Download PDF
ads:
TRADUÇÃO E VALIDAÇÃO DO TEXAS REVISED
INVENTORY OF GRIEF (TRIG): APLICAÇÃO EM PAIS
ENLUTADOS PELA PERDA DE UM FILHO POR
CÂNCER PEDIÁTRICO
ELIZABETH NUNES DE BARROS
Dissertação apresentada à Fundação Antônio
Prudente para a obtenção do Título de Mestre
em Ciências
Área de concentração: Oncologia
Orientadora: Dra. Célia Lídia da Costa
São Paulo
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca da Fundação Antônio Prudente
Barros, Elizabeth Nunes de
Tradução e validação do Texas revised inventory of grief (TRIG):
aplicação em pais enlutados pela perda de um filho por câncer
pediátrico / Elizabeth Nunes de Barros -- São Paulo, 2008.
136p.
Dissertação (Mestrado)-Fundação Antônio Prudente.
Curso de Pós-Graduação em Ciências - Área de concentração:
Oncologia.
Orientadora: Célia Lídia da Costa
Descritores: 1. CÂNCER. 2. CRIANÇA. 3. PAIS. 4. MORTE. 5.
QUESTIONÁRIOS. 6. TRADUÇÃO (PROCESSO). 7. ATITUDE FRENTE
A MORTE.
ads:
DEDICATÓRIA
“Para todas as crianças e famílias cujas histórias foram
compartilhadas ao longo desta trajetória e que me ensinaram a reconhecer
as dimensões do sofrimento humano no processo da doença e morte”.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
Aos meus pais Hilda e Sebastião, pelos ensinamentos de vida e
exemplos de dedicação e amor incondicional e, por me ensinarem que o
respeito ao próximo está acima de tudo.
Ao meu marido Miguel, pela presença ativa na minha vida, vibrando e
compartilhando bons e maus momentos dessa trajetória, sempre com amor,
compreensão e incentivo.
Aos meus filhos Flavio e Paulo Henrique, por existirem em minha vida
e cuja juventude me estimula e me renova a cada dia.
Aos meus irmãos Maria Angela e Marco Antonio, parte integrante da
minha formação.
AGRADECIMENTOS
À Dra. Célia Lídia da Costa, meu agradecimento pela orientação
deste estudo e, principalmente, pela oportunidade e participação na minha
formação profissional.
À Dra. Maria do Rosário Dias de Oliveira Latorre pela competência
profissional, disposição e estímulo dados nas várias fases deste trabalho.
À Dra. Maria Teresa da Cruz Lourenço pelo carinho, apoio e incentivo,
sempre.
À amiga Dra. Andréa Y. Kurashima, minha gratidão e admiração pela
seriedade, competência e profissionalismo com que conduz o grupo de
cuidados paliativos da pediatria e por possibilitar o crescimento pessoal e
profissional de seus integrantes. Sua luta constante para cuidar do bem-
estar da criança com câncer e de sua família, foi um grande incentivo para a
realização deste trabalho.
Ao Dr. Benedito Mauro Rossi e ao Prof. Dr. Luiz Antônio Nogueira
Martins, meu agradecimento pelos ensinamentos e críticas no período de
realização deste trabalho e, principalmente, pelo apoio e amizade.
À Prof. Dra. Beatriz de Camargo, que com seu conhecimento e
exemplo profissional muito tem contribuído na minha formação científica.
Ao Departamento de Pediatria, aqui representado pela Dra. Cecília
Maria Lima da Costa, pela oportunidade de utilização dos dados dos
pacientes e pelo constante apoio durante a condução deste estudo.
À amiga Edna Shibuya pela amizade, carinho e pelos momentos
compartilhados.
Às amigas Érika Maria Monteiro da Silva, Janaína Haidê Rodrigues
Belém e Sandra Shimoda pelo incentivo e exemplo profissional.
À Pós-graduação, em especial ao Dr. Luiz Fernando Lima Reis, à
coordenadora Ana Maria Kuninari, à Luciana e à Cintia, pelo suporte integral
e pela disponibilidade para ajudar, sempre que possível.
À equipe da Biblioteca Suely, Rosinéia, Francyne, Érica e Elaine pela
disponibilidade e eficiência nas orientações, pela paciência e apoio
constante.
A todos do SAME, Dna. Hirde, Célia, Luiz, Adriana e demais membros
da equipe, meu agradecimento pelo apoio e organização no levantamento
de dados dos prontuários.
Meu agradecimento à equipe de tradutores e membros do painel de
juízes pelo envolvimento e profissionalismo com que conduziram a fase de
adaptação transcultural.
Meus agradecimentos a todas as pessoas que colaboraram, direta ou
indiretamente, para a realização deste trabalho.
RESUMO
Barros ENB. Tradução e validação do Texas Revised Inventory of Grief
(TRIG): Aplicação em pais enlutados pela perda de um filho por câncer
pediátrico. São Paulo; 2008. [Dissertação de Mestrado-Fundação Antônio
Prudente].
Sofrer a perda de uma pessoa significativa é um evento estressante que
permanece para sempre na vida das pessoas. A perda de um filho é um
acontecimento trágico e ilógico para os pais. Muitas variáveis individuais
estão envolvidas e influenciando o processo da morte e do luto. A adaptação
transcultural de um instrumento de medida de luto para o português torna-se
um aspecto de grande relevância. Este estudo teve como objetivos: Traduzir
e adaptar culturalmente o questionário Texas Revised Inventory of Grief
(TRIG) para a língua portuguesa e validar o questionário TRIG na língua
portuguesa. Foi realizado um estudo descritivo, de corte transversal. A
casuística foi composta por pais cujos filhos com diagnóstico de câncer
faleceram no período entre 2000 e 2002. Dentre 118 pais enlutados
elegíveis para participar do estudo, nossa casuística foi composta de 15
participantes. O estudo foi desenvolvido em duas fases: 1. tradução e
adaptação transcultural do Texas Revised Inventory of Grief (TRIG) para a
língua portuguesa e; 2. estudo transversal para avaliação do questionário.
Utilizou-se o IDATE-E para verificar a validade concorrente dos escores. O
TRIG foi traduzido e revisado por um painel de juízes, verificando-se que os
itens que compõem o instrumento original representam adequadamente as
dimensões no contexto cultural brasileiro. Os coeficientes Alfa de Cronbach
calculados para os oito itens da Parte I e para os treze da Parte II do TRIG
adaptado, foram de 0,787 e 0,879 respectivamente, mostrando que a
consistência interna foi boa para este estudo. Na validação discriminante, a
comparação das médias das escalas da Parte III do TRIG e, também, em
relação ao tipo de morte demonstrou que os familiares que referiram ser
verdadeira a afirmação de que “fazem as coisas tão bem quanto antes da
morte da pessoa”, apresentaram médias menores na Parte II do TRIG, com
valores de 47,4 e 55,4 (p=0,040) e próximo à significância estatística na
Parte I, com médias de 23,0 e 31,0 (p=0,072). A avaliação da validade
concorrente demonstrou que não houve correlação estatisticamente
significativa entre o IDATE-E e a Parte I do TRIG (r=0,15; p=0,615), ou entre
o IDATE-E e a Parte II do TRIG (r=0,13; p=0,648). Também não se obteve
correlação estatisticamente significativa entre a Parte I do TRIG e o tempo
de morte (r= -0,13; p= 0,635) e entre a Parte II do TRIG e o tempo de morte
(r= -0,03; p= 0,917). A tradução e a adaptação cultural do TRIG foram
realizadas com sucesso e confirmou-se que o TRIG é um instrumento que
foi capaz de discriminar os sentimentos e ações do enlutado nos momentos
próximos ao falecimento e no momento presente. Este conhecimento é
fundamental para compreendermos melhor os pais em situação de luto. Não
somos capazes de impedir a morte ou trazermos a pessoa amada de volta,
mas podemos ajudar as famílias a lutar para enfrentar os desafios
adaptativos do processo de luto, na tentativa de reduzir riscos de morbidade
física e psicológica, de fortalecer vínculos, de reestruturar percepções
negativas, enfim de ajudar os pais a se ajustarem e a encontrarem um
sentido para a vida e para a morte.
SUMMARY
Barros ENB. [Texas Revised Inventory of Grief (TRIG) Translation and
validation: assessment in bereaved parents who had lost their child due
to pediatric cancer] São Paulo; 2008. [Dissertação de Mestrado-Fundação
Antônio Prudente].
To lose a significant person in our lives is one of the most stressful life
experiences ever described and its impact may remain forever. The loss of
their own children is an unnatural, tragic and illogic event for parents. Many
individual variables interfere in bereaved parents, affecting their death/grief
process. The cross-cultural adaptation of an inventory of grief due to the
death of a child is of relevance for our culture. Our aims included to adapt
and validate the Texas Revised Inventory of Grief (TRIG) into Portuguese,
examining its reliability and validity. A cross-sectional, descriptive study was
designed. The subjects included parents of children who had being
diagnosed of cancer and died between 2000 and 2002. We identified 118
eligible subjects. Participation among bereaved parents in the study was 15.
The study was carried out in two phases: 1. cross-cultural adaptation of the
Texas Revised Inventory of Grief (TRIG) into Portuguese and; 2. Cross-
sectional study of the reliability and validity of the instrument. The State-Trait
Anxiety Inventory STAI-S questionnaire was used to verify the concurrent
validity. The TRIG was translated and back-translated from American English
into Portuguese. This version was then revised by a panel of judges to
ensure that the items from the original version represented the Brazilian
cultural context dimensions. The Cronbach´s alpha coefficients of the 2 TRIG
scales were 0.787 and 0.879 representing satisfactory internal consistency.
For the discriminating validity, we compare the TRIG (Part III) scales means
as well as in terms of expected or unexpected character of death. The
findings showed that parents who agreed with the item ´I feel that I am now
functioning about as well as I was before the death´, score lower on TRIG-
Part II (values 47.4 and 55.4/p=0.040). For the TRIG-Part I, they score 23.0
and 31.0/p=0.072. Concurrent validity: there was no significant correlation
between the STAI-S and the two TRIG scales (Part I r=0.13; p=0.635 and
Part II r=0.13; p=0.648) nor the time elapsed since death and the two TRIG
scales (Part I r=0.15; p=0.615 and Part II r=-0.03; p=0.917). The TRIG was
successfully translated and cross-cultural adapted into Portuguese, with a
reliable and valid measure of the grief as well as the original version. It is
able to discriminate feelings and actions of the bereaved parents in the past
(time of death) and the present moment. This knowledge is of fundamental
importance to better understand these parents in grief. We are not able to
avoid death or to bring back a loved one, but we definitely can help bereaved
families to face the adaptive challenges of the grief process in order to
reduce physical and psychological morbidity risks. This may enhance family
bonds, improve negative perceptions and therefore help the parents to cope
with this loss and to find a meaning for life and death.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Modelo do processo dual de enfrentamento do luto
35
Figura 2 Grupo de reações de luto em relação às Partes I e II do
TRIG.
57
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Características sócio-demográficas dos pais que
participaram do estudo. 74
Tabela 2 Descrição das características dos pais avaliados em
relação aos filhos. 75
Tabela 3 Distribuição dos respondentes, segundo parentesco,
relacionamento e tipo de morte. 76
Tabela 4 Distribuição dos respondentes, segundo comportamento
passado das questões que compõem a Parte I do TRIG,
que relacionam sentimentos e ações ocorridos nos
momentos próximos à morte da pessoa.
77
Tabela 5 Distribuição dos respondentes, segundo as questões que
compõem a Parte II da escala que explora sentimentos
atuais do enlutado em relação ao falecido.
79
Tabela 6 Distribuição dos respondentes, segundo ações e reações
à morte da pessoa.
80
Tabela 7 Distribuição dos respondentes, segundo questões
referentes à validade da pesquisa. 81
Tabela 8 Distribuição dos respondentes, segundo escores para a
Parte I do TRIG. 82
Tabela 9 Distribuição dos respondentes, segundo escores para a
Parte II do TRIG. 83
Tabela 10 Distribuição dos respondentes, segundo grupos de
reações de luto.
84
Tabela 11 Consistência interna da Parte I do instrumento TRIG na
língua portuguesa, segundo coeficiente Alfa de Cronbach.
85
Tabela 12 Consistência interna da Parte II do instrumento TRIG na
língua portuguesa, segundo coeficiente Alfa de Cronbach. 86
Tabela 13 Escores médios das escalas, segundo resposta dada à
questão 3 da Parte III do questionário. 87
Tabela 14 Escores médios das escalas, segundo resposta dada à
questão 4 da Parte III do questionário.
88
Tabela 15 Escores médios das escalas, segundo resposta dada à
questão 5 da Parte III do questionário.
88
Tabela 16 Escores médios das escalas, segundo o tipo de morte. 89
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Resultado da tradução e adaptação cultural dos itens
da Parte I do TRIG.
69
Quadro 2 Resultado da tradução e adaptação cultural dos itens
da Parte II do TRIG.
72
LISTA DE ABREVIATURAS
DPMCB Dual Process Model of Coping with Bereavement
IDATE Inventário de Ansiedade Traço-Estado
TRIG Texas Revised Inventory of Grief
SIOP Société Internationale D'Oncologie Pédiatrique
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO 1
2 OBJETIVOS 6
3 REVISÃO DA LITERATURA 8
3.1 Câncer Infantil 9
3.1.1 Aspectos clínicos e de tratamento 11
3.1.2 Impacto do câncer no paciente e família 13
3.2 Tratamento paliativo 19
3.3 Luto 23
3.3.1 Referencial teórico 25
3.3.2 Luto pela perda de um filho 36
3.3.3 Instrumentos de avaliação do luto 42
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS 46
4.1 Casuística 47
4.1.1 Critérios de elegibilidade e exclusão da população 47
4.1.2 Dinâmica de seleção dos casos 48
4.2 Métodos 50
4.2.1 Cálculo da amostra 50
4.2.2 Procedimentos de abordagem da população estudada 51
4.2.3 Variáveis estudadas 52
4.2.4 Instrumentos de avaliação 54
4.2.5 Processo de Tradução e Adaptação Transcultural 59
4.2.6 Estratégia de processamento e análise dos dados 62
4.2.7 Rigor e Ética 63
5 RESULTADOS 65
5.1 Tradução e Adaptação Transcultural 66
5.1.1 Avaliação do painel de juízes da Parte I do TRIG: comportamento
passado 67
5.1.2 Avaliação do painel de juízes da Parte II do TRIG: sentimentos do
presente 70
5.2 Caracterização da Casuística 73
5.2.1 Caracterização Sócio-Demográfica da Amostra 73
5.3 Descrição das Respostas Obtidas na Aplicação do TRIG 76
5.4 Validação do TRIG 84
5.4.1 Avaliação da Consistência Interna 84
5.4.2 Avaliação da Validade Discriminante 86
5.4.3 Avaliação da Validade Concorrente 89
5.5 Descrição dos Comentários livres dos participantes 90
6 DISCUSSÃO 94
7 CONCLUSÕES 120
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 122
ANEXOS
Anexo 1 Texas Revised Inventory of Grief – versão original
Anexo 2 Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital A.C. Camargo
Anexo 3 Autorização do autor para adaptação do TRIG em
português
Anexo 4 Inventário Texas Revisado de Luto
Anexo 5 Inventário de Ansiedade Traço-Estado - IDATE-E
APÊNDICES
Apêndice 1 Carta convite
Apêndice 2 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
1
INTRODUÇÃO
2
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas duas décadas, as taxas de mortalidade de crianças com
câncer diminuíram significativamente. A melhora nos índices de cura e de
sobrevida tem sido atribuída aos avanços terapêuticos e aos métodos de
diagnóstico precoce (YOUNG et al. 1986; LEVI et al. 1995; RIES et al. 1999).
No entanto, apesar do progresso alcançado na área da oncologia pediátrica,
ainda temos um grupo de pacientes em que não é possível atingir a cura,
sendo primordial nesses casos, a manutenção da qualidade de vida e a
valorização do tempo que lhes resta (DE CAMARGO e KURASHIMA 2007).
Existem vários tipos de perda, mas, na maioria das culturas
ocidentais, a morte de uma criança é considerada o evento mais estressante
possível que pais podem vivenciar, por ser um acontecimento
completamente fora de lugar no ciclo vital (JAMES e JOHNSON 1997). A
perda de um filho desafia o papel evolutivo dos pais como “protetores”,
podendo resultar em sentimentos de desespero, isolamento e culpa
(OPPENHEIM 2004).
A morte de uma criança, seja por trauma ou doença, gera um grande
impacto e provoca mudanças imediatas e em longo prazo na vida e na
saúde dos pais e familiares (HINDS et al. 2005). Os pais relatam fazer um
grande esforço para se ajustar à perda durante toda sua vida, tornando-se
uma população com elevado risco de reações de luto prolongado e de um
luto complicado (HIMELSTEIN et al. 2004).
3
Ao longo das duas últimas décadas, pesquisadores que enfocam o
campo da tanatologia (estudo da morte e do morrer) têm apresentado
achados relevantes e instrumentos para mensurar a intensidade das
respostas de luto (STROEBE et al. 2005). Embora esses instrumentos não
supram todos os aspectos envolvidos na situação de luto, ainda assim eles
são úteis, por fornecerem um perfil da resposta geral do enlutado após a
perda associada à morte, cujos dados podem ser usados em clínica e em
pesquisas futuras, para estudar diversas populações de enlutados e os
fatores de risco comparativos na trajetória do luto.
Apesar de ser crescente o número de pesquisas sobre perda e luto,
ainda há carência de estudos controlados específicos sobre morte e luto
ocorridos no contexto da oncologia pediátrica. Os desafios éticos e
metodológicos podem explicar o limitado número de pesquisas nessa área
(BREYER et al. 2006).
A maioria das teorias atuais conceitua o luto como um processo fluido
e dinâmico, desenfatizando a idéia de estágios fixos pelos quais o enlutado
vai passando até a sua total recuperação (PARKES 1998; STROEBE e
SCHUT 1999; STROEBE et al. 2005).
O pesar para os pais que perderam o filho permanece por toda a vida.
Eles não se restabelecem da perda do filho, eles, aprendem a ajustar a
perda em suas vidas (HIMELSTEIN et al. 2004). Com o passar do tempo,
eles vão reassumindo suas funções diárias, estabelecendo novos
relacionamentos e retomando o prazer pela vida. Esses são sinais de
diminuição da intensidade das reações de luto (KREICBERGS et al. 2004b).
4
WOLFE et al. (2000a) relataram que a forma como a criança morre
influencia diretamente a capacidade dos pais para continuarem suas vidas e
funções, especialmente, se eles acreditam que a criança morreu sofrendo.
Estes resultados refletem a necessidade de um cuidado multidisciplinar
direcionado às reais necessidades do paciente e de sua família, de acordo
com o seu ponto de vista sobre qualidade de vida. Os pais, além da
sobrecarga emocional que vivenciam pela iminência da perda do filho,
também ficam expostos ao prolongado sofrimento físico e emocional da
criança no período de fim de vida.
Estudo populacional realizado com pais que perderam um filho indica
que o estresse psicológico decorrente desta morte pode afetar a saúde dos
pais de diversas maneiras, tais como aumento global de mortalidade em
mães e um leve aumento de mortalidade antecipada em pais, devido a
causas não naturais (LI et al. 2003). Outro estudo populacional demonstrou
que as complicações psicológicas podem interferir imensamente na vida e
no bem-estar dos pais e familiares da criança, sendo que estes pais
apresentaram um risco aumentado para quadros de ansiedade e depressão
nos primeiros 4-6 anos após o óbito do filho, embora esses níveis diminuam
transcorridos 7-9 anos após a perda da criança (KREICBERGS et al. 2004b).
Isto pode indicar que os pais necessitem de acompanhamento por um
período mais longo que o indicado pela Sociedade Internacional de
Oncologia Pediátrica (SIOP), que sugere dois anos de seguimento aos pais
enlutados. No entanto, é importante identificar os casos em que há a
necessidade de se prolongar os acompanhamentos. KREICBERGS et al.
5
(2007) referem que a maioria dos pais que recebem suporte psicológico ao
longo da trajetória da doença e, especialmente, no último mês de vida do
filho trabalham melhor o seu luto.
Os profissionais de cuidados à saúde têm pouca vivência em cuidar
de crianças em fim de vida, simplesmente porque esse evento ocorre em
menor proporção (RUSSO e WONG 2005).
O plano de cuidado ao enlutado deve começar quando os serviços de
cuidados paliativos são introduzidos, ao invés de iniciá-lo depois da morte da
criança (KISSANE et al. 2006). Quando os pais têm a oportunidade de
discutir a condição do filho com a equipe e dividir a sobrecarga emocional
dessa dolorosa vivência, isto poderá facilitar o seu processo de luto em
longo prazo.
Um elemento chave no enfoque da saúde é o desenvolvimento de
ferramentas que possam auxiliar na identificação dos indivíduos sob risco
para uma resposta de luto complicado (JORDAN et al. 2005).
Percebe-se, portanto, uma necessidade de se utilizar instrumentos de
avaliação do luto também na nossa população brasileira, em especial, para
avaliação de pais que perderam seus filhos, visto a magnitude desta
experiência e seu impacto em longo prazo. O presente estudo visa traduzir e
validar um instrumento para este fim, oferecendo aos profissionais de saúde,
mais uma ferramenta para ampliação do atendimento oferecido aos
enlutados.
6
OBJETIVOS
7
2 OBJETIVOS
1. Traduzir e adaptar culturalmente o questionário Texas Revised
Inventory of Grief (TRIG) para a língua portuguesa.
2. Validar o questionário TRIG na língua portuguesa.
8
REVISÃO DA LITERATURA
9
3 REVISÃO DA LITERATURA
3.1 CÂNCER INFANTIL
Nos últimos 30 anos observa-se grandes avanços científicos e
tecnológicos que incluem a criação de centros especializados em oncologia
pediátrica, bem como os estudos dos grupos cooperativos, elevando a
sobrevida global da criança e do adolescente portadores de câncer de 10%
a taxas maiores que 70% (SMITH e RIES 2002).
O câncer infantil, hoje considerado uma doença potencialmente
curável, requer da equipe interdisciplinar uma constante preocupação com o
tratamento utilizado e, também, com a prevenção de seqüelas e a
reintegração adequada do paciente na sociedade.
A melhora dos índices de cura e de sobrevida tem sido atribuída aos
avanços terapêuticos e aos métodos de diagnóstico precoce. A mortalidade
das crianças acometidas pelo câncer apresentou um declínio importante a
partir de 1960, em regiões mais desenvolvidas (LEVI et al. 1992). No nosso
meio, houve importante decréscimo na porcentagem de mortalidade. Um
estudo realizado em um hospital de referência em oncologia da cidade de
São Paulo, demonstrou que a probabilidade de sobrevida acumulada passou
de 23% (1975-1979) para 63% (1995-1999) (DE CAMARGO 2003).
10
O diagnóstico de câncer na infância é uma experiência devastadora,
que produz tensão emocional e desafia a capacidade de enfretamento da
criança, da sua família e da equipe de profissionais (YATES 1999).
O impacto do diagnóstico é imediato e atinge todos os membros da
família, provocando várias reações emocionais e elevando o nível de
estresse prático e emocional de todos os que participam do processo do
adoecer (HARDING 2000). Eles passam a lidar com situações até então
desconhecidas, que exigem uma mobilização rápida na tentativa de
administrar essa crise. O medo torna-se um sentimento inseparável, com
dúvidas geradas pela falta de conhecimento, pelas intercorrências que estão
associadas aos tratamentos, assim como pelos prejuízos advindos das
mudanças diárias que têm que fazer em suas vidas (MEITAR 2004).
Várias fases estão envolvidas no processo de tratamento do câncer
infantil. A primeira tem início com o diagnóstico e se estende ao longo do
tratamento, cuja intenção é quase sempre curativa. Essa fase termina
quando se completa a terapia e, dessa forma, o sobrevivente,
presumidamente curado, passa a ser acompanhado. No caso de ocorrer
uma ou mais recaídas, as terapêuticas podem ser intensificadas, ainda com
objetivo de cura. No entanto, se a doença progredir na vigência dessa
terapia adicional, torna-se necessário decidir por cessar a terapia curativa e
dar ênfase para a paliativa (STEVENS 2004).
Considerando as condições físicas e cognitivas associadas à idade
precoce, os pais que têm um filho com uma doença ameaçando a sua vida
devem ser alvos de maior atenção por parte dos profissionais da saúde. Os
11
pais desempenham um papel central na trajetória do câncer infantil, cujos
comportamentos podem interferir no nível de sofrimento da criança. É
essencial identificar e reconhecer as estratégias ou processos que eles
utilizam para suportar o impacto emocional causado pela doença e, a partir
daí, desenvolver ações que minimizem o potencial das respostas negativas
ao longo do adoecer (TOWNLEY e WELTON 2000).
Segundo referido por NOLL e KAZAK (2004), a avaliação psicossocial
como rotina é necessária para monitorar o enfrentamento e o ajustamento
das mães e dos pais ao longo da trajetória do câncer, devido ao estresse de
ter um filho com uma doença ameaçando sua vida. A maioria deles relata
sintomas de ansiedade, humor depressivo, distúrbios do sono e somáticos, e
problemas de relacionamentos interpessoais. De um modo geral, os pais e
as mães têm reações semelhantes, embora possam expressar o sofrimento
de maneiras diferentes.
FELDER-PUIG et al. (2004) também ressaltam a importância das
intervenções psicossociais visando a dar assistência individual ao paciente,
aos pais e familiares, que possibilitem melhorar o enfrentamento e o
ajustamento às diversas situações associadas ao câncer na infância,
inclusive no período de luto.
3.1.1 Aspectos Clínicos e de Tratamento
O câncer pediátrico é a segunda causa de óbito entre 0 e 14 anos,
logo após por acidentes, nos países desenvolvidos (LITTLE 1999).
Destacando-se como a mais importante causa de óbito, o que talvez, se
12
deva às atuais políticas de prevenção em outras doenças infantis nos países
em desenvolvimento. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 1999, o
câncer representa a quinta causa de óbito em indivíduos de 1 a 19 anos no
Brasil.
