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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS
AVIFAUNA E DISPERSÃO DE SEMENTES COM USO DE POLEIROS
ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE CARVÃO A
CÉU ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA.
Ricardo Vicente
Criciúma, SC
2008
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Ricardo Vicente
AVIFAUNA E DISPERSÃO DE SEMENTES COM USO DE POLEIROS
ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE CARVÃO A
CÉU ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Ciências Ambientais da
Universidade do Extremo Sul Catarinense
para obtenção do Título de Mestre em
Ciências Ambientais.
Área de Concentração:
Ecologia e Gestão de Ambientes Alterados
Orientadora:
Prof
a
. Dr
a
. Birgit Harter-Marques
Criciúma, SC
2008
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Bibliotecária: Flávia Caroline Cardoso – CRB 14/840
Biblioteca Central Prof. Eurico Back – UNESC
V632a Vicente, Ricardo.
Avifauna e dispersão de sementes com uso de poleiros
artificiais em áreas reabilitadas após mineração de carvão a céu
aberto, Siderópolis, sul de Santa Catarina / Ricardo Vicente
;
orientadora: Birgit Harter-Marques. – Criciúma: Ed. do A
utor,
2008.
100 f. : il. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado) Universidade
do Extremo Sul
Catarinense, Programa de Pós-Graduação em
Ciências
Ambientais, 2008.
AGRADECIMENTOS
A Prof.ª Drª Birgit Harter-Marques pela orientação, dedicação e empenho que
nortearam os trabalhos desta dissertação.
Ao Prof. Dr. Jairo José Zocche pela colaboração e as importantes sugestões para a
elaboração deste trabalho.
Aos colegas do Herbário Pe. Raulino Reitz, pela determinação taxonômica das
espécies vegetais, em especial a Drª Vanilde Citadini-Zanette, Prof. Dr. Robson do Santos e o
Prof. MSc. Rafael Martins.
Ao Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina
(SIECESC) pelo suporte financeiro através da bolsa de estudos e informações
complementares cedidas.
A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) por ceder a área de estudo e pelas
informações repassadas gentilmente sobre os trabalhos de recuperação realizados na área que
deram uma base firme para a realização deste estudo.
Aos colegas Alecsandro Schardosim Klein, Alexandre Miranda, Sergio Gallato,
Jader Pereira e Cláudio Ricken pela colaboração.
Ao Pedro Paulo Marques pelo valoroso auxílio na montagem do experimento.
As pessoas que acreditaram lá no começo no meu potencial e vontade de seguir na
profissão Eder Luiz Santo e Rosane Peporine Lopes, Luiz Alexandre Campos, Marcos Back,
Eduardo de Oliveira Nosse, Antonio Jornada Krebs e Nadja Zim Alexandre.
Aos colegas de pós-graduação pelo convívio e pela companhia agradável
Thiaguinho, Graziela, Serjão, André, Pará, Joana, Rodrigo, Junior, Maria Inês, Paulo e Davis.
A todos os colegas do Centro Satc de Meio Ambiente que conviveram esse período
Damião Maciel Guedes, Ademar Savi Filho, Andrei Savi, Guilherme De Lucca, Guthieri
Colombo, Gisele Eing, Ronaldo Moreira e em especial a Edilane Rocha pela enorme ajuda na
finalização e formatação do texto.
Aos meus pais Luiz Antonio Vicente (in memorian) e Maria Matilde Vicente e meu
irmão Marcos Vicente que nunca pouparam esforços para que este momento se realizasse que
deram apoio e foram base forte em todos os momentos difíceis, curtindo comigo todos os
momentos felizes.
A todos que de alguma maneira colaboram para o bom desenvolvimento deste
estudo.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................................6
CAPÍTULO 1: AVIFAUNA DE UM REMANESCENTE FLORESTAL E AVALIAÇÃO
DO POTENCIAL DE DISPERSÃO DE SEMENTES POR AVES EM POLEIROS
ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE CARVÃO A CÉU
ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA.....................................................7
Resumo...................................................................................................................................7
Abstract...................................................................................................................................8
1 Introdução............................................................................................................................9
2 Materiais e métodos...........................................................................................................12
2.1 Localização da área de estudo ....................................................................................12
2.2 Clima ..........................................................................................................................14
2.3 Reconstrução do solo e da vegetação .........................................................................14
2.4 Hidrografia .................................................................................................................15
2.5 Geologia .....................................................................................................................15
2.6 Vegetação ...................................................................................................................16
2.7 Critérios para a Implantação dos Poleiros Artificiais.................................................17
2.8 Poleiros Artificiais......................................................................................................18
2.9 Riqueza da avifauna na área de estudo.......................................................................20
3 Resultados e discussão ......................................................................................................21
3.1 Riqueza de aves ..........................................................................................................21
3.2 Aves que utilizam os poleiros artificiais ....................................................................30
3.3 Influência do crescimento das espécies arbóreas pioneiras nas visitas das aves aos
poleiros artificiais. ............................................................................................................32
4 Conclusões.........................................................................................................................35
5 Referências ........................................................................................................................36
CAPÍTULO 2: DISPERSÃO DE SEMENTES POR AVES COM O USO DE POLEIROS
ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE CARVÃO A CÉU
ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA...................................................42
Resumo.................................................................................................................................42
Abstract.................................................................................................................................43
1 Introdução..........................................................................................................................45
2 Materiais e métodos...........................................................................................................47
2.1 Localização da Área de Estudo ..................................................................................47
2.2 Clima ..........................................................................................................................48
2.3 Vegetação ...................................................................................................................48
2.4 Poleiros Artificiais......................................................................................................49
2.5 Coleta de referência e de sementes nos poleiros artificiais. .......................................50
2.6 Análise dos dados.......................................................................................................51
3 Resultados..........................................................................................................................52
3.1 Espécies vegetais com dispersão zoocórica no remanescente florestal da área
estudada ............................................................................................................................52
3.2 Sementes coletadas nos coletores...............................................................................55
3.2.1 Riqueza e abundância..............................................................................................55
3.2.2 Fenologia .................................................................................................................61
3.3 Influência da distância do remanescente florestal na dispersão de sementes nos
coletores............................................................................................................................64
3.4 Influência do crescimento de espécies arbóreas pioneiras na deposição de sementes
nos poleiros artificiais.......................................................................................................67
4 Discussão...........................................................................................................................67
4.1 Riqueza, abundância e fenologia de sementes nos coletores com poleiros................67
4.2 Eficiência da instalação de poleiros artificiais em áreas degradadas na chuva de
sementes ...........................................................................................................................69
4.3 Influência da distância da fonte na chuva de sementes ..............................................72
5 Conclusão ..........................................................................................................................73
6 Referências ........................................................................................................................75
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...............................................................................................79
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................80
6
APRESENTAÇÃO
Ambientes alterados por distúrbios de origem natural (e.g. formação de clareiras,
queimadas, vulcanismo) ou antrópica (e.g. desmatamento) podem receber, através da fauna,
uma importante contribuição para a recolonização e reestruturação de sua vegetação
(WHITTAKER; JONES, 1994; PARROTA; KNOWLES; WUNDERLE, 1997;
WUNDERLE, 1997). Isso ocorre porque animais como aves e mamíferos podem transportar
uma grande quantidade de sementes de diversas espécies para esses locais, catalisando os
processos de regeneração vegetal, principalmente nas regiões tropicais, onde a zoocoria é a
principal forma de dispersão de sementes (HOWE; SMALLWOOD, 1982).
Dentre os fatores que influenciam a dispersão zoocórica em áreas em regeneração
podemos destacar: 1. a riqueza e a abundância de frugívoros dispersores de sementes na
região; 2. a presença de atrativos na forma de alimento, poleiros ou abrigo para que esses
animais freqüentem a área em regeneração e 3. a proximidade de áreas com vegetação bem
conservada, servindo como fonte de propágulos (CARDOSO-DA-SILVA; UHL; MURRAY,
1996; MARTÍNEZ-RAMOS; SOTO-CASTRO, 1993).
A presença de atrativos é, dentre esses fatores, o mais fácil de ser manejado, uma
vez que através da implantação de poleiros artificiais pode-se direcionar os estágios iniciais da
sucessão para obtenção de uma vegetação com estrutura mais heterogênea e com maior
ocorrência de espécies ornitocóricas, aumentando assim a atratividade para aves frugívoras e,
conseqüentemente, a chuva de sementes nesses locais.
Este trabalho teve como objetivos contribuir para o conhecimento da dispersão de
sementes e da avifauna em uma área reabilitada após mineração a céu aberto.
No CAPÍTULO 1 são apresentados os resultados do levantamento da avifauna
realizado, na borda e no interior de um remanescente florestal adjacente à área reabilitada e
nos poleiros artificiais.
No CAPÍTULO 2 são apresentados dados referentes à dispersão de sementes por
aves em poleiros artificiais durante o período de um ano no município de Siderópolis, sul de
Santa Catarina.
7
CAPÍTULO 1: AVIFAUNA DE UM REMANESCENTE FLORESTAL E
AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE DISPERSÃO DE SEMENTES POR AVES EM
POLEIROS ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE
CARVÃO A CÉU ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA.
RESUMO
A facilidade de deslocamento das espécies da avifauna e seu raio de ação contribuem
significativamente para a dispersão de sementes. O estudo de hábitos alimentares e a
utilização de poleiros artificiais podem indicar quais espécies são potencialmente dispersoras
de sementes em áreas abertas. No sul de Santa Catarina, as empresas carboníferas foram
condenadas pelo Ministério Público Federal a recuperar suas áreas de passivo ambiental,
gerando grande volume de estudos. Entretanto, informações sobre a utilização da fauna como
agente contribuinte para a recuperação ainda são muito precárias. A área de estudo está
localizada no município Siderópolis no sul do Estado de Santa Catarina e é conhecida como
Campo Malha II Leste (28º 35’S e 49º 25’W). A área total recuperada possui 134 hectares e
no seu entorno encontram-se pequenos remanescentes florestais entremeados por plantações
de eucalipto. Com o objetivo de identificar as espécies de aves que são potencialmente
dispersoras de propágulos em uma área recuperada após mineração a céu aberto, foi realizado
um levantamento da avifauna durante um ano, em dois transectos, estabelecidos no interior e
na borda de um remanescente florestal em estágio sucessional climácico e em uma área
recuperada de 1,15 ha, onde foram instalados 12 poleiros artificiais. Com um esforço amostral
de oito horas/mês em cada transecto, foram registradas 94 espécies pertencentes a 92 gêneros
e a 41 famílias. O ambiente preferencialmente utilizado pelas aves foi a borda do
remanescente com a observação de 70 espécies, seguido do transecto localizado no seu
interior com 15 espécies e 14 espécies utilizavam os poleiros artificiais em área aberta. Dentre
elas, Pitangus sulphuratus (bem-te-vi), Tyrannus melancholicus (suiriri), Turdus rufiventris
(sabiá-laranjeira), Turdus albicollis (sabiá-coleira) e Mimus saturninus (sabiá-do-campo)
foram consideradas potenciais dispersoras de sementes na região, devido a seus hábitos
alimentares, sua freqüente ocorrência nos poleiros e por serem observadas utilizando frutos de
espécies nativas na borda do remanescente florestal estudado. Os resultados mostram que a
técnica de poleiros artificiais intensifica a presença destas aves nas áreas recuperadas,
8
podendo aumentar a deposição de sementes e, desta forma, auxiliando no processo de
regeneração vegetal.
Palavras-chave: Avifauna, dispersão de sementes, recuperação de áreas degradadas.
ABSTRACT
The dislocation facility of avifauna species and their action ray significantly contribute for
seed dispersion. The food behavior and the use of perches can indicate which species are
potential seed dispersers in open-areas. In south of Santa Catarina state, the coal companies
were condemned by Ministério Público Federal to reclaim their environment passive area,
resulting in a large number of studies. Nevertheless, information about the fauna utilization as
a contributing agent for reclamation is still very precarious. The study area is located in
Siderópolis city in the South of Santa Catarina state and is known by Campo Malha II Leste,
located among the coordinates 28º 35’L e 49º 25’W. It represents a reclaimed area of 134
hectares surrounded by small forest remnants and high proportion of eucalypt plantations.
With the aim of identifying the bird species which are potential seed dispersers in a reclaimed
area after open coal mining, it was carried out a survey of avifauna during one year, in two
transects, established in edge and interior of a forest remnant with climacic sucessional stage
and in a reclaimed area of 1,15 ha, where 12 perches were installed. With a sample effort of
eight hours/month in each transect, it was observed a total of 94 species belonging to 92
genera and 41 families. The environment mostly utilized by birds was the edge of the forest
where 70 species were observed, followed by internal transect with 15 species and 14 species
that utilized the perches. Among them, Pitangus sulphuratus (bem-te-vi), Tyrannus
melancholicus (suiriri), Turdus rufiventris (sabiá-laranjeira), Turdus albicollis (sabiá-coleira)
and Mimus saturninus (sabiá-do-campo) were considered potential seed dispersers in the
region, due to their food behavior, their usual occurrence in the perches and because they are
observed using fruits from native species at edge of the forest remnant studied. The results
show that using perches intensifies the presence of these birds in the reclaimed area,
improving the seed deposition and, at this manner, contributing for natural regeneration
process.
Keywords: Avifauna, seed dispersion, degraded area reclamation.
9
1 INTRODUÇÃO
As aves apresentam diversas adaptações quanto ao modo de vida e hábito alimentar,
de maneira que podem ser subdivididas em grupos funcionais, ou seja, conjuntos de animais
que utilizam recursos ambientais para alimentação, reprodução, repouso e abrigo de maneira
similar (FRENCH; PICOZII, 2002). Dentro estes, as aves frugívoras representam um
importante grupo dentro do taxa, desempenhando relevante papel ecológico com a realização
da dispersão de sementes.
As aves dispersoras de sementes apresentam características próprias que resultam em
diferenças quanto à sua eficácia na dispersão. Variações no comportamento, como o modo de
apanhar os frutos e o manuseio das sementes no bico, o tempo de retenção e o tratamento
dado às sementes ingeridas e a qualidade de sua deposição no ambiente podem distinguir a
ação dos dispersores e, por conseguinte, o sucesso reprodutivo de uma planta (HERRERA;
JORDANO, 1981). Segundo Argel-de-Oliveira (1998), são muito poucas as aves
exclusivamente frugívoras. Entretanto, são inúmeros os grupos de aves que se alimentam de
frutos de maneira habitual e em quase todas as famílias de aves terrestres ao menos alguns
representantes que aproveitam esse recurso alimentar ao menos esporadicamente (SNOW,
1981).
