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FERNANDA BEATRIZ CARICARI DE MORAIS
AS MULHERES NA POLÍTICA BRASILEIRA: UM ESTUDO SOB A
PERSPECTIVA SISTÊMICO-FUNCIONAL
MESTRADO EM
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
2008
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FERNANDA BEATRIZ CARICARI DE MORAIS
AS MULHERES NA POLÍTICA BRASILEIRA: UM ESTUDO SOB A
PERSPECTIVA SISTÊMICO-FUNCIONAL
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para
obtenção do tulo de MESTRE em
Lingüística Aplicada e Estudos da
Linguagem, sob orientação da Profa.
Dra. Leila Barbara.
PUC - SP
2008
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BANCA EXAMINADORA
__________________________
__________________________
__________________________
Autorização
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a
reprodução parcial ou total desta dissertação por processos fotocopiadores ou
eletrônicos.
Assinatura ______________________________________ Local e
data_____________
Aos meus pais e ao Ricardo
“Espera-se que as mulheres façam o dobro dos homens, na metade do tempo
e sem mérito algum. Ainda bem que isso não é tão difícil”.
Margareth Tatcher
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pelo apoio.
A minha orientadora, Profa. Dra. Leila Barbara, pela dedicação, paciência,
carinho e atenção e, principalmente por me ajudar a crescer.
A Profa. Dra Astrid Sgarbieri, pelo apoio e amizade; pelas contribuições dentro
e fora do exame de qualificação e, por ser responsável por despertar em mim a
curiosidade da pesquisa.
A Profa. Dra. Célia M. Macedo, pelas contribuições importantes no exame de
qualificação.
Ao Prof. Dr. Orlando Vian Jr. por ter me acolhido em suas aulas.
Ao Ricardo pelo apoio e carinho.
Aos meus amigos do LAEL, em especial, Gislene, João Paulo, Elide e Zélia.
A minha prima Ieda, pelos desabafos e passeios por São Paulo.
Ao CNPq, pelo auxílio financeiro a esta pesquisa.
RESUMO
O objetivo desta pesquisa é analisar a representação da mulher política em
artigos de revistas de circulação nacional, como Época, Veja e Isto É, no
período de 2002 a 2007. Utilizou-se a Lingüística Sistêmico-Funcional de
Halliday (1994, 2004) e seguidores (Eggins, 1994, Thompson, 1996) para a
análise lingüística da metafunção ideacional para caracterizar o uso da
linguagem como representação. O suporte em estudos de Ciências Políticas,
como o de Grossi e Miguel (2001) e Avelar (2001) serviram de apoio para a
análise dos dados e o melhor entendimento do papel das mulheres na política
brasileira. Os dados foram coletados dos sites das revistas e separados em
dois corpora: homens políticos e mulheres políticas para serem submetidos ao
programa WordSmith Tools (Scott, 1998) e suas ferramentas Concordanciador
(Concord) e Lista de Palavras (WordList) para auxiliar na análise lingüística. Os
resultados desta análise possibilitam dizer que apensar dos avanços políticos e
sociais da sociedade brasileira, os homens e as mulheres políticas são
representados de maneiras diferentes. Elas, muitas vezes, são representadas
pelas suas vidas privadas e suas características femininas e não por suas
características e competência profissionais. Eles são representados pelas suas
disputas e desonestidades. O presente trabalho pretende ter contribuído para a
reflexão sobre a importância da participação política das mulheres, bem como
seu papel na sociedade.
Palavras-chave: Políticos, Lingüística Sistêmico-Funcional, mídia impressa.
ABSTRACT
This study aims to analyze the representation of women politicians in articles
from magazines like Veja, Época and IstoÉ. Linguistics Functional Grammar of
Halliday (1994, 2004) and followers (Eggins, 1994, Thompson, 1996) was used
to analyze the ideational metafunction, so as to characterize the use of the
language as representation. The studies as Grossi e Miguel (2001) and Avelar
(2001) were used as a support to analyze the data and to understand the role of
women in Brazilian politics. The data were collected from the magazines’
websites and separated in two corpora: women politician and men politician.
They both were submitted to the software WordSmith Tools (Scott, 1998) and to
the tools it offers, such as Concord and WordList used to assist the linguistic
analyzes. Results show that although Brazil had many social and politics
changes, women and men had different representations. Many times, women
are represented by their private lives and their female characteristics and not by
their professional characteristics and competence. Men are represented by their
competition and dishonesty. The present work intends to have contributed to
the analysis of the importance of women participation in politics and their role in
society.
Key-words: Politicians, Linguistics Functional Grammar and written media.
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO .....................................................................................1
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...................................4
1.1 As mulheres políticas brasileiras.....................................................4
1.1.1 Estudos sobre a mulher política ........................................4
1.1.2 A identidade da mulher política .........................................8
1.1.3 O estilo feminino de fazer política......................................11
1.1.4 Mulheres na política, mulheres no poder...........................15
1.1.5 Outros estudos sobre a mulher no Brasil...........................17
1.2 Lingüística Sistêmico-Funcional......................................................19
1.2.1 O Contexto ........................................................................22
1.3 As metafunções ..............................................................................25
1.3.1 Metafunção textual ............................................................26
1.3.2 Metafunção interpessoal....................................................27
1.3.3 Metafunção ideacional.......................................................28
1.4 Sistema da transitividade................................................................29
1.4.1 Processos materiais ..........................................................30
1.4.2 Processos mentais ............................................................31
1.4.3 Processos relacionais........................................................31
1.4.4 Processos comportamentais .............................................32
1.4.5 Processos verbais .............................................................32
1.4.6 Processos existenciais ......................................................33
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA..........................................................35
2.1 Objetivo da pesquisa......................................................................35
2.2 As revistas utilizadas......................................................................36
2.3 Procedimento de coleta e de organização dos dados....................39
2.4 Procedimento e metodologia de análise.........................................41
CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS .......45
3.1 Estratégias políticas .......................................................................47
3.1.1 Ações como estratégias políticas........................................49
3.1.2 Avaliações e identificações em estratégias políticas...........53
3.1.3 Falas como estratégias políticas .........................................56
3.2 Reconhecimento político ................................................................61
3.2.1 Como os políticos são avaliados segundo seus
desempenhos como profissionais e pela suas popularidades
entre os eleitores..........................................................................63
3.2.2 Como suas ações influem na forma como são
reconhecidos na política brasileira ...............................................68
3.2.3 Comentários feitos por colegas de trabalho sobre as
competências políticas das mulheres...........................................73
3.2.4 Descrição de situações difíceis com a população74
3.3 Honestidade ...................................................................................75
3.3.1 Punições recebidas por corrupção e crimes cometidos ......76
3.3.2 Acusações recebidas ..........................................................80
3.4 Aparência .......................................................................................83
3.5 Relacionamentos familiares ...........................................................96
3.5.1 Como os relacionamentos familiares são avaliados e
Identificados .................................................................................97
3.5.2 Como as relações familiares influenciam ações dos
políticos ........................................................................................100
3.5.3 Como as falas são reportadas pelos jornalistas..................104
3.5.4 Como as dificuldades relacionadas às relações
familiares são representadas .......................................................107
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .....................................................115
ÍNDICE DAS TABELAS:
Tabela 1.1 Senadoras e deputadas dos maiores partidos políticos
Brasileiros.............................................................................................10
Tabela 1.2 Diferentes representações por sexo...................................11
Tabela 2.1 Total de leitores das revistas..............................................36
Tabela 2.2 Porcentagem de arquivos por revista.................................40
Tabela 2.3 Resultado estatístico dos corpora ......................................40
ÍNDICE DE FIGURAS:
1.1 Gênero e registro em relação à linguagem.....................................23
1.2 Tipos de processo...........................................................................30
2.1 22 palavras mais freqüentes no corpus de MP ..............................42
2.2 Trecho da concordância de candidata ...........................................43
3.1 Categorias de análise.....................................................................46
ÍNDICE DE QUADROS:
1.1 Metafunções e seus reflexos ..........................................................25
1.2 Funções de fala e as suas respostas..............................................27
1.3 Processo, participante e circunstância............................................28
2.1 Informações sobre as revistas........................................................37
3.1 Categorias de acordo com os tipos de processo............................45
3.2 Assuntos abordados nas grande categorias ..................................47
3.3 Processos utilizados para representar estratégias políticas...........48
3.4 Processos utilizados para representar reconhecimento político.....62
3.5 Processos utilizados para representar as desonestidades do HP..75
3.6 Processos utilizados para representar características ligadas
à aparência...........................................................................................84
3.7 Processos utilizados para representar as relações familiares
dos políticos .........................................................................................97
ÍNDICE DE LISTAS DE CONCORDÂNCIA:
Lista 1: Processo acusado.................................................................................79
Lista 2: Processo citado.....................................................................................80
Lista 3: Processo apontado...............................................................................81
Introdução
1
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa está inserida no Projeto DIRECT (em direção à linguagem
do trabalho), desenvolvido no Programa de Estudos de Pós-Graduação em
Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem (LAEL) da PUC-SP. O objetivo
geral desta pesquisa é descrever e analisar como profissionais da área política
brasileira são representados, tendo como foco de analise a representação da
mulher política em artigos de revistas.
Como este trabalho está inserido na área da Lingüística Aplicada, além
de analisar a linguagem através de uma teoria lingüística, buscamos em uma
outra área do conhecimento, a de Ciências Políticas, subsídios para o melhor
entendimento do papel da mulher na política brasileira. Moita Lopes (2006)
discute que o campo da Lingüística Aplicada está localizado nas ciências
sociais e possibilita, em seus estudos, o diálogo com outras áreas para
esclarecer aspectos da vida social.
Mais especificamente, o trabalho aqui proposto fundamenta-se nas
pesquisas da área de Ciências Políticas, como o de Avelar (2001) e Grossi e
Miguel (2001) que estudam a participação e a importância da mulher no
cenário político brasileiro, contribuindo para o melhor entendimento da
importância e dos desafios da mulher na política brasileira. A questão central
destas pesquisas é analise da participação das mulheres na política e fazer
considerações sobre as razões do lento processo de mudanças políticas do
país e democratização da sociedade brasileira sem discriminação de gênero.
Ressaltamos que esta pesquisa se restringe à análise da representação dos
profissionais políticos e não tem como foco discussões políticas e análise da
linguagem jornalística.
Objetivando analisar como os profissionais políticos são representados,
apoiamos-nos na Lingüística Sistêmico-Funcional de Halliday (1994, 2004) e
seus seguidores como Eggins (1994) e Thompson (1996). A Lingüística
Sistêmico-Funcional (LSF) é uma teoria de linguagem que está preocupada
com o uso efetivo da linguagem em diferentes contextos.
Também, nos apoiamos em pesquisas lingüísticas sobre mulheres como
Fabrício (2005), Heberle (2005) e sobre mulheres políticas como as de
Introdução
2
Sgarbieri (2005, 2006), além das pesquisas em Lingüística Sistêmico-Funcional
(LSF) como a projeção da imagem de profissionais de Barbara (2005a, 2005b)
e teses e dissertações e em LSF como Bressane (2000, 2006), Lima-Lopes
(2001) e Santos-Lopes (2006).
Para a realização desta pesquisa, coletamos 52 artigos que tratam da
mulher política no período de 2002 a 2007 nos sites das revistas Veja, Época e
Istoé, escolhidas por abordarem acontecimentos do cenário político brasileiro e
circularem em todo território nacional. Após a coleta, os artigos foram tratados
com o auxílio da ferramenta computacional WordSmith Tools (Scott, 1998).
Esta pesquisa visa responder às seguintes perguntas sobre mulheres
políticas:
Como a mulher política brasileira é representada pela mídia
impressa? Essas representações são positivas, negativas ou
neutras?
Quais escolhas lingüísticas são responsáveis por esta
representação?
Como se manifestam as diferenças e/ou semelhanças nas
representações dos profissionais (homens e mulheres) na área
política?
Para esta última pergunta cujo objetivo é a comparação, coletamos
artigos de períodos semelhantes sobre homens políticos.
A ferramenta computacional possibilitou o trabalho com uma grande
quantidade de textos e auxiliou a análise através do sistema da transitividade
(metafunção ideacional) para analisar as representações dos políticos.
Esta dissertação está dividida em três capítulos:
O Capítulo 1, Fundamentação Teórica está dividido em duas partes. A
primeira enfoca os Estudos de Ciências Políticas sobre a participação da
mulher na vida política brasileira, sua identidade, dificuldades enfrentadas e
estilo de fazer política, além de estudos lingüísticos recentes sobre mulher. A
segunda apresenta a teoria de linguagem, Lingüística Sistêmico-Funcional,
base deste trabalho apresentando panoramicamente as três metafunções, com
ênfase na Metafunção Ideacional.
Introdução
3
O Capítulo 2, Metodologia de Pesquisa, apresenta o objetivo da
pesquisa, o contexto de situação dos artigos das revistas, os procedimentos de
coleta e organização dos dados e procedimentos e metodologia de análise.
No Capítulo 3, Apresentação, Análise e Discussão dos Dados, é feita
a análise da representação da mulher política e sua comparação com o homem
político. A análise está dividida nas categorias semânticas: disputas políticas,
reconhecimento político, honestidade, aparência e relacionamentos familiares.
São apresentadas, ao final, as Considerações finais, em que uma
retomada dos resultados da pesquisa, além de algumas considerações sobre
as implicações dos resultados obtidos e perspectivas para estudos futuros. As
Referências Bibliográficas utilizadas na pesquisa encerram esta dissertação.
Fundamentação teórica
4
CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem por objetivo descrever os estudos e os pressupostos
teóricos que serviram de base para a realização desta pesquisa e está dividido
da seguinte maneira: primeiramente descreveremos as pesquisas sobre a
participação da mulher na política brasileira, como o de Avelar (2001) e de
Grossi e Miguel (2001) e outros estudos que tratam do discurso sobre a
mulher. Em seguida, apresentaremos a teoria que embasa essa pesquisa, a
Lingüística Sistêmico-Funcional proposta por Halliday (1985, 1994, 2004).
1.1 As mulheres políticas brasileiras
Apresentamos uma visão geral de alguns estudos realizados na área de
Ciências Políticas com enfoque na mulher política brasileira. No primeiro item,
apresentamos um panorama sobre a participação política das mulheres
brasileiras, o feminismo como ideologia e as lutas femininas pela conquista da
igualdade política. No item seguinte, apresentamos os estudos sobre a
identidade própria da mulher política, as tendências contemporâneas e os
resultados de pesquisas realizadas com o eleitorado. Em 1.1.3 enfocamos
aspectos singulares que as mulheres têm para fazer política e os avanços nas
políticas sociais do Brasil. Finalizando, apresentamos os principais assuntos
discutidos no Seminário mulheres na política, mulheres no poder, como as
dificuldades encontradas pelas mulheres que estão atuando na política
brasileira e a dura tarefa de conciliar a vida política e a vida familiar.
1.1.1 Estudos sobre a mulher política
No início do século XX, os estudos sobre a participação das mulheres na
vida política colocaram em relevo aspectos relacionados com a evolução desta
participação sob a perspectiva de mudanças sociais, culturais e políticas da
sociedade. Destacam-se as mudanças na família, novas formas de produção
no mundo do trabalho com impacto nas relações sociais, as conquistas
femininas ao longo do século XX e o amadurecimento de uma consciência
feminista, mudanças que acabaram por abalar as estruturas seculares sobre as
quais se assentava a dominação masculina em todas as esferas da vida
Fundamentação teórica
5
pública. No caso do nosso país, as análises sobre mulheres na política levam
em conta as razões do lento processo de mudanças políticas, principalmente
no campo dos direitos de cidadania, conforme apontam os estudos de Avelar
(2001).
A mesma autora discute que o ritmo das transformações econômicas é
maior do que o das mudanças políticas e sociais. Os instrumentos potenciais
para a igualdade política não se difundiram de modo semelhante nos diferentes
países do mundo, os grupos de elite do poder sempre sabendo como trabalhar
as novas forças políticas de modo que não abalassem nem seu poder nem sua
legitimidade.
A conquista da igualdade formal é diferente da igualdade real. Os
direitos de cidadania são lentamente ampliados para os segmentos
desprivilegiados. Avelar (2001) salienta que as mulheres são bons exemplos
para termos a idéia de quanto é longo o caminho da luta pela extensão real dos
direitos de cidadania. Enfatiza, ainda, que os movimentos urbanos dos anos 20
e 30 deixavam claro que as conquistas femininas não implicariam alterar a
estrutura da sociedade e da família. Estes foram frutos da ação de mulheres de
classe alta e reiteravam a política conservadora da época.
Revistas femininas da época, como a Revista feminina (1915-1927)
contribuíram, segundo Avelar (2001), para reforçar a idéia de que o lar, e não a
arena política, era o lugar próprio das mulheres.
As mulheres conseguiram o direito ao voto por um decreto do
presidente Getúlio Vargas, em 24 de fevereiro de 1932. Os temas defendidos
pelas feministas dos anos 30 eram: os interesses das mulheres trabalhadoras,
a necessidade de instituir educação em colégios mistos, a mudança da
legislação que reconhecia como incapaz a mulher casada, a política voltada às
crianças abandonadas e a emancipação econômica das mulheres. O
posicionamento ideológico das mulheres tornou-se mais claro na medida em
que no país se construía um novo espaço, o espaço político da esquerda.
Fundamentação teórica
6
As mulheres brasileiras seguiam orientações das organizações
feministas mundiais. A diversificação ideológica do feminismo expressaria o
fato de que não havia uma orientação única no campo das teorias feministas,
havia o feminismo liberal, o feminismo socialista, o feminismo marxista e o
feminismo radical.
O feminismo, como uma ideologia política, é um elemento crucial na
construção de identidades políticas femininas, porque é um conjunto
estruturado de idéias que guia a ação política. A consciência de que as
mulheres são discriminadas e não usufruem das mesmas condições de
igualdade que os homens; a convicção de que isso é resultante da situação de
desigualdade estrutural das mulheres na sociedade e do reconhecimento de
que são necessárias soluções grupais, resultantes da ação coletiva, para a
mudança em termos estruturais. Segundo Reis (2000) essa mudança é um
processo cognitivo, intelectual, construído socialmente, e não apenas uma
visão de mundo.
Pizzorno (2000) discute a ideologia como identidade coletiva e
construída em uma relação social: a ação do sujeito volta para ele mesmo
porque é na reciprocidade da ação que ele se reconhece. Ao reconhecer-se,
ele atribui uma identidade social que é muito mais duradoura e necessária a
qualquer ser humano, porque significa uma imagem de si construída no
processo social de reconhecimento recíproco realizado na experiência
intersubjetiva da ação social.
A luta feminista se insere na luta pela democratização de uma
sociedade, e ela é idêntica àquela de qualquer outro grupo marginalizado da
sociedade. Avelar (2001) toma as palavras de Reis (2000) para exemplificar
esta luta pela democracia:
“Uma sociedade não será democrática na medida em que as
oportunidades dos indivíduos estejam condicionadas por sua
inserção nesta ou naquela categoria social: sejam quais forem os
critérios com base nos quais tais categorias se constituam (raça,
classe, etnia, religião, gênero...), a sociedade assim caracterizada
Fundamentação teórica
7
será fatalmente hierárquica e autoritária,e as oportunidades
diferenciais por categorias de expressarão, ao cabo, o
desequilíbrio nas relações de poder entre elas e a subordinação
de umas às outras”. (Avelar, 2001:26).
Grossi e Miguel (2001:12) apontam que a entrada das mulheres na
disputa política se faz por dois grandes canais:
A participação em movimentos sociais, como: grupos de bairro,
sindicatos, etc.;
As relações familiares, como o parentesco com um homem
político, em geral, pai ou marido.
As autoras (2001) discutem que para muitas mulheres, chegar à política
pelo primeiro canal, o da participação em movimentos sociais, seria
enobrecedor, mas chegar à política pelo segundo canal, o das relações de
parentesco seria desabonador, pois se estaria entrando na política facilitada
por relações de clientelismo, presentes na cultura política brasileira. As
mulheres que entram na carreira política pelo primeiro canal são valorizadas
pelo seu esforço pessoal. As mulheres que entram pelo segundo canal são
acusadas de terem sido eleitas ilegitimamente, por terem se beneficiado tanto
do prestígio, quanto das alianças feitas por ou em nome do pai ou do marido.
Representada como uma carreira com duplo sentido, a carreira política
ora é representada como fruto de projeto coletivo ideológico, ora como fruto de
um projeto totalmente individual. Por trás da crítica às mulheres políticas
parece haver uma visão de que a política deveria ser somente uma vocação e
não uma carreira que exigiria um longo processo de formação.
As mulheres que seguiram tradições familiares no campo da política, a
sua própria autoria e desejo, reconhecendo que muitas mulheres que contaram
com o prestígio político dos seus maridos ou pais, tomaram rumos
independentes e, muitas vezes, até superaram o prestígio dos seus familiares.
Podemos chamar a representação da mulher política de sub-
representação política, pois é a mesma das de outros grupos em condição de
Fundamentação teórica
8
desigualdade nas condições de vida e na estrutura das oportunidades. Como
outros grupos da sociedade menos privilegiados, as mulheres encontram-se
fora dos processos de decisão política. Há muito que avançar rumo à igualdade
entre os sexos, avanços que são lentos quando não mulheres na política
que defendam temas que levariam à igualdade.
Avelar (2001:37), para discutir as condições para a participação da
mulher na vida política, cita parte da Resolução sobre mulher e poder político,
da União Inter-Parlamentar (Inter Parliamentary Union- IPU), uma organização
internacional que se alia aos esforços das Nações Unidas para a promoção da
paz e o fortalecimento das instituições representativas:
Quarenta anos depois da adoção da Convenção dos Direitos
Políticos da Mulher, e apesar dos progressos inegáveis, a vida
política e parlamentar continua dominada pelos homens em todos
os países.
Assim,
O conceito de democracia assumirá significado verdadeiro e
dinâmico quando as políticas e legislações nacionais sejam
decididas conjuntamente por homens e mulheres com eqüidade
na defesa dos interesses e atitudes de um e de outros.
(Resolução sobre Mulher e poder político da IPU, 1994).
As recomendações da Inter Parliamentary Union (1994) apontam para a
necessidade de promover ações afirmativas que promovam a consciência
política, o respeito ao princípio de igualdade nos partidos políticos, a
participação em eleições e a divisão e compartilhamento das responsabilidades
políticas.
1.1.2 A identidade da mulher política
As iniciativas dos fóruns internacionais atingiram em parte seus
objetivos. A segunda metade do século XX foi de muitos ganhos para as
mulheres. Conforme mostram os estudos de Avelar (2001), as mulheres vêm
Fundamentação teórica
9
se afirmando no campo profissional, com identidade própria, diferentemente de
seu caráter de ajuda no orçamento familiar. o mudanças no status da
mulher, com repercussões na política, sem que possamos esperar uma relação
automática com melhoria na vida profissional ou na representação política.
Avelar (2001) apresenta que alguns estudos sobre as especificidades da
participação política feminina têm derrubado algumas teses tradicionais como o
desinteresse da mulher pela política, o menor senso de eficácia,
tradicionalismo e conservadorismo.
De acordo com as tendências contemporâneas, a família encolhe-se
drasticamente e a mulher constrói sua nova identidade pessoal e social,
liberando-se de estruturas de constrangimento social e político. Essas são
mudanças na produção de vida material, provocando mudanças no campo dos
valores, com impacto positivo na representação da mulher política.
As mulheres vêm conquistando boa imagem entre o eleitorado. Avelar
(2001:72) se baseia em pesquisas realizadas pelo Instituto Gallup, publicada
no Jornal O Estado de S. Paulo no dia 26 de novembro de 2000. Entrevistas
com 2.022 pessoas no Brasil, Colômbia, México, Argentina e El Salvador
mostraram que, nestes cinco países, a maior parte das pessoas acredita que
os seus países seriam mais bem governados se as mulheres ocupassem
cargos públicos. A grande maioria acredita que as mulheres são mais honestas
e mais eficientes que os homens para conduzir medidas de combate à
pobreza, à corrupção, melhorias na educação, proteção ambiental, relações
diplomáticas e, até mesmo, política econômica. Mesmo os homens acreditam
na superioridade do desempenho político feminino em todas essas áreas. Os
resultados comparados com os de pesquisas realizadas em 1966 revelam a
crença de que homens e mulheres são igualmente capazes para conduzir a
política subiu de 40% para 60%.
Avelar (2001:74) aponta que no mesmo ano, a pergunta foi introduzida
nos surveys pré-eleitorais (Instituto Vox Populi) e os resultados foram
surpreendentes, pois a população tende a confiar mais nas mulheres no que
nos homens. Segundo a autora, esses dados devem ser vistos com cautela,
Fundamentação teórica
pois o desencanto com a política é muito grande hoje no Brasil. A população
toma consciência de que por meio da corrupção se retira das políticas públicas
e sociais o dinheiro que corrigiria, em alguma medida, as distorções
decorrentes da desigualdade na distribuição de renda no país. Não havendo
mulheres nessas práticas, também, porque a sua presença na política é menor,
a população estaria confiando em um seguimento ainda pouco comprometido.
De outro lado, como discute a autora, temos o fato das mulheres apresentarem
reivindicações de natureza social, pois seus temas a agenda política são mais
próximos às necessidades imediatas da população as prioridades sociais,
como melhores escolas e hospitais.
O número de mulheres nas cúpulas partidárias brasileiras é ainda muito
pequeno. Se analisarmos a presença feminina conforme a tendência ideológica
dos partidos, vemos que a maior presença das mulheres encontra-se nos
partidos de direita. Nos partidos constituídos pelas forças políticas de
esquerda, ainda é pequena a participação da mulher, como mostram os
quadros abaixo sobre o número de mulheres senadoras e deputadas:
Partido Deputadas
Federais
Senadoras Total Total (%)
PC DO B 5 0 5 8,93
PDT 1 0 1 1,79
PFL 5 4 9 16,07
PMDB 9 0 9 16,07
PP 3 0 3 5,36
PPS 1 0 1 1,79
PR 4 0 4 7,14
PSB 6 1 7 12,50
PSDB 3 2 5 8,93
PT 7 3 10 17,86
PTC 1 0 1 1,79
Sem partido 1 0 1 1,79
Total 46 10 56 100,00
Tabela 1.1: Senadoras e deputadas dos maiores partidos políticos brasileiros (Fonte: site da
organização Cfêmea, 2007).
