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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Pós Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
FILOGEOGRAFIA E ESTRUTURA GENÉTICA DE
POPULAÇÕES DA MUNGUBEIRA (PSEUDOBOMBAX
MUNGUBA (MART. & ZUCC.) DUGAND, MALVACEAE -
BOMBACOIDEAE) NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Tatiana de Almeida Menicucci
Manaus, Amazonas
Junho, 2007
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ii
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
Programa Integrado de Pós Graduação em Biologia Tropical e Recursos Naturais
FILOGEOGRAFIA E ESTRUTURA GENÉTICA DE
POPULAÇÕES DA MUNGUBEIRA (PSEUDOBOMBAX
MUNGUBA (MART. & ZUCC.) DUGAND, MALVACEAE -
BOMBACOIDEAE) NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Tatiana de Almeida Menicucci
Orientadora: Dra. Maristerra R. Lemes
Co-Orientador: Dr. Rogério Gribel
Dissertação apresentada como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
Genética, Conservação e Biologia Evolutiva.
Manaus, Amazonas
Junho, 2007
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
G545 Menicucci, Tatiana de Almeida
Filogeografia e estrutura genética de populações da Mungubeira
(Pseudobombax Munguba (Mart. & Zucc.) Dugand, Malvaceae
Bombacoideae / Tatiana de Almeida Menicucci.
Manaus : INPA/UFAM,
2007.
xiv, 67 f. : il. (algumas color.)
Dissertação de Mestrado -- INPA/UFAM, 2007.
Orientador: Dra. Maristerra R. Lemes.
Co-orientador: Dr. Rogério Gribel
1. Filogeografia -Amazônia 2. Genética de populações 3. Munguba
CDD 19ª ed. 575.01
Sinopse:
Estudou-se a filogeografia e a estrutura genética de populações de P.
munguba na Amazônia brasileira, utilizando marcadores microssatélites e
de seqüências não codificadoras do genoma de cloroplasto. Os dados
gerados permitiram correlacionar as hipóteses biogeográficas da Amazônia
e corroboram a hipótese do Lago Amazônico como determinante na
estruturação genética atual das populações de árvores da várzea na
Amazônia brasileira
Palavras-chave:
Filogeografia, genética de populações, munguba, Amazônia,
microssatélites, cpDNA.
iv
Dedico esta dissertação a meus pais Nélio e
Teresa e meus irmãos Nélio, Renata e Marcelo. A
família da qual tenho a sorte de fazer parte.
v
AGRADECIMENTOS
À minha mãe, Teresa e meus irmãos Nélio, Renata e Marcelo pelo apoio e carinho não
só nessa, mas em todas as fases da minha vida.
À FAPEAM e ao CNPq, pela bolsa de estudos, ao INPA, ao GCBEV que tornaram
possível a concretização desse trabalho. E em especial ao Laboratório de Genética e Biologia
Reprodutiva de Plantas - LABGEN que de fato possibilitou a realização do trabalho por meio
de projetos financiados aprovados pelos Drs. Maristerra Lemes e Rogério Gribel.
À Dra. Maristerra Lemes e Dr. Rogério Gribel pela orientação, apoio e convivência
durante esses dois anos.
Às outras famílias que tive a sorte de pertencer: Paulinho, Wilde, Luciano, Geise
Adília, Joana, Simão, Carla e Paula. Morar com vocês foi uma experiência única.
Aos amigos do LABGEN: Mahatma, Thieme, Grabiela, Izabela, Joicy, Rafael
Angrizani, Rafael Arruda, Carolina, Raquel, Alessandra e Vanessa por suportar minhas
brincadeiras e palhaçadas e pela ajuda nos momentos em que foi preciso.
Á turma do GCBEV: Aline, Alexandre, Áureo (e Stella), Carlos, Eduardo, Fátima,
Luciano, Raimundo e Walfran. Ter compartilhado esse tempo com vocês foi uma das
melhores partes dessa experiência.
Aos amigos de BH, Marmotas e agregados: Ricardo, Éwerton, Marcelo, Henrique,
Fernando, Léo, Rodrigo, Flávia, Éder, Danny, Rei e tantos outros que se num citei, saibam
que mesmo longe, sempre serão lembrados. Os momentos com vocês foram inesquecíveis.
À fir€™: Lossea, Derahel, Norman, Tota, Tiago, Felipe, Bruno, Monge, Bart, Semi,
Maya, Beto, Apolo, Nikita, Thiago, Marcelo, Flecha, Maguchi e Angel. Vocês se tornaram
minha terceira família, na qual tive apoio e companhia diários, essenciais para a conclusão
dessa fase.
A todos os professores que me permitiram chegar até aqui, especialmente a Dra.
Mônica Buchiarelli e o Dr. Rodrigo Redondo que me ensinaram a gostar de genética e
biologia evolutiva, os maiores responsáveis por minha escolha.
A todos os amigos que deixei de mencionar peço desculpas, todos foram muito
importantes para mim.
E finalmente ao meu pai, Nélio Menicucci. Infelizmente você nunca lerá esse trabalho,
mas tenho certeza que esteve comigo em todos os momentos.
Muito obrigada por tudo!
vi
"Ella está en el horizonte, dice Fernando Birri. Me
acerco dos pasos, ella se aleja dos pasos.
Caminamos diez pasos y el horizonte se corre diez
pasos más allá. Por mucho que yo camine, nunca
la alcanzaré. Para qué sirve la utopía? Para eso
sirve, para caminar."
Eduardo Galeano
vii
RESUMO
A estrutura atual das populações de espécies de plantas não só reflete padrões atuais de
trocas genéticas dentro e entre populações, mas também a história de fluxo gênico, isolamento
entre linhagens e permanência de polimorfismos ancestrais. A filogeografia é um campo de
estudo interessado em reconstruir a história das espécies visando determinar suas origens e
respostas a alterações climáticas e outras perturbações ambientais ocorridas no passado que
possam ter influenciado suas distribuições geográficas. Várias hipóteses biogeográficas têm
sido levantadas para tentar explicar as origens da alta biodiversidade encontrada na
Amazônia. No presente estudo são apresentados os padrões de distribuição da variabilidade
genética e a filogeografia da mungubeira, Pseudobombax munguba (Mart. & Zucc.) Dugand
na Amazônia brasileira, uma espécie arbórea da família Malvaceae que ocorre exclusivamente
ao longo das várzeas amazônicas. Para as análises genéticas foram amostrados 162 indivíduos
de P. munguba pertencentes a 11 populações distribuídas na Amazônia brasileira, utilizando
oito locos microssatélites do genoma de cloroplasto e 35 indivíduos, pertencentes a 9
populações, utilizando seqüências de DNA da região não codificadora do genoma de
cloroplasto trnS/trnG. Na análise dos marcadores microssatélites foram observados 2 a 5
alelos por loco e um total de 35 haplótipos considerando os oito locos analisados em
conjunto. Três populações (Beruri, Catalão e Caxiuanã), situadas no trecho médio e baixo da
calha central do rio Solimões/Amazonas mostraram-se monomórficas. Os índices de
diversidade genética de Nei variaram entre 0,0 e 0,433. A diversidade genética média total foi
de 0,240 para todas as populações analisadas conjuntamente e de 0,301 quando apenas as
populações polimórficas foram consideradas. Uma análise de variância molecular (AMOVA)
utilizando todas as populações mostrou que a maior parte da variação genética encontrada
pode ser explicada pela variação contida dentro das populações (59%), excluindo as
populações monomórficas esse valor subiu para 66%. A análise utilizando o teste de Mantel,
que correlaciona as distâncias genéticas e as distâncias geográficas entre as populações,
analisadas par a par, indicou que não há isolamento por distância entre as populações de P.
munguba na Amazônia brasileira. As seqüências da região não codificadora do genoma de
cloroplasto trnS/trnG apresentaram 10 substituições nucleotídicas e somente três haplótipos
foram identificados para o conjunto de populações de P. munguba analisado. Um desses
haplótipos foi o mais freqüente (88,6%) e amplamente distribuído na Amazônia brasileira e os
outros dois restritos às populações de Cruzeiro do Sul - AC e Caracaraí - RR. Os resultados
obtidos sugerem um fluxo gênico materno bastante restrito entre as populações de P.
viii
munguba na Amazônia brasileira. A pouca variação encontrada tanto nos marcadores
microssatélites quanto nas seqüências do genoma de cloroplasto indicam que a história de
colonização de P. munguba na Amazônia brasileira é recente e que a colonização da calha
central dos rios Solimões e Amazonas é resultado de efeito fundador a partir de um único
haplótipo. Em contraste, a alta variação encontrada nas populações localizadas nas áreas mais
elevadas em relação ao nível do mar sugere que essas populações de P. munguba são as mais
antigas na Amazônia brasileira. Os resultados obtidos com marcadores microssatélites e
seqüências do genoma de cloroplasto de P. munguba sugerem que variações no nível do mar,
ocorridas no final do Plioceno e início do Pleistoceno, afetaram fortemente o padrão de
distribuição da diversidade haplotípica da espécie. Os resultados corroboram a hipótese
biogeográfica do Lago Amazônico como determinante na estruturação genética das
populações de árvores da várzea na Amazônia brasileira.
ix
ABSTRACT
The current structure of plant populations reflects not only the present patterns of
genetic exchange within and between populations, but also historical gene flow, lineage
isolation, and maintenance of ancestral polymorphisms. Phylogeography is a field study
interested in the reconstruction of history of species to understand their origins and responses
to climatic and other environmental changes in the past that may have influenced their
geographical distributions. Several biogeographical hypotheses have been raised to explain
the origins of the high biodiversity found in the Amazon. The present study examined the
distribution patterns of the genetic variability and the phylogeography of Pseudombobax
munguba (Mart. & Zucc.) Dugand, a tree species of the Malvaceae family that occurs
exclusively in the Amazonian seasonally flooded forests. For the genetic analyses, 162
individuals from 11 populations of P. munguba distributed in the Brazilian Amazon were
sampled using eight microsatellite loci of the cloroplast genome, and 35 individuals belonging
to nine populations of P. munguba were analysed based on variation of DNA sequences of the
non-coding region trnS/trnG of the chloroplast genome. The microsatellite analysis found two
to five alleles per locus and a total of 35 haplotypes over all eight loci. Three populations
(Beruri, Catalão e Caxiuanã), located in the Middle and Lower Amazon river, showed no
polymorhisms at all. The Nei genetic diversity indexes varied from 0.0 to 0.433. The mean
genetic diversity was 0.240 for all populations analysed together and 0.301 considering only
the polymorphic populations. An analysis of molecular variance (AMOVA) over all
populations showed that the majority of the genetic variation was found within populations
(59%). If only polymorphic populations have been considered, this value was 66%. The
Mantel test, which correlates genetic and geographical distances between pairs of populations,
indicated no isolation by distance between P. munguba populations in the Brazilian Amazon.
The trnS/trnG non-coding sequences of the cpDNA contained 10 nucleotide substitutions and
three haplotypes were identified in the nine populations of P. munguba. One haplotype was
the most frequent (88.6%) and widely distributed in the Brazilian Amazon. The other two
were restricted to the Cruzeiro do Sul – AC and Caracaraí – RR populations. The results
suggest very restricted maternal gene flow among the P. munguba populations. The low
variation found in the microstellites and DNA sequences of the chloroplast genome indicates
a recent history of colonization of P. munguba in the Brazilian Amazon and that the
colonization in the Central and Lower course of the Amazon river represents a founder effect
from a single haplotype. In contrast, the high variation found in the populations located at
x
more elevated areas above sea level suggests that these P. munguba populations are the most
ancient ones in the Brazilian Amazon. The data from both microssatelites and DNA
sequences from the chloroplast genome of P. munguba suggest that variations in sea level
probably occurring in the late Pliocen and early Pleistocen strongly affected the patterns of
distribution of the haplotypic diversity in this species. The results corroborate the Amazonian
Lake biogeographical hypothesis as a determinant of the genetic structuring of populations in
tree species of the seasonally flooded forests in the region.
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Localização das populações e número de indivíduos amostrados de P. munguba na
Amazônia Brasileira.................................................................................................... 19
Tabela 2 - Características dos oito locos microssatélites do genoma de cloroplasto
amplificados para P. munguba.................................................................................... 26
Tabela 3 - Haplótipos observados com base na análise de oito locos microssatélites do
genoma de cloroplasto, em 11 populações de P. munguba.......................................... 29
Tabela 4 - Índices de diversidade genética, estimados para as populações de P. munguba com
base na análise de oito locos microssatélites do genoma de
cloroplasto.................................................................................................................... 31
Tabela 5 - Análise de Variância Molecular (AMOVA) com base na análise de oito locos
microssatélites do genoma de cloroplasto de P. munguba considerando onze
populações amostradas................................................................................................. 31
Tabela 6 - Análise de Variância Molecular (AMOVA) com base na análise de oito locos
microssatélites do genoma de cloroplasto de P. munguba considerando somente as
populações polimórficas............................................................................................... 32
Tabela 7 - Matriz de correlação entre distâncias genéticas de Reynolds (abaixo da diagonal) e
distâncias geográficas euclidianas (acima da diagonal, em Km) entre as populações de
P. munguba, analisadas par a par.................................................................................. 32
Tabela 8 - Características dos marcadores utilizados que amplificam regiões não-
codificadoras do genoma do cloroplasto de P. munguba............................................. 36
xii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Indivíduos adultos de P. munguba......................................................................... 14
Figura 2 - Flor, frutos, sementes e dispersão de P. munguba................................................ 15
Figura 3 - Locais de Coleta de P. munguba............................................................................ 20
Figura 4 - Quantificação do DNA genômico total extraído de amostras de P. munguba....... 25
Figura 5 - Fragmentos amplificados a partir da análise de oito locos microssatélites do
genoma do cloroplasto de P.munguba.......................................................................... 27
Figura 6 - Eletroferogramas mostrando alelos de oito locos microssatélites do cpDNA
amplificados para diferentes indivíduos de P. munguba.............................................. 28
Figura 7 - Freqüência de haplótipos observados na análise de oito locos microssatélites do
genoma de cloroplasto de P. munguba......................................................................... 30
Figura 8 - Relação entre distância genética de Reynolds e distância geográfica (Km) para 11
populações P. munguba, analisadas par a par, com base na variação observada em oito
locos microssatélites do genoma de cloroplasto........................................................... 33
Figura 9 - Relações entre haplótipos a partir de análise de rede (Network), com base na
variação de oito locos microssatélites do genoma do cloroplasto de P. munguba. Cada
círculo se refere a um haplótipo................................................................................... 34
Figura 10 - Amplificação de regiões não codificadoras do cpDNA de P.
munguba....................................................................................................................... 37
Figura 11 - Eletroferogramas mostrando produtos do seqüenciamento de dois indivíduos de
P. munguba para a região trnS/trnG............................................................................ 38
Figura 12 - Alinhamento de seqüências de DNA da região trnS/trnG do genoma do
cloroplasto de P. munguba.......................................................................................... 39
Figura 13 - Relações entre os haplótipos obtidos a partir da análise das seqüências do
espaçador intergênico trnS/trnG do genoma do cloroplasto de P.
munguba....................................................................................................................... 40
Figura 14 - Mapa mostrando a formação do lago amazônico, com base na simulação do
alagamento da bacia amazônica, utilizando a topografia atual em função da elevação
do nível dos oceanos na cota de 120m.......................................................................... 48
xiii
SUMÁRIO
FICHA CATALOGRÁFICA ...............................................................................................III
DEDICATÓRIA.................................................................................................................... IV
AGRADECIMENTOS............................................................................................................V
RESUMO...............................................................................................................................VII
ABSTRACT ........................................................................................................................... IX
LISTA DE TABELAS........................................................................................................... XI
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................................XII
SUMÁRIO........................................................................................................................... XIII
I. INTRODUÇÃO.....................................................................................................................1
I.1.
ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE PLANTAS..................................................2
I.2.
FILOGEOGRAFIA..............................................................................................................3
I.3.
HIPÓTESES BIOGEOGRÁFICAS - AMAZÔNIA...................................................................6
I.4.
MARCADORES MOLECULARES........................................................................................8
I.5.
CLASSIFICAÇÃO DO GÊNERO PSEUDOBOMBAX............................................................11
I.6.
MORFOLOGIA, BIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO DE PSEUDOBOMBAX MUNGUBA................12
I.7.
PSEUDOBOMBAX MUNGUBA E A VÁRZEA......................................................................16
I.
8. JUSTIFICATIVA..............................................................................................................17
II. OBJETIVOS......................................................................................................................18
III. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................19
III.1.
MATERIAL BIOLÓGICO E LOCAIS DE COLETA..........................................................19
III.2.
EXTRAÇÃO, QUANTIFICAÇÃO E DILUIÇÃO DO DNA.................................................20
III.3.
AMPLIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS LOCOS MICROSSATELITES DO GENOMA DO
CLOROPLASTO (CPDNA).....................................................................................................21
III.4.
AMPLIFICAÇÃO DAS REGIÕES NÃO CODIFICADORAS DO CPDNA............................21
III.5.
SEQÜENCIAMENTO E ANÁLISE DOS PRODUTOS AMPLIFICADOS...............................22
III.6.
ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................23
VI. RESULTADOS.................................................................................................................25
IV.1. EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DNA ...................................................................25
IV.2.
AMPLIFICAÇÃO, GENOTIPAGEM E ANÁLISE DOS LOCOS MICROSSATÉLITES DO
GENOMA DO CLOROPLASTO (CPDNA) ...............................................................................25
IV.3.
AMPLIFICAÇÃO, SEQÜENCIAMENTO E ANÁLISE DAS REGIÕES NÃO CODIFICADORAS
DO CP
DNA............................................................................................................................36
V. DISCUSSÃO ......................................................................................................................41
VI. CONCLUSÃO..................................................................................................................52
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................54
1
I. INTRODUÇÃO
A estruturação genética de populações de plantas é fortemente influenciada por
padrões de trocas genéticas dentro e entre populações. Variações em fatores relacionados à
reprodução das espécies e à história de vida podem afetar profundamente a natureza dos
padrões de trocas genéticas e, conseqüentemente, a estrutura genética das populações
(Schaal et al., 1998; Gribel, 2003). Muitas espécies atuais que possuem distribuição
contínua podem ter experimentado altos níveis de fragmentação populacional no passado
como conseqüência de alterações climáticas e outras perturbações ambientais (Haffer,
1969; Prance, 1982; Schaal et al., 1998; Hewitt, 2000, 2004; Dynesius & Jansson, 2000;
Cavers et al., 2003).
A filogeografia é um campo de estudo interessado nos princípios e processos que
governam a distribuição geográfica das linhagens genealógicas, especialmente aquelas
intimamente relacionadas, reconhecendo subdivisões de populações ao longo da
distribuição da espécie (Avise, 1998, 2000). Existe atualmente considerável interesse em
reconstruir a história dessas espécies visando determinar suas origens e suas respostas a
essas alterações (Schaal et al., 1998; Hewitt, 2000, 2004; Cavers et al., 2003; Dutech et al.,
2003).
Tentando explicar as origens da alta biodiversidade encontrada na Amazônia, foram
formuladas várias hipóteses: Rios como Barreiras (Wallace, 1849; Capparella, 1988; Ayres
& Clutton-Brock, 1992; Haffer, 1992; Patton et al., 1994); a Teoria dos Refúgios (Haffer,
1969; Vanzolini & Williams, 1970; Cerqueira, 1982; Prance, 1982); Centros de Origem e
Dispersão (Hershkovitz, 1977; Reig, 1984); Gradientes Ecológicos (Endler, 1977, 1982;
Patton et al., 1994); Vicariância Geotectônica (Platnick & Nelson, 1978; Cracraft & Prum,
1988; Futuyma, 1992; Amorim & Pires, 1996); Lago Amazônico (Klammer, 1984); e
Dinâmica dos Rios (Salo et al., 1986).
Ainda são poucos os estudos filogeográficos com espécies de plantas na Amazônia.
Olsen & Schaal (1999) e Olsen (2002) realizaram estudos com Manihot esculenta no norte
e centro-oeste do Brasil, encontrando uma estrutura filogeográfica que pode ser explicada
pelas alterações climáticas após a última grande glaciação. Dutech et al. (2003)
encontraram evidências de que os quatro refúgios sugeridos por Granville (1988) foram de
grande importância para a manutenção da diversidade de Vouacapoua americana na
2
Guiana Francesa. Segundo Dick et al. (2003), a distribuição dos haplótipos encontrados
nas populações de Symphonia globulifera coincide com as zonas biogeográficas propostas
por Whitmore & Prance (1987). Dick et al. (2007) encontraram em Ceiba pentandra a
estrutura filogeográfica mais fraca já reportada em espécies tropicais amplamente
distribuídas e descartam a ocorrência de eventos vicariantes na espécie.
No presente estudo são apresentados os padrões de distribuição da variabilidade
genética e a filogeografia da mungubeira, Pseudobombax munguba (Mart. & Zucc.)
Dugand na Amazônia brasileira, uma espécie arbórea da família Malvaceae que ocorre
exclusivamente ao longo das várzeas amazônicas.
I.1.
ESTRUTURA GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE PLANTAS
Fatores que influenciam os padrões de trocas genéticas dentro e entre populações
afetam diretamente a estruturação genética das populações de plantas (Schaal et al., 1998;
Gribel, 2003). Um desses fatores é o sistema de cruzamento (Ritland, 1983; Murawski &
Hamrick, 1991), sendo possível encontrar desde casos em que ocorre fluxo gênico entre
populações de espécies divergentes (espécies do gênero Quercus, Ferris et al., 1993), até
plantas que se reproduzem exclusivamente por apomixia (Taraxacum officinale, Schaal et
al., 1998).
Outro fator importante é o mecanismo pelo qual os genes migram. O fluxo gênico
em plantas ocorre principalmente de duas formas: por meio de movimento de sementes ou
de pólen (Ennos, 1994; McCauley, 1994
). As plantas apresentam uma grande variedade de
mecanismos de polinização e dispersão, levando a padrões diversos de trocas genéticas que
são influenciados por variação espacial e temporal nos sistemas de cruzamento. Assim,
padrões de trocas genéticas em plantas resultam de uma complexa interação entre sistema
reprodutivo e padrões de dispersão (Hamrick, 1987; Hamrick & Godt, 1990; Schaal et al.,
1998).
Estudos têm mostrado que espécies de plantas tropicais mantêm uma grande
diversidade genética e que a maior parte da variação genética intraespecífica é encontrada
dentro das populações (Buckley et al., 1988; Powell et al., 1995; Aldrich et al., 1998;
Collevatti et al,. 2001; Lemes et al., 2003; Novick et al., 2003), embora Caicedo & Schaal
(2004) tenham encontrado altos níveis de variação tanto dentro quanto entre populações de
Solanum pimpinellifolium. Devido à dispersão somente via semente espera-se encontrar
3
uma diferenciação ainda maior entre as populações de plantas quando são utilizados
marcadores de herança materna (Ennos, 1994; Powell et al., 1995; Ennos et al., 1999; Lira
et al., 2003).
Modelos clássicos de genética de populações que descrevem a estruturação genética
de populações de plantas assumem que a atual estrutura genética reflete um equilíbrio entre
deriva genética e fluxo gênico (Wright, 1951). Contudo, a troca genética é restrita em
muitos grupos, tanto pela larga distribuição geográfica da espécie, quanto por limitada
dispersão de pólen e/ou sementes (Ehrlich & Raven, 1969). Nesses casos, eventos
históricos, como expansão, fragmentação e efeito gargalo, serão fortes fatores
determinantes da estrutura genética atual dessas populações (Schaal et al., 1998; Hewitt,
2000; Avise, 2000).
I.2.
FILOGEOGRAFIA
Métodos filogeográficos proporcionam os meios de se examinar padrões de
distribuição de variação genética, com o potencial de distinguir aqueles causados por fluxo
gênico atual entre as populações, daqueles derivados de eventos históricos. Extinção e
recolonização, efeito gargalo e efeito fundador são alguns dos tipos de eventos históricos
que deixam sinais genéticos nas gerações subseqüentes (Hewitt, 1996, Schaal et al., 1998;
Dutech et al., 2003).
Alterações climáticas ocorridas no passado (Bennet, 1997; Webb et al., 1997;
Williams et al., 1998; Hewitt, 2000), embora mais fracas nos trópicos que nas latitudes
temperadas (Dynesius & Jansson, 2000), teriam afetado não só a distribuição geográfica de
muitas espécies das florestas tropicais (Prance, 1982; Granville, 1988; Rull, 1998;
Pennington et al., 2000), mas também a distribuição da diversidade genética entre as
populações dessas espécies (Dutech et al., 2003). Existe atualmente considerável interesse
em reconstruir a história dessas espécies visando determinar suas origens e suas respostas a
essas alterações (Schaal et al., 1998; Hewitt, 2000, 2004; Cavers et al., 2003; Dutech et al.,
2003; Dick et al., 2003; Dick et al., 2007).
Alguns estudos filogeográficos com Pinus hartwegii (Matos & Schaal, 2000), com
Dioscorea bulbifera (Terauchi et al., 1991), com pinheiros (Hong et al., 1993) e com
Streptanthus glandulosus (Mayer & Soltis, 1994) mostraram que as populações dessas
espécies estão geneticamente isoladas há muito tempo. Em outros casos, pouca ou
nenhuma variação genética é encontrada, um padrão esperado quando ocorre rápida
4
expansão a partir de um refúgio, como observado em espécies de regiões temperadas
bastante afetadas pelos efeitos das glaciações, como observado em Fagus sylvatica
(Demesure et al., 1996) e em Heuchera (Soltis et al., 1997). Em Gliricidia (Lavin et al.,
1991) a larga distribuição de um único haplótipo ao longo da distribuição da espécie reflete
uma história de dispersão muito mais rápida, provavelmente realizada por humanos. A
distribuição geográfica da variação genética encontrada por Petit et al. (2002) indica uma
grande influência tanto de glaciações quanto de manejo humano, recente e no passado, nas
oito espécies do gênero Quercus estudadas.
Estudos filogeográficos com espécies de plantas na região neotropical não são
muitos se comparados às regiões temperadas. Olsen & Schaal (1999) e Olsen (2002)
realizaram estudos com Manihot esculenta no norte e centro-oeste do Brasil, encontrando
uma estrutura filogeográfica que pode ser explicada pelas alterações climáticas após a
última grande glaciação e sugerem um centro de domesticação da espécie no estado de
Rondônia.
Caron et al., (2000) encontraram um padrão de distribuição da diversidade genética
em Dicorynia guianensis que pôde ser relacionado a eventos históricos ocorridos durante o
Quaternário na Guiana, onde possivelmente houveram colonizações a partir de vários
refúgios diferentes.
Lira et al. (2003) mostraram que as populações de Caesalpinia echinata no sudeste
e nordeste do Brasil apresentam um padrão de isolamento devido à existência de refúgios
separados durante as glaciações e de uma forte ação de deriva genética no período pós-
glacial. Collevatti et al. (2003) também encontraram indícios da existência de refúgios
separados para Caryocar brasiliense no centro-oeste e sudeste do Brasil, entretanto,
alterações no padrão de dispersão das sementes tiveram um papel importante na
filogeografia dessa espécie.
Cavers et al. (2003) encontraram evidências de repetidas colonizações de Cedrela
odorata na América Central a partir de populações diferenciadas da América do Sul, após
a elevação do Istmo do Panamá.
Dick et al. (2003), em um estudo filogeográfico com populações de Symphonia
globulifera localizadas na América Central, Amazônia e África, atribuíram a expansão da
5
espécie entre continentes à dispersão marinha, a diferenciação regional encontrada,
principalmente na América Central, à heterogeneidade geográfica local e a ausência de
variação entre as populações localizadas na bacia Amazônica a uma expansão recente da
espécie na região ou a um extensivo fluxo gênico atual. Segundo Dick et al. (2003), a
distribuição dos haplótipos encontrados nas populações de Symphonia globulifera coincide
com as zonas biogeográficas propostas por Whitmore & Prance (1987). A existência de
três refúgios diferentes na América Central durante as glaciações e a heterogeneidade
geográfica da região após a última glaciação, aliadas a efetividade dos Andes como
barreira ao fluxo gênico explica a grande estruturação filogeográfica encontrada entre as
populações da América Central e oeste do Equador, em contraste com a ausência de
variação entre as populações da Amazônia e Guiana. Outras possibilidades seriam a
expansão recente da espécie na Amazônia e Guiana ou um extenso fluxo gênico
contemporâneo entre as populações dessa região.
Dutech et al. (2003) encontraram evidências de que os quatro refúgios sugeridos
por Granville (1988) foram de grande importância para a manutenção da diversidade de
Vouacapoua americana na Guiana Francesa, devido aos eventos de extinção e re-
colonização decorrentes das alterações climáticas durante o Pleistoceno e Holoceno.
González-Rodríguez et al. (2004) observaram no México que as espécies Quercus
affinis e Q. laurina não ficaram restritas a uma ou poucas sub-regiões durante o último
ciclo glacial. Os dados obtidos pelos autores indicam a persistência de um número
considerável de populações ao longo de vários episódios de alterações climáticas durante o
Quaternário, os quais experimentaram recorrentes migrações latitudinais e altitudinais.
Caicedo & Schaal (2004) sugerem que a diferenciação encontrada entre populações
de Solanum pimpinellifolium é mantida por fluxo gênico restrito e que a distribuição atual
da espécie é decorrente de uma gradual colonização ao longo da Costa do Pacífico a partir
de um centro de origem no Peru.
Cloutier et al., (2005), estudando o efeito da dispersão hidrocórica em Carapa
guianensis na bacia Amazônica, encontraram uma forte estrutura populacional regional e
discutem a influencia de algumas hipóteses biogeográficas na filogeografia da espécie.
6
Lorenz-Lemke et al. (2005) encontraram indícios no Rio Grande do Sul que
Passiflora elegans, além de ter passado recentemente por um efeito gargalo, teria se
originado de uma linhagem de P. actinia. A constituição genética de um híbrido natural,
originado após um contato secundário entre as duas espécies, sugere que a herança dos
plastídios nessas espécies é paterna. Os dados encontrados mostram que ambas as espécies
foram afetadas pelas alterações climáticas durante o Quaternário.
Miller & Schaal (2005) encontraram evidências de múltiplos eventos de
domesticação de Spondias purpurea a partir de linhagens selvagens da espécie na América
Central e que populações domesticadas são um importante reservatório de variação
genética da espécie.
