura 6.14c) onde
nota-se que a partir dessa composição a largura da linha Q
2
(mAl) aumentou de forma que não
foi possível distinguir tais espécies fosfatos.
Na tabela 6.6 mostra os valores do parâmetro de assimetria (η) e a anisotropia
de desvio químico (Δ) obtidos através da análise de Herzfeld-Berger
Q
1
Q
2
Q
2
(mAl) Vidros
(x)
η Δ (ppm) η Δ (ppm) η Δ (ppm)
0 0.93 -77 0.43 -122 - -
0.03 0.51 -85 0.70 -121 0.97 -100
0.94 - - - - 0.64 86
1 - - - - 0.64 69
Tabela 6.6: Dados obtidos através da analise de Herzfeld-Berger
Somente foi realizada a análise de Herzfeld-Berger nos vidros próximos aos
extremos de composição, devido ao fato da analise não fornecer dados confiáveis para os
vidros com composição intermediaria. Pois nas composições intermediárias as áreas devido às
bandas laterais, não puderam ser ajustadas de maneira confiável.
6.6.2 –
31
P - estático
A figura 6.15 mostra os espectros estáticos de
31
P da evolução do sistema
vítreo PbAl metafosfato.
c
Capitulo 6 Resultados 69
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.15: Espectros estáticos de
31
P
A partir destes espectros foi possível obter o δ
iso
médio, como pode ser
observado na figura 6.16.
Figura 6.16: δ
iso
médio em função da fração molar x.
Capitulo 6 Resultados 70
_________________________________________________________________________________________________________________
Utilizando os dados obtidos pela análise de Herzfeld-Berger da tabela 6.6, foi
possível simular numericamente o espectro estático para os vidros com x = 0 e 1, como
podem ser vistos nas figuras 6.17 e 6.18. Para as demais composições a simulação não era
confiável, devida, a alta desordem do sistema, onde isto não foi considerado no algoritmo do
programa de simulação.
Na simulação foram utilizados três padrões de pó, para cada uma das espécies
Q
n
observadas nos espectros de
31
P-MAS do vidro de x = 0.
Figura 6.17: Simulação numérica do espectro estático de
31
P do vidro com x = 0
Para o vidro com x = 1 foi utilizado um único padrão de pó, para a espécie Q
n
observada.
Capitulo 6 Resultados 71
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.18: Simulação numérica do espectro estático de
31
P do vidro com x = 1
A partir da simulação foi possível obter o δ
iso
, a intensidade, o parâmetro de
assimetria e ao parâmetro de anisotropia, estes valores estão mostrados na tabela 6.7.
Espécies
(Q
n
)
δ
iso
(ppm)
Intensidade
(%)
η
Δ
(ppm)
Q
1
-10.5
± 0.5 11 ± 2 0 ± 0.2 77 ± 5
Q
2
-24.3
± 0.5 83 ± 2 0.5 ± 0.2 -126 ± 5
x = 0
Q
2
(mAl)
-35.8
± 0.5 6 ± 2 0.5 ± 0.2 -81 ± 5
x = 1
Q
2
(mAl)
-36.1
± 0.5 100 ± 2 0.9 ± 0.2 64 ± 5
Tabela 6.7: Valores obtidos a partir da simulação numérica do espectro estático de
31
P para o vidro com x = 0.
Comparando os dados da tabela 6.7 com os parâmetros (δ
iso,
intensidade)
obtidos dos espectros de
31
P-MAS mostrados nas tabelas 6.5 e 6.6, observou-se que ambos
métodos estão de acordo, sendo apenas o parâmetro de assimetria pouco confiável obtido na
simulação, devido ao erro associado à sua determinação.
O vidro com x = 0.94, foi simulado utilizando dois padrões de pó distintos e
obteve uma boa concordância com o espectro experimental, foi obtido a partir dessa
simulação o valor do δ
iso,
também foi obtido o valor das intensidades como sendo de 55% e
45%. Porém, não possuímos argumentos para qualificar tal simulação como fisicamente
correta, pois, caso houvesse dois sítios Q
2
inequivalentes em proporções praticamente iguais,
Capitulo 6 Resultados 72
_________________________________________________________________________________________________________________
estes derivam ser observados nos experimentos de
31
P-MAS. O fato de simular de maneira
incompleta com um padrão de pó é evidencia indireta de que a estrutura é mais complexa,
como por exemplos ambientes diferentes de P com δ
iso
semelhantes de forma que não são
possíveis distingui-los separadamente através dos experimentos de
31
P-MAS.
6.6.3 –
207
Pb – VOCS RMN
A figura 5.19 mostra os espectros estáticos de
207
Pb dos vidros do sistema
vítreo Pb-Al metafosfato utilizando a técnica de VOCS.
Figura 6.19: Espectros de
207
Pb obtido através da técnica de VOCS
Foram realizadas medidas até o vidro com x = 0.73, pois, acima desta
composição a relação sinal/ruído era muito baixa, tornando a analise destes dados pouco
confiáveis.
Capitulo 6 Resultados 73
_________________________________________________________________________________________________________________
A figura 6.20 mostra para o caso do vidro de x = 0 como é obtido o espectro
final de
207
Pb através da soma dos espectros parciais, irradiados a passos iguais de 60KHz, na
faixa de freqüências de 0 até 180 Khz
Figura 6.20: Espectro soma do
207
Pb obtido através da soma dos espectros parciais.
A partir dos espectros mostrados na figura 6.19, foi possível obter o valor
iso
δ
e
dessa forma encontrar o valor do CN médio utilizando a equação 3.26. Os valores do CN
médio obtidos mediante este procedimento podem ser observados na figura 6.21.
Figura 6.21 NC médio do Pb em função da fração molar x.
O acréscimo na quantidade de Al, ainda que em pequenas quantidades, produz
uma redução apreciável no CN médio do Pb, como pode ser conferido comparando os valores
Capitulo 6 Resultados 74
_________________________________________________________________________________________________________________
obtidos para x = 0 (NC = 9.2) e x = 0.03 (NC = 8.7). Este comportamento pode ser conferido
diretamente no espectro de x = 0.08 da figura 6.19, onde há um aumento da intensidade na
região de desvios entre 1500 e 2000 ppm. Por outro lado, a presença de sinal na região de
desvios entre 2200 e 2500 ppm, para os vidros com baixa quantidade de Al, sugere que uma
pequena quantidade de Pb pode estar atuando como formador da rede.
6.6.4 –
27
Al – MAS RMN
A figura 6.22 mostra os espectros de RMN de alta resolução de
27
Al utilizando
a técnica de MAS para o sistema vítreo Pb–Al metafosfato com o aumento da fração molar x.
Figura 6.22:
Espectros de
27
Al – RMN MAS dos vidros, com o aumento da fração molar x
Foram identificados a presença de três tipos de Al com ambientes de
coordenação diferentes: Al(IV), Al(V) e Al(VI). Através da integração numérica destes
espectros utilizando o método de mínimos quadrados, com múltiplas funções gaussianas,
obteve-se a quantidade percentual relativa a cada tipo de Al, como pode ser visto na figura
6.23
[11]
.
Capitulo 6 Resultados 75
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 6.23: Quantidade percentual para cada tipo de Al em função da fração molar x.
A figura 6.23 mostra que a quantidade de cada tipo de Al tende a ser igual no
vidro com x = 1, porém, era esperado que no extremo superior da composição (x = 1), fosse
possível verificar a presença de um único tipo de Al (no caso Al(VI)), como é observado para
o espectro do cristal de Al(PO
3
)
3
[38]
. A observação dos três ambientes de coordenação com a
mesma proporção, mostra de fato diferenças estruturais consideráveis no vidro de x = 1 com
relação ao cristal. O que indica que uma fração significativa de Al está atuando como
formador em grupos tetraédricos.
Utilizando a equação 3.49 é possível calcular a CN médio do Al em função da
fração molar x, como pode ser observado na figura 6.24. Nota-se que o NC médio segue uma
variação continua com a composição, indicando que não ocorre uma mudança drástica da rede
fosfato.
Capitulo 6 Resultados 76
_________________________________________________________________________________________________________________
0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0
4.8
5.0
5.2
5.4
5.6
5.8
6.0
6.2
Número de Coordenação médio
Al(PO
3
)
3
fração molar
Figura 6.24: Número de coordenação médio do Al em função da fração molar x.
6.6.5 –
27
Al –3QMAS RMN
A figura 6.25 ilustra alguns dos espectros típicos medidos para a serie de
vidros, correspondentes aos vidros com x = 0.25 e x = 0.94, utilizando a técnica de 3Q-MAS
do
27
Al.
Figura 6.25: Espectros de
27
Al-3Q-MAS dos vidros de (a) x = 0.25 e (b) x = 0.94. F2: dimensão anisotrópica.
F1: dimensão isotrópica. Asteriscos: bandas laterais.
(a)
(b)
*
**
Capitulo 6 Resultados 77
_________________________________________________________________________________________________________________
Na tabela 6.8 são apresentados os valores para o δ
iso
e o parâmetro de
acoplamento quadrupolar elétrico Pq, calculados a partir dos valores de freqüência isotrópica
e anisotrópica das linhas resolvidas nos espectros bidimensionais.
Al(IV) Al(V) Al(VI)
Vidros
δ
iso
(ppm) Pq(MHz) δ
iso
(ppm) Pq(MHz) δ
iso
(ppm) Pq(MHz)
0.08 -
-
- -
-14.5
± 0.2 0.8 ± 0.5
0.15 -
-
12.3
± 0.2 1.5 ± 0.5 -14.6 ± 0.2 0.9 ± 0.5
0.25 -
-
11.9
± 0.2 1.9 ± 0.5 -15.1 ± 0.2 0.8 ± 0.5
0.38 -
-
10.9
± 0.2 1.7 ± 0.5 -15.3 ± 0.2 0.4 ± 0.5
0.48
41.4
± 0.2 2.0 ± 0.5 9.6 ± 0.2 1.4 ± 0.5 -15.9 ± 0.2 0.4 ± 0.5
0.61
41.4
± 0.2 2.1 ± 0.5 10.0 ± 0.2 2.2 ± 0.5 -15,6 ± 0.2 0.9 ± 0.5
0.73
40.4
± 0.2 1.3 ± 0.5 9.3 ± 0.2 1.1 ± 0.5 -16,0 ± 0.2 0.4 ± 0.5
0.85
39.9
± 0.2 2.0 ± 0.5 9.8 ± 0.2 1.7 ± 0.5 -16,3 ± 0.2 0.9 ± 0.5
0.94
42.0
± 0.2 2.4 ± 0.5 10.9 ± 0.2 2.2 ± 0.5 -16,2 ± 0.2 1.4 ± 0.5
1
42.0
± 0.2 2.2 ± 0.5 10.6 ± 0.2 1.9 ± 0.5 -16,3 ± 0.2 1.3 ± 0.5
Tabela 6.8: δ
iso
e Pq obtidos dos espectros de
27
Al-3QMAS RMN.
Na figura 6.27 são mostrados os valores do
δ
iso
para cada tipo de Al em função
da fração molar x.
Figura 6.27: Desvio químico isotrópico δ
iso
de
27
Al em função da concentração de Al(PO
3
)
3
. As linhas são guias.
Capitulo 6 Resultados 78
_________________________________________________________________________________________________________________
Observa-se que com o aumento de x os valores de δ
iso
referentes aos Al(VI) e
Al(V) sofrem um decréscimo da ordem de 2ppm entre as composições extremas. O
comportamento contínuo do δ
iso
com a concentração de Al mostra que não ocorrem mudanças
drásticas na estrutura vítrea. Por outro lado, a dependência linear observada esta relacionada
com a troca uniforme de Pb por Al ao longo da rede de fosfatos. A substituição de uma
ligação Pb-O por Al-O, esta última de maior intensidade, requer maior transferência de carga
desde os tetraedros fosfatos. Esta transferência afeta também ligações Al-O-P próximas,
diminuindo a densidade eletrônica ao redor destes Al
[62]
. O resultado é um desvio químico
isotrópico de
27
Al levemente mais negativo, diretamente proporcional à concentração de Al no
sistema.
Os valores de Pq para cada coordenação, proporcionais ao gradiente de campo
elétrico, são decrescentes na ordem Al(IV), Al(V) e Al(VI) e refletem o menor grau de
simetria para os ambientes com menores números de coordenação. No caso do Al(VI) os
valores obtidos foram substancialmente baixos comparados com outros vidros metafosfatos
de Al
[38]
, onde foram medidos valores da ordem de 1.5MHz numa extensa faixa de
concentrações, indicando que os octaedros de coordenação são altamente regulares. Como
função da composição, não se observa nos valores de Pq uma tendência definida de variação,
dentro da incerteza da avaliação, e portanto a simetria dos ambientes se mantém invariante.
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 79
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 7
Discussão dos Resultados
Neste capitulo, aprofundaremos as discussões a respeito dos resultados
experimentais apresentados no capitulo anterior.
7.1 – Evolução da T
g
e densidade com a composição
Para vidros com baixas concentrações de Al, com x entre 0 e 0.08, observou-se
um aumento mais acentuado na T
g
, como pode ser observado na figura 6.7 que ilustra o
comportamento da T
g
com o aumento da quantidade de Al. Este comportamento pode estar
associado ao surgimento de ligações P-O-Al-O-P, que conectam duas cadeias de fosfatos
adjacentes
[39]
através de um poliedro de Al, por sua vez restringindo a mobilidade das cadeias
de fosfatos, e também pelo fato das ligações Al-O serem mais fortes que as Pb-O
[20]
e dessa
forma provocando um aumento súbito na T
g
.
Das medidas de densidades que estão ilustradas na figura 6.4 observou-se um
decréscimo praticamente linear para vidros com composições acima de x = 0.1. Este
decréscimo uniforme da densidade se deve a troca de Pb por Al, onde a diferença de massa
entre Pb e Al, 207 u.m.a. e 27 u.m.a. respectivamente, é muito mais significativa que a
diferença entre seus respectivos raios iônicos, 1.20
o
A (Pb
+2
) e 0.5
o
A (Al
+3
)
[20]
.
Para os vidros com x
0.1, a taxa de decréscimo da densidade é maior que a
observada pela simples troca de íons (linear com x), como observada para x maiores. Existe
um outro efeito contribuindo ao decréscimo, que se deve ao fato do empacotamento das
cadeias de fosfatos ser maior em x
0, tornando estes vidros mais densos.
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 80
_________________________________________________________________________________________________________________
Tais comportamentos apresentados pela T
g
e pela densidade nos vidros com
baixa concentração de Al, parecem contraditórios pelo fato que este aumento súbito na T
g
atribuído ao surgimento das ligações P-O-Al-O-P descritos anteriormente, deveriam provocar
uma queda menos acentuada da densidade desses vidros. Porém, estes comportamentos são
atribuídos ao fato que nos vidros com x
0; sendo mais compacto o empacotamento das
cadeias e os vínculos entre elas devem ser mais fracos indicando a presença de poucas pontes
P-O-Pb-O-P. Com a adição de Al este maior empacotamento das cadeias desaparece
provocando uma queda súbita na densidade, porém, os vínculos entre elas se tornam mais
fortes devido ao surgimento de pontes P-O-Al-O-P, provocando um aumento mais acentuado
na T
g
.
7.2 – Modos Vibracionais Raman
Foram identificados modos vibracionais Raman tipo stretching relativos aos
O
p
, O
np
e grupos Q
1[49,55]
. Observa-se que o vidro com x = 0 apresenta uma boa correlação das
freqüências do modos vibracionais com seu respectivo cristal, como pode ser observado na
figura 6.8 que ilustra os espectros Raman dos vidros e dos cristais.
Para a faixa de freqüências entre 1000 e 1400 cm
-1
relacionada as vibrações
relativas aos O
np
, que são as mais sensíveis à mudança de Pb por Al, nota-se que com o
aumento de x, as freqüências dos modos vibracionais Raman aumentam, devido à substituição
atômica de Pb por Al cuja diferença entre as massas desses átomos é significativa (m
Pb
7.7m
Al
) e a força das ligações entre Al e os O
np
serem maiores que as das ligações entre Pb e
os O
np
, provocando um aumento da freqüência desses modos vibracionais. Este
comportamento pode ser observado na figura 6.9 que ilustra a variação das freqüências com o
aumento da quantidade de Al.
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 81
_________________________________________________________________________________________________________________
Para os vidros com x = 0.94 e 1, nota-se que a freqüência dos seus modos
vibracionais, na faixa de freqüência entre 1000 e 1400 cm
-1
, diminuem em comparação com o
vidro de x = 0.85, apresentando uma diferença de comportamento com os demais vidros, onde
a freqüência desses modos vibracionais aumentavam com o acréscimo de x. Este fato pode
estar associado com a presença de diferentes ambientes de coordenação do Al
[58]
, onde
verificou-se a presença de Al(VI), Al(V) e Al(IV) em proporções iguais, de maneira que este
modo vibracional é composto por uma mistura de modos vibracionais referentes à cada
ambiente de coordenação de Al diferente e que a freqüência observada seja uma media entre
as freqüências desses modos. Outra possível explicação para este fato, poderia ser o
aparecimento de segregação de fase, onde existem regiões com acúmulos de Al e Pb
separados, porém este fenômeno não é esperado em vidros, onde sua estrutura desordenada é
semelhante a estrutura de líquidos. Se tal fenômeno ocorre-se, poderia ser evidenciado via
RMN do
31
P, onde deveria ser possível notar a presença de linhas de
31
P com desvios
químicos diferentes, mas como não observamos tais linhas, podemos afirmar que a
distribuição de Al é homogênea nos vidros.
Analisando os extremos de composição e o modo como variam as freqüências
dos modos vibracionais Raman, na faixa de 1000 a 1400 cm
-1
, com o aumento de x nos
vidros, observamos que a freqüência dos modos vibracionais aumentam, mostrando que a
rede vítrea se comporta tipo solução sólida a um modo. O comportamento a um modo, ocorre
devido ás interações Coulombianas entre os O
np
e os átomos de Pb e Al, serem forças de
longo alcance, e as freqüências de vibrações são dependentes das interações, devido as
ligações terem caráter iônico. Este comportamento mostra que não existem sub-redes
independentes ricas em Pb e em Al, mas apenas uma única rede mista de Pb e Al.
Os modos vibracionais relativos aos O
p
(650 à 800 cm
-1
), não sofrem variações
com o aumento de x, pois, as ligações entre os O
p
e os átomos de P são covalentes, cuja
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 82
_________________________________________________________________________________________________________________
interação entre eles é de curto alcance, de modo que a substituição atômica de Pb por Al, não
afetam diretamente a freqüência desses modos vibracionais [62].
7.3 - Grupos Fosfatos
Para vidros metafosfatos, a estrutura vítrea é formada por cadeia infinitas de
grupos fosfatos Q
2
ou por anéis, sendo esperados a presença única de grupos de fosfatos do
tipo Q
2
.
[17]
A figura 6.12 ilustra os espectros de
31
P-MAS RMN do sistema Pb-Al
metafosfato com o aumento da quantidade de Al, onde verificou-se a presença de três linhas
de ressonância distintas com freqüências em -10, -25 e -36ppm. As atribuições dessas linhas
de ressonância são discutidas a seguir.
A linha de ressonância em -25ppm está associada com grupos Q
2
, devida
freqüência estar na faixa típica de desvios químicos relativos à grupos Q
2
[38,39]
.
A linha de ressonância em -10ppm está associada com grupos tipo Q
1
, pois
sabe-se o
δ
iso
do
31
P é fortemente sensível ao grau de condensação n da espécie Q
n
analisada
deslocando entre -10 a –15 ppm por cada oxigênio ponte O
p
ligado ao P
[36]
.
A linha de ressonância em -36ppm apresenta um diferença de 11ppm em
relação à atribuída à espécie Q
2
, esta diferença faz pensar que a respectiva linha seja relativa à
uma possível espécie Q
3
, produto de uma possível reação de desproporção
()
11
2Q Q Q
nnn−+
⇒+
[17]
, porem, se tal reação acontece a quantidade relativa de cada espécie
produto dessa reação (Q
1
e Q
3
) deveriam ser as mesmas, fato este que não foi verificado nos
experimentos de
31
P-MAS RMN, como pode ser observado na tabela 6.5 que indica a
quantidade relativa de cada espécie Q
n
observada para cada valor de x. Contudo, sabe-se que
para cada ligação P-O-Al estabelecida com um grupo fosfato Q
2
ocorre um aumento na
blindagem da ressonância do
31
P da ordem de 7 e 8 ppm
[59]
dessa forma, a linha de
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 83
_________________________________________________________________________________________________________________
ressonância em -36ppm foi atribuída como sendo espécies tipo Q
2
(mAl). A seguir são
discutidas as possíveis razões do surgimento dessas espécies de fosfatos identificadas
anteriormente.
A presença dos grupos Q
1
indicam que as cadeias de fosfatos são finitas, sendo
tais grupos Q
1
os respectivos fins de cadeia. Podemos calcular o tamanho dessas cadeias a
partir das quantidades relativas de Q
1
e Q
2
apresentados na tabela 6.5, cujas quantidades
relativas
1
Q
M
e
2
Q
M
são de aproximadamente 12% e 85% respectivamente.
Supondo que a rede vítrea é formada apenas por cadeias e que cada cadeia
possui dois tetraedros Q
1
, sendo os respectivos começo e fim das cadeias, o número médio de
tetraedros
T
M
por cadeia é definido como:
2
1
Q
Q
21
T
M
M
M
⎛⎞
⎜⎟
=+
⎜⎟
⎝⎠
(7.1)
O número médio de tetraedros
T
M
por cadeia é de aproximadamente 16
tetraedros para o vidro de x = 0.
Retomando a discussão. A presença deste grupo Q
1
pode estar vinculada com
fato que em baixa concentração de Al, com x entre 0 e 0.08, o Pb esteja atuando como
formador da rede vítrea. Este fato pode ser observado na faixa de desvios químicos de 2200 a
2500ppm nos espectros estáticos de
207
Pb-VOCS RMN na figura 6.19, onde nota-se que
existe uma pequena quantidade de Pb cujo ambiente de coordenação correspondente ao
Pb(VI)
[45]
. A presença de átomos de Pb atuando como formador não pode ser totalmente
afirmada, pois, o sinal de RMN nesta faixa de desvios químicos, está muito próximo do limiar
da relação sinal/ruído.
A multiplicidade dos grupos tipo Q
2
encontrada nestes vidros, ou seja, os
grupos Q
2
, Q
2
(1Al) e Q
2
(2Al), dizem respeito às múltiplas possibilidades de ligação entre os
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 84
_________________________________________________________________________________________________________________
tetraedros fosfatos e os cátions modificadores (Al e Pb), tendo os tetraedros tipo Q
2
ligações
com apenas Pb e os tetraedros tipo Q
2
(mAl) ligações com um ou dois Al.
Para o vidro com x = 0, verificou-se a presença do grupo Q
2’
em -36ppm que
pode ser tentativamente atribuído como sendo grupos Q
2
ligados a Pb de baixa coordenação,
cuja ligação P-O-Pb é mais intensa, provocando um aumento na blindagem de ressonância do
31
P o que provoca um desvio químico mais negativo que um grupo Q
2
.
Para os vidros com x > 0.48, verificou-se a presença de apenas grupos fosfatos
Q
2
(mAl). Para o caso do vidro com x = 1, o δ
iso
31
P em -37 ppm, não é compatível com o
desvio químico observado no cristal de Al(PO
3
)
3
em -50 ppm. Este fato indica uma diferença
substancial na estrutura ao redor do P, do vidro em comparação com o respectivo cristal. Esta
diferença pode estar relacionada fundamentalmente com as diferenças nos ambientes de
coordenação de Al. É conhecido que no cristal de Al(PO
3
)
3
os tetraedros dos fosfatos Q
2
(2Al)
estão ligados com átomos de Al, de forma que os octaedros (AlO
6
) compartilham vértices com
tetraedros PO
4
[60]
. Para o vidro com x = 1, observou-se a presença de três ambientes de
coordenação do Al diferentes: VI, V e IV, com as mesma quantidades, inferida dos espectros
de
27
Al-MAS RMN. A presença de uma fração substancial de hexaedros (AlO
5
) e tetraedros
(AlO
4
), já mostram a grande diferença existente entre o vidro com 100% Al(PO
3
)
3
e o cristal
de Al(PO
3
)
3
.
No vidro a presença de Al(IV) mostra que uma parcela considerável do Al está
atuando como formador da rede vítrea juntamente com o P .
Agora iremos comparar a distribuição de espécies Q
n
determinadas pelos
experimentos de RMN com dados obtidos em outros estudos.
Segundo resultados de simulação de Dinâmica Molecular para o vidro de
Pb(PO
3
)
2
[61]
a rede vítrea é composta predominantemente por grupos Q
1
e Q
2
, com
quantidades relativas de 30% e 36.4% respectivamente. Neste modelo também foram
observados grupos fosfatos Q
0
, Q
3
e Q
4
com quantidades relativas de 4.3%, 21.4% e 7.9%
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 85
_________________________________________________________________________________________________________________
respectivamente. De acordo a estes resultados a rede vítrea é formada por: cadeias curtas com
1-11 tetraedros, cadeias longas acima de 12 tetraedros, unidades isoladas (Q
0
), anéis curtos
com 5-10 tetraedros e anéis longos com aproximadamente 20 tetraedros; sendo todos
tetraedros PO
4
conectados por vértices. A densidade obtida dessa simulação foi de 4.74g/cm
3
e o número de coordenação do Pb em torno de sete. Comparando estes resultados, com os
resultados obtidos nesta dissertação, vemos que existem diferenças com relação à distribuição
de espécies Q
n
. A quantidade relativa de Q
1
(11%) e de Q
2
(89% tanto Q
2
como Q
), não são
proporcionais as previstas na simulação, por outro lado a presença de grupos Q
1
e cadeias
longas com cerca de 16 tetraedros PO
4
, foram observados experimentalmente através dos
experimentos de
31
P-MAS RMN. Porém os grupos Q
0
, Q
3
e Q
4
, os anéis e cadeias curtas não
foram observados nestes experimentos. A densidade por nos mensurada foi de 4.62g/cm
3
e o
número de coordenação do Pb em torno de nove. Portanto observamos que alguns resultados
via simulação de Dinâmica Molecular se comprovaram experimental, mostrando tal
simulação parcialmente valida ao ponto de prever a existência de espécies Q
1
, Q
2
e cadeias
longas com mais de 14 tetraedros.
Até este momento foram discutidos os resultados sobre o grau de condensação
dos grupos fosfatos, a partir de agora serão discutidas as simulações realizadas dos espectros
estáticos do
31
P.
Da simulação dos vidros com x = 0 e x = 1, foi possível obter os valores do
parâmetro de anisotropia (-77.5ppm e -126.1ppm para o Q
1
e Q
2
respectivamente do vidro
com x = 0 e 64ppm para o Q
2
(mAl) do vidro com x = 1), com boa concordância com os
obtidos através da analise de Herzfeld-Berger (-77ppm e -112.4ppm para o Q
1
e Q
2
respectivamente do vidro com x = 0 e 68.7ppm para o Q
2
(mAl)), onde para o vidro com x = 0,
foi possível distinguir os três grupos fosfatos observados a partir do espectro de
31
P-MAS
RMN deste mesmo vidro. Para o vidro de x = 1 a largura utilizada para a função de
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 86
_________________________________________________________________________________________________________________
convolução gaussiana como sendo de 3200Hz, indica uma maior desordem do sistema para os
vidros com alta concentração de Al do que os vidros com baixa concentração. Essa maior
desordem é também evidenciada pelo alargamento que ocorre na linha de ressonância do
31
P-
MAS RMN, para os vidros com x > 0.48 como pode ser observado na figura 6.14c), onde a
largura é diretamente a distribuição de valores do
δ
iso
, indicando uma multiplicidade de sítios
Q
2
vinculados aos átomos de Al em diferentes ambientes de coordenação. Esta desordem afeta
principalmente o parâmetro de anisotropia de forma a provocar uma perca de detalhes típicos
do padrão de pó.
Também se realizou uma simulação do espectro estático do
31
P para o vidro
com x = 0.94, utilizando dois padrões de pó distintos. Foi obtida uma boa concordância com o
espectro obtido experimentalmente, porém, como não foi possível observar duas linhas de
ressonância distintas nos espectros de
31
P-MAS RMN deste vidro, não possuímos argumentos
fisicamente corretos para validar tal simulação, porém a necessidade de utilizar dois padrões
de pó para obter uma boa simulação deste espectro estático, apóia o fato da existência da
multiplicidade de sítios Q
2
.
Através dos resultados obtidos a partir da técnica de
27
Al-3QMAS. Observa-se
que com a incorporação de Al ao sistema vítreo em estudo, o comportamento do
δ
iso
tende a
ser linear com a composição de modo que não ocorrem mudanças brutas na estrutura vítrea. O
comportamento observado a cerca do parâmetro de acoplamento quadrupolar Pq, mostra que
para baixa concentração de x os Al localizam-se preferencialmente em sítios simétricos. Para
altas concentrações de Al ocorre uma redução na simetria local ao redor do poliedro de
coordenação do Al resultando no aumento do valor do gradiente de campo elétrico, este fato
se deve, pois, as ligações P-O-Al são mais fortes que as P-O-Pb, provocando uma
deslocalização da carga elétrica ao redor do núcleo.
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 87
_________________________________________________________________________________________________________________
7.4 – Modelagem
Como foi discutido anteriormente, para baixas concentrações de Al, o número
de ligações P-O-Al é baixo, dessa forma a rede é constituída fundamentalmente de unidades
Q
2
cujos O
np
se ligam aos Pb formando duas ligações P-O-Pb por tetraedros fosfato. Com o
aumento da quantidade de Al, o número de Q
2
vinculados a Pb tende a diminuir tornando-se
unidades do tipo Q
2
(mAl) com m = 1 ou 2. Porém tais fosfatos vinculados a m = 1 e m = 2
não puderam ser distinguidos separadamente nos experimentos de
31
P-MAS RMN, devido à
largura intrínseca das linhas de ressonância neste vidros. Para cada ligação P-O-Al
estabelecida o
δ
iso
deslocasse cerca de 7 a 8 ppm, observando a figura 6.14b) que ilustra a
variação do
δ
iso
com o aumento da quantidade de Al, é possível inferirmos que para os vidros
com x em torno de 0.45 o grupo Q
2
(mAl) dominante é o com m = 1 e a partir dessa faixa de
composição o grupo Q
2
(2Al) tende a aumentar.
Valendo-se desta informação, tentamos estimar a quantidade de Q
2
e Q
2
(mAl),
realizando cálculos baseados na estequiometria do sistema Pb-Al metafosfato e nos dados
obtidos experimentalmente como os CN médios do Pb e do Al.
Pela estequiometria temos que o número de tetraedros fosfatos N
T
é igual ao
número N
P
de átomos de P presentes no vidro,
2
TP
NN x
=
=+ (7.2)
onde N
T
e
N
P
correspondem a quantidades por formula
Definido as quantidades N
TPb
como o número de tetraedros fosfatos com
ambos O
np
ligados com átomos de Pb, N
TAl
como o número de tetraedros fosfatos possuindo
um O
np
ligado com um átomo de Al e o outro O
np
ligado a um átomo de Pb e N
T2Al
como
sendo o número de tetraedros fosfatos com ambos O
np
ligados a átomos de Al, temos que:
2T TPb TAl T Al
NN N N
=
++ (7.3)
Por outro lado sabe-se que o CN médio do Al é definido como:
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 88
_________________________________________________________________________________________________________________
OAl
Al
N
CN
x
= (7.4)
onde
OAl
N
é o número de O
np
ligados a Al e x é quantidade de átomos de Al presentes no
vidro.
Supondo que não existam tetraedros fosfatos que possuam ambos O
np
ligados a
átomos de Al (N
T2Al
= 0), temos que a equação 7.3 torna-se:
TTPbTAl
NN N
=
+ (7.5)
Tal suposição é plausível, pois, trabalhos antecedentes, como no sistema Na-Al
metafosfato
[38]
, a simulação realizada, utilizando tal suposição apresentou uma boa
concordância com os dados experimentais.
A suposição anterior implica que a conexão entre os tetraedros fosfatos e os
poliedros de Al se dão via compartilhamento de um vértice, onde cada tetraedro fosfato esta
compartilhado com no máximo um vértice com um poliedro de coordenação de Al, dessa
forma temos que o número de O
np
ligados a um átomo de Al é igual ao número de tetraedros
vinculados a Al:
OAl TAl
NN
=
(7.6)
Pela estequiometria do sistema Pb-Al metafosfato a quantidade de Al presente
na fórmula é diretamente a fração molar x, dessa forma, combinando as equações 7.4 e 7.5
podemos estimar a quantidade de N
TAl
presentes nos vidros como sendo:
.
A
L
TAl
NxCN= (7.7)
Substituindo este valor na equação 6.4 encontramos o valor de N
TPb
, como
sendo:
(
)
21
Al
TPb T TAl
NNN xCN=− =− −(7.8)
As equações 7.7 e 7.8 fornecem as frações de tetraedros vinculados
respectivamente a átomos de Al e Pb. Na figura 7.1, estão representadas estas quantidades
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 89
_________________________________________________________________________________________________________________
calculadas, juntamente com os valores obtidos experimentalmente dos espectros de
31
P-MAS
RMN. As quantidades experimentais N
TPb
e N
TAl
, foram obtidas da seguinte foram:
()
()
(
)
()
12 2
22
100 100
TPb TAl
QQ QmAl
xx
N N N e N N
++
=+ =
(7.9)
sendo N
Q
n
a quantidade percentual relativa a cada espécie Q
n
mostrada na tabela 6.5 e o fator
()
2
100
x
+
um fator de normalização, com relação a quantidade de átomos de P por formula.
Figura 7.1: Número de tetraedros fosfatos PO
4
em função da quantidade de Al, as linhas tracejadas são apenas
“guias para os olhos”, a reta crescente diz respeito à quantidade de N
TAl
obtida através dos cálculos
estequiométricos e a reta decrescente à quantidade N
TPb
obtida da mesma forma.
Observa-se que tais cálculos obtiveram uma boa correlação com os dados
experimentais até a composição com x = 0.38. A discrepância entre os dados experimentais e
as quantidades modeladas N
TAl
e N
TPb
é maior para N
TPb
, pois o
Al
CN pode ser bem definido
para toda faixa de composição. No entanto, faixa de números de coordenação para o Pb é
grande, tendo Pb em alta coordenação como em baixa coordenação, de 12 ate 6
respectivamente, acarretando na perca de detalhes da modelagem dos N
TPb
.
Com a boa correlação apresentada entre a modelagem e os dados
experimentais, podemos concluir que o número de tetraedros formando duas ligações P-O-Al
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 90
_________________________________________________________________________________________________________________
é insignificante até certa concentração critica de Al, onde abaixo dessa concentração somente
são observados tetraedros com uma única ligação P-O-Al. Quando a quantidade de Al torna-se
grande, tais agrupamentos passam a ser substanciais devido a grande quantidade de Al
presente nos vidros.
Podemos calcular a concentração critica x
c
de Al impondo N
TPb
= 0 na equação
7.8, de forma que todos tetraedros fosfatos presentes no vidro passam a se conectar com no
mínimo um poliedro de Al (
TTAl
NN
=
), compartilhando um ou dois vértices com tais
poliedros. Portanto temos:
2
1
c
Al
x
CN
=
(7.10)
Como
A
l
CN é dependente de x, a solução desta equação pode ser encontrada
representando graficamente x
c
como função de x usando os valores experimentais de
A
l
CN . O
ponto de intersecção da curva x
c
(x) com a relação linear x = x
c
define esta concentração
critica, como está representado na figura 7.2:
Figura 7.2: Concentração critica x
c
(x), onde a reta representa a relação linear x
c
= x e os valores de xc(x)
obtido a partir dos valores experimentais de
Al
CN
.
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 91
_________________________________________________________________________________________________________________
A partir do ponto de intersecção obtivemos que x
c
= 0.43 ± 0.01, portanto a
partir dessa composição critica devem aparecer necessariamente grupos fosfatos com dois O
np
ligados a Al. O valor obtido para x
c
a partir desta modelagem obteve boa concordância com o
valor inferido experimentalmente (x
c
= 0.45 ± 0.02) a partir dos dados da figura 6.14a), que
ilustra a intensidade relativa de cada espécie Qn observada em função do aumento da
quantidade de Al. O surgimento destes Q
2
(2Al) ocorre porque a partir desta composição
crítica o número de O
np
e Pb não é suficientemente alto ao ponto de todos tetraedros PO
4
estabelecerem apenas uma ligação entre um O
np
e um poliedro de Al.
Com relação aos números de coordenação observados para o Pb e a sua
dependência com a concentração de Al, é interessante realizar sua comparação com a razão
entre o número de O
np
disponíveis para coordenação com Pb e o número de átomos de Pb
para uma dada composição. Podemos propor que de todos os O
np
disponíveis somente aqueles
que não estão envolvidos em ligações com Al podem participar da esfera de coordenação dos
átomos Pb. Esta hipótese é equivalente a estabelecer que os poliedros de coordenação ao
redor de Pb e Al não compartilham vértices. Portanto, o número N
O-Pb
de O
np
restantes que
serão coordenados por Pb pode ser escrito como:
()
(
)
22
np
A
l
OPb O OAl
NNN xxCN
−−
=− =+ (7.11)
onde N
O
-
Al
é o número de oxigênios pontes estabelecendo ligação com Al, que pode ser
calculado em função da composição através da condição estabelecida nas equações 7.6 e 7.7
utilizando os valores experimentais de
A
l
CN .
Os valores calculados para esta razão em função do conteúdo de Al estão
representados na figura 7.3, junto com os valores experimentais de
P
b
CN .
Capitulo 7 Discussão dos Resultados 92
_________________________________________________________________________________________________________________
Figura 7.3:
Número de coordenação médio do Pb. Círculos: valores experimentais de
P
b
CN . Linha cheia:
Razão calculada ente oxigênios não pontes e átomos de Pb de acordo à equação 7.11. Linha Tracejada: Guia
Observamos que os valores de N
O-Pb
/Pb
obtidos através do cálculo são bem
mais baixos os números de coordenação médios obtido dos experimentos de
207
Pb-VOCS
RMN. Este resultado mostra que necessariamente existem O
np
compartilhados entre átomos
de Pb. Portanto podemos concluir que no caso dos poliedros de coordenação de Pb
compartilhamento de vértices. A partir destes argumentos não é possível excluir a
possibilidade de compartilhamento de arestas ou faces. Por outro lado, a figura 7.3 mostra
uma notória semelhança na dependência com a composição entre os valores de
P
b
CN e a
razão N
O-Pb
/Pb
calculada. Tanto a forma da curva calculada como a diferença entre os valores
extremos de composição (1,5) concorda com os resultado experimentais. Este resultado esta
indicando que a variação observada para
P
b
CN depende unicamente do incremento na fração
de O
np
disponível para coordenação em função da composição, sem que exista uma mudança
na forma de compartilhamento destes oxigênios entre mais de um átomo de Pb.
Capitulo 8 Conclusão 93
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 8
Conclusão
A partir dos resultados obtidos do conjunto de técnicas aplicadas, foi possível
verificar alguns princípios a respeito da formação da rede vítrea do sistema Pb-Al
metafosfato.
Verificou-se através das técnicas de RMN que a rede de fosfatos é formada por
grupos tetraédricos do tipo Q
2
(com ambos O
np
ligados por átomos de Pb) e Q
2
(mAl) (com m
O
np
ligados com átomos de Al, m=1,2). Para composições com baixo conteúdo de Al, a rede
de fosfato é composta principalmente por grupos Q
2
. Com o incremento da quantidade de Al o
número de pontes P-O-Al aumenta, incrementando o número de unidades Q
2
(mAl). Verificou-
se experimentalmente que para composições com x acima de 0.46
± 0.02 o número de
unidades Q
2
é nulo, e portanto a rede de fosfatos é composta unicamente por unidades tipo
Q
2
(mAl). O cálculo das populações de Q
2
e Q
2
(mAl), combinando a informação experimental
fornecida por
27
Al-RMN, a estequiometria e algumas hipóteses sobre a organização local ao
redor do Al, mostrou um bom acordo com os resultados experimentais obtidos por
31
P-RMN.
Este acordo permite inferir que para composições com x abaixo de 0.43
± 0.01, os tetraedros
fosfatos vinculados a Al devem ser predominantemente unidades do tipo Q
2
(1Al), cada
tetraedro fosfato formado pontes com um átomo de Al e um átomo de Pb. Este
comportamento é coincidente com o observado no sistema vítreo metafosfato de Na-Al, e
estaria sustentando a idéia que no caso de fosfatos ternários o arranjo local preferencial
envolve preferencialmente pontes P-O
np
-Me com espécies químicas diferentes. Este
comportamento pode ser interpretado como uma generalização do fenômeno observado em
Capitulo 8 Conclusão 94
_________________________________________________________________________________________________________________
fosfatos binários, onde os O
np
de um dado tetraedro estão ligados a átomos diferentes, neste
caso da única espécie disponível. O surgimento de unidades Q
2
(2Al) ocorre de maneira
significativa acima da composição 0.43
± 0.01, quando a razão de O
np
/Al não é
suficientemente alta, nem o número de coordenação de Al suficientemente baixo, para manter
a condição dos grupos fosfatos estabelecendo uma única ponte P-O-Al por tetraedro.
Para composições com alto valor de x, observou-se que uma fração substancial
de Al está atuando como formador da rede vítrea, formando tetraedros AlO
4
. Por outro lado
para baixas concentrações de Al (x < 0.1), acreditamos que uma certa quantidade de Pb pode
estar atuando com formador da rede vítrea, sendo responsável pela formação de fosfatos de
tipo Q
1
.
Através de medidas de densidade e da Tg para estes vidros, verificamos que o
empacotamento das cadeias de fosfato é mais compacto nos vidros com x < 0.1, porém o
número de contatos entre cadeias de fosfatos adjacentes, através de pontes P-O-Pb-O-P,
parece ser menor no vidro de metafosfato de Pb que nos vidros contendo Al, ainda em
concentrações muito baixas. Com o aumento da quantidade de Al, observa-se que o
empacotamento torna-se mais aberto devido ao decréscimo observado na densidade desses
vidros. Porém, a rigidez do sistema aumenta devido ao surgimento de vínculos do tipo P-O-
Al-O-P entre cadeias adjacentes de fosfatos, que são mais intensos que os P-O-Pb-O-P. Por
outro lado, o fato do número de tetraedros Q
1
diminuir com a incorporação de Al, favorecendo
a formação de cadeias mais longas de tetraedros, contribuiria também a aumentar T
g
. Para
concentrações de Al acima de 0.1, as variações de Tg e da densidade com x são lineares,
indicando que a evolução destas grandezas depende apenas da substituição uniforme de
átomos de Pb por Al. O incremento linear da Tg é causado por um aumento no número de
pontes P-O-Al-O-P entre cadeias diretamente proporcional à concentração de átomos Al
Capitulo 8 Conclusão 95
_________________________________________________________________________________________________________________
incorporados. No caso da densidade, a diminuição resulta da diferença de massa entre os
átomos de Pb e Al.
Dos resultados de Espectroscopia Raman observou-se duas bandas
proeminentes relativas aos O
p
e O
np
cujas vibrações são do tipo stretching simétrico e
assimétrico. Para as vibrações relativas aos O
np
observou-se um aumento nas freqüências das
vibrações com o incremento de x devido ao efeito de diminuição da massa na substituição
atômica de Pb por Al e o aumento nas constantes de força efetivas de vibração, devido a que
as ligações P-O-Al são mais intensas que as ligações P-O-Pb. Observando os espectros
Raman dos cristais de Pb(PO
3
)
2
e Al(PO
3
)
3
e comparando-os com os espectros dos vidros,
concluímos que a rede vítrea se comporta tipo solução sólida a um modo. Para as vibrações
relativas aos O
p
verificamos que as freqüências dos modos vibracionais se mantêm constantes,
de modo que a substituição atômica não afeta as freqüências de tais modos, como se era
esperado, pois tais vibrações são relativas às ligações O-P-O que são tipicamente covalentes.
Como perspectiva de continuação deste estudo restaria à aplicação de altas
pressões hidrostáticas, a fim de verificar se seria possível induzir mudanças na conectividade
entre os tetraedros fosfatos e os poliedros relativos ao Pb e ao Al e também induzir mudanças
no empacotamento das cadeias de fosfatos. Outra possibilidade seria o estudo da estabilidade
química deste sistema vítreo perante o contato com soluções aquosas, onde tal estudo é de
grande interesse para determinar possíveis aplicações tecnológicas. Tais estudos seriam
viáveis utilizando técnicas e instrumentação de espectroscopia Raman sob altas pressões e de
Ressonância Magnética Nuclear disponível em nossos laboratórios.
Capitulo 9 Referências e Bibliografia 96
_________________________________________________________________________________________________________________
Capitulo 9
Referências e Bibliografia
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[60] H Van Der Meer,., Acta.Cryst. B32 (1976) 2423.
[61]G.Cormier, J.ACapobianco and A. Monteli, J.Non-Cryst. Sol., 168 (1994)115-124.
[62] E.Metwalli and R. Brow ,J.Non-Cryst.Solid., 289 (2001) p113
Apêndice I
_________________________________________________________________________________________________________________
Apêndice
Teoria Básica de RMN
A.1 – Movimento de um momento magnético em um campo estático.
Assumindo H independente do tempo, H produzira um torque sobre o
momento magnético
μ
, da seguinte forma:
dJ
dt
τμ
=
Η
(1)
Desse modo a equação de movimento é:
()
d
dt
μ
μ
γ
=
×Η
(2)
Esta equação mostra que variações de
μ
em qualquer instante de tempo são
perpendiculares a
μ
e H. Estando fixas as extremidades entre os vetores H e
μ
, o vetor
μ
precessionara em torno de
H com uma velocidade angular
ω
0
, e descrevera um cone de
precessão, como mostrado na figura 1.
Para determinar qual é a freqüência de precessão do vetor
μ
, é conveniente
descrever o movimento do momento angular em termos de um referencial rotante. O vetor
μ
é função do tempo com componentes cartesianas da seguinte forma:
ˆ
ˆˆ
x
yz
ijk
μ
μμμ
=++
(3)
sendo
ˆ
i
,
ˆ
j
e
ˆ
k
os versores cartesianos. Para um movimento de rotação do referencial
cartesiano, com velocidade angular
Ω
, a variação temporal dos versores é:
ˆ
di
i
dt
=
Ω×
(4)
Apêndice II
_________________________________________________________________________________________________________________
Combinando as equações 3 e 4, a equação de movimento de
μ
, no referencial
rotante resulta:
d
dt t
μ
δμ
μ
δ
=
×
(5)
Utilizando a equação 3, temos a seguinte relação:
()
t
t
δ
μ
μ
μγ
δ
δμ
μγ
δ
+
Ω× = × Η
Η+Ω
(6)
Portanto no referencial rotante, verifica-se que a equação de movimento é
formalmente a mesma equação do sistema de coordenadas do laboratório, porém sujeito a um
campo efetivo, da seguinte forma:
eff
γ
Ω
Η
=Η+
(7)
Para um sistema rotante que acompanha o movimento de
μ
,
0
d
dt
μ
=
e
portanto, o campo efetivo deve ser nulo. Nesta situação a freqüência de rotação do referencial
e do vetor
μ
é:
00
H
γ
Ω
=−
(8)
H
0
μ
núcleo
Figura 1: Movimento de precessão do núcleo com momentum magnético
μ
, na presença
de um campo externo H
o
.
Apêndice III
_________________________________________________________________________________________________________________
É possível verificar que esta freqüência de precessão do vetor
μ
é justamente
igual em magnitude à freqüência de transição entre os níveis quânticos de energia Zeeman.
Que é chamada de freqüência de Larmor.
A.1.2 - Campo Magnético Variável no Tempo.
A técnica de Ressonância Magnética pulsada envolve a aplicação de campos
magnéticos alternados, perpendiculares ao campo magnético estático, com o intuito de induzir
uma mudança nas populações no equilíbrio térmico e dessa forma mudar a energia do sistema
absorvendo energia desses campos alternados.
Com a aplicação de um campo magnético constante
H, cada momento
magnético do sistema “sentirá” a presença desse campo e precessionara ao redor desse campo
com uma freqüência de precessão
ω
0
fazendo um ângulo
θ
constante com H. A energia
clássica de um único momento magnético em um campo magnético é:
HcosE
μ
θ
=
(9)
Com a aplicação de campo magnético alternado na freqüência de Larmor este
momento magnético sofrerá um torque, alternando o ângulo
θ
e consequentemente a sua
energia. Provocando mudanças na diferença de populações.
Pode-se aplicar dois tipos de campos magnéticos alternados:
-
Campo Rotante (polarização circular);
-
Campo Oscilante (polarização linear).
A.1.2.1. - Campo Rotante
Supondo a aplicação de campo rotante no plano perpendicular ao campo H
(figura 2), com uma freqüência angular
ω
, temos:
()
(
)
(
)
11 1
ˆˆ
Hcos sintH tiH tj
ωω
=− (10)
Apêndice IV
_________________________________________________________________________________________________________________
Portanto a equação de movimento de um spin incluindo os efeitos de
H
1
e do
campo estatico
H
0
, é da seguinte forma:
()
01
HH
d
t
dt
μ
μγ
+
(11)
Podemos eliminar a dependência temporal de
H
1
usando o sistema de
coordenadas rotantes que acompanha
H
1
com freqüência angular
ω
, dessa forma a equação 11
fica da seguinte forma:
01
01
ˆ
ˆ
ˆ
ˆ
eff
eff
HkHi H
t
HH kHi
δμ ω
μγ μγ
δγ
ω
γ
⎡⎤
⎛⎞
+
⎢⎥
⎜⎟
⎝⎠
⎣⎦
⎛⎞
=− +
⎜⎟
⎝⎠

(12)
H
0
H
1
H
eff
x
y
z
ω
Figura 2: Esquema de aplicação do campo rotante
H
eff
x
y
z
Figura 3: Cone de Precessão ao redor do campo efetivo no sistema de coordenadas rotante.
μ
Apêndice V
_________________________________________________________________________________________________________________
O momentum irá precessionar formando um cone com um ângulo fixo com
relação à direção de H
eff
com freqüência angular igual a γH
eff
, como é representado na figura 3
Podemos reescrever a equação 12 em termos das freqüências, da seguinte
forma:
()
()
01
01
ˆ
ˆ
ˆ
ˆ
HkHi
t
ki
δμ
μγ ω γ
δ
μωω ω
+
+
(13)
Quando o sistema encontra-se em ressonância (
ω = ω
0
), o campo magnético
efetivo é apenas
H
1
na direção de x do referencial rotante e a freqüência angular será
γ
H
1
. Se
este campo for aplicado por um curto período de tempo, de duração P
ω
, o momentum
magnético irá precessionar com um ângulo
α
, definido da seguinte forma:
()
1
0
P
Htdt
ω
αγ
=
(14)
Supondo que
H
1
permaneça constante durante o período de aplicação da radio
freqüência, então temos um valor bem definido para
1
HP
ω
α
γ
=
.
Dessa forma podemos controlar a duração de aplicação do campo de modo que
seja possível escolher um
α
mais favorável ao experimento, esse campo aplicado é conhecido
como pulso a um respectivo
α
. Na figura 4 é ilustrado aplicação de alguns pulsos.
Apêndice VI
_________________________________________________________________________________________________________________
Para o caso do sistema estar fora de ressonância (
ω
ω
0
), teremos que:
01
ˆ
ˆ
Hk Hi
t
δ
μ
μγ γ
δ
+
(15)
como H
1
H
0
, praticamente toda a magnetização estará alinhada com o campo estático, de
maneira que não será possível retirar o sistema do equilíbrio termodinâmico. Como observado
na equação 9, a energia depende do cosseno do ângulo entre o momento de dipolo e o campo
estático, como este ângulo será praticamente zero a energia magnética tem seu valor mínimo.
A.1.2.2 - Campo Oscilante
Esta situação, que é instrumentalmente simples de implementar, pode ser
tratada utilizando os resultados da seção anterior.
Supondo a aplicação do campo na direção de x:
(
)
0
cos
xx
Ht H t
ω
=
(16)
a)
Figura 4: Aplicação de pulsos tipo: a)π/2 e b)π
a)
b)
90º
180
º
Apêndice VII
_________________________________________________________________________________________________________________
podemos decompô-lo como sendo devido a duas componentes rotantes com amplitude igual a
0
1
2
x
H
H = , sendo uma em sentido horário e a outra em sentido anti-horário, como mostrado
na figura 5, da forma:
Sendo estes campos rotantes da seguinte forma:
R1
L1
ˆˆ
Hcossin
ˆˆ
Hcossin
Hi t j t
Hi t j t
ω
ω
ω
ω
=−
=+
(17)
Assumindo o sistema de coordenadas rotantes que gira com uma freqüência
angular
ω
, podemos considerar apenas H
R
sem perca de generalidade, pois, no sistema rotante
o campo
H
L
estará rotando com uma freqüência angular igual a -2
ω
, e estará fora de
ressonância como mostra a equação 9, não tendo efeitos apreciáveis sobre a evolução
temporal de
μ
.
Portanto o campo será:
R1
ˆˆ
HcossinHi t j t
ω
ω
=−
A equação acima é a mesma que a equação 10, desta forma chegamos a um
sistema idêntico ao mostrado na seção anterior.
Este método descrito acima é o método experimental utilizado para a aplicação
do campo de rf.
H
x
(t)
H
R
H
L
x
y
Figura 5: Decomposição de um campo oscilante linear em duas componentes rotantes
Apêndice VIII
_________________________________________________________________________________________________________________
A.2 – O Sinal de RMN
O método de aplicação de pulsos de rf (rádio freqüência), indica uma forma
simples de observar o sinal de ressonância magnética de núcleos atômicos, porem, em uma
amostra existem uma infinidade de núcleos e a teoria discutida anteriormente foi um
tratamento clássico para o caso de um único núcleo, dessa forma esta teoria de ser estendida
para um conjunto bem grande de momentos magnéticos.
A.2.1 – Sistema de Muitos Spins - Magnetização
No caso de sistemas físico reais, é necessário considerar a interação de um
número grande de spins com os campos externos. Podemos pensar em um vetor de
magnetização macroscópico
M, como sendo a soma de todas as contribuições das
componentes na direção z de cada momentum magnético, sendo da seguinte forma:
1
n
n
n
M
μ
=
=
(18)
Podemos observar na figura 6 o vetor de magnetização macroscópico, como
sendo a soma das componentes na direção de z, de cada momentum magnético.
Dessa forma é conveniente considerar um sistema de N spins não interagentes,
e definir a diferença de populações existente entre os níveis de energia.
x
x
z
y
z
y
Figura 6: Magnetização macroscópica M e a soma vetorial dos momentos magnéticos.
Apêndice IX
_________________________________________________________________________________________________________________
Pela estatística de Boltzmann a relação entre populações dos estados E
+
e E
-
de
um sistema de dois níveis no equilíbrio termodinâmico é dada por:
B
E
kT
N
e
N
Δ
+
= (19)
onde N
+
é o número de núcleos cujos os momenta magnéticos possuem a projeção I
z
paralela
a
H e N
-
é o número de núcleos que possuem projeção anti-paralela,
0
EE E H
γ
−+
Δ
=−= é a
diferença de energia de um sistema de dois níveis, T é a temperatura do sistema e k
B
é a
constante de Boltzmann. Portanto sempre haverá uma diferença de populações entre estes dois
estados.
O sinal de RMN é obtido por exemplo através da aplicação de um pulso de 90º
em y que fará com que a componente de cada momento nuclear na direção de z, se localize em
y, após desligar o campo, a magnetização resultante estará precessionando na freqüência de
Larmor no plano xy; após o pulso de 90º, o movimento de precessão da magnetização induzirá
uma força eletromotriz (fem), nesta bobina, que agora estará livre para a aquisição da fem. A
figura 7 mostra de maneira esquemática a bobina utilizada para a aquisição da fem.
Esta fem não persistira indefinidamente, ela tem um decaimento exponencial,
devido ao retorno da magnetização do sistema ao equilíbrio termodinâmico. Este efeito é
Figura 7: Amostra dentro da bobina de recepção orientada no eixo y, que capta o sinal da fem.
Apêndice X
_________________________________________________________________________________________________________________
chamado de relaxação e será abordado com mais detalhes na seção A.2.2. O decaimento da
fem é chamado de
FID (Free Induction Decay) e este é o sinal de RMN (figura 8) e possui a
seguinte forma:
m
d
FID
dt
φ
=− (20)
onde
m
φ
é o fluxo do campo magnético associado a
M
, com relação à seção da espira da
bobina.
O FID ilustrado na figura 8, possui um decaimento exponencial, tipicamente
observado em líquidos, cuja freqüência de oscilação é a freqüência de Larmor do núcleo
estudado.
A.2.2 – Relaxação
O termo relaxação na RMN é usado para descrever dois fenômenos: relaxação
longitudinal e a relaxação transversal
[27,35]
.
Relaxação Longitudinal: é conhecida como relaxação spin-rede, pois ocorre
devido a perca de energia dos spins para a “rede
2
” da qual esta acoplado. Dessa maneira
ocorre o retorno da magnetização do sistema de spins ao valor de equilíbrio termodinâmico
2
O termo rede se refere ao conjunto de graus de liberdade do sistema que não são variáveis de spin, por
exemplo: estados eletrônicos, colisões, vibração de átomos (fônons). O acoplamento do sistema com estes graus
de liberdade causa transições entre os estados de spin, mudando a energia total do sistema de spins. Este
acoplamento é responsável pelo estabelecimento das populações de equilíbrio térmico do sistema de spins
Figura 8: FID a diminuição do sinal se deve aos efeitos de relaxação
Apêndice XI
_________________________________________________________________________________________________________________
(como pode ser observado na figura 9), após ter sido aplicado um pulso de
rf, este processo
possui um tempo característico
T
1
. Esta relaxação não é um fenômeno de emissão espontânea,
mas sim o resultado de campos magnéticos flutuantes locais, com origem nos movimentos
moleculares aleatórios presentes na amostra.
[32]
Relaxação Transversal: é conhecida como relaxação spin-spin, pois devido as
interações entre o spin e ambiente químico ao seu redor, assim como interações diretas entre
spins. Estas interações fazem com que cada um dos spins tenham freqüências de precessão
diferentes gerando a perda de coerência de fase destes spins no plano transversal em relação
ao campo magnético estático, a figura 10 ilustra a aplicação de um pulso de 90º na direção de
y e após a magnetização se encontrar no plano xy, as interações diretas entre os spins geram
uma defasagem entre eles provocando uma diminuição na magnetização. Diferentemente da
relaxação longitudinal, não ocorre transferência de energia para o meio exterior. O tempo
característico é chamado de
T
2
.
[32]
y
x
z
y
z
x
Figura 9: Retorno da magnetização ao equilíbrio termodinâmico devido à relaxação longitudinal
x
z
y
x
z
y
a)
b)
Figura 10: a) Aplicação de um pulso de rf de 90º, b) diminuição da magnetização devido à relaxação transversal
Spins nucleares
defasados
Apêndice XII
_________________________________________________________________________________________________________________
O decaimento do FID, como visto na equação 20, é um decaimento
exponencial da seguinte forma
e
-t/T
2
. Em sólidos geralmente a relaxação transversal é um
processo que age mais rapidamente que o processo de relaxação longitudinal de forma que
T
2
« T
1
.
As formas de recuperação até o valor de equilíbrio termodinâmico e o
decaimento
e
-t/T
2
da magnetização, são exponenciais, como pode ser observado na figura 11.
A.3 – Equações de Bloch
Ambas descrições segundo a mecânica quântica ou a mecânica clássica,
descrevem o movimento não interagentes dos spins como tendo em comum um movimento
periódico da magnetização no sistema rotante
[27]
.
Com a aplicação de um pulso de
rf a magnetização sofre um torque ficando
alinhada na direção
y do sistema e devido aos efeitos de relaxação a magnetização retorna a
sua posição de equilíbrio (alinhada com o campo estático na direção de
z). Existem dois tipos
de relaxação: a longitudinal e a transversal (seção A.2.2). As equações que descrevem o
movimento da magnetização sob os efeitos de relaxação são chamadas de equações de Bloch.
O retorno da magnetização para a sua posição de equilíbrio é :
0
1
z
z
M
M
dM
dt T
= (21)
O decaimento da magnetização no plano
xy é descrito como:
M
0
M
0
( 1 – e
-t/T
1
)
t
M
T
e
-t/T
2
a)
b)
Figura 11: a) retorno da magnetização longitudinal ao equilíbrio termodinâmico M
0
devido à relaxação T
1
, b)
decaimento da magnetização transversal relacionado com a relaxação num tempo T
2
Apêndice XIII
_________________________________________________________________________________________________________________
()
()
2
2
MH
MH
x
x
x
yy
y
dM M
dt T
dM M
dt T
γ
γ
(22)
As equações de Bloch foram propostas por argumentos fenomenológicos, de
como deveria ser o retorno ao equilíbrio termodinâmico, dessa tais equações não são válidas
em geral. As equações são válidas para líquidos, sistemas de spins com forte acoplamento
spin-spin, regime de flutuações rápidas dos campos locais e acoplamentos mais fracos com a
rede; sendo que em todos estes sistema o FID possui um decaimento exponencial. Para
sólidos elas não são estritamente validas. Porém, em muitas circunstâncias permitem
interpretar qualitativamente o resultado de experimentos simples de RMN pulsada.
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