Como mostramos na tabela acima, a participação das mulheres no
Senado e na Câmara ainda é muito baixa. Se compararmos com os dados
referente aos homens, teremos uma diferença alarmante, como na tabela
abaixo:
Fundamentação teórica
11
Mandato Mulheres Mulheres
(%)
Homens Homens
(%)
Total
Deputados(as)
Federais
46 8,98 466 91,02 512
Senadores(as) 10 12,35 71 87,65 81
Total 56 9,44 537 90,56 593
Tabela 1.2: Diferentes representações por sexo. (Fonte: site da organização Cfêmea, 2007).
Segundo a tabela acima, as mulheres representam menos de 10% dos
senadores e deputados brasileiros, este número é muito pequeno se
pensarmos na política de cotas adotada pelo Governo em 1996 para obrigar os
partidos a investirem nas candidaturas femininas. A União Inter-Parlamentar
referencia o Brasil se encontra na 104ª posição no ranking de presença de
mulheres no parlamento no mundo. Entre os países do continente latino-
americano, fica atrás, apenas, da Guatemala e do Haiti.
A sub-representação é um problema a ser resolvido, pois trata de uma
questão de democratização da representação e de justiça para com um
desequilíbrio que foi decorrente de vetos políticos históricos e desvantagens
socioeconômicas, derivadas de preconceitos e valores de gênero.
1.1.3 O estilo feminino de fazer política
Muitos estudos e pesquisas, como os já citados, enfocam aspectos
singulares do estilo feminino de fazer política. Apesar das muitas identidades
femininas, das diferentes origens de classe, de ideologia, fala-se de uma
perspectiva social como um ponto de partida comum que se caracteriza a
contribuição da mulher na política. Os temas que elas propõem, diferentes dos
propostos pelos homens, são parte de uma mudança nas concepções da
representação política que leva em conta a outra parte da população e do
eleitorado.
A primeira pesquisa publicada pela American Political Associantion
(Finiter, 1993) examinou quais as principais questões de pesquisa colocadas
nos estudos sobre mulher política e como eram realizados os estudos sobre
categorias distintas de pesquisa. A primeira, sob o enfoque crítico dos modos
Fundamentação teórica
12
como a teoria política e a pesquisa empírica tradicionalmente excluíam as
mulheres como ator político. A segunda, incluía as mulheres, embora não se
preocupava em rever as proposições de referência da análise política. A última,
indicava que medidas devem ser reconceituadas, como as definições e
referências teóricas da ciência política.
Segundo Avelar (2001), sob essas referências, podemos encontrar os
trabalhos sobre cidadania e participação, sempre definindo os fenômenos a
partir da referência masculina. Estudos clássicos, como o de Lazarsfeld,
Berelson e McPhee (1954) retratam a mulher como apolítica e desinteressada,
com baixo senso de eficácia política e total falta de sofisticação conceitual. Os
estudos de Almond e Verba (1963) e de Greenstein (1965) afirmavam serem as
mulheres mais conservadoras, autoritárias e menos tolerantes que os
comunistas e socialistas.
Segundo Tremblay e Pelletier (2000) é a consciência feminista que
determina a singularidade da atuação política da mulher, porque é ela que
informa quais são os temas relevantes a serem politizados e defendidos na
arena política formal.
Homens e mulheres com consciência feministas fazem diferença na
política, de acordo com Avelar (2001:92), a principal diferença está nos temas
que correspondem às necessidades de inúmeros grupos. O maior exemplo é a
defesa de direitos gerais para os cidadãos universais, quando sabemos que
não cidadania para numerosos grupos discriminados em quase todas as
sociedades, em particular, aquelas que convivem com enormes diferenças
sociais.
Grossi e Miguel (2001) também ressaltam a importância das mulheres
na política, pois trazerem para a vida pública experiências distintas e uma outra
perspectiva, as quais, somadas às dos homens, ampliam o campo das
temáticas tratadas na política, pelo simples fato de que os homens e as
mulheres diferem em suas prioridades.
Fundamentação teórica
13
No âmbito das teorias feministas da democracia, ambos os estudos
citados anteriormente, tratam da importância da ação política das mulheres que
defendem como prioridades: a política do bem-estar social, a política de
preservação ambiental, políticas pela maior eqüidade, entre outras. Enquanto
as prioridades que prevalecem entre os homens são: a política econômica,
industrial, segurança nacional e política externa.
Apesar dos avanços nas políticas sociais no Brasil, a questão feminista
se confunde com a questão social, podendo-se mesmo denominá-las de a
questão social do gênero (Avelar, 2001:143). É dessa forma que as mulheres
fazem a diferença. Segundo a autora, na modernidade e na política, a conduta
ética em sentido pleno e a conduta humanista são frutos de políticas sociais
que atendam tanto os segmentos sociais marginalizados, quanto aqueles
discriminados.
Avelar (2001) discute que na maioria dos casos a presença das
mulheres na política vem de sua participação nos movimentos urbanos,
sindicais e movimentos de mulheres, que trazem à tona novas demandas,
antes não contempladas pelas mobilizações que as precederam. Quando
ascendem ao poder, suas raízes levam a que privilegiem políticas voltadas às
questões sociais, conforme suas bases de poder. as mulheres podem levar
à frente políticas sociais ligadas à saúde da mulher e da criança e lançar-se
com tanta decisão para a defesa de verbas para escolas e creches. No Brasil,
um país marcado por uma enorme dívida social, isso significa modernidade
política.
Na coletividade, as mulheres têm a oportunidade de participar e redefinir
a sua identidade, vivenciando assim novas relações sociais. A participação das
mulheres na elite política alarga o campo dos direitos humanos, civis e
políticos, dentro e fora da arena eleitoral e partidária. Os temas políticos são
outros e os conteúdos de suas políticas públicas também. Young (2001) chama
de política de inclusão.
Ao contrário do que se pensa, a falta de mulheres na política afeta
profundamente a vida do país, como vemos na análise, que temas pouco
Fundamentação teórica
14
trabalhados são considerados por elas para que sejam incluídos na pauta
política, expandindo assim o campo dos direitos definidos apenas em função
dos interesses representados pelo homem, como defende Avelar (2001).
A autora discute que os movimentos das mulheres ocorrem na luta pela
igualdade econômica, social e cultural e a libertação da mulher que implica a
construção de uma realidade diferente, uma sociedade na qual a dicotomia
masculino/feminino seja superada nas relações sociais e individuais.
Przeworski (1985) analisou a importância das mulheres tanto na arena
política formal e informal, apontando que os homens fizeram as revoluções
econômicas e as mulheres as revoluções sociais.
Judith Butler (1998), em reflexão sobre a constituição contemporânea do
sujeito político, sugere a existência de um sujeito ocidental masculinizado, tanto
homens quanto mulheres atuam dentro dos parâmetros da política instituída e
reproduzem os mesmos atos codificados como políticos, que seriam, portanto,
masculinos.
Sartori (1999) analisa as mulheres em movimentos sindicais e um
partido de esquerda em que vale “quem fala mais alto", características
associadas a um modelo masculino de fazer política (o oposto daquela
sensibilidade tão destacada por homens e mulheres defensores da entrada das
mulheres na política).
Avelar (2001) acrescenta em seus estudos que o reconhecimento da
sensibilidade como um atributo das mulheres é colocado, no discurso de
mulheres e de homens, como um valor positivo para ser incorporado ao campo
da política. Se antes o perfil de um político era a firmeza, a autoridade (e todos
aqueles outros atributos atribuídos em nossa sociedade, ao masculino), hoje
neste perfil, que inclui agora também a presença das mulheres, a sensibilidade,
a ética da preocupação pelos outros, agora são vistas como posturas
necessárias, no exercício do poder. Esta seria uma das diferenças valorizadas,
na participação da mulher na política.
Fundamentação teórica
15
De acordo com Sartori (1999) uma das vantagens da entrada das
mulheres no espaço da política seria a sua capacidade de transformar a
chamada política dura em política leve, pelo menos de suavizá-la, a partir da
categoria sensibilidade, pela qual mulher política é associada nos discursos
políticos como detentora de um conjunto de qualidades que assim se
expressam nesta categoria. A sensibilidade feminina é vista como contraponto
a um padrão masculino de governar.
1.1.4 Mulheres na política, mulheres no poder
O Seminário Mulheres na Política, Mulheres no Poder, realizado em
Brasília no ano de 2000, trouxe para discussão temas como a tarefa de
conciliar vida política e vida familiar, questões culturais que envolvem a mulher,
a falta de referenciais sociais para as mulheres eleitas, entre outros, como
aponta o artigo de Grossi e Miguel (2001).
Segundo essas autoras, uma temática muito abordada no discurso
feminista é a dicotomia entre público e privado, as tensões existentes na
tentativa de conciliação da carreira política e da vida familiar. Além das
competências profissionais e intelectuais, exigidas também para o político
homem, foram lembradas outras exigências particulares às mulheres, como
boa aparência e o bom cumprimento do seu papel tradicional de mãe e esposa.
Como afirma a então Prefeita de Natal-RN, Wilma Farias:
"Hoje, as mulheres sabem que, para serem notadas, precisam
não de competência intelectual e profissional, mas ainda que
sejam mais arrumadas e mais bonitas que o homem. As mulheres
precisam estar sempre bem vestidas, têm de ser boas mães e
boas esposas, enfim, cumprirem coisas que contam para ser
consideradas dignas". (Fala da prefeita no Seminário citado, em
2000 em Grossi e Miguel, 2001:14).
Com base nos relatos das participantes, como o apresentado acima,
podemos concluir que as mulheres estão fadadas a sentirem-se sempre em
desvantagem no mundo da política, pois raramente conseguem se ver no
Fundamentação teórica
16
modelo ideal esperado que é concentrado em dois atributos: beleza e
maternidade.
A temática da maternidade mobilizou as participantes do Seminário. As
mulheres políticas que tinham filhos falaram da cobrança que recebiam
constantemente, por parte dos homens e, também, por parte das próprias
mulheres, para adequar-se à visão culturalmente difundida da construção da
identidade feminina com base no papel maternal.
Outro ponto levantado no seminário pelas autoras é a falta de
referenciais sociais para as mulheres eleitas, que ainda são tratadas pelos
referenciais masculinos, remete-nos a recente entrada das mulheres neste
campo. Como exemplo, temos a inexistência de diplomas e carteiras com os
cargos eletivos no feminino, demonstrando que a falta de apenas uma letra, a
letra “a” pode significar muito no reconhecimento das mulheres na vida política,
tendo, assim, gênero reconhecido.
Podemos concluir que as mudanças relativas à expansão das mulheres
na elite política brasileira devem ser vistas como um processo de longo prazo e
que o sinal de partida já foi dado.
Em canais corporativos do poder, as mulheres estão longe de verem
seus interesses representados e, consequentemente, longe de serem alçadas
a posições de poder, segundo apontam os estudos de Avelar (2001).
Devemos ter consciência que cada trabalho escrito sobre as mulheres
contribui para o processo de estruturação de uma identidade social e coletiva
nova, antes invisível na história. A causa feminista é uma causa para uma
sociedade muito melhor, mais fraterna e com menos desigualdade e
preconceito.
Fundamentação teórica
17
1.1.5 Outros estudos sobre a mulher no Brasil
muitos estudos que tratam da representação da mulher brasileira.
Neste subitem, nos concentramos nos estudos sobre o feminino publicados
recentemente na área lingüística.
De acordo com Funck e Widholzer (2005), os estudos sobre o feminino
surgiram e firmaram-se devido ao aumento das teorias feministas, oriundas dos
movimentos de mulheres que se instaurou entre 1960 e 1970. A questão da
representação feminina nos diversos discursos é fundamental para que se
compreenda e se busque derrubar a simetria de gênero que informa nossas
práticas culturais.
Estudos como os de Widholzer (2005), Gastalo (2005), Bisol (2005) e
Sabat (2005) analisam as representações das mulheres no discurso
publicitário. Embora com dados diferentes, os pesquisadores concluem que o
meio publicitário opera como um instrumento que reforça estereótipos e se
baseia nos padrões vigentes da sociedade, por isso as mulheres são
constantemente representadas por aspectos da feminilidade (beleza e roupas,
por exemplo) e aspectos que ressaltam seus papéis de submissão diante do
marido (provedor da casa) e de dona-de-casa.
Estes estudos tratam das relações de poder e da representação da
mulher, baseados em Goffman (1987) e na Análise Crítica do Discurso de
Fairclough (2002) e em diferentes teóricos da área de Estudos Culturais.
Um aspecto interessante tratado na análise de Widholzer (2005) sobre
os anúncios publicitários dos anos 40, nos Estados Unidos, era o reforço que
esses traziam através de heroínas que se mostravam mais fortes
(emocionalmente) e mais honestas que os homens, utilizados para atrair o
trabalho feminino no tempo de guerra.
Outros estudos sobre a representação da mulher analisam artigos de
revistas femininas e de informação. Caldas-Couthard (1997, 2005) analisa no
primeiro estudo como a mulher é descrita em notícias de jornais ingleses,
mostrando em suas análises que as mulheres são sub-representadas, suas
Fundamentação teórica
vozes são menos ouvidas e suas presenças menos significantes. No segundo,
a autora analisa como as mulheres são representadas em narrativas na revista
feminina de forma submissa em Marie Claire. Sgarbieri (2003, 2005) analisa a
mulher política em artigos de revistas de informação, como esta pesquisa
também analisa,Veja, Época e Istoé. Marcello (2005) e Oliveira (2005)
analisam textos e anúncios publicitários nas revistas femininas: Cláudia, Nova
e a extinta O Cruzeiro. Esses estudos fundamentam-se, também, na Análise
Crítica do Discurso, e, apresentam resultados que apontam que as revistas não
incorporam elementos da realidade, mas também modulam, redimensionam
e recriam essa mesma realidade, podendo ou não reforçá-las. As revistas são
vistas nessas pesquisas como detentoras de um papel importante na
manutenção de valores culturais ao focar a fragilidade feminina, o despreparo
para exercer cargos políticos, a exigências feita sobre o bom cumprimento do
papel de mãe e esposa e a constante busca pela beleza.
A representação do feminino no cinema e na televisão é analisada em
outras pesquisas, fundamentadas nos Estudos Culturais, como Maluf (2005) e
Adelman (2005), para quem as mulheres são “objetificadas” ao consumo
masculino em constante busca do amor romântico, do cumprimento das tarefas
profissionais e do lar. Heberle (2005) relaciona a Análise Crítica do Discurso e
a Lingüística Sistêmico-Funcional ao analisar as representações de identidade
e gênero em ambientes multimidiáticos na internet e, onde uma
intensificação nas relações de gênero, ao invés da neutralização dos mesmos
nesses ambientes virtuais.
Os estudos de Vieira (2005) tratam da construção social da identidade
da mulher, o seu papel como sujeito e a importância da tecnologia e da mídia
como agentes fragmentadores da identidade feminina. Ferreira (2002) também
foca o estudo das identidades da mulher na análise da conversação. Ambos
concluem que a relação linguagem e sociedade é um fator condicionador de
manifestação identidária.
Fabrício (2004) baseia-se na Análise Crítica do Discurso e nas questões
de identidade e gênero propostas por Moita Lopes (2002) para problematizar o
papel das histórias narradas pela imprensa escrita na construção da idéia de
Fundamentação teórica
19
identidades generificadas e questiona mitos da mulher frágil, incapaz e
descontrolada emocionalmente em um texto inglês.
A revista de estudos feministas, publicada pela Universidade Federal de
Santa Catarina, pode ser considerada a maior revista de estudos femininos do
país. Alguns dos estudos citados anteriormente foram publicados nessa
publicação. Encontramos estudos de Finamore e Carvalho (2006) sobre as
candidatas mulheres nas eleições. Os pesquisadores concluem, por meio dos
estudos sociológicos, que a mídia tende a desqualificar as mulheres
candidatas, enfocando-as restritamente à cena privada, identificando que o
lugar da mulher é o lar, longe, portando, do espaço político. Exemplos
analisados, no capítulo de análise desta dissertação, indicam a ênfase dada à
representação da aparência e da vida privada das mulheres políticas, mas
também representações sobre o reconhecimento e a competência
profissional. Pretendemos mostrar, aqui, que embora haja muitos estudos
sobre a mulher e a mulher política brasileira, não pesquisa, em Lingüística
Aplicada, com foco na análise lingüística de artigos que tratam de políticos,
analisando como esses são estruturados, o que e por que eles significam e se
diferenças e/ou semelhanças nas representações de mulheres e os homens
políticos, recursos possibilitados pela Lingüística Sistêmico-Funcional que será
tratada a seguir.
1.2 Lingüística sistêmico-funcional
A Lingüística Sistêmico-Funcional (doravante LSF) é uma teoria de
linguagem que explica como os significados são construídos nas interações
lingüísticas cotidianas. Para Halliday (1994, 2004) a língua é prática social e a
LSF se preocupa em explorar a maneira como o usuário utiliza a língua em
contextos diferentes. O trecho abaixo sintetiza o foco da LSF:
A abordagem Sistêmico-Funcional tem como foco a análise de
textos, produtos autênticos das interações sociais, que o
considerados em relação ao contexto cultural e social em que se
realizam. A sua maior aplicação é entender a qualidade dos
Fundamentação teórica
20
textos: por que um texto significa o que ele significa e por que é
avaliado como é”.
1
(Eggins 1994:1).
Halliday (1994:14) explica que na LSF a língua é interpretada como um
sistema de significados que são realizados através das formas lingüísticas. A
língua é vista como uma rede de escolhas, em que as formas lingüísticas são
analisadas levando-se em conta outras possibilidades oferecidas pela língua.
A análise do texto em termos gramaticais é considerada por Halliday
(1994:16) o primeiro passo para a análise. A interpretação de um texto, seja
este oral ou escrito, deve leva em conta o contexto de sua produção. A citação
abaixo mostra a visão de texto do autor:
“Para um gramático, o texto é rico, além de ser um fenômeno
multifacetado que ‘significa’ em diferentes maneiras. O texto pode
ser explorado por diferentes pontos de vista, mas nós podemos
distinguir dois principais ângulos de visão: o primeiro foca o texto
como um objeto de seu próprio direito; e o segundo foca o texto
como um instrumento para encontrar muitas coisas”. (Halliday
2004:3).
2
A citação acima confronta duas abordagens: a formal e a funcional. A
formal utiliza o texto como objeto e a funcional utiliza-o o para analisar
aspectos da linguagem em sociedade, pois o texto é entendido como unidade
semântica e não apenas gramatical.
Halliday (1994:16) argumenta que uma análise do discurso não baseada
em gramática não é uma análise completa, mas um simples comentário sobre
o texto. A realização de um texto acontece através das relações semânticas e
1
Tradução minha. No original: “Underlying all these very varied applications is a common focus
on the analysis of autentic products of social interation (texts), considered in relation to the
cultural and social context in which they are negotiated. Consequently, the most generalized
application of systemic linguistics, and the one which will provide the framework for this book, is:
‘to understand the quality of texts: why a text means what it does, and why it is valued as it is
(Halliday 1985:30)”.
2
Tradução minha. No original: “To a grammarian text is a rich, many-faced phenomenon that
‘means’ in many different ways. It can be explored from many different points of view But, we
can distinguish two main angles of vision: one, focus on the text as an object in its own right;
two, focus on the text as an instrument for finding out about something else”.
Fundamentação teórica
21
gramaticais. A gramática é requerida por fornecer uma compreensão clara do
sentido e da efetividade de um texto, por isso precisa ter esta orientação
semântica e funcional.
O autor (1994:20) define gramática funcional, explicando que
funcionalidade significa ser baseada no significado e, o fato de ser gramática é
entendido como a interpretação das formas lingüísticas. Por isso, a gramática
separa as possíveis variáveis e aponta suas possíveis funções para podemos
dar a nossa interpretação de um texto tanto pela sua descrição semântica e
como pelas características lingüísticas.
A linguagem é vista como prática social, cujo uso motiva-se por uma
finalidade. Nessa perspectiva, como aponta Halliday (1985:4), a LSF estuda as
maneiras pelas quais as pessoas utilizam a linguagem para atingir
determinados objetivos em situações específicas dentro de uma sociedade. A
linguagem é vista como um recurso usado pelos seres humanos para criar
significados.
Thompson (1996:8) discute que para sabermos o que significa uma
escolha, precisamos ver o contexto: o que isto significa em nossa sociedade?
quais são os fatores contextuais que fazem uma escolha ser mais apropriada
que outra? As escolhas lingüísticas precisam ser identificadas, ou seja, as
possibilidades lexicais e estruturais que a língua oferece para o uso precisam
ser exploradas, assim como, os significados que cada escolha expressa. Para
o autor, as escolhas podem não ser conscientes, embora não sejam aleatórias.
Thompson (1996:30) diz que uma escolha pode determinar ou ser determinada
por outra, dependendo dos elementos gramaticais que estão presentes no
contexto.
Baseado em termos de Malinowski, Halliday (1994:31) discute os
contextos de situação e de cultura, que tratamos a seguir.
Fundamentação teórica
22
1.3 O contexto
A Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF), segundo Halliday (1994), a
língua como um recurso para construir significados em diferentes contextos. A
língua e o contexto são inter-relacionados, permitindo ao ouvinte ou ao leitor
deduzir o contexto de um texto, além de predizer a língua através de um
contexto. Para Thompson (1997:10):
“Nós deveríamos ser capazes de deduzir consideravelmente o
contexto em que a linguagem foi produzida, os motivos pelo qual
ela foi produzida e o razão do por que a linguagem foi expressa
da maneira que foi”
3
.
Para saber como o contexto afeta o uso da língua, utilizamos o conceito
sistêmico de gênero e registro. Para LSF, as diferenças entre os textos se
devem ao reflexo de uma dimensão contextual mais abstrata, também
chamada de ideologia, que envolve posições de poder, crenças, valores que os
escritores ou falantes trazem para os seus textos.
Eggins (1994:34) ilustra em um diagrama a relação entre contexto, texto
e linguagem, conforme segue abaixo:
3
Tradução minha. No original: “We should be able to deduce a great deal about the context in
which the language was produced, the purpose for which it was produced, and the reasons why
it was expressed in the way it was”.
Fundamentação teórica
23
Contexto de
cultura
modo
Contexto de
situação
Gênero
Linguagem
Campo Registro Relação
Figura 1.1: Gênero e registro em relação à linguagem.
O diagrama acima ilustra que o gênero está em um dos dois níveis de
contexto que reconhecemos: o contexto de cultura, que é mais abstrato e mais
geral que o contexto de situação (que explica o registro). É no registro que o
gênero é realizado através da linguagem, conforme aponta Eggins (1994:34),
baseada em Halliday (1985, 1994).
Halliday e Hasan (1989) discutem a importância de não considerar o
texto apenas um produto, mas sim, levar em consideração o contexto de
cultura e o contexto de situação em que os textos são produzidos. O gênero,
que representa os processos sociais em etapas orientadas para um objetivo
comunicativo em uma dada cultura, passa a ser social, pois o usuário infere os
significados dos textos que produz e/ou recebe a partir do meio social e cultural
em que vive. O registro refere-se ao contexto de situação. Halliday (1985)
estabelece três variáveis de registro: campo (field), relações (tenor) e modo
(mode), que são realizadas respectivamente pelas metafunções: ideacional,
interpessoal e textual. As variáveis de registro, conforme descritas pelo autor:
Fundamentação teórica
24
O Campo do discurso refere-se ao que está acontecendo, a natureza
da ação social: no que os participantes estão envolvidos? Quais são
os componentes da língua que figuram como os essenciais?
As Relações do discurso referem-se a quem está fazendo parte, a
natureza dos participantes, suas posições e papéis: quais são as
relações que se dão entre os participantes? (incluindo relações
permanentes e temporárias). Quais são as relações que estão
envolvidas?
O Modo do discurso refere-se a que parte da língua é usada. O que
os participantes esperam fazer com a linguagem em termos de
organização simbólica do texto, status nesta organização, função no
contexto, incluindo o canal (falado ou escrito) e, também, o modo
retórico do texto. O que está sendo atingido pelo texto em termos
categorias, como: persuasiva, didática, entre outras.
Conforme mencionamos anteriormente, uma ligação intrínseca entre
a linguagem e o contexto. Para Halliday (1994:31), alguns fatos mostram que a
linguagem e o contexto estão inter-relacionados, ou seja, somos capazes de
deduzir o contexto de um texto, pois o mesmo carrega aspectos do contexto
em que foi produzido; somos capazes de predizer a língua através de um
contexto, isto é, podemos predizer o tipo de estrutura sintática, as palavras que
ocorrerão no texto; sem um contexto não somos capazes, em geral, de dizer o
significado que está sendo construído.
É possível, dessa forma, prevermos qual o tipo de linguagem é
apropriada em um contexto específico, evidenciando, assim, nossa consciência
intuitiva de que o uso da linguagem é sensível ao contexto de situação.
Conforme aponta Eggins (1994:30), o contexto de cultura é o contexto
que se refere ao propósito e ao significado para o qual o texto foi produzido. A
linguagem não é usada somente para representar a nossa realidade, mas
também como instrumento atuante na construção da nossa visão de mundo.
Portanto, o uso da língua será sempre influenciado pela nossa posição
ideológica, nossos valores e crenças. Dessa forma, a linguagem é sensível ao
contexto de situação e suas dimensões: campo, relações e modo.
Fundamentação teórica
25
Assim, para compreendermos o contexto em que esta pesquisa está
inserida, apresentamos, no item anterior, os estudos sobre as mulheres
políticas brasileira, sua luta pela igualdade e seus desafios como profissionais
em nossa sociedade, que são subsídios importantes para entendermos como o
a sociedade em que vivemos pode influenciar nas escolhas lingüísticas feitas
nas revistas para representar essas profissionais. Para analisar
detalhadamente como se dão estas representações, apoiamo-nos na
metafunção ideacional, uma das metafunções de Halliday (1985, 1994, 2004)
descritas a seguir.
1.3 As metafunções
O que distingue a LSF de outras abordagens é que ela procura
desenvolver uma teoria sobre a língua como um processo social e uma
metodologia que permite uma descrição detalhada e sistemática dos padrões
lingüísticos. Por isso, a LSF apresenta-se como um sistema de significado no
qual associamos três metafunções.
