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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
DOUTORADO EM ENFERMAGEM
EUCLÉA GOMES VALE
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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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EUCLÉA GOMES VALE
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Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Enfermagem
Doutorado da Faculdade de Farmácia,
Odontologia e Enfermagem da
Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para obtenção do título
de Doutor em Enfermagem.
Área de Concentração: Enfermagem
Clínico-Cirúrgica.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena
Freitag Pagliuca.
FORTALEZA-CE
2008
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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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V243c Vale, Eucléa Gomes
Conceito de Cuidado de Enfermagem :
contribuição para o ensino de graduação/ Eucléa
Gomes Vale. – Fortaleza, 2008.
153f.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena Freitag
Pagliuca.
Tese (Doutorado) Universidade Federal do
Ceará. Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Fortaleza-CE, 2008.
1. Educação em enfermagem. 2. Formação de
conceito. 3. Enfermagem. I. Pagliuca, Lorita
Marlena Freitag (orient.). II. Título.
CDD 610.73
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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CONCEITO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM: CONTRIBUIÇÃO
PARA O ENSINO DE GRADUAÇÃO
Eucléa Gomes Vale
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena Freitag Pagliuca
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem –
Doutorado da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem da
Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do
título de Doutor em Enfermagem.
Aprovada em: 13 de junho de 2008
Banca Examinadora
__________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena Freitag Pagliuca
Presidente
__________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Lucia de Fatima da Silva
Examinadora
__________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Célia de Freitas
Examinadora
__________________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Venícios de Oliveira Lopes
Examinador
__________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Fátima Carvalho Fernandes
Examinadora
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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Aos meus filhos, André Luiz e Érika, meus dois
amores, que me ensinaram o amor
incondicional;
aos meus pais,Raimundo Vale (in memoriam)
e Expedita, que me ensinaram a importância
de buscar “ser com os outros”;
aos meus irmãos, Valéria, Francis e William,
que sempre cuidaram de mim;
aos meus amados, pai Raimundo Vale, irmão
Luiz Carlos, sobrinho Anderson e minha prima
Ana Maria. Onde quer que estejam, tenho
certeza, estão compartilhando esta alegria
comigo.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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AGRADECIMENTOS
A gratidão é um sentimento que emerge da energia criadora
existente em cada ser humano. Agradecer é uma atitude ética a se
revelar na relação estabelecida com as pessoas que, de formas
diferentes, contribuem para seu engrandecimento pessoal e intelectual.
Sou grata:
a Deus, todo poderoso, Senhor da minha vida, cujas infinitas bondade
e misericórdia têm me sustentado e propiciado formas para manter a ,
em meio às adversidades, abrindo sempre com amor janelas da alma;
à minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Lorita Marlena Freitag Pagliuca, pela
direção competente e por acreditar em mim;
à Prof.ª Dr.ª Ana tima Carvalho Fernandes, ex-coordenadora do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, que com profissionalismo e
objetividade soube traduzir necessidades e anseios em concretudes;
aos professores, Lucia de Fatima da Silva, Marcos Venícios de Oliveira
Lopes e Maria Célia de Freitas, pelas críticas, sugestões e felicitações que
contribuíram para a tese;
aos professores do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem, Josefina,
Violante, Grasiela, Neiva, Marta, Ângela, Rui Verlaine e Paulo César, por
terem suavizado as angústias e questionamentos durante todo o caminho;
a Dom Adélio, Chanceler, e Dr. José Nilson, Diretor Geral da Faculdade
Católica Rainha do Sertão (FCRS), pelo apoio e confiança em mim
depositados;
aos colegas de colegiado do Curso de Enfermagem da FCRS, em
especial Alane, Albertisa, Luísa Helena, Kaelly, Michel e Viviane, pelo
incentivo e apoio cotidiano, fundamentais ao alcance dos meus objetivos;
aos meus alunos, em especial à Eudênia, dia, Jânio, Roberta, Norma,
Luziana, Isabelli, Ítala, Luciana, Romildo, Ivando Júnior, Juliana Pereira e
Lívia, com quem convivo no processo de aprender-ensinar-cuidar-e-ser-
com-os-outros;
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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aos amigos Padre Marcos e Padre Cleílson, pela escuta constante e
apoio nos momentos difíceis;
aos enfermeiros (docentes e assistenciais) e alunos participantes do
grupo focal, à psicóloga e alunos observadores do referido grupo, pela
importante contribuição nos momentos mais difíceis e prazerosos desta
caminhada;
aos companheiros do grupo Processo de Cuidar em Enfermagem
(PROCUIDEN) da FCRS, pela partilha dos conhecimentos em torno do
cuidado.
às amigas Tetê, Clara e Carmem, amigas-irmãs de todos os momentos,
pelo carinho, dedicação, afeto e pelo constante compartilhar da vida;
às amigas Vilani, Sâmya, Lucia de Fatima, Célia e Sueuda,
companheiras de sonhos e de luta por uma Enfermagem inovadora, forte
e emancipadora;
aos meus queridos primos Antônio Arcelino e Joyce, que compartilham
minhas idéias, alegrias e tristezas ao longo do meu caminhar pessoal e
profissional.
à minha tia e madrinha, Angelina, que sempre me incentivou a
concretizar meus sonhos;
aos meus queridos amigos Luís Roberto, Helena Carmem e Ana Rosa,
por me motivarem a buscar novos conhecimentos;
às amigas Cláudia e Sarah, amizade que se consolidou na busca do ser
por inteiro;
aos facilitadores Severo, Lorena e Genivaldo, bem como a todos os
companheiros do Curso de Introdução à Arteterapia, que muito
contribuíram na aprendizagem do ser, estar, viver e conviver com os
outros;
à bibliotecária Sônia e às funcionárias da ABEn nacional, Patrícia
Gomes, Patrícia Abrantes, Cecília e Amanda, pelo apoio à consecução
deste estudo;
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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aos funcionários da ABEn Ceará, Cleiton e Valdirene (Val), pela
disponibilidade e ajuda constante;
aos colegas do grupo de avaliadores do Ministério da Educação,
Elisabeth, Josicélia, Mara de Sordi, Kenya, Iara, Márcia Barbieri, Maria Inês,
Davi, Kaneji e Fátima Scarparo, pelo companheirismo e incentivo ao meu
crescimento profissional;
à Prof.ª Stânia Nágela, pela dedicação no compartilhamento de idéias
que enriquecem minha vida profissional e pessoal;
aos companheiros Messias, Silvério, Carmem Lúcia, Mariana, Romero,
Prazeres, Cristiano, Jones, Raquel, Régio, Nestor, Júlio e Augusto, que
amenizam as adversidades da vida e me deixam mais feliz;
aos amigos Francisco e Dolores, pela dedicação e orações constantes;
à Silmara, que com seu trabalho competente e afetuoso compreende
os meus estresses e cuida bem de mim.
Enfim, a todas as pessoas que me ajudaram e ajudam a fazer da
minha vida uma construção constante na busca de ser melhor.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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Cuidado,
fonte de vida,
construção na relação
do nascimento à morte.
Cuidado,
imprescindível a todo ser vivo,
construção no caminhar com o outro,
crescimento individual e coletivo.
Cuidado,
que dá sentido à vida,
que promove a vida
na relação do ser-com-o-outro.
Cuidado,
que quero para mim,
que vivencio com os outros,
que quero reinventar
na promoção da vida.
Vida justa, digna, fraterna e cidadã.
Eucléa Gomes Vale
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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RESUMO
A construção do conceito de cuidado de Enfermagem com vistas ao ensino
de graduação faz-se necessária no momento em que a Enfermagem
brasileira busca implementar e avaliar as mudanças preconizadas pelo
Ministério da Educação nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino de
Graduação em Enfermagem. A grande preocupação da autora deste
estudo esteve sempre no processo de cuidar e na forma como este é
ensinado nos cursos de graduação em Enfermagem, seja nos cenários da
prática hospitalar, na saúde pública ou na academia. Nesta perspectiva,
objetivou-se construir um conceito de cuidado de Enfermagem, a partir da
compreensão de enfermeiros docentes e assistenciais e alunos de um curso
de graduação em Enfermagem, com base no Modelo Evolucionário de
Análise de Conceito. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada na
Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) na cidade de Quixadá-CE. O
grupo focal foi o instrumento de investigação utilizado para a consecução do
objetivo, e foi composto pela moderadora do grupo, uma psicóloga e dois
alunos como observadores, além de quatro enfermeiras docentes, quatro
enfermeiras assistenciais e seis alunos do semestre do Curso de Graduação
de Enfermagem da FCRS. No total de nove sessões, os encontros
transcorreram nos meses de agosto a dezembro de 2007. O estudo pautou-se
nas normas regulamentadoras das pesquisas envolvendo seres humanos da
Resolução CNS 196, de 10 de outubro de 1996. Inicialmente realizou-se um
levantamento de publicações científicas entre teses, dissertações e artigos de
periódicos que versavam sobre “o cuidado no ensino de Enfermagem”, nos
anos de 1997 a 2007, nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde e no
Banco de Teses da CAPES. Posteriormente, encaminhou-se para o processo
de construção do conceito de cuidado de Enfermagem, o qual se efetivou
por meio das sessões do grupo focal. Três categorias emergiram deste
processo: A compreensão do conceito de cuidado a interação entre o
discurso e a prática; O cuidado de Enfermagem antecedentes e
conseqüentes; O significado do cuidado o concreto e o subjetivo na
relação entre seres humanos. O conceito de cuidado de Enfermagem
construído foi o seguinte: Cuidado de Enfermagem é um fenômeno
intencional, essencial à vida, que ocorre no encontro de seres humanos que
interagem, por meio de atitudes que envolvem consciência, zelo,
solidariedade e amor. Expressa um “saber-fazer” embasado na ciência, na
arte, na ética e na estética, direcionado às necessidades do indivíduo, da
família e da comunidade. A construção do conceito não se constitui um fim,
mas o início de uma nova caminhada para divulgação, implementação e
inovação da ação na relação de aprender-ensinar-fazer o cuidado de
Enfermagem.
Palavras-chave: Formação de conceito; Educação em Enfermagem;
Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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ABSTRACT
Building a concept of Nursing care aiming Undergraduate Teaching
becomes necessary, as Brazilian Nursing wants to implement and evaluate
the changes suggested by Education Ministry in the National Curriculum
Directives of Nursing Undergraduate Teaching. The main preoccupation of
the author of this study has always been focused on the care process and
how it is taught in Nursing Undergraduate courses, be it in hospital practice,
in public health or in the university. In this perspective, one aimed to build a
Nursing care concept, starting from the comprehension of nursing
professors and assistants and Nursing undergraduate students, based on
the Evolutionary Model of Concept Analysis. It is a qualitative study
conducted in the Rainha do Sertão Catholic College (FCRS) in the city of
Quixadá-CE. The focal group was the investigation instrument used for the
objective’s consecution, being composed by a group mediator, a
psychologist and two students as observers, besides four Nursing teachers,
four Assistant nurses and six students of the eight
th
semester of FCRS’s
Nursing Undergraduate course. The meetings happened from August
through December 2007, a total of nine sessions. The study was based on
the rules that guide research involving human beings, from the Resolution
CNS nr. 196, from October 10
th
, 1996. Firstly one selected scientific
publications among theses, dissertations and articles which described
“Care in Nursing Teaching”, from 1997 through 2007, in the database of the
Health Virtual Library and in CAPES’ theses database. Then, one initiated
the process of building a Nursing care concept, which was finished through
the focal group’s sessions. Three categories emerged from this process: The
comprehension of the care concept the interaction between discourse
and practice; Nursing Care - Records and Consequences; The Meaning of
Care – the concrete and subjective in human beings’ relationship. The
Nursing care concept created was: “Nursing Care is an intentional
phenomenon, essential to life, which occurs in the meeting of human
beings who interact, through attitudes that involve consciousness, care,
solidarity and love. It expresses a ‘know-how’ based on science, art, ethics
and esthetics, directed to the needs of individuals, of families and of the
community. The construction of the concept in not an end, but the
beginning of a new way for promotion, implementation and innovation of
the action in the relationship learn-teach-do the Nursing care.
Key words: Concept Formation; Education, Nursing; Nursing.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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RESUMEN
La construción del concepto de atención de Enfermería basada en la
enseñanza de graduación se hace necesaria en el momento en que la
Enfermería brasileña busca ejecutar y evaluar los combios establecidos por el
Ministerio de la Educación en las Directrices Curriculares Nacionales de la
Enseñanza de Graduación en Enfermería. La gran preocupación de la autora
de éste estudio se quedó siempre en el proceso de cuidar y en la forma como
éste es enseñado en los cursos de graduación en Enfermería, sea en los
encenarios de la práctica hospitalar, en la salud pública o en la academia.
En ésta perspectiva, el objetivo fue construir un concepto de atención de
Enfermería, a partir de la comprensión de enfermeros docentes y asistenciales
y alumnos de un curso de graduación en Enfermería, basada en el Modelo
Evoluconario de Análisis de Concepto. Se trata de una investigación
cualitativa hecha en la Facultad Católica Rainha do Sertão (Faculdade
Católica Rainha do Sertão) FCRS en la ciudad de Quixadá-CE. El grupo
focal fue la herramienta de investigación utilizada para el objetivo, siendo
compuesta por la moderadora del grupo, una psicóloga y dos alumnos como
observadores, además de quatro enfermeras docentes, quatro enfermeras
asistenciales y seis alunmos del período del Curso de Graduación de
Enfermería de la FCRS. Los encuentros ocurrieron en los meses de agosto a
diciembre de 2007, con el total de nueve sesiones. El estudio fue orientado a
través de normas que regulamentan las investigaciones con seres humanos
CNS nº 196, de 10 de octubre de 1996. Inicialmente, hicimos un levantamiento
de publicaciones científicas entre tesis, disertaciones y artículos de periodicos
que poseían como temática “la atención en la enseñanza de Enfermería”, en
los años de 1997 a 2007, en las bases de datos de la Biblioteca Virtual en Salud
y en el Banco de Tesis de la CAPES. Después, se encaminó para el proceso de
construcción del concepto de atención de Enfermería, que se efectivó a
través de las sesiones del grupo focal. Tres categorias surgieron en éste
proceso: La comprensión del concepto de atención la interacción entre el
discurso y la práctica; La atención de Enfermería antecedentes y
consecuentes; El significado de la atención el concreto y el subjetivo en la
relación entre seres humanos. El concepto de atención de Enfermería que se
construido fue: Atención de Enfermería es un fenómeno intencional,
esencial a la vida, que ocurre en el encuentro de seres humanos que
interagen a través de actitudes que envuelven conciencia, dedicación,
solidariedad y amor. Expresa un “saber-hacer”, basado en la ciencia, en el
arte, en la ética y en la estética, direccionado a las necesidades del
individuo, de la familia y de la comunidad. La construcción del concepto no
es un fin, pero el inicio de un nuevo camino para la divulgación,
implementación e inovación de la acción en la relación de aprender,
enseñar y hacer la atención de Enfermería.
Palabras clave: Formación de Concepto; Educación en Enfermería;
Enfermería.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13
2 OBJETIVO ................................................................................................................... 25
3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................ 27
3.1 Historicidade e Modelos de Análise de Conceitos na Enfermagem ........ 28
3.2 O Modelo de Análise de Conceito Evolucionário de Rodgers .................. 34
4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ................................................................................ 39
4.1 Pesquisa Qualitativa .......................................................................................... 40
4.2 Campo do Estudo ............................................................................................. 42
4.3 Grupo Focal como Estratégia de Coleta de Dados ................................... 45
4.4 Análise dos Dados ............................................................................................. 55
4.5 Procedimentos Éticos ........................................................................................ 57
5 CUIDADO DE ENFERMAGEM: ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE
CUIDADO DE ENFERMAGEM À LUZ DO MODELO EVOLUCIONÁRIO DE
ANÁLISE DE CONCEITO DE RODGERS ....................................................................... 58
5.1 A Evolução do Cuidado no Ensino de Graduação de Enfermagem ...... 59
5.2 O Processo de Construção do Conceito de Cuidado de Enfermagem . 85
5.3 O Conceito de Cuidado de Enfermagem Construído ............................. 120
6 O QUE REFLETIR SOBRE O ESTUDO ........................................................................ 123
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 128
ANEXO ....................................................................................................................... 139
APÊNDICES ................................................................................................................ 141
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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\ÇàÜÉwâ†ûÉ
\ÇàÜÉwâ†ûÉ\ÇàÜÉwâ†ûÉ
\ÇàÜÉwâ†ûÉ
Ao questionar busco conhecer
Ao questionar busco conhecerAo questionar busco conhecer
Ao questionar busco conhecer
Ao conhecer busco c
Ao conhecer busco cAo conhecer busco c
Ao conhecer busco compreender
ompreenderompreender
ompreender
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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1 INTRODUÇÃO
O processo de cuidar e a formação acadêmica do profissional
enfermeiro tem sido, ao longo dos anos, nosso objeto de reflexão e estudo.
Na busca constante para contribuir com a formação de enfermeiros aptos
a intervirem no processo saúde-doença por meio da utilização de
cuidados competentes, humanizados, éticos e eficazes, temos procurado
colaborar na implementação de mudanças, na forma de pensar-fazer-
ensinar Enfermagem. Apesar de todo o esforço empreendido por
enfermeiros docentes e assistenciais interessados em melhorar o ensino de
Enfermagem e, conseqüentemente, a prática dos enfermeiros, conforme
percebemos, ainda é comum encontrar recém-formados que se sentem
despreparados e imaturos para exercerem a profissão.
A nosso ver o foco da atenção da Enfermagem é o ser humano,
com suas necessidades bio-psico-sócio-espirituais e a função precípua do
enfermeiro é o cuidado de Enfermagem, cujo objetivo centra-se na
promoção da saúde, na prevenção de doenças e na recuperação e
reabilitação da saúde.
Como toda ciência, a Enfermagem carece consolidar um corpo
de conhecimentos próprios e uma linguagem específica que permitam
aos seus exercentes compreender seu fazer e, assim, prestar cuidados
significativos capazes de atender às reais necessidades dos seres humanos
por eles assistidos.
No seu dia-a-dia, os profissionais de Enfermagem utilizam a
ciência, a arte, a estética e a ética no processo de promoção,
manutenção e recuperação da saúde, por meio de ações de cuidado
destinadas a ajudar às pessoas a viverem mais saudáveis e, quando
preciso, a superarem os efeitos da doença como um fenômeno social,
existencial, cultural e transitório.
Após o advento da construção de teorias de Enfermagem que
identificaram sua missão e sua meta, as metateoristas tentaram definir a
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
15
estrutura da Enfermagem como disciplina, como também as estratégias e
as ferramentas para seu desenvolvimento. Em continuidade a esses
estudos, as teorias entraram na fase de desenvolvimento de conceitos
como uma etapa imprescindível à compreensão e ao desenvolvimento
da Enfermagem como disciplina. Os processos usados no desenvolvimento
de conceitos em Enfermagem chamaram a atenção dos enfermeiros nas
últimas décadas do século XX porque geraram o surgimento de
contribuições fundamentais que vêm permitindo o desenvolvimento de
conceitos que propiciam conhecer a natureza da Enfermagem como
disciplina da área da saúde (KING, 1988).
Entre as necessidades de desenvolvimento de conceitos de
Enfermagem, o processo de fazer-ensinar Enfermagem requer a
compreensão do conceito de cuidado e do processo de cuidar em
Enfermagem. Desse modo, o fazer e o ensinar poderão ter significado
para todos os envolvidos neste processo enfermeiros e alunos de
Enfermagem e, ainda, possibilitarão a construção de outros conceitos
que atendam ao processo fazer-ensinar Enfermagem nos diversos cenários
da prática de Enfermagem.
Segundo afirma Boff (2004, p. 34), “[...] o cuidado entra na
natureza e na constituição do ser humano. O modo-de-ser cuidado revela
de maneira concreta como é o ser humano”. Para o autor, o ser humano
sem cuidado não é humano. Portanto, o cuidado deve ser compreendido
como essência humana.
Assim, se o cuidado é indispensável ao ser humano, o cuidado
como essência da Enfermagem e como função precípua do enfermeiro
de ser conceituado e compreendido por todos, com a perspectiva de
dar sentido ao fazer da Enfermagem para os que oferecem cuidados
(enfermeiras assistenciais), para quem recebe os cuidados
(pacientes/clientes), para educadores e educandos da área de
Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
16
Para Volichi (2000) e Gaut (1983), o termo cuidado tem
etimologicamente descrições de acordo com as diferentes culturas. Na
definição de Ferreira (1988), cuidado é sinônimo de atenção, precaução,
cautela, desvelo, zelo, encargo, responsabilidade. No inglês arcaico,
carion, tem o sentido de ter preocupação, sentir inclinação, respeitar, dar
preferência, considerar, ter afeto e simpatia. No termo gótico, kara/karon,
expressa aflição, tristeza, pesar.
Como afirma Heidegger (1993), o cuidado pensado
autenticamente como existencial, essencial do ser humano, diz respeito a
zelo, desvelo, atenção, bom trato e solicitude, constituindo-se, dessa
forma, um fundante por meio do qual a pessoa sai de si para se centrar na
preocupação com o outro. Para ele, o cuidado é o caráter existencial
mais próprio do ser humano.
A partir do final da década de 1970, com maior ênfase na última
década do século passado, o cuidado vem sendo discutido e tornou-se
foco de muitas pesquisas realizadas por enfermeiros. Na década de 1990
passou a ser o marco referencial em um momento de mudanças
significativas na Enfermagem, com vistas a uma nova forma de pensar-
fazer-ensinar-aprender Enfermagem.
Watson (1985) construiu uma teoria na qual o cuidado é o
centro. De acordo com esta autora, o cuidado é físico, processual,
objetivo e real. Ainda como afirma, no mais alto vel da Enfermagem, as
respostas do cuidado humano dos enfermeiros na relação desses com os
seres cuidados transcendem o mundo físico e material e fazem contato
com o mundo emocional e subjetivo da pessoa, como caminho para o
self interior e para uma sensação mais elevada do self. Na ótica da
autora, o cuidado não é apenas conveniência, atitude ou benevolência;
o cuidado é ideal moral da Enfermagem, e, portanto, é proteção,
aumento e preservação da dignidade humana.
Como essência da Enfermagem e núcleo do processo de
cuidar, o cuidado diz respeito aos aspectos sicos, sociais, emocionais,
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
17
comportamentais, filosóficos e terapêuticos inerentes ao mundo do
processo de cuidar. As ações de cuidar referem-se às atividades
instrumentais que envolvem as necessidades físicas e de tratamento do
paciente, como procedimentos e administração de medicamentos, e as
atividades expressivas relacionadas às necessidades psicossociais
orientadas para o comportamento (WATSON, 1985).
Ainda segundo a autora, o cuidar envolve um sistema de valores
altruístas e humanísticos, sentimentos de fé/esperança. Isto pressupõe
expressões de sentimentos, criatividade na solução de problemas, suporte,
proteção e atendimento às necessidades básicas. Desta forma, o
processo de cuidar, na visão de Watson (1985), engloba o relacionamento
interpessoal, a prática de sentimentos como ajuda e confiança entre os
que o vivenciam, desenvolvendo-se com base no conhecimento
científico e nos valores humanísticos.
Estudar sobre cuidado representa um desafio na medida em
que é preciso tentar compreender suas dimensões bioéticas, existenciais,
culturais, relacionais, políticas e intelectuais. Nesta perspectiva destacam-
se os estudos de Leininger (1980), Collière (1999), Morrison (1989, 1991),
Morse et al. (1997), Barnum (1994), Waldow (1998), Silva (1998), Chinn e
Kramer (1995), Watson (1985), Leopardi (1999a), Crossetti (1997), Bittes
Júnior (2001) e Silva (2002). Os autores explicitaram o cuidado como
essência da Enfermagem e como função precípua da enfermeira, o que
justifica os estudos por eles realizados e a urgência de outros na
perspectiva da compreensão do conceito de cuidado, da apreensão do
seu significado e importância.
Essa temática é ressaltada por vários estudiosos entre os quais se
destaca Rodgers (1989), que afirma ter a Enfermagem buscado
desenvolver e clarificar o conhecimento e para tanto tem voltado seus
estudos para a compreensão de conceitos e para a resolução de
problemas conceituais.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
18
Mencionamos, ainda, Meleis (1997) por asseverar a importância
do desenvolvimento dos conceitos como indispensável à plena expansão
de um campo de saber, e Donzelli (1997), por chamar a atenção para a
necessidade de compreender os conceitos em sua essência, pois, desse
modo, a partir dessa compreensão, poderão contribuir no
desenvolvimento do conhecimento da Enfermagem.
Em corroboração à idéia, Collière (1999) assim se pronuncia: a
necessidade de estudar o cuidado de Enfermagem está relacionada à
necessidade de clarificar sua identidade, sua razão de ser e seu
significado. Em sua opinião, buscar o sentido da origem do cuidado pode
ser o caminho para a consolidação da Enfermagem como profissão.
A exemplo de outros autores, Leininger (1980) destaca a
importância dos estudos de Enfermagem, e enfatiza a identificação da
natureza, a essência e o domínio da profissão com o objetivo de distingui-
la de qualquer outra área ou campo profissional. Segundo a autora,
apesar das enfermeiras afirmarem que prestam cuidados e falarem sobre
as ações que envolvem o cuidado, estas não o compreendem
plenamente. Para ela, em todas as culturas, o cuidado é uma
necessidade humana essencial ao pleno desenvolvimento do ser humano,
para a manutenção da saúde e, até mesmo, para a sobrevivência das
pessoas.
Para expor a importância do cuidado, valemo-nos da Teoria da
Universalidade e Diversidade Cultural do Cuidado, proposta por Leininger,
sobretudo os seguintes postulados: 1º. o cuidado humano é um fenômeno
universal. No entanto, expressões, processos e padrões de cuidado variam
entre culturas; 2º. processo e ações de cuidado são essenciais para o ser
humano em todo o seu ciclo vital, na sua sobrevivência e para uma morte
tranqüila; 3º. o cuidado é a essência, unidade entre as dimensões teórica
e prática do profissional de Enfermagem; 4º. cuidado biofísico, cultural,
psicológico, social e de dimensões ambientais; portanto, deve ser
explicado e verificado com a perspectiva de oferecer um cuidado
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
19
holístico para as pessoas; 5º. as ações de Enfermagem são transculturais;
requerem, pois, enfermeiros para identificarem e usarem
interculturalmente os sistemas de dados; 6º. comportamento de cuidado,
metas, várias funções na estrutura social e valores específicos das pessoas
têm origem em diferentes culturas; 7º. o próprio cuidado e a prática deste
com outros seres humanos variam em diferentes culturas e em diferentes
sistemas de cuidar; 8º. a identificação universal ou não, popular ou
profissional de comportamento de cuidar, as crenças e práticas são
fundamentais para o avanço do corpo de conhecimentos de
Enfermagem; 9º. o cuidado é amplamente derivado da cultura; desse
modo, requer o conhecimento baseado nesta cultura para ser eficiente e
eficaz; 10º. pode existir cuidado sem cura, mas não existe cura sem
cuidado.
Ao longo do tempo, Waldow (1999) tem se destacado no Brasil
por seus estudos sobre o cuidado. Segundo afirma, este tema constitui um
aspecto controverso, e isto justifica a realização de novos estudos com a
perspectiva de descrevê-lo de modo claro e prático, explicitando seu
conceito nos âmbitos filosófico, ideológico, existencial e comportamental.
