Cap´ıtulo 2. Tratamento para o G´as Granular 38
2.4
Limites da Abordagem Hidrodinˆamica
Conforme mencionado no cap´ıtulo anterior, materiais granulares podem
imitar o comportamento de gases, s´olidos, fluidos e etc. Em muitos casos,
podem ser tratados como um fluido molecular comum, modelados de maneira
a esconder a granulosidade da substˆancia constituinte. Portanto, ´e natural
tentarmos aplicar as mesmas equa¸c˜oes, conceitos e teorias, que funcionam para
os fluidos moleculares aos materiais granulares.
Contudo, h´a uma diferen¸ca fundamental entre mol´eculas e gr˜aos. Um
fluido molecular usual conserva a energia dentro dos graus de liberdade
observados. Assim, se injetarmos calor num fluido, esse calor ir´a contribuir
para a energia cin´etica de cada mol´ecula durante o processo de aumento da
temperatura do fluido. Essa energia adicional nunca ´e perdida, exceto pela
possibilidade de dissipa¸c˜ao (ou radia¸c˜ao) atrav´es das paredes do recipiente
que encerra o fluido. Por isso, neste caso, o movimento relativo das part´ıculas
constituintes nunca cessa.
Por outro lado, em um material granular, alguma energia ´e perdida
durante as colis˜oes entre as part´ıculas. A energia na forma de calor ´e
armazenada nos ´atomos dentro dos gr˜aos, e n˜ao na forma de energia
cin´etica dos gr˜aos. Com isso, o sistema dissipa energia muito rapidamente.
Se for abandonado a si mesmo, o sistema evoluir´a at´e uma configura¸c˜ao
s´olida (ou v´ıtrea), com o desaparecimento do movimento relativo. Assim,
materiais como a areia, por exemplo, poder˜ao nunca apresentar a relaxa¸c˜ao
para o equil´ıbrio uniforme global que ´e exigido pelas deriva¸c˜oes usuais das
equa¸c˜oes hidrodinˆamicas. Devido a essa falha, n˜ao podemos ter certeza
de at´e onde as equa¸c˜oes hidrodinˆamicas descrever˜ao o comportamento dos
materiais granulares de uma maneira geral. Na realidade, estas equa¸c˜oes
falham ao aparecerem instabilidades no sistema. Estas instabilidades, que
destroem o estado do g´as homogˆeneo, s˜ao basicamente de dois tipos: v´ortices
e aglomera¸c˜oes (regi˜oes de alta densidade). Os v´ortices se devem `a colima¸c˜ao
natural das velocidades dos gr˜aos p´os-colis˜ao, dado que os momentos linear
e angular devem ser globalmente conservados para o g´as em um recipiente.
Da´ı v´ortice e antiv´ortice aparecem. Os aglomerados s˜ao regi˜oes que aparecem
devido a flutua¸c˜oes na densidade. Uma flutua¸c˜ao positiva leva a maior
densidade, mais colis˜oes, mais dissipa¸c˜ao e mais captura de gr˜aos. Por
conseguinte, h´a um aumento ainda maior na densidade. Este ´e o foco do
presente trabalho.
A modelagem de colis˜oes entre gr˜aos atrav´es de coeficientes de restitui¸c˜ao
constantes pode ser muito simples e intuitiva, mas essa aproxima¸c˜ao possui