O termo metafunção, conforme explica Halliday (2004:31), foi adotado
para sugerir que a função do significado tem um papel fundamental dentro de
toda a teoria. São as metafunções que permitem descrever e analisar as
dimensões específicas do significado em uma oração.
Para Halliday (1994:36), a língua está estruturada para construir três
tipos de significados simultâneos: experiencial, interpessoal e textual. Isso é
possível porque a língua é um sistema semiótico, organizada como um
conjunto de escolhas. Abaixo, o quadro de Halliday (1994:36) com as
metafunções e seus reflexos na gramática:
Metafunção Definição Status correspondente na oração
Ideacional Explica um modelo de experiência Oração como representação
Interpessoal Desempenha relações sociais Oração como troca
Textual Cria relevância para o contexto Oração como mensagem
Quadro 1.1: Metafunções e seus reflexos.
Fundamentação teórica
26
Para organizar estes tipos de significados ao mesmo tempo, a
linguagem possui um nível intermediário de codificação, a léxico-gramática. É
ela que possibilita a língua construir os significados que se realizam através
das orações. Devido a isso, Halliday diz que a descrição gramatical é essencial
para a análise textual. Na LSF a semântica está naturalmente relacionada à
gramática. A seguir, resumiremos as metafunções, e deixaremos por último a
metafunção ideacional, na qual este trabalho se concentra e que, por isso será
mais enfatizada.
1.3.1 Metafunção textual
A metafunção textual estuda a mensagem e se realiza pela estrutura
temática. Segundo Halliday (1994:37), presume-se que em todas as línguas a
oração tenha a característica de uma mensagem, no qual um elemento é
enunciado como tema e combinado com o restante da oração para formar a
mensagem.
No Português, como em outras línguas, uma parte da oração recebe um
status diferente do restante da sentença. Essa classificação, do ponto de vista
funcional, é denominada como tema e rema. Ambos em conjunto darão à
sentença o status de mensagem. Tema é o elemento que serve como ponto
de partida da mensagem; é aquilo de que trata a oração. O resto da
mensagem, onde o Tema é desenvolvido, é o Rema (Halliday, 1994:37).
Para Halliday (1994:38) parte do significado de qualquer oração
depende do elemento que é escolhido como Tema. Baseada em Halliday
(1985, 1994), Eggins (1994:306) discute que a construção de um texto coeso e
coerente é possível por meio das estruturas temática e remática. A
metafunção textual é, por sua vez, instrumental para as outras duas que
veremos nos itens subseqüentes.
Fundamentação teórica
27
1.3.2 Metafunção interpessoal
Para Halliday (1994), utilizamos a linguagem para construir significados
interpessoais, ou seja, os significados sobre nossas relações com outras
pessoas e nossas atitudes em relação a elas.
Halliday (1994:68) argumenta que simultaneamente com a organização
da mensagem, a oração também está organizada como um evento interativo,
envolvendo falante, ou escritor, e os seus interlocutores. No ato da fala, o
falante/escritor adota para si um papel de fala, e assim atribui ao ouvinte/leitor
um papel complementar que ele quer que este adote.
Os tipos mais fundamentais de papéis de fala, de acordo com Halliday
(1994:68), são oferecer e pedir. Baseados na natureza do que está sendo
oferecido ou pedido, podemos definir quatro funções de fala primária: ofertas,
comandos, declarações e perguntas. Como mostra o quadro abaixo:
Função de fala de resposta
Função de fala
inicial
Apoio Confronto
Oferecer bens e serviços Oferta Aceitação Rejeição
Pedir bens e serviços Comando Conformidade Recusa
Oferecer informações Declaração Concordância Contradição
Pedir informações Pergunta Resposta Rejeição
Quadro 1.2: Funções de fala e as suas respostas (Halliday 1994:69).
A metafunção interpessoal, conforme Halliday (1994:69), é realizada
gramaticalmente pelo sistema de modo e modalidade. O primeiro representa a
estrutura gramatical usada pelo falante/escritor para estabelecer as relações
dos papéis e as funções de fala como o seu ouvinte/leitor. É o sistema da
modalidade que nos permite perceber as intenções e avaliações dos
participantes da interação.
Fundamentação teórica
28
1.3.3 Metafunção ideacional
Como dissemos, a língua está estruturada para construir três tipos de
significados simultâneos: interpessoal, ideacional e textual. Na nossa análise
nos concentramos na metafunção ideacional da linguagem (Halliday, 1994:
107), também chamada experiencial, que expressa o que está acontecendo no
mundo externo (eventos) ou interno (pensamentos). Essa metafunção estuda a
oração como representação, ou seja, estuda seu aspecto como um meio de
representar padrões de experiência e reflete como o usuário fala sobre as
ações, a situação, estados, crenças e circunstâncias.
A metafunção ideacional reflete nossa representação sobre padrões de
experiência, realidade e nossa experiência do que acontece dentro de nós, por
isso, reflete a nossa representação sobre o mundo. Nessa metafunção, a
oração tem um papel central, pois é nela que se incorpora um princípio geral de
modelagem da experiência, que é o princípio de que a realidade é construída
através dos processos, dos participantes e das circunstâncias.
De acordo com Thompson (1996:76), baseado em Halliday (1985, 1994),
a linguagem, na perspectiva experiencial, forma uma série de recursos para se
referir às entidades no mundo de forma que, essas entidades atuem ou se
relacionem umas com as outras. O autor simplifica dizendo que, a linguagem
reflete a nossa visão de mundo, constituída por: processos, participantes e
circunstâncias. Segue exemplo abaixo:
A deputada é filha de lavradores.
4
Participante (portador) Processo (relacional) Participante (atributo)
Quadro 1.3: Processo, participante e circunstância.
Thompson (1996:77) sugere o uso de rótulos funcionais, que indicam os
papéis de cada elemento da representação. Podemos expressar o que
dizemos sobre o “conteúdo” da oração em termos de processos, que envolvem
participantes em certas circunstâncias. O exemplo dado é uma forma preliminar
de análise.
4
Os exemplos constantes neste capítulo foram extraídos dos corpora desta pesquisa.
Fundamentação teórica
29
1.4 Sistema da transitividade
Antes de abordarmos os tipos de processos existentes, constante desta
pesquisa, precisamos esclarecer alguns conceitos sobre o Sistema da
Transitividade, que realiza a metafunção ideacional. Como mencionamos
anteriormente, a metafunção ideacional estuda a oração como representação,
seu aspecto como um meio de representar padrões de experiência, que implica
na escolha de processos, participantes e circunstâncias. Segundo Halliday
(1994, 2004), a impressão mais poderosa que temos da experiência é de que
ela consiste de eventos (acontecer, fazer, sentir, significar, ser e tornar-se).
Todos esses eventos estão organizados na gramática da oração e, o sistema
gramatical pelo qual isso é alcançado é o da transitividade. De acordo com
Halliday (1994), é o sistema da transitividade que constrói o mundo da
experiência em um conjunto manipulável de tipos de processo. O processo, os
participantes e as circunstâncias constituem o sistema da transitividade. O
primeiro é a ação ou estado propriamente ditos e representa-se por um grupo
verbal. Os participantes são representados por grupos nominais ou
pronominais. o aqueles que realizam as ações ou são afetados por elas. As
circunstâncias representam-se por grupos adverbiais e sua função é de
acrescentar informação (ões) às ações representadas pelos processos.
Para Thompson (1996:79) três perguntas básicas que podem ser
feitas sobre qualquer processo e oração em que o núcleo é formado por um
processo:
1. Qual é o tipo de processo?
2. Quantos participantes estão envolvidos no processo?
3. Que papéis esses participantes desempenham?
Vários tipos de processo podem ser identificados e, para cada um deles,
tipos de participantes. Halliday (1994) diz que três tipos de processo
principais o material, o mental e o relacional. Os demais, chamados
intermediários, são: o comportamental, o verbal e o existencial. A figura a
seguir é o círculo que Halliday utilizada para ilustrar os tipos de processo:
Fundamentação teórica
30
ter uma
identidade
simbolizar
pensar
sentir
ver
comportar-se
fazer,
agira
criar,
mudar
acontecer
[ser criado]
existir
ter um
atributo
dizer
e
x
i
s
t
e
n
c
i
a
l
m
a
t
e
r
i
a
l
c
o
m
p
o
r
t
a
m
e
n
t
a
l
m
e
n
t
a
l
v
e
r
b
a
l
r
e
l
a
c
i
o
n
a
l
sentir
fazer
ser
mundo
físico
mundo da
consciência
mundo das
relações abstratas
Figura 1.2: Tipos de processo (traduzido de Halliday, 2004:172).
Nos próximos itens segue as definições e particularidades de cada tipo
de processo.
1.4.1 Processos materiais
Thompson (1996: 79), baseado em Halliday (1985, 1994), discute que os
processos materiais são os mais salientes tipos de processo e envolvem ações
físicas, como: correr, cozinhar, jogar, etc. São os processos relacionados ao
“fazer”, ao mundo físico. Eles podem não ser eventos físicos concretos, pois
podem se referir aos fatos abstratos. Os participantes dos processos materiais
são chamados de ator e meta. O primeiro realiza a ação propriamente dita.
Para Thompson (1996: 78) mesmo não mencionado numa proposição, sua
presença ou existência é obrigatória. A meta é o participante a quem se
direciona a ação, ou aquele que é efetivamente modificado por ela. Eggins
Fundamentação teórica
31
(1994: 231) relaciona a meta ao objeto direto na gramática tradicional. Na voz
passiva, a meta se torna sujeito. Exemplo 1:
A Prefeita visitou as vítimas das inundações.
Ator Processo material Meta
1.4.2 Processos mentais
Conforme Halliday (1994:112), os processos mentais são os ligados ao
“sentir” e ao “pensar” e relacionam-se a três classes: cognição, percepção e
afeição. As orações mentais referem-se a eventos que acontecem em nossa
consciência. Seus participantes são o experienciador e o fenômeno. O
experienciador é o ser que dota de consciência, em geral, humano. O
fenômeno é aquilo que é sentido, pensado, desejado ou percebido pelo
experienciador. Pode ser coisa, ato ou fato. Exemplo 2:
Marta prefere terno
Experienciador Processo mental Fenômeno
1.5.3 Processos relacionais
Para Halliday (1994: 119), os processos relacionais referem-se à ordem
do “ser”. As orações relacionais são usadas para caracterizar e identificar. Há
três tipos de processos relacionais: os intensivos, os circunstanciais e os
possessivos. Todos são realizados de dois modos: atributivo e identificativo.
Os participantes dos processos relacionais atributivos são chamados de
portador e atributo. O primeiro é o elemento classificado e o segundo é o
elemento classificador. nos processos relacionais identificativos, os
participantes são o identificador (elemento definidor) e o identificado
(elemento que é alvo de da definição). Exemplos 3 e 4:
Fundamentação teórica
32
A musa radical é pop.
Portador Processo relacional Atributo
Rita é uma política de primeira
linha.
Identificado Processo relacional Identificador
1.4.4 Processos comportamentais
Os processos comportamentais são, de acordo com Halliday (1994:139),
os que estão entre os materiais e os mentais. São processos de
comportamentos fisiológicos e psicológicos, como: respirar, tossir, sorrir,
sonhar, entre outros. Dentre os seis processos que temos, os comportamentais
são os mais distintos, pois não tem características próprias claramente
definidas, são parte materiais e parte mentais. O participante, chamado de
comportante, é uma entidade realizadora da ação, é um ser consciente.
Diferentemente do outro participante, que é a extensão, que define o escopo
do processo. Exemplo 5:
Professor Cristovan está sempre preocupado com o Bolsa-Escola.
Comportante Verbo auxiliar Adjunto
adverbial
Processo
comportamental
Alcance
1.4.5 Processos verbais
Eggins (1994:251), baseada em Halliday (1985, 1994), discute que os
processos verbais são processos de ação verbal, têm relação com fatos da
ordem do “dizer”. Esses processos estão entre os processos mentais e os
relacionais. Para Halliday (1994:143), esses processos não precisam
Fundamentação teórica
33
necessariamente pressupor um participante humano. Os participantes desse
processo são: o dizente, a verbiagem, o receptor e o alvo. O primeiro,
dizente, é o participante principal desse tipo de processo. O receptor é a quem
se direciona a mensagem. O alvo é a entidade diretamente atingida pelo
processo e a verbiagem é a mensagem propriamente dita. Exemplo 6:
Rosinha acusa Marta de usar e depois
descartar o marido.
Dizente Processo verbal Alvo Verbiagem
1.4.6 Processos existenciais
Segundo Halliday (1994:143), os processos existenciais significam que
algo existe ou acontece. As orações existenciais, em geral, têm o verbo “ser”.
Nesse sentido, elas, também, assemelham-se aos processos relacionais. Mas,
os verbos que ocorrem com os existenciais são diferentes de atributivos ou
identificadores, pois são processos com significado de “existir” ou “acontecer”.
O único participante desse processo é o existente. Exemplo 7:
Havia a suspeita de compra de votos.
Processo existencial Existente
Através da explanação feita aqui sobre os fundamentos teóricos
utilizados nesta pesquisa, o conceito de linguagem como um processo social
da Lingüística Sistêmico-Funcional e os estudos sobre a mulher política
brasileira, que servem de apoio para a compreensão e a análise dos dados
desta pesquisa. Por meio de ferramentas do programa WordSmith Tools 4.0
(Mike Scott, Oxford University Press, 1998) como lista de palavras (wordlist)
identificamos as formas mais freqüentes usadas para fazer referência ao
profissional da área política brasileira e através da ferramenta concordância
(concord) identificamos e verificamos como os processos são utilizados com
essas formas de referência. Para a análise desses processos utilizamos o
Fundamentação teórica
34
conceito de transitividade proposto pela LSF. Abordamos em maiores detalhes,
os procedimentos e a metodologia adotada no capítulo seguinte: Metodologia
de Pesquisa.
Metodologia
35
CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DE PESQUISA
Neste capítulo, inicialmente, discutimos os objetivos da pesquisa, em
seguida, apresentamos as características das revistas das quais foram
retirados os artigos que compõem os corpora e suas características, tendo
como base as variáveis de registro, campo, relações e modo, propostas por
Halliday (1985). Em seguida, descrevemos os procedimentos de coleta e de
organização dos dados, e por fim os procedimentos e a metodologia de análise
de dados.
2.1 Objetivo da pesquisa
Como foi apresentado na introdução, o objetivo desta pesquisa é
analisar a representação da mulher política nas revistas de circulação nacional
Veja, Época e Istoé, no período de 2002 a 2007.
As seguintes perguntas norteiam o desenvolvimento da pesquisa:
Como a representação da mulher política é feita pela mídia? Estas
representações são positivas, neutras ou negativas?
Quais escolhas lingüísticas o responsáveis por esta
representação?
Como se manifestam as diferenças e/ou semelhanças nas
representações dos profissionais (homens e mulheres) na área
política?
Como dito anteriormente, para analisar o conteúdo lingüístico das
representações destas profissionais, apoiamo-nos na Lingüística Sistêmico-
Funcional (Halliday 1994, 2004) e seus seguidores. Utilizamos, também, os
estudos sobre mulher política da área de Ciências Políticas. Entre eles, o de
Avelar (2001) e o de Grossi e Miguel (2001). Para termos uma visão mais clara
do contexto da pesquisa, os próximos itens apresentam a descrição das
revistas em que foram retirados os artigos analisados.
Metodologia
36
2.2 As revistas utilizadas
Para J.B.Thompson (1995, 1998), a presença da mídia, juntamente com
outras instituições, tem sido responsável pela constituição do mundo como é
hoje. Responsável pela veiculação de formas simbólicas fundamentais para a
cultura moderna, a imprensa, além de reproduzir dados da realidade,
representa-a por meio da linguagem, segundo escolhas específicas e
mecanismos próprios e que podem redirecionar ou até alterar a visão de
mundo do leitor. Dessa forma, a imprensa pode veicular matérias que
contribuem para estabelecer preconceitos, relações de poder, entre outros.
Os artigos, aqui analisados, foram coletados das revistas semanais
Veja, Época e Istoé, atualmente muito lidas e vendidas no Brasil, como mostra
o quadro 2.1 com seus números de leitores, e são consideradas revistas de
“formação de opinião”. Foram escolhidas para a pesquisa por serem, na nossa
opinião, as três principais revistas de informação a circularem no Brasil, além
de tratarem, em seus artigos, sobre o cenário político brasileiro. As informações
que arrolamos abaixo foram retiradas de material cedido pelas equipes
publicitárias das editoras, denominado mídia kits
1
, de 2007, que contém suas
principais características:
Revista Total de Leitores
Veja 3.736.000
Época 1.955.000
Istoé 1.737.000
Tabela 2.1: Total de leitores das revistas.
Esses materiais informam ainda que para a maioria dos leitores os
temas tratados pelas revistas são sérios e confiáveis, e que eles se sentem
bem informados com as publicações, e que eles as têm como fontes de
informação, podendo assim, acreditamos, influenciar a representação dos
leitores sobre a mulher política.
1
Os mídia kits foram enviados por email pelas equipe publicitária das editoras.
Metodologia
37
O quadro a seguir contém informações sobre as publicações, como o
ano da fundação e os seus principais objetivos:
Revista Ano de
fundação
Objetivo
Veja
(Editora Abril)
1968
“Ser a principal publicação brasileira em todos os sentidos.
Não apenas em circulação, faturamento publicitário,
assinantes, qualidade, competência jornalística, mas também
em sua insistência na necessidade de consertar, reformular,
repensar e reformar o Brasil. Essa é a missão da revista. Ela
existe para que os leitores entendam melhor o mundo em que
vivemos.”
Época
(Editora Globo)
1998
“Época fornece um jornalismo de primeira e as ferramentas
para que o leitor forme a sua própria opinião. Para nós, a
opinião do leitor conta muito”.
Istoé
(Editora Três)
1976
“Ousada, inquieta, ética. Assim é ISTOÉ. Uma mistura de
credibilidade e transparência que a torna única. Não fosse
assim, não seria uma das dez maiores revistas de informações
do mundo, com importância fundamental na história do Brasil e
do jornalismo nacional. ISTOÉ é leitura obrigatória entre os
formadores de opinião do País”.
Quadro 2.1: Informações sobre as revistas baseadas nos mídia kits.
Como Segundo os mídia kits (2007), essas revistas fornecem
ferramentas para o leitor forme a sua própria opinião e partindo dessa
premissa, podemos concluir que redirecionam ou alteram a opinião do leitor;
como ao abordar uma notícia o escritor se posiciona de acordo com suas
crenças, valores e ideologias e os da publicação, podemos concluir que esses
fatores são relevantes para pesquisa, pois ao analisar a linguagem dos artigos,
estamos analisando crenças e valores da sociedade em que estão inseridos.
Isso uma vez que, tendo o suporte teórico da Lingüística Sistêmico
Funcional, podemos dizer que a linguagem de uma revista, como qualquer
linguagem, não é neutra, pois ninguém a utiliza sem um propósito. A noção de
sistema semiótico, proposta por Halliday (1994), proporciona um meio
poderoso de interpretar a língua como escolha. Se a língua é um sistema
semiótico, o processo do uso da língua é um processo de fazer significados por
escolha. Ao fazer uma escolha do sistema lingüístico, o escritor pode ser
entendido pela escolha feita naquele contexto. Por isso, a construção do
significado, tanto de um texto falado ou escrito, depende do contexto em que
ocorre, para assim explicar por que um texto significa o que significa e por que
ele é avaliado como o é.
Metodologia
38
Com base nas variáveis de registro, campo, relações e modo,
apresentamos as características dos textos escolhidos:
1. Campo
As revistas tratam dos principais acontecimentos do Brasil e do mundo.
Seu conteúdo é organizado de maneira similar. O início é destinado às cartas
e e-mails que a redação recebe dos leitores que felicitam, criticam e sugerem
matérias. Em seguida, trazem artigos sobre os assuntos mais discutidos e
veiculados da semana anterior tanto no Brasil como no mundo, que incluem
política, economia, desastres ambientais etc. sessões especiais para temas
ligados a negócios e carreiras, à saúde e bem-estar, ciência e tecnologia,
personalidades e a sessão de lançamentos, que encerra as revistas, com
resenhas sobre espetáculos, filmes, livros e CDs.
Foram coletados os artigos sobre política, retirados das sessões que
tratam dos acontecimentos de repercussão na semana, na política brasileira.
Eles foram coletados com base nos títulos e headlines, termo utilizado para se
referir à manchete, a notícia em destaque. Selecionamos aqueles que
envolviam profissionais políticos, tanto homens, como mulheres. Para formar
os corpora, selecionamos aqueles que citavam nomes ou cargos políticos.
2. Relações
Conforme seus mídia kits, a maioria dos seus leitores pertencem às
classes B e C com faixa etária entre 18 e 44 anos, a maioria concentrando-se
na região sudeste, a mais populosa e com maior poder aquisitivo.
O escritor interage com o leitor fornecendo, através da linguagem,
argumentos que podem influenciar a opinião do leitor. Por trás dessa
linguagem, a ideologia da revista e da editora, além da ideologia, da crença
e dos valores do autor, pois os artigos são produzidos por pessoas que fazem
parte de uma rede de relações sociais e revelam não só as próprias ideologias,
mas também as do grupo social a que pertencem. Portanto, ao estudarmos a
linguagem dos artigos, estudamos a sociedade em que estamos inseridos.
Metodologia
39
A escolha do estudo em artigos de revistas se deu por termos um maior
contato com este tipo de publicação e, também, por essas terem circulação em
todo território nacional e não somente em algumas regiões do país.
3. Modo
As revistas são vendidas por assinatura ou em bancas de jornal e
também, tem o conteúdo da revista impressa disponibilizado para assinantes
(Veja e Época) e para não assinantes (Istoé) em sites na Internet. Em ambos
os meios, elas utilizam linguagem verbal e visual, com os artigos
acompanhados de imagens e outros recursos, como: tamanho de letras,
citações, etc. Apesar das seções, de uma revista para outra, diferirem nos
nomes, elas possuem padrão semelhante.
2.3 Procedimentos de coleta e de organização dos dados
Para responder as duas primeiras perguntas de pesquisa, este trabalho
utilizou um corpus formado por 52 artigos cujo tópico principal ou titulo, se
refere à mulher política, corpus que denominamos mulher política (MP). Para
a questão de número três, foi formado um outro corpus com 52 artigos
retirados das mesmas, que fazem referência a políticos homens, que foi
denominado homens políticos (HP). Para compor este último corpus,
selecionamos arquivos que tratavam de políticos em geral, mas excluindo
aqueles que tratavam especificamente de mulher política.
A coleta dos corpora foi feita em duas etapas, pois, no início, o objetivo
da pesquisa era analisar apenas as representações de mulheres políticas. Para
isso, ampliamos, com os artigos publicados em 2006 e 2007, o corpus de
nossa pesquisa anterior
2
, constituído de 30 artigos das revistas Veja, Época e
Istoé publicados no período de 2002 a 2005.
Inicialmente, analisamos, num corpus de 52 artigos, como as mulheres
são representadas. Com base nessa análise e levando em conta a baixa
participação política das mulheres, decidimos coletar artigos que fazem
2
Iniciação Científica com o projeto Metáforas na referenciação do feminino na mídia impressa,
realizado de 2003 a 2005, sob orientação da Profa. Dra. Astrid Sgarbieri, na PUC-Campinas.
Metodologia
40
referência ao homem político com o propósito de analisar as possíveis
diferenças e/ou semelhanças, dependendo do gênero do profissional enfocado.
Para formar o corpus de artigos sobre homem político (HP), adotamos o
mesmo procedimento anterior: analisando os títulos dos artigos, da sessão que
trata de acontecimentos na política brasileira.
Os artigos selecionados foram gravados em arquivos individuais no
formato txt e foram submetidos a um tratamento de Lingüística de Corpus
através das ferramentas lista de palavras e concordanciador do programa
computacional WordSmith Tools 4.0 (Scott, 1998), que serão descritas a
seguir.
Os artigos foram agrupados em duas grandes pastas, uma para cada
corpus (mulher política (MP) e homem político (HP)). Para melhor organização
e contagem, dentro de cada pasta, separamos os artigos por pastas
específicas para cada revista. A data de cada artigo não foi considerada para a
análise. Abaixo, algumas informações sobre os corpora:
Fonte Nº de artigos sobre
MP
% Nº de artigos
sobre HP
%
Veja
18 34,7 21 40,3
Época
22 42,3 13 25
Istoé
12 23 18 34,7
Total 52 100 52 100
Tabela 2.2: Porcentagem de artigos por revista.
Como mostra a tabela acima, o número de artigos por revista em ambos
os corpora são semelhantes, apesar de não termos tido essa preocupação. A
seguir, apresentamos as características dos corpora de nossa pesquisa:
Estatísticas Corpus de MP Corpus de HP
Total de palavras 194.839 190.234
Palavras diferentes 6.489 5.939
Tokens (running words) 32.750 31.829
Períodos 1.568 1.600
No. de palavras do menor artigo 81 1.200
No. de palavras do maior artigo 1713 11.412
Tabela 2.3 Resultado estatístico dos corpora.
Metodologia
41
O quadro acima foi retirado dos números estatísticos da ferramenta
wordlist do programa WordSmith Tools 4.0 (Scott, 1998), apresentado no item
seguinte.
2.4 Procedimentos e metodologia de análise
Os corpora foram submetidos a um tratamento computacional
possibilitado pela Lingüística de Corpus (LC) que se faz presente
metodologicamente, nesta pesquisa, através de ferramentas do programa
WordSmith Tools 4.0 (Scott, 1998).
Atualmente a LC, segundo Berber-Sardinha (2000:325), fornece
subsídios teóricos e metodológicos para muitas áreas da Lingüística Aplicada
(Ensino de Línguas, Tradução, Análise do Discurso, Lexicografia, etc), porque
trabalha dentro de um quadro conceitual formado por uma abordagem
empirista e uma visão de linguagem enquanto sistema probabilístico.
O programa foi escolhido como instrumento de análise de dados, pois
possibilita o trabalho com uma grande quantidade de textos, além de dispor de
uma série de recursos que são extremamente úteis e poderosos na análise de
vários aspectos da linguagem, como: a composição lexical, a temática de
textos selecionados e a organização retórica e composicional de gêneros
discursivos.