É estudado separadamente dos cânceres de adulto, pois apresenta
diferenças importantes em relação ao local primário acometido, à origem
histológica e ao comportamento clínico (MARSDEN 1988). Ocorre um caso
de câncer em cada 7 mil crianças de 0 a 14 anos nos Estados Unidos, com
ligeiro predomínio do sexo masculino e da raça branca.
Além da sobrevida livre de doença, outros resultados que refletem o
impacto do tratamento no paciente e sua família, também, devem ser
avaliados, tais como funcionamento físico, psicológico e social durante o
tratamento, ao final da terapia antineoplásica e, para alguns, na fase terminal
de sua doença.
Sabe-se que o tratamento ideal da criança com câncer se obtém
através de uma equipe multidisciplinar, com vários especialistas, em um
centro especializado e com todo o suporte necessário. É realizado cada dia
mais racionalmente e menos de forma empírica. Conhecendo o metabolismo
da criança, a biologia tumoral e as abordagens terapêuticas, diversos
especialistas passaram a trabalhar em regime de cooperação,
desenvolvendo protocolos terapêuticos integrados, realizados em
instituições especializadas com todas as armas disponíveis, atingindo o
objetivo de curar a criança com câncer, até mesmo com a doença
disseminada.
13
Os tratamentos atuais da criança com câncer apresentam dois
grandes objetivos: aumentar as taxas de sobrevida, minimizando os efeitos
tardios do tratamento e reintegrar a criança ou adolescente na sociedade
com qualidade de vida (DE CAMARGO e KURASHIMA 2007).
A quimioterapia é a arma fundamental utilizada na grande maioria
dos tratamentos dos diversos tumores. O sucesso terapêutico depende do
controle local e sistêmico da doença. O tratamento de suporte dos efeitos
colaterais é indispensável.
A terapêutica contra o câncer não é simples, pois envolve, além dos
recursos técnico-científicos, socioeconômicos, culturais e profissionais, a
participação ativa do próprio paciente e de sua família.
3.1.2 Impacto do Câncer no Paciente e na Família
A criança é considerada como parte integrante de uma estrutura de
sistema familiar, incluindo todos os que estejam envolvidos ativamente em
seu tratamento, ou que sejam afetados por sua doença. A família consiste
naturalmente, em primeiro lugar, pelos pais; inclui, também, os irmãos, os
avós e a família extensa, dependendo do envolvimento com o tratamento da
criança doente.
A família é um tipo especial de sistema com estrutura, padrões e
propriedades que organizam a estabilidade e a mudança. Uma doença
grave e possivelmente fatal interfere na dinâmica do sistema familiar,
causando mudanças inevitáveis na organização e nas relações internas e
externas da família (ROMANO 1997; HARDING 2000).
14
O câncer infantil introduz uma crise para o paciente e sua família
enquanto unidade, provocando rupturas com as quais todos os seus
membros têm de lidar. A vida normal cessa, os planos e as atividades da
família são interrompidos, e tudo passa a ser planejado em função da
criança (MEITAR 2004).
Os pais são os cuidadores primários, seja no hospital ou em
domicílio, como também, são eles que tomam as decisões relacionadas à
criança. Cuidar de uma criança ou adolescente com câncer é uma
experiência exaustiva, estressante e potencialmente traumática (PHIPPS et
al. 2005), caracterizada por períodos de esperança e otimismo, que se
alternam com períodos de desespero e medo.
Do ponto de vista psicológico, a família deve ser considerada como
um paciente, ou como um paciente de segunda ordem, pela reciprocidade
de sofrimento e pelo estresse prolongado a que ficam expostos
(LEDERBERG 1998). Em função disso, a assistência psicológica deve ser
voltada a todos os seus integrantes, o que significa cuidar da criança junto
com sua família, dentro da família, e, algumas vezes, por meio da família.
Envolve lidar com a ansiedade dos pais, uma vez que, se transferida para a
criança, poderá interferir na satisfação das suas necessidades (KREITLER e
KRIVOY 2004). A avaliação psicossocial como um processo contínuo e o
suporte psicológico ao paciente e sua família, especialmente, durante o
período de cuidados terminais, permite que se tenha um perfil de como eles
estão lidando com as diversas situações impostas pela doença.
15
A equipe precisa ser habilidosa e cautelosa ao informar os pais sobre
a evolução da doença, para não construir falsas esperanças, e, também,
não destruí-las totalmente. O papel dessa equipe envolve dar assistência e
suporte, ajudar no que for necessário e fortalecer a família para que
encontre suas próprias estratégias de enfrentar a situação.
Na maioria das vezes, os pais negam a verdade sobre a condição de
seu filho, como um mecanismo de defesa utilizado para suportar a dolorosa
situação de ter um filho com prognóstico fechado (COOK 2000). Estar
constantemente ao lado deles, envolvê-los em discussões, dar respostas
consistentes e apropriadas às suas questões são medidas de apoio que
possibilitam a aceitação gradual da situação.
Estudos têm reconhecido o forte impacto que o regime de tratamento
intensivo do câncer infantil causa no funcionamento e ajustamento da família
que presta assistência domiciliar (KEEGAN-WELLS et al. 2002). No entanto,
poucos abordam quais são as demandas associadas às funções diárias, o
tempo que é exigido disponibilizar e as dificuldades com as quais os pais se
deparam.
É muito freqüente que o paciente com câncer avançado esteja mais
debilitado em função da progressão da doença, embora não necessite de
hospitalização, ficando a cargo da família, administrar as suas dores e
outros sintomas na tentativa de manter seu conforto (SIEGEL et al. 1991).
Para conciliar os cuidados fornecidos à criança doente, os pais
precisam fazer uma série de reestruturações na vida familiar e assumem as
diversas dimensões que envolvem o cuidar, como sendo de
16
responsabilidade basicamente sua (KEEGAN-WELLS et al. 2002). Eles
tentam manter algum equilíbrio entre cuidar da criança doente e dos outros
filhos, cumprir as responsabilidades de seu trabalho, bem como tratar de
assuntos relativos a interesses pessoais.
As múltiplas atribuições do cuidar envolvem preocupações em manter
o conforto físico e emocional do paciente, vigiar equipamentos, administrar
finanças, fazer os trabalhos de casa, prover meios de transporte, monitorar o
status clínico do paciente (GIVEN et al. 2001). Uma tensão crescente é
provocada nas pessoas que prestam esses cuidados, pela carga emocional
e pelo contínuo acréscimo de novas tarefas que se acumulam ao longo do
tempo, apresentando, assim, maior risco para um esgotamento físico e
emocional (ROLLAND 1995).
As mães de crianças com doença crônica relatam que a
responsabilidade em administrar sintomas e efeitos colaterais, dar apoio
emocional à criança doente, aos outros filhos e ao cônjuge, é função diária e
consome tempo integral, resultando em exaustão pela sobrecarga
vivenciada (KEEGAN-WELLS et al. 2002).
Os pais, ao mesmo tempo em que estão focados na doença e no
tratamento do filho, precisam continuar a vida e o viver. Os irmãos da
criança doente, também, enfrentam o mesmo dilema.
Durante a trajetória da doença os pais, inevitavelmente, centralizam a
atenção na criança que adoeceu e, em decorrência disso, os outros filhos
sentem-se deixados de lado e desamparados. A preocupação com a criança
17
doente limita a capacidade dos pais para atender e dar apoio às
necessidades dos filhos saudáveis (SPINETTA et al. 1999).
Os irmãos vivenciam sentimentos de isolamento e abandono, porque
seus pais estão, necessariamente, indo e vindo do hospital para casa e, com
isso, é preciso que eles sejam deixados sob os cuidados de outros
familiares, ou, até mesmo, que eles se mudem para a casa deles.
Além disso, os irmãos do paciente precisam adaptar-se às rápidas
mudanças que ocorrem na dinâmica da família e lidar com sentimentos
conflitantes de raiva e culpa, ciúmes e solidão, relacionados à doença de
seu irmão. É necessário que mantenham um contínuo senso de normalidade
na escola e nas demais atividades de rotina.
Embora a doença e as terapêuticas envolvam diretamente a criança
doente, seus efeitos podem causar um impacto significativo no bem-estar de
seu irmão (HOUTZAGER et al. 2005). Todas as mudanças físicas, como,
por exemplo, amputação, perda do cabelo, da autonomia são extremamente
assustadoras para uma criança testemunhar.
O confronto com o câncer infantil pode gerar profundas implicações
emocionais nos irmãos da criança doente e desencadear sentimentos
negativos de vergonha e culpa por serem saudáveis; por acharem que
podem ter causado a doença; por medo de tornarem-se doentes; e pela
incerteza em relação ao futuro. Muitas vezes, eles negam o direito de
queixar-se e reprimem esses sentimentos, que poderão atormentá-los e
aumentar sua angústia, especialmente, quando intensificados pelo medo da
morte do irmão (SPINETTA et al. 1999; HOUTZAGER et al. 2005).
18
O sofrimento do irmão pode ser expresso paradoxalmente, e uns
evitam permanecer ao lado do irmão doente ou, até mesmo, se recusam
estar presente, podendo ser falsamente acusados de egoístas, o que os
isola ainda mais. Outros, ao contrário, permanecem a maior parte do tempo
vigiando o irmão doente. Eles podem tentar ser perfeitos como um anjo e
tornarem-se excessivamente obedientes, sacrificarem seus interesses
escolares, de lazer e, principalmente, suas atividades sociais, para poupar
seus pais de mais preocupações, ou ainda, por não se permitirem
divertimento, enquanto seus pais e seu irmão estão sofrendo. Há aqueles
que ficam rebeldes, fazem birras e passam a se comportar mal, tanto em
casa como na escola.
Alguns fatores relevantes que podem influenciar na adaptação dos
irmãos são: comunicação aberta e honesta na família; envolvimento dos
irmãos no processo da doença e nos cuidados à criança doente; informação
adequada sobre a doença e o tratamento (HOUTZAGER et al. 1999). No
entanto, ao dar as informações a respeito do diagnóstico, do tratamento e
prognóstico, é preciso levar em consideração a capacidade cognitiva,
emocional e social da criança ou adolescente.
É fundamental que, desde o início da trajetória em cuidados paliativos,
no período terminal e após o óbito, os membros da equipe estimulem os pais
para que incluam os outros filhos em discussões sobre a doença do irmão,
bem como os mantenham informados de maneira apropriada com a sua
idade, respeitando sempre a intensidade em que eles desejam participar
(SPINETTA et al. 1999).
19
Tendo em vista a magnitude dessa vivência, as intervenções
psicológicas de suporte aos irmãos devem ser consideradas como um
aspecto essencial no cuidado total ao paciente e sua família. É preciso
avaliar o seu entendimento ante o adoecer, dar oportunidade para que eles
expressem seus medos, suas fantasias, expectativas e necessidades e,
especialmente, suas preocupações em relação à morte.
Os irmãos devem ter a chance de estar envolvidos ativamente nos
cuidados ao paciente, inclusive de ir visitá-lo no hospital, caso ele esteja
internado. Na tentativa de proteger os outros filhos, muitas vezes, os pais os
excluem da fase terminal, o que pode levar ao desenvolvimento de sérios
problemas posteriores de ajustamento (HOUTZAGER et al. 2004).
Pesquisas de HILDEN et al. (2000) e HINDS et al. (2005) indicam a
importância de se preparar a criança ou o adolescente para a morte do
irmão. Ressaltam que eles têm habilidade para compreender tal informação
e que, de fato, essa preparação para a morte é um fator crucial que irá
facilitar o período de luto e o ajustamento dessas crianças.
3.2 TRATAMENTO PALIATIVO
Apesar do enorme progresso alcançado em oncologia pediátrica,
ainda há um grupo de pacientes que não é possível atingirem a cura, sendo
primordial, nesses casos, a manutenção da qualidade de vida e a
valorização do tempo que lhes resta. A importância dos cuidados paliativos
para as crianças fora de possibilidades terapêuticas curativas reflete um
20
amadurecimento dos profissionais em aceitar a morte e executar seu dever
de cuidar sempre, apesar de não curar sempre (DE CAMARGO e
KURASHIMA 2007).
Cuidar é sempre possível e reduzir o sofrimento deve ser a
prioridade. É fundamental considerar o bem-estar da criança de maneira
holística e estar atentos aos domínios físico, psicológico, social e espiritual,
a fim de satisfazer as necessidades do paciente em condições ameaçadoras
da vida e de sua família (LIBEN et al. 2007).
Nas últimas décadas, tem sido crescente a preocupação com a
qualidade desses cuidados prestados aos pacientes, que não conseguem
mais obter a cura da doença, quais são as circunstâncias envolvidas com a
morte de uma criança, e o modo como esse processo é vivenciado por ela,
por seus familiares e equipe médica.
A atuação em cuidados paliativos pediátricos requer o envolvimento
de uma equipe multidisciplinar, que tenha objetivos comuns e mútua
aceitação da impossibilidade de cura da criança e de sua inevitável morte.
Sem esse entendimento e mútua concordância, a família poderá receber
dupla mensagem sobre a decisão definitiva, podendo gerar prejuízos à
criança e comprometer a relação com a equipe (CURNICK e HARRIS 2000).
Segundo WOLFE et al. (2004) os cuidados paliativos devem ser
integrados ao longo de toda a trajetória do câncer, seja o resultado previsto
a cura, uma doença crônica ou a morte.
Cuidados paliativos é parte essencial da trajetória do câncer infantil.
No entanto, pouco é conhecido sobre esse cuidar e os fatores que estão
21
relacionados à fase paliativa, o que pode interferir no sofrimento psicológico
do enlutado, numa perspectiva em longo prazo (KREICBERGS et al. 2005).
O processo de transição da fase curativa para a paliativa é marcada
pela mudança no foco do tratamento. A ênfase passa a ser alívio da dor e o
controle de sintomas físicos e psíquicos, visando a dar conforto e melhor
qualidade de vida para a criança com câncer avançado.
Conforme enfatiza o Comitê Psicossocial da SIOP, o que leva um
médico a mudar do tratamento curativo para o paliativo é o fato da criança
não poder ser tratada com sucesso pelas terapias disponíveis e requerer
terapias específicas, identificadas como paliativas (MASERA et al. 1999).
Esse período de transição, para algumas crianças, é curto e bem
definido, porém, para outras, pode permanecer por vários meses, ou até
mesmo se prolongar por mais de um ano. Qualquer que seja a jornada em
cuidados paliativos, e principalmente na fase terminal da doença, é sempre
possível intensificar medidas de suporte para o paciente e sua família
(BEARDSMORE e FITZMAURICE 2002).
Nessa fase, os pais se confrontam com vários dilemas e desafios,
entre eles, a dolorosa realidade do avanço da doença, onde a esperança da
cura parece não ser mais possível. Mesmo reconhecendo que na fase
terminal o mais apropriado é que a criança receba cuidados paliativos, ainda
assim, é muito difícil para os pais determinarem quando as terapias curativas
devem ser recusadas. Esse é um período de intenso sofrimento, com muitas
dúvidas e conflitos, pois os pais sentem obrigação, para com a criança, de
continuar o tratamento até o fim. É uma fase delicada por ser propícia ao
22
desencadeamento de más interpretações e dificuldades de comunicação
(WHITTAM 1993).
As recomendações da Sociedade Internacional de Oncologia
Pediátrica (SIOP) enfatizam o controle da dor em cuidados paliativos
pediátricos, a fim de proporcionar à criança a melhor qualidade de vida
possível. Além do alívio da dor e de outros sintomas beneficiar a criança,
poderá, também, interferir positivamente no resultado do processo de luto
dos pais (MASERA et al. 1999).
Cuidados paliativos destinados às crianças com câncer avançado,
requer o estabelecimento de uma comunicação aberta e contínua entre os
membros da equipe interdisciplinar, a criança e a família. WOLFE et al.
(2000b), demonstraram que existe uma discrepância significativa do
entendimento entre os médicos e os pais, do último prognóstico da criança.
O estudo relata que os pais reconhecem que o filho realmente não tem mais
chance de cura, somente mais de três meses após o oncologista. O
reconhecimento deste prognóstico pelos médicos e pais, está associado
com uma ênfase maior na direção do tratamento, com diminuição do
sofrimento e uma maior integração dos cuidados paliativos.
A percepção dos pais sobre a qualidade dos cuidados prestados na
fase final de vida pode estar associada à comunicação estabelecida entre
eles e a equipe médica (MACK et al. 2005). O estudo demonstrou que, os
pais que apresentaram maior satisfação com a qualidade dos cuidados
prestados pelos oncologistas, foram os que sentiram ter recebido
informações claras sobre o que deveriam esperar durante o período
23
terminal, quando as notícias eram dadas com cuidado e sensibilidade e
quando os médicos se comunicavam de maneira apropriada com a criança.
A comunicação especialmente quando próximo ao fim da vida, foi
também foco de uma pesquisa recente (KREICBERGS et al. 2004c). Esse
estudo avaliou 449 pais que tinham perdido um filho devido ao câncer.
Desses, 429 responderam se haviam ou não conversado com a criança
sobre sua morte. Nenhum dos 147 pais que disseram ter falado com a
criança sobre a morte se arrependeram por ter feito isso e achavam que a
criança estava ciente da proximidade da morte. Entre os 258 pais que não
falaram com a criança sobre a morte, 189 estavam satisfeitos com a sua
decisão, e 69 se arrependeram por não ter falado com a criança.
Esses achados poderão fornecer diretrizes para que a equipe médica
possa auxiliar os pais que estão diante de uma das situações mais difíceis
com as quais podem se deparar, que é a morte de um filho (WOLFE 2005).
Identificar as características associadas à morte na infância pode
contribuir para que os profissionais da saúde desenvolvam intervenções
efetivas no contexto de cuidados paliativos, que visem a uma assistência
com qualidade, buscando atender as necessidades e as prioridades da
criança, em fase final de vida, e de sua família (HIMELSTEIN et al. 2004).
3.3 LUTO
Luto é um fenômeno emocional complexo que ocorre após a perda de
uma pessoa significativa. É um processo individual, que varia de pessoa
24
para pessoa, de momento para momento, e abrange múltiplas facetas do ser
enlutado (SHUCHTER e ZISOOK 1993).
Ao longo da vida, as pessoas se deparam com a morte dos pais, de
irmãos, de amigos, ou até mesmo de seus próprios filhos. A morte é o
evento crucial, após a qual podemos esperar o luto. O termo luto é
reservado para a perda de uma pessoa amada. Embora a maioria das
pessoas consiga administrar as reações de pesar e se adaptem à perda ao
longo do tempo, o processo de luto, de uma maneira geral, está associado
com intenso sofrimento.
O luto é uma resposta multidimensional à perda, que compreende
diversas manifestações. De acordo com BREYER et al. (2006), os sintomas
biopsicossociais do luto agudo podem ser classificados em:
emocionais/afetivos: raiva, desespero, ansiedade, depressão, culpa,
solidão, falta de iniciativa, paralisação, perda do interesse pela vida;
físicos: alteração do apetite, distúrbios do sono, fraqueza, perda de
energia, queixas somáticas, susceptibilidade para adoecer;
cognitivos: descrença, desorientação, confusão, problemas de
memória e concentração, preocupação com o morto, desamparo,
alucinações, auto-censura, senso de falta de realidade;
comportamentais: agitação, choro, fadiga, isolamento social, super-
vigilância.
Esses sintomas estão presentes na maioria das pessoas que perdem
um ente significativo e, em geral, são característicos de um luto normal. Há,
25
no entanto, uma enorme variabilidade entre a extensão e a intensidade dos
sintomas vivenciados pelo enlutado.
3.3.1 Referencial Teórico
A teoria psicanalítica de Freud (FREUD 1973) e a teoria do apego
(BOWLBY 1993a) exerceram uma grande influência nas teorias gerais sobre
luto.
A influência de Freud nos pareceres iniciais sobre o luto aparece em
artigo intitulado “Luto e Melancolia”, de 1917. Nesse artigo, ele descreve as
semelhanças e as diferenças entre luto e melancolia, em sua primeira
publicação no mundo ocidental, em que a visão a respeito de luto era
baseada em observações clínicas (FREUD 1973).
Inicialmente Freud diferenciou luto de depressão. Ele reconheceu que
o luto é, algumas vezes, a causa da depressão, especialmente, quando
surge em decorrência da morte de alguém que foi amado com ambivalência.
O luto é considerado normal quando não envolve sentimentos ambivalentes
a respeito do falecido, nem um distúrbio significativo de auto-estima. A perda
do objeto amado de maneira ambivalente foi associada com melancolia, que
ocorria em resposta à internalização daquele objeto. Desde então, perda e a
internalização de objetos perdidos se tornaram a pedra fundamental da
teoria psicanalítica.
Em sua teoria, Freud estabelece que, quando uma pessoa amada
morre, o enlutado se depara com uma batalha para romper os laços e
desprender a energia investida na pessoa que morreu. Esse processo de
26
revisão do mundo interno após o luto, Freud denominou de “trabalho do
luto”. Ele criou o termo trabalho de luto, baseado na suposição de que o luto
é uma tarefa do trabalho psicológico, cujos riscos são negligenciados por
nós mesmos. Esse conceito integra o teste de realidade, que Freud
descreveu como um processo, pelo qual o enlutado, progressivamente, volta
a si e vai percebendo que a pessoa não existe mais (FREUD 1973).
Dentro dessa perspectiva, uma adaptação bem-sucedida envolve
trabalhar com a perda, de modo que, gradualmente, a libido é retirada do
objeto perdido e deslocada para um novo objeto, caso contrário, o luto não
será superado. Portanto, a função psicológica do luto, é libertar o indivíduo
do vínculo com o morto, para alcançar um distanciamento gradual por meio
de revisão do passado e das memórias do falecido.
BOWLBY (1993a) conceituou o processo de luto com a teoria do
apego. Essa teoria refere que o apego é o principal sistema comportamental
determinado biologicamente em muitas espécies, incluindo o homem, com a
função de proteger o animal indefeso do perigo. O objetivo do apego é
manter ou restabelecer uma proximidade com um protetor identificado. Em
razão do comportamento de apego ter sido observado em muitas espécies,
o luto foi definido como uma resposta geral à separação. O conceito de
apego como um instinto de formar vínculos com outros, explica porque o
sofrimento em resposta à separação do objeto de apego é universal.
O modelo da teoria do apego é restrito para relacionamentos entre
duas pessoas, cuja proximidade com outro ser especial é procurada ou
mantida, para prover uma sensação de segurança. A característica central
27
do apego no adulto é a busca por segurança nas figuras de apego, com a
função de se proteger do perigo (como é na infância).
Na maioria das comunidades humanas, a mãe é nosso primeiro
vínculo afetivo (de apego). Assim, a maneira pela qual a mãe responde ao
comportamento de apego de seu bebê, poderá determinar como ele irá se
comportar daí pra frente. O comportamento de apego está presente no
processo de formação e de rompimento de vínculos afetivos. De acordo com
este referencial teórico, as respostas comportamentais da criança diante da
separação ou perda não são diferentes das respostas dos adultos após uma
vivência de perda (BOWLBY 1993a).
A teoria do apego de BOWLBY (1993a) chama a atenção para os
efeitos danosos da privação materna na infância, em um mundo em que é
esperado que os homens tenham pouca participação na criação das
crianças. No entanto, suas pesquisas mostram que outras pessoas podem
ser substitutas satisfatórias da mãe natural, desde que possam cuidar
efetivamente do bebê. A partir desses estudos, BOWLBY (1993a) concluiu
que o sexo do cuidador da criança não é o mais importante, e sim, a
qualidade do cuidado prestado pela “mãe ou figura materna” primária ao
bebê.
A teoria, inicialmente, enfatizou o papel do adulto como provedor de
proteção à criança dependente. No entanto, esse conceito foi estendido para
incluir a manutenção de um relacionamento reforçado, mutuamente, com um
adulto em particular. O apego é um sistema de regulação mútua entre pais e
28
filhos. A partir dessa abordagem, o luto em adultos é visto como uma forma
de separação ansiosa em resposta à ruptura de um vínculo de apego.
A respeito do trabalho de luto, a teoria do apego de BOWLBY (1993b)
ressalta a sua importância, uma vez que este tem o propósito de reorganizar
as representações da pessoa perdida em relação a si próprio. Ao mesmo
tempo em que isso torna possível o distanciamento ou quebra os vínculos
afetivos, também, promoverá a continuidade do elo, um deslocamento do
falecido, ou seja, um ajustamento pode ser feito, gradativamente, em relação
à ausência física da pessoa na continuidade da vida.
De acordo com a teoria do apego, o trabalho com luto incorpora o
modelo de que esse processo acontece por uma seqüência sucessiva de
fases, flexíveis e que se sobrepõem que são: choque, anseio e protesto,
desespero e recuperação. A função do trabalho de luto, nesse contexto,
repercute a tentativa de recuperar a proximidade após a ruptura de um
vínculo afetivo forte. Como a proximidade com o morto não pode ser
restabelecida, resulta em protesto e desespero.
PARKES (1993) publicou que utilizou o modelo do apego para suas
observações e explicações sobre os aspectos da reação humana na
trajetória do luto. PARKES (1998, p.48) refere que se uniu a Bowlby e que,
juntos, propuseram a teoria de luto como uma resposta à perda de um
relacionamento de apego, e descreveram as fases do luto, como:
paralisação; anseio e busca do objeto perdido; desorganização e desespero
(protesto); e reorganização. Esta classificação levantou bastante
controvérsia entre outros pesquisadores, aos quais PARKES (1998) alertou
29
sobre os perigos da simplificação excessiva de assuntos complexos.
Ressalta que esta seqüência de fases do luto é um guia grosseiro, e que
esta não deve ser interpretada como uma seqüência fixa, pela qual toda
pessoa enlutada precisa passar para se recuperar da perda. As pessoas
enlutadas se movimentam para trás e para frente, através da seqüência, ao
invés de seguirem uma passagem fixa.
