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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL – UFRGS
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA – ESEF
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO MOVIMENTO HUMANO
ELISABETE PATRICIA GALLINA
A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO ENSINO DA
DANÇA ESCOLAR
Porto Alegre
2008
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ELISABETE PATRICIA GALLINA
A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO ENSINO DA
DANÇA ESCOLAR
Dissertação apresentada como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre em
Ciências do Movimento Humano pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Luiz de Souza
Porto Alegre
2008
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AGRADECIMENTOS
A Deus, pela existência.
Aos meus pais, Olívia e Onofre, por aceitarem e cumprirem tão bem a
missão de serem PAIS, oportunizando a realização de tantos sonhos na minha
caminhada evolutiva. Também agradeço à vovó Teresa, aos meus irmãos Ricardo
e Ana Paula, ao meu cunhado Adriano, ao meu sobrinho Mateus e à minha tia
Olga por contribuírem durante todo esse processo.
Ao meu marido e companheiro de jornada Fábio pelo amor e
encorajamento, principalmente nas horas mais difíceis.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Jorge Luiz de Souza, pelos importantes
ensinamentos, pela atenção e paciência demonstradas desde o início. Agradeço
principalmente pelo seu exemplo de profissionalismo e de caráter humanitário.
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ESEF, com sua equipe de
professores e funcionários.
À Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI
Campus de Erechim pelo incentivo na qualificação dos seus professores.
Aos participantes da pesquisa, pela disponibilidade e grande entusiasmo
com que colaboraram para a realização das etapas investigadas.
À Ioná, uma grande amiga que participou, com suas palavras e gestos de
carinho, de mais um momento importante da minha vida.
Aos amigos Kátia pelas valiosas dicas, ao Evandro pela força.
À equipe da direção do Colégio Estadual Haidée Tedesco Reali pela ajuda
e pela compreensão nos momentos em que precisei me afastar do trabalho.
A todos aqueles que, apesar de não estarem citados, cooperaram de
alguma forma para a realização desta pesquisa.
RESUMO
Considerando que expressividade é uma forma significativa de
comunicação corporal, que busca através da Dança a harmonia das formas
biológica, cultural e filosófica do ser humano, este estudo objetiva descrever e
compreender a percepção dos acadêmicos de Educação Física que cursam a
disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar sobre sua expressividade.
Inicialmente são apresentados conceitos, classificações, bem como os níveis de
complexidade da expressividade. Na seqüência faz-se uma interação entre
Expressividade, Educação Física e Dança, ressaltando a importância do ato
criativo da expressividade dentro do contexto de ensino. Participaram do estudo
16 acadêmicos do curso de Educação Física da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões (URI) Campus de Erechim, que cursavam a
disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar. Os instrumentos utilizados
na pesquisa foram entrevistas semi-estruturadas (inicial e final) e notas de campo.
O período de coleta de dados aconteceu de 02 de abril de 2008 a 28 de maio de
2008 na Sala de Dança e no Auditório Central da URI. As informações obtidas
foram agrupadas em unidades de significado, que reescritas, originaram
categorias de análise. Os resultados mostram uma significativa evolução em
relação às definições de expressividade, evidenciando a linguagem do corpo em
sua sensibilidade, bem como a constatação de como é possível criar e também
incentivar a criação de novos movimentos, derrubando barreiras sociais com a
Dança inserida no contexto da Educação Física.
Palavras-chave: Expressividade, Educação Física, Dança Escolar.
ABSTRACT
If we consider that expressivity is one significative way of corporal
communication, which searches through Dance the harmony of the biological,
cultural and philosophical forms of human being, so this study desires to describe
and to understand the perception of Physical Education undergraduate students
who attend classes of Methodology of School Dance Teaching about their
expressivity. In the beginning of this study is showed the concepts, classifications,
as well as expressivity complexity levels. In the sequence, it does a interaction
between Expressivity, Physical Education and Dance, it noted the importance of
the creative act of expressivity inside teaching’s context. The participants were 16
students of Physical Education course from Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões (URI), Campus de Erechim. They attend classes of
Methodology of School Dance Teaching discipline. The instruments utilized in the
research were semistructured interviews (initial and final) and field notes. The
collective period has happened at April 02
nd
, 2008 until May 28
th
, 2008 at Dance
Room and at URI’s Central Auditorium. The informations were grouped in units of
meanings that were rewrited. This originated the analyze categories. The results
show a significative evolution related to expressivity definitions, which clear out the
body language in your sensibility, as well as the observation that creating and also
motivating the creation of new movements are possible, breaking down social
obstacles with the Dance taking a place inside the Physical Education’s context.
Key words: Expressivity, Physical Education, School Dance.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 8
1. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO..................................................................... 10
1.1 Expressividade ............................................................................................. 10
1.2 Expressividade, Educação Física e Dança. ................................................. 22
2. ROTEIRO METODOLÓGICO............................................................................ 30
2.1 Escolha da Metodologia ............................................................................... 30
2.2 Objetivos e problema da pesquisa ............................................................... 30
2.2.1 Objetivo Geral........................................................................................ 30
2.2.2 Objetivo Específico ................................................................................ 31
2.2.3 Problema ............................................................................................... 31
2.2.4 Questões norteadoras referentes ao problema de pesquisa................. 31
2.3 Instrumentos Investigativos.......................................................................... 32
2.3.1 Entrevista semi-estruturada................................................................... 32
2.3.2 Notas de Campo.................................................................................... 32
2.4 Os participantes ........................................................................................... 33
2.5 Composição das informações ...................................................................... 34
3. O CORPO COTIDIANO TRANSFORMANDO-SE EM CORPO
EXPRESSIVO .................................................................................................. 40
3.1 Ensaiando os primeiros passos ................................................................... 42
3.2 O Corpo em Cena ........................................................................................ 52
3.3 E o espetáculo continua ............................................................................... 64
3.4 Estudando os próprios alunos...................................................................... 73
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................... 74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 78
ANEXOS ................................................................................................................ 82
Anexo A. Roteiro da Entrevista Inicial.................................................................... 83
Anexo B: Roteiro da Entrevista Final ..................................................................... 84
Anexo C: Termo de Consentimento e Declaração do Participante ....................... 85
Anexo D: Ficha com os Dados Pessoais dos Participantes .................................. 87
Anexo E: Entrevista Inicial ..................................................................................... 88
Anexo F: Entrevista Final....................................................................................... 91
Anexo G: Conteúdos Programáticos da Disciplina de Metodologia do Ensino da
Dança Escolar .................................................................................................. 93
Anexo H: Conteúdos Programáticos da Disciplina de Oficina de Experiência
Docente III - Experiência de Ensino de Dança na Educação Física Escolar ... 95
Carta de Aprovação do CEP/UFRGS .................................................................... 96
INTRODUÇÃO
Entendendo a expressividade como uma forma significativa de
comunicação corporal, inserida no contexto da Dança Escolar, é que foi tomada a
decisão por desenvolver este estudo. O movimento expressivo é algo inerente ao
ser humano, que comunica alguma mensagem, da mesma forma que busca,
através da Dança, a harmonia das suas formas biológica, cultural e filosófica.
A dança é uma forma de expressão que, além de unir a música ao gesto,
também é a linguagem universal compreendida por todos os povos. Nasceu com a
própria humanidade e favorece a quem tem acesso a ela, uma transformação
mais rica interiormente em possibilidades.
registros do movimento através dos passos de dança desde o tempo das
cavernas, em pinturas e desenhos encontrados nas próprias pedras. A
expressividade sempre esteve presente em nossos antepassados e está em nós
desde a vida intra-uterina. Constitui a transmissão de sentimentos, e nada revela
mais que o próprio gesto. Possibilita conhecer, além do nosso próprio corpo, o
corpo do outro.
9
Procurando ampliar todo esse conhecimento a respeito do corpo em suas
mais variadas formas de comunicação através dos movimentos expressivos, este
estudo busca descrever e compreender a percepção dos acadêmicos de
Educação Física que cursam a disciplina de Metodologia do Ensino da Dança
Escolar sobre sua expressividade. A melhoria e o aperfeiçoando dos
conhecimentos na área da expressividade serão importantes para melhorar o
trabalho com o grupo, futuros professores de Educação Física.
O que me motivou a pesquisar esse tema foi o caminho que percorri até
aqui. Comecei a estudar dança desde a infância, me apaixonei e não parei mais.
Procurei o curso de Educação Física por trabalhar com as questões relacionadas
ao corpo. Hoje ministro aulas para os acadêmicos. Outra motivação que encontrei
com a expressividade na dança é a necessidade de um trabalho que aborde não
apenas o mundo da racionalidade, mas também o da sensibilidade, com a
intenção de torná-la instrumento de transformação social.
A investigação inicia com a apresentação dos conceitos, classificações de
expressividade, bem como seus níveis de complexidade. Na seqüência, é
apresentada uma interação entre Expressividade, Educação Física e Dança.
Busca questionamentos, que abordam o homem como artista principal, e não a
forma e o produto como ponto central do processo. Ressalta a importância do ato
criativo da expressividade dentro do contexto de ensino.
1. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO
1.1 Expressividade
A expressividade pode ser abordada de várias formas. Ela é conceituada
como uma linguagem corporal, uma forma de comunicação e também, segundo
Silva e Schwartz (1999), como uma prática direcionada para a melhoria das
potencialidades humanas que se relacionam ao movimento corporal.
Dullius (1999) aconselha utilizar o estudo da expressão corporal, afirmando
ser este um passaporte para o sucesso no futuro da vida profissional da criança.
Através das aulas é possível detectar pontos fracos e corrigi-los de forma
divertida, fazendo com que o aluno tenha autoconfiança nas mais variadas
situações no decorrer de sua vida. Sem precisar falar, exemplifica a autora, você
consegue, através de sua expressão, transmitir com o corpo o que está sentindo
ou o que deseja.
O corpo humano é o meio de expressão mais poderoso que existe, uma vez
que transmite intenções e expressões no momento da comunicação. Podemos
11
esconder palavras e pensamentos, mas não os sentimentos de um corpo em
movimento. Baggio (2002), afirma que este grande poder expressivo nos pertence
desde o dia em que nascemos, no entanto, na maioria dos seres humanos
permanece inconsciente, pois a arte da expressão nem sempre é prioridade
dentro de alguns meios sociais. O mais fascinante da arte da dança reside na sua
busca exploratória das possibilidades e potencialidades inerentes ao movimento
de cada parte do corpo, e a consciência disto fará surgir um ser humano mais
sensível e criativo que proporcionará um alargamento de sua capacidade de
explorar os próprios sentimentos.
Em Taube (1998), temos a abordagem da expressividade do movimento
juntamente com a resposta rítmica, investigando qual a diferença entre prática
corporal através de ritmo espontâneo e métrico. A autora também estuda de que
modo a criança vivencia e expressa o movimento temporalmente métrico ou
espontâneo. Destaca o trabalho do ritmo espontâneo antes do ritmo métrico, onde
constatou uma resposta rítmica e corporal diferenciada e dinâmica, indicando
maior liberdade na expressão motriz.
Fazendo uso do termo Pré-Expressividade, Fernandes (2001) se refere ao
desenvolvimento da expressividade humana no início da infância, mais
precisamente em atividades de sensibilização com o objetivo de apoiar e estimular
a expressividade adulta.
12
Em Laban, temos a apresentação de quatro fatores: Peso, Tempo, Espaço
e Fluência. Estes fatores se relacionam com a atitude interna do indivíduo
expressada por qualidades dinâmicas. Afirma que o homem tem “a faculdade de
tomar consciência dos padrões que seus impulsos criam e de aprender a
desenvolvê-los, remodelá-los e usá-los” (1978, p.112). Assim, teremos um
enriquecimento da imaginação, aprimorando a expressão.
Brickman também acrescenta:
O homem esconstituído por uma mente que pensa, uma alma que sente e um
corpo que expressa esse todo. O corpo não é apenas um veículo; constitui o principal
modo de percepção e expressão do homem. A expressão corporal permite projetar a
essência criadora do corpo. (1989 p. 87).
Para classificar expressão corporal os conceitos de Salzer (1982) que
apresenta três classificações:
Primeira Classificação
I. A expressão corporal espetacular trabalha com o corpo de forma não
habitual, em grupo. Envolve uma situação diferente da que se vive. (teatro,
mímica, ballet)
II. A expressão corporal “não habitual”, mas não necessariamente
espetacular trabalhos em grupo que vivenciam o não habitual no corpo, mas
sem obrigatoriedade de ser um espetáculo. Refere-se a um local onde o corpo vai
ser posto em jogo. (yoga, ginástica, dança...)
13
III. A expressão corporal cotidiana utilizada para expressar o que
sentimos pelo corpo no cotidiano, no olhar, no gesto, na postura, na tensão ou no
relaxamento.
Segunda Classificação
I. A expressão corporal centrada sobre si mesma percepção do sentido
para uso próprio, centrando-se em si mesmo no gesto, na postura, na tensão...
com o objetivo de diversificá-los, dominá-los.
II. A expressão corporal centrada na relação dual visa descobrir o que é
possível se transmitir através do corpo, o que pode ser inconsciente (simpatias,
antipatias e outros sentimentos). Centra-se nas relações de pessoa para pessoa,
em grupo.
III. A expressão corporal centrada no grupo dimensão existente em cada
um dos dois casos anteriores, referindo-se ao indivíduo vivendo em grupo e com
este aparecem situações diversas, mas comuns. As atividades são centradas na
vida do grupo (dança coletiva, silêncio coletivo, dinâmica de grupo não verbal).
Terceira Classificação
I. A expressão corporal como “formação” ocorre o aprendizado da melhor
maneira de servir seu corpo, ou compreendê-lo e senti-lo.
II. A expressão corporal na busca “de terapia” busca auxiliar as pessoas
com dificuldades no relacionamento mantido com o seu próprio corpo. Através da
14
expressão corporal podem ser detectados fatores que contribuíram para o corpo
se apresentar do modo como se apresenta no presente.
III. A expressão corporal e a busca do “lúdico” espaço para liberação das
tensões acumuladas possibilitando uma nova imagem própria, que deixamos vir à
tona nesses momentos.
IV. A expressão corporal e “análise sociológica e institucional”
interpretação do que se passa na dinâmica de grupo e na relação do indivíduo
com a instituição na qual ele participa.
V. A expressão corporal como “lazer e encontro” amplia as relações de
amizades, favorecendo os encontros fora do grupo.
E, fazendo uso desta classificação, podemos ainda classificar os objetivos
em dois grandes eixos (Salzer, 1982):
Primeiro Eixo
O Eu com o Eu – libertar-se das tensões.
Segundo Eixo
O Eu com os Outros
Assim podemos afirmar que todo o movimento, desde o mecânico até o
simbólico, contém sempre uma grande carga expressiva. Desta forma, todo o ser
vivente manifesta-se no movimento. O mesmo é possível dizer de nós, seres
humanos, com o acréscimo de que manifestamo-nos pelo movimento, assim como
pela suspensão dele numa postura passageira. E, complementando
15
acrescentamos que para Ossona (1988), a expressão é instintiva e involuntária e
emerge do total da ação, como uma totalidade musical ou uma cor geral num
quadro.
Le Camus (1986) também abordou as práticas corporais de expressão
fazendo uso de três níveis de complexidade:
As práticas de expressão emocionais: expressão do corpo; práticas que
dispensam o contato corporal, vividas pelo sujeito (adulto) numa modalidade de
abalo emocional intenso; práticas tomadas às sociedades primitivas e das práticas
Neo-Reichinianas.
2º As práticas de Expressão Proxêmicas: expressão através do corpo;
práticas que exigem a proximidade de outro e que põem em jogo a proximidade do
contato.
A expressão corporal banal dos grupos de encontro (palavra
suspensa sistematicamente durante os jogos e verbalizada após as
vivências das situações). Por exemplo, jogo da corrente elétrica, jogo
do face a face prolongado, olhos fechados seguir o som, contato por
bastão, lenço, pano.
A expressão corporal de sentido analítico (trabalho integrado num
contexto de inspiração psicanalítica).
16
As práticas de Expressão Simbólicas: expressão pelo corpo; práticas
silenciosas e práticas faladas.
Atividades mímico-pósturo-gestuais. Fundadas na existência pré-
verbal que substituem as palavras. Enraizadas nos jogos da infância
e explorados pelos especialistas das artes do movimento. Analisadas
através de duas principais manifestações: a expressão corporal pura
chamada mimo (arte do silêncio que consiste na comunicação por
gestos e atitudes) e a expressão corporal enriquecida por uma
música de iniciação ou sustentação, a dança (também arte do
silêncio, porém diferenciada do mimo pela presença da música e por
ser de modo geral mais aérea, mais dinâmica e mais rápida).
Atividades voco-mímico-posturo-gestuais. Jogos dramáticos,
capacidade tipicamente humana de representação, acrescida da
dimensão afetiva da imitação ou da identificação com a dimensão
social dos estereótipos, dos modos e dos modelos; é a expressão
pela voz. Por exemplo, boneco, marionete.
Assim, temos que a expressão corporal como disciplina se propõe a
resgatar e a desenvolver todas as possibilidades humanas inerentes ao
movimento corporal. Assim, para Brickman (1989), o trabalho com a expressão
corporal possibilita ao aluno: a) manifestar de forma corporal e plena sua mente,
sua emoção e suas idéias (nível individual); b) relacionar-se e integrar-se
criativamente com os membros de seu grupo (nível grupal); c) aprender a
desfrutar e manejar seu corpo como uma totalidade integrada.
17
Em sua obra, “A Linguagem do Movimento Corporal”, Brickman (1989)
apresenta alguns conceitos importantes, em se tratando de expressão corporal:
I. Linguagem corporal
É mais valioso o próprio processo de desenvolvimento que o eventual
resultado que se obtenha. O processo se enriquece e o resultado será sempre
valioso, porque não se trata de chegar a uma particular forma única, mas às
formas mais enriquecidas possíveis. O movimento corporal é uma linguagem, uma
maneira privativa de manifestar-se, e a expressão corporal tende a resgatar esta
linguagem individual nos seus mínimos detalhes, para assim desenvolver as
potencialidades e possíveis combinações individuais.
O desenvolvimento desta linguagem corporal permitirá a manifestação da
personalidade e também o conhecimento mais completo de si mesmo, para fora e
para dentro. Por outro lado, isto possibilitará uma comunicação mais fluida e uma
modificação de atitude geral.
II. Movimento
O movimento é o tema central da expressão corporal, é a resposta que
ativa a massa muscular, por uma reação em cadeia que percorre o corpo de um
ponto a outro. Esta ativação pode gerar um deslocamento visível no espaço, ou,
caso não se produza, conformar uma resposta aparentemente estática.
Movimento é inerente a todo ser vivo. Nossa cultura ocidental tira hierarquia ao
18
corpo e o relega até reduzi-lo à produção de movimentos utilitários. O trabalho da
expressão corporal visa resgatar e desenvolver todas as possibilidades humanas.
“Corpo e psique” encerrados no movimento corporal.
III. Energia
Dentro da expressão corporal, energia é a capacidade que tem o corpo de
produzir movimentos através de seu sistema muscular em funcionamento ideal.
Em expressão corporal é essencial não esquecer que se está operando com
corpos humanos e que se forem submetidos a esforços gratuitos e estéreis, não
se conseguirá a procurada criatividade corporal.
Além de todos esses aspectos mencionados no trabalho com a
expressividade, existe um que é de muita importância: a criatividade. Nanni (2003,
p.35) define movimentos criativos: compreendem a comunicação não verbal
através de movimentos expressivos e interpretativos. Movimentos expressivos são
os que compreendem a comunicação através de movimentos corporais desde as
expressões faciais, gestuais e até as coreografias mais complexas e
especialização em comunicação corporal através de: associação de movimentos e
combinações de movimentos. Movimentos interpretativos são planejados a partir
de estímulos ambientais (concretos) da natureza em geral ou podem ter origem
em conteúdos simbólicos (abstratos).
De acordo com Brickman (1989) a expressão corporal possui em sua
essência a criatividade. A) Criatividade do imaginário: desejos, sonhos e imagens
19
(sonoras, visuais, táteis e cinestésicas). B) Da realidade experimentada: cada vez
mais o mundo exterior nos bombardeia de imagens impactantes que bloqueiam,
deslocam, substituem, nossas próprias imagens internas, que não encontram
lugar e não são estimuladas. A finalidade da expressão corporal é, precisamente,
tornar possível a existência desse mundo imaginário. Por isso, além do
desenvolvimento do corpo, devemos cuidar do desenvolvimento do imaginário,
assim poderemos sentir e compreender as situações que nos são dadas na
experiência e criar novas situações. Pensar e sentir fazendo é criativo. Sem
elaboração do imaginário não trabalho criativo, e na expressão corporal o que
importa é a experiência de elaboração da tríade “mundo imaginário movimento
corporal – ação”.
Para Boden (1999), a criatividade é um quebra-cabeça, um paradoxo, e
para alguns, um mistério. Inventores, cientistas, e artistas raramente sabem como
suas idéias originais surgem. Citam a intuição, porém não sabem como ela
funciona.
A mesma autora citada inclui quatro componentes no estudo da
criatividade:
Primeiro o processo criativo, isto é, a produção de conteúdo novo e original;
esse processo, se repetido regularmente pela mesma pessoa, faz surgir a noção de traço.
Segundo temos o produto criativo que pode incluir o traço da criatividade, mas também
muito mais. Terceiro, temos a pessoa criativa, que mostrará criatividade, é gico, mas
também muitas outras características. E finalmente, temos a situação criativa, tal como
definida socialmente e alguns períodos históricos parecem ter muito mais probabilidade
de produzir pessoas e produtos criativos do que outros (Boden, 1999, p.206).
20
Ao ser estimulada, a criatividade evita os comportamentos estereotipados,
sendo possível recriar as relações com uma profundidade cada vez maior.
Marques (2003) acrescenta que alguns estereótipos servem para reforçar
preconceitos e tabus, inclusive os que se relacionam à vivência de gênero em
sociedade.
Para se que possa falar em estereótipo, necessário se faz saber o que
significa. Sucintamente, Brickman (1989) o define como uma estrutura rígida e
reiterativamente utilizada que se dá como resposta indiscriminada a qualquer
estímulo.
Como afirma Schmitt, “gestos, atitudes, comportamentos individuais são
aquisições sociais, frutos de aprendizagens e mimetismos formais ou
inconscientes” (2005, p.141). Acrescenta ainda que não evoluem muito ao longo
do tempo, senão de forma imperceptível: se existe uma história de longa duração,
é bem a dos gestos. Para o mesmo autor citado, tudo isso se deve a dois motivos:
(1) vitalidade dos modelos de educação e estabilidade dos esquemas que
estruturam as culturas e ideologias; (2) resistência dos princípios nos quais se
enraízam os códigos e as normas.
21
Trata-se de um fragmento da história da moral estóica romana (cultura
ocidental) na aurora da escolástica, mais precisamente a noção de gesto e valores
éticos que inspiraram no passado a definição de modelos de gestos ideais.
Temos em Schmitt (2005) a abordagem das características gerais em uma
reflexão sobre os gestos:
1- Reflexão de natureza ética: procura definir uma norma, a saber, o bom e
o mau gesto, em nome de valores universais que podem ser, segundo as épocas,
a razão humana ou o olhar de Deus.
2- Gesto é considerado como expressão física e exterior da alma interior.
Essa expressividade do gesto e a representação dual da pessoa que a sustenta
são esquemas construtivos da cultura ocidental, inclusive a contemporânea.
3- Relação do corpo e da alma, estabelecida pelos gestos, segundo a
tradição ética, pode sugerir uma ação sobre o corpo, uma disciplina dos gestos
gestos da prece, por exemplo.
Segundo Scarpato (2004), uma visível dificuldade encontrada nos
estudantes de Educação Física no que se refere à compreensão do significado do
movimento no ser humano. Como exemplo, o repetitivo movimento que temos em
academias de ginástica. Movimentos imitados, que reduzem a visão de
consciência corporal ao conhecimento apenas dos nomes dos músculos e ossos
do corpo humano. A autora acrescenta ainda que tais estudantes não conseguem
relacionar o movimento com experiências adquiridas ao longo da vida, as quais
são expressas na postura, na maneira de andar, no modo de ser e estar no
22
mundo. Ela conclui que apesar das experiências corporais, muitos não conseguem
improvisar um movimento, demonstrando mais preocupação com a forma e com a
aceitação dos colegas.
Gaspari (2002), em seu estudo sobre a Dança aplicada às tendências da
Educação Física Escolar, revela que a abordagem psicomotora, onde se visa à
educação pelo movimento, permite ao aluno a utilização de movimentos
espontâneos, saindo do comportamento motor estereotipado.
1.2 Expressividade, Educação Física e Dança.
O movimento humano é expressivo, através do movimento podemos
exteriorizar sensações, emoções, sentimentos. duas vias para abordar a
educação da expressão:
1- atividades que tenham como objetivo específico conseguir que o aluno
se expresse;
2- favorecer a expressão dos alunos em qualquer atividade realizada,
sendo necessário permitir a manifestação da individualidade de cada um de seus
gestos, evitando que o aluno reproduza sempre o movimento realizado pelo
professor.
23
A riqueza expressiva está em cada movimento impregnado da subjetividade
de cada aluno. Schwartz (1999), afirma que o enfoque técnico da Educação Física
representa informações fragmentadas, e acrescenta que de nada adiantam essas
teorias, pois o corpo aprende aquilo que para ele tem significado. Ressalta a
importância da expressividade, enfatizando os elementos do prazer, da afetividade
e da emoção, estimulando assim indivíduos participantes da construção de suas
culturas.
Os princípios do professor de Educação Física autoritário, que determina os
objetivos de ensino, estabelece o caminho do método e demonstra as formas de
movimentos por ele escolhidos, os quais devem ser imitados pelos alunos, tiveram
origem no século XIX e aparecem da mesma maneira nas aulas de hoje. É o
discutível formalismo do método francês e da calistenia.
Isso tudo se afasta do verdadeiro objetivo da Educação Física, da
responsabilidade pedagógica, da demanda e do desenvolvimento, voltados em
direção da personalidade. O homem, e não a forma e o produto, deve permanecer
como ponto central da Educação Física.
Um caminho decisivo para a demanda e o desenvolvimento da
emancipação da personalidade passa por estímulos diversificados e por iguais
possibilidades para a co-determinação e responsabilidade própria. Os estímulos
são dados através da apresentação de tarefas para o desdobramento de
criatividade e de expressão individual. O professor faz do aluno não uma cópia
24
unilateral de formas, normas e produtos existentes, mas sim estimula também
uma atuação criativa e uma expressão individual (HASELBACH, 1990).
Brasileiro (2002), ao pesquisar sobre a dança nas aulas de Educação
Física, faz referência ao avanço significativo do conhecimento acerca da Dança,
destacando a participação de ambos os sexos. Acrescenta que a Dança é uma
das formas da Cultura Corporal de diversos povos e que juntamente com outras
práticas jogo, esporte, ginástica constitui uma forma de atividade expressiva
corporal.
Ehrenberg e Gallardo também pensam na dança como “conhecimento da
Educação Física que imprime e expressa relações estabelecidas pela cultura do
corpo” (2005, p. 111). Para isso, acrescentam que esta prática não pode
reproduzir movimentos prontos, mas sim levar a pensar e agir sobre eles. Os
autores sugerem três etapas para as aulas de Dança:
1- exploração de movimentos espontâneos, onde ocorrerá a exteriorização
dos sentimentos em relação à música, transformando a linguagem corporal em
linguagem do movimento. Dança e música reforçam a força expressiva uma da
outra.
2- troca de experiências entre os alunos, com a criação de seqüências
simples.
3- contextualização da dança trabalhada, com a visualização de um
processo mais consciente.
25
A dança está diretamente ligada à expressividade, como afirmam alguns
autores. Laban (1978), coloca a dança como um caminho para os povos
expressarem sua cultura, sua relação tanto com a natureza quanto com os
homens. Garaudy aponta que dançar é a vivência e a expressão, de maneira
intensa, “a relação do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e
com os seus deuses” (1980, p.14). Nanni destaca que “A dança é veículo de
comunicação e expressão, codificador de mensagens, idéias, concepções” (2002,
p.45).
A dança é uma forma de expressão, uma linguagem que serve para
exprimir o que está no íntimo de cada um. Bencardini (2002), ao abordar os
preconceitos existentes em relação à dança do ventre para crianças, afirma que
muita gente acredita que haverá uma erotização cedo demais. Justifica que, se a
criança ainda não tem esta forma de lidar com o seu corpo, não vai transmitir isto
em sua dança. Não se transmite o que não se tem.
A música expressa, com diferentes nuances, os ritmos lentos, alegres,
acelerados, melódicos, tristes, com passados misteriosos, etc. Com relação à
dança do ventre, Bencardini (2002) exemplifica que ao dançar, a mulher expressa
verdadeiramente o que se passa dentro de sua alma, exprimindo também o que
está vivenciando. O sentimento reflete no brilho dos olhos, na expressão do
sorriso, e na escolha de determinado padrão de movimento.
26
A dança, segundo Achcar, “é a arte do movimento e da expressão, onde a
estética e a musicalidade prevalecem” (1986, p.23). Para a autora citada, a prática
da dança permite desenvolver e enriquecer as qualidades do homem no seu
físico, na sua mente e psique. A expressão é um dos aspectos presentes na
essência do ensino da dança.
Achcar (1986) acrescenta que a expressão é a qualidade artística mais
importante, não somente na dança, como em todas as artes. Estudos de mímicas
especializadas para atores e bailarinos possibilitam encontrar os gestos instintivos
fundamentais e naturais que expressam as grandes emoções, para retransmitir
com precisão e veracidade. Na interpretação de estados de almas, o bailarino
necessita de uma concentração mais intensa de que o ator dramático, pois requer
ao mesmo tempo um grande esforço físico e mental. Dentro da classificação da
qualidade de dança, a autora citada apresenta a dança expressionista, mais
precisamente, a dança moderna, a qual se caracteriza pela inteira liberdade de
movimentos e de expressão, mas com o necessário cuidado para não prejudicar a
beleza de formas, de linhas e de equilíbrio estético. É um estilo que “procura
transmitir com mais ênfase o sentimento, tentando teatralizá-lo ao máximo através
de movimentos corporais” (ACHCAR, 1986, p. 51).
Para Scarpato (2004), a dança no contexto escolar da Educação Física
precisa ser uma dança mais expressiva, criativa e que leve o aluno a conhecer
melhor o seu corpo, bem como aprender a fazer movimentos e a pensar em
27
termos de movimentos, uma vez que a exigência da escola é fazer com que o
aluno pense.
Nossas atitudes corporais, segundo Figueiredo et al. (1999), expressam os
desejos, sonhos e fantasias que habitam nosso lar e contam nossa história. A
dança é um meio pelo qual podem ser somados esforços para buscar na vida o
sentido de crescer e melhorar a compreensão de mundo, ela trilha caminhos
diversos, e um deles é perceber e conceber uma cidadania do corpo, permitindo
transformar cada momento em um ato criativo.
Dantas afirma que deixar o corpo dançar é também deixar o corpo conhecer
diferentes maneiras de dançar para, entre outros objetivos, “tornar-se mais
expressivo, que em dança expressivo é aquilo que se torna visível no corpo,
através dos movimentos” (1997, p.59).
Baggio também destaca aspectos importantes relacionados ao ato de
dançar:
“Na educação do ser humano, a dança prioriza o conhecimento de seu próprio
interior e o domínio de seu corpo, levando-o a uma estabilidade emocional e a um controle
gradual das reações primitivas, tornando, com isso, mais eficiente o convívio social,
embasando o indivíduo para o contato com a cultura que, provavelmente, tornará o homem
mais feliz. (2002, p. 11-12)
28
O movimento da dança é um modo de manifestar essa expressão,
exterminando ou diminuindo a forma rígida do modelo postural do corpo. Segundo
Schilder (1999, p.228), “todas as vezes que nos movemos, o modelo postural do
corpo se altera”. A dança é uma maneira de transformar esse modelo e diminuir a
rigidez de sua forma. O autor ainda diz que na dança, a conexão das roupas com
o corpo, especialmente no caso dos bailarinos de palco, promove uma significativa
modificação, aumentando a sensação de liberdade em relação à gravidade e a
coesão do modelo postural do corpo.
O movimento expressivo se relaciona com esse modelo. Desse modo,
construção contínua de uma forma que imediatamente depois de dissolvida é
reconstruída. uma construção e destruição (idéias de eternidade e
transitoriedade, respectivamente). Na primeira, tendências de cristalizar
unidades, assegurar pontos de descanso, imutabilidade e pontos de ausência de
mudança. Na segunda, a tendência de obter um fluxo contínuo, uma mudança
permanente.
O corpo vai além de onde se encontram sua extensão e suas roupas.
Schilder (1999) afirma esta idéia quando aborda as mudanças da imagem
corporal, complementando que é cercada de uma esfera de sensibilidade especial.
Uma construção que se estabelece nos sentidos, especialmente os visuais,
mas também os táteis e os cinestésicos. Longe de ser algo pronto e definitivo,
29
altera-se constantemente e permanece estável apenas o suficiente para voltar a
modificar-se (FREITAS, 2004).
Segundo Baggio (2002), a imagem corporal muda à medida que o indivíduo
amadurece, e a consciência do próprio corpo se pela observação dos
movimentos e pela percepção que a pessoa tem da estrutura de seu corpo em
relação à imagem que tem dos corpos de outros. Acrescenta ainda que, por
conseqüência desta percepção, a consciência do corpo se pela capacidade da
pessoa reconhecer e controlar o seu próprio corpo e suas partes componentes.
Tal controle corporal se expressará em melhores formas de coordenação
dos gestos e na execução do comportamento motor com a Dança, que busca
facilitar esta organização da imagem corporal.
2. ROTEIRO METODOLÓGICO
2.1 Escolha da Metodologia
Este estudo tem como característica a investigação qualitativa. A
compreensão da metodologia qualitativa de pesquisa, segundo Víctora (2000),
está no ato de entender que uma metodologia é algo além de um conjunto de
técnicas de pesquisa.
A autora supracitada acrescenta que um pesquisador estudante da
realidade terá pressupostos definidos e instrumentos, tanto materiais como
conhecimentos de como operá-lo, o que perceber e o que fazer com os resultados
deste material, a fim de que possibilitem a pesquisa.
2.2 Objetivos e problema da pesquisa
2.2.1 Objetivo Geral
Descrever e compreender a percepção dos acadêmicos de Educação
Física que cursam a disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar sobre
sua expressividade.
31
2.2.2 Objetivo Específico
Descrever e identificar o que os acadêmicos de Educação Física que
cursam a disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar fazem e o que
dizem sobre sua expressividade.
2.2.3 Problema
Quais as percepções que os acadêmicos de Educação Física que cursam a
disciplina de Metodologia da Dança Escolar possuem sobre a sua expressividade?
2.2.4 Questões norteadoras referentes ao problema de pesquisa
a) Como os acadêmicos de Educação Física que cursam a Disciplina de
Metodologia do Ensino da Dança Escolar percebem sua expressividade?
b) O que fazem e o que dizem os acadêmicos de Educação Física que
cursam a Disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar sobre
sua expressividade?
c) Qual a contribuição do trabalho da expressividade para a formação dos
acadêmicos de Educação Física que cursam a Disciplina de Metodologia
do Ensino da Dança Escolar?
32
2.3 Instrumentos Investigativos
Entrevista semi-estruturada e notas de campo foram os instrumentos de
coleta de informações utilizados para a pesquisa.
2.3.1 Entrevista semi-estruturada
Objetivando estabelecer melhor vínculo com o acadêmico de Educação
Física para obter maior profundidade de informações, foram utilizadas entrevistas
do tipo semi-estruturadas. De acordo com Negrine (2004), a entrevista é “semi-
estruturada” quando obtém informações previamente definidas pelo pesquisador,
ao mesmo tempo em que permite a realização de explorações não-previstas. Com
isso, o entrevistado tem liberdade para falar sobre o tema ou outros aspectos que
considera importante, dando maior flexibilidade à entrevista.
As entrevistas aconteceram em dois momentos distintos, no início e no final
do Programa das aulas de Dança. Foram individuais e gravadas (Anexos A e B).
2.3.2 Notas de Campo
De acordo com Neto (2006), as notas de campo têm como finalidades
instrumentalizar a atividade reflexiva, pensar o trabalho a ser realizado, auxiliando
na elaboração do texto final. No conteúdo estão inseridos anotações das
observações, registro do trabalho, dificuldades e sentimentos pessoais da
investigadora.
33
Observação: Nesta pesquisa também foram realizadas filmagens. No
entanto, elas não foram consideradas um instrumento de pesquisa, mas um
recurso didático que possibilitou analisar e comentar a reação dos acadêmicos ao
se examinarem na prática.
2.4 Os participantes
Os acadêmicos de Educação Física que freqüentaram as aulas de
Metodologia do Ensino da Dança Escolar de Abril/2008 a Maio/2008 foram 31
alunos. A disciplina compreendeu 30 créditos divididos em aulas teóricas e
práticas. As aulas teóricas constituíram 01 crédito semanal, onde toda turma
participou no mesmo momento; as práticas também foram de 01 crédito, porém os
alunos foram divididos em dois grupos, P1 (Prática 1) de 15 alunos e o outro, P2
(Prática 2), de 16 alunos.
Para facilitar o trabalho, principalmente no fator tempo, a pesquisa foi
realizada com apenas 01 grupo (P2, de 16 alunos). Minha escolha foi pelo grupo
que não tinha experiência na área da dança, para verificar melhor a percepção no
campo da expressividade, bem como as possíveis transformações. conheço a
turma porque trabalhei no semestre que passou com outra disciplina.
Neste mesmo semestre os alunos também cursaram a disciplina de Oficina
de Experiência Docente III, que envolve a Dança Escolar aplicada com alunos,
34
num total de 30 créditos. Por este motivo é que as aulas desta disciplina também
foram englobadas pela pesquisa (ver Conteúdo Programático no Anexo H).
Foi feita a opção por acadêmicos de Educação Física para a pesquisa por
fazerem parte de um curso que trabalha com práticas corporais, para abordar um
outro olhar sobre o corpo, e também ampliar as experiências para futuras práticas
profissionais.
2.5 Composição das informações
As aulas ocorreram na Sala de Dança da Universidade Regional Integrada
do Alto Uruguai e das Missões (URI) Campus de Erechim, durante a Disciplina de
Metodologia do Ensino da Dança Escolar e no palco do Auditório Central, durante
a prova prática. A Disciplina de Oficina de Experiência Docente III ocorreu também
na Sala de Dança da URI e em locais da comunidade, onde os alunos aplicaram
aulas: Escola de Ensino Médio, Escola de Ensino Fundamental - Anos Iniciais e
Asilo.
O período de coleta de dados aconteceu de 02 de abril de 2008 a 28 de
maio de 2008, durante o horário de aula.
Na primeira aula, em 02 de abril de 2008, foi explicado como seria o
trabalho de pesquisa e foram apresentados os seus objetivos. Os alunos
concordaram prontamente em participar e foram agendadas as entrevistas para a
turma da P2. Foram preenchidos os termos de consentimento e as declarações de
35
participantes da pesquisa, assim como a ficha com os dados pessoais dos
participantes (Anexos C, D).
A turma foi esclarecida quanto ao sigilo das informações, e que seriam
utilizados nomes fictícios em citações relevantes da pesquisa ou em possíveis
publicações. Também foi esclarecido que as entrevistas seriam validadas por eles
após a sua transcrição.
Como muitos alunos trabalhavam ou moravam no interior, as entrevistas
precisavam acontecer no período de aula. Os professores que davam aulas para
os alunos que participaram das entrevistas foram previamente informados,
autorizando a saída temporária destes.
As entrevistas semi-estruturadas (anexo A) ocorreram numa sala reservada
ao lado da sala de aula. Elas foram gravadas em fita cassete, individuais, com a
duração aproximada de 15 a 30 min. Assim, as entrevistas iniciais foram
realizadas entre as manhãs de 02, 03 e 04 de abril de 2008. Procedendo da
mesma forma, as entrevistas finais ocorreram no dia 28 de maio de 2008 (anexo
B) e as validações após uma semana.
No final deste trabalho encontram-se as transcrições de uma entrevista
inicial (anexo E) e uma entrevista final (anexo F).
36
No quadro a seguir aparecem os participantes com nomes fictícios e suas
respectivas idades.
Nome
Idade
Semestre
Cláudia
19
III
Eduardo
25
III
Felipe
31
III
Liamara
20
III
Luciana
19
III
Valquíria
19
III
Rogério
23
III
Ronaldo
20
III
Mário
23
III
Marta
19
III
Bernardo
19
III
Fausto
22
III
Maurício
19
III
Maria
25
III
Laís
21
III
Mirian
20
III
Durante o processo anotei informações num diário, constituindo as Notas
de Campo.
As filmagens e os recursos didáticos que auxiliaram no processo de
pesquisa foram realizados em quatro etapas. A primeira e segunda foram no início
das aulas (07 e 09 de abril de 2008) e envolviam movimentos pré-determinados da
dança circular, definida como uma dança em círculo, de mãos dadas, com
harmonia de gestos simples e repetidos que levam à vivência do sentimento de
cooperação (BERNI, 2002). Também nesta primeira e segunda filmagens foi
trabalhada a dança de salão.
37
A terceira (28 de abril de 2008) registrou o trabalho dos participantes em
um Asilo, onde eles criaram e apresentaram um trabalho de expressão corporal
envolvendo dança e teatro. A quarta (26 de maio de 2008) correspondeu à prova
prática realizada no palco, e envolveu trabalho em grupo, escolha de música e
criação de coreografia. Os alunos assistiram as três primeiras filmagens no dia 06
de maio de 2008 e a quarta no dia 27 de maio de 2008. Foram registrados os
comentários e as observações dos participantes. As filmagens tiveram uma
duração aproximada de 20 a 30 minutos.
Todas estas atividades registradas fazem parte do Programa de Dança da
Disciplina, mais especificamente da Unidade 4 Manifestações da Dança Escolar
(ver Anexo G).
Ao mesmo tempo em que eram desenvolvidas, serviram de base para o
estudo da expressividade dos acadêmicos. Mesmo as Danças Circulares e a
Dança de Salão que não apresentam tantas possibilidades de criação, por serem
constituídas de movimentos pré-estabelecidos, foram de grande importância para
que cada participante se percebesse expressando o movimento na sua
particularidade. a abordagem específica dos movimentos criativos, expressivos
e interpretativos foram mais explorados nas etapas seguintes.
Um das etapas foi no asilo, onde os acadêmicos criaram uma peça que
envolvia vários estilos de dança estudados. A outra etapa foi na avaliação prática
38
que consistia na elaboração de uma coreografia para apresentar no palco,
reunindo tudo o que trabalharam no semestre, principalmente movimentos
expressivos.
As informações obtidas através da leitura da coleta de dados foram
agrupadas em unidades de significado, que reescritas, originaram categorias de
análise. Esta parte da dissertação recebeu o nome de O Corpo cotidiano
transformando-se em corpo expressivo”, considerando que o corpo tem a
capacidade de se manifestar durante sua existência, antes que este necessite da
linguagem, por meio do movimento. A busca da maior possibilidade de realização
desses movimentos o levará a uma maior capacidade de expressão.
A leitura das entrevistas, das notas de campo e das filmagens dos
participantes permitiu a criação de três categorias de análise:
(1) Ensaiando os primeiros passos: todo trabalho de dança é organizado
por meio de ensaios e nasce com os primeiros passos. Esta etapa abordou o
início, ou seja, como os participantes perceberam sua expressividade, as
dificuldades que apontaram, as expectativas, o conhecimento que trouxeram a
respeito do tema proposto.
(2) O Corpo em Cena: após a elaboração da coreografia, chega o grande
momento no palco, a demonstração de todo o trabalho ao público. Nesta
categoria, os participantes demonstraram questões referentes ao gênero, à dança
39
na educação física, à influência da mídia, ao trabalho com ritmo, questões
culturais e o momento da atuação em palco. Todas essas questões foram
relevantes para o estudo da expressividade, uma vez que influenciam a maneira
de pensar e agir com o corpo.
(3) E o espetáculo continua: quando a apresentação termina, seguem
aplausos e agradecimentos, mas o processo não encerra. A terceira parte abordou
a contribuição do trabalho expressivo para a formação dos participantes, como
futura atividade docente.
3. O CORPO COTIDIANO TRANSFORMANDO-SE EM CORPO EXPRESSIVO
“Se eu pudesse dizer o que as
coisas significam não teria
necessidade de dançá-las”.
(Isadora Duncan)
Os movimentos expressivos podem levar à descoberta das possibilidades
que são oferecidas, levando à busca da realização pessoal. Atitude e movimentos
resultarão numa comunicação com o mundo, aonde o corpo expressivo irá além
do corpo cotidiano, ou seja, do corpo fisiológico. É um processo individual, que
chegado num determinado momento, segundo Bossu e Chalaguier (1975), caberá
a cada qual a decisão quanto ao futuro: avançar no trabalho de outras técnicas de
expressão, na criação artística, no aproveitamento das conquistas pessoais para
levar uma vida mais ativa nas atividades cotidianas.
Os enfoques dados à expressividade neste estudo foram os abordados no
Referencial Teórico, por Salzer (1982) e por Le Camus (1986).
Salzer (1982) apresenta, dentro de sua classificação, a expressão corporal
“não habitual”, mas não necessariamente espetacular, que consiste em trabalhos
de grupo que vivenciam o não habitual no corpo, mas sem obrigatoriedade de ser
41
um espetáculo. Também outra classificação que a pesquisa enfoca é a expressão
corporal cotidiana utilizada para expressar o que sentimos pelo corpo no
cotidiano, no olhar, no gesto, na postura, na tensão ou no relaxamento.
Em Le Camus (1986) busquei, para a pesquisa, as práticas de expressão
simbólicas: expressão pelo corpo; práticas silenciosas e práticas faladas. Estas
práticas envolvem atividades mímico-pósturo-gestuais (fundadas na existência
pré-verbal que substituem as palavras, enraizadas nos jogos da infância e
explorados pelos especialistas das artes do movimento) e atividades voco-mímico-
posturo-gestuais (jogos dramáticos, capacidade tipicamente humana de
representação, acrescida da dimensão afetiva da imitação ou da identificação com
a dimensão social dos estereótipos, dos modos e dos modelos).
A expressividade vem trazer um enriquecimento ao trabalho da Dança,
tanto como forma de lazer quanto no complemento da relação existente das
pessoas que assistem, ou seja, do público, com quem está dançando. Deste modo
inicio a primeira categoria: ensaiando os primeiros passos.
42
3.1 Ensaiando os primeiros passos
Como a expressividade foi estudada dentro do contexto da Dança Escolar,
era de grande importância descobrir o que os acadêmicos participantes da
pesquisa pensavam sobre essa Disciplina.
Em relação à experiência com a dança, Scarpato busca uma reflexão sobre
o significado do movimento e da consciência corporal que é transmitido ao
estudante de Educação Física. A autora destaca a importância de levar os alunos
a pensar as questões do corpo, do sedentarismo, dos movimentos mecânicos,
para que percebam a necessidade do movimento consciente: “ao invés de um
corpo não-pensante e insensível, um corpo pensante, consciente e criativo” (2004,
p.67)
Para muitos participantes no inicio do programa, durante as entrevistas
iniciais, a contribuição da Disciplina Metodologia do Ensino da Dança Escolar se
resumia aos aspectos físicos:
“Bom, eu acredito que sim porque ela ajuda em várias partes assim, às vezes, trabalha a
saúde das pessoas, trabalha com a coordenação” (Cláudia, 19 anos)
“Pode! Claro, de várias maneiras... Treina, tipo na parte da dança ali, o equilíbrio, este tipo
de coisa. Até porque o conhecimento também, tipo no Pan ali, tinha dança, essas coisas, tu olha
[sic], analisa [sic] aquilo tu pode [sic] dar aquele olhar mais técnico, em cima daquilo”. (Eduardo, 25
anos)
43
“Com certeza. Na... tua formação corporal, na parte do equilíbrio, de ritmo, que trabalha
muito”. (Liamara, 20 anos)
“Eu acho que sim. Por causa que..., ah! Tu vai ta [sic] ali e se distrai e também, dança
mexe com todo o corpo, assim..., tem mais flexibilidade, conhece mais o corpo, eu acho.”
(Luciana, 19 anos)
“Pode... Acho que sim! A disciplina ajuda em alguma coisa. A gente dança e desenvolve a
coordenação[...], mais agilidade, também, concentração, pode ajudar um monte”. (Rogério, 23
anos)
“Eu acho em tudo assim. Tanto a parte motora assim, a concentração, tudo assim”. (Marta,
19 anos)
Verderi (2000), acredita que a dança na escola está totalmente voltada para
a aprendizagem do movimento e para a exploração da capacidade de se
movimentar. Esses aspectos geram autonomia e maior segurança. Alguns
participantes destacaram este aspecto, envolvendo também o trabalhado em
grupo, que desperta a cooperação, através de valores sociais:
“Eu acho que vai me ajudar a ser um pouquinho mais solto. Pouquinho mais desinibido,
talvez. Eu fiz um curso de dança, e coisa e tal, sempre gostei de dançar. A gente quando dança,
sei , libera alguma coisa a mais na gente... alegria, acho, o compartilhamento de vo estar
dançando com alguém, o respeito, a integração, acho que une bastante as pessoas, acho que
trabalha bastante isso aí”. (Felipe, 31 anos)
“Pro [sic] pessoal acho que a dança, ela desenvolve, como eu posso dizer... uma pessoa
tipo envergonhada, assim ela (silêncio)... pode assim, extravasar, e até pro [sic] estresse ajuda”.
(Maurício, 19 anos)
“Eu acho que sim. A dança trabalha o corpo todo, e assim: que nem eu sou um pouco
encabulada (risos). Acho que vai me ajudar porque depois eu vou ter que passar isso, porque eu
vou trabalhar com pessoas”. (Maria, 25 anos)
“Pode, porque eu sou muito tímida, a minha expressão é pouca, então nunca dancei...,
nunca fiz nenhum tipo, nem balé, nem CTG, nada, nunca participei de grupo de dança, então é o
momento de aprender alguma coisa.” (Laís, 21 anos)
A expressividade em si não é uma arte, sendo, no entanto, segundo a
afirmação de Ossona (1988), de grande utilidade para quem dança. Uma das
44
contribuições da dança, aliada ao movimento expressivo, é a de ampliar a
possibilidade de movimentos, tornando-os menos convencionais e estereotipados,
aumentando a liberdade:
“[...] me sentir mais livre. Me sentir com mais facilidade de me expressar, expressar meu
sentimento através de meu corpo.” (Mirian, 20 anos)
“Livre. Livre. Uma sensação de liberdade. Mesmo estando em casa, no apartamento, uma
sensação de liberdade.” (Felipe, 31 anos)
Bossu e Chalaguier encontram no movimento expressivo a representação
da forma assumida pelo corpo ao existir, e como início do trabalho da
expressividade instigam o corpo a reconhecer-se no espaço, buscando uma
descoberta do seu dinamismo, e desse modo, “descobrir os seus verdadeiros
limites e suas possibilidades de transgressão” (1975, p.27).
Alguns conceitos sobre expressividade que os participantes relataram nas
entrevistas iniciais envolvem a estética, ou seja, movimentos harmônicos e
coordenados que levam à aquisição, de acordo com Achcar (1986), da
plasticidade, da pureza de linhas e da expressão possíveis.
“Ah é o movimento, a beleza do movimento, eu acho. Ah, a perfeição da prática, o
treinamento.Sim, principalmente nos movimentos, é tudo uma parte técnica, né? Tudo tem um
padrão de seqüência, uma seqüência ele tem que seguir. Ele tem que realizar com perfeição
aqueles movimentos”. (Eduardo, 25 anos)
“Por exemplo, quando põe o braço para a frente. Acho que uma coisa, tipo mais calmo,
tipo aquelas bailarinas, mais delicadas, acho que teria um pouco mais de, mais meiga, alguma
coisa assim. Eu acho que eu gostaria de um pouquinho mudar, um pouco assim, com modos. [...]
Às vezes, até, a gente brinca bastante com a Paula, que dança. A gente foi jogar Futsal e a
gente brincava com ela, que ela ia dar os passos de ballet em vez de chutar a bola. E, é verdade.
45
Às vezes, ela ia pra chutar a bola e ela não chutava forte, dava uns passos de ballet. E, a gente
brincava muito com ela e ficava dançando na quadra, ficava sempre uma avacalhação.” (Luciana,
19 anos)
“Deixa eu pensar um pouco... Se for virar para a dança, meus movimentos o grotescos,
né. (risos). (Rogério, 23 anos)
“Eu vejo as meninas dançando, eu acho tão legal, assim. Que pena que eu o tive
oportunidade de dançar, porque eu acho muito bacana. A gente morava no interior e a e não
tinha muito tempo, porque ela trabalhou. Mas eu acho que se ela pudesse, teria me colocado
em alguma coisa para dançar: eu ia adorar assim, sabe. Eu até, nas vezes em que eu tentei me
inscrever em cursos de dança, nunca acabou dando, porque sempre tinha que trabalhar e estudar,
aquela coisa e nunca fechava! Mas eu quero ver se eu vou pegar esse caminho aí.” (Marta, 19
anos)
O ser humano é um ser social e a expressividade na dança é justamente
uma forma de comunicação. Schilder acrescenta que normalmente aspiramos
compreender pensamentos e gestos dos outros, mas, também, aspiramos que
nossas atitudes e idéias sejam compreendidas, e conclui que os movimentos
expressivos “geralmente são comunicações que dirigimos a outros” (1999, p.247).
“Tem a ver com um movimento que expressa um sentimento. Eu acho que é, tipo... como
ta o teu interior! Eu acho assim, se tu fizer um gesto ou está com uma expressão, os outros vão
perceber se tu está feliz, ou está triste[sic].” (Luciana, 19 anos)
“É uma maneira de se expressar. Se tu faz[sic] um gesto, sinal, movimento, fala... acho que
é isto. Um modo de se expressar o que quer! Falar uma idéia usandoo, um gesto, um
movimento, acho que é isto.” (Rogério, 23 anos)
“Expressividade como o quê? Eu acho que, tipo, é a forma como a gente vai estar se
portando daqui para a frente. Vai acabar demonstrando. A gente vai ter que ter uma certa atitude,
uma certa expressão na frente das outras pessoas no modo de se portar.” (Ronaldo, 20 anos)
“A forma como a pessoa se expressa, se comporta.” (Maria, 25 anos)
”Expressividade é tu conseguir por pra fora o que tu ta sentindo[sic].” (Mirian, 20 anos)
“Eu acho que quando tu ta[sic], que nem apresentando, dançando, tem que ser bem
interpretado assim, como..., não sei como falar bem assim, mas conforme a música, se ela passa
sentimento de tristeza, de alegria, ou até de amor, alguma coisa assim, tem que saber se
expressar bem (pausa). Bem importante. (Cláudia, 19 anos)
“Expressividade... digamos assim, expr[sic].. expressar algo. Passar algo que a pessoa
possa entender.” (Mário, 23 anos)
46
Toda essa forma de comunicação também é um processo individual.
Feldenkrais (1977), coloca que certas pessoas encontram seus próprios modos
especiais de executar as atividades naturais. É o caso de alguns participantes:
“Expressividade... eu acho que é o modo de cada pessoa... se expressar, como se
expressa, como se comporta, em certas ocasiões.”(Maurício, 19 anos)
“Expressividade... expressão, expressão do corpo, expressão do modo de falar, expressão
dos gestos, das mãos, cada um tem a sua.” (Laís, 21 anos)
“O jeito de andar, que eu acho que expressa muito da pessoa, da liberdade que ela tem
consigo mesmo.” (Mirian, 20 anos)
Os participantes da pesquisa também relacionaram significativamente o
movimento aos aspectos posturais, revelando discursos biomecânicos, como nos
trechos a seguir:
Acho que sim. Ajuda bastante. Teve uma professora ... que nem a gente não tinha muita
postura para dançar. Aí, a gente começou a ensaiar, tive que colocar cabo de vassoura para ficar
reto. Acho que ajuda bastante. [...] Com certeza. Até modo de caminhar também muda muito. Toda
a postura corporal. (Cláudia, 19 anos)
“Acho que... [...]uma postura melhor, no modo de caminhar, mais retinho. A curvatura não é
muito correta. [...] Eu acho que tu relaxa pra caminhar, às vezes tu anda meio largado, hora
abaixando a coluna, assim, na hora cansa a musculatura, né, daí acho que uma relaxada, e, se
posicionar corretamente. [...] Correção de peito. (Liamara, 20 anos)
“A gente sente. Porque... é porque na caminhada ela pode ta caminhando de ombro baixo,
de cabeça baixa a gente vê conforme a pessoa [sic]. Se ela de movimento, desenvolvendo um
bom trabalho, a postura da pessoa, aí a gente consegue vê.”(Mário, 23 anos)
“Pra modificar eu caminharia com a postura mais reta, talvez. Eu me corrijo bastante.”
(Laís, 20 anos)
“[...] Tu vai corrigir postura, futuramente, tem que dar o exemplo então. Tu o pode sentar
e jogar as pernas para cima e, tem que chegar e tentar ficar mais... mais bem... posturalmente
falando.” [sic](Eduardo, 25 anos)
47
Um dos conceitos de boa postura corporal mais difundido é o do Comitê de
Postura da American Academy of Orthopaedic Surgeons (apud Kendall, McCreary
e Provance, 1995):
Postura define-se geralmente como o arranjo relativo das partes do corpo. A boa
postura é o estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de
suporte do corpo contra lesão ou deformidade progressiva independentemente da atitude
(ereta, deitada, agachada, encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando ou
repousando. Sob tais condições os músculos funcionam mais eficientemente e posições
ideais o proporcionadas para os órgãos torácicos e abdominais. Na má postura é uma
relação defeituosa entre as várias partes do corpo que produz uma maior tensão sobre as
estruturas de suporte e onde ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base
de suporte. (p.3-4).
Vieira e Souza (1999), são autores que procuram ampliar o significado de
postura. Afirmam que quanto mais desalinhados estiverem os segmentos
corporais, maior será a força muscular necessária para equilibrá-los, considerando
que a estrutura corporal está sujeita à lei da gravidade. Acrescentam que,
contudo, se para obter o alinhamento corporal tivermos de realizar contrações
musculares voluntárias e mantê-las constantemente, haverá o mesmo problema,
que é o aumento da tensão muscular.
Os mesmos autores consideram no artigo intitulado “Verticalidade é
sinônimo de boa postura?”, que a postura é uma maneira da pessoa pensar, agir e
sentir através de sua estrutura corporal, ou seja, a maneira pela qual ela se
expressa no mundo. Definem a postura como sendo “a capacidade de manter e
movimentar todas as partes do corpo de maneira coordenada e confortável...”.
Concluem:
48
A postura não é uma questão de músculos fortes ou fracos e nem de uma posição
específica; ela representa a dinâmica corporal assumida pelo indivíduo no seu dia-a-dia,
estando vinculada a determinadas motivações que o levam a posicionar-se desta ou
daquela maneira, à idéia que ele tem de sua postura e à maneira de ele perceber sua
postura. (Vieira e Souza, 1999, p.V)
Feldenkrais (1977), observa que “ficar de adequadamente não é ficar
reto”, uma vez que se torna complicado endireitar as costas ou levantar a cabeça
sem esforço contínuo. As pessoas voltam para a postura original quando a
atenção for direcionada para uma outra atividade, a menos que alguém recorde
chamando a atenção. O autor questiona a idéia de que o certo significa manter-se
na vertical, uma vez que passa a ser um conceito de ordem estética, sendo
ineficiente na correção de defeitos, ou seja, na intervenção sobre o movimento e a
postura corporal.
Com uma nova perspectiva teórica e pedagógica sobre a postura corporal,
Alexander (1992) sugere que é melhor trabalhar na idéia de prevenção do que na
idéia de cura, onde o indivíduo humano eleva gradualmente seu padrão de saúde
e de bem-estar geral. Ele próprio pensará e agirá através do desenvolvimento da
orientação e controle conscientes, onde corpo e mente precisam ser concebidos
como parte do mesmo organismo. Alexander é um entre muitos autores que
consideram impossível separar processos “mentais” e “físicos” em qualquer
atividade humana.
49
Sobre a postura, entre outros aspectos, Marques faz um alerta em relação
às aulas de dança, afirmando que podem se tornar “verdadeiras prisões dos
sentidos, das idéias, dos prazeres, da percepção e das relações que podemos
traçar com o mundo” (2003, p. 26). E argumenta:
De fora para dentro, regras posturais baseadas nas regras padrão, seqüência de
exercícios preparada para todas as turmas do mesmo modo, repertórios rígidos e impostos
[...] podem estar nos desconectando de nossas próprias experiências e impondo tanto
ideais de corpo [...] quanto de comportamento em sociedade. (2003, p. 26-27)
Questionando o que aprendemos sobre manter a postura: se “endireitando”,
“encolhendo a barriga”, enfim, tornando rígida nossa maneira de andar, Iwanowicz
(1986), esclarece que o corpo precisa ter um movimento fluido. Para a autora
citada, esse movimento vai permitir a descoberta consciente do corpo, um contato
verdadeiro com a realidade. Tudo isso vai contribuir para a melhoria da imagem
que se tem de si mesmo, correspondendo às características reais.
Feldenkrais, ao afirmar que a auto-imagem governa todos os nossos atos,
revela que esta depende de três fatores: hereditariedade, educação e auto-
educação. Especifica:
A hereditariedade faz de cada um de s um indivíduo único na sua estrutura
física, aparência e ações. A Educação [...] instila-nos um padrão de comportamento e
valores, e providencia para que a nossa auto-educação opere também no sentido de fazer
com que desejemos ser como todo mundo. (1977, p.20)
50
O mesmo autor acrescenta ainda que destes três fatores determinantes do
comportamento, a auto-educação é que está sujeita à vontade. Quanto aos seus
movimentos, alguns participantes destacaram a importância do movimento
consciente e revelaram formas de correção individuais, que são citadas a seguir:
“Acho que pensaria antes de fazer eles; tentar dar um... pensar exatamente o que eu to
fazendo, em vez de fazer por impulso, pensar antes de fazer. [...] Porque várias vezes a gente
ta[sic] fazendo o movimento que realmente não é certo.” (Ronaldo, 20 anos)
“[...] Muitos movimentos não são pensados. [...] Muitas pessoas o ligam pra isso, mas
elas não percebem que isso é importante, assim, o sentimento assim, quando que a pessoa ta[sic]
pensando no que ta fazendo é muito bom, a pessoa se sente muito bem, que ta[sic] se
exercitando. Poucas pessoas dão bola pra isso. Muito pouca gente que liga pra isso.” (Maurício,
19 anos)
“Eles são bem duros, trancados. [...] Eu queria ser mais solta e trabalhando pra isso. [...]
Me policiando, assim. Quando eu executando da forma que eu acho que o batendo comigo
mesmo, tento modificá.”[sic] (Mirian, 20 anos)
Também são citados trechos que revelam a dependência do outro para que
esse processo de correção do movimento ocorra:
“Uma outra forma de eu executar os meus movimentos? Ah, sei lá! (risos); Às vezes,
quando alguém fala: ah, tu está caminhando assim, ta errado. A gente tenta melhorar, porque a
gente não vê o que esfazendo de errado e o outro olhando pra gente e diz: bah, faz isto, faz
assim que tu vai melhorar. Eu acho que o outro olhando para a gente, parece que a gente... às
vezes... tem muita coisa que a gente faz que não percebe; às vezes, esta caminhando de um jeito,
ta escorado, e a gente acaba não percebendo. E uma outra pessoa chega e fala com jeito, tu
acaba: bah, to fazendo mesmo. Acaba mudando.”[sic] (Marta, 19 anos)
“[...] às vezes tu não percebe que está fazendo coisa errada, tu acaba indo assim... tu não
vê, tu ta normal. Aí, alguém te diz: ah, tu está fazendo errado, ajeita o corpo. Acho que assim, o
outro olhar te indica assim. [...]”[sic] (Rogério, 23 anos)
Essa dependência do outro remete ao convívio, ou seja, ao comportamento
em sociedade, demonstrando uma certa insegurança, necessidade de ser aceito
no grupo.
51
É dentro das relações sociais, de acordo com Bruhns, que a realidade do
homem deve ser procurada, onde “agindo sobre as atitudes corporais e os
movimentos, devemos ter em mente que estamos tocando o ser social” (1986, p.
82). Percebi na fala dos participantes uma certa preocupação em realizar os
movimentos para os outros, bem como a expectativa que a dança auxilie, através
dos movimentos expressivos, a tornarem-se desinibido e ter mais coordenação,
como nos trechos abaixo:
“Acho que pela desinibição, ser uma pessoa desinibida. Eu acho que a dança ajuda; claro,
têm vários fatores. Mas, eu acho que principalmente o fato de desinibir as pessoas, isso, isso é
uma coisa incrível. [...] Pse defender, que de para não passar vergonha. [...] O medo de errar,
mas, às vezes, tu sabe a cnica certinha, mas, o que aconteceu esses tempos atrás, eu tava
dançando no CTG e... dançar de bota é complicado, , porque a única parte firme do pé é a sola
do pé, a sola da parte do peito do e, eu pisei de, com o calcanhar e... fui...Não cheguei a cair,
mas isto é o comum, tipo num CTG que ninguém parou para olhar o que aconteceu e coisa e tal,
continuamos a dançar e o pessoal também continuou a dançar. Quer dizer, ali no meio é uma
coisa normal, mas de repente tu vai numa sociedade que não entende este tipo de situação, é
complicado. Aí, ainda tenho um pouco de vergonha por causa disto. De não ter a técnica correta,
de saber certinho e, acaba errando e de repente né. [...] Por, por mais engraçado que possa
parecer, eu sempre fui meio mido, ainda tenho, conservo um pouco dessa timidez”. (Felipe, 31
anos)
“Eu acho que são, tenho bastante coordenação, prá dança eu não tenho muito, (risos),
eu acho, acho que prá dança, eu sou um pouco descoordenado, mas é porque eu nunca dancei
quase sabe. Tipo danças gauchescas que a gente vai, a agora assim oh, essas aulas que a
gente teve, já melhora um pouco, os ritmos dos passos, aquelas coisas todas. Agora, por exemplo,
no futebol, tem, tem que ter coordenação né. E pro futebol eu tenho sabe. Agilidade, coordenação,
equilíbrio bastante. E, isso ajuda também, né. Reflete nas aulas também, né.” (Eduardo, 25 anos)
“Ai, eu sou meio pateta (Risos) [...] Hã, eu tenho dificuldade, não tenho domínio,
principalmente com as pernas, assim, né, nossa, é bem complicado! Com as mãos não tanto,
mas eu sou meio atrapalhada, assim, meio descoordenada!” (Liamara, 20 anos)
“[...] Pra mim então, quanto mais eu aprender a ter coordenação motora, ter movimentos
mais centrados, em saber programar, em saber como fazer, sem ter tanta dificuldade, pra mim é
bom. Então, qualquer coisa diferente, tipo, dança... ginástica... bom, acho que todos os esportes
envolvem um pouco de coordenação ou sempre pelo menos, acabam evoluindo ela. Então pra
mim... isso é essencial”. .(Ronaldo, 20 anos)
52
Os participantes apresentaram muitas dúvidas sobre o tema
expressividade, demonstrando mais preocupação com a performance em
sociedade, se iriam conseguir dançar, do que com a essência do movimento. Após
as primeiras impressões do que pensam os participantes sobre a expressividade,
começa uma nova etapa, o trabalho em si. Na continuação do texto: O Corpo em
Cena.
3.2 O Corpo em Cena
“Liberdade significa
responsabilidade. É por isso que
tanta gente tem medo dela.”
(George Bernard Shaw)
As definições de Dança, para Dantas, “comportam a idéia de que a dança é
composta por movimentos e gestos corporais executados por homens e mulheres”
(1999, p. 15). A autora acrescenta que somente isto não basta para conceituar
dança, uma vez que gestos e movimentos fazem parte do ser humano, e afirma:
Uma das especificidades do gesto em dança está, pois, no fato de que os
movimentos transformados em gestos de dança, adquirem características extraordinárias,
pois os fatores espaciais, temporais, rítmicos, dinâmicos e o próprio modo de
movimentação do corpo tornam-se diferentes: exigem-se novas posturas, novas atitudes
corporais, para que os movimentos usuais se tornem dança. (Dantas,1999, p. 17-18)
53
Nessa proposta, as aulas iniciaram com a análise e discussão do filme “Billy
Elliot”, para abordar questões de gênero muitas vezes impostas pela sociedade,
que definirão comportamentos expressivos. A expressividade na dança, por estar
inserida num contexto social e também individual, nos remete às relações de
gênero e sexualidade. Um participante destacou este aspecto na entrevista inicial:
“Eu acredito que ela pode por causa, eu acho que pelo contato que tu vai ter com o aluno
,né. E, auma, digamos assim quebrando a barreira porque numa dança, Pé difícil dançar, né,
então ali tu tem uma integração, acho, melhor. Busca melhor integração[sic]” (Mário, 23 anos)
Marques afirma que nas atividades onde são envolvidas práticas criativas
corporais as meninas podem vivenciar danças fortes, firmes e diretas sem
deixarem de ser femininas. Por sua vez, os meninos poderão experimentar
movimentos corporais leves e indiretos, e através de discussões perceberem que
não serão menos masculinos por se expressarem com mais suavidade, e destaca:
Assim, processos de criação refletidos, escolhidos, estruturados e embasados
poderão abrir o leque de possibilidades de expressão e de comunicação o somente
entre gêneros, mas principalmente sobre os gêneros em sociedade. (2003, p.55)
Nas notas de campo registrei alguns comentários relacionados ao filme
“Billy Elliot”, sobre questões de gênero na Dança através da expressividade:
“Profe, se eu tiver um filho acho que não gostaria que ele fizesse Ballet, sei , é muito
feminino!”[sic] (Luciana, 19 anos)
54
Biagio discute a questão dos preconceitos iniciados na infância e ensinados
pelos adultos, afirmando que a escola pode desenvolver plenamente as
capacidades da criança ajudando na libertação dessas amarras. E também alerta:
“Se educarmos as crianças a partir dos preconceitos de gênero, estaremos
limitando as experiências de ambos. Por exemplo, dizer que meninos e homens não
devem chorar, os impede de desenvolver a sensibilidade e a expressão de seus
sentimentos. [...] O sexismo, assim como outras formas de estereotipia de comportamento
[...] reduzem as possibilidades de criatividade, inventividade e ousadia. As pessoas
afetadas vão se sentir amarradas ou presas a um padrão social, não poderão viver de
acordo com suas possibilidades, com mais liberdade no campo individual e da produção
artística, num convívio sem rótulos ou classificações.” (2005, p.34-35)
Os participantes da pesquisa realizaram um trabalho de Dança com alunos
de uma escola de Ensino Fundamental (Anos Iniciais). Esta tarefa consistia na
aplicação de atividades expressivas com uma pequena coreografia, onde as
crianças se apresentaram no final da etapa. Durante o processo de planejamento
das atividades, registrei alguns comentários:
“Essa turma tem muitos meninos, eles não vão querer fazer a aula!” (Bernardo, 19 anos)
“E se vamos dizer que a gente é da Educação sica, então, eles vão querer direto jogar
futebol”(Fausto, 22 anos)
“O nosso grupo ficou só de guris, como é que vamos fazer?” (Felipe, 31 anos)
“Não dá pra culpar os rapazes que trocam a dança pelo truco (jogo de cartas de origem
italiana).Faltou incentivo desde cedo, vão num baile, ficam com um copo na mão”. (Laís, 21 anos)
Após o trabalho na escola, registrei os seguintes comentários:
55
“Foi a melhor experiência de todo o curso! Muito animados, toda a aula foi com música,
fizeram repetir três vezes a brincadeira do trem, ensaiaram bastante para a apresentação. Eles
tinham um pouco de medo, vi a importância do professor passar segurança pra eles.” (Luciana. 19
anos)
“Bem participativos, eles estavam com um pouco de vergonha, queriam que nós
dançássemos juntos.” (Fausto, 22 anos)
“(risos) Um menino disse que o iria dançar, e eu perguntei por que, ele disse: “porque
não”. Eu falei que os profes iam dançar junto, ele falou: “eles são eles, eu sou eu”. Tentei mais
uma vez, disse que era uma brincadeira, então ele disse que ia. A turma lembrou do final da
coreografia que foi ensaiado uma vez! Eu demoro pra pegar, eles em vinte minutos sabiam
tudo! (Maria, 25 anos)
“Fizeram tudo, nossasica mandava fazer estátuas, foi muito bom” (Bernardo, 19 anos)
“Com a minha altura, quase me perdi no meio das crianças (risos). Os meninos não
queriam, mas depois da caracterização de palhaço, ficaram empolgados, criaram
gestos.”(Valquíria, 19 anos)
“Nossa dança era de palhaço. Um menino não queria participar porque disse que era coisa
de menina. Perguntei pra ele: “palhaço é homem ou mulher?”. Ele se convenceu e foi fazer.”(Mirian
20 anos)
Os preconceitos ainda existem, mas como conclui Louro, quando aceitamos
o fato de que a construção de gênero é histórica, estamos em permanente
construção, entendendo que os discursos e as representações das relações entre
homens e mulheres estão mudando constantemente. “Isso supõe que as
identidades de gênero estão continuamente se transformando”. (1997, p. 35)
A expressividade através da Dança inserida na Educação Física na prática
ainda está um pouco distante, como salientam alguns participantes:
“Os professores de Educação Física não dão ênfase à Dança Escolar, crianças ficam com
deficiências, vergonha, timidez no dia-a-dia”. (Maurício 19 anos)
“A Dança é pouco trabalhada na escola, motora e mental”. (Cláudia, 19 anos)
56
“Como dizia no texto que li: “país que dança, numa escola que não dança”. (Maria, 25
anos)
A Educação Física, de acordo com Goellner, deve tentar compreender a
expressão corporal como linguagem, tratando do conhecimento que constitui a
cultura corporal de uma forma pedagógica. Conclui ainda que precisa “valorizar
não os aspectos físicos do movimento, mas prioritariamente os significados que o
ser que se movimenta incorpora ao fazê-lo” (2006, p. 3).
Nas Notas de Campo registrei um comentário de Valquíria (19 anos):
“É preciso estimular o aluno a dançar, mas vai da cabeça do professor.”
Essa afirmação demonstra a importância de estimular o acadêmico para
que atue futuramente, bem como o despertar da sua consciência para a
importância do trabalho da dança e da expressividade.
A pergunta mais freqüente no início do semestre era sobre que tipos de
dança iriam aprender. Segundo Strazzacappa (2001), alguns anos atrás o que
vinha na mente das pessoas quando se falava em dança era a figura da bailarina
nas pontas dos pés. Esta imagem hoje, apesar de ainda presente, é substituída
pelas trazidas pela mídia. Dois comentários demonstram essa influência, durante
a exibição das filmagens:
57
“Vai começar o Globo Rural!” (Fausto, 22 anos, antes de iniciar a exibição da filmagem)
“Parece o “Coisinha de Jesus”! (Liamara, 20 anos, falando do colega)
“Parece a Emília do Sítio.”(Eduardo, 25 anos falando da fantasia da Valquíria na
apresentação do asilo)”
“Quando vamos dançar funk?” (Mário, 23 anos)
Foram diferentes expectativas, da dança clássica à dança de rua. O
trabalho foi iniciado com os participantes pelas danças circulares, por serem mais
simples e favorecerem o lado social. No começo houve muita dificuldade por parte
de alguns quanto ao ritmo, mas foi superada pela repetição das atividades.
Bossu e Chalaguier afirmam que o movimento expressivo se desenvolve
através de um espaço rítmico, sendo “o ritmo que abre um esquema do mundo
[...]. Ele se apossa do homem numa originalidade simbólica do espaço e do
tempo, e cria estruturas espaciais que representam as coordenadas do espaço
motor” (1975, p.19).
Registrei nas Notas de Campo a alegria dos participantes pela superação
ao conseguirem realizar os movimentos, que seguiu até a próxima aula, quando
pediram para repetir a dança circular: “Está pronto seu Lobo?”, que formava pares
e tinha muita mímica.
O próximo trabalho realizado foi com a Dança de Salão. A turma estava
bem entrosada, todos participavam das aulas. Pediram também para que fosse
trabalhado o ritmo “bandinha”, uma vez que tocava muito nas festas que eles
58
participavam. Foi preciso um certo “jogo de cintura” para que as aulas não se
tornassem somente uma reprodução de um baile, mas um momento para reflexão
e discussão de certos comportamentos sociais.
Strazzacappa (2001), aborda a questão da ausência do lúdico nas
disciplinas científicas da escola, e da ausência de seriedade nas disciplinas
artísticas, afirmando que este comportamento acentua a visão de que o ensino da
arte é algo desnecessário.
Percebi, por uma questão cultural, mais facilidade nas danças gaúchas,
como mostram os comentários das filmagens:
“Se deu bem naquela hora da dança, hein?(Felipe, 31 anos, falando para o colega que
estava participando da dança gaúcha de salão).
“Mas, ah Laís, hein! Mas ah Ronaldo, que casal!” (Eduardo, 25 anos falando dos colegas
na dança gaúcha de salão)
A dificuldade maior foi nos ritmos que exigiam mais molejo. Esse fato foi
constatado nos diálogos ao assistirem na tela a primeira e a segunda filmagem
das aulas:
“Ui... (no momento em que se viu)” (Laís, 21 anos)
“Principalmente os guris, ninguém mexe nada! O ombro é mais difícil pra mexer!”
(Maurício, 19 anos, se referindo ao forró)
“Olha o par dele, que descoordenada!” (Liamara, 20 anos, falando de si mesma).
“Ainda quando tava[sic] devagar, tudo bem. No momento que trocou para a sica mais
rápida.”.. (Cláudia, 19 anos, falando do samba).
59
Na terceira filmagem, que mostrava o trabalho realizado num asilo do
município de Erechim, a apreensão foi maior, como demonstra Cláudia (19 anos)
momentos antes de começar:
“ Atéa gente tava agüentando, mas agora..”.
Foram reunidos, numa história criada pelos próprios participantes, vários
estilos de dança trabalhados nas aulas. Muitos professores não acreditam no seu
potencial criativo e preferem copiar fórmulas prontas. Strazzacappa relata que ao
realizar oficina com professores, o importante é “aprender fazendo” e oportunizar o
aprendizado de “pensar com o corpo” (2001, p.76). Desta forma, os participantes
foram desafiados a criar.
Para alguns participantes, foi desconfortável a falta de movimentação
durante a apresentação realizada num Asilo:
“ Vocês não se mexiam, e eu tinha que ficar lá, que vergonha!” (Valquíria, 19 anos,
reclamando do grupo dela na apresentação para os idosos).
Chegou uma hora que não tinha mais o que fazer, tinha mais de 2 minutos!” (Maurício,
19 anos, falando da improvisação de rock que seu grupo fez)
Volta profe (muitos risos)!” (Ronaldo, 20 anos, pedindo para reprisar a cena em que
Felipe reclamava de “dor no ciático”)
Para outros participantes, algumas atitudes foram consideradas excesso de
movimentação, e serviram de comentários:
60
“ E o Felipe interagindo!”(Laís, 21 anos falando do colega que dançou junto com o grupo da
dança do ventre na apresentação)
“Baixou o santo no Mário!” (Eduardo, 25 anos, falando do colega que se movimentava
mais)
“Se der esse DVD pra namorada, coitado do Mário!” (Liamara,, 20 anos, se referindo à
salsa dançada por ele com outra colega)
Todo esse diálogo foi ajudando a estabelecer a relação entre o que cada
participante fazia e o que dizia sobre sua própria expressividade. Para Angheben,
mesmo que de forma relativa, ver é conhecer, e desta forma, o olhar também é
uma forma de conhecimento, uma vez que “conhecer é ser impregnado e habitado
por imagens” (2005, p. 108).
Foi demonstrada uma grande satisfação pelo trabalho realizado, apesar de
alguns participantes terem expressado certo constrangimento por estar num local
onde havia pessoas com limitações físicas e até mentais. Dois participantes
declararam:
“Levou três foras! Três contras!” (Mário, 23 anos, brincando com a colega que convidou
três senhores da platéia para dançar e eles recusaram).
“Esse momento foi emocionante, um velhinho quase chorou!” (Fausto, 22 anos)
O trabalho no asilo foi para incentivar os futuros profissionais de Educação
Física a trabalharem com o movimento em várias realidades. De acordo com
Santin:
61
“Não se trata, portanto, de usar o corpo como um objeto ou um instrumento, mas
de viver corporalmente. Conclui-se que todos têm o direito e o dever da Educação Física.
Os aleijados, os deficientes, os velhos, as mulheres grávidas, os trabalhadores, todos
indistintamente necessitam da Educação Física. [...] Não em função de performances e
rendimentos, mas para o equilíbrio e a harmonia de viver corporalmente”.(2003, p.83-84)
Diante de todas essas atuações, o corpo em cena enfrenta seu último
desafio: a apresentação de uma coreografia no palco para encerrar o semestre.
Um trabalho com total liberdade para escolher a música, figurino, passos e
colegas do grupo.
A primeira preocupação, registrada nas Notas de Campo foi se mais
alguém, além da turma estaria assistindo. A segunda foi se a avaliação teria o
mesmo valor para as alunas que faziam dança. Foi esclarecido que ninguém
mais além da turma estaria no Auditório e que a avaliação teria como critérios a
cooperação no grupo, exploração do espaço em palco, caracterização da
vestimenta e criação dos movimentos expressivos de acordo com a música
escolhida. A técnica, a execução dos movimentos perfeitos, corretos, não seria o
ponto central da avaliação.
Como afirma Nanni, quando o trabalho da dança utiliza em excesso
técnicas formais, separa o movimento do impulso vital. Acrescenta: “os
movimentos produzidos por artifícios somente técnicos são destituídos de emoção
e poderão ser confusos e pouco objetivos na forma de expressão” (2002, p. 171).
62
Após ensaios e ensaios, chegou o grande dia. Alguns estavam muito
nervosos. Antes acompanhei o ensaio individual de cada grupo no palco, para que
os participantes pudessem fazer o reconhecimento do piso e do espaço e eu
pudesse observar melhor para depois fazer a avaliação com mais segurança.
Alguns grupos refizeram o final, outros decidiram mudar o calçado para
maior equilíbrio. Testaram o som e tiveram tempo para a troca de roupas.
Apareceram filmadoras, máquinas digitais, tudo para registrar os melhores
momentos.
Momentos encantadores! Os grupos se superaram em criatividade,
elaboração coreográfica, movimentos muito expressivos. Alguns poderiam ter
explorado mais o espaço disponível, ficaram mais limitados ao seu lugar, mas
mesmo assim demonstraram esforços significativos por serem participantes com
mais dificuldades em executar os movimentos.
Em meio a aplausos, gritos de incentivo, muitas risadas gostosas, a
atividade foi se aproximando do final, e qual foi a minha surpresa quando após o
último grupo se apresentar, a turma pediu para o monitor colocar novamente uma
música e subiram todos no palco, sem nenhuma exceção, confraternizando com
pulos, roda, trenzinho e abraços!
Na exibição da quarta e última filmagem, a da apresentação, não faltaram
comentários como:
63
“Que estranho: a gente ensaiou tanto, em menos de três minutos passa tudo!” (Liamara, 20
anos)
“A profe assistiu esse vídeo?” (Eduardo, 25 anos, comentando sobre a coreografia
baseada numdeo de um site da Internet)
“Olha agora no giro!” (Valquíria, 19 anos,avisando que irá errar)
“Aí eu não estava contando e errei!” (Laís, 21 anos)
“O Felipe, só na jogadinha de corpo!” (Mário, 23 anos)
E o desabafo veio de Mirian (20 anos), no final da exibição da filmagem:
“Alguma turma acabou assim? Foi o momento mais feliz do semestre!” (seguido por
muitos concordando)
Esta categoria abordou questões de gênero relacionadas principalmente
aos homens, que superaram dificuldades sociais e pessoais, ampliando sua forma
de se expressar com o corpo através dos movimentos da dança. Possivelmente
será difundido no meio escolar futuramente, uma vez que vivenciaram movimentos
que não estavam acostumados. Também os participantes da pesquisa foram
instigados a criar, indo além de fórmulas prontas, o que favorece mais uma vez a
expressividade.
E o espetáculo continua é a próxima categoria, que apresenta os momentos
seguintes da atuação em palco.
64
3.3 E o espetáculo continua
“O que aconteceria se, em vez de
apenas construir nossa vida, s
nos entregássemos à loucura ou à
sabedoria de dançá-la?”.
(Roger Garaudy)
Esta etapa foi elaborada através das respostas das entrevistas finais.
Aborda a bagagem que os participantes levam para suas formações como
acadêmicos e futuros professores de Educação Física, após terem vivenciado
todas as etapas do semestre.
Como afirmam Soares e Madureira, “a arte é sempre uma expressão do
corpo” (2005, p. 75), que incorporada nas reflexões referentes à Educação Física
pode encontrar uma outra forma de pensar o corpo e todos os aspectos a ele
relacionados, até mesmo no que se refere a sua expressão gestual. Acrescentam
ainda que a Educação Física pode reger e orientar os abusos do corpo:
A Educação Física como educação poética do corpo pode configurar uma
resistência contra o esvaziamento de sentido das práticas corporais e o desejo, sempre
perigoso, dos pensamentos únicos que desfiguram a experiência subjetiva e sensível
(2005, p. 86).
65
A arte, segundo Dantas, é um processo de visualizar o sentimento, sendo
“a expressão em arte uma expressão simbólica da emoção” (1999, p.18). Assim, o
significado de expressividade foi novamente investigado junto aos participantes,
após o término de todo o trabalho realizado. Cito alguns trechos das entrevistas
que evidenciam a linguagem do corpo em sua sensibilidade, demonstrando uma
significativa evolução em relação às definições relatadas nas entrevistas iniciais:
“Acho que expressividade é o ato de você conseguir expressar com o teu corpo aquilo que
na verdade você não consegue expressar nem por palavras [...]”. (Liamara, 20 anos)
“Expressão corporal, através da Dança, dos movimentos, sentimento, tu pode demonstrar
sentimentos, através de movimentos corporais.” (Eduardo, 25 anos)
“(silêncio) Capacidade de você conseguir, através do corpo, se expressar. Sentimentos,
cultura, seria mais ou menos isso aí”. (Felipe, 31 anos)
“[...] a decisão do movimento, de se movimentar, de tu poder expressar o teu sentimento,
através da dança, do movimento”. (Mário, 23 anos)
A expressividade na dança, enquanto arte, traz também agregados os
valores estéticos, que para Dantas (1999) se relacionam ao estudo e aos efeitos
da criação artística. Marta (19 anos) comenta sobre a beleza do movimento
relacionado ao ensaio, quando fala da expressividade:
“Há, eu acho que é tudo (risos). Assim, quando a gente tava no palco, como a gente
demonstrava, eu percebi quanto eu consegui me expressar! [...] a gente consegue... quando tem
que fazer um movimento, quando a gente vai fazer ele, depois do treinamento, depois da gente ter
ensaiado, tudo, a gente consegue fazer muito melhor ele assim. Botar ele no corpo melhor, fazer o
movimento mais bonito, porque quando tu faz da primeira vez tu faz assim (balanço com a mão),
depois de fazer várias vezes, parece que sai melhor o movimento”.
66
Para muitos participantes foram percebidas algumas mudanças na forma de
se expressar. As dificuldades para se soltar foram sendo gradualmente superadas
ao longo das aulas, como aparecem em alguns trechos:
“Ai, bastante (risos). Acho que a dança contribui bastante pra isso. Que, às vazes a gente é
meio travado..., bastante. E... aflora alguma coisa pelo menos”. (Lílian, 20 anos)
“Me soltar um pouco mais, assim, do que eu era, embora eu ainda tenha bastante
dificuldade. Mas assim, melhorou bastante”. (Maria, 25 anos)
“Percebi (risos). Me soltei, ainda mais do que eu era acostumado a me soltar (risos)!
Ontem naquela apresentação foi legal. Aquilo foi um exemplo muito legal. Pensei que não ia me
sair bem, mas, consegui me sair muito bem. Eu aprendi a me soltar mais ainda”. (Felipe, 31 anos)
“Me expressar no palco, assim, eu era bastante retraído, eu era... mais acanhado, e
consegui me soltar mais com as experiências que a gente teve”. (Fausto, 22 anos)
“Que a gente trabalhando, assim, esses movimentos na dança, a gente libera mais, sei ,
energia do corpo, alguma coisa assim, que antes tu ficava meio preso, e assim através disso você
vai se soltando mais.” (Luciana, 19 anos)
Acreditando na importância da exploração da capacidade de se
movimentar, Verderi (2000), afirma que a dança na escola, ligada à Educação
Física, deve propiciar atividades criadoras de ação e compreensão, estimulando
uma reflexão sobre esses resultados, reforçando a auto-estima, a auto-imagem, a
autoconfiança. Alguns participantes relataram que antes das aulas se sentiam com
maior insegurança e timidez:
“Eu acho que sim. Que nem na parte da dança trouxe mais segurança, perdi na maior
parte quase toda a minha timidez... que nem na prova prática, o teve aquela insegurança”.
(Cecília, 19 anos)
“Ah, depois desse semestre sim, porque... na verdade com as aulas de dança, o cara
chega bem envergonhado, mas acaba perdendo essa vergonha, amesmo porque os colegas, e
as danças fazem com que o cara se sinta mais tranqüilo, menos nervosismo, fica menos
envergonhado, e até pra dança, assim, ajuda”. (Maurício, 19 anos)
67
“Sim. Parece que ficou mais fácil fazer os movimentos, principalmente da dança. Menos
tímida! (risos) A timidez... ficou mais fácil”. (Laís, 21 anos)
“Sim, eu era mais tímido (risos). Era bem mais mido. Não tinha tanta liberdade, assim,
pra... pra... até pra dançar, assim”. (Ronaldo, 20 anos)
Quanto aos aspectos que mais chamaram a atenção na experiência,
destacados pelos participantes, apareceu a criatividade. Nanni justifica que a
criatividade liberta a dança do seu aspecto de performance, uma vez que
oportuniza “as decisões e caminhos a alcançar em direção à independência e
autonomia do SER em busca do seu processo de desenvolvimento integral” (2003,
p.184). A seguir, citarei alguns trechos que se referem ao assunto:
“Foi uma experiência boa, porque a gente criou uma coreografia do nada, assim. A base, a
contagem, os movimentos, e depois na apresentação foi uma satisfação muito grande, porque a
gente viu todos, todos os colegas, toda turma participando, e... todo mundo se dedicou pra fazer,
pra fazer a dança, né? E depois ajudou na união da turma, na... Ah, todo mundo alegre! Ah, foi
uma experiência ótima!” (Maurício, 19 anos)
“Ah, eu achei muito interessante, assim, porque... a gente interagiu bem com o grupo.
Muito legal, deu pra vê bem a criatividade, assim de todos, a gente trabalhou todo mundo bem
unido, ensaiamos muito também. [...] Consegui interagir bem, trabalhar junto, trabalho de grupo,
assim, me ajudou bastante, essa parte da gente conseguir apresentar. Ninguém ficou tímido,
assim... sabe, retraído, e tal. Foi bem legal!” (Cláudia, 19 anos)
“Foi como a forma que muitos se empenharam pra fazer, pra desenvolver o trabalho. A
criatividade de todo o pessoal (risos). É, foi essa parte que mais me chamou a atenção”. (Mário, 23
anos)
Ficou também evidente a surpresa pela significativa participação masculina
do grupo. Marques (2003), esclarece que uma maneira de se trabalhar e discutir
preconceitos que não desconheçam ou fortaleçam negativamente diferenças de
gênero, pode ser estudar danças de diversas origens culturais. Dois participantes
abordaram essa questão:
68
“Primeiro o desempenho dos colegas do curso. Tem gente ali que tipo... tem alguns piás ali
que não tinham muita coordenação até o primeiro semestre da faculdade. [...] então deu para
perceber que eles conseguiram, até mesmo com toda essa dificuldade, meu!!! A evolução deles na
dança foi muito legal, deu pra ver ontem no palco que eles conseguiram se libertar anesse
sentido aí”. (Felipe, 31 anos)
“Acho que o que mais me chamou a atenção foi a participação de todos da turma... porque
no início [...] a maioria o tinha nenhuma experiência, e todo mundo participou, todo mundo
tentou se dedicar. Os rapazes, principalmente, o que se viu foi o que aconteceu ontem, lá, que
todo mundo participou, foi uma alegria, há, foi muito legal”. (Maurício, 19 anos)
Para Pacheco (1998-1999), a dança nas aulas de educação física pode
contribuir para o fim da idéia limitada de masculinidade/feminilidade, assim como
para o respeito às opções individuais. A autora citada justifica que se trata de
explorar ambas as situações independentemente do sexo e da orientação sexual
da pessoa, e não de tornar homens suaves ou mulheres embrutecidas.
Nas Notas de Campo registrei a facilidade com que dois participantes
brincaram com a troca de papéis na hora de expressar os movimentos nas
coreografias que elaboraram com seus grupos. Numa o rapaz se caracterizou de
mulher, representando uma dançarina de auditório. Na outra faltava um homem
para executar a dança de salão, e uma garota se caracterizou para executar o
papel. Ambos atuaram com muita naturalidade e segurança.
Homens e mulheres participando constantemente. O emprego de termos
como brincadeira, divertido, alegria, e outros mais, comprovaram o entrosamento
e a ludicidade presentes no grupo. Apresento nos trechos abaixo:
69
A participação, porque ninguém se negou a fazer. Mesmo que fizesse errado, que fosse
duro, e não se importava que a gente desse risada, porque não tava rindo deles, estava rindo da
situação, porque todo mundo tava meio engajado nisso tudo. Eu achei que foi uma superação pra
todo mundo [...] se tornou uma brincadeira, foi uma experiência ótima”. (Mirian, 20 anos)
“Eu dançava sozinha, ninguém podia me vê (risos). E agora não, até às vezes eu to
dançando meia... todo mundo está me vendo. Eu era bastante tímida, assim. E tinha medo, eu
fazia minhas danças em casa, e tinha medo que os outros vissem, eu não queria que me vissem
dançando. [...] Então tu acaba [...] mais feliz. [...] Eu estou dançando, do jeito que eu posso, do jeito
que o meu corpo consegue fazer!!! E antes assim, eu tinha bastante vergonha, ai, eu não vou
fazer porque eu estou fazendo errado”. Agora não, se esta fazendo errado, vamos tentar acertar!
Se não conseguir, beleza!” (Marta, 19 anos)
“Nossa, eu achei muito legal, assim, a gente dançando. Tanto eu como o meu par, a gente
se olhava, assim, nos olhos, a gente sorria por estar ali dançando, a alegria de conseguir fazer
uma coisa que a gente tem obrigação, mas o de: há, vou ter que ir fazer”, e sim que tu quer
fazer, e quer fazer bem. E eu achei legal que todo mundo se dedicou.” (Luciana, 19 anos)
Quando se refere à expressão da alegria, Schilder (1999), explica que ao
vermos um rosto alegre, nos sentimos melhor. As emoções de qualquer espécie,
incluindo a risada, provocam respostas semelhantes nos outros. Fica uma
agradável e evidente sensação de bem-estar e de boa convivência.
Educar o homem como um ser social, para essa boa convivência, vai além
da simples adaptação a essa sociedade. De acordo com Bruhns, é preciso
despertar uma consciência para a necessidade do comprometimento social e não
contribuir para o conformismo. A autora citada acrescenta ainda que uma
verdadeira educação pelo movimento “deve favorecer um desenvolvimento
humano que permita ao homem situar-se e agir no mundo em transformação,
permitindo-lhe a conquista de si mesmo”. (1986, p.97)
Ficou evidente o bom relacionamento entre a turma, a cumplicidade
existente dentro dos grupos e também dos grupos entre si.
70
“Foi o empenho do pessoal. Muitas pessoas não gostam de dança, mas mesmo assim
fizeram com vontade, fantasiaram, se empenharam em fazer uma coisa bonita para agradar a
professora e ao público [...] E o fato do final, também, [...] uniu ainda mais a turma. Não sei se as
outras turmas fizeram isso ou não, mas, nós ali depois, todo mundo foi pro palco, se divertir
também. Esse ponto é o que me chamou mais a atenção, a união, que a turma é unida [...],
ninguém fica de fora. Até depois do final, ali fora, tirando foto, brincando, aproveitando o momento
do clima, [...] que a gente aproveitou!” (Rogério, 23 anos)
“A união da turma, foi bastante, foi ótima, assim, e... as experiências que a gente teve. Nas
escolas, no asilo, também essas apresentações, que a gente fez aí, foi o que eu mais gostei”.
(Fausto, 22 anos)
Mas nem tudo foi descontração. O que provocou uma certa tensão em
alguns participantes foi o medo de errar, associado à preocupação de não
conseguir a técnica necessária para executar a seqüência correta dos passos,
como nos desabafos a seguir:
“Se eu não contar vou me perder! Eu passei o tempo inteiro contando, porque se não eu
acabava me perdendo nos passos. [...] Mas a gente ensaiou bastante, porque se não ia ficar bem
complicado!” (Liamara, 20 anos)
“Foi boa, porque eu vi que eu tinha todos os passos na cabeça, tava tudo ensaiado, tava
tudo certo, caracterizado, a gente ensaiou com a profe, foi tranqüilo. Foi, passei, a gente passou
todos os passos, tudo... erramos uma coisinha, que na hora acho que não deu para perceber tanto.
E na hora da apresentação a gente se perdeu, até ficou parecendo queo era um erro, porque eu
e a Mirian no mesmo passo, a gente o fez aquele gesto, então a Valquíria fez. Então talvez
não percebeu muito, mas daí eu fiquei preocupada com aquele que eu tinha errado, e tava no
próximo movimento, e eu não lembrava o que é que vinha, foi, com a platéia, diferente!” (Laís, 21
anos)
Como especifica Dantas, “uma das questões muito debatidas em dança diz
respeito ao binômio técnica/expressividade” (1997, p.51). Acrescenta que existe
uma elaboração e criação até ser alcançada a expressão de sentimentos pela
dança. Entre alegrias e preocupações, o trabalho da expressividade, ao longo do
período, trouxe consigo muito crescimento, como apresento a seguir:
71
“[...] Acho que o pessoal era... todo mundo era tímido pra dançar, o queriam no começo,
e daí foi indo, foi indo, foi indo. [...] Durante a apresentação eu acho que eu me senti mais
tranqüila, tanto por saber a coreografia, tudo... mas. Assim, as dificuldades de realizar os passos, e
tal, até de na passagem da coreografia pra gente foi mais fácil do que no semestre passado que a
gente tamm tinha que montar algumas, ? Acho que... deu uma evolução grande. E até acho...
da gente, desinibida, dançando ali, mais calma, mais tranqüila, melhorou bastante.”(Valquíria, 19
anos)
“[...] o corpo e mente em função única. Eu achei muito interessante, porque eu nunca tinha
feito uma apresentação, que nem a gente fez assim. Foi a questão já de tanto que a gente treinou,
e foi, assim alguns passos, claro que o foi, aquela dança direcionada, mas agente já evoluiu
bastante, porque eu analisei a coreografia que eu fiz, assisti e depois botei em prática. Pra mim
ficou mais fácil, acho que se eu o tivesse essas aulas eu não iria conseguir fazer aquilo. Tu
analisar todo o corpo, todo o movimento, todo... cada passo, cada movimento do braço, perna,
tudo em função”. (Eduardo, 25 anos)
“Ah, eu aprendi a dançar! Nunca, nunca..., nunca tinha... nunca tinha tentado, assim. Era
uma experiência pouca pra mim, me ajudou bastante, assim no geral!” (Ronaldo, 20 anos)
Chegando no final da etapa, foram feitas algumas colocações, por parte dos
participantes, sobre a importância do movimento expressivo para suas formações:
“Eu acho que a gente precisa ter esse movimento, às vezes as palavras não bastam pra
gente... precisa ter essa expressão corporal, ela é muito importante”. (Cláudia, 19 anos)
“Eu acho que a gente ocupa bastante ele em toda a formação. Daqui pra adiante a gente
vai ocupar bastante, [...] se agente não tem essa expressão, a gente não consegue passar o que a
gente quer, tanto os sentimentos, como fazer com que o aluno entenda o que a gente queira
passar. Então eu acho que pra gente é muito importante futuramente e agora também”. (Valquíria,
19 anos)
“(silêncio) Eu acho que deu pra derrubar um mito, principalmente quando a gente saía pra
ir nas escolas. Eu sempre pensei que dança na escola fosse um negócio meio complicado, em
qualquer faixa etária. E [...] a gente viu que pra inserir no contexto do dia-a-dia a dança. Eles
dançam normal, assim, tem que incentivar eles. Vai mais do professor, assim, acreditar que pra
fazer. Acho que essas aulas que a gente teve foi um incentivo, uma amostra de que tu pode fazer
sem ter problema nenhum”. (Felipe, 31 anos)
A expressividade foi pesquisada dentro do contexto da Disciplina da
Metodologia do Ensino da Dança Escolar, um campo novo dentro da Educação
72
Física. Na prática, podemos observar que é pouco trabalhada nas escolas, mas é
um caminho que está sendo percorrido. Em sua análise entre educação física e
dança, Pacheco ressalta:
A dança se constitui em uma rede de conhecimento com particularidades próprias
e que dispõe de condições para se legitimar como área de estudo no meio acadêmico
brasileiro. Educação física e dança são campos diversos, por certo com muitos
cruzamentos e interseções, mas que não se restringem ao âmbito motor, pelo contrário,
aspectos culturais e artísticos são incorporados por ambas (1998-1999, p.162).
O participante Mário (23 anos) expressa que o espetáculo continua, ao
declarar:
“[...] até pretendo continuar (risos), eu quero ver se eu vou fazer uma aula de dança. Eu
acho que eu me encontrei, gostei assim da dança, sabe”.
A vida é um eterno recomeçar. Se estivermos mais preparados hoje do que
ontem, o recomeço de amanhã será mais brilhante. Pude acompanhar os
primeiros ensaios, o corpo em cena durante o processo de representação da
expressividade e as mudanças ocorridas depois de toda essa coreografia. O
trabalho com a expressividade mostrou como é possível se perceber melhor
através do movimento, perceber o outro e tornar melhor esse convívio.
73
3.4 Estudando os próprios alunos
O lado positivo de estudar os próprios alunos, uma vez que realizei a
pesquisa com os acadêmicos que se matricularam na disciplina que eu ministrava,
é o da ampliação do conhecimento sobre cada um deles. Como professora, pude
ter um contato maior e mais detalhado, principalmente com as entrevistas. Muitas
informações foram obtidas e senti a turma no geral mais próxima, mais
participativa.
A pesquisa de certa forma auxiliou muito na avaliação final, uma vez que o
acompanhamento de cada acadêmico se tornou mais detalhado e conciso. Saber
o que pensam, as expectativas, tornou-se uma atividade muito enriquecedora.
As dificuldades que se apresentaram foram as de ter que separar a
pesquisadora da professora. Muitas vezes, confesso, uma invadiu o campo da
outra. Outra dificuldade esteve relacionada com o fator tempo, pois tinha que
dividir com as aulas ministradas registros das notas de campo, observações,
relatos que surgiam.
Mas foi uma experiência diferente e muito válida que enriqueceu meu lado
investigativo, possibilitando mais segurança para auxiliar os próprios alunos em
pesquisas na área acadêmica.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada um tem uma forma própria de se expressar. O cotidiano
envolto pelo meio em que vivemos molda silenciosamente essa forma de
expressão, os gestos e movimentos. Está inserido num contexto sócio-cultural.
Quando dominadora, uma sociedade tende a controlar com mais
intensidade a expressividade das pessoas que a formam. Sem liberdade, vamos
reproduzindo posturas, maneiras de pensar, de sentar, de falar, de vestir, de
caminhar, enfim, continuando com os estereótipos.
Para uma sociedade como a que vivemos, propagadora do TER, imersa no
consumo, não é vantagem apostar na educação que leve o individuo a expressar
seu interior. Não vivemos isolados, precisamos do grupo social e cumprir
determinadas regras para o bom funcionamento, mas também não podemos
esquecer das diferenças individuais que regem cada um. O corpo pode ser sujeito
deste cárcere ou de uma imensidão azul.
Auxiliando na liberdade, a Dança inserida no contexto da Educação Física
não pode fornecer apenas o embasamento técnico, mas precisa ir além,
oferecendo um grande espaço para a expressividade humana ser redescoberta.
75
Auxiliará nas mudanças, assumindo um caráter cooperativo, onde o corpo consiga
expressar suas emoções com outras pessoas.
Os participantes desta pesquisa, acadêmicos de Educação Física que
cursaram a Disciplina de Dança Escolar, fazem parte de um grupo que pode
ajudar em todo esse processo de reforma.
Responder quais as percepções que esses participantes possuíam (e
possuem, pois se trata de um processo contínuo) sobre sua expressividade,
tornou-se uma tarefa prazerosa e de certa forma complexa. Prazerosa porque faz
parte de um contexto que aborda o campo da linguagem corporal na dança.
Complexa pela necessidade de racionalizar uma observação subjetiva. O mesmo
ocorreu com a constatação do que cada participante fazia e o que dizia sobre sua
expressividade.
Ao iniciar a pesquisa, os participantes apresentaram muitas dúvidas sobre o
tema expressividade. Eles estavam mais preocupados em melhorar suas
performances nas rodas de amigos, em não “fazer feio” num baile. A pergunta
pairava no ar: “Vamos aprender a dançar?”. Foi um começo, e partindo das
necessidades do grupo, o corpo começou a entrar em cena.
Percebi que nos aspectos emocionais foi mais complicado para demonstrar
movimentos expressivos. Com o passar das aulas, os laços afetivos foram se
estreitando entre o grupo a as dificuldades foram sendo visivelmente superadas.
76
Acredito que a contribuição do trabalho da expressividade para a formação
dos participantes foi a de verificar como é possível criar e incentivar a criação de
novos movimentos, inclusive derrubando barreiras sociais.
Barreiras estas relacionadas principalmente aos homens, que, vencendo
suas próprias dificuldades poderão mais facilmente difundir o trabalho da Dança
na Educação Física. Se não é proporcionada a oportunidade de superar limites
próprios, obviamente o trabalho não será levado ao meio escolar, uma vez que
raramente alguém ensina aquilo que não sabe ou não gosta de fazer.
Gostaria de destacar a importância de verificar, talvez num prazo
aproximado de seis meses, como a expressividade está influenciando na vida
acadêmica desses mesmos participantes. Se eles apresentam as mesmas idéias,
se estas amadureceram ou foram esquecidas após a empolgação o momento
final.
Como o espetáculo continua e o conhecimento segue a mesma trajetória,
ficam aqui algumas sugestões para delimitação de estudos e novas pesquisas:
investigar como está o conhecimento sobre a expressividade nas escolas, dentro
das aulas de Educação Física, tanto por parte dos alunos quanto dos professores;
analisar as questões de gênero, no meio escolar, relacionadas à prática dos
movimentos e examinar o papel ocupado pela expressividade dentro dos
currículos de graduação em Educação Física.
77
Acredito que nada acontece por acaso. Estamos aqui e agora por um
motivo. Que possamos valorizar nossa presença, vivendo intensamente para a
lapidação de todo esse potencial expressivo que recebemos, nos tornando cada
vez mais seres humanos.
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tema. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2000.
ANEXOS
83
Anexo A. Roteiro da Entrevista Inicial.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Escola de Educação Física – ESEF
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano
Mestrado em Ciências do Movimento Humano
Tema da Investigação: A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO
ENSINO DA DANÇA ESCOLAR
Roteiro da Entrevista Inicial
Nome do acadêmico:............................................ data:........... hora:..............
1. Que importância você atribui à Disciplina de Dança Escolar?
2. O que você entende por expressividade?
3. Como são seus movimentos?
4. Descreva como você executa seus movimentos.
5. Quais os movimentos que considera mais comuns e o que eles
representam?
6. Como você se sente quando executa seus movimentos?
7. Gostaria de executar seus movimentos de uma forma diferente?
8. Você conhece outra forma de executar seus movimentos?
9. O que você faria para modificá-los?
10. Que importância você atribui ao movimento expressivo na sua formação?
84
Anexo B: Roteiro da Entrevista Final
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Escola de Educação Física – ESEF
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano
Mestrado em Ciências do Movimento Humano
Tema da Investigação: A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO
ENSINO DA DANÇA ESCOLAR
Roteiro da Entrevista Final
Nome do acadêmico:............................................ data:........... hora:..............
1. O que você entende por expressividade?
2. Percebeu algumas mudanças na forma de se expressar? Quais?
3. O que mais chamou a atenção nesta experiência?
4. O que mais chamou a atenção na avaliação prática?
5. Que importância você atribui ao movimento expressivo na sua formação?
85
Anexo C: Termo de Consentimento e Declaração do Participante
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Escola de Educação Física – ESEF
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano
Mestrado em Ciências do Movimento Humano
Tema da Investigação: A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO
ENSINO DA DANÇA ESCOLAR
TERMO DE CONSENTIMENTO E DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE
A pesquisa tem a intenção de aprofundar o conhecimento da
expressividade, abordando o ser humano em suas formas biológica, cultural e
filosófica, através das aulas de Dança.
Partindo destes aspectos, o objetivo da pesquisa é descrever e
compreender a percepção dos acadêmicos de Educação Física que cursam a
disciplina de Metodologia do Ensino da Dança Escolar sobre sua expressividade.
A participação neste estudo envolverá duas entrevistas, uma no início e
outra no final das aulas, preenchimento de uma ficha com dados pessoais e
filmagens de algumas atividades.
Todos os dados serão confidenciais e a identidade do participante será
preservada.
86
DECLARAÇÃO DO PARTICIPANTE
Eu, abaixo assinado, tendo lido as informações oferecidas acima, e tendo
sido esclarecido sobre o estudo proposto, estou de acordo em participar do
mesmo.
Nome:.........................................................................................................................
Assinatura:................................................................. Data: ......................................
87
Anexo D: Ficha com os Dados Pessoais dos Participantes
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
Escola de Educação Física – ESEF
Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano
Mestrado em Ciências do Movimento Humano
Tema da Investigação: A EXPRESSIVIDADE DOS ACADÊMICOS DE
EDUCAÇÃO FÍSICA QUE CURSAM A DISCIPLINA DE METODOLOGIA DO
ENSINO DA DANÇA ESCOLAR
Mestranda: Elisabete Patricia Gallina
Orientador: Prof. Dr. Jorge Luiz de Souza
FICHA COM OS DADOS PESSOAIS DO PARTICIPANTE
Acadêmico: .................................................................................. Semestre: ............
Endereço: ..................................................................................... Fone: ..................
E-mail: ........................................................... Data de Nascimento: .........................
88
Anexo E: Entrevista Inicial
Entrevista Inicial – Acadêmica: Cláudia Data: 02/04/2008 Hora: 8:30 às 8:50h
P: pesquisadora R: resposta da entrevistada
P: Que importância você atribuiria à Disciplina de Metodologia do Ensino da
Dança Escolar?
R: Bom, eu acredito que ela ajuda em várias partes assim, às vezes, trabalha a
saúde das pessoas, trabalha com a coordenação...
P: O que você entende por expressividade?
R: Eu acho que quando tu estás, que nem apresentando dançando, tem que ser
bem interpretado assim, como... Não sei como falar bem assim, mas conforme a
música, se ela passa sentimento de tristeza, de alegria, ou até de amor, alguma
coisa assim, tem que saber se expressar bem (pausa). Bem importante.
P: Como são seus movimentos?
R: Ah. Eu acho que são, sei lá. Acho que eu consigo me expressar bem o
movimento corporal.
P: Descreva como você executa seus movimentos.
R: Ah! Às vezes que eu levanto, assim, eu acordo, eu gosto de fazer um
alongamento assim logo, bem no início do dia. Eu acho isto muito bom. Bom, é
assim. Ocupa bastante os movimentos corporais.
P: Você acredita que a Dança vai te ajudar nisto, também?
R: Acho que sim. Ajuda bastante. Teve uma professora, que nem a gente não
tinha muita postura para dançar (se referindo ao grupo que participava quando
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menor). Aí, a gente começou a ensaiar, tive que colocar cabo de vassoura para
ficar reta. Acho que ajuda bastante...
P: Quais os movimentos que considera mais comuns e o que eles representam?
R: Eu acho que o modo de caminhar, como a gente caminha mostra o que a gente
está sentindo ou pensando, ou até se expressar com as mãos...
P: Como você se sente quando executa os seus movimentos?
R: (Risos). Na maioria das vezes ligo no piloto-automático e vai. Estou
balançando a perna, essa mania, ou batendo as mãos.
P: Gostaria de executar seus movimentos de alguma forma diferente?
R: Sei lá. Eu acho que o modo como eu ando. É, a caminhada. Eu acho que a
postura das costas. Ando muito dura, também. Mais nesta parte do tórax
(mostrando a parte frontal).
P: Você conhece outra forma de executar seus movimentos?
R: Sim, mas o difícil é conseguir, né? Caminhar normal é complicado mudar.
P: O que você faria para modificá-los?
R: Bom, tem várias formas, ficar prestando atenção, falar com algum amigo ou
alguém da família, corrigir assim quando... a gente está meio desligada ou alguma
coisa.
P: Você acha que o olhar do outro ajuda?
R: Muitas vezes, eu acho que sim. Se tu tens um amigo, muitas vezes é melhor do
arrumar sozinha.
P: E você acha que sozinha não tem esta possibilidade?
R: Até tem né, mas às vezes assim, quando tu estás meio desligado, tu precisas
alguém para chamar a tua atenção.
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P: Qual a importância que você atribui ao movimento expressivo na sua
formação?
R: Eu acho que a gente precisa muito disto, até para passar para as pessoas que
nem tu vai dar aula ou alguma coisa, tu precisas da parte da expressão, o
movimento, tudo. Acho que é bem importante. Poder expressar tudo aquilo que tu
não pode dizer. Tu precisas de toda a tua expressão corporal, ao menos ter
noção de como tu fazes.
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Anexo F: Entrevista Final
Entrevista Final – Acadêmica: Cláudia Data: 28/05/2008 Hora: 7:15 às 7:30h
P: pesquisadora R: resposta da entrevistada
P: O que você entende por expressividade?
R: Bom, eu entendo, que nem no sentido da Dança, assim (pausa). Eu entendo
que na dança a gente consegue se expressar melhor, tipo, ela serve como se tu
fosse dançar, acho que não é a gente mesmo, então tu consegues se expressar
melhor. Tu perdes toda aquela vergonha. Expressa assim o sentido, assim, no
ritmo da dança, acho que é isso!
P: Percebeu algumas mudanças na forma de se expressar? Quais?
R: Eu acho que sim. Que nem na parte da dança trouxe mais segurança, assim,
perdi na maior parte quase toda a minha timidez. Na prova prática, assim, não
teve aquela insegurança.
P: O que mais chamou a atenção nesta experiência?
R: Melhorou muito assim, facilitou o modo da gente se expressar, de conseguir
conversar com os outros, interagir com as pessoas. E... Bom, eu acho que é mais
ou menos isso, trabalhou bastante nossa expressão corporal, melhorou desde
postura, tudo assim.
P: O que mais te chamou a atenção na avaliação prática?
R: Ah, eu achei muito interessante, assim, porque... A gente interagiu bem com o
grupo, né? Muito legal, deu pra ver bem a criatividade, assim de todos, a gente
trabalhou todo mundo bem unido, ensaiamos muito também. E... Foi muito bom
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assim, foi uma experiência muito boa, assim pra mim. Muito prestativo, porque a
gente... consegui interagir bem, trabalhar junto, trabalho de grupo, assim, me
ajudou bastante, essa parte que a gente conseguiu apresentar. Ninguém ficou
tímido, assim... Sabe, retraído, e tal. Foi bem legal!
P: Que importância você atribui ao movimento expressivo na sua formação?
R: Eu acho que a gente precisa ter esse movimento, porque às vezes as
palavras não bastam, né, pra gente... Precisa ter essa expressão corporal, ela é
muito importante. Acho que ela diz até como a gente se sente, é isso aí.
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Anexo G: Conteúdos Programáticos da Disciplina de Metodologia do Ensino
da Dança Escolar
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
URI - CAMPUS DE ERECHIM
Curso de Educação Física
Metodologia do Ensino da Dança Escolar
Conteúdos Programáticos
Unidade 1 – Introdução a Dança Escolar
1.1 A dança e sua evolução através dos tempos
1.2 A dança na escola: importância e finalidades
1.3 Características e terminologias básicas da dança escolar
Unidade 2 – Metodologia do Ensino da Dança
2.1 Processo de ensino-aprendizagem da dança
2.2 Princípios e noções de progressões de aprendizagem
2.3 Caracterização e estruturação dos exercícios e tarefas.
2.4 Abordagens pedagógicas do ensino da dança escolar.
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Unidade 3 – Movimento Básicos de Dança
3.1 Inter-relação entre movimento, música, ritmo e métrica.
3.2 Estudo das formas básicas de movimento: andar, correr, saltar, saltitar e
galopar.
3.3 Noções de fatores de movimento: corpo, direção, velocidade, energia, planos e
eixos.
3.4 Movimentos a mãos livres: transferência de peso, balanceios e circunduções.
Unidade 4 – Manifestações da Dança Escolar
4.1 Danças folclóricas regionais (quadrilha, pau de fita...)
4.2 Brinquedos cantados.
4.3 Danças de salão
4.4 Atividades aplicadas a dança: movimentos criativos, expressivos e
interpretativos.
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Anexo H: Conteúdos Programáticos da Disciplina de Oficina de Experiência
Docente III - Experiência de Ensino de Dança na Educação Física Escolar
UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES
URI - CAMPUS DE ERECHIM
Curso de Educação Física
Oficina de Experiência Docente III
Experiência de Ensino de Dança na Educação Física Escolar
Conteúdos Programáticos
1.1 Observação e reflexão de situações contextualizadas de ensino da dança
escolar na disciplina de Educação Física no ensino fundamental e médio.
1.2 Resolução de situações-problema características do cotidiano docente no
ensino de conteúdos específicos da dança escolar.
1.3 Planejamento didático de conteúdos da dança escolar.
1.4 Estudos individuais aplicados a dança escolar.
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Carta de Aprovação do CEP/UFRGS