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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
ANA RITA OLIVEIRA DE BARROS
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL:
UM ESTUDO DE SUAS RELAÇÕES COM PRÁTICAS DE GESTÃO
DE PESSOAS E INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
Salvador
2007
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ANA RITA OLIVEIRA DE BARROS
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL:
UM ESTUDO DE SUAS RELAÇÕES COM PRÁTICAS DE GESTÃO DE
PESSOAS E INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação
em Administração da Escola de Administração da UFBa
como parte dos requisitos para obtenção do título de
Mestre em Administração. Área: Gestão de Pessoas.
Orientador: Prof. Dr. Antônio Virgílio Bittencourt Bastos
Salvador
2007
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Normalização Barbara Coelho
B277c
Barros, Ana Rita Oliveira de.
Comprometimento organizacional: um estudo de suas relações com práticas
de gestão de pessoas e intenção de permanência. / Ana Rita Oliveira de Barros.
Salvador:
A. R. O. Barros, 2007.
145 f. : il.
Orientador: Professor Dr. Antônio Virgílio Bittencourt Bastos.
Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade Federal da Bahia. Escola de
Administração, 2007.
1. Administração. 2. Comprometimento Organizacional. 3. Gestão de Pessoas.
4. Organização – Carreira. I. Universidade Federal da Bahia. Escola
de Administração. II. Mestrado Profissional. III. Bastos, Antônio Virgílio Bittencourt.
IV. Título.
CDD: 658
TERMO DE APROVAÇÃO
ANA RITA OLIVEIRA DE BARROS
COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL:
UM ESTUDO DE SUAS RELAÇÕES COM PRÁTICAS DE GESTÃO
DE PESSOAS E INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
Dissertação aprovada para obtenção do grau de Mestrado Profissional
em Administração pela Escola de Administração da
Universidade Federal da Bahia.
Salvador, 15 de junho de 2007.
Prof. José Célio Silveira Andrade
Coordenador do Curso
BANCA EXAMINADORA
__________________________
Profa. Zélia Kilimnik (Convidada)
FUMEC
__________________________
Prof. José C. S. Andrade (Convidado)
Universidade Federal da Bahia
__________________________
Prof. Antônio Virgílio B. Bastos (Orientador)
Universidade Federal da Bahia
A
Meus pais, José e Mariá, seu carinho, amor e exemplo me fizeram chegar até aqui.
Meus filhos, Fernanda e Eduardo, por serem pessoas especiais na minha vida, e o
principal motivo para que eu procure sempre ir além.
Gilberto, meu esposo, por compartilhar comigo todos os momentos dando-me forças
para vencer os desafios que a vida nos impõe.
AGRADECIMENTOS
O meu primeiro agradecimento é a DEUS, pela luz e proteção constantes na minha
vida.
A meus pais José e Maria, a meu esposo Gilberto, a meus filhos Fernanda e
Eduardo, a meus irmãos Newton, Lúcia, Lenise e Gau, às tias Zélia e Regina, pela
compreensão, participação e estimulo que deram para a realização deste estudo.
Ao meu professor e orientador, Prof. Dr. Antônio Virgílio Bittencourt Bastos, pela
competente orientação, ajudando-me a encontrar os devidos rumos e pela sua
confiança neste resultado.
À Professora Alba Scheible, por me fazer acreditar que eu concluiria este trabalho,
por compartilhar comigo de forma generosa seus conhecimentos e tempo, pelo
imprescíndivel suporte no tratamento estatístico dos dados, pela leitura crítica deste
trabalho e importantes contribuições para a qualidade do mesmo.
A Rebeca Grangeiro, pela sua ilimitada generosidade em partilhar comigo os
resultados do seu trabalho. A Igor Menezes, pela valiosa contribuição na formatação
do banco de dados.
A Vicente Teixeira, Diretor de Recursos Humanos e Maria Lúcia Marra, Líder de
Desenvolvimento de Recursos Humanos, pelo suporte concedido para a realização
deste trabalho.
Aos colegas da planta de TDI, pela disponibilidade e boa vontade com que
participaram desta pesquisa. A Marcelo Gurgel, líder da unidade, por compartilhar
sempre seus conhecimentos e nos incentivar a pensar de forma diferente.
A Fábio Franco e Giovanni Lima, colegas de trabalho e do mestrado, pelo
compartilhamento desta jornada e pelo estímulo à sua conclusão.
A Ana Rubia Silveira, pela presença energizadora e pela qualidade gráfica deste
trabalho.
A Ana Maria Farhã, pelo seu incentivo para a realização do mestrado e pelas
importantes contribuições de quem viveu esta experiência antes de mim.
A Marcelo Claudino, pelas contribuições metodológicas e analíticas.
A Barbara Coelho, pela colaboração no processo de normalização e a Prof. Yacina
Marques pela cuidadosa revisão lingüistica.
Aos colegas do MPA, turma 06, pela convivência e aprendizado. Aos professores,
funcionários e especial ao Prof. Dr. José Célio Andrade, Coordenador do Curso do
Mestrado Profissional pela disponibilidade de sempre, atenção e constante empenho
em fazer deste curso um diferencial.
Gostaria de agradecer a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a
realização deste estudo.
Por fim, mas não menos importante, a Irmão Pedro, pela presença amiga e
orientadora na minha vida.
RESUMO
BARROS, A. R. O. Comprometimento organizacional: um estudo de suas
relações com práticas de gestão de pessoas e intenção de permanência. 2007. 145f.
Dissertação (Mestrado Profissional em Administração) – Escola de Administração,
Salvador, 2007.
Neste estudo, foram examinadas as relações entre comprometimento
organizacional, percepção das práticas de gestão de pessoas, e a intenção de
permanência na organização de empregados que trabalham em uma unidade
petroquímica localizada no Complexo Petroquímico de Camaçari – Bahia. O estudo
empírico foi realizado através de questionário estruturado com base no modelo
multidimensional de comprometimento organizacional de Meyer e Allen, no modelo
de gestão de pessoas, preconizado por Rousseau e Arthur, operacionalizado
através da escala validada por Grangeiro na realidade baiana, e na escala de
intenções comportamentais e de comprometimento organizacional (EICCO)
desenvolvida por Menezes. Através das análises estatísticas de cunho descritivo,
correlacional, testes de diferença de médias, análises de regressões múltiplas entre
as variáveis centrais da pesquisa e as variáveis de caracterização pessoal e
funcional foram analisadas as percepções dos respondentes em relação às práticas
de gestão de pessoas, o comprometimento organizacional em suas bases afetiva,
instrumental e normativa, bem como a intenção de permanência dos mesmos na
organização, correlacionando-os entre si e com as variáveis de caracterização
pessoal e funcional. Os resultados revelaram que existe uma relação significativa
entre os três construtos investigados. Foram encontradas evidências da
importância das práticas de gestão de pessoas e do comprometimento
organizacional de base normativa como preditores da intenção de permanência
Palavras-Chave: Comprometimento organizacional; Gestão de pessoas – Práticas;
Intenção de permanência.
ABSTRACT
In this study, relations among organizational commitment, perception on people
management practices and the intent to remain in the organization were examined
on employees from a facility in the Camaçari Petrochemical Complex – Bahia. The
empirical study was conducted using a structured questionnaire based on
organizational commitment multidimensional model by Meyer and Allen, on the
people management model developed by Rousseau and Arthur, executed through a
validated scale by Grangeiro considering Bahia’s context, and in the behavioral
intents and organizational commitment scales (EICCO) developed by Menezes.
Through descriptive statistic analysis using correlations, average deviation tests and
regression analysis between the central variables of this study and the personal and
functional variables, the perception of the participants in the survey was analyzed in
relation to people management practices, organizational commitment considering
affective, instrumental and normative basis as well as the intent to remain in the
organization correlating with themselves and with personal and functional variables.
The results showed a relevant relationship between the three key elements
investigated. Evidences demonstrate the importance of people management
practices and normative organizational commitment as strong predictors of the
employees’ intent to remain in the organization.
Keywords: Organizational commitment; People management practices; Intent to
remain.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Interligação das Práticas de Gestão Agency Community no Mercado de
Trabalho.....................................................................................................................42
Figura 2 – Modelo Hipotético de Análise do Estudo..................................................80
Figura 3 – Mapa de Percepção dos Empregados Quanto aos Princípios e Práticas
dos Modelos Agency e Community............................................................................98
Figura 4 – Distribuição por Níveis de Comprometimento Afetivo.............................105
Figura 5 – Distribuição por Níveis de Comprometimento Instrumental....................106
Figura 6 – Distribuição por Níveis de Comprometimento Normativo.......................107
Figura 7 – Identificação dos Padrões de Comprometimento...................................114
Figura 8 – Distribuição por Padrões de Comprometimento.....................................115
Figura 9 – Distribuição por Níveis da Intenção de Permanência.............................117
Figura 10 – Preditores da Intenção de Permanência...............................................122
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Moderno Vínculo Organização x Colaboradores.....................................22
Quadro 2 – Modelo Híbrido de Gestão de Pessoas...................................................35
Quadro 3 – Concepções sobre Comprometimento Organizacional...........................46
Quadro 4 – Componentes do Comprometimento Organizacional..............................50
Quadro 5 – Fatores que favorecem a retenção ou evasão de talentos nas
organizações..............................................................................................................57
Quadro 6 – Itens que descrevem princípios e práticas do construto Community.....84
Quadro 7 – Itens que descrevem princípios e práticas do construto Agency............84
Quadro 8 – Variáveis Mensuradas Relativas aos Princípios Community..................85
Quadro 9 – Variáveis Mensuradas Relativas às Práticas Community......................85
Quadro 10 – Variáveis Mensuradas Relativas aos Princípios Agency......................86
Quadro 11 – Variáveis Mensuradas Relativas às Práticas Agency...........................86
Quadro 12 – Indicadores de comprometimento afetivo.............................................87
Quadro 13 – Indicadores de comprometimento instrumental....................................87
Quadro 14 – Indicadores de comprometimento normativo........................................87
Quadro 15 – Itens de avaliação da Intenção de Permanência..................................88
Quadro 16 – Importância dos Motivos que Justificam a Intenção de Permanência..88
Quadro 17 – Itens referentes a Dados Demográficos...............................................89
Quadro 18 – Variáveis centrais da pesquisa..............................................................90
Quadro 19 – Classificação dos níveis das variáveis..................................................91
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição dos Empregados na Organização........................................68
Tabela 2 – Distribuição da amostra por variáveis de características pessoais..........93
Tabela 3 – Distribuição da amostra por variáveis de características funcionais........95
Tabela 4 – Médias relativas à percepção dos empregados sobre as práticas e
políticas de gestão......................................................................................................96
Tabela 5 – Características pessoais e percepção de práticas de gestão................101
Tabela 6 – Características funcionais e percepção de práticas de gestão..............102
Tabela 7 – Distribuição entre médias das dimensões de comprometimento...........104
Tabela 8 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e faixa
etária.........................................................................................................................108
Tabela 9 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
gênero......................................................................................................................109
Tabela 10 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
estado civil...............................................................................................................109
Tabela 11 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
escolaridade.............................................................................................................110
Tabela 12 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
tempo de serviço......................................................................................................111
Tabela 13 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
família de cargo........................................................................................................112
Tabela 14 – Distribuição entre as médias das dimensões de comprometimento e
nível de renda...........................................................................................................113
Tabela 15 – Média dos fatores referentes à Intenção de Permanência..................116
Tabela 16 – Distribuição entre médias da Intenção de Permanência, Bases de
Comprometimento e Percepção das Práticas Agency e Community.......................118
Tabela 17 – Distribuição entre as média da Intenção de permanência e padrões de
comprometimento.................................................................................................... 119
Tabela 18 – Média da Intenção Permanência e os motivos que a justificam..........119
Tabela 19 – Correlações entre Percepção das Práticas de Gestão , Dimensões de
Comprometimento e Intenção de Permanência.......................................................121
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 MUNDO ATUAL DO TRABALHO
2.2 EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS
2.3 MODELO HÍBRIDO DE GESTÃO DE PESSOAS AGENCY COMMUNITY
2.4 COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
2.4.1 Comprometimento: Relações com Antecedentes e Conseqüentes
2.5 INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
3 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO
3.2 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA
3.3 PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS
3.4 AVALIAÇÃO DE PERFORMANCE ORGANIZACIONAL
3.5 PROBLEMA DA PESQUISA
3.6 HIPÓTESES
4 DELIMITAÇÃO METODOLÓGICA
4.1 TIPO DE PESQUISA
4.2 DELIMITAÇÃO GEOGRÁFICA E UNIVERSO DE PESQUISA
4.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
4.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 PERFIL DE CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA
5.2 PERCEPÇÃO DOS EMPREGADOS SOBRE AS PRÁTICAS E POLÍTICAS DE
GESTÃO
5.3 RELAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PERCEPÇÃO DAS PRÁTICAS
DE GESTÃO DE PESSOAS
5.4 DIMENSÕES DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
5.5 PADRÕES DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
5.6 INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
APÊNDICES
12
17
17
23
32
44
51
53
64
64
66
68
77
78
79
81
81
82
82
83
89
92
92
95
100
103
114
115
123
128
134
1 INTRODUÇÃO
Há 26 anos atuo como profissional de Recursos Humanos, já tendo
trabalhado em diferentes tipos de organizações: Centro de pesquisa e
desenvolvimento-fundação de direito privado vinculado ao governo estadual;
empresa petroquímica privada nacional e, atualmente, em uma empresa química
multinacional.
Ao longo desta trajetória profissional, tenho observado que, independente das
condições de trabalho, algumas destas podendo ser consideradas como adversas e
do sistema de gestão empresarial, as atitudes, os sentimentos, as percepções, as
interpretações e as ações das pessoas sobre um mesmo fenômeno ou uma mesma
realidade variam a depender de uma série de fatores entre os quais destacamos os
fatores individuais intrínsecos. Tenho observado também que estas variações
atitudinais e de percepções resultam em diferentes comportamentos, ou seja, a
forma como as pessoas percebem e reagem aos fenômenos, fatos e ocorrências
presentes na realidade onde estão inseridas, influencia diretamente os seus níveis
de satisfação, motivação, comprometimento, os resultados de performance individual
e organizacional e, conseqüentemente, a permanência dos indivíduos na
organização.
É bastante conhecida aquela metáfora do rei que foi visitar as obras de uma
catedral. Ao perguntar a um operário o que ele fazia, recebeu como resposta: “O
senhor não vê? Estou carregando pedras”. Já o segundo operário, que fazia
exatamente o mesmo trabalho, respondeu: “O senhor não vê? Estou construindo
uma catedral”
1
. É óbvio que há entre os dois uma diferença de percepção da
importância e do valor de seu trabalho. O segundo operário é provavelmente mais
competente e muito mais feliz. A busca de explicação para estas diferenças e seus
13
conseqüentes reflexos nas organizações sempre foi um instigador na nossa prática
profissional, incentivando-nos a desenvolver o presente estudo.
Como coloca Bastos (1996):
Identificar fatores - pessoais e do contexto de trabalho - associados a
distintos níveis de comprometimento constitui o ponto de partida para a
construção de estratégias de gestão que permitam maximizar os aspectos
positivos de tal fenômeno, para as organizações e para os indivíduos. Neste
sentido, o estudo dos preditores de comprometimento gera informações
básicas para a formulação de políticas de gestão apropriadas a cada
contexto de trabalho específico
.
Resultados do estudo desenvolvido por Ricco (1998) entre os pesquisadores
do Centro Tecnológico Aeroespacial sobre comprometimento organizacional em
situações consideradas adversas demonstram que “na busca por um esclarecimento
sobre comprometimento organizacional em condições adversas, conclui-se que,
mesmo em tal situação, os pesquisadores estão comprometidos com o CTA. O tipo
de comprometimento que ocorre é enfatizado pela vontade de permanecer na
organização” (Ibid, p. 81).
Pensar a questão do comprometimento organizacional associado a práticas
de gestão de pessoas e a intenção de permanência na organização, requer
considerar previamente as grandes transformações ocorridas no mundo do trabalho.
Iniciada na década de 1990, a era da informação caracteriza-se,
principalmente, pelas mudanças que se tornaram rápidas, imprevistas, turbulentas e
inesperadas. A tecnologia da informação transformou o mundo em uma verdadeira
aldeia global, favorecendo o surgimento da globalização da economia.
A competitividade tornou-se intensa e complexa entre as organizações,
desafiando-as a buscar maior flexibilidade, agilidade e menor custo, alterando toda a
estrutura de organização do trabalho e o perfil dos empregados.
A vantagem competitiva das empresas está na maneira de transformar a
informação em conhecimento e colocá-lo, rápida e eficazmente, em ação na busca
de soluções satisfatórias e de novos produtos e serviços. É a vez do conhecimento,
do capital humano e do capital intelectual.
Os aspectos mais valiosos do trabalho são agora “as tarefas humanas mais
essenciais: sentir, julgar, criar e construir relacionamentos‘’ (STEWART,1997, apud
BUCHINGHAM; COFFMAN 1999, p.12). As pessoas – seus conhecimentos e
14
habilidades – suas competências deixam de ser simples recursos (humanos) e
passam a ser vistas como principal vantagem competitiva.
Como as pessoas constituem-se em sua principal vantagem competitiva, as
empresas precisam investir nelas, desenvolvê-las e ceder-lhes espaço para seus
talentos, conseqüentemente, aumentando-lhes a mobilidade potencial. Este contexto
paradoxal impõe às empresas a necessidade de adoção de estratégias gerenciais
adequadas à atração e retenção de seus talentos (BUCHINGHAM; COFFMAN,
1999).
Pelas razões mencionadas anteriormente, observa-se que hoje as empresas
adotam diversas estratégias gerenciais e empreendem inúmeros esforços no sentido
de garantir a satisfação dos seus empregados, mantê-los motivados e,
conseqüentemente, retê-los.
Este trabalho pretendeu identificar se as práticas de gestão de pessoas
empreendidas pela empresa atendem às expectativas e às necessidades dos
empregados, disponibilizando elementos de validação destas como preditores do
comprometimento organizacional e como fatores de atração e retenção de talentos
na organização. Almeja-se, com tal esclarecimento, contribuir para a literatura,
conforme Medeiros (1997, p.16), ajudando a “encontrar o elo que liga o homem ao
significado de sua vida, onde está inserido o seu trabalho”.
O esclarecimento do fenômeno com a população a ser estudada pretende
contribuir para a identificação de fatores que influenciam, de forma determinante, no
comprometimento organizacional e nas razões pelas quais os indivíduos
permanecem na organização estudada, aumentando o conhecimento que permitirá
uma melhor avaliação dos relacionamentos indivíduos/trabalho, apontando direções
para ações empresariais futuras.
O presente trabalho está estruturado em seis capítulos: este capítulo inicial
apresenta uma abordagem introdutória onde as razões que ensejaram o presente
estudo são apresentadas.
No segundo capitulo, está a fundamentação teórica que se desenvolve
acerca das variáveis centrais da pesquisa: comprometimento organizacional,
percepção de práticas de gestão de pessoas e intenção de permanência.
15
Inicialmente é mostrada a caracterização do mundo atual do trabalho,
seguindo-se de uma retrospectiva da evolução das práticas de gestão de pessoas,
finalizando com a exposição do atual modelo híbrido de gestão de pessoas
conforme preconizado por Rousseau e Arthur (1999). Em seguida, procede-se a
revisão da literatura sobre o comprometimento organizacional onde são
apresentadas as principais vertentes conceituais, o modelo multidimensional do
comprometimento, suas diferentes bases,e suas relações com antecedentes e
conseqüentes. Por fim, aborda-se a intenção de permanência, relacionando-a ao
conceito de atitude como um componente predecessor ao comportamento e ao
turnover como um conseqüente do comprometimento organizacional.
No terceiro capítulo, que se divide em cinco partes, apresenta-se a
delimitação do objeto de estudo. Inicia-se com a caracterização do campo do estudo,
seguindo-se do histórico da organização estudada. Em seguida, apresenta-se o
sistema organizacional de gestão de pessoas, o problema de pesquisa e, por fim, as
hipóteses do trabalho.
O quarto capítulo refere-se à delimitação metodológica, onde é apresentado o
tipo de pesquisa realizada, a delimitação do campo e o universo da mesma. Em
seguida, são apresentados os procedimentos de coleta de dados e o instrumento de
mensuração utilizado. Finalizando, relata-se o tratamento e análise de dados quanto
à normalidade, outliers e missing values.
No quinto capítulo, são analisados e discutidos os resultados da pesquisa.
Este capítulo divide-se em seis partes: de início, é apresentada a caracterização de
amostra quanto às variáveis pessoais e funcionais. Em seguida, são descritos os
resultados relativos à percepção dos empregados quanto às práticas e políticas de
gestão de pessoas da organização, explorando possíveis associações com as
variáveis de caracterização.
Na terceira parte, são apresentados os resultados relativos à dimensão de
comprometimento organização e suas relações com estas mesmas variáveis.A
quarta parte refere-se aos padrões de comprometimento identificados na amostra.
Em seguida, apresenta-se os dados encontrados quanto à intenção de permanência
relacionando-os com os motivos que a justificam, com as dimensões e padrões de
comprometimento, e com as variáveis de caracterização. Por fim, são analisadas as
16
relações das variáveis centrais desta pesquisa: dimensões de comprometimento,
percepção práticas de gestão de pessoas e intenção de permanência.
A conclusão deste estudo está apresentada no sexto capítulo, onde são
confrontados os resultados obtidos com as hipóteses do trabalho. No decorrer deste
capítulo, são apresentados as limitações deste estudo e recomendações para
futuras pesquisas.
No Apêndice A, encontra-se o questionário utilizado na coleta dos dados. No
Apêndice B, são apresentadas as médias das variáveis referentes à percepção dos
empregados em relação aos princípios e práticas community e agency. No Apêndice
C, são demonstrados os escores médios dos indicadores de comprometimento
organizacional nas bases afetiva, instrumental e normativa.
17
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Neste capítulo, desenvolve-se a fundamentação teórica acerca das variáveis
centrais da pesquisa: percepção de práticas de gestão de pessoas,
comprometimento organizacional e intenção de permanência.
Inicialmente, apresenta-se a caracterização do mundo atual do trabalho,
seguindo-se de uma retrospectiva da evolução das práticas de gestão de pessoas,
finalizando com a apresentação do atual modelo híbrido de gestão de pessoas,
conforme preconizado por Rousseau e Arthur (1999). Em seguida, procede-se uma
revisão da literatura sobre o comprometimento organizacional onde são abordadas
as principais vertentes conceituais, o modelo multidimensional do
comprometimento, suas diferentes bases e suas relações com antecedentes e
conseqüentes. Por fim, aborda-se a intenção de permanência, relacionando-a ao
conceito de atitude como um componente predecessor ao comportamento, e ao
turnover como um conseqüente do comprometimento organizacional.
2.1 MUNDO ATUAL DO TRABALHO
“Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não somos”. Ninguém
atravessa duas vezes o mesmo rio. Esta assertiva, atribuída a Heráclito, filósofo
grego, século V a.C., é comumente citada para ilustrar que a mudança é um atributo
inerente à natureza humana e às relações do homem em sociedade. Nem a pessoa
que atravessa o rio permanece a mesma cada vez que o faz, nem o rio, seguindo o
seu fluxo natural consegue banhar com as mesmas águas os pés daqueles que o
atravessam em diversas oportunidades.
18
O curso do tempo é o mais inexorável determinante para que todas as coisas
estejam em permanente processo de mudanças. Nas organizações, a convivência
com a mudança paradoxalmente incorporou-se à rotina. Observando-se as
iniciativas empresariais nas duas últimas décadas, identifica-se a implementação de
diversas práticas e conceitos, como por exemplo: Desenvolvimento Organizacional
(DO), Administração por Objetivos (APO), Teoria Z, Análise Transacional, Qualidade
de Vida no Trabalho, Job Enrichment, Orçamento Base Zero, Análise de Valores,
Downsizing, CCQ, Kaizen, ZeroDefeito, PDI, TQC, JIT, Kanban, KT, 5s, ISO 9000,
Neurolingüística e Reengenharia. Outros novos conceitos podem ser agregados,
como Arquitetura Organizacional, Out-Replacement, Learning, Resiliência,
Empowerment, Terceirização e o mais recente de todos, a Empregabilidade.
Essas iniciativas, implementadas e substituídas em ritmo frenético, sinalizam
a busca das organizações de se manterem vivas bem como de manter alguma
ordem no ambiente caótico onde estão inseridas. Não há mais espaço para a
mentalidade tradicional. O novo cenário de globalização e competição, em mercados
complexos, exige mudança. Mudança de objetivos, missão, valores, processos e
práticas (CURVELLO,1996).
No seu processo de aceleração, a globalização do mundo modifica também
as noções de tempo e de espaço. A velocidade crescente que envolve as
comunicações, os mercados, os fluxos de capitais e tecnologias, as trocas de idéias
e imagens nesse início de século impõem a dissolução de fronteiras e de barreiras
protecionistas. Em todo o momento se estabelecem tensos diálogos entre o local e o
global, a homogeneidade e a diversidade, o real e o virtual, a ordem e o caos
(BUCKINHAM; COFFMAN,1999).
As novas tecnologias e a globalização impõem novas relações de trabalho. O
tema ainda é polêmico, mas como diz Harvey apud (CURVELLO, 1996 p. 224):
Não podemos simplesmente fingir que nada mudou, quando a
desindustrialização, a transferência geográfica de fábricas, as práticas mais
flexíveis de emprego, a automação e as inovações estão às nossas portas.
Não podemos fechar nossos olhos para o fato de que, diariamente, mais e
mais organizações e pessoas passam a trilhar o caminho da virtualização,
da deslocalização do trabalho e da inserção global e que isso, muitas vezes,
ganha dimensões caóticas. As primeiras sensações dão a impressão de que
este é um caminho sem volta. Resta-nos, como pesquisadores e
profissionais, estar atentos a esse acelerado movimento, de forma a captar
a riqueza da diversidade fragmentada, não para controlar a natureza e os
homens, com o que ainda sonham muitos administradores, mas para
aprendermos um pouco mais sobre o significado de nossas vidas e de
nosso trabalho.
19
a) O mundo atual do trabalho no Brasil
As duas últimas décadas da história brasileira foram marcadas por uma
substancial transição nas empresas que aqui atuam. Mudou a propriedade de várias
empresas, mudou sensivelmente o estilo de gestão e mudou fundamentalmente, a
qualidade dos produtos e serviços ofertados. Essas mudanças que aconteceram
simultaneamente e de forma acelerada apresentam grande impacto na evolução do
processo de gestão de pessoas conforme demonstrado por Cabrera (2002) que, em
seu modelo conceitual, procura retratar a transição empresarial vivenciada pelas
empresas no mundo e no Brasil, passando de “organizações-instituição” para
“organizações–negócio”. Este modelo utiliza cinco parâmetros para caracterizar esta
transição: Poder Decisório, Relação com o Ambiente Externo, Estilo de Gestão,
Vínculo Capital versus Trabalho e o Comportamento e Perfil do Colaborador.
Até a década de 80, predomina nas organizações uma nítida centralização do
poder decisório, sendo a cúpula da empresa composta pelo acionista principal e
seus colaboradores diretos, os quais tomavam as decisões estratégicas e, via de
regra, definiam a tática de implementação.
No tocante à relação com o ambiente externo, a cúpula também era quem
estabelecia e sustentava as relações com o ambiente externo – governo, sistema
financeiro, clientes, fornecedores e comunidade, os quais variavam muito pouco
devido à própria centralização dos poderes governamentais federal, estadual e
municipal. Como resultado temos as organizações-instituição constituindo-se num
sistema fechado, vivendo numa economia fechada, fazendo com que muitas das
técnicas modernas de gestão que já eram aplicadas no mundo desenvolvido não
fossem ainda aqui utilizadas, a exceção dos programas de qualidade total que,
advindos do modelo japonês de gestão, começam a promover “uma surda e
silenciosa revolução no nosso sistema de produção e no comportamento do
operário” (CABRERA, 2002, p.49).
Quanto ao estilo de gestão nas organizações-instituição, o papel do nível
gerencial era, predominantemente, o de controlador. A lógica da criação de níveis
hierárquicos era a lógica mecanicista da amplitude do controle. Havia o predomínio
de manuais de organização, normas, rotinas e procedimentos. O bom gerente era
20
aquele que tinha absoluto controle sobre seus subordinados, conforme preconizado
na administração científica clássica de Frederick Taylor (1887).
No que se refere ao parâmetro vínculo Capital versus Trabalho, predominava
uma visão simplista: “seja obediente e você só sairá desta empresa aposentado ou
morto. Era a troca simbólica de obediência pela segurança no emprego” (CABRERA,
2002, p. 49).
À época do milagre brasileiro, início da década de 1970, a influência
modernista traz sinais de demanda por lealdade e não mais de obediência. Lealdade
além de ser mais nobre, caracterizava uma relação mais adulta entre o capital e o
trabalho.
No entanto, a partir da crise do petróleo (meados da década de 70), quando
se iniciam as demissões em massa em todo o mundo, este vínculo de lealdade
começa a ser destruído “e, de repente, ninguém mais estava seguro em seu
emprego” (Ibid). Com os primeiros movimentos grevistas, este vínculo passa a ser
redefinido.
Quanto ao comportamento e perfil do colaborador, observa-se que na
organização–instituição, o comportamento do colaborador, principalmente nos níveis
operacionais, caracteriza-se por uma subordinação infantil, implicando numa relação
de dependência. As organizações-instituição, para atrair grandes contingentes de
mão-de-obra, assumem a responsabilidade por saúde, alimentação, transportes, às
vezes, habitação, criando uma relação de dependência direta e de subordinação.
Os movimentos sindicais do final da década de 70, as ações organizadas das
comunidades de base e os programas de qualidade total começam a alterar este
quadro, contribuindo para fazer o nosso operário pensar.
As mudanças na sociedade civil, advindas da mudança do regime político
brasileiro, se refletem nos modelos organizacionais das empresas. Ao questionar e
rejeitar o autoritarismo, conseqüentemente rejeita-se o modelo mecanicista de
gestão a ele associado.
