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CONSTRUÇÕES COM VERBOS DE ALÇAMENTO: UM ESTUDO DIACRÔNICO
FERNANDO PIMENTEL HENRIQUES
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS
Dissertação de Mestrado apresentada
ao Programa de Pós-Graduação em
Letras Vernáculas da Universidade
Federal do Rio de Janeiro como quesito
para a obtenção do Título de Mestre em
Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Orientadora: Professora Doutora Maria
Eugênia Lamoglia Duarte
Rio de Janeiro
Março de 2008
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As constrões com verbos de alçamento: um estudo diacrônico
Fernando Pimentel Henriques
Orientadora: Professora Doutora Maria Eugênia Lamoglia Duarte
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).
Aprovada por:
_________________________________________________
Presidente: Pro. Doutora Maria Eugênia Lamoglia Duarte
_________________________________________________
Pro Doutora Dinah Maria Isensee Callou - UFRJ
_________________________________________________
Profª. Doutora Sílvia Regina de Oliveira Cavalcante – UFF
_________________________________________________
Suplente: Profª. Doutora Célia Regina dos Santos Lopes – UFRJ
_________________________________________________
Suplente: Prof. Doutor Juanito Ornelas de Avelar – UNICAMP
Defendida a Dissertação
Em ___/___/2008
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SINOPSE
Mudança na marcação do Parâmetro
do Sujeito Nulo no PB. Sujeito
referencial dos verbos de alçamento
é afetado. Teoria da Variação e
Teoria Gerativa explicam a mudança
paramétrica em curso.Considerações
sobre a relação entre a redução do
paradigma flexional no PB e a
preferência pelo alçamento.
AGRADECIMENTOS
Dedicar-se a um trabalho acadêmico, principalmente a uma dissertação, cria
alguns hábitos diferentes, entre eles, escrever sempre (involuntariamente), tentando
seguir os padrões acadêmicos. E não poderia ser diferente na seção referente aos
agradecimentos:
(i) primeiramente, agradeço a Deus por todas as conquistas, vitórias e
obstáculos (e algumas derrotas, claro). Sem a Sua “ajuda”, esse trabalho
não seria viável;
(ii) em seguida, agradeço à minha família, especialmente à minha mãe, que
tanto amo, por ter vibrado com todas as minhas conquistas;
(iii) agradeço tamm a uma pessoa muito especial; alguém que foi obrigada,
durante meses, a aprender tudo sobre a mudança paramétrica em
progresso no PB. Camila França, muito obrigado pelos ouvidos e pela
compreensão;
(iv) não posso me esquecer de algumas pessoas muito especiais: Danielle de
Rezende, muito obrigado pelo apoio e pelos temores compartilhados ao
longo de toda a graduação, iniciação científica e pós-graduação; Juliana
Marins, muito obrigado por tornar todos os momentos acadêmicos mais
engraçados - não posso me esquecer de agradecer pelo primeiro gráfico
no primeiro painel, que serviu de base para muitos outros gráficos,
inclusive para alguns deste trabalho;
(v) agradeço, ainda, à professora Dinah Callou, que se mostrou, desde o
início, uma profissional cativante e sempre interessada em ajudar. À
professora Célia Lopes, tamm devo agradecimentos pela paciência e
dedicação, na tentativa de conciliar um trabalho sintático a pressupostos
da sócio-pragmática;
(vi) finalmente, não posso deixar de agradecer à professora Maria Eugênia
Duarte. Muito obrigado pela dedicação, pela paciência, pelos “puxões de
orelha” (sempre necessários) e, principalmente, pelo carinho. A você, cara
mestra, dedico toda a minha admiração.
Este trabalho foi financiado
pela bolsa CNPq e pela Bolsa
Nota Dez da FAPERJ
SUMÁRIO
Índice de tabelas e quadros ..........................................……………………….
Índice de gráficos e figuras .............................................................................
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
1. PONTOS DE PARTIDA ............................................................................. 7
1.1 O que é alçamento ........................................................................ 7
1.2 Os verbos de “alçamento prototípico” ........................................... 10
1.3 As construções de alçamento na tradição gramatical ................... 18
1.4 Pontos de partida: estudos sincrônicos e diacrônicos ..................
1.4.1 Os sujeitos referenciais ...................................................
1.4.2 Os sujeitos não referenciais ............................................
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS E METODOLOGIA ....................................
2.1 Teoria Gerativa e Teoria da Variação: modelos incompatíveis? ..
2.1.1 O modelo gerativista .......................................................
2.1.2 O modelo variacionista ...................................................
2.2 Teoria Gerativa e Teoria da Variação: modelos compatíveis ......
2.3 Metodologia .................................................................................
2.3.1 Os grupos de fatores .....................................................
3. ANÁLISE DE DADOS ..............................................................................
3.1 Construções com o verbo parecer ..............................................
3.1.1 A construção sem alçamento ........................................
3.1.1.2 A presença do clítico dativo ............................
3.1.2 O alçamento padrão ......................................................
3.1.2.1 A representação do sujeito alçado ..................
3.1.2.2 Fatores estruturais relevantes .........................
iii
v
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5
7
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17
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30
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59
3.1.3 A construção com o deslocamento .............................
3.1.4 O hiperalçamento ..........................................................
3.1.4.1 A representação do sujeito alçado ..................
3.1.4.2 Outros fatores relevantes ................................
3.2 Os “demais” verbos de alçamento ..............................................
3.2.1 A construção sem alçamento .......................................
3.2.1.1 A representação do sujeito da encaixada ......
3.2.2 O alçamento padrão ....................................................
3.2.2.1 A expressão do sujeito alçado ......................
3.2.2.2 A estrutura da oração encaixada ..................
3.2.2.3 Outros fatores estruturais .............................
3.3 O que dizem os resultados: confrontando parecer e os “demais”
verbos ......................................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................
RESUMO ..................................................................................................
ABSTRACT ..............................................................................................
REFERÊNCIAS (peças teatrais) ..............................................................
REFERÊNCIAS (textos) ...........................................................................
ANEXOS ...................................................................................................
14
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17
21
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30
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63
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91
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93
100
iii
ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1.1: Paradigmas flexionais em PB .....................................................
Tabela 1.2: Construções com parecer na fala popular ..................................
Tabela 1.3: Construções com os outros verbos de alçamento ......................
Tabela 1.4: Construções com parecer na fala culta ......................................
Tabela 1.5: Construções com parecer na escrita padrão .............................
Tabela 1.6: Construções com os outros verbos na escrita padrão ...............
Tabela 1.7: Estrutura de alçamento com todos os verbos ............................
Quadro 2.1: Amostra utilizada segundo o período de tempo e autores .......
Tabela 3.1: Construções com parecer através do tempo .............................
Tabela 3.2: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com parecer
em construções sem alçamento, segundo a forma de expressão: pleno vs nulo
Tabela 3.3: Presença do clítico dativo vs não alçamento em construções com
parecer ...........................................................................................................
Tabela 3.4: Correferência entre clítico dativo e DP sujeito vs não alçamento
em construções com parecer ..........................................................................
Tabela 3.5: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com parecer
em construções de alçamento padrão, segundo a forma de expressão: pleno
vs nulo.............................................................................................................
Tabela 3.6: Tipo de oração vs alçamento padrão com parecer......................
Tabela 3.7: Distribuição dos sujeitos pronominais em construções de hiperal-
çamento, segundo a forma de expressão: pleno vs nulo ...............................
Tabela 3.8: O tipo de oração vs hiperalçamento com parecer .......................
Tabela 3.9: Ocorrências das estruturas de alçamento com os outros verbos
de alçamento .................................................................................................
Tabela 3.10: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com os
demais verbos em construções sem alçamento, segundo a forma de expres-
são: pleno vs nulo .........................................................................................
Tabela 3.11: Estrutura da encaixada segundo o tipo de verbo nas construções
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24
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26
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66
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71
74
iv
sem alçamento com os “demais” verbos .....................................................
Tabela 3.9: Ocorrências das estruturas de alçamento com os outros verbos
de alçamento ...............................................................................................
Tabela 3.12: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com os
“demais” verbos em construções de alçamento, segundo a forma de expres-
são: pleno vs nulo.........................................................................................
Tabela 3.13: Estrutura da encaixada segundo o tipo de verbo nas construções
com alçamento com “os demais” verbos .....................................................
Tabela 3.14: Tipo de oração vs alçamento com “os demais verbos” ..........
Tabela I: Traço semântico vs alçamento padrão com o verbo parecer ......
Tabela II: Referência vs alçamento padrão com o verbo parecer ..............
Tabela III: Presença do verbo ser na encaixada vs alçamento padrão com
Parecer .......................................................................................................
Tabela IV: Traço semântico vs hiperalçamento com o verbo parecer .......
Tabela V: A referência vs hiperalçamento com o verbo parecer ...............
Tabela VI: Traço semântico vs alçamento padrão com os “demais” verbos
Tabela VII: Sujeito específico / não específico vs alçamento padrão com os
“demais” verbos .........................................................................................
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100
100
101
101
102
102
v
ÍNDICE DE GRÁFICOS E FIGURAS
Gráfico 1.1: Sujeitos nulos em peças teatrais (Duarte 1993) .....................
Gráficos 1.2: Alçamento versus não alçamento na fala popular ................
Gráfico 1.3: Alçamento versus não alçamento na escrita padrão ..............
Figura 3.1: Distribuição geral dos dados por período de tempo ................
Gráfico 3.1: Construções com parecer na linha do tempo ........................
Gráfico 3.2: Expressão do sujeito da encaixada nas construções sem alça-
mento com parecer (DP lexical, pronome pleno, pronome nulo) .............
Gráfico 3.3: Presença de clítico dativo nas construções sem alçamento
com parecer .............................................................................................
Gráfico 3.4: A representação do sujeito alçado para a posição de sujeito
de parecer (DPs lexicais, pronomes plenos, pronomes nulos) ...............
Gráfico 3.5: Sujeitos nulos em peças teatrais (Duarte 1993) ..................
Figura 3.2: Distribuição geral dos dados por período de tempo .............
Gráfico 3.6: Ocorrências das estruturas de alçamento com os demais
verbos na linha do tempo .......................................................................
Gráfico 3.7: Expressão do sujeito da encaixada nas construções sem
alçamento com os demais verbos de alçamento (DP lexical, pronome
pleno, pronome nulo) .............................................................................
Gráfico 3.8: Expressão do sujeito alçado nas construções com alçamen -
to com os demais verbos de alçamento (DP lexical, pronome pleno, pro -
nome nulo) ............................................................................................
Gráfico I: A representação do sujeito alçado para a posição de sujeito
de parecer nas construções de hiperalçamento (DPs lexicais, pronomes
plenos, pronomes nulos) ......................................................................
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101
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, pesquisas lingüísticas acerca do português falado indicam
processos de mudança em progresso no Português Brasileiro (PB), o que tem
contribuído para distinguir as variedades brasileira e européia, levando alguns
autores a propor que estamos diante de gramáticas distintas (cf. entre outros Galves
1987, 1998). Dentre os processos em curso, está o que envolve a mudança na
marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981).
Duarte (1993, 1995, 2000) mostra que a representação do sujeito pronominal
de PB, tanto o de referência definida quanto o de referência indeterminada, está se
caracterizando pela preferência pelo sujeito pleno, ao contrário do que ocorria em
estágios anteriores do português no Brasil (a julgar pela análise de peças de teatro
popular apresentadas em Duarte 1993) e ainda ocorre no Português Europeu (PE),
no espanhol (cf. Soares da Silva 2006) e no italiano (cf. Marins 2007). O crescente
preenchimento do sujeito pronominal indica que o Português Brasileiro está
deixando de ser uma língua de sujeito nulo para se tornar uma língua de sujeito
preenchido, ou seja, [-prodrop].
Essa mudança na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN) estaria
diretamente relacionada à redução do quadro de paradigmas flexionais verbais do
PB (Duarte 1993, 1995). Até o início do século XX, predominava o paradigma com
seis ou cinco formas verbais distintas. Hoje, com a neutralização entre as formas
verbais que acompanham os pronomes de segunda pessoa você e tu, e a forte
preferência pelo pronome a gente, particularmente na fala de grupos mais jovens,
que já não usam o pronome nós para referência à primeira pessoa do plural,
encontram-se apenas três formas verbais, considerando, naturalmente, as
variedades em que ocorrem as marcas de concordância de segunda e terceira
pessoas do plural. O crescente preenchimento do sujeito pronominal de referência
definida ao longo do século XX caminhou paralelamente a essa simplificação do
paradigma, como aponta o estudo diacrônico de Duarte (1993), culminando com a
preferência pelo sujeito pleno para a fala culta e popular do Rio de Janeiro, como
atesta Duarte (1995; 2003a). Esses resultados têm sido confirmados para outras
variedades nas mais diferentes regiões do país.
Duarte (2000) indica que essa mudança afeta igualmente o sujeito de
referência indeterminada, que vem se caracterizando pela forma preenchida por
diversas formas pronominais nominativas, entre as quais você e a gente.
2
Portanto, os estudos lingüísticos apontam para uma profunda mudança no
Português Brasileiro. Se se levam em conta (a) o feixe de propriedades que
caracterizam o PSN (Chomsky 1981) e (b) o pressuposto básico da teoria da
mudança lingüística explicitado em Weinreich, Labov e Herzog (1968), segundo o
qual uma mudança não é casual estando “encaixada” num sistema de
“concomitantes lingüísticos e sociais”, a mudança paramétrica por que passa PB
suscita alguns questionamentos: (i) alterações tão profundas no sistema causariam
algum “efeito colateral”?; (ii) se a resposta for afirmativa, que efeitos seriam esses?;
(iii) como se refletiria esse encaixamento na representação dos sujeitos não
referenciais? Seriam eles afetados pela mudança na marcação do parâmetro?
O presente trabalho parte de tais perguntas e tem como objetivo focalizar um
tipo de estrutura que apresenta uma posição de sujeito não referencial / não
temática, qual seja, a estrutura representada por verbos conhecidos na literatura
gerativista como verbos de alçamento, na realidade verbos inacusativos que
selecionam um argumento interno representado por uma oração, entre os quais
parecer é o verbo prototípico. Uma análise atenta das construções com este verbo
permite encontrar quatro possibilidades estruturais.
Primeiramente, em (1), encontra-se uma construção sem o alçamento do
sujeito da oração subordinada. Esta estrutura apresenta sujeito expletivo nulo à
esquerda de parecer, o que indica que há uma posição sintática disponível. Como
se pode observar, o sujeito da oração encaixada pode aparecer expresso (1a) ou
nulo (1b).
(1) a. [
IP
expl
] Parece [
CP
que o menino dormiu]].
b. [
IP
expl
] Parece [
CP
que [ø]
i
estou
i
flutuando]].
Por outro lado, em (2), encontra-se uma estrutura conhecida como alçamento
clássico ou padrão. Esta construção caracteriza-se pelo alçamento do sujeito da
oração encaixada para a esquerda do verbo de alçamento, onde ele recebe caso
nominativo, enquanto o verbo da subordinada apresenta a forma infinitiva.
(2) [
IP
As crianças
i
parecem [
InfP
t
i
querer o sorvete]].
3
Em (3), encontra-se uma estrutura que exibe o sujeito da oração encaixada
deslocado para uma posição externa à sentença. Dessa forma, parecer não entra
em relação de concordância com o DP deslocado, que recebe Caso do verbo
flexionado da oração subordinada, que o seleciona:
(3) [
TopP
Eu
i
[
IP
expl
] parece [
CP
que [ø]
i
vou explodir de raiva]]]. (Duarte 2007)
Verificam-se, em (4), ao mesmo tempo, o alçamento do sujeito da encaixada
para a posição à esquerda de parecer e a flexão dos dois verbos, o verbo da oração
principal e o verbo da oração subordinada. Esta construção é referida na literatura
como hiperalçamento. (cf. Ferreira 2000) e não é prevista pelas gramáticas:
(4) [
IP
Os meninos
i
parecem [
CP
que t
i
sabem onde está o brinquedo]].
O trabalho parte de um estudo diacrônico (Duarte 1993) e de estudos
sincrônicos (Duarte 2004, 2007, Henriques e Duarte 2006, Henriques 2005, entre
outros) e busca investigar, através de um estudo diacrônico, como se comportam
tais estruturas ao longo dos dois últimos séculos com base na mesma amostra de
peças utilizadas por Duarte (1993) para a análise de sujeitos referenciais (escritas
entre 1838 a 1992). Obviamente, não se podem tomar os resultados como o reflexo
da fala de seu tempo, visto que as peças consistem em uma tentativa de reprodução
da fala de cada período de tempo analisado. Entretanto, como se trata de peças de
caráter popular e como os resultados obtidos por Duarte (1993) para a peça de 1992
se aproximam muito dos resultados obtidos para a fala espontânea, pode-se
presumir que em relação aos verbos de alçamento possamos obter tendências reais
de uso de cada período.
Estudos da fala contemporânea acima referidos indicam que, embora o PB
não tenha desenvolvido um pronome expletivo lexical, como ocorreu com o francês,
o falante faz uso de diferentes estratégias para evitar o sujeito expletivo nulo à
esquerda dos verbos de alçamento. Os resultados encontrados para a fala popular
mostram que nas duas faixas de tempo analisadas (anos 80 e anos 2000) há (a)
ausência de construções com sujeito deslocado à esquerda; (b) quase absoluta
ausência de alçamento padrão; (c) as construções sem alçamento se encontram em
variação com uma estratégia de alçamento não prevista pelas gramáticas
4
tradicionais: o hiperalçamento, uma estrutura que apresenta tanto o verbo de
alçamento quanto o verbo da oração encaixada flexionados, “desafiando”, de certa
forma, a teoria do Caso (cerca de 44% nos anos 2000 – cf. Duarte 2002, 2007;
Henriques 2005, Henriques e Duarte 2006).
Para a orientação deste trabalho, formularam-se algumas hipóteses que
serão confirmadas ou não durante a análise dos dados. Como ponto de partida,
acredita-se que nos períodos em que o PB se comporta como uma língua de sujeito
nulo prototípica, serão preferidos o não alçamento e o alçamento padrão. Espera-se
tamm a ocorrência de sujeitos deslocados, estruturas ainda encontradas no PE
oral e citadas nas nossas gramáticas como uma instância de anacoluto. À medida
que o paradigma flexional se reduz, espera-se uma preferência pelo alçamento
padrão e só nas últimas peças, quando o sujeito referencial expresso está
plenamente implementado no sistema, será possível encontrar o hiperalçamento
(com os verbos que o permitem).
Como será mostrado mais adiante, os resultados confirmam o “encaixamento”
da mudança na marcação do sujeito nulo, com a nítida preferência pelo
preenchimento da posição à esquerda tanto de parecer quanto dos demais verbos
de alçamento.
Este trabalho é dividido em três capítulos. O primeiro apresenta os seguintes
itens: (a) definição dos verbos de alçamento; (b) descrição da abordagem oferecida
pelas gramáticas tradicionais em relação a esses verbos; (c) um olhar sobre estudos
anteriores referentes ao preenchimento do sujeito pronominal em PB (referencial e
não referencial), pontos de partida para este trabalho. No segundo capítulo é
apresentado o quadro teórico que orienta o trabalho, seguido de um detalhamento
das hipóteses levantadas e da metodologia a ser seguida. No terceiro capítulo,
analisam-se os dados obtidos no intuito de verificar quais estratégias de alçamento
são implementadas em cada período de tempo analisado. Finalmente, diante dos
resultados encontrados, apresentam-se as conclusões do estudo.
Espera-se que este trabalho seja uma importante contribuição à descrição do
Português Brasileiro, principalmente no âmbito dos estudos referentes à mudança na
marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo (PSN) e seus “efeitos colaterais” no
sistema, levando em conta a noção de “encaixamento” da mudança proposta por
Weinreich, Labov & Herzog (1968) e as propriedades que caracterizam o PSN
(Chomsky 1981).
5
1. PONTOS DE PARTIDA
Neste capítulo, são apresentadas, à luz da teoria gerativa, as construções que
envolvem o movimento sintático conhecido como alçamento. Trata-se de estruturas
com verbos que não selecionam um argumento externo, entre os quais se
encontram os verbos de ligação e os que serão analisados neste trabalho, isto é, os
verbos conhecidos como de alçamento. Serão ainda apresentadas as diferentes
possibilidades estruturais com estes verbos e o tratamento que tais construções
recebem nas gramáticas tradicionais. Por fim, faz-se uma descrição dos resultados
encontrados em diferentes estudos emricos relativos à mudança na marcação do
Parâmetro do Sujeito Nulo (doravante PSN) no Português Brasileiro (PB) e sua
possível relão com uma das possibilidades estruturais encontradas nas
construções com os verbos de alçamento aqui focalizados.