Dick et al. (2007) encontraram tão pouca variação entre indivíduos de Ceiba
pentandra na América do Sul, América Central e África, que descartam a ocorrência de
eventos vicariantes (Gondwana, Boreo-tropical e Andina) na espécie, atribuindo sua ampla
expansão geográfica a eventos de dispersão a longas distâncias por vento ou correntes
marinhas.
I.3.
HIPÓTESES BIOGEOGRÁFICAS - AMAZÔNIA
O amplo debate sobre a influência de alterações climáticas e outras perturbações
ambientais nas florestas neotropicais, levou à formulação de algumas hipóteses para
explicar as origens da alta biodiversidade encontrada na Amazônia (Bush, 1994; Colinvaux
et al., 1996; Morroig & Cerqueira, 1997; Willis & Whittaker, 2000). Entre elas destacam-
se: rios como barreiras (Wallace, 1849; Sick, 1968; Capparella, 1988; Ayres & Clutton-
Brock, 1992; Haffer, 1992; Patton et al., 1994); a teoria dos refúgios (Haffer, 1969;
Vanzolini & Williams, 1970; Cerqueira, 1982; Prance, 1982); centros de origem e
dispersão (Hershkovitz, 1977; Reig, 1984); gradientes ecológicos (Endler, 1977, 1982;
Patton et al., 1994); vicariância geotectônica (Platnick & Nelson, 1978; Cracraft & Prum,
1988; Futuyma, 1992; Amorim & Pires, 1996); lago amazônico (Klammer, 1984); e
dinâmica dos rios (Salo et al., 1986).
Segundo a hipótese dos rios como barreiras, o desenvolvimento do extenso sistema
fluvial Amazônico, graças ao soerguimento dos Andes durante o Cenozóico, iniciou uma
série de eventos vicariantes devido à fragmentação na distribuição de espécies ancestrais
amplamente distribuídas previamente (Morroig & Cerqueira, 1997).
7
A teoria dos refúgios, ou vicariância ecológica postula que ciclos de alterações
climáticas durante o Terciário e o Pleistoceno, alternando entre períodos secos-frios e
úmido-quentes, associados respectivamente aos períodos glacial e inter-glacial, resultaram
em repetidos eventos de fragmentação em refúgios seguidos de expansão das florestas
tropicais, acontecendo o inverso com os tipos de vegetação aberta e sua fauna associada
(Haffer, 1969; Vanzolini & Williams, 1970).
A hipótese dos centros de origem e dispersão consiste na existência de áreas
biogeográficas estáveis, os centros de origem, a partir dos quais ocorre dispersão através da
transposição de uma barreira pré-existente, causando fragmentações simultaneamente
(Hershkovitz, 1977; Reig, 1984).
A hipótese dos gradientes ecológicos sugere que os padrões atuais de distribuição
são consistentes com a divergência geográfica e adaptações aos fatores eco-geográficos
atuais, independente dos fatos históricos (Morroig & Cerqueira, 1997). O isolamento por
distância permite adaptações genéticas a diferentes áreas, resultando em zonas uniformes
em freqüências genéticas ou fenotípicas separadas por clinas (Endler, 1982).
A vicariância geotectônica relaciona princípios cladistas e eventos geotectônicos da
Terra (Platnick & Nelson, 1978). Diferentemente da teoria dos refúgios, essa hipótese
enfatiza eventos mais antigos, do Terciário ou anteriores (Morroig & Cerqueira, 1997).
A hipótese da dinâmica dos rios sugere que a erosão lateral e alterações na calha
dos rios criam e destroem muitos habitats diferentes devido à própria erosão e deposição de
materiais nas planícies alagadas, influenciando a criação e manutenção de diversidade de
espécies na Amazônia (Salo et al., 1986).
A hipótese do lago amazônico sugere que as oscilações climáticas ocorridas durante
o Terciário e o Quaternário tiveram papéis globais, levando à elevação de até 180 m (“The
Great Fouaratian transgression” - Klammer, 1984) e redução de até 100-130 m (“Würmian
maximum” - Irion, 1984) do nível dos oceanos em relação ao nível atual. Essas alterações
teriam causado diferenças na inclinação dos leitos dos rios em relação à inclinação atual,
alterando a vazão e a força da erosão lateral dos rios. Com a elevação do nível dos
oceanos, as águas marítimas poderiam tanto avançar continente adentro quanto represar a
8
saída das águas fluviais, causando o extravasamento de muitos rios gerando um grande
lago na Amazônia (Klammer, 1984; Morroig & Cerqueira, 1997).
A história geológica, climática e biogeográfica da América do Sul é complexa e
muito dinâmica e talvez nenhum modelo consiga sozinho explicar a enorme diversidade
das espécies nesta região, mas a combinação de diferentes hipóteses pode ajudar a
esclarecer a história evolutiva e a distribuição das espécies amazônicas (Morroig &
Cerqueira, 1997).
I.4.
MARCADORES MOLECULARES
Devido ao status haplóide, a taxa reduzida de mutação e a falta de recombinação, os
genomas de organelas, mitocondrial (mtDNA) e de cloroplasto (cpDNA), apresentam uma
menor diversidade em suas seqüências gênicas se comparados ao genoma nuclear e são
mais afetados pela seleção por efeito carona. Devido aos baixos níveis de variação nas
seqüências, para se encontrar níveis úteis de variação intraespecífica deve-se procurar
regiões mais mutáveis, como regiões não codificadoras, mas ainda assim a taxa de mutação
é lenta para evidenciar eventos evolutivos muito recentes (Ennos et al., 1999).
Em animais, a maior parte dos estudos filogeográficos envolvem análises de DNA
mitocondrial primariamente ou exclusivamente (Avise, 1998). Entretanto, o mtDNA em
plantas apresenta uma taxa de substituição muito baixa que, combinada com as freqüentes
recombinações intramoleculares, reduzem sua utilidade como fonte de marcadores, sendo
utilizado mais freqüentemente o genoma do cloroplasto (Avise, 1998; Provan, 1999; Petit
& Vendramin, 2007).
Para uma abordagem filogenética, apenas os dados de substituição de bases e
inserções/deleções dentro de regiões não codificadoras do DNA de organelas e do genoma
nuclear são satisfatórios (Schaal et al., 1998). Isso porque a taxa de substituição de bases é
baixa o suficiente para que não ocorram homoplasias, e a taxa de geração de
inserções/deleções não é tão freqüente, o que impossibilitaria o alinhamento das seqüências
(Ennos et al., 1999). Em contraste, todos os outros marcadores (como diferenças em
números de repetições de genes no cloroplasto e regiões de seqüências simples repetidas)
geram homoplasias ou variantes cujas relações evolutivas não podem ser inferidas (Palmer,
1992; Demesure et al., 1996).
9
Esses fatores impõem limites no uso de marcadores do genoma do cloroplasto para
análises filogenéticas intra-especificas em plantas. Entretanto, por seu padrão de herança
uniparental, predominantemente materna em angiospermas (Harris & Ingram, 1991), e
modelos de evolução, essa molécula possui a capacidade de sinalizar eventos históricos
como migrações, dispersão de sementes e hibridização que não poderiam ser obtidos
apenas com marcadores nucleares (Ennos et al., 1999). Entretanto, a soma de dados
obtidos de vários marcadores, com padrões de herança e taxas evolutivas diferentes,
fornece informações mais completas e úteis na elucidação da historia evolutiva da espécie
estudada (Harris & Ingram, 1991; Schaal et al., 1998).
Entre os marcadores moleculares mais utilizados em estudos genéticos de plantas
estão as seqüências simples repetidas-SSR (Powell et al., 1995; Collevatti et al., 1999;
Lemes et al., 2002; Provan et al., 2001; Collevatti et al., 2001; Lemes et al., 2003;
Collevatti et al., 2003; Novick et al., 2003; Lira et al., 2003), o polimorfismo no
comprimento de fragmentos de restrição obtidos via reação em cadeia da polimerase PCR-
RFLP (El Mousadick & Petit, 1996; Soltis et al., 1997; King & Ferris, 1998; Dumolin-
Lapègue et al., 1997; Caron et al., 2000; Petit et al., 2002; Cavers et al., 2003; Dutech et
al., 2003; González-Rodrígues et al., 2004; Cottrell et al., 2005) e as seqüências de
nucleotídeos de segmentos da molécula de DNA nuclear e de cloroplasto (Oxelman et al.,
1997; Olsen & Schaal, 1999; Olsen, 2002; Collevatti et al., 2003; Hamilton et al., 2003;
Dick et al., 2003; Caicedo & Schaal, 2004; Miller & Schaal, 2005; Lorenz-Lemke et al.,
2005, Dick et al. 2007).
Os marcadores de DNA microssatélites, também conhecidos como Sequências
Simples Repetidas (SSR), são pequenas seqüências de 1 a 6 nucleotídeos repetidas em
tandem, muito freqüentes e distribuídas ao acaso por todo o genoma dos eucariotos (Tautz
& Renz, 1984; Litt & Luty, 1989). Normalmente apresentam locos altamente polimórficos,
com alta diversidade alélica, são co-dominantes, e de grande conteúdo informativo
(Morgante & Olivieri, 1993; Condit & Hubbell, 1991; Powell et al., 1995; Ferreira &
Grattapaglia, 1998). As seqüências flanqueadoras das regiões dos microssatélites são
conservadas entre espécies relacionadas, o que torna possível a transferência de
marcadores entre espécies ou mesmo entre gêneros usando pares de iniciadores
heterólogos (Ferreira & Grattapaglia, 1998). Por suas características, os microssatélites
apresentam um alto poder de discriminação individual, o que os torna uma poderosa
10
ferramenta em estudos sobre estrutura genética populacional, fluxo gênico e análise de
parentesco (Rafalski et al., 1996; Chase et al., 1996).
A descoberta de SSR polimórficas, no genoma de cloroplasto (cp-SSR) forneceu
uma ferramenta de alta resolução para utilização da molécula de cloroplasto em genética
de populações, contornando o problema dos baixos níveis de variabilidade encontrados
neste genoma (Ennos et al., 1999; Provan, 1999; 2001). Como o genoma de cloroplasto
apresenta herança materna na maioria das angiospermas, os microssatélites de cloroplasto
evidenciam o fluxo gênico que ocorre por meio de dispersão de sementes. Por ser haplóide,
o tamanho efetivo de população para o genoma do cloroplasto é metade do tamanho
efetivo para o genoma nuclear, assim, microssatélites de cloroplasto são bons indicadores
de eventos históricos como efeito gargalo, efeito fundador e deriva genética (Ennos et al.,
1999; Provan, 1999; 2001; Petit & Vendramin, 2007).
Polimorfismos no comprimento de fragmentos obtidos por quebra da fita de DNA
por enzimas de restrição (RFLPs) foram utilizados pela primeira vez para detecção de
mutações em vírus (Godzicker et al., 1974). Amplamente utilizada para acessar variação
na seqüência de nucleotídeos tanto de regiões codificadoras quanto não codificadoras, essa
técnica possui expressão co-dominante além de apresentar altos níveis de polimorfismo.
PCR-RFLP, ou CAPS (“Cleaved Amplified Polymorphic Sequences”) é uma técnica
desenvolvida a partir do RFLP e também consiste na obtenção de polimorfismos em
comprimentos de fragmentos de DNA por enzimas de restrição. Entretanto, os fragmentos
são obtidos pela digestão do produto previamente amplificado de um segmento de DNA de
interesse utilizando reação em cadeia da polimerase (Saiki et al., 1985). A utilização de
várias enzimas de restrição combinadas possibilita encontrar altos níveis de polimorfismos
(Ferreira & Grattapaglia, 1998). Essa tem sido, até o momento, a técnica mais comumente
utilizada em estudos filogeográficos com plantas, tanto em regiões temperadas quanto
tropicais (El Mousadik & Petit, 1996; Dumolin-Lapègue et al., 1997; Soltis et al., 1997;
King & Ferris, 1998; Petit et al., 2002; Cavers et al., 2003; Dutech et al., 2003; Gonzalez-
Rodriguez et al., 2004; Cottrell et al., 2005).
Outra forma de detectar variação útil para estudos genéticos é a busca de
polimorfismos diretamente nas seqüências de nucleotídeos em regiões específicas do DNA
(Ferreira & Grattapaglia, 1998). Locos distintos na mesma molécula apresentam modelos e
tempos de evolução diferentes, como os genomas nuclear e citoplasmático que, além disso,
11
apresentam tipos de herança diferentes. Esse fato permite a utilização de seqüências
específicas de DNA em vários tipos de estudos. Segmentos que apresentam uma taxa de
evolução lenta podem ser utilizados para reconstruir a relação filogenética de taxa
superiores. Uma taxa de evolução média é útil para inferir relações entre grupos mais
próximos. Para a resolução de questões evolutivas de grupos intimamente relacionados, ou
até questões populacionais intra-específicos, devem ser utilizados segmentos com uma alta
taxa de evolução (Schaal et al., 1998; Ennos et al., 1999; Provan, 1999, 2001).
Existem ainda poucos estudos utilizando seqüências de nucleotídeos para investigar
a filogeografia em plantas tropicais. Na maioria dos estudos realizados foram utilizadas
seqüências de regiões não codificadoras do genoma de cloroplasto, como em Caryocar
brasiliense (Collevatti et al., 2003), duas espécies do gênero Passiflora (Lorenz-Lemke et
al., 2005) e Spondias purpurea (Miller & Schaal, 2005). Destacam-se ainda os estudos
com Manihot esculenta (Olsen & Schaal, 1999; Olsen, 2002), Symphonia globulifera (Dick
et al., 2003), Solanum pimpinellifolium (Caicedo & Schaal, 2004) e Ceiba pentandra (Dick
et al. 2007) que além de sequências do DNA do cloroplasto, também investigaram
seqüências do genoma nuclear.
I.5.
CLASSIFICAÇÃO DO GÊNERO PSEUDOBOMBAX
A família Malvaceae sensu latu compreende as subfamílias Grewioideae,
Byttnerioideae, Sterculioideae, Tilioideae, Dombeyoideae, Brownlowioideae,
Helicteroideae, Malvoideae e Bombacoideae. Diversos estudos utilizando marcadores
moleculares têm confirmado que esse clado é monofilético (Alverson et al., 1998;
Alverson et al., 1999; Bayer et al., 1999; Baum et al., 2004). Análises de seqüências de
genes plastidiais realizadas por Alverson et al. (1999) e Bayer et al. (1999) mostraram que
as subfamílias Bombacoideae e Malvoideae são intimamente relacionadas, formando um
grupo monofilético, denominado Malvatheca (Baum et al., 1998). No entanto, a
composição e as relações, entre alguns taxa dentro desse grupo continuam incertas.
A subfamília Malvoideae possui uma distribuição basicamente subtropical e
temperada e consiste em cerca de 1700 espécies, constituindo a maior parte da diversidade
de espécies do grupo Malvatheca. Relativamente pequena, a subfamília Bombacoideae
contém menos de 250 espécies, sendo predominantemente composta de árvores tropicais
(Baum et al., 2004). Segundo Baum et al. (2004), ambas subfamílias teriam se originado
12
na América do Sul e a grande diferença em número de espécies entre as duas subfamílias
seria resultado de uma radiação das Malvoideae nas regiões subtropical e temperada, a
partir de uma fonte tropical menos diversa.
