Download PDF
ads:
CLARICE LIMA ÁLVARES DA SILVA
FATORES ASSOCIADOS AO ESTADO
NUTRICIONAL E AO NÍVEL DE HEMOGLOBINA EM
IDOSOS: PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA,
VIÇOSA – MG.
Dissertação apresentada à
Universidade Federal de
Viçosa como parte das
exigências do Programa de
Pós Graduação em Ciência
da Nutrição, para obtenção
do título de Magister
Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Silva, Clarice Lima Álvares da, 1980-
S586f Fatores associados ao estado nutricional e ao nível de
2008 hemoglobina em idosos: Programa de Saúde da Família,
Viçosa-MG / Clarice Lima Álvares da Silva.
– Viçosa, MG, 2008.
xii, 170f.: il. ; 29cm.
Inclui anexo.
Orientador: Sylvia do Carmo Castro Franceschini.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Viçosa.
Inclui bibliografia.
1. Envelhecimento - Aspectos nutricionais. 2. Hemoglobina.
3. Anemia. 4. Idosos - Aspectos sociais. 5. Hábitos de Saúde.
I. Universidade Federal de Viçosa. II.Título.
CDD 22.ed. 613.0438
ads:
FATORES ASSOCIADOS AO ESTADO NUTRICIONAL E AO NÍVEL DE
HEMOGLOBINA EM IDOSOS: PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA,
VIÇOSA – MG.
co-orientadora
co-orientadora
ii
DEDICATÓRIA
Ao meu pai Frederico, incentivador incondicional da minha
formação profissional, sendo sempre minha referência.
À minha mãe Maria de Fátima (in memorian), exemplo de caráter,
dedicação e vontade.
iii
AGRADECIMENTOS
À Deus, por estar viva hoje, por orientar meus passos e estar por perto
em todos os momentos de minha vida.
Aos meus irmãos Carlos, Carolina e Fernanda, pela amizade, carinho e
incentivo à minha formação.
Ao meu filho Felipe, presente de Deus, por tornar a minha vida mais feliz
e cheia de esperança, me fazendo conhecer o verdadeiro significado do
amor.
Ao meu amor Paulo Thiago, pelo apoio incondicional, incentivo e
tolerância nos momentos difíceis.
Aos meus tios, tias, primos e primas, pelo incentivo e apoio à minha
formação. Em especial à tia Cida e à minha sogra Sônia, pelo carinho e
ajuda essencial com meu filho Felipe durante a etapa final deste trabalho.
À professora Sylvia Franceschini, querida amiga, pela paciência, incentivo
e orientação. Esteve comigo desde o meu quinto período de graduação
sendo fonte preciosa de ensinamentos. A você Sylvia, devo muito de
minha formação profissional e pessoal.
À professora Silvia Priore, pela preciosa amizade e carinho, auxílio nos
momentos mais difíceis, orientação e disposição em ajudar sempre.
Às professoras Rosângela Cotta e Helena Sant’Ana , pela preciosa
colaboração neste trabalho, apoio e amizade.
Às professoras Maria do Carmo Pelúzio e Céphora Sabarense pela
amizade, paciência, apoio nos momentos difíceis e pelo carinho durante
minha jornada.
iv
Aos professores Sérgio e Andréia por gentilmente aceitarem participar da
banca de defesa de dissertação, contribuindo com suas preciosas
sugestões e seus conhecimentos e vivências.
Aos idosos do município de Viçosa, pela participação voluntária, pelo
carinho e por acreditarem na seriedade do trabalho, e às equipes do
Programa de Saúde da Família do município de Viçosa, pela preciosa
colaboração para a realização deste trabalho.
À Damiana pela ajuda na coleta de dados, retorno aos idosos, pelo apoio
e sincera amizade.
À Michele Netto pela ajuda preciosa, apoio e orientação, principalmente,
pela sincera amizade e carinho.
Às amigas da república “Saideiras”, pela amizade verdadeira, apoio nos
momentos difíceis de minha vida, companhia extremamente agradável e
pelos muitos momentos de descontração.
À minha amiga querida Angélica Heringer, pela amizade verdadeira, apoio
e incentivo à realização deste trabalho e por estar sempre presente em
minha vida.
Aos colegas de mestrado, pelo convívio e troca de experiências.
À FAPEMIG (N.º processo: CDS APQ-4752-4.08/07) pela aprovação do
projeto e financiamento da pesquisa.
Ao Ministério da Saúde (Convênio: 517544 – Port. 424/2004, N.º
Processo: 25000.105104/2004-72) pela aprovação do projeto e
financiamento da pesquisa.
À Universidade Federal de Viçosa, instituição a qual devo toda minha
formação profissional.
v
A todos que, de alguma forma, contribuíram para a realização deste
trabalho.
vi
"Quantos mais vastos forem os vossos conhecimentos, mais
fáceis e mais perfeitas serão as vossas obras."
(Kingsley)
vii
BIOGRAFIA
Clarice Lima Álvares da Silva, filha de Frederico Zacarias Álvares da
Silva e Maria de Fátima Lima e Silva, nasceu em 3 de Outubro de 1980,
na cidade de Conselheiro Lafaiete, Minas Gerais.
Em 2001, iniciou o curso de graduação em Nutrição na Universidade
Federal de Viçosa (MG), onde concluiu em maio de 2006. Também em
maio do mesmo ano, iniciou o curso de Mestrado no Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa,
na área de Saúde e Nutrição de Grupos Populacionais.
viii
ABREVIATURAS E SIGLAS
% = Porcentagem
AVD = Atividades de Vida Diária
CC =Circunferência da Cintura
CHCM = Concentração de hemoglobina corpuscular média
cm = Centímetros
CQ= Circunferência do Quadril
dL = Decilitros
DP = Desvio-padrão
fL = Fentolitros
Hb = Hemoglobina
Htc = hematócrito
HCM = Hemoglobina corpuscular média
IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IPEA = Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
IMC = Índice de Massa Corporal
kg = Quilos
mg = Miligramas
MG = Minas Gerais
MS = Ministério da Saúde
mL = Mililítros
OMS = Organização Mundial de Saúde
OPAS = Organização Pan-Americana de Saúde
PCR = Proteína C reativa
PNAD = Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios
PNSPI = Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
PPV = Pesquisa Sobre Padrões de Vida
PSF =Programa de Saúde da Família
QFCA = Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
RCQ = Razão Cintura/Quadril
R$ = Reais
SUS = Sistema Único de Saúde
VCM = Volume corpuscular médio
WHO = Organização Mundial de Saúde
ix
CONTEÚDO
1- RESUMO ------------------------------------------------------------------------------- 1
2- ABSTRACT --------------------------------------------------------------------------- 3
3- INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------ 5
4- OBJETIVOS --------------------------------------------------------------------------- 8
Objetivo Geral ------------------------------------------------------------------- 8
Objetivos Específicos ---------------------------------------------------------- 8
5- METODOLOGIA --------------------------------------------------------------------- 9
5.1- Casuística ------------------------------------------------------------------ 9
5.2- Materiais e métodos ---------------------------------------------------- 10
5.2.1- Caracterização socioeconômica e condições de saúde-10
5.2.2 - Avaliação dietética ---------------------------------------------- 10
5.2.3 - Avaliação antropométrica ------------------------------------- 11
5.2.4 - Composição corporal ------------------------------------------ 12
5.2.5 - Avaliação bioquímica ------------------------------------------ 13
5.2.5.1 - Avaliação do estado nutricional de ferro ----------- 13
5.2.5.2– Uso da Proteína C Reativa ----------------------------- 14
5.3 - Aspectos éticos ----------------------------------------------------------15
5.4 - Softwares ------------------------------------------------------------------15
6- BIBLIOGRAFIA ---------------------------------------------------------------------16
7- REVISÃO DE LITERATURA ---------------------------------------------------- 20
7.1- Artigo 1: Avaliação bioquímica da anemia em idosos: aspectos
metodológicos.---------------------------------------------------- 20
7.1.1 – Resumo ---------------------------------------------------------------- 20
7.1.2- Introdução -------------------------------------------------------------- 21
7.1.3- Metodologia ------------------------------------------------------------ 22
7.1.4- Resultados ------------------------------------------------------------- 22
7.1.4.1- Anemia em idosos -----------------------------------------22
7.1.4.2- Definição de anemia -------------------------------------- 24
7.1.4.3- Avaliação da anemia em idosos ----------------------- 25
x
7.1.4.4- Variações metodológicas e diferenças nas
estimativas de prevalências de anemia em idosos ---------- 28
7.1.5- Considerações finais ------------------------------------------------- 33
7.1.7- Bibliografia -------------------------------------------------------------- 35
7.2- Artigo 2: Avaliação da qualidade de vida, bem estar, características
econômicas e sociossanitárias como determinantes de
saúde para a população idosa brasileira.-------------------- 40
7.2.1 – Resumo ---------------------------------------------------------------- 40
7.2.2- Introdução -------------------------------------------------------------- 42
7.2.3- Metodologia ------------------------------------------------------------ 46
7.2.4- Indicadores de Saúde ----------------------------------------------- 47
7.2.4.1- Indicadores indiretos ------------------------------------- 48
7.2.4.1.1- Capacidade funcional, estado de saúde auto-
avaliado e qualidade de vida --------------------------------- 48
7.2.4.1.2- Utilização de serviços de saúde ---------------- 52
7.2.4.1.3- Características demográficas e sanitárias ----55
7.2.4.1.4- Nível de escolaridade e de renda -------------- 56
7.2.4.1.5- Trabalho ---------------------------------------------- 60
7.2.5- Considerações finais ------------------------------------------------ 61
7.2.6- Bibliografia -------------------------------------------------------------- 63
8- ARTIGOS ORIGINAIS ----------------------------------------------------------- 69
8.1- Artigo 1: Perfil socioeconômico, demográfico e de saúde de idosos
cadastrados no Programa de Saúde da Família de
Viçosa, Minas Gerais. ------------------------------------------ 69
8.1.1 – Resumo ---------------------------------------------------------------- 69
8.1.2- Introdução -------------------------------------------------------------- 71
8.1.3- Metodologia ------------------------------------------------------------ 73
8.1.3.1- Características do município em estudo ------------ 73
8.1.3.2- Desenho do estudo e casuística ---------------------- 74
8.1.3.3- Avaliação socioeconômica e das condições de
saúde -------------------------------------------------------------------- 75
xi
8.1.3.4- Análise dos dados ----------------------------------------- 76
8.1.4- Resultados e Discussão ---------------------------------------------76
8.1.4.1- Características socioeconômicas e demográficas -76
8.1.4.2- Habitação e Saneamento Básico --------------------- 85
8.1.4.3- Morbidades e consumo de medicamentos --------- 86
8.1.4.4- Saúde bucal e alimentação ----------------------------- 91
8.1.4.5- Prática de atividade física ------------------------------- 93
8.1.5- Considerações finais ------------------------------------------------- 94
8.1.6- Bibliografia -------------------------------------------------------------- 96
8.2- Artigo 2: Fatores associados ao estado nutricional de idosos
cadastrados no Programa de Saúde da Família, Viçosa -
Minas Gerais. ----------------------------------------------------- 101
8.2.1- Resumo ----------------------------------------------------------------101
8.2.2- Introdução ------------------------------------------------------------- 102
8.2.3- Metodologia -----------------------------------------------------------103
8.2.3.1- Desenho do estudo e casuística --------------------- 103
8.2.3.2- Avaliação socioeconômica e das condições de
saúde------------------------------------------------------------------- 105
8.2.3.3- Avaliação antropométrica e composição corporal ----
----------------------------------------------------------------------------105
8.2.3.4- Análise dos dados --------------------------------------- 106
8.2.4- Resultados e discussão --------------------------------------------107
8.2.4.1- Fatores associados ao estado nutricional --------- 115
8.2.5- Considerações Finais ---------------------------------------------- 121
8.2.6- Bibliografia ------------------------------------------------------------ 123
8.3- Artigo 3: Prevalência de anemia e fatores associados ao nível de
hemoglobina em idosos cadastrados no Programa de
Saúde da Família, Viçosa - Minas Gerais. ---------------- 128
8.3.1- Resumo ---------------------------------------------------------------- 128
8.3.2- Introdução ------------------------------------------------------------- 129
8.3.3- Metodologia ---------------------------------------------------------- 131
8.3.3.1- Desenho do estudo e casuística ------------------------ 131
8.3.3.2- Avaliação socioeconômica e condições de saúde ---133
8.3.3.3- Avaliação antropométrica e composição corporal ----133
8.3.3.4- Avaliação dietética ---------------------------------------134
xii
8.3.3.5- Avaliação Bioquímica ---------------------------------- 135
8.3.3.6- Análise dos dados --------------------------------------- 137
8.3.4- Resultados e discussão ------------------------------------------- 137
8.3.4.1 – Fatores associados ao nível de hemoglobina ---145
8.3.5 – Considerações finais ----------------------------------------------155
8.3.6 – Bibliografia -----------------------------------------------------------157
9- CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------- 162
10- ANEXOS -------------------------------------------------------------------------- 164
1
1- RESUMO
SILVA, Clarice Lima Álvares da Silva. M.Sc. Universidade Federal de
Viçosa - MG, Maio de 2008. Fatores associados ao estado nutricional
e ao nível de hemoglobina em idosos: Programa de Saúde da
Família, Viçosa – MG. Orientadora: Sylvia do Carmo Castro
Franceschini. Co-orientadores: Silvia Eloíza Priore, Rosângela Minardi
Mitre Cotta e Helena Maria Pinheiro Sant’Ana.
Neste estudo epidemiológico transversal foi avaliado o estado
nutricional, prevalência de anemia e fatores associados ao nível de
hemoglobina de 155 idosos cadastrados no Programa de Saúde da
Família (PSF) do município de Viçosa, Minas Gerais. Alíquotas de 8 mL
de sangue coletadas por punção venosa foram utilizadas para determinar
concentrações de hemoglobina e índices hematimétricos por contagem
eletrônica automatizada, ferritina sérica por turbidimetria e Proteína C
Reativa pelo método de aglutinação em látex. Foram aferidas as medidas
de peso, estatura, circunferência da cintura (CC) e circunferência do
quadril e calculados o Índice de Massa Corporal (IMC) e Razão
Cintura/Quadril (RCQ). Foram aplicados dois questionários, o primeiro
para a caracterização socioeconômica e condições de saúde e o segundo
questionário de freqüência de consumo alimentar seletivo para os
alimentos fontes de ferro e vitamina C. Os valores limítrofes para
classificar o estado nutricional de ferro foram: sexo masculino -
hemoglobina <13 g/dL, hematócrito <39%, VCM < 80 fL, ferritina < 15
μg/L; sexo feminino – hemoglobina <12 g/dL, hematócrito < 36%, VCM <
80 fL, ferritina < 15 μg/L. Considerou-se anemia pela concentração de
hemoglobina, deficiência de ferro pela concentração de ferritina sérica e
anemia ferropriva quando hemoglobina e ferritina ou VCM estivessem
abaixo dos pontos de corte. Os pontos de corte para classificação do IMC
foram <22 kg/m
2
para o baixo peso e IMC >27 kg/m
2
para o sobrepeso.
Os pontos de corte para CC e RCQ foram: CC > 94cm e RCQ > 1,0 (sexo
masculino), CC>80 cm e RCQ >0,85 (sexo feminino). Verificou-se a
associação de fatores socioeconômicos e de saúde ao estado nutricional;
2
bem como a associação de fatores socioeconômicos, de saúde e estado
nutricional ao nível de hemoglobina dos idosos. Foram encontradas altas
prevalências de baixo peso (16,6%) e sobrepeso (41,1%), bem como de
valores de CC (59,3%) e RCQ (57,2%) acima do recomendado. O sexo
feminino se mostrou mais exposto aos riscos relacionados à obesidade e
suas complicações. Idosos com maior nível socioeconômico
apresentaram maiores valores de CC e RCQ e maiores freqüências de
sobrepeso. Idosos sedentários e com morbidades crônicas apresentaram
maiores valores de Índice de Massa Corporal (IMC), CC e RCQ. Idosos
dentados apresentaram maiores medidas de peso e IMC e CC. Entre os
idosos avaliados, 4,5% (n=7) foi diagnosticado com anemia, dos quais um
idoso (0,6%) com anemia ferropriva. Três idosos (2,3%) foram
diagnosticados com deficiência de ferro. Houve associação entre menores
níveis de hemoglobina (Hb) e baixa freqüência de consumo de frango e
alimentos enriquecidos com ferro. O sexo feminino foi associado a
menores níveis de hemoglobina, bem como o trabalho profissional ao
maior nível. Idosos com menores níveis de Hb apresentaram menor peso,
estatura e RCQ; bem como maior número de doenças crônicas e de
medicamentos consumidos por dia. De forma geral, conclui-se que os
idosos cadastrados no PSF de Viçosa – MG apresentam elevadas
prevalências de inadequado estado nutricional. A anemia, no entanto, não
foi considerada um problema de saúde pública entre idosos estudados. O
inadequado estado nutricional e baixos níveis de hemoglobina foram
associados ao sexo, condições socioeconômicas e de saúde dos idosos.
3
2- ABSTRACT
SILVA, Clarice Lima Álvares da. M.Sc. Universidade Federal de Viçosa,
May, 2008., Associated factors to nutritional status and to
hemoglobin level of elderly individuals: the Programa de Saúde da
Família, Viçosa – MG. Adviser: Sylvia do Carmo Castro Franceschini. Co-
advisers: Silvia Eloíza Priore, Rosângela Minardi Mitre Cotta and Helena
Maria Pinheiro Sant’Ana.
In this transversal epidemiologic study were evaluated the
nutritional status, prevalence of anemia and associated factors to
hemoglobin level of 155 elderly individuals registered in the Programa de
Saúde da Família (PSF) in the city of Viçosa, Minas Gerais. Blood
samples of 8 ml were collected by vein puncture and used to determine
hemoglobin concentrations and hematimetric indices by automated
electronic counting, seric ferritin by turbidimetry and C-reactive protein by
latex-agglutination method. The measures of weight, height, waist
circumference (WC) and hip circumference were checked and Body Mass
Index (BMI) and Waist-to-Hip Ratio (WHR) were calculated. A
questionnaire for the socioeconomic and health conditions
characterization and a food frequency questionnaire for foods sources of
iron and vitamin C were applied. The limit values to classify the nutritional
status of iron were: male - hemoglobin <13 g/dL, hematocrit <39%, MCV
<80 fL, ferritin <15 g/L; female - hemoglobin <12 g/dL, hematocrit <36%,
MCV <80 fL, ferritin <15 g/L. Anemia was considered using hemoglobin
concentration, iron deficiency using seric ferritin concentration and iron-
deficiency anemia when hemoglobin and ferritin or MCV were below the
cut points. The cut points for classification of BMI were <22 kg/m
2
for low-
weight and BMI >27 kg/m2 for the overweight. The cut points for WC and
WHR were: WC> 94cm and WHR> 1.0 (male), WC >80cm and WHR
>0.85 (female). It was observed association between socioeconomic and
health factors and nutritional status; as well as association of
socioeconomic and health factors and nutritional status with the
hemoglobin level of elderly. High prevalence of low weight (16.6%) and
overweight (41.1%) were found, as well as values of WC (59.3%) and
4
WHR (57.2%) above recommended. Females are more exposed to the
related risks of obesity and their complications. Elderly with better
socioeconomic situation presented larger values of WC and WHR and
larger overweight frequencies. Sedentary elderly and with chronic
morbidities presented larger values of Body Mass Index (BMI), WC and
WHR. Dentate elderly presented larger weight measures, BMI and WC.
Among the evaluated elderly, 4.5% (n=7) was diagnosed with anemia, and
one of them (0.6%) with iron-deficiency anemia. Three elderly individuals
(2.3%) were diagnosed with iron deficiency. There was found association
among smaller hemoglobin levels (Hb) and low frequency of chicken and
foods enriched with iron consumption. Females were associated with
smallest hemoglobin levels, as well as the professional work at the largest
level. Elderly with smaller levels of Hb presented smaller weight, height
and WHR; as well as larger number of chronic diseases and medicines
consumed by day. In a general way, we conclude that the elderly
individuals registered in PSF of Viçosa - MG presents high prevalence of
inadequate nutritional status. However, anemia was not considered a
public health problem among this elderly. The inadequate nutritional status
and low hemoglobin levels were associated to the gender, socioeconomic
and health conditions of elderly individuals.
5
3- INTRODUÇÃO
O rápido processo de envelhecimento da população brasileira vem
sendo enfatizado nos últimos tempos, gerando discussões principalmente
acerca das implicações sociais e em termos de saúde pública (COELHO
FILHO E RAMOS, 1999; VERAS, 2007; CARVALHO E RODRIGUÉZ-
WONG, 2008).
No início da década de 60 observou-se uma queda brusca nas
taxas de fecundidade bem como nas taxas de mortalidade da população,
levando à modificação de sua estrutura etária. Esta pode ser notada
através do progressivo estreitamento da pirâmide populacional brasileira
com o passar dos anos (CHAIMOWICZ, 1997; LIMA-COSTA E VERAS,
2003; VERAS et al., 1987; CARVALHO E RODRIGUÉZ-WONG, 2008).
Estima-se que em 2025 o Brasil terá a sexta maior população idosa
do mundo, com cerca de 25 milhões de pessoas, correspondendo a
quase 14% da população total (GARRIDO e MENEZES, 2002). Segundo
dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios de 2005, o Brasil
possui 18,2 milhões de idosos (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006).
O aumento da população idosa no Brasil e no mundo vem trazendo
consigo a emergência de problemas de saúde específicos desta fase da
vida, bem como o aumento da prevalência de deficiências nutricionais
neste grupo (RONCADA et al., 1985). Indivíduos com 60 anos ou mais, de
forma geral, apresentam problemas de saúde, em especial doenças
crônicas não-transmissíveis. Tais características de saúde fazem com que
a demanda desta população pelos serviços de saúde seja elevada, bem
como o uso de medicamentos (LOYOLA FILHO et al., 2005).
Com a formação desse novo perfil populacional, o sistema de
saúde se depara com uma demanda diferente pelos seus serviços,
provocado pelas características da transição epidemiológica no país:
superposição do tratamento de doenças crônicas não-transmissíveis, tais
como diabetes, doenças do sistema circulatório e osteoporose,
concomitante ao controle da mortalidade infantil e doenças transmissíveis
(CHAIMOWICZ, 1997; VERAS, 2007). Apesar disso, não houve
6
adaptação total do sistema público de saúde para cobrir as necessidades
da população idosa no país (COTTA et al., 2002; VERAS, 2007).
Para a determinação das condições de saúde da população idosa
podem ser utilizados indicadores de morbidade e mortalidade, presença
de déficits físicos e cognitivos e o nível de utilização de serviços de
saúde, entre outros (LIMA-COSTA et al., 2000). Entre os indicadores de
morbi-mortalidade, a avaliação do estado nutricional é um instrumento
importante, pois detecta com eficácia o nível de saúde desta população.
Entre os indicadores do estado nutricional, além da avaliação
antropométrica e da composição corporal, ferramentas importantes para o
conhecimento da saúde dos idosos, a vigilância de carências nutricionais
deve ser destacada, uma vez que estas estão presentes como co-
morbidades ou até mesmo doença principal em idosos, e afetam
diretamente as condições de saúde e a qualidade de vida deste grupo
populacional.
Balducci et al. (2005) colocam que a identificação e o tratamento
de fatores de risco associados à maior morbi-mortalidade é imprescindível
para a efetividade de programas de saúde direcionados à população
idosa.
A perda da dentição, alterações no paladar e perda da mobilidade
podem levar a inadequações da ingestão alimentar entre idosos. Além
disso, alterações fisiológicas no processo de digestão e metabolismo,
alcoolismo, interação com medicamentos, freqüentemente observados em
idosos, os tornam mais propensos à deficiência de nutrientes, em
particular vitaminas e minerais (VIR E LOVE, 1977; GARRY et al., 1982;
VANNUCCI et al., 1994; HUANG et al.,2001).
A anemia é reconhecida como um fator de risco em idosos para
diferentes complicações de saúde como insuficiência cerebrovascular e
coronária, dependência funcional e debilidade cognitiva, quedas e fraturas
ósseas, complicações iatrogênicas e até mesmo a morte (GURALNIK et
al., 2004), sendo difícil o isolamento da anemia como único fator de risco
para estas complicações de outros eventos que acompanham o
envelhecimento. Pode também estar relacionada ao risco de doença de
Alzheimer e outros sintomas neurológicos (KATZ et al., 1993; BEARD et
al., 1997). Sua ocorrência afeta diretamente a qualidade de vida, em
7
conseqüência da fadiga, dispnéia e dificuldade em desenvolver atividades
diárias, sintomas comuns desta doença (CELLA, 1997).
A composição corporal se correlaciona fortemente com o estado
nutricional, estrutura genética, características ambientais, condições
socioculturais, estilo de vida, capacidade funcional e estado de saúde
(FOSTER e GARIBALLA, 2005), e tem implicações diretas sobre o
desenvolvimento de doenças e dependência física (RAGUSO et al.,
2006).
O baixo peso e o sobrepeso entre idosos têm coexistido e se
sobressaído à eutrofia, sendo decorrentes de condições peculiares nas
quais este grupo está submetido no âmbito familiar, vivendo sozinho, ou
em instituições asilares, e agravadas por características socioeconômicas,
alterações fisiológicas do envelhecimento, e progressiva incapacidade
funcional (CAMPOS, 1996).
Diante do exposto, fica clara a necessidade de maior conhecimento
sobre as necessidades e condições de saúde de indivíduos idosos,
possibilitando o delineamento de políticas específicas para este grupo
populacional.
8
4- OBJETIVOS
4.1- Objetivo geral
Avaliar o estado nutricional, a prevalência de anemia e os fatores
associados ao nível de hemoglobina em idosos cadastrados no Programa
de Saúde da Família do município de Viçosa – MG.
4.2 - Objetivos específicos
- Analisar as características socioeconômicas, demográficas e de
saúde dos idosos cadastrados no Programa de Saúde da Família do
município de Viçosa;
- Avaliar os fatores associados ao estado nutricional dos idosos
cadastrados no Programa de Saúde da Família do município de Viçosa;
- Verificar a prevalência de anemia e os fatores associados ao nível
de hemoglobina dos idosos cadastrados no Programa de Saúde da
Família do município de Viçosa.
9
5- METODOLOGIA
5.1- Casuística
O tamanho amostral foi calculado com base numa freqüência de
anemia de 10% (BARBOSA et al., 2006), com margem aceitável na
variabilidade desta freqüência de 5% e com intervalo de confiança 95%. A
partir da população de 4.296 idosos residentes no município, estimou-se
uma amostra mínima de 135 idosos. Visando prevenir possíveis perdas
amostrais, foi adicionado um percentual de 15% sobre a amostra
calculada. O uso de sais de ferro até 30 dias antes da avaliação foi
adotado como critério de exclusão.
O Programa de Saúde da Família (PSF) possui 13 equipes no
município de Viçosa, tendo uma cobertura populacional de 58,9%. Dentre
as treze equipes atualmente no município, cinco foram selecionadas para
a realização do estudo, de acordo com a localização geográfica das
mesmas, disponibilidade para participar do estudo e tamanho amostral.
As mesmas estão localizadas em diferentes bairros da zona urbana do
município, conforme demonstrado no quadro 1.
Quadro 1: Equipes de Saúde da Família participantes do estudo e
sua contribuição percentual na amostra final. Viçosa – MG
(2007).
Número de Idosos
Localização
(bairro) da Equipe
de PSF
Cadastrados Entrevistados
Percentual de
participação
na
amostragem
Amoras 255 22 14,2
Nova
Viçosa/Posses
373 33 21,3
Nova Era 357 36 23,2
São Sebastião 333 36 23,2
Silvestre 238 28 18,1
Outros Bairros 2074 - -
TOTAL
3.630 155 100
10
Foram envolvidos no estudo 155 idosos (idade igual ou superior a
60 anos), adstritos em equipes do PSF no município de Viçosa, Minas
Gerais, totalizando 4,3% da população idosa cadastrada no PSF. Os
idosos foram selecionados de forma randomizada entre todos os
cadastrados em cada equipe, os quais foram convidados a participar do
estudo por agentes comunitários de saúde uma semana antes da
realização dos mutirões de avaliação nutricional do idoso. O convite foi
feito por meio de folheto informativo, entregue em seus domicílios.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e maio
de 2007.
Os idosos avaliados foram agrupados por sexo, faixa etária (60 a
64 anos, 65 a 69 anos, 70 a 74 anos, 75 a 79 anos, e 80 anos ou mais de
idade) (INSTITUO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2000)
e tercis de nível de hemoglobina (tercil 1-Hb< 13,6 g/ dL, tercil 2-Hb entre
13,6 e 14,7 g/dL e tercil 3-Hb 14,7 g/dL).
5.2- Materiais e métodos
5.2.1- Caracterização socioeconômica e condições de saúde
Foi aplicado um questionário pelo pesquisador ou estagiário
treinado, para a caracterização socioeconômica e condições de saúde da
população (Anexo 2), contendo questões sobre renda, escolaridade,
habitação, alimentação, morbidades e uso de medicamentos. O
questionário foi construído a partir do estudo de Pereira (2005), realizado
com idosos de um município vizinho ao do presente estudo.
5.2.2 - Avaliação dietética
A avaliação dos hábitos alimentares foi realizada com auxílio de um
Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar (QFCA) seletivo para
os alimentos fontes de ferro e vitamina C (Anexo 3), a partir do qual pôde-
11
se verificar a freqüência de consumo destes alimentos, detectar erros
quantitativos e qualitativos existentes na alimentação e possibilitou avaliar
a relação entre o estado nutricional de ferro entre idosos e seus hábitos
alimentares (WILLETT, 1998).
O QFCA seletivo caracteriza-se como um método retrospectivo,
onde o indivíduo descreve a ingestão habitual de alimentos fonte do(s)
nutriente(s) de interesse, bem como a freqüência com que este consumo
ocorre (KAMIMURA et al., 2002).
Os alimentos constituintes do questionário foram selecionados com
base em estudo prévio realizado nesta comunidade (ABREU, 2003), de
forma a abranger alimentos que fazem parte do hábito e da cultura
alimentar desta população.
5.2.3 - Avaliação antropométrica
As medidas antropométricas relacionadas abaixo foram aferidas
pelo pesquisador.
Peso
Utilizou-se uma balança eletrônica digital, com capacidade de 150
quillos e precisão de 50 gramas. Os entrevistados foram pesados
seguindo as técnicas propostas pela Organização Mundial de Saúde
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1995).
Estatura
A estatura foi obtida utilizando-se estadiômetro com capacidade de
2 metros, dividido em centímetros e subdividido em milímetros. A técnica
utilizada foi a preconizada pela Organização Mundial de Saúde
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1995).
12
Circunferências
As circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ) foram aferidas
utilizando-se uma fita métrica flexível e inelástica, com o entrevistado em
pé.
Na medida da CC, a fita circundou o indivíduo no ponto médio
entre a última costela e a crista ilíaca, correspondendo à região mais
estreita entre o tórax e o quadril (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA
SALUD, 1995).
A CQ foi obtida passando-se a fita pelo quadril, na região de maior
proeminência entre a cintura e a coxa (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA
SALUD, 1995).
5.2.4 - Composição corporal
Índice de Massa Corporal
Calculado a partir das medidas de peso e estatura, representando
a relação kg/m
2
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1995). O
ponto de corte usado para a classificação dos idosos foi o proposto por
Lipschitz (1994):
Quadro 2: Pontos de Corte para classificação do Índice de Massa
Corporal (IMC) em idosos.
Valores de IMC (kg/m
2
) Classificação
< 22 Baixo Peso
22 a 27 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary Care,
21(1):55-67,1994.
Razão Cintura/ Quadril e Circunferência da Cintura
Foram utilizados para predizer o risco de doenças
cardiovasculares, levando-se em conta os pontos de corte propostos pela
Organização Mundial de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
1998) (Quadro 3).
13
Quadro 3: Pontos de Corte para classificação da Circunferência da
Cintura (CC) e Razão Cintura/Quadril (RCQ) em idosos.
Pontos de Corte
Circunferência da Cintura Razão Cintura/Quadril
Classificação
Masculino Feminino Masculino Feminino
Risco > 94 cm > 80 cm >1,0 > 0,85
Risco aumentado > 102 cm > 88 cm - -
Fonte: World Health Organization. Phisical Status: The Use and Interpretation of
Anthropometry: reporty of a WHO committee. Geneva: WHO, 1998.
5.2.5 - Avaliação bioquímica
Os idosos foram previamente orientados para a realização de jejum
mínimo de 8 horas. No dia seguinte, coletou-se 8 mL de sangue venoso
do participante, por técnico treinado.
As amostras de sangue coletadas foram refrigeradas e
encaminhadas ao Laboratório de Análises Clínicas da Divisão de Saúde –
Universidade Federal de Viçosa.
5.2.5.1 - Avaliação do estado nutricional de ferro
Foram utilizados os seguintes indicadores do estado nutricional de
ferro: hemoglobina (Hb), hematócrito (Htc), Volume Corpuscular Médio
(VCM), ferritina sérica e ferro sérico. As análises foram realizadas pelo
laboratório de análises clínicas da Divisão de Saúde da Universidade
Federal de Viçosa.
A concentração de hemoglobina, VCM e hematócrito foram
determinadas pelo método de contagem eletrônica, por meio do Contador
Eletrônico Hematológico, (Coulter, T- 890). Na dosagem de ferritina e
ferro sérico, utilizou-se o método Turbidimetria, por meio de Turbidômetro
(Cobas Mira Plus).
14
A Classificação do estado nutricional de ferro foi feita com base nos
pontos de corte propostos pela Organização Mundial de Saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2001):
Quadro 4: Pontos de corte para classificação do estado nutricional
de ferro.
Pontos de Corte
Parâmetro
Masculino Feminino
Hemoglobina (g/dL) <13 <12
Hematócrito (%) 39 36
VCM (fL) <80 <80
Ferritina Sérica (μg/L)
<15 <15
Fonte: World Health Organization. Iron Deficiency Anaemia. Assessment, Prevention,
and Control. Geneva, Swuitzerland, 2001, 114 p.
A deficiência de ferro foi diagnosticada por meio de valores de
ferritina abaixo da normalidade. A anemia foi diagnosticada por níveis de
Hb abaixo dos pontos de corte (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2001). A anemia ferropriva, por sua vez, foi caracterizada quando níveis
de Hb estavam baixos, juntamente com valores de VCM e/ou ferritina
abaixo do normal (JOHNSON, 1990; SMITH, 2000; WHO, 2001;
BALDUCCI et al., 2005).
5.2.5.2– Uso da Proteína C Reativa
A Proteína C Reativa (PCR) foi utilizada como controle de casos de
infecções, os quais são responsáveis pelo aumento da concentração
sérica de ferritina. Valores positivos para o teste utilizado foram
considerados indicativos de resposta de fase aguda. As análises foram
realizadas utilizando-se o método qualitativo de aglutinação em látex
(FERREIRA e ÁVILA, 1996).
15
5.3 - Aspectos éticos
Os princípios éticos foram respeitados conforme as orientações da
resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1996), sendo esta pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa – MG.
Os idosos foram informados acerca dos objetivos e metodologias do
estudo e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo 1).
Os resultados dos exames bioquímicos e avaliação antropométrica
e dietética realizados foram entregues aos voluntários e às Equipes de
Saúde da Família na qual cada idoso estava cadastrado.
Com base nos resultados encontrados, foram elaboradas palestras
e outras medidas de educação nutricional para os idosos.
Além disso, aqueles indivíduos diagnosticados com anemia,
deficiência de ferro e/ou algum distúrbio antropométrico, foram
encaminhados para tratamento com a Equipe de Saúde da Família
responsável pela sua área de cobertura e acompanhamento nutricional
individual.
5.4 - Softwares
O Epi info versão 6.04, foi utilizado para a confecção do banco de
dados e análise dos resultados. Para análise estatística foi também
utilizado o Software Sigma Stat, versão 2.0.
16
6- BIBLIOGRAFIA
ABREU, W. C. Aspectos socioeconômicos, de saúde e nutrição, com
ênfase no consumo alimentar, de idosos atendidos pelo Programa
Municipal da Terceira Idade (PMTI) de Viçosa- MG. [Dissertação de
Mestrado]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2003.
BALDUCCI, L.; ESHLER, W. B.; KRANTZ, S. Anemia in the Elderly –
Clinical findings and impact on health. Critical Reviews in
Oncology/Hematology, (in press); 2005.
BARBOSA, D. L.; ARRUDA, H. K, G.; DINIZ, A. S. Prevalência e
caracterização da anemia em idosos do Programa de Saúde da Família.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 28(4): 288-292,
2006.
BEARD, C. M.; KOKMEN, E.; O’BRIEN, P. C.; ANIA, B. J., MELTON, L. J.
Risk of Alzheimer’s disease among elderly patients with anemia:
population-based investigation in Olmsted County, Minnesota. Annual
Epidemiology, 7(3):219-24, 1997.
CAMPOS, M.T.F.S. Efeitos da suplementação alimentar em idosos.
[Dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1996.
CARVALHO, J. A. M.; RODRIGUÉZ-WONG, L. L. A transição da estrutura
etária da população brasileira na primeira metade do século XXI.
Cadernos de Saúde Pública, 24(3):597-605, 2008.
CELLA, D. The functional assessment of concept therapy-anemia (FACT-
Na) scale: a new tool for the assessment of outcomes in cancer anemia
and fatigue. Seminars in Hematology, 34(3/suppl 2): 13-9; 1997.
CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século
XXI: problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública,
31(2): 184-200; 1997.
COELHO FILHO, J. M.; RAMOS, L. R. Epidemiologia do envelhecimento
no Nordeste do Brasil: resultados de inquérito domiciliar. Revista de
Saúde Pública, 33(5): 445-53; 1999.
COTTA, R. M. M.; SUAREZ-VARELA, M. M.; COTTA FILHO, J. S.;
LLOPIS GONZALEZ, A.; DIAS RICÒS, J. A.; REAL, E. R. La
17
hospitalización domiciliaria ante los cambios demográficos y nuevos retos
de salud. Revista Panamericana de Salud Publica. 11(4): 253-61, 2002.
FERREIRA, A.W.; ÁVILA, S.L.M. Diagnóstico laboratorial: avaliação de
métodos de diagnóstico das principais doenças infecciosas e
parasitárias e auto-imunes. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
FOSTER, S.; GARIBALLA, S. Age as a determinant of nutritional status: a
cross sectional study. Journal of Nutrition, 4:28-31, 2005.
GARRIDO, R.; MENEZES, P. R. O Brasil está envelhecendo: boas e más
notícias por uma perspective epidemiológica. Revista Brasileira de
Psiquiatria, 24(suppl 1): 3-6, 2002.
GARRY, P. J.; GODWIN, J. S.; HUNT, W. C.; HOOPER, E. M.; LEONAR,
A. G. Nutritional status in a healthy elderly population: dietary and
supplementation intakes. The American Journal of Clinical Nutrition,
36:319-31; 1982.
GURALNIK, J. M.; EINSTAEDT, R. S., FERRUCI, L. Prevalence of
anemia in persons 65 years and older in the United States: evidence for a
high rate of unexplained anemia. Blood,104: 2263-8; 2004.
HUANG, Y. C.; WONG, Y.; WENG, S. L.; CHENG, C. H.; SU, K. H.
Nutrient intakes and iron status of elderly men and women. Nutrition
Research, 21: 967-81; 2001.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: URL:
http://www.ibge.gov.br
.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Síntese
de Indicadores Sociais 2006. Estudos e Pesquisas – Informação
Demográfica n.º 19. Rio de Janeiro, 2006.
JOHNSON, M. A. Iron: nutrition monitoring, and nutrition status
assessment. Journal of Nutrition, 120: 1486-91; 1990.
KAMIMURA, M. A.; BAXMANN, A.; SAMPAIO, L. R. CUPPRI, L.
Avaliação Nutricional. In: CUPPARI, L. Guias de Medicina Ambulatorial
e Hospitalar – Nutrição Clínica no Adulto. 1ª ed., São Paulo: Editora
Manole Ltda. 2002. 406p.
KATZ, R. J.; BEASTON-WIMMER, P., PARMELEE, P. FRIEDMAN, E.;
LAWTON, M. P. Failure to thrive in the elderly: exploration of concept and
18
delineation of psychiatric components. Journal of Geriatric Psychiatry
Neurology, 6:161-9; 1993.
LIMA-COSTA, M. F.; GUERRA, H. L.; BARRETO, S. B.; GUIMARÃES, R.
M. Diagnóstico da situação de saúde da população idosa brasileira: um
estudo da mortalidade e das internações hospitalares públicas. Informe
Epidemiológico do SUS. Ministério da Saúde, DF, v.9, n1: 23-41; 2000.
LIMA-COSTA, M. F.; VERAS, R. Saúde Pública e envelhecimento
(Editorial). Cadernos de Saúde Pública, 19:700-1; 2003.
