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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
MARCIO NERY CARDOSO
A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE
FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO
DE CASO
Salvador
2006
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MARCIO NERY CARDOSO
A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE
FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO
DE CASO
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
Profissional em Administração, Universidade Federal
da Bahia, como requisito parcial para obtenção do
grau de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade
Salvador
2006
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Escola de Administração - UFBA
C
268 Cardoso, Marcio Nery
A responsabilidade social empresarial na cadeia de
fornecedores do varejo supermercadista: um estudo de caso /
Marcio Nery Cardoso - 2006.
180 f.
Orientador: Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade.
Dissertação (mestrado profissional) – Universidade Federal
da Bahia. Escola de Administração, 2006.
1. Comércio varejista – Administração. 2. Supermercados.
3. Responsabilidade social da empresa. I. Andrade, José Célio
Silveira. II. Universidade Federal da Bahia. Escola de
Administração. III. Título.
CDD 658.87
20 ed.
TERMO DE APROVAÇÃO
MARCIO NERY CARDOSO
A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA CADEIA DE
FORNECEDORES DO VAREJO SUPERMERCADISTA: UM ESTUDO
DE CASO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Administração, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte
banca examinadora:
________________________________________________________________________
Prof. Dr. José Célio Silveira Andrade
Universidade Federal da Bahia – UFBA
Orientador
_________________________________________________
Prof. Dr. Cláudio Cardoso
Universidade Federal da Bahia – UFBA
___________________________________________________
Prof. Dr. Juracy Parente - FGV
Fundação Getúlio Vargas
Salvador, dezembro de 2006
Esta dissertação é dedicada a meu melhor amigo, meu pai e
meu mestre, Armando Cardoso, que sempre me apoiou na
realização dos meus sonhos, mesmo que isto, muitas vezes,
pudesse representar renúncias em sua própria vida. A você,
meu pai, com quem sempre aprendo algo novo a cada
amanhecer e por quem eu tenho um eterno amor e uma
profunda admiração.
A minha mãe, Dinalva, por sua ternura e seu amor infinito,
que fica sempre na retaguarda, protegendo-me com suas
orações, torcendo pelo meu sucesso e vibrando com as
minhas conquistas. Seus valores e ensinamentos conduzem
meus passos na caminhada da vida.
A minhas filhas, Bruna Maria, Maria Fernanda e Maria
Clara, luzes da minha vida, que alegram os meus dias e me
revitalizam nos momentos de cansaço. Vocês são a maior
motivação na conquista dos meus ideais.
E a minha esposa, Tânia, pela vida que construímos juntos,
pela cumplicidade que considero inigualável, pelo amor,
companheirismo e apoio incondicional a minha trajetória
acadêmica. Sou mesmo um homem de sorte por ter
encontrado você.
Com certeza, sem estas pessoas tão especiais a meu lado,
que representam um verdadeiro porto seguro, onde sempre
posso me apoiar, eu não teria chegado até aqui. Esta vitória é
tão delas quanto minha. A vocês, todo o meu amor, hoje e
sempre.
AGRADECIMENTOS
Final de mais uma etapa de crescimento pessoal e profissional. Início de outras que
certamente virão. Momento de imensa alegria, por mais uma conquista; de alívio,
pela sensação de dever cumprido, e de agradecimento, a todos aqueles que fazem
parte da minha história e que de alguma forma contribuíram para esta realização.
A Deus, fonte de toda vida, criador de todo o universo e autor da minha vida, pela
bênção de existir, pela oportunidade de crescimento e pela força para enfrentar
todos os momentos difíceis desta trajetória. A vós, toda honra e toda glória.
A meus pais, Armando e Dinalva, doutores na arte de criar filhos, por terem
acreditado que a educação é o maior bem que poderiam me deixar como herança.
Não há palavras que possam expressar a minha gratidão por tudo o que fazem para
me ajudar a vencer os obstáculos encontrados pelo caminho.
A minha esposa, Tânia, companheira de todos os desafios a que me proponho,
pelas minhas ausências de tantos e tantos finais de semana em que estive fora para
o cumprimento desta missão.
A minhas três filhas, Bruna Maria, Maria Fernanda e Maria Clara, ainda tão
pequeninas e que são minha inspiração na vida, a quem, várias vezes, deixei de
dedicar o meu tempo para entregar-me integralmente a este trabalho.
A Marcinha, minha irmã amada e muito querida, por fazer parte da minha vida, com
quem sei que sempre poderei compartilhar as minhas alegrias e os meus momentos
mais difíceis. Obrigado pela torcida e pela alegria demonstrada com minhas
conquistas.
A meus sobrinhos Larissa e Daniel, simplesmente por existirem em minha vida e
me darem tanto amor e carinho.
A minha amiga Francis, pela paciência e dedicação, expressas por inúmeras
revisões e correções efetuadas neste texto. A sua ajuda foi valiosíssima para
finalização deste trabalho. Não tenho palavras para agradecer-lhe.
A meu compadre, amigo-irmão, Diógenes, que acompanhou todo o processo e
conhece os desafios que fazem parte desta jornada; pela paciência e escuta
cuidadosa e pelo fundamental apoio. Conte sempre comigo.
Ao amigo Carlos Emanuel, pela disponibilidade e pelo incentivo que me deu, até
mesmo sem perceber, para a continuidade da minha trajetória acadêmica.
A meu orientador, professor José Célio, por suas contribuições, sua atenção e
disponibilidade no desenvolvimento desta dissertação.
Aos professores Cláudio Cardoso e Juracy Parente, membros da banca de
defesa, pela leitura deste trabalho e por seus comentários e contribuições.
A todos que compõem a equipe do Supermercado Cardoso, que souberam tocar o
barco muito bem, enquanto estive ausente para realização deste trabalho.
A Maria Alice, coordenadora do curso de Administração da Faculdade de
Tecnologia e Ciências, pela compreensão durante as vezes em que estive ausente.
A todas as empresas que se dispuseram a responder esta pesquisa e, assim,
permitiram que este trabalho se concretizasse.
Finalmente, a cada um dos meus queridos amigos, de todos os caminhos, que não
vou citar nomes pela possibilidade de um lapso de memória, que colocaram toda
energia positiva nesta intenção e que, estando próximos ou distantes, torceram para
que este momento chegasse.
A todos vocês, partes da minha vida, que ajudam a construir a minha história, o
meu MUITO OBRIGADO!
"O Mestre na arte da vida faz pouca distinção entre o
seu trabalho e o seu lazer, entre a sua mente e o seu
corpo, entre a sua educação e a sua recreação, entre
o seu amor e a sua religião. Ele dificilmente sabe
distinguir um corpo do outro. Ele simplesmente
persegue sua visão de excelência em tudo que faz,
deixando para os outros a decisão de saber se está
trabalhando ou se divertindo. Ele acha que está
sempre fazendo as duas coisas simultaneamente".
(Dalai Lama)
RESUMO
Esta pesquisa buscou conhecer o grau de envolvimento com a Responsabilidade
Social na Cadeia de Fornecedores do Varejo Supermercadista. A abordagem do
tema foi feita a partir do estudo de caso, no Supermercado Cardoso, em Jequié, na
Bahia, por meio de sua cadeia de fornecedores, dando ênfase aos fornecedores do
estado da Bahia, por representarem o maior volume de negócios da empresa. De
forma mais específica, esta dissertação buscou investigar, mediante uma análise
comparativa, a relação com a RSE entre os fornecedores baianos do Supermercado
Cardoso e de outros estados do Brasil, a partir das sete temáticas da RSE propostas
pelos indicadores Ethos de RSE: Valores e Transparência; Público Interno; Meio
Ambiente; Fornecedores; Consumidores; Comunidades; e Governo e Sociedade.
Para realizar o diagnóstico, optou-se por utilizar uma pesquisa qualiquantitativa, de
natureza descritiva e exploratória, que teve como instrumento um questionário
adaptado dos Indicadores Ethos-SEBRAE de Responsabilidade Social, que
contempla sete grandes temas da RSE, com a participação de 141 empresas de
todos os portes, segmentos e todas as regiões do País. A análise dos dados
coletados apontou que, considerando uma escala de um a quatro, a amostra da
cadeia de fornecedores encontra-se no grau três de envolvimento com o tema, o que
demonstra que as empresas pesquisadas já assimilaram os conceitos de RSE e têm
clareza dos compromissos necessários para uma atuação socialmente responsável.
Por esta pesquisa, observou-se também o envolvimento das empresas com a RSE,
segundo o porte e o segmento de atuação. Os resultados indicaram que, quanto
maior a organização, maior o seu envolvimento com a RSE. Já em relação ao
segmento de atuação (alimentos, bebidas, Hipel, não-alimentos, distribuidores e
atacadistas) não foram observadas diferenças estatisticamente significantes
relacionadas ao grau de envolvimento com a gestão socialmente responsável.
Percebeu-se também que, dentre os temas estudados, a amostra demonstrou que,
enquanto o relacionamento com os Consumidores recebeu a maior nota geral, 9,2
(numa escala de zero a 10), expressa pelas diversas ações desenvolvidas com esse
público, o relacionamento com o público Governo e Sociedade recebeu a menor
nota (6,0), demonstrando que há grande oportunidade para as empresas
desenvolverem parcerias com o poder público e com a sociedade civil organizada,
no sentido de unir forças em busca do desenvolvimento sustentável das empresas e
da sociedade. Finaliza-se este trabalho com propostas de ações estratégicas de
envolvimento com o tema RSE entre o Supermercado Cardoso e sua cadeia de
fornecedores.
Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Varejo, Supermercado,
Fornecedores.
ABSTRACT
This research aimed to find out the level of involvement of the chain of retail
supermarket suppliers with the so-called Corporate Social Responsibility. The
approach of the theme was chosen from the case study, at the Cardoso
Supermarket, in Jequié, Bahia, through its suppliers chain, emphasizing those from
the state of Bahia, due to the greatest volume of businesses they make with the
company. More specifically, this research has tried to, through a comparative
analysis, investigate the commitment of the baianos suppliers of the Cardoso
Supermarket and other states of the country with the Corporate Social Responsibility,
from the seven themes involving CSR proposed by the government statistic agency
Ethos: Values and Transparency; Internal Public; Environment; Suppliers;
Consumers; Communities; Government and Society. In order to find a diagnosis, it
was decided to use a qualitative research based on description and exploration by
means of an adapted questionnaire used by the Institute Ethos/SEBRAE, which
contemplates seven great CSR themes. 141 companies of all sizes, areas and
regions of the country were used. The analysis of the collected data shows that,
considering a scale from 1 to 4, the sample of the suppliers chain ranks level 3
regarding their involvement with the subject. This demonstrates that the companies
studied have already embraced the concepts of CSR and are aware of the
importance of becoming socially responsible. The research also observed the
involvement of the companies according to their size and trade field. The results
show that the bigger the company the higher its involvement with the CSR. As for
their trade field (food, drinks, personal hygiene and cleaning, non-food, distributors
and wholesalers) no significant differences related to the level of involvement of the
companies with the subject were found. Among the themes studied, it was also
noticed that, while the relationship with the consumers reached the highest score
(9.2) in a 0-10 scale, based on several topics involving that public, the relationship
Government-Society received the lowest score (6.0), which shows that there is a
great opportunity for the companies to build partnerships with the state and the
organized civil society, aiming to unite strength searching for a sustainable
development of businesses and society. Eventually, this research proposes strategic
actions regarding the involvement with the theme CSR between the Cardoso
Supermarket and its suppliers chain.
Keywords: Corporate Social Responsibility, Retail, Supermarket, Suppliers.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. A empresa como um sistema aberto 39
Figura 2. Pirâmide da Responsabilidade Social Empresarial 54
Figura 3. Os estágios de Responsabilidade Social em uma empresa 55
Figura 4. Modelo bidimensional de Responsabilidade Social Empresarial 57
Figura 5. Criação de valor a partir de ações de Responsabilidade Social 59
Figura 6. Continuum de comprometimento das empresas para as
questões de RS e suas estratégias de ação 61
Figura 7. Graus de sensibilidade social da empresa 63
Figura 8. Mapa das relações entre os Instrumentos de Sustentabilidade 80
Figura 9. Classificação das instituições varejistas 86
Figura 10. O varejo como agente transformador da estrutura social 95
Figura 11. Comparação do envolvimento com a RSE entre o
Supermercado Cardoso e o Banco de Dados do Ethos 110
Figura 12. Comparação do envolvimento com a RSE entre o
Supermercado Cardoso e o Grupo de Benchmark Ethos 111
Figura 13. Classificação das empresas segundo o porte 121
Figura 14. Classificação das empresas segundo o estado de atuação 122
Figura 15. Classificação das empresas segundo o segmento de atuação 123
Figura 16. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores diante das
sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial
propostas pelo Instituto Ethos 125
Figura 17. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante das sete temáticas de
Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto
Ethos 126
Figura 18. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Valores e
Transparência 128
Figura 19. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Público Interno 131
Figura 20. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Meio Ambiente 134
Figura 21. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Fornecedores 136
Figura 22. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Consumidores –
Clientes 138
Figura 23. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Comunidade 140
Figura 24. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia,
de outros estados e geral, diante do tema Governo e
Sociedade 143
Figura 25. Comparação entre as empresas de diferentes portes em
relação à Responsabilidade Social Empresarial 147
Figura 26. Comparação entre as empresas de diferentes portes diante das
sete temáticas propostas pelo Instituto Ethos 148
Figura 27. Comparação entre as empresas de diferentes segmentos em
relação à Responsabilidade Social Empresarial 149
Figura 28. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia
e de outros estados em relação à Responsabilidade Social
Empresarial 152
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Modelo de Desempenho Social de Wood 60
Quadro 2. Princípios da Responsabilidade Social Empresarial de Wood 60
Quadro 3. Questões referentes ao tema Valores e Transparência 129
Quadro 4. Questões referentes ao tema Público Interno 131
Quadro 5. Questões referentes ao tema Meio Ambiente 134
Quadro 6. Questões referentes ao tema Fornecedores 136
Quadro 7. Questões referentes ao tema Consumidores – Clientes 138
Quadro 8. Questões referentes ao tema Comunidade 141
Quadro 9. Questões referentes ao tema Governo e Sociedade 143
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Economias Globais – a comparação das vendas anuais de
empresas com o PIB de alguns países 46
Tabela 2. Envolvimento do Supermercado Cardoso com a RSE por tema,
de acordo com os Indicadores Ethos 109
Tabela 3. Escala de pontuação para cada resposta 117
Tabela 4. Máximo de pontos obtidos 118
Tabela 5. Fator de correção por tema 118
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
AA1000 Accountability 1000
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRAS Associação Brasileira de Supermercados
ADCE Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa
AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
BA Bahia
BID Banco Interamericano de Desenvolvimento
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BSR Business Social Responsible Institute
CSR Corporate Social Responsibility
FGV-EAESP Fundação Getúlio Vargas - Escola de Administração de Empresas
de São Paulo
FIDES Fundação de Desenvolvimento Empresarial e Social
FIEB Federação das Indústrias do Estado da Bahia
FMI Fundo Monetário Internacional
FSC Forest Stewardship Council
GIFE Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
GRI Global Reporting Initiative
HIPEL Higiene, Perfumaria e Limpeza
IBASE Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ISEA Institute of Social and Ethical Accountability
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
ISO International Organization for Standardization
NBR 16001 Norma Brasileira de Responsabilidade Social
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OHSAS 18001 Occupational Health and Safety Assessment Series
OIT Organização Internacional do Trabalho
ONG Organização Não-Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PIB Produto Interno Bruto
PMEs Pequenas e Médias Empresas
PNQ Prêmio Nacional de Qualidade
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RS Responsabilidade Social
RSE Responsabilidade Social Empresarial
SA 8000 Social Accountability
SAI Social Accountability International
SD 21000 Sustenainable Development
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas
SESI Serviço Social da Indústria
SINDIPAN Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São
Paulo
SIS Swedish Standards Institute
SPSS Statistical Package for Social Sciences
TEAR Tecendo Redes Sustentáveis
TNS The Natural Step
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 17
1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA 21
1.2 JUSTIFICATIVA 22
1.3 OBJETIVOS 24
1.3.1 Objetivo Geral 24
1.3.2 Objetivos Específicos 25
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO 26
2 REFERENCIAL TEÓRICO 28
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL 29
2.1.1 Um histórico da Responsabilidade Social Empresarial 29
2.1.2 A empresa numa abordagem sistemática 37
2.1.3 O cenário de um sistema: o planeta Terra 41
2.1.4 A força das empresas dentro do sistema 45
2.1.5 Responsabilidade Social Empresarial: conceitos e modelos 48
2.1.6 Os modelos de Responsabilidade Social Empresarial 51
2.1.6.1 O modelo de Carroll 52
2.1.6.2 O modelo de Melo Neto & Froes 54
2.1.6.3 O modelo de Quazi & O’Brien 56
2.1.6.4 O modelo de Fombrun 58
2.1.6.5 O modelo de Wood 59
2.1.6.6 O modelo de Silva 61
2.1.6.7 O modelo de Montana & Charnov 62
2.1.7 A Teoria dos Stakeholders 63
2.1.8 Os instrumentos de sustentabilidade 66
2.1.8.1 Os instrumentos existentes 67
2.1.8.2 A futura Norma Mundial de RS: ISO 26000 81
2.2 O SEGMENTO VAREJISTA 84
2.2.1 Conceitos e tipos de varejo 84
2.2.2 A evolução do segmento varejista no Brasil 88
2.2.3 Um cenário do varejo supermercadista 91
2.2.4 A Responsabilidade Social no Varejo 93
2.2.4.1 O programa de Responsabilidade Social no Varejo da FGV-EAESP 96
2.2.5 A importância dos fornecedores na gestão Socialmente Responsável 98
3 METODOLOGIA 102
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA 102
3.2 CENÁRIO DO ESTUDO 105
3.2.1 Apresentação da empresa 105
3.2.2 O Supermercado Cardoso e a gestão da RSE 106
3.2.3 Os projetos sociais do Supermercado Cardoso 111
3.2.4 O reconhecimento pela gestão socialmente responsável 112
3.3 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA 113
3.4 O INSTRUMENTO DE PESQUISA 114
3.4.1 A adaptação do instrumento 115
3.5 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS 117
4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS 121
4.1 PERFIL DA AMOSTRA 121
4.2 ANÁLISE DOS DADOS 123
4.2.1 Apresentação dos dados 124
4.2.1.1 Resposta ao primeiro objetivo específico 125
4.2.1.1.1 Valores e Transparência 127
4.2.1.1.2 Público Interno 129
4.2.1.1.3 Meio Ambiente 132
4.2.1.1.4 Fornecedores 134
4.2.1.1.5 Consumidores – Clientes 137
4.2.1.1.6 Comunidade 139
4.2.1.1.7 Governo e Sociedade 141
4.2.1.2 Resposta ao segundo objetivo específico 144
4.2.1.2.1 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao porte 144
4.2.1.2.2 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao segmento 149
5 CONCLUSÃO 150
5.1 RESPOSTA AO PROBLEMA DA PESQUISA 150
5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 154
5.3 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 155
5.4 SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS 157
REFERÊNCIAS 159
BIBLIOGRAFIA 164
APÊNDICE A 166
APÊNDICE B 167
APÊNDICE C 172
ANEXO 1 173
17
1 INTRODUÇÃO
O cenário de aceleradas mudanças que caracterizam o mundo nos dias
atuais impõe às organizações novos desafios e demandas no desenvolvimento de
negócios viáveis e sustentáveis a longo prazo.
Diante desses desafios, além dos já conhecidos fatores de competitividade
das empresas, como qualidade e variedade nos produtos e serviços, velocidade na
tomada de decisões, domínio da tecnologia, criatividade, preços competitivos, alta
produtividade, entre outros, estão se agregando a estes novos requisitos para o
desenvolvimento e a sustentabilidade dos negócios: compromisso social,
comportamento ético e transparente com todos os públicos com os quais a
empresa interage, responsabilidade ambiental e, sobretudo, a co-participação das
empresas na construção de uma sociedade economicamente viável,
ambientalmente correta e socialmente justa.
Daí emerge o debate a respeito do tema Responsabilidade Social, enquanto
estratégia de negócio voltada para o desenvolvimento sustentável
1
da empresa e
da sociedade.
De acordo com o Grupo de Trabalho para a Construção da Norma
Internacional de Responsabilidade Social – ISO 26000
2
–, a Responsabilidade
Social se define por:
1
O termo Desenvolvimento Sustentável foi utilizado pela primeira vez em 1987, no Relatório de Brundland,
produzido pela Organização das Nações Unidas, significando um desenvolvimento que satisfaz as necessidades
do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.
2
Terceira geração das Normas ISO, após as séries de sistema de gestão da qualidade (ISO 9000) e do meio
ambiente (ISO 14000), que está em elaboração desde setembro de 2004, com prazo para ser concluída até
2008. O Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social para a elaboração dessa norma está sendo coordenado
em conjunto, pela primeira vez, por uma entidade normalizadora de um país industrializado – o Swedish
Standards Institute (SIS – Instituto Sueco de Normalização) – e por outra de um país em desenvolvimento – a
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Outras informações sobre a ISO 26000 serão fornecidas no
Capítulo 2 deste trabalho. Maiores detalhes disponíveis em
www.iso.org
18
Ações de uma organização
3
para assumir responsabilidades pelos
impactos de suas atividades sobre a sociedade e o meio ambiente.
Estas ações precisam ser: consistentes com os interesses da
sociedade e do desenvolvimento sustentável; baseadas no
comportamento ético, em conformidade com a legislação aplicável
e instrumentos intergovernamentais, e integradas às atividades
cotidianas da organização
4
.
Com esta visão, a empresa passa a agregar um importante valor a sua
imagem: o da empresa-cidadã, que se baseia nas relações éticas e transparentes
com todos os seus stakeholders
5
. Esse valor está entre os principais fatores de
sucesso mercadológico, num mercado caracterizado pela forte e crescente
concorrência, onde as empresas, para sobreviver, já percebem que investir em
novas tecnologias, reduzir custos, produzir mais e melhor não é suficiente. É
preciso ir além. É preciso destacar-se e, para isso, a adoção de uma gestão
socialmente responsável mostra-se como uma ferramenta de diferenciação
mercadológica, ao tempo em que contribui para o desenvolvimento sustentável da
sociedade.
Além disso, não se pode negar que, com o advento da globalização, o
mundo passa por uma verdadeira revolução tecnológica e educacional, que permite
que as distâncias se encurtem, as barreiras à comunicação sejam cada vez
menores e o acesso à informação rápida e precisa seja muito mais fácil. A
conseqüência disto é o surgimento de um novo cidadão, mais consciente do seu
papel na sociedade, mais bem informado sobre as questões econômicas, sociais e
3
Neste caso, o termo organização refere-se tanto às empresas como ao poder público ou às organizações da
sociedade civil organizada.
4
Este é um conceito preliminar de Responsabilidade Social que foi discutido entre os membros do Grupo de
Trabalho para Construção da ISO 26000, na III Reunião Internacional da ISO 26000, que aconteceu em maio
de 2006, na cidade de Lisboa, em Portugal, disponível em
www.uniethos.org.br
5
Partes interessadas: indivíduo ou grupo de indivíduos que afetam e/ou são afetados por uma organização e
suas atividades. Algumas organizações descrevem suas partes interessadas como parceiros ou públicos de
interesse.
19
ambientais que afetam o planeta e, por isto, melhor preparado ao pleno exercício
da cidadania.
Dentro desse contexto encontram-se os atores: a iniciativa privada,
representada pelas empresas; o poder público, representado pelos governos em
todas as suas esferas de atuação; o chamado terceiro setor, representado pelas
organizações não-governamentais sem fins lucrativos, e finalmente a sociedade
civil, representada por cada cidadão. É este cidadão que, enquanto consumidor,
tem estado cada vez mais atento ao comportamento e às ações da empresa
quanto às questões sociais no mundo e que tem sido um importante agente
impulsionador das transformações nas organizações, no sentido de exigir, por parte
das empresas, o cumprimento do seu papel enquanto partes integrantes da
sociedade.
Essa tendência de mudança, ainda que lenta e gradual, na postura dos
cidadãos-consumidores diante das opções de compras, deixando de agir como
simples consumidores, preocupados unicamente em satisfazer suas próprias
necessidades, e passando a atuar como cidadãos, exigindo das empresas, além
dos já conhecidos fatores de competitividade, o pleno exercício da cidadania
empresarial, já se faz clara e perceptível nos dias atuais.
Uma recente pesquisa
6
, divulgada sobre a percepção do consumidor
brasileiro quanto à Responsabilidade Social Empresarial – RSE –, indica que 78%
dos consumidores entrevistados têm muito interesse em conhecer as ações sociais
das empresas e que aproximadamente 30% dos consumidores brasileiros já
puniram ou têm disposição para punir uma marca ou empresa que considerem não
6
RSE: Percepção do Consumidor Brasileiro, 2005. Esta pesquisa é uma iniciativa conjunta do Instituto Ethos e
do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, que analisa as expectativas, opiniões e tendências dos
consumidores quanto à responsabilidade das empresas pelo desenvolvimento sustentável, o progresso
econômico e o equilíbrio social e ambiental do planeta. Disponível em
www.akatu.org.br
20
socialmente responsável, evitando consumir seus produtos ou fazendo críticas em
torno deles.
Segundo essa pesquisa, o consumidor brasileiro está atento e sintonizado
com os compromissos sociais e ambientais das organizações. Afinal, em um
mercado extremamente competitivo, onde preço e qualidade dos produtos sofrem
poucas variações, os clientes, como parte integrante desse mercado, dão
preferência às empresas socialmente responsáveis, o que demonstra uma clara
oportunidade de diferenciação para as empresas dispostas a um compromisso
efetivo com a Responsabilidade Social.
Essa mudança de consciência pela qual os consumidores têm passado
justifica a necessidade das organizações se preocuparem em ser vistas como
socialmente responsáveis, o que pode ser demonstrado no cuidado com os
recursos naturais e com a melhoria contínua da qualidade de vida de todos os
públicos com os quais interagem, não deixando que a lucratividade seja o único
motivo da sua existência e sobrevivência.
A discussão sobre Responsabilidade Social Empresarial requer, entretanto,
a consideração prévia de uma série de elementos e contextos sobre os quais a
empresa está inserida, o que permitirá uma melhor compreensão a respeito do
tema e do papel das empresas na construção de uma sociedade sustentável.
É preciso considerar, inicialmente, o meio em que a empresa atua, visto que
ela é parte de um sistema e, como tal, tanto recebe influências quanto influencia o
meio, por intermédio de seus processos e de suas decisões. A partir daí, é
necessário conhecer e analisar o cenário mundial, dos pontos de vista social,
econômico e ambiental, para que se possa, mediante um autodiagnóstico da RSE,
21
traçar estratégias de ação, ainda que em âmbito local, para construção de uma
sociedade mais justa e mais próspera.
Fica claro que, no futuro, as empresas só se manterão competitivas se
possuírem uma gestão socialmente responsável e se acreditarem que a sua
missão empresarial, além de gerar lucros, é também contribuir para o
desenvolvimento sustentável da sociedade.
1.1 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA
A Responsabilidade Social Empresarial, diante de tantos desafios sociais e
ambientais de um mercado globalizado, que envolve uma crescente
interdependência entre as economias domésticas, os mercados financeiros, o
comércio, as corporações, a produção, a distribuição, etc., vem-se apresentando,
não só como um forte instrumento de gestão transformadora da sociedade, mas,
também, como um diferencial competitivo e um fator de sustentabilidade
empresarial, na medida em que trata ainda de temas como qualidade de produtos e
serviços, educação, qualidade de vida, preservação do meio ambiente e postura
ética e transparente com todos os públicos com os quais a empresa interage.
Nesse sentido, ao considerar que uma atuação socialmente responsável das
empresas envolve a gestão dos aspectos econômicos, sociais e ambientais e que
prevê necessariamente a participação de todos os stakeholders, torna-se
necessário avaliar o envolvimento de cada público de interesse com o tema.
Uma empresa não pode ser considerada socialmente responsável se em
sua cadeia de fornecedores, por exemplo, existem práticas ou processos
gerenciais que vão de encontro às convenções e aos tratados nacionais ou
22
internacionais que têm por objetivo manter a ordem e promover o desenvolvimento
no mundo
7
, tais como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração
Universal dos Direitos da Criança e do Adolescente, as Normas da Organização
Internacional do Trabalho, o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, a
Consolidação das Leis Trabalhistas, etc.
Diante do exposto, considerando que uma gestão socialmente responsável é
aquela que contempla a participação de todos os públicos com os quais a empresa
interage, na busca de um objetivo comum, e considerando uma perspectiva
sistêmica da organização, que prevê o que acontece à sociedade influencia a
empresa e vice-versa, a questão norteadora desta pesquisa está na seguinte
pergunta: “Qual o grau de envolvimento da cadeia de fornecedores do
Supermercado Cardoso com a Responsabilidade Social Empresarial?”
1.2 JUSTIFICATIVA
O atual arranjo sistêmico das empresas requer uma nova compreensão da
Responsabilidade Social, que passa a ser assunto de relevância, não mais de uma
organização, mas, de toda a cadeia produtiva da qual ela faz parte.
Quanto mais maduros os segmentos de negócios envolvidos, e
mais consolidado o sistema de empresas agregadas em uma rede
de relacionamentos e de criação de valores, mais predispostas
estarão as empresas para a criação de estratégias de colaboração
competitiva e para a busca da co-evolução. Maiores serão então as
possibilidades de construir estratégias compartilhadas, a partir de
múltiplas visões empreendedoras, e maior será a responsabilidade
com o sistema de negócios como um todo (ESTEVES, 2000, p.
169).
7
Somente os países que ratificam as diversas normas e acordos internacionais existentes é que ficam
subordinados a eles.
23
A Responsabilidade Social Empresarial deve estar baseada na
compreensão de que as atividades empresariais são altamente interdependentes e
operam segundo a Teoria dos Sistemas, onde a otimização das partes não significa
necessariamente a otimização do todo. A empresa ou a marca somente será
legitimada pelo consumidor como socialmente responsável se toda a cadeia
produtiva estiver construída de forma sustentável.
Dessa forma, ao definir uma empresa como socialmente responsável, é
fundamental avaliar toda a sua cadeia de valor. Assim, dada a importância da
cadeia de fornecedores no processo de inserção da RSE na gestão estratégica da
organização, surge a motivação para esta pesquisa.
Além disso, a valorização das relações com os fornecedores oferece à
empresa uma oportunidade de intermediá-la em benefício dos seus clientes,
garantindo-se equilíbrio e equidade nos processos de comercialização.
A multiplicação das pesquisas em torno do tema Responsabilidade Social
vem demonstrando um grande interesse por parte de empresas, entidades civis,
governos, meios de comunicação e diversos outros segmentos da sociedade. No
entanto, ainda são poucos os estudos sobre a Responsabilidade Social
Empresarial no Varejo Supermercadista, em especial, no que diz respeito ao
relacionamento dos supermercados com sua cadeia de fornecedores. Daí o
interesse do pesquisador no desenvolvimento deste estudo.
Um outro fator que motivou a aplicação desta pesquisa foi a compreensão
do pesquisador de que a empresa somente poderá demonstrar claramente que
está, de fato, assumindo uma gestão socialmente responsável, ao disseminar os
valores e padrões éticos de comportamento e relacionamento, praticando com seus
fornecedores e parceiros, os mesmos princípios e valores sobre os quais são
24
pautadas as suas ações na construção de uma sociedade verdadeiramente
sustentável.
Quanto à escolha do setor supermercadista, é interessante comentar que,
apesar de ser um setor extremamente significativo para a economia brasileira –
alcançou um faturamento de R$ 106,4 bilhões em 2005, com 72.884 lojas
espalhadas pelo Brasil, gerando mais de 800.000 empregos diretos –, o
supermercado é ainda relativamente pouco estudado no País, principalmente no
que se refere à Responsabilidade Social (RANKING ABRAS, 2006).