De acordo com PARKES (1993), luto é essencialmente uma emoção
que nos puxa em direção a alguma coisa ou alguém que está faltando. Isto
surge a partir da consciência de uma discrepância entre o mundo que é e o
mundo que deveria ser. Observa que o luto não é um fenômeno unitário. Em
qualquer luto, raramente, fica claro o que foi perdido, uma vez que uma
perda traz consigo outras perdas secundárias.
O autor formulou, ainda, o modelo da transição psicossocial para
explicar as mudanças em nosso mundo interno que, necessariamente,
acompanham a situação de luto. Quando um ente amado morre, uma série
de concepções sobre o mundo, que se apoiavam na existência da outra
pessoa para garantir sua validade, de repente, ficam sem validade. Hábitos
de pensamento que foram construídos ao longo de muitos anos precisam
ser revistos e modificados, a visão de mundo da pessoa precisa mudar.
Essa mudança é denominada de transição psicossocial e, inevitavelmente,
consome tempo e esforço.
A perda de uma pessoa amada cria uma série de discrepâncias entre
nosso mundo interno e o mundo que agora passa a existir. O enlutado pode
30
estar perdido e confuso em sua própria transição psicossocial, não
conseguindo entender o que foi perdido e o que permaneceu.
De acordo com essa teoria, o trabalho de luto é essencial para a
adaptação do enlutado. Porém, as mudanças nas estruturas de sentido e
significado, que permeiam nossas vidas, são graduais e envolvem a
incorporação e a reinterpretação do passado, ao invés da desistência. A
resistência à mudança irá inibir a adaptação, embora no início possa ser
funcional, porque a mudança precisa ser interpretada à luz de antigas
concepções, e, ainda, na ausência de alguém que está sendo revisado.
KÜBLER-ROSS (1977) sugeriu que luto deve ser visto como
ocorrendo em cinco estágios, que compreendem: negação e isolamento;
raiva; barganha; depressão e aceitação.
O conceito de estágios de luto, como ocorrendo através de uma
maneira sistemática ou em uma ordem específica, foi muito criticado por
diversos pesquisadores. No entanto, esta estrutura é válida por considerar a
variedade de emoções e de outras respostas que podem ocorrer ao longo do
processo de luto.
De acordo com a teoria de WEISS (1993, 2001), o luto é uma
resposta à perda de relacionamentos de apego. É um processo carregado
de sofrimento intenso e prolongado, como resposta à perda de uma figura
emocionalmente importante. Entre os adultos, o luto é provocado
especialmente pela perda do marido, esposa e filhos; e entre as crianças, o
luto é provocado pela perda do pai, mãe e irmãos.
31
Esse modelo teórico descreve ainda que há diferenças na natureza
dos estados de luto que acompanham cada tipo de perda, e que o
predomínio de estados emocionais alterados no luto ocorre somente seguido
à perda das figuras de apego. A especificidade das figuras de apego parece
ser bem estabelecida e está relacionada aos sentimentos de segurança. A
interrupção do vínculo que deu origem ao luto pode persistir indefinidamente,
apesar da ausência de reforço da interação com a pessoa com a qual o elo
foi estabelecido.
A teoria de WEISS (1993) refere que o luto é uma conseqüência
previsível seguido a perda de um relacionamento de apego. No entanto,
outras conseqüências da perda de um relacionamento de apego podem
ocorrer, dependendo da constelação de laços, vínculos, elos e sentimentos
presentes na relação.
De acordo com este modelo teórico, o processo de recuperação do
luto parece envolver fases, que são determinadas pelos diferentes sentidos
que estão relacionados à perda, embora haja muita movimentação entre as
fases. Esta seqüência de fases abrange: a negação; seguida de uma
aceitação de que a morte é temporária; então a aceitação, como
permanente, mas apresentando desesperança marcada pela depressão; e,
finalmente, a aceitação, mas entendendo que a vida não será mais como
antes. Há perdas que produzem intenso sofrimento e prejuízos ao enlutado,
que tornam muito difícil o processo de recuperação.
32
WEISS (2001) considera essencial disponibilizar intervenções de
suporte profissional aos enlutados que sofrem a dor da perda, a fim de
reduzir a probabilidade de um prejuízo permanente.
WORDEN (1998) não apresentou um conceito sobre o processo de
luto baseado em fases ou estágio, como foi descrito anteriormente na teoria
do apego. Ele descreveu que o luto é necessário para a recuperação do
equilíbrio e identificou quatro tarefas do luto, que a pessoa enlutada tem de
realizar, para se ajustar à situação. Essas tarefas envolvem: aceitar a
realidade da perda; vivenciar a dor da perda; ajustar-se ao meio ambiente
onde está faltando a pessoa que morreu; reposicionar a energia emocional e
reinvestir em outro relacionamento.
De acordo com WORDEN (1998), nem todos os enlutados realizam a
seqüência de tarefas proposta, e, também, não a vivenciam na ordem em
que está descrita. Cada enlutado tem seu tempo para realizar as tarefas de
enfrentamento do luto, cuja avaliação pode ser utilizada como fator preditivo
de um enfrentamento adaptativo.
Esse modelo teórico propõe que o enfrentamento do luto é um
processo dinâmico, uma vez que o enlutado participa ativamente do trabalho
de luto, como um processo necessário para restabelecer o equilíbrio.
As teorias atuais sobre o processo de luto estão procurando
determinar a natureza do enfrentamento adaptativo do luto, em termos de
ser um processo que conduza ao alívio do sofrimento e resulte em melhor
adaptação. Para isso, torna-se necessário que os pesquisadores
investiguem qual é o impacto e a significância que as diferentes estratégias
33
exerce no enfrentamento do luto. Enfrentamento, segundo a definição
apresentada por LAZARUS e FOLKMAN (1984), compreende “os esforços
cognitivos e comportamentais constantemente alteráveis para controlar
(vencer, tolerar ou reduzir) demandas internas e externas específicas que
são avaliadas como excedendo ou fatigando os recursos da pessoa”.
Para STROEBE e SCHUT (2001), a pessoa enlutada utiliza
determinadas estratégias de enfrentamento para administrar a situação
estressante decorrente da perda de uma pessoa significativa, e para reduzir
as reações emocionais negativas do luto.
O conceito de estratégias adaptativas de enfrentamento foi
apresentado por STROEBE e SCHUT (1999), como sendo aquelas que
realmente conduzem a uma redução das conseqüências negativas,
psicossociais e físicas, presentes na situação de luto. No entanto, é preciso
ressaltar que é muito difícil avaliar, tanto do ponto de vista prático como
metodológico, quando determinadas estratégias ou estilos de enfrentamento,
utilizados pelos enlutados, estão, de fato, sendo efetivos para aliviar o seu
sofrimento.
STROEBE e SCHUT (1999) e STROEBE et al. (2005) formularam
uma estrutura teórica para entender a natureza do enfrentamento do luto,
denominada Dual Process Model of Coping with Bereavement (DPMCB)
como uma tentativa de integrar as idéias das diferentes teorias e modelos
apresentados (Figura 1).
O DPMCB define dois tipos de fatores desencadeantes de estresse.
Na situação de luto, as pessoas precisam lidar com uma série de fatores
34
estressantes, que podem ser classificados como aqueles que são orientados
para a perda ou para restauração. A orientação para a perda refere-se à
concentração do enlutado no processamento de algum aspecto da perda em
si. A orientação para a restauração tem o foco nos fatores estressantes
secundários, que também são conseqüências do luto. Ambas as orientações
são fontes de estresse, sobrecarregam a pessoa enlutada e estão
associadas com sofrimento e ansiedade. O processo de enfrentamento
envolve as duas orientações, que variam de acordo com as diferenças
individuais e culturais.
Os fatores desencadeantes de estresse orientados para a perda e os
comportamentos de enfrentamento estão associados a uma avaliação
positiva ou negativa do indivíduo em alguns aspectos da perda em si. Inclui
o modo como o enlutado continua a conexão com o morto. Os fatores
desencadeantes de estresse orientados para a restauração e os
comportamentos de enfrentamento estão associados à necessidade de
manter seu funcionamento no mundo, na ausência da pessoa significativa.
Este modelo não envolve uma seqüência fixa de fases ou estágios de
luto, mas observa que o enlutado irá alternar entre o enfrentamento
orientado para a perda versus restauração. Assim, às vezes, o enlutado vai
confrontar os aspectos da perda, em outras, vai evitá-las, e o mesmo se
aplica para as tarefas da restauração. O processo de confrontação e de
evitação entre esses dois tipos de fatores estressantes é dinâmico e
flutuante, que se modificam ao longo do tempo.
35
O enfoque do modelo dual de enfrentamento do luto é que a oscilação
entre os dois estressores é dinâmica e necessária para um enfrentamento
adaptativo. Este processo de oscilação se alterna entre esses dois tipos de
enfrentamento, e o equilíbrio entre as duas orientações está associado aos
diferentes tipos de enfrentamento. Assim, por exemplo, quando uma criança
morre, os pais precisarão continuar a cuidar dos outros filhos e trabalharem
para manter a renda da família. A restauração é parte do processo de
enfrentamento, que envolve lidar com as mudanças que surgiram como
resultado da perda.
Fonte: Adaptado de STROEBE et al. (2005)
Figura 1 – Modelo do processo dual de enfrentamento do luto
Perda
• Representação da
perda
• Fixação na perda
• Rompimento de
laços
• Negação de
recuperar-se
Restauração
• Atender as
mudanças da vida
• Fazer coisas novas
•Distração
• Novos papéis
/relacionamentos
• Negação do luto
Oscilação
Experiência de
Vida Diária
36
Os indivíduos diferem na dimensão para a qual estão orientados, se
para a perda ou para a restauração. No início, o enfrentamento é orientado
para a perda. A orientação para a restauração fica gradualmente maior,
meses ou anos mais tarde, porém, sem um tempo estipulado para que isso
ocorra.
De acordo com este modelo, a pessoa que perde um ente significativo
não se recupera completamente do luto, mas os sintomas tendem a diminuir
ao longo do tempo. Somente quando um ou ambos os processos tornam-se
inibidos, é que se pode falar em luto patológico.
3.3.2 Luto pela Perda de um Filho
Viver após a morte de um filho é, talvez, uma das experiências mais
dolorosas conhecidas para a espécie humana (DOMINICA 2006). O ímpeto
humano para reproduzir e criar os descendentes abrange tanto o biológico
como o simbólico. As pessoas criam vida e dão significados para aquela
vida, como parte da existência e da auto-preservação (RUBIN e
MALKINSON 2001). Quando um filho morre, uma porção significativa da
energia vital dos pais pode, efetivamente, morrer com ele.
Os pais enlutados, freqüentemente, vivenciam a desconexão de
alguma coisa superior a eles mesmos, que deu significado para as suas
vidas, incluindo a conexão vital de cuidar do filho; as associações dentro da
família e da comunidade; e o senso de pertencer e de propósito, inserido
dentro de um esquema ainda maior de coisas (DAVIES et al. 2006).
37
Os pais têm o instinto de alimentar e proteger seu filho, chegando a
sacrificar a própria vida para combater uma situação que ameace a vida do
filho. Quando eles perdem essa luta, fica a sensação de que as suas vidas
estão totalmente fora de seu controle e passam a vivenciar sentimentos
negativos de culpa, desamparo e impotência.
Com a perda de um filho, os pais perdem também a sua própria
identidade, como protetores e provedores, podendo provocar uma série de
questionamentos, inclusive, sobre os seus papéis enquanto pais.
Freqüentemente, isto produz uma crise de significado em que os pais
buscam por um domínio cognitivo e renovação do sentido de vida
(HIMELSTEIN et al. 2004).
Não há um momento oportuno para a morte de uma criança. A morte
da criança é um evento antinatural que rompe o ciclo vital, que tem início na
infância, seguido pela juventude, idade adulta, velhice e, finalmente, a morte.
Os pais sempre esperam que os filhos vivam por mais tempo que eles, por
isso, quando a criança ou adolescente morre, eles passam a ver o mundo
como frágil e hostil.
A perda de um filho é um evento tão complexo que não há um termo
para um pai ou uma mãe que perde um filho. Quando morre o(a) esposo(a),
a pessoa fica viúvo(a); os filhos que perdem os pais são chamados de
órfãos. Mas, não há nenhuma palavra para aqueles que enfrentaram a morte
de um filho e, tampouco para o estado de tê-la perdido (MILLER 2002).
Com raras exceções, os pais, ao conceberem um filho, estão aptos
para amar e cuidar intensamente dele (RUBIN 1993). Todos os pais têm
38
esperanças e sonhos em relação ao futuro de seus filhos. Quando a criança
morre, todos os sonhos, as esperanças e as aspirações em relação ao filho
são frustrados e interrompidos.
O vínculo de apego entre os pais e filhos é um estímulo e um
resultado da variação humana sobre o tema de propagação da vida. As
crianças têm múltiplos significados para os pais. Elas são a extensão física
de seus pais e, em algum nível, os filhos são geneticamente, socialmente e
psicologicamente, os repositores da existência de seus pais (RUBIN 1993).
Com a morte do filho, os pais vivenciam a perda de um relacionamento
significativo e único. A desvalorização de si mesmo sem o filho amado evoca
a necessidade de processar e reorganizar o self em relação à criança morta,
a si mesmo e ao mundo.
Dentre os vários aspectos do self dos pais, estão incluídas as suas
características, histórias, papéis que têm na vida, compromissos e as
próprias identidades (DAVIES et al. 2006). Os pais lutam com as
preocupações de acordo com a dimensão em que eles estão identificados
com os seus papéis e histórias enquanto pais; a qualidade de suas
características refletidas em serem pais, especialmente, no final da vida da
criança; o que significa ser mãe ou pai da criança morta; o que fica para eles
agora que o filho morreu; quais são as suas motivações e capacidades para
serem pais dos outros filhos sobreviventes, ou que ainda serão concebidos.
Os enlutados pela morte de um filho terão de aprender novamente os
diversos aspectos do self. São desafiados a resgatar a auto-estima e a
autoconfiança e, lutar para integrar essa nova realidade em suas vidas,
39
reavaliar seus compromissos com a família, o trabalho e os projetos de vida.
Eles se esforçam para adaptar a sua fé e recuperar o senso de propósito,
esperança e sentido de vida.
Reaprender o mundo requer que os pais aprendam como ser e agir
em um mundo transformado pela morte do filho. No entanto, não existe uma
maneira certa ou uma fórmula fácil para reaprender o mundo, somente
aquelas escolhidas pelos próprios enlutados. Eles terão de lidar com
praticamente todos os elementos de sua vivência, inclusive com as
circunstâncias físicas e sociais, com os aspectos pessoais e o seu
relacionamento com a criança que morreu (DAVIES et al. 2006).
O ajustamento à morte de um filho é, em geral, a tarefa mais difícil
com que os pais podem se deparar, pois, ao mesmo tempo em que lutam
para guardar as lembranças do filho, eles deverão deixar de ter os sonhos
em relação ao seu futuro.
As reações dos pais pela perda de um filho podem ocorrer de
diversas maneiras, mas a conjuntura esmagadora é de um golpe onde é
preciso reunir forças para organizar como a vida será vivida depois disto
(RUBIN 1993). A natureza e a vivência da resposta dos pais para a perda é
influenciada por uma constelação de fatores individuais, biológicos e sociais,
que diferem de acordo com a sua maturidade e, também, com a idade e a
identidade especial com o filho perdido.
Outro fator que interfere imensamente no processo de luto dos pais,
envolve as circunstâncias em que a morte ocorre, tal como, estar presente
ou ausente no momento da morte; se a morte ocorreu no hospital ou no
40
domicílio; se a morte é percebida como tendo ocorrido com ou sem dor; se
foi repentina ou lenta. O momento e a maneira como a criança morre pode
exercer um papel crítico na vida dos pais e dos irmãos e, influenciar
imensamente a vivência do luto agudo e em longo prazo (WOLFE et al.
2000a). Os últimos dias, horas e minutos de vida da criança, permanecerá
para sempre gravado na memória dos pais e, dessa forma, interferir
diretamente na capacidade de continuarem suas vidas e funções,
especialmente, se eles acreditam que a criança morreu sofrendo.
Embora, nem todos os indivíduos ou familiares respondam da mesma
maneira ao luto, nas sociedades Ocidentais, há um consenso entre clínicos
e pesquisadores de que a perda de um filho é, particularmente, difícil de
suportar. É também reconhecido por vários autores, que o luto pela perda de
um filho é mais intenso e duradouro do que os outros tipos de luto (RUBIN
1993; RUBIN e MALKINSON 2001; HIMELSTEIN et al. 2004; KREICBERGS
et al. 2004c; BREYER et al. 2006; DAVIES et al. 2006; KREICBERGS et al.
2007). Estudos focando pais enlutados têm demonstrado ainda, que eles
apresentam risco elevado para problemas de saúde física e psicológica e,
até mesmo, de mortalidade (STROEBE e STROEBE 1993; SANDERS 1993;
RUBIN e MALKINSON 2001; LI et al. 2003; KREICBERGS et al. 2004b).
O luto é uma resposta multidimensional à perda, por isso, é muito
difícil delinear as reações de luto consideradas “normais”, as que são mal-
adaptativas, ou ainda, como sendo reações de um luto complicado. As
características individuais inseridas em um contexto familiar e cultural
41
influenciarão os tipos de sintomas expressos, bem como a sua intensidade e
duração.
As diferentes estratégias de enfrentamento podem ser mais ou menos
úteis, dependendo da maneira com que cada um dos pais vivencia o luto
agudo, ou seja, se mais afetiva, cognitivo-comportamental, somática ou uma
combinação delas (BREYER et al. 2006). As mães tendem a vivenciar o luto
agudo mais afetivamente, enquanto os pais o vivenciam com sintomas
cognitivos-comportamentais.
É importante ressaltar que, quando se fala em enfrentamento
(processo) e adaptação (resultado) à perda de um filho, não significa
resolução no sentido de uma aceitação completa e definitiva da perda. Ao
contrário, ela envolve a descoberta de maneiras de colocar a perda em
perspectiva e dar continuidade à vida (WALSH e MCGOLDRICK 1998).
O pesar pela morte de um filho é para sempre. No entanto, apesar de
afetados profunda e permanentemente pela perda, em geral, os pais
encontram um caminho para retornar à vida afetiva e produtiva (RUBIN e
MALKINSON 2001). A maioria dos pais continuará apresentando reações
(ondas) de sentimentos intensos, pensamentos ou sintomas somáticos que,
gradualmente, diminuirão em intensidade e freqüência, com o passar do
tempo. De acordo com o modelo dual de enfrentamento do luto (DPMCB), o
processo de ir e vir entre o foco na perda e o refocar gradual nas tarefas e
exigências atuais, é um movimento de oscilação que, ao longo do tempo,
poderá ajudar o pai ou a mãe a acomodar a perda do filho (STROEBE e
SCHUT 1999).
42
3.3.3 Instrumentos para Avaliação do Luto
As origens do conceito de trabalho de luto tiveram início com Freud
em 1917 (FREUD 1973). BOWLBY (1993a) incorporou este conceito e fez a
sua própria explanação a respeito do processo de luto com o
desenvolvimento da teoria do apego, que exerceu forte impacto no campo
do enlutamento. De acordo com esta teoria, o trabalho de luto tem o objetivo
de reorganizar as representações da pessoa perdida que estão relacionadas
com o self. Este trabalho é importante, porque, ao mesmo tempo em que
possibilita o distanciamento ou a quebra dos vínculos afetivos, promove a
sua continuação através de um deslocamento do falecido. Dessa forma, o
enlutado vai gradualmente se ajustando à ausência física da pessoa na
continuidade da vida.
A partir daí, o conceito de trabalho de luto tornou-se a idéia central
nas formulações teóricas e passou a ser incorporada em diversos programas
terapêuticos e de aconselhamento ao enlutado.
As pesquisas científicas sobre perda e luto têm crescido
consideravelmente nas últimas décadas, e vários métodos estão sendo
aplicados para avaliar o luto associado à perda de um ente significativo.
O luto é um fenômeno emocional complexo, associado com uma
vasta amplitude de reações e diversas maneiras de enfrentamento. Dessa
forma, é extremamente difícil, para os pesquisadores, medir este fenômeno
que está associado a fatores tão subjetivos e individuais.
Algumas técnicas metodológicas têm emergido e possibilitado
análises mais sofisticadas do processo de luto. No entanto, ao utilizar
43
instrumentos que avaliam respostas do enlutado, é preciso ser muito
cauteloso para atender os padrões rigorosos de adequações psicométricas
(NEIMEYER e HOGAN 2001).
As diversas escalas que serão aqui apresentadas são bem
estabelecidas e estão apoiadas em propriedades psicométricas suficientes
para garantir a continuidade de uma pesquisa.
O Texas Revised Inventory of Grief (TRIG), de FASCHINGBAUER et
al. (1977, 1987) é a medida de sintomatologia de luto mais usada na
literatura empírica. O TRIG é destinado a avaliar luto como uma emoção
presente de anseio, como um ajustamento a um evento passado na vida
com vários estágios, como um resultado físico e psicológico e como uma
experiência pessoal. Os itens desenvolvidos foram baseados na literatura
sobre as reações de luto atípicas e as consideradas normais, assim como
pela experiência clínica dos autores da escala.
O TRIG inclui duas sub-escalas principais que focam no
comportamento passado (Parte I contendo 8 itens) e nos sentimentos do
presente (Parte II com 13 itens). Em ambas as partes da escala, os itens
consistem de frases para as quais o participante da pesquisa responde
dentro de uma escala tipo likert, com uma variação que vai desde
completamente verdadeiro (5 pontos) até completamente falso (1 ponto).
Além disso, o inventário contém diversos itens adicionais que avaliam a
natureza do relacionamento, a proximidade percebida com o falecido, o
período de tempo transcorrido desde a morte e outros fatos relacionados.
44
O TRIG favorece uma avaliação dinâmica do processo de luto,
através da quantificação das vivências do passado (Parte I) e as do
momento presente (Parte II). Além disso, a combinação entre as duas
partes, ou seja, as medidas de ajustamento do passado associadas aos
sentimentos do presente que o TRIG proporciona, fornece informações em
relação ao progresso da pessoa ao longo dos diversos estágios de luto.
O Grief Experience Inventory (GEI), de SANDERS (1993) adaptado
para o idioma espanhol por GARCIA-GARCIA et al. (2001), foi desenvolvido
a partir de um conjunto de itens selecionados da literatura sobre luto,
representativas de frases reais feitas pelos próprios indivíduos que
vivenciaram o luto, ou por descrições da maneira como os pesquisadores
sobre luto observaram isto. Por apresentar problemas metodológicos, os
autores reformularam o questionário como um auto-relato. A versão que
avalia luto é a mais utilizada e consiste de 135 itens, expressos como
sentenças, para as quais o participante responde “verdadeiro” ou “falso”. Os
itens exploram as áreas somática, emocional e relacional do enlutado
através de 18 escalas, sendo que: três avaliam negação, respostas atípicas
e anseio social; nove escalas clínicas que envolvem desespero,
raiva/hostilidade, culpa, isolamento social, perda de controle, ruminação,
despersonalização, somatização e ansiedade de morte; e seis experimentais
que avaliam alterações do sono, perda do apetite, perda de energia,
sintomas físicos, otimismo/desesperança, e dependência.
Também está disponível a versão genérica da escala, que consiste de
104 itens relacionados às perdas que não estão associadas com a morte.
45
O Inventory of Complicated Grief (ICG) foi construído por
PRIGERSON et al. (1995), para medir sintomas de luto que formam um
componente unificado do sofrimento emocional, que é claramente
distinguível dos sintomas de ansiedade e depressão. O ICG foi desenvolvido
para avaliar os indivíduos que vivenciam níveis elevados de aspectos do
luto, potencialmente mal-adaptativos. O objetivo é identificar sintomas
relacionados ao luto, que podem ajudar discriminar entre o luto não
complicado e as formas patológicas ou de luto complicado.
Este inventário possibilita avaliar reações, tais como preocupações
com pensamentos a respeito do morto, descrença sobre a morte e a não
aceitação da sua realidade. Além disso, o instrumento inclui sintomatologias
ameaçadoras, como, ciúmes das pessoas não enlutadas e identificação com
os sintomas.
O ICG consiste de 19 frases que focalizam os sentimentos do
momento, e o respondente deve completar o inventário, verificando a
freqüência da experiência de luto em uma escala de 5 pontos, cuja variação
vai de “nunca” até “sempre”. Dos 19 itens que compõem a escala, 11 foram
incorporados de uma escala que foi modificada pelos mesmos autores,
denominada Inventory of Traumatic Grief (ITG).
Atualmente, ainda não há uma abordagem padrão para avaliação do
luto, em parte, pela complexidade do fenômeno e, também, pela diversidade
de propósitos entre os pesquisadores e os profissionais da área médica.
Porém, há um número promissor de novas abordagens para avaliação do
luto, em ambas as linhas de pesquisa quantitativa e qualitativa.
46
CASUÍSTICA E MÉTODOS
47
4 CASUÍSTICA E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, de corte transversal.
4.1 CASUÍSTICA
A casuística foi composta por pais cujos filhos eram matriculados no
Departamento de Pediatria do Centro de Tratamento e Pesquisa - Hospital
A.C. Camargo da Fundação Antônio Prudente, com diagnóstico de câncer e
falecidos no período entre 2000 e 2002.
Optamos por selecionar para amostra, pais cuja morte do filho tenha
ocorrido no período entre 2000 e 2002, de acordo com KREICBERGS et al.
(2004c).
4.1.1 Critérios de Elegibilidade e Exclusão dos Sujeitos
Definimos como Pai ou Mãe, os indivíduos que, com laço biológico ou
não, ocupam-se de outrem como se fosse seu filho, e também, sendo
reconhecido por este como seu pai ou mãe (HOUAISS et al. 2001).
Dessa forma, pais não biológicos que eram guardiões da criança e
vivenciaram a trajetória da doença, também, puderam ser incluídos no
estudo.
48
Critérios de inclusão:
Pais que perderam um filho devido ao câncer;
Idade do paciente ao óbito igual ou inferior a 18 anos.
Critérios de exclusão:
Registro em prontuário de impossibilidade de leitura/escrita dos pais
devido a não alfabetização.