LIPSCHITZ, D. A Screening for nutritional status in the elderly. Primary
Care, 21(1):55-67, 1994.
LOYOLA FILHO, A. I.; UCHOA, E.; FIRMO, J. O. A.; LIMA-COSTA, M. F.
Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre
idosos: Projeto Bambuí. Cadernos de Saúde Pública, 21(2):545-553;
2005.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. El estado físico: uso e
interpretación de la antropometría. Genebra: OMS; 1995. 452 p.
PEREIRA, R. J. Análise da Qualidade de Vida de Idosos – Município
de Teixeiras – MG. [Dissertação de Mestrado] Universidade Federal de
Viçosa, Minas Gerais. 2005. 149p.
RAGUSO, C. A.; KYLE, U.; KOSSOVSKY, M.P.; ROYNETTE, C.;
PAOLONI-GIACOBINO, A.; HANS, D.; GENTON, L.; PICHARD, C. A 3-
year longitudinal study on body composition changes in the elderly: Role
of physical exercise. Clinical Nutrition, 25: 573-580, 2006.
RONCADA, M. J.; MARUCCI, M. F. N.; LAMONICA, I. M. R. Níveis
sangüíneos de vitamina A e caroteno em indivíduos de meia-idade e
idosos, em onze localidades do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de
Saúde Pública, 19:336-43; 1985.
SMITH, D. L. Anemia in the elderly. American Family Physician, 62(7):
1565-72; 2000.
VANNUCCI, H.; CUNHA, D. F.; BERNARDES, M. M. UNAMUNO, M. R.
D. L. Avaliação dos níveis séricos das vitaminas A, E, C e B
2
, de
carotenóides e zinco, em idosos hospitalizados. Revista de Saúde
Pública, 28(2): 121-6; 1994.
19
VERAS, R. P.; RAMOS, L. R.; KALACHE, A. Crescimento da população
idosa no Brasil: transformação e conseqüências na sociedade. Revista
de Saúde Pública, 21(3): 255-33; 1987.
VERAS, R. Fórum: Envelhecimento populacional e as informações de
saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Introdução.
Cadernos de Saúde Pública, 23(10): 2463-2466, 2007.
VIR, S. C.; LOVE, A. H. G. Nutrition evaluation of B groups of vitamins in
institutionalized aged. International Journal of Vitamin Nutrition
Research, 47:211-8; 1977.
WILLETT, W. C. Reproducibility and Validity of Food-Frequency
Questionnaires. 2ª ed., Oxford: University Press, 1998.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Phisical Status: The Use and
Interpretation of Anthropometry: reporty of a WHO committee.
Geneva: WHO, 1998. (WHO – Technical Report Series).
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Iron Deficiency Anaemia.
Assessment, Prevention, and Control. Geneva, Swuitzerland, 2001,
114p.
20
7- REVISÃO DE LITERATURA
7.1- Artigo 1: Avaliação bioquímica da anemia em idosos: aspectos
metodológicos.
7.1.1 – Resumo
A anemia é um fator de risco para efeitos adversos à saúde dos
idosos e sua ocorrência afeta diretamente a qualidade de vida deste
grupo populacional. Muitos são os métodos diagnósticos disponíveis
atualmente para a classificação desta deficiência, assim como existem
diferentes propostas para os pontos de corte a serem utilizados na
população idosa. Diante disso, estudos têm chegado a estimativas
conflitantes de prevalência. O objetivo do presente trabalho foi realizar
uma revisão de literatura, reunindo e analisando trabalhos originais e
artigos de revisão que tratam desta carência na população idosa,
enfocando os seus aspectos metodológicos. A análise demonstrou grande
variação nas prevalências de anemia entre idosos, bem como a utilização
de diferentes indicadores bioquímicos para sua avaliação, apontando para
a necessidade de mais estudos sobre anemia na população idosa, bem
como a determinação dos melhores indicadores desta doença, de forma a
melhorar a acurácia de seu diagnóstico e favorecer o estabelecimento de
políticas de saúde mais eficientes para este grupo populacional.
Palavras-Chave: Anemia, Idosos, Prevalências, Diagnóstico.
21
7.1.2- Introdução
O aumento da população idosa no Brasil e no mundo traz consigo
a emergência de problemas de saúde específicos desta fase da vida, bem
como o aumento da prevalência de deficiências nutricionais neste grupo
(RONCADA et al., 1985).
A perda de mobilidade, dentição e alterações no paladar podem
levar ao decréscimo da ingestão energética diária. Além disso, alterações
fisiológicas no processo de digestão e metabolismo, alcoolismo, interação
dos nutrientes com medicamentos freqüentemente consumidos pelos
idosos, os tornam mais propensos à deficiência de nutrientes, em
particular vitaminas e minerais (VIR e LOVE, 1977; GARRY et al., 1982;
VANNUCCI et al., 1994; HUANG et al., 2001).
Balducci et al. (2005) afirmam que a identificação de fatores de
risco associados à maior morbi-mortalidade é imprescindível para a
efetividade de programas de saúde direcionados à população idosa.
A anemia é reconhecida como um fator de risco em idosos para
diferentes complicações de saúde como insuficiência cerebrovascular e
coronária, declínio da função renal, dependência funcional e déficit
cognitivo, quedas e fraturas ósseas, complicações iatrogênicas e até
mesmo a morte (GURALNIK et al., 2004; LEE et al., 2008), apesar da
conhecida dificuldade de se isolar a anemia de outros fatores que
acompanham o envelhecimento e que também podem estar relacionados
a tais disfunções.
A anemia também pode estar relacionada à doença de Alzheimer e
outros sintomas neurológicos (BEARD et al., 1997; KATZ et al., 1993).
Sua ocorrência afeta diretamente a qualidade de vida, em conseqüência
da fadiga, dispnéia e dificuldade em desenvolver atividades diárias,
sintomas comuns desta doença (CELLA, 1997).
Com base no exposto, o objetivo do presente trabalho foi realizar
uma revisão de literatura, reunindo e analisando trabalhos originais e
artigos de revisão que tratam desta doença na população idosa. O
enfoque deste artigo é a discussão dos diferentes indicadores
bioquímicos disponíveis para o diagnóstico de anemia, sua aplicabilidade
22
na população idosa, bom como sua repercussão nas estimativas de
prevalência neste grupo populacional.
7.1.3- Metodologia
Foram consultadas diferentes bases de dados em saúde, entre
elas Scielo, Science Direct, High Wire, MedLine e Periódicos Capes. Os
descritores utilizados para a busca dos artigos foram: Idosos, Anemia,
Diagnóstico, Prevalência.
Não foi estabelecida data limite de publicação para a utilização do
artigo nesta revisão, de forma a possibilitar a observação da evolução
desta deficiência na população idosa ao longo dos anos. Foram
recuperados 150 artigos originais e de revisão sobre o assunto. A partir
destes, foram selecionados 50 artigos para análise e discussão.
7.1.4- Resultados e Discussão
7.1.4.1- Anemia em idosos
Os níveis de hemoglobina diminuem com o aumento da idade
(ERSHLER et al., 2005). A modulação hematopoiética se torna
desbalanceada no idoso, devido à diminuição da habilidade da medula
óssea em responder a estímulos adversos, tais como sangramentos,
infecções e danos citotóxicos (SCHAAN et al., 2007). Desta forma, a
anemia é considerada um problema de saúde entre idosos
(EISENSTAEDT et al., 2006; PRICE, 2008). Sua prevalência aumenta
após os 60 anos e se torna ainda maior entre idosos com mais de 80
anos (ANIA et al., 1994; BALDUCCI, 2003, GURALNIK et al., 2004).
Baixos níveis de hemoglobina entre idosos têm sido relacionados a
déficits de concentração, diminuição da força muscular, baixo
desempenho físico, baixa capacidade funcional e aumento da mortalidade
(BLE et al., 2005; WOODMAN et al., 2005; MARALDI et al., 2006).
Embora não seja bem estabelecida a relação de causalidade, tem sido
postulado que baixos níveis de hemoglobina atuam negativamente na
23
saúde geral do idoso, agravando problemas de saúde preexistentes e
levando ao surgimento de novas complicações (PRICE, 2008).
Ershler et al. (2005)
descreveram que, em indivíduos saudáveis, o
nível de hemoglobina mantém-se praticamente constante enquanto os
níveis de eritropoietina elevam-se com o envelhecimento, sugerindo um
mecanismo fisiológico onde o aumento na produção de eritropoietina se
torna necessário à manutenção dos níveis de hemoglobina para um
adequado funcionamento do organismo.
Estudos têm demonstrado que a prevalência de anemia aumenta
proporcionalmente com a incidência e a gravidade de problemas renais,
confirmando que a diminuição da secreção de eritropoietina é
considerada um fator de risco para anemia entre idosos (BLE et al., 2005;
LEE et al., 2008; PRICE 2008).
Phenninx et al. (2004) encontraram em seu estudo que idosos com
anemia têm níveis séricos significantemente maiores de marcadores
inflamatórios (proteína C reativa, fator de necrose tumoral-α e
interleucina-6), os quais estão relacionados com a inibição da proliferação
e diferenciação de células progenitoras eritrocitárias, modulação do
metabolismo de ferro e supressão da produção de eritropoietina. A
relação inversa também foi observada, ou seja, a redução dos níveis de
hemoglobina e conseqüente hipóxia, resulta no aumento da secreção de
citocinas, criando um ciclo entre anemia e inflamação.
A anemia em idosos pode se dar por diferentes causas, sendo a
grande maioria passível de diagnóstico (GURALNIK et al., 2004;
BALDUCCI et al., 2005). Estas causas são divididas em três grupos:
anemia ferropriva, anemia por doenças crônicas e anemia sem causas
explicáveis.
A anemia ferropriva apresenta prevalência de aproximadamente
20% entre idosos. Pode ocorrer por deficiência isolada de ferro ou
combinada com deficiência de vitamina B
12
e/ou ácido fólico (GURALNIK
et al., 2004). O sangramento gastrointestinal causado por doenças
comuns nesta fase da vida, tais como esofagite, gastrite, úlcera e câncer
de cólon, também pode ser responsável por este tipo de anemia (SMITH,
2000; BEGHÉ et al., 2004), a qual se caracteriza por células microcíticas
e hipocrômicas.
24
Anemia por doenças crônicas é a principal causa de anemia em
idosos, sendo responsável por 35% dos casos. Trata-se de uma condição
associada a outras doenças como infecções agudas e crônicas e doenças
malignas (SMITH, 2000). Sua gravidade se correlaciona à doença
principal, sendo geralmente média a moderada (não ultrapassando níveis
de hemoglobina abaixo de 10g/dL), normocítica e normocrômica
(BALDUCCI et al., 2005; MEANS Jr e KRANTZ, 1992).
Anemia ferropriva e por doenças crônicas podem coexistir em
idosos, devido às várias doenças coexistentes neste grupo populacional
(WOODMAN et al., 2005).
Anemia sem causas explicáveis ocorre em aproximadamente 17%
dos idosos com anemia. Existem muitas teorias, ainda não comprovadas,
para explicar este tipo de anemia na população idosa: diminuição das
reservas de células pluripotentes hematopoiéticas, redução da produção
de fatores de crescimento hematopoiéticos, redução da sensibilidade de
células descendentes e progenitoras aos fatores de crescimento,
anormalidades na medula, deficiência androgênica, insuficiência renal
crônica desconhecida, mielodisplasia não diagnosticada ou estágio
primário de anemia por doenças crônicas (BALDUCCI et al., 2005).
Independentemente da causa da anemia, tem sido demonstrada a
relação inversa entre níveis de hemoglobina e taxas de hospitalização em
idosos de ambos os sexos (BEGHÉ et al., 2004), reafirmando a
magnitude desta doença e seu impacto negativo na saúde deste grupo
populacional.
7.1.4.2- Definição de anemia
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define anemia em idosos
como níveis de hemoglobina (Hb) abaixo de 13g/dL para o sexo
masculino e 12 g/dL para o feminino. Tais pontos de corte correspondem
a –2 desvios-padrão da média dos níveis de hemoglobina em uma
população saudável com características fisiológicas semelhantes e
vivendo numa mesma altitude (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2001).
25
Os valores acima mencionados podem ser justificados
fisiologicamente por:
- Aumento endógeno dos níveis de eritropoietina quando níveis de
hemoglobina caem abaixo de 12 g/dL, demonstrando que a oxigenação
tecidual ótima ocorre acima destes níveis;
- Aumento do risco de complicações cirúrgicas quando os níveis de
hemoglobina estão iguais ou abaixo de 12 g/dL;
- Níveis de hemoglobina inferiores a 12 g/dL serem usados como
marcadores para a investigação e tratamento das causas de anemia
(BALDUCCI et al., 2005).
7.1.4.3- Avaliação da anemia em idosos
A anemia em idosos pode ser uma comorbidade relacionada a
doenças como câncer de cólon ou do trato geniturinário, deficiência
relativa de eritropoietina por insuficiência renal crônica, mielodisplasia ou
deficiência de vitamina B
12
, ácido fólico e/ou ferro devido à inabilidade de
absorção ou baixa ingestão alimentar destes nutrientes (BALDUCCI et al.,
2005). Desta forma, quando se deseja investigar se a anemia se deve a
carência nutricional de ferro, por exemplo, critérios de exclusão para
indivíduos com diagnósticos de outras doenças devem ser adotados,
através da análise da história médica, uso de medicamentos ou de
exames complementares. Também podem ser adotados diferentes testes
laboratoriais para a precisa identificação da causa da anemia, visando à
eliminação de fatores de confusão.
Em países em desenvolvimento, grande parte da população idosa
apresenta alguma doença crônica, tornando-se difícil alcançar números
representativos da população para estudos de prevalência trabalhando-se
apenas com idosos saudáveis. A utilização de testes laboratoriais
complementares para o diagnóstico e classificação da anemia torna-se
então indispensável nestes países.
Smith (2000)
sugere que na avaliação laboratorial se incluam, em
princípio, esfregaço de sangue periférico, contagem de reticulócitos,
contagem sangüínea completa e índices hematimétricos. Estes dados irão
26
permitir uma análise ampla do estado hemodinâmico do idoso,
direcionando as investigações subseqüentes. A presença de esferócitos e
células sangüíneas fragmentadas no esfregaço é evidência de hemólise.
A última também pode ser diagnosticada através da contagem de
reticulócitos, os quais estão aumentados nesta situação ou hemorragia e
diminuídos na ocorrência de mielodisplasia, falha na produção de
eritropoietina ou deficiência de ferro.
Os tamanhos de hemácias encontrados podem elucidar a origem
da anemia, pois estas são microcíticas na deficiência de ferro e
macrocíticas na deficiência de vitamina B
12
ou quando há síntese de DNA
ou precursores eritropoiéticos. Para este tipo de avaliação, utiliza-se o
Volume Corpuscular Médio (VCM). Quando este índice encontra-se acima
da normalidade, provavelmente a anemia é resultado de deficiências de
vitamina B
12
e/ou ácido fólico. Por outro lado, quando o VCM está baixo,
há fortes indícios de anemia ferropriva e o estado nutricional de ferro deve
ser criteriosamente avaliado. Visto que a prevalência de deficiência de
vitamina B
12
aumenta em função da idade, a análise do VCM se torna um
importante instrumento para a correta identificação do tipo de anemia
(BALDUCCI et al., 2005).
É recomendada a utilização de níveis de VCM acima ou abaixo de
100 μm
3
/célula para a caracterização do tipo de anemia (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2001; BALDUCCI et al.,
2005).
Segundo Johnson (1990), a avaliação da Concentração de
Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM) não é indicada em idosos com
hiperlipidemia visto que esta condição, muito comum nesta fase da vida,
afeta a sensibilidade de seu resultado. O autor sugere o uso de baixos
níveis de ferritina e VCM para diagnóstico de deficiência de ferro em
idosos.
Os valores de hematócrito são muitas vezes utilizados de forma
isolada para o diagnóstico de anemia, principalmente em países em
desenvolvimento e/ou com elevada incidência desta doença, devido ao
baixo custo e elevada sensibilidade deste indicador. Lipschitz et al. (1981)
definiram anemia como valores de hematócrito abaixo de 40% para o
sexo masculino e 36% para o feminino como ponto de corte para anemia
27
moderada. Timiras e Brownstein (1987), similarmente, propuseram
valores deste indicador abaixo de 40% e 37% para homens e mulheres
respectivamente. A Organização Mundial de Saúde (2001), por sua vez,
preconiza pontos de corte de 39% para homens e 36% para mulheres, de
forma isolada ou complementar à avaliação dos níveis de hemoglobina.
Por outro lado, Nandigam et al. (2004) desaconselham a avaliação
de hematócrito em idosos, devido a diminuição fisiológica de seu volume
plasmático, a qual poderia superestimar os valores deste indicador.
A avaliação dos níveis séricos de ferritina é um método efetivo de
diagnóstico e possibilita a diferenciação entre anemia ferropriva ou
anemia por doença crônica (SMITH, 2000). A avaliação desta proteína é
usada como marcador para o estoque corporal de ferro, de forma que
níveis abaixo de 15 μg/L indicam deficiência deste mineral (BAYNES e
COOK, 1996; WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001).
Embora valores de ferritina abaixo de 12-15 μg/L sejam
considerados pontos de corte para o diagnóstico de deficiência de ferro e
níveis acima de 100 μg/L seja considerados adequados, valores
intermediários (entre 15 e 99 μg/L) deixam dúvidas sobre o estado
nutricional de ferro (WOODMAN et al., 2005). Sabe-se que algumas
condições clínicas provocam o aumento dos níveis séricos de ferritina,
independente do estoque corporal de ferro. Tais quadros incluem
inflamação, doença aguda ou crônica do fígado, infecção e alguns tipos
de câncer (LEE e JACOBS Jr., 2004).
Sendo assim, pontos de corte mais sensíveis foram propostos para
indivíduos com quadro inflamatório. Hansen e Hansen (1986)
demonstraram que em pacientes com artrite reumatóide, um ponto
de corte de 60 μg/L apresentou um valor preditivo de 83% para a resposta
dos níveis de hemoglobina à suplementão com ferro, sensibilidade de
86% e especificidade de 88% para a deficiência de ferro. Ahluwalia et al.
(1995), avaliando idosas com diagnóstico de doença crônica, sugeriram
um ponto de corte ainda mais sensível, de 90 μg/L para este grupo
populacional.
28
A avaliação dos níveis de transferrina sérica pode ser uma
alternativa, uma vez que esta se encontra elevada na deficiência de ferro,
não se alterando na presença de quadro inflamatório (BAYNES e COOK,
1996). Valores de transferrina sérica acima de 400 mg/dL indicam
deficiência de ferro (SUOMINEN et al., 1998).
A saturação de transferrina também é utilizada para a avaliação
dos níveis desta proteína, de forma que valores abaixo de 16% são
propostos como ponto de corte para screening de anemia em nível
populacional (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001).
Os receptores solúveis de transferrina (RST) têm sido propostos
para o diagnóstico de deficiência de ferro visto que sua análise também
não é afetada por quadros infecciosos ou inflamatórios. O uso deste
indicador é baseado na demonstração de que o aumento na expressão
deste receptor ocorre quando há diminuição nos níveis circulantes de
transferrina e, conseqüentemente, nos níveis orgânicos de ferro. Foi
proposto como ponto de corte para este índice valores acima de 1,5
(SUOMINEN et al., 1998; BAILLIE et al., 2003; WOODMAN et al., 2005).
A Capacidade Total de Ligação do Ferro (CTLF) encontra-se acima
do normal quando há deficiência de ferro (BALDUCCI, 2003). No entanto,
há uma diminuição fisiológica desta capacidade com o envelhecimento
(YIP et al.,1984), podendo ser um viés no diagnóstico de anemia
ferropriva na população em questão.
7.1.4.4- Variações metodológicas e diferenças nas estimativas de
prevalências de anemia em idosos
Estudos apontam diferentes prevalências de anemia em idosos.
Esta variabilidade pode estar relacionada à heterogeneidade da
população, tamanho amostral ou diferentes pontos de corte e
metodologias adotados em cada estudo.
Guyatt et al.
(1990), ainda na década de 90 já ressaltavam a
dificuldade em se avaliar com acurácia a prevalência de anemia em
indivíduos com idade superior a 60 anos. Os autores justificaram com o
29
fato de que os pontos de corte adotados para os mesmos eram em sua
maioria derivados de população adulta jovem e de que as elucidações
acerca de mudanças relacionadas à idade nestes indicadores não
permitiam a determinação de pontos de corte mais adequados a este
grupo.
Os pontos de corte para o diagnóstico de anemia entre idosos
propostos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (WHO, 2001) e
amplamente adotados atualmente, são derivados de um estudo na
década de 80, com população adulta jovem (YIP et al., 1984), sendo por
isso, questionados por diversos autores (BALDUCCI, 2003; BEGHÉ et al.,
2004; CULLETON et al., 2006; GURALNIK et al., 2004; FERRUCCI et al.,
2007).
Phenninx et al. (2003), considerando que o ponto de corte proposto
pela OMS foi baseado numa população jovem, decidiram avaliar o
desempenho físico não somente de idosos diagnosticados como
anêmicos, mas também daqueles com níveis de hemoglobina exatamente
iguais aos pontos de corte (borderline anemia). Dos 1.146 idosos
estudados, 5,93% foram classificados como anêmicos e 15% estavam
com níveis de hemoglobina iguais aos pontos de corte. Os autores
observaram que tanto os idosos anêmicos quanto aqueles em borderline
para o diagnóstico obtiveram um maior declínio da capacidade física em
quatro anos de acompanhamento. Os autores destacaram a necessidade
de pesquisas sobre o impacto do tratamento da anemia na sobrevida de
idosos, bem como estudos acerca de pontos de corte mais adequados a
este grupo populacional.
Beghé et al. (2004) avaliaram estudos sobre a prevalência de
anemia entre idosos, onde normalmente foram utilizados níveis de
hemoglobina, hematócrito, ou uma combinação destes para o diagnóstico.
O ponto de corte adotado com maior freqüência foi o preconizado pela
OMS. Na maioria dos estudos houve maior prevalência de anemia em
homens do que em mulheres; a deficiência aumentou com a idade,
alcançando valores de até 67,3% em homens e 59,5% em mulheres
acima de 85 anos. Os autores discutem a maior prevalência entre o sexo
masculino criticando o ponto de corte preconizado pela OMS, uma vez
30
que este sendo maior para homens, teria maior sensibilidade no
diagnóstico.
Woodman et al. (2005) também avaliaram estudos de anemia em
idosos e observaram que níveis de hemoglobina iguais aos pontos de
corte (borderline) propostos pela OMS estão associados ao aumento da
mortalidade e piora da capacidade funcional, quando comparados com
idosos que apresentaram níveis de hemoglobina a partir de 1 g/dL acima
do ponto de corte.
Balducci
(2003) sugere que os pontos de corte propostos pela OMS
podem estar subestimados considerando que mulheres com idade entre
70 e 80 anos com níveis de hemoglobina acima de 13g/dL apresentaram
melhores resultados em testes de mobilidade.
Um estudo realizado com idosos americanos avaliados durante o
Third National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES III)
reafirma o descrito acima. Os autores relataram que as maiores
prevalências de anemia entre idosos do sexo masculino são
conseqüência apenas do ponto de corte adotado. Quando se adota o
mesmo ponto de corte para ambos os sexos (13 g/dL) a prevalência
passa a ser maior entre o sexo feminino (GURALNIK et al., 2004).
Uma possível justificativa para esta diferença foi dada por Yip et al.
(1984), quando estes avaliaram os resultados provenientes do Second
National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES II). Os
autores afirmaram que indivíduos do sexo masculino apresentaram
maiores valores de hemoglobina, hematócrito, VCM e CHCM na vida
adulta e terceira idade. Esta diferença seria resultante do maior número
de hemácias, maior quantidade de massa muscular e volume sangüíneo
possuídos por homens em relação às mulheres.
Avaliando idosas com 65 anos de idade ou mais, Chaves et al.
(2004) demonstraram que o risco de mortalidade diminui 0,76 vezes para
cada aumento de 1 g/dL nos níveis de hemoglobina entre 8 e 13,9 g/dL. O
ponto de corte de 12 g/dL para diagnóstico de anemia neste sexo foi
considerado inadequado, sugerindo que maiores níveis deveriam ser
preconizados.
31
Em contraste, alguns estudos têm sugerido a adoção de pontos de
corte com maior especificidade. Em pesquisa realizada no Japão com
pessoas idosas, foi observado que estas começaram a apresentar
transtornos relacionados somente quando hemoglobina alcançou níveis
iguais ou inferiores a 11 g/dL, tendo sido este valor adotado como ponto
de corte no país (SHIRAKURA et al., 1978). Um estudo mais recente no
mesmo país, adotando o mesmo ponto de corte, acompanhou idosos
anêmicos e não anêmicos durante cinco anos e demonstrou que a taxa
de sobrevivência entre os anêmicos foi significantemente menor
(KIKUCHI et al., 2001).
A Tabela 1 apresenta estudos de prevalência de anemia realizados
em diferentes países, bem como as metodologias adotadas e resultados
encontrados.
Observa-se que a prevalência de anemia diminui à medida que se
aumentam os indicadores necessários para o diagnóstico, já que a
especificidade deste diagnóstico se torna maior. Nota-se também que a
prevalência é significativamente maior entre idosos hospitalizados.
O estudo realizado por Joosten et al. (1992)
encontrou prevalências
menores ao utilizar pontos de corte mais específicos, quando comparado
aos resultados de Nandigam et al. (2004) e Maraldi et al. (2006), os quais
utilizaram os pontos de corte propostos pela OMS.
A hospitalização por si só já é um fator de risco para a anemia e
grande parte das doenças que afetam os idosos trazem como co-
morbidade esta condição, o que justificaria a adoção de pontos de corte
com maior especificidade de forma a se detectar apenas os indivíduos
com real necessidade de tratamento. Por outro lado, deve-se considerar
que o idoso hospitalizado é ainda mais debilitado em termos de saúde e
que a detecção e tratamento precoce da anemia poderiam melhorar
visivelmente a sua resposta ao tratamento da doença de base,
melhorando o prognóstico e até mesmo aumentando sua expectativa de
vida, o que implicaria no uso de pontos de corte de maior sensibilidade.
32
Tabela 1: Variações metodológicas e prevalências de anemia em idosos.
Prevalências (%)
Estudo Local População
Pontos de
Corte
Homens Mulheres
Joosten et al
(1992)
Europa
732 pacientes com 65
anos ou mais,
hospitalizados
Hb 11,5g/dL
61
39
Cangerana et al
(1993)
Brasil
2.497 idosos com 60
anos ou mais,
hospitalizados
M: Hb< 13g/dL
F: Hb<12g/dL
19,8
10,1
Huang et al
(2001)
China
96 idosos com 65 anos
ou mais
M: Hb <13 g/dL,
ST <16% e
FS <12μg/dL
F: Hb <12 g/dL
ST<16% e
FS <12μg/dl
7,5 8,9
Phenninx et al.
(2003)
EUA
1.146 idosos com 65
anos ou mais,
participantes do EPESE
M: Hb< 13g/dL
F: Hb<12g/dL
6,2 5,8
Guralnik et al
(2004)
EUA
4.199 idosos com 65
anos ou mais, avaliados
durante o NHANES III
M: Hb< 13g/dL
F: Hb<12g/dL
11
10,2
Nandigam et al
(2004)
EUA
100 idosos com 65
anos ou mais,
hospitalizados
M: Hb <13 g/dL
F: Hb< 12g/dL
72
Choi et al
(2005)
Coréia
332 idosos com 60
anos ou mais
M: Hb <13 g/dL,
RTS >1,5 e
FS <22μg/dL
F: Hb <12 g/dL,
RTS >1,5 e
FS <22μg/dl
1,5
Ble et al (2005) Itália
1.005 idosos com 65
anos ou mais
participantes do
InCHIANTI Study
M: Hb <13 g/dL
F: Hb< 12g/dL
11,5 12,5
Barbosa et al
(2006)
Brasil
284 idosos com 60
anos ou mais
M: Hb <13 g/dL
F: Hb< 12g/dL
10,9 12,6
Maraldi et al
(2006)
Itália
587 idosos com 65
anos ou mais,
hospitalizados
M: Hb <13 g/dL
F: Hb< 12g/dL
47 42
M = sexo masculino, F = sexo feminino, Hb = hemoglobina, ST = saturação de
transferrina, FS = ferritina sérica, RTS = receptor de transferrina sérica.
33
Ainda, Harvey e Cohen (2003) ressaltam que mesmo utilizando-se
um ponto de corte específico para níveis de hemoglobina como critério
diagnóstico de anemia, deve-se ter em mente que a anemia em idosos é
variável e que muitas mudanças orgânicas características da anemia
podem ocorrer bem antes dos níveis de hemoglobina atingirem o nível em
questão.
No Brasil, as prevalências de anemia encontradas entre idosos
hospitalizados
(CANGERANA et al., 1993) foram menores que as
encontradas nos Estados Unidos (NANDIGAM et al., 2004) e Europa
(JOOSTEN et al., 1992; MARALDI et al.,2006).
As prevalências de anemia foram maiores entre indivíduos do sexo
masculino nesta fase da vida. Apenas quando se utilizam mais de um
critério diagnóstico uma maior prevalência de anemia é encontrada entre
mulheres.
Entre os estudos realizados em países desenvolvidos, observa-se
que, entre os anos de 2003 e 2005, houve um aumento importante na
prevalência de anemia em idosos de ambos os sexos, confirmando que a
prevalência de anemia vem aumentando com o passar dos anos, sendo a
anemia considerada um problema de saúde pública neste grupo
populacional.
7.1.6- Considerações finais
A revisão de literatura aqui realizada indica importante variação
metodológica adotada para o diagnóstico de anemia. Critérios rigorosos
devem ser adotados de acordo com o objetivo do estudo e do tipo de
anemia que se deseja pesquisar. O critério diagnóstico para anemia foi
proposto pela Organização Mundial de Saúde e é mundialmente aceito,
no entanto, para o correto diagnóstico e classificação na população idosa,
a utilização de exames bioquímicos complementares tais como Volume
Corpuscular Médio e ferritina sérica deve ser considerada.
Além disso, faz-se necessário o estudo de avaliação de pontos de
corte para níveis de hemoglobina mais adequados ao diagnóstico de
34
anemia em idosos, bem como a necessidade ou não de pontos de corte
diferentes para o sexo masculino e feminino.
Independente do ponto de corte a ser adotado para a classificação
de anemia chama-se a atenção para a necessidade de intervenção
mesmo em idosos com níveis de hemoglobina justamente iguais aos
pontos de corte propostos pela OMS, visto que ainda neste ponto já
existem conseqüências à saúde.
As altas prevalências encontradas para anemia ressaltam a
importância da vigilância constante da mesma neste grupo populacional.
O aumento da expectativa de vida dos brasileiros juntamente com
o aumento de doenças relacionadas à idade torna importante o
diagnóstico e tratamento precoce de deficiências nutricionais, as quais
podem afetar diretamente a saúde e a qualidade de vida.
35
7.1.7- Bibliografia
AHLUWALIA, N.; LAMMI-KEEFE, C. J.; BENDEL, R. B.; MORSE, E. E.;
BEARD, J. L.; HALEY, N. R. Iron deficiency and anemia of chronic
disease in elderly women: a discriminant-analysis approach for
differentiation. American Journal of Clinical Nutrition, 61: 590-596,
1995.
ANIA, B.J.; SUMAN, V.J.; FAIRBANKS, V.F.; MELTON III, L.J. Prevalence
of anemia in medical practice: community versus referral patients. Mayo
Clinic Proceedings, 69:730-735, 1994.
BAILLIE, F. J.; MORRISON, A. E.; FERGUS, I. Soluble transferrin
receptor: a discriminating assay for iron deficiency. Clinical Laboratory
Haematology, 25: 353-357, 2003.
BALDUCCI, L. Epidemiology of anemia in the elderly: information on
diagnostic evaluation. Journal of American Geriatric Society, 51(suppl
3): 2-9, 2003.
BALDUCCI, L.; ERSHLER, W.B.; KRANTZ, S. Anemia in the elderly –
Clinical findings and impact on health. Critical Reviews in
Oncology/Hematology, in press, 2005.
BARBOSA, D. L.; ARRUDA, H. K, G.; DINIZ, A. S. Prevalência e
caracterização da anemia em idosos do Programa de Saúde da Família.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 28(4): 288-292,
2006.
BAYNES, R.; COOK, J. Current issues in iron deficiency. Current
Opinion in Hematology, 3: 145-149, 1996.
BEARD, C.M.; KOKMEN, E.; O’BRIEN, P.C.; ANIA, B.J.; MELTON, L.J.
Risk of Alzheimer’s disease among elderly patients with anemia:
population-based investigations in Olmsted County, Minnesota. Annalls
of Epidemiology, .7(3): 219-224, 1997.
BEGHÉ, C.; WILSON, A.; ERSHLER, W.B. Prevalence and outcomes of
anemia en geriatrics: a systematic review of literature. American Journal
of Medicine, 116(7): S3-S10, 2004.
BLE, A.; FINK, J. C.; WOODMAN , R. C.; KLAUSNER, M. A.; GURALNIK,
J. M.; FERRUCI, L. Renal function, erythropoietin, and anemia of older
persons. Archives Internationals of Medicine, 165: 2222-2227, 2005.
36
CANGERANA, F. A.; YANG, H. M.; YOKOMIZO, R. M.; MUNHOZ, M. A.
G.; GUSHIKEN, E. Y.; MANOEL, J. A. G.; NIERO, L. I. Freqüência de
anemia em idosos. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 53(2): 71-5, 1993.
CELLA, D. The functional assessment of cancer therapy-anemia (FACT-
An) sacle: a new tool for the assessment of outcomes in cancer anemia
and fatigue. Seminars of Haematology, 34(3):13-19, 1997.
CHAVES, P.H.; XUE, Q.I.; GURALNIK, J.M.; FERRUCCI, L.; VOLPATO,
S.; FRIED, L.P. What constitutes normal hemoglobin concentration in
community-dwelling disabled older women? Journal of American
Geriatric Society, 52: 1811-1816, 2004.
CHOI, C.H.; LEE, J.; PARK, K.H.; CHOI, I.K.; KIM, S.J.; SEO, J.H.; KIM,
B.S.; SHIN, S.W.; KIM, Y.H.; KIM, J.S. Incidence of anemia in older
koreans: community-based cohort study. Archives of Gerontology and
Geriatric, 41: 303-309, 2005.
CULLETON, B. F.; MANNS, B. J.; ZHANG, J.; TONELLI, M.;
KLARENBACH, S. HEMMLGAN, B. R. Impact of anemia on hospitalization
and mortality in older adults. Blood, 107(10): 3841-3846, 2006.
EISENSTAEDT, R.; PENNINX, B.W.J.H.; WOODMAN, R.C. Anemia in the
elderly: Current understanding and emerging concepts. Blood Reviews,
in press, 2006.
ERSHLER, W.B.; SHENG, S.; MCKELVEY, J.; ARTZ, A.S.; DENDULURI,
N.; TECSON, J.;TAUB, D.D.; BRANT, L.J.; FERRUCCI, L.; LONGO, D.L.
Serum erythropoietin and aging: a longitudinal analysis. Journal of
American Geriatric Society, 53: 1360-1365, 2005.
FERRUCCI, L.; GURALNIK, J. M.; BANDINELLI, S.; SEMBA, R. D.;
LAURENTANI, F.; CORSI, A.; RUGGIERO, C.; ERSHLER, W. B.;
LONGO, D.L. Unexplained anaemia in older persons is characterised by
loww erythropoietin and low levels of pro-inflammatory markers. British
Journal of Haematology, 136: 849-855, 2007.
GARRY, P.J.; GOODWIN, J.S.; HUNT, W.C.; HOOPER, E.M.; LEONAR,
A.G. Nutritional status in a healthy elderly population: dietary and
supplementation intakes. American Journal of Clinical Nutrition, 36:
319-331, 1982.
37
GURALNIK, J.M.; EINSTAEDT, R.S.; FERRUCI, L. Prevalence of anemia
in persons 65 years and older in the United States: evidence for a high
rate of unexplained anemia. Blood, 104: 2263-2688, 2004.
GUYATT, G.H.; PATTERSON, C.; ALI, M.; SINGER, J.; LEVINE, M.;
TURPIE, I.; MEYER, R. Diagnosis of iron-deficiency anemia in the elderly.
American Journal of Medicine, 88: 205-209, 1990.
HANSEN, T. M.; HANSEN, N. E. Serum ferritin as indicator of iron
responsive anaemia in patients with rheumatoid arthritis. Annalls of
Rheumatism Disease, 45: 596-602, 1986.
HARVEY, J.; COHEN, M.D. Anemia in the elderly: clinical impact and
practical diagnosis. Journal of American Geriatric Society, 51:1, 2003.
HUANG, Y.C.; WONG, Y.; WUENG, S.L.; CHENG, C.H.; SU, K.H. Nutrient
intakes and iron satus of elderly men and women. Nutrition Research,
21: 967-981, 2001.
JOHNSON, M.A. Iron: nutrition monitoring, and nutrition status
assessment. Journal of Nutrition, 120: 1486-1491, 1990.
JOOSTEN, E.; PELEMANS, W.; HIELE, M. Prevalence and causes of
anemia in a geriatric hospitalized population. Gerontology, 38:111-117,
1992.
KATZ, R.J.; BEASTON-WIMMER, P.; PARMELEE, P.; FRIEDMAN, E.;
LAWTON, M.P. Failure to thrive in the elderly: exploration of concept and
delineation of psychiatric components. Journal of Geriatrics Psychiatry
and Neurology, 6:161-169, 1993.
KIKUCHI, M.; INAGAKI, T.; SHINAGAUA, N. Five-year survival of older
people with anemia: variation with hemoglobin concentration. Journal of
American Geriatric Society, 49: 1226-1228, 2001.
LEE, Y. T.; CHIU, H. C.; SU, H. M.; YANG, J. F.; VOON, W. C.; LIN, T. H.;
LAI, W. T.; SHEU, S. H. Lower hemoglobin concentrations and
subsequent decline in kidney function in an apparently healthy population
aged 60 year and older. Clinica Chimica Acta, 389: 25-30, 2008.
LEE, D. H.; JACOBS Jr., D. R. Serum markers of stored body iron are not
appropriate markers of health effects of iron: a focus on serum ferritin.
Medical Hypotheses, 62: 442-445, 2004.
LIPSCHITZ, D. A.; MITCHELL, C. O.; THOMPSON, C. The anemia of
senescence. American Journal of Hematology, 11:47-54, 1981.
38
MARALDI, C.; VOLPATO, S.; CESARI, M.; ONDER, G.; PEDONE, C.;
WOODMAN, R.C.; FELLIN, R.; PAHOR, M.. Anemia, physical disability,
and survival in older patients with heart failure. Journal of Cardiac
Failure, 7(12): 533-539, 2006.
MEANS JR, R.T.; KRANTZ, S.B. Progress in understanding the
pathogenesis of the anemia of chronic disease. Blood, 80:1639-1647,
1992.
NANDIGAM, V.; NANDIGAM, K.; BADHE, B.A. Is adult definition of
anemia applicable to a geriatric populations? Study of erythrocyte
parameters in indian geriatric inpatients. Journal of American Geriatric
Society, 52(9): 1589-1590, 2004.
PHENNINX, B. W.J. H.; GURALNIK, J. M.; ONDER, G.; FERRUCCI, L.;
WALLACE, R. B.; PAHOR, M. Anemia and Decline in Physical
Performance among Older Persons. American Journal of Medicine,
113:104-110, 2003.
PHENNINX, B. W.; PAHOR, M.; CESARI, M.; CORSI, A. M.; WOODMAN,
R. C.; BANDINELLI, S.; GURALNIK, J. M.; FERRUCCI, L. Anemia is
associated with disability and decreased physical performance and muscle
strength in the Elderly. Journal of American Geriatric Society, 52: 719-
724, 2004.
PRICE, E. A. Aging and erythropoiesis: current state of knowledge. Blood
Cells, Molecules, and Diseases, (in press), 2008.
RONCADA, M.J.; MARUCCI, M.F.N.; LAMONICA, I.M.R. Níveis
sangüíneos de vitamina A e caroteno em indivíduos de meia-idade e
idosos, em onze localidades do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de
Saúde Pública, 19: 336-343, 1985.
SCHAAN, M. D. A.; SCHWANKE, C. H. A.; BAUER, M.; LUZ, C.; CRUZ, I.
M. Hematological and nutritional parameters in apparently healthy elderly
individuals. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 29(2):
136-143, 2007.
SHIRAKURA, T.; MURAI, Y.; TAKEDA, T. Changes of peripheral blood
figures and erythropoiesis in the aged. Japan Journal of Geriatric,
15:151-157, 1978.
SMITH, D.L. Anemia in the elderly. American. Family Physician, 62(7):
1565-1572, 2000.
