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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA (UNAMA)
CURSO DE MESTRADO EM ECONOMIA
Heriberto Wagner Amanajás Pena
BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE
COMPARATIVA DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES NO
COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2000
Belém
2005
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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA (UNAMA)
CURSO DE MESTRADO EM ECONOMIA
Heriberto Wagner Amanajás Pena
BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE
COMPARATIVA DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES NO
COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2000
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
parcial das exigências para obtenção do título de
“Magister Scientiae” em Economia.
Orientador: Prof. Dr. Mário Miguel Amin Garcia Herreros
Belém
2005
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4
Catalogação na Fonte
P397b Pena, Heriberto Wagner Amanajás
Brasil e Coréia do Sul: uma análise comparativa da
dinâmica das exportações no comércio internacional, 1985-2000/
Pena, Heriberto Wagner Amanajás.- Belém: UNAMA, 2004.
204f.
Dissertação (Mestrado em Economia)-Universidade da
Amazônia.
1. Exportação Brasileira. 2. Exportação Sul-Coreana. 3.
Dinâmica das Exportações. 4. Inserção Internacional. I. Título.
5
UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA (UNAMA)
CURSO DE MESTRADO EM ECONOMIA
Heriberto Wagner Amanajás Pena
BRASIL E CORÉIA DO SUL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA
DA DINÂMICA DAS EXPORTAÇÕES
NO COMÉRCIO INTERNACIONAL, 1985-2000
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito parcial das
exigências para obtenção do título de “Magister Scientiae” em
Economia
Defesa: Belém, Pará, janeiro de 2005
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Mário Miguel Amin Garcia Herreros
Orientador, UNAMA
Prof. Dr. Reinaldo Gonçalves
Universidade Federal de Rio de Janeiro -
UFRJ
Prof. Dr. David Ferreira Carvalho
UNAMA
Prof. Dr.José Octávio Magno Pires
UNAMA
6
A quem, com todo o amor, muito mais fez por mim
do que propriamente por ela, infatigável em minha
educação e sempre preocupada com relação ao
meu futuro como filho e economista, até nos
últimos momentos de sua vida não poupou
sentimentos. Consagro este trabalho em toda a sua
plenitude, em memória de minha mãe.
7
AGRADECIMENTOS
Em especial, ao meu pai por ter estado sempre junto a mim nos momentos em que
mais precisei, servindo sempre de um modelo vivo de luta, dignidade, honestidade e caráter,
entre outras virtudes nas quais sempre me inspirei e ainda pela educação e formação social
que me conduziram sempre a optar pelo melhor caminho. Aos meus irmãos, por todos os
conselhos, de minha parte sempre bem seguidos, por terem sempre acreditado em minha
capacidade e por depositarem em mim muita esperança, o que acabou por se transformar
numa variável a mais de confiança que fizesse com que eu concretizasse esta dissertação. À
minha esposa, Samara Hage, pela constante presença, ajuda e conforto, indispensáveis para
conduzir esta dissertação. Ao meu orientador, Dr. Mário Amin, por ter transmitido de forma
lógica e clara suas orientações, pelo Mário como professor, pois com ele a ciência econômica
ganha uma compreensão mais dialética, e ainda como um profissional incomparável na
competência, preocupação e envolvimento no avanço da pesquisa científica. Agradecimento
especial ao diretor do escritório da CEPAL no Brasil, Dr. Renato Baumann, pela colaboração
e orientação nos procedimentos de pedido de material utilizado na metodologia, assim como
também à bibliotecária da sede em Brasília, Zeneide, pela colaboração indispensável ao
término desta dissertação.
8
RESUMO
As mudanças estruturais que se reproduzem nos sistemas internacionais de produção e da
demanda externa estão modificando a dinâmica de inserção das economias em
desenvolvimento e o ajustamento setorial tem ocorrido de forma desigual entre essas
economias. Nesse sentido, o presente trabalho, à luz da corrente alternativa de falhas de
mercado, demonstra que as diferentes estratégias de desenvolvimento industrial contribuíram
para o sucesso da pauta de exportação sul-coreana, enquanto a inserção externa das
exportações brasileiras ficou concentrada em setores com demanda externa declinante. A
análise de inserção se estabelece por meio da matriz de competitividade, como estimada pelo
TradeCAN, dos índices de concentração de mercado em nível agregado e desagregado e da
composição da estrutura exportadora de cada país, buscando captar na competitividade de
curto prazo as mudanças de tendências estruturais.
PALAVRAS-CHAVE: Matriz de competitividade; análise setorial; dinâmica das
exportações; inserção externa; estratégia de desenvolvimento; índices de concentração;
composição da estrutura exportadora; TradeCAN.
9
ABSTRACT
The structural changes reproduced in the international production systems and in the
international demand have modified the dynamics of insertion of developing economies, and
an unequal sector adjustment has taken place among such economies. In the light of current
market failure alternatives, this work presents the different industrial development strategies
that have contributed for the success of South Korea exports, while the international insertion
of Brazilian exports concentrated on external demand sectors undergoing a downward trend.
The insertion analysis is established by a competitive matrix as estimated by TradeCAN, by
market concentration aggregate and disaggregate indexes, and by the components of the
export structure of each country. The goal is to capture structural trends modifications in the
short term competitiveness.
KEY WORDS: Competitiveness matrix; sector analysis; export dynamics; international
insertion; development strategy, concentration indexes; export structure components;
TradeCAN.
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Classificação setorial da estrutura exportadora 74
Tabela 2 Crescimento da demanda mundial dos países industrializados em
milhões de dólares (US$ 1.000) e taxa percentual de crescimento
85
Tabela 3 As commodities mais importantes do comércio internacional a um dígito
do SITC
89
Tabela 4 As exportações mais importantes do comércio internacional
desagregadas a quatro dígitos do SITC, medida pela porcentagem das
exportações no início e final de período (1985 e 2000)
93
Tabela 5 Classificação dos vinte produtos mais dinâmicos do comércio
internacional determinados pela variação na porcentagem das
exportações a 4 dígitos do SITC, no período de 1985 a 2000
109
Tabela 6 Composição da estrutura exportadora sul-coreana medida pela
porcentagem das exportações em nível de um dígito do SITC
118
Tabela 7 Taxa de concentração de mercado e índice de Herfindahl-Hirschman
para os três períodos analisados no agregado (um dígito), das
exportações sul-coreanas e da demanda mundial
127
Tabela 8 Matriz de competitividade da Coréia do Sul, medida pela porcentagem
das exportações, em nível de um dígito no comércio internacional, no
período de 1985-1990; 1990-1995 e 1995-2000
128
Tabela 9 Matriz de competitividade da Coréia do Sul definida pela cota de
mercado da porcentagem das exportações, ao nível de 4 dígitos do
SITC. Os produtos mais importantes entre 1985 e 2000
137
Tabela 10 Composição da estrutura exportadora brasileira medida pela
porcentagem das exportações ao nível de um dígito do SITC
147
Tabela 11 Taxa de concentração de mercado e Índice de Herfindahl-Hirschman
para os três períodos analisados no agregado (um dígito), das
exportações brasileiras e da demanda mundial
158
Tabela 12 Matriz de competitividade do Brasil, medida pela porcentagem das
exportações, em nível de um dígito no comércio internacional, no
período de 1985-1990; 1990-1995 e 1995-2000
160
Tabela 13 Matriz de competitividade do Brasil definida pela cota de mercado da
porcentagem das exportações, em nível de 4 dígitos do SITC. Os
produtos mais importantes entre 1985 e 2000
171
Tabela 14 Classificação dos produtos mais importantes a 4 dígitos do SITC no
comércio mundial, na economia brasileira e coreana, medidos pela
porcentagem das exportações entre 1985 e 2000
186
11
LISTA DE FIGURAS
Figura1
Etapas do desenvolvimento industrial do Brasil e da Coréia do Sul. A
substituição de importações versus promoção às exportações
57
Figura 2 Matriz de competitividade
71
Figura 3 Classificação dos setores exportadores da matriz de competitividade
76
Figura 4 Classificação dos setores mais importantes do mundo em nível de 1
digito do SITC, com base na porcentagem das exportações no ano de
1985 e 2000
91
Figura 5 Classificação dos vinte produtos mais importantes do comércio
internacional com base na porcentagem das exportações
97
Figura 6 Dinamismo das exportações mundiais segundo a variação da
porcentagem das exportações a um dígito do SITC, no período de 1985
a 2000
101
Figura 7 Classificação dos vinte produtos mais dinâmicos do comércio
internacional determinados pela variação na porcentagem das
exportações a 4 dígitos do SITC, no período de 1985 a 2000
107
Figura 8 Classificação dos produtos mais dinâmicos do comércio internacional
de acordo com o subgrupo do SITC e medido pela variação das
exportações entre os três períodos
111
Figura 9 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações sul-
coreanas ao longo do período de 1985 a 2000
121
Figura 10 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações sul-
coreanas ao longo do período de 1985 a 2000
123
Figura 11 Participação na pauta de produtos com demanda ascendente e
declinante, ao longo de três períodos de tempo e analisados
agregadamente (1 dígito) do SITC
131
Figura 12 Participação na pauta em percentual de setores que ofereceram ganhos e
perdas de market-share no comércio internacional, análise agregada (1
dígito) do SITC.
134
Figura 13 Matriz de competitividade detalhada (desagregada) medida pela
porcentagem das exportações no período de 1985 a 2000
142
Figura 14 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações
brasileiras ao longo do período de 1985 a 2000 – Seções de 0 a 4 dígitos
do SITC
152
12
Figura 15 Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações
brasileiras ao longo do período de 1985 a 2000 – Seções de 5 a 9 dígitos
do SITC
154
Figura 16 Contribuição setorial medida pela porcentagem das exportações
brasileiras, identificadas em três períodos de tempo para captar a
dinâmica estrutural
164
Figura 17 Participação na pauta de produtos com demanda ascendente e
declinante, ao longo de três períodos de tempo e analisados
agregadamente (1 dígito) do SITC
165
Figura 18 Participação na pauta em percentual de setores que ofereceram ganhos e
perdas de market-share no comércio internacional, análise agregada
(1 dígito) do SITC
167
Figura 19 Matriz de competitividade detalhada (desagregada) medida pela
porcentagem das exportações no período de 1985 a 2000
174
13
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Descrição do mercado importador para as exportações de Brasil e
Coréia do Sul no período de 1985 a 2000
62
Quadro 2 Classificação do padrão do comércio internacional dividida em dez
seções, organizadas a um dígito (agregado)
67
14
LISTA DE SIGLAS
CAN Análise da Competitividade dos Países
Cepal Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
CeT Ciência e Tecnologia
Comtrade Banco de Dados das Nações Unidas para o Comércio
IEDI Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial
IHH Índice de Herfindahl-Hirschman
ISI Industrialização Substitutiva de Importações
MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
NPI Novo País Industrializado
NIC Newly Industrializing Country
PeD Pesquisa e Desenvolvimento
Secex Secretaria de Comércio Exterior
SH Sistema Harmonized
SITC Standard International Trade Classification
TCM Taxa de Concentração de Mercado
Unctad Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento
15
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
15
1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA 18
1.2 OBJETIVOS 24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
25
2.1 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL 26
2.2 O DEBATE TEÓRICO SOBRE DESENVOLVIMENTO 29
2.2.1 A escola neoclássica
30
2.2.1.1 Crítica estruturalista 33
2.2.2 A escola estruturalista
35
2.2.2.1 Crítica neoclássica 40
2.2.3 A escola alternativa
44
2.2.4 A nova concepção sobre as orientações de mercado
48
3 METODOLOGIA
59
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 60
3.2 ÁREA DE ESTUDO 61
3.3 FONTE DOS DADOS 63
3.3.1 Ajuste dos dados
65
3.4 METODOLOGIA DE ANÁLISE 67
3.4.1 Matriz de competitividade
70
3.4.1.1 Indicadores da matriz de competitividade 72
3.4.1.2 Conceitualização setorial da matriz de competitividade 74
3.4.1.3 TradeCAN como instrumento de medição 77
3.5 ÍNDICE DE HERFINDAHL-HIRSCHMAN (IHH) 78
3.5.1 Ajustamento do índice
80
4 MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
81
4.1 A DEMANDA DO MERCADO MUNDIAL 84
4.1.1 As commodities mais importantes no mercado internacional
88
4.1.1.1 Análise agregada (1 dígito) 89
4.1.1.2 Análise desagregada (4 dígitos) 92
4.1.2 As commodities mais dinâmicas
99
4.1.2.1 Análise agregada (1 dígito) 100
4.1.2.2 Análise desagregada (4 dígitos) 105
4.1.3 O grau de concentração
114
5 O DINAMISMO DAS EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL
115
5.1 COMPOSIÇÃO DA PAUTA SUL-COREANA 117
5.2 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE DA CORÉIA DO SUL 124
5.2.1 Matriz consolidada
126
5.2.2 Matriz detalhada
143
6 O DINAMISMO DAS EXPORTAÇÕES DO BRASIL
144
6.1 COMPOSIÇÃO DA PAUTA DO BRASIL 146
6.2 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE DO BRASIL 155
6.2.1 Matriz consolidada
157
6.2.2 Matriz detalhada
176
16
7 ANÁLISE COMPARATIVA DO BRASIL E DA CORÉIA DO SUL
177
7.1 CONDICIONANTES DA ESTRUTURA EXPORTADORA 180
7.2 OS PRODUTOS MAIS IMPORTANTES 192
8 CONCLUSÕES
193
REFERÊNCIAS
200
17
1 INTRODUÇÃO
O comércio internacional tem revelado que nos últimos quinze anos a trajetória em
busca de uma livre negociação não tem se traduzido numa melhoria dos indicadores sociais
dos países menos desenvolvidos, apesar do crescimento exponencial das exportações
mundiais. O argumento neoclássico defensor do perfil laissez-faire num regime de comércio
neutro conclui que a inserção junto ao mercado mundial ocorreu de forma eficiente para
aqueles países que adotaram um regime não-intervencionista de promoção às exportações. Por
sua vez, a corrente estruturalista acredita que a intervenção estatal seria a saída para uma
industrialização calçada na proteção das indústrias nascentes e, dessa forma, as economias
estariam resguardadas da competição em seus estágios iniciais, pois o livre jogo das forças de
mercado só tenderia a reforçar os problemas referentes ao balanço de pagamentos.
A corrente alternativa, ao contrário do pensamento neoclássico, defende uma
intervenção do Estado no segmento econômico, sobretudo aquela seletiva acompanhada de
uma política industrial para correção de possíveis falhas nos mercados de produtos e fatores
naturalmente presentes nas economias em desenvolvimento, capaz de moldar de forma
orientada a estrutura produtiva nacional em busca de uma participação mais dinâmica no
comércio internacional.
A posição competitiva internacional de países como o Brasil e a Coréia do Sul é o
ponto de partida para entender como as políticas públicas influenciaram numa inserção mais
eficiente ao mercado externo, precisamente porque são países de industrialização tardia e
optaram inicialmente por um modelo de desenvolvimento voltado para dentro.
Uma inserção competitiva nos mercados internacionais segue baseada em setores
produtivos que tenham uma demanda mundial com importante potencial de expansão, elevado
valor adicionado, rápido crescimento de produtividade e que ofereçam maiores parcelas de
mercado.
18
Nesse sentido, à medida que os países em desenvolvimento concentram esforços para
aumentar a produção e a exportação de produtos com elevado consumo mundial, contribuem
simultaneamente para uma mudança na estrutura exportadora nacional e melhoram sua
posição competitiva internacional.
As mudanças no comércio internacional têm oferecido maiores ganhos para países que
aumentam as suas parcelas de mercado em setores com forte demanda. Nessa perspectiva, a
lógica procura ser em concentrar esforços que fogem simplesmente às regras de mercado
autoregulável e trazem à tona um importante papel das políticas públicas no acesso aos
mercados.
A posição competitiva nacional passa a ser uma variável dependente não apenas da
elasticidade-renda e de mudanças nas vantagens comparativas, mas também do desempenho
das políticas industriais que selecionam setores intensivos em tecnologia e mão-de-obra
qualificada, criando e reproduzindo vantagens competitivas.
A expansão do comércio internacional de distintos produtos caracteriza um cenário
antagônico que reproduz uma nova divisão internacional do trabalho. Aqueles países que
continuam exportando produtos primários estão na contramão da demanda mundial para
produtos dinâmicos e as diferenças de ganhos de comércio deterioram as relações de troca
desses países, que mantêm uma elevada dependência na exportação de produtos com baixa
elasticidade.
Os caminhos para uma importante mudança de tendência estiveram longe de ser
homogêneos, quando se comparam os casos de Brasil e Coréia do Sul. A reversão da condição
de inserção externa ou da manutenção da estrutura exportadora oferece vários determinantes,
que irão ser tratados a partir de transformações na composição das exportações desses países.
Nas últimas duas décadas, os países que conseguiram criar uma importante base
industrial fundamentada em políticas industriais seletivas dinamizaram suas exportações.
19
Aqueles que concentraram suas exportações em recursos naturais e mão-de-obra não-
qualificada evoluíram para um quadro atual de baixo dinamismo do setor externo.
As políticas industriais desempenharam uma função importante, dado que os mercados
não geraram automaticamente os incentivos necessários para modificar o ritmo das vias de
integração na economia mundial ou para superar os obstáculos a uma inserção mais dinâmica
no comércio.
Países como Brasil e Coréia do Sul são exemplos concretos da mobilização do Estado
como indutor, primeiro liderando o processo de industrialização tardia e posteriormente
definindo o seu grau de inserção externa. As estratégias de orientação traçadas por esses dois
países é o assunto de discussão deste trabalho, principalmente quando se pretende analisar o
dinamismo das exportações.
As orientações de mercado, aliadas aos efeitos da política externa de inserção,
caracterizam peculiaridades e analogias nos casos do Brasil e da Coréia do Sul. As diferentes
estratégias das inserções e políticas industriais foram fundamentais para estabelecer um grau
de competição compatível ou não aos padrões internacionais.
O dinamismo dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul, a partir da análise
da participação de mercado e contribuição do setor, indica o grau de integração no comércio
mundial. As fundamentações históricas de inserção desses países ao mercado externo revelam
em que medida as políticas públicas foram contundentes para determinar a posição
competitiva atual.
Fundamentado na teoria alternativa de falhas de mercado, este trabalho procura
explicar as diferenças entre as estruturas exportadoras do Brasil e da Coréia do Sul e suas
respectivas inserções no comércio internacional a partir da ação do Estado e de uma estratégia
de desenvolvimento de incentivo às exportações. O desempenho do Estado foi no sentido de
20
não neutralizar o regime de comércio e priorizar políticas industriais a determinados setores
chave.
1.1 O PROBLEMA E SUA IMPORTÂNCIA
A dinâmica das exportações brasileiras coincide com um quadro bastante comum na
América Latina, onde o perfil exportador desde os anos 50 e 60 pouco avançou.
Impulsionadas pela corrente estruturalista, as políticas de substituição de importações foram
prevalecendo na região, contribuindo para a formação de uma pauta de exportações baseada
fundamentalmente no uso intensivo de recursos naturais.
Nesse sentido, o desempenho das exportações brasileiras nas décadas seguintes foi
influenciado pelas políticas de substituição de importações, criando uma tendência de longo
prazo que condicionava o aumento da produção interna a uma correlação positiva com a
importação, de modo que os estímulos de transferência de renda se tornavam claros e em
favor dos países exportadores de bens de capital.
A estrutura exportadora brasileira evoluiu por meio de uma política voltada para o
mercado interno, onde era necessário exportar um volume cada vez maior de produtos
primários para fazer frente aos coeficientes de importação dos produtos industrializados,
provocando uma deterioração das relações de troca.
O financiamento e a manutenção do processo de substituição de importações se
perpetuavam pelo aumento condicionado das exportações de produtos primários com
demanda inelástica, que desde cedo foram prevalecendo na estrutura, e por uma estratégia
comercial caracterizada pelo uso de instrumentos protecionistas.
O padrão típico de comércio que seguiu a economia brasileira caracterizou-se por
priorizar um desempenho exportador no uso intensivo de fatores abundantes, ou seja, recursos
naturais. A orientação macroeconômica voltada para o mercado interno ausentou a economia
21
da competição externa e dos ganhos de produtividade, de tal modo que os rendimentos
provenientes do mercado doméstico não estimularam a preocupação estatal e privada para
uma política industrial de inserção externa.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC),
mais de 50% da pauta de comércio exterior do país é composta por “commodities” primárias,
das quais 40,5% são intensivas em trabalho e 11,7% em recursos naturais. Enquanto isso, a
presença de produtos de alta intensidade tecnológica é de apenas 14,7%. Com relação às
importações, o perfil é inverso e mais de 60% das compras brasileiras são de produtos com
média e alta tecnologia, caracterizando um quadro de baixo dinamismo da estrutura
exportadora (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO
EXTERIOR, 2003).
Estes dados confirmam a tendência de que as exportações do país avançaram
lentamente desde o início dos anos 80 e divulgam a fragilidade e o envelhecimento do
comércio exterior brasileiro, no qual nem o governo e nem o setor privado esboçaram
preocupação com a produção orientada para outros mercados, ou seja, o erro estaria numa
irregularidade ou inexistência de uma política de exportação.
O resultado das exportações em 2003 preocupa pela baixa presença de produtos de alta
intensidade tecnológica (14,7%), contrariando a tendência no comércio internacional de
diminuição da demanda para produtos de baixo conteúdo tecnológico, exatamente o segmento
que ofereceu um aumento de 84% nas vendas externas registradas nos primeiros quatro meses
de 2003 em relação ao mesmo período do ano anterior (INSTITUTO DE ESTUDOS PARA
DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL, 2004).
A elevada concentração da estrutura exportadora em produtos de baixo conteúdo
tecnológico oferece reduzidas perspectivas de crescimento do valor exportado, deprecia as
22
relações de troca, cria uma variabilidade da receita e está sujeita a constantes oscilações de
preços internacionais.
De acordo com Gonçalves (2000), a economia brasileira perdeu competitividade no
comércio internacional devido a uma redução de três anos contínuos do market-share de
0,96% em 1997 para 0,94% em 1998 e 0,86% em 1999. A queda da participação de mercado,
de 1998 a 1999, chama atenção pela peculiaridade de redução do valor absoluto das
exportações durante dois anos sucessivos, e a receita de exportação sofreu diminuição de US$
53 bilhões em 1997 para US$ 51 bilhões em 1998, e US$ 48 bilhões em 1999.
Segundo a SECEX, entre 1980 e 1998, as exportações brasileiras cresceram 5,3% ao
ano em média, enquanto as exportações mundiais apresentaram taxa de crescimento de 8,4%
anuais e a dos países em desenvolvimento como um todo, 11,3% a.a. (SECRETARIA DE
COMÉRCIO EXTERIOR, 2003).
Analisando a participação brasileira no comércio internacional nos anos 90, Gonçalves
(2000) identifica uma mudança de tendência na estrutura exportadora em favor dos produtos
agrícolas. Houve um aumento significativo da exportação desses produtos na segunda metade
da década, passando de 2,43% no período de 1990-1994 para 2,92% em 1995-1998. Já os
manufaturados revertem a tendência de aumento na primeira metade da década de 0,76%, em
1990-1994 para uma diminuição de 0,68%, em 1995-1998.
Para Gonçalves (2000), o que se nota é uma sustentação da hipótese de inserção
regressiva das exportações brasileiras com uma mudança na composição da pauta de
exportação em favor dos produtos agrícolas. A reprimarização do padrão de comércio da
economia brasileira ocorreu devido ao aumento da participação na estrutura exportadora dos
produtos agrícolas de 29,8% em 1990-1994 para 33,8% em 1995-1998 e à diminuição da
participação dos manufaturados, que se reduziu de 55,1% em 1990-1994 para 53,1% em
1995-1998.
23
Ao contrário da economia brasileira, o Sudeste Asiático apresentou uma participação
no total das exportações mundiais de manufaturas que galopou de 6% em 1980 para 16,9%
em 1997. Quando considerada sua evolução no valor adicionado para o mesmo período,
houve uma duplicação de 7,3% para 14% (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS
SOBRE O COMÉRCIO E O DESENVOLVIMENTO, 2002).
Em 1970, o Brasil exportou US$ 7,37 bilhões em dólares de hoje, quase quatro vezes
mais que a Coréia do Sul, US$ 2,25 bilhões em valores atuais. Em 1999, a Coréia do Sul já
havia atingido uma receita de US$ 144,23 bilhões e o Brasil atingiu uma receita de exportação
de US$ 48,01 bilhões. Ou seja, entre o período de 1970 e 1999 as vendas externas da Coréia
do Sul aumentaram, em termos reais, 64 vezes, e as do Brasil apenas 6 vezes. As diferenças
não param por aí. Cerca de 35% das exportações da Coréia compõem-se de produtos
eletrônicos, dentre os quais os semicondutores, com elevado potencial de demanda
internacional, segundo estatísticas da UNCTAD (2002).
A participação das exportações do Brasil e da Coréia do Sul também difere quanto à
sua contribuição no produto interno bruto (PIB). Em 1998, esse percentual representou para o
Brasil apenas 4,1% enquanto as exportações coreanas contribuíram com 36% do seu PIB.
Neste mesmo ano, as vendas externas da economia brasileira corresponderam 0,95% das
vendas mundiais e na Coréia do Sul este índice foi de 2,5%.
A intervenção estatal nestas economias teria sido crucial para a formação de uma pauta
de exportação caracterizada por sua dinâmica internacional. Porém, a atuação do Estado como
agente econômico difere quando se considera a política de substituição de importações e suas
implicações sobre as falhas de mercado. Neste último modelo, a intervenção estatal teria
reforçado os grilhões para um desenvolvimento industrial mundialmente competitivo. De
acordo com a argumentação de Moreira (1995), a existência de falhas nos mercados de
24
produtos e fatores, nos países de industrialização tardia, justifica a necessidade de intervenção
do governo.
As diferenças macroeconômicas atuais entre o Brasil e a Coréia tiveram como causas
as mudanças no processo de desenvolvimento a partir da década de 60, pois na evolução das
economias nacionais é essencial o comportamento do quadro internacional em que elas se
integram. O cenário de crescente internacionalização da produção é hoje cada vez mais
importante, mas já o era também em meados da década de 50, quando algumas economias
começaram a dar passos mais firmes em direção à dinamização do comércio exterior por meio
da autonomia da imposição de políticas industriais.
O conhecimento dos gargalos do setor externo brasileiro permitirá a formulação de
políticas públicas voltadas para o atendimento dos setores com demanda internacional
crescente, visando tornar as exportações mais dinâmicas e competitivas, adicionando valor
agregado, diminuindo a dependência de financiamentos internacionais e facilitando a ação de
multiplicadores de comércio, geradores de emprego e renda domésticos.
A transformação estrutural do comércio internacional abriu uma importante
oportunidade aos países em desenvolvimento para que melhorem sua integração na economia
mundial por meio de ganhos de participação em mercados com demanda em expansão, o que
significa rever o perfil das exportações e melhor se adequar à nova dinâmica de inserção
externa.
A opção em se pesquisar a inserção das exportações brasileiras no comércio
internacional tem sido um desafio particular de melhor compreender como a lógica de
produção e reprodução do capital tem se estabelecido e ao mesmo tempo como o comércio
exterior tem alimentado um motor de crescimento econômico diferenciado entre países como
o Brasil e a Coréia do Sul, já que são economias que se industrializaram no pós-Segunda
Guerra.
25
A motivação está exatamente em descobrir a que atribuir tamanho sucesso do padrão
de desenvolvimento atingido pela Coréia do Sul que tem seu reflexo no valor e na qualidade
da sua pauta de exportação e na participação de mercado conquistada em tão pouco tempo, e
quais foram as implicações de política econômica e suas fundamentações teóricas que
justificam esse êxito.
O estudo da inserção externa das exportações brasileiras provém de uma necessidade
maior de formulações de políticas públicas, até então irregulares, que atentem para uma
mudança na estrutura econômica exportadora no sentido de nela incluir produtos com maior
dinamismo no mercado internacional, demanda externa crescente e uso intensivo em
tecnologia.
O padrão industrial do mundo mudou e aqueles que ainda se encontram na contramão
do comércio terão que redobrar esforços para se inserir nessa dinâmica, e mais, qualquer
movimento em busca de melhores indicadores de desenvolvimento econômico passa também
pelo conhecimento da nova lógica do comércio internacional.
Conciliar um estudo que demonstre as etapas e mudanças nas estruturas exportadoras
de Brasil e Coréia do Sul, influenciadas por políticas industriais passadas, ajudará a academia
a compreender, dentro de um debate teórico moderno, quais foram as motivações e as ações
dos agentes econômicos e do mercado para obter um posicionamento competitivo dentro da
dinâmica do comércio internacional.
1.2 OBJETIVOS
Em termos gerais, o objetivo desta dissertação é investigar comparativamente a nova
forma de inserção dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul na dinâmica do
comércio internacional, no período de 1985 a 2000.
De forma específica, pretende-se:
26
1. Avaliar a composição e a mudança na estrutura de exportação do Brasil e da Coréia
do Sul no agregado (um dígito);
2. Analisar a matriz de competitividade desagregada (4 dígitos) de cada país por meio
da porcentagem das exportações;
3. Identificar a concentração setorial e os produtos mais importantes da pauta desses
países.
Este trabalho se divide em 7 capítulos, além desta introdução. No capítulo II se tratará
do referencial teórico com uma discussão moderna sobre o desenvolvimento econômico e as
estratégias de orientações de mercado que estão por trás do sucesso econômico dos novos
países industrializados (NPIs) responsáveis pela inserção externa. No capítulo seguinte, se
discutem os aspectos metodológicos, destacando os pormenores da matriz de competitividade
do TradeCAN como ferramenta crucial da análise. No capítulo IV, as mudanças estruturais no
comércio internacional são analisadas assim como as tendências em longo prazo. Nos
capítulos V e VI se analisa o dinamismo das exportações da Coréia do Sul e do Brasil,
respectivamente, no comércio internacional, seguido de uma análise comparativa entre esses
dois países no capítulo VII, utilizando a demanda externa como parâmetro de avaliação. No
VIII e último capítulos auferem-se as conclusões da pesquisa.
27
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção se introduz um breve panorama do que se pode intitular de modos
alternativos de interpretação do desenvolvimento econômico. O tema “desenvolvimento
econômico” foi criado originalmente não divorciado do comércio exterior e com sinônimo de
crescimento econômico, mas, a partir da Segunda Grande Guerra, vai adquirindo um novo
sentido com os chamados teóricos desenvolvimentistas (GONÇALVES, 1998).
No entanto, o principal objetivo não é fazer um percurso histórico do seu engenho,
mas discutir, numa perspectiva moderna pós-Segunda Guerra Mundial, quais foram as
interpretações das diversas escolas econômicas e principalmente as sugestões e as implicações
de política econômica que motivaram as estratégias de desenvolvimento.
O comércio internacional sempre foi a motriz das economias, porque dele se obtêm os
ganhos necessários para produção e reprodução material da sociedade Uma maior densidade
de capital, por sua vez, vai sendo obtida à medida que se leva a efeito a acumulação, que é
impulsionada pelos progressos técnicos, necessários para garantir sua continuidade
(RODRIGUEZ, 1981).
Todavia, a teoria do desenvolvimento no pós-guerra argumentava que os países
subdesenvolvidos possuíam características intrínsecas e por isso mesmo o arcabouço teórico
tradicional (ortodoxo) era inadequado para discutir o fenômeno. Segundo Kitamura (1968),
são estáticas as teorias ortodoxas do comércio internacional na condução do desenvolvimento
econômico. Num mundo em constante mudança, o livre jogo das forças de mercado só tende a
reforçar os desníveis de status entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos.
2.1 ESTRATÉGIAS DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL
O desenvolvimento começa quase sempre quando um determinado setor de um país
produz excedentes exportáveis ao lado de uma economia de subsistência, determinando, dessa
28
forma, sua inserção externa baseada em recursos produtivos disponíveis. Nesse sentido, os
segmentos setoriais da economia, ao venderem para o mercado externo seus excedentes,
passam a adquirir moeda e demandar outros bens necessários ao processo de produção vigente
(WILLIAMSON, 1988).
Dado este passo inicial, um país que tenha atingido este estágio começa a gerar ofertas
cada vez maiores dos fatores de produção necessários para a expansão do setor moderno. A
questão principal agora passa a ser qual a orientação de mercado que deverá ser dada ao
patamar da oferta estabelecida, para que o processo de produção seja efetivado e o ciclo de
produção não seja interrompido.
A literatura econômica reserva quatro alternativas de estratégias possíveis, a saber:
crescimento equilibrado, exportações tradicionais, exportações não-tradicionais e substituição
de importações. Cada estratégia criou em si uma dinâmica que, aliada a uma lógica de
políticas públicas implementadas, resultou numa inserção no comércio internacional.
O crescimento equilibrado, que tem como seus principais expoentes o economista
austríaco Paul Rosenstain-Rodan e o economista Ranger Nurse, argumentava que uma
expansão isolada da produção de uma ou duas indústrias estava fadada ao insucesso, devido
ao não-aumento do poder aquisitivo de outros setores da economia, que eram potencialmente
consumidores do excedente da produção (WILLIAMSON, 1988). Assim, a única forma de
consumir os excedentes da produção era por meio da flexibilização dos preços, mas a
rentabilidade para a manutenção da produção ficaria comprometida, inviabilizando o consumo
de outros bens. A solução para o dilema seria, segundo a corrente, a expansão equilibrada em
muitos setores, de forma a manter uma demanda intermediária e final entre eles.
A alternativa seriam as exportações tradicionais, destinando as ofertas adicionais de
fatores de produção aos setores que já se encontram produzindo para o mercado externo, pois
entende-se que estes já dispõem de vantagens comparativas e nesse caso o mercado
29
internacional passa a ser o principal componente da demanda adicional e os proventos dessa
exportação serão usados para aquisição de produtos no mercado externo (WILLIAMSON,
1988).
Outra possibilidade é desenvolver setores para exportação, incorporando na pauta do
país produtos com demanda mais elástica que possibilitem melhores termos de troca, e à
medida que as exportações avancem gerando receitas (divisas) o processo de aquisição de
insumos para a manutenção do processo continue, caracterizando uma inserção externa na
exportação de produtos não-tradicionais (WILLIAMSON, 1988).
A quarta e última possibilidade é estabelecer novas indústrias para substituírem as
importações, e nesse caso o componente de aumento da demanda agregada passa a ser o
mercado interno, e não o externo. Diferente do primeiro caso (crescimento equilibrado), a
substituição de importações tem uma dinâmica que pode gerar o crescimento de setor em
setor. A eliminação de algumas importações libera divisas para a compra de insumos
necessários no mercado externo e alguns bens intermediários podem começar a ser
produzidos no próprio país (WILLIAMSON, 1988).
A proposta que se encarregou de disseminar em todo o mundo a estratégia por
substituição de importações foi apresentada pela escola estruturalista, a partir da ruptura com
o pensamento econômico ortodoxo, especificamente no período pós-Segunda Guerra. A
Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) motivou o processo e
introduziu conceitos e teorias novas, como a concepção centro-periferia, os mecanismos de
deterioração das relações de troca e até algumas concepções de dependência.
Em princípio, embora exista uma diversidade de estratégias a ser empregada pelos
países em desenvolvimento, o que há basicamente é a opção entre produzir com uma
orientação ao mercado interno (industrialização por substituição de importações), ou
30
promover o desenvolvimento industrial voltado para o mercado externo (promoção das
exportações), ainda que a escolha por uma das estratégias não exclua a outra.
Segundo Balassa (1982), a opção entre produzir para o mercado interno ou para o
externo é definida como estratégia de desenvolvimento introvertida e extrovertida. Caso os
incentivos estejam claramente em favor do mercado doméstico, cria-se um viés contra a
exportação, incentivando a substituição de importações, e seu reconhecimento se expressa
pelas estimativas de incentivos médios.
Para Canuto (1994), existem duas estratégias de desenvolvimento: a orientação para
dentro (introversão ou substituição de importações), que corresponde ao “voluntarismo” no
que diz respeito ao padrão normal, mas do qual se diferencia exatamente porque realoca os
recursos da exportação para a importação; e a orientação para fora (extroversão ou promoção
de exportação), de acordo com os princípios da vantagem comparativa que permitem aos
setores desenvolverem economias de escala, a partir do crescimento da renda, poupança e
capital físico-humano.
A grande maioria dos países menos desenvolvidos, independente da dotação de
recursos naturais herdados, adotou como estratégia de desenvolvimento industrial a
substituição de importações, em que onde a dinâmica ocorria no sentido de importar bens de
investimento para produzir bens de consumo anteriormente importados, a fim de atender ao
mercado doméstico.
As exceções a esta generalização foram Hong-Kong, Singapura, Coréia do Sul e
Taiwan, caracterizados por adotarem estratégias de industrialização “voltadas para fora”. Em
termos gerais, a política de Industrialização por Substituição de Importações (PSI) foi pensada
como estratégia mais ampla de desenvolvimento, e não estritamente como uma política de
industrialização (COLMAN; NIXSON, 1981).
31
2.2 O DEBATE TEÓRICO SOBRE DESENVOLVIMENTO
Quando o argumento inicial em favor do crescimento equilibrado deixou de ser
atrativo, o espaço para o debate teórico do desenvolvimento enveredou-se para uma opção
relativamente autárquica da substituição de importações sustentadas por uma política
protecionista e para opção voltada ao mercado interno como principal componente da
demanda agregada.
Partindo de um contexto histórico específico, a saída seria adotar uma política
deliberada de intervenção governamental em busca do desenvolvimento industrial utilizando-
se de instrumentos de política comercial protecionistas com vistas a proteger a indústria
nascente contra a concorrência externa, sob a alegação que caracteriza as esta como
indústrias, já consolidadas, nos países desenvolvidos. Por outro lado, também já estava
iniciando o problema do protecionismo, presente nos países industrializados, o que dificultava
a inserção externa dos países em desenvolvimento.
No entanto, estava mais do que claro entre as economias em desenvolvimento que a
inserção externa dependeria de uma opção mais vantajosa, que ficaria a critério dessas
economias. Tratava-se de optar, dadas as circunstâncias, se era mais vantajoso expandir a fatia
do mercado interno atendida por fontes internas ou conseguir expandir as exportações dos
produtos com demanda internacional crescente, as chamadas manufaturas.
2.2.1 A escola neoclássica
A partir de 1870, o pensamento econômico passava por um período de incertezas
diante de teorias contrastantes (marxista, clássica e fisiocrata). Esse período conturbado só
teve fim com o advento da teoria neoclássica, em que se modificaram os métodos de estudo
econômicos, por meio dos quais buscaram-se a racionalização e a otimização dos recursos
escassos.
32
Conforme a teoria neoclássica, o homem saberia racionalizar e, portanto, equilibraria
seus ganhos e seus gastos. É nela que se dá a consolidação do pensamento liberal. Doutrinava
um sistema econômico competitivo tendendo automaticamente para o equilíbrio, em um nível
de pleno emprego dos fatores de produção. A principal preocupação dos neoclássicos é o
funcionamento de mercado e como se chegar ao pleno emprego dos fatores de produção, com
base no pensamento liberal.
A construção do conceito de produto de equilíbrio, como resultado do livre jogo das
forças econômicas (oferta e demanda), é uma hipótese do sistema econômico que se funda na
lógica do mercado, sendo exatamente por isso apropriada para o emprego na interpretação do
sistema capitalista. O escólio da inserção no mercado internacional dos países em
desenvolvimento na perspectiva neoclássica se fundamenta nesse arcabouço teórico.
Para Canuto (1994), a constância de alguns parâmetros, tais como: tecnologia,
preferências, distribuição familiar das dotações de fatores, bem como a possibilidade de que
as transações fora do equilíbrio sejam evitadas ou revertidas sem seqüelas, devido à
flexibilização de preços e salários, promovem um reposicionamento dos agentes na forma
individual da aquisição, produção e vendas.
Os agentes econômicos adotam um comportamento de maximização das necessidades,
por isso a produção está sempre no seu nível máximo, as decisões se realizam com base em
expectativas formuladas em condições de certeza ou de risco calculado. Existe suficiente
flexibilidade de processos produtivos, que envolve diversas opções entre a melhor alocação de
recursos.
O paradigma neoclássico não permite a presença de assimetrias concorrenciais
sustentáveis, em longo prazo, entre os agentes operantes e os possíveis entrantes, pois admite-
se que a tecnologia é um bem livre, que a flexibilidade perfeita dos processos produtivos
impede qualquer ganho extra pela diferença de custos e que os mercados de capitais são
33
perfeitamente competitivos, o que facilita qualquer volume de financiamento (CANUTO,
1994).
A literatura neoclássica tem procurado explicar que a persistência do
subdesenvolvimento e as diferenças na inserção externa dos países de industrialização tardia
são resultado dos mercados de fatores e produtos, que, notadamente nos NICs, são distorcidos
e ineficientes. A principal fonte das imperfeições alegadas é a intervenção do governo na
economia, que busca, sobretudo, a rápida promoção da alocação eficiente de recursos por
meio da eliminação das divergências entre os preços de mercado e os preços sociais.
Segundo esta escola, o não cumprimento deste pressuposto pode criar uma intervenção
excessiva que permita ou estimule o desenvolvimento exagerado de práticas e políticas
protecionistas, que violem o princípio da vantagem comparativa e dê lugar a distorções nos
mercados internos, tanto de fatores como de produtos, gerando, em muitos casos,
superavaliação do trabalho e da moeda nacional e subavaliação do capital (COLMAN;
NIXSON, 1981).
A escola neoclássica entende que esta diferença de desempenho, tanto
macroeconômico quanto industrial, entre o Leste Asiático e a América Latina possui uma
profunda relação com a adoção de postura do governo junto ao mercado. Dentro deste
panorama, a análise neoclássica procura explicar que o sucesso de tais experiências está longe
de ser entendido como um milagre, ou então como simples obra do acaso e da sorte, mas sim
como resultado de uma bem-sucedida exploração de oportunidades reveladas pelo mercado,
sobretudo aquelas orientadas para o mercado externo.
Em suma, a escola neoclássica justifica que a proteção deveria ser diminuída e
racionalizada, os controles de importações removidos, a taxa de câmbio mantida próxima do
equilíbrio e o livre jogo das forças de mercado estimulado. O resultado destas políticas de
34
caráter liberal seria um aumento da competição entre as firmas nacionais e estrangeiras em
favor de uma melhor eficiência produtiva.
A inserção internacional dependeria, assim, não de políticas compensatórias
encorajadas às expensas de outros setores, mas da alocação eficiente dos recursos produtivos,
dado o patamar estabelecido da concorrência externa. Os benefícios seriam proporcionados
pelo intercâmbio internacional, quando fundamentados em especializações que conduzem a
ganhos de escala e custos de produção menos onerosos.