As vantagens do programa justificam a sua presença cada vez maior em
pesquisas lingüísticas, como algumas das dissertações e teses realizadas no
grupo DIRECT da PUC-SP: Vian Jr. (1997, 2003), Dantas de Oliveira (2004),
Lima-Lopes (2001), Santos (1999), Alves-Silva (2004) e Siqueira (2000).
Utilizamos duas das suas principais ferramentas para a análise: a lista
de palavras (wordlist) e o concordanciador (concordancer)
3
. A primeira foi
utilizada para organizar os corpora em listas das palavras. Elas podem ser
ordenadas alfabeticamente ou pela freqüência com que aparecem, começando
pela palavra de maior freqüência. Nesta mesma ferramenta, obtemos dados
3
Como o programa está em Inglês, colocamos em parênteses o nome das ferramentas no
original.
Metodologia
42
estatísticos dos textos: mero de palavras (tokens) e de palavras diferentes
(types), número de orações (sentence), etc. Ela nos ajudou tanto na
organização dos dados estatísticos como na análise das palavras mais
freqüentes utilizadas para nomear os profissionais políticos. Para melhor
ilustrar uma lista de palavras, segue abaixo um exemplo com a parte inicial da
lista de freqüência das palavras do corpus de MP:
Figura 2.1: 22 palavras mais freqüentes do corpus de MP.
Procuramos, nas listas de palavras de MP e HP, as palavras que mais
poderiam ser utilizadas como participantes de orações de nosso interesse,
como candidato (a), prefeito (a), deputado (a), etc., para, através do
concordanciador, visualizar os contextos em que essas palavras ocorrem. Nas
concordâncias, a palavra de busca aparece destacada e no centro do texto em
que ocorre - chamado de horizonte. Concentramos-nos em um horizonte de
cinco palavras à direita e cinco palavras à esquerda, mas, sempre que
necessário, olhamos um contexto maior incluindo todo um parágrafo ou o texto
como um todo. Segue abaixo, um exemplo de uma concordância com a palavra
candidata como a palavra de busca:
Metodologia
43
Figura 2.2: Trecho da concordância de candidata.
Através das listas de concordâncias é possível estudar o contexto de
ocorrência das palavras de busca simultaneamente em todo o corpus. Nesta
análise, nos baseamos como mencionado, na Lingüística Sistêmico-
Funcional, que é uma teoria de linguagem e um método de análise de textos
em seus contextos de uso permitindo-nos entender como os indivíduos usam a
linguagem e como a linguagem é estruturada em seus diferentes usos
(Halliday, 1994).
O suporte da LSF possibilita-nos analisar como os profissionais da área
política são representados nos artigos e as diferenças e as semelhanças na
representação do homem político e da mulher política. Halliday (1994:15)
discute que qualquer análise de discurso é sempre feita em dois níveis; o
primeiro é a compreensão do texto: a análise lingüística permite que se mostre
como e por que o texto significa o que significa; o outro nível é uma
contribuição à avaliação do texto: a análise lingüística permite que se diga o
motivo pelo qual o texto é ou não um texto eficaz para os seus propósitos, e
requer não somente uma compreensão do texto, mas também de seu contexto
Metodologia
44
(contexto de cultura e contexto de situação) e do relacionamento sistemático
entre o contexto e o texto. Os dados foram analisados concentrando-nos na
Metafunção Ideacional, conforme mencionamos na Fundamentação Teórica.
Com base nas características das revistas selecionadas e nas variáveis
de campo, relações e modo do discurso das revistas Veja, Época e Istoé,
expostas neste capítulo, analisamos, no capítulo 3, como as mulheres políticas
são representadas nos artigos. Levamos em conta na análise, a diferente
proporção no número de homens e mulheres que atuam na política brasileira,
uma vez que a participação feminina na política é ainda muito baixa, não
representando nem 10% dos profissionais atuantes, como mostram os quadros
do capítulo 1, na página 11. Verificamos, também, as diferenças e
semelhanças nas representações da mulher e do homem político nos artigos
que tratam dos acontecimentos do cenário político brasileiro.
Análise dos dados e discussão dos resultados
45
CAPÍTULO 3 ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
Neste capítulo, é apresentada a discussão dos dados obtidos na análise
dos dados desta pesquisa à luz dos conceitos explicitados no Capítulo 1,
Fundamentação Teórica. Como mencionado no capítulo 2, Metodologia de
Pesquisa, o objetivo desse trabalho é analisar como a mulher política é
representada pela mídia e para isto coletamos artigos das revistas
mencionadas e separamos em dois grupos. O primeiro somente com artigos
que fazem referência à mulher política e, o segundo com artigos que tratam de
políticos homens.
Como explicitamos no Capítulo de Metodologia, a análise foi feita
submetendo os artigos das revistas a uma ferramenta computacional, o
WordSmith Tools (Scott, 1998). Primeiramente, fizemos listas de palavras e
buscamos substantivos que poderiam se referir aos participantes. Levantamos
os contextos em que estes ocorrem, através da ferramenta concordancer. Os
exemplos que são analisados a seguir foram retirados destas concordâncias.
Para organizar a análise, separamos os exemplos em grupos de acordo
com os processos mais freqüentes, que tem como participantes mulheres ou
homens políticos. Notamos semelhanças nos exemplos de cada grupo, o que
nos permite agrupá-los nas seguintes categorias:
Categorias Tipos de processo
Ações realizadas por políticos Materiais
Avaliações e identificações sobre os
políticos
Relacionais
Comportamentos dos políticos Comportamentais
Dificuldades enfrentadas pelos
políticos
Mentais
Falas de/sobre políticos Verbais
Quadro 3.1: Categorias de acordo com os tipos de processo.
Nas análises preliminares, notamos que poderíamos dividi-los em
categorias maiores, baseadas tanto na semântica, ou seja, sobre o que os
exemplos tratam, como nos elementos da transitividade. Além dos processos,
outros elementos (participantes e circunstâncias) que nos conduziram às
Análise dos dados e discussão dos resultados
46
categorias maiores. Na maioria das vezes, é nos participantes localizados à
direita dos processos que temos os assuntos das orações. Dessa forma,
podemos dizer que o rema, elemento da metafunção textual
1
, nos possibilita
chegar às categorias maiores, exemplificadas no quadro abaixo:
Figura 3.1: Categorias de análise.
Em cada uma das categorias, apresentadas acima, é possível encontrar
as categorias menores, grupos que dividimos baseados nos tipos de
processos, exemplificado no quadro 3.0. Assim daqui para diante, estas ultimas
serão denominadas subcategorias e as primeiras serão categorias.
Os exemplos analisados permitem dizer que para cada grande categoria
aborda assuntos específicos, detalhados a seguir:
1
Vale lembrar que a metafunção textual não é o enfoque desta pesquisa.
Reconhecimento
político
Honestidade
Relacionamentos
familiares
Aparência
Estratégias
Políticos
Análise dos dados e discussão dos resultados
47
Categorias Assuntos abordados
Estratégias políticas Diferentes estratégias utilizadas pelos políticos em situações
de disputas.
Reconhecimento político Formas como os políticos são reconhecidos publicamente.
Honestidade Desonestidades cometidas por políticos homens.
Aparência Como os políticos são representados pelas aparências.
Relacionamentos familiares A importância dos relacionamentos familiares na vida política.
Quadro 3.2: Assuntos abordados nas grandes categorias.
Através das categorias apresentadas, organizamos nossa análise com
foco em como a mulher política é representada, quais são as escolhas lexicais
que expressam e realizam esta representação e quais são as diferenças e/ou
semelhanças com os homens políticos. Para isto analisamos os exemplos com
base na metafunção ideacional da Lingüística sistêmico-funcional. Vale lembrar
que o que realiza o significado ideacional é o sistema da transitividade, que
implica na escolha de processos (elementos verbais), circunstâncias da oração
e seus participantes.
Primeiramente analisamos como os políticos o representados em
situações de disputas, em seguida, analisamos a forma como são
reconhecidos. Em seguida, analisamos como os políticos são representados
por situações ligadas à honestidade, à aparência e a influência de suas
relações familiares.
3.1 Estratégias políticas
Nesta categoria da análise, apresentamos como as estratégias das
mulheres políticas são representadas. Mostramos as semelhanças e diferenças
na representação das estratégias adotadas por mulheres e homens a partir de
algumas de suas manifestações encontradas nos textos.
Na tabela abaixo, organizamos, de acordo com as ocorrências dos
processos, as estratégias mais comuns utilizadas pelos políticos:
Análise dos dados e discussão dos resultados
48
Tipo de
processo
Processo Freqüência
em artigos de
MP
Freqüência
em artigos de
HP
Estratégia utilizada
(mostrada pelo participante não agente
ou pela circunstância)
Remodelar 0 2 Equipe estrategista
Baixar 0 1 Equipe estrategista
Preparar 1 0 Demonstra esforço e preparo
Transformar 1 1 Inaugura obras
Fazer 1 0 Inaugura obras
Ludibriar 1 0 Supera as expectativas
Chegar 1 0 Demonstra esforço e preparo
Esforçar 1 0 Demonstra esforço e preparo
Cuidar 1 0 Demonstra esforço e preparo
Forçar 1 0 Muda de comportamento
Contratar 0 1 Investigar denúncias contra adversário.
Material
Arrumar 0 1 Compra briga
Ser 5 3 Destaque nas disputas; briga; desafia
governo
Relacional
Está 0 1 Compra briga
Dizer 2 2 Confiança; argumenta (MP/HP)
Repetir 0 1 Demonstra confiança
Argumentar 1 0 Ataca opositores
Alfinetar 0 1 Ataca opositores
Protestar 0 1 Ataca opositores
Atacar 1 0 Ataca opositores
Defender 1 0 Ataca opositores
Desafiar 1 0 Desafia o governo
Cobrar 0 1 Cobra o governo
Travar 1 0 Briga por interesses diferentes
Bater 1 0 Discussão em debate
Verbal
Apanhar 1 0 Discussão em debate
Mental
Atrair 0 1 Discussão em debate
Quadro 3.3 Processos utilizados para representar estratégias políticas
Os exemplos estão organizados de acordo com os processos
encontrados nos dados que representam as estratégias destes profissionais,
mais especificamente, quando estão almejando cargos, defendendo suas
idéias e interesses no campo profissional.
Como explicitamos na introdução deste capítulo, as subcategorias de
análise foram organizadas por tipos de processo. Nesta categoria, os
processos encontrados mostram que as subcategorias são:
Ações como estratégias políticas;
Avaliações e identificações em estratégias políticas;
Falas como estratégias políticas.
Vale lembrar que numa mesma subcategoria podemos encontrar mais
de um tipo de processo, de acordo com o contexto da ocorrência.
Análise dos dados e discussão dos resultados
49
3.1.1 Ações como estratégias políticas
Ações como estratégias políticas ocorrem através do uso dos processos
materiais com que a mídia representa as ações destes profissionais. Estes
processos, conforme abordamos na Fundamentação Teórica, representam
ações concretas, realizadas por um ator ou um evento.
Em um dos exemplos, as estratégias da então prefeita Marta Suplicy são
comparadas com a do político Maluf. Em alguns momentos, a mulher é
representada por sua preocupação e preparo nas campanhas que concorrem,
podendo superar as expectativas, como veremos abaixo:
1. Ela está se preparando para a campanha pela reeleição, sem
oposição visível dentro do partido. (Época 05/09/2003).
2. Para fazer um sucessor na prefeitura de o Paulo, o pupilo Celso
Pitta, Maluf transformou os derradeiros meses de sua gestão num
festival jamais visto de inaugurações. Marta está fazendo a mesma coisa
para se reeleger. (Veja 27/10/2004).
3. Marta poderá ludibriar a opinião pública com sua astúcia e chegar
mais longe do que hoje se imagina (Veja 23/03/2005).
Os exemplos têm como ator a candidata à reeleição da prefeitura de São
Paulo, Marta Suplicy. O primeiro, como tratamos anteriormente, aponta a
preocupação e o preparo da candidata para a sua campanha pela reeleição
(meta) e mostra seu favoritismo no partido, já que ela não tem nenhuma
oposição oficial. Em 2, o texto explicita as estratégias usadas por Maluf, político
experiente que foi, assim como Marta, prefeito de São Paulo, para comparar os
dois políticos, pois ambos utilizaram a mesma estratégia política para
conquistar eleitores, como podemos ver nas metas dos processo materiais
fazer, transformou, fazendo. Este exemplo permite dizer que as mulheres têm
experiência como profissionais e possuem estratégias como políticas
experientes.
Análise dos dados e discussão dos resultados
50
Em 3, o uso do operador modal no tempo futuro (poderá) expressa a
probabilidade, atenuando o discurso, em especial, o processo material ludibiar.
A meta do processo representa Marta como uma política que pode surpreender
com suas estratégias, o que pode ser entendido como um progresso das
mulheres na política brasileira.
A seguir, vejamos alguns exemplos sobre a estratégia do candidato
Geraldo Alckmin na disputa das eleições presidenciais em 2006:
4. Remodelando Alckmin. Marqueteiros do tucano planejam um novo
figurino de ação. (Istoé 03/05/2006).
5. Para baixar batimentos cardíacos e remodelar o candidato tucano
com maquiagens ao gosto da maioria dos eleitores, nos últimos dias
entraram no campo da campanha de Alckmin o próprio Lavareda,
indicado pelos aliados do PFL, e o jornalista Luiz Gonzales, escolhido
pelo candidato em pessoa. (Istoé 03/05/2006).
Por meio dos processos materiais baixar e remodelar, as estratégias do
partido para conquistar os eleitores são mostradas. Alckmin é o beneficiário
dos processos grifados e o seu partido tem como estratégia maquiar sua
imagem. Na época, Alckmin tinha uma imagem de antipático e sem graça. O
fenômeno do processo mental planejam revela a estratégia dos marqueteiros
para mudar a imagem negativa deixada pelo candidato. Podemos relacionar os
processos maquiar e remodelar com o processo ludibriar, utilizado para
representar Marta, pois são utilizados para representar estratégias que
enganam e iludem.
Enquanto Marta é representada como uma candidata que poderá
enganar a opinião pública e impressionar nos resultados, Alckmin é
representado como um candidato que se utiliza de maquiagens para conquistar
eleitores. Por isso, como mostra 5, a estratégia utilizada era acalmar o
candidato e mudar sua imagem superficialmente para conquistar eleitores,
como vemos na metáfora lexical remodelar... com maquiagens.
Análise dos dados e discussão dos resultados
51
Podemos interpretar o uso do termo metafórico maquiagens como um
recurso para mascarar e disfarçar a imagem real de Alckmin, com o objetivo de
conquistar mais eleitores, garantindo um segundo turno nas eleições
presidenciais. O termo maquiagens, mostrado nos exemplos, também é usado
no corpus de mulher política (MP), mas no sentido literal, como analisamos na
categoria 3.4 aparências.
O esforço dos candidatos pode ser interpretado como um recurso
político para mostrar seus trabalhos e conquistar a aceitação pública. Exemplos
referentes a este assunto são comuns a respeito de MP:
6. Graças a Deus, como ela diz toda hora, é Marina Silva quem está
cuidando de uma área que sempre funcionou como um “enfeite” do
governo anterior para inglês – e francês, americano, alemão...– ver,
essas coisas de marketing que pegam bem, uma farra para mercenários
estrangeiros. (Istoé 09/07/2003).
7. Marina Silva se esforça para mostrar que o governo Lula também teve
avanços na política ambiental. (Istoé 22/06/2005)
Os processos materiais têm como ator a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva. O primeiro processo evidencia a falta de ação do governo numa
área cuja pouca atenção é dada, a área de Meio Ambiente, como vemos na
meta do processo cuidando. O processo ver, analisado aqui como material,
possui como ator inglês... alemão, uma referência à uma expressão popular
utilizada para falar de ações que pegam bem para o governo, ou seja,
contribuem para uma boa imagem.
O segundo, enfatiza o trabalho da Ministra para mostrar que o governo
avançou na área ambiental, como vemos na meta para mostrar que o
governo...política ambiental. Vale lembrar que muitas denúncias graves sobre
desmatamento de florestas foram feitas nesse período. Conforme apontamos
na Fundamentação Teórica, Grossi e Miguel (2001) discutem que as
prioridades políticas das mulheres são diferentes das dos homens. Enquanto
os homens políticos têm como prioridade a política econômica, as mulheres
Análise dos dados e discussão dos resultados
52
políticas esforçam-se nas prioridades sociais, como: o combate à fome, à
violência doméstica, e a luta pela preservação ambiental.
Além das prioridades sociais, outros traços são marcantes entre as
políticas citadas nas revistas, como a representação da MP pelos sentimentos
em situações de disputas, como mostram os exemplos:
8. Depois de perder a batalha da Lei de Biossegurança, que liberou os
transgênicos, engolir a importação de pneus usados do Mercosul e
anunciar o segundo recorde de desmatamento da Amazônia, Marina se
viu forçada a mostrar as garras, alterando o semblante sereno. (Istoé
22/06/2005).
9. Heloísa Helena foi mais Heloísa Helena do que nunca. “A Bíblia diz:
ou se serve a Deus ou ao capital. Quem serve ao capital vai virar
churrasco do demônio”, disse ela, numa espécie de confisco socialista
do livro sagrado. (Veja 07/06/2006).
Em 8, temos uma seqüência de processos materiais, exceto o processo
anunciar, que é verbal. Os processos perder e engolir são usados
metaforicamente para tratar das dificuldades sofridas por Marina. Suas metas
demonstram que os desafios enfrentados a fizeram mudar sua postura serena,
como mostra a última oração na voz passiva. Como veremos em outros
exemplos, muitas vezes, a mulher política muda sua estratégia para enfrentar
desafios no campo político.
No seguinte, temos um processo relacional que tem como atributo e
portador o mesmo participante Heloísa Helena. Isto mostra que a forma de
ser de Heloísa Helena é tão conhecida pelos leitores que o jornalista faz uso do
próprio nome da profissional como um atributo para caracterizá-la, implicando
que os leitores possuem um conhecimento prévio sobre ela, como sendo
uma profissional destemida, sem medo de falar o que pensa e de lutar pelo que
acredita. Esta sua maneira de ser pode ser interpretada como sua estratégia
política. Em sua fala, ela utiliza as palavras da Bíblia como recurso para atacar
seus adversários do Senado, contrapondo servir a Deus a servir aos interesses
Análise dos dados e discussão dos resultados
53
próprios. A utilização desta estratégia de ataque pode atrair a atenção
daqueles que crêem em Deus fazendo com que apóiem a candidata e fiquem
contra aqueles políticos atacados por ela.
3.1.2 Avaliações e identificações em estratégias políticas
Nos dados, podemos observar que os profissionais políticos o
constantemente identificados e avaliados pela mídia jornalística por meio de
processos relacionais, isto porque estes processos podem ser utilizados para
estabelecer relações entre duas entidades, identificando ou atribuindo
características a algo ou a alguém. Chamamos, em Sistêmico, as orações com
atributos de intensivo-atributivas e as com identificadores de intensivo-
identificadoras.
Os exemplos abaixo representam dois candidatos, Marta Suplicy e
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) em véspera de eleições:
10. Marta salientou que, por enquanto, é a única candidata indicada pelo
partido. (Época 16/12/2003).
11. Alves é o único peemedebista que se lançou candidato à
sucessão do alagoano Renan Calheiros. (Época 04/12/2007).
Estas orações intensivo-identificadoras representam os candidatos
Marta e Alves com destaque por serem identificados como únicos, como
mostram os identificadores a única candidata... e o único peemedebista....
Marta, em sua fala, auto identifica-se como a única candidata mulher na
disputa pelo Governo do Estado de São Paulo indicada pelo seu partido, o PT.
Da mesma forma como Alves que é identificado como o único candidato de seu
partido (PMDB) à sucessão de Renan Calheiros (PMDB-AL).
Assim como Marta se auto-identificou como a única candidata mulher do
partido, encontramos nos artigos de HP outras identificações feitas pelos
jornalistas sobre os candidatos Eduardo Suplicy e Geraldo Alckmin:
Análise dos dados e discussão dos resultados
54
12. Ele é o homem a ser batido nas eleições para o Senado em São
Paulo. (Istoé 15/03/2006).
13. Por enquanto, é ele o nome com mais chances de disputar o
segundo turno com Lula. (Istoé 18/06/2006).
Em ambos temos orações intensivos-identificadoras. O identificador em
12 enfatiza a disputa política e identifica Suplicy como um candidato a ser
derrotado pelos adversários nas eleições. Analisamos este identificador,
também, como uma alusão à invencibilidade de Suplicy, pois ele possui um
eleitorado cativo no Estado de São Paulo.
De forma diferente, em 13, temos a identificação do candidato Alckmin
(identificado) como o único com chances de disputar o segundo turno nas
eleições presidenciais. Notamos que o identificador, aqui, coloca Lula como o
candidato mais forte da disputa presidencial.
Assim como os candidatos acima foram destacados, os exemplos abaixo
destacam a Senadora Heloísa Helena tanto por ser a primeira mulher a
concorrer à Presidência, como por mostrar coragem e enfrentar um político
poderoso:
14. Candidata arretada. Expulsa do PT em 2003, Heloísa Helena é a
primeira mulher de expressão a concorrer à Presidência no Brasil. (Veja
07/06/2006).
15. Foi a primeira pessoa a enfrentar o cacique baiano Antonio Carlos
Magalhães no Congresso Nacional - uma briga que até hoje lhe rende
acusações pessoais e inimizades ferozes. (Época 10/02/2003).
Temos processos relacionais do tipo intensivo-identificador nos
exemplos acima. O primeiro identificador (14) mostra a baixa participação das
mulheres no cenário político, conforme aponta Avelar (2001) em suas
pesquisas. A participação feminina ainda é muito pequena no país e, embora
tenhamos poucas mulheres envolvidas na política, tivemos um progresso, em
especial, por ter a candidatura da primeira mulher no Brasil.
Análise dos dados e discussão dos resultados
55
Ainda em 14, no início da oração, temos Candidata arretada, chamada
na Gramática Sistêmico-Funcional como oração menor. Para Halliday
(2004:153) as funções das orações menores são: exclamações, chamadas,
cumprimentos e alarmes. No caso de 14, a oração menor tem função
exclamativa e interpretamos o seu uso como um grito súbito de admiração,
geralmente utilizado na fala. Na escrita é acompanhado do sinal gráfico de
exclamação, ausente neste exemplo. O atributo arretada é muito utilizado no
nordeste do país e entendemos seu significado como sinônimo de “bacana” e
“excelente” e é utilizado, aqui, para apreciar a candidata.
Na segunda oração, neste mesmo exemplo, temos uma nominalizacao
em expulsa do PT a partir de uma oração passiva que remete a um fato
marcante tanto na política brasileira, na história do partido, como na vida
política da Senadora. Em seguida, o identificador da oração relacional intensivo-
identificadora atribui à Heloísa Helena a identificação de ser a primeira mulher
de expressão a concorrer à presidência, representando-a como uma figura
política importante. Interpretamos a menção da expulsão da Senadora como um
recurso para mostrar sua força, sua luta pelos ideais originais do PT e não por
interesses próprios.
Em 15, o identificador enfatiza a coragem da Senadora Heloísa Helena
(identificado) ao enfrentar um político poderoso em público, como temos na
circunstância no Congresso Nacional. Nota-se que a Senadora não foi a
primeira mulher, mas sim, a primeira pessoa a enfrentá-lo, o que mostra um
avanço na sociedade, pois as mulheres passam a ser vistas não mais como
seres frágeis e desprovidos de atitudes, mas como profissionais que podem
fazer diferença na política. A conseqüência desta briga, enfocada no final do
exemplo, salienta ainda mais a coragem da Senadora.
Encontramos em um artigo sobre HP um exemplo do Ministro da Saúde,
José Gomes Temporão que se assemelha e ao mesmo tempo difere da
referência acima sobre Heloísa Helena:
16. Seu jeito direto de quem está sempre disposto a comprar brigas é
mais associado ao estereótipo masculino. Em apenas dois meses no
Análise dos dados e discussão dos resultados
56
cargo, Temporão arrumou confusão para um mandato inteiro. Por
defender o debate sobre a legalização do aborto, atraiu a ira da Igreja
Católica. (Época 05/11/2007).
Há uma aparente semelhança entre as representações da senadora
Heloísa Helena e do ministro Temporão, pois ambos são representados como
profissionais que compram brigas. Enquanto no exemplo anterior, Heloísa é
representada por brigar com um político poderoso, Antônio Carlos Magalhães,
a circunstância do processo material arrumou, em 16, enfatiza que em pouco
tempo de mandato Temporão causou muita polêmica, como vemos no
processo mental atraiu e no fenômeno desse processo a ira da Igreja Católica.
Destacamos à comparação da postura briguenta do Ministro com o estereótipo
masculino, como temos no atributo mais associado ao estereótipo masculino.
Interpretamos isto como uma afirmação machista do jornalista, pois as
mulheres também podem adotar esta postura na política, como Heloísa Helena
nos exemplos analisados.
3.1.3 Falas como estratégias políticas
Temos ainda falas de políticos, relatadas ou transcritas pelos jornalistas,
representando estratégias políticas aos mostrar críticas, ataques a outros
políticos e até mesmo avaliações sobre suas chances de vencer as disputas de
que participam.
Os exemplos a seguir são falas dos candidatos: Marta Suplicy (18 e 19)
e Geraldo Alckmin (17) sobre as disputa de que participam:
17. “Vou virar o jogo quando começar a campanha na tevê”, repete
Alckmin. (Istoé 18/06/2006).
18. Marta diz que as chances de se reeleger são boas. (Época
01/12/2003).
19. Marta diz que Erundina será bem-vinda na disputa à Prefeitura de
São Paulo. (Época 11/07/2003).
Análise dos dados e discussão dos resultados
57
Ambos representam auto-avaliações sobre chances nas eleições. Em
17, o jornalista transcreve e enfatiza a fala de Alckmin usando o verbo repete.
A fala do candidato refere-nos ao tempo disponível do partido na propaganda
eleitoral veiculada pelos canais de televisão. Por pertencer a um partido com
grandes alianças políticas, o candidato dispunha de maior tempo. Dessa forma,
ele poderia conquistar mais eleitores.