39
SUOMINEN, P.; PUNNONEN, K.; RAJAMAKI, A.; KRJALA, K. Serum
transferrin receptor and transferrin receptor-ferritin index identify healthy
subjects with subclinical iron deficits. Blood, 92: 2934-2939, 1998.
TIMIRAS, M.L.; BROWNSTEIN, H. Prevalence of anemia and correlation
of hemoglobin with age in a geritric screening clinic population. Journal of
American Geriatric Society, 35: 639-643, 1987.
VANNUCCI, H.; CUNHA, D.F.; BERNARDES, M.M.; UNAMUNO,
M.R.D.L. Avaliação dos níveis séricos das vitaminas A, E, C e B
2
, de
carotenóides e zinco, em idosos hospitalizados. Revista de Saúde
Pública, 28(2):121-126, 1994.
VIR, S.C.; LOVE, A.H.G. Nutrition evaluation of B groups of vitamns in
institucionalized aged. International Journal of Vitamin and Nutrition
Research, 47: 211-218, 1977.
WOODMAN, R.; FERRUCCI, L.; GURALNIK, J. Anemia in older adults.
Current Opinions in Hematology, 12: 123-128, 2005
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Iron Deficiency Anaemia.
Assessment, Prevention, and Control. Geneva, Swuitzerland, 114 p.,
2001.
YIP, R.; JOHNSON, C.; DALLMAN, P.R. Age- related changes in
laboratory values used in the diagnosis of anemia, and iron deficiency.
American Journal of Clinical Nutrition, 39: 427-436, 1984.
40
7.2- Artigo 2: Avaliação da qualidade de vida, bem estar,
características econômicas e sociossanitárias como
determinantes de saúde para a população idosa
brasileira.
7.2.1 – Resumo
As mudanças no padrão demográfico brasileiro, com o crescimento
vertiginoso da população idosa, acarretam implicações nas políticas
sociais do país, sendo as políticas de saúde as mais afetadas.
As informações sobre condições de saúde dos idosos, bem como
suas demandas por serviços de saúde e/ou sociais são de extrema
importância para o planejamento da atenção curativa e de prevenção de
agravos, além da promoção da saúde desta população. Muitos estudos
têm sido desenvolvidos com este objetivo, no entanto dados
representativos da população brasileira ainda são escassos.
Neste sentido, este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade
de vida, bem-estar e características socioeconômicas como
determinantes de saúde para a população idosa brasileira, sob a
perspectiva teórico-prática dos diferentes trabalhos presentes na literatura
científica. Foram consultadas diferentes bases de dados, entre elas
Scielo, Lilacs, Bireme, Medline e Periódicos Capes. De forma
complementar, consultou-se também sites da internet para a busca de
documentos do Ministério da Saúde do Brasil (MS), Organização Mundial
de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Os
descritores utilizados para a pesquisa bibliográfica foram: Idosos,
Qualidade de Vida, Capacidade Funcional, Atividades da Vida Diária,
Trabalho, Indicadores socioeconômicos, limitando-se à recuperação de
artigos baseados na população idosa brasileira.
A avaliação da população idosa, utilizando mais de um indicador é
recomendada, uma vez que a associação destes possibilita o
conhecimento do estado de saúde em suas várias dimensões, bem como
a verificação da validade dos resultados.
41
As avaliações clínicas, antropométricas, bioquímicas, dentre
outras, são pontuais e, na maioria das vezes, apenas retratam a situação
atual do estado de saúde do idoso, apesar de sua inegável importância e
necessidade. Já as avaliações multidimensionais, com indicadores
socioeconômicos, de capacidade funcional e mobilidade física permitem
uma visão mais ampla da situação de saúde deste grupo populacional.
Palavras-chave: saúde do idoso, condições sociais, indicadores de
saúde.
42
7.2.2- Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial.
Aproximadamente 75% dos idosos vivem atualmente em países
desenvolvidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no
ano de 2025, 1,2 bilhões de pessoas em todo mundo terão 60 anos ou
mais de idade, sendo aquelas com idade igual ou superior a 80 anos, o
grupo etário de maior crescimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION,
2001).
A partir da década de 60, esse envelhecimento populacional
acelerado também pôde ser observado nos países em desenvolvimento
(ORGANIZACIÓN PAN-AMERICANA DE LA SALUD, 1994). No Brasil, o
envelhecimento populacional tem ocorrido de forma aguda e intensa. A
porcentagem de pessoas idosas em relação à população total do país
aumentou de 6,1% em 1980 para 10% no ano 2000. Desta forma, pode-
se afirmar que a população idosa constitui o grupo etário que mais cresce
no país. (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
1981, 2000; CAMARANO, 2002 VERAS, 2007; CARVALHO E
RODRIGUÉZ-WONG, 2008).
O processo de transição demográfica no país é caracterizado pelo
aumento absoluto e relativo da população adulta e idosa, modificando a
estrutura da pirâmide populacional. O envelhecimento da população
brasileira, assim como de outros países latino-americanos, se deu por um
fenômeno de urbanização, resultado do movimento migratório intenso a
partir da década de 60 (BRASIL, 1999; PAES-SOUSA, 2002, VERAS,
2007; CARVALHO E RODRIGUÉZ-WONG, 2008). Este processo levou
ao maior acesso da população a serviços de saúde e saneamento,
contribuindo para a queda nas taxas de mortalidade do país.
Concomitantemente, houve um maior acesso da população aos
programas de planejamento familiar e métodos contraceptivos, levando à
redução nas taxas de fecundidade (BRASIL, 1999; CAMARANO, 2002;
PAES-SOUSA, 2002).
A Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
divulgou, em dezembro de 2006, uma análise da mortalidade do país
43
entre o período de 2000 a 2005. A mortalidade da população, ou sua
expectativa de vida, é baseada no sexo, esperança de vida ao nascer e
taxas de mortalidade infantil no país. Desta forma, no ano de 2005, a
expectativa de vida ao nascer da população brasileira alcançou os 71,9
anos. Em relação a 2004, houve um aumento de dois meses e 12 dias
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006a).
A figura abaixo demonstra a evolução da expectativa de vida por
sexo no Brasil, a partir do ano de 2000.
EVOLUÇÃO DA EXPECTATIVA DE VIDA AO NASCER NO
BRASIL, POR SEXO
66,8
67
68,2
67,9
67,6
67,3
74,4
74,7
74,9
75,2 75,5
75,8
62
64
66
68
70
72
74
76
78
2000 2001 2002 2003 2004 2005
Ano
Idade em anos
Sexo Masculino Sexo Feminino
Apesar da expectativa de vida ao nascer no Brasil ter aumentado
numa mesma proporção em ambos os sexos (aumento de 1,4 anos entre
os anos de 2000 e 2005), a mesma é, em todos os anos analisados,
maior entre os indivíduos do sexo feminino.
FONTE: IBGE, 2006a
44
Já na década de 90, Telarolli et al. (1996) observava a feminização
do envelhecimento em todo país. Os autores justificaram este fenômeno
pela maior expectativa de vida entre o sexo feminino, menor mortalidade
por causas externas e menor exposição às condições adversas ao longo
da vida.
Segundo o IBGE (2006a), na década de 80, brasileiros do sexo
masculino viviam em média 6,1 anos a menos que os do sexo feminino.
No ano de 2005, esta diferença subiu para 7,6 anos. Uma possível
explicação para esta diferença está na maior mortalidade masculina
observada nestes últimos 25 anos, principalmente nas faixas etárias mais
jovens. Indivíduos do sexo masculino apresentam 6 vezes mais chance
de morrerem por acidentes de trânsito ou homicídio.
O aumento da longevidade observado a cada ano no país é
resultado de políticas e incentivos oferecidos pela sociedade e pelo
Estado, bem como do avanço tecnológico e científico. No entanto, o
aumento da população idosa pode apresentar como conseqüência o
aumento da invalidez e dependência de serviços sociais e de saúde por
uma parcela cada vez maior da população, gerando pressões para a
transferência de recursos na sociedade e transformando-se num grande
desafio a ser enfrentado (CAMARANO, 2002; PAES-SOUSA, 2002;
VERAS, 2007; CARVALHO E RODRIGUÉZ-WONG, 2008).
Palloni et al. (2002) afirmaram que mudanças no padrão
demográfico brasileiro acarretam alterações nas políticas sociais do país,
sendo as de saúde uma das mais afetadas. Isso por que, diferentemente
dos países economicamente desenvolvidos, o processo de transição
demográfica tem ocorrido de forma rápida, intensa e concomitante à
transição epidemiológica, de forma que as doenças crônicas não
transmissíveis, emergentes com esse processo, vêm se sobrepondo às
doenças infecciosas, já existentes. O sistema de saúde do Brasil ainda
não se adaptou totalmente às modificações, de forma a atender o
aumento nas demandas, bem como o novo perfil de seus usuários.
Com o claro aumento da população idosa em todo o mundo, a
OMS definiu três desafios para a saúde pública relacionada a este grupo:
manter a independência e a vida ativa com o envelhecimento; fortalecer
45
políticas de prevenção e promoção de saúde, especialmente as voltadas
para o idoso; manter e/ou melhorar a qualidade de vida com o
envelhecimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002).
O envelhecimento humano, como parte do ciclo biológico da vida, é
constituído por alterações morfológicas e funcionais que desencadeiam
num processo contínuo e irreversível de desestruturação orgânica. É
influenciado por fatores genéticos, do meio ambiente, a própria idade do
indivíduo, seus hábitos alimentares, tipo de ocupação e estilo de vida
adotado ao longo da vida. Além desses, outros fatores condicionados ao
contexto social onde o indivíduo está inserido têm impacto direto sobre a
saúde e a qualidade de vida durante o envelhecimento (AVLUND et al.,
2004; SOUSA et al., 2003).
Segundo Victor et al (2000), a qualidade de vida inclui vários
aspectos. Modelos de avaliação da qualidade de vida incluem desde “bem
estar social”, a avaliação da independência do idoso, controle,
competências sociais e cognitivas.
Para este grupo etário, a morbidade, mais que a mortalidade,
permite o diagnóstico das condições e qualidade de vida, uma vez que
este grupo tem sua vida marcada pela presença simultânea de múltiplas
doenças (TELAROLLI Jr. et al, 1996; VERAS, 2003), as quais perduram
por vários anos e demandam acompanhamento médico e tratamento
contínuo. No entanto, de acordo com Ramos (2001), nem todos ficam
limitados por essas doenças, sendo que muitos conseguem manter
qualidade de vida, através do controle de suas enfermidades. O idoso
portador de uma ou mais doenças crônicas controladas pode ser
considerado um idoso saudável, quando comparado a outro com as
mesmas doenças, mas não controladas, e com incapacidades funcionais
decorrentes das mesmas.
A qualidade de vida na terceira idade está muitas vezes ligada à
autonomia. As dependências observadas nos idosos podem ser
resultantes de alterações biológicas (deficiência ou incapacidade) ou
mudanças nas exigências sociais (SOUSA et al., 2003).
Sendo assim, a promoção do envelhecimento saudável e a
manutenção da capacidade funcional (dentro das limitações do indivíduo)
46
significam a valorização da autonomia e prevenção da dependência física
e/ou mental do idoso, as quais são consideradas fatores de risco para a
mortalidade neste grupo (PAPALÉO NETTO et al., 2005).
As informações sobre condições de saúde dos idosos, bem como
suas demandas por serviços de saúde e/ou sociais são de extrema
importância para o planejamento da atenção e prevenção de agravos,
além da promoção da saúde desta população. Muitos estudos têm sido
desenvolvidos com este objetivo (RAMOS et al., 2001; COSTA-ROSA et
al., 2003; LIMA-COSTA e VERAS, 2003; LIMA-COSTA et al., 2003;
PEREIRA et al., 2006), no entanto dados representativos da população
brasileira ainda são escassos.
Neste sentido, este estudo teve como objetivo fazer uma revisão
sobre indicadores socioeconômicos, da capacidade funcional, de
utilização de serviços de saúde, da qualidade de vida e bem estar como
determinantes de saúde para a população idosa brasileira, sob a
perspectiva teórico-prática dos diferentes trabalhos presentes na literatura
científica.
7.2.3- Metodologia
Foram consultadas diferentes bases de dados, entre elas Scielo,
Lilacs, Bireme, Medline e Periódicos Capes. De forma complementar,
consultou-se também sites da internet para a busca de documentos do
Ministério da Saúde do Brasil (MS), Organização Mundial de Saúde
(OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). Os descritores
utilizados para a pesquisa bibliográfica foram: Idosos, Qualidade de Vida,
Capacidade Funcional, Atividades da Vida Diária, Trabalho, Indicadores
socioeconômicos, limitando-se à recuperação de artigos originais
baseados na população idosa brasileira. Desta forma, foram utilizados 54
trabalhos, entre documentos oficiais, artigos de revisão e originais sobre o
assunto.
47
7.2.4- Indicadores de Saúde
O estado de saúde está ligado não somente ao seu aspecto
biológico, compreendendo também a qualidade de vida, a qual é, por sua
vez, influenciada pelo sexo, escolaridade, idade, condição
socioeconômica e capacidade física (AVLUND et al., 2004; LEBRÃO e
LAURENTI, 2003).
A avaliação do estado de saúde por meio de um único instrumento
produz resultados incompletos e descontextualizados da realidade na
qual o indivíduo está inserido Na maioria das vezes, são utilizados dois
tipos de indicadores de saúde individual: diretos e indiretos.
Entre os indicadores diretos de saúde, encontram-se a avaliação
clínica da saúde, dados bioquímicos, utilização de medicamentos
específicos para certas doenças, avaliação do estado nutricional, entre
outros. Este tipo de avaliação fornece informações objetivas que
possibilitam a mensuração da saúde do indivíduo avaliado, sendo de
reconhecida importância para avaliação do perfil de saúde da população
idosa. No entanto, estes devem ser complementados com dados
socioeconômicos, demográficos, sanitários e de qualidade de vida, de
forma a possibilitar o entendimento do contexto no qual a situação
encontrada se forma e está inserida.
Os indicadores indiretos, foco desta revisão, são indicadores da
qualidade de vida e bem estar, capacidade funcional, auto-avaliação do
estado de saúde, utilização de serviços de saúde, além de dados sociais,
econômicos e demográficos como forma de avaliação do perfil de saúde
da população.
Segundo o Comitê Temático Interdisciplinar de Saúde do Idoso, o
aumento do número de doenças e incapacidades na população elevam o
uso de serviços de saúde. Ainda, as incapacidades resultantes de
doenças ou condições crônicas são evitáveis, de forma que somente o
monitoramento das condições de saúde e os fatores associados são
instrumentos capazes de orientar estratégias de prevenção, objetivando
um envelhecimento ativo (REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES
48
PARA A SAÚDE/COMITÊ TEMÁTICO INTERDISCIPLINAR SAÚDE DO
IDOSO, 2004).
Desta forma, selecionaram-se vários indicadores de forma a
compor os determinantes básicos para a saúde no Brasil, englobando
aspectos socioeconômicos e demográficos, apoio social, condições de
saúde e uso de serviços de saúde. O uso destes indicadores é
recomendado para a avaliação da população idosa brasileira (REDE
INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE/COMITÊ
TEMÁTICO INTERDISCIPLINAR SAÚDE DO IDOSO, 2004).
7.2.4.1- Indicadores indiretos
7.2.4.1.1- Capacidade funcional, estado de saúde auto-avaliado e
qualidade de vida
O envelhecimento saudável é resultante da “interação
multidimensional” entre saúde física e mental, independência para
realização de atividades corriqueiras, integração social, suporte familiar e
independência econômica. A qualidade de vida do idoso é resultante do
equilíbrio entre os vários determinantes da sua autonomia, sem
obrigatoriamente significar ausência de doenças (RAMOS et al., 1993).
Diante deste paradigma social e seu impacto na saúde do idoso,
surge o conceito de capacidade funcional, com foco na avaliação da
funcionalidade, significando a valorização de uma vida autônoma, apesar
do diagnóstico e convívio com uma ou mais de doenças (PAIXÃO Jr e
REICHENHEIM, 2005).
Na prática, trabalha-se com o conceito de incapacidade funcional,
definido como a ocorrência de dificuldade ou impossibilidade de
desenvolver atividades da vida diária (AVD), necessárias para o auto-
cuidado e para uma vida independente em sociedade (WORLD HEALTH
ORGANIZATION, 2001; COSTA-ROSA et al., 2003).
Entre os fatores de risco associados à incapacidade funcional,
estão a presença de doenças, deficiências ou qualquer problema médico.
49
Entretanto, também estão fortemente relacionados a este indicador
fatores como os demográficos, socioeconômicos, culturais e psicossociais
(COSTA-ROSA et al., 2003).
A avaliação da capacidade funcional é adequada para
instrumentalizar e operacionalizar a atenção à saúde do idoso (BRASIL,
1999; MACIEL e GUERRA, 2007). Seu enfoque, portanto, visa à
valorização da autonomia do idoso e preservação da independência física
e mental.
A validade deste indicador como determinante de saúde e bem
estar de idosos é dada pelo conhecimento de que a dependência física
e/ou mental são fatores de risco para a mortalidade, sendo mais
importantes até do que as doenças de base, as quais levaram a esta
dependência (RAMOS et al., 1993; PARAHYBA e SIMÕES, 2006). É
normalmente estruturado de forma a determinar a dificuldade ou não de
realização de tarefas rotineiras de cuidados pessoais ou autonomia,
julgadas como necessárias para se viver de forma independente na
comunidade (LIMA-COSTA et al., 2003; PARAHYBA e SIMÕES, 2006).
As AVD são subdivididas em dois tipos: as Atividades Básicas de
Vida Diária (ABVD), que abordam questões sobre a (in)capacidade de
alimentar-se, vestir-se, cuidar da higiene pessoal, andar, transferir-se de
um cômodo a outro, banhar-se, ir ao banheiro, subir e descer escada e
controlar esfíncteres; e as Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD)
que avaliam a autonomia de usar o telefone, fazer compras, executar
atividades domésticas, usar meios de transporte, tomar medicamentos,
controlar finanças, preparar refeições e andar fora de casa. Cada
incapacidade descrita acima, relatada pelo idoso, é pontuada de forma
que uma menor pontuação total (próxima à zero) indica bom estado de
saúde e capacidade funcional e a maior pontuação (varia com o número
de questões abordadas) indica incapacidade funcional e prejudicado
estado de saúde (IBGE, 1998; COSTA-ROSA et al., 2003; NORONHA e
ANDRADE, 2005; MACIEL e GUERRA, 2007).
A capacidade de realização de AVD é dependente de fatores como
os padrões culturais e sociais do indivíduo. Estes, por sua vez, são
determinados pelas condições econômicas do mesmo (NORONHA e
50
ANDRADE, 2005). Desta forma, a avaliação da AVD deve ser feita em
conjunto com a determinação de indicadores socioeconômicos (renda e
escolaridade, por exemplo), para garantir a correta interpretação dos
resultados.
A capacidade funcional também pode ser afetada negativamente
pela família do idoso ou seu cuidador. A cultura imposta pela sociedade,
na qual indivíduos mais velhos devem ser poupados de certas obrigações
(limpeza do lar, elaboração de refeições, atividades bancárias, etc.)
provoca o afastamento e a exclusão do idoso, com conseqüente perda de
autonomia.
Um estudo realizado no município de Santa Cruz (RN) analisou o
estado de saúde de 310 idosos, avaliando a capacidade funcional e sua
relação com variáveis sociodemográficas, de saúde física e
neuropsiquiátrica. Foi encontrada uma baixa prevalência de dependência
para ABVD (13,2%), em relação às AIVD (52,6%). A menor prevalência
de dependência para ABVD, segundo os autores, se deve à natureza das
atividades avaliadas neste indicador, as quais são mais simples e
diretamente relacionadas à sobrevivência do idoso. As AIVD, por sua vez,
são tarefas mais complexas, tais como controlar finanças e utilizar meios
de transporte. A dependência para realização de AVD, de modo geral, foi
significantemente associada à raça negra, idade avançada, estado civil
solteiro, ausência de atividades de lazer, estado de saúde auto-avaliado
ruim, baixa função cognitiva e depressão (MACIEL e GUERRA, 2007),
demonstrando mais uma vez o impacto de fatores sociais sobre a
qualidade de vida e a saúde do idoso.
O Projeto EPIDOSO, desenvolvido pela Escola Paulista de
Medicina da Universidade Federal de São Paulo, acompanha, desde
1991, idosos vivendo em comunidade, através instrumento
multidimensional, avaliando a capacidade funcional e dados de
hospitalização, ambos auto-reportados. O objetivo do projeto é identificar
os fatores associados ao envelhecimento saudável, bem como os fatores
de risco para a mortalidade neste grupo (RAMOS et al., 1998). Como
resultado do acompanhamento de dois anos, observou-se que os fatores
com efeito independente e significante no risco de mortalidade entre
51
idosos foram: sexo, idade (avançada), hospitalização prévia e
rastreamento positivo para déficit cognitivo e dependência nas AVD
(RAMOS et al., 2001).
As medidas auto-referidas de saúde são diretamente influenciadas
pelo contexto social e cultural nos quais os idosos estão inseridos. Sendo
assim, as mesmas são capazes de fornecer informações destes contextos
que não são obtidas através de medidas diretas do desempenho funcional
(COSTA-ROSA et al., 2003).
O estado de saúde auto-avaliado é normalmente dividido em
quatro categorias: muito bom, bom, regular e ruim, podendo haver
variações nestas categorias de acordo com o autor. Trata-se, portanto, de
um indicador subjetivo, apresentando como vantagem a utilização de
informações sobre o estado de saúde global, o qual depende
basicamente da percepção que o indivíduo tem de sua saúde. A
percepção da saúde é influenciada por várias informações disponíveis
sobre a mesma, tais como diagnósticos médicos e enfermidades
(MARTIKAINEN et al., 1999). É considerado um indicador bruto do estado
de saúde de idosos, já que apresenta alta correlação com a taxa de
sobrevida desta população (LIMA-COSTA et al., 2003). Ressalta-se que a
auto-avaliação do estado de saúde é fortemente influenciada pelas
características socioeconômicas e culturais do indivíduo.
Lima-Costa et al. (2003) descreveram as condições de saúde e a
capacidade funcional dos idosos brasileiros, com base no banco de dados
da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do ano de 1998, o qual
conta com dados de grande número de indivíduos nesta fase da vida (n=
29.976). O estudo demonstrou que 10,5% dos idosos avaliados relataram
apresentar um estado de saúde ruim. A impossibilidade de alimentar-se,
tomar banho ou ir ao banheiro foi relatada por 2% destes idosos. Ambas
as prevalências, de estado de saúde auto-avaliado como ruim e
incapacidade funcional, aumentaram com o aumento da idade nesta
população.
A Organização Mundial de Saúde, através de seu grupo de estudo
sobre a qualidade de vida - The WHOQOL Group (1994) - definem
qualidade de vida como: "a percepção do indivíduo sobre sua posição na
52
vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais vive, e em
relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações." Trata-
se de conceito complexo, que engloba a saúde física, o estado
psicológico, o nível de independência as relações sociais, crenças
pessoais e a relação com o meio ambiente.
Um estudo realizado no município de Teixeiras, Minas Gerais,
avaliou a contribuição dos domínios físico, social, psicológico e ambiental
na qualidade de vida global de idosos. Foi utilizada a versão reduzida do
World Health Organization Quality of Life Instrument 100 (WHOQOL-100),
o World Health Organization Quality of Life Instrument Bref (WHOQOL-
Bref), traduzido para o português. Tal instrumento compreende quatro
domínios, com o objetivo de analisar a capacidade física, o bem-estar
psicológico, as relações sociais e o meio ambiente onde o avaliado está
inserido. Os autores demonstraram que os quatro domínios avaliados não
foram capazes de explicar completamente a variação da qualidade de
vida global, visto que a auto interpretação emocional da situação pessoal
na qual o idoso está inserido pode afetar a percepção de sua condição de
vida (PEREIRA et al., 2006).
Indicadores de saúde acima discutidos são rápidos e simples de
serem aplicados à população idosa, possibilitando a avaliação da
qualidade de vida, autonomia e saúde da população estudada.
7.2.4.1.2- Utilização de serviços de saúde
As demandas pelos serviços de saúde são determinadas pelas
características sociais, individuais e culturais prevalentes numa
população. O conhecimento do perfil de utilização destes serviços é
importante para correta tomada de decisões em relação aos custos
(SAWYER et al., 2002).
A população idosa é a que mais utiliza serviços de saúde,
apresentando maiores taxas de internações hospitalares e maior tempo
médio de internação, comparado a outros grupos etários da população
brasileira. Isso ocorre devido às características das doenças que
53
acometem este grupo, as quais são normalmente crônicas e múltiplas,
perdurando por vários anos. Desta forma, demandam atenção e cuidados
constantes, medicação contínua e exames periódicos (LIMA-COSTA e
VERAS, 2003).
Cotta et al. (2002), em estudo realizado com idosos na Espanha,
demonstraram que devido ao perfil de morbidade característico deste
grupo populacional, os mesmos apresentam um alto risco de internação
hospitalar e consomem de 5 a 10 vezes mais recursos sanitários,
comparados a outras faixas etárias.
Os recursos do sistema de saúde, portanto, são mais utilizados por
essa faixa etária. No entanto, o maior custo da saúde relacionado ao
grupo não se reverte em seu benefício. O idoso não recebe uma
abordagem médica ou psicossocial adequada nos hospitais, não sendo
submetido também a uma triagem rotineira para fins de reabilitação
(BRASIL, 1999).
Desta forma, pela maior vulnerabilidade da população idosa às
morbidades, bem como a utilização de uma maior fração da renda com
saúde por este grupo, estudos sobre desigualdades sociais na utilização
de serviços de saúde são considerados ferramentas importantes para
definição de políticas públicas e sociais de intervenção para idosos
(NORONHA E ANDRADE, 2005) ou mesmo avaliar as políticas vigentes
para o grupo. Além disso, a análise dos dados periódicos sobre utilização
de serviços de saúde permite avaliar a evolução do estado de saúde
deste grupo.
Vale ressaltar que as desigualdades sociais observadas no uso e
avaliação dos serviços de saúde pelos idosos, no país, indicam que a
eqüidade, um dos princípios constitucionais do Sistema Único de Saúde
(SUS), ainda não foi alcançada.
Segundo Veras (2003), independentemente do indicador de saúde
adotado para avaliação da população, haverá sempre maior proporção de
agravos à saúde e procedimentos médicos entre os indivíduos com mais
de 60 anos de idade, culminando em maior utilização dos serviços de
saúde e custos mais elevados.
54
A utilização dos serviços de saúde disponíveis pode ser avaliada
através do número de consultas médicas realizadas pelo idoso,
internações hospitalares e a periodicidade com que ambas (consultas e
internações) ocorreram num determinado período de tempo. Pode ser
considerado um indicador indireto do estado de saúde. Dependendo do
objetivo e da forma avaliada, indica tanto o acesso desse grupo
populacional a estes serviços, quanto às condições de saúde do mesmo
(LIMA-COSTA et al.,2000).
A avaliação da utilização de serviços de saúde por idosos pode ser
prejudicada pelo viés de memória. Os idosos geralmente apresentam
perda de memória e não são capazes de responder a perguntas que
envolvam e necessitem de avaliações temporais. Uma alternativa seria a
utilização de dados de internação e consultas médicas disponíveis em
bancos de dados do SUS (LIMA-COSTA et al., 2000).
Na avaliação dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios de 1998, os resultados revelaram que dos 29.976 idosos
participantes deste estudo, 20,9% procurou por atendimento médico nas
duas últimas semanas antes da entrevista, 44,3% fizeram três ou mais
consultas médicas no ano, 13,6% estiveram internados uma ou duas
vezes no ano. Dos idosos entrevistados, 26,9% relataram ser filiados a
planos privados de saúde, demonstrando que a grande maioria dos
idosos utilizava o SUS como provedor de serviços de saúde (LIMA-
COSTA et al., 2003).
Em 2005, Noronha e Andrade avaliaram e compararam a utilização
de serviços de saúde entre idosos residentes em diferentes cidades
metropolitanas da América Latina: Buenos Aires, São Paulo, Santiago,
Havana, Cidade do México e Montevidéu. Especificamente em São Paulo,
as autoras encontraram que a utilização de serviços de saúde em nível
ambulatorial (consultas médicas) e hospitalar (internações) foi
dependente do nível de escolaridade.
Idosos com maior nível de escolaridade (acima de sete anos de
estudo) relataram um menor número de consultas (24,7%) e
apresentaram 3,6 vezes mais chances de serem internados, comparado
aos menos escolarizados. Tais resultados foram justificados pelo maior
55
custo de cuidados preventivos e atenção secundária à saúde para o idoso
mais escolarizado e o seu maior tempo de permanência no mercado de
trabalho, levando-o à menor procura dos cuidados básicos, sendo a
utilização de serviços de saúde em situações mais graves (justificando
maior possibilidade de internação hospitalar) (NORONHA E ANDRADE,
2005).
7.2.4.1.3- Características demográficas e sanitárias
A avaliação das condições do meio relacionadas à saúde de uma
dada população, tais como saneamento e habitação, é imprescindível
para o estabelecimento de políticas de promoção de qualidade de vida
adequadas (AZEREDO et al., 2007).
Em relação às características demográficas, o município ou região
onde o idoso reside influencia diretamente sua qualidade de vida. Telarolli
Jr. et al. (1996) colocam que municípios de pequeno e médio porte
apresentam condições favoráveis para a saúde e bem estar do idoso,
principalmente no que se refere ao desenvolvimento de AVD. Os autores
justificam com as características próprias destes municípios, tais como a
maior proximidade entre domicílio e estabelecimentos comerciais e a
facilidade na utilização do transporte público (se necessário). As menores
distâncias nestes municípios acabam por facilitar a assistência ao idoso
por filhos, amigos ou outros cuidadores.
Por outro lado, aqueles municípios de grande porte são detentores
das maiores tecnologias médicas e apresentam melhores oportunidades
para o cuidado da saúde e bem estar. Destaca-se que os centros de
especialidades médicas utilizados e necessários ao tratamento adequado
de idosos, estão localizados em metrópoles e capitais. Desta forma, se
por um lado as cidades de pequeno e médio porte proporcionam
qualidade de vida e melhor acesso a serviços básicos de saúde, os
idosos residentes nestas cidades necessitam, muitas vezes, de
deslocamento para grandes cidades para o tratamento de suas
morbidades e outros agravos em sua saúde.
56
O nível de urbanização de uma comunidade ou população é
considerado um indicador demográfico útil ao planejamento das ações de
saúde. A população residente em área urbana tem melhor acesso a
serviços públicos como saneamento básico, educação e assistência à
saúde. Ainda, ao concentrar a população em áreas geográficas menores,
a urbanização reduz o custo dos programas de saúde através de menores
gastos com transporte de usuários e aumenta a eficiência do sistema,
facilitando a procura e o atendimento no serviço de saúde (TELAROLLI
Jr. et al, 1996).
Os indicadores sanitários, entre eles a cobertura de água
encanada, coleta de esgoto e de lixo e padrões de mortalidade são
utilizados para definição do perfil de saúde de uma população
(TELAROLLI Jr. et al, 1996).
Azeredo et al. (2007), avaliando as condições de habitação e
saneamento em um município da Zona da Mata mineira, encontrou os
seguintes resultados: 83% das casas na zona urbana e 11% das casas na
zona rural tinham abastecimento de água encanada, 82,6% e 32% das
casas na zona urbana e zona rural respectivamente eram ligadas à rede
pública de esgoto e 96,6% e 22,6% das casas na zona urbana e rural
tinham coleta pública de lixo. Os resultados demonstram a melhor
cobertura do saneamento básico na região urbana do município,
destacando a necessidade de ações educativas e atenção em saúde para
a população rural, uma vez conhecidos os riscos da falta de saneamento
básico à saúde das pessoas.
Entre as questões de saneamento, a coleta de lixo tem papel de
destaque, visto que sua disposição final a céu aberto torna-se um fator de
degradação ambiental e proliferação de vetores e doenças (FUNDAÇÃO
ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, 2002).
7.2.4.1.4- Nível de escolaridade e de renda
A escolaridade é considerada um indicador preciso para
identificação do nível socioeconômico de uma população, relacionando-se
57
às possibilidades de acesso a empregos e renda, à utilização de serviços
de saúde, receptividade aos programas educacionais, sanitários e de
saúde.
Maiores índices de alfabetização na comunidade indicam, em
geral, um maior acesso às informações divulgadas pelos meios de
comunicação, mantendo o indivíduo ativo e participante em seu meio
social. Especificamente em relação à saúde, a alfabetização torna o
indivíduo receptível às ações educativas, sendo possível o aumento de
fatores protetores contra disfunções cognitivas que afetam os idosos com
freqüência (TELAROLLI Jr. et al, 1996).
A avaliação do nível de escolaridade da população é de extrema
importância, pois o mesmo é capaz de subsidiar pelo menos dois
aspectos relacionados ao nível de saúde individual. O primeiro aspecto
diz respeito ao comportamento individual, que depende do seu nível de
informação. Pessoas com maior grau de instrução estão mais propícias à
adoção de hábitos de vida saudáveis, bem como à maior procura por
serviços médicos, principalmente os cuidados preventivos. O segundo
aspecto diz respeito à disponibilidade de recursos passíveis de
investimento em saúde, uma vez que existe relação direta entre o nível de
escolaridade e o nível de renda, ou seja, melhores condições de vida e de
acesso a serviços de saúde (NORONHA e ANDRADE, 2005).
Segundo o IBGE (2006b), através dos dados obtidos na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios em 2005, foi demonstrado que 34,9%
da população idosa tinham menos de um ano de estudo, 21% tinham
entre 1 e 3 anos, 30,5% da população tinham entre 4 e 8 anos de estudo
e apenas13,6% desta população tinham mais de 9 anos de escolaridade.
O nível de escolaridade se torna ainda mais indispensável quando
se pensa na dificuldade do idoso relatar sua renda mensal de forma
correta, ou mesmo a renda familiar per capita, a qual é mais utilizada. Isso
por que na maioria das vezes, o idoso repassa seu rendimento mensal a
um responsável (filho ou outro membro da família, cuidador, gerente da
instituição asilar), dificultando a avaliação correta deste indicador na
população idosa.
Segundo Duarte et al. (2002), a situação socioeconômica afeta
diretamente as condições de saúde da população, principalmente entre
58
idosos, mais susceptíveis ao aparecimento de doenças e conseqüente
aumento nos gastos financeiros. O Brasil é um país com acentuada
desigualdade social, ocupando o segundo lugar no mundo em
concentração de renda (IPEA, 2007).
Com o avanço da idade, há um notável aumento de gastos,
principalmente em saúde, e redução da renda domiciliar per capita, visto
que famílias que contêm idosos em seu núcleo são menos numerosas,
com menor renda e com maiores gastos mensais pela presença do idoso
(CAMARANO, 1999).
No que diz respeito à distribuição de renda entre indivíduos idosos
brasileiros, há uma maior proporção de pessoas idosas entre aqueles
detentores de maior renda, uma vez que existe associação positiva entre
renda e expectativa de vida. A porcentagem de idosos na extremidade
inferior de distribuição de renda (menor renda) é de 2 a 4%, enquanto
10% dos idosos encontram-se na extremidade superior da mesma
(PEREIRA et al., 2005).
Em estudos seccionais da população idosa, a interpretação dos
resultados é afetada pelo viés de sobrevivência, ou seja, idosos com pior
nível socioeconômico apresentam menores expectativas de vida. Esta
última está forte e inversamente relacionada ao coeficiente de Gini, que
mede a desigualdade na distribuição de renda (SMITH, 1996).
A avaliação dos dados de um estudo transversal realizado com
idosos residentes em São Paulo no ano de 1989 demonstrou que as
variáveis socioeconômicas e demográficas foram associadas com a
dependência do idoso. Idosos com baixos níveis de escolaridade
apresentaram chance 5 vezes maior de ter dependência moderada ou
grave. Com relação à renda, aqueles com menor nível apresentaram
chance 2 vezes maior desta dependência (COSTA-ROSA et al., 2003).
Lima-Costa et al. (2003) avaliaram as associações existentes entre
condição socioeconômica e indicadores das condições de saúde,
mobilidade física e usos de serviços de saúde, através da análise do
banco de dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios
(PNAD) realizado no ano de 1998 pelo IBGE. Os autores encontraram
associação independente entre menor renda domiciliar per capita e piores
59
condições de saúde, pior desempenho físico e menor utilização de
serviços de saúde entre idosos.
Noronha e Andrade (2005) avaliaram as desigualdades sociais nas
condições de saúde e utilização de serviços de saúde entre idosos na
América Latina. Para isso, as autoras lançaram mão dos dados do Projeto
Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento na América Latina e Caribe (SABE),
realizado no ano de 2000 nas seguintes cidades: Buenos Aires
(Argentina), Bridgetown (Barbados), São Paulo (Brasil), Santiago (Chile),
Havana (Cuba), Cidade do México (México) e Montevidéu (Uruguai). Para
avaliar a presença de desigualdade social na utilização de serviços de
saúde, foram verificados os dados de utilização/procura por serviços
médicos ambulatoriais e de internações hospitalares. O nível de
escolaridade foi utilizado como indicador socioeconômico da população
estudada. A desigualdade foi encontrada em favor daqueles idosos com
maior nível de escolaridade ( 7 anos), em todas as cidades analisadas,
sendo mais acentuada na Cidade do México e São Paulo. Os resultados
refletem, segundo as autoras, a desigualdade de renda mais acentuada
nestas cidades, além das diferenças no desenvolvimento e no processo
de transição demográfica existentes entre os países avaliados.
No estudo realizado em Teixeiras, Minas Gerais, sobre a
contribuição dos domínios físico, social, psicológico e ambiental na
qualidade de vida global de idosos, ao avaliarem 211 idosos, os autores
encontraram que entre as variáveis sociodemográficas estudadas (sexo,
idade, situação conjugal e renda), apenas a variável sexo demonstrou
influência significante nos domínios físico, psicológico e ambiental da
qualidade de vida, de forma que a renda não contribuiu para a qualidade
de vida de idosos neste estudo (PEREIRA et al., 2006).
O aumento da expectativa de vida populacional pode ser
considerado um grande feito da humanidade, uma vez que reflete uma
melhora nos indicadores de saúde da população. Cabe ressaltar, no
entanto, que esta melhora não ocorreu de forma eqüitativa nos diferentes
países e contextos socioeconômicos (LIMA-COSTA e VERAS, 2003).
60
7.2.4.1.5- Trabalho
O trabalho na terceira idade pode ser indicador tanto de
manutenção da capacidade funcional como refletir a necessidade de se
manter o trabalho como fonte de renda essencial para a sobrevivência
(ANDERSON, 1997).
A Organização Pan-Americana de Saúde (2000) relaciona o
trabalho na terceira idade, em países em desenvolvimento, à
dependência de outros membros da família ao idoso, levando-o ao
trabalho no setor informal.
Segundo Camarano et al. (1999), a diminuição da taxa de atividade
laboral entre idosos no Brasil é maior com o avanço da idade, passando
de 47% aos 65 anos para apenas 22,1% aos 75 anos de idade. Com o
envelhecimento e conseqüente saída do mercado de trabalho, os
indivíduos passam a depender cada vez mais da renda de outros
membros da família, bem como a aposentadoria passa a ser crucial na
renda e na manutenção do padrão de vida do idoso (PAES DE BARROS
et al., 1999).
Tem sido demonstrado que pessoas que trabalham mantêm
melhores condições de saúde e que indivíduos doentes e incapazes são,
em sua maioria, excluídos do mercado de trabalho (GIATTI e BARRETO,
2003).
O desemprego está relacionado a más condições de saúde,
maiores taxas de mortalidade e alta prevalência de distúrbios psiquiátricos
e doenças crônicas não transmissíveis tais como a hipertensão arterial
(JANLERT, 1997).
Carpenter (1990) descreve o trabalho como uma variável seletiva e
positiva para a preservação de um bom estado de saúde. A associação
entre trabalho e condições de saúde é explicada pela relação direta entre
o tipo de trabalho desempenhado e escolaridade, renda, auto-estima e
condições gerais de vida (BLANC et al., 1994).
Giatti e Barreto (2003) avaliaram os dados do PNAD de 1998
referentes à situação de trabalho e sua relação com variáveis
61
sociodemográficas e de saúde de indivíduos do sexo masculino com
idade igual ou superior a 65 anos, residentes em regiões metropolitanas
de Belém, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro,
Curitiba, Porto Alegre e Distrito Federal. Segundo as autoras, um quarto
dos idosos participantes trabalhava e a permanência no mercado de
trabalho esteve inversamente associada com a idade e diretamente
associada com a escolaridade e renda domiciliar per capita. Também foi
encontrada associação entre trabalho e capacidade funcional.
Estudo realizado com 211 idosos no município de Teixeiras, Minas
Gerais, demonstrou que destes, 73% eram aposentados, 15,2% estavam
desempregados (sem trabalho e sem benefícios previdenciários) e 11,8%
ainda estavam inseridos no mercado de trabalho. Ainda, 69,7% tinham
renda mensal igual ou inferior ao salário mínimo e 8,5% não possuía
renda (PEREIRA, 2005).