Segundo McDonnel e Stiles (1983), a deposição de sementes por aves influencia a
vegetação e reciprocamente, a presença desses focos de recrutamento na vegetação pode
influenciar os padrões de distribuição das aves que dispersam sementes. Ao depositar
sementes de espécies de estágios sucessionais iniciais em áreas abertas antropizadas, as aves
contribuem para o aumento na cobertura e biomassa vegetal. Aumentando a cobertura vegetal
e o sombreamento do solo, surgem condições propícias para o estabelecimento de espécies
sucessionais secundárias mais exigentes em termos de umidade e sombreamento. Esse
processo de sucessão em áreas alteradas e não utilizadas pelo ser humano é fundamental para
a proteção do solo e dos recursos hídricos, uma vez que a cobertura vegetal mais densa
diminui a ação da erosão e dificulta o assoreamento dos rios. Desta maneira, a dispersão das
sementes por aves inicia o processo de sucessão vegetal e, sem um suprimento adequado de
propágulos, o sucesso da recuperação de uma área degradada ficará comprometido
(REDENTE et al., 1993).
As aves apresentam várias vantagens como agentes dispersores, tais como a
facilidade de deslocamento, um raio de ação muito grande e, dependendo do volume
10
corpóreo, a capacidade de carregar quantidades significativas de material. Desta maneira, as
aves têm a função de disseminar inúmeras espécies vegetais, que acabam contribuindo para a
colonização de áreas alteradas por ação antrópica (McCLANAHAN; WOLFE, 1987).
Como uma das mais importantes características do meio, a vegetação exerce enorme
influência nas comunidades de aves. Interações na vegetação produzem efeitos diretos na
avifauna, principalmente pela redução ou alteração de dois atributos chaves: alimento e abrigo
(ODUM, 1971). Segundo Desgrandes (1987), aves são animais sensíveis ao padrão
fisionômico e à composição da flora associada. A maioria das aves de florestas tropicais, por
exemplo, são intolerantes às condições externas desses ambientes, possuindo poder limitado
de dispersão (TURNER; CORLETT, 1996).
Segundo Shafer (1990) e Faaborg et al. (1993), o maior problema das formações
florestais e da avifauna é representado pela fragmentação e a insularização de habitats,
resultante da conversão de amplas e contínuas extensões de vegetação em fragmentos isolados
por habitat diferentes. Mudanças na estrutura e composição da vegetação interferem na
organização populacional da fauna e sua distribuição da borda ao interior florestal por alterar
a quantidade de nichos disponíveis para abrigar uma determinada diversidade de habitantes
que se posicionam nos diferentes níveis de estratificação (MURCIA, 1995; RESTREPO;
GÓMEZ, 1998), promover mudanças na distribuição de predadores e de recursos alimentares
básicos (LAURENCE, 2000), e por tornar o ambiente remanescente pequeno para suportar
espécies que necessitam de grandes áreas para sobreviver (DICKMAN, 1987).
Como muitas aves estão restritas a certos tipos de hábitat, os padrões de sua
distribuição relacionam-se diretamente com os aspectos florísticos e estruturais da vegetação
(GOERCK, 1999). Segundo Gilpim e Soulé (1986) e Faaborg et al. (1993), a perda da
diversidade de aves pode ser qualitativa ou quantitativa e, em ambos os casos, determinam as
condições de manutenção e distribuição das populações, de acordo com a adaptabilidade de
cada espécie. Alterações provenientes das atividades humanas tendem a favorecer as espécies
generalistas que se constituem como as predominantes em ambientes com amplas
modificações antrópicas (TILGHMAN, 1987).
A Mata Atlântica apresenta, com 1020 espécies, uma das mais elevadas riquezas de
aves do planeta. Destas, 200 são endêmicas, 83 estão ameaçadas de extinção e mais do que a
metade vive quase que exclusivamente em hábitats pouco alterados (GOERCK, 1997; MMA,
2003).
No Estado de Santa Catarina existem cerca de 600 espécies de aves, tendo como base
pesquisas na bibliografia, em coleções de museus e pesquisas de campo (ROSÁRIO, 1996).
11
Segundo Azevedo e Guizone-Jr. (2006), o conhecimento das aves em Santa Catarina pode ser
considerado satisfatório, devido aos trabalhos de pesquisadores pioneiros como Sick; Rosário;
Azevedo (1981) e Rosário (1996). Posteriormente, foram realizados alguns trabalhos nas
áreas litorâneas do Estado (BRANCO, 2003; BRANCO; MACHADO; BOVENDORP, 2004;
PIACENTINI; CHAMPBELL-THOMPSON, 2006). Entre os trabalhos realizados fora da
área litorânea pode ser citado o de Marterer (1996) que estudou comunidade de aves no Morro
do Baú, localizado entre os municípios de Ilhota e Luiz Alves, e o de Azevedo (2006) que
levantou informações sobre a avifauna em estudos de Impacto Ambiental para licenciamento
de empreendimentos em sete diferentes regiões do estado de Santa Catarina.
Para o sul do Estado, trabalhos sobre a avifauna são mais raros, podendo-se utilizar
como fonte de pesquisa as listas geradas através dos trabalhos de Licenciamento da USITESC
(Usina Termo Elétrica Sul Catarinense), onde foram registradas 132 espécies de aves
(IPAT/UNESC, 2003).
Desta forma ainda existem poucos estudos que enfatizam a composição da avifauna
no sul do estado, principalmente levando em consideração que esse grupo é utilizado como
dispersores potenciais de sementes que auxiliam na a recuperação de áreas antropizadas.
No sul de Santa Catarina, empresas carboníferas foram condenadas solidariamente
pelo Ministério Público Federal a recuperar suas áreas de passivo ambiental (ALEXANDRE,
1999), gerando assim um grande volume de estudos sobre recuperação destas áreas e a
utilização de medidas para acelerar os processos de recuperação. Algumas das medidas visam
diminuir os custos dos projetos, utilizando métodos naturais como o uso de poleiros naturais
onde árvores remanescentes são deixadas nas áreas para atraírem espécies da avifauna
dispersoras. Porém, pode ser observado um número muito pequeno destas árvores,
necessitando agregar técnicas como, por exemplo, a instalação de poleiros artificiais.
Experimentos com a introdução de poleiros artificais com capacidade de atrair
animais dispersores, principalmente aves e morcegos, têm demonstrado que esta prática é
eficiente para o sucesso de muitos programas de recuperação de áreas degradadas
(McCLANAHAN; WOLFE, 1993; McDONNEL; STILES, 1983; ROBINSON; HANDEL,
1993). A grande vantagem dessa técnica, quando comparada às tradicionais técnicas de
recrutamento vegetal, está no fato de que a composição florística da vegetação que cobrirá a
área será semelhante a das áreas adjacentes, pois os propágulos serão provenientes dessas
áreas (CAMBELL; LYNAM; HATTON, 1990). No Brasil, alguns trabalhos vêm buscando
avaliar o uso destas estruturas em áreas degradadas (BECHARA, 2006; GUEDES; MELO;
GRIFFITH, 1997; MELO, 1997; OLIVEIRA, 2006; ZANINI; GRANADE, 2005).
12
Em Santa Catarina, metodologias que utilizam meios naturais para recuperação
ambiental e informações sobre a utilização da fauna como agente contribuinte para a
recuperação ainda são muito precárias. Mesmo existindo várias listas que registram as
espécies de aves detectadas para o Estado, muitas áreas carecem de estudos sobre a riqueza de
espécies, principalmente nas áreas degradadas pela mineração a céu aberto. Partindo da
necessidade de conhecer a avifauna e seu potencial na dispersão de sementes, o objetivo deste
trabalho foi realizar levantamento da avifauna em um remanescente florestal no município de
Siderópolis, Santa Catarina, bem como identificar as espécies de aves que utilizam poleiros
artificiais instalados em uma área reabilitada pós-mineração de carvão a céu aberto próxima
do remanescente florestal e as espécies que são potencialmente dispersoras de sementes nesta
área.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Localização da área de estudo
A área estudada situa-se na subbacia do rio Fiorita, pertencente à Bacia Hidrográfica
do rio Araranguá, no nordeste da cidade de Siderópolis, Santa Catarina, compreendido entre
as coordenadas 28º 35’S e 49º 25’W, em áreas intensamente mineradas a céu aberto para
extração de carvão. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresa responsável pela
área, deu o nome à área de Campo Mina Malha II Leste, onde atividades ligadas a explotação
de carvão a céu aberto vigoraram até 1981 (IPAT/UNESC 2002a) (Fig. 1).
13
Figura 1 - Localização da área de estudo em Siderópolis, SC. Fonte: IPAT/UNESC (2002a)
14
2.2 Clima
Segundo a classificação de Köppen, predomina na região o clima mesotérmico
úmido (Cfa), caracterizado pelo inverno pouco intenso, com possibilidades de gradientes
térmicos diários inferiores a 10ºC e ocorrência de frentes frias com temperaturas abaixo de
0°C, possibilitando a ocorrência de geadas, enquanto o verão é quente com média acima de
22°C (OMETTO, 1981). A precipitação média na região carbonífera catarinense é de 1.400 a
1.600 mm/ano, não havendo índices pluviométricos mensais inferiores a 60 mm (EPAGRI;
CIRAM, 2001).
2.3 Reconstrução do solo e da vegetação
Os solos encontrados na região são classificados como Argilossolos Podzólico
Vermelho-Escuro (DUFLOTH et al., 2005).
Após as atividades de mineração de carvão a céu aberto, o substrato resultante
constituiu-se em uma mistura desordenada de diversos materiais que compunham o perfil
geológico original anterior à extração. Montes cônicos de até 30 m de altura, contendo
matacões de arenito, siltito e outros materiais, dominaram a paisagem, caracterizada como
paisagem lunar.
O Diagnóstico Ambiental e o PRAD da área de estudo foram realizados em junho de
2002 e as atividades de recuperação iniciaram no final do mesmo ano (IPAT/UNESC 2002b).
O PRAD dividiu a área em 21 zonas homólogas para facilitar a execução das atividades de
recuperação. Dentre as atividades previstas foi realizada a retirada de rejeitos piritosos,
remodelagem do terreno, incluindo retaludamento das margens do rio Fiorita, construção de
nova estrada e instalação de canaletas de drenagem, tratamento das águas de lagos com adição
de calcário em pedra, aplicação e incorporação de calcário em pó aos estéreis na proporção de
25 a 30 t/ha, recobrimento dos estéreis com uma camada de 20 a 50 cm de argila,
incorporação de calcário, turfa e adubos orgânico e químico ao solo argiloso. A área foi
revegetada com três espécies herbáceas e a introdução das espécies arbustivas e arbóreas
15
ocorreu em três fases. Ainda de acordo com o PRAD, para estas duas últimas formas de vida
foram introduzidas espécies pioneiras na primeira fase, secundárias iniciais na segunda fase e
na terceira fase as secundárias tardias e climácicas.
2.4 Hidrografia
O município de Siderópolis está inserido na sub-bacia do rio Fiorita, que é um dos
fluentes da margem esquerda do rio Mãe Luzia que faz parte da Bacia Hidrográfica do
Araranguá (ALEXANDRE, 2000). O rio Fiorita nasce a nordeste do município passando por
16 áreas de mineração de carvão a céu aberto, localizadas a partir do Bairro Rio Fiorita
(KELM 1999).
Atualmente, os recursos hídricos da região estão comprometidos pelas atividades
relacionadas com a lavra, transporte e beneficiamento do carvão mineral, sendo essas as
principais causas da degradação. O rio Fiorita sofre influência da mineração na maior parte de
sua extensão devido às antigas áreas de lavra de carvão a céu aberto, drenagens de minas de
subsolo e deposição de rejeitos piritosos. Além dessas fontes, atualmente o rio Fiorita recebe
águas contaminadas provenientes de usinas de rebeneficiamento de rejeitos de minas e de
usinas de beneficiamento de carvão. A degradação está relacionada com a geração de
drenagem ácida de mina, originada a partir da reação de oxidação de minerais sulfetados,
como por exemplo, a pirita - FeS
2
(ALEXANDRE, 1999).
Cabe ressaltar que estão em andamento atividades de recuperação ambiental em uma
área de aproximadamente 194 ha localizada na vila Fiorita, onde pode ser observada a
regeneração da vegetação espontânea e introduzida por meio de projetos de recuperação e
também a melhora da qualidade das águas do rio Fiorita conforme descrito nos relatórios de
monitoramento ambiental realizados pela empresa responsável pela área.
2.5 Geologia
A área estudada está situada na Bacia Hidrográfica do Rio Araranguá, nas
proximidades da Serra do Rio do Rastro onde ocorre a seqüência de rochas sedimentares e
16
vulcânicas que constituem a estratigrafia da borda leste da Bacia do Paraná no Estado de
Santa Catarina. Bordejando a Bacia do Paraná aflora o embasamento cristalino, composto de
rochas granitóides tardi a pós-tectônicas. Na região onde localiza-se o Campo Mina Malha II,
afloram rochas pertencentes às formações Rio Bonito, Palermo, Irati e Serra Geral. De
maneira subordinada, junto aos cursos de água que drenam a área, ocorrem pequenos
depósitos aluviais (KREBS et al., 1982; IPAT/UNESC, 2002a).
2.6 Vegetação
A vegetação encontrada na região do estudo é classificada como Floresta Ombrófila
Densa formação submontana por possuir altitude de aproximadamente 170 m (TEIXEIRA et
al., 1986).
Originalmente, esta formação vegetacional caracterizava-se por apresentar árvores de
grande porte de aproximadamente 25m e possuir submata composta por plântulas de
regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de
pequeno porte e de lianas herbáceas em maior quantidade (TEIXEIRA et al., 1986).
Segundo Klein (1980), um importante aspecto fitofisionômico da região é a elevada
densidade e extraordinária heterogeneidade quanto às espécies de árvores e arbustos, bem
como o elevado número de epífitas, dentre as quais se destacam bromélias, aráceas,
orquidáceas, piperáceas e diversas famílias de pteridófitas.
Esta tipologia florestal é, portanto, constituída por densos agrupamentos arbóreos,
formando diversos estratos. No solo são encontradas, principalmente, pteridófitas e
marantáceas com predomínio da Calathea sp. (caeté), as quais, às vezes, cobrem quase que
completamente o solo (KLEIN, 1979).
Atualmente, a vegetação no município de Siderópolis é constituída por vários
remanescentes de vegetação secundária resultantes de processos de fragmentação. Este
processo de redução e isolamento da vegetação natural tem conseqüências sobre a estrutura e
os processos das comunidades vegetais. Além da evidente redução na área original dos
hábitats, estudos relatam extinções locais e alterações na composição e abundância de
espécies que levam à alteração, ou mesmo a perda, dos processos naturais das comunidades
(SCARIOT et al., 2003).
Segundo Martins (2005), a região de Siderópolis apresenta-se descaracterizada,
17
sendo que o remanescente florestal por ele estudado considerado o único em estádio avançado
de regeneração, próximo a uma extensa área degradada pela mineração de carvão a céu
aberto, o que denota o isolamento deste fragmento.
Não somente a atividade mineradora, mas também outros fatores vêm colocando em
risco a dinâmica sucessional da vegetação na região carbonífera, principalmente pelo uso de
espécies exóticas (Eucalyptus spp., Pinus spp. e Hovenia dulcis Thunb.) nos processos de
recuperação das áreas mineradas (MARTINS, 2005).