1.1. O que é alçamento?
As construções a que a Teoria Gerativa se refere como “construções de
alçamento” envolvem o “alçamento” de um DP, sujeito de uma predicação em que
não pode receber Caso do seu predicador (um adjetivo, um infinitivo não flexionado,
por exemplo), para uma posição em que a atribuição de caso seja possível (cf.
Haegeman 1994 e Mioto, Silva e Lopes 2005). Vejam-se, por exemplo, as estruturas
em (1), em que os verbos parecer e acabar são usados como verbos de ligação:
(1) a. Os mestrandos
i
parecem t
i
assustados.
b. As professoras
i
acabaram t
i
estressadas.
Os verbos parecer e acabar, nas sentenças em (1), tomam como argumento
interno uma estrutura que contém uma predicação (as mini-orações – small clauses
1
- "os mestrandos assustados" e "as professoras estressadas"), não selecionando um
argumento externo, como ilustram os exemplos em (2):
(2) a. Parecer [
SC
os mestrandos assustados]
b. Acabar [
SC
as professoras estressadas]
1
Small Clause é uma predicação que se estabelece entre um constituinte DP e o predicado que o seleciona, mas
o pode atribuir Caso a este DP. É o caso dos adjetivos e dos verbos em formas não finitas. (cf. Mioto, Silva e
Lopes 2005).
6
Uma evidência de que “os mestrandos” e “as professoras” são argumentos de
“assustados” e “estressadas” pode ser encontrada em (3):
(3) a. *As pedras parecem assustadas.
b. As pedras parecem molhadas.
c. *Os livros acabaram estressados.
d. Os livros acabaram molhados.
As sentenças em (3a) e (3c) são agramaticais, não porque os verbos parecer
e acabar não possam ocorrer com os sintagmas “as pedras” e “os livros”, mas
porque “assustadas” e “estressados” não podem selecionar tais argumentos. Por
outro lado, em (3b) e (3d), os referidos sintagmas não sofrem qualquer restrição
semântica com os predicados “molhadas” e “molhados”. Assim, ao atuarem como
verbos de cópula, parecer e acabar aceitam sujeito de qualquer valor semântico.
Como os predicadores adjetivais não são atribuidores de Caso, os DPs
precisam se mover para a posição disponível à esquerda de parecer e acabar, para
receber Caso de flexão (em Spec de IP).
Outras construções que envolvem alçamento são ilustradas em (4):
(4) a. Os alunos
i
podem t
i
fazer as provas.
b. Os professores
i
costumam t
i
enfrentar problemas.
c. Os professores
i
parecem t
i
enfrentar problemas.
d. Os professores
i
acabaram t
i
enfrentando problemas.
Os exemplos em (4a,b) ilustram construções com auxiliares modais e
aspectuais, respectivamente, e os exemplos em (4c,d), construções com os
conhecidos verbos de alçamento prototípicos. Tanto os auxiliares quanto os verbos
plenos selecionam um argumento interno representado por um InfP/GerP, que não
podem atribuir Caso ao seu argumento externo, como se vê em (5):
(5) a. Poder [os alunos fazer as provas]
b. Costumar [os professores enfrentar problemas]
c. Parecer [os professores enfrentar problemas]
d. Acabar [os professores enfrentando problemas]
7
Tal como ocorreu com as sentenças em (2), os DPs argumento externo dos
verbos não flexionados no interior da oração encaixada precisam se mover para a
posição não temática à esquerda de (Spec de IP) poder, costumar, parecer e
acabar, onde recebem Caso nominativo de flexão (I). Observe-se, em (4) acima, que
o elemento alçado/movido deixa um vestígio, representado por um t (de trace), na
posição em que é gerado e onde recebe papel temático.
A análise das sentenças em (1)-(5) leva a algumas conclusões: (i) o termo
‘alçamento’, utilizado dentro do quadro teórico da sintaxe gerativa, se refere ao fato
de que verbos como parecer e acabar, quando selecionam apenas um argumento
oracional, permitem o deslocamento do sujeito da oração subordinada para a
posição de especificador de IP; (ii) os verbos de alçamento, entre eles parecer e
acabar, nada mais são do que uma extensão dos tradicionais verbos de ligação ou
cópula (cf. as sentenças em (1) e (2)); (iii) finalmente, os constituintes alçados nas
sentenças em (4) constituem o sujeito sintático dos verbos da oração principal, mas
não recebem papel temático destes, e sim dos verbos da oração encaixada
2
.
1.2 Os verbos de “alçamento” prototípicos
Nesta seção, serão examinados detalhadamente os verbos de alçamento que
serão foco de atenção deste trabalho. Em linhas gerais, trata-se de verbos que
selecionam um único argumento de posição fixa pós-verbal, que aparece em forma
de oração (um CP ou um InfP/GerP), exemplificados em (5c,d) acima. Pode-se,
entretanto, apontar dentro desse grupo, dois sub-grupos segundo as estruturas que
podem produzir.
Inicialmente, esses verbos apresentam uma estrutura argumental particular.
Um contraste entre as sentenças em (6) e (7) permite uma análise clara da estrutura
argumental dos verbos acabar e levar em diferentes acepções: (a) quando atuam
como predicadores verbais, como em (6), selecionando um argumento externo e um
ou dois internos; (b) quando atuam como verbos de alçamento, isto é, não
selecionam argumento externo, como em (7):
(6) a. João acabou o exercício.
b. A mãe levou o filho ao colégio.
2
Em Mioto, Silva e Lopes (2005), encontra-se uma explanação acerca das diferenças entre o sujeito sintático de
uma sentença e o argumento externo do verbo.
8
(7) a. Acabou que o João não fez o exercício.
b. Levou 30 minutos para a mãe deixar o filho no colégio.
As sentenças em (6a) e (6b) têm a sua estrutura argumental representada,
respectivamente, (8) e (9):
(8) VP
2
DP V’
João 2
V NP
acabar o exercício
(9) VP
2
DP V’
A mãe
g
2
V’ PP
2 ao colégio
V DP
levar o filho
Ou seja, em (8), o VP é encabeçado por um verbo (acabar) que seleciona
dois argumentos: um externo (“João”) e outro interno (“o exercício”). Por outro lado,
em (9), levar é um verbo que seleciona três argumentos, um externo (“A mãe”) e
dois internos (“o filho” e ao “colégio”). Um de seus argumentos, como se pode
observar, é representado sob a forma de um PP e desempenha a função de oblíquo
nuclear (cf. Mateus et alii 2003), ou complemento circunstancial (cf. Rocha Lima
2003 [1982]). Se em (6) os verbos acabar e levar selecionam um argumento externo
e, pelo menos, um interno; em (7), eles não selecionam um argumento externo e
pertencem à classe dos verbos de alçamento. Em (10), observa-se a estrutura
9
argumental de acabar e em (11) a de levar.
(10)
VP
g
V’
2
V CP
acabar 6
[
CP
que o João não fez o exercício]
(11)
VP
g
V’
2
V’
PP
2 2
V DP P InfP
g g para 5
levar 30 minutos [
InfP
a mãe deixar o filho no colégio]
Observa-se nos esquemas acima que acabar e levar não selecionam
argumento externo (razão pela qual tanto a tradição quanto a teoria gerativa se
referem a essas estruturas como “impessoais”). Enquanto em (10) o argumento
interno é um CP, ou seja, uma oração desenvolvida, em (11), levar seleciona um PP
(P + InfP), ou seja, uma oração infinitiva complemento de preposição, além de um
segundo argumento, o DP [30 minutos], que tem aqui a função de oblíquo nuclear
3
.
Veja-se que o DP sujeito da encaixada recebe Caso do verbo finito “não fez”,
3
Embora a estrutura seja um DP, sabemos tratar-se de um circunstancial que pode aparecer sob a forma de PP:
[cerca de 30 minutos]
10
em (10), e do infinitivo pessoal “deixar”, em (11). O alçamento não se faz, portanto,
necessário.
O fato de selecionarem um argumento interno coloca esses verbos entre os
inacusativos (cf. Mioto, Lopes e Silva 2005; Haegeman 1994). Evidência de que o
argumento dos verbos de alçamento é interno está na agramaticalidade das
sentenças em (12):
(12) a. *[Que os jovens estudam na UFRJ [parece]].
b. *[Para o diploma ficar pronto [demorou]].
Entre os verbos de alçamento analisados neste trabalho, o verbo parecer
4
constituirá um grupo à parte, uma vez que permite quatro estruturas, ilustradas em
(13):
(13) a. [
IP
expl
] Parece [
CP
que os jovens não estudam muito]].
b. [
IP
Os jovens
i
parecem [
InfP
t
i
não estudar muito]].
c. [
TopP
Os jovens
i
[
IP
expl
] parece [
CP
que ø
i
estudam muito]]].
d. [
IP
Os jovens
i
parecem [
CP
que ø
i
estudam muito]]. (eles)
i
e. [
IP
Os jovens
i
parecem [
CP
que eles
i
estudam muito]].
Em (13a), encontra-se uma construção que apresenta um sujeito expletivo
nulo à esquerda de parecer devido ao não alçamento do DP sujeito do verbo da
oração encaixada. Em línguas de sujeito preenchido, como o inglês e o francês, a
posição argumental disponível na oração matriz é preenchida por um pronome
expletivo, isto é, sem conteúdo semântico, respectivamente pelo it e pelo il.
Encontra-se, em (13b), outra estrutura de alçamento, conhecida como
alçamento padrão. Como se pode observar, essa construção se caracteriza pelo
alçamento do DP sujeito da oração encaixada para a esquerda do verbo de
alçamento, onde ele recebe caso nominativo de flexão, enquanto o verbo da
4
Diversos estudos focalizaram o verbo parecer sob diferentes perspectivas teóricas. O autor deste trabalho
investigou tal verbo, em trabalho de final de curso ministrado pela professora Célia Lopes, em uma estrutura que
se assemelha à de um marcador discursivo (cf. Martelotta, Votre e Cezario 2004):
(i) O concurso já foi feito dentro da escola, dentro da Escola da Aeronáutica e era no Campo dos
Afonsos, aqui no Rio de Janeiro. Depois, eles tiraram isso daqui e colocaram lá em Pirassununga,
parece. (Henriques 2006a)
Gonçalves (2003), em sua tese de doutorado, focaliza o verbo parecer, sob a perspectiva funcionalista.
11
subordinada apresenta a forma infinitiva.
Em (13c), encontra-se uma estrutura de deslocamento, que exibe o
alçamento do sujeito da oração encaixada para uma posição externa à sentença.
Dessa forma, a posição disponível à esquerda do verbo de alçamento apresenta um
expletivo nulo, o verbo de alçamento se mantém na terceira pessoa do singular e o
verbo da subordinada, que se encontra flexionado, atribui Caso ao seu sujeito nulo
[ø], coindexado com o DP em TopP.
Finalmente, em (13d) e (13e), observamos, ao mesmo tempo, o alçamento do
sujeito da subordinada para a posição à esquerda do verbo de alçamento e a flexão
dos dois verbos, o da oração matriz e o da oração encaixada. Ferreira (2000) refere-
se a essa estrutura como hiperalçamento. Tal construção constitui um desafio à
teoria sintática. Se um DP só pode receber Caso uma vez, como explicar as duas
formas flexionadas em relação de concordância com o mesmo DP?
Dentro da perspectiva minimalista, Ferreira (2000) e Martins e Nunes (2005)
atribuem ao enfraquecimento da morfologia verbal no PB a possibilidade de uma
sentença finita (T finito) atribuir Caso “opcionalmente”. Quando T(ense) da
encaixada é defectivo, não podendo atribuir Caso ao seu especificador, este é
alçado para a posição de especificador de T da sentença mais alta, onde o Caso é
atribuído / checado.
Mais recentemente, Martins e Nunes (2007) distinguem as estruturas de
“hiperalçamento” das de “hiperalçamento aparente”, o que os leva a considerar os
exemplos em (13d) e (13e) acima, aqui repetidos em (14), como duas estruturas de
derivação diferente:
(14) [
TP
Os jovens
i
parecem [
CP
que (eles)
i
estudam muito]].
Na construção com o pronome da encaixada nulo, tem-se o verdadeiro
hiperalçamento. Como T é defectivo, o sujeito é alçado, deixando um vestígio (t) de
movimento, como ilustrado em (15):
(15) [
TP
Os jovens
i
parecem [
CP
que t
i
estudam muito]].
Em relação às estruturas em que se tem um pronome expresso na encaixada,
os autores lançam mão da orientação do PB para o discurso e propõem que o DP é
12
gerado em [Spec, TopP] da encaixada. Na falta de um expletivo nulo na numeração,
o T da matriz pode concordar com o tópico encaixado, atraindo-o para seu
especificador a fim de checar o EPP (Extended Projection Principle), como mostram
(16 a,b):
(16) a. [
TP
Parece [
CP
que [
TopP
os jovens
i
[
TP
eles
i
estudam muito]]]].
b. [
TP
Os jovens
i
parecem [
CP
que [
TopP
t
i
[
TP
eles
i
estudam muito]]]].
Embora uma discussão sobre a pertinência dessas propostas fuja aos limites
deste trabalho, optamos por manter as análises oferecidas por Martins e Nunes
(2005, 2007), utilizando a distinção “hiperalçamento” e “hiperalçamento aparente”
para as ocorrências ilustradas em (15) e (16), buscando investigar se há motivações
diferentes para a diferença na representação do sujeito da encaixada. Nossa opção
se deve ao fato de que, como se trata de um único argumento, o alçamento é uma
explicação plausível para a estrutura (15); quanto à sentença em (16), é inegável
que a estrutura de sujeito deslocado à esquerda é freqüente no PB, bem como a
concordância entre um verbo que não seleciona argumento externo e um tópico
5
, o
que torna a proposta bastante coerente.
O comportamento dos demais verbos de alçamento é diferente, pois apenas
duas estruturas são possíveis. É possível separar tais verbos em três grupos: os que
selecionam um CP, um InfP / GerP ou um PP. Abaixo, encontram-se exemplos de
verbos que selecionam um CP nas estruturas sem alçamento. Em (17), estão as
construções sem alçamento e, em (18), as estruturas de alçamento padrão com
esses verbos:
(17) a. [
IP
expl
] Acabou [
CP
que os meninos foram ao colégio]].
b. [
IP
expl
] Só faltou [
CP
que os pais de Milena batessem na menina]].
c. [
IP
expl
] Custou [
CP
que os pais entendessem a situação]].
d. [
IP
expl
] Bastava [
CP
que os políticos tomassem uma atitude]].
e. [
IP
expl
] Convinha [
CP
que você chegasse lá mais cedo]].
5
É bastante conhecida a ocorrência de construções com o sujeito deslocado à esquerda em PB, apresentada em
(i), bem como são notórios os casos de concorncia entre um tópico e um verbo que não seleciona argumento
externo, em (ii):
(i) Eu acho [
CP
que [
TopP
o povo brasileiro
i
[
TP
ele
i
tem uma grave doença]]]. (Duarte 1995)
(ii) [
TP
Essas janelas ventam muito]. (Pontes 1987)
13
(18) a. [
IP
Os meninos
i
acabaram [
GerP
t
i
indo ao colégio]].
b. [
IP
Os pais de Milena
i
(só) faltaram [
InfP
t
i
bater na menina]].
c. [
IP
Os políticos
i
bastavam [
InfP
t
i
ter tomado uma atitude]].
d. [
IP
Você
i
convinha [
InfP
t
i
chegar lá mais cedo]]
6
.
A seguir, em (19), são apresentados exemplos de verbos que selecionam,
nas estruturas sem alçamento, um InfP. Em (20), as construções com alçamento
padrão com tais verbos são apresentadas:
(19) a. [
IP
expl
] Faltou [
InfP
os pais de Milena irem ao encontro]].
b. [
IP
expl
] Bastou [
InfP
os políticos tomarem uma atitude]].
c. [
IP
expl
] Convinha [
InfP
eu prestar atenção às aulas]].
d. [
IP
expl
] Custou [
InfP
os pais entenderem a situação]]
(20) a. [
IP
Eu
i
só falto [
InfP
t
i
estudar mais]].
b. [
IP
O João
i
basta [
InfP
t
i
acreditar no pai]].
c. [
IP
Eu
i
convinha [
InfP
t
i
prestar atenção às aulas]].
d. [
IP
(eu)
i
Custo [
PP
t
i
a acreditar na palavra de político]].
Por fim, são apresentados os verbos que selecionam um PP. Em outras
palavras, a oração encaixada é introduzida por uma preposição. Em (21),
apresentam-se exemplos sem alçamento; em (22), as construções de alçamento
padrão:
(21) a. [
IP
expl
] Leva 1 ano [
PP
para o diploma ficar pronto]].
b. [
IP
expl
] Demorou (1 ano)
7
[
PP
para o diploma ficar pronto]].
(22) a. [
IP
(eu)
i
Levo o dia inteiro [
PP
para t
i
resolver todos os problemas]].
6
Por mais estranheza que as sentenças de alçamento com convir possam causar, o exemplo (20c) foi colhido de
fala espontânea. Na escrita, foi atestado pelo menos um exemplo, em texto de Millôr Fernandes:
(i) E convenho (!) lembrar: “Mineiro nunca é o que parece. Sobretudo quando parece o que é.
(Millôr Fernandes, Veja, 24 de maio de 2006). (A exclamação depois de “convenho” é do autor.)
7
Embora, o constituinte “1 ano” esteja relacionado aos verbos demorar e levar, seu papel em cada sentença é
diferente. Se por um lado, tal constituinte faz parte da estrutura argumental com o verbo levar, por outro, com
demorar, ele desempenha a função de adjunto adverbial. Neste caso, portanto, ele é um constituinte opcional.
14
b. [
IP
Os alunos
i
demoraram [
PP
para t
i
fazer a atividade]].
Em linhas gerais, até o momento, apresentou-se uma definição do conceito
de alçamento, enfatizando que o deslocamento sintático só é possível devido à
posição argumental disponível à esquerda dos verbos de alçamento. Além disso,
mostrou-se que alguns verbos selecionam como argumento interno um CP e outros
selecionam um InfP ou um PP.
1.3 As construções de alçamento na tradição gramatical
As gramáticas tradicionais reúnem as construções a que nos referimos como
construções de alçamento num conjunto de estruturas que apresentam um verbo
impessoal na oração principal e uma subordinada classificada como substantiva
subjetiva introduzida por uma conjunção integrante ou uma reduzida de infinitivo (cf.
Bechara 1985 [1977], Cunha e Cintra 2001, Rocha Lima 2003 [1982])
8
.
Em nenhum momento da descrição das substantivas subjetivas são
apresentadas quaisquer observações, seja quanto à impossibilidade de mover a
oração para a posição à esquerda do verbo da oração principal, seja quanto à
possibilidade de alçamento do sujeito do verbo da subordinada.
Rocha Lima (2003) apresenta os principais esquemas de construção em que
as subordinadas subjetivas figuram, pois, segundo o autor, costuma haver certa
dificuldade em reconhecê-las. Para que uma oração seja identificada como
subjetiva, segundo a regra, o verbo da oração principal (cabe lembrar que o
interesse está na presença de um verbo de alçamento na oração matriz) deve estar
na 3ª pessoa do singular e ser seguido por uma conjunção integrante. Além disso, o
autor apresenta os diferentes valores semânticos dos verbos que podem aparecer
na oração principal: parecer está inserido no grupo semântico de “dúvida” e convir
no grupo de “conveniência”.
De um modo geral, não se pode considerar satisfatório o tratamento que as
gramáticas tradicionais dão às estruturas com parecer, convir, entre outros, pois
nunca mencionam a razão da dificuldade em classificar as orações que os seguem,
nem oferecem uma explicação para a estrutura com o sujeito da subordinada movido
8
Em relação à classificação de orações, encontram-se, nas gramáticas, exemplos com somente quatro dos verbos
de alçamento focalizados neste trabalho: parecer e convir, em orações desenvolvidas; bastar, que aparece no
grupo das reduzidas (Cunha e Cintra 2001) e custar, que, quando tem o sentido de ‘ser custoso’, ‘ser dicil,
apresenta, necessariamente, uma oração reduzida como seu sujeito (Rocha Lima 2003).
15
para a posição de sujeito sintático da principal. Poucos são os filólogos e gramáticos
que chamam a atenção para tais construções.
Ao tratar da concordância com sentenças infinitivas, Said Ali (1966) e Mendes
de Almeida (1969) afirmam que parecer faculta duas construções, ou, segundo as
palavras de Said Ali (op. cit.), “parecer pode ser usado tanto impessoal como
pessoalmente”. As duas possibilidades estruturais registradas pelos autores são
apresentadas abaixo, em exemplos retirados de Mendes de Almeida (op. cit.:501):
(23) a. Eles parecem estar doentes.
b. Eles parece estarem doentes.