No exemplo 18, o jornalista relata a auto-avaliação de Marta sobre suas
chances de se reeleger à prefeita de São Paulo. Na fala, a candidata
demonstra confiança, assim como Alckmin, o que é entendido, nesta pesquisa,
como uma estratégia política dos candidatos. Da mesma forma ocorre em 19,
quando Marta diz receber bem sua adversária Erundina. Como em outros
momentos, podemos perceber que as representações de Marta assemelham-
se às representações dos políticos homens, em especial nas estratégias,
porém, em outros momentos, ela é representada da mesma maneira das
outras mulheres, como analisamos nas categorias seguintes aparência e
relacionamentos familiares.
Outros exemplos de falas mostrando estratégias políticas com críticas a
adversários:
20. Marta argumentou que os tucanos criticam, mas não fizeram no
governo do estado os projetos que ela fez na cidade. (Época
18/10/2004).
21. “Eles tentam afinar a voz para falar com a nossa voz, mas sai em
falsete. A equipe de Lula é ruim. A parte boa é a da equipe econômica”,
alfinetou FHC. (Istoé 22/12/2004).
22. “Não bater em Lula é sandice”, protestou o senador Jorge
Bornhausen, presidente do PFL, numa discussão interna sobre a linha
de campanha a partir de agora. Para dar munição aos marqueteiros, a
cúpula do PFL gostaria de contratar um grupo para, exclusivamente,
investigar novas denúncias contra o presidente e o PT. (Istoé
03/05/2006).
Análise dos dados e discussão dos resultados
58
Os exemplos com processos verbais representam comentários sobre os
adversários políticos veiculados pelas revistas, que são vistos, nesta pesquisa,
como uma forma de estratégias política. Na verbiagem dos exemplos 20 e 21,
temos uma critica aos políticos do PSDB feita por Marta do PT (21) e, uma
crítica aos políticos do PT feita por FHC do PSDB. Marta, em 20, compara sua
gestão com a anterior, criticando assim seus adversários do PSDB. Além
comparar e criticar a equipe de Lula (PT), em 21, FHC elogia a equipe
econômica, estratégia do ex-presidente da república, que a equipe
econômica de Lula seguiu a linha da anterior, de seu partido PSDB.
A fala do Senador, em 22, explicita que criticar o adversário Lula é uma
forte estratégia na disputa política de Alckmin. O processo material contratar,
posposto ao adjunto modal gostaria, junto com a meta um grupo deixa claro
para o leitor que investigações e jogadas de marketing são munições, palavra
usada no sentido metafórico, que indica fortes recursos que podem
comprometer a imagem de Lula.
Uma outra estratégia política encontrada nos corpora é cobrar e desafiar
o governo do Presidente Lula (PT), como vemos nos exemplos:
23. A Senadora atacou o PT e defendeu que o partido precisa ter
humildade para reconhecer os erros e aprender com a derrota. (Istoé
05/11/2004).
24. De olho em 2006, grupo da ex-prefeita Marta Suplicy desafia a
direção nacional do PT. Eles são uma espécie de facção informal do
PT. (Veja 12/01/2005).
Os exemplos possuem processos que indicam discordâncias e
discussões. Seguido desses processos, temos, nos exemplos, o mesmo alvo, o
Partido dos trabalhadores (PT). A projeção da fala da senadora, em 23, é
chamada na Lingüística Sistêmico-Funcional de discurso relatado. Seu
discurso demonstra que as mulheres políticas têm visão política e lutam pelo
que acreditam. Em ambos os artigos dos quais foram retirados esses
exemplos, os autores comentam as posições contrárias das profissionais
Análise dos dados e discussão dos resultados
59
perante as idéias do PT. A Senadora acreditava que o partido deveria voltar às
idéias originais que o levou ao poder e Marta Suplicy argumentava que
precisava de mais liberdade para ela e seu grupo.
Por meio do uso do processo relacional são e do identificador uma
espécie de facção..., em 24, o autor, em sua escolha, atribui ser o grupo de
Marta uma facção informal do PT, o que pode remeter ao leitor um significado
pejorativo, relativo a bandidos e gangues. De acordo com a teoria de
linguagem que adotamos, a Lingüística Sistêmico-Funcional de Halliday (1994,
2004), a escolha feita pelo autor dentre inúmeras outras possibilidades faz com
que a língua tenha um caráter probabilístico e possibilita-nos comparar a
escolha do autor dentre outras disponíveis, de forma a determinar quais foram
suas motivações que, segundo Thompson (1994:8), podem o ser
conscientes, embora não sejam aleatórias. Por isso, entendemos a escolha de
facção informal pelo autor como uma avaliação negativa do grupo de Marta
Suplicy.
Assim como nos exemplos mostrados acima, encontramos em artigos
sobre HP um exemplo do então Ministro da Educação, Cristovam Buarque
cobrando verbas do Governo do Presidente Lula:
25. Na terça-feira, Cristovam cobrou mais verbas para sua pasta, disse
que o país apenas finge que está educando e que o Estado não deveria
dar universidade gratuita a uma elite que estuda apenas para ficar mais
rica com seu diploma. (Época 12/09/2002).
Podemos contrastar o processo verbal escolhido cobrou, em 25, com os
processos atacou e defendeu (em 23) e desafia (em 24), pois entendemos
cobranças ao governo como um jargão constante nos discursos dos políticos, o
que contrasta com os processos analisados anteriormente. Os processos
utilizados para representar as falas das mulheres políticas foram mais
expressivos e remete-nos a brigas, diferente do processo verbal cobrou, que é
menos enfático, assim como o processo seguinte disse. Portanto, a
comparação destes processos permite-nos dizer que as mulheres tiveram um
avanço no cenário político, elas não são mais vistas como pessoas passivas
Análise dos dados e discussão dos resultados
60
desinteressadas sobre assuntos políticos, como apontam os estudos de Avelar
(2001); elas são vistas como profissionais determinadas e dispostas a lutar
pelo que acreditam. Entendemos que Cristovam, neste exemplo, está muito
mais contido do que as políticas analisadas anteriormente.
Mesmo com a área econômica dominada pela maioria masculina, a
então ministra Dilma Rousseff destacou-se na área de Minas e Energia e
enfrentou discussões, como uma outra política, Marina Silva, ministra do Meio
Ambiente:
26. Desde o início do governo Lula, as duas estrelas femininas da
administração petista travavam uma queda-de-braço sobre o destino de
24 projetos de usinas hidrelétricas espalhadas pelo Brasil. (Veja
17/11/2004).
As profissionais o destacadas pelo uso de estrelas femininas da
administração petista como dizente do processo verbal travavam analisado,
aqui, como verbal, pois é utilizado metaforicamente para representar
discussões no Congresso. Isto mostra o destaque que as mulheres possuem
numa área em que a maioria é homem. A discussão entre duas políticas é
representada como uma queda-de-braço, ressaltando que quem tem mais
força vence. Nesse caso, os interesses econômicos de Dilma foram mais fortes
e venceram os interesses ambientais de Marina.
Destacamos, abaixo, um exemplo que, como em 2 compara Marta
Suplicy a um político, mas analisamos separadamente pois consideramos o
exemplo machista:
27. Em entrevista à ÉPOCA, a prefeita bateu como homem - como disse
certa vez Mário Covas - ao comentar temas municipais e nacionais. E
apanhou como mulher na hora de responder a perguntas que julgou
impertinentes. (Época 02/12/2002).
Os processos do exemplo acima foram usados no sentido metafórico; o
jornalista usou processos materiais com sentido de processos verbais. No
primeiro processo temos na circunstância a comparação explícita da então
Análise dos dados e discussão dos resultados
61
prefeita Marta Suplicy com um homem. O que nos remete ao que aponta
Sartori (1999) sobre o padrão masculino de fazer política, que é o padrão mais
aceito pela sociedade. As mulheres, muitas vezes, têm que se encaixar nesse
padrão para defender seus interesses políticos. No processo apanhou temos
Marta numa posição inferior e passiva. Interpretamos isto como uma forma
machista de se referir ao seu desempenho nas respostas às perguntas da
entrevista.
3.2 Reconhecimento político
Nessa categoria, apresentamos como os poticos são representados de
acordo com seus desempenhos como profissionais. Estas representações, em
geral, estão relacionadas tanto com a importância política, como com a
popularidade com os eleitores.
Nos artigos que tratam de homens políticos, encontramos poucos
exemplos que tratam de suas popularidade com os eleitores e, também, dos
bons desempenhos no cenário político. Os exemplos que encontramos
remetem apenas a dois políticos: o Senador Eduardo Suplicy e o Ministro da
Saúde José Gomes Temporão.
Nos artigos sobre mulheres políticas encontramos exemplos que tratam
das avaliações sobre seus desempenhos, da popularidade com os eleitores e,
também, da antipatia que causam à população.
Organizamos, no quadro abaixo, as características de reconhecimento
político de acordo com os processos utilizados nos corpora:
Análise dos dados e discussão dos resultados
62
Tipo de processo Processo Freqüência
em artigos
de MP
Freqüência
em artigos
de HP
Características que representam
reconhecimento político
(mostrada pelo conteúdo do
participante não agente)
Presidir 1 0 Bom desempenho
Coordenar 1 0 Bom desempenho
Integrar 2 0 Bom desempenho
Fazer 2 0 Desempenho ruim; experiência política
Trabalhar 1 1 Bom desempenho
Tirar 1 0 Irresponsabilidade
Viajar 1 0 Irresponsabilidade
Administrar 1 0 Dificuldades enfrentadas no partido
Construir 1 0 Profissional respeitado
Andar 1 0 Popularidade
Produzir 1 0 Desempenho ruim
Deixar 1 0 Desempenho l ruim
Distribuir 1 0 Popularidade
Entregar 1 0 Profissional respeitado
Chegar 1 0 Inicio da carreira política
Abrilhantar 1 0 Respeito e popularidade
Impedir 1 0 Profissional respeitado
Jogar 1 0 Dificuldades enfrentadas
Expulsar 1 0 Dificuldades enfrentadas
Material
Ejetar 1 0 Dificuldades enfrentadas
Ser 15 5 Profissional respeitado; popular; crítica
Estar 5 0 Desempenho; crítica
Ter 1 1 Posição partidária (HP) e Crítica à
pessoa.
Relacional
Tornar 1 0 Profissional respeitado
Aprovar 1 0 Profissional respeitado
Bater 2 0 Dificuldades enfrentadas
Afirmar 1 0 Elogios recebidos
Vaiar 2 0 Dificuldades enfrentadas
Enfrentar 1 0 Discussões com o partido
Destacar/
dizer
2 0 Elogios recebidos
Responder 1 0 Popularidade
Requisitar 1 0 Popularidade
Verbal
Confirmar Profissional respeitado
Reconhecer 0 1 Bom desempenho
Mental
Desagradar 1 0 Irresponsabilidade
Comportamental
Provocar 1 0 Postura agressiva
Quadro 3.4 Processos utilizados para representar reconhecimentos políticos.
Análise dos dados e discussão dos resultados
63
Organizamos os exemplos de acordo com as subcategorias de análise:
Como os políticos são avaliados segundo seus desempenhos como
profissionais e pelas suas popularidades entre os eleitores;
Como suas atuações influem na forma como são reconhecidos na
política brasileira;
Comentários feitos por colegas de trabalho sobre as competências
políticas das mulheres;
Descrições de situações difíceis com a população.
3.2.1 Como os políticos são avaliados segundo seus desempenhos como
profissionais e pela suas popularidades entre os eleitores
Como dito na categoria anterior, os processos relacionais, são utilizados
para fazer avaliações das profissionais políticas, identificando-as ou
caracterizando-as.
Nos exemplos abaixo, os autores descrevem as qualidades de algumas
mulheres políticas:
28. A ex-prefeita Marta Suplicy, de São Paulo, é um dos fenômenos
políticos mais interessantes do Brasil. (Veja 23/03/2005).
29. O PSOL o terá muito brilho político nem hoje nem no futuro... Isso
não impedirá a senadora Heloísa Helena de se firmar como uma
respeitável figura política, coisa que ela já é. (Veja 16/06/2004).
As orações intensivas-identificadoras identificam as participantes (Marta
Suplicy e Heloísa Helena) como profissionais de destaque na política brasileira,
através dos identificadores: um dos fenômenos mais interessantes... e uma
respeitável figura política. Analisamos, em 29, o processo firmar como material,
pois o interpretamos como sinônimo de estabilizar. Firmar também tem como
meta uma respeitável figura política, representando Heloísa Helena como uma
profissional experiente, devido a sua vivência na carreira política. De acordo
com o significado de fenômeno, parte do identificador, Marta é representada
como uma política que possui qualidades extraordinárias e surpreendentes.
Análise dos dados e discussão dos resultados
64
Nos exemplos seguintes temos mais identificadores sobre o
desempenho político da senadora Patrícia Saboya e do Ministro da Saúde
Temporão:
30. Aos 41 anos, a senadora Patrícia Saboya Gomes (PPS-CE) é uma
estrela emergente no Congresso Nacional. Preside uma CPI mista para
investigar a exploração sexual de crianças e adolescentes, é vice-líder
do governo, coordena a Frente Parlamentar da Criança e do
Adolescente e integra a Comissão de Assuntos Econômicos, a mais
poderosa do Senado. (Época 17/07/2003).
31. Temporão é um dos ministros mais ativos do governo Lula. Trabalha
em média 12 horas por dia e é reconhecido como um talento na área de
saúde pública. (Época 05/11/2007).
Em 30, Patrícia Gomes é identificada como uma profissional que ganhou
destaque na política. Percebemos, no artigo, a remição ao início da sua
carreira - acompanhando o seu ex-marido, Ciro Gomes. Depois da separação,
Patrícia ganhou um grande destaque devido ao seu trabalho, como mostram os
processos materiais: preside, coordena e integra e suas respectivas metas; e o
relacional é e seu atributo vice-líder do governo.
Os temas trabalhados por Patrícia ganharam destaque; ela integra tanto
comissões ligadas ao social (crianças e adolescentes), como a econômica,
enfatizada, no final da oração, como a comissão mais poderosa do Senado.
Avelar (2001) aponta, em seus estudos, que a maioria das mulheres trabalha
com temas relacionados ao social e os temas econômicos são, em geral,
trabalhados por políticos homens. Podemos neste exemplo, portanto, notar um
progresso na política brasileira, que Patrícia trabalha com temas ligados
tanto ao social como ao econômico.
No último exemplo, por meio da meta e do fenômeno dos processos
trabalha (material) e reconhecido (processo mental) temos Temporão,
responsável pela área da saúde, representado como um político trabalhador e
com bons desempenhos na política.
Análise dos dados e discussão dos resultados
65
Rita Camata também é reconhecida pelos seus desempenhos na
carreira política. O exemplo seguinte a representa quando foi vice-candidata
nas eleições presidenciais de 2002:
32. Rita é uma política de primeira linha. Chegou a Brasília como a Musa
da Constituinte, em 1987, mas 15 anos depois figura entre os mais
respeitados da casa. Está em quinto lugar no ranking dos parlamentares
que mais aprovaram projetos de lei. (Época 27/05/2002).
A oração relacional intensiva-identificadora define Rita Camata como
uma boa profissional. Na oração seguinte, o uso da conjunção adversativa mas
contrapõe o início da carreira de Rita a sua carreira atual, por meio do processo
material chegou e sua meta Brasília. Por isso, para Rita Camata ser vista hoje
como uma profissional respeitada, ela teve que provar que poderia ser mais do
que musa, mostrando sua capacidade e competência. O atributo da oração
seguinte, em quinto lugar no ranking... aprovaram projetos de lei também
representa a competência de Rita na política.
Muitas vezes, no discurso da mídia impressa, encontramos ressaltada a
popularidade de algumas profissionais que se destacam no meio político,
mostrando como estas são bem vistas e queridas pela população, como nos
exemplos da Senadora Heloísa Helena:
33. Heloísa em pleno trote: a favorita da esquerda desiludida. (Veja
17/05/2006).
34. Confirmou-se uma vez mais que a senadora de Alagoas, além de
uma estrela, que seduz e intriga pela palavra fluente, pela emoção, pela
calça jeans e pelo rabo-de-cavalo, é um enigma. (Veja 23/07/2003).
35. Heloísa Helena é hoje uma superestrela não no Congresso e nas
ruas, onde se apresenta em estado permanente de comício, como é
também figura requisitada em programas de televisão, e não só os
programas políticos. (Veja 23/07/2003).
Análise dos dados e discussão dos resultados
66
36. Na segunda-feira 14, após participar do programa Roda Viva (TV
Cultura), a chegada de Heloísa Helena no restaurante Pequi, em São
Paulo, foi um termômetro de que a musa radical é pop e está em alta.
(Istoé 23/07/2003).
Temos, no primeiro exemplo, o processo relacional é omitido pela
pontuação. O identificado a favorita da esquerda desiludida mostra seu
favoritismo entre uma parcela da população. A partir do início do século XX,
como mostram os estudos de Avelar (2001), o posicionamento ideológico das
mulheres foi crescendo à medida que o espaço político da esquerda ia se
constituindo em nosso país. Em 34, temos uma outra oração menor com o
processo relacional (ser) omitido. Chamamos atenção para o seu identificador:
uma estrela e o seguinte, do processo é, um enigma. Ambos metáforas
lexicais, podemos entender a primeira como a representação de Heloísa
Helena como uma política popular e também como uma profissional com bom
desempenho; a segunda identifica a Senadora como uma pessoa misteriosa e
difícil de ser compreendida.
A popularidade da Senadora (identificado) é, também, ressaltada pelos
identificadores uma superestrela (exemplo 35) e um termômetro de que a musa
radical é pop e está em alta (exemplo 36) e pelo atributo figura requisitada em
programas de televisão, e não os programas políticos (exemplo 35), que
mostram que Heloísa Helena conquistou a simpatia das pessoas, pois estas se
identificam e se solidarizaram com sua expulsão do PT. Com isso, a Senadora
passou a ser tratada não como uma profissional política, mas como uma
celebridade.
Assim como no exemplo 33, sobre o favoritismo de Heloísa Helena,
temos nos artigos sobre políticos, apenas um exemplo que representa o
Senador Eduardo Suplicy (PT-SP) como o senador preferido dos paulistas:
37. Nos últimos 16 anos, Eduardo Matarazzo Suplicy, 64 anos, 1,83 m e
um carisma pessoal que lhe valeu 6,7 milhões de votos na última eleição
(43% dos válidos), tem sido “o” senador dos paulistas. É do PT, mas
parece mais amplo que o partido. Tem
posições de esquerda, porém,
Análise dos dados e discussão dos resultados
67
com a ajuda do sobrenome histórico, é palatável às elites e à classe
média. (Istoé 13/03/2006).
Neste exemplo, o identificador é utilizado para atribuir a preferência dos
eleitores paulistas ao Senador Suplicy. Halliday (1994:122), ao abordar os
processos relacionais, explica que uma maneira de olhar para a oração
identificadora seria dizer que estamos estreitando a questão de classe para
uma classe só. Ao dizermos Eduardo M. Suplicy... tem sido “o” senador dos
paulistas, identificamos o Senador, porque especificamos que apenas um
membro da classe, uma única instância, ou seja, não há outros políticos
paulistas que possuam este favoritismo entre os eleitores paulistas.
O atributo do processo relacional seguinte caracteriza o partido a qual
pertence e contrapõe, através da conjunção adversativa mas, a postura do
partido com a postura do Senador. Em seguida, temos uma contraposição, pela
conjunção adversativa porém, da sua posição de esquerda com seu
sobrenome que remete a uma família tradicional e conhecida pela posição
política de direita, o que o faz, como mostra o atributo do processo relacional é,
ser aceito tanto pela elite como pela classe média.
Opondo-se à representação anterior de Eduardo Suplicy, temos abaixo
alguns exemplos de sua ex-mulher Marta Suplicy. Os processos relacionais
são utilizados abaixo para ressaltar os aspectos negativos, como o seu
desempenho profissional:
38. O ponto fraco de Marta, identificado por seus adversários, está nos
impostos. (Época 15/09/2003).
39. A grande originalidade de Marta está na pessoa física. estão suas
melhores qualidades. (Veja 12/05/2004).
40. Deu-se bem no papel de sexóloga num programa matinal da Rede
Globo anos atrás, mas não tem dotes intelectuais que chamem atenção.
(Veja 23/03/2005).
Análise dos dados e discussão dos resultados
68
41.Como prefeita, seu desempenho foi uma lástima, pela incompetência
administrativa e pela determinação de fazer qualquer coisa a seu
alcance para se reeleger, mesmo que contra os interesses da cidade e
as tradições de seu partido. (Veja 23/03/2005).
Os atributos, nos três primeiros exemplos, estão ligados ao seu
desempenho ruim como prefeita de São Paulo, devido ao imposto abusivo e à
falta de originalidade na gestão. Este artigo compara as atitudes de Marta a
outros políticos homens criticados por ela, mostrando que as ações criticadas
por ela são semelhantes às ações realizadas por ela. Conforme analisamos na
categoria estratégias políticas, as estratégias de Marta são comparadas com as
dos políticos Paulo Maluf e Jânio Quadros. Sua falta de originalidade é
reforçada pelo atributo dotes intelectuais que chamem atenção (em 40) que
avalia Marta como uma política que não chama atenção pela inteligência e
habilidade em gestões políticas.
Em 41, a gestão de Marta como prefeita é critica, por meio do
identificador que apresenta as razões de seu desempenho ruim caracterizando-
a como uma política descomprometida com a população e até mesmo com seu
partido.
3.2.2 Como suas atuações influem na forma como são reconhecidos na
política brasileira
Encontramos nos artigos apenas exemplos que tratam das ações de
mulheres políticas. Estas ações são descritas de forma negativa ou positiva
com o uso de processos materiais, tendo a política como participante agente.
Os exemplos abaixo trazem a representação negativa de ações, devido
aos seus desempenhos políticos, de Marta Suplicy e Marina Silva:
42. Qualquer outra pessoa estaria expressando certa preocupação com
a péssima imagem que deixou como prefeita. Marta produziu um
desastre financeiro na prefeitura. (Veja 23/03/2005).
Análise dos dados e discussão dos resultados
69
43. Com a capital paulista mergulhada numa crise financeira, Marta tira
folga, viaja para a Europa e desagrada até a petistas. (Istoé 13/12/2004).
44. Ela fez muito pouco até agora, mesmo trabalhando das nove da
manhã às dez da noite. (Istoé 09/07/2003).
Temos nos dois primeiros exemplos, a representação do desempenho
ruim da então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Os artigos dos quais
retiramos estes exemplos tratam da decepção que a população teve com a
gestão de Marta, pois a cidade enfrentou muitas enchentes e tinha problemas
administrativos em obras públicas, como vemos em 42, em que o autor faz uso
da meta um desastre financeiro na prefeitura para representar a falta de
habilidade de Marta como política. A oração anterior, deste mesmo exemplo,
representa a postura da então prefeita: descaso e frieza perante a população,
avaliando-a negativamente, assim como as metas dos processos materiais tira
e viajar, que representam sua despreocupação e descomprometimento com os
problemas da cidade. Na última oração, deste exemplo, o processo mental de
afeto desagrada e a circunstância até são utilizados para enfatizar os
descontentamentos que Marta provocou, não na população, como no
próprio partido, como temos no fenômeno a petistas.
Marina Silva, assim como Marta, é representada, em 44, pelo seu
desempenho profissional. A meta da oração muito pouco e as circunstâncias
até agora e das nove da manhã às dez da noite indicam que mesmo
trabalhando muito, a Ministra tem pouco poder de ão frente aos diversos
problemas enfrentados por ela como ministra do meio ambiente.
Em outros momentos, encontramos orações com processos materiais
que também destacam as qualidades positivas de outras políticas, como:
integridade, experiências profissionais e enfatizam a importância destas na
política brasileira, o que mostra que a mídia pode ora representa-las por suas
qualidades negativas, seus desempenhos ruins, ora pelas suas qualidades
positivas e seus bons desempenhos. Os exemplos abaixo tratam de Heloísa
Helena quando ela estava ameaçada de ser expulsa do Partido dos
Trabalhadores (PT):
Análise dos dados e discussão dos resultados
70
45. Com habilidade de quem faz política desde o movimento estudantil,
ela administra como pode a ameaça de ser expulsa do PT por bater de
frente com as diretrizes do governo Lula e enfrentar a ira dos principais
dirigentes do partido. (Istoé 23/07/2003).
46. Ejetada da sigla que ajudou a construir, tornou-se a primeira mulher
a fundar um partido no Brasil, o PSOL. (Veja 07/06/2006).
Em 45, o uso processo material faz e sua meta política desde o
movimento estudantil implica afirmar que Heloísa Helena é uma profissional
experiente, a circunstância com habilidade avalia-a como uma profissional
habilidosa, demonstrando estas qualidades na situação mais delicada da sua
carreira: a expulsão de seu próprio partido. Da mesma forma, a circunstância
desde o movimento estudantil remete-nos ao que afirmam as pesquisas da
área de Ciências Políticas, citados anteriormente na Fundamentação Teórica,
como Grossi e Miguel (2001) apontam, a entrada das mulheres na área política
se faz de duas maneiras: através da participação em movimentos sociais ou
através das relações familiares, como parentesco com um homem político.
Segundo as autoras, o primeiro canal para a chegada à política seria visto de
forma enobrecedora, ou seja, é visto de forma mais aceita pela sociedade.
A oração seguinte, neste mesmo exemplo, ilustra as dificuldades
enfrentadas por Heloísa Helena que acabou sendo expulsa do PT, como
mostra o exemplo por meio da passiva do processo material ejetar. Temos,
também, a avaliação da importância da Senadora na política brasileira ao
fundar um partido, como mostra o identificador do processo relacional tornou-
se: a primeira mulher a fundar um partido no Brasil, o PSOL. Essa escolha
demonstra um avanço no cenário político brasileiro, pois as mulheres vêm
conquistando seu espaço, através de suas iniciativas e candidaturas.
Em outros momentos, como em 44, a ministra Marina Silva é
representada com uma profissional que mesmo trabalhando muito tem pouco
poder político. No mesmo artigo, o autor a caracteriza como uma política
íntegra:
Análise dos dados e discussão dos resultados
71
47. A política ganhou uma guerreira de primeira linha, a mais jovem
senadora eleita no País (em 1994, aos 35 anos), uma das mais íntegras
num meio onde a integridade é relegada. (Istoé 09/07/2003).