2.7 Critérios para a Implantação dos Poleiros Artificiais
Partindo do princípio que as fontes de propágulos para a área restaurada tem a sua
origem nos remanescentes florestais localizados no entorno e considerando-se que a
probabilidade de uma ave oriunda desses remanescentes pousar em um poleiro instalado em
área aberta decresce com o aumento da distância do poleiro da borda da formação florestal,
estipulou-se que a metade da distância entre os remanescentes seria a distância máxima para a
alocação da última linha de poleiros.
Mediu-se então a distância entre os dois remanescentes florestais que delimitam a
área restaurada na qual foram instalados os poleiros (Fig. 2) e esta distância foi dividida pela
metade, sendo esta representando o final da área de implantação dos poleiros onde foi
instalada a última linha de poleiros (Fig. 3). Desta maneira, a área escolhida para a instalação
dos poleiros resultou em 1,15 hectares que faz fronteira ao norte e ao oeste com o rio Fiorita e
ao sul com o remanescente florestal estudado.
18
Figura 2 - Distância entre o remanescente florestal estudado e o remanescente mais próximo medido para
determinar a instalação das linhas de poleiros. Fonte: Google Earth (2007) modificado.
Figura 3 - Localização das linhas de poleiros. Fonte: Google Earth (2007) modificado.
2.8 Poleiros Artificiais
Doze poleiros artificiais com coletores instalados foram montados aa área
145 m
Linhas de
instalação
de poleiros
Remanescente estudado
290 metros
19
determinada pelos critérios da implantação a uma distância de 30 metros entre si. Entre os
poleiros com coletores foram intercalados doze coletores sem poleiros, servindo como
testemunhas (Fig. 4).
Figura 4 - Localização da área de estudo (escala: 1:20 000) com indicação dos pontos de instalação dos poleiros
e testemunhas. Área de estudo = 1,15 ha. Fonte: Centro de Cartografia do IPAT/UNESC.
Com base nos estudos de Melo (1997) com algumas modificações, foram construídos
doze poleiros artificiais com toras de madeira de eucalipto de 7,0m de comprimento, nos
quais foram dispostos, em cruz, no total doze pontos de pouso de 1,0m de comprimento e 1,0
cm de diâmetro, sendo o primeiro ponto instalado a seis metros de altura, o segundo a cinco
metros e o terceiro a quatro metros (Fig. 5). Para coletar as sementes, foram construídos 24
coletores de 1,5 x 1,5 m (área de 2,25m
2
), confeccionados de madeira e com o fundo de nylon
permeável à água onde doze deles foram colocados a 0,80m do solo em baixo dos poleiros e
doze serviram como coletores testemunhas que foram instalados intercalados com os coletores
com poleiros (Fig. 5)
20
Figura 5 - Detalhe do poleiro artificial com coletor (no segundo plano) e do coletor testemunha (no primeiro
plano), segundo proposto por Melo (1997).
2.9 Riqueza da avifauna na área de estudo.
As observações da avifauna foram realizadas, mensalmente, entre os meses de abril
de 2006 e março de 2007, ao longo de duas trilhas preexistentes nas quais foram estabelecidos
dois transectos de 500m cada no interior do remanescente florestal (TR 01) e na borda do
mesmo (TR 02) (Fig. 6). As observações das espécies de aves que utilizaram os poleiros
artificiais foram realizadas, mensalmente, entre os meses de julho de 2006 e junho de 2007 e
este transecto de observação foi denominado de (TR 03). As observações foram realizadas em
horários alternados durante os dias de levantamento. Os transectos foram percorridos durante
quatro horas no período da manhã e quatro no período da tarde, totalizando oito horas de
observação por transecto e oito horas mensais de observação na área de instalação dos
poleiros artificiais. Desta maneira, cada transecto de observação recebeu um esforço amostral
de 96 horas de levantamento distribuídas em 12 amostragens. O levantamento da avifauna foi
realizado através de reconhecimento visual (com o uso de binóculo SANSUNG 7-15 X 35
mm) e auditivo das espécies que ocorrem na área, sendo registrada a data, o horário e a
espécie vegetal na qual foram observadas.
21
O hábito e as fontes alimentares das espécies de aves foram registrados em campo
por observação direta nas árvores com frutos, diferenciando visitas exploratórias para
alimentação de visitas para repouso. As observações foram comparadas e complementadas
com literaturas especificas (LA-PENÃ; RUMBOLL, 1998; MOTTA-JÚNIOR, 1991;
ROSÁRIO, 1996; SICK, 1997).
Figura 6 - Localização da área de estudo (escala 1:20 00) com indicação dos transectos de observação. Fonte:
Centro de Cartografia do IPAT/UNESC.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Riqueza de aves
Foram registradas nas 288 horas de amostragem nos dois transectos no remanescente
e na área da implantação dos poleiros artificiais no período de um ano, 94 espécies, 92
gêneros e 41 famílias de aves (Tab. 1). A curva cumulativa de espécies mostra tendência à
estabilização por volta da sexta campanha amostral em dezembro de 2006, quando se atingiu
87 espécies, aumentando mais três na campanha de janeiro, uma em março, uma em maio e
uma em junho (Fig. 7).
22
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun
N° acumulativo de amostras
N° acumulativo de espécies
Figura 7 - Curva de acumulação das espécies de aves registradas na área de estudo em Siderópolis, SC, referente
a 288 horas amostrais entre julho/2006 e junho/2007.
Tabela 1 - Lista das espécies de aves registradas na área estudada, ordenadas segundo SICK (1997) com as
modificações sugeridas pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2007). LEGENDA: R = residente
(evidências de reprodução no país disponíveis); VS = visitante sazonal oriundo do sul do continente; VN =
visitante sazonal oriundo do hemisfério norte; VA = vagante (espécie de ocorrência aparentemente irregular no
Brasil; pode ser um migrante regular em países vizinhos, oriundo do sul [VA (S)], do norte [VA (N)] ou de oeste
[VA (O)], ou irregular num nível mais amplo [VA]); D = status desconhecido; O = onívoro; P = piscívoro; I =
insetívoro; Pl = planctívoro; C = carnívoro; F = frugívoro; G = granívoro; N = nectarívoro; Cn = carcionófago.
A* = ambientes de ocorrência no transecto 3 rea restaurada); L = lagoa; B = banhado; V = em vôo; Ca =
campo aberto.
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
Tinamidae Gray, 1840
Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) inhambu-chintã
R O X
Anatidae Leach, 1820
Anas discors Linnaeus, 1766 marreca-de-asa-azul
VA (N)
Pl L
Cracidae Rafinesque, 1815
Ortalis guttata (Spix, 1825) aracuã
R C/I X
Ardeidae Leach, 1820
23
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) maria-faceira
R O Ca
Egretta thula (Molina, 1782) garça-branca-pequena
R O Ca
Threskiornithidae Poche, 1904
Phimosus infuscatus (Lichtenstein, 1823)
tapicuru-de-cara-
pelada
R O Ca
Cathartidae Lafresnaye, 1839
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
urubu-de-cabeça-
vermelha
R Cn V
Coragyps atratus (Bechstein, 1793)
urubu-de-cabeça-
preta
R Cn X
Accipitridae Vigors, 1824
Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758) gavião-tesoura
R O
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó
R C X X
Falconidae Leach, 1820
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) carrapateiro
R C X
Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri
R C/I X
Rallidae Rafinesque, 1815
Aramides cajanea (Statius Muller, 1776) saracura-três-potes
R O X
Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819) saracura-sanã
R O X
Porphyrio martinica (Linnaeus, 1766) frango-d'água-azul
R O L
Charadriidae Leach, 1820
Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero
R I
Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854
Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã
R O
Columbidae Leach, 1820
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa
R G/F X X
Columbina picui (Temminck, 1813) rolinha-picui
R G/F X X
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 juriti-pupu
R G/F X X
Psittacidae Rafinesque, 1815
Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817)
tiriba-de-testa-
vermelha
R F V
Cuculidae Leach, 1820
R
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato
R I X
24
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto
R I X
Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco
R I X
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci
R I X
Tytonidae Mathews, 1912
Tyto alba (Scopoli, 1769) coruja-da-igreja
R C
Caprimulgidae Vigors, 1825
Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) bacurau-tesoura
R I X
Trochilidae Vigors, 1825
Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788)
beija-flor-de-fronte-
violeta
R Ne X
Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818)
beija-flor-de-papo-
branco
R Ne X
Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788)
beija-flor-de-
garganta-verde
D Ne X
Trogonidae Lesson, 1828
Trogon curucui Linnaeus, 1766
surucuá-de-barriga-
vermelha
R F X
Alcedinidae Rafinesque, 1815
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)
martim-pescador-
grande
R P X
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)
martim-pescador-
pequeno
R P X
Bucconidae Horsfild, 1821
Nystalus chacura (Vieillot, 1856) João-bobo
I I X X
Ramphastidae Vigors, 1825
Ramphastos dicolorus Linnaeus, 1766 tucano-de-bico-verde
R F/C X X
Picidae Leach, 1820
Picumnus temminckii Lafresnaye, 1845
pica-pau-anão-de-
coleira
R I X X
Veniliornis mixtus (Boddaert, 1783) pica-pau-chorão
R I X X
Celeus flavescens (Gmelin, 1788)
pica-pau-de-cabeça-
amarela
R I X X
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo
R I X
25
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
Thamnophilidae Swainson, 1824
Thamnophilus caerulescens Vieillot, 1816
choca-da-mata
R I X
Formicivora melanogaster Pelzeln, 1868
formigueiro-de-
barriga-preta
R I X
Myrmeciza squamosa Pelzeln, 1868
papa-formiga-de-
grota
R I X
Formicariidae Gray, 1840
Formicarius colma Boddaert, 1783 galinha-do-mato
R I X
Dendrocolaptidae Gray, 1840
Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) arapaçu-verde
R I X
Xiphocolaptes albicollis (Vieillot, 1818)
arapaçu-de-garganta-
branca
R I
Lepidocolaptes squamatus (Lichtenstein,
1822)
arapaçu-escamado
R I X
Furnariidae Gray, 1840
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) joão-de-barro
R I X
Synallaxis ruficapilla Vieillot, 1819 pichororé
R I X
Synallaxis spixi Sclater, 1856 joão-teneném
R I X
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) curutié
R I X
Philydor atricapillus (Wied, 1821) limpa-folha-coroado
R I X
Tyrannidae Vigors, 1825
Poecilotriccus plumbeiceps (Lafresnaye,
1846)
tororó
R I X
Serpophaga subcristata (Vieillot, 1817) alegrinho
R I X
Platyrinchus mystaceus Vieillot, 1818 patinho
R I X X
Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825)
bico-chato-de-orelha-
preta
R I X
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi
R I/F X X
Myiodynastes maculatus (Statius Muller,
1776)
bem-te-vi-rajado
R I/F X
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei
VA (N)
I X
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica
R I X
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri
R I/F X X
26
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
Tyrannus savana Vieillot, 1808 tesourinha
R I X
Attila rufus (Vieillot, 1819) capitão-de-saíra
R F X
Pipridae Rafinesque, 1815
Chiroxiphia caudata (Shaw & Nodder,
1793)
tangará
R O X
Vireonidae Swainson, 1837
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari
R I X
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) juruviara
R I X
Hirundinidae Rafinesque, 1815
Progne chalybea (Gmelin, 1789)
andorinha-doméstica-
grande
R I
Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817)
andorinha-pequena-
de-casa
R I X
Atticora melanoleuca (Wied, 1820) andorinha-de-coleira
R I V
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha-serradora
R I X
Troglodytidae Swainson, 1831
Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra
R I X
Turdidae Rafinesque, 1815
Turdus rufiventris Vieillot, 1818 sabiá-laranjeira
R F/I X X
Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 sabiá-poca
R X
Turdus albicollis Vieillot, 1818 sabiá-coleira
R F/I X X X
Mimidae Bonaparte, 1853
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) sabiá-do-campo
R F/I X X
Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye,
1838
R
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica
R Ne X
Thraupidae Cabanis, 1847
Tachyphonus coronatus (Vieillot, 1822) tiê-preto
R G X
Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento
R F/I X
Stephanophorus diadematus (Temminck,
1823)
sanhaçu-frade
R F/I X
Tangara seledon (Statius Muller, 1776) saíra-sete-cores
R I X
Tangara cyanocephala (Statius Muller,
saíra-militar
R I X
27
Transectos
Taxon Nome popular Status
Guilda
Alimentar
1 2 3
A*
1776)
Tersina viridis (Illiger, 1811) saí-andorinha
R I X
Emberizidae Vigors, 1825
Zonotrichia capensis (Statius Muller,
1776)
tico-tico
R G X X
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)
canário-da-terra-
verdadeiro
R G X X
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu
R G X
Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) coleirinho
R G X X
Cardinalidae Ridgway, 1901
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye,
1837
trinca-ferro-
verdadeiro
R F X
Parulidae Wetmore, Friedmann,
Lincoln, Miller, Peters, van Rossem,
Van Tyne & Zimmer 1947
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita
VA (N)
I X
Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) pia-cobra
VA (N)
I X
Basileuterus culicivorus (Deppe, 1830) pula-pula
R I X
Basileuterus leucoblepharus (Vieillot,
1817)
pula-pula-assobiador
R I X
Icteridae Vigors, 1825
Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) polícia-inglesa-do-sul
R G X
Fringillidae Leach, 1820
Carduelis magellanica (Vieillot, 1805) pintassilgo
D G X
Euphonia violacea (Linnaeus, 1758) gaturamo-verdadeiro
R G X
Estrildidae Bonaparte, 1850
Estrilda astrild (Linnaeus, 1758) bico-de-lacre
R G X
Total
15
70
14
8
Marterer (1996) realizou levantamentos da avifauna no Morro do Baú localizado
entre os municípios de Ilhota e Luiz Alves em três diferentes pontos de observação. O
primeiro ponto localiza-se no alto do Morro do Baú com aproximadamente 600 metros de
altitude onde registrou 177 espécies, o segundo na meia encosta com aproximadamente 400 a
28
500 metros de altitude onde foram registradas 113 espécies e o último ponto na base da
encosta com 200 metros de altitude onde foram registradas 135 espécies. O presente estudo
foi realizado a uma altitude aproximada a 170 metros onde foram registradas 94 espécies. A
área apresenta formação vegetal semelhante ao estudo realizado no Morro do Baú. A
diferença observada entre o número de espécies registradas nos dois estudos provavelmente
atribui-se ao fato que a área estudada em Siderópolis apresenta um remanescente florestal
com menores dimensões e com isolamento considerável de outras áreas com características
semelhantes. Apresenta também um entorno com diferentes usos como agricultura,
domicílios, indústrias e conta ainda com o histórico de intensa atividade de mineração nas
proximidades. Desta maneira, o fator antropização é um ponto fundamental na comparação
dos estudos.
Em relação à preferência pelos ambientes de interior, borda e área aberta, a borda do
remanescente foi o mais procurado pelas aves com um total de 70 espécies observadas,
seguido do interior do remanescente com 15 espécies e a área de instalação dos poleiros com
14 espécies (Tab. 1). As espécies que utilizam os ambientes de lagoas como a marreca-de-asa-
azul (
A. discors
), frango-d'água-azul (
P. martinica
), campo aberto como a maria-faceira (
S.
sibilatrix
), a garça-branca-pequena (
E. thula
) e o tapicuru-de-cara-pelada (
P. infuscatus
) e as
observadas em vôo como a andorinha-de-coleira (
A. melanoleuca
) não foram consideradas na
análise quanto a prováveis dispersores de sementes junto aos poleiros artificiais, pelo fato de
não utilizarem o remanescente florestal ou não utilizarem os poleiros artificiais .
A estrutura trófica da avifauna observada na área do estudo demonstrou predomínio
das espécies insetívoras com 41% do total das espécies, seguidas por onívoras (10%),
granívoras (9%), frugívoras (7%), frugívoras/insetívoras (6%), nectarívoras (4%),
insetívoras/frugívoras (3%) e granívoras/frugívoras (3%). As outras espécies (17%)
apresentaram hábito alimentar carnívoro, carcionófago, piscívoro, carnívoro/insetívoro,
planctívoro e frugívoro/carnívoro (Fig. 8).
29
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
I O G F F/I N I/F G/F C Cn P C/I P/l F/C
Guilda alimentar
N° de espécies
Figura 8 - Distribuição das espécies de aves registradas nos três transectos na área de estudo por guilda
alimentar. Legenda: I = insetívoro, O = onívoro; G = granívoro; F = frugívoro; N = nectarívoro; C = carnívoro;
Cn = carcionófago, P = piscívoro.
Dados semelhantes foram constatados por Aleixo (1999), Almeida (1982), Anjos
(1998, 2001), Motta-Júnior (1990), Santos (2001), Silveira; Olmos; Long (2003) e Willis
(1979), entre outros, diferindo apenas do resultado encontrado por Efe (2001), o qual,
verificou uma presença maior de onívoros em relação aos insetívoros.
Segundo Aleixo e Vielliard (1995), os insetívoros representam o grupo de espécies
mais sensíveis à fragmentação florestal. Por outro lado, Almeida (1982) comenta que o
número de espécies onívoras em geral é maior nas matas menos alteradas e o de insetívoros
aumenta nas mais alteradas, sendo este fato observado
para os remanescentes florestais em
Siderópolis. As aves frugívoras com dieta mais especializada aparecem em quarto lugar. O
percentual destas espécies indica que nos remanescentes florestais ainda existem plantas
frutíferas que contribuem para a manutenção dessas aves. De acordo com Willis (1979),
Anjos (1998) e Guilherme (2001), os frugívoros apresentam maior capacidade de
deslocamento, podendo procurar alimento em outros fragmentos. Conforme resultados
apresentados no segundo capítulo, estas espécies encontram lugares de pouso nos poleiros ao
se deslocar de um fragmento para o outro, dispersando sementes para as áreas abertas.
As espécies com hábitos frugívoros somaram 13, onde duas delas, o capitão-de-saíra
(
Attila rufus
) e o tamgará (
Chiroxiphia caudata
) foram observados dentro do remanescente
florestal. As espécies surucua-de-barriga-vermelha (
Trogon curucui
), o tucano-do-bico-verde
30
(
Ramphastos dicolorus
) e o sabiá-coleira (
Turdus albicollis
) foram observadas no interior do
remanescente e na borda do remanescente.
Turdus rufiventris
,
Turdus amaurochalinus
,
Mimus saturninus
,
Thraupis sayaca
,
Stephanophorus diadematus
e
Saltator similis
foram
observadas somente na borda do remanescente (Tab. 1).
3.2 Aves que utilizam os poleiros artificiais
No presente estudo foram identificadas 14 espécies utilizando os doze poleiros
artificiais. As espécies
C. talpacoti
(rolinha-roxa),
C. picui
(rolinha-picui),
N. chacura
(joão-
bobo),
P. cyanoleuca
(andorinha-pequena-de-casa),
R. magnirostris
(gavião-carijó),
S.
caerulescens
(coleirinho),
S. flaveola
(canário-da-terra-verdadeiro),
S. ruficollis
(andorinha-
serradora) e
Z. capensis
(tico-tico) foram observadas nos poleiros, mas não são consideradas
potenciais dispersoras, devido aos seus hábitos alimentares.
As espécies
M. saturninus
(sabiá-do-campo),
P. sulphuratus
(bem-te-vi),
T. albicollis
(sabiá-coleira),
T. melancholicus
(suiriri) e
T. rufiventris
(sabiá-laranjeira) foram consideradas
dispersoras de sementes por serem visualizadas utilizando frutos de espécies nativas nas
observações realizadas no remanescente florestal e através do resultado do estudo da guilda
alimentar a que elas pertencem. Pelo fato que a maioria das espécies do gênero
Turdus
engole
os frutos inteiros sem mandibular-os (GUIMARÃES, 2003), sendo as sementes saiem intactos
com as fezes, estas espécies são consideradas excelentes dispersores.
Foram observadas, no total, 137 visitas das 14 espécies registradas nos poleiros,
sendo
T. melancholicus
registrada com maior abundância com 27% das visitas, seguida por
17% das visitas da andorinha-pequena-de-casa, 11% das visitas da rolinha-roxa e bem-te-vi e
9% das visitas do sabiá-laranjeira. Das outras nove espécies foram observadas uma até dez
visitas nos poleiros durante o período do estudo (Fig. 9).
31
0
5
10
15
20
25
30
35
40
T.
m
e
lan
cho
licus
P. cya
n
oleuc
a
C
.
t
a
lp
aco
t
i
P
.
sul
p
hu
r
at
u
s
T
.
r
u
fi
ven
tris
C. picui
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M. saturninus
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S
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ns
Z.
c
apensis
Espécies
N° de visitas aos poleiros .
Figura 9 - Distribuição do número de visitas observadas nos poleiros durante o período do estudo em
Siderópolis, SC, ordenado por espécie de ave.
Bechara (2006) obteve resultados expressivos quanto à intensificação de chuva de
sementes em sua área de estudo, denotada pela freqüente presença de tiranídeos como o siriri
e bem-te-vi que foram observados pousando em poleiros artificiais confeccionados com
árvores aneladas de
Pinus
sp. Este resultado interage com os resultados obtidos no presente
estudo, onde a maior ocorrência de pouso nos poleiros foi registrada para espécies
generalistas da família dos Tyrannidae como o suiriri (
T. melancholicus
) com 37 pousos nos
poleiros e o bem-te-vi (
P. sulphuratus
) com 15 pousos, sendo estas espécies, junto com as
outras espécies encontradas com maior freqüência, consideradas os principais dispersores de
sementes na área de estudo.
32
3.3 Influência do crescimento das espécies arbóreas pioneiras nas visitas das aves aos
poleiros artificiais.
No mês de maio de 2007 foi observado que os indivíduos da espécie arbórea pioneira
Mimosa scabrella
Benth., introduzidos pelo projeto de recuperação executado, apresentavam
altura próxima a cinco metros. Desta maneira, no mês de setembro de 2007 foi realizada uma
medição das árvores que se encontravam mais próximas dos poleiros com o objetivo de
registrar se a distância da árvore mais próxima (D) e a altura da árvore mais próxima (A)
estavam influenciando no pouso das aves nos poleiros artificiais. Nos poleiros P6, P7, P10,
P11 e P12 foram registrados as menores distâncias com maiores alturas. Entre estes, o poleiro
P10 foi que registrou a menor distância com D = 1,3 m e maior altura com A = 5,1 m, seguido
de P6 com D = 2,5 m e A = 5,1 m. No poleiro P 11 foi registrada uma distância entre o
poleiro e a árvore de 1,74 m com altura de 4,8 e o poleiro P12 mostrou 1,2m de distância de
uma árvore de 4,26 m de altura (Fig. 10).
0
1
2
3
4
5
6
7
P 1 P 2 P 3 P 4 P 5 P 6 P 7 P 8 P 9 P 10 P 11 P 12
Poleiros
Metros
Distância
Altura
Fig. 10 - Distância e altura dos indivíduos de Mimosa scabrella mais próximos aos poleiros artificiais na área de
estudo em Siderópolis, SC, em maio/2007.
A modificação da estrutura vertical e horizontal devido ao crescimento da vegetação
arbórea que foi registrado entre os meses de setembro de 2006 (Fig. 11A) e setembro de 2007
33
(Fig. 11B) não influenciou a composição das espécies frugívoras que utilizaram os poleiros
(Tab. 2). Na nova campanha em setembro, não foram observadas espécies insetívoras que
costumam freqüentar áreas abertas como a andorinha-pequena-de-casa (
P. cyanoleuca
) e a
andorinha-serradora (
S. ruficollis
) e os granívoros como o canário-da-terra-verdadeiro (
S.
flaveola
), o coleirinho (
S. caerulescens
) e o tico-tico (
Z. capensis
). Foi observado também
que novas espécies começaram a utilizar a área após crescimento das espécies arbóreas
pioneiras. Nas observações do mês de setembro de 2007 foi registrada a curruíra (
T. musculus
Naumann, 1823) e um indivíduo da família Tyrannidae conhecido como bico-chato-de-
orelha-preta (
Tolmomyias sulphurescens
(Spix, 1825)) na área de implantação dos poleiros
artificiais, utilizando as bracatingas para pouso. Segundo SICK (1997), esta última espécie
vive em matas altas, principalmente nas copas ou, às vezes, também mais baixo. Sua presença
é denunciada pelo ninho longo suspenso que atrai a atenção, ocorrendo em todas as regiões do
Brasil, até o Rio Grande do Sul. Foi observada a presença desta espécie no remanescente
florestal a partir de registro do ninho no dia primeiro de julho de 2006 nas observações do
transecto de borda (Fig. 12).
As espécies como o bem-te-vi
(
P. sulphuratus
), o suiriri (
T. melancholicus
), a sabiá-
laranjeira (
T. rufiventris
), a sabiá-coleira (
T. albicollis
), a sabiá-do-campo (
M. saturninus
) e as
rolinhas (
C. talpacoti
e
C. picui
), que apresentam em sua dieta entre outros itens o consumo
de frutas, foram observadas durante todo o mês nos poleiros. Desta forma, a estrutura da
vegetação não influenciou na composição das espécies de aves potencialmente dispersoras de
sementes na área de estudo, corroborando com os estudos de Melo (1997) que observou que a
família Tyrannidae e outros frugívoros generalistas são os principais dispersores de sementes
em áreas abertas ou alteradas, auxiliando na recuperação de áreas degradadas. Provavelmente,
os frugívoros especialistas contribuem muito pouco para a dispersão de sementes.
34
Figura 11- Localização da área onde foram instalados os poleiros artificiais em Siderópolis, SC. A: Vista da área
no mês de abril de 2006 (Fonte: Centro de Cartografia do IPAT/UNESC); B: Vista da área no mês de junho de
2007 (Fonte: Google Earth (2007) modificado).
Tabela 2 - Espécies de aves observadas nos poleiros artificiais durante o período de estudo e na nova campanha
de amostra realizada no mês de setembro de 2007. Legenda: (+) = Presente, (-) Ausente, (P) = Novo registro nos
poleiros, (V) = Novo registro na vegetação inicial arbórea. G.A.= Guilda Alimentar.
Espécies
Julho/2006 a
Junho/ 2007
Setembro/
2007
Guilda
Alimentar
Rupornis magnirostris
(Gmelin, 1788)
+ + C
Columbina talpacoti
(Temminck, 1811)
+ + G/F
Columbina picui
(Temminck, 1813)
+ + G/F
Nystalus chacura
(Vieillot, 1856)
- + (P) I
Troglodytes musculus
Naumann, 1823
- +(V) I
Tolmomyias sulphurescens
(Spix, 1825)
- +(V) I
Pitangus sulphuratus
(Linnaeus, 1766)
+ + I/F
Tyrannus melancholicus
Vieillot, 1819
+ + I/F
Pygochelidon cyanoleuca
(Vieillot, 1817)
+ - I
Stelgidopteryx ruficollis
(Vieillot, 1817)
+ - I
35
Turdus rufiventris
Vieillot, 1818
+ + F/I
Turdus albicollis
Vieillot, 1818
+ + F/I
Mimus saturninus
(Lichtenstein, 1823)
+ + F/I
Zonotrichia capensis
(Statius Muller, 1776)
+ - G
Sicalis flaveola
(Linnaeus, 1766)
+ - G
Sporophila caerulescens
(Vieillot, 1823)
+ - G
Figura 12 - Ninho característico do bico-chato-de-orelha-preta (Tolmomyias sulphurences) encontrado no
interior do remanescente florestal estudado em Siderópolis, SC.
4 CONCLUSÕES
Os poleiros artificiais têm influência na dispersão de sementes em áreas abertas, pois
atraem espécies de aves generalistas que, além de outros itens, utilizam frutos em sua dieta
alimentar, podendo aumentar a deposição de sementes e, desta forma, auxiliando no processo
de revegetação
.
O presente levantamento registrou 94 espécies de aves para a área de estudo, sendo
que 14 destas utilizaram os poleiros artificiais. Apenas sete espécies foram consideradas
potenciais dispersoras de sementes em áreas abertas, devido a seus hábitos alimentares, sua
freqüente ocorrência nos poleiros e por serem observadas utilizando frutos de espécies nativas
36
na borda do remanescente florestal estudado.
O crescimento das espécies pioneiras arbóreas introduzidas na implantação do
projeto de recuperação ambiental em geral influenciou na composição das espécies que
utilizaram os poleiros artificiais. As espécies insetívoras e granívoras que utilizavam os
poleiros antes não foram mais observadas após crescimento das espécies arbóreas, devido a
preferência destas aves por áreas abertas. Em contrapartida, outras espécies insetívoras de
borda de mata começaram a utilizar a área sendo observadas nas árvores de bracatingas em
busca de alimento. Por outro lado, o crescimento das espécies arbóreas não influenciou a
utilização das aves generalistas com hábitos frugívoros nos poleiros.
O número de espécies amostradas neste trabalho é menor do que os encontrados em
outros estudos realizados na mesma formação florestal, atribuindo-se esta diferença
principalmente à qualidade dos ambientes amostrados que, na área de estudo, apresentava-se
altamente antropizado.
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42
CAPÍTULO 2: DISPERSÃO DE SEMENTES POR AVES COM USO DE POLEIROS
ARTIFICIAIS EM ÁREAS REABILITADAS APÓS MINERAÇÃO DE CARVÃO A
CÉU ABERTO, SIDERÓPOLIS, SUL DE SANTA CATARINA.
RESUMO
A Bacia Carbonífera Catarinense possui aproximadamente seis mil hectares de áreas
degradadas pela explotação de carvão mineral. Atualmente, muitas destas áreas, como a área
do estudo situada em Siderópolis, estão em processo de recuperação que consiste,
principalmente, na reconstrução do solo e introdução de gramíneas e de espécies arbóreas
pioneiras. A área estudada é conhecida como Campo Malha II onde a reintrodução da
vegetação foi realizada com três espécies de gramíneas e diversas espécies arbustivas e
arbóreas de todas as categorias sucessionais. No seu entorno encontram-se pequenos
remanescentes florestais e áreas com predomínio de eucalipto. Em uma área de 1,15 hectares,
revegetada com capim-gordura (
Melinis minutiflora
P. Beauv.) e bracatinga (
Mimosa
scabrella
Benth.), foram instalados doze poleiros artificiais com coletores, distantes 30 metros
entre si e intercalados com um número igual de coletores sem poleiros, que serviram como
testemunhas. Durante um ano, as sementes encontradas nos coletores foram recolhidos
semanalmente e a sua identificação botânica realizada por meio de comparação com material
de referência e bibliografia especializada. Foram encontradas sementes de 24 espécies,
pertencentes à 17 famílias, e duas morfo-espécies. As espécies identificadas representam
16,4% das espécies com dispersão zoocórica registradas na região. A maioria destas espécies
(62,5%) pertence à categoria sucessional pioneira e secundária inicial e a análise de variância
revelou que foram dispersas significativamente mais sementes de espécies pioneiras e
secundárias iniciais do que das categorias sucessionais mais tardias. A chuva de sementes
ocorreu durante todo o ano, com maior concentração registrada na primavera e no verão.
Quatro espécies pioneiras e secundárias iniciais produziram frutos durante sete a dez meses,
apresentando importantes fontes de alimento para a avifauna presente na área de estudo,
enquanto a maioria das espécies (61,9%) foi registrada com frutos por apenas um a três
meses. Não foram encontradas diferenças significativas no efeito da distância da fonte de
sementes tanto quanto ao número de espécies quanto ao número de sementes registradas. Os
resultados indicam a alta eficiência da instalação de poleiros artificiais na chegada de espécies
43
pioneiras em áreas com cobertura pobre de vegetação, as quais poderão formar a vegetação
facilitadora para o estabelecimento das espécies secundárias tardias e climácicas. Além disso,
os dados evidenciaram não apenas a importância da presença de fontes de sementes nas
proximidades das áreas degradadas, mas, também, a presença de aves generalistas capazes de
cruzar grandes extensões de áreas abertas nas regiões para assegurar a dispersão de sementes
por longas distâncias. Desta maneira, conclui-se que a diversidade de aves junto com a
proximidade dos poleiros aos remanescentes florestais influenciam a dispersão de sementes na
área estudada.
Palavras-chave: categorias sucessionais, chuva de sementes, fenologia de frutificação.
Abstract
The Coal Basin of Santa Catarina state, Brazil, comprises approximately six thousand
hectares of degraded areas due to the exploitation of mineral coal. Nowadays, several areas
are under reclaim process, as the study area located in Siderópolis city, which includes soil
recovery and reintroduction of grass and pioneer tree species. The study area is known by
Campo Malha II where vegetation was carried out with three grass species and various
species of shrubs and trees of all sucessional categories. There are small forest remnants and
the area showed a high proportion of eucalypt around. In an area of 1,15 hectares revegetated
with capim-gordura (
Melinis minutiflora
P. Beauv.) and bracatinga (
Mimosa scabrella
Benth.)
12 perches with collectors were placed, at 30 meters of distance each other and intercalate
with a equal number of collectors without perches, that serve as witnesses. For one year
period, seeds found in the collectors were collected weekly and their botanic origin identified
by comparison with reference subject and specialized bibliography. There were found seeds
of 24 species, belonging to 17 families, and two morpho-species. The identified species
represent 16.4% of the species with zoocory syndrome registered in the region. Most of these
species (62.5%) belong to pioneer sucessional and initial secondary categories and the
variance analysis revealed that more seeds of pioneer and early secondary species were
significantly dispersed when compared to late successional categories. Seed rain occurred
throughout the year, with highest concentration recorded during the spring and the summer.
Four pioneer and early secondary species produced fruits during seven to ten months,
representing important food sources for the birds in the study area, while most of the species
44
(61.9%) was recorded only during one to three months. No statistically significant difference
was found between the distance from the seed source and the number of species or the
number of seeds recorded. Results indicate a high efficiency of artificial perches on the arrival
of the initial successional species in areas with poor ground cover, which could form the
facilitating vegetation for the establishment of late and climacic secondary species. Besides,
data highlighted the importance of seed sources close to degraded areas, as well as the
presence of generalist birds which are able to cross large extensions of open-areas to assure
the seed dispersal for long distances. At this manner, we conclude that the bird diversity
associated with forest remnant and perches proximity influences the seed dispersion in study
area.
Keywords: sucessional categories, seed rain, fructification phenology.
45
1 INTRODUÇÃO
Apesar de toda a sua importância biológica, o bioma Mata Atlântica encontra-se em
intensa destruição e fragmentação, hoje restando apenas cerca de 7% de sua configuração
original, sendo a sua maioria sob a forma de pequenos fragmentos (SOS Mata Atlântica,
2001). A fragmentação do habitat é o processo pelo qual grande e contínua área de habitat é
reduzida em sua área e dividida em vários fragmentos, causando ruptura dos fluxos gênicos
entre populações presentes nesses habitats (KAGEYAMA et al., 2003). A fragmentação tem
conseqüências sobre a estrutura e os processos das comunidades vegetais (RUI et al., 2005)
que foram documentados por diversos autores, os quais têm enfatizado, principalmente, o
efeito de borda (MURCIA, 1995; YOUNG; MITCHELL, 1994; TABANEZ, 1997). O efeito
de borda é um processo de mudanças bióticas e abióticas nas margens dos fragmentos que
leva a borda da mata a uma condição diferente do habitat interior (MURCIA, 1995). Além
disso, a fragmentação de um ambienta florestal acarreta mudanças microclimáticas nas
margens dos fragmentos, como aumento de temperatura e baixa umidade (YOUNG;
MITCHELL, 1994). A estrutura florestal também é fortemente afetada após a fragmentação,
uma vez que aumenta a densidade do estrato arbustivo na borda, enquanto o do estrato
arbóreo diminui, visto que maior mortalidade de indivíduos arbóreos e maior quantidade
de trepadeiras na borda da mata (MURCIA, 1995; TABANEZ, 1997).
Alguns estudos consideraram que fragmentos florestais localizados em áreas de
intensa ação antrópica assemelham-se às ilhas oceânicas, separadas dos continentes aos quais
estiveram ligadas em outras épocas (MacARTHUR; WILSON, 1963). Os fragmentos
remanescentes encontram-se muitas vezes ilhados em meio a grandes áreas agrícolas,
sofrendo forte pressão antrópica. Como conseqüências, têm-se alterações profundas nas
funções ecológicas destas florestas, como por exemplo, o desequilíbrio nas taxas de
reprodução e crescimento das populações e modificações na polinização e dispersão de
sementes por animais que podem colocar em risco a manutenção das populações vegetais nos
fragmentos. Apesar das implicações da fragmentação na manutenção da biodiversidade,
muitos dos seus efeitos de curto, médio e longo prazo ainda não são entendidos (COLLI et al.,
2003).
Em Santa Catarina as condições topográficas, climáticas e litológicas favoreceram o
assentamento de inúmeras correntes migratórias de colonos de origem européia na
abrangência da Floresta Ombrófila Densa no Sul de Santa Catarina, iniciando os
46
desflorestamentos e a implantação da agricultura (TEIXEIRA et al., 1986). Na região Sul de
Santa Catarina, particularmente junto à Bacia Carbonífera Catarinense, além das atividades
agrícolas, a indústria da extração do carvão a céu aberto contribuiu para a redução da
cobertura vegetal. Atividades relacionadas à exploração de carvão mineral no sul de Santa
Catarina vêm promovendo desde 1876 a degradação ambiental sobre os recursos hídricos
superficiais e subordinadamente na supressão da cobertura vegetal colaborando para a
fragmentação de habitats (BELOLLI et al., 2002). Em virtude destes acontecimentos, o
Ministério Público Federal condenou as empresas carboníferas de Santa Catarina a recuperar
as áreas degradadas proveniente do setor de carvão mineral no sul de Santa Catarina
(Alexandre 2000). Entretanto, a reabilitação ambiental promovida nas áreas impactadas por
atividades de mineração de carvão não tem apresentada o mesmo nível de diversidade
encontrada em Floresta Ombrófila Densa que cobria anteriormente estas áreas (CITADINI-
ZANETTE, 1999; PFADENHAUER; WINKLER, 1978). Um dos fatores responsáveis por
isso é a falta de sementes e a grande distância da fonte de sementes que podem reduzir a
chuva de sementes em paisagens persistentes dominadas por baixa diversidade e vegetação
em estádio inicial de sucessão (MCCLANAHAN; WOLFE, 1993).
Apesar de que diversos estudos comprovaram que a presença de sementes de
espécies florestais sob árvores isoladas em áreas abertas resulta da deposição das sementes
por aves, trabalhos experimentais utilizando poleiros artificiais como foco de recrutamento de
sementes são pouco comuns (AIDE; CAVELIER, 1994; HOLL, 1998; McCLANAHAN;
WOLFE, 1993; McDONNELL; STILES, 1983; MELO et al., 2000; ROBINSON; HANDEL,
1993). A grande vantagem dessa técnica, quando comparada às tradicionais técnicas de
recrutamento vegetal, está no fato de que a composição florística da vegetação que cobrirá a
área será semelhante a das áreas adjacentes, pois os propágulos serão provenientes dessas
áreas. O recrutamento de sementes sob poleiros ou árvores isoladas depende ainda da
distância da fonte de sementes e de áreas relativamente intactas de florestas nativas
(CAMBELL et al., 1990). Esses remanescentes florestais contribuem para o aumento da
diversidade de espécies nas áreas em processo de reabilitação, principalmente quando estes se
encontram em estágio avançado de regeneração que abrigam uma diversidade elevada de
espécies (MARTINS, 2005). Desta maneira, existe uma preocupação quanto à preservação de
áreas adjacentes à mineração de carvão. Entretanto, são precárias as informações sobre
dispersão de sementes em áreas reabilitadas após mineração de carvão no Estado de Santa
Catarina.
Desta forma, no presente trabalho objetivou-se identificar quais sementes são
47
dispersas por aves em uma área em processo de recuperação ambiental, utilizando poleiros
artificiais, assim como avaliar a influência da distância dos poleiros de uma área
remanescente na deposição de sementes.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Localização da Área de Estudo
A área estudada situa-se na subbacia do rio Fiorita, pertencente à Bacia Hidrográfica
do rio Araranguá, no nordeste da cidade de Siderópolis, SC, compreendido entre as
coordenadas 28º 35’S e 49º 25’W, em áreas intensamente mineradas a céu aberto para
extração de carvão. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), empresa responsável pelas
atividades de mineração no local, deu o nome à área de Campo Mina Malha II, onde
atividades ligadas à exploração de carvão a céu aberto vigoraram até 1981 (IPAT/UNESC,
2002).
O Diagnóstico Ambiental e o PRAD da área de estudo foi realizado em junho de
2002 e
as atividades de recuperação iniciaram no final do mesmo ano (IPAT/UNESC, 2002).
O PRAD dividiu a área em 21 zonas homólogas para facilitar as atividades de recuperação.
Dentre as atividades previstas foi realizada a retirada de rejeitos piritosos, remodelagem do
terreno, incluindo retaludamento das margens do rio Fiorita, construção de nova estrada e
instalação de canaletas de drenagem, tratamento das águas de lagos com adição de calcário
em pedra, aplicação e incorporação de calcário em aos estéreis na proporção de 25 a 30
t/ha, recobrimento dos estéreis com uma camada de 20 a 50 cm de argila, incorporação de
calcário, turfa e adubos orgânico e químico ao solo argiloso. A área foi revegetada com três
espécies herbáceas e a introdução de espécies arbustivas e arbóreas se deu em três fases.
Ainda de acordo com o PRAD para as espécies arbustivas e arbóreas foram introduzidas as
espécies pioneiras na primeira fase, as secundárias iniciais na segunda fase e na terceira fase
as secundárias tardias e climácicas.
48
2.2 Clima
Segundo a classificação de Koeppen, predomina na região o clima mesotérmico
úmido (Cfa), caracterizado pelo inverno pouco intenso, com possibilidades de gradientes
térmicos diários inferiores a 10ºC e ocorrência de frentes frias com temperaturas abaixo de
0°C, possibilitando a ocorrência de geadas, enquanto o verão é quente com média acima de
22°C. A precipitação média na região carbonífera catarinense é de 1.400 a 1.600 mm/ano, não
havendo índices pluviométricos mensais inferiores a 60 mm (OMETTO, 1981).
2.3 Vegetação
A vegetação encontrada na região estudada é classificada como Floresta Ombrófila
Densa e enquadra-se na formação submontana por possuir altitude de aproximadamente 170
m (TEIXEIRA et al., 1986).
Originalmente, esta formação vegetacional caracterizava-se por apresentar árvores de
grande porte, aproximadamente 25m, e possuir submata composta por plântulas de
regeneração natural, poucos nanofanerófitos e caméfitos, além da presença de palmeiras de
pequeno porte e de lianas herbáceas em maior quantidade (IBGE, 1992).
Atualmente, a vegetação da região de Siderópolis apresenta-se descaracterizada,
sendo o remanescente florestal, foco do presente estudo, o único em estádio avançado de
regeneração, localizado próximo a uma extensa área degradada pela mineração de carvão a
céu aberto o que denota o isolamento deste fragmento (MARTINS, 2005). Por estas
características, outros estudos foram realizados neste fragmento, objetivando contribuir
com informações sobre as espécies introduzidas nos projetos de recuperação ambiental
(IPAT/UNESC 2002; SANTOS, 2003).
Segundo o PRAD (IPAT/UNESC, 2002) realizado para a recuperação da área,
a área
foi revegetada com três espécies de Poaceae:
Melinis minutiflora
P. Beauv.,
Brachiaria
humidicola
(Rendle) e
Paspalum saurae
Parodi e com espécies arbustivas pioneiras como
Mimosa
scabrella
Benth. (Fabaceae),
Mimosa bimucronata
(DC) O. Kuntze (Fabaceae) e
Trema micrantha
(L.) Blume (Cannabaceae). O PRAD relata que o capim-gordura é
altamente comburente, apresentando riscos ao processo de revegetação, sendo então
49
necessárias medidas preventivas de controle ao fogo. A recomendação desta espécie, apesar
do risco, deu-se devido ao seu bom desenvolvimento em áreas alteradas.
No último segmento da área que foi reabilitada e que se encontra próximo ao
remanescente florestal foco deste estudo foi utilizado apenas o banco de sementes da turfa
como forma de revegetação, não sendo realizados semeadura ou plantio de espécies adicionais
como nas outras áreas.
2.4 Poleiros Artificiais
Partindo-se do princípio que as fontes de propágulos para a área restaurada são
oriundas dos remanescentes localizados no entorno da área escolhida para a instalação dos
poleiros artificiais e considerando-se que a probabilidade de uma ave oriunda desses
remanescentes posar em um poleiro colocado em uma área aberta decresce com o aumento da
distância do poleiro da borda da formação florestal, estipulou-se que a metade da distância
entre os remanescentes mais próximos seria a distância máxima para a alocação da última
linha de poleiros. Uma descrição mais detalhada da definição da área de implantação dos
poleiros artificiais pode ser encontra no primeiro capítulo.
A área escolhida com os critérios para a instalação dos poleiros resultou em um
tamanho de 1,15 hectares que faz fronteira ao norte e ao oeste com o rio Fiorita e ao sul com o
remanescente florestal estudado.
Nesta área, foram montados 12 poleiros artificiais com
coletores instalados distantes 30 metros entre si. Entre os poleiros com coletores foram
intercalados doze coletores sem poleiros, servindo como testemunhas. O primeiro poleiro foi
instalado a 30 metros da borda do remanescente florestal no lado sul da área de implantação.
Devido ao formato da área não foi possível instalar na primeira linha as três repetições que
foram instaladas nas quatro linhas seguintes de poleiros (Fig. 1).
50
Figura 1 - Localização da área de estudo (escala 1:20 000) com indicação dos pontos de instalação dos poleiros e
testemunhas. Área de estudo = 1,15 ha. Fonte: Centro de Cartografia do IPAT/UNESC.
Os poleiros foram construídos com base nos estudos de Melo et al. (2000) com
algumas modificações, descritas no primeiro capítulo. Para coletar as sementes, foram
construídos vinte e quatro coletores quadrados com dimensões de 1,5 x 1,5 m (área de 2,25
m
2
), confeccionados com madeira e fundo de nylon permeável à água, onde doze deles foram
colocados a 0,80 m do solo embaixo dos poleiros e os outros doze foram instalados sem
poleiros intercalados com os coletores com poleiros.
2.5 Coleta de referência e de sementes nos poleiros artificiais.
A revisão de todos os coletores ocorreu semanalmente, de julho de 2006 a junho de
2007. Todo material encontrado foi retirado com auxílio de uma espátula e acondicionado em
sacos de plásticos identificados com o número do coletor e a data da coleta. No laboratório, as
amostras foram triadas, separando-se sementes e frutos das impurezas (folhas, insetos, flores,
51
fezes, galhos etc.) com auxílio de peneiras e de lupa. Considerou-se apenas as sementes com
dispersão zoocória, sendo as sementes anemocóricas não foram incluídas nas análises. As
sementes foram acondicionadas em recipientes etiquetados com a data da coleta e o número
do coletor com ou sem poleiros, respectivamente. Durante o mesmo período das coletas das
sementes nos coletores foram coletadas mensalmente as sementes das espécies vegetais com
dispersão zoocórica ao longo de dois transectos de 500 m de comprimento cada um, no
interior e na borda do remanescente florestal adjacente à área da instalação dos poleiros. As
espécies vegetais que estavam frutificando no período de realização da pesquisa foram
coletadas e identificadas por botânicos do Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz (CRI) da UNESC.
A identificação das espécies vegetais seguiu a classificação do sistema APG II. O material
encontrado, junto com as listas de espécies vegetais contidas nos trabalhos fitossociológicos
realizados na mesma região por Martins (2005), IPAT/UNESC (2002) e Santos (2003)
serviram de referência para a identificação das sementes coletadas nos coletores e para a
classificação das espécies de plantas nas categorias sucessionais pioneira, secundária inicial,
secundária tardia e climácica (BUDOWSKI, 1970).
2.6 Análise dos dados
As espécies vegetais encontradas com sementes no remanescente florestal e nos
coletores com poleiros foram reunidas por meio de listagens e apresentadas em tabela.
Para verificação de diferenças significativas no efeito da distância dos poleiros do
remanescente florestal sobre o número de espécies e o número de sementes, assim como para
verificar se houve diferença significativa por estação, os dados foram submetidos à análise de
variância (ANOVA), seguida do teste Tukey (ZARR, 1999).
Para verificar se existe correlação entre o número de sementes e o número de visitas
de aves aplicou-se a análise de correlação linear de Pearson.
Foi realizada análise de agrupamento, utilizando como coeficiente de associação a
distância Euclidiana, para investigar a existência de similaridade entre as espécies vegetais em
cada estação do ano. Com a finalidade de detectar associações de espécies vegetais com
determinados poleiros foi aplicada análise de componentes principais (PCA).
As análises foram calculadas, utilizando-se o programa PAST versão 1.78
(HAMMER et al., 2001).
52
3 RESULTADOS
3.1 Espécies vegetais com dispersão zoocórica no remanescente florestal da área
estudada
Nas coletas realizadas nos dois transectos no remanescente florestal durante o
período do estudo, foram encontradas sementes de 44 espécies com dispersão zoocórica,
pertencentes a 28 famílias botânicas (Tab. 1).
Tabela 1 - Espécies vegetais com dispersão zoocórica cujas sementes foram encontradas nos dois transetos do
remanescente florestal durante o período do estudo, Siderópolis, SC, e suas classificações quanto à categoria
sucessional (Pio = pioneira, Sin = secundária inicial, Sta = secundária tardia, Cli = climácica).
Família/Espécie vegetal Nome popular
Categoria
sucessional
APOCYNACEAE
Tabernaemontana catharinensis
A. DC.
Jasmim Pio
ARALIACEAE
Schefflera morototoni
(Aubl.) Maguire, Steyem. et Frodin
Pau-mandioca Sta
ARECACEAE
Bactris setosa
Mart
.
Tucum Cli
Euterpe edulis
Mart.
Palmiteiro Cli
Geonoma gamiova
Barb. Rodr.
Gamiova Sta
CANNABACEAE
Trema micrantha
(L.) Blume
Grandiúva Pio
EUPHORBIACEAE
Alchornea triplinervia
(Spreng.) Müll. Arg
.
Tanheiro Sin
Croton celtidifolius
Baill.
Sangue-de-
drago
Pio
FABACEAE
Inga
sp.
Ingá Sin
Mimosa scabrella
Benth.
Bracatinga Pio
LAMIACEAE
53
Família/Espécie vegetal Nome popular
Categoria
sucessional
Aegiphyla sellowiana
Cham.
Gaioleiro Sin
Vitex megapotamica
(Spreng.) Mold.
Tarumã Sin
LAURACEAE
Nectandra megapotamica
(Spreng.) Mez
Canela-imbuia Cli
Ocotea puberula
(Rich.) Nees
Canela-de-corvo
Cli
Ocotea
sp
.
MAGNOLIACEAE
Magnolia ovata
(A. St.-Hil.) Spreng. Baguaçu Sta
MELASTOMATACEAE
Leandra australis
(Cham.) Cogn.
Pixirica Sin
Leandra dasytricha
(A. Gray) Cogn.
Pixirica Sin
Leandra regnellii
(Triana) Cogn.
Pixirica Sin
Miconia cabucu
Hoehne
Pixiricão Sin
Miconia tristis
Spreng. Pixirica Sin
MELIACEAE
Guarea macrophylla
Vahl Pau-d’arco Cli
MONIMIACEAE
Mollinedia schottiana
(Spreng.) Perkins Pimenteira Cli
MYRISTICACEAE
Virola bicuhyba
(Schott ex Spreng.) Warb.
Bicuíba Sta
MYRSINACEAE
Myrsine coriacea
(Sw.) R. Br.
Capororoca Sin
MYRTACEAE
Myrcia spectabilis
DC.
Guamirim-
vermelho
Sta
NYCTAGINACEAE
Guapira opposita
(Vell.) Reitz Maria-mole Sin
PHYLLANTHACEAE
Hieronyma alchorneoides
Fr. Allem.
Licurana Sin
PHYTOLACCACEAE
Phytolacca americana
L. *
54
Família/Espécie vegetal Nome popular
Categoria
sucessional
PIPERACEAE
Ottonia propinqua
Kunth
Jaguarandi Sin
RHAMNACEAE
Hovenia dulcis
Thunb. * Uva-do-japão
ROSACEAE
Rubus imperialis
Cham. & Schltdl.
Amora-do-mato
Pio
RUBIACEAE
Posoqueria latifolia
(Rudge) Roem. et Schult.
Baga-de-
macaco
Sin
Psychotria leiocarpa
Cham. et Schltdl.
Grandiúva-
d’anta
Sta
Psychotria suterella
Müll. Arg.
Café-do-mato Sta
Rudgea jasminoides
(Cham.) Müll.Arg.
Café-do-mato Cli
SALICACEAE
Casearia sylvestris
Sw. Chá-de-bugre Sin
SAPINDACEAE
Matayba guianensis
Aubl.
Camboatá Sta
SMILACACEAE
Smilax campestris
Griseb. Salsaparrilha Pio
SOLANACEAE
Solanum pseudoquina
A. St.-Hil.
Canema Pio
Solanum
sp.
Solanum variabile
Mart.
Jurubeba-
velame
Pio
THYMELIACEAE
Daphnopsis fasciculata
(Meisn.) Nevling Embira Pio
URTICACEAE
Cecropia glaziovii
Snethl.
Embaúba Pio
* Espécies exóticas
55
O levantamento, junto com os dados contidos nos estudos fitossociológicos
realizados na mesma região por Santos (2003), Martins (2005) e IPAT/UNESC (2002) resulta
em um registro de 135 espécies vegetais com síndrome de dispersão zoocórica na
proximidade da área da instalação de poleiros artificiais que podem, parcialmente, servir
como fontes de alimento para aves. Aproximadamente a metade (48,1%) das espécies
zoocóricas registradas na área pertencem à categoria sucessional tardia, 23,0% à categoria
climácica, 20,7% à secundária inicial e apenas 8,1% são espécies pioneiras (Fig. 2).
Secundárias
tardias
48%
Climácicas
23%
Secundárias
iniciáis
21%
Pioneiras
8%
Figura 2 - Classificação das espécies vegetais amostradas nos levantamentos realizados em remanescentes
florestais em Siderópolis, SC, de acordo com suas categorias sucessionais (n = 135).
3.2 Sementes encontradas nos coletores
3.2.1 Riqueza e abundância
Durante um ano de coleta, foram encontradas nos coletores com poleiros artificiais
sementes de 24 espécies vegetais, pertencentes a 17 famílias e duas morfo-espécies das quais
a identificação não foi possível (Tab. 2). Nos coletores testemunhas foram encontradas apenas
sementes com síndrome de dispersão anemocórica, principalmente de
Melinis minutilfora
P.
Beauv. (capim-gordura) e outras gramíneas observadas também nos coletores com poleiros
artificiais. Além disso, foram observadas manchas de fezes nos coletores testemunhas,
provenientes de aves que, ao sobrevoar, defecavam no ar e restos das fezes caíram nos
coletores aleatoriamente.
56
Tabela 2 - Relação das espécies vegetais cujas sementes foram encontradas nos doze coletores com poleiros na
área de estudo durante doze meses, seus números de sementes coletados (N) e meses de ocorrência.
Família/Espécie vegetal
Mês de
ocorrência
N
sementes
APOCYNACEAE
Tabernaemontana catharinensis
A. DC.
Mai 7
ARALIACEAE
Schefflera morototoni
(Aubl.) Mguire, Steyerm. & Frod
Abr, Mai, Jun 8
ARECACEAE
Euterpe edulis
Mart.
Abr - Ago 41
CANNABACEAE
Trema micrantha
(L.) Blume
Out, Jan - Jun 309
EUPHORBIACEAE
Alchornea triplinervia
(Spreng.) Müll. Arg
.
Jan, Fev 32
Croton celtidifolius
Baill.
Dez - Mai 54
FABACEAE
Mimosa scabrella
Benth.
Out - Dez 115
LAMIACEAE
Aegiphyla sellowiana
Cham.
Jun, Jan 5
LAURACEAE
Nectandra megapotamica
(Spreng.) Mez
Jan 2
Ocotea puberula
(Rich.) Nees Dez - Mar 83
Ocotea
sp.
Jun, Jan 3
MAGNOLIACEAE
Magnolia ovata
(A. St.-Hil.) Spreng. Out, Fev 38
MELASTOMATACEAE
Miconia cabucu
Hoehne
Set - Mar, Jun 1365
MYRISTICACEAE
Virola bicuhyba
(Schott ex Spreng.)
Warb.
Out 1
MYRSINACEAE
Myrsine coriacea
(Sw.) R. Br.
Set - Mar, Jun 2207
PHYLLANTHACEAE
Hyeronima alchorneoides
Fr. Allem. Jan, Mar - Jun 29
PHYTOLACCACEAE
Phytolacca americana
L. *
Out – Abr, Jun
450
RUBIACEAE
Psychotria suterella
Müll. Arg
.
Jan, Fev 6
SAPINDACEAE
Matayba guianensis
Aubl.
Dez, Jan 66
57
Família/Espécie vegetal
Mês de
ocorrência
N
sementes
SOLANACEAE
Solanum aculeatissimum
Jacq.*
Jun, Jan 9
Solanum americanum
Mill.* Set - Dez 9434
Solanum variabile
Mart. Jan, Fev 23
URTICACEAE
Cecropia glaziovii
Snethl.
Ago – Out,
Jan - Jul
438
VERBENACEAE
Citharexylum myrianthum
Cham.
Fev - Abr 8
Família indeterminada sp. 1 Out, Jan 46
Família indeterminada sp. 2
Dez 1
Total 14.887
* Espécies cujas sementes provêm da área adjacente com vegetação oriunda do banco de sementes da turfa.
Das 24 espécies identificadas, 21 provêm dos remanescentes florestais ao redor da
área de instalação dos poleiros e as outras três espécies (
Phytolacca americana, Solanum
aculeatissimum
e
Solanum americanum
) de uma área adjacente que foi reabilitada no mesmo
período de implantação dos poleiros com uma camada de turfa, sem adição de outras espécies
vegetais, sendo a vegetação desta oriunda do banco de sementes da turfa. As 21 espécies
representam 16,4% do total das 135 espécies registradas com síndrome de dispersão zoocórica
para a área do estudo.
Nove das 24 espécies identificadas pertencem à categoria sucessional pioneira, seis
são espécies secundárias iniciais, cinco secundárias tardias e apenas quatro climácicas (Fig.
3).
58
Pioneiras
37%
Secundárias
iniciais
25%
Secundárias
tardias
21%
Climácicas
17%
Figura 3 - Classificação das espécies vegetais cujas sementes foram encontradas nos coletores com poleiros
artificiais durante um ano na área de estudo, de acordo com sua categoria sucessional (n = 24).
No total foram coletadas 14.780 sementes nos doze coletores com poleiros, sendo
apenas 33% destas oriundas de espécies dos remanescentes florestais e o restante (9.892
sementes) das três espécies pioneiras da área adjacente com vegetação estabelecida do banco
de sementes da turfa (Tab. 2). As espécies com maior número de sementes dispersas dos
remanescentes florestais foram
Myrsine coriacea
,
Miconia cabucu
e
Cecropia glaziovii
, com
45,2%, 27,9% e 9,0%, respectivamente. As três espécies corresponderam a 82,1% do total das
sementes coletadas nos remanescentes durante o período do estudo (Fig. 4).
59
0
500
1000
1500
2000
2500
Myrsine
coriacea
Miconia
cabucu
Cecropia
glaziovii
Trema
micrantha
Mimosa
scabrella
Ocotea
puberula
Outras 18
espécies
Número de sementes .
Figura 4 - Distribuição do número total de sementes por espécie encontrada nos coletores com poleiros
artificiais, oriundas dos remanescentes florestais no período do estudo em Siderópolis, SC.
As sementes das espécies
Myrsine coriacea
e
Matayba guianensis
foram encontradas
em todos os doze coletores com poleiros, as de
Mimosa scabrella
,
Cecropia glaziovii
e
Miconia cabucu
em onze dos doze coletores, enquanto as sementes da metade das espécies
(52,2%) foram registradas em apenas um a quatro dos doze coletores (Fig. 5).
0
1
2
3
4
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Número de poleiros
Número de espécies vegetais .
Figura 5 - Número de espécies vegetais registradas nos coletores em relação ao número de poleiros nos quais
foram encontradas durante o período do estudo em Siderópolis, SC.
Outras 18
espécies
60
A análise de correlação linear de Pearson, onde o número de sementes constitui a
variável independente e o número de visitas de aves a variável dependente, mostrou que existe
uma relação positiva entre as duas variáveis, porém, esta relação não é perfeita (r = 0,579, y =
0,006 + 5,811x).
Do total das 4.887 sementes provenientes de espécies dos remanescentes florestais e
coletadas nos doze coletores com poleiros, o maior número pertence às secundárias iniciais
(75,6%), enquanto apenas uma pequena fração de sementes (5,1%) de espécies secundárias
tardias e climácicas foram dispersas nos coletores (Fig. 6).
Secundárias iniciais
76%
Pioneiras
19%
Climácicas
3%
Secundárias tardias
2%
Figura 6 - Distribuição do número de sementes, oriundas de remanescentes florestais, por categorias sucessionais
(n = 4887).
A análise de variância ANOVA, seguida do teste de Tukey, mostrou que nos doze
coletores com poleiros foram dispersas significativamente mais sementes de espécies
pioneiras e secundárias iniciais do que espécies das categorias sucessionais secundárias
tardias e climácicas (Tab. 3). Em média, foram registradas sementes de 3,36
±
1,03 espécies
pioneiras, 3,82
±
1,33 espécies secundárias iniciais, 1,64
±
0,67 espécies secundárias tardias e
1,73
±
0,65 espécies climácicas nos coletores.
61
Tabela 3 - Resultados do teste Tukey em relação às categorias sucessionais das espécies encontradas nos
coletores com poleiros durante o período do estudo em Siderópolis, SC.
Categorias
sucessionais
Pioneira Secundária
inicial
Secundária
tardia
Climácica
Pioneira - 0,688 0,001* 0,002*
Secundária
inicial
1,569 - 0,000* 0,000*
* Significativo em nível de 5% de probabilidade.
3.2.2 Fenologia
A chuva de sementes oriunda dos remanescentes florestais ocorreu durante todo o
ano, com maior concentração registrada nos meses de outubro a janeiro (Fig. 7). Nestes quatro
meses, foram coletadas 81,6% das sementes dispersas nos coletores com poleiros artificiais
durante o período do estudo. A abundância de sementes variou de 1.557 sementes coletadas
no mês de outubro ao registro de apenas 14 sementes em agosto. Em relação à riqueza de
espécies nos coletores ao decorrer do ano, registrou-se maior número de espécies entre os
meses de janeiro e março (Fig. 7). Ao se considerar a riqueza de espécies e a abundância de
sementes por mês em conjunto, percebe-se que a grande quantidade das sementes dispersa em
outubro e novembro foi representada por um número de espécies relativamente pequeno,
enquanto o pequeno número de sementes encontrado, principalmente entre fevereiro e junho,
pertenceu a um maior número de espécies que foi disperso nestes meses (Fig. 7).
62
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai
Número de sementes .
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Número de espécies
Número de sementes Número de escies
Figura 7 - Distribuição mensal do número de sementes e de espécies coletadas nos coletores com poleiros no
período do estudo em Siderópolis, SC.
Das 21 espécies identificadas nos remanescentes florestais,
Cecropia glaziovii
apresentou o maior período de frutificação, com dez meses de registro de sementes nos
coletores, seguida por
Myrsine coriacea
e
Miconia cabucu
com oito meses, respectivamente,
e
Trema micrantha
com sementes coletadas nos coletores durante sete meses. A maioria das
espécies (61,9%) foi registrada por apenas um a três meses (Fig. 8, Tab. 2).
0
1
2
3
4
5
6
7
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Número de meses
Número de espécies .
Figura 8 - Número de meses nos quais as espécies dos remanescentes florestais foram observadas nos coletores
com poleiros no período do estudo em Siderópolis.
63
Apesar de que o maior número de espécies foi encontrada no verão com, em média,
10,7
±
4,04 espécies e a menor riqueza na primavera e no inverno com, em média, 4,7
±
2,89
e 4,3
±
4,03 espécies, respectivamente, a análise de variância ANOVA revelou que não houve
diferenças significativas no número de espécies entre as quatro estações do ano (
F
= 2,387
, p
=
0,145
, F
(α = 0,05) 3.8
= 4,07). Entretanto, a análise de agrupamento mostrou que a diferença
entre as estações foi suficiente para a formação de três grupos distintos (Fig. 9). O primeiro
grupo inclui, principalmente, os meses de outono; o segundo grupo compreende os meses de
primavera e verão, com exceção de dezembro, e o terceiro grupo é composto pelos meses de
janeiro e fevereiro. A análise de agrupamento evidenciou separação das espécies encontradas
nos poleiros entre as estações, sendo que a maior similaridade ocorreu entre o inverno e a
primavera e a maior dissimilaridade entre janeiro/fevereiro e o verão e o outono.
0 1,6 3,2 4,8 6,4 8 9,6 11,2 12,8
-1
-0,9
-0,8
-0,7
-0,6
-0,5
-0,4
-0,3
-0,2
-0,1
0
Euclidean Similaridade
Março
Abril
Maio
Junho
Dezembro
Julho
Agosto
Setembro
Novembro
Outubro
Janeiro
Fevereiro
Figura 9 - Similaridade das espécies vegetais oriundas dos remanescentes florestais cujas sementes foram
encontradas nos coletores com poleiros por estação de ano em Siderópolis, SC.
64
3.3 Influência da distância do remanescente florestal na dispersão de sementes nos
coletores
Os 12 poleiros com coletores foram posicionados em cinco linhas paralelas ao
remanescente florestal mais próximo. A primeira linha, com apenas um poleiro estabelecido
devido ao formato da área escolhida, foi instalada com uma distância de 30m do
remanescente; a segunda, terceira e quarta linha com três poleiros, respectivamente, com
distâncias de 60m, 90m e 120m e a quinta linha, com dois poleiros, com 150m de distância da
fonte de sementes. Pelo fato a primeira linha estabelecida possuir apenas um poleiro, os dados
obtidos em relação a este poleiro não foram considerados nas análises de distância. As
sementes oriundas das três espécies do banco de sementes da turfa da área adjacente também
não foram incluídas nas análises.
Nos coletores com distância de 60m do remanescente florestal foram registradas, em
média, 9,0
±
1,0 espécies e 244,3
±
107,0 sementes, na distância de 90m 9,3
±
2,1 espécies e
274,0
±
170,0 sementes, na de 120m 11,7
±
1,5 espécies e 593,3
±
734 sementes e 150m
distante do remanescente 12,5
±
1,5 espécies e 734
±
28,28 sementes durante o período do
estudo (Fig. 10 e 11). Não foi encontrada diferença significativa no efeito da distância da
fonte de sementes sobre o número de espécies registradas (
F
= 2,693,
p
= 0,127,
F
(α = 0,05) 3.7
=
4,35). Da mesma forma, o teste ANOVA mostrou que não houve diferença significativa entre
as distâncias da fonte em relação ao número de sementes depositadas (
F
= 3,118,
p
= 0,097,
F
(α = 0,05) 3.7
= 4,35), apesar de que o número médio de sementes encontrado nos coletores
aumentou com a distância da fonte (Fig. 11).
65
0
2
4
6
8
10
12
14
16
60m 90m 120m 150m
Distância
Número de espécies .
Figura 10 - Número de espécies (média ± DP) encontradas nos coletores com poleiros em relação à distância do
remanescente florestal mais próxima da área de instalação dos poleiros durante o período do estudo em
Siderópolis, SC.
0
200
400
600
800
1000
60m 90m 120m 150m
Distância
Número de sementes .
Figura 11 - Número de sementes (média ± DP) encontradas nos coletores com poleiros em relação à distância do
remanescente florestal mais próxima da área da instalação dos poleiros durante o período do estudo em
Siderópolis, SC.
Considerando o número de espécies registradas nas diferentes distâncias do
remanescente florestal por estação, também não foram encontradas diferenças significativas
no efeito da distância sobre o número de espécies tanto entre as estações (
F
= 0,236,
p
= 0,87,
F
(α = 0,05) 3.12
= 3,49) como dentro das estações (primavera:
F
= 0,333,
p
= 0,08; verão:
F
=
0,916,
p
= 0,476; outono:
F
= 0,545,
p
= 0,665; inverno:
F
= 0,506,
p
= 0,689;
F
(α = 0,05) 3.8
=
66
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
-0,3 -0,24 -0,18 -0,12 -0,06 0 0,06 0,12 0,18 0,24
Coordinate 1
-0,16
-0,08
0
0,08
0,16
0,24
0,32
0,4
0,48
Coordinate 2
2 3 4
5
12
11
10
9 8
7 6
Remanescente florestal
4,07). Da mesma forma, o número de sementes nas diferentes distâncias não diferiu
significativamente entre as estações (
F
= 0,679,
p
= 0,581, F
(α = 0,05) 3.12
= 3,49).
A análise de componentes principais (PCA) que foi aplicada com a finalidade de
detectar associações de espécies vegetais com determinados poleiros mostrou que existe uma
correlação das espécies com os poleiros, formando três grupos principais (Fig. 12). O
primeiro grupo (em amarelo) é representado por poleiros que apresentam a maior distância de
todos os poleiros tanto do remanescente florestal como da Mata ciliar que limita a área de
instalação dos poleiros a oeste. O segundo grupo (em verde) é constituído por poleiros
instalados próximos do remanescente florestal e o terceiro grupo (em azul) é constituído por
poleiros situados ou próximo da Mata ciliar ou do remanescente florestal. Dois dos doze
poleiros apresentaram-se afastados dos demais grupos.
Apesar da análise de variância ANOVA revelar que não houve diferença
significativa entre as distâncias da fonte de sementes e o número de espécies depositado nos
coletores, a PCA evidenciou a separação das espécies dispersas em poleiros de distâncias
diferentes tanto do remanescente florestal como da Mata ciliar.
Figura 12 - Distribuição dos poleiros artificiais por meio de análise de componentes principais (PCA) para as
espécies vegetais registradas nos coletores durante o período do estudo em Siderópolis, SC. Os números de 2 a
12 referem-se, respectivamente, à numeração dos poleiros dada por distância do remanescente florestal.
67
3.4 Influência do crescimento de espécies arbóreas pioneiras na deposição de sementes
nos poleiros artificiais.
No mês de maio de 2007 foi observado que as árvores de espécies pioneiras
introduzidas pelo projeto de recuperação ambiental na área apresentavam altura próxima a
cinco metros. Desta maneira, foi realizada uma coleta de sementes nos coletores com poleiros
no mês de setembro de 2007 para verificar se a altura das árvores influenciaria no pouso das
aves e, conseqüentemente, na dispersão de sementes.
Em setembro de 2006 foram coletadas sementes de duas espécies em dez dos doze
poleiros artificiais, sendo elas a capororoca (
Myrsine coriacea
)
oriunda dos remanescentes
florestais e a maria-pretinha (
Solanum americanum
) da área adjacente oriunda do banco de
sementes da turfa.
Na campanha do mês de setembro de 2007 foram coletadas sementes de três espécies
em sete poleiros (4, 6, 7, 8, 9, 10 e 12). As espécies coletadas foram o baguaçú (
Magnolia
ovata
), o palmiteiro (
Euterpe edulis
) e uma espécie não identificada. Os poleiros 6, 10 e 12
nos quais foram coletadas sementes nesta nova campanha apresentaram bracatingas, espécie
arbórea introduzida pelo projeto de recuperação ambiental, com altura superior a quatro
metros próximos aos poleiros, evidenciando que mesmo com o crescimento das espécies
arbóreas pioneiras, a deposição de sementes continua a ser realizada pelas mesmas espécies
de aves.
4 DISCUSSÃO
4.1 Riqueza, abundância e fenologia de sementes nos coletores com poleiros
A presença dos poleiros durante um ano na área de estudo resultou na dispersão de
24 espécies e duas morfoespécies. O número pode ser considerado relativamente alto, quando
comparado com os números obtidos por Holl (1998) e Shils e Walker (2003) que encontraram
15 e 16 espécies, respectivamente, com o mesmo número de poleiros instalados. Apenas Melo
(1997) encontrou uma riqueza maior de espécies dispersas com poleiros, com 10 espécies e 40
68
morfoespécies registradas.
Em relação ao número de sementes dispersas com o uso de doze poleiros na área de
aproximadamente um hectare, foram observadas, em média, 181 sementes/m
2
e por ano na
área de estudo, corroborando com os resultados obtidos por Holl (1998) e McClanahan e
Wolfe (1987) que encontraram 164 sementes/m
2
/ano e 205 sementes/m
2
/ano,
respectivamente. Shiels e Walker (2003) com 50 sementes/m
2
/ano e Zanini e Ganade (2005)
com 10 sementes/m
2
/ano obtiveram uma densidade muito inferior sob os poleiros, levando em
consideração ainda que os últimos utilizaram 40 poleiros nos seus estudos.
Estas diferenças no número de espécies e no número de sementes encontradas sob
poleiros nas diversas regiões, provavelmente estão relacionadas à complexidade estrutural da
vegetação que, segundo McDonnel e Stiles (1983) influencia diretamente os padrões de vôo e
o forrageamento das aves. Por exemplo, Melo et al. (2000) obtiverem maior número de
espécies e de sementes depositadas sob poleiros do que no presente trabalho, com a instalação
dos poleiros em matas com plantio de eucaliptos, faixas de vegetação nativa e mata ciliar que
apresentam maior desenvolvimento estrutural da vegetação do que na nossa área de estudo.
Aparentemente, as áreas estudadas por Melo et al. (2000) atraíram maior diversidade e maior
abundância de espécies de aves frugívoras, incrementando a entrada de sementes, como
sugerido por McClanahan e Wolfe (1987). Além disso, as diferenças encontradas indicam que
existe limitação de dispersores nas áreas onde foi encontrado um número muito baixo de
sementes sob coletores, sugerido por Brunet e Von Oheimb (1998).
Com base no número de espécies e no número de sementes encontradas sob poleiros
neste estudo, considera-se que foi utilizada uma densidade satisfatória de poleiros. O fato de
mais do que a metade das espécies (52,2%) ser encontrada em apenas um até quatro dos doze
poleiros, reforça ainda esta questão. Um número menor de poleiros resultaria, provavelmente,
na redução da abundância e da diversidade de aves dispersoras de sementes e,
conseqüentemente, na redução da chuva de sementes.
A chuva de sementes oriunda dos remanescentes florestais ocorreu durante todo o
ano, com maior concentração nos meses de outubro a janeiro onde foram registradas 81,6%
das sementes dispersas nos coletores. Os resultados mostram que os poleiros foram
importantes pelo aporte de sementes na área em todos os meses do ano, o que pode contribuir
com uma diversidade de plantas com padrão fenológico seqüencial, que, segundo Espindola
(2005), é fundamental para a manutenção de fauna em uma área. Apenas nos meses de julho e
agosto nos quais a quantidade de sementes e a qualidade de espécies que frutificaram foi
muito baixa, a instalação de poleiros se mostrou menos eficiente.
69
Quatro espécies de categoria sucessional pioneira e secundária inicial apresentaram
importantes fontes de alimento para a avifauna presente na área de estudo durante longos
períodos, principalmente nos meses onde há escassez de alimento, sendo estas
Cecropia
glaziovii
,
Miconia cabucu
,
Myrsine coriacea
e
Trema micrantha
que produziram frutos
durante sete a dez meses, estendendo o seu período de frutificação até os meses de inverno.
Visando a manutenção da fauna, considera-se que a presença destas espécies é fundamental
para assegurar a permanência e sobrevivência das espécies de aves encontradas na área de
estudo.
4.2 Eficiência da instalação de poleiros artificiais em áreas degradadas na chuva de
sementes
O fato de nos coletores com poleiros artificiais ter-se encontrado grande número de
sementes mostra a viabilidade da instalação de poleiros para acelerar a sucessão vegetal nas
áreas reabilitadas na região que, por longos períodos, se encontram desprovidas de vegetação
suficientemente alta para a atração da maioria das espécies de aves. Este resultado corrobora
com os obtidos tanto em regiões temperadas como em tropicais por Bechara (2006),
Devlaeminck, Bossuyt e Hermy (2005), Holl (1998), McClanahan e Wolfe (1987), McDonnel
e Stiles (1983), Melo et al. (2000), Shiels e Walker (2003) e Zanini e Ganade (2005) que
comprovaram aumento da chuva de sementes em ambientes alterados com uso de poleiros
artificiais. Em contraste com os resultados obtidos pelos autores citados acima, não foram
encontradas sementes de espécies frugívoras nos coletores testemunhas, sendo apenas
registradas sementes anemocóricas que também foram observadas nos coletores sob poleiros.
Provavelmente, a grande chegada de sementes zoocóricas sob poleiros e a não deposição das
mesmas nos coletores testemunhas são relacionadas ao comportamento das aves, observado
por McDonnel e Stiles (1993), de defecar ou regurgitar as sementes, preferencialmente,
durante o pouso ou logo após a partida e não durante o vôo.
As aves contribuíram para o processo de restauração da vegetação por meio da
dispersão de sementes oriundas de espécies dos remanescentes florestais no entorno, mas,
dispersaram, principalmente, sementes de espécies oriundas do banco de sementes da turfa de
uma área adjacente reabilitada, sem plantação adicional de espécies vegetais pioneiras. Pela
proximidade dos poleiros ao remanescente florestal, poderia se ter esperado grande número de
70
espécies originárias do mesmo nos coletores, uma vez que foram registradas, até o momento,
135 espécies vegetais com síndrome de dispersão zoocórica nos remanescentes florestais no
entorno da área de estudo. Mas, apenas sementes de 16,4% destas foram dispersas na área
aberta com poleiros por aves.
Em todos os coletores com poleiros foram observadas poucas espécies florestais de
estádio sucessional climácico, sendo a grande maioria das sementes provenientes de espécies
pioneiras ou secundárias iniciais, corroborando com os resultados obtidos por Devlaeminck,
Bossuyt e Hermy (2005), que analisaram a dispersão de sementes da floresta para áreas
agrícolas na Bélgica, com o trabalho de Guevara e Laborde (1993) que estudaram a chuva de
sementes sob árvores de
Ficus
spp. e com as observações de McClanahan e Wolfe (1987)
realizadas em áreas de pastagem na Florida. O resultado difere apenas dos encontrados por
Shiels e Walker (2003), que verificaram presença maior de sementes de espécies secundárias
tardias e climácicas.
Conforme as observações apresentadas no primeiro artigo sobre a utilização dos
diversos ambientes pelas espécies de aves registradas na região, este resultado reflete os
padrões de vôo e forrageamento das aves dispersoras de sementes. Essas aves frugívoras,
pertencentes principalmente às famílias Thyrannidae e Turdidae, foram observadas
alimentando-se na mata e/ou na borda da mata e se deslocando da borda para os locais abertos
com poleiros para descansar. Aparentemente, as aves que se alimentam no interior da mata
utilizam a vegetação da borda como local de pouso, onde defecam ou regurgitam as sementes
oriundas do interior, mas, além disso, se alimentam das sementes da vegetação da borda,
constituída principalmente por espécies pioneiras e secundárias iniciais. Ao voar para os
locais abertos e pousando nos poleiros, realizam a dispersão, principalmente destas espécies
de estádios sucessionais iniciais.
O fato que 63,6% das espécies pioneiras e 21,4% das espécies secundárias iniciais
registradas nos remanescentes florestais adjacentes foram encontradas nos coletores com
poleiros, reforça ainda esta hipótese. Como exemplos podem ser citadas
Cecropia glaziovii,
Miconia cabucu, Myrsine coriacea
e
Trema micrantha,
espécies pioneiras encontradas com
freqüência na borda do remanescente florestal estudado e nos coletores com poleiros. Estas
espécies atraem uma grande quantidade de aves frugívoras (ARGEL-DE-OLIVEIRA;
CASTIGLIONI; SOUZA, 1996; ZIMMERMANN, 2001
),
o que as tornam importantes focos
de recrutamento de sementes nos estágios iniciais de regeneração de áreas degradadas
desprovidas de vegetação, como é o caso das áreas reabilitadas após mineração a céu aberto
em Siderópolis.
71
Considerando que a presença de vegetação pioneira facilita o estabelecimento e a
sobrevivência de espécies mais avançadas da sucessão (CONNELL; SLATYER, 1977), os
nossos resultados indicam a alta eficiência da instalação de poleiros artificiais na chegada de
espécies pioneiras em áreas com cobertura vegetal pobre, as quais poderão formar a vegetação
facilitadora para o estabelecimento das espécies secundárias tardias e climácicas que terão
suas sementes dispersas por aves que se alimentam das espécies já estabelecidas.
Entretanto, para que os poleiros artificiais funcionem de maneira mais eficiente, é
importante que as sementes ali depositadas encontram condições adequadas para sua
germinação e seu estabelecimento. Os poucos estudos que levaram em consideração o efeito
dos poleiros no estabelecimento das plântulas sob as mesmas, mostraram que houve pouco ou
nenhum aumento no número de plântulas estabelecidas sob poleiros a partir de sementes
dispersas por animais em comparação com áreas de controle sem poleiros (HOLL, 1998;
McCLANAHAN; WOLFE, 1993; MIRITI, 1997; ZANINI; GRANADE, 2005). O não
aumento do estabelecimento das plântulas mesmo que ocorra uma maior deposição de
sementes com o uso de poleiros pode ser resultado de altas taxas de predação que aumentam
com a densidade de sementes (JANZEN, 1971) ou, segundo Sun e Dickinson (1996), é
resultado da competição das plântulas com as gramíneas que se estabeleceram nestas áreas.
Ferguson (1995) e Miriti (1997) observaram que o estabelecimento de plântulas de espécies
dispersas por aves sob poleiros foi maior quando as gramíneas foram eliminadas. Outros
fatores que podem influenciar o estabelecimento das plântulas são a limitação de nutrientes, a
textura do solo e as condições microclimáticas (AIDE; CAVELIER, 1994; NEPSTAD; UHL;
SERRAO, 1991; UHL, 1987). Na área de estudo, o estabelecimento das plântulas realmente é
dificultado pela densa cobertura vegetal formada pelo capim-gordura que foi introduzido logo
após a reconstrução do solo. Uma alternativa para solucionar este problema seria roçar e
controlar o crescimento da vegetação embaixo dos poleiros.
Naturalmente, os dados apresentados são ainda preliminares para a região. Novos
estudos devem ser realizados envolvendo os diversos tipos de poleiros (e. g. poleiros vivos) e
em variadas situações ambientais com diferentes matrizes e tipos de fragmentos. Estudos
comparativos que envolvam a chuva de sementes, o estabelecimento e recrutamento de
plantas sob poleiros em relação à cobertura vegetal e à qualidade do solo seriam importantes
para efetivamente avaliar o papel dos poleiros na recuperação de áreas reabilitadas após
mineração de carvão a céu aberto.
72
4.3 Influência da distância da fonte na chuva de sementes
De acordo com Wegner e Merriam (1979) para regiões temperadas, no presente
estudo foi observado que o movimento das aves frugívoras para áreas abertas é governado
pela presença e o arranjo de elementos florestais no entorno, como corredores ripários e
remanescentes florestais, o que se reflete na formação de três grupos distintos de espécies
dispersas em poleiros de distâncias diferentes tanto do remanescente florestal como da Mata
ciliar evidenciada pela análise de componentes principais (PCA). Isso poderia explicar, em
parte, por que não foi observada uma diferença significativa no número de espécies e de
sementes depositadas sob poleiros artificiais em relação à distância da fonte de sementes,
tanto no que diz respeito ao remanescente florestal mais próximo quanto da mata ciliar que
acompanha o rio Fiorita a oeste da área de instalação dos poleiros. Além disso, este resultado
reflete o comportamento generalístico das aves que utilizavam os poleiros, adaptadas às áreas
abertas e se movimentando da borda das matas para estas por longas distâncias. Em
conseqüência, as sementes que estas aves dispersam chegam aos poleiros mais distantes em
densidade e riqueza não inferior as registradas nos poleiros mais próximos dos remanescentes
florestais.
Estudando a chuva de sementes sob árvores isoladas em áreas de pastagem, Guevara
e Laborde (1993) observaram que algumas espécies de aves dispersaram sementes de espécies
presentes a uma distância maior que 300m destas árvores. Holl (1998) também não encontrou
efeito significativo da distância no número de sementes e, analisando a lista de espécies de
aves que visitaram os poleiros no trabalho de Holl (1998), percebe-se que sete das dez
espécies são comumente encontradas em áreas abertas e raramente forrageiam no interior da
floresta. Em contraste, a maioria dos outros trabalhos que estudaram a dispersão de sementes
em relação à distância da fonte observou significativa diminuição do número de sementes
encontrado com o aumento da distância da fonte (DEVLAEMINCK, BOSSUYT; HERMY,
2005, McCLANAHAN; WOLFE, 1993; MELO, et al., 2000; WILSON; AEBISCHER,
1995). Segundo estes autores, este resultado mostra a importância da proximidade de áreas
degradadas com florestas intactas para assegurar a chuva de sementes e acelerar a recuperação
vegetal destas áreas. Brunet e Von Oheimb (1998) indicam, ainda, que existe uma limitação
de dispersores nestas áreas.
Os nossos resultados evidenciam não apenas a importância da presença de fontes de
sementes nas proximidades das áreas degradadas, mas, também, a presença de aves
73
generalistas capazes de cruzar grandes extensões de áreas abertas nas regiões para assegurar a
dispersão de sementes por longas distâncias.
Desta maneira, conclui-se que a diversidade de
aves junto com a proximidade dos poleiros aos remanescentes florestais influenciam a
dispersão de sementes em áreas degradadas.
5 CONCLUSÃO
Com o uso de doze poleiros artificiais em uma área reabilitada após mineração de
carvão a céu aberto, de aproximadamente um hectare, foram registradas sementes de 26
espécies que foram dispersas por aves. Pela proximidade dos poleiros ao remanescente
florestal, poderia se ter esperado grande número de espécies originárias do remanescente nos
coletores, uma vez que foram registradas, até o momento, 135 espécies vegetais com
síndrome de dispersão zoocórica nesses remanescentes no entorno da área de estudo. Mas,
apenas sementes de 16,4% destas foram dispersas na área aberta com poleiros por aves. Desta
forma, as aves contribuíram para o processo de restauração da vegetação por meio da
dispersão de sementes oriundas de espécies dos remanescentes florestais no entorno, mas,
dispersaram, principalmente, sementes de espécies oriundas do banco de sementes da turfa de
uma área adjacente reabilitada, sem plantação adicional de espécies vegetais pioneiras.
O número grande de sementes encontrado nos coletores com poleiros e o fato que em
todos os coletores com poleiros a maioria das sementes encontradas foram de espécies
pioneiras ou secundárias iniciais mostram a viabilidade da instalação de poleiros para acelerar
a sucessão vegetal nas áreas reabilitadas na região. As espécies pioneiras e secundárias
iniciais mais freqüentemente encontradas foram
Cecropia glaziovii, Miconia cabucu, Myrsine
coriacea
e
Trema micrantha,
que atraem uma grande quantidade de aves frugívoras, o que as
tornam importantes focos de recrutamento de sementes nos estágios iniciais de regeneração de
áreas degradadas. Estas espécies apresentaram também maior período de frutificação, se
tornando importantes fontes de alimento para a avifauna, mesmo em épocas com escassez de
frutos.
Não foi observada diferença significativa no número de espécies e de sementes
depositadas sob poleiros artificiais em relação à distância da fonte de sementes, tanto no que
diz respeito ao remanescente florestal mais próximo quanto da mata ciliar que acompanha o
rio Fiorita a oeste da área de instalação dos poleiros, o que reflete o comportamento
74
generalístico das aves que utilizavam os poleiros, adaptadas às áreas abertas e capazes de
cruzar grandes extensões nas regiões para assegurar a dispersão de sementes por longas
distâncias. Os resultados indicam que tanto a diversidade de aves quanto a proximidade dos
poleiros aos remanescentes florestais influenciam a dispersão de sementes na área estudada.
75
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79
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através deste trabalho foi possível demonstrar a alta eficiência da instalação de
poleiros artificiais na chegada de espécies pioneiras em áreas com cobertura pobre de
vegetação, as quais poderão formar a vegetação facilitadora para o estabelecimento das
espécies secundárias tardias e climácicas. Quatro espécies da categoria sucessional pioneira e
secundária inicial produziram frutos durante um longo período, apresentando importantes
fontes de alimento para a avifauna presente na área de estudo, especialmente em períodos de
escassez de frutos.
Além disso, os nossos dados evidenciaram não apenas a importância da presença de
fontes de sementes nas proximidades das áreas degradadas, mas, também, a presença de aves
generalistas capazes de cruzar grandes extensões de áreas abertas nas regiões para assegurar a
dispersão de sementes por longas distâncias.
Desta maneira, concluí-se que a diversidade de
aves junto com a proximidade dos poleiros aos remanescentes florestais influenciam a
dispersão de sementes na área estudada.
80
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