carta, é possível considerar que, o fato de o escritor de Hebreus ter contestado a
posição do Sumo Sacerdote, sobrepondo a figura de Cristo, foi patrocinado pelo
momento histórico religioso e econômico-comercial, pois: a) a figura do sacerdote
já estava desgastada pelo envolvimento com a política
160
. b) mesmo que o Templo
de Jerusalém ainda existisse quando a carta foi escrita, os cristãos já haviam
quebrado o contato e não mais ocupavam o Templo para ofertar
161
. Após a
diáspora, esse abandono do culto central se fortificou
162
, e com isso a figura do
Sumo Sacerdote se enfraqueceu. c) Além de que a sociedade judaica da época,
conforme apontado anteriormente, estava abandonando a idéia de se concentrar
apenas em Jerusalém para a adoração, e isto foi devido a expansão dos contatos
comerciais entre os povos.
Ainda, o novo entendimento relativo ao sacrifício foi outro ponto que
contribuiu para o enfraquecimento do Sumo Sacerdote. Devido a grande
perseguição dos cristãos por parte do Imperador Domiciano. CARSON, D.A. & MORRIS, Leon. Introdução
ao Novo Testamento, São Paulo, Vida Nova, 1997, p 441-442. Por outro lado há os mais conservadores que
apontam uma data anterior à destruição do Templo de Jerusalém. Os quais argumentam que o fato de haver a
menção da recente libertação de Timóteo (13.23) exigiria uma data nos anos finais à década de 60. RYRIE,
Charles Caldwel. Introdução à Epístola aos Hebreus, São Paulo, Mundo Cristão, p 153.
160
FOHRER, Georg. A História da Religião em Israel. São Paulo, Ed. Paulinas, 1982, p. 475.
161
FLUSSER, David. Judaísmo e as origens do cristianismo, vol. 3. Rio de Janeiro: Imago, 2002, p. 165.
Comentando sobre o cisma existente logo nos primeiros anos do Cristianismo com a adoração no templo e o
judaísmo Flusser comenta que: “Conquanto o anti-semitismo existisse antes do cristianismo, o antijudaísmo
cristão era muito mais virulento e perigoso. Este último rejeitou a maior parte das idéias do anti-semitismo
greco-romano, porque era contra os cristãos também, mas inventou novos argumentos”.
162
IDELSOHN, Abraham Zebi. Jewish Liturgy and its development. New York: Dover, 1995, p. 13. “A idéia
de desprezar todos os outros santuários do país e concentrar o culto e sacrifício apenas em um lugar, ‘no lugar
escolhido’, em Jerusalém, foi desenvolvida durante o reino de Josias, cerca de 400 anos antes da construção
do [primeiro] Templo”. FOHRER, Georg. Op. Cit. p. 459. diz que no “Curso do séc IV, a.C. os adoradores de
Iaweh, da província de Samaria, finalmente romperam o relacionamento com Jerusalém e constituíram sua
própria comunidade samaritana com um templo no monte Gerizim”.