Marina Silva, no exemplo acima, é caracterizada como uma boa
profissional política através do identificador do processo ganhou (analisado,
aqui, como relacional) uma guerreira de primeira linha e, também, pela sua
importância no cenário político do país, como podemos ver no identificador a
mais jovem senadora eleita no País do processo relacional ausente foi. Em
seguida, o identificador uma das mais íntegras... relegada, do processo
ausente é compara a integridade de Marina com a integridade dos profissionais
do meio político, que geralmente estão envolvidos em escândalos e
corrupções.
Assim como a integridade, destacada na Ministra Marina Silva, outras
características das mulheres políticas são reconhecidas pela mídia, como a
popularidade entre os eleitores, como no exemplo abaixo:
48. Única parlamentar de Brasília que anda pelas ruas distribuindo
autógrafos e respondendo a elogios de cidadãos comuns, a senadora
Heloísa Helena costuma provocar deslocamentos de ar com seus surtos
de coragem. (Época 10/02/2003).
Destacamos a representação da Senadora Heloísa Helena como a única
profissional apreciada pelo povo, reforçada, também, pelo modo do processo
material anda: distribuindo autógrafos e respondendo a elogios de cidadãos
comuns, que demonstra uma identificação das pessoas com a Senadora.
Heloísa é representada, na oração seguinte, pelo processo material provocar
que tem como meta deslocamentos de ar e a circunstância de modo com seus
surtos de coragem, por sua postura no Senado. O modal costuma indica a
freqüência de suas discussões em Brasília. De acordo com alguns exemplos
apresentados na análise, podemos inferir que as pessoas se identificam com a
forma de ser da Senadora, que é sempre representada pela mídia como uma
profissional destemida na defesa e na luta pelas suas idéias.
Análise dos dados e discussão dos resultados
72
Assim como Heloísa Helena é representada pelo seu prestígio entre os
eleitores, ela também é apreciada, juntamente com Dilma Rousseff, por suas
personalidades numa importante premiação:
49. ... o anfitrião Domingo Alzugaray, editor e diretor da editora, entregou
à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o prêmio Brasileira do
Ano, da IstoÉ. (Istoé 21/12/2005).
50. Firme como sempre e mais bela do que nunca, Heloísa Helena
abrilhanta premiação das Personalidades do Ano. (IstoÉ 21/12/2005).
No exemplo 49, a Ministra é premiada pelo seu destaque como
profissional competente numa área nunca antes administrada por uma mulher.
Grossi e Miguel (2001) e Avelar (2001) discutem em suas pesquisas que as
áreas de maior atuação da mulher política são as sociais e, as áreas de maior
atuação do homem são as administrativas. Este exemplo, portanto, indica que
está havendo, em nossa sociedade, um avanço nas áreas de atuação da
mulher política. Estas profissionais estão não mais defendendo interesses
sociais no campo político, mas também interesses econômicos.
Em 50, o processo material abrilhanta mostra o destaque da Senadora
na premiação. O uso deste processo pode remeter à representação da
Senadora como uma celebridade, assim como em outros exemplos que a
representam como uma estrela. Isto nos permite afirmar que para uma política
as conquistas de premiações e da simpatia popular podem contribuir de forma
benéfica para suas carreiras. É oportuno lembrar que na linha teórica adotada
neste estudo, o léxico é entendido como um recurso pelo qual se realizam
significados experienciais nos textos (cf. Eggins, 1994:105). Dessa forma, os
processos são escolhas lexicais que refletem como a representação de mulher
política é feita nos textos. Salientamos, neste exemplo, a forma como a
Senadora é representada. Ela ganhou destaque também pela sua postura, que
é sempre muito enfatizada pela mídia, e, também, pela aparência elegante na
premiação.
Análise dos dados e discussão dos resultados
73
3.2.3 Comentários feitos por colegas de trabalho sobre as competências
políticas das mulheres
Nesta subcategoria, analisamos as falas de colegas políticos na íntegra
e as falas reportadas pelos jornalistas.
Nas orações com processos verbais, as qualidades da mulher política
são representadas por meio de comentários reportados pelos autores dos
artigos. Estes comentários foram feitos publicamente a elas, como mostram os
exemplos:
51. Alzugaray destacou sua coragem na luta por um país
“economicamente forte e socialmente justo, que coloque a dignidade do
povo na frente do superávit primário”. (Istoé 21/12/2005).
52. “Era uma mulher brilhante, uma sargentona”. Na perspectiva do ex-
guerrilheiro, o uso pouco convencional da patente é um elogio de
primeira linha. (Istoé 29/06/2006).
53. “Depois de uma rie de administradores ruinosos, Marta é a
primeira grande gestora da cidade", afirma o deputado petista Luiz
Eduardo Greenhalgh. (Época 12/07/2004).
Nos dois primeiros exemplos, temos dois comentários sobre a Ministra
de Minas e Energia, Dilma Rousseff. O primeiro deles foi feito por Alzugaray,
diretor executivo da Editora Três, na premiação Personalidades do Ano e o
segundo pelo Sargento Darcy Rodrigues, um ex-guerrilheiro que foi
companheiro de guerrilha de Dilma. No exemplo 51, ela é destacada pelo seu
trabalho, conforme vemos na verbiagem sua coragem na luta... primário. Como
destacado anteriormente, podemos notar, na verbiagem, que as mulheres
também estão cuidando de áreas antes só administradas por políticos homens.
No exemplo 52, em que o processo verbal é omitido, Dilma foi elogiada
por sua liderança e autoritarismo, como podemos ver no identificador uma
sargentona, qualidades que remetem ao seu passado que diferem da sua
situação como a Ministra de Minas e Energia.
Análise dos dados e discussão dos resultados
74
Marta Suplicy, em 53, depois de passar por muitas dificuldades como
prefeita de São Paulo, é defendida e elogiada por seu companheiro de partido.
Ele a avalia através do identificador a primeira grande gestora da cidade e,
antes, a compara com administradores anteriores.
Nesta subcategoria, não encontramos nenhuma ocorrência de falas
reportadas ou transcritas sobre o reconhecimento dos homens políticos. Muitas
falas que encontramos fazem referência à categoria seguinte: Honestidade.
3.2.4 Descrições de situações difíceis com a população
Diferentemente dos exemplos mostrados anteriormente, os exemplos
seguintes, também de Marta Suplicy, são descrições de situações de vaias
enfrentadas por ela em situações delicadas com a população de São Paulo:
54. Marta foi vaiada e chegaram a jogar lama em sua direção, sem
atingi-la. (Veja 11/02/2004).
55. Marta foi vaiada e bateu boca com uma vítima das águas que queria
lhe atribuir a culpa pelas chuvas. (Veja 12/04/2004).
Notamos que estruturalmente os exemplos estão na voz passiva,
utilizada para mostrar a dificuldade de Marta. Ao contrário das dificuldades dos
homens, que serão enfocados na próxima categoria, as dificuldades das
mulheres são representadas através da voz passiva de processos verbais,
como vaiada, relacionados a discussões com o público. Em ambos os
exemplos, Marta Suplicy é retratada em suas visitas às vitimas das enchentes.
A população, nesse momento, estava descontente com a prefeita e, revoltados,
agrediram-na verbalmente, como vemos nos processos verbais: vaiada e bateu
boca. Nesses artigos, Marta é retratada, também, pela forma como foi vestida
nesta visita, que segundo os autores, colaborou para o agravamento da
situação.
Análise dos dados e discussão dos resultados
75
3.3 Honestidade
Chamou-nos a atenção, nos artigos sobre HP, as ocorrências
envolvendo diferentes políticos em situações desonestas, o que não aconteceu
ao analisar os artigos que fazem referência à MP. Assim, introduzimos esta
categoria e depois voltamos a analisar os artigos que tratam de mulheres
políticas. Procuramos ocorrências, nos dados de MP, que envolvam casos de
desonestidade, mas apenas encontramos as avaliações negativas sobre seus
desempenhos como profissional, tratadas na categoria anterior. O quadro
abaixo apresenta as ocorrências de políticos em situações desonestas em
termos dos processos com que ocorrem e demais características:
Quadro 3.5 Processos utilizados para representar as desonestidades dos homens políticos.
Ressaltamos que as características que representam as desonestidades
podem ser encontradas tanto no conteúdo do participante à direita do
processo, como nas circunstâncias das orações.
Tipo de
processo
Processo Freqüência
em artigos de
HP
Construções
passivas
Características que representam
desonestidades (participante não agente ou
circunstância)
Cassar 9 X Assassinato; roubos; tráfico
Condenar 5 X Assassinato; roubos; tráfico; quadrilha
Prender 5 X Crime ambiental; roubos
Afastar 4 X Assassinato; roubos
Punir 2 X Impunidade
Investigar 2 X Assassinato; roubos
Processar 1 X Envolvimento com traficantes
Retornar 1 X Roubos
Material
Disparar 1 X Assassinato
Estar 2 - Porte ilegal de arma e investigações sobre crimes
Relaciona
l
Ter 1 - Número de votos
Classificar 1 Assassinato
Responder 1 - Processos e investigações criminais
Acusar 16 X Fraude no vestibular; tráfico; roubos
Renunciar Processos e investigações criminais
Citar 5 X Popularidade; roubos
Apontar 3 X Empresário bem sucedido; roubos
Verbal
Negar 1 - Roubos
Análise dos dados e discussão dos resultados
76
Como vimos na fundamentação teórica, em pesquisas sobre a
confiabilidade dos eleitores uma tendência a confiar mais nas mulheres do
que nos políticos homens, que este é segmento menos comprometido na
política brasileira e podemos ver que elas não possuem envolvimentos
desonestos e criminosos no período analisado nesta pesquisa.
Os exemplos apresentados nesta categoria são de diferentes homens
políticos, em diferentes situações, mostrando uma variedade de políticos e, não
somente alguns específicos, pois o envolvimento em desonestidades é uma
característica comum aos homens políticos.
Do ponto de vista estrutural, suas representações negativas o feitas
por meio de construções passivas como o uso de processos materiais, verbais
e mentais, que dividimos em 2 subitens:
Punições recebidas por crimes cometidos;
Acusações recebidas.
Dado o grande número de ocorrências discutimos os exemplos que
consideramos mais relevantes para esta categoria.
3.3.1 Punições recebidas por corrupção e crimes cometidos
Para representar as punições recebidas, foram utilizados processos
materiais, que são os de maior número, como mostrado no quadro 3.5.
Como já dito, não encontramos equivalentes a estes processos nos
artigos que tratam de MP, por isso podemos inferir que as mulheres o estão
envolvidas nessas situações, por isso, podemos dizer que elas são mais
honestas que os homens.
Note-se que as construções passivas com o processo cassado tratam de
diferentes políticos em situações políticas delicadas. Alguns foram cassados
por corrupção e outros por participarem de crimes, como mostram os exemplos
abaixo:
Análise dos dados e discussão dos resultados
77
56. Foi cassado na noite de quinta-feira, pela mara Legislativa de
Brasília, o mandato do deputado distrital Carlos Xavier (PMDB), acusado
de ordenar o assassinato de um adolescente identificado como suposto
amante de sua ex-esposa. (Veja 06/08/2004).
57. O mandato de deputado de Hildebrando foi cassado em 1999, por
quebra de decoro parlamentar, após investigações sobre o crime
organizado no Acre. Ele já foi condenado por tráfico de drogas, formação
de quadrilha e crime eleitoral. Até a decisão de hoje, as penas de
Hildebrando chegavam a quase 70 anos. (Veja 29/11/2006).
58. O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) foi cassado na noite desta
quarta-feira em votação secreta na Câmara pela maioria dos votos dos
parlamentares, que preencheram cédulas impressas. (Veja 14/09/2005).
59. Entre os novos deputados, circula discreto pelo Congresso o gaúcho
Ibsen Pinheiro, do PMDB. Ele retorna depois de ter sido cassado como
um dos integrantes da máfia do Orçamento. (Istoé 21/02/2007).
Os dois primeiros exemplos tratam da cassação de dois deputados em
situações relacionadas com o crime, apresentam processos verbais na voz
passiva: acusado e condenado. Notamos que na passiva o participante que
ocupa a posição de sujeito é o político; a omissão do agente é um recurso
comum do texto que o explicitar o agente responsável pela ação. Em 57,
além de ter participado do crime organizado, o texto apresenta um histórico
sobre outras desonestidades cometidas pelo Deputado, explicitadas na
circunstância do processo verbal condenado.
Em 58, o processo material mostra o deputado punido com cassação por
ter participado de esquemas de corrupção, o mensalão. Em 59, o deputado
volta à vida pública tendo sido cassado (processo material retorna) e sua
circunstância que também contém o processo cassado na passiva.
Alguns exemplos mostram que além da desonestidade na administração
do dinheiro público, muitos políticos, assim como o deputado, em 60, não
possuem escrúpulos para conseguir o que querem:
Análise dos dados e discussão dos resultados
78
60. O ex-deputado federal Hildebrando Pascoal (AC) foi condenado
nesta quarta-feira pela Justiça Federal em Brasília a 18 anos e seis
meses de prisão pelo assassinato do soldado do Corpo de Bombeiros
Sebastião Crispim, em setembro de 1997. O Ministério Público Federal
classificou a morte de Crispim como "queima de arquivo", pois o
bombeiro iria testemunhar contra Hildebrando. (Veja 29/11/2006).
Acima temos um exemplo sobre a demora de soluções na justiça
brasileira, como vemos na circunstância do processo verbal condenado. Como
o soldado sabia informações sobre o Hildebrando e iria revelá-las no
julgamento foi morto a mando do Deputado, como vemos no alvo e na
expressão queima de arquivo na circunstância do processo classificou,
entendido aqui como verbal.
Em um dos artigos sobre políticos, encontramos dados sobre as
desonestidades cometidas na política brasileira, conforme 61:
61. De acordo com levantamento do portal G1, um em cada sete novos
deputados federais responde a processos ou investigações criminais.
São 74 parlamentares que respondem a 133 processos. casos
famosos. Em 1993, o deputado Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PR)
disparou dois tiros contra um adversário político, Tarcísio Buriti, dentro
de um restaurante em João Pessoa. Jamais foi punido. O deputado
Aníbal Gomes (PMDB-CE) é investigado pela suspeita de ter arquitetado
a morte de um primo. O deputado Armando Abílio (PTB-PB) é acusado
pelo Ministério Público por tentativa de fraude no vestibular de medicina
da Universidade Federal da Paraíba. (Istoé 21/02/2007).
Na primeira parte do exemplo, o jornalista traz os dados do portal de
notícias para mostrar ao leitor, por meio do dizente do processo verbal
responde, a quantidade de políticos envolvidos em crimes. Estes dados
justificam o que encontramos nos artigos sobre políticos: um número muito
grande de políticos desonestos e criminosos.
Análise dos dados e discussão dos resultados
79
Ao dar continuidade ao tema, o autor usa o processo material disparou
na voz ativa, destacando o Deputado, autor dos disparos. Ainda sobre o
mesmo assunto, o autor utiliza junto ao processo material punido a
circunstância jamais, que remete ao leitor a impunidade no país. As
construções passivas destacam o que chamamos em termos sistêmicos de
meio, que é o que chamamos na voz ativa de participante. O processo
investigado (material) envolve um outro caso de assassinato, mas o autor não
explicita como anteriormente, se o político foi ou não punido. O último processo
acusado (verbal), ao contrário dos anteriores, não remete a assassinatos, mas
à desonestidade de fraudar um vestibular, o que nos mostra a variação de
crimes e desonestidades cometidas pelos políticos.
Além de crime de assassinato, os exemplos abaixo enfocam outros
crimes cometidos pelos políticos - porte ilegal de arma, crime ambiental,
corrupção e relações com traficantes, como temos nos exemplos abaixo:
62. O deputado estadual do Rio de Janeiro José Nader Júnior (PTB),
integrante da campanha do "não" no referendo sobre a proibição da
venda de armas de fogo e munição, foi preso em flagrante na quinta-
feira, no Tocantins, sob acusação de crime ambiental e porte ilegal de
arma. Com ele estavam quatro armas e 412 cartuchos de munição -
incluindo peças de uso exclusivo do Exército. (Veja 14/10/2005).
63. O deputado federal André Luiz (PMDB-RJ) foi afastado
provisoriamente de seu partido nesta terça-feira por 60 dias. Segundo
informou o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP),
o prazo é suficiente para a Comissão de Ética do PMDB concluir as
investigações sobre a atuação do deputado nas denúncias de corrupção
e de assassinato. (Veja 16/11/2004).
64. O ex-deputado Pinheiro Landim (CE) renunciou antes de ser
processado pelo Conselho de Ética. Ele era acusado de participar de um
esquema de vendas de habeas corpus a traficantes. (Veja 15/10/2004).
Análise dos dados e discussão dos resultados
80
Em 62, temos retratado, no texto, uma situação controversa a respeito
do deputado integrante da campanha do desarmamento, pois o próprio é preso
por porte ilegal de arma, como mostra a circunstância do processo material
preso. O atributo do processo seguinte é utilizado pelo jornalista para atribuir a
ele o número de armas e munições, detalhando que algumas peças são de
exclusividade do exército, o que implica não no crime de porte ilegal de
arma, mas também de tráfico de armas.
Assim como em outras situações representadas anteriormente, exemplo
64, o processo material representa a punição dada ao deputado pela suspeita
de roubo de dinheiro público e de assassinato. O seguinte representa a
renúncia do ex-deputado como uma estratégia para o perder seus direitos
políticos, estratégia comum no meio político. O seu envolvimento com
traficantes, assim como o assassinato e o porte de armas representam alguns
dos crimes cometidos pelos políticos. Notamos que, apenas em 62, o político
recebe a punição esperada – a prisão.
3.3.2 Acusações recebidas
Para representar as acusações sofridas pelos políticos, foram utilizados
processos verbais na voz passiva. Os três processos que aparecem com maior
freqüência (acusado, citado e apontado), abordam crimes ligados ao uso
indevido do dinheiro público. Os exemplos, abaixo, são construções passivas
com o processo verbal acusado:
65. Senador nota fria, Geraldo Mesquita Júnior, é acusado de fraudar sua
prestação de contas ao Senado para engordar a renda pessoal, quando
estava no PSOL. (Istoé 03/12/06).
66. Deputado Raul Jungmann é acusado de fraude. Acusado de desviar
dinheiro público para custear contratos de publicidade no Instituto
Nacional de Colonização. (Veja 11/01/2007).
67. Ele [João Paulo Cunha] era acusado de participar de um esquema de
vendas de habeas corpus a traficantes. (Veja 15/10/2004).
Análise dos dados e discussão dos resultados
81
68. No primeiro processo, Renan era acusado de pagar despesas
pessoais com recursos do lobista Cláudio Gontijo. (Época 04/12/2007).
Os exemplos usam o verbo auxiliar é no tempo presente ou no pretérito
anteposto ao processo verbal acusado na passiva. Em 65, o ator Geraldo
Mesquita Júnior é avaliado pela expressão Senador nota fria que faz parte do
participante da oração (meio, na passiva). Nas circunstâncias, destes
exemplos, encontramos as acusações dos crimes praticados pelos políticos,
indicados no primeiro e no segundo pelos processos materiais fraudar e
desviar e suas circunstâncias prestação de contas... e dinheiro público..... Da
mesma forma, nos dois últimos exemplos, os processos materiais participar e
pagar tem, em suas circunstâncias, crimes ligados ao tráfico e ao uso indevido
do dinheiro público.
Os tipos de desonestidade variam com as ocorrências. Outro processo
verbal que também aparece em construções passivas é o processo citado. Ao
contrário dos exemplos anteriores, uma ocorrência que não remete à
desonestidade:
O primeiro exemplo não tem como processo principal citado, mas sim
um processo passa, que interpretamos como sinônimo de têm (relacional), que
representa as chances de Ciro Gomes ser escolhido para candidato do partido
nas eleições presidenciais, portanto citado faz parte do participante do
processo relacional (portador). Os demais exemplos, assim como outros
analisados, têm como auxiliar o verbo é no presente e no pretérito anteposto ao
69. O segundo candidato mais citado, o ministro Ciro Gomes (PPS), não
passa de 16%. (Istoé 22/12/2004).
70. Na lista entregue por Valério à Polícia Federal, ele é citado por ter
recebido saques no total de 400.00 reais. Ele nega ter recebido o
dinheiro... (Veja 09/09/2005).
71. Em 1993, foi citado entre os envolvidos no esquema de propina na
Comissão de Orçamento. (Veja 14/09/2005).
Análise dos dados e discussão dos resultados
82
processo verbal citado. Nas circunstâncias destes processos encontramos as
ações desonestas também ligadas à participação de esquemas de roubo de
dinheiro público.
Assim como os processos anteriores, apontado possui algumas
ocorrências que analisamos abaixo:
72. O depoimento de Poleto [Assessor de Palocci] foi um desastre. Ele
tinha sido apontado pela revista Veja como responsável pelo transporte
de três caixas com dinheiro. (Veja 06/08/2004).
73. O empresário e senador Paulo Octávio (PFL-DF) é apontado como
um dos maiores construtores da região Centro-Oeste. (Istoé 25/05/2005).
74. Amorim também é suspeito de estar ligado ao narcotráfico na Bolívia
e é apontado como o responsável pelo desaparecimento de
aproximadamente 18 milhões de reais. (Época 14/11/2005).
Incluímos o exemplo 72 sobre Poleto, pois ele foi assessor direto do ex-
ministro Paloci (PT), cassado em 2005, por desvio de dinheiro público. Seu
depoimento é avaliado pela oração relacional intensivo-identificadora como um
depoimento que comprometeu o esquema que participava do ex-ministro. A
publicação Veja é o agente da oração passiva com processo verbal apontado
que tem como meio o depoimento do assessor, além da circunstância como
responsável pelo transporte de três caixas com dinheiro que traz para a oração
o motivo que o tornou suspeito.
A oração seguinte que tem como meio o senador Paulo Octávio e o
processo verbal apontado na passiva, ao contrário das analisadas
anteriormente, não possui nenhuma ação desonesta, apenas o representa
como um empresário bem sucedido.
Na primeira oração, em 74, o atributo da oração intensivo-atributiva
avalia o ex-senador Amorim como um profissional desonesto. Assim como a
circunstância da oração seguinte, uma construção passiva do processo verbal
apontado, que o caracteriza como um político corrupto.
Análise dos dados e discussão dos resultados
83
No item a seguir, damos continuidade à análise, examinando a
representação dos políticos por suas aparências.
3.4 Aparência
Nesta categoria, apresentamos como os profissionais da política são
representados pelas suas aparências. A maioria dos exemplos remete às
mulheres políticas, que são frequentemente representadas pelas
características ligadas à feminilidade. Nos artigos que tratam de políticos
homens poucas ocorrências desse tipo de representações. A ocorrência
encontrada remete a um único político – o ex-presidente e atual Senador
Fernando Collor de Melo. Na tabela abaixo, temos os processos utilizados e as
principais características ligadas à aparência encontradas nos artigos:
Análise dos dados e discussão dos resultados
84
Tipo de
processo
Processo Freqüência
em artigos
de MP
Freqüência
em artigos
de HP
Características que representam
aparência
(conteúdo do participante não agente e
da circunstância)
Fazer 1 1 Sensibilidade feminina e roupas
Usar 4 1 Roupas
Circular 1 0 Roupas
Transformar 1 0 Atuação política
Ir 1 0 Roupas
Levar 1 0 Roupas
Comprar 1 0 Roupas
Vestir 1 0 Roupas
Tirar 1 0 Roupas
Retocar 0 1 Rugas
Tingir 0 1 Cabelos
Emprestar 1 0 Roupas
Material
Comemorar 1 0 Sensibilidade feminina
Ter 1 1 Beleza (MP) e tatuagem (HP)
Ser 7 0 Beleza; sensibilidade feminina e roupas
Ficar 1 0 Roupas
Relacional
Estar 2 0 Roupas
Explicar 1 0 Roupas
Dizer 2 0 Roupas
Comentar 2 0 Roupas
Definir 1 0 Roupas
Elogiar 2 0 Roupas
Desabafar 1 0 Roupas
Verbal
Comparar 1 0 Roupas
Preferir 1 0 Roupas
Gostar 2 0 Roupas
Optar 1 0 Roupas
Implicar 1 0 Roupas
Chamar 1 0 Beleza
Mental
Cultua 0 1 Boa forma física
Comportament
al
Arrancou 1 0 Roupas
Tabela 3.6 Processos utilizados para representar características ligadas à aparência.
Como abordado no capítulo 1, além das competências profissionais e
intelectuais espera-se das mulheres boa aparência, conforme ressaltam Grossi
Análise dos dados e discussão dos resultados
85
e Miguel (2001). Esta boa aparência está relacionada à beleza física, roupas e
à sensibilidade feminina.
Esta categoria não está organizada em itens, como nas anteriores, pois
as ocorrências estão ligadas às avaliações, comentários das aparências dos
políticos (na maioria, mulheres), como apresentamos a seguir.
Uma das características femininas mais identificadas nos dados é a
beleza física, que muitas vezes, no discurso jornalístico, é enfatizada em
detrimento de sua atuação profissional, como em 75 e 76:
75. Salto alto, leveza, fina estampa e atuação combativa. Com essas
armas, Rita Camata (PMDB-ES), a escolhida para ser a vice do
candidato tucano José Serra, tem a missão de barrar a curva
ascendente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). (Época 27/05/2002).
76. Além de ser mulher e bonita – fatores que podem ser decisivos numa
etapa em que 23% do eleitorado feminino ainda não tem candidato –,
Rita é uma política de primeira linha. Chegou a Brasília como a Musa da
Constituinte, em 1987, mas 15 anos depois figura entre os mais
respeitados da casa. (Época 27/05/2002).
Os exemplos acima foram retirados de um mesmo artigo que apresenta
Rita Camata como candidata à vice-presidente nas eleições presidenciais. No
início do primeiro exemplo, salientamos a descrição de Rita por meio das
particularidades femininas e somente a última remete à característica
profissional.
Em 75, as primeiras características de Rita, encontradas no atributo
mulher e bonita, também enfatizam o seu lado feminino. Assim como no
exemplo anterior, a atuação profissional aparece apenas posteriormente, como
mostra o identificador seguinte uma política de primeira linha. A última oração,
deste exemplo, ilustra que inicialmente Rita era considerada uma musa e
somente 15 anos depois foi considerada uma política respeitada. Os exemplos
apresentados permitem dizer que a mulher política além de ser representada
Análise dos dados e discussão dos resultados
86
pelo seu trabalho e pelas suas características profissionais é representada
como mulher (pela sua beleza e pelas suas características femininas).
Uma outra característica feminina bastante representada nas revistas
estudadas é a sensibilidade feminina, geralmente relacionada à ternura e à
expressão de sentimentos. Algumas ocorrências desta sensibilidade podem ser
consideradas estratégias políticas. Mas apresentamos outros exemplos nesta
categoria, pois acreditamos que a sensibilidade feminina também pode ser
considerada uma característica relacionada à aparência frágil da mulher.
Estudos sobre o feminino, como o de Fabrício (2004), mostram que a
representação do feminino está muito relacionada à aparente fragilidade
emocional, razão porque, frequentemente, as mulheres são representadas
como descontroladas emocionalmente. Em relação às mulheres políticas, isto
não é diferente. Como mostram os exemplos a seguir:
77. “Tanta violência, mas tanta ternura”, diz um verso do poeta Mário
Faustino. Heloísa Helena, naquela casa, é capaz de alternar tanta
raiva com tanta doçura. (Veja 23/07/2003)
78. Mas suas lágrimas são maiores que seu peso eleitoral - muita gente
votou em Lula na esperança de mudar "isso que está aí", o que inclui
não ter mais banqueiro no Banco Central nem um líder dos produtores
de soja no Ministério da Agricultura. (Época 23/12/2002).
79. As lágrimas de Heloísa foram comemoradas na cúpula do PT porque
garantiram a aprovação tranqüila de Meirelles. (Época 23/12/2002).
80. No entanto, Heloísa Helena é também um poço de afeto. Seu sorriso
é aberto, em certos momentos ela faz uma carinha de criança. (Veja
23/07/2003).
Nos exemplos, a Senadora Heloísa Helena é representada por
expressar seus sentimentos no cenário político, em especial, quando chora ou
quando discute aos berros no Senado. Como vemos no atributo do exemplo
77, o autor contrapõe raiva e doçura ao representá-la. no identificador do
exemplo 80, o autor a identifica como uma pessoa amorosa e sensível e, em
Análise dos dados e discussão dos resultados
87
seguida, descreve particularidades da Senadora, contrapondo a representação
anterior de furiosa. Em 78, por meio de uma comparação, o autor avalia a
pouca influência política de Heloísa Helena no seu estado Alagoas.
Um outro enfoque de representação das mulheres políticas diz respeito
a suas formas de se vestir. Elas o constantemente avaliadas, nos artigos
analisados, pelas roupas que usam, como mostram os exemplos sobre Marta
Suplicy:
81. Como o guarda-roupa da prefeita é versátil, ela muitas vezes recorre
a roupas mais batidas. (Veja 27/03/2002).
82. Mulheres, morram de inveja: o guarda-roupa da prefeita de São
Paulo é simplesmente um luxo. Em sua festa de 57 anos, ela estava o
máximo. (Veja 27/03/2002).
83. As tonalidades ficam mais fortes nas viagens a Brasília, nas quais
vai pressionar (e impressionar) as autoridades em busca de dinheiro
para a prefeitura. (Veja 27/03/2002).
Nos primeiros exemplos, temos dois atributos e um identificador que
remetem às roupas usadas por Marta Suplicy. Marta é constantemente
representada por suas roupas, como podemos notar nas avaliações feitas:
versátil e simplesmente um luxo que nos remete ao alto valor de suas roupas.
No exemplo 83, o autor, com tom irônico, avalia as cores das roupas de Marta,
usadas também para impressionar. Não é somente de Marta que a maneira de
se vestir é representada pela mídia, como mostra o exemplo seguinte:
84. Durante a fase da expulsão do PT, ela vivia na mídia. O brasileiro
pôde observar sua austeridade, suas roupas despojadas e o cabelão
preso à nuca. É uma espécie de anti-Marta Suplicy. (Veja 16/06/2004).
Heloísa Helena é representada, no exemplo acima, não pela sua
postura dura, como vemos no alcance do processo mental observar, mas
também pelo estilo de suas roupas e de seu cabelo. Esta representação é
Análise dos dados e discussão dos resultados
88
ainda mais realçada pelo identificador uma espécie de anti-Marta Suplicy,
contrastando a elegância de Marta com o estilo despojado de Heloísa Helena.
A representação das características femininas das mulheres políticas é
feita, também, por meio de orações com processos materiais. Para Halliday
(1994), as orações materiais são as que expressam a noção de que alguma
entidade faz algo – que pode ser feito para alguma outra entidade (meta).
A maioria das orações materiais encontradas no corpus torna evidente o
destaque dado à maneira de se vestir das profissionais políticas. Marta Suplicy
e Heloísa Helena, mesmo com estilos bem diferentes, são bastante
representadas. Vejamos alguns exemplos sobre Marta:
85. O modelo usado na festa custou 2.500 reais. Para um vestido de
noite, não é muito. (Veja 27/03/2002).
86. Marta circula com um guarda-roupa inacreditavelmente caro para
uma petista. (Veja 12/05/2004).
87. Look da Kenzo, grife japonesa, top e saia bufante, usados no
casamento da família Safra: 10.000 reais. Pull e saia de lã transpassada:
classe em meio à lama. Sapato da Salvatore Ferragamo: 1.000 reais.
(Veja 27/03/2002).
88. A prefeita transformou regiões inteiras em canteiros de obras. O
trânsito se tornou caótico. E ia ela, com seus tailleurs chamativos,
fazer vistoria na poeira com capacete de operário. (Veja 27/10/2004).
89. Marta Suplicy, de cima dos saltos altos que costuma usar até para
visitar favelas... (Veja 27/10/2004).
90. Ela até vai ao shopping e às butiques de luxo, claro. Afinal, compra
roupas com freqüência, como as fotos demonstram. O espetacular no
seu caso é que ela leva aquela elegância também à periferia. (Veja
27/03/2002).
Análise dos dados e discussão dos resultados
89
Os dois primeiros exemplos fazem referência às roupas elegantes que
Marta Suplicy costuma vestir. Nos exemplos 85 e 86, temos a voz passiva do
processo material usar seguido do preço do vestido, uma forma encontrada
pelo autor de destacar o alto preço do vestido para a realidade brasileira,
impressionando os leitores pelo exagero de Marta. O autor, no exemplo 86, faz
uso da circunstância para exprimir sua opinião sobre as roupas usadas por
Marta, mexendo com o imaginário que os leitores têm sobre os petistas
(pessoas que não usam roupas caras). Isto contrasta com a imagem de Lula,
símbolo do PT, cuja identificação com o povo, pela sua origem humilde, o fez
chegar ao poder.
Os exemplos 87, 88, 89 e 90 enfatizam a elegância de Marta ao visitar
obras e vítimas da periferia. Em 89, temos a modalização costuma, indicando
freqüência do uso dos saltos altos aem visitas a favelas. Este exemplo foi
usado, no artigo, para ilustrar Marta em uma de suas visitas à periferia, assim
como o 90. Neste último exemplo, detalhes sobre as compras de Marta são
dados pelo autor, enfatizando, assim como nos exemplos anteriores, o
contraste da sua elegância e riqueza com a pobreza da periferia, levando o
leitor a representar estas visitas feita por Marta de forma acintosa.
Como vimos nos exemplos anteriores, as roupas das mulheres políticas
são utilizadas para representá-las na mídia, não importando o estilo (elegante
ou despojado) estas são constantemente utilizadas nesta representação. Em
contraste à representação elegante de Marta Suplicy, temos o exemplo abaixo,
sobre Heloísa Helena:
91. O Brasil conhece a senadora Heloísa Helena, aquela que sempre
veste camiseta branca, calça jeans e usa uma verve ácida que, não raro,
se faz acompanhar de um dedo em riste e algumas lágrimas. (Veja
02/07/2002).
Este exemplo ilustra a forma como Heloísa Helena é conhecida pelo
país, devido a sua constante representação na mídia, por meio de suas roupas
e de seu comportamento no Senado, como mostram os processos materiais
veste e usa, acompanhados de suas metas camiseta branca, calça jeans e
Análise dos dados e discussão dos resultados
90
uma verve ácida. Nota-se que a meta do processo acompanhar remete ao
comportamento de Heloísa Helena. Ao mesmo tempo em que ela é
representada pela coragem demonstrada ao enfrentar políticos poderosos e
defender suas idéias, ela também é representada pela sensibilidade e
fragilidade ao chorar no Senado quando contrariada.
Em um dos artigos sobre políticos, encontramos um trecho em que o ex-
presidente Fernando Collor e atual Senador é representado pela roupa utilizada
e por características metrosexuais:
92. Novo homem. Na fase atual, o senador Collor tem tatuagem com o
nome da nova mulher, Caroline, e usa camiseta Nike com botton
religioso. Hoje pai das gêmeas Celine e Cecile, de oito meses, ele tingiu
os cabelos de negro, retocou as rugas com Botox e cultua um corpo
esculpido com ginástica pesada. (Istoé 07/02/07).
Os processos tem (relacional) e usa (material) são utilizados pelo autor
para representar a nova fase de Collor, tanto política pelo seu retorno à
Brasília, como pessoal, pelo seu novo casamento. O atributo mostra ao leitor
uma particularidade do político, sua tatuagem, assim como a meta do processo
material usa.
A denominação um novo homem, pode ser entendida como a
representação de uma nova fase de Collor ou da sua representação como um
metrosexual, também denominado novo homem. Atualmente, a mídia chama o
novo homem de metrosexual e o representa não mais como um machão, um
homem sem sentimentos, mas como um homem sensível, que cuida da sua
aparência e mostra-se preocupado com a família. Estas características podem
ser vistas no exemplo, em especial, o cuidado que ele tem com sua aparência,
como mostram os processos materiais tingiu e retocou com suas respectivas
metas cabelos e rugas com botox. Apesar do uso de botox ser muito comum
entre as mulheres, não encontramos nenhuma ocorrência em textos sobre
mulheres políticas.
Análise dos dados e discussão dos resultados
91
O processo cultua é entendido aqui como sinônimo de preocupar-se em
manter, portanto o consideramos um processo mental. O fenômeno deste
processo representa Collor como um homem que se cuida e tem preocupação
com o seu corpo, o que pode ser considerado uma preocupação semelhante à
da mulher, apesar de não encontrarmos nenhuma ocorrência sobre ginástica
nos artigos que tratam de mulheres políticas.
Notamos que, ao contrário do que mostram muitos exemplos sobre as
mulheres políticas, este exemplo, assim como o artigo em que foi retirado, não
apresentam os projetos políticos de Collor, sua atuação política, apenas o
representa pela sua volta à capital, seu papel como pai e como homem
vaidoso. Possivelmente, o artigo não abordou seus projetos e trabalhos como
político, porque até o momento ele não havia desempenhado nenhuma tarefa,
somente havia mudado de Alagoas para Brasília. As características de um
homem vaidoso podem contribuir para uma imagem fútil de Collor.
As orações verbais são utilizadas para comentar sobre a aparência das
políticas. Os três primeiros exemplos remetem a comentários feitos por
estilistas sobre Marta Suplicy que foram utilizados num artigo para representar
Marta em seu aniversário de 57 anos:
93. “Ela não se veste de maneira burocrática, não fica com cara de
prefeita o tempo todo. Está na linha de grandes personalidades
internacionais, como a princesa Diana ou Jacqueline Kennedy”, compara
Mario Queiroz, estilista e professor de moda em São Paulo. (Veja
27/03/2002).
94. “Marta é uma mulher decidida e também impulsiva. Insisti para que
fizéssemos um modelo exclusivo para a festa, mas ela se apaixonou
pelo vestido e levou-o imediatamente”, explica Carro. (Veja 27/03/2002).
95.”Marta sabe se adequar às situações. Exatamente por isso é chique”,
diz à VEJA o estilista Reinaldo Lourenço. (Veja 27/03/2002).
Nestes exemplos, temos as falas de estilistas renomados colocadas de
forma direta pelos autores dos artigos. Estas falas são comentários na forma
Análise dos dados e discussão dos resultados
92
do discurso direto, a respeito do estilo de se vestir de Marta Suplicy. No
comentário do primeiro exemplo, o estilista de forma explícita diz que ela o
se parece com prefeita o tempo todo e a compara com uma princesa inglesa e
uma Primeira-dama americana que entre outros fatores, eram conhecidas pela
elegância das roupas e por serem tratadas pela mídia como celebridades.
Os comentário 94 e 95 mostram os estilista opinando sobre a forma
como Marta se veste. Ambos os exemplos fazem parte de um artigo da Veja
que retrata apenas sobre o aniversário de Marta. Em nenhum momento são
ressaltados assuntos profissionais, o que pode desviar a atenção dos leitores
para a pessoa física Marta e não a profissional política.
A seguir, tratamos de dois outros exemplos; o primeiro também de Marta
Suplicy, mas diferente dos anteriores, pois contrasta a elegância de Marta com
a crise da cidade de São Paulo e o segundo de Heloísa Helena e suas roupas
e posturas particulares:
96. Em contraste com a crise do município, Marta foi à festa com um
luxuoso longo dourado e jóias caras. ''Parecia que ela estava no grande
baile da nobreza'', comentou um correligionário, em tom irônico. (Istoé
13/12/2004).
97. Sem os tradicionais jeans e camiseta, mas com a mesma “convicção
inabalável” de sempre como bem definiu o editor e diretor da Editora
Três, Domingo Alzugaray. (Istoé 21/12/2005).
O estilo luxuoso das roupas da então Prefeita Marta Suplicy contrasta
com as enchentes e os graves problemas sociais que município estava
enfrentando. Estes problemas foram abordados pelo artigo, que usou o
comentário de um correligionário, em discurso direto, para levar o leitor a
pensar no exagero dos preços das roupas de Marta e na sua postura fria diante
dos problemas enfrentados pela população. O autor utiliza o comentário de um
político do partido para mostrar que a prefeita desagradou não somente a
população da cidade, mas até mesmo pessoas de seu próprio partido.
Análise dos dados e discussão dos resultados
93
No último exemplo, Alzugaray define Heloísa Helena, no Prêmio
Personalidades do Ano de 2006, primeiro pelas roupas que ela costuma usar e
depois pela sua atitude e comportamento que demonstra no Senado. O que
nos permite afirmar que mulheres como Marta Suplicy e Heloísa Helena são
representadas de forma caricaturesca pela mídia. Estas representações, como
mostram os dados, já estão no imaginário dos leitores que ligam o estilo
elegante (tailleur e vestidos) à Marta e o estilo despojado (jeans e camiseta) à
Heloísa.
Nos dados, encontramos, também, comentários feitos pelas próprias
profissionais políticas, colocados na forma direta pelos autores dos artigos.
Ambos são da Senadora Heloísa Helena:
98. Na semana passada, saiu de um casamento direto para o plenário,
de vestido curto e salto alto. "Ninguém comenta nada!", foi avisando.
Inútil todo mundo comentou, elogiou e ainda tirou fotos reveladoras.
(Veja 19/05/2004).
99. "Deus me livre de usar de novo no trabalho. Saia dá problema
quando a gente senta", desabafa a senadora, que se diz proprietária de
exatos três vestidos, todos presentes da madrinha. (Veja 19/05/2004).
Os exemplos acima tratam da mudança de traje de Heloísa Helena.
Ambos trazem falas da Senadora sobre os comentários, esperados por ela,
que fizeram sobre suas roupas. Neste artigo, a Senadora é abordada apenas
pela sua mudança de traje, e não pelos trabalhos desempenhados no Senado.
Como podemos ver no exemplo 98, ela acreditava que as pessoas falassem,
pois ela até pediu para ninguém comentar sobre sua mudança de roupa, mas o
simples fato dela usar uma saia ao invés de sua roupa habitual (calça jeans e
camiseta branca) gerou muita repercussão no Senado, como mostram os
processos comentou elogiou e tirou, que tem como dizente todo mundo.
Em 99, temos a fala de Heloísa Helena sobre a dificuldade de usar
saias, além do número pequeno de vestidos que tem, o que contribui para a
representação da Senadora pelo seu conhecido estilo despojado enfatizado
Análise dos dados e discussão dos resultados
94
pela mídia. As falas de Heloísa foram utilizadas pelo autor para justificar a
maneira de se vestir da Senadora e, também, para chamar a atenção do leitor
para a maneira como ela se veste e não para o seu trabalho como política.
Como podemos ver na análise, mesmo sendo representada pelo seu
estilo despojado, Heloísa Helena é reconhecida também pelo seu trabalho e
pela sua postura na defesa de suas idéias, diferentemente de políticos como
Collor, que aparece nos artigos apenas pela sua vaidade e pela sua vida
pessoal. Relações que o enfocadas na categoria seguinte - relacionamentos
familiares.
As escolhas de preferências por roupas foram encontradas nos artigos
que tratam de mulheres políticas. Apesar de terem pouca ocorrência, são
utilizadas orações com processos mentais relacionados à aparência da então
prefeita Marta Suplicy:
100. Marta prefere terno a tailleur e não gosta de usar meias de náilon.
(Veja 27/03/2002).
101. Como não gosta de usar meias de náilon, opta por calças
compridas. Neste primeiro ano de gestão, embora tenha sido vista com
tailleurs de cores variadas, demonstrou predileção pelos tons claros.
(Veja 27/03/2002).
102. Segundo uma vendedora da badalada butique, Marta gosta de
olhar muitas roupas nas araras, aprecia os modelos mais caros, mas
está sempre atenta às liquidações. (Veja 27/03/2002).
103. Quando compra suas roupas, Marta Suplicy não faz questão de
escolher esta ou aquela grife. Pode ser Gucci, Kenzo, Christian Dior,
Valentino, Giorgio Armani, Yves Saint Laurent, Salvatore Ferragamo ou
Chanel. (Veja 27/03/2002).
Os exemplos acima têm como experienciador Marta Suplicy e os
processos mentais ora são relacionados a preferências, como prefere e gosta,
ora estão relacionados a escolhas, como: opta e escolher. Estes processos têm
Análise dos dados e discussão dos resultados
95
como fenômeno peças de roupas (terno, tailleur, meias e calças) ou grifes (em
103) que são utilizados, neste artigo, para representar o estilo de se vestir de
Marta Suplicy. Em muitos artigos do corpus de política mulher, a ênfase dada
não é na profissional, mas sim na pessoa física, destacando sua vida pessoal e
suas aparência e deixando as habilidades profissionais, por exemplo, em
segundo plano.
Em 102, destacamos a modalização sempre utilizada para reforçar a
ação do processo relacional está e o atributo atenta às liquidações. Halliday
(1994) explica que na modalização dois tipos de probabilidades
intermediárias (entre o sim e o não). Eles são chamados de graus da
probabilidade e graus de freqüência, como é o caso de 102. O grau de
freqüência deste exemplo está mais próximo do sim, o que representa um grau
de freqüência alta.
Ainda sobre Marta, temos um exemplo em que o jornalista considera a
pessoa física de Marta um agravante para o descontentamento da população.
Para representar isto, o jornalista utiliza uma comparação de estilos entre
Marta Suplicy e Heloísa Helena:
104. Afinal, com qual das Martas o paulistano implicou? Arrisco a
hipótese de que foi com a Marta pessoa física. Se for esse o caso, vai
aqui um conselho. Senhora prefeita, experimente o modelito "casei com
Jesus", da senadora Heloísa Helena calça jeans, camisa masculina
branca e prendedor no cabelo. Tire os pingentes da orelha. Passando
por um boteco, entre para comer um torresmo. E, principalmente, beije
as crianças e verta uma lagrimazinha quando visitar vítimas de
inundação. Vai ver o problema está aí. (Veja 12/05/2004).
Marta Suplicy é criticada de forma irônica pelo autor, deixando explícito
através do processo mental implicou o descontentamento que os paulistanos
tinham com a então Prefeita. A comparação, feita ironicamente, em forma de
conselho, contrasta a forma de se vestir da Senadora Heloísa Helena
(considerada simples) e a forma de se vestir de Marta Suplicy (considerada
exageradamente chique). Além disso, o autor explicitou no conselho a falta de
Análise dos dados e discussão dos resultados
96
compaixão e de simpatia de Marta para a população, deixando transparecer a
sua frieza e despreocupação com a população.
Tivemos, também, ocorrências de processos mentais usados para
representar a reação causada pelas Senadoras Patrícia Gomes e Heloísa
Helena:
105. Patrícia chama a atenção em Brasília também pela beleza. Tanto
que já ganhou o título informal de musa do Congresso. poca
17/07/2003).
106. Eleita a Personalidade do Ano de 2005 pela revista ISTOÉ Gente,
arrancou suspiros da ala masculina da platéia com uma minissaia preta
que lhe fora emprestada pela colega do Senado Patrícia Saboya. (Istoé
21/12/2005).
No artigo do qual retiramos o exemplo 105, o autor, ao destacar o
desempenho profissional da Senadora, chama a atenção do leitor para a sua
beleza. Podemos notar tanto na oração seguinte, como em outros exemplos
analisados, que algumas mulheres políticas são frequentemente representadas
pelo título de musa, usado para referir-se à beleza e à feminilidade dessas
mulheres. Em 106, a Senadora Heloísa Helena é representada pela reação que
ela provocou nos homens, como vemos no processo comportamental arrancou
suspiros por ter se destacado com uma minissaia numa premiação. O autor
utiliza o processo material emprestou para justificar que não é comum à
Senadora utilizar saia; isto pode ser visto, também, nos artigos sobre mulheres
políticas em que não foi encontrada nenhuma ocorrência de Heloísa com outro
traje sem ser o habitual – calça jeans e camiseta branca.
3.5 Relacionamentos familiares
Nesta categoria, apresentaremos como os políticos o representados
nos artigos através de suas relações familiares. Estas representações estão
relacionadas às relações descritas no quadro abaixo:
Análise dos dados e discussão dos resultados
97
Tipo de
processo
Processo Freqüência
em artigos
de MP
Freqüência
em artigos
de HP
Relações familiares
(mostrada pelo participante não
agente ou pela circunstância)
Entrar 2 0 Marido-político
Começar 1 0 Ex- marido-político
Ajudar 1 0 Marido-político
Desfazer 1 0 Marido-político
Casar/descasar 4 0 Casamentos
Sustentar 1 0 Origem
Material
Tombar 1 0 Marido-político
Ser 4 2 Marido-político; pai-político; origem;
maternidade
Relacional
Ter Própria carreira
Dizer 0 1 Ex- Marido-político
Recusar 0 1 Ex- Marido-político
Apontar 0 1 Ex- Marido-político
Acusar 1 0 Marido-político
Verbal
Contar 1 0 Ex- Marido-político
Identificar 1 0 Ex- Marido-político
Ver 1 0 Ex- Marido-político
Importar 1 0 Marido-político
Gostar 1 0 Marido machista
Mental
Aprender 1 0 Origem
Quadro 3.7 Processos utilizados para representar as relações familiares dos políticos.
Como abordamos no capítulo 1, as carreiras políticas das mulheres
estão bastante ligadas ao homem, em geral, pai ou marido. Para apresentar e
analisar essas relações, organizamos os exemplos de acordo com as
subcategorias de análise:
Como os relacionamentos familiares são avaliados e identificados;
Como as relações familiares influenciam ações dos políticos;
Como as falas são reportadas pelos jornalistas;
Como as dificuldades relacionadas às relações familiares são
representadas.
3.5.1 Como os relacionamentos familiares são avaliados e identificados
Conforme abordado no capítulo 1, uma das formas de entrada da mulher
no cenário político brasileiro é através das relações familiares, como o
parentesco com um homem político, em geral, marido ou pai, como podemos
ver nos exemplos 107 e 108:
107. ... ele [ Gerson Camata] é uma velha figura da política capixaba.
(Época 27/05/2002).
Análise dos dados e discussão dos resultados
98
108. Já o senador Eduardo Suplicy seria, para Marta, antes uma solução
que um problema. Tradicional campeão de votos, o petista é um cabo
eleitoral e tanto. (Veja 28/07/2004).
Em 107 e 108 temos orações relacionais do tipo intensivo-
identificadoras. Seus identificadores mostram a experiência política do marido
de Rita Camata e do ex-marido de Marta Suplicy. Podemos notar que ambos
os políticos são os identificados das orações. A circunstância em 108,
tradicional campeão de votos, é utilizada para avaliar Suplicy como um político
querido e popular entre os eleitores e que poderia contribuir para uma boa
imagem na campanha da ex-mulher Marta Suplicy.
Nos artigos sobre MP encontramos ocorrências em que as carreiras das
mulheres políticas são influenciadas pelas de seus maridos políticos, mas o
mesmo não ocorre nos artigos de HP. Não encontramos nenhuma ocorrência
que os representasse através de suas esposas políticas. Acreditamos que o
motivo se deve à baixa participação das mulheres na política.
Encontramos um exemplo do Ministro da Saúde, Gomes Temporão,
sobre a relação com o seu pai:
109. O pai do ministro, José Temporão, de 84 anos, é dono de um
tradicional restaurante de comida portuguesa do centro do Rio de
Janeiro, ponto de encontro de empresários e políticos.
A oração relacional do tipo intensivo-atributiva é utilizada para
representar o participante da oração (portador), pai de Temporão, como dono
de um restaurante. A circunstância da oração mostra-nos que o
estabelecimento tem como clientes políticos, o que pode ser influenciado por
Temporão.
O exemplo de Temporão não traz a influência política direta através das
relações familiares, embora o pai tenha clientes políticos, ele não está
envolvido diretamente na política. Ao contrário de outros exemplos em que pais
e filhos são do meio político. Como o exemplo abaixo:
Análise dos dados e discussão dos resultados
99
110. A deputada federal Luciana Genro, que é filha do ex-prefeito de
Porto Alegre, o moderadíssimo Tarso Genro, lidera o Movimento de
Esquerda Socialista, que possui uma cadeira em Brasília - a dela.
(Época 10/02/2003).
Em 110, a participante (portador) do processo relacional possessivo,
Luciana Genro é representada por ser filha de um político. Além de ser
portador da oração relacional, é também ator do processo material lidera, que
tem como alcance o Movimento Esquerda Socialista, possibilitando contrastar a
posição da deputada, pois, apesar de ser filha de um moderado, ela tem seu
próprio espaço em um partido de esquerda. O identificador do processo
relacional possessivo possui junto com um hífen foi utilizado para dar destaque
a posição conquistada pela política.
O papel de filha também é destacado no exemplo seguinte, mas de
forma diferente.
111. A deputada é filha de lavradores, criada na roça, apesar da
elegância que desfila em plenário. (Época 27/05/2002).
Acima, o autor, ao mencionar os pais da participante (portador) Rita
Camata, fica e destaque a sua origem pelo uso do atributo filha de lavradores.
A conjunção apesar faz parte da circunstância da oração e seu uso contrapõe,
de forma irônica, a elegância da Deputada e sua origem humilde.
Nos artigos que tratam de HP, encontramos ocorrências que também
representam a origem de dois políticos:
112. O ministro é filho de uma família de imigrantes portugueses que se
mudou para o Rio de Janeiro quando ele tinha apenas 1 ano de idade.
113. O senador Osmar Dias vem de uma família de agricultores bem-
sucedidos, tendo herdado terras de seu pai, pioneiro na região que deu
origem à cidade de Maringá, no Paraná.
Análise dos dados e discussão dos resultados
100
Nos exemplos acima, o ministro Temporão e o senador Osmar Dias são
representados por suas origens familiares. Em 112, o ministro (portador) é
caracterizado pelo atributo que mostra sua origem portuguesa, enfatizada pelo
processo material mudou, pelo ator uma família de imigrantes portugueses e
pela meta para o Rio de Janeiro. O adjunto circunstancial quando introduz
outra oração relacional possessiva-atributiva que completa a representação da
imigração da família. O atributo do exemplo 113 caracteriza a origem familiar
de Osmar Dias (portador), que pode ser contrastada com a representação da
origem humilde de Rita Camata. A representação familiar de Dias é enfatizada
ao ser o ator do processo material herdado que tem como meta terras de seu
pai, mostrando a boa situação financeira de sua família.
Ainda sobre a deputada Rita Camata, temos o exemplo seguinte:
114. Aos 41 anos, Rita é mãe de Enza, de 16, e Bruno, de 1 ano e 9
meses. (Época 27/05/2002).
Ao contrário dos exemplos anteriores, em 114, o autor confere o papel
da maternidade ao portador Rita, utilizando o processo relacional é e o atributo
mãe de Enza .... A maternidade assim como a beleza, conforme apontam os
Estudos na área de Ciências Políticas, enfocados na Fundamentação Teórica,
são atributos exigidos às mulheres. As mulheres políticas que tem filhos são
cobradas constantemente, tanto por homens, como por mulheres, para
adequar-se na visão culturalmente difundida da construção da identidade
feminina com base no papel maternal.
3.5.2 Como as relações familiares influenciam ações dos políticos
Nesta subcategoria, mostramos como as ações dos políticos estão
relacionadas com os seus cônjuges, como mostram os exemplos com
processos materiais:
115. Rita Camata entra na campanha com a missão de provar que não
tem um marido-problema. (Época 27/05/2002).
Análise dos dados e discussão dos resultados
1
01
116. Se não for o fantasma que se espera na campanha, o senador
Gerson Camata pode ajudar a mulher mais do que se previa. (Época
27/05/2002).
117. A carreira política começou após a separação do ministro Ciro
Gomes, da Integração Nacional. Ele havia terminado um relacionamento
de 14 anos e três filhos para viver com a atriz Patrícia Pillar. (Época
17/07/2003).
118. Gênio forte, Rosinha entrou na militância acompanhando
Garotinho – com quem se casou aos 18 anos. (Época 05/08/2002).
O marido de Rita Camata é enfocado nos dois primeiros exemplos,
mostrando o seu papel importante na campanha da esposa, apesar de ter sido
ajudada, ou mesmo prejudicada, como em 115 e 116 pela imagem do marido.
No exemplo 116, a modalização pode anteposta ao processo material ajudar,
indica probabilidade de ajuda do marido (alcance) à mulher (beneficiário) na
campanha presidencial.
Nos dois últimos exemplos, podemos notar através do uso dos
processos materiais que o início da carreira política das duas mulheres se deu
a partir do homem (marido e do ex-marido) como podemos ver nas
circunstâncias após a separação do ministro Ciro Gomes... e acompanhando
Garotinho. Em 117, o texto fornece detalhes da separação de Patrícia Gomes
através da oração verbal no pretérito mais-que-perfeito composto, que indica
um evento passado em relação a um outro evento passado (início da carreira
política de Patrícia).
Os exemplos mostrados até o momento ilustram que a representação
das mulheres políticas está ainda muito ligada à imagem do homem, em geral,
marido, ex-marido ou pai.
A vida amorosa e o casamento também são assuntos constantes nos
artigos sobre mulheres políticas, como o exemplo que salienta os
relacionamentos de Rosana Sarney e Marta Suplicy:
Análise dos dados e discussão dos resultados
102
118. Desfez um casamento de cadas com o senador Eduardo Suplicy
para namorar o galã franco-argentino Luis Favre, com quem viria a se
casar, aos 58 anos. Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão,
casou, descasou, casou pela segunda vez, descasou e por fim voltou a
casar com o primeiro marido sem que se visse qualquer cerimônia
ostentatória nessas transições. Marta não. Oficiou com pompa uma festa
de segundas núpcias na qual conseguiu parecer elegante com um
chapelão que no perímetro da aba lembrava a roda de um Fusca. Saiu
na capa da revista Caras. (Veja 12/05/2004).
A vida amorosa de Marta Suplicy é comparada com a de Roseana
Sarney, que é ator de uma seqüência de processos materiais repetidos,
utilizados para enfatizar as ações ligadas à vida amorosa, fazendo-as
parecerem contínuas. No final deste exemplo, a elegância do chapéu usado
por Marta é destacada, característica frequentemente enfatizada pela mídia,
como abordamos na categoria anterior.
A mídia não destaca somente a vida amorosa das mulheres políticas. No
exemplo abaixo, temos informações sobre o ex-presidente e atual senador
Fernando Collor:
119. Collor conheceu a atual amada, Caroline, quando mobiliava seu
apartamento de solteiro. Ela foi contratada como arquiteta. Sua vida
mudou a partir daí. As gêmeas nasceram no ano passado.
Assim como as políticas acima, Collor também é representado pelo seu
relacionamento amoroso. Neste artigo, o jornalista trata detalhes da vida
pessoal do político ao retratar sua volta à Brasília. A circunstância do processo
mental, que tem como fenômeno a atual amada, é utilizada para detalhar como
o casal se conheceu, assim como a voz passiva do processo verbal contratada.
Ao falar da vida pessoal do político, o jornalista deixa assuntos como o trabalho
que irá desempenhar no senado em segundo plano.
Os participantes sua vida (ator) e as gêmeas (comportante) e dos
processos mudou e nasceram são utilizados para representar as mudanças na
Análise dos dados e discussão dos resultados
103
vida de Collor. Acreditamos que estas representações são feitas com o intuito
de desvinculá-lo de sua imagem antiga (presidente que sofreu impitimam),
apresentando-o como um novo homem.
A origem humilde é presente nos artigos que tratam das mulheres
políticas. Como o exemplo abaixo:
120. Órfã de pai desde os 3 meses de idade, ela e o irmão foram
sustentados pela mãe, costureira. (Veja 07/06/2006).
A voz passiva foi utilizada no exemplo acima para enfatizar a meta ela e
o irmão, dando destaque à vida familiar de Heloísa Helena. Como analisamos
anteriormente, a voz passiva é, em geral, utilizada no corpus de mulher política
para ilustrar dificuldades. A construção passiva pode ser feita para que a
profissional política receba maior destaque, sendo o meio da oração.
Além das dificuldades familiares mostradas no exemplo anterior, 121
trata de uma difícil situação da candidata Roseana Sarney. O autor faz uso de
uma metáfora para representá-la:
121. Depois de conquistar boa fatia do eleitorado, Roseana tombou
amarrada nos negócios de seu marido-problema, Jorge Murad, com
empresas suspeitas de desviar dinheiro público. (Época 27/05/2002).
Neste exemplo, temos um conjunto de orações para formar uma
metáfora que, na nossa interpretação, foi uma comparação da queda da
candidata Roseana Sarney como a queda de um ídolo. De acordo com o nosso
contexto de cultura, podemos interpretar a queda de Roseana como a queda
de um monumento a ser derrubado em praça pública. Há, também, outra
possibilidade de interpretação, tendo a metáfora como uma comparação com o
baixo desempenho da candidata nas pesquisas eleitorais, após ter tido sua
imagem relacionada com a do marido corrupto. Podemos notar que, mais uma
vez, a imagem do homem (marido) pode influenciar de maneira positiva ou
negativa a representação da mulher política.
Análise dos dados e discussão dos resultados
104
3.5.3 Como as falas são reportadas pelos jornalistas
A vida privada dos políticos é também representada por meio de
orações com processos verbais em orações reportadas em que o dizente é
jornalista, o próprio profissional ou um colega.
Após o divórcio com o Senador Eduardo Suplicy, Marta enfrentou
rejeições eleitorais em sua campanha para o Governo do Estado de São Paulo,
como mostram os exemplos:
122. Senador diz que quer ajudar a ex-mulher, mas se sobrar tempo
na agenda. (Veja 28/07/2004).
123. Tradicional campeão de votos, o petista é um cabo eleitoral e tanto.
A questão é que se recusa a entrar de corpo e alma na campanha da
ex-mulher, como gostariam a prefeita e seu marqueteiro, Duda
Mendonça. (Veja 28/07/2004).
124. Enquanto o bom de voto Eduardo Suplicy esnoba a campanha da
ex-mulher, Luis Favre, o atual da prefeita, é apontado por caciques do
PT como fator de rejeição à candidata. (Veja 28/07/2004).
Temos, nos dois primeiros exemplos, falas reportadas do Senador
Suplicy sobre sua participação na campanha da ex-mulher. Em 122, a
conjunção adversativa mas contrapõe a idéia da verbiagem ajudar na
campanha de Marta. Fato abordado também no exemplo seguinte expresso
pelo processo verbal recusar. Este exemplo evidencia o interesse de sua ex-
mulher para ajudá-la a conquistar mais votos, como temos no experienciador (a
prefeita e seu marqueteiro) do processo mental gostariam. Como Suplicy é um
Senador de muito prestígio entre os eleitores, como mostra o identificador da
oração relacional intensivo-identificadora no início do exemplo, sua participação
pode garantir mais votos para Marta.
Novamente, em 124 o Senador Suplicy é caracterizado pela sua
popularidade com os eleitores através do adjetivo bom de voto. O processo
comportamental esnoba representa a atitude de Suplicy diante da campanha
Análise dos dados e discussão dos resultados
105
da ex-mulher, alcance da oração. Em seguida, sua representação é
contrastada pela representação do atual marido de Marta, Luis Favre,
considerada prejudicial à imagem da candidata. A voz passiva é utilizada, neste
exemplo, para destacar a rejeição dos eleitores ao seu atual marido, além de
ilustrar sua dificuldade em desvincular-se de uma imagem ruim deixada na
mídia após o término de seu casamento com Eduardo Suplicy.
Em oposição à influência masculina na campanha das MP, nos artigos
sobre HP, não encontramos influências diretas da presença feminina nas
campanhas, mas encontramos a importância feminina (mãe e esposa) na vida
política do ministro Temporão:
125. Dona Sara, mãe do ministro, de 89 anos, pediu a ele para atenuar
suas declarações pró-aborto. Temporão concordou e adotou o silêncio.
126. O ministro da saúde, José Gomes Temporão, diz ouvir a mulher
antes de tomar grandes decisões. A psicanalista Liliane Penello, casada
com o ministro 33 anos, é a pessoa a quem ele diz recorrer quando
tem qualquer tipo de dúvida, mesmo as profissionais.
Nos exemplos, os discursos relatados das falas do Ministro e da sua
mãe o representam como um homem que ouve e respeita as mulheres de sua
família. Em 125, o pedido de sua mãe, contido na verbiagem do processo
verbal pediu, foi atendido por Temporão, como mostram os processos
concordou (verbal) e adotou (comportamental), e o alcance silêncio.
Interpretamos o ato do Ministro como um respeito às crenças de sua mãe
católica.
Em 126, a primeira oração traz na verbiagem do processo verbal diz a
importância da mulher na vida profissional do Ministro. Na segunda oração, o
jornalista identifica a esposa de Temporão através de uma oração relacional
intensiva-identificadora como uma pessoa a quem ele confia.
Como já mostrado em categorias anteriores, há representações dos
artigos de MP de discussões políticas entre candidatas. Segue abaixo
Análise dos dados e discussão dos resultados
106
exemplos referentes à discussão entre as candidatas Marta Suplicy e Rosinha
Garotinho:
127. Rosinha acusa Marta de usar e depois descartar marido. (Época
01/08/2002).
128. acintoso o uso da mulher para servir aos propósitos eleitorais do
marido. uma sensação terrível de manipulação" Marta Suplicy,
prefeita de São Paulo. (Época 05/08/2002).
129. "Estou a serviço dos propósitos de meu marido, sim. Pior é quando
a mulher usa o marido para atingir seus propósitos e o descarta"
ROSINHA GAROTINHO, candidata ao governo do Rio. (Época
01/08/2002).
O primeiro exemplo é o título de um artigo que aborda a discussão
pública das candidatas. É o único dos exemplos em que o processo verbal está
explícito, que é uma oração reportada pelo jornalista. Os outros dois
exemplos são partes desta discussão que foi transcrita. Como podemos ver, as
acusações das candidatas são relacionados aos seus maridos políticos: Marta
acusa Rosinha de ser usada pelo marido e Rosinha, por sua vez, acusa Marta
de usar e descartar o marido, referindo-se ao fim do casamento com o Senador
Eduardo Suplicy.
Rosinha candidatou-se pela primeira vez a um cargo político, a de
governadora do Estado do Rio de Janeiro com o apoio do ex-governador do
Estado e seu marido, Antony Garotinho. Na campanha, Rosinha era apontada
como sucessora do governo de seu marido, que não tinha trajetória política.
Marta candidatou-se a governadora do Estado de São Paulo e contava com o
apoio do ex-marido, muito bem cotado entre os eleitores.
Conforme dizemos, a representação da mulher política está muito
veiculada com a representação de seus maridos ou ex-maridos. Mesmo depois
do término de seus casamentos esta veiculação ainda persiste e não parece
fácil libertar-se disto. Como mostra o exemplo da Senadora Patrícia Gomes:
Análise dos dados e discussão dos resultados
107
130. “GOMES NÃO, SABOYA”. A senadora eleita pelo Ceará Patrícia
Gomes contou a uma amiga na semana passada que uma de suas
primeiras providências ao chegar ao Senado Federal será trocar o
nome”. (Veja 16/10/2002).
A fala da Senadora: Gomes não, Saboya reflete seu desejo de
desvincular-se da imagem de ex-mulher do político Ciro Gomes, como vemos
na verbiagem do processo verbal, mas como vimos nas análises anteriores,
isto não é fácil. A mídia, constantemente, representa a mulher política através
de sua vida pessoal, colaborando para a veiculação de sua imagem sempre
relacionada a de um homem, seja ele marido ou ex-marido.
3.5.4 Como as dificuldades relacionadas às relações familiares são
representadas
Assim como o uso da voz passiva, os processos mentais e
comportamentais também podem ser utilizados para representar dificuldades
enfrentadas pelos políticos. Os exemplos mostrados nesta subcategoria fazem
referência tanto à popularidade com os eleitores, como ao casamento e à
origem familiar.
O primeiro destes exemplos é sobre Marta Suplicy:
131. Para piorar, pesquisas revelam que boa parte do eleitorado
identifica a arrogância e a antipatia como traços marcantes de Marta. A
idéia de trazer Suplicy para a campanha tem a ver com isso. Embora o
senador nunca tenha se queixado publicamente da ex-mulher - a
despeito do ar tristonho que assumiu depois do divórcio -, muitos
eleitores viram a separação do casal como uma maldade de Marta.
(Época 12/07/2004).
Com o término de seu casamento, Marta passou a ser vista como
culpada pela separação, pois a mídia enfatizou muito seu atual marido, um
desconhecido para os brasileiros, e a possível tristeza de Eduardo Suplicy,
contribuindo para uma imagem negativa com os eleitores. Além disso, Marta é
Análise dos dados e discussão dos resultados
108
constantemente representada por sua frieza e arrogância, como temos no
fenômeno do processo mental identifica.
Como vimos na categoria características femininas, Marta é
representada por suas roupas caras e comportamentos inadequados mesmo
diante de situações graves enfrentados na Prefeitura de São Paulo. O divórcio
de Suplicy, um homem público e bem quisto pelos eleitores, contribuiu ainda
mais para o agravamento de uma imagem negativa na mídia.
Conforme analisamos anteriormente sobre os canais de entrada na
política pela mulher no Brasil, temos o exemplo da postura de Rosinha
Garotinho:
132. Em suas andanças, parece não se importar muito com a única
definição política que parece lhe caber hoje: a de mulher de Garotinho.
(Época 05/08/2002).
Como Rosinha entrou no meio político acompanhando seu marido,
Antony Garotinho, sua representação está muito veiculada a ele. O fenômeno
do processo mental importar evidencia a representação de Rosinha ligada à do
marido.
Nos artigos que tratam de HP encontramos apenas uma ocorrência que
trata das situações delicadas passadas pelo senador Renan Calheiros devido à
sua infidelidade, como mostra o exemplo:
133. O presidente do Senado [Renan Calheiros] evita admitir que possa
ter sido vítima de chantagem por parte de Mônica Veloso.
O processo comportamental evitar tem como alcance a situação vivida
por ele com sua amante Mônica Veloso. O outro processo, parte do alcance,
está no tempo composto no infinitivo pessoal do pretérito, junto com o
modalizador possa, para indicar pouco comprometimento do comportante
(Renan Calheiros) com o fato.
Análise dos dados e discussão dos resultados
109
Encontramos no corpus de política mulher algumas particularidades
sobre os casamentos destas profissionais. Destacamos abaixo um exemplo
sobre a senadora Heloísa Helena:
134. O primeiro casamento da senadora Heloísa Helena (PSOL), 44
anos a ser completados nesta semana, terminou porque o ex-marido,
um engenheiro civil quinze anos mais velho, não gostava que ela
trabalhasse fora o dia todo. (Veja 07/06/2006).
O exemplo traz informações particulares sobre o casamento da
Senadora. O processo mental de afeto gostar com a circunstância de negação
não tem como fenômeno o fato de Heloísa trabalhar fora, indicando que assim
como muitas mulheres, ela enfrentou dificuldades na carreira profissional
devido às idéias machistas de seu primeiro marido. Ao trazer esta informação,
o autor possibilita a identificação de algumas leitoras que passam ou passaram
pela mesma situação podendo, assim, conquistar a simpatia do público
feminino.
Sobre as dificuldades, temos abaixo algumas particularidades sobre a
origem familiar da ministra Marina da Silva:
135. Maria Osmarina Marina da Silva Vaz de Lima nasceu sob o sol
ardente do Seringal do Bagaço, a 70 quilômetros de Rio Branco. E foi
num berço modesto que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva,
aprendeu a lutar pela vida. (Istoé 09/07/2003).
Ao tratar de sua origem humilde, o autor, em um discurso biográfico,
dramatiza o início da vida da Ministra através do fenômeno do processo mental
aprendeu lutar pela vida.
Podemos dizer que o autor ao tratar Marina Silva como uma lutadora
impressiona os leitores, pois muitos acreditam que as pessoas humildes e
batalhadoras quando entram na política podem lutar por causas sociais.
Análise dos dados e discussão dos resultados
110
A seguir, as considerações finais desta pesquisa em que refletimos
sobre a análise das representações sobre as mulheres políticas e sua
diferenças e semelhanças com as dos homens políticos.
Considerações finais
111
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para concluir este trabalho, temos que retomar seus objetivos principais
que foram explicitados nas seguintes perguntas de pesquisa:
Como a representação da mulher política é feita pelos artigos das
revistas?
Quais escolhas lingüísticas o responsáveis por esta
representação?
Como se manifestam as diferenças e/ou semelhanças nas
representações dos profissionais (homens e mulheres) na área
política?
Ao refletir sobre a primeira pergunta, podemos dizer, com base nas
análises dos dados, que os artigos das revistas analisadas representam as
mulheres políticas de diferentes maneiras. Em situações de disputas, seus
esforços, capacidade e empenho são valorizados nos artigos. Suas posturas
perante os seus adversários, o governo e até mesmo com seus partidos são
destacadas por meio de falas reportadas e representações de posturas
desafiadoras. As mulheres, ao contrário do que dizem os primeiros estudos
sobre a participação feminina na política dos anos 60, são ativas, interessadas
e igualmente capazes de atuarem no cenário político.
Como vimos em boa parte dos exemplos analisados, as MP são
reconhecidas pelos seus bons desempenhos políticos e são bem quistas pela
população. Porém, em alguns momentos, Marta Suplicy quando prefeita é
representada como desastrosa; e Marina Silva tem suas dificuldade na área
ambiental salientadas.
Marta Suplicy apesar de ser representada por vaias em visita à periferia,
é elogiada por colegas de partido. Heloísa Helena superou dificuldades com
seu antigo partido e entrou para a história política brasileira, tornando-se a
primeira mulher a fundar um partido político e se candidatar à presidência.
Considerações finais
112
Heloísa Helena e a maioria das outras profissionais são constantemente
representadas por sua aparência. Patrícia Saboya e Rita Camata são
representadas por suas belezas e traços femininos; Marta Suplicy e Heloísa
Helena por suas roupas. São representações que se contrapõe ao lado
profissional, o que nos permite dizer que os valores presentes em nossa
sociedade como os padrões de beleza impostos às mulheres estão presentes
nos artigos que tratam de MP, contribuindo assim para a perpetuação desses
valores que afetam sua representação profissional.
Relações familiares - parentesco e casamento - também influenciam a
representação das MP. A análise dos artigos confirma o que apontam estudos
como Avelar (2001) e Grossi e Miguel (2001), as MP brasileiras iniciam suas
vidas políticas através do parentesco com um homem, em geral, pai ou marido.
Podemos ver que representação das MP está bastante associada ao marido ou
ao ex-marido, como nos exemplos sobre Patrícia Saboya, Rosinha Garotinho,
Rita Camata e Marta Suplicy, refletindo os valores que temos em nossa
sociedade sobre a importância da imagem de um homem na vida das
mulheres.
Quanto à segunda pergunta, após analisarmos em detalhes as escolhas
lingüísticas, os dados permitem dizer que, na maioria dos casos, os
participantes não agentes e, em alguns casos, as circunstâncias são
responsáveis pela carga semântica das representações dos políticos nos
artigos das revistas.
As metas representam tanto as estratégias utilizadas nas disputas
políticas, os bons e maus desempenhos profissionais, além das características
ligadas à aparência, feminilidade e importância dos homens nas carreiras
políticas das mulheres. Os alcances e os fenômenos representam
comportamentos em situações de disputa, mas também gostos ligados às
maneiras de se vestir. Enquanto as verbiagens, por meio das falas reportadas,
trazem elogios, críticas e comentários sobre as maneiras de se vestir de
algumas políticas. Na maioria dos casos, os identificadores e atributos
representam qualidades e importância política, em especial, as ligadas aos
avanços no cenário político. As circunstâncias fornecem as condições de
Considerações finais
113
ocorrência das ações das políticas. Nos artigos de homens políticos, as
circunstâncias detalham os crimes cometidos, analisados na categoria
honestidade.
Ao responder a terceira pergunta, analisamos aspectos sobre as
diferenças entre as representações da MP e a do HP. De acordo com os
artigos analisados, as mulheres, ao contrário dos homens, o estão
envolvidas em crimes e desonestidades, apenas encontramos na
representação de duas políticas críticas aos seus desempenhos. Enquanto nos
artigos que tratam de homens, a freqüência e a variedade de nomes envolvidos
em ações desonestas são grandes, por isso podemos dizer que as mulheres,
mesmo sendo minoria no espaço político, são mais íntegras que os HP.
De modo geral, encontramos ocorrências freqüentes a respeito do
reconhecimento do profissionalismo das mulheres e da conquista de seu
espaço na política. Algumas políticas são bastante populares e queridas pela
população. Os HP, ao contrário, possuem poucas ocorrências ligadas ao
reconhecimento e à popularidade. Apenas dois políticos, Eduardo Suplicy e
José Temporão, são representados por sua honestidade, competência e
popularidade.
Acreditamos que esses aspectos apontam para mudanças na
representação das mulheres. Levando em conta que a política, em nosso país,
é uma área em que a grande maioria é homem, as mulheres estão mostrando-
se competentes e conquistando mais espaço.
Temos que lembrar que a mudança na representação das mulheres
políticas é um processo longo e que envolve aspectos sociais e culturais de
nossa sociedade. Esperamos que com o aumento da participação feminina
contribua para o desenvolvimento político e social do nosso país.
Como esta é uma pesquisa desenvolvida na área de Lingüística
Aplicada, estudamos a linguagem das revistas dentro de um contexto social e
esperamos, com este trabalho, ter contribuído para o melhor entendimento das
representações das mulheres políticas em nossa sociedade. Temos
Considerações finais
114
consciência que cada novo trabalho contribui para o processo de estruturação
de uma identidade social e coletiva nova, antes pouco visível na história de
nossa sociedade. Também, esperamos ter contribuído para a divulgação de
estudos de Sistêmico-Funcionais na Língua Portuguesa e da relação
linguagem e trabalho.
Pretendemos dar continuidade aos estudos sobre o feminino através de
um estudo longitudinal, para analisarmos e compararmos as representações
das mulheres políticas em diferentes épocas.
Lembramos que este estudo se delimitou a artigos de quatro anos
analisados em conjunto, pois não tivemos interesse em analisar e comparar as
diferenças de acordo com a publicação e com o período. Sugerimos para
estudos futuros essas comparações e, também a análise comparativa entre
profissionais de diferentes partidos.
Referências bibliográficas
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