A subfamília Bombacoideae compreende a maioria dos gêneros que faziam parte da
antiga família Bombacaceae, menos Durioneae e acrescida de Fremontodendrae (Bayer et
al., 1999), e é um dos poucos grupos de Angiospermas em que a polinização por
vertebrados, principalmente por morcegos, prevalece sobre a polinização por insetos
(Gribel, 1988; 1995).
Pseudobombax é um gênero exclusivamente neotropical, com 20 espécies de
árvores e arbustos, que ocorre do norte da Argentina, Paraguai e Brasil à América Central
(Robyns, 1963; Aubréville, 1975). As espécies de Pseudobombax são geralmente
especializadas em colonizar habitats abertos com algum tipo de restrição no solo para
outras espécies arbóreas, como longos períodos de alagamento (Gribel, 1995).
I.6.
MORFOLOGIA, BIOLOGIA E DISTRIBUIÇÃO DE PSEUDOBOMBAX MUNGUBA
Pseudobombax munguba (Mart. & Zucc.) Dugand é uma espécie arbórea que pode
atingir até 40 metros de altura, é decídua e renova sua folhagem durante o período entre o
surgimento das flores e a maturação dos frutos, aproximadamente de junho a setembro
(Gribel, 1995). Na maioria das espécies do gênero Pseudobombax as flores apresentam
estrutura robusta, tamanho grande e centenas de estames formando um tufo semi-esférico
ou em forma de pincel (Robyns 1963; Gribel, 1988). Em P. munguba as flores são
solitárias, inclinadas, grandes (corola com 10-14 cm de diâmetro) e totalmente brancas,
incluindo anteras e pólen. As flores de P. munguba são polinizadas por uma única espécie
de morcego, Phyllostomus hastatus (Phyllostomidae), um dos maiores morcegos da região
neotropical (Gribel & Gibbs, 2002). Esses morcegos possuem uma grande área de
forrageio, chegando a cobrir distâncias de 10-20 km por dia (Williams & Williams, 1970).
Diferente de todas as outras espécies quiropterófilas, as flores de P. munguba não
produzem néctar (Gribel, 1995).
Estudos sobre o sistema reprodutivo forneceram evidências de altos níveis de
fecundação cruzada em árvores tropicais (O’Malley & Bawa, 1987; O’Malley et al., 1988;
Hamrick & Loveless, 1989; Murawski et al. 1990; Murawski & Hamrick 1991, 1992;
Alvarez-Buylla & Garay, 1994; Hall et al., 1994; Boshier et al., 1995; Alvarez-Buylla et
13
al., 1996; Lemes, 2000, Collevatti et al., 2001; Dick, 2001; White et al., 2002; Ward et al.,
2005). Vários autores atribuem a prevalência desses altos níveis de fecundação cruzada a
algum tipo de auto-incompatibilidade (Bawa, 1974; Bawa et al., 1985, Bullock, 1985;
O’Malley & Bawa, 1987; Murawski et al., 1990). Pseudobombax munguba apresenta alta
taxa de fecundação cruzada apesar da espécie não apresentar uma barreira de auto-
incompatibilidade esporofítica ou gametofítica típica (Gribel & Gibbs 2002). A produção
final de sementes, contudo, não é afetada pela redução da fertilidade devido à perda de
óvulos auto-fecundados. As sementes são produzidas em grande quantidade através de
fertilização cruzada freqüente, promovida por um polinizador capaz de forragear a longas
distâncias (Gribel & Gibbs, 2002). Também foi observado que P. munguba não apresenta
agasmospermia (Gribel & Abbott, 1996).
Os frutos de P. munguba são elípticos, com 15 a 30 cm de comprimento e cor
vermelha. As cápsulas deiscentes contêm 500-2700 pequenas sementes (2-3 mm de
diâmetro), que pesam 19-32 mg cada. A maturação dos frutos ocorre de 55 a 75 dias após a
abertura das flores (Gribel, 1995). As sementes são envolvidas por uma fibra macia e leve
que ajuda na dispersão pelo vento. Essa fibra é bastante utilizada pelas populações locais
na confecção de travesseiros.
P. munguba é a única espécie do gênero que ocorre nas florestas de várzea,
podendo ser encontrada em áreas sazonalmente inundadas por até quatro meses e nas
várzeas de maré, na região do estuário amazônico (Pires, 1974; Pires & Prance, 1985;
Worbes, 1992; Gribel & Gibbs, 2002; Gribel, 2003). Os habitats alagáveis chamados de
várzea são característicos das bacias sedimentares dos rios de água branca. O nome água
branca se refere aos rios da Amazônia que têm suas cabeceiras nos Andes. A forte erosão
nos Andes fornece o sedimento encontrado nestes rios, dando às águas uma aparência
barrenta. Os rios de águas brancas possuem alta carga de sedimento, pH quase neutro e
condutividades elétricas relativamente altas (Araujo-Lima & Goulding, 1998).
P. munguba também pode ser encontrada nas áreas alagadas do Rio Branco no
estado de Roraima. O Rio Branco é um afluente do Rio Negro que sazonalmente carrega
sedimentos originados dos Tepuis, dando às suas águas uma aparência semelhante aos rios
de água branca (Araujo-Lima & Goulding, 1998).
14
C
C
A
A
B
B
Fotos: Rogério Gribel
Fotos: Rogério Gribel
Figura 1 - Indivíduos adultos de P. munguba: A) Em terra; B) Parcialmente submersa; C) Totalmente
submersa.
15
A
A
B
B
C
C
D
D
Fotos: Rogério Gribel
Figura 2 - Flor, frutos, sementes e disperção de P. munguba. A) Flor; B) Frutos e sementes; C e D)
Dispersão de sementes.
16
I.7. PSEUDOBOMBAX MUNGUBA E A VÁRZEA
A presença de grandes florestas nas planícies alagáveis dos rios de águas barrentas
da Amazônia leva a uma grande disponibilidade de frutas e sementes que são uma
importante fonte de alimento para vários tipos de peixes e outros animais. As larvas de
caraciformes como o tambaqui e de espécies dos gêneros Triportheus, Brycon e Chalceus;
de várias espécies de piranha; de aracus ou piaus (Anostomidae) e de bagres (Pimelodidae,
Doradidae e Auchenipteridae), após deixarem os rios de águas barrentas, entram na
planície inundada onde começam a se alimentar (Araujo-Lima & Goulding, 1998). Claro-
Jr et al. (2004) observaram, em juvenis de Parauchenipterus galeatus, Mylossoma
duriventre e Triportheus elongatus, uma dieta composta basicamente de frutos e sementes.
O mesmo foi observado por Balensiefer & Vogt (2006) em tartarugas da espécie
Podocnemis unifilis. As sementes de P. munguba, ricas em proteínas e óleos, são
efetivamente importantes para as populações nativas de peixes e tartarugas nas áreas de
várzea (Gribel, 1995).
Na várzea dos rios Solimões e Amazonas, P. munguba ocorre em densidades de
cinco árvores por hectare (Araujo-Lima & Goulding, 1998). Uma árvore produz em média
55 frutos por ano, contendo 1.474 sementes cada (Gribel, 1995). Considerando cerca de 1,2
kg de sementes por árvore, a produção total de sementes de munguba foi estimada em
cerca de 78.000 t/ano na várzea do rio Amazonas (Araujo-Lima & Goulding, 1998).
O impacto das ações antrópicas nas áreas de várzea vem aumentando ao longo dos
anos (Monteiro & Sawyer, 2001). Embora P. munguba seja ainda bastante abundante na
Amazônia, a derrubada da mata, seja para exploração de madeira ou para agricultura, pode
causar uma redução da densidade populacional da espécie. Essa redução pode resultar na
diminuição do fluxo gênico e o aumento dos níveis de auto-fecundação, diminuindo a
produção total de sementes com impactos negativos na população de P. munguba, na
ictiofauna e em outros grupos tróficos que também dependem da oferta de alimentos nesse
ambiente (Gribel, 1995; Claro-Jr, 2004).
Essa ameaça à manutenção da biodiversidade é resultado da redução de diversidade
genética que compromete a viabilidade das populações, tornando importantes a detecção e
a quantificação dos níveis naturais da variação genética em populações, principalmente de
C
17
espécies de árvores ameaçadas (Bawa, 1993; Alvarez-Buylla et al., 1996; Lemes et al.,
2003).
I.
8. JUSTIFICATIVA
Baseado nas informações expostas anteriormente, o presente trabalho objetiva
investigar a filogeografia e a estrutura genética de populações de P. munguba, informações
indispensáveis para se propor estratégias de conservação para essa espécie tão importante
nas várzeas amazônicas.
Além disso, obter conhecimento dos níveis e padrões de distribuição espacial da
variabilidade genética de espécies florestais ao longo da Amazônia é uma questão atual
muito relevante uma vez que o entendimento dos padrões evolutivos, inter e intra-
populacionais, fornece subsídios importantes para a elucidação não só da história de
colonização da planta mas também serve de contribuição na discussão da história evolutiva
e geológica da própria Amazônia.
C
18
II. OBJETIVOS
Investigar a filogeografia e a estrutura genética de populações da Mungubeira
(Pseudobombax munguba), uma importante espécie arbórea das várzeas amazônicas, por
meio da análise de polimorfismos de seqüências e locos microssatélites do genoma do
cloroplasto.
Objetivos específicos:
a) Quantificar a diversidade genética em populações de P. munguba utilizando
marcadores microssatélites e seqüências de regiões não-codificadoras do genoma de
cloroplasto;
b) Caracterizar e comparar os padrões de distribuição da variabilidade genética e os
níveis de diferenciação genética entre as populações de P. munguba, na Amazônia
brasileira, com base na análise de polimorfismos de seqüências de uma região não-
codificadora e de locos microssatélites do genoma do cloroplasto;
c) Relacionar as diversas hipóteses biogeográficas da Amazônia com os padrões de
distribuição da diversidade de haplótipos encontrados no genoma de cloroplasto de P.
munguba na Amazônia brasileira.
19
III. MATERIAL E MÉTODOS
III.1.
MATERIAL BIOLÓGICO E LOCAIS DE COLETA
No total foram amostrados 162 indivíduos de P. munguba pertencentes a 11
populações distribuídas na Amazônia brasileira (Tabela 1 e Figura 3). As populações
foram definidas como grupos de árvores com potencial contato reprodutivo entre si,
geograficamente relacionadas, ocorrendo num raio de 5 km (cerca de 78 km
2
). As
populações amostradas estão separadas por distâncias superiores a 140 km ou por grandes
rios. Foram amostrados de 16 a 43 indivíduos por população nas seguintes localidades: 1)
Beruri-AM; 2) Caracaraí-RR, 3) Catalão, Manaus-AM; 4) Cruzeiro do Sul-AC; 5) Floresta
Nacional de Caxiuanã-PA; 6) Rio Japurá-AM; 7) Rio Madeira-AM; 8) Paraná do Mapixi,
Rio Purus-AM; 9) Tabatinga-AM (margem direita); 10) Tabatinga -AM (margem
esquerda); 11) Tefé-AM.
Tabela 1. Localização das populações e número de indivíduos amostrados de P. munguba na Amazônia
Brasileira. As colunas N
1
e N
2
apresentam os números de indivíduos de cada população utilizados
nas análises com dados de microssatélites e de regiões não codificadoras do cpDNA,
respectivamente.
População Sigla Localidade / Rio
Coordenadas
geográficas
Altitude
(m)
Beruri B 16 4 Beruri - AM / Purus
3º48’S,
61º26’O
23
Caracaraí C 3 3 Caracaraí - RR / Branco
1º23’S,
61º15’O
49
Catalão Ca 16 - Manaus - AM / Amazonas
1º28’S,
60º15’O
22
Caixiuanã Cx 16 4 Melgaço - PA / Amazonas
1º45’S,
51º28O’
10
Cruzeiro do Sul CS 15 4 Cruzeiro do Sul - AC / Juruá
7º35’S,
72º54’O
173
Japurá J 16 4 Japurá - AM / Japurá
1º42’S,
67º14’O
63
Madeira M 15 4 Borba - AM / Madeira
5º37’S,
60º58’O
32
Paraná do Mapixí PM 16 4 Tapaua - AM / Purus
5º37’S,
64º00’O
54
Tefé T 16 4 Tefé - AM / Solimões
3º20’S,
64º42’O
46
Tabatinga - M. Dir. TD 16 4 Tabatinga - AM / Solimões
4º12’S,
69º51’O
68
Tabatinga - M. Esq. TE 16 - Tabatinga - AM / Solimões
4º27’S,
69º55’O
68
Total 161 35
20
1
1
2
2
3
3
4
4
5
5
6
6
7
7
8
8
9
9
11
11
10
10
1
1
2
2
3
3
4
4
5
5
6
6
7
7
8
8
9
9
11
11
10
10
Figura 3 - Locais de Coleta de P. munguba. 1) Beruri-AM; 2) Caracaraí-RR, 3) Catalão, Manaus-AM; 4)
Cruzeiro do Sul-AC; 5) Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; 6) Rio Japurá-AM; 7) Rio Madeira-
AM; 8) Paraná do Mapixi, Rio Purus-AM; 9) Tefé-AM; 10)Tabatinga-AM (margem direita); 11)
Tabatinga -AM (margem esquerda).
O material biológico utilizado foi tecido vegetal proveniente de folhas ou câmbio,
os quais, após a coleta, foram secos, acondicionados em um recipiente contendo sílica gel e
armazenados a -20ºC no Laboratório de Genética e Biologia Reprodutiva de Plantas
(LabGen) do INPA.
III.2.
EXTRAÇÃO, QUANTIFICAÇÃO E DILUIÇÃO DO DNA
O DNA genômico total foi extraído pelo método CTAB (brometo de
cetiltrimetilamônio) (Doyle & Doyle, 1987), utilizando o protocolo otimizado por Ferreira
& Grattapaglia (1998), com auxílio de um disruptor celular FastPrep (Q Biogene, USA)
para maceração das amostras.
A quantificação do DNA extraído foi feita por comparação com padrões de massa
molecular conhecida (DNA fago Lambda), em gel de agarose 1,5% corado com brometo
de etídeo (Ferreira & Grattapaglia, 1998), analisados em transiluminador sob luz ultra-
violeta e fotodocumentados. Após a quantificação, as amostras foram diluídas em água
ultra-pura e padronizadas a uma concentração de 2,5 ng/µl.
21
III.3.
AMPLIFICAÇÃO E ANÁLISE DOS LOCOS MICROSSATÉLITES DO GENOMA DO
CLOROPLASTO (CPDNA)
Foi testada a transferibilidade para Pseudobombax munguba de dez pares de
iniciadores (“primers”) originalmente desenvolvidos para Nicotiana tabacum (Weisinger
& Gardner, 1999), os quais amplificam locos microssatélites do genoma do cloroplasto da
maioria das angiospermas, e quatro pares desenvolvidos para Eucalyptus globulus (Steane
et al., 2005). Um dos primers de cada par foi marcado com um fluorocromo (FAM, HEX e
TET/NED) para permitir a análise em seqüenciador automático de DNA.