Entre os idosos que ainda trabalham, a maioria está empregada na
considerada economia informal, sem direitos trabalhistas e benefícios
previstos pela assistência social (PAPALÉO NETTO et al., 2005), sendo
possível esperar, nestes casos, uma relação entre trabalho informal e
condições de saúde não favoráveis.
Segundo estes autores, uma das recomendações do Plano de
Ação Internacional para o Envelhecimento é a adoção de medidas para
manter ou recolocar o idoso no mercado de trabalho, visando à redução
da dependência, a melhoria da qualidade de vida e a inclusão social deste
grupo populacional (PAPALÉO NETTO et al., 2005).
7.2.5- Considerações finais
Neste trabalho, foi realizada uma revisão sobre a importância de
indicadores indiretos como determinantes da saúde e da qualidade de
vida da população idosa, bem como um apanhado de trabalhos nacionais
utilizando tais indicadores neste grupo populacional.
A avaliação da população idosa, utilizando mais de um indicador é
recomendada, uma vez que a associação destes possibilita o
62
conhecimento do estado de saúde em suas várias dimensões, bem como
a verificação da validade dos resultados.
As avaliações dos padrões demográficos, econômicos e sociais de
uma determinada população permitem o conhecimento acerca do perfil da
população, favorecendo a formulação de políticas e o planejamento de
ações de saúde voltadas para as suas reais necessidades, uma vez que
populações com diferentes necessidades relacionadas à saúde também
demandam serviços de saúde diferenciados.
Os trabalhos disponíveis na literatura sobre o tema destacam a
influência e o impacto de características socioeconômicas, demográficas
e capacidade funcional sobre a saúde e a qualidade de vida dos idosos.
Desta forma, a presente revisão de literatura, aponta para a
necessidade de associação entre indicadores diretos e indiretos do
estado de saúde da população idosa, de forma a se obter uma completa e
adequada visão das condições de saúde deste grupo populacional, o que
pode constituir-se em importante subsídio para a elaboração de
estratégias de atenção e intervenção à saúde de idosos, melhorando a
sua qualidade e expectativa de vida.
63
7.2.6- Bibliografia
ANDERSON, M.I.P. Saúde e condições de vida do idoso no Brasil
[dissertação de mestrado]. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio
de Janeiro; 1997.
AVLUND, K.; LUND, R.;HOLSTEIN, B.E.; DUE, P. Social relations as
determinant of onset of disability in aging. Archives of Gerontology
Geriatrics, 38: 85-90, 2004.
AZEREDO, C. M.; COTTA, R. M. M.; SCHOTT, M.; MAIA, T. M.;
MARQUES, E. S Avaliação das condições de habitação e saneamento: a
importância da visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da
Família. Ciência & Saúde Coletiva, 12(3): 319-329, 2007.
BLANC, P.D.; KATZ, P.; YELIN, E. Mortality risk among elderly people
workers. American Journal of Industrial Medicine, 26: 543-547, 1994.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 1395/GM – Política Nacional de
Saúde do Idoso. 10 de dezembro de 1999, 1999.
CAMARANO, A. A. Envelhecimento da população brasileira: uma
contribuição demográfica. (Texto para discussão n.º 858). Rio de
Janeiro: IPEA; 2002.
CAMARANO, A. A.; BELTRÃO, K. I.; PASCOM, A. R. P.; MEDEIROS,
M.;CARNEIRO, J. G.; GOLDANI, A. M.; VASCONCELOS, A. M. N.
CHAGAS, A. M. R.; OSÓRIO, R. G. Como vai o idoso brasileiro? (Texto
para discussão n.º 68). Rio de Janeiro: IPEA; 1999.
CARPENTER, L. M. Health-related selection and mortality in
employees of the United Kingdom Atomic Energy Authority, 1946-79
and the Atomic Weapons Estabilishment, 1951-82. [Ph.D. Thesis,
London]. London School of Hygiene and Tropical Medicine, University of
London; 1990.
CARVALHO, J. A. M.; RODRIGUÉZ-WONG, L. L. A transição da estrutura
etária da população brasileira na primeira metade do século XXI.
Cadernos de Saúde Pública, 24(3): 597-605, 2008.
COSTA-ROSA, T. E.; BENÍCIO, M. H. D.; LATORRE, M. R. D. O,
RAMOS, L. R. Fatores determinantes da capacidade funcional entre
idosos. Revista de Saúde Pública, 37(1): 40-48, 2003.
64
COTTA R.M.M.; SUAREZ-VARELA M.M.; COTTA FILHO J.S.; LLOPIS
GONZALEZ A.; DIAS RICÒS J.A.; REAL E.R. La hospitalización
domiciliaria ante los cambios demográficos y nuevos retos de salud.
Revista Panamericana de Salud Publica, 11(4): 253-61, 2002.
DUARTE, E. C.; SCHNEIDER, M. C.; PAES-SOUSA, R.; RAMALHO, W.
M.; SARDINHA, L. M. V.; SILVA Jr., J. B.; CASTILLO-SALGADO, C.
Epidemiologia das desigualdades em Saúde no Brasil: Um estudo
exploratório. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde. 2002.
FEAM (FUNDAÇÃO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE). Manual de
Saneamento e Proteção Ambiental para os Municípios - Município e
Meio Ambiental. 3ªed. Belo Horizonte: 2002.
GIATTI, L.; BARRETO, S. M. Saúde, Trabalho e Envelhecimento no
Brasil. Caderno de Saúde Pública, 19(3): 759-771, 2003.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 1981. Rio de Janeiro, 1982.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios 1998. Rio de Janeiro, 1998.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios. Rio de Janeiro. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br. Acesso em 12 de fevereiro de 2007.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Tábuas
Completas de Mortalidade 2005. Disponível em: http://www.ibge.gov.br
.
Acesso em 12 de fevereiro de 2007. Rio de Janeiro, 2006a.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Síntese
de Indicadores Sociais 2006. Estudos e Pesquisas – Informação
Demográfica n.º 19. Rio de Janeiro, 2006b.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2002.
IPEA (INSTITUO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA). Nota
Técnica. Sobre a recente queda de desigualdade de renda no Brasil.
2007. Disponível em URL: http://www.ipea.gov.br.
JANLERT, U. Unemployment as a disease and disease of the
unemployed. Scandinavian Journal of Work, Environment & Health,
223:79-83, 1997.
65
LEBRÃO, M. L.; LAURENTI, R. Condições de saúde. In: LEBRÃO, M. L.;
DUARTE, Y. A. O. SABE: saúde, bem-estar e envelhecimento: o Projeto
Sabe no município de São Paulo: ima abordagem inicial. Brasília:
Organização Pan-Americana de Saúde; 2003. p.73-91.
LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M.; GIATTI, L. Condições de saúde,
capacidade funcional, uso de serviços de saúde e gastos com
medicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo
baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Caderno de
Saúde Pública, 19(3): 735-743, 2003.
LIMA-COSTA, M. F.; GUERRA, H. L.; BARRETO, S. M.; GUIMARÃES, R.
M. Diagnóstico da situação de saúde da população idosa brasileira: um
estudo da mortalidade e das internações hospitalares públicas. Informe
Epidemiológico do SUS, 9(1): 23-41, 2000.
LIMA-COSTA, M. F.; VERAS, R. Saúde Pública e Envelhecimento
(editorial). Cadernos de Saúde Pública, 19 (3): 700-701, 2003.
MACIEL, A. C. C.; GUERRA R. O. Influência dos fatores biopsicossociais
sobre a capacidade funcional de idosos residentes no nordeste do Brasil.
Revista Brasileira de Epidemiologia, 10(2): 178-189, 2007.
MARTIKAINEN, P.; AROMAA, A.; HELIÖVAARA, M.; KLAUKKA, T.;
KNEKT, P.; MAATELA, J.; LAHELMA, E. Reliability of perceived health by
sex and age. Social Science and Medicine, 48(8): 1117-1122, 1999.
NORONHA, K. V. M, S; ANDRADE, M. V. Desigualdades sociais em
saúde e na utilização dos serviços de saúde entre os idosos na América
Latina. Revista Panamericana de Salud Publica, 17(5/6): 410-418,
2005.
ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE. Envelhecimento: Mitos
na Berlinda. 2000. Disponível em: http://www.opas.org.br
. Acesso em 14
de fevereiro de 2008.
ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD. Las condiciones de
salud en las Americas. Washington, v.1, 1994.
PALLONI, A.; PELÁEZ, M. SABE: Survey on Health and well-being of
elders: preliminary report. Washington, DC. Organización
Panamericana de la Salud; 2002.
66
PAES DE BARROS, R.; MENDONÇA, R.; SANTOS, D. Incidência e
natureza da pobreza entre idosos no Brasil (texto para discussão n.º
686).Rio de Janeiro: IPEA,1999.
PAES-SOUSA, R. Diferenciais intra-urbanos de mortalidade em Belo-
Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 1994: revisitando o debate sobre
transições demográfica e epidemiológica. Cadernos de Saúde Pública,
18(5):1411-1421, 2002.
PAIXÃO Jr, C. M.; REICHENHEIM, M. E. Uma revisão sobre instrumentos
de avaliação do estado funcional do idoso. Cadernos de Saúde Pública,
21: 7-19, 2005.
PAPALÉO NETTO, M.; YUASO, D. R.; KITADAI, F. T. Longevidade:
desafio no terceiro milênio. O Mundo da Saúde, 29(4): 594-607,2005.
PARAHYBA, M.I.; SIMÕES, C.C.S. A prevalência de incapacidade
funcional em idosos no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 11: 967-742,
2006;.
PEREIRA, R. J. Análise da Qualidade de Vida de Idosos – Município
de Teixeiras – MG. [Dissertação de Mestrado] Universidade Federal de
Viçosa, Minas Gerais. 2005. 149p.
PEREIRA, R.J.; FRANCESCHINI, S.C.C.; PRIORE, S.E.; COTTA, R. M.
M. Características demográficas e socioeconômicas da população idosa
brasileira. O Mundo da Saúde, 29(4): 585-593, 2005.
PEREIRA, R. J.; COTTA, R. M. M.; FRANCESCHINI, S. C. C.; RIBEIRO,
R. C. L.; SAMPAIO, R. F.; PRIORE, S. E.;CECON, P. R. Contribuição do
domínio físico, social, psicológico e ambiental para a qualidade de vida
global de idosos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 28(1):
27-38, 2006.
RAMOS, L. R.; TONIOLO, J.; CENDOROGLO, M. S.; GARCIA, J. T.;
NAJAS, M. S.; PERRACINI, M.; PAOLA, C. R.; SANTOS, F. C.; BILTON,
T.; EBEL, S. J.; MACEDO, M. B.; ALMADA, C. M.; NASRI, F.; MIRANDA,
R. D.; GONÇALVES, M.; SANTOS, A. L.; TUDISCO, E. S. Two-year
follow-up study of elderly residents in São Paulo, Brazil (Epidoso Project):
Metodology and preliminary results. Revista de Saúde Pública, 33:397-
407, 1998.
RAMOS, L. R.; SIMÕES, E.; ALBERT, M. S. Dependency on daily living
and cognitive impairment strongly predicted mortality among urban elderly
67
residents in Brazil: A two-year follow-up. Journal of the American
Geriatric Society, 49:1168-1175, 2001.
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE/COMITÊ
TEMÁTICO INTERDISCIPLINAR SAÚDE DO IDOSO. Comitê Temático
Interdisciplinar (CTI) Saúde do Idoso: relatório 1. 2004, 4 p.
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE/COMITÊ
TEMÁTICO INTERDISCIPLINAR SAÚDE DO IDOSO. Comitê Temático
Interdisciplinar (CTI) Saúde do Idoso: relatório final. 2005, 41 p.
SAWYER, D. O.; LEITE, I. C.; ALEXANDRINO, R. Perfis de utilização de
serviços de saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 7(4): 757-776,
2002.
SMITH, G. D. Unequal in Death. Commentary: Understanding it all –
Health, meta-theories and mortality trends. American Family Physician,
313: 1518-1585, 1996.
SOUSA, L.; GALANTE, H. FIGUEIREDO, D. Qualidade de vida e bem-
estar dos idosos: um estudo exploratório na população portuguesa.
Revista de Saúde Pública, 37(3): 364-371, 2003.
TELAROLLI Jr., R.; MACHADO, J. C. M. S.; CARVALHO, F. Perfil
demográfico e condições sanitárias dos idosos em área urbana do
Sudeste do Brasil. Revista de Saúde Pública , 30(5): 485-498, 1996.
THE WHOQOL GROUP. The development of the World Health
Organization Quality of Life Assessment Instrument (the WHOQOL). In:
ORLEY, J. K.W. Quality of Life assessment : international perspectives.
Heidelberg: Springer Verlag; 1994. p.41-60.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report. Geneva,
2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Keep Fit for Life. Meeting the
nutritional needs of older persons. Geneva, 2002. 112p.
VERAS, R. Em busca de uma assistência adequada à saúde do idoso:
revisão da literatura e aplicação de um instrumento de detecção precoce
e de previsibilidade de agravos. Cadernos de Saúde Pública, 19(3): 705-
715, 2003.
VERAS, R. Fórum: Envelhecimento populacional e as informações de
saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Introdução.
Cadernos de Saúde Pública, 23(10): 2463-2466, 2007.
68
VICTOR, C.; SCAMBER, S.; BOND, J.; BOWLING, A. Being alone in later
life: loneliness, social isolation and living alone. Review Clinical
Gerontology, 10:407-417, 2000.
69
8- ARTIGOS ORIGINAIS
8.1- Artigo 1: Perfil socioeconômico, demográfico e de saúde de
idosos cadastrados no Programa de Saúde da Família
de Viçosa, Minas Gerais.
8.1.1 – Resumo
O aumento da longevidade mundial teve início no século XX e a
partir da década de 60 também pôde ser observado nos países em
desenvolvimento, de forma que o grupo populacional com idade igual ou
superior a 60 anos tem apresentado crescimento cerca de três vezes
maior que os outros grupos. No Brasil, projeções apontam que o
percentual de idosos na população subirá de 10% no ano 2000 para 14%
em 2025. A avaliação das condições de vida e de saúde da população
idosa propiciará o conhecimento detalhado deste grupo e fornecerá
subsídios para formulação e implantação de propostas de intervenção
específicas dentro de programas voltados para a terceira idade, bem
como para políticas sociais mais abrangentes, no intuito de promover o
bem-estar e a melhoria na qualidade de vida deste grupo populacional. O
presente trabalho objetivou identificar as características socioeconômicas
e demográficas e as condições de saúde de idosos atendidos por equipes
do Programa de Saúde da Família (PSF) do município de Viçosa, Minas
Gerais. Foram selecionados 155 idosos (4,3% dos idosos adstritos no
PSF) de forma randomizada, entrevistados com auxílio de um
questionário para a caracterização socioeconômica e condições de
saúde. Os dados apontam inadequadas condições socioeconômicas e de
saúde, entre elas baixos níveis de renda domiciliar per capita e alta
freqüência de analfabetismo e prevalência de morbidades e consumo
elevado de medicamentos. Os resultados encontrados podem ser
considerados instrumentos importantes para a compreensão do perfil de
saúde dos idosos, tornando-se peças chave na elaboração de políticas de
promoção de saúde e intervenção voltadas para a população idosa
adstrita no PSF. Deve-se ressaltar ainda que, devido ao grande número
70
de municípios brasileiros de médio porte como o aqui estudado, os
resultados servirão de subsídio para a implantação/implementação de
políticas públicas voltadas para este grupo populacional com
características semelhantes.
Palavras-Chave: envelhecimento, saúde do idoso, condições sociais,
Programa Saúde da Família.
71
8.1.2- Introdução
A população humana mundial vem aumentando, em média, 1,7%
ao ano. A parcela com 60 anos ou mais de idade, definida pelas Nações
Unidas como terceira idade (países em desenvolvimento), apresenta
crescimento médio variando de 2,5% a 3% ao ano (TELAROLLI et al.,
1996). O aumento da longevidade mundial teve início no século XX e a
partir da década de 60, também pôde ser observado nos países em
desenvolvimento, de forma que o grupo populacional com idade igual ou
superior a 60 anos tem apresentado crescimento cerca de três vezes
maior que os outros grupos (ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA
SALUD, 1994).
No Brasil, o envelhecimento populacional tem ocorrido de forma
rápida e intensa. A porcentagem de pessoas idosas em relação à
população total do país aumentou de 6,1% em 1980 para 10% no ano
2000, sendo o grupo etário que mais cresce no país (INSTITUO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1981, 2002,
CAMARANO 2002).
Ao contrário do que acontece nos países desenvolvidos, onde o
crescimento da população idosa vem ocorrendo de forma gradual e é
acompanhado de melhorias na cobertura do serviço de saúde, condições
de habitação, saneamento básico e trabalho; no Brasil e em outros países
em desenvolvimento, o processo de envelhecimento populacional está
ocorrendo de forma desordenada, inserido num contexto de desigualdade
social, economia frágil, níveis de pobreza crescente, precário acesso aos
serviços de saúde e reduzidos recursos financeiros, sem modificações
estruturais correspondentes às mudanças na demanda do novo grupo
etário emergente (PALLONI e PELÁEZ, 2003).
As mudanças no padrão demográfico brasileiro acarretam
alterações nas políticas sociais do país, sendo as de saúde uma das mais
afetadas (COTTA et al., 2002; NORONHA e ANDRADE, 2005). A
população idosa é grande usuária dos serviços de saúde, com
internações hospitalares mais freqüentes e longas. Isso por que, em
geral, as doenças que acometem este grupo populacional são crônicas e
múltiplas, com duração de vários anos e necessidade de
72
acompanhamento constante, medicação contínua e exames periódicos
(LIMA-COSTA e VERAS, 2003). Apesar disso, o sistema de saúde do
Brasil ainda não se adaptou às modificações demográficas, de forma a
atender o aumento nas demandas, bem como o novo perfil de seus
usuários.
Desde a década de 1990, a saúde e o bem estar da população
idosa têm sido pautados na agenda política do Brasil. Em 1994 foi criada
e aprovada a Política Nacional do Idoso e em 2003 foi aprovado o
Estatuto do Idoso pelo Senado Federal, visando à garantia dos direitos
sociais deste grupo. Mais Recentemente, em 2006, foi aprovada a
portaria n.º10741/2006, que trata da Política Nacional de Saúde da
Pessoa Idosa (PNSPI) que tem como finalidade a readequação das
políticas de saúde voltadas para a população idosa do país (BRASIL,
1994, 2003, 2006).
O PSF foi criado pelo Ministério da Saúde do Brasil e seu modelo
propõe a reorganização da atenção primária em ações de promoção da
saúde, prevenção de doenças e controle de agravos à saúde, e
resolutividade na assistência e recuperação com qualidade, objetivando
maior aproximação entre o sistema de saúde e a população (BRASIL,
2008).
O cuidado do idoso baseado na família e na atenção básica é o
foco do PSF, que deve representar o vínculo deste com o sistema de
saúde. A equipe de saúde da família tem como objetivo a melhoria da
qualidade de vida também deste grupo, através de medidas promocionais
de proteção específica, identificação e intervenção precoce de agravos à
saúde, além de medidas de reabilitação visando à manutenção do idoso
no convívio familiar (SILVESTRE e NETO, 2003).
Sendo assim, a avaliação das condições de vida e de saúde da
população idosa fornecerá subsídios para formulação e implantação de
propostas de intervenção, tanto em programas voltados para a terceira
idade quanto em políticas sociais mais abrangentes, no intuito de
promover o bem-estar e a melhoria na qualidade de vida deste grupo
populacional (VERAS, 1994).
Segundo Pereira e colaboradores (2005), as desigualdades
regionais verificadas no processo de envelhecimento demandam maior
73
atenção no planejamento e na avaliação local das ações em saúde para a
terceira idade.
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo identificar
as características socioeconômicas e demográficas, condições de saúde
e suas associações, entre idosos cadastrados em equipes do Programa
de Saúde da Família (PSF), do município de Viçosa, Minas Gerais.
8.1.3- Metodologia
8.1.3.1- Características do município em estudo
O Município de Viçosa-MG possui uma densidade demográfica de
216,2 hab/km
2
. A taxa média de crescimento populacional de Viçosa no
ano 2000 foi de 2,7% ao ano. A esperança de vida ao nascer que era de
64,3 anos em 1991, passou para 70,4 anos no ano 2000. A Taxa de
Fecundidade total do município reduziu de 2,4 para 2,3 filhos por mulher
do ano de 1991 para o de 2000 (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002).
O município de Viçosa-MG possuía segundo dados do Censo
Demográfico (2000), uma população total de 64.854 habitantes, sendo
31.745 (49%) do sexo masculino e 33.109 (51%) do feminino. Trata-se de
um município predominantemente urbano, com 59.792 habitantes nesta
localização e 5.062 nas localidades rurais da cidade (PROGRAMA DAS
NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO, 2000; INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002).
Segundo estimativas do IBGE, o município em 2007 tinha 70.401
habitantes (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2007). Dados do último censo demográfico (2000) demonstraram que
8,2% da população total do município eram idosos (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002).
As principais atividades econômicas desenvolvidas pela população
no município são: prestação de serviços (68,4%), industrial (28,3%) e
agropecuário (3,4%) (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O
DESENVOLVIMENTO, 2000).
74
8.1.3.2- Desenho do estudo e casuística
Trata-se de um estudo transversal, de cunho exploratório-descritivo
com abordagem quantitativa.
Foram envolvidos no estudo, indivíduos com idade igual ou
superior a 60 anos residentes no Município de Viçosa, Minas Gerais,
adstritos em equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) do
município.
Dentre as treze equipes de PSF atualmente no município, cinco
foram selecionadas para a realização do estudo, de acordo com a
localização geográfica das mesmas, disponibilidade para participar do
estudo e tamanho amostral. As mesmas estão situadas em diferentes
bairros da zona urbana do município, contribuindo de forma homogênea
para a amostragem, conforme demonstrado no Quadro 1.
Quadro 1: Equipes de Saúde da Família participantes do estudo e
sua contribuição percentual na amostra final, Viçosa – MG
(2007).
Número de Idosos
Localização
(bairro) da Equipe
de PSF
Cadastrados Entrevistados
Percentual de
participação
na
amostragem
Amoras 255 22 14,2
Nova
Viçosa/Posses
373 33 21,3
Nova Era 357 36 23,2
São Sebastião 333 36 23,2
Silvestre 238 28 18,1
Outros Bairros 2074 - -
TOTAL
3.630 155 100
A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e maio
de 2007, em mutirões de avaliação nutricional de idosos, realizados nas
equipes de PSF selecionadas para participar do estudo. Os princípios
éticos foram respeitados conforme as orientações da resolução 196/96 do
75
Conselho Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996), sendo
esta pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Viçosa – MG. Os idosos foram
informados acerca dos objetivos e metodologias do estudo e assinaram
termo de consentimento livre e esclarecido.
Foram selecionados 155 idosos (4,3% dos idosos adstritos no PSF)
de forma randomizada entre todos os idosos adstritos em cada equipe, os
quais foram convidados a participar do estudo por agentes comunitários
de saúde de cada equipe uma semana antes da realização das
entrevistas em cada Unidade de Saúde da Família. O convite foi feito por
meio de folheto informativo, entregue em seus domicílios.
8.1.3.3- Avaliação socioeconômica e das condições de saúde
A entrevista foi realizada nas Unidades de Saúde da Família
participantes do estudo, com auxílio de um questionário para a
caracterização socioeconômica e condições de saúde (Anexo 2). Este
instrumento contemplava questões referentes à renda, trabalho,
escolaridade, habitação e estrutura domiciliar, saúde bucal, morbidades,
uso de medicamentos, atividades diárias e autonomia do idoso, tais como
preparo das refeições e prática de atividade física. O questionário foi
construído a partir de um estudo realizado previamente com idosos de um
município vizinho ao do presente estudo (PEREIRA, 2005).
Para análise da renda, foram consideradas duas variáveis: a renda
mensal individual, referente à renda do idoso com o salário, aposentaria
ou pensão; e renda domiciliar per capita, referente à soma das rendas de
todos os moradores do domicílio do idoso, dividido pelo número total de
moradores neste domicílio. A renda domiciliar per capita permite verificar
o processo de redistribuição de renda nos núcleos familiares medida
individualmente entre seus membros através do trabalho, de
aposentadorias e pensões, de aluguéis, seguro-desemprego, etc.
Permite, ainda, avaliar a proporção da população cuja renda familiar é
insuficiente para satisfazer as necessidades básicas individuais de seus
membros (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA E APLICADA,
2007).
76
8.1.3.4- Análise dos dados
A confecção do banco de dados e análise estatística dos
resultados foi realizada com o auxílio do software Epi info versão 6.04. Os
dados foram trabalhados em relação à mediana e valores mínimos e
máximos, visto que a as variáveis não apresentaram distribuição normal.
Os idosos entrevistados foram agrupados por sexo feminino (n=89)
e masculino (n=57) e por faixas etárias (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2000): 60 a 64 anos (n= 39), 65 a 69 anos
(n= 35), 70 a 74 anos (n= 27), 75 a 79 anos (n= 31), e 80 anos ou mais de
idade (n= 15).
O teste Kruskal-Wallis complementado com o procedimento de
comparações múltiplas de Dunn’s foi realizado para comparar resultados
entre grupos etários. Realizou-se o teste Mann-Whitney para comparação
entre os sexos. O teste de qui-quadrado foi utilizado para verificar
associação entre variáveis categóricas avaliadas no estudo. O nível de
significância utilizado foi menor que 5% (p< 0,05).
8.1.4- Resultados e Discussão
Dos 155 idosos entrevistados, nove idosos (5,8%) não
conseguiram responder ao questionário, por problemas de memória. Dos
147 questionários restantes, as questões não respondidas com precisão
pelos idosos foram descartadas.
8.1.4.1- Características socioeconômicas e demográficas
Dos idosos entrevistados, 62,2% (n=97) era do sexo feminino. A
mediana de idade da amostra foi de 69 anos, variando entre 60 e 85 anos
(média 70,381± 6,867 anos).
Já década de 1990, Telarolli et al (1996) observaram a feminização
do envelhecimento em todo país. Os autores justificam este fenômeno
pela maior expectativa de vida entre o sexo feminino, menor mortalidade
por causas externas e menor exposição às condições adversas como o
fumo e álcool ao longo da vida.
77
Mais recentemente, resultados da Pesquisa Nacional por Amostra
de Domicílios (PNAD) do ano 2005 apontaram que, entre idosos, a razão
entre os sexos era de 62 homens para cada 100 mulheres, sendo que em
algumas regiões metropolitanas do país, tais como Belo Horizonte, São
Paulo e Rio de Janeiro, o número de idosas era mais que o dobro do
número de idosos na mesma faixa etária (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006).
A predominância do sexo feminino entre os idosos do município
tem repercussão direta nas demandas de saúde no município. Segundo
Camarano (2002), as mulheres estão mais propensas à debilidade física e
mental, apresentam menor nível de escolaridade e menor experiência de
trabalho no mercado formal diminuindo o acesso a renda e aumentando o
nível de dependência de familiares e do Estado.
A tabela 1 descreve as características sociodemográficas da
população entrevistada.
A avaliação da estrutura familiar na qual o idoso está inserido
contribui para o entendimento das condições de vida deste grupo
(GOLDANI, 1998). No Brasil, a família ainda é o núcleo de referência para
o cuidado do idoso, de forma que o seu estudo torna-se de grande
importância para análise do perfil de saúde deste grupo etário (PEREIRA
et al., 2005).
A estrutura familiar tradicional ainda está presente no município.
Como demonstrado na tabela 1, grande parte (56,8%) é casado, sendo
estes em sua maioria pertencentes à menor faixa etária estudada (60 a 64
anos) (p<0,005). Ainda, as residências são constituídas por duas ou mais
gerações. Quase a totalidade (92,5%) relatou não morar sozinho, sendo
os seus lares constituídos principalmente pelo companheiro(a) (57,5%),
filhos(as) (54,2%) e/ou netos(as) (22,7%).
O convívio familiar é fator positivo no planejamento das ações de
saúde para esta população. Frente aos problemas de saúde, o cuidado
domiciliar pode ser pensado para este grupo, considerando os familiares
como cuidadores preferenciais devido ao vínculo afetivo e relação de
confiança existente neste núcleo.
78
Tabela 1: Características sociodemográficas dos idosos estudados
em Viçosa – MG (2007).
CARACTERÍSTICAS n %
Sexo (n = 155)
Feminino 97 62,2
Masculino 59 37,8
Faixa Etária em anos (n= 147)
60 a 64 39 26,5
65 a 69 35 23,5
70 a 74 27 18,5
75 a 79 31 21,2
80 ou mais 15 10,3
Situação Conjugal (n= 147)
Com companheiro 86 58,9
Sem companheiro 61 41,1
Escolaridade (anos de estudo) (n= 146)
Analfabeto 67 45,9
1 a 7 68 46,6
8 a 11 10 6,8
11 a 14 ou mais 1 0,7
Renda Mensal Individual em SM (n= 145)
Sem renda 21 14,5
Até ½ 1 0,7
De ½ a 1 90 62,1
Mais de 1 a 2 17 11,7
Mais de 2 a 3 7 4,8
Mais de 3 a 5 5 3,4
Mais de 5 a 10 4 2,8
SM= Salário Mínimo Vigente (R$ 380,00)
O número mediano de moradores na residência foi igual a três,
variando de um a dez moradores, estando de acordo com os dados
nacionais da PNAD de 2005, onde residências brasileiras são compostas
em média por 3,5 moradores (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA
E ESTATÍSTICA, 2006).
79
Em relação à escolaridade dos idosos, destaca-se a alta freqüência
de analfabetismo encontrada, sendo esta maior que a prevalência
nacional. Dados da PNAD de 2005 mostraram que, no Brasil, 34,9% dos
idosos tinham menos de um ano de estudo, 21% entre 1 e 3 anos, 30,5%
entre 4 e 8 anos e 13,6% desta população tinham mais de 9 anos de
escolaridade (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA, 2006).
Pereira e colaboradores (2006) avaliando a situação
sociodemográfica de idosos adstritos no PSF do município de Teixeiras,
localizado também na Zona da Mata Mineira, encontraram menor
freqüência de analfabetismo, com cerca 31,3% de idosos considerados
como tal.
O sexo masculino apresenta maior percentual de idosos (48,2%)
classificados como analfabetos. Não houve associação entre nível de
escolaridade e faixa etária (p> 0,05).
Souza e colaboradores (2006), em estudo com idosos cadastrados
no PSF de Porto Alegre, encontraram maior freqüência de analfabetismo
entre os do sexo feminino, o que era esperado em função da
discriminação social sofrida pelas mulheres no século passado, sendo
que a prioridade de investimento nos estudos era para os filhos homens,
ficando designado às mulheres as tarefas do lar.
O resultado encontrado no presente estudo pode ser justificado
pela grande presença de atividade agropecuária na região, sendo que
muitos idosos, hoje residentes no centro urbano, são oriundos da zona
rural. Este tipo de atividade, desempenhada principalmente pelo sexo
masculino, não demanda alta escolaridade e é realizada durante quase
todo o dia, se tornando uma atividade desestimuladora do estudo.
Destaca-se também que a elevada prevalência de analfabetismo
pode estar relacionada ao processo de seleção da amostra, visto que a
população adstrita no PSF ainda é, em sua maioria, constituída pelas
classes de menor poder econômico e com menor acesso à educação e
outros serviços básicos.
A análise da escolaridade possibilita a avaliação de pelo menos
dois aspectos relacionados ao nível de saúde individual. O primeiro se
refere ao fato de que pessoas com maior grau de instrução estão mais
80
propensas à adoção de hábitos de vida saudáveis e a maior procura por
serviços médicos e de saúde, principalmente os preventivos. O segundo
seria a existência de relação direta entre o nível de escolaridade de um
indivíduo e seu nível de renda, ou seja, melhores condições de vida e
acesso a serviços de saúde (NORONHA e ANDRADE, 2005).
No presente estudo foi encontrado associação entre maior nível de
escolaridade e maior renda individual mensal (p<0,05). No entanto, não
houve associação entre o nível de escolaridade e permanência no
mercado de trabalho na terceira idade.
O nível de educação do idoso também constitui ferramenta precisa
para caracterização do nível socioeconômico deste grupo populacional,
pois está relacionado ao acesso ao trabalho e a renda, utilização de
serviços de saúde e receptividade a programas educacionais e sanitários
(TELAROLLI Jr. et al, 1996).
Grande parte dos idosos entrevistados (n=30) não soube relatar a
renda familiar ou mesmo individual mensal. Tais idosos, na maioria das
vezes, apresentam perda de memória significativa e/ou repassam seu
rendimento a um responsável, dificultando a avaliação correta deste
indicador no grupo.
A mediana encontrada de dependentes da renda familiar foi de
três, variando entre uma e dez pessoas. O número de dependentes da
renda domiciliar foi correspondente à mediana de moradores na
residência dos idosos, confirmando o fato de, muitas vezes, serem os
idosos os principais geradores de renda no núcleo familiar.
Dados da PNAD realizada no ano de 2005 demonstraram a
importância do idoso na relação econômica da família. Em 2005, 65,3%
dos idosos foram considerados pessoas de referência na família
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006).
Entre os domicílios constituídos por dois ou mais moradores, 29
(28,2%) são sustentados apenas com a renda do idoso. Destaca-se a
importância das aposentadorias e benefícios previdenciários na garantia
de condições socioeconômicas satisfatórias não só para os idosos, mas
também para seus familiares.
A renda mensal individual mediana de idosos aposentados foi de
R$ 380, enquanto idosos que trabalhavam apresentaram mediana de R$
81
440, reafirmando desta forma, a importância do trabalho para a
manutenção de melhores condições de vida em geral.
Observa-se, pelas tabelas 2 e 3, que a renda mensal individual, ou
seja, o rendimento recebido pelo idoso foi maior para o sexo masculino
(p<0,05). Este achado remete a uma situação existente no país desde a
década de 1970 até a atualidade, onde a mulher, mesmo passando a
participar mais ativamente no mercado de trabalho, tem sua inserção
marcada por desigualdades atribuídas ao sexo. Sabe-se que a diferença
salarial entre homens e mulheres que exercem uma mesma função está
presente no país, de forma que o salário estipulado para o sexo feminino
é em média dois terços do salário masculino na maioria dos setores da
economia (SILVA, 2000).
Tabela 2: Avaliação do nível de renda dos idosos estudados segundo
o sexo, Viçosa – Minas Gerais (2007).
AVALIAÇÃO
DA RENDA
Média ±
Desvio Padrão
Mediana
(Mínimo-Máximo)
p*
Renda domiciliar per capita
Total
279,84 ± 168,89
251,67 (47,5 -1150,0)
Masculino
285,77 ± 205,01
230,17 (50,0 -1150,0)
Feminino
275,66 ± 139,40
253,33 (47,5 -700,0)
0,86
Renda mensal individual
Total
464,44 ± 467,46
380,0 (0 - 3200,0)
Masculino
618,35 ± 590,39
380,0 (0 - 3200,0)
Feminino
370,39 ± 344,22
380,0 (0 - 2600,0)
0,0003
* Mann-Whitney ; (n= 116)
A renda domiciliar per capita, no entanto, não diferiu
estatisticamente entre os sexos, sugerindo que a diluição da renda do
idoso entre os residentes no domicílio independe do sexo. Também não
foi observada diferença estatística na renda domiciliar per capita com o
aumento da idade dos idosos.
82
Tabela 3: Avaliação do nível de renda dos idosos estudados segundo
faixa etária, Viçosa – Minas Gerais (2007).
AVALIAÇÃO DA
RENDA
Média ±
Desvio Padrão
Mediana
(Mínimo-Máximo)
p*
Renda domiciliar per capita
60-64 anos
239,50 ± 175,97
190,0 (47,5 -950,0)
65-69 anos
278,63 ± 150,23
250,0 (95,0 -700,0)
70-74 anos
261,09 ± 119,23
260,0 (76,0 -380,0)
75-79 anos
307,15 ± 110,21
370,0 (126,7 -570,0)
80 anos ou mais
394,13 ± 312,55
316,7 (158,0 -1150,0)
0,17
Renda mensal individual
60-64 anos
462,05 ± 673,78
380,0 (0 -3200,0)
65-69 anos
545,34± 526,24
380,0 (0 -2600,0)
70-74 anos
431,56 ± 316,35
380,0 (0 -1900,0)
75-79 anos
390,23 ± 138,15
380,0 (0 -700,0)
80 anos ou mais
489,33 ± 344,91
380,0 (380 -1700,0)
0,53
* Kruskal-Wallis ; (n= 116)
Ainda em relação à renda domiciliar per capita, 48 idosos (41,4%)
se encontram vivendo abaixo da linha da pobreza (1/2 salário mínimo).
Destes 16,7% se encontram em situação ainda mais degradante, ou seja,
vivendo abaixo da linha de extrema pobreza (1/4 salário mínimo). Ambas
as classificações utilizadas são preconizadas pelo IPEA (INSTITUTO DE
PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2007).
Resultados da PNAD de 2005 apontam que, no Brasil, 11,6% dos
idosos vivem com uma renda domiciliar per capita de até ½ salário
mínimo, sendo que destes, 1,7% vivem com menos de ¼ do salário
mínimo (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA,
2006).
A baixa renda domiciliar per capita encontrada nesta amostra
populacional pode ser justificada não somente pela diluição da renda
familiar entre os seus, mas também pelo baixo nível de escolaridade
detectado no grupo de idosos entrevistados. Como já discutido
anteriormente, o nível de escolaridade e a renda apresentam uma relação
83
direta, de forma que pessoas com maior grau de instrução têm melhores
oportunidades de trabalho e maior remuneração.
No presente trabalho, os idosos ainda inseridos no mercado de
trabalho apresentaram menores freqüências de analfabetismo (16,7%) do
que os aposentados (47%), justificando talvez, a maior renda mensal
individual dos primeiros. Segundo Giatti e Barreto (2003), idosos com
maior escolaridade têm maior possibilidade de permanecerem
trabalhando, contribuindo assim com a renda domiciliar.
Verificou-se associação entre menor faixa etária e permanência no
mercado de trabalho (p<0,005).
O gráfico 1 demonstra as classificações ocupacional dos idosos,
segundo o relato dos mesmos. Alguns dos entrevistados relataram
possuir mais de uma ocupação, justificando o somatório ser maior do que
cem por cento.
Apenas oito (5,5%) idosos permanecem no mercado de trabalho
atualmente. Segundo Anderson (1997), o trabalho na terceira idade indica
tanto a manutenção da capacidade funcional como também demonstra a
necessidade do trabalho após a aposentadoria, para manter a
sobrevivência. Não foi encontrada associação entre escolaridade e
permanência no mercado de trabalho no presente estudo.
Gráfico 1: Situação Ocupacional dos Idosos
Entrevistados, Munipio de Viçosa - Minas Gerais
(2007).
60,9
22,6
15,1
5,5
0
10
20
30
40
50
60
70
Aposentado
(n=89)
Pensionista
(n=33)
Desempregado
(n=21)
Empregado
(n=8)
%
84
Entre idosos participantes da PNAD de 2005, 65,3% eram
aposentados, 78,2% eram aposentados e pensionistas, 19% eram
aposentados e ainda trabalhavam e 30,2% trabalhavam (INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006). Segundo Giatti e
Barreto (2003), a inclusão e manutenção do idoso no mercado de trabalho
estão associadas a menores faixas etárias, maiores níveis de renda
domiciliar, níveis de escolaridade e ao fato de ser referência domiciliar.
Apesar de não ter sido encontrada associação no presente estudo,
o baixo percentual de idosos que ainda trabalha pode estar relacionado
ao baixo grau de escolaridade encontrado neste grupo, visto que outros
autores têm demonstrado que a permanência no mercado de trabalho
está condicionada ao nível de escolaridade do idoso (FILIPPEN e
TIENDA, 2000). Ainda, não se pode deixar de citar a pouca oferta de
empregos no mercado de trabalho local, gerando competitividade e
exclusão de pessoas com idades avançadas em favor de adultos jovens.
A velhice é marcada por maiores gastos no orçamento familiar,
principalmente com cuidados à saúde tais como consultas e
medicamentos; devendo ser considerado também o maior gasto com
adaptações na estrutura física e hábitos de vida da família, voltadas para
o atendimento das novas necessidades geradas nesta fase da vida.
O nível socioeconômico tem influência direta nas condições de
saúde de uma população, principalmente entre idosos, os quais são mais
vulneráveis ao surgimento de doenças, e conseqüente gasto financeiro
que estas exigem (DUARTE et al., 2002).
Estudo realizado com idosos residentes em São Paulo demonstrou
que variáveis socioeconômicas estão associadas com a capacidade
funcional e o nível de dependência na terceira idade. Idosos com baixo
nível de escolaridade apresentaram chance 5 vezes maior de ter
dependência moderada ou grave. Aqueles com menor nível de renda
apresentaram chance 2 vezes maior desta dependência (COSTA-ROSA
et al., 2003).