Verifica-se, em (23), que a concordância pode estar tanto no verbo parecer
quanto no outro verbo (no caso, estar). Em outras palavras, novamente retomando
Said Ali (1966), parecer pode ser usado de forma impessoal (sem um sujeito) e de
forma pessoal (com um sujeito). Para Mendes de Almeida (1969), em (23a), parecer
atua como verbo de ligação e a oração [estar doentes] é o seu predicado. Por outro
lado, em (23b), parecer é empregado intransitivamente, ou seja, ele tem o seu
sentido completo, enquanto a oração [eles estarem doentes] é o seu sujeito. A
sentença em (23b), segundo o autor, é equivalente a duas possibilidades estruturais,
apresentadas em (24):
(24) a. [[ø
expl
] Parece [estarem eles doentes]].
b. [[ø
expl
] Parece [que eles estão doentes]].
Pode-se, a partir dos exemplos extraídos de Mendes de Almeida (1969),
concluir que: (i) temos em (23a) uma construção de alçamento padrão, representada
em (23a’); (ii) em (23b), o sujeito da subordinada está deslocado numa posição de
tópico, como evidencia a não concordância com parecer (cf. (23b’)). O Caso é
atribuído ao pronome nulo pelo infinitivo flexionado.
(23) a’. [
IP
Eles
i
parecem [
InfP
t
i
estar doentes]].
b’. [
TopP
Eles
i
[
IP
expl
] parece [
IP
ø
i
estarem doentes]]].
16
O deslocamento, ilustrado em (23b’) é apresentado em Cunha e Cintra (2001)
nas seções dedicadas às figuras de sintaxe, sendo chamado de anacoluto ou
“quebra na sintaxe”. De acordo com os autores, esse fenômeno abarca uma
mudança na construção sintática no meio do enunciado, geralmente depois de uma
pausa, e é muito comum na linguagem falada. Rocha Lima (2003), utiliza a
expressão ‘desconexão sintática’ (:489) para se referir a esse elemento deslocado.
Na sentença em (25), retirada de Cunha e Cintra (op. cit.:630), encontra-se um
exemplo dessa estrutura:
(25) [
TopP
Eu
i
[
IP
expl
] parece-me
i
[
CP
que ø
i
ainda não ofendi ninguém!]]]
.
Os autores adotam a seguinte explicação para o que denominam um “desvio
na construção sintática”: o pronome, que seria o sujeito de parecer, fica sem função
e a 1ª pessoa passa a ser representada pelo clítico me. A simples possibilidade de
realizar foneticamente o pronome nulo, sujeito de “ofendi”, desmente tal explicação.
E o que dizer do hiperalçamento? Embora tal estrutura não seja tratada nas
gramáticas, registre-se o fato de ela ter chamado a atenção de Bechara (1985 :227),
que se refere a ela, em uma nota de rodapé, como uma pessoalização do verbo
parecer, ilustrando-a com um exemplo de Marquês de Maricá:
(26) Nunca nos esquecemos de nós, [
IP
ainda quando ø
i
parecemos [
CP
que mais
nos t
i
ocupamos dos outros]].
Em relação aos demais verbos, o alçamento padrão com o verbo custar
recebe destaque em Rocha Lima (2003 :428). O autor afirma que construções como
Custo a crer nisso e “Custamos a resolver o problema” foram vulgarizadas a partir
do Romantismo e que correspondem à “contribuição brasileira à sintaxe e à
semântica” do verbo. Rocha Lima discute, ainda, os diferentes valores semânticos
de custar, que estariam diretamente relacionados à presença ou ausência de uma
preposição introduzindo a oração subordinada. Examinemos as sentenças em (27).
(27) a. Custou-lhe fazer todos os exercícios.
b. João custou a fazer todos os exercícios.
17
Se por um lado, para o autor, o verbo custar em (27a) tem o sentido de ‘ser
custoso’, ‘ser difícil’, por outro, em (27b), tal verbo possui o valor semântico de
‘demorar’. Ou seja, neste último caso, há uma “convizinhança semântica” entre os
dois verbos. Em suma, depreende-se que a preposição é importante na
determinação do valor semântico de custar. Além disso, a partir dos exemplos
apresentados por Rocha Lima, é possível questionar se a presença de um clítico ou
um SP dativo (ao João) junto ao verbo de alçamento e a ausência de uma
preposição introduzindo a oração subordinada estão interligadas. Se se leva em
conta a redução no quadro de clíticos do PB (cf. Freire 2000, 2005, entre muitos
outros), tem-se motivo para supor que a preferência pelo alçamento com os verbos
de alçamento pode se dever a essa simplificação.
Temos, então, se não um tratamento aprofundado ou unificado das
construções aqui analisadas, pelo menos a certeza de que as quatro estruturas são
possíveis com o verbo parecer há já bastante tempo no português, apesar de o
hiperalçamento ser visto quase como um descuido, e o deslocamento, como um
desvio. Quanto ao alçamento padrão, não há menção a outros verbos além de
custar. Não há, tampouco, qualquer prescrição contrária ao seu uso.
Na próxima seção, são apresentados alguns estudos diacrônicos e
sincrônicos sobre a mudança na marcação do PSN em PB, e alguns de seus
possíveis reflexos no sistema.
1.4 Pontos de partida: estudos sincrônicos e diacrônicos
Nos últimos anos, pesquisas sobre o português falado do Brasil apontam para
o fato de que a posição do sujeito pronominal vem se caracterizando pela forma
plena, tanto para os de referência definida quanto para os de referência arbitrária (cf.
Duarte 1993, 1995, 2000). Investigando os reflexos dessa mudança em direção ao
preenchimento do sujeito pronominal no sistema, diversos trabalhos apontam que as
construções com os verbos de alçamento vêm sendo afetadas. Nesta seção,
apresentam-se os resultados encontrados em diversos estudos, que servem de
pontos de partida para este trabalho.
1.4.1 Os sujeitos referenciais
Tanto em pesquisa de cunho diacrônico (Duarte 1993) quanto em pesquisas
sincrônicas (Duarte 1995, 2003a, para fala culta e popular, respectivamente), ficou
18
evidenciado o aumento progressivo no preenchimento de sujeitos pronominais no
Português Brasileiro, tanto os de referência definida quanto os de referência
indeterminada. Os resultados indicam que o PB está se tornando uma língua
negativamente marcada em relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981),
ao contrário do que ocorria em estágios anteriores do português no Brasil, como
pode ser observado na análise de peças teatrais, empreendida por Duarte (1993), e
ainda ocorre no Português Europeu (PE), no espanhol e no italiano, como apontam
as pesquisas quantitativas de Duarte (1995), Soares da Silva (2006) e Marins
(2007), respectivamente.
Em sua análise de peças de teatro popular, Duarte (1993) sugere que a
mudança em curso no PB em relação ao preenchimento do sujeito pronominal de
referência definida estaria diretamente interligada à redução do quadro dos
paradigmas flexionais verbais. A tabela 1.1 a seguir, adaptada de Duarte (1993),
mostra os diferentes estágios do quadro de paradigmas verbais em PB:
Pessoa Pronomes Paradigma 1 Paradigma 2 Paradigma 3
1ª singular
Eu cant o cant o cant o
2ª singular
Tu
Você / Tu
cant a s
cant a
-
cant a
-
cant a
3ª singular
Ele / Ela cant a cant a cant a
1ª plural
s
A gente
cant a mos
-
cant a mos
cant a
-
cant a
2ª plural
Vós
Vocês
cant a is
cant a m
-
cant a m
-
cant a m
3ª plural Eles / Elas cant a m cant a m cant a m
Tabela 1.1: Paradigmas flexionais em PB
A simplificação dos paradigmas flexionais é proposta inicialmente no estudo
diacrônico de Duarte (1993) e retomada em sua análise da fala culta carioca (Duarte
1995). Como se pode observar na tabela acima, o paradigma que antes era
19
constituído por seis diferentes morfemas (paradigma 1), hoje está reduzido a quatro
(paradigma 2) e, na fala dos grupos mais jovens, a apenas três (paradigma 3).
Em linhas gerais, segundo a autora, a mudança no quadro se deve,
principalmente, à perda da distinção entre as formas verbais para a referência à
segunda pessoa do singular, levando à neutralização de formas como tu canta –
você canta’ e à concorrência entre ‘nós’ e ‘a gente’ para referência à primeira pessoa
do plural. Portanto, devido a diversas mudanças no quadro pronominal em PB, uma
forma como ‘canta’ pode estar relacionada a várias pessoas do discurso: ‘você / tu
canta’, ‘a gente canta’ e, se o falante não apresentar a marca de concordância no
plural, ‘vocês canta’, ‘eles canta’ e ‘nós canta’.
Os dados apresentados em Duarte (1993), referentes à análise de textos
teatrais escritos nos séculos XIX e XX, já apontam para uma notável simplificação
nos paradigmas flexionais e sua relação com a ocorrência do sujeito expresso. Por
outro lado, o espanhol, o italiano e o PE apresentam um paradigma flexional rico, o
que, além de licenciar e identificar sujeitos nulos referenciais, licencia um sujeito
expletivo nulo
9
. Duarte (1995) afirma que os elevados índices de sujeitos nulos no
espanhol peninsular e no italiano podem ser creditados aos seus paradigmas
verbais, os quais exibem desinências distintivas para cada pessoa gramatical. O
inglês, entretanto, apresenta em seu paradigma uma única forma distintiva: a
terceira pessoa do singular no tempo presente. Por sua vez, o francês medieval, à
semelhança do que vem ocorrendo no PB, perdeu a propriedade de língua de sujeito
nulo paralelamente à redução de seu quadro de paradigmas flexionais (cf. Duarte
1995).
No gráfico 1.1, encontram-se os resultados gerais oriundos da análise de
peças teatrais (cf. Duarte 1993). Percebe-se que o índice de sujeitos nulos reduz
progressivamente à medida que o paradigma flexional em PB é simplificado. Note-se
que nos três primeiros períodos de tempo analisados, quando vigorava um
paradigma flexional rico, os índices de ocorrência do sujeito nulo eram superiores a
70%. À medida que o paradigma se reduz, verifica-se uma crescente preferência
pelo sujeito expresso. Nas peças de 1937 e 1955, com o paradigma 2, os índices de
sujeito nulo já não são tão altos. Por fim, em 1975 e 1992, quando prevalece o
paradigma 3, percebe-se uma clara preferência pelo preenchimento da posição do
9
Haegman (1994) relaciona o parâmetro prodrop ao paradigma flexional das línguas. Segundo a
autora, línguas que apresentam um paradigma rico, freqüentemente, licenciam o sujeito nulo.
20
sujeito pronominal. Portanto, a preferência pelo sujeito pleno acompanha a evolão
do quadro de paradigmas flexionais, o que confirma a hipótese de Duarte (1993).
Os resultados encontrados para a peça de 1992 estão muito próximos dos
obtidos por Duarte (1995, 2003a), que revelam a crescente preferência pelo sujeito
referencial pleno. Duarte (1995), com base na fala culta carioca, focaliza os sujeitos
de referência definida, revelando que contextos estruturais em que uma língua de
sujeito nulo deixaria vazia a posição de sujeito vêm sendo preenchidos por um item
lexical. A fala popular, à semelhança do que foi apontado para a fala culta, tamm
apresenta elevados índices de preenchimento do sujeito pronominal referencial (cf.
Duarte 2003a).
Gráfico 1.1: Sujeitos nulos em peças teatrais (Duarte 1993)
Em (28a) e (28b), encontram-se sujeitos de referência definida e arbitrária,
respectivamente, que evidenciam a mudança não somente em termos quantitativos,
mas tamm qualitativos, com a expressão de pronomes correferenciais em orações
encaixadas, sem qualquer ambigüidade que levasse a tal preenchimento numa
língua de sujeito nulo do tipo românico:
(28) a. Ela
i
ganha bem, mas eu acho que ela
i
devia ganhar mais porque ela
i
merece. (Duarte 2003a)
b. Você
i
, quando você
i
viaja, você
i
passa a ser turista. Então você
i
passa a
fazer coisas que você
i
nunca faria no Brasil. (Duarte 1995)
Sujeitos nulos em peças teatrais
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
1845 1882 1918 1937 1955 1975 1992
21
Os índices de preenchimento do sujeito referencial encontrados nos referidos
estudos apontam que o PB está, de fato, passando por uma mudança na marcação
do Parâmetro do Sujeito Nulo: de língua positivamente marcada em relação ao
parâmetro para uma língua negativamente marcada. Os dados indicam, ainda, que a
mudança afeta as três pessoas gramaticais. No entanto, nota-se uma resistência
maior da terceira pessoa e da primeira pessoa do plural ‘nós’, que apresenta uma
desinência mais saliente quando comparada às demais, apesar da freqüência de
uso deste pronome ser muito baixa na fala dos grupos mais jovens (cf. Duarte 1995;
Barbosa, Duarte e Kato 2005).
A mudança paramétrica pela qual está passando o PB deixa alguns
“vestígios” ou “efeitos colaterais” no sistema. Duarte (1995) mostra que o primeiro
subproduto da mudança em curso está na significativa ocorrência de estruturas com
o sujeito deslocado à esquerda, conhecidas também como construções de duplo
sujeito. Em (29), encontram-se exemplos de tal estrutura, retirados de Duarte (1995,
2003a).
(29) a. A Clarinha
i
ela
i
cozinha que é uma maravilha.
b. A minha filha
i
, quando era pequena, ela
i
sempre desceu, sempre brincou lá.
c. Mulher nenhuma
i
ela
i
pode querer dominar o homem. O homem
i
ele
i
é livre
por natureza. A mulher
i
ela
i
tem que aceitar isso.
1.4.2 Os sujeitos não referenciais
Com base nos resultados para os sujeitos referenciais, a pergunta seguinte
que o pesquisador interessado na mudança lingüística se faz, particularmente na
questão do “encaixamento”, seria: o contexto do sujeito não referencial seria, de
alguma forma, afetado pela mudança na marcação do PSN (Chomsky 1981)? Em
busca de possíveis subprodutos da mudança, Duarte (2003b) desenvolve diferentes
estudos focalizando, inicialmente, as sentenças existenciais com ter e haver. Os
resultados sugerem que a preferência pelo verbo ter teria aberto caminho para as
construções pessoais
10
(cf. ainda Callou e Avelar 2002, Avelar 2006, Duarte 2003b,
Callou e Duarte 2005, entre outros).
10
Já em 1996, Duarte chamava a atenção para um crescente uso de “você”, além de outras formas nominativas
com ter existencial:
(i) Você não tem mais comércio no centro da cidade.
22
Em seguida, foram investigados os verbos inacusativos que selecionam como
argumento interno um DP. Buscava-se observar se a posição disponível à esquerda
desses verbos, que igualmente não selecionam um argumento externo, seria
preenchida quer com o deslocamento do argumento interno para a posição de Spec
de IP quer com a inserção de outros elementos. Embora a ordem V DP ainda seja
muito freqüente com esses verbos, os índices encontrados apontam que esse
contexto tamm é, de alguma forma, afetado pela mudança paramétrica em curso
no PB
11
(cf. Duarte 2003b, Santos e Duarte 2005, Santos 2006, entre outros).
Finalmente, a análise enfocou as construções com verbos de alçamento
dentro da mesma “perspectiva paramétrica”, numa investigação de que participou o
autor desta dissertação como bolsista de Iniciação Científica (cf. Duarte 2003b,
2004, 2007; Henriques 2005; Henriques e Duarte 2006). Esses estudos mostram
que, de fato, há um crescimento no uso das estruturas de hiperalçamento na fala e
de alçamento padrão na escrita, o que evidencia uma tendência a realizar
foneticamente uma posição não temática. Na falta do desenvolvimento de um
expletivo lexical, como parece ocorrer, por exemplo, no espanhol da República
Dominicana
12
(cf. Toribio 1996), o PB usa elementos com conteúdo semântico para
preencher essa posição.
Em Henriques (2005) e Henriques e Duarte (2006) investigou-se o
comportamento dos verbos de alçamento, em particular o verbo parecer, que
permite o hiperalçamento, na fala popular e na escrita padrão de PB. A análise
quantitativa da fala utilizou duas amostras de fala popular carioca, constituídas pelo
Projeto PEUL (Programa de Estudos sobre o Uso da Língua), representativas de
dois períodos de tempo: anos 80 e anos 2000. Ou seja, fez-se um estudo da
mudança em tempo real de curta duração (cf. Paiva e Duarte 2003).
Nos gráficos 1.2, abaixo, encontram-se os resultados gerais para a fala
popular (reunindo alçamento versus não alçamento), agrupando as ocorrências com
parecer e com os demais verbos. Os resultados para a fala popular, aqui
11
Embora freqüentes na fala espontânea, como já apontava Pontes (1987), sentenças como (i), abaixo, não são
encontradas nas entrevistas sociolingüísticas:
(i) Meu tecladoo es funcionando o acento. ([ø
expl
]
o está funcionando o acento do teclado)
12
Segundo Toribio (1996), uma variedade do espanhol dominicano desenvolveu o expletivo ello, que aparece
em construções como:
(i) a. ello hay muchos mangos en este año
b. ello lhegan guagas a toda hora.
c. ello parece que va a llover.
23
apresentados, se encontram também em Duarte, Martins e Nunes (2002), Duarte
(2003b, 2004, 2007).
Gráficos 1.2: Alçamento versus não alçamento na fala popular com todos os verbos de alçamento
Percebe-se que, em ambos os períodos analisados, há uma nítida preferência
pelo alçamento do sujeito do verbo da oração encaixada, com cerca de 60% nos
anos 80 e 66% nos anos 2000. Na tabela 1.2, abaixo, são apresentados com
maiores detalhes as ocorrências de alçamento em relação ao verbo parecer.
Tabela 1.2: Construções com parecer na fala popular
Os resultados para a fala popular apresentados na tabela acima indicam que
(a) diminui no tempo real de curta duração a ocorrência de construções sem
alçamento, passando de 64% para 48%; (b) o hiperalçamento já é freqüente no
primeiro momento e cresce em 10% no segundo; (c) o deslocamento tem baixíssima
freqüência, enquanto o alçamento padrão se revela como uma estrutura em extinção
na fala popular.
Duarte (2007) aponta, em relação à fala popular, para a possibilidade de
hiperalçamento com o verbo acabar, o que poderia sugerir uma mudança em curso
na mesma direção de parecer. Em (30), é apresentado um exemplo de
hiperalçamento com acabar.
Ocorrências com parecer na fala popular
Anos 80 Anos 2000
(1) Sem alçamento
26 (64%) 23 (48%)
(2) Alçamento padrão
- 1 (02%)
(3) Deslocamento
1 (02%) 3 (06%)
(4) Hiperalçamento
14 (34%) 21 (44%)
Total 41 (100%) 48 (100%)
Início dos Anos 80
60%
40%
Alçamento Não Alçamento
Anos 2000
34%
66%
Alçamento Não Alçamento
24
(30) a. Aí, chega: me dá aqueles papeizinhos, me dá aqui, me dá ali, “vote nesse,
vote nesse, vote nesse”. [
IP
E eu
i
acabo [
CP
que t
i
não sei]], não sei mesmo.
Em relação aos demais verbos de alçamento, encontra-se um resultado
quase categórico: há uma supremacia na ocorrência do alçamento padrão, com mais
de 80%. Os resultados encontrados, em ambos os períodos de tempo analisados,
indicam que a preferência pelo alçamento com esses verbos começou a se
implementar há mais tempo do que o alçamento com parecer (cf. Duarte 2007). A
tabela 1.3 apresenta os índices encontrados detalhadamente:
Ocorrências com demais verbos na fala
Anos 80 Anos 2000
(1) Sem alçamento
10 (20%) 10 (18,5%)
(2) Alçamento clássico
39 (80%) 44 (81,5%)
Total 49 (100%) 54 (100%)
Tabela 1.3: Construções com os outros verbos de alçamento
Em Henriques (2006b) foram investigadas as construções de alçamento na
fala culta carioca com o verbo parecer. Para isso, utilizou-se a amostra do Projeto
NURC (Norma Lingüística Urbana Culta), constituída por diversos inquéritos
distribuídos em dois períodos de tempo distintos, um nos anos 70 e o outro nos anos
90. Fez-se, portanto, à semelhança do estudo sobre a fala popular, um estudo em
tempo real de curta duração. Encontramos a distribuição dos dados na tabela 1.4,
abaixo:
Ocorrências com parecer
Anos 70 Anos 90
(1) Sem alçamento
39 (87%) 14 (74%)
(2) Alçamento padrão
1 (2%) -
(3) Deslocamento
- 1 (5%)
(4) Hiperaamento
5 (11%) 4 (21%)
Total 45 (100%) 19 (100%)
Tabela 1.4: Construções com parecer na fala culta
Os dados apresentados apontam diferenças percentuais significativas em
relação à fala popular, com a preferência pelas estruturas sem alçamento, embora,
no segundo momento, já se note uma redução de 13%. Quanto ao hiperalçamento,
vêem-se índices inferiores aos da fala popular, mas há igualmente uma tendência de
25
aumento (10%). Atente-se, entretanto para a semelhança no que diz respeito à
quase ausência absoluta do alçamento padrão e do deslocamento.
Embora tanto nos dados do NURC quanto nos do PEUL tenham sido
encontradas ocorrências de hiperalçamento, é possível observar algumas
diferenças: na fala popular, os constituintes alçados para a esquerda do verbo de
alçamento pertencem a diferentes pessoas do discurso (3ª pessoa do singular e do
plural e 1ª pessoa do singular); por outro lado, na fala culta, só foram encontrados
sujeitos de terceira pessoa do singular, uma estratégia ambígua entre
hiperalçamento e deslocamento. Entretanto, a ocorrência de construções com
elemento deslocado em sentenças com a primeira pessoa do singular ou com a
terceira do plural, por exemplo, permite considerar tais ocorrências como instâncias
de hiperalçamento. Em (31a) e (31b), encontram-se, respectivamente, exemplos de
hiperalçamento na fala culta e na fala popular:
(31) a. [
IP
Nova Trento
i
sempre parece [
CP
que t
i
acabou de ser construída na
véspera de tão bem tratada]], mas foi-se embora, de maneira assim, bastante
violenta, toda uma forma de edificação.
b. [
IP
Eu
i
pareço [
CP
que t
i
vou explodir de raiva]]
Em Henriques (2005) e Henriques e Duarte (2006) foram investigadas as
construções de alçamento na escrita padrão de PB. Para isso, foi utilizada uma
amostra também constituída pelo Projeto PEUL, com base em textos de opinião,
crônicas, notícias e reportagens publicados nos jornais Povo, Extra, O Globo e
Jornal do Brasil, entre 2002 e 2004. No gráfico 1.3, apresentam-se os resultados
gerais, reunindo, novamente, alçamento versus não alçamento.
Alçamento x Não Alçamento
87%
13%
Alçamento Não Alçamento
26
Gráfico 1.3: Alçamento versus não alçamento na escrita padrão com todos os verbos
Verifica-se no gráfico acima uma forte preferência pelo preenchimento da
posição disponível à esquerda dos verbos de alçamento (87%). A tabela 1.5
apresenta mais detalhadamente os resultados encontrados.
Ocorrências com parecer na escrita
(1) Sem alçamento
20 (17%)
(2) Alçamento padrão
89 (75%)
(3) Deslocamento
-
(4) Hiperalçamento
9 (8%)
Total 118 (100%)
Tabela 1.5: Construções com parecer na escrita padrão
Os resultados indicam que a escrita privilegia o alçamento padrão com cerca
de 75%, indo num sentido diametralmente oposto ao da fala. Além disso, já
apresenta umamida ocorrência do hiperalçamento (8%), um indício de que essa
estrutura, que não é descrita pelas gramáticas, já se implementa nessa modalidade.
Abaixo, em (32), apresenta-se um exemplo de hiperalçamento retirado da
amostra de escrita de jornais cariocas constituída pelo Projeto PEUL. A maioria dos
dados foram encontrados no gênero crônica, que apresenta um caráter mais
informal, aproximando-se, portanto, da fala:
(32) [
IP
Com os anos, as idéias
i
parecem [
CP
que t
i
vão ficando cada vez mais
longe]], enquanto o seu poder de convocá-las diminui.
A tabela 1.6 revela os índices encontrados para os demais verbos de
alçamento. Verifica-se que o alçamento padrão é a opção preferida, com 90%. Tal
como ocorre com o verbo parecer, não há qualquer restrição por parte das
gramáticas em relação a essa construção; daí sua ocorrência se dar mais
prontamente nas três pessoas do discurso (cf. Henriques e Duarte 2006).
Ocorrências com os outros verbos na escrita
(1) Sem alçamento
14 (10%)
(2) Alçamento padrão
126 (90%)
Total 140 (100%)
27
Tabela 1.6: Construções com os outros verbos na escrita padrão
Os estudos sincrônicos sobre as constrões de alçamento, aqui brevemente
descritos, motivaram um estudo, utilizando cartas familiares e cartas mais formais
escritas em fins de século XIX no período entre 1866 e 1889 (Henriques 2007).
Trabalhou-se com duas amostras constituídas pelo Projeto PHPB-Rio (Para uma
História do Português Brasileiro). Abaixo, as amostras são descritas:
(a) a primeira amostra é composta por cartas enviadas por diversos
remetentes a Rui Barbosa, no período de 1866 a 1899, que constam do
Arquivo de Rui Barbosa - Inventário Analítico da Série Correspondência Geral
Vol. 1 – Correspondentes usuais: pessoas físicas (Fundação Casa de Rui
Barbosa, Rio de Janeiro);
(b) a segunda amostra é constituída por 41 cartas particulares escritas entre
1879 e 1889, pelo casal Christiano Benedicto Ottoni e Bárbara Balbina de
Araújo Maia Ottoni, conhecidos como vovô e vovó, respectivamente. Os
informantes, portanto, pertencem ao mesmo grupo etário, mas a vovó
apresentava um grau de escolaridade menor, o que era comum na época.
Todas as cartas eram endereçadas a seus netos Mizael e Christiano. O avô
escreveu 27 cartas e a avó 14 (cf. Lopes 2005).
O reduzido número de dados obtidos (apenas 14) se deve não só ao fato de
se tratar de amostras curtas, como também à baixa freqüência de construções com
verbos de alçamento que selecionam um argumento interno oracional.
Como pode ser observado na tabela 1.7, os índices apontam para uma
preferência pelas estruturas sem o alçamento do sujeito da encaixada (57%) e pelo
alçamento padrão (36%). O deslocamento, tal como se observa nos dados
sincrônicos, é raro, e o hiperalçamento, ausente. Em outras palavras, o expletivo
nulo é preferido ao alçamento:
Estruturas de alçamento nas cartas pessoais
(1) Sem alçamento
8 (57%)
(2) Alçamento padrão
5 (36%)
(3) Deslocamento
1 (7%)
(4) Hiperalçamento
-
28
Total 14 (100%)
Tabela 1.7: Estrutura de alçamento com todos os verbos
Em (33) e (34) são apresentados, respectivamente, dados retirados das
cartas a Rui Barbosa e das cartas familiares:
(33) a. Em 1879 [
IP
expl
] pareceu a todos os profissionais [
CP
que as aguas dos
rios do Ouro, Santo Antonio e São Pedro: as d’aquelles dous rios, calculadas
em 30.000.000 de litros e as deste em 45.000.000, saptisfasiam as exigencias
da occasião e as de um futuro afastado, por ventura de 50 annos]].
b. Não me esqueci do Lucas
i
, não me tem sido possivel encontralo, na prisão
não está, [
IP
me
expl
] parece [
CP
que ø
i
foi para algum Batalhão]],
(34) a. Como está, [
IP
expl
] parece [
CP
que o zinco é de agoa]].
b. Antes de responder ao que nella nos cõmunicaste, observarei que talvez
por (tu)
i
escreveres pouco, a tua calligraphia ainda naõ me satisfaz: para
melhorar, [
IP
expl
] basta [
CP
que ø
i
escrevas de vagar e caprichando em
formar as letras bem distinctas]].
Dessa forma, os resultados, englobando todos os verbos, aliados aos
resultados encontrados por Duarte em seu estudo diacrônico (1993), permitem uma
análise enriquecedora de como se configurava a posição do sujeito pronominal de
PB em fins doculo XIX.
Todos os estudos apresentados nesta seção estão relacionados à mudança
na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981) em PB. Outros
focalizam, ainda, as conseqüências no sistema dessa mudança em progresso.
Independentemente da perspectiva adotada, se diacrônica ou sincrônica, os
resultados mostram que a crescente preferência pelo preenchimento do sujeito não
referencial dos verbos de alçamento corresponde àquilo que Weinreich, Labov e
Herzog (1968) chamam de “encaixamento” da mudança ou, simplesmente, “efeito
colateral” no sistema.
Neste capítulo, a partir da teoria gerativa, definiu-se o movimento sintático
conhecido como alçamento. Mostrou-se que os verbos de alçamento nada mais são
do que uma expansão dos verbos de cópula. Em seguida, fez-se uma descrição dos
verbos de alçamento, que constituem o foco deste trabalho, além de uma descrição
29
do tratamento que essas construções recebem nas gramáticas tradicionais.
Finalmente, foram mostrados os resultados de diferentes trabalhos empíricos
relacionados à mudança paramétrica em curso no Português Brasileiro. Em linhas
gerais, esses resultados mostram que o hiperalçamento, estrutura aparentemente
inovadora, pode ser considerado um dos “efeitos colaterais” mais evidentes de que o
PB, ao se tornar uma língua [-prodrop], pelo menos no contexto das línguas
românicas, começa a exibir estruturas que não se encontram nem em línguas de
sujeito nulo como o Português Europeu e o italiano, nem em línguas de sujeito
preenchido como o inglês e o francês.
30
2. Pressupostos teóricos e metodologia
Neste capítulo, apresenta-se a linha teórica que orienta este estudo: a
associação dos pressupostos da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981)
e da Sociolingüística Variacionista (Labov 1972, 1994), principalmente a noção de
“encaixamento” da mudança nos moldes de Weinreich, Labov e Herzog (1968).
Pretende-se mostrar como a associação de perspectivas teóricas aparentemente tão
irreconciliáveis e incompatíveis, expressões utilizadas por Duarte (1998), contribui
para uma apurada descrição da sintaxe do PB, no presente caso, da mudança em
direção ao preenchimento do sujeito pronominal. Procura-se mostrar, ainda, que
essa associação entre modelos teóricos distintos corresponde, de fato, a um “feliz
encontro”, ou segundo Kato (2002), a um “feliz casamento”. Na segunda parte do
capítulo, descreve-se a metodologia empregada na investigação, focalizando a
amostra utilizada e descrevendo os grupos de fatores contemplados na análise. Por
fim, são reiterados os objetivos e as hipóteses que orientam o estudo.
2.1 Teoria Gerativa e Teoria da Variação: modelos incompatíveis?
Duarte (1998) inicia seu texto afirmando que nas décadas de 70 e 80 os
conceitos fundamentais da Sociolingüística e da Teoria de Princípios e Parâmetros
eram considerados incompatíveis e irreconciliáveis. Isso acontecia, e ainda acontece
em alguns meios acadêmicos, porque a teoria gerativa se preocupa primordialmente
com a competência do falante (Língua-I), enquanto aquela se interessa pela língua
em uso (Língua-E). Entretanto, como salienta a autora, atualmente ambos os
modelos são empregados numa colaboração amistosa na análise da variação e da
mudança lingüística no Português Brasileiro. Esse “feliz encontro” teórico-
metodológico, que tem sido chamado de Sociolingüística “Paramétrica” e teve em
Tarallo (1987) seu anúncio formal num artigo-manifesto intitulado “Por uma
Sociolingüística românica paramétrica” e uma proposta concreta de associação em
Tarallo e Kato (1989), contribui para o estudo da compreensão da mudança sintática
empreendida pelo PB. A partir de então, muitos têm sido os trabalhos desenvolvidos
sob essa perspectiva, entre os quais Berlinck (1989), Moino (1989), Duarte (1989),
Nunes (1992), Pagotto (1992), Duarte (1995), Cavalcante (1999), como fica
evidenciado em Kato (2002). Para mostrar como essa comunhão entre os modelos
31
gerativista e variacionista é eficaz, faz-se necessário, antes de tudo, descrever cada
perspectiva separadamente e entender seus princípios.
2.1.1 O modelo gerativista
Em linhas gerais, o modelo gerativista enxerga a linguagem como uma
faculdade inata e específica da mente humana
13
. Todo ser humano seria dotado de
um sistema cognitivo inato que faz parte da herança genética, ou seja, seria dotado
de uma faculdade da linguagem. Esse sistema de natureza exclusivamente
lingüística, que recebe o nome de Gramática Universal (GU), permitiria a aquisição
de uma língua complexa, rica e bem articulada a partir dos dados (input) a que o
falante é exposto. Essa interação (GU e dados) levaria ao desenvolvimento daquela,
acarretando a aquisição de uma gramática particular na mente de cada indivíduo. A
descrição do desenvolvimento da faculdade da linguagem dá a impressão de ser
bastante homogênea. Entretanto, Raposo (1992) ressalta que a própria teoria
gerativa reconhece o seu caráter heterogêneo, pois ela interage de maneira
complexa com outros módulos mentais tamm autônomos.
A visão inatista da faculdade da linguagem pode dar a falsa impressão de que
todas as línguas apresentam as mesmas características. Na tentativa de dar conta
da diversidade das línguas, Chomsky (1981) propôs o modelo de Princípios e
Parâmetros. Segundo esse modelo, a GU seria constituída por princípios rígidos,
invariáveis e comuns a todas as línguas naturais, e por princípios abertos chamados
“parâmetros”, que se referem na verdade a limites de variação interlingüística. Ou
seja, os parâmetros admitiriam uma escolha binária de valores [+] ou [-], opções
determinadas pela experiência lingüística do falante, o que explicaria as diferenças
entre as línguas humanas (cf. Mioto, Silva e Lopes 2005).
Um desses princípios seria o que se refere ao fato de todas as línguas
humanas representarem o sujeito. Tomado este princípio, as línguas difeririam no
que diz respeito à expressão do sujeito pronominal, havendo línguas em que o
sujeito é obrigatoriamente expresso e línguas em que o sujeito é preferencialmente
nulo. Temos, então, um parâmetro que ficou conhecido como o Parâmetro do Sujeito
Nulo (PSN). O inglês e o francês, por exemplo, são línguas de sujeito preenchido,
enquanto o italiano e o espanhol são línguas de sujeito nulo. O PB dos séculos XIX
13
Haegeman (1994) assim explica essa noção: “Human beings with normal mental faculties are able to learn any
human language. The innate linguistic endowment must be geared to any human language and not to just one”
(:12).
32
até meados do século XX, como foi apontado em diversos estudos empíricos (cf.
seção 1.4), seria uma língua [+prodrop] prototípica e agora parece estar em franco
processo de mudança em direção ao preenchimento da posição do sujeito
pronominal referencial.
Dessa forma, o modelo gerativista, ao propor um conjunto de propriedades
associadas ao PSN, mostra-se muito útil na investigação dessa mudança em curso.
O modelo Variacionista tamm contribui para uma eficaz análise da mudança do
PB em direção à preferência pelo sujeito pleno. Na próxima subseção, são
apresentadas as suas principais características.
2.1.2 O modelo variacionista
A visão de que a variação é parte inerente a todas as línguas naturais é a
bandeira do modelo Variacionista, que tem seu marco na proposta de Weinreich,
Labov e Herzog (1968, 2006). A Sociolingüística Variacionista (Labov 1972, 1994,
entre outros) defende que a gramática da comunidade de fala consiste em um
sistema heterogêneo e plural, fruto do processo histórico de constituição da língua.
No entanto, tal variação não é aleatória, e sim condicionada por fatores internos à
língua (lingüísticos) e por fatores sociais (extralingüísticos). Portanto, verifica-se um
rompimento com a visão estruturalista de que o sistema lingüístico seria o domínio
da invariância. Em suma, a língua é vista como um sistema heterogêneo, mas
ordenado. O termo “ordenado” atribui à variação um caráter sistemático. Ao lingüista
cabe entender, descrever e explicar essa sistematicidade.
A Sociolingüística não defende somente que a variação é inerente a todos os
sistemas lingüísticos. O modelo tem como um de seus pressupostos a idéia de que é
justamente a variação, ou, em termos sociolingüísticos, a competição de duas ou
mais formas variantes para a realização de uma variável (cf. Labov 1972)
14
, a
condição básica para a mudança, quando se dá a vitória final de uma dessas formas
variantes, chegando-se à resolução de um processo variável.
O modelo Variacionista, segundo Tarallo (2002 [1985]), é um modelo teórico-
metodológico que assume o “caos” lingüístico como objeto de estudo, pois, como
lembra Alkmim (2003), o seu objeto de estudo é a língua falada, que ainda é vista
por muitos como o lugar da desorganização lingüística. Alkmim (op. cit.:33) afirma
14
Autores como Kroch (1989) interpretam essas formas variantes como gramáticas em competição. Tal
pressuposto é bem claro em Avelar (2005) e Cavalcante (2006), entre outros.
33
que a língua falada deve ser observada, descrita e analisada em seu contexto social,
isto é, em situações reais de uso, já que “a Sociolingüística encara a diversidade
lingüística não como um problema, mas como uma qualidade constitutiva do
fenômeno lingüístico”.
Como já foi dito, a variação lingüística é uma etapa vital do processo de
mudança lingüística. Se ao lingüista cabe investigar a mudança lingüística, ele deve
fazer uso de uma teoria que identifique satisfatoriamente as condições que
determinam o início, a velocidade, a direção e o término de cada mudança (cf. Labov
1982; apud Duarte 1998). O modelo variacionista oferece ferramentas que permitem
ao pesquisador investigar, por exemplo, a competição entre sujeito nulo e pleno no
PB.
Assim, a Sociolingüística Variacionista, ao investigar uma mudança em
progresso, tem como foco (a) a propagação ou transmissão das inovações
lingüísticas no sistema; (b) os condicionamentos lingüísticos e extralingüísticos, já
que “fatores lingüísticos e sociais estão intimamente inter-relacionados no
desenvolvimento da mudança lingüística” (Weinreich, Labov e Herzog 2006 :126
[1968]); (c) a transição, isto é, os estágios no processo da mudança; (d) a
implementação dessa mudança e seu “encaixamento” no sistema; (e) a avaliação da
mudança pelos membros de uma comunidade.
O “encaixamento” da mudança nos moldes de Weinreich, Labov e Herzog
(1968) é uma das questões mais importantes no estudo da mudança, pois uma
mudança lingüística sempre é decorrente de outras e ocasiona “efeitos colaterais” no
sistema. Por exemplo, se o PB apresenta uma redução de seu paradigma flexional
verbal, é natural esperar alguma conseqüência no sistema. O PB era uma língua que
apresentava características típicas de língua de sujeito nulo; entretanto, diversos
estudos empíricos apontam uma crescente preferência pelo sujeito pleno (cf. seção
1.4, no capítulo 1). Se alterações tão profundas podem causar alguma conseqüência
no sistema, por que não esperar que a mudança em direção ao preenchimento da
posição do sujeito pronominal o afete de alguma maneira? Assim, surgem algumas
questões: (i) como esse “efeito colateral” se manifestaria no sistema?; (ii) uma vez
constatada a preferência por sujeitos referenciais plenos, os sujeitos não referenciais
tamm seriam afetados? Se levamos em conta o feixe de propriedades associadas
ao PSN, é natural esperar que sim.
34
Através de um tratamento estatístico dos dados coletados, o que leva alguns
estudiosos a rotularem o modelo de análise lingüística proposto por Labov de
“sociolingüística quantitativa” (cf. Tarallo 2002), o modelo variacionista procura
investigar as causas, as etapas e as conseqüências de uma mudança lingüística no
sistema. Não se pode, no entanto, dispensar, como instrumento de análise, no
levantamento das hipóteses de trabalho, no estabelecimento dos grupos de fatores,
na interpretação dos resultados, uma teoria da linguagem (cf. Weinreich, Labov e
Herzog (1968). No presente caso, o modelo de Princípios e Parâmetros da teoria
gerativa constitui essa teoria da linguagem. Como se verá na próxima seção, a
associação entre os modelos gerativista e variacionista permite interpretar os fatos
sem deixar que eles passem por idiossincrasias, conforme aponta Duarte (1999).
2.2 Teoria Gerativa e Teoria da Variação: modelos compatíveis
A discussão sobre qual perspectiva adotar, se a gerativista ou a
variacionista, acreditando que uma pode ser melhor que a outra, remonta à
discussão secular entre empiricistas e racionalistas, bem lembrada por Tarallo e
Kato (1989). Na verdade, o “feliz casamento” (cf. Kato 2002) entre modelos
aparentemente tão discrepantes traz benefícios mútuos. Ou seja, eles se
complementam.
Ao defender que a associação entre as teorias Gerativa e da Variação
enriquece os estudos referentes à mudança sintática do PB, não se pretende
levantar qualquer discussão a respeito de expressões como ‘Sociolingüística
Paramétrica’, como a levantada por Ramos (1999), que prefere ‘Variação
Paramétrica’. Independentemente da nomenclatura mais apropriada, esta
perspectiva parece dar conta do problema do “encaixamento” da mudança, ou
melhor, dos “efeitos colaterais” que o sistema exibe com a mudança paramétrica em
curso no PB. Sendo assim, esta investigação privilegia uma “perspectiva
paramétrica”, expressão utilizada por Duarte (2007).