Vale ressaltar que a escolha do Supermercado Cardoso para realização
deste estudo perpassa por um interesse pessoal do pesquisador, uma vez que este
exerce atividade profissional como Diretor nessa empresa. Além do mais, o
Supermercado Cardoso, já tendo uma gestão voltada para a RS, obtendo,
inclusive, o reconhecimento da FGV-EAESP, com o 3° Prêmio de RSE no Varejo
8
,
constatou, por meio de um autodiagnóstico da RSE, que o seu envolvimento com o
público fornecedores precisava ser maior. Daí a motivação para o estudo da RSE
na cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso.
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 Objetivo Geral
O objetivo principal desta pesquisa é diagnosticar e analisar o grau de
envolvimento dos fornecedores do Supermercado Cardoso quanto às práticas de
Responsabilidade Social Empresarial.
8
Maiores informações sobre a relação do Supermercado Cardoso com a RSE, bem como sobre o recebimento
do 3° Prêmio de RSE no Varejo da FGV-EAESP, serão fornecidas no Capítulo 3 deste trabalho.
25
1.3.2 Objetivos Específicos
Subsidiariamente ao objetivo geral, pela pesquisa, pretende-se também:
analisar o grau de envolvimento dos fornecedores baianos em relação à
RSE, à luz das sete temáticas da RSE propostas pelo Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social, estabelecendo uma comparação do
envolvimento com o tema entre os fornecedores baianos e de outros
estados do Brasil;
conhecer e analisar o grau de envolvimento com o tema RSE na cadeia de
fornecedores, a partir da classificação de empresas por porte e por
segmento de atuação.
A expectativa do pesquisador é que os resultados deste trabalho sejam
relevantes na construção de parcerias sustentáveis entre o varejo supermercadista
e sua cadeia de fornecimento e se tornem aproveitáveis para os administradores
responsáveis pela gestão das empresas, fomentando a discussão sobre a RSE e
contribuindo para a reflexão sobre o tema.
Vale ressaltar, ainda, que este estudo não tem a intenção de criar um
manual prático quanto à adoção da gestão da RSE na cadeia de fornecedores. Na
conclusão deste trabalho, pretende-se tecer algumas recomendações sobre o
aprimoramento das práticas atuais, identificando fatores que podem facilitar o
processo de incorporação da Responsabilidade Social na gestão empresarial,
promovendo a construção de relações solidárias entre os públicos de interesse e
gerando benefícios para as empresas e para a sociedade.
26
Para alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa
qualiquantitativa, de natureza exploratória e descritiva, entre os fornecedores do
Supermercado Cardoso, de diversos portes, de diferentes regiões e segmentos de
atuação, no período de 13 de março a 31 de maio de 2006.
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
Este trabalho está organizado em cinco capítulos. O primeiro capítulo
corresponde a esta introdução, que apresenta o problema da pesquisa, as razões
que justificam a pesquisa e os objetivos do trabalho.
O segundo capítulo traz o referencial teórico a respeito do tema e está
dividido em duas partes: a primeira, faz uma retomada a respeito do histórico da
RSE; apresenta uma visão sistêmica das organizações; o cenário do sistema no
qual as empresas estão inseridas, destacando a força das empresas dentro desse
sistema; os conceitos e modelos da Responsabilidade Social Empresarial; os
principais instrumentos de sustentabilidade, bem como a Teoria dos Stakeholders,
que permitirá a melhor compreensão do trabalho. A segunda parte do capítulo traz
uma abordagem a respeito do segmento varejista e a relação entre a
Responsabilidade Social Empresarial e o varejo no Brasil.
O terceiro capítulo apresenta os procedimentos metodológicos adotados
para concretização deste estudo. Serão descritas as características da pesquisa,
mencionando-se o tipo, a metodologia e o modo de investigação abordados. A
próxima etapa refere-se à contextualização do cenário da pesquisa com
informações referentes ao Supermercado Cardoso e sua relação com a gestão
socialmente responsável; a trajetória da pesquisa, relatando as etapas desde a
27
definição da população, o perfil da amostra, a apresentação do instrumento de
pesquisa e os procedimentos para a coleta e o tratamento dos dados.
O quarto capítulo traz o perfil da amostra, apresenta os dados obtidos e
discute os resultados encontrados, no sentido de responder aos objetivos da
pesquisa.
O quinto capítulo responde ao problema da pesquisa, apresenta as
considerações finais, as contribuições e as limitações do trabalho.
28
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Nesse capítulo, será apresentado o marco teórico a respeito do tema do
trabalho. Para isso, dividiu-se o capítulo em duas partes: a primeira parte aborda o
tema Responsabilidade Social Empresarial. Serão retomados fatos históricos que
marcaram a evolução e o desenvolvimento da Responsabilidade Social no Brasil e
no mundo. Posteriormente, será apresentada uma visão sistêmica das
organizações e um breve cenário do sistema no qual as empresas, enquanto
partes integrantes da sociedade, estão inseridas, destacando a sua força dentro
desse sistema. A partir daí, serão expostos conceitos e modelos de
Responsabilidade Social Empresarial, bem como instrumentos de sustentabilidade
existentes, com ênfase na construção da futura Norma Mundial de
Responsabilidade Social: a ISO 26000. Finalizando a primeira parte do capítulo,
será apresentada a Teoria dos Stakeholders, para que se possa compreender
melhor a relação da empresa com os seus públicos de interesse.
Uma vez que o foco deste trabalho está voltado para um estudo da
Responsabilidade Social na cadeia de fornecedores do varejo, a segunda parte do
referencial teórico irá tratar desse segmento, abordando os conceitos e tipos de
varejo, o varejo supermercadista e suas características, a importância do varejo na
economia brasileira e a relação do varejo com o tema Responsabilidade Social
Empresarial.
29
2.1 RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
2.1.1 Um histórico da Responsabilidade Social Empresarial
Nos últimos anos têm crescido a atenção, a mobilização e a preocupação da
sociedade com temas relacionados a questões de cidadania, direitos humanos,
ética, valorização da diversidade, qualidade de vida, desenvolvimento econômico,
social e ambiental em todo o planeta. Com isso, cresce também o questionamento
sobre qual deve ser o papel das empresas na discussão desses temas. Daí
emerge a polêmica em torno da Responsabilidade Social Empresarial
O debate sobre o papel social das empresas começou a surgir com mais
força no Brasil a partir da década de 80, porém, o movimento em torno desse tema
se originou de uma seqüência de eventos sociais, políticos e econômicos, no início
do século passado, que, de fato, estão mudando a atitude dos cidadãos e da
comunidade empresarial.
Até a I Guerra mundial, não se achava que as decisões de um país
pudessem afetar significativamente todo o mundo. Dessa forma, pode-se dizer que
a criação da Liga das Nações, em 1920, que teve como objetivo a promoção da
cooperação, da paz e da segurança mundiais no pós-guerra, foi um primeiro passo
na direção do pensar globalmente. Além disso, destaca-se também o
desenvolvimento dos meios de comunicação e de transporte, que permitiu que o
trânsito de pessoas entre as várias regiões do planeta aumentasse, incrementando,
assim, a relação entre os povos.
Os traumas, tanto humanos como ambientais, causados pelas bombas
nucleares lançadas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, durante a II Guerra
30
mundial, conduziram o mundo a refletir coletivamente em torno de medidas que
pudessem evitar a repetição de tragédias daquela natureza. Como conseqüência
dessa reflexão, criou-se, em 1945, a Organização das Nações Unidas – ONU –,
que tem por objetivos manter a paz e a segurança internacionais, defender os
direitos humanos e as liberdades fundamentais, fomentar a cooperação
internacional e promover o desenvolvimento dos países.
Três anos depois, em 1948, a ONU fez a sua primeira grande manifestação,
mediante a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como conseqüência das
atrocidades cometidas durante a II Guerra mundial.
Num período marcado pelo pós-guerra, na década de 50, enquanto as
organizações norte-americanas viviam um período de crescimento, as demais, de
diversos outros países, tiveram sua capacidade comercial e industrial diminuída.
Em decorrência dessas disparidades, surgiram as primeiras discussões em torno
da Responsabilidade Social nos Estados Unidos, na tentativa de encontrarem-se
meios com os quais fosse possível que as grandes empresas ajudassem os grupos
menos favorecidos, dando início assim às ações de filantropia. Esta foi a primeira
forma encontrada pelas organizações para atuarem com o foco direcionado, não
apenas na geração de lucro, mas, também, nos interesses da sociedade.
Ainda na década de 50, mais precisamente em 1953, é publicado, nos
Estados Unidos, o livro Social Responsibilities of the Businessman, de Howard
Bowen, cuja publicação representou um importante fator impulsionador das
discussões a respeito da Responsabilidade Social das empresas. Para Bowen
(1953), “as empresas são os centros vitais de poder e de decisão e a sua forma de
agir influencia a vida dos cidadãos de diferentes maneiras”.
31
Vale salientar que a discussão sobre a Responsabilidade Social Empresarial
teve início, com mais força, nos Estados Unidos, uma vez que, na Europa, os
governos sempre tiveram o olhar mais atento ao bem-estar dos cidadãos.
No Brasil, a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresa – ADCE – foi o
grupo pioneiro em debater o compromisso social das empresas. Na década de 60,
a ADCE-Brasil
9
publicou a Carta de Princípios do Dirigente Cristão de Empresa,
onde empregava a expressão Responsabilidade Social diretamente relacionada às
empresas.
Em 1960, chefes de Estado, economistas, humanistas, empresários,
banqueiros, líderes políticos, cientistas, pedagogos, entre outros representantes de
diversos países, passaram a reunir-se em Roma para analisar a situação mundial e
oferecer previsões e soluções para o futuro da humanidade, grupo esse que deu
origem ao Clube de Roma.
Em 1968, os membros do Clube de Roma chegaram à conclusão que a
condição do planeta estava gravemente abalada, em função da grande demanda
por matérias-primas e pela geração de resíduos da produção industrial, e que as
atividades humanas estavam se tornando incompatíveis com a recuperação dos
recursos naturais. Esta conclusão serviu de alerta para que o mundo começasse a
preocupar-se com a diminuição da qualidade de vida e os riscos oferecidos à
saúde e à sobrevivência da humanidade.
9
Entidade constituída por empresários cristãos, que possui como fundamento de suas práticas os princípios
estabelecidos pela doutrina social da Igreja. Todas as atividades acerca da responsabilidade e do balanço social
das empresas seguem tais princípios (ASHLEY et al., 2005, p. 69).
32
Diante do conteúdo das publicações do Clube de Roma, entre elas Os
Limites do Crescimento
10
, em 1972, a ONU realizou, na Suécia, a Conferência das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, também conhecida como a
Conferência de Estocolmo
11
, com a presença de representantes de mais de 100
países.
A partir desta iniciativa, foi redigida a Declaração de Estocolmo, que
introduziu, pela primeira vez na agenda política internacional, a dimensão
ambiental como condicionadora e limitante do modelo tradicional de crescimento
econômico e do uso dos recursos naturais, sustentando que tanto as gerações
presentes como as futuras tenham reconhecida, como direito fundamental, a vida
num ambiente sadio e não-degradado. Esta foi a primeira vez que se empregou o
conceito de sustentabilidade, porém, ainda com uma forte conotação ambiental.
Em 1977, a França cria a lei do Balanço Social, contemplando os direitos
humanos no ambiente de trabalho.
No Brasil, durante a década de 80, a generalização do conceito de
cidadania, que aborda o cidadão por seus direitos sociais e políticos, e, também, a
maior divulgação e disseminação de projetos sociais marcaram o movimento da
Responsabilidade Social Empresarial.
Alguns fatos podem ser citados, a exemplo do lançamento do Prêmio Eco de
Cidadania Empresarial
12
, em 1982, instituído pela Câmara Americana do Comércio
de São Paulo; o lançamento da Campanha Nacional de Ação da Cidadania contra
10
Relatório de grande repercussão mundial, no qual se coloca em questão o modelo de desenvolvimento
baseado no crescimento como se ele fosse ilimitado.
11
A Conferência de Estocolmo é considerada um divisor de águas no despertar da consciência ecológica.
12
O Prêmio Eco foi pioneiro no Brasil a reconhecer e premiar a atuação empresarial socialmente responsável.
Desde o lançamento, mais de 1.800 projetos foram inscritos por 1.516 empresas participantes, sendo que 135
foram premiados. Disponível em
http://www.amcham.com.br/cidadania/premio_eco/index_html Acesso em 29
de outubro de 2006.
33
a Fome, a Miséria e pela Vida
13
, em 1983; a publicação, em 1984, do primeiro
Balanço Social do Brasil, elaborado pela Nitrofértil, e, em 1986, o surgimento da
Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), entidade
que visa a humanização das empresas e sua interação com a sociedade, com base
em princípios éticos e que se destaca em valorizar as empresas envolvidas com a
sociedade, incentivando-as a publicar o seu Balanço Social.
A década de 80 também marcou o mundo por desastres ambientais, como
Bophal
14
e Chernobyl
15
, que acenderam ainda mais o alerta sobre os riscos em
torno do uso da tecnologia nuclear, mesmo que apenas para geração de energia.
Em 1897, a ONU publica um documento chamado Nosso Futuro Comum,
também conhecido como Relatório de Brundland, no qual é introduzido, pela
primeira vez, o termo desenvolvimento sustentável como sendo aquele que atende
as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as futuras
gerações atenderem as suas próprias necessidades.
Os movimentos de sustentabilidade ganharam força nos anos 90, com o
surgimento de diversas ferramentas para a gestão de empresas. No Brasil, em
fevereiro de 1990, surge a Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do
Adolescente, fundada pelas associações dos fabricantes de brinquedos e mantida
por pessoas, empresas e agências nacionais e internacionais que lutam pela causa
da criança e do adolescente.
13
Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida foi um movimento liderado pelo sociólogo Herbert
de Souza, o Betinho, fundador da ONG Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE).
14
Unidade da indústria Union Carbide, localizada na Índia, que, em 1984, emitiu gases tóxicos na atmosfera,
matando 4.000 pessoas e intoxicando 200.000.
15
Explosão de uma usina nuclear, em 1986, na cidade de Kiev, antiga União Soviética, que causou a morte de
10.000 pessoas, contaminando o solo, o ar e a água.
34
Nesse período, foram firmados acordos consensuais importantes, como a
Agenda 21
16
, que apresenta um plano de ação para ser posto em prática por todos
os governos, proposto na Reunião de Cúpula das Nações Unidas para o Meio
Ambiente, em 1992, no Rio de Janeiro, conhecida também como Rio-92.
Ainda em 1992, o Clube de Roma publica o livro Além dos Limites, uma
espécie de relatório que apresenta, de modo contundente, os prejuízos provocados
pelo homem no meio ambiente e a incapacidade da natureza de regenerar-se na
mesma velocidade da degradação.
Em 1995, foi criado aqui, no Brasil, o GIFE (Grupo de Institutos, Fundações
e Empresas), que é uma associação cujo objetivo é aperfeiçoar e difundir conceitos
e práticas do uso de recursos privados em benefício do bem comum.
Outra importante iniciativa foi o Protocolo de Kyoto, publicado em 1997, na
Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, no Japão, que
trata da redução em pelo menos 5%, com relação aos dados de 1990, da emissão
combinada de gases que agravam o efeito estufa.
No Brasil, em 1998, algumas empresas de diversos segmentos de atividade
uniram-se para fundar o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
uma organização não-governamental, sem fins lucrativos, que tem como missão
mobilizar, sensibilizar e ajudar empresas a gerirem seus negócios de forma
socialmente responsável, disseminando conceitos e criando ferramentas de auxílio
à adoção de uma gestão socialmente responsável.
Em 1999, surgiram as bases para o Pacto Global, primeira proposta da ONU
tratando do tema Responsabilidade Social Corporativa, numa iniciativa pessoal do
16
Detalhado programa de ação em matéria de meio ambiente e desenvolvimento, composto por 40 capítulos
com mais de 800 páginas. O documento está dividido em quatro seções: dimensões sociais e econômicas;
conservação e gestão de recursos para o desenvolvimento; fortalecimento do papel dos principais grupos
sociais e, finalmente, meios de implementação.
35
Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan. O Pacto Global propõe à
comunidade empresarial global o desafio de apoiar mundialmente a promoção de
valores fundamentais nas áreas de Direitos Humanos, Direitos do Trabalho,
Proteção Ambiental e Combate à Corrupção.
Em 2000, na cidade de Lisboa, é desenvolvida uma estratégia pelos 15
países da União Européia, com o intuito de reforçar a coesão social. Em setembro
desse mesmo ano, a ONU reuniu 147 chefes de Estado e de governo, durante a
Cúpula do Milênio, em Nova Iorque, onde foi aprovada outra iniciativa importante
da ONU: as Metas do Milênio. Essa foi considerada a maior reunião de dirigentes
mundiais de todos os tempos.
Ainda em 2000, destacam-se o lançamento das Diretrizes para Relatórios de
Sustentabilidade, documento revisado e atualizado posteriormente durante o
Encontro Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu em 2002,
em Joanesburgo, na África do Sul; o lançamento oficial do Pacto Global; a
publicação dos Indicadores Calvert-Henderson, que medem a qualidade de vida de
um país, e, aqui no Brasil, a criação dos Indicadores Ethos de Responsabilidade
Social do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social.
Em 2001, na Bélgica, é lançado o Livro Verde, pela Comissão das
Comunidades Européias, para promoção de um cenário europeu para a RSE. O
objetivo foi ampliar o debate quanto às formas de promoção da RSE pela União
Européia e pelas empresas européias e internacionais. De acordo com o Livro
Verde (2001, p.3), a “Responsabilidade Social das empresas é, essencialmente,
um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base voluntária,
contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo”.
36
Um ano mais tarde, em 2002, com a aprovação da ONU, começou a ser
divulgada a Carta da Terra, inspirada em diversas fontes, entre ecologia e outras
ciências, tradições religiosas e filosóficas do mundo, meio ambiente e
desenvolvimento, além das declarações e dos tratados intergovernamentais e não-
governamentais relevantes, que tem por objetivo ser uma espécie de código ético
planetário, que norteie pessoas, organizações e estados.
No que se refere ao meio empresarial, a Carta da Terra reivindica a
promoção do desenvolvimento social e de sistemas financeiros que criem e
mantenham meios sustentáveis de subsistência, erradiquem a pobreza e
fortaleçam as comunidades locais.
Entre maio e setembro de 2004, aconteceu em Barcelona, na Espanha, o
Fórum de Barcelona 2004, que teve como objetivo servir de ponto de encontro
entre diversos países e organizações, para o debate sobre as diferenças culturais,
o desenvolvimento sustentável e a paz mundial.
Ainda em 2004, a ISO
17
aprova a elaboração de uma norma internacional de
Responsabilidade Social: a ISO 26000. A futura norma, prevista para publicação
em 2008, não terá propósito de certificação nem caráter de sistema de gestão. Sua
finalidade consistirá em apresentar diretrizes de Responsabilidade Social e orientar
organizações de diferentes portes e naturezas a incorporá-las à sua gestão.
Em 30 de dezembro de 2004, passa a vigorar a Norma Brasileira de
Responsabilidade Social, a ABNT NBR 16001
18
, que tem como um dos objetivos
prover as organizações de elementos de um sistema para a gestão eficaz da
17
International Organization for Standardization – ISO. Organização criada há mais de 60 anos, que promove
normas e atividades que favoreçam a cooperação internacional nas esferas intelectual, científica, tecnológica e
econômica. Com sede em Genebra, está presente em mais de 150 países, nos quais é representada por
organismos nacionais de normalização. No Brasil, sua representante é a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT).
18
Disponível em www.abnt.org.br
37
Responsabilidade Social, passível de integração com outros requisitos de gestão,
de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos relacionados com os aspectos da
Responsabilidade Social.
Diante do exposto, pode-se afirmar que todos esses esforços, aumentados
consideravelmente nos últimos anos, vêm sendo realizados no sentido de ampliar o
foco e o comprometimento das organizações com ações sustentáveis.
No entanto, é importante destacar que um dos grandes desafios atuais é
fazer com que todas essas iniciativas globais ou locais possam convergir,
verdadeiramente, de maneira clara e aplicável, para as empresas, seja na forma de
princípios e valores, seja em padrões e processos empresariais.
Daí o porquê do debate cada vez mais crescente acerca do tema
Responsabilidade Social Empresarial vir sempre acompanhado do questionamento
em torno do verdadeiro papel das empresas na construção de uma sociedade
sustentável.
Discutir sobre Responsabilidade Social Empresarial requer, entretanto, a
compreensão prévia do poder das empresas como agentes de transformação,
enquanto partes integrantes de um sistema aberto, bem como a descrição de um
cenário do estado do mundo pautado no desenvolvimento econômico, na igualdade
social e na proteção ambiental do planeta Terra.
2.1.2 A empresa numa abordagem sistêmica
O princípio da RSE, segundo Maximiano (1997), é baseado na premissa de
que as organizações são instituições sociais, que existem com a autorização da
38
sociedade, utilizando-se de seus recursos e, como conseqüência, afetando a sua
qualidade de vida.
De acordo com Montana & Charnov (2003), um sistema pode ser definido
como “um todo organizado e unido composto por duas ou mais partes
interdependentes, cujas fronteiras não são rígidas”. Para Chiavenato, um sistema
representa
um conjunto de elementos interdependentes e interagentes; um grupo de
unidades combinadas que formam um todo organizado e cujo resultado é
maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se funcionassem
independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre si pode ser
considerado um sistema, desde que a relação entre as partes e o
comportamento do todo seja o foco de atenção (CHIAVENATO, 1983, p.
522).
Compartilhando com esta óptica, compreende-se a empresa como parte de
um sistema, com o qual estabelece relações de troca, recebendo influências do
ambiente externo, nos aspectos político, econômico, social, natural, tecnológico e
cultural, e influenciando, igualmente, esse ambiente, por intermédio de seus
processos e de suas decisões.
Para melhor explicar a abordagem sistêmica, como mostra a Figura 1,
considera-se que todo organismo vivo, biológico ou social, no caso, a empresa, é
essencialmente um sistema aberto, uma vez que apresenta relações de
intercâmbio com o meio ambiente exterior e, com isso, mantém um fluxo contínuo
de entradas e saídas (CHIAVENATO, 1983).
39
EMPRESA
Transformação
ou
processamento
Entradas:
informação,
energia,
recursos
materiais e
humanos
Saídas:
informação,
produtos,
serviços
AMBIENTE
RETROA
Ç
ÃO
Figura 1. A empresa como um sistema aberto (adaptado de CHIAVENATO, 1983)
Todos os sistemas abertos, com sua capacidade de adaptação e dinamismo,
compartilham diversas características, como interação com o meio, em função das
trocas que estabelece para sobrevivência; sinergia, uma vez que os resultados são
sempre maiores do que a soma das partes envolvidas; equilíbrio econômico,
mediante o processo de ajuste interno que ocorre com a aquisição de recursos do
meio ambiente, etc.
Ao analisar a Teoria dos Sistemas à luz da administração, percebe-se que
as empresas passam a ser vistas como sistemas vivos, formados por pessoas que
têm os mesmos objetivos, que formam subsistemas, que se relacionam entre si e
com o meio externo para o alcance de objetivos comuns.
Dentro desse contexto, propõe-se uma lógica sistêmica, que permite uma
melhor compreensão do grau de envolvimento e interdependência entre as
empresas, enquanto sistemas abertos, e o seu ambiente de atuação.
A força de um sistema depende da intensidade com que esse
sistema, a empresa, mantém relações com o meio. Quanto mais
forte for essa troca, mais forte será o sistema. Quando um meio
entra em degradação, a sobrevivência dos sistemas fica
comprometida. Por outro lado, à medida que os sistemas tornam-se
40
mais saudáveis, eles promovem um fator regenerador do meio.
Transportando a lógica sistêmica para o contexto empresarial,
observa-se que a sobrevivência das empresas está intimamente
ligada a existência de um meio saudável. É como se existisse uma
cumplicidade entre sistema e ambiente (PARENTE, 2006, p. 17).
Duarte & Dias (1986, p. 36) citam que todas as instituições e organizações
sociais são afetadas pela lógica sistêmica e que a empresa não se constitui numa
exceção. Os subsistemas econômicos (dentro deles, as empresas) são forçados a
acompanhar as mudanças, revendo posições, adaptando procedimentos e
redefinindo estratégias. Ainda, segundo esse autor,
a medida que o macroambiente se transforma, evolui a cultura,
mudam-se os padrões de comportamento, alteram-se a natureza e
a hierarquia dos valores e surgem novas expectativas dos públicos
em face das organizações, que são forçadas a adaptar-se ao novos
contextos, sob pena de perda de sua legitimidade social (Duarte &
Dias, 1986, p.17).
Fica claro, portanto, que as empresas, partes integrantes de um sistema,
interagem nele e com ele, afetando-o e sendo por ele afetadas. Tudo o que
acontece no sistema interessa à empresa e tudo que acontece na empresa
interessa ao sistema. As empresas não existem no vazio, daí sua fundamental
importância na construção de uma sociedade sustentável.
Dessa forma, se as empresas são partes integrantes, influenciam e recebem
influências de um sistema, se existem em função da sociedade e do que a ela
pertence, utilizando seus recursos naturais, capitais financeiros, humanos e
tecnológicos, não se pode falar a respeito do seu papel na manutenção e no
desenvolvimento desse sistema – aqui compreendido como um macroambiente
composto por aspectos sociais, culturais, políticos, legais, ambientais, econômicos
e tecnológicos –, sem antes apresentar um breve cenário desse contexto.
41
2.1.3 O cenário de um sistema: o planeta Terra
O primeiro aspecto a ser considerado nesse cenário diz respeito às
implicações do processo de globalização em todo o planeta Terra, sobretudo, nos
países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento e, em particular, no Brasil. Não
se pretende, no entanto, entrar no debate de julgar o fenômeno da globalização por
questões sociais, econômicas e ambientais que ameaçam a vida no planeta, muito
menos avaliar seus efeitos, positivos ou negativos, sobre a humanidade, mas
apenas apresentar algumas características desse cenário para, assim, fomentar a
reflexão sobre o papel de cada ator na sociedade, no sentido de reverter a situação
e contribuir para a construção de um mundo sustentável.
O processo de globalização trouxe consigo transformações mundiais, na
ordem social, política, econômica e ambiental, onde o ponto central é a integração
dos mercados numa imensa aldeia global, explorada por grandes corporações
internacionais.
Se, por um lado, numa economia global, pode-se comunicar e produzir mais
e melhor, por outro, depara-se com questões como exclusão social, violência,
trabalho infantil, trabalho forçado, má distribuição de renda, gerando ao mesmo
tempo o consumismo desenfreado e irresponsável, a miséria e a fome, e,
sobretudo, com questões ambientais, como mudanças no clima global,
desflorestamento, efeito estufa, escassez de água, poluição, redução da camada
de ozônio e outras que, por sua tamanha gravidade, chegam a ameaçar a própria
sobrevivência do planeta e da espécie humana. Estas duas faces, características
antagônicas de um mesmo planeta, fazem parte do dia-a-dia de milhares de seres
humanos.
42
No Brasil, a situação não é diferente. O reflexo da má distribuição de renda
deixa mais de um terço da população vivendo aquém das suas necessidades
básicas de consumo
19
. Há quase duas décadas, o Brasil está entre os países mais
desiguais do mundo. O Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD (2005) – aponta o Brasil como o
oitavo país do mundo em desigualdade social, de acordo com o Coeficiente de
Gini
20
, na frente apenas da Guatemala e dos países africanos Suazilândia,
República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.
Ainda de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005, 46,9%
da renda nacional está nas mãos dos 10% mais ricos, enquanto que os 10% mais
pobres ficam com menos de 1,0% da renda, dificultando, assim, a expansão
econômica e o crescimento do País e contribuindo para que o Brasil apareça em
69° lugar no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano
21
– IDH –, entre os
177 países que fazem parte do estudo.
Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE
22
– indicam que o PIB brasileiro cresceu mais de
100 vezes e a população passou de 17 milhões para 170 milhões ao longo do
Século XX. Segundo o mesmo relatório, na contrapartida, a concentração da renda
aumentou. Em 1960, os 10% mais ricos tinham uma renda 34 vezes maior que os
10% mais pobres, enquanto que em 2001 essa proporção era de 47 vezes. Na
virada do século, a renda de 1% da população mais rica era praticamente igual à
renda de 50% da população mais pobre.
19
Relatório de Desenvolvimento Humano PNUD 2005, disponível em www.pnud.org.br
20
Indicador de desenvolvimento sustentável, que expressa o grau de concentração na distribuição do
rendimento da população. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade, a 1, quando a desigualdade é
máxima.
21
O IDH é uma medida comparativa de pobreza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e
outros fatores entre os diversos países do mundo.
22
Estatísticas do Século XX do IBGE, disponível em www.ibge.gov.br
43
Dados como estes indicam que, nos últimos 100 anos, o Brasil expandiu-se,
reproduzindo pobreza, chegando ao atual cenário, no qual mais de 50 milhões de
brasileiros vivem com renda insuficiente e convivem com a dificuldade de acesso a
serviços básicos, como saúde, educação, habitação e saneamento.
Por outro lado, na década de 90, o surgimento e a intensificação de
movimentos sociais, com a participação da sociedade civil organizada, além de
algumas iniciativas do poder público em educação e saúde, permitiram que o Brasil
evoluísse na redução da taxa de analfabetismo, na universalização da educação
básica, na expansão da população universitária, no combate a AIDS e outras
doenças, na redução do índice de mortalidade infantil, etc. Porém, apesar de ter
havido evolução em alguns indicadores de sustentabilidade, o Brasil ainda continua
na lista dos países mais corruptos e mais desiguais do mundo.
Outros grandes temas que hoje compõem o cenário mundial são os
assuntos de relevância internacional que estão relacionados à proteção da vida no
planeta, à preservação e à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida das
comunidades. A maior prova disto são as grandes reuniões mundiais, dentre as
quais a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em 1972, em
Estocolmo, e a Conferência Rio-92, em 1992, no Brasil, em que uma das principais
conclusões assumidas é a recomendação de investir-se em uma mudança de
mentalidade, conscientizando os diferentes grupos humanos para a fundamental
importância de se adotarem novas posturas diante dos problemas ambientais que
afetam todo o planeta.
Dentre as questões ambientais mais discutidas, pode-se citar: o crescimento
da população e a conseqüente elevação do consumo; as alterações nos padrões
44
de consumo e o conseqüente aumento na produção de lixo; a iminência da
escassez da água; a ameaça do aquecimento global, dentre outros.
Esse cenário aponta para o risco de um futuro colapso ambiental, caso não
haja uma rápida mudança nos hábitos de consumo da população mundial e na
postura das empresas, dos governos e da sociedade civil organizada, diante das
questões ambientais.
Abaixo estão relacionados alguns dados do cenário ambiental do planeta:
cerca de 80% das antigas florestas da Terra já foram destruídas ou degradadas.
Somente na Amazônia, a exportação ilegal de madeira contribuiu para a
destruição de uma área de floresta quase do tamanho do estado americano do
Texas e todo ano desaparece uma área equivalente à metade do estado de
Maryland
23
;
cerca de um terço das reservas originais de petróleo da Terra já foi produzido e
consumido. Se a exploração descontrolada de petróleo continuar em todo o
mundo, os dois terços restantes de petróleo natural da Terra não bastarão para
manter a mesma produção mundial no ritmo atual. No Século XXI, uma crise
mundial de fornecimento de petróleo, ainda que não iminente, deve acontecer
antes do previsto
24
;
a água, que antes era um bem natural de graça e abundante para muitos, hoje
é um recurso escasso. Estima-se que, se o seu consumo continuar crescendo
no ritmo atual, dois terços da população mundial viverão em situação de
escassez em 2025
25
;
23
Earthtrends – o portal da informação ambiental. Disponível em www.earthtrends.wri.org
24
Pesquisa de Recursos Energéticos. Conselho Mundial de Energia, 1998.