Portanto, fica claro que idosos que apresentam más condições
socioeconômicas têm pior qualidade de vida relacionada à saúde. A
análise dos dados referentes a idosos da PNAD realizada 1998,
demonstrou a existência de associação entre menor renda domiciliar per
85
capita e pior condição de saúde, capacidade funcional e menores taxas
de utilização de serviços de saúde (LIMA-COSTA et al., 2003). No Brasil,
mesmo pequenas diferenças na renda domiciliar per capita são sensíveis
o bastante para identificar idosos nessas condições (PEREIRA et al.,
2005).
8.1.4.2- Habitação e Saneamento Básico
Saneamento ambiental é definido como um conjunto de ações que
buscam alcançar níveis crescentes de salubridade a um determinado
espaço geográfico, em prol de seus habitantes. Quando realizadas
adequadamente, as medidas de saneamento resultam em melhorias na
saúde e no bem-estar da população, sendo hoje considerado direito
fundamental dos cidadãos (MINISTÉRIO DA SAÚDE/ OPAS/OMS, 2004).
O conhecimento das condições do meio relacionadas à saúde de
sua população, tais como condições de habitação e saneamento básico, é
importante para elaboração de estratégias de promoção da qualidade de
vida do individuo, da família e da comunidade (AZEREDO et al., 2007).
A maioria dos idosos entrevistados (93,2%, n=136) relatou possuir
residência própria, sendo também a maioria (95,2%, n=139) localizada na
zona urbana do município. Tal achado era esperado pelas características
do município e localização das unidades do PSF selecionadas para o
estudo.
A presença de saneamento básico completo (abastecimento de
água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e coleta de lixo) foi relatada
por 98,6% (n=144) dos idosos entrevistados.
O espaço urbano com condições sanitárias adequadas diminui o
risco de circulação de agentes patogênicos e também atua como fator
protetor do encontro entre fontes de contaminação e populações sob
condições de risco, determinadas por fatores econômicos, culturais e
sociais (CZERESNIA e RIBEIRO, 2000).
O nível de urbanização de uma comunidade ou população é
considerado um indicador demográfico útil para o planejamento das ações
de saúde. A população residente em área urbana tem melhor acesso a
serviços públicos como saneamento básico, educação e assistência à
86
saúde. Ainda, ao concentrar a população em áreas geográficas menores,
a urbanização reduz o custo dos programas de saúde através de menores
gastos com transporte de usuários e aumenta a eficiência do sistema,
facilitando a procura e o atendimento no serviço de saúde (TELAROLLI Jr
et al., 1996).
8.1.4.3- Morbidades e consumo de medicamentos
A presença de enfermidades foi definida durante a entrevista com o
idoso, através do seu próprio relato e confirmado com o uso de
medicamentos quando possível. As tabelas 4 e 5 explanam a freqüência
e o número de doenças relatado pelos idosos, por sexo e faixa etária.
Tabela 4: Relato e número de enfermidades crônicas dos idosos
estudados, por sexo, Viçosa - MG (2007).
SEXO
N .º DE
DOENÇAS
FEMININO
n (%)*
MASCULINO
n (%)*
TOTAL
n (%)**
Sem Doença 6 (6,7)
11 (19,6) 17 (11,6)
Com Doença 84 (93,3) 45 (80,4) 129 (88,4)
1 20 (23,8)
a
13 (28,9)
a
33 (25,6)
b
2 23 (27,4)
a
20 (44,4)
a
43 (33,3)
b
3 29 (34,5)
a
7 (15,6)
a
36 (27,9)
b
4 8 (9,5)
a
4 (8,9)
a
12 (9,3)
b
5 2 (2,4)
a
1 (2,2)
a
3 (2,3)
b
6 2 (2,4)
a
- 2 (1,6)
b
* Porcentagem em relação ao total do sexo. ** Porcentagem em relação ao total de
idosos entrevistados (n=146). a: Porcentagem em relação ao total do sexo com
enfermidades. b: Porcentagem em relação ao total de idosos entrevistados com
enfermidades.
Do total de idosos entrevistados, 130 (89%) relataram conviver com
ao menos uma doença, sendo que a maioria (76,7%, n=112) apresenta de
uma a três enfermidades crônicas.
87
Tabela 5: Relato e número de doenças crônicas dos idosos
estudados, por faixa etária, Viçosa - MG (2007).
FAIXA ETÁRIA EM ANOS
N .º DE
DOENÇAS
60-64
n (%)*
65-69
n (%)*
70-74
n (%)*
75-79
n (%)*
80 ou +
n (%)*
TOTAL
n (%)**
Sem Doença 6 (15,8) 4 (11,4) 4 (14,8) 3 (9,7) - 17 (11,6)
Com Doença
32 (84,2)
31 (88,6)
23 (85,2)
28 (90,3)
15 (100)
129 (88,4)
1 8 (25)
a
8 (25,8)
a
3 (13)
a
8 (28,6)
a
6 (40)
a
33 (25,6)
b
2 16 (50)
a
6 (19,4)
a
6 (26)
a
8 (28,6)
a
7 (46,7)
a
43 (33,3)
b
3 6 (18,8)
a
12
(38,7)
a
8 (34,8)
a
8 (28,6)
a
2 (13,3)
a
36 (27,9)
b
4 - 5 (16,1)
a
4 (17,4)
a
3 (10,7)
a
- 12 (9,3)
b
5 2 (6,2)
a
- 1 (4,4)
a
- - 3 (2,3)
b
6 - - 1 (4,4)
a
1 (3,5)
a
- 2 (1,6)
b
* Porcentagem em relação a faixa etária. ** Porcentagem em relação ao total de idosos
entrevistados (n=146). a: Porcentagem em relação ao total do sexo com enfermidades.
b: Porcentagem em relação ao total de idosos entrevistados com enfermidades.
Avaliando a prevalência entre os sexos, 93,3% (n=84) das idosas
relataram alguma doença crônica, enquanto 80,4% (n=45) dos homens
relataram à presença de pelo menos uma nosologia, de forma que houve
associação significante entre o sexo feminino e presença de morbidades
crônicas (x
2
=7,20; p<0,01). Ainda, o sexo feminino apresentou maior
freqüência mediana de relato de doenças (2, mínimo 0 e máximo 6) em
relação ao masculino (2, mínimo 0 e máximo5) (p<0,01).
Não houve associação entre faixa etária e número de doenças
relatadas (x
2
=30,42 p=0,17). De acordo com os dados da tabela 5, um
maior número de idosos na faixa etária de 60 a 64 anos não convive com
doenças crônicas. Já a maior faixa etária estudada (80 anos ou mais), ao
contrário do esperado, não apresentou idosos com maior número de
doenças relatadas. A maior longevidade pode estar relacionada a este
achado, visto que um maior número de doenças crônicas pode prejudicar
a qualidade de vida e aumentar a taxa de mortalidade entre idosos.
Quanto à condição de trabalho do idoso, 89,6% dos aposentados e
100% dos que ainda trabalhavam relataram à presença de pelo menos
88
uma doença crônica não transmissível. Não houve, portanto, associação
entre menor número de doenças e permanência no mercado de trabalho.
O gráfico 2 discrimina as principais morbidades relatadas pelos
idosos. Nota-se que o somatório das freqüências é superior a cem por
cento, uma vez que muitos idosos possuem mais de uma doença crônica.
Os problemas de saúde mais relatados entre os idosos foram hipertensão
arterial, dislipidemias e diabetes.
Entre o sexo feminino, as morbidades mais relatadas foram
Hipertensão Arterial (80,9%), Dislipidemias (44,9%) Diabetes (29,2%). Já
entre os homens, as doenças mais relatadas foram Hipertensão Arterial
(71,4%), Dislipidemias (28,6%) e Doenças Cardiovasculares (27,8%) e
problemas de coluna (27,8%). O sexo feminino esteve, portanto,
associado à maior freqüência de dislipidemias (x
2
=3,89; p<0,05) de forma
estatisticamente significante, e de diabetes (x
2
=3,24; p=0,07) tendendo a
significância. O sexo masculino, por sua vez, tendeu à associação
significante com maiores freqüências de doenças cardiovasculares e
problemas de coluna (x
2
=2,81; p=0,09).
Gráfico 2: Relato de Doenças Crônicas entre Idosos
Entrevistados, Município de Viçosa - Minas Gerais (2007)
77,4
39
24,7
15,7
14,4
9,6
5,5 5,5
13
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Hipertensão
Arterial
Dislipidemias
Diabetes
Artrite/Reumatismo
Gastrite
Osteoporose
Doenças
Cardiovasculares
Problemas de
Coluna
Outros
%
Idosos residentes em Porto Alegre, cadastrados no PSF do
município, apresentaram menor freqüência de relato de problema de
Nota: Soma das porcentagens acima de 100%, visto que muitos idosos possuem mais de
uma doença crônica
89
saúde (80,6%). Semelhantemente ao encontrado neste estudo, as
doenças do aparelho circulatório, tais como hipertensão arterial e doenças
cardiovasculares, foram as mais citadas (55,1%, n= 54) (SOUZA et al.,
2006).
Entre os idosos participantes da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD) no ano de 1998, também foi observado maior relato de
pelo menos uma doença entre o sexo feminino, bem como a hipertensão
arterial a morbidade mais citada pelo grupo etário (LIMA-COSTA et al.,
2003b).
A análise da evolução das causas de mortalidade entre idosos
brasileiros demonstrou que as doenças do aparelho circulatório, entre
elas a hipertensão arterial, vêm se destacando como uma das causas
mais importantes de morbimortalidade neste faixa etária (CAMARANO,
2002).
O controle de morbidades crônicas não transmissíveis é uma
questão complexa e com múltiplos determinantes de sua eficácia,
principalmente em se tratando de idosos com características como as
encontradas neste grupo (baixa renda e escolaridade). Por isso, o
planejamento das ações deve estar inserido nas agendas de saúde em
todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal), com vistas à
elaboração de políticas que sejam atraentes a este grupo e provoquem
alto grau de adesão da população.
O PSF, que é considerado a porta de entrada e o vínculo da
população com o sistema de saúde nacional, tem papel fundamental na
prevenção e controle de agravos à saúde na população, através de seu
trabalho multidisciplinar, visando a identificação de fatores de risco,
prevalências e impacto sobre a saúde e a qualidade de vida, bem como a
elaboração de estratégias de prevenção e controle das doenças crônicas
na população idosa.
Dentre os entrevistados, 125 (85,6%) relataram fazer uso de pelo
menos um tipo de medicação diária contínua.
Entre os idosos cadastrados no PSF de Porto Alegre, a prevalência
de consumo diário de medicamentos (71,4%) (SOUZA et al, 2006) foi
menor do que entre os de Viçosa. Este achado pode ser referente a uma
menor prevalência de doenças entre idosos de Porto Alegre e/ou a uma
90
maior atenção dos profissionais de saúde para com as conseqüências de
numerosos medicamentos usados de forma concomitante para a saúde e
a qualidade de vida deste grupo populacional.
A mediana do número de medicamentos utilizados por dia pelos
idosos foi igual a três, variando de zero até nove tipos por dia. Não houve
diferença estatística entre o número de fármacos consumidos por dia
entre os sexos. Também não foi verificada diferença significante neste
consumo com o aumento da idade.
A elevada taxa de utilização de medicamentos pode ser justificada
pelos muitos problemas de saúde relatados por grande parte da
população estudada.
No entanto, o consumo de medicamentos em elevada quantidade e
qualidade está relacionado a riscos para a saúde deste grupo, tais como
as modificações na farmacocinética de vários medicamentos em virtude
de alterações fisiológicas associadas ao envelhecimento (LOYOLA FILHO
et al., 2005). O estado nutricional também pode ser afetado, quer pela
diminuição do apetite e conseqüente ingestão de alimentos, quer por
fatores fisiológicos, onde os fármacos e suas interações entre eles e com
os nutrientes irão afetar negativamente a digestão, absorção e utilização
de diversos nutrientes, gerando comprometimento do estado de saúde e
alteração da necessidade nutricional do idoso (NAJAS et al., 1994).
Relacionando a alta prevalência de consumo de medicamentos,
bem como a mediana de número de medicamentos consumidos
relativamente elevada com a baixa renda encontrada neste grupo, têm-se
outro ponto preocupante a ser discutido. Levando-se em conta que,
segundo o IBGE (2002), metade da população idosa brasileira gasta o
equivalente a 25% de seu rendimento mensal com medicamentos, deve
ser monitorada tanto a diluição da renda do idoso com este gasto como
também a negligência do tratamento medicamentoso dos problemas de
saúde pela falta de condições financeiras. Os resultados reforçam a
necessidade de políticas públicas que garantam o acesso também da
população idosa aos medicamentos.
Diante do exposto, atenção especial deve ser dispensada na busca
de tratamentos alternativos para as doenças crônicas não transmissíveis
91
tão prevalentes neste grupo, visando à melhoria na qualidade de vida e
redução do número de medicamentos prescritos a este grupo.
8.1.4.4- Saúde bucal e alimentação
A saúde bucal está relacionada a hábitos alimentares adequados e
boas condições de saúde geral do idoso. A dentição natural preservada
tem impacto sobre vários aspectos do organismo, entre eles o estético, a
fala, a mastigação e digestão de alimentos (MONTI et al., 2006).
A saúde bucal dos idosos foi verificada durante a entrevista,
através de perguntas relacionadas ao assunto e observação direta.
O edentulismo foi relatado por 98 idosos (67,1%) e, ainda, uma
parcela significativa (31,5%) relatou ser parcialmente dentado,
demonstrando que quase a totalidade (98,6%) possui inadequadas
condições de saúde bucal. Dos idosos total ou parcialmente edêntulos,
apenas 62,5% possuem e fazem uso com freqüência de próteses
dentárias.
De acordo com Colussi e Freitas (2002), estudos epidemiológicos
realizados com idosos no Brasil apontam que aproximadamente 68%
desses são edêntulos, estando os resultados do presente trabalho em
concordância com a prevalência nacional.
No entanto, estudo realizado com idosos de Santa Catarina
(COLUSSI et al., 2004) encontrou prevalência de edentulismo de 48,4%.
Em estudo realizado com idosos de Araçatuba/São Paulo em 2006
(MONTI et al., 2006), a prevalência encontrada de edentulismo total ou
parcial (23%) foi ainda menor que a deste estudo, indicando a
necessidade de ações voltadas para a melhoria das condições de saúde
bucal entre idosos do município de Viçosa.
O edentulismo é erroneamente aceito como um processo natural
decorrente do envelhecimento, desconsiderando-se a falta de políticas
públicas voltadas à saúde bucal da população adulta e idosa (COLUSSI e
FREITAS, 2002).
Ressalta-se que a utilização de prótese não é uma medida
resolutiva de grande eficácia, sendo as políticas preventivas para a
manutenção da dentição mais desejáveis. Considerando que um indivíduo
92
com todos os dentes tenha capacidade mastigatória 100% eficiente,
pessoas que utilizam próteses totais apresentam uma capacidade de 25%
(MORIGUCHI, 1992). Destaca-se ainda que as próteses, quando
utilizadas, são muitas vezes mal adaptadas à cavidade oral do idoso e
não trocadas de forma periódica devido ao desgaste natural.
A mediana do número de refeições realizadas por dia foi igual a
quatro, sendo o número mínimo de refeições dois e o máximo igual a
sete. O número de refeições realizadas ao longo do dia não diferiu
estatisticamente entre os sexos ou com o aumento da idade.
Campos et al. (2000) ressaltam que o consumo alimentar do idoso
pode ser influenciado por diversos fatores, incluindo os socioeconômicos,
culturais e os biológicos, estes últimos decorrentes das alterações
fisiológicas com o envelhecimento e doenças associadas.
Avaliando o nível de saúde bucal e o seu impacto no número de
refeições realizadas pelos idosos, não foi observada diferença significante
no número mediano de refeições realizadas entre os dentados,
parcialmente dentados e edêntulos. Da mesma forma, não houve
diferença estatística entre os que possuem e utilizam prótese dentária e
os que não possuem, em relação às refeições diárias.
Apenas 4,2% dos entrevistados relataram realizar alguma das
refeições fora do domicílio. Este achado era esperado para a faixa etária
estudada e concorda com a cultura e característica do município que, por
ser de médio porte e localizado no interior, possibilita que todas ou quase
todas as refeições sejam realizadas em casa, mesmo entre aqueles
idosos que ainda desempenham atividade profissional.
Grande parte dos entrevistados (61,6%) relatou serem eles
mesmos os responsáveis pelo preparo de suas refeições, seguido pelo
companheiro(a) (28,7%). Tal achado demonstra bom grau de autonomia
da população, ponto positivo para medidas intervencionistas de educação
nutricional.
93
8.1.4.5- Prática de atividade física
O exercício físico regular na terceira idade traz diversos benefícios
à saúde, nos aspectos antropométrico, neuromuscular, metabólico e
psicológico. Pode ser considerada como ação preventiva e de tratamento
para várias doenças (hipertensão arterial, doenças cardiovasculares,
diabetes, depressão, etc.), bem como uma ação voltada para a promoção
da saúde, visto que sua prática contribui para a qualidade de vida e
independência do idoso (MATSUDO e MATSUDO, 1992).
O exercício físico não é uma prática muito comum entre os
entrevistados, de forma que 38,4% relataram praticar alguma atividade
física. Observou-se que esta prática é mais comum entre o sexo feminino
(43,3%), comparado ao masculino (30,4%) (x
2
= 2,46; p=0,12). Verificou-
se associação significante entre menor faixa etária e prática de atividade
física (x
2
=10,34; p=0,03).
A atividade física do tipo aeróbica foi a mais relatada (96,4%),
sendo a caminhada realizada por 84,9% dos que praticam algum
exercício físico de forma regular.
A periodicidade da prática de atividade física entre os idosos que
relataram fazê-la foi de cinco vezes por semana, variando de uma até
sete vezes por semana. Não houve diferença estatística na periodicidade
da prática de atividade física entre os sexos ou com o aumento da idade
dos idosos.
O baixo nível de atividade física comum na terceira idade aumenta
o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. A
morbimortalidade associada a estas doenças poderia ser reduzida com
mudanças no estilo de vida, incluindo a adoção de hábitos alimentares
saudáveis e a prática de exercícios físicos de forma regular (FERREIRA
et al., 2005; BRASIL, 2006).
O Ministério da Saúde e a OPAS reconhecem o estímulo à
atividade física como ação estratégica na agenda de promoção de saúde
do país, orientando os profissionais de saúde de equipes de PSF a
trabalhar e orientar esta prática entre os idosos adstritos em sua equipe
(BRASIL, 2006).
94
8.1.5- Considerações finais
O conhecimento das características socioeconômicas,
demográficas e de saúde é importante para a leitura do processo de
envelhecimento de uma determinada população, visto que o
envelhecimento não pode ser pensado como um processo rígido e pré-
definido.
O baixo nível econômico e de escolaridade dos idosos estudados
devem ser incluídos na agenda política do município, de forma a se
estabelecerem estratégias de intervenção voltadas para o problema
como, por exemplo, programas de alfabetização para a população idosa e
de incentivo à inserção do idoso no mercado de trabalho. Sabe-se que o
nível socioeconômico de um indivíduo ou população exerce importante
influência sobre a saúde, tendo um impacto direto nas prevalências de
vários problemas relacionados à saúde. O nível de rendimento,
escolaridade, a ocupação profissional, as desigualdades sociais, entre
outros, podem contribuir para estas prevalências.
Existe a eminente necessidade da elaboração e desenvolvimento
de políticas para garantir uma renda mínima satisfatória entre idosos,
visto que estas podem melhorar o acesso deste grupo à atenção médica
e ao tratamento de suas morbidades, contribuindo para a redução das
desigualdades em saúde muito presentes nesta fase da vida.
Outras características relacionadas às condições de saúde de
idosos cadastrados em equipes do PSF do município de Viçosa também
merecem atenção, como o consumo elevado de medicamentos, a elevada
freqüência de doenças crônicas, precárias condições de saúde bucal e
baixo nível de atividade física.
Portanto, fazem-se necessárias a implantação ou ampliação de
ações e programas voltados para a população idosa, de forma a
preencher a lacuna hoje existente em relação à atenção à saúde e
condições de vida do grupo etário.
Por mais que hoje se tenham políticas direcionadas à população
idosa brasileira, o desconhecimento do seu perfil de saúde dificulta o
atendimento e, muitas vezes, faz das mesmas uma onerosa ação com
pouca eficácia na melhoria da saúde e da qualidade de vida deste grupo.
95
Destaca-se então a importância do PSF, não somente como vínculo deste
grupo com o sistema de saúde, também como importante ferramenta de
pesquisa e intervenção sobre as condições de vida e de saúde de idosos.
Os resultados encontrados no presente estudo podem ser
considerados importantes informações para a compreensão do perfil de
saúde entre idosos, tornando-se peças chave na elaboração de políticas
de promoção de saúde e intervenção voltadas para a população idosa
adstrita no PSF.
96
8.1.6- Bibliografia
AZEREDO, C.M.; COTTA, R.M.M.; SCHOTT, M.; MAIA, T.M.; MARQUES,
E.S. Avaliação das condições de habitação e saneamento: a importância
da visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família.
Ciência & Saúde Coletiva, 12(3): (in press), 2007.
BRASIL (MINISTÉRIO DA SAÚDE). Envelhecimento e Saúde da
Pessoa Idosa. Cadernos de Atenção Básica, n. 19, 187p. Brasília (DF),
2006.
BRASIL (MINISTÉRIO DA SAÚDE). Portaria n.º10741/2006: Política
Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Brasília (DF), 2006.
BRASIL (SENADO FEDERAL). Lei 10741/2003: Estatuto do Idoso.
Brasília (DF): Senado Federal, 2003.
BRASIL (SENADO FEDERAL). Lei 8842/1994: Política Nacional do
Idoso. Brasília (DF) Senado Federal, 1994.
CAMARANO A.A. Envelhecimento da população brasileira: uma
contribuição demográfica (Texto para discussão n.º 858). Rio de
Janeiro: IPEA, 2002.
CAMPOS, M. T. F. S; MONTEIRO, J. B. R.; ORNELAS, A. P. R. C.
Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Revista
de Nutrição, 13 (3): 157-165, 2000.
COLUSSI C.F.; FREITAS S.F.T.; CALVO, M.C.M. Perfil epidemiológico da
cárie e do uso e necessidade de prótese na população idosa de Biguaçu,
Santa Catarina. Revista Brasileira de Epidemiologia, 7(1): 88-97, 2004.
COLUSSI C.F.; FREITAS S.F.T. Aspectos epidemiológicos da saúde
bucal do idoso no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 18(5): 1313-1320,
2002.
COSTA-ROSA, T. E.; BENÍCIO, M. H. D.; LATORRE, M. R. D. O,
RAMOS, L. R. Fatores determinantes da capacidade funcional entre
idosos. Revista de Saúde Pública, 37 (1): 40-48, 2003.
COTTA, R.M.M.; SUAREZ-VARELA, M.M.; COTTA FILHO, J.S.; LLOPIS
GONZALEZ, A.; DIAS RICÒS, J.A.; REAL, E.R. La hospitalización
domiciliaria ante los cambios demográficos y nuevos retos de salud.
Revista Panamericana de Salud Publica,11(4): 253-61. 2002.
97
CZRESNIA, D.; RIBEIRO, A.M. O conceito de espaço em epidemiologia:
uma interpretação histórica e epistemológica. Caderno de Saúde
Pública, 17: 595-617, 2000.
DUARTE, E.C.; SCHNEIDER, M.C.; PAES-SOUZA, R.; RAMALHO, W.M.;
SARDINHA, L.M.; SILVA JUNIOR, J.B.; CASTILLO-SALGADO, C.
Epidemiologia das desigualdades em saúde no Brasil: um estudo
exploratório. Brasília: Organização Pan-Americana de saúde; 2002.
FERREIRA, M.; MATSUDO, S.; MATSUDO, V.; BRAGGION, G. Efeitos
de um programa de orientação de atividade física e nutricional sobre o
nível de atividade física de mulheres fisicamente ativas de 50 a 72 anos
de idade. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, 11(3): 172-176,
2005.
FILIPPEN, C.; TIENDA, M. Pathways to retirement: patterns of labor force
participation and labor market exit among the pre-retirement population by
race, hispanic origin, and sex. Journal of Gerontology, 55:14-27, 2000.
GIATTI, L.; BARRETO, S.M. Saúde, Trabalho e Envelhecimento no Brasil.
Caderno de Saúde Pública, 19(3): 759-771, 2003.
GOLDANI, A. M. Arranjos familiares no Brasil dos anos 90: proteção e
vulnerabilidades. Como vai? População Brasileira, 3(3): 14-23, 1998.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 1980. Rio de Janeiro, 1981. Disponível em: URL:
http://www.ibge.gov.br.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em: URL:
http://www.ibge.gov.br.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Síntese
de Indicadores Sociais 2006 (Informação Demográfica e
Socioeconômica n.º 19). Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: URL:
http://www.ibge.gov.br.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Contagem populacional 2007. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em:
URL: http://www.ibge.gov.br.
INSTITUO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA (IPEA). Nota
Técnica. Sobre a recente queda de desigualdade de renda no Brasil.
2007. Disponível em URL: http://www.ipea.gov.br.
98
LIMA-COSTA, M.F.; BARRETO, S.; GIATTI, L.; UCHÔA, E. Desigualdade
social e saúde entre idosos brasileiros: um estudo baseado na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios. Cadernos de Saúde Pública,
19(3):745-757, 2003.
LIMA-COSTA, M.F.; VERAS, R. Saúde pública e envelhecimento
(editorial). Cadernos de Saúde Pública, 19(3): 700-701, 2003.
LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M.; GIATTI, L. Condições de saúde,
capacidade funcional, uso de serviços de saúde e gastos com
medicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo
baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Caderno de
Saúde Pública, 19 (3):735-743, 2003b.
LOYOLA FILHO, A.I.; UCHOA, E.; FIRMO, J.O.A.; LIMA-COSTA, M.F.
Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre
idosos: Projeto Bambuí. Cadernos de Saúde Pública, 21(2): 545-553;
2005.
MATSUDO, S.M.; MATSUDO, V.K.R. Prescrição e benefícios da atividade
física na terceira idade. Revista Brasileira de Ciência & Movimento,
6(4): 19-30, 1992.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Diretrizes e normas regulamentadoras
de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Ministério da
Saúde, 1996.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR) - REPRESENTAÇÃO OPAS/OMS NO
BRASIL. Avaliação de impacto na saúde das ações de saneamento:
marco conceitual e estratégia metodológica. Brasília (DF): Ministério
da Saúde, 2004.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Programa de Saúde da Família- Diretriz
conceitual. Brasília (DF): Ministério da Saúde, 2008. Disponível em URL:
http://www.saude.gov.br. Acesso em 12 de maio de 2008.
MONTI, L.M.; JUSTI, M.M.; FARJADO, R.S.; ZAVANELLI. A.C. Análise
comparada da saúde bucal do idoso na cidade de Araçatuba – SP, Brasil.
Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 9(2): 35-47, 2006.
MORIGUCHI, Y. Aspectos geriátricos no atendimento odontológico.
Odontologia Moderna, 19(4): 11-3, 1992.
NAJAS, M.S.; ANDREZZA, R.; SOUZA, A.L.M.; SACHS, A.; GUEDES,
L.R.S.; RAMOS, L.R.; TUDISCO, E.S. Padrão alimentar de idosos de
99
diferentes estratos sócio-econômicos residentes em localidade urbana da
Região Sudeste, Brasil. Revista de Saúde Pública, 28(3): 187-191, 1994.
NORONHA, K. V. M, S; ANDRADE, M. V. Desigualdades sociais em
saúde e na utilização dos serviços de saúde entre os idosos na América
Latina. Revista Panamericana de Salud Publica, 17(5/6): 410-418,
2005.
ORGANIZACION PANAMERICANA DE LA SALUD. Las condiciones de
salud en las Americas. Washington, v.1, 1994.
PALLONI, A.; PELÁEZ, M. Histórico e natureza do estudo. In: Lebrão ML,
Duarte, A.O. SABE: saúde, bem-estar e envelhecimento: o Projeto SABE
no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde; 2003. p. 13-32.
PEREIRA, R. J. Análise da Qualidade de Vida de Idosos – Município
de Teixeiras – MG. [Dissertação de Mestrado] Universidade Federal de
Viçosa, Minas Gerais. 2005. 149p.
PEREIRA, R.J.; PRIORE, S.P.; FRANCESCHINI, S.C.C.; COTTA, R.M.M.
Características demográficas e socioeconômicas da população idosa
brasileira. O Mundo da Saúde, 29(4): 585-593, 2005.
PEREIRA, R.J.; COTTA, R.M.M.; FRANCESCHINI, S.C.C.; RIBEIRO,
R.C.L.; SAMPAIO, R.F.; PRIORE, S.E.; CECON, P.R. Contribuição dos
domínios físico, social, psicológico e ambiental para a qualidade de vida
global de idosos. Revista de Psiquiatria, 28(1): 27-38, 2006.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO –
PNUD. Atlas do índice de desenvolvimento humano no Brasil. 2000.
Disponível em: http://www.pnud.org.br . Acesso em: 2 de julho de 2007.
SILVA, S.V. Os estudos de gênero no Brasil: algumas considerações.
Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. (in press),
2000.
SILVESTRE, J.A.; NETO, M.M.C. Abordagem do idoso em programas de
saúde da família. Cadernos de Saúde Pública, 19(3): 839-847, 2003.
SOUZA, L.M.; MORAIS, E.P.; BARTH, Q.C.M. Características
demográficas, socioeconômicas e situação de saúde de idosos em um
Programa de Saúde da Família de Porto Alegre, Brasil. Revista Latino-
Americana de Enfermagem, 14(6): online, 2006.
100
TELAROLLI Jr., R.; MACHADO, J. C. M. S.; CARVALHO, F. Perfil
demográfico e condições sanitárias dos idosos em área urbana do
Sudeste do Brasil. Revista de Saúde Pública, 30(5): 485-498, 1996.
VERAS, R.P. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no
Brasil. Rio de Janeiro: Relume-Dumará/ EDUERJ; 1994.
101
8.2- Artigo 2: Fatores associados ao estado nutricional de idosos
cadastrados no Programa de Saúde da Família, Viçosa
- Minas Gerais.
8.2.1- Resumo
O processo de envelhecimento é marcado por modificações na
composição corporal. Sua avaliação possibilita a identificação de grupos
em risco, avaliar o impacto de programas para a melhoria da saúde e
estado nutricional, estabelecer fatores determinantes do estado
nutricional, além de auxiliar na vigilância nutricional da população.
O presente trabalho objetivou avaliar os fatores associados ao
estado nutricional de idosos adstritos no Programa de Saúde da Família
(PSF) do município de Viçosa, Minas Gerais. Foram selecionados de
forma randomizada 155 idosos (4,3% da população de idosos adstrita no
PSF) para avaliação antropométrica e entrevista sobre condições
socioeconômicas e de saúde. Foram encontradas altas prevalências de
sobrepeso e baixo peso, que juntos (57,7%) se sobressaíram à eutrofia;
bem como de valores de Circunferência da Cintura (CC) (59,3%) e Razão
Cintura/Quadril (RCQ) (57,2%) acima do recomendado. Os dados
sugerem que o sexo feminino está mais exposto aos riscos relacionados à
obesidade e suas complicações. Idosos com maior nível socioeconômico
apresentaram maiores valores de CC e RCQ e maiores freqüências de
sobrepeso. Idosos sedentários e com morbidades apresentaram maiores
valores de Índice de Massa Corporal (IMC), CC e RCQ. Idosos não
edêntulos apresentaram maiores medidas de peso, IMC e CC. Os
resultados apontam para a necessidade de ações bipolares neste grupo
populacional: políticas públicas voltadas para o combate ao sobrepeso e
excesso de gordura corporal entre os idosos, em conjunto com a
vigilância das prevalências de baixo peso pelos profissionais e gestores
de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: envelhecimento, saúde do idoso, estado nutricional,
antropometria, condições sociais.
102
8.2.2- Introdução
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial.
Aproximadamente 75% dos idosos vivem atualmente em países
desenvolvidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que no
ano de 2025, 1,2 bilhões de pessoas em todo mundo terão 60 anos ou
mais de idade (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). No Brasil, a
população idosa constitui o grupo etário com maior taxa de crescimento
(INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1981,
2000; CAMARANO, 2002).
O aumento da população idosa no Brasil e no mundo traz consigo
a emergência de problemas de saúde específicos desta fase da vida, em
especial doenças crônicas não transmissíveis. Tais características fazem
com que a procura desta população pelos serviços de saúde seja
elevada, bem como o uso de medicamentos (RONCADA et al., 1985;
LOYOLA FILHO et al., 2005).
Com a formação desse novo perfil populacional, o sistema de
saúde se depara com diferentes demandas pelos seus serviços,
provocadas pelas características da transição epidemiológica no país:
superposição do tratamento de doenças crônicas não-transmissíveis, tais
como diabetes, doenças do sistema circulatório e osteoporose,
concomitante ao controle da mortalidade infantil e doenças transmissíveis
(CHAIMOWICZ, 1997; PEREIRA, 2005). Apesar disso, até o presente
momento não houve adaptação do sistema público de saúde para cobrir
as necessidades da população idosa no país (COSTA et al., 2000).
O processo de envelhecimento é constituído por alterações
morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, os quais levam à
diminuição da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente
(MORIGUTI et al., 1998). Entre as modificações na composição corporal
destacam-se diminuição no peso e estatura, perda de massa muscular e
aumento e redistribuição da gordura corporal, com acúmulo intrabdominal
e visceral (DEY et al., 1999; PERISSINOTTO et al., 2002; SCHUIT, 2006).
A perda da dentição, alterações no paladar e diminuição da
mobilidade podem levar a alterações na ingestão energética diária entre
idosos e, conseqüentemente, a dietas desbalanceadas. Além disso,
103
mudanças fisiológicas no processo de digestão e metabolismo,
alcoolismo, interação com medicamentos, freqüentemente observados em
idosos, os tornam mais propensos às alterações do estado nutricional
(CAMPOS et al., 2000; HUANG et al., 2001).
A composição corporal se correlaciona fortemente com o estado
nutricional, estrutura genética, características ambientais, condições
socioculturais, estilo de vida, capacidade funcional e estado de saúde
(FOSTER e GARIBALLA, 2005), e tem implicações diretas sobre o
desenvolvimento de doenças e dependência física (RAGUSO et al.,
2006).
Sua determinação possibilita identificar grupos populacionais em
risco nutricional, avaliar o impacto de programas voltados para a melhoria
da saúde e do estado nutricional, estabelecer fatores determinantes de
baixo peso e sobrepeso, além de ser instrumento para a vigilância
nutricional da população (ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD,
1995).
O baixo peso e o sobrepeso entre idosos têm coexistido e se
sobressaído à eutrofia, sendo decorrentes de condições peculiares nas
quais este grupo está submetido no âmbito familiar, vivendo sozinho, ou
em instituições asilares, e agravadas por características socioeconômicas,
alterações fisiológicas do envelhecimento, e progressiva incapacidade
funcional (CAMPOS, 1996).
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o
estado nutricional e seus fatores associados em idosos adstritos em
equipes do Programa de Saúde da Família (PSF) do município de Viçosa,
Minas Gerais.
8.2.3- Metodologia
8.2.3.1- Desenho do estudo e casuística
Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, de cunho
exploratório com abordagem quantitativa.
O tamanho amostral foi calculado com base numa freqüência de
anemia de 10% (BARBOSA et al., 2006), com margem aceitável na
104
variabilidade desta freqüência de 5% e com intervalo de confiança de
95%. Estimou-se uma amostra mínima de 135 idosos. Visando prevenir
possíveis perdas amostrais que pudessem prejudicar a força estatística
dos resultados, foi adicionado um percentual de 15% sobre a amostra
calculada.
Foram envolvidos no estudo, 155 idosos (idade igual ou superior a
60 anos), residentes no Município de Viçosa, Minas Gerais, adstritos em
equipes do PSF do município, totalizando 4,3% da população idosa
cadastrada.
Dentre as treze equipes de PSF atualmente no município, cinco
foram selecionadas para a realização do estudo, de acordo com a
localização geográfica das mesmas, disponibilidade para participar do
estudo e tamanho amostral.As mesmas estão situadas em diferentes
bairros da zona urbana do município, conforme demonstrado no Quadro
1.
Quadro 1: Equipes de Saúde da Família participantes do estudo e
sua contribuição percentual na amostra final, município
de Viçosa – MG (2007).
Número de Idosos
Localização
(bairro) da Equipe
de PSF
Cadastrados Entrevistados
Percentual de
participação
na
amostragem
Amoras 255 22 14,2
Nova
Viçosa/Posses
373 33 21,3
Nova Era 357 36 23,2
São Sebastião 333 36 23,2
Silvestre 238 28 18,1
Outros Bairros 2074 - -
TOTAL
3.630 155 100
Os idosos foram selecionados de forma randomizada entre todos
os cadastrados em cada equipe escolhida. Os mesmos foram convidados
105
a participar do estudo por agentes comunitários de saúde de cada equipe
uma semana antes da realização das entrevistas nas Unidades de Saúde
da Família. O convite foi feito por meio de folheto informativo, entregue
em seus domicílios.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e maio
de 2007, em mutirões de avaliação nutricional de idosos, realizados nas
equipes de PSF selecionadas para participar do estudo. Os princípios
éticos foram respeitados conforme as orientações da Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996), sendo
esta pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
Humanos da Universidade Federal de Viçosa – MG. Os idosos foram
informados acerca dos objetivos e metodologias do estudo e assinaram
termo de consentimento livre e esclarecido.
8.2.3.2- Avaliação socioeconômica e das condições de saúde
Foi aplicado um questionário para caracterização socioeconômica
e condições de saúde da população, contendo questões sobre renda,
escolaridade, habitação, atividade física, alimentação, morbidades e uso
de medicamentos (Anexo 2). O questionário foi construído a partir de um
estudo realizado previamente com idosos de um município vizinho ao do
presente estudo (PERREIRA, 2005)
8.2.3.3- Avaliação antropométrica e composição corporal
O peso foi aferido com balança eletrônica digital (capacidade de
150 kg e precisão de 50g). A estatura foi obtida utilizando-se estadiômetro
com capacidade de 2 metros, dividido em centímetros e subdividido em
milímetros. As circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ) foram
aferidas utilizando-se fita métrica flexível e inelástica.
As medidas antropométricas foram aferidas por um único avaliador,
seguindo as técnicas propostas pela OMS (ORGANIZACIÓN MUNDIAL
DE LA SALUD, 1995).
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado a partir das
medidas de peso e estatura, representando a relação kg/m
2
. (WORLD
106
HEALTH ORGANIZATION, 1998). O ponto de corte utilizado para a
classificação dos idosos foi o proposto por Lipschitz (1994) (Quadro 2).
A Razão Cintura/ Quadril (RCQ) e CC foram avaliadas e
classificados pelos pontos de corte propostos pela Organização Mundial
de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998) para predizer o
risco de doenças cardiovasculares e complicações metabólicas
associadas à obesidade (Quadro 3).
Quadro 2: Pontos de Corte para classificação do Índice de Massa
Corporal (IMC) em idosos.
Valores de IMC (kg/m
2
) Classificação
< 22 Baixo Peso
22 a 27 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary Care,
21(1):55-67, 1994.
Quadro 3: Pontos de Corte para classificação da Circunferência da
Cintura (CC) e Razão Cintura/Quadril em idosos.
Pontos de Corte
Circunferência da Cintura Razão Cintura/Quadril
Classificação
Masculino Feminino Masculino Feminino
Risco > 94 cm > 80 cm >1,0 > 0,85
Risco
aumentado
> 102 cm > 88 cm - -
Fonte: World Health Organization. Phisical Status: The Use and Interpretation of
Anthropometry: reporty of a WHO committee. Geneva: WHO, 1998.
8.2.3.4- Análise dos dados
A confecção do banco de dados e análise estatística dos
resultados foi realizada com o auxílio dos softwares Epi info versão 6.04 e
Sigma Stat versão 2.0. Os dados foram trabalhados em relação à média e
desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos, visto que algumas
107
variáveis não apresentaram distribuição normal, segundo o teste de
Kolmogorov-Smirnov.
Os idosos foram agrupados por sexo feminino (n=89) e masculino
(n=57) e faixas etárias: 60 a 64 anos, 65 a 69 anos, 70 a 74 anos, 75 a 79
anos, e 80 anos ou mais de idade (INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2000).
Para fins estatísticos, visando análise da associação entre estado
nutricional e condições socioeconômicas e de saúde, os grupos de idosos
classificados em “risco” ou “risco aumentado” para CC e “baixo peso” ou
“sobrepeso” foram agrupados em “risco total” (risco total CC e risco total
IMC) para cada uma destas variáveis.
Para as variáveis com distribuição normal, foi utilizado o teste de
análise de variância (ANOVA) complementado com o procedimento de
comparações múltiplas de Tukey para comparar os valores entre as faixas
etárias e entre os grupos de classificação do estado nutricional. Foi
utilizado o teste t de Student para comparar os valores entre os sexos.
Para as variáveis sem distribuição normal, foram utilizados os
testes de Kruskal-Wallis complementado com o procedimento de
comparações múltiplas de Dunn’s ou Mann-Whitney respectivamente. O
teste do qui-quadrado foi usado para verificar associação entre variáveis
categóricas. O nível de significância utilizado foi menor que 5% (p<0,05).
8.2.4- Resultados e discussão
Dos 155 idosos avaliados, 12 (7,7% dos idosos entrevistados) não
fizeram avaliação antropométrica por motivos que pudessem
comprometer a mensuração, tais como o uso de vestimenta inadequada
e/ou dificuldades de manutenção da postura ereta durante a aferição.
A Tabela 1 demonstra a caracterização etária e por sexo dos
idosos participantes. A amostra avaliada constituiu-se predominantemente
de mulheres (61,1%) (x
2
=17,66; p<0,001). A faixa etária predominante foi
a mais jovem, entre 60 e 64 anos. Os homens apresentaram média de
idade igual a 70,2±7,02 anos (mediana 70, mínino 60 e máximo 83 anos),
e as mulheres 70,5±6,81 anos (mediana 69, mínino 60 e máximo 85
anos). Não houve diferença significante de idade entre os sexos (p=0,75).
108
Tabela 1: Sexo e Faixa Etária dos Idosos Avaliados, município de
Viçosa, Minas Gerais (2007).
MASCULINO FEMININO TOTAL
FAIXA ETÁRIA
n %* n %* N %**
TOTAL
56 100 88 100 144 100
60 a 64 anos
18 32,2 20 22,7 38 26,4
65 a 69 anos
9 16,1 25 28,4 34 23,6
70 a 74 anos
11 19,6 16 18,2 27 18,8
75 a 79 anos
12 21,4 18 20,5 30 20,8
80 ou mais anos
6 10,7 9 10,2 15 10,4
* Porcentagem calculada sobre o total de idosos de cada sexo. **Porcentagem calculada
sobre o total de idosos avaliados.
A Tabela 2 aponta os dados antropométricos da população. O sexo
masculino apresentou peso (p<0,05) e estatura (p<0,0001)
estatisticamente maiores, além de maiores valores de CC. Já o sexo
feminino apresentou maiores valores de IMC (p<0,05) e CQ (p<0,001). O
padrão de distribuição de gordura corporal encontrado neste grupo
populacional está de acordo com o considerado usual, ou seja,
distribuição ginóide de gordura para mulheres e andróide para homens.
Menezes e Marucci (2005), avaliando 305 idosos residentes em
instituições asilares de Fortaleza - CE, encontraram valores medidas de
peso, estatura, perímetro do braço, circunferência muscular do braço,
área muscular do braço maiores entre o sexo masculino, bem como
maiores valores de IMC e dobra cutânea triciptal entre o feminino.
Avaliando a população como um todo (dados relatados somente no
texto), observou-se que o peso reduziu de forma significante com o
aumento da idade, sendo a mediana de peso de idosos com idade entre
60 e 64 anos igual a 66,9 kg (mínimo 46,4 e máximo 109,25 kg) e a de
idosos com idade igual ou superior a 80 anos igual a 59,7 kg (mínimo
46,95 e máximo 79,6 kg) (p<0,05). Da mesma forma, quando o grupo
avaliado foi estratificado por sexo e faixa etária, foi observada redução
significante nos valores de peso com o aumento da idade em ambos os
sexos (p<0,05).
109
Tabela 2: Antropometria e composição corporal por gênero e faixa etária de idosos, município de Viçosa – MG, 2007.
PESO ESTATURA IMC VARIÁVEIS
GÊNERO
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Total
68,1 ± 13,6 66,2 (45,0-109,3)* 1,64 ±0,01 1,64 (1,5-1,8)
#
25,4 ± 4,54 24,7 (16,6-37,8)*
60-64 anos
76,5 ± 16,1
74,9 (54,1-109,3)
a
1,66 ± 0,06 1,69 (1,5-1,7) 27,7 ± 5,24 27,2 (19,0-37,8)
65-69 anos
66,7 ± 8,1
64,5 (54,3-81,2)
b
1,64 ±0,06 1,64 (1,5-1,7) 25,0 ± 2,66 24,3 (21,9-30,2)
70-74 anos
59,4 ± 9,9
61,8 (45,0-75,5)
d
1,62 ± 0,04 1,63 (1,5-1,7) 22,6 ± 3,47 23,3 (16,6-27,2)
75-79 anos
66,7 ± 11,4
65,3 (49,4-83,5)
b
1,62 ± 0,09 1,63 (1,5-1,8) 25,4 ± 4,59 25,1 (20,1-33,1)
MASCULINO
80 anos +
64,3 ± 11,5
65,3 (51,5-79,6)
c
1,64 ± 0,08 1,60 (1,6-1,8) 23,9 ± 3,60 24,2 (19,5-28,1)
Total
63,3 ± 11,4 61,3 (42,4-95,6)* 1,52 ± 0,06 1,53 (1,4-1,6)
#
27,4 ± 4,92 26,7 (18,1-42,2)*
60-64 anos
62,0 ± 14,5
57,5 (46,4-95,6)
b
1,52 ±0,07 1,51 (1,4-1,6) 26,8 ± 5,80
25,5 (20,7-42,2)
b
65-69 anos
68,2 ± 8,8
68,4 (53,2-85,4)
a
1,54 ± 0,05 1,56 (1,5-1,6) 28,7 ± 4,40
27,8 (21,4-39,1)
a
70-74 anos
66,4 ± 11,6
68,2 (42,4-83,3)
b
1,51± 0,05 1,52 (1,4-1,6) 29,1 ± 5,58
28,9 (18,1-39,4)
a
75-79 anos
58,7 ± 9,5
55,5 (49,4-83,5)
b
1,51 ± 0,07 1,51 (1,4-1,6) 25,9 ± 4,20
24,3 (19,7-36,8)
b
FEMININO
80 anos +
56,5 ± 6,3
56,8 (46,9-67,1)
b
1,50 ± 0,05 1,50 (1,4-1,6) 25,1 ± 2,64
24,6 (21,3-29,5)
b
CC CQ RCQ
VARIÁVEIS
GÊNERO
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Total
89,9 ± 11,90 88,5 (69,3-118,1) 93,23 ± 8,56 92 (66,5-114,6)
g
0,96 ± 0,08 0,960 (0,81-1,14)
#
60-64 anos
95,2 ± 13,02 97,7 (69,3-118,1) 97,98 ± 7,54
98,2 (86,0-114,6)
a
0,97 ± 0,08 0,972 (0,81-1,13)
65-69 anos
89,4 ± 10,01 90,5 (72,5-106,5) 91,52 ± 4,81
90,5 (84,8-98,8)
a
0,98 ± 0,07 0,997 (0,83-1,08)
70-74 anos
82,9 ± 9,25 79,8 (73,2-100,5) 87,40 ± 7,06
89,9 (71,8-96,8)
b
0,95 ± 0,08 0,938 (0,87-1,11)
75-79 anos
89,6 ± 11,42 87,3 (75,5-107,7) 93,1 ± 11,35
92,4 (66,5-114,6)
a
0,97 ± 0,09 0,956 (0,84-1,14)
MASCULINO
80 anos +
88,3 ± 12,26 89,9 (70,0-102,5) 92,50 ± 5,46
94,3 (83,8-98,0)
a
0,95 ± 0,09 0,945 (0,84-1,08)
Total
87,2 ± 11,05 86,6 (59,0-115,0) 98,16 ± 8,84 96 (81,5-121,6)
g
0,89 ± 0,08 0,89 (0,72-1,10)
#
60-64 anos
85,9 ± 12,84 83,8 (65,5-114,9) 97,02 ± 9,58
95,7 (85,3-121,6)
b
0,88 ± 0,09 0,89 (0,72-1,04)
65-69 anos
90,2 ± 9,79 93,0 (71,0-106,9) 100,2 ± 6,74
99,4 (93,0-118,4)
a
0,89 ± 0,07 0,91 (0,763-1,05)
70-74 anos
90,8 ± 13,3 92,8 (59,0-115,0) 101,8 ± 11,6
97,2 (81,5-120,0)
a
0,89 ± 0,09 0,87 (0,724-1,10)
75-79 anos
83,8 ± 8,93 82,0 (71,4-97,5) 95,63 ± 8,25
93,0 (82,0-113,5)
b
0,89 ± 0,08 0,86 (0,721-0,98)
FEMININO
80 anos +
82,6 ±6,76 85,0 (69,0-90,5) 93,8 ± 4,50
93,3 (87,9-101,0)
b
0,88 ± 0,07 0,89 (0,740-0,98)
*
#
Mann-Whitney;
abcd
Kruskall-Wallis complementado com Dunn’s. IMC= índice de massa corporal, CC= circunferência da cintura, CQ= circunferência
do quadril, RCQ= razão cintura/quadril, Me= mediana, mín= valor mínimo, máx= valor máximo, DP= desvio-padrão.
* p<0,05 entre sexos;
g
p<0,001 entre sexos;
#
p<0,0001 entre sexos.
a/b/c/d
p<0,05 entre faixas etárias.
110
Apesar de não significante, a estatura também reduziu com o
aumento da idade para a população como um todo, sendo a altura
mediana de idosos entre 60 e 64 anos igual a 1,60 m (mínimo 1,40 e
máximo 1,73 m) e de idosos com 80 anos ou mais igual a 1,56 m (mínimo
1,44 e máximo 1,80 m) e para ambos os sexos (tabela 2).
Os resultados estão em concordância com a literatura, visto que as
principais alterações físicas decorrentes do envelhecimento constituem-se
de redução no peso corporal total e na estatura (CHUMLEA e
BAUMGARTNER, 1989; FORBES, 2003; SCHUIT, 2006), demonstrando
uma tendência secular nas alterações da composição corporal com o
envelhecimento.
Cabrera e Jacob Filho (2001), avaliando 847 idosos de ambos os
sexos atendidos em ambulatórios na cidade de Londrina – PR, verificaram
diminuição na estatura, peso e IMC em ambos os sexos, e aumento da
RCQ em mulheres com o avanço da idade.
O IMC de idosas entre 65 e 74 anos foi maior (p<0,05) do que nas
com idade maior ou igual a 75 anos. As medidas de CQ foram
estatisticamente diferentes entre as faixas etárias de ambos os sexos.
Idosos com idade entre 70 a 74 anos e idosas com 60 a 64 anos e 75 a
79 anos apresentaram menores medidas deste indicador.
Em relação à classificação do estado nutricional, 16,6% (n=24) do
total de idosos foram classificados como baixo peso, sendo 12,4% (n=11)
do sexo feminino e 23,2% (n=13) do masculino. Sessenta idosos (41,1%),
sendo 47,2% (n=42) do sexo feminino e 32,2% (n=18) do masculino,
foram diagnosticados com sobrepeso. Não houve associação entre baixo
peso e/ou sobrepeso com o sexo do idoso.
Analisando estudos (ABREU, 2003; CERVI, 2005) desenvolvidos
no mesmo município em outros períodos e com amostras de idosos
diferentes, observa-se que a prevalência de baixo peso entre idosos
sofreu diminuição de 1,8% no sexo masculino e 0,6% no feminino, entre
os anos de 2005 e 2007. Na total, a redução de baixo peso de 2,8%
nesses anos. Já as prevalências de sobrepeso neste grupo aumentaram
em 0,3% para o sexo masculino e 1,5% no feminino, alcançando níveis
elevados deste distúrbio nutricional, principalmente para o sexo feminino
111
(Gráfico 1). As diferenças nas prevalências de distúrbios nutricionais entre
os três anos avaliados não foram significantes.
Gráfico 1: Evolão das prevalências de Baixo Peso e
Sobrepeso entre idosos do munipio de Viçosa - MG
(2007)
45,7
46,5
27
11,8
23
31,9
13
25,5
47,2
32,2
12,4
23,2
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
MF MF
Baixo Peso Sobrepeso
%
2003
2005
2007
Portanto, observa-se que a prevalência de baixo peso entre os
idosos tende a se manter, com uma leve tendência à diminuição ano a
ano, sendo o oposto observado para a prevalência de sobrepeso.
As prevalências encontradas em idosos de São Paulo foram
menores. Não foram diagnosticados idosos com baixo peso, 40,5% dos
idosos do sexo feminino e 21,7% do masculino foram classificados como
sobrepeso (LEBRÃO e LAURENTI, 2005).
Dados da região sudeste e nordeste do país, obtidos através da
Pesquisa sobre Padrões de Vida (PPV), realizada entre 1996-1997,
apontam prevalências menores de baixo peso e maiores de sobrepeso.
Pela classificação da OMS, entre idosos do sexo masculino, 6% foram
classificados como baixo peso e 37,5% como sobrepeso; entre o
feminino, 5,4% foram consideradas baixo peso e 49% como sobrepeso
(CAMPOS et al., 2006).
No México, um estudo realizado com 16.084 idosos, utilizando os
pontos de corte propostos pela OMS (1998) para classificação do estado
Fontes: Abreu (2003), Cervi (2005), Silva (2007) (presente estudo).
112
nutricional, apenas 1,4% da população estudada foi classificada como
baixo peso, enquanto 62,3% foram considerados com sobrepeso
(SÁNCHEZ-GARCÍA et al., 2007).
A comparação com os resultados acima deve ser cautelosa, visto
que os pontos de corte adotados foram diferentes. O ponto de corte para
baixo peso proposto pela OMS (1998) (IMC<18,5kg/m
2
) é mais específico,
justificando a menor prevalência encontrada. No entanto, pela grande
diferença de baixo peso encontrado neste estudo e nos outros, a
prevalência aqui encontrada deve ser considerada, visto que,
extrapolando a prevalência de baixo peso entre os idosos mexicanos pelo
ponto de corte proposto por Lipschitz (IMC<22 kg/m
2
), esta provavelmente
não alcançaria níveis semelhantes aos aqui encontrados. Uma vez que o
ponto de corte para sobrepeso é mais sensível (IMC 25 kg/m
2
),
comparado ao de Lipschitz (IMC>27 kg/m
2
), as prevalências de
sobrepeso talvez sejam semelhantes.
Cervi (2005) comparou as prevalências de baixo peso e sobrepeso
encontradas com os pontos de corte da OMS e de Lipschitz, entre idosos
do município de Viçosa. A autora encontrou diferenças significantes
nestas prevalências para ambos os sexos, de forma que a prevalência de
baixo peso com a proposta de Lipschitz foi 16,2% maior e a de sobrepeso
foi 19,9% menor, em relação à proposta da OMS
Da Cruz e colaboradores (2004) avaliaram a prevalência de
sobrepeso entre idosos longevos (acima de 80 anos de idade), utilizando
dois pontos de corte diferentes: o proposto pela OMS (IMC 25 kg/m
2
) e o
estabelecido pelo Third National Health and Nutrition Examination Survey
(NHANES III), que preconiza valores de IMC 27,8 kg/m
2
para idosos e
27,3 kg/m
2
para idosas como limite para classificação de sobrepeso
(semelhantes ao proposto por Lipschitz). Pelos critérios de classificação
da OMS, a prevalência encontrada foi de 59% (55% do sexo masculino e
62% do feminino), enquanto pela classificação de NHANES III a
prevalência foi de 45,6% (36% masculino e 51% feminino).
O IMC é indicador usual e confiável para a avaliação do estado
nutricional, tanto na prática clínica quanto em estudos epidemiológicos
(SÁNCHEZ-GARCÍA et al.; 2007). Não existe consenso sobre os pontos
113
de corte de IMC para classificação do estado nutricional do idoso. Apesar
de muitos pesquisadores utilizarem para idosos os pontos de corte
propostos pela OMS (1998) elaborados com base nos dados
antropométricos de adultos, autores têm sugerido que a faixa de IMC
desejável é maior para idosos (LIPSCHITZ, 1994; PERISSINOTO et al.;
2002).
Ainda, a utilização do IMC deve estar associada a outros
indicadores, uma vez que o mesmo não é capaz de demonstrar a
distribuição regional de gordura ou mesmo alterações na distribuição de
gordura corporal decorrentes do envelhecimento (PERISSINOTO et al.,
2002)
Idosos são mais propensos a alterações do estado nutricional
(baixo peso ou sobrepeso), provocadas por fatores fisiológicos e sociais,
doenças crônicas, uso contínuo e variado de medicamentos, alterações
no consumo alimentar, depressão e diminuição da capacidade funcional
(JENSEN et al., 2001). Esta propensão, somada à elevada freqüência de
doenças crônicas relatada pelos idosos avaliados, pode levar à piora na
qualidade de vida e condição de saúde, bem como elevar o risco de
mortalidade neste grupo etário
Estudo realizado em Chicago avaliou o impacto do estado
nutricional sobre a qualidade de vida de idosos. A obesidade (IMC30
kg/m
2
) foi associada à baixa capacidade física e social em mulheres. O
sobrepeso (IMC 25-29,9 kg/m
2
) foi relacionado com a redução do bem
estar físico também em mulheres. O baixo peso (IMC<18,5 kg/m
2
), por
sua vez, foi associado à diminuição do bem estar físico, social e mental
em ambos os sexos. Os extremos valores de IMC foram associados à
menor qualidade de vida, pior performance física e menor bem estar físico
(YAN et al.; 2004).
Adarns e colaboradores (2006) examinaram a associação entre
IMC e o risco de morte em indivíduos com idade entre 50 e 71 anos,
participantes do National Institutes of Health (NIH)-AARP Diet and Health
Study, estudo sobre as características demográficas, antropométricas,
dietéticas e modelos de comportamento relacionados à saúde, baseado
numa coorte de mais de 500 mil participantes residentes em seis estados
114
dos Estados Unidos. Os autores concluíram que existe uma relação em
forma de “U” entre IMC e risco de morte, ou seja, um maior risco de morte
entre idosos com baixo ou elevado valor de IMC.
Ainda, neste estudo foi observado que entre os idosos de forma
isolada (65 anos ou mais), a redução no peso corporal após os 50 anos,
levando ao baixo peso, foi associada mais fortemente ao risco de morte
do que o ganho de peso (ADARNS et al., 2006). De fato, outros estudos
também têm demonstrado uma maior e mais forte relação entre baixos
valores de IMC e maior risco de mortalidade (TAYLOR e OSTBYE, 2001;
WOO et al., 2001).
Desta forma, inadequados valores de IMC se relacionam não
apenas ao risco de desenvolvimento de doenças crônicas (no caso do
sobrepeso) e infecciosas (no caso do baixo peso) além de maior risco de
mortalidade (para ambos), mas também à diminuição da qualidade de
vida, bem estar e autonomia do idoso.
A distribuição da gordura corporal avaliada através da
circunferência da cintura (CC) demonstrou que, entre todos os avaliados
no presente estudo, 86 (59,3%) foram classificados como em risco, dos
quais 51 (35,2% do total) em risco aumentado. Entre o sexo feminino, 62
(69,7%) foram classificadas em risco (CC >80 cm), destas 43 (48,3%) em
risco aumentado (CC >88 cm). Para o sexo masculino foi encontrado 24
idosos (42,9%) em risco (CC >94 cm), sendo 8 (14,3%) em risco
aumentado (CC >102 cm). O sexo feminino foi associado estatisticamente
ao risco de complicações metabólicas decorrentes da CC acima do
recomendado (x
2
=10,23, p<0,005 para risco total; x
2
=17,57, p<0,0005
para risco aumentado).
Pela classificação da Razão Cintura/Quadril (RCQ), foi encontrado
83 idosos (57,2%) em risco de desenvolvimento de doenças
cardiovasculares. Entre o sexo feminino, 62 idosas (69,7%) tinham RCQ
acima de 0,85, enquanto 21 idosos do sexo masculino (37,5%)
apresentaram RCQ acima de 1,0. As idosas apresentaram 3,83 vezes
mais chances de apresentar RCQ acima do recomendado, comparado
aos idosos (IC:1,77<OR<8,32; x
2
=14,53, p<0,0001).
115
Não foi encontrada associação entre o risco de doenças
relacionado à elevada proporção de gordura abdominal e o aumento da
idade.
Entre idosos mexicanos, as prevalências de risco aumentado
relacionado a valores de CC acima do recomendado foram maiores para
ambos os sexos, 68,9% para o sexo feminino e 26,1% para o masculino.
As mulheres mexicanas apresentaram maiores prevalências de RCQ
acima do ideal (73,7%), enquanto os homens apresentaram menores
taxas (19,1%) (SÁNCHEZ-GARCÍA et al., 2007), comparadas à população
aqui avaliada.
A gordura corporal aumenta progressivamente entre idosos, em
detrimento da diminuição fisiológica da massa muscular. Estas alterações,
que podem resultar em níveis de gordura abdominal acima do
recomendado, aumentam o risco de desenvolvimento de doenças
cardiovasculares e síndrome metabólica (VAN PELT et al., 2002).
O acúmulo central de gordura representa maior risco de
complicações metabólicas e cardiovasculares, enquanto a gordura
periférica se relaciona mais fortemente com doenças vasculares
periféricas, ortopédicas e a estética (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA
ESTUDOS DA OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA, 2008).
8.2.4.1- Fatores associados ao estado nutricional
O inadequado estado nutricional está associado ao aumento da
morbimortalidade e ao impacto negativo sobre a qualidade de vida entre
idosos. Além do diagnóstico do estado nutricional, é importante que seus
possíveis fatores determinantes sejam investigados, de forma a permitir
intervenções mais coerentes (SAMPAIO, 2004).
Entre os fatores com impacto sobre o estado nutricional do idoso,
os externos possuem papel de destaque, tais como a situação conjugal,
estado de saúde mental, condições socioeconômicas e doenças pré-
existentes (CAMPOS et al., 2000).
As Tabelas 3 e 4 demonstram a relação entre as variáveis
socioeconômicas e de saúde e o estado nutricional dos idosos.
116
A situação socioeconômica afetou de forma significativa o estado
nutricional da população estudada. Idosos com 4 anos ou mais de
escolaridade apresentaram medianas de CC (p<0,05) e RCQ (p<0,005)
maiores. A aposentadoria foi associada significantemente ao inadequado
estado nutricional (baixo peso e sobrepeso agrupados) (x
2
=7,89; p<0,05)
e ao sobrepeso de forma isolada (x
2
=5,16; p<0,05). Esta variável também
foi associada a valores de RCQ acima do recomendado (x
2
= 3,2, p=0,07),
tendendo a significância. O fato de o idoso ser o único provedor de renda
em sua casa esteve significantemente associado ao sobrepeso (x
2
=4,21,
p<0,05). Idosos vivendo com companheiro apresentaram medianas
significantemente maiores de RCQ (p<0,05).
Estudo realizado com 1.060 idosos na Turquia demonstrou que, à
medida que o nível socioeconômico aumenta, o risco associado ao
inadequado estado nutricional diminui de forma significante (AKBULUT e
ERSOY, 2007).
Em relação às variáveis relacionadas à saúde, foi encontrada a
associação de vários fatores ao estado nutricional do idoso.
Aqueles que convivem com morbidades crônicas apresentaram
mediana de IMC maior (p<0,005) e maiores valores de CC tendendo à
significância (p=0,07). Para o sexo masculino de forma isolada, este
resultado foi semelhante (p<0,005 para IMC e p=0,05 para CC). Idosos
com sobrepeso, com risco de doenças cardiovasculares e risco
aumentado de complicações metabólicas associadas à obesidade
convivem com um número maior de doenças (p<0,05), comparado aos
idosos com baixo peso e sem risco associado à RCQ e CC. Entre idosos
do sexo masculino, a mediana de número de doenças foi
significantemente maior entre aqueles com sobrepeso e risco associado a
elevados valores de CC (p<0,05).
A presença de doenças crônicas esteve associada ao sobrepeso
(x
2
=4,95, p<0,05), bem como ao risco de complicações metabólicas
associadas a valores de CC acima do recomendado (x
2
=8,41, p<0,05).
117
Tabela 3: Influência de fatores socioeconômicos e de saúde sobre o estado nutricional de idosos, município de Viçosa –
MG, 2007.
ANTROPOMETRIA E COMPOSIÇÃO CORPORAL
PESO IMC CC RCQ
VARIÁVEIS
SOCIOECONÔMICAS E DE
SAÚDE
Média
± DP
Me/
mín-máx
Média ±
DP
Me
(mín-máx)
Média
± DP
Me
(mín-máx)
Média
± DP
Me
(mín-máx)
Trabalho
Trabalha
67,1 ± 6,6 65,9/ 60,4-78,8 24,7 ± 1,9 24,9/ 22-26,7 86,6 ± 6,5 85,3/ 79,6-98 0,93 ± 0,06 0,94/ 0,82-1,03
Aposentado
64,8 ± 12,9 64,3/ 42,4-109 26,4 ± 4,9 25,2/ 16,6-37,8 88,1 ± 11,6 87,1/ 59-118,1 0,92 ± 0,09 0,92/ 0,72-1,14
Escolaridade
< 4 anos
64,4 ± 11,5 64,5/ 42,4-95,6 26,4 ± 4,8 25,4/ 16,6-42,2 87,6 ± 10,9 86,4/ 59-115
#
0,91 ± 0,09
#
0,92/ 0,72-1,14
4 anos
88,1 ± 23,9 90,1/ 63,1-109 31,6 ± 6,6 32,2/ 24,3-37,8 106,3 ± 12,9 108,4/ 90,5-118
#
1,04 ± 0,06
#
1,02/ 1,0-1,13
U. F. Renda
Sim
65,8 ± 13,6 63,5/ 45-107,9 25,9 ± 4,8 25,0/ 16,6-37,8 88,9 ± 11,3 86,7/ 69-115,6 0,93 ± 0,08 0,93/ 0,74- 1,11
Não
65,4 ± 12,3 65,9/ 46,7-109 26,6 ± 4,9 26,4/ 18,2-39,4 88,1 ± 11,4 86,5/ 69-118,1 0,92 ± 0,08 0,92/ 0,74-1,14
Companheiro
Sim
66,9 ± 13,8 13,8/ 45-109 26,9 ± 5,3 25,7/ 16,6-42,2 89,4 ± 11,3 87,3/ 69-118,1 0,93 ± 0,08 0,93/ 65,5-1,15
#
Não
62,4 ± 9,9 61,4/ 42,4-80,2 26,2 ± 4,3 24,8/ 18,1-39,4 86,4 ± 11,4 86,2/ 59-115 0,89 ± 0,09 0,89/ 0,72-1,14
#
Morbidade
Sim
65,6 ± 12,9 64,8/ 42,4-109 26,9 ± 4,9 26,4/ 18,1-42,2* 88,7 ± 11,7 89,8/ 59-118,1 0,92 ± 0,09 0,92/ 0,72-1,14
Não
62,8 ± 8,0 63,5/ 45-75,3 23,4 ± 3,6 22,8/ 16,6-30,7* 83,4 ± 7,8 83,0/ 69,3-101 0,91 ± 0,08 0,91/ 0,74-1,04
Medicação
Sim
65,8 ± 12,9 65,8/ 43,8-109 27,2 ± 4,9 26,4/ 18,2-42,2
g
89,2 ± 11,4 90/ 65,5-118,1
#
0,92 ± 0,09 0,92/ 0,72-1,14
Não
60,9 ± 8,8 62,4/ 42,4-75,3 23,2 ± 3,4 22,8/ 16,6-29,5
g
81,9 ± 9,5 82/ 59-101,1
#
0,89 ± 0,09 0,91/ 0,72-1,04
Saúde Bucal
Dentado
97,3 ± 16,9
a
97,3/ 85,4-109 35,8 ± 1,1 35,8/ 35,1-36,6 110,6 ± 10,7 110,6/ 103-118 1,03 ± 0,15 1,03/ 0,72-1,14
P. Dentado
63,9 ± 11,2
b
64,3/ 42,4-94,4 26,5 ± 4,6 25,7/ 18,1-39,4 87,9 ± 11,1 86,9/ 59-115 0,92 ± 0,08 0,92/ 0,72-1,14
Edêntulo
66,2 ± 13,3
b
65,0/ 45-107,9 26,4 ± 5,2 25,3/ 16,6-42,2 87,6 ± 11,4 85/ 65,5-115,6 0,92 ± 0,09 0,92/ 0,72-1,08
Prótese
Sim
63,7 ± 10,9 63,1/ 43,8-95,6 26,3 ± 4,6 24,9/ 18,7-42,2 86,9 ± 10,8 85/ 65,5-115 0,89 ± 0,08 0,91/ 0,72-1,11
#
Não
66,2 ± 13,0 65/ 42,4-107,9 26,6 ± 5,1 26,2/ 16,6-39,1 89,1 ± 11,3 91/ 59-115,6 0,94 ± 0,09 0,94/ 0,72-1,14
#
Atv. Física
Sim
65,2 ± 9,4 64,8/ 47,5-85,4 26,8 ± 4,3 26,5/ 19,1-39,4 88,2 ± 10,3 89,8/ 65,5-115 0,91 ± 0,08 0,91/ 0,72-1,11
Não
65,0 ± 14,1 64,3/ 42,4-109 26,6 ± 5,2 25,2/ 16,1-42,2 88,1 ± 12,1 86,4/ 59-118 0,92 ± 0,09 0,93/ 0,72-1,14
a/b/b
ANOVA complementado por Tukey;
*
g
#
Mann-Whitney
IMC= índice de massa corporal, CC= circunferência da cintura, RCQ= razão cintura/quadril, Me= mediana, mín= valor mínimo, máx= valor máximo, DP=
desvio-padrão, U. F= única fonte, Atv.= atividade
* p<0,005
g
p<0,0005
#
p<0,05
a/b/b
p<0,05
118
Tabela 4: Influência de fatores socioeconômicos e de saúde sobre o estado nutricional de idosos, município de Viçosa –
MG, 2007 (continuação).
VARIÁVEIS SOCIOECONÔMICAS E DE SAÚDE
Renda Individual Renda Per Capita Número de Doenças
COMPOSIÇÃO
CORPORAL
Média ± DP Me/ mín-máx Média ± DP Me/ mín-máx Média ± DP Me/ mín-máx
IMC
Baixo Peso
451,2 ± 393,9 380/ 0-1.900 243,4 ± 110,5 232,3/ 47,5-390 1,38 ± 1,14
1/ 0-4
b
Eutrofia
431,5 ± 281,9 380/0-1900 262,5 ± 134,9 215/ 60-700 2,12 ± 1,40
2/ 0-6
a/b
Sobrepeso
502,5 ± 624,6 380/0-3200 313,6 ± 215,9 270/ 50-1150 2,31 ± 1,16
2/ 0-6
a
CC
Sem Risco
465,81 ± 394,12 380/ 0-1900 270,21 ± 180,58 225/ 47,5-1150 1,73 ± 1,35
y
2/ 0-6
Risco
363,29 ± 236,1 380/ 0-1100 258,75 ± 132,81 190/ 50-575 2,12 ± 1,18
x/y
2/ 0-5
Risco aumentado
521,47 ± 631,91 380/ 0-3200 304,82 ± 180,03 270/ 50-950 2,43 ± 1,23
x
2/ 0-6
RCQ
Sem Risco
453,62 ± 349,28 380/ 0-1900 260,41 ± 170,96 196,66/ 60-1150 1,72 ± 1,16 2/ 0-5*
Risco
466,83 ± 540,63 380/ 0-3200 292,42 ± 168,08 275/ 47,5-950 2,33 ± 1,34 2/ 0-6*
Número de Medicamentos Número de Refeições/Dia Periodicidade Atv. Física
VARIÁVEIS
C.CORPORAL
Média ± DP Me/ mín-máx Média ± DP Me/ mín-máx Média ± DP Me/ mín-máx
IMC
Baixo Peso
2,04 ± 2,26 1,5/ 0-9 4,13 ± 1,08 4/ 2-7 4,0 ± 1,16 4/ 3-6
Eutrofia
2,86 ± 2,35 2/ 0-9 4,18 ± 0,96 4/ 3-6 4,09 ± 1,93 4/ 1-7
Sobrepeso
3,21 ± 2,21 3/ 0-9 4,10 ± 0,89 4/ 2-6 4,92 ± 1,82 6/ 1-7
CC
Sem Risco
2,26 ± 2,07
4/ 3-6
b
4,15 ± 1,01 4/ 2-7 3,7 ± 1,56
3/ 1-7
b
Risco
2,85 ± 2,28
3/ 0-8
a/b
4,0 ± 0,92 4/ 3-6 4,86 ± 1,75
5,5/ 1-7
a
Risco aumentado
3,66 ± 2,37
3/ 0-9
a
4,22 ± 0,88 4/ 2-6 4,96 ± 1,91
6/ 1-7
a/b
RCQ
Sem Risco
2,72 ± 2,39 3/0-9 4,18 ± 0,98 4/2-7 4,75 ± 1,86 5/1-7
Risco
3,03 ± 2,34 3/0-9 4,12 ± 0,92 4/ 2-6 3,81 ± 1,56 3/ 2-7
a/b
Kruskal- Wallis complementado com Dunn’s;
x/y
ANOVA complementado com Tukey; * Mann-Whitney. Me= mediana; mín.= valor mínimo; máx.= valor
máximo; IMC= índice de massa corporal; CC= circunferência da cintura; RCQ= razão cintura/quadril; DP= desvio-padrão.
a/b, x/y
p< 0,05; *p<0,01
119
O consumo de medicamentos também teve impacto sobre o estado
nutricional dos idosos avaliados neste estudo. Idosos que consomem ao
menos um fármaco diariamente tiveram IMC (p<0,0005) e CC (p<0,05)
maiores do que aqueles que não fazem uso de medicamentos. Avaliando
os gêneros de forma isolada, entre o sexo feminino estes resultados se
repetiram também para IMC e CC (p<0,05), enquanto entre o masculino
apenas para IMC (p<0,05).
Idosos com risco aumentado de complicações associadas à
obesidade medidas através da CC apresentaram mediana de número de
medicamentos consumidos por dia estatisticamente maior do que aqueles
sem risco (p<0,05). Aqueles com sobrepeso também apresentaram
maiores medianas de consumo de fármacos, tendendo a significância
(p=0,05) entre todos os idosos, e significante para o sexo feminino
(p<0,05).
Sendo assim, foi encontrada associação entre sobrepeso e uso
contínuo de medicamentos em relação ao baixo peso (x
2
=7,50, p<0,05) e
entre risco elevado associado à CC e medicação em relação a valores
ideais de CC (x
2
=8,41, p<0,005).
O fundamento biomédico para relação entre excesso de gordura
corporal e mortalidade é bem estabelecido. As complicações médicas
desta alteração da composição corporal incluem hipertensão arterial,
diabetes tipo 2, doença cardiovascular, pulmonar e câncer, as quais
levam a processos patofisiológicos como resistência insulínica,
dislipidemias, alterações hormonais e inflamações crônicas (VILLAREAL
et al.; 2005).
Estudo realizado com 287 idosos no México demonstrou
associação significante entre sobrepeso (IMC 25 kg/m
2
) e outros fatores
de risco para morbidades, entre eles média elevada de glicemia de jejum,
baixos valores médios de HDL (lipoproteína de alta densidade), maiores
valores médios de pressão arterial sistólica e diastólica, comparados a
idosos com IMC abaixo de 25 kg/m
2
(ALEMÁN-MATEO et al., 2007).
Idosos com boa saúde bucal, sem perda dentária, obtiveram
maiores medianas de peso (p<0,05), IMC (p=0,09) e CC (p=0,08),
comparados àqueles parcialmente dentados e edêntulos. Entre estes dois
120
últimos grupos, aqueles que relataram não usar prótese dentária
apresentaram mediana de RCQ estatisticamente maior (p<0,05)
comparados aos que relataram usá-la, sendo este resultado também
encontrado para o sexo masculino (p=0,09). O edentulismo foi associado
ao risco relacionado a elevados valores de razão cintura/quadril (x
2
=5,59,
p=0,06).
Contrariamente, Sahyoun et al. (2003), avaliando os dados de
saúde bucal e sua associação com o estado nutricional de 5.958 idosos
participantes do NHANES III, constataram que os edêntulos ou
parcialmente dentados apresentaram maiores médias de IMC,
comparados aos idosos dentados. Contraditoriamente, os edêntulos
apresentaram menor média de ingestão calórica comparado aos
parcialmente dentados e dentados.
Idosos que relataram não praticar atividade física apresentaram
valores maiores de RCQ tendendo à significância (p=0,06). Entre os que
relataram praticar algum tipo de exercício físico, a mediana de freqüência
foi estatisticamente maior entre aqueles com risco (CC>80 feminino e
CC>94 masculino) relacionado a altos valores de CC. Entre o sexo
feminino, a periodicidade da atividade física foi estatisticamente maior
entre aquelas com elevados valores de RCQ (p<0,05), enquanto para o
masculino este resultado tendeu à significância (p=0,09). Tais achados
podem ser devidos a maior necessidade de exercício físico entre idosos
com algum risco relacionado ao inadequado estado nutricional, seja por
iniciativa própria ou por orientação de profissionais de saúde.
O exercício físico na terceira idade é crucial para prevenção da
fraqueza e para o aumento da massa muscular e sua força, melhorando a
capacidade física dos idosos, além de ser considerado fator crucial na
prevenção do sobrepeso e doenças relacionadas (SCHUIT et al., 2006).
De fato, a atividade física tem papel ativo na prevenção de doenças
crônicas, as quais os idosos com elevados valores de IMC, CC e RCQ já
estão altamente predispostos.
Campos et al (2006) analisaram os dados provenientes da PPV
para a região sudeste e nordeste do país e observaram que o sobrepeso
e obesidade estavam associados ao sexo feminino, maior nível de renda
121
domiciliar, maior nível de escolaridade e presença de morbidades. O
baixo peso foi associado à menor escolaridade, baixa renda domiciliar e à
maior faixa etária.
Os resultados do presente estudo estão, portanto, em
concordância com a região sudeste (onde o município estudado está
inserido), confirmando o impacto de padrões de comportamento e nível
socioeconômico sobre o estado nutricional da população idosa.
8.2.5- Considerações Finais
O presente estudo demonstrou que a população idosa cadastrada
no PSF do município de Viçosa apresenta elevadas taxas de inadequado
estado nutricional, de forma que as prevalências de sobrepeso e baixo
peso juntos (57,7%) se sobressaíram à eutrofia. O sexo feminino
apresentou maiores freqüências de sobrepeso, enquanto o masculino
apresentou altas taxas de baixo peso.
A comparação com estudos realizados em outros países foi
dificultada pela adoção de diferentes pontos de corte, devendo ser
considerada com cautela.
A escolha do ponto de corte para classificação do estado
nutricional tem impacto direto sobre as prevalências de distúrbios
encontrados na população, devendo, portanto, ser definido com atenção,
tanto para estudos científicos como para utilização clínica e screening
populacionais, levando-se em consideração a possibilidade de
comparação dos resultados encontrados e a necessidade e possibilidade
de intervenção por meio de políticas de saúde.
Também é alarmante a elevada porcentagem de idosos avaliados
com valores de CC (59,3%) e RCQ (57,2%) acima do recomendado,
sendo as freqüências entre o sexo feminino maiores para ambas as
variáveis.
Desta forma, os resultados sugerem que idosos do sexo feminino
estão mais expostos aos riscos relacionados à obesidade e suas
complicações, comparado ao masculino.
122
Vários fatores foram associados ao estado nutricional de idosos
neste estudo. Idosos com maior nível socioeconômico apresentaram
maiores valores de CC e RCQ, além de apresentarem maiores
freqüências de sobrepeso. Idosos sedentários e com morbidades crônicas
apresentaram maiores valores de IMC, CC e RCQ. Tais idosos estão,
portanto, mais propensos a complicações relacionadas ao acúmulo
excessivo de gordura corporal. Curiosamente, a boa saúde bucal também
esteve associada a riscos relacionados ao excesso de gordura, visto que
idosos dentados apresentaram maiores medidas de peso e IMC e CC,
comparados aos parcialmente dentados e edêntulos.
As elevadas prevalências de sobrepeso e risco associado a
elevados valores de circunferência da cintura e razão cintura quadril,
adicionada à baixa freqüência de atividade física entre os idosos aqui
avaliados, reforçam a necessidade de atividades voltadas para a melhoria
do estado nutricional da população idosa.
O Programa de Saúde da Família, com programas voltados à
prevenção de agravos e enfermidades e promoção da saúde, deve ter
sua atenção voltada para atenção nutricional de idosos. Novas propostas
devem ser elaboradas para esta questão, tais como trabalhos de
educação e acompanhamento do estado nutricional de idosos e estímulo
e orientação para a prática de exercícios físicos.
Assim, os resultados apontam para a necessidade de ações
bipolares neste grupo populacional: políticas públicas voltadas para o
combate ao sobrepeso e excesso de gordura corporal entre os idosos,
bem como mudanças no estilo de vida, alimentação e nível de atividade
física. Em conjunto as prevalências de baixo peso são também
alarmantes e necessitam de atenção pelos profissionais e gestores de
saúde.
123
8.2.6- Bibliografia
ABESO (Associação Brasileira para estudos da Obesidade e da Síndrome
Metabólica). Métodos de avaliação de obesidade e alguns dados
epidemiológicos. Revisa ABESO (on line), n.º11, 2008. Disponível em:
http://www.abeso.org.be/revista/revista11/metodos.htm. Acesso em 10 de
Março de 2008.
ABREU, W. C. Aspectos socioeconômicos, de saúde e nutrição, com
ênfase no consumo alimentar, de idosos atendidos pelo Programa
Municipal da Terceira Idade (PMTI) de Viçosa- MG. [Dissertação].
Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2003.
ADARNS, K. F.;SCHATZKIN, A.; HARRIS, T. B.; KIPNIS, V.; MOUW, T.;
BARBASH, R. B.; HOLLENBACK, A.; LEITZMANN, M. F. Overweight,
obesity, and mortality in a large prospective cohort of persons 50 to 71
years old. The New England Journal of Medicine, 355(8): 763-778,
2006.
AKBULUT, G. Ç.; ERSOY, G. Assessment of nutrition and life quality
scores of individuals aged 65 and over from different socio-economic
levels en Turkey. Archives of Gerontology and Geriatrics, (in press),
2007.
ALEMÁN-MATEO, H.; ESPARZA-ROMERO, J.; ROMERO, R. U.;
GARCÍA, H. A.; FLORES, F. A. P.; CHACÓN, B. V. O.; VALENCIA, M. E.
Prevalence of malnutrition and associated metabolic risk factors for
cardiovascular disease in older adults from Northwest México. Archives
of Gerontology and Geriatrics, (in press), 2007.
BARBOSA, D. L.; ARRUDA, H. K, G.; DINIZ, A. S. Prevalência e
caracterização da anemia em idosos do Programa de Saúde da Família.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 28(4): 288-292,
2006.
CABRERA, M. A. S.; JACOB FILHO, W. Obesidade em idosos:
prevalência, distribuição e associação com hábitos e co-morbidades.
Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabolismo, 45(5): 494-
501, 2001.
124
CAMARANO, A.A. Envelhecimento da população brasileira: uma
contribuição demográfica. (Texto para discussão n.º 858). Rio de
Janeiro: IPEA; 2002.
CAMPOS, M. A. G.; PEDROSO, E. R. P.; LAMOUNIER, J. A.;
COLOSIMO, E. A.; ABRANTES, M. M. Estado nutricional e fatores
associados em idosos. Revista da Associação Médica Brasileira, 52(4):
214-221, 2006.
CAMPOS, M.T.F.S. Efeitos da suplementação alimentar em idosos.
[Dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 1996.
CAMPOS, M. T. F. S.; MONTEIRO, J. B. R.; ORNELAS, A. P. R. C.
Fatores que afetam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Revista
de Nutrição Campinas, 13(3): 157-165, 2000.
CERVI, A. Validação de equações para estimativa de estatura,
composição corporal, e risco de morbidades em idosos.
[Dissertação]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2005.
CHAIMOWICZ, F. A saúde dos idosos brasileiros às vésperas do século
XXI: problemas, projeções e alternativas. Revista de Saúde Pública,
31(2):184-200; 1997.
CHUMLEA, W. C.; BAUMGARTNER, R. N. Status of anthropometric and
body composition data in elderly subjects. American Journal of Clinical
Nutrition, 50:1158-1166, 1989.
DA CRUZ, I. B. M.; ALMEIDA, M. S. C.; SCHWANKE, C. H. A.;
MORIGUCHI, E. H. Prevalência de obesidade em idosos longevos e sua
associação com fatores de risco e morbidades cardiovasculares. Revista
da Associação Médica Brasileira, 50(2): 172-177, 2004.
DEY, D. K.; ROTHENBERG, E.; SUNDH, V.; BOSAEUS, I.; STEEN, B.
Height and body weight in the elderly. A 25 years longitudinal study of a
population aged 70 to 95 years. European Journal of Clinical Nutrition,
53:905-914, 1999.
FOSTER, S.; GARIBALLA, S. Age as a determinant of nutritional status: a
cross sectional study. Journal of Nutrition, 4:28-31, 2005.
FORBES, G. B. Composição corporal: influência da nutrição, atividade
física, crescimento e envelhecimento. In: SHILS, M. E.; OLSON, J. A.;
125
SHIKE, M.; ROSS, A. C. Tratado de nutrição moderna na saúde e na
doença. São Paulo: Ed. Manole, 9ª ed., v.1 e v.2, 2003. p.845-866.
HUANG Y. C., WONG Y., WENG S. L. CHENG, C. H. SU, K. H. Nutrient
intakes and iron status of elderly men and women. Nutrition Research,
21: 967-81; 2001.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 1980. Rio de Janeiro, 1981. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br.
JENSEN, G. L.; FRIEDMAN, J. M.; COLEMAN, C. D.; SMICIKLAS-
WRIGTH, H.; Screening for hospitalization and nutritional risk among
community-dwelling older persons. American Journal of Clinical
Nutrition, 74:201-205, 2001.
LIPSCHITZ, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary
Care, 21(1):55-67, 1994.
LOYOLA FILHO, A.I.; UCHOA, E.; FIRMO, J. O. A.; LIMA-COSTA, M. F.
Estudo de base populacional sobre o consumo de medicamentos entre
idosos: Projeto Bambuí. Cadernos de Saúde Pública, 21(2): 545-553;
2005.
MENEZES, T. N.; MARUCCI, M. F. N. Antropometria de idosos residents
em instituições geriátricas, Fortaleza, CE. Revista de Saúde Pública,
39(2):169-175, 2005.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Diretrizes e normas regulamentadoras
de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Ministério da
Saúde, 1996.
MORIGUTI, C. J.; LUCIF Jr., N.; FERRIOLLI, E. Nutrição do Idoso. In:
DUTRA DE OLIVEIRA, J. E.; MARCHINI, S. J. Ciências Nutricionais.
São Paulo: Ed. Sarvier, 1998. p.239-251.
ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD. El estado físico: uso e
interpretación de la antropometría. Genebra: OMS; 1995. 452 p.
126
PEREIRA, R. J. Análise da Qualidade de Vida de Idosos – Município
de Teixeiras – MG. [Dissertação de Mestrado] Universidade Federal de
Viçosa, Minas Gerais. 2005. 149p.
PERISSINOTTO, E.; PISENT, C. SERGI, G.; GRIGOLETTO, F.; ILSA
WORKING GROUP (Italian Longitudinal Study on Ageing). Anthropometric
measurements in the elderly: age and gender differences. British Journal
of Nutrition, 87:177-186, 2002.
RAGUSO, C. A.; KYLE, U.; KOSSOVSKY, M.P.; ROYNETTE, C.;
PAOLONI-GIACOBINO, A.; HANS, D.; GENTON, L.; PICHARD, C. A 3-
year longitudinal study on body composition changes in the elderly: Role
of physical exercise. Clinical Nutrition, 25: 573-580, 2006.
RONCADA, M. J.; MARUCCI, M. F. N.; LAMONICA, I. M. R. Níveis
sangüíneos de vitamina A e caroteno em indivíduos de meia-idade e
idosos, em onze localidades do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de
Saúde Pública, 19: 336-343, 1985.
SAHYOUN, N. R.; LIN, C. L.; KRALI, E. Nutritional status of the older
adults is associated with dentition status. Journal of the American
Dietetic Association, 103:61-66, 2003.
SAMPAIO, L. R. Avaliação nutricional e envelhecimento. Revista de
Nutrição, 17(4): 507-514, 2004.
SÁNCHEZ-GARCÍA, S.; GACÍA-PEÑA, C.; DUQUE-LÓPEZ, M.
X.;JUÁREZ-CEDILLO, T.; CORTÉS-NUÑEZ, A. R.; REYES-BEAMAN, S.
Anthropometric measures and nutritional status in a healthy elderly
population. BMC Public Health, 7:1-9, 2007.
SCHUIT, A. J. Physical activity, body composition and healthy ageing.
Science & Sports, (21): 209-213, 2006.
TAYLOR D. H. Jr.; OSTBYE, T. The effect of midle and old age body
mass index on short-term mortality in older people. Journal of American
Geriatric Society, 49(10): 1319-1326, 2001.
VAN PELT, R. E.; EVANS, E. M.; SCHECHTMAN, K. B.; EHSANI, A. A.;
KOHRT, W. M. Contributions of total and regional fat mass to risk for
cardiovascular disease in older women. American Journal of Physiology
Endocrinology and Metabolism, 282(5):E: 1023-1028, 2002.
127
VILLAREAL, D. T.; APOVIAN, C. M.; KUSHNER, R. F.; KLEIN, S. Obesity
in older adults: technical review and position statement of the American
Society for Nutrition and NAASO, the Obesity Society. American Journal
of Clinical Nutrition, 82:923-934, 2005.
WOO J.; HO S. C.; SHAM A. Longitudinal changes in body mass index
and body composition over 3 years and relationship to health outcomes in
Hong Kong Chinese age 70 and older. Journal of American Geriatric
Society, 49(6):737-746, 2001.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Phisical Status : The Use and
Interpretation of Anthropometry: reporty of a WHO committee.
Geneva: WHO, 1998. (WHO – Technical Report Series).
WORLD HEALTH ORGANIZATION. The world health report. Geneva,
2001.
YAN, L. L.; DAVIGLUS, M. L.; LIU, K.; PIRZADA, A.; GARSIDE, D.;
SCHIFFER, L.; DYER, A.; GREENLAND, P. BMI and Health-Related
Quality of Life in Adults 65 years and older. Obesity Research, 12:69-76,
2004.
128
8.3- Artigo 3: Prevalência de anemia e fatores associados ao nível de
hemoglobina em idosos cadastrados no Programa de
Saúde da Família, Viçosa - Minas Gerais.
8.3.1- Resumo
O aumento da população idosa traz consigo a emergência de
problemas de saúde específicos desta fase da vida, bem como o aumento
da prevalência de deficiências nutricionais neste grupo. A anemia,
definida pela Organização Mundial de Saúde como a redução patológica
da concentração de hemoglobina (Hb) circulante, desencadeada por
mecanismos fisiopatológicos diversos, é uma doença cada vez mais
comum entre indivíduos idosos.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a prevalência de anemia e os
fatores associados ao nível de hemoglobina em idosos cadastrados no
Programa de Saúde da Família (PSF), do município de Viçosa, Minas
Gerais. Foram selecionados de forma randomizada 155 idosos (4,3% da
população de idosos adstrita no PSF), avaliados em relação às
características socioeconômicas e de saúde, consumo alimentar,
antropometria e composição corporal, bem como avaliação bioquímica.
De acordo com os pontos de corte para anemia propostos pela OMS,
4,5% (n=7) da população idosa foi diagnosticada como anêmica, dos
quais apenas um idoso (0,6%) teve a anemia caracterizada como
ferropriva. Ainda, três idosos (2,3%) foram diagnosticados com deficiência
de ferro. Foi encontrada associação entre menores níveis de hemoglobina
(Hb) e baixa freqüência de consumo de frango e alimentos enriquecidos
com ferro. O sexo feminino esteve significantemente associado a
menores níveis de hemoglobina. Idosos com menores níveis de Hb
apresentaram menores medianas de peso, estatura e RCQ; bem como
maiores medianas de número de doenças crônicas e número de
medicamentos consumidos por dia.
PALAVRAS-CHAVE: Anemia, Idosos, condições sociais, estado
nutricional
129
8.3.2- Introdução
O aumento da população idosa no Brasil e no mundo traz consigo
a emergência de problemas de saúde específicos desta fase da vida, bem
como o aumento da prevalência de deficiências nutricionais neste grupo
(RONCADA et al., 1985; WOODMAN et al.; 2005).
A perda de mobilidade, dentição e alterações no paladar podem
levar ao decréscimo da ingestão energética diária. Além disso, alterações
fisiológicas no processo de digestão e metabolismo, alcoolismo, interação
com medicamentos freqüentemente consumidos pelos idosos, os tornam
mais propensos à deficiência de nutrientes, em particular vitaminas e
minerais (VIR e LOVE, 1977; GARRY et al., 1982; VANNUCCI et al.,
1994; HUANG et al., 2001).
Balducci et al. (2005) afirmam que a identificação de fatores de
risco associados a maior morbimortalidade é imprescindível para a
efetividade de programas de saúde direcionados à população idosa.
A anemia, definida pela Organização Mundial de Saúde (WORLD
HEALTH ORGANIZATION, 2001) como a redução patológica da
concentração de hemoglobina circulante, desencadeada por mecanismos
fisiopatológicos diversos, é uma doença cada vez mais comum entre
indivíduos idosos (LIPSCHITZ, 2003).
Alterações decorrentes do processo de envelhecimento
(fisiológicas ou patológicas) tais como perda de dentição, ingestão
alimentar inadequada e diminuição na produção de eritropoietina, levam à
diminuição dos níveis de hemoglobina com o aumento da idade (ESHLER
et al., 2005). A anemia é considerada um problema de saúde entre idosos
(EISENSTAEDT et al., 2006), de forma que sua prevalência aumenta
após os 60 anos e se torna ainda maior entre idosos com mais de 80
anos (ANIA et al., 1994; LIPSCHITZ et al., 2003; BALDUCCI, 2003;
GURALNIK et al., 2004).
A anemia em idosos pode se dar por diferentes causas, sendo a
grande maioria passível de diagnóstico (GURALNIK et al., 2004;
BALDUCCI et al., 2005). Segundo Balducci et al. (2005), estas causas
130
são divididas em três grupos: anemia ferropriva, anemia por doenças
crônicas e anemia sem causas explicáveis.
Independentemente da causa, tem sido demonstrada a relação
inversa entre níveis de hemoglobina e taxas de hospitalização em idosos
de ambos os sexos (BEGHÉ et al., 2004), reafirmando a magnitude desta
doença e seu impacto negativo na saúde deste grupo populacional.
As prevalências de anemia entre idosos variam significativamente,
dependo do ponto de corte utilizado para seu diagnóstico, características
da população e tipo de anemia estudado. Beghé et al. (2004) em sua
revisão sobre os estudos realizados sobre a anemia entre idosos,
encontraram amplas variações de prevalências, variando de 2,9% a
61,0% entre idosos do sexo masculino e de 3,3% a 41,0% entre o
feminino.
Desta forma, e levando em consideração que prevalências de
anemia acima de 5,0% numa dada população são consideradas problema
de saúde pública (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001), fica clara a
magnitude desta doença na população idosa.
A anemia é fator de risco em idosos para diferentes complicações
de saúde como insuficiência cerebrovascular e coronária, dependência
funcional e déficit cognitivo, quedas e fraturas ósseas, complicações
iatrogênicas, hospitalização e até mesmo a morte (GURALNIK et al.,
2004; CULLETON et a.; 2006; EISENSTAEDT et al., 2006), apesar da
conhecida dificuldade de se isolar a anemia de outros fatores que
acompanham o envelhecimento e que também podem estar relacionados
a tais disfunções.
A anemia também pode ser um fator de risco para doença de
Alzheimer e outros sintomas neurológicos (KATZ et al., 1993; BEARD et
al., 1997). Sua ocorrência afeta diretamente a qualidade de vida, em
conseqüência da fadiga, dispnéia e dificuldade em desenvolver atividades
diárias, sintomas comuns desta doença (CELLA, 1997).
Baixos níveis de hemoglobina, mesmo entre idosos não anêmicos,
têm sido relacionados a déficits de concentração e força muscular, baixo
desempenho físico, dependência funcional e aumento da mortalidade por
131
outras doenças (BLE et al., 2005; WOODMAN et al., 2005; MARALDI et
al., 2006; EISENSTAEDT et al., 2006).
Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a
prevalência de anemia e os fatores associados ao nível de hemoglobina
em idosos cadastrados em equipes do Programa de Saúde da Família
(PSF), do município de Viçosa, Minas Gerais.
8.3.3- Metodologia
8.3.3.1- Desenho do estudo e casuística
Trata-se de um estudo epidemiológico, transversal, de cunho
exploratório com abordagem quantitativa.
O tamanho amostral foi calculado com base numa freqüência de
anemia de 10% (BARBOSA et al., 2006), com margem aceitável na
variabilidade desta freqüência de 5% e com intervalo de confiança de
95%. Estimou-se uma amostra mínima de 135 idosos. Visando prevenir
possíveis perdas amostrais que pudessem prejudicar a força estatística
dos resultados, foi adicionado um percentual de 15% sobre a amostra
calculada (BARBOSA et al., 2006). O uso de sais de ferro até 30 dias
antes da avaliação foi adotado como critério de exclusão dos idosos no
presente trabalho (BARBOSA et al., 2006).
Desta forma, foram envolvidos no estudo, 155 idosos (idade igual
ou superior a 60 anos), residentes no Município de Viçosa, Minas Gerais,
cadastrados no PSF do município, totalizando 4,3% da população idosa
cadastrada.
Dentre as treze equipes de PSF atualmente no município, cinco
foram selecionadas para a realização do estudo, de acordo com a
localização geográfica das mesmas, disponibilidade para participar do
estudo e tamanho amostral. As mesmas estão situadas em diferentes
bairros da zona urbana do município, conforme demonstrado no Quadro
1.
132
Os idosos foram selecionados de forma randomizada entre todos
os cadastrados em cada equipe. Os mesmos foram convidados a
participar do estudo por agentes comunitários de saúde de cada equipe
uma semana antes da realização das entrevistas nas Unidades de Saúde
da Família. O convite foi feito por meio de folheto informativo, entregue
em seus domicílios.
A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e maio
de 2007, em mutirões de avaliação nutricional de idosos, realizados nas
equipes de PSF selecionadas para participar do estudo, no período da
manhã. Este período foi escolhido em virtude da necessidade de jejum
para a avaliação bioquímica.
Quadro 1: Equipes de Saúde da Família participantes do estudo e
sua contribuição percentual na amostra final, município
de Viçosa – MG (2007)
Número de Idosos
Localização
(bairro) da Equipe
de PSF
Cadastrados Avaliados
Percentual de
participação na
amostragem
Amoras 255 22 14,2
Nova Viçosa/Posses 373 33 21,3
Nova Era 357 36 23,2
São Sebastião 333 36 23,2
Silvestre 238 28 18,1
Outros Bairros 2074 - -
TOTAL
3.630 155 100
Os princípios éticos foram respeitados conforme as orientações da
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 1996), sendo esta pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa – MG.
133
Os idosos foram informados acerca dos objetivos e metodologias do
estudo e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.
Os idosos diagnosticados com anemia ou deficiência de ferro foram
encaminhados para tratamento na equipe de saúde da família na qual o
idoso estava adstrito.
8.3.3.2- Avaliação socioeconômica e das condições de saúde
Foi aplicado um questionário para caracterização socioeconômica
e condições de saúde da amostra populacional, contendo questões sobre
renda, escolaridade, habitação, atividade física, alimentação, morbidades
e uso de medicamentos (Anexo 2). O questionário foi construído a partir
de um estudo realizado previamente com idosos de um município vizinho
ao do presente estudo (PERREIRA, 2005).
8.3.3.3- Avaliação antropométrica e composição corporal
O peso foi aferido com balança eletrônica digital (capacidade de
150 kg e precisão de 50g). A estatura foi obtida utilizando-se estadiômetro
com capacidade de 2 metros, dividido em centímetros e subdividido em
milímetros. As circunferências da cintura (CC) e do quadril (CQ) foram
aferidas utilizando-se fita métrica flexível e inelástica. As medidas
antropométricas foram aferidas por um único avaliador e seguindo as
técnicas propostas pela OMS (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998).
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado a partir das
medidas de peso e estatura, representando a relação kg/m
2
.
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1995). O ponto de corte
utilizado para a classificação dos idosos foi o proposto por Lipschitz
(1994) (Quadro 2).
134
Quadro 2: Pontos de Corte para classificação do Índice de Massa
Corporal (IMC) em idosos.
Valores de IMC (kg/m
2
) Classificação
< 22 Baixo Peso
22 a 27 Eutrofia
>27 Sobrepeso
Fonte: Lipschitz, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary Care,
21(1):55-67, 1994.
A Razão Cintura/ Quadril (RCQ) e CC foram avaliadas e
classificados pelos pontos de corte propostos pela Organização Mundial
de Saúde (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998) para predizer o
risco de doenças cardiovasculares e complicações metabólicas
associadas à obesidade (Quadro 3).
Quadro 3: Pontos de Corte para classificação da Circunferência da
Cintura (CC) e Razão Cintura/Quadril em idosos.
Pontos de Corte
Circunferência da Cintura Razão Cintura/Quadril
Classificação
Masculino Feminino Masculino Feminino
Risco > 94 cm > 80 cm >1,0 > 0,85
Risco
aumentado
> 102 cm > 88 cm - -
Fonte: World Health Organization. Phisical Status: The Use and Interpretation of
Anthropometry: reporty of a WHO committee. Geneva: WHO, 1998.
8.3.3.4- Avaliação dietética
A avaliação dos hábitos alimentares foi realizada com auxílio de um
questionário de freqüência de consumo alimentar (QFCA) seletivo para os
alimentos fontes de ferro e vitamina C (vitamina facilitadora da absorção
do ferro) (Anexo 3), a partir do qual se pôde verificar a freqüência de
135
consumo destes alimentos e avaliar a relação entre o estado nutricional
de ferro entre idosos e seus hábitos alimentares.
Os alimentos constituintes do questionário foram selecionados com
base em estudos prévios realizados nesta comunidade, de forma a
abranger alimentos que fazem parte do hábito e da cultura alimentar
desta população (ABREU, 2003).
Para efeitos de comparação, o consumo de cada alimento
abordado no questionário foi considerado freqüente quando ingerido entre
5 e 7 dias por semana, ocasional quando ingerido de 1 a 4 vezes e raro
quando ingerido menos de uma vez por semana.
8.3.3.5- Avaliação Bioquímica
Os idosos foram orientados a fazer jejum de 8 horas na noite
anterior à coleta de sangue. Coletou-se 8 mL de sangue venoso de cada
idoso, por técnico treinado. As amostras de sangue foram encaminhadas
para as análises bioquímicas no Laboratório de Análises Clínicas da
Divisão de Saúde da Universidade Federal de Viçosa - MG.
Avaliaram-se os índices: hemoglobina (Hb), hematócrito (Htc),
Volume Corpuscular Médio (VCM), Hemoglobina Corpuscular Média
(HCM), Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), e
ferritina sérica. Foi realizada a avaliação do ferro sérico em 83
participantes, como controle dos resultados de ferritina sérica, devido à
sensibilidade desta variável a alterações por quadro inflamatório, algumas
doenças crônicas, e alguns tipos de câncer, muito comuns entre idosos
(LEE & JACOBS Jr., 2004).
A concentração de hemoglobina, o VCM e o hematócrito foram
determinados pelo método de contagem eletrônica, por meio do Contador
Eletrônico Hematológico, (Coulter, T- 890). Na dosagem de ferritina sérica
e ferro sérico, utilizou-se o método Turbidimetria, por meio de
Turbidômetro (Cobas Mira Plus).
136
A Classificação do estado nutricional de ferro foi feita com base
nos pontos de corte propostos pela Organização Mundial de Saúde
(2001) (Quadro 4).
Quadro 4: Pontos de corte para classificação do estado nutricional
de ferro.
Pontos de Corte Parâmetro
Masculino Feminino
Hemoglobina (g/dL) <13,0 <12,0
Hematócrito (%) 39 36
VCM (μ
3
/célula)
<80 <80
Ferritina Sérica (μg/L)
<15 <15
Fonte: World Health Organization. Iron Deficiency Anaemia. Assessment, Prevention,
and Control. Geneva, Swuitzerland, 114 p., 2001.
A deficiência de ferro foi diagnosticada por meio de valores de
ferritina abaixo dos valores de normalidade. A anemia foi caracterizada
por valores de hemoglobina abaixo dos pontos de corte propostos
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2001). A anemia ferropriva, por sua
vez, foi diagnosticada quando níveis de hemoglobina juntamente com
valores de VCM e/ou ferritina encontravam-se abaixo do normal
(JOHNSON, 1990; SMITH, 2000; BALDUCCI et al., 2005).
A Proteína C Reativa (PCR) foi utilizada como controle de casos de
infecções, os quais são responsáveis pelo aumento da concentração
sérica de ferritina. Valores positivos foram considerados indicativos de
resposta de fase aguda. As análises foram realizadas utilizando o método
qualitativo de aglutinação em látex (FERREIRA e ÁVILA, 1996).
137
8.3.3.6- Análise dos dados
Os idosos foram agrupados por sexo feminino (n=89) e masculino
(n=57), faixa etária: 60 a 64 anos (n=39), 65 a 69 anos (n=35), 70 a 74
anos (n=27), 75 a 79 anos (n=30), e 80 anos ou mais de idade (n=15)
(INSTITUO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2000), e
tercis de nível de hemoglobina: tercil 1-Hb< 13,6 g/ dL (n=50); tercil 2-Hb
entre 13,6 e 14,7 g/dL (n=49) e tercil 3-Hb 14,7 g/dL (n=56).
A confecção do banco de dados e análise estatística dos
resultados foi realizada com o auxílio dos softwares Epi info versão 6.04 e
Sigma Stat versão 2.0. Os dados foram trabalhados em relação à média e
desvio-padrão, mediana e valores mínimos e máximos, visto que algumas
variáveis não apresentaram distribuição normal.
Para análises envolvendo a variável ferritina sérica, dados de
idosos com resultados positivos de PCR foram excluídos.
Para as variáveis com distribuição normal, foi utilizado o teste de
análise de variância (ANOVA) complementado com o procedimento de
comparações múltiplas de Tukey, para comparar os resultados entre as
faixas etárias e tercis de nível de hemoglobina. Foi utilizado o teste t de
student para comparar os resultados entre os sexos e entre anêmicos e
não anêmicos.
Para aquelas variáveis sem distribuição normal, foram utilizados o
teste de Kruskal-Wallis complementado com o teste de Dunn’s, ou Mann-
Whitney respectivamente. O teste do qui-quadrado foi usado para verificar
associação entre variáveis categóricas. O nível de significância utilizado
foi menor que 5% (p<0,05).
8.3.4- Resultados e discussão
Dos 155 idosos avaliados, nove (5,8%) tiveram seus dados
pessoais e questionários socioeconômicos excluídos da análise, devido à
imprecisão nas respostas, sendo mantida somente a avaliação bioquímica
138
dos mesmos. Com relação à avaliação antropométrica, 12 (7,7%) idosos
não a fizeram por motivos que pudessem comprometer a mensuração,
tais como o uso de vestimenta inadequada e/ou dificuldades de
manutenção da postura ereta durante a aferição.
Vinte e dois (14,2%) idosos apresentaram resultado de PCR
positivo, sendo seus resultados para ferritina sérica excluídos das
análises para esta variável.
A Tabela 1 demonstra a caracterização etária e por sexo dos
idosos participantes. A amostra avaliada constituiu-se predominantemente
de mulheres (61,1%) (x
2
=17,66; p<0,001). A faixa etária predominante foi
a mais jovem, entre 60 e 64 anos. Os homens apresentaram média de
idade igual a 70,2±7,02 anos (mediana 70, mínino 60 e máximo 83 anos),
e as mulheres 70,5±6,81 anos (mediana 69, mínino 60 e máximo 85
anos). Não houve diferença significante entre a mediana de idade para os
sexos (p=0,75).
Tabela 1: Sexo e Faixa Etária dos Idosos Avaliados, município de
Viçosa, Minas Gerais (2007).
MASCULINO FEMININO TOTAL
FAIXA ETÁRIA
n %* n %* n %**
TOTAL
57 100 89 100 146 100
60 a 64 anos 18 31,6 21 23,6 39 26,7
65 a 69 anos 10 17,5 25 28,1 35 24,0
70 a 74 anos 11 19,3 16 18,0 27 18,5
75 a 79 anos 12 21,1 18 20,2 30 20,5
80 ou mais anos 6 10,5 9 10,1 15 10,3
* Porcentagem calculada sobre o total de idosos de cada sexo. **Porcentagem calculada
sobre o total de idosos avaliados.
A Tabela 2 descreve a caracterização hematimétrica e do estado
nutricional de ferro dos idosos avaliados.
139
Tabela 2: Perfil hematimétrico e nível de ferritina sérica em idosos, município de Viçosa – MG (2007).
HEMOGLOBINA (g/dL) HEMATÓCRITO (%)
VCM
(μ
3
/célula)
VARIÁVEIS
GÊNERO
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Total
14,81 ± 1,38 14,9 (11,4-17,7) * 43,75 ± 3,81 43,8 (34,6-51,4) * 89,76 ± 6,28 90,2 (66,4-106,3)
60-64 anos
15,11 ± 1,25 15,25 (12,3-17,3) 44,29 ± 3,38 44,8 (36,5-50,8) 91,21 ± 4,37 91,7 (84,2-100,6)
65-69 anos
15,24 ± 1,14 15,1 (13,7-17,7) 42,09 ± 3,27 43,4 (38,8-51,4) 89,59 ± 4,94 88,8 (83,2-101,7)
70-74 anos 13,97 ± 1,53 14,1 (11,4-16,5) 41,98 ± 4,77 43,0 (34,6-47,8) 86,56 ± 10,67 87,6 (66,4-106,3)
75-79 anos 14,51 ± 1,43 14,2 (12,3-17,1) 43,51 ± 4,28 43,2 (37,2-50,2) 89,73 ± 5,68 91,0 (74,6-95,1)
MASCULINO
80 anos + 15,35 ± 1,58 15,15 (13,7-17,6) 45,23 ± 3,68 45,7 (40,5-49,0) 91,33 ± 3,98 93,1 (84,2-94,8)
Total
13,81 ± 1,16 13,8 (10,1-16,1) * 41,27 ± 3,73 40,8 (31,8-56,9) * 89,29 ± 5,32 90,1 (69,3-98,5)
60-64 anos 13,97 ± 1,09 14,2 (12,4-16,1) 41,20 ± 3,16 40,8 (36,7-47,6) 89,73 ± 3,20 89,8 (83,2-94,8)
65-69 anos 13,68 ± 1,21 13,7 (10,3-16,0) 41,36 ± 4,62 40,7 (31,8-56,9) 88,08 ± 6,02 87,9 (75,6-98,5)
70-74 anos 13,97 ± 0,98 13,95 (12,4-15,4) 40,96 ± 2,89 40,9 (36,0-46,4) 90,2 ± 3,82 89,95 (85,3-97,7)
75-79 anos 13,42 ± 1,33 13,5 (10,1-15,4) 40,46 ± 3,68 40,6 (33,1-46,9) 90,34 ± 6,14 91,6 (73,4-98,1)
FEMININO
80 anos + 14,39 ± 1,13 14,6 (12,3-16,0) 43,81 ± 3,56 44,8 (38,3-48,4) 88,34 ± 8,63 90,9 (69,3-96,6)
HCM (pg) CHCM (g/dL)
FERRITINA SÉRICA
(μg/L)
VARIÁVEIS
GÊNERO
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Total
30,41 ± 2,39 30,8 (20,4-36,1) 33,8 ± 1,40 34,0 (30,2-36,0) 72,56 ± 53,99 57,0 (8,0-225,6)
60-64 anos 31,13 ± 1,86 30,3 (28,8-36,1) 34,13 ± 1,2 33,95 (31,9-36,0) 76,05 ±70,39 51,0 (8,0-225,6)
65-69 anos 30,95 ± 1,55 31,1 (27,6-33,8) 34,56 ± 1,16 34,9 (32,1-35,8) 63,99 ± 41,05 51,5 (20,0 -149,0)
70-74 anos 28,9 ± 3,87 29,0 (20,4-34,3) 33,36 ± 1,9 33,6 (30,2-36,0) 69,85 ± 31,78 66,2 (31,5-113,0)
75-79 anos 29,93 ± 2,11 30,1 (25,1-32,9) 33,38 ± 1,39 33,65 (30,9-35,2) 64,72 ± 49,44 42,6 (27,2-188,2)
MASCULINO
80 anos + 30,97 ± 1,23 30,95 (28,8-32,3) 33,92 ± 1,22 33,75 (32,6-35,9) 103,4 ± 82,49 101,2 (18-224,3)
Total 29,94 ± 2,56 30,2 (21,0-38,8) 33,49 ± 1,73 33,7 (25,3-40,1) 80,15 ± 53,19 68,3 (5,0-283,0)
60-64 anos 30,43 ± 1,60 30,4 (27,6-34,0) 33,92 ± 1,30 34,0 (31,6-36,3) 86,03 ± 50,24
66,7 (15,0-188,2)
b
65-69 anos 29,29 ± 3,35 29,0 (22,9-38,8) 33,18 ± 2,49 33,2 (25,3-40,1) 72,02 ± 41,81
65,7 (32,0-213,1)
c
70-74 anos 30,81 ± 1,60 31,2 (27,7-33,8) 34,16 ± 1,10 34,45 (32,4-35,7) 55,07 ± 33,99
47,25 (5,0-123,2)
d
75-79 anos 30,02 ± 2,67 30,7 (22,5-33,2) 33,19 ± 1,65 33,7 (30,4-36,2) 70,8 ± 44,39
59,8 (27,0-182,1)
c
FEMININO
80 anos + 29,08 ± 3,52 29,7 (21,0-33,2) 32,82 ± 1,38 33,0 (30,3-34,8) 141,4 ± 83,46
98,1 (58,9-224,3)
a
* Mann-Whitney (p<0,0001);
abcd
Kruskall-Wallis complementado com Dunn’s (p<0,005 ). VCM= Volume Corpuscular médio, HCM Hemoglobina
Corpuscular Média, CHCM= Concentração de Hemoglobina Corpuscular média, Me= mediana, mín= valor mínimo, máx= valor máximo, DP= desvio-
padrão.
Letras diferentes na mesma coluna indicam diferença estatisticamente significante. O símbolo (*) indica diferença entre os sexos.
140
Idosos do sexo masculino apresentaram valores de Hb e Htc
significantemente maiores do que o sexo feminino (p<0,0001). Os valores
medianos de CHCM também foram maiores para o sexo masculino, com
a diferença tendendo a significância (p=0,09). Estes achados estão em
concordância com os maiores pontos de corte preconizados para
homens, tendo justificativas fisiológicas.
Yip et al. (1984) avaliando os resultados hematológicos
provenientes do Second National Health and Nutrition Examination Survey
(NHANES II) encontraram maiores valores de Hb, Htc, VCM e CHCM em
homens adultos e idosos. Os autores justificaram este achado pelo fato
de indivíduos do sexo masculino possuírem um maior número de
hemácias e maior quantidade de massa muscular, em comparação ao
sexo feminino.
Apesar de não ser significante, é relevante o fato de idosos
longevos (80 anos ou mais de idade) terem apresentado maiores
medianas de hemoglobina e hematócrito, para ambos os sexos.
Contrariamente, estudos têm demonstrado que os níveis de
hemoglobina tendem a diminuir com o aumento da idade entre idosos,
sendo a prevalência de anemia maior entre os longevos (CANGERANA et
al.; 1993; BEGHÉ et al., 2004; BLE et al., 2005; CHOI et al., 2005). A
idade pode estar associada com reservas hematopoiéticas reduzidas e,
conseqüentemente, com o aumento da susceptibilidade ao
desenvolvimento de anemia devido ao estresse hematopoiético induzido
por doenças (BALDUCCI et al., 2005).
Em indivíduos saudáveis, os níveis de eritropoietina se elevam com
o envelhecimento, na tentativa de manter os níveis de hemoglobina
adequados (ESHLER et al. 2005). A prevalência de problemas renais
neste estudo foi de apenas 2,1% (n=3), indicando que a produção
adequada de eritropoietina na amostra avaliada seja talvez um
mecanismo adaptativo, responsável por este resultado.
Os idosos longevos apresentaram maiores valores de ferritina
sérica (127,8 ± 82,08/ 99,65 (18,0-283,0), enquanto os com idade entre 70
141
e 74 anos apresentaram os menores (60,45 ± 33,24/ 52,95 (5,0-123,2),
não sendo esta diferença significante. Para o sexo feminino, a diferença
entre faixas etárias para este indicador foi significante (p<0,005) (tabela
2), sendo maior também entre a maior faixa etária.
Chama-se atenção para a grande variação (valores mínimos e
máximos) de ferritina sérica entre os idosos (tabela 2), mesmo após a
exclusão dos dados de idosos com resultado positivo de PCR. Suspeita-
se que possam existir outros fatores (não detectados através do exame
de PCR) que alterem os níveis de ferritina e tenham sido responsáveis
por esta amplitude de variação nos valores de ferritina nesta amostra
populacional, tais como o fumo, álcool, e medicamentos usados pelos
idosos.
Os hábitos de vida observados neste grupo também podem
explicar os maiores níveis de Hb e ferritina sérica entre os idosos
longevos. Apesar de não significante, idosos com consumo freqüente de
alimentos fonte de ferro (carnes, leguminosas, melaço e garapa de cana
de açúcar) apresentaram maiores medianas de idade, em relação àqueles
com consumo ocasional e raro destes alimentos.
Além disso, ressalta-se o fato dos idosos avaliados estarem
adstritos numa estratégia de atenção voltada para a prevenção de
agravos e enfermidades e promoção da saúde. Atividades desenvolvidas
pelas equipes de saúde da família podem ser responsáveis por este
achado, tais como ações de educação nutricional e acompanhamento dos
idosos com doenças crônicas e em uso diário e regular de medicamentos,
problemas que poderiam afetar negativamente o nível de hemoglobina
e/ou o estado nutricional de ferro deste grupo. Também é plausível
considerar que, mesmo adotando como critério de inclusão o não uso de
sais de ferro até 30 dias antes do exame bioquímico, alguns idosos, em
acompanhamento médico constante pela equipe de saúde da família,
poderiam ter realizado tratamento com suplementos vitamínicos e/ou
minerais alguns meses antes, o que os deixariam com o estado
nutricional de ferro temporariamente adequado.
142
Os valores de ferro sérico variaram significantemente entre os
sexos (p<0,05), sendo que a mediana para o sexo masculino (96,0 ±
26,36/ 92,5 (57,0-150,0) foi maior em relação ao feminino (81,4 ± 20,1/ 77
(45,0-132,0).
De acordo com os pontos de corte propostos pela OMS (2001),
4,5% (n=7) da amostra estudada foi diagnosticada como anêmica, dos
quais apenas um idoso (0,6%) teve a anemia caracterizada como
ferropriva. Ainda, três idosos (2,3%) foram diagnosticados com deficiência
de ferro. Entre os anêmicos, 5 (71,4%) eram do sexo masculino e entre os
com deficiência de ferro, 2 (66,6%) eram do sexo feminino. Apesar disso,
não houve associação entre anemia e o sexo do idoso (x
2
=3,94, p=0,26).
Barbosa e colaboradores (2006) avaliaram 284 idosos cadastrados
no PSF de Camaragibe - PE, e encontraram maiores prevalências de
anemia em relação à Viçosa - MG. Entre o sexo masculino 7 (10,9%)
estavam anêmicos enquanto para o sexo feminino a prevalência foi de
12,6% (n=18). A prevalência total de anemia neste grupo foi de 8,8%.
Dados de 1.008 idosos participantes do InCHIANTI study (estudo
prospectivo de base populacional realizado na Itália) apresentaram
menores médias de Hb em ambos os sexos, em relação as aqui
encontrada. A prevalência de anemia foi maior para os idosos italianos,
11,3% no total, sendo 11,1% entre o sexo masculino e 11,5% entre o
feminino (PHENNINX et al.; 2004).
Entre 5.797 idosos participantes do Cardiovascular Health Study
(CHS) nos Estados Unidos, observaram-se menores níveis de Hb para
ambos os sexos, em comparação as médias do presente trabalho. Da
mesma forma, idosos do sexo masculino obtiveram níveis de Hb
significantemente maiores em relação ao sexo feminino. A prevalência de
anemia na coorte de idosos americanos foi de 8,5% (ZAKAI et al; 2005).
Choi et al. (2005) fizeram um estudo longitudinal com 332 idosos
na Coréia, avaliando a evolução das condições de saúde, estado
nutricional e anemia durante três anos. Durante este período, a incidência
de anemia foi de 7,2%, dos quais 20,8% (n=5) foram diagnosticados com
143
anemia ferropriva, 33,3% (n=8) com anemia por doenças crônicas e o
restante (45,9%, n=11) anemia sem causas explicáveis.
Em estudo de avaliação nutricional com 105 idosos de Taiwan
observou-se uma prevalência de anemia de 8,6% (6,5% dos homens e
10,2% das mulheres). A deficiência de ferro avaliada através dos níveis
de ferritina ( 10μg/L) foi encontrada em 25,7% dos idosos, sendo 10 do
sexo masculino (21,7%) e 17 do feminino (28,8%) (HUANG et al., 2001).