A amplificação dos locos microssatélites do cpDNA foi realizada via Reação em
Cadeia da Polimerase - PCR num volume total de 10µL contendo 0,4 µM de cada primer;
1 unidade de Taq DNA polimerase; 200 µM de cada nucleotídeo (dNTP); tampão de PCR
1X (10 mM Tris-HCl pH 8,3, 50 mM KCl, 1,5 mM MgCl2); BSA (Bovine Serum Albumin
- 2,5 mg/mL); 7,5mM de MgCl
2
; 7,5ng de DNA e água ultrapura.
As reações foram realizadas em termociclador PTC-200 (MJ Research) nas
seguintes condições: (1) desnaturação inicial a 94ºC / 5 min, seguida de 30 ciclos de: (2)
desnaturação a 94ºC / 1 min; (3) anelamento na temperatura específica de cada par de
primer/1min, (4) extensão a 72ºC / 1 min, e uma etapa de extensão final a 72ºC / 45 min.
A amplificação dos locos microssatélites foi confirmada pela análise dos produtos
amplificados após eletroforese em gel de agarose 1,5% corado com brometo de etídio, em
transiluminador sob luz ultra-violeta e fotodocumentados. Após, os produtos amplificados
foram diluídos e analisados sob eletroforese em gel de poliacrilamida 5% em seqüenciador
automático de DNA ABI Prism 377 XL (Applied Biosystems Inc.). Para a estimativa do
tamanho dos alelos foram utilizados os padrões internos de peso molecular TAMRA 500 e
ROX (ABI). Os dados genéticos foram coletados e analisados utilizando-se os programas
Genescan e Genotyper (Applied Biosystems Inc.).
III.4.
AMPLIFICAÇÃO DAS REGIÕES NÃO CODIFICADORAS DO CPDNA
Foram testados cinco pares de primers universais que amplificam regiões não-
codificadoras do genoma de cloroplasto das angiospermas, sendo quatro espaçadores
intergênicos, 1) trnH/psbA (Hamilton, 1999), 2) trnS/trnG (Hamilton, 1999) e 3)
22
psbB/psbF (Hamilton, 1999), 4) atpB/rbcL (Samuel et al., 1997), e um intron 5) rps16
(Oxelman et al., 1997).
A amplificação foi realizada via PCR num volume total de 20µL contendo 1,5 µM
de cada primer; 2,5 unidades de Taq DNA polimerase; 200 µM de cada nucleotídeo
(dNTP); tampão de PCR 1X (10 mM Tris-HCl pH 8,3, 50 mM KCl, 1,5 mM MgCl2); BSA
(Bovine Serum Albumin - 2,5 mg/mL); 23,4mM de MgCl
2
; 7,5ng de DNA e água
ultrapura.
As reações foram realizadas nas seguintes condições: (1) desnaturação inicial a
94ºC / 4min, seguida de 35 ciclos de: (2) desnaturação a 92ºC / 45 seg; (3) anelamento na
temperatura específica de cada par de primer / 45 seg, (4) extensão a 72ºC / 1 min e 30 seg,
e uma etapa de extensão final a 72ºC / 10 min.
Os produtos amplificados foram analisados sob eletroforese em gel de agarose 1,5%
corado com brometo de etídio para a confirmação da amplificação. Para a estimativa dos
tamanhos dos produtos amplificados foi utilizado padrão 1 Kb plus DNA ladder
(Invitrogen).
III.5.
SEQÜENCIAMENTO E ANÁLISE DOS PRODUTOS AMPLIFICADOS
Os produtos amplificados das regiões não-codificadoras do cpDNA de P. munguba
foram purificados utilizando as enzimas Exonuclease I e Shrimp Alkaline Phosphatase
(ExoSAP-IT - USB Coorporation) de acordo com o protocolo fornecido pelo fabricante,
visando a eliminação de excesso de reagentes que pudessem interferir na qualidade das
seqüências.
Os produtos amplificados foram seqüenciados utilizando-se os primers nos dois
sentidos (forward e reverse). As reações de seqüenciamento foram realizadas em um
volume total de 10 µl com 1,5 µl de um dos primers na concentração 2µM, 2 µl do Kit Big
Dye Terminator III (Applied Biosystems, Inc.), 2 µl de Tampão de Diluição, 2 µl de PCR e
2,5 µl de água ultra-pura. Em seguida as reações foram purificadas utilizando-se solução de
Acetato de Sódio/EDTA (Acetato de Sódio 3M, pH 5,2 e EDTA 125 mM e pH 8.0) e
Etanol.
Os produtos contendo a reação de seqüenciamento foram re-suspensos em tampão
de carregamento composto por quatro partes de formamida para uma parte de azul dextran,
23
desnaturados a 95ºC/2min e analisados sob eletroforese em gel de poliacrilamida 5% num
seqüenciador de DNA ABI 377 (Applied Biosystems, Inc.). As seqüências obtidas foram
analisadas no programa Sequencing Analysis 3.4.1 (Applied Biosystems Inc.) e editadas
utilizando-se o programa ChromasPro versão 1.34 (Technelysium Pty Ltd). O alinhamento
das seqüências obtidas nos dois sentidos (forward e reverse) e a criação da seqüência
consenso de cada par foram realizadas utilizando-se o programa BioEdit versão 7.0.5.3
(Hall, 1999).
III.6.
ANÁLISE DOS DADOS
Para os dados de microssatélites, chamamos de loco cada sitio de cpSSR e de alelo
cada variante de tamanho no determinado loco. Para os dados de seqüências chamamos de
loco cada sítio variável ao longo das seqüências e de alelo cada variação encontrada em um
mesmo loco em diferentes seqüências. Somente substituições nucleotídicas foram
consideradas como variações. Como a molécula de cloroplasto normalmente não sofre
recombinação, pode ser considerada um único loco e então, tanto para dados de seqüências
quanto de microssatélites, cada combinação única de alelos de diferentes locos foi
denominada de haplótipo.
Para os locos microssatélites foram calculados: número de locos polimórficos (S),
número de alelos por loco, número de haplótipos, freqüência dos haplótipos e a diversidade
genética (H
e
), que se baseia na probabilidade de dois indivíduos selecionados
aleatoriamente serem diferentes (Nei, 1987).
Para as estimativas das distâncias genéticas entre as populações foi utilizada a
distância (D), definida por Reynolds et al. (1983). Essa distância se baseia em diferenças
entre os números de repetições nas regiões de microssatélites seguindo o modelo de
evolução de microssatélites em análises intra-especificas: o SMM (Stepwise Mutation
Model). Para o teste da hipótese de isolamento por distância, foram correlacionadas as
medidas de distância genética (D) e distância geográfica euclidiana (Km) entre as
poulações de P. munguba, par a par, utilizando-se para tal o teste de Mantel (Mantel, 1967)
implementado pelo programa ARLEQUIN (Schneider et al., 2001).
Para determinar a distribuição da variabilidade genética detectada dentro e entre as
populações foi realizada uma análise de variância molecular (AMOVA, Excoffier et al.
1992) para dados haplotípicos, utilizando-se o programa ARLEQUIN (Schneider et al.
24
2001). A significância do índice de diferenciação F
ST
foi testada por meio de 1000
permutações utilizando-se teste não paramétrico, segundo Excoffier et al. (1992).
Para os dados de seqüências foram determinadas a variação no comprimento e a
composição nucleotídica das seqüências obtidas. As relações entre os haplótipos obtidos a
partir da variação nos locos microssatélites, quanto nas seqüências do cpDNA, foram
inferidas por meio de uma análise de rede utilizando o método Median-Joining (Bandelt et
al., 1999), com o programa NETWORK (Forster et al. 2000). Esse método combina
características do algorítimo de Kruskal, que encontra a melhor árvore por favorecer
conexões curtas, com o algorítimo heurístico de máxima parcimônia de Farris e adiciona
vértices chamados median vectors, que seriam haplótipos extintos ou não amostrados na
população (Bandelt et al., 1999).
25
50ng
50ng
2
2
3
3
4
4
5
5
6
6 7
7
8
8
1
1
100ng
100ng
200ng
200ng
IV. RESULTADOS
IV.1.
EXTRAÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DO DNA
A extração do DNA genômico total de P. munguba foi realizada com sucesso,
usando o método CTAB descrito por Doyle & Doyle (1987) e modificado por Ferreira &
Grattapaglia (1998). Na figura 4 observa-se a quantificação das amostras de DNA extraído
de oito indivíduos de P. munguba em gel de agarose 1,5% corado com brometo de etídeo.
Figura 4 - Quantificação do DNA genômico total extraído de amostras de P. munguba. As três primeiras
colunas indicam, respectivamente os marcadores de peso molecular 50, 100 e 200 ng. Nas colunas
de 1 a 8, as bandas correspondem ao DNA extraído de oito indivíduos de P. munguba da população
do Rio Madeira - AM.
IV.2. AMPLIFICAÇÃO, GENOTIPAGEM E ANÁLISE DOS LOCOS MICROSSATELITES
DO GENOMA DO CLOROPLASTO
(CPDNA)
Foram otimizadas as condições de PCR de nove dos 14 pares de primers testados
que amplificam locos microssatélites do genoma do cloroplasto de espécies de
angiospermas (ccmp1, ccmp2, ccmp3, ccmp4, ccmp6, ccmp7, ccmp10, emcrc74 e emcrc90)
e confirmada a transferabilidade desses marcadores para P. munguba. As temperaturas de
anelamento otimizadas para cada par de primers, o número de alelos encontrados e os
tamanhos dos fragmentos estão listadas da tabela 2. Dos nove locos SSR otimizados, oito
foram utilizados nas análises genéticas: ccmp2, ccmp3, ccmp4, ccmp6, ccmp7, ccmp10,
emcrc74 e emcrc90. A figura 5 mostra diferentes produtos de amplificação a partir da
26
análise desses oito locos microssatélites, em gel de agarose 1,5% corado com brometo de
etídio.
Tabela 2 - Características dos oito locos microssatélites do genoma de cloroplasto amplificados para
Pseudobombax munguba. T
A
: Temperatura de anelamento. Referências: * Weisinger & Gardner,
1999; ** Steane et al., 2005.
cpSSR
Seqüência dos primers
5´ - 3´
T
A
(ºC)
Número
de alelos
Tamanho estimado dos
fragmentos (pb)
EMCRC74_FAM
EMCRC74**
6-FAM/GGC CGT GTA CGA GAA GTC AA
CCA AGG GCT ATA GTC ATA GTG ATC C
56
2 121 a 122
EMCRC90_NED
EMCRC90**
NED/ACA CTA GCC ATT CAG AGT CTA C
ATA GCG ATG GAG TTT TAT GA
56
2 202 a 205
ccmp2_FAM
ccmp2*
6-FAMGAT CCC GGA CGT AAT CCT G
ATC GTA CCG AGG GTT CGA AT
58
3 139 a 141
ccmp3_HEX
ccmp3*
HEX/CAG ACC AAA AGC TGA CAT AG
GTT TCA TTC GGC TCC TTT AT
55
5 134 a 153
ccmp4_TET
ccmp4*
TET/AAT GCT GAA TCG AYG ACC TA
CCA AAA TAT TBG GAG GAC TCT
58
3 230 a 232
ccmp6_FAM
ccmp6*
6-FAM/CGA TGC ATA TGT AGA AAG CC
CAT TAC GTG CGA CTA TCT CC
58
4 118 a 121
ccmp7_TET
ccmp7*
TET/CAA CAT ATA CCA CTG TCA AG
ACA TCA TTA TTG TAT ACT CTT TC
45
3 285 a 287
cmp10_HEX
ccmp10*
HEX/TTT TTT TTT AGT GAA CGT GTC A
TTC GTC GDC GTA GTA AAT AG'
58
3 103 a 132
27
1
1
1
1
1
1
1
123
4
5
6
23
4
5
6
7
23
4
5
6
23
4
5
6
23
4
5
6
23
4
5
6
23
4
5
6
23
4
5
6
7
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
100pb
200pb
300pb
Figura 5 - Fragmentos amplificados a partir da análise de oito locos microssatélites do genoma do
cloroplasto de P. munguba. A coluna M apresenta o marcador 1 Kb plus DNA ladder, as colunas 1 a
6 apresentam fragmentos de DNA amplificados de diferentes indivíduos de P. munguba. A) Loco
ccmp2, B) ccmp3, C) ccmp4, D) ccmp7, E) ccmp8, F) ccmp10, G) emcrc74, H) emcrc90.
28
A
C
E
G
B
D
F
H
Os oito locos microssatélites analisados mostraram-se polimórficos. Foram
genotipados, com base na análise desses oito locos, um total de 161 indivíduos de P.
munguba pertencentes a 11 populações amostradas na Amazônia brasileira. Na figura 6 são
apresentados eletroferogramas mostrando alelos observados para os oito locos
microssatélites do genoma do cloroplasto de P. munguba. Por se tratar de um genoma
haplóide, observa-se apenas um alelo por loco analisado. O número total de alelos
observado foi 25 sendo que o número de alelos observados por loco variou de 2 a 5
(Tabelas 2 e 3). A análise conjunta dos oito locos microssatélites do cpDNA evidenciou a
presença de 35 haplótipos nas 11 populações de P. munguba. As freqüências dos
haplótipos observados e sua distribuição nas populações estão dispostas na figura 7. Dentre
os 35 haplótipos detectados, um mostrou-se mais freqüente em relação aos demais
(39,75%), ocorrendo em sete populações e 19 foram representados por apenas um
indivíduo. A freqüência dos outros 34 haplótipos variou de 0,62% a 12,42% (Figura 7).
Três populações (Beruri, Catalão e Caxiuanã), todas situadas na calha central dos rios
Solimões e Amazonas mostraram-se monomórficas, ou seja, não apresentaram variação em
nenhum dos locos microssatélites analisados.
Figura 6 - Eletroferogramas mostrando alelos de oito locos microssatélites do cpDNA amplificados para
diferentes indivíduos de P. munguba. Cada pico indica um alelo. Os tamanhos dos alelos encontram-
se indicados na barra superior, em pares de bases. A) Loco ccmp2, B) ccmp3, C) ccmp4, D) ccmp7,
E) ccmp8, F) ccmp10, G) emcrc74, H) emcrc90.
29
Tabela 3 - Haplótipos observados com base na análise de oito locos microssatélites do genoma de
cloroplasto, em 11 populações de Pseudobombax munguba. N = numero de indivíduos.
Locos
Hap
ccmp 2 ccmp 3 ccmp 4 ccmp 6 ccmp 7 ccmp 10 emcrc 74 emcrc 90
N
1 140 136 231 119 286 132 122 203 64
2 140 135 231 119 286 132 122 203 20
3 140 135 231 118 286 132 122 203 11
4 140 136 231 118 286 132 122 203 10
5 140 135 231 118 286 131 122 203 5
6 139 137 231 119 286 132 122 203 5
7 140 136 231 119 286 131 122 203 4
8 140 137 231 119 286 131 122 203 4
9 140 153 231 121 286 103 122 205 3
10 140 137 231 118 286 132 122 203 3
11 140 135 231 119 286 131 122 203 3
12 140 153 232 120 286 103 122 205 2
13 139 136 231 119 286 131 122 203 2
14 139 136 231 119 286 132 122 203 2
15 140 136 231 119 286 132 121 203 2
16 139 137 231 118 286 131 122 203 2
17 140 153 231 118 286 103 122 205 1
18 139 137 230 118 286 132 122 203 1
19 140 136 231 121 286 103 122 205 1
20 139 136 232 120 286 103 122 205 1
21 139 153 232 120 286 103 122 205 1
22 140 134 231 119 286 132 122 203 1
23 140 134 231 118 286 132 122 203 1
24 140 135 230 118 286 131 121 203 1
25 140 134 231 118 286 131 122 203 1
26 139 136 231 118 285 132 121 203 1
27 139 136 231 118 286 132 122 203 1
28 140 136 231 118 286 132 121 203 1
29 139 137 231 118 285 132 122 203 1
30 140 137 231 119 286 132 122 203 1
31 139 137 231 118 286 132 122 203 1
32 139 137 231 119 286 132 121 203 1
33 141 136 231 118 286 132 122 203 1
34 140 135 231 119 287 132 122 203 1
35 140 135 231 119 287 131 122 203 1
Total 161
30
0
10
20
30
40
50
60
70
1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617181920212223242526272829303132333435
Haplótipos
TE
TD
T
PM
M
J
Cx
CS
Ca
C
B
Freqüência
Figura 7 - Freqüência dos haplótipos observados na análise de oito locos microssatélites do genoma de
cloroplasto de P. munguba. B) Beruri-AM; C) Caracaraí-RR, Ca) Catalão, Manaus-AM; CS)
Cruzeiro do Sul-AC; Cx) Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; J) Rio Japurá-AM; M) Rio Madeira-
AM; PM) Paraná do Mapixi, Rio Purus-AM; TD) Tabatinga-AM (margem direita); TE) Tabatinga -
AM (margem esquerda); T) Tefé-AM.
Como três populações mostraram-se monomórficas, optou-se pela análise dos
dados microssatélites considerando-se primeiramente todas as populações e outra
excluindo as populações monomórficas. Os resultados referentes às medidas de
diversidade genética (H
e
- Nei, 1987) apresentaram considerável diferença nas duas
situações. Os valores de diversidade genética variaram entre 0,0 e 0,433. A diversidade
genética média total foi de 0,240 para todas as populações analisadas conjuntamente e de
0,301 quando apenas as populações polimórficas foram consideradas. O índice de fixação
(F
ST
) foi mais alto considerando a análise de todas a populações, quando comparado ao
índice obtido excetuando-se as populações monomórficas (Tabela 4).
A tabela 5 mostra a distribuição da variabilidade genética dentro e entre as
populações, inferidas por meio de uma análise de variância molecular utilizando todas as
populações e a tabela 6 mostra somente os dados das populações que apresentaram
variabilidade genética. Em ambas as análises, a maior parte da variação genética
encontrada pode ser explicada pela variação contida dentro das populações, representando
58,67% da variação encontrada, na análise com todas as populações e 66,45% excluindo as
populações monomórficas.
31
Tabela 4 - Índices de diversidade genética estimados para as populações de P. munguba com base na análise
de oito locos microssatélites do genoma de cloroplasto. H
E
, diversidade genética (* Diversidade
genética total considerando todas as populações, ** Diversidade genética total considerando somente
as populações polimórficas); F
ST
1: índice de fixação considerando todas as populações; F
ST
2: índice
de fixação considerando somente as populações polimórficas.
População
Nº de
alelos
Haplótipos H
E
F
ST
1
F
ST
2
Beruri 8 1 0 0,45364 --
Caracaraí 9 2 0,16667 0,42080 0,35596
Catalão 8 1 0 0,45364 --
Cruzeiro do Sul 20 11 0,43333 0,33411 0,28409
Caxiuanã 8 1 0 0,45364 --
Japurá 13 7 0,19167 0,40053 0,33916
Madeira 13 8 0,19524 0,39978 0,33854
Paraná do Mapixi 14 9 0,21979 0,39274 0,33270
Tefé 13 6 0,16979 0,40659 0,34418
Tabatinga
(margem direita)
12 5 0,14792 0,41265 0,34921
Tabatinga
(margem esquerda)
11 7 0,12708 0,41843 0,35399
Total 0,24032*/0,30142** 0,41330 0,33553
Teste de significância (1023 permutações): P = 0,000
Tabela 5 - Análise de Variância Molecular (AMOVA) com base na análise de oito locos microssatélites do
genoma de cloroplasto de P. munguba considerando onze populações amostradas.
Fonte de Variação gl
Soma dos
Quadrados
Componentes da
Variação
Porcentagem da
Variação
Entre Populações 10 65,899 0,41284 Va 41,33
Dentro das
Populações
150 87,908 0,58606 Vb 58,67
Total 160 153,807 0,99889
Índice de Fixação F
ST
: 0,41330
Teste de significância (1023 permutações): P = 0,000
32
Tabela 6 - Análise de Variância Molecular (AMOVA) com base na análise de oito locos microssatélites do
genoma de cloroplasto de P. munguba considerando somente as populações polimórficas.
Fonte de Variação gl
Soma dos
Quadados
Componentes da
Variação
Porcentagem da
Variação
Entre Populações 7 47,127 0,42277 Va 33,55
Dentro das
Populações
105 87,908 0,83722 Vb 66,45
Total 112 135,035 1,25999
Índice de Fixação FST: 0,33553
Teste de significância (1023 permutações): P = 0,000
Na tabela 7 é apresentada a matriz que correlaciona as distâncias genéticas e as
distâncias geográficas, entre as populações de P. munguba analisadas par a par. Com base
nos resultados do teste de Mantel, que testa a significância da correlação entre as duas
variáveis analisadas, rejeitou-se a hipótese de isolamento por distância entre as populações
de P. munguba. Nesta análise, o coeficiente de correlação r encontrado foi igual a
0,135192 (p = 0,15) indicando não haver uma relação direta entre distância genética e a
distância geográfica entre as populações de P. munguba na Amazônia brasileira (Figura 8).
Tabela 7 - Matriz de correlação entre distâncias genéticas de Reynolds (abaixo da diagonal) e distâncias
geográficas euclidianas (acima da diagonal, em Km) entre as populações de P. munguba, analisadas
par a par.
Populações B C Ca CS Cx J M PM T TD TE
B
-- 583,1 211,1 1336,5 1128,1 781,3 197,2 347,9 361,3 935,0 942,4
C
2,553 -- 541,3 1635,8 1142,2 844,2 675,0 842,1 651,4 1144,2 1164,3
Ca
0,0 2,553 -- 1546,0 920,0 964,2 146,7 557,7 559,6 1135,7 1145,7
CS
0,632 0,263 0,632 -- 2460,3 841,2 1491,2 1002,1 1030,1 504,2 475,5
Cx
0,0 2,552 0,0 0,632 -- 1855,5 970,0 1455,5 1475,2 2058,0 2068,9
J
0,990 0,038 0,990 0,632 0,990 -- 980,6 632,9 429,6 338,5 365,6
M
0,325 0,461 0,325 0,370 0,325 0,471 -- 486,7 558,4 1117,7 1124,7
PM
1,020 0,576 1,020 0,444 1,020 0,550 0,471 -- 271,0 677,7 672,2
T
0,180 0,500 0,179 0,368 0,179 0,442 0,105 0,484 -- 578,4 594,8
TD
1,010 0,331 1,010 0,476 1,010 0,039 0,522 0,627 0,455 -- 30,0
TE
0,677 0,535 0,677 0,447 0,677 0,165 0,377 0,615 0,257 0,043 --
33
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Distância Geográfica (Km)
Distância Genética de Reynolds
Figura 8 - Relação entre distância genética de Reynolds e distância geográfica (Km) para 11 populações P.
munguba, analisadas par a par, com base na variação observada em oito locos microssatélites do
genoma de cloroplasto.
Dos 35 haplótipos detectados, a partir da análise da variação encontrada nos oito
locos microssatélites do genoma do cloroplasto de P. munguba, dez foram compartilhados
entre indivíduos de diferentes populações e 25 haplótipos foram exclusivos a alguma das
populações analisadas: um de Tefé - AM, dois de Tabatinga - AM (margem direita), quatro
do Madeira - AM, quatro do Japurá - AM, sete de Cruzeiro do Sul - AM e sete do Paraná
do Mapixí - AM, como pode ser observado nas figuras 7 e 9. O haplótipo encontrado com
maior freqüência (39,75%) representa o único haplótipo encontrado na calha central dos
rios Solimões e Amazonas, de Beruri-AM a Caxiuanã-PA, abarcando uma extensão de
mais de 1.100 Km. Este mesmo haplótipo não foi observado nas populações do Paraná do
Mapixi-AM, Japurá-AM e na margem direita em Tabatinga-AM.
As relações entre os haplótipos de microssatélites de cloroplasto de P. munguba
encontrados, inferidas por meio de uma análise de rede utilizando o método Median-
Joining, são mostradas na figura 9. Para uma melhor visualização, a figura foi editada de
forma que o comprimento das linhas não indica o número de mutações entre os haplótipos
34
e, portanto, não reflete o grau de relação entre eles. Dois grupos distintos de haplótipos (A
e B), separados por um grande número de mutações podem ser observados.
Cruzeiro do Sul - AC (em vermelho) foi a única população que apresentou
haplótipos nos dois grupos (A e B), além disso, apresentou o maior número de haplótipos
(11), sete deles sendo bastante diferenciados (grupo B) devido a várias mutações e,
inclusive, dois median vectors que os separam dos demais haplótipos encontrados nas
outras regiões da Amazônia (grupo A). Um haplótipo da população de Cruzeiro do Sul -
AC apresentou uma relação próxima aos haplótipos de Paraná do Mapixí - AM (em azul
claro) e os outros quatro, são compartilhados por outras populações.
O haplótipo mais freqüente (círculo maior) é também o que apresenta relações com
um maior número de haplótipos (seis). As relações entre os demais haplótipos não são
claras por serem muito próximas, fato evidenciado pelo entrelaçamento das linhas, pelo
pequeno número de mutações entre os haplótipos e a existência de somente um median
vector.
Entretanto pode-se observar que as três populações localizadas na região noroeste
da Amazônia: Japurá - AM (em laranja), Tabatinga - AM - margem direita (em azul) e
Tabatinga - AM - margem esquerda (em verde), assim como as duas populações
localizadas na região sudeste: Madeira - AM (em amarelo) e Paraná do Mapixí - AM (em
azul), são mais relacionadas entre si que entre as duas regiões.
35
Figura 9 - Relações entre haplótipos a partir de análise de rede (Network), com base na variação de oito
locos microssatélites do genoma do cloroplasto de P. munguba. Cada círculo se refere a um
haplótipo. O tamanho do círculo é proporcional à freqüência de ocorrência do haplótipo. As linhas
representam as relações entre os haplótipos e os números, quando presentes, representam o número
de mutações entre eles. Linhas que não apresentam números possuem uma única mutação. As cores
mostram as populações que apresentam aquele haplótipo. Nodos pretos representam median vectors
B) Beruri-AM; C) Caracaraí-RR, Ca) Catalão, Manaus-AM; CS) Cruzeiro do Sul-AC; Cx) Floresta
Nacional de Caxiuanã-PA; J) Rio Japurá-AM; M) Rio Madeira-AM; PM) Paraná do Mapixi, Rio
Purus-AM; TD) Tabatinga-AM (margem direita); TE) Tabatinga-AM (margem esquerda); T) Tefé-
AM.
Grupo A
Grupo B
36
IV.3.
AMPLIFICAÇÃO, SEQÜENCIAMENTO E ANÁLISE DAS REGIÕES NÃO
CODIFICADORAS DO CPDNA
Foram otimizadas as condições de PCR de quatro dos cinco pares de primers
testados que amplificam regiões não codificadoras do genoma do cloroplasto de
angiospermas. As temperaturas ótimas de anelamento de cada par de primers, assim como
os tamanhos estimados dos fragmentos amplificados para P. munguba são apresentados na
tabela 8.
Tabela 8 - Características dos marcadores utilizados que amplificam regiões não-codificadoras do genoma
do cloroplasto de P. munguba. T
A
: Temperatura de anelamento.
Região
cpDNA
Seqüência dos primers
5´ - 3´
T
A
(ºC)
Tamanho estimado do
Fragmento (pb)
Referência
trnH
psbA
ACT GCC TTG ATC CAC TTG GC
CGA AGC TCC ATC TAC AAA TGG
56
470 Hamilton, 1999
trnS
trnG
GCC GCT TTA GTC CAC TCA GC
GGA CGA ATC ACA CTT TTA CCA C
56
700 Hamilton, 1999
psbB
psbF
GTTTACTTTTGGGCATGCTTCG
CGCAGTTCGTCTTGGACCAG
64
800 Hamilton, 1999
atpB
rbcL
GAAGTAGTAGGATTGATTCTC
CCCTACAACTCATGAATTAAG
64
800 Samuel et al.,1997
A figura 10 mostra os produtos da amplificação obtidos para quatro regiões não-
codificadoras do genoma do cloroplasto de P. munguba após otimização das condições de
PCR. Na figura 10 observa-se ainda, diferença considerável nos tamanhos dos fragmentos
amplificados para um indivíduo (coluna 6) de P. munguba da população de Cruzeiro do
Sul-AC, em relação aos demais (colunas 1 a 5 e 7), para as regiões trnH/psbA e trnS/trnG
(Figuras 10A e 10B, respectivamente).
37
1
1
1
1
2345678
2345678
2345678
2345678
500pb
500pb
650pb
800pb
650pb
800pb
500pb
650pb
800pb
500pb
650pb
800pb
AB
CD
Figura 10 - Amplificação de regiões não codificadoras do cpDNA de P. munguba. A coluna M mostra o
marcador 1 Kb plus DNA ladder, as colunas 1 a 7 apresentam fragmentos amplificados do cpDNA
de diferentes indivíduos: A) trnH/psbA, B) trnS/trnG, C) psbB/psbF, D) atpB/rbcL.
Para a escolha do marcador mais informativo foi feita uma análise preliminar na
qual foram seqüenciados 18 indivíduos de P. munguba de nove populações (Beruri-AM;
Caracaraí-RR, Cruzeiro do Sul-AC; Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; Japurá-AM;
Madeira-AM; Paraná do Mapixi -AM; Tabatinga-AM - margem direita e Tefé-AM), sendo
dois de cada população, utilizando ambos os primers forward e reverse dos quatro pares de
primers otimizados.
Apenas os pares de primers que amplificam regiões intergênicas trnS/trnG (10
substituições) e psbB/psbF (1 substituição) apresentaram polimorfismos nas seqüências
obtidas, sendo dessa forma escolhida para as análises a região trnS/trnG. Na figura 11 são
apresentados eletroferogramas obtidos a partir do seqüenciamento de dois indivíduos que
apresentaram haplótipos diferentes, mostrando uma substituição nucleotídica.
Foram seqüenciados quatro indivíduos de P. munguba das populações Beruri-AM;
Cruzeiro do Sul-AC; Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; Japurá-AM; Madeira-AM;
Paraná do Mapixi -AM; Tabatinga-AM - margem direita e Tefé-AM e três de Caracaraí-
RR sendo obtidas um total de 35 seqüências para a região intergênica trnS/trnG, em ambos
os sentidos (forward e reverse). As seqüências trnS/trnG apresentaram comprimentos entre
650 e 705 pb. Essa diferença no tamanho dos fragmentos deveu-se a diversas
inserções/deleções encontradas nas seqüências sendo que a maior variação detectada
38
correspondeu a de 36 pb como pode ser observado na figura 12. As bases nucleotídicas
foram encontradas nas seguintes proporções: T: 38%, C: 17,8%, A: 32% e G: 12,2%.
Foram detectadas 10 substituições nucleotídicas.
Figura 11 - Eletroferogramas mostrando produtos do seqüenciamento de dois indivíduos de P. munguba para
a região trnS/trnG. As setas indicam uma subsituição (C-T) entre duas seqüências.
39
Figura 12. - Alinhamento de seqüências de DNA da região trnS/trnG do genoma do cloroplasto de P.
munguba. A) Inserção/Deleção de 36 pb. B) Duas substituições nucleotídicas (C-T e A-C).
A figura 13 mostra as relações entre os haplótipos obtidos a partir da análise de
variações na seqüência da região trnS/trnG do genoma de cloroplasto de P. munguba,
inferidas por meio de uma análise de rede utilizando o método Median-Joining. As
seqüências agruparam-se em três haplótipos. O haplótipo 1 foi o mais freqüente (88,57%),
se relaciona diretamente com os outros dois haplótipos e possui uma ampla distribuição
geográfica, ocorrendo em oito das nove populações estudas. O haplótipo 2, que apresentou
somente uma substituição, foi exclusivo de Caracaraí - RR e foi o único observado nessa
população. O haplótipo 3 foi o mais diferenciado (com nove substituições) e foi encontrado
em dois dos quatro indivíduos analisados da população de Cruzeiro do Sul - AC.
A
B
40
Figura 13 - Relações entre os haplótipos obtidos a partir da análise das seqüências do espaçador intergênico
trnS/trnG do genoma do cloroplasto de P. munguba. Cada círculo refere-se a um haplótipo e o
tamanho indica sua freqüência de ocorrência. As linhas representam as relações entre os haplótipos e
nelas são observadas as posições onde ocorreram as substituições. O comprimento das linhas está
relacionado ao grau de relação entre os haplótipos. As cores representam as populações: B) Beruri-
AM; C) Caracaraí-RR, CS) Cruzeiro do Sul-AC; Cx) Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; J) Rio
Japurá-AM; M) Rio Madeira-AM; PM) Paraná do Mapixi, Rio Purus-AM; TD) Tabatinga-AM
(margem direita); T) Tefé-AM.
1
2
3
41
V. DISCUSSÃO
A variação nos comprimentos dos fragmentos de locos microssatélites é causada
por mutações. Estudos mostram que as taxas de mutação encontradas para esse tipo de
marcador são mais altas (10
-2
a 10
-6
) que de mutações pontuais (Goldstein & Pollock,
1997, Li et al., 2002). Dois tipos de mecanismos mutacionais foram propostos para
explicar essa diferença: “replication slippage” (Tachida & Lizuka, 1992) e “recombination
with out-of-phase aligning” (Harding et al., 1992). Ambos os processos resultam em
alterações no número de repeats e uma conseqüência desses mecanismos de mutação é que
um mesmo estado genético (número de repeats) pode evoluir de duas linhagens diferentes,
por eventos mutacionais distintos, um fenômeno conhecido por homoplasia. Homoplasias
podem causar problemas em análises genéticas populacionais afetando medidas de
diversidade genética, fluxo gênico, distâncias genéticas e em análises filogenéticas, sendo
consideradas um potencial limitador para o uso de locos microssatélites como marcadores
genéticos (Provan et al. 2001).
Entretanto, o pequeno número de alelos reportados para locos cpSSR, comparado
com locos SSR do genoma nuclear (Powell et al., 1995; Provan et al., 1999), parece
sugerir que microssatélites de cloroplasto apresentam uma menor taxa de mutação que
aqueles encontrados no núcleo, como demonstrado por Provan et al. (1999) em seu estudo
com Pinus torreyanna. Além disso, homoplasias têm sido observadas apenas em categorias
taxonômicas acima de gênero (Doyle et al., 1998; Hale et al., 2004), e ainda assim, muitos
pesquisadores têm considerado os níveis de homoplasia baixos o suficiente para permitir
análises genéticas populacionais (Cuenca et al., 2003; Navascués & Emerson, 2005). Em
um estudo comparando simulações computacionais e dados empíricos de uma espécie de
Pinus, Navascués & Emerson (2005) avaliaram os efeitos da homoplasia nas medidas de
diversidade genética baseadas em cpSSR e concluíram que o índice de diversidade
genética de Nei (He) é pouco influenciado por homoplasias e que o uso de um grande
número de locos contribui para diminuir os efeitos negativos das homoplasias nas
estimativas de diversidade genética.
Locos microssatélites no genoma de cloroplasto têm sido utilizados em estudos
populacionais, de sistemática e análises filogeográficas nos últimos anos (Powel 1995;
42
Provan, 1999; Vendramin et al., 1999; Provan et al., 2001; Palmé & Vendramin, 2002;
Ribeiro et al., 2002; Collevatti et al., 2003; Grivet & Petit, 2003; Lira et al., 2003; Butaud,
2005; Cubas et al., 2005; Ueno et al., 2005; Andrianoelina et al., 2006).
No presente estudo os microssatélites de cloroplasto mostraram-se uma ferramenta
extremamente útil, possibilitando a observação de variação genética suficiente para a
realização de análises populacionais da espécie estudada (Pseudobombax munguba). Além
disso, o padrão de distribuição geográfica da variação genética encontrada em populações
de P. munguba, com base na análise de locos microssatélites do genoma do cloroplasto, ao
longo de sua distribuição na Amazônia brasileira, em conjunto com os dados obtidos de
seqüências do genoma de cloroplasto permitiram o levantamento de hipóteses sobre
evolução e dispersão histórica dessas populações.
O número médio de alelos encontrado por loco cpSSR (3,12) foi comparável aos
observados em populações naturais de outras espécies de plantas, tais como Quercus sp.
(2,33; Deguilloux et al., 2003), Salix reinii (3,2; Lian et al., 2003) Silene paradoxa (2,8;
Mengoni et al., 2001), Pinus pinaster (4,1; Ribeiro et al., 2002) Caesalpina echinata (3,28;
Lira et al., 2003), Caryocar brasiliense (3,2; Collevatti et al., 2003), Magnolia stellata
(3,33; Ueno et al., 2005), Ulex sp (4,3; Cubas et al., 2005), Dalbergia monticola (3,33;
Andrianoelina et al., 2006) e Helianthus annuus (6; Wills & Burke, 2006).
Das 11 populações de P. munguba estudadas, sete apresentaram polimorfismos para
os locos microssatélites analisados, assim como também apresentaram um grande número
de haplótipos (5 a 11 haplótipos por população). A população de Caracaraí-RR apresentou
somente dois haplótipos. Entretanto, esta foi a população com menor número de indivíduos
amostrados (apenas três), o que provavelmente contribuiu para este resultado. Três
populações localizadas ao longo da calha central dos Rios Solimões e Amazonas não
apresentaram variações em nenhum dos locos microssatélites analisados, sugerindo a
existência de algum evento histórico ocorrido nessa região, o qual provavelmente
contribuiu para este resultado. Assim, para não confundir a interpretação dos dados,
considerando eventos antigos e atuais, as análises genéticas foram realizadas de duas
formas; uma na qual todas a populações amostradas foram incorporadas e outra na qual
foram desconsideradas as populações monomórficas.
Como esperado, o índice de diferenciação genética (F
ST
), considerando-se todas as
populações analisadas (0.41), foi maior que o encontrado na análise considerando-se
43
apenas as populações polimórficas (0,33). Além disso, as análises de variância molecular
mostram que a maior parte da variação genética encontra-se dentro das populações, fato
comprovado pela presença de 24 haplótipos exclusivos de algumas das populações (um de
Tefé - AM, dois de Tabatinga - AM (margem direita), quatro do Madeira - AM, quatro do
Japurá - AM, sete de Cruzeiro do Sul - AM e sete do Paraná do Mapixí - AM) e apenas 10
compartilhados por mais de uma população, evidenciando um fluxo gênico materno
bastante restrito ou até ausente entre as populações.
Os índices de diversidade genética (H
E
) mostraram que as populações localizadas
próximo às cabeceiras dos tributários da calha Solimões/Amazonas (Cruzeiro do Sul - AC;
Paraná do Mapixi -AM; Madeira - AM; Japurá - AM e Caracaraí - RR), são em média (H
E
médio = 0,24) mais variáveis que as populações localizadas no médio Solimões (Tefé -
AM; Tabatinga -AM - margem esquerda; Tabatinga - AM - margem direita), cujo H
E
médio foi igual a 0,15. Já as populações do baixo Solimões e Amazonas (Beruri - AM,
Catalão - AM e Caxiuanã - PA) não apresentaram qualquer polimorfismo nos locos SSR.
As duas populações de Tabatinga - AM apresentaram haplótipos diferentes,
inclusive alguns não compartilhados entre as duas margens. Esse fato pode levar à
conclusão precipitada que o Rio Solimões é uma barreira ao fluxo gênico em P. munguba.
No entanto, devido a dispersão anemocórica, e ocasionalmente hidrocórica, das sementes
de P. munguba o deslocamento das sementes da mungubeira entre diferentes margens de
grandes rios é um evento muito provável. Assim, as duas populações de Tabatinga - AM
poderiam ser consideradas como uma única população com 32 indivíduos. Tabatinga - AM
(margem direita) e Tabatinga - AM (margem esquerda) foram mantidas separadas nas
análises para manter uma igualdade no número de indivíduos amostrados entre as
populações, pois, exceto Caracarai - RR, em todas as outras populações foram genotipados
entre 15 e 16 indivíduos/população. Dessa forma, os dados indicam que o aumento no
número de indivíduos amostrados pode levar à identificação de um maior número de
haplótipos nas populações de P. munguba.
A população de Cruzeiro do Sul - AC, apresentou a maior diversidade genética (H
E
= 0,43), o maior número de alelos (20) e haplótipos de microssatélites de cloroplasto (11),
sendo a única população a apresentar mais de um haplótipo para os dados de seqüências.
Além disso, esta população apresentou os haplótipos mais diferenciados para ambos os
marcadores. Tais resultados provavelmente refletem um longo período de existência sem
gargalos populacionais significativos quando comparado às outras populações estudadas, o
44
que ocasionou a essa população tempo suficiente para acumular mutações. Assim, a
população de Cruzeiro do Sul - AC provavelmente é, das 11 populações de P. munguba
estudadas, a mais antiga na Amazônia.
Por outro lado, a baixa variação encontrada nas outras regiões da Amazônia
brasileira indica que as populações aí localizadas são mais recentes ou sofreram gargalos
populacionais em um passado recente que eliminou grande parte da diversidade genética.
A presença de um único haplótipo nas três populações da calha central dos rios Solimões e
Amazonas poderia ser explicada por ação de seleção natural, mas essa hipótese foi
descartada, pois em geral, marcadores microssatélites e seqüências não codificadoras do
genoma de cloroplasto apresentam evolução neutra (Schlötter & Wiehe, 1999; Petit &
Vendramin, 2007). Uma explicação mais provável é que seja resultante de uma
colonização extremamente recente dessa região a partir de um único haplótipo fundador
(Ferris et al., 1999; Avise, 2000). A ausência de polimorfismos mesmo em regiões do
genoma sujeitas a altas taxas de mutações, como os SSRs do cpDNA, sugere que a
irradiação de P. munguba ao longo da calha Solimões-Amazonas ocorreu no Pleistoceno
recente ou mesmo no Holoceno. A ausência de substituições nucleotídicas em seqüências
nas populações mais centrais da Amazônia também indica um curto tempo de divergência
nas seqüências do genoma de cloroplasto analisadas para P. munguba. Como o cloroplasto
é uma molécula única, marcadores de seqüências e locos microssatélites estão ligados e
então o tempo de divergência deve ser o mesmo para ambos os marcadores, corroborando
assim a hipótese de colonização recente.
Os resultados obtidos no presente estudo permitem correlacionar as várias hipóteses
biogeográficas existentes para a Amazônia: Rios como Barreiras (Wallace, 1849;
Capparella, 1988; Ayres & Clutton-Brock, 1992; Haffer, 1992; Patton et al., 1994); a
Teoria dos Refúgios (Haffer, 1969; Vanzolini & Williams, 1970; Cerqueira, 1982; Prance,
1982); Centros de Origem e Dispersão (Hershkovitz, 1977; Reig, 1984); Gradientes
Ecológicos (Endler, 1977, 1982; Patton et al., 1994); Vicariância Geotectônica (Platnick &
Nelson, 1978; Cracraft & Prum, 1988; Futuyma, 1992; Amorim & Pires, 1996); Dinâmica
dos Rios (Salo et al., 1986) e Lago Amazônico (Klammer, 1984).
Rios não parecem ser barreiras geográficas importantes para a dispersão de P.
munguba. A dispersão de sementes pelo vento, e eventualmente pela água, descarta a
hipótese dos rios como barreiras ao fluxo gênico (Wallace, 1849; Capparella, 1988; Ayres
45
& Clutton-Brock, 1992; Haffer, 1992; Patton et al., 1994) para essa espécie. Ceiba
pentandra, espécie da mesma sub-família e com propágulo similar, não apresenta
diferenciação entre grandes interflúvios amazônicos, além de ter colonizado a África via
dispersão trans-atlântica (Dick et al., 2007).
Variações climáticas, ocorridas no Pleistoceno e em períodos geológicos anteriores
que causaram a retração das florestas tropicais em refúgios durante períodos secos e frios,
como postula a Teoria dos Refúgios (Haffer, 1969; Vanzolini & Williams, 1970;
Cerqueira, 1982; Prance, 1982), provavelmente afetaram em menor grau as planícies de
inundação, sazonalmente alagáveis, da Amazônia em comparação com as florestas de terra
firme. Por exemplo, durante o Würmian máximo (cerca de 18.000 anos antes do presente),
quando ocorreu uma depressão no nível oceânico que pode ter alcançado mais de 100
metros abaixo do nível atual (Irion, 1984), a erosão e o aprofundamento dos vales do rio
Amazonas e seus tributários, provavelmente resultou na retração das florestas de várzea
que ocorriam nas planícies de inundação desses rios. Entretanto, os hábitats de várzea
continuaram existindo ao longo da Amazônia durante os períodos glaciais, apesar de
ocuparem extensões muito menores do que no presente. Assim, essas alterações
provavelmente não afetaram a distribuição de P. munguba, pois esta é uma espécie
associada à várzea.
O teste de Mantel indicou que não há relação entre distância genética e distância
geográfica para as populações de P. munguba na Amazônia brasileira. Não havendo
isolamento por distância, a hipótese dos Gradientes Ecológicos (Endler, 1977, 1982; Patton
et al., 1994), que prevê diferenciação gradual entre as populações em função da sua
separação espacial, foi descartada.
A baixa variação genética encontrada em P. munguba, mesmo em regiões do
genoma sujeito a maiores taxas de evolução como os marcadores moleculares utilizados,
sugere a influência de eventos recentes na história de colonização da espécie na Amazônia,
o que leva à rejeição da hipótese da Vicariância Geotectônica (Platnick & Nelson, 1978;
Cracraft & Prum, 1988; Futuyma, 1992; Amorim & Pires, 1996), por tratar de eventos
geológicos muito antigos, ocorridos no período Terciário.
A hipótese da Dinâmica dos Rios (Salo et al., 1986) postula que a erosão lateral e
alterações na calha dos rios criam e destroem muitos habitats diferentes nas planícies
46
alagáveis dos rios, influenciando a criação e manutenção de diversidade ao longo na
Amazônia. Em P. munguba, foi encontrada uma variação muito baixa, principlamente na
calha central Solimões / Amazonas e então, essa hipótese também foi descartada.
Dentre as hipóteses biogeográficas analisadas, a do Lago Amazônico (Klammer,
1984) parece explicar melhor o padrão de distribuição da diversidade genética encontrado
para P. munguba no presente estudo. Nessa hipótese, ciclos de alterações climáticas
durante o Terciário e o Pleistoceno, alternando entre períodos secos-frios e úmidos-
quentes, associados respectivamente aos períodos glacial e inter-glacial, afetaram as
florestas tropicais não só como resultado de eventos de fragmentação e expansão (Haffer,
1969; Vanzolini& Williams). Essas oscilações climáticas tiveram papéis globais, levando à
elevação e redução do nível dos oceanos em relação ao nível atual. As várzeas dos grandes
rios amazônicos formam um ambiente particularmente vulnerável às variações climáticas
e, especialmente, a oscilações no nível dos oceanos podem causar perturbações nas
planícies de inundação. Com a elevação do nível dos oceanos, as águas marítimas
poderiam tanto avançar continente adentro, quanto represar a saída das águas fluviais,
causando o extravasamento de muitos rios e gerando amplas áreas alagadas ou mesmo a
formação de um grande lago na Amazônia (Klammer, 1984; Morroig & Cerqueira, 1997).
Segundo Klammer (1984), há cerca de 2,5 milhões de anos, no final do Plioceno, o
nível dos oceanos pode ter atingido 180 m acima do nível atual (“The Great Fouaratian
transgression”) regredindo gradualmente até cerca de 100 m há aproximadamente 750 mil
anos, e desde então, várias transgressões e regressões (nove ou dez) de intensidades
menores parecem ter ocorrido. Na figura 14 observa-se uma simulação do mapa com o
lago amazônico formado, considerando a topografia atual da Amazônia e uma elevação de
120 metros no nível dos oceanos. Observa-se ainda na figura as localizações das
populações de P. munguba amostradas no presente estudo.
O alagamento levaria à eliminação das florestas de várzea e grande parte da floresta
de terra firme na região central da Amazônia. O habitat de várzea provavelmente
continuaria existindo nas áreas marginais mais altas dos rios ricos em sedimentos, como os
rios Madeira, Purus, Juruá, Solimões, Japurá e Branco (circuladas em amarelo na figura
14). Pseudobombax munguba, uma espécie associada às várzeas dos rios de água branca da
Amazônia, teria sua distribuição geográfica altamente influenciada pelos eventos de
introgressão marinha e alagamento. Os demais tributários do rio Amazonas (rios de águas
47
claras e negras) são pobres em sedimentos, o que não permite a formação de áreas de
várzea em suas planícies e portanto, as cabeceiras desses rios (circuladas em azul claro na
figura 14), embora não fossem atingidos pelas águas do Lago Amazônico, não seriam
propícios para a manutenção de populações de P. munguba.
Populações localizadas em cotas mais altas dos rios de águas brancas (circuladas
em amarelo na figura 14) poderiam sobreviver a vários eventos de introgressão marinha e
alagamento, permanecendo totalmente isoladas em alguns períodos. As populações
situadas em médias altitudes sobreviveriam apenas às introgressões menos severas. Em
eventos mais extremos, essas populações seriam eliminadas. Entretanto, com a diminuição
gradual do nível das águas, essas áreas seriam paulatinamente recolonizadas, a partir das
populações remanescentes das áreas mais altas. Já as populações situadas na calha central
Solimões/Amazonas, especialmente no Baixo Solimões, Amazonas e na região estuarina,
provavelmente sofreram extinções periódicas devido à submersão total, mesmo nos
eventos de introgressões leves. Assim, a recolonização dessas regiões provavelmente foi
um evento muito recente, pois só seria possível após a volta dos cursos dos rios a seus
níveis atuais.
A população de Cruzeiro do Sul - AC por estar localizada em uma das regiões mais
altas (173 m) da Amazônia brasileira, provavelmente sobreviveu a diversos desses eventos,
o que explica a grande variabilidade genética observada e a presença de haplótipos
exclusivos, considerando-se tanto os dados de seqüências de regiões não-codificadoras e de
microssatélites do genoma de cloroplasto.
As populações do Rio Branco são pequenas e isoladas da rede hidrográfica de rios
de águas brancas da Amazônia, pois se separam da calha central por cerca de 280 km do
Rio Negro, onde não ocorrem áreas de várzea. A população de Caracaraí - RR (49 m), a
única coletada no Rio Branco, apresentou um haplótipo exclusivo nos dados de seqüências
de regiões não-codificadoras do genoma de cloroplasto que pode ser explicado por esse
isolamento. Entretanto, o tamanho populacional reduzido das populações aí localizadas,
pode ter contribuído para uma redução na diversidade genética local, por deriva genética.
Assim, um aumento no número de indivíduos amostrados na população de Caracaraí - RR
pode ser importante para corroborar essa hipótese.
48
As populações que se localizam em altitudes médias: Madeira - AM (32 m), Tefé -
AM (46 m), Purus - AM (54 m), Japurá - AM (63 m) e Tabatinga - AM (68 m), teriam sido
afetadas em diferentes graus, de acordo com o nível alcançado pelas águas, o que poderia
explicar a presença moderada de polimorfismos nos locos microssatélites e a ausência de
variação nas seqüências no genoma do cloroplasto de P. munguba.
Já as populações localizadas em menores altitudes: Beruri - AM (23 m), Catalão -
AM (22 m) e Caxiuanã - PA (10 m), provavelmente foram formadas pela recolonização
extremamente recente da região, após a diminuição do nível das águas, resultando na
ausência total de variação genética em ambos os marcadores do genoma de cloroplasto
utilizados.
Figura 14 - Mapa mostrando a formação do lago amazônico, com base na simulação do alagamento ocorrido
na Amazônia brasileira durante o Pleistoceno, utilizando a topografia atual em função da elevação
do nível dos oceanos na cota de 120 m. As regiões mais altas da Amazônia estão circuladas: em
amarelo as cabeceiras dos rios de água branca e em azul claro as cabeceiras dos demais rios. Os
números indicam a localização das populações atuais. 1) Beruri-AM; 2) Caracaraí-RR, 3) Catalão,
Manaus-AM; 4) Cruzeiro do Sul-AC; 5) Floresta Nacional de Caxiuanã-PA; 6) Rio Japurá-AM; 7)
Rio Madeira-AM; 8) Paraná do Mapixi, Rio Purus-AM; 9); Tefé-AM; 10) Tabatinga -AM (margem
esquerda); 11) Tabatinga-AM (margem direita). A área em azul representa as regiões alagadas. O
mapa foi gerado utilizando-se como ferramenta o programa Global Mapper Software LLC
(http://www.globalmapper.com, 2007).
49
Os dados obtidos com marcadores de DNA (microssatélites e seqüências de regiões
não-codificadoras) do genoma do cloroplasto de P. munguba indicam então, a possível
existência de um evento moderado de introgressão marinha, ocorrido na Amazônia
brasileira, provavelmente no final do Plioceno ou durante o Pleistoceno, levando à
formação do Lago Amazônico. Populações localizadas em cotas altitudinais mais altas,
como a amostrada em Cruzeiro do Sul (173 m), provavelmente mantiveram-se mais
estáveis e exibem, no tempo atual, uma maior diversidade haplotípica. As populações da
espécie situadas em trechos do curso médio dos rios Japurá, Juruá, Purus, Madeira e
Branco, foram mantidas em função da intensidade da elevação ou, no caso de serem
eliminadas, tiveram um maior tempo para a recolonização. Essa elevação no nível das
águas provavelmente causou a eliminação das populações de P. munguba situadas ao
longo da calha central dos rios Solimões e Amazonas. Com a volta do curso normal dos
rios e a formação das áreas de várzea em sua conformação atual, esses habitats foram
recolonizados, possivelmente a partir de um ou poucos indivíduos de uma das populações
sobreviventes, resultando na existência de um único haplótipo ao longo da calha central,
em função do efeito fundador. A dispersão ao longo dos rios Solimões e Amazonas em
direção ao estuário, pelo haplótipo fundador, pode ter se originado em Cruzeiro do Sul -
AC, Tabatinga - AM, Tefé - AM ou Rio Madeira - AM, que apresentam este mesmo
haplótipo, mas para uma conclusão mais concreta seriam necessárias análises com base em
mais marcadores moleculares e populações.
Ainda são poucos os estudos filogeográficos em plantas realizados na Amazônia
(Caron et al., 2000; Dick et al., 2003; Dutech et al., 2003, Cloutier et al., 2005; Dick et al.,
2007). Dois deles restringem-se a pequenas áreas geográficas (Caron et al., 2000; Dutech
et al., 2003), enquanto os outros três (Dick et al., 2003; Cloutier et al., 2005; Dick et al.,
2007) destacam-se por serem bem mais abrangentes, cobrindo uma ampla área da região
Amazônica, permitindo assim a discussão de algumas hipóteses biogeográficas na
Amazônia.
Dick et al. (2003), utilizando seqüências do espaçador ribossomal (ITS) em um
estudo filogeográfico com populações de Symphonia globulifera localizadas na América
Central, Amazônia e África, atribuíram a expansão da espécie entre continentes à dispersão
marinha e a diferenciação regional encontrada, principalmente na América Central, à
heterogeneidade geográfica local. Apesar de existirem registros fósseis para a espécie
50
datando de 15 Ma, os autores não encontraram nenhuma variação entre as populações
localizadas na bacia Amazônica e atribuem esse fato a uma expansão recente da espécie na
região ou a um extensivo fluxo gênico atual.
Cloutier et al. (2005), estudando o efeito da dispersão hidrocórica em Carapa
guianensis utilizando marcadores PCR-RFLP, encontraram uma forte estrutura
populacional regional para a espécie e sugerem uma colonização da bacia Amazônica a
partir de múltiplas fontes. Os autores observaram que os haplótipos mais diferenciados
foram encontrados nas áreas mais altas (localizadas no Escudo das Guianas e no Escudo
Brasileiro) e atribuem este fato aos eventos de introgressão oceânica ocorridos no Terciário
e Quaternário.
Dick et al. (2007), estudando a filogeografia de Ceiba pentandra na América do
Sul, América Central e África, encontraram pouca variação em seqüências do espaçador
ribosomal (ITS) e somente dois haplótipos em seqüências de regiões não codificadoras do
genoma de cloroplasto (psbB-psbF). Eles descartam a ocorrência de eventos vicariantes na
espécie, atribuindo sua ampla expansão geográfica a eventos de dispersão a longas
distâncias, da América do Sul para a África, por vento ou correntes marinhas.
A pouca variação genética encontrada nessas três espécies (S. globulifera, C.
guianensis e C. pentandra) ao longo da bacia Amazônica e a alta diferenciação encontrada
nos haplótipos de C. guianensis nas regiões mais altas também poderiam ser explicadas
pelos eventos de introgressão oceânicas e a formação do lago Amazônico, como sugerido
aqui para P. munguba. Com o alagamento das áreas mais baixas, as populações dessas
espécies seriam eliminadas, isolando aquelas populações remanescentes nas áreas mais
altas, permitindo assim o acúmulo de mutações e a diferenciação de haplótipos (C.
guianensis; Cloutier et al., 2005). A volta do leito dos rios a seus níveis atuais
possibilitaria a recolonização, extremamente recente, da Amazônia a partir das áreas mais
altas, levando a uma baixa variação genética por efeito fundador. Além disso, Dick et al.
(2007) sugerem que a fonte de dispersão de C. pentandra da América do Sul para a África
seja localizada na Guiana Francesa, uma das áreas mais altas da Amazônia e, portanto, não
atingidas pelo alagamento.
Dessa forma, os estudos sobre a filogeografia de espécies de plantas neotropicais de
ampla distribuição na Amazônia (Dick et al., 2003; Cloutier et al., 2005; Dick et al., 2007,
51
presente estudo) parecem concordar e os resultados alcançados corroboram a hipótese do
Lago Amazônico como determinante na estruturação genética de suas populações.
52
VI. CONCLUSÃO
No presente estudo foram apresentados os padrões de distribuição da variabilidade
genética e a filogeografia da P. munguba na Amazônia brasileira a partir dos quais foi
possível concluir que:
Marcadores microssatélites do genoma de cloroplasto mostraram-se como uma
ferramenta extremamente útil, possibilitando a realização de análises populacionais e
filogeográficas para P. munguba.
O grande número de haplótipos exclusivos observados com os marcadores
microssatélites do genoma de cloroplasto, comparando com o número de haplótipos
compartilhados por mais de uma população, sugerem um fluxo gênico materno atual
bastante restrito ou até ausente entre as populações de P. munguba, considerando a ampla
distribuição desta espécie na Amazônia. A utilização de marcadores moleculares de
herança bi-parental seria importante para a realização de análises populacionais mais
abrangentes.
A pouca variação encontrada tanto nos marcadores microssatélites quanto nas
seqüências do genoma de cloroplasto indicam que a história de colonização de P. munguba
na Amazônia brasileira é recente, iniciando provavelmente durante o Pleistoceno ou
Holoceno.
A maior variação encontrada na população de Cruzeiro do Sul - AC, localizada em
uma das áreas mais elevadas da Amazônia brasileira, em relação ao nível do mar, indica
que essa é a mais antiga entre as populações amostradas.
A total ausência de polimorfismos, mesmo em marcadores altamente variáveis
como os microssatélites de cloroplasto, encontrada nas três populações (Beruri - AM,
Catalão - AM e Caxiuanã -AM) da calha central Solimões/Amazonas indicam que essas
populações foram formadas muito recentemente. Tal formação provavelmente ocorreu pela
rápida colonização por efeito fundador a partir de uma única linhagem.
Os resultados obtidos a partir de marcadores microssatélites e seqüências do
genoma de cloroplasto de P. munguba corroboram a hipótese biogeográfica do Lago
Amazônico como determinante na estruturação genética das populações dessa espécie na
53
Amazônia brasileira. Além disso, sugerem um recente evento moderado de introgressão
marinha, ocorrido durante o Plioceno ou Pleistoceno, que provavelmente levou à formação
do Lago Amazônico, mantendo estáveis as populações localizadas nas regiões mais altas.
Dependendo do nível das águas, as populações situadas em regiões de altitudes médias
podem ter sido mantidas, ou destruídas e recriadas paulatinamente. Já as populações
situadas das áreas mais baixas foram totalmente eliminadas e as regiões recolonizadas
muito recentemente.
Um aumento no número de indivíduos de P. munguba amostrados por população
pode levar à identificação de um maior número de haplótipos, com base na análise de
marcadores microssatélites do genoma de cloroplasto, incrementando as análises. Além
disso, a análise de um maior número de populações, localizadas especialmente nas
cabeceiras dos principais rios tributários do Amazonas e além das fronteiras brasileiras,
poderá fornecer dados importantes para um melhor esclarecimento da história de
colonização da espécie na Amazônia.
54
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