2.2.1.1 Crítica estruturalista
A revisão contundente dos pressupostos neoclássicos partiu da escola estruturalista,
que percebe nesses modelos teóricos como nos trabalhos de Hecksher-Ohlin e Samuelson, a
representação de uma abstração que violentava a realidade econômica, e que na verdade as
relações internacionais entre países centrais e periféricos se caracterizavam pela desigualdade
entre os ganhos do comércio. Estava presente uma dificuldade de inserção externa decorrente
das condicionantes internas estruturais que impossibilitavam um crescimento sustentado das
exportações.
Ao contrário dos neoclássicos, a escola estruturalista, dada a relação centro-periferia,
enxerga o Estado como um verdadeiro agente econômico, principal indutor do
desenvolvimento, uma vez que a periferia, devido a suas características estruturais, não
respondia ao livre jogo das forças de mercado. Nesse sentido, essas imperfeições que traziam
ganhos assimétricos no mercado internacional deveriam ser corrigidas por meio de políticas
estatais e não exclusivamente pelas leis de mercado.
A assimetria nas relações internacionais corresponde à ruptura com a escola
neoclássica. As diferenças nas estruturas produtivas entre periferia e centro colocariam de
imediato a tendência ao afastamento dos níveis de produtividade e renda entre um pólo e
outro na economia mundial (PREBISCH, 1967).
35
Segundo a corrente estruturalista, se as premissas da teoria neoclássica estivessem
corretas, então, nas relações comerciais entre centro e periferia por meio da melhoria dos
termos de troca para o último grupo, a renda dos países seria levada a uma igualação relativa.
Isto porque com os preços dos diversos bens caindo proporcionalmente ao avanço do
progresso técnico e da produtividade, e levando em conta a hipótese de progresso técnico
mais forte na indústria do que na produção primária, poder-se-ia esperar que os preços do
alimento e da matéria-prima em termo do produto industrial subissem. Desse modo, a renda
periférica, em termos de produtos industriais, cresceria em proporção maior do que o aumento
da produtividade do trabalho nesse grupo de países (RODRIGUEZ, 1981).
Segundo Prebisch (1951), inexistia a preocupação da teoria neoclássica do comércio
internacional, sintetizada no modelo Heckscher-Ohlin, com os termos de intercâmbio entre
pólos defendidos da economia mundial. Os estudos empíricos contidos em documentos da
Cepal revelam que estes termos evoluíram desfavoravelmente para a periferia.
Os pontos de sustentação da crítica estruturalista foram: baixa elasticidade – preço dos
produtos primários como resultado de um efeito da concorrência intensa entre os países
fornecedores, bastante próxima da estrutura perfeitamente competitiva; baixa elasticidade -
renda da maior parte dos produtos primários sujeitos à influência da lei de Engels sobre
comportamento da procura de bens inferiores; retração da procura de inúmeras matérias-
primas de exportação como resultado da fabricação de sintéticos e a redução de insumo por
quantidade produzida de produto final; baixo valor adicionado dos produtos primários quando
comparados com os produtos industrializados; estruturas de mercados atomizadas das
commodities primárias (RODRIGUEZ, 1981).
O modelo e as práticas liberais a que se referia a escola neoclássica, com o propósito
de se atingir o ótimo social, não seria possível na periferia. A atividade periférica de maior
eficiência relativa era a produção primária para exportação e esta era completamente
36
incondizente com as informações fornecidas pelos sistemas de preços, pois não induziam à
maximização da renda e do bem estar.
A idéia desenvolvida pelos pressupostos neoclássicos de máxima eficiência e pleno
emprego dos fatores produtivos parecia esbarrar em condições estruturais de funcionamento
do sistema (centro-periferia). A inserção no mercado internacional caracterizada pelas
exportações de produtos primários deveria ser contida pelo Estado, e nela incluir uma
estratégia de industrialização.
Como o livre jogo das forças de mercado não se traduzia em benefícios para a periferia
e tampouco o livre comércio estimularia o crescimento de setores dinâmicos, a saída era a
intervenção estatal promovendo o processo de industrialização tardia, calçada na proteção das
indústrias infantes, contrariando os princípios fundamentais da escola neoclássica. Esses
instrumentos de políticas comerciais caracterizaram uma estratégia de desenvolvimento
voltada para o mercado interno.
A contundência da corrente estruturalista dos anos 50 e 60 não se limitou à revisão
crítica dos pressupostos neoclássicos, e foi mais além, propondo não apenas um debate novo,
mas também reações que deveriam fazer parte das políticas estatais dos países atingidos pela
deterioração das relações de trocas. Tratava-se de compor propostas e estratégias de indução
ao progresso técnico e de industrialização dos países periféricos visando a uma melhor
inserção no mercado internacional. Na verdade, a escola estruturalista procurou estabelecer
uma política de substituição de importações, caracterizada como um modelo fechado, de
orientação nacional, ancorado em medidas de forte conteúdo protecionista completamente
contraditórias às idéias liberais da escola neoclássica.
37
2.2.2 A escola estruturalista
O estruturalismo como teoria tem na Cepal seu principal órgão de formulações e
estratégias de desenvolvimento econômico. Seu destaque no cenário intelectual data das
décadas de 50 e 60, por meio da apologia sistemática da industrialização dos países
periféricos. O argumento estruturalista consolidou-se na chamada “economia política
cepalina”.
A economia política cepalina representava o principal conjunto de formulações e
arcabouço teórico da espera. Nela estavam contidas as recomendações de política econômica
aos países da periferia, dada a existência dos pertinentes problemas estruturais que motivaram
o avanço de contribuições teóricas da instituição, com destaque para uma planificação dos
investimentos para a prática de políticas protecionistas.
Dentro da sua estrutura analítica, os escritores concentram-se na questão da posse e
controle dos meios de produção, no nível de desenvolvimento das forças produtivas materiais
assim como nas relações sociais de produção da sociedade em diferentes formas de
propriedade. As estruturas de produção distorcidas, decorrentes da própria lógica do capital,
são a preocupação central desta corrente, entre elas a atual penetração estrangeira na
economia, a importação de uma tecnologia “estranha”, as operações das transnacionais,
(ETNs) em particular as remessas de lucros, entre outras. Em suma, esta corrente defende
mudanças radicais na estrutura econômica (COLMAN; NIXSON, 1981).
Nos primeiros anos da Cepal, a escola estruturalista defendia um pressuposto: o de que
os países da periferia deveriam acelerar sua trajetória na direção da industrialização. Esta
permitiria, assim como nos países centrais, uma inserção mais dinâmica, propiciando a
população se apropriar, em grande quantidade, dos frutos do progresso técnico, traduzidos em
melhores qualidades de vida. Dessa forma, a escola estruturalista entende que a distância entre
38
as condições de desenvolvimento está presente quando os países industrializados do centro se
apropriam da parcela do progresso técnico da periferia (RODRIGUEZ, 1981).
Uma melhor inserção no comércio internacional só seria possível quando na pauta de
exportação dos países periféricos não mais fosse observada a deterioração dos termos de
troca. Esta entendida segundo a corrente como o valor (preço) de uma cesta de mercadorias
em termos de outra. Assim, um declínio nas relações de troca indica que uma dada quantidade
dessa mercadoria pode comprar apenas quantidades menores de alguma outra cesta, que
comprava anteriormente. O fracasso das exportações em estimular o crescimento por causa do
declínio nessas relações assimétricas entre os bens primários e manufaturados comprometia os
ganhos de comércio em favor da periferia (RODRIGUEZ, 1981).
Segundo Prebisch (1949), os imensos benefícios do desenvolvimento da produtividade
não chegaram à periferia numa medida comparável àquela que logrou desfrutar a população
dos países centrais. Como resultado disso, ocorre a presença de acentuadas diferenças nos
padrões de vida entre as regiões centrais e a periferia, daí também divergem as forças de
capitalização e ganhos de produtividade.
A persistência das relações assimétricas, dentro da concepção centro-periferia, só
tenderia a reforçar os problemas estruturais da periferia, para qual interpretação dos
estruturalistas a saída seria a industrialização. Nesse sentido, estava justificada uma
intervenção estatal capaz de liderar o processo, alicerçada em políticas protecionistas às
indústrias nascentes.
As estratégias dos estruturalistas visavam poupar da concorrência externa as indústrias
infantes, como forma de incentivar uma maturação de seus estágios para aumento de
produtividade. Segundo a escola, isso seria possível por meio de políticas comerciais de
sobretaxas às importações correspondentes a cada estágio do processo de industrialização via
substituição de importações.
39
Por conseguinte, ganhava força um mercado interno que passou a ser visto como o
principal componente de aumento da demanda agregada da economia. Esta estratégia de
desenvolvimento voltada para dentro teve suas bases alicerçadas num processo que progride à
medida que ocorrem mudanças na composição das importações. Num primeiro momento, os
setores de bens de consumo são incentivados e taxam-se os bens de consumo importados,
incentivando-se os bens supérfluos importados e não os produzidos internamente. No que
aumenta a produção de bens de consumo, muda-se a composição das importações e o
processo da substituição de importações avança.
Os problemas estruturais, como os déficits em conta corrente, foram tratados de maneira
especial pelos estruturalistas durante a substituição de importações. Em geral, o coeficiente de
importação (a relação entre o total de importações e o PIB) cai à medida que a substituição de
importações procede, embora isso não implique redução em seu valor absoluto e nem na
quantidade de importações. Tende também a acontecer que exista algum limite máximo de
importações, determinado pelos dotes naturais de recursos do país, seu tamanho, nível de
atividade e taxa de crescimento.
A mudança na composição das importações é crucial para que a PSI progrida. O processo
emerge com a produção interna de bens de consumo, que caracteriza a primeira fase da
industrialização por substituição de importações, sendo comum tanto aos países da América
Latina como aos do Leste Asiático. Assinalam-se nesta fase as maiores tarifas aos bens de
consumo importados, conduzido ao resultado perverso de que às importações menos
essenciais são dados maiores incentivos do que à produção interna.
Hirschman (1961) descreveu o processo de substituição de importações como
“industrializações por estágios separados”, mas com justaposição quase contínua e como
acontecimento “altamente seqüencial”. Ainda segundo o autor, é característico do modelo de
substituição de importações começar pela implantação de indústrias de bens de consumo (a
40
tecnologia necessária pode ser menos complicada e o custo diferencial mais baixo do que para
os bens de capital), passando para bens intermediários e finalmente para bens de capital.
Desse modo, no que a produção de consumo aumenta, muda a composição das
importações de mercadorias: as importações de bens de consumo se tornam menos
importantes, enquanto as de maquinaria, equipamentos, matérias-primas e outros insumos e
combustível vão se tornando mais significativas. Em outras palavras, convertem-se as
importações de bens de consumo “não essenciais” em importações essenciais necessárias à
manutenção da produção e do emprego interno (COLMAN; NIXSON, 1981).
A substituição de importações aumenta a proporção de valor agregado mantida por
importações. Nesta circunstância, qualquer declínio no produto das exportações, não
contrabalançado por uma entrada líquida de capital estrangeiro, conduz a uma redução
forçada das importações e à recessão industrial. De modo geral, portanto, a economia se torna
mais dependente do comércio exterior e mais vulnerável a flutuações na receita de moeda
estrangeira. E, em lugar de diminuir a dependência externa, como fora originalmente
concebido, a ISI tende a gerar o efeito oposto. Para Baer (1972), o resultado líquido da
substituição de importações foi exatamente o de reforçar sob uma ótica diferente e mais
nociva a dependência dos países periféricos aos mais desenvolvidos.
É possível que o problema maior enfrentado pela substituição de importações tenha
sido sua incapacidade evidente de, em longo prazo, sustentar uma taxa de crescimento do PIB
em excesso ao crescimento na capacidade de importar. Dito de outra forma: a substituição de
importações gera uma alta taxa de crescimento em seus estágios iniciais, mas tal crescimento
tem vida curta (10 a 15 anos) e a economia, já a um baixo nível de desenvolvimento,
experimenta a estagnação, uma vez que as oportunidades para a industrialização por
substituição de importações pareçam esgotadas e as condições da taxa de câmbio voltem
novamente a preponderar (COLMAN; NIXSON, 1981).
41
De uma forma geral, podemos distinguir entre os autores que acreditam que
tendências estagnantes sejam intrínsecas ao próprio processo de ISI e aqueles que acreditam
que o mau planejamento e implementação de estratégias em si estejam na raiz do problema. O
fato é que os teóricos desenvolvimentistas pareciam incapazes de explicar o êxito dos tigres
asiáticos e o fracasso dos países da América Latina, e as idéias estruturalistas de uma
industrialização por substituição de importações começavam a enfrentar duras críticas e
perder força, abrindo espaço para outra proposta: ganhava impulso uma nova ortodoxia
neoclássica.
2.2.2.1 Crítica neoclássica
Os neoclássicos, que têm em Krueger e Balassa
alguns dos seus principais expoentes,
tecem algumas críticas específicas em relação ao regime de substituição de importações
defendido pelos estruturalistas da década de 50. De acordo com esta visão ortodoxa, a
concessão de subsídios e a proteção à indústria doméstica teriam distorcido o funcionamento
do mercado, ocasionando vieses, setoriais e de mercados.
O viés setorial teria surgido pela determinação de uma estrutura de incentivos às
indústrias diferente daquela que teria prevalecido em caso de respeito ao livre comércio. Estes
incentivos teriam sido incompatíveis com a dotação de recursos da economia, promovendo
atividades industriais que não refletiam as vantagens comparativas do país (BALASSA,
1982).
O viés de mercado, por sua vez, originava-se da utilização de mecanismos
protecionistas contra importações (via proteção tarifária ou não tarifária, cotas e controles
técnico-administrativos), o que, juntamente com a adoção de uma taxa de câmbio sobre-
valorizada, teria prejudicado as atividades exportadoras, levando a um desenvolvimento da
indústria voltado para dentro.
Ao guiar-se somente pelo mercado interno, as empresas teriam
42
se tornado ineficientes, com reduzida produtividade, tendo deixado de aproveitar os ganhos de
escala e especialização provenientes do comércio internacional. A ausência de abertura
comercial teria eliminado o fator concorrência, e assim, em meio a um mercado interno
atrofiado, tornando as empresas acomodadas, levando ao estabelecimento de estruturas
oligopólicas de produção (BALASSA, 1982).
Em muitos casos, a adoção desta estratégia exigiu a imposição de medidas drásticas de
proteção ao comércio como as citadas acima para superar as limitações inerentes à produção
para um mercado em geral pequeno. Tais políticas em muitos casos levaram a subestimar a
importância do setor agrícola, negligência esta que acarretou sérios estrangulamentos no
desenvolvimento de vários países.
A tendência também foi de desestímulo às indústrias exportadoras, uma vez que estas
pagariam preços mais altos do que seus concorrentes internacionais, dado que estes adquiriam
o produto importado, enquanto as indústrias exportadoras o similar nacional (de preço mais
alto), além disso, estas sofriam com taxas de câmbio valorizadas em comparação ao comércio
livre.
A visão neoclássica procura ainda inverter o raciocínio desenvolvimentista segundo o
qual a intervenção governamental seria necessária para solucionar as crises estruturais do
balanço de pagamentos, argumentando que tais crises são ocasionadas pela iniciativa do
governo em comprimir as importações, enfraquecendo ao mesmo tempo as exportações.
A intervenção do governo teria causado, além dos problemas citados, distorções no
mercado de fatores. A adoção de baixas taxas de juros para a promoção da industrialização
substitutiva de importações incentivava a utilização de técnicas intensivas em capital,
incompatíveis com a necessidade de absorção de uma mão-de-obra abundante, e ao mesmo
tempo atrofiava o sistema financeiro, na medida em que provocava a fuga de capitais e de
grandes poupadores (KRUEGER, 1985).
43
Os males causados pela intervenção governamental, de acordo com o pensamento
ortodoxo, teriam se manifestado ainda no mercado de trabalho por meio da adoção de uma
postura populista ao estabelecer salários bem acima da produtividade do trabalho, diminuindo
a competitividade das exportações industriais (KRUEGER, 1985).
Na verdade, a visão ortodoxa procura mostrar que os países da América Latina
permitiram, através da implementação da estratégia de industrialização substitutiva de
importações, que suas indústrias se escondessem atrás das altas tarifas de proteção impostas
às importações. Este mecanismo teria levado a um crescimento inicial, mas que não teria
durado muito mais tempo do que o necessário para o “esgotamento” de um mercado interno
atrofiado. O objetivo de proteger a indústria nascente teria criado um ambiente que não
estimulava a promoção das inovações administrativas e tecnológicas das empresas. Os lucros
resultantes teriam sido construídos graças à atividade ineficiente de empresas domésticas
(BALASSA, 1982; KRUEGER, 1985).
A partir das críticas acima expostas, a visão neoclássica ortodoxa acredita ter
descoberto as verdadeiras causas do fracasso industrial e macroeconômico de vários países de
industrialização tardia, como Brasil e México. Ao mesmo tempo em que identificam na
adoção desta proposta de industrialização o erro maior destes países, os teóricos neoclássicos
entendem que o sucesso dos tigres asiáticos foi resultado da adoção de um regime totalmente
oposto: o regime de promoção às exportações (BALASSA, 1978).
Segundo a argumentação ortodoxa, ao contrário da proposta de ISI, o regime de
incentivo às exportações tem como objetivo estimular a formação de um parque industrial em
meio a um clima de maior competição.
De acordo com Suzuki (1975), um representante do pensamento ortodoxo, a adoção do
regime de promoção às exportações não significa, necessariamente, que toda a, ou grande
parte da, produção industrial tenha obrigatoriamente que se destinar ao mercado externo. A
44
exportação somente se torna possível se o preço do produto em questão for competitivo em
relação aos produtos estrangeiros. Sendo assim, o regime de promoção às exportações
objetiva o fortalecimento da competitividade da indústria, o que lhe permite fornecer produtos
tanto para o mercado externo quanto para o interno, sem preferência em relação a uma das
duas opções (neutralidade em termos de mercado).
Segundo a argumentação ortodoxa, o desempenho bem-sucedido dos países do Leste
Asiático possui relação com o papel reduzido do Estado. A intervenção estatal nestes países
teria sido mínima e sobretudo funcional, objetivando a redução de alguns obstáculos, como
falha de mercado nas áreas tecnológica, de capital humano e infra-estrutura - que dificultavam
o desenvolvimento industrial além da manutenção de uma estabilidade macroeconômica
capaz de tornar viáveis os investimentos de longo prazo (BALASSA, 1983).
Consistente com a estratégia de promoção às exportações, a taxa de câmbio teria sido
mantida em um nível realista, o que tornou possível a importação de insumos, a preços de
mercado, para a produção destinada à exportação. Tendo estas condições como base, os
exportadores não teriam incorrido em custos que os prejudicassem na competição do mercado
internacional.
Segundo esta explicação neoclássica, como complemento, teriam sido eliminados
todos os tipos de rigidez estrutural do mercado de trabalho, facilitando a dinâmica da relação
entre oferta e demanda de trabalho, permitindo que o salário acompanhasse o ritmo de
crescimento da produtividade, aumentando a competitividade das exportações industriais.
Tendo como ambiente um regime próximo do nível ideal de laissez-faire, acreditam os
ortodoxos que a alocação de recursos na economia tenha sido maximizada. Além disso, ao
contrário dos países adeptos do regime de substituição de importações, onde as restrições em
relação às importações e a discriminação das exportações criavam problemas de balança de
pagamentos, as experiências bem-sucedidas do Leste Asiático demonstraram que a adoção de
45
uma política de incentivo às exportações conseguiu eliminar o problema de crises cambiais
freqüentes. Por fim, os ortodoxos chamam ainda atenção para a série de benefícios que a
adoção de uma política de incentivo à inserção da economia no comércio internacional teria
levado às empresas: em meio à abertura comercial e à pressão concorrencial decorrente, elas
seriam pressionadas a cortar custos e a aumentar a produtividade, evitando portanto o
desperdício de recursos.
Mais do que apontar o regime de promoção às exportações como sendo a fórmula do
sucesso utilizada pelos países do Leste Asiático, a corrente neoclássica procura mostrar que
este bom desempenho prova a relação de causalidade entre abertura comercial, - laissez-faire
e crescimento econômico.
2.2.3 A escola alternativa
Alguns estudos empíricos realizados na década de 80 nasceram de um grande esforço
de economistas desenvolvimentistas procurando verificar uma aproximação da variante
pregada pela “nova ortodoxia”. Esses estudos buscaram identificar em que medida a presença
maciça do Estado teria influenciado o sucesso das economias do Sudeste Asiático quando
comparadas com as economias da América Latina.
Ram (1986), com base em uma amostra de mais de cem países, concluiu que as
variáveis “dimensões do governo” e “crescimento econômico” apresentaram, na maioria dos
casos, correlação positiva; entretanto essas relações não eram tão evidentes como os
neoclássicos acreditavam ser. Ao mesmo tempo ganhava força uma corrente alternativa de
interpretação que, entre outros pontos, enfatiza a importância do papel do Estado no
desempenho bem-sucedido dos países do Leste Asiático.
A explicação alternativa para as diferenças de desempenho macroeconômico entre a
América Latina e a Ásia, ou mais especificamente entre o Brasil e a Coréia do Sul, se
46
encontra, segundo esta corrente, na autonomia e capacidade de imposição de políticas
industriais formuladas em cada um dos casos, de acordo com suas especificidades
socioculturais, políticas, entre outras mais que divergem com o pensamento neoclássico.
Esta nova argumentação tem como principais destaques os trabalhos de Amsden
(1989), Wade (1990) e Moreira (1995), os quais acreditam que muitos destes países
alcançaram tão alto patamar de desenvolvimento em virtude das políticas governamentais
implantadas desde os anos 50.
Segundo a abordagem alternativa, a intervenção estatal nestas economias teria sido
importante, embora diferente daquela apresentada pela política de industrialização substitutiva
de importações. No Leste Asiático, o governo teria sido um agente efetivo; porém, em virtude
da abertura comercial, as políticas implementadas tiveram de seguir disciplinas diferentes,
compatíveis com a criação de uma indústria internacionalmente competitiva.
A intervenção estatal no processo de industrialização do Leste Asiático teria sido
dirigida à correção de falhas de mercado, cada vez mais evidentes em função da abertura
comercial. Ao contrário do que pensavam os neoclássicos, a abordagem alternativa acredita
que a intervenção governamental não deve ser somente funcional, mas sobretudo seletiva,
objetivando a solução de falhas de mercado relativas à industrialização. De acordo com
Moreira (1995), a existência de falhas nos mercados de produtos e de fatores, nos países de
industrialização tardia, justifica a necessidade de intervenção do governo.
Em relação ao mercado de produtos, a presença de fatores dinâmicos (aprendizado e
diferenciação de produto) e estáticos (economias de escala, escopo e internacionalização), em
conjunto com as externalidades, compromete as atividades das empresas. As empresas
integrantes de uma indústria retardatária precisam adquirir rapidamente capacidade
tecnológica, o que demanda investimentos em desenvolvimento tecnológico, que são, por
natureza, arriscados e caros. Além disto, estas empresas encontram um mercado dominado
47
por outras maiores, com alto grau de diversificação produtiva, e já há algum tempo instaladas.
Tudo isto leva às empresas nascentes uma perspectiva de longas dificuldades e prejuízos, o
que contribui para tornar mais árdua a sua entrada no mercado, enfraquecendo assim o
interesse privado (WADE, 1990).
Deste modo, há necessidade de se proteger a indústria nacional por meio de uma
política de auxílio que seja seletiva em relação aos setores, em função das diferentes falhas de
mercado para cada um deles; neutra em relação ao mercado, condicionando a proteção ao
desempenho exportador; e seletiva em relação a empresas, no sentido de não beneficiar as
filiais de multinacionais que já desfrutam de vantagens dinâmicas e estáticas das matrizes.
A abordagem alternativa analisa ainda as falhas no mercado de fatores, identificando
gargalos nos mercados financeiro, de capital humano e tecnológico que contribuem para
dificultar o desenvolvimento industrial.
De acordo com Moreira (1995), o mercado financeiro dos países de industrialização
tardia caracterizava-se por operações de curto prazo, em função da incerteza gerada pela
deficiência do sistema de informações, comprometendo as operações de longo prazo. A
necessidade de investimentos para dar conta do processo de aprendizado e capacitação
tecnológica das empresas nascentes, bem como para a ampliação da sua capacidade produtiva,
não era satisfeita em função de um mercado de capitais deficiente em face do reduzido nível
de renda.
Em virtude desta falha, as intervenções dos governos do Leste Asiático tiveram a
preocupação de canalizar recursos bancários dispostos em poupanças de curto prazo, a fim de
estimular a formação de um mercado de crédito para empréstimos de longo prazo. A atração
destes recursos se deu por meio de incentivos à propriedade conjunta de bancos e empresas,
com o objetivo de reduzir os riscos dos bancos e firmas no envolvimento com empréstimos de
longo prazo; linhas de crédito subsidiadas para encorajar o investimento em indústrias
48
propensas à imperfeição e a externalidades; e estabelecimento de tetos de taxa de juros para
promover o investimento (MOREIRA, 1995).
Quanto ao mercado de capital humano, em função da presença das externalidades
tecnológicas, as quais exercem influência sobre a difusão do conhecimento e da deficiência do
mercado de capitais despreparados para o financiamento de gastos com qualificação da mão-
de-obra, os investimentos em treinamento e educação não são alocados de maneira eficiente
pelos mecanismos de mercado. Deste modo, cabe ao governo aplicar recursos para melhor
preparar a força de trabalho, e assim constituir uma base para o desenvolvimento de
qualificações industriais.
O mercado de tecnologia, segundo a abordagem alternativa, também apresenta falhas.
Por se tratar de uma “mercadoria” transacionada em um ambiente caracterizado pela
assimetria de informações entre os que compram e os que vendem, a tecnologia não é
perfeitamente comercializável.
Sendo, portanto, um mercado que envolve custos muito altos,
há uma tendência ao subinvestimento privado. Em função disto, há a necessidade de o
governo intervir no sentido de promover esforços através, por exemplo, de investimentos em
infra-estrutura de C e T, incentivos fiscais a P e D, a fim de acelerar a capacitação tecnológica
(AMESDEN, 1988; MOREIRA, 1995).
De modo geral, esta interpretação, dita revisionista, procura mostrar que, se existem
falhas de mercado, então o argumento de laissez-faire que assumem mercados perfeitamente
competitivos é totalmente falho. Um regime de laissez-faire não é capaz de revolvê-las; daí a
importância da mão orientadora do governo como solucionador destes problemas.
Segundo esta interpretação, a participação estatal no processo de desenvolvimento
econômico dos países do Leste Asiático teria estado muito além do compromisso de
manutenção da estabilidade macroeconômica. A principal função da intervenção
governamental teria sido amenizar as falhas de mercado que entravavam o desenvolvimento
49
industrial. Muito mais do que isso, o governo teria estado sempre por trás deste
desenvolvimento por meio de uma política industrial ativa e de setores alvos (AMSDEN,
1989).
Tal visão alternativa acredita que, ao longo de todo o processo de crescimento e
transformação da estrutura industrial, o Estado, no Leste Asiático, teve capacidade para fazer
com que o mercado funcionasse melhor, trazendo, portanto, mais benefícios para a sociedade.
A partir de um padrão de intervenção junto às empresas que condicionava a concessão de
subsídios ao desempenho, sobretudo exportador, o governo teve condições de viabilizar a
transformação do setor produtivo às mudanças nos preços relativos (AMSDEN, 1989;
WADE, 1990; MOREIRA, 1995).
Por fim, a corrente alternativa chama a atenção para a importância da política seletiva,
como tendo sido o instrumento responsável pela promoção de setores novos, tidos como
setores industriais promissores. Por meio desta política seletiva, o governo concedeu
incentivos financeiros - viabilizados pela canalização de recursos realizada pelo próprio
governo - e proteção contra as importações, o que assegurou às empresas condições de
operação ou escalas produtivas eficientes.
2.2.4 A nova concepção sobre as orientações de mercado
A inserção internacional das economias agora também estaria condicionada não
somente às adoções de política econômica, mas também a uma dinâmica prevalecente na
demanda do comércio internacional. Estas tendências recentes na reestruturação econômica
mundial apontam mudanças substanciais durante os últimos quinze anos, classificando
segundo metodologia da Cepal, os produtos em dinâmicos ou não, e sua importância quanto à
densidade de recursos naturais e em tecnologia.
50
A transformação estrutural do comércio internacional deu oportunidades aos países em
desenvolvimento para que melhorem sua inserção na economia internacional, por meio do
aumento na participação de mercado (market share) em setores dinâmicos. Este fato esclarece
o sucesso dos tigres asiáticos na integração mundial e o insucesso dos países da América
Latina.
O sucesso atual das estruturas exportadoras dos países deve estar condizente com o
dinamismo do comércio internacional. Assim, existem produtos que por sua natureza e
especificidade garantem um alto potencial de consumo internacional, e apresentam baixa
volatilidade nos níveis de preços, contribuindo portanto para uma maior estabilidade nas
rendas das economias.
Apesar de atualmente estarem claras as diferenças entre as estruturas exportadoras do
Brasil e da Coréia do Sul, há duas décadas recente não se poderia dizer o mesmo. Em 1980 a
participação brasileira nas exportações mundiais aproximava-se de 1%, razão esta superior à
Coréia. São países de industrialização tardia e que adotaram inicialmente a mesma estratégia
de inserção externa. As experiências de industrialização desses dois países fazem parte de
trajetórias de desenvolvimento econômico, geradoras de uma estrutura econômica e
responsável pela inserção das exportações na dinâmica do comércio internacional (AMSDEN,
1989).
A polarização entre uma modalidade de crescimento liderado pelas exportações e um
crescimento liderado pelo mercado interno, ou, como assim se refere o Banco Mundial, a
existência de uma via “orientada para fora” e uma outra “orientada para dentro”, tal como as
que supostamente teriam predominado na Ásia e na América Latina, revelam interpretações e
mecanismos de causalidade muito distintos e mesmo opostos (MEDEIROS; SERRANO,
1999).
51
As diferenças entre as políticas aplicadas quanto ao grau de concentração na promoção
de exportação ou na substituição de importações em determinado período se devem muito às
características da estrutura produtiva e ao contexto histórico (econômico e também
geopolítico) em que estes países estavam inseridos (MEDEIROS; SERRANO, 1999).
O tipo de indústria prevalecente, o grau de orientação da economia (mercado interno
ou externo) e o papel dos agentes econômicos são, em última instância, alguns dos fatores
relevantes que explicam o dinamismo das exportações das economias do Brasil e da Coréia do
Sul.
Embora sejam agrupados dentro de um conceito que se convencionou chamar de NICs
são economias altamente heterogêneas. Eles variam enormemente em tamanho geográfico e
populacional, na dotação natural de fatores, em seus complexos sociais, políticos e culturais.
Porém existe um ponto de interseção entre eles: o papel central do Estado na condução da
industrialização e desenvolvimento econômico (DICKEN, 1998).
O papel central exercido pelo Estado na industrialização do Brasil e da Coréia do Sul
foi diferente; o grau e a natureza de seu envolvimento variam de um país ao outro. Esses são
exemplos da falta relativa de sucesso das economias da América Latina em comparação com
as economias do Sudeste Asiático. Segundo esta visão, o insucesso das primeiras economias
foi de ter adotado uma orientação voltada para o mercado interno seguido de fortes
intervenções estatais que teriam prejudicado a ação do mercado, enquanto as economias do
Sudeste Asiático teriam adotado uma orientação para fora, e um perfil de intervenção mínimo
que possibilitasse a ação do livre jogo das forças de mercado (BANCO MUNDIAL, 1993).
Outra corrente discute que jogar para baixo o papel do Estado no desenvolvimento
dessas economias é, no mínimo, ignorar a evidência, de que os caminhos para a
industrialização e para a inserção no mercado internacional tiveram mesmo o papel central
exercido pelo Estado.
52
Na América Latina em geral, o papel estatal no aprofundamento da industrialização
substitutiva de importações se deu a partir de 1950 (caso brasileiro) com a abertura da
economia aos investimentos estrangeiros, os quais antes da Segunda Guerra Mundial,
concentraram-se na exportação de recursos naturais. No pós-guerra, atenderam indústrias
avançadas, como automóveis, maquinaria, substâncias químicas, porém voltadas ao mercado
interno.
Os NICs asiáticos seguiram uma sucessão contrastante. O rápido crescimento sul-
coreano começou a partir da segunda metade da década de 1960, devido a um período
estendido de colonização pelo Japão antes de 1945. Somente com a infusão maciça de ajuda
norte-americana nas décadas seguintes e com uma mudança de estratégia (mercado externo) é
que a Coréia começou a se lançar numa inserção dinâmica no comércio internacional.
A política de industrialização a partir daí (1960) passou a ser orientada para o mercado
externo visando gerar divisas externas. As indústrias iniciais na Coréia foram aquelas
caracterizadas como grandes demandadoras de mão-de-obra, como azulejos, têxteis, artigos
de vestuário e eletrônica do consumidor, entre outras. Em fases subseqüentes, ocorreu grande
sucesso das indústrias coreanas nas mais pesadas, como aço, petroquímica, construção naval,
manufatura de veículos (GEREFFI; WYMAN, 1989).
As mudanças domésticas provocadas pela industrialização foram importantes no
processo de inserção externa das economias do Brasil e da Coréia do Sul. A industrialização
por substituição de importações (ISI) iniciou-se em muitos países latino-americanos como
reação à descontinuidade causada pela Primeira Guerra Mundial, depressão econômica dos
anos 30 (caso brasileiro) e Segunda Guerra Mundial, quando os produtos importados não
eram em geral disponíveis, ou não havia moeda estrangeira suficiente para adquiri-los, o que
levou à substituição dos produtos anteriormente importados por produtos produzidos
internamente (COLMAN; NIXSON, 1981).
53
A crise prolongada dos anos de 1930, no entanto, pode ser encarada como o ponto
crítico da ruptura do funcionamento do modelo primário-exportador. A violenta queda na
receita de exportação acarretou de imediato uma diminuição de cerca de 50% na capacidade
para importar da maior parte dos países da América Latina (TAVARES, 1972).
A difusão, porém, da estratégia de ISI deu-se no mundo pós-Segunda Guerra Mundial
(caso da Coréia) estimulada por dificuldades no balanço de pagamentos (substituir
importações era mais “fácil” do que promover exportações), governos de países recém-
tornados independentes procurando estimular o desenvolvimento industrial, impondo tarifas
protecionistas à importação de produtos manufaturados.
Com base numa análise das fases e prioridades da industrialização da América Latina
e Leste Asiático, é possível apontar determinantes das diferenças entre as estruturas
exportadoras, e mais do que isto apontar as causas de uma melhor inserção no mercado
internacional. As estratégias de orientação das economias do Brasil e da Coréia do Sul são a
razão de uma determinada inserção no mercado global.
Nesse sentido, a cronometragem das fases de industrialização do Brasil e da Coréia do
Sul é uma condição prévia para a discussão de uma inserção no comercio internacional. As
estruturas exportadoras de ambos foram resultantes dessas sucessivas fases. Não obstante, a
escolha entre produzir para o mercado interno ou para o externo sofre influência de inúmeros
atores sociais, e o papel das políticas de governo na alocação industrial doméstica dos
recursos visando à relação da economia com as nações internacionais foi crucial, porém os
instrumentos e as conseqüências deste envolvimento variam em cada caso.
A industrialização da América Latina e do Leste Asiático marca o desenvolvimento
nacional no século XX, passando estes NICs de uma estrutura produtiva baseada
essencialmente em recursos naturais (caso brasileiro) a uma economia industrial que
caracterizou um processo de inserção junto à nova divisão internacional do trabalho. Os
54
ganhos provenientes do comércio internacional passaram a ser fruto de uma orientação de
política econômica e da especificidade de produtos exportáveis.
As diversidades entre o Brasil e a Coréia do Sul é o norte para se entender como as
motivações de políticas públicas e as diferenças estruturais foram usadas para transformar
vantagens comparativas em vantagens competitivas. As abundâncias na dotação de fatores
naturais e a relativa escassez de recursos fizeram com que as políticas públicas fossem o
principal elo para uma estratégia de inserção competitiva internacional e as diferenças entre as
opções explicam os diferentes caminhos perseguidos pelas duas economias.
É possível destacar os passos seguidos pelas economias brasileira e sul-coreana rumo
ao processo de inserção internacional. Num primeiro momento a condição da estrutura
econômica em ambos os países é a exportação de commodities primárias, que começou e
acabou um pouco mais cedo no Brasil em relação à Coréia do Sul. Nessa época o único
componente de aumento da demanda agregada da economia era o setor externo, principal
demandante dos produtos agrícolas, minerais, entre outros. Na fase seguinte, o fenômeno da
industrialização tardia ocorre primeiro no Brasil, como descontinuidade da demanda externa
provocada pela crise de 1929. Nessa época, a estrutura exportadora do Brasil se concentrava
em poucos produtos, notadamente o café, e a queda brusca da demanda externa do produto
forçou o Governo brasileiro a redirecionar para o mercado interno os impulsos de aumento da
demanda agregada. Notadamente, o mesmo processo de primeira fase do ISI se deu na Coréia
do Sul, logo depois de declarada sua independência nacional, no período pós-Segunda Guerra
Mundial, pois se considerava mais fácil, nos estágios iniciais da industrialização, estabelecer a
proteção ao mercado interno do que promover exportações, inclusive num período de recessão
da demanda internacional e restabelecimento da economia doméstica.
A busca inicialmente pelo mercado doméstico e não pelo externo se deve em grande
parte aos problemas de estrutura econômica prevalecentes nas duas regiões, como o elevado
55
nível de concorrência em setores que iniciariam as fases da industrialização. Produzir para o
mercado interno no mínimo, significaria, exigências menores quanto à qualidade e uma
garantia de consumo e manutenção das taxas de investimentos para que o processo avançasse.
Na verdade a política de substituição de importações foi mais um mecanismo de
defesa junto às forças do mercado internacional. Nesta primeira fase da substituição de
importações, a produção interna visava substituir bens de consumo não duráveis, taxando as
importações deste mesmo setor, fato presenciado tanto no Brasil como na Coréia, apenas com
diferenças no retardamento desta última.
Na década de 50, enquanto a Coréia do Sul ainda desfrutava de sua fase inicial do ISI,
a economia brasileira entrava na chamada segunda fase da substituição de importações, agora
baseada na produção interna de bens de consumo duráveis, como automóveis, elétrico-
eletrônicos, material de transporte, equipamentos mecânicos, complementando os
investimentos públicos em metalurgia básica e em infra-estrutura, constituindo assim o
primeiro ciclo da indústria pesada. Esta segunda fase da substituição de importação não fez
parte no início da década de 60 da implantação do projeto estatal-industrialista surgido num
contexto de forte “autonomia relativa” do Estado em relação aos processos locais de
acumulação de capital (CANUTO, 1994).
Ao contrário da economia brasileira, a Coréia do Sul, desde o início dos anos 60,
apresentou preocupação com a exploração do mercado externo. Entre os fatores determinantes
para esse impulso em enxergar o mercado internacional como componente estimuladore do
crescimento estão a existência de mão-de-obra qualificada, grandes números de empresários
dispostos a correr riscos (os chaebol) e um contexto internacional favorável.
Em suma, a partir dos anos 60, a ênfase de política econômica adotada pela Coréia do
Sul se caracteriza pela industrialização orientada para exportação numa primeira fase, baseada
na produção e na exportação de manufaturas leves intensivas em mão-de-obra, condizentes
56
com a disponibilidade existente desse fator. Esta primeira fase da promoção de exportação se
estende até 1972. Desde então, a economia sul-coreana dá início à segunda fase de
crescimento liderada pelas exportações, com a conquista de mercado externo por meio da
produção de bens intensivos em capital, e do envolvimento estatal.
A economia brasileira continua seu avanço no processo de substituição de importações
no decorrer da década de 70 completando o ciclo com a terceira fase por meio da
diversificação das exportações, produzindo bens de capital e intermediários necessários ao
processo de produção da indústria doméstica completando o segundo ciclo da indústria
pesada.
Aos impulsos subjacentes para a mudança de postura econômica da Coréia do Sul
estão relacionadas as restrições impostas ao programa de substituição de importações nas suas
fases subseqüentes, haja vista o mercado interno ser insuficiente para gerenciar o processo, as
suas características internas naturais, geográficas, o envolvimento de grandes grupos
empresários.
Segundo Gereffi (1990), os estágios iniciais de industrialização foram comuns entre os
NICs em ambas as regiões. No entanto, a divergência, subseqüente aos caminhos escolhidos
entre ambos, diz respeito aos problemas básicos associados com a perpetuação da substituição
de importações na sua primeira fase. A duração deste modelo de desenvolvimento varia entre
os dois países (Brasil e Coréia do Sul) prevalecendo mais tempo no primeiro, porém a Coréia
começou seu crescimento liderado pelas exportações no momento de extraordinário
dinamismo da economia mundial.
A disjunção entre as estratégias de industrialização do Brasil e da Coréia do Sul é
resultado de condicionantes diferentes de políticas econômicas influenciadas no primeiro caso
(Brasil), pela Comissão de Economistas para a América Latina e por excelentes resultados
auferidos com o modelo logo após a Segunda Guerra Mundial. A idéia de mudança para uma
57
outra estratégia pareceria não representar uma boa opção, já que a abertura econômica só
prejudicaria as indústrias infantes. No caso da Coréia, apesar de ser mais “fácil” partir para
uma substituição de importações logo após sua efetiva independência, os problemas
estruturais presentes na economia sul-coreana pareciam motivar uma busca pelo mercado
externo, nem que para isso fossem motivados golpes militares e a manutenção de uma
repressão que tornasse inviável a criação de sindicatos, pois sob o controle efetivo do Estado
seria mais fácil conduzir a economia.
Segundo Canuto (1994), esse processo se verifica primeiramente no Brasil, já por
volta da década de 50, enquanto na Coréia do Sul, só ocorre a partir de 70, de modo
concentrado, onde a liderança industrial tinha como carro chefe o setor industrial pesado
(metalurgia, química, maquinaria, metal-mecânica, etc.).
Os processos revelam que os avanços nas trajetórias de desenvolvimento industrial e
de inserção externa estavam se reproduzindo nos países em desenvolvimento, com mudanças
significativas nas estruturas de produção presentes até então somente nos países
desenvolvidos, com diferenças no intervalo de tempo necessário para atingir o estágio do
processo. De acordo com Canuto (1994), tal reprodução estaria se dando por meio de uma
repetição das trajetórias das economias avançadas num espaço de tempo menor que na
experiência original, com espaço temporal ainda menor no caso da Coréia do Sul.
A Figura 1 revela não apenas as fases de industrialização do Brasil e da Coréia do Sul,
mas também supõe uma dinâmica nos setores exportadores dela proveniente. O crescimento
industrial dos dois países foi acompanhado, em cada caso, de momentos de acelerada
mudança estrutural intra-indústria, com peso crescente de setores que exigiam processos
tecnológicos menos simples e com volumes de capital e de escalas mínimas bem maiores que
aqueles exigidos na produção de manufaturas leves tradicionais de consumo (CANUTO,
1994).
58
Fases industriais da
Coréia do Sul
Fases industriais do
Brasil
Exportação de
commodity
Figura 1 - Etapas do desenvolvimento industrial do Brasil e da Coréia do Sul. A substituição
de importações versus promoção às exportações.
Fonte: adaptado pelo autor a partir de Gereffi, 1990.
O direcionamento da produção para o exterior, no caso da Coréia do Sul, convergiu
automaticamente sua base industrial para os padrões internacionais de competitividade,
mesmo este país possuindo reduzido mercado interno. A mudança para a orientação
exportadora atual foi um importante elemento de pressão concorrencial e ajustamento externo,
ao passo que o Brasil consolidou uma via de desenvolvimento explicada pela dinâmica
endógena do mercado interno como variável fundamental do crescimento econômico na
reprodução e avanço da substituição de importações como modelo de desenvolvimento
(Figura 1).
1910 - 1945
1953 - 1960
1880 -1930
1930-1955
1ª Fase da
substituição de
importações
1ª fase da promoção
das exportações
(1961-1972)
2ª fase da promoção
das exportações
(1973-presente)
3ª fase da
substituição das
importações (1968-
presente).
2ª fase da
substituição das
importações (1955-
1968)
Dinâmica atual das
exportações da
Coréia
Dinâmica atual das
exportações do
Brasil
59
Outra diferença marcante entre o Brasil e a Coréia do Sul diz respeito ao maior grau de
abertura comercial mensurado em termos de exportação e importação em relação ao produto
industrial, condizente com a mudança de trajetória experimentada a partir da década de 60. A
industrialização pesada da Coréia comprova tal fato, pois se tornou relativamente mais
intensiva em importações e mais dependente de exportações de congêneres de países da
América Latina. Outro fato foi a grande explosão das exportações coreanas em produtos e
atividades não intensivas em mão-de-obra qualificada.
A origem das diferenças, no dinamismo do setor industrial e das estruturas
exportadoras, estaria presente nas divergentes opções diante da disjuntiva ao final da 1ª fase
da industrialização por substituições de importações. O que se verifica é que enquanto o
Brasil enveredava para a segunda fase do ISI no decorrer dos anos cinqüenta, já nos primeiros
anos da década de sessenta a Coréia do Sul se encarregava de formular e implementar
reformas em busca da promoção das exportações (Figura 1).
Os descaminhos da industrialização entre o Brasil e a Coréia do Sul têm na década de
60 seu ponto inicial, mas o sucesso de ambas as políticas adotadas em cada país em direção ao
avanço industrial, passando os dois pelos referidos milagres econômicos, sustentava o
processo em cada um dos casos. No início dos anos oitenta, porém, o Brasil e a Coréia do Sul
são impactados pela recessão mundial, queda na liquidez internacional e aumento dos juros
externos, provocando a elevação do endividamento externo e comprometendo novos
empréstimos internacionais (Figura 1).
Este quadro internacional desfavorável, aliado a mudanças na estrutura produtiva
mundial, marca o inicio de diferentes desempenhos econômicos entre o Brasil e a Coréia do
Sul. Tais diferenças de performance econômica não diferenciam apenas quanto aos
indicadores macroeconômicos, mas parece que agora os efeitos de mudanças na opção de
estratégias industriais passadas começam a surtir implicações diferenciadas.
60
A inserção ao mercado externo de produtos manufaturados com elevado nível de
sofisticação, na eletrônica profissional e de consumo, assim como na indústria
automobilística, consolidando setores relevantes na indústria pesada tradicional, deram à
Coréia do Sul o destaque no ranking internacional, permitindo a estes setores economias de
escala e escopo para competir no mercado externo.
A comparação com o Brasil permite inferir que, apesar de décadas de crescimento
industrial prolongado, não se sustentou tal crescimento na presença de uma crise conjuntural
(década de 80), ou ainda que a falta de políticas industriais não aprofundou a industrialização
da economia brasileira em setores verdadeiramente dinâmicos no comércio internacional.
As diferenças de desempenho econômico do Brasil e da Coréia do Sul a partir dos
anos 80 revelam também mudanças profundas na lógica de produção e reprodução da
economia mundial, e talvez a diferença maior entre essas economias esteja na resposta de
cada modelo de desenvolvimento adotado em conseqüência das transformações internacionais
ocorridas.
61
3 METODOLOGIA
O objetivo deste capítulo é oferecer uma descrição de como se realizará a análise
comparativa dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul na dinâmica do comércio
internacional. As dimensões e as mudanças significativas na composição desse comércio
exigem um tratamento diferenciado quando o que se pretende é auferir comparações entre
setores exportadores de duas economias.
Para alcançar os objetivos propostos de analisar a inserção dos setores exportadores
presentes no item 1.2 deste trabalho, far-se-á uso de indicadores quantitativos adequados e
desenvolvidos por metodologia da Cepal, com intuito de medir em essência a dinâmica de
inserção destacando os pormenores e a heterogeneidade na comparação das duas economias.
3.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo da dinâmica dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul se apoiará
nos métodos comparativo e histórico. A escolha do método comparativo compreende uma
decisão que pretende explicar semelhanças e diferenças entre caminhos opostos de decisão de
estratégias econômicas, ou orientações econômicas. Tem-se o propósito de comparar fatos de
natureza análoga, a fim de se detectar o que é comum a eles.
Este método é importante porque permite explicar um ponto de semelhança e
divergência entre os fatos, ainda que sob condições adversas como: distâncias geográficas,
distinções culturais, políticas e econômicas.
Além do método comparativo, este projeto se baseará no histórico, pretendendo
compreender como os fatos e acontecimentos do passado influenciam a sociedade
contemporânea, segundo paradigmas e categorias políticas, econômicas, culturais, entre outras
(FACHIN,2003).
62
3.2 ÁREA DE ESTUDO
A análise do dinamismo das exportações do Brasil e da Coréia do Sul tem a finalidade
principal, na teoria econômica, de revelar a posição competitiva de seus setores exportadores
a partir de suas estratégias de inserção no comércio internacional. A comparação do
dinamismo externo desses países é proposital, pois adotaram a substituição de importações no
início de suas industrializações, são países de industrialização tardia conhecidos como os
novos países industrializados e o setor externo sempre foi um componente importante da
demanda agregada.
A estrutura das exportações do Brasil e da Coréia do Sul será analisada a partir da
matriz de competitividade e especialização, destacando a mudança na estrutura das
exportações de cada país, as variações na participação de mercado de um setor ou grupo de
setores e as modificações na importância das importações mundiais. Portanto, a combinação
das mudanças na estrutura de comércio desses países, com as modificações do padrão do
comércio internacional, determina em grande medida os modelos de comércio e a
competitividade.
Outro componente da análise em que os resultados foram interpretados diz respeito ao
posicionamento do Brasil e da Coréia do Sul nos mercados mundiais a partir de quatro
conceitos de setores que serão definidos no capítulo sobre a metodologia e que compõem a
estrutura exportadora desses países: setores ótimos; oportunidades perdidas; setores em
declínio e setores em retrocesso. As exportações desses países foram direcionadas ao mercado
importador descrito no Quadro 1, a seguir, conhecidos como países industrializados.
As exportações do Brasil e da Coréia do Sul foram destinadas a esse grupo de 24
países, que compõem o mercado importador mundial e representam as mudanças na estrutura
de demanda internacional. A análise do dinamismo do Brasil e da Coréia do Sul se fará com
63
base no crescimento da demanda internacional para aqueles setores mais competitivos assim
como os ganhos e perdas de mercado no período analisado para esses dois países.
Quadro 1 – Descrição do mercado importador para as exportações do Brasil e da Coréia do
Sul no período de 1985 a 2000.
Mercado importador (países industrializados)
Europa Ocidental América do Norte
Alemanha; Islândia; Canadá
Áustria; Itália; Estados Unidos
Bélgica e Luxemburgo; Noruega;
Dinamarca; Países Baixos;
Outros países industrializados
Espanha; Portugal; Austrália
Finlândia; Reino Unido; Israel
França; Suécia; Japão
Grécia; Suíça; Nova Zelândia
Irlanda; Mônaco;
Fonte: TradeCAN, 2002.
Para perceber melhor o dinamismo setorial das exportações de cada país, a análise se
dividiu em três períodos, interpretando dados mais agregados a um dígito correspondente à
seção do Standard International Trade Classification (SITC) e os dados com maior nível de
desagregação a quatro dígitos correlativos ao subgrupo do SITC. Os períodos foram:
1985/1990 antes da abertura da economia brasileira; o período pós-abertura brasileira e início
do Plano Real 1990/1995 e por último 1995/2000, caracterizando a vigência do atual Plano
Real.
A análise da situação de competitividade é sensível aos períodos de tempo e aos níveis
de agregação setorial. Nesse sentido, as tendências de longo prazo identificadas foram
interpretadas a partir da sua base de dados especificados. As mudanças estruturais nas
exportações do Brasil e da Coréia do Sul no período de 1985 a 2000 revelam trajetórias de
inserção e políticas de promoção diferentes e mesmo opostas no comércio internacional.
As mudanças estruturais no comércio internacional nos últimos quinze anos têm
reforçado uma diferenciação no quadro de inserção externa do Brasil e da Coréia do Sul. As
experiências recentes de desenvolvimento desses países, marcadamente diferenciadas quanto
64
as suas políticas de industrialização, permitem perceber esta evidência e, nesse sentido, países
em desenvolvimento que querem se beneficiar das oportunidades apresentadas pela
transformação do mercado internacional têm que estabelecer estratégias governamentais que
contemplem tanto o esforço de desenvolvimento tecnológico interno como políticas que
busquem maximizar a transferência de tecnologia a partir das diversas modalidades de
vinculação destes países com as empresas transnacionais.
Isto significa dizer que as modificações no âmbito estrutural do comércio internacional
operam modificações na demanda e oferta dos países que o integram e identificam as
fragilidades pelas quais esses países se inserem nesse sistema. As mudanças naturais das
forças do livre mercado internacional são insuficientes para retirar da inércia as empresas
domésticas de países em desenvolvimento como Brasil e Coréia, pela presença no mercado
das assimetrias.
Segundo a interpretação alternativa, e a saída desta inércia de uma mudança da
inconsistência de estratégias de industrialização (como a substituição de importações) que se
mostra fragilizada a partir de alterações estruturais na década de oitenta, se dariam por meio
da intervenção estatal para corrigir estas falhas de mercado, pertencentes ao próprio sistema
capitalista de produção, e conduzir uma política industrial a setores com demanda em forte
expansão no comércio internacional.
3.3 FONTE DOS DADOS
Com o propósito de contribuir para a análise do dinamismo internacional mediante um
indicador que enfoque o critério de participação de mercado, a Cepal conta com um extenso
banco de dados estatísticos de comércio exterior a partir de 1977 para 89 países e 20
agrupações regionais que estão organizadas segundo o SITC.
65
A principal base de informações a ser utilizada e operacionalizada se fundamenta no
Banco de Dados das Nações Unidas para o Comércio (COMTRADE) e na classificação dos
produtos exportados em 4 categorias, de acordo com a evolução da demanda internacional no
período de 1985 a 2000. Será utilizada a classificação padrão do comércio internacional,
estabelecendo uma análise em três períodos de tempo para perceber melhor a dinâmica das
exportações; a desagregação dos setores será de um e quatro dígitos, procurando trabalhar
com dados extremamente agregados, buscando identificar especificidades das estruturas
produtivas, e o que é comum a eles.
Os dados brutos que formam o COMTRADE são valores em dólares correntes das
importações anuais, por produto e país de origem, e compreendem 90% do comércio
internacional. Os dados originais do COMTRADE, antes de entrarem na base de dados do
TradeCAN, se processam de duas formas. Primeiro se calculam as agrupações regionais. O
TradeCAN oferece duas agregações amplas: as importações do mundo industrializado e as
importações do mundo em vias de desenvolvimento, sendo que cada uma destas se subdivide
em três grupos de países.
A segunda forma pelo qual os dados se processam antes de entrarem no TradeCAN é o
cálculo de médias móveis de três anos. Somente o último ano (atualmente o 2000), da série de
dados, é um promédio de dois anos. Todos os anos, exceto o 2000, se referem ao ano central
de uma série de três. Assim, 1990 é o promédio anual das importações do período 1989-1991.
A vantagem de trabalhar com promédios móveis de três anos, em substituição aos
eventuais dados anuais, é que evitam as flutuações cíclicas e se enfatizam as mudanças
estruturais. Nesse sentido, o TradeCAN é uma base de dados e um programa analítico que
facilita a análise das tendências estruturais de longo prazo, na competitividade de curto prazo.
66
3.3.1 Ajuste dos dados
Os valores e quantidades das exportações do Brasil e da Coréia do Sul compreendem o
período de 1985 a 2000, permitindo uma visão multidimensional dos dados a fim de entender
o processo de inserção externa desses países. As estruturas exportadoras são classificadas por
meio de códigos usando-se vários sistemas numéricos de dígitos. Quanto maior for a escala de
dígitos, maior também será o grau de especificação do produto. Nesse sentido, um ou dois
números do dígito representam dados extremamente agregados; estes esquemas de códigos
são revisados ocasionalmente e permitem inferir melhores conclusões com maior nível de
especificidades.
1. O Sistema Harmonized (SH), sistema harmonizado de designação e de codificação
de mercadorias, é um método internacional de classificação de mercadorias, baseado em uma
estrutura de códigos e respectivas descrições.
Este sistema foi criado para promover o desenvolvimento do comércio internacional,
assim como aprimorar a coleta, a comparação e a análise das estatísticas, particularmente as
do comércio exterior. Além disso, o SH facilita as negociações comerciais internacionais, a
elaboração das tarifas de fretes e das estatísticas relativas aos diferentes meios de transporte
de mercadorias e de outras informações utilizadas pelos diversos intervenientes no comércio
internacional.
O Sistema Harmonized entrou em vigor no período de janeiro de 1988, mediante o
convênio internacional do Sistema Harmonizado de Designação e Codificação de
Mercadorias. Este convênio estabelece que por SH deverá entender-se “a nomenclatura que
compreende as partidas, subpartidas e os códigos numéricos correspondentes, as notas de
seções, de capítulos e subpartidas, assim como as regras gerais para interpretação do Sistema
Harmonizado”.
67
A composição dos códigos do SH, formada por seis dígitos, permite que sejam
atendidas as especificidades dos produtos, tais como origem, matéria constitutiva e aplicação,
em um ordenamento numérico lógico crescente e de acordo com o nível de sofisticação das
mercadorias.
2. O Standard International Trade Classification (SITC) foi baseado na Liga das
Nações da lista mínima de produtos para estatística do comércio internacional publicada em
1938. O conselho econômico e social da ONU incitou suas nações-membros a usarem o SITC
como padrão para as estatísticas de comércio.
Em 1950 as Nações Unidas modificaram esta classificação com intuito de ajudar a
equiparar a forma em que se levaram a cabo as consolidações das estatísticas do comércio
exterior. O objetivo maior era estabelecer comparações, pois o importante incremento de
transações de mercadorias que se estava produzindo na época pedia uma classificação mais
adequada. Desde então o SITC foi revisado diversas vezes.
A primeira revisão, Rev. 1 do SITC, foi publicada em 1960, a segunda, Rev. 2 do
SITC, foi publicada em 1975, e a terceira Rev. 3 do SITC, em 1985, esta, aliás, é considerada
o nível de agregação mais utilizado na análise do comércio internacional, uma vez que o
Conselho Econômico e Social e seus membros e adotaram a revisão mais nova como padrão
para as estatísticas de comércio.
A estrutura geral do Sistema Padrão do Comércio Internacional (SITC) se classifica da
seguinte forma: seção; divisão; grupo e subgrupo. As seções estão constituídas por apenas um
dígito, a exemplo da seção 1, que corresponde a bebidas e tabaco. As divisões apresentam
dois dígitos na sua constituição. Os dígitos 11, por exemplo, correspondem a tabaco,
identificado um maior grau de especificação do produto.
Os grupos apresentam-se constituídos por três dígitos e com maiores graus de
especificação em relação à seção e divisão. Os códigos 111, por exemplo, correspondem a
68
bebidas não alcoólicas. Os subgrupos são constituídos por quatro dígitos e dessa forma
apresentam um maior grau de especificação dos produtos, a exemplo da codificação 1121, que
corresponde a vinhos de uvas frescas. A classificação padrão do comércio internacional
consta atualmente de 10 seções, 63 divisões, 233 grupos e 786 subgrupos, de acordo com o
Quadro 2, a seguir.
Quadro 2 - Classificação do padrão do comércio internacional dividida em dez seções,
organizadas a um dígito (agregado)
HEADING DESCRIÇÃO
0 comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato
1 bebidas e tabaco
2 materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis
3 combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais relacionados
4 animais, óleos vegetais e gorduras.
5 substâncias químicas e produtos relacionados
6 bens fabricados, classificados principalmente por material
7 maquinarias e equipamentos de transportes
8 artigos fabricados múltiplos
9 artigos e transações não classificadas em outro lugar
Fonte : Elaborado pelo autor sobre a base do programa computacional Análise da Competitividade dos países
(TradeCAN, 2002).
Neste trabalho, as análises se processarão em nível de 1 e 4 dígitos, ou seja,
procurando estabelecer comparações entre os setores exportadores de forma mais agregada
possível e também com o maior grau de especificação dos produtos.
3.4 METODOLOGIA DE ANÁLISE
Com o propósito de contribuir para a análise da competitividade internacional
mediante indicadores econômicos que identifiquem a participação de cada país no cenário
69
internacional, a Cepal elaborou uma metodologia própria denominada Análise da
Competitividade dos países (CAN).
O objetivo do CAN é ofertar elementos para análise do dinamismo internacional das
exportações mundiais em mercados selecionados, oferecendo um enfoque global detalhado
por setores e produtos específicos no comércio mundial. A situação competitiva de um país
diz respeito a setores exportadores nos quais ele ganha ou perde participação de mercado e à
sua capacidade de detectar e especializar-se em setores com demanda internacional crescente
(COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2002).
A metodologia do CAN se baseia na evolução do nível de penetração e participação
nos mercados dos países no âmbito do comércio específico (demanda externa). Nesse sentido
a competitividade se vincula à participação de mercado de um país num setor específico do
comércio mundial. A competitividade global do país descreve sua participação total no
comércio internacional e é vista como o produto da competitividade e o crescimento de todos
os setores em seu conjunto (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O
CARIBE, 2002).
Segundo Mandeng (1991), as oportunidades de mercado surgem de acordo com a
dependem evidentemente na forma pela qual um país pode atender a ele. A qualidade de sua
inserção externa e os ganhos dela provenientes dependem, em última instância, de como o
país acata as transformações dinâmicas nas estruturas de mercado.
Numa perspectiva de médio e longo prazo, a competitividade consiste na capacidade
de um país para sustentar e expandir sua participação nos mercados internacionais, e elevar
simultaneamente o nível de vida da sua população. Isto exige o incremento da produtividade e
incorporação do progresso técnico (FAJNZYLBER, 1991).
Esta metodologia mede a participação global de um país no comércio internacional
visando identificar a evolução de mercado como função de fatores estruturais e competitivos,
70
combinando-se elementos de análise da participação de mercado. A medição da
competitividade por meio de indicadores de participação constante de mercado e grau de
evolução compõem o conceito CAN desenvolvido pela Cepal com uma ampla base de dados e
com componentes metodológicos e analíticos.
A medição do dinamismo permite analisar tanto o mercado de importações como o de
exportações em várias demandas internacionais, (OCDE, Norte-americano, Europa Ocidental,
Japão e América Latina) em relação às suas importações de bens. Como se pode apreciar, far-
se-á uso do mercado importador dos países industrializados, permitindo maior objetividade da
análise comparativa, pois está intrínseca a hipótese de serem estes mercados os maiores
demandantes dos produtos brasileiros e sul-coreanos (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A
AMÉRICA LATINA E O CARIBE, 2002).
A análise da Cepal utiliza três elementos cruciais para determinar a dinâmica da
posição competitiva das exportações de um país ou região, a saber: a mudança na estrutura de
exportações de um país; a mudança na participação de mercado de um determinado setor (ou
grupo de setores) de um país em relação a um mercado importador específico do mesmo setor
ou grupo de setores e a mudança na importância das importações mundiais do mesmo setor
em relação ao mercado internacional considerado.
Estima-se que a combinação das mudanças nas estruturas comerciais de um país com
as modificações do padrão de mercado internacional determinam em grande medida os
modelos de comércio e competitividade. O CAN descreve como as nações enfocam a
competitividade com relação às mudanças estruturais do mercado e se apresentam
comprovações de que, em proporção importante, as modalidades de competitividade e
especialização estão determinadas pelo crescimento do mercado (MANDENG, 1991)
71
3.4.1 Matriz de competitividade
A matriz de competitividade como apresentada pela Cepal, no CAN, é uma
representação da possibilidade de dinamismo das exportações de um país que surge ao se
relacionar a dinâmica da estrutura exportadora desse país com a do comércio internacional,
revelando os resultados através de quatro quadrantes apontando a combinação específica da
posição competitiva de um país (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA
E O CARIBE, 2002).
A metodologia da Cepal permite, ainda, a classificação das estruturas exportadoras dos
países num grupo de quatro indicadores, de acordo com oferta e demanda. Caso o país esteja
ganhando participação num mercado de um produto cuja demanda é crescente, este setor será
considerado “ótimo”. Os setores em “declínio” dizem respeito ao ganho de mercado em
relação a produtos com demanda decrescente. A classificação em oportunidades perdidas
caracteriza a perda de participação em mercado de produtos com demanda internacional
crescente e, por último, os setores em retrocesso ocorrem quando um país perde participação
em determinados produtos cuja demanda internacional é decrescente.
As exportações do país são classificadas em quatro setores e o seu dinamismo surge da
análise da estrutura exportadora nacional (país ou região) com o comércio internacional.
Compreendem-se quatro situações distintas, determinadas pela participação de mercado
(contribuição ou especialização) e pela contribuição do setor ao total das importações do
mercado considerado.
A matriz de competitividade avalia a dinâmica exportadora correspondente a uma
inserção num determinado instante de tempo, captando alterações de curto prazo que
explicam as tendências do setor exportador do país. As mudanças na composição dos setores
indicam ganhos ou perdas de mercados para produtos dinâmicos ou estagnados. Essas
alterações ocorrem em conjunto com as mudanças internacionais dos mercados (demanda e
oferta) e explicam a competitividade setorial.
72
A possibilidade de dinamismo das exportações dos países está expressa de acordo com
a classificação anterior e a matriz resume sua posição em determinado ponto no tempo.
Assim, um país melhora sua inserção externa quando concentra suas exportações em setores
com elevada demanda externa e a perpetuação da competitividade nesses setores dependerá
da manutenção ou aumento dos ganhos de mercados. Na Figura 2, a seguir, faz-se um resumo
da matriz de competitividade que irá ser trabalhada para Brasil e Coréia do Sul.
SETORES EM DECLÍNIO
SETORES ÓTIMOS
SETORES EM
RETROCESSO
OPORTUNIDADES
PERDIDAS
Setores estagnados Setores dinâmicos
Porcentagem das importações
Setores não competitivos
Contribuição do setor
Perdas de mercado Ganhos de mercado
Setores competitivos
Figura 2 - Matriz de competitividade
Fonte: Adaptado a partir de metodologia da CEPAL, Santiago do Chile 1995.
Cada quadrante da matriz de competitividade mostra uma combinação específica de
dinamismo do comércio exterior do país analisado e a atração do mercado internacional. Os
parâmetros do eixo horizontal se relacionam com o mercado internacional e configuram dois
grupos distintos, segundo a evolução da importância setorial nas importações totais do
mercado internacional considerado. Trabalhar-se-á com a demanda dos países
industrializados. O eixo horizontal também mostra a evolução da participação por grupo.
Definem-se, segundo a Cepal, como dinâmicos os setores cuja importância relativa no total
73
importado pelo mercado em questão se eleva ao longo do período e os não dinâmicos são os
setores cuja importância diminui no total das importações do mercado adotado.
No eixo vertical, se relaciona-se o dinamismo competitivo do país, ou seja, a evolução
de sua participação. Com os indicadores, contribuição do setor e especialização. Caso se
considere o parâmetro participação de mercado, os setores nos quais o país ganha market-
share são consideradas competitivos e aqueles em que o país perde participação se classificam
como não competitivos.
3.4.1.1 Indicadores da matriz de competitividade
A análise do dinamismo dos setores exportadores do Brasil e da Coréia do Sul no
mercado internacional se fará por meio de indicadores econômicos. Os seis indicadores
básicos do TradeCAN que permitem as análises são:
1. Participação global de mercado: representa a participação de um país no total das
importações dos países demandantes;
2. Participação de mercado: corresponde à participação de um país num produto
determinado nas importações de mercados selecionados;
3. Contribuição: mede a contribuição de um produto nas exportações totais de um
país;
4. Contribuição do setor: mede a contribuição de um produto nas importações totais
dos mercados selecionados;
5. Especialização: compara a participação com respeito à contribuição do setor;
equivale ao conceito de vantagem comparativa revelada; em outras palavras, representa a
evolução da importância relativa de um grupo de produtos para um país na evolução da
estrutura das importações dos países e mercados selecionados.
6. Participação relativa: compara a participação de mercado de um país em relação a
outro.
74
Os indicadores se obtêm da seguinte maneira:
Participação global de mercado: Mj / M * 100;
Participação de mercado: Mij / Mi * 100;
Contribuição: Mij / Mj * 100 Contribuição do setor: Mi / Mj * 100;
Especialização: (iii) / (iv) = (Mij * M) / (Mj * Mi);
Participação relativa: Mij / Mir.
Sendo:
M: importações totais dos mercados selecionados;
Mi: importações de mercados selecionados no setor i;
Mij: importações de mercados selecionados no setor i procedentes do país j;
Mir: importações de mercados selecionados do setor i procedentes do país rival (r);
Mj: importações de mercados selecionados procedentes do país j.
Estes indicadores constituem uma representação das diferentes possibilidades de
dinamismo competitivo de um país, quando se relaciona o dinamismo da estrutura de
exportações à dinâmica do comércio internacional.
A metodologia desenvolvida pela Cepal permite verificar como a dinâmica das
exportações está condicionada a duas forças de mercado: a oferta (estrutura exportadora do
país e a sua capacidade de atender a quantidades e qualidades exigidas) e a demanda (mercado
importador cada vez mais exigente e sensível a variações de renda). O aumento da
participação de mercado de um país no comércio internacional é uma razão direta da sua
própria pauta de exportação em relação à crescente mudança do consumo mundial.
3.4.1.2 Conceitualização setorial da matriz de competitividade
A conceitualização dos setores descrita na seção 4.2 deste capítulo caracteriza a
predominância da estrutura exportadora de um determinado país, ou seja, a classificação é
capaz de dizer em que se concentra a pauta de exportação do país, a partir dos indicadores
75
descritos acima. A Tabela 1, a seguir, faz um pequeno resumo dos quatro setores já
apresentados em seção anterior, caracterizados a partir de duas variáveis que não deixam
dúvidas quanto à classificação de cada um deles.
Tabela 1- Classificação setorial da estrutura exportadora
Setores / variáveis Market-share Demanda
Setores Ótimos +
+
Oportunidades perdidas - +
Setores em retrocesso + -
Setores em declínio - -
Fonte: elaborado pelo autor a partir da CEPAL 2003.
Para um melhor entendimento, os sinais “+” e “–” foram usados no caso da variável
market-share para descrever ganhos e perdas de mercado, respectivamente. Para a variável
“demanda” os sinais “+” e “–” significam aumento e diminuição do consumo de determinado
produto ou setor ao longo do período estudado, de acordo com os indicadores acima.
A conceitualização setorial da matriz de competitividade permite que se classifique a
estrutura exportadora de países selecionados e se estabeleçam comparações ao longo do
tempo, pois o dinamismo do setor externo destas economias ou a sua participação global no
comércio internacional é resultado da concentração da pauta de exportação em setores
dinâmicos ou não-dinâmicos. A metodologia cepalina entende como dinâmicos aqueles
setores cuja importância relativa no total importado pelos mercados selecionados se eleva ao
longo do tempo, traçando uma tendência ascendente de aumento da demanda externa.
Os setores caracterizados como não-dinâmicos ou também chamados de estagnados
têm sua importância diminuída no comércio internacional, traçando uma trajetória
descendente da demanda externa, e países que aumentam ou diminuem seu market-share
nesses segmentos caracterizam suas estruturas exportadoras como setores em declínio e
retrocesso, respectivamente.
76
Países que aumentam ou diminuem sua participação de mercado em setores dinâmicos
permitem a classificação de suas estruturas exportadoras em setores ótimos e oportunidades
perdidas, respectivamente. A combinação destas categorias configura quatro situações em que
se pode concentrar a matriz de exportação dos países.
A classificação setorial advém das características da estrutura exportadora de um país
e de mudanças na demanda internacional ao longo do tempo e mostra uma proporção
importante em que se destaca a pauta de exportação de um país. Pela concentração das
exportações e pelo conhecimento da demanda internacional crescente em determinados
produtos, é possível dizer em quais setores um país concentra suas vendas externas.
As quatro situações distintas (setores ótimos, oportunidades perdidas, setores em
retrocesso e setores em declínio), determinadas pelos indicadores (participação de mercado,
contribuição e especialização) e pela contribuição do setor, estão plotadas na Figura 3, a
seguir.
-1
-0,8
-0,6
-0,4
-0,2
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
Setores Ótimos Oportunidades Perdidas Setores em Rretrocesso Setores em Declínio
Market-share
Demanda
Figura 3 - Classificação dos setores exportadores da matriz de competitividade.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de definições da Cepal, 2004.
As escalas (1 máximo e -1 mínimo) da Figura 3 foram utilizadas como forma de
ilustrar ganhos e perdas, crescimento e diminuição das variáveis, não sendo, portanto, medida
obrigatória para resultados. Na verdade, a Figura 3 define em termos de representação os
77
aspectos conceituais que estão inseridos na classificação dos setores abordados em seção
anterior.
A representação gráfica dos aspectos conceituais da matriz de competitividade diz
respeito ao comportamento entre as variáveis demanda do produto ou setor e o market-share.
Na hipótese de ocorrer ganhos de mercado pelo país exportador em setores com demanda
crescente, tem-se uma combinação positiva para as duas variáveis e a demonstração positiva
no eixo qualifica o setor como ótimo.
Uma inserção competitiva no comércio internacional combina uma maior
concentração das exportações em setores que oferecem demanda ascendente, procurando
diminuir a participação naqueles ditos estagnados (demanda descendente). Por outro lado,
deve-se perseguir uma eliminação das perdas em setores de demanda crescente evitando uma
elevação dos setores (oportunidades perdidas).
Uma elevada concentração nos setores em declínio releva que o país está ganhando
mercado em produtos com demanda estagnada. Quando esta relação das variáveis permanece
ao mesmo tempo em que aumenta a especialização do país nesse setor, o mesmo acontece
com o grau de vulnerabilidade externa do país.
A Figura 3 revela que, quando aumenta a participação de mercado de um país em
relação a um determinado produto ou setor e quando este produto ou setor tem demanda
crescente ao longo do período a ser analisado (no caso deste projeto, 1985 a 2000), considera-
se que este país está ganhando mercado em setores ótimos, com demanda internacional
ascendente.
O contrário também é uma possibilidade. Se os setores ótimos são o norte das políticas
públicas, os setores em retrocesso são os menos desejáveis, pelo baixo dinamismo das
demandas e ainda pela queda de participação do país nesse mercado. Os setores
“oportunidades perdidas” indicam a perda de participação no mercado de um determinado
78
produto ou setor que oferece demanda internacional crescente. Por último, os setores em
declínio são aqueles que apresentam ganhos de mercado em produtos ou setores com
demanda externa decrescente.
3.4.1.3 TradeCAN como instrumento de medição
O TradeCAN é uma ferramenta de análise que teve na sua primeira versão elaborada
em 1991 pela metodologia Cepalina, mais especificamente por Mandeng, cuja aplicação
torna-se pública por meio do desenvolvimento produtivo e empresarial. A última versão do
programa computacional data de 2002, o que não implicou que desde sua criação não tivesse
passado por inúmeras alterações (COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA
E O CARIBE, 2002).
Apesar de mais eficiente em termos de análise econômica que permite auferir os
resultados desta nova versão, o programa apresenta algumas limitações. A principal se refere
ao fato de não explicar os fatores subjacentes, os pormenores, apenas traz a competitividade
detectada e não separa a competitividade calculada sobre as bases sustentáveis em longo
prazo daquela que se alcança de forma espúria. O TradeCAN não explica os efeitos estruturais
e não estruturais da participação total de mercado, pois se deve levar em conta que uma
evolução baseada na participação de mercado permite conhecer a competitividade, mas não
oferece nenhuma explicação sobre ela (MANDENG, 1991).
O modelo supõe que todos os setores considerados de forma individual não possuem
condições objetivas de alterar ou influenciar os preços e a demanda internacional
(importações de mercados selecionados), o que caracteriza uma estrutura atomística
(MANDENG, 1991).
A participação de mercado constitui uma ilustração de resultados ex post fato que
reduz a uma só constante a interação entre fatores distintos empregados no processo de
79
competição. A análise do TradeCAN se dá através da medição da participação global de um
país nas importações de mercados selecionados como função da competitividade setorial e
pela capacidade de adaptação às condições de mercado e inserção externa (MANDENG,
1991).
3.5 ÍNDICE DE HERFINDAHL-HIRSCHMAN (IHH)
A quantificação do poder de mercado exercido pelos setores agregados a um dígito do
SITC no comércio internacional permite identificar aqueles que apresentam as maiores
parcelas de mercado em valores (dólares) na participação da demanda mundial. O dinamismo
internacional dos setores que caracterizarem uma estrutura de comércio concentrada será
parâmetro de comparação e avaliação da estrutura exportadora do Brasil e da Coréia do Sul.
Para estimar o grau de concentração de mercado dos setores agregados do SITC a um
dígito, adota-se o princípio de que a diferenciação na geração de valor incorporado nas
exportações dos setores de (0 a 9) é o principal atributo na distinção de uma estrutura de
demanda concentrada ou não. Para estimar este grau de concentração serão aplicados: a Taxa
de Concentração de Mercado (TCM) e o Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH).
A concentração setorial das exportações mundiais é resultado das mudanças no âmbito
da demanda internacional e de suas condicionantes, e também da ação das chamadas redes
internacionais de produção que transferem por todo o mundo processos e linhas de montagem
buscando aproveitar vantagens comparativas de custos. O fluxo das inversões externas,
principalmente dos investimentos diretos estrangeiros, também qualifica a estrutura
exportadora e contribui em muito para o aumento das exportações mundiais em valor.
O cálculo de concentração de mercado é feito com base na participação relativa dos
setores exportadores mundiais agregados a um dígito do SITC. A taxa de concentração de
mercado (TCM) é dada pela porcentagem de contribuição de cada setor no total exportado
80
pelo comércio internacional em valor, utilizando os três maiores setores do comércio, ou seja,
as três maiores market share.
3.5.1 Ajustamento do índice
A taxa de concentração de mercado é uma ferramenta que quantifica o poder de
mercado concentrado nas mãos de poucas empresas, porém o calculo do índice permite a
diferenciação entre os modelos teóricos de concorrência perfeita, oligopólio, monopólio, e
concorrência monopolista (SANTANA, 2002).
Pretende-se, por meio desse índice, estimar em termos agregados a participação
setorial das exportações mundiais e identificar quais são os setores que apresentam a maior
taxa de participação em valor no total exportado entre o período de 1985 e 2000.
A concentração de mercado inclui os setores agregados a um dígito das seções (0 a 9)
e a participação em valor destes setores no total exportado pelo comércio internacional. A
taxa leva em consideração o número de empresas participantes, adaptadas aqui para as dez
seções ao nível de um dígito do SITC e a contribuição de valor exportado no comércio
internacional.
Adotando-se “N” como o número de setores (0 a 9) e “Q” o valor das exportações
mundiais e ainda que “q
i”
é o valor exportado no setor i (i= 1,2,.....N), tem-se que Q=Σq
i
. Por
conseguinte, como os dados serão tratados no agregado, tem-se que o market-share do setor
i
é dado por:
MS
I
≡≡ (100 x q
i
) / Q
onde se mede a parcela de mercado sobre o valor das exportações mundiais que são atribuídos
ao setor
i
. A parcela de mercado é um indicador que se situa entre 0 MS
i
e que a ΣMS
i
=
100. Nesse sentido, a taxa de concentração de mercado (TCM) é dada por:
81
TCM = MS
=
n
i 1
i,
onde MS
i
se define como a participação em valor da i-ésima seção nas exportações mundiais.
Utiliza-se como critério a soma de market-share das três maiores seções como julgamento de
concentração. As mudanças na estrutura exportadora mundial podem ser avaliadas pelas
alterações na concentração setorial. Como o número de setores é fixado em apenas dez (0 a
9), de acordo com o SITC a um dígito, as mudanças na concentração ocorrem principalmente
via valor exportado, o que alimenta a premissa de que quanto maior o nível tecnológico
disponível em cada seção, maior também será a incorporação de valor exportado e, por
conseguinte, a concentração estrutural.
Quanto maior a participação de mercado de um setor em nível agregado nas
exportações mundiais, maior também será o seu valor exportado em relação aos outros
setores. Nesse sentido, setores que apresentam elevada concentração de mercado são aqueles
que sustentam maiores receitas de exportação e que fazem uso intensivo no processo
produtivo de tecnologia de ponta. De acordo com a teoria tradicional, existe uma forte
associação entre a participação de mercado de uma empresa e a previsão de seus lucros
(BYRNS; STONE, 1996).
Diante da importância entre a participação de mercado e a previsão de lucro das
empresas, criou-se o Índice de Herfindahl-Hirshman (IHH), elevando-se ao quadrado a
participação de mercado das empresas, onde aquelas que apresentassem maior parcela seriam
as mais destacadas. Contudo, coloca-se maior peso nas empresas que apresentarem maior
participação, captando as diferenças ocultadas pela TCM quando estas são empregadas
isoladamente (SANTANA, 2000). Com o IHH, aqueles setores a um dígito que
apresentarem uma TCM elevada terão sua importância destacada, e para que o IHH não
discrimine alta concentração será necessário que os demais setores aumentem o valor
exportado no comércio internacional, uma vez que a inclusão de outros a um dígito não é
permitida pelo SITC. O destaque àqueles setores de maior participação é dado pela seguinte
fórmula:
82
IHH = MS
=
n
i 1
2
i,
em que MS
i
é a participação setorial em valor da i-ésima seção nas exportações mundiais. A
interpretação deste índice leva em conta três situações: o mercado não será considerado
concentrado na hipótese de o valor do IHH se encontrar abaixo de 1.000; o mercado será
altamente concentrado se o valor do INH for superior a 1800 e a concentração será
considerada moderada quando o IHH se situa entre 1.000 e 1.800.
Para a análise do grau de concentração de mercado das exportações mundiais se fará
uso desses dois índices, buscando uma interpretação mais precisa do comércio exportador
mundial, com base em dados agregados.
83
4
MUDANÇAS ESTRUTURAIS NO COMÉRCIO INTERNACIONAL
As transformações estruturais do comércio internacional abriram claras oportunidades
para os países em desenvolvimento, como Brasil e Coréia do Sul, melhorarem suas
integrações dentro da economia mundial por meio de ganhos na participação de mercado em
setores mais dinâmicos, ou seja, aqueles que oferecem fortes variações positivas ao longo do
tempo.
A partir da década de oitenta ocorre o auge da liberalização dos mercados, as políticas
institucionais que haviam apoiado fortes medidas protecionistas foram mostrando suas
fragilidades diante das mudanças estruturais e a nova ótica dos mercados nacionais estava em
aumentar as inversões de empresas transnacionais, criando um ambiente favorável que
motivasse novas alocações de recursos.
As estratégias dos países em desenvolvimento como resposta a estas mudanças se
afastava dos pressupostos neoclássicos na medida em que estes tinham o Estado como agente
indutor e interventor na alocação de recursos e formulação de políticas públicas para o
desenvolvimento industrial. As intervenções estatais foram cruciais para determinar a posição
competitiva do Brasil e da Coréia do Sul, porque o livre jogo das forças de mercado
caracterizava um ambiente internacional assimétrico com presença de falhas de mercado.
A incorporação da automação, cibernética, robótica e informática nos processos de
produção diminuiu consideravelmente os custos unitários do produto e representou um passo
importante na competição internacional, pois a permanência numa posição altamente
competitiva exigiria um grau elevado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e
ciência e tecnologia. O avanço do pacote tecnológico representa, assim, uma mudança na
composição dos produtos ofertados no mercado internacional bem como a formação de novos
arranjos produtivos com o objetivo de manter-se no mercado. As exportações mundiais
ganharam em valor e os países que seguem dependendo de produtos concentrados em
84
recursos naturais estão na contramão do comércio e assim permanecerão, caso os princípios
de alocação seletiva do estado interventor não entre em ação.
As tecnologias adotadas pelos novos processos produtivos caracterizam uma oferta
diferenciada pelas variáveis na elasticidade-renda, inovação dos produtos e evolução das
pautas de consumo, assim como determinam e condicionam as variações na posição
competitiva dos países. Estas variações também explicam por que alguns produtos são mais
dinâmicos que outros nos mercados mundiais.
A demanda mundial evoluiu no sentido de exercer alto coeficiente de resposta a
variações unitárias na renda. Assim, o aumento da renda doméstica nacional motiva as
importações de produtos com elevado conteúdo tecnológico. Esta demanda altamente elástica
determina uma expansão mais forte de alguns produtos em detrimento de outros no comércio
internacional.
Produtos que incorporam em suas composições elevado grau de sofisticação
tecnológica estão menos sujeitos a flutuações de preços e a repercussões adversas de medida
antidumping com normas aplicadas a eles. Isto significa que o número crescente de barreiras
não alfandegárias que incidem contra as manufaturas pouco complexas tem permitido um
melhor acesso de produtos de alta tecnologia determinado seu dinamismo internacional.
Outra influência decisiva na expansão dos produtos no comércio internacional tem
sido a globalização dos processos produtivos, que, através das empresas transacionais e
acordos internacionais de participação na produção, tem promovido uma nova pauta de
comércio em que os bens são elaborados em diferentes partes do mundo antes de chegar ao
consumidor final.
Os acordos internacionais de produção revelam uma predisposição de medidas de
políticas públicas nacionais para atrair e mobilizar as intenções com grandes grupos
internacionais. O papel do Estado de acordo, com a visão alternativa, seria selecionar os
85
setores-chave da economia doméstica e promover uma inserção nas chamadas redes
internacionais de produção.
Países que, por meio de políticas industriais seletivas conseguiram se especializar
dentro das redes de produção globalizadas, aumentaram a margem de valor adicionado de
suas exportações, assim como se enquadraram num mercado que representa 30% das
exportações mundiais.
A entrada em linhas de produção com alto potencial de crescimento da demanda
mundial, alto valor adicionado e rápido aumento da produtividade acresceu a possibilidade de
conseguir os retornos crescentes que advêm da maior participação em grandes mercados, o
que faz com que o comércio tenha um papel mais relevante no crescimento econômico.
Por outro lado, a concentração das exportações em bens com lento aumento da
demanda ou contínuo excesso de oferta coloca em risco o processo de crescimento pela perda
de termos de troca e desperdícios de recursos disponíveis. A corrente estruturalista argumenta
que a forma peculiar com que os países em desenvolvimento se relacionam com países
desenvolvidos na troca de bens primários por produtos industrializados cria uma deterioração
das relações de troca no longo prazo em favor dos países que exportam produtos não-
industrializados.
4.1 A DEMANDA DO MERCADO MUNDIAL
Uma importante característica do comércio internacional tem sido os fortes
crescimentos em dólares correntes do valor das importações do mercado mundial, aqui
compreendidos como os países industrializados. Entre 1985 e 2000 as importações de bens
finais provenientes dos países industrializados cresceram a uma taxa média anual de 18,4%.
Uma importante característica dessa tendência é que esteve acompanhada por uma rápida
transformação da composição das exportações de produtos básicos a manufaturas,
86
especialmente a partir de princípios dos anos oitenta, quando fica mais caracterizada uma
maior integração ao sistema de comércio mundial.
As exportações mundiais para países industrializados cresceram o equivalente a 294,4
% na comparação entre o valor no início do período 1985 e no final do período 2000, ou o
equivalente a 2,94 quase três vezes o valor de 1985 (Tabela 2). A partir dos anos oitenta a
política comercial da maioria dos países em desenvolvimento tem sido dominada pela crença
de que uma maior integração no sistema internacional de comércio cria condição mais
favorável para seu crescimento e aliada a políticas industriais em setores com forte expansão
da demanda permitiria pôr um fim nas diferenças de inserção em relação aos países
industrializados.
Tabela 2 - Crescimento da demanda mundial dos países industrializados em milhões de
dólares (US$ 1.000) e taxa percentual de crescimento.
Países
industrializados Ano inicial Ano final
Importações
do ano inicial
Importações
do ano final
Crescimento % das
importações
Todos os países 1985 2000 1403953856 4133314413 294,4052895
Todos os países 1985 1990 1403953856 2459969256 175,2172442
Todos os países 1990 1995 2459969256 3271815838 133,002306
Todos os países 1995 2000 3271815838 4133314413 126,3309006
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCAN, 2002.
A dinâmica de crescimento da demanda mundial se identifica com a variação de
crescimento do valor importado em três períodos de tempo. Observa-se que o crescimento
percentual nos três períodos foi acima de 100%, de acordo com os resultados da Tabela 2. O
crescimento considerado nos três períodos se deve a um aumento da demanda por produtos de
alta tecnologia correspondentes às seções 9, 8 e 7.
Estes setores de forte conteúdo tecnológico são bastante elásticos à renda e são
negociados a preços elevados, o que contribuiu para o aumento da receita de exportação. As
principais mudanças estruturais das importações mundiais acusam uma diminuição da
demanda por recursos naturais com a introdução dos sintéticos na produção e o aumento da
volatilidade de preços externos das commodities.
87
Os setores, em termos agregados, que mais contribuíram para o crescimento da
demanda mundial foram aqueles das seções 6, 7 e 8 que, em 1985, respondiam por 56% da
demanda externa e, em 2000, cresceram para 68,47%. Os setores que apresentam uso
intensivo em recursos naturais correspondentes às seções 0, 1, 2, 3 e 4 somavam, em 1985,
uma participação de 26,14% da demanda mundial, contribuição que reduziu para 9,42% em
2000, indicando que a introdução na produção dos sintéticos contribuiu para uma redução na
sua demanda.
O crescimento da demanda mundial vem provocando grandes mudanças estruturais no
comércio internacional, as quais têm se apresentado de um modo não uniforme. As variações
na taxa de crescimento da demanda por determinados produtos é conseqüência desta
tendência de longo prazo, que tem permitido variações sensivelmente distintas segundo os
diferentes produtos, revelando que alguns têm maior estabilidade e previsibilidade no tempo
que outros, por meio da variável demanda.
Tanto as tendências de longo prazo como as variações em curto prazo nas taxas de
crescimento das exportações mundiais são conseqüência de modificações dos preços e do
volume de exportações. Existe entre elas uma determinada relação, que leva em conta fatores
determinantes da demanda mundial de um produto ou grupo setorial, sendo que o excesso da
oferta nos mercados mundiais tende a produzir uma diminuição dos preços externos e a
provável diminuição dos ingressos das exportações. Sabe-se que este fenômeno é
característico dos produtos básicos, porque, no caso da maioria das manufaturas, a escassez da
demanda quase sempre sofre um ajustamento relativamente rápido da oferta, impedindo as
quedas bruscas dos preços, bloqueando, inclusive, ações de especuladores.
Um importante resultado na tabela 2 acima é que identifica um crescimento contínuo
da demanda mundial dos países industrializados e, como os dados são em valores (dólares
correntes), é possível que este significativo crescimento tenha sido devido à incorporação das
88
vendas externas de produtos mais dinâmicos nas últimas décadas (com alto valor adicionado).
Nas seções seguintes, os dados apontarão uma maior precisão desta hipótese, quando se
analisa o produto mais importante e mais dinâmico do comércio internacional.
As conclusões do World Investiment Report (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 2002) revelam, segundo estatísticas da Conferência das Nações Unidas para o
Comércio e o Desenvolvimento, que houve uma diminuição da participação das manufaturas
na exportação dos países desenvolvidos, porém a parte do valor adicionado manufatureiro
mundial que a eles corresponde tem aumentado consideravelmente a partir da década de
oitenta. Em conseqüência, o aumento da cota das exportações de manufaturas mundiais
correspondentes aos países em desenvolvimento não tem sido acompanhado
concomitantemente da parte de valor adicionado das manufaturas mundiais que a eles
correspondem.
Uma participação mais dinâmica no comércio internacional por parte dos países em
desenvolvimento depende não apenas de uma mudança na estrutura exportadora, (ou seja,
deixar de produzir produtos primários) mas de considerar o mercado e suas variáveis que
repercutem nas variações de preços, de produtividade, nas elasticidades, nas mudanças quanto
ao pacote tecnológico e outras tendências mundiais da produção.
A expansão da demanda mundial está sensivelmente relacionada com o crescimento
do produto e da renda mundial, porém esta relação não é linear nem uniforme para todos os
produtos. Assim, o crescimento do PIB mundial provoca uma demanda para todos os
produtos, porém as motivações de gostos, preferências, qualidade, entre outros atributos,
agem no sentido de se adquirir uma parcela menor de produtos agrícolas e alimentos em
detrimento de uma parcela maior do consumo direcionada a produtos industrializados.
Não é nova a observação de que a expansão da demanda mundial está diretamente
associado ao crescimento do PIB dos países industrializados, porém as mudanças estruturais
89
nos processos de produção e produtivo têm movido e direcionado as políticas industriais dos
países em desenvolvimento para aderirem a tal tecnologia porque a dinâmica do comércio
internacional e a busca de uma melhor inserção dependem de uma mudança na estrutura
exportadora nacional. Dessa forma, muitos países de industrialização tardia perseguiram esse
objetivo e têm conseguido participar de uma parcela maior da demanda mundial.
4.1.1 As commodities mais importantes no mercado internacional
A análise das commodities mais importantes no mercado internacional considera como
variável determinante a porcentagem das exportações no final do período, por exemplo: em
2000 quais foram os produtos mais consumidos no mundo em valores? Isto significa uma
fração percentual do valor exportado de um determinado produto x pelas importações totais
do mercado importador (países industrializados) no ano final.
Dessa forma, como critério de avaliação se analisam os vinte produtos mais
importantes no mundo, aqueles que apresentam elevados percentuais de consumo do total das
importações mundiais. As cotas de mercado desses produtos são fundamentais para posicionar
a demanda mundial num determinado ponto do tempo, ou no início do período ou no final
dele.
Esses produtos mais importantes do comércio internacional se caracterizam por
representar elevadas cotas em valor das importações mundiais. São produtos que apresentam
alto potencial de demanda e superior sensibilidade às variações na renda mundial, encerrando
expressivas exportações em dólares correntes. São, por assim dizer, os verdadeiros produtos
que deveriam fazer parte da estrutura exportadora de um país que busca uma inserção mais
dinâmica no comércio internacional.
90
4.1.1.1 Análise agregada (1 dígito)
Em termos agregados, ou seja, a um dígito da classificação padrão do comércio
internacional, os setores mostram-se mais consolidados e permitem uma análise
macroeconômica. Apenas quatro setores dos dez (7,8,5 e 9) são classificados como setores
ótimos, pois foram os únicos que apresentaram aumento na porcentagem das importações no
final do período.
Os resultados revelam algumas peculiaridades, como a presente na seção 6, “bens
fabricados classificados principalmente por material”, que se mantém entre as três seções
mais importantes do comércio, mas diminui a sua participação na demanda mundial em 2000,
caracterizando-se como um setor em declínio (Tabela 3).
Tabela 3 - As commodities mais importantes do comércio internacional a um dígito do SITC
Códigos Commodities mais importantes Setores
Ano
inicial
Ano
final
Importações
ano base %
Importações
ano final %
7
maquinarias e equipamentos de transportes
otimos 1985 2000 29,67 40,86
8
artigos fabricados múltiplos
òtimos 1985 2000 11,22 14,22
5
substâncias químicas e produtos relacionados
òtimos 1985 2000 7,557 9,048
9
artigos e transações não classificadas no SITC
òtimos 1985 2000 2,515 3,474
6
bens fabricados classificados principalmente por material
declínio 1985 2000 15,1 13,39
3
combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais
relacionados
declínio 1985 2000 17,81 8,452
0
comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato
declínio
1985 2000 8,523 5,979
2
materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis
declínio 1985 2000 6,157 3,317
1
bebidas e tabaco
declínio 1985 2000 1,031 1,007
4
animais, óleos vegetais e gorduras.
declínio
1985 2000 0,416 0,248
Fonte: Tradecan, 2002.
Outros setores, como o 7, “maquinarias e equipamentos de transporte”, aumentaram
significativamente sua participação no total importado em 2000, o que justifica uma variação
percentual no crescimento de 37,71% Esta seção também apresentou a maior contribuição na
parcela da demanda mundial. No entanto, a maior variação no agregado correspondeu à seção
9, “artigos e transações não classificadas no site”, variando entre períodos o equivalente a
38,13% (Tabela 3).
Esses quatro setores: maquinarias e equipamentos de transportes; artigos fabricados
múltiplos, substâncias químicas e produtos relacionados, e artigos e transações não
91
classificadas no STIC, juntos, representaram 50,96% das importações em 1985 e 67,60% em
2000, computando uma variação de 32% entre os períodos estudados, indicando que estes
produtos foram os mais importantes do comércio internacional no agregado (Tabela 3).
A importância do conjunto destes setores para o comércio internacional está em
conseguir expandir no tempo a participação nas importações mundiais, concentrando em dois
setores mais de 50% do valor negociado nos países industrializados. É o que se alcança caso
agregue-se à participação das seções 7 e 8 ou 7 e 6.
Os demais setores: bens fabricados classificados principalmente por material;
combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais relacionados; comidas e animais vivos
destinados ao consumo imediato; materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis;
bebidas e tabaco, e animais, óleos vegetais e gorduras, correspondentes às seções 6, 3, 0, 2, 1
e 4, foram classificados como setores em declínio por apresentarem redução na porcentagem
das importações na comparação entre períodos (Tabela 3).
A Figura 4 plota o crescimento percentual dos setores a um dígito do SITC. Verifica-
se que alguns setores, além de aumentarem sua participação nas exportações mundiais em
2000, subiram em importância no comércio internacional quando comparados a outros no ano
de 1985. Foi o caso das seções 8, 5 e 9 (artigos fabricados múltiplos, substâncias químicas e
produtos relacionados e artigos e transações não classificadas no STIC, respectivamente).
Estes setores concomitantemente aumentaram sua porcentagem nas importações mundiais e
subiram no ranking dos mais importantes do comércio.
Na Figura 4, identifica-se que o setor de artigos fabricados múltiplos representava, em
1985, a quarta maior parcela de exportação mundial e, em 2000, esse coeficiente já era o
segundo maior. Da mesma forma, no início do período o setor de substâncias químicas e
produtos relacionados, era o sexto; no final do período havia subido para a quarta colocação.
Enquanto o setor de maquinarias e equipamentos de transportes se manteve como o mais
92
importante nos dois períodos, o setor de artigos e transações não classificadas no SITC
correspondente à seção 9, aumentou uma posição, saindo da oitava e se posicionando na
sétima colocação.
Figura 4 - Classificação dos setores mais importantes do mundo a 1 digito do SITC, com base na
porcentagem das exportações no ano de 1985 e 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCAN, 2002.
Os setores correspondentes às seções 6, 3, 0, 2, 1 e 4 apresentaram perdas percentuais
nas importações dos países industrializados e classificaram-se como setores em declínio.
Quanto a suas posições em termos de importância mundial, ou mantiveram suas colocações
ou pioraram no ranking dos setores mais importantes.
As mudanças na posição internacional desses setores mais importantes são relevantes
porque acusam uma certa medida de competitividade baseada na parcela das exportações
mundiais. Aqueles setores que têm aumentado a sua market-share nas importações dos países
industrializados ou pelo menos mantido a sua presença ao longo do tempo baseado nesse
9,047
40,859
14,221
3,474
13,393
8,451
5,978
3,317
1,007
0,247
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
7
8
5
9
6
3
0
2
1
4
PeFy%
PeBy%
Ranking
( )
Setores em declínio (10 - 10)
Setores em declínio (9 - 9)
Setores em declínio (7 - 8)
Setores em declínio (5 - 6)
Setores em declínio (2 - 5)
Setores em declínio
(
3 - 3
)
Setores ótimos (8 - 7)
Setores ótimos (6 - 4)
Setores ótimos
(
4 - 2
)
Setores ótimos (1 - 1)
93
critério, apresentam-se como legítimos setores competitivos. Porém, quando se considera a
fundo a competitividade, a pergunta certa a ser feita não seria qual a participação na
porcentagem das exportações de um determinado setor ou grupo de setores, mas por que
aquele determinado setor é líder na participação mundial das importações? E mais, como este
mesmo setor tem se mantido liderando o crescimento do valor importado em determinado
período de tempo? (PORTER, 1990).
4.1.1.2 Análise desagregada (4 dígitos)
A Tabela 4, a seguir, classifica, em ordem de importância, os vinte produtos que
apresentam as maiores parcelas do mercado importador mundial e quanto eles juntos,
representam em valores, ou seja, qual a participação deles no total importado pelos países
industrializados. As mudanças estruturais no comércio internacional nos últimos quinze anos
têm colocado novos setores como os mais importantes da divisão internacional do trabalho,
mas as modalidades de participação dos países na exportação desses produtos têm se
diferenciado consideravelmente.
A partir de um quadro heterogêneo de participação dos produtos no total das
importações mundiais, a Tabela 4 mostra que o predominam, dentre dos produtos mais
importantes, aqueles pertencentes ao grupo de alta tecnologia e mão-de-obra mais qualificada.
A assertiva adequada parece ser “quanto maior é o conteúdo das exportações em mão-de-obra
qualificada e tecnologia, maior é a participação do produto no percentual das importações
mundiais e maior será sua importância nas importações dos países industrializados”.
94
Tabela 4 - As exportações mais importantes do comércio internacional desagregadas a quatro dígitos do SITC, medidas pela porcentagem das
exportações no início e final de período (1985 e 2000).
Ranking Códigos Commodities mais importantes Setores
Byear
(1)
Fyear
(2)
PeBy%
(3)
PeFy%
(4)
MsBy$
(5)
MsFy$
(6)
1 7810
Passenger motor cars ( other than public-service type vehicles),
Ótimos 1985 2000 5,69 6,43 79895063,07 265631849,70
2 9310
Special transactions and commodities not classified according to
Ótimos 1985 2000 1,30 3,13 18313361,43 129322283,30
3 7849
Other parts and accessories, n.e.s. of the motor vehicles falling
Ótimos 1985 2000 2,43 2,58 34102432,78 106697672,00
4 7764
Electronic microcircuits
Ótimos 1985 2000 0,80 2,53 11180120,65 104571803,30
5 7599
Parts, n.e.s. of and accessories for the machines of headings 751
Ótimos 1985 2000 1,13 2,22 15862940,27 91755945,14
6 5417
Medicaments (Including veterinary medicaments)
Ótimos 1985 2000 0,48 1,40 6713979,34 57911441,45
7 7525
Peripheral units, including control adapting unit (connectable di
Ótimos 1985 2000 0,75 1,15 10506077,80 47330520,24
8 7524
Digital central (main) storage units, separately consigned
Ótimos 1985 2000 0,21 1,11 259326,45 45767177,38
9 7649
Parts, n.e.s. of and accessories for the apparatus and equipment
Ótimos 1985 2000 0,61 1,02 8536035,65 42323995,48
10 6672
Diamonds (other than sorted industrial diamonds), unworked, cut o
Ótimos 1985 2000 0,88 0,96 12405799,86 39885283,49
11 7721
Electrical apparatus for making and breaking, for protecting and
Ótimos 1985 2000 0,59 0,92 8279256,42 37916167,32
12 7924
Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
Ótimos 1985 2000 0,39 0,88 5454764,18 36456089,51
13 7641
Electrical line telephonic and telegraphic apparatus (including
Ótimos 1985 2000 0,25 0,85 3542994,71 35199117,96
14 7643
Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
Ótimos 1985 2000 0,10 0,85 1433510,10 35100568,93
15 7523
Complete digital central processing units; digital processors con
Ótimos 1985 2000 0,35 0,84 4857102,57 34555526,12
16 8942
Children's toys, indoor games, etc.
Ótimos 1985 2000 0,43 0,83 6026942,95 34355937,99
17 7788
Other electrical machinery and equipment, n.e.s.
Ótimos 1985 2000 0,47 0,74 6541923,26 30480672,21
18 8939
Miscellaneous articles of the materials falling within division 5
Ótimos 1985 2000 0,42 0,71 5963337,09 29523384,01
19 7132
Internal combustion piston engines for propelling vehicles of div
Ótimos 1985 2000 0,51 0,68 7157384,40 27903356,86
20 8219
Other furniture an parts thereof, n.e.s.
Ótimos 1985 2000 0,33 0,67 4665963,32 27493445,23
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dce informações do Trade CAN, 2002.
* Legenda: (1) – período inicial; (2) - período final; (3) – porcentagem das exportações no período base; (4) – porcentagem das exportações no final do período; (5) – importações dos países
industrializados no ano base em milhões de dólares; (6) – importações dos países industrializados no final do período em milhões de dólares.
95
A questão central levantada pela análise da Tabela 4 é que países que redirecionaram
suas bases industriais para de nelas incluírem produtos de alta intensidade tecnológica
iniciaram um processo de dinamização no comércio internacional, ao mesmo tempo em que
esse mercado exigia reduções de custos baseados nestes princípios. A competitividade desses
países em desenvolvimento seria uma questão de maturação desta base tecnológica para uma
inserção em setores importantes no comércio.
A análise dos resultados da Tabela 4 baseia-se nos vinte produtos mais importantes do
mundo a quatro dígitos, com intuito de se obter uma maior desagregação dos setores. Entre o
período de 1985 e 2000, todos os produtos pertencem a setores ótimos no comércio
internacional, o que significa que a parcela de mercado individual de cada produto no final do
período foi maior que no período inicial, ou seja, houve crescimento positivo entre períodos.
Em 2000, os cinco mais importantes produtos no mercado mundial foram: “Passenger motor
cars; Special transactions and commodities not classified according to; Other parts and
accessories, n.e.s. of the motor vehicles falling; Electronic microcircuits e Parts, n.e.s. of and
accessories for the machines of headings 751”. Juntos, estes produtos somaram 16,88% das
importações mundiais em 2000, ou seja, este grupo de produtos obteve uma receita em
dólares neste ano equivalente a US$ 697.979.553,44.
Identifica-se, na Tabela 4, que em 1985, com exceção dos “electronic microcircuits”,
esse grupo de cinco produtos já era o mais importante por apresentar a maior parcela das
exportações mundiais, o que revela que a demanda por produtos de alta tecnologia oferecia
uma tendência ascendente e condições da demanda favorável pelos países industrializados. O
aumento da participação nas exportações mundiais desses produtos os caracteriza como os
mais importantes.
Para o período analisado, 1985 a 2000, identifica-se que, entre os vinte produtos mais
importantes do comércio internacional, todos são do grupo de manufaturas, que diferem
96
apenas quanto ao grau de demanda externa medida pela importação dos países
industrializados e pelo nível de incorporação tecnológica decorrente das especificidades de
cada produto.
Em 1985, os vinte produtos mais importantes, juntos, obtiveram uma participação de
18,11% das importações totais, parcela de mercado que aumentou no final do período para
30,48% da demanda dos países industrializados em valores. Os vinte produtos mais
importantes se concentram nas seções 7 e 8, exatamente aqueles produtos em que o nível de
intensidade tecnológica e mão-de-obra qualificada alargam as margens do potencial da
produtividade e possibilitam uma maior inserção no mercado mundial.
As transformações estruturais nos processos produtivos têm ofertado um aumento da
receita de exportação de países que têm atendido a essas tendências. Uma inserção
competitiva aos mercados externos se tornou variável dependente do pacote tecnológico, que
acusa como setores mais importantes do comércio aqueles que também lideram a corrida por
investimentos em C e T e P e D. A liderança internacional desses produtos está caracterizada
por um mercado de concorrência monopolística, onde a principal barreira à entrada passa a ser
o grau de sofisticação e incorporação tecnológica aos produtos, dificultando o acesso de
possíveis entrantes e a permanência dos próprios concorrentes.
As barreiras que se estabelecem no mercado quanto aos possíveis entrantes criam
dificuldades adicionais aos países que somente agora começam a formular políticas de
inserção externa nesses setores mais importantes. As articulações no mercado mundial
acabam mobilizando-se em redes internacionais de produção, deslocando processos e linhas
de montagem para outros países e com isso antecipam-se às possíveis ações dos novos países
competidores.
Por conseguinte, o aumento da produção compartilhada nos mercados mundiais tem
expandido a exportação dos países em desenvolvimento e contribuído para o boom dos vinte
97
produtos mais importantes do comércio internacional, tanto na participação das importações
dos países industrializados como em aumento do valor exportado por produtos ou grupo de
produtos, conforme se verifica na Tabela 4.
O crescimento do valor exportado desse grupo de vinte produtos mais importantes do
comércio mundial está relacionado com o crescimento das redes internacionais de produção.
Em linhas gerais, supõe-se que a maior integração dos países no sistema do comércio mundial
mediante uma ampliação da liberalização dos mercados praticada a partir da década de 80,
tem contribuído para o incremento dos setores destinados aos mercados externos, e mais,
países que perseguiram as políticas de substituição de importações ficaram fora deste
processo devido ao seu alto índice de protecionismo.
A abertura aos mercados externos possibilitou que as firmas transnacionais
identificassem mercados promissores e vantagens comparativas em setores que oferecessem
custos de fatores relativamente baratos. Daí em diante, a margem de ganho dessas empresas
ao se transferirem para outros países aumentaria. Então, setores como os de eletrônica e
automóveis estão fortemente influenciados por acordos de comércio preferencial, transferindo
os processos de fabricação e montagem para outros países e contribuindo para o aumento das
exportações mundiais.
A Figura 5 identifica o crescimento da porcentagem das exportações mundiais no
primeiro e segundo períodos da série analisada. Cabe sustentar que esses setores identificados
como os mais importantes são também os mais globalizados. São setores que contam com
grande dispersão geográfica de redes de produção impulsionadas pelas empresas
transacionais, e os países em desenvolvimento que abriram suas economias a essas inversões
têm em suas estruturas exportadoras uma parte considerável desses produtos. Nesse sentido, o
papel desempenhado pelas transnacionais, como as mudanças nos processos produtivos, tem
98
favorecido para o aumento da porcentagem das exportações desse grupo de produtos
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).
6,426606427
3,128779241
2,581407106
2,529974563
2,21991206
1,401089674
1,145098473
1,107275489
1,02397232
0,665167042
0,675084304
0,714278689
0,737438993
0,831195853
0,83602462
0,8492112
0,851595462
0,882006203
0,917330828
0,964970953
-0,1 0,4 0,9 1,4 1,9 2,4 2,9 3,4 3,9 4,4 4,9 5,4 5,9 6,4 6,9
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
PeFy%
PeBy%
Figura 5 - Classificação dos vinte produtos mais importantes do comércio internacional com
base na porcentagem das exportações.
Fonte: elaboração do autor, a partir do TradeCAN, 2002.
Esses produtos mais importantes exercem uma estrutura concorrencial baseada na
criação contínua de vantagens competitivas fundamentadas em tecnologias. Os constantes
investimentos em pesquisa e desenvolvimento desses produtos contribuem para a
diferenciação do produto e aumento do valor exportado. O crescimento desses produtos está
diretamente relacionado com uma maior integração das estratégias e das variáveis, comércio e
investimento externo.
1 - Passenger motor cars (other than public-service type vehicles),
2 - Special transactions and commodities not classified according to
3 - Other parts and accessories, n.e.s. of the motor vehicles falling
4 - Electronic microcircuits
5 - Parts, n.e.s. of and accessories for the machines of headings 751
6 - Medicaments (Including veterinary medicaments)
7 - Peripheral units, including control adapting unit (connectable di
8 - Digital central (main) storage units, separately consigned
9 - Parts, n.e.s. of and accessories for the apparatus and equipment
10 - Diamonds (other than sorted industrial diamonds), unworked, cut
11 - Electrical apparatus for making and breaking, for protecting and
12 - Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
13 - Electrical line telephonic and telegraphic apparatus (including
14 - Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
15 - Complete digital central processing units; digital processors con
16 - Children's toys, indoor games, etc.
17 - Other electrical machinery and equipment, n.e.s.
18 - Miscellaneous articles of the materials falling within division 5
19 - Internal combustion piston engines for propelling vehicles of div
20 - Other furniture an parts thereof, n.e.s.
99
Tal situação tornou mais clara a importância da inovação como instrumento central da
estratégia de inserção das empresas no comércio internacional. As vantagens competitivas dos
setores exportadores estão associadas a um sinônimo de PeD, em que o papel da produção
compartilhada e dos arranjos produtivos internacionais tem motivado o crescimento de
produtos mais sofisticados e com maior demanda externa.
Produtos que ocupam lugar de destaque entre os vinte mais importantes do comércio
internacional pertencem a ambientes dinâmicos, onde os níveis de competitividade são
rapidamente erodidos e a base para entrar em novos mercados torna-se rapidamente
inadequada, o que torna necessário um esforço constante de expandir-se dentro deles ou se
diversificar além deles.
A conseqüência do aumento da porcentagem das exportações dos vinte produtos mais
importantes no comércio internacional é variável dependente da criação de redes de produção
e dos investimentos externos diretos recebidos por esses setores. A partir dos anos oitenta, as
empresas transnacionais japonesas orientadas para exportação começaram a transferir suas
bases de produção ao exterior, ao identificarem fortes tendências protecionistas em outras
importantes nações industrializadas. O forte crescimento da parcela de mercado que ocupam
os vinte setores mais importantes do comércio internacional também os torna maiores em
geração de valor exportado e produtos de cadeias das transnacionais. A indústria eletrônica é
o setor mais importante no que diz respeito às inversões das empresas transnacionais
japonesas e estadunidenses na Ásia Oriental. Durante os anos 90, este setor absorveu 45% dos
investimentos externos diretos (INFORME SOBRE EL COMERCIO Y EL DESARROLLO,
1996).
No entanto, apesar do elevado crescimento das inversões em setores da indústria
eletrônica, seus impactos se propagaram rapidamente na indústria de transformação em geral,
100
particularmente na eletromecânica, segmento este que constitui o núcleo revitalizante do
crescimento dos países na década de 80 do século passado (LAPLANE, 1992).
Nos anos 80 e início dos 90, o setor industrial de bens eletrônicos já respondia por
uma parcela expressiva da produção mundial, e desde então o crescimento de parcelas de
mercado foi ampliado por meio de políticas setoriais de progressos técnicos incorporados na
produção, que mantiveram esses produtos no ranking dos vinte mais importantes do
comércio.
4.1.2 As commodities mais dinâmicas
A variação percentual de crescimento do comércio internacional para alguns produtos
tem sido desigual. A não-uniformidade do valor exportado por produtos e setores
individualizados é parte da análise do dinamismo das exportações mundiais a partir de 1985.
Nesse sentido, as diferentes estratégias de desenvolvimento e de inserção externa aliadas a
políticas industriais seletivas têm colaborado para uma promoção das exportações em setores
mais integrados no comércio mundial.
O crescimento das redes internacionais de produção tem modificado o perfil da divisão
internacional do trabalho para países que têm feito bom uso de políticas de integração no
processo de globalização. A partir de 1980 fica mais evidente a necessidade de mudança da
estrutura exportadora dos países, devido à real manifestação de queda nos preços das
exportações das commodities.
Os valores e as parcelas de mercado de algumas categorias de produtos no comércio
internacional cresceram rapidamente nas exportações mundiais durante o período de 1985-
2000. As fortes concentrações dos mercados regionais formados pelas transnacionais têm
contribuído para este fenômeno. Tudo indica ser um movimento contínuo do valor exportado
101
de um grupo limitado de produtos fazendo parte das estruturas exportadoras dos países em
desenvolvimento.
A análise do dinamismo desses produtos a partir de 1985 identifica os caminhos
seguidos e aprofundados pelas políticas públicas dos países em desenvolvimento e as
respectivas aproximações das estratégias de inserção com a integração aos mercados
mundiais. A estrutura exportadora do Brasil e da Coréia do Sul e a sua comparação com os
produtos mais exportados no mundo caracterizam o grau da sua integração competitiva.
O dinamismo dos produtos mais exportados no comércio mundial é função da variação
da porcentagem das exportações, ou parcela de mercado que um produto ocupa
individualmente e sua variação ao longo do período analisado identifica tendências de longo
prazo. Assim, os ganhos e perdas de mercado no curto prazo desse grupo de produtos
caracterizam a sua dinâmica competitiva de longo prazo.
Por conseguinte, são dinâmicos aqueles produtos que oferecem uma variação positiva
da porcentagem das exportações, identificando-se como setores ótimos no comércio
internacional, e o crescimento em valor exportado destes grupos de produtos leva a um
aprofundamento da divisão internacional do trabalho pelas redes internacionais de produção.
As linhas de montagem segmentadas de produção localizadas em outros países permitem
aproveitar diferenças nos custos dos fatores, e a re-importação pelos países nas quais operam
as matrizes gera maior eficiência técnica e econômica, porém o recheio tecnológico e o valor
adicionado continuam sendo incorporados pelas matrizes (GEREFFI, 1990).
4.1.2.1 Análise agregada (1 dígito)
A Figura 6, a seguir, identifica no SITC a um dígito quais são as categorias mais
dinâmicas do comércio internacional para o período de 1985 a 2000. As seções discriminadas
se encontram no eixo das ordenadas descritas de 0 a 9; no eixo das abscissas temos a escala de
102
variação da porcentagem das exportações do ano de 2000 em relação a 1985. No período
analisado, as seções que apresentaram maiores variações na market-share das exportações
mundiais e, portanto, as mais dinâmicas foram: artigos e transações não classificadas no
SITC; maquinarias e equipamentos de transportes; artigos fabricados múltiplos e substâncias
químicas e produtos relacionados.
Figura 6 - Dinamismo das exportações mundiais segundo a variação da porcentagem das
exportações a um dígito do SITC, no período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaboração própria a partir do TradeCAN, 2002
Em nível de um dígito do SITC em que os dados se encontram agregados, os quatro
setores acima, correspondentes às seções 9, 7, 8 e 5, apresentaram os maiores coeficientes de
variações na parcela das exportações mundiais: 38,14%, 37,69%, 26,79% e 21,42%
respectivamente. Estas variações percentuais indicam que houve crescimento na parcela de
mercado desses setores na comparação entre 2000 e 1985, caracterizando-os como setores
ótimos.
38,14%
37,69%
26,79%
21,42%
-2,32%
-11,30%
-29,84%
-40,50%
-46,12%
-52,54%
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
Seção 5 – substâncias químicas e produtos
relacionados.
(
Setores ótimos
)
Seção 8 – artigos fabricados múltiplos (Setores
ótimos
)
Seção 7 – maquinarias e equipamentos de
trans
p
ortes.
(
Setores ótimos
)
Seção 9 – artigos e transações não classificadas no
SITC.
(
Setores ótimos
)
Seção 3 - combustíveis de minerais, lubrificantes e
materiais relacionados
(
Setores em declínio
)
Secção 2 – materiais crus, não comestíveis,
menos combustíveis.
(
Setores em declínio
)
Seção 4 - animais, óleos vegetais e gorduras
(
Setores em declínio
)
Seção 6 - bens fabricados classificados
p
rinci
p
almente
p
or material
(
Setores em declínio
)
Seção 0- comida e animais vivos destinados ao
consumo imediato.
(
Setores em declínio
)
Seção 1 –bebida e tabaco (Setores em declínio)
103
Os demais setores, correspondentes às seções 1, 6, 0, 4, 2 e 3, apresentam um
deslocamento para a esquerda da abscissa, o que indica que a variação para o mesmo período
foi negativa, ou seja, houve perda de participação das exportações em valor na comparação
entre 2000 e 1985. Quando a um dígito do SITC, estes setores exportadores, se classificam
como setores em declínio dentre os quais temos bebidas e tabaco, bens fabricados
classificados principalmente por material, comidas e animais vivos destinados ao consumo
imediato, animais, óleos vegetais e gorduras, materiais crus, não comestível, menos
combustíveis.
O dinamismo dos setores correspondentes às seções 9, 7 e 8 está associado a uma
estrutura de mercado altamente concentrada em tecnologia, constituindo-se esta na maior
barreira à entrada de possíveis concorrentes, mercado este onde predominam as transnacionais
que operam em redes de produção compartilhada. Como exemplos temos as indústrias têxteis,
as linhas de montagem de automóveis para passageiros assim como a produção de autopeças;
as máquinas e aparelhos elétricos, entre outras (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2002).
Estes 4 grupos de produtos correspondente à seção 1 do SITC aumentaram o valor
exportado em decorrência de maiores investimentos nos processos produtivos e da
incorporação de tecnologia nos produtos apresentados ao comércio internacional, aliado ao
aproveitamento das diferenças nos custos de fatores entre países. O resultado foi um aumento
das exportações mundiais e o igual crescimento do valor naqueles grupos que incorporaram
tecnologia.
As inversões estrangeiras através dos investimentos diretos destinaram-se a setores de
forte expansão após a introdução de mudanças na legislação. Durante o período de 1991-
1999, das 1.035 mudanças introduzidas nas leis que regem o controle de investimentos diretos
estrangeiros, 94% criaram um marco favorável e estimularam a motivação de investir na
104
corrente de inversões a setores exportadores (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2000).
Porém, o incremento e a consolidação da produção internacional têm dado lugar a
novos problemas de política econômica, como a inserção desigual dos países e os benefícios
correspondentes deste ingresso no mercado mundial. Ainda que o valor das exportações
mundiais tenha aumentado consideravelmente, como mostra a seção 5.2 deste resultado, o
“benefício” maior de ganhos tem se concentrado em poucos produtos específicos, daí a
importância de as políticas públicas não terem medido esforços para mudar a estrutura
exportadora, afim de evitar futuras perdas na exportação de determinados produtos e
importações de outros.
A partir da década de 1980, o aprimoramento tecnológico no processo produtivo e na
elaboração de substitutos para os produtos básicos (insumo) promoveu uma queda na
demanda mundial destes produtos e acelerou o processo de deterioração das relações de troca
em relação às manufaturas tecnológicas. Para se obter o mesmo valor exportado do período
anterior era necessário aumentar a quantidade (volume) exportada, pois os aumentos dos
preços internacionais já não eram mais possíveis.
Por conseguinte, países que continuaram concentrando suas bases de exportação em
produtos com baixo valor agregado tinham dificuldades para ajustar suas contas externas. O
equilíbrio das transações correntes só seria possível via financiamentos pelas contas de
capital. Portanto, as mudanças na dinâmica dos produtos internacionais influenciavam as
relações externas de produção e países que continuaram dependendo de tecnologia criaram
barreiras para uma inserção competitiva.
Os produtos das seções 3, 2 4, 0, 6 e 1, combustíveis de minerais, lubrificantes e
materiais relacionados; materiais crus, não comestível, menos combustíveis; animais, óleos
vegetais e gorduras; comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato; bens
105
fabricados classificados principalmente por material e bebidas e tabaco”, confirmam a
tendência de declínio dos produtos básicos e do valor exportado pela reduzida incorporação
de tecnologia. O crescimento da demanda mundial se expande com uma associação positiva à
renda do resto do mundo e o dinamismo de produtos específicos segue aumentando sua
parcela de valor no período final pela alta sensibilidade de demanda identificada no conteúdo
tecnológico incorporado ao produto.
Existem muitas provas do crescimento da expansão da produção e exportação mundial
durante os últimos 20 anos. O produto bruto associado a essa produção internacional e as
vendas das filiais estrangeiras em todo o mundo aumentaram mais depressa que o PIB
mundial. As vendas das transnacionais em todo o mundo atingiram 14 bilhões de dólares em
1999, bem acima da marca de 3,7 bilhões em 1985. Isso se deve ao crescimento conjunto dos
investimentos diretos e à incorporação de valor através das redes internacionais de produção
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).
Os produtos que incorporam tecnologia e fazem uso da pesquisa e desenvolvimento
em seus processos produtivos têm extensas possibilidades de reduzir custos comparativos
entre seus competidores e aumentar sua demanda externa pela redução no preço do seu
produto, impactando pela alta sensibilidade e aumento do valor exportado. O crescimento do
valor exportado de alguns produtos no comércio internacional foi causado pelos investimentos
estrangeiros diretos, mas o papel das estratégias de desenvolvimento industrial que serviram
como guia de inserção externa motivou os países de industrialização tardia a dinamizarem ou
não suas estruturas exportadoras.
De outra forma, as estratégias de inserção externa, como a promoção de exportação,
possibilitaram que as mudanças no cenário internacional fossem captadas e ajustadas pela
intervenção estatal no sentido de corrigir falhas nos mercados de produtos e fatores. Por meio
do uso de mecanismos de intervenção estatal, poder-se-ia atender a setores que oferecessem
106
maiores ganhos no valor exportado do comércio mundial, com produtos dinâmicos que
apresentassem tendência de crescimento a longo prazo.
A reestruturação na capacidade exportadora para atender a mercados com demanda
internacional ascendente implicou redefinições do papel do Estado, presentes principalmente
nas economias em desenvolvimento, cujas falhas de mercado são bastante visíveis. A
condição de reversão histórica do perfil exportador estaria condicionada a políticas industriais
direcionadas a setores chave do comércio e à utilização de instrumentos para proteção às
industrias nascentes.
O dinamismo das exportações mundiais é fundamental para entender a inserção
competitiva dos países de industrialização tardia, pois as mudanças de tendência no mercado
mundial deveriam ser incorporadas a partir de políticas públicas dirigidas a setores-chave para
promover as exportações de futuros setores que oferecessem alto coeficiente de demanda.
Outro determinante importante do dinamismo das exportações mundiais e a presença
das empresas transnacionais que impulsionam a produção internacional. Hoje são 63.000
empresas matrizes com 690.000 filiais estrangeiras e muitas outras vinculadas a elas por
diversos arranjos produtivos. Estas redes de vinculação econômica abrangem praticamente
todos os países e atividades econômicas e representam uma força na economia atual. As filiais
das 100 maiores empresas transnacionais empregam mais de 6 milhões de pessoas, e suas
vendas ao estrangeiro são da ordem de 2 bilhões de dólares e suas atividades se concentram
principalmente em equipamentos elétrico-eletrônicos, automóveis, produtos químicos e
produtos farmacêuticos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2000).
4.1.2.2 Análise desagregada (4 dígitos)
A seguir identificam-se na estrutura mais desagregada possível da classificação padrão
do comércio internacional (SITC 4 dígitos) os vinte produtos mais dinâmicos do comércio
107
internacional medidos pelas variações na porcentagem das exportações entre os dois períodos
e codificados pelos seus respectivos subgrupos, permitindo uma análise mais específica que
também aponta as tendências estruturais do comércio.
O dinamismo das exportações para o período de 1985 a 2000 a 4 dígitos da
classificação internacional aponta um crescimento surpreendente de seis subgrupos dos vinte
analisados. As taxas de variações estão classificadas em ordem decrescente e deixam claras as
diferenças nas variações do percentual exportado entre os dois períodos. A magnitude da
variação descreve o grau de dinamismo desses produtos pelo crescimento no valor exportado
entre períodos e identifica a participação no valor das exportações mundiais como índice de
competitividade.
Outra particularidade do dinamismo das exportações mundiais é que apenas 1
subgrupo dos vinte que apresentam alta presença no valor exportado classifica-se como
commodities, sendo o restante manufaturados caracterizados por elevado índice de tecnologia
e mão-de-obra qualificada.
Os seis produtos mais dinâmicos do comércio mundial, a saber: “Warships of all
kinds; Digital central (main) storage units, separately consigned; Other rail locomotives
tenders; Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho; Off-line data
processing equipment, n.e.s.; Wooden packing cases, boxes, crates, drums and similar
packing”, representam juntos uma parcela de mercado referente a 2,39% do total exportado
em dólares de 2000, ou o equivalente a US$ 9,881milhões.
O dinamismo dos demais produtos obedeceu a um certo patamar de variação ficando
num intervalo correspondente a 209% e 283% no seu melhor índice, o que também explica
uma taxa de crescimento médio anual dos outros produtos que variou entre 17,73% e 13,06%
(Figura 7).
108
Os 16 produtos mais dinâmicos do comércio participaram do valor exportado mundial
com 5,49%, que somados aos 2,39% dos 4 produtos do grupo dos 20 mais dinâmicos
representaram, quase 8% do valor importado pelos países industrializados em 2000, o que os
coloca em posição de destaque, principalmente quando se leva em consideração a
porcentagem de crescimento no período (Figura 7).
Figura 7 - Classificação dos vinte produtos mais dinâmicos do comércio internacional
determinados pela variação na porcentagem das exportações a 4 dígitos do SITC, no período
de 1985 a 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCAN, 2002.
209,0328381
214,3468838
217,7038651
227,1381793
229,4403453
232,5426282
237,4548454
237,5683719
240,6745382
242,6384632
252,3475788
255,78579
268,2363372
283,8002444
419,470464
545,248369
731,7020839
1088,069796
5894,620734
9086,9845757931
7524
7912
7643
7528
6351
8743
8742
7439
0488
5148
7415
7923
7641
6552
7521
7915
7764
6352
8710
(7931) Warships of all kinds
(7524) Digital central (main) storage units, separately consigned
(7912) Other rail locomotives; tenders
(7643) Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
(7528) Off-line data processing equipment, n.e.s.
(6351) Wooden packing cases, boxes, crates, drums and similar packing
(8743) Instruments and apparatus, non-electrical, for measuring, checkin
(8742) Drawing, marking-out and mathematical calculating instruments
(7439) Parts, n.e.s. of the machines and apparatus falling within headin
(0488) Malt extract; preparations of flour, meal,starch or malt extract
(5148) Other nitrogen-function compounds
(7415) Air conditioning machines, self-contained, comprising a motor-dri
(7923) Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
(7641) Electrical line telephonic and telegraphic apparatus
(6552) Knitted or crocheted fabrics, not elastic nor rubberized, of fibr
(7521) Analogue and hybrid (analogue/digital) data processing machines
(7915) Railway ant tramway freight and maintenance cars, not mechanicall
(7764) Electronic microcircuits
(6352) Casks, barrels, vats, tubs, buckets and other coopers products an
(8710) Optical instruments and apparatus
109
O aumento ou a permanência da presença de mercado indica que aqueles subgrupos
têm mantido seu dinamismo no comércio internacional, porém os motivos de seu crescimento
a taxas mais elevadas do que outros produtos são explicados pela presença das transnacionais,
por mudanças na estrutura empresarial, assim como pela ação interventora do Estado em
segmentos que oferecem maiores ganhos de produtividade e eficiência.
Alguns produtos, dadas as suas especificidades de produção, têm ofertado maior
crescimento no comércio mundial. Entre as categorias de manufaturados que mais cresceram
no comércio estão: produtos elétrico-eletrônicos, automóveis, partes de motores e roupas, com
taxas médias, entre 1985 e 2000, acima de 12%.
As elevadas variações na porcentagem das exportações se explicam por uma estrutura
de produção diferenciada em tecnologia e economia de escala, produtividade e
competitividade, elevados gastos em PeD e CeT, melhorando a qualidade do emprego. Estas
condições exigem um alto padrão de investimentos que é influenciado pela ação das redes
internacionais de produção.
A seguir, destacam-se os pormenores do dinamismo internacional dos 20 produtos
identificando o crescimento médio anual no período de 1985 a 2000, indicando que não
apenas a variação da porcentagem das exportações chama a atenção pelo elevado índice, mas
também o crescimento médio no período analisado da porcentagem das exportações.
Dentre as condicionantes do elevado dinamismo desses setores, encontra-se uma
maior sensibilidade da demanda quanto ao crescimento da renda mundial, por serem produtos
de alta sofisticação tecnológica e o coeficiente de resposta da quantidade demandada em
relação ao preço maior que um, indicando que aqueles subgrupos são altamente competitivos
e que suportam a concorrência sem perdas de receita.
Uma confirmação desse grau de dinamismo seria a elevada concentração dos produtos
mais importantes do comércio internacional nas seções 6 – “bens fabricados classificados
110
principalmente por material”, 7 – “maquinarias e equipamentos de transporte” e 8 – “artigos
fabricados múltiplos”, exatamente os setores onde predomina o uso intensivo em tecnologia.
Os vinte produtos mais dinâmicos são também aqueles pertencentes aos setores
ótimos, dada a variação positiva no crescimento do valor exportado no período analisado.
Destaca-se também o crescimento médio no período do valor exportado, em que os seis
primeiros produtos apresentam também alto desempenho. Os setores “Warships of all kinds e
Digital central (main) storage units, separately consigned”, que apresentaram um crescimento
médio no período acima de 100%, indicam um elevado potencial de demanda (Tabela 5).
Tabela 5 - Classificação dos vinte produtos mais dinâmicos medidos pela variação percentual
nas exportações a quatro dígitos do SITC, no período de 1985 a 2000
Ranking SITC Grupo de produtos Setores
Variação na
% das
exportações
Taxa média
de
crescimento%
1 7931
Warships of all kinds
Rising stars 9086,985 567,94
2 7524
Digital central (main) storage units, separately consigned
Rising stars 5894,621 368,41
3 7912
Other rail locomotives; tenders
Rising stars 1088,07 68,004
4 7643
Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
Rising stars 731,7021 45,731
5 7528
Off-line data processing equipment, n.e.s.
Rising stars 545,2484 34,078
6 6351
Wooden packing cases, boxes, crates, drums and similar packing,
Rising stars 419,4705 26,217
7 8743
Instruments and apparatus, non-electrical, for measuring, checkin
Rising stars 283,8002 17,738
8 8742
Drawing, marking-out and mathematical calculating instruments,
Rising stars 268,2363 16,765
9 7439
Parts, n.e.s. of the machines and apparatus falling within headin
Rising stars 255,7858 15,987
10 0488
Malt extract; preparations of flour, meal,starch or malt extract,
Rising stars 252,3476 15,772
11 5148
Other nitrogen-function compounds
Rising stars 242,6385 15,165
12 7415
Air conditioning machines, self-contained, comprising a motor-d
Rising stars 240,6745 15,042
13 7923
Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
Rising stars 237,5684 14,848
14 7641
Electrical line telephonic and telegraphic apparatus (including
Rising stars 237,4548 14,841
15 6552
Knitted or crocheted fabrics, not elastic nor rubberized, of fibr
Rising stars 232,5426 14,534
16 7521
Analogue and hybrid (analogue/digital) data processing machines
Rising stars 229,4403 14,34
17 7915
Railway ant tramway freight and maintenance cars, not
mechanicall
Rising stars 227,1382 14,196
18 7764
Electronic microcircuits
Rising stars 217,7039 13,606
19 6352
Casks, barrels, vats, tubs, buckets and other coopers products an
Rising stars 214,3469 13,397
20 8710
Optical instruments and apparatus
Rising stars 209,0328 13,065
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do TradeCAN, 2002.
Produtos como “Other rail locomotives; tenders; Television, radio-broadcasting,
radiotelegraphic and radiotelepho; Off-line data processing equipment, n.e.s.; Wooden
111
packing cases, boxes, crates, drums and similar packing” também marcaram presença com
taxas médias de crescimento acima de 20% ao ano (Tabela 5).
O dinamismo mundial dos vinte produtos que apresentaram as maiores variações entre
períodos também revela uma elevada concentração na demanda mundial dos países
industrializados, o que significa que esses produtos representavam juntos o equivalente a
14,56% da demanda mundial em 1985. Passados dezesseis anos de comércio internacional, a
importância para a demanda externa desses produtos aumentou e a contribuição chegou a
33,45% em 2000 (Tabela 5).
O dinamismo das exportações no comércio internacional identifica em determinados
instantes no tempo, que alguns produtos obtiveram maiores variações na porcentagem das
exportações, ocasionadas por elevados ganhos de mercados. Isto significa que num ambiente
competitivo de estrutura de mercado imperfeita, nem sempre os mesmos setores dispõem de
condições favoráveis, alterando assim a dinâmica de inserção dos produtos.
Nesse sentido, o dinamismo dos produtos mundiais é mais bem detectado nas
variações de curto prazo que identificam as tendências no longo prazo, de acordo com a
análise da Figura 8. A seguir, descreve-se o comportamento das variações acima em três
períodos de tempo (1985/1990; 1990/1995 e 1995/2000), as mudanças de ranking e as
variações competitivas.
Nos três períodos, os produtos estão seqüenciados na ordem crescente de dinamismo
ou de variação da porcentagem das exportações, assim como de crescimento médio do valor
do produto no período. Os subgrupos 6, 7 e 8 lideram a contribuição do valor exportado para
os países industrializados nos três períodos, porém o total predomínio destas seções no
período de 1985 a 1990 não se repete entre 1990 e 1995, quando algumas commodities
correspondentes às seções 0 e 2 do SITC a quatros dígitos apresentam um grande valor
exportado entre os dez produtos mais dinâmicos no período, são elas: 0451 – “Rye,
112
unmilled”; 2239 – “Flours or meals or oil seeds or oleaginous fruit, non-defatted”; 2634 –
“Cotton, carded or combed”, ocupando respectivamente a 2ª, a 8ª e a 7ª posições entre os mais
dinâmicos do comércio (Figura 8).
274,05
208,25
165,56
125,86
92,81
89,58
85,70
83,98
83,33
78,98
402,23
178,36
104,07
101,06
95,92
92,17
87,63
82,04
78,69
66,12
35221,20
3107,81
977,01
852,99
425,82
336,38
259,29
233,01
226,10
206,54
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1995/2000
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1990/1995
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
1985/1990
Var Pe
taxa média
Figura 8 - Classificação dos produtos mais dinâmicos do comércio internacional de acordo
com o subgrupo do SITC e medido pela variação das exportações entre os três períodos.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do TradeCAN, 2002.
Entre 1995 e 2000 prevalecem novamente as seções 6, 7 e 8 e apenas o subgrupo
“(2771) - Industrial diamonds, sorted, whether or not worked” consegue destaque entre os
(8743) - Instruments and apparatus, non-electrical, for measuring, checkin
(7439) - Parts, n.e.s. of the machines and apparatus falling within headin
(6552) - Knitted or crocheted fabrics, not elastic nor rubberized, of fibr
(6351) - Wooden packing cases, boxes, crates, drums and similar packing,
(8742) - Drawing, marking-out and mathematical calculating instruments,
(7528) - Off-line data processing equipment, n.e.s.
(7912) - Other rail locomotives; tenders
(6880) - Uranium depleted in U235 and thorium, and their alloys, unwrought
(7524) - Digital central (main) storage units, separately consigned
(7931) - Warships of all kinds
(7524) - Digital central (main) storage units, separately consigned
(0451) -Rye, unmilled
(7643) - Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
(8732) - Revolution counters, production counters, taximeters, mileometers
(7764) - Electronic microcircuits
(4311) - Oils, animal and vegetable, boiled, oxidized, dehydrated, sulphur
(2634) - Cotton, carded or combed
(2239) - Flours or meals or oil seeds or oleaginous fruit, non-defatted
(7915) - Railway ant tramway freight and maintenance cars, not mechanicall
(7914) - Railway and tramway passenger coaches and luggage vans, not mecha
(7521) - Analogue and hybrid (analogue/digital) data processing machines
(7641) - Electrical line telephonic and telegraphic apparatus (including
(8710) - Optical instruments and apparatus
(6812) - Platinum and other metals of the platinum group (included rolled)
(7923) - Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
(2771) - Industrial diamonds, sorted, whether or not worked
(7643) - Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
(6642) - Optical glass and elements of optical glass ( other than opticall)
(9610) - Coin (other than gold coin), not being legal tender
(7931) - Warships of all kinds
113
cinco primeiros que mais apresentaram variação percentual no período estudado. As
mudanças de dinamismo entre períodos apontam para constantes alterações decorrentes da
demanda internacional (Figura 8).
4.1.3 O grau de concentração
Nesse aspecto, é importante o grau de concentração de mercado que ocupam as seções
acima, de acordo com a classificação padrão do comércio internacional. Um indicador que
mede a participação relativa das seções do SITC, ou seja, a um dígito, revela o
comportamento do dinamismo entre os setores do comércio mundial nos três períodos. Na
análise acima, este índice equivale à porcentagem das exportações, e aqueles que
apresentaram aumentos entre os anos finais em relação aos iniciais contribuíram para uma
magnitude de dinamismo dos subgrupos apresentados.
Outro indicador para análise da taxa de concentração do mercado é o Índice de Herfindahl-
Hirschman (IHH), que estima as concentrações de mercado, destacando os setores com maior
porcentagem na participação das exportações mundiais e assim captando mudanças nas
exportações mundiais.
No comércio internacional para os três períodos analisados, os índices foram
desagregados para as dez seções do SITC, com o intuito de captar as mudanças nas variações
da demanda internacional. Os resultados das taxas de concentrações de mercado seguem
confirmando a tendência de predomínio do valor exportado para as seções 6, 7 e 8 Entre 1985
e 1990 a concentração da demanda mundial foi de 64,93% do total importado pelos países
industrializados de produtos provenientes desses setores, dentre os quais podemos destacar
aqueles que apresentaram maior dinamismo no comércio identificados na Figura 8.
O Índice de Herfindahl-Hirschman neste estudo considera a concentração dos setores
exportadores mundiais. Quanto maior for a participação relativa de um setor no comércio
114
mundial, maior também será a sua taxa de concentração e logo o seu grau de concentração de
mercado. Para o período de 1985 a 1990, segundo análise do IHH, as exportações do
comércio mundial a um dígito do SITC se apresentaram altamente concentradas em valores.
Isto significa que a maior taxa de concentração de mercado foi gerada nos setores 6, 7
e 8, ou seja, esses setores, juntos, exportaram o equivalente a 64,93% das exportações
mundiais
no primeiro período analisado (1985/1990), caracterizando um mercado altamente
concentrado pelo valor exportado de acordo com o IHH de 1.925,96.
No segundo e terceiro períodos analisados, os setores correspondentes às seções 6, 7 e
8 não só aumentaram a taxa de concentração de mercado, confirmando a tendência de
crescimento do período inicial, com taxas de 66% e 68% respectivamente, como também
reforçaram a condição de mercado exportado mundial altamente concentrado com IHH de
1.808,82 correlativo a 1990/1995 e IHH de 2.043,13 correspondente a 1995/2000.
De acordo com a classificação padrão do comércio internacional a um dígito, as seções
são divididas em apenas dez. Logo, em termos agregados, a alta concentração dos mercados
exportadores mundiais se explica pelo valor exportado e adicionado em toda a cadeia. Como a
possibilidade de se adicionar valor é reduzida para aqueles setores de uso intensivo em
recursos naturais, o aumento do market-share no valor das exportações mundiais fica
reduzido, e a taxa de concentração de mercado se eleva, assim como a estrutura das
exportações mundiais.
Na verdade a elevada concentração de mercado identificada pelo IHH reforça que o
dinamismo das exportações mundiais está agrupando-se em setores de ponta, intensivos em
capital acompanhados de programas de pesquisa e desenvolvimento, ciência e tecnologia que
apresentam as maiores variações entre períodos. Dentre esses setores estão os identificados na
115
Figura 8, ou seja, aqueles que apresentam a maior taxa de variação entre os períodos e por
isso mesmo considerados os mais dinâmicos do comércio internacional.
A concentração das exportações mundiais nos setores 6, 7 e 8 indica também uma
centralização do valor adicionado e de mudanças estruturais na organização dos processos
produtivos, cumprindo objetivos de transferência de linhas de montagem a outras nações
caracterizando as redes internacionais de produção e o aumento do market-share dos setores
que fazem uso dessas estratégias. Portanto, a variação dos vinte produtos mais dinâmicos
continua dependendo não apenas do uso intensivo em tecnologia, mas também cumprindo
uma etapa de aproveitamento de vantagens comparativas em outros mercados.
O mercado altamente concentrado em nível mais agregado do SITC é facilitado pelas
barreiras à entrada e à saída desses setores, ou seja, a inclusão nesses setores exige um
poderio concentrado de tecnologia que torna o acesso muito restrito a um possível entrante.
Como os investimentos para se manter nesse segmento foram elevados, a permanência nele
depende do atendimento de novos pacotes tecnológicos e no caso de não poder atendê-los a
empresa atuante busca fusões, aquisições e incorporações evitando a saída em função das
perdas irrecuperáveis.
A permanência como seções mais dinâmicas nos três períodos analisados e o próprio
aumento da taxa de concentração de mercado pelos setores 6, 7 e 8 assim como a
caracterização de um aumento no grau de concentração das exportações mundiais são
resultado dessas mudanças estruturais e da sensibilidade da demanda mundial aos
investimentos em setores de alta tecnologia.
Assim, o progresso técnico influencia na distribuição geográfica dos investimentos
externos diretos de muitas formas. As inovações rápidas criam as vantagens que motivam as
empresas a apressarem a produção internacional; em conseqüência, as indústrias intensivas
em inovação tendem a transnacionalizar-se cada vez mais e, para manter sua competitividade,
116
devem perseguir constantemente a inovação (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
2002).
Alguns subgrupos das seções 6, 7 e 8, aqueles apontados como os mais dinâmicos no
período de 1995 a 2000, entre eles:
7931 – “Warships of all kinds”; 7643 – “Television,
radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho”; 6642 – “Optical glass and elements of
optical glass (other than opticall)”; 7923 – “Aircraft, mechanically propelled (other than
helicopters), of na”; 6812 – “Platinum and other metals of the platinum group (included
rolled)”; 7641 – “Electrical line telephonic and telegraphic apparatus”, entre outros, explicam
por que as atividades intensivas em inovação também criam mudanças nas estruturas de
comércio e produção.
Com a fabricação de produtos mais intensivos em tecnologia, diminui a importância
dos investimentos estrangeiros diretos nas atividades primárias pouco intensivas em
tecnologias, e com isso estas oferecem reduzidas possibilidades de agregação de valor e
ganho de market-share. As novas tecnologias de informação e comunicação intensificam a
competência das empresas e as capacitam a administrar processos produtivos em diferentes
países, o que tem contribuído para uma concentração de mercados por meio de setores que
fazem uso dessas estratégias e isso tem ampliado os investimentos estrangeiros diretos para
esses setores e produtos (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2002).
117
5 O DINAMISMO DAS EXPORTAÇÕES DA CORÉIA DO SUL
As orientações de mercado dadas por condições históricas e naturais de fatores,
somadas às eficiências de políticas industriais seletivas a setores com elevada tecnologia que
tiveram o Estado como agente interventor do processo, foram as condicionantes para um
sucesso competitivo no comércio internacional de economias que adotaram a promoção das
exportações como padrão de inserção externa.
Países como Coréia do Sul têm adaptado políticas industriais com intuito de acelerar o
ritmo de industrialização e inserção no mercado externo, assim o fizeram a partir da década de
60, quando abandonaram a política de substituição de importações em direção à dinâmica
internacional e conseguiram ampliar suas cotas de mercado. Atualmente o sucesso exportador
da Coréia do Sul é explicado também por condicionantes da política industrial seletiva.
A orientação para fora permitiu maiores taxas de inversões de investimentos
estrangeiros destinados ao aumento da demanda de bens de capital importados, e, aliada a um
nível relativamente alto de qualificação da mão-de-obra, foi condição essencial para o êxito
das políticas industriais da Coréia, enquanto a permanência no modelo de substituição de
importações se mostrava frágil e incondizente com as mudanças na demanda internacional
(RODRIK, 1995; WADE, 1990; AMSDEN, 1989).
As mudanças na estrutura do comércio internacional exigiam intervenções
generalizadas subsidiando e coordenando projetos de inversão de capitais estrangeiros e
realocando recursos a indústrias modernas que faziam uso intensivo de capitais e força de
trabalho qualificado. A estratégia de desenvolvimento para fora conteve as imperfeições do
mercado e contribuiu para uma inserção competitiva para países que fizeram bom uso de
políticas industriais.
118
5.1 COMPOSIÇÃO DA PAUTA SUL-COREANA
A composição da estrutura exportadora da Coréia do Sul desde 1985 já apresenta
elevadas taxas de concentração nos setores 6, 7 e 8. A partir desta data nota-se uma
especialização em produtos provenientes da seção 7 que, em 2000, apresenta uma
porcentagem da exportação equivalente a 63,96% da pauta da Coréia do Sul.
De acordo com a Tabela 6, a Coréia do Sul desde 1985 vem se especializando nos
setores mais importantes do comércio internacional. Neste mesmo ano, os setores
correspondentes às seções 6, 7 e 8 da economia coreana exportaram em valor o equivalente a
87,49% da pauta, contribuição que em 2000 diminuiu para 87,43%, mas que se manteve
estável ao longo do período quando analisado em conjunto.
Aqueles setores: 6 – “bens fabricados classificados principalmente por material”; 7 –
“maquinarias e equipamentos de transportese 8 – “artigos fabricados múltiplos” apresentam
uma tendência diferenciada na pauta sul-coreana ao longo do tempo, porém uma participação
média de 88,54% no período estudado (1985-2000). Isto significa que, para cada 10%
acrescidos em valor na pauta da Coréia, 8,85% foram gerados nos setores 6, 7 e 8. Em termos
agregados estes setores respondem por 65% da demanda mundial, demonstrando uma elevada
concentração da estrutura importadora dos países industrializados caracterizando-os como os
mais importantes do comércio mundial (Tabela 6).
A elevada concentração da pauta de exportação da Coréia do Sul. Em torno das seções
6, 7 e 8 no mínimo discrimina uma política industrial altamente correlacionada ao longo do
período em favor de manufaturas de alta tecnologia. Esta assertiva é reforçada pela baixa
participação de produtos básicos nas exportações da Coréia do Sul. Em relação às seções 0 e 2
a presença, em 1985, foi da ordem de 6,57% do total exportado e em 2000 a inserção externa
nesses setores cai para 3,36% (Tabela 6).
119
Tabela 6 - Composição da estrutura exportadora sul-coreana medida pela porcentagem das exportações em nível de um dígito do SITC.
Porcentagem das exportações da economia sul-coreana
Seção Setores
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0
comidas e animais vivos destinados ao
consumo imediato
5,7 5,39 5,18 4,7 4,32 4,06 4,02 4,07 3,97 3,63 3,45 3,26 3,23 3,06 2,66 2,47
1
bebidas e tabaco
0,5 0,4 0,31 0,25 0,23 0,22 0,19 0,14 0,1 0,09 0,12 0,13 0,14 0,14 0,15 0,15
2
materiais crus, não comestíveis, menos
combustíveis
0,87 0,8 0,83 0,96 1,13 1,22 1,27 1,28 1,26 1,14 1,07 1,05 1,08 1,03 0,95 0,89
3
combustíveis e minerais, lubrificantes
e materiais relacionados
2,74 2,08 1,37 1,24 0,29 0,36 1,62 1,61 1,55 1,61 2,1 2,61 2,79 2,91 3,49 3,91
4
animais, óleos vegetais e gorduras
0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,02 0,02 0,02 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01 0,01
5
substâncias químicas e produtos
relacionados
1,83 1,78 1,75 1,78 2,04 2,33 2,66 3,02 3,45 3,69 3,84 4,05 4,32 4,19 3,88 3,63
6
bens fabricados classificados
principalmente por material
19,24 17,23 16,2 15,96 16,3 16,54 16,48 16,27 15,68 14,74 14,14 13,86 14,57 14,23 13,04 12
7
maquinarias e equipamentos de
transportes
25,23 29,08 32,4 34,23 34,86 35,28 35,75 39,06 44,48 51,79 55,91 58,08 57,3 58,86 61,77 63,96
8
artigos fabricados múltiplos
43,01 42,44 41,09 39,97 39,82 39,01 36,99 33,62 28,61 22,41 18,28 15,59 14,38 13,37 12,03 11,47
9
artigos e transações não classificadas
em outro lugar
0,85 0,79 0,87 0,91 1 0,97 1 0,91 0,89 0,89 1,1 1,36 2,2 2,2 2,03 1,52
Fonte : Elaborado pelo autor a partir de dados do TradeCAN, 2002
120
A concentração das exportações sul-coreanas em setores de alta sofisticação
tecnológica já se observa a partir de 1965, quando ficam mais evidentes as estratégias do
Estado coreano de promover uma inserção externa em setores de alto dinamismo
internacional, pois as limitações de recursos naturais e um reduzido mercado interno
impossibilitaram o prolongamento do modelo de substituição de importações. O que
prevaleceu na Coréia do Sul foi uma concepção intervencionista caracterizada por um
conjunto de medidas de política econômica que permitiram a correção de falhas de mercado.
A partir da década de 60, as políticas industriais seletivas da Coréia do Sul utilizavam
a estratégia de importar uma alta proporção de valor em sua maioria de produtos eletrônicos
como computadores portáteis e telefones celulares. Nesse período, predominava a substituição
de importação das peças e componentes utilizados na fabricação destes produtos com a
finalidade de criar empregos bem remunerados e elevar o potencial de demanda do mercado
interno, ao mesmo tempo em que se capacitavam as empresas nacionais a competir
externamente (AMSDEN, 2004)
As políticas de substituição de importações foram utilizadas pela Coréia do Sul para
fomentar a produção de alta tecnologia, e seus resultados geraram menos distorções que as
políticas utilizadas para desenvolver as indústrias de tecnologia média na medida em que não
estavam sujeitas a medidas protecionistas e alfandegárias (AMSDEN, 2004).
A estrutura exportadora sul-coreana já apresentava fortes resultados positivos a partir
de 1985 e os setores em que a pauta mais se concentrava foram aqueles em que a participação
governamental selecionou um a um beneficiando-os com subsídios traduzidos em instalações
de modernos parques científicos, preparação de recursos humanos, investimentos em CeT e
PeD.
O alcance das políticas de substituições de importações nas indústrias de alta
tecnologia da Coréia do Sul apresentou nítidos resultados positivos, a importação de elevados
121
aparelhos eletrônicos conduziu a uma produção interna de componentes desses produtos e aos
poucos dirigiu a uma especialização dinâmica no comércio internacional. As proteções
utilizadas nesses segmentos deram condições objetivas às indústrias nacionais na competição
externa.
A intervenção governamental por meio de políticas seletivas aos setores 6- “bens
fabricados classificados principalmente por material”; 7 – “maquinarias e equipamentos de
transportes” e 8 – “artigos fabricados múltiplos” criou novos segmentos de mercado e
concentrou as exportações da pauta nessas seções. A estimulação das indústrias de alta
tecnologia se deu em várias frentes: por meio de uma política fiscal expansionista; incentivo
às indústrias nascentes que já dispunham de dinamismo internacional; inversões das
instituições governamentais, entre outros.
A participação ativa do governo em projetos para exploração de setores-chaves que
oferecessem uma predisposição de lucro expectacional nas: baseada em iniciativas pequenas
para substituir as componentes-chave, objetivando a criação de oportunidades de crescimento
com valor agregado locais e a diminuição das disparidades tecnológicas, permitindo que a
iniciativa privada assumisse os empreendimentos e melhorassem a inserção externa do país
(AMSDEN, 2004).
A intervenção buscava desenvolver todos os tipos de promoção que convergiam para
as indústrias qualificadas de estratégicas em função da densidade do uso de tecnologia,
geração de valor agregado, mercado potencial, efeitos prospectivos e retrospectivos. Esses
atributos, em conjunto, significavam elevado potencial de demanda externa e suportavam
competitivamente a concorrência, o que criava margem para uma participação mais igualitária
dos ganhos do comércio.
122
A contribuição conjunta dos setores de 0 a 4 na pauta da Coréia do Sul sempre foi
reduzida e com tendência declinante no período. Em 1985 estes setores geravam 9,83% da
receita de exportação do país, em 2000 o valor exportado reduziu para 7,43%, indicando que a
economia possui baixa dotação (vantagem comparativa) em setores intensivos em recursos
naturais (Figura 9).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
participação setorial no mercado
0-Food and live animals chiefly for food
1-Beverages and tobacco
2-Crude materials, inedible, except fuels
3-M inerals fuels, lubricants and related materials
4-Animal and vegetable oils and fats, processed
Figura 9 - Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações sul-coreanas ao
longo do período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.
Setores agregados como 2 e 3 aumentaram sua participação no percentual exportado
pela Coréia do Sul entre o período estudado, assim como ocorreu ganho também no market-
share desses setores no comércio internacional. Em 1985 eles participavam juntos com 0,43%
do comércio e em 2000 aumentaram sua fatia de mercado para 1,48%, mas a participação
continua sendo muito desconcentrada tanto para os setores individualmente considerados ou
para o conjunto deles (0 a 4), o que de fato discrimina a não-prioridade da política industrial
sul-coreana à inserção externa nesses setores (Figura 9).
123
O ganho de mercado da Coréia do Sul nos setores 2 e 3 do comércio exterior não é tão
relevante como parâmetros de inserção, uma vez que o aumento do market-share se deu em
setores que acentuaram queda de demanda internacional a partir de 1990. Por isso qualifica-
se a inserção sul-coreana em setores em declínio. A queda internacional da demanda também
se estendeu aos setores 0, 1 e 4, que apresentaram tendência declinante para o período em
termos agregados, constatada a partir dos usos ativos dos produtos sintéticos e do emprego de
tecnologias que substituíram o uso intensivo de recursos naturais (Figura 9).
A participação média dos setores 0, 1, 2, 3 e 4 em todo o período analisado foi de
1,44% enquanto o crescimento médio da demanda internacional para esse grupo foi de 4,71%,
o que significa um crescimento a cada ano abaixo da demanda internacional. Considerando a
tendência individual dos setores, o comportamento da pauta sul-coreana segue condizente
com o dinamismo da demanda internacional (Figura 9).
A análise a um dígito do comércio internacional corresponde a todas as participações
individuais dos produtos exportados em cada seção do SITC e à contribuição setorial na
demanda externa. A Figura 10 descreve a participação de mercado dos setores agregados 5,6,
7, 8 e 9 da Coréia do Sul no comércio internacional.
O setor 8 chama a atenção pela crescente participação no mercado mundial até 1988,
quando se observa uma trajetória declinante deste setor a qual se estende até 1999, atingindo a
partir daí uma certa estabilidade com uma participação de 1,60% neste ano e 1,61% em 2000.
A brusca queda na participação internacional desse setor explica a diminuição na
porcentagem exportada em todo o período estudado, assim constatado na Tabela 6 deste
capítulo. No entanto, a demanda externa para esse setor apresenta tendência ascendente em
todo o período do estudo e apresenta uma participação média de 13,98% na contribuição do
valor demandado pelo comércio internacional (Figura 10).
124
Apesar de manter uma participação de 1,64% na demanda internacional, a queda foi
significativa já que em 1985 esse setor contribuía com 5,65% do comércio, atingindo o
patamar de 6,26%, em 1988. Identifica-se que houve um grau de especialização maior da
pauta da Coréia do Sul em substituição a esse setor para a seção 7, que tanto aumenta a cota
de mercado externo como a sua participação na pauta (Figura 10).
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
participação setorial no mercado
5-Chemicals and related products, n.e.s.
6-M anufactured goods classified chiefly by material
7-Machinery and transport equipment
8-Miscellaneous manufactured articles
9-Commodities and transactions not classified
Figura 10 - Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações sul-coreanas ao
longo do período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.
De fato, o crescimento do setor 7 é muito significante, apresentando uma porcentagem
média na pauta de 44,87% em todo o período e uma contribuição média de 2,19% no cenário
internacional. A presença externa caracteriza uma inserção em setores altamente dinâmicos do
comércio, justificada pelo crescimento ascendente da demanda internacional para o setor que
em 2000 participou com 40,85% da demanda mundial, ou seja, o setor mais importante do
comércio.
125
A Figura 10 descreve uma participação externa da Coréia do Sul com tendências
diferentes para as seções 5, 9 e 6. As seções 5 e 9 apresentam crescimento positivo na
contribuição da demanda externa ao mesmo tempo em que ampliam o percentual exportado
na composição da pauta. A demanda mundial para esses setores também apresenta
crescimento ao longo do período estudado, o que significa, mais uma vez, o sincronismo da
estrutura exportadora da Coréia do Sul e as mudanças de demanda externa.
Os setores 5 e 9 contribuíram, juntos, em 2000, com 5,15% das exportações da Coréia
ou o equivalente a US$ 4,327 milhões da receita total, com uma participação média nos dois
setores do comércio internacional de 1,48% em dezesseis anos de comércio. O ganho de
mercado em setores com demanda ascendente caracteriza uma situação ótima para a pauta da
Coréia do Sul.
A seção 6 contribuiu com 13,4 % da demanda internacional em 2000, caracterizando
este setor como o terceiro mais importante do mundo em valor exportado. A porcentagem de
exportação desse setor na pauta da Coréia representou em 2000 12% da estrutura e a segunda
maior participação externa depois do setor 7, com 1,72% do mercado mundial. A participação
média no comércio mundial foi equivalente no período a 1,78%, o que demonstra um grande
esforço da política industrial sul-coreana para manter a competitividade num dos setores mais
importantes do mundo.
5.2 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE DA CORÉIA DO SUL
A matriz de competitividade se apóia na idéia de que a economia melhora seu grau de
inserção externa à medida que amplia o tamanho de suas exportações no mercado
internacional em produtos de demanda crescente, no entanto reduz sua competitividade
quando diminuir sua capacidade de penetração.
126
A capacidade de penetração é dada pela estrutura exportadora de cada país e pela
competência de atender às mudanças na demanda internacional. Nesse sentido, far-se-á uma
análise agregada da matriz de competitividade da Coréia do Sul buscando captar as mudanças
estruturais e o dinamismo em relação ao comércio internacional.
O mercado internacional é o parâmetro de avaliação da inserção externa. As mudanças
no perfil da demanda externa se relacionam com progressos técnicos e com o nível de
competição no mercado. Assim, a melhor forma de se vincular a esta dinâmica seria promover
um ingresso em setores competitivos, dada a concepção de que os mercados não são estáticos.
Em função das mudanças decorrentes nos processos de produção, novos produtos se
estabelecem no mercado, as demandas adicionais são criadas e fortemente expandidas, o que
provoca a expansão internacional do consumo externo. As demandas se ajustam mais a
determinados produtos em detrimento de outros, causando suas divergências.
O objetivo desta seção é analisar, em termos agregados e desagregados, a matriz de
competitividade da Coréia do Sul buscando identificar quais os setores em que esta tem se
especializado no comércio internacional e, mais do que isto, se esta inserção está vinculada ao
padrão de dinamismo externo.
A matriz de competitividade da Coréia do Sul é gerada a partir de ganhos e perdas de
mercado dos setores exportadores nacionais, mas a dinâmica de cada setor ou produto
exportado é dada pela variação de crescimento destes na demanda internacional. Isto posto, a
qualidade da inserção é avaliada pela concentração da pauta em determinados setores.
As mudanças setoriais na matriz de competitividade também expressam mudanças
significativas na estrutura exportadora. Como o comércio internacional é parâmetro de
avaliação, é possível qualificar o grau de inserção pelas características dos produtos
127
exportados pela Coréia do Sul e dos produtos mais importantes da matriz de importações
mundiais.
5.2.1 Matriz consolidada
Nesta seção, far-se-á a análise da matriz de competitividade da Coréia do Sul em
termos agregados do SITC (um dígito) em três períodos de tempo, com o objetivo de captar
mudanças nas participações de mercado e qualificar sua inserção internacional. Os dados
permitem comparações entre períodos e traçam tendências estruturais de longo prazo.
Uma análise da composição dos fluxos comerciais da Coréia do Sul em nível agregado
discrimina um caráter dinâmico das suas exportações. Nos três períodos observa-se um
ajustamento com a demanda internacional. A estrutura de importação tratada na seção
“mudanças estruturais no comércio internacional” traça tendências em nível agregado que são
captadas pela pauta da Coréia do Sul.
Em todos os períodos analisados, a concentração setorial em nível agregado se
estabeleceu na pauta sul-coreana nos setores de maior importância na estrutura importadora
mundial. Ao mesmo tempo em que a soma da taxa de concentração da demanda mundial para
os setores 6 - “bens fabricados classificados principalmente por material”; 7- “maquinarias e
equipamentos de transportes”e (8)- “artigos fabricados múltiplos” indicava uma participação
de 64,94%, 66,58% e 68,47% para os três períodos estudados, o perfil das exportações da
Coréia do Sul se constituía numa contribuição de 90,83%; 88,32% e 87,42% no total
exportado da sua pauta no mesmo período e para os mesmos setores (Tabela 7).
Quando se compara o grau de concentração de mercado pelo Índice de Herfindahl-
Hirschman (IHH), os resultados indicam um mercado de baixa concentração da demanda
mundial no primeiro período (IHH = 1664,28) para os setores 6, 7 e 8, e altamente
concentrado no segundo e terceiro períodos, com IHH=1808,83, referente a 1990-1995 e
128
IHH=2051,14 para o último período (Tabela 7). O avanço tecnológico dos processos
produtivos, aliado a uma reestruturação das estratégias globais das empresas transnacionais,
aumentou o consumo intrafirma e a demanda por produtos intensivos em tecnologia.
Tabela 7 - Taxa de concentração de mercado e índice de Herfindahl-Hirschman para os três
períodos analisados no agregado (um dígito), das exportações sul-coreanas e da demanda
mundial.
TCM (Coréia do Sul) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
Seção 6 16,54 14,14 12
Seção 7 35,28 55,91 63,96
Seção 8 39,01 18,28 11,47
Somatório = 90,83 88,32 87,42
IHH (Coréia do Sul) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
Seção 6 273,63 199,88 143,95
Seção 7 1244,55 3125,56 4090,64
Seção 8 1521,95 333,99 131,46
Somatório = 3040,13 3659,42 4366,04
TCM (demanda mundial) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
Seção 6 16,29 15,23 13,39
Seção 7 34,71 37,05 40,86
Seção 8 13,95 14,3 14,22
Somatório = 64,94 66,58 68,47
IHH (demanda mundial) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
Seção 6 265,22 231,93 179,38
Seção 7 1204,58 1372,36 1669,51
Seção 8 194,48 204,54 202,26
Somatório = 1664,28 1808,83 2051,14
Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados do TradeCAN, 2002.
As exportações sul-coreanas em termos agregados apresentam grande destaque quanto
à participação em setores com forte demanda internacional. Na análise para os três períodos
houve aumento de market-share no mercado dessas seções e na pauta houve uma crescente
especialização de 37,61%; 59,75% e 69,39% nos setores ótimos correspondentes aos períodos
85/90, 90/95 e 95/00 como pode ser visto na (Tabela 8)
Na pauta sul-coreana, as exportações dos setores 6, 7 e 8 se apresentaram como
altamente concentradas nos três períodos analisados e com tendência ascendente a longo
prazo, o que indica uma especialização na pauta nestas seções. Em termos agregados, somente
129
a seção (7) obteve participação nos setores ótimos. A seção 8 proporciona condições de
demanda favoráveis no primeiro e no segundo períodos, seguida de retração do mercado
externo no terceiro período, quando ocorre perda de market-share da Coréia do Sul neste
setor, contribuindo com apenas 11,47% da pauta (Tabela 8).
Tabela 8 - Matriz de competitividade da Coréia do Sul, medida pela porcentagem das
exportações, ao nível de um dígito no comércio internacional, no período de 1985-1990,
1990-1995 e 1995-2000.
Contribuição setorial nas exportações totais da Coréia do Sul 1985-1990 1990-1995 1995-2000
SETORES ÓTIMOS
37,61 59,75 69,39
(5)-substâncias químicas e produtos relacionados 2,33 3,84 0
(7)-maquinarias e equipamentos de transportes 35,28 55,91 63,96
(4)-animais, óleos vegetais e gorduras. 0 0,01 0
(3)-combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais
relacionados 0 0 3,91
(9)-artigos e transações não classificadas em outro lugar 0 0 1,52
SETORES EM DECLÍNIO
2,19 2,1 19,15
(2)-materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis 1,22 0 0,89
(9)-artigos e transações não classificadas em outro lugar 0,97 0 0
(3)-combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais
relacionados
0 2,1 0
(0)-comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato 0 0 2,47
(1)-bebidas e tabaco 0 0 0,15
(4)-animais, óleos vegetais e gorduras. 0 0 0,01
(5)-substâncias químicas e produtos relacionados 0 0 3,63
(6)-bens fabricados classificados principalmente por material 0 0 12
OPORTUNIDADES PERDIDAS
55,77 19,37 0
(1)-bebidas e tabaco 0,22 0 0
(6)-bens fabricados classificados principalmente por material 16,54 0 0
(8)-artigos fabricados múltiplos 39,01 18,28 0
(9)-artigos e transações não classificadas em outro lugar 0 1,1 0
SETORES EM RETROCESSO
4,43 18,78 11,47
(0)-comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato 4,06 3,45 0
(3)-combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais
relacionados 0,36 0 0
(4)-animais, óleos vegetais e gorduras. 0,01 0 0
(1)-bebidas e tabaco 0 0,12 0
(2)-materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis 0 1,07 0
(6)-bens fabricados classificados principalmente por material 0 14,14 0
(8)-artigos fabricados múltiplos 0 0 11,47
Fonte: elaborada pelo autor, a partir do tradeCAN, 2002.
A seção 6 se revela como a mais versátil entre as três mais importantes da pauta sul-
coreana. No primeiro período, as condições de demanda externa apresentam crescimento
aliado a uma perda de participação da Coréia do Sul nesse segmento. A partir do segundo
130
período a demanda em termos agregados para este setor se revela como decadente, incluindo
uma perda de market-share das exportações (setores em retrocesso) e posteriormente um
ganho de mercado somado a uma continuada queda na demanda (Tabela 8).
A despeito ainda dos setores com forte demanda externa, outro fator positivo da
inserção sul-coreana ao longo de todos os períodos foi a redução de perdas de market-share
em segmentos de mercado ascendente. Nota-se que, ao longo de cada período, se reduz a
participação na pauta de produtos que haviam perdido market-share, e, caso ocorra ganhos ao
invés de perdas, a participação se concentra nos setores ótimos e não nas oportunidades
perdidas, resultando em melhora de competitividade do país (Tabela 8). Este movimento é
captado pela matriz de competitividade da Coréia do Sul nos vários momentos em que
diminui a participação na pauta de setores em condições de oportunidades perdidas e
aumenta-a de setores ótimos.
Em valores, a contribuição na pauta dos setores ótimos no seu melhor desempenho em
todo o período correspondeu a US$ 58,303 milhões, sendo US$ 53,741 milhões provenientes
apenas da seção 7, a mais dinâmica do comércio internacional, com uma participação na
importação mundial de 40,86% ou o equivalente a US$ 1,688 bilhões, indicando este como o
setor em que a Coréia do Sul mais se especializou nestes dezesseis anos de comércio.
As mudanças na estrutura sul-coreana são dinamicamente significativas. A parcela de
mercado na seção 7, que foi de 1,83% no primeiro período, se expandiu para 3,18% entre
1995-2000, tendo sido de fato esta última a maior parcela de mercado da pauta sul-coreana,
seguida apenas pelos setores 6 e 8 com market-share de 1,82% e 1,63%, respectivamente, no
último período da matriz de competitividade.
As participações de mercado e demanda externa são balizadores da inserção
competitiva. Assim, os ganhos de mercado em setores com demanda decadente no primeiro e
segundo períodos apresentam baixa participação, ou seja, apenas 2,19% e 2,10% da pauta
131
foram provenientes de setores em declínio. Contudo, entre 1995-2000, as condições de
demanda ficam um pouco desfavoráveis em relação aos períodos anteriores e notadamente cai
a competitividade das exportações sul-coreanas pelo aumento da participação da pauta em
setores em declínio no último período.
No terceiro período, 19,15% das exportações sul-coreanas foram gerados em setores
que apresentaram diminuição na demanda externa, tendo a Coréia do Sul aumentado market-
share no comércio internacional. As exportações nos setores em declínio somaram, entre
1995-2000, uma participação de US$ 16,090 milhões, o que significa que, incluindo a
participação dos setores em retrocesso que responderam por US$ 9,937 milhões, as
exportações foram oriundas em 30,62% de produtos estagnados no comércio internacional.
Na comparação entre os três períodos, a participação dos setores estagnados apresenta
tendência de elevação, com a maior participação detectada entre 1995 e 2000. Nos primeiros
períodos, a contribuição na pauta foi de 6,62% e 20,88%, respectivamente. A perda de
competitividade das exportações sul-coreanas é explicada por um desaquecimento da
demanda para os setores 6, entre 1990 e 1995, e 8, entre 1995 e 2000, que apesar da
diminuição do valor importado representaram a 2ª maior parcela de consumo mundial, cada
um no seu período correspondente.
A perda de competitividade da matriz da Coréia do Sul pelo aumento da
especialização em produtos estagnados se deve a uma forte associação da sua pauta com a
dinâmica da demanda internacional. Os setores que lideraram essa concentração são os
mesmos que apresentam a maior taxa de concentração das importações mundiais (6, 7 e 8),
ainda que com diferenças nas taxas de concentração e Índice de Herfindahl-Hirschman entre
os três períodos. Essas diferenças, aliadas aos ganhos de mercado, determinaram a inserção da
Coréia do Sul na dinâmica do comércio internacional.
132
Aquele setor onde houve a perda de market-share internacional somado a uma
diminuição da demanda externa respondeu por 18,78% entre 1990 e 1995. No terceiro
período, ocorre uma desespecialização nesse setor que contribui com apenas 11,47% para a
pauta de exportação, isto diminui a situação de vulnerabilidade e melhora o posicionamento
da matriz de competitividade da Coréia do Sul. Quanto aos 18,78% de contribuição do setor
em retrocesso, a seção (6) respondeu por 14,14% desse total, o que corresponde a US$ 8,018
milhões das exportações (Figura 11).
Os aumentos de participação nos setores em declínio e em retrocesso provocam igual
movimento nos produtos estagnados, ou seja, que apresentam demanda internacional
decrescente. Ao longo dos três períodos se observa uma tendência positiva daqueles produtos,
e em contrapartida uma diminuição dos produtos dinâmicos na pauta sul-coreana (Figura 11).
69,39
30,61
79,12
93,38
6,62
20,88
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
1985-1990 1990-1995 1995-2000
Commodities dimicas
Commodities estagnadas
Figura 11 - Participação na pauta de produtos com demanda ascendente e declinante, ao longo
de três períodos de tempo e analisados agregadamente (1 dígito) do SITC.
Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
As maiores contribuições na pauta de produtos estagnados responderam por 20,88%
entre 1990 e 1995, e 30,61%, entre 1995 e 2000, contribuições bem acima dos 6,62% do
primeiro período. Mais uma vez a queda de competitividade provocada pelo aumento da
133
especialização em produtos estagnados se deve em maior proporção à dinâmica do comércio
internacional.
No segundo período, 14,14% das perdas provieram da seção 6 no agregado, cujo setor
se colocou em 2º lugar entre 1990 e 1995, com uma taxa de concentração equivalente a
15,23% da demanda internacional. Entre 1995 e 2000, os setores 6 e 8, que também
apresentaram demanda em retração, responderam juntos por 23,47% dos 30,61% da pauta
assinalados como produtos estagnados. Nesse período esses setores ocuparam a 3º e 2º
colocações com taxas equivalentes a 13,39% e 14,22% da demanda externa.
Mesmo computando perdas de participação nas importações totais, o market-share das
seções 6 e 8 continua entre as três maiores na demanda internacional, de forma que alterações
para mais ou para menos modificam a matriz de competitividade da Coréia do Sul que
especializou sua pauta nestes setores com inclusão do setor 7, ou seja, a estrutura de
exportação em nível agregado está condizente com a dinâmica internacional da demanda.
No segundo e terceiro períodos, a participação dos setores com demanda estagnada
foi, respectivamente, de US$ 11,840 e US$ 25,728 milhões, um aumento significativo tanto
em termos percentuais como absolutos. Entre 1990 e 1995, o setor 6 contribuiu com US$
8,018 milhões, ou seja, 67,72% do valor exportado de produtos estagnados. No terceiro
período, os setores estagnados exportaram US$ 25,720 milhões, dos quais 39,23% provieram
do setor 6, 37,47% do setor 8 e o restante, 23,29%, dos setores 0 e 5.
Ao longo do período diminui a participação dos produtos dinâmicos nas exportações
da Coréia do Sul de 93,38% para 79,12% e, no último período, a participação foi de apenas
69,39% (Figura 11). Em termos agregados, isto significa que diminuíram as perdas em setores
com demanda ascendente, ao mesmo tempo em que a dinâmica da demanda internacional se
altera em relação aos produtos das seções 6 e 8.
134
A queda de participação dos setores dinâmicos no total exportado pela Coréia do Sul
indica, de acordo com a matriz de competitividade, uma mudança significativa da demanda
externa. A partir do segundo momento, diminui o consumo agregado do setor 6 que se estende
ao último período, enquanto a demanda pela seção 8 entra em declínio no terceiro período.
Portanto, a mudança de competitividade da Coréia do Sul com relação à participação dos
produtos dinâmicos está relacionada a condicionantes externas de demanda.
A diminuição dos produtos dinâmicos na pauta concentram um aumento da
especialização de mercado em setores com forte demanda externa. A perda de
competitividade pela redução dos produtos dinâmicos é compensada pelo aumento dos ganhos
de mercado no último período em setores que apresentavam forte demanda no primeiro
período, no qual se enquadra a seção 6, participando com 12% da pauta nesse período.
Numa análise horizontal da matriz, observa-se que os ganhos de mercado
apresentaram crescimento em todo o período, com destaque para o último, quando 88,53% do
valor exportado se originou de setores que almejaram ganhos de mercado externo (Figura 12),
sendo que 78,12% do valor exportado correspondente foram provenientes de produtos
dinâmicos ou o equivalente a US$ 58,305 milhões dos US$ 74,387 milhões da receita de
exportação dos produtos que obtiveram variações positivas de market-share.
No primeiro período, os setores que não apresentaram ganhos de market-share
representaram 60,20% da pauta. No entanto, a partir do segundo período ocorre uma mudança
de tendência com uma inversão praticamente equivalente de ganhos e perdas, e no terceiro
período a contribuição de setores que ganharam mercado na pauta continua ascendente
(Figura 12).
Os ganhos de mercado são relevantes, precisamente porque identificam um aumento
da especialização nos setores ótimos com destaque para a contribuição do setor 7 –
“maquinaria e equipamento de transporte”, que participou com 35,28%, 59,75% e 63,39% da
135
pauta nos três períodos consecutivos. A participação dos produtos estagnados nos ganhos de
mercado respondeu apenas por 19,15% da pauta na sua maior contribuição identificada entre
1995 e 2000, fato que se deve a uma mudança de dinâmica externa das importações (Figura
12).
De forma alguma o aumento da participação nos ganhos de mercado, proveniente de
produtos estagnados, diminui o mérito da inserção externa da Coréia do Sul, precisamente
porque os setores nos quais houve aumento de market-share estão entre os três mais
importantes do comércio internacional, a saber: a seção (6), que gerou 12% da receita de
exportação da Coréia do Sul, e a seção 7, que contribuiu com 63,96 do valor da pauta no
terceiro período (Figura 12).
Figura 12 - Participação na pauta em percentual de setores que ofereceram ganhos e perdas
de market-share no comércio internacional, análise agregada (1 dígito) do SITC.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
Uma melhoria qualitativa da pauta sul-coreana está na diminuição percentual de
participação de setores que não obtiveram êxito em ganhar market-share no comércio
internacional, ou seja, no primeiro período, mais de 50% da pauta estava concentrada em
setores que perderam participação externa e entre 1995 e 2000 ocorreu uma
100,00
Ganhos de mercado
90,00
88,53
80,00
70,00
61,85
60,20
60,00
50,00
40,00
39,80
38,15
30,00
20,00
11,47
10,00
0,00
1985-1990 1990-1995 1995-2000
Perdas de mercado
136
desespecialização, e apenas um pouco mais de 10% do valor exportado foram provenientes de
setores de perdas.
Na comparação entre o primeiro e o segundo períodos houve uma diminuição de
participação na pauta de setores que não ofereceram ganhos de mercado. No entanto, na
hipótese de não ter havido perda de competitividade e em vez de ter diminuído a participação
no período seguinte (1990-1995), os setores em retrocesso e oportunidades perdidas
mantivessem a mesma market-share, qual seria a perda estimada em milhões de dólares nesse
período?
No segundo e terceiro períodos, caso não tivessem ocorrido perdas de participação nos
setores 8, 9, 0, 1, 2, 6, para os quais a Coréia do Sul compete, ter-se-ia incorporado na pauta o
equivalente a US$ 14,938 milhões entre 1990 e 1995 e apenas US$ 3,384 milhões não foram
agregados ao valor exportado entre 1995 e 2000, o que indica uma melhora de
competitividade da pauta pela redução de setores que perderam market-share.
Esta constatação é significante, pois entre 1985 e 1990 a Coréia do Sul deixou de
ganhar apenas US$ 2,673 milhões e no último período foram acrescidos em relação a este
valor somente US$ 711 milhões, que corresponderam a 11,47% do valor da pauta gerado
apenas pelo setor 8 - “artigos fabricados múltiplos”. Apesar da elevada concentração da pauta
no primeiro período em setores que perderam participação, as perdas de market-share foram
pequenas. Isto significa que a magnitude da perda está relacionada não com a elevada
participação na estrutura exportadora, mas com a dimensão da perda de market-share e com o
valor das vendas internacionais do produto.
Portanto, nos períodos de 1985-1990 e 1995-2000, os valores relativamente baixos que
deixaram de ser incorporados na pauta são explicados por uma perda de market-share
acumulada entre os setores equivalente a 0,87% e 0,57% para o 1º e 3º períodos, porque no 2º
137
período 3,73% foi a soma acumulada das perdas de market-share, o que também explica os
US$ 14,938 milhões.
5.2.2 Matriz detalhada
Em termos desagregados (4 dígitos), a estrutura exportadora da Coréia do Sul mantém
uma tradição de política industrial concentrada nas seções 6, 7 e 8 condizentes com os setores
mais importantes do comércio internacional. Nesta seção, se confirmam algumas tendências e
outras contrastam na comparação com a matriz consolidada. Em parte isto ocorre em função
de a matriz detalhada selecionar os dez produtos mais importantes de cada setor.
A matriz de competitividade detalhada ou desagregada da Coréia do Sul representa
uma contribuição de 66,98% da receita de exportação, o que significa que US$ 56,283
milhões são provenientes do conjunto desses quarenta subgrupos. No ano-base 1985, esses
produtos já contribuíam com 45,15% da pauta ou o equivalente a US$ 9,339 milhões, um
crescimento real de 602 vezes no ano final, e na média 37,66% ao ano em todo o período
analisado.
No entanto, não houve um crescimento apenas real, mas também qualitativo das
exportações pelo aumento da parcela de mercado em setores importantes do comércio
internacional, tanto em termos agregados quanto desagregados provenientes da seção 7. A
política industrial sul-coreana agiu a fim de aumentar a especialização daqueles setores que já
se destacavam entre os dez mais importantes em 1985. A partir daí as mudanças na dinâmica
das importações foram sendo incorporadas pela pauta da Coréia do Sul.
Em 2000 melhora a inserção competitiva da Coréia do Sul, principalmente pelas
condições de demanda externa, havendo uma grande concentração da pauta em setores com
elevada demanda internacional, aliada aos ganhos de mercado de suas exportações que
representavam 8,04% em 1985 e 46,40% em 2000 (Tabela 9).
138
Tabela 9 - Matriz de competitividade da Coréia do Sul definida pela cota de mercado da
porcentagem das exportações, ao nível de 4 dígitos do SITC. Os produtos mais importantes
entre 1985 e 2000.
Contribuição setorial nas exportações totais da Coréia do Sul 1985 2000
SETORES ÓTIMOS
8,04 46,40
7764 - Electronic microcircuits 3,19 14,19
7810 - Passenger motor cars ( other than public-service type 1,59 9,99
7599 - Parts, n.e.s. of and accessories for the machines of headings 751 0,51 5,40
7525 - Peripheral units, including control adapting unit (connectable di 0,28 5,24
7643 - Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho 0,30 4,66
7523 - Complete digital central processing units; digital processors con 0,44 2,49
7524 - Digital central (main) storage units, separately consigned 0,00 1,78
7788 - Other electrical machinery and equipment, n.e.s. 0,85 1,21
6251 - Tyres, pneumatic, new, of a kind normally used on motor cars 0,62 0,74
7849 - Other parts and accessories, n.e.s. of the motor vehicles falling 0,25 0,71
OPORTUNIDADES PERDIDAS
14,17 7,24
8451 - Jerseys, pull-overs, slip-overs, twinsets, cardigans, bed-jackets 3,23 1,26
7649 - Parts, n.e.s. of and accessories for the apparatus and equipment 1,55 1,25
9310 - Special transactions and commodities not classified according to 0,72 1,10
8459 - Other outer garments and clothing acccessories (other than gloves 1,65 0,61
7611 - Television receivers, colour (including receivers incorporating r 1,45 0,59
8983 - Gramophone (phonograph) records and other sound or similar record 0,93 0,57
7641 - Electrical line telephonic and telegraphic apparatus (including 0,64 0,55
8439 - Other outer garments, women's, girls and infants', of textile fab 1,23 0,46
8441 - Shirts, men's and boys', of textile fabrics, other than knitted o 2,24 0,43
8939 - Miscellaneous articles of the materials falling within division 5 0,53 0,42
SETORES EM DECLÍNIO
5,26 8,68
7638- Other sound recorders and reproducers, n.e.s. and magnetic televi 1,56 1,69
3341- Motor spirit (gasoline) and other light oils 0,65 1,55
7932- Ships, boats and other vessels (other than war-ships, tugs, speci 1,34 1,19
3342- Kerosene and other medium oils 0,47 1,05
6749- Other sheets and plates, of iron or steel, worked (e.g., polished 0,51 0,69
3343- Gas oils 0,03 0,68
7234- Construction and mining machinery, n.e.s. 0,02 0,58
7938- Tugs, special purporse vessels and floating structures 0,16 0,48
9710- Gold, non-monetary (excluding gold ores and concentrates) 0,05 0,42
6514- Yarn containing 85% or more by weight of synthetic fibres, not pu 0,46 0,34
SETORES EM RETROCESSO
17,69 4,67
7758 - Electro-thermic appliances, n.e.s. 1,46 0,95
6727 - Iron or steel coils for re-rolling 1,06 0,63
8510 - Footwear 8,22 0,59
6531 - Fabrics, woven, of continuous synthetic textile materials 70/ 1,11 0,56
0342 - Fish, frozen (excluding fillets) 1,37 0,48
0360 - Crustaceans and molluscs, whether in shell or not, fresh, live o 1,34 0,33
6783 - Other tubes and pipes, of iron (other than cast iron) or steel 1,44 0,33
6252 - Tyres, pneumatic, new, of a kind normally used on buses and lorri 0,48 0,31
6744 - Sheets and plates, rolled but not further worked, of a thickness 0,68 0,25
6931 - Stranded wire, cables, cordage, ropes, plaited bands, slings and 0,53 0,23
Fonte: Elaboração própria a partir do TradeCAN, 2002.
139
A especialização nos setores ótimos também se observa nos três períodos da matriz
consolidada. Na matriz detalhada, o crescimento real foi 2,344 vezes maior entre 1985 e 2000,
ou seja, a diferença em valor entre as exportações no período foi de US$ 37,324 milhões.
Entre os setores exportadores, nove entre os dez mais importantes desse grupo foram da seção
7 e participaram com 45,66% do valor da pauta (Tabela 9).
A melhora de competitividade também é observada por meio da desespecialização nos
setores em retrocesso, o que significa que diminuiu a dependência na pauta de produtos com
demanda internacional decrescente, concomitantemente se reduzindo a vulnerabilidade das
exportações sul-coreanas. Em 1985, 17,69% do valor da pauta foram provenientes de
subgrupos com demanda estagnada, percentual que se reduziu para 4,67% em 2000. Alguns
produtos, como o 0342 - “Fish, frozen (excluding fillets)” e 0360 - “Crustaceans and
molluscs, whether in shell or not, fresh, live o”, não refletem as vantagens competitivas da
pauta sul-coreana (Tabela 9).
Outros subgrupos deste setor como 8510 – “Footwear”, 6531 – “Fabrics, woven, of
continuous synthetic textile materials 70/” e 6783 – “Other tubes and pipes, of iron (other than
cast iron) or steel”, reduziram seu market-share de 12,64%, 12,35% e 9,21%, na mesma
ordem, para uma participação internacional de 1,36%, 11,42% e 4,93%, respectivamente. A
redução de participação externa soma-se a uma queda percentual na demanda destes produtos
que, juntos, contribuíam com 1,32% das exportações mundiais e reduziu-se para 1,11% em
2000 (Tabela 9).
Os produtos identificados nos setores ótimos da pauta sul-coreana participaram com
11,93% das importações mundiais naquele ano e em 2000 essa participação subiu para
18,67%, o que significa que, para cada US$ 100 acrescidos na demanda mundial, este grupo
de setores incorpora a mais US$ 6,73, uma resposta significativa para um grupo de apenas dez
produtos. O aumento da especialização e do valor exportado pela Coréia do Sul se deve
140
exatamente a estas características, aliado a uma política industrial sintonizada à dinâmica
mundial (Tabela 9).
Nos setores em retrocesso, o market-share mundial dos produtos que os compõem
respondeu por apenas 2,82% da demanda externa em 1985 e 2,43% em 2000. Identifica-se
que a soma conjunta de market-share de produtos pertencentes aos quatro setores da matriz
sul-coreana respondeu por 24,53% da demanda mundial em 1985 e 32,99% em 2000, o que
significa que quase um terço das importações mundiais são originadas pelo conjunto destes
produtos.
A exportação de produtos com participações médias de quase 1% no comércio
internacional discrimina uma dinâmica da matriz de competitividade, onde a inserção depende
mais de políticas para aumentar ganhos de mercado do que de mudanças estruturais. Outra
característica crucial da estrutura exportadora sul-coreana é a elevada concentração nas seções
6, 7 e 8. Entre os 40 produtos mais importantes, apenas 7 não pertencem a estas seções, e
entre estes, 2 produtos pertencem à seção 9- “commodities e transações não classificadas no
SITC”. Portanto, entre os produtos mais exportados pela Coréia estão aqueles mais intensivos
em tecnologia.
De um modo geral, nos produtos mais importantes da pauta da Coréia do Sul em 2000
ou para o grupo de quarenta analisados na matriz detalhada, a participação de mercado das
exportações em média apresenta market-share de 5,80% da demanda mundial, percentual
bem acima da média de participação mundial que foi de 0,94%. Alguns produtos se destacam
com contribuições de mais de 10% da demanda, mesmo apresentando perdas de mercado no
final do período. É o caso de 6531 – “Fabrics, woven, of continuous synthetic textile materials
70/” e 6931 – “Stranded wire, cables, cordage, ropes, plaited bands, slings and”, com market-
share de 11,42% e 10,63%, respectivamente.
141
Nos setores ótimos, os maiores ganhos de market-share foram derivados de produtos
como: 7764 - “Electronic microcircuits”; 7525- “Peripheral units, including control adapting
unit”; 7643- “Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho”; 7523-
“Complete digital central processing units; digital processors con” e 6251 – “Tyres,
pneumatic, new, of a kind normally used on motor cars”, com participações no mercado
mundial, respectivamente, de 11,40%, 9,29%, 11,15%, 6,04% e 6,29%.
No período analisado, diminuiu a participação de valor exportado na pauta de produtos
em que a Coréia do Sul perdeu market-share e a situação externa era de posicionamento
favorável. No entanto, a diminuição dos dez produtos mais importantes desse setor foi
significativa porque em 1985 suas participações eram de 14,17% e em 2000 caíram para
7,24%, se acrescentado que a queda em 6,93% pode ser entendida como uma exploração
inadequada do comércio exterior no final do período devido ao aumento da expansão da
demanda para o conjunto dos produtos.
A perda de market-share ocorreu naqueles setores onde se concentra alta tecnologia
pertencente às seções 6, 7, 8 e 9. Para os produtos mais importantes do comércio
internacional, a perda de market-share também é acompanhada da diminuição de participação
na pauta, o que indica uma desespecialização setorial que pode ser explicada pelo alto nível
de concorrência externa desses produtos e pela ação das multinacionais descentralizando a
produção (linhas de montagem).
Da pauta sul-coreana, os dez produtos analisados responderam por 7,24% do valor
exportado em 2000, na situação em que as importações mundias aumentaram e o país reduziu
seu market-share. Uma característica importante desse setor foi que não houve concentração
entre os seus três produtos mais importantes. No final do período, as exportações somaram o
equivalente a US$ 6,081 milhões e as três maiores contribuições foram: 8451 – “Jerseys, pull-
overs, slip-overs, twinsets, cardigans, bed-jackets”, com 17,45% do valor, seguido de 7649 –
142
“Parts, n.e.s. of and accessories for the apparatus and equipment”, que gerou 17,21% da
receita, e 9310 – “Special transactions and commodities not classified according to”, que
contribuiu para 15,14% do valor exportado no setor.
Apesar da participação dos cinco principais produtos responderem por 66,44% do
valor gerado em situação de oportunidades perdidas, o Índice de Herfindahl-Hirschman foi
abaixo de 1200 (IHH=968), indicando ausência de concentração do valor exportado nesse
setor, estrutura de mercado que se repete aos setores em declínio e em retrocesso. A
diversidade se nota nos setores ótimos que apresentaram exportações altamente concentradas,
segundo o Índice de Herfindahl-Hirschman, que foi de 1.890, e a taxa de concentração de
mercado de 85,08% para os cinco produtos mais importantes do setor.
A participação conjunta de todos os produtos discriminados em cada setor da matriz
de competitividade equivale a 66,98% da pauta da Coréia do Sul, ou seja, 33,01% do valor
exportado foram provenientes de outros setores que não estão entre os dez mais importantes
de cada setor. Dos quarenta produtos exportados, cinco participam com 39,47% do total
exportado, todos incluídos nos setores ótimos, significando que existe uma dependência da
receita sul-coreana, mas de produtos de situação favorável no comércio internacional.
Os produtos que apresentaram demanda internacional decrescente ao longo do
período, mas nas quais a Coréia do Sul ganhou market-share, acumularam um aumento de
3,42% do valor exportado. Portanto, em 2000 a contribuição dos setores em declínio
equivaleu a 8,68% das exportações, ou seja, uma receita de US$ 7,294 milhões, dos quais
51,07% foram oriundas de produtos como: 7638 – “Other sound recorders and reproducers,
n.e.s. and magnetic televi”; 3341 – “Motor spirit (gasoline) and other light oils” e 7932 –
“Ships, boats and other vessels other than war-ships, tugs, speci”, todos com participações no
total exportado acima de 1%.
143
As condições de demanda externa pioraram com os setores em declínio, o que
significa que aumentou a especialização nesse setor e diminuiu a competitividade das
exportações sul-coreanas pelo aumento da dependência de setores com demanda internacional
estagnada. A vulnerabilidade das exportações também aumenta, mas ainda permanece abaixo
dos 10%, o que significa que os ganhos de mercado se concentram em produtos dinâmicos.
As exportações da Coréia do Sul aumentaram a especialização entre 1985 e 2000 nos
produtos dinâmicos, ou seja, o notável crescimento verificado nos setores ótimos mais do que
compensou a perda de competitividade em produtos com demanda internacional em expansão
(Figura 13). Na análise vertical da matriz de competitividade, a soma dos setores ótimos e
oportunidades perdidas caracteriza uma inserção dinâmica no comércio internacional.
De fato, em 1985, os produtos dinâmicos participavam com apenas 22,21% do valor
exportado, contribuição que aumentou em 2,42 vezes em 2000, determinando que 53,64% da
receita das exportações fossem originadas de produtos com demanda em expansão, sendo que
46,40% ou o equivalente a US$ 38,987 milhões foram originados de produtos em que o país
ganhou market-share (Figura 13).
A estrutura exportadora sul-coreana melhorou a qualidade da sua inserção externa por
meio da desespecialização nos produtos estagnados. Em 1985 essas commodities
representavam 22,96% do valor das exportações e em 2000, apenas 13, 35% da receita foram
oriundos desses produtos (Figura 13). O direcionamento a setores-chave do comércio
internacional, através da exportação de produtos dinâmicos, foi a política industrial utilizada
pelo governo da Coréia do Sul, uma intervenção que protegeu as indústrias nascentes ao
mesmo tempo em que incentivou a promoção de setores de alta tecnologia compatíveis com
os padrões internacionais de produção.
144
14,17%
5,26%
46,40%
7,24%
4,67%
8,04%
8,68%
17,69%
-40,00
-20,00
0,00
20,00
40,00
-40 -20 0 20 40
Figura 13 - Matriz de competitividade detalhada (desagregada) medida pela porcentagem das
exportações no período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
Os resultados da matriz de competitividade reforçam os caminhos de uma inserção
externa competitiva das exportações da Coréia do Sul. No que diz respeito aos ganhos de
mercado, apenas 13,30% do valor exportado haviam sido gerados por produtos que
ofereceram ganhos de market-share em 1985, dentre os quais somente 8,04% de produtos
dinâmicos e 5,26% de produtos estagnados.
Em 2000, a composição setorial da matriz já havia mudado significativamente, no
sentido de estar mais sintonizada com os padrões do comércio internacional. As mudanças
observadas apontam que 55,08% do valor exportado foram provenientes de produtos que
aumentaram a parcela de mercado internacional aliado a um aumento de market-share do
país. Desse percentual 46,40% procederam dos produtos dinâmicos, ou seja, US$ 38,987
Setores em declínio Setores ótimos
2000 ---
1985 ---
Setores em retrocesso Setores de oportunidades perdidas
145
milhões e apenas US$ 7,293 milhões, ou o equivalente a 8,68% da receita, foram de produtos
com demanda estagnada.
Estes resultados atestam uma mudança significativa na qualidade das exportações sul-
coreanas e asseguram a eficácia da política industrial quanto aos ganhos de competitividade
internacional. A concentração da bolha nos setores de situação ótima revela que a
dependência das exportações da Coréia do Sul é de setores intensivos em tecnologia (Figura
13).
Outra característica importante do elevado dinamismo das exportações sul-coreanas é
o seu sincronismo com a demanda internacional. Dos dez produtos mais importantes da pauta
da Coréia do Sul descritos nos setores ótimos da matriz de competitividade, 9 estão entre os
vinte mais dinâmicos do comércio internacional. Isto significa que estes produtos, juntos,
movimentaram US$ 1,260 bilhões, ou o equivalente a 30,48% do comércio internacional em
2000.
A parcela de mercado à qual corresponde o conjunto dos 9 produtos da pauta sul-
coreana respondeu por 3,09% de tudo o que foi movimentado em torno dos vinte produtos
mais importantes do comércio internacional, o que significa que os US$ 38,986 milhões
gerados pelas exportações sul-coreanas com esses produtos representam 46,40% da receita de
suas exportações finais em 2000.
146
6 O DINAMISMO DAS EXPORTAÇÕES DO BRASIL
A inserção externa, através das exportações, sempre foi um indicador de relevância
para as economias em desenvolvimento, precisamente porque as estratégias de maiores
ganhos de comércio também faziam parte de uma etapa maior para o desenvolvimento desses
países. Nesse sentido, as políticas públicas se tornaram elementos cruciais e os Estados, os
principais indutores das orientações de mercado.
A análise do dinamismo das exportações do Brasil é também um reflexo de suas
políticas industriais passadas, sendo que a concentração na pauta exportadora de setores
dinâmicos não revela o grau de especialização dos setores externos desse país. O desempenho
do setor externo passa a ser dado de acordo com o aumento da participação de mercado em
setores com demanda internacional crescente e a diferença entre os ganhos e perdas de
mercado em cada período.
Nos últimos cinqüenta anos do comércio internacional, as orientações de política
econômica se voltaram basicamente para duas propostas, a saber: uma em que o mercado
interno era visto como uma estratégia de romper com a tendência natural da divisão
internacional do trabalho e percorrer o caminho da industrialização, pois se entendia que essa
seria uma forma mais justa de participar dos rendimentos do mercado internacional; outra
seria uma estratégia de inserção orientada para o mercado externo, buscando-se padrões de
competitividade aliada com as tendências no âmbito das indústrias mundiais.
O dinamismo do setor industrial passou, então, a ser entendido como sinônimo das
estratégias de orientações de política econômica e a inserção internacional conseqüência
dessas políticas. Tratando-se o problema de outra forma, os resultados bem-sucedidos das
novas economias industrializadas passam a ser vistos também como sucesso de um conjunto
de medidas adotadas visando a melhores arranjos no mercado externo.
147
6.1 COMPOSIÇÃO DA PAUTA DO BRASIL
A composição da estrutura exportadora brasileira no período de 1985 a 2000 identifica
as modificações na participação em valor em relação ao total exportado dos setores em termos
agregados do SITC (um dígito). O período de longo prazo (16 anos) ajuda a esclarecer as
correlações das políticas industriais e suas influências na dinâmica atual das exportações.
Por conseguinte, o grau de concentração na estrutura exportadora ao longo do período
revela uma associação da política industrial em torno de uma tendência de longo prazo na
pauta de assumir uma posição competitiva liderada por produtos dinâmicos. A Tabela 10
identifica as mudanças na composição da estrutura exportadora do Brasil no curto prazo para
captar variações na tendência exportadora. A análise da tabela se estabelece a um dígito do
SITC.
Na economia brasileira, observa-se que as seções de maior importância nas
exportações em termos agregados do SITC são: 0; 2 – “materiais crus, não comestíveis,
menos combustíveis”; 6 – “bens fabricados classificados principalmente por material” e 7-
“maquinarias e equipamentos de transportes”. Estes setores mantiveram a maior participação
em valor sobre as exportações brasileiras em todo o período, o que garantiu que 81,21% das
exportações em média no período se originassem deles.
A concentração nos setores 0 e 2 pouco importantes no comércio internacional
contradiz com a elevada parcela de valor exportada em sua soma. O desempenho dos setores
0 e 2 ao longo do período apresentam comportamentos assimétricos, com tendências opostas.
Isto significa que a diminuição de participação desses setores de comidas e animais vivos
destinados ao consumo imediato, foi compensada pelo aumento do valor exportado dos
materiais crus, não comestíveis, menos combustível, o que na média acabou compensando a
perda de receita gerada pela seção 0 (Tabela 10).
148
Tabela 10 - Composição da estrutura exportadora brasileira medida pela porcentagem das exportações em nível de um dígito do SITC
Porcentagem das exportações da economia brasileira
Seção Setores
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
0
comidas e animais vivos destinados
ao consumo imediato
36,32 34,27 31,68 28,57 27,16 25,92 25,87 25,91 26,28 25,72 25,4 24,62 23,99 23,35 21,8 21,46
1
bebidas e tabaco
2,25 2,29 2,16 1,99 2 2,35 2,81 3,08 2,85 2,53 2,61 2,84 2,86 2,49 2,04 1,84
2
materiais crus, não comestíveis,
menos combustíveis
16,13 16,45 15,67 16,84 17,82 19,17 19,58 19,49 20,06 20,57 21,09 21,75 22,04 22,05 21,57 21,15
3
Combustíveis de minerais,
lubrificantes e materiais
relacionados
3,93 3,52 3,12 3,2 2,87 2,41 1,83 1,68 1,69 1,4 1,03 0,75 0,9 1,04 1,74 1,98
4
animais, óleos vegetais e gorduras
4,93 4,52 4,12 4,2 3,87 3,41 2,83 2,68 2,69 2,4 2,03 1,75 1,9 2,04 2,74 2,98
5
substâncias químicas e produtos
relacionados
4,51 4,06 3,78 3,71 3,96 4 4,05 4,25 4,15 4,25 4,37 4,49 4,55 4,35 4,25 4,18
6
bens fabricados classificados
principalmente por material
16,11 16,47 19,18 20,45 21,34 21,63 21,02 20,59 20,41 21,87 22,33 21,78 20,28 19,62 19,09 18,96
7
maquinarias e equipamentos de
transportes
11,43 13,51 15,04 16,05 15,65 14,79 13,96 12,94 12,35 12,48 12,79 13,75 15,7 17,72 19,88 20,44
8
artigos fabricados múltiplos
7,6 7,87 7,92 7,95 7,92 8,29 8,61 9,82 9,99 9,45 8,35 7,79 7,42 6,93 6,68 6,65
9
artigos e transações não
classificadas em outro lugar
0,93 0,85 0,75 0,64 0,69 0,97 1,86 1,9 1,93 1,37 1,67 1,82 1,92 2,18 2,73 3,12
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir do TradeCan, 2002.
Em termos agregados, a concentração das exportações nos setores 0 e 2 sempre esteve
bem acima da composição da demanda mundial para essas duas seções, que na estrutura
importadora mundial representou, no seu maior índice, o equivalente a 8,52% e 6,15%,
registrados em 1985. Na seção 0 a tendência da demanda mundial é decrescente no período
estudado, assim como também diminui a participação desse setor no total exportado pelo
Brasil, enquanto na seção 2 a diminuição do consumo mundial no período é acompanhada por
um aumento do valor exportado pela economia brasileira a partir de 1990. O ganho de
mercado em setores com demanda internacional decrescente, caracteriza uma situação externa
de declínio das exportações brasileiras.
A fragilidade das exportações no setor 2 é que a tendência da demanda mundial é
declinante, mas ao longo do período analisado a presença desse setor está aumentando nas
vendas externas brasileiras, chegando a representar em 2000 o equivalente a 21,15% do total
exportado, ou seja, o aumento do valor exportado, seguido da constatação de queda do
consumo mundial do setor, revela um certo grau de vulnerabilidade externa.
De acordo com Lacerda (2004), a diminuição de resposta da economia a eventuais
crises externas do ponto de vista econômico (financeiro, comercial, tecnológico e produtivo-
real), manifestada na fragilidade de condução da política econômica, caracteriza o grau da
vulnerabilidade externa do país. A expansão das exportações em valor naqueles setores em
declínio (seção 2) do comércio internacional aumenta a dependência da economia brasileira
em relação a setores pouco dinâmicos assim como os riscos de financiamentos das transações
correntes, na presença de eventuais crises externas, ou seja, a dependência de setores pouco
importantes e dinâmicos do comércio exterior também eleva a dependência em relação ao
cenário internacional.
O grau de instabilidades quanto aos preços futuros das seções 0, 1, 2, 3 e 4 intensivas
em recursos naturais, onde se encontram as commodities agrícolas, sofre mais influência das
mudanças estruturais do comércio internacional de oferta e demanda do que de fatores
específicos aos próprios mercados das commodities. Isto significa que as instabilidades nos
preços das commodities decorrem do consumo e de movimentos especulativos diários nas
Bolsas de Nova Yorque, conforme verifica Amin (1995) quando analisa a influência das
ações de especuladores na formação de preços futuros do cacau.
De acordo com Amin (1995), os mecanismos de criação das expectativas se baseiam
nas informações de previsão de demanda do mercado, de características produtivas,
comerciais e industriais que, no caso particular do cacau, exercem um papel importante na
ação especulativa de mercado.
Como se identifica na Tabela 10, em todo o período analisado as seções 0, 2, 6 e 7
sempre contribuíram com a maior parcela nas exportações brasileiras. O aumento da
participação dos setores 6 e 7 é positivo do ponto de vista internacional, pois respondeu, em
2000, por 54,25% da demanda agregada mundial. Na comparação para o mesmo ano, os
setores 0 e 2 somaram um market-share de 9, 29%.
A demanda agregada do comércio internacional para os setores de 0 a 4 somou uma
participação percentual conjunta, em 1985, de 33,93%, que diminuiu para 19% a de um dígito
do SITC, em 2000. Isto mostra que houve uma significativa redução da demanda
internacional por produtos intensivos em recursos naturais. Na comparação com a estrutura
exportadora do Brasil, também se identifica uma redução, em 1985, de 59,43% para 46,64%
em 2000, na contribuição dos quatro setores.
Essa desespecialização da estrutura importadora mundial reflete uma tendência que se
observa com maior precisão a partir de meados dos anos oitenta do século passado quando se
tornam mais intensas as mudanças decorrentes do processo de reestruturação econômica
mundial. Os novos produtos (sintéticos) criados a partir de mudanças nos processos de
produção substituem a maioria das matérias-primas, iniciando um novo ciclo de demanda
externa.
Os setores intensivos em recursos naturais e mão-de-obra também enfrentam
dificuldades de demanda por conta das medidas protecionistas dos países industrializados e da
volatilidade das cotações internacionais. Como são setores com baixa resposta ao crescimento
da renda mundial e inelásticos a preços, a volatilidade das cotações cria um ambiente
desfavorável e incerto quanto às receitas de exportação desses produtos.
Na verdade, a única certeza dos países que concentram grande parte de suas
exportações nesses produtos é a elevada vulnerabilidade externa a que estão sujeitos, num
ambiente altamente especulativo, onde o futuro quanto a possíveis investimentos diretos
estrangeiros nesses setores não se concretiza como estratégia de inserção externa.
Contudo, a redução da participação dos setores 0, 1, 2, 3 e 4 ao longo de todo o
período não é significativa, porque diminuiu em apenas 12,79% em dezesseis anos de
comércio internacional, o que demonstra uma forte associação com as políticas de exportação
de décadas passadas.
De acordo com Veiga (2000), a mudança na estrutura exportadora não é tarefa
principal da política de exportação, e esta última normalmente não é a maneira mais rápida de
expandir as exportações. Porém, a remoção dos empecilhos de infra-estrutura e dos
procedimentos tarifários para o acesso a mercados constitui em política de exportação.
Durante o período estudado, nota-se a redução de alguns empecilhos e do viés antiexportador
para o conjunto da economia que resultou em um novo impulso às exportações ligadas a
setores que já dispõem de vantagens comparativas.
O principal instrumento utilizado foi a taxa de câmbio, que gerou um ganho de
competitividade via preço no mercado externo e garantiu uma maior rentabilidade setorial a
partir de 1997. Porém, como a diversificação da pauta não depende somente, nem
principalmente, da política de exportação, os setores 6 e 7 obtiveram um bom ganho de
market-share na economia mundial. No entanto, os estímulos foram respondidos mais
facilmente pelas seções 0, 1, 2, 3 e 4, compatíveis com as vantagens comparativas da
economia.
Entre 1985 e 2000, a participação, em termos agregados, dos setores 5, 6, 7, 8 e 9
aumentou de 40,58% para 53,35% no final do período, enquanto a estrutura de demanda
mundial apresentou uma mudança para igual período de 66,06% para 81%. O aumento da
demanda mundial nesses setores aponta qual deveria ser a política industrial do país que
pretende inserir-se na dinâmica internacional.
A participação da pauta brasileira diminuiu na soma de market-share dos setores 0, 1,
2, 3 e 4 na comparação com o início e o final de período, ao mesmo tempo em que o
movimento de participação conjunta desses setores no comércio internacional também
diminuiu de 25,06%, em 1985, para 10,30%, em 2000, sendo que quatro das cinco seções
perderam market-share no comércio internacional e apenas a seção 2 ganhou mercado,
confirmando sua maior presença tanto na pauta quanto no mercado internacional.
A seguir, identifica-se a magnitude de ganhos e perdas dos setores de 0 a 4 na
participação do comércio internacional e traça-se uma tendência em termos agregados desses
setores para a estrutura exportadora do Brasil. Nota-se que, apesar de diminuir a participação
das seções 0, 1, 3 e 4 na demanda mundial desses setores a partir de 1990, o valor exportado
ainda é muito concentrado na estrutura brasileira e também elevado para padrões de uma
matriz dinâmica (Figura 14).
A partir de 1990, as exportações do Brasil perdem participação no comércio
internacional para os setores 0, 1, 3 e 4, se comparado com o período de 1985 a 1989, quando
o país participava de forma mais significativa desse comércio. As perdas de market-share no
agregado refletiram uma diminuição de participação na pauta desses mesmos setores, o que
indica uma desespecialização em setores intensivos em recursos naturais, ainda que o valor
exportado seja elevado e a participação da seção 2 tenha manifestado tendência positiva ao
longo do período (Figura 14).
0
1
2
3
4
5
6
7
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
participação setorial no comércio
0-Food and live animals chiefly for food
1-Beverages and tobacco
2-Crude materials, inedible, except fuels
3-Minerals fuels, lubricants and related materials
4-Animal and vegetable oils and fats, processed
Figura 14 - Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações brasileiras ao
longo do período de 1985 a 2000 – Seções de 0 a 4 dígitos do SITC
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.
O aumento de ganho de mercado da seção 2 contraria a tendência do conjunto dos
demais setores, quando eleva sua participação no comércio internacional a partir de 1990 e
contribui majorando o valor exportado na estrutura do Brasil. Os subgrupos de produtos que
têm contribuído para esse crescimento são: 2815 – “Iron ore and concentrates, not
agglomerated”; 2222 – “Soya beans”; 2517 – “Chemical wood pulp, soda or sulphate”; 2816
– “Iron ore agglomerates (sinters, pellets, briquettes)”, para citar os que figuram entre os vinte
mais importantes entre 1990 e 2000.
Em termos agregados, as exportações brasileiras estão perdendo market-share em
setores com demanda agregada internacional estável ou decrescente ao longo do período para
as seções de 0 a 4, o que qualifica que, em 2000, 25,49% da estrutura exportadora foram
gerados em setores em retrocesso, representando perdas de mercado, cujas seções
apresentaram demanda negativa no período estudado. Quanto aos ganhos de mercado,
somente na seção 2 foi que o Brasil apresentou aumento da parcela de mercado, contribuindo
para que 21,15% das exportações fossem classificadas como setores em declínio.
As seções 5, 6, 7, 8 e 9 apresentaram, juntas, uma peculiaridade: o aumento em valor
exportado na pauta brasileira, entre 1985 e 2000, não manifestou aumento da participação
conjunta no comércio internacional desses setores. No período inicial a soma conjunta
respondia por 4,16% da demanda externa e em 2000 esse valor diminui para 2,99%.
A mudança é significativa porque representa perda de mercado para a economia brasileira em
setores com demanda internacional crescentes, classificados como oportunidades perdidas.
Dos cinco setores considerados individualmente, quatro contribuíram para a
diminuição de market-share e apenas a seção 9 manteve ganho de mercado entre o início e o
final do período. A gravidade se estende em todo o período analisado, pois as variações, entre
perdas e ganhos de participação no mercado, traçam uma tendência declinante para as seções
5, 6, 7 e 8.
A Figura 15 identifica a participação setorial das exportações brasileiras nas seções 5,
6, 7 8 e 9 em termos agregados do SITC no comércio internacional, identificando, a curto
prazo, as alterações na inserção externa das exportações nacionais. Estes setores se
caracterizam por uso intensivo em tecnologia sendo as seções 6, 7 e 8 são as mais importantes
do comércio internacional, côo pode ser constatado o Capítulo 4.
Em termos agregados, a Figura 15 apresenta um comportamento similar à Figura 14,
na medida em que descreve uma tendência declinante ao longo do período para quatro das
cinco seções analisadas em conjunto. Nas seções 5, 6, 7 e 8, as exportações brasileiras
perderam mercado em 2000 na comparação com 1985, com pontos iniciais de queda diferente
devido à oscilação em torno da tendência.
De acordo com a estrutura exportadora a porcentagem em valor exportado em 2000 foi
superior em 12,77% para o conjunto das seções 5, 6, 7, 8 e 9, quando se compara a 1985, o
que indica uma melhora na qualidade das exportações brasileiras. No entanto, o aumento da
contribuição destes setores no valor exportado não coincide com a queda de participação
desses setores no comércio internacional (Figura 15).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000
participação setorial no comércio
5-Chemicals and related products, n.e.s.
6-M anufactured goods classified chiefly by material
7-M achinery and transport equipment
8-M iscellaneous manufactured articles
9-Commodities and transactions not classified
Figura 15 - Participação dos setores agregados (um dígito) nas exportações brasileiras ao
longo do período de 1985 a 2000 – Seções de 5 a 9 dígitos do SITC
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do TradeCAN, 2002.
O conjunto dos setores, com exceção do 9, apresentou uma tendência de queda de
market-share das exportações brasileiras na demanda internacional, mesmo aumentando a
contribuição na estrutura exportadora, demonstrando perda de competitividade em mercados
com demanda internacional crescente, com restrição da seção 6, que se caracteriza em termos
agregados por apresentar tendência de desaquecimento de demanda externa, apesar de
apresentar elevada taxa de concentração de mercado e figurar entre os três setores mais
importantes do comércio internacional de acordo com o capítulo anterior.
Em termos agregados, a estrutura exportadora do Brasil concentrou, em 2000, 46,05%
da sua pauta nas seções mais importantes do comércio internacional, ou seja, gerou uma
receita equivalente a US$ 15,243 milhões nos setores 6, 7 e 8, dos quais US$ 8,954 foram
gerados em setores com demanda externa crescente (7 e 8), mas que o Brasil perdeu
participação (oportunidades perdidas).
Na análise do conjunto das seções 5, 6, 7, 8 e 9, as exportações brasileiras
apresentaram uma receita de US$ 13,432 milhões, em 1985, que aumentou para US$ 17,659
milhões, em 2000. De acordo com a Figura 15, o crescimento foi puxado pelo aumento da
participação do setor 9 no comércio internacional e pelo aumento do valor exportado das
seções 6 e 7 em termos agregados, estes notados através da elevação da concentração da
pauta.
O aumento da participação de mercado da seção 9 no comércio internacional é crucial
para a economia brasileira porque sinaliza uma inserção competitiva num setor que apresenta
uma demanda externa crescente, e que contribuiu em 2000 para um aumento no valor
exportado, através da elevação da taxa de concentração de mercado, de 0,93% em 1985 para
3,12% da pauta, em 2000.
O acréscimo da concentração nos setores 6 e 7 para o mesmo período também é
relevante em função da importância que estes setores têm para o comércio internacional,
representando 53% da demanda externa ou o equivalente a US$ 2,195 bilhões. Esses dois
setores originaram uma receita em 2000 equivalente a 39,40 % da pauta brasileira, parcela
correspondente a US$ 13,042 milhões.
6.2 MATRIZ DE COMPETITIVIDADE DO BRASIL
A matriz de competitividade do Brasil se constitui numa representação da situação
competitiva do país, na medida em que relaciona o êxito de suas exportações em termos de
participação de mercado com o dinamismo do comércio internacional, classificando seu
mercado exportador nas quatro situações de mercados definidas na metodologia: setores
ótimos, oportunidades perdidas, setores em declínio e setores em retrocesso.
O posicionamento competitivo do Brasil, no período de 1985 a 2000, aponta quais
são os setores exportadores em que o país esta se especializando. Numa primeira análise, a
matriz é apresentada com resultados agregados (um dígito) do SITC, identificando os
pormenores no dinamismo das exportações brasileiras. A segunda análise foi gerada em
termos desagregados (4 dígitos) do SITC, com a participação discriminada dos dez
subgrupos mais importantes de cada setor, determinados e classificados de acordo com a
participação no total exportado pela economia brasileira e com a demanda mundial. Esta
representatividade foi de 70,68% das exportações totais.
Mediante a metodologia já definida no Capítulo 3, far-se-á aqui uma evolução ex-post
da competitividade, mas sem oferecer nenhuma explicação sobre as causas desta. As análises
se estabelecem em nível descritivo sobre as mudanças produzidas nas formas de
competitividade e especialização do comércio internacional e mais do que isto, qual a resposta
da estrutura exportadora do pais responde a esta nova dinâmica.
A matriz de competitividade classifica os diferentes setores exportadores de um país
de acordo com o grau de dinamismo do comércio internacional, definindo esta relação entre o
nível de penetração nos mercados e a evolução da demanda dos próprios mercados externos.
Dessa forma, o dinamismo internacional de um setor exportador se fundamenta por meios da
identificação de aumento da demanda externa ao longo do período analisado a taxas
superiores aos demais conjuntos de setores.
Dada a estrutura exportadora do Brasil, identificar-se-á quais são as características dos
setores em que esta economia está se inserindo no comércio internacional. Levando-se em
consideração que os setores e produtos que investem em novos processos produtivos,
intensivos em tecnologia, apresentam uma demanda externa mais dinâmica em comparação
com aqueles que incorporam em menor medida o uso de tecnologia, a matriz de
competitividade permite apontar em que setores a estrutura exportadora está se concentrando
e ganhando ou perdendo market-share.
6.2.1 Matriz consolidada
Nessa seção se fará uma análise agregada (1 dígito) do SITC na estrutura exportadora
do Brasil em três períodos de tempo, buscando identificar mudanças na dinâmica competitiva
e nas tendências de longo prazo, destacando os pormenores dos setores exportadores do
Brasil. Em seguida se apresentam-se os resultados da matriz de competitividade das
exportações do Brasil, ressaltando as mudanças na porcentagem das exportações de cada
seção e a concentração setorial em cada período analisado.
Em termos agregados, o comportamento da pauta de exportação brasileira e a estrutura
de importação da demanda mundial são comparados com o intuito de captar as mudanças
ocorridas ao longo do período e que são suficientes para indicar alterações de tendências. A
concentração setorial analisada pelos indicadores TCM e IHH indica a integração ou
convergência entre o perfil exportador brasileiro e a demanda mundial.
Os índices atestam taxas de concentração das exportações brasileiras em três setores
que se repetem nos períodos analisados, indicando que, em termos agregados, não houve
mudanças significativas no perfil da pauta brasileira. A taxa de concentração de mercado se
mostrou mais elevada entre 1990 e 1995 com participação de 68,81%, e reduziu para 63,05%
no ultimo período em seu menor índice (Tabela 11).
Os setores 0 – “comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato”; 6 – “bens
fabricados principalmente por material e 2 – “materiais crus não comestíveis, menos
combustíveis” mantiveram as maiores participações no total exportado pela pauta brasileira,
alternando o ranking apenas no último período quando a participação do setor 7 –
“maquinarias e equipamentos de transporte” assume como o segundo mais exportado (Tabela
11).
Tabela 11 - Taxa de concentração de mercado e Índice de Herfindahl-Hirschman para os três
períodos analisados no agregado (um dígito) das exportações brasileiras e da demanda
mundial.
TCM (Brasil) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
seção 0 25,91 25,4 21,46
seção 6 21,63 22,32 (seção 7) 20,44
seção 2 19,17 21,09 21,15
Somatório = 66,71 68,81 63,05
IHH (Brasil) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
seção 0 671,3281 645,16 460,5316
seção 6 467,8569 498,1824 359,4816
seção 2 367,4889 444,7881 447,3225
Somatório = 1506,6739 1588,1305 1325,6477
TCM (demanda mundial) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
seção 6 16,29 15,23 13,39
seção 7 34,71 37,05 40,86
seção 8 13,95 14,3 14,22
Somatório = 64,94 66,58 68,47
IHH (demanda mundial) 1985-1990 1990-1995 1995-2000
seção 6 265,22 231,93 179,38
seção 7 1204,58 1372,36 1669,51
seção 8 194,48 204,54 202,26
Somatório = 1664,28 1808,83 2051,14
Fonte: Elaborada pelo autor a partir dos dados do TradeCAN, 2002
Observa-se que, enquanto a demanda mundial se concentra nos setores mais
importantes do comércio internacional, fortalecendo uma estrutura de mercado acentuada
tecnologicamente, o Brasil continua dependendo em mais de 40% de setores intensivos em
recursos naturais correspondentes às seções 0 e 2 (Tabela 11).
Na comparação entre os Índices de Herfindahl-Hirshman (IHH), observa-se uma baixa
concentração das exportações brasileiras, com melhor desempenho no segundo período,
quando apresenta IHH =1588, que se reduz para IHH=1325 entre 1995 e 2000, indicando uma
desespecialização nas seções 0 e 6 e um aumento da participação de outros setores como o 7 –
“maquinarias e equipamentos de transporte,” que apresentou taxa de concentração de mercado
de 20,44%, entre 1995 e 2000.
A demanda mundial cresceu e se concentrou nas seções 6, 7 e 8, passando de uma
concentração baixa no primeiro período, IHH = 1664, para um mercado altamente
concentrado no segundo e terceiro períodos. Os ganhos de mercado das exportações
brasileiras, em termos agregados, não se ajustaram à demanda externa, e a seção 6 na pauta
brasileira, que ocupa ranking entre as mais importantes do mundo, teve sua contribuição
diminuída, refletindo certo envelhecimento da estrutura exportadora.
A seguir, se analisa-se a matriz de competitividade, em termos agregados,
demonstrando-se que os pormenores da concentração setorial das seções 0 a 9, os ganhos e as
perdas de mercados, assim como o comportamento da demanda externa posicionam o perfil
exportador da economia brasileira, identificando a competitividade entre períodos.
No primeiro período (1985-1990), observa-se que as exportações brasileiras se
concentram em setores que apresentam crescimento da demanda internacional em termos
agregados, nas quais o país perdeu participação no comércio internacional, o que significa
dizer que 51,054% das exportações foram provenientes de setores dinâmicos e 48,946%
foram gerados em setores estagnados.
Nesse primeiro período, os setores em que o Brasil perdeu market-share foram: 1 –
“bebidas e tabaco”; 2 – “materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis”; 4 – “animais,
óleos vegetais e gorduras”; 5 – “substâncias químicas e produtos relacionados”; 6 – “bens
fabricados classificados principalmente por material”; 7 – “maquinarias e equipamentos de
transportes”; 8 – “artigos fabricados múltiplos”. As condições de demanda internacional não
motivaram os setores exportadores do Brasil, sendo 48,946% das exportações gerados em
setores com queda na demanda externa, o que demonstra uma baixa competitividade das
exportações a um dígito do SITC.
A estrutura exportadora mantém uma elevada concentração nos produtos estagnados
nos três períodos analisados, aqueles que apresentam condições de declínio na demanda
externa, oferecendo para a pauta uma tendência de aumento dessa dependência. No último
período, esse percentual se elevou para 74,455% das exportações, indicando uma forte
especialização nesses produtos.
Estes resultados indicam condições desfavoráveis para as exportações dos produtos
brasileiros e traçam tendências de uma piora da inserção externa ao longo do período
analisado. No último período (1995-2000), 42,615% das exportações do Brasil apresentaram
queda de demanda internacional, exatamente naqueles setores intensivos em recursos naturais
provenientes das seções “comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato e
materiais crus, não comestível, menos combustíveis” que apresentaram uma diminuição
significativa do consumo mundial observado no capítulo anterior (Tabela 12).
Quanto aos setores ótimos, entre 1985 e 1990, não existiu participação destes na pauta
de exportação brasileira, o que significa que neste período não houve uma dinâmica de
penetração positiva aliado a uma situação de expansão da demanda externa para os produtos
exportados. Como conseqüência, no primeiro período a contribuição foi de 0%. Com relação
ao ganho de market-share em setores com demanda externa crescente, teve-se uma pequena
melhora no segundo período, indicando que apenas 1,668% foram gerados em setores nestas
situações (Tabela 12).
No entanto, entre 1995 e 2000, observa-se uma melhora significativa da pauta de
exportação, quando 25,542% em valor foram oriundos dos setores ótimos, indicando uma
melhora na inserção externa brasileira, ou seja, o Brasil elevou as cotas de mercado naqueles
setores de demanda externa crescente. Neste último período (1995–2000), concomitantemente
se elevou o crescimento nos setores ótimos e a participação da pauta em setores estagnados, o
que indica que 74,455% do valor exportado foram de setores com demanda em declínio
(Tabela 12).
Tabela 12 - Matriz de competitividade do Brasil, medida pela porcentagem das exportações,
em nível de um dígito no comércio internacional, no período de 1985-1990, 1990-1995 e
1995-2000.
Contribuição setorial nas exportações totais do Brasil 1985-1990 1990-1995 1995-2000
SETORES ÓTIMOS
0,000 1,668 25,542
(3)-combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais relacionados 0,000 0,000 1,977
(7)-maquinarias e equipamentos de transportes 0,000 0,000 20,441
(9)-artigos e transações não classificadas em outro lugar 0,000 1,668 3,124
OPORTUNIDADES PERDIDAS
51,054 46,966 0,000
(1)-bebidas e tabaco 2,346 0,000 0,000
(2)-materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis 0,000 21,087 0,000
(4)-animais, óleos vegetais e gorduras 0,000 0,375 0,000
(5)-substâncias químicas e produtos relacionados 3,995 4,365 0,000
(6)-bens fabricados classificados principalmente por material 21,635 0,000 0,000
(7)-maquinarias e equipamentos de transportes 14,791 12,790 0,000
(8)-artigos fabricados múltiplos 8,288 8,348 0,000
SETORES EM DECLÍNIO
19,175 0,000 42,615
(0)-comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato 0,000 0,000 21,465
(2)-materiais crus, não comestível, menos combustíveis 19,175 0,000 21,151
SETORES EM RETROCESSO
29,771 51,366 31,843
(0)-comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato 25,917 25,401 0,000
(1)-bebidas e tabaco 0,000 2,614 1,844
(3)-combustíveis de minerais, lubrificantes e materiais relacionados 2,414 1,025 0,000
(4)-animais, óleos vegetais e gorduras 0,469 0,000 0,206
(5)-substâncias químicas e produtos relacionados 0,000 0,000 4,182
(6)-bens fabricados classificados principalmente por material 0,000 22,326 18,965
(8)-artigos fabricados múltiplos 0,000 0,000 6,646
(9)-artigos e transações não classificadas em outro lugar 0,970 0,000 0,000
Fonte: elaborada pelo autor, a partir do tradeCAN, 2002.
Se por um lado elevou-se a porcentagem das exportações em setores ótimos, de outro
a melhora foi comprometida pela ação conjunta dos demais setores, pois o sucesso
competitivo na inserção externa depende, de acordo com a matriz, da ação conjugada dos
quatro setores que, por sua vez, estão sujeitos ao crescimento da demanda internacional e do
market-share do setor.
Quando se analisa o setor oportunidades perdidas nos três períodos do estudo,
identifica-se que, mesmo o Brasil perdendo market-share nos setores individualmente
considerados, 51,054% e 46,966% do valor da pauta ainda foram exportados nesses setores no
primeiro e segundo períodos, respectivamente, comportamento que não se repete no terceiro
período, que contribuiu com 0% da pauta, indicando que o Brasil não perdeu market-share
nos setores de demanda crescente internacionalmente; somente exportou em termos agregados
um valor considerado baixo para uma inserção competitiva.
De acordo com a Tabela 12, no período de 1990 a 1995, não ocorreram ganhos de
mercado do Brasil em setores com demanda internacional decrescente (setores em declínio).
O que ocorreu para os produtos estagnados foi o movimento inverso, de perdas de cotas de
mercado em setores com demanda declinante, ou seja, 51,366% do valor exportado no
segundo período foram provenientes dos setores em retrocesso, participação esta que diminui
para 31,843% entre 1995 e 2000.
O fato de não existirem setores com uma dinâmica de penetração positiva somado a
uma situação de expansão de queda da demanda externa (setores em declínio) não se constitui
em indicador de melhoria da inserção externa em produtos estagnados, se no segundo período
o Brasil aumenta a participação em setores em retrocesso na pauta de 29,771% para 51,366%.
De fato, o segundo e o terceiro períodos contribuíram para a piora na inserção externa das
exportações brasileiras, por meio do aumento de participação em produtos estagnados de
51,366% para 74,455%.
Um aspecto importante tem sido o aumento da participação das exportações brasileiras
nos produtos estagnados no comércio internacional. Na Tabela 12 nota-se que para os três
períodos houve um incremento de 52,12% na comparação entre o primeiro e último períodos,
com tendência crescente no valor exportado da pauta brasileira desses produtos, com destaque
no terceiro período (1995-2000) para os setores em declínio que contribuíram com 42,615%
do valor exportado, provenientes exclusivamente das seções 0 e 2, caracterizadas pelo uso
intensivo de recursos naturais.
Por conseguinte, nos três períodos onde em geral ocorreram ganhos de market-share
das exportações brasileiras, estes ganhos foram provenientes de produtos estagnados com
demanda internacional decrescente; apenas no terceiro período, as exportações aumentaram
de forma significativa a participação em setores com demanda ascendente, correspondente à
contribuição dos setores ótimos, o equivalente a 25,542% da pauta.
Nos setores mais importantes do comércio internacional a um dígito (6, 7 e 8), aqueles
que apresentaram a maior participação na demanda em 2000, é possível notar que a matriz de
competitividade brasileira no último período apresenta queda de market-share, no comércio
desses setores, com exceção do setor 7, e uma tendência de participação negativa para os
setores 6 e 8. Nota-se que para estes últimos a tendência é duplamente declinante; pela queda
de participação no valor exportado na pauta brasileira, ao longo dos três períodos de tempo, e
pelas sucessivas diminuições de market-share no comércio internacional.
A Figura 16, a seguir, que plota a especialização setorial em torno da matriz de
competitividade nos três períodos de tempo, é um resumo não discriminado das seções que
contribuíram para a participação e caracterização da demanda internacional e market-share do
Brasil.
Observa-se que, ao longo dos três períodos, aumentou a participação na pauta dos
setores ótimos, o que significa que o Brasil ganhou market-share em produtos com demanda
ascendente. As seções responsáveis pelo aumento foram 3, 7 e 9 e as parcelas exportadas em
relação à demanda externa foram, respectivamente, 0,18%, 0,40% e 0,72% no terceiro
período, que é o mais significativo (Figura 16).
Setores em que a demanda internacional é crescente, conbinada com a diminuição de
market-share, o Brasil minimizou as perdas durante a análise das matrizes, com participação
nula no final do período, o que significa que para os produtos que o país exportou e que
apresentaram demanda externa favorável em termos agregados ocorreram ganhos de mercado
a um dígito (Figura 16).
A evolução dos setores que apresentam demanda externa negativa na pauta brasileira
apresentou tendência ascendente. No último período (1995-2000), os setores em declínio
participaram com 42,61% das exportações brasileiras e em retrocesso contribuíram com
31,84% na estrutura. Isto significa que 74,458% do valor exportado, ou o equivalente a US$
24,646 milhões, foram provenientes da exportação de setores estagnados (Figura 16).
000
51,05
19,17
29,77
1,66
46,96
51,33
25,54
42,61
31,84
0
10
20
30
40
50
60
Òtimos Oportunidades Perdidas Setores em declínio Retrocesso
1985-1990 1990-1995 1995-2000
Figura 16 - Contribuição setorial medida pela porcentagem das exportações brasileiras,
identificados em três períodos de tempo para captar a dinâmica estrutural.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de resultados do TradeCAN, 2002.
Somente nos setores em declínio que exportaram produtos correspondentes às seções 0
e 2, a contribuição na receita foi de US$ 14,106 milhões, dos quais apenas US$ 8,454 milhões
foram de produtos com demanda ascendente no comércio internacional, precisamente das
seções 3, 7 e 9 no último período (1995-2000).
A inserção externa da economia brasileira em setores dinâmicos do comércio
internacional tem diminuído, em função da queda de participação na demanda externa e pela
redução no percentual exportado pela pauta, reduzindo a competitividade da matriz brasileira
nos três períodos. Entre 1985 e 1990, os produtos dinâmicos participaram com US$ 12,623
milhões na receita das exportações e, no final do período de 1995 a 2000, contribuíram com
apenas US$ 8,454 milhões. A queda de 33,03% na participação da pauta entre os valores nos
dois períodos é significante e qualifica a inserção como não competitiva.
Outro componente importante que qualifica a inserção externa da economia brasileira
são os descaminhos de participação na pauta dos produtos dinâmicos e estagnados ao longo
dos três períodos. Na análise do indicador porcentagem das exportações, observa-se que, no
primeiro e segundo períodos analisados, mesmo com uma contribuição nula dos setores
ótimos entre 1985 e 1990 e igual participação dos setores em declínio no período seguinte
(1990-1995), a participação dos produtos dinâmicos e estagnados não oferece grandes
modificações, ocorrendo, no entanto, uma pequena inversão de participação na pauta notada a
partir do segundo período (Figura 17).
25,54
48,63
51,05
51,33
48,94
74,45
0
10
20
30
40
50
60
70
80
1985-1990 1990-1995 1995-2000
Commodities dimicas Commodities estagnadas
Figura 17 - Participação na pauta de produtos com demanda ascendente e declinante, ao longo
de três períodos de tempo e analisados agregadamente (1 dígito) do SITC.
Fonte: Elaboração própria, a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
Identifica-se, na comparação entre o segundo e o terceiro períodos, que a pauta de
exportação brasileira se especializa nos setores estagnados em análise a um dígito, com
tendência ascendente no período. A elevada participação na pauta e o ganho de mercado nas
seções 0 – “comidas e animais vivos destinados ao consumo imediato”, 2 – “materiais crus,
não comestíveis, menos combustíveis” e 6 – “bens fabricados classificados principalmente
por material”, em termos agregados, teriam sido o principal motivo da inserção
desqualificada, uma vez que a demanda-se revelou declinante no último período para o
conjunto destas seções (Figura 17).
A perda de market-share no comércio internacional e a elevada participação na pauta
dos setores em retrocesso, equivalente a 31,843% no final do período (1995-2000), também
contribuíram para o aumento da concentração em produtos estagnados.
Na matriz de competitividade, a análise horizontal permite que se identifiquem os
ganhos e as perdas de mercado que foram almejados pela contribuição de cada setor. Os
setores que motivaram ganhos pelo aumento de market-share podem ser oriundos tanto dos
produtos dinâmicos quanto dos estagnados, pois o importante é a geração de receita. Por outro
lado, os ganhos e perdas de mercado também qualificam a pauta de exportação pela sua
concentração setorial.
Os ganhos e as perdas de mercado são conseqüência do aumento ou diminuição de
market-share na demanda internacional, porém a situação competitiva melhora quando ocorre
uma elevada concentração nos setores de forte demanda externa, ou seja, é preferível
aumentar o valor exportado (porcentagem das exportações) em setores de demanda crescente
a se especializar nos setores em declínio.
No primeiro e segundo períodos, nota-se que as condições de demanda apresentam-se
estancadas na pauta brasileira. Entre 1985 e 1990, os setores que apresentaram ganhos de
market-share no mercado representaram 19,175% das exportações e no período seguinte
apenas 1,668% das exportações do Brasil obtiveram êxitos em ganhar cotas de mercado
(Figura 18).
As condições de demanda internacional nos dois primeiros períodos não obtiveram
êxitos em ganhar cotas de mercado. Pelo contrário, entre 1985 e 1990, a matriz de
competitividade do Brasil concentrou 80,825% da sua receita com os países industrializados
em setores que perderam market-share; no período seguinte esta concentração foi equivalente
a 98,302% do total exportado, um número bastante elevado e que discrimina uma política
industrial especializada na perda de competitividade, inclusive em setores que o país obtém
vantagens comparativas naturais, como as seções 0 e 2 (Figura 18).
19,175
1,668
68,157
80,825
98,302
31,843
-20
0
20
40
60
80
100
120
1985-1990 1990-1995 1995-2000
Ganhos de mercado Perdas de mercado
Figura 18 - Participação na pauta em percentual de setores que ofereceram ganhos e perdas de
market-share no comércio internacional, análise agregada (1 dígito) do SITC.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
Por conta da elevada concentração em setores que discriminam a perda de market-
share brasileira no comércio internacional, mais precisamente nas condições oportunidades
perdidas + setores em retrocessos a economia brasileira perde oportunidade de aumentar o
valor exportado em cada período. Nesse sentido, quanto maior for a participação naqueles
setores assim também será o valor que o país poderia gerar para aumentar a receita.
A perda de market-share, sozinha, já representa uma queda de competitividade em
determinado setor, pois as condições de ampliar cotas de mercado ou mesmo de mantê-las são
interrompidas na comparação entre períodos. Isto posto, a perda de competitividade (cotas de
mercado) das exportações brasileiras nos três períodos poderia ser estimada, se pelo menos o
Brasil não houvesse perdido, mas mantido a mesma participação setorial do período seguinte.
Seguindo estes pressupostos, chega-se ao valor que poderia ser adicionado no total
exportado, caso não houvesse ocorrido diminuição de market-share. Nas condições de
mercado, descritas pela Figura 18, se observa que houve um crescimento percentual de
participação na pauta de setores que apresentaram algum grau de diminuição de market-share,
e o elevado índice observado no segundo período (98,302%) significa que quase a totalidade
das exportações brasileiras foi gerada em setores que perderam participação nos mercados
internacionais em termos agregados.
No entanto, caso essas perdas não tivessem ocorrido e admitindo que as participações
do período inicial fossem mantidas, entre 1985 e 1990, o correspondente à porcentagem de
80,825% do valor que não almejou em ganhar market-share teria sido de US$ 7,664 milhões.
Este valor corresponde ao que o Brasil deixou de ganhar nesse período.
Uma especificidade importante dos US$ 7,664 milhões que não contribuíram para o
aumento do valor exportado no primeiro período foi a grande participação em valor em
setores tradicionais das exportações brasileiras. Todavia, setores como 0 – “comidas e animais
vivos destinados ao consumo imediato”, 1 – “bebidas e tabaco”, 3 – “combustíveis de
minerais, lubrificantes e materiais relacionados” poderiam ter crescido, respectivamente,
70,06%, 30,95% e 17,22%, na comparação entre os valores exportados.
O período compreendido entre 1990 e 1995 identifica um aumento da concentração
das exportações em produtos que perderam market-share. Apesar do aumento percentual
desses produtos, a tendência ao longo do período é declinante quando incluímos a
participação do terceiro período (1995-2000). O valor que deixou de ser incorporado na pauta
brasileira no período compreendido entre 1990 e 1995 foi de US$ 4,672 milhões, e de US$
1,943 milhões no período de 1995 a 2000. Aliás, neste período houve uma melhora na
competitividade pela diminuição da perda de market-share no comércio internacional.
A tendência do crescimento dos ganhos de mercado é positiva ao longo do período. Os
ganhos de market-share incorporados na pauta entre 1985 e 1990 foram de apenas US$ 4,816
milhões, valor este correspondente aos 19,175% da receita da pauta que compreendiam os
produtos que ganharam market-share no primeiro período. No período seguinte, a receita de
produtos que ganharam cota de mercado foi de US$ 4,706 milhões provenientes somente do
setor 9; no último período (1995-2000) as condições de demanda melhoraram e a receita
gerada foi de US$ 22,561 milhões.
6.2.2 Matriz detalhada
Nesta seção se analisam os resultados da inserção externa das exportações brasileiras e
a concentração setorial da matriz de competitividade no período de 1985 a 2000. Os
resultados estão ajustados a 4 dígitos do SITC e identificam a especialização, os ganhos e
perdas de mercado assim como a concentração da pauta em setores com demanda
internacional crescente ou decrescente.
As mudanças estruturais são captadas pelas variações nas cotas de mercado
internacional do Brasil, nas modificações de demanda externa do produto ao longo do período
e no aumento da contribuição desse produto no total exportado. A matriz de competitividade
do Brasil relaciona os dez produtos mais importantes da pauta. A representatividade desses
produtos no total exportado foi de 63,56% da pauta em 1985 e 70,69% em 2000. Os valores
restantes foram originados por outros produtos nos dois períodos.
A matriz desagregada de competitividade das exportações brasileiras descreve a
evolução da concentração da pauta e a qualidade de inserção externa desses produtos ao longo
do período de 1985 a 2000. As condições de demanda externa melhoram significativamente
na comparação entre os dois instantes, ou seja, 14,99% do valor da pauta em 2000
apresentaram aumento de market-share conjugado com crescimento da demanda
internacional.
Em 1985, os setores ótimos representavam apenas 2,58% do valor da pauta. Isto
demonstra uma elevada variação percentual de 481,12% entre períodos. No entanto, entre os
dez principais produtos que compõem os setores ótimos do Brasil, apenas o subgrupo 7643 –
“Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho” figura entre os vinte mais
importantes do comércio em 2000, ocupando este setor o 14º lugar no ranking mundial.
Os subgrupos que mais contribuíram para o crescimento dos setores ótimos foram os
provenientes da seção 7 e, nesse sentido, há uma confirmação de tendência presente nos dados
da matriz de competitividade agregada, quando identifica uma porcentagem de contribuição
desse setor equivalente a 20,441% do valor exportado no período 1995-2000. Esta melhora de
competitividade também se observa na matriz detalhada, onde 5 entre os 10 mais importantes
subgrupos exportados são da seção 7 e a participação na pauta foi equivalente a 9,41%, ou
US$ 3,117 milhões.
Os setores exportadores que não obtiveram ganhos de market-share no comércio
internacional aumentaram de 5,962% da pauta para 7,297%, o que significa que, para os
mesmos produtos, o Brasil elevou o valor das exportações, mas continuou perdendo
participação externa de acordo com a matriz de competitividade de 2000 (Tabela 13).
Tabela 13 - Matriz de competitividade do Brasil definida pela cota de mercado da
porcentagem das exportações, em nível de 4 dígitos do SITC. Os produtos mais importantes
entre 1985 e 2000.
Contribuição setorial nas exportações totais do Brasil
1985 2000
SETORES ÓTIMOS
2,579 14,987
(7923) - Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of an
0,052 5,367
(6725) - Blooms, billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars),
0,817 2,423
(7139) - Parts, n.e.s. of the internal combustion piston engines falling w
0,827 1,753
(6342) - Plywood consisting solely of sheets of wood
0,219 1,027
(7431) - Air pumps, vacuum pumps and air or gas compressors (including mot
0,170 0,922
(8219) - Other furniture an parts thereof, n.e.s.
0,018 0,880
(0114) - Poultry, dead (I.e. fowls, ducks, geese. turkeys and guinea fowls
0,284 0,834
(7643) - Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho
0,006 0,736
(7493) - Transmission shafts, cranks, bearing housings, plain shaft bearin
0,058 0,640
(6746) - Sheets and plates, rolled but not further worked, of a thickness
0,129 0,404
OPORTUNIDADES PERDIDAS
5,962 7,297
(7849) - Other parts and accessories, n.e.s. of the motor vehicles falling
1,287 2,041
(9310) - Special transactions and commodities not classified according to
0,487 1,915
(7810) -Passenger motor cars ( other than public-service type vehicles),
0,700 1,259
(7132) - Internal combustion piston engines for propelling vehicles of div
1,903 0,493
(6584) - Bed linen, table linen, toilet linen and kitchen linen; curtains
0,491 0,380
(6251) - Tyres, pneumatic, new, of a kind normally used on motor cars
0,448 0,366
(6415) - Paper and paperboard, in rolls or sheets, n.e.s.
0,095 0,248
(5148) - Other nitrogen-function compounds
0,170 0,223
(5156) - Heterocyclic compounds; nucleic acids
0,078 0,195
(6123) - Parts of footwear (including uppers, in-soles and screw-on heels)
0,304 0,177
SETORES EM DECLÍNIO
17,793 24,827
(2815) - Iron ore and concentrates, not agglomerated
6,746 5,037
(2222) - Soya beans
2,630 4,548
(2517) - Chemical wood pulp, soda or sulphate
1,442 4,055
(6841) - Aluminium and aluminium alloys, unwrought
0,894 3,028
(2816) - Iron ore agglomerates (sinters, pellets, briquettes, etc.)
2,267 1,948
(1212) - Tobacco, wholly or partly stripped
1,576 1,602
(6114) - Leather of other bovine cattle (including buffalo leather) and eq
0,580 1,358
(9710) - Gold, non-monetary (excluding gold ores and concentrates)
0,358 1,119
(6712) - Pig iron, cast iron and spiegeleisen, in pigs, blocks, lumps and
0,532 1,112
(0111) - Meat of bovine animals, fresh, chilled or frozen
0,767 1,020
SETORES EM RETROCESSO
37,225 23,577
(0711) - Coffee, whether or not roasted or freed of caffeine; coffee husks
12,992 5,463
(0585) - Fruit juices (including grape must) and vegetable juices, whether
5,627 4,773
(8510) – Footwear
5,414 3,953
(0813) -Oil-cake and other residues (except dregs) resulting from the ext
6,583 3,862
(0149) - Other prepared or preserved meat or meat offals
1,277 1,225
(6716) - Ferro-alloys
1,160 1,091
(2843) - Wood of non-coniferous species, sawn, planed, tongued, grooved, e
0,669 1,025
(3341) - Motor spirit (gasoline) and other light oils
1,792 0,838
(7621) - Radio-broadcast receivers, designed or adapted for fitting to mot
1,292 0,794
(7821) - Motor vehicles for the transport of goods or materials
0,418 0,551
Fonte: Elaborado pelo autor a partir dos resultados do TradeCAN, 2002.
A diminuição das exportações nos setores oportunidades perdidas identifica uma
queda de competitividade da pauta brasileira pela diminuição de participação no mercado
externo daqueles produtos quando as condições de demanda internacional são crescentes ao
longo do período. Este setor acusa que o valor exportado pela economia brasileira poderia ter
sido maior caso não houvessem ocorrido as perdas, e até mesmo se as participações iniciais de
mercado fossem mantidas (Tabela 13).
Apesar de o crescimento da pauta na situação de oportunidades perdidas significar que
houve incremento do valor exportado em setores dinâmicos, deve-se avaliar a magnitude da
perda de competitividade externa nesses setores e tentar minimizar ou até mesmo tornar nulas
essas perdas de market-share. Na hipótese de aumentar a parcela de mercado em setores com
demanda crescente, há uma imigração do valor exportado para os setores ótimos.
Nos mercados para os subgrupos que apresentaram demanda decrescente, ocorreu um
incremento adicional de market-share das exportações brasileiras entre o período estudado de
17,793% para 24,827%, o que significa um aumento dos ganhos em produtos estagnados no
comércio internacional. Em termos agregados, a matriz consolidada concentrou no último
período (1995-2000) nas seções 0 e 2 a maior parte do valor exportado nessa situação (setores
em declínio). Na matriz detalhada a seção 2 também se apresenta com elevada participação.
Entre os subgrupos que mais contribuíram para o crescimento do market-share estão:
9710 – “Gold, non-monetary (excluding gold ores and concentrates)” e 2222 – “Soya beans”,
apresentando uma variação no market-share de 538,17% e 197,67%, respectivamente, A
variação na porcentagem das importações desses produtos foi de -70,12% e -65,82% na
mesma ordem.
A queda da demanda internacional também se estendeu para todos os produtos dos
setores em declínio, com variações na porcentagem das importações mundiais acima de 10%,
ou seja, o Brasil aumentou o valor das exportações em setores externamente estagnados.
Assim como no setor em declínio, foi elevada a participação na pauta brasileira dos setores
em retrocesso, o que reforça uma inserção pouco dinâmica no comércio internacional.
A matriz de competitividade mostra uma queda de participação nesse setor para os 10
produtos mais importantes da pauta do Brasil em 2000 em relação a 1985. No entanto, a perda
de market-share em setores que já apresentam tendência declinante da demanda desqualifica
essa diminuição na participação entre períodos, porque quase 1/4 das exportações é gerado
nesses setores, mesmo com as perdas internacionais.
As condições de demanda externa para os produtos estagnados variaram muito pouco.
Mesmo com a diminuição de 13,648% entre períodos na participação da pauta nos setores em
retrocesso, a contribuição dos produtos estagnados nas exportações reduziu em apenas 6,61%
entre períodos.
A matriz de competitividade apresenta algumas mudanças estruturais ao longo do
período estudado, indicando uma melhora na participação dos setores com forte crescimento
da demanda externa. Esse ganho de market-share tem contribuído para uma inserção mais
competitiva. Porém, a qualidade dos produtos que o Brasil exportou em 2000 se concentrou
em 48,08% nos ditos estagnados, valor que se aproxima dos 55,018% de 1985, indicando uma
forte associação com a estrutura de exportação do período anterior.
A matriz de competitividade do Brasil aponta que houve um ganho significativo de
mercado das exportações brasileiras no período de 1985 a 2000, pelo aumento da
especialização nos setores ótimos e nas oportunidades perdidas. Em 1985 a participação da
pauta nos produtos dinâmicos representava pouco mais que 8% e em 2000 esse número já
ultrapassava os 20% (Figura 19).
Em termos absolutos, a contribuição no total exportado tem como destaque os setores
ótimos que somaram uma participação em 2000 de US$ 4,960 milhões, bem acima da
contribuição de US$ 486 milhões exportados em 1985. Os ganhos de mercado e o aumento do
valor exportado nos setores 7923 – “Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters),
of na”; 6725 – “Blooms, billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars)” explicam, em
parte, os resultados favoráveis da pauta.
O aumento da participação nos produtos dinâmicos ocorreu tanto pelo ganho de
mercado em setores com demanda crescente como pela perda de mercado, mas houve um
incremento no valor exportado, neste ultimo caso. Portanto, esse aumento na especialização
nos dois setores, que caracterizam os produtos dinâmicos, não foi observado nos dois
quadrantes esquerdos da matriz (Figura 19).
5,96%
14,98%
24,83%
23,58%
37,26%
7,30%
2,58%
17,79%
-60
-40
-20
0
20
40
-40 -20 0 20 40
Figura 19 - Matriz de competitividade detalhada (desagregada) medida pela porcentagem das
exportações no período de 1985 a 2000.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados do tradeCAN, 2002.
Setores em declínio Setores ótimos
2000 ---
1985 ---
Setores em retrocesso
Setores o
p
ortunidades
p
erdidas
Enquanto os setores em declínio apresentam um incremento no valor exportado, o país
se desespecializa nos setores em retrocesso, o que significa que diminuiu o valor exportado
em relação à pauta de setores que apresentam demanda externa declinante aliado à perda de
market-share das exportações brasileiras, ou seja, apenas em 2000 US$ 7,805 milhões da
receita de exportação foram provenientes de produtos em que o Brasil perdeu mercado e cuja
demanda foi declinante (Figura 19).
Apesar da redução de participação nos setores em retrocesso, com reflexos positivos
para a vulnerabilidade externa brasileira, diminuindo a dependência de produtos com
demanda estagnada, ainda é elevada a participação da pauta brasileira nesse setor,
considerando que as duas contribuições da estrutura exportadora ocorreram em setores com
demanda estagnada, ou seja, 37,26% nos setores em retrocesso e 17,79% nos setores em
declínio. Isto significa que não ocorreram grandes mudanças estruturais, mas as exportações
diminuíram perdas em setores estagnados (Figura 19).
A tendência foi crescente para a desespecialização no período em produtos estagnados.
Em 1985 a participação da pauta foi de 55,01% e em 2000 caiu para 48,40%, considerando os
dez produtos mais importantes das exportações a quatro dígitos do SITC. A desespecialização
em produtos estagnados foi importante, porém bastante insignificante durante os dezesseis
anos de estudo, o que indica uma forte correlação com os padrões de inserção de décadas
passadas.
A elevada concentração em torno dos produtos estagnados em 1985 e 2000 dificulta
uma melhoria na inserção externa. Os dados também reforçam uma perda de competitividade
das exportações do Brasil, mesmo naqueles setores em que a demanda está diminuindo. São
produtos característicos da estrutura de exportação do Brasil, nos quais a perda de market-
share só revela o baixo dinamismo da pauta.
Outra peculiaridade na matriz de competitividade do Brasil é que a maior parte dos
setores que obtiveram êxitos em ganhar ou até mesmo perder market-share no comércio
internacional está concentrada em produtos estagnados, com demanda internacional
decrescente, o que reforça uma inserção não competitiva no comércio mundial. De outra
forma, os ganhos de mercado foram concentrados nos setores em declínio e as perdas nos
setores em retrocesso, ou seja, se ganhou mais em mercados declinantes e se perdeu muito
mais naqueles mercados estancados, considerando os dois períodos.
Numa análise vertical, é possível determinar a magnitude da concentração na pauta de
produtos dinâmicos e estagnados. Em 1985, a concentração das exportações em produtos com
demanda declinante estava em torno de 55,01% da receita de exportação ou o equivalente a
US$ 10,383 milhões. Em 2000, esse percentual caiu para 48,404% da estrutura, mas em
termos absolutos houve um aumento para US$ 16,022 milhões, em função de uma receita
maior de exportação nesse ano.
Pela proximidade do centro dos quadrantes e aumento da área das bolhas nos
quadrantes superiores e inferiores da coluna direita da matriz (Figura 19), observa-se uma
forte especialização da pauta em produtos dinâmicos entre períodos. O valor exportado em
1985 correspondia a 8,541% das exportações, ou o equivalente a US$ 1,611 milhões, em 2000
houve um incremento percentual na participação de 22,688%, correspondente a US$ 7,510
milhões, um crescimento de 4,65 vezes o valor exportado em 1985.
Na análise horizontal, observam-se os setores nos quais as exportações brasileiras
ganharam market-share no comércio internacional entre períodos. A matriz de
competitividade de 2000 indica que 30,874% das exportações não obtiveram êxito em ganhar
market-share, ou seja, mais de um quarto das exportações da pauta brasileira foi proveniente
de setores que diminuíram participação externa (Figura 19).
Caso as exportações brasileiras não tivessem diminuído a participação externa
naqueles produtos que caracterizam os setores em retrocesso e oportunidades perdidas,
poderia ter sido incorporado no total exportado pela pauta brasileira entre o período estudado
o equivalente a US$ 5,654 milhões para um grupo de apenas 20 produtos exportados, ou seja,
estes dados são válidos na hipótese de o Brasil não ter perdido market-share, mas pelo menos
ter mantido a mesma participação do período de 1985.
Os resultados atestam um envelhecimento da pauta de exportação brasileira, por ainda
manter uma elevada participação em produtos como 0711 – “Coffee, whether or not roasted
or freed of caffeine; coffee husks”; 6716 – “Ferro-alloys”; 0585 – “Fruit juices (including
grape must) and vegetable juices, whether”; 2815 – “
- Iron ore and concentrates, not
agglomerated”; 2222 – “Soya beans”; 6841 – “Aluminium and aluminium alloys,
unwrought”; 2816 – “Iron ore agglomerates (sinters, pellets, briquettes, etc.)”; 1212 –
“Tobacco, wholly or partly stripped”; 6114 – “Leather of other bovine cattle (including
buffalo leather) and eq”. Estes produtos, juntos, representavam, em 1985, o equivalente a
34,47% da pauta. Em 2000, a contribuição caiu para 28,848%, indicando que ainda é grande a
concentração em produtos cuja demanda internacional há mais de 15 anos é decrescente.
Para os setores que almejaram ganhos de market-share no comércio internacional,
houve uma concentração de 39,814% do valor da pauta. Foram produtos pertencentes a um
grupo de 20 e que obtiveram em termos absolutos uma receita equivalente a US$ 13,179
milhões, dos quais 62,35%, ou exatamente US$ 8,218 milhões, foram gerados em setores com
demanda estagnada, ou seja, onde o Brasil ganhou competitividade internacional.
7 ANÁLISE COMPARATIVA DO BRASIL E DA CORÉIA DO SUL
As diferenças de desempenho quanto ao processo de inserção externa são
referenciadas nesta seção a partir de comparações com o dinamismo internacional. Nesse
sentido, quanto maior a participação do país em setores com demanda internacional crescente,
mais competitivas nestes setores se tornam suas exportações.
A concentração da estrutura exportadora nacional é característica fundamental para
definir a qualidade da inserção externa por meio do posicionamento competitivo da matriz de
exportação e da contribuição setorial. O dinamismo das exportações, também é resultado de
políticas industriais ativas que condicionaram mudanças significativas na estrutura das
indústrias e na promoção da competição externa.
O papel das intervenções selecionadas no mercado tem sido muito debatido na
determinação e definição de novas localizações industriais. Deste modo, o argumento crucial
da escola neoclássica de vantagens comparativas não tem se constituído como fator decisivo
para a localização de novos centros industriais em paises em desenvolvimento. De acordo
com Pires (2003), que analisa as limitações das vantagens comparativas na Amazônia, ao
argumento neoclássico é totalmente falho não somente por não ser o elemento mais decisivo
em áreas periféricas como também em outras regiões.
Uma indústria internacionalmente dinâmica, ou seja, eficiente em termos de custos,
economias de escopo e escala, já era uma realidade na sobrevivência internacional. As
tendências tecnológicas tinham se tornado uma imposição e com elas as mudanças de
políticas econômicas eram uma necessidade. Cada modelo de estratégias e desenvolvimento
encarou este quadro por meio de propostas que foram influenciadas por condições naturais de
dotação de recursos, posturas de políticas econômicas, condições estruturais, entre outras.
O dinamismo das exportações estava então condicionado às estratégias mencionadas
no primeiro parágrafo deste Capítulo. Ganhava força um conjunto de formulações práticas e
teóricas que pretendiam encarar as transformações na economia mundial de acordo com seus
pressupostos, e a integração ao mercado mundial seria uma conseqüência de como as
orientações de política econômica a iriam tratar.
Não obstante, a importância de definir o marco estratégico global para uma mudança
na estrutura produtiva passou a ser o foco central das economias em desenvolvimento, sendo
suas diferentes dinâmicas de inserção hoje as resultantes de opções opostas entre produzir
para o mercado interno e produzir para o mercado externo. O processo de industrialização
tardia que caracteriza os países que mudaram sua estrutura produtiva, a partir da Segunda
Guerra Mundial, revela um grande salto em busca de uma melhor inserção internacional.
Porém, a grande diferença entre a dinâmica das exportações e a participação nos fluxos
comerciais dessas economias também não esconde que as estratégias de desenvolvimento
foram no mínimo divergentes.
O notável desempenho exportador de algumas economias em desenvolvimento, que
vem aumentando suas participações em mercado com demanda dinâmica, obriga a rever como
as estratégias e orientações contribuíram de modos específicos para a inserção internacional
dessas economias e de que modo a especialização produtiva, o papel da política industrial e
comercial podem promover níveis de produtividade aceitáveis nos ramos mais dinâmicos do
comércio internacional.
O processo de globalização impôs mudanças no cenário do comércio internacional,
que foram decorrentes de uma nova estrutura produtiva alimentada por transformações no
pacote tecnológico (robótica, cibernética, automação) responsáveis pela diminuição dos
custos médios e incrementos de economia de escala e escopo.
Essas mudanças tecnológicas têm se traduzido, para os países exportadores que fazem
uso intensivo, delas, em maiores ganhos de comércio, com efeitos sobre o desenvolvimento
econômico. Nesse sentido, a demanda internacional se alterou em favor de produtos que
incorporam mão-de-obra qualificada e tecnologia, em detrimento dos produtos básicos que
apresentam grandes densidades de recursos naturais e potencial limitado de demanda
internacional.
As distinções entre produtos intensivos em recursos naturais e densos em tecnologia
decorrem essencialmente de uma maior demanda no comércio internacional, ou seja, se
determinados produtos e setores estão ganhando ou perdendo mercados em terceiros países.
Dentre esses setores estão as manufaturas e produtos básicos, respectivamente.
Não é nova a observação de que o comércio mundial de manufaturas cresce mais
rapidamente que os produtos básicos. Ao aumentar a renda, destina-se a compra de alimentos
uma parcela menor, com a qual se tende a diminuir a parte correspondente de alimentos no
consumo do comércio mundial, a menos que aumentem os custos relativos de produção.
No caso das matérias-primas agrícolas e industriais, a demanda cresce a um menor
ritmo que a venda, por várias razões, sendo as principais as mudanças nos países
consumidores para uma estrutura econômica baseada na produção de serviços que requerem
menos matérias-primas, a fabricação de sucedâneos sintéticos e a descida geral da quantidade
dessas matérias-primas utilizadas na produção industrial.
7.1 CONDICIONANTES DA ESTRUTURA EXPORTADORA
Alguns grupos de produtos e setores no comércio internacional têm experimentado um
enorme crescimento nos mercados, representado por são taxas de variações elevadas num
pequeno espaço de tempo, mas que estão mudando o quadro de inserção dos países em
desenvolvimento e contribuindo para uma forma mais justa de participar da divisão
internacional do trabalho.
Nos últimos anos, houve um crescimento econômico na maioria dos países
desenvolvidos, especialmente de tecnologias da informação (em particular programas
informáticos e equipamentos de telecomunicações), junto com uma rápida melhora da
tecnologia para fabricação de computadores. Nos Estados Unidos, por exemplo, a demanda
por produtos de tecnologia da informação, especialmente os novos, como são os telefones
moveis e os computadores pessoais, supera, com uma ampla margem, o ritmo de crescimento
da renda, o que faz com que a renda aumente a proporção da renda gasta nesses produtos, que
passaram de uma média de 3,3%, durante o período de 1974 a 1990, a 6,3%, durante o
período de 1996 a 1999 (OLINER; SICHEL, 2000). Isto, unido ao rápido desenvolvimento da
utilização de fontes de abastecimento estrangeiras, parece ter desempenhado um importante
papel no rápido crescimento do comércio mundial desses produtos.
A elasticidade-renda da demanda reflete também os efeitos da inovação dos produtos
na estrutura de gasto, inovações que podem levar a um forte aumento da demanda de certas
categorias de produtos, quando estes resultem do consumo em grande escala no setor das
famílias e empresas. Neste sentido os fabricantes mais inovadores, muitas vezes, desfrutam,
para seus produtos, de mercado em forte expansão, alcançando, desta forma, um crescimento
mais rápido.
Não só entre as manufaturas como também entre os produtos básicos existem
diferenças quanto ao seu potencial de mercado e sua contribuição nos ingressos de
exportação. Por exemplo, existem várias categorias de alimentos elaborados e semi-
elaborados que podem classificar-se como produtos de alto valor e que têm elasticidade-renda
não só muito superior à dos produtos agrícolas tradicionais como também à unidade. As
normas de qualidade, seguridade, empacotamento e entrega desses produtos são, em muitos
aspectos, mais características de manufaturas modernas que dos produtos agrícolas
tradicionais, incluindo os produtos alimentícios básicos. Quanto ao dinamismo dos, esta série
de produtos tem obtido bons resultados em comparação com os outros produtos agrícolas
básicos, e os ingressos desses países em desenvolvimento nas exportações de várias dessas
categorias de produtos foram bem superiores aos ingressos derivados da exportação de
produtos básicos tradicionais, tais como cereais, cacau e até suco natural.
Todavia, entende-se que as diferenças na elasticidade-renda, a inovação de produtos e
a evolução na pauta de consumo, assim como as variações na competitividade das indústrias
nos distintos países, explicam por que alguns produtos são mais dinâmicos que outros no
mercado internacional (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2002).
Segundo o Informe sobre o comércio e o Desenvolvimento (1996), num estudo
composto de 225 produtos examinados, a demanda de alguns tem crescido a um ritmo três
vezes maior que o crescimento dos ingressos mundiais, enquanto outros produtos têm
diminuído em termos absolutos. Os primeiros se caracterizam como produtos muito
dinâmicos devido ao alto coeficiente de procura no comércio internacional.
As diferenças no ritmo de liberalização dos mercados podem ter importantes
conseqüências para a expansão do comércio mundial de diferentes produtos. Quando as tarifas
constituem o principal obstáculo à entrada de mercadorias, a liberalização generalizada em
forma de reduções tarifárias uniformes possivelmente não produz importantes diferenças nas
condições de acesso aos mercados nem portanto nas taxas de expansão do comércio de
diferentes produtos. Essas diferenças podem surgir quando: i) a liberalização comercial inclui
as barreiras não tarifárias aplicadas seletivamente a distintos produtos ou fornecedores; ii)
existem distintos graus e ritmos de liberalização e acesso aos mercados segundo os distintos
produtos; iii) as medidas pontuais e seletivas aplicadas com um fim específico, como são os
contingentes tarifários e as medidas antidumping, ganham importância na política comercial.
Todos esses fatores tiveram um papel destacado na evolução do sistema de comércio mundial
durante o período de 1985 a 2002 e por isso explicam, em grande medida, por que o comércio
mundial dos distintos produtos tem crescido a taxas apreciavelmente distintas.
Como se examinou no Informe sobre o Comércio e o Desenvolvimento (2002), uma
importante característica da evolução das condicionantes de acesso aos mercados foi o recurso
crescente das barreiras não tarifárias por parte dos países industrializados durante o período
compreendido entre 1979 e 1993. Cada vez se aplicaram maiores medidas de limitação
voluntárias nas exportações, especialmente no comércio de aço, automóveis e aparelhos
eletrônicos de consumo.
O crescente número de barreiras não tarifárias impostas especialmente às manufaturas
não excessivamente complexas fortaleceu os padrões de acesso aos mercados de exportações
de produtos básicos, que ganharam importância nas primeiras fases da industrialização.
A resposta dos países em desenvolvimento foi de dois tipos. Uns passaram a fabricar
produtos que desfrutavam de um melhor acesso aos mercados. Por exemplo, alguns NICs
mais avançados fabricaram produtos que desfrutavam de um melhor acesso aos mercados.
Outros paises se emprenharam em produzir e exportar produtos para os quais existiam
menores barreiras aos mercados.
No entanto, os ganhos e as perdas de dinamismo também estão relacionados com
outras variáveis, tais como o grau de abertura econômica, o tamanho do setor público, a
melhoria no nível de educação da população. Esta última desenvolve as atividades
empresariais e a capacidade de ampliar as exportações de manufaturas, de tal maneira que se
considera que as relações existentes entre todos esses elementos favorecem a inserção das
economias no comércio internacional.
As capacidades de um país para inserir-se na economia internacional têm sido
relacionadas, mas recentemente, com a estrutura dos mercados e com o reconhecimento de
que o mundo real se desenvolve sob condições de competição imperfeita em detrimento da
perfeita, com capacidade de diferenciação de produtos.
Outras linhas de investigação (á competitividade estrutural) consideram que a
capacidade de penetração num mercado é um fenômeno mais amplo, que está vinculado a
circunstâncias que vão além do comportamento dos preços e tem um caráter sistemático. De
acordo com este ponto de vista, a estratégia das empresas, os aspectos relacionados com o
comportamento dos processos de investimento/desenvolvimento e os fatores de caráter
organizacional explicam diferentes possibilidades de inserção de um país ou mesmo de um
setor na economia internacional.
Como já demonstrado, os ingressos de países no comércio internacional dependem,
em grande medida, da sua pauta de exportação. É dela que proverá parte de seus recursos
externos, por isso são importantes as variações dos preços e as respostas que a demanda
desses produtos sofrem a modificações no nível de renda externo. Países que apresentam
grande parte de sua estrutura exportadora concentrada em produtos básicos apresentam
também maiores chances de sofrerem variações de seus preços.
Nos países que exportam mais produtos da indústria de transformação e menos
básicos, a influência das variações de preços é menor e seus impactos podem ser atenuados no
decorrer de um período prolongado. Se suas exportações se concentram em poucos produtos
básicos, podem desenvolver diversos setores dinâmicos que façam uso de suas próprias
matérias-primas.
A expansão do comércio internacional está estreitamente relacionada com o
crescimento do produto e da renda mundial. A relação não é linear nem uniforme para todos
os produtos. Por conseguinte, o comércio de muitos produtos cresceu mais rapidamente que a
produção e a renda mundial, com taxas de crescimento até três vezes superior ao crescimento
destas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 2002).
Há tempos se reconhece que a renda é um dos principais fatores que determinam a
demanda e que existem importantes diferenças entre produtos no que diz respeito às suas
elasticidades. Essas diferenças de elasticidades desempenham um importante papel na
disparidade de taxas de crescimento de uma ampla categoria de produtos e setores no
comércio internacional.
No entanto, existe ainda uma variável significativamente afetada pelo processo de
mundialização, que são os processos produtivos das empresas, os quais se estabelecem em
outros países e oferecem vantagens, tais como custo menor de transportes e comunicações
diminuição de barreiras comerciais mão-de-obra barata, entre outras. Estas vantagens
permitem o deslocamento de parte das etapas produtivas de determinados produtos a diversos
países, dando oportunidades de desenvolverem maiores economias de escala e escopo.
As redes internacionais de produção criam as empresas transnacionais que produzem
uma série normalizada de produtos em diversos lugares, ou também grupos de pequenas e
médias empresas situadas em diversos países e unidas por meio de subcontratação
internacional. Dada a importância que têm para as empresas transnacionais as economias de
escala, essas empresas escolhem lugares que ofereçam uma combinação de alta produtividade
de mão-de-obra e reduzidos salários e custos com infra-estrutura, e dessa forma acabam
contribuindo para uma melhora na inserção externa dos países nas quais elas atuam.
A importância desses sistemas internacionais de produção para a dinâmica do
comércio internacional está diretamente ligada ao alto poder de consumo dos produtos
comercializados por essas empresas e do próprio mercado exercido entre elas mesmas
(intrafirmas). A demanda desses produtos que tem crescido a taxas três vezes superiores ao
crescimento da renda e produção mundial exerce um alto poder de encadeamento para frente,
podendo esses serem utilizados como insumos na produção de outros bens.
7.2 OS PRODUTOS MAIS IMPORTANTES
Os produtos com maior importância em valor no total das exportações brasileiras estão
identificados de acordo com o market-share (Tabela 14). As participações no final do período
somaram 42,51%, o que significa que quase a metade do valor exportado pelo Brasil foi
gerada em 2000 nestes setores: 0711 – “Coffee, whether or not roasted or freed of caffeine;
coffee husks”; 7923 – “Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters), of na”; 2815
– “Iron ore and concentrates, not agglomerated”; 0585 – “Fruit juices (including grape must)
and vegetable juices, whether”; 2222 – “Soya beans”; 2517 – “Chemical wood pulp, soda or
sulphate”; 8510 – “Footwear”; 0813 – “Oil-cake and other residues (except dregs) resulting
from the ext”; 6841 – “Aluminium and aluminium alloys, unwrought”; 6725 – “Blooms,
billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars)”.
Tabela 14 - Classificação dos produtos mais importantes a 4 dígitos do SITC no comércio
mundial, na economia brasileira e coreana, medidos pela porcentagem das exportações entre
1985 e 2000.
Classificação
Setores exportadores mais importantes do
Mundo Brasil
Coréia do Sul
Período Ranking SITC
(1)-
PeWrFy% Ranking SITC
(2)-
PeWrFy% SITC
(3)-
PeBrFy% SITC
(4)-
PeKsFy%
1985/2000 1 7810 6,42 11 7721 0,91 0711 5,46 7764 14,18
1985/2000 2 9310 3,12 12 7924 0,88 7923 5,37 7810 9,99
1985/2000 3 7849 2,58 13 7641 0,85 2815 5,04 7599 5,40
1985/2000 4 7764 2,52 14 7643 0,84 0585 4,77 7525 5,23
1985/2000 5 7599 2,21 15 7523 0,83 2222 4,55 7643 4,66
1985/2000 6 5417 1,40 16 8942 0,83 2517 4,05 7523 2,48
1985/2000 7 7525 1,14 17 7788 0,73 8510 3,95 7524 1,78
1985/2000 8 7524 1,10 18 8939 0,71 0813 3,86 7788 1,68
1985/2000 9 7649 1,02 19 7132 0,67 6841 3,03 6251 1,55
1985/2000 10 6672 0,96 20 8219 0,66 6725 2,42 7849 1,26
Fonte: Elaborado pelo autor a partir do TradeCan, 2002.
(*) Legenda: (1) e (2) porcentagem das exportações dos países industrializados no final do período; (3)-
porcentagem das exportações do Brasil no final do período; (4) porcentagem das exportações da Coréia do Sul
no final do período.
A importância desses produtos em valor para a estrutura exportadora brasileira é
relevante, porém, quando se comparam com a demanda mundial, estes produtos tão
concentrados na pauta brasileira não figuram entre os vinte mais importantes do comércio
internacional, o que significa que o Brasil está concentrando suas vendas externas em
produtos que apresentam reduzida parcela de valor na contribuição das exportações mundiais.
Alguns setores da economia brasileira, como 0711 – “Coffee, whether or not roasted
or freed of caffeine; coffee husks”; 2815 – “Iron ore and concentrates, not agglomerated”;
0585 – “Fruit juices (including grape must) and vegetable juices, whether”; 8510 –
“Footwear”; 0813 – “Oil-cake and other residues (except dregs) resulting from the ext”
diminuíram sua importância no valor exportado pela pauta nacional de 37,36% para 23,09%
entre 1985 e 2000.
Esta mudança foi acompanhada pelo crescimento de outros produtos, dentre os quais
estão: 7923 – “Aircraft, mechanically propelled (other than helicopters)”; 2222 – “Soya
beans”; 2517 – “Chemical wood pulp, soda or sulphate”; 6841 – “Aluminium and aluminium
alloys, unwrought”; 6725 – “Blooms, billets, slabs and sheet bars (including tinplate bars)”,
que aumentaram a sua composição no valor exportado de 5,48% para 19,42%. Isto significa
que algumas commodities diminuíram em importância e outras aumentaram. Contudo, não
houve mudança estrutural, de maior qualidade na pauta, que possibilitasse um maior
ajustamento com a demanda internacional.
O reflexo da composição das exportações brasileiras foi influenciado, pelo menos até
1990, pela centralização institucional, subsídios e minidesvalorizações cambiais. A política de
apoio às exportações procurou aumentar e diversificar a pauta sem, todavia, alterar a estrutura
de barreiras às importações, que constituíam um elemento central de estratégia de
desenvolvimento industrial por substituição de importações.
A política de promoção às exportações, até 1990, se baseou na estabilidade de um
modelo institucional fortemente centralizado em torno de uma agência federal, a Carteira de
Comércio Exterior do Banco do Brasil (Cacex), que acumulava funções de promoção,
financiamento, concessão de incentivos, entre outras, e se valeu de diversos instrumentos
fiscais e creditícios, sobretudo nos anos 70 e início dos 80, e de uma política cambial
favorável às vendas externas, a partir de 1968. A intensidade do uso de diferentes
instrumentos variou no tempo, mas os incentivos cambiais, creditícios e fiscais estiveram
sempre presentes, até que a pressão de parcerias comerciais e a crise fiscal regulatória do
Estado levassem o “modelo Cacex” ao seu esgotamento, no final dos anos 80 (IGLESIAS;
VEIGA, 2002).
De fato, as contravenções geradas pelos mecanismos de concorrência e estrutura de
mercado do comércio internacional, dadas as claras limitações do desempenho interno da
economia brasileira, não foram reduzidas pela não atuação do Estado no segmento
econômico, mas exatamente o contrário, esses instrumentos de políticas públicas é que foram
postos em favor de uma estratégia de desenvolvimento industrial, buscando uma inserção no
mercado externo.
Em comparação com a estrutura exportadora brasileira, na Coréia do Sul, além da
concentração dos dez produtos mais importantes equivalerem a 48,25% da pauta, desse
percentual, 7 produtos estão entre os vinte de maior participação nas exportações mundiais.
Esses são setores que apresentam a maior parcela de mercado em valor negociado no
comércio internacional, o que indica que a Coréia do Sul está se especializando em setores de
elevado valor adicionado e com demanda mundial crescente.
Esses setores de maior participação nas exportações da Coréia do Sul e identificados
pelo SITC na Tabela 6 são descritos a seguir em ordem de importância: 7764 – “Electronic
microcircuits”; 7810 – “Passenger motor cars ( other tam public-service type vehicles)”; 7599
– “Parts, n.e.s. of and accessories for the machines of headings”; 7525 – “Peripheral units,
including control adapting unit”; 7643 – “Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and
radiotelepho”; 7523 – “Complete digital central processing units; digital processors”; 7524 –
“Digital central (main) storage units, separately consigned”. Esses sete setores respondem por
43,74% das exportações da Coréia do Sul e por 15% do total das importações mundiais,
revelando-se altamente competitivos.
No caso da Coréia do Sul, a estratégia de orientação fora iniciada a partir da década de
60, contribuiu para a atual estrutura exportadora na medida em que identificou as indústrias
promissoras para exportação de produtos intensivos em mão-de-obra, implementando,
mediante o critério de desempenho, um conjunto de incentivos financeiros e técnico-
administrativos, a fim de dar às empresas beneficiadas as condições de operar em escalas
eficientes e aproveitar as vantagens dos baixos salários. Deste modo, a política industrial sul-
coreana pretendia estimular as indústrias, antes substituidoras de importação, a iniciar a
competição no mercado internacional.
O atual desempenho exportador da Coréia do Sul foi obtido por meio de duras
políticas industriais seletivas, em função da estratégia do governo em combinar preços com
concessão de subsídios e incentivos a reais setores promissores. Deste modo, o regime de
comércio foi não neutro, dado o estabelecimento de mecanismos de proteção criados pelo uso
de instrumentos de regulação com a finalidade de estimular a produção em larga escala e a
preços competitivos no comércio internacional.
Em 1985, os vinte produtos mais importantes do comércio internacional participavam
com 18,12% das exportações mundiais; percentual que atingiu o índice de 30,49% em 2000,
demonstrando um crescimento real em valor exportado de 68,26% entre períodos. Esse
crescimento em valor exportado por estes produtos concentra uma considerável parcela do
comércio mundial, e países em desenvolvimento, como a Coréia do Sul, que exportam uma
boa parte desses produtos, impulsionam suas vendas externas por meio da demanda mundial.
A vantagem econômica de concentrar a pauta de exportação nos produtos mais
importantes do comércio internacional está na melhoria nos ganhos do comércio, diminuição
da vulnerabilidade externa, melhor estabilidade da receita com exportação, maior integração
ao comércio mundial, melhor participação da divisão internacional do trabalho e ganhos de
bem-estar social, entre outros.
De um modo geral, os produtos mais importantes da pauta brasileira se encontram
concentrados em setores com menor participação das exportações mundiais. Este é um
aspecto importante que caracteriza certo grau de vulnerabilidade do setor externo. Das
exportações do Brasil, continua se especializando em setores que não estão inclusos entre os
mais importantes do comércio mundial.
De acordo com a classificação da Tabela 6, os produtos mais importantes das
exportações brasileiras somaram o equivalente a 42,51% da pauta em 2000, porém, quando se
comparam com os vinte produtos mais exportados no comércio mundial, a situação não é
confortável, pois o Brasil não exporta nenhum desses produtos. Como a concentração da
pauta se manifesta em setores de baixa tecnologia, a tendência é que aumente a
vulnerabilidade externa brasileira, ou seja, a possibilidade de gerar receitas, na presença de
instabilidades internacionais, fica comprometida.
A vulnerabilidade externa também aumenta quando existe uma concentração na pauta
de produtos de baixo dinamismo internacional, produtos que a demanda tem manifestado uma
tendência declinante ao longo do período estudado. O ideal para financiar os déficits em
transações correntes é participar de maneira mais eficiente da divisão internacional do
trabalho, ampliando as cotas de mercado em produtos de elevada variação de demanda
externa.
As estratégias de uma inserção mais competitiva ao mercado internacional, adotadas
pelo Estado sul-coreano são justificadas principalmente pelas transformações observadas na
estrutura econômica mundial ao longo de duas décadas e pela soberania coreana em manter
ativa sua política de menor submissão aos ditames da globalização, preservando suas
especificidades. Com isso o Estado passou a ser o principal condutor de políticas públicas que
priorizaram grandes projetos de desenvolvimento nacional (LACERDA, 2004).
A permanência de uma estrutura exportadora da Coréia do Sul concentrada nos setores
mais importantes do comércio internacional ao longo de mais de quinze anos assegura uma
política industrial de fomento na ciência e tecnologia e instrumentos de ação governamental
que se afastavam das interpretações de livre mercado incorporadas no Consenso de
Washington. Essas medidas eram consideradas legítimas pela Organização Mundial do
Comércio (OMC), mas as intervenções estatais tinham especificidades para redefinir a
substituição de importações por meio de fomentos a peças e componentes para utilização em
alta tecnologia (AMSDEN, 2004).
A inserção competitiva da Coréia do Sul pode ser visualizada na comparação entre o
market-share do Brasil e a composição da demanda mundial representada pelos setores 6, 7 e
8 em nível de um dígito do SITC. O comportamento gráfico no agregado do setor 6
discrimina uma associação negativa ao longo do período em relação à demanda mundial para
este setor. Em determinados triênios, observa-se uma queda da demanda mundial
concomitante com um aumento da parcela exportada pela Coréia do Sul caracterizada por
pequenos desvios mas tendências de longo prazo declinante. No entanto, a parcela nas
exportações brasileiras desse setor vem aumentando a partir de 1985, oscilando muito pouco
em torno de uma tendência ascendente, porém o aumento do valor exportado na pauta
brasileira não coincide com o posicionamento da demanda mundial, que em 1985
representava 20% da estrutura de consumo e em 2000 diminuiu para 14, 56%.
O pequeno desvio que se nota no comportamento das exportações da Coréia do Sul em
relação à demanda agregada do setor 6 acusa que a economia sul-coreana está mais
sintonizada com as mudanças de demanda internacional nesse setor. Isto significa que a queda
de importância desse setor na demanda mundial também diminuiu a sua participação nas
exportações da Coréia no longo prazo, ou seja, as pequenas variações de curto prazo apontam
essa tendência, porém, apesar da diminuição de participação na demanda mundial, o setor 6,
em termos de um dígito, ainda se classifica entre os três mais importantes do comércio. Logo,
a geração de valor nesse setor não representa de forma alguma um desperdício.
Os setores 7 e 8, somados ao 6, completam os três mais importantes do comércio
internacional, aqueles que apresentam a maior demanda em valor. O que se nota é uma
elevada participação desses setores na estrutura exportadora da Coréia do Sul, condizente com
sua política industrial de promoção de setores de alta tecnologia. Entre eles estão os mais
importantes da pauta sul-coreana a quatro dígitos: 7764 – “Electronic microcircuits”; 7810 –
“Passenger motor cars other than public-service type”; 7599 – “
Parts, n.e.s. of and accessories
for the machines of headings 751”; 7525 – “Peripheral units, including control adapting unit
(connectable di)”; 7643 – “Television, radio-broadcasting, radiotelegraphic and radiotelepho”;
7523 – “Complete digital central processing units; digital processors con”; 7524 – “Digital
central (main) storage units, separately consigned”.
A demanda internacional apresenta tendência crescente para os setores 7 e 8,
exatamente os de maior participação na Coréia do Sul, acrescidos do setor 6; enquanto, a
presença nas exportações brasileiras nos dois primeiros em 2000 foi de 10,44% e 6,65% na
pauta com tendência ascendente para o primeiro e descendente para o segundo. Para o setor
8, nota-se um crescimento das exportações de 1985 até 1994, quando a contribuição nas
exportações mundiais diminui, e o Brasil começa a perder mercado em setores com demanda
internacional crescente. Com relação ao setor 7, apesar da baixa participação nas exportações,
existe uma associação positiva quanto ao crescimento do market-share deste setor na
demanda internacional.
A característica crucial do setor 7 no período estudado é exatamente a elevada
participação na composição da demanda mundial em termos agregados e a retomada de
ganhos de mercado a partir de 1996. Neste setor o destaque é a elevada participação que ele
detém na pauta sul-coreana, e sua participação vem crescendo desde 1985, revelando um certo
direcionamento da política industrial seletiva neste setor, condizente com o dinamismo
internacional do setor em termos agregados.
Em 2000 a participação do setor 7 na pauta da Coréia do Sul foi equivalente a 63,96%,
resultado que está associado à correção de mecanismos de mercado presentes pela própria
dinâmica do comércio internacional e pelas relações sociais de produção. A especialização em
setores de alta tecnologia foi uma variável dependente da maciça interferência do Estado em
setores selecionados que oferecessem maiores ganhos de escala, dada a concorrência
internacional. Outra confirmação da política industrial da Coréia em setores intensivos em
capital foi a baixa participação na sua pauta em produtos básicos, intensivos em recursos
naturais. Os setores 0 e 2 exportavam juntos o equivalente a 6,57% do valor das exportações
totais e em 2000 esse percentual foi de 3,36%. Esta tendência em diminuir a participação
desses setores no valor exportado foi progressiva.
Na verdade a política industrial sul-coreana manteve como alta proporção de suas
exportações produtos provenientes apenas dos setores 6, 7 e 8, induzindo sua inserção a
setores de alta tecnologia, pois a geração de valor nos setores 1, 3, 4 e 5 no período analisado
não foi elevada. A mudança na composição da pauta da Coréia do Sul em termos tecnológicos
ocorreu mais precisamente entre 1965 e 1984, de tal forma que no período analisado o
desempenho exportador se explica mais pelos resultados da própria política industrial.
8 CONCLUSÕES
Os resultados da inserção externa do Brasil e da Coréia do Sul permitem sustentar que
existem diferenças quanto ao dinamismo dos setores exportadores desses países e que as
causas do sucesso sul-coreano encontram-se numa mudança de orientação de mercado, que
reuniu políticas industriais seletivas a setores competitivos e uma intervenção estatal que
assegurasse o mínimo de proteção a estes setores.
A consolidação de uma estrutura exportadora altamente concentrada em termos
agregados nos setores 6 – “bens fabricados e classificados principalmente por material”; 7 –
“maquinarias e equipamentos de transporte” e 8 – “artigos fabricados múltiplos” identifica na
estrutura exportadora sul-coreana uma alta integração com a demanda internacional que para
estes setores equivale a 68,47% das importações mundiais no último período (1995-2000).
Enquanto os resultados atestam uma forte correlação entre a demanda mundial e as
exportações da Coréia do Sul no agregado, no último período a especialização setorial das
exportações brasileiras a um dígito foram provenientes dos setores 0 – “comidas e animais
vivos destinados ao consumo imediato”; 2 – “materiais crus, não comestíveis, menos
combustíveis” e 7 – “maquinarias e equipamentos de transportes”, somando juntos uma
participação de 63,12% do valor exportado, sendo que 42,62% foram originados em setores
intensivos em recursos naturais que apresentam demanda internacional decrescente.
Em termos agregados, a inserção externa das exportações brasileiras revelaram-se
desfavorável e vulnerável, concomitantemente. Desfavorável porque aumentou a
concentração da pauta em setores com demanda declinante no comércio internacional e
elevou-se a vulnerabilidade pela especialização nos setores intensivos em recursos naturais,
que oferecem reduzida demanda externa e elevada volatilidade de preços internacionais.
Nos últimos quinze anos de comércio exterior brasileiro, observou-se que os setores
competitivos da matriz de exportação, ou aqueles que apresentaram ganhos de market-share
nos três períodos, foram oriundos de setores que qualificam as vantagens comparativas da
economia brasileira, o que significa que, em termos agregados, as maiores contribuições em
todo o período estudado foram das seções 0 – “comidas e animais vivos destinados ao
consumo imediato” e 2 – “materiais crus, não comestíveis, menos combustíveis”, atestando
que as políticas industriais das décadas passadas também tiveram seus efeitos reproduzidos
adiante ou foram novamente postas em práticas.
Outro ponto desfavorável da inserção das exportações brasileiras e que reforça a
vulnerabilidade do setor externo diz respeito a um aumento de participação na pauta de
produtos caracterizados com demanda externa declinante. A especialização nesses setores
contribuiu para um aumento da receita de exportação, porém a pauta ganhou competitividade
em setores não dinâmicos no comércio internacional e as políticas protecionistas decorrentes
do modelo de substituição de importações motivaram o crescimento industrial em setores não
competitivos internacionalmente.
A não-integração ao comércio internacional fragiliza a pauta de exportação a futuros
choques internacionais, podendo provocar uma queda mais expressiva da demanda dos
produtos estagnados e uma rebaixa de seus preços externos. Em nível macro, essas
condicionantes dificultam a manutenção da receita de exportação e elevam os custos sociais
com os compromissos externos.
Em termos desagregados, a pauta de exportação do Brasil confirma a não-integração
ao comércio internacional, apesar de terem ocorrido melhorias significativas na estrutura
exportadora entre 1985 e 2000, quando se nota um aumento da participação nos setores de
demanda ascendente de 2,58% para 14,99% em 2000. Os ganhos de mercados nos setores
ótimos identificam avanço qualitativo na pauta em setores pertencentes às seções 6, 7 e 8.
No entanto, em termos desagregados, os dez produtos mais importantes da pauta
brasileira em 2000, que contribuíram com 42,5% do valor exportado, não aparecem entre os
vinte mais importantes do mundo. Desse percentual, mais de 27% são oriundos de setores
intensivos em recursos naturais, que, segundo as condições de demanda externa, tendem a
permanecer e a evoluir com declínio.
Portanto, as condicionantes do setor externo brasileiro são: elevada concentração em
setores com demanda externa declinante, baixa integração às demandas mundiais, ganhos de
competitividade em setores estagnados causando aumento da vulnerabilidade. O mais grave é
que dos 70,68% da pauta em 2000, equivalente aos quarenta produtos dos setores da matriz de
competitividade, 36,04% correspondem aos setores intensivos em recursos naturais e que
estão sujeitos a maiores variações nos preços e instabilidades na receita.
A maior fragilidade do setor externo brasileiro decorre de uma elevada concentração
em produtos intensivos em recursos naturais, ao mesmo tempo em que a maior parte dos
produtos que oferecem posicionamento favorável no comércio internacional se caracterizam
por incorporar mais valor, serem mais sensíveis à elevação da renda mundial e quase sempre
pertencentes às seções 6, 7 e 8, caracterizadas pelo uso intensivos de tecnologias.
O mercado interno da economia brasileira e as políticas de proteção às indústrias
nascentes contribuíram para o prolongamento e o avanço do processo de substituição de
importação. Contudo, a atuação do Estado como interventor se deu no sentido de
industrializar o país e o fez baseado em tecnologias obsoletas. As indústrias aqui instaladas
detinham mercados nacionais cativos e o aumento da produção estava condicionado tanto ao
crescimento da demanda interna quanto às importações, mas estas indústrias estavam sempre
defasadas tecnologicamente. No final do processo a manutenção de uma política de alta
proteção e um mercado fechado contribuíram para uma não-dinamização das exportações
brasileiras.
A falta de uma integração ao comércio internacional ocorreu tanto pela ausência de
políticas industriais seletivas a setores competitivos no comércio internacional, quanto pelo
não-ajustamento da substituição de importações à nova reestruturação produtiva internacional.
Portanto, a estratégia de desenvolvimento adotada pelo Brasil reforçou uma inserção baseada
em setores exportadores nos quais o país já detinha vantagens comparativas, mas que não
condiziam com uma matriz dinâmica do ponto de vista internacional.
O desempenho do valor exportado ficou concentrado, em poucos produtos, na sua
maioria todos caracterizados por uso intensivo em recursos naturais. A inserção externa por
meio de manufaturas não baseadas em recursos naturais não apresentou boa classificação
quanto aos padrões de competição externa, mas encontram-se entre as dez mais importantes
da economia brasileira nos dados de 2000.
Diferentemente da inserção brasileira, a Coréia do Sul mostrou que entre 1985 e 2000
suas exportações melhoraram o market-share em setores com demanda externa ascendente. O
bom desempenho é descrito pelo aumento de participação nos setores ótimos que, em 1985,
representavam apenas 8,04% e, em 2000, saltaram para 46,40% do valor exportado.
Houve melhora na qualidade das exportações sul-coreanas com um aumento da
participação na pauta de 22,21%, em 1985, para 53,64%, em 2000, dos produtos dinâmicos
em termos desagregados, indicando uma forte especialização em setores com demanda
internacional elevada. Os ganhos de market-share configuram uma situação de aumento da
competitividade. Na Coréia do Sul, vinte dos quarenta produtos analisados ganharam
mercado, contribuindo com 55,08% do valor exportado, dos quais 46,4% foram produtos
dinâmicos, reforçando a integração com o comércio internacional.
As tendências analisadas na estrutura exportadora no agregado se confirmam também
na matriz detalhada da Coréia do Sul. Dos dez produtos mais importantes da sua pauta em
2000, nove figuram entre os vinte mais importantes do comércio internacional. Dos nove
analisados, seis se encontram entre os dez mais importantes, entre eles os subgrupos 7810 –
“automóvel para passageiros” e 7764 - “microcircuitos eletrônicos”, ocupando o 1º e o 4º
lugar no ranking internacional, respectivamente.
As transformações observadas na estrutura de exportação da Coréia do Sul a
condicionaram para uma inserção competitiva e determinaram uma concentração em setores
de alta tecnologia, resultado de políticas industriais bem-sucedidas implantadas pelo governo
sul-coreano de concessão de incentivos fiscais para investimentos em setores estratégicos.
Este salto no desempenho exportador sul-coreano se deve em grande parte à correção
de falhas nos mercados de produtos e fatores não ignorados pelo governo, relacionadas ao
aprendizado, diferenciação do produto e nível do pacote tecnológico, que, juntos, entravavam
o desenvolvimento industrial sul-coreano.
Dada a importância destas imperfeições para a edificação de um parque industrial, a
saída encontrada reuniu a implementação de políticas seletivas aos setores de alta tecnologia e
individualmente respeitaram-se as necessidades e especificidades de cada setor, em virtude
das peculiaridades dos mercados para os quais ele concorria. O regime de comércio se
caracterizou como não neutro, com significativas intervenções estatais e políticas tarifárias
protecionistas com relação às importações condicionadas ao desempenho exportador.
Deste modo, a Coréia do Sul serviu-se de uma estratégia de intervenção seletiva e de
uma orientação voltada para fora. O esforço da intervenção governamental se estendeu ao
campo tecnológico para diminuir as externalidades e preparar os grandes conglomerados sul-
coreanos para a concorrência internacional. Na verdade, a grande mudança de estratégia da
Coréia do Sul foi a substituição de importações tecnológicas, que conduziu sua matriz
exportadora ao dinamismo internacional.
No dinamismo exportador do Brasil e da Coréia do Sul se observa que, diferentemente
da visão neoclássica ou ortodoxa, houve sim significativa intervenção estatal para corrigir
falhas nos mercados e implantar uma industrialização que melhorasse os termos de troca. A
partir daí o regime de comércio utilizou como instrumento certo grau de protecionismo que
variou em cada caso, mas bem diferente da neutralidade defendida pelos neoclássicos porque
a estrutura de comércio era de clara limitação das importações.
A grande virada sul-coreana para melhorar seu padrão de inserção externa ocorreu por
meio de um certo abandono dos princípios originais da substituição de importações, que no
Brasil se estendeu até finais dos anos oitenta. A grande estratégia partiu do próprio estado sul-
coreano que exerceu uma intervenção não apenas funcional, mas sobretudo seletiva,
implantando instrumentos que auxiliaram a fortificação de setores de alta tecnologia, mas que
não se encontravam preparados para enfrentar a concorrência externa.
Fazia-se necessário, portanto, desenvolver mecanismos de proteção a estes setores
através de políticas que fossem seletivas, ou seja, individualizadas para cada setor, neutras em
relação ao mercado, de forma a conduzir ao mesmo tempo a proteção e o desempenho
exportador e seletivo em relação às empresas que já estavam consolidadas como grandes
competidoras e com isso deveria existir precaução para não beneficiá-las indiretamente.
Portanto, aliado a mecanismos de intervenção, o governo sul-coreano utiliza práticas já
observadas pelas políticas de substituição de importações e ajusta estes mecanismos que
sofreriam limitações futuras para prosseguir, tal como ocorreu no Brasil. Em virtude da
escassez de recursos naturais e do reduzido mercado interno da Coréia do Sul, há uma
preparação seletiva de setores intensivos em tecnologia que apresentavam fatores dinâmicos,
como aprendizado e diferenciação, e com isso transforma o setor exportador numa matriz
competitiva no comércio internacional.
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