A prevalência de anemia entre idosos institucionalizados é ainda
mais elevada. A avaliação de 900 idosos vivendo em instituições asilares
nos Estados Unidos demonstrou que a anemia estava presente em
aproximadamente 50% destes (ARTZ et al., 2004).
A OMS (2001) considera que, numa população saudável, é
esperada uma prevalência de até 2,5% de anemia. Ainda, determina que
esta seja considerada um problema de saúde pública quando sua
prevalência atinja 5,0% ou mais da população.
Sendo assim, pode-se considerar que a prevalência de anemia
encontrada entre os idosos no presente estudo está adequada, sendo
mais baixa que o limiar proposto pela OMS, assim como do que as
encontradas em outros estudos, alguns dos quais desenvolvidos em
países desenvolvidos, onde as condições socioeconômicas e de atenção
à saúde julga-se serem melhores do que as aqui encontradas. Destaca-se
ainda o melhor estado nutricional de ferro da presente população, visto
que a prevalência de deficiência de ferro aqui encontrada foi mais baixa
entre todos os outros estudos, mesmo aqueles que adotaram pontos de
corte mais específicos para avaliação dos níveis séricos de ferritina.
A variabilidade nas prevalências de anemia entre o presente e
demais estudos podem ser devidas à heterogeneidade das populações
estudadas. Segundo Eisenstaedt e colaboradores (2006), variáveis como
raça, características ambientais e estado de saúde podem influenciar
diretamente a prevalência de anemia numa determinada população.
Como já discutido anteriormente, os idosos aqui avaliados estão inseridos
em um programa de atenção primária à saúde, sendo acompanhados de
144
maneira constante em relação suas condições de saúde. Ainda, tais
idosos, assim como grande parte da população brasileira, apresentam
uma grande miscigenação de raças, com descendência africana,
indígena, portuguesa, entre outras.
A baixa prevalência de anemia ferropriva encontrada neste estudo
pode ter origem metodológica. A avaliação dos níveis de ferritina sérica é
considerada um método efetivo de diagnóstico do estado nutricional de
ferro, sendo recomendado pela OMS (2001) e por outros autores (SMITH,
2000, BALDUCCI, 2003). No entanto, tem sido demonstrada uma fraca
correlação entre ingestão de ferro e níveis de ferritina sérica em idosos
(MILMAN et al., 2004), de forma que a anemia ferropriva neste grupo
populacional é muitas vezes resultante de sangramento gastrintestinal por
esofagite, gastrite, úlcera, câncer de cólon, entre outras doenças (SMITH,
2000; BEGHÉ et al., 2004).
Uma prática comum para avaliar se a anemia é decorrente da
deficiência de ferro, sendo sugerida pela OMS (2001), é a avaliação da
resposta nos níveis de hemoglobina e hematócrito à suplementação com
ferro. Um aumento de 1 g/dL na hemoglobina ou 3% no hematócrito
confirma anemia ferropriva.
O mesmo pode ser dito sobre a baixa prevalência de deficiência
de ferro neste grupo. Embora valores de ferritina abaixo de 12-15 μg/L
sejam considerados pontos de corte para o diagnóstico de deficiência de
ferro e níveis acima de 100 μg/L seja considerados adequados, valores
intermediários (entre 15 e 99 μg/L) deixam dúvidas sobre o estado
nutricional de ferro (WOODMAN et al., 2005).
A ampla variação de ferritina encontrada neste grupo pode, ainda,
ser um indicativo de que os 6 casos de anemia (excluindo o caso de
anemia ferropriva) sejam provavelmente por doenças crônicas. Baillie et
al. (2003) encontraram maiores variações de ferritina sérica entre
indivíduos com anemia por doenças crônicas (mediana 324, mínimo 26 e
máximo 1500) e artrite reumatóide em conjunto com este tipo de anemia
145
(mediana 187, mínimo 20 e máximo 1393), em comparação aos
indivíduos sem anemia e aqueles com anemia ferropriva.
8.3.4.1 – Fatores associados ao nível de hemoglobina
Devido à baixa prevalência de anemia encontrada na amostra
estudada, a qual impossibilitou comparação estatística entre anêmicos e
não anêmicos, os fatores associados ao nível de hemoglobina entre
idosos foram verificados através da comparação entre os tercis de
hemoglobina neste grupo, de forma a verificar sua associação com o
consumo alimentar, fatores socioeconômicos, de saúde e estado
nutricional.
Na tabela 3 estão descritas as comparações entre os tercis de
hemoglobina da amostra populacional, em relação aos outros índices
hematimétricos e à ferritina sérica.
Como esperado, a maioria dos índices hematimétricos aumentaram
concomitantemente aos níveis de hemoglobina. Entre eles, as medianas
de hematócrito e as médias de HCM e CHCM foram significantemente
maiores entre idosos no tercil 3 de Hb em relação àqueles no tercil 1.
Não foram verificadas diferenças significantes nos níveis de
ferritina sérica entre os tercis de Hb. Este achado pode ter ocorrido pela
ampla freqüência de doenças crônicas relatada pelo grupo estudado,
indicando que o nível de hemoglobina neste grupo é mais influenciado por
outros fatores que não a deficiência de ferro.
As comparações entre os tercis de nível de hemoglobina em
relação ao consumo alimentar de alimentos fonte de ferro e facilitadores
de absorção estão descritas na tabela 4.
146
Tabela 3: Comparação dos índices hematimétricos e níveis de ferritina sérica entre tercis de hemoglobina de idosos,
município de Viçosa – MG (2007).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
TERCIL 1 TERCIL 2 TERCIL 3
VARIÁVEIS
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Hematócrito (%)
38,37 ± 2,37 38,3 (31,8-43,6)
c
42,27 ± 3,04 41,8 (35,2-56,9)
b
45,66 ± 2,16 45,2 (42,3-51,4)
a
VCM
88,25 ± 6,04 89,4 (69,3-98,5) 89,85 ± 5,69 90,2 (66,4-106,3) 90,25 ± 5,26 90,9 (74,6-101,7)
HCM
29,36 ± 2,64
y
30,0 (21,0-33,2) 30,15 ± 2,69
xy
30,2 (20,4-38,8) 30,78 ± 1,99
x
30,95 (25,1-36,1)
CHCM
33,24 ± 1,46
y
33,3 (30,3-36,2) 33,52 ± 2,05
xy
33,7 (25,3-40,1) 34,12 ± 1,17
x
33,95 (32,0-36,3)
Ferritina Sérica
82,81 ± 73,75 67,8 (5,0-471,6) 83,27 ± 60,02 59,8 (8,0-271,2) 77,38 ± 56,33 60,75 (18,0-283,0)
a/b/c
Kruskal-Wallis complementado com Dunn’s,
x/y
ANOVA complementado com Tukey
a/b/c
p<0,001
x/y
p<0,05.
147
Tabela 4: Associação entre a freqüência de consumo de alimentos fonte de ferro e facilitadores da absorção e o nível de
hemoglobina entre idosos, município de Viçosa – MG (2007).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
TERCIL 1 TERCIL 2 TERCIL 3
FR OC RA FR OC RA FR OC RA
ALIMENTOS
% % % % % % % % %
x
2
/ p
Vegetais 43,5 45,7 10,8 63 32,6 4,4 52 42 6 X
2
= 4,23/ p= 0,376
Frutas cítricas 39,1 34,8 26,1 51,1 37,8 11,1 38 38 24 X
2
= 4,15/ p= 0,38
Carnes 30,4 52,2 17,4 38,3 51,1 10,6 35,3 56,9 7,8 X
2
= 2,54/ p= 0,636
Frango 15,2 76,1 8,7 40,5 57,4 2,1 25,5 58,8 15,7 X
2
= 12,1/ p= 0,01*
Vísceras 2,1 19,6 78,3 2,1 21,3 76,6 1,9 15,7 82,4 X
2
= 0,55/ p= 0,968
Peixes 2,1 19,6 78,3 - 21,3 78,7 1,9 15,7 82,4 X
2
= 1,47/ p= 0,83
Ovo 2,1 45,7 52,2 - 31,9 68,1 3,9 49 47,1 X
2
= 5,76/ p= 0,218
Leguminosas 84,8 13,04 2,2 100 - - 92,2 5,9 1,9 X
2
= 7,91/ p= 0,09
Alimentos enriquecidos c/ Ferro 6,5 30,4 63,1 2,2 23,9 73,9 9,8 7,8 82,4 X
2
= 10,0/ p= 0,04**
Grãos integrais 13 6,5 80,5 6,5 10,6 82,9 3,9 5,9 11,8 X
2
= 3,91/ p= 0,418
Melaço/rapadura/ açúcar mascavo 4,3 4,3 91,3 8,5 17 74,5 7,8 5,9 86,3 X
2
= 6,51/ p= 0,164
FR= consumo freqüente (5 a 7 dias/semana), OC= consumo ocasional (1 a 4 dias/semana), RA= consumo raro (menos de um dia/semana). * tercil 1 < tercil 2;
** tercil 1= tercil 2< tercil 3.
148
A baixa freqüência de consumo de frango foi significantemente
associada aos menores níveis de Hb (tercil 1< tercil 2). No entanto, a
freqüência de consumo de carne vermelha não foi associada aos níveis
de Hb dos idosos. O baixo consumo de alimentos enriquecidos com ferro
esteve estatisticamente associado aos menores níveis de hemoglobina
(tercil 1 e tercil 2< tercil 3). O menor consumo de leguminosas tendeu à
associação com menores níveis de hemoglobina na população estudada.
Muitas vezes, os alimentos naturalmente fonte de ferro, como as
carnes vermelhas, têm seu consumo diminuído devido a problemas de
saúde como dislipidemias e edentulismo, reduzindo naturalmente a
ingestão diária de ferro entre idosos.
Huang et al. (2001) não encontraram correlação estatística entre
ingestão dietética de ferro e vitamina C e estado nutricional de ferro de
105 idosos em Taiwan. O consumo de carne é reduzido na terceira idade.
Roebothan e Chandra (1996) relataram que aproximadamente 93% do
ferro consumido por idosos é o ferro não-heme.
Ainda, a avaliação do consumo alimentar pelo QFCA não fornece
dados quantitativos. Os alimentos questionados podem fazer parte da
rotina de consumo, no entanto as quantidades consumidas não serem
suficientes para atender as necessidades da população. Por outro lado, a
utilização de outros inquéritos dietéticos é limitada pelo viés da memória
do indivíduo idoso, não produzindo resultados confiáveis.
As tabelas 5, 6, 7 e 8 demonstram as comparações e associações
das características socioeconômicas, de saúde e estado nutricional entre
os tercis de nível de hemoglobina da população estudada.
O sexo feminino esteve significantemente associado a menores
níveis de hemoglobina, bem como o trabalho ao maior nível, tendendo à
significância. Tal como discutido anteriormente, maiores níveis de
hemoglobina entre o sexo masculino são esperados, visto que homens
possuem um maior número de hemácias e maior quantidade de massa
muscular (YIP et al., 1984).
149
Tabela 5: Influência de fatores socioeconômicos, de saúde e estado nutricional sobre os níveis de hemoglobina entre
idosos, município de Viçosa – MG (2007).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
TERCIL 1 TERCIL 2 TERCIL 3
VARIÁVEIS
Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx) Média ± DP Me (mín-máx)
Idade em anos 70,45 ± 6,31 70,0 (60,0-85,0) 71,08 ± 6,86 70,5 (60,0-83,0) 69,67 ± 7,40 67,5 (60,0-85,0)
Renda Per Capita 265,4 ± 135,3 250,0 (47,5-700,0) 269,8 ± 140,8 216,2 (90,5-700,0) 305,9 ± 221,6 275,0 (50,0-1150,0)
Número de doenças 2,47 ± 1,38 3 (0-6)
a
1,90 ± 1,33 2 (0-6)
ab
1,86 ± 1,11 2 (0-4)
b
Número de medicamentos* 3,63 ± 2,36 3,5 (0-9)
a
2,72 ± 2,3 2 (0-9)
ab
2,4 ± 2,12 2 (0-9)
b
Número de refeições/dia 4,45 ± 0,95 4 (3-7)
4,04 ± 0,82 4 (2-6)
3,94 ± 0,97 4 (2-6)
Freqüência atividade física
#
4,35 ± 1,73 3 (2-7) 4,5 ± 1,95 4,5 (1-7) 4,61 ± 1,88 5 (1-7)
Peso (kg) 64,34 ± 13,96 64,25 (43,8-107,9)
b
63,32 ± 10,82 61,28 (46,4-90,55)
ab
67,69 ± 12,29 67,05 (42,4-109,25)
a
Estatura (m) 1,54 ± 0,08
Y
1,55 (1,37-1,69) 1,57 ± 0,08
XY
1,56 (1,42-1,76) 1,59 ± 0,09
X
1,59 (1,41-1,80)
IMC (kg/m
2
) 27,18 ± 5,62 25,76 (16,6-42,2) 25,91 ± 4,97 24,47 (18,2-39,1) 26,74 ± 3,92 26,53 (18,1-36,6)
Circunferência Cintura (cm) 87,26 ± 12,42 85,5 (65,5-115,6) 86,69 ± 10,58 84,5 (69,0-114,9) 90,56 ± 11,07 93,0 (59,0-118,1)
Razão Cintura/Quadril 0,898 ± 0,09
Y
0,891 (0,724-1,11) 0,896 ± 0,07
Y
0,898 (0,721-1,05) 0,954 ± 0,09
X
0,959 (0,724-1,143)
*
número de medicamentos consumidos por dia, # freqüência de atividade física em vezes/semana,
a/b
Kruskal-Wallis complementado com Dunn’s;
X/Y
ANOVA
complementado com Tukey.
a/b/x/y
p<0,05
150
Tabela 6: Associação entre características socioeconômicas e de saúde e o nível de hemoglobina entre idosos, município
de Viçosa – MG (2007).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
VARIÁVEIS
TERCIL 1 (%) TERCIL 2 (%) TERCIL 3 (%)
x
2
/ p
Feminino 43,4 32,9 23,7 Sexo
Masculino 15,3 28,8 55,9
X
2
= 19,64/ p= 0,0005*
Sim 29,1 37,2 33,7 Companheiro
Não 36,7 26,7 36,6
X
2
= 1,92/ p= 0,38
Sim 33,3 23,3 43,4 Única Fonte de Renda
Não 33,8 40,5 25,7
X
2
= 3,94/ p= 0,139
Sim 12,5 12,5 75 Trabalho
Não 34,5 31,9 33,6
X
2
= 5,54/ p= 0,06
Alugada 50 30 20 Casa
Própria 30,9 33,1 36
X
2
= 1,77/ p= 0,41
Urbana 31,7 33,8 34,5 Localização
geográfica da casa Rural 42,9 14,2 42,9
X
2
= 1,16/ p= 0,55
<4 anos 32,1 32,9 35 Escolaridade
4 anos 20 40 40
X
2
= 0,33/ p= 0,846
* Sexo feminino < sexo masculino
151
Tabela 7: Associação entre características socioeconômicas e de saúde e o nível de hemoglobina entre idosos, município
de Viçosa – MG (2007) (continuação).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
VARIÁVEIS
TERCIL 1 (%) TERCIL 2 (%) TERCIL 3 (%)
x
2
/ p
Sim 32,3 31,5 36,2 Morbidade
Não 31,3 43,7 25
X
2
= 1,16/ p= 0,56
Sim 33,6 32 34,4 Uso de medicação
Não 23,8 38,1 38,1
X
2
= 0,81/ p= 0,667
Dentado 50 - 50
Parcial. Dentado 21,7 32,6 45,7
Dentição
Edêntulo 36,7 33,7 29,6
X
2
= 5,51/ p= 0,23
Sim 35,6 36,7 27,8 Prótese Dentária
Não 27,8 25,9 46,3
X
2
= 5,15/ p= 0,07
Sim 35,8 32,1 32,1 Atividade física
Não 30 33,3 36,7
X
2
= 0,57/ p= 0,75
152
Tabela 8: Associação entre estado nutricional e o nível de hemoglobina entre idosos, município de Viçosa – MG (2007).
TERCIS DE HEMOGLOBINA
VARIÁVEIS
TERCIL 1 (%) TERCIL 2 (%) TERCIL 3 (%)
x
2
/ p
Risco 35,4 28 36,6 Classificação RCQ
Sem risco 27,4 38,7 33,9
X
2
= 2,0/ p= 0,367
Risco 25,7 31,4 42,9
Risco aumentado 39,2 27,5 33,3
Classificação CC
Sem risco 30,5 37,3 32,2
X
2
= 2,89/ p= 0,57
Eutrófico 36,1 29,5 34,4
Baixo peso 20,6 35,3 44,1
Classificação IMC
Sobrepeso 30 30 40
X
2
= 4,75/ p= 0,314
153
Idosos com menores níveis de hemoglobina (tercil 1) apresentaram
medianas significantemente maiores de número de doenças crônicas e
número de medicamentos consumidos por dia, em comparação àqueles
com maiores níveis (tercil 3). Apesar disso, não houve associação
significante entre presença de morbidades ou uso de medicamentos com
o nível de hemoglobina (tabela 7).
Anemia por doenças crônicas é a forma mais comum de anemia
entre idosos, estando associada a doenças tais como tuberculose, artrite
reumatóide, disfunções renais, e alguns tipos de câncer (BALDUCCI et
al., 2005). Sendo assim, a relação entre doenças crônicas coexistentes e
baixos níveis de hemoglobina encontrada no presente estudo deve ser
considerada. Da mesma forma, o uso diário de vários medicamentos deve
ter o seu impacto sobre os níveis de hemoglobina avaliado, visto que a
maioria dos fármacos e dos nutrientes é absorvida no intestino delgado,
sendo grandes as chances de interações que possam resultar em má
absorção não só de ferro (e conseqüente anemia), mas também de outros
nutrientes.
A associação entre uso de prótese dentária por idosos edêntulos
ou parcialmente dentados e menores níveis de hemoglobina (tercil 1)
tendeu à significância (tabela 7). A má adaptação e/ou o desgaste das
próteses dentárias pode explicar tal resultado, uma vez que tais situações
levam o idoso a selecionar alimentos de consistência mais macia e que
não necessitem de muita mastigação (tais como mingaus, purês, e
massas), em detrimento daqueles de consistência mais firme como as
carnes e grãos integrais, fonte de ferro.
Idosos no primeiro tercil de hemoglobina apresentaram peso,
estatura e RCQ significantemente menores, em relação aos idosos com
maiores níveis de Hb (tercil 3). Não foram verificadas associações
estatísticas entre nível de hemoglobina e estado nutricional (tabela 8).
Apesar disso, observa-se que os idosos com inadequado estado
nutricional, detectado através da composição corporal, apresentam baixos
níveis de hemoglobina como mais um sinal clínico de seu déficit
nutricional, não sendo possível apenas avaliar se é a inadequada
154
composição corporal, principalmente o baixo peso, um fator determinante
para os baixos níveis de hemoglobina nesta população, ou vice-versa.
Entre idosos italianos, aqueles com anemia apresentaram maior
média de idade, menor média de IMC, maior número de doenças e menor
capacidade física e mental, em comparação aos idosos não anêmicos
(PHENNINX et al.; 2004).
Um estudo longitudinal com 3.673 idosos nos Estados Unidos
demonstrou que mesmo aqueles com anemia borderline (valores de
hemoglobina exatamente iguais aos pontos de corte), apresentaram
declínios importantes no desempenho físico, comparados a idosos com
maiores níveis de hemoglobina (PHENNINX et al., 2003).
Zakai e colaboradores (2005) avaliaram e acompanharam
longitudinalmente os níveis de hemoglobina de 5.797 idosos participantes
do Cardiovascular Health Study (CHS) nos Estados Unidos. Idosos no
menor quintil de hemoglobina eram em sua maioria negros e
apresentaram maiores prevalências de doenças crônicas. Baixos níveis
de hemoglobina se correlacionaram fortemente com baixo IMC,
fragilidade, baixo nível de atividade física e baixo nível de saúde auto-
avaliado. Após 12 anos de acompanhamento da coorte, observou-se que
menores níveis de Hb estavam associados ao aumento do risco de
mortalidade. As taxas de mortalidade em relação aos quintis de nível de
hemoglobina apresentaram forma de “J” invertido, ou seja, maiores no
primeiro (40%) e no quinto (41%) quintil de hemoglobina. Desta forma, os
autores encontraram uma associação independente entre nível de
hemoglobina e anemia com mortalidade.
O estudo longitudinal por 3 anos com 332 idosos coreanos
identificou a idade acima de 80 anos, o sexo masculino e baixos níveis de
hemoglobina como fatores de risco independentes para o
desenvolvimento da anemia (CHOI et al., 2005).
Desta forma, os resultados aqui encontrados e reforçados por
outros estudos demonstram a magnitude do impacto de fatores
155
ambientais, características de saúde e estado nutricional sobre o nível de
hemoglobina entre idosos.
No caso específico dos idosos aqui avaliados, os quais são
vinculados a um programa de prevenção de agravos e enfermidades e
promoção da saúde, ressalta-se a importância dos resultados para o
desenvolvimento de ações multifocais, deixando de lado a visão da
doença como um conjunto de sintomas e sinais clínicos a serem tratados
e/ou controlados, e traçando modelos causais dos problemas de saúde
presentes neste grupo populacional, definindo seus fatores determinantes
e suas conseqüências para a saúde, de forma a minimizar fatores de risco
para a qualidade de vida e o bem estar dos idosos.
8.3.5 – Considerações finais
A prevalência de anemia entre idosos cadastrados no PSF de
Viçosa foi baixa, tanto em relação ao que preconiza a OMS, quanto
quando comparado a estudos nacionais e internacionais. As menores
prevalências nesta amostra podem ser decorrentes do acompanhamento
dos idosos por um programa voltado para atenção primária à saúde, com
ações relacionadas à prevenção e atenção à saúde. As ações
desenvolvidas pelas equipes do PSF podem proteger a população de
condições que culminem no inadequado estado de saúde. De maneira
indireta, os resultados do presente estudo podem, portanto, serem
vislumbrados como uma avaliação positiva acerca da qualidade das
ações desenvolvidas pelas Equipes de Saúde da Família participantes.
A maior proporção de idosos do sexo masculino com anemia pode
ser devido as diferenças fisiológicas entre os sexos, sendo demonstrado
em estudos anteriores (YIP et al., 1984) maiores níveis de hemoglobina,
hematócrito, VCM e CHCM entre homens. Também não se pode
descartar este achado como tendo origem metodológica, visto que são
adotados pontos de corte mais sensíveis para este gênero, em relação ao
sexo feminino, sendo tais pontos cortes criticados atualmente.
156
A anemia na terceira idade se deve principalmente à coexistência
de doenças crônicas e infecciosas. A anemia ferropriva, causada pela
baixa ingestão de ferro e/ou diminuição de sua biodisponibilidade, parece
ter menor impacto na população idosa.
Poucos alimentos fonte de ferro e facilitadores da absorção foram
associados ao nível de hemoglobina entre idosos. Este fato pode ter
ocorrido devido à baixa prevalência de anemia ferropriva (0,6%) ou
mesmo deficiência de ferro (1,9%) na população estudada, indicando que
os níveis de hemoglobina foram influenciados por outras condições de
saúde, tais como a presença de morbidades crônicas.
Ficou demonstrado que o enriquecimento com ferro de alimentos
amplamente consumidos pela população (farinha de trigo e leite, por
exemplo), como alternativa para aumentar o consumo deste nutriente tem
impacto também entre idosos. Ainda, alimentos economicamente mais
acessíveis, como a carne de frango e leguminosas, devem ter seu
consumo entre idosos estimulado por profissionais de saúde, pois
mantém ou melhoram o estado nutricional de ferro da população.
A associação de poucos fatores ao nível de hemoglobina pode ter
ocorrido pelo baixo número de idosos com inadequados valores de Hb e
presença de variáveis de confusão. No entanto, a exclusão destes fatores
(como a exclusão de idosos com doenças crônicas) diminuiria
consideravelmente o tamanho amostral, o que causaria a perda do poder
dos testes estatísticos.
Os resultados sugerem que, no presente estudo, idosos com
maiores níveis de hemoglobina aparentaram melhor estado de saúde em
relação àqueles com menores níveis.
Independentemente do diagnóstico de anemia, atenção especial
deve ser destinada aos idosos no primeiro tercil de hemoglobina, uma vez
que estes estão mais propensos ao desenvolvimento desta doença em
curto prazo, bem como devido à concordância científica do impacto
negativo de baixos níveis deste indicador sobre a saúde e qualidade de
vida de idosos.
157
8.3.6 – Bibliografia
ABREU, W. C. Aspectos socioeconômicos, de saúde e nutrição, com
ênfase no consumo alimentar, de idosos atendidos pelo Programa
Municipal da Terceira Idade (PMTI) de Viçosa- MG. [Dissertação de
Mestrado]. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa; 2003.
ANIA, B.J.; SUMAN, V.J.; FAIRBANKS, V.F.; MELTON III, L.J. Prevalence
of anemia in medical practice: community versus referral patients. Mayo
Clinical Proceedings, 69: 730-735, 1994.
ARTZ, A. S.; FERGUSSON, D.; DRINKA, P. J.; GRAVENSTEIN, M. G.;
LECHICH, S. A.; SILVERSTONE, F.; FINNIGAN, S.; JANOWSKI, M. C.;
MCCAMISH, M. A.; ERSHLER W. B. Prevalence of anemia in skilled-
nursing home residents. Archives of Gerontology and
Geriatrics, 39(3):201-206, 2004.
BAILLIE, F. J.; MORRISON, A. E.; FERGUS, I. Soluble transferrin
receptor: a discriminating assay for iron deficiency. Clinical and
Laboratory Haematology, 25: 353-357, 2003.
BALDUCCI, L. Epidemiology of anemia in the elderly: information on
diagnostic evaluation. Journal of American of Geriatric Society, 51:
suppl 3: 2-9, 2003.
BALDUCCI, L.; ERSHLER, W.B.; KRANTZ, S. Anemia in the elderly –
Clinical findings and impact on health. Critical Reviews in
Oncology/Hematology, in press, 2005.
BARBOSA, D. L.; ARRUDA, H. K, G.; DINIZ, A. S. Prevalência e
caracterização da anemia em idosos do Programa de Saúde da Família.
Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, 28(4): 288-292,
2006.
BEARD, C.M.; KOKMEN, E.; O’BRIEN, P.C.; ANIA, B.J.; MELTON, L.J.
Risk of Alzheimer’s disease among elderly patients with anemia:
population-based investigations in Olmsted County, Minnesota. Annals of
Epidemiology., 7(3): 219-224, 1997.
158
BEGHÉ, C.; WILSON, A.; ERSHLER, W.B. Prevalence and outcomes of
anemia en geriatrics: a systematic review of literature. American Journal
of Medicine, 116(7): S3-S10, 2004.
BLE, A.; FINK, J. C.; WOODMAN , R. C.; KLAUSNER, M. A.; GURALNIK,
J. M.; FERRUCI, L. Renal function, erythropoietin, and anemia of older
persons. Archives of Internal Medicine, 165: 2222-2227, 2005.
CANGERANA, F. A.; YANG, H. M.; YOKOMIZO, R. M.; MUNHOZ, M. A.
G.; GUSHIKEN, E. Y.; MANOEL, J. A. G.; NIERO, L. I. Freqüência de
anemia em idosos. Revista do Instituto Adolfo Lutz, 53(2): 71-5, 1993.
CELLA, D. The functional assessment of cancer therapy-anemia (FACT-
An) sacle: a new tool for the assessment of outcomes in cancer anemia
and fatigue. Seminars in Hematology, 34(3)/suppl 2: 13-19, 1997.
CHOI, C.H.; LEE, J.; PARK, K.H.; CHOI, I.K.; KIM, S.J.; SEO, J.H.; KIM,
B.S.; SHIN, S.W.; KIM, Y.H.; KIM, J.S. Incidence of anemia in older
koreans: community-based cohort study. Archives of Gerontolology and
Geriatrics, 41: 303-309, 2005.
CULLETON, B. F.; MANNS, B. J.; ZHANG, J.; TONELLI, M.;
KLARENBACH, S. HEMMLGAN, B. R. Impact of anemia on hospitalization
and mortality in older adults. Blood, 107(10): 3841-3846, 2006.
EISENSTAEDT, R.; PENNINX, B.W.J.H.; WOODMAN, R.C. Anemia in the
elderly: Current understanding and emerging concepts. Blood Reviews,
in press, 2006.
ESHLER, W.B.; SHENG, S.; MCKELVEY, J.; ARTZ, A.S.; DENDULURI,
N.; TECSON, J.;TAUB, D.D.; BRANT, L.J.; FERRUCCI, L.; LONGO, D.L.
Serum erythropoietin and aging: a longitudinal analysis. J. Am. Geriatr.
Soc., n. 53, p.1360-1365, 2005.
FERREIRA, A.W.; ÁVILA, S.L.M. Diagnóstico laboratorial: avaliação de
métodos de diagnóstico das principais doenças infecciosas e
parasitárias e auto-imunes. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996.
GARRY, P.J.; GOODWIN, J.S.; HUNT, W.C.; HOOPER, E.M.; LEONAR,
A.G. Nutritional status in a healthy elderly population: dietary and
supplementation intakes. American Journal of Clinical Nutrition, 36:
319-331, 1982.
159
GURALNIK, J.M.; EINSTAEDT, R.S.; FERRUCI, L. Prevalence of anemia
in persons 65 years and older in the United States: evidence for a high
rate of unexplained anemia. Blood, 104: 2263-2688, 2004.
HUANG, Y.C.; WONG, Y.; WUENG, S.L.; CHENG, C.H.; SU, K.H. Nutrient
intakes and iron satus of elderly men and women. Nutrition Research,
21: 967-981, 2001.
IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Censo
Demográfico, 2000. Rio de Janeiro, 2002. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br.
JOHNSON, M.A. Iron: nutrition monitoring, and nutrition status
assessment. Journal of Nutrition, 120: 1486-1491, 1990.
KATZ, R.J.; BEASTON-WIMMER, P.; PARMELEE, P.; FRIEDMAN, E.;
LAWTON, M.P. Failure to thrive in the elderly: exploration of concept and
delineation of psychiatric components. Journal of Geriatric Psychiatry
and Neurology, 6:161-169, 1993.
LEE, D. H.; JACOBS Jr., D. R. Serum markers of stored body iron are not
appropriate markers of health effects of iron: a focus on serum ferritin.
Medical Hypotheses, 62: 442-445, 2004.
LIPSCHITZ, D. A. Screening for nutritional status in the elderly. Primary
Care, 21(1):55-67, 1994.
LIPSCHITZ, D. A. Medical and functional consequences of anemia in the
elderly. Journal of American Geriatric Society, 51: suppl 3: S10-S13,
2003.
MARALDI, C.; VOLPATO, S.; CESARI, M.; ONDER, G.; PEDONE, C.;
WOODMAN, R.C.; FELLIN, R.; PAHOR, M. Anemia, physical disability,
and survival in older patients with heart failure. Journal of Cardiac
Failure, 7(12): 533-539, 2006.
MILMAN, N.; PEDERSEN, A. N.; OVERSEN, L.; SCHROLL, M. Iron status
in 358 apparently healthy 80-years-old Danish men and women: relation to
food composition and dietary and supplemental iron intake. Annals of
Hematology, 83: 423-429, 2004.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR). Diretrizes e normas regulamentadoras
de pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília (DF): Ministério da
Saúde, 1996.
160
PEREIRA, R. J. Análise da Qualidade de Vida de Idosos – Município
de Teixeiras – MG. [Dissertação de Mestrado] Universidade Federal de
Viçosa, Minas Gerais. 2005. 149p.
PHENNINX, B. W. J. H.; GURALNIK, J. M.; GRAZIANO, O.; FERRUCCI,
L.; WALLACE, R. B.; PAHOR, M. Anemia and decline in physical
performance among older persons. American Journal of Medicine, 113:
104-110, 2003.
PHENNINX, B. W. J. H.; PAHOR, M.; CESARI, M.; CORSI, A. M.;
WOODMAN, R. C.; BANDINELLI, S.; GURALNIK, J. M.; FERRUCCI, L.
Anemia is associated with disability na decreased physical performance
and muscle strength in the elderly. Journal of American Geriatric Society,
52:719-724, 2004.
ROEBOTHAN, B. V.; CHANDRA, R. K. The contribution of dietary iron to
iron status in a group of elderly subjects. International Journal for
Vitamin and Nutrition Research, 66: 66-70, 1996.
RONCADA, M.J.; MARUCCI, M.F.N.; LAMONICA, I.M.R. Níveis
sangüíneos de vitamina A e caroteno em indivíduos de meia-idade e
idosos, em onze localidades do Estado de São Paulo, Brasil. Revista de
Saúde Pública, 19: 336-343, 1985.
SMITH, D.L. Anemia in the elderly. American Family Physician, 62
(7):1565-1572, 2000.
VANNUCCI, H.; CUNHA, D.F.; BERNARDES, M.M.; UNAMUNO,
M.R.D.L. Avaliação dos níveis séricos das vitaminas A, E, C e B
2
, de
carotenóides e zinco, em idosos hospitalizados. Revista de Saúde
Pública, 28(2): 121-126, 1994.
VIR, S.C.; LOVE, A.H.G. Nutrition evaluation of B groups of vitamins in
institutionalized aged. International Journal for Vitamin and Nutrition
Research, 47: 211-218, 1977.
WOODMAN, R.; FERRUCCI, L.; GURALNIK, J. Anemia in older adults.
Current Opinion in Hematology, 12:123-128, 2005.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Phisical Status : The Use and
Interpretation of Anthropometry: reporty of a WHO committee.
Geneva: WHO, 1998. (WHO – Technical Report Series).
161
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Iron Deficiency Anaemia.
Assessment, Prevention, and Control. Geneva, Swuitzerland, 114 p.,
2001.
YIP, R.; JOHNSON, C.; DALLMAN, P.R. Age- related changes in
laboratory values used in the diagnosis of anemia, and iron deficiency.
American Journal of Clinical Nutrition, 39: 427-436, 1984
ZAKAI, N. A.; KATZ, R.; HIRSCH, C.; SHLIPAK, M. G.; CHAVES, P. H.
M.; NEWMAN, A. B.; CUSHMAN, M. A prospective study of anemia
status, hemoglobin concentration, and mortality in a elderly cohort.
Archives of Internal Medicine, 165: 2214-2220, 2005.
.
162
9- CONCLUSÕES
O baixo nível econômico e de escolaridade da amostra
populacional estudada devem ser incluídos na agenda política do
município, de forma a se estabelecer estratégias de intervenção voltadas
para o problema.
Outras características relacionadas às condições de saúde de
idosos atendidos pelo PSF do município de Viçosa também merecem
atenção, como a alta freqüência de doenças crônicas, o consumo elevado
de medicamentos, precárias condições de saúde bucal e baixo nível de
atividade física.
O presente estudo demonstrou que a população idosa atendida por
equipes de PSF no município de Viçosa apresenta elevadas taxas de
inadequado estado nutricional, de forma que as prevalências de
sobrepeso e baixo peso juntos (57,7%) se sobressaíram à eutrofia. O
sexo feminino apresentou maiores freqüências de sobrepeso, enquanto o
masculino apresentou altas taxas de baixo peso.
Também é alarmante a elevada porcentagem de idosos avaliados
com valores de CC (59,3%) e RCQ (57,2%) acima do recomendado,
sendo as freqüências entre o sexo feminino maiores para ambas as
variáveis.
Idosos com inadequado estado nutricional (baixo peso ou
sobrepeso) tendem a ter maior nível socioeconômico, serem sedentários
e apresentarem doenças crônicas.
A prevalência de anemia entre os idosos foi baixa, tanto em relação
ao que preconiza a OMS, quanto comparado a estudos nacionais e outros
países.
A anemia na terceira idade se deve principalmente à coexistência
de doenças crônicas, tais como problemas renais e doenças infecciosas.
A anemia ferropriva, causada pela baixa ingestão de ferro e/ou diminuição
de sua biodisponibilidade, parece ter menor impacto na população idosa.
Os resultados sugerem que, no presente estudo, idosos com
maiores níveis de hemoglobina aparentaram melhor estado de saúde em
relação aqueles com menores níveis. Idosos com menor nível de
163
hemoglobina foram em sua maioria do sexo feminino, tenderam a
apresentar menores freqüências de consumo de alguns alimentos fonte
de ferro, apresentar um maior número de doenças crônicas e consumir
um maior número de medicamentos diariamente.
Assim, os resultados apontam para um paradoxo: existe a
necessidade de políticas públicas voltadas para o combate ao sobrepeso
e excesso de gordura corporal entre idosos, bem como mudanças no
estilo de vida, alimentação e nível de atividade física. Em conjunto, as
prevalências de baixo peso são também alarmantes e necessitam de
atenção pelos profissionais e gestores de saúde.
Ainda, independentemente do diagnóstico de anemia, atenção
especial deve ser destinada aos idosos com baixos níveis de
hemoglobina, uma vez que estes estão mais propensos ao
desenvolvimento desta doença em curto prazo, bem como devido à
concordância científica do impacto negativo de baixos níveis deste
indicador sobre a saúde e qualidade de vida de idosos.
164
ANEXOS
165
ANEXO 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO E SAÚDE
MESTRADO EM CIÊNCIA DA NUTRIÇÃO
AUTORIZAÇÃO
Declaro ter sido orientado sobre os objetivos do projeto “Avaliação do
estado nutricional, prevalência e fatores de risco para anemia ferropriva
em idosos do município de Viçosa, Minas Gerais.”, bem como sua
metodologia de avaliação e ter aceitado participar do estudo de forma
voluntária.
Viçosa, ____ de ___________ de 2007.
_________________________________________________
NOME DO PARTICIPANTE
___________________________________________________
ASSINATURA DO PARTICIPANTE
166
ANEXO 2
Perfil Socioeconômico e condições de saúde
Identificação:
Nome:
Data de nascimento: ___/___/______
Idade:
Sexo: ( ) Feminino ( )Masculino
Estado Civil: ( ) casado ( )solteiro ( )viúvo ( )outros
PSF:
Renda Familiar
Renda Mensal individual: ____________ reais
Renda total da família: ____________ reais
Renda familiar per capita: ____________ reais
N.º de dependentes da renda:
( ) Aposentado ( )Trabalha ( ) Trabalha
+ aposentado
( ) dona de casa ( ) pensionista
Moradia:
( ) sozinho ( )esposa ( )filhos ( )netos
( ) esposa e filhos ( ) outros parentes
( ) instituição asilar
Número de moradores na residência:
167
Habitação:
( ) Casa Própria ( ) Alugada
Zona: ( ) Rural ( ) Urbana
Escolaridade
( ) Analfabeto ( ) Curso fundamental
incompleto
( ) Curso fundamental completo ( ) Curso médio incompleto
( ) Curso médio completo ( ) Curso superior incompleto
( ) Curso superior completo
Nosologia
( ) Dislipidemia ( ) Hipertensão Arterial
( ) Diabetes ( ) Osteoporose
( ) Insuficiência Renal Crônica ( ) Reumatismo
( ) Artrite ( ) Gastrite/Úlcera
( ) Outros. Se sim: qual(is):_________________________________
Uso de Medicamentos
( ) Sim ( )Não
Qual(is):__________________________________________________
_________________________________________________________
Dentição:
( ) dentado ( ) parcialmente dentado ( ) edêntulo
Uso de prótese: ( )sim ( )não
168
Possui saneamento básico: ( )sim totalmente
( ) água encanada ( ) rede de esgoto ( )não
Número de refeições realizadas por dia: ________
Local onde realiza as refeições: _____________________________
Quem prepara as refeições:
( ) companheiro ( ) cuidador
( ) filho(a) ( )outro parente
( ) empregada ( )
outro:________________________________
Atividade Física: ( ) Sim ( ) Não
Se sim qual(is) tipo: ( ) Aeróbica ( ) Musculação ( )Ambos
Periodicidade da atividade física: ______ (vezes/ semana)
169
ANEXO 3
Questionário de Freqüência de Consumo Alimentar
Nome:
Data:
Freqüência
Semanal Mensal
Alimentos
Diário
1 2345 6 123
Vegetais Folhosos (Couve, acelga,
espinafre, repolho,agrião, mostarda,
taioba, etc)
Não folhosos (Moranga, cenoura,
brócolis, nabo, batata doce, tomate)
Frutas (Laranja, mamão, melancia,
melão, manga, caju)
Vísceras (Fígado, rim, etc)
Carnes de boi e porco
Frango
Peixes
Ovos
Leguminosas (Feijão, grão de bico,
lentilha, ervilha)
Alimentos enriquecidos com Ferro
(cereais matinais, farinha de trigo, etc)
Grãos integrais
Melado de cana ou rapadura, açúcar
mascavo
170
ANEXO 4
Avaliação Antropométrica
Peso (kg): Estatura (m):
IMC (kg/m
2
): Circunferência da Cintura
(cm):
Circunferência do Quadril (cm): Razão Cintura Quadril:
Avaliação Bioquímica
Ferro
Hemoglobina: Hematócrito:
VCM: HCM:
CHCM: Ferritina Sérica:
PCR:
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo