simultaneamente objetos de atração e apreensão, desejo e medo; locais de ambigüidade e
hesitação, inquietação, ansiedade”.
Percebemos mudanças na forma como as pessoas viviam e como estabelecem seus
relacionamentos atualmente. A falta de compromisso com o outro é vista como um troféu,
a possibilidade de estar com muitas pessoas e ao mesmo tempo não precisar estabelecer
vínculo com nenhuma delas é o considerado normal, principalmente entre os jovens. Hoje
o verbo ficar é utilizado para representar a troca de carícias, o relacionamento que dura
uma noite, ou algumas vezes um beijo. Entretanto, em paralelo a isso, existe um momento
em que essas mesmas pessoas sentem falta de um companheiro, sentem falta de amar.
“Amar significa estar determinado a compartilhar duas biografias, cada qual
portando uma carga diferente de experiências e recordação, e cada qual seguindo o seu
próprio rumo. Justamente por isso, significa um acordo sobre o futuro e, portanto, sobre
um grande desconhecido” (IBID, pág. 69). A incerteza quanto ao amanhã, gera o medo,
logo, estar disposto a amar, representa a possibilidade e a disponibilidade de enfrentar
surpresas, o imprevisível, até mesmo a ponto de se magoar. “O amor é semelhante à
transcendência. É apenas outro nome para o impulso criativo, e como tal é repleto de
riscos, como o são todos os processos criativos, que nunca têm certeza do lugar em que vão
terminar” (IBID, pág.70).
“Acabamos com um paradoxo. Começamos guiados por uma esperança
de solução – apenas para encontrarmos novos problemas. Buscamos o amor para
encontrarmos auxílio, confiança, segurança, mas os labores do amor,
infinitamente longos, talvez intermináveis, geram os seus próprios confrontos, as
suas próprias incertezas e inseguranças. No amor, não há ajustes imediatos,
soluções eternas, garantia de satisfação plena e vitalícia, ou de devolução do
dinheiro no caso de a plena satisfação não ser instantânea e genuína. Todos os
recursos pagos para evitar os riscos com que a nossa sociedade de consumo nos
acostumou estão ausentes no amor. Mas, seduzidos pelas promessas dos
comerciantes, perdemos as habilidades necessárias para enfrentar e vencer os
riscos por nós mesmos. E assim tendemos a reduzir os relacionamentos amorosos
ao modo consumista, o único com que nos sentimos seguros e à vontade.
O modo consumista requer que a satisfação precise ser, deva ser, seja de
qualquer forma instantânea, enquanto o valor exclusivo, a única utilidade, dos
objetos é a sua capacidade de proporcionar satisfação. Uma vez interrompida a
satisfação, (em função do desgaste dos objetos, de sua familiaridade excessiva e
cada vez mais monótona ou porque substitutos menos familiares, não testados, e
assim mais estimulantes, estejam disponíveis), não há motivo para entulhar a casa
com esses objetos inúteis” (Bauman, 2005, pág.70).
A sociedade consumista estabelecida no pós II Guerra, promove mudanças na
maneira como nos relacionamos em pleno século XXI. A idéia de satisfação garantida, de
segurança na compra, ainda que ilusória, faz com que as pessoas agora tenham medo de se
arriscar, tenham receio com relação a tudo o que não garante as mesmas promessas de
felicidade e bem estar que o ato de comprar. O amor, assim como as relações interpessoais
num todo, passou a ser visto como uma moeda serve como objeto de troca apenas dedica-
se tempo, carinho, amor, quando temos garantias de recebê-los na mesma proporção.
Warhol (1975, pág. 51), percebeu essa mudança ainda na década de 60 e registrou em seu
livro “A Filosofia de Andy Warhol”: “Amor pode ser comprado e vendido. (...) Brigitte