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Em seu texto, o acordo inovava na própria definição de investimentos estrangeiros,
que era mais abrangente do que nos demais documentos internacionais, já que o referido
acordo não trataria somente dos investimentos estrangeiros diretos, mas também de
propriedades móveis e de imóveis das empresas, de direitos contratuais, de direitos de
propriedade intelectual, de concessões, de licenças e de investimentos em portfólio como
forma de alocação de capitais
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. Quanto à proteção de investimentos, tão importante para os
países em desenvolvimento, esse acordo multilateral propunha regras sobre expropriação,
indenizações, seguros contra riscos políticos, livre transferência de divisas e sub-rogação,
como também estabelecia uma lista de setores da economia, que poderiam ser isentos da
disciplina de suas regras e obrigações, e proibia a adoção de exigências de desempenho
relacionadas ao estabelecimento, aquisição, expansão ou instalação de investimentos.
Devido a sua abrangência, seria hoje um marco histórico, se suas negociações não
fossem abandonadas desde 1998, devido a desentendimentos entre diferentes países e blocos
regionais
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, bem como por conter em seu texto disposições que beneficiam claramente os
países desenvolvidos e as suas empresas, que certamente não serão aceitas pelos países
receptores de recursos. Mesmo assim, o texto ainda é fonte para diversas discussões
multilaterais setoriais e específicas que tratam do tema.
Anteriormente, a Organização das Nações Unidas (ONU) tentou uma
regulamentação multilateral dos investimentos estrangeiros, como conseqüência de uma
agenda desenvolvimentista atuante nas décadas de 1960 e 1970. Antes, havia uma
discordância entre as grandes economias mundiais a respeito de um sistema que versasse
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ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Multilateral
Agreement on Investments. Disponível em <http://www1.oecd.org/daf/mai/pdf/ng/ng987r1e.pdf>. Acesso
em: 5 jan. 2007. Art. 2 do MAI : “ Investment means: Every kind of asset owned or controlled, directly or
indirectly, by an investor, including: (i) an enterprise (being a legal person or any other entity constituted or
organized under the applicable law of the Contracting Party, whether or not for profit, and whether private or
government owned or controlled, and includes a corporation, trust, partnership, sole proprietorship, branch,
joint venture, association or organization); (ii) shares, stocks or other forms of equity participation in an
enterprise, and rights derived therefrom; (iii) bonds, debentures, loans and other forms of debt, and rights
derived therefrom; (iv) rights under contracts, including turnkey, construction, management, production or
revenue-sharing contracts; (v) claims to money and claims to performance; (vi) intellectual property rights;
(vii) rights conferred pursuant to law or contract such as concessions, licenses, authorizations, and permits;
(viii) any other tangible and intangible, movable and immovable property, and any related property rights,
such as leases, mortgages, liens and pledges”
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Vera Thorstensen explica com maiores detalhes o insucesso do MAI: setores europeus ligados às áreas de
proteção de valores culturais não concordavam com o acordo, uma vez que este poderia destruir a tradição e os
costumes europeus ao permitir a entrada de investidores americanos para a produção de filmes, programas de
TV ou de rádio e musical; já as áreas ligadas ao meio ambiente e a proteção dos trabalhadores também
exerciam pressão para que fossem incluídas cláusulas especificas sobre os temas; por fim, os próprios
americanos não anuíram com o texto do acordo, já que este não satisfazia seus interesses por ter previsto
muitas salvaguardas e exceções. THORSTENSEN, Vera. OMC: Organização Mundial do Comércio:- as
regras do comércio internacional e a rodada do milênio. São Paulo: Aduaneiras, 1999. p. 279.