25
Ibid. 1998
45
nos últimos 50 anos, as emissões de dióxido de carbono quase quintuplicaram,
de 1,6 bilhão para 7 bilhões de toneladas por ano. As emissões se devem
principalmente à queimada de combustíveis fósseis pelo homem, contribuindo
para o esgotamento das fontes não-renováveis e provocando o aquecimento do
planeta. Esse aquecimento fará a temperatura subir em até 3,5°C,
desencadeando aumento do nível do mar e outras catástrofes naturais mais
graves
26
.
2.1.4 A força das empresas dentro do sistema
As empresas se tornaram grandes agentes de transformação da sociedade
e o seu poder econômico, bem como os impactos causados por sua operação,
chega a suplantar muitos países. As empresas multinacionais, por exemplo, são
importantes atores da economia mundial, detendo um poder econômico
significativo.
Segundo Grayson & Hodges (2000), as empresas são a principal força de
crescimento e desenvolvimento, criam riqueza e produzem bens e serviços na
maior parte do mundo.
Das maiores entidades econômicas do mundo, 51 são empresas e
49 são países; as 500 maiores empresas multinacionais respondem
por 70% do comércio mundial e 30% do produto bruto mundial e as
200 maiores empresas do mundo empregam menos de 1% da
população mundial, mas controlam 25% da atividade econômica
internacional (GRAYSON & HODGES, 2000, p. 29).
A Tabela 1 demonstra o poder e a influência das empresas quando
comparadas ao PIB de alguns países, destacando o crescimento das
multinacionais.
26
Relatório Panorama Ambiental Mundial da ONU, 2000.
46
Tabela 1. Economias Globais – a comparação
das vendas anuais de empresas com o PIB de
alguns países
País / Empresa PIB / Vendas
(US$ Milhão)
1 EUA 8.708.870
2 Japão 4.395.083
5 Reino Unido 1.373.612
11 México 474.951
14 Austrália 389.691
23 General Motors 176.558
24 Dinamarca 174.363
25 Wal-Mart 166.809
27 Ford Motor Co. 162.558
28 DaimlerChrysler 159.985
29 Polônia 154.146
31 Indonésia 140.964
37 Mitsui 118.555
38 Mitsubishi 117.765
40 GE 111.630
42 Portugal 107.716
43 Royal Dutch / Shell 105.366
Classificação baseada em dados empresariais
de vendas, em Fortune, 31 de julho de 2000, e
dados sobre o PIB do Relatório de
Desenvolvimento 2000, do Banco Mundial
(adaptado de Grayson & Hodges, 2000, p. 29)
Há grandes expectativas de que a empresa, como uma importante força do
crescimento e desenvolvimento, por meio de uma liderança participativa, exerça o
seu papel na construção de uma sociedade sustentável.
Se, por um lado, a empresa representa uma importante fonte criadora de
tecnologias e de geração de riquezas, que são elementos indispensáveis para a
solução dos problemas sociais, por outro, ela detém grandes responsabilidades na
geração de muitos problemas que afligem a sociedade, como as questões
relacionadas à poluição, à destruição do meio ambiente, entre outras.
É natural, portanto, que se atribua uma grande parcela de responsabilidade
às empresas, quanto ao desenvolvimento das sociedades nas quais estão
inseridas. Não é mais possível atribuir unicamente ao poder público a
47
responsabilidade do desenvolvimento social. É preciso que haja parcerias que
envolvam também a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, até porque
existem muitas maneiras pelas quais as técnicas e os conhecimentos especiais das
empresas podem contribuir para atingir os objetivos do desenvolvimento
sustentável das sociedades.
Nenhuma instituição tem penetração social comparável à da
empresa; a maioria das pessoas tem suas vidas ligadas, direta ou
indiretamente, a alguma empresa, passando, quase sempre, a
maior parte de seus dias dentro de uma delas; nenhuma instituição
está tão relacionada com o sistema econômico e com os problemas
decorrentes de seu mau funcionamento quanto a empresa.
(DUARTE & DIAS, 1986, p. 37).
A empresa socialmente responsável, portanto, torna-se cidadã, na medida
em que dissemina novos valores que restauram a solidariedade social, a coesão
social e o compromisso social com a equidade, a dignidade, a liberdade, a
democracia e a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade.
Diante do exposto, considerando que a empresa está inserida num ambiente
natural, social, político e econômico, sofrendo influência e influenciando esse
ambiente, com seus processos e suas decisões; considerando, ainda, o atual
cenário do estado do mundo, que indica a urgente necessidade de que o processo
de globalização e o crescimento das empresas e das economias dos países
ocorram de maneira sustentável, sem agressão ao meio ambiente, superando os
limites da pobreza e a profunda desigualdade social, pode-se retomar a discussão
em torno da Responsabilidade Social Empresarial, apresentando seus conceitos e
modelos propostos por diversos estudiosos do tema.
48
2.1.5 Responsabilidade Social Empresarial: conceitos e modelos
Apesar de ser um tema amplamente discutido nos meios acadêmico e
empresarial, segundo o Business Social Responsible Institute
27
(BSR, 2006), ainda
não existe uma definição unanimemente aceita para a Responsabilidade Social
Empresarial. O BSR Institute sustenta que uma empresa socialmente responsável
é aquela que atua no ambiente comercial, excedendo as expectativas éticas, legais
e comerciais do meio social no qual está inserida.
Segundo Duarte & Dias (1986), o termo Responsabilidade Social representa,
para alguns, a idéia de obrigação legal; para outros, impõe às empresas padrões
mais altos de comportamento; há ainda os que conceituam RS como uma prática
social, papel social e função social, enquanto outros associam a RS a um
comportamento eticamente responsável ou à filantropia. Finalmente, existem ainda
os que entendem o seu significado como ser responsável ou socialmente
consciente.
Para o Instituto Ethos (2003), a Responsabilidade Social deve ser encarada
como uma forma de gestão. Nesse sentido, conceitua a RSE como
uma forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais
compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade,
preservando recursos ambientais e culturais para gerações futuras,
respeitando a diversidade e promovendo a redução das
desigualdades sociais.
27
Organização mundial que apóia as empresas no alcance dos seus objetivos, por meio da disseminação e da
incorporação das práticas socialmente responsáveis. Reúne empresas de todo o mundo que juntas acumulam
um faturamento em torno de U$ 2 trilhões e empregam aproximadamente 6 milhões de pessoas.
49
Diante de tantas abordagens, Duarte & Dias (1986) resumem três aspectos
que são essenciais na doutrina de RS: o primeiro refere-se à ampliação do alcance
da responsabilidade da empresa, que não mais se limita ao círculo dos acionistas;
o segundo refere-se à mudança e à natureza dessas responsabilidades, visto que
ultrapassam o âmbito da prescrição legal, envolvendo também o âmbito da moral
ditado pela ética; o terceiro refere-se à adequação das demandas sociais, num
dado contexto sócio-econômico.
É importante considerar, portanto, que em todos os conceitos as ações de
Responsabilidade Social referem-se ao ambiente externo, constituído, por exemplo,
pelos cidadãos, governos, pelas comunidades, pelos sindicatos e por todos que
participam da vida em sociedade, influenciando ou sendo influenciados pela
operação da empresa.
Grajew (2000, p.77) afirma que o conceito de Responsabilidade Social
vem passando por transformações, afastando-se da mera
filantropia, que é a relação socialmente compromissada da
empresa com a comunidade, para abranger todas as relações da
empresa: com seus funcionários, clientes, fornecedores, acionistas,
concorrentes, meio ambiente e organizações públicas e estatais,
compreendendo formas de gestão empresarial que aplicam
princípios e valores a todas as práticas e políticas da empresa.
Ao decidir incorporar a RS na gestão estratégica, a empresa precisa
comprometer-se eticamente e contribuir para melhorar a qualidade de vida de
todos aqueles com os quais interage.
Segundo Srour (1998), a empresa socialmente responsável envolve
múltiplas exigências:
relações de parceria entre cliente e fornecedores, produção com
qualidade ou adequação ao uso com plena satisfação dos usuários,
contribuições para o desenvolvimento da comunidade,
investimentos em pesquisa tecnológica, conservação do meio
ambiente mediante intervenções não-predatórias, participação dos
50
trabalhadores nos resultados e nas decisões da empresa, respeito
ao direito dos cidadãos, não-discriminação dos gêneros, raças,
idades, etnias, religiões, ocupações, preferências sexuais,
investimentos em segurança do trabalho e em desenvolvimento
profissional.
Independentemente do segmento, da área geográfica de atuação ou do seu
porte, é importante que a empresa absorva as variáveis sociais e ambientais na
cultura organizacional. Todos os sócios, acionistas e funcionários devem
compartilhar responsabilidades, que vão além da simples existência econômica da
empresa onde trabalham, proporcionando, assim, um ambiente interno capaz de
entender as mudanças e as influências do ambiente externo, para, dessa forma,
melhor definir suas relações com os diversos públicos.
Existem também argumentos contrários à Responsabilidade Social
Empresarial. Para Milton Friedman (apud Ashley, 2005), Prêmio Nobel de
Economia, a obrigação da empresa é maximizar o lucro e o valor do patrimônio
para os seus acionistas e defende que a empresa já é socialmente responsável, ao
gerar empregos, pagar salários justos e melhorar as condições de trabalho, isso
porque, ao obter lucros e pagar melhores salários, a empresa estará,
conseqüentemente, contribuindo para o bem-estar público e o desenvolvimento
social (ASHLEY, 2005).
Outro opositor à RSE é Levitt (1958), que resume toda sua posição na
afirmação de que, no sistema de livre-empresa, supõe-se que o bem-estar seja
automático e onde não o é torna-se tarefa do governo.
Segundo David Henderson (apud Dupas 2003), que já foi o principal
economista da OCDE
28
, o compromisso com a Responsabilidade Social das
28
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. É uma organização internacional
dos países desenvolvidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre-mercado. A
sede da organização fica em Paris, na França. Dados disponíveis em
www.pt.wikipedia.org acesso em
16/10/06.
51
empresas é um mero expediente para encobrir o legítimo e crescente interesse
pelo lucro. Ele não só duvida de que a gestão socialmente responsável possa
trazer algum benefício para a empresa, como considera que pode estar causando
danos reais ao sistema capitalista, acusando os partidários da Responsabilidade
Social de não entenderem como o capitalismo funciona, lembrando ainda que a
boa cidadania empresarial não é gratuita e que seu custo adicional acaba sendo
pago por toda a sociedade, via aumento de preços (DUPAS, 2003).
Henderson chama a atenção ainda para a possibilidade de as empresas
multinacionais que adotam uma gestão socialmente responsável, teoricamente
protegidas por um legítimo interesse social, exigirem padrões internacionais
ambientais e trabalhistas para seus concorrentes de países pobres, limitando com
isso, ainda mais, sua concorrência e piorando o desempenho da economia global.
Vale ressaltar, no entanto, que adotar uma gestão socialmente responsável
não significa repassar para as empresas o que é atribuição dos governos, mas,
sim, assumir uma postura solidária para o desenvolvimento sustentável, entre o
poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, no sentido de
juntos contribuírem para o desenvolvimento social. Do contrário, a lógica sistêmica
não faria sentido.
2.1.6 Os modelos de RSE
Diante do aumento das demandas sociais e ambientais para uma atuação
empresarial mais engajada, diversos modelos têm sido apresentados pela
comunidade acadêmica, no sentido de melhor compreender a relação entre as
52
empresas e a sociedade e o seu papel sócio-econômico diante das novas
demandas.
A seguir, serão apresentados alguns modelos de RSE, dentre outros
existentes, selecionados pelo autor.
2.1.6.1 O modelo de Carroll
A proposta de modelo apresentada por Carroll (1979), conhecida como
Pirâmide de Responsabilidade Social Empresarial, destaca-se na busca por
encontrar um significado para Responsabilidade Social.
Carroll (1979) propôs um modelo mediante o qual o conceito de
Responsabilidade Social é amplamente abordado, incluindo um conjunto de
responsabilidades da organização para com a sociedade. O autor desenvolveu seu
modelo na forma de uma pirâmide com quatro dimensões, conforme mostra a
Figura 2, que contempla as expectativas da sociedade para com a organização, na
forma de responsabilidades econômicas, legais, éticas e filantrópicas.
A responsabilidade econômica está na base da pirâmide. Segundo o
modelo proposto, esse é o principal tipo de Responsabilidade Social das empresas,
sendo que o lucro é o seu principal objetivo. Ter responsabilidade econômica
significa produzir bens e serviços que a sociedade quer e necessita, a um preço
que possa garantir a continuação das atividades da empresa, de forma a satisfazer
suas obrigações para com os investidores e maximizar os lucros, para proprietários
e acionistas.
Já a responsabilidade legal refere-se às condições dentro das quais a
sociedade espera que as organizações atuem, para alcançar seus objetivos,
53
sendo que tais regras são determinadas pelos sistemas legais existentes na
sociedade. Espera-se que as empresas atendam as metas econômicas, dentro da
estrutura legal do ambiente em que atuam.
A responsabilidade ética diz respeito aos comportamentos ou às atividades
que a sociedade espera das empresas e que não estão, necessariamente,
dispostos na lei, podendo, inclusive, não servir aos interesses econômicos diretos
da empresa, mas que dizem respeito ao desenvolvimento das suas atividades, em
equilíbrio com os interesses de todos os stakeholders.
Quanto à responsabilidade discricionária ou filantrópica, que fica no topo
da pirâmide, é voluntária e envolve as contribuições que a empresa faz para a
comunidade onde atua, sem que sejam determinadas por padrões econômicos,
legais ou éticos. Essas atividades incluem, por exemplo, contribuições financeiras
para projetos da comunidade, doações a obras beneficentes ou para instituições de
caridade que não oferecem retorno direto para a empresa, etc.
Conforme destacado por Borger (2001), o maior enfoque da definição de
Carroll está voltado para as dimensões econômica e legal, embora evidencie que
as dimensões não possuem uma seqüência no desenvolvimento da RSE. No
entanto, aborda o desempenho econômico e legal como essenciais, ficando a
dimensão ética em função do entendimento do que se considera ser um
comportamento ético e a dimensão filantrópica em função de situações particulares
nas quais são desenvolvidos programas e ações sociais.
54
Figura 2. Pirâmide da Responsabilidade Social Empresarial
Responsabilidade
Filantrópica:
contribuir para a
comunidade
e a qualidade de vida
Responsabilidade Ética:
ser ético, fazer o que é certo,
evitar danos
Responsabilidade Legal:
obedecer a lei
Responsabilidade
Econômica:
ser lucrativa
Fonte: CARROLL, 1979
Segundo Carroll, ao analisarem-se as quatro dimensões da RS, percebe-se
que estão intimamente relacionadas, embora estejam freqüentemente em conflito
uma com as outras. Ainda assim, cada uma dessas dimensões não existe
separada ou isoladamente das outras e o conjunto delas significa a adoção da
Responsabilidade Social Empresarial.
2.1.6.2 O modelo de Melo Neto & Froes
Melo Neto & Froes (2002) apresentam um modelo de gestão de RSE
dividido em duas dimensões: interna e externa.
55
A dimensão interna da RS, segundo os autores, tem seu foco voltado para
as ações com o seu público interno, visando o bem-estar dos empregados e dos
seus familiares. O objetivo de ações dessa natureza é melhorar a qualidade de vida
no trabalho e conseqüentemente obter ganhos de produtividade. Para os autores,
o fortalecimento das ações de RS interna irá promover uma nova cultura
empresarial, voltada para a valorização das ações sociais, que, posteriormente,
acabam extrapolando as fronteiras da empresa e atuando também na comunidade.
Já a dimensão externa da RS tem seu foco voltado para o beneficio da
comunidade e consiste na decisão da empresa em participar mais diretamente das
ações da comunidade em que ela está inserida.
A Figura 3 apresenta os possíveis estágios da Responsabilidade Social em
uma empresa.
Figura 3. Os estágios de Responsabilidade Social de uma empresa
Alto grau de RS Ext.
e baixo grau de RS Int.
Baixo grau de RS Ext.
e alto grau de RS Int.
Baixos graus de RS Ext.
e RS Int.
Altos graus de RS Ext.
e RS Int.
1
2
4
3Grau de
RS Ext.
Grau de RS Int. Ext.
RS Int: Responsabilidade Social Interna
RS Ext: Responsabilidade Social Externa
Fonte: adaptado de Melo Neto & Froes, 2002
A cidadania empresarial plena somente ocorre na situação do quadrante 3,
quando uma empresa assegura o bem-estar dos seus funcionários e dependentes,
ao tempo em que contribui para o desenvolvimento da comunidade.
56
A situação oposta, expressa no quadrante 1, é típica das empresas sem
consciência social. São totalmente indiferentes à saúde e ao bem-estar dos seus
funcionários e ignoram os anseios da comunidade.
O quadrante 2 é característico das empresas que utilizam o marketing social
como estratégia promocional para encobrir a sua má gestão de recursos humanos:
pagam mal, demitem seguidamente sem critérios, não possuem programas de
benefícios compensatórios e não investem na qualificação do corpo funcional. Por
outro lado, fazem doações, exercem a filantropia corporativa, investem em projetos
sociais, em busca de uma ampla divulgação da marca e do reforço da imagem.
A situação do quadrante 4 caracteriza o estágio inicial da cidadania
empresarial para muitas empresas: investem primeiramente no bem-estar social
dos seus empregados, para, em seguida, fortalecer sua atuação junto à
comunidade.
De acordo com Melo Neto & Froes (2002), a Responsabilidade Social de
uma empresa consiste em sete vetores que devem direcionar o processo de gestão
empresarial para o fortalecimento da sua dimensão social: apoio ao
desenvolvimento da comunidade onde atua; preservação do meio ambiente;
investimento no bem-estar dos colaboradores e seus dependentes, num ambiente
de trabalho agradável; comunicações transparentes; retorno aos acionistas;
sinergia com os parceiros e satisfação dos clientes e/ou consumidores.
2.1.6.3 O modelo de Quazi & O’Brien
Quazi & O’Brien (2000) propõem um modelo de duas dimensões para
classificação das visões existentes sobre a Responsabilidade Social (Figura 4).
57
Nesse modelo, os autores apresentam duas vertentes da Responsabilidade
Social: uma delas é a responsabilidade ampla, que compreende as atividades
empresariais que vão além das responsabilidades clássicas econômicas da
empresa; a outra é a responsabilidade estreita, na qual o objetivo da empresa é
basicamente a maximização do valor para o acionista, sendo assim, é a isso que a
empresa deve ater-se.
Figura 4. Modelo bidimensional de Responsabilidade Social Empresarial
Visão
Filantró
p
ic
a
Visão
Clássica
Visão
Moderna
Visão Sócio-
econômica
CUSTOS DE AÇÕES DE RSE
BENEFÍCIOS DE AÇÕES DE RSE
Responsabilidade Ampla Responsabilidade Estreita
Fonte: adaptado de Quazi & O’ Brien (2000)
Segundo os autores, a responsabilidade ampla subdivide-se em duas
visões: a visão moderna, que acredita que, no longo prazo, as ações de
Responsabilidade Social trazem benefícios à empresa, e a visão filantrópica, que
defende as ações de Responsabilidade Social, mesmo que não tragam retornos
para a empresa. Assim, a responsabilidade ampla está em sintonia com a visão
dos defensores das ações de Responsabilidade Social.
58
Já a responsabilidade estreita subdivide-se também em duas visões: a visão
sócio-econômica, que leva em consideração que o objetivo da empresa é a
maximização do valor para o acionista, mas acredita que as ações de
Responsabilidade Social podem ajudar nessa geração de valor, e a visão clássica,
que considera que as ações de Responsabilidade Social não geram valor para a
empresa e que, portanto, não devem ser desenvolvidas.
Nota-se a convergência em favor da Responsabilidade Social entre as
visões moderna e sócio-econômica, em que, de acordo com elas, as ações de
Responsabilidade Social gerariam valor para a empresa.
2.1.6.4 O modelo de Fombrun
Fombrun (2000) acredita que a atuação socialmente responsável contribui
para que a empresa reforce sua ligação com a comunidade local e com os
empregados. Por outro lado, a construção da imagem institucional, chamada de
capital reputacional, também melhora a habilidade de negociar contratos mais
interessantes para a empresa, com fornecedores e governo, além de certas
circunstâncias propiciarem melhores preços para os produtos da empresa e
menores custos de capital.
O autor refere-se especificamente às atividades de Responsabilidade Social
filantrópicas como sendo criadoras ou mantenedoras do capital reputacional, sobre
dois aspectos: criando vantagem competitiva, dessa forma, aprimorando a
capacidade da empresa em atrair e manter recursos, e minimizando os riscos de
perdas reputacionais.
59
A lógica proposta no modelo é que as empresas socialmente responsáveis
podem obter ganhos de capital reputacional, preservando ou gerando aumento do
valor da empresa, alavancando as oportunidades de negócios e reduzindo riscos
potenciais de sua conduta no mercado.
O modelo expresso na Figura 5 sintetiza a lógica do aumento de valor da
empresa, a partir de ações socialmente responsáveis.
Figura 5. Criação de valor a partir de ações de RS
Ações de
RSE
Aumento do
capital
re
p
utacional
Minimização
de riscos
Geração de
oportunidades
Aumento de
valor da
em
p
resa
Fonte: adaptado de Fombrun, 2000
2.1.6.5 O modelo de Wood
Wood (1991), baseado nos estudos de Carroll (1979), desenvolveu um
modelo de avaliação do desempenho social fundamentado nos princípios de RSE,
nos processos de responsividade (ou resposta) social e nos resultados observáveis
referentes ao comportamento social corporativo, como mostra o Quadro 1:
60
Quadro 1. Modelo de Desempenho Social de Wood (1991)
Princípios de Responsabilidade Social
Corporativa
9 Princípio institucional: legitimidade
9 Princípio organizacional:
responsabilidade pública
9 Princípio individual: escolha gerencial
Processos de Responsividade Social
Corporativa
9 Avaliação ambiental
9 Gerenciamento de stakeholders
9 Gerenciamento de problemas ou
questões
Comportamento Social Corporativo 9 Impactos sociais
9 Programas sociais
9 Políticas sociais
Os princípios de Responsabilidade Social Empresarial baseiam-se na idéia
que o negócio e a sociedade são entidades combinadas e, por isso, a sociedade
possui expectativas com relação à forma de agir e aos resultados da organização.
O Quadro 2 mostra o detalhamento desses princípios.
Quadro 2. Princípios da Responsabilidade Social Empresarial de Wood (fonte: WOOD,
1991)
Princípio da Legitimidade
A sociedade concede legitimidade e poder ao negócio. Em um período longo, as empresas
que não usam o poder de uma maneira que a sociedade considere responsável tendem a
perdê-lo.
Nível de aplicação: institucional, baseado nas obrigações da firma como uma organização
de negócios.
Foco: obrigações e sanções.
Valor: define o relacionamento institucional entre o negócio e a sociedade e especifica o
que é esperado de qualquer negócio.
Princípio de Responsabilidade Pública
Os negócios são responsáveis pelos resultados relacionados às suas áreas primárias e
secundárias de envolvimento com a sociedade.
Nível de aplicação: organizacional, baseado nas circunstâncias e nos relacionamentos
específicos da firma com o ambiente.
Foco: parâmetros comportamentais para organizações.
Valor: limita a responsabilidade de um negócio àqueles problemas relacionados às
atividades e aos interesses da firma, sem especificar um domínio tão restrito a ações
possíveis.
Princípio da Escolha Gerencial
Gerentes são protagonistas morais. Dentro de todo domínio da Responsabilidade Social
corporativa, eles são obrigados a exercitar essas escolhas, da maneira que lhe é
disponível, em direção aos resultados Socialmente Responsáveis.
Nível de aplicação: individual, baseado nas pessoas como protagonistas dentro das
organizações.
Foco: escolha, oportunidade, responsabilidade pessoal.
Valor: define a responsabilidade dos gerentes de serem protagonistas morais e seguir e
exercitar escolhas a serviço da Responsabilidade Social.
61
2.1.6.6 O modelo de Silva
Silva (2002) propõe que os graus de comprometimento das empresas com a
RS, vão desde estratégias obstrucionistas, quando a empresa prioriza os
objetivos econômicos e em contrapartida combate as demandas sociais, passando
por estratégias defensivas, quando a empresa cumpre o mínimo exigido por lei,
para que possa funcionar, até as estratégias acomodativas, quando a empresa
cumpre o mínimo eticamente exigido pelos critérios legais, econômicos e éticos, e
finalmente, as estratégias proativas, em que a empresa atua de forma preventiva
quanto aos impactos sociais emergentes, preenchendo assim todos os critérios de
desempenho social. A figura abaixo apresenta o continuum proposto pelo autor,
para melhor compreensão do modelo.
Figura 6. Continuum de comprometimento das empresas para as questões de RS e suas
estratégias de ação (adaptado de Silva, 2002)
Estratégia
obstrucionista
Estratégia defensiva
Estratégia
acomodativa
Estratégia
proativa
GRAU DE RESPONSABILIDADE SOCIAL BAIXO ALTO
DEFESA
(aceitação da
briga)
REAÇÃO
(negação da
responsabilidade)
ACOMODAÇÃO
(aceitação da RS em
resposta a pressões)
PROAÇÃO
(iniciativa de estabelecer
um modelo positivo de
atuação)
62
2.1.6.7 O modelo de Montana & Charnov
Para Montana & Charnov (2003), a Responsabilidade Social Empresarial
pode ser abordada em três diferentes formas (Figura 7):
a abordagem da obrigação social, que considera que as únicas obrigações
de RSE são as exigidas por lei e que, por isso, a empresa somente investirá os
recursos organizacionais necessários para cumprir essas obrigações sociais,
sem pensar em realizar os esforços voluntários, a não ser que perceba algum
benefício direto nessa ação;
a abordagem da Responsabilidade Social, ou reação social, é a abordagem
passiva, que corresponde à forma como a organização trata os problemas
sociais existentes, sem que o nível econômico da empresa seja afetado de
forma negativa. Esta abordagem reconhece os grupos de ação social
existentes, contribuindo com eles e incentivando seus funcionários a fazerem o
mesmo – é o caso da ação voluntária. O fator que leva muitas empresas a
adotarem essa posição é o reconhecimento de que estas dependem da
aceitação por parte da sociedade a qual pertencem e que ignorar as pressões
sociais pode ser destrutivo a longo prazo;
a abordagem de sensibilidade social caracteriza-se pelos comportamentos
socialmente responsáveis preventivos e não-reativos. A expressão
sensibilidade social tornou-se amplamente utilizada para denominar atos que
vão além da mera obrigação e reação social. Esta abordagem parte do
princípio de que a empresa não possui somente objetivos econômicos e
responsabilidades com os problemas sociais do presente, e, sim, que deve
antecipar futuros problemas sociais e investir recursos organizacionais no
63
presente, em busca de evitá-los no futuro, mesmo que não lhe pareça uma
ameaça no momento atual.
Segundo os autores, esta abordagem faz com que a organização aja de
forma proativa, prevenindo e tratando seus problemas sociais antes que eles se
tornem evidentes. Vale ressaltar, no entanto, que esta abordagem é vista pelas
empresas com certo cuidado, uma vez que exige investimentos no presente,
visando o bem social no futuro.
Figura 7. Graus de sensibilidade social da empresa
Abordagem
da obrigação
social
Abordagem da
reação ou
responsabilidade
social
Abordagem da
sensibilidade
social
Cumprir apenas as obrigações legais
Cumprir as obrigações legais e sociais
atuais
q
ue afetam diretamente a em
p
resa
Cumprir as obrigações legais e as obrigações
sociais relativas a tendências/problemas que estão
surgindo, mesmo que afetem à empresa
indiretamente
Fonte: adaptado de Montana & Charnov, 2003.
2.1.7 A Teoria dos Stakeholders
Considerando que este trabalho tem o propósito de diagnosticar e analisar o
grau de envolvimento de um dos stakeholders do Supermercado Cardoso (a sua
cadeia de fornecedores), torna-se necessária uma melhor compreensão desta
terminologia, para assim contextualizar o leitor a respeito da importância dos
64
stakeholders num processo de adoção da Responsabilidade Social na gestão de
uma empresa.
A Teoria do Stakeholder representa o conceito que aborda a
Responsabilidade Social de forma ampla em relação aos grupos de interesses que
afetam ou são afetados pela atuação nas organizações e incorpora a idéia de que
as organizações têm uma obrigação com os grupos que constituem a sociedade,
além dos sócios, acionistas e funcionários.
Segundo Freeman (2000), o uso do termo stakeholder surgiu nos anos 60,
num trabalho pioneiro no Stanford Research Institute. Esses estudos afirmavam
que os gestores deveriam entender os interesses dos acionistas, funcionários,
clientes, fornecedores, das instituições financeiras e da sociedade, para, em
seguida, desenvolver propostas de estratégias de negócios. Para o autor, os
stakeholders podem ser definidos como “quaisquer grupos ou indivíduos que são
afetados ou que afetam o alcance dos objetivos das organizações”.
Dentro deste sentido, Kreitlon (2003) reafirma a Teoria do Stakeholder
quando diz que a RSE é um processo mediante o qual uma empresa promove, por
meio do diálogo e da participação, a inclusão de diversos grupos de interesses
legítimos que se encontram sob sua esfera de influência, tendo por objetivo a
formulação de estratégias e políticas organizacionais coerentes com esses
interesses.
Entende-se, então, que os stakeholders são atores, tais como funcionários,
gerentes, fornecedores, proprietários, clientes, governo, entre outros, sem os quais
a organização não seria possível.
65
Independentemente das definições existentes, não se pode negar que há
stakeholders mais relacionados à empresa e stakeholders que não são diretamente
influenciados ou atingidos pelas ações empresariais.
É importante compreender, portanto, que existe uma rede interdependente
de relacionamento entre a empresa e os stakeholders, que tende a evoluir em
decorrência das práticas sociais, que irá definir a interação dos seus vários
componentes e que, por intermédio da qual, será responsável por ganhos ou
perdas empresariais, de acordo com a atuação da empresa.
As organizações que se preocupam com todos os seus stakeholders têm
ganhos empresariais traduzidos no fortalecimento da imagem organizacional, na
fidelidade à marca e aos produtos, no acesso a novos mercados e capitais, no
maior empenho e motivação dos funcionários em produzir, na diminuição de
conflitos, no retorno publicitário, no retorno financeiro para os acionistas e
investidores, na capacidade de recrutar e de manter talentos, por fim, em ganhos
sociais, pelas mudanças de comportamento da sociedade. Estas são as vantagens
de uma gestão socialmente responsável, pautada na melhoria da qualidade de vida
dos stakeholders.
Por outro lado, se a empresa trata seus stakeholders com negligência e
menospreza a conduta ética e responsável em suas relações, poderá ter como
resultado um enfraquecimento da imagem, uma desvalorização da marca e ou dos
produtos, restrição de mercados e capitais, um baixo desempenho e uma
desmotivação dos funcionários, reclamação de clientes, etc.
Portanto, para que o processo de incorporação da Responsabilidade Social
na empresa seja verdadeiramente legítimo e sustentável, a longo prazo, torna-se
66
imperativo que haja o envolvimento e a participação de todos os stakeholders em
todos os processos empresariais.