O estudo do conceito de cuidado torna-se imprescindível para
os profissionais de Enfermagem e para a qualidade da assistência
prestada à clientela (LEOPARDI, 1994). Apesar de decorridos quatorze
anos da afirmação da autora, esta temática ainda exige estudos para
clarificar dúvidas, facilitar a compreensão do aprender, fazer e ensinar
Enfermagem
Diversas teóricas se distinguiram nos estudos sobre cuidado de
Enfermagem, particularmente Watson, ao revelar o caráter transpessoal
do cuidado; Leininger, ao ressaltar o cuidado como instância
antropológico-cultural; e Paterson e Zderad, ao explicitarem o caráter
humanístico do cuidado em Enfermagem (GEORGE et al., 2000).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
20
Contudo, de acordo com Silva (2002), por meio dos estudos
relacionados, não se têm observado mudanças na prática de
Enfermagem, pois as enfermeiras continuam optando por uma prática
tradicional ainda distante das novas tendências do cuidado.
Encontrar o uso da palavra cuidado referindo-se à descrição de
técnica, da forma de tratar doentes ou pacientes, onde não é percebido
vínculo com os conceitos elaborados nas teorias e identificados nas
pesquisas e, portanto, fora dos pressupostos científicos do cuidar, é uma
situação freqüente, pelo menos no Brasil (BITTES JÚNIOR, 2001).
Diante do exposto, conforme constatamos, o cuidado como
função precípua da Enfermagem, apesar dos vários estudos realizados e
das discussões empreendidas, parece não ter sido compreendido em sua
essência. Além disso, as mudanças preconizadas pelo Ministério da
Educação nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino de Graduação
em Enfermagem reforçam esse mesmo pensamento sobre o processo de
cuidar com a perspectiva de atender às reais necessidades de saúde da
população.
Assim, para ocorrer esta compreensão, urge a análise e
construção do conceito de cuidado de Enfermagem com vistas ao ensino
de graduação, no momento em que a Enfermagem brasileira tenta
implementar e avaliar as mudanças ora referidas. Neste contexto, o
cuidado ao ser compreendido poderá ser vivenciado e ensinado, e, assim,
trará o homem com suas necessidades para o centro do pensar e do agir,
no ensinar e fazer Enfermagem.
No processo de saber-fazer-ensinar Enfermagem, com ênfase no
cuidado nos cenários da prática hospitalar, na saúde pública e na
academia, nossa grande preocupação sempre esteve e, ainda
permanece, no ato de cuidar e na forma como este é ensinado nos cursos
de graduação em Enfermagem.
Nesta preocupação está presente uma forma de cuidar que
procura convergir ciência, arte, estética e ética embasadas numa prática
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
21
crítico-reflexiva. Ao optar por descrever nossa trajetória, temos como
objetivo enfatizar os aspectos que justificam a realização desta pesquisa.
Nossa primeira experiência após concluir o Curso de Graduação
em Enfermagem foi em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), de um hospital
especializado em doenças cardiopulmonares, onde iniciamos a busca de
aprimoramento do processo de cuidar em Enfermagem, por meio da
prestação de cuidados individualizados na tentativa de atender às
necessidades de pacientes/seres humanos carentes de cuidados para a
recuperação da sua saúde.
Com a perspectiva de contribuir no processo de cuidar em
Enfermagem, nosso trabalho – sempre considerando a importância do
desenvolvimento do trabalho em equipe tentou aprimorar as ações de
cuidar e de gerenciar, utilizando atividades e estratégias inovadoras, tais
como: flexibilização de normas e rotinas institucionais em relação à
higiene dos pacientes, visitas fora do horário estabelecido,
individualização do atendimento, cujo resultado se refletia na satisfação
dos pacientes e familiares e não acarretava prejuízos para nenhuma das
partes. Desse modo, nesta e nas demais instituições de saúde onde
trabalhamos como enfermeira, buscamos desenvolver um trabalho
comprometido, competente e ético, direcionado ao cuidar, gerenciar e
ensinar de forma a atender às reais necessidades de clientes e seus
familiares.
Concomitantemente à nossa trajetória profissional em instituições
de saúde
1
, desenvolvemos atividades docentes no Curso de Graduação
em Enfermagem
2
, de uma universidade pública, e mantivemos esta
atividade em uma faculdade privada, após nossa primeira aposentadoria.
Nesta atividade, como relatado, centramos nossas reflexões no
processo de cuidar e na forma como esse é ensinado nos cursos de
1
Atuamos durante seis anos em um Hospital de doenças cárdio-pulmonares, quatro anos em saúde
pública, seis anos na Chefia da Equipe Regional de Enfermagem do INAMPS e treze anos em um
Hospital Geral da rede pública do Estado do Ceará.
2
Como docente, atuamos 34 anos, no ensino de graduação e 18 anos na pós-graduação
lato sensu (especialização).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
22
graduação em Enfermagem. Com essa preocupação, ao realizarmos o
Curso de Mestrado em Educação, elaboramos dissertação sobre o tema
“Condições do Ensino Prático de Enfermagem Médico-Cirúrgica e sua
Correlação com a Teoria: opiniões de alunos, docentes e enfermeiros”.
A realização deste estudo consolidou a compreensão da
grande dicotomia existente entre teoria e prática. Motivadas pela certeza
segundo a qual não se pode separar teoria e prática, concentramos,
cada vez mais, nosso foco de atenção no processo cuidar-gerenciar-
ensinar em Enfermagem, sempre tendo como cerne da discussão o
cuidado de Enfermagem.
Durante o desenvolvimento do bloco teórico de disciplinas do
Doutorado em Enfermagem – Análise Crítica das Teorias de Enfermagem e
Análise Crítica dos Marcos Conceituais em Enfermagem motivamo-nos a
aprofundar nossos estudos sobre cuidado de Enfermagem, desta vez com
maior fundamentação teórico-metodológica, embasada nos
ensinamentos de teóricas da área de Enfermagem. Originados destas
disciplinas produzimos dois artigos intitulados “Saberes e práxis em
enfermagem” e “Construção de um conceito de competência para o
ensino de Enfermagem fundamentado na teoria de alcance de metas”,
os quais estão à espera de publicação.
Ao elaborarmos um trabalho sobre construção de conceito de
competência, tendo como embasamento a Teoria de Alcance de Metas
(KING, 1971), e os trabalhos sobre Competência no Cuidado em Saúde
Mental e sobre Análise do Conceito de Educação em Saúde,
fundamentados no Modelo Evolucionário de Análise de Conceito
(RODGERS, 1989), percebemos ser possível analisar os conceitos atribuídos
ao cuidado de Enfermagem e construir, por meio da técnica de grupo
focal, um conceito de cuidado para o ensino de Enfermagem.
Nesse processo reflexivo ora vivenciado, esperamos aprofundar
a compreensão do significado de cuidado de Enfermagem a partir de um
modelo de análise de conceito, para, em um segundo momento do
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
23
estudo, construirmos um conceito de cuidado de Enfermagem a ser
utilizado no ensino de graduação.
Consoante asseguram Chinn e Kramer (1995), as construções
teóricas devem obedecer e possibilitar a interrelação de conceitos,
considerando a importância desses na evolução e desenvolvimento do
próprio conhecimento.
Segundo afirma Morse (1995), muito do conhecimento de
Enfermagem permanece sem desenvolvimento; ele está implícito, porém
irreconhecível ou inadequadamente introduzido, no contexto clínico. Para
essa autora, é essencial desenvolver estudos que examinem como as
pessoas percebem a saúde e, ainda, compreendam o que fazem e como
fazem os profissionais da saúde.
A abordagem do tema justifica-se pela falta de clareza existente
na forma de fazer-ensinar o cuidado de Enfermagem passível de
influenciar na formação dos alunos e, conseqüentemente, no processo de
cuidar de clientes, famílias e comunidade.
Complexa e instigante, a temática poderá contribuir para a
construção de um novo conceito de cuidado de Enfermagem capaz de
produzir mudanças no processo de cuidar em sintonia com as
necessidades de saúde dos cidadãos.
Assim, o objeto de pesquisa ora apresentada refere-se a: como
os enfermeiros docentes e assistenciais, assim como os alunos do Curso de
Graduação em Enfermagem demonstram a capacidade de explicitar o
conceito de cuidado de Enfermagem?
Como ressalta Morse (1995), os conceitos são expressões das
formas como a experiência foi organizada, na intenção do sujeito. São,
portanto, resultados de instâncias particulares, que se tornaram gerais, por
terem sido tratadas como exemplos de um tipo ou regra, significados
gerais que se estabilizam com o uso da linguagem em interação social.
Apesar dos vários estudos na perspectiva de análise de
conceito, no Brasil, ainda carências na compreensão do conceito de
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
24
cuidado de Enfermagem. Assim, o tema a ser discutido neste estudo não
pretende dar conta da abrangência dos componentes do cuidado
necessários para orientar a fundamentação de um saber
concomitantemente amplo e específico. No entanto, esperamos
conseguir discutir e consolidar uma melhor compreensão da essência da
Enfermagem vista como o cuidado de Enfermagem.
Neste contexto, defendemos a seguinte tese: o cuidado de
Enfermagem é influenciado por crenças e valores dos que fazem
Enfermagem. Dessa forma, o desenvolvimento de um conceito de
cuidado perpassa pela percepção destes sujeitos que o vivenciam,
tornando necessária sua explicitação por estes atores para sua utilização
como esteio do processo de ensinar e fazer Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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bu}xà|äÉ
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Busco um objetivo que já existe como
Busco um objetivo que já existe como Busco um objetivo que já existe como
Busco um objetivo que já existe como
objeto do intelecto, mas que precisa
objeto do intelecto, mas que precisa objeto do intelecto, mas que precisa
objeto do intelecto, mas que precisa
ser explicitado na realidade
ser explicitado na realidadeser explicitado na realidade
ser explicitado na realidade.
..
.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
26
2 OBJETIVO
Construir um conceito de cuidado de Enfermagem, a partir da
compreensão de enfermeiros docentes e assistenciais e de alunos de um
curso de graduação em Enfermagem, com base no Modelo Evolucionário
de Análise de Conceito, de Rodgers (1989).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
0
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Na
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Na procura transitamos
procura transitamosprocura transitamos
procura transitamos
pelas idéias já desenvolvidas.
pelas idéias já desenvolvidas.pelas idéias já desenvolvidas.
pelas idéias já desenvolvidas.
Revela
RevelaRevela
Revela-
--
-se para nós o desconhecido.
se para nós o desconhecido.se para nós o desconhecido.
se para nós o desconhecido.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
28
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Historicidade e Modelos de Análise de Conceitos na Enfermagem
Ao realizar um estudo cujo objeto é a análise e construção de
um conceito, exige-se conhecer o significado da palavra conceito.
Derivada do latim conceptus, pode ser definida como
todo processo que possibilite a descrição, a classificação e a
previsão dos objetos cognoscíveis. Assim entendido, esse termo
tem significado generalíssimo e pode incluir qualquer espécie de
sinal ou procedimento semântico, seja qual for o objeto a que se
refere, abstrato ou concreto, próximo ou distante, universal ou
individual (ABBAGNANO, 2007, p. 194).
É preciso, também, compreender que existe uma relação entre
conceito e conhecimento, pois o homem está sempre buscando respostas
às suas dúvidas e aos seus problemas, na tentativa de desvelar os mistérios
que envolvem o mundo e o viver. Nesta perspectiva, no desenvolvimento
da humanidade, hipóteses, conceitos, teoremas, pressupostos e
interpretações simbólicas foram desenvolvidos, tendo como objetivo
chegar à verdade (MEYER, 2004).
Além do exposto, o conceito pode ser entendido como
derivado das sensações, do caráter verídico dessas sensações, o que
garante a veracidade do real. Para Kant, o conceito não compreende
toda a realidade e não é criador da realidade: constitui a ordem
necessária pela qual a realidade se revela à indagação científica
submetida a leis imutáveis (ABBAGNANO, 2007).
A concepção de conceito como essência surgiu no período
clássico da filosofia grega. Segundo Aristóteles defendia, o propósito da
investigação científica era identificar ou demonstrar a essência das coisas.
Para chegar-se à essência das coisas, faz-se necessária a análise de
verdades consideradas universais. Para ele, os conceitos estão associados
ao pensamento e aos argumentos, formados por meio de um processo
mental, para posteriores generalizações sucessivas. Enquanto o processo
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
29
de categorização, criação de verdades universais, contribui para o
desenvolvimento e compreensão dos conceitos e dos métodos para seu
desenvolvimento, o de definição é considerado uma atividade científica
fundamental (RODGERS, 1989).
São inúmeras as possibilidades de compreensão dos conceitos.
Portanto, esclarecer e investigar conceitos favorece significativamente o
desenvolvimento do conhecimento. Muito mais que um conjunto de
idéias, a Enfermagem é uma profissão fundamentalmente calcada na
prática. Desse modo, as idéias devem ser testadas nos cenários da prática
da Enfermagem, envolvendo aspectos da realidade. Depois de validadas
as idéias e práticas no âmbito da intervenção clínica, essas deverão ser
incorporadas à Enfermagem (GIFT, 1997).
Os conceitos são imprescindíveis na fundamentação,
compreensão e desenvolvimento do conhecimento. Assim, a
compreensão, elaboração e validação de conceitos no âmbito da
Enfermagem vêm contribuindo na sua consolidação como ciência.
Contudo, a ciência exige que o saber seja constituído por
conceitos precisos, claros e distintos. Dessa forma, os conceitos devem ter
características próprias, ou seja, atributos essenciais no reconhecimento
dos objetos a que se referem. Isto os impede de serem ambíguos, confusos
ou obscuros (FREITAS, 1999).
Neste estudo utilizamos o Modelo Evolucionário de Análise de
Conceito proposto por Rodgers (1989). Conforme esta autora, o método
de análise de conceito é utilizado para definir os conceitos existentes. A
raiz desta abordagem antecede os escritos do filósofo Aristóteles, no
século IV a.C., e o desenvolvimento subseqüente é conhecido como a
clássica abordagem de análise.
Ainda conforme Rodgers (1989), a análise de conceito é
freqüentemente apresentada na Enfermagem da forma como foi
determinada por Aristóteles, que inicialmente estabeleceu o processo de
definição mediante uma atividade científica fundamentada e legitimada
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
30
para analisar e definir conceitos. Em seguida, provém uma
fundamentação para métodos de análise com o objetivo de demonstrar
serem os conceitos abstrações constituídas de características essenciais e
inalteradas de elementos ou objetos no mundo.
Como assegura King (1988), a identificação de conceitos
relevantes para descrever a estrutura de uma disciplina é um dos métodos
possíveis para a construção do conhecimento da Enfermagem. Na ótica
da autora, à proporção que os conceitos vão sendo desenvolvidos e
validados, é possível construir o conhecimento científico.
Na clarificação de fenômenos na área de Enfermagem, a
análise de conceito é de fundamental importância, pois possibilita o
surgimento de novas formas de conceituação e descrição de
determinada situação e, ainda, oferece oportunidade de reaplicação de
um conceito já existente, até mesmo dentro de um outro campo de
interesse (ZAGONEL, 1996).
Ao estudar o termo, Morse (1995) construiu uma abordagem
metodológica qualitativa a ser utilizada na exploração de todas as
dimensões de um conceito, embasada em dados empíricos. Para a
autora, os conceitos são representações cognitivas abstratas da realidade
que pode ser percebida em experiências diretas ou indiretas.
A construção de conceitos no processo de cuidar em
Enfermagem oferece subsídios a uma comunicação mais efetiva entre a
equipe prestadora de cuidados e os seres humanos receptores do
cuidado. Além disso, influencia a prática, contribui com os pesquisadores
no desenvolvimento de pesquisas e nas construções de reflexões teóricas,
as quais ampliam a base de conhecimento da Enfermagem. Na área do
ensino de Enfermagem, o delineamento de conceitos favorece a
compreensão do cuidar em sua amplitude (MEYER, 2004).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
31
Neste contexto, Rodrigues (2004, p. 53) afirma:
Durante séculos, os filósofos fundamentaram suas opiniões sobre
conceitos, o que permitiu que, no século XX, eles também fizessem
parte da preocupação de outros profissionais. Entre eles, os
enfermeiros que utilizam métodos que permitem a ampliação e
cientificidade do corpo de conhecimento da Enfermagem.
Acreditamos na importância do desenvolvimento de conceitos
como uma ação fundamental à compreensão da essência da
Enfermagem. Isto por certo contribuirá na forma de pensar-fazer-ensinar
nesta área de saber cuja prática social é a vida e os seres humanos que a
compõem.
Antes de tratarmos do modelo de análise de conceito utilizado
neste estudo, faremos uma breve reflexão acerca de outros modelos
anteriores ao Modelo Evolucionário de Análise de Conceito.
Nos Estados Unidos, a análise de conceito tem sido foco de
muitas pesquisas. Assim, podemos encontrar vários conceitos já analisados,
tais como: política de saúde, promoção à saúde, família, cuidado à
saúde, tristeza, empatia, qualidade, integração, entre outros (RODGERS,
1989).
No Brasil, gradativamente, embora em número incipiente,
algumas autoras analisaram conceitos fundamentais à Enfermagem e, até
mesmo, a outras áreas do saber em saúde. Foram identificados e lidos os
seguintes: Freitas (1999), centrado no conceito de “condição crônica de
saúde do adulto”; Juarez (2003), voltado ao conceito de “reabilitação em
oncologia”; Rodrigues (2004), sobre a análise de conceito de “cuidados
paliativos”; e Meyer (2004), sobre “tecnologia em Enfermagem”.
Atualmente, encontramos, com relativa freqüência na literatura
de Enfermagem, artigos destinados a analisar conceitos no intuito de
clarificá-los com vistas a tornar mais fácil o entendimento destes, na
prática, no ensino e na pesquisa da área de Enfermagem.
De acordo com Freitas (1999), para analisar conceitos amplos,
como
: necessidade, cultura, qualidade de vida, participação do
paciente, medo, ansiedade, cuidado, Enfermagem e arte, entre outros, os
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
32
autores recorrem ao modelo desenvolvido por Wilson, introduzido na
Enfermagem por Walker e Avant (1988), e adotado também por Rodgers
(1989), Rodgers e Knafl (1993) e Schwartz-Barcott e Kim (1993).
Avant (2000) resgata o método de análise de conceito proposto
por Wilson (1963) que apresenta a proposição segundo a qual a análise
de conceito estrutura e clarifica o pensamento. Essa análise, mediante
utilização de critérios, verifica se os fenômenos empíricos estão presentes
no conceito estudado nos casos ilustrados. A autora apresenta as nove
etapas necessárias para a análise de conceito em pauta, a saber:
- isolar questões do conceito (de fato, de valores, de conceito);
- respostas corretas (centradas na essência do conceito);
- caso modelo (exemplo do conceito e atributos essenciais);
- casos limítrofes (ilustra a dificuldade em firmar elementos
essenciais do caso modelo);
- casos inventados (ilustrativo apenas da falta de consistência
dos atributos em face do conceito);
- contexto social (campo de entendimento do conceito);
- expressão do anseio (referido no contexto social);
- resultados práticos (aplicáveis às situações reais);
- resultados na linguagem (aplicação na produção de
conhecimentos).
O método proposto por Wilson motivou e subsidiou a criação de
outros métodos de análise de conceitos a serem desenvolvidos nas
investigações em Enfermagem.
Walker e Avant (1988), fundamentados no método de Wilson,
optaram por efetuar diferenças na nomenclatura e ordenação do
processo analítico. Elas distinguiram os atributos definidores e os atributos
irrelevantes do conceito e propuseram oito passos com natureza
interativa, o que permite estes ocorrerem simultaneamente como se
fossem seqüenciais, a saber:
- selecionar um conceito de interesse;
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
33
- determinar os objetivos e propósitos da análise;
- identificar os usos do conceito;
- determinar os atributos;
- construir um caso modelo;
- construir casos adicionais (limítrofe, contrário, inventado e
ilegítimo);
- identificar antecedentes e conseqüentes do conceito;
- definir referencial empírico (classes ou categorias do fenômeno
que demonstram sua presença e ocorrência do conceito).
Embasadas em Wilson e em outros autores, Schwartz-Barcott e
Kim (2000) apresentaram o “modelo híbrido” desenvolvido em 1986, o qual
utiliza observações clínicas (atividades empíricas) e da literatura
(atividades teóricas), para identificação e compreensão dos conceitos. A
abordagem possui três etapas seqüenciais:
- fase teórica: seleção do conceito, pesquisa na literatura,
condutas com significados e mensuração, escolha e definição do
trabalho;
- trabalho de campo: definição do cenário, entendimento para
o aceite do estudo, seleção de casos, coleta e análise dos dados;
- fase de análise final: comparação entre os dados da literatura
e da prática.
Outra autora, Rodgers, em 1989, constrói e apresenta uma nova
abordagem para análise de conceito. Nesta abordagem, a proposta é
superar as dificuldades de uma visão positivista-reducionista,
fundamentada no referencial do método indutivo e descritivo, visando
valorizar o dinamismo e as interrelações destes com ênfase na natureza do
conceito. Para a autora, a análise do conceito é dinâmica, e varia de
acordo com o contexto e o tempo (RODGERS, 1989).
Nessa perspectiva, consoante podemos afirmar, o
desenvolvimento de um conceito tem correlação com o contexto social,
com o período e com as situações nas quais são analisados os conceitos.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
34
3.2 O Modelo de Análise de Conceito Evolucionário de Rodgers
O modelo de análise de conceito proposto por Rodgers é
ilustrado por meio de um ciclo contínuo através do tempo e inserido num
determinado contexto um ciclo evolucionário (Figura 1). No
desenvolvimento conceitual, a autora distingue três aspectos importantes:
o significado, o uso e a aplicação do conceito (RODGERS, 1989).
Figura 1. Ciclo de desenvolvimento do conceito.
Fonte: RODGERS, B. L. Concept analysis: an evolutionary view. In: RODGERS, B. L; KNALF, K.
A. Concept development in nursing: foundations, techniques and applications.
Philadelphia: W.B. Saunders, 2000. Cap. 6, p. 81.
Neste modelo, a metodologia proposta pela autora
compreende oito fases seqüenciais, onde o fundamental é identificar a
intenção e a dimensão na análise do conceito, estabelecendo relações
entre as fases do modelo evolucionário descritas a seguir:
APLICATION
TIME
SIGNIFICANCE
USE
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
35
- identificação do conceito de interesse e das expressões
associadas (inclusive termos substitutos);
- identificação e seleção do campo apropriado para a coleta
de dados (local e amostra);
- coleta dos dados, reconhecendo os atributos do conceito junto
com termos substitutos, relacionados, antecedentes e conseqüentes;
- análise dos dados e identificação das características do
conceito;
- identificação dos antecedentes, conseqüentes e termos
substitutos;
- identificação dos conceitos relacionados ao conceito de
interesse;
- identificação do caso modelo do conceito, se apropriado;
- identificação das hipóteses e implicações para outros estudos.
Analisar o conceito de cuidado de Enfermagem sob uma ótica
de compreensão do seu significado, uso e aplicação pressupõe a
utilização de um referencial teórico de análise de conceito que possibilite
o alcance do objetivo deste estudo. Isto justifica a utilização dessa análise,
com base no Modelo Evolucionário de Análise de Conceito proposto por
Rodgers (1989).
Neste modelo de análise de conceito, a autora explicita sua
visão evolucionária do conceito, por meio da representação do
movimento contínuo ocorrido através do tempo e que está inserido num
determinado contexto, grupo cultural, referido numa disciplina ou
referencial teórico.
O ciclo evolucionário proposto por Rodgers (1989) é constituído
por três influências distintas no desenvolvimento do conceito, nominadas
como significado (significance), uso (use) e aplicação (application) do
conceito. As oito etapas para a análise evolucionária do conceito estão
descritas a seguir:
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
36
1. Identificação do conceito de interesse e das expressões
associadas (inclusive termos substitutos).
Nesta etapa, é essencial a familiaridade com a literatura pois
esta oferece ao pesquisador condições de selecionar o conceito e a
terminologia apropriada para desenvolver o estudo.
2. Identificação e seleção do campo apropriado para a coleta
de dados (local e amostra).
Esta etapa diz respeito ao local, ao período de tempo a ser
examinado e às disciplinas ou aos tipos de literatura a serem incluídas. O
campo a ser inserido depende da familiaridade com a literatura e a
disciplina que com freqüência constitui o conceito de interesse.
Em alguns casos faz-se necessário tratar cada disciplina como
uma população em separado. Deve ser feita uma amostragem
sistemática, enumerando cada item na lista de literatura. Em seguida,
deve ser selecionado o número de itens representantes de cada
disciplina. Geralmente, pelo menos trinta itens de cada disciplina ou
estrato, ou 20% do total da população, independentemente do tamanho,
devem ser selecionados para a amostra.
Nos casos de investigação nas quais o conceito não foi
trabalhado amplamente, pode ser difícil reunir uma amostra de mais de
trinta. Este é um número que favorece a análise do conceito.
3. Coleta dos dados, reconhecendo os atributos do conceito
junto com termos substitutos, relacionados, antecedentes e conseqüentes.
Esta etapa diz respeito à revisão da literatura para identificar
dados referentes aos atributos do conceito, seus antecedentes e
conseqüentes, termos substitutos e conceitos relacionados, incluindo os
dados pertinentes às aplicações do conceito.
Na análise conceitual a identificação dos atributos do conceito
representa a fase mais importante da análise conceitual. Os atributos do
conceito caracterizam-se pela definição real, oposta à nominal, ou a
definição de dicionários que, geralmente, substituem expressões por
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
37
sinônimos de outras. Portanto, os atributos tornam possível a identificação
de situações relacionadas ao conceito, ou seja, caracterizam de forma
apropriada o uso do conceito de interesse. Nesta etapa, são identificados,
também, os termos substitutos do conceito.
4. Análise dos dados e identificação das características do
conceito.
Nesta etapa, é essencial retornar à literatura para clarificar
idéias, verificar novos itens para amostra, porquanto algumas dúvidas são
dirimidas durante a análise. Nesta perspectiva, a coleta de dados e a
análise podem acontecer simultaneamente. Esta fase de análise
representa um processo de organização de pontos similares que ocorrem
continuamente até ser possível gerar um sistema relevante, objetivo e
compreensível.
5. Identificação dos antecedentes, conseqüentes e termos
substitutos.
A identificação de antecedentes, conseqüentes e termos
substitutos facilita a análise do conceito por proporcionar uma
apropriação fidedigna do conceito foco do estudo.
6. Identificação dos conceitos relacionados ao conceito de
interesse.
Ao identificar conceitos relacionados ao conceito de interesse, o
pesquisador passa a compreender este de forma mais clara, o que por
certo facilitará a análise proposta.
7. Identificação do caso modelo do conceito, se apropriado.
A identificação de um modelo constitui-se relevante para a
análise conceitual. Esta etapa tem como objetivo proporcionar uma
demonstração prática do conceito, em um contexto relevante.
8. Identificação das hipóteses e implicações para outros estudos.
Outra contribuição importante da análise conceitual é a
identificação de novas questões. Na verdade, esta função heurística
(descoberta de fatos na pesquisa documental) pode ser um dos mais
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
38
significantes resultados desta abordagem de análise, constituindo-se um
elemento fundamental para o desenvolvimento de novos saberes.
Estas oito fases, em trabalho posterior, foram revistas por Rodgers
(2000). Nele a autora sintetiza o Modelo Evolucionário de Análise de
Conceito em seis fases, a saber:
- identificação do conceito de interesse e das expressões
associadas, inclusive termos substitutos;
- identificação e seleção do campo apropriado para coleta de
dados (local e amostra);
- coleta dos dados, reconhecendo os atributos do conceito e
sua base contextual, incluindo a variação interdisciplinar, sociocultural e
temporal, os antecedentes e conseqüentes;
- análise dos dados e identificação das características do
conceito;
- identificação de um caso modelo (exemplo) do conceito;
- identificação da hipótese e implicações para outros estudos.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
0
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Todo caminhar é construído
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Todo caminhar é construído
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na relação consigo mesmo e
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na relação com os outros.
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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Nesta tese optamos pela pesquisa qualitativa como método de
estudo por entendermos que este se adequa ao objetivo pretendido.
