O Caminho para Oslo \
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Em verdade, essa mudança de estratégia em direção a uma atitude mais realista era uma
necessidade ditada pelo equívoco de haver anteriormente se colocado como uma espécie
de “poder paralelo” (OLIC: 1991, p. 71) nos países onde se refugiou, incentivando o
aparecimento de grupos armados, responsáveis por uma série de atentados que levaram
à expulsão da OLP da Jordânia e, sucessivamente, do Líbano.
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Tendo sido transferida
sua base de operações para a Tunísia – longe, portanto, de seu alvo (Israel) e de seus
objetivos (os territórios ocupados) –, o movimento palestino perdeu ainda mais em
unidade, com o conseqüente aumento da disputa entre facções
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pelo controle da
organização e da liderança do movimento. A difícil situação da OLP, exilada em Túnis,
e a impossibilidade de prosseguir com a luta armada levaram Arafat a mudar de
estratégia e a partir para uma ofensiva diplomática.
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Em setembro de 1970, o rei Hussein da Jordânia empreendeu uma violenta perseguição aos
guerrilheiros palestinos que desafiavam a sua autoridade dentro do país, acusando o regime de derrotista e
conclamando a resistência a lutar contra este tipo de governo e contra os interesses imperialistas e
colonialistas. O episódio, conhecido como Setembro Negro, inspirou, mais tarde, a ação de um grupo
terrorista homônimo que, durante as Olimpíadas de Munique (1972), assassinou 12 atletas israelenses.
Depois desse episódio, a OLP procurou fortalecer sua posição no Líbano, país profundamente marcado
por diferenças étnicas e religiosas, as quais a presença palestina só fez aumentar. Em 1978, pretextando
acabar com os ataques perpetrados por fedayns (“aqueles que se sacrificam”) com bases no sul do país,
Israel invadiu o Líbano até o rio Litani – a “fronteira certa”, reivindicada pelos sionistas. Já em 1982, as
forças israelenses alcançavam a capital Beirute: a operação Paz na Galiléia conseguiu expulsar a maioria
dos combatentes ligados à OLP; uma outra parte, refugiada em Trípoli, foi expulsa pelos sírios no ano
seguinte.
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O Fatah foi o primeiro grupo voltado para a criação de um Estado Palestino. Criado em 1959, desde o
início de sua atuação colocou-se como anti-sionista e antiimperialista. Com a criação da OLP, em 1964, o
Fatah, entre outros grupos, passou para sua esfera de influência. Na década de 1960, a OLP viu surgir
uma série de grupos como al Saika e a Frente Popular para Libertação da Palestina, em 1967, e a Frente
Democrática e Popular para Libertação da Palestina, em 1969, que concordavam sobre a criação de um
Estado palestino, mas discordavam quanto aos métodos para alcançá-los e a forma como deveriam se
colocar diante da comunidade internacional (OLIC: 1991, p. 70-71). Ao redor do Fatah, que dominava a
OLP, esses grupos de importância muito variável evoluíam ao sabor das conjunturas, dos Estados que
lhes apoiavam, ou da tendência ideológica de seus líderes (CORM: 2006, p. 399). Além destes,
formaram-se outros grupos mais intransigentes quanto ao conflito com Israel e que acabaram se
colocando em oposição à OLP. A Jihad Islâmica foi fundada em 1975, por um grupo de estudantes
palestinos no Cairo, com o objetivo de destruir Israel por meio de uma guerra santa e fundar um Estado
palestino islâmico. O Hezbolah – “Partido de Deus” – foi fundado por clérigos xiitas em 1982, inspirado
na Revolução Iraniana e em resposta à invasão israelense ao Líbano. Tendo alcançado a retirada das
tropas israelenses (2000), a milícia tornou-se uma grande organização política e paramilitar com assentos
no parlamento libanês, operando uma vasta rede de serviços sociais no país e dando também apoio à
resistência palestina nos territórios ocupados. O Hamas – “Movimento de Resistência Islâmica”– surgiu
apenas em 1988, derivado da Irmandade Muçulmana – organização com raízes no nacionalismo egípcio
dos anos 1920. Bem estruturado, passou a controlar fundações de ajuda à população mais pobre e uma
rede de mesquitas, tendo recebido apoio norte-americano e israelense como parte de uma estratégia para
enfraquecer a OLP (GRESH: 2002, p. 181). A Brigada dos Mártires de Al-Aqsa, criada em meio à
segunda Intifada (2000-2003), é uma facção com origem no Fatah, que defende a luta armada como o
único meio para a independência palestina.