2.1.8 Os instrumentos de sustentabilidade
Diante da nova demanda de mercado quanto às questões de
Responsabilidade Social e também a partir da própria consciência das
organizações em torno de seu papel social e sua contribuição para o
desenvolvimento sustentável, diversas organizações, governos, entidades da
sociedade civil, nacionais e internacionais, uniram-se para criar normas de conduta
e instrumentos para a gestão empresarial.
Dessa forma, foram desenvolvidos instrumentos
29
e criados grupos de
cooperação para troca de experiências e debates na área social, no sentido de
auxiliar na implementação da gestão socialmente responsável das organizações
que desejam alinhar-se com a sustentabilidade.
Vale ressaltar que nenhum desses instrumentos representa um fim em si
mesmo. Além disso, a validade desses instrumentos somente se confirma com a
sua efetiva implementação, ou seja, um código de conduta, por exemplo, só será
útil se for adotado, na prática, por todos os públicos interessados, do contrário,
para nada servirá.
29
Podem ser certificações, indicadores de sustentabilidade, princípios orientadores, guias de referências para
um mundo melhor, modelos de relatórios, normas de requisitos, etc.
67
2.1.8.1 Os instrumentos existentes
Dentre os instrumentos de sustentabilidade existentes
30
, alguns estão
descritos abaixo:
Declaração Universal dos Direitos Humanos
31
: primeira proclamação
internacional dos direitos básicos dos indivíduos relacionados a direitos políticos,
econômicos e sociais, adotada pela ONU, em 1948. Retoma os ideais da
Revolução Francesa, de igualdade, liberdade e fraternidade, num âmbito universal.
É aceita e respeitada internacionalmente e foi usada como base para a elaboração
de muitas constituições ao redor do mundo, sendo referência fundamental para
qualquer outra certificação ou iniciativa. Possui 30 artigos, que discorrem sobre o
direito a alimentação, ao trabalho, à saúde e educação, bem como o direito à vida,
à liberdade e à segurança pessoal, o direito de ir e vir, assim como o direito de
liberdade de expressão. A Declaração dos Direitos da Criança (1959) e a
Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher, igualmente
importantes, são derivadas da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Agenda 21
32
: elaborado com a contribuição e participação de governos e de
instituições da sociedade civil de 179 países, num processo preparatório que durou
dois anos e que culminou com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro, esse documento possui
40 capítulos que apresentam um programa de ação baseado num processo de
planejamento participativo de análise da situação atual de um país, estado,
30
Os instrumentos citados nesse trabalho foram extraídos do Guia de Compatibilidade de Ferramentas 2005,
elaborado pelo Uniethos, disponível em
www.ethos.org.br
31
Mais informações disponíveis em www.onu-brasil.org.br
32
Mais informações disponíveis em www.mma.gov.br
68
município e ou uma região, para o planejamento do futuro de forma sustentável. É
considerado a mais abrangente e ousada tentativa de promover um novo padrão
de desenvolvimento no planeta, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça
social e eficiência econômica.
Carta da Terra
33
: lançada oficialmente em junho de 2000, no Palácio da Paz, em
Haia, foi aprovada pelas Nações Unidas, em 2002. Constitui-se num conjunto de
normas éticas e morais, com orientações e metas práticas para que a humanidade
avance no processo de criar um mundo baseado no desenvolvimento sustentável.
Sua elaboração ocorreu depois de um longo processo de consulta, aberto a
diferentes setores da sociedade, em todo o mundo. A Carta da Terra é composta
por quatro grandes temas: respeito e cuidado com a comunidade da vida;
integridade ecológica; justiça social e econômica e democracia, não-violência e
paz. Estes temas são subdivididos em 16 princípios e 60 ações afirmativas.
Pacto Global
34
: lançado em Nova Iorque, em 26 de julho de 2000, nasceu de um
apelo feito pelo Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, no Fórum
Econômico Mundial de 1999, para que o mundo empresarial se unisse, com o
objetivo de “dar uma face humana à globalização”. O objetivo do pacto é encorajar
o alinhamento das políticas e práticas empresariais com os valores e as metas
acordados mundialmente, na busca de uma economia global mais sustentável e
inclusiva, que proporcione condições de acesso a educação, habitação,
alimentação, transporte, emprego e saúde. Tem, originalmente, nove princípios,
derivados de declarações mundiais de direitos humanos (Declaração Universal dos
Direitos Humanos); Trabalho (Declaração de Princípios e Direitos Fundamentais no
Trabalho); Meio ambiente (Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento)
33
Mais informações disponíveis em www.earthcharter.org
34
Outras informações disponíveis em www.unglobalcompact.org
69
e, em 2004, mais um princípio foi incorporado: o princípio do Combate a
Corrupção.
Diretrizes da OCDE para Empresas Multinacionais
35
: as diretrizes para
empresas multinacionais revelam consenso dos governos que participam da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) a
respeito do que é ter, em qualquer parte do mundo, uma conduta empresarial
responsável. São recomendações desses governos a organizações multinacionais
que fornecem princípios e padrões, no sentido de estimular as responsabilidades
sociais das empresas e buscar assegurar que as atividades das multinacionais
estejam em consonância com as políticas governamentais, para que, desse modo,
fortaleçam-se as bases de uma confiança mútua entre as empresas e as
sociedades nas quais elas realizam operações. Essas diretrizes, mesmo não sendo
legalmente aplicáveis, uma vez que sua observância é voluntária, objetivam
melhorar o clima para investimentos estrangeiros e contribuir para um
desenvolvimento sustentável, produzido pelas multinacionais.
Princípios de Governança da OCDE
36
: aprovado em 1999, esses princípios
tornaram-se uma referência em países-membros e não-membros da OCDE.
Formam a base da governança corporativa do Banco Mundial e do Fundo
Monetário Internacional (FMI). São aceitos internacionalmente como o requisito
mínimo para as boas práticas de governança e auxiliam na hora de verificar
pagamentos, tomar decisões, assim como acompanhar e supervisionar a situação
financeira de nações. Os princípios da OCDE consideram os seguintes temas: os
direitos dos acionistas; o tratamento igualitário entre acionistas; o papel das demais
35
Outras informações disponíveis em www.ocde.org
36
Mais informações podem ser encontradas no site www.ocde.org
70
partes interessadas; a abertura e a transparência; a responsabilidade do Conselho
de Administração.
Metas do Milênio
37
: estabelecidas durante a Cúpula do Milênio
38
, quando foi
proposto um conjunto de 18 objetivos, vinculados a oito metas para serem
alcançadas pelos países signatários da Declaração do Milênio até 2015. São elas:
erradicar a extrema pobreza e a fome; atingir a universalização do ensino
fundamental; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres;
reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a
malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; promover uma
Parceria Mundial para o Desenvolvimento.
Projeto Sigma
39
(Sustainability Integrated Guidelines for Management): é uma
síntese de vários modelos e instrumentos no campo da Responsabilidade Social
Empresarial. Pode ser usado sozinho ou em conjunto com outras iniciativas e
permite às organizações definirem seu próprio processo, de acordo com suas
necessidades. Lançado em 1999 e revisado em 2003, reúne temas sociais,
ambientais e econômicos, incentivando as organizações a integrarem essas áreas
dentro da organização. É composto por três partes: um guia orientativo de
princípios que ajudam as companhias a entenderem o conceito de sustentabilidade
e sua contribuição a ele; uma estrutura de modelo de gerenciamento, cuja função é
integrar a sustentabilidade nos processos essenciais da companhia e cuja
aplicação é estruturada em fase e subfases, e um conjunto de ferramentas para
facilitar a implementação das diretrizes e ajudar a superar obstáculos no caminho
da sustentabilidade.
37
Outras informações disponíveis em www.undp.org.br
38
Considerada a maior reunião mundial de dirigentes, de todos os tempos, aconteceu em setembro de 2000, em
Nova Iorque, e contou com a participação de 147 chefes de Estado e de governo de 191 países.
39
Outras informações disponíveis em www.projectsigma.com
71
O Projeto Sigma leva em consideração a existência de cinco tipos de capital que
devem ser considerados no processo de gestão. São eles: capital natural (meio
ambiente), capital social (relações e estruturas sociais), capital humano (pessoas),
capital construído (bens acumulados) e capital financeiro (lucros e perdas, vendas,
ações, dinheiro em caixa).
The Natural Step
40
: The Natural Step (TNS) é um dos instrumentos que servem de
exemplo como cidadãos e empresas podem trabalhar em favor de um mundo
melhor. Criado em 1989, por Karl-Henrik Robèrt, atuante cientista e médico
cancerologista sueco, é hoje uma das mais importantes organizações
internacionais voltadas para o desenvolvimento sustentável, procurando
conscientizar empresas e populações e buscando soluções e ferramentas para
alcançar a sustentabilidade planetária.
Os quatro princípios de sustentabilidade dizem, basicamente, que os combustíveis
fósseis e outros materiais não podem ser extraídos da crosta terrestre numa
velocidade maior do que podem ser redepositados; que substâncias não podem ser
produzidas num ritmo mais rápido do que podem ser decompostas e integradas
nos ciclos da natureza ou depositadas na crosta terrestre; que os ecossistemas
não podem ser devastados de forma que a capacidade produtiva e a diversidade
da natureza diminuam; que as necessidades humanas básicas devem ser
satisfeitas em todo o mundo.
Diretrizes do GRI
41
(Global Reporting Initiative): fornece diretrizes para as
empresas que desejam apresentar um balanço econômico, social e ambiental. A
iniciativa é pioneira na proposta de incorporação de indicadores de sustentabilidade
40
Outras informações disponíveis em www.naturalstep.org
41
Outras informações disponíveis em www.globalreporting.org
72
nos relatórios de atividades empresariais e tem a missão de elevar a qualidade dos
relatórios a um nível passível de comparação, consistência e utilidade.
Os 11 princípios do GRI foram desenvolvidos tendo-se em vista o longo prazo e a
disposição da empresa em continuar evoluindo com base em novos conhecimentos
e aprendizado. Muitos deles se assemelham àqueles usados em relatórios
financeiros, o que facilita o entendimento das partes interessadas e sua utilização
para o campo social e o ambiental. Embora nem todas as organizações possam
atingir as metas estabelecidas no curto prazo, elas devem reportar o processo de
implementação dos princípios e identificar as melhoras alcançadas nos diversos
aspectos.
Balanço Social Ibase
42
: o modelo de Balanço Social do Instituto Brasileiro de
Análises Sociais e Econômicas (Ibase) foi criado em 1997, pelo sociólogo Herbert
de Souza, o Betinho, na época, presidente do Instituto. Nesse período, ele lançou
uma campanha para incentivar a divulgação voluntária do balanço social e propôs
um modelo simplificado de auto-avaliação das práticas das organizações. É um
balanço social inspirado no formato dos balanços financeiros, que expõe
detalhadamente os números relacionados à Responsabilidade Social da
organização, além de reunir, em forma de planilha, informações sobre folhas de
pagamento, gastos com encargos sociais de funcionários e participação nos lucros.
Também traz, de maneira detalhada, as despesas com controle ambiental e os
investimentos sociais externos, em áreas como educação, cultura e saúde.
Balanço Social Ethos
43
: é um relato abrangente de princípios e ações da
organização. Incorpora o modelo proposto pelo Ibase e sugere que as empresas
façam um maior detalhamento do contexto em que as decisões são tomadas, dos
42
Outras informações disponíveis em www.ibase.org.br
43
Outras informações disponíveis em www.ethos.org.br
73
problemas encontrados e dos resultados obtidos. Segundo o modelo do Ethos,
para que os balanços sociais obtenham a mesma credibilidade dos balanços
financeiros, as informações contidas neles devem seguir critérios de relevância,
veracidade, clareza, comparabilidade, regularidade e possibilidade de verificação.
O Balanço Social Ethos foi lançado em 2001, com a publicação do Guia de
Elaboração de Relatório e Balanço Anual de Responsabilidade Social Empresarial,
a partir de estudos de diretrizes para relatórios no Brasil e no exterior. Sua
estrutura e seu conteúdo são baseados no modelo do Balanço Social do Ibase e
nos relatórios sociais propostos pelo Global Reporting Initiative (GRI) e pelo
Institute of Social and Ethical Accountability (ISEA), associados aos Indicadores
Ethos de Responsabilidade Social.
AA1000 (Accountability 1000)
44
: norma desenhada para auxiliar empresas,
acionistas, auditores, consultores e organizações certificadoras. A Norma AA1000
define as melhores práticas para a auditoria de questões éticas e sociais,
contabilidade e relatórios, e pode ser usada isoladamente ou em conjunto com
outros padrões de prestação de contas, como o Global Reporting Initiative, os
padrões ISO e a SA 8000.
Uma das mais importantes contribuições da Norma AA1000 são processos e
definições que dão suporte à prática de Responsabilidade Social Empresarial.
Enfatiza-se a inovação na forma de adotar as regras, permitindo que cada empresa
defina seu próprio caminho, o que, sem dúvida, confere às companhias maior
responsabilidade.
A estrutura da AA1000 contém processos e princípios para relatórios, prestação de
contas e auditoria e sua implementação se dá em cinco fases: planejamento;
44
Outras informações disponíveis em www.accountability/org.uk/aa1000
74
contabilidade; auditoria e relatório; implementação; engajamento das partes
interessadas.
Indicadores do Boston College
45
: os indicadores do Boston College foram
criados pelo Centro de Cidadania Corporativa da Instituição (Center for Corporate
Citizenship), em Boston, nos Estados Unidos, como uma ferramenta de avaliação
e planejamento para auxiliar as empresas na gestão de sua atuação na
comunidade e associá-las ao planejamento estratégico. Os indicadores estão
organizados em uma Ferramenta de Diagnóstico (Diagnostic Tool), utilizada por
empresas de todo o mundo para implementar e atingir os Padrões de Excelência
(Standards of Excellence) – sete princípios e práticas de gestão, que estabelecem
um padrão global de excelência em cidadania corporativa. São eles: liderança,
temas de interesse para a gestão, construção de relacionamentos, estratégia,
prestação de contas e mensuração. Os indicadores fornecem subsídios para a
avaliação da performance da empresa e o desenvolvimento de um enfoque
estratégico para a cidadania.
Indicadores Calvert-Henderson
46
: os Indicadores Calvert-Henderson de
Qualidade de Vida representam uma ferramenta que propicia a análise de 12
aspectos relacionados à qualidade de vida de um país: educação; emprego;
energia; meio ambiente; saúde; direitos humanos; renda; infra-estrutura; segurança
nacional; segurança pública; lazer e habitação.
45
Outras informações disponíveis em www.bc.edu/corporatecitizenship
46
Outras informações disponíveis em www.calvert-henderson.com
75
Indicadores Ethos
47
: o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social,
em 2000, desenvolveu os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social, utilizando
alguns parâmetros de pesquisa e benchmark de normas e certificações já
existentes, como as Normas ISO 9000 e 14000, a SA 8000 e a AA 1000, os
Princípios e Diretrizes da GRI, entre outras. Mediante os Indicadores Ethos, é
possível verificar o estágio em que as empresas se encontram quanto às práticas
de RS para, a partir daí, aprimorá-las e planejar as ações de RS, visando à
sustentabilidade dos negócios. O objetivo desses indicadores é auxiliar as
empresas no processo de aprofundamento do seu comprometimento com a RS e
com o desenvolvimento sustentável, por meio de um autodiagnóstico, a partir de
sete temáticas: Valores e Transparência, Público Interno, Meio Ambiente,
Fornecedores, Consumidores e Clientes, Comunidade, Governo e Sociedade.
Considerando as oportunidades e os desafios típicos de cada setor de atuação, o
Instituto Ethos vem lançando indicadores setoriais, complementares aos
Indicadores Ethos de RSE, tais como: Distribuição de Energia Elétrica, Panificação,
Bares e Restaurantes, Bancos, Mineração, Papel e Celulose, Transporte de
Passageiros Rodoviários, Construção Civil, Petróleo e Gás e Varejo. Em 2003,
reconhecendo a importância econômica e social das pequenas e médias empresas
no Brasil, o Instituto Ethos, em parceira com o SEBRAE, desenvolveu os
Indicadores Ethos-SEBRAE para micro e pequenas empresas. Os indicadores
foram revisados em 2006 e adaptados para aplicação no mesmo software de
preenchimento dos indicadores Ethos genéricos.
47
Outras informações disponíveis em www.ethos.org.br
76
Princípios do FSC
48
(Forest Stewardship Council): fundado em 1993 e com
escritório central em Bonn, Alemanha, o FSC surgiu das preocupações levantadas
na Rio-92 sobre o aumento indiscriminado do uso dos recursos naturais. Para
manter o diálogo sobre o uso sustentável das florestas, a iniciativa estabeleceu
princípios, critérios e padrões que envolvem questões econômicas, sociais e
ambientais. Os padrões hoje disseminados por dezenas de países representam o
mais forte sistema mundial para o manejo de florestas em direção à
sustentabilidade. São 10 princípios e 57 critérios que remetem a questões legais,
direitos indígenas, direitos trabalhistas, benefícios múltiplos e impactos ambientais,
levando em conta o gerenciamento florestal. Os 10 princípios do FSC abrangem as
seguintes questões: comprometimento com as leis e os princípios do FSC; direitos
de uso e responsabilidades; direitos dos povos indígenas; relações com a
comunidade e direitos dos trabalhadores; benefícios a partir do uso da floresta;
impacto ambiental; plano de gerenciamento; monitoramento e acessibilidade;
manutenção do alto valor de conservação das florestas; plantações.
SA 8000
49
(Social Accountability 8000): a certificação SA 8000 é um padrão
global criado para tornar mais humanos os locais de trabalho. Essa ferramenta,
orientada tanto para o processo quanto para o desempenho, foi desenvolvida e tem
sido revisada e atualizada por meio do diálogo constante com todas as partes
interessadas – sindicatos, empresas e organizações não-governamentais – e
combina em sua estrutura elementos-chave das convenções da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) com sistemas de gerenciamento das famílias ISO.
São duas as formas de comprometimento das empresas com essa norma. Para o
varejo, o compromisso consiste em fazer negócios apenas com fornecedores
48
Outras informações disponíveis em www.fscus.org
49
Outras informações disponíveis em www.as-intl.org
77
socialmente responsáveis, que sejam certificados na SA 8000 pelo Social
Accountability International (SAI). Já a indústria deve passar por um rigoroso
processo, que inclui a contratação de um auditor reconhecido para conseguir sua
certificação.
As prescrições da SA 8000 são separadas em nove áreas: trabalho infantil;
trabalho forçado; saúde e segurança; liberdade de associação e reivindicações
coletivas; discriminação; práticas disciplinares; horas de trabalho; compensação e
sistemas de gerenciamento.
Padrões ISO
50
: os padrões de certificação são importantes instrumentos para as
empresas que buscam o caminho da sustentabilidade. Esses sistemas que
premiam, com certificados, as organizações que cumprem determinados critérios e
que são aprovadas por auditorias externa e interna, são denominados pela sigla da
International Organization for Standardization (ISO), uma organização não-
governamental que funciona com uma rede de institutos de padronização em 148
países, para oferecer soluções que venham ao encontro das necessidades das
empresas e da sociedade. As séries ISO beneficiam fabricantes, ao ajudar a
solucionar problemas de produção e distribuição, e também consumidores e
usuários, ao garantir produtos e serviços de qualidade.
As séries ISO 9000 e ISO 14000 estão entre os mais conhecidos padrões
internacionais de certificação: a primeira, em qualidade, e a segunda, em proteção
ambiental. No Brasil, a ISO é representada pela ABNT.
Critérios de Excelência do PNQ/Sociedade
51
: Sociedade é um dos oito Critérios
de Excelência do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ), que constituem um
modelo sistêmico de gestão adotado pelas empresas, para garantir que tenham as
50
Outras informações disponíveis em www.iso.org
51
Outras informações disponíveis em www.fpnq.org.br
78
técnicas mais atualizadas e bem-sucedidas de administração. No critério
Sociedade, examina-se se a organização interage com a sociedade de maneira
ética e transparente, de que modo faz isso e se contribui para o desenvolvimento
econômico, social e ambiental, de forma sustentável. Os demais critérios referem-
se a Liderança, Estratégias e Planos, Clientes, Informações e Conhecimento,
Pessoas, Processos e Resultados. Todos os Critérios de Excelência do PNQ
podem ser adotados indiscriminadamente por qualquer tipo de organização, pública
ou privada, com ou sem fins lucrativos, independentemente do setor de atividade
econômica.
OHSAS 18001
52
(Occupational Health and Safety Assessment Series): norma
de certificação voltada para sistemas de gestão de Segurança e da Saúde no
Trabalho. A certificação garante o compromisso da empresa com a redução dos
riscos ambientais e com a melhora contínua de seu desempenho em saúde
ocupacional e segurança de seus colaboradores. Baseia-se no conceito de que a
companhia deve, periodicamente, analisar e avaliar seu sistema de gestão da
segurança e saúde do trabalhador, de maneira a sempre identificar melhorias e
implementar as ações necessárias. Por isso, ela não estabelece requisitos
absolutos para o desempenho da Segurança e Saúde no Trabalho – mas exige que
a empresa atenda integralmente a legislação e regulamentos aplicáveis e se
comprometa com o aperfeiçoamento contínuo dos processos.
ABNT NBR 16001
53
: trata-se da Norma Brasileira para Responsabilidade Social,
que foi redigida para ser aplicada a todos os tipos e portes de organizações,
adequando-se a diferentes condições geográficas, culturais e sociais brasileiras. A
norma estabelece requisitos mínimos relativos a um sistema de gestão da RS,
52
Outras informações disponíveis em www.osha-bs8800-ohsas-18001-health-and-safety.com
53
A NBR 16001 pode ser adquirida pelo site www.abnt.org.br
79
permitindo à organização formular e implementar uma política e objetivos que
levem em conta os requisitos legais, seus compromissos éticos e sua preocupação
com a promoção da cidadania, promoção do desenvolvimento sustentável e
transparência das suas atividades. Foi publicada em 30 de dezembro de 2004.
SD 21000
54
(Sustainable Development): a preocupação com diretrizes para
adoção do desenvolvimento sustentável como estratégia para a gestão de
organizações também se manifesta em publicações de instituições como a
Associação Francesa de Normatização (Afnor), que em 2003 editou o Sustainable
Development. O objetivo do guia é ajudar executivos em suas reflexões para
tomada de decisões e formulação de estratégias, com base em princípios do
desenvolvimento sustentável. Assim, o guia apresenta propostas para adaptar, de
modo progressivo, tanto em seus aspectos técnicos como culturais, os sistemas de
gestão das empresas aos parâmetros de desenvolvimento sustentável. Tem como
alicerce o engajamento de stakeholders como fator de sucesso para a
sustentabilidade.
Estes e outros instrumentos de sustentabilidade existentes envolvem uma
série de princípios, desde declarações genéricas, de caráter inspirativo, como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, até normas que levam a certificações
específicas, como é o caso das Normas ISO.
O fato é que nenhum desses instrumentos se encerra em si, por isso, é
importante que as empresas conheçam cada um deles, assim como seus pontos
em comum e suas inter-relações (Figura 8), para que, a partir daí, de acordo com
cada realidade específica, possa escolher o(s) instrumento(s) que melhor se
aplique(m) à organização.
54
Maiores informações disponíveis em www.afnor.br
80
As empresas que realmente desejem estar alinhadas com a sustentabilidade
encontram nesses instrumentos uma grande oportunidade de ajuda, que facilitarão
o alcance dos objetivos propostos.
Figura 8. Mapa das relações entre os Instrumentos de Sustentabilidade
ORIENTADOS
PARA
PROCESSO
ORIENTADOS
PARA
PERFORMANCE
Diretrizes do GRI
Balanço Social Ibase
Balanço Social Ethos
AA 1000
SD
21000
Indicadores Ethos de RSE
Indicadores Boston College
Indicadores Calvert-
Henderson
Princípios do FSC
SA 8000
Padrões ISO
OHSAS 18001
Critérios de Excelência do PNQ/Sociedade
ABNT NBR 16001
Declaração dos Direitos Humanos
Agenda 21
Carta da Terra
Pacto Global
Princípios de Governança da OCDE
Diretrizes da OCDE para Multinacionais
Metas do Mil
ênio
Projeto Sigma
The Natural Step
PADRÕES
FUNDAMENTAIS
PADRÕES DE
CERTIFICAÇÃO
Fonte: adaptado do Guia de Compatibilidade de Ferramentas do Instituto Ethos/Uniethos
(2005)
81
2.1.8.2 A futura Norma Mundial de RS: ISO 26000
Após mais de dois anos de estudos e discussões internas, o Conselho da
ISO aprovou a elaboração, baseada em iniciativas já existentes, da Norma
Internacional de Responsabilidade Social – ISO 26000. Esta norma, ao contrário
das outras séries da ISO (9000 e 14000), será de diretrizes
55
, sem propósito de
certificação. Além disso, a norma não terá caráter de gestão e poderá ser aplicável
em qualquer tipo de gestão, como empresas, governo, ONGs, entre outros.
O processo de construção desta norma é inovador junto à ISO e junto à
sociedade em geral, por ter como premissa a construção coletiva do conhecimento
e a participação multistakeholder. O grande destaque desse processo é a
constituição de uma liderança compartilhada entre um país desenvolvido, a Suécia
(SIS
56
), e um país em desenvolvimento, o Brasil (ABNT), bem como a divisão em
seis categorias de stakeholders: consumidores; empresa; governo; organização
não-governamental; trabalhadores e serviço/suporte/pesquisa e outros.
Espera-se que a ISO 26000 contribua para que as organizações possam
tratar da RS respeitando diferentes contextos; possa enfatizar resultados e
melhoria de desempenho; melhorar a confiança entre a organização e seus
stakeholders; não reduzir a autoridade governamental; promover uma terminologia
comum e uma maior sensibilização para a RSE.
55
Normas de diretrizes não são passíveis de auditoria ou certificação, elas tendem a ser mais abrangentes,
servindo como guia para implementação de sistemas de gestão. Já as normas de especificações, além de ser
aditáveis ou certificáveis, ainda podem servir para outros objetivos, como autodeclaração da organização sobre
sua adequação.
56
Swedish Standards Institute – www.sis.se
82
A norma está estruturada
57
nos capítulos: introdução; escopo; referências
normativas; termos e definições; o contexto da RS no qual as organizações
operam; princípios da RS; diretrizes em temas principais da RS; diretrizes para as
organizações na implementação da RS; anexos e bibliografia. Dentro desses
capítulos, a norma discorrerá sobre os seguintes temas:
Direitos Humanos: envolve direitos civis e políticos; direitos econômicos,
sociais e culturais; direitos fundamentais do trabalho e direitos das comunidades;
Práticas do Trabalho: a construção desse tema envolve segurança e saúde
ocupacional; condições dignas de trabalho; desenvolvimento dos recursos
humanos e o trabalhador como ser humano;
Meio Ambiente: estão inseridos nesse tema os seguintes itens: prevenção
da poluição; prevenção do aquecimento global; consumo sustentável e uso
sustentável da terra; preservação e restauração de ecossistemas e do ambiente
natural e respeito pelas gerações futuras;
Comunidade e Sociedade: este tema envolve impactos do
desenvolvimento; envolvimento comunitário; desenvolvimento da sociedade e
filantropia;
Práticas Leais e Operação: para o desenvolvimento desse tema, definiram-
se os seguintes itens: promoção de atividades éticas e transparentes; promoção da
livre-concorrência; aplicação de práticas justas e éticas na cadeia de fornecimento
e no pós-fornecimento; respeito pela propriedade intelectual e outros direitos de
propriedade; respeito pelos interesses dos usuários e combate à corrupção;
57
Toda a estrutura da norma apresentada neste trabalho faz parte de um material desenvolvido pelo Instituto
Ethos/Uniethos, elaborado a partir de um documento oficial da ISO (Documento N080, disponível em
www.iso.org/wgsr, seção “N Numbered document list”) e apresentado na 3ª Plenária do Grupo de Trabalho
Ethos para a elaboração da ISO 26000, realizada no dia 7 de novembro de 2006, em São Paulo. Vale ressaltar
que, como a norma ainda está em construção, alterações de qualquer natureza ainda podem acontecer. Outras
informações sobre a norma podem ser encontradas no site
www.uniethos.org ou www.iso.org/wgrs
83
Governança Organizacional: este tema está sendo discutido se deve ser
um tema transversal a todos os outros ou se deve ser discutido isoladamente. Os
itens propostos, que envolveram o conteúdo do tema, são: inclusividade; conduta
ética; divulgação de informações; respeito à lei e accountability;
Consumidores: este tema envolve as seguintes questões: prover os
consumidores de informações precisas e adequadas; prover e desenvolver
produtos e serviços socialmente benéficos; prover e desenvolver produtos e
serviços seguros e confiáveis e proteger a privacidade dos consumidores.
É fato que a construção de uma norma como essa, por sua complexidade e
pela necessidade de considerar particularidades culturais e éticas de países e
povos, envolve diversas limitações. No entanto, por outro lado, apresenta diversos
benefícios, uma vez que, por exemplo, a adoção de um padrão internacional de RS
pela ISO permitirá comparabilidade em todo o mundo, favorecendo, não apenas as
corporações, mas, também, os consumidores e a sociedade em geral.
De uma forma ou de outra, o fato é que o processo de construção da ISO
26000, em si, já representa, no mínimo, uma grande prova de que o mundo está
atento às questões sociais, econômicas e ambientais que ameaçam o futuro do
planeta e, aos poucos, movendo-se para reverter essa situação.
84
2.2 O SEGMENTO VAREJISTA
Considerando que o foco desta dissertação é dirigido para um diagnóstico e
uma análise do grau de envolvimento da Responsabilidade Social da cadeia de
fornecedores no varejo supermercadista, cabe uma breve caracterização desse
segmento, para melhor contextualizar o trabalho.
2.2.1 Conceitos e tipos de varejo
Para uma indústria de bens de consumo levar seus produtos aos
consumidores, pressupõe-se um processo complexo, que envolve diversos canais
de distribuição, atividades e pessoas.
Um canal de distribuição pode ser compreendido como um conjunto de
organizações envolvidas no processo de fazer um produto ou serviço disponível
para uso ou consumo. Os canais de distribuição são coletividades
interorganizacionais de instituições e atores que, simultaneamente, perseguem
objetivos próprios e comuns (STERN et al., 2002). Sendo assim, na cadeia de
distribuição de produtos, encontram-se diversas partes envolvidas: o produtor,
responsável pela fabricação; o atacadista ou distribuidor, que adquire o bem para
revender a varejistas; o varejista, que adquire o bem diretamente do produtor ou do
atacadista para repassar ao consumidor final.
De acordo com Parente (2000), o varejo consiste em todas as atividades que
englobam o processo de venda de produtos e serviços, para atender a uma
necessidade pessoal do consumidor final. Nesse sentido, o varejista é qualquer
instituição cuja atividade principal consiste no varejo. Vale ressaltar que o varejo
85
está inserido no canal de distribuição, como o principal responsável por fazer com
que produtos e serviços alcancem o consumidor final, sendo o último estágio no
processo de distribuição.
Para Levy & Weitz (2000), o varejo constitui-se num conjunto de atividades
de negócios, que adiciona valor a produtos e serviços vendidos a consumidores
para uso pessoal e familiar. O autor afirma ainda que as pessoas consideram o
varejo somente a venda de produtos em lojas e ressalta que ele também envolve a
prestação de serviço, mas nem toda atividade varejista é feita em lojas, como a
exemplo da venda direta ou por catálogos (LEVY & WEITZ, 2000).
Para Kotler (1998, p. 494),
o varejo inclui todas as atividades envolvidas na venda de bens e
serviços diretamente aos consumidores finais para uso pessoal. Um
varejo ou loja de varejo é qualquer empresa cujo volume de venda
decorre, principalmente, do fornecimento por unidade ou pequenos
lotes.
Existem várias classificações e vários formatos de varejo. A Figura 9 mostra
a classificação do segmento.
86
Figura 9. Classificação das instituições varejistas
9 Alimentícias
9 Não-alimentícias
9 Serviços
Instituições
varejistas
Classificação de
acordo com a
propriedade
Instituições com
lojas
Instituições sem
lojas
9 Independentes
9 Redes
9 Franquias
9 Departamentos Alugados
9 Sistemas Verticais de
Marketing
9 Marketing Direto
9 Vendas Diretas
9 Máquinas de Venda
9 Varejo Virtual
Fonte: adaptado de Parente, 2000. Baseado em BERMAN, Barry; EVANS, Joesl R. Retail
Management: a strategic approach. Upper Saddle River: Prentice Hall, 1998, p. 103
Dentro da classificação de varejo de loja, no segmento de alimentos, o setor
se classifica em: bares, mercearias, padarias, minimercados, lojas de conveniência,
supermercados compactos, supermercados convencionais, superlojas,
hipermercados e clubes atacadistas (PARENTE, 2000). Por tratar-se o tema deste
trabalho do varejo de alimentos, neste caso, os supermercados, será dado a estes
um foco mais detalhado.
Kotler (1998) afirma que
[os supermercados são] relativamente grandes, operam com baixo
custo, margem pequena, volume elevado, auto-serviço projetado
para atender as necessidades totais dos consumidores em termos
de alimentos, produtos de higiene pessoal e de limpeza e produtos
para manutenção do lar. Operam com lucro operacional de apenas
87
1% sobre as vendas e obtêm lucro de 10% sobre o patrimônio
líquido. Apesar da forte concorrência de concorrentes novos e
inovadores [...], os supermercados permanecem o tipo de loja de
varejo mais freqüentemente visitado pelos compradores.
Parente (2000) apresenta algumas características básicas dos tipos de
supermercados, conforme a classificação abaixo:
minimercados: têm atuação mais forte nos bairros de classe baixa, localizados
na periferia das cidades brasileiras. Apresentam uma variedade básica de itens
similar às mercearias, com produtos de frios, laticínios, mercearia e bazar,
porém, já adotam o sistema de auto-serviço, com apenas um check out
58
(caixa
registradora sobre balcão, na saída da loja). Os minimercados chegam a
representar mais de 10% dos gastos em varejo alimentar;
supermercados compactos: assim como os minimercados, os compactos
caracterizam-se pelo auto-serviço, check outs e produtos dispostos de maneira
acessível, que permitem aos clientes o auto-atendimento, com utilização de
cestas e carrinhos. Possuem entre dois e seis check outs e apresentam uma
linha completa, porém, compacta de produtos;
supermercados convencionais: são lojas de porte médio, que mantêm o
caráter de loja de alimentos, com boa variedade de produtos;
superlojas: são supermercados com cerca de 4.000m
2
, que apresentam uma
completa linha de produtos alimentícios, operando com 30 check outs em média.
Além de comercializar produtos alimentícios, oferecem também uma variedade
na categoria não-alimentos, como eletrônicos e têxtil;
58
Para efeito de pesquisas no segmento, a ABRAS considera como parte do segmento supermercadista apenas
as lojas que tenham dois ou mais check outs.
88
hipermercados: apresentam o maior porte entre os auto-serviços, com cerca de
10.000m
2
. A diferença entre este tipo de loja e as superlojas está no destaque
dado ao setor de não-alimentos, que, no caso, é bem maior;
clubes de atacados: são grandes lojas que vendem tanto para o consumidor
final como para comerciantes e operadores de restaurante. Essas lojas
apresentam uma variedade compacta, instalações despojadas, limitada gama de
serviços e preços baixos. O Sam´s Club, recentemente inaugurado em Salvador,
é um exemplo de clube atacadista.
2.2.2 A evolução do segmento varejista no Brasil
Conforme Gimpel (1980), o desenvolvimento do varejo no Brasil aconteceu
entre os anos 30 e 40, no período da industrialização. Com a II Guerra mundial,
entre 1939 e 1945, iniciou-se no Brasil o que os economistas chamaram política de
substituição de importações, época em que os problemas de intercâmbio comercial
entre os países em guerra favoreceram o desenvolvimento da indústria nacional,
provocando diversas transformações na vida do País, como, por exemplo, o
surgimento da classe do proletariado industrial, que permitiu a introdução, no
mercado interno, de um novo tipo de consumidor, agora com uma maior renda
disponível.
O varejo brasileiro começou a modernizar-se, no entanto, a partir da década
de 50. Essa fase foi marcada pela chegada da Sears, aqui no Brasil, em 1949, com
uma loja no Rio de Janeiro e duas em São Paulo, e das filiais do Mappin e da
Mesbla, ambas também em São Paulo. Estas empresas tinham o auto-serviço
como principal característica e se diferenciavam no mercado por oferecer
89
assistência técnica própria para os eletrodomésticos comercializados e
estacionamento para os clientes.
Desde a década de 50, o varejo vem passando por diversas transformações.
De acordo com Gonzalis (2002), a forma pela qual os varejistas e os consumidores
se relacionavam nas décadas de 50 e 60 era bastante diferente da atual. No varejo
de 30 ou 40 anos atrás, o dono do estabelecimento conhecia cada um de seus
consumidores, sabia de suas preferências e o consumidor depositava confiança no
comerciante, pois tinha consciência de que seus produtos eram de qualidade e o
atendimento personalizado. No entanto, com um maior desenvolvimento dos auto-
serviços, a partir de 1970, essa relação começou a mudar.
As lojas de auto-serviço tinham como característica principal permitir ao
consumidor que ele mesmo tivesse a possibilidade de escolher os produtos de sua
preferência. Com isso, o consumidor tornou-se, gradativamente, um desconhecido.
Desde então, o setor varejista, no qual se incluem os supermercados, começou a
reagir às mudanças, oferecendo preços mais competitivos, investindo em
automação comercial, na diferenciação de produtos e na melhoria contínua dos
serviços prestados.
Na década de 80, segundo Souza & Serrentino (2002), as empresas
varejistas iniciaram um processo de segmentação de mercado, no qual o foco
recaiu sobre a diferenciação de formatos de lojas, adequando-as a grupos de
consumidores com características e hábitos semelhantes.
Ainda nessa mesma década, o varejo de alimentos vivenciou a introdução e
o crescimento do formato de hipermercados, com grandes áreas de exposição de
produtos e uma maior variedade de itens à disposição dos clientes. Tendo o
90
Carrefour como pioneiro, o modelo foi logo reaplicado pelo Paes Mendonça e pelo
Pão de Açúcar.
No entanto, conforme Rojo (1998), a década de 80 para os supermercados
foi marcada por muitos contratempos, advindos, principalmente, dos planos
governamentais, que colocaram o setor em dificuldades, inclusive em termos de
imagem junto ao consumidor.
De acordo com Kotler (1998), os supermercados vêm expandindo-se em
vários sentidos, na busca do aperfeiçoamento de sua competitividade. Eles têm
aberto lojas maiores e com maior quantidade de itens. Muitas redes de
supermercado passaram a vender também eletrodomésticos, CDs, artigos de
papelaria, roupas e calçados, procurando um aumento em sua rentabilidade.
Na década de 90, fatos importantes marcaram o setor varejista e o
segmento passou por grandes transformações. Dentre os fatos ocorridos nesse
período, destacam-se a criação do Código de Defesa do Consumidor e a
implementação do Plano Real, em 1994. A estabilização econômica e a abertura
comercial causaram mudanças no comportamento do consumidor e a crescente
demanda por alimentos tornou o ambiente propício ao desenvolvimento de
empresas nacionais, quando ocorreu uma grande modernização do setor, e à
utilização de novas tecnologias, ao tempo em que também atraiu empresas
estrangeiras para o mercado interno.
Vale ressaltar que novos formatos de varejo foram introduzidos no mercado,
dentre os quais os clubes de atacado e os home shoppings na televisão, como
opção de varejo sem loja.
Na visão de Parente, o varejo brasileiro sofreu muitas transformações ao
longo das últimas décadas.
91
Se viajasse de volta, pelo túnel do tempo, e desembarcasse em
uma metrópole brasileira no início da década de 60, se ficaria
surpreso ao verificar que a maioria dos atuais formatos de loja não
existia naquela época. Não se encontrariam shopping centers, ou
hipermercados, ou lojas de conveniência, ou clubes de compra, ou
auto-serviço de materiais de construção, ou lanchonetes fast food,
ou restaurantes por quilo, ou redes de franquias, ou locadoras de
vídeo, ou pet shops, nem lojas de informática, nem empresas
globalizadas como Carrefour, C&A, Wal-Mart. Ao longo desses 40
anos muitos modelos de lojas foram cedendo lugar aos novos
formatos, mais eficientes e mais adequados às novas necessidades
do mercado consumidor (PARENTE, 2000, p. 15).
Percebe-se que a evolução dos processos e serviços no setor varejista
cresce a cada dia. As constantes mudanças do mundo global e os avanços
tecnológicos têm gerado elementos para o aumento da produtividade no varejo,
ampliando os horizontes daqueles que se empenham no desenvolvimento da
prática do varejo.
Tornam-se inquestionáveis, portanto, as contribuições da atividade varejista,
pela adição de valor a seus produtos e serviços, para os consumidores e para a
sociedade. Daí a crescente importância econômica e social do varejo, para as
comunidades nas quais atua, o que tem despertado o interesse de estudiosos e
pesquisadores, que buscam identificar fenômenos sociais, com base na interação
entre a sociedade e seus atores e o segmento varejista.
2.2.3 Um cenário do varejo supermercadista
Com mais de cinco décadas, desde que foi implantado no Brasil, o
supermercado atualmente já se configura um elemento essencial da paisagem de
qualquer cidade brasileira, ligando-se, de modo indissociável, ao modo de vida e às
necessidades de qualquer consumidor. Na década de 60, o supermercado tornou-
se presença marcante em todas as principais cidades brasileiras. As últimas
92
décadas marcaram um período de grande expansão do setor, de sedimentação
das grandes cadeias, aliada à estabilização da economia e ao desenvolvimento
econômico.
Na década de 90, a concorrência entre os supermercados tornou-se ainda
maior. Os últimos anos também trouxeram a modernização do setor, proporcionada
pela informática, além do aperfeiçoamento e da maior preocupação com a
qualidade dos serviços.
No Brasil, a partir da década de 90, houve uma fase de grandes
transformações no setor supermercadista. Com a inflação sob controle e o
crescimento da concorrência, o volume de vendas aumentou, enquanto as
margens de lucro diminuíram, conduzindo as empresas a perseguirem vantagens
competitivas, por meio de serviços melhores e da busca incessante de maior
eficiência. A economia estável também proporcionou uma menor preocupação com
as políticas voltadas ao curto prazo. Pouco utilizadas na época da inflação, as
vendas a curto prazo foram aos poucos sendo incorporadas ao cotidiano dos
supermercados. Cheques pré-datados, tickets-alimentação, cartões de crédito
próprios e de terceiros transformaram-se em instrumentos de alavancagem de
vendas no setor.
De acordo com a ABRAS
59
(RANKING ABRAS, 2006), em 2005, esse
percentual foi de 90,2%, o que demonstra que algumas lojas do auto-serviço de um
check out podem estar migrando para o segmento supermercado.
59
O Ranking ABRAS é um estudo oficial do setor de supermercados realizado anualmente pela
Abras/Fundação ABRAS em parceria com a ACNielsen.
93
O setor supermercadista tem destaque na economia brasileira pela
comercialização de bens necessários, como alimentos, higiene pessoal, perfumaria
e limpeza do lar.
Em 2005, o auto-serviço alimentar faturou R$ 106,4 bilhões, com
crescimento nominal de 7,8% sobre o ano anterior. Com este faturamento, o setor
manteve a participação de 5,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2005, que,
segundo o IBGE
60
, foi de R$ 1,938 trilhão.
De acordo com João Carlos Oliveira (Revista Super Hiper, 2006), Presidente
da Associação Brasileira de Supermercados – ABRAS –, na medida em que o setor
supermercadista brasileiro investe mais, cresce e emprega ainda mais. Em 2005, o
setor gerou 800.222 empregos diretos e, com isto, ampliou em 1,6% sua
capacidade de empregabilidade, comparada ao ano anterior, que foi de 788.268
funcionários.
2.2.4 A Responsabilidade Social no Varejo
O segmento varejista caracteriza-se por ser uma atividade que interage
intensamente, tanto com a comunidade, por meio dos consumidores, funcionários,
governo, etc., quanto com toda a cadeia produtiva, por intermédio de seus
fornecedores.
De acordo com Parente (2004),
o desenvolvimento da Responsabilidade Social no varejo ajuda
também a estender as práticas Socialmente Responsáveis a toda a
cadeia de valor, estabelecendo relações que vão desde a
fabricação de um produto, passando pelos compromissos éticos
dos fornecedores e distribuidores, pela forma de comercialização
determinada pelos varejistas e, finalmente, chegando a decisão de
60
Disponível no site do IBGE www.ibge.gov.br Acesso em 06/10/06.
94
compra consciente do consumidor, que privilegia uma empresa em
detrimento da outra no mercado.
O autor afirma que, mais do que qualquer outro ramo de atividade, o varejo
tem uma vocação especial para praticar uma gestão socialmente responsável,
tanto pelas peculiaridades, como negócio, quanto pela sua grande importância para
a sociedade.
Parente (2006) afirma que, dentre os fatores que determinam essa vocação
do varejo para a RSE, destacam-se:
proximidade com o consumidor final e articulação social nas comunidades
considerando a grande interação que há entre a empresa e o consumidor final,
fruto da freqüência de visitas dos consumidores às lojas de varejo (a depender
do tipo de varejo, como padaria
61
, podem ser diárias), é possível perceber-se o
poder da loja em transformar-se num centro de disseminação de valores para a
comunidade. Ao retomar a lógica sistêmica, observa-se que, se a energia do
ambiente alimenta o sistema, e ambos mantêm entre si relações de troca mútua,
essa energia vai e volta e se a empresa contribuir para tornar seu ambiente
saudável, ela conseguirá, cada vez mais, sobreviver e crescer nessa região;
o papel modificador na cadeia de valor – na medida em que o varejo
estabelece vínculos comerciais e mantém relações de troca com os
consumidores, estimula o trabalho voluntário na comunidade, recebe o apoio de
seus clientes para projetos desenvolvidos com a comunidade e realiza parceria
com os fornecedores, disseminando práticas, políticas e iniciativas sociais nas
61
Segundo o SINDIPAN – Sindicato da Indústria de Panificação e Confeitaria de São Paulo –, no Brasil
existem aproximadamente 53 mil padarias que recebem diariamente mais de 40 milhões de visitas de
consumidores, o que demonstra grandes oportunidades de interação com o varejo.
95
demais empresas da sua cadeia de valor, ele se torna um verdadeiro agente de
transformação nessa cadeia.
Estando intimamente ligado à comunidade e conhecendo bem a realidade
local, o varejo tem condições de atuar como articulador para iniciativas
comunitárias e mobilização social, como mostra a Figura 10;
Figura 10. O varejo como agente transformador da estrutura social
Fornecedor VAREJISTA Consumidor
POSIÇÃO PRIVILEGIADA DO VAREJO
Parcerias Educação
Disseminação Voluntários
Fonte: adaptado de Parente (2006)
representatividade e capilaridade geográfica – o potencial do varejo, na
geração de riqueza na economia brasileira, tem-se mostrado muito grande,
conforme comentado no item 2.2.3, e o fato de estar espalhado por todos os
cantos do País, mesmo em pequenas cidades e ou vilarejos, aumenta ainda
mais a importância social do varejo como agente de transformação.
Percebe-se que essa tendência no varejo, para a adoção das causas
sociais, tem aumentado a cada dia. Um grande exemplo para ilustrar esta
afirmação está na grande quantidade de empresas varejistas inscritas nas três
96
edições do Prêmio FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo em 2003,
2004 e 2006, com a participação de mais de 350 empresas, de todos os portes,
tipos de varejo e regiões do Brasil.
Esse prêmio é uma iniciativa do Centro de Excelência em Varejo da Escola
de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, que faz
parte do Programa FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo e que tem
por objetivos mobilizar, capacitar, reconhecer e disseminar as práticas de
Responsabilidade Social de empresas e entidades varejistas de todos os portes,
setores e regiões do País. Por esse prêmio, o Centro de Excelência em Varejo da
FGV-EAESP pretende reconhecer e incentivar programas, projetos ou ações de
Responsabilidade Social desenvolvidos por empresas e instituições varejistas em
todo o Brasil.
2.2.4.1 O programa de RSE no Varejo da FGV-EAESP
No Brasil, o Centro de Excelência no Varejo da Escola de Administração de
Empresas da FGV-SP, por meio do Programa FGV-EAESP, vem-se destacando
pela promoção da RSE no varejo.
De acordo com Macedo (2005), o programa conta com cinco projetos, que
têm por objetivos mobilizar, capacitar, reconhecer e disseminar práticas de RS no
País. A seguir:
Indicadores de RSE nas empresas varejistas
62
– foram desenvolvidos, a partir
dos Indicadores Ethos Gerais de RS, em parceira entre o Centro de Excelência
em Varejo, a Fundação Getúlio Vargas e o Instituto Ethos de Empresas e
62
Maiores detalhes e a versão completa dos Indicadores Ethos para as Empresas Varejistas podem ser
encontrados em
www.ethos.org.br ou www.fgvsp.br/cev
97
Responsabilidade Social. Esta ferramenta possibilita que as empresas varejistas
brasileiras possam avaliar o seu grau de envolvimento com o tema;
cursos e seminários – oferecidos com conteúdo teórico e prático a respeito das
práticas socialmente responsáveis, têm por objeto capacitar o varejo para
criação, implantação e gestão de iniciativas socialmente responsáveis;
publicações – consistem em livros e uma coletânea Gvcev de RS no Varejo,
com artigos sobre os assuntos relacionados a RS no varejo, disponíveis em
veículos de comunicação de massa e dirigida. Estão disponíveis também no
site
63
do programa FGV-EAESP de RS no Varejo;
banco de práticas de RS no Varejo – é uma ferramenta de pesquisa para as
organizações interessadas em conhecer as práticas de RSE no setor varejista
brasileiro. Disponível no site do programa FGV-EAESP;
prêmio FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo – esta foi
considerada a iniciativa que alavancou o Programa de RS no Varejo da FGV. O
prêmio foi criado em 2003 e passou a ter edições bienais a partir de 2004. Na
edição de 2006, recebeu 99 inscrições de programas e projetos de
Responsabilidade Social de empresas e entidades varejistas de todos os portes
e regiões do Brasil. Do total de inscrições, 19% refere-se aos shopping centers,
14% às entidades varejistas e 11% aos supermercados. As micros, pequenas e
médias empresas representaram 50% dos inscritos.
Quanto à área de atuação, 82% das inscrições foram dos estados do Sul e
Sudeste do País, enquanto que 9% foram do Centro-Oeste e 9% dos estados do
Nordeste.
63
O site para consulta do Banco de Práticas do Gvcev – FGV-EAESP é www.fgvsp.br/cev/rsnovarejo
98
Não houve participação dos estados do Norte, o que indica que as questões
de RSE ainda estão mais concentradas nas regiões Sul e Sudeste.
Todos os projetos inscritos alimentam o Banco de Práticas de RS no Varejo
e servem como fonte de consulta para estudiosos, acadêmicos e profissionais do
varejo interessados no tema.
2.2.5 A importância dos fornecedores na gestão socialmente responsável
Na era da economia global e do advento da RSE, um novo tipo de
relacionamento está surgindo entre as empresas e sua cadeia de fornecedores.
Esse relacionamento deve capacitar as empresas envolvidas a desenvolverem
enfoques abrangentes para seus mercados, compartilhar informações, atuar
conjuntamente. A ampliação das fronteiras organizacionais passa a acontecer em
função das parcerias e alianças estratégicas entre as organizações, das questões
sociais e ambientais e das tecnologias da informação.
Segundo Tachizawa (2002), uma gestão socialmente responsável envolve
toda a cadeia de suprimentos.
A preocupação com as questões ambientais e de Responsabilidade
Social faz com que a organização dos novos tempos escolha
fornecedores que atendam a seus requisitos éticos e que atestem
que os insumos produtivos contratados atendam a seus requisitos
ambientais, predefinidos em sua política corporativa. Ou seja, a
gestão de uma organização avança para o âmbito interno das
empresas que contrata como fornecedores, ultrapassando, assim,
as fronteiras organizacionais tradicionais.
Apesar dos conceitos em torno da RSE estarem sendo discutidos e
pesquisados amplamente na administração, ainda existem poucas interações
desses estudos com a relação que há, efetivamente, entre as organizações e sua
cadeia de suprimentos.
99
Por outro lado, o papel social que vem sendo exigido das organizações
requer uma nova compreensão da RSE, não mais focada unicamente na empresa,
mas, também, em todo o processo produtivo.
Não será possível atribuir a uma empresa a denominação de socialmente
responsável se os seus fornecedores não atuam de acordo com os princípios
éticos e transparentes que envolvem o tema RSE, atuando, por exemplo, de forma
irresponsável do ponto de vista ambiental, praticando discriminação de qualquer
natureza, utilizando mão-de-obra infantil, etc.
Além disso, ainda que a empresa tenha uma gestão voltada para a RS ou
até mesmo uma certa preocupação com o tema, se não cuidar para que toda a
cadeia de fornecedores esteja envolvida, poderá sofrer as conseqüências, por
parte dos consumidores. Um exemplo está no caso da Nike
64
, haja vista várias
campanhas de boicote que vem sofrendo por diversas organizações não-
governamentais de todo o mundo, em protesto pelas péssimas condições de
trabalho que os seus fornecedores ofereciam aos empregados, com utilização de
mão-de-obra escrava e infantil.
Percebe-se, com este exemplo, que o produto final somente será legitimado
pelo consumidor como socialmente responsável se todo o ciclo produtivo tiver sido
construído de forma sustentável. Essa é uma tendência que permeia a realidade e
que confirma que “as empresas estão deixando de ser sistemas relativamente
fechados para tornarem-se cada vez mais abertos. Suas fronteiras estão se
tornando mais permeáveis e, em muitos casos, difíceis de identificar” (WOOD Jr. &
ZUFFO, 1998).
64
Disponível no site do Observatório da Imprensa, www.observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos .Acesso
em 02/11/2006.
100
No caso do varejo, não basta apenas implementar políticas e diretrizes
internas de RS. Essa prática deve ser estendida a todos os fornecedores, sejam
indústrias, distribuidores ou atacadistas, evitando questões precárias em qualquer
um dos pilares da sustentabilidade: o econômico, o social e o ambiental. Do
contrário, em função de um contexto sistêmico, por mais socialmente correta que
seja, a empresa varejista correrá o risco de ser penalizada, com perda de imagem
e competitividade, por causa da ineficácia da cadeia de abastecimento, do ponto de
vista das questões de Responsabilidade Social.
É imprescindível, portanto, que a indústria ou o distribuidor definam políticas
de atuação, nos aspectos social, econômico e ambiental, em conjunto com os seus
stakeholders, em cada uma das fases do processo de produção e distribuição,
observando os possíveis impactos negativos que possam ser identificados em
qualquer fase do processo produtivo.
Vale ressaltar ainda que a RS, na cadeia de abastecimento, não se encerra
no momento em que o produto é vendido ao consumidor final. É preciso que toda a
cadeia esteja atenta para a vida útil do produto e o seu descarte após o consumo, o
que envolve, inclusive, caso existam, as embalagens que compõem o produto.
Somente assim, a cadeia de abastecimento alcançará graus elevados de RS,
contribuindo efetivamente para a melhoria da qualidade de vida dos públicos com
os quais interage.
É preciso estar atento ao consumidor final, que, pelo seu poder de compra,
irá legitimar a empresa como socialmente responsável. Para isso, é preciso, com
ética e transparência, dar visibilidade às informações, reduzindo os riscos de perda
de credibilidade no mercado.
101
Diante do exposto, ao retomar a Teoria dos Sistemas, discutida na primeira
parte deste capítulo, pode-se afirmar que a empresa faz parte de um todo maior,
um sistema amplo, que deve ser otimizado para gerar maior valor ao cliente, à
empresa e a todos os públicos com os quais ela interage. Daí a fundamental
importância do envolvimento e da disseminação dos princípios éticos de
relacionamentos na cadeia de valor das empresas. Somente assim será possível a
legitimação de todos os processos e a caracterização da empresa como
socialmente responsável.
102
3 METODOLOGIA
Este capítulo tem por objetivo apresentar os procedimentos metodológicos
adotados, que possibilitaram a investigação do tema pesquisado e a concretização
dos objetivos propostos.
Inicialmente, serão descritas as características da pesquisa, mencionando-
se o tipo, a metodologia e o modo de investigação por ela abordado. A próxima
etapa refere-se à contextualização do cenário da pesquisa, com informações
referentes ao Supermercado Cardoso e sua relação com a gestão socialmente
responsável. A partir daí, serão apresentados: a trajetória da pesquisa, relatando-
se as etapas desde a definição da população; o perfil da amostra; o instrumento de
pesquisa e os procedimentos para a coleta e o tratamento dos dados.
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Uma das maiores inquietudes do ser humano está relacionada à incessante
busca pelo conhecimento. Segundo Gil (1996), ao longo dos séculos, “o homem
vem desenvolvendo sistemas mais ou menos elaborados que lhe permitem
conhecer a natureza das coisas e o comportamento das pessoas”. Daí a
importância de somarem-se a esse conhecimento acumulado pela humanidade
dados confiáveis e possíveis de ser cientificamente provados.
Dessa forma, ao longo dos séculos, foram surgindo vários métodos de
levantamento de dados e de pesquisa, a exemplo do método científico, definido por
Gil (1996) como “o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados
para se atingir o conhecimento”.
103
Sabe-se que uma pesquisa científica, necessariamente, deve adotar
determinadas técnicas e métodos que assegurem a sua fidedignidade. Dessa
forma, espera-se que a metodologia disponha de um instrumental coerente, claro e
capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática.
Assim, no intuito de cumprir os objetivos propostos neste trabalho, foi
realizado um estudo de caso – que Yin (1991) define como “uma pesquisa que
investiga um fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, quando as
fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são claramente evidentes e no qual
são múltiplas as fontes de evidência” – no segmento do varejo supermercadista,
por meio de sua cadeia de fornecedores. No processo de produção de
conhecimento deste trabalho, adotou-se uma investigação de natureza exploratória
descritiva qualiquantitativa.
Para Gil (1996), as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade
“desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de
problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.
De acordo com Mattar (1998), a “pesquisa exploratória é freqüentemente
utilizada para ampliar o conhecimento sobre um determinado assunto antes da
execução de uma pesquisa quantitativa”. Portanto, o estudo exploratório permitiu
aumentar os conhecimentos do autor em torno das questões teóricas relativas ao
tema da pesquisa, na medida em que diversas fontes bibliográficas foram
consultadas, em busca de contribuições ao tema abordado.
Além de artigos científicos e livros, a pesquisa bibliográfica envolveu
também consulta de sites, leituras de textos extraídos de revistas, dados
estatísticos disponíveis a partir de pesquisas de instituições, como o Instituto Ethos,
Instituto Akatu, IBGE, etc.
104
É importante considerar que a pesquisa bibliográfica foi de fundamental
importância na construção de um referencial teórico, com uma visão crítica e atual
do tema abordado.
Quanto ao aspecto descritivo, buscou-se expor a realidade pesquisada, por
meio do registro, da análise e interpretação dos dados coletados. Para Gil (1996), a
pesquisa descritiva “visa descrever características de determinada população ou
fenômeno e as relações entre as variáveis, envolvendo o uso de técnicas
padronizadas de coletas de dados”, como o questionário, que foi o instrumento
utilizado neste estudo.
Considerando que o objetivo principal deste trabalho diz respeito a um
diagnóstico do grau de envolvimento da cadeia de fornecedores do Supermercado
Cardoso com as práticas de RSE, pode-se dizer que esta pesquisa é de natureza
qualiquantitativa. Qualitativa porque utilizou a técnica de análise de conteúdo e
quantitativa por tratar-se de uma pesquisa avaliativa, a partir dos dados coletados
no questionário aplicado.
105
3.2 CENÁRIO DO ESTUDO
Este estudo foi desenvolvido entre os fornecedores do Supermercado
Cardoso, localizado em Jequié
65
, no sudoeste do estado da Bahia.
3.2.1 Apresentação da empresa
O Supermercado Cardoso é uma empresa familiar, fundada em 1969, pelo
Sr. Armando Santos Cardoso, atual presidente da empresa. As atividades foram
iniciadas com uma pequena padaria e mercearia e contava com apenas 40m
2
de
área de vendas, na cidade de Jequié.
Atualmente, a empresa conta com duas lojas de supermercado, ambas em
Jequié, e possui o seguinte perfil
66
:
área de vendas: 2.600m
2;
n° de funcionários: 200;
n° de itens cadastrados: 40.000;
n° de fornecedores: 800;
seções: alimentos, bebidas, higiene, perfumaria, limpeza e não-
alimentos (cama, mesa, banho, moda masculina, feminina e infantil,
moda íntima masculina e feminina, eletroportáteis, brinquedos, artigos
para lar, automotivo e artigos para presentes).
65
Jequié fica localizada no sudoeste do estado da Bahia, a 360 km de Salvador. A pecuária e a agricultura
foram a base de todo o desenvolvimento da cidade. Atualmente possui um parque industrial significativo, com
24 indústrias, voltadas para produção de alimentos, calçados e confecções. Possui aproximadamente 150.000
habitantes, segundo estimativa do IBGE (2005). Dados disponíveis em
www.jequie.ba.gov.br. Acesso em
01/11/2006.
66
Fonte: dados internos referentes a 30/09/2006 – valores médios aproximados de ambas as lojas.
106
A missão do Supermercado Cardoso é “fornecer produtos e serviços no
segmento supermercadista, com um alto nível de qualidade, variedade, preços
competitivos e excelência no atendimento, cuidando dos interesses de todos os
públicos com os quais interage, por meio da incorporação das práticas de
Responsabilidade Social na gestão dos negócios”. Para o cumprimento desta
missão, a empresa baseia suas ações, seus processos e suas decisões nos
seguintes princípios:
dignidade e respeito, como base de todos os relacionamentos;
honestidade, ética e integridade na condução dos negócios;
humildade e coragem para enfrentar desafios;
excelência na qualidade dos produtos e serviços;
responsabilidade e compromisso na construção e preservação do
patrimônio físico e da imagem;
valorização das pessoas;
austeridade nos gastos.
3.2.2 O Supermercado Cardoso e a gestão da RSE
A partir da compreensão do seu papel no desenvolvimento da sociedade, na
preservação do meio ambiente e, acima de tudo, na qualidade das relações com
todos os stakeholders, o Supermercado Cardoso assumiu a Responsabilidade
Social como parte da sua missão empresarial.
O processo de incorporação da RS na gestão teve início em 2003, mediante
a auto-regulação da conduta, com a elaboração e disseminação do seu código de
conduta, missão, visão, princípios e valores. A partir daí, o Cardoso passou a
107
desenvolver suas primeiras ações sociais, utilizando-se de campanhas filantrópicas
e assistencialistas e, portanto, sem caráter transformador da sociedade, o que o
levou, posteriormente, a uma melhor compreensão de que uma gestão socialmente
responsável prevê o envolvimento de todos os stakeholders, numa relação ética e
transparente, no sentido de formar parcerias e contribuir na construção de uma
sociedade mais justa e mais desenvolvida.
Numa evolução das ações sociais para uma gestão socialmente
responsável, o Cardoso adicionou mais um departamento em sua estrutura
organizacional, “Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social”, e formou
um Comitê de Responsabilidade Social, composto por aproximadamente 10% do
quadro de colaboradores, de ambas as lojas e diversas funções, valorizando todos
os aspectos da diversidade do ser humano, além de stakeholders externos. Dentre
os objetivos do Comitê de Responsabilidade Social, destacam-se:
9 promover um ambiente que permita o diálogo, a exposição de pontos
de vista, o compartilhamento e a transparência nas informações;
9 promover a discussão de problemas e oportunidades da gestão, bem
como a busca de soluções conjuntas;
9 revisar os processos organizacionais existentes, para identificar áreas
em que as mudanças são necessárias;
9 disseminar a missão, visão, os princípios e valores da organização
para todos os públicos de interesse e criar uma cultura organizacional
voltada para RSE;
9 discutir as estratégias organizacionais, no sentido de contribuir para
as Metas do Milênio, bem como fazer cumprir o Pacto Global;
108
9 atuar como agentes de transformação no novo processo
organizacional.
Sabe-se que as questões de RS são multidimensionais e que exigem o
envolvimento de equipes multidisciplinares e abordagens interdisciplinares. Por
isso, antes de partir para relações externas, com o intuito de buscar um
autodiagnóstico e avaliar a sua gestão quanto à incorporação das práticas de RSE,
o Comitê de Responsabilidade Social do Supermercado Cardoso respondeu, em
2005, aos Indicadores Ethos de RSE
67
, segundo os quais, as práticas de RS de
uma empresa são avaliadas por sua abrangência e profundidade.
A abrangência é verificada por meio de sete temas principais: Valores,
Transparência e Governança, Público Interno, Meio Ambiente, Fornecedores,
Consumidores e Clientes, Comunidade, Governo e Sociedade, e a profundidade é
verificada a partir das ações desenvolvidas para cada tema. Essa iniciativa
envolveu a revisão de políticas em todas as áreas organizacionais, bem como os
procedimentos da gestão em relação aos públicos de interesse.
De acordo com os Indicadores Ethos, há quatro estágios que podem ser
alcançados em cada indicador. As empresas com maior desenvolvimento em RS
são aquelas que alcançam os estágios mais avançados na maioria dos temas.
No que diz respeito à performance individual de cada tema, os Indicadores
Ethos possuem uma quantidade máxima de pontos a serem alcançados. A nota,
que varia numa escala de zero a 10, é a razão entre os pontos obtidos pela
empresa e o universo de pontos disponíveis.
67
Os dados apresentados resultam da aplicação dos Indicadores Ethos de Responsabilidade Social pela própria
empresa, ou seja, são resultados de auto-avaliação. O diagnóstico não tem, portanto, o caráter de certificação.
Seu objetivo é proporcionar a reflexão, aprendizagem e melhoria das práticas de Responsabilidade Social
Empresarial.
109
De acordo com os resultados obtidos após o preenchimento dos indicadores,
encontrou-se o seguinte resultado (Tabela 2) para o Cardoso, por tema da RSE:
Tabela 2. Envolvimento do Supermercado Cardoso com a RSE por tema, de acordo com
os Indicadores Ethos
Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
A partir da observação da Tabela 2, percebeu-se uma grande oportunidade
de melhoria, no que diz respeito às ações de RS do Cardoso, especialmente com
o Público Interno e os Fornecedores.
Ao analisar as informações das empresas que respondem à pesquisa, os
Indicadores Ethos fazem uma comparação do resultado da empresa com o Banco
de Dados Ethos, que é composto por todas as empresas que responderam a
versão do questionário, sendo, portanto, um processo contínuo, que é realimentado
a cada ano, a partir das informações de cada empresa, ou seja, a cada versão dos
indicadores, o banco de dados é reiniciado para a atualização dos dados.
No caso do Cardoso, com exceção dos temas Público Interno e
Fornecedores, a empresa mostrou-se com uma média superior; quando comparada
com as outras empresas do banco de dados, conforme mostra a Figura 11, a
seguir.
110
Figura 11. Comparação do envolvimento com a RSE entre o Supermercado Cardoso e o
Banco de Dados do Ethos
Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
Os Indicadores fazem também uma comparação da empresa com Grupo de
Benchmark, que é composto pelas empresas que obtiveram as 10 primeiras
colocações, com base na performance geral, sem especificação de atividade ou
segmento de atuação, porte da empresa ou região do País.
Quando comparado com o Grupo de Benchmark, o Cardoso apresentou-se
com grandes oportunidades de melhoria em todos os temas propostos, conforme
mostra a Figura 12 a seguir.
111
Figura 12. Comparação do envolvimento com a RSE entre o Supermercado Cardoso e o
Grupo de Benchmark Ethos
Fonte: Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
3.2.3 Os projetos sociais do Supermercado Cardoso
O Cardoso possui diversos projetos
68
em andamento, com o envolvimento
dos vários stakeholders, dentre os quais, além de outros existentes, destacam-se:
9 Programa de Sensibilização e Mobilização para Doação de
Sangue;
9 Programa de Coleta Seletiva e educação ambiental;
9 Programa Re-aprender para alfabetização e formação de
funcionários adultos e seus familiares;
9 Programa “Jovem Aprendiz”;
9 Programa “Valorizando a Diversidade”;
68
Disponíveis no site www.supermercadoscardoso.com.br
112
9 Programa de esclarecimento de assuntos de interesse público
para a comunidade;
9 Projetos voluntários, dentre eles, “Sopão” e “Horta nas escolas
públicas”;
9 Programa de envolvimento da cadeia de fornecedores com a
gestão socialmente responsável;
9 Programa “Faz Atleta” (parceria com o Governo Estadual);
9 Programa de incentivo aos esportes com destaque para
instituição da “Corrida Solidária”, anualmente, e a criação do
Clube de Corrida “Cardoso Cooper”.
3.2.4 O reconhecimento pela gestão socialmente responsável
Diante da incorporação das práticas de RSE na sua gestão, o Cardoso tem
recebido reconhecimentos (Anexo 1) dos diversos stakeholders. Dentre os quais
destacam-se:
9 reconhecimento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis, por intermédio do Selo Amigo do Catador de Materiais
Recicláveis, instituído em 23 de dezembro de 2003, pelo Presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em reconhecimento pela
valorização e inclusão do catador na coleta seletiva;
9 reconhecimento do Poder Público, mediante Moção de Aplausos da
Câmara Municipal de Jequié;
9 reconhecimento da Unidade de Coleta de Sangue de Jequié;
9 reconhecimentos das ONGs, da sociedade civil, da mídia, etc.
113
Além disto, em 26 de outubro de 2006, o Supermercado Cardoso recebeu o
3° Prêmio de Responsabilidade Social no Varejo do Centro em Excelência em
Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas, com o projeto
69
“A Inserção da Responsabilidade Social na Gestão
da Empresa”.
Esse prêmio é uma iniciativa que faz parte do Programa FGV-EAESP de
Responsabilidade Social no Varejo, que tem como objetivos mobilizar, capacitar,
reconhecer e disseminar as práticas de Responsabilidade Social de empresas e
entidades varejistas de todos os portes, setores e regiões do País.
Vale ressaltar ainda que o Cardoso participou da elaboração dos Indicadores
Ethos Setoriais para o Segmento Varejista, dando importantes contribuições na
Consulta Pública e que, atualmente, faz parte do Grupo de Trabalho para a
Construção da futura Norma ISO 26000, comentada no Capítulo 2 deste trabalho.
3.3 POPULAÇÃO E SELEÇÃO DA AMOSTRA
A população da pesquisa é constituída por todos os fornecedores do
Supermercado Cardoso, que perfazem um total de 814 empresas, de micro,
pequeno, médio e grande portes, entre indústrias de alimentos, bebidas, hipel
(higiene, perfumaria e limpeza), não-alimentos, distribuidores e atacadistas. Do
total desses fornecedores, 245 (30,5%) são do estado da Bahia e o restante de
outros estados do Brasil.
69
Disponível em www.fgvsp.br/cev/premio
114
O critério de escolha da amostra considerou, inicialmente, todos os 245
fornecedores baianos, uma vez que os produtos comercializados desses
fornecedores representam 57,9% do faturamento da empresa.
A partir daí, considerando o volume financeiro de negócios, apresentado
num relatório de venda média mensal, foram selecionados outros 100
fornecedores. Com isso, obteve-se uma amostra de 345 empresas, representando
42,4% da população.
3.4 O INSTRUMENTO DE PESQUISA
Cada empresa pode escolher qualquer dos instrumentos de sustentabilidade
e autodiagnóstico existentes para avaliar seu grau de envolvimento com as práticas
da Responsabilidade Social, a iniciar pela sua visão a respeito dos problemas
sociais, dos seus princípios e valores e da definição da sua própria missão
empresarial, para avaliar as estratégias e traçar um planejamento da sua
participação na resolução ou minimização dos problemas sociais. Um dos
instrumentos existentes para isso, conforme visto no Capítulo 2 deste trabalho, são
os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social.
No intuito, portanto, de cumprir os objetivos aqui estabelecidos, optou-se por
utilizar a versão dos Indicadores Ethos-SEBRAE, desenvolvida pelo Instituto Ethos
em parceria com o SEBRAE, por se tratar de um instrumento mais adequado, por
sua simplicidade e fácil compreensão, para aplicação de uma pesquisa
quantitativa, como é o caso deste trabalho; também, foi considerado o fato de ser
um instrumento testado e já em uso.
115
O instrumento de pesquisa contou com duas partes: a primeira refere-se a
um questionário aberto (Apêndice A), que teve por objetivo coletar o perfil das
empresas pesquisadas. Para isso, foram inseridas perguntas para investigação de
variáveis, como faturamento e número de funcionários, que permitiram a
classificação segundo o porte da empresa, bem como endereço completo e
segmento de atuação, que permitiram a classificação segundo o estado e o
segmento, respectivamente, além de perguntas como razão social, pessoa de
contato, etc. A segunda parte refere-se ao questionário fechado (Apêndice B),
adaptado dos Indicadores Ethos-SEBRAE, para o tratamento do tema RSE na
gestão da empresa.
3.4.1 A adaptação do instrumento
Vale ressaltar que, por tratar-se de um tema ainda relativamente novo e
pouco difundido entre a maior parte das empresas, especialmente entre as micros,
pequenas e médias empresas, houve a necessidade de adaptar-se o instrumento
original, no sentido de facilitar a compreensão por todos.
Assim sendo, buscou-se reconstruir as afirmativas de cada questão, no
sentido de facilitar o entendimento por parte de todas as empresas que
participaram da amostra, independentemente do seu grau de afinidade com o tema
Responsabilidade Social Empresarial. No entanto, é importante mencionar que as
eventuais substituições de terminologias e reconstrução das afirmativas não
modificaram o sentido das questões.
A ferramenta original é constituída por 37 questões, refletidas nos vários
relacionamentos da empresa, nos seus valores, na transparência com que ela lida
116
com suas obrigações, na forma como trata o seu público interno, na forma como
trata o meio ambiente, no tipo de relação que tem com seus fornecedores,
consumidores e clientes, no tipo de relacionamento que busca ter com seus
vizinhos, sua cidade (na comunidade a qual pertence) e, finalmente, no tipo de
contribuição que oferece ao influir no governo e na sociedade.
Com o objetivo de ampliar as possibilidades de um melhor diagnóstico, sete
outras questões foram adicionadas à ferramenta original: uma questão para cada
um dos sete temas abordados, totalizando assim 44 questões, distribuídas nos sete
temas da RSE. Cada questão possui uma afirmação, que propõe a reflexão sobre
qual o nível de adequação de determinada prática na gestão da empresa, com
quatro opções de respostas:
não: quando a situação retratada não estiver inserida na
prática da empresa;
em parte: quando apenas alguns dos fatores retratados na
situação fizerem parte do cotidiano da empresa;
em grande parte: quando a situação retratar uma condição
próxima da realidade da empresa;
sim: quando a situação descrita fizer parte integral da realidade
da empresa.
A ferramenta original conta ainda com um espaço para que a empresa possa
fazer anotações, no sentido de traçar um planejamento estratégico para definição
de formas adequadas de gestão e assim alcançar o maior estágio proposto na
situação abordada na questão. Por tratar-se de um diagnóstico, sem a intenção
inicial de promover a discussão e o planejamento das ações de implementação,
individualmente, com cada empresa, essa parte da ferramenta não foi considerada.
117
3.5 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS
Os questionários, junto com uma carta de apresentação (Apêndice C), foram
encaminhados via Correios, por carta registrada, para a maioria dos fornecedores,
com exceção dos fornecedores da cidade de Jequié, para os quais os
questionários foram entregues pessoalmente. O processo, entre o envio da
primeira carta e o recebimento da última, durou entre os dias 6 de março e 31 de
maio de 2006.
Esse procedimento resultou em um retorno efetivo de 158 questionários dos
345 enviados, sendo que 17 foram considerados inválidos, por apresentar
problemas, como erros de preenchimento, questões em branco, etc. Dessa forma,
a pesquisa contou com 141 questionários válidos.
Do total de questionários válidos, 98 foram de fornecedores baianos,
portanto, 40% em um universo de 245 fornecedores baianos e 43 foram
fornecedores de outros estados, representando 7,56%, em um universo de 569
fornecedores de outros estados.
Os questionários, uma vez respondidos e após terem a sua consistência
verificada, foram digitados e tabulados com o auxílio do software SPSS.
A pontuação para cada questão, apresentando a variação de pontos, segue
tabela abaixo.
Tabela 3. Situação retratada para cada tipo de resposta x pontos obtidos
Resposta Situação Pontos obtidos
Não Quando a situação retratada não estiver inserida
na prática da empresa.
0
Em parte Quando apenas alguns dos fatores retratados na
situação fizerem parte do cotidiano da empresa.
1
Em grande parte Quando a situação retratar uma condição próxima
da realidade da empresa.
2
Sim Quando a situação descrita fizer parte integral da
realidade da empresa.
3
118
Cada tema poderá alcançar uma pontuação máxima, de acordo com o
número de questões, ou seja, multiplicando-se o número de questões por três, que
é o máximo de pontos adquiridos para cada questão.
Tema Número de questões Pontos (máximo)
1 Valores e Transparência 5 15
2 Público Interno 10 30
3 Meio Ambiente 4 12
4 Fornecedores 6 18
5 Consumidores – Clientes 5 15
6 Comunidade 9 27
7 Governo e Sociedade 5 15
Ttl 44 132
Os pontos obtidos em cada questão do tema (que podem ser 0,1, 2 ou 3, de
acordo com a resposta dada) foram somados. Uma vez que o número de questões
é variável e que se propõe que, nesta pesquisa, todos os temas tenham o mesmo
peso na avaliação, a soma dos pontos de cada tema foi modificada, com a
aplicação do fator de correção indicado na Tabela 5, no sentido de transformar o
total de pontos por tema em nota, numa escala de zero a 10, para facilitar a análise
dos resultados.
A soma das notas de cada tema resultou numa nota geral da empresa,
numa escala de zero a 70, conforme mostra a tabela abaixo.
Tabela 4. Máximo de pontos obtidos por tema
Tabela 5. Fator de correção por tema
Tema Número de
questões
Pontos
(máximo)
Fator de
correção
Nota máxima (pontos x
fator de correção)
1 Valores e Transparência 5 15 0,667 10,0
2 Público Interno 10 30 0,333 10,0
3 Meio Ambiente 4 12 0,833 10,0
4 Fornecedores 6 18 0,556 10,0
5 Consumidores – Clientes 5 15 0,667 10,0
6 Comunidade 9 27 0,370 10,0
7 Governo e Sociedade 5 15 0,667 10,0
Ttl 44 132 70,0
119
O tratamento dos dados originou resultados que foram avaliados
70
, segundo
os critérios abaixo.
Nota geral por tema: varia de zero a 10 pontos. Nessa escala, quanto maior
for a nota, maior será o envolvimento das empresas com o tema em discussão. O
somatório da nota dos sete temas propostos irá determinar a nota final da empresa.
Nota geral da empresa ou do grupo de empresas x grau de
envolvimento com a RSE: varia de zero a 70 pontos, sendo que, para cada
resultado encontrado, foram propostos os seguintes comentários:
Grau 1 (de zero a 10 pontos) – a empresa, ou o grupo de empresas,
guarda grandes oportunidades de melhoria, pois ainda não possui
uma gestão voltada para a RSE. Sugere-se a utilização dos diversos
instrumentos de sustentabilidade, como auxílio para planejar uma
forma estruturada de aumentar a qualidade e a extensão das ações
voltadas para a RSE;
Grau 2 (de 11 a 35 pontos) – a empresa, ou grupo de empresas, já
realiza ações voltadas para a RSE. Sugere-se uma análise mais
detalhada de cada tema, verificando as pontuações mais altas e o que
contribui para este resultado, bem como as menores pontuações e as
oportunidades de melhoria;
Grau 3 (de 36 a 60 pontos) – a empresa, ou grupo de empresas, já
assimilou os conceitos de RSE e tem clareza dos compromissos
necessários para uma atuação socialmente responsável, que trazem
aspectos positivos para o negócio, por meio de um relacionamento
mais próximo e produtivo com as partes envolvidas. As empresas,
nesta etapa, possuem maturidade para aprofundar alguns aspectos
70
Dados avaliados de acordo com a ferramenta original.
120
dessa atuação. Sugere-se uma análise dos temas, individualmente,
para encontrar as estratégias mais adequadas, no sentido de
aperfeiçoá-las, utilizando um planejamento de ações a médio e longo
prazos.
Grau 4 (de 61 a 70 pontos) – as empresas, neste grau de
envolvimento com o tema RSE, estão alinhadas com os temas
emergentes de gestão e utilizam a RSE para atingir seus objetivos.
Neste estágio, torna-se viável a busca de parcerias e de alianças
intersetoriais, como forma de potencializar a atuação da empresa,
colaborando e incentivando outras organizações a adotarem as
práticas de RSE, na busca de um objetivo comum: o desenvolvimento
sustentável da sociedade e, portanto, da empresa.
Os resultados encontrados estão apresentados no capítulo seguinte.
121
4 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os resultados da pesquisa, divididos em
duas partes: a primeira parte destacará o perfil das empresas que participaram da
amostra e a segunda apresentará a análise e a interpretação dos dados e as
informações coletadas entre os fornecedores do Supermercado Cardoso.
4.1 PERFIL DA AMOSTRA
Para atender aos objetivos específicos desta pesquisa, encontrou-se o
seguinte perfil, das 141 empresas que participaram da amostra:
Quanto ao porte – para classificação do porte da empresa, utilizou-se o
critério adotado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES
71
. A partir daí, obteve-se um resultado de 25,53% da amostra para
microempresas; 23,40% para empresas de pequeno porte; 22,70% para empresas
de médio porte e 28,37% para empresas de grande porte, conforme mostra a
Figura 13.
23,4%
28,4%
25,5%
22,7%
Micro
Pequena
dia
Grande
Figura 13. Classificação das empresas segundo o porte
71
A classificação do BNDES para porte se dá da seguinte forma: faturamento anual até R$ 1.200.000,00,
microempresa; entre R$ 1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00, pequena empresa; entre R$ 10.500.000,00 e R$
60.000.000,00, média empresa, e, acima disto, grande empresa.
122
Quanto ao estado de atuação – das 141 empresas que responderam à
pesquisa, 98 são do estado da Bahia e 43 são de outros estados do Brasil.
Participaram da amostra, de forma não-probabilística, além da Bahia, os estados
de Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Santa
Catarina e São Paulo. Sendo que a Bahia representou 69,5% da amostra,
conforme mostra a Figura 14.
20,6%
3,5%
1,4%
69,5%
5,0%
Bahia
Estados do Sudeste
Estados do Sul
Outros estados do Nordeste
Estados do Centro-Oeste
Figura 14. Classificação das empresas segundo o estado de atuação
Quanto ao segmento de atuação – as empresas pesquisadas foram
classificadas pelos segmentos: alimentos (inclusive perecíveis, congelados e
resfriados); HIPEL (higiene, perfumaria e limpeza do lar); bebidas; não-alimentos
(bazar, têxtil e eletroportátil) e distribuidores e atacadistas. Vale ressaltar que esta
definição de grupos de empresas está de acordo com os critérios mercadológicos
de classificação adotados pelo Supermercado Cardoso. A maior parte das
empresas que participaram da pesquisa pertence ao segmento de alimentos, como
mostra a Figura 15.
123
58,9%
2,1%
15,6%
12,8%
10,6%
A
limentos
Bebidas
Hipel
Não-alimentos
Distribuidores e
atacadistas
Figura 15. Classificação das empresas segundo o segmento de atuação
Em síntese, pode-se notar que a amostra pesquisada foi composta, de forma
equilibrada, por empresas de todos os portes, segundo a classificação do BNDES,
com matrizes presentes em 13 estados da federação, sendo que a maioria, 69,5%,
são empresas baianas que atuam nos segmentos de alimentos, bebidas, hipel,
não-alimentos, além de distribuidores e atacadistas.
Conclui-se, portanto, que, pelas características apresentadas, a amostra
pode ser considerada adequada, para responder as questões tratadas nesta
pesquisa.
4.2 ANÁLISE DOS DADOS
O processo de análise foi iniciado com a preparação do banco de dados,
utilizando-se o SPSS – Statistical Package for Social Science –, versão 11.5. A
estratégia de pesquisa é caracterizada pelo uso de dados quantitativos e emprego
de procedimentos estatísticos descritivos e inferenciais. Foram realizadas análises
descritivas simples (freqüências e médias) e análises para testar a associação
124
entre variáveis categóricas e variáveis contínuas (teste de Student e análise de
variância). Foram consideradas estatisticamente significantes as diferenças que
apresentaram um p < 0,05.
Para a análise dos resultados, foi feita uma comparação de desempenho por
tema. Com essa reflexão, pôde-se avaliar a qualidade das relações das empresas
pesquisadas em cada um dos principais aspectos da RSE. Fez-se então uma
análise do desempenho global da amostra, considerando o total geral alcançado
pela soma das notas de cada tema.
O resultado apresenta uma classificação de quatro níveis para a amostra,
conforme propõe a ferramenta original, onde será descrito o grau de envolvimento
das empresas pesquisadas quanto ao tema RSE.
4.2.1 Apresentação dos dados
Os dados obtidos nesta pesquisa serão apresentados abaixo, considerando
as sete temáticas da Responsabilidade Social propostas nos Indicadores Ethos. A
intenção é buscar uma compreensão mais aprofundada sobre o real cenário da
RSE encontrado na cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso. Para isso,
serão retomados os objetivos específicos desta pesquisa, de forma a facilitar a
compreensão dos dados obtidos.
125
4.2.1.1 Resposta ao primeiro objetivo específico
Objetivo: analisar o grau de envolvimento dos fornecedores baianos em
relação à RSE, à luz das sete temáticas da RSE propostas pelo Instituto Ethos de
Empresas e Responsabilidade Social, estabelecendo uma comparação do
envolvimento com o tema entre os fornecedores baianos e de outros estados do
Brasil;
Considerando este objetivo, vale ressaltar que os dados obtidos serão
apresentados abaixo, a partir das práticas evidenciadas para cada um dos temas,
tendo uma escala de zero a 10 como referência, sendo que a nota zero representa
nenhum envolvimento com o tema, enquanto que a nota 10 representa total
envolvimento com o tema, conforme mostra a Figura 16.
Figura 16. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores diante das sete temáticas
de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos
6,3
7,7
7,5
6,4
9,2
6,1
6,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Valores e Transparência
Público Interno
Meio Ambiente
Fornecedores
Consumidores - clientes
Comunidade
Governo e Sociedade
7,0
Percebe-se, por esta figura, que o grau de envolvimento com a RSE na
cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso, considerando uma escala de
126
zero a 10, obteve uma média 7,0, destacando a relação com Consumidores e
Clientes com maior envolvimento (nota 9,2), enquanto que a relação com Governo
e Sociedade ficou com a nota mais baixa (nota 6,0). Os comentários de cada um
dos sete temas serão feitos a seguir.
Ao comparar a relação dos fornecedores baianos (69,5% da amostra) com
os fornecedores dos outros estados do Brasil, percebe-se que as práticas
relacionadas à Responsabilidade Social no estado da Bahia receberam, em todos
os temas propostos, nota inferior às empresas dos demais estados, como mostra a
Figura 17.
Figura 17. Comparação entre o envolvimento de fornecedores da Bahia, de outros estados
e geral, diante das sete temáticas de Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo
Instituto Ethos
6,7
5,8
5,6
9,1
6,2
6,9
7,4
5,6
6,3
7,1
9,7
8,7
8,2
7,9
6,0
6,1
9,2
6,4
7,5
7,7
6,3
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
V
al
or
e
s
e
T
r
an
spar
ê
ncia
P
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i
co
Int
er
no
M
e
io
Ambi
ent
e
Fornecedores
C
onsumidores - clientes
C
om
un
i
dade
Gover
no
e Sociedade
7,0
Bahia
Outros estados
Geral
1. Valores e Transparência (p < 0,001): os fornecedores dos outros estados são mais
envolvidos (média de 7,9 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média
de 5,6).
2. Público Interno (p < 0,05): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos
(média de 8,2 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 7,4).
127
3. Meio Ambiente (p < 0,001): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos
(média de 8,7 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 6,9).
4. Fornecedores: não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre
os fornecedores dos outros estados (média de 6,7 pontos, em uma escala de 10) e os
da Bahia (média de 6,2).
5. Consumidores – Clientes: (p < 0,01): os fornecedores dos outros estados são mais
envolvidos (média de 9,7 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média
de 9,1).
6. Comunidade: (p < 0,01): os fornecedores dos outros estados são mais envolvidos
(média de 7,1 pontos, em uma escala de 10) do que os da Bahia (média de 5,6).
7. Governo e Sociedade: não foram encontradas diferenças estatisticamente
significantes entre os fornecedores dos outros estados (média de 6,3 pontos, em uma
escala de 10) e os da Bahia (média de 5,8).
A seguir, serão discutidos os resultados encontrados em cada tema.
4.2.1.1.1 Valores e Transparência
A noção de Responsabilidade Social Empresarial decorre da compreensão
de que a ação das empresas deve, necessariamente, buscar promover benefícios
para a sociedade, propiciar a realização profissional dos empregados, promover
benefícios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os
investidores. A adoção de uma postura clara e transparente, no que diz respeito
aos objetivos e compromissos éticos da empresa, fortalece a legitimidade social de
suas atividades, refletindo positivamente no conjunto de suas relações. Os valores
e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa, orientando sua
conduta e fundamentando sua missão social.
Dessa forma, este tema visou diagnosticar se os fornecedores possuíam
missão e valores, bem como um código de conduta definido e difundido entre os
públicos de interesse; se possuíam uma política pautada em princípios éticos,
contra a prática de pagamentos ou recebimentos irregulares, e se tinham
128
informações sobre a importância da elaboração e divulgação de um Balanço
Social.
Os resultados encontrados, como mostra a Figura 18, demonstraram que
ainda há uma grande oportunidade de desenvolvimento deste tema (Q1),
principalmente entre os fornecedores baianos, com a criação e o desenvolvimento
de códigos de conduta. Além disto, cabe destacar, que a questão dois (Q2)
apresentou a menor média dentro do tema, evidenciando que as empresas
precisam divulgar amplamente, entre os seus parceiros, o seu código de conduta
e/ou sua declaração de valores, incentivando todos a vivenciar o conteúdo do
código, uma vez que somente a criação do código, sem a efetiva implantação, não
surtirá efeito na gestão (Quadro 3).
Enquanto as empresas do estado da Bahia apresentaram nota 5,6, as
empresas dos outros estados apresentaram nota 7,9, numa escala de zero a 10
(Figura 17).
Figura 18. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados e geral, diante do tema “Valores e Transparência”.
2,1
2,1
2,2
1,3
1,4
2,5
2,62,6
1,9
2,4
2,2
2,3
2,3
1,5
1,7
0,0
1,0
2,0
3,0
Q1 Q2 Q3 Q4 Q5
2,0
Bahia
Outros estados
Geral
129
QUADRO 3. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA VALORES E TRANSPARÊNCIA
1. A sua empresa possui algum documento que esclareça quais são as condutas e os
comportamentos incentivados por ela no que se refere às relações pessoais e comerciais
(por exemplo: uma lista de “Valores e Princípios” que explicite os valores da empresa ou
um “Código de Conduta Ética” que especifique a conduta esperada, segundo os quais ela
espera estabelecer seu relacionamento com funcionários, clientes, comunidade,
fornecedores e parceiros)?
2. O documento citado acima, que pode ser um “Código de Ética” ou uma “Declaração de
Valores da Organização”, é de amplo conhecimento de funcionários, clientes,
fornecedores e outros parceiros e, além disto, esses públicos demonstram familiaridade no
dia-a-dia com os temas e os pressupostos contemplados, aplicando-os espontaneamente?
3. O documento mencionado no item anterior proíbe expressamente a prática de pagamentos
ou recebimentos irregulares que tenham como objetivo facilitar negócios, influenciar
decisões em benefício da empresa ou induzir pessoas a concederem permissões indevidas
(por exemplo: proíbe propinas, comissões ilícitas e favores pessoais, estabelecendo
regras claras para o recebimento de presentes, brindes, etc.)?
4. O referido documento contempla, de alguma forma, o modo de relacionamento ético e
transparente com o governo (por exemplo: proibindo expedientes como “Caixa dois”,
sonegações, explicitando transparência nos registro, em geral e nos balanços)?
5. A empresa tem informações sobre o que significa Balanço Social e acredita que esse
instrumento pode ajudá-la a medir o impacto de suas operações sobre as pessoas e o meio
ambiente e a divulgar seus compromissos futuros em relação a esses temas?
4.2.1.1.2 Público Interno
Grande parte das empresas inicia o processo de desenvolvimento de suas
ações de RS a partir do seu público interno, investindo e valorizando seus
colaboradores. A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os
direitos dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista e nos padrões da
OIT (Organização Internacional do Trabalho), ainda que este seja um pressuposto
indispensável. Ela cria benefícios extras, com o intuito de melhorar as condições de
trabalho e favorecer o desenvolvimento pessoal e profissional. Sendo assim, a
negociação com as entidades sindicais é respeitada, objetivando solucionar
demandas coletivas; além disso, busca-se o comprometimento dos funcionários,
com o auxílio, por exemplo, de programas de gestão participativa e participação
nos resultados.
130
Para avaliação deste tema, os indicadores consideram, como fundamental, o
diálogo e a participação; o respeito ao indivíduo, compreendendo o
compromisso com o futuro das crianças e a valorização da diversidade; o respeito
ao trabalhador, compreendendo o comportamento diante das demissões, o
compromisso com o desenvolvimento profissional e a empregabilidade, o cuidado
com a saúde, a segurança e as condições de trabalho e a preparação para
aposentadoria.
Este tema teve por objetivo saber se as empresas mantêm um canal aberto
de comunicação com os funcionários; se oferecem um ambiente sico agradável e
seguro; se incentivam os cuidados com higiene e saúde; se oferecem benefícios
adicionais que se estendem às famílias; se divulgam os critérios de seleção e se
dão preferência ao aproveitamento de funcionários internos; se valorizam a
diversidade do ser humano; se oferecem canais de relacionamento com sindicatos;
se incentivam o desenvolvimento profissional dos funcionários e se facilitam o
acesso à informação como forma de desenvolvimento profissional.
Os resultados demonstraram que a cadeia de fornecedores baianos, tendo
apresentado nota 7,4, é menos envolvida com o Público Interno do que os
fornecedores de outros estados (8,2). Este fato fica evidente, pela Figura 19, nas
questões relacionadas aos benefícios adicionais extensivos às famílias dos
funcionários (Q7) e ao acesso às informações entre eles (Q14).