Em 1989, com a intempestiva decisão do então Presidente Collor, o Brasil
entra abruptamente no mundo global.Os portos brasileiros são abertos, da noite para
o dia, sem projeto prévio e as empresas brasileiras vêem–se expostas à competição
global sem qualquer preparação. Este contexto demanda uma alteração substancial
21
no comportamento empresarial que resulta na transformação da organização-
instituição para a organização - negócio.
Esta transição inicia-se pela difícil necessidade de compartilhamento do
processo decisório, não por vontade própria em delegar e sim pela necessidade de
“construir um novo modelo mental que implicava a reunião de mais informações, em
níveis hierárquicos múltiplos e o trabalho com pluralidade de opiniões que não se
conhecia” (CABRERA, 2002, p.51).
Neste novo contexto, as organizações-negócio precisam aprender a lidar com
um novo ambiente externo. O cliente, ao dispor de novas alternativas, torna-se mais
exigente. Os fornecedores, ameaçados pela concorrência internacional, são
obrigados a propor novos acordos transacionais. O sistema financeiro tem que correr
atrás dos clientes e o governo, antes centralizado, divide-se e vê-se sem experiência
em criar planos e projetos conectados.
O estilo de gestão organizacional altera-se substancialmente. O gerente
controlador, treinado para gerir uma mão-de-obra subserviente, tem agora que
trabalhar com uma mão de obra pensante e questionadora; uma mão-de-bra
pensante com opiniões e expectativas claras que precisa de líderes e não mais de
um chefe.
Rompido o vínculo que trocava lealdade (obediência) por segurança no
emprego, as organizações–negócio passaram a ter de construir um novo vínculo
com seus colaboradores.
Este novo vínculo, ainda em processo de construção, caracteriza-se por
trocas simbólicas sintetizadas no quadro 01 a seguir.
22
Quadro 01 - Moderno Vínculo Organização X Colaboradores
Fonte : Cabrera, 2002
A transparência refere-se à expressão de visão, missão e valores
organizacionais e se constitui em condição fundamental para que o compromisso
possa existir. “Uma pessoa só pode se comprometer com o que conhece e bem”
(CABRERA , 2002, p. 52).
O desafio por competência atualizada constitui-se numa condição importante
para a existência de um novo vínculo. Espera-se que a empresa ofereça desafios
claros, ao tempo em que cabe aos empregados serem responsáveis pela
atualização de suas competências para que possam responder aos desafios
impostos.
O vínculo moderno demanda também constante processo de feedback,
cabendo à empresa oferecer condições para que o empregado possa gerenciar sua
carreira. Dos empregados, espera-se que zelem pelos valores da empresa. Esse
zelo propicia a criação da moderna lealdade baseada em princípios e valores.
Atualmente, exige-se um ambiente interno que propicie a troca aberta de
idéias e a participação ampla no processo decisório. O vínculo existirá quando o
empregado perceber a causa que move uma empresa e identificar-se com ela. O
ambiente deste novo vínculo deve propiciar a celebração e a consecução dos
resultados, criando um clima profissional e alegre.
Transparência x Compromisso
Desafios x Competência atualizada
Feedback constante
Oferecer condições favoráveis para o gerenciamento de carreira – Coaching
Organização flexível
Zelar pelos valores
Garantir a troca aberta de idéias
Sustentar a paixão
Valorizar a concepção de resultados
23
O comportamento e o perfil do empregado alteraram-se substancialmente. Os
subordinados praticam, hoje, uma relação de subordinação adulta, orientada para
resultados e não mais para simples cumprimento de ordens. O empregado, em
geral, tem hoje melhor nível educacional, maior maturidade e principalmente
consciência profissional e cidadã, demandando por um novo modelo de relação com
as organizações. Como coloca Cabrera (2002, p.53) “essa nova coletividade exige
gestão de Recursos Humanos muito mais moderna, atenta às novas demandas, e
responsável pela sustentação dessa nova relação”.
2.2 EVOLUÇÃO DAS PRÁTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS
Ao analisar a evolução histórica das práticas de recursos humanos ou, como
atualmente se denomina, práticas de gestão de pessoas nas organizações, observa-
se que estas práticas se configuram como resultantes de alguns fatores, entre os
quais têm destaque: o contexto sócio-político-econômico predominante nos
diferentes momentos históricos, o desenvolvimento do conhecimento cientifico e
tecnológico em seus diversos campos, como também algumas iniciativas inovadoras
Observa-se também a simultaneidade decorrente da adição de novas
práticas, aperfeiçoamento de outras e até mesmo a manutenção de práticas
pioneiras. Com isto, no contexto das organizações atuais, encontra-se a visão
mecanicista e racionalista convivendo e contrapondo-se à visão humanista com o
que Tonelli; Lacombe; Caldas (2002, p.61) afirmam: “a função e as práticas de
recursos humanos derivam da difusão e do desenvolvimento do humanismo nas
organizações e surgem devido a diversos fatores contextuais que caracterizam o fim
do século XIX e o início do século XX”.
Para Cave (1994) o fato de que condições sociais, econômicas e
organizacionais são determinantes nas práticas de gestão de recursos humanos não
é novidade. Tal conceito é observado ou é um pressuposto intrínseco para
praticamente todos os autores da área.
Para Tonelli; Lacombe e Caldas (2002) a administração de Recursos
Humanos deriva de quatro vetores básicos: o desenvolvimento do capital e da
24
industrialização, da organização do trabalho, da teoria organizacional e das
configurações organizacionais.
Estes fatores se estruturaram de diferentes maneiras ao longo de quatro
grandes momentos: o primeiro período compreende o final do século XIX até a I
Grande Guerra Mundial; o segundo considera os eventos ocorridos entre as duas
grandes guerras mundiais (1914/1945); o terceiro abrange os anos que vão do pós-
guerra à década de 1980 e o quarto, a década de 1990, cujos efeitos se fazem
presentes no momento.
O período do final do século XIX e as duas primeiras décadas do século XX
são marcados por forte desenvolvimento econômico e tecnológico nas nações mais
industrializadas, ocorrendo um intenso processo de mecanização, desde pequenas
oficinas a grandes indústrias.
Este período caracteriza-se pelo fortalecimento do modelo da Revolução
Industrial, predomínio da indústria manufatureira, estruturação das cidades,
abundância de mão-de-obra, primeiras leis de regulamentação do trabalho e
surgimento dos sindicatos.
Configura-se na figura do capataz o que se poderia considerar os primórdios
de um modelo de gestão de recursos humanos. A ele cabia a responsabilidade pela
seleção, contratação e demissão dos trabalhadores bem como a organização do
trabalho no modelo de produção artesanal (MILKOVICH; BOUDREAU, 2000).
Com o desenvolvimento tecnológico, aumenta a sofisticação do trabalho e,
conseqüentemente, a demanda por um novo perfil do trabalhador, o que faz com
que a seleção de pessoal, até então realizada de forma aleatória, visual, seja
substituída pela seleção científica preconizada por Taylor (1887).
A sofisticação industrial eleva o custo da rotatividade de pessoal, passando o
recrutamento a ser mais seletivo. Inicia-se a preocupação em reter os trabalhadores
selecionados e treinados de forma cuidadosa.Tratar bem os trabalhadores torna-se
um fator de necessidade e de eficiência. Assim, vê-se que a humanização do
trabalho surge não da emergência de um espírito humanista, mas pela necessidade
de atrair e reter as pessoas adequadas e qualificadas.
Em 1887, com o modelo de “Organização Racional do Trabalho” de Frederick
Taylor, inicia-se uma forma prescritiva de gestão que o controle burocrático assumiu
25
no mundo dos negócios. Embora não concebido como tal, o modelo de Taylor
constitui um “primeiro estruturado” sobre a gestão de recursos humanos ao
preconizar :
- O desenvolvimento de uma ciência para cada elemento do trabalho;
- A seleção científica e o treinamento dos trabalhadores;
- A cooperação entre os gerentes e os trabalhadores, de modo a garantir que
o trabalho fosse feito de acordo com a ciência;
- A divisão do trabalho e das responsabilidades entre gerentes e
trabalhadores, cada qual fazendo aquilo que era mais apropriado (THOMPSON;
MCHUGH, 1995, apud TONELLI; LACOMBE; CALDAS, 2002).
O final do século XX é marcado pelo surgimento e difusão de valores
humanistas ligados ao trabalho. O marxismo e os ideais socialistas ensejam
movimentos de reforma social, inclusive dentro das organizações produtivas. Em
1891, com a Enciclíca Rerum Novarum do Papa Leão XVII sobre a condição dos
trabalhadores, a Igreja Católica torna-se um forte difusor das idéias humanistas no
trabalho.
À época, influenciados por estas idéias, pensadores e governantes passam a
demonstrar preocupação com as precárias condições de trabalho dos operários nas
oficinas e fábricas, surgindo a primeiras leis que regulam as atividades de trabalho,
incluindo o estabelecimento de horários e dias de trabalho, bem como a
regulamentação do trabalho infantil e condições mínimas de segurança.
Paralelo ao desenvolvimento tecnológico e o crescimento do mercado, as
organizações tornam-se maiores e mais complexas, assim como o próprio trabalho.
Métodos anteriores de gestão tornam-se ineficientes, surgem os primeiros conflitos
nas relações de trabalho, os sindicatos tornam-se mais fortes e confrontadores,
aumenta o poder de barganha dos trabalhadores e a incidência de greves.
Neste contexto, surgem, no ambiente industrial norte-americano, alguns
reformistas que buscam modificar as condições de trabalho e os métodos de gestão
de forma a minimizar a ameaça potencial de insurreição dos trabalhadores
influenciados pelos ideais socialistas. A estes reformistas, atribui-se a introdução dos
26
preceitos das ciências sociais nas empresas. Neste momento, surgem os primeiros
departamentos de pessoal.
Para Tonelli et al (2002) :
[...] mais uma vez, nota-se que a introdução do humanismo nas
organizações deve-se não a uma mudança altruísta de valores dos
empresários e administradores, mas às condições sociais e históricas que
acirram os conflitos, pois a humanização é um instrumento de
apaziguamento das relações capital e trabalho (TONELLI; LACOMBE;
CALDAS, p.63).
O período entre as duas grandes guerras mundiais (1914-1945) caracteriza-
se pela crise de 1929 na economia americana, pelo fortalecimento dos Estados
Nacionais, pelo crescimento das cidades, pelo fortalecimento dos sindicatos e pela
legislação trabalhista de proteção aos direitos dos trabalhadores. Neste período,
inicia-se a caracterização específica da gestão dos recursos humanos separada da
administração dos demais recursos. As empresas começam a estruturar seus
departamentos de pessoal, responsáveis por recrutar, remunerar e demitir
funcionários, tendo por base os conceitos taylorista, centrados na idéia de colocar a
pessoa certa no lugar certo.
No início dos anos 1930, com a divulgação dos resultados dos experimentos
de Hawthrone, ampliam-se as atividades do DP (departamento de pessoal) o qual
passa a preocupar-se com questões mais complexas direcionadas às “relações
humanas” ou “relações industriais” Começam a ser considerados os conceitos de
grupo, liderança, motivação, atitude e comunicação como variáveis que interferem
na produtividade e satisfação das pessoas.
A divulgação das idéias da então denominada ‘’Escola de Relações
Humanas’’ foi fundamental para o desenvolvimento da função e práticas de
Recursos Humanos por reforçar a necessidade das empresas administrarem as
pessoas de forma diferenciada e separada da gestão dos demais recursos, o que
resultou em melhor estruturação da área dentro das organizações, bem como o
surgimento das principais leis que regulamentam as relações capital-trabalho. Inicia-
se assim um “enriquecimento da tarefa” do DP como também dos gestores de
pessoas que passam a ter a responsabilidade por motivar e liderar seus empregados
(FISHER, 2002).
27
O período que se segue da segunda grande guerra mundial aos meados dos
anos de 1980 caracteriza-se como uma época de intenso crescimento econômico,
fazendo com que, na maioria dos países industrializados, existisse uma condição
social de pleno emprego, o que propiciou aos trabalhadores conquistas apoiadas
pelo então “Estado de Bem-Estar”.
Nesta época, vivencia-se grande avanço na “gestão de pessoas”. O antigo DP
transforma-se em Departamento de Recursos Humanos. As atividades da área
expandem-se para recrutamento, seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação
de desempenho, remuneração e demissão. As práticas de RH têm sua importância
ressaltada considerando que com as tarefas mais complexas, com a sofisticação
tecnológica e com as obrigações advindas do estado de bem-estar, fica cada vez
mais caro substituir um funcionário, o que favorece a busca por reter as pessoas
nas organizações.
Ao emergir os conceitos de crescimento, de produção e consumo em massa,
as organizações crescem em tamanho e em complexidade, internacionalizam-se,
implantam filiais e subsidiárias em outros países, tornando necessária a
profissionalização da administração das pessoas.
A tudo isto, acrescentando-se a ação reguladora do Estado e o modelo
centralizado de negociação sindical, as políticas de gestão de pessoas começam a
se tornar sistematizadas e a tomar por base o coletivo dos trabalhadores. Às práticas
vigentes, incorporam-se descobertas de novos métodos e técnicas. Os processos de
recrutamento e seleção passam a se basear em testes e procedimentos
formalizados; a política salarial estrutura-se em função das descrições de cargos que
contemplam deveres e responsabilidades, o sistema de mérito relaciona-se a
desempenho ou meta de produção definidos em planos de incentivo. As estruturas
organizacionais são hierarquizadas e o treinamento é direcionado para as
movimentações entre cargos.
Considerando que empregados motivados e satisfeitos são mais eficientes e
apresentam maior nível de produtividade, neste período multiplicam-se os estudos
sobre o comportamento humano nas organizações e a difusão de treinamentos
28
gerenciais que enfocam temas sobre motivação, liderança, participação nas
decisões, resolução de conflitos, saúde e lazer.
Datam deste período as teorias das hierarquias das necessidades de Maslow,
a teoria de Mcgregor sobre a natureza de atitude em relação ao trabalho, a teoria
dos dois fatores de Herzberg, os trabalhos de Lawler sobre motivação, necessidades
e recompensas, comportamento e satisfação. Os estudos sobre liderança sugerem
que líderes possam ser formados, ao invés de ser a liderança considerada inata,
como até então. Isto faz com que as áreas de RH passem a dar mais ênfase ao
treinamento e desenvolvimento dos líderes, buscando formar gestores voltados ao
“lado humano da empresa” (FISHER, 2002).
A partir dos anos 1960, com a diminuição do padrão de crescimento
econômico nos países centrais, os teóricos e pensadores começam a prescrever a
flexibilidade organizacional, bem como a substituição do modelo taylorista /fordista
por modelo mais orgânico. Neste período, observam-se movimentos de empresas
européias e japonesas em busca de expansão de seus mercados consumidores
através da exportação. Observa-se também a diminuição da produtividade das
indústrias organizadas no modelo de produção fordista, as quais buscam se instalar
em países do terceiros mundo, ditos em desenvolvimento, em busca de condições
mais favoráveis.
As teorias organizacionais que até então focavam em aspectos internos de
funcionamento, como os sistemas de controle e incentivos, passam a preocupar-se
com ambiente e com as formas de lidar com os aspectos externos. Surgem as
preocupações com a efetividade da ação gerencial para o sucesso da organização,
com os processos de negociação, com limitação de recursos, custos de transação,
legitimidade da ação organizacional pelos atores externos. Este ambiente de
flexibilização produtiva e transformação passa a demandar novas políticas e práticas
de gestão especificamente voltadas para a retenção de pessoas cada vez mais
capacitadas para trabalhar em ambientes de incerteza e sofisticação tecnológica.
Mais uma vez observa se que alterações no contexto político e econômico e
nos valores sociais refletem no comportamento organizacional. Ambientes instáveis
demandam mais da ação e da cooperação da força de trabalho, a qual passa a
29
questionar os valores relativos a trabalho, remuneração, lazer, vida pessoal e de
cidadania.
Como coloca Anthony (1984 apud TONELLI et al, 2002, p.72), para
equacionar esta dicotomia “ a fim de obter a cooperação é necessário fazer crer que
o patrão não mais existe”. O gerente assume o seu lugar, passando a ser
responsável por controlar os empregados e conseguir os resultados esperados.
Surge assim a prescrição da descentralização da “gestão de recursos humanos”,
que passa a ser entendida como uma atividade compartilhada entre a função de RH
e a atuação do dia-a-dia de cada gestor de pessoas.
Ainda em busca de acompanhar as transformações do ambiente e de
conseguir maior colaboração das pessoas, as organizações começam a introduzir
alterações no seu ambiente interno e na realização do trabalho.O enriquecimento
dos cargos proporciona ao indivíduo mais planejamento, controle e responsabilidade
sobre sua tarefa. Quando estendido às equipes de trabalho, formam-se grupos semi-
autônomos ou times auto-dirigidos, compostos por trabalhadores que se
responsabilizam pelo planejamento e execução da produção, sob a orientação, não
mais de um gerente e sim de um líder, que atua como consultor, mentor, “coach”,
minimizando as características de autoridade e comando/controle dos modelos
anteriores.
Estas formas mais flexíveis de organização da produção aliada aos processos
de re-estruturação ocorridos nos anos 1980 implicam em novas estruturas
organizacionais, reduzidas, planas, resultando na eliminação de diversos postos de
trabalho. Este contexto impõe novos desafios a função de RH, destacando-se
prioritariamente a necessidade de superação dos modelos de gestão do trabalho
baseado na estabilidade e lealdade do empregado como também a participação nos
processos de “downsizing” e re-engenharia que, via de regra, implicavam em
enxugamento dos quadros.
O período que se inicia na década de 1990 caracteriza-se pela
internacionalização da economia, pelo esgotamento das políticas econômicas
fundamentadas no neoliberalismo, na intensificação das tecnologias da informação,
na flexibilização das relações de trabalho, no enfraquecimento dos sindicatos, no
30
aumento do individualismo, no incremento do consumo e de sua lógica, na ênfase
aos consumidores.
A década de 1990 foi marcada pela ascensão do individualismo mas,
paradoxalmente, nunca o indivíduo esteve tão preso aos modelos de
conduta difundidos pelos ideais de consumo e pela mídia. Se por um lado,
cada vez mais as pessoas buscam maior espaço para expressar sua
subjetividade e criatividade nas organizações e crescem os estudos sobre
este tema, por outro, elas estão sempre sob a ameaça dos processos de
demissão. Esse processo contraditório leva as pessoas a reivindicar mais
justiça organizacional e uma gestão de recursos humanos mais igualitária e
equitativa“ (TONELLI; LACOMBE; CALDAS, 2002, 77).
No contexto atual, a gestão de recursos humanos tem por foco o conceito de
competência.
Conforme já colocado anteriormente, este quadro de grandes transformações
no contexto sócioeconômico produtivo impacta de forma significativa na manutenção
dos empregos formais. Somando-se à redução dos empregos formais, à
terceirização das atividades, à polarização dos postos de trabalho divididos entre
empregos qualificados e empregos precários, nasce a discussão sobre os efeitos
desta contemporaneidade sobre os indivíduos, emergindo desta forma o conceito de
empregabilidade.
Sarsur (1999 apud BITTENCOURT et al, 2004, p. 248) define
empregabilidade como: “ação individual que pode ser estimulada ou não pelas
organizações, que faz com que os profissionais de todos os níveis procurem estar
mais bem preparados para enfrentar o mercado de trabalho e suas mutações”.
A empregabilidade implica em busca de capacitação individual principalmente
pelo desenvolvimento de competências.
Para Zarifan (2001), o conceito de competência refere-se à capacidade da
pessoa de assumir iniciativas, ir além das atividades prescritas, ser capaz de
compreender e dominar novas situações no trabalho, ser responsável e reconhecido
por isto.
Para Ruas (2003), a expressão “competência” tem sido, ao mesmo tempo,
uma das mais empregadas e uma das mais controversas no jargão da administração
contemporânea. Tanto no ambiente empresarial quanto no acadêmico muitos estão
referindo-se ao termo competência quando, na realidade, estão evocando outros
31
conceitos, a exemplo de qualificação, atribuições, performance, desempenho e
objetivos.
Neste ambiente de múltiplos entendimentos, um dos aspectos convergentes é
o conceito de “recursos de competência” os quais se sustentam nas seguintes
dimensões:
O saber-conhecimento. O conhecimento é o que se deve saber para
desenvolver com qualidade aquilo que lhe é atribuído.
O saber-fazer-habilidades. As habilidades são o que se deve saber fazer para
obter um bom desempenho.
O saber-agir-atitudes. Deve-se saber agir para poder empregar
adequadamente os conhecimentos e as habilidades.
Para o autor, com base nessa noção de competências, expressa-se uma
composição dinâmica entre conhecimento, habilidades e atitudes, composição cuja
definição vai depender das características da situação, na qual a competência é
colocada em ação.
Assim, na visão de Ruas, as principais referências da noção de competências
abrangem os seguintes pontos:
- A expressão ‘’competência‘’ está vinculada à ação propriamente dita e não
ao potencial para realizá-la. Ao tratar de potencial, estamos nos referindo aos
recursos (conhecimento, habilidades e atitudes).
- A competência estaria, portanto, associada ao resultado da mobilização
desses recursos.
- A efetividade e a legitimação da competência somente ocorre em situação
real de trabalho.Ninguém pode ser competente a priori (BOTERF apud
RUAS, 2003).
- Competências definidas de formas mais genéricas, mais amplas, são mais
compatíveis com o mundo atual do trabalho ; multifuncional, abrangente, flexível.
32
Entre os autores, parece haver consenso de que as competências individuais
formam a base das competências organizacionais e de que a aprendizagem é o
processo que promove o desenvolvimento das competências.
Esse desenvolvimento de competências, que é construído em torno dos
recursos e pessoas, implica, conforme salienta Zarifan (2001), que a atual gestão de
pessoas esteja fundamentada no desenvolvimento das competências individuais e
da responsabilidade compartilhada para o atingimento dos objetivos organizacionais.
2.3 MODELO HÍBRIDO DE GESTÃO DE PESSOAS - AGENCY COMMUNITY
A nova função de recursos humanos
Conforme exposto no capítulo anterior, novas demandas têm sido impostas
ao processo de gestão de pessoas. Em respostas a estas novas demandas, os
autores Rousseau e Arthur (1999) formularam um modelo de gestão, através do
qual, buscam responder às contradições presentes na dinâmica organizacional no
que se refere à necessidade de reter os talentos essenciais, contrapondo-se às
novas formas de carreiras sem fronteiras.
Este modelo, que se denomina modelo híbrido de gestão de pessoas Agency
Community, tem como fundamento a idéia de que a nova era econômica tem
demandado uma nova função para Recursos Humanos. Para os autores, o desafio
atual do RH está em simultaneamente posicionar empresas e empregados a
responderem com flexibilidade às mudanças no mercado, enquanto buscam
estabilidade recrutando, desenvolvendo e mantendo pessoas cujo talento é crucial
para a empresa.
Esta dupla pressão, por flexibilidade e estabilidade, fazendo as pessoas e
empresas serem mais bem sucedidas, é a essência do novo papel para o RH
contemporâneo. Neste desafio, Rousseau e Arthur (1999) destacam a necessidade
do gerenciamento simultâneo de duas interfaces fundamentais à criação de
vantagem competitiva. Uma é a interface do conhecimento através da qual os
33
empregados, ao retornarem ao mercado de trabalho, usam sua experiência prévia
para alavancar novas oportunidades de carreira, e a outra é a interface moral que
mantém ou melhora a empregabilidade dos empregados, bem como a qualidade de
vida nesta complexa e dinâmica era econômica.
A interface do conhecimento volta-se para o ambiente externo à organização.
Advém de uma mudança de foco na aquisição de conhecimento por meio do
processo de recrutamento e investimento no mercado interno para uma maior
participação em comunidades de conhecimento, responsáveis pela geração e
compartilhamento do mesmo. A interface moral busca se interpor entre os ambientes
externos e internos à organização. A interface moral é concebida a partir de uma
preocupação com a empregabilidade presente e futura dos trabalhadores.
Nessa nova era, “sem limites” significa empregos e carreiras desdobrando-se
com o passar do tempo por muitas oportunidades de emprego e muitas empresas
empregadoras. Empregados e empresas terão dificuldade em predizer como será
sua relação futura. Diante das novas carreiras sem limites (fronteiras) para os
empregados e as pressões de competitividade para as empresas, necessita-se a
sinergia de dois tradicionais pontos de vistas opostos: Agency Community.
Agency refere-se à habilidade de atores (pessoas, grupos, empresas,
acionistas) a tomarem decisões e agirem externamente de acordo com seus próprios
interesses. Isso envolve expressões de auto-proteção, auto-afirmação e controle
direto sobre o ambiente, sendo o empreendedor autônomo o seu protótipo.
Community refere-se à participação de atores em relações interdependentes.
Isso envolve expressões de suporte mútuo, cooperação e adaptação coletiva ao
ambiente, e seus exemplares são os homens e mulheres comprometidos com a
organização. Agency invoca noções de projeção externa e autonomia, Community
invoca noções de desenvolvimento interior e afiliação.
Embora os termos Agency e Community tenham obtido destaque com o
trabalho de Rousseau e Arthur (1999), estão presentes em diversos estudos de
evolução do comportamento humano, (TAYLOR; CHESTER; BARNARD;
WATERMAN apud ROUSSEAU; ARTHUR, 1999), ficando evidente em diversas
práticas de gerenciamento de recursos humanos, sendo Agency vinculado aos
34
esquemas de contratos independentes e pagamento por performance e Community
às atividades voltadas à formação de “networking” organizacional e aprendizagem
Ainda que estes modelos de gestão Agency Community historicamente se
constituam como noções opostas, juntos trazem um novo entendimento sobre o que
é sucesso neste novo contexto em que as organizações modernas se inserem.
A escalada na competitividade entre empresas, aliada à crescente
interdependência entre funcionários, empresas e instituições sociais, criou uma
interação complexa de forças de agency community no mundo do trabalho
contemporâneo. Essa interação alterou profundamente a natureza e,
consequentemente, a performance da função de Recursos Humanos. Rousseau e
Arthur (1999) consideram os temas agency e community e a interação entre eles
fundamentais para os arranjos das funções de RH para acessar, desenvolver e
motivar a mão-de-obra moderna. Identifica-se essa interação fundamental ocorrendo
de várias maneiras e em vários lugares onde a função de RH é exercida.
Pelo termo humano, os autores referem-se à larga aplicação de nossas
qualidades como seres humanos, incorporando em particular nossa inteligência e
solidariedade com os outros na nossa vida diária. Com o termo “recursos humanos”,
referem-se à função recursos humanos, que é o conjunto de práticas de gestão
pelas quais uma empresa captura recursos coletivos para gerar atividades
empresariais para ela e para seus membros.
O quadro a seguir contrasta algumas funções chave de recursos humanos
sobre as práticas dos modelos Agency e Community, e a sinergia entre ambos
(modelo híbrido).
35
Quadro 02 – Modelo Híbrido Gestão de Pessoas (Rousseau e Arthur)
Processos Agency Community Híbrido
Admissão Recrutamento
Orientação
Recrutamento.
Construção de
relacionamentos
Recrutamento. Construção de
relacionamentos
Aprendizagem
Treinamento Desenvolvimento
Socialização
Criação de
relacionamentos com
colegas (dentro da
organização)
Colaboração com os trabalhadores
no planejamento do próprio
desenvolvimento.
Treinamento/ desenvolvimento
Socialização.
Criação de rede de trabalho dentro
e fora das organizações.
Desenvolvimento de habilidades
para novas oportunidades de
mercado.
Avaliação de
desempenho
Contribuição
individual
Sucesso do Grupo/
organização
Resultados dos indivíduos, do
grupo e da organização.
Empregabilidade Responsabilidade
do trabalhador
Caminhos da carreira
interna gerenciados
pela organização
Colaboração entre RH e
trabalhador. Mobilidade interna e
externa.
Benefícios Responsabilidade
do trabalhador
Prover recursos para
o bem-estar pessoal e
familiar
Flexibilidade na resposta às
necessidades variáveis, incluindo
escolha dos padrões de trabalho,
dos horários, assim como também
benefícios móveis.
Término
(Desligamento)
Questões legais
Foco na justiça de
procedimentos. Prover
relocação e suporte
(apoio)
Foco na continuação do
relacionamento (por exemplo, os
ex-funcionários são considerados
ex-discípulos).
Fonte: Adaptado de Rousseau e Arthur (1999), p. 10.
As empresas contemporâneas são híbridos de agency e community em ação.
Empresas internacionais de consultoria de gerenciamento como a Arthur Andersen e
a Ernest e Young colocam ênfase nas performances individuais para determinar a
compensação, enquanto contrabalançam priorizando o trabalho em equipe e o
compartilhamento de conhecimento para avanço e visibilidade dentro da empresa.
Cap Gemini, empresa internacional de informação tecnológica, adquire resultados
paralelos de trabalho em equipe (agency) e interdependência (community). Eles
fazem isso criando oportunidades para os empregados aprenderem e para
aprenderem juntos (ex: Cap Gemini Universidade em Paris). Consideram o
36
aprendizado como via de favorecer um melhor entendimento dos mercados da
empresa (ex: em reuniões regulares de empregados que trabalham em diferentes
empresas clientes).
Vale observar que Agency sem controle pode fazer a interdependência entre
empregados ingerenciáveis. Em contraste, Community extrema pode diminuir as
iniciativas individuais, recompensando pessoas mais por serem membros de um
grupo do que por contribuições individuais.
Para alguns sociólogos organizacionais como Barley e Kunda (1992 apud
ARTHUR; ROUSSEAU) ocorre um movimento pendular entre esses dois modos de
ação gerencial apresentados. Contrastando, por exemplo, a impessoalidade do
início da empregabilidade em fábricas com os movimentos de relações humanas do
século passado. Contrasta também as idéias fragmentadas de “design” de empregos
originárias das indústrias tradicionais de engenharia com as idéias holísticas
originárias das mais recentes abordagens de sistemas sociotécnicos. Dinâmicas
similares podem ser observadas nas Ciências Sociais, onde a retórica de agency e
community enfatiza diferenças entre algumas disciplinas. Assim, alguns economistas
entendem os contratos tratando de segurança no emprego como uma intrusão na
liberdade individual que só pode interferir com a eficiência (agency) dos participantes
no mercado. Em contraponto, outros estudiosos (Perrow apud ROUSSEAU;
ARTHUR, 1999) apresentam descrença com o foco imediatista do mercado nos
negócios e seu impacto no nível de qualidade de vida (community) na sociedade
atual.