4.1.2 Dinâmica da seleção dos casos
Os pais enlutados foram selecionados, tendo por base as informações
contidas no Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME).
Inicialmente, foram consultadas as listagens dos óbitos ocorridos no
período entre 2000 e 2002, e selecionados os pacientes que eram
matriculados no Departamento de Pediatria. Foram, então, levantados os
prontuários de 153 pacientes cujos óbitos ocorreram no referido período.
Foram excluídos 14 casos, porque os pacientes tinham idade superior a 18
anos ao óbito; 13 casos que não tinham o diagnóstico de câncer e, que,
portanto, morreram por outra causa que não por câncer; 3 casos por constar
em prontuário que os pais eram analfabetos; e 1 caso, porque os pais não
falavam a língua portuguesa. Sendo assim, chegou-se a 122 pacientes
elegíveis para o estudo.
Dos 244 pais enlutados, uma mãe era falecida e um pai era
desconhecido, conforme registro que constava no prontuário da criança,
restando, portanto, 242 pais.
49
A partir da pesquisa realizada nos sites de busca, foram localizados e
atualizados os endereços de 118 pais e mães, sendo que 124 não foram
encontrados para o envio das correspondências.
Enviou-se, então, 118 correspondências aos pais enlutados. Nesta
fase, 15 pais devolveram os questionários preenchidos. Outros 5 pais
devolveram a correspondência em branco. Sete correspondências foram
devolvidas pelo correio com a justificativa de mudança de endereço.
Obtivemos as informações de que 3 pais (sexo masculino) faleceram nos
anos seguintes à morte do filho.
Na tentativa de resgatar alguns casos em que não ocorreu a
devolução dos questionários, a pesquisadora tentou contato via telefone com
pais residentes na Grande São Paulo (DDD-11), para verificar os motivos da
ausência de retorno, conforme metodologia proposta por estudos anteriores
sobre o tema (MEERT et al. 2001; SEECHARAN et al. 2004; KREICBERGS
et al. 2004a).
Dos 33 casos identificados, foi estabelecido contato com pais de 16
crianças que relataram querer participar do estudo e se comprometeram a
nos enviar os questionários preenchidos; os pais de 8 declararam não querer
participar, porque o assunto ainda lhes causa muito sofrimento, e os pais de
9 crianças não foi possível localizá-los via telefone.
Sabemos que pais que se abstiveram de participar do estudo e não
devolveram os questionários representam uma limitação do estudo. Por
razões éticas, estes 16 pais não foram abordados novamente.
50
Em alguns casos, os questionários foram devolvidos em branco,
acompanhados de justificativas.
Desta forma, nossa casuística final foi composta de 15 participantes.
4.2 MÉTODOS
Este estudo se desenvolveu em duas fases. A primeira fase foi de
tradução e adaptação transcultural do Texas Revised Inventory of Grief
(TRIG) para a língua portuguesa. Na segunda fase, realizou-se um estudo
transversal para avaliação do questionário. Não se calculou o coeficiente de
confiabilidade através do teste-reteste, porque o luto é um processo mutável,
que oscila ao longo do tempo (STROEBE et al. 2005; GARCIA-GARCIA et
al. 2005).
4.2.1 Cálculo da amostra
O tamanho da amostra foi definido de acordo com dados existentes
na literatura, previamente publicados em relação à validação e aplicação do
TRIG (Texas Revised Inventory of Grief) em diversas línguas
(FASCHINGBAUER et al. 1987; PAULHAN e BOURGEOIS 1995; MEERT et
al. 2001; SEECHARAN et al. 2004; GARCIA-GARCIA et al. 2005). Nestes
estudos, o coeficiente alfa de Cronbach variou de 0,75 a 0,86. Assumindo
alfa de 5% e poder do teste de 0,90, estimou-se que seriam necessários no
mínimo 14 pais para a fase de validação.
51
4.2.2 Procedimentos de abordagem da população estudada
A fim de conferir ou de atualizar os endereços dos pais e mães
incluídos no estudo, foi feita uma pesquisa pela Internet nos sites da
Telefônica, da lista Net, da lista on line e da Brasil Telecom. Esses sites
permitem a busca dos assinantes, seja pelo nome ou pelo endereço.
O envio das correspondências aos pais e mães enlutados (mães e
pais separadamente) foi feito no mês de agosto de 2007. Cada envelope que
foi enviado continha os seguintes itens:
carta introdutória explicando os objetivos do estudo e o convite para
participarem (Apêndice 1)
duas cópias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Apêndice 2)
questionário TRIG (Anexo 4)
questionário IDATE-E (Anexo 5)
envelope previamente selado, para retorno dos documentos à
pesquisadora.
A participação do pai e da mãe foi individual e independente, ou seja,
não foram considerados como um único sujeito de pesquisa, mas sim como
sujeitos de pesquisa distintos, portanto, a participação de apenas um deles
foi permitida. Houve 1 caso em que a irmã respondeu, visto que ela foi a
cuidadora do irmão ao longo da trajetória da doença. Neste caso, a mãe tem
diagnóstico de depressão e o seu pai faleceu após o óbito do filho.
52
4.2.3 Variáveis estudadas
Com base nos registros dos prontuários foram levantados os dados
referentes às variáveis sócio-demográficas e relacionados ao óbito, a saber:
Referentes à criança:
Idade da criança ao óbito
Tipo de morte:
o Esperada
o Inesperada
o Lenta
o Repentina
Referentes aos participantes:
Idade
Sexo
o Feminino
o Masculino
Raça/Cor: Foi utilizada a denominação “cor”, com base no censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em
1991, que considerou raça e cor como termos sinônimos.
o Branca
o Negra
o Parda
o Amarela
o Outra
53
Escolaridade: Para o item escolaridade, adotamos a nomenclatura do
Artigo 21 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional do
Ministério da Educação-MEC (Brasil 1996).
o Ensino Fundamental
o Ensino Médio
o Ensino Superior
Religião: As principais religiões da população brasileira foram
classificadas de acordo com dados do IBGE, cujo censo foi realizado
em 2000.
o Católica
o Evangélica
o Espírita
o Outra
Grau de parentesco com a criança que morreu
o Mãe
o Pai
o Outro
Número de filhos quando perdeu o seu
Número atual de filhos
Tipo de relacionamento com a criança que faleceu
o O relacionamento mais forte que eu já tive
o Mais forte do que a maioria dos relacionamentos que eu já tive
com outras pessoas
o Tão forte quanto a maioria dos meus relacionamentos
54
o Mais fraco do que a maioria dos relacionamentos que eu já tive
com outras pessoas
o O relacionamento mais fraco que eu já tive
Tempo transcorrido da morte
o Nos últimos 3 meses
o De 3 a 6 meses atrás
o De 6 a 9 meses atrás
o De 9 a 12 meses atrás
o De 1 a 2 anos atrás
o De 2 a 5 anos atrás
o De 5 a 10 anos atrás
o De 10 a 20 anos atrás
o Mais de 20 anos atrás
4.2.4 Instrumentos de avaliação
A Texas Revised Inventory of Grief (TRIG)
O questionário a ser adaptado e validado neste estudo é o Texas
Revised Inventory of Grief (TRIG), de FASCHINGBAUER et al. (1977, 1987)
(Anexo 1).
O TRIG é um questionário utilizado para avaliar a intensidade das
reações de luto associadas à morte de um ente significativo. É um
instrumento que foi desenvolvido utilizando análise fatorial em uma versão
expandida do questionário (58 itens), que foi completado por 260 adultos
enlutados de diversas áreas dos Estados Unidos, com a finalidade de ajudar
55
a medir e a quantificar o luto. A partir desta análise fatorial, o questionário
ficou constituído em duas partes, a saber, comportamento passado e
sentimentos do presente, com 8 e 13 questões, respectivamente.
O TRIG é um questionário auto-aplicativo que, freqüentemente, é
completado em aproximadamente 10 minutos pelos sujeitos enlutados. No
início contém informações demográficas a respeito da pessoa enlutada, tais
como: nome, idade, sexo, cor, grau de instrução e religião. Em seguida, há
questões referentes à pessoa que morreu, como: idade ao óbito, o tempo
transcorrido desde a morte, o relacionamento que o enlutado tinha com o
morto e se a morte foi esperada ou inesperada.
O escore é composto por 21 itens que se apresentam divididos em
duas partes:
Primeira parte: denominada “Past Behavior” (Comportamento
Passado), que consiste de oito itens que relacionam sentimentos e
comportamentos do enlutado que ocorreram nos momentos próximos
ao falecimento;
Segunda parte: denominada “Present Feelings” (Sentimentos do
Presente), que consiste de treze itens que exploram sentimentos
atuais do enlutado em relação ao falecido.
Essas questões são respondidas na forma de escala likert de pontos,
com variação de 1 a 5 pontos para as respostas, conforme descrito a seguir:
1 ponto: completamente falso
2 pontos: mais falso que verdadeiro
3 pontos: nem verdadeiro nem falso
56
4 pontos: mais verdadeiro que falso
5 pontos: completamente verdadeiro
O escore é calculado somando-se as oito questões da Parte I da
escala. Esta escala varia de 8 a 40 pontos e é usada como medida de luto
inicial.
Da mesma forma, o escore da Parte II é obtido somando-se as treze
questões, cuja variação é de 13 a 65 pontos. Esta é usada como medida de
luto tardio. Escores mais altos significam maior intensidade de pesar ou luto,
ao passo que os escores mais baixos significam menor intensidade.
Os escores obtidos nas duas escalas permitem um esquema de
classificação de luto, onde cada parte pode ser categorizada como sendo de
luto elevado ou de baixo luto, de acordo com a mediana do grupo (percentil
50). A relação hipotética entre as Partes I e II e os diversos tipos de padrões
de ajustamento ao luto podem ser classificados conforme descrito abaixo e
representado na Figura 2 (FASCHINGBAUER 1981):
Grupo 1: indivíduos cuja pontuação é alta (acima ou igual do percentil
50), em ambas as escalas, são classificados como tendo reação de
luto prolongado;
Grupo 2: os que têm pontuação baixa (abaixo do percentil 50), em
ambas as escalas, são classificados como apresentando baixa reação
de luto ou ausência de luto;
Grupo 3: pontuação baixa (abaixo do percentil 50) na escala de
comportamento passado, e alta (acima ou igual do percentil 50) na de
57
TRIG
Parte I Parte II Reações de Luto
Luto Prolongado
Baixo luto
Luto adiado
Luto agudo
sentimentos do presente, coloca o respondente como tendo uma
reação de luto adiado;
Grupo 4: os que apresentam pontuação alta (acima ou igual do
percentil 50) em comportamento do passado, e baixa (abaixo do
percentil 50) em sentimentos do presente, são classificados como
sendo do grupo de luto agudo.
Figura 2 - Grupo de reações de luto em relação às Partes I e II do
questionário.
58
Existe ainda uma terceira Parte que não está incluída no cálculo do
escore. Consiste de cinco perguntas sobre fatos relacionados ao óbito e o
respondente deverá dizer se a afirmação é verdadeira ou falsa. As questões
são:
“Eu fui ao enterro da pessoa que morreu”;
“Eu senti que eu realmente fiquei de luto pela pessoa que morreu”;
“Eu sinto que agora faço as coisas tão bem quanto antes da morte”;
“Eu fico chateado todo ano, na mesma época em que a pessoa
morreu”;
“Algumas vezes eu sinto que eu tenho a mesma doença da pessoa
que morreu”.
B Inventário de Ansiedade Traço – Estado (IDATE)
O Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) é um questionário
que avalia sintomas relacionados à ansiedade. Este instrumento foi
desenvolvido por SPIELBERGER et al. (1970), e encontra-se traduzido e
validado para ser utilizado em amostras brasileiras (BIAGGIO e NATALÍCIO
1979).
O IDATE é uma escala auto-aplicativa que contém 20 itens. A
pontuação é feita atribuindo um escore em uma escala que varia de 1 a 4
para cada resposta, onde o 1 representa sintomas de ansiedade menos
severos e o 4 expressa sintomas mais severos.
O IDATE é uma escala que avalia separadamente dois tipos de
ansiedade: traço e estado. A escala que avalia o estado de ansiedade
59
refere-se a um estado emocional transitório, que pode variar em intensidade
ao longo do tempo. A escala que avalia o traço de ansiedade refere-se a
uma disposição, relativamente estável, de responder a situações de estresse
com ansiedade e à tendência de manter esses sintomas. Os escores obtidos
na escala de traço de ansiedade são menos sensíveis às mudanças
decorrentes de situações ambientais. Para este estudo utilizou-se a versão
estado de ansiedade (Anexo 5).
4.2.5 Processo de Tradução e Adaptação Transcultural
Fase I: Tradução e retro-tradução do TRIG
O processo de tradução do questionário seguiu as recomendações
contidas em manuais já publicados (GUILLEMIN et al. 1993; BEATON et al.
2000).
A adaptação transcultural do instrumento foi baseada no método da
tradução e retro-tradução (back-translation), cujo processo assegura que a
versão traduzida está refletindo o mesmo conteúdo do item da versão
original.
A tradução do TRIG do original em inglês para o português foi
realizada por três tradutoras de forma independente, sendo duas
enfermeiras especialistas em oncologia e um indivíduo leigo bilíngüe com
formação em Letras. Após este processo ter sido completado, foi realizada
uma reunião de consenso para sintetizar os resultados das traduções e para
fazer as adaptações para a língua portuguesa utilizada no Brasil, da qual se
obteve uma versão única para o português.
60
Na etapa seguinte do processo, a versão preliminar em português foi
traduzida para o inglês por dois tradutores profissionais, sendo um dos
indivíduos mestre em Lingüística. Esses dois tradutores não são da área
médica, não tinham conhecimento prévio do instrumento original em inglês
e, também, não foram informados sobre os conceitos explorados no
questionário.
Esta etapa é de extrema importância para processo de validação, pois
assegura a equivalência conceitual da tradução, ao se comparar as versões
obtidas nas retro-traduções com o instrumento original. Através dessa
comparação, é possível avaliar o significado referencial dos termos/palavras,
ou seja, se há correspondência literal entre as palavras do original e aquelas
da retro-tradução. A comparação das retro-traduções com o original permite
ainda avaliar o significado geral de cada item/questão no contexto cultural da
população-alvo, pois algumas questões podem perder significado em um
novo contexto sócio-cultural (WILD et al. 2005).
Como parte do processo de adaptação transcultural de instrumentos
de medidas de auto-relato, um painel de juízes foi composto por cinco
indivíduos brasileiros, onde estavam incluídos os tradutores. A avaliação dos
juízes tem o propósito de identificar e resolver as discrepâncias ocorridas em
cada uma das etapas anteriores, para se obter a versão final do
questionário.
Em reunião, os juízes examinaram cada um dos itens tendo o cuidado
de avaliar:
se em cada questão as palavras estavam com o mesmo significado;
61
se havia termos coloquiais difíceis de serem traduzidos, que exigiam
a formulação de uma expressão equivalente;
se havia itens que rastreavam vivências de diferentes culturas ou
países e que, portanto, iriam requerer substituição para adequá-lo e;
se havia palavras que abrangessem um significado conceitual, que
são diferentes entre as diversas culturas.
A partir desta discussão finalizou-se a versão em português do TRIG,
que se encontra no Anexo 4.
Fase II: Validação do TRIG
A validade refere-se ao grau em que o teste, exame, questionário e/ou
procedimento apresenta-se apropriado para medir o verdadeiro valor daquilo
que é medido, observado ou interpretado (STREINER e NORMAN 2003).
Foi realizada através dos questionários TRIG e IDATE-E. Assim, foram
adotadas as seguintes estratégias para verificar a validade das medidas das
escalas.
Avaliação da Consistência Interna
Esta análise objetiva estimar a correlação existente entre cada item
do teste e o total dos itens (STREINER e NORMAN 2003). Para o presente
estudo, a consistência interna do TRIG (Texas Revised Inventory of Grief) foi
avaliada através do coeficiente Alfa de Cronbach.
A análise da consistência interna é um dos aspectos da avaliação do
grau de confiabilidade de um instrumento. Apresenta uma variação entre
0,00 e 1,00, demonstrando a correlação entre os itens que compõem o
62
instrumento, e, quanto mais próximo do 1 melhor a consistência interna
(STREINER e NORMAN 2003).
Avaliação da Validade Discriminante
Esta análise é realizada para verificar o poder da escala em ser capaz
de discriminar diferentes grupos (STREINER e NORMAN 2003). Nesse
estudo, a validade discriminante foi feita comparando as médias das Partes I
e II do TRIG com a média total, segundo as questões da Parte III do TRIG e
o tipo de morte (esperada ou inesperada).
Avaliação da Validade Concorrente
Esta análise busca evidências da capacidade do instrumento em se
correlacionar em magnitude e direção com uma hipótese pré-definida
(STREINER e NORMAN 2003). A avaliação foi feita através do cálculo do
coeficiente de correlação de Spearman entre os escores das escalas e o
questionário IDATE-E, e, também, entre os escores e o tempo de morte.
Utilizou-se o IDATE-E para verificar a validade concorrente dos
escores, pelo fato de não termos encontrado outro instrumento de avaliação
do luto traduzido e validado para o português.
4.2.6 Estratégia de processamento e análise dos dados
A Banco de dados
Para digitação, consistência (validate) e análise descritiva dos dados
foi usado o programa Epi-Info versão 6.04 para DOS.
63
Para o cálculo do coeficiente Alfa de Cronbach e análise dos
coeficientes de correlação foi utilizado o programa estatístico SPSS versão
13.0.
B Análise estatística
A descrição dos dados das crianças falecidas e dos participantes foi
realizada através de médias, medianas e porcentagens.
Para análise da Consistência Interna do TRIG foi utilizado o
coeficiente Alfa de Cronbach, considerando que o instrumento apresenta
boa consistência interna quando seu valor estiver acima de 0,70.
Para avaliação da Validade Discriminante foi utilizado o teste de Mann-
Whitney, considerando como estatisticamente significativos, valores de p
inferiores a 0,05.
Para avaliação da Validade Concorrente, foi utilizado o coeficiente de
correlação de Spearman. As diferenças foram consideradas estatisticamente
significativas quando o valor de p foi menor que 0,05.
4.2.7 Rigor e Ética
Através de correspondência pessoal, obteve-se autorização formal
dos autores da referida escala para sua aplicação (Anexo 3).
Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da
Fundação Antônio Prudente-Hospital A.C. Camargo, e registrado sob o n°
885/07 (Anexo 2).
64
Garantiu-se o caráter voluntário do participante no estudo, podendo
interromper sua participação a qualquer momento. Os pais que aceitaram
participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, no qual está explicada a finalidade da pesquisa e os
procedimentos a serem seguidos (Apêndice 2).
65
RESULTADOS
66
5 RESULTADOS
5.1 TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO TRANSCULTURAL
De acordo com as discussões entre os cinco membros que integraram
o painel de juízes, foi verificado que os itens que compõem o instrumento
original representam adequadamente as dimensões no contexto cultural
brasileiro. Algumas modificações foram feitas e incorporadas à versão final
em português.
Como o questionário foi validado numa amostra de pais enlutados pela
perda de um filho, incluíram-se dois itens para estudar o impacto na
continuação de suas vidas. São eles: “Quantos filhos você tinha quando
perdeu seu filho?” e “ Quantos filhos você tem hoje?”.
Na parte final do questionário foram acrescentadas três questões
sobre a percepção dos pais em participarem desta pesquisa. KREICBERGS
et al. (2004a) realizaram um estudo populacional com pais enlutados, cuja
conclusão foi que a maioria dos pais achou a pesquisa válida 4-9 anos após
a perda do filho. Da mesma forma, optou-se por incluir estas questões, para
verificar o impacto que uma pesquisa sobre um tema tão delicado causa na
população brasileira.
Na avaliação das retro-traduções, de uma maneira geral, encontrou-
se uma boa equivalência dos itens, quando comparados com os do
instrumento original. Os itens discrepantes, que exigiram a formulação de
67
uma expressão equivalente, foram modificados e foi finalizada a versão em
português (Anexo 4).
5.1.1 Avaliação do painel de juízes da Parte I do TRIG: Comportamento
passado
A discussão inicial foi em relação à expressão “after this person died”,
que consta na maioria dos itens da escala. Primeiramente, foi sugerido
alterar essa expressão para “depois que seu filho morreu”, em substituição à
tradução literal que é “depois que esta pessoa morreu”, pelo fato do
questionário estar sendo validado em uma população de pais enlutados. A
partir dessa discussão, houve concordância entre os juízes que essa
adaptação poderia tornar o preenchimento do questionário desagradável,
por se tratar da morte de um filho e ser essa, uma expressão, que seria
repetida por diversas vezes. Dessa forma, os juízes optaram por manter a
tradução literal “depois que esta pessoa morreu”, por ser mais genérica.
Na questão 1, foi discutido que o significado de “get along with”, cuja
tradução literal é “relacionar-se com”, seria melhor traduzido por “conviver
com”, pois o último foi considerado como uma expressão mais
freqüentemente empregada em nosso meio e se adapta mais ao significado
do item original.
Na questão 4, “I felt a need to do things that the deceased had wanted
to do ”, houve consenso em modificar para “Senti grande necessidade de
fazer coisas que a pessoa que morreu tinha vontade de fazer “, a fim de
deixar o conceito mais claro e ser melhor entendido na língua portuguesa.
68
Na questão 5, “I was unusually irritable...” é um sintoma subjetivo, que
poderia ficar ambíguo se traduzido literalmente. Dessa forma, os juízes
concordaram que a tradução que melhor expressa o item é “..fiquei
irritado(a) mais do que de costume sem motivo”.
Na questão 6, verificou-se que a tradução literal para o português não
expressa o significado do item. Assim, “I couldn’t keep up with..” foi
reformulada e optou-se por deixar na versão final “ Eu não consegui dar
conta das...”, pois expressa melhor a tentativa do enlutado querer fazer as
atividades, mas não ter forças para fazê-las.
Nas questões 2, 3, 7 e 8 da Parte I do questionário não houve
discordância na tradução e não houve necessidade de nenhuma adaptação.
Os itens específicos não foram ambíguos, difíceis de traduzir ou
incompatíveis com a cultura brasileira.
O Quadro 1 apresenta a versão original da Parte I do instrumento, a
união das traduções que deu origem à primeira versão traduzida, a união
das back-translations (retro-traduções) e a versão final após adaptações
feitas pelo painel de juízes.
69
Quadro 1 – Resultado da tradução e adaptação cultural dos itens da Parte I
do TRIG. São Paulo, 2007
Questão Original Tradução inicial
Back-translation
Painel de Juízes
1
After this person
died I found it hard
to get along with
certain people
Depois da morte
desta pessoa foi
difícil me relacionar
com algumas
pessoas
After this person
died it was difficult
for me to relate with
some people
Depois da morte
desta pessoa foi
difícil conviver com
determinadas
pessoas
2
I found it hard to
work well after this
person died
Foi difícil trabalhar
bem depois que
esta pessoa morreu
It was difficult to
work well after this
person died
Foi difícil trabalhar
bem depois que
esta pessoa morreu
3
After this person's
death I lost interest
in my family, friends,
and outside
activities
Depois da morte
desta pessoa, eu
perdi o interesse na
minha família,
amigos e atividades
fora de casa
After this person
died, I lost the
interest in my family,
friends and out-of-
house activities
Depois da morte
desta pessoa, eu
perdi o interesse na
minha família,
amigos e atividades
fora de casa
4
I felt a need to do
things that the
deceased had
wanted to do
Senti necessidade
de fazer coisas que
a pessoa que
morreu tinha
vontade de fazer
I felt a need to do
things that the
person who died
wished to do
Senti grande
necessidade de
fazer coisas que a
pessoa que morreu
tinha vontade de
fazer
5
I was unusually
irritable after this
person died
Depois que esta
pessoa morreu,
fiquei irritado(a) sem
motivo
After this person
died, I got irritated
without reason
Depois que esta
pessoa morreu,
fiquei irritado(a)
mais do que de
costume sem motivo
6
I couldn’t keep up
with my normal
activities for the first
3 months after this
person died
Eu não consegui
fazer minhas
atividades de rotina
nos primeiros três
meses depois da
morte desta pessoa
I was unable to do
my routine activities
in the first three
months after this
person died
Eu não consegui dar
conta das minhas
atividades de rotina
nos primeiros três
meses depois da
morte desta pessoa
7
I was angry that the
person who died left
me
Fiquei bravo(a)
porque a pessoa
que morreu me
deixou
I got angry because
the person who died
left me
Fiquei bravo(a)
porque a pessoa
que morreu me
abandonou
8
I found it hard to
sleep after this
person died
Foi difícil dormir
depois que esta
pessoa morreu
It was difficult to
sleep after this
person died
Foi difícil dormir
depois que esta
pessoa morreu
70
5.1.2 Avaliação do painel de juízes da Parte II do TRIG: Sentimentos do
presente
Em relação às questões 1, 2, 3, 4, 10, 11 e 12 houve consenso de
que a versão traduzida estava refletindo o mesmo conteúdo dos itens da
versão original, e não foram realizadas sugestões pelo painel de juízes.
Na questão 5, houve concordância de que “to recall memories...” é
melhor entendido e corresponde ao significado original, se traduzido como
“relembrar” e não como “lembrar”.
Questão 6 “I am preoccupied with thoughts..” reflete uma angústia do
enlutado por pensar demais na pessoa que morreu. Portanto, a formulação
“estou preocupado de tanto que eu penso..” se mostrou mais adequada e
equivalente à versão original.
Na questão 7, ”I hide my tears when I think about the person..” parece
que o enlutado ainda tem vontade de chorar, mas consegue se controlar.
Dessa forma, optou-se por “controlo o choro..” na versão em português, em
vez de “escondo minhas lágrimas..”, por expressar mais fielmente o
conteúdo da questão.
Na questão 8, foi feita alteração da construção da frase, para melhor
adequação gramatical da versão-alvo. Para a versão final, optou-se por “Na
minha vida, ninguém vai ocupar o lugar da pessoa que morreu”, em
substituição a “No one will ever take the place in my life of the person who
died”.
A questão 9, “I can’t avoid thinking about the person who died”, se
traduzida literalmente, seria: “Eu não posso evitar de pensar...”. Porém, não
71
é pertinente à maneira de expressão da população brasileira. Houve
consenso entre os juízes de que a melhor forma de ser entendida é: “Não
consigo parar de pensar...”. Caso contrário, poderia favorecer interpretações
divergentes, o que prejudicaria a equivalência do item.
Na questão 13, a expressão “...I still feel the need to cry for…”, após
discussão, optou-se por adaptá-la para: “ ...ainda sinto vontade de chorar...”.
A palavra “vontade” para substituir a palavra “necessidade”, expressa melhor
a equivalência com o original e é mais coerente com a forma de expressão
dos brasileiros.
O Quadro 2 apresenta a versão original da Parte II do instrumento, a
união das traduções que deu origem à primeira versão traduzida, a união
das back-translations e a versão final após adaptações feitas pelo painel de
juízes.
72
Quadro 2 – Resultado da tradução e adaptação cultural dos itens da Parte II
do TRIG. São Paulo, 2007
Questão Original Tradução inicial
Back-translation
Painel de Juízes
1
I still cry when I think
of the person who
died
Ainda choro quando
penso na pessoa
que morreu
I still cry when I think
about the person
who died
Ainda choro quando
penso na pessoa
que morreu
2
I still get upset when
I think about the
person who died
Ainda fico chateado
quando penso na
pessoa que morreu
I still get upset when
I think about the
person who died
Ainda fico triste
quando penso na
pessoa que morreu
3
I cannot accept this
person's death
Não posso aceitar a
morte desta pessoa
I can’t accept the
death of this person
Não consigo aceitar
a morte desta
pessoa
4
Sometimes I very
much miss the
person who died
Às vezes sinto muita
falta da pessoa que
morreu
Sometimes I miss
very much the
person who died
Às vezes sinto muita
falta da pessoa que
morreu
5
Even now it's painful
to recall memories
of the person who
died
Ainda hoje é
doloroso lembrar da
pessoa que morreu
Still today it is
painful to remember
the person who died
Ainda hoje é
doloroso relembrar
da pessoa que
morreu
6
I am preoccupied
with thoughts (often
think) about the
person who died
Estou preocupado
com os
pensamentos sobre
a pessoa que
morreu
I am worried with the
thoughts about the
person who died
Estou
preocupado(a) de
tanto que eu penso
na pessoa que
morreu
7
I hide my tears when
I think about the
person who died
Escondo minhas
lágrimas quando
penso na pessoa
que morreu
I hide my tears when
I think about the
person who died
Controlo o choro
quando penso na
pessoa que morreu
8
No one will ever
take the place in my
life of the person
who died
Ninguém vai ocupar
na minha vida, o
lugar da pessoa que
morreu
Nobody will have in
my life the place the
person who died
Na minha vida,
ninguém vai ocupar
o lugar da pessoa
que morreu
9
I can't avoid thinking
about the person
who died
Não posso evitar os
pensamentos sobre
a pessoa que
morreu
I cannot help
thinking about the
person who died
Não consigo parar
de pensar na
pessoa que morreu
10
I feel it's unfair that
this person died
Acho injusto que
esta pessoa tenha
morrido
I find unjust that this
person died
Acho injusto que
esta pessoa tenha
morrido
11
Things and people
around me still
remind me of the
person who died
As pessoas e as
coisas ao meu redor
ainda me lembram a
pessoa que morreu
People and things
that surround me
still make me
remember the
person who died
Pessoas e coisas ao
meu redor ainda me
fazem lembrar da
pessoa que morreu
12
I am unable to
accept the death of
the person who
died
Sou incapaz de
aceitar a morte
desta pessoa
I can’t accept the
death of this person
Sou incapaz de
aceitar a morte
desta pessoa
13
At times I still feel
the need to cry for
the person who died
Às vezes, ainda
sinto necessidade
de chorar pela
pessoa que morreu
Sometimes, I still
have a need to cry
for the person who
died
Às vezes, ainda
sinto vontade de
chorar pela pessoa
que morreu
73
Após consolidar todas as versões do questionário, a versão final em
português do Texas Revised Inventory of Grief (TRIG) foi aprovada para ser
administrada à nossa população (Anexo 4).
5.2 CARACTERIZAÇÃO DA CASUÍSTICA
Quinze participantes compuseram a amostra deste estudo.
5.2.1 Caracterização Sócio-Demográfica da Amostra
Foram analisados os dados de 15 pais enlutados. Na Tabela 1
descrevemos as características sócio-demográficas dos pais enlutados que
responderam os instrumentos. Entre os participantes houve predomínio de
respostas dadas pelas mães (11/73,3%) sendo apenas 3 pais (20,0) e 1
(6,7%) irmã biológica, que era a cuidadora da criança que morreu.
Observa-se que a maioria dos respondentes foi do sexo feminino
(80,0%), da cor branca (73,3%), com ensino fundamental (60,0%), e da
religião católica (60,0%) (Tabela 1).
74
Tabela 1 - Características sócio-demográficas dos pais que participaram do
estudo. São Paulo, 2007
Variável Categoria n. %
Grau de pai 3 20,0
parentesco mãe 11 73,3
irmã 1 6,7
Sexo masculino 3 20,0
feminino 12 80,0
Cor branca 11 73,3
parda 3 20,0
amarela 1 6,7
Escolaridade ensino fundamental 9 60,0
ensino médio 5 33,3
ensino superior 1 6,7
Religião católica 9 60,0
evangélica 5 33,3
espírita 1 6,7
TOTAL
15
100,0
Como pode ser observado na Tabela 2, a média de idade dos
participantes foi de 42,6 anos e mediana de 45,5. A idade mínima foi de 26
anos e a idade máxima de 63 anos. O número de filhos na época do
falecimento variou de 1 a 9, a mediana foi de 3,0 e a média de 3,8 filhos,
sendo muito semelhante ao número de filhos atuais, cuja média foi de 3,7
filhos. A idade da pessoa que morreu variou entre 2 e 18 anos, com uma
média de 9,8 anos e mediana de 11,0. O tempo transcorrido da morte variou
de 6,0 a 7,6 anos, a mediana foi de 7,1 e a média de 6,9 anos.
75
Tabela 2 - Descrição das características dos pais avaliados em relação aos
filhos. São Paulo, 2007
Variável Média (dp) Mediana Mínino - Máximo
Idade (anos) 42,6 (11,0) 45,5 26 – 63
N° de filhos quando perdeu o seu* 3,8 (2,2) 3,0 1 – 9
N° atual de filhos* 3,7 (2,0) 3,0 1 – 8
Idade da pessoa que morreu 9,8 (5,8) 11,0 2 – 18
Tempo de morte (anos) 6,9 (0,5) 7,1 6,0 - 7,6
* incluso filho que faleceu
A Tabela 3 demonstra o grau de parentesco com a pessoa que
morreu, o relacionamento estabelecido com esta pessoa e as circunstâncias
da morte. A maioria eram filhas (66,6%), seguido de filhos (26,7%) e apenas
um era irmão biológico da respondente (6,7%). Do total, 60,0% referiram que
o(a) falecido(a) foi o relacionamento mais forte que já teve, 40,0%
responderam que a morte foi esperada e 33,3% referiram que a morte foi
lenta.
76
Tabela 3 - Distribuição dos respondentes, segundo parentesco,
relacionamento e tipo de morte. São Paulo, 2007
Variável Categoria n. %
Parentesco com a irmão 1 6,7
pessoa que morreu filho 4 26,7
filha 10 66,6
Relacionamento com Mais forte que já tive 9 60,0
a pessoa que morreu Mais forte que a maioria que tive com 4 26,7
outras pessoas
Tão forte quanto a maioria dos meus 2 13,3
relacionamentos
A morte da pessoa foi esperada 6 40,0
inesperada 4 26,7
lenta 5 33,3
TOTAL
15 100,0
5.3 DESCRIÇÃO DAS RESPOSTAS OBTIDAS NA APLICAÇÃO
DO TRIG
As Tabelas 4 e 5 descrevem, respectivamente, as questões das
Partes I e II do TRIG. Os comportamentos referidos com maior freqüência,
como sendo completamente verdadeiros na Parte I, foram as questões 2, 6 e
8, a saber: “Foi difícil trabalhar bem depois que esta pessoa morreu”
(60,0%); “Eu não consegui dar conta das minhas atividades de rotina nos
primeiros três meses depois da morte desta pessoa” (60,0%); e “Foi difícil
dormir depois que esta pessoa morreu” (86,6%).
77
Tabela 4 - Distribuição dos respondentes, segundo as questões que compõem a
Parte I do TRIG, que relacionam sentimentos e ações ocorridos nos momentos
próximos à morte da pessoa. São Paulo, 2007
Comportamento passado
Completa
mente
verdadeiro
Mais
verdadeiro
que falso
Nem
verdadeiro
nem falso
Mais falso
que
verdadeiro
Completa
mente
falso
TOTAL
n. (%) n. (%) n. (%) n. (%) n. (%) n. (%)
Sentimentos e ações
ocorridos nos
momentos após a
morte desta pessoa
1. após a morte da
pessoa foi difícil
conviver com os outros
4 (26,7) 4 (26,7) 2 (13,3) -- (--) 5 (33,3) 15
(100,0)
9 (60,0) 3 (20,0) 2 (13,3) -- (--) 1 (6,7) 15
(100,0)
2. difícil trabalhar bem
após morte da pessoa
3. após a morte da
pessoa perdeu o
interesse na família,
amigos e atividades
fora de casa
3 (20,0) 1 (6,7) 2 (13,3) 2 (13,3) 7 (46,7) 15
(100,0)
3 (20,0) 1 (6,7) 3 (20,0) 2 (13,3) 6 (40,0) 15
(100,0)
4. senti necessidade de
fazer coisas que a
pessoa que morreu
tinha vontade de fazer
6 (40,0) 1 (6,7) 2 (13,3) 1 (6,7) 5 (33,3) 15
(100,0)
5. após a morte da
pessoa fiquei mais
irritado sem motivo
9 (60,0) 2 (13,3) 3 (20,0) 1 (6,7) -- (--) 15
(100,0)
6. não dar conta das
atividades de rotina nos
três primeiros meses
após a morte da pessoa
2 (13,3) 1 (6,7) 3 (20,0) 1 (6,7) 8 (53,3) 15
(100,0)
7. fiquei bravo porque a
pessoa que morreu me
abandonou
13 (86,6) 1 (6,7) 1 (6,7) -- (--) -- (--) 15
(100,0)
8. foi difícil dormir após
a morte desta pessoa
78
A Tabela 5 descreve os dados referentes à Parte II da escala. Das 13
questões, em 8 delas, a maioria dos respondentes refere como
completamente verdadeiro os sentimentos em relação à morte desta pessoa
atualmente. São elas: “Ainda choro quando penso na pessoa que morreu
(60,1%); Ainda fico triste quando penso na pessoa que morreu” (73,3%); “Às
vezes sinto muita falta da pessoa que morreu” (93,3%); “Ainda hoje é
doloroso relembrar da pessoa que morreu” (73,3%); “Controlo o choro
quando penso na pessoa que morreu” (73,3%); “Na minha vida, ninguém vai
ocupar o lugar da pessoa que morreu” (73,4%); “Pessoas e coisas ao meu
redor ainda me fazem lembrar da pessoa que morreu” (66,6%) e “Às vezes,
ainda sinto vontade de chorar pela pessoa que morreu” (66,7%).
79
Tabela 5 – Distribuição dos respondentes, segundo as questões que
compõem a Parte II do TRIG, que explora sentimentos atuais do enlutado
em relação ao falecido. São Paulo, 2007
Sentimentos do presente
Completa
mente
verdadeiro
Mais
verdadeiro
que falso
Nem
verdadeiro
nem falso
Mais falso
que
verdadeiro
Completa
mente
falso
TOTAL
n. (%) n. (%) n. (%) n. (%) n. (%) n. (%)
Sentimentos em
relação à morte desta
pessoa, atualmente
1. ainda choro quando
penso na pessoa que
morreu
9 (60,1) 2 (13,3) 2 (13,3) 2 (13,3) -- (--) 15 (100,0)
2. ainda fico triste
quando penso na
pessoa que morreu
11 (73,3) 3 (20,0) -- (--) 1 (6,7) -- (--) 15 (100,0)
3. não consigo aceitar a
morte desta pessoa
5 (33,3) 2 (13,3) 4 (26,7) 1 (6,7) 3 (20,0) 15 (100,0)
4. às vezes sinto muita
falta da pessoa que
morreu
14 (93,3) 1 (6,7) -- (--) -- (--) -- (--) 15 (100,0)
11 (73,3) 1 (6,7) 3 (20,0) -- (--) -- (--) 15 (100,0) 5. ainda hoje é doloroso
relembrar da pessoa que
morreu
6. estou preocupado de
tanto pensar na pessoa
que morreu
1 (6,7) -- (--) 4 (26,7) 5 (33,3) 5 (33,3) 15 (100,0)
7. controlo o choro
quando penso na
pessoa que morreu
11 (73,3) 1 (6,7) 1 (6,7) 2 (13,3) -- (--) 15 (100,0)
8. na minha vida,
ninguém ocupará o lugar
da pessoa
11 (73,4) 2 (13,3) 2 (13,3) -- (--) -- (--) 15 (100,0)
3 (20,0) 1 (6,7) 6 (40,0) 2 (13,3) 3 (20,0) 15 (100,0) 9. não consigo parar de
pensar na pessoa que
morreu
10. acho injusto que esta
pessoa tenha morrido
7 (46,7) 2 (13,3) 4 (26,7) -- (--) 2 (13,3) 15 (100,0)
11. pessoas e coisas me
fazem lembrar da
pessoa
10 (66,6) 3 (20,0) 1 (6,7) 1 (6,7) -- (--) 15 (100,0)
12. sou incapaz de
aceitar a morte desta
pessoa
3 (20,0) 2 (13,3) 5 (33,3) 1 (6,7) 4 (26,7) 15 (100,0)
13. às vezes, sinto
vontade de chorar pela
pessoa que morreu
10 (66,7) 1 (6,7) 2 (13,3) 2 (13,3) -- (--) 15 (100,0)
80
A Tabela 6 apresenta a descrição das questões da Parte III do TRIG.
Todos os respondentes foram ao enterro da pessoa que morreu e sentiram
que ficaram de luto pela morte dela. A maioria dos respondentes refere que
fica chateado todo ano, na mesma época da morte da pessoa” (73,3%); e
algumas vezes, sente ter a mesma doença que a pessoa que morreu”
(60,0%).
Tabela 6 - Distribuição dos respondentes, segundo ações e reações à morte
da pessoa. São Paulo, 2007
Fatos relacionados
verdadeiro falso
TOTAL
n. (%) n. (%) n. (%)
Ações e reações diante da morte
desta pessoa
fui ao enterro da pessoa que 15 (100,0) -- (--) 15 (100,0)
morreu
senti que realmente fiquei de luto 15 (100,0) -- (--) 15 (100,0)
pela pessoa
faço coisas tão bem quanto antes 8 (53,3) 7 (46,7) 15 (100,0)
da morte da pessoa
fico chateado todo ano, na mesma 11 (73,3) 4 (26,7) 15 (100,0)
época da morte desta pessoa
algumas vezes sinto ter a mesma 9 (60,0) 6 (40,0) 15 (100,0)
doença da pessoa que morreu
81
Do total de pais que participaram do estudo, todos consideraram esta
pesquisa válida e a maioria não acha que ela “teve um efeito negativo”
(93,3%) e “a vê como causando um efeito positivo” (78,6%), conforme
apresentado na Tabela 7.
Tabela 7 - Distribuição dos respondentes, segundo questões referentes à
validade da pesquisa. São Paulo, 2007
Validade da pesquisa
sim não
TOTAL
n. (%) n. (%) n. (%)
Questões
Você acha válida esta pesquisa? 15 (100,0) -- (--) 15 (100,0)
Você acha que esta pesquisa causa 1 (6,7) 14 (93,3) 15 (100,0)
um efeito negativo em você?
Você acha que esta pesquisa causa 11 (78,6) 3 (21,4) 14 (100,0)
um efeito positivo em você?*
* há um valor ignorado
A Tabela 8 apresenta os escores da Parte I da escala com variação
entre 15 e 38, média de 26,7 (desvio padrão de 7,3) e a mediana (percentil
50) de 25,0. Sendo assim, pessoas com 25 pontos ou mais foram
consideradas de alta intensidade de luto inicial.
82
Tabela 8 - Distribuição dos respondentes, segundo escores da Parte I do
TRIG. São Paulo, 2007
Valor – TRIG I n. % % acumulada
15 1 6,7 6,7
17 1 6,7 13,3
20 2 13,3 26,7
22 1 6,7 33,3
23 1 6,7 40,0
24 1 6,7 46,7
25 1 6,7 53,3
30 1 6,7 60,0
32 2 13,3 73,3
34 2 13,3 86,7
35 1 6,7 93,3
38 1 6,7 100,0
Total 15 100,0
A Tabela 9 apresenta os escores da Parte II do TRIG. Esta escala
variou de 34 a 65, com média de 51,1 (desvio padrão de 9,4) e mediana
(percentil 50) de 53,0. Sendo assim, pessoas com escore de 53 ou mais
foram consideradas de alto escore em relação aos sentimentos do presente.
83
Tabela 9 - Distribuição dos respondentes, segundo os escores da Parte II do
TRIG. São Paulo, 2007
Valor – TRIG II n. % % acumulada
34 1 6,7 6,7
35 1 6,7 13,3
41 1 6,7 20,0
45 2 13,3 33,3
51 1 6,7 40,0
53 2 13,3 53,3
54 1 6,7 60,0
55 1 6,7 66,7
56 1 6,7 73,3
57 1 6,7 80,0
61 1 6,7 86,7
62 1 6,7 93,3
65 1 6,7 100,0
Total 15 100,0
A Tabela 10 mostra a relação entre as Partes I e II do TRIG e os
vários padrões de ajustamento ao luto. Ao analisar os escores obtidos na
combinação entre as escalas, registrou-se 7 (46,7%) respondentes no grupo
de luto prolongado. No grupo de baixo luto, tivemos 5 (33,3%) respondentes,
2 (13,3%) no grupo de luto adiado e 1 (6,7%) no grupo de luto agudo.
84
Tabela 10 - Distribuição dos respondentes, segundo grupos de reações de
luto. São Paulo, 2007
Parte I Parte II Grupo de
Reações de Luto
n. %
Baixo Baixo Baixo luto
5
33,3
Baixo Alto Luto adiado
2 13,3
Alto Alto Luto prolongado
7 46,7
Alto Baixo Luto agudo
1 6,7
Total
15
100,0
5.4 VALIDAÇÃO DO TRIG
5.4.1 Avaliação da Consistência Interna
Os coeficientes Alfa de Cronbach calculados para os oito itens da
Parte I e para os treze da Parte II do TRIG adaptados, foram de 0,787 e
0,879, respectivamente, mostrando que a consistência interna foi boa para
este estudo.
A consistência interna da Parte I do instrumento está descrita na
Tabela 11, e mostra que todas as questões são relevantes para a escala,
pois, o valor do Alfa não se modifica muito, caso alguma questão seja
retirada.
85
Tabela 11 - Consistência interna da Parte I do instrumento TRIG na língua
portuguesa, segundo coeficiente Alfa de Cronbach. São Paulo, 2007
Alfa de Cronbach Sentimentos e ações ocorridos no
momento da morte desta pessoa se o item for retirado
após a morte da pessoa foi difícil conviver com 0,720
determinadas pessoas
foi difícil trabalhar bem depois que esta pessoa 0,768
morreu
após a morte desta pessoa, eu perdi o 0,734
interesse na família, amigos e atividades fora
de casa
senti grande necessidade de fazer coisas que 0,843
a pessoa que morreu tinha vontade de fazer
após a morte desta pessoa, fiquei irritado mais 0,710
do que de costume sem motivo
não consegui dar conta das minhas atividades 0,784
de rotina nos primeiros 3 meses após a morte
da pessoa
fiquei bravo porque a pessoa que morreu me 0,729
abandonou
foi difícil dormir depois que esta pessoa
morreu 0,778
Alfa total 0,787
A consistência interna da Parte II do instrumento está descrita na
Tabela 12. Todas as questões mostraram-se relevantes para a escala, pois
o valor do coeficiente Alfa, também, não se alterou muito ao se retirar
alguma questão.
86
Tabela 12 - Consistência interna da Parte II do instrumento TRIG na língua
portuguesa, segundo coeficiente Alfa de Cronbach. São Paulo, 2007
Alfa de Cronbach Sentimentos em relação à
morte desta pessoa, atualmente se o item for retirado
ainda choro quando penso na pessoa que morreu 0,870
ainda fico triste quando penso na pessoa que morreu 0,873
não consigo aceitar a morte desta pessoa 0,880
às vezes sinto muita falta da pessoa que morreu 0,880
ainda hoje é doloroso relembrar a pessoa que morreu 0,877
estou preocupado de tanto que penso na pessoa que 0,867
morreu
controlo o choro quando penso na pessoa que morreu 0,863
na minha vida, ninguém vai ocupar o lugar da pessoa 0,884
que morreu
não consigo parar de pensar na pessoa que morreu 0,865
acho injusto que esta pessoa tenha morrido 0,873
pessoas e coisas ao meu redor ainda me fazem 0,861
lembrar da pessoa que morreu
sou incapaz de aceitar a morte desta pessoa 0,852
às vezes, ainda sinto vontade de chorar pela 0,858
pessoa que morreu
Alfa total 0,879
5.4.2 Avaliação da Validade Discriminante
Na validação discriminante foi feita a comparação das médias das
escalas, segundo as questões 3, 4 e 5 da Parte III do TRIG,
respectivamente, e, também, em relação ao tipo de morte (Tabelas 13 a 16).
Como pode ser observado na Tabela 13, os familiares que referiram
ser verdadeira a afirmação de que “fazem as coisas tão bem quanto antes
da morte da pessoa”, apresentaram médias menores na Parte II do TRIG,
87
com valores de 47,4 e 55,4 (p=0,040) e próximo à significância estatística na
Parte I com médias de 23,0 e 31,0 (p=0,072).
Não houve diferença significativa entre as médias do IDATE-E
(p=0,383).
Tabela 13 - Escores médios das escalas, segundo resposta dada à questão
3 da Parte III do questionário. São Paulo, 2007
Escala
faço coisas tão bem
quanto antes da morte
da pessoa
n. média (dp) p*
TRIG – Parte I verdadeiro 8 23,0 (5,8) 0,072
falso 7 31,0 (6,7)
TRIG – Parte II verdadeiro 8 47,4 (7,1) 0,040
falso 7 55,4 (10,3)
IDATE-E verdadeiro 7 44,4 (5,7) 0,383
falso 7 41,6 (3,6)
* teste de Mann-Whitney
Na Tabela 14, os familiares que referiram ser verdadeira a afirmação
de que “ficam chateados todo ano na mesma época da morte da pessoa”,
tiveram médias maiores na Parte I do TRIG com valores de 29,7 e 18,5
(p=0,003) e médias semelhantes entre os grupos na Parte II do TRIG. No
IDATE-E apresentaram médias entre 44,1 e 39,0 (p=0,038).
88
Tabela 14 - Escores médios das escalas, segundo resposta dada à questão
4 da Parte III do questionário. São Paulo, 2007
Escala
fico chateado todo ano,
na mesma época da
morte desta pessoa
n. média (dp) p*
TRIG – Parte I verdadeiro 11 29,7 (5,8) 0,003
falso 4 18,5 (3,1)
TRIG – Parte II verdadeiro 11 53,6 (7,7) 0,226
falso 4 44,5 (11,6)
IDATE-E verdadeiro 11 44,1 (4,9) 0,038
falso 3 39,0 (1,0)
* teste de Mann-Whitney
As médias do TRIG, tanto da Parte I quanto da Parte II, foram
semelhantes entre os grupos respectivamente (p=0,113 e p=0,456). Como
pode ser observado na Tabela 15, os familiares que referiram ser verdadeira
a afirmação de que “algumas vezes sentem ter a mesma doença da pessoa
que morreu”, tiveram médias maiores no IDATE-E, 45,2 e 39,0 (p=0,002).
Tabela 15 - Escores médios das escalas, segundo resposta dada à questão
5 da Parte III do questionário. São Paulo, 2007
Escala
algumas vezes sinto ter a
mesma doença da
pessoa que morreu
n. média (dp) p*
TRIG – Parte I verdadeiro 9 29,0 (6,2) 0,113
falso 6 23,3 (7,9)
TRIG – Parte II verdadeiro 9 53,2 (8,5) 0,456
falso 6 48,0 (10,5)
IDATE-E verdadeiro 9 45,2 (4,6) 0,002
falso 5 39,0 (1,0)
* teste de Mann-Whitney
89
A Tabela 16 apresenta a comparação das médias dos escores obtidos
nas Partes I e II, para o tipo de morte. As médias entre os grupos da Parte I
foram semelhantes (25,36 e 30,50; p=0,343). Entretanto, houve diferença
estatisticamente significativa nas médias dos escores da Parte II, quando
comparados com o tipo de morte (48,09 e 59,50; p=0,018).
Não houve diferença significativa entre as médias do IDATE-E e o tipo
de morte (p=0,456).
Tabela 16 - Escores médios das escalas, segundo o tipo de morte. São
Paulo, 2007
Escala
Tipo de morte
n. Média (dp) p*
TRIG – Parte I Esperada/lenta 11 25,36 (6,990) 0,343
Inesperada 4 30,50 (7,550)
TRIG – Parte II Esperada/lenta 11 48,09 (8,792) 0,018
Inesperada 4 59,50 (4,933)
IDATE-E Esperada/lenta 11 43,73 (5,217) 0,456
Inesperada 3 40,33 (0,577)
* teste de Mann-Whitney
5.4.3 Avaliação da Validade Concorrente
Não houve correlação estatisticamente significativa entre o IDATE-E e
a Parte I do TRIG (r=0,15; p=0,615), ou entre o IDATE-E e a Parte II do
TRIG (r=0,13; p=0,648). Também não se obteve correlação estatisticamente
significativa entre a Parte I do TRIG e o tempo de morte (r= -0,13; p= 0,635)
e entre a Parte II do TRIG e o tempo de morte (r= -0,03; p= 0,917).
90
5.5 DESCRIÇÃO DOS COMENTÁRIOS LIVRES DOS
PARTICIPANTES
Juntamente com alguns questionários devolvidos devidamente
preenchidos, houve pais que fizeram comentários livres no espaço
reservado para esta finalidade. Apesar de não ter sido objetivo do estudo,
incluímos os comentários livres dos pais, pela riqueza que os relatos
fornecem aos profissionais da saúde.
Comentário 1
Pais de TSC, do sexo feminino, procedente de Minas Gerais. Em
fevereiro de 2000, a criança teve o diagnóstico de sarcoma cervical e foi a
óbito em julho de 2000, com 5 anos. Relato da mãe:
“Ainda hoje, depois de tanto tempo sem minha filha, sinto muita
saudade e não a esqueço em nenhum momento sequer, e daria tudo para
tê-la de volta. Mas, como isso não é possível, rezo para esse anjo, que com
certeza é o mais lindo do céu.”
Relato do pai:
“Nos primeiros meses foi muito difícil, e agora, depois de tanto tempo,
às vezes ainda sinto muita saudade da minha filha.”
Comentário 2
Pais de RHL, sexo feminino, procedente de São Paulo. Com
diagnóstico de glioblastoma multiforme em novembro de 2000, o óbito da
91
criança ocorreu em maio de 2001, quando estava com 12 anos de idade. A
mãe fez o seguinte comentário:
“Tenho muito medo de perder mais alguém da minha família com esta
doença. Consegui superar um pouco a morte de minha filha, para proteger
meus outros filhos. Isso me deu força para continuar a viver, embora ela era
a minha caçula. Foi muito difícil, mas estou vivendo.”
Seu pai diz:
“Eu agradeço a Deus por ter me dado força para aceitar todas as
coisas. Posso todas as coisas Naquele que me fortalece.”
Comentário 3
Pais de TPB, sexo masculino, de São Paulo. A criança teve o
diagnóstico de leucemia linfóide aguda em dezembro de 1999 e foi a óbito
em janeiro de 2000, com 3 anos. Relato da mãe:
“Só espero que nunca mais tenha que passar por uma experiência
como esta, de ver a pessoa que a gente mais ama em cima de uma cama e
não poder fazer nada para ajudar.”
O pai devolveu o questionário em branco, sem fazer comentários.
Comentário 4
Mãe de JBO, sexo feminino, procedente de Pirituba (São Paulo). A
criança recebeu o diagnóstico de sarcoma de Ewing em agosto de 1998 e o
óbito ocorreu em março de 2000, com 14 anos de idade. Ela diz:
92
“Ela era a minha caçula, minha companheira, minha amiga e minha
vida. Quando ela morreu, eu também morri um pouco. Mas, guardo boas e
inesquecíveis recordações.”
Comentário 5
Mãe de MLJ, sexo masculino, de São Paulo. O paciente teve o
diagnóstico de teratoma testicular misto em fevereiro de 2001 e o óbito foi
em junho de 2001, aos 18 anos. A mãe informou que o pai faleceu depois da
morte do filho e diz:
“Fiquei muito feliz com a procura de vocês. Apesar de tanto tempo,
quero poder contribuir na pesquisa de vocês, pois, acho muito importante
poder ajudar as pessoas através do meu depoimento.”
Outras justificativas
Alguns pais que devolveram os questionários em branco, também
manifestaram seu pesar pela perda do filho, através de uma cartinha
contendo a justificativa pela ausência da sua participação no estudo. Merece
destaque os depoimentos de:
Justificativa 1
Pais de MGS, sexo masculino, procedente de Minas Gerais. A criança
teve o diagnóstico de leucemia mielóide crônica em junho de 2000 e foi a
óbito em abril de 2001, aos 3 anos de idade:
93
“Desculpe, mas nós ainda não temos condições de responder. Dói
muito só de lembrar o passado, nem gosto de falar neste assunto. Mas peço
desculpa, fomos muito bem atendidos, não posso reclamar....
Justificativa 2
Pais de RRC, sexo feminino, de São Paulo. Criança com diagnóstico
de neuroblastoma em novembro de 1998, foi a óbito em maio de 2000, aos 3
anos e meio:
“Hoje se passaram 7 anos sem a minha filha, mas a dor que sinto é
como se ela tivesse morrido hoje. Não consigo esquecê-la um só momento.”
94
DISCUSSÃO
95
6 DISCUSSÃO
Sofrer a perda de uma pessoa significativa é um evento estressante
que permanece para sempre na vida das pessoas.
Os objetivos desse trabalho foram traduzir e validar o questionário
Texas Revised Inventory of Grief”, que avalia a intensidade de luto
associado à perda de um ente amado ao longo do tempo. Esse trabalho
justifica-se pelo fato de o luto ser uma vivência humana universal e estar
associado com diversas reações emocionais e com um risco elevado para o
aparecimento de morbidade psicológica e de mortalidade (LI et al. 2003;
STROEBE et al. 2005). Além disso, o luto é um assunto que vem sendo
estudado em diversos países do mundo e, no Brasil, até onde sabemos,
nenhum instrumento de medida de luto foi traduzido e validado para ser
utilizado na população de brasileiros, em especial, para aqueles que
perderam um filho por câncer.
A perda de um filho é um evento trágico e ilógico para os pais que, em
sua maioria, acreditam que os filhos irão testemunhar as suas mortes, e não
que ocorra o contrário (POSTOVSKY e BEN ARUSH 2004).
A vivência de um pai ou mãe que perde um filho tem sido referida na
literatura como a mais difícil e intensa de todas as experiências de luto, esta
perda é considerada a mais catastrófica com que um ser humano pode se
deparar (SANDERS 1993; RUBIN e MARTINSON 2001; LI et al. 2003,
KREICBERGS et al. 2004b). Os pais sentem que perderam a razão de viver,
a sua identidade, reduzindo sua juventude, seus valores, sua beleza, seu
96
desejo sexual à imagem de serem os pais de uma criança que teve câncer e
que morreu (OPPENHEIM 2004).
Na maioria das culturas é difícil aceitar a morte de um filho, pois este é
um evento oposto à ordem natural da vida, que interrompe a continuidade do
ciclo da vida. Apesar disso, pouco é conhecido a respeito do impacto real
causado pela morte, o período de tempo que é necessário para adaptar-se à
vida sem aquela pessoa, e que variáveis influenciam o resultado alcançado.
Diante destas questões, o processo de validação e adaptação trans-
cultural de um instrumento de medida de luto para o português, torna-se um
aspecto de grande relevância, uma vez que pode proporcionar novas
diretrizes e abordagens nos programas de cuidados paliativos realizados em
nosso meio. É fundamental ressaltar que o cuidado ao enlutado precisa ser
iniciado durante o período de cuidados paliativos e estendido após a morte
da criança, como parte integrante do plano de cuidados paliativos
interdisciplinar (KISSANE et al. 2006).
Para o presente estudo, um dos primeiros desafios foi encontrar um
instrumento de medida do luto, pela falta de uma abordagem padrão para
avaliação do luto e pela complexidade das reações emocionais que estão
associadas com a perda de um ente significativo. Optamos pela utilização do
TRIG por contemplar requisitos essenciais para um bom instrumento de
avaliação do luto, que pudesse ser aplicado na população brasileira de
enlutados. Além de ser um questionário que apresenta propriedades
psicométricas adequadas, o TRIG é um instrumento de medida amplamente
utilizado por diversos investigadores, com adaptação e validação para
97
diversos idiomas, como o inglês (FASCHINGBAUER et al. 1977, 1987), o
espanhol (GRABOWSKI e FRANTZ 1993), o francês (PAULHAN e
BOURGEOIS 1995) e o castelhano (GARCIA-GARCIA et al. 2005).
A utilização de um instrumento não implica simplesmente realizar a
tradução literal das palavras, mas requer o conhecimento da cultura do país
onde se pretende utilizar esse instrumento. MANEESRIWONGUL e DIXON
(2004) relataram que para estudos nos quais são utilizadas medidas
quantitativas, é necessário traduzi-las para a língua em que será utilizada.
Os valores refletidos em um instrumento e o significado dos constructos
podem variar de uma cultura para outra. Dessa forma, a qualidade da
tradução e da validação dos instrumentos são fatores essenciais na
obtenção dos resultados.
A cultura é um aspecto crucial no contexto da morte e luto. Ao longo
das diversas etapas do processo de tradução e adaptação transcultural,
ocorreram reuniões de consenso entre as tradutoras, com grande
preocupação em relação às diferenças culturais que envolvem esse tema, e
a adequação das traduções ao modo brasileiro de utilizar a língua
portuguesa (SHIMODA 2005).
Em um estudo como esse, é primordial considerar os padrões culturais
da população estudada para o enfrentamento da morte. Por exemplo, os
hispânicos vêem a morte como um evento inevitável. No entanto, eles
esperam morrer em uma idade avançada, em casa, cercados de amigos e
familiares, após terem visto seus filhos e netos crescerem (MCGOLDRICK et
al. 1998). Qualquer outra morte, como uma morte súbita ou traumática, ou
98
que aconteça fora do ciclo da vida, é muito mais difícil de aceitar. No
entanto, é esperado que entre as diversas culturas, o luto após a perda de
um filho seja mais intenso e duradouro do que outros tipos de perda.
De forma semelhante aos hispânicos, a herança cultural do brasileiro
também carrega a dificuldade de aceitar algumas mortes que são
particularmente estigmatizadas ou traumáticas, como é o caso da morte de
uma criança. Existe ainda uma grande dificuldade de se falar sobre a morte
que, em geral, é um acontecimento que está associado a fracasso, derrota e
o fim de tudo. Invariavelmente, quando somos estimulados a dizer algo
sobre nossa relação com a morte, a tendência é fugirmos, negarmos ou
subestimarmos o assunto. Essa é uma forma de expressão do medo não
assumido, um mecanismo de defesa do ego para não nos confrontarmos
com a fraqueza humana. Todos esses medos são transmitidos aos nossos
descendentes e, assim, vai se perpetuando de geração para geração.
No presente estudo, procuramos em todas as etapas, respeitar as
crenças e os valores da população brasileira, bem como a maneira desse
grupo lidar com as conseqüências emocionais da morte.
GRABOWSKI e FRANTZ (1993) estudaram as vivências culturais da
intensidade de luto entre grupos de indivíduos Latinos e Anglo-saxões, que
tinham vivenciado a morte de um parente, amigo ou um conhecido. Os
resultados revelaram que os Latinos que vivenciaram uma morte repentina e
inesperada tiveram uma intensidade de luto significativamente maior que os
outros grupos, ou seja, quando comparados aos Latinos que vivenciaram
99
uma morte esperada e aos Anglo-saxões, que vivenciaram tanto uma morte
esperada quanto uma inesperada.
Em relação ao estudo atual, na reunião de consenso ocorrida entre as
tradutoras e o painel de juízes, as adequações em relação às diferenças
semânticas, idiomáticas e conceituais foram feitas tendo como base o
significado que a cultura brasileira atribui à morte quando comparadas com a
Americana, especialmente, considerando que se trata da morte de um filho.
Vale ressaltar que o questionário original foi validado em uma população de
viúvos (as) norte-americanos e, nesse estudo, a aplicação foi em pais
enlutados após a perda de um filho.
As contingências e a complexidade que envolve a natureza das
experiências associadas ao luto, também, foram consideradas, como o
enfoque multidimensional que dificulta uma definição mais precisa do que é
um “luto normal”, o tempo de duração do luto e as nossas limitações pelos
poucos estudos que temos nessa área. Estas questões contextuais têm um
papel importante nas discussões teóricas a respeito da natureza do luto,
mas elas não estão refletidas nas estratégias de avaliação.
Segundo ROSENBLATT (1993) há, na diversidade existente entre as
culturas humanas, semelhanças impressionantes no contexto do luto.
Baseados em dados de estudos etnográficos e das teorias da emoção, os
pesquisadores concluíram que durante o processo de luto, as pessoas de
diversas culturas vivenciam sentimentos de tristeza e desânimo, e que, em
algum nível, todos os humanos ficam de luto após a perda de um ente
amado (STROEBE e STROEBE 1993). No entanto, as culturas diferem
100
consideravelmente nos significados atribuídos à perda, na natureza do luto e
em relação à sua expressão. Essas diferenças fundamentais aumentam a
complexidade através da qual nós devemos compreender a resposta de luto
que pode confundir a avaliação.
Todos os esforços psicométricos, realizados para compensar esta
desigualdade e para calcular a validade da generalização dos instrumentos
através das culturas, podem ser compensadores, na medida em que o
instrumento vem preencher lacunas que vislumbrem melhor reconhecimento
do processo de luto, pelos profissionais da saúde.
De acordo com HANSSON et al. (1993), os instrumentos de avaliação,
para serem úteis através das culturas, devem ser sensíveis para a
variabilidade transcultural e explorar uma variedade suficiente do fenômeno
para ressaltar a vivência individual do luto. Dessa forma, os relatos de
pesquisas que são publicados precisam indicar claramente o grau de
diversidade individual, ao invés de simplesmente enfatizar os valores
principais.
Este estudo é o primeiro no Brasil, a fazer a tradução e a validação de
um questionário de avaliação do luto, com aplicação em indivíduos que
perderam um filho menor de 19 anos, devido ao câncer. O modelo usado
para a adaptação transcultural do TRIG, foi o proposto por GUILLEMIN et al.
(1993) e BEATON et al. (2000).
Na etapa de equivalência conceitual e de itens, constatou-se que os
itens são pertinentes ao contexto cultural brasileiro. Procurou-se modificar o
mínimo possível a estrutura do questionário e, apesar de algumas
101
modificações, acredita-se que as alterações não prejudiquem o instrumento
adaptado quando comparado com o original.
No final do processo de avaliação semântica obteve-se uma primeira
versão em português do instrumento de medida de luto. A adaptação do
questionário ao português não apresentou problemas e todas as adaptações
foram devidamente incorporadas na versão final em português.
Outro grande desafio encontrado durante a realização desse estudo
foi em relação à forma que seria utilizada para coletar os dados. Baseado
em estudos anteriores (KREICBERGS et al. 2004a; MEERT et al. 2001),
optamos por coletar os dados através de questionário que foi enviado aos
pais enlutados, via correio.
Em nossa casuística, a aplicação desse questionário, enviado via
correio, abordando a morte de um filho devido ao câncer, pôde ser percebida
como positiva. Neste estudo que foi realizado vários anos após a morte da
criança, obtivemos os dados de que todos os participantes acharam que a
pesquisa foi válida e 78,6% relataram que foram afetados positivamente pela
participação. Somente 1 indivíduo sentiu-se afetado negativamente, mas,
mesmo assim, achou a pesquisa válida.
A partir dos nossos resultados e em conformidade com outros
existentes na literatura, parece viável e eticamente apropriado conduzir
investigações relacionadas com questões tão delicadas, utilizando uma
forma estruturada de abordá-las, até mesmo quando se trata da perda de
um filho. A aplicação do questionário emitido através do correio demonstrou
102
não ser prejudicial, mas, esse enfoque pode ter implicado taxas de respostas
mais baixas.
Embora tenha sido feito um cálculo de tamanho da amostra de 14 pais
enlutados, foram convidados para participar do estudo de validade do
instrumento, todos os pais de crianças e adolescentes que tiveram o
diagnóstico de câncer, e que morreram entre 2000 e 2002, antes de
completarem 19 anos. Dos 118 pais que foram localizados, conseguiu-se
analisar os dados de 15, o que corresponde a 12,7% da população do
estudo.
O tamanho da amostra ficou dentro do esperado e os objetivos foram
atingidos, mas é importante relatar as dificuldades encontradas ao se
realizar uma pesquisa deste tipo. Mesmo através de contatos telefônicos,
como uma tentativa de resgatar mais alguns participantes, não se obteve
sucesso.
A partir da nossa experiência clínica e da literatura, observamos que a
perda de um filho é um evento devastador, que afeta os pais de diversas
maneiras, tanto em curto como em longo prazo. A exemplo dos relatos de
pais que nos devolveram os questionários em branco, pudemos perceber a
presença de intenso sofrimento emocional, mesmo após tantos anos
decorridos da perda do filho.
É esperado que o pesar, para um pai e uma mãe que se depara com a
perda do filho, permaneça por toda a vida, e que o processo de luto nesses
casos seja prolongado. Porém, muitas variáveis individuais estão envolvidas
e influenciando o processo da morte e do luto. Por exemplo, a extensão com
103
que essa morte afeta as emoções, as atividades e os relacionamentos é
individual, assim como é o tempo que poderá levar para esses pais se
adaptarem ao mundo sem a presença do filho. Podemos inferir que a
sobrecarga emocional decorrente do estresse da perda do filho, também,
seja o caso de outros pais que não participaram. No entanto, outras
variáveis de ordem prática podem estar associadas às de ordem emocional
e, juntas, terem contribuído para a ausência de resposta de grande parte da
população elegível para esse estudo.
Uma das hipóteses é que, em nossa cultura, não é hábito utilizar
questionários postais, como uma alternativa para entrevistas pessoais
envolvendo assuntos sensíveis, em especial, a respeito da morte de um
filho.
Outra poderia estar associada às diversas variáveis sócio-culturais que
integram a realidade de nosso País, onde as pessoas enfrentam muitas
dificuldades no dia a dia, dentre as quais estão: a carga horária estendida de
trabalho externo dos pais, os cuidados aos filhos, as inúmeras tarefas do lar,
são fatores que ocupam tempo integral, podendo não restar um tempo livre
para a leitura, preenchimento e envio do questionário.
As baixas taxas de respostas podem ainda estar associadas com a
falta de um acompanhamento aos pais em situação de luto, como uma
extensão dos cuidados paliativos e pela ausência da manutenção de um
cadastro atualizado dos serviços hospitalares. Em todos os prontuários
analisados, o óbito da criança foi o último registro que encontramos e, em
nenhum deles havia registro sobre atendimentos de suporte aos pais
104
enlutados, ou referentes à evolução do processo de luto, ou mesmo de
atualização cadastral.
Em relação aos participantes deste estudo, a maior parte foi composta
por mães (73,3%), enquanto a participação dos pais correspondeu a 20,0%.
Tivemos também a inclusão de uma guardiã (irmã), que não era mãe
biológica da criança, mas era a cuidadora principal. Por causa do pequeno
número de pais, a comparação dos resultados na avaliação do luto entre
mães e pais, não pôde ser feita.
Quando se compara a amostra de pais desse estudo com os dados de
literatura, verifica-se que em todos eles, o número de mães participantes é
sempre maior do que o de pais (MEERT et al. 2001; SEECHARAN et al.
2004; KREICBERGS et al. 2004a).
Este fato, provavelmente, está relacionado ao papel materno, que é o
de nutrir, é quem conhece e satisfaz as necessidades emocionais da família
e quem facilita a comunicação entre os seus membros. As mães são as
cuidadoras primárias do filho doente (DAVIES et al. 1998), como também,
são elas que estão, freqüentemente, em contato direto com a equipe, seja
acompanhando o paciente nas consultas ambulatoriais, nos exames de
avaliação ou durante as internações hospitalares.
KURASHIMA (2007) avaliou 70 pacientes em cuidados paliativos de
final de vida, e observou que a mãe foi a principal cuidadora domiciliar na
maior parte dos casos estudados (84,3%). O pai ou outros membros da
família foram a minoria, em relação aos cuidados prestados ao paciente.
Nesta oportunidade, as mães relataram ser este momento o mais doloroso
105
de suas vidas já que pela ordem natural, pais não deveriam sobreviver aos
filhos. Além de seu próprio pesar, elas sofrem pelos seus filhos doentes e
também por aqueles que estão ao seu redor.
Em um estudo exploratório transcultural foram investigadas as
experiências das mães de cinco países diferentes (Canadá, Estados Unidos,
Suécia, Grécia e Hong Kong), cujos filhos tinham morrido de câncer,
recentemente (DAVIES et al. 1998). Essas mães foram as cuidadoras
primárias dos filhos durante a trajetória da doença, e os achados indicaram
mais semelhanças que diferenças nas reações subjetivas das mães ao
diagnóstico, na administração do cuidado em fim de vida, e em relação aos
desafios da capacidade de enfrentamento do luto. Suas preocupações
individuais foram bastante semelhantes diante da iminência de morte do filho
e a maioria sentiu que recebeu suporte da equipe profissional, em sua
decisão de cuidar da criança em casa ou no hospital.
O pai, em geral, desempenha o papel de protetor e provedor. Ele pode
estar envolvido nos cuidados prestados ao filho, mas, a intensidade com que
ele assume esses cuidados difere consideravelmente, talvez, em função de
questões culturais que são atribuídas ao papel paterno.
Considerando que as crianças com câncer avançado vivenciam alta
prevalência de sintomas durante o último mês da vida (WOLFE et al. 2000a;
KURASHIMA 2007), e estando diante da ameaça de perdê-la, se o pai até
este momento ainda não estiver engajado nos cuidados do filho, dificilmente,
ele conseguirá participar nesse momento crítico. Tivemos casos em que o
pai estava completamente isolado do filho e de sua esposa, dizendo que
106
estava sofrendo muito, mas, não conseguia reverter a situação e participar
dos cuidados físicos e emocionais do filho.
Os pais, embora presentes na situação, referem sentir-se inseguros
para cuidar do filho e frustrados por não conseguirem proteger o filho do
sofrimento. O acompanhamento psicológico como rotina, em um grupo de
cuidados paliativos, possibilitou a integração de diversos pais que se
encontravam nessa situação. Muitos deles foram encorajados a ficarem mais
próximos dos filhos, para que conversassem com eles abertamente sobre
suas emoções, reforçando sempre o amor que sentiam por eles. Há pais que
precisaram ser treinados, pelos membros da equipe multidisciplinar, para
aprenderem a manipular os equipamentos que os filhos utilizavam a fim de
abrir um espaço para eles ficarem mais unidos aos seus filhos.
Apesar da maioria das crianças com câncer avançado vivenciar um
sofrimento substancial decorrente da dor e de outros sintomas causados
pela doença (WOLFE et al. 2000a), muitas vezes, não requer que elas sejam
hospitalizadas, ficando a cargo da família grande parte dos cuidados.
Segundo STILLION e PAPADATOU (2002) em muitas culturas é comum que
o cuidado da pessoa que está morrendo seja percebido como um assunto
principalmente da família.
No entanto, ainda há uma enorme carência de programas destinados
exclusivamente para atender as necessidades da criança e do adolescente
que é cuidado em domicílio, bem como de sua família. Esta falta de estrutura
para o atendimento domiciliar que, infelizmente, ainda é presente na nossa
realidade, pode aumentar ainda mais a exaustão e a sensação de
107
isolamento do cuidador, cujo papel é na maior parte das vezes, atribuído à
mulher.
Assim, uma integração mais ativa do pai desde a fase inicial dos
cuidados paliativos é essencial para que ele seja envolvido em todo o
processo e compartilhe as dimensões do cuidar. Além disso, o envolvimento
conjunto de pais e mães possibilita que eles vivenciem, junto ao filho, a
totalidade dos sentimentos suscitados num momento crítico e único em suas
vidas. WHITTAM (1993) mencionou que todos os aspectos desse período,
tanto os bons como os ruins, provavelmente, serão lembrados para sempre
pelos pais e poderão afetar a intensidade das suas reações de luto.
Portanto, levando em conta as dimensões que envolvem cuidar de um
filho com uma doença grave e ameaçadora, o número reduzido da
participação de pais nos diversos estudos é um alerta para nós profissionais,
que precisamos ser sensíveis ao seu sofrimento e entendermos melhor o
seu modo de expressá-lo.
O desenvolvimento de estudos nessa área, especialmente envolvendo
os pais, pode ser um ponto de partida para explorarmos melhor as suas
reações diante do fato de ter um filho com câncer, assim como, de
planejarmos estratégias para que se tenha um número maior e mais
representativo de pais enlutados, em pesquisas futuras na área de oncologia
pediátrica.
Em nosso estudo, os dados obtidos na Parte I da escala, ou seja,
perto da época do falecimento do filho, a maioria dos pais referiu que não
108
conseguiu trabalhar bem (60,0%), não deu conta das atividades de rotina
(60,0%) e sentiram dificuldade para dormir bem (86,6%).
O ajustamento à perda de um filho é, freqüentemente, a tarefa mais
difícil com a qual os pais podem se deparar. A dor do luto pode causar um
isolamento temporário dos pais, que se afastam para um mundo solitário, no
qual eles possam gradualmente reconhecer a perda. No entanto, diversos
fatores podem interferir na maneira como os pais expressam e vivenciam o
luto agudo.
Ao se confrontar com a morte do filho, a mãe fica imobilizada no luto e
incapaz de funcionar como o centro emocional de sua família. Durante um
período, prevalecem os sentimentos de intensa tristeza e dor, prejudicando
sua concentração e a habilidade para desempenhar até as tarefas mais
simples. Já o pai, freqüentemente, pensa que o mínimo que ele pode fazer é
permanecer “forte” e no controle. Ele pode, inclusive, sentir a necessidade
de ajudar outros membros da família a enfrentarem o luto. No entanto, essa
atitude poderá resultar em um adiamento do seu luto e desencadear um
sentimento de raiva excessiva, com o aparecimento de reações explosivas
diante de eventos sem importância. Os meios que eles freqüentemente
utilizam para escapar das dores do luto podem ser o envolvimento excessivo
com o trabalho, ou com o uso de álcool ou droga.
De acordo com publicação do Texas Children Hospital (2000), quando
a criança morre, os pais passam a ver o mundo como frágil e hostil. Eles
perdem sua identidade como protetores e provedores, podendo chegar a
questionar seus papéis como pais.
109
A expressão desses sentimentos e emoções é necessária para aliviar
as dores do indivíduo enlutado. Muitas vezes, os pais podem tentar proteger-
se e, assim, não expressar entre si o seu próprio luto pela perda do filho.
Acreditamos que o acompanhamento psicológico oferecido aos pais
na fase de luto poderá facilitar a expressão de suas emoções e do seu
sofrimento ante a perda do filho, e ser útil para que eles utilizem estratégias
de enfrentamento que contribuam para a sua adaptação. Encontrar um
sistema de suporte irá auxiliar o processo de ajustamento à perda, que
encoraje ativamente a expressão do luto e conserve as lembranças do filho,
em um momento reservado para refletir com tranqüilidade.
Utilizando-se da análise dos resultados obtidos na Parte II do TRIG,
podemos destacar que os sentimentos atuais expressos pelos pais,
demonstram que eles ainda têm forte conexão com o filho que morreu,
mesmo após 5 a 7anos transcorridos do óbito. De acordo com a população
avaliada no presente estudo, 86,7% disseram que o seu relacionamento com
o filho que morreu foi o mais forte que já teve.
Este é um fato observado com freqüência em nossa prática clínica,
cujos pais sentem satisfação em realizar tarefas ou desafios que os
mantenham conectados de alguma forma com seu filho falecido.
O sentimento de estar conectado com o filho falecido é um fenômeno
comum em muitas culturas. KLASS e WALTER (2001) enfatizam a
importância da pessoa enlutada em continuar o vínculo com o falecido, e
que essa conexão não deve estar associada com medidas de mal-
ajustamento. A continuação do elo parece ter algum significado positivo, não
110
pela perda em si, mas, pelas conseqüências da perda, que é um elemento
impressionante na história pessoal de pais enlutados, e isto poderá contribuir
para a sua cura pessoal.
Como parte do seguimento dos cuidados paliativos pediátricos
prestados aos pais enlutados, pudemos perceber em diversos atendimentos
psicológicos, o quanto os pais encontram forças, através das lições deixadas
pelo filho. Nesses atendimentos, alguns pais descreveram que os filhos,
eram resignados e que eles aceitavam as adversidades impostas pela
doença. Uma pessoa descreveu que a filha era muito procurada pelos
amigos e que ela estava sempre preocupada em ajudar os outros. Há ainda,
os que relataram estar retomando suas funções, por ser este o desejo do
filho. Dessa forma, o círculo de representações do filho que morreu provê
normas comportamentais para os pais, e os colocam em contato com o que
seu filho tinha de melhor. Sendo assim, apesar de o filho ter morrido, ele
continua a exercer um impacto por muito tempo após sua morte e a
determinar a vida da família.
Uma maneira significativa dos pais manterem a conexão é falar sobre
o filho que morreu. Isto pode ser particularmente importante, quando partes
da vida do falecido são desconhecidas para o enlutado, como os casos de
pais que perdem um filho jovem, deixando a sua identidade incompleta.
Dentro desta perspectiva, o luto pode, portanto, incluir a tentativa dos pais
de completarem a identidade do filho que morreu, ao escreverem “o último
capítulo de sua biografia”.
111
Através da utilização do TRIG, foi possível conhecer um pouco mais
sobre os comportamentos dos pais imediatos à morte e os resultados mais
tardios. Nossos dados mostraram que todos os pais estiveram presentes no
funeral do filho. A propósito, o comparecimento aos rituais de funerais é uma
expressão social comum do luto na cultura Latina (GRABOWSKI e FRANTZ
1993). No momento da morte, no velório e durante o enterro, espera-se que
todos expressem seu sofrimento e as fortes emoções decorrentes da perda.
Porém, após o enterro, a expectativa é de que as pessoas sejam fortes e
aceitem a morte. Por exemplo, na nossa cultura é comum as pessoas
falarem “não chore e seja forte, porque a pessoa que morreu foi para uma
vida melhor”.
A cultura é parte essencial no contexto do luto e, assim, é impossível
separar o luto de um indivíduo, daquilo que a sua cultura requer de um
enlutado. Segundo ROSENBLATT (1993), existe uma grande variedade de
expressões apropriadas de luto entre as culturas, sendo, portanto, relevante
conceituar o luto como uma série de respostas, cada qual expressando
sentimentos autênticos de luto quando sustentada pela legitimidade do
contexto cultural.
Outros dados que obtivemos, no presente estudo, foi que a maioria
dos pais (53,3%) que participou do estudo, sente que atualmente faz as
coisas tão bem quanto antes da morte do filho. No entanto, um dado
relevante é que 73,3% dos participantes referem que ficam “chateados” todo
ano, na mesma época da morte do filho. Esse resultado nos sugere que o
luto é, de fato, um processo dinâmico e que o pesar pela perda de um filho
112
permanece ao longo de toda vida. Esses achados vão ao encontro de dados
de outros pesquisadores, que relatam que os pais não se restabelecem da
perda, e sim, aprendem a se ajustar e integrar a perda em suas vidas
(RUBIN 1993, RUBIN e MALKINSON 2001; HIMELSTEIN et al. 2004;
OPPENHEIM 2004). Dessa forma, parece que os pais aprendem a
“acomodar” a perda de seu filho, em oposição à recuperação da perda.
Para entendermos melhor essa dinâmica, STROEBE e SCHUT (2001)
enfatizam que o enlutado irá, repetidamente, confrontar aspectos da perda e,
gradualmente, irá focar nas tarefas e exigências atuais. Através desse
processo de oscilação eles estão, provavelmente, vivenciando mudanças na
intensidade de suas reações ao luto. A diminuição da intensidade permite
que eles integrem melhor a perda em suas vidas, como também mantenham
o funcionamento diário. Com algumas exceções, a maioria dos pais irá
descobrir que as ondas de sentimentos intensos, pensamentos ou sintomas
somáticos, gradualmente, diminuem em intensidade e freqüência, ao longo
do tempo.
Na população avaliada no presente estudo, os dados demonstraram
que 46,7% apresentaram reações de luto prolongado após 6,0 a 7,6 anos
transcorridos desde a morte do filho. Mesmo a morte tendo sido esperada
para a maioria das crianças, não obtivemos diferença significativa na
intensidade de luto inicial entre os óbitos que eram esperados e os
inesperados.
Embora as observações do presente estudo indiquem que os pais
apresentaram alta intensidade de luto no momento presente, é difícil
113
determinar a diferença entre uma “reação normal de luto”, de um luto adiado,
prolongado, ou até mesmo, de um luto complicado. Isto em razão de ser
esperado que o luto após a perda de um filho seja mais intenso e duradouro
do que em outros tipos de perda.
A morte de um filho é uma das experiências mais dolorosas com que
um pai ou mãe pode se deparar. Muitos fatores podem influenciar essa
vivência dos pais, ressaltando que as circunstâncias em que a morte ocorre
são consideradas como um dos fatores de maior impacto, como, por
exemplo: se foi repentina ou mais lenta e esperada (SEECHARAN et al.
2004; MEERT et al. 2001), se estavam presentes ou ausentes no momento
da morte, se o filho morreu no hospital ou em domicílio, e se a morte foi
percebida como tendo ocorrido sem dor e em paz, ou se foi difícil (BREYER
et al. 2006).
A morte devido ao câncer é freqüentemente previsível, o que dá à
família a oportunidade de dedicar-se à vivência do luto antecipatório.
Durante o período em que a morte é esperada, alguns pais são capazes de
confrontar emoções fortes associadas com a consciência da iminência de
morte de seu filho, enquanto desempenham muitas outras
responsabilidades, tais como cuidar dos outros filhos e do trabalho. Relatos
de pesquisas clínicas sugerem que existem alguns efeitos positivos que
estão associados com a oportunidade de vivenciar o luto antecipatório
(SANDERS 1993; GRABOWSKI e FRANTZ 1993; PARKES 1998).
Em estudo realizado com adultos, GRABOWSKI e FRANTZ (1993)
relataram que quando a morte é inesperada desencadeia reações de luto
114
mais intensas, enquanto que, quando é esperada, o luto pode ser menos
intenso, dependendo da extensão em que os enlutados estão engajados no
luto antecipatório. Dessa forma, o papel do luto antecipatório poderia ser o
de mediar a intensidade de luto, mas, os resultados em relação a isso ainda
são controversos.
Existem diversos fatores culturais da família e da unidade médica, que
podem influenciar a revelação e o processamento da informação a respeito
da iminência da perda e, portanto, determinar a natureza e o curso do luto
antecipatório (CHOCHINOV et al. 1998).
É importante ressaltar que a responsabilidade de uma equipe de
cuidados paliativos não se restringe ao paciente, mas se estende também à
família. Quando há bom nível de comunicação entre o paciente, família e
equipe, e esta, por sua vez, mantém o foco no controle de sintomas, os pais
poderão adquirir maior consciência da iminência da morte do filho e ficarem
mais engajados no processo de luto antecipatório. Durante esta fase, o
atendimento da equipe pode ter um efeito positivo, na medida em que pode
representar uma fonte de suporte emocional, através do acolhimento do seu
sofrimento.
Tem sido crescente o número de publicações enfatizando que o
suporte psicológico oferecido ao longo dos cuidados paliativos e,
principalmente, durante o período de cuidados terminais e após a morte da
criança, facilita a resolução do luto dos pais ao longo do tempo
(KREICBERGS et al. 2007). Ressaltam que ao se dar a oportunidade para
os pais discutirem a condição do filho e dividirem a sobrecarga emocional
115
desencadeada pela iminência de sua perda, isso poderá facilitar o processo
de luto em longo prazo.
Há diversos fatores que podem exacerbar ou atenuar essa vivência e
que precisam ser bem conhecidos pela equipe. Isso é possível através do
acompanhamento psicológico oferecido aos pais em situação de luto, que
inclui a realização de uma avaliação psicossocial que forneça dados sobre:
as características do indivíduo, inserido em um contexto familiar e cultural;
os mecanismos de enfrentamento que estão sendo utilizados para lidar com
o estresse de perder um filho; e a rede de suporte disponível. Inclui também
a utilização de um instrumento de medida do luto que forneça um perfil das
reações do enlutado, que possa auxiliar o psicólogo na identificação dos
indivíduos sob risco de um luto complicado.
As intervenções psicológicas devem ser direcionadas de acordo com a
necessidade do enlutado, a fim de ajudá-lo a enfrentar a situação utilizando
estratégias que conduzam a resultados mais adaptativos, especialmente aos
de alto risco.
Há enlutado que encontra dentro de si e ao seu redor, o suporte que
precisa, assim como, os recursos necessários para reorganizar sua vida
após a morte do filho. Porém, não há um caminho único e correto, ou um
limite de tempo para transformar a perda em lembrança e uma história com
significado.
Em relação à segunda fase desse estudo, em que foi realizada a
validação do TRIG, as suas propriedades psicométricas foram verificadas
pela consistência interna, validade discriminante e concorrente.
116
A avaliação da consistência interna apresentou bons valores para as
Partes I e II do instrumento adaptado, com coeficientes Alfa de Cronbach
entre 0,787 e 0,879, respectivamente. Ao se comparar as pontuações de
ambas as Partes do TRIG adaptado para o português, com o estudo original
(0,77 e 0,86) e com a versão adaptada para o castelhano (0,75 e 0,86)
verificou-se que os resultados são semelhantes (FASCHINGBAUER et al.
1987; GARCIA-GARCIA et al. 2005). Esses dados nos permitem dizer que
todas as questões mostraram-se relevantes para o questionário adaptado.
Discutindo a validade discriminante, foi realizada a comparação de
médias das escalas que avaliam o luto na Parte I (momentos próximos ao
falecimento) e na Parte II (momento presente), segundo fatos relacionados
ao falecimento e entre as escalas e o tipo de morte (esperada ou
inesperada).
Na validação discriminante, ao se comparar as respostas dos pais cuja
criança teve morte esperada com aquelas cuja morte foi inesperada, o
instrumento foi capaz de discriminar entre o grupo da Parte I e o grupo da
Parte II (25,36 vs 30,50 e 48,09 vs 59,50, respectivamente).
A comparação foi estatisticamente significativa em relação à Parte II
(sentimentos do presente), indicando que o luto dos pais está declinando
ligeiramente ao longo do tempo. Este resultado coincide com o encontrado
por FASCHINGBAUER et al. (1987).
Em nossa casuística, o instrumento selecionado mostrou-se adequado
ao que se propõe e foi capaz de discriminar o comportamento do enlutado
nos momentos próximos ao falecimento e em relação ao momento atual.
117
De uma maneira geral, os resultados alcançados nesse trabalho
demonstraram que o questionário TRIG na língua portuguesa foi bem aceito
no nosso meio. A avaliação do processo de tradução e adaptação
transcultural foi de certa forma, feita pelos participantes que leram e
responderam ao questionário, sem referir algum tipo de dificuldade quanto
ao entendimento dos itens, o que justifica um resultado positivo do processo.
Os autores que traduziram o TRIG para o espanhol (GRABOWSKI e
FRANTZ 1993), francês (PAULHAN e BOURGEOIS 1995) e castelhano
(GARCIA-GARCIA et al. 2005), não relataram dificuldades em sua tradução
e adaptação cultural.
Nossos dados podem ser um ponto de partida para o entendimento da
vivência da perda de um filho. Existem ainda pouquíssimos estudos
brasileiros com pais enlutados e, mesmo entre os que existem na literatura
internacional, foram percebidas limitações metodológicas que restringe a
interpretação dos resultados e não nos permite tirar conclusões seguras.
Uma das discussões existentes é que o processo de luto oscila
através do tempo e, em razão disto, as estratégias de validação de um
instrumento de luto, em geral, incluem uma avaliação que verifica se a
natureza e a intensidade dos sintomas estão variando de acordo com o
esperado ao longo do tempo. Nesse sentido, a avaliação da confiabilidade
do instrumento através do teste-reteste, torna-se problemática por ser
esperado que os níveis de sintomas se alterem ao longo do tempo.
Outras questões que podem confundir a avaliação do luto estão
relacionadas às diferenças individuais e culturais. Além disso, muitos dos
118
sintomas centrais na vivência do luto são constructos psicológicos, tais
como, estresse, depressão, ou estão amplamente associados com a idade,
falta de suporte social, disposição para solidão, entre outras, levantando
preocupações em relação à validade discriminante (HANSSON et al. 1993).
Além das preocupações metodológicas, à medida que se expandem
os conhecimentos a respeito da perda e do luto, novos desafios vão
surgindo para os pesquisadores. Porém, as pesquisas em busca de novos
conhecimentos a respeito do luto devem utilizar instrumentos adequados
para a sua avaliação, acompanhados da tradução e adaptação cultural antes
de serem disponibilizados. É importante considerar, ainda, que os achados
de pesquisa não sejam generalizados para outras populações, e que os
resultados encontrados em grupo não sejam extrapolados para o contexto
individual. As comparações transculturais são necessárias para esclarecer
as influências culturais e estabelecer as características populacionais.
De todas as experiências humanas, a morte de um filho é o evento
que causa os efeitos psicológicos mais dolorosos e desafios difíceis de
serem atingidos para os pais e outros membros de uma família. Isto sinaliza
a necessidade, para nós, profissionais da saúde, de darmos mais atenção e
integrarmos a assistência física e psicológica como parte do cuidado às
crianças com câncer e às suas famílias.
Além disso, em trabalhos futuros seria de interesse avaliar o impacto
que a morte de uma criança por câncer, causa na saúde mental de seu
irmão sadio. Eles podem sofrer efeitos prolongados de ajustamento
119
psicossocial e vivenciar perdas adicionais em função do processo de luto
dos pais.
Para ajudarmos os membros de uma família a lidar com a perda de
uma criança é preciso que sejamos cautelosos para não confundirmos
padrões comuns de pais e famílias enlutadas como sendo uma “estrutura
padrão”, nem assumirmos que respostas atípicas são “patológicas”. Requer
um entendimento de suas tradições culturais, de seus valores e crenças, da
diversidade que há entre as organizações familiares, dos estilos de
enfrentamento e dos padrões de comunicação.
Nós, profissionais, não somos capazes de impedir a morte ou
trazermos a pessoa amada de volta, mas podemos ajudar as famílias a lutar
para enfrentar os desafios adaptativos do processo de luto, na tentativa de
reduzir riscos de morbidade física e psicológica, de fortalecer vínculos, de
reestruturar percepções negativas, enfim de ajudar os pais a se ajustarem e
a encontrarem um sentido para a vida e para a morte.
120
CONCLUSÕES
121
7 CONCLUSÕES
1. A tradução e a adaptação cultural do TRIG foram realizadas com
sucesso. Dentre os participantes, não houve qualquer citação
relacionada à dificuldade referente ao preenchimento do questionário.
2. O questionário apresentou uma boa consistência interna nas Partes I
e II do TRIG, com coeficientes Alfa de Cronbach de 0,787 e 0,879,
respectivamente.
3. Confirmou-se que o TRIG é um instrumento capaz de discriminar os
sentimentos e ações do enlutado nos momentos próximos ao
falecimento e no momento presente.
122
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
123
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Beardsmore S, Fitzmaurice N. Palliative care in paediatric oncology. Eur J
Câncer 2002; 38:1900-7.
Beaton DE, Bombardier C, Guillemin F, Ferraz MB. Guidelines for the
process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine 2000;
25:3186-91.
Biaggio AMB, Natalício L. Manual para o Inventário de Ansiedade Traço-
Estado (IDATE). Rio de Janeiro: Centro de Psicologia Aplicada; 1979.
Bowlby J. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes; 1 Apego; 1993a.
Bowlby J. Apego e perda. São Paulo: Martins Fontes; Perda; 1993b.
Brasil. Ministério da Educação e do Desporto-MEC.Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legislacao.nsf/
fraWeb?OpenFrameSet&Frame=frmWeb2&Src=%2Flegislacao.nsf%2FViw_I
dentificacao%2Flei%25209.394-1996%3FOpenDocument%26AutoFramed>
[20 dez. 2006].
Breyer J, Sanfeliz A, Cieurzo CE, Meyer EA. Loss and grief. In: Brown RT,
editor. Comprehensive handbook of childhood cancer and sickle cell
disease: a biopsychosocial approach. Oxford: Oxford University Press;
2006. p.358-380.
Cook P. Supporting sick children and their families. 2
nd
ed. Edinburgh:
Baillière Tindall; 2000. Difference mechanisms and coping strategies; p.11-
26.
124
Chochinov HM, Holland JC, Katz LY. Bereavement: a special issue in
oncology. In: Holland JC, editor. Psychooncology. New York: Oxford
University Press; 1998. p.1016-32.
Curnick S, Harris A. The dying child. In: Langton H, editor. The child with
cancer. Edinburg: Baillière Tindal; 2000. p.355-85.
Davies B, DeVeau E, DeVeber B, Martinson IM, Papadatou D, Pask E, et al.
Experiences of mothers in five countries whose child died of cancer. Cancer
Nurs 1998; 21:301-11.
Davies B, Attig T, Towne M. Bereavement. In: Goldman A, Hain R, Liben S,
editors. Oxford textbook of palliative care for children. Oxford: Oxford
University Press; 2006. p.193-203.
de Camargo B. Sobrevida e mortalidade da criança e adolescente com
câncer: 25 anos de experiência em uma instituição brasileira. São Paulo
2003. [Tese de Livre-Docência-Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo].
de Camargo B, Kurashima AY. Considerações em oncologia pediátrica. In:
de Camargo B, Kurashima AY, editores. Cuidados paliativos em oncologia
pediátrica: o cuidar além do curar. São Paulo: Lemar; 2007. p.25-37.
Dominica SF. After the child’s death: family care. In: Goldman A, Hain R,
Liben S, editors. Oxford textbook of palliative care for children. Oxford:
Oxford University Press; 2006. p.179-92.
Faschingbauer T, DeVaul RA, Zisook S. Development of the Texas inventory
of grief. Am J Psychiatry 1977; 134:696-8.
125
Faschingbauer TR. The Texas revised inventory of grief manual. Houston:
Honeycomb Publishing; 1981.
Faschingbauer T, DeVaul RA, Zisook S. The Texas Revised Inventory of
Grief. In: Zisook S, editor. Biopsychosocial aspects of bereavement.
Washington DC: American Psychiatric Press; 1987. p.111-24.
Felder-Puig R, di Gallo A, Waldenmair M, Gadner H, Topf R. The TCCS- A
short measure to evaluate treatment-related coping and compliance in
hospitalized childhood cancer patients and their primary caregivers. Support
Care Cancer 2004; 12:41-7.
Freud S. Duelo y melancolia. 3ª ed. Trad. de Luis Lopez-Ballesteros y de
Torres. Madrid, Espanha: Editorial Biblioteca Nueva; 1973. p.2091-100.
(Obras Completas, tomo II (1905-1915 [1917]).
Garcia-Garcia JA, Landa Petralanda V, Trigueros Manzano MC, Gaminde
Inda I. [Inventory of experiences in grief (IEG): adaptation to Spanish,
reliability and validity]. Aten Primaria 2001; 27:86-93.
Garcia-Garcia JA, Landa V, Manzano MCT, Inda IG. Inventario Texas
Revisado de Duelo (ITRD): adaptación al castellano, fiabilidad y validez.
Aten Primaria 2005; 35:353-8.
Given BA, Given CW, Kozachik S. Family support in advanced cancer. CA
Cancer J Clin 2001; 51:213-31.
Grabowski JA, Frantz TT. Latinos and anglos: cultural experiences of grief
intensity. Omega 1992-93; 26:273-85.
126
Guillemin F, Bombardier C, Beaton D. Cross-cultural adaptation of health-
related quality of life measures: literature review and proposed guidelines. J
Clin Epidemiol 1993; 12:1417-32.
Hansson RO, Carpenter BN, Fairchild SK. Measurement issues in
bereavement. In: Stroebe MS, Stroebe W, Hansson RO, editors. Handbook
of bereavement: theory, research, and intervention. 8
th
ed. Cambridge:
Cambridge University Press; 1993. p.62-74.
Harding R. The impact of diagnosis. In: Langton H, editor. The child with
cancer. Edinburg: Baillière Tindall; 2000. p.37-77.
Hilden JM, Watterson J, Chrastek J. The art of oncology: when the tumor is
not the target: tell the children. J Clin Oncol 2000; 18:3193-3195.
Himelstein BP, Hilden JM, Boldt AM, et al. Pediatric palliative care. N Engl J
Med 2004; 350:1752-62.
Hinds PS, Schum L, Baker JN, Wolfe J. Key factors affecting dying children
and their families. J Palliat Med 2005; 8:S70-8.
Houaiss A, Villar MS, Mello Franco FM. Dicionário da língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Editora Objetiva; 2001. Guardião; p.1493.
Houtzager BA, Grootenhuis MA, Last B. Adjustment of siblings to childhood
cancer: a literature review. Support Care Cancer 1999; 7:302-320.
Houtzager BA, Oort FJ, Hoekstra-Weebers JEHM, et al. Coping and family
functioning predict longitudinal psychological adaptation of siblings of
childhood cancer patients. J Pediatr Psychol 2004; 29:591-605.
127
Houtzager BA, Grootenhuis MA, Hoekstra-Weebers JEHM, Last BF. One
month after diagnosis: quality of life, coping and previous functioning in
siblings of children with cancer. Child Care Health Dev 2005; 31:75-87.
James L, Johnson B. The needs of parents of pediatric oncology patients
during the palliative care phase. J Pediatr Oncol Nurs 1997; 14:83-95.
Jordan JR, Baker J, Matteis M, Rosenthal S, Ware ES. Family loss project:
the grief evaluation measure (GEM): an initial validation study. Death Study
2005; 29:301-32.
Keegan-Wells D, James K, Stewart JL, et al. The care of my child with
cancer: a new instrument to measure caregiving demand in parents of
children with cancer. J Pediatr Nurs 2002; 17:201-10.
Kissane DW, McKenzie M, Bloch S, Moskowitz C, McKenzie D, O’Neill I.
Family focused grief therapy: a randomized, controlled trial in palliative care
and bereavement. Am J Psychiatry 2006; 163:1208-18.
Klass D, Walter T. Processes of grieving: how bonds are continued. In:
Stroebe MS, Hansson RO, Stroebe W, Schut H, editors. Handbook of
bereavement research: consequences, coping, and care. 4
th
ed.
Washington DC: American Psychological Association; 2001. p.431-48.
Kreicbergs U, Valdimarsdóttir U, Steineck G, Henter JI. A population-based
nationwide study of parents perceptions of a questionnaire on their child´s
death due to cancer. Lancet 2004a; 364:787-89.
Kreicbergs U, Valdimarsdottir U, Onelov E, Henter JI, Steineck G. Anxiety
and depression in parents 4-9 years after the loss of a child owing to a
malignancy: a population-based follow-up. Psychol Med 2004b; 34:1431-41.
128
Kreicbergs U, Valdimarsdottir U, Onelov E, Henter JI, Steineck G. Talking
about death with children who have severe malignant disease. N Engl J Med
2004c; 351:1175-86.
Kreicbergs U, Valdimarsdottir U, Onelov E, Bjork O, Steineck G, Henter JI.
Care-related distress: a nationwide study of parents who lost their child to
cancer. J Clin Oncol 2005; 23:9162-71.
Kreicbergs UC, Lannen P, Onelov E, Wolfe J. Parental grief after losing a
child to cancer: impact of professional and social support on long-term
outcomes. J Clin Oncol 2007; 25:3307-12.
Kreitler S, Krivoy E. Psychological intervention with the dying child. In:
Kreitler S, Weyl Ben Arush M, editors. Psychosocial aspects of pediatric
oncology. New York: John Wiley & Sons; 2004. p.389-414.
Kübler-Ross E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Ed. Universidade de
São Paulo; 1977. Trad. T L Kipnis.
Kurashima AY. Pacientes pediátricos oncológicos fora de possibilidades
terapêuticas curativas: avaliação de sintomas, depressão, fadiga e
qualidade de vida. São Paulo; 2007. [Tese de Doutorado-Fundação Antônio
Prudente].
Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal, and coping. New York:
Springer; 1984.
Lederberg MS. The family of the cancer patient. In: Holland JC, editor.
Psychooncology. New York: Oxford University Press; 1998. p.981-93.
129
Levi F, La Vecchia C, Lucchini F, Negri E, Boyle P. Patterns of childhood
cancer incidence and mortality in Europe. Eur J Cancer 1992; 28A:2028-49.
Levi F, La Vecchia C, Lucchini F, Negri E, Boyle P. Patterns of childhood
cancer mortality: America, Asia, Oceania. Eur J Cancer 1995; 31:771-82.
Li J, Precht DH, Mortensen PB, Olsen J. Mortality in parents after death of a
child in Denmark: a nationwide follow-up study. Lancet 2003; 361:363-67.
Liben S, Papadatou D, Wolfe J. Paediatric palliative care: challenges and
emerging ideas. Lancet 2007 Aug 15 [Epub ahead of print]
Little J. Epidemiology of childhood cancer. Lyon: IARC; 1999.
Introduction; p.1-9. (IARC Scientific Publications nº 149).
Mack JW, Hilden JM, Watterson J, et al. Parent and physician perspectives
on quality of care at the end of life in children with cancer. J Clin Oncol
2005; 23:9155-61.
Maneesriwongul W, Dixon JK. Instrument translation process: a methods
review. J Adv Nurs 2004; 48:175-86.
Marsden HB. The classification of childhood cancer. In: Parkin DM, Stiller
CA, Draper GJ, Bieber CA, Terracini B, Young JL, editors. International
incidence of childhood cancer. Lyon: IARC; 1988. p.9-16. (IARC Scientific
Publications no. 87)
Masera G, Spinetta JJ, Jankovic M, et al. Guidelines for assistance to
terminally ill children with cancer: a report of the SIOP Working Committee on
psychosocial issues in pediatric oncology. Med Pediatr Oncol 1999; 32:44-
8.
130
McGoldrick M, Almeida R, Hines PM, Rosen E, Garcia-Preto N, Lee E. O luto
em diferentes culturas. In: Walsh F, McGoldrick M, editors. Morte na família:
sobrevivendo às perdas. Porto Alegre: ArtMed; 1998. p.199-228. Trad. de:
C Ol Dornelles.
Meert KL, Thurston CS, Thomas R. Parental coping and bereavement
outcome after the death of a child in the pediatric intensive care unit. Pediatr
Crit Care Med 2001; 2:324-8.
Meitar D. The family of the child with cancer. In: Kreitler S, Weyl Ben Arush
M, editors. Psychosocial aspects of pediatric oncology. New York: John
Wiley & Sons; 2004. p.229-46.
Miller S. Quando uma criança morre. Trad. de C Lopes. São Paulo: Arx;
2002.
Ministério da Saúde. Funasa-CENEPI. Sistema de Informações sobre
mortalidade-SIM. 1999. Disponível em:
<URL:http://datasus.gov.brcgi/tabcgi.exe? IDB2000/c07.def>. [2001 Ago 20].
Neimeyer RA, Hogan NS. Quantitative or qualitative? Measurement issues in
the study of grief. In: Stroebe MS, Hansson RO, Stroebe W, Schut H, editors.
Handbook of bereavement research: consequences, coping, and care.
4
th
ed. Washington DC: American Psychological Association; 2001. p.89-118.
Noll RB, Kazak AE. Psychosocial care. In: Altman AJ, editor. Supportive
care of children with cancer: current therapy and Guidelines from
Children’s Oncology Group. 3
rd
ed. Baltimore: The Johns Hopkins
University Press; 2004. p.337-53.
131
Oppenheim D. The child´s subjective experience of cancer and the
relationship with parents and caregivers. In: Kreitler S, Weyl Ben Arush M,
editors. Psychosocial aspects of pediatric oncology. New York: John
Wiley & Sons; 2004. p.111-38.
Parkes CM. Bereavement as a psychosocial transition: Processes of
adaptation to change. In: Stroebe MS, Stroebe W, Hansson RO, editors.
Handbook of bereavement: theory, research, and intervention. 8
th
ed.
Cambridge: Cambridge University Press; 1993. p.91-101.
Parkes CM. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. Trad de Maria
Helena Franco Bromberg. São Paulo: Summus, 1998.
Paulhan I, Bourgeois M. [The TRIG (Texas Revised Inventory of Grief)
questionnaire. French translation and validation]. Encephale 1995; 21:257-
62.
Phipps S, Long A, Hudson M, Rai SN. Symptoms of post-traumatic stress in
children with cancer and their parents: effects of informant and time from
diagnosis. Pediatr Blood Cancer 2005; 45:952-59.
Postovsky S, Ben Arush MW. Care of a child dying of cancer. In: Kreitler S,
Weyl Ben Arush M, editors. Psychosocial aspects of pediatric oncology.
New York: John Wiley & Sons; 2004. p.93-107.
Prigerson HG, Maciejewski PK, Reynolds III CF, et al. Inventory of
Complicated grief: a scale to measure maladaptive symptoms of loss.
Psychiatr Res 1995; 59:65-79.
Ries LAG, Smith MA, Gurney JG, et al. Cancer incidence and survival
among children and adolescents: United States SEER Program:1975-95.
Bethesda: National Cancer Institute; 1999.
132
Rolland JS. Doença crônica e o ciclo da vida familiar. In: Carter B,
McGoldrick M, editores. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma
estrutura para a terapia familiar. Trad. de M A V Veronese. 2ª ed. Porto
Alegre: Artes Médicas; 1995. p.373-92.
Romano BW. A família e o adoecer. Rev Soc Cardio Estado de São Paulo
1997; 5:58-62.
Rosenblatt PC. Grief: the social context of private feelings. In: Stroebe MS,
Stroebe W, Hansson RO, editors. Handbook of bereavement: theory,
research, and intervention. 8
th
ed. Cambridge: Cambridge University Press;
1993. p.102-111.
Rubin SS. The death of a child is forever: The life course impact of child loss.
In: Stroebe MS, Stroebe W, Hansson RO, editors. Handbook of
bereavement: theory, research, and intervention. 8
th
ed. Cambridge:
Cambridge University Press; 1993. p.285-99.
Rubin SS, Malkinson R. Parental response to child loss across the life cycle:
clinical and research perspectives. In: Stroebe MS, Hansson RO, Stroebe W,
Schut H, editors. Handbook of bereavement research: consequences,
coping, and care. 4
th
ed. Washington DC: American Psychological
Association; 2001. p.219-40.
Russo C, Wong AF. The bereaved parent. J Clin Oncol 2005; 23:8109-11.
Sanders CM. Risk factors in bereavement outcome. In: Stroebe MS, Stroebe
W, Hansson RO, editors. Handbook of bereavement: theory, research,
and intervention. 8
th
ed. Cambridge: Cambridge University Press; 1993.
p.255-70.
133
Seecharan GA, Andresen EM, Norris K, Toce SS. Parents' assessment of
quality of care and grief following a child's death. Arch Pediatr Adolesc Med
2004; 158:515-20.
Shimoda S. Qualidade de vida dos sobreviventes do câncer pediátrico
em uma instituição brasileira. São Paulo; 2005. [Dissertação de Mestrado-
Fundação Antônio Prudente].
Shuchter SR, Zisook S. The course of normal grief. In: Stroebe MS, Stroebe
W, Hansson RO, editors. Handbook of bereavement: theory, research,
and intervention. 8
th
ed. Cambridge: Cambridge University Press; 1993.
p.23-43.
Siegel K, Raveis VH, Houts P, et al. Caregiver burden and unmet patient
needs. Cancer 1991; 68:1131-40.
Spielberger CD, Gorush RL, Lushene P. Manual for the state-trait anxiety
inventory. Palo Alto: Consulting Psychologists Press; 1970.
Spinetta JJ, Jankovic M, Eden T, et al. Guidelines for assistance to siblings
of children with cancer: report of the SIOP Working Committee on
Psychosocial issues in pediatric oncology. Med Pediatr Oncol 1999; 33:395-
8.
Smith MA, Ries LAG. Childhood cancer: incidence, survival, and mortality. In:
Pizzo PA, Poplack DG, editors. Principles and practice of pediatric
oncology. 4
th
ed. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2002. p.1-12.
Stevens MM. Care of the dying child and adolescent: family adjustment and
support. In: Doyle OBE D, Hanks G, I Cherny N, Calman K, editors. Oxford
textbook of palliative medicine. 3
rd
ed. Oxford: Oxford University Press;
2004. p.806-22.
134
Stillion JM, Papadatou D. Suffer the children: an examination of psychosocial
issue in children and adolescent with terminal illness. Am Behav Sci 2002;
46:299-315.
Streiner DL, Norman GR. Health measurement scales. A practical guide
to their development and use. 3
rd
ed. Oxford: Oxford University Press;
2003.
Stroebe MS, Stroebe W. The mortality of bereavement: a review. In: Stroebe
MS, Stroebe W, Hansson RO, editors. Handbook of bereavement: theory,
research, and intervention. 8
th
ed. Cambridge: Cambridge University Press;
1993. p.175-95.
Stroebe MS, Schut H. The dual process of coping with bereavement:
rationale and description. Death Studies 1999; 23:197-224.
Stroebe MS, Schut H. Models of coping with bereavement: a review. In:
Stroebe MS, Hansson RO, Stroebe W, Schut H, editors. Handbook of
bereavement research: consequences, coping, and care. 4
th
ed.
Washington DC: American Psychological Association; 2001. p.375-404.
Stroebe M, Schut H, Stroebe W. Attachment in coping with bereavement: a
theoretical integration. Rev Gen Psychol 2005; 1:48-66.
Texas Children Hospital. Endo-of-life care for children. Houston: Texas
Children Hospital; 2000. Psychological care of the family at the time of death;
p.65-80.
Townley M, Welton S. Coping mechanisms. In: Langton H, editor. The child
with cancer. Edinburgh: Baillière Tindall; 2000. p.179-209.
135
Walsh F, McGoldrick M. Morte na família: sobrevivendo às perdas. Trad.
Cláudia Oliveira Dornelles. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
Weiss RS. Loss and recovery. In: Stroebe MS, Stroebe W, Hansson RO,
editors. Handbook of bereavement: theory, research, and intervention.
8
th
ed. Cambridge: Cambridge University Press; 1993. p. 271-284.
Weiss RS. Grief, bonds, and relationships. In: Stroebe MS, Hansson RO,
Stroebe W, Schut H, editors. Handbook of bereavement research:
Consequences, coping, and care. 4
th
ed. Washington DC: American
Psychological Association; 2001. p.47-62.
Whittam EH. Terminal care of the dying child: Psychosocial implications of
care. Cancer 1993; 71(10 Suppl):3450-62.
Wild D, Grove A, Martin M, et al. Principles of good practice for the
translation and cultural adaptation process for patient-reported outcomes
(PRO) measures: report of the ISPOR task force for translation and cultural
adaptation. ISTOR TCA Task Force 2005; 2:94-104.
Wolfe J, Grier HE, Klar N, Levin SB, Ellenbogen JM, Salem-Schatz S,
Emanuel EJ, Weeks JC. Symptoms and suffering at the end of life in children
with cancer. N Engl J Med. 2000a; 342:326-33.
Wolfe J, Klar N, Grier HE, et al. Understanding of prognosis among parents
of children who died of cancer: impact on treatment goals and integration of
palliative care. JAMA 2000b; 284:2469-2475.
Wolfe J, Tournay A, Zeltzer LR. Palliative care for children with advanced
cancer. In: Kreitler S, Weyl Ben Arush M, editors. Psychosocial aspects of
pediatric oncology. New York: John Wiley & Sons; 2004. p.45-70.
136
Wolfe L. Discussing death with a dying child. Ca Cancer J Clin 2005; 55:2-3.
Worden JW. Terapia do luto: um manual para o profissional de saúde
mental. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998.
Yates P. Family coping: Issues and challenges for cancer nursing. Cancer
Nurs 1999; 22:63-71.
Young JL, Ries LG, Silverberg E, Horm JW, Miller RW. Cancer incidence,
survival, and mortality for children younger than 15 years. Cancer 1986;
58:598-602.
ANEXOS
Anexo 1 - TEXAS REVISED INVENTORY OF GRIEF (TRIG)
FASCHINGBAUER et al. (1977, 1987)
PART I: PAST BEHAVIOR
Think back to the time this person died and answer all of these items about your
feelings and actions at that time by indicating whether each item is Completely True,
Mostly True, Both True and False, Mostly False, or Completely False as it applied to
you after this person died. Check the best answer.
1. After this person died I found it hard to get along with certain people.
2. I found it hard to work well after this person died.
3. After this person's death I lost interest in my family, friends, and outside
activities.
4. I felt a need to do things that the deceased had wanted to do.
5. I was unusually irritable after this person died.
6. I couldn't keep up with my normal activities for the first 3 months after this
person died.
7. I was angry that the person who died left me.
8. I found it hard to sleep after this person died.
USE THE FOLLOWING RESPONSE CATEGORIES FOR SCALES ABOVE.
a. Completely true
b. Mostly true
c. Neutral
d. Mostly false
e. Completely false
PART II: PRESENT EMOTIONAL FEELINGS
Now answer all of the following items by checking how you presently feel about this
person's death. Do not look back at Part I.
1. I still cry when I think of the person who died.
2. I still get upset when I think about the person who died.
3. I cannot accept this person's death.
4. Sometimes I very much miss the person who died.
5. Even now it's painful to recall memories of the person who died.
6. I am preoccupied with thoughts (often think) about the person who died.
7. I hide my tears when I think about the person who died.
8. No one will ever take the place in my life of the person who died
9. I can't avoid thinking about the person who died
10. I feel it's unfair that this person died.
11. Things and people around me still remind me of the person who died.
12. I am unable to accept the death of the person who died.
13. At times I still feel the need to cry for the person who died.
USE THE FOLLOWING RESPONSE CATEGORIES FOR SCALES ABOVE.
a. Completely true
b. Mostly true
c. Neutral
d. Mostly false
e. Completely false
Anexo 2 - Carta de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital
A.C. Camargo
Anexo 3 – Autorização do autor para adaptação do TRIG em português
Anexo 4 - Inventário Texas Revisado de Luto
PARTE I: COMPORTAMENTO PASSADO
Pense no momento em que esta pessoa morreu e responda a todos
os itens sobre seus sentimentos e ações ocorridos naquele período,
conforme se aplica a você depois da morte desta pessoa. Escolha a melhor
resposta, colocando um X na letra correspondente.
A= Completamente verdadeiro D= Mais falso que verdadeiro
B= Mais verdadeiro que falso E= Completamente falso
C= Nem verdadeiro nem falso
1. Depois da morte desta pessoa foi difícil conviver com determinadas
pessoas.
2. Foi difícil trabalhar bem depois que esta pessoa morreu.
3. Depois da morte desta pessoa, eu perdi o interesse na minha família,
amigos e atividades fora de casa.
4. Senti grande necessidade de fazer coisas que a pessoa que morreu tinha
vontade de fazer.
5. Depois que esta pessoa morreu, fiquei irritado(a) mais do que de
costume sem motivo.
B C D EA
C D EA
C D EA
B C D EA
B C D EA
B
B
6. Eu não consegui dar conta das minhas atividades de rotina nos primeiros
três meses depois da morte desta pessoa.
7. Fiquei bravo(a) porque a pessoa que morreu me abandonou.
8. Foi difícil dormir depois que esta pessoa morreu.
B C D EA
B C D EA
B C D EA
PARTE II: SENTIMENTOS DO PRESENTE
A partir de agora, responda os itens a seguir, colocando um X na
letra correspondente. Considere como você se sente em relação à morte
desta pessoa, atualmente. Por favor, não olhe as respostas que você deu na
Parte I.
A= Completamente verdadeiro D= Mais falso que verdadeiro
B= Mais verdadeiro que falso E= Completamente falso
C= Nem verdadeiro nem falso
1. Ainda choro quando penso na pessoa que morreu.
2. Ainda fico triste quando penso na pessoa que morreu.
3. Não consigo aceitar a morte desta pessoa.
4. Às vezes sinto muita falta da pessoa que morreu.
5. Ainda hoje é doloroso relembrar da pessoa que morreu.
6. Estou preocupado(a) de tanto que eu penso na pessoa que morreu.
7. Controlo o choro quando penso na pessoa que morreu.
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
8. Na minha vida, ninguém vai ocupar o lugar da pessoa que morreu.
9. Não consigo parar de pensar na pessoa que morreu.
10. Acho injusto que esta pessoa tenha morrido.
11. Pessoas e coisas ao meu redor ainda me fazem lembrar da pessoa que
morreu.
12. Sou incapaz de aceitar a morte desta pessoa.
13. Às vezes, ainda sinto vontade de chorar pela pessoa que morreu.
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
B C D EA
Anexo 5 - Inventário de Ansiedade Traço-Estado – IDATE-E
SPIELBERGER et al. (1970) - adaptado por BIAGGIO e NATALÍCIO (1979)
Leia cada pergunta e faça um círculo em redor do número à direita
que melhor indicar como você se sente agora, neste momento. Não gaste
muito tempo numa única afirmação, mas tente dar a resposta que mais se
aproxime de como você se sente neste momento.
AVALIAÇÃO
Muitíssimo...........4 Um pouco..........................2
Bastante..............3 Absolutamente não...........1
Item Descrição
1 Sinto-me calmo(a) 1 2 3 4
2 Sinto-me seguro(a) 1 2 3 4
3 Estou tenso(a) 1 2 3 4
4 Estou arrependido(a) 1 2 3 4
5 Sinto-me à vontade 1 2 3 4
6 Sinto-me perturbado(a) 1 2 3 4
7 Estou preocupado(a) com possíveis infortúnios 1 2 3 4
8 Sinto-me descansado(a) 1 2 3 4
9 Sinto-me ansioso(a) 1 2 3 4
10 Sinto-me “em casa” 1 2 3 4
11 Sinto-me confiante 1 2 3 4
12 Sinto-me nervoso(a) 1 2 3 4
13 Estou agitado(a) 1 2 3 4
14 Sinto-me uma pilha de nervos 1 2 3 4
15 Estou descontraído(a) 1 2 3 4
16 Sinto-me satisfeito(a) 1 2 3 4
17 Estou preocupado(a) 1 2 3 4
18 Sinto-me superexcitado(a) e confuso(a) 1 2 3 4
19 Sinto-me alegre 1 2 3 4
20 Sinto-me bem 1 2 3 4
APÊNDICES
Apêndice 1 – Carta Convite
Apêndice 2 - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Versão 2 de 12 de março de 2007
IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA
TÍTULO DO PROJETO: TRADUÇÃO E VALIDAÇÃO DO TEXAS REVISED INVENTORY OF
GRIEF (TRIG) PARA AVALIAÇÃO DE PAIS ENLUTADOS PELA PERDA DE UM FILHO POR
CÂNCER PEDIÁTRICO
IDENTIFICAÇÃO DO PESQUISADOR RESPONSÁVEL
NOME: DRA. CÉLIA LÍDIA DA COSTA TELEFONE: 2189-5119
PROFISSÃO: PSIQUIATRA REGISTRO NO CONSELHO
CRM:75665/SP
ENDEREÇO DA INSTITUÇÃO ONDE SERÁ REALIZADA A PESQUISA (DEPARTAMENTO):
DEPARTAMENTO DE PSIQUIATRIA E PSICOLOGIA E DEPARTAMENTO DE PEDIATRIA DA
FUNDAÇÃO ANTONIO PRUDENTE- HOSPITAL A.C. CAMARGO, LOCALIZADO À RUA PROF.
ANTÔNIO PRUDENTE, 211 – SÃO PAULO-SP, CEP:01509-900
IDENTIFICAÇÃO DO SUJEITO DE PESQUISA
NOME DO PARTICIPANTE RG DO PARTICIPANTE
ENDEREÇO
TELEFONE:
Você está sendo convidado(a) para participar desta pesquisa. Este documento
contém as informações sobre esta pesquisa. É importante que você leia todo este
documento antes de assiná-lo. Após recebermos este documento assinado,
devolveremos uma cópia para que você possa guardá-lo. Você pode conversar
sobre esta pesquisa com os seus familiares e também com a pesquisadora no
telefone 2189-5119.
1. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA
A sua participação nesta pesquisa irá nos possibilitar maior aprendizado para cuidar
melhor das pessoas que vivem a mesma situação que você viveu com relação a
seu filho. Por ser um assunto normalmente difícil, pouco é conhecido sobre as
necessidades e o que poderia ser feito para ajudar as pessoas que vivem esta
situação. No Brasil, esta assistência ainda é rara e temos pouca informação sobre
como a experiência de perder um filho é vivida pelos pais. Ao fazer uma pesquisa é
possível conhecer mais sobre o assunto e com isto melhorar a assistência oferecida
à família.
Para esta pesquisa estamos utilizando o questionário Texas Revised Inventory of
Grief (TRIG) ou Inventário Texas Revisado de Luto (ITRL). Este questionário foi
desenvolvido em inglês e para ser utilizado em português é necessário um
processo de pesquisa rigoroso. Este estudo tem por objetivo verificar se este
questionário pode ser utilizado no Brasil.
2. OBJETIVO DE SUA PARTICIPAÇÃO
Ao participar deste estudo você pode contribuir para melhorar o conhecimento dos
profissionais sobre o processo de luto, e assim ajudar outros pais que perderam um
filho com câncer.
3. PROCEDIMENTOS REALIZADOS NO ESTUDO
Serão convidados a participar deste estudo 40 pais e mães que viveram a morte de
seus filhos por câncer, no período entre 2000 e 2002 e que foram acompanhados
no Departamento de Pediatria do Centro de Tratamento e Pesquisa - Hospital A. C.
Camargo. Não participarão deste estudo os indivíduos que, por qualquer razão, não
aceitarem participar ou não tiverem condições de responder aos questionários. Ao
ser selecionado, você recebeu pelo correio a carta convite e duas cópias deste
consentimento. Caso concorde em participar da pesquisa, você deve preencher e
assinar as duas cópias do consentimento e colocar no envelope já preenchido e
selado que você recebeu. Após receber esta autorização assinada, a psicóloga
Elizabeth ligará para você para confirmar o envio dos questionários. Você receberá
o questionário de luto (ITRL) e um questionário com características pessoais. Após
preencher estes questionários você deve colocar no envelope selado e mandar via
correio. O Inventário Texas Revisado de Luto (ITRL) é um questionário que contém
21 perguntas.
4. UTILIZAÇÃO DOS DADOS
Após a coleta das informações, estas serão analisadas somente para realização
deste estudo e pelas pesquisadoras. Todas as informações são confidenciais e não
serão utilizados dados que possam identificar os participantes. Esta pesquisa faz
parte de um projeto de Mestrado que está sendo realizado no Hospital A.C.
Camargo.
5. DESCONFORTOS E RISCOS
Informamos que não existirão riscos e prejuízos pela sua participação nesta
pesquisa, portanto, não está prevista qualquer forma de indenização.
6. BENEFÍCIOS DA PARTICIPAÇÃO
Você poderá ou não se beneficiar diretamente pela participação neste estudo. Os
futuros pacientes poderão se beneficiar com o que foi aprendido com os resultados
deste estudo. Estas informações poderão ajudar a equipe de saúde a aprender
mais sobre o luto dos pais/mães após a perda de um filho.
7. RESSARCIMENTO DE DESPESAS
A sua participação neste estudo não lhe trará qualquer custo adicional, pois
receberá os envelopes para envio dos questionários já com selo. Você não
receberá nenhum pagamento por participar deste estudo.
8. FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSISTÊNCIA
Visto que a sua participação neste estudo está restrita ao preenchimento de
questionários, sem risco ou danos, não será realizado nenhum tipo de
acompanhamento. Se você tiver alguma dúvida, pode entrar em contato com as
pesquisadoras por telefone.
9. LIBERDADE DE RECUSAR, DESISTIR OU RETIRAR CONSENTIMENTO
Você tem a liberdade de recusar, desistir ou de interromper a colaboração nesta
pesquisa no momento em que desejar, sem necessidade de qualquer explicação.
10. GARANTIA DE SIGILO E PRIVACIDADE
Os resultados obtidos durante este estudo serão mantidos em sigilo, mas serão
divulgados em publicações científicas sem a identificação de qualquer informação
pessoal dos participantes.
11. GARANTIA DE ESCLARECIMENTO E INFORMAÇÃO A QUALQUER
TEMPO
Você tem a garantia de ter informações, a qualquer tempo, dos procedimentos
deste estudo, bem como dos resultados desta pesquisa. Para tanto, você pode
consultar o pesquisador responsável (Dra Célia Lídia da Costa) ou o Comitê de
Ética em Pesquisa da Fundação Antonio Prudente - Hospital A. C. Camargo na
Rua Professor Antonio Prudente, 211 – Bairro Liberdade (telefone (11) 2189.5020 e
).
12. AUTORIZAÇÃO DO PACIENTE - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO
Ao assinar esta autorização você declara que:
Entendeu a finalidade deste estudo, os procedimentos a serem seguidos, e
os riscos e benefícios.
Teve a oportunidade de fazer perguntas e esclarecer as dúvidas.
Foi informado(a) sobre quem pode contatar caso tenha mais perguntas.
Entendeu que pode sair do estudo a qualquer momento.
Foi informado(a) de que receberá uma cópia assinada e datada deste termo
de consentimento livre e esclarecido.
Leu este termo de consentimento livre e esclarecido e concorda em fazer
parte desta pesquisa de forma voluntária.
PARTICIPANTE DO ESTUDO:
NOME (LETRA DE FORMA, POR
FAVOR)
ASSINATURA DATA
REPRESENTANTE LEGAL DO PACIENTE – SE APLICÁVEL
NOME (LETRA DE FORMA, POR
FAVOR)
ASSINATURA DATA
RELAÇÃO COM O PACIENTE:
TESTEMUNHA IMPARCIAL – SE APLICÁVEL
NOME (LETRA DE FORMA, POR
FAVOR)
ASSINATURA DATA
INVESTIGADOR QUE OBTEVE O CONSENTIMENTO:
NOME (LETRA DE FORMA, POR
FAVOR)
ASSINATURA DATA
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo