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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ana Carolina Barros de Almeida
A expressividade oral em call center na perspectiva do
fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2008
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Ana Carolina Barros de Almeida
A expressividade oral em call center na perspectiva do
fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em
Fonoaudiologia pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
sob a orientação da Prfa. Dra. Marta
Assumpção de Andrada e Silva
SÃO PAULO
2008
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ALMEIDA, Ana Carolina Barros
A expressividade oral em call center na perspectiva do fonoaudiólogo,
do supervisor e do teleoperador / Ana Carolina Barros de Almeida – São
Paulo, 2008.
xii, 132f.
Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Programa de Pós-Graduação em Fonoaudiologia
Oral expressiveness in a call center, from the perspective of the speech
therapist, supervisor and telephone operator
1. voz 2. comunicação 3. entrevista
Banca Examinadora
Prof. Dr. ______________________________________________
Prof. Dr. ______________________________________________
Prof. Dr. ______________________________________________
iii
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a produção total ou parcial
desta dissertação, desde que na reprodução figure a identificação do autor, títulos,
instituição e ano.
São Paulo, ________ de julho de 2008
_________________________________________
Aos meus amados pais, Lúcia Helena e Álvaro Nei, por me
mostrarem que só o céu é o limite quando não apenas me deram
assas, mas também me ensinaram a voar. À vocês minha eterna
gratidão por tantas renúncias e abdicações em nome da minha
criação e educação, por toda luta e dedicação para o meu
crescimento pessoal e profissional. Saibam que vocês são
preciosos e são os maiores responsáveis por essa conquista que
também é de vocês. Muito obrigada!!!
iv
AGRADECIMENTOS
À Profa. Marta, minha orientadora, um exemplo de competência e profissionalismo, pela
paciência, apoio e carinho durante o direcionamento dessa pesquisa. Meu sincero obrigada
pelo “expressivo” conhecimento compartilhado, o qual contemplou muito mais do que
compete à Fonoaudiologia, pois me trouxe além de um olhar mais crítico e maior
aproximação à ciência, o amadurecimento pessoal que levarei para a minha vida.
À Profa. Leslie, pelo constante incentivo à produção científica, pelas valiosas
contribuições durante todo o andamento deste estudo, pelos ensinamentos e apontamentos
quanto à expressividade e pelo incrível acolhimento desde o primeiro contato. Você é uma
grande inspiradora e um referencial para ser seguido, obrigada pelos braços abertos e por
todo o carinho com que me recebeu.
Ao caloroso grupo LABORVOX, que promoveu riquíssimas discussões, as quais
ampliaram meus horizontes. Meus queridos, obrigada pela maravilhosa companhia e pela
dedicação em tornar esse grupo tão unido e produtivo.
À Juliana Algodoal, Emilse Servilha e Silvia Friedman expresso meu agradecimento
pela atenção, disponibilidade e sugestões, por esclarecer as minhas dúvidas sempre que
possível e por todo o apoio ao longo do percurso diante das dificuldades que surgiram.
Muito obrigada!
Aos fonoaudiólogos, supervisores e teleoperadores entrevistados, pela disponibilidade
em participar deste estudo e permitir a produção do conhecimento.
À querida Virgínia, por deixar a secretaria do Programa de Estudos Pós-Graduados em
Fonoaudiologia da PUC-SP mais acolhedora e pelo auxílio em tudo o que fora necessário,
mesmo diante de tantas tarefas e afazeres.
Aos meus irmãos Luna, Danilo e Vitória, meus amores eternos que conferem à minha
vida um sentido especial. Obrigada pelos sorrisos e pelos abraços que me deram forças para
continuar quando o caminho parecia difícil.
Em especial, ao meu irmão Tiago, pela mão sempre estendida, pela companhia maravilhosa
na caminhada longe de casa, pelo colo, apoio e amor incondicional. Mano, você foi
fundamental para que eu alcançasse a linha de chegada.
Ao meu amor Leonardo Alves, pela compreensão e paciência quando precisei estar
ausente para me voltar aos livros e computador. Obrigada por seu amor, companheirismo,
apoio e motivação que me entusiasmam a seguir em frente com muito mais energia e
intensidade.
v
À minha prima Josyane e sua família, pelo amor explícito e por tornar menos dolorosa a
distância de casa ao permitir senti-la e tê-la pertinho de mim.
Aos presentinhos que São Paulo me deu, Samuel e João Ítalo, amigos queridos cuja
companhia tornou essa jornada mais fácil.
Às minhas amigas Niele, Luciana e Juliana que entre tropeços e erguidas encontravam-se
ao meu lado para segurar as minhas mãos e compartilhar as lágrimas e os sorrisos
proporcionados pela intensidade do mestrado e da vida em São Paulo. Obrigada pela
amizade, pelo apoio, pelas conversas e pelas deliciosas gargalhadas que deixaram o
caminho mais leve e menos difícil, porém, não menos intenso.
Às minhas amigas Tina e Lígia, que embora distantes fisicamente, estiveram presentes
com palavras de incentivo e força para concluir esse desafio. Obrigada, minhas irmãs!
Ao amigo Enio, pelo carinho, pelas leituras e sugestões que engrandeceram a pesquisa e
pelas conversas tão agradáveis e construtivas.
Ao Cnpq pela bolsa de estudos concedida e pelo incentivo à pesquisa.
À todos que contribuíram de alguma forma para a concretização desse sonho.
Obrigada.
vi
“A vida só tem graça para quem se
arrisca a ser tudo o que quer ser”
Roberto Shinyashiki
vii
RESUMO
Almeida, ACB; Andrada e Silva, MA. A expressividade oral em call center na perspectiva do
fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador [Dissertação de Mestrado]. São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica, 2008.
Introdução: o teleoperador tem o telefone como único meio de contato com o outro, por isso possui
apenas a comunicação verbal para representar a empresa em que trabalha e dessa forma garantir a
satisfação do cliente. Dessa forma, faz-se necessário uma comunicação clara que ao mesmo tempo
aproxime e sensibilize o cliente, assim como, transmita credibilidade e naturalidade. Aspectos estes
que podem ser obtidos e aprimorados por meio do trabalho com expressividade oral. Dada a
relevância do assunto atualmente o foco de interesse dessa pesquisa é investigar a expressividade oral
na visão de diferentes profissionais que atuam em um mesmo segmento, o de telesserviços. Objetivo:
caracterizar a expressividade oral na perspectiva do próprio fonoaudiólogo, do supervisor e do
teleoperador. Método: foram realizadas entrevistas semi-dirigidas com três fonoaudiólogos (F1, F2,
F3) sobre a prática realizada por eles mesmos com teleoperadores, assim como a sua visão e forma de
trabalho com expressividade oral. Cada fonoaudiólogo indicou um supervisor e um teleoperador da
mesma empresa em que trabalha para participar da presente pesquisa. A entrevista com os
supervisores (S1, S2, S3) abrangeu as suas expectativas em relação ao treinamento fonoaudiológico
com teleoperadores, a sua visão sobre o tema expressividade oral e o impacto desta na relação com o
cliente. Os teleoperadores (T1, T2, T3) responderam à entrevista que investigou a prática
fonoaudiológica para a realização do seu trabalho, a sua perspectiva sobre o tema expressividade oral
e o impacto desta na relação com o cliente. Posteriormente, todo o material foi transcrito, submetido a
várias leituras e realizada a análise temática segundo Minayo (2004), a partir da qual os pontos de
sentidos foram denominados eixos temáticos de acordo com aspectos comuns do discurso que se
destacaram no contexto. Resultados e discussão: para F1 e F2 a expressividade foi relacionada com a
interação com o outro, com comunicação e os recursos expressivos apareceram como determinantes
para uma fala mais expressiva, embora os aspectos relacionados a voz como instrumento ainda
estejam presentes em seus discursos. F3 pouco mencionou a relação com o outro e demonstrou
dissociar a linguagem, fala e voz. Os supervisores, especialmente S1 e S2, apresentaram dificuldade
na definição do termo expressividade oral e fizeram uma forte associação entre expressividade e voz,
de modo que o termo voz foi citado como único meio pelo qual a expressividade se efetua. Porém, S3
pouco utilizou o termo e fez menção à comunicação e relação com o outro. Quanto aos
teleoperadores, para T1 e T2, os sentimentos e emoções tem uma forte ligação com a expressividade
que é relacionada por T3 a características positivas na comunicação. Quanto à prática efetuada pelas
fonoaudiólogas, percebeu-se que, embora o trabalho com o aprimoramento da comunicação faça parte
do discurso de F1 e F2, os cuidados com a voz ainda permeiam o seu trabalho. A forma de trabalhar
expressividade oral mostra que a atuação fonoaudiológica ainda tem fortes ligações com a clínica, na
medida que a voz tem um destaque nas ações seja por meio de exercícios de aquecimento e
desaquecimento vocal ou pelo trabalho com pitch, loudness,articulação ou pelas questões de saúde
vocal, em detrimento a uma prática voltada para a comunicação verbal. Com relação ao impacto da
expressividade sobre o cliente, supervisores e teleoperadores reconhecem que os diferentes recursos
utilizados na fala conferem variados sentidos tanto para teleoperadores como para clientes.
Considerações finais: observou-se que a expressividade oral foi um termo difícil de ser definido
tanto para as fonoaudiólogas, quanto para supervisores e teleoperadores. O tema teve como elo
comum a interação com o outro e a expressividade por meio da voz mais citadas por fonoaudiólogos e
supervisores e os sentimentos e emoções, principalmente na perspectiva dos teleoperadores.
Palavras-chaves: voz; comunicação; entrevista
viii
ABSTRACT
Introduction: The telephone operator has the telephone as the only means of contact with others,
therefore has only verbal communication to represent the company he/she works for and thus
guarantee customer satisfaction. Clarity, credibility and naturalness, aspects necessary when speaking
on the telephone, can be obtained and improved by means of working with oral expressiveness. Given
the relevance of the subject at present, the focus of interest of this research was to investigate oral
expressiveness from the point of view of different professionals that work in the same sector – that of
teleservices. Objective: to characterize oral expressiveness from the perspective of the speech
therapist, supervisor and telephone operator. Method: semi-directed interviews were held with three
phonoaudiologists (F1, F2, F3) about the practice they conducted with telephone operators, as well as
their views and manners of working with oral expressiveness. Each phonoaudiologist indicated a
supervisor and a telephone operator from the same company in which he/she works to participate in
the present research. The interview with the supervisors (S1, S2, S3) covered their expectations as
regards phonoaudiological training with telephone operators, their views about the subject of oral
expressiveness and the its impact with regard to the customer. The telephone operators (T1, T2, T3)
replied to the interviewer that investigated the phonoaudiological practice for performing his/her
work, his/her perspective about the subject of oral expressiveness and the its impact on his/her
relationship with the customer. Afterwards, all the material was transcribed, submitted to various
readings, and thematic analysis performed according to Minayo (2004), from which the points of
feelings were denominated thematic axes according to common aspects of speech that were
emphasized in the context. Results and Discussion: For F1 and F2, expressiveness was related to
interaction with the other person and communication, and the expressive resources appeared as
determinants for more expressive speech, the term voice continues to be present in their speeches. F3
hardly mentioned the relationship with the other person and was shown to dissociate language, speech
and voice. The supervisors, especially S1 and S2 showed difficulty in defining oral expressiveness
and associated it with the voice, so that this term was mentioned as the only means by which
expressiveness was effected. However, S3 spoke little about voice, and mentioned communication
and the relationship with the other person. With regard to the telephone operators, for T1 and T2,
emotions have a strong link with expressiveness, which T3 related to positive characteristics in
communication. As regards the practice the phonoaudiologists conducted, it was perceived that
although the work of improving communication forms part of the speech of F1 and F2, care of the
voice continues to permeate their work. The manner of working expressiveness shows that
phonoaudiological action continues to be linked to the clinic, as the voice is has an outstanding part in
the actions, whether by means of vocal warming up or cooling down, or working with pitch, loudness
and articulation, or for questions of vocal health, in detriment to practice with the goal of verbal
communication. With regard to the impact of expressiveness on the customer, supervisors and
telephone operators recognized that the different resources used in speech confer various feelings
both on telephone operators and customers. Final considerations: It was observed that
phonoaudiologist, supervisors and telephone operators found oral expressiveness a difficult term to
define. The subject had interaction with the other person as a common link, with expressiveness by
means of the voice being most mentioned by phonoaudiologists and supervisors, and feelings and
emotions, mentioned particularly from the perspective of telephone operators.
Key Words: voice; communication; interview
ix
SUMÀRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1
2 OBJETIVO......................................................................................................................4
3 REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................................5
3.1 Expressividade oral x Fonoaudiologia.........................................................................5
3.2 Perfil e intervenção nos telesserviços: produções científicas......................................13
4 MÉTODO........................................................................................................................36
4.1 Seleção dos Sujeitos...................................................................................................36
4.2 Considerações sobre as empresas................................................................................41
4.3 Procedimentos.............................................................................................................42
4.4 Registro dos Dados.....................................................................................................42
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................46
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................96
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................98
8 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA...............................................................................107
9 ANEXOS.........................................................................................................................108
Anexo 1 – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da PUC – SP
Anexo 2 – Termo de consentimento livre e esclarecido aos teleoperadores
Anexo 3 - Termo de consentimento livre e esclarecido aos supervisores
Anexo 4 - Termo de consentimento livre e esclarecido aos fonoaudiólogos
Anexo 5 – Roteiro da entrevista realizada com fonoaudiólogos
Anexo 6 - Roteiro da entrevista realizada com supervisores
x
Anexo 7 - Roteiro da entrevista realizada com teleoperadores
Anexo 8 – Transcrição das entrevistas
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Descrição do grupo de fonoaudiólogos (F1, F2, F3) em relação ao sexo, idade,
tempo de formado, vínculo com a empresa e tempo de atuação na
área........................................................................................................................................40
Quadro 2 – Descrição do grupo de supervisores (S1, S2, S3) em relação ao sexo, idade e
tempo de atuação...................................................................................................................40
Quadro 3 – Descrição do grupo de teleoperadores (T1, T2, T3) em relação ao sexo, idade,
tempo de atuação e tipo de telesserviço realizado na empresa.............................................40
xii
1. INTRODUÇÃO
Os teleoperadores, população de interesse deste estudo, são profissionais
diretamente envolvidos no contato telefônico e responsáveis pelo relacionamento entre a
empresa e o consumidor. Eles têm o telefone como única forma de contato com o cliente,
por esse motivo, possuem apenas a comunicação verbal como meio para representar a
empresa em que trabalham (Quinteiro, 1995; César e Lagrotta, 2005), em detrimento do uso
de recursos não-verbais.
As empresas têm procurado proporcionar um atendimento personalizado e
humanizado (Algodoal e Oliveira, 2005), fato que gera a necessidade de trabalhar a
expressividade oral
1
desses profissionais para produzir no cliente, do outro lado da linha, a
sensação de satisfação e de um bom atendimento. Com o uso exclusivo da expressão oral,
devido à impossibilidade de uso dos recursos não-verbais, a comunicação fica limitada.
Nos caminhos percorridos pela Fonoaudiologia no trabalho com teleoperadores,
estudos (Máster e Algodoal, 1995; Alves e Cavalcanti, 1998; Garcia et al., 2000;
Berenstein, 2001; Oliveira e Reis, 2005) mostram uma atuação exclusivamente voltada para
a prevenção de alterações e promoção da saúde, que ocorre desde as primeiras intervenções
nos telesserviços até os dias atuais. No entanto, constata-se, por meio de publicações mais
recentes (Berenstein, 2001; Bacha et al., 2002; Algodoal e Oliveira, 2005; Lehto et al.,
2005; Moreira-Ferreira, 2007), que o propósito da atuação fonoaudiológica começa a
1
Vários são os termos utilizados para se referir a uma emissão. Por isso, será considerado neste estudo o
termo expressividade oral para designar os aspectos de voz, fala, linguagem e expressão.
2
procurar direções para o trabalho com expressividade. Esse é o foco de interesse da
presente pesquisa.
Ao abordarmos a expressividade, é importante esclarecer que este é um tema
recente dentro da Fonoaudiologia e, embora estudos com diferentes populações (Arruda,
2003; Ghirardi, 2004; Faria et al., 2005; Viola, 2006; Santos, 2006; Ghirardi et al., 2007) se
debrucem na temática, percebe-se que ainda não há uma linha única de pensamento e
conduta em relação ao assunto.
Para Viola (2006) a base da expressividade oral está na possibilidade de usar os
sons de forma simbólica, consciente ou inconscientemente. Essa forma de trabalhar a
sonoridade pode interferir na relação com o outro, e é entendida como o processo de
eliminação das tensões internas do falante, reproduzidas em comportamentos que englobam
a voz e a fala. Porém, se levar em consideração que a língua é dialógica, histórica e
variável, a expressividade mostrará a subjetividade e a singularidade do falante ou do grupo
social no qual se insere, por meio de características orais, corporais e discursivas que criam
efeitos de sentido. A autora enfatiza que as gestualidades oral e corporal revelam dados do
falante, pelos quais o ouvinte pode fazer inferências sobre aspectos biológicos, psicológicos
e sociais.
Como não há, para nós, uma linha única de pensamento para o assunto, avaliamos
que conceitos, opiniões e demonstrações sobre expressividade dependem da subjetividade,
tanto para aquele que fala quanto para o que ouve. Sendo assim, não existe uma
expressividade pior ou melhor, nem mesmo uma fala mais ou menos expressiva, uma vez
que varia de acordo com quem a interpreta, pois cada um entende e a conceitua sob a sua
própria ótica, a partir de seu entendimento e de suas concepções.
3
Diante do exposto, com destaque para a situação ao telefone, considera-se
importante ponderar que, atualmente, o mercado de trabalho encontra-se mais competitivo
e exigente, o que, de certo modo, cria dificuldades para se obter êxito profissional. Muitas
vezes, é necessário crer e se fazer crer no que se fala, emocionar o outro com a sua emissão
e trabalhar a mensagem de modo a controlar o seu efeito (Panico, 2005). Essas duas
necessidades, associadas à posição de um possível cliente, nortearam o interesse em realizar
a pesquisa, na medida em que era comum ouvir pessoas comentarem sobre ligações de
teleoperadores de maneira insistente e, não raro, inconveniente.
Isso nos fez refletir sobre a necessidade desses profissionais utilizarem uma
comunicação que aproximasse o cliente e favorecesse o sucesso da ligação, ou seja, sobre a
importância de se transmitir credibilidade, naturalidade e mais sensibilidade na relação com
o outro, por meio de uma fala em que seja possível se expressar de maneira particular e
individual, ainda que isto seja feito a partir de um script pré-estabelecido. Diante disso, será
que os fonoaudiólogos, supervisores e teleoperadores têm conhecimento sobre o conceito e
o trabalho com expressividade oral e sua repercussão na atuação dos teleoperadores?
Entende-se ser fundamental o estudo da expressividade oral na visão de diferentes
profissionais que atuam em um mesmo segmento, o de telesserviços
2
. Com isso, pretende-
se trazer contribuições para os fonoaudiólogos e outros profissionais com mais informações
sobre a expressividade oral e sua repercussão na área de telesserviços.
2 A Associação Brasileira de Telemarketing, para acompanhar o crescimento do setor, passou a se chamar
Associação Brasileira de Telesserviços (ABT). Por esse motivo, ao longo deste estudo, tudo o que antes era
denominado telemarketing será chamado de telesserviços.
4
2 . OBJETIVO
Caracterizar a expressividade oral na perspectiva do próprio fonoaudiólogo, do
supervisor e do teleoperador.
5
3. REVISÃO DE LITERATURA
O capítulo apresenta as fontes bibliográficas que servem como base para as
reflexões do presente estudo. Está subdividido em duas partes: expressividade oral x
Fonoaudiologia e perfil e intervenção nos telesserviços: produções científicas. Na
primeira parte, por ser um importante assunto discutido nesta dissertação, são apresentadas
pesquisas, com diferentes populações, que abordam o tema expressividade. Na segunda
parte são trazidas as produções científicas realizadas com teleoperadores, que incluem o
perfil apresentado pela população estudada e as atuações fonoaudiológicas efetuadas. Para
uma melhor leitura e compreensão, privilegiou-se a apresentação dos autores por assunto.
3.1. Expressividade oral x Fonoaudiologia
Para a compreensão do que tem sido trabalhado e pesquisado com relação à
expressividade oral na Fonoaudiologia, será apresentada uma compilação das publicações
de estudos com variadas populações.
O interesse dos fonoaudiólogos referente ao uso dos recursos expressivos e ao tema
expressividade levou à realização de pesquisas como a de Ghirardi (2004) que realizou
entrevista semi-estruturada, de caráter descritivo, com fonoaudiólogas com experiência
profissional na área de rádio, para investigar a prática fonoaudiológica e compreender o
trabalho com expressividade oral no meio radiofônico no Brasil. A autora observou que a
atuação com radialistas envolve avaliação e assessoria e que os objetivos de trabalho
6
apontados pelas fonoaudiólogas contemplam, na seqüência, os seguintes aspectos: saúde
vocal, expressividade, articulação, ritmo/melodia e respiração. Apesar de citarem o trabalho
com a expressividade, a autora concluiu que este é um conceito novo para as entrevistadas e
que há uma falta de consenso no tocante à nomenclatura dos recursos vocais devido à
inexistência de um modelo referencial teórico. A autora sugere o termo expressividade oral
para esse grupo.
Em seu estudo, Ghirardi et al. (2007) tiveram o propósito de caracterizar a
expressividade na opinião de freqüentadores de um parque público da cidade de São Paulo.
Para a efetivação da pesquisa foi feita a seguinte pergunta, de caráter aberto, para 370
sujeitos: “Você se considera expressivo? Por quê?”. As respostas foram categorizadas de
acordo com suas proximidades semânticas, e a população foi caracterizada de acordo com
sexo, idade, profissão e escolaridade. Os resultados mostraram que 50% da amostra tinham
nível superior, dos quais 33% eram profissionais da voz. Do total da população pesquisada,
63% se consideraram expressivos, 25% referiram comunicar-se bem e 25% atribuíram a
sua expressividade a características de personalidade como simpatia e alegria. Os autores
concluíram que a expressividade é entendida como uma característica sinônima de boa
comunicação e está vinculada a aspectos positivos do discurso, o que reforça a idéia de que,
na opinião do público, para ser expressivo é preciso falar bem.
Santos (2006) analisou a expressividade de três políticos em situação de debate
televisivo, por meio do julgamento de 127 possíveis eleitores. Estes foram considerados
juízes e preencheram um protocolo de expressividade específico, com perguntas de caráter
aberto e fechado. As questões tinham como objetivo selecionar um candidato segundo a
ordem de preferência dos possíveis eleitores e obter suas opiniões positivas e negativas em
relação ao modo de expressividade dos políticos avaliados. A autora concluiu que o
7
candidato considerado preferido pelos avaliadores apresentou fala pausada, objetiva, com
boa qualidade vocal e uso de gestos de forma equilibrada, aspectos que contribuíram para
que seu modo de expressão fosse considerado agradável, motivante, capaz de prender a
atenção e transmitir credibilidade.
Também interessada nos recursos vocais, Arruda (2003) avaliou trechos de fala de
professoras em contexto profissional, por meio de análise perceptivo-auditiva e verificou a
qualidade de voz, variação de loudness e pitch, o alongamento da sílaba, a velocidade de
fala, a pausa e a articulação. A autora concluiu que o modo de falar influenciou de maneira
positiva e negativa no julgamento feito pelos alunos, de modo que a professora eleita como
preferida apresentou clareza, velocidade de fala, uso de pausas, qualidade de voz e
intensidade vocal adequados.
Em estudo com radialistas Borrego e Behlau (2007) observaram como os recursos de
ênfase são utilizados por indivíduos com e sem treinamento de voz e fala, por meio da análise
de 77 indivíduos, sendo 51 alunos do curso de radialista e 26 indivíduos não treinados. Os
sujeitos fizeram a leitura de uma notícia por duas vezes em um intervalo de dois meses, que
era o tempo de duração do curso de radialista. Em cada leitura deveria ser enfatizada uma das
duas palavras sublinhadas. As falas foram gravadas e submetidas à análise perceptivo-
auditiva da ocorrência, avaliação e forma de uso das ênfases, e análise acústica de duração e
freqüência fundamental das palavras enfatizadas. As autoras observaram que os recursos de
ênfases relativos à variação de freqüência, intensidade, duração e uso de pausas foram
utilizados de forma diferente entre os grupos estudados. Os indivíduos com treinamento
mostraram mais habilidade em usar as ênfases do que os do outro grupo. O grupo treinado
fez menos uso de pausa de ênfase, selecionando outros recursos prosódicos para destacar as
palavras.
8
Borrego e Algodoal (2004) descreveram e analisaram estratégias de expressividade
vocal utilizadas em seis diferentes turmas do curso de locução. Foram relacionados os
exercícios que envolvessem diretamente o uso de ênfases, como a variação de altura e
intensidade, uso de pausas, alongamento de vogais, sílabas e palavras. Em três turmas, os
exercícios estavam presentes somente em atividades que envolviam a leitura em voz alta de
textos não-radiofônicos, como poesias e pequenos contos. Nestas turmas, a expressividade
era aplicada à leitura de textos radiofônicos apenas no final do curso. Nas demais, os
exercícios foram realizados desde o aquecimento vocal até a leitura de notícias e comerciais.
Nesse caso, a expressividade já era estimulada desde as primeiras aulas do curso. Todos os
exercícios foram aplicados pela mesma fonoaudióloga. Concluíram que os alunos que
experimentaram o uso de ênfases ao longo do curso todo, em atividades variadas numa
mesma aula, apresentaram mais facilidade em realizar uma locução expressiva. De forma
específica, o controle da altura vocal mostrou-se como o recurso que os alunos referiram ter
mais dificuldade em realizar. As autoras apontaram para a importância de se criar diferentes
estratégias para um mesmo recurso e de utilizá-las de forma freqüente ao longo de um
treinamento. O fonoaudiólogo que atua com profissionais da comunicação, como professores,
dubladores, teleoperadores, deve refletir sobre suas estratégias relacionadas à expressividade
e de que forma deve utilizá-las, para promover seu uso eficaz de acordo com as
particularidades de cada profissão.
Chieppe e Ferreira (2007) realizaram um estudo com o intuito de conhecer as
possibilidades de sentidos relativos à interlocução entre Fonoaudiologia e Educação, e
analisar os conteúdos e conceitos relativos à expressividade de estudantes do último ano de
pedagogia, por meio de discussões. Para isso utilizaram o Grupo Focal como instrumento
metodológico. As autoras observaram que, apesar de o conceito estar presente no discurso
9
dos estudantes, houve pouca valorização intencional da expressividade para a prática
docente. Constataram também que, na opinião dos alunos, as habilidades comunicativas dos
professores, sejam positivas ou negativas, são vistas como características pessoais e só
passam a ser coletivas à medida que os problemas vocais são referidos como freqüentes e
recorrentes. As autoras concluíram que é importante uma aproximação entre a Educação e a
Fonoaudiologia para que os conhecimentos dessa última, relacionados à saúde e bem-estar
do professor, sejam aprendidos e praticados ainda na fase de sua formação.
Gimenes (2003), com a finalidade de analisar a relação entre expressão vocal e
corporal, presentes no trabalho de assessoria vocal, entrevistou dez fonoaudiólogos clínicos
sobre um tema que se baseou em uma queixa de dificuldades na comunicação, diante da
qual o entrevistado deveria delinear o trabalho que realizaria na situação apresentada. A
autora associou à expressividade oral aspectos como respiração, articulação, entoação,
ênfase, pausas, curvas melódicas, ressonância pitch e loudness, e concluiu que nove
entrevistados referiram abordar apenas a expressividade oral em detrimento da corporal.
Teixeira e Medeiros (2007) realizaram um estudo com o objetivo de compreender se
e como o trabalho fonoaudiológico, por meio de oficinas de expressividade, auxilia no
desempenho oral ou gestual de um grupo de estudantes de direito. Os procedimentos
metodológicos envolveram quatro oficinas de expressividade e voz com oito estudantes. As
oficinas aconteceram em quatro encontros, com duração de duas horas cada, e seu conteúdo
abrangeu a comunicação como uma função social e foram trabalhados os aspectos não-
verbais da comunicação, a organização de idéias para falar com expressividade ao público,
orientações sobre o uso dos gestos para uma boa apresentação e sobre a produção vocal.
Para avaliar a intervenção fonoaudiológica foram realizadas gravações em VHS, antes e
após as oficinas, as quais continham imagens dos participantes durante emissão de um
10
texto. As filmagens foram avaliadas por três fonoaudiólogas especialistas em voz, sem o
conhecimento do momento das emissões, pré ou pós-oficinas, por meio de protocolo
específico. Os resultados mostraram que os parâmetros que apresentaram melhora, após as
oficinas, foram: articulação, postura corporal e eliminação dos gestos adaptadores. Com
isso, os autores concluíram que as oficinas de voz e expressividade podem contribuir para
melhorar o desempenho de alguns aspectos da expressividade para se falar ao público.
Na sua pesquisa Souza RASA (2007) teve o propósito de analisar os efeitos, em seis
estudantes universitários, de uma proposta de intervenção fonoaudiológica de seis
encontros de uma hora e 40 minutos de duração. Os aspectos trabalhados foram: respiração,
vivências de diferentes estados de tensão corporal, ressonância e projeção da voz,
articulação, recursos vocais e corporais, inteligibilidade e velocidade de fala, entoação,
ênfases e aplicação do conteúdo em frases, discurso espontâneo e simulação de
apresentação de seminário. As avaliações foram efetuadas ao fim do último encontro e
cinco meses após a intervenção, e constaram de filmagem em tempo real, auto-avaliação,
avaliação fonoaudiológica de aspectos da expressividade pré e pós-intervenção, além de
entrevista com os participantes. A autora concluiu como positivo o efeito da intervenção
por parte dos fonoaudiólogos, uma vez que apenas os aspectos emocionais não
apresentaram melhora e os participantes mostraram evolução em todos os aspectos,
especialmente quanto à expressividade oral e segurança nas apresentações.
No estudo de Barbosa RA (2005) a intenção foi analisar características da fluência
de fala, parâmetros de produção de voz, bem como sentimentos/emoções e sensações
físicas associadas à situação de falar em público em quatro pessoas que apresentam
dificuldade em fazê-lo. Os participantes foram gravados durante apresentação de seminário
e entrevistados antes e após esse momento. Os dados da gravação foram descritos e
11
analisados em relação à fluência e características da voz, e as entrevistas foram transcritas,
analisadas e divididas em categorias. A autora concluiu que a fala foi o aspecto mais
abordado pelos participantes e evidenciou-se uma relação entre emoção e tempo de
apresentação. Quanto à avaliação da gravação observou-se que o estado emocional pôde
interferir na coordenação pneumofonoarticulatória, velocidade e inteligibilidade de fala,
vícios de linguagem, adequação da ênfase e curva melódica.
Sanches e Barbosa (2005) desenvolveram uma pesquisa com a intenção de traçar
um perfil da comunicação, realizada durante o atendimento ao cliente, com seis atendentes
de lojas de um shopping de atacado por meio de aplicação de protocolos. Observaram que a
abordagem utilizada pela maioria dos atendentes foi ativa; metade dos atendentes possui a
qualidade de voz neutra, com ressonância laringo-faríngea; os recursos vocais, como
ênfase, curva melódica e ritmo, estavam alterados em grande parte dos participantes da
pesquisa. Verificaram também que metade dos sujeitos apresentou postura adequada,
conseguiu associá-la à mudanças de assunto e utilizou meneios de cabeça adequados
relacionados às ênfases. A expressão facial foi ineficaz em 66,7% dos atendentes e os
movimentos faciais aleatórios. Concluíram que existe a necessidade da atuação
fonoaudiológica nas empresas, por meio de palestras e assessoria que envolva os aspectos
alterados relacionados esta área.
Em sua pesquisa, Azevedo (2007) teve o propósito de analisar os efeitos de um
processo de intervenção com teleapresentadores. Foram contemplados noções de saúde
vocal e o trabalho com recursos vocais, verbais e não-verbais. A autora constatou que as
estratégias de auto-percepção e percepção dos outros foram valorizadas pelos participantes,
que a avaliaram positivamente, na medida em que despertaram uma visão crítica de
aspectos importantes da comunicação a partir da avaliação de si mesmo e dos colegas.
12
Concluiu que a auto-percepção associada ao conhecimento de técnicas foram os dois
principais resultados positivos da intervenção.
A pesquisa de Souza CCL (2007) objetivou caracterizar a expressividade de quatro
vendedoras de planos de saúde, no momento da negociação, por meio de simulação de
atendimento a partir da avaliação de uma fonoaudióloga e 31 possíveis clientes. A
avaliação constou da análise visual e da expressividade oral, da integração corpo-fala para
cada tema discorrido pelas vendedoras e do julgamento pessoal de melhor e pior vendedora.
A autora concluiu que, apesar do uso de gestos ter sido mais relevante para os possíveis
clientes, a melhor vendedora na avaliação da fonoaudióloga apresentou argumentos
pertinentes, uso variado de recursos expressivos e mais naturalidade durante a fala. Por
outro lado, a pior vendedora não fez bom uso da argumentação e excedeu-se em pausas,
fato que tornou o discurso disfluente e gerou maior dificuldade de entendimento da
mensagem por parte do cliente.
Borrego et al. (2007), com a finalidade de fazer um levantamento das publicações
na área de voz que citam o termo “expressividade”, no título ou resumo, nos anos de 2001 a
2006, pesquisaram os artigos de periódicos nacionais indexados na base de dados LILACS,
resumos publicados nos anais de congressos brasileiros e internacionais de Fonoaudiologia
e resumos de teses e dissertações do Portal Capes – Banco de Teses Capes e IBICT. Os
autores registraram que, como esse termo não é um descritor de assunto, não encontraram
artigos na base de dados LILACS. No entanto, foram encontrados 50 trabalhos
apresentados em congressos, a partir do ano de 2001. Destes, a maioria (86%) foi publicada
nos anos de 2004, 2005 e 2006. Do total de publicações, 72% eram da área de voz, sendo
9,4% com teleoperadores. A busca dos resumos nas teses e dissertações da Capes apontou
13
14 pesquisas, dentre as quais 13 dissertações de mestrado, sendo apenas uma com
teleoperadores.
A partir dos estudos apresentados percebe-se que a expressividade ainda é um
assunto novo, e observa-se a dificuldade em chegar em um único modelo. Podemos
perceber que na literatura os autores usam de forma indiscriminada e indefinida os termos
recursos verbais, recursos vocais, fala, linguagem, expressividade. Alguns os utilizam ao
referirem-se a ocorrências semelhantes e outros fazem referência a diferentes assuntos. Esse
fato deixa dúvidas sobre o que é, realmente, uma atuação com foco na expressividade; por
esse motivo, o assunto será retomado e discutido posteriormente, junto com os resultados.
3.2. Perfil e intervenção nos telesserviços: produções científicas
Estudos relacionados à caracterização do perfil de teleoperadores, especialmente o
perfil vocal, são comumente encontrados nas pesquisas publicadas, desde o início da
atuação fonoaudiológica com teleoperadores até os dias atuais. Por outro lado, embora
pouco numerosos, também são encontrados na literatura estudos que abrangem
intervenções fonoaudiológicas efetuadas com esses profissionais. Este subcapítulo,
portanto, visa apresentar as publicações da área, no que tange ao perfil utilizado ou
sugerido e a atuação fonoaudiológica nos telesserviços.
Em uma das primeiras pesquisas feitas com teleoperadores, Algodoal (1995) aplicou
um questionário com 41 questões abertas e fechadas a 120 teleoperadores, com o objetivo
de caracterizar os aspectos envolvidos na dinâmica de trabalho sob o pondo de vista
daqueles profissionais. As perguntas fechadas contemplaram a caracterização do grupo,
14
treinamentos recebidos por eles, ocorrência e história pregressa de alterações de voz e
hábitos vocais apresentados pelos sujeitos. As questões abertas incluíram os possíveis
aspectos que afetam a produção vocal, a opinião dos participantes sobre a sua própria e
sobre os tipos mais adequados para o trabalho nos telesserviços. A autora concluiu que a
população de teleoperadores é constituída predominantemente por mulheres entre 19 e 29
anos de idade, com o segundo grau completo; receberam treinamentos sobre produtos e
tipos de atendimento, porém, pouco fizeram referência a treinamentos relacionados à voz;
desconheciam regras de saúde vocal e sentiam-se satisfeitos com sua própria voz, no
entanto acreditam que o ideal para a atuação em telesserviços é ter uma voz clara, confiante
e firme. Além disso, referiram que falar alto ou consumir líquidos muito gelados são fatores
que dificultam a boa produção vocal e reforçaram a necessidade de melhor ambiente físico
e do apoio de profissionais como fonoaudiólogos e psicólogos.
Marcengo (2004) analisou a relação entre avaliação perceptivo-auditiva e queixas
vocais de 124 teleoperadores, por meio do levantamento de prontuários e da realização da
avaliação propriamente dita. A autora observou que 65% deles referiram queixas vocais e
30% apresentaram alterações na qualidade vocal durante a avaliação. Foi possível
comprovar a interdependência entre essas, uma vez que a maioria dos sujeitos com
alteração na qualidade vocal apresentou queixa vocal. A queixa de “garganta seca” foi a
mais observada nessa população, seguida de rouquidão freqüente, esforço para falar, perda
da voz e dor de garganta freqüente, que foram referidos apenas pelos sujeitos com alteração
na qualidade de voz.
Com o objetivo de estudar a relação dos sintomas vocais e otorrinolaringológicos, e
caracterizar os distúrbios da respiração em 48 teleoperadores, Camargo et al., (2000)
aplicaram um questionário para esses indivíduos ao final de uma palestra informativa sobre
15
saúde vocal. Os sintomas otorrinolaringológicos (ORL) foram: pigarro, influência do ar
condicionado, garganta e tosse secas. Observaram que 83,3% referiram ingerir água com
freqüência; 72,9% dos participantes nunca receberam informações sobre ações
fonoaudiológicas preventivas voltadas aos aspectos vocais; quanto aos motivos de
afastamento do serviço observaram que 33,3% foram ocasionados por gripes e resfriados e
10,4% relacionados aos problemas vocais; quanto aos recursos utilizados para a melhora da
voz, 43,8% consomem pastilhas e nenhum deles mencionou a realização de exercícios
vocais. Verificaram que a alteração respiratória mais freqüente foi a rinite alérgica (27,1%)
e um número expressivo de teleoperadores mencionou sintomas vocais (45,8%) e
otorrinolaringológicos (79,2%), sem apresentar afecções respiratórias. Concluíram que
existe uma relação entre a presença de sintomas vocais e ORL em indivíduos com
alterações respiratórias; porém, também percebeu-se que estão presentes mesmo em
pessoas sem infecções de vias aéreas superiores, fato que pode estar relacionado ao mau
uso vocal e à falta de conhecimento sobre práticas saudáveis para a promoção da saúde.
A fim de verificar os sintomas vocais relacionados ao trabalho, Letho et al. (2008)
realizaram um estudo com 32 teleoperadores, sendo 24 do sexo feminino e 8 do sexo
masculino. Os sujeitos responderam a um protocolo específico, quatro vezes, durante um
dia de trabalho (de manhã, antes do lanche, depois do lanche e após o fim do expediente),
sobre questões referentes aos sintomas vocais por eles percebidos durante o trabalho, e
foram acompanhados por um foniatra que realizou avaliação perceptivo-auditiva e
examinou por meio da laringoscopia indireta. Os exames realizados pelo foniatra
mostraram que a carga vocal dos sujeitos não causou mudanças orgânicas. Concluíram que,
ao longo de um dia de trabalho, fadiga vocal e rouquidão aumentaram significativamente
para as mulheres, enquanto que para os homens apenas a rouquidão piorou ao longo do dia.
16
Por outro lado, quanto à avaliação perceptivo-auditiva, não foi encontrada nenhuma
mudança significativa.
Com a finalidade de justificar a inserção do fonoaudiólogo, Algodoal et al. (2002),
em uma empresa de telesserviços, aplicaram o questionário “Mensuração de Qualidade de
Vida Relacionada à Voz” em 15 teleoperadores e 15 pessoas que não fazem uso
profissional da voz. Os resultados demonstraram que não houve alteração significativa
entre as duas populações. Em seguida foram avaliados individualmente 58 teleoperadores
de duas empresas e notaram que 84% apresentaram alguma alteração relacionada, em
grande parte, a ausência de hidratação e/ou respiração inadequada ou, ainda, alterações
vocais. Para as autoras, esse dado justifica a entrada do fonoaudiólogo nos telesserviços,
não porque essa população tem mais problemas de voz e, sim, porque a voz é seu
instrumento de trabalho. Concluíram que a inserção e a atuação do fonoaudiólogo em
telesserviços se dá pelo fato das pessoas usarem a linguagem oral na sua forma mais plena e
esse é objeto de estudo da Fonoaudiologia.
Jones et al. (2002) investigaram se os problemas de voz de teleoperadores afetam a
produtividade e se associam com a presença de fatores de risco conhecidos. A pesquisa
envolveu 304 profissionais de seis empresas diferentes. Os participantes responderam a um
questionário com 57 questões relacionadas ao ambiente de trabalho, saúde geral, presença
de hábitos e sintomas vocais, impacto dos sintomas e demanda de voz na vida social e
profissional, qualidade vocal no início e no fim de um dia de trabalho e tratamento prévio
de problemas de voz. Os resultados mostraram que 68% dos teleoperadores referiram um
ou mais sintomas vocais; 93,46% já apresentaram problemas de voz e, destes, 3%
informaram que os problemas de voz levaram a um prejuízo na vida social. Dos 304
teleoperadores, 31% responderam que já haviam trabalhado mesmo apresentando um
17
problema de voz e que este afetou a sua produtividade. O prejuízo na produtividade foi
atribuído às dificuldades de comunicação, como ter que repetir o que foi dito e a
necessidade de forçar a voz para ser entendido. Essas dificuldades causaram a redução da
freqüência das chamadas e o entusiasmo para vender o produto. Os autores concluíram que
os problemas de voz afetam a produtividade e se associam a fatores de risco modificáveis,
como personalidade e condições biológicas e, por este motivo, o tratamento dos distúrbios
de voz deve concentrar-se também nesses fatores e não somente na redução de carga vocal
ocupacional.
Da mesma forma, Bertachini et al. (2001), com o intuito de compreender a
importância da performance vocal nas atividades operacionais nos telesserviços, analisaram
a relação entre qualidade vocal e grau de produtividade, por meio de ligações telefônicas e
entrevista individual e avaliação perceptivo-auditiva, com 46 teleoperadores do segmento
ativo. Concluíram que houve relação estatisticamente significante entre os dois aspectos,
uma vez que, em 54,3% das ligações classificadas como não-efetivas, 50% delas
apresentaram qualidade vocal não-neutra (infantilizada, rouca, áspera ou soprosa) e em
apenas 4,3% observou-se voz neutra, definida como aquela que não gera impacto auditivo à
fonação. Entretanto, em 45,7% das ligações efetivas, ou seja, com boa produtividade, em
37% delas a qualidade vocal foi classificada como neutra e em apenas 8,7% observou-se
qualidade vocal não-neutra.
Na sua pesquisa, Calil et al. (2002) tiveram o objetivo de verificar quais alterações
fonoaudiológicas seriam constatadas por meio de monitoração em uma empresa de
telesserviços. Uma equipe de fonoaudiólogos acompanhou ligações de 446 teleoperadores
de uma empresa do ramo de entretenimento e observou que, destes, 70% eram do setor
relacionamento, 16% de retenção e 14% de vendas. A análise desses dados demonstrou
18
81% de alterações no setor de retenção, 70% em vendas e 50% na central de
relacionamento. As autoras ressaltaram que o trabalho com voz se justifica ao se analisarem
essas alterações, uma vez que a maioria concentrou-se nos aspectos vocais, seguidos das
alterações de linguagem, motricidade oral e audição. Concluíram que, no setor de retenção,
por gerar mais pressão sobre os seus funcionários, há, em conseqüência, mais alterações
fonoaudiológicas, as quais não se restringem apenas aos aspectos vocais.
De acordo com Nobre (1999) a contribuição do fonoaudiólogo está, principalmente,
voltada aos assuntos relacionados à voz e articulação. Porém, para a autora, o teleoperador
deve desenvolver um bom vocabulário, habilidade de conversação e de expor suas idéias
com clareza, além de capacidade de construir argumentos lógicos durante a ligação. A
linguagem deve ser também um requisito e preocupação do fonoaudiólogo que trabalha
nesse setor, pois é um elemento essencial para o sucesso nos telesserviços.
Com o propósito de investigar quais características da voz são observadas pelo
selecionador durante a escolha de candidatos à vaga de teleoperador, saber se o
fonoaudiólogo é um dos profissionais que participam desse processo e quais contribuições
pode este oferecer à empresa, Dias (2001) realizou entrevistas abertas com oito pessoas
responsáveis pela seleção de teleoperadores em diferentes empresas. A autora observou
que, na visão do selecionador, a voz não se dissocia do significado e do contexto de uso e
está relacionada a outros atributos do sujeito, como o temperamento, personalidade,
capacidade de persuasão e convencimento, sendo considerada um veículo de
expressividade peculiar. No entanto, são exigidas características como confiança, clareza e
segurança, as quais, segundo os entrevistados, são observadas por meio da voz. O
fonoaudiólogo, nas empresas, é visto pelos selecionadores de forma mais voltada à
aplicação de técnicas, fato que não é considerado satisfatório frente a uma demanda que
19
incide não apenas em questões organicistas, mas de natureza mais simbólica. Concluiu que,
na opinião dos selecionadores, não existe uma voz ideal, mas sim um ser humano
idealizado, capaz de ser criativo, de adequar-se às exigências atuais do mercado de
trabalho, e de utilizar suas capacidades mais intrínsecas por meio de seu instrumento de
trabalho: a sua própria voz.
Na pesquisa de Souza DP (2007) a proposta foi verificar quais são as características
de comunicação oral preferidas por leigos e fonoaudiólogos para o teleatendimento.
Investigou, dentre as características preferidas, quais foram empregadas por teleoperadores
durante uma ligação de sucesso, na opinião de leigos e fonoaudiólogos. Primeiramente, a
partir da opinião de pessoas consideradas leigas e de fonoaudiólogos, foram obtidas as 14
características mais citadas como preferidas para um atendimento ao telefone.
Posteriormente, 50 ligações de teleoperadores durante a conclusão de uma venda foram
apresentadas a três fonoaudiólogos e três juízes leigos, que avaliaram, dentre as 14
características mais citadas, quais delas foram empregadas pelos teleoperadores durante as
ligações. A autora concluiu que as características de maior domínio foram o conhecimento
do produto, a educação, o respeito a limites, o uso do português adequado e o respeito ao
outro. Em contrapartida, as de menor domínio foram agilidade na comunicação,
credibilidade e simpatia.
Liechavicius (1999) afirmou que o teleoperador tem a comunicação oral como seu
principal meio de expressão e, por isso, necessita de uma voz firme e convincente,
articulação clara, fluência verbal, vocabulário apropriado, boa capacidade para ouvir e
rapidez no raciocínio. Destacou que é fundamental que esses profissionais sejam
rigorosamente selecionados, saibam da importância da qualidade vocal para o exercício
adequado das suas funções e recebam as orientações necessárias, em treinamentos e
20
capacitações periódicas. Referiu que a atuação do fonoaudiólogo nos telesserviços tem o
objetivo de reduzir a rotatividade no quadro de funcionários, pela melhor escolha dos
profissionais, aumentar a assiduidade dos teleoperadores e valorizar as demandas
específicas dos profissionais, para manter um padrão de excelência no atendimento. Para a
autora, um teleoperador bem selecionado, treinado adequadamente e acompanhado no uso
profissional da voz, será um colaborador de alta produtividade e sem distúrbios de saúde.
Em uma pesquisa com 400 consumidores, que receberam ligações estruturadas e
roteirizadas, e 300 que as receberam sem seguir um roteiro específico, Romam (1994)
verificou que os participantes do primeiro grupo mostraram-se receptivos aos telesserviços
e declararam que a ligação foi bem-sucedida e informativa. O segundo grupo conservou
uma impressão negativa dessa atividade. O autor observou que 97% dos respondentes do
primeiro grupo classificaram a ligação como melhor ou igual a outras ligações do gênero, e
percebeu que a resposta positiva à ligação ocorreu devido a um script que dava importância
às necessidades do consumidor e não da empresa; por isso, mesmo os clientes não-
compradores que receberam a ligação manifestaram resposta positiva aos telesserviços,
alegando educação, cortesia e informação por parte dos representantes. Concluiu que,
quando interativos, bem estruturados e orientados para o consumidor, os scripts não apenas
obtém resultados positivos, mas também podem reverter as opiniões negativas sobre os
telesserviços.
Com a finalidade de compreender os sentidos dados pelos teleoperadores à sua
própria voz, a partir de entrevistas individuais com seis participantes e realização de grupos
focais, Garcia (2000) constatou que estes atribuem à voz um conceito amplo, que articula
os campos individual e social. Observou que valorizam a voz no contexto da comunicação,
considerando-a como a materialização da linguagem, de modo que a voz, em nenhum
21
momento, foi referida como um som isolado. Para os teleoperadores, a voz, durante o uso
profissional, favorece a expressividade, e o cliente é um grande colaborador para que isso
ocorra, pois, por meio dela, podem percebem o estado emocional do cliente e, então, mudar
a sua própria forma de se comunicar com o mesmo. Concluiu que esses profissionais
enxergam a voz como um importante instrumento que viabiliza o acesso aos conteúdos da
fala e da linguagem e, por isso, tais conteúdos devem ser considerados na atuação
fonoaudiológica, momento em que o conceito de voz deve ser trabalhado dentro de uma
concepção mais ampla, que inclua o trabalho e as relações pessoais.
Saltzstein (2000) fez uma pesquisa com o intuito de compreender a relação entre a
organização do trabalho de teleoperadores ativos e receptivos com suas possíveis queixas
vocais. Dez teleoperadores ativos e dez receptivos foram entrevistados quanto à
caracterização da função, preferência quanto ao tipo de telesserviço, fatores que
possibilitam e bloqueiam a carga psíquica, contribuição do trabalho fonoaudiológico e as
queixas vocais e suas possíveis causas. A autora concluiu que a principal contribuição do
fonoaudiólogo para os teleoperadores ativos foi reduzir a velocidade de fala e intensidade
da voz, orientações sobre voz e fala e melhorar o vocabulário. Para os teleoperadores
receptivos, a contribuição foi quanto à pronúncia correta do português e trabalho com a
voz.
Na literatura, poucos trabalhos apontam para uma análise feita a partir da interação
entre teleoperador e cliente, como Moreira-Ferreira (2007), que realizou um estudo com o
objetivo de analisar a expressividade oral e os recursos lingüístico-discursivos utilizados por
teleoperadores e verificar como esses recursos da comunicação oral se relacionam com o
desempenho profissional e a sensação de atitude gerada em ouvintes. Foram eleitos um
teleoperador com desempenho abaixo e outro dentro do esperado, de acordo com a avaliação
22
da monitoria da empresa. Estes faziam parte do setor receptivo que atendia as solicitações de
clientes de uma empresa de telesserviços. De cada um selecionou-se um atendimento
completo com a mesma duração e semelhança no tipo de solicitação feita pelos clientes. Os
atendimentos foram submetidos à análise dos recursos lingüístico-discursivos, da
expressividade vocal e do julgamento da sensação de atitude por parte de prováveis clientes
da central. A autora verificou que voz neutra, projeção e loudness equilibradas, contornos
variados de acordo com a intenção do discurso nas interrogativas, explicações ao cliente,
expressões de polidez e demonstrativos de atenção caracterizaram o melhor atendimento,
referente ao teleoperador com desempenho dentro do esperado. A autora concluiu que o
desempenho profissional do teleoperador está diretamente relacionado à sua comunicação
oral, de modo que os profissionais que utilizam bem os ajustes da qualidade e dinâmica vocal
na composição da expressividade oral e das escolhas lingüístico-discursivas são mais
competentes.
Algodoal (2002) analisou as práticas de linguagem na interação entre os
teleoperadores e seus clientes, por meio de observação, gravação e análise perceptivo-
auditiva de dados da situação de trabalho desses profissionais. Observou que as práticas de
linguagem são complexas, com constantes alinhamentos e realinhamentos dos teleoperadores
durante as interações, uma vez que as imagens desses profissionais se transformam
continuamente no decorrer do diálogo. Isso se deve ao fato de que o posicionamento do
teleoperador se constrói a partir do posicionamento do cliente, o que mostra que o primeiro
só pode interferir parcialmente na condução da interação. A autora também verificou que há
variações nos padrões de pitch, de acordo com as frases de interação, com as informações da
empresa e com as características do trabalho prescrito. Concluiu que, devido à sua
complexidade, é necessário conhecer o contexto em que ocorrem essas práticas para que
23
sejam compreendidas, pois muitas vezes são exigidas do teleoperador competências
comunicativas que favoreçam a manutenção da interação para que possam atingir os
objetivos estabelecidos pela empresa.
Lau (2007) também investigou os aspectos de organização do diálogo entre
teleoperador e cliente, em situação de oferta e rejeição da proposta de aquisição de cartão
de crédito. A pesquisa ocorreu em uma empresa de telesserviços que atua em nível
nacional. As interações foram gravadas em áudio, transcritas e analisadas. Os aspectos
interacionais da conversa nas vendas por telefone revelaram o quanto a rejeição de uma
oferta de um produto pode ocasionar problemas de comunicação. Os resultados mostraram
que, na tentativa de reverter a rejeição da aquisição de cartão de crédito, os teleoperadores
formalizam suas ações ao deixarem de considerar a interação em si e as contribuições feitas
por seus interlocutores. Nas ações de rejeição do cartão de crédito, raramente o cliente
consegue tomar o turno de fala e sustentá-lo, pois, quando o faz, o teleoperador
simultaneamente fala interrompendo-o para dar continuidade ao seu script de atendimento.
A autora concluiu que a primeira parte do par adjacente, oferta-rejeição, nunca é explícita.
A segunda parte do par, a rejeição, desenvolve-se ao longo de vários turnos e pode tanto vir
atenuada como ser enunciada sem hesitações ou atenuantes.
Com o intuito de investigar as estratégias que os teleoperadores elaboram em sua
atividade frente a uma situação adversa, Oliveira et al. (2006) entrevistaram dois
teleoperadores de empresa de telefonia celular de caráter receptivo. Concluíram que as
estratégias utilizadas por eles para enfrentar essas situações incluem a escolha entre
permanecer ou sair do script e a criação de expressões verbais e modificação no tom da
voz.
24
Por meio de uma gravação da fala dos operadores e seus clientes, no próprio
ambiente de trabalho, Coradi (2005) avaliou uma representação do conteúdo da fala
espontânea em situação real e específica de trabalho dos operadores de telesserviços. A
partir da análise da prosódia, de forma fonética e acústica, dos enunciados de saudação
durante o cumprimento inicial, o autor observou que os teleoperadores fizeram uso de
grande variação de melodia e alongaram a duração das vogais nos enunciados de saudação
inicial. A autora concluiu que os aspectos entoacionais expressaram, de forma peculiar, o
estilo prosódico de fala dos operadores e que esses utilizaram mais de uma forma de
expressão na saudação inicial. Tal fato foi considerado positivo, pois valorizou a habilidade
de eleger determinada saudação de acordo com cada cliente. Segundo a autora, nos
telesserviços de forma ativa há a necessidade de desenvolver novas estratégias de
abordagem, devido à reação negativa do consumidor frente aos clichês utilizados.
Alves e Vajda (2003) compararam a fala de uma única teleoperadora ao telefone e
em situação do dia-a-dia, e perceberam que, em situação profissional, a fala ocorria de
forma correta e precisa, enquanto que na conversa coloquial observaram articulação mais
relaxada e sem muita precisão. Notaram que, durante o trabalho, o pitch é agudizado,
loudness diminuída, postura corporal ereta e articulação precisa, ao passo que em conversa
espontânea observam pitch agravado, loudness aumentada, postura corporal relaxada e
articulação menos precisa.
Segundo Faria et al. (2005), os scripts devem ser cuidadosamente elaborados e
expressivos do ponto de vista da linguagem, e transmitir naturalidade ao cliente. As autoras
afirmaram que os recursos vocais que possibilitam a concretização da expressividade estão
relacionados ao correto emprego da ênfase, curva melódica, uso de pausas, modificações na
intensidade e velocidade, bem como uma articulação precisa dos sons. Deste modo, com o
25
objetivo de identificar as características da psicodinâmica vocal de teleoperadores,
associadas ao relacionamento com o cliente, realizaram a gravação de uma simulação de
atendimento com alunos de um programa de aperfeiçoamento de telesserviços, no qual os
sujeitos deveriam usar scripts propostos pelas fonoaudiólogas professoras, com o intuito de
oferecer um atendimento ideal. As vozes foram avaliadas por fonoaudiólogas e pelos
próprios alunos, e
foi possível identificar que aquelas apontadas pela maioria dos alunos
como inadequadas, quanto a um ou mais aspectos, foram também relacionadas pelas
fonoaudiólogas, caracterizadas pelo uso de poucos recursos vocais como curva melódica,
pausas, modificações na intensidade, ritmo e articulação precisa.
Para Moreira-Ferreira e Dragone (2005) a interação ao telefone pode ser melhor
quanto mais agradável for a voz para o ouvinte, uma vez que esta é um aspecto importante
nos relacionamentos telefônicos. Deste modo, com o intuito de analisar quais recursos
vocais e de fala são avaliados como positivos nas vozes utilizadas para a gravação de
mensagens eletrônicas em telesserviços, gravaram uma frase para este fim e esta foi
avaliada por 28 ouvintes leigos instruídos, a julgar quais exemplos eram mais adequados
para comunicação, por meio de atendimento eletrônico. Observaram que pitch agudo,
pausas e variação excessiva de freqüência, contornos entoacionais ascendentes e articulação
imprecisa foram os mais rejeitados para o atendimento eletrônico. A gravação que se
mostrou mais adequada apresentou pitch médio, velocidade média de fala, articulação
precisa, curva entoacional com discreta variação de freqüência para o agudo. Concluíram
que
os recursos vocais e de fala foram importantes no julgamento de uma melhor
mensagem eletrônica para os telesserviços.
Souza (2006) verificou o poder de persuasão do teleoperador por meio da análise do
perfil vocal e de expressividade dos profissionais do setor de cobrança de uma empresa. Os
26
juízes foram três fonoaudiólogos especialistas em voz e dez pessoas leigas consideradas
como possíveis clientes, que deveriam julgar quais vozes propiciaram maior e menor
“poder de persuasão” ao cliente. Os resultados mostraram que as características mais
presentes nos teleoperadores com melhor desempenho foram qualidade vocal neutra,
velocidade de fala acelerada e uso adequado de ênfases, enquanto que os sujeitos com pior
desempenho apresentaram qualidade vocal alterada e uso inadequado de ênfases. A autora
concluiu que o “poder de persuasão” está relacionado à expressividade da fala adequada ao
contexto, de modo que os teleoperadores considerados com melhores desempenhos
profissionais apresentaram expressividade adequada ao contexto de trabalho.
Modesto e Ferreira (2006) avaliaram o desempenho de teleoperadores ativos e
receptivos no atendimento a clientes quanto à agilidade, compreensão do problema,
qualidade do vocabulário e empatia, por meio de avaliação perceptivo-auditiva da
expressividade oral. Foram selecionadas gravações de cinco teleoperadores do setor ativo e
receptivo, em situação de trabalho, e avaliadas por supervisor, provável cliente e
fonoaudiólogo, que também realizou análise dos recursos vocais dos participantes. Os
resultados confirmaram que, frente a uma mesma amostra de fala de um teleoperador em
situação de venda, fonoaudiólogo, supervisor e cliente não apresentaram total convergência,
o que registrou diferenças na análise quanto à agilidade nesse atendimento, compreensão do
problema, qualidade do vocabulário e empatia. Para os três juízes a fala mostrou-se
motivante, agradável, prendia a atenção do ouvinte e causava nele impressão de
firmeza/segurança. O fonoaudiólogo convergiu na direção do supervisor em maior número de
vezes do que com o cliente. Entre os juízes houve consenso mais próximo no momento da
escolha dos teleoperadores que tiveram piores desempenhos. As autoras concluíram que há
mais aspectos não explicitados na Fonoaudiologia, envolvidos nas questões de vendas, uma
27
vez que a opinião do fonoaudiólogo foi na direção contrária à do cliente e mais próxima à do
supervisor.
De forma similar, Nakamura e Ferreira (2006) analisaram de forma perceptivo-
auditiva a expressividade oral e o desempenho de teleoperador que atua no setor de
informação para aquisição de um novo contrato. Os aspectos avaliados foram agilidade no
atendimento, compreensão do problema, qualidade do vocabulário e empatia presente, na
opinião de fonoaudiólogo, supervisor e provável cliente. Selecionaram gravações de sete
teleoperadores da categoria receptivo, em situação de trabalho. A seguir três juizes –
fonoaudiólogo, supervisor e provável cliente –, com auxílio de protocolo específico,
avaliaram as amostras de fala, a partir dos aspectos acima referidos. Coube ao fonoaudiólogo
também realizar a análise dos recursos vocais presentes no material. O supervisor mostrou-se
mais rigoroso em sua avaliação, de modo que a opinião do fonoaudiólogo foi em direção
mais próxima a do cliente. O fonoaudiólogo privilegiou o vocabulário e foi mais rigoroso
nessa avaliação. Entre os juízes houve consenso mais próximo no momento da escolha dos
teleoperadores que tiveram piores desempenhos. As autoras concluíram que, frente a uma
mesma amostra de fala de um teleoperador em situação de venda, não houve consenso entre
as opiniões de fonoaudiólogo, supervisor e cliente quanto aos aspectos de agilidade do
atendimento, compreensão do problema, qualidade do vocabulário e empatia.
Garcia et al. (2000) entrevistaram quatro fonoaudiólogos atuantes na área, com a
intenção de analisar a atuação fonoaudiológica junto a teleoperadores. Os participantes
discorreram a partir de seis perguntas que abarcaram temas como foco de atuação,
metodologia utilizada, trabalho fonoaudiológico ideal, dificuldades de atuação, resultados
pretendidos e acesso aos resultados. O trabalho fonoaudiológico ideal seguiu na direção de
um maior tempo de atuação e da importância da criação de vínculos com a equipe de
28
supervisão e gerência. Concluiu-se que a atuação se direcionou à prevenção de alterações
vocais e auditivas, além de bem-estar do teleoperador, por meio de palestras, treinamentos e
acompanhamentos. As autoras sugerem rever a possibilidade de uma intervenção mais
ampla, que envolva o aperfeiçoamento dos aspectos de linguagem, para uma contribuição
maior na qualidade do atendimento durante o trabalho desses profissionais.
Master e Algodoal (1995) descreveram o trabalho fonoaudiológico por elas
desenvolvido em duas empresas de telesserviços. Em ambas empresas, o treinamento teve
por objetivo prevenir problemas vocais, detectar e encaminhar, quando necessário, pessoas
com disfonia, e oferecer um retorno à empresa acerca das necessidades apontadas pelos
profissionais. Os programas abrangeram temas relacionados à voz, respiração, articulação e
postura, por meio de encontros com teleoperadores com a duração total entre dez e 12
horas. As o treinamento foram feitos os encaminhamentos e oferecidas orientações
quanto às avaliações periódicas do fonoaudiólogo e otorrinolaringologista e realização dos
exercícios vocais.
Brito e Vasconcelos (2004) relataram a experiência de um treinamento
desenvolvido em uma empresa para 14 teleoperadores, com a duração de nove horas, o qual
objetivou de desenvolver a qualidade da comunicação no relacionamento com os clientes,
principalmente ao telefone. Foram ministradas aulas teóricas e práticas, com exercícios e
simulações de uso de voz em atendimentos telefônicos, além de projeções de vídeos que
mostraram o funcionamento do aparelho fonador e saúde vocal, trabalhos individuais e em
grupos, e gravações da voz. Realizaram-se dinâmicas cujos objetivos eram enfatizar a
comunicação eficiente e mostrar como, ao telefone, a voz é capaz de criar imagens mentais
que nos revelam, mesmo sem a visualização, aspectos físicos, psicológicos e sociais do
falante. Outros pontos abordados foram: a importância de saber ouvir, o cuidado com o
29
vocabulário empregado, expressões e vícios de linguagem, práticas de articulação e
pronúncia, entonação, ênfases, pausas, volume e velocidade de fala. Também foram
praticados exercícios de alongamento e respiração, para aliviar tensões e reduzir o estresse,
e de aquecimento e desaquecimento vocal para manter a saúde vocal. Ao final, os alunos
realizaram uma auto-avaliação, a qual revelou que, antes do curso, apenas 16%
consideravam ter um ótimo conhecimento sobre o assunto e, após o curso, este número
subiu para 77%. Pôde-se concluir, por meio das auto-avaliações, que os participantes se
sentiram motivados, acreditaram ser de extrema importância o treinamento para a vida
profissional e aprimoraram seus conhecimentos sobre o tema abordado, o que tornou
evidente a necessidade de mais programas como este
Pesquisas foram realizadas com o objetivo de avaliar os efeitos da intervenção
fonoaudiológica junto a essa população, como a de Oliveira et al. (1999), que investigaram
a receptividade de 73 teleoperadores em relação a um treinamento vocal, por meio de um
questionário após o término desse. O treinamento incluiu técnicas de aquecimento e
desaquecimento e orientações sobre saúde vocal; teve duração de duas horas e foi realizado
nas dependências da empresa, com grupos de até 14 pessoas. As autoras concluíram que a
aquisição das informações pelos participantes estava relacionada à facilidade de cada um
para a realização das atividades propostas, e que grande parte deles adotou mais hábitos
adequados ao seu cotidiano para a melhor realização do seu trabalho.
O estudo de Oliveira e Reis (2005) teve como finalidade a avaliação dos resultados
de treinamento fonoaudiológico admissional realizado em uma central de atendimento pelo
período de quatro anos. As abordagens envolveram aspectos de voz, fala, linguagem e
audição, relacionados à qualidade do atendimento, porém, sem ações fonoaudiológicas
longitudinais. As autoras aplicaram um questionário que continha questões acerca dos
30
treinamentos realizados para 44 teleoperadores. Observaram que 32% dos atendentes
mencionaram exercícios de aquecimento vocal como um aspecto que recordavam do
treinamento; 9% deles informaram realizar exercícios de aquecimento vocal em sua rotina,
como forma de cuidado com a voz, e 68% dos atendentes apresentaram interesse pelo
acompanhamento fonoaudiológico. Os autores concluíram que o treinamento é uma ação
muito importante na sensibilização dos profissionais em relação à comunicação e
prevenção de alterações fonoaudiológicas; porém observou-se a possibilidade de maiores
benefícios quando associado ao acompanhamento longitudinal.
Alves e Cavalcanti (1998) verificaram as modificações acústicas nas vozes de
teleoperadores após orientação fonoaudiológica que englobou anatomia do aparelho
fonador, cuidados básicos com a voz e treinamento vocal que envolveu exercícios de
aquecimento e desaquecimento vocal. Com esse estudo constataram a diminuição evidente
do nível de ruído glótico e de valores de jitter e shimmer. Além disso, perceberam a
desinformação dos teleoperadores sobre os aspectos relacionados à voz e a necessidade de
orientação para que aprendam a utilizá-la corretamente.
Para descrever e analisar os hábitos, sintomas e comportamentos vocais de
teleoperadores, após a realização de um acompanhamento fonoaudiológico específico
denominado Treinamento Vocal Assistido (TVA®), Filoni et al. (2002) acompanharam 30
teleoperadores com idades de 19 a 27 anos. Foram elaborados, dentro do TVA®, três
programas diferentes de exercícios vocais e, em cada semana, foram praticados diferentes
tipos de atividades. Na primeira semana, esses profissionais realizaram exercícios do
programa 1 - ressonância; na segunda (programa 2), foram trabalhados os suavizadores de
emissão; e, na terceira, o programa 3 envolveu os aspectos relacionados à articulação. No
início e no final de cada semana, os participantes responderam a um questionário que
31
interrogava a presença de sintomas e sensações vocais e laríngeas. As autoras observaram
que, com a prática sistemática e assistida do treinamento, houve uma tendência significativa
na diminuição dos sintomas de rouquidão em 33,3% dos casos; pigarro, 35%; cansaço
vocal, 51,7% e o índice de melhora na qualidade vocal foi apresentado por 90,8% dos
casos. Quanto às atividades realizadas, 90,5% dos teleoperadores deram preferência aos
exercícios de ressonância, ao referirem maior conforto e melhora na qualidade vocal, além
da diminuição dos sintomas vocais. Concluíram que os exercícios fonoaudiológicos do
TVA® favoreceram o controle dos sintomas vocais, fato que proporcionou aumento na
resistência vocal, permitiu uma boa manutenção e sustentabilidade da função vocal dos
teleoperadores.
Embora ainda sejam tímidas e pouco específicas quanto aos aspectos de
expressividade, há de se considerar que algumas pesquisas referem-se a uma atuação mais
abrangente, na medida em que incluem um trabalho com linguagem, recursos verbais e
vocais, comunicação e a imagem gerada a partir desta, sem uma preocupação em pensar
mais no distúrbio e limitar-se apenas a trabalhar os cuidados com a voz.
A pesquisa de Letho et al. (2005) investigou os sintomas vocais percebidos por 45
teleoperadores durante um dia de trabalho, os efeitos imediatos de dois dias de treinamento
vocal e analisou-os no longo prazo por meio de um questionário aplicado um ano e meio
após o primeiro encontro. O programa contemplou noções de produção e saúde vocal,
exercícios de aquecimento e desaquecimento vocal, ressonância, articulação, respiração,
postura adequada e estratégias para reduzir a tensão durante a fala. Três semanas após o
mesmo, os sujeitos participaram de um seminário de comunicação com a duração de um
dia. O conteúdo abordado abrangeu, além de princípios para melhor comunicação, a
demanda específica para a comunicação ao telefone, impressões transmitidas pela voz e
32
expressões verbais adequadas. Seis meses após o treinamento foi ministrado um mini-curso
por um fonoaudiólogo, com o objetivo de revisar o conhecimento sobre os cuidados com a
voz e realizar exercícios práticos. A partir de um protocolo específico, foi possível observar
que rouquidão, sensação de muco na garganta e tensão vocal foram os sintomas mais
referidos durante um dia de trabalho; porém, houve diminuição desses sintomas
imediatamente, a qual permaneceu até um ano e meio após a atuação fonoaudiológica. Os
autores concluíram que o treinamento trouxe redução significante dos sintomas e que,
mesmo tendo curta duração, teve um efeito muito positivo na redução dos sintomas para
essa população.
Bacha et al. (2002) relataram a sua experiência na área de telesserviços, que o como
objetivo de oferecer treinamento nas áreas de voz, fala, audição e linguagem e inclui a
participação de teleoperadores e supervisores. É desenvolvido por meio de aulas teóricas,
trabalho com textos, além de exercícios práticos de cuidados com a voz e audição; postura
corporal e sua relação com a produção vocal; exercícios de respiração, articulação e
ressonância; realização de aquecimento e desaquecimento vocal. As autoras também
enfatizaram que a velocidade de fala está relacionada à personalidade e intenção emocional
e associam o uso do telefone a uma imagem sonora produzida. O treinamento que realizam
envolve, em média, 20 pessoas e tem a duração de 15 horas distribuídas em cinco dias.
Com o propósito de descrever e discutir as práticas fonoaudiológicas utilizadas com
teleoperadores em São Paulo, Berenstein (2001) entrevistou dez fonoaudiólogos atuantes na
área. Os entrevistados deveriam detalhar a sua atuação fonoaudiológica dentro da empresa
e incluir os objetivos do trabalho, procedimentos adotados, temas abordados, tempo
disponibilizado e resultados obtidos. A autora verificou que a atuação desse profissional
ainda sofre influências das concepções advindas da clínica no que diz respeito à prevenção
33
das alterações e orientações sobre saúde vocal. No entanto, também foram referidas
atuações com o objetivo de aprimorar a comunicação e gerar maior produtividade durante o
atendimento. Observou-se que o trabalho fonoaudiológico envolve a pesquisa do perfil da
empresa e do teleoperador, apresentação de um conteúdo teórico que abrange os aspectos
de voz, linguagem e audição, sendo constatadas poucas abordagens em relação à
expressividade, além de tempo limitado para a execução da intervenção.
A fim de analisar o processo de uma atuação conjunta entre fonoaudiólogo e 11
teleoperadores divididos em dois grupos, Caraça (2003) realizou uma intervenção
fonoaudiológica a partir de grupos focais, cujo conteúdo abordado incluiu produção da voz,
saúde vocal, audição, saúde auditiva, normotonia, saúde ocupacional, condições de trabalho
e papel do fonoaudiólogo na empresa, trabalhados por meio de dinâmicas, exercícios e
vivências. A autora concluiu que, apesar de existirem muitas queixas de voz, audição,
condições de trabalho e presença de estresse, o temor pela demissão é grande, o que leva os
indivíduos a permanecerem em suas funções mesmo sentindo-se, muitas vezes, infelizes.
Aguiar et al. (2007) compararam profissionais treinados e não treinados em relação à
dimensão perceptivo-auditiva e acústica da voz, pré e pós-treinamento vocal. O primeiro
grupo constou de 44 sujeitos; 48 compuseram o grupo controle. Após o treinamento, os
participantes responderam a um questionário sobre os benefícios obtidos com o mesmo.
Observou-se que, na avaliação perceptivo-auditiva, foram poucas as diferenças na qualidade
vocal dos sujeitos dos dois grupos, ao passo que, na dimensão acústica, aqueles que passaram
pelo programa apresentaram apenas uma redução nos valores de jitter quando comparados ao
restante. Dentre os profissionais treinados, 79% referiram melhora nos variados aspectos
vocais e de comunicação abordados. De acordo com os resultados, o programa de
treinamento vocal realizado foi considerado efetivo em relação à dimensão acústica da voz, e
34
os indivíduos treinados referiram que o resultado contribuiu para que eles pudessem melhor
utilizar suas vozes durante a comunicação.
Venites et al. (2000) verificaram a efetividade de um programa de saúde vocal, que
visava desenvolver medidas preventivas e de saúde vocal, além de aprimoramento da
comunicação. Caracterizaram o perfil vocal de 30 teleoperadores submetidos ao programa
durante um período de seis meses, por meio de entrevista individual e avaliação perceptivo-
auditiva. Os resultados mostraram-se diferentes para os dois tipos de atuação: ativa e
receptiva. Os profissionais que trabalham com a forma ativa de telesserviços apresentaram
ataque vocal brusco (66,7%), ressonância laringo-faríngea (40%), pitch grave (60%) e
modulação adequada (53,3%) ou restrita (46,7%); os teleoperadores que trabalham no
segmento receptivo apresentaram ataque vocal brusco (53,3%), ressonância laringo-
faríngea (40%), pitch agudo (53,3%) e modulação repetitiva (53,3%). Os parâmetros de
qualidade vocal, intensidade, modulação, articulação, velocidade de fala e pronúncia
encontraram-se dentro da normalidade. Para as autoras, a diferença encontrada nos
resultados dos dois segmentos de atuação é justificada pelo discurso oral apresentado por
eles, uma vez que os teleoperadores da forma ativa devem transmitir credibilidade,
segurança e confiança e, em sua maioria, apresentam um discurso marcado e incisivo; os
profissionais que trabalham com o tipo receptivo necessitam ser gentis e compreensivos. As
autoras concluíram que o programa foi empiricamente efetivo pela normalidade encontrada
na maior parte dos parâmetros avaliados: nove entre 13 critérios.
No estudo de Costa et al. (2002) a finalidade foi apontar outros aspectos, além da
voz, que fossem relevantes na atuação do fonoaudiólogo, que têm sido percebidos por
alguns profissionais que atuam na área de telesserviços. As autoras avaliaram 106
operadores individual e pessoalmente. Essa avaliação ocorreu após a fase inicial de
35
treinamentos em grupos, que tinha como objetivos a prevenção e cuidados com a voz, antes
do início da fase de acompanhamento fonoaudiológico. Em relação às alterações vocais
encontradas, observaram que 20% da população apresentaram ataque vocal brusco, em
17% verificou-se pitch agravado e 15% estavam com rouquidão. Em relação à linguagem e
à motricidade oral, constataram 17% de presença de vícios de linguagem, 17% com a
articulação tensa ou travada, em 17% notou-se ceceio frontal, 28% usavam aparelho
ortodôntico e em 12% observou-se projeção anterior de mandíbula. Quanto aos aspectos
auditivos, percebeu-se que 38% dos teleoperadores não trocavam o head-set de orelha.
Dessa forma, concluíram que a atuação fonoaudiológica que tenha como objetivo melhorar
a comunicação não pode deixar de abordar os aspectos que se relacionam de uma forma
complexa e são fundamentalmente dessa área.
36
4. MÉTODO
Trata-se de um estudo de caráter prospectivo, descritivo e qualitativo. Foi submetido
à avaliação do Comitê de Ética do Programa de Estudos Pós-graduados em Fonoaudiologia
da PUC/SP e aprovado sob protocolo nº 061/2007 (ANEXO 1).
Os sujeitos do estudo assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido
(ANEXOS 2, 3 e 4) para participação na pesquisa.
4.1. Seleção dos sujeitos
A pesquisa foi realizada com três fonoaudiólogos, três supervisores e três
teleoperadores. A seleção dos entrevistados ocorreu em forma de rede. Primeiramente, a
pesquisadora fez uma lista com dez nomes de fonoaudiólogos que atuam, publicam e
ministram cursos na área de telesserviços e moram na cidade de São Paulo; todos com, no
mínimo, três anos de experiência. A partir da lista, foram selecionados para o estudo os três
primeiros profissionais que, quando contatados por telefone, dispuseram-se a participar da
pesquisa. Cada um destes profissionais indicou um supervisor e um teleoperador da central
em que trabalha ou presta serviços, o que resultou num total de três profissionais de cada
segmento.
37
Grupo de fonoaudiólogos (GF)
Os participantes deste grupo foram três fonoaudiólogos: um prestador de serviços
para as empresas (F1), um contratado em tempo integral (F2) e um contratado em tempo
parcial (F3). Esses profissionais foram convidados a responder a uma entrevista semi-
dirigida, (ANEXO 5) de caráter descritivo, sobre a sua atuação com os teleoperadores. A
entrevista foi composta por três perguntas que investigaram a prática fonoaudiológica
realizada com teleoperadores, a sua visão e forma de trabalho com expressividade oral.
Os fonoaudiólogos com vínculo empregatício responderam às perguntas na própria
empresa, seu local de trabalho. A entrevista com o profissional que presta serviços para as
empresas foi realizada em seu consultório particular. Para melhor compreensão do papel da
expressividade no treinamento fonoaudiológico, foram feitas, quando necessário, perguntas
adicionais relacionadas à entrevista para complemento das respostas oferecidas pelos
profissionais.
Os fonoaudiólogos foram denominados F1, F2, F3 e trabalham nas mesmas
empresas que os supervisores S1, S2 e S3 e teleoperadores T1, T2 e T3, respectivamente.
Ao final da entrevista foi solicitado que cada fonoaudiólogo indicasse um supervisor de
telesserviços e um teleoperador de sua mesma central de trabalho. No caso do profissional
que não é contratado (F1), foi feita a indicação do supervisor (S1) e teleoperador (T1) de
uma empresa para a qual presta serviços. Os outros dois fonoaudiólogos (F2 e F3)
indicaram os profissionais da central em que são contratados. Dos três fonoaudiólogos
entrevistados, apenas um questionou o critério para indicação do teleoperador e, somente
nesse caso, foi sugerido que selecionasse uma pessoa que, em sua opinião, se comunicasse
bem.
38
Grupo de supervisores (GS)
Este grupo foi formado por três supervisores de telesserviços indicados pelos
fonoaudiólogos, conforme já explicitado anteriormente. O critério de seleção para os
supervisores, informado ao fonoaudiólogo, incluiu tempo de trabalho de no mínimo três
anos na função de supervisionar teleoperadores já submetidos a treinamento
fonoaudiológico. Os participantes responderam, na própria empresa de trabalho, a
entrevista (ANEXO 6), que abrangeu as suas expectativas em relação ao treinamento
fonoaudiológico com teleoperadores, a sua visão sobre o tema expressividade oral e o
impacto desta na relação com o cliente.
Grupo de teleoperadores (GT)
Foram selecionados três teleoperadores indicados pelos fonoaudiólogos conforme
explicação anterior. Os critérios solicitados ao fonoaudiólogo foram: atuar na função há, no
mínimo, seis meses e já ter participado de um treinamento fonoaudiológico na empresa.
Optou-se por esse tempo mínimo de atuação na função de teleoperador devido à grande
rotatividade desses profissionais nesta função. Esses sujeitos responderam a uma entrevista
que investigou a visão por eles obtida sobre a prática fonoaudiológica para a realização do
seu trabalho, assim como sobre o tema expressividade oral e o impacto desta na relação
com o cliente (ANEXO 7). As entrevistas foram realizadas nas empresas em que esses
profissionais trabalham.
39
Projeto piloto
Antes do início da coleta de dados, para se chegar ao roteiro final de entrevistas,
foram realizadas entrevistas piloto com dois fonoaudiólogos, dois supervisores e dois
teleoperadores, com o objetivo de testar as perguntas. Nessas entrevistas observou-se que as
respostas foram curtas e não atendiam ao objetivo deste estudo. Por esse motivo, optou-se
por perguntas abertas, porém, de forma mais direta como, por exemplo, “Porque você
considera importante o trabalho com expressividade com o teleoperador?” e “Como você
define expressividade oral?”. Questionados deste modo, as respostas sobre expressividade
foram mais abrangentes e caminharam na direção de alcançar os objetivos do presente
estudo.
A seguir, a caracterização do grupo será apresentada por meio de quadros.
40
Caracterização da amostra
QUADRO 1 – Descrição do grupo de fonoaudiólogos (F1, F2, F3) em relação ao
sexo, idade, tempo de formado, vínculo com a empresa e tempo de atuação na área.
Sujeitos
Fonoaudiólogos
Sexo
Idade
(anos)
Tempo de
formado
(anos)
Vínculo
com a
empresa
Tempo de
atuação na
área (em
anos)
F1 Feminino 37 17 Prestador
de
serviços
14
F2 Feminino 28 7 Contratado
– tempo
integral
3
F3 Feminino 36 14 Contratado
– tempo
parcial
6
QUADRO 2 – Descrição do grupo de supervisores (S1, S2, S3) em relação ao
sexo, idade e tempo de atuação.
Sujeitos
Supervisores
Sexo
Idade
(anos)
Tempo de
atuação
(anos)
S1 Masculino 27 5
S2 Masculino 39 6
S3 Feminino 27 3
QUADRO 3 – Descrição do grupo de teleoperadores (T1, T2, T3) em relação
ao sexo, idade, tempo de atuação e tipo de telesserviço realizado na empresa.
Sujeitos
Teleoperadores
Sexo
Idade
(anos)
Tempo de
atuação
(anos e
meses)
Tipo de telesserviço
realizado na empresa
T1 Feminino 44 13 Ativo(predominante) e
receptivo
T2 Feminino 25 2,5 Receptivo(predominante)
e ativo
T3 Feminino 39 2,9 Ativo e receptivo
41
4.2. Considerações sobre as empresas
Foi feita uma breve contextualização das empresas para melhor compreensão do
ambiente de trabalho dos profissionais.
As empresas de telesserviços em que foram realizadas as entrevistas foram
denominadas Empresa 1 (E1), onde trabalham os participantes S1 e T1; Empresa 2 (E2),
onde trabalham os participantes F2, S2 e T2; e Empresa 3 (E3), onde trabalham os
participantes F3, S3 e T3.
E1 é uma editora composta por 200 funcionários e os produtos que oferece são
assinaturas de boletins jurídicos para atender ao setor público na área do Direito
Administrativo. Por este motivo, o tipo de telesserviço realizado nessa empresa é,
predominantemente, o ativo.
E2 atua na terceirização de telesserviços para várias seguradoras em seus diversos
segmentos: automóveis, residência, saúde, pessoa. Possui 3000 funcionários, sendo que
1500 estão disponíveis por 24 horas. Nesta empresa predomina o tipo receptivo de
telesserviços para atendimento ao segurado.
E3 possui, em média, 1100 funcionários e oferece telesserviços da forma ativa e
receptiva. Os produtos que a empresa contempla são cartões de crédito, automóveis e
seguros.
42
4.3. Procedimentos
No presente estudo foram realizadas entrevistas semi-dirigidas, sem tempo
previamente estruturado, de caráter descritivo, a cada um dos profissionais mencionados.
As perguntas para cada profissional foram elaboradas de acordo com a função por este
exercida, como descrito nos respectivos anexos (ANEXOS 5, 6 e 7). Tanto a assinatura do
termo de consentimento livre e esclarecido como a informação sobre os objetivos do estudo
foram deixados para o final das entrevistas, para não comprometer a resposta dos sujeitos
durante as mesmas. Foram preservadas as identidades dos sujeitos bem como mantido o
sigilo e confidencialidade das informações. A data, horário e local das entrevistas foram
marcados previamente, de acordo com a disponibilidade dos participantes.
4.4. Registros e análises dos dados
Todas as entrevistas foram gravadas em fita K-7, por meio de um gravador da marca
Sony TCM – 20DV. Após o fim das entrevistas foram realizadas as transcrições
ortográficas das contribuições dos sujeitos da pesquisa. Posteriormente, todo o material foi
submetido a várias leituras e releituras para a familiaridade com o mesmo e fazer sobressair
os temas mais presentes. Optou-se pela análise temática sugerida por Minayo (2004, p. 209)
,que “consiste em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja
presença ou freqüência signifiquem alguma coisa para o objetivo visado”. De acordo com a
autora, a presença de determinados temas denota os valores de referência e os modelos de
comportamento presentes no discurso. Para a análise, após a leitura exaustiva do material
43
foram realizadas classificações e agregações dos dados, a partir da escolha dos recortes e
das categorias que comandarão a especificação dos temas.
Seguindo essa proposta de análise, os pontos de sentido serão denominados de eixos
temáticos e para a sua seleção foram observados aspectos do discurso, de cada categoria
profissional, que se destacaram no contexto, de acordo com a proximidade das respostas
aos objetivos da pesquisa. Os eixos foram selecionados para as categorias profissionais,
separadamente; porém, alguns são comuns a dois ou aos três grupos; por esse motivo,
algumas vezes foram analisados conjuntamente para serem apontadas as convergências e
divergências entre o discurso de cada grupo profissional.
Os eixos temáticos estabelecidos para o GF foram:
- Trabalho fonoaudiológico com teleoperadores
- Opinião sobre expressividade oral
- Estratégias para trabalhar a expressividade oral
Com relação ao GS, os eixos temáticos selecionados foram:
- Expectativas em relação ao treinamento fonoaudiológico
- Opinião sobre expressividade oral
- Importância do trabalho com expressividade
- Expressividade do teleoperador x sensação e reação do cliente
Quanto ao GT, foram adotados os seguintes eixos temáticos:
- Contribuições do treinamento fonoaudiológico
- Opinião sobre expressividade oral
- Importância do trabalho com expressividade
44
- Expressividade do teleoperador x sensação e reação do cliente
Os resultados e a discussão estão apresentados em um único capítulo, discutidos de
acordo com os eixos temáticos. O primeiro eixo temático discutido foi opinião sobre
expressividade oral, por ser comum aos três grupos. O segundo eixo temático foi
estratégias para trabalhar a expressividade oral seguido dos eixos temáticos
importância do trabalho com expressividade, expressividade do teleoperador x
sensação e reação do cliente, trabalho fonoaudiológico com teleoperadores,
expectativas em relação ao treinamento fonoaudiológico e contribuições do
treinamento fonoaudiológico. As entrevistas encontram-se, na íntegra, no ANEXO 8.
45
A figura 1 representa o fluxograma dos procedimentos metodológicos adotados:
Entrevistas com F2,
S2 e T2
Entrevistas com F3,
S3 e T3
Transcrição e leitura do material
Elaboração das perguntas para os
entrevistados
Realização do projeto piloto
Seleção dos fonoaudiólogos participantes
Entrevistas com F1,
S1 e T1
Escolha dos eixos temáticos
Resultados e discussão
Considerações finais
46
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema expressividade tem sido alvo de estudo de muitos profissionais e, dentro da
Fonoaudiologia, é pesquisado com diferentes populações (Arruda, 2003; Ghirardi, 2004;
Faria et al., 2005; Viola, 2006; Santos, 2006; Ghirardi et al., 2007). Após inúmeras leituras
de materiais publicados e participações em encontros que adotassem este assunto como
discussão, foi possível perceber que não existe uma linha única de pensamento para a
temática. Observa-se que há divergências de opiniões e classificações a respeito da
expressividade, o que deixa claro a dificuldade em se chegar a um único conceito e forma
de classificação em relação aos recursos e/ou possibilidades de trabalho, pois este é um
tema complexo, profundo e, de certa forma, um recente objeto de estudo para a
Fonoaudiologia.
A dificuldade em conceituar e seguir uma mesma linha de pensamento também foi
observada em relação aos recursos expressivos ou comunicativos, uma vez que não se sabe
ao certo os conceitos sobre cada um deles. Nesse ponto, nota-se a necessidade de se
esclarecer, em cada trabalho relacionado à expressividade, o que é considerado, do ponto de
vista do autor, para cada recurso trabalhado.
No presente estudo, os recursos que constituem a expressividade serão chamados de
expressivos e/ou comunicativos, os quais incluem os recursos vocais, verbais e não-verbais.
Uma vez que estão relacionados à produção vocal, os recursos vocais referem-se ao pitch,
loudness, qualidade vocal, ressonância, entre outros. Os recursos verbais são os elementos
agregados à comunicação, que conferem diferentes sentidos conforme o seu uso, mas que
não se associam diretamente à voz propriamente dita, são eles: ênfases, pausas, entoação,
47
velocidade de fala, inflexão, entre outros. Há também aqueles considerados vocais e
verbais, como a articulação. Os não-verbais referem-se às gestualidades e expressões que
estão além da comunicação oral, pois envolvem gestos e expressões facial e corporal.
Outro ponto relevante são as diferentes concepções e formas de trabalhar a
expressividade na fala espontânea e na fala construída. Na fala espontânea, a
expressividade pode acontecer de maneira natural, na medida em que o indivíduo imprime
características intrínsecas próprias e tem a liberdade de criar e explorar toda a gama de
opções e recursos que fazem parte do que chamamos de recursos expressivos, o que inclui
os vocais, verbais e não-verbais.
Ao se considerar a expressividade como a forma pessoal de cada indivíduo se
expressar, pondera-se que, mesmo na fala construída dos teleoperadores, há de se
considerar que ocorre uma limitação na exploração dos recursos e expressão de sentimentos
e emoções, uma vez que, em muitas situações, tal condição está baseada em regras que vão
ao encontro de um script ou fraseologia padrão a ser seguida (Vilela e Assunção, 2004;
Lau, 2007). No entanto, existe a possibilidade de agregar à fala dos profissionais uma
maneira particular de se comunicar, ainda que seja dentro desse roteiro ou texto
previamente estabelecido (Romam, 1994; Moreira-Ferreira e Silva, 2002b; Algodoal e
Oliveira, 2005; Faria et al., 2005; Moreira-Ferreira, 2007).
Nesse sentido, considera-se relevante ressaltar que. embora o script pressuponha
uma fala construída, a naturalidade é possível de ser alcançada quando o teleoperador leva
em consideração a demanda do cliente e transmite, na interação, emoções que ajudem a
evitar que o atendimento seja impessoal. Se o script é trabalhado para permitir uma
flexibilidade e interação, além de facilitar o relacionamento com o cliente, evita que o
48
teleoperador necessite sair desse script para atender à determinada demanda do interlocutor,
como apontou Oliveira et al. (2006).
Na Fonoaudiologia tem-se procurado avaliar a expressividade por meio de
diferentes protocolos, que contemplam, de diversas formas, os recursos verbais e não-
verbais; mas, na realidade, o que se percebe é a dificuldade em chegar-se a um meio
comum de avaliação, uma vez que variadas maneiras são utilizadas para se avaliar os
mesmos recursos conforme observaram Viola e Ferreira (2007). A tentativa de criação de
instrumentos de análise apenas reforça a idéia de que essa é uma difícil tarefa, pois depende
da subjetividade de cada um, tanto de quem expressa, quanto de quem avalia.
A escassez observada sobre o assunto expressividade ressaltou a premência de
publicações que venham a elucidar aspectos relacionados ao tema, não apenas com os
teleoperadores, mas com o público em geral, sobretudo os profissionais da voz. E embora a
expressividade seja o objeto de estudo em algumas pesquisas, dificilmente são encontradas
publicações em artigos científicos, como constatou Borrego et al. (2007).
Outra dificuldade encontrada durante a pesquisa de referências foi a busca de artigos
científicos que tenham teleoperadores como foco de estudo. Durante a compilação do
material publicado, pôde-se notar que a maioria estava divulgada em anais de congressos e
capítulos de livros. Essa observação também foi feita por Algodoal et al. (2004 e 2006) ao
levantarem todas as bibliografias elaboradas por fonoaudiólogos até o período de julho de
2005.
É importante destacar que as publicações em anais, embora contribuam para mostrar
um panorama do que vem sendo realizado e pesquisado na área, geralmente são
apresentadas de forma resumida, o que impossibilita conhecer o método e os resultados de
forma detalhada. Outro ponto relevante foi que, ao investigar a atuação fonoaudiológica
49
com o teleoperador, encontramos poucos estudos que descrevem o trabalho realizado, uma
vez que as publicações que falam da prática limitam-se a citar os objetivos do mesmo, sem
detalhar ações fonoaudiológicas realizadas.
Para introduzir os resultados, inicialmente será apresentado o eixo temático comum
a todos os grupos (grupo de fonoaudiólogos – GF; grupo de supervisores – GS; e grupo de
teleoperadores - GT) e foco principal do estudo, que é a opinião sobre expressividade, na
perspectiva dos três profissionais da área de telesserviços. Os recortes de fala e a discussão
serão conduzidos para cada grupo, separadamente, e apenas ao final serão mostradas as
convergências e divergências de opiniões entre os grupos de profissionais.
Quanto ao GF, quando questionados sobre a expressividade oral, observamos as
seguintes respostas:
“(...)eu acho que a expressividade oral é a maneira como a pessoa vai se
comunicar com o outro e engloba o que ela vai dizer e como ela vai dizer. (...). Mas, na
verdade ela tem muita relação com o outro, então como a pessoa se sente e tem condições
de se comunicar na relação com o outro. Acho que vai impactar muito na sua
expressividade oral. No caso do teleoperador, é como eu disse pra você, ele precisa
perceber um pouco o outro e aí utilizar a sua expressividade. Porque, por exemplo, se ele
percebe o outro de uma maneira muito distante na interação e na situação de
comunicação, ele precisa até respeitar um pouco isso e por meio da sua expressividade ele
vai conseguir demonstrar pro cliente, por exemplo, que ele respeitou isso. (F1)
“Eu acho que expressividade é você passar o conteúdo do que você ta querendo
dizer de uma maneira que o interlocutor compreenda, então você tem essa via de quem tá
emitindo e de quem recebe, que essa via aconteça. E, principalmente, que você leve em
consideração quem te escuta. Eu não posso falar com o meu avô da mesma maneira que eu
falo com o meu namorado, eu não posso falar com o meu chefe da mesma maneira que eu
falo com o meu filho” (F2)
“É a forma de você se inter-relacionar com as pessoas não somente através da
fala, da voz, mas através de outros aspectos como entonação, a forma que você vai estar
chamando a atenção da pessoa, pelo ritmo, alegria, pelo brilho da voz. (F3)”
Diante da fala das três fonoaudiólogas, é interessante perceber que todas relacionam
a expressividade com a presença do outro. No entanto, vê-se que principalmente F1 e F2
50
mencionam a interação com o interlocutor e a influência que ele exerce, na medida em que
o consideram como peça fundamental para definir a forma com que a mensagem será
expressa. Para elas, a expressividade é entendida como a maneira de transmissão da
mensagem e, por isso, provavelmente levam em consideração o ouvinte. Assim, para as
fonoaudiólogas da pesquisa, e autores como Panico, (2005); Stier e Costa Neto, (2005);
Barbosa LM, (2005); Kyrillos, (2005) e Viola, (2006), a expressividade se relaciona às
interações estabelecidas, quando a comunicação inclui um interlocutor que irá nortear
diferentes formas de expressão.
As características da expressividade oral de cada indivíduo se constroem ao longo
da vida e estão relacionadas a marcadores de personalidade, de convívio social e de
aspectos físicos (Mello, 1972; Behlau e Ziemer, 1988; Fereira, 2002; Viola, 2006). As
características são variáveis e podem ser modificadas conforme a influência exercida pelo
contexto, estado de humor e, principalmente, pelas atitudes e emoções expressas pelo
ouvinte. Nesse sentido, F1 e F2 reconhecem que a variabilidade de ajustes nos recursos
comunicativos pode ser individualizada, com o objetivo de gerar o efeito e as sensações que
se pretende. Ressalta-se, porém, que o sentido que cada pessoa atribui pode ser diferente,
mesmo diante de um mesmo ajuste utilizado. Isso varia de acordo com as vivências e
crenças individuais; por isso, a escolha de recursos selecionados para cada situação deve
levar em conta o interlocutor, o contexto e o conteúdo durante a comunicação.
Embora por meio de um breve relato, F3 também associa a expressividade à relação
com as pessoas, mas esta não é a tônica do seu discurso, uma vez que a principal questão
por ela levantada diz respeito à forma pela qual a expressividade se efetua, a qual inclui os
recursos expressivos que podem chamar a atenção do ouvinte.
51
Ao se considerar a comunicação ao telefone, torna-se mais nítida a necessidade de
valorizar e incluir nessa abordagem os diversos recursos de comunicação verbal, uma vez
que não há um processo de interação visual com o outro. Por esse motivo, é importante
conhecer e adaptar os recursos expressivos para gerar o efeito desejado em cada situação.
Os recursos expressivos também foram mencionados pelas fonoaudiólogas, assim
como pôde ser visto anteriormente na fala de F3, e também referido por F1 e F2 nos
seguintes trechos:
“Mas o que é expressividade oral? Acho que é a maneira pela qual a pessoa vai se
expressar, que é como ela vai utilizar todos os recursos envolvidos na expressividade. Eu
não acredito que são só os recursos vocais, os quais chamamos de recursos comunicativos
que envolvem tudo aquilo que eu falei pra você, acho que é a maneira como ela vai se
expressar, então ela se expressaria melhor se considerasse todos esses recursos, inclusive
o outro na relação de comunicação. (F1)
“Então eu acho que a expressividade tem tudo a ver com voz, prosódia, expressão
corporal, todas essas questões relacionadas a comunicação, mas que estão inseridas num
contexto que não é adequado, você pode ser a pessoa mais expressiva e que tenha uma
ótima comunicação, mas se ela não está inserida no lugar adequado e da forma adequada,
levando em consideração o interlocutor, você tira zero. (F2)”
Quando as fonoaudiólogas falam de entoação, ritmo, prosódia, recursos vocais e
comunicativos, parecem associar a expressividade à uma dinâmica comunicativa ou seleção
de variados elementos prosódicos para a fala, como em Gimenes (2003), Borrego e
Algodoal (2004), Santos (2006), Souza CCL (2007), Souza DP (2007). F1 e F2 relacionam
nitidamente o uso dos recursos comunicativos diretamente a uma fala mais expressiva, ao
considerá-los determinantes para se estabelecer uma melhor comunicação.
Assim como pontua F1, no estudo de Ghirardi (2004), realizado com
fonoaudiólogas, a expressividade também aparece vinculada a características positivas do
discurso e os entrevistados reforçam a idéia de que ser expressivo é saber falar bem.
Acredita-se que os padrões melódicos utilizados pelo falante podem gerar impressões tanto
52
positivas como negativas, e concorda-se com Madureira (2005, p. 16) quando salienta que
“toda a fala é expressiva, no sentido de que alguma forma de atitude, emoção, crença,
estado físico ou condição social é veiculada por meio da fonação e da articulação dos sons”.
A maneira de falar e os recursos selecionados influenciam na avaliação do ouvinte,
por gerar impressões positivas e também negativas, como apontam alguns autores (Arruda,
2003; Santos, 2006; Moreira-Fereira, 2007; Souza DP, 2007).
Destaca-se também o fato de F1 reconhecer os recursos verbais como recursos
comunicativos, o que parece demonstrar que a fonoaudióloga entende que os chamados
“recursos” abrangem não apenas características pertencentes ao domínio da voz, mas
compreendem parâmetros que estão inseridos em um contexto maior, como a comunicação
verbal. A perspectiva de F1 vai ao encontro do que mencionamos anteriormente a respeito
dos aspectos que constituem a expressividade, os quais chamamos de recursos expressivos.
Os relatos de F1 e F2 mostram como elas atribuem juízo de valor à expressividade,
como se, pelas características da comunicação, existissem diferentes níveis de
expressividade:
“Não é a expressividade que a pessoa tem, é claro que tem pessoas mais
expressivas que outras, isso é fato, é verdade.” (F1)
Suas afirmações concordam com outros autores (Kyrillos, 2004; Barbosa LM, 2005;
Stier e Costa Neto, 2005) segundo os quais, de acordo com o uso dos recursos, as pessoas
são consideradas mais ou menos expressivas, em diferentes níveis.
Por outro lado, F2 não atribui uma comunicação adequada apenas ao uso de
diferentes recursos, pois, a partir de seu relato, enfatiza que não basta utilizar variados
recursos e sim adequá-los ao contexto, ao ouvinte, à intenção e à interação estabelecida.
Desse modo, mesmo uma fala rica em elementos prosódicos pode ser considerada
53
insuficiente para a situação e para o interlocutor. Novamente, esse fato remete à relação
com o outro e ao julgamento individual, pois uma fala rica em recursos expressivos que, na
opinião de um, pode conferir uma melhor comunicação, para o outro pode gerar uma
impressão desagradável.
Diante do relato de F2, é interessante ressaltar que, quando questionadas sobre a
definição de expressividade oral, foi a única que apontou a expressão corporal como um
recurso que faz parte da comunicação e está relacionada à expressividade. Apesar de
tratarmos, no presente estudo, de uma população que tem sua comunicação estabelecida por
meio do telefone, não se pode ignorar a relação existente entre a expressão oral e corporal.
Uma vez que a maioria dos teleoperadores faz uso do head-set, fone que permite que as
mãos fiquem livres durante o atendimento, não é raro de ocorrerem gesticulações e
movimentações do corpo no momento em que se efetua uma chamada telefônica, o que
acrescenta à fala efeitos que favorecem a comunicação. A contribuição do corpo para a voz
ou comunicação também é descrita na literatura por inúmeros autores (Mello, 1972; Behlau
et al., 2004; Kyrillos, 2004; Cotes, 2005; Rector e Cotes, 2005).
Destacamos que F3 faz uma dissociação entre fala, linguagem e voz quando se
refere à expressividade:
“Acho que é muito além só dessa parte da linguagem, da fala e da voz
especificamente.”(F3)
F3 foi a única que mencionou os elementos que constituem a expressividade de
forma dissociada: linguagem, fala e voz, como se pudessem acontecer separadamente, o
que demonstrou a dificuldade em conceituar a expressividade no contexto da comunicação.
Na literatura (Panico, 2005; Stier e Costa Neto, 2005; Kyrillos, 2005; Viola, 2006)
observamos a voz e a fala associadas e como partes integrantes de um contexto mais
54
abrangente que e a comunicação. Viola (2006) também explica que, se as características
fonéticas dos sons são determinadas a partir da sincronização entre o gesto glotal e os
articuladores, não é possível entender uma voz isolada da fala.
Quanto aos supervisores, observa-se os seguintes repertórios:
“Tem pessoas aqui que tem um tom muito alto e a fono trabalha, claro, pra
melhorar esse tom e deixar um pouco mais suave. Tem pessoas que tem um tom muito
baixo então tem que ser feito um trabalho para que melhore essa entonação ou para que
não ocasione nenhuma rouquidão ou agravamento na voz. Para tudo é feito uma análise.
(S1)”
“No nosso trabalho acho que basicamente é o cartão de visita, porque você vai
falar sobre empatia, e...a pessoa não tá vendo o atendente e o único contato que você tem
com a central é a voz, então pra mim a parte de expressão da voz é tudo, se ele tiver uma
voz bem clara, bem cuidada e se tiver uma empatia na voz fica difícil de tirar e o
atendimendo será com qualidade (S2)”
“Expressividade oral eu acredito que é você dizer e o outro entender, uma coisa
muito clara, é como se eu tivesse praticamente desenhando, mas com a voz. É quando eu
falo e o outro consegue entender, eu articulo bem, eu falo bem...é tudo entendível na
verdade, você não fica gaguejando, não troca as palavras nem as letras. Eu acredito que
seja isso (S3)”
Diante dos discursos dos supervisores, há de se considerar que S1 e S2, embora
mencionem entoação, clareza e empatia, expõem o seu pensamento sobre expressividade
sempre muito presos à produção e qualidade vocal, o que sugere um vocabulário ou um
entendimento bastante ligado à área da clínica fonoaudiológica, com o foco direcionado
para a voz. Para S1 e S2, a voz apareceu como se fosse o único meio pelo qual a
expressividade se efetua e houve uma forte associação entre expressividade e voz.
Salienta-se, para o discurso dos supervisores, que, embora mencionem repetidas
vezes o termo voz, parecem utilizá-lo para representar não apenas a produção vocal, mas
também a comunicação. Tal fato talvez seja o resultado de um acompanhamento do
trabalho do fonoaudiólogo, no qual a voz é sempre referida mesmo quando a intenção é
mencionar os aspectos relacionados à comunicação. No entanto, a Fonoaudiologia começa
55
a ter um direcionamento mais amplo para o uso dos termos comunicação, linguagem e
expressividade, e não apenas voz. Vê-se que as fonoaudiólogas F1 e F2, embora falem de
voz muitas vezes referem-se à comunicação, em oposição à F3, que prende o discurso
somente à voz e não demonstra entendê-la em um sentido mais abrangente.
Dentre os supervisores entrevistados, S3 foi o único que fez menção à comunicação
e relação com o outro, como referido pelas fonoaudiólogas, principalmente F1 e F2. Para
Panico (2005), a expressividade tem relação direta entre o bem-estar do falante e seu nível
de atenção com o ouvinte.
Distintamente dos demais supervisores, o conceito de S3 sobre expressividade
contemplou os aspectos de voz, fluência, articulação e compreensão, fazendo associando
voz e fala, diferente de F3, a fonoaudióloga da empresa em que trabalha. S3 apresentou um
repertório diferenciado quando comparado a S1 e S2, pois, além de não citar a problemática
vocal, não se limitou a mencionar a produção da voz e privilegiou elementos da
comunicação que não foram explicitados pelos outros supervisores.
A partir dos relatos, pôde-se observar a dificuldade em definir e conceituar a
expressividade por parte dos três supervisores, na medida em que descrevem a função desta
ou discorrem sobre o que julgam ser os benefícios gerados pela mesma, sem conseguir de
fato definir o termo. Tal fato é percebido com clareza, principalmente por S1, que, mesmo
após ser questionado pela segunda vez sobre seu entendimento acerca da expressividade
oral, não deixou claro o seu pensamento sobre o assunto e intensifica a associação do tema
a uma voz saudável:
“A fono daqui da empresa trabalha a parte de exercícios, dá orientações e faz um
acompanhamento. Claro, se a coisa for um pouco mais grave e requeira mais recursos ela
orienta pra que procure uma fono fora e faça um tratamento. (S1)
56
Talvez isso tenha ocorrido pelo pouco conhecimento que os entrevistados têm sobre
o assunto ou por relacionarem a pesquisa à Fonoaudiologia, uma vez que a pesquisadora /
entrevistadora é fonoaudióloga, o que para eles tem uma grande ligação com a voz e com
aplicação de técnicas (Nobre, 1999; Dias, 2001).
No entanto, avalia-se que as considerações dos entrevistados, principalmente S1 e
S2, apesar de referirem-se ao termo voz, revelam que a expressividade parece estar
relacionada a uma voz adequada, ou seja, suave e clara, que transmita empatia e esteja
relacionada a atributos positivos da comunicação, tal como observado por Ghirardi et al.
(2007) em pesquisa com o público leigo.
S2 destaca o fato de não haver o contato visual e, embora valorize a expressividade
apenas por meio de uma voz saudável, deixa na sua mensagem que se deve agregar a uma
voz atributos positivos, como clareza e empatia, para que o atendimento seja bem-sucedido.
Ou seja, para ele, a expressão utilizada pelo teleoperador, por meio da produção vocal, tem
grande peso na relação com o cliente e, de fato, a forma de se expressar ganha um grande
destaque. Carlaw e Deming (2001) constataram que, no contato telefônico, o ouvinte
direciona mais a sua atenção para a voz (82%) do que para o conteúdo (18%).
No relato dos teleoperadores, diferente das outras categorias profissionais, a tônica
está nos sentimentos e emoções transmitidos por meio da comunicação, como descrevem a
seguir:
“A expressividade da voz (...) identifica a forma que a pessoa se sente no momento.
Eu acredito que se você falar de uma forma com o sorriso na voz, por exemplo, a pessoa
que está do outro lado da linha vai receber essa comunicação, essa informação de uma
forma mais agradável. Se você está tensa você transmite tudo isso pela voz. Então é muito
importante e interessante sempre trabalhar e fazer exercícios, você identificar o quanto
você tá necessitando de um trabalho. Se você sempre faz os exercícios você mesmo vai se
controlando, se você está um pouco ansiosa você se controla, você se lembra dos
exercícios, faz naquele momento e continua a trabalhar. Então eu acho assim, com relação
a expressão, eu acho que é um trabalho que a gente faz que ajuda a você passar pra outra
57
pessoa que está do outro lado da linha o seu produto de uma forma agradável que faça
com que a pessoa do outro lado da linha tenha vontade de te ouvir e te dar atenção. (T1)”
“Nunca pensei nisso. O tom da voz e a forma que você se expressa vai ter
momentos que a pessoa vai identificar com nervosismo, com raiva ou até mesmo a tristeza,
uma voz mais calma...Acho que tem a ver sim da forma como a gente fala tem como a
pessoa deduzir de como você está também...pelo tom da sua voz e pela forma de você falar.
E emocionalmente também a voz demonstra como o seu emocional está também. (T2)
“É tudo pro operador, porque se você não tiver um bom desempenho em linha, uma
boa dicção, uma boa fala, um bom acompanhamento com a fono, você não vai saber se
expressar normalmente com a pessoa. (T3)”
A expressividade denuncia não apenas características físicas, mas também
emocionais, por meio dos ajustes utilizados, os quais são capazes de produzir efeitos e
expressar os sentimentos e as emoções presentes no momento da interação, o que levará a
uma aceitação ou rejeição do atendimento. Nesse sentido, T1 menciona a importância de
controlar as emoções para não transparecer ao ouvinte sentimentos e emoções que
prejudiquem a interação; ela valoriza o fonoaudiólogo na medida em que considera válida a
realização de exercícios para este fim. Para Viola (2006), a fala expressiva transmite
emoções e atitudes de toda natureza, ou seja, tanto positivas quanto negativas.
Pelo relato de T2, também se observa que o termo expressividade oral parece ser
novo para ela, o que não causa estranhamento, pois se os próprios fonoaudiólogos, que
estão inseridos em uma área que estuda o tema, não sabem ao certo do que se trata, então,
não se pode esperar que pessoas consideradas leigas no assunto tenham conhecimento
absoluto. Tal fato reforça o quanto esse assunto ainda é recente, pois à medida que se
utilizasse esse termo no treinamento, com o tempo ele tornar-se-ia familiar.
T1 compartilha da mesma opinião que as fonoaudiólogas e que S3 quando considera
que o cliente tem um papel determinante para a sua expressividade, ao relatar que deve
haver congruência entre a forma de expressar e o interesse do cliente, em conformidade
58
com o estudo de Garcia (2000). T2 também comenta sobre a leitura que o ouvinte pode
fazer do falante apenas por meio da comunicação oral.
T3 fala que o seu entendimento sobre expressividade está vinculado aos aspectos
positivos da comunicação, como uma boa fala e articulação, em consonância com a opinião
dos supervisores. Por meio do seu relato, nota-se que, assim como S3, não se prende na
produção da voz como meio pelo qual a expressividade se efetua, pois vê a expressividade
como algo que vai além da produção vocal.
Por outro lado, T1 e T2, tal como S1 e S2, ressaltam a voz como o instrumento que
viabiliza a transmissão da expressividade. Eles trazem o conceito de voz expressiva que está
relacionada com os sentimentos, é carregada de emoções e tem que ser controlada durante a
atuação, ou seja, apresentam uma visão que está mais distante da voz mencionada pelas
fonoaudiólogas que é tida como objeto, embora também remeta a comunicação.
É relevante considerar que F3, S3 e T3 compartilham da mesma opinião quando
atribuem à expressividade uma característica positiva na comunicação, uma vez que os três
trabalham na mesma empresa e S3 e T3 recebem treinamento e orientações de F3. A
atividade exercida pelo teleoperador não pode ser considerada um processo unilateral, pois
exige uma relação que envolve uma atividade dinâmica, para a qual são exigidas
habilidades e competências comunicativas referidas por muitos autores (Cooper, 1991;
Algodoal, 1995; Moreira-Ferreira, 2002; Barbosa LM, 2005; Behlau, 2005; César e
Lagrotta, 2005) como essenciais para o exercício da função, como, por exemplo, a clareza e
naturalidade na fala, boa qualidade vocal, adequação da entoação, velocidade de fala, pitch
e loudness.
O eixo temático estratégias para trabalhar a expressividade oral foi criado com
o propósito de verificar de que forma a expressividade oral é trabalhada com os
59
teleoperadores por parte das fonoaudiólogas. Uma vez que o trabalho com expressividade
ainda é pouco divulgado, principalmente com a população de interesse do presente estudo,
considera-se relevante investigar a forma com que a expressividade é abordada na área de
telesserviços.
Entende-se que, para F1, o grande foco do trabalho são os recursos vocais:
“Acho que o carro chefe pra se trabalhar a expressividade oral é se trabalhar os
recursos vocais. Os recursos vocais seriam a entonação, a velocidade, a ênfase, a
articulação.” (F1)
Mesmo ao considerar os recursos vocais como o principal meio de se trabalhar a
expressividade, F1 mistura os recursos verbais e vocais. Ou seja, nesse momento, F1
nomeia todos os recursos expressivos como vocais, mesmo ao se referir à aspectos verbais
da comunicação. Vale ressaltar que a separação entre os recursos verbais e vocais não se dá
de forma tão simples.
Dentro da Fonoaudiologia, estudos sobre expressividade têm sido realizados com
diferentes populações e também têm como foco os recursos expressivos (Arruda, 2003;
Gimenes, 2003; Santos 2006; Borrego e Behlau, 2007; Souza RASA, 2007). De acordo
com Kyrillos (2005), estes recursos expressivos referem-se aos parâmetros paralinguísticos
que compõem a emissão e, ao defini-los, afirmou que acrescentam uma mensagem
subliminar à informação na medida em que enriquecem o seu conteúdo.
Ao longo de seu discurso, F2 refere também trabalhar a expressividade por meio de
recursos como velocidade de fala, entoação, variação de pitch e respiração. Em sua opinião,
para trabalhar melhor é preciso segmentar os recursos, apesar de fazerem parte de um todo:
“Acho que é segmentar, porque eu acho que expressividade é um pacote, mas aí
dentro desse pacote a gente segmenta em todos os aspectos que compõem esse
pacote.”(F2)
60
F3, ao descrever as estratégias para trabalhar expressividade, novamente faz a
dissociação de fala e voz, mas apresenta um discurso em que vincula a expressividade à
transmissão de sentimento por meio da comunicação. No entanto, refere-se sempre à voz e
limita-se a reconhecer apenas a entoação como o recurso possível de se trabalhar
expressividade e enriquecer a emissão com sentimentos e emoções:
“Quando é feito em grupos trabalhamos todos os aspectos que eu já falei da fala,
da voz e também todos os aspectos da expressividade através da entonação, trabalhando a
importância da pessoa tá se comunicando, mas passando sentimento através da voz,
passando aquilo que ela quer, se ela quer passar mais segurança, mais conquista.” (F3)
Sabe-se que, por meio da comunicação, podemos expressar sentimentos e emoções,
e isso nada mais é do que a forma de nos traduzirmos por meio da expressividade, esteja ela
associada a um contexto bom ou ruim. Esta associação entre a forma de se expressar e a
transparência de emoções tem sido feita há muitos anos; como afirmou Bloch (1963), a voz
revela muito mais que as palavras, pois por meio dela é possível saber o estado de nossos
pensamentos e sentimentos, na medida em que cada estado emocional confere uma forma
diferente de se expressar e, dentro dessa variável, é possível manifestar a nossa
personalidade. O fonoaudiólogo tem mudado a visão sobre a voz, concebida como
instrumento, e passa a entendê-la como componente da expressividade, ou seja, como um
importante elemento que compõe a linguagem (Ferreira LP, 2004). Tal direcionamento
pode ser constatado por meio das pesquisas que apresentam como objetivo uma descrição
dos recursos expressivos e não apenas se limitam a investigar o perfil de voz dos
profissionais (Borrego e Algodoal, 2004; Santos, 2006; Borrego et al., 2007; Souza CCL,
2007).
61
F3, apesar de fazer a importante relação entre o trabalho com expressividade e a
transmissão de sentimentos, apresenta um repertório constantemente voltado para a
produção vocal:
“Aqui faço aquecimento vocal em todos os andares e com todas as pessoas,
dependendo do tipo de produto o aquecimento é feito com todo o andar e todas as pessoas
ao mesmo tempo e se for no receptivo é feito em grupos. A gente trabalha muito também
com os teleoperadores e é algo que até motiva é a parte da música. A gente pega uma
música que eles gostam e altera trabalhando com /m/ mastigado, vibração de língua. É
algo que eles gostam muito e que vemos bastante resultado.” (F3)
Em concordância com a literatura (Master e Algodoal, 1995; Alves e Cavalcanti,
1998; Oliveira et al., 1999; Garcia et al., 2000; Venites, 2000; Filoni et al., 2002), constata-
se que a atuação de F3 tem a forte influência da clínica na prevenção de doenças ao
observar-se uma visão quase exclusiva da voz no seu enfoque, mesmo quando a proposta
de trabalho é de assessoria. F3 refere realizar exercícios utilizados na clínica, como o /m/
mastigado e a vibração de língua para trabalhar a expressividade, e salienta os resultados
positivos obtidos por meio dos exercícios. Se, ao ser solicitada a descrever a forma de
trabalho com expressividade oral, F3 relata e avalia como positivos os exercícios de voz, é
admissível a hipótese de que ela, talvez, tenha dificuldade para diferenciar o trabalho
clínico da assessoria fonoaudiológica em telesserviços, na qual a atuação não está voltada
para a prevenção de doenças e sim para as demandas e exigências da empresa e da
comunicação com o cliente.
Para F1, o trabalho com expressividade inicia-se a partir da percepção da voz do
sujeito que modifica frente às diferentes situações, para posteriormente direcionar para a
sensibilização sobre cada um dos recursos expressivos:
“Primeiro, eles vão perceber na própria voz, perceber como muda em
determinadas situações em questões relacionadas com a emoção, por exemplo”.(F1)
62
“Vão perceber o que acontece pra que possa então produzir de uma maneira
diferente, potencializar os recursos na comunicação. Então depois de sensibilizá-los e
trabalhar com cada um dos recursos eles vão fazer.” (F1)
Diante do relato, entende-se que F1 trabalha cada um dos recursos separadamente,
ou seja, de forma segmentada, primeiro sensibilizando-os quanto ao seu uso e
posteriormente promove a percepção dos recursos por meio de práticas.
F1 aponta, mesmo indiretamente, que a emoção tem relação com o que cada um
expressa por meio da produção oral e que as mudanças, em relação ao estado emocional e
de humor, podem ser percebidos pelo outro.
Se considerar que as reações do cliente ocorrem de formas variadas diante do que
ouvem, é pertinente que os teleoperadores experimentem sentir o que suas próprias vozes
transmitem, para também saberem o que passam para o seu interlocutor, diariamente. Além
disso, a partir do momento em que o indivíduo ouve a si próprio e experimenta os diversos
elementos disponíveis, que conferem os diferentes sentidos à sua fala, ele passa a conhecer
as possibilidades da sua comunicação e a poder lançar mão de todos os recursos.
Por essas razões, deve-se escutar a própria emissão criticamente, na tentativa de
identificar como ela é captada pelo ouvinte, para perceber o impacto que ela pode produzir
nos interlocutores (Behlau et al., 2004). A percepção deve abranger o uso dos recursos
expressivos, ou seja, a forma como se fala ao lançar mão de aspectos como ênfases, pausas,
entoação, entre outros, e os sentidos que veiculam a cada diferente situação.
A metodologia utilizada por F1 para desenvolver o trabalho com a expressividade
envolve vivências práticas, exemplificações, simulações de diferentes situações e
monitoração:
“Nós vamos levar o conteúdo de uma maneira, vamos dizer, mais teórica nessa
situação e trabalhar de forma que as pessoas trabalhem a percepção. Primeiro vão
63
perceber na própria voz, perceber como muda em determinadas situações em questões
relacionadas com a emoção, por exemplo.” (F1)
“Eles fazem muitas simulação de atendimento, então ora ele é cliente, ora ele é
atendente, operador, aí a gente troca e eles fazem papéis diferentes pra eles
experimentarem. Utilizamos recursos de gravação, de filmagem pra se olharem de fora,
nós utilizamos muito o recurso da planilha de monitoração onde ele pode ver todos os
aspectos que a gente trabalhou e em alguns momentos quando possível fazemos a
monitoração com eles em sala e eles podem perceber na voz do outro olhando de fora para
as questões e vamos discutir.” (F1)
“Por exemplo, em relação a entonação eles vão trabalhar uma série de textos,
expressões, situações em que eles vão ter que gerar determinada imagem, determinada
emoção nessa situação.” (F1)
A monitoração é defendida por alguns autores (Garcia, 2000; Moreira-Ferreira e
Silva, 2002a) como um poderoso acompanhamento e treinamento que assegura o alto nível
dos operadores, pois, como a avaliação da performance comunicativa ocorre dentro da
situação real de atendimento, ao ouvir-se, eles são sensibilizados para aperfeiçoar a
comunicação.
De forma semelhante ao relato de F1, Berenstein (2001) observou que a atuação
fonoaudiológica com teleoperadores envolve além de apresentação teórica, exercícios
vocais, vivências, simulações, monitoração e conversas informais.
F1 também utiliza a gravação de imagens e sons dos próprios participantes, o que
permite a auto-observação e observação dos colegas, como sugere Azevedo (2007) como
estratégia de trabalho. Para Zabala (1998), ao analisar a própria atividade tem-se
consciência da atuação efetuada e esse se torna um ponto de partida para a reflexão das
condições ideais de seu uso.
Da mesma forma, F2 também relata uma prática baseada em vivências e situações
que permitem que o teleoperador sinta e experimente as possíveis variações:
“Então voz, por exemplo, costumo imitar e peço “um grupo aqui vai fazer a voz
aguda e um grupo aqui vai fazer a voz grave”...Então acho que é experimentando as
64
diversas formas de comunicação é que a gente consegue entender melhor, é melhor do que
você só expor e ficar só falando.” (F2)
“(...)na apresentação mesmo que eu faço, então em cada slide por exemplo
“velocidade de fala”, então eu costumo dar exemplos, costumo jogar algumas brincadeiras
pra que eles façam comigo, eu levo exemplos de áudio pra eles escutarem.” (F2)
“Dar exemplos e fazer esses exemplos com eles, eles experimentarem isso pra que
quando eles tiverem nessas situações eles lembrem. E até acho que um treinamento com
vivência é muito mais efetivo do que o treinamento somente explicativo de slide e copia.”
(F2)
Por outro lado, o único detalhamento da metodologia de trabalho com
expressividade, referido por F3, está relacionado à leitura de texto com variações da
entoação:
“Fazemos eles interpretarem texto, mudarem frases diferenciando entonação da
frase, fazemos o trabalho com expressividade corporal, pois acabamos sempre juntando o
movimento do corpo com a comunicação”.(F3)
Nesse momento F3 faz uma importante relação entre expressividade oral e corporal,
uma vez que as duas se complementam. F2 corrobora:
“É difícil trabalhar com expressividade sem pensar no corpo. Acontece que eles
ficam numa posição sentada, então a expressividade, que eu acho que é expressividade
oral e corporal, a corporal fica um pouco banida aí, porque eles ficam sentadas. É
engraçado que, às vezes, você vai central e você vê um analista ou outro gesticulando e
parece que ele tá falando com alguém mesmo(...)” (F2)
F2 relata de forma bastante interessante essa relação quando ilustra com o exemplo
de um teleoperador que, embora se comunique por meio do telefone, lança mão de gestos
durante a conversa como forma de tornar real a expressividade apresentada naquele
momento. Quando a interação é presencial, a expressão não-verbal é parte integrante da
comunicação para a transmissão da mensagem. Mas, uma vez que a expressão reflete o
estado físico também, o corpo exerce uma influência na comunicação oral mesmo quando a
interação ocorre por meio do telefone. Behlau et al. (2004) e Cotes, (2005) concordam que
65
a relação entre emoções, corpo e voz é direta e automática, por esse motivo a postura do
corpo reflete também o estado emocional e personalidade.
A comunicação não-verbal, no entanto, é pouco explorada no trabalho de assessoria,
conforme constatou Gimenes (2003) ao verificar que os fonoaudiólogos entrevistados na
sua pesquisa abordaram, principalmente, os aspectos orais da expressividade. Porém, esse
enfoque também merece atenção, mesmo ao se tratar da oralidade, pois o uso de gestos e a
postura corporal podem contribuir para a comunicação oral, como apontam Cotes (2000) e
Teixeira e Medeiros (2007).
“(...)principalmente num setor que a gente tem que é de vendas, que é vendas de
seguros, e que tem um pessoal que é um pouco mais expressivo, mais agitado, mas é um
pessoal que não fica em pé...ficam sentados na cadeira o tempo inteiro e isso é complicado
pra eles, porque você fica sentado, meio quadrado, então tem como ter uma expressão
corporal. Então a expressão é basicamente verbal.” (F2)
F2, ao referir-se sobre teleoperadores que considera mais expressivos, menciona,
especificamente, o setor de vendas, ou seja, que presta telesserviços do tipo ativo. Vale
ressaltar que as características de comunicação esperadas para esses profissionais exigem
um discurso confiante, agressivo e seguro, em oposição ao discurso simpático, calmo e
gentil, usualmente exigido de teleoperadores receptivos (Algodoal, 1998). Por esse motivo,
F2 considera que, para os teleoperadores ativos, a dificuldade de movimentação durante a
ligação gera maior limitação frente ao perfil enérgico e incisivo que esse grupo apresenta.
Para F2, o trabalho com a entoação deve ser bem direcionado para não ser utilizado
pelos teleoperadores de forma repetitiva:
“Velocidade de fala, entonação... uma entonação que não seja só ascendente,
porque tem muito no telemarketing “qual a placa do carro senhor?”, “mas, o senhor está
onde?” (fala com a entonação ascendente)” (F2)
“Então a entonação acho que tem que tentar modular mais e não ficar só
ascendente e nem descendente porque, às vezes, a gente tem alguns analistas que, às
66
vezes, vêm cansados e que vêm com problemas de casa e fica naquela modulação bem
descendente, desinteressada.” (F2)
A constância do uso desse recurso pode configurar um estilo de comunicação que,
se for diretamente vinculado à prática desses profissionais, poderá induzir a um julgamento
negativo generalizado a respeito da profissão. Para Gonçalves (2000), a entoação diz
respeito a inflexões de voz feitas ao falar, que estabelecem diferentes curvas melódicas no
discurso e, associada ao recurso da pausa, é fundamental para o brilho da fala nas
apresentações, pois, segundo a autora, sem este recurso a fala se torna monótona, menos
inteligível e desinteressante. Talvez, por esse motivo, com a intenção de deixar a fala
menos monótona é que os teleoperadores lançam mão do recurso de forma exagerada
(Appa, 2004), o que provoca a impressão de uma fala caricata, robotizada e cansativa.
Coradi (2005) constatou que esses profissionais apresentam uma tendência marcante de
utilização do padrão ascendente / descendente que expressam, de forma particular, o seu
estilo prosódico de fala.
F1 explica com mais detalhes a atuação com expressividade. Refere-se às ênfases
como uma forma de facilitar o entendimento dos teleoperadores quanto aos recursos
expressivos, na medida em que parece ficar visível na fala a utilização desse recurso:
“Trabalhamos muito a ênfase também, então na situação do teleoperador é muito
importante, por exemplo, na situação de venda para enfatizar os benefícios que o cliente
vai obter com isso, os benefícios de financiamentos, de formas de pagamento, uma série de
coisas. Com a ênfase eu consigo marcar o que tem de mais importante no discurso e, às
vezes, para as pessoas que tem muita dificuldade na expressividade, eles terem essa
consciência da ênfase é uma coisa mais concreta e mais fácil deles mudarem um pouco o
comportamento. Não é só isso, mas ajuda bastante, eu percebo que na prática cai a ficha
um pouco quando falamos de ênfases.” (F1)
Embora tenha sido realizado com outra população, Borrego e Algodoal (2004)
observaram que o trabalho com ênfases contribuiu para a atividade de locução no que diz
respeito à expressividade.
67
Quanto à velocidade, F1 trabalha esse recurso junto com as pausas:
“Quanto à velocidade mostramos a imagem que gera uma velocidade muito rápida
e a imagem que gera uma velocidade muito lenta e mostramos como fazer isso. Estou
falando só em termos de voz, mas, por exemplo, quando eu sou mais objetivo eu tenho uma
relação com a velocidade. Quando eu utilizo as pausas ou quando não utilizo, vamos puxar
sempre as outras coisas pra mostrar pra eles.” (F1)
Kyrillos et al. (2003) apontam para a importância da velocidade média da fala, pois,
quando acelerada, pode prejudicar a precisão dos sons emitidos, o que impossibilita fazer
todos os movimentos necessários à perfeita articulação. Por outro lado, quando a
velocidade é excessivamente lenta, a atenção e o interesse do ouvinte tendem a dispersar-
se. Complementam que as pausas fazem parte do discurso e são muito importantes para a
compreensão da mensagem.
F1 também a associa com a articulação:
“Sobre a articulação, se eu preciso falar um pouco mais devagar, se o supervisor
fala que falam rápido, então se articularem melhor vão conseguir também melhorar a
velocidade de fala e essa é uma consciência eu eles nunca tem.” (F1)
F1 reforça a possibilidade de perceber a sua própria velocidade de fala a partir da
fala do cliente:
“Mas como é que vamos mostrar isso pra ele? Então a gente pergunta se o cliente
pergunta mais de uma vez, se fala que não entendeu, pois são pistas que ele pode ter que a
velocidade dele não ta adequada.” (F1)
F2, por outro lado, refere trabalhá-la no momento em que envolve a respiração no
treinamento:
“Acho que a respiração vem junto com a velocidade, eu costumo “linkar” os dois,
tipos de voz, eu costumo explicar os diferentes tipos de voz.” (F2)
Para F1, não tem como perceber e conhecer a expressividade oral se o indivíduo não
ouvir a si próprio ou não valorizar as pistas geradas pelo contato com o outro, como, por
exemplo, o cliente:
68
“Então ele precisa ter todas as possibilidades de perceber a própria voz e a própria
expressividade oral. Uma delas é pelo feedback do cliente, outra é pelo feedback da
monitoria, às vezes até da família que diz que falam alto, por exemplo. E essa percepção é
muito importante pra que eles possam investir na expressividade oral e nos recursos que
podem possibilitar essa melhora em uma expressividade mais favorável e mais positiva pra
eles.” (F1)
Ao comentar sobre essa percepção, F1 questiona a falta de um acompanhamento
posterior, uma vez que, em geral, a atuação do fonoaudiólogo termina no treinamento:
“Como é que ele pode identificar no dia-a-dia? Como é que pode perceber que
precisa mudar esse aspecto? Até porque muitas vezes o nosso trabalho termina num
treinamento, nem sempre tem a possibilidade de acompanhamento.” (F1)
Essa questão também foi levantada por Garcia et al. (2000) durante entrevista com
fonoaudiólogas, momento em que foi enfatizada a necessidade do fonoaudiólogo estar
presente por mais tempo dentro da empresa, para ter a oportunidade de acompanhar
efetivamente os profissionais.
F2, que trabalha em tempo integral na empresa, indiretamente aponta a sua
percepção a respeito do trabalho diário e constante com os teleoperadores:
“E eu percebo que com um ou dois meses eles ainda tem isso muito cru. Acho que
eles têm o treinamento, mas eles só vão aprender mesmo vivenciando.” (F2)
Ao concluir o seu relato, F1 reconhece que a expressividade é inerente a cada
indivíduo e é anterior a qualquer intervenção; no entanto, a prática pode levar ao
aprimoramento e contribuir na construção da expressividade dos teleoperadores:
“E eles automaticamente conseguem aos poucos construir a própria
expressividade no sentido do aprimoramento, porque é claro que ela já existe. Mas
percebem o que significa de fato eu aprimorar a minha voz, eu ser mais expressivo pois é
tão exigido hoje em dia.” (F1
Para finalizar, é relevante comentar que, embora tenha sido solicitada a descrição de
como se trabalha a expressividade, os detalhes e estratégias propriamente ditas foram
poucos. Além disso, o termo voz esteve presente nos discursos das três fonoaudiólogas em
69
diversos momentos, o que muitas vezes pareceu que a produção vocal é o aspecto mais
considerado para transmitir a expressividade, especialmente para F3.
Considerou-se importante apresentar o eixo temático importância do trabalho com
expressividade, na opinião dos supervisores e teleoperadores, para verificar a sua
perspectiva acerca da atuação fonoaudiológica voltada para a expressividade.
Na opinião de todos os supervisores foi correlacionada com o atendimento ao
cliente ou com a efetivação de uma venda, por meio de diferentes reações frente às
impressões percebidas sobre a expressividade do teleoperador:
“No telemarketing, para que você possa fazer uma boa venda a expressão é
totalmente pela voz” (S1).
“Ela não percebe que a empatia dela vai induzir e o cliente dela vai ficar
diferente...” (S2)
“É justamente pelo fato de como eles precisam entrar em linha pra fazer uma
venda, pra mostrar pro cliente o benefício(...)” (S3)
No relato acima, S2 afirma também que, por vezes, o teleoperador sequer tem a
sensibilidade de perceber que, diante da sua comunicação, o cliente pode apresentar uma
reação positiva ou negativa.
Um ponto relevante é que todos os supervisores utilizam o termo voz, conforme
mencionado anteriormente, como meio de se efetuar a expressividade, posto que esta é
geradora de imagens mentais e denuncia as características, sentimentos e o estado
emocional do falante no momento em que se expressa:
“A voz é o que dita a regra né? Se a pessoa tá com uma voz bem entonada, suave,
que possa transmitir com clareza as informações, isso colabora muito na parte da venda.
Se de repente tem uma pessoa que tem problema na voz, não é clara nas informações ou
até tem uma voz triste, isso pode agravar a venda, agravar uma série de fatores.” (S1)
“Pra mim deve-se deixar claro pra eles que isso é importante, esclarecer a
importância desse instrumento de trabalho que é a voz.” (S2)
70
“(...)eles precisam passar através da voz o que é que eles estão vendendo.” (S3)
Apesar de se referirem à voz para reconhecer a importância do trabalho com
expressividade, entende-se que S1 e S3 têm a consciência de que é um trabalho que está
direcionado para a voz, mas que reflete diretamente na relação com o outro.
Muitos autores (Bloch, 1963; Mello, 1972; Behlau e Ziemer, 1988; Chun, 2002;
Ferreira, 2002; Behlau, 2005) também mencionam o termo voz ou produção vocal como
um instrumento pelo qual se expressam a personalidade e as emoções contidas no falante.
Há de se considerar, no entanto, que inicialmente a voz era tida como o único instrumento
pelo qual as impressões eram transmitidas, fato que tem mudado e tem sido apontado na
literatura mais recente (Ferreira e Oliveira, 2004; Panico, 2005; Barbosa LM, 2005; Viola,
2006) como linguagem, comunicação ou expressividade.
A expressividade é apontada como um benefício para o processo de comunicação
estabelecido com o cliente. Para S1, os problemas de voz, falta de clareza e transmissão de
sentimentos negativos, como a tristeza por exemplo, são aspectos que não favorecem a
comunicação ao telefone. Os atributos positivos, como suavidade e ânimo na fala, são
novamente explicitados e avaliados como características determinantes para agradar o
interlocutor e concretizar a venda ou deixar a ligação mais interessante (S1 e S3).
Um aspecto levantado por S2 envolve a questão do cansaço vocal decorrente da
jornada de trabalho diária, que tem grande influência no entusiasmo para o atendimento e
na imagem negativa que vai gerar, uma vez que, ao fim do expediente, o desempenho vocal
não é considerado o mesmo do início:
“(...)porque começa a trabalhar às 6:00 da manhã ou ao meio dia ou às 18:00 e
teve uma carga de trabalho então a voz está cansada. (...)e a pessoa também não sabe que
ele tá trabalhando a tantas “X” horas, porque pra quem tá ligando é o primeiro contato.
(S2)
71
“Porque geralmente, essa manutenção e essa expressividade da voz tem um
impacto diferente de quando você chega pra trabalhar de quando você vai embora.” (S2)
Os sintomas vocais podem aumentar ao longo do dia e são manifestados,
principalmente, por meio de fadiga vocal e rouquidão (Ferreira MC, 2004; Lehto et al.,
2008). Por isso, S2 valoriza esse tipo de trabalho realizado pelo fonoaudiólogo para impedir
o cansaço vocal e evitar que o interlocutor o perceba em sua expressividade e que,
indiretamente, interfira em sua produtividade (Bertachini et al., 2001; Jones et al., 2002).
S3 foi a única que enfatizou os benefícios do trabalho fonoaudiológico, seja por
meio de exercícios para uma melhor produção vocal, seja pelo trabalho com a percepção
dos parâmetros vocais, para uma melhor interação com o cliente durante a chamada
telefônica:
“Eu tenho realmente que me expressar muito bem, muitas vezes, a gente até brinca
e a gente fala “faz alguns malabarismos do tipo: interage mais com o associado, coloca
ânimo, entusiasmo no tom de voz” para que ele possa entender e pra que ele possa se
entusiasmar com você, pra não ficar aquele contato morto.” (S3)
“E muitas vezes os exercícios da fono ajudam por conta disso, porque a gente tem
os exercícios de voz salmodiada, de “fala mais baixo agora”, “agora um pouco mais
alto”, o aquecimento vocal pra você saber quando você vai falar um pouco mais grave,
mais agudo, como que fica. Eu acho super importante nesse aspecto de ele realmente ser
entendível pelo cliente.” (S3)
É interessante que, quando S3 relata sobre uma maior interação com o cliente,
valoriza o trabalho de F3, limitado à prática de exercícios vocais. Observa-se que os
exercícios praticados pela fonoaudióloga são resgatados e considerados como proveitosos e
colaboradores para a atuação do teleoperador, na visão do supervisor.
Na opinião dos teleoperadores, em oposição aos relatos dos supervisores, apenas
T1 reforçou a importância de se trabalhar a expressividade para transmitir uma melhor
impressão para o cliente:
72
“O cliente, por sentir do outro lado da linha, vai imaginar a pessoa pela voz e a
voz no nosso trabalho é tudo. É um trabalho que a gente tem que estar sempre fazendo
porque o cliente vai sentir se você ta bem.” (T1)
“O cliente vai imaginar a pessoa de uma forma e essa forma só pela voz que você
vai conseguir transmitir do outro lado da linha.” (T1)
O cliente, quando entra em contato com a empresa por meio do teleoperador,
procura um atendimento coerente com a proposta da companhia e com o produto
comercializado. Assim, a comunicação estabelecida durante a interação entre teleoperador e
cliente é decisiva para a aceitação ou rejeição do profissional, do produto e da empresa por
parte desse cliente.
As impressões ocorrem devido aos variados ajustes dos recursos expressivos que
são responsáveis pelos efeitos de sentido, ou seja, pelas sensações sentidas pelo ouvinte que
o fazem atribuir sentido à mensagem emitida (Madureira, 2005; Viola, 2006). É possível
obter-se uma boa imagem em decorrência de melhores habilidades comunicativas, que
permitem maior controle emocional na interação e uma individualização do atendimento.
Todos os teleoperadores apresentaram repertórios no que concerne ao controle da
emoção, o que foi considerado fundamental para que o atendimento seja proveitoso, uma
vez que as emoções negativas podem gerar uma situação desagradável para o cliente:
“Ta chateado, ta alegre, ta feliz ou não. A expressividade da voz e necessária pra
você estar sempre se policiando com relação a isso. Você tem que ta passando pela voz o
sorriso, uma forma tranqüila, sem ansiedade. Então e necessário o trabalho da voz,
principalmente nessa área para o cliente.” (T1)
“Acho importante porque no serviço a gente tem que ter um tom, tem que ser mais
firme. Atendendo certos produtos é legal a gente ter um tom de voz e ser firme naquilo,
manter um padrão de voz, é legal tá mantendo isso né... Porque senão o segurado liga e
cada hora um liga mais agitado ou mais nervoso então eu acho legal manter esse padrão
de voz.”(T2)
“A partir do momento que você entra em linha, a partir do momento que você tá se
expressando seja com sentimento, com emoção, com ironia, você não vai conseguir chegar
73
a lugar nenhum e dependendo da forma que você conseguir lidar com isso, com a emoção,
com o sentimento, eu acredito que você tenha mais finalidade aí no seu trabalho.” (T3)
T2 reforça a necessidade de manter o controle emocional por meio da expressão,
devido ao tipo de atendimento que realiza, direcionado para empresas de seguro. Nesse
caso, o cliente, na maioria das vezes, liga para solicitar socorro ou pedir informações sobre
como proceder para ter acesso ao seguro que possui. Por isso, na situação em que o
teleoperador se encontra, diante, muitas vezes, de um cliente em situação de perigo ou
desespero, é possível que ocorra um descontrole emocional, o que pode prejudicar e gerar
instabilidade no atendimento e no auxílio a esse cliente. Vale ressaltar que, algumas vezes,
o estado emocional interfere em aspectos da fala de modo a gerar um prejuízo na
comunicação estabelecida, como observou Barbosa RA (2005).
As mudanças no equilíbrio psicoemocional alteram a mensagem e são expressas por
meio de estratégias de persuasão, envolvimento com o cliente e argumentação de ambas as
partes. Dar atenção a esse aspecto parece ser primordial para evitar um episódio de
descontrole que alguma situação pode gerar. Boone (1996) chama de controle de voz a
habilidade em demonstrar o que realmente se quer e não o que, de fato, se sente; portanto,
destaca a importância em desenvolver essa competência. Contudo, é válido lembrar que,
para se ter um atendimento humanizado, em que a comunicação ocorra com naturalidade,
deve-se ter liberdade de expressar emoções, dentro do que é possível e intencional, para que
se possa sensibilizar e tocar o cliente com a finalidade de fazê-lo sentir que aquele
atendimento é diferenciado.
Ainda referente ao trabalho com expressividade, T3, em consonância com todos os
supervisores, acredita poder estabelecer melhores resultados e maior produtividade ao
apresentar clareza e boa expressão:
74
“Porque a partir do momento que você tem essa expressão no seu trabalho como
operador é que você vai conseguir obter um resultado ou não das suas vendas.” (T3)
Ressalta-se que as ações fonoaudiológicas que visam um aprimoramento da
comunicação e expressividade favorecem o desenvolvimento de habilidades comunicativas,
que podem ser aplicadas com eficiência a cada diferente situação. Há, porém, a necessidade
de se realizarem estudos que transcendam os limites da caracterização da expressividade
oral e corporal e avancem no sentido de caracterizar a intervenção fonoaudiológica que
tenha esse tema como foco da atuação (Ferreira LP, 2004).
O eixo referente à expressividade do teleoperador x sensação e reação do cliente
foi considerado fundamental para mostrar a relação entre o teleoperador e o cliente, a partir
da expressividade de cada um, tanto sob a ótica do supervisor, que monitora e observa a
ligação, quanto do teleoperador, que participa efetivamente da interação. Constatou-se que
os supervisores S1 e S2 percebem a reação do cliente diante a forma de se comunicar do
teleoperador:
“Reage de diferentes formas e percebe nitidamente na voz. (...) Então dá pra você
perceber como o cliente reage perante aquela voz, perante aquela entonação.” (S1)
“Nós desenvolvemos hoje uma empresa, ou seja, você tá atendendo e a pessoa na
linha pode começar a reação calma e se irritar pelo tom de voz do atendente, se chatear
pelo jeito como ele deu o ”bom dia”. Por que por mais que você tente enganar no “bom
dia” você tem que ser sincero e tem gente que não altera a voz em nada.” (S2)
Nesse caso, fica nítido que, apesar de os supervisores não saberem exatamente sobre
os variados recursos que são utilizados pelos teleoperadores, percebem que as diferentes
combinações conferem à fala diversos significados que são sentidos pelo cliente, os quais
podem ser favoráveis ou desfavoráveis. Em seu estudo, Moreira-Ferreira (2007) constatou
que a expressividade oral de teleoperadores influencia no julgamento do desempenho
profissional e, conseqüentemente, na rejeição ou aceitação de atendimentos.
75
Um ponto levantado por S1 aborda a questão da reação negativa do cliente diante da
justificativa do teleoperador por apresentar uma qualidade vocal ruim. Em uma situação
como essa é possível que o ouvinte passe a prestar ainda mais atenção ao aspecto
inadequado da produção vocal do falante após a chamada:
“Se de repente tem algum problema na voz ou de repente pode até acontecer da
pessoa tá gripada, tá com uma entonação um pouco mais baixa, o cliente percebe. Às
vezes, até o próprio operador antes de começar uma ligação já se desculpa e fala “olha, eu
estou gripado, hoje não estou com uma voz boa” e realmente acaba até agravando, o
cliente até escuta mas não é a mesma coisa, não é o mesmo relacionamento.” (S1)
A demanda apontada por S2 é a mesma mencionada anteriormente por T2, que se
direciona para a sensibilização do teleoperador frente à emoção demonstrada pelo cliente
em uma situação de desespero:
“Às vezes, a pessoa que liga tá desesperada devido a situação e o atendente não
altera o tom de voz dele e isso causa frustrações, porque pensa “eu to aqui desesperado e
tem um robô me atendendo” e a gente não quer isso, acho que a emoção na voz tem que
deixar sentir que são pessoas atendendo pessoas. E a única forma de você identificar isso é
a voz que traz essa diferenciação durante o atendimento e durante a conversa com o
cliente.” (S2)
S2 também deixa claro a falta de dinamismo na comunicação e de personalização no
atendimento por parte de alguns teleoperadores, que sequer tentam alinhar a sua forma de
falar a cada cliente. É de responsabilidade de cada profissional adaptar a comunicação para
cada diferente usuário ao identificar as necessidades, dificuldades e, também, o seu perfil,
características que serão identificadas pelos ajustes na expressividade oral do cliente ao
serem percebidos pelo teleoperador (Moreira-Ferreira e Silva, 2002b).
Salienta-se que é o repertório do cliente que sinaliza a forma com que o teleoperador
deve atendê-lo. Vale ressaltar que S2 trabalha em uma empresa que presta serviço para
seguradoras; por isso, o tipo predominante de telesserviço é o receptivo e na maioria das
ligações são pessoas em situação de perigo e estresse. Nesse caso, a escuta ao cliente torna-
76
se essencial para que o objetivo da ligação seja alcançado, uma vez que, nessa situação, o
propósito principal é prestar socorro ao segurado.
Quanto ao aspecto emocional, não é preciso considerar os extremos, ou seja, sem
emoção ou com excesso dela. Deve-se trabalhar com naturalidade dentro do conteúdo que é
dito, deixar a emoção transparecer em uma relação que é profissional e, assim, mostrar para
o cliente que a empresa oferece um atendimento humanizado e que o teleoperador é
sensível, mas também prático e objetivo na interação. Esta parece ser uma forma de
conquistar o cliente e deixá-lo satisfeito com o resultado: ao mesmo tempo, falar com
emoção sem prejudicar o atendimento. A desenvoltura do teleoperador pode estar
relacionada ao tempo de trabalho, o que leva a crer que, quanto mais situações difíceis
enfrentar, melhor pode gerar uma imagem que cause sensações positivas para o cliente.
Vale considerar que, na presente pesquisa, há um equilíbrio do tempo de trabalho entre os
supervisores; porém, dentre os teleoperadores observa-se uma grande diferença no tempo
de atuação de T1, que é de 13 anos, ou seja, muito maior do que a média de atuação
comumente observada.
O discurso de S3 está voltado para a atitude que deve ser tomada pelo teleoperador
frente a uma situação de grosseria por parte do cliente. Nota-se que o teleoperador, embora
precise ser cauteloso, também deve reagir de forma coerente com o que o cliente aponta,
seja por meio de cortesia e cordialidade ou em uma situação que exige maior imposição:
“Com certeza. A gente até usa muito exemplos porque tem aqueles associados,
aqueles clientes que atendem com um pouco mais de grosseria no tom de voz e a gente fala
“você tem que falar com o cliente, se ele te atendeu um pouco grosseiro você tem que ser
um pouco mais incisivo com ele” e é quando eles geralmente impõem mais um tom de voz
um pouco mais forte com o associado.” (S3)
“Se eles falam muito calmos o associado tende a...a gente até fala “eles vão fazer o
que eles quiserem com você em linha porque você tá sendo muito bonzinho”, então a gente
brinca muito assim “ah, se eu to abordando alguém do Rio de Janeiro eu vou ser mais
77
incisivo, se eu to abordando alguém de Minas eu vou ser mais tranqüilo, vou falar mais
devagar” e o cliente com certeza percebe essa diferença.” (S3)
Nesse momento, vê-se, por meio dos relatos de S3, que a expressividade do
teleoperador também pode ser modificada a partir da sua reação com o outro, no caso, o
cliente. Esse pode ser um ponto de partida para um atendimento personalizado, uma vez
que, se o teleoperador perceber a demanda que o cliente traz, pode tentar adequar o seu
atendimento à situação, tocar o outro e, assim, favorecer o sucesso da ligação. No entanto,
em oposição a essa atitude, o teleoperador pode apresentar uma reação negativa frente ao
comportamento do cliente, que pode ser percebido por mudanças na sua forma de
expressão. Tal fato pode resultar em um impacto contrário do que se deseja gerar, o que
pode prejudicar não apenas o atendimento, mas o nome da empresa, uma vez que existe
uma associação direta entre a imagem da empresa e a expressão do teleoperador (Quinteiro,
1995). Os clientes geram uma importante pressão sobre o teleoperador, pois muitas de suas
ligações concentram um conteúdo negativo em reclamações que, muitas vezes, trazem uma
carga de tensão observada na comunicação do cliente, seja pelo próprio conteúdo, seja pela
entoação utilizada que pode ser recebida como agradável ou desinteressante (Cooper, 1991;
Montoro, 1999).
Dentre os teleoperadores entrevistados, em consonância com S2, percebe-se
claramente a valorização dada por T1 a um trabalho que leve em consideração a demanda
trazida pelo cliente por meio das suas características e reações, ou seja, um trabalho no qual
exista flexibilidade do teleoperador em atender às expectativas:
“O operador de telemarketing, principalmente, tem que ter um feeling, né? Você
tem que sentir realmente porque nem todos os clientes são iguais como ser humano. No
nosso trabalho principalmente quando você começa a conversar com a pessoa você
percebe a forma que você tem que trabalhar porque tem clientes que são exigentes e você
tem que falar de uma forma mais técnica pra poder atrair a atenção.” (T1)
78
É interessante que apenas T1 contemplou no seu relato a importância da
personalização do atendimento:
“Ou então tem clientes que não é a primeira vez que você liga e você já esta
fazendo um acompanhamento você já conhece o perfil daquele cliente e você sabe como
trabalhar. Então o operador tem que identificar para poder atrair a atenção do cliente pra
se expressar de uma forma que ele preste atenção porque é um trabalho difícil e, ao mesmo
tempo, pode parecer fácil, mas não é como um pessoa que você faz uma visita e olha cara
a cara.” (T1)
É valido considerar que, embora seja incomum, essa teleoperadora trabalha na área
há 13 anos e a prática decorrente do tempo de experiência influencia no domínio da
comunicação e também das possíveis dificuldades geradas. Por esse motivo, é possível que
o destaque para a personalização no atendimento seja dado exclusivamente por T1 devido a
um maior tempo de trabalho na função, o que agrega mais prática e experiência para lidar
com as variadas situações.
T1 comenta sobre as possíveis variações na dinâmica vocal para gerar uma imagem
positiva no atendimento:
“Nesse caso você tem que atrair pela voz, então tem que fazer todo um trabalho em
cima disso, de respiração e entusiasmo na voz, expressar tudo por telefone. Então uma
coisa que eu acho essencial é o trabalho de fono no telemarketing.” (T1)
Conforme reconhece T1, a expressão utilizada para atrair o cliente é transmitida
somente pelo telefone; deste modo, se a expressividade estiver adequada ao contexto, as
chances de persuadir o cliente são maiores, com observou Souza (2006).
T2, por outro lado, discorre com um repertório que engloba a transmissão de
sentimentos e emoções carregados da vida pessoal e que, muitas vezes, são levados para o
trabalho:
“(...) Tem dia que você esta até um pouco mais nervosa você tem que se controlar
mais porque querendo ou não às vezes ele percebe do outro lado e a gente tem que se
segurar justamente pra não tá descontando nele também né.” (T2)
79
“Quando você tá com algum problema ou com a voz mais melancólica você fala
num tom mais baixo, quando você tá feliz você já dispara, vai colocando pra fora os
sentimentos e aquilo ali vai passando também pro segurado.” (T2)
E complementa com a necessidade de controlar as emoções durante a interação com
o cliente:
“E quando o segurado insiste em algum assunto e começa a tirar você um pouco do
sério e sem perceber às vezes ele tá gritando e você ta gritando junto também, aí fica os
dois nervosos na linha. Eu bem que tento muito me controlar, isso eu aprendi muito né a
manter sempre o mesmo tom de voz, o mesmo nível pra não deixar transparecer isso
também.” (T2)
O cotidiano do teleoperador está marcado por situações que geram reações de
irritação, ansiedade, excitação e até medo e confusão, e, portanto, estressantes. No entanto,
um mesmo estímulo ou situação, que para algumas pessoas são interpretados como fatores
de depressão, ansiedade e ameaça, para outras são vistos como motivação e possibilidade
de crescimento e de realização. Para Andrada e Silva (1999), o teleoperador trabalha sob
forte pressão emocional, e alguns autores (Nascimento et al., 1995; Boone, 1996)
mencionam as situações estressantes, e que geram nervosismo como provocadoras de
mudanças na voz.
Em função do importante papel que o teleoperador desempenha na comunicação
entre a empresa e clientes, exige-se desse profissional um autocontrole emocional
significativo, para tratar com demandas pessoais específicas e, muitas vezes, difíceis
(Nascimento et al., 1995; Jensen, 1999; Montoro, 1999; Silva et al., 2006).
Por outro lado, T3 faz referência ao outro, no sentido de que, quando tocado por
meio da emoção, passa a ter mais confiança no atendimento. Isso parece ocorrer devido a
uma aproximação entre teleoperador e cliente, obtida a partir de uma maior naturalidade
conferida à fala quando a emoção toma o seu lugar na ligação:
80
Às vezes ele não aceita...se eu não souber me expressar com ele tentando atingir o
que eu quero, levando ele com mais clareza, de forma nenhuma ele vai poder me atender e
isso já começa no tom da minha voz, no desânimo, na minha emoção, no que eu vou passar
pra ele como no caso, o sentimento. A partir do momento que eu atingir algum ponto dele
no caso da emoção eu acredito que o cliente vai passar a ter mais confiança naquilo que
eu vou estar vendendo pra ele.” (T3)
Isso demonstra que, em uma condição de atendimento, sempre há a possibilidade de
contornar a situação frente a uma atitude negativa cometida por parte do teleoperador,
sobretudo se expressar emoções que atinjam o cliente, principalmente por tornar a interação
mais natural. Para Moreira-Ferreira (2002), a comunicação é um importante recurso para
chamar a atenção do cliente e, por isso, deve ser utilizada de modo consciente pelo
teleoperador. Afirma que no relacionamento com o cliente devemos utilizar parâmetros
positivos de comunicação, somados à utilização eficiente de um roteiro de atendimento
para bem impressionar.
Diante das colocações apresentadas em relação a este eixo temático, que remete à
relação entre o teleoperador e o cliente, é válido enfatizar a escassez de pesquisas que falem
da interação com o outro/cliente (Algodoal, 2002; Moreira-Ferreira e Dragone, 2005; Lau,
2007; Moreira-Ferreira, 2007), que possam mostrar como as relações e a expressividade são
moldadas a partir da presença do interlocutor.
Quanto ao eixo temático trabalho fonoaudiológico com teleoperadores, é
importante esclarecer que a pergunta referente a esse eixo temático (questão 1, ANEXO 5)
foi realizada com o propósito de verificar se o termo expressividade e os aspectos
relacionados a ela iriam ser mencionados, mesmo sem as fonoaudiólogas serem solicitadas
diretamente sobre o assunto. Vale ressaltar que a intenção foi de investigar se no trabalho
iria aparecer não necessariamente por meio do termo expressividade, mas de outras
81
maneiras, como o trabalho com os recursos expressivos ou na interação com o outro, por
exemplo.
Após a análise das entrevistas dos três fonoaudiólogos, a partir dos conteúdos,
percebe-se que F1 e F2 destacam o trabalho com os aspectos vocais em meio a outros
conteúdos:
“Bom, a gente parte do princípio que eles utilizam a comunicação no trabalho,
então a gente considera e parte do contexto maior de comunicação profissional (...) então é
um profissional da voz e a gente trabalha com a questão da voz falada, porque é o caso do
teleoperador.” (F1)
“Meu treinamento está dividido em duas partes, aspectos de voz e comunicação e
depois todos os aspectos relacionados à audição, são os dois momentos.”(F2)
O que pôde-se perceber nos repertórios de F1 e F2 é que estes tratam o conteúdo
relacionado à voz sempre associado aos aspectos de comunicação, como se este último
fosse um todo e a voz fosse considerada uma das partes desse contexto.
O trabalho vocal é realizado pelas três entrevistadas, podendo ou não ser o foco da
atuação, em oposição aos relatos de Quinteiro (1995), que afirma que os principais focos da
atuação fonoaudiológica na área de telesserviços são a voz e a fala. Ao se levar em
consideração que F1 e F2 não restringiram o seu treinamento aos cuidados com a voz,
inclusive ao especificarem uma atuação que envolve outras abordagens, pode-se voltar o
olhar para uma nova prática que tem sido realizada na área de telesserviços, atualmente.
É possível observar que o repertório de F1, diferente das outras entrevistadas,
destaca uma esfera que ela considera ser mais ampla, a comunicação:
“(...) e abordamos a questão de que a comunicação vai ser utilizada em todos os
momentos profissionais” (F1)
“E para eles valorizarem o nosso momento, o nosso encontro, o nosso conteúdo a
gente também trabalha o quanto eles vão utilizar todos os conteúdos que estão sendo
trabalhados ali, em outros contextos.” (F1)
82
Vê-se pelo relato de F1 que, embora em nenhum momento a comunicação seja
tratada ou associada à expressividade, ela contextualiza a relação de comunicação.
Contudo, observa-se que esta começa a fazer parte da prática fonoaudiológica em
telesserviços, mas parece sempre ser efetivada por meio da produção vocal. A voz passa a
ter um papel secundário quando a comunicação assume o lugar de tema central na atuação e
fica reconhecida como um dos recursos expressivos e não mais como o tema condutor, uma
vez que a abordagem ganha um formato novo em que a expressividade se destaca (Barbosa
LM, 2005).
Ressalta-se que F1 trabalha com o teleoperador uma comunicação que julga ser
importante não apenas durante o momento que este atua na empresa, mas por todos os
momentos profissionais que irão surgir ao longo de suas vidas.
Ao se apresentar para os teleoperadores a possibilidade e a importância de
assimilarem o conteúdo para além da atividade que exercem profissionalmente, estes que,
na maioria das vezes, estão na função temporariamente (Algodoal, 1995) podem evidenciar
maior interesse e aproveitamento durante o treinamento.
Assim como F1, na pesquisa de Berenstein (2001) as fonoaudiólogas entrevistadas
também relataram partir de uma temática maior, mas, nesse caso, o grande contexto foi a
voz e não a comunicação, fato que aponta para a diferença de foco da atuação entre
fonoaudiólogos durante o treinamento na área de telesserviços. Adicionalmente, também
retrataram o fato de estender os benefícios do treinamento para situações fora do trabalho,
para ajudá-los e qualificá-los para a vida.
F3, por outro lado, ao mencionar a sua prática com os teleoperadores, refere-se
sempre à voz como um instrumento, e direciona suas orientações para a prevenção de
alterações vocais:
83
“...e fazemos orientação sobre todos os aspectos de higiene vocal, o que é bom, o
que é ruim, falamos sobre produção vocal, sobre a parte de áudio, sobre queixas e
sintomas vocais e nesse momento orientamos em relação a todos esses aspectos.”(F3)
Para Andrada e Silva (2003, o termo higiene vocal transmite uma impressão de falta
de higiene para com o nosso corpo e, por isso, defende o termo saúde vocal para designar
os cuidados e procedimentos a ser utilizados para obtenção de uma voz saudável.
Complementa que as características de cada indivíduo devem ser consideradas, assim como
as orientações, necessidades, assimilações e repercussões também são singulares,
pensamento que vai na direção oposta das normas e listas de proibições defendidas pelo
termo higiene vocal.
De acordo com a literatura (Algodoal, 1995; Camargo et al., 2000; Algodoal et al.,
2002; Jones et al., 2002; Marcengo, 2004), o perfil dos teleoperadores está associado a altos
índices de sintomas, queixas e alterações vocais, além de um desconhecimento de regras de
saúde vocal. A prática fonoaudiológica, sempre voltada para os cuidados com a voz e
prevenção de problemas, também pode ter como ponto de partida essa demanda
apresentada pelos teleoperadores.
O desgaste vocal é observado nos teleoperadores, dada a importante demanda vocal
por eles apresentada durante a jornada de trabalho (Behlau, 2005), que dura de quatro a seis
horas diárias (Algodoal, 1995; Silva et al. 2006), com a agravante de que a maior parte
dessa população não faz nenhum trabalho anterior, relacionado ao preparo vocal (Andrada
e Silva, 1999). No entanto, esta cultura parece estar enraizada na mentalidade dos
fonoaudiólogos que, na maioria das vezes, fazem uma associação direta entre a prática com
teleoperadores e a necessidade de se trabalhar apenas ou principalmente a voz. Destaca-se
que um novo olhar pode ser dado para a demanda de teleoperadores ou para a prática
84
fonoaudiológica com eles, uma vez que nem sempre é imperativa a precisão em direcionar
apenas para a problemática vocal.
F1 e F2 também relatam abordar os cuidados com a voz durante o seu treinamento e
referem explicar ainda de que maneira o assunto é abordado. É interessante destacar esse
relato, pois durante muito tempo a saúde vocal foi vista como uma série de medidas que
tinham que ser tomadas de forma imperativa, a partir de atitudes proibitivas que levavam as
pessoas a acreditarem que era necessário renunciar de muitos prazeres em prol de uma voz
saudável:
“Buscamos a questão da anatomofisiologia da voz e conversamos com eles tirando
deles o conhecimento que eles tem (...). Falamos que as coisas não são proibidas de ser
feitas daquela maneira e eles vão conhecer e refletir sobre todas as orientações
relacionadas a voz, por exemplo, como é que eles podem fazer numa situação de gripe,
resfriado, rinite, o que eles tem que fazer mais nesse momento.” (F1)
“Começando com a voz, primeiro eu explico todo o aparelho fonador, o que é
prega vocal, explico alguns mitos que existem com relação a prega vocal e depois eu passo
para os cuidados com a voz, higiene vocal, saúde vocal, até gosto de falar saúde vocal e
não higiene” (F2)
Em concordância com a literatura (Máster e Algodoal, 1995; Alves e Cavalcanti,
1998; Oliveira et al., 1999; Garcia et al., 2000; Berenstein, 2001; Caraça, 2003; Lehto et al.,
2005), todas as fonoaudiólogas abordam em seu treinamento os cuidados com a voz e
incluem as orientações sobre saúde vocal, em detrimento de uma atuação que promova
atividades para um resultado não apenas na voz, mas na comunicação em um sentido mais
amplo (Berenstein, 2001; Bacha et al., 2002; Brito e Vasconcelos, 2004; Lehto et al., 2005;
Oliveira e Reis, 2005).
F1 incentiva o cuidado com a saúde:
“Na questão da voz e da audição fazemos o paralelo em relação à saúde. Alguns
lugares querem apenas aprimoramento, mas mesmo assim falamos um pouco de saúde
porque consideramos que para as pessoas se comunicarem bem elas tem que estar
85
saudáveis, se sentir bem, ter uma boa voz se não, não vão ter uma comunicação expressiva,
uma boa expressividade.” (F1)
É interessante ressaltar que F2, em seu repertório sobre o cuidado com a saúde,
inclui a comunicação e a expressividade na medida em que denota uma estreita relação
entre ambas, ao inferir que a primeira se torna um pré-requisito para a obtenção de êxito na
segunda, uma vez que a forma de nos expressar revela, entre outras coisas, como nos
sentimos mental e fisicamente.
O assunto referente aos recursos expressivos foi abordado tanto por F1 quanto por
F2:
“(...)como é que eu consigo uma voz mais aguda, uma voz mais grave, enfim
conhecer um pouco isso (...). Aí discutimos a qualidade da voz. A partir daí eles vão
entender um pouco cada um dos parâmetros vocais e nós vamos extrair destes os recursos
da voz.” (F1)
“(...)e depois eu converso bastante sobre a questão de prosódia, modulação,
entoação. Falo sobre essa coisa da modulação repetitiva que muitos operadores de
telemarketing tem e que torna o atendimento impessoal, você tem a impressão que você tá
conversando com um robô.” (F2)
A partir desse trecho pode-se observar que F1, implicitamente, mostra que o
objetivo de trabalhar com os recursos vocais é tornar o atendimento mais personalizado.
Esse propósito ainda é reforçado por F2 quando refere que muitos teleoperadores adotam a
modulação repetitiva durante o teleatendimento. Os relatos explicitam que, embora não seja
mencionado o termo expressividade, F1 e F2 trabalham esse aspecto por meio dos recursos
expressivos. Para Kyrillos (2005), os recursos vocais são enriquecedores do conteúdo, pois
conferem uma mensagem subliminar à informação.
F2 também trabalha aspectos como ressonância, articulação e velocidade de fala:
“Falo muito sobre as questões da voz mesmo, mas nos sentido do hipernasal,
hiponasal, da voz no pescoço, da voz muito no nariz, da falta de articulação que muitos
deles tem, da velocidade muito acelerada.” (F2)
86
F3, porém, não fez qualquer menção a este tipo de abordagem quando questionada
sobre a sua prática com os teleoperadores. Isso demonstra que a entrevistada trata com
prioridade a saúde e os cuidados com a voz para os teleoperadores e não prioriza o trabalho
com a expressividade.
Algumas vezes, os recursos expressivos foram associados ao aprimoramento da
comunicação, entendido por nós como um trabalho com expressividade, como quando, por
exemplo, F1 infere que o trabalho com esses recursos pode contribuir para uma melhora
nesse aspecto:
“Então aqueles que eles precisam de fato investir na sua comunicação, aprimorar,
entender que vai os ajudar na sua comunicação. Então trabalhamos com a velocidade, com
a articulação, com a ênfase, com a entonação, com a pausa que tem um pouco a ver com a
velocidade também, mas eu posso mostrar como é uma pausa interpretativa, por exemplo.”
(F1)
Um outro ponto considerado relevante quando se trata de expressividade é o
trabalho que envolve as emoções, mencionado por F1:
“É falado que quando a emoção muda a voz deles também muda(...)” (F1)
A mesma entrevistada, F1, aborda um assunto que envolve o cliente e, nesse
momento, fala explicitamente de como a expressividade é variável e produz diferentes
efeitos:
“Aí a gente trabalha um pouco obviamente com a percepção da voz do próprio
cliente. O estado que o cliente chega, ou seja, a expressividade que o cliente coloca na sua
voz também vai impactar e vai interferir na voz que ele (operador) vai utilizar. Então se ele
precisa tranqüilizar o cliente, se ele precisa ser mais enfático, se ele precisa vender, por
exemplo, se ele precisa argumentar, se ele precisa convencer, seja o que for que ele
precisar tem também relação com a voz que ele ouve, com a voz do cliente por isso que
trabalhamos a escuta nesse sentido que é dinâmico, pra ele ouvir buscando essas
impressões.” (F1)
“Posso por meio da linguagem do cliente saber se é um cliente simples, então não
vou usar termos técnicos, ou se é um cliente que fala comigo dessa maneira, então pra ele
87
credibilidade e segurança significa eu também utilizar esses termos com ele. Tudo isso
vamos trabalhando dentro desse contexto de linguagem e escuta.” (F1)
Percebe-se que F1, na sua atuação, privilegia a comunicação por meio de um
trabalho que envolve a expressividade e as diversas formas de trabalhá-la, seja com os
recursos expressivos ou com a escuta do cliente. A inserção do fonoaudiólogo na área de
telesserviços também está relacionada com a necessidade de valorizar o consumidor,
atendê-lo bem e satisfazer suas necessidades e expectativas (Oliveira e Algodoal, 2002).
Destaca-se que as referências feitas quanto à escuta do teleoperador estão relacionadas a
uma escuta voltada para a área da Fonoaudiologia e, apesar de atender pela mesma
nomenclatura, não tem relação com aquela utilizada na área da psicanálise.
A participante coloca em pauta o importante papel que esses sujeitos têm durante o
teleatendimento: o relacionamento com o cliente. Se a forma como reagem às situações
pode interferir na comunicação e, assim, gerar um efeito para o cliente, torna-se primordial
que eles controlem as suas emoções para que transmitam durante a ligação as impressões
que desejam. Os fatores psicossociais implícitos na produção vocal estão marcados pela
personalidade e também pelo estado emocional, de modo que cada diferente situação
determina uma forma específica de falar (Ferreira, 2002).
Outro assunto mencionado, que também está nos objetivos do treinamento e tem
total relação com expressividade, é a linguagem utilizada pelos teleoperadores:
“Depois nós trabalhamos todas as questões de linguagem, porque consideramos
linguagem um outro instrumento de trabalho. Isso é muito baseado no roteiro que a
empresa utiliza como as formas de tratamento, a questão da objetividade, a questão da
argumentação, a questão de palavras mais positivas, de palavras que não deveriam ser
utilizadas, pois geram uma imagem. Tudo tá amarrado naquele começo que eu falei pra
você, tudo vai gerar uma imagem.” (F1)
A linguagem é a forma particular pela qual o indivíduo se expressa. Ela agrega
componentes individuais que carregam características trazidas pelas suas experiências de
88
vida e meio em que vive. Ao longo da entrevista é possível verificar que F1 trata com
profunda importância a imagem que a comunicação de cada indivíduo transmite ao cliente
durante o atendimento, e enfatiza que é essa imagem que estes terão da empresa para a qual
solicitam serviços. Em qualquer relação comunicativa, o modo de falar contribui para a
construção de uma imagem perante o ouvinte, pois a partir da comunicação este passa a
construir uma impressão e imagem mental sobre o falante, que pode ser positiva ou
negativa, fato que dependerá de como a voz será absorvida e interpretada. A imagem
mental formada pelo cliente representará não apenas o próprio teleoperador, mas a empresa,
seus produtos e serviços (Moreira-Ferreira, 2002).
O teleoperador deve desenvolver um bom vocabulário, habilidade de conversação e
de expor suas idéias com clareza, além de capacidade de construir argumentos lógicos
durante a ligação; por isso, a linguagem deve ser um dos objetivos para o trabalho do
fonoaudiólogo com essa população, uma vez que é um fator essencial para o sucesso do
atendimento (Nobre, 1999; César e Lagrotta, 2005). Por esse motivo, o uso adequado do
vocabulário é solicitado nessa profissão e considerado um aspecto importante na avaliação
e seleção dos teleoperadores (Algodoal, 1995; Cavalcanti, 1999; Liechavicius, 1999;
Nobre, 1999; Moreira-Ferreira e Silva 2002b; Behlau, 2005).
Um comentário relevante partiu de F3 ao enfatizar a importância de se realizar um
trabalho em equipe, que inclua também os supervisores, para que estes não apenas
compreendam os aspectos trabalhados e percebam a sua necessidade, mas que também
incorporem o seu papel como multiplicadores da promoção da saúde e incentivadores da
atuação fonoaudiológica:
“Atualmente, não fazemos treinamento com supervisores, mas antigamente
fazíamos com todos eles e eu orientava também sobre o trabalho da fono, em realizar o
programa, de eles serem multiplicadores da nossa atuação aqui na empresa.” (F3)
89
Ao longo dos anos observou-se um maior interesse por parte das empresas com
relação ao trabalho fonoaudiológico na área de telesserviços, e isso contribuiu para a
valorização de um trabalho abrangente que envolvesse todos os funcionários da área, como
os supervisores e a diretoria (Crivelenti,1999, Garcia et al., 2000).
Os procedimentos utilizados para trabalhar os recursos expressivos foram referidos
apenas por F1:
“Depois vamos abordar um pouco sobre a percepção deles, então eles vão perceber
a própria voz, são feitos questionamentos sobre o que acham da própria voz e que imagem
ela gera pro outro.” (F1)
Nota-se que a fonoaudióloga associa o uso dos recursos expressivos com a
expressividade, ao evidenciar que, se estes forem trabalhados, a expressividade irá
melhorar:
“E vão treinar e experimentar, mudar as suas vozes, avaliar vozes, fazer vozes
diferentes, vão discutir sobre que imagem essas vozes geram e que imagem querem gerar e
como podem fazer pra usar a sua voz. Todos esses recursos que eu to falando, nós
acreditamos que potencializam a expressividade da voz, então eles vão entender a partir
do uso deles como irão conseguir trabalhar a questão da musicalidade, essa voz vai mudar
e se mudar que impacto ela vai gerar. A partir daí eles vão treinar todos esses recursos.”
(F1)
Quando questionada sobre os aspectos trabalhados com teleoperadores, sem a
especificação do trabalho com expressividade, F1 foi a única que referiu estratégias que
envolvessem o tema expressividade.
A entrevistada enfatiza também que, nesse processo de treinamento, ela mesma
incentiva a mudança, não apenas para o trabalho na área de telesserviços, mas a mudança
para a vida, para outras situações e outros contextos:
“De todo esse conteúdo que falei trabalhamos muito a mudança de atitude, porque
algumas vezes as pessoas recebem o conteúdo, é um conteúdo interessante, mas é muito
importante sensibilizar de que vão utilizar todas essas questões a vida toda. E não é só que
eles tem que cuidar da voz pra essa empresa, não é isso, é pra ele mesmo. Então
90
trabalhamos desde o início a motivação pra mudança, as atitudes pra mudança, porque
precisamos muito deles, se não a coisa não se efetiva.” (F1)
Embora seja uma situação que vem se modificando, a profissão de teleoperador
ainda é considerada temporária e é procurada apenas para cobrir as despesas até que
terminem a faculdade ou encontrem um emprego mais promissor (Algodoal, 1995; Behlau,
2005; Silva et al., 2006); por esse motivo, muitas vezes os teleoperadores não valorizam os
treinamentos recebidos. O fato de F1 associar o seu treinamento a uma melhora para a vida
parece ser um ponto ao seu favor, pois, se os teleoperadores se conscientizam de que o
treinamento oferecido não vai lhes ser útil somente para aquele trabalho e sim para outras
funções, eles poderão se interessar em participar e encarar as atividades com mais
seriedade.
Pôde-se verificar que F1 cita o trabalho com os recursos expressivos como
entoação, velocidade de fala, ênfases e articulação, menciona a imagem gerada a partir de
diferentes formas de se expressar, e considera a interação com o outro, no caso o cliente,
para desenvolver seu trabalho com os teleoperadores. Entende-se que F1 fez um relato mais
completo quando comparada às demais, o que nos leva a crer que a sua experiência na área
(14 anos) justifica o fato de agregar diferentes e mais abrangentes conteúdos e formas de
atuação na sua prática.
F2 apresentou um discurso que também contemplou a comunicação, a relação com
o cliente e alguns recursos como a entoação, ressonância e articulação. No entanto, seu
relato estava bem direcionado aos aspectos da produção vocal.
O repertório de F3 abarcou somente a voz, no sentido de prevenir alterações e
promover a saúde por meio de cuidados e exercícios específicos e de influência da clínica
fonoaudiológica.
91
Uma vez que foi apresentado o trabalho fonoaudiológico realizado com os
teleoperadores, considerou-se interessante apontar as expectativas em relação ao
treinamento fonoaudiológico por parte dos supervisores entrevistados; por esse motivo
foi criado esse eixo temático.
Ficou claro, pelos repertórios utilizados, que os supervisores associam
primeiramente a atuação do fonoaudiólogo a um trabalho de prevenção direcionado aos
aspectos vocais, na medida em que demonstram esperar uma melhora dos aspectos
relacionados à voz ou à respiração:
“O treinamento fonoaudiológico é importante, claro. Tanto para a voz quanto para
a respiração ajuda muito.” (S1)
“Quando o teleoperador vai pra um treinamento eu já espero uma melhora ou se de
repente tá com um problema de fala ou de respiração já espero que melhore.” (S1)
“O benefício é de todo mundo, principalmente porque o trabalho deles é a voz(...)
(S2)
Uma preocupação que aparece vinculada às alterações de voz é o índice de
absenteísmo apresentado pelos teleoperadores, fato que parece contribuir para a valorização
do trabalho do fonoaudiólogo por parte do supervisor:
“Espero que venha a ajudar no desempenho deles, que venham a evitar faltas por
motivos de ter a garganta inflamada, até porque a gente orienta muito que tem água na
central, nas esqueezes disponibilizadas.” (S2)
De fato, o aumento da assiduidade faz parte dos objetivos do trabalho
fonoaudiológico (Liechavicius, 1999), uma vez que o fonoaudiólogo enfatiza a promoção
da saúde.
No entanto, também é perceptível por parte de S1 e S3 que o trabalho
fonoaudiológico não se limita apenas aos cuidados com a voz ao revelarem que esperam
92
que essa atuação promova uma melhor articulação, pronúncia, compreensão, clareza e
entoação:
“Eu até posso constatar que a minha equipe teve melhoras em várias situações e
vários teleoperadores tiveram um desenvolvimento bem apurado com o acompanhamento.
Temos melhora de fala mesmo, compreensão verbal, a parte da respiração, entonação
também tem melhoras. Quando tem um acompanhamento de uma fono em termos de
treinamento o acompanhamento traz mudanças pra melhor.” (S1)
“Na verdade que eles tenham mais tranqüilidade pra falar em linha, que eles não
gaguejem tanto, que eles possam não suprimir letras porque muitas vezes isso acaba
acontecendo por conta da dicção, pra eles terem uma melhor dicção em linha mesmo, pra
poder ser claro com o cliente e o cliente poder entender.” (S3)
S1 e S3 valorizam a atuação fonoaudiológica a partir de uma visão mais ampla e
direcionada para a comunicação, e não exclusivamente para a produção vocal. De modo
interessante verifica-se que o tipo de telesserviço realizado na central de S1 é
predominantemente ativo e na de S3 é tanto ativo quanto receptivo, em oposição a S2, que
não fez menção a essa abordagem e que trabalha em uma central que realiza principalmente
o telesserviço do tipo receptivo. Nesse sentido, é possível reconhecer que os profissionais
que atuam no segmento ativo parecem absorver e valorizar mais os conteúdos oferecidos
pelas fonoaudiólogas e que vão ao encontro de um trabalho mais amplo que inclui a
pronúncia, velocidade de fala, intensidade da voz e vocabulário, tal como aponta Salzstein
(2000).
S1 acrescenta que o trabalho realizado pelo fonoaudiólogo pode trazer melhoras,
inclusive para um melhor posicionamento do teleoperador frente o cliente:
“Muitas vezes o operador de telemarketing não tem essa visão, não consegue
enxergar que aquele trabalho que a fono tá fazendo é um trabalho que vai evoluir em
relação ao posicionamento dele, a postura dele perante o cliente ou até, por exemplo,
quando a voz dele possivelmente ou futuramente possa ser mal cuidada e agravar com
alguma doença ou alguma rouquidão ou alguma coisa que possa comprometer futuramente
a própria profissão.” (S1)
93
Complementando esse comentário, pontua-se que S1 foi o único a citar o cliente
quando questionado sobre a contribuição da atuação da fonoaudióloga, o que salienta a
diferença de perspectivas entre o supervisor do segmento receptivo (S2) e do segmento
ativo, como é o caso de S1, que agrega as práticas realizadas pela fonoaudióloga a uma
situação de venda. Calil et al. (2002) aponta para a grande demanda no setor de vendas, o
que faz com que os teleoperadores que trabalham nesse setor apresentem muitas alterações
na comunicação, as quais podem refletir no cliente.
No trecho abaixo, S1 evidencia a satisfação em poder realizar um trabalho em
equipe, que integra o teleoperador, o supervisor e o fonoaudiólogo:
“A supervisão promove aqui nessa editora um trabalho muito bom com a fono
porque é bem focado. Nós sabemos o resultado que dá fazer esse trabalho juntamente com
a fono, nós temos uma visão e sabemos da necessidade, sabemos que é importante o
trabalho com a fono juntamente com a operação e com a supervisão.” (S1)
O trabalho em equipe, que inclui vários profissionais da área de telesserviços,
também é referido na literatura (Crivelenti, 1999; Garcia et al., 2000; Moreira-Ferreira e
Silva, 2002b).
Em relação ao eixo contribuições do treinamento fonoaudiológico, verificou-se
que, de uma forma geral, os teleoperadores foram sucintos em suas respostas, e apenas T1
estendeu-se um pouco mais quando discorreu sobre o assunto. O trabalho feito pelo
fonoaudiólogo é relacionado por T1 e T2 inicialmente à produção e, principalmente, aos
cuidados com a voz e respiração, em consonância aos relatos de S1 e S2 sobre as
expectativas do trabalho fonoaudiológico:
“Bom, principalmente com o trabalho de operador é essencial porque trabalha com
a voz (...)”(T1)
“O espaço, a respiração, enfim...acho que é isso.” (T1)
94
“Me ajudou a orientar com os cuidados com a voz. Eu não tinha noção nenhuma e
pra mim voz era simplesmente abrir a boca e falar, então eu aprendi várias coisas, como
que você faz pra cuidar, como evitar o abuso excessivo da voz, de como cuidar...isso me
ajudou muito. Trabalhar respiração, voz e isso melhorou muito pra mim.” (T2)
A falta de conhecimento por parte de T2 sobre a voz e a comunicação, bem como
sobre a possibilidade de atuação fonoaudiológica, pode ser a realidade de muitos
profissionais que, apesar de terem na comunicação o seu principal meio de desempenhar a
sua função, desconhecem tais aspectos.
Observa-se que T1 chega a citar que a atuação pode contribuir para a forma de
expressão:
“(...)e ajuda principalmente na forma de expressão, na forma de como falar, como
cuidar da voz também. E os exercícios que nós fazemos hoje em dia são essenciais porque
eles te orientam a forma correta para você não prejudicar tanto o modo de falar. (T1)
Ele manifesta seu ponto de vista, assim como S1, sobre considerar o cliente e
acreditar que o treinamento pode contribuir para essa relação, pois promove melhora dos
ajustes de fala/clareza, o que reflete na compreensão do cliente:
“Eu acho que o essencial principalmente no telemarketing e trabalhar a voz a fala
para que a pessoa que está do outro lado da linha te compreenda, compreenda bem as
palavras e entenda a forma que você está se expressando.” (T1)
T3 corrobora ao mencionar o trabalho fonoaudiológico como uma forma de reduzir
a dificuldade na comunicação estabelecida com o cliente:
“Ajuda a desenvolver no caso uma dificuldade, às vezes, de o operador se soltar
mais, ele ter uma dificuldade a mais de se expressar, às vezes, na linha com o próprio
cliente então acho que facilita bem mais. Na minha visão é isso, o fono me ajuda mais
nessa parte, na facilitação de desenvolver com o cliente e até mesmo nas pronúncias de
algumas palavras que a gente tem certas dificuldades.” (T3)
Assim como no estudo de Aguiar et al. (2007), no presente trabalho todos os
teleoperadores valorizaram o treinamento ministrado pelo fonoaudiólogo, seja por
promover uma melhora da produção vocal ou por minimizar as dificuldades de
95
comunicação apontadas por eles e também relatadas na literatura (Algodoal et al., 2002;
Costa et al., 2002; Jones et al., 2002).
Para finalizar, ao fazer uma análise vertical, que envolve as diferentes categorias
profissionais de uma mesma empresa (F, S, T) verificam-se poucas convergências de
opiniões. Salienta-se que F1 e T1 compartilham de uma mesma opinião quando consideram
a interação com o interlocutor fundamental para definir a forma de expressão.
Em relação aos profissionais da E2 constata-se opiniões diversificadas a respeito da
expressividade. F2 enfatiza bastante a presença do ouvinte, ao considerar que o outro
exerce influência na expressividade de quem fala. Para S2 a expressividade oral está
relacionada à voz e atributos como clareza e empatia, e tem uma grande importância para o
atendimento, uma vez que não há o contato visual na comunicação ao telefone. T2 faz
referências à transmissão de emoções e utiliza o termo voz.
Quanto aos profissionais da E3, vê-se uma congruência entre os relatos
apresentados (F3, S3, T3) no que diz respeito a associar a expressividade a atributos
positivos como alegria e brilho na voz (F3), empatia e clareza na voz (S3), boa fala e boa
dicção (T3).
Com relação ao conceito de expressividade oral, obteve-se respostas com
denominadores comuns com o destaque para a voz, a relação com o outro, os sentimentos e
emoções e os aspectos positivos relacionados a uma voz expressiva.
96
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar os relatos dos profissionais para definir a expressividade oral, verifica-
se uma linha semelhante de pensamento por parte das fonoaudiólogas, principalmente F1 e
F2, no que diz respeito à relação e interação com o outro. Para elas, a expressividade
contempla o uso de recursos expressivos que, para F1, está relacionado a uma melhor
expressão. Também se constata que, entre as fonoaudiólogas, apenas F2 mencionou a
expressão corporal. Observou-se uma conceituação mais abrangente por parte de F1 e F2 e
um relato resumido de F3 que mostrou um pensamento diferente das demais, posto que
pouco menciona a relação com o outro e faz uma dissociação entre linguagem, fala e voz.
Quanto aos supervisores, percebe-se que seu imaginário acerca do tema está
fortemente vinculado à voz como instrumento, principalmente por parte de S1 e S2 que,
embora associem a atributos positivos como suavidade e clareza, consideram a voz como o
principal ou único instrumento pelo qual a expressividade acontece. Dentre os supervisores,
apenas S3 mencionou a relação com o outro e relacionou o conceito de expressividade não
apenas à voz, mas também considerou a articulação e a fluência.
Em contrapartida, para os teleoperadores T1 e T2, os sentimentos e emoções são as
principais associações feitas a partir do termo expressividade oral, pois reconhecem que a
forma de se expressar imprime características que denunciam a maneira como o indivíduo
se sente e isso irá interferir na relação com o outro. A relação com o interlocutor foi
mencionada apenas por T1 e T3, que atribui à expressividade características positivas da
comunicação.
97
Observou-se a dificuldade de conceituação do termo expressividade oral, tanto por
parte das fonoaudiólogas, as quais estão inseridas em uma área que tem a expressividade
como objeto de estudo, quanto por parte dos outros profissionais. Devido o termo
expressividade ser novo e de muita abrangência, as pessoas ainda não o conceituam e não é
do conhecimento e prática de todos, sobretudo de quem não faz parte da área
fonoaudiológica, como supervisores e teleoperadores.
É fundamental que o fonoaudiólogo agregue ao seu discurso a palavra comunicação
em detrimento do termo voz e que veja a sua atuação com teleoperadores de uma maneira
mais ampla, na qual a expressividade seja vista como um dos objetivos para que,
conseqüentemente, possa ser entendida e valorizada, principalmente por profissionais que
dependem dela para alcançar melhores resultados, como os profissionais que atuam com
telesserviço.
98
7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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108
9. ANEXOS
ANEXO 1: Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa da PUC - SP
109
ANE XO 2: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos Teleoperadores
Introdução:
Convidamos você a participar de um estudo intitulado “A expressividade oral em
call center na perspectiva do fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador”.
Este estudo tem como objetivo caracterizar a expressividade oral na perspectiva de
profissionais do mesmo segmento.
A participação neste estudo é completamente voluntária. Se concordar em
participar deste estudo, o fonoaudiólogo responsável pedirá para que dê seu consentimento
por escrito. A partir de então, você estará designado a participar da entrevista.
Entrevista:
Será realizada uma entrevista que investigará o papel da expressividade para o
exercício da função dos teleoperadores, na sua opinião. A entrevista, que dura em média 20
minutos, será gravada em fita cassete e transcrita para a análise dos dados.
Benefícios e riscos potenciais do estudo:
Não existem benefícios diretos para o sujeito deste estudo, entretanto seus
resultados poderão contribuir com a prática fonoaudiológica. Este estudo não oferece riscos
ou desconfortos.
Descontinuação do estudo:
Sua participação neste estudo é completamente voluntária e você é livre para
descontinuar do estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Você não precisará
dizer o motivo da descontinuação, apenas referir o seu desligamento deste.
Registro dos participantes:
Se você resolver participar do estudo, seus registros precisarão ficar disponíveis
para as autoridades regulatórias ou poderão ser publicados com fins científicos, porém sua
identidade permanecerá confidencial.
Dúvidas:
Se qualquer problema ou pergunta surgirem a respeito do estudo, quanto a seus
direitos como participante de uma pesquisa ou a respeito de qualquer dano relacionado a
pesquisa, você deverá entrar em contato com a fonoaudióloga responsável por esse estudo:
Fga. Ana Carolina Almeida
Tel: 3586-1068
POR FAVOR, GUARDE ESTAS INFORMAÇÕES PARA CONSULTA FUTURA
110
FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO DO PARTICIPANTE
Li e entendi este Folheto de informações e Formulário de Consentimento composto
de 2 páginas. Concordo voluntariamente em participar do estudo acima. Entendo que
mesmo após assinar o formulário de consentimento, posso deixar de participar do estudo a
qualquer momento sem dizer o motivo.
Recebi uma cópia deste Folheto de Informações e Formulário de Consentimento
para levar comigo.
Em: ..................................................................................................................... 2008.
Nome (por extenso): ....................................................................Assinatura............................
Entrevistador:...............................................................................Assinatura............................
111
ANE XO 3: Termo De Consentimento Livre e Esclarecido aos Supervisores
Introdução:
Convidamos você a participar de um estudo intitulado “A expressividade oral em
call center na perspectiva do fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador”.
Este estudo tem como objetivo caracterizar a expressividade oral na perspectiva de
profissionais do mesmo segmento.
A participação neste estudo é completamente voluntária. Se concordar em
participar deste estudo, o fonoaudiólogo responsável pedirá para que dê seu consentimento
por escrito. A partir de então, você estará designado a participar da entrevista.
Entrevista:
Será realizada uma entrevista que investigará o papel da expressividade para o
exercício da função dos teleoperadores, na sua opinião. A entrevista, que dura em média 20
minutos, será gravada em fita cassete e transcrita para a análise dos dados.
Benefícios e riscos potenciais do estudo:
Não existem benefícios diretos para o sujeito deste estudo, entretanto seus
resultados poderão contribuir com a prática fonoaudiológica. Este estudo não oferece riscos
ou desconfortos.
Descontinuação do estudo:
Sua participação neste estudo é completamente voluntária e você é livre para
descontinuar do estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Você não precisará
dizer o motivo da descontinuação, apenas referir o seu desligamento deste.
Registro dos participantes:
Se você resolver participar do estudo, seus registros precisarão ficar disponíveis
para as autoridades regulatórias ou poderão ser publicados com fins científicos, porém sua
identidade permanecerá confidencial.
Dúvidas:
Se qualquer problema ou pergunta surgirem a respeito do estudo, quanto a seus
direitos como participante de uma pesquisa ou a respeito de qualquer dano relacionado a
pesquisa, você deverá entrar em contato com a fonoaudióloga responsável por esse estudo:
Fga. Ana Carolina Almeida
Tel: 3586-1068
POR FAVOR, GUARDE ESTAS INFORMAÇÕES PARA CONSULTA FUTURA
112
FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO DO PARTICIPANTE
Li e entendi este Folheto de informações e Formulário de Consentimento composto
de 2 páginas. Concordo voluntariamente em participar do estudo acima. Entendo que
mesmo após assinar o formulário de consentimento, posso deixar de participar do estudo a
qualquer momento sem dizer o motivo.
Recebi uma cópia deste Folheto de Informações e Formulário de Consentimento
para levar comigo.
Em: ..................................................................................................................... 2008.
Nome (por extenso): ....................................................................Assinatura............................
Entrevistador: ..............................................................................Assinatura............................
113
ANE XO 4: Termo De Consentimento Livre e Esclarecido aos Fonoaudiólogos
Introdução:
Convidamos você a participar de um estudo intitulado “A expressividade oral em
call center na perspectiva do fonoaudiólogo, do supervisor e do teleoperador”.
Este estudo tem como objetivo caracterizar a expressividade oral na perspectiva de
profissionais do mesmo segmento.
A participação neste estudo é completamente voluntária. Se concordar em
participar deste estudo, o fonoaudiólogo responsável pedirá para que dê seu consentimento
por escrito. A partir de então, você estará designado a participar da entrevista.
Entrevista:
Será realizada uma entrevista que investigará o papel da expressividade para o
exercício da função dos teleoperadores, na sua opinião. A entrevista, que dura em média 20
minutos, será gravada em fita cassete e transcrita para a análise dos dados.
Benefícios e riscos potenciais do estudo:
Não existem benefícios diretos para o sujeito deste estudo, entretanto seus
resultados poderão contribuir com a prática fonoaudiológica. Este estudo não oferece riscos
ou desconfortos.
Descontinuação do estudo:
Sua participação neste estudo é completamente voluntária e você é livre para
descontinuar do estudo a qualquer momento, sem qualquer prejuízo. Você não precisará
dizer o motivo da descontinuação, apenas referir o seu desligamento deste.
Registro dos participantes:
Se você resolver participar do estudo, seus registros precisarão ficar disponíveis
para as autoridades regulatórias ou poderão ser publicados com fins científicos, porém sua
identidade permanecerá confidencial.
Dúvidas:
Se qualquer problema ou pergunta surgirem a respeito do estudo, quanto a seus
direitos como participante de uma pesquisa ou a respeito de qualquer dano relacionado a
pesquisa, você deverá entrar em contato com a fonoaudióloga responsável por esse estudo:
Fga. Ana Carolina Almeida
Tel: 3586-1068
POR FAVOR, GUARDE ESTAS INFORMAÇÕES PARA CONSULTA FUTURA
114
FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO DO PARTICIPANTE
Li e entendi este Folheto de informações e Formulário de Consentimento composto
de 2 páginas. Concordo voluntariamente em participar do estudo acima. Entendo que
mesmo após assinar o formulário de consentimento, posso deixar de participar do estudo a
qualquer momento sem dizer o motivo.
Recebi uma cópia deste Folheto de Informações e Formulário de Consentimento
para levar comigo.
Em: ..................................................................................................................... 2008.
Nome (por extenso): ....................................................................Assinatura............................
Entrevistador: ..............................................................................Assinatura............................
115
ANEXO 5
Roteiro da entrevista realizada com fonoaudiólogos
Iniciais:
Idade: Sexo:
Tempo de profissão:
Tempo de atuação na área:
Demanda profissional:
Outra atividade:
Local de trabalho:
Vínculo com a empresa:
1. Detalhe todos os aspectos que você aborda durante um treinamento para teleoperadores.
2. Como você define expressividade oral?
3. Como você trabalha expressividade oral com o teleoperador?
116
ANEXO 6
Roteiro da entrevista realizada com supervisores
Iniciais:
Idade: Sexo:
Tempo de profissão:
Demanda profissional:
Outra atividade:
1. O que você espera do treinamento fonoaudiológico para teleoperadores supervisionados
por você?
2. Como você define expressividade oral?
3. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o teleoperador?
4. Você acha que os clientes percebem e como reagem às emoções que o teleoperador passa
por meio da voz?
117
ANEXO 7
Roteiro da entrevista realizada com teleoperadores
Iniciais:
Idade: Sexo:
Tempo de profissão:
Demanda profissional:
Outra atividade:
1. Em que medida você acha que a prática fonoaudiológica é facilitadora para a realização
do seu trabalho como teleoperador?
2. Como você define expressividade oral?
3. De que forma você acha que o cliente percebe a maneira com que você se expressa?
4. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o teleoperador?
118
ANEXO 8
Transcrição das entrevistas
Entrevistado: F1
1. Detalhe todos os aspectos que você aborda durante um treinamento para
teleoperadores.
Bom, a gente parte do princípio que eles utilizam a comunicação no trabalho, então
a gente considera e parte do contexto maior de comunicação profissional. O que é essa
comunicação que é uma comunicação diferente da que a gente usa todo tempo? Mas
partimos desta, da comunicação que eles tem da família, com os amigos, na universidade,
enfim...até chegar na comunicação profissional. Quais são as diferenças? E aí ele vai
construindo um pouco a identidade dele, de um profissional que utiliza a comunicação para
o trabalho, então é um profissional da voz e a gente trabalha com a questão da voz falada,
porque é o caso do teleoperador. Bom, então partimos deste contexto grande e também,
nessa hora abordamos a questão de que a comunicação vai ser utilizada em todos os
momentos profissionais. Muitas vezes, o trabalho como teleoperador é um dos primeiros
trabalhos da pessoa, na verdade ela está iniciando a carreira profissional por aí. A maioria
deles faz universidade, então eles vão desenvolver a carreira em outro lugar. E para eles
valorizarem o nosso momento, o nosso encontro, o nosso conteúdo a gente também
trabalha o quanto eles vão utilizar todos os conteúdos que estão sendo trabalhados ali, em
outros contextos. Num determinado momento ele pode atender a pessoa pessoalmente e não
por telefone, outro momento ele pode gerenciar uma equipe, aí ele tem que apresentar um
projeto para diretores, por exemplo. Em todos esses momentos ele vai utilizar uma
comunicação profissional e esse conteúdo ele vai utilizar pra sempre na vida dele. Vamos
dizer que esse seria o início do aprimoramento da comunicação, porque a gente pode
aprimorar o tempo todo. A partir daí nós trabalhamos um pouco com a questão da
comunicação gerando uma imagem, uma imagem comunicativa como nós chamamos.
Então vamos destrinchar com eles tudo o que faz parte e tudo o que colabora para gerar
uma imagem. Primeiro a gente constrói com eles uma imagem que é importante para aquela
operação, para aquela empresa, para aquela equipe, sobre o que eles precisam gerar para o
cliente. Então construímos isso com eles e também como irão fazer isso. Eles vão
utilizando a voz, a fala, a linguagem e a escuta. Tem questões emocionais envolvidas, tem o
corpo envolvido e nós vamos destrinchando tudo isso com eles, que é o que nos chamamos
de instrumento de trabalho. Então nós passamos para a voz e falamos desde a anatomia,
fisiologia, como a voz e produzida conhecendo um pouco por meio de fitas e vídeos.
Vamos falar que cada um tem uma voz, cada uma tem uma qualidade vocal, vamos falar
sobre os recursos vocais que, se usados adequadamente, favoravelmente na operação deles
vai potencializar a voz e a comunicação. Vamos destrinchar cada um dos recursos para eles
entenderem o que é, puxando de novo para como é esse recurso profissionalmente falando.
Se usar de uma maneira que não é profissional, que imagem ele vai gerar? Na questão da
voz e da audição fazemos o paralelo em relação à saúde. Alguns lugares querem apenas
aprimoramento, mas mesmo assim falamos um pouco de saúde porque consideramos que
para as pessoas se comunicarem bem elas têm que estar saudáveis, se sentir bem, ter uma
boa voz, se não, não vão ter uma comunicação expressiva, uma boa expressividade. Depois
119
destrinchamos cada um dos instrumentos de trabalho, porque eles se abrem muito. Depois
vamos abordar um pouco sobre a percepção deles, então eles vão perceber a própria voz,
são feitos questionamentos sobre o que acham da própria voz e que imagem ela gera pro
outro. É falado que quando a emoção muda, a voz deles também muda, para eles
perceberem um pouco também as vozes que eles conhecem. Aí a gente trabalha um pouco
obviamente com a percepção da voz do próprio cliente. O estado que o cliente chega, ou
seja, a expressividade que o cliente coloca na sua voz também vai impactar e vai interferir
na voz que ele (operador) vai utilizar. Então se ele precisa tranqüilizar o cliente, se ele
precisa ser mais enfático, se ele precisa vender, por exemplo, se ele precisa argumentar, se
ele precisa convencer, seja o que for que ele precisar tem também relação com a voz que
ele ouve, com a voz do cliente por isso que trabalhamos a escuta nesse sentido que é
dinâmico, pra ele ouvir buscando essas impressões. Trabalhamos com cada um dos
recursos. Quando eu falo do trabalho com a voz eu trabalho anatomia, fisiologia, como a
voz é produzida, porque a voz muda fisiologicamente, como é que eu consigo uma voz
mais aguda, uma voz mais grave, enfim conhecer um pouco isso, até porque eu vou usar
esse conteúdo lá na frente em saúde. Aí discutimos a qualidade da voz. A partir daí eles vão
entender um pouco cada um dos parâmetros vocais e nós vamos extrair destes os recursos
da voz. Então aqueles que eles precisam de fato investir na sua comunicação, aprimorar,
entender que vai os ajudar na sua comunicação. Então trabalhamos com a velocidade, com
a articulação, com a ênfase, com a entonação, com a pausa que tem um pouco a ver com a
velocidade também, mas eu posso mostrar como é uma pausa interpretativa, por exemplo. E
vão treinar e experimentar, mudar as suas vozes, avaliar vozes, fazer vozes diferentes, vão
discutir sobre que imagem essas vozes geram e que imagem querem gerar e como podem
fazer pra usar a sua voz. Todos esses recursos que eu to falando, nós acreditamos que
potencializam a expressividade da voz, então eles vão entender a partir do uso deles como
irão conseguir trabalhar a questão da musicalidade, essa voz vai mudar e se mudar que
impacto ela vai gerar. A partir daí eles vão treinar todos esses recursos. Aí trabalhamos com
a fala, a qual chamamos de instrumento de trabalho. A fala eles conhecem muito como
dicção e nós trabalhamos a importância de uma dicção correta, de falar todos os sons, de
não omitir “s” e “r” em finais de palavras, a importância de falar profissionalmente e não
como falamos em determinados grupos. Como são profissionais muito jovens tem maneira
de se expressar como, por exemplo, se você não falar “psora” ao invés de “professora” você
pode não ser aceito no grupo. Então, nesse sentido, nós trazemos um monte de exemplos do
dia-a-dia. Por exemplo, eles costumam falar muito “eu vou falar minha supervisora”,
então é uma alteração de fala. E é muito interessante isso porque quando trabalhamos
regionalmente isso também muda, não é só uma questão do sotaque, mas é uma questão de
expressões que no dia-a-dia as palavras são diminuídas, abreviadas, por isso trabalhamos
muito isso com eles. Treinamos eles a falarem “estamos”, “vamos”, “encaminhamos” e não
“tamo”, “vamo”, “encaminhamo” porque na situação do telefone gera um impacto, gera
uma imagem, gera um ruído na comunicação. Depois nós trabalhamos todas as questões de
linguagem, porque consideramos linguagem um outro instrumento de trabalho. Isso é muito
baseado no roteiro que a empresa utiliza como as formas de tratamento, a questão da
objetividade, a questão da argumentação, a questão de palavras mais positivas, de palavras
que não deveriam ser utilizadas, pois geram uma imagem. Tudo tá amarrado naquele
começo que eu falei pra você, tudo vai gerar uma imagem. Evidentemente que, por
exemplo, se eu uso uma boa voz, eu demonstro disponibilidade, eu demonstro cordialidade
e eu usei algum vício de linguagem, o impacto geral daquele contato pode não ser negativo
120
porque a pessoa usou muitas coisas boas também, apesar de um vocabulário não tão
adequado, apesar de alguma expressão que se repetiu muito e se tornou um vício de
linguagem, mas canalizamos isso com ele num outro momento. Trabalhar tudo
separadamente pra tentar aprimorar cada um desses instrumentos e gerar uma boa imagem.
Então trabalhamos a questão da linguagem, os vícios de linguagem, as palavras, as
expressões. Em muitos casos trabalhamos o próprio roteiro de atendimento, como eles
devem fazer a abertura, como devem fazer o encerramento, como eles podem fazer
perguntas pra chegar onde eles querem com o cliente. Nós vamos às vezes construir isso
com eles mas, às vezes, eles já tem esses recursos, nós trabalhamos como eles podem
aproveitar mais o roteiro que eles tem. Em relação a escuta trabalhamos muito o que é uma
escuta dinâmica, uma escuta que eu aproveito o que o cliente fala. Então o cliente vem com
uma demanda e conta uma historia toda e às vezes eu começo a perguntar tudo de novo, ou
seja, não aproveitaram essa escuta. Como é que posso aproveitar? Desde entender o estado
emocional do cliente, sua voz, o que ela ta me dizendo. Posso por meio da linguagem do
cliente saber se é um cliente simples, então não vou usar termos técnicos, ou se é um cliente
que fala comigo dessa maneira, então pra ele credibilidade e segurança significa eu também
utilizar esses termos com ele. Tudo isso vamos trabalhando dentro desse contexto de
linguagem e escuta. Trabalhamos um pouco as questões emocionais, pois em alguns call
centers eles já apresentam desde o início a questão do estresse, a questão de clientes muito
nervosos, clientes muito rígidos, então nós mostramos em que isso interfere na
comunicação. E interfere muito, às vezes, a expressividade deles vai mudar dependendo de
como eles receberam o cliente e o cliente chega com uma necessidade, mas chega também
com uma voz, um estilo, uma agressividade. Vamos trabalhar um pouco com a postura, mas
a postura num recorte da sua relação com a voz sobre porque é importante sentar
corretamente. Na questão da imagem, se eu sento quase deitada na cadeira, por exemplo,
evidentemente que eu não vou gerar uma boa imagem, vou mostrar que eu não to a fim, que
eu não to motivada. E aí fazemos então o outro enfoque quando existe que é a questão da
promoção da saúde. Buscamos a questão da anatomofisiologia da voz e conversamos com
eles tirando deles o conhecimento que eles tem, pois muitas vezes já passaram por outras
empresas. Por exemplo, se já ouviram falar que chocolate faz mal e perguntam “é verdade
que é proibido comer chocolate?”, então trabalhamos um pouco a consciência deles em
relação a isso, entender o por que de cada uma das orientações, em que momento isso é, de
fato, fundamental que ele não utilize ou que ele utilize. Falamos que as coisas não são
proibidas de ser feitas daquela maneira e eles vão conhecer e refletir sobre todas as
orientações relacionadas a voz, por exemplo, como é que eles podem fazer numa situação
de gripe, resfriado, rinite, o que eles tem que fazer mais nesse momento. Então, ele vai
cuidar mais ainda quando estiverem nessa situação, porque muitas vezes não podem ficar
fora da operação. Trabalhamos essas questões e a parte da audição desde a parte da
anatomia e fisiologia pra eles saberem porque não podem usar o cotonete, porque tem que
trocar de lado o head. O tempo todo vamos treinar com eles, porque não adianta dizer
“você tem que trocar o head de lado”. Muitos deles falam que sabem, mas não conseguem,
então precisamos ajudá-los a conseguir, trabalhando com eles esse conceito pra que
consigam na prática implementar. De todo esse conteúdo que falei trabalhamos muito a
mudança de atitude, porque algumas vezes as pessoas recebem o conteúdo, é um conteúdo
interessante, mas é muito importante sensibilizar de que vão utilizar todas essas questões a
vida toda. E não é só que eles têm que cuidar da voz pra essa empresa, não é isso, é pra ele
mesmo. Então trabalhamos desde o início a motivação pra mudança, as atitudes pra
121
mudança, porque precisamos muito deles, se não a coisa não se efetiva. A empresa contrata,
por exemplo, leva a gente até lá, nós vamos e trabalhamos da forma mais ética, mais
transparente, levamos o conteúdo de uma maneira interativa e de modo que eles consigam
aplicá-la no dia-a-dia, que eles consigam refletir sobre suas vidas fora da empresa, mas
existe uma responsabilidade que é deles também. Então, cada vez mais percebemos que é
necessário trabalhar a mudança de atitude também. E é uma questão que não é só na
prática, é uma questão que vem de dentro, porque para as pessoas não é fácil mudar de
atitude.
2. Como você define expressividade oral?
Acho que uma definição bem complexa, mas tentando sintetizar um pouco eu acho
que a expressividade oral é a maneira como a pessoa vai se comunicar com o outro e
engloba o que ela vai dizer e como ela vai dizer. Não é a expressividade que a pessoa tem, é
claro que tem pessoas mais expressivas que outras, isso é fato, é verdade. Mas, na verdade
ela tem muita relação com o outro, então como a pessoa se sente e tem condições de se
comunicar na relação com o outro. Acho que vai impactar muito na sua expressividade oral.
No caso de teleoperador, é como eu disse pra você, ele precisa perceber um pouco o outro e
aí utilizar a sua expressividade. Porque, por exemplo, se ele percebe o outro de uma
maneira muito distante na interação e na situação de comunicação, ele precisa até respeitar
um pouco isso e por meio da sua expressividade ele vai conseguir demonstrar pro cliente,
por exemplo, que ele respeitou isso. Mas o que é expressividade oral? Acho que é a
maneira pela qual a pessoa vai se expressar, que é como ela vai utilizar todos os recursos
envolvidos na expressividade. Eu não acredito que são só os recursos vocais, os quais
chamamos de recursos comunicativos que envolvem tudo aquilo que eu falei pra você, acho
que é a maneira como ela vai se expressar, então ela se expressaria melhor se considerasse
todos esses recursos, inclusive o outro na relação de comunicação.
3. Como você trabalha a expressividade oral com o teleoperador?
Acho que o carro chefe pra se trabalhar a expressividade oral é se trabalhar os
recursos vocais. Os recursos vocais seriam a entonação, a velocidade, a ênfase, a
articulação. Nós vamos levar o conteúdo de uma maneira, vamos dizer, mais teórica nessa
situação e trabalhar de forma que as pessoas trabalhem a percepção. Primeiro vão perceber
na própria voz, perceber como muda em determinadas situações em questões relacionadas
com a emoção, por exemplo. Vão perceber o que acontece pra que possa então produzir de
uma maneira diferente, potencializar os recursos na comunicação. Então depois de
sensibilizá-los e trabalhar com cada um dos recursos eles vão fazer. Por exemplo, em
relação a entonação eles vão trabalhar uma série de textos, expressões, situações em que
eles vão ter que gerar determinada imagem, determinada emoção nessa situação.
Trabalhamos muito a ênfase também, então na situação do teleoperador é muito importante,
por exemplo, na situação de venda para enfatizar os benefícios que o cliente vai obter com
isso, os benefícios de financiamentos, de formas de pagamento, uma série de coisas. Com a
ênfase eu consigo marcar o que tem de mais importante no discurso e, às vezes, para as
pessoas que tem muita dificuldade na expressividade, eles terem essa consciência da ênfase
é uma coisa mais concreta e mais fácil deles mudarem um pouco o comportamento. Não é
só isso, mas ajuda bastante, eu percebo que na prática cai a ficha um pouco quando falamos
de ênfases. Porque, por exemplo, eles sabem que tem que demonstrar disponibilidade, mas
não sabem como faz isso e nesse momento fica bastante claro pra eles. Quanto à velocidade
122
mostramos a imagem que gera uma velocidade muito rápida e a imagem que gera uma
velocidade muito lenta e mostramos como fazer isso. Estou falando só em termos de voz,
mas, por exemplo, quando eu sou mais objetivo eu tenho uma relação com a velocidade.
Quando eu utilizo as pausas ou quando não utilizo, vamos puxar sempre as outras coisas
pra mostrar pra eles. Sobre a articulação, se eu preciso falar um pouco mais devagar, se o
supervisor fala que falam rápido, então, se articularem melhor vão conseguir também
melhorar a velocidade de fala e essa é uma consciência que eles nunca tem. Mas como é
que vamos mostrar isso pra ele? Então a gente pergunta se o cliente pergunta mais de uma
vez, se fala que não entendeu, pois são pistas que ele pode ter que a velocidade dele não ta
adequada. Como é que ele pode identificar no dia-a-dia? Como é que pode perceber que
precisa mudar esse aspecto? Até porque muitas vezes o nosso trabalho termina num
treinamento, nem sempre tem a possibilidade de acompanhamento. Então ele precisa ter
todas as possibilidades de perceber a própria voz e a própria expressividade oral. Uma delas
é pelo feedback do cliente, outra é pelo feedback da monitoria, às vezes até da família que
diz que falam alto, por exemplo. E essa percepção é muito importante pra que eles possam
investir na expressividade oral e nos recursos que podem possibilitar essa melhora em uma
expressividade mais favorável e mais positiva pra eles. Eles fazem muita simulação de
atendimento, então ora ele é cliente, ora ele é atendente, operador, aí a gente troca e eles
fazem papéis diferentes pra eles experimentarem. Utilizamos recursos de gravação, de
filmagem pra se olharem de fora, nós utilizamos muito o recurso da planilha de
monitoração onde ele pode ver todos os aspectos que a gente trabalhou e em alguns
momentos, quando possível, fazemos a monitoração com eles em sala e eles podem
perceber na voz do outro olhando de fora para as questões e vamos discutir. E eles
automaticamente conseguem aos poucos construir a própria expressividade no sentido do
aprimoramento, porque é claro que ela já existe. Mas percebem o que significa de fato eu
aprimorar a minha voz, eu ser mais expressivo, pois é tão exigido hoje em dia. Quanto ao
sorriso na voz eu sempre pergunto se já ouviram falar, mostro como fica a voz com o
sorriso e mostramos que tudo o que vem de dentro da voz e que se trabalhar profundamente
cada um deles eles tem uma condição muito grande de aprimorar a expressividade.
Entrevistado: S1
1. O que você espera do treinamento fonoaudiológico para teleoperadores
supervisionados por você?
O treinamento fonoaudiológico é importante, claro. Tanto para a voz quanto para a
respiração ajuda muito. Eu até posso constatar que a minha equipe teve melhoras em várias
situações e vários teleoperadores tiveram um desenvolvimento bem apurado com o
acompanhamento. Temos melhora de fala mesmo, compreensão verbal, a parte da
respiração, entonação também tem melhoras. Quando tem um acompanhamento de uma
fono em termos de treinamento o acompanhamento traz mudanças pra melhor. Quando o
teleoperador vai pra um treinamento eu já espero uma melhora ou se de repente tá com um
problema de fala ou de respiração já espero que melhore. A supervisão promove aqui nessa
editora um trabalho muito bom com a fono porque é bem focado. Nós sabemos o resultado
que dá fazer esse trabalho juntamente com a fono, nós temos uma visão e sabemos da
necessidade, sabemos que é importante o trabalho com a fono juntamente com a operação e
123
com a supervisão. Muitas vezes o operador de telemarketing não tem essa visão, não
consegue enxergar que aquele trabalho que a fono tá fazendo é um trabalho que vai evoluir
em relação ao posicionamento dele, a postura dele perante o cliente ou até, por exemplo,
quando a voz dele possivelmente ou futuramente possa ser mal cuidada e agravar com
alguma doença ou alguma rouquidão ou alguma coisa que possa comprometer futuramente
a própria profissão.
2. Como você define expressividade oral?
Tem pessoas aqui que tem um tom muito alto e a fono trabalha, claro, pra melhorar
esse tom e deixar um pouco mais suave. Tem pessoas que tem um tom muito baixo então
tem que ser feito um trabalho para que melhore essa entonação ou para que não ocasione
nenhuma rouquidão ou agravamento na voz. Para tudo é feito uma análise.
2.1. Mas se você fosse definir você definiria de que forma?
A fono daqui da empresa trabalha a parte de exercícios, dá orientações e faz um
acompanhamento. Claro, se a coisa for um pouco mais grave e requeira mais recursos ela
orienta pra que procure uma fono fora e faça um tratamento.
3. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o
teleoperador?
No telemarketing, para que você possa fazer uma boa venda a expressão é
totalmente pela voz. A voz é o que dita a regra né? Se a pessoa tá com uma voz bem
entonada, suave, que possa transmitir com clareza as informações, isso colabora muito na
parte da venda. Se de repente tem uma pessoa que tem problema na voz, não é clara nas
informações ou até tem uma voz triste, isso pode agravar a venda, agravar uma série de
fatores.
4. Você acha que os clientes percebem e como reagem às emoções que o teleoperador
passa por meio da voz?
Reagem de diferentes formas e percebem nitidamente na voz. A fono acompanha
isso nas monitorações, nas ligações dos operadores e em cima dessas ligações ela faz um
trabalho. Então dá pra você perceber como o cliente reage perante aquela voz, perante
aquela entonação.
4.1. E com a sua experiência o que você observa sobre as reações do cliente?
O teleoperador não transmite confiança. Se de repente tem algum problema na voz
ou de repente pode até acontecer da pessoa tá gripada, tá com uma entonação um pouco
mais baixa, o cliente percebe. Às vezes, até o próprio operador antes de começar uma
ligação já se desculpa e fala “olha, eu estou gripado, hoje não estou com uma voz boa” e
realmente acaba até agravando, o cliente até escuta, mas não é a mesma coisa, não é o
mesmo relacionamento.
124
Entrevistado: T1
1. Em que medida você acha que a prática fonoaudiológica é facilitadora para a
realização do seu trabalho como teleoperador?
Bom, principalmente com o trabalho de operador é essencial porque trabalha com a
voz, com a forma que você fala e ajuda, principalmente, na forma de expressão, na forma
de como falar, como cuidar da voz também. E os exercícios que nós fazemos hoje em dia
são essenciais porque eles te orientam a forma correta para você não prejudicar tanto o
modo de falar. O espaço, a respiração, enfim...acho que é isso. Uma coisa que me marca
bem é que eu fiz o treinamento fonoaudiológico em uma outra empresa também que até
hoje eu me lembro a forma de respiração que a gente utilizava, porque quando você começa
a falar igual eu to falando, assim, um pouco mais rápido fica difícil de você controlar a
forma de respirar pra você falar pausadamente. Eu acho que o essencial, principalmente no
telemarketing, é trabalhar a voz e a fala para que a pessoa que está do outro lado da linha te
compreenda, compreenda bem as palavras e entenda a forma que você está se expressando.
2. Como você define expressividade oral?
A expressividade da voz identifica o que a pessoa principalmente no nosso trabalho
com telemarketing identifica a forma que a pessoa se sente no momento. Eu acredito que se
você falar de uma forma com o sorriso na voz, por exemplo, a pessoa que está do outro lado
da linha vai receber essa comunicação, essa informação de uma forma mais agradável. Se
você está tensa você transmite tudo isso pela voz. Então é muito importante e interessante
sempre trabalhar e fazer exercícios, você identificar o quanto você tá necessitando de um
trabalho. Se você sempre faz os exercícios você mesmo vai se controlando, se você está um
pouco ansiosa você se controla, você se lembra dos exercícios, faz naquele momento e
continua a trabalhar. Então eu acho assim, com relação à expressão, eu acho que é um
trabalho que a gente faz que ajuda a você passar pra outra pessoa que está do outro lado da
linha o seu produto de uma forma agradável que faça com que a pessoa do outro lado da
linha tenha vontade de te ouvir e te dar atenção.
3. De que forma você acha que o cliente percebe a maneira com que você se expressa?
O operador de telemarketing, principalmente, tem que ter um feeling, ? Você tem
que sentir realmente porque nem todos os clientes são iguais como ser humano. No nosso
trabalho, principalmente, quando você começa a conversar com a pessoa você percebe a
forma que você tem que trabalhar porque tem clientes que são exigentes e você tem que
falar de uma forma mais técnica pra poder atrair a atenção. Ou então tem clientes que não é
a primeira vez que você liga e você já esta fazendo um acompanhamento você já conhece o
perfil daquele cliente e você sabe como trabalhar. Então o operador tem que identificar para
poder atrair a atenção do cliente pra se expressar de uma forma que ele preste atenção
porque é um trabalho difícil e, ao mesmo tempo, pode parecer fácil, mas não é como uma
pessoa que você faz uma visita e olha cara a cara. Nesse caso você tem que atrair pela voz,
então tem que fazer todo um trabalho em cima disso, de respiração e entusiasmo na voz
expressar tudo por telefone. Então uma coisa que eu acho essencial é o trabalho de fono no
telemarketing.
125
4. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o
teleoperador?
Justamente por isso. O cliente, por sentir do outro lado da linha, vai imaginar a
pessoa pela voz e a voz no nosso trabalho é tudo. É um trabalho que a gente tem que estar
sempre fazendo porque o cliente vai sentir se você tá bem. Tá chateado, tá alegre, tá feliz
ou não. A expressividade da voz e necessária pra você estar sempre se policiando com
relação a isso. Você tem que tá passando pela voz o sorriso, uma forma tranqüila, sem
ansiedade. Então é necessário o trabalho da voz, principalmente nessa área para o cliente. O
cliente vai imaginar a pessoa de uma forma e essa forma só pela voz que você vai conseguir
transmitir do outro lado da linha.
Entrevistado: F2
1. Detalhe todos os aspectos que você aborda durante um treinamento para
teleoperadores.
Meu treinamento está dividido em duas partes, aspectos de voz e comunicação e
depois todos os aspectos relacionados a audição, são os dois momentos. Começando com a
voz, primeiro eu explico todo o aparelho fonador, o que é prega vocal, explico alguns mitos
que existem com relação a prega vocal e depois eu passo para os cuidados com a voz,
higiene vocal, saúde vocal, até gosto de falar saúde vocal e não higiene e eu sempre falo pra
eles assim “olha eu quero que esse momento seja um bate-papo, não quero que ninguém
fique anotando alucinadamente tudo que eu to falando”, porque eles ficam anotando tudo.
Eu digo “eu quero que você conte o que acontece com o seu filho, o que acontece com
você” e coloco que nada é 100% pra ninguém, por exemplo, beber gelado que faz muito
mal pra uma pessoa, pra outra não faz nem cócegas. Então eu tento colocar isso pra eles no
sentido de bate-papo. Às vezes, eu faço uma roda, eu gosto que eles perguntem, acho que
fica mais interessante e depois eu converso bastante sobre a questão de prosódia,
modulação, entoação. Falo sobre essa coisa da modulação repetitiva que muitos operadores
de telemarketing tem e que torna o atendimento impessoal, você tem a impressão que você
tá conversando com um robô. E, principalmente, pelo tipo de produto que a gente atende
que são geralmente pessoas em situação de perigo, ou que bateram o carro, ou que a casa
inundou lá no rio Grande do Sul e ligam aqui por causa do seguro residência, ou o seguro
pessoal de pessoa...é...porque existe aqui um seguro de criança, então a criança caiu no
parquinho da escola e a mãe liga aqui desesperada. Então eu não posso ter um discurso
robotizado, automático, preciso ter um discurso extremamente pessoal e cuidadoso e eu até
falo pra eles que existe esse chavão do sorriso na voz e eu até explico e faço palhaçada lá
na hora e digo “olha, sorriso na voz não é isso aqui, porque isso aqui agudiza a voz, a gente
fica chato...” digo que sorriso na voz é assertividade, é simpatia, é buscar o que a pessoa
quer e, principalmente a escuta...enfatizo bastante a questão da escuta. Eles devem escutar o
que o cliente quer, não interromper, evitar o “não”. Porque tem coisas do seguro, da apólice
da pessoa que o seguro não cobre, antes de você falar “olha, não cobre” tem que chegar e
falar “olha, eu posso te oferecer isso” e não vir com o negativo, pois isso aí primeiro que é
desagradável e segundo que se você é cliente você paga o seguro do ano inteiro aí quando
você precisa você não pode. Então, eu tento mostrar pra eles a importância de você ter esse
sorriso na voz, entre aspas, mas no sentido de simpatia e empatia. Falo muito sobre as
126
questões da voz mesmo, mas nos sentido do hipernasal, da voz no pescoço, da voz muito no
nariz, da falta de articulação que muitos deles tem, da velocidade muito acelerada. São
aspectos que, na maioria das vezes, quando eu falo eles falam “ah, a gente já sabe”, mas
quando chega no dia-a-dia que a pessoa tem lá trinta ligações piscando ali no computador,
aquilo ali passa atropelado, eles não vão nem lembrar. Então, de repente falar que eu não
posso falar com um idoso da mesma maneira que eu falo com um jovem de 25 anos parece
óbvio, mas precisa ser detalhado pra que isso eles incorporem mesmo. Então, eu acho que a
comunicação no atendimento tem muito a ver com o produto, o produto que você atende
com a classe que você também está atendendo. E aí entram também as questões de
português que são muito importantes. Então a gente atende aqui seguro e você tem uma
pessoa que pode ser de uma classe econômica mais inferior que tem um seguro mais básico
e você tem o empresário que tem a BMW dele que furou o pneu na marginal e que ele vai
querer uma resposta pronta, um português adequado. Então omissão de plural é inaceitável,
“as coisa”, “as placa”, de jeito nenhum. Gerúndio, por exemplo, “pra gente tá fazendo”,
“pra gente tá ligando, agendando”, horroroso. Costumo colocar isso no treinamento e fora o
meu treinamento existe um treinamento de português que eles fazem que não é comigo.
Concordância verbal, nominal que também a gente vê muito. E aqui eu tenho um outro
problema porque a região...o call center ficava na Faria Lima e lá eu tinha por exemplo
universitários que estudavam de manhã e iam trabalhar a tarde, então eu tinha um nível de
teleoperadores. Quando o call center veio aqui pra Alphavile, 80 % dos meus – a gente
chama de analistas de atendimento aqui – eles são da região. Então são de Itapevi,
Carapicuíba, Barueri, Osasco, são pessoas de uma classe econômica mais desfavorecida.
Então, essa questão de comunicação e português é o que a gente mais tem de problema.
Então, às vezes, na dinâmica de seleção a gente às vezes pega coisas do tipo “o criente”,
coisas desse tipo e pra isso tem que ser um treinamento muito intenso e muito intensivo pra
gente tirar essas coisas da fala da pessoa. Algumas coisas a gente passa e treina, mas tem
outras que no fim a pessoa acaba não passando por ter um português muito assim
inadequado. Depois da parte de comunicação eu passo pra audição que entra anatomia, os
cuidados com a audição, o cotonete e tudo aquilo e também a importância da escuta, pois a
gente fala em audição só nesses aspectos, mas a escuta mesmo...até pela demanda que eles
tem que é muito alta que a escuta às vezes fica de lado. Até tem um exemplo que uma das
meninas do RH, do treinamento costuma passar, que é uma atendente nossa que ela tão
preocupada com o TMA, que é o tempo médio de atendimento, que ela pergunta a placa do
carro cinqüenta vezes e ela não presta atenção que o segurado falou a placa do carro. Então
“ah, eu to aqui na Marginal, meu carro ta parado”, “qual é a placa do carro senhor?”, “DGN
– 4851”, “tá, e tem alguém ferido?”, “não, não tem!” “e qual é a placa do carro senhor?”
“DGN – 4851” “ tá, o senhor tem direito a táxi, precisa de um táxi? Qual é a placa do carro
senhor?”. Então assim, é uma coisa que até todo mundo acaba dando risada porque é escuta
zero. Então antes de falar, escutar pra saber o que é que o cliente necessita e o que é que a
apólice dele cobre. É isso.
2. Como você define expressividade oral?
Eu acho que expressividade é você passar o conteúdo do que você tá querendo dizer
de uma maneira que o interlocutor compreenda, então você tem essa via de quem tá
emitindo e de quem recebe, que essa via aconteça. E, principalmente, que você leve em
consideração quem te escuta. Eu não posso falar com o meu avô da mesma maneira que eu
127
falo com o meu namorado, eu não posso falar com o meu chefe da mesma maneira que eu
falo com o meu filho. Então eu acho que a expressividade tem tudo a ver com voz,
prosódia, expressão corporal, todas essas questões relacionadas à comunicação, mas que
estão inseridas num contexto que não é adequado, você pode ser a pessoa mais expressiva e
que tenha uma ótima comunicação, mas se ela não está inserida no lugar adequado e da
forma adequada, levando em consideração o interlocutor, você tira zero.
3. Como você trabalha a expressividade oral com o teleoperador?
Então, a expressividade oral, por exemplo, na apresentação mesmo que eu faço,
então em cada slide, por exemplo, “velocidade de fala”, então eu costumo dar exemplos,
costumo jogar algumas brincadeiras pra que eles façam comigo, eu levo exemplos de aúdio
pra eles escutarem. Então voz, por exemplo, costumo imitar e peço “um grupo aqui vai
fazer a voz aguda e um grupo aqui vai fazer a voz grave”. Então acho que é
experimentando as diversas formas de comunicação é que a gente consegue entender
melhor, é melhor do que você só expor e ficar só falando. Acho que é segmentar, porque eu
acho que expressividade é um pacote, mas aí dentro desse pacote a gente segmenta em
todos os aspectos que compõem esse pacote. Dar exemplos e fazer esses exemplos com
eles, eles experimentarem isso pra que quando eles tiverem nessas situações eles lembrem.
E até acho que um treinamento com vivência é muito mais efetivo do que o treinamento
somente explicativo de slide e copia.
4. Mas que recursos você seleciona para trabalhar expressividade?
Velocidade de fala, entonação, uma entonação que não seja só ascendente, porque
tem muito no telemarketing “qual a placa do carro senhor?”, “mas, o senhor está onde?”
(fala com a entonação ascendente) e muito essa coisa do senhor, do senhor, do senhor, que
é muito repetitiva. Então a entonação acho que tem que tentar modular mais e não ficar só
ascendente e nem descendente porque a gente tem alguns analistas que, às vezes, vem
cansados e que vem com problemas de casa e fica naquela modulação bem descendente,
desinteressada. Acho que a respiração vem junto com a velocidade, eu costumo linkar os
dois, tipos de voz, eu costumo explicar os diferentes tipos de voz. Às vezes, é engraçado
porque você chega na sala de treinamento pra falar principalmente com os novinhos. Então
a gente tem ali meninas de 18 anos que às vezes vem toda de rosa, fivelinha, de mochila e,
às vezes, tem uma fala mais infantilizada, com gírias...e tem também uma pessoa que já tem
experiência em call center. Então acho que pontuar essa questão de voz, de evitar
infantilidade, a voz aguda, voz grave, como que eu posso colocar a minha voz. É difícil
trabalhar com expressividade sem pensar no corpo. Acontece que eles ficam numa posição
sentada, então a expressividade, que eu acho que é expressividade oral e corporal, a
corporal fica um pouco banida aí, porque eles ficam sentados. É engraçado que, às vezes,
você vai na central e você vê um analista ou outro gesticulando e parece que ele tá falando
com alguém mesmo, principalmente num setor que a gente tem que é de vendas, que é
vendas de seguros, e que tem um pessoal que é um pouco mais expressivo, mais agitado,
mas é um pessoal que não fica em pé...ficam sentados na cadeira o tempo inteiro e isso é
complicado pra eles, porque você fica sentado, meio quadrado, então tem como ter uma
expressão corporal. Então a expressão é basicamente verbal. E eu percebo que com um ou
dois meses eles ainda tem isso muito cru. Acho que eles tem o treinamento, mas eles só vão
aprender mesmo vivenciando.
128
Entrevistado: S2
1. O que você espera do treinamento fonoaudiológico para teleoperadores
supervisionados por você?
Espero que venha a ajudar no desempenho deles, que venham a evitar faltas por
motivos de ter a garganta inflamada, até porque a gente orienta muito que tem água na
central, nas esqueezes disponibilizadas. Eu acho que isso é reeducação em relação a
utilização dos recursos que eles tem e que tem que ser contínuos, com uma manutenção. O
benefício é de todo mundo, principalmente porque o trabalho deles é a voz e se ele tiver
essa manutenção ele tem ganho em todo o lugar, tanto o analista com a saúde dele, como a
central com menos absenteísmo.
2. Como você define expressividade oral?
No nosso trabalho acho que basicamente é o cartão de visita, porque você vai falar
sobre empatia, e...A pessoa não tá vendo o atendente e o único contato que você tem com a
central é a voz, então pra mim a parte de expressão da voz é tudo, se ele tiver uma voz bem
clara, bem cuidada e se tiver uma empatia na voz fica difícil de tirar e o atendimento será
com qualidade.
3. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o
teleoperador?
Acho importante porque como eu disse, se a base de tudo nossa no dia-a-dia é a voz,
então eu sou totalmente a favor porque tem gente que não percebe...porque começa a
trabalhar às 6:00 da manhã ou ao meio dia ou às 18:00 e já teve uma carga de trabalho
então a voz está cansada. Ela não percebe que a empatia dela vai induzir e o cliente dela vai
ficar diferente...e a pessoa também não sabe que ele tá trabalhando a tantas “X” horas,
porque pra quem tá ligando é o primeiro contato. Porque geralmente, essa manutenção e
essa expressividade da voz tem um impacto diferente de quando você chega pra trabalhar
de quando você vai embora. Pra mim deve-se deixar claro pra eles que isso é importante,
esclarecer a importância desse instrumento de trabalho que é a voz.
4. Você acha que os clientes percebem e como reagem às emoções que o teleoperador
passa por meio da voz?
Nós desenvolvemos hoje uma empresa, ou seja, você tá atendendo e a pessoa na
linha pode começar a reação calma e se irritar pelo tom de voz do atendente, se chatear pelo
jeito como ele deu o “bom dia”. Por que por mais que você tente enganar no “bom dia”
você tem que ser sincero e tem gente que não altera a voz em nada. Às vezes, a pessoa que
liga tá desesperada devido a situação e o atendente não altera o tom de voz dele e isso causa
frustrações, porque pensa “eu to aqui desesperado e tem um robô me atendendo” e a gente
não quer isso, acho que a emoção na voz tem que deixar sentir que são pessoas atendendo
pessoas. E a única forma de você identificar isso é a voz que traz essa diferenciação durante
o atendimento e durante a conversa com o cliente.
129
Entrevistado: T2
1. Em que medida você acha que a prática fonoaudiológica é facilitadora para a
realização do seu trabalho como teleoperador?
Me ajudou a orientar com os cuidados com a voz. Eu não tinha noção nenhuma e
pra mim voz era simplesmente abrir a boca e falar, então eu aprendi várias coisas, como
que você faz pra cuidar, como evitar o abuso excessivo da voz, de como cuidar...isso me
ajudou muito. Trabalhar respiração, voz e isso melhorou muito pra mim.
2.Como você define expressividade oral?
Nunca pensei nisso. O tom da voz e a forma que você se expressa vai ter momentos
que a pessoa vai identificar com nervosismo, com raiva ou até mesmo a tristeza, uma voz
mais calma...Acho que tem a ver sim da forma como a gente fala tem como a pessoa
deduzir de como você está também...pelo tom da sua voz e pela forma de você falar. E
emocionalmente também a voz demonstra como o seu emocional está também.
3. De que forma você acha que o cliente percebe a maneira com que você se expressa?
O cliente percebe muito. Tem dia que você está até um pouco mais nervosa, você
tem que se controlar mais porque querendo ou não às vezes ele percebe do outro lado e a
gente tem que se segurar justamente pra não tá descontando nele também né. Quando você
tá com algum problema ou com a voz mais melancólica você fala num tom mais baixo,
quando você tá feliz você já dispara, vai colocando pra fora os sentimentos e aquilo ali vai
passando também pro segurado. E quando o segurado insiste em algum assunto e começa a
tirar você um pouco do sério e sem perceber, às vezes, ele tá gritando e você tá gritando
junto também, aí fica os dois nervosos na linha. Eu bem que tento muito me controlar, isso
eu aprendi muito né a manter sempre o mesmo tom de voz, o mesmo nível pra não deixar
transparecer isso também.
3. Porque você considera importante o trabalho fonoaudiológico com expressividade
com o teleoperador?
Acho importante porque no serviço a gente tem que ter um tom, tem que ser mais
firme. Atendendo certos produtos é legal a gente ter um tom de voz e ser firme naquilo,
manter um padrão de voz, é legal tá mantendo isso né... Porque se não o segurado liga e
cada hora um liga mais agitado ou mais nervoso então eu acho legal manter esse padrão de
voz.
Entrevistado: F3
1. Detalhe todos os aspectos que você aborda durante um treinamento para
teleoperadores.
Aqui na empresa fazemos um treinamento individual que é realizado através de uma
orientação individual, as estagiárias vão ate o call center e eu acompanho, geralmente, e
fazemos orientação sobre todos os aspectos de higiene vocal, o que é bom, o que é ruim,
falamos sobre produção vocal, sobre a parte de áudio, sobre queixas e sintomas vocais e
nesse momentos orientamos em relação a todos esses aspectos. Atualmente, não fazemos
130
treinamento com supervisores, mas antigamente fazíamos com todos eles e eu orientava
também sobre o trabalho da fono, em realizar o programa, de eles serem multiplicadores da
nossa atuação aqui na empresa. No treinamento abordo todos os aspectos da saúde de forma
geral, pra saber se tem alguma doença, algum problema respiratório e de saúde. Orientamos
sobre a parte específica da voz, sobre porque não gritar, não falar alto, não pigarrear,
orientar sobre o que deve comer ou não, a importância do sono, da alimentação adequada,
postura. A idéia é dar uma idéia geral sobre a saúde e falar que a voz faz parte da saúde e
dentro desse contexto a pessoa tem que estar priorizando a saúde pra também priorizar a
saúde vocal não só aqui no trabalho, mas também na vida dele. Na vida pessoal e social. Eu
sempre dou muita orientação em relação a casa, se grita em casa, diz pra evitar gritar e
explicamos o por que. Passo também uma lista de aquecimento e desaquecimento vocal.
Orientamos de acordo com os sintomas da pessoa, se tem uma rinite falo o que acontece
com a rinite em relação a voz e porque causa alguma alteração na voz. Como não temos
muito tempo pra ficarmos falando com eles, fazemos uma orientação direcionada pra aquilo
que a pessoa traz.
2. Como define expressividade oral?
É a forma de você se inter-relacionar com as pessoas, não somente através da fala,
da voz, mas através de outros aspectos como entonação, a forma que você vai estar
chamando a atenção da pessoa, pelo ritmo, alegria, pelo brilho da voz. Acho que é muito
além só dessa parte da linguagem, da fala e da voz especificamente.
3. Como você trabalha a expressividade oral com o teleoperador?
Aqui faço aquecimento vocal em todos os andares e com todas as pessoas,
dependendo do tipo de produto o aquecimento é feito com todo o andar e todas as pessoas
ao mesmo tempo e se for no receptivo é feito em grupos. Quando é feito em grupos
trabalhamos todos os aspectos que eu já falei da fala, da voz e também todos os aspectos da
expressividade através da entonação, trabalhando a importância da pessoa ta se
comunicando, mas passando sentimento através da voz, passando aquilo que ela quer, se ela
quer passar mais segurança, mais conquista. Fazemos eles interpretarem texto, mudarem
frases diferenciando entonação da frase, fazemos o trabalho com expressividade corporal,
pois acabamos sempre juntando o movimento do corpo com a comunicação. A gente
trabalha muito também com os teleoperadores e é algo que até motiva é a parte da música.
A gente pega uma música que eles gostam e altera trabalhando com “m” mastigado,
vibração de língua. É algo que eles gostam muito e que vemos bastante resultado.
Entrevistado: S3
1. O que você espera do treinamento fonoaudiológico para teleoperadores
supervisionados por você?
Na verdade que eles tenham mais tranqüilidade pra falar me linha, que eles não
gaguejem tanto, que eles possam não suprimir letras porque muitas vezes isso acaba
acontecendo por conta da dicção, pra eles terem uma melhor dicção em linha mesmo, pra
poder ser claro com o cliente e o cliente poder entender.
131
2. Como você define expressividade oral?
Expressividade oral eu acredito que é você dizer e o outro entender, uma coisa
muito clara, é como se eu tivesse praticamente desenhando, mas com a voz. É quando eu
falo e o outro consegue entender, eu articulo bem, eu falo bem...é tudo endendível na
verdade, você não fica gaguejando, não troca as palavras nem as letras. Eu acredito que seja
isso.
3. Porque você considera importante o trabalho com expressividade com o
teleoperador?
É justamente pelo fato de como eles precisam entrar em linha pra fazer uma venda,
pra mostrar pro cliente o que o benefício...eles precisam passar através da voz o que é que
eles estão vendendo. Então quando eu tenho um contrato e mostro pras pessoas o contrato
ela vai ler, vai usar a visão e quando eu to falando já é a audição. Eu tenho realmente que
me expressar muito bem, muitas vezes a gente até brinca e a gente fala “faz alguns
malabarismos do tipo: interage mais com o associado, coloca ânimo, entusiasmo no tom de
voz” para que ele possa entender e pra que ele possa se entusiasmar com você, pra não ficar
aquele contato morto. E muitas vezes os exercícios da fono ajudam por conta disso, porque
a gente tem os exercícios de voz salmodiada, de “fala mais baixo agora”, “agora um pouco
mais alto”, o aquecimento vocal pra você saber quando você vai falar um pouco mais
grave, mais agudo, como que fica. Eu acho super importante nesse aspecto de ele realmente
ser entendível pelo cliente.
4. Você acha que os clientes percebem e como reagem às emoções que o teleoperador
passa por meio da voz?
Com certeza. A gente até usa muitos exemplos porque tem aqueles associados,
aqueles clientes que atendem com um pouco mais de grosseria no tom de voz e a gente fala
“você tem que falar com o cliente, se ele te atendeu um pouco grosseiro você tem que ser
um pouco mais incisivo com ele” e é quando eles geralmente impõem mais um tom de voz
um pouco mais forte com o associado. Se eles falam muito calmos o associado tende a...a
gente até fala “eles vão fazer o que eles quiserem com você em linha porque você tá sendo
muito bonzinho”, então a gente brinca muito assim “ah, se eu to abordando alguém do Rio
de Janeiro eu vou ser mais incisivo, se eu to abordando alguém de Minas eu vou ser mais
tranqüilo, vou falar mais devagar” e o cliente com certeza percebe essa diferença.
Entrevistado: T3
1. Em que medida você acha que a prática fonoaudiológica é facilitadora para a
realização do seu trabalho como teleoperador?
Ajuda a desenvolver no caso uma dificuldade às vezes de o operador se soltar mais,
ele ter uma dificuldade a mais de se expressar às vezes na linha com o próprio cliente então
acho que facilita bem mais. Na minha visão é isso, o fono me ajuda mais nessa parte, na
facilitação de desenvolver com o cliente e até mesmo nas pronúncias de algumas palavras
que a gente tem certas dificuldades.
132
2. Como você define expressividade oral?
É tudo pro operador, porque se você não tiver um bom desempenho em linha, uma
boa dicção, uma boa fala, um bom acompanhamento com a fono, você não vai saber se
expressar normalmente com a pessoa.
3. De que forma você acha que o cliente percebe a maneira como você se expressa?
Às vezes ele não aceita...Se eu não souber me expressar com ele tentando atingir o
que eu quero, levando ele com mais clareza, de forma nenhuma ele vai poder me atender e
isso já começa no tom da minha voz, no desânimo, na minha emoção, no que eu vou passar
pra ele como no caso, o sentimento. A partir do momento que eu atingir algum ponto dele
no caso da emoção eu acredito que o cliente vai passar a ter mais confiança naquilo que eu
vou estar vendendo pra ele.
4. Por que você considera importante o trabalho com expressividade do teleoperador?
Porque a partir do momento que você tem essa expressão no seu trabalho como
operador é que você vai conseguir obter um resultado ou não das suas vendas. A partir do
momento que você entra em linha, a partir do momento que você tá se expressando, seja
com sentimento, com emoção, com ironia, você não vai conseguir chegar a lugar nenhum e
dependendo da forma que você conseguir lidar com isso, com a emoção, com o sentimento,
eu acredito que você tenha mais finalidade aí no seu trabalho.
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