De acordo com o modelo de RSE proposto por Melo Neto & Froes (2002),
visto no capítulo 2 deste trabalho, a dimensão interna da RS tem seu foco voltado
para as ações com o seu público interno, visando primeiramente o bem-estar dos
seus empregados, para então, fortalecer sua atuação junto a comunidade.
131
Sendo assim, um ponto que chamou atenção quanto a relação das
empresas com o público interno está relacionado às dependências físicas das
empresas, no sentido de facilitar o deslocamento e a convivência de pessoas com
necessidades especiais (Q11). A média geral para essa questão foi 1,4, numa
escala de zero a 3, sendo que os fornecedores baianos tiveram nota 1,3, enquanto
que para os outros estados a nota foi 1,8, como mostra a Figura 19.
Este resultado indica que as empresas que possuem em seu quadro de
colaboradores, funcionários com necessidades especiais, precisam desenvolver
recursos que facilitem a convivência social destas pessoas no ambiente de
trabalho.
Figura 19. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados, diante do tema “Público Interno”.
2,3
2,5
2,3
2,2
2,4
1,9
2,2
2,6
1,3
2,8
2,6
2,5
1,7
2,5
2,5
1,8
2,82,8
2,7
2,4
2,8
2,3
2,1
2,2
2,5
1,4
2,8
2,7
2,5
1,9
2,6
0,0
1,0
2,0
3,0
Q6 Q7 Q8 Q9 Q10 Q11 Q12 Q13 Q14 Q15
Bahia
Outros estados
Geral
QUADRO 4. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA PÚBLICO INTERNO
6. Além de cumprir as obrigações determinadas por lei, a empresa se preocupa em
oferecer a seus funcionários um ambiente físico agradável e seguro, busca incentivar os
cuidados com higiene e saúde e está aberta a críticas e sugestões relativas a esses
aspectos (por exemplo: aboliu o fumo em locais de trabalho, incentiva os funcionários
a praticarem esportes, orienta-os quanto aos cuidados com a postura corporal durante
as atividades profissionais, oferece instalações em boas condições de uso, etc.)?
7. A sua empresa oferece benefícios adicionais que se estendem à família do funcionário,
como plano de saúde familiar, cesta básica, orientação sobre preservação de doenças,
divulgação de campanhas de vacinação, etc.?
132
8. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios que vai utilizar na
seleção dos candidatos, como escolaridade, tempo de experiência, conhecimentos
exigidos, etc. e dá prioridade ao aproveitamento de funcionários internos para evitar
demissões?
9. Os critérios utilizados na seleção de pessoal são isentos de práticas discriminatórias em
relação a qualquer dos temas: gênero, raça, opção sexual, idade e crenças religiosas ou
políticas, bem como a portadores de deficiência (por exemplo: ao anunciar vagas, a
empresa não utiliza termos como “idade mínima 40 anos”, “boa aparência’, “sexo
masculino”, “sexo feminino”, etc.)?
10. Na sua empresa, não são permitidas práticas discriminatórias, o que pode ser percebido
pelas relações existentes no atual quadro de funcionários (por exemplo: há mulheres,
portadores de deficiência, negros, colaboradores com mais de 45 anos, trabalhando
atualmente na empresa e a proporção destes grupos em relação ao quadro total de
funcionários caracteriza que realmente não há discriminação)?
11. As dependências da empresa possuem recursos que facilitam o deslocamento e a
convivência de pessoas com deficiência motora, auditiva e visual (por exemplo:
rampas, avisos de segurança em braille, sinais luminosos e sonoros em áreas de
circulação de veículos ou maquinas, etc.)?
12. Como forma de demonstrar respeito ao indivíduo e transparência em suas relações com
os empregados, a empresa entende que é direito do funcionário participar de sindicatos
e associações de classe e permite que representantes sindicais compareçam à empresa
para discutir questões referentes aos interesses dos funcionários?
13. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional de seus funcionários e
para isso promove / patrocina tanto cursos que buscam capacitá-los para suas atividades
atuais quanto outros que proporcionam conhecimentos para oportunidades futuras (por
exemplo: possui programa de treinamento, colabora com a realização de estágios,
concede incentivo aos funcionários matriculados em cursos de todos os níveis, etc.)?
14. A sua empresa facilita o acesso à informação como forma de desenvolvimento pessoal
e profissional. Diante disso, procura estimular seus funcionários a se atualizarem com
recursos da própria empresa (por exemplo: incentiva a leitura e torna disponíveis
jornais e revistas e acesso a Internet em horários previamente estabelecidos)?
15. A empresa possui mecanismos para ouvir, avaliar e acompanhar posturas,
preocupações, sugestões e críticas dos funcionários, com o objetivo de agregar novos
aprendizados e conhecimentos, e além disto estimula e reconhece sugestões dos
funcionários para melhoria dos processos internos?
4.2.1.1.3 Meio Ambiente
A empresa relaciona-se com o meio ambiente, causando impactos de
diferentes tipos e intensidades. Uma empresa ambientalmente responsável procura
minimizar os impactos negativos e amplificar os positivos. Uma empresa que
possui consciência ambiental investe em projetos de compensação pelo uso dos
recursos naturais, apóia e desenvolve programas educativos no local onde está
133
inserida, não economiza recursos em tecnologia de ponta e prima pela utilização
de materiais recicláveis ou biodegradáveis.
Dentro desse aspecto, o objetivo deste tema foi diagnosticar se os
fornecedores do Supermercado Cardoso possuem uma política de coleta seletiva
de materiais recicláveis, de redução de consumo de papel, energia e água; se
entendem e avaliam o impacto dos seus processos e produtos no meio ambiente;
se promovem a educação ambiental para os funcionários e familiares e se
procuram adquirir soluções tecnológicas ambientalmente corretas.
Os resultados apontaram que os fornecedores do Supermercado Cardoso
tiveram uma nota média geral de 7,5 para este tema, sendo que, no caso dos
fornecedores do estado da Bahia, a nota foi de 6,9, demonstrando um menor
envolvimento com o tema Meio Ambiente, quando comparados aos fornecedores
dos outros estados (8,7).
Há, perceptivelmente, observando-se a Figura 20, uma oportunidade de
melhoria no tema, principalmente no que diz respeito à promoção da educação
ambiental com o público interno (e seus familiares), mediante, por exemplo,
campanhas de redução de consumo de energia, papel e água, reciclagem de
materiais, etc. (Q18). Cabe destacar, no entanto, que, apesar disto, as empresas já
conhecem e avaliam o impacto dos seus produtos no meio ambiente (Q17). É
preciso, portanto, mais ações que contribuam para a preservação do meio-
ambiente, com a participação e o envolvimento de todos os parceiros da
organização.
134
Figura 20. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros estados e
geral, diante do tema “Meio Ambiente”
2,2
1,8
2,4
2,1
2,8
2,2
2,9
2,7
2,4
1,9
2,5
2,3
0,0
1,0
2,0
3,0
Q16 Q17 Q18 Q19
Bahia
Outros estados
Geral
2,3
QUADRO 5. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA MEIO AMBIENTE
16. Nas dependências da empresa já foram implantadas medidas que visam preservar o
meio ambiente, como, por exemplo: coleta seletiva de lixo (existem recipientes
identificados para papel, vidro, metal, plástico e material orgânico), redução do
consumo de energia (melhoria na iluminação natural, aparelhos eletrônicos de menor
consumo de energia, etc.), redução no consumo de papel (utilizam-se a frente e o verso
das folhas), redução no consumo de água (torneiras com fechamento automático, etc),
orientação da política de compras que não prejudique o meio ambiente?
17. A empresa conhece, entende e avalia o impacto de seus produtos no meio ambiente
(por exemplo: controla os impactos ambientais no que se refere à emissão de
poluentes, de erosão do solo, de consumo de energia, de água e combustível, etc.)?
18. Para a empresa e para a comunidade, uma das formas mais efetivas de reduzir esses
impactos é promover educação ambiental para os funcionários e seus familiares. Para
isto, realiza atividades que propiciam esse conhecimento (por exemplo: campanhas
para reduzir o consumo de água e energia; reciclagem de materiais; apoio a
iniciativas e projetos voltados para a educação ambiental)?
19. A empresa procura adquirir conhecimento sobre inovações tecnológicas que sejam
“ambientalmente corretas” e procura incorporá-las aos processos de produção?
4.2.1.1.4 Fornecedores
A empresa socialmente responsável incentiva seus fornecedores a serem
também socialmente responsáveis e trabalha pelo aprimoramento de suas relações
de parceria.
135
A Responsabilidade Social da empresa em relação a seus fornecedores
começa no processo de seleção destes e leva em consideração alguns critérios
essenciais, como os padrões de conduta e os procedimentos adotados na relação
com os trabalhadores e com o meio ambiente externo.
Sendo assim, o objetivo deste tema foi verificar o grau de envolvimento da
cadeia de fornecedores do Supermercado Cardoso com os seus respectivos
fornecedores, avaliando se as empresas fornecedoras possuem políticas para a
erradicação do trabalho infantil ou escravo; se procuram conhecer os princípios e
as políticas de RSE, antes de iniciar um relacionamento com os fornecedores; se
orientam os seus fornecedores a seguirem os princípios da RSE e se dispõem a
ajudar; se verificam as condições proporcionadas pelos fornecedores aos próprios
funcionários e se buscam fornecedores em cooperativas, associações de bairros e
projetos de geração de renda.
Os resultados encontrados não apresentaram diferenças estatisticamente
significantes entre os fornecedores da Bahia e os dos outros estados.
Diferentemente dos outros temas apresentados até o momento, a média geral para
esse público foi baixa, tanto por conta dos fornecedores da Bahia como os dos
outros estados.
As questões 23, 24 e 25 (Quadro 6) chamaram atenção por terem
apresentado uma média inferior à média geral do tema (2,0). Isto permite inferir que
as empresas precisam, dentro do possível, buscar fornecedores em cooperativas,
associações de bairros e projetos de geração de renda; dedicar uma maior atenção
à orientação dos seus fornecedores quanto ao alinhamento com os princípios da
RSE, dispondo-se, inclusive, a ajudá-los na implantação destes princípios.
136
Cabe ressaltar que é preciso haver legitimidade na gestão socialmente
responsável e isto somente poderá acontecer se toda a cadeia de suprimentos
estiver também envolvida com o tema RSE. Não adianta trabalhar para a
erradicação do trabalho infantil ou escravo na cadeia produtiva, se, ao receber uma
proposta comercial atraente, por exemplo, não se observam questões como essas
ou outras relacionadas a RSE. A Figura 21 apresenta os resultados encontrados.
Figura 21. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados e geral, diante do tema “Fornecedores”
1,4
1,6
1,7
2,4
1,9
2,5
1,7
1,6
1,7
2,32,3
2,7
1,5
1,6
1,7
2,4
2,1
2,6
0,0
1,0
2,0
3,0
Q20 Q21 Q22 23 Q24 Q25
2,0
Bahia
Outros estados
Geral
Q
QUADRO 6. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA FORNECEDORES
20. Nas relações com os fornecedores, a empresa possui políticas com o objetivo de
contribuir para a erradicação do trabalho forçado, da mão-de-obra infantil e não
permite a utilização de mão-de-obra escrava ou infantil na sua cadeia de suprimentos?
21. Quando inicia relacionamento com um novo fornecedor, a empresa se interessa em
conhecer seus princípios, sua política de Responsabilidade Social e se informa se ele é
cumpridor da legislação trabalhista, previdenciária e fiscal?
22. Quando um fornecedor apresenta uma boa proposta comercial (qualidade, preço e
prazo), mas não comprova seu respeito à legislação e aos direitos humanos (como
atitudes discriminatórias de qualquer natureza, utilização de mão-de-obra infantil,
condições de trabalho, etc.), a empresa prefere escolher outro fornecedor, mesmo com
proposta comercial menos atraente?
23. A empresa procura orientar os fornecedores a seguirem seus princípios de
Responsabilidade Social e se dispõe a ajudá-los na sua implantação (por exemplo:
informa suas ações aos fornecedores, orienta-os pessoalmente ou envia funcionários
para colaborar com eles, incentivando o intercâmbio entre as empresas)?
24. A empresa verifica constantemente as condições proporcionadas pelos fornecedores
aos próprios funcionários (por exemplo: realiza visitas para conhecer o ambiente de
trabalho oferecido pelo fornecedor aos funcionários, etc.)?
25. A empresa procura buscar fornecedores em cooperativas, associações de bairro e
projetos de geração de renda (por exemplo: programa de primeiro emprego,
cooperativas de artesãos, etc.)?
137
4.2.1.1.5 Consumidores – Clientes
A Responsabilidade Social em relação aos clientes e consumidores exige da
empresa o investimento permanente no desenvolvimento de produtos e serviços
confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e das pessoas
em geral.
É preciso que consumidores e clientes saibam dos riscos que um
determinado produto pode oferecer a sua saúde, por isto, a empresa deve oferecer,
por exemplo, um serviço de atendimento direto, para esclarecer possíveis dúvidas
quanto aos produtos comercializados, ou seja, deve alinhar-se aos interesses dos
clientes e buscar satisfazer suas necessidades.
Este tema teve como objetivos verificar a relação das empresas pesquisadas
com seus consumidores, no que diz respeito à comunicação; informações
transparentes a respeito dos produtos comercializados; qualidade do atendimento;
propaganda ética e respeito à preservação da saúde, pesquisando e divulgando
danos potenciais que seus produtos podem causar.
Os resultados encontrados demonstraram que, de forma geral, a cadeia de
fornecedores do Supermercado Cardoso está atenta quanto a sua relação com os
seus consumidores – clientes. Apesar do resultado (Figura 22) ter apontado os
fornecedores dos outros estados ainda mais envolvidos (nota 9,7) com o tema do
que os fornecedores do estado da Bania (nota 9,1), na média geral, o grupo teve
nota 9,2. Isto se dá pelo fato dos consumidores estarem atentos às questões
sociais da empresa, tanto pelos meios de comunicação, representadas por uma
evolução educacional e tecnológica em que as distâncias se eliminam e as trocas
de informações se multiplicam, como pela própria consciência cidadã que se instala
138
neste início de século, caracterizada por uma evolução cívica, em que milhares de
pessoas organizadas em todo o mundo, por meio de associações e organizações
não-governamentais, defendem seus direitos e interesses, como a promoção
social, proteção ambiental, etc.
O consumidor, cada vez mais bem informado e consciente do seu papel na
sociedade, começa a exigir, também das empresas, uma postura socialmente
responsável diante das questões sociais, econômicas e ambientais no planeta
Terra.
Figura 22. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados e geral, diante do tema “Consumidores - Clientes”
2,5
2,8
2,9
2,7
2,8
2,9
2,8
3,0
2,92,9
2,6
2,8
2,9
2,7
2,9
0,0
1,0
2,0
3,0
2,8
Bahia
Outros estados
Geral
Q26 Q27 Q28 Q29 Q30
QUADRO 7. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA CONSUMIDORES – CLIENTES
26. A empresa respeita o cliente ou consumidor e entende que deve ter com ele uma
comunicação efetiva. Em conseqüência disso, seus produtos trazem sempre
informações claras sobre como entrar em contato com a empresa (por exemplo:
endereço para correspondência, telefone para contato, site ou e-mail)?
27. Como forma de melhorar seus produtos ou serviços e a relação com seus clientes, a
empresa analisa as dúvidas, sugestões e reclamações recebidas e as utiliza como
instrumento para aperfeiçoar suas atividades (por exemplo: cria mecanismos para
documentar as informações, analisa as melhorias que possam ser implantadas,
preocupa-se em responder e/ou esclarecer os clientes sobre as dúvidas encaminhadas,
estipula metas e prazos para solucionar os problemas apontados)?
28. A empresa orienta continuamente sua equipe de atendimento para uma relação ética e
de respeito aos direitos do cliente – consumidor e a reconhecer falhas, agindo com
rapidez na resolução de problemas?
139
29. Em sua propaganda, a empresa se preocupa em evitar conteúdo enganoso ou que
induza o cliente a erro de entendimento. Da mesma forma, analisa seu conteúdo no que
se refere a aspectos que possam constranger ou desrespeitar grupos específicos (como
mulheres, crianças, idosos, homossexuais, grupos raciais, grupos religiosos, etc.)?
30. A empresa adota princípios de respeito à preservação da saúde de seus consumidores,
pesquisando e divulgando os danos potenciais que seus produtos possam causar (por
exemplo: colocando aviso na embalagem dos produtos) e está preparada para adotar
medidas corretivas, se for o caso?
4.2.1.1.6 Comunidade
A atenção para a comunidade representa a Responsabilidade Social
externa, pela qual a empresa desenvolve ações que devem reverter-se em
benefícios para a comunidade.
Ao considerar que a empresa está inserida numa comunidade, que fornece
toda a infra-estrutura e o capital social, este representado por seus empregados e
parceiros, contribuindo decisivamente para a viabilização de seus negócios, é
natural que se compreenda que a empresa precisa retribuir esses benefícios.
Nesse sentido, o objetivo desta abordagem foi verificar o grau de
reconhecimento das empresas em relação à importância da comunidade para o
negócio; as ações desenvolvidas, no intuito de minimizar os eventuais impactos
negativos dos seus processos; as práticas de gestão que beneficiam o
desenvolvimento local; o apoio a instituições ou organizações carentes; o
envolvimento dos funcionários nos projetos sociais, bem como o incentivo desses
funcionários no desenvolvimento de ações voluntárias.
Os resultados apontaram este tema (5,6) entre os que necessitam de maior
atenção, assim como com os temas Valores e Transparência, Fornecedores e
Governo e Sociedade, que também obtiveram uma média abaixo da média geral da
amostra (7,0).
140
Considerando que a Responsabilidade Social Empresarial deve ser uma
forma de gestão do negócio em que todas as ações desenvolvidas precisam estar
alinhadas com as estratégias organizacionais, pode-se concluir, que, apesar das
empresas pesquisadas terem demonstrado têm uma preocupação em estar em
contato com as comunidades (Q31 e Q32), ao desenvolver ações com estas,
geralmente não se preocupam em alinhar o desenvolvimento da ação com o
direcionamento estratégico da empresa (Q38), limitando-se as ações
assistencialistas e filantrópicas (Quadro 8).
É importante ressaltar que, estando a gestão da RSE alinhada com as
estratégias organizacionais, as empresas envolvam seus funcionários incentivando
o desenvolvimento de ações voluntárias com a comunidade; apóiem instituições
carentes da sua comunidade e que acompanhem os resultados destas ações,
identificando, por exemplo, que tipo de contribuição a ação trouxe para a empresa,
a comunidade e todos os envolvidos.
De acordo com os resultados obtidos, os fornecedores dos outros estados
demonstraram maior envolvimento com este tema do que os fornecedores baianos
do Supermercado Cardoso, como mostra a Figura 23.
Figura 23. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados e geral, diante do tema “Comunidade”
1,8
1,2
1,5
1,5
1,9
1,4
2,3
2,1
1,9
1,7
2,1
2,0
2,1
2,3
2,1
2,5
2,4
2,4
1,9
1,4
1,7
1,7
2,0
1,6
2,4
2,2
2,1
0,0
1,0
3,0
Q31 Q32 Q33 Q34 Q35 Q36 Q37 Q38 Q39
2,0
1,9
Bahia
Outros estados
Geral
141
QUADRO 8. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA COMUNIDADE
31. A empresa reconhece que a comunidade em que está presente é parte importante em
seus processos decisórios e participa da discussão de problemas comunitários e do
encaminhamento de soluções?
32. A empresa se preocupa em estar sempre em contato com a comunidade vizinha (de
entorno), procurando minimizar os impactos negativos que suas atividades possam
causar, como o aumento da circulação de veículos, do volume de lixo, da emissão
de poluentes, do nível de ruído, etc.?
33. A empresa tem práticas de gestão que beneficiam o desenvolvimento local (por
exemplo: compra produtos de empreendedores da comunidade, contrata
funcionários que residam nas proximidades, utiliza serviços de organizações não-
governamentais próximas à empresa, etc.)?
34. A empresa divulga a importância do trabalho voluntário e incentiva seus
funcionários a trabalharem em prol de uma causa (por exemplo: acompanha o
trabalho voluntário que alguns funcionários desenvolvem em determinada
organização e o divulga por meio de murais, jornal interno, jornal local, etc.)?
35. A empresa apóia, pelo menos, uma organização ou instituição carente de sua
comunidade e mobiliza sua rede de contatos em favor dela (por exemplo: apresenta
a organização a clientes e fornecedores, realiza campanhas nas quais outras
empresas possam participar, divulga as atividades da organização em seu site ou
outros veículos de comunicação, etc.)?
36. A empresa busca envolver seus funcionários nos projetos com os quais colabora,
incentivando-os a atuar voluntariamente na organização ou instituição carente
“adotada”?
37. Existe entre a empresa e a organização (ou instituição) por ela beneficiada uma
conversa franca sobre o papel de cada uma na parceria e, além disto, a empresa
procura sempre acompanhar os resultados que essa parceria tem alcançado (por
exemplo: que tipo de contribuição trouxe para a organização, para a empresa e
para as pessoas envolvidas? quais são os próximos passos? quando a parceria terá
fim? como o parceiro se manterá sem o apoio da empresa? etc.)?
38. Estando claro que a Responsabilidade Social deve ser uma forma de GESTÃO do
NEGÓCIO e que toda empresa e todo negócio objetivam lucro, quando escolheu a
organização (ou instituição carente) em que iria atuar, a empresa buscou, de algum
modo, conciliar seus interesses com o dessa instituição (por exemplo: sua empresa
produz artefatos esportivos e procurou uma instituição que atuasse com jovens
promovendo educação por meio do esporte, porque julga que a vinculação de sua
marca a essa atividade possa ser benéfica)?
39. Como resultado de sua atividade na comunidade, a empresa acredita que obteve
benefícios (por exemplo: aumento de vendas, melhoria na relação com
fornecedores, novos contatos / clientes, menor rotatividade de pessoal, etc.)?
4.2.1.1.7 Governo e Sociedade
Sabe-se que a empresa deve relacionar-se de forma transparente, ética e
responsável com os poderes públicos, cumprindo as leis e mantendo interações
142
dinâmicas com seus representantes, visando constante melhoria das condições
sociais e políticas do País.
É importante, portanto, que a empresa alinhe seus interesses com os
interesses da sociedade, comprometendo-se em combater a corrupção no mundo
dos negócios, cumprindo a obrigação de recolher impostos, obedecendo às leis e
respeitando o poder público.
Dessa forma, este tema visou identificar se a cadeia de fornecedores do
Supermercado Cardoso participa de organizações que integram e mobilizam outras
empresas, na busca de melhores condições para os negócios e para a
comunidade; se promove debates nas campanhas políticas e estimula o voto
consciente; se motiva os funcionários para o envolvimento e a fiscalização da
gestão pública; se é transparente em relação a um eventual apoio a campanhas
políticas e se colabora com a melhoria dos equipamentos públicos da sua região.
Este tema, dentre os sete propostos pelos Indicadores, foi o que teve a
média geral mais baixa: 6,0. Para efeitos de comparação, não foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes entre os fornecedores da Bahia e os dos
outros estados.
Esse resultado permite inferir que há, de forma geral, uma atuação pouco
expressiva das empresas junto à sociedade e ao governo. Segundo Almeida
(2002), no novo mundo tripolar, o paradigma é a integração de economia, ambiente
e sociedade, conduzida e praticada em conjunto por três grupos básicos: o
empresariado, o governo e a sociedade civil organizada. Portanto, é preciso haver,
por parte das empresas, um maior envolvimento com o tema Governo e Sociedade,
no sentido de unir forças na construção do desenvolvimento sustentável.
143
As questões 41 e 42 (Quadro 9) apresentaram médias inferiores a média
geral das questões (1,8), demonstrando que as empresas têm a oportunidade de
motivar seus funcionários para o exercício da cidadania no que diz respeito ao voto
consciente, promovendo, por exemplo, debates em período eleitoral, informando
seus colaboradores sobre a importância de se envolverem na gestão pública, etc.
A Figura 24 apresenta os resultados encontrados.
Figura 24. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia, de outros
estados e geral, diante do tema “Governo e Sociedade”
1,6
2,0
1,4
1,6
2,2
2,1
2,1
1,3
1,7
2,4
1,8
2,0
1,3
1,7
2,2
0,0
1,0
2,0
3,0
Q40 Q41 Q42 Q43 Q44
Bahia
Outros estados
Geral
1,8
QUADRO 9. QUESTÕES REFERENTES AO TEMA GOVERNO E SOCIEDADE
40. A empresa procura participar de organizações que integrem empresários (por exemplo:
organizações empresariais, associações comerciais, fóruns regionais) e utiliza esse
espaço para atualizar-se e discutir com outras empresas suas dificuldades, necessidades
e formas de mobilização, em busca de melhores condições para os negócios e também
de melhores condições para a comunidade?
41. A empresa é criteriosa nas campanhas políticas, promove debates e estimula o voto
consciente?
42. A empresa informa seus funcionários sobre a importância de se envolverem nas
administrações governamentais e fiscalizá-las (por exemplo: divulga ações como o
orçamento participativo e as eleições de conselhos municipais, incentivando os
funcionários a participarem, etc.)?
43. A empresa mantém transparência em relação ao apoio e financiamento de campanhas
políticas ou de partidos políticos e não utiliza o seu “poder econômico” para
influenciar seus públicos ou outras instituições?
44. Sempre que necessário (e possível), a empresa colabora com a melhoria dos
equipamentos públicos da sua região (como em escolas, postos de saúde, praças, áreas
verdes, etc.)?
144
4.2.1.2 Resposta ao segundo objetivo específico
Objetivo: conhecer e analisar o grau de envolvimento com o tema RSE na
cadeia de fornecedores, a partir da classificação de empresas por porte e por
segmento de atuação.
4.2.1.2.1 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao porte
As empresas socialmente responsáveis devem tornar-se agentes de
transformação social, identificar possibilidades de parcerias com o governo e os
diversos atores sociais, investir em educação, cultura, bem-estar social, cuidar bem
do meio ambiente e assim obter maior potencial de sucesso e longevidade.
Algumas grandes organizações, tanto no âmbito nacional como no
internacional, são referências em relação à Responsabilidade Social, como a
Natura, o ABN Amro Bank, a Petrobras, O Boticário e outras. Porém, apesar das
grandes empresas, por seu maior poder de comunicação com todos os públicos e
os altos volumes investidos, ganharem mais visibilidade, é importante destacar que
as empresas de micro, pequeno e médio portes também vêm desenvolvendo ações
sociais por todo o Brasil.
Diversas iniciativas têm sido desenvolvidas, no sentido de contribuir para a
disseminação das práticas de RSE entre as micros, pequenas e médias empresas
no Brasil. Dentre elas, destacam-se, por exemplo, o Projeto de RSE para Micro,
Pequenas e Médias empresas do SESI e o SEBRAE, na Bahia, que tem por
objetivo difundir conceitos e boas práticas de RSE, além de sensibilizar e apoiar as
empresas a gerirem seus próprios negócios de forma socialmente responsável.
145
Uma pesquisa realizada pela FIEB
72
, entre dezembro de 2004 e abril de
2005, com 163 empresas de todos os portes, revelou que 50% das empresas de
grande porte possuem práticas socialmente responsáveis contra 31,5% das
empresas de pequeno e médio portes.
Outra iniciativa, no sentido de mobilizar e capacitar as micros, pequenas e
médias empresas às práticas de RSE, é o Programa TEAR – Tecendo Redes
Sustentáveis – do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento –, em parceria
com o Instituto Ethos. O programa tem por objetivo disseminar, em curto prazo, o
conhecimento sobre Responsabilidade Social e ampliar as oportunidades de
mercados de PMEs que atuam na cadeia de valor das empresas estratégicas, em
sete setores da economia: petróleo e gás, energia elétrica, varejo, construção civil,
mineração, siderurgia, açúcar e álcool.
O projeto prevê que uma empresa de grande porte, com experiências em
RSE, fique responsável por 15 PMEs da sua cadeia de valor, com as quais se
compromete a trabalhar para a incorporação e ampliação da gestão socialmente
responsável.
Mais uma iniciativa, no sentido de motivar e apoiar as práticas socialmente
responsáveis entre as PMEs, foi a parceria entre o Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social e o Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas
Empresas, por meio da qual publicaram-se duas ferramentas de gestão, que
possibilitam a essas empresas o diagnóstico e a implementação dos processos de
RSE. São elas: Ferramenta de Auto-avaliação e Planejamento – Indicadores Ethos-
SEBRAE de RSE para Micro e Pequenas Empresas e RSE para Micro e Pequenas
Empresas – Passo a Passo.
72
“Empresas ganham estímulo para práticas socialmente responsáveis”. Disponível no site
www.empreendedor.com.br. Acesso em 31 de outubro de 2006.
146
Vale destacar ainda que iniciativas de reconhecimento nacional quanto às
práticas de RSE, como Prêmio Eco, criado há 24 anos pela Câmara Americana de
Comércio, têm registrado cada vez mais a participação de micros, pequenas e
médias empresas em suas edições. Somente neste ano de 2006, dos 143
trabalhos inscritos, 48 foram de empresas de médio e pequeno portes
73
. Da
mesma forma, no 3° Prêmio de RSE no Varejo do Instituto Ethos
74
, em 2006, as
micros, pequenas e médias empresas representaram 50% do total de inscrições.
É preciso ressaltar a importância das micros, pequenas e médias empresas
no contexto econômico brasileiro. De acordo com o SEBRAE
75
, esse segmento
representa 25% do Produto Interno Bruto, gera 15 milhões de empregos no Brasil,
significando mais de 60% do emprego formal, e constitui 99% dos mais de 6
milhões de estabelecimentos formais existentes no Brasil.
Diante das informações apresentadas, percebe-se, claramente, que a
disseminação das práticas socialmente responsáveis entre as micros, pequenas e
médias empresas tem aumentado ao longo dos anos.
Os resultados desta pesquisa, portanto, confirmam essa tendência,
ressaltando, ainda assim, que, quanto maior o porte da empresa, maior o
envolvimento dela com o tema RSE, conforme mostra a Figura 25.
73
Disponível no site www.amcham.com.br/cidadania/premio_eco. Acesso em 3 de novembro de 2006.
74
Disponível em www.fgvsp/cev/premio. Acesso em 3 de novembro de 2006.
75
Disponível no site do SEBRAE www.sebrae.org.br. Acesso em 3 de novembro de 2006.
147
Figura 25. Comparação entre as empresas de diferentes portes em relação à
Responsabilidade Social Empresarial
50,9
58,2
41,9
43,6
0,0
20,0
40,0
60,0
Micro Pequena Média Grande
49,0
Quanto maior o porte, maior o envolvimento das empresas em relação à Responsabilidade Social
Empresarial (p < 0,000).
Na avaliação do grau de envolvimento (escala de zero a 70), considerando a
soma das notas obtidas em cada um dos sete temas, obteve-se uma média de 49
pontos entre as empresas que compõem a cadeia de abastecimento do
Supermercado Cardoso.
Com exceção do envolvimento das empresas com o tema Governo e
Sociedade, em que não houve diferenças estatisticamente significantes entre os
diferentes portes, o resultado confirma a tendência que, quanto maior o porte,
maior o envolvimento com as práticas socialmente responsáveis (Figura 26).
148
Figura 26. Comparação entre empresas de diferentes portes, diante das temáticas de
Responsabilidade Social Empresarial propostas pelo Instituto Ethos
4,5
6,6
6,4
5,3
9,0
4,8
5,4
4,8
7,1
6,5
5,7
8,7
5,2
5,8
6,9
8,1
7,5
6,5
9,5
6,5
6,1
8,7
8,7
9,3
7,7
9,8
7,7
6,5
6,3
7,7
7,5
6,4
9,2
6,1
6,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0
Valores e
Transparência
Público Interno
Meio Ambiente
Fornecedores
Consumidores -
clientes
Comunidade
Governo e
ociedade
S
Geral
Grande
Média
Pequena
Micro
7,0
1.
Valores e Transparência (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas
(média de 8,7 pontos, em uma escala de 10).
2.
Público Interno (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média
de 8,7 pontos, em uma escala de 10).
3.
Meio Ambiente (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média
de 9,3 pontos, em uma escala de 10).
4.
Fornecedores (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de
7,7 pontos, em uma escala de 10).
5.
Consumidores – Clientes: (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais
envolvidas (média de 9,8 pontos, em uma escala de 10).
6.
Comunidade: (p < 0,000): as empresas de grande porte são as mais envolvidas (média de
7,7 pontos, em uma escala de 10).
7.
Governo e Sociedade: não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
entre as empresas de diferentes portes.
149
4.2.1.2.2 Grau de envolvimento dos fornecedores quanto ao segmento
Para a resposta a este objetivo, foi solicitado que as empresas indicassem o
segmento de atuação, tendo-se como resposta aqueles ligados a Alimentos,
Bebidas, Hipel, Não-alimentos e Atacadistas e Distribuidores.
Neste caso, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes
entre as empresas dos diversos segmentos (apesar de notar-se, pela Figura 27,
que os segmentos de bebidas e não-alimentos apresentaram média um pouco
menor do que as demais), o que demonstra que os conceitos de Responsabilidade
Social estão sendo difundidos equitativamente entre os diversos segmentos da
amostra.
Figura 27. Comparação entre empresas de diferentes segmentos em relação à
Responsabilidade Social Empresarial
50,7
46,9
49,0
49,1
46,2
0,0
20,0
40,0
60,0
Alimentos
Bebidas
Hipel
Não
alimentos
Distribuidores
e atacadistas
49,0
150
5 CONCLUSÃO
Este capítulo tem por objetivo apresentar a resposta ao problema da
pesquisa, assim como as reflexões e conclusões acerca do estudo, suas limitações
e recomendações para futuros trabalhos.
5.1 RESPOSTA AO PROBLEMA DA PESQUISA
O Século XXI será o cenário de consolidação de uma nova visão
empresarial, uma nova forma de fazer negócios. O foco voltado para a qualidade
das relações empresariais com todos os públicos com os quais a empresa interage,
pautado nos pilares da ética e transparência, será a base que norteará o
desenvolvimento de todas as atividades empresariaIs neste novo século.
O referencial teórico, que teve por objetivo contextualizar o leitor a respeito
do tema e da sua relação com o varejo (uma vez que o desenvolvimento deste
trabalho aconteceu nesse segmento), demonstra que a base para esse novo
conceito requer a compreensão sobre as práticas socialmente responsáveis no
novo mundo tripolar, em que o paradigma é a integração de economia, ambiente e
sociedade, conduzida e praticada em conjunto por três grupos básicos:
empresários, gestores públicos e sociedade civil organizada (ALMEIDA, 2002). O
repensar a respeito de aspectos culturais, econômicos, políticos, sociais e
ambientais que caracterizam o sistema em que as organizações atuam norteará as
empresas sobre novas mudanças e atitudes, provendo o desenvolvimento de uma
sociedade mais justa, igualitária e humanizada.
Mediante este pensamento sistêmico e considerando as premissas:
151
- que as empresas não existem no vazio, elas fazem parte de um sistema
aberto, com o qual estabelecem relações de troca e no qual exercem e
sofrem influências, por meio de seus processos e suas decisões, e que,
portanto, não se esgotam em si próprias;
- que uma empresa só exerce uma gestão socialmente responsável se
envolver todos os públicos de interesse, seus stakeholders, nas suas
ações e, com eles, estabelecer uma relação ética e transparente,
baseada na premissa do desenvolvimento solidário e sustentável da
sociedade, com todos e para todos;
- que as empresas que afirmam exercer sua responsabilidade social
devem fazê-lo em todas as partes do seu negócio e das suas atividades;
- que os fornecedores se configuram num importante agente de
transformação na cadeia produtiva;
- que uma empresa não tem controle legal sobre um fornecedor, mas
pode influenciar esse fornecedor, utilizando-se de condições no contrato
de fornecimento de seus produtos ou serviços;
- que uma empresa pode não ser legalmente responsável por seus
fornecedores, mas é socialmente responsável pelos impactos sociais e
ambientais causados pelos produtos que comercializa;
buscou-se responder à indagação inicial desta pesquisa, que foi: “Qual o grau de
envolvimento dos fornecedores do Supermercado Cardoso com a
Responsabilidade Social Empresarial”?
Para isto, foram utilizados como modelo de análise os Indicadores do
Instituto Ethos-SEBRAE, para construir o procedimento de avaliação da
Responsabilidade Social proposto neste trabalho.
152
Considerou-se, portanto, na avaliação dos resultados, para responder ao
problema da pesquisa, a escala dos Indicadores Ethos-SEBRAE, que contempla
quatro níveis, ou quatro graus de envolvimento, de acordo com o desempenho
global
76
, a partir do total de pontos obtidos: 1° grau (zero a 10 pontos), 2° grau (11
a 35 pontos), 3° grau (36 a 70 pontos) e 4° grau (61 a 70 pontos).
Foi constatado na aplicação do procedimento que os fornecedores do
Supermercado Cardoso, no estado da Bahia, de acordo com os pontos obtidos,
encontram-se no Grau 3, na escala de um a quatro. Vale ressaltar que, embora os
fornecedores dos outros estados estejam mais envolvidos (média de 54,5 pontos,
numa escala de zero a 70) com o tema RSE do que os fornecedores da Bahia
(média de 49,0 pontos), a amostra apresentou Grau 3 de envolvimento com a
Responsabilidade Social Empresarial (Figura 28).
Figura 28. Comparação entre o envolvimento dos fornecedores da Bahia e de outros
estados em relação à Responsabilidade Social Empresarial
46,6
54,5
0,0
20,0
40,0
60,0
Bahia Outros estados
49,0
76
O desempenho global refere-se à primeira análise a partir da nota alcançada por tema, numa escala de zero a
10. Como são sete temas, a soma total das notas será de, no máximo, 70 pontos.
153
Este resultado demonstra que as empresas pesquisadas já assimilaram os
conceitos da Responsabilidade Social Empresarial e têm clareza quanto aos
compromissos necessários para uma atuação socialmente responsável e dos
impactos positivos dessa atuação para o negócio, por meio de um relacionamento
mais próximo e produtivo com as partes envolvidas.
Nesse grau de envolvimento, as empresas possuem certa maturidade para
aprofundar alguns aspectos da atuação socialmente responsável. Sugere-se, no
entanto, que, num segundo momento, cada empresa avalie o seu resultado,
individualmente, no sentido de encontrar a estratégia mais adequada para
aperfeiçoá-lo, utilizando o planejamento das ações para médio e longo prazos.
Apesar das análises comparativas por tema, portes e segmentos terem sido
comentadas no capítulo precedente, vale ressaltar que esta pesquisa indicou que
as práticas de Responsabilidade Social, apesar de estarem mais presentes nas
empresas de grande porte, estão crescendo e disseminando-se também entre as
empresas de micro, pequeno e médio portes. No entanto, pode-se inferir, de
acordo com o estudo realizado, que, quanto maior for a empresa, maior será o seu
envolvimento com a RSE.
Já em relação aos sete temas da RSE, percebeu-se que há um
envolvimento consideravelmente maior das empresas com a gestão socialmente
responsável relacionada ao público Consumidores (nota 9,2 numa escala de zero a
10), seguido de Público Interno (7,7) e Meio ambiente (7,5), enquanto que o tema
Governo e Sociedade (6,0) representa o público de menor envolvimento das
empresas, seguido por Comunidades (6,1), Valores e Transparência (6,3) e
Fornecedores (6,4), quanto às práticas socialmente responsáveis.
154
Quanto à área de segmento, cabe destacar que não houve registro
estatisticamente significante nesta pesquisa que pudesse demonstrar alguma
diferença de envolvimento com o tema RSE, segundo a área de atuação da
empresa.
5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO
Uma das principais limitações da utilização do estudo de caso, que foi o
método utilizado nesta pesquisa, relaciona-se ao nível de generalização dos
resultados obtidos, uma vez que a generalização exige processos amostrais
extremamente rigorosos, bem como testes estatísticos muito difíceis de ser
aplicados em pesquisas baseadas em estudos de caso. Além do mais, com o
método de estudo de caso, não é possível universalizar as conclusões, ressaltando
que o estudo de caso apenas oferece uma referência para aplicação do método de
pesquisa em outras empresas.
A confiabilidade das respostas, com a transparência esperada, configura-se
outra limitação desta pesquisa, uma vez que os Indicadores Ethos-SEBRAE
aplicados, que constituem ferramenta de autodiagnóstico, foram aplicados por
terceiros e não partiram de uma decisão interna, tomada pela própria empresa. De
mais a mais, vale ressaltar a possibilidade de alguns dos questionários terem sido
respondidos por pessoas não-indicadas para tal atribuição. Por exemplo,
vendedores que, eventualmente, não tenham domínio do assunto ou que não
conheçam, na totalidade, as ações da empresa quanto à RSE (no caso das
empresas de grande porte).
155
Outra limitação deste estudo refere-se a amostra pesquisada (considerando
os 141 questionários válidos, portanto, 17,3% do universo de fornecedores do
Supermercado Cardoso), que apesar de contado com a participação de diversas
empresas, impossibilita a generalização das informações, obtidas com a análise,
para todo o universo existente.
Finalmente, considera-se também como uma limitação o receio das
empresas em disponibilizar dados e informações sobre suas práticas de negócios,
bem como as dificuldades de aceitação, por parte delas, em participar de um
estudo que envolve questões internas relacionadas a sua gestão.
5.3 RECOMENDAÇÕES PARA FUTUROS TRABALHOS
Percebeu-se, pelas crescentes indagações sobre o propósito da pesquisa e
da possibilidade de recebimento do resultado individual, por empresa, além dos
diversos feedbacks positivos recebidos, que a aplicação desta pesquisa despertou
ainda mais o interesse das empresas da cadeia de fornecimento do Supermercado
Cardoso pelo tema RSE.
O interesse despertado nessas empresas permite inferir que outras
pesquisas sejam produzidas, para avaliar a Responsabilidade Social de suas
ações. Sendo assim, considerando a natureza complexa dos estudos em
Responsabilidade Social, bem como suas repercussões nas empresas e na
sociedade, vislumbram-se alguns desdobramentos para futuras pesquisas, tais
como:
- aprofundar o estudo das relações entre a cadeia de fornecedores
varejistas e cada um dos sete temas propostos nesta pesquisa;
156
- ampliar o número de empresas, de forma que os resultados apresentem
maior consistência, confrontando com possíveis pesquisas afins
existentes, no intuito de sedimentar os resultados no segmento varejista;
- constatar os motivos pelos quais, de forma geral, é dispensada maior
atenção a alguns temas específicos, como relação das empresas com
os consumidores, enquanto que temas como Governo e Sociedade
apresentam resultados menos satisfatórios;
- estudar em maior profundidade a relação, não só dos fornecedores,
mas, de todo o conjunto de stakeholders da empresa com a RSE;
- conhecer as facilidades e ou dificuldades na implementação de uma
gestão socialmente responsável;
- realizar estudo semelhante a este, abordando, porém, a relação do
Supermercado Cardoso com o seu público interno, uma vez que o
autodiagnóstico, resultado da aplicação dos Indicadores Ethos em 2005,
apontou o Público Interno e os Fornecedores entre os temas de
resultados menos satisfatórios.
Portanto, este estudo não se esgota em si mesmo, ao contrário, evidencia
lacunas que ainda podem ser preenchidas, relacionadas às diversas dimensões
relevantes ao tema proposto; além do que muitas são as possibilidades de
desenvolvimento de pesquisas no campo da RSE, haja vista a crescente
necessidade dos empresários se conscientizarem da sua co-participação no
desenvolvimento sustentável da sociedade.
157
5.4 SUGESTÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Num mundo global e capitalista, as empresas interagem com o ambiente em
que estão inseridas, influenciando e sendo influenciadas; agindo e reagindo às
mais diversas situações; adaptando-se e provocando adaptações no ambiente –
esta é a lógica sistêmica que move as sociedades e os seus diversos atores.
Espera-se, por conseguinte, que este trabalho possa ser útil aos
empresários do segmento varejista, bem como a toda sua cadeia de fornecedores
(neste caso, especialmente, no estado da Bahia), na medida em que, considerando
a lógica sistêmica e o papel de cada ator na sociedade, crescem cada vez mais as
discussões em torno do tema RSE, tanto no meio acadêmico como no meio
empresarial.
Um dos maiores desafios das empresas que almejam ser reconhecidas por
uma gestão socialmente responsável é desenvolver mecanismos de integração
democrática com os seus parceiros estratégicos, tais como os fornecedores. Dessa
maneira, recomenda-se que o Supermercado Cardoso, no sentido de fortalecer a
parceria com os seus fornecedores, realize ações, a partir dos resultados desta
pesquisa, tais como:
- disponibilize, de forma individual, para cada fornecedor (por meio do site; por
senha; por e-mail, ou pelos Correios), o resultado da pesquisa, fazendo uma
comparação com o resultado do grupo;
- disponibilize o resultado geral da pesquisa, por tema, porte, segmento e
região, para a Associação Baiana de Supermercados, para que ela fomente
a discussão, entre os parceiros associados, sobre o tema RSE, utilizando-se
de seus veículos de comunicação (sites, revistas, etc.). Isso certamente
158
contribuirá, e muito, para a disseminação do tema RSE nos supermercados
e na cadeia de fornecedores do varejo supermercadista em todo o estado da
Bahia;
- trace ações estratégicas para cada fornecedor, ou grupo de fornecedores,
de acordo com cada um dos temas da RSE, considerando, primeiramente,
os que precisam de mais atenção. No caso dos fornecedores baianos,
destacam-se as ações com os públicos que tiveram as menores notas:
Valores e Transparência; Comunidade e Governo e Sociedade. Essas ações
estratégicas devem estar baseadas nos conceitos de RSE apresentados no
referencial teórico, como forma de ressaltar os benefícios de uma gestão
socialmente responsável para a empresa e para a sociedade;
- envolva a cadeia de fornecedores nas suas diversas ações, atuais e futuras,
quanto às práticas socialmente responsáveis, concretizando parcerias e
potencializando as possibilidades de resultados positivos maiores e mais
rápidos. O Supermercado Cardoso, por exemplo, pode ficar responsável por
PMEs baianas, localizadas na sua área de influência, comprometendo-se a
trabalhar para a disseminação, incorporação e ampliação da gestão
socialmente responsável nessas empresas.
Espera-se, finalmente, que esta pesquisa possa despertar o interesse das
empresas que compõem o segmento supermercadista, bem como a sua cadeia de
fornecedores, a partir da análise detalhada dos seus resultados, no sentido de
construir uma corrente solidária, que tenha por objetivo promover o
desenvolvimento sustentável das empresas e de toda a sociedade.
159
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166
Matriz – Praça da Bandeira, 228 – Centro - Jequié/Ba - Tel. (0xx73) 3527-8900 Fax (0xx73) 3527-8909
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E-mail – comercial@supermercadoscardoso.com.br
APÊNDICE A – CARTA PARA FORNECEDOR
Jequié, 02 de março de 2006.
Prezado Fornecedor,
Até pouco tempo, a competitividade era baseada em duas grandes vertentes: preço e
qualidade. Atualmente, o mercado está incorporando um novo fator de competitividade: a
QUALIDADE DAS RELAÇÕES, que, para nós, do Cardoso, são relações éticas e
transparentes, que adicionam valor a todas as partes envolvidas. Dentro desse conceito,
destacamos os Princípios da Responsabilidade Social Empresarial, que entendemos como
sendo uma nova forma de gestão de negócios, com foco voltado para qualidade nas
relações e geração de valor para a sociedade, que torna a empresa parceira e co-
responsável pelo desenvolvimento sustentável, trabalhando por uma sociedade
economicamente viável, socialmente justa e ambientalmente correta.
Diante disto, solicitamos alguns minutos do seu tempo para responder o questionário anexo,
que faz parte de uma pesquisa sobre a Gestão da Responsabilidade Social nas empresas que
compõem a nossa cadeia de fornecedores.
Ressaltamos que todas as informações fornecidas serão preservadas em absoluto sigilo,
sendo que o resultado final da pesquisa será de caráter genérico, sem que entremos no
mérito individual de alguma das empresas pesquisadas.
A partir do resultado desta pesquisa, após a análise do diagnóstico, será traçado um
planejamento de ações e propostas algumas diretrizes, no sentido de envolver a nossa cadeia
de fornecedores às ações de Responsabilidade Social, como forma de contribuir para o
Desenvolvimento Sustentável da nossa sociedade.
Acreditamos fortemente que este é o ÚNICO CAMINHO para assegurarmos a
permanência e o crescimento dos nossos negócios, em um mercado cada vez mais
competitivo e que exige cada vez mais EXCELÊNCIA E DIFERENCIAÇÃO.
Desde já agradecemos a sua FUNDAMENTAL participação e disponibilidade.
Forte abraço,
Marcio Nery Cardoso
Diretoria Comercial
167
APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO SOBRE RESPONSABILIDADE
SOCIAL EMPRESARIAL
1. A sua empresa possui algum documento que esclareça quais são as condutas e os comportamentos
incentivados por ela, no que se refere às relações pessoais e comerciais (por exemplo: uma lista de
“Valores e Princípios” que explicite os valores da empresa ou um “Código de Conduta Ética” que
especifique a conduta esperada, segundo os quais ela espera estabelecer seu relacionamento com
funcionários, clientes, comunidade, fornecedores e parceiros)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
2. O documento citado acima, que pode ser um “Código de Ética” ou uma “Declaração de valores da
organização”, é de amplo conhecimento de funcionários, clientes, fornecedores e outros parceiros e, além
disto, estes públicos demonstram familiaridade no dia-a-dia com os temas e os pressupostos
contemplados, aplicando-os espontaneamente?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
3. O documento mencionado no item anterior proíbe expressamente a prática de pagamentos ou
recebimentos irregulares que tenham como objetivo facilitar negócios, influenciar decisões em benefício
da empresa ou induzir pessoas a concederem permissões indevidas (por exemplo: proíbe propinas,
comissões ilícitas e favores pessoais, estabelecendo regras claras para o recebimento de presentes,
brindes etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
4. O referido documento contempla, de alguma forma, o modo de relacionamento ético e transparente com o
governo (por exemplo: proibindo expedientes como “Caixa dois”, sonegações, explicitando
transparência nos registros em geral e nos balanços)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
5. A empresa tem informações sobre o que significa Balanço Social e acredita que esse instrumento pode
ajudá-la a medir o impacto de suas operações sobre as pessoas e o meio ambiente e a divulgar seus
compromissos futuros em relação a esses temas?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
6. Além de cumprir as obrigações determinadas por lei, a empresa se preocupa em oferecer a seus
funcionários um ambiente físico agradável e seguro, busca incentivar os cuidados com higiene e saúde e
está aberta a críticas e sugestões relativas a esses aspectos (por exemplo: aboliu o fumo em locais de
trabalho, incentiva os funcionários a praticarem esportes, orienta-os quanto aos cuidados com a postura
corporal durante as atividades profissionais, oferece instalações em boas condições de uso, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
7. A sua empresa oferece benefícios adicionais que se estendem à família do funcionário, como plano de
saúde familiar, cesta básica, orientação sobre preservação de doenças, divulgação de campanhas de
vacinação, etc.?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
8. Na contratação de profissionais, a empresa divulga os critérios que vai utilizar na seleção dos candidatos,
como escolaridade, tempo de experiência, conhecimentos exigidos, etc. e dá prioridade ao aproveitamento
de funcionários internos para evitar demissões?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
168
9. Os critérios utilizados na seleção de pessoal são isentos de práticas discriminatórias em relação a qualquer
dos temas: gênero, raça, opção sexual, idade e crenças religiosas ou políticas, bem como a portadores de
deficiência (por exemplo: ao anunciar vagas, a empresa não utiliza termos como “idade mínima 40
anos”, “boa aparência’, “sexo masculino”, “sexo feminino”, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
10. Na sua empresa, não são permitidas as práticas discriminatórias, o que pode ser percebido pelas relações
existentes no atual quadro de funcionários (por exemplo: há mulheres, portadores de deficiência, negros,
colaboradores com mais de 45 anos, trabalhando atualmente na empresa e a proporção destes grupos em
relação ao quadro total de funcionários caracteriza que realmente não há discriminação).
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
11. As dependências da empresa possuem recursos que facilitam o deslocamento e a convivência de pessoas
com deficiência motora, auditiva e visual (por exemplo: rampas, avisos de segurança em braille, sinais
luminosos e sonoros em áreas de circulação de veículos ou maquinas, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
12. Como forma de demonstrar respeito ao indivíduo e transparência em suas relações com os empregados, a
empresa entende que é direito do funcionário participar de sindicatos e associações de classe e permite
que representantes sindicais compareçam à empresa para discutir questões referentes aos interesses dos
funcionários?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
13. A empresa valoriza e incentiva o desenvolvimento profissional de seus funcionários e para isso promove /
patrocina tanto cursos que buscam capacitá-los para suas atividades atuais quanto outros que
proporcionam conhecimentos para oportunidades futuras (por exemplo: possui programa de treinamento,
colabora com a realização de estágios, concede incentivo aos funcionários matriculados em cursos de
todos os níveis etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
14. A sua empresa facilita o acesso à informação como forma de desenvolvimento pessoal e profissional.
Diante disso, procura estimular seus funcionários a se atualizarem com recursos da própria empresa (por
exemplo: incentiva a leitura e torna disponíveis jornais e revistas e acesso a Internet em horários
previamente estabelecidos)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
15. A empresa possui mecanismos para ouvir, avaliar e acompanhar posturas, preocupações, sugestões e
críticas dos funcionários com o objetivo de agregar novos aprendizados e conhecimentos e além disso
estimula e reconhece sugestões dos funcionários para melhoria dos processos internos?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
16. Nas dependências da empresa já foram implantadas medidas que visam preservar o meio ambiente, como,
por exemplo: coleta seletiva de lixo (existem recipientes identificados para papel, vidro, metal, plástico e
material orgânico), redução do consumo de energia (melhoria na iluminação natural, aparelhos
eletrônicos de menor consumo de energia etc.), redução no consumo de papel (utilizam-se a frente e o
verso das folhas), redução no consumo de água (torneiras com fechamento automático, etc.), orientação
da política de compras que não prejudiquem o meio ambiente?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
169
17. A empresa conhece, entende e avalia o impacto de seus produtos no meio ambiente (por exemplo:
controla os impactos ambientais no que se refere à emissão de poluentes, de erosão do solo, de consumo
de energia, de água e combustível, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
18. Para a empresa e para a comunidade, uma das formas mais efetivas de reduzir esses impactos é promover
educação ambiental para os funcionários e seus familiares. Para isso, realiza atividades que propiciam
esse conhecimento (por exemplo: campanhas para reduzir o consumo de água e energia; reciclagem de
materiais; apoio a iniciativas e projetos voltados para a educação ambiental?).
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
19. A empresa procura adquirir conhecimento sobre inovações tecnológicas que sejam “ambientalmente
corretas” e procura incorporá-las aos processos de produção?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
20. Nas relações com os fornecedores, a empresa possui políticas com o objetivo de contribuir para a
erradicação do trabalho forçado, da mão-de-obra infantil e não permite a utilização de mão-de-obra
escrava ou infantil na sua cadeia de suprimentos?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
21. Quando inicia relacionamento com um novo fornecedor, a empresa se interessa em conhecer seus
princípios, sua política de Responsabilidade Social e se informa se ele é cumpridor da legislação
trabalhista, previdenciária e fiscal?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
22. Quando um fornecedor apresenta uma boa proposta comercial (qualidade, preço e prazo), mas não
comprova seu respeito à legislação e aos direitos humanos (como atitudes discriminatórias de qualquer
natureza, utilização de mão-de-obra infantil, má condições de trabalho, etc.), a empresa prefere escolher
outro fornecedor mesmo com proposta comercial menos atraente?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
23. A empresa procura orientar os fornecedores a seguirem seus princípios de Responsabilidade Social e se
dispõe a ajudá-los na sua implantação (por exemplo: informa suas ações aos fornecedores, orienta-os
pessoalmente ou envia funcionários para colaborar com eles, incentivando o intercâmbio entre as
empresas?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
24. A empresa verifica constantemente as condições proporcionadas pelos fornecedores aos próprios
funcionários (por exemplo: realiza visitas para conhecer o ambiente de trabalho oferecido pelo
fornecedor aos funcionários, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
25. A empresa procura buscar fornecedores em cooperativas, associações de bairro e projetos de geração de
renda (por exemplo: programa de primeiro emprego, cooperativas de artesãos, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
26. A empresa respeita o cliente ou consumidor e entende que deve ter com ele uma comunicação efetiva. Em
conseqüência disso, seus produtos trazem sempre informações claras sobre como entrar em contato com a
empresa (por exemplo: endereço para correspondência, telefone para contato, site ou e-mail)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
170
27. Como forma de melhorar seus produtos ou serviços e a relação com seus clientes, a empresa analisa as
dúvidas, sugestões e reclamações recebidas e as utiliza como instrumento para aperfeiçoar suas atividades
(por exemplo: cria mecanismos para documentar as informações, analisa as melhorias que possam ser
implantadas, preocupa-se em responder e ou esclarecer os clientes sobre as dúvidas encaminhadas,
estipula metas e prazos para solucionar os problemas apontados)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
28. A empresa orienta continuamente sua equipe de atendimento para uma relação ética e de respeito aos
direitos do cliente / consumidor e a reconhecer falhas, agindo com rapidez na resolução de problemas?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
29. Em sua propaganda, a empresa se preocupa em evitar conteúdo enganoso ou que induza o cliente a erro
de entendimento. Da mesma forma, analisa seu conteúdo, no que se refere a aspectos que possam
constranger ou desrespeitar grupos específicos (como mulheres, crianças, idosos, homossexuais, grupos
raciais, grupos religiosos, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
30. A empresa adota princípios de respeito à preservação da saúde de seus consumidores, pesquisando e
divulgando os danos potenciais que seus produtos possam causar (por exemplo: colocando aviso na
embalagem dos produtos) e está preparada para adotar medidas corretivas, se for o caso?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
31. A empresa reconhece que a comunidade em que está presente é parte importante em seus processos
decisórios e participa da discussão de problemas comunitários e do encaminhamento de soluções?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
32. A empresa se preocupa em estar sempre em contato com a comunidade vizinha (de entorno), procurando
minimizar os impactos negativos que suas atividades possam causar, como o aumento da circulação de
veículos, do volume de lixo, da emissão de poluentes, do nível de ruído, etc.?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
33. A empresa tem práticas de gestão que beneficiam o desenvolvimento local (por exemplo: compra
produtos de empreendedores da comunidade, contrata funcionários que residam nas proximidades,
utiliza serviços de organizações não-governamentais próximas à empresa, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
34. A empresa divulga a importância do trabalho voluntário e incentiva seus funcionários a trabalharem em
prol de uma causa (por exemplo: acompanha o trabalho voluntário que alguns funcionários desenvolvem
em determinada organização e divulga por meio de murais, jornal interno, jornal local, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
35. A empresa apóia pelo menos uma organização ou instituição carente de sua comunidade e mobiliza sua
rede de contatos em favor dela (por exemplo: apresenta a organização a clientes e fornecedores, realiza
campanhas nas quais outras empresas possam participar, divulga as atividades da organização em seu
site ou outros veículos de comunicação, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
36. A empresa busca envolver seus funcionários nos projetos com os quais colabora, incentivando-os a
atuarem voluntariamente na organização ou instituição carente “adotada”?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
171
37. Existe entre a empresa e a organização (ou instituição) por ela beneficiada uma conversa franca sobre o
papel de cada uma na parceira e, além disso, a empresa procura sempre acompanhar os resultados que
essa parceira tem alcançado (por exemplo: que tipo de contribuição trouxe para a organização, para a
empresa e para as pessoas atendidas? quais são os próximos passos? quando a parceria terá fim? como
o parceiro se manterá sem o apoio da empresa? etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
38. Estando claro que a Responsabilidade Social deve ser uma forma de GESTÃO do NEGÓCIO e que toda
empresa e todo negócio objetivam lucro, quando escolheu a organização (ou instituição carente) em que
iria atuar, a empresa buscou, de algum modo, conciliar seus interesses com o dessa instituição (por
exemplo: sua empresa produz artefatos esportivos e procurou uma instituição que atuasse com jovens,
promovendo educação por meio do esporte, porque julga que a vinculação de sua marca a essa atividade
possa ser benéfica)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
39. Como resultado de sua atividade na comunidade, a empresa acredita que obteve benefícios (por exemplo:
aumento de vendas, melhoria na relação com fornecedores, novos contatos / clientes, menor rotatividade
de pessoal, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
40. A empresa procura participar de organizações que integrem empresários (por exemplo: organizações
empresariais, associações comerciais, fóruns regionais) e utiliza esse espaço para atualizar-se e discutir
com outras empresas suas dificuldades, necessidades e formas de mobilização em busca de melhores
condições para os negócios e também de melhores condições para comunidade?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
41. A empresa é criteriosa nas campanhas políticas, promove debates e estimula o voto consciente?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
42. A empresa informa seus funcionários sobre a importância de se envolverem nas administrações
governamentais e fiscalizá-las (por exemplo: divulga ações como o orçamento participativo e as eleições
de conselhos municipais, incentivando os funcionários a participarem, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
43. A empresa mantém transparência em relação ao apoio e financiamento de campanhas políticas ou de
partidos políticos e não utiliza o seu “poder econômico” para influenciar seus públicos ou outras
instituições?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
44. Sempre que necessário (e possível), a empresa colabora com a melhoria dos equipamentos públicos da
sua região (como em escolas, postos de saúde, praças, áreas verdes, etc.)?
( ) Não ( ) Em parte ( ) Em grande parte ( ) Sim
¾ Empresa:____________________________________________________________________________
¾ Responsável pelas respostas: ____________________________________________________________
¾ Cargo/função:________________________________________________________________________
¾ Telefone de contato:___________________________________________________________________
172
APÊNDICE C – CADASTRO DE FORNECEDOR
1. Razão social: _______________________________________________________________________________________________
2. Nome de fantasia: ___________________________________________________________________________________________
3. CNPJ: __________________________________________________ Insc. Estadual:______________________________________
4. Endereço:_______________________________________________ Bairro: ___________________________________________
5. Cidade: ______________________________________ UF:_______ CEP:_____________________________________________
6. Telefone: _____________________________________ Fax: ________________________________________________________
7. E-mail:____________________________________________ Site: ____________________________________________________
8. Pessoa de contato: ______________________________ Telefone para contato:__________________________________________
9. Freqüência de visita: ( ) Semanal ( ) Quinzenal ( ) Mensal ( ) Bimensal Dia da semana:___________________
10. Origem da mercadoria: __________________________ Prazo de entrega: ______________________________________________
11. Prazo de pagamento: _____ dias a partir do faturamento da Nota fiscal OU _____ dias a partir da entrega da mercadoria no Cardoso
12. Frete: ( ) CIF ( ) FOB ICMS substituído: ( ) Sim ( ) Não
13. Número de Funcionários: ( ) até 19 ( ) 20 a 99 ( ) 100 a 499 ( ) acima de 500
14. Faturamento anual: ( ) até R$ 1,2 milhões/ano ( ) R$1,2 a R$ 10,5 milhões ( )R$ 10,5 a 60 milhões ( )acima de R$ 60 milhões
ANEXO 1
Livros Grátis
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