Na nova economia, uma resposta freqüente às pressões competitivas por
serviços, inovações ou eficiência está sendo para empresas darem maior autonomia
para seus empregados. Oportunidades para agency são vistas como uma fonte de
flexibilidade e vantagem competitiva para trabalhadores individuais suficientemente
habilidosos para capitalizar nas demandas do mercado. Oportunidades para
community são vistas como caminho para empenho coletivo de times para prover
maior qualidade ou inovação. Em qualquer das opções, as oportunidades da
empresa se baseiam na sua habilidade de transformar mudanças no comportamento
dos empregados em uma nova vantagem competitiva.
37
Vários fatores evidenciam a necessidade de sinergia entre agency e
community. Um fator é a suposição da mudança cultural que vem com a
prosperidade.
Embora a força do agency e as práticas do livre mercado propiciem a criação
de riquezas, tem-se que considerar que experiências prolongadas de prosperidade
aumentam a vulnerabilidade ao risco da diminuição de mercados livres. Ou seja, a
riqueza pode ser perdida e conseqüentemente um grande número de pessoas pode
ser afetado pelas dispensas que sempre acompanham as transformações
econômicas.
Outro fator a ser considerado é que a rápida transformação industrial pode
também significar que o sucesso de hoje pode ser seguido pelo fracasso de
amanhã. Harry van Buren (apud ROUSSEAU; ARTHUR,1999, p.12) rotulou o
problema humano na transformação “como o problema da cultura estática num
ambiente dinâmico”. Com isso “carreiras sem limites” podem ser vistas como
liberalização em tempos de prosperidade, como também uma via para os
empregadores passarem suas responsabilidades para os trabalhadores em tempos
menos favoráveis.
Para prevenir futuros impactos em sua força de trabalho decorrentes das
alterações no cenário econômico, uma empresa responsável precisa criar novos
mecanismos de aprendizagem, como maior compartilhamento de informações e
exposição a novas habilidades por treinamento e prática ativa, fazendo com que o
termo empregabilidade tenha real sentido para seus empregados.
A nova empresa baseada no “network” é ela mesma a confluência de Agency
e Community. O crescimento das redes de empresas, junto com a escalada da
interdependência entre trabalhadores e empresas, levou a um maior foco na
interdependência entre pessoas para novas formações de negócios, coordenação
do trabalho e aprendizado pessoal e coletivo. Numa intrigante maneira, riqueza e
capital humano estão juntos com o capital social. Embora, até então, as contas
financeiras das empresas ignorem capitais humanos e sejam essencialmente
silenciosas com o capital social, uma nova perspectiva econômica está emergindo
baseada no conceito de “capital híbrido”, que envolve uma união de recursos
financeiros, habilidades humanas, e o capital social. Certas práticas financeiras já o
38
reconhecem implicitamente, portanto, o preço de empresas publicamente cotadas
valoriza seus bens humanos, freqüentemente mais do que seus bens materiais.
Agency e community requerem simultaneamente atenção em parte por causa
da crescente divisão indefinida entre trabalho e não trabalho.
A necessidade das empresas de atrair trabalhadores competentes, junto com
a crescente importância das mulheres na força de trabalho, levou a novas práticas
de RH para gerenciar a conexão trabalho-lazer. Trabalhadores também procuram
melhor controle(agency) sobre como dispor (community) dos benefícios decorrentes
da relação de emprego. Crescentemente, as empresas são demandadas não
apenas para prover benefícios, mas também para criar um ambiente propício para a
vida fora do trabalho como os empregados e suas famílias assim o elegerem.
Em função disso, estamos presenciando uma mudança nas suposições para
quais o RH foi criado. O “gerenciamento pessoal” tradicional baseava-se numa visão
mecânica das pessoas. Isso enfatizava a importância da descrição e análise dos
cargos e especificações claras de habilidades requeridas e das obrigações. O
objetivo fundamental foi uma precisa e ordenada estrutura de trabalho com as
pessoas agindo de acordo com os previsíveis interesses da empresa. Visões mais
recentes atribuem ao RH um papel de agente estratégico na tentativa de endereçar
as mudanças de estratégias das empresas, assim como as mudanças na realidade
dos trabalhadores.
Em suma, agregar agency e community é critico nas práticas contemporâneas
de recursos humanos para promover contratos de emprego que ambos empregador
e empregado possam manter. Além disso, o RH contemporâneo precisa atender ao
mútuo mais do que ao separado, ao variável mais do que ao estático interesse de
todas as partes. Fazendo isso, demanda a construção da nova função do RH,de um
ponto diferente e, às vezes, antagônico, de como ela foi construída no passado.
Os autores propõem seis pilares como indicadores da natureza das práticas
do RH contemporâneo. Estes pilares, embora interdependentes entre si, apresentam
características específicas associadas a cada uma das dimensões Agency e
Community.
De acordo com Rousseau e Arthur (1999) os pilares que indicam a natureza
das práticas Agency são:
39
Voluntarismo: Refere-se à capacidade da organização em oferecer chances
e oportunidades a seus empregados para participar no design de novos arranjos de
sua função. A atenção tradicional de RH para arranjos formais de empregos como
descrição de cargo e pesquisas de compensação, não expressa a realidade por
completo.Sabe-se que sistemas informais e políticas internas exercem um grande
papel em como os trabalhos são exercidos. Recentemente, começa-se a notar como
as pessoas desenvolvem “idiocráticos papéis” exercendo altos níveis de escolha
pessoal dentro daquilo que eles fazem. As empresas estão crescentemente
provendo mecanismos para que o empregado participe do desenho do seu cargo,
podendo expressar sua forma própria de realizar determinada atividade, sendo seu
conhecimento e experiências considerados como contribuições positivas para a
melhoria do desempenho da função.
Disciplina de mercado: No contexto atual, existe maior probabilidade de turn
over nas organizações. Manter as condições de empregabilidade que possuem valor
no mercado de trabalho externo assim como no mercado interno da empresa é uma
necessidade. As práticas de RH devem demonstrar as futuras oportunidades para
as quais os atuais requisitos de emprego possam ser aplicados. Empresas, que
promovem contatos de empregados com outros da sua profissão, propiciam maior
visibilidade interna e externa desses funcionários, resultando no aumento do valor
das habilidades e conhecimentos individuais. A maior ênfase nos resultados das
empresas coincide com a crescente necessidade dos indivíduos em demonstrar sua
capacidade para os atuais e os potencialmente futuros empregadores.
Compromissos de trabalho que enfatizam responsabilidades (ex: gerenciamento de
pessoas, valores e resultados mensuráveis) são mais prováveis de serem
valorizadas pelo mercado externo, assim como pelo atual empregador, do que
compromissos pobremente especificados.
Alavancagem das Competências: Refere-se à aplicação das capacidades
emergentes,conhecimento e contatos pessoais (redes) para novos mercados de
trabalho.
É importante que as organizações ofereçam uma proporção dos serviços e
responsabilidades aos empregados para que os exerçam em áreas de crescimento
econômico. As empresas tem que oferecer oportunidades que desenvolvam futuras
opções de carreira, tanto interno quanto externamente. As práticas de RH
40
crescentemente terão que incluir no pacote de pré- requisitos de desenvolvimento de
habilidades e exigências de performance, atividades focadas em aréas de
crescimento do mercado. Construir futuras competências além dos compromissos
atuais é critico para promover o interesse dos empregados em carreiras de longo
prazo. Isso é o que a 3M vem fazendo com sua regra dos 15% (esperando que seus
empregados passem 15% do seu tempo trabalhando em inovações) e a regra dos
25% (esperando gerar 25% das suas receitas de vendas a cada ano por novos
produtos)
Associados ao modelo Community os pilares referem-se a:
Resiliência: Manutenção da capacidade de cada pessoa para responder
pelas mudanças no trabalho, na carreira e na vida. O desenvolvimento de carreira é
crescentemente mais ciclico do que linear, contrariamente ao que era admitido que
em modelos antigos de processos de desenvolvimento de carreiras. Mudanças mais
rápidas na carreira estão relacionadas com as novas noções do que é sucesso.
Responsabilidades familiares e o desejo de desenvolvimento pessoal estão
promovendo modelos de participação da força de trabalho, para ambos: homens e
mulheres, que correspondem ao modelo tradicional das mulheres no trabalho:
entrando, saindo, re-entrando (algumas vezes muitas vezes). Essa “feminização” do
trabalho envolve ambos downshifting (saída temporária) e upshifting
(comprometimento com o trabalho temporariamente aumentado). Similarmente,
aposentadoria em etapas, comum na Europa, retém contribuições de empregados
valiosos e promove identidade social associada com ambos família e trabalho.
Empresas, que promovem a resiliência como um resposta coletiva a
mudanças de circunstâncias, irão nutrir uma força de trabalho mais comprometida e
um melhor ambiente social.
Colaboração: Criar relações entre indivíduos da mesma ou de empresas
diferentes. Crescentemente, “conhecendo quem” (nossa relações com os outros)
está se tornando tão importante quanto e interdependente com o “conhecendo
como”(nossas habilidades e conhecimentos). Dessa forma, é o “conhecendo quem”
que guia os novos esforços colaborativos que são crescentemente procurados pela
força de trabalho contemporânea. Essa colaboração inclui atividades interfuncionais,
onde pessoas com amplos contatos na empresa tornam-se melhor informadas e
mais acreditáveis; atividades com limites de conexões, onde a informação e
41
credibilidade passam entre um consumidor e um fornecedor; e rede de contatos
profissionais onde as pessoas levam distintos e especializados conhecimento para
e da empresa. Laços de network são primeiramente bens privados que as pessoas
possuem e bens públicos através dos quais interesses compartilhados podem ser
adquiridos.
Civilidade: Manutenção da rede de segurança e os apoios para fazer as
pessoas menos vulneráveis às mudanças dinâmicas do mercado. O ritmo das
mudanças do mercado requer uma “sociedade” civil mais forte, para recebê-las e
absorvê-las. A civilidade pode levar à forma de benefícios portáteis (como pensões,
seguro de saúde, e credenciais de habilidades) ou pode envolver a construção de
recursos pessoais fora da empresa que melhoram a grande comunidade social e
multi-empresa.
Os retornos da civilidade crescem através da maior infra-estrutura social que
ela cria, de laços mais fortes entre empregados e suas famílias, de mais fortes redes
de relacionamento ocupacionais e industriais, de cidades enriquecidas por serviços
voluntários. O truque, certamente, é manter isso como ganhos mútuos, mais do que
formas renovadas de dependência social ou generosidade da companhia.
As seis características descritas anteriormente estão à mostra na Figura 1.
Esta figura modela como a função do RH interliga as práticas de gestão de pessoas
das empresas com o mercado de trabalho circunvizinho, permeando os temas
principais de agency community. Contudo, a distinção que se faz entre esses dois
temas disfarça um requerimento subliminar para agency e community reforçarem
um ao outro. Desse modo, observa-se uma coincidência entre essas características
adjacentes no modelo. Em particular, voluntarismo (agency) está colocado perto da
civilidade (community), na suposição de que a prática de voluntarismo fortalece e é
fortalecida pelo compartilhamento do senso de civilidade das pessoas. Similarmente,
resiliência (community) está colocado perto de alavancagem de competências de
carreira (agency), na suposição de que a força de qualquer resiliência origina-se de
competências de carreira ou de suas credenciais individuais. Nesta representação,
também se pontua referências não somente para a empresa, mas a “empresa
central”, e isso mostra duas principais conexões entre a empresa central e sua força
de trabalho.
42
Figura 1 - Interligação das Práticas de Gestão Agency Community no Mercado de Trabalho.
Fonte: Rousseau e Arthur, (1999).
Os autores utilizam o termo “Empresa Central” para demonstrar como hoje as
empresas participam na nova economia. O conceito “core” - centro - envolve
pessoas que são essenciais para a empresa e distingue seus conhecimentos claros
daqueles dos seus parceiros.
Charles Hardy (apud ROUSSEAU; ARTHUR, 1999) utiliza o termo empresa
central ao identificar as habilidades e conhecimentos de uma empresa como
competências centrais onde ambas constituem as bases para a competitividade do
presente e plataforma para seu futuro aprendizado. Observa-se que as empresas
estão transferindo atividades que podem ser executadas de formas mais efetivas
Interface do
Conhecimento
A
Empresa
Central
Voluntarismo
Disciplina de
Mercado
Alavancagem
das
competências
(Agency)
Resiliência
Colaboração
Civilidade
(Community)
O Mercado de
Trabalho
Interface Moral
Função RH
43
fora das mesmas, exemplo das práticas de manufaturas da Beneton, Nike e dos
processos de terceirização.
As demandas da “empresa central” requerem da função de RH a interação
com o mercado de trabalho para promover a distinta vantagem de conhecimento da
empresa. Até relativamente recente, era comum pensar sobre investir mais
pesadamente em recrutamento, e depois acreditar num mercado de trabalho interno
para encorajar e premiar mais aquisições de conhecimento. No entanto, mercados
de trabalho internos se mostraram inefetivos em acompanhar o ritmo das mudanças
externas, e indiscutivelmente foram sempre inefetivos para pequenas e médias
empresas que empregam a maioria da força de trabalho atual. Hoje, o conhecimento
está sendo gerado em todo lugar e a função do RH deve ser a de ver o
conhecimento fluir, pessoas conectadas com ele fluírem, como num processo de
duas vias passando em ambos dentro e fora da jurisdição da empresa
O RH contemporâneo deve garantir a participação total da empresa dentro
dessas comunidades de geração de conhecimento e no mercado de conhecimento
que elas sustentam.
A preocupação moral liga as demandas da empresa central à presente ou
futura empregabilidade de seus funcionários. A função do RH foi usada
anteriormente para lidar com essa interface através do princípio da imparcialidade
(como recompensas por tempo de serviço) e segurança de emprego (em resposta
para empregados fazendo aquilo que lhes foi pedido). A função do RH também foi o
executor de um vasto corpo de leis de trabalho que reforçou esses princípios. Agora,
as exigências da competição diária e o ritmo das mudanças fazem com que a
demanda por seguridade do emprego pareça irreal. Hoje, a empregabilidade é uma
preocupação diária, trazendo consigo uma obrigação para a empresa de manter os
“padrões comuns” do mercado de trabalho de habilidades valiosas, mesmo que os
desenhe dentro do seu próprio interesse.
Os velhos argumentos morais de ser mais justo ou para fazer empregos mais
seguros envolveram a função do RH negligenciando a questão da empregabilidade
até que as mudanças no cenário econômico mundial ocorreram e as demissões se
tornaram necessárias. Então, muitas dificuldades foram vivenciadas por pessoas
que tinham pouca idéia do seu valor externo, ou da oportunidade estrutural através
da qual seu valor poderia ser realizado. O legado, ainda, é que muitas pessoas
44
pensam em termos de seguridade de emprego como um fim nela mesmo, como uma
obrigação após anos de trabalho numa linha de produção ou entregando parcelas,
sem consideração pelo novo aprendizado ganho. Gerenciar a questão da
empregabilidade é um começo na mudança deste legado, mantendo as pessoas
conectadas mais do que separadas dos mercados de trabalho nos quais seus
serviços são valorizados, e ainda tirando das empresas centrais obrigações que elas
não poderão cumprir.
Nesta nova era, a interface do conhecimento e a interface moral tornaram-se
conjuntas preocupações primárias da função do RH e, conseqüentemente, das
práticas atuais de gestão de pessoas. Cada interface conecta ambos, a empresa
central e seus empregados em particular, ao mercado de trabalho externo através do
qual novos conhecimentos são gerados e a empregabilidade é sustentada. Estas
interfaces se conectam através dos desafios de construir e aplicar as práticas
agency e community as quais permeiam as atividades funcionais do RH
contemporâneo.
2.4 COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
No decorrer das últimas décadas, inúmeros estudos vêem sendo
empreendidos com o objetivo de identificar e esclarecer os vínculos que se
estabelecem entre os indivíduos e as organizações, vínculos estes denominados de
comprometimento organizacional.
Estes estudos são justificados ao se considerar o comprometimento organizacional
como um preditor confiável de comportamentos relevantes para o contexto
organizacional, como absenteísmo, rotatividade e desempenho como também a
necessidade de se identificar as bases de um padrão comportamental desejável
pelas organizações (COHEN, 2003).
Bastos (1996) afirma que, a partir dos anos oitenta, a pesquisa acadêmica
sobre comportamento humano no trabalho passou a se interessar cada vez mais
pelo comprometimento, diminuindo gradativamente o número de estudos sobre
satisfação, motivação e clima organizacional. A razão deste novo enfoque é que
45
comprometimento é um vínculo mais profundo do indivíduo com o seu trabalho; ele
se desenvolve lentamente, sendo mais estável ao longo do tempo; portanto, sofre
menos o efeito de aspectos circunstanciais. A satisfação é mais instável, transitória,
cresce ou diminui com maior velocidade, reproduzindo condições de trabalho
momentâneas. Assim, para explicar a qualidade do desempenho, a permanência no
emprego e, mesmo, aspectos como o fortalecimento e efetividade organizacionais, o
conhecimento do nível de comprometimento revela-se mais útil do que as medidas
de satisfação.
O termo “comprometimento”, em geral, apresenta múltiplos significados, tanto
na linguagem cotidiana quanto nos estudos científicos. No cotidiano o termo enseja:
- Idéia de ocorrência de ações que impedem ou dificultam a consecução de um
determinado objetivo,
- Noções de engajamento, colocar-se junto, agregamento, envolvimento;
comprometimento como “adesão” ou “forte vinculação”. Tais significados associam-
se ao termo compromisso, e por extensão à idéia de assumir responsabilidade,
tornar-se responsável por, obrigar-se por compromisso. É clara também a idéia de
que o vínculo pode ser intelectual ou emocional (BASTOS, 1994).
Na literatura, identificam-se diversas concepções sobre o termo
comprometimento sendo este revestido por diferentes compreensões sobre o estado
psicológico e as dimensões sociais que ele representava, sobre as condições em
que se desenvolvia e sobre quais resultados organizacionais poderiam haver
expectativas de sua influência (SIQUEIRA; GOMIDE, 2004).
O Quadro 3, a seguir, apresenta algumas destas definições:
46
Quadro 3 – Concepções sobre Comprometimento Organizacional
Autor Comprometimento como
Gouldner (1960) Termos que são internalizados pelos indivíduos nas suas
motivações, orientações e comportamentos em relação à
organização.
Buchman ( 1974) Um partido, como um apego afetivo aos objetivos e valores de
uma organização.
Salanick, (1977) Um estado no qual um individuo se torna preso por suas ações
e através destas ações as crenças que dão sustentação às
atividades de seu próprio envolvimento.
Mowday ( et al, 1979) A força relativa da identificação e envolvimento de um indivíduo
em uma organização específica.
Wiener ( 1982) Soma das pressões normativas usadas para um indivíduo agir
de acordo com os objetivos e interesses organizacionais.
Mowday , Porter e Steers (1982) (a) uma forte crença e aceitação dos objetivos e valores da
organização,
(b) estar disposto em exercer um esforço considerável em
benefício da organização;
(c) um forte desejo de se manter membro da organização
O’Reilly e Chatman (1986) Ligação psicológica de uma pessoa com uma organização, que
reflete o grau que ela internaliza e adota características ou
perspectivas da organização
Allen e Meyer (1991 )
Um estado psicológico que liga o indivíduo à organização.
Matieu e Zajac (1990 )
Um laço ou ligação entre o indivíduo e a organização.
O conceito de comprometimento com a organização origina-se de estudos
que exploravam as relações entre os empregados e as organizações. A razão para
estes estudos era a crença de que os empregados comprometidos teriam maior
potencial para um melhor desempenho, absenteísmo e rotatividade reduzida
(MOWDAY,1998)
Este é um conceito é polêmico. Existem pesquisas onde os componentes do
comprometimento organizacional não são definidos e nem são estabelecidos seus
antecedentes e conseqüentes . Entretanto, existe consenso entre alguns teóricos de
que o comprometimento é multidimensional (ALLEN; MEYER, 1990; MCGEE;
FORD,1987; MEYER; ALLEN, 1984; MEYER; ALLEN; GELLATHY,1990; PENLEY;
GOULD, 1988; RANDALL et al, 1990 apud RICCO, 1998).
Teixeira (1994) enfoca:
47
O comprometimento como capaz de propiciar uma melhor compreensão da
natureza dos processo psicológicos pelos quais as pessoas escolhem
identificar-se com objetivos em seu ambiente e atribui-lhe sentido,além de
ser um preditor mais eficiente da rotatividade.
Convivendo com inúmeros outros conceitos (envolvimento, identificação,
satisfação), entre as diversas definições de comprometimento organizacional
constantes da literatura, pode-se perceber algumas dimensões de significados
comuns adaptadas de Bastos (1996):
o desejo de permanecer, de continuar, o sentimento de orgulho
por pertencer;
a identificação, o apego, o envolvimento com objetivos e valores;
engajamento, exercer esforço, empenho em favor da organização.
Para Bastos (1996, p. 1) o conceito de comprometimento é de fácil
apreensão:
Utilizamos comumente esta expressão para denotar um vínculo ou ligação
forte entre duas pessoas. Dizemos que duas pessoas são comprometidas
quando cremos que elas têm probabilidade de permanecerem juntas,
vinculadas,associadas. Da mesma forma se dá com o comprometimento
com o trabalho.Quando dizemos que um trabalhador é comprometido com
sua carreira, queremos dizer que ele parece ter um vínculo muito forte com
a profissão, e que esta é algo importante em sua vida. [...] Como é evidente,
a relação de comprometimento incorpora elementos racionais, emocionais e
comportamentais e portanto, o instrumento por excelência para a
investigação dos níveis de comprometimento é a pesquisa de atitudes.
Adotar-se-á este significado de comprometimento referente ao conjunto de
sentimentos e ações do indivíduo em relação à organização onde ele está inserido,
o qual, é determinante para sua permanência na mesma.
Conforme assinala Bastos (1994), existem múltiplos aspectos do contexto de
trabalho que podem ser alvos (e o são, normalmente) de vínculos estabelecidos pelo
trabalhador. Tal tipologia deixa explícito que não existe uma única fonte de apego
em relação ao trabalho, e que múltiplos apegos podem aumentar a força do vínculo
que o trabalhador apresenta em relação ao trabalho. Dentro desta concepção
diversifica-se o estudo sobre comprometimento, o qual passa a fazer distinção entre
seus focos e bases (BECKER, 1992).
Os focos, que se constituem os alvos deste vínculo do trabalhadores, podem
ser a organização, a carreira, o sindicato, os valores, o propósito, o trabalho, etc.
48
Dentro de cada foco, existem abordagens diferenciadas quanto às bases, ou seja, a
natureza ou os motivos que levam ao comprometimento.
Meyer e Allen (1991) articularam três bases de comprometimento
organizacional: Comprometimento afetivo que denota uma identificação e um
envolvimento do empregado com determinada organização e que se baseia em
conceitos advindos do trabalho de Mowday, Porter e Steers de 1979;
Comprometimento instrumental (side-bets), advindo de Becker (1960) que
está associado à perda de valores com a saída do empregado da empresa;
Comprometimento normativo, reportado aos trabalhos de Wiener (1982) que
denota boa vontade do empregado em permanecer na organização em virtude de
um senso de obrigação moral para com a mesma.
Para Mowday et al (1982) o comprometimento representa algo além de
simples lealdade passiva a uma organização. Ele envolve uma relação ativa, na qual
o indivíduo deseja dar algo de si próprio para contribuir para o bem-estar da
organização.”
Na perspectiva instrumental, também denominada de calculativa,
continuação, “side-bets”, o comprometimento é visto como função das recompensas
e custos associados à condição de integrante da organização. Becker (1960)
denomina comprometimento instrumental como uma tendência de o indivíduo se
engajar em “linhas consistentes de atividades”. Esse comprometimento também é
chamando de “side-bets” , que pode ser traduzido por trocas laterais. Para Becker, o
indivíduo permanence na empresa devido aos custos e benefícios associados à sua
saída, que seriam as trocas laterais, e assim passam a se engajar em linhas
consistentes de atividades para se manterem no emprego.
O trabalho de Wiener (1982) apresenta um novo enfoque para o
comprometimento organizacional - o normativo - definindo-o como “a totalidade de
pressões normativas internalizadas para agir num caminho que encontre os
objetivos e interesses organizacionais”. Wiener entende que essas pressões
normativas geralmente são provenientes da cultura da empresa, que impõe a sua
ação e o seu comportamento na organização. A cultura organizacional pode atuar
diretamente no sentido de produzir membros “comprometidos” exercendo uma
influência estável e de longo prazo sobre o comprometimento no trabalho. Para o
49
autor, pressões normativas predispõem o indivíduo a se comportar segundo padrões
internalizados. Quanto mais forte o comprometimento, maior a predisposição do
indivíduo para guiar as suas ações por padrões internalizados, mais do que
considerações racionais a cerca das consequências dessas ações. Assim,
indivíduos comprometidos apresentam certos comportamentos, não porque eles
calculam que obterão benefícios pessoais ao apresentá-los, mas porque eles
acreditam que é certo e moral fazê-lo.
Segundo Wiener (1982), a visão normativa do comprometimento sugere um
foco centrado nos controles normativos por parte das organizações, tais como
normas e regulamentos ou ainda como uma forte missão disseminada na
organização. Esta visão se coaduna com a visão apresentada por Kanter (apud
Mowday et al, 1982) a qual indica que as normas e valores da organização moldam
o comportamento do indivíduo na direção desejada pela mesma .
Allen e Meyer (2000) conduziram uma revisão da literatura, visando a uma
melhor compreensão do constructo comprometimento organizacional. Eles
desenvolveram dois estudos através dos quais testaram os aspectos de um modelo
de três componentes de comprometimento, os quais integravam as várias
conceituações do comprometimento organizacional. Então, concluíram que um
empregado pode se comprometer simultaneamente com a organização baseado em
vínculos emocionais (comprometimento afetivo), no sentimento de obrigação para
com a organização (comprometimento normativo), e na percepção de que os custos
de sua saída da organização são proibitivamente altos(comprometimento
instrumental) em relação aos benefícios.
Para estes autores, o comprometimento organizacional pode ser definido
como o laço psicológico que caracteriza a ligação do individuo à organização e que
reduz a probabilidade de ele a abandonar
Meyer e Allen (1991) sugerem que os pesquisadores podem entender melhor
as relações dos empregados com as organizações, analisando todos os três
componentes simultaneamente.
Por causa da distinção conceptual entre os três componentes de
comprometimento, eles também sugeriram que os comprometimentos afetivo,
50
normativo e instrumental devam evoluir de diferentes causas, e, portanto, devam
resultar em diferentes consequências atitudinais e comportamentais.
Segundo Allen e Meyer (1991) cada componente tem um efeito distinto no
comportamento dos empregados:
Empregados com um forte comprometimento afetivo permanecem na
organização porque eles querem, aqueles com um forte comprometimento
instrumental permanecem porque eles precisam, e aqueles com um forte
comprometimento normativo permanecem porque eles sentem que devem.
O Quadro 4 sintetiza as idéias do modelo dos três componentes de Meyer e
Allen (1991).
Quadro 4: Modelo dos três Componentes do Comprometimento Organizacional de Meyer e
Allen.
Categorias Caracterização
A pessoa permanece
na organização porque
Estado
Psicológico
Afetivo Grau em que o empregado se sente
emocionalmente ligado, identificado
e envolvido na organização
Sente que quer
permanecer
Desejo
Normativo Grau em que o empregado possui
um sentido da obrigação (ou dever
moral) de permanecer na
organização
Sente que deve
permanecer
Obrigação
Instrumental Grau em que o empregado se
mantém ligado à organização devido
ao reconhecimento dos custos
associados com sua saida da
mesma.Este reconhecimento pode
advir da ausência de alternativas de
emprego , ou do sentimento de que
os sacrificios pessoais gerados pela
saída serão elevados.
Sente que tem necessidade
de permanecer
Necessidade
Fonte : Adaptado de Rego e Souto (2002)
Meyer e Allen (1991) afirmam que os sentimentos de querer fazer parte e
sentir-se obrigado a fazer podem não ser totalmente independentes. Entretanto, os
autores apontam diferenças quanto às conseqüências; os efeitos do
comprometimento normativo teriam duração mais curta do que os advindos do
comprometimento afetivo (tempo para pagamento da divida). Em outro estudo
realizado por Meyer et al, (1993) encontra-se mais uma vez evidência desta
sobreposição. Para estes autores, esta sobreposição justifica-se nos antecedentes e
correlatos comuns que existem entre o comprometimento afetivo e o normativo.
51
Para Jaros et al (1993), embora fortemente calcado na intenção em
permanecer na organização, o comprometimento normativo é distinto do afetivo.
Alguns outros estudos Meyer et al, 1996; Jaros, 1997; Hackett, 2001; Ko;
Price; Mueller apud (MEYER et al, 2002) discutem a utilidade de tratar o
comprometimento normativo à parte do afetivo. Meyer et al (2002), encontra uma
correlação substancial entre os dois tipos (0,63), atestando uma “sobreposição
considerável” entre ambos.
As três bases de comprometimento organizacional aqui estudadas
relacionam-se negativamente com rotatividade. Morrow (1993), entretanto, afirma
que as correlações mais fortes entre comprometimento e seus conseqüentes são
obtidas quando se utiliza o comprometimento afetivo. O comprometimento normativo
apresenta correlações mais fracas e o comprometimento instrumental possui
correlações não significativas ou negativas com estes resultados desejados.
Medeiros (1997) realiza estudos na Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Lá, ele examina as relações existentes entre padrões de comprometimento
organizacional, características pessoais e performance dos indivíduos no trabalho.
Entre outros, seu estudo aplica e valida, para o Brasil, o modelo dos três
componentes do comprometimento organizacional de Meyer e Allen, em especial,
para as pequenas empresas nos três setores de atividade econômica: indústria,
comércio e serviços. Ele sugere que “possa existir uma nova dimensão latente no
comprometimento, ligada a um componente de vínculo emocional entre o indivíduo e
sua organização”, bem como recomenda o estudo das características
organizacionais como antecedentes do comprometimento organizacional
(MEDEIROS, 1997, p. 101).
2.4.1 Comprometimento: Relações com Antecedentes e Conseqüentes
Considerando as pessoas como diferencial competitivo, as empresas têm
desprendido uma grande quantidade de esforços na busca e retenção de pessoas
qualificadas e comprometidas com as organizações. Conforme O’Reilly e Pfeffer
(2001), os processos de recrutamento e seleção de pessoas buscam prover as
empresas com indivíduos comprometidos e com desempenho superior. Além do
52
dispêndio nos processos de seleção, os programas voltados à retenção de talentos
se traduzem em custos crescentes, decorrentes dos benefícios e salários oferecidos
pelas organizações.
Não obstante todo este esforço, o que se observa na prática é que os
melhores talentos não estão sendo encontrados com facilidade. Medeiros (1977)
encontra apenas 16% numa amostra 373 empregados que pertencem ao padrão de
melhor comprometimento e desempenho no trabalho quando avaliados pelos
supervisor.
Questiona-se, então, “o que as empresas devem fazer em relação ao grande
contingente de empregados que não possuem um forte compromisso com a
organização?”. Para O’Reilly e Pfeffer (2001), a saída para a empresas é a criação
de um sistema de gestão de pessoas que alinhem os interesses dos empregados
com os dos gerentes e acionistas em favor de benefícios mútuos. Os autores
afirmam que as empresas devem adotar práticas gerenciais para a obtenção de
resultados extraordinários de quase todos os empregados.
Conforme Medeiros (2003), é sabido que uma ampla gama de características
organizacionais influem no comprometimento das pessoas com suas organizações.
Fitz-Enz (1997) apontam os valores, estratégia e cultura como determinantes
não somente do comportamento, mas também como antecedentes aos sistemas
organizacionais. Bateson e Hoffman (2001) afirmam que as práticas de gestão de
recursos humanos são uma fonte de vantagem competitiva para as empresas. Já
para Mintzberg (2001), uma cultura organizacional rica leva as pessoas a se
identificarem e a terem lealdade para com a organização. Segundo o autor, essa
identificação ocorre de diferentes maneiras: pela atração dos novos membros aos
sistemas de crenças da organização, pela atração de pessoas que possuam
predisposição a se adaptarem aos sistemas; pelos processos informais de
socialização e programas formais de doutrinamento; e por fim, porque é conveniente
para os empregados se identificarem com essas crenças de uma maneira
instrumental ou calculada.
Huselid (1995) destaca uma série de práticas de recursos humanos que
influenciam o capital humano das empresas: procedimentos de recrutamento e
seleção de pessoal; treinamento; sistema de compensação; sistemas de promoção
53
interna. Para este autor, também as estruturas organizacionais propiciam e
encorajam a participação dos empregados, a exemplo de times multifuncionais;
rotatividade de trabalhos e círculos de qualidade. Mowday et al (1979); Mathieu e
Zajac (1990) sinalizam que seria útil aprender mais sobre os principais antecedentes
e conseqüentes do comprometimento organizacional.
A pesquisa sobre antecedentes é ampla tanto no Brasil quanto no exterior,
tendo os seus conjuntos de variáveis conforme a meta – análise de Mathieu e Zajac
(1990) sido tratados na literatura brasileira: características pessoais, características
do trabalho, relações com o grupo/líder; características organizacionais e variáveis
funcionais.
Meyer e Allen (1997) indicam a necessidade da realização de estudos
voltados para mostrar uma relação de causa e efeito mais complexa. Mowday (1998)
afirma que faltam trabalhos que relacionam os sistemas de recursos humanos ao
comprometimento organizacional e também ao desempenho das organizações.
O trabalho de Chang (2001), pioneiro na utilização da técnica de modelagem
de equações estruturais no Brasil, possibilitou a identificação da variável criatividade
como antecedente e da comunicação como conseqüente ao comprometimento.
Medeiros (2003), ao utilizar a técnica de modelagem para estabelecer um
modelo de relações causais entre as dimensões latentes do comprometimento
organizacional e o desempenho organizacional, verifica explicitamente que o
comprometimento organizacional leva as organizações a um melhor desempenho,
hipótese até então sem comprovação empírica.
2.5 INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
No cenário atual, a disponibilidade e facilidade de acesso a recursos
financeiros, matérias primas, tecnologia de ponta, ensejam a competitividade,
fazendo com que as organizações tenham que agir estrategicamente no sentido de
criar um diferencial competitivo, que pode ser criado através das pessoas, as quais
com seus conhecimentos e habilidades não mais são consideradas como simples
54
recursos e passam a serem vistas como vantagem competitiva (BUCHINGHAM;
COFFMAN, 1999).
Este contexto acaba por constituir-se numa situação paradoxal: As empresas
ao considerar as pessoas como diferencial competitivo necessitam investir nelas,
desenvolvê-las continuamente, aumentando, desta forma, sua mobilidade potencial.
Por outro lado, as alterações ocorridas nas relações de trabalho entre as quais a de
não mais dispor de mecanismo de segurança de emprego, ocasiona impacto nos
contratos psicológicos entre indivíduos e organizações, onde os termos lealdade e
fidelidade ganham novos sentidos.
Este contexto demanda um novo entendimento dos vínculos entre indivíduos
e organizações, cabendo perguntar: “Por que manter os talentos passou a ser uma
estratégia e necessidade empresarial ?”
Para Michaels; Handdifield-Jones e Axelroid (2002), as pessoas talentosas,
desde que atuem em cultura adequadas, estejam satisfeitas e comprometidas com a
organização e sejam estimuladas e bem aproveitadas pelos líderes, têm melhores
idéias, executam otimamente os projetos, desenvolvem com eficiência outras
pessoas e dificilmente poderão ser copiadas. Concluem os autores que, atualmente,
é mais importante acreditar nas pessoas do que nas estratégias. Estudo
desenvolvido pela consultoria McKinsey @ Co nos Estados Unidos, evidenciou que
o recurso corporativo mais importante nos próximos vinte anos será o talento
inteligente: homem de negócio sofisticado, tecnologicamente alfabetizado,
globalmente astuto e operacionalmente ágil (SILVA, 2006).
Para Mitchell; Holton; Lee e Enez (2000), o custo pessoal e organizacional de
quando um talento deixa a organização é altíssimo. Para estes autores, não é
surpresa que a retenção de empregados talentosos passou a ser tratada
estrategicamente pelas organizações. Ainda de acordo com estes autores, as
questões que têm se colocado para os cientistas sociais e os gerentes são: “Por que
as pessoas partem?” “Por que as pessoas permanecem nas organizações?”
Inúmeras são as respostas, não se tendo chegado a conclusões definitivas.
Chang (1999) coloca que a preocupação com a rotatividade dos empregados
deve ocupar espaço significativo entre os comportamentos relativos com o estudo do
comprometimento.
55
A importância de fatores organizacionais que afetam atitudes e
comportamentos dos empregados tem sido amplamente discutida (MATHIEU;
ZAJAC,1990; MEYER; ALLEN, 1984; 1990; O’REILLY; CHATMAN,1986).
Mowday (1998) atribui os estudos sobre comprometimento à crença que
empregados comprometidos teriam maior potencial para um melhor desempenho,
absenteísmo e rotatividade reduzida. Conforme meta–análises (Mathieu e
Zajac,1990; Riketta, 2002; Benkhoff, 1997), os estudos conduzidos têm se baseado
fortemente em conceitos unidimensionais de comprometimento e formulações
seqüenciais das variáveis do processo de saída da organização. Jaros (1997), no
entanto, constata que o comprometimento afeta este processo apenas indiretamente
através das intenções.
Chang (1999) apresenta duas proposições em contribuição a esta discussão.
A primeira proposição refere-se ao atendimento das expectativas dos empregados
sugerida por Porter et.al. (1974 apud CHANG, 1999). Para estes autores, os
indivíduos trazem um conjunto de expectativas em relação à organização. As
atitudes e comportamentos subseqüentes são resultados de um processo no qual os
indivíduos comparam seus níveis de expectativas com a realidade percebida,
tornando-se mais vinculados com as organizações quando suas expectativas
prioritárias são satisfeitas.
A segunda proposição apresentada por Chang (1999) para explicar porque os
comportamentos e atitudes individuais são afetados por fatores organizacionais
refere-se aos contratos psicológicos. Os contratos psicológicos indicam as crenças
dos empregados sobre as obrigações recíprocas entre eles e a organização. O
contrato psicológico percebido é uma crença sobre o que os empregados acreditam
que eles têm direitos a receber ou devam receber. (MORRISON; ROBINSON, 1997
apud CHANG, 1999).
Após o ingresso na companhia, os indivíduos sentem se a organização está
cumprindo totalmente o contrato, o que afeta seus comportamentos e atitudes em
relação a mesma. Isto significa que quando os empregados sentem que seus
empregadores falham em atender suas obrigações completamente, estes tendem a
reduzir suas obrigações, demonstrando absenteísmo, e reduzindo o nível de
comprometimento (ROBINSON; KRAATZ; ROUSSEAU, 1994 apud CHANG, 1999).
56
Para Chang (1999) o fenômeno do comprometimento vem sendo largamente
investigado pela razão de ele afetar as atitudes e comportamentos individuais no
trabalho. Inclusos nestes comportamentos o foco tem sido o turnover e como este
tem sido altamente afetado pelo comprometimento (BARTOL, 1979; BEDEIAN et al,
1987; BLAU; BOAL, 1987; DECOTTIS; SUMMERS, 1987; HUSELID; DAY, 1991
apud CHANG,1999).
Diferentemente de outros comportamentos no trabalho, o turnover indica uma
ruptura no relacionamento entre o indivíduo e a organização. Esta separação implica
em significativo aumento de custos para a organização e talvez para os próprios
indivíduos. Os custos de saída podem incluir custos de oportunidades, re-seleção,
re-treinamento e diminuição do nível de moral dos trabalhadores restantes. Estes
custos podem se tornar mais sérios quando a companhia perde empregados
valiosos como os de grande nível de comprometimento.
Para Allen e Meyer (1997) existe forte correlação entre o comprometimento e
a rotatividade. Para eles, quanto mais comprometido o indivíduo estiver com a
organização, menos intenção ele terá de deixar a empresa. Afirmam também que as
correlações entre o comprometimento e rotatividade sejam fortes quando se referem
ao comprometimento afetivo, relações significativas entre comprometimento e
variáveis de rotatividade também são encontradas nas bases instrumental e
normativa.
De acordo com Ferreira e Freira (2001), os fatores que mais impactam na
saída do empregado da empresa são: inexistência de política salarial e de
benefícios; impossibilidade de ascensão profissional; condições físicas e ambientais
precárias; trabalho inadequado; falta de motivação e satisfação pessoal; bem como
a subjugação do profissional a trabalho precário e desgastante.
Já Epstein (1999) observa que a maioria dos gestores equivocadamente
negligenciam outras necessidades dos empregados, imaginando apenas a questão
salarial como fundamental.
Goldglantz (1999) adiciona: “Dinheiro pode ser capaz de comprar bons
empregados, mas o dinheiro sozinho não os manterá”.
Para Steel; Griffeth e Hom (2002), neste mundo cada vez mais sofisticado,
onde as habilidades adquiridas dos empregados representam investimento
57
considerável, é tão necessário desenvolver estratégias de retenção quanto
desenvolver estratégias nas áreas da organização onde a core competência está
em risco. Em pesquisa realizada pelo Instituto Saratoga para a American
Managment Association, foi constatado que existem três razões para as pessoas
deixarem as empresas: (STEEL, GRIFFETH; HOM, 2002).
- Pobres habilidades dos supervisores.
- Poucas oportunidades de crescimento.
- Falta de oportunidades de falar livremente o que sentem.
O quadro a seguir sintetiza os principais fatores que motivam os funcionários
a permanecerem em suas organizações e também os principais fatores que
concorrem para que eles possam deixar suas organizações:
Quadro 5 - Fatores que favorecem a retenção ou a evasão de talentos nas organizações:
Fatores que Favorecem a RETENÇÃO do
Talento
Fatores que Favorecem a EVASÃO do
Talento
Segurança no trabalho.
Falta de segurança no emprego e apoio para
realizar o trabalho.
Equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal.
Falta de integração entre superiores e
subordinados.
Ser reconhecido pelo bom trabalho. Organização não cumpre com as obrigações.
Ter treinamento e desenvolvimento.
Os funcionários não são envolvidos no processo
decisório. As ordens vêm de cima para baixo.
Participar de cultura corporativa alegre e
descontraída que valoriza e que oferece a
aprendizagem contínua para as pessoas.
Ausência de investimento em treinamento e
desenvolvimento de pessoas.
Ter orgulho da organização que trabalha.
Insatisfação com o relacionamento entre os
colegas e chefias. Relações abusivas,
desumanizadas, críticas e desiguais.
Ser liderado por líder democrático,
participativo,compatível e apoiador e que
investe no crescimento e na sua evolução.
Insatisfação com as tarefas realizadas e como
efetivamente são distribuídas. Ausência de tarefas
desafiadoras.
Ter desafios e verificar significado no trabalho
efetuado.
Estilo de liderança autocrática e prepotente ,
baseada no autoritarismo e no controle.
Remuneração fixa e variável compatível com a
contribuição destinada aos resultados do
negócio.
Salário e benefícios incompatíveis com a
contribuição oferecida para os resultados.
Fonte: Silva (2006)
58
Analisando a permanência dos indivíduos nas organizações como
conseqüência do comprometimento, é importante considerar a existência da
intenção como componente predecessor ao comportamento. Para Ajzen e Fishbein
(1975) as intenções comportamentais correspondem a uma probabilidade subjetiva
de um indivíduo desempenhar um determinado comportamento. Fazendo parte da
subjetividade do indivíduo emergem as atitudes as quais se associam a
pensamentos, sentimentos e ações que dirigem o modo como as pessoas se
comportam.
Segundo Allport (1935), a atitude corresponde a um estado mental e neural
de prontidão que exerce uma influência diretiva sobre as respostas dos indivíduos
em relação a todos os objetos e situações com as quais estão relacionadas. Para
este autor, a atitude não é um comportamento observável, mas uma disposição que
influencia o comportamento.
Conforme Menezes (2006), o ponto de vista predominante entre os psicólogos
sociais, principalmente os cognitivistas sociais, é o de que as atitudes possuem tanto
um componente afetivo quanto de crenças e que atitudes e comportamentos devem
ser congruentes, isto é, pessoas com atitudes positivas devem se comportar de
forma positiva em relação ao objeto de atitude.
Em geral, as atitudes são definidas como tendências a avaliar os objetos de
maneira favorável ou desfavorável (BEM 1970; EAGLY; CHAIKEN, 1993; FAZIO,
1990; OLSON; ZANNA,1993; PETTY; WEGENOR; FABRIGAN, 1997; WOOD, 2000;
apud MENEZES, 2006).
Allport (1954), ao analisar o conteúdo das atitudes, define-as a partir de três
dimensões, caracterizando a abordagem tridimensional: cognitiva, referente as
crenças das pessoas sobre um objeto; afetiva, que corresponde aos sentimentos do
indivíduo em direção ao objeto; e comportamental (ou conativa) que envolve as
tendências de ação em relação a um objeto.
Para Bastos (1993), a predominância da perspectiva atitudinal nos estudos
sobre comprometimento faz com que sejam raros os enfoques que buscam avaliar o
comprometimento a partir de comportamentos expressos pelos trabalhadores, ou
ainda, sobre as intenções que são responsáveis por conduzir as ações dos
indivíduos. Meyer, Allen e Smith (1997) reconhecem a carência de estudos voltados
59
a mostrar uma relação de causa e efeito, ou seja, faltam pesquisas de caráter
experimental que busquem controlar e manipular as variáveis associadas aos
diferentes tipos de vínculos do trabalhador.
Desta forma, na avaliação do comprometimento do trabalhador com sua
organização predomina a perspectiva atitudinal. Nesta perspectiva, são as crenças,
afetos e comportamentos que se dirigem a um objeto, sendo os comportamentos
uma conseqüência das atitudes. A perspectiva comportamental considera que as
pessoas se comprometem com ações, sendo as atitudes geradas pelos
comportamentos.
De acordo com Mowday, Porter e Steers (1982), o comprometimento
comportamental diz respeito ao processo em que os indivíduos se tornam parte de
uma determinada organização, assim como o modo com que lidam com isso.Para
Benkhoff (1997) para que se possa obter uma visão clara do comprometimento, é
mais útil considerar o que os empregados fazem do que saber aquilo que relatam
sobre suas opiniões e sentimentos.
Salancik (1977) considera importante focalizar manifestações observáveis de
comprometimento ou a busca de elementos que distinguem um “ato comprometido”
de um “não comprometido”. Para este autor, uma pessoa comprometida não é
aquela que somente relata seu desejo de permanecer no emprego , mas que,
sobretudo, trabalha proativamente em defesa dos interesses da organização. Neste
sentido, agir é comprometer-se com seu próprio comportamento e o conceito de
comprometimento implica que o comportamento ou ação seja o foco central.
Bastos (1994) afirma que a avaliação do comprometimento não pode se
limitar à verbalizações dos indivíduos. O comprometimento organizacional deve ser
observado e medido a partir de comportamentos que vão além das expectativas
normatizadas pela organização para o indivíduo (SALANCIK, 1977). Ele emerge
quando o indivíduo se sente responsável pela ação e considera tal ação significativa,
achando que ela tem conseqüências importantes e se considera responsável por
tais conseqüências (BASTOS, 1994). Desta forma, a assiduidade, o tempo no
emprego e a qualidade adicional no desempenho da tarefas seriam alguns dos
indicadores utilizados para operacionalizar este construto.
60
No geral, observa-se que a abordagem atitudinal considera a importância das
atitudes comprometidas sobre o comportamento, enquanto na perspectiva
comportamental enfatiza-se a influência de comportamentos comprometidos sobre
as atitudes (MOWDAY; PORTER; STEERS,1982).
Ajzen e Fishbein(1975), através da Teoria da Ação Racional (TRA), criam
uma distinção entre atitudes para com objetos vistas como atitudes gerais e atitudes
em relação a comportamentos consideradas como atitudes específicas. Para as
autoras, as atitudes específicas deveriam influenciar a favorabilidade somente
direcionada a comportamento em particular. Sendo assim, para que haja uma forte
relação entre medidas de atitudes e comportamentos, deverá haver uma
compatibilidade ou congruência entre as medidas em termos de especificidade. Elas
definiram as atitudes como “uma predisposição aprendida para responder de
maneira consistente favorável ou desfavorávelmente, com respeito a um dado
objeto”.Neste sentido estas autoras destacam três fatores básicos: a) a atitude é
aprendida; b) a atitude predispõe a uma ação; c) essas ações são consistentemente
favoráveis ou desfavoráveis para com um objeto.
Ainda em clarificação ao conceito de atitude, Ajzen e Fishbein (1977)
sugerem que este conceito engloba noções de afeto, crenças, intenções e
comportamentos. O afeto refere-se aos sentimentos do indivíduo em direção a um
objeto, pessoa ou evento. O componente crença diz respeito à informação que a
pessoa tem sobre o objeto da atitude, vinculando um objeto a um atributo.A intenção
comportamental indica a probabilidade subjetiva de um sujeito desempenhar um
comportamento. Por fim, o comportamento refere-se ao que a pessoa efetivamente
realiza recorrendo a fatos observáveis. Esta abordagem considera o indivíduo como
um organismo essencialmente racional, que usa a informão disponível para fazer
julgamentos , avaliações e tomar decisões.
A atitude em relação a um objeto está associada a um conjunto de intenções
do indivíduo em desempenhar uma variedade de comportamentos em relação ao
objeto. As atitudes estão relacionadas a afetos associados a crenças, intenções e
comportamentos. Assim, comportamento específico é visto como determinado pela
intenção de a pessoa desempenhar um comportamento. O conteúdo de uma
intenção é determinado pelo comportamento que está para ser desempenhado.
61
Como visto até então, a retenção de talentos na organização adquire
importância singular, face o diferencial competitivo a estes relacionados no contexto
atual do mundo do trabalho. Mowday et al (1982) em seu clássico trabalho vincula o
comprometimento a três fatores: forte crença e aceitação dos objetivos e valores da
organização; disposição para exercer esforço considerável em benefício da
organização e a um forte desejo de se manter membro da mesma.
Atualmente, é importante tratar estes fatores de forma desvinculada. O fato de
uma pessoa gostar ou se sentir afetivamente ligada a uma organização, de ser
comprometido, pode não ser mais fator determinante de sua permanência na
mesma. A atitude de a pessoa permanecer na organização está mais fortemente
relacionada ao fato de a organização estar cumprindo o que foi acordado, não só do
ponto de vista contratual, como também do psicológico, ou seja, estar atendendo às
expectativas dos empregados, porpocionando-lhes oportunidades de exercerem
com plenitude suas habilidades profissionais e recompensando-os adequadamente
por isto.
Motta (2001), ao caracterizar estas transformações no mundo do trabalho,
expõe o dilema do comprometimento organizacional:
[...] antes exigia-se consentimento e lealdade e oferecia-se progresso
através da carreira. As exigências serão as mesmas, mas sem perspectivas
ou garantias de progresso. Sem garantia, lealdade e dedicação só a tarefa,
e não à empresa.[...] Restringem-se a lealdade e a possibilidade de
cooperação pela diminuição do sentido de pertencer – a ligação à empresa
será mais de natureza financeira.[...] Sem perspectiva dentro da mesma
empresa, a vida profissional será centrada no indivíduo (Ibid, 2001).
Embora considerando a perda da centralidade do trabalho e a fragilização dos
vínculos dos trabalhadores com a organização, para Motta (2001), no trânsito para o
futuro o maior desafio estará no reconhecimento de que a tecnologia será
insuficiente para lograr êxito. O sucesso dependerá de novos modelos
organizacionais e da satisfação integral das pessoas.
Neste mesmo sentido, Kanter (1997) já reconhecia que o cerne do problema
advém dos paradoxos criados pelas mudanças atuais aliadas à crença na
emergência de um novo contexto social no interior das organizações. A autora
enfatiza que estas alterações aumentam a importância do comprometimento
organizacional e que as mudanças também atuam no sentido de fragilizar o vínculo
do trabalhador com a empresa. Para Kanter, na organização tradicional o
62
compromisso baseava-se no vínculo entre uma pessoa e a empresa, enquanto na
nova organização caracteriza-se por laços mais frágeis com a empresa e ligações
mais fortes com a própria profissão ou equipe de projeto.
Diversos pesquisadores sugerem que o foco primordial de comprometimento
dos trabalhadores pode estar mudando das organizações para a carreira/profissão
(BLAU, 2003). Morrow (1993) aponta que especialistas em plano de carreira indicam
que existe uma tendência das pessoas trabalharem cada vez menos em uma
empresas ou ramo durante toda a sua vida profissional.
Kilimnik (2000) coloca que a aceleração das inovações tecnológicas, a
globalização da economia e agilização das comunicações vêm provocando uma
enorme turbulência no ambiente empresarial. Para as empresas, um dos reflexos
dessas mudanças tem sido o acirramento da concorrência que as leva a mudar suas
estratégias de negócio e suas formas de organização do trabalho. Para as pessoas,
os reflexos são mudanças revolucionárias no mundo do trabalho, caracterizadas
principalmente pela redução drástica nos empregos, que resultam na permanência
menos duradoura nos mesmos, na passagem por diversas empresas durante a
carreira e na transição para o trabalho autonômo ou terceirizado.
Para Rousseu e Arthur (1999), esta nova era “sem limites” significa empregos
e carreira desdobrando-se com o passar do tempo por muitas oportunidades de
carreiras e por muitas empresas empregadoras. Assim empresas e empregados
terão dificuldades em predizer com será sua relação futura.
Não obstante este novo contexto, Kanter (1997) acredita na possibilidade de
um contrato social, no qual as organizações se comprometem com um conjunto de
políticas de gestão de pessoas que dêem suporte ao crescimento profissional, ao
aprendizado contínuo, à criatividade, à inovação. Tal suporte representaria trocas
mais justas com os empregados, mesmo não tendo em vista a garantia da sua
retenção a longo prazo.
Para Kilimnik (2003), os momentos de transformação organizacional
constituem potencialmente uma oportunidade para reorganizar o trabalho de tal
forma que a qualidade de vida e a eficácia organizacional sejam melhoradas. As
organizações devem ser vistas como confiáveis. Sendo a credibilidade um fenômeno
percebido, as organizações devem revelar um caráter impecável pela adesão de
63
valores essenciais, exercitar a competência pela melhoria e pela inovação contínuas
em produtos e serviços, e sempre demonstrar cuidado pelas pessoas que fazem
tudo acontecer. Dessa forma, os talentos de que a organização tanto necessita,
terão motivos e condições para nela permanecer.
64
3 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
Este capítulo, que se divide em cinco partes, apresenta a delimitação do
objeto de estudo. Inicia-se com a caracterização, seguindo-se do histórico da
organização estudada. Em seguida, apresenta o sistema organizacional de gestão
de pessoas, o problema de pesquisa e, por fim, as hipóteses do trabalho.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO CAMPO
A organização, objeto deste estudo, atualmente, é integrante de uma
Companhia multinacional de origem norte-americana, líder em ciência e tecnologia
que desenvolve, fabrica e fornece produtos e serviços químicos, plásticos e para a
agricultura. Foi fundada em 1897 nos Estados Unidos, estando assim completando
110 anos de operação. Com vendas anuais de US$ 46 bilhões produz cerca de 3,3
mil produtos em 156 complexos industriais em 37 países, emprega
aproximadamente 42 mil pessoas globalmente, estando presente em mais de 180
países, com ampla participação em setores vitais para o progresso humano como
alimentação, transporte, saúde, medicina, cuidados pessoais e construção, dentre
outros.
No Brasil, a Companhia está presente desde 1956, com faturamento da
ordem de US$ 1.33 bilhão, conta com 2.000 funcionários e opera complexos
industriais localizados em Aratu e Camaçari (BA); Guarujá e Franco da Rocha (SP) e
fábricas sediadas em Cubatão, São Paulo, Jardinópolis, Jundiaí e
Pindamonhangaba (SP); Curitiba (PR) e o escritório central na cidade de São Paulo.
65
Suas operações e negócios concentram-se nas áreas de: Químicos;
Químicos Industriais; Petroquímicos, Polímeros em Emulsão; Plásticos de
Engenharia; Produtos Epóxi e Intermediários; Produtos Fabricados; Hidrocarbonetos
e Energia; Polímeros Especiais; Polietileno; Poliestireno; Poliuretanos e Sistemas de
Poliuretanos; Agro-negócios; Polímeros Solúveis em Água; Polipropileno; Derivados
de Óxidos; Automotiva, Novos Negócios em Químicos Especiais.
A Companhia tem como visão: “Ser a maior, mais lucrativa e mais respeitada
companhia química do mundo”, sendo sua missão: “Melhorar constantemente o que
é essencial ao progresso humano pelo domínio da ciência e da tecnologia”. Seus
valores essenciais são a Integridade e o Respeito às Pessoas (Dow. Intranet).
Desde 1968, a Companhia faz-se presente no cenário baiano. Naquele ano,
iniciaram-se suas atividades estabelecendo um escritório de vendas na Pituba,
Salvador. Hoje, conta com seis operações na Bahia: a mineração de sal na Ilha de
Matarandiba, o Complexo Industrial de Aratu, duas fábricas no Polo Petroquímico
de Camaçari , uma fábrica no Complexo Integrado Ford do Nordeste.
O Complexo Industrial de Aratu, o maior da Companhia no Brasil, iniciou
suas atividades em 1977, opera, além da unidade de Mineração de Salgema
localizada na ilha de Matarandiba, na Baía de Todos os Santos, as fábricas de Soda
Cáustica, Óxido de Propeno, Propilenoglicol, Solventes Clorados, Cellosize e um
terminal marítimo que movimenta cargas para o mercado local, Estados Unidos,
Ásia, Europa e América Latina.
Nestas unidades, localizadas no município de Candeias, a 60 km de Salvador,
são produzidos cloro (totalmente para consumo interno), soda cáustica (utilizada na
indústria de papel e celulose, têxtil, alumínio, sabão e detergente), óxido de propeno
(produção de polióis, poliglicóis e glicóis), propilenoglicol (indústria de cosméticos,
detergentes, tintas, têxtil, higiene pessoal) solventes clorados (segmento de limpeza
de metais, sendo amplamente utilizados pela indústria metalúrgica, indústria
mecânica e de componentes eletroeletrônicos). e Cellosize (espessante celulósico
para aplicação nos segmentos da construção civil e tintas )
Em 1987, a Companhia integra às suas operações na Bahia uma fábrica de
monômero de estireno localizada no Pólo Petroquímico de Camaçari. Estes produto
constitui-se em matéria – prima do poliestireno que é utilizado em vários mercados,
66
entre eles embalagens, produtos de consumo, aparelhos eletrônicos de
entretenimento e construção civil.
Em dezembro de 1997, a Companhia aliada à uma Companhia Petroquímica
Nacional, que produzia o TDI (DI-Isocianato de Tolueno) constituem uma “joint
venture” para a produção e comercialização do mesmo, criando uma nova
Companhia, a qual, em 2000, foi totalmente incorporada às suas operações. Esta
unidade constitui o campo deste estudo.
3.2 HISTÓRICO DA ORGANIZAÇÃO ESTUDADA
A organização estudada localiza-se no Complexo Petroquímico de Camaçari,
o qual foi inaugurado em 29 de junho de 1978, pelo então Presidente da República
Ernesto Geisel. A inauguração simultânea de 11 unidades petroquímicas de grande
porte constitui fato inédito, em todo o mundo, somente possível porque o Pólo
Petroquímico do Nordeste, graças a um planejamento centralizado e à prioridade
que lhe foi atribuída pelo Governo Federal, pode ser construído de uma só vez ,
grande e completo no curto prazo de apenas 5 anos .
Outra característica inovadora consiste no modelo tripartite de composição
acionária, adotada pela Petroquisa. Assim como regra, todas as unidades
integrantes do Complexo Básico eram constituídas pela associação conforme
modelo tripartite: da Petroquisa, subsidiária da Petrobras S A, do grupo privado
nacional e empresa multinacional detentora do “know how”.
A organização estudada faz parte do Complexo Petroquímico de Camaçari,
desde o seu início. Seu projeto iniciou-se em março de 1972 e suas operações
datam de 1979, com capacidade à época de 22.700 toneladas/ano, foi a pioneira na
produção do Tolueno Di- Isocianato (TDI) no Hemisfério Sul.
Atualmente, a unidade possui uma capacidade instalada de produção de
60.000 toneladas/ano de Tolueno Di-Isocianatos(TDI), capaz de abastecer toda a
indústria nacional de poliuretanos, e também fornecer ao mercado externo.
67
Combinados com polióis adequados, encontram aplicações em forma de
espumas de poliuretano flexíveis, rígidas, revestimentos (tintas e vernizes), adesivos
e elastômeros.
As espumas de poliuretano são consideradas o material mais satisfatório para
produção de colchões e móveis estofados bem com assentos para a indústria
automobilística, constituindo-se estes em seus principais consumidores.
No seu percurso histórico, a organização passou por diferentes composições
acionárias , como segue :
1972 - Dentro do modelo tripartite tinha como acionista a Petroquisa, um
grupo privado nacional, e uma empresa multinacional detentora do “know-how.”
1980 - O grupo privado nacional adquire a participação que a empresa
multinacional detinha no empreendimento, tornando-se seu maior acionista.
1983 - Ocorreu a fusão com outra empresa petroquímica do complexo,
pertencente ao mesmo grupo, dando início a uma nova organização que engloba as
duas unidades industriais.
1995 - O grupo privado nacional, através do programa nacional de
desestatização, adquire o controle acionário total da companhia.
1996 - O grupo controlador integra a administração como outra Companhia
Petroquímica da qual ele também detinha o controle acionário.
1998 - O grupo controlador forma uma joint-venture com a Companhia
multinacional para produção e comercialização de TDI
2000 - A Companhia passa a deter 100% do controle acionário da unidade
de TDI.
Vale ressaltar que desde a constituição da joint-venture em fevereiro de 1998,
a organização estudada passou a ser administrada pela Companhia, a qual
implantou todo o seu sistema de gestão empresarial, dentro do qual se inclui a
gestão de recursos humanos.
Observa-se que a exemplo do que aconteceu com inúmeras empresas no
Brasil e no mundo, na planta de TDI ocorreu uma mudança de propriedade,
conseqüentemente implicando em mudanças no estilo e sistema de gestão,
68
mudança na qualidade dos produtos e serviços ofertados e fundamentalmente uma
mudança na cultura organizacional.
Estas mudanças, que podemos vivenciar nos últimos 9 anos, foram velozes,
aceleradas, constantes, impondo sempre novos desafios a seus profissionais.
A população estudada é constituída por 103 empregados da planta de TDI,
estando assim distribuídos :
Tabela 1 – Distribuição dos Empregados na Organização
Cargo Masculino Feminino Total %
Administrativos
22 1
Técnicos
76 6 82 80
Esp/Líderes Funcionais
16 3 19 19
Total 92 11 103 100
Base: setembro -2006
3.3 PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS DE GESTÃO DE PESSOAS
2
A Companhia desenvolveu um sistema de Recursos Humanos, integrado e
baseado em competências ao qual se fará referência como PSS - People Success
System (Dow – Intranet).
A Companhia considera que “os funcionários são a fonte de nosso sucesso”,
No atual ambiente de negócios, é necessário investir no capital humano,
alavancando a habilidade de seus funcionários e estimulando a criatividade e
capacidade, para se manter competitivo no mercado. Assim, o PSS tem como
princípios:
Incentivo e respeito à diversidade de pensamento, estilo e habilidades,
Ênfase na remuneração por desempenho.
A crença de que os funcionários com carreiras de longo prazo contribuem com o
sucesso do negócio, em virtude de sua complexidade. Os funcionários trazem
69
uma vantagem competitiva e determinam como a Empresa se destaca, sendo
imperativo que esta ofereça um ambiente no qual seus funcionários vejam suas
carreiras como um desafio e estímulo.
Transparência - Os funcionários têm acesso aos Perfis de Competências, podem
se desenvolver de acordo com o plano de carreira que desejam e podem se
informar e candidatar-se à maioria das vagas disponíveis na Companhia. Os
funcionários têm acesso aos dados sobre o plano salarial, de modo que podem
compreender bem a relação entre os diversos cargos e suas remunerações.
O PSS tem por objetivos oferecer um sistema integrado de Recursos
Humanos, que apoie a estratégia da Companhia e possibilite a consolidação de uma
cultura necessária para o sucesso individual e dos negócios, dando suporte a:
Uma organização de negócios globais;
Funcionários autônomos que sabem o que fazer, como fazer e estão
motivados a fazê-lo;
Uma organização com um número menor de camadas hierárquicas que
possui uma maior rapidez na tomada de decisão;
Equipes auto-dirigidas;
A criação de uma força de trabalho disposta a enfrentar mudanças.
O PSS é formado por quatro componentes básicos: Expectativas de
Desempenho, Compensação, Desenvolvimento e Oportunidades os quais serão
apresentados a seguir:
Expectativas de Desempenho - Este componente ajuda os funcionários
entenderem o que se espera deles, o que eles devem fazer, quais são os
conhecimentos, habilidades e comportamentos necessários e como o seu trabalho
será avaliado. As respostas destas perguntas são o alicerce de todos os cargos e
papéis.
Na Companhia, os papéis estão distribuídos em quatro famílias de cargo :
Administrativo, Técnico / Tecnólogo, Especialista Funcional / Líder Funcional, Líder
70
Global. Cada uma das famílias de cargos requer conhecimentos, habilidades e
comportamentos distintos que definem o que se espera dos funcionários.
Competências globais: competência é a combinação de conhecimentos,
habilidades e comportamentos que são essenciais ao sucesso organizacional e
individual. A Companhia identificou oito competências globais além das
competências específicas de cada função.
Todos os funcionários, independentemente de sua família de cargo, devem
desenvolver estas competências: Iniciativa, inovação, eficácia interpessoal,
liderança, aprendizado, foco no mercado, trabalho em equipe, criação de valor.
As competências funcionais referem-se às habilidades e conhecimentos
específicos à função ou ao negócio, necessários para o sucesso nos papéis e
cargos atuais e futuros.
Embora todos os funcionários devam demonstrar essas competências, as
expectativas variam de acordo com as etapas de desenvolvimento e as famílias de
cargos. São quatro as etapas de desenvolvimento. Estas etapas descrevem como
os funcionários devem trabalhar e quais são as contribuições que eles deverão fazer
no decorrer do tempo:
Aquisição - Nesta etapa, os funcionários aprendem e demonstram
competências básicas, essenciais e funcionais. Espera-se que eles executem tarefas
bem definidas e detalhadas sob a direção e orientação de um líder.
Aplicação - Aqui, os funcionários aprofundam e aplicam as competências em
todos os projetos. Eles trabalham sozinhos e em equipe com projetos detalhados.
Os funcionários têm conhecimento profundo em áreas específicas e sabem como
aplicar este conhecimento com competência e coerência.
Alavancagem - Quando os funcionários se encontram na etapa de
alavancagem, eles ampliam suas competências em todas as unidades de negócio,
funções e/ou locais. Eles possuem habilidades para guiar, dirigir e orientar outros, e
trabalham em ambientes que ultrapassam os limites de funções, negócios ou áreas.
Visualização - Nesta etapa, os funcionários lideram tendo em mente a visão
do futuro da companhia. Eles são capazes de liderar organizações globais ao
71
assumirem a responsabilidade por estratégias futuras e metas organizacionais.
Criam vantagens competitivas, essenciais para desenvolver os mercados globais.
Gerenciamento do Desempenho - é um processo contínuo que consiste de
quatro etapas: Estabelecer metas, coletar dados(Input), avaliar os dados de
desempenho e fornecer coaching e feedback. Os líderes, coaches e mentores são
essenciais no gerenciamento de desempenho porque fornecem coaching e feedback
aos funcionários.
As etapas do gerenciamento de desempenho ocorrem durante o ano inteiro,
sendo que somente algumas etapas específicas ocorrem uma vez ao ano. Os
líderes e coaches devem estar sempre a par do desempenho dos funcionários e
atentos a todas as oportunidades em que possam oferecer o seu feedback ou
coaching. O gerenciamento de desempenho é uma responsabilidade contínua que
beneficia os funcionários, fornecem informações regularmente sobre o seu
desempenho que podem ser usadas de imediato. Os líderes ou coaches podem,
com isso, prevenir problemas ligados ao desempenho e ficam mais preparados para
fornecer o seu feedback em decisões formais relacionadas ao desempenho desse
funcionário.
Compensação - Este componente oferece os recursos, processos e
ferramentas para recompensar e reconhecer os funcionários de acordo com o seu
desempenho e suas contribuições ao sucesso da Companhia
Através do seu processo de pesquisa de mercado, a Companhia coleta dados
sobre a compensação oferecida por companhias de qualidade do mesmo segmento
de mercado, além de comparar a sua compensação oferecida às outras companhias
que não fazem parte diretamente da indústria, mas que concorrem pelos mesmos
talentos. Associando e correlacionando cuidadosamente os níveis de cargos e
postos destas companhias, a Companhia determina os seus programas de
compensação buscando garantir que eles sejam competitivos em relação ao
mercado.
Remuneração por desempenho - O princípio básico que norteia os programas
de compensação da Companhia é a remuneração por desempenho. Os líderes
recompensam os funcionários que apresentam desempenhos excelentes com
salários-base e/ou pay positions acima do mercado, o que, por sua vez, aumenta a
72
remuneração variável a que eles têm direito, já que a remuneração variável é
calculada a partir de uma porcentagem do salário-base. A remuneração variável
vincula o desempenho do funcionário ao sucesso da Companhia e Função ou
Negócio.
Para fins de pagamento da remuneração variável, a Companhia considera as
seguintes medidas:
A medida da Cia que reflete o seu desempenho em relação às metas
de lucro econômico.
A medida do negócio ou função, que reflete o desempenho do negócio
ou função do funcionário, tal como as medidas de Lucro Econômico do Negócio
ou de Satisfação do Cliente com a Função.
A medida individual e ou em equipe, que reflete o desempenho do
funcionário ou da sua equipe. Ela pode consistir de metas da equipe, tal como
desempenho de segurança ou metas individuais dos funcionários.
Programa de Compra de Ações - Quase todos os funcionários da Companhia
têm a oportunidade de, todos os anos, usar 10% do seu salário-base para comprar
ações com descontos significativos. O Programa de Incentivos de Longo Prazo
consiste de ações diferidas e opções de compra de ações, tendo sido concebido
como mecanismo de retenção.
Programa de Reconhecimento - Este programa tem por objetivo motivar os
funcionários a atingirem resultados que estejam alinhados com as estratégias da
Cia.
O programa é uma nova abordagem de reconhecimento, que visa a
demonstrar apreciação de forma pontual e pessoal.O programa é basicamente
centrado em um sistema de “Vales-Brindes”, que podem ser usados nos
estabelecimentos comerciais cadastrados, além de Cartões Eletrônicos de
reconhecimento.
Benefícios - A Cia oferece inúmeros benefícios, dos quais pode-se destacar:
Plano de Saúde - O plano de saúde oferece Assistência Médico-Hospitalar,
Odontológica, Psicológica e Reembolso de Medicamentos.
73
Plano de Previdência - A Cia patrocinou a criação de uma entidade fechada
de previdência privada, sem fins lucrativos, com o objetivo de conceder aos
funcionários benefícios suplementares aos da previdência social. Este plano é do
tipo "acumulação de capital", com contribuições do funcionário e da patrocinadora.
No momento da aposentadoria, o saldo da conta é transformado em benefício. Ao
valor colocado pelo funcionário a Cia participa com 1,5 vezes.
EAP - Programa de Assistência ao Empregado - Destinado a todos os
funcionários e dependentes diretos, e tem como objetivo oferecer bem-estar
emocional e condições para o melhor desempenho de suas atividades. Diante de
qualquer situação o Programa EAP está à disposição através de um serviço 0800,
que é atendido por profissionais competentes e capacitados a dar orientação sobre a
melhor forma de solucionar adequadamente suas dificuldades.Em hipótese alguma
os assuntos tratados pelo Programa EAP serão revelados a quem quer que seja,
nem mesmo para a Cia. A confidencialidade dos assuntos é o ponto chave deste
programa.
Além destes, a Cia também disponibiliza os seguintes benefícios: Seguro de
vida em grupo com coberturas adicionais em situações de acidentes,
complementação salarial aos empregados afastados por doença, adiantamento
salarial emergencial, assistência a dependentes especiais, licença por adoção,
prêmio por aposentadoria, prêmio por tempo de serviço, auxílio - creche; transporte,
alimentação.
A Companhia desenvolve vários programa voltados à conscientização para
melhoria da qualidade de vida e prevenção da saúde de seus funcionários
disponibilizando : massagens terapêuticas; orientação nutricional, orientação física,
subsídio para realização da prática de atividade físicas, dentre outros iniciativas.
Desenvolvimento - Este componente do PSS ajuda os funcionários a
planejarem as suas carreiras e a solidificarem as habilidades necessárias para o
cargo atual, assim como para o futuro.
Desenvolver significa, saber mais, ser capaz de fazer mais, para ter maiores
oportunidades. Por isso, o desenvolvimento eficaz dos funcionários é um fator muito
importante para o crescimento pessoal e o da Companhia.
74
Na filosofia do Desenvolvimento de Funcionários existem três expectativas a
respeito dos negócios e funcionários:
• A Cia tem a responsabilidade de fornecer os recursos e ferramentas
necessários para que seus funcionários se desenvolvam profissionalmente.
• Os funcionários da Cia têm a responsabilidade de usar estes recursos e
ferramentas no desenvolvimento de seus conhecimento e habilidades,
• Os líderes têm a responsabilidade de apoiar o desenvolvimento dos
funcionários e fornecer coaching e feedback contínuos aos seus funcionários.
O processo de desenvolvimento oferece aos funcionários a oportunidade de
gerenciar o próprio desenvolvimento. Ele abre novas possibilidades, estimulando os
funcionários a considerarem todas as opções disponíveis na Cia, a tomarem
decisões, a definirem metas, e a se prepararem para o futuro.
Todo funcionário tem seu Plano de Desenvolvimento (EDP) documentado, o
qual deve ser discutido, aprovado e revisado anualmente com a liderança.
A Cia disponibiliza as seguintes ferramentas de desenvolvimento:
Programa global de assistência educacional – Este programa tem por objetivo
apoiar, encorajar o aprendizado contínuo, oferecendo aos empregados a
oportunidade de continuarem sua educação; elevar a contribuição do empregado na
organização.
Através da participação no programa de assistência educacional, os
funcionários têm a oportunidade de freqüentar cursos externos que possam agregar
valor para a organização e que estejam relacionados com seu plano de
desenvolvimento pessoal. O programa cobre até 75% do valor do curso, dos
materiais didáticos usados em sala de aula (apostilas, livros, etc), e das taxas
suplementares (exemplo: matrícula, taxas de uso de laboratórios), que são exigidas
e utilizadas durante o curso.
Recursos globais de aprendizado - O método global de treinamento garante
que todos os funcionários, independentemente de sua localização, desenvolvam
conhecimentos, habilidades e comportamentos a partir do mesmo treinamento
básico. Esta uniformidade é importante aos Negócios e Funções da Cia por
75
aumentar a habilidade das equipes globais de aplicarem as capacidades comuns na
obtenção dos objetivos do Negócio ou Função.
Learn@... - Além dos workshops presenciais em sala de aula que a Cia tem
oferecido há anos, existe outra fonte através de módulos de treinamento disponíveis
na INTRAnet. Este treinamento online, de iniciativa do próprio indivíduo, traz muitas
vantagens aos funcionários. Ele é conveniente, muito fácil de usar, oferece uma
qualidade de ensino uniforme e está disponível 24 horas por dia, sete dias por
semana.
A Ferramenta de Desenvolvimento 360º - É uma ferramenta eletrônica ou
impressa, que foi concebida para coletar o feedback de várias fontes sobre as
competências globais e funcionais. Esta ferramenta resulta em um relatório de
desenvolvimento 360º que contém o resumo das competências, pontos fortes e
necessidades de desenvolvimento, fornecendo dados comparativos detalhados e
sugestões de aperfeiçoamento.
Mentoring - O processo de ter um mentor é iniciado pelos funcionários e pode
ser usado por todos. Os funcionários aprendem com seus mentores e ganham uma
nova perspectiva dos seus postos e ambientes de trabalho. Os mentores oferecem
informações, apoio e coaching e agem como modelo, além de ajudarem os
funcionários a se desenvolverem profissionalmente.
Oportunidades - É o componente do People Success que fornece os
processos, recursos e ferramentas para ajudar os funcionários a lidar com as
oportunidades e fases de transição que eles têm que enfrentar ao longo de suas
carreiras. Os funcionários usam este componente durante toda a sua carreira:
mudanças de cargos, possíveis transferências e até o momento inevitável do
desligamento da Companhia.
Planejamento estratégico de RH: A Cia entende que o primeiro passo para
conquistar e reter talentos é planejar e analisar, os recursos humanos necessários
para alcançar os objetivos dos negócios. Desta forma, a Cia pode sempre obter os
talentos mais adequados para o futuro e não somente os melhores candidatos
disponíveis para uma vaga.
Os processos de seleção são desenvolvidos com este objetivos e levam em
consideração os seguintes requisitos:
76
• Tolerância a ambigüidades, mudanças e riscos.
• Demonstração de níveis elevados das competências globais e funcionais.
• Fortes habilidades intelectuais e de raciocínio crítico.
• Experiências e perspectivas diferentes.
• Desejo de crescer e de se desenvolver
Retenção de talentos - A Cia preocupa-se em reter os seus talentos,
considerando as pessoas como diferencial competitivo. É essencial, portanto, que a
Cia ofereça aos funcionários e potenciais o que eles esperam de um empregador.
A Proposta de Valor para Conquistar e Reter os Melhores Talentos oferece seis
dimensões:
1. Trabalho desafiador e interessante.
2. Amplos recursos para o desenvolvimento pessoal.
3. Autonomia, que consiste de dois sub-componentes: Liberdade para realizar
o trabalho (a organização mais plana permite um controle mais amplo)
Empowerment: a capacidade para gerenciar sua carreira.
4. Trabalhar com pessoas extraordinárias, tanto colegas quanto líderes.
5. Remuneração competitiva.
6. Escopo e alcance globais.
Sistema de Anúncio de Cargos em Aberto (JAS) - O Sistema de Anúncio de
Cargos em Aberto (JAS) é uma ferramenta eletrônica que permite que os
funcionários de todas as unidades da Cia no mundo inteiro vejam quais são os
cargos em aberto e possam se candidatar a eles. Este sistema também é uma das
razões pelas quais a Cia é considerada uma das companhias mais abertas e
flexíveis no mundo.
Planejamento da Sucessão e Processo para Futuros Líderes - O
Planejamento da Sucessão e o Processo para Futuros Líderes são os meios pelos
quais os funcionários são preparados para ocupar os principais cargos da
Companhia. Eles garantem que não haja uma perda de continuidade quando uma
transição ocorre. Os futuros líderes são identificados segundo as suas principais
competências, e são desenvolvidos de acordo as mesmas.
77
Desligamento - O processo de separação é muito importante, porque fornece
informações à Cia sobre as razões que motivam os funcionários a se desligarem da
mesma. A Cia utiliza estas informações para ajudar a solidificar o seu processo de
contratação e a retenção de funcionários. Também é importante para os
funcionários, porque garante que todas as etapas necessárias sejam executadas
para que eles recebam os benefícios e suporte adequados, após o seu
desligamento.
Programas de Estágio - A Cia desenvolve programa de estágio em diversas
áreas os quais têm por objetivo proporcionar ao estagiário atividades de
aprendizagem profissional, social e cultural compatíveis com a sua formação
acadêmica e proporcionar condições de treinamento prático, de relacionamento
interpessoal e trabalho em equipe.
Ao se analisar as práticas de gestão de recursos humanos da organização,
observa-se que estas podem ser consideradas como de vanguarda que respondem
às demandas atuais do mundo competitivo em que vivemos. Observa-se também a
presença do modelo híbrido de gestão conforme o preconizado por Rousseau e
Arthur (1999).
3.4 AVALIAÇÃO DE PERFORMANCE ORGANIZACIONAL
Desde 1994, a Companhia realiza uma Pesquisa Global de Opinião dos
Empregados – GEOAS, definida como medida de performance organizacional
através da opinião dos empregados, possibilitando o monitoramento do nível de
satisfação geral dos mesmos.
Vários itens pesquisados no GEOAS são comparados externamente com
resultados de outras companhias que conduzem pesquisas semelhantes.
Para assegurar a completa confidencialidade, esta pesquisa é conduzida por
uma instituição externa. Inicialmente anual e por amostragem,em 2002 o GEOAS foi
re-desenhado, passando a ser realizado a cada dois anos e abrangendo todos os
empregados .
78
No item satisfação geral medido pelo GEOAS, a unidade, objeto deste estudo,
obteve uma média de 82,6% considerando as cinco últimas avaliações.
Em 2006, foi acrescentado um item que se refere à intenção de permanência
avaliada através da seguinte questão: “Se lhe fosse oferecido uma posição
comparável com salário e benefícios similares em outra companhia , você ficaria na
organização?” Os resultados indicaram que 80% dos funcionários da organização
responderam de forma favorável,12% manifestaram-se neutros e 8% responderam
desfavoravelmente.
Por dez anos consecutivos, a Cia encontra-se presente no Guia EXAME-
VOCÊ SA - As Melhores Empresas para Você Trabalhar no Brasil, a maior pesquisa
de clima organizacional realizada no Brasil pela Revista Exame com a assessoria do
Great Place to Work. Além da Cia só mais duas empresas no Brasil de diferentes
segmentos estiveram presentes no Guia em todas as suas edições.
Observa-se, de acordo com os instrumentos de avaliação internos e externos,
anteriormente citados, referentes ao acompanhamento e avaliação das práticas de
gestão de pessoas e nível de satisfação expressos pelos empregados, que a Cia
vem apresentado expressivos resultados, os quais foram ratificados empiricamente
pelo baixo índice de turnover voluntário da organização.
A oportunidade de aprofundar o entendimento destes resultados,buscando
identificar a natureza dos motivos (dimensão do comprometimento) que fazem com
que as pessoas permaneçam na mesma, constituem o elemento propulsor deste
trabalho.
3.5 PROBLEMA DE PESQUISA
Conforme diversos estudos já empreendidos, vimos que o comprometimento
organizacional dos indivíduos tem como conseqüência, entre outras, a permanência
dos mesmos nas organizações. Para atingir e garantir o sucesso, as empresas
deverão atrair e reter pessoas comprometidas e de talentos que precisam hoje e no
79
futuro. Para isto, é necessário oferecer uma proposição expressiva e comunicá-la de
maneira efetiva para os seus empregados.
Embora com objetivos semelhantes, as estratégias gerenciais variam entre as
organizações, do mesmo modo que as percepções, necessidades e expectativas
diferem de indivíduo para indivíduo. Contextualizando estas premissas, têm-se as
pessoas consideradas como diferencial competitivo que possuem vários níveis de
percepção quanto às iniciativas empresariais.
Dito isso, o objeto de estudo para essa pesquisa foi delineado para entender
a natureza dos motivos que fazem com que as pessoas permaneçam na
organização estudada. Como objetivo temos a identificação de fatores que
influenciam, de forma determinante no comprometimento organizacional, e nas
razões pelas quais os indivíduos permanecem na organização estudada.
Especificamente, como problema de pesquisa propomos:
Existe relação entre a percepção dos empregados quanto às práticas de
gestão de pessoas da organização, a dimensão de comprometimento organizacional
prodominante e a intenção de permanência destes na organização?
3.6 HIPÓTESES
De acordo com Kerlinger (1980), as hipóteses são enunciados conjecturais
que são testadas na pesquisa.
As hipóteses são meios especialmente potentes para preencher
objetivamente as lacunas entre uma crença pessoal e a realidade empírica; sendo
também ferramentas para testar a realidade e podem ser mostradas como
provavelmente corretas ou incorretas independente do pesquisador.
Nesta pesquisa, as hipóteses são deduzidas dos modelos de Meyer e Allen
(1997) e Rousseau e Arthur (1999) os quais basicamente se constituem no suporte
teórico deste estudo e foram formuladas conforme a seguir :
H1 – Quando a percepção dos empregados em relação às práticas de gestão
se aproxima do modelo Agency, há uma maior intensidade do comprometimento
organizacional de base instrumental.
80
H2 – Quando a percepção dos empregados em relação às práticas de gestão
se aproxima do modelo Community há uma maior intensidade do comprometimento
organizacional de base afetiva e normativa.
H3 – Quando há um alto nível de comprometimento organizacional de base
afetiva e normativa, há uma maior intenção de permanência dos empregados na
organização.
H4 – Quando há uma maior percepção dos empregados de que os elementos
community predominam nas práticas de gestão, há uma maior intenção de
permanência dos empregados na organização.
A figura a seguir demonstra o modelo hipotético de análise proposto para este
estudo.
Figura 02: Modelo Hipotético de Análise
Fonte: Elaborado pela autora da dissertação.
Percepção Práticas de Gestão
Agency & Community
Comprometimento
Bases Afetiva e
Normativo
Permanência na
organização
H4
H3
H2
H1
Comprometimento
Base Instrumental
81
4 DELIMITAÇÃO METODOLÓGICA
Este capítulo aborda a metodologia de pesquisa utilizada, subdividindo-se em
seis partes. A primeira parte apresenta o tipo de pesquisa realizado, na segunda
parte delimita-se o campo e universo da pesquisa. Em seguida, são apresentados
os procedimentos para coleta dos dados. Na quarta parte, são descritos os
instrumentos de coleta de dados. A quinta parte expõe o tratamento dos dados no
que se refere à normalidade, “outliers” e “ missing values”.
4.1 TIPO DE PESQUISA
Este trabalho caracteriza-se como um estudo de caso, por ser o mesmo
baseado na realidade de uma única organização, o que permite também caracterizá-
lo como uma pesquisa de campo (VERGARA, 2000).
Utilizando o método hipotético-dedutivo, este estudo baseou-se na coleta
(através de questionário estruturado) e análise dos dados para investigar a
existência de relações entre as variáveis pré-definidas. Quanto aos dados
secundários estes foram obtidos através de uma revisão documental dos programas
e políticas de recursos humanos da Cia disponíveis na sua Intranet.
De acordo com a taxinomia proposta por Vergara (2000), esta pesquisa
também pode ser classificada como descritiva, por apresentar as características da
população estudada e buscar a identificação e o estabelecimento de relação entre
as variáveis relacionadas às dimensões do comprometimento, à percepção das
práticas de gestão de pessoas e a permanência dos empregados na organização.
82
4.2 DELIMITAÇÃO GEOGRÁFICA E UNIVERSO DA PESQUISA
A organização estudada, apresentada no terceiro capítulo é uma empresa
petroquímica, integrante de uma corporação global, localizada no Complexo
Petroquímico de Camaçari, no município de Camaçari, Bahia. A pesquisa abrangeu
os empregados da organização, constituindo seu universo o total de 103
empregados.
Apesar do instrumento de coleta de dados ser longo, o índice de respostas
obtido foi na ordem de 81% do universo pesquisado, o que é considerado como
representativo, com erro padrão de 0,0466 para 95% de confiança.
4.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados através de questionários auto-aplicáveis, que
foram impressos e endereçados individualmente a cada um dos empregados no seu
local de trabalho. O questionário foi acompanhando de uma carta da pesquisadora
na qual foi explicado o objetivo da pesquisa e solicitada a participação do
respondente, deixando claro, entretanto, ser esta participação opcional. Anexo ao
questionário, enviou-se um envelope já subscrito em nome da pesquisadora para
devolução dos questionários preenchidos. A coleta dos dados foi realizada no
período de 10 a 24 de novembro de 2006
Embora a organização disponha de recursos que possibilitavam a coleta de
dados eletronicamente, optou-se pela modalidade tradicional, no sentido de
minimizar o risco de falta de contato direto com a pesquisadora, bem como
assegurar aos respondentes a confidencialidade do processo, uma vez ser a
pesquisadora integrante do Departamento de Recursos Humanos da unidade.
83
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
O questionário de pesquisa, apresentado no Apêndice A, foi composto por
quatro conjuntos de instrumentos de mensuração: o primeiro conjunto refere-se à
percepção das práticas de gestão de pessoas; o segundo refere-se à relação com a
organização, no qual se apresentam as questões referentes ao comprometimento
organizacional; no terceiro aborda-se os fatores referentes a intenção de
permanência e no quarto, obtêm-se os dados pessoais e funcionais que
caracterizam os respondentes.
Nos dois primeiros conjuntos foi solicitado que os itens fossem avaliados de
acordo com a escala Likert de 7 pontos, na qual o grau de concordância do
respondente com o item podia variar do discordo plenamente ao concordo
plenamente. No terceiro conjunto, a escala, utilizada para medir a intensidade do
vínculo, segue o mesmo padrão dos demais conjuntos, apresentando igualmente
sete pontos, porém a disposição espacial da escala, ao invés de utilizar o modelo
Likert, foi projetada entre duas possibilidades de adoção de uma postura perante a
situação de forma que o respondente situasse sua resposta num contínuo de sete
alternativas que tenderiam mais para uma ou outra postura. Esta escala se aproxima
mais do modelo de escala de diferencial semântico (OSGOOD; SUCI;
TANNENBAUM, 1957 apud MENEZES, 2006).
No que se refere ao motivo da decisão, buscou-se investigar se o peso da
decisão tenderia mais para razões emocionais (base afetiva/normativa) ou para
recompensas e custos associados à permanência na organização (base
instrumental).
Para mensuração da percepção das práticas de gestão de pessoas foi
utilizada a escala de diagnóstico desenvolvida e validada por (GRANGEIRO, 2006).
Esta escala possui 34 itens que se referem às dimensões dos construtos
agency e community. Estes construtos descrevem formas de relações entre a
organização e seus trabalhadores no que se refere: à cooperação; ao
estabelecimento de vínculos, aos valores decorrentes da cultura organizacional, aos
processos de admissão e desligamento, ao treinamento & desenvolvimento, à
84
avaliação de desempenho, ao gerenciamento de carreira, às recompensas e
benefícios, ao suporte social.
Em ambos os modelos, os princípios se referem a relações, vínculos e
valores enquanto as práticas se referem aos processo de admissão e desligamento,
treinamento & desenvolvimento, avaliação de desempenho, carreira, recompensas e
benefícios, suporte social.
Os quadros de nº 06 e 07, a seguir, apresentam os fatores referentes aos
princípios e práticas que se associam aos construtos agency e community avaliados
nesta pesquisa.
Quadro 06 - Itens que descrevem Princípios e Práticas do construto Community
Fatores Especificações
Princípios Suporte mútuo, interdependência, cooperação e adaptação coletiva ao ambiente ,
criação de redes dentro da organização, comprometimento, civismo, coletivismo,
afiliação, estímulo ao intercâmbio.
Práticas Construir relações; colaborar no processo de desenvolvimento integral da pessoa;
socializar; produtos grupais (equipe); plano de carreira interno; mobilidade interna;
uniformidade; suporte para o bem-estar pessoal e familiar; procedimentos justos;
suporte para a transição.
Fonte : Grangeiro ( 2006 )
Quadro 07 - Itens que descrevem Princípios e Práticas do construto Agency
Fatores Especificações
Princípios Defesa de interesse de cada parte (pessoas, grupos, firmas, acionistas); criação de
redes fora da organização; vínculos descartáveis, estritamente profissional; valores
de individualismo, autonomia, auto-regulação.
Práticas Recrutar e orientar; treinar e qualificar para o desempenho de tarefas; avaliar o
desempenho a partir de produtos individuais; Empregabilidade como
responsabilidade do trabalhador e carreiras ´sem fronteiras´; recompensas e
benefícios diferenciados; suporte social de responsabilidade do trabalhador;
processo de desligamento atende unicamente a aspectos legais.
Fonte : Grangeiro (2006)
Os quadros de nos 08 a 11, a seguir, especificam as variáveis mensuradas
referentes ao princípios e práticas de cada modelo :
85
Quadro 08 - Variáveis mensuradas relativas aos Princípios Community
01 Estimular a cooperação entre os trabalhadores.
03 Preocupar-se com o trabalhador em todas as dimensões.
06 Estimular o trabalho em equipe com troca de conhecimentos e aprendizagens.
11 Fortalecer o vínculo de comprometimento do trabalhador com a organização.
16 Preocupar-se em manter os seus colaboradores.
20 Estimular a criação de redes interpessoais no seu interior.
25 Estimular o suporte mútuo entre os trabalhadores.
28 Estabelecer vínculos com o trabalhador que possam ser duradouros.
32
Estimular a comunicação, ampliando as trocas de experiências e aprendizagens entre os
trabalhadores.
Fonte : Grangeiro (2006)
Quadro 09 - Variáveis mensuradas relativas às Práticas Community
05 Oferecer oportunidades internas de crescimento na carreira.
08 Oferecer suporte para a recolocação das pessoas que deixam a organização.
09 Recompensar o trabalhador a partir do desempenho coletivo.
13 Assegurar recursos para o bem-estar pessoal e familiar do trabalhador.
18
Favorecer a socialização que fortaleça a identificação do trabalhador com a cultura
organizacional.
21 Criar mecanismos para integrar os seus trabalhadores à organanização.
23 Valorizar o intercâmbio de experiências e aprendizagens entre os trabalhadores.
30
Nos processos de seleção, valorizar a congruência entre valores pessoais e
organizacionais.
31
Oferecer apoio para que as pessoas fortaleçam sua capacidade de responder às
transformações no trabalho.
Fonte : Grangeiro (2006)
86
Quadro 10 - Variáveis mensuradas relativas aos Princípios Agency
07 Considerar que o vínculo com o trabalhador pode ser rompido a qualquer instante.
10 Considerar natural que seus empregados protejam e defendam seus próprios interesses.
12
Oferecer alto grau de liberdade para o trabalhador, permitindo que ele expresse sua forma
peculiar de desempenhar o trabalho.
15 Valorizar o trabalhador que trata o seu emprego como se fosse um negócio próprio.
22 Estimular algum nível de competição para melhorar o desempenho dos trabalhadores.
26 Incentivar que o trabalhador construa redes fora da organização para assegurar novas
oportunidades de trabalho.
27 Reconhecer que os trabalhadores devem agir para afirmar os seus interesses pessoais.
Fonte : Grangeiro (2006)
Quadro 11 - Variáveis mensuradas relativas aos Práticas Agency
02 Recompensar diferencialmente o trabalhador pelo seu desempenho individual.
04 Priorizar as ações de recrutamento e seleção pela transitoriedade dos contratos de trabalho.
14 Enfatizar aqueles treinamentos voltados para o desempenho das tarefas do trabalho.
17 Deixar para o trabalhador aresponsabilidade por manter a sua empregabilidade.
19 Cumprir apenas as exigências legais por ocasião do término do contrato.
24 Recompensar diferencialmente os trabalhadores que sejam mais empreendedores.
29 Nas ações de Qualificação, priorizar o preparo para as tarefas a ele confiadas.
33 Estimular o trabalhador a participar da elaboração do desenho do seu cargo.
34
Oferecer aos trabalhadores oportunidades de construir competências necessárias para o
desenvolvimento de carreiras futuras mesmo fora da organização.
Fonte : Grangeiro (2006)
Para mensurar a relação com a organização utilizamos a escala de
comprometimento organizacional proposta por Meyer; Allen e Smith, validada no
Brasil por Medeiros (1997) e Ricco (1998 ).
Adotando o enfoque multidimensional do comprometimento organizacional, o
instrumento aborda o comprometimento organizacional em sua tridimensionalidade,
conforme os quadros 12, 13 e 14.
87
Quadro 12 - Indicadores de Comprometimento Afetivo
1 Eu seria muito feliz em dedicar o resto de minha carreira nesta organização.
2 Eu realmente sinto os problemas da organização como se fossem meus.
3 Eu não sinto um forte senso de integração com minha organização. *
4 Eu não me sinto emocionalmente vinculado a esta organização.*
5 Eu não me sinto como uma pessoa de casa na minha organização.*
6 Esta organização tem um imenso significado pessoal para mim.
Fonte: Meyer; Allen; Smith (1991).
Quadro 13 - Indicadores de Comprometimento Instrumental
7 Na situação atual, ficar com minha organização é na realidade uma necessidade tanto
quanto um desejo.
8 Mesmo que eu quisesse, seria muito difícil,para mim, deixar minha organização agora.
9
Se eu decidisse deixar minha organização agora, minha vida ficaria bastante
desestruturada.
10 Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse esta organização.
11
Se eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização eu poderia considera trabalhar
em outro lugar.
12
Uma das poucas consequências negativas de deixar esta organização seria a escassez de
alternativas imediatas.
Fonte: Meyer; Allen; Smith (1991).
Quadro 14 - Indicadores de Comprometimento Normativo
13 Eu não sinto nenhuma obrigação de permanecer na minha organização.*
14
Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar minha organização
agora.
15 Eu me sentiria culpado se deixasse minha organização agora.
16 Esta organização merece minha lealdade.
17
Eu não deixaria minha organização agora porque eu tenho uma obrigação moral com as
pessoas daqui.
18 Eu devo muito a minha organização.
Fonte: Meyer; Allen; Smith (1991)
Os indicadores que apresentam um (*) no final possuem um valor invertido no
sentido da frase e, portanto, deve-se interpretá-lo observando este detalhe.
88
A mensuração dos fatores de permanência compreende cinco questões
extraídas de escalas utilizadas anteriormente por Bastos, orientador deste trabalho,
e por Menezes (2006).
Para avaliação da intenção de permanência na organização e dos motivos
que a justificam foram apresentadas situações fictícias, perante as quais o
respondente deveria se posicionar quanto à iniciativa em permanecer na
organização atual ou mudar para outra empresa. Após a opção, caberia ao
respondente indicar a importância dos motivos que justificam sua opção.
No quadro a seguir apresentamos as questões utilizados para a avaliação da
intenção de permanência.
Quadro 15 – Itens de Avaliação da Intenção de Permanência
01
Suponha que você tenha trabalhado anteriormente em uma organização da qual saiu por
escolha própria para trabalhar na organização onde trabalha atualmente. Perante a
possibilidade de retorno à organização anterior que, por sua vez, oferece as mesmas
condições de trabalho da organização atual, o que você faria?
02
Uma nova organização, de mesmo porte e atuante na mesma área da organização em que
você atua, está precisando de trabalhadores e lhe oferece uma proposta de trabalho. O que
você faria?
03
Uma empresa de mesmo porte que a sua, mas que possui um plano de ascensão funcional
superior lhe oferece uma oportunidade de trabalho. O que você faria ?
04
Imagine que você recebe uma proposta de trabalho de outra organização de menor porte do
que a sua, mas que oferece um salário significativamente superior ao que você recebe na
organização em que trabalha atualmente. O que você faria?
05
Você soube que uma nova empresa, de maior porte do que a sua, atuante na mesma área
da organização onde você trabalha e que oferece condições de trabalho equivalentes à sua
está precisando de trabalhadores. Diante dessa informação, o que você faria?
Fonte : Menezes (2006)
Para avaliação da justificativa dos motivos em relação à opção anterior foi
solicitado aos respondentes que indicassem a importância dos motivos que
justificavam a opção escolhida.
Quadro 16 – Importância dos motivos que justificam a Intenção de Permanência
Motivos Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
Fonte: Menezes (2006).
89
O quarto conjunto abrangeu as variáveis de caracterização pessoais e
funcionais: sexo, estado civil, idade, escolaridade, nível de renda, tempo de serviço
na empresa e família de cargo, conforme apresentado no quadro 17 a seguir:
Quadro 17 - Dados demográficos
Idade: _____anos
Tempo de serviço
na organização:
----------------
(Ano de Admissão)
Sexo:
Masculino
Feminino
Estado Civil:
Solteiro (a)
Casado (a)
Divorciado
(a)
Outro
Escolaridade:
Nível médio completo
Nível superior incompleto
Nível superior completo
Pós –graduado
Família de cargo:
Adm - Administrativo
Tech - Técnico
Fs/Fl - Especialista Funcional
Nível de Renda:
Até R$ 1.750,00
De R$ 1751,00 A R$ 3.500,00
De R$ 3.501,00 A R$ 5.250,00
De R$ 5.251,00 A R 7.000,00
De R$ 7.001,00 A R$ 8.750,00
De R$ 8.750,00 A R10.500,00
Acima de R$ 10.500,00
4.5 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS
Para o tratamento dos dados (processamento e análise) foi utilizado o
software SPSS – Statistical Package for Social Science – versão 13.0. Inicialmente,
procedeu-se à codificação das respostas, a preparação do banco de dados e a
digitação dos dados coletados. Em seguida foi realização uma conferência, por
amostragem, numa abrangência de 10% dos dados digitados.
Conforme preconizado por Hair, Anderson e Tatham (1998), antes de iniciar
as análises multivariadas deve-se proceder a uma análise minunciosa dos dados
coletados, com o objetivo de avaliar a presença de três aspectos os quais podem vir
a interferir nos resultados: a presença de “missing values”, a identificação e retirada
dos “outliers” e a avaliação da normalidade dos dados.
Os “missing values” referem-se a informações não disponíveis para um
caso/sujeito, objeto de estudo, onde outras variáveis foram coletadas. Foi
90
observada a presença de “missing values” referentes a alguns dados pesquisados,
os quais foram excluídos, utilizando apenas as informações válidas dos
respondentes.
Considera-se a presença de “outliers” como inerente às análises
multivariadas. “Outliers” referem-se a observações que se apresentam diferentes
das demais observações e que podem distorcer os resultados estatísticos obtidos.
Neste sentido foram excluídos os “outliers”.
Procedeu-se à recodificação dos agrupamento das variáveis demográficas
relativas ao estado civil, escolaridade e nível de renda para garantir uma distribuição
de freqüência mais significativa, bem como a inversão dos itens que apresentavam
sentido negativo para efeitos de criação dos escores das variáveis centrais da
pesquisa.
Após composição do banco de dados, foram realizadas análises estatísticas
de cunho descritivo, correlacional e testes de diferenças de médias através da
análise de variância. Análises de regressões múltiplas foram utilizadas para
identificar os preditores da intenção de permanência. A partir dos itens das escalas
foram criadas as variáveis do estudo, conforme apresentadas no quadro 19 a seguir:
Quadro 18 – Variáveis Centrais das Pesquisa
Variável Significado
Real Agency Percepção dos empregados em relação à presença na organização
das práticas de gestão que se aproximam do modelo Agency.
Real Community Percepção dos empregados em relação a presença na organização
das práticas de gestão que se aproximam do modelo Community.
Bases de
Comprometimento
Tipologia utilizada por Meyer e Allen: Comprometimento Afetivo;
Comprometimento Instrumental e Comprometimento Normativo.
Intenção de Permanência Grau de intenção de permanência dos respondentes em relação à
organização.
Dados Demográficos
Idade, sexo, estado civil, escolaridade.
Dados Funcionais
Tempo de serviço, família de cargo, nível de renda.
Fonte : Elaborado pela autora da dissertação.
91
Para fins de quantificação dos níveis das variáveis, considerando as escala
likert de sete pontos utilizadas, foram adotados os seguinte critérios :
Quadro 19 – Classificação dos níveis das variáveis
Escore da escala Likert Classificação do Nível
Até 4 Baixo
> 4 até 5 Médio
> 5 até 6 Alto
> 6 até 7 Muito Alto
Fonte : Elaborado pela autora da dissertação.
92
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, são apresentadas as análises dos dados e discussão dos
resultados obtidos com base nos fundamentos teóricos anteriormente apresentados
e do contexto onde estes foram obtidos. Este capítulo divide-se em seis partes.
De início, apresenta-se a caracterização de amostra quanto às variáveis
pessoais e funcionais. Em seguida, são descritos os resultados relativos à
percepção dos empregados quanto às práticas e políticas de gestão da organização,
explorando possíveis associações com as variáveis de caracterização.
Na terceira parte, os resultados relativos às bases de comprometimento e
suas relações com estas mesmas variáveis de caracterização são apresentados.
Depois apresentam-se os padrões de comprometimento obtidos através da análise
de “clusters”.
Em seguida, apresentam-se os dados encontrados quanto à intenção de
permanência relacionando-os aos motivos que a justificam, com as bases e padrões
de comprometimento e com as variáveis de caracterização.Por fim, as relações entre
a percepção das práticas de gestão, bases de comprometimento e intenção de
permanência, que são as variáveis centrais da pesquisa, são analisadas.
5.1 PERFIL DE CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO ESTUDADA
Para fins de caracterização da população estudada e posterior
estabelecimento de associações com a percepção das práticas de gestão, bases de
comprometimento e intenção de permanência, foram estabelecidos dois grupos de
variáveis: pessoais referindo-se a sexo, estado civil, faixa etária e escolaridade e
93
funcionais relativas à família de cargo, nível de renda e tempo de serviço na
empresa.
A análise das características pessoais da população pesquisada (vide Tabela
2) demonstra uma expressiva predominância do sexo masculino (87,7%). Em
relação ao estado civil, 78,8 % dos respondentes são casados. Quanto à faixa
etária, 67,9% apresentam idade superior aos 40 anos. No que se refere à
escolaridade, 33,8 % apresentam nível médio completo, 30% apresentam nível
superior incompleto, 36,2% têm o nível superior completo, incluindo-se os pós-
graduados.
Tabela 2 – Distribuição da amostra por variáveis de características pessoais
Características Pessoais N %
Sexo
Masculino 71 87,7
Feminino 10 12,3
Idade
Até 30 anos 11 14,1
De 31 a 40 anos 14 18,0
De 41 a 45 anos 21 26,92
De 46 a 50 anos 15 19,23
Acima de 50 anos 17 21,8
Estado Civil
Casado 63 78,8
Outros 17 21,3
Escolaridade
Nível medio completo 27 33,8
Nível superior incompleto 24 30,0
Nível superior completo 29 36,2
Fonte: Autora
94
As características pessoais são compatíveis com o perfil da organização
estudada, empresa petroquímica, intensiva em capital e tecnologia, onde a maior
predominância da mão de obra é da área técnica, tendo como requisito básico a
formação técnica profissionalizante correspondente ao nível médio completo.Não
obstante esta condição observa-se que 30% dos respondentes apresentam nível
superior incompleto, o que pode se associar ao incentivo da empresa para que seus
empregados busquem seu desenvolvimento pessoal e profissional. Este incentivo se
efetiva através de subsídios a cursos de graduação universitária, pós-graduação dentre
outros.
No que se refere à prevalência do gênero masculino (87,7%), esta pode ser
explicada pelas características da operação industrial, na qual, até bem pouco tempo
não admitia mulheres para exercer determinadas atividades. A organização estudada foi
uma das pioneiras a quebrar este paradigma no Complexo Industrial de Camaçari, ao
proceder a contratação de mulheres para o papel de técnico de operação, trabalhando
em regime de turno.
Quanto às características funcionais (vide Tabela 3), verifica-se que 71,2% fazem
parte da família de cargos técnicos, 26,3% compõem o grupo de especialistas
funcionais e 2,5% são da família de cargos administrativos. A distribuição por cargos é
compatível com o tipo de operação da empresa, bem como com a escolaridade
apresentada.
No nível de renda, que se refere aos proventos recebidos, há predominância na
faixa entre R$ 3.501,00 a R$ 5.250,00 com 42,5% da população, dado condizente com
o sistema de remuneração dos técnicos que, ao atuarem em regime de turno, percebem
adicionais diferenciados.
Em relação ao tempo de serviço, verifica-se que 51,3% dos respondentes
possuem mais de 16 anos de serviço na organização. Este é um dado relevante
para este estudo, pois sugere um indicador do baixo “turnover” ou rotatividade
organizacional voluntário. O número de empregados com até 5 anos de serviço na
empresa indica um processo de renovação do quadro funcional.
95
Tabela 3 - Distribuição da amostra por variáveis de características funcionais
Características Pessoais N %
Família de Cargo
Administrativo 2 2,5
Técnico 57 71,2
Especialista Funcional 21 26,3
Nível de Renda
De R$ 1.750,00 a R$ 3.500,00 16 20,0
De R$ 3.501, 00 a R$ 5.250,00 34 42,5
De R$ 5.251,00 a R$ 8.750,00 19 23,7
Acima de R$ 8.750,00 11 13,8
Tempo de Serviço
Até 5 anos 15 20,3
De 6 a 10 anos 11 14,9
De 11 a 15 anos 10 13,5
De 16 a 20 anos 21 28,4
Acima de 20 anos 17 22,9
Fonte: Autora
5.2 PERCEPÇÃO DOS EMPREGADOS SOBRE AS PRÁTICAS E POLÍTICAS
DE GESTÃO DE PESSOAS.
No cenário atual, de intensa competitividade, onde as pessoas são vistas
como diferencial competitivo, torna-se imprescindível para as organizações
desenvolver e implementar políticas e práticas voltadas ao fortalecimento do vínculo
com seus empregados e conseqüentemente retê-los. Na organização estudada,
observam-se expressivas práticas de gestão de pessoas, tanto aquelas voltadas a
prover suporte social aos empregados quanto as que buscam desenvolvê-los e
inseri-los no contexto atual do mundo do trabalho.
96
Através de sentenças relativas aos princípios e práticas de gestão, procurou-
se mensurar o grau de percepção dos empregados quanto à existência dos mesmos
na organização, verificando, através desta percepção, se as características de
gestão da empresa estão mais próximas do modelo Community ou do modelo
Agency.
As médias que representam a percepção dos respondentes relativa aos
modelos de gestão agency community, mostradas no Tabela 4, revelam uma
tendência maior à percepção de práticas na organização que mais se aproximam do
modelo Community. Entretanto, fica evidente que os respondentes também
percebem a presença de práticas agency na empresa, caracterizando, desta forma,
a existência na organização do modelo híbrido de gestão, conforme preconizado por
(ROUSSEAU; ARTHUR, 1999). Estes resultados são compatíveis com os
encontrados por Cavalcante (2005), ao realizar estudo sobre estes modelos de
gestão em organização varejista de rede de loja de telefonia celular que atua no
Estado da Bahia.
Tabela 4 - Percepção dos empregados sobre as práticas e políticas de gestão
N Mínimo Máximo Média
Desvio
Padrão
Real Agency
78 3,63 7,00 4,8765 0,64446
Real Community
78 3,53 7,00 5,3928 0,67232
Fonte: Autora
No Apêndice B, são demonstradas as médias de cada variável referentes à
percepção relativa aos princípios e práticas dos modelos analisados.
Os dados encontrados indicam que há, por parte dos empregados, uma
avaliação positiva das práticas de gestão da empresa. A exceção do item que se
refere a suporte para recolocação, todos os demais relativos ao modelo community
apresentam médias superiores a cinco. A prática mais percebida refere-se à
oportunidade interna de crescimento (média 5,77) o que remota à afirmação de
Wallace quanto ao comprometimento com a carreira possuir correlação positiva com
o comprometimento organizacional e com a busca de desenvolvimento de
97
habilidades e negativa com rotatividade e intenção de abandonar a carreira.
(WALLACE, 1993).
Quanto à avaliação das práticas e princípios agency, as médias situam-se
entre quatro e cinco, exceto no tocante ao item relativo ao incentivo para que o
trabalhador construa redes fora da organização, para assegurar novas
oportunidades de trabalho que apresenta média 3,56. Este achado pode ser
explicado pelo contexto empresarial fechado que predominou até o início dos anos
90, onde as organizações eram muito voltadas para seus próprios processos. Com
as transformações vivenciadas nos últimos anos, este comportamento
organizacional começa a se alterar. No caso específico da organização estudada, o
fato de passar a fazer parte de uma corporação multinacional demanda dos seus
integrantes maiores interações internas e externas. Hoje já é possível se observar
ações na organização voltadas a estabelecer interfaces mais próximas ao ambiente
externo, formando parcerias, integrando-se às comunidades científicas, participando
de premiações em diferentes áreas, aliada à participação em “networking internos”,
auditorias, dentre outras.
Face ao exposto, torna-se claro que os respondentes percebem claramente a
coexistência de práticas e princípios voltados à vínculos de comprometimento, à
coletividade, ao suporte mútuo características próprias do modelo community em
paralelo a práticas e princípios relativos ao empreendedorismo, auto-gestão de
carreira, recompensas diferenciadas, que são características do modelo agency.
Não obstante o hibridismo percebido, observando-se as médias das práticas e
princípios, torna-se evidente que os empregados apresentam maior identificação
com o modelo community especialmente quanto às oportunidades internas de
carreiras, fortalecimento dos vínculos de comprometimento entre trabalhadores e a
organização e da capacidade dos trabalhadores para responderem às
transformações no trabalho, à valorização do trabalho em equipe, ao suporte mútuo,
cooperação, troca de experiência e aprendizagem, a integração, socialização e
retenção dos mesmos.
O mapa a seguir que foi elaborado considerando apenas os fatores que
apresentavam médias altas (superiores a cinco) demonstra a prevalência das
práticas e princípios community na organização pesquisada.
98
Figura 03 - Mapa da percepção dos empregados quanto aos principio e práticas dos modelos
agency e community
Fonte : Elaborado pela autora da dissertação.
A percepção encontrada é coerente com o sistema de gestão da empresa. A
organização prima pelo exercício efetivo de seus valores relativos à integridade e
respeito às pessoas. A Cia se destaca, no ambiente empresarial por sua política e
programas nas áreas de saúde, segurança dos empregados e demais parceiros
como também pelo respeito e cuidados ao meio ambiente, especialmente nas
Recompensar o
trabalhador a partir do
desempenho
coletivo
Estimular trabalho em
equipe com troca de
conhecimentos e
a
p
rendiza
g
ens.
Oportunidades
Internas de
Crescimento de
Carreira
Na seleção valorizar a
congruência entre
valores pessoais e
organizacionais
Fortalecer o vínculo de
comprometimento do
trabalhador com a
or
g
aniza
ç
ão
Criar mecanismos para
integrar os seus
trabalhadores à
or
g
aniza
ç
ão
Apoiar as pessoas p/
fortalecer a capacidade
de responder as
transforma
ç
ões trabalho
Enfatizar treinamentos
voltados para o
desempenho das
tarefas do trabalho
Estabelecer vínculos
com o trabalhador que
possa m ser
duradouros
Valorizar o trabalhador
que trata o emprego
como se fosse um
ne
g
ócio
p
p
rio
Preocupar-se em
manter os seus
colaboradores
Recompensar
diferencialmente o
desempenho individual
Assegurar recurso
para o bem estar
pessoal e familiar do
trabalhado
r
Estimular o suporte
mútuo entre os
trabalhadores
Socialização que
fortaleça a
identificação com a
cultura or
g
anizacional
Recompensar
diferencialmente
aqueles que sejam
mais em
p
reendedores
Valorizar o intercâmbio
de experiências e
aprendizagem entre os
trabalhadores
Estimular
comunicação
ampliando as trocas
de ex
p
eriência e
Estimular a
Cooperação entre os
trabalhadores
Estimular o
trabalhador a participar
da elaboração do
desenho do seu car
g
o
Preocupar-se com o
trabalhador
em todas
as dimensões
Nas ações de
qualificação priorizar o
preparo tarefas a eles
confiadasas
Estimular acriação de
redes interpessoais no
seu interior
Práticas Community
Práticas Agency
99
comunidades em que atua, desenvolvendo ações de responsabilidade social, nas
quais conta com a participação dos seus empregados.
A conduta íntegra da empresa, no que se refere ao cumprimento da
legislação trabalhista, previdenciária, tributária, cumprimento dos acordos firmados,
observância do código de conduta ética, exemplifica a dimensão de civilidade
própria do modelo community. A Cia apresenta, entre suas competências globais, a
efetividade inter-pessoal e o trabalho em equipe, as quais aliadas ao sistema de
times auto-dirigidos propiciam as ações de cooperação , ajuda mútua, “networking”
de aprendizado e intercâmbio de experiência, fomentando, assim, a prática da
colaboração.
A resiliência da força de trabalho é reforçada através do contínuo incentivo
ao desenvolvimento pessoal, dos programas de gestão flexível de horário de
trabalho, dos programas de qualidade de vida, de assistência ao empregado, das
práticas de diversidade e inclusão bem como a gestão estruturada e transparente
dos processos de mudanças.
A alavancagem das competências individuais é uma prioridade na
organização. Todo empregado possui um plano de desenvolvimento onde se
estabelecem as ações voltadas ao desenvolvimento das competencias globais e
funcionais. Este plano é baseado num processo de avaliação 360º e tem por
objetivo estabelecer e endereçar as ações relativas às oportunidades de melhoria
identificadas como também a manutenção dos pontos fortes. Merece destaque o
sistema de anúncio de cargos, através do qual os empregados têm possibilidade de
se candidatarem às oportunidades em aberto.Os processos de seleção no mercado
externo só são empreendidos quando se esgotam as possibilidades internas. Esta
prática garante efetivas oportunidades de crescimento de carreira e desenvolvimento
para os empregados.
Através do processo de gerenciamento de performance baseado em metas, a
Cia procura garantir um processo contínuo de melhoria de performance individual
aliado ao processo de desenvolvimento de competências necessárias ao papel atual
ou a perspectivas futuras. A Cia tem procurado incentivar a participação e o
relacionamento de seus empregados em comunidades científicas, eventos técnicos,
entidades representativas de classes empresariais e similares, fomentando a
100
participação destes em networking externos, exercitando desta forma a disciplina de
mercado.
Quanto ao voluntarismo, embora a organização utilize os processos formais
de designação de papéis e responsabilidades, a prática do empowerment faculta,
aos empregados e times, o exercício dos papéis dentro de suas escolhas pessoais.
Ao empregado cabe a responsabilidade por apresentar os resultados que são
esperados e necessários, tendo autonomia de escolha dentro do que lhe cabe fazer.
Outros aspectos se destacam na organização: ambiente de trabalho
saudável, programas de reconhecimento e recompensa, excelente programa de
benefícios, programas intensivos de treinamento e desenvolvimento,
desenvolvimento contínuo das lideranças, oportunidades internas de crescimento de
carreiras, bem como a forma como processos de separação são efetivados. Em
geral, os desligamentos dos empregados são comunicados com antecedência,
sendo em determinadas situações provido de suporte financeiro adicional, bem
como suporte para transição de carreira.
5.3 RELAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS PESSOAIS E PERCEPÇÃO DAS
PRÁTICAS DE GESTÃO DE PESSOAS
A comparação das percepções em relação às práticas de gestão (nos dois
modelos) entre os subgrupos da amostra demonstra uma tendência à
homogeneidade nos padrões de respostas. Observa-se a prevalência da
identificação com as práticas que se aproximam do modelo community, que obteve
médias mais altas.
101
Tabela 5 - Características Pessoais e Percepção das Práticas de Gestão
Características Pessoais N Real Agency Real Community
Sexo
Masculino 71 4.8409 5.3583
Feminino 10 4.8338 5.4118
Faixa Etária
Até 30 anos 11 4.2515 5.1098
De 31 a 40 anos 14 4.9527 5.5912
De 41 a 45 anos 21 4.9355 5.4283
De 46 a 50 anos 15 4.9786 5.5098
Acima de 50 anos 17 4.9329 5.2815
Estado Civil
Casado 63 4.8224 5.3543
Outros 17 4.7779 5.3080
Escolaridade
Médio completo 27 4.9319 5.4584
Superior incompleto 24 4.7704 5.1918
Superior completo 29 4.7375 5.3597
Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto às variáveis pessoais, não se observam diferenças significativas entre
os sub-grupos, a exceção da faixa etária.(F =2,8533 p= 0,030). Observa-se que na
faixa etária de até 30 anos há indicações de menor percepção em relação às
práticas agency o que pode ser atribuído ao fato que os respondentes desta
categoria tem, provavelmente, pouco tempo de serviço na empresa, e ainda estão
em processo de socialização e integração recebendo, portanto, um maior suporte
organizacional.
Ao analisar a percepção das práticas de gestão em relação às variáveis
funcionais, repete-se a mesma configuração encontrada nos dados de caracterização
pessoal, ou seja, maior identificação com as práticas que se aproximam do modelo
community seguindo-se das práticas que se aproximam do modelo agency. Neste
102
grupo de variáveis, foram observadas diferenças significativas quanto à percepção
agency em relação à de tempo de serviço ( F= 3,154 e p= 0,019 ) e nível de renda (
F= 4,691 e p = 0,005).
A relação entre as características funcionais e a percepção das práticas de
gestão está demonstrada na tabela a seguir.
Tabela 6 - Características Funcionais e Percepção das práticas de gestão
Características Funcionais N
Percepção
Agency
Percepção
Community
Tempo de Serviço
Até 5 anos 15 4.3928 5.3577
De 6 até 10 anos 11 4.8545 4.9835
De 11 até 15 anos 10 4.8875 5.5006
De 16 até 20 anos 21 5.0617 5.5766
Acima de 20 anos 17 4.8999 5.4179
Família de Cargo
Administrativo 2 5.0104 6.1000
Técnico 57 48360 5.3240
Especialista Funcional 21 4.7317 5.3240
Nivel de Renda
De R$ 1.750,00 a R$ 3.500,00 16 4.6078 5.2101
De R$ 3.501,00 a R$ 5.250,00 34 5.0141 5.4858
De R$ 5.251,00 a R$ 8.750,00 19 4.4818 5.1248
Acima de R$ 8.750,00 11 5.0616 5.4829
Fonte: Dados da pesquisa
Pelo exposto, verifica-se que a percepção dos modelo agency e community
não está associada ao perfil pessoal e funcional dos respondentes. O estudo de
Cavalcante (2005) em organização varejista confirma este achado parcialmente no
tocante ao modelo agency. Quanto ao modelo community, a autora identificou
relações significativas com o sexo, idade, o que não ocorreu neste estudo.
103
5.4 DIMENSÕES DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
Embora o comprometimento organizacional venha sendo objeto de diversos
estudos, ainda não se tem uma definição específica do conceito nem de como avaliá-
lo. Alguns pontos, entretanto, já são objeto de crescente concordância entre os
estudiosos da área, entre eles a multidimensionalidade do conceito, entendendo-se
que múltiplos processos psicológicos podem estar na base do desenvolvimento do
vínculo de comprometimento (MEDEIROS, 2003).
Neste trabalho foi adotada a tipologia de comprometimento desenvolvida por
Meyer e Allen (1997) a qual apresenta um modelo tridimensional de
comprometimento de acordo com suas bases: afetivo, instrumental e normativo.
De acordo com os autores, o comprometimento afetivo envolve um tipo de
vínculo do empregado para com a organização que se caracteriza por um sentimento
de pertencer, de sentir-se bem na organização, de ver os problemas da organização
como se fossem seus, apresentando uma forte ligação emocional.
O comprometimento instrumental reflete o grau em que o indivíduo se sente
preso à organização pelos altos custos associados à sua saída. Decorre do
sentimento de que já investiu muito na organização e o quanto perderia se a
deixasse, como também pelo sentimento de que não teria condições de conseguir
algo melhor fora desta.
O comprometimento normativo reflete um sentimento de obrigação em
permanecer na organização em retribuição ao que a organização fez ou faz, bem
como ao sentimento de lealdade para com a mesma.
Os dados da estatística descritiva relativos às dimensões de
comprometimento revelam a prevalência entre a população estudada do
comprometimento organizacional de base afetiva, seguindo-se da base normativa e,
por fim, da base instrumental, conforme demonstrado na Tabela 7.
104
Tabela 7 - Distribuição entre médias das Dimensões de Comprometimento
Bases de Comprometimento N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Comp Org Afetivo
78 3,67 7,00 5,5962 0,87226
Comp Org Instrumental
77 1,67 6,17 4,0368 1,18149
Comp Org Normativo
78 3,00 6,83 4,8543 0,69489
Fonte: Dados da pesquisa
A prevalência da base afetiva, cuja média mostra-se superior às demais,
ratifica as conclusões de Mowday (1982) que indicam ser a base afetiva como a
mais forte. Conforme Meyer e Allen (1997) a base afetiva tende a ser maior quando
o escopo do trabalho confere mais autonomia, característica presente na
organização estudada. Estes autores sugerem haver sobreposição entre as bases
afetivas e normativas.
Estudos correlatos desenvolvidos por Scheible (2004) e Cavalcante (2005) na
realidade baiana, embora em contextos distintos, apresentam resultados
semelhantes no que se refere ao predomínio da base afetiva. Dias (2005) também
verificou uma tendência maior para o comprometimento afetivo em estudo realizado
em empresas do setor siderúrgico em Minas Gerais.
A análise dos escores por bases, em separado, conforme demonstrados no
Apêndice C, apresenta todas as médias dos indicadores de base afetiva, indicando
um alto nível de comprometimento. Os índices encontrados referentes à base
instrumental denotam um baixo nível desta base na organização e a normativa
apresenta um nível médio. Resultados semelhantes foram encontrado ao se analisar
a distribuição por nível de comprometimento em cada base, conforme as figuras de
nos 3, 4 e 5, a seguir, observando-se a prevalência de alto comprometimento na
base afetiva, médio, na base normativa, e baixo comprometimento na base
instrumental.
Os dados encontrados sugerem uma elevada ligação afetiva entre os
empregados e a organização, com 70,73% nos níveis alto e muito alto, que se
coaduna com a média geral de indicador de 5,59. Os indicadores “eu seria muito
105
feliz em dedicar o resto da minha carreira nesta organização” e “esta organização
tem um imenso significado pessoal para mim” apresentam as maiores médias 5,79 e
5,78, respectivamente, confirmando a natureza afetiva do processo de identificação
dos respondentes para com a organização.
Comprometimento Baixo
Comprometimento Médio
Comprometimento Alto
Comprometimento Muito Alto
Nivel de Comp Afetivo
Distribuição por Níveis de Comprometimento Afetivo
Comprometimento Baixo
8,54%
Comprometimento Médio
20,73%
Comprometimento Alto
37,80%
Comprometimento Muito Alto
32,93%
Figuras 04: Distribuição por Níveis de Comprometimento Afetivo.
Fonte: Dados da pesquisa.
Em contraposição, conforme figura 5, 54,32% dos respondentes apresentam
um comprometimento instrumental baixo. Estes índices sugerem que os
empregados na organização estudada não se sentem aprisionados, nem sem
alternativas. Os indicadores “uma das poucas conseqüências negativas de deixar
esta organização seria a escassez de alternativas imediatas” com média 3,66 e “se
eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização, eu poderia considerar
trabalhar em outro lugar “ com média 3,29 comprovam este sentimento, pelo que
pode-se depreender que até então a organização está atendendo as expectativas
dos seus empregados, os quais ao contabilizar as recompensas recebidas e custos
associados acreditam que estão sendo beneficiados.
Os indivíduos contabilizam recompensas e custos de diversas maneiras:
primeiro, verificam o equilíbrio entre o que recebem da organização (ex: benefícios,
106
salários) em relação ao que disponibilizam para ela (ex: tempo, capacidades);
segundo, avaliam se é vantajoso continuar na organização; terceiro, avaliam a
facilidade de deixar a organização e as perdas potenciais que teria, caso resolvesse
por isso (WHITENER; WALZ, 1993).
Comprometimento Baixo
Comprometimento Médio
Comprometimento Alto
Comprometimento Muito Alto
Nivel Comp Instrum
Distribuição por Níveis de Comprometimento Instrumental
Comprometimento Baixo 54,32%
Comprometimento Médio
22,22%
Comprometimento Alto
20,99%
Comprometimento Muito Alto
2,47%
Figura 05: Distribuição por Níveis de Comprometimento Instrumental.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quanto à base normativa, cuja média dos indicadores corresponde a 4,85
observa-se que 43,91% dos respondentes apresentam comprometimento alto e
muito alto, 26,83% um nível médio e 29,27 % baixo comprometimento normativo.
Merece destaque o indicador da base normativa. “Esta organização merece minha
lealdade”, o qual apresenta a maior média entre todos os indicadores (5,90),
refletindo um sentimento de dívida e obrigação moral em relação à mesma bem
como a identificação com os valores e internalização da cultura organizacional .
107
Comprometimento Baixo
Comprometimento Médio
Comprometimento Alto
Comprometimento Muito Alto
Nivel Comp Norm
Distribuição por Níveis de Comprometimento Normativo
Comprometimento Baixo
29,27%
Comprometimento Médio
26,83%
Comprometimento Alto
32,93%
Comprometimento Muito Alto
10,98%
Figura 06: Distribuição por Níveis de Comprometimento Normativo.
Fonte: Dados da pesquisa.
Meyer e Allen (1993) sugerem que trabalhadores com maior idade são mais
comprometidos.Na estratificação por faixa etária é possível observar maiores médias
de comprometimento com a organização advinda da base afetiva. Encontram-se as
médias superiores do comprometimento afetivo na população na faixa etária de 31
a 40 anos de idade e a menor média entre os respondentes com até 30 anos (vide
Tabela 8). No entanto, as diferenças observadas não são estatisticamente
significativas.
A base normativa apresenta maior média entre os mais jovens, sem
significância nas diferenças encontradas. Observa-se, na faixa de 41 a 45 anos um
ponto de inflexão a partir do qual o comprometimento normativo volta a florescer.
Quanto à base instrumental, esta apresenta a menor média também entre os
mais jovens e a maior entre a população de 41 a 45 anos. A diferença entre as
médias foi significativa (F =2,673 e p= 0,039).
Mathieu e Zajac, em sua meta analise, realizada em 1990 comprovam
correlação positiva entre variáveis demográficas e comprometimento. Segundo os
108
autores, a variável idade apresenta correlação positiva com comprometimento o que
foi parcialmente comprovado neste estudo.
Tabela 8 - Distribuição entre médias bases de comprometimento e faixa etária.
Faixa Etária Afetivo Instrumental Normativo
Até 30 anos
N 11 11 11
Média 5,3182 2,9697 5,0152
Desvio padrão 0,99290 1,14944 1,27247
De 31 a 40 anos
N 14 14 14
Média 6,0595 3,9405 4,8571
Desvio padrão 0,74423 1,52277 1,25891
De 41 a 45 anos
N 21 20 21
Média 5,3413 4,3833 4,4603
Desvio padrão 0,94645 1,23556 1,07614
De 46 a 50 anos
N 15 15 15
Média 5,8111 3,9333 4,7889
Desvio Padrão 0,95922 0,83997 1,29478
Acima de 50 anos
N 17 17 17
Média 5,3922 4,2157 4,9020
Desvio padrão 0,92034 1,17226 ,96835
Total
N 78 77 78
Média 5,5684 3,9762 4,7692
Desvio padrão 0,93953 1,25502 1,14819
Fonte: Dados da pesquisa
Em termos de gênero, observa-se em todas as bases maiores médias de
comprometimento entre os homens. No entanto, os níveis de significância das
variações não permitem afirmação categórica. Em estudos anteriores, foi encontrado
que as mulheres tendem a ser mais comprometidas que os homens (FINK,1992;
MATHIEU; ZAJAC, 1990).
109
Tabela 9 – Distribuição entre médias bases de comprometimento e gênero.
Gênero Afetivo Instrumental Normativo
Masculino
N 71 70 71
Média 5,5681 4,0452 4,7958
Desvio padrão 0,94934 1,22242 1,17959
Feminino
N 10 10 10
Média 5,5167 3,5833 4,6667
Desvio padrão 0,92446 1,32462 0,88889
Total
N 81 80 81
Média 5,5617 3,9875 4,7798
Desvio padrão 0,94076 1,23640 1,14377
Fonte: Dados da pesquisa
Nesta amostra, comprovou-se que as pessoas casadas tendem a ser mais
comprometidas afetivamente. Há sugestão de diferença significativa entre os sub-
grupos analisados (casados e outros) no que se refere à base normativa (F= 2,769,
p= 0,100).O estado civil é uma variável que tem apresentado uma relação positiva
mas baixa com comprometimento.Vale lembrar que esta variável, em geral, é
incluída nos estudos apenas para fins descritivos (MATHIEU; ZAJAC, 1990).
Tabela 10 – Distribuição entre médias bases de comprometimento e estado civil
Estado Civil Afetivo Instrumental Normativo
Casado
N 63 62 63
Média 5,5582 3,9919 4,6481
Desvio padrão 0,95890 1,28088 1,20040
Outros
N 17 17 17
Média 5,4902 3,9118 5,1569
Desvio padrão 0,85284 1,10573 ,71800
Total
N 80 79 80
Média 5,5438 3,9747 4,7563
Desvio padrão 0,93259 1,23894 1,13099
Fonte: Dados da pesquisa
110
No que se refere à escolaridade, Mowday et al (1982) sugerem que há uma
tendência de correlação negativa com o comprometimento com a organização em
função do fato de que indivíduos mais educados possuem maiores expectativas em
relação à organização, bem como mais opção de emprego. Isto não se confirmou
neste estudo. Foi observada a prevalência da base afetiva na população com maior
nível de educação, a qual também apresenta a menor média quanto à base
instrumental. Observa-se diferenças significativas nas bases instrumental (F= 4,521
p=0,014) e normativa (F= 3,7442 p= 0,028).
Tabela 11 – Distribuição entre médias bases de comprometimento e escolaridade.
Escolaridade Afetivo Instrumental Normativo
Nível Médio Completo
N 27 26 27
Média 5,5000 4,4231 4,9568
Desvio padrão 1,00107 1,01459 0,92749
Nível Superior Incompleto
N 24 24 24
Média 5,4306 4,0903 5,0625
Desvio padrão 1,00231 1,14839 1,14188
Nível Superior
N 29 29 29
Média 5,6782 3,4770 4,3161
Desvio padrão 0,81641 1,34866 1,19136
Total
N 80 79 80
Média 5,5438 3,9747 4,7563
Desvio padrão 0,93259 1,23894 1,13099
Fonte: Dados da pesquisa
Wright e Bonnet (2002) afirmam que o tempo de casa possui efeito
moderador sobre o comprometimento com a organização. Já Morrow (1993) afirma
que o tempo de casa está fracamente relacionado com comprometimento com a
organização ou apresenta correlação não significativa. Neste estudo, constata-se
que o comprometimento com a organização nas bases afetiva e normativa não
apresenta crescimento contínuo. Quanto à base instrumental a mesma apresenta
sua menor média entre os respondente com até 5 anos de serviço, crescendo até
aos 15 anos e decresce a partir dos 16 anos de serviço, sendo esta diferença
significativa (F= 2,847 e p= 0,030).
111
Tabela 12 - Distribuição entre médias das bases de comprometimento e tempo de serviço.
Tempo de serviço Afetivo Instrumental Normativo
Até 05 anos
N 15 14 15
Média 5,5333 3,0952 4,9556
Desvio padrão 0,68776 1,18162 1,18098
De 06 a 10 anos
N 11 11 11
Média 5,3939 4,1364 4,3030
Desvio padrão 0,94361 1,28413 1,29490
De 11 a 15 anos
N 10 10 10
Média 5,6333 4,6000 4,5667
Desvio padrão 0,86709 0,93690 0,98194
De 16 a 20 anos
N 21 21 21
Média 5,7937 4,1746 4,9365
Desvio Padrão 1,03535 1,29366 1,29901
Acima de 20 anos
N 17 17 17
Média 5,5000 4,1275 4,9020
Desvio padrão 0,78395 1,13427 0,79289
Total
N 74 73 74
Média 5,5923 4,0091 4,7883
Desvio padrão 0,86850 1,25151 1,12847
Fonte: Dados da pesquisa
Quanto à família de cargos, que retrata o tipo de atividade desempenhada,
observa-se entre os especialistas funcionais a maior média do comprometimento de
base afetiva e a menor média do comprometimento de base instrumental. Vale
ressaltar ser esta a categoria com maiores possibilidades de mobilidade, face à
especialização adquirida o que lhes possibilitaria conseguir emprego em condições
semelhantes, ou até mesmo em cargos hierarquicamente superiores ao que possui
na organização.
Na categoria dos técnicos, repete-se esta mesma configuração, há o
predomínio da base afetiva, seguindo-se da base normativa e por fim da
instrumental.
112
Foram observadas diferenças significativas nas bases instrumental (F= 9,391
p= 0,003 ) e normativas ( F= 5,075 e p = 0,027). Nesta análise excluiu-se o sub -
grupo da família de cargos administrativos face à baixa representatividade do
mesmo.
Tabela 13 - Distribuição entre médias das bases de comprometimento e família de cargo
Família de Cargo Afetivo Instrumental Normativo
Técnico
N 57 56 57
Média 5,4971 4,2262 4,9240
Desvio padrão 0,96696 1,10619 1,00003
Especialista Funcional
N 21 21 21
Média 5,6190 3,2937 4,2857
Desvio padrão 0,84843 1,39234 1,37148
Total
N 78 77 78
Média 5,5299 3,9719 4,7521
Desvio padrão 0,93271 1,25318 1,13889
Fonte: Dados da pesquisa
No que se refere ao nível de renda, que neste estudo se refere ao nível
salarial, as maiores médias de comprometimento afetivo e as menores de
comprometimento instrumental para com a organização são encontradas na
categoria que percebe os maiores salários o que se coaduna com o achado em
relação à família de cargo,uma vez que são os especialista funcionais que se
enquadram nas maiores categorias de renda. Observa-se diferença significativa na
base normativa a qual decresce proporcionalmente em relação ao nível de renda
(F= 2,628 e p= 0,056).
113
Tabela 14 - Distribuição entre médias das dimensões de comprometimento e nível de renda.
Nível de Renda Afetivo Instrumental Normativo
Até R$ 3.500,00
N 16 16 16
Média 5,3542 3,9271 5,0104
Desvio padrão 0,71718 0,99994 0,89746
De R$ 3.501,00 a 5.250,00
N 34 33 34
Média 5,6324 4,2020 4,9755
Desvio padrão 1,08073 1,25883 ,99081
De R$ 5.251,00 a 8.750,00
N 19 19 19
Média 3,8246 4,5877 4,4818
Desvio padrão 0,92331 1,42017 1,31980
Acima de R$ 8.751,00
N 11 11 11
Média 5,7273 3,6212 4,0000
Desvio Padrão 0,75378 1,19045 1,25388
Total
N 80 79 80
Média 5,5438 3,9747 4,7563
Desvio padrão 0,93259 1,23894 1,13099
Fonte: Dados da pesquisa
Comparando os resultados deste estudo com os obtidos por Meyer e outros
(2002), observam-se achados semelhantes. A idade e tempo de serviço, na meta-
analise destes autores, relacionam-se de forma fraca com o comprometimento
organizacional nas dimensões afetiva, instrumental e normativa. Meyer e Allen
(1997) ressaltam que a idade e o tempo de empresa são variáveis que influenciam
diretamente no comprometimento instrumental, o que foi parcialmente observado
neste estudo.
5.5 PADRÕES DE COMPROMETIMENTO ORGANIZACIONAL
Para determinar os padrões de comprometimento foi utilizada a técnica Quick
Cluster. Foram estabelecidos três padrões que são os grupos formados por
114
indivíduos que apresentam padrões similares de comprometimento nas bases
estudadas, conforme demonstrado na Figura 07:
Padrão 1 - Comprometimento Afetivo Muito Alto + Comprometimento
Instrumental Médio.
Padrão 2 - Comprometimento Afetivo Médio + Comprometimento Instrumental
Médio.
Padrão 3 - Comprometimento Afetivo alto + Comprometimento Instrumental
Baixo.
Figura 07: Identificação dos Padrões de Comprometimento e seus Centróides
Fonte: Dados da Pesquisa
A Figura 08 a seguir demonstra a distribuição destes padrões na população
estudada, onde se observa o predomínio do padrão de muito alto comprometimento
afetivo + médio comprometimento instrumental (42,86%), seguindo-se de alto
comprometimento afetivo + baixo comprometimento instrumental (29,87%) e por fim
o médio comprometimento afetivo + médio comprometimento instrumental (27,27%).
Ao analisar os padrões predominantes em cada um destes grupos, observa-
se que no primeiro grupo correspondente ao padrão 1 de Comprometimento Afetivo
Muito Alto + Comprometimento Instrumental Médio, 97% dos integrantes são do
sexo masculino, 87.5% são casados, predomina a faixa etária entre 41 a 50 anos e
estão na empresa há mais de 16 anos.
6.17
4.60
4.66
4.72
5.70
2.60
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
7.00
Padrão 1
(N= 33)
Padrão 2
(N= 21)
Padrão3
( N=23)
Padrões de Comprometimento
A
fetivo
Instrumental
115
Figura 08: Distribuição por padrões de comprometimento
Fonte: Dados da Pesquisa
No segundo grupo, referente ao padrão 2 de Comprometimento Afetivo Médio
+ Comprometimento Instrumental Médio, 80% dos integrantes são do sexo
masculino, 60% são casados. Há o predomínio das faixas etárias entre 41 a 45 anos
e acima de 50 anos. Estão na empresa entre 16 a 20 anos.
No terceiro grupo correspondente ao padrão 3 de Comprometimento Afetivo
Alto + Comprometimento Instrumental Baixo, 78.2 % são do sexo masculino e
casados. Predominam as faixas etárias de até 30 anos, entre 41 e 45 anos e acima
de 50 anos. 54 % dos estão na empresa há menos de 10 anos. A análise dos
padrões predominantes em cada grupo sugere que as diferenças maiores entre eles
advêm do tempo de serviço na organização e faixas etárias dos integrantes.
5.6 INTENÇÃO DE PERMANÊNCIA
A intenção de permanência foi avaliada através de cinco fatores referentes a
situações fictícias perante as quais os respondentes deveriam se posicionar quanto
à iniciativa em permanecer na organização atual, ou optar por mudar para outra
organização. Conforme Tabela 15, foi verificada alta intenção de permanência, na
A
fetivoMuito Alto + Instrum Médio
A
fetivo Médio + Instrum Médio
A
fetivo Alto + Instrum Bai
x
o
Distribuição por Padrões de Comprometimento
Padrão 1 - Afetivo Muito Alto + Instrum
Médio (42,86%)
Padrão 3 Afetivo Médio + Instrum Médio
(27,27)
Padrão 2-Afetivo Alto + Instrum
Baixo (29,87%)
116
organização atual, quando as condições oferecidas significavam retorno à
organização anterior de mesmo porte e com as mesmas condições de trabalho.
Se as condições oferecidas eram em organizações de maior ou do mesmo
porte e para atuar na mesma área e com condições de trabalho semelhante,
observa-se média alta intenção de permanecer na organização atual. Em se
tratando de condições oferecidas por empresa de menor porte, com oferta de um
incremento salarial significativo, apresenta-se média intenção de permanecer na
organização atual. Quando as condições eram oferecidas por organização de
mesmo porte, entretanto, sinalizam um plano de ascensão funcional, observa-se
uma baixa intenção de permanecer na organização atual.
Tabela 15 – Médias dos fatores da Intenção de Permanência
Situações Fictícias
N Média
Desvio
Padrão
Permanência diante oferta retorno organização
anterior sob mesmas condições atuais
81 5,58 1,767
Permanência diante oferta troca organização de
mesmo porte sob mesmas condições atuais
81 4,99 2,009
Permanência diante oferta troca organização de
maior porte sob as mesmas condições atuais
81 4,80 2,147
Permanência diante oferta troca organização de
menor porte com salário significativamente superior
81 4,26 2,120
Permanência diante oferta troca organização de
mesmo porte com plano de ascenção funcional
81 3,53 2,157
Estes resultados confirmam o quanto os empregados valorizam as
oportunidades de ascensão funcional, confirmando o achado quanto à percepção
das práticas de gestão, na qual as oportunidades internas de crescimento de
carreira é a prática mais valorizada.
Os dados da estatística descritiva revelam uma intenção moderadamente alta
de permanência na organização. Ou seja, numa escala de 7 pontos, a amostra
apresenta um escore médio de 4,63 com desvio padrão de 1,40016. Ao analisar a
média da intenção de permanência em relação às variáveis pessoais e funcionais
observa-se que não há variação significativa, exceto quanto à escolaridade que
apresenta diferença significativa. ( F= 3,478 e p= 0,036) e nível de renda ( F= 2,485
e p= 0,067)
117
A análise da distribuição, por nível da intenção de permanência conforme
figura 09, demonstra que 35,8% dos respondentes apresentam fraca intenção de
permanecer na organização (escores médios até 4), 27,16 % apresentam moderada
intenção de permanecer (escores médios maiores que 4 até 5) e 37,03 %
apresentam forte e muito forte intenção de permanecer na organização (escores
médios maiores que 5)
Figura 09: Distribuição por nível de intenção de permanência
Fonte: Dados da Pesquisa
Ao analisar os níveis de intenção de permanência em relação às bases de
comprometimento e a percepção das práticas de gestão observa-se que a intenção
de permanência muito alta relaciona-se com a percepção das práticas community,
apresentando um nível de significância de 0,16. Vale ressaltar que foram
encontradas diferenças significativas em relação ao comprometimento normativo
(F= 9,094 , p= 000) e instrumental ( F=2,690 e p= 0,052).
Intenção Fraca
Intenção Moderada
Intenção Forte
Intenção Muito Forte
Distribuição por Nível de Intenção de Permanência
Intenção Fraca
35,80%
Intenção Moderada
27,16
Intenção Forte
19,75%
Intenção Muito Forte 17,28%
118
Tabela 16 - Distribuição entre médias da Intenção de Permanência, Bases de
Comprometimento e Percepção das Práticas Agency e Community
Nível Intenção de
Permanencia
Afetivo Instrumental Normativo
Percepção
Práticas
Agency
Percepção
Práticas
Community
Baixa N 29 29 29 29 29
Média 5,3161 3,9483 4,0517 4,8098 5,1073
Desvio 0,91866 1,13922 1,08114 0,59742 0,80295
Média N 22 22 22 22 22
Média 5,5152 3,9167 5,0833 4,7719 5,3011
Desvio 0,94128 1,14174 0,99702 0,59476 0,37355
Alta N 16 15 16 16 16
Média 5,8854 3,4556 4,9063 4,7504 5,4350
Desvio 0,81131 1,31757 0,83659 0,62799 0,55099
Muito Alta N 14 14 14 14 14
Média 5,6548 4,6905 5,5714 5,0551 5,8340
Desvio 1,06511 1,19267 0,89565 0,93111 0,90683
Total N 81 80 81 81 81
Média 5,5412 3,9771 4,7634 4,8302 5,3503
Desvio 0,93821 1,22122 1,12326 0,66619 0,71923
Fonte: Dados da Pesquisa
A análise da intenção de permanência nos grupos representativos dos
padrões de comprometimento demonstra que as maiores médias de intenção de
permanência são encontrados entre os integrantes do primeiro padrão (afetivo muito
alto + instrumental médio); seguindo-se do segundo padrão (afetivo médio +
instrumental baixo); por fim o terceiro padrão (afetivo alto + instrumental baixo). Vale
registrar que não se observa diferenças significativas entre os padrões analisados.
119
Tabela 17 – Distribuição entre as média da intenção de permanência e padrões de
comprometimento
Padrões de Comprometimento N Média
Desvio
Padrão
Padrão 1 ( Afetivo muito alto + Instrumental médio)
32 4,8500 1,37348
Padrão 2 ( Afetivo Médio + instrumental Médio)
21 4,6667 1,60914
Padrão 3 ( Afetivo Alto + Instrumental Baixo)
23 4,4870 1,34398
Fonte: Dados da Pesquisa
Comparando-se as médias entre o nível de intenção de permanência e a
média dos motivos que a justificam, observa-se que, nos níveis de forte e muito forte
intenção de permanência, predomina os motivos de natureza afetiva, a qual
apresenta diferença significativa (F= 11,078, p=,000). Nos níveis de fraca e média
intenção em que predominam os motivos instrumentais, não se observa significância
nas diferenças apresentadas (F=0,937, p= 0,427).
Tabela 18- Distribuição entre médias dos níveis da intenção de permanência e os motivos que
a justificam.
Nível Intenção de Permanência Motivo Afetivo Motivo Instrumental
Intenção Fraca
N 26 29
Média 2,1000 2,6552
Desvio padrão 0,55209 0,37449
Intenção Média
N 21 22
Média 2,4095 2,5250
Desvio padrão 0,44934 0,45454
Intenção Forte
N 15 14
Média 2,7200 2,4000
Desvio padrão 0,38396 0,56022
Intenção Muito Forte
N 14 12
Média 2,8714 2,5333
Desvio Padrão 0,27854 0,64573
Total
N 76 77
Média 2,4500 2,5526
Desvio padrão 0,53579 0,48101
120
A análise das correlações entre as variáveis centrais deste estudo relativas às
bases de comprometimento organizacional, percepção das práticas de gestão e
intenção de permanência na organização evidenciam os seguintes resultados, de
acordo com o demonstrado no Quadro 38.
O comprometimento organizacional afetivo apresenta forte correlação com a
percepção das percepções de práticas de gestão que se aproximam do modelo
community (0,538**). Surpreendemente esta base também se correlaciona de forma
moderada com a percepção das práticas de gestão que se aproximam do agency
(0,369**). A correlação da base afetiva com a base normativa apresenta-se de forma
moderada (0,341**). A correlação entre a base afetiva e a intenção de permanência
apresenta-se fraca (0,202*) o que pode ser um indicador de que gostar da
organização é diferente de querer permanecer na mesma.
Quanto ao comprometimento organizacional de base instrumental este se
correlaciona de forma moderada com a percepção das práticas agency (0,329**),
apresentando sugestões de fraca correlação com a intenção de permanência (0,052)
e com a percepção das práticas que se aproximam do modelo community (0,102).
O comprometimento organizacional de base normativa correlaciona-se de
forma significativa com a intenção de permanência(0,509**). Apresenta ainda
moderada correlação com a percepção das práticas community (0,328**) e fraca
correlação com as práticas agency (0,217)
Observa-se forte correlação entre a percepção de práticas agency e
community (0,674**), confirmando a presença percebida e validada pelos
respondentes quanto ao modelo híbrido de gestão presente na organização.
Não foram observadas correlações significativas entre a intenção de
permanência a percepção das práticas reais agency (0,111).
121
Tabela 19 - Correlações entre bases de comprometimento organizacional, percepção das
práticas de gestão e intenção de permanência.
Comp.
Afetivo
Comp.
Instru-
mental
Comp.
Norma-
tivo
Percep.
Commu
nity
Agency
Intenção
Perma-
nência
Pearson
1 ,005 ,341** ,538** ,369** ,202
Sig ( 2-tailed)
,961 ,002 ,000 ,001 ,071
Afetivo
N
81 82 82 82 81
Pearson
1 ,235* ,102 ,329** ,052
Sig ( 2-tailed)
,035 ,365 ,003 ,644
Instrumental
N
81 81 81 80
Pearson
1 ,328** ,217 ,509**
Sig ( 2-tailed)
,003 ,050 ,000
Normativo
N
82 82 81
Pearson
1 ,674** ,377**
Sig ( 2-tailed)
,000 ,001
Community
N
82 81
Pearson
1 ,111
Sig ( 2-tailed)
,322
Agency
N
81
Pearson
1
Sig ( 2-tailed)
Intenção
Permanência
N
Fonte: Dados da Pesquisa
** Correlação é significativa no nível de 0.01 ( 2–tailed)
* Correlação é significativa no nível de 0.05 (2-tailed)
Com o objetivo de aprofundar o entendimento quanto à relação entre as
bases de comprometimento organizacional, a percepção das práticas de gestão, as
variáveis pessoais e funcionais e a intenção de permanência foi utilizada análise de
regressão através do método stepwise. Para esta amostra, constatou-se que o
comprometimento organizacional de base normativa e a percepção das práticas de
gestão que se aproximam do modelo community configuram-se como preditores da
intenção de permanência Em conjunto, estes dois fatores explicam 31,2 % da
variância da intenção de permanência conforme ilustrado na figura 10 a seguir.
122
Figura 10 - Preditores da Intenção de Permanência
Fonte : autora
Observa-se que o comprometimento organizacional normativo é diretamente
relacionado à intenção de permanência enquanto a percepção das práticas
community é mediadora da relação entre o comprometimento afetivo e a intenção de
permanência, sendo que o comprometimento afetivo explica 22,1% de variância da
percepção das práticas community. O nível de renda (salário) configura-se como um
preditor do comprometimento normativo, explicando 7,8% da variância do mesmo.
Os resultados encontrados indicam a existência de vínculos significativos
entre a organização pesquisada e seus empregados, os quais validam e valorizam
as práticas de gestão da empresa que já se configuram em um modelo híbrido de
gestão agency community , buscando responder as demandas do mundo atual do
trabalho. Este contexto contribui para que haja por parte dos empregados a intenção
de se manterem vinculados à organização.
R
2
= 0,312
Si
g
=0
,
000
ß= - 0,279
ß= 0,470
ß= 0,224
ß= 0,443
R
2
= 0,221
Si
g
=0
,
000
R
2
= 0,078
Si
g
=0
,
018
Nível de
Renda
(salário)
Comprometimento
Afetivo
Percepção das
práticas
Community
Intenção de
Permanência
Comprometimento
Normativo
Correlação = 0,202
Sig = 0,071
123
6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES FINAIS
A nova configuração organizacional que emergiu do processo de
globalização, resultou em organizações mais enxutas, com uma força de trabalho
central reduzida, tendo parte de suas atribuições executada por terceiros. Isso
provocou profundas alterações no vínculo trabalhador - organizações demandando,
em conseqüência, por novas práticas de gestão de pessoas, as quais buscam
equacionar formas alternativas de ação compatíveis e necessárias ao ambiente de
incertezas predominantes no mundo atual do trabalho.
Neste sentido, Rousseau e Arthur (1999), formularam o modelo híbrido de
gestão de pessoas Agency – Community, tendo como fundamento a idéia de que a
nova era econômica tem demandado uma nova função para a área de Recursos
Humanos nas organizações. Para os autores, o desafio atual está em
simultaneamente posicionar empresas e empregados a responderem com
flexibilidade às mudanças no mercado, enquanto buscam a estabilidade recrutando,
desenvolvendo e mantendo as pessoas cujo talento é crucial para a empresas. Esta
dupla pressão por flexibilidade e estabilidade, fazendo as pessoas e empresas
serem mais bem sucedidas é a essência do papel no RH contemporâneo.
Dentro deste contexto, o presente estudo teve como objetivo a identificação
de fatores que influenciam de forma determinante no comprometimento
organizacional e nas razões pelas quais os indivíduos permanecem nas
organizações.
As hipóteses deste estudo foram formuladas a partir do referencial teórico
baseado no modelo de comprometimento multidimensional de Meyer e Allen (1997)
e no modelo híbrido de gestão de pessoas, proposto por Rousseau e Arthur (1999),
buscaram responder ao problema da pesquisa que consistiu em explorar as
124
relações entre a percepção de práticas de gestão, bases de comprometimento
organizacional predominante e a intenção de permanência.
Os resultados dos testes das hipóteses foram os seguintes:
H1 - Quando a percepção dos empregados em relação às práticas de gestão
se aproxima do modelo agency há uma maior intensidade do comprometimento
organizacional de base instrumental.
Esta hipótese foi comprovada através da observação de que percepção das
práticas de gestão que se aproximam do modelo agency se correlacionam de forma
moderada com o comprometimento de base instrumental(,329** sig 0,003). Os
dados encontrados revelam uma inesperada correlação também moderada entre a
percepção das práticas agency e o comprometimento afetivo(,369** sig 0,001),
evidenciando a aceitação por parte dos respondentes do modelo de gestão híbrido
presente na organização.
H2- Quando a percepção dos empregados, em relação às práticas de gestão,
se aproxima do modelo community há uma maior intensidade do comprometimento
organizacional de base afetiva e normativa.
Esta hipótese foi comprovada através da constatação de forte correlação
entre a percepção de práticas que se aproximam do modelo community com o
comprometimento de base afetiva(0,538** sig 0,000) e moderada correlação com o
comprometimento de base normativa(,341** sig 0,002)
H3 – Quando há um alto nível de comprometimento organizacional de base
afetiva e normativa há uma maior intenção de permanência dos empregados na
organização.
Esta hipótese se comprova em relação ao comprometimento normativo, o
qual, nesta amostra, apresenta forte correlação com a intenção de permanência,
constituindo-se um dos seus preditores. A base afetiva apresenta fraca correlação
com a intenção de permanência (202* sig 0,50). Através da análise de regressão foi
demonstrado que a percepção das práticas de gestão do modelo community é
mediadora da relação entre o comprometimento organizacional afetivo e a intenção
de permanência.
125
Quanto à prevalência da base normativa, esta pode ser entendida sob dois
aspectos: O primeiro diz respeito a uma forte cultura organizacional que propicia a
identificação e o desenvolvimento de um sentimento de lealdade para com a
organização (MINTZBERG, 2001).
O segundo aspecto a ser considerado refere-se ao fato da maioria dos
respondentes estar na empresa há mais de 16 anos e para muitos ter sido este o
único emprego, especialmente os técnicos que constituem a maioria da população
(71,2%). Estes profissionais construíram sua carreira na organização ao tempo em
que construíam também suas vidas pessoal e familiar. Muitos deles atribuem as
realizações conseguidas, como aquisição de imóvel próprio, outros bens, educação
dos filhos , qualidade de vida, à empresa; emergindo desta forma um sentimento de
gratidão conforme expresso no indicador “Eu devo muito a minha organização”
(média, 5,23). Vale lembrar que há 25 anos ser empregado no Pólo Petroquímico de
Camaçari era um diferencial no contexto baiano, não só pelos níveis de salários e
benefícios recebidos como também pelo status advindo de trabalhar em um
segmento emergente na economia.
H4 – Quando há uma maior percepção dos empregados de que os elementos
community predominam nas práticas de gestão, há uma maior intenção de
permanência dos empregados na organização.
Esta hipótese foi comprovada ao se verificar a percepção das práticas
community como um preditor da intenção de permanência em conjunto com o
comprometimento organizacional normativo.
A prevalência da percepção por parte dos empregados das práticas de gestão
community e suas correlações significativas com o comprometimento organizacional
afetivo predominante e com a intenção de permanência dos empregados
referenciam a importância das práticas de gestão, que na organização estudada se
apresentam de forma articulada, indicando atender as expectativas dos
empregados quanto às três defasagens críticas apontadas por Boyd (1992):
expectativa–realidade; expectativa-compensação e metas-realização.
Estas práticas são congruentes com uma cultura de comprometimento
conforme descrita por Weckler e Lawrence (1991). Estes autores pontuam aspectos
chave de uma cultura de comprometimento que reforçam a idéia de que o
126
comprometimento requer um conjunto articulado de políticas e práticas
organizacionais como: filosofia gerencial de mútua confiança e respeito, liderança
forte e com um visão clara sobre o que a organização pode ser, altos níveis de
participação dos empregados nas tomadas de decisão, cargos enriquecidos ou
ampliados, políticas de compensação estruturada sobre níveis de habilidades e
desempenho do trabalhador, estruturas organizacionais leves e forte compromisso
com a qualidade e aprimoramento contínuo.
Ao se observar as práticas de gestão de pessoas da organização nas quais
predominam o respeito e integridade como valores fundamentais, transparência
flexibilidade, “empowerment”, reconhecimento, visão de futuro, ênfase no
desenvolvimento pessoal e profissional, identifica-se a presença de elementos que
fortalecem uma cultura de comprometimento entre os seus elementos. De acordo
com Meyer e Allen (1997) o mais importante é o conjunto ou o sistema de gestão de
pessoas na sua totalidade e não uma prática isolada. Neste sentido o sistema de
gestão de Recursos Humanos na organização constitui-se num sistema integrado,
estruturado, desafiador caracterizando-se por uma estratégia voltada ao
comprometimento mais do que o controle (Arthur, 1994). De acordo com Arthur
(1994), mais importante que uma prática isolada são as características gerais do
sistema de gestão.Ele distingue as políticas voltadas para o controle das políticas
voltadas para o comprometimento organizacional. As políticas voltadas para o
controle são orientadas para a redução da força de trabalho e para o aumento da
eficiência, forçando a obediência do trabalhador a regras e procedimentos,
baseando as recompensas em produtos mensuráveis. Já as políticas orientadas
para o comprometimento organizacional, procuram modelar atitudes e
comportamentos que fortaleçam o vínculo psicológico do trabalhador com os
objetivos organizacionais.
Pelo que foi observado neste estudo, sugere-se que a empresa pesquisada
continue envidando esforços no sentido de manter e aperfeiçoar suas práticas de
gestão de recursos humanos, que já são expressivas, compatíveis com o ambiente
de negócios atual e que comprovadamente se constituem em fatores que fortalecem
o vínculo entre a organização e seus empregados.
Neste momento vale lembrar que a organização, objeto deste estudo, quando
da sua integração na corporação há nove anos vivenciou profundas mudanças nos
127
seus sistemas de gestão, nos seus processos de trabalho, na sua cultura
organizacional. Embora estes aspectos não tenham sido diretamente investigados
neste trabalho, os resultados encontrados indicam que os empregados da
organização souberam absorver de forma bastante rápida e competente os desafios
que lhes foram impostos. Parece-nos que contar com práticas de gestão de pessoas
diferenciadas contribuiu para este resultado, porém recomenda-se verificar esta
hipótese em novos trabalhos.
Recomenda-se também especial atenção na criação de oportunidades
internas de crescimento de carreira que se configura como o maior anseio por parte
dos seus empregados.
Entende-se como a principal limitação deste estudo o fato de a amostra ser
circunscrita a uma unidade operacional o que não permitirá a generalização das
conclusões. No entanto, espera-se que este estudo contribua no sentido de melhor
entendimento da relação entre práticas de gestão, bases de comprometimento e a
intenção de permanência. Sugere-se que pesquisas futuras aprofundem a
investigação da existência de relação causal entre estas variáveis por ser um tema
relevante para as organizações e ainda pouco explorado, principalmente no Brasil.
128
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SIQUEIRA, M M M ; GOMIDE Jr, S. Vínculos do indivíduo com o trabalho e com a
organização . In.: ZANELLI, J C; BORGES-ANDRADE JE; BASTOS AVB (org).
Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre : Artmed,2004.
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Associação Nacional de Programas de Pós –Graduação em Administração, 18 1994,
Curitiba, Anais... Florianóplois: ANPAD, 1994, v 10.
133
TONELLI M.J; LACOMBE B ; CALDAS M.P. Desenvolvimento histórico do RH no
Brasil e no mundo. In.: BOOG, G. (org). Manual de gestão de pessoas e equipes:
estratégias e tendências, v. I, São Paulo, Ed. Gente, 2002.
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Paulo: Atlas, 2000.
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throught recruitment and selection. The Human Resources Professional, Spring,
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ZARIFAN, P. Objetivo Competência. São Paulo: Atlas, 2001, p. 37-65.
NOTAS
___________________
1
Adaptado de Mussak (2001).
2
Este item foi baseado em informações disponíveis na Intranet da Companhia.
134
APÊNDICES
135
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
Salvador, 10 de novembro de 2006.
Prezado Colega,
Estou realizando na Ufba o Mestrado Profissional em Administração.
A etapa final de avaliação do curso de mestrado constitui-se na elaboração de uma
monografia, a qual deve abordar, de preferência, um tema vinculado a ação do profissional.
Estou desenvolvendo um estudo voltado a compreeender os fatores que influênciam na
permanência das pessoas nas organizações.
Trata-se de uma pesquisa de âmbito acadêmico e não da Dow; assim, os resultados serão
analisados fora da organização e esta não terá acesso às informações individuais que você
nos fornecer.
Solicito sua colaboração em responder o questionário em anexo. Não se sinta obrigado a
participar, entretanto, gostaria de contar com a sua disponibilidade e colaboração.
Solicito que o questionário preenchido seja devolvido até o dia 24 de novembro.
Anexo também, encontra-se um envelope já endereçado para devolução do mesmo.
Antecipadamente agradeço sua participação, a qual será imprescindível para conclusão
deste trabalho.
Muito obrigada.
Ana Rita Barros.
136
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
PRATICAS DE GESTÃO
Avalie, com base na escala abaixo, cada um dos itens que descrevem a sua percepção em relação às
práticas de gestão da organização. Na coluna à direita , indique o nível em que você considera em que
essa característica está presente na sua organização atual (coluna EXISTE).
1- Discordo plenamente 5- Concordo levemente
2- Discordo muito 4- Não discordo, nem concordo 6- Concordo muito
3- Discordo levemente 7- Concordo plenamente
EXISTE na minha organização
Existe
(Real)
1. Estimular a cooperação entre os trabalhadores.
2. Recompensar diferencialmente o trabalhador pelo seu desempenho
individual.
3. Preocupar-se com o trabalhador em todas as suas dimensões.
4. Priorizar as ações de recrutamento e seleção pela transitoriedade dos
contratos de trabalho.
5. Oferecer oportunidades internas de crescimento na carreira.
6. Estimular o trabalho em equipe com troca de conhecimentos e
aprendizagens.
7. Considerar que o vínculo com o trabalhador pode ser rompido a
qualquer instante.
8. Oferecer suporte para a recolocação das pessoas que deixam a
organização
9. Recompensar o trabalhador a partir do desempenho coletivo.
10. Considerar natural que seus empregados protejam e defendam seus
próprios interesses.
11. Fortalecer o vínculo de comprometimento do trabalhador com a
organização.
12. Oferecer alto grau de liberdade para o trabalhador, permitindo que ele
expresse sua forma peculiar de desempenhar o trabalho.
13. Assegurar recursos para o bem estar pessoal e familiar do
trabalhador.
14. Enfatizar aqueles treinamentos voltados para o desempenho das
tarefas do trabalho.
15. Valorizar o trabalhador que trata o seu emprego como se fosse um
negócio próprio.
-
137
Cont.,
1- Discordo plenamente
5- Concordo levemente
2- Discordo muito
4- Não discordo, nem concordo 6- Concordo muito
3- Discordo levemente
7- Concordo plenamente
EXISTE na minha organização
Existe
(Real)
16. Preocupar-se em manter os seus colaboradores.
17. Deixar para o trabalhador a responsabilidade por manter a sua
empregabilidade.
18. Favorecer a socialização que fortaleça a identificação do trabalhador
com a cultura organizacional.
19. Cumprir apenas as exigências legais por ocasião do término do
contrato.
20. Estimular a criação de redes interpessoais no seu interior.
21. Criar mecanismos para integrar os seus trabalhadores à organização.
22. Estimular algum nível de competição para melhorar o desempenho dos
trabalhadores.
23. Valorizar o intercâmbio de experiências e aprendizagens entre os
trabalhadores.
24. Recompensar diferencialmente os trabalhadores que sejam mais
empreendedores.
25. Estimular o suporte mútuo entre os trabalhadores.
26. Incentivar que o trabalhador construa redes fora da organização para
assegurar novas oportunidades de trabalho.
27. Reconhecer que os trabalhadores devem agir para afirmar os seus
interesses pessoais.
28. Estabelecer vínculos com o trabalhador que possam ser duradouros.
29. Nas ações de qualificação, priorizar o preparo para as tarefas a ele
confiadas.
30. Nos processos de seleção,valorizar a congruência entre valores
pessoais e organizacionais.
31. Oferecer apoio para que as pessoas fortaleçam sua capacidade de
responder às transformações no trabalho.
32. Estimular a comunicação, ampliando as trocas de experiências e
aprendizagens entre os trabalhadores.
33. Estimular o trabalhador a participar da elaboração do desenho do seu
cargo.
34. Oferecer aos trabalhadores oportunidades de construir competências
necessárias para o desenvolvimento de carreiras futuras mesmo fora da
organização.
138
RELAÇÃO COM A ORGANIZAÇÃO
A seguir você encontrará uma série de sentenças que procuram dimensionar a sua relação
com a organização na qual voce trabalha. Registre no espaço, o número que corresponde à
sua posição frente ao item, utilizando a escala:
1- Discordo plenamente 5- Concordo levemente
2- Discordo muito 4- Não discordo, nem concordo 6- Concordo muito
3- Discordo levemente 7- Concordo plenamente
1. Eu seria muito feliz em dedicar o resto da minha carreira nesta organização.
2. Eu realmente sinto os problemas da organização como se fossem meus.
3. Eu não sinto um forte senso de integração com esta organização.
4. Eu não me sinto emocionalmente vinculado a esta organização.
5. Eu não me sinto como uma pessoa de casa nesta organização.
6. Esta organização tem um imenso significado pessoal para mim.
7. Na situação atual, ficar nesta organização é na realidade uma necessidade
mais do que um desejo.
8. Mesmo que eu quisesse, seria muito difícil para mim deixar esta organização
agora.
9. Se eu decidisse deixar essa organização agora, minha vida ficaria bastante
desestruturada.
10. Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse essa organização.
11. Se eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização, eu poderia pensar
em trabalhar num outro lugar.
12. Uma das poucas conseqüências negativas de deixar essa organização seria
a escassez de alternativas imediatas.
13. Eu não sinto nenhuma obrigação de permanecer nesta organização.
14. Mesmo se fosse vantagem para mim, sinto que não seria certo deixar essa
organização agora.
15. Eu me sentiria culpado se deixasse essa organização agora.
16. Essa organização merece minha lealdade.
17. Eu não deixaria essa organização agora porque tenho uma obrigação moral
com as pessoas daqui.
18. Eu devo muito a essa organização.
139
FATORES DE PERMANÊNCIA
Nesta parte do questionário você irá encontrar situações que descrevem realidades do dia-a-dia do
trabalho em uma organização. Frente a estas situações você deverá posicionar-se, considerando as
duas opções extremas (A e B) descritas nos quadros. Marque com um X o intervalo entre as duas
opções que indica o nível de proximidade de sua decisão em relação às duas opções
oferecidas. O intervalo do meio deve ser assinalado quando você estiver em dúvida ou não
souber que opção escolher
.
Após fazer sua opção, responda à questão sobre o nível de importância atribuído aos motivos que
mais pesaram em sua decisão. Para responder, utilize a escala que varia do extremo grau de
importância ao menor nível de importância, atribuindo a cada razão apresentada o número
correspondente na escala.
01.Suponha que você tenha trabalhado anteriormente em uma organização da qual saiu por escolha
própria para trabalhar na organização onde trabalha atualmente. Perante a possibilidade de retorno à
organização anterior que, por sua vez, oferece as mesmas condições de trabalho da organização
atual, o que você faria?
Indique, abaixo, a importância dos motivos que justificam a opção (A ou B)
que você escolheu.
Motivos
Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
02. Uma nova organização, de mesmo porte e atuante na mesma área da organização em que vo
atua, está precisando de trabalhadores e lhe oferece uma proposta de trabalho. O que você faria?
Eu não tomaria alguma
iniciativa no sentido de mudar
para a antiga empresa.
Opção B
Eu tomaria alguma iniciativa no
sentido de mudar para a nova
empresa.
Opção
A
Eu não tomaria alguma iniciativa
no sentido de mudar para a nova
empresa.
Opção B
Eu tomaria aluma iniciativa no
sentido de mudar para a
antiga empresa.
Opção A
140
Indique, abaixo, a importância dos motivos que justificam a opção (A ou B) que você
escolheu.
Motivos
Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
03. Uma empresa de mesmo porte que a sua, mas que possui um plano de ascensão funcional
superior lhe oferece uma oportunidade de trabalho. O que você faria?
Indique, abaixo, a importância dos motivos que justificam a opção (A ou B) que você
escolheu.
Motivos
Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
04. Imagine que você recebe uma proposta de trabalho de outra organização de menor porte do que
a sua, mas que oferece um salário significativamente superior ao que você recebe na organização em
que trabalha atualmente. O que você faria?
Indique, abaixo, a importância dos motivos que justificam a opção (A ou B) que você
escolheu.
Motivos
Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
Eu não tomaria alguma
iniciativa no sentido de mudar
para a nova empresa.
Opção
A
Eu tomaria alguma iniciativa
no sentido de mudar para a
nova empresa.
Opção B
Eu não tomaria alguma
iniciativa no sentido de mudar
para a nova empresa.
Opção
A
Eu tomaria alguma iniciativa
no sentido de mudar para a
nova empresa.
Opção B
141
05. Você soube que uma nova empresa, de maior porte do que a sua, atuante na mesma área da
organização onde você trabalha e que oferece condições de trabalho equivalentes à sua está
precisando de trabalhadores. Diante dessa informação, o que você faria?
Indique, abaixo, a importância dos motivos que justificam a opção (A ou B) que você
escolheu.
Motivos
Nenhuma Pouca Muita
Gostar ou me sentir afetivamente ligado à organização.
Ter ganhos ou evitar perdas em agir dessa forma.
DADOS DEMOGRÁFICOS
Idade : _____anos
Tempo de serviço na
organização :
----------------------------------
Ano de Admissão
Sexo:
Masculino
Feminino
Estado Civil :
Solteiro (a)
Casado (a)
Divorciado (a)
Outro
Escolaridade :
Nível médio completo
Nível superior incompleto
Nível superior completo
Pós - graduado
Familia de cargo :
Adm - Administrativo
Tech - Técnico
Fs/Fl - Especialista Funcional
Nível de Renda
Até R$ 1.750,00
De R$ 1751,00 A R$ 3.500,00
De R$ 3.501,00 A R$ 5.250,00
De R$ 5.251,00 A R 7.000,00
De R$ 7.001,00 A R$ 8.750,00
De R$ 8.750,00 A R10.500,00
Acima de R$ 10.500,00
Eu tomaria alguma iniciativa
no sentido de mudar para a
nova empresa.
Opção
A
Eu não tomaria qualquer
iniciativa no sentido de mudar
para a nova empresa.
Opção B
142
APÊNDICE B
PRINCÍPIOS E PRÁTICAS
Média das Variáveis referentes à percepção dos empregados em relação aos Princípios
Community
Itens
Percepção
Média
11. Fortalecer o vínculo de comprometimento do trabalhador com a
organização.
5,69
06. Estimular o trabalho em equipe com troca de conhecimentos e
aprendizagens.
5,50
25. Estimular o suporte mútuo entre os trabalhadores. 5,44
32. Estimular a comunicação, ampliando as trocas de experiência e
aprendizagens entre os trabalhadores.
5,41
01. Estimular a cooperação entre os trabalhadores. 5,32
16. Preocupar-se em manter os seus colaboradores. 5,32
03. Preocupar-se com o trabalhador em todas as dimensões. 5,29
28. Estabelecer vínculos com o trabalhador que possam ser duradouros. 5,22
20. Estimular a criação de redes interpessoais no seu interior. 5,02
P
R
I
N
C
Í
P
I
O
S
Média - Princípios
5,35
Média das Variáveis referentes à percepção dos empregados em relação aos Práticas
Community
Itens
Percepção
Média
05. Oferecer oportunidade internas de crescimento de carreira.
5,77
31. Oferecer apoio para que as pessoas fortaleçam sua capacidade de
responder às transformações no trabalho.
5,65
30. Nos processos de seleção,valorizar a congruência entre valores
pessoais e organizacionais.
5,59
21. Criar mecanismos para integrar os seus trabalhadores à
organização.
5,56
23. Valorizar o intercâmbio de experiências e aprendizagens entre os
trabalhadores.
5,46
13. Assegurar recursos para o bem estar pessoal e familiar do
trabalhador.
5,46
18. Favorecer a socialização que fortaleça a identificação do
trabalhador com a cultura organizacional.
5,25
09. Recompensar o trabalhador a partir do desempenho coletivo. 5,20
08. Oferecer suporte para a recolocação das pessoas que deixam a
organização.
4,45
P
R
Á
T
I
C
A
S
Média - Práticas 5,37
143
Média das Variáveis referentes à percepção dos empregados em relação aos Princípios
Agency
Itens
Percepção
Média
15. Valorizar o trabalhador que trata o seu emprego como se fosse um
negócio próprio.
5,02
22. Estimular algum nível de competição para melhorar o desempenho
dos trabalhadores
4,91
12. Oferecer alto grau de liberdade para o trabalhador, permitindo que
ele expresse sua forma peculiar de desempenhar o trabalho.
4,84
10 Considera natural que seus empregados protejam e defendam seus
próprios interesses.
4,43
27. Reconhecer que os trabalhadores devem agir para afirmar os seus
interesses pessoais.
4,25
07. Considerar que o vínculo com o trabalhador pode ser rompido a
qualquer instante.
4,08
26. Incentivar que o trabalhador construa redes fora da organização
para assegurar novas oportunidades de trabalho.
3,56
P
R
I
N
C
Í
P
I
O
S
Média - Princípios
4,44
Média das Variáveis referentes à percepção dos empregados em relação aos Práticas Agency
Itens
Percepção
Média
14. Enfatizar aqueles treinamentos voltados para o desempenho das
tarefas do trabalho..
5,57
02. Recompensar diferencialmente o trabalhador pelo seu desempenho
individual.
5,32
33. Estimular o trabalhador a participar da elaboração do desenho do
seu cargo.
5,32
24. Recompensar diferencialmente os trabalhadores que sejam mais
empreendedores.
5,27
29. Nas ações de qualificação, priorizar o preparo para as tarefas a ele
confiadas.
5,25
34. Oferecer aos trabalhadores oportunidades de construir
competências necessárias para o desenvolvimento de carreiras
futuras mesmo fora da organização.
4,98
17. Deixar para o trabalhador a responsabilidade por manter a sua
empregabilidade.
4,78
04. Priorizar as ações de recrutamento e seleção pela transitoriedade
dos contratos de trabalho.
4,58
19. Cumprir apenas as exigências legais por ocasião do término do
contrato.
4,42
P
R
Á
T
I
C
A
S
Média - Práticas
5,05
144
APÊNDICE C
INDICADORES DE COMPROMETIMENTO
Escore médios dos indicadores de comprometimento afetivo
Indicadores Média
Eu seria muito feliz em dedicar o resto de minha carreira nesta
organização.
5,79
Eu realmente sinto os problemas da organização como se fossem meus.
5,69
Eu não sinto um forte senso de integração com minha organização *
5,44
Eu não me sinto emocionalmente vinculado a esta organização.*
5,37
Eu não me sinto como uma pessoa de casa na minha organização*
5,47
Esta organização tem um imenso significado pessoal para mim.
5,78
X= 5.59
Escore médios dos indicadores de comprometimento instrumental
Indicadores Média
Na situação atual, ficar com minha organização é na realidade um a
necessidade tanto quanto um desejo.
3,93
Mesmo que eu quisesse,seria muito difícil para mim deixar minha
organização agora
4,55
Se eu decidisse deixar minha organização agora, minha vida ficaria
bastante desestruturada.
4,88
Eu acho que teria poucas alternativas se deixasse esta organização.
3,86
Se eu já não tivesse dado tanto de mim nesta organização , eu poderia
considera trabalhar em outro lugar
3,29
Uma das poucas consequências negativas de deixar esta organização
seria a escassez de alternativas imediatas
3,66
X= 4.03
145
Escore médios dos indicadores de comprometimento normativo
Indicadores Média
Eu não sinto nenhuma obrigação de permanecer na minha organização.*
4,87
Mesmo se fosse vantagem para mim, eu sinto que não seria certo deixar
minha organização agora.
4,66
Eu me sentiria culpado se deixasse minha organização agora
3,87
Esta organização merece minha lealdade
5,90
Eu não deixaria minha organização agora porque eu tenho uma obrigação
moral com as pessoas daqui.
4,50
Eu devo muito a minha organização
5,33
X = 4,85
146
NOTAS
1
Adaptado de Mussak (2001).
2
Este item foi baseado em informações disponíveis na Intranet da Companhia.
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