Assim, apresentamos uma explanação sobre a pesquisa qualitativa como
método e o grupo focal como estratégia de coleta de dados. Finalmente,
descrevemos o planejamento da pesquisa e os aspectos éticos
observados.
4.1 Pesquisa Qualitativa
A pesquisa qualitativa possibilita aos pesquisadores estudarem
coisas em seu ambiente natural com o objetivo de julgar ou interpretar
fenômenos em termos dos significados atribuídos pelas pessoas,
considerando momentos problemáticos e significados individuais de vida.
Para tanto utiliza métodos variados de coleta de dados com vistas à
descrição de rotinas (DENZIN; LINCOLN, 1998).
Para Turato (2003), o método qualitativo caracteriza-se como
aquele que quer entender como o objeto de estudo ocorre ou se
manifesta. Conforme destaca, este não almeja o produto, ou seja, o
resultado final matematicamente trabalhado.
De acordo com Creswell (1998), na pesquisa qualitativa, o
pesquisador é um instrumento de coleta de dados. Este obtém
descrições/representações, as quais são analisadas indutivamente, tendo
como foco os significados atribuídos pelos participantes. Segundo
enfatiza, tal tipo de pesquisa se caracteriza como um processo de
investigação que explora problemas sociais e humanos.
O método qualitativo possui como foco o interesse do
pesquisador na busca do significado das coisas, porquanto, este exerce
um papel organizador nos seres humanos. Mencionado método utiliza o
ambiente natural do sujeito como campo de observação. Tem no
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Eucléa Gomes Vale
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pesquisador o próprio instrumento de pesquisa. No rigor da validade,
reside a força deste método. E como a generalização não é a dos
resultados obtidos matematicamente, ela se mostra a partir dos
pressupostos iniciais revistos, ou seja, dos conceitos construídos ou
conhecimentos originais produzidos (TURATO, 2003).
Como afirma Minayo (2004), na pesquisa qualitativa busca-se o
significado da ação humana, que constrói a história por meio de um
grupo de técnicas que possibilitam a elaboração da realidade, onde a
teoria e a metodologia caminham juntas, compondo um conjunto de
procedimentos direcionados para a revelação do fenômeno em estudo.
Para Richardson (1999), a pesquisa qualitativa pretende a
compreensão dos significados e características situacionais detalhadas e
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas de
características ou comportamentos.
Nas palavras de Minayo (2004, p. 10), as abordagens qualitativas
são
Aquelas capazes de incorporar a questão do SIGNIFICADO e a
INTENCIONALIDADE como inerente aos atos, às relações e às
estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu
advento quanto na sua transformação, como construções
humanas significativas.
Nesta perspectiva, segundo menciona Demo (2000, p. 159),
“mais do que o aprofundamento por análise, a pesquisa qualitativa busca
o aprofundamento por familiaridade, convivência, comunicação”.
Procura, assim, resgatar o aspecto mais valioso da realidade, ou seja, a
subjetividade relacionada à própria realidade.
A abordagem qualitativa, neste estudo, oferece a oportunidade
de visualizar o objeto, considerando sua especificidade, suas
determinações históricas e as relações entre significados e utilização que
permeiam as possibilidades de conhecê-lo melhor, analisá-lo, interpretá-lo,
valorizá-lo e reconstruí-lo em relações entre sujeitos sociais.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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4.2 Campo do Estudo
O Curso de Enfermagem da Faculdade Católica Rainha do
Sertão (FCRS), do Instituto Filosófico Teológico Nossa Senhora Imaculada
Rainha do Sertão, es situado no município de Quixadá, Estado do
Ceará, geograficamente localizado na região do sertão central, distando
164 km da cidade de Fortaleza. Este município possui uma população
estimada em 75 mil habitantes.
O sertão central do Estado do Ceará, região onde se situam os
municípios e distritos das 5ª, 8ª, e 18ª microrregionais de saúde
(organização da Secretaria Estadual de Saúde) formada por Madalena,
Itatira, Banabuiú, Choró, Milhã, Ibaretama, Quixadá, Quixeramobim, Pedra
Branca, Senador Pompeu, Solonópoles, Boa Viagem, Ibicuitinga, Irapuã
Pinheiro, Mombaça e Piquet Carneiro, apresenta características
epidemiológicas que possibilitam o planejamento, execução e
acompanhamento das ões de prevenção, tratamento, controle e
avaliação das doenças e as ações de promoção à saúde (PROJETO
PEDAGÓGICO, FCRS, 2003).
Contudo, na mencionada região inexiste quantitativo de
profissionais da área da saúde suficiente para atender à demanda,
principalmente em relação ao profissional enfermeiro, inferior ao
preconizado pela política do Ministério da Saúde segundo a qual deve
haver um enfermeiro para cada mil famílias.
Neste contexto, o Instituto Filosófico Teológico Nossa Senhora
Imaculada Rainha do Sertão instalou o Curso de Enfermagem, alicerçado
no princípio da necessidade crescente de formar profissionais enfermeiros
com competências e habilidades para intervir no processo saúde-doença,
contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
Esta entidade, de natureza privada, tem como compromisso
cumprir as normas gerais da educação acompanhando a dinâmica e a
flexibilidade preconizadas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
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Nacional - LDB (BRASIL, 1996a), consubstanciadas nas Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem (BRASIL, 2001),
com vistas a assegurar a qualidade da educação.
Além do Curso de Graduação em Enfermagem, a Faculdade
Católica Rainha do Sertão possui os seguintes cursos na área da saúde:
Fisioterapia, Farmácia, Odontologia, Biomedicina, Psicologia e Educação
Física.
O Curso de Enfermagem foi instalado em abril de 2004 e seu
Projeto Político Pedagógico (PPP) está fundamentado nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino de Graduação em Enfermagem.
Como recomendado por estas diretrizes, tem como normas para
implementação do ensino, da pesquisa e da extensão os seguintes
princípios norteadores (PROJETO PEDAGÓGICO, FCRS, 2003, p. 20-21):
o processo de trabalho em Enfermagem inclui atividades de
natureza específica que envolvem cuidar, administrar, educar e
pesquisar nas várias áreas de atenção à saúde.
O campo de trabalho da Enfermagem apresenta especialidades
e vários níveis de complexidade, o que demanda a participação
de profissionais com saberes diferenciados de formação, sendo o
enfermeiro o líder da equipe de enfermagem.
O reconhecimento do processo saúde-doença que permite ao
profissional enfermeiro atuar na prevenção de doenças e na
promoção da saúde que envolve tratamento, recuperação e
reabilitação.
A compreensão de que a atenção à saúde deve ser dispensada
de forma integral, universal, equânime e resoluta.
O trabalho em saúde é por princípio coletivo e interdependente,
sendo que o enfermeiro desenvolve atividades próprias que
podem ser de natureza dependente, independente e
interdependente.
A formação do enfermeiro, na graduação, deve estar orientada e
continuamente ser reorientada pelo quadro sanitário presente no
âmbito nacional e pelo perfil epidemiológico da população.
A inserção do acadêmico de enfermagem na realidade de
saúde deverá ser desenvolvida por meio do conhecimento
teórico e da realização de atividades práticas e estágios
supervisionados nos diferentes campos de atuação do profissional
enfermeiro.
As descobertas e avanços científicos e tecnológicos na área da
saúde requerem um acompanhamento assim como a produção
de novos conhecimentos no campo da enfermagem.
O PPP do Curso de Graduação em Enfermagem em pauta tem
por finalidade adequar o processo de formação do enfermeiro às
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transformações das profissões da área da saúde, do ensino e,
principalmente, às necessidades e demandas de saúde da população,
expressas pela significante mudança no seu perfil demográfico-
epidemiológico. Nesse contexto, buscamos formar profissionais com nível
de complexidade crescente, capazes de intervir no processo saúde-
doença, por meio do cuidado de Enfermagem, bem como no ensino, na
administração e pesquisa nas áreas da saúde/Enfermagem individual e
coletiva.
Nesta perspectiva, o Curso de Enfermagem tem os seguintes
objetivos (PROJETO PEDAGÓGICO, FCRS, 2003, p. 24-25):
- Possibilitar aos educandos uma sólida formação teórico-
metodológica que viabilize uma atuação competente e
eficiente ao seu campo específico de trabalho.
- Formar enfermeiros críticos e reflexivos que compreendam o
homem como um ser em constante interação com o meio
ambiente, tendo em vista a sua complexidade bio-psico-sócio-
espiritual, implementando medidas que atendam às
necessidades básicas da saúde do ser humano.
- Possibilitar a aquisição de conhecimentos e habilidades que
possibilitem ao futuro profissional promover atenção integral,
oportuna, contínua e de qualidade nas áreas básicas de saúde,
nos veis ambulatorial e domiciliar, visualizando o indivíduo
como um ser global e não fragmentado em partes.
- Integrar os estágios curriculares na totalidade do curso,
buscando articular neles, o ensino, a pesquisa e a extensão.
- Desenvolver com o educando um modelo assistencial baseado
na atenção integral à saúde do indivíduo, família e
comunidade, promovendo em conjunto com o conceito de
saúde como direito de cidadania e como qualidade de vida no
meio que está inserida.
- Contribuir no desenvolvimento de atividades reflexivas e críticas,
sobre o trabalho de enfermagem no seu contexto de mundo,
visando uma atuação responsável e participativa.
- Favorecer a aquisição de conhecimentos e habilidades que
tornem o futuro profissional, competente e habilitado para
realizar os procedimentos técnico-assistenciais necessários no
processo de cuidar do indivíduo, família e comunidade.
- Preparar profissionais capazes de estimular o desenvolvimento
de projetos junto à comunidade, motivando-a a interferir nos
seus problemas de saúde, considerando os fatores sócio-
econômicos, políticos e culturais que influenciam no processo
saúde-doença.
- Formar profissionais capazes de planejar, organizar, coordenar,
dirigir e supervisionar os serviços de enfermagem nos diferentes
níveis de atenção à saúde das áreas pública e privada.
- Estimular o interesse pela pesquisa como possibilidade de
resolução de problemas vivenciados na prática profissional.
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- Favorecer a apreensão e aplicação dos valores políticos e éticos
da profissão.
- Possibilitar ao educando a apreensão da história do homem e
relacioná-la com o processo saúde-doença e o processo de
cuidar.
- Incentivar a valorização e desenvolvimento da capacidade de
trabalhar em equipe multiprofissional e transdisciplinar.
- Favorecer a apreensão e aplicação da metodologia da
assistência de enfermagem.
- Incentivar a inserção do aluno na comunidade e ambiente que
convive na sua formação com vistas ao efetivo exercício
profissional.
- Valorizar e buscar a educação continuada como possibilidade
de manter-se atualizado para o pleno exercício profissional.
O perfil do profissional egresso desse curso privilegia a formação
de profissionais críticos, reflexivos, comprometidos com a solução de
problemas sociais e de saúde da população. Esses devem possuir
conhecimentos científicos, habilidades e competências que possibilitem a
articulação do processo ensino-aprendizagem com a vida cotidiana.
Do mencionado Curso de Enfermagem fazem parte 27 docentes
e 319 alunos que vivenciam o processo ensino-aprendizagem por meio de
aulas teórico-práticas e estágios curriculares supervisionados em
instituições de saúde (unidades básicas do programa saúde da família,
casas de apoio à criança e ao adolescente, centro de atenção
psicossocial, hospitais, clínicas e domicílios) e de educação (escolas e
creches).
4.3 Grupo Focal como Estratégia de Coleta de Dados
A construção de um conceito de cuidado de Enfermagem, a ser
utilizado no ensino de graduação, pressupõe, neste estudo, a utilização do
grupo focal como ferramenta de investigação que oferece a
oportunidade de fazer emergir idéias novas e originais.
Como sabemos, o grupo focal é abordado e utilizado pelos
pesquisadores de formas diferentes e amplas. E quanto à sua difusão no
meio acadêmico, acreditamos ter sido insuficiente para preparar para sua
aplicação e interpretação.
Cuidado de Enfermagem
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Ao se referir a grupo focal, Costa (2005) assim se pronuncia:
Os grupos focais são um tipo de pesquisa qualitativa que tem
como objetivo perceber os aspectos valorativos e normativos que
são referência de um grupo em particular. São na verdade uma
entrevista coletiva que busca identificar tendências.
Conforme Debus (1997), o grupo focal é descrito como técnica
e método de investigação qualitativa. Ressel, Gualda e Gonzáles (2002) o
descrevem como método de coleta de dados, enquanto Edmunds (1999)
diz ser uma metodologia qualitativa exploratória.
Entretanto, segundo Debus (1997), os grupos focais são uma
ferramenta de investigação. De acordo com ele, existem três razões para
o uso desta técnica: a interação do grupo, que proporciona respostas
mais coerentes e consistentes, além de permitir o surgimento de idéias
novas e originais; a observação, que permite ao pesquisador conhecer in
loco os comportamentos, atitudes e decepções dos participantes do
grupo em estudo; e o aspecto econômico, relacionado aos custos e ao
tempo despendido, bem menor nessa forma de pesquisa.
Outra autora, Minayo (2004, p. 129), se pronuncia sobre grupo
focal e afirma:
O grupo focal consiste numa técnica de inegável importância
para se tratar das questões da saúde sob o ângulo do social,
porque se presta ao estudo de representações e relações dos
diferenciados grupos de profissionais da área, dos vários processos
de trabalho e também da população.
Para Costa (2005), o grupo focal possui vantagens, tais como a
sinergia e interação geradas entre os participantes do grupo, o que
enriquece as respostas. Destaca, também, a flexibilidade para um
moderador na condução do roteiro, bem como a possibilidade de
profundidade e qualidade das verbalizações e expressões obtidas no uso
desse método. Ainda como afirma, o grupo focal é muito recomendável
quando se deseja ouvir as pessoas, e explorar temas de interesse comum
nos quais a troca de impressões favorece um aprofundamento e
conhecimento de determinado tema.
Neste estudo utilizamos o grupo focal no enfoque preconizado
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Eucléa Gomes Vale
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por Morgan (1997). O autor apresenta três modos de uso do grupo focal: o
independente (self contrined), no qual o método de estudo serve como
fonte primária de dados; o suplementar (suplementary), que usa outros
métodos também como fonte primária de dados, e o do tipo
multimétodos (multimethod), que combina dois ou mais métodos na
obtenção dos dados. Neste caso, o todo primário determina o uso de
outros.
Utilizamos o grupo focal no modo multimétodos, pois, a nosso ver,
este possibilita o surgimento de novas idéias pela busca nas bases de
dados e pela participação dos sujeitos da pesquisa mediante suas
experiências e opiniões, obtidas por meio da interação. Nesta interação,
um membro do grupo responde a outro, expressando acordo ou
desacordo, mediante questionamentos, recebendo e fornecendo
respostas. Ocorrem, também, a divisão e a comparação de idéias e
experiências, e, nesse momento, temos a oportunidade de apreender
como os participantes compreendem as similaridades e diferenças e a
partir daí retirar as evidências.
Em corroboração à idéia, segundo assegura Meyer (2004), o
grupo focal oferece ao pesquisador a oportunidade de produzir uma
concentração de dados sobre o tópico do seu interesse e permite,
também, obtê-los de forma rápida e eficiente, na própria interação grupal,
com produção de idéias, opiniões e experiências.
Quanto à composição do grupo focal, pode ser intencional, mas
deve ser buscado, pelo menos, um aspecto semelhante entre os
participantes do estudo. Algumas similaridades são sugeridas por Debus
(1997) como: classe social; ciclo temporal (tempo de formação, tempo de
trabalho); vel de experiência; sexo; idade; estado civil; e aspectos
culturais. Estas são situações que podem ou não influenciar, e podem
também ser positivas ou negativas, tudo vai depender do problema em
foco.
Cuidado de Enfermagem
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Neste estudo a composição do grupo foi intencional.
Escolhemos quatro enfermeiras docentes, seis alunos do semestre do
Curso de Graduação de Enfermagem da FCRS (por estarem em fase de
conclusão de curso) e quatro enfermeiras das instituições de saúde onde
os alunos exercem suas práticas. Além da nossa participação como
moderadora do grupo, participaram ainda uma psicóloga e dois
estudantes de Enfermagem do semestre, que atuaram como membros
observadores das sessões grupais. Para a escolha dos participantes, o
único critério foi ter o cuidado de Enfermagem como foco na sua prática
de ensinar, fazer ou aprender.
Nas sessões, a média de presentes situou-se em treze
participantes. Houve, também, nossa presença como moderadora, a da
psicóloga e a dos dois alunos que atuaram como membros observadores.
Como percebemos, se algum membro estava impossibilitado de
comparecer à reunião, avisava com antecedência, o que mostrava o
grau de comprometimento dos participantes com o trabalho em
desenvolvimento.
Nossa escolha pela composição dos sujeitos de forma
intencional teve como objetivo obter a “melhor” concepção, a mais
crítica e capaz de subsidiar a construção do conceito de cuidado de
Enfermagem a ser utilizado no ensino de graduação.
Na dimensão do grupo adotamos um número maior quatorze
participantes por entendermos que no percurso da pesquisa havia
possibilidades de interferências no quantitativo estipulado (desistência de
participantes por motivos pessoais).
Conforme esperávamos, o número proposto asseguraria a
consecução dos objetivos do estudo, mesmo se ocorressem desistências
ocasionadas por doenças ou problemas particulares dos participantes.
Ademais, grupos maiores favorecem a aquisição de um número maior de
informações por meio do debate.
Em relação ao número de encontros requerido, como
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asseguram Dall’Agnol e Trench (1999), a definição do número de
encontros está diretamente ligada ao universo do tema da pesquisa,
Contudo, eles sugerem ser observado mais especificamente o objetivo do
estudo. Ainda como afirmam, de acordo com o tema, devem ser
formados no mínimo dois grupos para cada variável, de forma que o
número de grupos seja suficiente para alternar idéias, materiais e temas e,
para tanto, devem-se organizar grupos até que os dados deixem de ser
novos. Por fim, como afirmam, em alguns casos é possível a realização de
um único grupo focal.
Neste estudo utilizamos um único grupo focal, porquanto os
profissionais e alunos escolhidos possuíam um vínculo, por serem docentes
e alunos do mesmo curso, e os enfermeiros assistenciais contribuíram em
seus locais de trabalho, como enfermeiros preceptores do estágio dos
referidos alunos. isto, a nosso ver, deve ter facilitado a integração
necessária para o aprofundamento das reflexões e o alcance do objetivo
construir um conceito de cuidado de Enfermagem para o ensino de
graduação em Enfermagem.
Todas as reuniões do grupo focal ocorreram no período de
agosto a dezembro de 2007. O número de encontros esteve diretamente
atrelado ao alcance dos objetivos propostos no estudo, e foi suficiente
para discutir e aprofundar as idéias, esgotar as informações e chegar à
elaboração do conceito de cuidado de Enfermagem proposto como
objetivo deste estudo.
Em relação à reunião, Costa (2005, p. 187) afirma o seguinte:
A reunião deve ocorrer em local neutro, para não inibir os
participantes. O local deve ser silencioso, principalmente se a
reunião estiver sendo gravada. No caso de gravação, é preciso
obter autorização dos participantes e é importante insistir na
questão da confidencialidade das informações, lembrar ao
participante que os nomes verdadeiros não serão divulgados no
relatório e que cada entrevistado será identificado apenas por um
número. Os participantes devem sentar-se ao redor de uma mesa
de reuniões ou em círculo e ter à sua frente a identificação com
nome e número para facilitar a atuação do moderador. O
documentador deve registrar as respostas usando apenas o
número.
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No referente à escolha do local a ser utilizado para a realização
do grupo, considerando sua importância, observamos os aspectos
propostos por Debus (1997): ambiente tranqüilo; seguro; privativo;
confortável; de fácil acesso aos participantes; com visualização e
acomodação adequadas a todos os integrantes; e com equipamentos
de áudio e vídeo.
Na perspectiva de atender aos aspectos propostos, escolhemos
uma sala da FCRS que contemplou as expectativas do grupo, e foi de fácil
acesso à maioria dos participantes.
Fizemos nove sessões, com os seguintes objetivos:
Sessão 1 estabelecer o contrato grupal, estimular o
entrosamento e iniciar o debate.
Sessão 2 – discutir os conceitos de cuidado de Enfermagem
utilizados na primeira sessão grupal.
Sessão 3 discutir o uso do conceito de cuidado de
Enfermagem, com propósito de identificar seus atributos.
Sessão 4 – dar continuidade às discussões sobre atributos do
cuidado.
Sessão 5 apresentar os atributos consensuados na sessão,
bem como os atributos essenciais selecionados pelo grupo; identificar os
antecedentes e conseqüentes do cuidado de Enfermagem.
Sessão 6 – apresentar os atributos essenciais, antecedentes e
conseqüentes do cuidado de Enfermagem; identificar o que dá
significado ao cuidado; explicitar os aspectos que especificam a
ocorrência do cuidado de Enfermagem.
Sessão 7 discutir definições sobre “conceito” para embasar a
formulação do conceito de cuidado de Enfermagem.
Sessão 8 resgatar as discussões sobre conceitos; construir
coletivamente o conceito de cuidado de Enfermagem.
Sessão 9 validar o conceito de cuidado de Enfermagem
construído pelo grupo; conhecer a opinião dos elementos do grupo focal
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sobre sua participação na elaboração de um conceito de cuidado de
Enfermagem para o ensino de graduação.
Todas as sessões transcorreram de acordo com o planejado.
Ocorreram apenas alguns atrasos, os quais foram compensados com
acréscimo de tempo para cumprir o acordado no contrato grupal. Antes
de cada sessão nos certificávamos do comparecimento do grupo por
meio de ligação telefônica.
Durante o desenvolvimento das sessões uma das participantes
(aluna) contraiu uma doença e teve de se hospitalizar. Por este motivo,
ela faltou às quatro últimas sessões.
Os encontros foram gravados em áudio e seu conteúdo foi
transcrito e analisado pela autora. Esta, para facilitar a compreensão do
grupo e o desenvolvimento de cada sessão, os resumia devidamente.
Como preparação para as sessões, revíamos o material colhido das
gravações e os sintetizávamos para apresentar ao grupo no início de
cada sessão. Além disso, utilizamos guias de temas no intuito de facilitar a
participação dos membros do grupo, bem como para favorecer o
alcance dos objetivos propostos em cada sessão.
Adotamos dinâmicas de integração e estratégias motivacionais
para facilitar a integração do grupo e a compreensão dos objetivos a
serem atingidos nas sessões grupais. Tais dinâmicas e estratégias estão
descritas conforme sua utilização em cada sessão.
Embora Costa (2005) sugira que a reunião deve durar em torno
de sessenta minutos, neste estudo optamos por noventa minutos sem
intervalo. No final de cada reunião era oferecido um lanche, sempre em
meio a uma confraternização entre os participantes.
As sessões ocorreram quinzenalmente, e, desse modo, pudemos
dispor de tempo hábil para refletirmos e analisarmos o material coletado
em cada encontro e prepararmos a síntese e guia de temas para a sessão
seguinte.
Como asseveram Dall’Agnol e Trench (1999), na organização do
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grupo focal é importante estabelecer os momentos-chave das sessões,
bem como elaborar os guias de temas, pois estes são fundamentais para
facilitar o andamento das reuniões e, conseqüentemente, o alcance do
objetivo.
Na ótica desses autores, no primeiro encontro deve ser
estabelecido um “contrato de trabalho” que vai mostrar a condução dos
próprios encontros.
Assim, devem ser adotados os seguintes passos:
- abertura da sessão – cumprimentos, apresentações sobre a
pesquisa: objetivos, finalidade e metodologia a ser desenvolvida;
- estabelecimento do setting (contrato grupal), enfatizando os
aspectos éticos da pesquisa e do processo de interação;
- debate seguindo o guia de temas;
- síntese dos momentos anteriores;
- encerramento cumprimentos e acertos para o próximo
encontro.
O estabelecimento do setting diz respeito à juramentação,
contrato grupal, enquadre, e, como exposto:
Assenta-se no compromisso de todos os envolvidos, pois é
condição necessária para que o Esquema Conceitual
Referencial Operativo (ECRO) grupal se consolide, portanto, é o
pano de fundo de unidade do grupo em nome do “nós” ou “3ª
pessoa” (DALL’AGNOL; TRENCH, 1999, p. 21).
No contrato grupal são estabelecidas algumas normas de
convivência. Foram seguidas as de Dall’Agnol e Trench (1999), quais
sejam: horário de início e término; atrasos, faltas, desistências; uso de
identificação durante os encontros; sigilo; e dinâmica de funcionamento
dos encontros (reuniões).
A elaboração do guia de temas exige experiência do
pesquisador e atenção para contemplar os seguintes aspectos: ter
clareza; não ser muito longo; apresentar questões que levantem perguntas
quantitativas; ordenar as questões das mais gerais para as mais
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específicas; construir questões que favoreçam a abordagem do tema de
forma a possibilitar um debate natural (DEBUS, 1997).
Segundo Dall’Agnol e Trench (1999), o guia de temas diz respeito
aos propósitos e tópicos a serem tratados, mas é também um roteiro que
norteia as sessões, e pode sofrer ajustes por conta do desenvolvimento dos
debates. Assim, foi elaborado com base no objetivo da pesquisa.
Norteadas por Debus (1997), utilizamos a moderação não
diretiva, por ser a mais usada e por estar composta de uma lista de
perguntas abertas que favorecem o posicionamento de todos os
participantes e, também, por reduzir a influência do moderador. A nosso
ver esta se adequa ao presente estudo porque permite o livre
posicionamento dos integrantes. Ademais, essa técnica, como afirma
Meyer (2004), tem um estilo mais eficaz, por criar um clima de flexibilidade
e, desse modo, favorece um diálogo que enfoca as semelhanças e
divergências.
Para Costa (2005, p. 185-6), o moderador/facilitador é:
Aquele que conduz a reunião e atua como facilitador da
conversa. Um bom moderador é aquele que não induz às
respostas aos participantes e consegue fazer com que um maior
número possível dos participantes participe ativamente da
conversa e interaja com os outros membros do grupo. As
competências recomendáveis do moderador/facilitador são:
conhecimento geral do tema que vai ser alvo da pesquisa; noção
dos principais conceitos e clareza dos objetivos; habilidade de
integrar os participantes; de interromper com delicadeza e
objetividade os que estão monopolizando a entrevista coletiva;
atitude discreta; low profile; sem manifestar sua posição, isto é,
aprovando ou reprovando algumas falas; capacidade de
assegurar que todos participem; flexibilidade e atenção para
redirecionar o tema.
O moderador deve ser competente para agregar os seguintes
pontos: atuar com sensibilidade; sondar com muita profundidade;
estabelecer relações; ser flexível em relação aos assuntos; atuar com
habilidade na resolução de problemas e no uso de estratégias de
moderação (LEOPARDI, 2001).
Como atribuições do moderador sobressaem as seguintes: a
instrumentalização do grupo; a condução com sabedoria; a utilização de
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atitudes que facilitem a integração; bem como a exposição de opiniões e
idéias (DEBUS, 1997).
O observador é também de fundamental importância no
desenvolvimento das sessões do grupo focal. Portanto, deve ser uma
pessoa que possua habilidades de atenção, de elaboração de análise e
síntese de discussões. Ele contribui de forma significativa na obtenção de
informações e no desenvolvimento das atividades do grupo em
parceria/sintonia com o moderador.
Em corroboração a esta idéia, Meyer (2004, p. 80-81) afirma:
Nesse método, o número de observadores pode variar (um ou
dois) conforme a necessidade do tema. O observador é uma
figura importante no grupo focal e seu desempenho requer
atenção, habilidade de análise e síntese. Uma função essencial é
o registro dos acontecimentos, daquilo que é significativo, dos
aspectos objetivos e subjetivos. Também auxilia na condução do
grupo e contribui com a síntese do moderador, e, após o término
da reunião, faz suas considerações, confirmando ou o as
percepções do moderador. Também se envolve com aspectos
mais práticos, como o cuidado e controle de equipamentos de
áudio.
A escolha do observador é, pois, essencial, e o pesquisador
poderá optar por ter dois observadores. Estes, por certo, conseguirão tecer
considerações pertinentes, as quais contribuirão para confirmar ou refutar
as percepções do moderador, possibilitando uma visão mais abrangente
das falas dos participantes do grupo.
Ao longo do trabalho, os observadores (psicóloga e dois alunos)
faziam uma síntese de suas observações e nos entregavam após as
sessões. Estas sínteses estão descritas nos relatos das várias sessões.
De acordo com os preceitos éticos, devemos preservar o
anonimato dos participantes. Assim, para manter em sigilo as identidades
dos participantes do grupo focal, estes serão identificados em seus
depoimentos por meio de siglas e números. Enquanto as siglas
correspondem às palavras Grupo Focal (GF) e Participante (P), os números
correspondem ao número da sessão do grupo focal, variável de 1 a 9, e o
número que designa cada participante, variável de 1 a 14. Como
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exemplo, a fala GF2P11 significa que a fala foi emitida no grupo focal 2
pelo participante 11.
4.4 Análise dos Dados
A utilização do Modelo Evolucionário de Análise de Conceito
proposto por Rodgers (1989) foi feita inicialmente para a compreensão da
evolução do conceito de cuidado de Enfermagem no ensino, verificando
seu uso, significado e aplicação ao longo do tempo.
Como observado, a análise realizada contribuiu
significativamente na fase posterior de construção de um conceito de
cuidado de Enfermagem, para subsidiar o aprender, o ensinar e o fazer do
processo de cuidar da saúde.
Entretanto, neste estudo, o Modelo Evolucionário de Análise de
Conceito (RODGERS, 1989, 2000) compreendeu apenas as seguintes fases:
identificação do conceito de interesse; identificação e seleção do campo
apropriado para a coleta de dados; coleta de dados, reconhecendo os
atributos do conceito, antecedentes e conseqüentes; análise dos dados e
identificação das características do conceito; e implicações para outros
estudos.
No intuito de atender ao objetivo proposto neste estudo, no
referente à construção de um conceito de cuidado de Enfermagem para
o ensino de graduação, optamos por identificar, na literatura nacional e
internacional, esta última nos idiomas inglês e espanhol, publicações
indexadas sobre o tema e em base de dados on line, no período de 1997
a 2007.
A primeira seleção constou dos artigos cujos títulos continham a
expressão cuidado no ensino de Enfermagem. Após leitura, selecionamos
os documentos que reuniam os critérios para viabilizar a investigação. O
conjunto de documentos teve o recorte para a análise da representação
do cuidado de Enfermagem no ensino de graduação em trabalhos
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
56
publicados de 1997 a 2007. Procedemos à análise utilizando o Modelo
Evolucionário de Análise de Conceito proposto por Rodgers (1989).
Definidos os textos a serem pesquisados, efetuamos uma leitura
analítica, com maior profundidade dos aspectos de real interesse da
pesquisa, de acordo com as orientações de Rodgers (1989), buscando a
identificação do uso, significado, aplicação e tempo.
A análise e coleta dos dados foram feitas de forma
concomitante. Para a análise temática, avaliamos o uso, o significado, a
aplicação e o tempo compreendido entre 1997 e 2007 da representação
do cuidado no ensino de Enfermagem. Para facilitar a compreensão os
dados dos artigos, dissertações e teses avaliados foram dispostos em um
quadro e identificados por temas principais e ano de publicação.
Quanto às sessões grupais, foram organizadas com base no
Modelo Evolucionário de Análise de Conceito de Rodgers (1989), também
mediante conceitos de cuidado de Enfermagem preconizados por
autores nacionais e internacionais.
As sessões grupais foram descritas e organizadas com vistas à
compreensão das questões que permearam as discussões e obeservaram
os aspectos sugeridos por Morgan (1997): explorar novas áreas e as
questões da pesquisa; e descrever os dados produzidos com um
sustentável corpo de conhecimentos.
Para a construção do conceito de cuidado de Enfermagem
utilizamos como subsídios os guias de temas (Apêndice C), elaborados
com base nos autores que abordam o tema “cuidado no ensino de
Enfermagem” em literatura nacional e internacional, bem como outros
autores que deram embasamento aos conceitos utilizados na
compreensão das etapas necessárias à construção do conceito proposto
neste estudo. Além disso, foram considerados os resultados de cada
sessão do grupo focal.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
57
4.5 Procedimentos Éticos
Este estudo, em sua elaboração, cumpriu o recomendado na
Resolução 196 de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de
Saúde – Ministério da Saúde (BRASIL, 1996b), que dispõe sobre normas
regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Para tanto,
este projeto foi submetido à avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Federal do Ceará (COMEPE), credenciado no Conselho
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). Após receber parecer favorável,
o projeto foi aprovado na reunião do dia 26 de julho de 2007 (Parecer
164/07, Anexo A).
Antes de iniciar as reuniões com os participantes, enviamos
ofícios aos dirigentes das instituições de ensino e de saúde para solicitar
permissão para a realização do estudo.
Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndices A e B), e a eles foram
asseguradas a confidencialidade, a privacidade e a preservação da
própria imagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
0
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Cuidado de
Cuidado deCuidado de
Cuidado de
Enfermagem pressupõe:
Enfermagem pressupõe:Enfermagem pressupõe:
Enfermagem pressupõe:
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alisar para compreender,alisar para compreender,
alisar para compreender,
compreender para descontruir e reconstruir.
compreender para descontruir e reconstruir.compreender para descontruir e reconstruir.
compreender para descontruir e reconstruir.
Recontruir com a certeza de que
Recontruir com a certeza de queRecontruir com a certeza de que
Recontruir com a certeza de que
toda construção é transitória,
toda construção é transitória,toda construção é transitória,
toda construção é transitória,
afinal “toda verdade é relativa...”
afinal “toda verdade é relativa...”afinal “toda verdade é relativa...”
afinal “toda verdade é relativa...”
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
59
5 CUIDADO DE ENFERMAGEM: ANÁLISE E CONSTRUÇÃO DO
CONCEITO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM À LUZ DO MODELO
EVOLUCIONÁRIO DE ANÁLISE DE CONCEITO DE RODGERS
5.1 A Evolução do Cuidado no Ensino de Graduação de Enfermagem
O Modelo de Análise de Conceito Evolucionário de Rodgers
(1989) propõe oito fases, descritas na sessão 3.2. Destas fases, optamos
numa primeira etapa efetuar levantamento de literaturas (teses,
dissertações e artigos de periódicos) sobre o cuidado no ensino de
graduação em Enfermagem, que subsidiasse a segunda etapa da
pesquisa, referente à construção do conceito de cuidado de Enfermagem
a ser utilizado no ensino de graduação em Enfermagem.
Em pesquisa à Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), disponibilizada
por meio da rede internacional de computadores (Internet), acessamos as
seguintes bases de dados: LILACS - Literatura Latino-Americana e do
Caribe em Ciências da Saúde; SciELO - Scientific Electronic Library Online;
e BDENF - Base de Dados de Enfermagem. Além destes, utilizamos o Banco
de Teses da CAPES, que contempla trabalhos de dissertação e tese
defendidos nos Programas de Pós-Graduação de todo o Brasil.
À procura de estudos que versavam sobre o cuidado de
Enfermagem, vislumbramos nessas bases de dados o campo propício para
conduzirmos nossa pesquisa. O foco principal residia em publicações cuja
temática fosse o cuidado no ensino de Enfermagem, limitamo-nos aos
estudos produzidos entre os anos de 1997 e 2007.
Entretanto, não nos restringimos apenas à procura de artigos de
publicações nacionais. Para tanto, utilizamos a expressão o cuidado no
ensino de Enfermagem também em sua tradução para o inglês (the care
in the Nursing education) e para o espanhol (El cuidado en la educación
de Enfermería). Quando utilizamos as expressões ora citadas para a
pesquisa bibliográfica nas bases de dados, encontramos um quantitativo
razoável de trabalhos, como mostram os Quadros 1 e 2.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
60
QUADRO 1 Distribuição de publicações por bases de dados no período
de 1997 a 2007. Fortaleza-CE, 2008.
EXPRESSÕES
BASES DE DADOS DA BVS
TOTAL
LILACS SCIELO BDENF
O cuidado no ensino de Enfermagem 97 27 82 206
The care in the Nursing education 233 122 138 493
El cuidado en la educación de
Enfermería
172 39 83 294
TOTAL 502 188 303 993
QUADRO 2 mero de dissertações e teses no Banco de Teses da CAPES
no período de 1997 a 2007. Fortaleza-CE, 2008.
EXPRESSÃO
BANCO DE TESES DA CAPES
TOTAL
DISSERTAÇÕES TESES
O cuidado no ensino de Enfermagem
154 59 213
Detivemo-nos em minuciosas leituras à procura daqueles escritos
que realmente traziam em seu contexto, seja na forma de análise, reflexão
ou de pesquisa de campo, uma discussão centralizada no cuidado, mais
especificamente sobre o cuidado no ensino de Enfermagem. Conforme
verificamos, no entanto, na maior parte debatia-se o cuidado não
diretamente ligado ao ensino. Muitas vezes se falava do ensinar e do
cuidar distintamente, ou seja, os trabalhos tratavam o ensinar como o
correspondente teórico e o cuidar como o correspondente prático na
educação de Enfermagem. Somente 33 trabalhos tratavam do cuidado
no ensino.
Nesta procura, coerente com nossa proposta orientada à
construção de um conceito de cuidado de Enfermagem a ser utilizado no
ensino de graduação, encontramos um quantitativo modesto de
publicações que efetivamente abordassem especificamente o cuidado
no ensino de Enfermagem. Dos 993 artigos de periódicos analisados na
íntegra, selecionamos apenas 17; das 154 dissertações, 13 se coadunavam
com a temática em estudo; e das 59 teses, 3 abordavam a referida
temática. Tal escolha deveu-se ao fato de o foco deste estudo estar na
forma como o cuidado de Enfermagem era ensinado na graduação de
Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
61
Segundo pudemos observar com satisfação, cada um dos
trabalhos compilados desenvolve com densidade e argumentos sólidos o
cerne principal das suas pesquisas. Neles uma diversidade de temas
envolvendo o cuidado no ensino de Enfermagem, temas considerados
importantes para o progresso da profissão e cruciais na formação do
enfermeiro.
Para melhor ilustrar nossas descobertas julgamos pertinente
fazermos uso de um mecanismo que permita aos leitores a visualização
dos trabalhos de forma rápida e concisa. Por isso condensamos os
trabalhos em um quadro, os classificamos por temas e os separamos por
ano de publicação.
Desse modo, a evolução da representação do cuidado no
ensino de Enfermagem por meio da produção científica, no período de
1997 a 2007, está exposta ilustrativamente no Quadro 3, a seguir. Nele
constam os temas, os anos de publicação, o uso, o significado e a
aplicação do cuidado no ensino de Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
62
QUADRO 3 Os temas centrais das publicações (artigos de periódicos, dissertações e teses) que abordam a temática do
cuidado no ensino de Enfermagem no período de 1997 a 2007. Fortaleza-CE, 2008.
TEMAS 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTAL
REFLEXÃO DO CUIDAR E DO ENSINO EM
ENFERMAGEM
AP AP AP 3
FORMAS/ESTRATÉGIAS DE ENSINAR O
CUIDADO
AP DS** DS*** 3
CONCEPÇÕES/SIGNIFICADOS DO
CUIDADO NO ENSINO DE ENFERMAGEM
AP AP
TS
DS**
DS*** 5
EDUCAÇÃO + CUIDADO = EDUCARE NO
ENSINO DE ENFERMAGEM
AP AP * 2
RELAÇÃO DO CUIDAR E A PRÁTICA DA
EDUCAÇÃO CONTINUADA EM
ENFERMAGEM
AP 1
ENSINO/PROCESSO EDUCATIVO DO
CUIDADO DE ENFERMAGEM
DS AP 2
ARTE DE ENSINAR E DE CUIDAR AP 1
ENSINO DO CUIDAR NA ENFERMAGEM DS AP
DS
3
INTERDISCIPLINARIDADE NO ENSINO E NA
CONSTRUÇÃO DO PROCESSO DE
CUIDADO NA ENFERMAGEM
AP AP * 2
ENSINAR/CUIDAR DS AP 2
INTEGRALIDADE DO CUIDADO NO ENSINO
DE ENFERMAGEM
DS 1
SENSIBILIDADE NO ENSINO DO CUIDADO
EM ENFERMAGEM
AP 1
PROCESSO DE CUIDAR NA FORMAÇÃO
DO ENFERMEIRO
DS AP 2
O INSTRUMENTAL E O EXPRESSIVO NO
ENSINO DO CUIDADO
TS DS 2
ATOS CUIDADORES DA FORMAÇÃO E DO
TRABALHO DO ENFERMEIRO NO
CONTEXTO HOSPITALAR
TS 1
AÇÃO EDUCATIVA PARA O CUIDADO DE
ENFERMAGEM
DS 1
PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER O
CUIDAR/CUIDADO EM ENFERMAGEM
DS
DS
2
SIGNIFICADOS DE ENSINAR A CUIDAR DS 1
COMPETÊNCIAS PARA O CUIDAR NO
ENSINO DE ENFERMAGEM
DS 1
TOTAL 1 0 2 7 1 1 8 2 5 7 2 36
AP = Artigo de Periódico TS = Tese DS = Dissertação
Obs.: As publicações AP*, DS** e DS*** abordam dois temas. Desta forma alteram o total de 33 para 36 publicações.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
63
A Evolução da Representação do Cuidado no Ensino de Enfermagem na
Produção Científica de 1997 a 2007
Esta fase do estudo é imprescindível em virtude de possibilitar o
contato com a literatura sobre o tema de pesquisa e conseqüentemente
a apropriação de conhecimentos, capacitando-nos na discussão sobre o
cuidado de Enfermagem que, neste estudo, é focalizado no ensino.
Com a perspectiva de facilitar a compreensão da evolução da
representação do cuidado no ensino de Enfermagem por meio da
produção científica, no período de 1997 a 2007, apresentamos a
ilustração esquematizada do Modelo de Análise de Conceito
Evolucionário de Rodgers (1989), o qual explicita o tempo (ano), e envolve
o uso, significado e aplicação do referido cuidado.
Como mencionado, apenas 33 escritos, entre teses, dissertações
e artigos de periódicos, retratam o cuidado no ensino de Enfermagem,
contemplando diversas abordagens sobre a formação do enfermeiro no
processo ensinar-aprender-cuidar, em espaços diversificados do ensino e
da prática de Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
64
A EVOLUÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DO CUIDADO NO ENSINO DE ENFERMAGEM NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA
DE 1997 A 2007
TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
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TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
Cuidado de Enfermagem
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TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
Cuidado de Enfermagem
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TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
Cuidado de Enfermagem
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TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
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TEMPO
USO
SIGNIFICADO
APLICAÇÃO
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A cronologia das publicações nas quais se aborda o cuidado no
ensino de Enfermagem seguiu o período de tempo proposto no estudo, ou
seja, do ano de 1997 ao ano de 2007, portanto, dez anos. Pela evolução
da representação do cuidado no ensino de Enfermagem na produção
científica de 1997 a 2007, conforme percebemos, em apenas um ano, o
de 1998, o houve publicação sobre o tema em foco. Também,
conforme observamos, em anos como 1997 (1), 1999 (2), 2001 (1), 2002 (1),
2004 (2) e 2007 (2) as produções científicas foram poucas, somente uma
ou duas ao ano. Diferentemente dos anos de 2000 (7), 2003 (7), 2005 (5) e
2006 (5), quando houve um número razoável de publicações centradas
no tema o cuidado no ensino de Enfermagem.
Sobre o ano de 2007, porém, avaliamos apenas parcialmente,
pois o Portal da CAPES, com resumos de teses e dissertações das pós-
graduações de todo o país, a a finalização deste estudo, não havia
colocado no Banco de Teses as produções correspondentes ao
mencionado ano. Assim, as publicações referentes a este ano são
representadas por artigos de periódicos.
Embora as publicações específicas sobre o tema do nosso
interesse sejam limitadas, a produção na área de Enfermagem amplia-se
dia-a-dia. Determinados fatores contribuem para este avanço. Por
exemplo, a nosso ver, a aprovação da Resolução CNE/CES 3, de 7 de
novembro de 2001, que institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de
Graduação em Enfermagem, e a implementação desta nos cursos e
escolas de graduação em Enfermagem contribuíram para um repensar
da formação do enfermeiro, indutor de mudanças substanciais no
processo de cuidar no ensino e na assistência de Enfermagem.
Ademais, o processo de discussão em torno destas diretrizes
ocorrido nos eventos da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn),
sobretudo nos Fóruns Nacionais de escolas e cursos de graduação em
Enfermagem e nos Fóruns das sessões estaduais da referida entidade,
também contribuiu de forma efetiva na sedimentação do
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
71
aprofundamento do debate em torno do modo de ensinar o processo de
cuidar em Enfermagem, bem como na forma do processo de trabalho dos
profissionais de Enfermagem.
Sobre o assunto por nós enfocado, ressaltamos algumas
publicações:
O tema do cuidado no ensino de Enfermagem foi trabalhado
pelos autores sob as mais diversas análises. Entre estes, Teixeira e Tavares
(1997), Camacho e Espírito Santo (2001) e Scherer e Scherer (2007), em
artigos, refletiram sobre o cuidar e o ensino de Enfermagem. Vianna (2000),
Hertel (2003) e Sanches (2006) conduziram estudos sobre formas e
estratégias utilizadas para ensinar o cuidado.
Além destes, mencionamos Hertel (2003) e Sanches (2006), em
suas dissertações, e Santo, Escudeiro e Chagas Filho (2000), bem como Zea
Bustamante (2003), em artigos, e a tese de Bison (2003), todos sobre as
concepções e significados do cuidado no ensino de Enfermagem.
Geib e Saupe (2000) e Saupe e Budó (2006) falam, em seus
artigos, sobre o educare (educação e cuidado) no ensino de
Enfermagem. Garrido (2000) relaciona o cuidar e a prática da
educação continuada na Enfermagem.
Incluem-se, ainda, a dissertação de Paim (2000) e o artigo de
Santos (2002), os quais abordam o processo educativo do cuidado de
Enfermagem. A primeira enfatiza o cuidado humanizado e a segunda o
ensino da Enfermagem pelo cuidado.
Caccavo e Carvalho (2003) contemplam, em seu artigo, os
aspectos lúdicos na arte de cuidar e na arte de ensinar na Enfermagem.
as dissertações de Hohl (2000) e de Freitas (2005), e o artigo de Amorim
e Oliveira (2005) explanam sobre o ensino do cuidar, argumentando sobre
o aprendizado teórico-prático do cuidar em Enfermagem (FREITAS, 2005) e
sobre a necessidade da inserção e do aprofundamento do ensino do
conteúdo referente ao cuidar na Enfermagem (HOHL, 2000).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
72
Ademais, os artigos de Berardinelli e Santos (2005) e de Saupe e
Budó (2006) abordam a interdisciplinaridade, mais precisamente a
interdisciplinaridade no ensino e na construção do processo de cuidado
na Enfermagem.
Além destes, Ribeiro (2004) e Ferraz et al. (2005), em dissertação
e artigo, respectivamente, salientam os aspectos estético, político, ético,
técnico, criativo e relacional do ensinar-cuidar em Enfermagem. Em outra
dissertação, de Silva (2005), a integralidade da atenção à saúde serve
como orientação à formação do enfermeiro no ensino do cuidado.
Prado, Reibnitz e Gelbcke (2006) falam sobre o desafio no
processo de ensinar-aprender o cuidado de Enfermagem. Enfatizam,
particularmente, a importância do resgate da sensibilidade na
reconstrução do processo de aprendência.
Outros estudos, a exemplo da dissertação de Freitas (2000) e do
artigo de Tanaka e Leite (2007), também discutem o processo de cuidar
na formação do enfermeiro. Freitas (2000) desenvolve um processo de
cuidado com educandas de Enfermagem, tendo como base a Teoria do
Cuidado Transpessoal de Jean Watson e idéias próprias, com a intenção
do cuidado de si e do outro e a construção do conhecimento acerca do
processo de ser e viver da educanda de Enfermagem. Tanaka e Leite
(2007) partem para a compreensão do processo de cuidar do enfermeiro
e das competências do aprender a fazer, conhecer e ser.
Ferreira (1999) e Bobroff (2003) conduzem suas argumentações
para os aspectos instrumentais e expressivos no ensino do cuidado na
Enfermagem. A primeira, em sua tese, ressalta a ambivalência do
instrumental e do expressivo na tarefa de cuidar, e a segunda, em sua
dissertação, enfatiza o cuidado afetivo-expressivo, como o saber-ser e o
saber-conviver, no aluno de Enfermagem.
Mais uma tese, a de Fernandes (2006), explora o tema. Como
contribuição, traz questionamentos acerca da formação e do trabalho do
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
73
enfermeiro no contexto hospitalar, explicita os atos cuidadores da
formação e do trabalho do enfermeiro no ambiente hospitalar.
Ressaltamos, ainda a dissertação de Camponogara (1999). Com
suporte na Teoria do Cuidado Transpessoal, desenvolve uma proposta de
atuação ao professor enfermeiro no processo de ensinar/aprender/cuidar
em Unidade de Terapia Intensiva. Para isto, a autora enfatiza a
importância de uma ação educativa que conceba o cuidado como
essência da Enfermagem, agregando à racionalidade a sensibilidade, a
ética e a estética.
Os estudos prosseguem. Amorim (2003) e Santana (2003)
dissertam sobre o processo de ensinar e aprender o cuidar/cuidado em
Enfermagem. Em Amorim (2003) destacam-se os significados do ensinar e
aprender o cuidar/cuidado na ótica de docentes, discentes e egressas de
um curso de Enfermagem. Em Santana (2003) desvela-se o sentido do
cuidar nas experiências vividas por estudantes de Enfermagem no
processo de aprender a cuidar.
Por fim, Nascimento (2004) parte de uma perspectiva cultural
para analisar os significados atribuídos por enfermeiras assistenciais e
enfermeiras docentes ao ato de ensinar a cuidar. Andrade (2006) faz
análise de uma disciplina em especial após a implementação das
Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em
Enfermagem (DCNENF), avaliando as ações desenvolvidas para a
aquisição das competências para o cuidar.
Após a pesquisa do tema deste estudo em literatura científica,
culminando com a análise da evolução do cuidado no ensino de
Enfermagem, cujos pormenores foram detalhados na sessão anterior, o
estudo será conduzido a partir deste momento com a descrição do
processo de construção do conceito de cuidado de Enfermagem a ser
utilizado no ensino. Este processo foi longo, importante e produtivo por
meio de um grupo focal, e o produto final se deu com a formulação de
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
74
um conceito de cuidado de Enfermagem que esperamos seja
abrangente e reflita uma maneira ímpar de pensar-fazer Enfermagem.
Como mencionamos, os guias de temas das sessões do grupo
focal foram elaborados com base nos dados coletados por meio do
Modelo de Análise de Conceito Evolucionário proposto por Rodgers (1989),
e contribuíram para a construção do conceito de cuidado de
Enfermagem elaborado pelo grupo. A seguir, detalhamos as sessões com
seus respectivos objetivos.
Sessão 1
Objetivo: estabelecer o contrato grupal, estimular o
entrosamento e iniciar o debate.
Nesta sessão, apresentamos uma síntese do projeto de pesquisa,
detalhando os objetivos e a metodologia a ser adotada nas sessões do
grupo focal. Expressamos nossa satisfação pelo acolhimento de todos ao
convite para compor o grupo que, por meio de sessões grupais usando
como instrumento a técnica do grupo focal, construiria um conceito de
cuidado de Enfermagem para o ensino de graduação. Manifestamos
nossa confiança no grupo, tendo em vista que todos os presentes foram
criteriosamente escolhidos.
O início da primeira sessão grupal deu-se por meio da utilização
da dinâmica do “repolho” para facilitar a apresentação dos participantes.
Esta técnica consiste em colocar palavras em folhas de papel, as quais
são amassadas e sobrepostas como se fossem folhas de um repolho.
Colocamos uma música de fundo e, quando esta era interrompida, a
pessoa que estava com o repolho retirava uma folha, fazia sua
apresentação e dizia a palavra escrita na referida folha. Se lhe interessasse,
podia expressar sua opinião sobre o termo. Todas as palavras foram
inspiradas nos conceitos de cuidado de Enfermagem das seguintes
autoras: Watson (1985); Collière (1999); Morse et al. (1991); Chao (1992);
Leopardi (1994); Erdmann (1996); Silva (2002); e Waldow (2006). Como
palavras selecionadas mencionamos: afeto; solidariedade; compaixão;
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
75
zelo; integração; participação; ajuda; proteção; atenção; empatia;
compreensão; encontro de pessoas; ética; e dignidade humana.
Em seguida, lançamos mão de um recurso audiovisual (movie-
play), um filme de dezoito minutos sobre cuidado, produzido por docentes
de Enfermagem juntamente conosco, como estratégia motivadora, e um
guia de temas com objetivo e roteiro da sessão (Apêndice C).
Após a apresentação do movie-play, iniciamos o debate a partir
da leitura do material de estímulo (transcrição de conceitos de cuidado
de Enfermagem). Introduzimos a discussão com as seguintes questões: O
que você pensa do que foi lido? O que o leva a essas idéias? O que
entende por conceito de cuidado de Enfermagem? Que sentimentos
você tem sobre o tema? Com qual conceito você mais se identificou?
De modo geral, o debate fluiu animadamente. Em alguns
momentos houve divergências entre as opiniões, todas, porém, dissipadas
na evolução da discussão. Com uma hora e dez minutos de debate,
conduzimos o grupo para a finalização, com validação e ntese dos
resultados. Agradecemos a todos e relembramos os acertos feitos no início
da sessão.
Segundo relataram os observadores das sessões, a princípio o
grupo mostrou-se tenso. Os participantes manifestaram suas
preocupações quanto ao alcance do objetivo do grupo focal: construir
um conceito de cuidado de Enfermagem para o ensino de graduação.
Decorridos quinze minutos do início da sessão, os participantes foram
expressando suas opiniões sobre o cuidado e demonstrando interesse pelo
tema.
Sessão 2
Objetivo: discutir os conceitos de cuidado de Enfermagem
utilizados na primeira sessão grupal.
Ao iniciar a reunião, destacamos as frases explicitadas pelos
participantes na primeira reunião do grupo focal. Das suas falas extraíram-
se expressões como: “cuidado é estar com o outro”; “despertar para as
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
76
necessidades do ser cuidado”; “resgatar a dignidade do outro”; “ver o
valor do outro”; trazer o outro para dentro de si”; “estar com o outro”;
“ajudar o outro a crescer”; “dar atenção”; “se autotransceder”; “cuidado
é uma fonte de espiritualidade”; “resgatar a pessoa”.
A partir desse momento, estabeleceu-se um ambiente favorável
à discussão, que fluiu bem durante toda a sessão. Neste momento, o
grupo se mostrava mais confiante para expor suas idéias e impressões,
as quais foram compartilhadas em clima amistoso.
Após uma hora e quinze minutos de debate, encaminhamos o
grupo para a finalização, com validação e ntese dos resultados.
Agradecemos a todos e relembramos o dia da próxima reunião.
Conforme os observadores perceberam no início da sessão, a
maioria dos participantes do grupo ainda estava ansiosa, mas esta
ansiedade foi se dissipando ao longo da discussão. Ainda conforme os
observadores, o clima foi se tornando mais descontraído no decorrer da
reunião, e, de modo geral, os participantes foram coerentes em suas falas.
Em alguns momentos houve afastamento do tema sem, contudo,
prejudicar o nível da discussão. Os integrantes do grupo fizeram relatos de
suas vivências pessoais e profissionais que iam ao encontro da
compreensão do conceito de cuidado. Era notório o interesse
demonstrado por todos os participantes pelo tema discutido. Ao final das
discussões, lançamos perguntas pela moderadora para facilitar a
finalização do encontro e a sessão foi encerrada em clima de
confraternização.
Sessão 3
Objetivo: discutir o uso do conceito de cuidado de Enfermagem,
com o propósito de identificar seus atributos.
Ao iniciar a sessão, apresentamos o material de estímulo que
continha, além do objetivo da sessão, os destaques das sessões 1 e 2 e
conceitos sobre atributo do ponto de vista filosófico e da ngua
portuguesa. Em seguida, expusemos os destaques das sessões anteriores:
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
77
cuidado: formas de ser e de se expressar; cuidado é encontro de pessoas
que precisam de cuidado; cuidado é próprio da vida do ser humano;
cuidado é valorizar o outro, ouvi-lo, atender suas necessidades; cuidado é
a essência da Enfermagem, aquilo que a gente faz e nem percebe;
cuidado envolve ciência, arte, ética e estética; cuidado é muito mais que
técnica, ações instrumentais, é um ato expressivo de atender o outro;
cuidado é relação entre duas pessoas; cuidado é ação, atitude,
encontro; cuidado para melhorar a vida que há no outro e em mim;
cuidado como dimensão futura; cuidado como forma de viver; cuidado
como essência da existência; cuidado como relação que espresente
na vida humana; a relação transcende no cuidado, que se caracteriza
como processo vital.
Consoante os observadores perceberam, os participantes
sentiram dificuldade na compreensão da palavra atributo. Relatada esta
dificuldade, alongamos e aprofundamos a discussão, mediante
interferência para aclarar as dúvidas existentes e dar continuidade ao
debate com vistas a atingir o objetivo da sessão. Segundo os
observadores, houve uma grande interação, atenção e participação de
todos, com algumas interrupções de falas de determinados integrantes,
sem, contudo, prejudicar o elo de harmonia e integração que perdurou
até o final da reunião.
Em virtude da complexidade do tema desta sessão, houve um
acréscimo de quinze minutos do tempo regularmente previsto no contrato
inicial do grupo. Após uma hora e vinte minutos de debate,
encaminhamos o grupo para a finalização, com validação e ntese dos
resultados. Agradecemos a todos e relembramos o dia da próxima
reunião.
Sessão 4
Objetivo: dar continuidade às discussões sobre atributos do
cuidado.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
78
Iniciamos a reunião resgatando o entendimento do grupo sobre
atributo e como este se apresenta na Enfermagem. Em seguida,
desenvolvemos uma dinâmica que consistia em espalhar recortes de
cartolina contendo palavras explicitadas pelo grupo durante a sessão
anterior. Estas eram espalhadas pelo chão, enquanto os participantes
eram orientados a escolher um dos recortes que contivessem a palavra
com a qual eles se identificassem. A seguir, o participante explanava
sobre ela.
Demonstrando terem assimilado a compreensão de atributo, os
participantes verbalizaram as seguintes palavras que para eles se
constituíam atributos do cuidado: interação; solidariedade; empatia;
respeito; conhecimento, atitude; desejo; ação; compaixão; amor;
caridade; ternura; zelo; preocupação; proteção; atenção; técnica;
intuição; compromisso; responsabilidade; competência; ensino;
consciência; ética; e interesse. Após amplo debate em torno destes
termos, solicitamos ao grupo escolher os atributos gerais e destacar os
atributos que consideravam essenciais ao cuidado.
Após uma hora de debate, encaminhamos o grupo para a
finalização, com validação e síntese dos resultados. Agradecemos a todos
e relembramos o dia da próxima reunião.
Segundo os observadores, os participantes do grupo
encontravam-se mais conscientes para emitir opiniões sobre os atributos
do cuidado, havia mais segurança e coesão em suas falas. Isto favoreceu
o desenvolvimento de uma reunião dinâmica, interativa e produtiva,
marcada pela concordância e fortalecimento das falas entre os
participantes. O fato de haver concordância em torno dos atributos do
cuidado fez a reunião fluir para a síntese das discussões com muita
facilidade.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
79
Sessão 5
Objetivos: apresentar os atributos consensuados na 4ª sessão,
bem como os atributos essenciais selecionados pelo grupo; e identificar os
antecedentes e conseqüentes do cuidado de Enfermagem.
O início da sessão se deu com o acolhimento e agradecimento
ao grupo pelo desempenho de todos os participantes na sessão grupal.
Em seguida, apresentamos o guia de temas no qual constavam a
produção da 4ª sessão, as definições de antecedentes e conseqüentes de
conceitos e duas questões facilitadoras do alcance dos objetivos
propostos à sessão.
Como atributos gerais para o cuidado de Enfermagem,
explicitados pelo grupo, mencionamos os seguintes: interação; amor;
solidariedade; responsabilidade; consciência; zelo; compaixão; ensino;
ética; e interesse. Como atributos essenciais para o cuidado de
Enfermagem, os participantes do grupo escolheram: amor; solidariedade;
consciência; zelo; e ética.
Em seguida, apresentamos as definições de antecedentes e de
conseqüentes do conceito, a saber:
Antecedentes do conceito: são situações, eventos ou fenômenos
que precedem o conceito de interesse (desencadeantes).
Favorecem o entendimento do contexto social no qual o conceito é
usado ou facilitam a compreensão deste (FERREIRA, 1988;
ABBAGNANO, 2000).
Conseqüentes do conceito: são os acontecimentos decorrentes do
cuidado de Enfermagem que se manifestam na prática. Os eventos
conseqüentes (resultantes) são importantes porque geram novas
propostas às pesquisas. Isto viabiliza um estudo mais abrangente de
todas as características e formas de conceito (WALKER; AVANT,
1988).
Concluída esta apresentação, lançamos duas questões ao grupo:
Quais os antecedentes do cuidado?
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
80
Quais os conseqüentes do cuidado?
Passada uma hora e cinco minutos de debate, encaminhamos o
grupo para a finalização, com validação e síntese dos resultados. No
horário previsto, a reunião foi encerrada com os agradecimentos e acerto
da data do próximo encontro.
Conforme os observadores relataram, após fazer um resumo das
reuniões anteriores a moderadora enfatizou a importância do grupo
direcionar os temas a fim de otimizar o tempo. Segundo eles, o grupo
mostrou-se harmônico, amistoso e participativo. Apresentou
compartilhamento de idéias e interatividade em clima de alegria. Ao final
foi observada uma produtividade superior às reuniões anteriores, o que,
para os observadores, demonstrava amadurecimento, crescimento e
união. Como afirmaram, houve um aprendizado em relão aos temas
abordados e, mais uma vez, a reunião foi concluída em clima de
agradável confraternização.
Sessão 6
Objetivos: expor os atributos essenciais, antecedentes e
conseqüentes do cuidado de Enfermagem; identificar o que dá
significado ao cuidado; explicitar os aspectos que especificam a
ocorrência do cuidado de Enfermagem.
Nessa sessão apresentamos os antecedentes do cuidado de
Enfermagem, explicitados pelo grupo na reunião anterior, tais como:
necessidades; conhecimento; sensibilidade; interação; escuta; e interesse.
A seguir, apresentamos os conseqüentes deste cuidado, a saber:
satisfação; bem-estar; cura; alívio; conforto; confiança; saúde; e mudança
no estilo de vida.
A reunião transcorreu tranqüilamente, houve um debate amplo,
profícuo e prazeroso sobre o que significado ao cuidado e os aspectos
que especificam a ocorrência do cuidado.
Consoante os participantes do grupo explicitaram, o significado
do cuidado é percebido quando existe o encontro entre duas pessoas o
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
81
ser cuidado e o cuidador, quando existe um ser humano que tem
necessidades e alguém que é capaz de identificar e satisfazer essas
necessidades. Além disso, como explicitaram, o que sentido ao
cuidado é a característica de ser inato ao ser humano e aos seres vivos de
forma geral.
Quanto ao que sentido ao cuidado de Enfermagem, os
participantes consensuaram as seguintes afirmações: a utilização do
conhecimento próprio da Enfermagem (teoria, instrumentos básicos e
sistematização da assistência de Enfermagem); a forma de cuidar de
cada um; a sensibilidade do cuidador e do ser que recebe o cuidado; a
intencionalidade do ato de cuidar; a empatia entre o ser que cuida e o
ser cuidado; a transcendência entre o ser cuidado e o ser que presta o
cuidado; a compreensão e entendimento do outro; a relação de troca
(quando alguém cuida tem satisfação de cuidar e o ser que recebe o
cuidado transmite essa satisfação para o outro); o prazer sentido pelo
cuidador ao cuidar dá significado ao prazer do ser que é cuidado.
Os observadores manifestaram a percepção de coerência,
seriedade e envolvimento do grupo com o tema, demonstrados por meio
da participação dinâmica e integrada do grupo. Segundo estes, o grupo
aparenta ter assimilado novos conceitos e construído conhecimento
acerca do tema.
Após uma hora de discussão, encaminhamos o grupo para a
finalização, com validação e ntese dos resultados. No horário previsto, a
reunião foi encerrada com os agradecimentos e o acordo do dia da
próxima reunião.
Sessão 7
Objetivo: discutir definições sobre conceito para embasar a
formulação do conceito de cuidado de Enfermagem.
Iniciamos a reunião felicitando os participantes pelo empenho e
por tudo que fora construído pelo grupo. Em seguida, apresentamos
definições de conceito de autoras da Enfermagem (DULDT; GIFFIN, 1985;
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
82
KING, 1988; WALKER; AVANTE, 1988; SROUR, 1990; MORSE, 1995; LEOPARDI,
1998) e dos dicionários de filosofia (ABBAGNANO, 2000) e da ngua
portuguesa (FERREIRA, 1988).
O debate fluiu com algumas dúvidas prontamente dirimidas. No
entanto, alguns participantes referiam insegurança em relação ao
entendimento de como se a construção de um conceito. Na verdade,
esta insegurança estava atrelada ao receio de não conseguir contribuir
na construção de um conceito que representasse o entendimento do
grupo.
Contudo, segundo demonstramos, resgatando as sínteses das
sessões anteriores, os elementos constitutivos do conceito a ser construído
haviam sido explicitados pelos participantes do grupo ao longo das
sessões. Era necessário, tão-somente, organizar as idéias amplamente
debatidas e elaborar de forma coletiva o conceito razão de ser deste
estudo.
Após ampla discussão, ao percebermos que o grupo estava
esclarecido em relação à construção do conceito de cuidado de
Enfermagem a ser utilizado no ensino de graduação, encerramos a
reunião, pois o tempo estava esgotado. Assim, agradecemos a
participação de todos e lembramos o compromisso firmado à efetivação
da próxima reunião.
Consoante os observadores mencionaram, eles perceberam
apreensão dos participantes do grupo quanto ao alcance do objetivo da
reunião. Segundo afirmaram, apesar das definições apresentadas no guia
de temas, alguns participantes demonstravam insegurança e outros
permaneciam calados, com “fácies de preocupação”. Após fazermos
uma explanação enfatizando que os elementos trabalhados podiam
conduzir à elaboração do conceito, os participantes passaram a emitir
opiniões sobre aspectos importantes a serem considerados na construção
do conceito de cuidado de Enfermagem, a ser utilizado no ensino de
graduação.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
83
Sessão 8
Objetivos: resgatar as discussões sobre conceito; e construir
coletivamente o conceito de cuidado de Enfermagem.
Iniciamos a reunião com a apresentação dos objetivos do
encontro e a síntese da 7ª sessão. Consoante o grupo expôs, o conceito a
ser formulado deve: fugir da abstração e retratar a realidade; viabilizar o
entendimento de todos; ser claro, conciso e objetivo; viabilizar ao
profissional a percepção do seu fazer; dar consciência da essência da
Enfermagem; revelar de forma clara e objetiva o fenômeno; ser resultado
da prática/ação de cuidar; ser passível de identificação pelos seus
construtores. Em seguida, foram apresentados quatro conceitos resultantes
da junção das falas dos participantes do grupo. São eles:
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno essencial à vida, que
ocorre no encontro de seres humanos que interagem por meio de
uma relação que envolve consciência, zelo, solidariedade, ética e
amor.
Cuidado de Enfermagem constitui-se um fenômeno imprescindível
na relação entre seres humanos que interagem por meio de atitudes
como: consciência, zelo, solidariedade, ética e amor.
Cuidado de Enfermagem é tomar consciência da relação que
ocorre entre seres humanos que interagem dialogicamente por
meio do zelo, afeição, solidariedade e ética.
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno indispensável à vida, que
ocorre no encontro entre seres humanos que se relacionam de
forma consciente, solidária, ética e afetiva.
Os participantes do grupo leram os conceitos, refletiram sobre
eles e, estimulados por nós, identificaram elementos essenciais. Em seguida,
demos início à elaboração do conceito de cuidado de Enfermagem.
Após ampla discussão, fomos conduzindo o grupo para a concretização
da elaboração do conceito. Finalmente, o grupo consensuou o seguinte:
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
84
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno essencial à vida que
ocorre no encontro de seres humanos que interagem
dialogicamente, por meio de atitudes que envolvem consciência,
zelo, solidariedade e amor, expressando um “saber-fazer”
embasado na ciência, arte, ética e estética voltadas para as
necessidades humanas do indivíduo, família e comunidade.
Após leitura atenta do conceito, alguns participantes
questionaram as palavras “dialogicamente” e “voltada”. Segundo
sugeriram, estas deveriam ser substituídas por palavras de melhor
compreensão, sobretudo porque o conceito deverá ser utilizado junto a
estudantes de graduação desde o início do curso. Em face do avançado
da hora e, ao percebermos o cansaço do grupo, indagamos se
poderíamos trazer o conceito, com as substituições propostas pelo grupo,
na próxima sessão. Como houve aquiescência dos participantes,
encerramos a reunião, agradecendo a participação e lembrando do
compromisso da presença de todos para a última sessão do grupo focal
que deveria fazer a validação do conceito.
De acordo com o relatado pelos observadores, os participantes
demonstraram coesão em suas idéias e isto proporcionou um ambiente
integrado e participativo, onde todos emitiram opiniões na tentativa de
incluir todas as contribuições consensuadas ao longo das sessões.
Finalmente, os integrantes conseguiram elaborar o conceito e deixaram
transparecer suas satisfações e sentimentos de alegria pelo alcance do
objetivo proposto pelo estudo.
Sessão 9
Objetivos: validar o conceito de cuidado de Enfermagem
construído pelo grupo e conhecer a opinião dos elementos do grupo focal
sobre sua participação na elaboração de um conceito de cuidado de
Enfermagem para o ensino de graduação.
Iniciamos a reunião apresentando os objetivos da sessão. Em
seguida, distribuímos uma folha contendo o conceito de cuidado de
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
85
Enfermagem, fizemos a leitura na qual se evidenciaram as alterações
efetuadas e esperamos a manifestação dos participantes do grupo focal.
Houve um minuto de silêncio seguido de manifestações de concordância
e satisfação por parte de todos com o resultado obtido.
Em continuidade à última reunião, questionamos o significado
para cada um acerca da participação no grupo focal, o que foi mais
importante nesta participação, o que es sendo levado do grupo e o
que vai mudar no cotidiano profissional de cada um. Houve significativa
participação de todos nas respostas aos questionamentos. Na seqüência,
agradecemos a participação de todos e iniciamos o encerramento da
sessão e do grupo focal, que culminou com despedida calorosa e a
certeza de que os objetivos propostos foram alcançados.
Conforme os observadores perceberam, nesta última sessão os
participantes demonstraram sentimento de vitória com o feito, sentiram-se
parte deste conceito e evidenciaram a esperança de poder usar na
prática o conhecimento apreendido durante as sessões grupais. Alguns
referiram que sentirão falta deste ambiente propício ao diálogo
consciente e pró-ativo. Enfim, foi ressaltada nossa habilidade na
condução do grupo, todos participaram e houve muita emoção no
encerramento da sessão.
5.2 O Processo de Construção do Conceito de Cuidado de Enfermagem
Com a perspectiva de construir um conceito de cuidado de
Enfermagem com base no Modelo de Análise de Conceito Evolucionário
de Rodgers (1989), na segunda etapa deste estudo trabalhamos a
construção do conceito de cuidado de Enfermagem utilizando o grupo
focal como instrumento de coleta de dados para a referida construção.
Nesta fase trabalhamos com enfermeiros professores (4),
enfermeiros assistenciais (4) e alunos do semestre do Curso de
Graduação em Enfermagem (6), uma psicóloga e dois alunos como
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
86
membros observadores do grupo focal usado como instrumento de coleta
de dados necessários à construção do conceito de cuidado de
Enfermagem objetivo deste estudo.
As sessões do grupo focal foram desenvolvidas a partir dos
resultados obtidos nas etapas utilizadas do Modelo de Análise de Conceito
Evolucionário de Rodgers (1989). Nestas seções, os elementos fluíram por
meio das unidades de significados componentes das três categorias
oriundas das falas dos participantes do grupo focal, que possuem relação
com as etapas do modelo ora referido, denominadas: A compreensão do
conceito de cuidado a interação entre o discurso e a prática; O
cuidado de Enfermagem antecedentes e conseqüentes; e O significado
do cuidado – o concreto e o subjetivo na relação entre seres humanos.
Na construção do conceito de cuidado de Enfermagem foram
adotadas as seguintes etapas do Modelo de Análise de Conceito
Evolucionário proposto por Rodgers (1989), a saber: identificação do
conceito de interesse cuidado de Enfermagem; identificação e seleção
do campo apropriado para a coleta de dados – Curso de Graduação em
Enfermagem da FCRS, contemplando quatro docentes do curso, os quais
ministram disciplinas que envolvem o cuidado de Enfermagem, quatro
enfermeiras assistenciais que acompanham aulas práticas do curso, seis
alunos do penúltimo semestre do curso; coleta de dados reconhecendo
os atributos do conceito; análise dos dados e identificação das
características do conceito; identificação de antecedentes e
conseqüentes do conceito; e a construção do conceito.
Como observamos, as categorias elaboradas a partir dos
significados atribuídos pelos participantes do grupo focal emergiram da
compreensão do conceito de cuidado de Enfermagem explicitado pelos
enfermeiros docentes e assistenciais, bem como pelos alunos integrantes
do referido grupo. Estas categorias estão descritas a seguir.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
87
Categoria 1
A compreensão do conceito de cuidado a interação entre o
discurso e a prática
Esta categoria apresenta aspectos específicos do cuidado de
Enfermagem os quais possuem relação com a determinação dos atributos,
etapa da análise de conceito de Rodgers (1989), que busca as
características do conceito, identificadas, neste estudo, como atributos
gerais: interação, amor, solidariedade, responsabilidade, consciência, zelo,
compaixão, ensino, ética e interesse. Após amplo debate, o grupo
selecionou como atributos essenciais: amor; zelo; consciência;
solidariedade; e ética.
O amor, como atributo essencial do cuidado, permeou a
construção do conceito de cuidado de Enfermagem, objeto deste estudo,
e foi sempre abordado em todas as falas, ora de forma objetiva e explícita,
e em outros momentos de maneira subjetiva. Neste estudo o amor foi
caracterizado com o significado expresso em Ferreira (1988, p. 38):
“Sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de
alguma coisa. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro ser
ou a uma coisa [...] afeição, amizade, carinho, simpatia, ternura...”.
Este sentimento é percebido de forma clara nas falas de alguns
componentes do grupo focal.
Eu vejo o cuidado como expressão do amor, se preocupar com o
bem-estar do outro, com a felicidade do outro e você ir ao
encontro de tal forma que você se coloca no lugar do outro,
identifica as suas necessidades, sabe separar o que é vontade do
que é necessidade. (GF1P2)
Cuidado é uma atitude que envolve amor porque você pode ter
conhecimento e habilidade mas, se não tiver amor e atitude,
você não cuida. (GF1P3)
Cuidado envolve amor porque é uma relação de interiorizar o
outro, fazer-me presente numa realidade que não é a minha.
Não é apenas agir tecnicamente, é ter preocupação com o
bem-estar do outro. (GF1P7)
Embora não se encontre de forma explícita, na literatura
pesquisada, a palavra amor como atributo do cuidado, encontramos em
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
88
alguns autores expressões denotadoras do significado de amor. Boff (1999)
conceitua cuidado como pensar, colocar atenção, mostrar interesse,
revelar uma atitude de desvelo e de preocupação. Para este autor,
O cuidado somente surge quando a essência de alguém tem
importância para mim. Passo então a dedicar-me a ele;
disponho-me a participar de seu destino, de suas buscas, de seus
sofrimentos e de seus sucessos, enfim, de sua vida (BOFF, 1999,
p.91).
Quanto à palavra zelo, selecionada pelos participantes como
atributo essencial do cuidado de Enfermagem, tem como significado,
conforme Ferreira (1988, p. 686), “afeição ou dedicação, cuidado, desvelo
ardente por alguém ou por algo”, sentido similar ao atributo amor. No
próprio significado da palavra zelo, es a palavra cuidado. Portanto, o
zelo é inerente ao cuidado. Não é possível existir cuidado sem zelo, como
mostram as falas dos participantes:
O cuidado envolve obrigatoriamente o zelo. Se cuidado,
zelo e desvelo pelo ser cuidado. (GF1P13)
O zelo é um componente do cuidado. (GF1P11)
Se o zelo, não relação e conseqüentemente não há
cuidado. (GF1P3)
Ter zelo com a vida que no outro é essencialmente cuidado.
(GF3P14)
É notória a relação existente entre zelo e cuidado. Na própria
definição de cada uma dessas palavras, uma está presente na outra.
A compreensão do cuidado como expressão do amor atribui a
este um sentido que vai além da relação entre seres humanos, que
interagem de forma ativa, pois a relação estabelecida entre o ser
cuidado e o ser cuidador transcende o ato de cuidar em si, para
concretizar-se em uma relação de amor que transforma, emancipa e
possibilita um crescimento para os seres envolvidos nesta relação.
A Teoria do Cuidado Transpessoal de Watson (1985), baseada na
arte e na ciência do cuidado, vai ao encontro do atributo “amor”,
revelado pelo grupo focal deste estudo, pois, para a autora, o cuidado de
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
89
Enfermagem assume a forma mais elevada de compromisso com o eu,
com o outro, com a sociedade, com o meio ambiente e com o cosmos.
Tal forma mostra uma nova maneira de amor que transcende a relação
eu-tu para uma relação maior, a qual envolve o coletivo e o universo.
Morse et al. (1991), ao proporem uma classificação do cuidado,
estabeleceram a categoria “cuidar como afeto”, onde, segundo
asseveram, o cuidado envolve emoção, sentimento de compaixão ou
empatia para com o paciente, que estimula a enfermeira a estabelecer
uma relação de cuidar. Para ela, a integração de sentimentos e ações
leva a um cuidar qualitativo, diferenciado, onde a relação estabelecida
possibilita o dar e receber ajuda.
De acordo com Bison (2003), na categoria “cuidar como afeto”,
a intensidade dos sentimentos de emoção, compaixão ou empatia influi
no emocional da enfermeira, e, desse modo, influenciará no ato de cuidar,
pois os profissionais de Enfermagem trabalham no limiar entre a vida e a
morte.
Dos diversos autores mencionados sobre cuidado e zelo,
ressaltamos Boff (1999), e com ele concordamos quando afirma que o
cuidar envolve ternura e expressa um trabalho prazeroso, caracterizado
como possibilidade de criar e auto-realizar-se como pessoa. Para ele, “é
um afeto que, à sua maneira, também conhece. Na verdade,
conhecemos bem quando nutrimos afeto e nos sentimos envolvidos com
aquilo que queremos conhecer” (BOFF, 1999, p. 118).
A compreensão de ser o amor um atributo do cuidado, na
perspectiva de afeto, interesse pelo outro, colocar amorosidade em todas
as ações, envolver-se com o outro, vai de encontro ao relatado por uma
das participantes do grupo focal assim expresso: “Fui formada 22 anos,
e o que os professores ensinavam era não se envolver com os pacientes.
Que bom que mudou” (GF1P7).
Em corroboração à idéia de ser o amor atributo do cuidado,
Bobroff (2003, p. 21) afirma: “Ao centrar-se na direção do outro, sentindo o
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
90
outro, participando de sua existência, o cuidador deixa-se tocar pela sua
história de vida, ficando assim marcado pelo sujeito”.
Se considerarmos o amor como um atributo essencial do
cuidado, este pode ser compreendido como nos diz Boff (1999): o
cuidado significa atenção, desvelo, solicitude, zelo e diligência. Um modo
de ser no qual a pessoa centra-se no outro. Para ele, ao cuidar o cuidador
envolve-se e está afetivamente ligado ao ser cuidado.
Na visão de Watson (1985), o cuidado humano ocorre quando a
enfermeira comunica-se com o outro, entrando no espaço de vida. E,
dessa forma, consegue detectar a condição de ser do outro, num
processo de intersubjetividade entre o ser que cuida e o ser cuidado. Ela
defende a utilização do “eu total” na relação profissional, isto é, o doar-se
utilizando todo seu potencial.
A nosso ver só há cuidado se houver encontro, interação entre o
ser que cuida e o ser cuidado. Nessa relação, a enfermeira usa a
sensibilidade e a amorosidade, concretizadas na expressão de
conhecimentos, habilidades e atitudes embasadas na ciência, na arte, na
ética e na estética da Enfermagem. Do contrário, não há cuidado, e sim a
utilização de técnicas manifestadas como atividades que,
necessariamente, não envolvem o ato de cuidar.
Sobre esse prisma, concordamos com Chopra (1999, p. 97)
quando afirma:
Nós paramos um instante para encontrar o outro, para nos
conhecermos, para amar e compartilhar. É um momento
precioso, mas transitório. Um pequeno parênteses na eternidade.
Se compartilharmos carinho, sinceridade, amor, criamos
abundância e alegria para todos nós. Esse momento de amor é
valioso.
Se o amor é um atributo do cuidado, este se numa relação
dialógica entre dois seres humanos que vivenciam uma experiência
singular, onde há interação/percepção por parte do ser que cuida e
confiança/entrega do ser cuidado, onde ambos se beneficiam em
ações/reações expressas na afetividade presente na relação de cuidado.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
91
O cuidado flui da relação de afetividade entre seres humanos
que estabelecem uma interação, capaz de emocionar por meio da
entrega sensível e da cumplicidade estabelecida entre ambos.
Ao selecionarem a consciência como atributo do cuidado de
Enfermagem, os participantes do grupo focal assim se expressaram:
Para que se possa cuidar, é preciso tomar consciência do
cuidado como nos diz Boff, “é mais que um ato, é uma atitude”.
Assim, faz-se necessário conhecimento. (GF5P6)
Ao tomar consciência do que é cuidado, a enfermeira usa os
conhecimentos e as suas habilidades para uma tomada de
atitude que vai ao encontro das necessidades do outro. (GF5P8)
A consciência é imprescindível ao cuidado. Se não
consciência não há cuidado. (GF5P7)
A tomada de consciência se através do conhecimento.
(GF4P1)
A consciência nos faz conhecer e valorizar o cuidado. (GF4P11)
O conhecimento nos consciência do que precisamos fazer
pelo outro. (GF4P5)
Conforme demonstra o atributo consciência, tão enfatizado
pelos participantes do grupo focal, para eles a palavra consciência
significa conhecimento. Nesta perspectiva é importante explicitar o que a
literatura diz sobre conhecimento.
Como afirma Morin (2000), o conhecimento é resultante de um
saber organizado, elaborado. Está sempre em movimento e seus avanços
levam às incertezas, que conduzem a novos conhecimentos.
Na visão dos participantes do grupo focal, a consciência como
resultante do conhecimento é um atributo indispensável ao cuidado de
Enfermagem, pois este é a base para a construção do cuidado de
Enfermagem na perspectiva do atendimento às necessidades do ser
cuidado.
Nestes recortes, os participantes explicitaram a importância do
conhecimento como possibilidade de tomada de consciência a se revelar
na atitude que envolve reflexão/ação. Esta reflexão é mais que pensar,
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
92
porquanto reflete uma mudança de atitude com base na ação
concebida como resultado de uma reflexão crítica e analítica, possível de
viabilizar uma ação consciente, responsável e cidadã.
A consciência como resultado do conhecimento preexistente e
concretizado na ão como prática em movimento, que possibilita criar,
intervir, mudar e transformar, concretiza-se na ação consciente, a partir do
conhecimento organizado e sistematizado nas bases teóricas do saber da
Enfermagem.
Sob esse prisma, o cuidado de Enfermagem como ação
humana vai ao encontro da afirmação de Vásquez (1977, p. 187): “A
atividade propriamente humana se verifica quando os atos dirigidos a
um objeto para transformá-lo se iniciam como um resultado ideal, ou
finalidade, e terminam como resultado ou produto efetivo, real”.
Na visão de Perrenoud (2000),
o conhecimento, como parte dos
recursos cognitivos do indivíduo, são representações da realidade ao
sabor da experiência e formação de cada um.
Segundo Demo (1997), o conhecimento representa uma das
principais aventuras do ser humano e se confunde com a conquista da
emancipação, possível diante do caráter aventureiro, descobridor,
crítico e questionador do homem. Atualmente, o conhecimento assume a
posição inovadora e estratégica de desfazer as certezas, ao invés de
oferecer certezas fundamentadas teoricamente e efetivadas na prática.
O conhecimento como sabedoria e como orientação vasta e
variada possui características muito dinâmicas, delimitadas pelo
movimento constante de “desconstrução” e “construção”. Em
corroboração a esta idéia, consoante Demo (1997) assevera, o que pode
ser visualizado como novo é a perspectiva segundo a qual o
conhecimento, em vez de produzir certezas, é marcadamente uma
estratégia de desmontar. Parece ser mais uma habilidade de lidar
criativamente com a incerteza, com a qual convive dialeticamente.
por isso
é
muito mais um processo interminável de desmonte do que uma
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
93
fábrica de produtos duradouros. Sua detergência, pois, não é somente um
passo inicial, implícito em toda nova teoria, por exemplo, mas a própria
razão maior do ser, porquanto cada teoria nova é feita, não para
atingirmos algum porto seguro, mas para navegar em frente.
Neste contexto, lidamos com uma área complexa. Nela a busca
do conhecimento vai constituir o saber que envolve o pensar, o aprender
a aprender e o intervir fazendo de modo inovador, com atitudes e
comportamento ético em diferentes condições da prática cotidiana.
Estudar o conhecimento é uma tarefa inesgotável. Entretanto,
no final da década de 1970, a Enfermagem, ao tratar dos fundamentos
do conhecimento em Enfermagem, identificou quatro padrões de
conhecimento: empírico (científico), ético, pessoal e estético (CARPER,
1978).
Para esta autora, o primeiro
conhecimento, o empírico, baseia-se
em fatos. Ele é descritivo e fundamentalmente voltado para o
desenvolvimento de explicações teóricas e abstratas; é replicável,
formulado e verificável.
Nesta perspectiva, este conhecimento
é
coerente
com a visão tradicional de ciência predominante na maioria das áreas do
conhecimento que conquistaram o reconhecimento da ciência, ou seja,
se transformaram em conhecimento científico
O conhecimento científico é assim denominado quando
designamos o padrão empírico de conhecimento e a ciência positivista
ainda predominante. Este criou uma ilusão de estabilidade ao tratar
assuntos humanos com muita objetividade, afastando a sensibilidade e
colocando a ciência como único caminho para um mundo teórico
(TRENTINI; PAIM, 2001).
É o conhecimento científico que propicia a abstração da
realidade com a finalidade de sistematizá-la e conseguir fazer uma
ligação entre o concreto e o abstrato com a possibilidade de descobrir o
real ainda não visualizado e, assim, encontrar as prováveis soluções para
os problemas referentes ao cuidado na atenção à saúde (TRENTINI; PAIM,
2001).
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
94
O segundo padrão de conhecimento é o ético e engloba o
componente moral relacionado com as difíceis escolhas por nós feitas no
processo de cuidar da saúde de indivíduos. Tais escolhas envolvem
questões fundamentais sobre o bem e o mal, o certo e o errado, para os
quais, muitas vezes, os princípios, normas e códigos de ética não nos dão
respostas (CARPER, 1978). Este conhecimento tem seu foco nos deveres e
obrigações, ou mais precisamente sobre o que deve ser feito. Isto inclui
todas as ações invariavelmente sujeitas a
julgamentos.
O trabalho na Enfermagem requer planejamento sistematizado
e metas a serem alcançadas. Estas englobam escolhas orientadas por
princípios e normas escritas que, algumas vezes, são conflitantes, portanto,
limitadas pela ética.
Conforme Leopardi (1995), a ética é fundamento decisório para
o profissional de Enfermagem, pois as decisões do cotidiano de vida e de
saúde vêm permeadas pelo poder institdo, pelo tecnicismo e até
mesmo pela sobrevivência do trabalhador. Ela vai além de aspectos
técnicos.
O
exercício profissional do cuidado de Enfermagem envolve
juízos de valor, decisões e ações que suscitam também escolhas pessoais
dos profissionais de Enfermagem.
Sob esse prisma, a reflexão ética se propõe a indicar o dever-ser
das ações humanas. Esta reflexão está acima de todo código de ética,
ou seja, a lei positiva fundamenta-se na orientação ética; não pode haver
uma fixação da ação humana, o que pode acontecer
é
uma
normatização. Portanto, a vida do ser humano não pode ser colocada
em risco em virtude da letra, pois na lei, a letra só surge pela vida humana.
Cabe então a ela, lei, estar a serviço da vida, assim como os cumpridores
da lei.
Waldow (1998), ao referir-se ao cuidado, o descreve como
cuidado humano, visualizado em sua totalidade, integrando as dimensões
do ser (self), o outro e o cosmos. Mencionadas dimensões compõem o
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
95
denominado cuidado pessoal e cuidado social, isto é, a dimensão sujeito-
sujeito apresentada de duas formas: sujeito-self e sujeito-outro.
Quanto ao terceiro conhecimento, o pessoal, na visão de
Carper (1978), é o mais difícil para dominar e, conseqüentemente, para
ensinar e, talvez, seja o mais importante na busca da compreensão do
significado de saúde em termos de bem-estar individual. Refere-se ao
conhecimento do self, ao autoconhecimento e evidencia o uso
terapêutico do self. Diante disto, a maneira como as enfermeiras vêem a
si mesmas e aos clientes é fundamental em toda relação terapêutica.
Ao compreendermos as palavras de Horta (1979), “Enfermagem
é
gente que cuida de gente”, o conhecimento deve ser desenvolvido
como ação humana, numa relação/interação efetiva entre quem cuida
e quem recebe o cuidado, num relacionamento pessoal autêntico que
requer a compreensão e a aceitação do outro, pois cada pessoa está
sempre em processo de mudança, de vir-a-ser (SILVA, 2002).
Neste contexto, o profissional de Enfermagem deve cuidar das
relações consigo mesmo, compreendendo sua singularidade como ser
humano, passando a ter domínio de si, e, conseqüentemente, a conhecer
suas possibilidades e fragilidades. Além disso, passa a tomar
conhecimento do outro numa relação marcada pela interação/ação, o
que contribui para o desenvolvimento de um processo de cuidar/curar,
fundamentado no atendimento das necessidades do ser cuidado, indo
além da assistência puramente técnica.
Para Rose e Parker (1994), o fazer da Enfermagem é a expressão
do conhecimento pessoal, porquanto conhecer a si mesmo é
fundamental na relação com o outro, e torna possível a aproximação
entre o discurso e a prática, e entre o que se é e o que se aparenta ser.
O quarto padrão de conhecimento é o estético, presente na
relação empática entre o cuidador e o ser alvo de cuidado. Sua
importância reside no conhecimento da experiência particular e singular
da outra pessoa. Este conhecimento envolve a habilidade da enfermeira
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
96
para entrar em sintonia com o outro e assim possibilitar um cuidado
efetivo centrado nas necessidades por ele apresentadas.
Este conhecimento é subjetivo, individual, único, singular e
conduz à aceitação da existência de fenômenos não quantificáveis,
explicados por leis e teorias (McKENNA, 1997). Como revela a literatura
norte-americana, o padrão de conhecimento estético envolve a intuição
como conhecimento e sentimento que viabiliza a tomada de decisão sem
o uso do recurso do processo analítico consciente (SILVA; BALDIN;
NASCIMENTO, 2003).
O conhecimento intuitivo, visto como conhecimento não
racional, diz respeito à interação efetiva que conduz a uma troca de
energia entre o ser cuidado e o ser cuidador, numa sintonia a partir da
qual a ação de cuidar é incorporada pelo ser cuidado.
Como conhecimento que viabiliza uma ação centrada no
respeito às particularidades e individualidades do ser cuidado, a
consciência constitui-se uma base segura e confiável para o
estabelecimento de uma relação de cuidado por meio de uma interação
que permite ao cuidador e ao ser cuidado perceberem-se e
conceberem-se como seres humanos.
Celich (2004) contribui com esta idéia ao afirmar o seguinte em
estudo realizado sobre as dimensões do processo de cuidar: as
enfermeiras buscam na implementação do cuidado uma abordagem
humanizada, centrada na relação com o ser cuidado concretizada na
convergência entre ciência, arte e espiritualidade.
Segundo algumas falas dos participantes do grupo focal
revelaram, a consciência gera conhecimento e poder a serem utilizados
no processo do cuidado de Enfermagem, tais como:
Ao tomar consciência das necessidades do outro, a enfermeira
usa o seu conhecimento para um cuidar efetivo. (GF2-4 P1)
Conhecimento dá poder ao enfermeiro para um processo de
cuidar consciente e transformador. (GF4P14)
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
97
Conhecimento é poder, que deve ser utilizado em favor do outro.
(GF3P11)
Consoante leva a crer a consciência revelada nas falas destes
participantes como conhecimento gerando poder, este poder vida à
relação cuidador-ser cuidado, na medida em que, ao atender às
necessidades do outro, o enfermeiro atende às suas necessidades de
cuidador, as quais se realizam na relação efetiva e eficaz com o ser
cuidado.
No pensamento de Foucault (1989), o poder não pode ser
concebido como objeto ou coisa e sim como relação. Assim, o poder
explicitado pelos participantes do grupo favorece a relação de cuidar
que ocorre pelo uso da competência da enfermeira nas suas ações
pautadas no conhecimento, habilidade e atitude. Estas ações levam a um
fazer organizado, sistematizado e humanizado, a se consubstanciar no
cuidado de Enfermagem.
O poder pautado na competência baseada em conhecimento
habilidade e atitude, ao ser utilizado como relação, propicia uma ação
consciente por meio de uma integração entre seres humanos que se
realizam mutuamente nesta inter-relação transformadora e
emancipadora.
Em contribuição à idéia, Pires (2004, p. 38) afirma:
A politicidade do cuidado está caucada na reconstrução da
autonomia de sujeitos por meio da gestão da ajuda-poder [...]
Articulando saber e poder, por reconhecer que o cuidado é
também uma forma de conhecimento capaz de forjar
possibilidades literárias, amplia-se a capacidade de confronto e
reordenamento das assimetrias de poder, emancipando por
meio da mesma ajuda que domina e subjuga.
Nesta perspectiva, a nosso ver, ao tomar consciência do seu
poder como conhecimento, que aliado ao uso de habilidades e atitudes
favorece o uso desse poder, como relação de ajuda, possivelmente o
cuidado de Enfermagem promove transformação, humanização e
emancipação dos seres envolvidos nessa relação.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
98
A consciência do cuidado se dá pelo sentido atribuído pelo
enfermeiro ao seu fazer e pelo senso de responsabilidade que este lhe
atribui que corresponde à sua consciência profissional.
Para Ferreira (1988, p. 608),
Solidariedade é qualidade de solidário. Laço ou vínculo recíproco
de pessoas ou coisas independentes. Adesão ou apoio à causa
de outro. Sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos
interesses e às responsabilidades de um grupo social, duma
nação, ou da própria humanidade. Relação de responsabilidade
entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que
cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar
os outros.
Conforme demonstraram os componentes do grupo focal, ao
escolherem solidariedade como atributo essencial do cuidado, elas
compreendem o ato de cuidar como sentido moral que vincula o
indivíduo à vida. Isto pode ser constatado nas seguintes falas:
A solidariedade no cuidado se mostra na forma de viver, de ser e
de se expressar na relação com o outro. (GF4P5)
O ser humano necessita da solidariedade do outro. (GF4P7)
O cuidado se expressa no modo de ser solidário da enfermeira.
(GF1P13)
O cuidado é a expressão viva da solidariedade. (GF4P3)
A solidariedade é inerente ao ser e viver do profissional de
enfermagem. (GF4P1)
Como assevera Sebastian (1996, p. 16), a solidariedade “é o
reconhecimento prático da obrigação natural que têm os indivíduos e
grupos humanos de contribuir para o bem-estar dos que têm a ver com
eles, especialmente os que têm maior necessidade”.
A solidariedade é um sentimento próprio do ser humano, a se
manifestar na relação com o outro. Nesta relação respeito à
individualidade dos seres envolvidos, os quais interagem dando e
recebendo afetividade, revelada no ato de cuidar e de receber cuidado
solidário.
Nas palavras de Caponi (1999, p. 9):
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
99
A solidariedade é um vínculo que se estabelece entre pessoas
que se podem conhecer, pelo menos virtualmente, como iguais,
como sujeitos com capacidade de estabelecer um diálogo,
onde sejam avaliadas as razões e os limites do auxílio prestado. A
solidariedade encontra seu fundamento na simetria dos interesses.
[...] Na medida que todos compartilham uma única
preocupação por universalizar a dignidade humana. A
solidariedade no momento pressupõe a pluralidade humana.
Precisa da mediação do diálogo e da argumentação razoada.
[...] Seria desejado que os programas de assistência tentassem
colocar o respeito acima da compaixão, a solidariedade acima
da piedade.
Sob essa ótica, a solidariedade é uma relação entre iguais,
embora diferentes em determinado contexto da vida. Contudo estes
contextos têm temporalidade.
Segundo afirma Bettinelli (2002) em contribuição à idéia, a
solidariedade definida como valor, sentimento, envolvimento,
disponibilidade, comportamento e cooperação responsável e ética, que
envolve presença e dialogicidade, é indispensável ao cuidado. A não
existência da solidariedade no cuidado traz conseqüências aos pacientes
pelo descrédito da relação e pelo abandono dos projetos pessoais da
vida. Para ele, até a morte pode ser acelerada em virtude da falta de
solidariedade que pode levar à perda de sentido da vida.
Concordamos com Parker (1994) quando afirma que a
solidariedade necessita ser construída, por ser uma condição social
possível de ser apreendida e que, como habilidade, pode ser perdida.
Assim, segundo acreditamos, a solidariedade como atributo do
cuidado é inerente a este e se reconstrói na relação dialógica entre ser
cuidado e ser cuidador. Em corroboração à idéia, como ressalta Capra
(1994), a cooperação e a solidariedade, por elevarem o nível de
consciência da humanidade, conseguem mudar a política, a economia e
a ciência. Pensamento similar tem Bettinelli (2002), pois, como afirma, a
consciência de que a relação com o outro é imprescindível, a
capacidade de ser sensível e o saber conviver com as diferenças são
atitudes de solidariedade. Para ele, a solidariedade, por ser um valor,
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
100
contribui para a criatividade e interação que se na relação
enfermeira-paciente.
No referente à solidariedade no processo de cuidar, Teixeira e
Vale (2006, p. 128) assim se pronunciam:
que se construir solidariedades em busca de um processo de
cuidar que traga mais benefícios que riscos, que não negue as
instâncias de um conhecimento cultural, mas que integre as
determinações locais em suas estratégias de atenção. As
interdependências poderão ampliar a independência, e assim
poderá se estabelecer uma dependência saudável e uma
autonomia possível.
A nosso ver a solidariedade faz parte do cotidiano da enfermeira
quando esta presta cuidado como um ser de relação, de zelo, de
amorosidade e de ética, que se constrói e reconstrói na inter-relação
ocorrida no processo de cuidar, como atitude que transforma e emancipa
o ser cuidado e o ser cuidador, pela elevação do nível de consciência
proporcionado a ambos.
Ao selecionarem os atributos do cuidado, a ética permeou a
fala dos componentes do grupo focal em sessões distintas, a saber:
Cuidar do outro é uma atitude ética. (GF3P9)
Não ser ético desqualifica o cuidado. Penso que sem ética não
há cuidado. (GF4P11)
A ética permeia o cuidado de Enfermagem. (GF5P13)
A ética é, sem dúvida, um atributo essencial do cuidado. (GF6P1)
Em reforço aos depoimentos, consoante assevera Silva (1997), o
cuidado é permeado de valores éticos, políticos, sociais e de cidadania
que vão ao encontro dos valores profissionais do cuidado. Isto o torna
essencialmente humano. Para ela, o cuidado envolve a moral e a ética e
estes atributos contribuem para que o cuidado de Enfermagem atenda às
necessidades do outro.
Na mesma perspectiva, Freitas (2000, p. 20) declara: “O cuidado
ao ser inerentemente moral e ético envolve formas de amorosidade e
sensibilidade para entender as queses do outro”.
Cuidado de Enfermagem
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101
Como atributo essencial ao cuidado de Enfermagem, a ética dá
a este o sentido de respeito e consideração. Sua dimensão envolve
valores éticos, políticos, sociais e profissionais que tornam o cuidado uma
relação dialógica entre seres humanos.
De acordo com Carper (1978), considerar a pessoa como um
todo e ser sensível no processo de cuidar da integridade do self é uma
atitude ética.
A ética como atributo do cuidado faz deste uma ação
valorativa, extensiva ao ser cuidado, ao cuidador e às situações a serem
resolvidas no processo de cuidar. Neste atributo, a enfermeira toma
consciência do cuidado como imperativo moral e ético que o faz evoluir
no respeito à dignidade humana e à própria vida.
Ao ter a ética como atributo, o cuidado torna-se livre de
imperícia, negligência e imprudência. Desse modo, a enfermeira
preocupa-se quanto às possibilidades existentes no processo de cuidar
passíveis de causar sofrimento e danos advindos do des-cuidado.
Neste contexto, também a preocupação com o
valor/reconhecimento que poderá ser dado ou não pelo ser cuidado em
relação ao trabalho oferecido a este pela enfermeira.
Ao se referir à ética, Lunardi (1997, p. 165) declara:
A ética pode ser evidenciada cada vez que os profissionais da
saúde optam por reconhecer, nos clientes, seres humanos
semelhantes a si, com um saber e uma história sobre a sua saúde,
a quem lhes cabe expor, ouvir, traduzir e socializar, tornar
compreensível e implementar um compartilhar de saberes sobre
a saúde e as doenças, como preveni-las e revertê-las. [...] ajudá-
los, se for o caso, sem invadir e ocupar os seus espaços de
liberdade, e de decisão sobre saúde, sobre a vida...
Como atributo essencial do cuidado, a ética pode ser
percebida quando o profissional de Enfermagem ao se relacionar com
seu cliente/paciente respeita sua individualidade, incluídos os aspectos
biológicos, sociais, culturais, psicológicos e espirituais. Este componente
ético induz o profissional a respeitar a dignidade do ser humano e valorizar
a vida como bem maior.
Cuidado de Enfermagem
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102
Consoante acreditamos, a ética, como atributo do cuidado de
Enfermagem, torna-o humano e responsável, pois, parafraseando Singer
(1994), somos responsáveis pelo que fazemos e pelo que deixamos de
fazer. Assim, o des-cuidado, ou o não oferecer cuidado, é uma atitude
contrária ao ato de cuidar como atitude ética.
A teoria transpessoal de Watson (1985) tem o cuidado como
conceito central. Nela o cuidado é físico, processual, objetivo e real, mas,
em algumas situações vai além, e transcende o mundo físico e material,
entrando no mundo subjetivo e emocional da pessoa. Segundo afirma, o
cuidado é o ideal moral da Enfermagem. Ele assegura proteção e
preservação da dignidade humana. Esta afirmação corrobora o atributo
ético explicitado pelos participantes deste estudo como essencial e
inerente ao ato de cuidar.
Tal déia vai ao encontro do asseverado por Waldow (1992, p.
31): “O cuidado como fonte e base para o conhecimento de
enfermagem passa inicialmente por uma abordagem filosófica e
epistemológica, sendo então o imperativo ético moral”.
De acordo com Bittes Júnior (2001), ao discorrer sobre cuidado e
des-cuidado, o des-cuidado pode ser um erro de técnica e falta de
habilidade manual. No entanto, reitera, este é mais referido quando
relacionado a comportamentos adotados pelos enfermeiros na inter-
relação pessoal.
Para Mayeroff (1990), entretanto, cuidado tem sentido de
crescimento, pois no processo de cuidar existe uma relação que se
caracteriza por estar com a pessoa, no mundo dela. Assim, ambas
crescem, o ser cuidado e o ser cuidador.
Reafirmamos este autor, porquanto o cuidado de Enfermagem
vivenciado na relação dialógica, construída no cuidado que tem como
atributos amor, zelo, consciência, solidariedade e ética, proporciona aos
seres humanos envolvidos nesta relação crescimento individual e coletivo.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
103
O crescimento individual e coletivo do enfermeiro concretizado
na relação dialógica desenvolvida na interação entre cliente e paciente
ocorre pela satisfação gerada em decorrência do resultado da ação
construída na relação vivenciada com o ser cuidado e coletivamente
pela visibilidade proporcionada por esta relação aos exercentes da
Enfermagem.
Para o ser cuidado, a relação possibilita um crescimento
individual na medida em que este, ao se recuperar e perceber a
contribuição desta relação com o outro, passa a valorizar a interação
entre seres humanos como fundamental para o crescimento individual e
conseqüentemente para o coletivo, pois não relação sem a presença
de indivíduos que se relacionam entre si e que na diferença de suas idéias
e personalidades se complementam e crescem coletivamente.
Categoria 2
O cuidado de Enfermagem – antecedentes e conseqüentes
Nesta categoria, verificamos as influências no cuidado de
Enfermagem, o qual tem relação com a etapa do Modelo de Análise de
Conceito Evolucionário proposto por Rodgers (1989), que identifica os
antecedentes ocorridos antes da existência do cuidado e os
conseqüentes percebidos após a realização deste cuidado.
Nesta pesquisa, os eventos antecedentes e conseqüentes ao
cuidado de Enfermagem foram colhidos por meio de respostas dadas
pelos componentes do grupo focal às perguntas: “Quais os antecedentes
do cuidado?” e “Quais os conseqüentes do cuidado?”.
Foram citados como antecedentes do cuidado de Enfermagem
os seguintes: necessidades, conhecimento, sensibilidade, interação,
escuta e interesse, e como conseqüentes: satisfação, bem-estar, cura,
alívio, conforto, confiança, saúde e mudança no estilo de vida.
Para melhor compreensão do assunto apresentamos uma figura-
síntese das discussões sobre os antecedentes e conseqüentes do cuidado
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
104
de Enfermagem enumerados pelos participantes do grupo focal a partir
dos atributos escolhidos pelo referido grupo.
Figura 2. Antecedentes e conseqüentes do cuidado de Enfermagem.
Fonte: elaborado a partir de dados oriundos das discussões do grupo focal, tomando
como base o modelo formulado por Rodgers e Knafl (1993).
Compreender que os antecedentes do conceito são situações,
eventos ou fenômenos prévios ao conceito de interesse favoreceu o
entendimento do contexto social no qual o conceito é usado e também
facilitou a compreensão do referido conceito. Assim, os participantes do
grupo focal apontaram como antecedentes do cuidado:
A identificação das necessidades do paciente antecede o
cuidado por ser esta indispensável à construção do cuidado que
se dá na relação enfermeiro-paciente. (GF5P1)
O conhecimento é fundamental e antecede a identificação das
necessidades do paciente, o conhecimento nos segurança.
(GF5P4)
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105
A sensibilidade aliada ao conhecimento nos faz perceber o outro,
identificar suas necessidades e planejar o cuidado. É quando se
alia conhecimento, intuição, percepção e solidariedade. (GF5P6)
A interação como espaço de encontro com o outro é de grande
importância no cuidado de Enfermagem. (GF5P7)
Sem escuta não há cuidado. É por meio dela que conhecemos
as necessidades do outro. Ela facilita a interação enfermeiro-
paciente. (GF5P3)
O interesse pelo outro leva ao conhecimento de suas
necessidades, faz fluir a sensibilidade e interação para um
cuidado que envolve e transforma paciente-enfermeira. (GF5P13)
Percebemos, pelas falas, como os participantes foram crescendo
nas sessões do grupo focal. Eles foram estabelecendo conexões
importantes para a compreensão do que antecede o cuidado de
Enfermagem e foram oferecendo meios para a construção do conceito
de cuidado de Enfermagem, objetivo deste estudo.
De acordo com os participantes, a identificação das
necessidades do paciente foi apontada como antecedente do cuidado
e esta afirmação pode ser percebida durante a realização do histórico de
Enfermagem, quando a enfermeira toma conhecimento da história de
vida do paciente e, com base nesta, tem condições de identificar suas
necessidades e tentar atendê-las. Na perspectiva de Cianciarullo (2001), a
Enfermagem busca construir seus conhecimentos próprios, a partir do
estabelecimento de parcerias com outras áreas do conhecimento.
O conhecimento foi apontado pelo grupo focal como
fundamental e antecedente ao processo de cuidar. E este é ressaltado
como condição indispensável à identificação das necessidades do
paciente que, obrigatoriamente, antecede qualquer plano de ação,
prescrição ou intervenção da Enfermagem. Neste contexto, como
menciona Demo (2003, p. 14), o homem pode construir sua história porque
maneja com habilidade o principal instrumento de inovação: o
conhecimento qualitativo. Para ele, “não se pode fazer toda, nem
qualquer história, mas aquela facultada pela competência, de acordo
com as circunstâncias dadas”.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
106
Assim, o conhecimento que antecede o cuidado de
Enfermagem é fundamental na construção do processo de cuidar, o qual
é recriado na relação enfermeira-paciente.
Para Collière (1999), o conhecimento enriquece o cuidado de
Enfermagem, exercido em situações decisivas entre vida e morte, saúde e
doença. Com base em diferentes conhecimentos, a enfermeira aprende
a reconhecer, nas situações vividas, o que identifica os cuidados de
Enfermagem e o que mobiliza as pessoas que dão e recebem o cuidado.
O conhecimento no processo de cuidar em Enfermagem é
ampliado na relação estabelecida entre cliente e enfermeiro, porquanto
o cuidado é constantemente reconstruído em seu processo dinâmico,
inovador e transformador.
Na visão de Perrenoud (1999), o conhecimento como parte dos
recursos cognitivos do indivíduo representa a realidade a partir da nossa
formação e experiência. Para ele, existe uma relação íntima entre
conhecimento e competência, pois esta última diz respeito à capacidade
de agir de forma eficaz em determinada situação com fundamento nos
conhecimentos sem, no entanto, limitar-se a eles. Assim, o indivíduo
competente é capaz de articular, integrar e mobilizar conhecimentos,
além de unir a esses ações permeadas por comportamento ético e moral.
No cuidado de Enfermagem o conhecimento envolve atitude
ética, sensibilidade, interesse e habilidade no processo de pensar-fazer-
cuidar.
A sensibilidade antecede o cuidado porque é dela que flui a
identificação das necessidades do outro, a qual, por sua vez, é possível
pelo conhecimento apreendido anteriormente. Como afirma Sebastian
(1996), a sensibilidade e os sentimentos das pessoas são utilizados como
conhecimento possível à solidariedade. Para Bettinelli (2002, p. 24),
o olhar científico continua sendo preocupação nos cuidados,
porém existe espaço também para o olhar solidário e de
atenção. Num futuro bem próximo, tenho a convicção de que a
afetividade, a reciprocidade e a solidariedade do profissional
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
107
serão valorizadas da mesma maneira que o fazer técnico-
científico. Tanto como o outro é essencial.
A interação como resultado do encontro entre seres humanos é
de importância vital para podermos atender às necessidades do cliente
relacionadas não apenas ao biológico, mas também aos aspectos
psicológicos, sociais e espirituais. Destarte, na construção do cuidado, a
interação, além de aliar os aspectos mencionados, possibilita a inter-
relação entre o conhecimento, a sensibilidade e a solidariedade.
Neste contexto, conforme assevera Barrios (1997), a solidariedade
constitui-se uma relação de aproximação e distância fundamentada na
união, respeito e compromisso ético, num pensar-agir voltado para o
coletivo em detrimento de interesses e vontades individuais.
Como observamos, a interação e o interesse foram aspectos
constantes nas falas dos participantes do grupo focal. Portanto, segundo
evidenciamos, estes perceberam que o interesse facilita a interação entre
paciente-enfermeira, pois ao demonstrar atenção a enfermeira motiva
uma certa interação a se ampliar no processo relacional estabelecido
entre eles.
Em retificação à idéia, Waldow (1998, p. 144) afirma:
Para que o cuidado realmente ocorra na sua plenitude, a
cuidadora deve expressar conhecimento e experiência na
performance das atividades técnicas, na prestação de
informações e na educação ao paciente e sua família. A isso
deve conjugar expressões de interesse, consideração, respeito e
sensibilidade, demonstrados por palavras, tom de voz, postura,
gestos e toque. Essa é a verdadeira expressão da arte e da
ciência do cuidado: conjugação do conhecimento, das
habilidades manuais, da intuição, da experiência e da expressão
da sensibilidade.
Resultado da integração que flui da inter-relação entre ser
cuidado e ser cuidador no processo de trabalho da Enfermagem, a
interação propicia um cuidado comprometido com a qualidade de vida
dos seres humanos envolvidos nessa relação. Ela é, sem dúvida, um
aspecto marcante no processo de cuidar em Enfermagem, pois contribui
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
108
para serem identificadas as necessidades do paciente de forma
participativa e integrativa, trazendo satisfação para ambos.
As palavras de Maffesoli (1996, p. 310) vão ao encontro deste
pensamento:
[...] A pessoa constrói-se na e pela comunicação. [...] Todas as
potencialidades humanas: a imaginação, os sentidos, o afeto, e
não apenas a razão, participam desta construção. É isso que
permite falar da “abertura” da pessoa, abertura aos outros,
abertura às diversas características do eu. O despojar-se de um si,
na verdade fechado sobre si mesmo, fornecendo a participação,
a projeção para o outro, o desejo de fusão.
Pagliuca e Silva (1997, p. 105) comungam com a idéia. Conforme
acreditam, “a intencionalidade e a intersubjetividade do conhecimento
nos transmitem benefícios na forma de crescimento pessoal, relação
interpessoal e, conseqüentemente, maior satisfação no ato de comunicar-
se com o outro”.
Ao construir o cuidado na relação com o paciente, a enfermeira
usa não apenas conhecimentos técnicos, mas também suas habilidades e
atitudes na arte de viver, fazer o cuidado de Enfermagem.
Na visão de Collière (1999, p. 269),
para poder “ajudar a viver”, facilitar a vida, a utilização de
instrumentos e técnicas exige não ser dissociada do suporte
relacional que lhe confere todo o seu significado. De facto,
cuidar não pode ter sentido, se a utilização das técnicas o se
mantiver integrada no processo relacional.
Segundo a fala das participantes, a escuta foi mencionada
como um antecedente essencial ao conhecimento do paciente como
possibilidade de identificar suas necessidades, mostrar-lhe atenção e
demonstrar empatia. Esta deve ser atenta com vistas a uma compreensão
lógica e ao mesmo tempo sensível às necessidades de cuidado do
paciente.
A escuta envolve a comunicação. Esta, segundo Silva (2002),
pode ser interpessoal, verbal e não-verbal.
Na relação de cuidar estão atenção, paciência, discernimento e
percepção aguçada. Para tanto, a enfermeira deve disponibilizar um
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
109
tempo hábil a fim de colher desta escuta informações que possam
subsidiar a identificação das necessidades do paciente e, desse modo,
planejar e desenvolver cuidados destinados a atender a estas
necessidades.
Sob esse prisma, Stefanelli (2005, p. 79) assevera:
Ao
ouvir o paciente, é preciso estar atento para não julgar o
conteúdo do pensamento expresso e concentrar toda a atenção
nele, pensar reflexivamente sobre o que ele diz; tentar
compreender o que está sendo dito e também o que não está
por meio da observação da comunicação não verbal e
paraverbal.
Na relação enfermeira-paciente, a escuta facilita a
compreensão da história deste, contribui na identificação das suas
necessidades e, aliada à percepção, que consegue ultrapassar o
verbalizado, viabiliza o planejamento e a execução de cuidados
individualizados, humanizados e sistematizados que atendem às reais
carências do paciente.
Neste contexto, como afirma Silva (1998), houve uma evolução
técnica dos enfermeiros. No entanto, não se obteve a manutenção da
humanidade nas pequenas coisas: os profissionais esquecem-se de sorrir,
de olhar nos olhos dos clientes e colegas de trabalho, de fazer um afago,
de dar um aperto de mão, de sentar próximo ao paciente e ouvi-lo.
Após discutirmos os antecedentes do cuidado de Enfermagem
nos deteremos no conseqüentes. Conseqüentes do cuidado são os
acontecimentos decorrentes do cuidado de Enfermagem manifestados
na prática. Os eventos conseqüentes (resultantes) são importantes porque
geram novas propostas às pesquisas, o que viabiliza um estudo mais
abrangente de todas as características e formas de conceito (WALKER;
AVANT, 1988).
Para os participantes do grupo focal, são conseqüentes do
cuidado: a satisfação; o bem-estar; a cura; a confiança; a saúde; o alívio;
o conforto; e a mudança no estilo de vida.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
110
Percebo que cuidei quando vejo a satisfação do paciente, por
meio do seu olhar que comunica um sentimento de prazer.
(GF5P3)
O bem-estar proporcionado pelo cuidado é indescritível, no
entanto, é percebido na relação de cuidado, tanto pelo
enfermeiro quanto pelo paciente, pela sensação de zelo que
este traz. (GF5P5)
Quando o paciente obtém cura e recebe alta, sinto que meu
trabalho teve resultado. A volta do paciente à sociedade é a
minha maior recompensa. (GF5P7)
O alívio da dor é uma conseqüência do cuidado e este resultado
é perceptível para todos. Sai da subjetividade para o real.
(GF5P11).
Às vezes o cuidado não leva à cura, mas proporciona uma morte
com dignidade. Então, o resultado é dialético, tem o lado bom e
o ruim. Depende do olhar e do contexto. (GF5P9)
Quando relação há interação, conforto e satisfação para o
paciente-enfermeira. O conforto é uma conseqüência objetiva
do processo de cuidar em Enfermagem. (GF5P10)
A confiança que se estabelece na relação paciente-enfermeira
é uma conseqüência e ao mesmo tempo resultado de que
houve cuidado. (GF5P8)
A recuperação da saúde é uma conseqüência do cuidado de
Enfermagem. (GF5P13)
A mudança no estilo de vida do paciente é uma conseqüência
do cuidado que depende da interação, das
informações/orientações dadas pela enfermeira e da confiança
estabelecida entre o ser cuidado e o ser que cuida. (GF5P12)
Como evidenciamos pelas falas, a satisfação proporcionada
pelo cuidado é vista pelos participantes do grupo focal como algo
perceptível, demonstrado no olhar e na expressão de sentimento de
prazer ocorridos na comunicação não-verbal existente na
relação/interação estabelecida entre paciente-enfermeira. Esta se
confunde com o bem-estar, o qual, mesmo tendo sido relatado como
indescritível, é percebido quando existe uma interação entre seres
humanos que se comunicam no processo de relação de cuidar.
Assim, a sensação de bem-estar geradora de satisfação no
paciente se quando este é cuidado por uma enfermeira que se utiliza
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
111
dos conhecimentos empírico, ético, pessoal, e estético na dimensão
proposta por Carper (1978). Consoante acreditamos, o uso destes
conhecimentos é indispensável ao processo de cuidar, pois abrange o
conhecimento de Enfermagem sistematizado, o conhecimento eu-outro, a
responsabilidade e o compromisso de cuidar e, ainda, a subjetividade
existente na arte de cuidar em Enfermagem expressa pelo conhecimento
estético.
A cura como possibilidade de resgate da saúde, embora o ser
humano viva sempre num processo saúde-doença, constitui-se uma busca
incessante tanto do paciente quanto da profissional enfermeira. Como é
notório, a ausência de cuidado impossibilita a cura de qualquer transtorno
físico e psicológico, pois, ao adoecer, o ser humano traz envolto neste
processo de adoecimento todo o seu ser bio-psico-sócio-espiritual.
Como conseqüente do cuidado de Enfermagem, a cura,
justifica-se pela relação necessária entre cuidado e cura, porquanto não
há possibilidade de cura sem cuidado. No processo que leva à cura,
exige-se um planejamento de cuidados, o qual, além de atender às
necessidades do paciente, conduz ao restabelecimento da saúde.
Segundo Watson (1996, p. 149),
a ocorrência do cuidado é intersubjetiva, porque o profissional,
dentro do modelo transpessoal de cuidado-cura, procura ser
total e autenticamente presente, ao mesmo tempo que também
transcende o EU. A consciência intencional do cuidado cria um
novo campo de possibilidade num momento de cuidado, que
por sua vez, afeta o potencial de cura e a saúde de ambos os
participantes do processo.
Outro conseqüente do cuidado é a confiança. De acordo com
Ferreira (1988), a confiança diz respeito a segurança, crédito, e
credibilidade (FERREIRA, 1988). Apesar de ter sido colocada como
conseqüente do cuidado, nas discussões do grupo focal, em alguns
momentos das falas dos participantes do referido grupo, esta antecede,
muitas vezes, o cuidado e facilita a comunicação entre enfermeira e
paciente.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
112
A nosso ver, a confiança no processo de cuidar em Enfermagem
é uma via de mão dupla. Portanto, deve haver confiança em ambas as
partes, que caminham paralelamente, mas em um certo momento se
encontram, da mesma forma que linhas paralelas se encontram no infinito.
Ao se pronunciar sobre o assunto, Stefanelli (2005) afirma ser
necessário o profissional conquistar a confiança do seu paciente a fim de
estabelecer uma comunicação, transmitindo-lhe a idéia de estar atento
para ouvi-lo, com respeito e solidariedade. Ao se sentir aceito, este torna-
se confiante por acreditar-se respeitado e valorizado.
De acordo com os participantes do grupo focal, a saúde
também foi apontada como conseqüente do cuidado de Enfermagem e
para eles esta constitui-se um resultado positivo tanto para os profissionais
envolvidos no processo de cuidar como para os seres humanos cuidados.
Ademais, o restabelecimento da saúde do paciente
concretizado na cura revela-se no alívio e conforto expressados por este,
assim como pela enfermeira, a qual, ao prestar cuidado e perceber os
resultados deste, também se mostra aliviada e confortada pela
demonstração de bem-estar, alívio, conforto, satisfação e saúde do
paciente.
A alta do paciente, então recuperado, representa um momento
importante na vida deste e a enfermeira sente-se parte integrante desta
vitória ao constatar que os cuidados por ela prestados contribuíram para
a cura e restabelecimento da saúde do paciente.
Outro conseqüente do cuidado é a mudança no estilo de vida,
caracterizada como um processo lento e dinâmico e possível se houver
paciência, confiança, inter-relação e comunicação. Ela exige da
enfermeira e do cliente persistência, determinação e coragem para
enfrentarem os deslizes ocorridos neste processo de mudança.
Para Freitas (1999, p. 48-49):
Aos profissionais de saúde não compete apenas transmitir
alguma informação que garantirá ou o mudanças de
comportamentos voltados à saúde, pois a dimensão da doença
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
113
vai além dos aspectos biológicos, envolvendo os contextos social,
psicológico, cultural e religioso das pessoas.
Trentini et al. (1990) relataram as mudanças no estilo de vida das
pessoas, advindas das orientações feitas por profissionais da saúde, e estas
podem se dar pelas doenças crônicas contraídas pelos pacientes, bem
como quando há perdas socioeconômicas e pessoais.
Quando vai ao encontro das necessidades do paciente, o
cuidado de Enfermagem viabiliza uma mudança no estilo de vida deste,
pela compreensão da urgência de incorporar as
orientações/recomendações da enfermeira à sua vida diária.
Consoante os antecedentes e conseqüentes do cuidado de
Enfermagem identificados e debatidos no grupo focal desenvolvido neste
estudo permitem compreender, há uma perfeita sintonia entre estes e
entendê-los amplia a importância dada pelo cuidador e pelo ser cuidado
ao processo de cuidar em Enfermagem. Segundo acreditamos, isto
contribuirá para que os profissionais e alunos envolvidos neste estudo
comprometam-se cada vez mais com o cuidado de Enfermagem como
possibilidade de atender às necessidades do outro, às suas necessidades
como profissionais e seres humanos e caminhar no sentido da inovação,
transformação, emancipação e cidadania para todos os participantes
deste processo de cuidar em Enfermagem.
Categoria 3
O significado do cuidado o concreto e o subjetivo na relação
entre seres humanos
Para Ferreira (1988), o significado refere-se a querer dizer,
expressar, exprimir, denotar, mostrar, ser, constituir, traduzir, ser o símbolo
ou representação, dar conhecimento, informar, revelar.
Conforme as falas dos participantes do grupo focal
evidenciaram, para eles o significado do cuidado de Enfermagem é:
Ter atitude para com o outro. Demonstrar interesse. Oferecer
proteção, zelo, atenção, amor e solidariedade. (GF6P3)
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
114
Utilizar seu saber e seu fazer em benefício do outro. Dar-lhe
conforto, segurança, atenção, respeito e amor. (GF6P5)
O cuidado de Enfermagem prestado revela-se na satisfação das
necessidades do paciente através da sua recuperação. (GF6P7)
A forma como se a relação/interação da enfermeira com o
paciente que resulta na satisfação das necessidades de ambos.
(GF6P4)
Verificar que sua ação contribuiu para recuperação da saúde do
outro. (GF6P11)
Quando percebo que minha relação com o outro transcende,
muda através da interação estabelecida. (GF6P13)
Quando o paciente toma consciência que minha ação o ajudou.
Quando ele a julga importante, (GF6P10)
Estas falas monstram claramente que os significados do cuidado
se apresentam na expressão do sentido atribuído pelo ser cuidado à ação
de cuidar. Para os participantes do grupo, o significado do cuidado de
Enfermagem está atrelado à percepção objetiva do resultado da sua
ação, e envolve relação, interação, saber-fazer, contribuição e
transcendência na relação.
Em outro momento, segundo os participantes relataram, o que
dá significado ao cuidado é:
O cuidado tem significado quando é percebido por quem
recebe o cuidado. (GF6P1)
O conhecimento dá significado ao cuidado. (GF6P9)
A forma de cuidar do cuidador e a sensibilidade de quem
recebe o cuidado. (GF6P2)
A troca que ocorre. Fico feliz quando cuido e percebo que o
outro se sente bem com o meu cuidado. (GF6P8)
A satisfação dos clientes. Pacientes limpos. Cuidados registrados,
porque o registro especifica que houve cuidado. (GF6P14)
De acordo com o demonstrado por estes participantes do grupo,
o que significado ao cuidado de Enfermagem é a relação
estabelecida entre o ser que cuida e o ser cuidado. Enfatizam, também, o
valor do registro por evidenciar a existência de cuidado.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
115
Gonçalves (2001) ressalta a importância dos registros de
Enfermagem na identificação das alterações do estado do paciente, as
quais influenciam na tomada de decisões para intervenções eficientes e
eficazes. Segundo enfatiza, cabe à enfermeira orientar a equipe para
efetuar registros claros e fidedignos, bem como promover as condições
para os referidos registros.
A interação com o paciente, percebida como modo de ser no
cuidado de Enfermagem, foi explicitada nas falas do grupo estudado por
Silva (2002), que considerou a “troca na relação” entre cuidadores e seres
cuidados como relação de ajuda inerente ao cuidado de Enfermagem.
Entretanto, nas falas dos participantes do grupo focal
desenvolvido neste estudo, os procedimentos e técnicas de Enfermagem
não foram explicitados. Assim, os participantes foram coerentes com os
atributos gerais e essenciais ao cuidado de Enfermagem selecionados.
Para eles, o que significado a este cuidado é a existência de um ser
carente de necessidades e de outro ser capaz de suprir essas
necessidades. Como deixam claro em suas falas, o cuidado é
individualizado, tem conhecimento próprio da Enfermagem, requer
empatia, interação, transcendência e tem valor para quem o recebe.
É válido enfatizar que durante a realização das sessões
identificamos crescimento individual e coletivo no grupo, pelo
entendimento dos conceitos explicitados e trabalhados nas sessões
grupais e, ainda, pelo relato das vivências das enfermeiras e alunos
participantes do grupo.
O concreto do significado do cuidado de Enfermagem parece
estar nos resultados observados pelos profissionais, no seu processo de
cuidar, quando estes percebem ter havido atendimento das necessidades
do outro e até mesmo das suas necessidades.
Para alguns participantes do grupo, o mais alto significado ao
cuidado de Enfermagem é dado pela Sistematização da Assistência de
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
116
Enfermagem (SAE). Lamentam, no entanto, que na prática cotidiana este
método de trabalho seja pouco utilizado.
Neste contexto, Thomaz e Guidardello (2002), ao estudarem
sobre a SAE, identificaram como problemas apontados pelas enfermeiras,
como fatores impeditivos da realização da prescrição de Enfermagem
pela equipe, os seguintes: falta de conscientização; falta de leitura; falta
de treinamento: e falta de tempo. A nosso ver, a não realização da SAE
deixa dúvidas para os enfermeiros e alunos de Enfermagem sobre a
importância deste método no processo de cuidar em Enfermagem. Diante
disso, podemos indagar: os enfermeiros estão cuidando ou simplesmente
estão tentando cumprir normas e rotinas preestabelecidas, incluindo a
prescrição médica?
Conforme assevera Waldow (1992), é por meio do modo de
cuidar que damos significado ao cuidado, imprimindo neste nossos valores
morais e nossa cultura. Ao se pronunciar sobre cuidado, Mayeroff (1990)
aponta determinadas características, como: conhecimento do outro;
ritmos alternados; paciência; honestidade; confiança; humildade;
esperança; e coragem. Na ótica da autora, o conhecimento do outro
exige do cuidador entender e atender as necessidades do outro. Para isso,
a enfermeira deve atentar para os poderes e limitações do outro, pois sem
isso não há relação de cuidado.
Ritmos alternados, na visão de Waldow, se constitui a
capacidade da enfermeira modificar seu comportamento de acordo
com as necessidades do outro. Para tanto é preciso ser flexível para
encontrar a melhor forma de cuidar. Paciência é a capacidade de
perceber o ritmo e estilo do outro. Assim, a enfermeira assume uma
postura paciente e tolerante, além de saber observar, ouvir e respeitar o
outro. Honestidade como possibilidade de estar aberto para si e para o
outro, o que envolve a aceitação do outro como ele é. Agir de forma
sincera e aberta, sem enganar o outro.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
117
Confiança como atributo de confiar na habilidade do outro
para se realizar em consonância com sua forma e ritmo. Inclui a
possibilidade de libertar, para não criar dependência e adquirir a
coragem de arriscar. Viabiliza a existência do outro como ser
independente. É, ainda, destacada a humildade, associada à
capacidade de estar disposto a aprender com o outro. Representa a
antítese do poder que constantemente permeia a relação de cuidado.
Esperança é acreditar na capacidade do outro para crescer no processo
de cuidar, no entanto, sem pretensões, cobranças e sem idealização do
futuro. É, ainda, a possibilidade do outro crescer na relação de cuidado.
Diz respeito à coragem de estar sempre presente com a outra pessoa e
assumir com ela riscos. Coragem é uma qualidade indispensável ao
cuidador, pois é por meio desta que se deixa o outro ser, assumir riscos e
desafios. É buscar o desconhecido sem receios (MAYEROFF, 1990).
Bison (2003, p. 92), ao compreender o cuidado e o cuidar como
essência da Enfermagem, afirma o seguinte:
O cuidado como uma conduta implica uma gama de atitudes e
sentimentos que permitem a quem o executa e a quem o recebe
uma interação capaz de produzir efeitos extremamente
benéficos para ambas as partes. [...] Falamos em afeto, em
conforto, em compaixão, em zelo, em colocar-se totalmente no
lugar do outro, em ser terapêutico.
Segundo acreditamos, para dar significado ao cuidado é
preciso vivenciar o ato de cuidar no cotidiano da vida profissional. Assim,
conforme percebemos, o cuidado como modo de ser é dinâmico, tem
vida e se expressa na relação com o outro, nesta relação, baseada na
interação por meio da ação/reação, entre seres humanos que se
permitem cuidar e ser cuidado.
É do encontro entre seres humanos que flui o cuidado no sentido
atribuído pelo cuidador e pelo ser cuidado a partir do contexto de ser e
viver de cada um, do ambiente onde se o cuidado e do sentimento
surgido desta relação/interação.
Nesta perspectiva, Crosseti (1997, p. 108-109) assevera:
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
118
Cuidados e cuidantes vivem um encontro de maneira significante
e envolvente, estabelecendo entre eles um vínculo quase que
como um pacto inconsciente em que o “ter paciência” e “ter
consideração” constituem um dos elementos essenciais para
cuidar. Pela solicitude o cuidante não está preocupado em
proteger o cuidado, mas sim fazer com que este se volte para si
mesmo e pense neste momento existencial da sua vida,
buscando entender que tem ainda possibilidades de ser.
A nosso ver, o significado do cuidado depende da relação
estabelecida entre a enfermeira e o ser cuidado e este será mais
significativo quanto maior for a relação/interação formada entre estes.
Assim, o significado passa a ter maior valor na ótica de cada um, no
momento em que se o cuidado e nos resultados apresentados a partir
do processo de cuidar.
Neste contexto, concordamos com Mayeroff (1990) ao afirmar
que o cuidado possui características indispensáveis, tais como:
conhecimento do outro a ocorrer por meio da relação estabelecida entre
os sujeitos envolvidos no processo de cuidar; paciência e ritmos alternados
baseados na flexibilidade na forma de cuidar e aceitar o cuidado, e na
tranqüilidade de perceber e aceitar o ritmo e estilo do outro. E ainda, na
honestidade, confiança e esperança também estabelecidas no processo
dinâmico do cuidado de Enfermagem.
No significado do cuidado, o concreto diz respeito aos resultados
apresentados de forma objetiva na evolução do paciente e que podem
ser mensurados por meio de indicadores de qualidade e produtividade
utilizados na gestão do processo de cuidar.
O subjetivo, presente no significado do cuidado, solicita do
cuidador e do ser cuidado sensibilidade, poder de observação,
capacidade de intuir sobre a relação existente no processo de cuidar.
Como o subjetivo se passa unicamente no espírito de uma pessoa e diz
respeito apenas ao ser humano e se opõe ao mundo físico e à natureza
empírica dos objetos a que se refere, a subjetividade presente no
significado do cuidado é algo não concretizável para quem está fora do
processo de cuidar, porquanto o ser cuidado é único e o ser cuidador
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
119
também. Desta forma, este significado se traduz na vivência de ambos e
se apresenta de formas diferentes, em virtude de serem subjetivas.
Ao prestar cuidado, muitas vezes ouvimos relatos de pacientes
segundo os quais este possuía um significado além do planejado para
obter um dado resultado. Um deles dizia respeito ao ato de higienizar, visto
pelos pacientes não apenas como conforto, mas com outros significados,
tais como: afetividade; segurança; esperança; confiança e zelo.
A relação/interação ser cuidado e ser que cuida constitui-se um
elemento indispensável no processo de cuidar vivenciado. Nesta relação,
a enfermeira utiliza os tipos de conhecimentos necessários ao cuidado de
Enfermagem propostos por Carper (1978), a saber: conhecimentos
empírico, ético, pessoal e estético. A partir da integração estabelecida
entre enfermeira-paciente, é facilitado o alcance de metas viáveis no
processo de cuidar da saúde, por meio da autoconsciência e
compreensão dos valores que permeiam essa relação, quais sejam:
empatia; confiança; afetividade; generosidade; esperança;
cumplicidade; liberdade e autonomia.
Como essência da Enfermagem, o cuidado pressupõe
sensibilidade dos seres envolvidos neste caminhar, na busca da liberdade,
escolha e autonomia proposta por Watson (1985) que conduzem ao
autoconhecimento e ao autocontrole.
Nesta perspectiva, conforme podemos afirmar, o cuidado de
Enfermagem deve ser alicerçado em valores humanos, em
conhecimentos que o viabilizam e pela expressão dos sentimentos e
atitudes que conduzem à tomada de decisão para o atendimento das
necessidades bio-psico-sócio-espirituais do cliente/paciente.
No processo de cuidar a relação/interação ocorre quando a
enfermeira conhece o uso, o significado e a aplicação do cuidado, com
base na identificação das necessidades do outro e na intervenção ativa e
interativa proporcionada no processo de construção do cuidado de
Enfermagem.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
120
De modo geral, o significado do cuidado está atrelado à
percepção do que es subjacente no processo relacional enfermeiro-
paciente e este necessariamente não é perceptível para quem está fora
desta relação. Assim, perceber o significado do cuidar é algo
concretizado por meio da sensibilidade, afetividade e interação presentes
no cuidado de Enfermagem.
5.3 O Conceito de Cuidado de Enfermagem Construído
No processo de construção do conceito de cuidado de
Enfermagem, consoante os participantes do grupo focal compreenderam,
as sessões foram momentos de discussão e aprendizagem significativas.
Como observamos, as informações resgatadas e construídas por meio das
vivências relatadas por alguns participantes mais experientes no processo
de cuidar conjugaram-se à experiência dos demais participantes e o
resultado desta vivência de aprendizagem culminou com o conceito
construído coletivamente num processo de criação/sedimentação
ocorrido na relação dialógica resultante do encontro entre teoria e
prática, conhecer-fazer concretizado no seguinte conceito então
elaborado:
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno intencional, essencial à
vida, que ocorre no encontro de seres humanos que interagem,
por meio de atitudes que envolvem consciência, zelo,
solidariedade e amor. Expressa um “saber-fazer” embasado na
ciência, na arte, na ética e na estética, direcionado às
necessidades do indivíduo, da família e da comunidade.
O conceito de cuidado de Enfermagem construído é fruto de
uma organização mental, explicitada com base em outros conceitos,
discutidos amplamente. No entanto, este foi elaborado a partir do intenso
debate nas várias sessões grupais, cujos atributos, significados,
antecedentes e conseqüentes iam surgindo nas falas dos participantes.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
121
Segundo podemos perceber, a interação teoria e prática
construída nas sessões do grupo focal vai ao encontro da afirmação de
Vale (1989, p. 34-35):
Na dialética, teoria e prática se completam e se contém
formando uma unidade, no entanto, não se pode dizer que a
teoria e prática se identificam, ou que a atividade teórica
automaticamente se transforma em prática. Vale salientar que a
prática não fala por si mesma e exige uma relação teórica para
que possa ser compreendida como práxis.
A interação teoria e prática construída nas sessões do grupo
focal comunga com o pensamento de Pagliuca e Silva (1997), ao
afirmarem ser o diálogo teoria e prática gerado no fazer-cuidar pela
utilização do conhecimento que origina um fazer-conhecer novo.
Essa interação teoria e prática torna-se possível na construção do
cuidado de Enfermagem, no qual, numa relação entre seres humanos,
são identificadas determinadas necessidades. Assim, na confluência entre
discurso e prática, surge um fazer que envolve ciência, arte, ética e
estética. Esta, mais que uma ação prática, é uma práxis que transforma e
emancipa.
Conforme salientamos, a vivência do aprender-ensinar-fazer dos
participantes deste estudo, bem como a análise do conceito de cuidado
de Enfermagem efetuada com base no Modelo Evolucionário de Análise
de Conceito de Rodgers, permitiram a elaboração do referido conceito
neste estudo.
A nosso ver, apesar de termos explicitado no objetivo deste
estudo que o conceito de cuidado de Enfermagem a ser construído
deveria ser utilizado no ensino de graduação de Enfermagem, ele pode
ser discutido em qualquer nível do ensino de Enfermagem, bem como na
prática cotidiana do fazer Enfermagem.
Ademais, cremos que a utilização do grupo focal como
estratégia para elaboração do conceito ora exposto, com escolha
intencional dos participantes que tinham em comum o cuidado como
essência do aprender-ensinar-fazer, bem como o envolvimento destes no
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
122
processo ensino-aprendizagem do Curso de Graduação de Enfermagem,
lócus do estudo, facilitou a formulação do conceito revelado como viável
no ensino e na prática. Ainda consoante cremos, é possível a
aproximação da abstração inerente ao conceito e sua implementação
no ensino.
Portanto, segundo acreditamos, o cuidado de Enfermagem
construído neste estudo será útil se for usado de forma analítica, crítica e
reflexiva, por meio do entendimento de que cada ser humano não pode
ser cuidado apenas no enfoque individual. Este enfoque justifica-se pois o
homem é ao mesmo tempo uno e plural, e deve estar inserido na
sociedade como cidadão. Isso permitirá aos profissionais de Enfermagem
a identificação das necessidades do cliente e, conseqüentemente, uma
intervenção efetiva e eficaz, com resultados surpreendentes para ambos:
ser cuidado e ser cuidador.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
0
b Öâx exyÄxà|Ü áÉuÜx É XáàâwÉ
b Öâx exyÄxà|Ü áÉuÜx É XáàâwÉb Öâx exyÄxà|Ü áÉuÜx É XáàâwÉ
b Öâx exyÄxà|Ü áÉuÜx É XáàâwÉ
Refletir é preciso.
Refletir é preciso.Refletir é preciso.
Refletir é preciso.
Reflet
RefletReflet
Refletir sobre algo que já existe
ir sobre algo que já existe ir sobre algo que já existe
ir sobre algo que já existe
Sobre algo que se constrói.
Sobre algo que se constrói.Sobre algo que se constrói.
Sobre algo que se constrói.
É da reflexão que surge a ação.
É da reflexão que surge a ação.É da reflexão que surge a ação.
É da reflexão que surge a ação.
Cuidado de Enfermagem
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124
6 O QUE REFLETIR SOBRE O ESTUDO
Por reflexão entendemos a possibilidade de pensar criticamente
sobre algo já existente e já refletido, falado e descrito por outros. No
entanto, refletir é preciso. É da reflexão que surge a ação.
Iniciamos esta reflexão explicitando nossa inquietação sobre o
conceito de cuidado de Enfermagem. Conforme percebíamos, este
também circundava o caminhar profissional de muitas enfermeiras. O foco
da nossa atenção como profissionais da assistência e do ensino sempre
esteve voltado para o processo de cuidar em Enfermagem, para a
compreensão e execução deste e para as condições nas quais este
cuidado é prestado.
Ao longo da dissertação de mestrado produzida no final dos
anos 1980, nossa preocupação era a dicotomia entre teoria e prática no
ensino de Enfermagem. Transcorreram os anos 1990, adentramos os anos
2000, e continuávamos a nos interrogar sobre como agir para
compreender e fazer-nos entender na explicitação do conceito de
cuidado de Enfermagem. No doutorado, ao cursarmos uma disciplina que
possibilitava a análise de conceito e oferecia modelos para tal análise,
não tivemos dúvidas: chegou o momento oportuno para procedermos ao
estudo que nos propiciasse tecer uma reflexão mais profunda sobre o
conceito de cuidado de Enfermagem e, a partir dela, construir
coletivamente com alunos, enfermeiras docentes e assistenciais um
conceito de cuidado de Enfermagem. Conceito este bem fundamentado,
bem compreendido, bem sedimentado e fruto de discussões calorosas,
prazerosas, desafiadoras e profícuas centradas na elaboração de um
novo conceito a fluir da relação, interação, dialogicidade de pessoas
diferentes, mas com objetivo em comum, criar o novo por meio da ação
coletiva.
De modo geral, no desenvolvimento do estudo ora apresentado,
as dificuldades foram frutos da nossa ansiedade. A cada quinze dias,
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125
antes do horário marcado, sentíamos muita insegurança acerca do
comparecimento dos participantes do grupo. Para nossa alegria, a
participação foi muito boa e as poucas faltas ocorridas foram justificadas
por motivos pertinentes. Nas nove sessões do grupo focal, os encontros
constituíram-se momentos de prazer e congraçamento para todos.
Na nossa percepção, a experiência de trabalhar com a técnica
de grupo focal como instrumento de pesquisa foi desafiadora e contribuiu
decisivamente para o alcance do objetivo deste estudo. Vivenciarmos o
grupo focal causou-nos sensações antagônicas de prazer e medo. Prazer
por estarmos com pessoas que como nós têm o cuidado de Enfermagem
como foco de suas atenções; medo diante do desafio de lidar com o
novo, de mediar as discussões sem interferir com nossas opiniões, mas
intervindo no momento certo para encaminhar as discussões ao foco
central da sessão.
A possibilidade de discutir um tema de fundamental importância
para o crescimento e desenvolvimento da profissão foi permeada pela
incerteza da produção do conhecimento na profundidade exigida pelo
tema. No entanto, após o segundo encontro, evidenciamos entrosamento
e disponibilidade do grupo para construir o novo.
Em todos os momentos, as facilidades se fizeram presentes.
Desde o acolhimento da direção da instituição de ensino onde foi
realizado o estudo ao atendimento ao convite pelos participantes do
grupo, inclusive da psicóloga e dos dois estudantes escolhidos para
atuarem como membros observadores. Estas facilidades constituíram-se
estímulo de muito valor à concepção dos nossos objetivos.
Conhecermos a evolução do cuidado no ensino de Enfermagem
e percebermos que os conceitos explicitados requeriam discussão coletiva
para surgir um novo conceito, elaborado na confluência entre teoria e
prática, pensamento-ação motivaram-nos cotidianamente e fizeram
deste caminhar uma busca incessante pelo resultado final do estudo, o
conceito elaborado. Uma certeza, porém, nos domina: este não
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126
representa um fim, mas o início de uma nova caminhada para divulgação,
implementação e inovação da ação na relação de aprender-ensinar-
fazer o cuidado de Enfermagem que transcenda ações técnicas
preexistentes e ao encontro da satisfação das necessidades dos seres
envolvidos nesta interação, no processo de construção de um cuidado de
Enfermagem individualizado, dinâmico, resolutivo, que atenda a todas as
dimensões possíveis neste momento ímpar de ser e estar com o outro.
A realização de um estudo para viabilizar a elaboração de um
conceito de cuidado de Enfermagem, envolvendo atores diferenciados,
teve a perspectiva de elaboração do novo, embasado em análise de
conceito, efetuada na primeira fase do estudo. Ademais, na discussão
coletiva, impulsionou a construção de um conceito de cuidado de
Enfermagem sem pôr em cheque as condições dos participantes do
grupo para esta formulação. Isto foi possível graças à confiança por nós
depositada nas pessoas e na crença de que a discussão coletiva bem
fundamentada, permeada de relatos de casos reais, de experiências
vividas e da possibilidade de ampliar o conhecimento, por meio do
debate franco, sem subterfúgios ou medo de contestações, mas, com a
certeza de que todo conhecimento pode e deve ser discutido, refutado,
ampliado, construído, desconstruído e reconstruído a partir da ação que é
dinâmica e plena de novas possibilidades.
Encerramos esta pesquisa com a compreensão de que construir
um conceito de cuidado de Enfermagem à luz do Modelo Evolucionário
de Análise de Conceito de Rodgers deu-nos subsídios para um trabalho
coletivo mediado pelas sessões do grupo focal, com a compreensão de
que a elaboração do conceito de cuidado ultrapassou a apreensão do
significado, do conhecimento dos atributos, antecedentes e
conseqüentes deste cuidado.
Esta construção propiciou-nos o prazer de caminhar com os
outros, ouvindo, mediando, sentindo, percebendo, interpretando e
comungando idéias numa relação afetiva, efetiva, criadora, inovadora.
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Desse modo, da relação vivenciada brotou um conhecimento que
proporcionou a cada participante um crescimento individual e coletivo.
Portanto, a tese defendida neste estudo foi comprovada,
porquanto o conceito de Enfermagem construído foi influenciado pelas
crenças e valores dos participantes do grupo focal, bem como por suas
experiências. A forma de construção, por meio do grupo focal, facilitou a
compreensão dos conceitos existentes, discutidos nas sessões grupais, e
propiciou a construção do conceito resultante deste estudo.
Esperamos que o conceito produzido possa contribuir para novos
estudos, debates em espaços de educação e saúde, ensino e serviço, ou
onde houver seres humanos carentes do cuidado de Enfermagem, tão
importante à promoção da vida, vida digna, justa, solidária e cidadã.
Cuidado de Enfermagem
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VOLICH, R. M. Psicossomática: de Hipócrates à psicanálise. São Paulo:
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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
138
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2003.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
139
ANEXO
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
140
ANEXO A
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
141
APÊNDICES
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
142
APÊNDICE A
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Colega Enfermeiro(a):
Meu nome é Eucléa Gomes Vale, estou cursando Doutorado em
Enfermagem na Universidade Federal do Ceará (UFC) e desenvolvendo
uma pesquisa com o objetivo de analisar a construção de um conceito de
cuidado de Enfermagem, com base no Modelo Evolucionário de Análise
de Conceito, com os enfermeiros docentes e alunos do Curso de
Graduação da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) e com os
enfermeiros de instituições de saúde do município de Quixadá-CE. Nesta
perspectiva, gostaria de convidá-lo(a) a participar do grupo focal que
discutirá o tema Cuidado de Enfermagem e construirá um conceito de
cuidado de Enfermagem a ser utilizado no ensino de graduação.
O grupo será coordenado por mim, em quatro a oito sessões,
com duração de uma hora, que serão organizadas por um tema-guia.
Cada sessão contará com a ajuda de uma psicóloga na função de
observadora. O local das sessões será uma sala de estudos da FCRS. Para
facilitar a apreensão das falas dos participantes os encontros serão
gravados e as datas destes serão informadas antecipadamente.
O(a) senhor(a) terá garantido o sigilo de todas as informações
coletadas, bem como o direito de se desligar da pesquisa a qualquer
momento, sem que isso lhe traga qualquer prejuízo para o desempenho
de suas funções e/ou despesas. Os dados serão apresentados ao Curso
de Doutorado em Enfermagem e divulgados junto à comunidade
acadêmica, respeitando o caráter confidencial das identidades. Sua
participação é essencial para o alcance do objetivo proposto no estudo.
Caso precise entrar em contato comigo, informo meu endereço:
Rua Clarindo Pereira, 1027, Edson Queiroz, telefone: (85) 3273-5862 ou (88)
3412-2201, Ramal 252, ou pelo e-mail: [email protected]. Outras
informações podem ser obtidas no Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Ceará pelo telefone: (85) 3366-8338.
___________________________
Assinatura da Pesquisadora
Consentimento Pós-Esclarecimento
Eu, _____________________________________________, RG ______________,
declaro que após convenientemente esclarecido(a) pelo pesquisador e
ter entendido o que me foi explicado, concordo em participar da
pesquisa.
Quixadá, _____ de ________________ de 2007.
__________________________________
Assinatura do Participante
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
143
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Caro(a) Aluno(a):
Meu nome é Eucléa Gomes Vale, estou cursando Doutorado em
Enfermagem na Universidade Federal do Ceará (UFC) e desenvolvendo
uma pesquisa com o objetivo de analisar a construção de um conceito de
cuidado de Enfermagem, com base no Modelo Evolucionário de Análise
de Conceito, com os enfermeiros docentes e alunos do Curso de
Graduação da Faculdade Católica Rainha do Sertão (FCRS) e com os
enfermeiros de instituições de saúde do município de Quixadá-CE. Nesta
perspectiva, gostaria de convidá-lo(a) a participar do grupo focal que
discutirá o tema Cuidado de Enfermagem e construirá um conceito de
cuidado de Enfermagem a ser utilizado no ensino de graduação.
O grupo será coordenado por mim, em quatro a oito sessões,
com duração de uma hora, que serão organizadas por um tema-guia.
Cada sessão contará com a ajuda de uma psicóloga na função de
observadora. O local das sessões será uma sala de estudos da FCRS. Para
facilitar a apreensão das falas dos participantes os encontros serão
gravados e as datas destes serão informadas antecipadamente.
O(a) senhor(a) terá garantido o sigilo de todas as informações
coletadas, bem como o direito de se desligar da pesquisa a qualquer
momento, sem que isso lhe traga qualquer prejuízo para o desempenho
de suas funções e/ou despesas. Os dados serão apresentados ao Curso
de Doutorado em Enfermagem e divulgados junto à comunidade
acadêmica, respeitando o caráter confidencial das identidades. Sua
participação é essencial para o alcance do objetivo proposto no estudo.
Caso precise entrar em contato comigo, informo meu endereço:
Rua Clarindo Pereira, 1027, Edson Queiroz, telefone: (85) 3273-5862 ou (88)
3412-2201, Ramal 252, ou pelo e-mail: [email protected]. Outras
informações podem ser obtidas no Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Federal do Ceará pelo telefone: (85) 3366-8338.
________________________________
Assinatura da Pesquisadora
Consentimento Pós-Esclarecimento
Eu, _____________________________________________, RG ______________,
declaro que após convenientemente esclarecido(a) pelo pesquisador e
ter entendido o que me foi explicado, concordo em participar da
pesquisa.
Quixadá, _____ de ________________ de 2007.
__________________________________
Assinatura do Participante
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
144
APÊNDICE C
GUIAS DE TEMAS DAS SESSÕES DO GRUPO FOCAL
GRUPO FOCAL – Sessão 1
Objetivo: Estabelecer o contrato grupal, estimular o entrosamento e iniciar
o debate.
Guia de Temas para a Primeira Sessão Grupal
1. Agradecimentos. Apresentação - “Dinâmica de Integração”
2. Apresentação do projeto:
Metodologia: Pesquisa qualitativa, técnica de coleta de dados: grupo
focal.
Grupo focal: é uma técnica de pesquisa que utiliza sessões grupais como
um dos focos facilitadores da expressão de características
psicossociológicas e culturais; diz respeito a uma sessão grupal na qual os
sujeitos do estudo discutem vários aspectos de um tópico específico.
Trata-se de um grupo operativo, com pessoas que possuem os mesmos
objetivos.
Será composto por quatorze participantes. Apresenta como critério de
participação:
- Para docentes: ministrarem disciplinas com conteúdos que envolvem
“conceito de cuidado”.
- Para alunos: estarem cursando o 8º semestre.
- Para enfermeiros: trabalharem em instituições que sejam campo de
prática para alunos de graduação em Enfermagem.
A duração do grupo será de uma hora e trinta minutos. O grupo terá um
moderador (pesquisador em discussão), e três observadores.
3. Abertura da sessão:
- Cumprimentos, apresentações, informações sobre a pesquisa.
4. Estabelecimento do setting: destacar os aspectos éticos da pesquisa e
do processo de interação.
- Debate centrado no guia de temas.
- Destacar aspectos como: cronograma (datas), horário, sigilo, uso de
identificação, gravação.
5. Debate - Sondar as reações gerais e primeiras impressões:
- O que você pensa do que foi lido?
- O que o leva a essas idéias?
- Indagar questões como: Fale mais sobre o que entende do conceito de
Cuidado de Enfermagem. Que sentimentos tem sobre o tema? Com qual
conceito mais se identificou? Com quais aspectos concorda? De quais
discorda? Que aspectos considera indispensáveis?
- Conduzir o grupo para conclusões.
- Síntese da sessão – validação das percepções e do conteúdo.
- Acertos para a próxima reunião.
- Agradecimentos.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
145
Primeira Sessão Grupal – Conceitos de Cuidado de Enfermagem
Como afirma Watson (1985), o cuidado envolve ações de cuidar que
compreendem ações instrumentais, focadas nas necessidades físicas e de
tratamento do paciente, como administração de medicamentos e
procedimentos, e expressivas, referentes às necessidades psicossociais
orientadas para o comportamento.
Morse et al. (1991) identificaram cinco perspectivas epistemológicas do
cuidar: cuidar é um estado humano; cuidar é imperativo moral e ideal;
cuidar é afeto; cuidar é relacionamento interpessoal; e cuidar é
intervenção de Enfermagem.
Chao (1992) entende o cuidado como um fenômeno universal, essencial
para a existência, crescimento, desenvolvimento e sobrevivência. Cuidar
da saúde é um tipo de cuidado humano, social e culturalmente definido e
organizado de forma a tratar a doença e manter uma boa saúde.
Para Leopardi (1994), o cuidado constitui-se no mais poderoso mbolo da
Enfermagem; confunde-se com ela; representa-a; galga patamares
superiores, quer no plano moral (zelo), quer no tecnológico, saindo da
marginalidade como ato de menor valor, para regular-se, hoje, tal qual a
necessidade humana fundamental à própria sobrevivência de indivíduos.
Segundo Erdmann (1996), “o cuidado tem como elemento intrínseco a
relação pessoal e está presente na vida humana, no seu processo vital,
nas condições naturais e sociais do preconceber, nascer, crescer,
desenvolver, envelhecer e morrer/transcender”.
Nas palavras de Collière (1999), o processo de cuidar/cuidado “é uma
aproximação antropológica, onde procede um encontro com duas (ou
mais) pessoas detendo cada uma delas elementos do processo de
cuidado [...] é uma construção específica de cada situação [...] cria-se a
partir daquilo que se descobre, manejando as informações provenientes
de cada situação, decodificando-as com a ajuda de conhecimentos,
para compreender seu significado e como as utilizar na ação de cuidar”.
Como declara Silva (2002), “no caso particular do cuidado de
Enfermagem, o que ocorre é um encontro de pessoas que precisam de
cuidado (o paciente) e de alguém que esteja preparado, sobretudo do
ponto de vista existencial e humano, para dele cuidar (o profissional de
Enfermagem)”.
De acordo com Waldow (2006), “cuidado humano consiste em uma
forma de viver, de ser, de se expressar. É uma postura ética e estética
frente ao mundo. É um compromisso com o estar-no-mundo e contribuir
com o bem-estar geral, na preservação da natureza, na promoção das
potencialidades, da dignidade humana e da nossa espiritualidade, é
contribuir na construção da história, do conhecimento da vida”.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
146
GRUPO FOCAL – Sessão 2
OBJETIVO:
Discutir os conceitos de cuidado de Enfermagem utilizados na primeira
sessão grupal.
Material de estímulo
Além dos conceitos utilizados na primeira sessão grupal, serão usadas as
seguintes frases extraídas das discussões da primeira reunião:
“cuidado é estar com o outro”;
“cuidado é despertar para as necessidades do ser cuidado”;
“cuidado é resgatar a dignidade do outro”;
“cuidado é ver o valor do outro”;
“cuidado é trazer o outro para dentro de si”;
“cuidado é estar com o outro”;
“cuidado é ajudar o outro a crescer”;
“cuidado é dar atenção”;
“cuidado é autotranscender”;
“cuidado é uma fonte de espiritualidade”;
“cuidado é resgatar a pessoa”.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
147
GRUPO FOCAL – Sessão 3
OBJETIVO:
Discutir o uso do conceito de cuidado de Enfermagem com o propósito
de identificar seus atributos.
DESTAQUES DAS SESSÕES 1 E 2:
Cuidado: forma de ser e de se expressar.
Cuidado é encontro de pessoas que precisam de cuidado.
Cuidado é próprio da vida, do ser humano.
Cuidado é valorizar o outro, ouvi-lo, atender suas necessidades.
Cuidado é preocupar-se com o outro, identificando suas
necessidades.
Cuidado é essência da Enfermagem, aquilo que a gente faz e nem
percebe.
Cuidado envolve ciência, arte, ética e estética.
Cuidado é muito mais que técnica, ações instrumentais, é um ato
expressivo de atender o outro.
Cuidado é relação entre duas pessoas.
Cuidado é ação, atitude, encontro.
Cuidado para melhorar a vida que há no outro e em mim.
Cuidado como dimensão futura.
Cuidado como forma de viver.
Cuidado como essência da existência.
Cuidado como relação que está presente na vida humana.
A relação transcende no cuidado, que se caracteriza como
processo vital.
Cuidado
Expressão do cuidar: do homem – nas suas necessidades
no seu tempo
no cosmos
Cuidar da vida: que há na terra
que há no outro
que há em mim
Considerações Gerais
Do ponto de vista filosófico, como afirma Abbagnano (2000), atributo
indica um caráter ou uma determinação que, embora não pertença à
substância do objeto, como decorre da definição, tem causa nessa
substância.
Atributos de Deus: bondade, onipotência, justiça, infinitude, etc.
Atributo diz respeito a qualidades inerentes a alguma coisa.
Segundo consta em Ferreira (1988), atributo é aquilo que é próprio de um
ser. Símbolo, distintivo, caráter essencial, característica qualitativa ou
quantitativa que identifica propriedades que definem um objeto.
Questionamentos: Quais os atributos do cuidar?
Que elementos dão significado ao cuidado?
Que aspectos compõem o cuidado?
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
148
GRUPO FOCAL – Sessão 4
OBJETIVO:
Dar continuidade às discussões sobre atributos do cuidado.
Material de Estímulo
Material utilizado na sessão 3 – apoio.
Dinâmica utilizando recortes de cartolinas contendo palavras explicitadas
pelo grupo durante a sessão anterior. Os participantes serão orientados a
escolher um dos recortes que contiver a palavra com a qual se
identifiquem para em seguida explanar sobre ela.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
149
GRUPO FOCAL – Sessão 5
OBJETIVOS:
Apresentar os atributos consensuados na sessão, bem como os
atributos essenciais selecionados pelo grupo;
Identificar os antecedentes e conseqüentes do cuidado de
Enfermagem.
CONCEITOS
Antecedentes do conceito: são situações, eventos ou fenômenos que
precedem o conceito de interesse (desencadeiam). Favorecem o
entendimento do contexto social no qual o conceito é usado ou facilitam
a compreensão deste (FERREIRA, 1988; ABBAGNANO, 2000).
Conseqüentes do conceito: são os acontecimentos decorrentes do
cuidado de Enfermagem que se manifestam na prática. Os eventos
conseqüentes (resultantes) são importantes porque geram novas
propostas às pesquisas, o que viabiliza um estudo mais abrangente de
todas as características e formas de conceito (WALKER; AVANT, 1988).
QUESTÕES PARA O GRUPO
Quais os antecedentes do cuidado?
Quais os conseqüentes do cuidado?
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
150
GRUPO FOCAL – Sessão 6
OBJETIVOS:
Apresentar os atributos essenciais, antecedentes e conseqüentes do
cuidado de Enfermagem.
Identificar o que dá significado ao cuidado.
Explicitar os aspectos que especificam a ocorrência do cuidado de
Enfermagem.
Fonte: Elaborado pela autora, fruto das discussões do grupo focal, tomando
como base o modelo formulado por Rodgers e Knafl (1993).
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Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
151
GRUPO FOCAL – Sessão 7
OBJETIVO:
Discutir definições sobre “conceito” para embasar a formulação do
conceito de cuidado de Enfermagem.
ALGUNS CONCEITOS:
Duldt e Giffin (1985)
A conceitualização é para descrever, classificar ou designar uma idéia
abstrata ou genérica, compreensão que especifica a instância ou
ocorrência do conceito.
King (1988)
Abstração que provê conhecimento sobre a essência das coisas. O
conceito é uma imagem mental, de uma coisa, de uma pessoa, ou de um
objeto. Os conceitos são compartilhados por meio de palavras, as quais
são símbolos usados para expressá-los.
Walker e Avant (1988)
Conceitos são construções mentais que possuem características ou
atributos. Para as autoras, quanto mais claros forem os conceitos, ou seja,a
expressão dos seus atributos essenciais, maior será o entendimento entre
aqueles que os utilizam. Os atributos aparecem com freqüência quando
um conceito é claro.
Ferreira (1988)
Representação de um objeto pelo pensamento, por meio das suas
características gerais. Ação de formular uma idéia por meio de palavras;
definição, caracterização. Pensamento, idéia, opinião, o que deixa claro
aquilo que alguma coisa significa.
Srour (1990) e Morse (1995)
Conceito é representação cognitiva, abstrata em realidade perceptível,
formada por experiências diretas ou indiretas, que pretendem
corresponder a características fundamentais do fenômeno.
Leopardi (1998)
Conceito pode ser entendido como um processo, uma construção mental
resultante das observações e experiências em torno dos fenômenos.
Abbagnano (2000)
Processo que torna possível a descrição, a classificação e a previsão dos
objetos cognoscíveis. Revela ou exprime a substância das coisas, descreve
objetos, organiza dados da experiência de forma a estabelecer conexões
de natureza lógica.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
152
GRUPO FOCAL – Sessão 8
OBJETIVOS:
Resgatar as discussões sobre conceito.
Construir coletivamente o conceito de cuidado de Enfermagem.
Síntese da 7ª Sessão:
- Conceito que fuja da abstração, que retrate a nossa realidade.
- Conceito que viabilize o entendimento de todos.
- Conceito claro, conciso e objetivo.
- Conceito que viabilize ao profissional a percepção do seu fazer.
- Conceito que dê consciência da essência da Enfermagem.
- Conceito como possibilidade de tornar claro o fenômeno.
- Conceito como meio de revelar de forma clara e objetiva o fenômeno.
- Conceito como resultado da prática/ação de cuidar.
- “Eu vou me reconhecer no conceito”.
Conceitos para discussão:
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno essencial à vida, que ocorre no
encontro de seres humanos que interagem por meio de uma relação que
envolve consciência, zelo, solidariedade, ética e amor.
Cuidado de Enfermagem constitui-se um fenômeno imprescindível na
relação entre seres humanos que interagem por meio de atitudes como:
consciência, zelo, solidariedade, ética e amor.
Cuidado de Enfermagem é tomar consciência da relação que ocorre
entre seres humanos que interagem dialogicamente por meio do zelo,
afeição, solidariedade e ética.
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno indispensável à vida, que
ocorre no encontro entre seres humanos que se relacionam de forma
consciente, solidária, ética e afetiva.
Cuidado de Enfermagem
Eucléa Gomes Vale
153
GRUPO FOCAL – Sessão 9
OBJETIVO:
Validar o conceito de cuidado de Enfermagem construído pelo grupo.
Conhecer a opinião dos elementos do grupo focal sobre sua
participação na elaboração de um conceito de cuidado de
Enfermagem para o ensino de graduação.
CONCEITO DE CUIDADO DE ENFERMAGEM
Cuidado de Enfermagem é um fenômeno intencional, essencial à vida,
que ocorre no encontro de seres humanos que interagem, por meio de
atitudes que envolvem consciência, zelo, solidariedade e amor. Expressa
um “saber-fazer” embasado na ciência, na arte, na ética e na estética,
direcionado às necessidades do indivíduo, da família e da comunidade.
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