Se por um lado, o modelo gerativista, a partir de Teoria de Princípios e
Parâmetros (Chomsky 1981), consegue mostrar que a mudança lingüística em
progresso no PB não corresponde a uma idiossincrasia, estando relacionada à
mudança na marcação de um parâmetro, por outro lado, a perspectiva variacionista,
através da Sociolingüística Variacionista de Labov (1972, 1994), aponta as causas
intra e extralingüísticas da variação, já que enxerga uma clara relação entre língua e
35
sociedade.
Há vários estudos referentes à sintaxe do PB que comprovam que a
“comunhão” entre a Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky op. cit.) e a
Sociolingüística Variacionista laboviana (op. cit.) é eficaz. O estudo diacrônico de
Duarte (1993) e outros trabalhos sincrônicos (entre eles Duarte 1995, 2003a, 2003b,
2007) apontaram que há variação entre o sujeito nulo e pleno no PB e, graças à
perspectiva teórica, foi possível verificar que essa variação não era casual, estando,
na verdade, relacionada à mudança na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo, ou
seja, PB estava deixando de ser uma língua de sujeito nulo para se tornar uma
língua de sujeito preenchido. A partir daí, outras análises se seguiram, buscando
mostrar como essa mudança se encaixaria no sistema, através da observação do
sujeito não referencial, incluindo as construções com os verbos de alçamento, objeto
de análise deste trabalho.
Portanto, é possível perceber como a associação entre os modelos gerativista
e variacionista rendeu, e ainda rende, frutos até hoje (cf. Duarte 2007). Através
desse “feliz encontro”, as mudanças sintáticas em curso do PB podem ser mais bem
delineadas, e se pode até mesmo prever os caminhos que elas vão trilhar. Além
disso, podem-se tamm abrir outros caminhos, à medida que comportamentos
inesperados se manifestam.
2.3 Metodologia
Neste trabalho, defende-se a associação dos pressupostos teóricos do
modelo gerativista, mais notadamente da Teoria de Princípios e Parâmetros
(Chomsky 1981), e do modelo variacionista, através da Sociolingüística Variacionista
nos moldes propostos por Labov (1972, 1994). Para buscar entender os “efeitos
colaterais” que afetam o sistema do PB devido à mudança em direção ao
preenchimento da posição do sujeito pronominal, faz-se uso da noção de
“encaixamento” da mudança defendida por Weinreich, Labov e Herzog (1968). Como
já foi apontado, esses modelos eram vistos como incompatíveis, mas atualmente
são complementares na investigação de mudanças paramétricas em curso no PB
(cf. Duarte 1997, 1998), entre as quais a remarcação do valor do PSN.
Privilegia-se, neste trabalho, uma perspectiva diacrônica, ou seja, é feito um
estudo em tempo real de longa duração. O foco da investigação é o comportamento
das construções com os verbos de alçamento no PB nos séculos XIX e XX. Objetiva-
36
se verificar se a preferência pelo alçamento do DP sujeito da oração encaixada para
a posição não temática disponível à esquerda do verbo de alçamento na oração
matriz acompanha a redução no quadro do paradigma flexional verbal do PB. Como
já foi apontado, a simplificação do paradigma seria o principal responsável pela
mudança sintática em progresso no PB (cf. Duarte 1993, 1995).
Além disso, diversos estudos sob diferentes perspectivas teóricas defendem
que o PB é uma língua parcialmente orientada para o discurso. Se uma das
características das línguas orientadas para o discurso é a ausência de expletivos
lexicais (cf. Li & Thompson 1976 apud Duarte 2007) é de se esperar que o PB
desenvolva outras estratégias para realizar foneticamente a posição do sujeito não
referencial, através do alçamento de constituintes, por exemplo, evitando o verbo em
posição inicial (Kato 2002) nas sentenças. E é isso o que os estudos empíricos
sobre o sujeito não referencial apontam (cf. Duarte 2004, 2007 entre outros).
A partir dos trabalhos empíricos sobre a mudança na marcação do PSN
(Chomsky 1981), da proposta de Duarte (1993) a respeito da simplificação da
morfologia verbal, dos resultados sincrônicos obtidos para as construções de
alçamento (Duarte 2004, 2007, Henriques 2005, Henriques e Duarte 2006), dos
estudos de Freire (2000, 2005), entre outros, que apontam para uma redução do
quadro de clíticos, da orientação parcial do PB para o discurso (Pontes 1987, Vasco
1999, 2006; Orsini 2003) e da noção de “encaixamento” da mudança (Weinreich,
Labov e Herzog 1968), as hipóteses que orientam este trabalho são as seguintes:
1. à medida que o seu paradigma flexional se reduz e devido à sua orientação
parcial para o discurso, PB deve apresentar uma gradativa preferência ao longo dos
períodos de tempo pelo alçamento do DP sujeito do verbo da oração encaixada para
a posição não temática disponível à esquerda dos verbos de alçamento na oração
matriz. ;
2. o uso do clítico dativo deve diminuir sensivelmente ao longo do tempo, o que deve
favorecer igualmente um paulatino aumento do alçamento do DP sujeito nas peças
investigadas;
3. a construção de alçamento padrão com o verbo parecer deve diminuir em
freqüência, restringindo-se nos períodos mais recentes aos casos em que o verbo
ser aparece na oração encaixada, enquanto essa estrutura deve se mostrar
recorrente com os demais verbos já no início do século XX;
37
4. o hiperalçamento deve ser implementado a partir do último quartel do século XX,
quando o paradigma 3 se consolida;
5. os sujeitos pronominais - quer junto aos verbos de alçamento, quer junto aos
verbos temáticos (que os selecionam) - devem aparecer preferencialmente nulos nos
primeiros períodos e expressos nos mais recentes.
A amostra de peças teatrais utilizada é a mesma analisada no estudo
diacrônico de Duarte (1993). Entretanto, como a estrutura investigada não é muito
freqüente, foi necessário acrescentar outras peças à amostra originalmente utilizada
por Duarte, buscando manter os sete períodos de tempo.
A amostra é composta por peças teatrais escritas no Rio de Janeiro por
diferentes autores entre 1838 e 1992. Trata-se, em grande parte, de comédias de
costume, ou seja, de textos que procuravam retratar as principais características de
sua época. A partir dos anos 50, trabalhou-se, preferencialmente, com textos
humorísticos, mais leves e escritos por autores bem populares em seu tempo. Foram
evitados textos mais dramáticos a fim de manter certa homogeneidade de estilo.
Embora não seja possível tomar os resultados como absolutos, visto que se trata de
textos escritos tentando reproduzir a fala de um determinado período de tempo, é
possível entendê-los como tendências de uso de uma determinada época, dado o
seu caráter popular. Abaixo, no quadro 2.1, encontram-se as principais informações
referentes às peças analisadas.
Ano Peça(s) Autor
Período I
1838 - 1847
O juiz de paz na roça (1838), O Judas
em sábado de Aleluia (1844), O noviço
(1845), Os irmãos das almas (1847)
Martins Pena
Período II
1861 - 1883
Tipos da atualidade (1862), Direito por
linhas tortas (1870), Como se fazia um
deputado (1882), Caiu o ministério
(1883), As doutoras (1889)
França Júnior
Período III
1918
O simpático Jeremias
Gastão Tojeiro
Período IV
1937-1938
O hóspede do quarto n° 2 (1937)
A vida tem três andares (1938)
Armando Gonzaga
Humberto Cunha
Período V
1949 - 1955
A garçonnière do meu marido (1949)
Pedro Mico (1954)
Um elefante no caos (1955)
Silveira Sampaio
Antônio Callado
Millôr Fernandes
A mulher integral (1975)
Carlos Novaes
38
Período VI
1975 - 1984
O último carro ou as 14 estações
(1976)
Os órfãos de Jânio (1979)
Confidências de um espermatozóide
careca (1984)
João das Neves
Millôr Fernandes
Carlos Novaes
Período VII
1992
No coração do Brasil
Miguel Falabella
Quadro 2.1: Amostra utilizada segundo o período de tempo e autores
Como se pode observar na tabela acima, as peças foram divididas em sete
períodos de tempo. Na tentativa de aumentar o número de dados, foram analisadas
diversas peças de um mesmo autor (Períodos I e II e VI) ou foram lidos textos
escritos por diferentes autores numa mesma época (Períodos IV, V, VI e VII). Se
levarmos em conta os três paradigmas em vigor na análise diacrônica de Duarte
(1993), teremos a seguinte distribuição:
(a) do período entre 1838 e 1918, quando predominava o paradigma 1, temos os
textos de Martins Pena, França Júnior (representantes, respectivamente, da primeira
e da segunda metade do século XIX) e Gastão Tojeiro (primeiro autor do século XX);
(b) do período entre 1937 e 1955, em que predominava o paradigma 2, as peças
analisadas foram escritas por Armando Gonzaga, Humberto Cunha, Silveira
Sampaio, Antônio Callado e Millôr Fernandes;
(c) por fim, do período entre 1975 e 1992, quando prevalecia o paradigma 3, temos
os textos de Carlos Eduardo Novaes, João das Neves, Millôr Fernandes e Miguel
Falabella.
No decorrer da análise das peças, foram encontrados alguns dados que,
aparentemente, atendiam às características buscadas, mas que tiveram de ser
descartados, como se mostra a seguir. Em (1), o verbo ter é impessoal, não
selecionando argumento externo, o que impede a ocorrência de estrutura de
alçamento. Por outro lado, em (2), foram descartadas duas sentenças com demorar-
39
se, cuja estrutura argumental se diferencia da estrutura dos verbos de alçamento
prototípicos
15
:
(1) [
IP
expl
] Parece [
CP
que agora [ø
expl
] tem um cara de bigodinho rondando aí o
morro]], mas acho que não é tira não. (Antônio Callado - 1954)
(2) a. Que culpa tenho eu que [
IP
o boticário
i
se demorasse [
PP
PRO
i
em fazer o
sinapismo?]] (Martins Pena - 1847)
b. Bate-se à escada, [
IP
e se [ø
arb
] se demoram [
PP
PRO
i
a vir saber quem é]],
assenta-se o homem um momento, descansa... (Martins Pena - 1847)
O trabalho privilegia uma análise quantitativa e qualitativa dos dados. Os
resultados encontrados serão analisados à luz de uma “leitura paramétrica” (cf.
Tarallo 1987) e relacionados à mudança no paradigma flexional do PB proposta por
Duarte (1993) em seu estudo diacrônico.
Na próxima subseção, são apresentados os grupos de fatores levantados
para a análise dos dados. Verifica-se um predomínio de fatores lingüísticos, pois se
acredita que a redução do quadro de clíticos e sua relação com o DP sujeito do
verbo da oração encaixada, o tipo de oração e o verbo são importantes
condicionadores para o (não) alçamento. O período de tempo, entretanto, é o fator
extralingüístico fundamental na interpretação dos resultados.
2.3.1 Os grupos de fatores
Ao todo, trabalha-se com quatorze grupos de fatores. Serão mostrados
separadamente os resultados para o verbo parecer, que permite a ocorrência do
hiperalçamento, e para os dados com os demais verbos de alçamento. Embora
Duarte (2007) tenha apresentado dados que indiquem que acabar, à semelhança de
parecer, já exibe o hiperalçamento, não foram encontradas tais ocorrências nos
textos examinados.
A variável dependente será o período de tempo (cf. quadro 2.1 acima). As
variáveis independentes são as seguintes:
15
Agradeço à professora Sílvia Cavalcante por ter me alertado para o comportamento diferente do verbo
demorar nessas estruturas durante uma comunicação no V Seminário de Teses e Dissertações da Pós-Graduação
da UFRJ, realizado em novembro de 2007.
40
1. Tipologia verbal: o verbo parecer é separado dos demais verbos pelas razões já
expostas. Compõem o grupo de “outros” verbos: acabar, bastar, convir, custar,
demorar, faltar, e levar.
2. O tipo de construção: procura-se controlar qual a estrutura implementada em cada
dado, focalizando a expressão ou não (nulo ou pleno) do sujeito pronominal e sua
referência.
(i) sem alçamento com o sujeito da encaixada nulo e não anafórico:
(3) Ai, ai, [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que [ø
arb
]
estão me arrancando os miolos]].
(França Júnior - 1870)
(ii) sem alçamento com o sujeito da encaixada nulo anafórico:
(4) [
IP
expl
] Parece-[me]
i
[
CP
que não [ø
i
]
faço outra coisa nesta casa]],
desde que ela nasceu! (França Júnior - 1870)
(iii) sem alçamento com o sujeito da encaixada pleno não anafórico:
(5) O tempo não está nada seguro… Tivemos um lindo dia, [
IP
mas [ø
expl
] parece
[
CP
que [a noite] se resolverá em aguaceiro…]] (Armando Gonzaga - 1937)
(iv) sem alçamento com o sujeito da encaixada pleno anafórico (aqui leva-se em
conta tamm a referencialidade do clítico):
(6) Perdendo-me de Santa Rita no meio do povo, [ø
i
] encontrei aquele homem
que convidou-[me]
i
para tomar um sorvete, [ø
i
] dei-lhe o braço e [
IP
expl
]
parecia-me
i
a todo o momento [
CP
que eu
i
conhecia aquela voz]]; porém meu
coração estava longe de pensar que fosse sinhô]]. (França Júnior - 1870)
(v) alçamento padrão com DP sujeito alçado nulo:
41
(7) Fraca proteção! [
IP
i
] Levo o dia inteiro [
PP
para t
i
coser para sustentá-lo]] e o
senhor a tocar viola e a cantar modinhas. (França Júnior - 1870)
(vi) alçamento padrão com DP sujeito alçado pleno:
(8) a. Tem gente que luta com a vida. [
IP
Você
i
realmente parece [
InfP
t
i
ser um que
luta pela vida]]. (Carlos Novaes - 1975)
b. E o mais importante: [
IP
você
i
acaba [
GerP
t
i
descobrindo que ele tem uma
doença incurável]]. (Miguel Falabella - 1992)
(vii) sujeito deslocado:
(9) [
TopP
Eu
i
[
IP
expl
] parece [
CP
que [ø]
i
estou enganado]]]. (Armando Gonzaga -
1937)
(viii) hiperalçamento:
(10) [
IP
Vocês
i
parecem [
CP
que t
i
não pensam na vida]]. (Miguel Falabella - 1992)
3. Expressão do sujeito pronominal nas construções de hiperalçamento: embora,
como já foi dito, fuja ao escopo deste trabalho discutir o hiperalçamento e o
“hiperalçamento aparente”, procura-se verificar se o sujeito pronominal nas
estruturas de hiperalçamento aparece nulo ou pleno, tanto na oração encaixada
quanto na oração matriz, uma vez que para Martins e Nunes (2007) as duas
estruturas (com o sujeito da encaixada nulo ou pleno) têm derivações diferentes;
para os objetivos do presente estudo, independentemente da expressão fonética do
sujeito, trata-se de hiperalçamento:
(11) Pelo jeito, [
IP
i
] parecem [
CP
que t
i
já levam a sua conta]]. (Gastão Tojeiro -
1918)
16
16
A sentença em (i) abaixo representa o que Martins e Nunes (2007) chamam dehiperalçamento aparente”:
(i) Pelo jeito, [
IP
eles
i
parecem [
CP
que eles
i
levam a sua conta]].
42
4. Presença de clítico dativo junto ao verbo: investiga-se se a presença de um clítico
dativo ou de um SP dativo lexical
17
junto ao verbo de alçamento interfere na
preferência por uma construção sem alçamento. Dados em que há a presença e a
ausência de clíticos são apresentados, respectivamente, em (12a) e (12b):
(12) a. [
IP
expl
] Parece-me
i
[
CP
que [ø]
i
estou a vê-la a dizer adeus à gente com os
dedinhos miúdos, assim]]. Ai! Que gracinha! (França Júnior - 1889)
b. [
IP
expl
] Parece [
CP
que a minha presença o atordoou…]] (Gastão Tojeiro -
1918)
5. Correferência entre o clítico e o sujeito da encaixada
(i) há correferência com o sujeito da encaixada:
(13) Bravo! No fim das contas, [
IP
expl
] parece-me
i
[
CP
que, em vez de uma, [ø]
i
tenho duas doutoras em casa]]. Falta-te só o grau. (França Júnior - 1889)
(ii) não há correferência com o sujeito da encaixada:
(14) [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que [ø]
i
não te casaste com uma analfabeta!]] (França
Júnior - 1889)
6. A pessoa do sujeito da encaixada: procura-se verificar se a pessoa do discurso
(no singular ou no plural) interfere na ocorrência das construções de alçamento,
como ilustram os exemplos de (15a)-(15e). Levam-se em consideração também os
dados que apresentam um sujeito de referência indeterminada, como o apresentado
em (15f):
(15) a. [
IP
i
] Ainda acabo [
GerP
t
i
praticando um ato de loucura!]] (Gastão Tojeiro -
1918)
b. Que modos, Carlos! [
IP
expl
] Parece até [
CP
que você está correndo com
“seu” Candinho]]. (Armando Gonzaga -1937)
17
o houve ocorrência na amostra de SP dativo lexical, como a sentença em (i):
(i) [
IP
expl
] Custa ao João
i
[
InfP
[ø]
i
acreditar nas palavras de um político]].
43
c. [
IP
Margareth
i
parece [
CP
que t
i
tem bicho carpinteiro!]] (Miguel Falabella -
1992)
d. [
IP
Vocês
i
parecem [
CP
que t
i
não pensam na vida]]. (Miguel Falabella -
1992)
e. Vossa Excelência pode usar de outros termos
i
: [
IP
expl
] basta [
CP
que eles
i
exprimam o que o seu coração sente]]. (França Júnior - 1862)
f. Zombar de ti! Seria mais fácil zombar do meu ministro! Mas, silêncio, que [
IP
expl
] parece-me [
CP
que [ø
arb
]
sobem as escadas]]. (Martins Pena - 1844)
7. O traço semântico do sujeito de 3ª pessoa: objetiva-se verificar se o traço [+ / -
animado], [+ / - humano] do sujeito de 3ª pessoa favorece ou restringe o alçamento.
(i) [+hum, +anim]
(16) Como o homem era importante, o rapaz
i
ficou tolhido, sem saber como
explicar o revólver, sem poder se livrar do homem e [
IP
i
] acabou mesmo
[
GerP
t
i
desistindo de matar a mulher]]. (Millôr Fernandes - 1955)
(ii) [-hum+anim]:
(17) Mas, de repente, todos sentimos [
CP
que [
IP
ele
i
parecia [
InfP
t
i
penetrar em
alguma zona de turbulência]]]. (Carlos Novaes - 1984)
(iii) [-anim]
(18) [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que o negócio vai correndo às mil maravilhas]].
(França Júnior - 1882)
8. Referência do sujeito de 3ª pessoa: investiga-se se o traço [+ específico] ou [+
genérico], respectivamente em (19a) e (19b), é relevante na (não) ocorrência do
alçamento.
(19) a. [
IP
expl
] Só faltava [
CP
que esse Dr. Leocádio saísse agora daqui]] para
complicar novamente as cousas… (Armando Gonzaga - 1937)
44
b. [
IP
expl
] Parece, no entanto, [
CP
que as coisas estão mudando]]. (Carlos
Novaes - 1984)
9. A estrutura do DP sujeito do verbo da encaixada: investiga-se a estrutura que
favorece ou restringe o alçamento
18
.
(i) DP lexical:
(20) [
IP
Essa Helene
i
demora muito [
PP
pra t
i
fazer as coisas]]. (Miguel Falabella -
1992)
(ii) DP pronominal:
(21) a. Eu já vou, Cristina, [
IP
senão eu
i
acabo [
GerP
t
i
desintegrando essa mulher
integral]]. (Carlos Novaes - 1975)
b. Espero, Carlos, [
IP
você
i
vai acabar [
GerP
t
i
se comprometendo]]. (Armando
Gonzaga - 1937)
10. Tipo sintático da oração em que se encontra o verbo de alçamento: investiga-se
se a preferência por uma estrutura de alçamento está relacionada ao tipo de oração
em que o verbo de alçamento se encontra.
(i) oração matriz:
(22) [
IP
expl
] Parece [
CP
que a criada não gostou de me ver conversar com o
Jeremias]]. (Gastão Tojeiro - 1918)
(ii) oração completiva:
(22) O último então… Acho [
CP
que [
IP
expl
] demorou mais de mês [
PP
pra pobre da
Helene conseguir botar o moleque no mundo]]]. (Miguel Falabella - 1992)
18
Não foram encontrados na amostra dados em que o sujeito da encaixada é um demonstrativo (i) ou um
quantificador (ii):
(i) [
IP
Isso
i
parece [
InfP
t
i
ser dicil]].
(ii) [
IP
expl
] Convém [
CP
que alguém lave a louça]].
45
(iii) oração relativa:
(23) Já não freqüentas a nossa casa como antes, e hoje tenho notado que já não
procuras aquela
i
[
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
]
19
parecia [
InfP
t
i
ser o único objeto de teus
pensamentos!]]] (França Júnior - 1862)
(iv) oração adverbial
(24) O senhor tem uma fala tão doce [
CP
que [
IP
expl
] parece [
CP
eu estar ouvindo
uma disca de gramofone…]]] Continua! (Gastão Tojeiro - 1918)
11. Preposição que introduz a oração encaixada: a presença de uma preposição
introduzindo a oração encaixada interfere no alçamento do DP sujeito? Ocorreram
dados somente com as preposições ‘a’ e ‘para / pra’.
(i) preposição A:
(25) E para maior infelicidade, vim viver com minha sogra
i
, que é um demônio; [
IP
[ø]
i
leva todo o dia [
PP
t
i
a atiçar a filha contra mim]]. Vivo num tormento.
(Martins Pena - 1847)
(ii) preposição PARA / PRA:
(26) Fraca proteção! [
IP
[ø]
i
Levo o dia inteiro [
PP
para t
i
coser para sustentá-lo]] e o
senhor a tocar viola e a cantar modinhas. (França Júnior - 1870)
12. Verbo da encaixada: investiga-se se o alçamento padrão com o verbo parecer é
favorecido pelos verbos ser e estar na oração encaixada, como têm demonstrado os
resultados para a fala (cf. Duarte 1995).
Neste capítulo, foram apresentados os aspectos teórico-metodológicos que
orientam o presente estudo. Os dados foram codificados e analisados utilizando os
19
Vbl é o símbolo usado para varvel. No caso, trata-se de um vestígio de movimento para uma posição A
-barra
.
46
pacote de programas Varbrul (Pintzuk 1988). A análise dos dados, empreendida no
próximo capítulo, levará em conta não só a proposta levantada por Duarte (1993) em
seu estudo diacrônico, proposta essa que relaciona a preferência pelo sujeito pleno
à simplificação do paradigma flexional do PB à luz da Teoria de Princípios e
Parâmetros (Chomsky 1981) e da Sociolingüística Variacionista (Labov 1972, 1994),
buscando evidências do “encaixamento” da mudança (Weinreich, Labov e Herzog
1968) e tomando como guia as propriedades do PSN. A leitura dos dados mostrará
que os modelos gerativista e variacionista são complementares e contribuem para
uma apurada descrição da mudança sintática em curso no PB.
47
3. Análise dos dados
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos na análise das peças
teatrais. Embora eles não tenham sido encontrados em grande quantidade, é
possível chegar a algumas conclusões e verificar se as hipóteses levantadas são ou
não confirmadas. Os resultados apresentados são analisados à luz da associação
da Teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky 1981) e da Sociolingüística
Variacionista (Labov 1972, 1994), particularmente no que diz respeito à noção de
“encaixamento” da mudança. Leva-se ainda em conta a noção de língua
parcialmente orientada para o discurso, que caracteriza o PB, e que pode nos
auxiliar na interpretação dos reflexos que a mudança na marcação do PSN tem em
nosso sistema.
Como já foi dito no capítulo anterior, a investigação privilegia fatores
lingüísticos, como a ocorrência ou não de alçamento, o tipo de oração em que se
encontra o verbo de alçamento e a presença / ausência de um clítico junto a esse
tipo de verbo. Por razões óbvias, esses fatores estruturais são observados segundo
a única variável extralingüística, os períodos de tempo. A princípio, pretendia-se,
após a análise quantitativa e qualitativa, fazer uma rodada do programa VARB2000,
tomando os períodos de tempo como a variável dependente a fim de verificar o peso
dos fatores em cada sincronia. No entanto, como será visto mais adiante, não se
possível fazer uma análise de regra variável, pois a necessária separação entre as
construções com parecer, que admite quatro formas variantes, e os demais verbos
de alçamento, com apenas duas possibilidades de construção, sem contar o número
reduzido de dados, leva a diversos knockouts, tornando inviável essa etapa da
análise. Reunir os dois grupos de verbos não seria metodologicamente
aconselhável, uma vez que o comportamento de uns e outros é diferente.
Naturalmente, o aumento do número de dados, numa análise futura, permitirá
chegar a tal etapa.
No capítulo 1, foi mostrado que o verbo parecer, dentre todos os verbos de
alçamento, merece atenção especial devido às suas diferentes possibilidades
estruturais (construção sem alçamento, alçamento padrão, deslocamento e
hiperalçamento). Por outro lado, os demais verbos exibem apenas duas
construções: a estrutura sem alçamento e o alçamento padrão. Por isso, são
48
apresentados separadamente os resultados encontrados para parecer e para os
demais verbos.
Abaixo, na figura 3.1, é apresentada a distribuição geral emmeros
absolutos dos dados encontrados em cada período de tempo, englobando todos os
verbos de alçamento, 84 dos quais com parecer e 67 com os demais verbos.
Observam-se diferenças quantitativas entre os períodos de tempo, principalmente no
Período II, com ummero bem maior de dados (42). Talvez a diferença entre os
períodos esteja relacionada não somente ao número de peças disponíveis, mas
tamm ao estilo do autor, pois o Período I, que contou com 4 peças (1 a menos
que o Período II, portanto), não apresentou quantidade expressiva de dados.
Distribuição dos dados por período de tempo
20
19
21
19
42
18
12
Período I Período II Período III Peodo IV
Período V Período VI Período VII
Figura 3.1: Distribuição geral dos dados por período de tempo
3.1. Construções com o verbo parecer
Na tabela 3.1, abaixo, encontra-se a distribuição dos 84 dados levantados
com o verbo parecer ao longo do tempo, segundo o tipo de estrutura em que se
encontram:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Total
Sem alçamento 5
(100%)
26
(81%)
8
(57%)
4
(40%)
6
(75%)
4
(50%)
0
(0%)
53
Alçamento
padrão
0
(0%)
6
(19%)
4
(29%)
3
(30%)
0
(0%)
3
(38%)
0
(0%)
16
Deslocamento 0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
1
(10%)
0
(0%)
0
(0%)
0
(0%)
1
Hiperalçamento 0
(0%)
0
(0%)
2
(14%)
2
(20%)
2
(25%)
1
(12%)
7
(100%)
14
49
Total 5
(100%)
32
(100%)
14
(100%)
10
(100%)
8
(100%)
8
(100%)
7
(100%)
84
Tabela 3.1: Construções com parecer através do tempo
Uma leitura horizontal da tabela com a distribuição dos dados já permite
verificar que a construção sem alçamento ocorre em todos os períodos de tempo
analisados, excetuando-se o Período VII, enquanto a estrutura com alçamento
padrão aparece a partir do Período II e a construção com hiperalçamento no Período
III. A ocorrência de apenas 1 dado da estrutura de deslocamento no Período IV
sugere ser esta uma construção rara no PB, mesmo em sincronias passadas. O
gráfico abaixo representa na linha do tempo a ocorrência das construções de
alçamento com parecer, a partir dos percentuais na linha vertical, excetuando-se o
único caso de deslocamento:
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Período
I
II III IV V VI VII
Sem alçamento
Alçamento padrão
Hiperalçamento
Gráfico 3.1: Construções com parecer na linha do tempo
No século XIX, nota-se um amplo predomínio da construção sem alçamento -
preferência categórica no Período I (100%), o que pode se dever a uma questão de
estilo, e de 81% no período seguinte, quando se observa a ocorrência de alçamento
padrão (19%). Contudo, é a partir do Período III, início do século XX, que
encontramos as maiores alterações: (i) há uma considerável redução na utilização
da estrutura sem alçamento (de 81% passa para 57%); (ii) a ocorrência de
alçamento padrão é maior em comparação ao período anterior (29%); (iii) finalmente,
50
surge, com 14%, uma nova construção de alçamento, que exibe a flexão dos dois
verbos (o da oração matriz e o da encaixada), o hiperalçamento.
É possível observar no Período IV a concorrência entre a construção sem
alçamento (40%), o alçamento padrão (30%) e o hiperalçamento (20%)
20
.
Entretanto, no Período V, há uma reviravolta nas ocorrências das estruturas de
alçamento com parecer, pois se observa um considerável crescimento na ocorrência
da estrutura sem alçamento (índice de 75%, quase o dobro do período anterior), o
que vai de encontro às expectativas iniciais, já que era esperado que tal construção
fosse diminuindo gradualmente. É importante, porém, observar a não ocorrência do
alçamento padrão, o que reflete resultados encontrados para a fala espontânea,
culta e popular, e 25% de implementação do hiperalçamento.
No período seguinte, há uma outra alteração na preferência pelas
construções de alçamento. Novamente, verifica-se uma redução na implementação
da estrutura sem alçamento (50%) e do hiperalçamento (12%) e um crescimento na
ocorrência do alçamento padrão com 38%. Por fim, no Período VII, as expectativas
iniciais são confirmadas: observa-se a não ocorrência da construção sem alçamento
e do alçamento padrão e a preferência categórica pelo hiperalçamento com 100%.
Isso não significa que as construções sem alçamento estejam ausentes na fala, mas,
de um modo geral, os resultados encontrados no Período VII estão, até certo ponto,
em conformidade com os índices encontrados para o verbo parecer na fala popular
(cf. Duarte 2004, 2007; Henriques 2005, Henriques e Duarte 2006), confirmando,
portanto, uma das hipóteses que orientam este estudo: a gradativa preferência ao
longo do tempo pelo alçamento do DP sujeito do verbo da oração encaixada para a
posição não temática disponível à esquerda do verbo de alçamento parecer e a
concordância entre esse DP e o verbo da encaixada, do qual é argumento externo,
ou seja, a construção de hiperalçamento.
Os resultados encontrados por Duarte (1993) nas peças teatrais para o
mesmo período de tempo apontam para uma ampla preferência pelo sujeito nulo até
o início do século XX. A partir de 1937, a concorrência entre sujeito nulo e sujeito
pleno torna-se mais evidente. Nos períodos seguintes, a autora mostra a crescente
preferência pelo sujeito preenchido no PB. Se levarmos em consideração a proposta
de Duarte (1993, 1995) que defende que a preferência pelo sujeito pleno está
20
A única ocorrência de deslocamento, apresentada na tabela 3.1 e excluída deste gráfico,
representa 10%.
51
interligada à redução no paradigma flexional verbal do PB, é possível a seguinte
leitura geral do gráfico acima:
(a) a preferência pela manutenção da posição do sujeito não referencial de parecer
nula (ou seja, sem alçamento) no século XIX é coerente com os índices
apresentados por Duarte para os sujeitos referenciais definidos para o mesmo
período de tempo, pois eles apontam para uma ampla preferência pelo não
preenchimento da posição do sujeito referencial. Ou seja, PB ainda se comportava
como uma língua prototipicamente de sujeito nulo;
(b) assim como na peça de 1937, em que Duarte já apresenta um crescimento dos
índices de sujeito expresso, as construções com parecer tamm se encaminham
neste período, embora timidamente, em direção à diversidade estrutural, embora
predominem as construções sem alçamento;
(c) nos Períodos V e VI, apesar da simplificação do paradigma verbal no PB,
encontramos índices favoráveis ao não alçamento, opondo-se completamente aos
resultados do Período IV e aos resultados encontrados por Duarte para o mesmo
período, que apontam para uma crescente preferência pelo sujeito referencial pleno;
(d) no Período VII, os índices, que mostram a preferência pelo hiperalçamento,
“efeito colateral” da mudança que afeta o sistema, corroboram os resultados de
Duarte, que mostram que PB está caminhando em direção à mudança na marcação
do Parâmetro do Sujeito Nulo, embora sem fazer uso de um expletivo lexical.
Após a análise dos resultados gerais com todas as construções de alçamento,
faz-se necessária uma investigação mais aprofundada de cada estrutura no intuito
de verificar se há particularidades que favorecem cada uma delas. Além de observar
a preferência pelo alçamento do DP sujeito do verbo da oração encaixada para a
posição à esquerda de parecer, procura-se verificar a expressão desse constituinte,
se nulo ou preenchido.
3.1.1 A construção sem alçamento
A estrutura sem alçamento se caracteriza, naturalmente, pelo não alçamento
do DP sujeito do verbo da encaixada para a posição disponível à esquerda do verbo
de alçamento na oração matriz, como se vê em (1a, b,c):
(1) a. [
IP
expl
] Parece [
CP
que me estala a cabeça]]. (Martins Pena - 1845)
52
b. ]
i
Estás com uma personalidade inteiramente diferente. [
IP
expl
] Parece
até [
CP
que [ø]
i
estás acometido de dupla personalidade...]] (Silveira Sampaio -
1949)
c. Que frieza! [
IP
expl
] Parece até [
CP
que [ø
arb
] estamos no Pólo Norte]].
(Gastão Tojeiro - 1918)
Em (1a), temos um sujeito representado por um DP lexical novo; em (1b), um
nulo referencial definido e em (1c), um nulo de referência arbitrária.
3.1.1.1 A representação do sujeito da encaixada
No gráfico 3.2, abaixo, são apresentados os índices referentes à forma de
representação do sujeito da subordinada - DP lexical pleno, pronome nulo, pronome
pleno - nas construções sem alçamento:
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Período
I
II III IV V V I V II
DP lexical pleno
Pronome pleno
Pronome nulo
Gráfico 3.2: Expressão do sujeito da encaixada nas construções sem alçamento com
parecer (DP lexical, pronome pleno, pronome nulo)
Em (2), são apresentados exemplos com o sujeito da encaixada pleno com as
duas possibilidades de preenchimento:
(2) a. Outro dia, choveu tanto [
CP
que [
IP
expl
] parecia [
CP
que a lagoa ia subir o
morro]]], pensei que a chuva ia derreter o chão aqui embaixo e jogar este
barraco feito uma caixa de fósforos lá no mato do fundo. (Antônio Callado -
1954)
53
b. Ai, que corrida! Já não posso! Oh, [
IP
expl
] parece-me [
CP
que por cá ainda
dura o medo]]. (Martins Pena - 1844)
c. Impressionante a rapidez com que essas profissionais
i
tiravam a roupa. [
IP
expl
] Parece [
CP
que elas
i
soltavam uma presilha]] e saía tudo de uma vez:
blusa, saia, meia, calcinha, sapato. (Carlos Novaes - 1979)
d. Perdendo-me
i
de Santa Rita no meio do povo, [ø]
i
encontrei aquele homem
que convidou-me
i
para tomar um sorvete, [ø]
i
dei-lhe o braço e [
IP
expl
]
parecia-me
i
a todo o momento [
CP
que eu
i
conhecia aquela voz]]; porém meu
coração estava longe de pensar que fosse sinhô. (França Júnior - 1870)
Em (3), são apresentadas construções sem alçamento com o sujeito da
encaixada nulo:
(3) a. Aquilo já é moléstia! [
IP
expl
] Parece [
CP
que, [
IP
se ele
i
não sair ministro
desta vez, [ø]
i
arrebenta!]]] (França Júnior - 1883)
b. [ø]
i
Estás com uma personalidade inteiramente diferente. [
IP
expl
] Parece
até [
CP
que [ø]
i
estás acometido de dupla personalidade...]] (Silveira Sampaio -
1949)
c. Ah, ah, ah, [
IP
expl
] parece-me
i
[
CP
que [ø]
i
estou vendo o D. Abade
horrorizado]]. (Martins Pena - 1845)
d. Zombar de ti! Seria mais fácil zombar do meu ministro! Mas, silêncio, [
IP
que
expl
] parece-me [
CP
que [ø
arb
] sobem as escadas]]. (Martins Pena - 1844)
e. É claro que morar sozinho tem os seus problemas: é só você se trancar no
banheiro que o telefone toca. Ou a campainha da porta. [
IP
E às vezes [ø
expl
]
parece [
CP
que [ø
arb
] armam um complô]]: toca tudo ao mesmo tempo. (Carlos
Novaes - 1984)
Embora a distribuição no gráfico 3.2 não seja muito eloqüente para os nossos
propósitos, uma vez que reúne DPs lexicais e pronominais, algumas observações
podem ser feitas. A expressão do sujeito da oração encaixada sofre alterações ao
longo do tempo. Se por um lado, nos Períodos I, II e III, verifica-se o predomínio do
pronome nulo na oração encaixada (note-se, entretanto, uma redução percentual
nos dois últimos períodos), com índices entre 60% e 50%, por outro, a partir do
Período IV, observa-se a preferência pelo preenchimento do sujeito da subordinada.
54
Neste período, não há ocorrências de pronome nulo e sim um equilíbrio percentual
entre as duas possibilidades de preenchimento (50% tanto para o DP lexical pleno
quanto para o pronome pleno). No período seguinte, o pronome nulo volta a
aparecer com 33%, enquanto o DP lexical pleno apresenta 67% de preferência. No
último período em que foi encontrada a ocorrência da construção sem alçamento,
verifica-se, novamente, um aumento nos índices referentes ao pronome nulo (50%).
Apesar disso, deve-se atentar para o fato de que no Período VI não há clara
preferência pelo preenchimento ou pelo não preenchimento do sujeito da oração
encaixada, pois o DP lexical pleno e o pronome pleno, juntos, somam 50% dos
dados, o mesmo índice do pronome nulo. Mas que quadro teríamos, considerando
separadamente os DPs e a forma de expressão (vazia vs preenchida) dos sujeitos
pronominais?
A tabela a seguir apresenta a distribuição dos sujeitos das encaixadas,
incluindo os DPs lexicais (necessariamente plenos), os sujeitos pronominais de
terceira pessoa (necessariamente anafóricos), os sujeitos de primeira e segunda
pessoas, e finalmente os sujeitos de referência arbitrária (todos nulos na amostra):
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Pronomes
3ª pessoa
0/1
(0%)
3/8
(38%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
Pronomes
1ª e 2ª
pessoas
0/1
(0%)
1/7
(14%)
1/3
(33%)
2/2
(100%)
0/1
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
Sujeito de
ref.
arbitrária
0/1
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
DPs
lexicais
novos
2/2
(100%)
9/9
(100%)
3/3
(100%)
2/2
(100%)
4/4
(100%)
1/1
(100%)
0/0 (0%)
Tabela 3.2: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com parecer em
construções sem alçamento, segundo a forma de expreso: pleno vs nulo
De um modo geral, os resultados para a estrutura sem alçamento mostram
que os pronomes de 3ª pessoa aparecem preferencialmente nulos na oração
encaixada. Somente nos Períodos II e VI foram encontrados dados com o sujeito
pronominal de 3ª pessoa preenchido. Os pronomes de 1ª e 2ª pessoas apresentam
comportamento semelhante: enquanto no Período IV temos 100% de preenchimento
do sujeito da oração encaixada, nos Períodos II e III, encontramos índices de
55
preenchimento mais modestos (14% e 33%, respectivamente). Nos períodos mais
recentes não há dados; fica, pois, a sugestão de que a construção sem alçamento é
mais presente em sincronias passadas e o sujeito pronominal de referência definida
era então preferencialmente nulo.
3.1.1.2 A presença do clítico dativo
Uma das hipóteses defendidas neste trabalho é de que a presença de um
clítico dativo junto ao verbo de alçamento seria um obstáculo ao alçamento do DP
sujeito do verbo da oração encaixada. Dos 24 dados com clítico dativo encontrados
na amostra, 23 aparecem, de fato, em estruturas sem alçamento, o que confirma a
expectativas iniciais.
Diversos estudos sobre o PB, entre eles o de Freire (2000, 2005), apontam
para uma redução no quadro de clíticos, principalmente para o franco desuso do
clítico dativo. Examinemos a tabela 3.3 e o gráfico 3.3, abaixo, com os resultados
que as peças apontam:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Total
Clítico
dativo
3/5
(60%)
17/26
(65%)
1/8
(13%)
2/4
(50%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/0
(0%)
23/53
(43%)
Tabela 3.3: Presença do clítico dativo vs não alçamento em construções com parecer
Clítico dativo nas construções sem alçamento
0%
20%
40%
60%
80%
Período I Período II Período III Período IV Período V Período VI Período VII
Gráfico 3.3: Presença de clítico dativo nas constrões sem alçamento com parecer
A tabela 3.3 e o gráfico 3.3 mostram que em 23 dos 53 dados o verbo parecer
é acompanhado de clítico dativo nas estruturas sem alçamento. Mostram ainda que
nos dois primeiros períodos investigados do século XIX, a presença do clítico
favorece o não alçamento, com índices entre 60 e 65%. A partir do Período V, o
clítico dativo não é mais encontrado nas construções sem alçamento. Essa ausência
do clítico está em consonância com os trabalhos que apontam seu quase
56
desaparecimento no português coloquial. Abaixo, em (4), encontram-se alguns
exemplos da amostra:
(4) a. Ah, ah, ah, [
IP
expl
] parece-me [
CP
que [ø]
i
estou vendo o D. Abade
horrorizado]]. (Martins Pena - 1845)
b. [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que [ø]
i
estou a vê-la a dizer adeus a gente com os
dedinhos miúdos, assim]]. Ai! que gracinha! (França Júnior - 1889)
Além da presença do clítico dativo junto ao verbo de alçamento, investigou-se
tamm se a correferência com o sujeito da encaixada poderia ser mais um
obstáculo ao alçamento. Abaixo, em (5) e (6), apresentam-se, respectivamente,
dados com e sem correferência entre o sujeito da encaixada e o clítico dativo junto a
parecer:
(5) a. [
IP
expl
] Parece-me
i
[
CP
que [ø]
i
estou livre de uma carga!]] (França Júnior -
1862)
b. [
IP
expl
] Parece-me
i
[
CP
que [ø]
i
o vejo a cada momento entrar pela casa
adentro com a ventas esmurradas, ou com alguma faca nas tripas]]. (França
Júnior - 1862)
(6) a. [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que esse doutorzinho em medicina que freqüenta a
casa faz a corte e pode tirar-lhe do lance]]. (França Júnior - 1862)
b. [
IP
expl
] Parece-me [
CP
que a senhora está verdadeiramente enamorada!]]
(Humberto Cunha - 1938)
Como é possível observar nos exemplos apresentados em (4)-(6), foram
encontrados somente dados com o clítico dativo ‘me’ junto ao verbo parecer na
amostra. Examinemos a distribuição por período na tabela 3.4, a seguir:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Correferente 1/3
(33%)
6/17
(35%)
1/1
(100%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
o
correferente
2/3
(67%)
11/17
(65%)
0/1
(0%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
Total 3
(100%)
17
(100%)
1
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
0
(100%)
0
(100%)
57
Tabela 3.4: Correferência entre clítico dativo e DP sujeito vs não alçamento em construções
com parecer
Em todos os períodos de tempo que apresentam clítico dativo - à exceção do
Período III - há uma supremacia do fator ‘não correferente’. No Período II, por
exemplo, em 11 dos 17 dados encontrados não há correferência entre o clítico
dativo e o sujeito da encaixada. Apesar disso, mesmo que esse clítico não seja
correferente com o constituinte da encaixada, ele atua como um obstáculo ao
alçamento.
Embora o clítico dativo ‘me’ mantenha uma estreita relação com a estrutura
sem alçamento, pelo menos nas peças analisadas, não se pode afirmar que seu uso
esteja limitado a tal construção. Foi encontrado um único dado, no Período III, em
que ele aparece em uma construção singular: o sujeito da encaixada é alçado para a
posição do clítico e o verbo da subordinada aparece na forma infinitiva, uma
instância de alçamento padrão absolutamente distinta das demais, que serão
examinadas a seguir. O sujeito alçado, em vez de nominativo, recebe Caso dativo,
certamente um caso de traço inerente:
(7) De acordo. [
IP
expl
] Parece-me
i
[
InfP
t
i
não ser destituído das qualidades
exigidas pelas americanas]]… modéstia à parte. (Gastão Tojeiro - 1918)
3.1.2 O alçamento padrão
O alçamento padrão é uma construção raríssima tanto na fala culta quanto na
fala popular (cf. Henriques 2006b, Duarte 2004, 2007, respectivamente), apesar de
plenamente recuperado na escrita padrão, como foi visto no capítulo 1, na seção
1.4.2 (cf. Henriques 2005, Henriques e Duarte 2006). A análise das peças teatrais de
caráter popular, textos escritos tentando reproduzir a fala de sua época, mostrou,
como foi visto no gráfico 3.1, que tal construção, embora menos freqüente que o não
alçamento, aparece com índices expressivos nos Períodos II, III, IV e VI. Sua
absoluta ausência no Período I, longe de sugerir seu não uso na época, pode
significar a preferência do autor pelo verbo em posição inicial associado à presença
do clítico dativo. Sua ausência no último período, por outro lado, confirma, sem
dúvida, o que os dados de fala espontânea mostram: sua substituição pelo
hiperalçamento.
58
3.1.2.1 A representação do sujeito alçado
O sujeito alçado para a posição à esquerda de parecer pode se apresentar
sob a forma de um DP lexical, um pronome pleno ou um pronome nulo, identificado
pela flexão verbal. Os exemplos em (8), (9) e (10) ilustram esses três tipos de
representação, respectivamente:
(8) a. Capaz disso é ela
i
. [
IP
Essa americana
i
parece [
InfP
t
i
ter o diabo no corpo]].
(Gastão Tojeiro - 1918)
b. Mau! [
IP
A senhora
i
parece [
InfP
t
i
querer irritar-me!]] (Gastão Tojeiro - 1918)
(9) e. Tem gente que luta com a vida. [
IP
Você
i
realmente parece [
InfP
t
i
ser um que
luta pela vida]]. (Carlos Novaes - 1975)
d. Mas, de repente, todos nós sentimos [
CP
que [
IP
ele
i
parecia [
InfP
t
i
penetrar
em alguma zona de turbulência]]]. (Carlos Novaes - 1984)
(10) a. Este inglês
i
possui uma fortuna de mais de quinhentos contos, [
IP
[ø]
i
parece [
InfP
t
i
gostar de Beatriz]]. (França Júnior - 1883)
b. O acaso atirou-me aos braços dessa rapariga
i
. A princípio [
IP
]
i
parecia
[
InfP
t
i
gostar de mim]] e mostrava-se carinhosa. (Gastão Tojeiro - 1918)
Do total de 16 ocorrências de alçamento padrão encontradas na amostra, 13
exibem o sujeito alçado expresso. O gráfico 3.4, a seguir, apresenta sua distribuição
segundo a representação:
59
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Período
I
II III IV V V I VII
DP lexical pleno
Pronome pleno
Pronome nulo
Gráfico 3.4: A representação do sujeito alçado para a posição de sujeito de parecer
(DPs lexicais, pronomes plenos, pronomes nulos)
Verifica-se que o sujeito da encaixada alçado aparece preferencialmente
expresso em todos os períodos em que houve ocorrência da construção de
alçamento padrão. Essa preferência pelo sujeito pleno chega a ser categórica no
Período VI com 100% (33% para DP lexical pleno e 67% para o sujeito pronominal
pleno). O maior índice encontrado para o sujeito pronominal nulo foi no Período IV,
com 40%. Em relação ao preenchimento à esquerda do verbo parecer na estrutura
de alçamento padrão, o gráfico 3.4 mostra que, nos Períodos II e VI, o sujeito
pronominal pleno era a representação do sujeito mais utilizada, enquanto nos
demais períodos o DP lexical pleno aparece como a estratégia de preenchimento
mais freqüente.
A tabela 3.5, abaixo, expõe, mais detalhadamente, a relação sujeito pleno vs
sujeito nulo, segundo a pessoa gramatical:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Pronomes
3ª pessoa
0/0
(0%)
3/4
(75%)
1/2
(50%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
Pronomes
1ª e 2ª
pessoas
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
DPs
lexicais
novos
0/0
(0%)
2/2
(100%)
2/2
(100%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
Tabela 3.5: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com parecer em
construções de alçamento padrão, segundo a forma de expressão: pleno vs nulo
60
Os resultados apresentados na tabela acima mostram que os pronomes de 3ª
pessoa aparecem preferencialmente preenchidos na estrutura de alçamento padrão.
Dos 8 dados encontrados, 5 são expressos. Por outro lado, foi encontrada apenas 1
ocorrência de alçamento padrão, com o pronome de 2ª pessoa ‘você’. Não houve
ocorrência de primeira pessoa.
3.1.2.2 Fatores estruturais relevantes
A observação atenta dos dados mostrou que alguns fatores contribuem para a
ocorrência do alçamento padrão, entre eles o traço semântico, o traço de referência,
a estrutura do DP sujeito alçado e o tipo de oração em que parecer se encontra. As
tabelas relativas ao traço semântico e de referência se encontram no Anexo 1.
A análise do traço semântico levou em conta somente os DPs lexicais e os
pronomes de 3ª pessoa, excluindo o dado encontrado no Período VI com o pronome
‘você’, que, inerentemente, apresenta o traço [+hum, +anim]. Em linhas gerais, o
traço [+hum, +anim] aparece como o mais favorável ao alçamento padrão. O seu
menor índice é 50% nos Períodos II e VI. O traço [-anim] só apresenta índice
expressivo no Período II (50%). Houve apenas uma ocorrência de alçamento padrão
com sujeito [-hum, +anim], no Período VI, na peça de 1984 de Carlos Novaes (cf.
tabela I no Anexo 1).
Em (11), (12) e (13), são ilustrados, respectivamente, dados com os traços
[+hum, +anim], [-anim] e o único exemplo com o traço [-hum, +anim]:
(11) a. O pior é que [
IP
o rapaz
i
parece [
InfP
não t
i
ter jeito para arranjar noiva]].
(Humberto Cunha - 1938)
b. [
IP
O velho
i
parecia [
InfP
t
i
ler alguma coisa, à espera do sono]]. (Carlos
Novaes - 1984)
(12) a. [
IP
Os seus olhos tristes
i
pareciam [
InfP
t
i
querer dizer-me qualquer coisa]].
(Humberto Cunha - 1938)
b. Acabe com essa tarefa
i
, [
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
]
i
não parece [
InfP
t
i
ser das mais
espinhosas]]]. (Gastão Tojeiro - 1918)
(13) Mas, de repente, todos sentimos [
CP
que [
IP
ele
i
parecia [
InfP
t
i
penetrar em
alguma zona de turbulência]]]. (Carlos Novaes - 1984)
61
O pronome ‘ele’, em (13), retoma o sintagma ‘o espermatozóide’, por isso
esse constituinte é classificado com [-hum, + anim].
Os resultados relativos aos traços [+específico] e [+genérico] apontam, quase
categoricamente, que o traço [+específico] favorece o alçamento padrão. O índice
chega a 100% nos Períodos III, IV e VI. Somente no Período II o traço [+genérico]
apresenta uma ocorrência, representando 17%. Obviamente, o número reduzido de
dados não permite conclusões mais precisas, mas é possível, ao menos, constatar
tendências de uso. (cf. tabela II no Anexo 1).
São apresentados, em (14), dados com o traço [+específico] e, em (15), o
único dado com o traço [+genérico]:
(14) a. Longe dos exemplos de sua mãe, sua alma ia se amoldando à minha e [
IP
o
futuro
i
parecia [
InfP
t
i
sorrir-nos nesses dias felizes que passávamos um ao
lado do outro, conchegados no regaço do mais puro amor]]. (França Júnior -
1870)
b. [
IP
O sistema
i
parece [
InfP
t
i
ser facílimo]]. (França Júnior - 1883)
(15) Meus senhores, apresento-lhes Mr. James, que requer um privilégio
i
[
CP
que
i
[
IP
expl
] parece [
InfP
t
i
ser de grande utilidade]]. (França Júnior - 1883)
Até o momento, vimos que o DP sujeito da oração subordinada que apresenta
os traços [+hum, + anim] e [+específico] parece ser um contexto favorável à
ocorrência do alçamento padrão. Mas qual tipo de oração favorece a ocorrência
dessa estrutura? Vejamos a tabela 3.6:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Matriz
0/0
(0%)
3/6
(50%)
3/4
(75%)
3/3
(100%)
0/0
(0%)
2/3
(67%)
0/0
(0%)
Completiva
0/0
(0%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/3
(33%)
0/0
(0%)
Relativa
0/0
(0%)
3/6
(50%)
1/4
(25%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/3
(0%)
0/0
(0%)
Adverbial
0/0
(0%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/3
(0%)
0/0
(0%)
Total 0
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
3
(100%)
0
(100%)
3
(100%)
0
(100%)
Tabela 3.6: Tipo de oração vs alçamento padrão com parecer
62
Como pode ser visto, o alçamento padrão ocorre, preferencialmente, quando
parecer está localizado em uma oração matriz. O menor índice encontrado para
esse tipo de oração é 50%, no Período II. Não houve nenhuma ocorrência com
oração adverbial e apenas 1 dado com oração completiva no Período VI,
representando 33%. Por outro lado, a oração relativa apresenta 50% de ocorrência
no Período II e 25% no período seguinte.
Abaixo, em (16), (17) e (18), são apresentados exemplos com alçamento
padrão em que parecer está, respectivamente, em uma oração matriz, relativa e
completiva:
(16) a. Se você o
i
escutasse falar, se visse o calor que [ø]
i
empregava nas suas
palavras, e como a apertava contra o peito… [
IP
[ø]
i
Parecia [
InfP
t
i
temer que a
roubassem!]] (Humberto Cunha - 1938)
b. Este inglês
i
possui uma fortuna de mais de quinhentos contos, [
IP
[ø]
i
parece [
InfP
t
i
gostar de Beatriz]]. (França Júnior - 1883)
(17) a. Acabe com essa tarefa
i
, [
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
] não parece [
InfP
t
i
ser das mais
espinhosas]]]. (Gastão Tojeiro - 1918)
b. Ora, o Senhor Doutor Carlos de Brito
i
, [
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
] parecia [
InfP
t
i
ser um
mau moço]]], mas que hoje vejo que é um moço de excelentes qualidades,
possui com a morte de um tio uma fortuna de mil contos; (...). (França Júnior -
1862)
(18) a. Mas, de repente, todos sentimos [
CP
que [
IP
ele
i
parecia [
InfP
t
i
penetrar em
alguma zona de turbulência]]]. (Carlos Novaes - 1984)
Uma observação atenta dos dados permite constatar que a presença do
verbo ser na oração encaixada, principalmente em uma oração relativa, favorece a
ocorrência do alçamento padrão, confirmando as nossas hipóteses. São
apresentados, em (19), alguns dados com o verbo ser em diferentes tipos de
orações:
63
(19) a. Já não freqüentas a nossa casa como antes, e hoje tenho notado que não
procuras aquela
i
[
CP
que [
IP
expl
] parecia [
InfP
t
i
ser o único objeto de teus
pensamentos!]]] (França Júnior - 1862)
b. [
IP
O sistema
i
parece [
InfP
t
i
ser facílimo]]. (França Júnior - 1883)
c. Tem gente que luta com a vida. [
IP
Você
i
realmente parece [
InfP
t
i
ser um que
luta pela vida]]. (Carlos Novaes - 1975)
Dos 5 dados com esse verbo, em 3 ele se encontra em uma oração relativa,
totalizando 67% das ocorrências no Período II e 33% no Período VI (cf. Tabela III no
Anexo 1).
Portanto, a análise de diversos fatores revelou que os DPs lexicais novos e os
sujeitos pronominais plenos, os traços [+hum, +anim] e [+específico], a presença do
verbo ser na oração encaixada e do verbo parecer na oração matriz parecem ser
contextos favoráveis à ocorrência da construção de alçamento padrão.
3.1.3 A construção com deslocamento
O deslocamento, como apontam diversos estudos empíricos (entre eles
Duarte 2004, 2007; Henriques 2005, 2006b), não é uma estrutura recorrente nem na
fala nem na escrita do PB. A análise das peças teatrais vai ao encontro desses
resultados, pois foi encontrado apenas 1 único dado com essa construção na peça
de Armando Gonzaga, do Período IV, que é apresentada em (20), abaixo:
(20) [
TopP
Eu
i
[
IP
expl
] parece [
CP
que [ø]
i
estou enganado]]]. (Armando Gonzaga -
1937)
Como não é possível fazer para o deslocamento a mesma análise
empreendida para a construção sem alçamento e o alçamento padrão, segue-se
para a leitura dos dados relativos ao hiperalçamento, uma construção
aparentemente inovadora no sistema. Fica, porém, uma observação: o aparecimento
do deslocamento em nossas descrições tradicionais, especialmente entre as figuras
de sintaxe, deve ser atribuído ao seu uso no português europeu (cf. exemplos (13)
da fala contemporânea portuguesa em Duarte 2007:40).
3.1.4 O hiperalçamento
64
A flexão de ambos os verbos, o da orão matriz e o da encaixada, é
característica que diferencia o hiperalçamento das demais construções aqui
focalizadas. Tal construção viola a Teoria do Caso: um DP selecionado por um
predicado não pode receber Caso duas vezes. Como tal estrutura não é
contemplada nas descrições, parece que estamos diante de uma construção
“aparentemente inovadora”
21
.
A expressão “aparentemente inovadora” utilizada no parágrafo anterior não foi
escolhida ao acaso. Embora a tradição gramatical não contemple o hiperalçamento
em sua descrição, como já foi mostrado no capítulo 1, e os estudos sincrônicos
sobre o sujeito do PB indiquem que se trata de uma construção que surgiu
menos tempo no sistema (cf. Duarte 2004, 2007, entre outros), o gráfico 3.1,
apresentado no início deste capítulo, mostra que o hiperalçamento já aparecia, ainda
que timidamente (apenas 2 dados), na peça de Gastão Tojeiro, de 1918. Neste
período, ainda predominava o paradigma flexional 1 e PB ainda preferia o sujeito
nulo (cf. Duarte 1993).
Mas o hiperalçamento não teria surgido como uma conseqüência da mudança
na marcação do Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981)? Como explicar a sua
ocorrência no Período III? Se observarmos atentamente os resultados apresentados
no estudo diacrônico de Duarte (1993), ilustrados, novamente, no gráfico 3.5,
abaixo, perceberemos que a partir da peça de 1937, o PB apresenta índices de
sujeitos nulos na faixa dos 50%. Esses índices, ao longo do tempo, vão diminuindo
gradativamente em direção ao preenchimento da posição do sujeito pronominal.
Em outras palavras, de alguma maneira, na peça de 1918, o sistema de certa
forma já reagia a uma mudança profunda que estava começando a ocorrer: o PB
estava se tornando uma língua [-prodrop]. Obviamente, não se pode afirmar que o
hiperalçamento já fosse uma estrutura recorrente na primeira metade do século XIX,
entretanto, suas ocorrências nos Períodos IV, V, VI e VII, principalmente no último
período investigado, mostram a sua considerável ocorrência. Um outro aspecto
importante é que o sistema já “permitia” a estrutura, mas as “condições” para sua
implementação ainda não tinham aparecido
22
.
21
Como dissemos no capítulo 1, Bechara (1985) considera o hiperalçamento encontrado no texto do Marquês de
Maricá uma estrutura marginal e que se caracteriza pela pessoalização do verbo parecer.
22
O português europeu contemporâneo “permite” essa estrutura, que causa estranhamento aos falantes, mas que
foi atestada uma única vez por Duarte (comunicação pessoal) em dados de fins dos anos 90, que aparecem no
CD coordenado por Nascimento (2001):
Sujeitos nulos em peças teatrais (Duarte 1993)
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
1845
1882
1918
1937
1955
1975
1992
65
Gráfico 3.5: Sujeitos nulos em peças teatrais (Duarte 1993)
Os estudos de Duarte (1993, 2007) mostram que há diferenças qualitativas
entre o texto escrito pelos autores e a fala dos atores. A sentença em (21b) foi
extraída da peça de Miguel Falabella. Note-se que no texto escrito, em (21a), o
pronome da oração encaixada aparece nulo, enquanto na representação do palco o
pronome foi pronunciado:
(21) a. [
IP
Vocês
i
parecem [
CP
que [ø]
i
não pensam na vida]].
b. [
IP
Vocês
i
parecem [
CP
que [
TopP
t
i
[
TP
vocês
i
não pensam na vida]]]].
3.1.4.1 A representação do sujeito alçado
Em (22 a,b,c), abaixo, são apresentados exemplos de hiperalçamento com as
diferentes formas de representação do sujeito alçado - DPs lexicais plenos,
pronomes plenos e pronomes nulos :
(22) a. [
IP
Margareth
i
parece [
CP
que t
i
tem bicho carpinteiro!]] (Miguel Falabella -
1992)
b. [
IP
Vocês
i
parecem [
CP
que t
i
não pensam ma vida]]. (Miguel Falabella -
1992)
c. Pelo jeito, [
IP
arb
]
i
parecem [
CP
que t
i
já levam a sua conta]]. (Gastão Tojeiro
- 1918)
Nos dois primeiros períodos em que foi observada a ocorrência de
hiperalçamento houve um equilíbrio entre preenchimento e não preenchimento do
(i) e depois vinha a neve, s
i
a andar parecíamos que ]
i
estávamos a andar em cima de cascalho. Ficava
vidrado. Custava muito, mas tínhamos amor à camisola. (falante de 68 anos)
66
sujeito alçado para a posição de sujeito de parecer. No entanto, no Período III, a
concorrência acontece entre os DPs lexicais plenos e os pronomes nulos, enquanto
no Período IV os pronomes plenos e os pronomes nulos disputam a preferência. A
partir do Período V, verifica-se que o pronome pleno surge como a representação do
sujeito favorita nas construções de hiperalçamento encontradas na amostra (cf.
Gráfico I no Anexo 2).
A tabela 3.7, abaixo, expõe, com mais detalhes, a relação sujeito pleno vs
sujeito nulo na estrutura de hiperalçamento com parecer:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Pronomes
3ª pessoa
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/3
(33%)
Pronomes
1ª e 2ª
pessoas
0/0
(0%)
0/0
(14%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
2/2
(100%)
1/1
(100%)
2/2
(100%)
Sujeito de
ref.
arbitrária
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
DPs
lexicais
novos
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/2
(100%)
Tabela 3.7: Distribuição dos sujeitos pronominais em construções de hiperalçamento,
segundo a forma de expressão: pleno vs nulo
Verifica-se nos resultados acima que dos 14 dados com hiperalçamento, 6
apresentavam sujeitos alçados de 2ª pessoa (singular e plural). Percebe-se que nos
Períodos V, VI e VII esses pronomes aparecem preferencialmente expressos,
enquanto no Período IV o único dado com essa pessoa do discurso aparece nulo à
esquerda de parecer. Os pronomes de 3ª pessoa, por outro lado, não apresentam,
no Período VII, um índice de preenchimento considerável - apenas 33% dos dados.
Observa-se, ainda, que foram encontrados somente 3 exemplos com DPs lexicais e
1 único dado com sujeito de referência arbitrária.
Quanto à representação do sujeito da encaixada, não foram encontradas na
amostra construções como a ilustrada em (21b). Como já foi mencionado, Martins e
Nunes (2007) fazem uma distião entre essa sentença e construção em (21a). Para
os autores, a sentença em (21a) seria um hiperalçamento, em que, como dissemos
67
no capítulo 1, seção 1.2, o T(empo) da encaixada é defectivo para atribuir Caso, o
que leva o DP a ser alçado para uma posição em que Caso esteja disponível. Em
(21b), O DP à esquerda de parecer tem outra derivação, a partir de uma posição de
tópico, havendo, pois, alçamento “aparente”. (cf. capítulo 1, seção 1.2). Remetemos
o leitor a Martins e Nunes (2005, 2007) para discussão teórica relativa às suas
propostas. Mas, a julgar pela representação do sujeito na modalidade escrita e na
modalidade oral, a diferença parece mais relacionada à razoável conservação do
sujeito nulo na escrita e não a uma possível derivação diferente, como propõem
Martins e Nunes.
3.1.4.2 Outros fatores relevantes
À semelhança do que foi encontrado para a construção de alçamento padrão,
a análise mostrou que o traço semântico, o traço de referência, a estrutura do DP
sujeito alçado e o tipo de oração em que parecer se encontra são fatores que
contribuem para a ocorrência do hiperalçamento. As tabelas relativas ao traço
semântico e ao de referência se encontram no Anexo 2.
Em (23) e (24), ilustram-se, respectivamente, dados com o sujeito alçado
[+hum, +anim] e [-anim], encontrados na amostra:
(23) a. Pelos modos, [
IP
o senhor
i
parece [
CP
que t
i
anda com más intenções acerca
dela]]. (Gastão Tojeiro - 1918)
b. [
IP
Margareth
i
parece [
CP
que t
i
tem bicho carpinteiro!]] (Miguel Falabella -
1992)
(24) Tem que aprender a mexer com aqueles ferrinhos, [
IP
mas o salário
i
parece
[
CP
que t
i
compensa]]. (Miguel Falabella - 1992)
O traço [+hum, +anim] surge como um fator que favorece a ocorrência da
estrutura de hiperalçamento. A análise atenta dos dados aponta a categórica
preferência por esse traço semântico nos Períodos III e IV. O traço [+hum, +anim]
apresenta índice de 60% no último período de tempo analisado - e justamente neste
período foram encontrados os 2 únicos dados em que o DP sujeito alçado apresenta
o traço [-anim], representando 40% das ocorrências (Tabela IV no Anexo 2).
68
Alguns exemplos da amostra que ilustram o sujeito alçado com o traço
[+específico] são apresentados em (25). Em (26), é apresentado o único exemplo
com o traço [+genérico]:
(25) a. Uma hora dessas era pra ela já estar aqui. Aquela
i
é outra [
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
]
i
parece [
CP
que t
i
não tem o que fazer]]]. (Miguel Falabella - 1992)
b. [
IP
Ele
i
parece [
CP
que t
i
gosta muito da sua filha]]. Dará um bom marido… e
um bom genro… (Armando Gonzaga - 1937)
(26) Pelo jeito, [
IP
arb
]
i
parecem [
CP
que t
i
já levam a sua conta]]. (Gastão Tojeiro -
1918)
Os resultados apontam que no Período III os traços [+específico] e
[+genérico] coexistem em equilíbrio e que nos períodos IV e VII há uma supremacia
absoluta do traço [+específico] (cf. Tabela V no Anexo 2).
Examinemos a tabela 3.8, abaixo, com os índices relativos ao tipo de oração
em que se encontra o verbo parecer no hiperalçamento:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Matriz 0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/2
(100%)
2/2
(100%)
2/2
(100%)
1/1
(100%)
6/7
(86%)
Completiva 0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/1
(0%)
0/7
(0%)
Relativa 0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/1
(0%)
1/7
(14%)
Adverbial 0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/2
(0%)
0/1
(0%)
0/7
(0%)
Total 0
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
2
(100%)
2
(100%)
1
(100%)
7
(100%)
Tabela 3.8: O tipo de orão vs hiperalçamento com parecer
O hiperalçamento ocorre, categoricamente, do Período III ao VI, em
sentenças em que parecer está localizado em uma oração matriz, diferenciando-se,
portanto, do alçamento padrão. No último período, verifica-se ainda a supremacia
desse tipo de oração (86%), mas tamm a ocorrência de hiperalçamento em uma
oração relativa. Embora o pronome relativo não “pouse” na posição de sujeito de
parecer, como pode ser visto em (27d), ele é resultado de movimento do DP nulo em
Spec de IP, aqui representado por uma variável:
69
(27) a. [
IP
Ele
i
parece [
CP
que t
i
gosta muito da sua filha]]. Dará um bom marido… e
um bom genro… (Armando Gonzaga - 1937)
b. [
IP
Margareth
i
parece [
CP
que t
i
tem bicho carpinteiro!]] (Miguel Falabella -
1992)
c. Puro, integral, vitaminado… [
IP
Você
i
parece [
CP
que t
i
está fazendo anúncio
de leite em pó]]. (Carlos Novaes - 1975)
d. Uma hora dessas era pra ela já estar aqui. Aquela é outra [
CP
que
i
[
IP
[t
vbl
]
i
parece [
CP
que t
i
não tem o que fazer]]]. (Miguel Falabella - 1992)
Os resultados apresentados apontam que não há muitas diferenças
significativas para a ocorrência das estruturas de alçamento com o verbo parecer.
Em linhas gerais, em relação a tal verbo, é possível concluir que:
a) houve um progressivo aumento nas ocorrências de estruturas que permitem o
alçamento do DP sujeito da oração encaixada para a posição não temática à
esquerda de parecer, localizado na oração matriz. O surgimento de uma estrutura
como o hiperalçamento, a partir da peça de 1918, último período em que ainda
predominava o paradigma flexional 1 (Duarte 1993), pode ser considerado um
marco, a partir do qual o sistema começa a sofrer alterações devido à simplificação
do paradigma verbal, o que leva a uma mudança sintática em direção ao
preenchimento da posição do sujeito pronominal no PB; sem dúvida, apesar de a
fala espontânea hoje alternar constrões sem alçamento com construções com
alçamento, como foi mostrado no Capítulo 1 (seção 1.3), o predomínio absoluto do
hiperalçamento no Período VII (cf. gráfico 3.1) confirma as nossas hipóteses;
b) o alçamento padrão, raríssimo tanto na fala culta quanto na fala popular (cf.
Duarte 2004, Henriques 2006b), apresenta índices oscilantes, chegando a 0% de
ocorrência na peça de 1992, no Período VII, o que tamm confirma as nossas
hipóteses. O verbo ser na encaixada favorece o alçamento do alçamento padrão, e,
embora não ocorra nenhum dado no período VII, é o contexto em que a fala ainda
apresenta tal construção, em índices baixíssimos (cf. Duarte 2007, entre outros
trabalhos aqui mencionados);
70
c) a presença do clítico dativo junto ao verbo parecer, principalmente nos Períodos I,
II e III, aparece como um obstáculo ao alçamento do sujeito da encaixada. A partir
do Período V, apesar do seu crescente desuso, houve um aumento na ocorrência da
estrutura sem alçamento, o que vai de encontro às expectativas iniciais. Partia-se da
hipótese de que a construção sem alçamento apresentaria índices cada vez
menores de ocorrência devido à ausência do clítico dativo; entretanto, os resultados
para a fala espontânea apontam igualmente a concorrência entre o não alçamento e
o hiperalçamento;
d) o sujeito pronominal, na estrutura sem alçamento, aparece, em alguns momentos,
preferencialmente nulo no século XX. Por outro lado, no alçamento padrão, há uma
crescente preferência ao longo do tempo pelo sujeito preenchido sob a
representação de DPs lexicais ou pronomes. É preciso analisar as construções de
alçamento com os demais verbos, para verificar se o sujeito pronominal aparece
preferencialmente nulo ou pleno no século XX, quando PB já apresenta claros
indícios de que está se tornando uma língua [-prodrop].
Após verificar a distribuição das construções com parecer e apontar alguns
fatores estruturais que caracterizam tais estruturas, empreende-se, na subseção
seguinte, a análise com os demais verbos de alçamento.
3.2 Os demais verbos de alçamento
Como já foi mostrado no capítulo 1, na seção 1.2, os verbos de alçamento
acabar, bastar, convir, custar, demorar, faltar e levar apresentam um comportamento
diferente do verbo parecer, pois só duas estruturas são possíveis: a construção sem
alçamento e o alçamento. Embora Duarte (2007) já tenha encontrado duas
ocorrências de hiperalçamento com acabar na amostra da fala popular (cf. capítulo
1, seção 1.4.2), não foram observadas ocorrências com tal estrutura nas peças
investigadas. Abaixo, na figura 3.2, apresenta-se a quantidade de dados distribuída
por verbo:
71
Distribuição dos dados por verbo
8
4
4
7
11
2
31
Acabar Bastar Convir Cus tar Demorar Faltar Levar
Figura 3.2: Distribuição geral dos dados por verbo
Há uma discrepância quantitativa entre acabar e os demais verbos de
alçamento. Embora tal verbo só apareça na amostra a partir da peça de Gastão
Tojeiro, em 1918, ele é o mais freqüente. O reduzido número de ocorrências com os
verbos demorar e levar se deve ao fato de só aparecerem em alguns dos períodos
de tempo analisados. Os exemplos em (28a) e (28b) ilustram as construções sem e
com alçamento, respectivamente:
(28) a. Acho [
CP
que [
IP
expl
] demorou mais de mês [
PP
pra pobre da Helene
conseguir botar o moleque no mundo]]]. (Miguel Falabella - 1992)
b. Por favor, senhora, [
IP
quanto tempo a gente
i
demora [
PP
pra t
i
encher a
mulher?]] (Carlos Novaes - 1984)
Das 67 ocorrências com os “outros verbos” de alçamento aqui analisados, 21
foram de construções sem alçamento (31% dos dados) e 46 de alçamento padrão
(69% dos dados). A distribuição por período de tempo está representada na tabela
3.9 e no gráfico 3.6 a seguir:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Total
Sem
alçamento
3
(43%)
6
(55%)
0
(0%)
4
(40%)
6
(60%)
0
(0%)
2
(14%)
21
(31%)
Alçamento
4
(57%)
5
(45%)
4
(100%)
6
(60%)
4
(40%)
11
(100%)
12
(86%)
46
(69%)
Total 7
(100%)
11
(100%)
4
(100%)
10
(100%)
10
(100%)
11
(100%)
14
(100%)
67
(100%)
Tabela 3.9: Ocorrências das estruturas de alçamento com os “outros” verbos de alçamento
72
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Pe r ío d o
I
II III IV V VI VII
Sem alçamento
Alçamento
Gráfico 3.6: Ocorrências das estruturas de alçamento com os “demais” verbos na linha do
tempo
Como se pode observar, o não alçamento é a estrutura preferida em dois
momentos: os Períodos II e V. Nos demais períodos de tempo, a situação se inverte,
com um significativo índice de ocorrência da construção com alçamento. A
preferência chega a ser categórica nos Períodos III e VI. De um modo geral, nos dois
últimos períodos, o alçamento é, sem dúvida, a variante vitoriosa, o que confirma as
nossas hipóteses.
A distribuição dos dados na linha do tempo mostra que o alçamento com
esses verbos não é uma estrutura nova no sistema, tendo sido sempre uma opção,
certamente motivada por razões de ordem discursiva. É o que mostram os
percentuais de ocorrência em todos os períodos, especialmente freqüente já nas
peças de Martins Pena, no Período I. Mas não há dúvida de que a mudança na
marcação do PSN, que leva à presença de um elemento à esquerda do verbo, deve
ser responsável pelo crescimento e pela consolidação dessa estratégia no último
quartel do século XX. Esses resultados vão ao encontro dos resultados
apresentados em diversos estudos, entre eles Henriques (2005, 2006b) e Duarte
(2007), que mostram que o alçamento padrão com tais verbos é a estrutura preferida
em ambas as modalidades, a fala e a escrita.
Após uma breve leitura dos resultados gerais, apresentam-se os fatores
lingüísticos que podem estar relacionados à ocorrência da construção sem
alçamento e do alçamento padrão com os sete verbos de alçamento aqui
investigados, particularmente nos períodos em que a escolha entre uma e outra
estratégia não era impulsionada por uma mudança interna ao sistema, que é a
nossa crença em relação aos últimos períodos.
73
3.2.1 A construção sem alçamento
3.2.1.1 A representação do sujeito da encaixada
Como foi feito na seção precedente, começaremos pelo exame da estrutura
do DP sujeito da encaixada, que pode aparecer sob a forma de (a) um DP lexical,
como em (29):
(29) a. Acho [
CP
que [
IP
expl
] demorou mais mais des [
PP
pra pobre da Helene
conseguir botar o moleque no mundo]]]. (Miguel Falabella - 1992)
b. Muito bem, Mr. James. [
IP
expl
] Falta agora [
CP
que o senhor
23
confirme o
que acaba de dizer casando-se com uma brasileira]]. (França Júnior - 1883)
(b) um pronome pleno, como em (30):
(30) a. Agora, [
IP
expl
] basta [
InfP
você esquecer de bajular a máfia de
Gutemberg]]. (Millôr Fernandes - 1979)
b. [
IP
expl
] Não bastava [
InfP
aturar eu o desavergonhado do irmão]]. (Martins
Pena - 1847)
c. Vossa Excelência pode usar de outros termos: [
IP
expl
] basta [
CP
que eles
exprimam o que o seu coração sente]]. (França Júnior - 1862)
(c) ou um pronome nulo de referência definida ou arbitrária, como em (31):
(31) a. Você
i
só fala em emprego de malandro. É agência de automóveis, é
corretagem de imóveis… [
IP
expl
] Só falta [
InfP
[ø]
i
querer ser jogador de
futebol]]. (Millôr Fernandes - 1955)
b. [
IP
Não [ø
expl
] convém mais [
InfP
[ø] mexer nessa história. Já está tudo
explicado. (Armando Gonzaga - 1937)
c. [
IP
expl
] Bastou [
CP
que [ø
arb
] lhe acenassem com a possibilidade de
freqüentar este apartamento]] para que você mudasse completamente…
(Silveira Sampaio - 1949)
23
Consideramos as formas de tratamento como DPs plenos.
74
O gráfico 3.7, abaixo, apresenta os índices referentes à forma de
representação do sujeito da subordinada - DP lexical pleno, pronome pleno,
pronome nulo - nas construções sem alçamento:
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Período
I
II III IV V V I V II
DP lexical pleno
Pronome pleno
Pronome nulo
Gráfico 3.7: Expressão do sujeito da encaixada nas construções sem alçamento com os
“demais” verbos de alçamento (DP lexical, pronome pleno, pronome nulo)
O gráfico mostra que a incidência de sujeitos nulos na oração encaixada se
mantém com elevados índices em 4 dos 5 períodos de tempo em que foram
encontrados dados com a estrutura sem alçamento. O menor percentual é
encontrado no Período I (33%), quando as três estratégias de representação do
sujeito da encaixada apresentam o mesmo índice. Apesar da simplificação dos
paradigmas verbais, a partir do Período IV, o sujeito pleno da oração encaixada é
preterido pela forma não preenchida. Nos Períodos IV e VII, verifica-se que o DP
lexical aparece como a única forma de preenchimento do sujeito da encaixada, com
25% e 50%, respectivamente. Por outro lado, no Período V, o pronome surge como
a única de estratégia de preenchimento, com 33%.
Observemos a tabela 3.10, que apresenta a distribuição dos sujeitos das
encaixadas, incluindo os DPs lexicais, os sujeitos pronominais de terceira pessoa, os
sujeitos de primeira e segunda pessoas e os sujeitos de referência arbitrária (todos
nulos na amostra):
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Pronomes
0/0
1/3
0/0 0/0
1/1
0/0 0/1
75
3ª pessoa
(0%)
(33%)
(0%) (0%)
(100%)
(0%) (0%)
Pronomes
1ª e 2ª
pessoas
1/2
(50%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
0/3
(0%)
1/3
(33%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
Sujeito de
referência
Arbitrária
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
DPs
lexicais
novos
1/1
(100%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(100%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
Tabela 3.10: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com os “demais” verbos
em constrões sem alçamento, segundo a forma de expressão: pleno vs nulo
Os resultados apresentados acima mostram que a preferência pelo sujeito
nulo é notória para todas as formas de expressão do sujeito, excetuando-se, por
razões óbvias, os DPs lexicais novos. O maior índice de preenchimento com
pronomes de 1ª e 2ª pessoas é de 50% no Período I, entretanto, deve-se atentar
para o reduzido número de dados. Por outro lado, os pronomes de 3ª pessoa
aparecem preenchidos na oração encaixada nos Períodos II e V, com 33% e 100%,
respectivamente.
A representação do sujeito da encaixada preferencialmente vazia nas
construções sem alçamento com os demais verbos de alçamento, pelo menos na
amostra utilizada, pode estar associada à estrutura da oração encaixada e à
presença ou não de um clítico dativo junto ao verbo de alçamento na oração matriz.
Abaixo, na tabela 3.11, temos os índices referentes à estrutura da oração
encaixada segundo o verbo de alçamento:
Acabar Bastar Convir Custar Demorar Faltar Levar
CP
0/0
(0%)
5/11
(45%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
3/4
(75%)
0/0
(0%)
InfP
0/0
(0%)
6/11
(55%)
1/1
(100%)
1/3
(33%)
0/0
(0%)
1/4
(25%)
0/0
(0%)
PP
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/3
(66%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
Tabela 3.11: Estrutura da encaixada segundo o tipo de verbo nas construções sem
alçamento com os “demais” verbos
A observação atenta dos dados encontrados na amostra revela que: (i) todas
as construções com os verbos acabar e levar apresentam o alçamento do DP sujeito
da encaixada para a oração matriz; (ii) os verbos bastar e faltar só apresentam
dados sem alçamento; (iii) os verbos convir, custar e demorar são os únicos verbos
76
investigados que apresentaram estruturas com e sem o alçamento do sujeito da
encaixada.
A tabela acima revela que, em relação ao verbo bastar, a construção sem
alçamento pode ocorrer tanto em orações desenvolvidas (45%) quanto em orações
infinitivas (55%), como pode ser observado em (30). O verbo custar, na construção
sem alçamento, tamm pode ocorrer em dois tipos de estruturas, a oração infinitiva,
com 33%, e a oração infinitiva introduzida por preposição, com 67%. Por outro lado,
em relação aos demais verbos, o não alçamento tende ocorrer, preferencialmente,
em um tipo de estrutura. O verbo convir, com apenas 1 dado, apresenta índice de
100% para a ocorrência da estrutura sem alçamento em oração infinitiva, como é
ilustrado em (31b). Enquanto os índices referentes ao verbo faltar indicam que a
construção sem alçamento parece ocorrer, preferencialmente, em orações
desenvolvidas, como pode ser observado em (29b), o verbo demorar, como já era
esperado, prefere o não alçamento em orações infinitivas introduzidas por
preposição, ilustrado em (29a).
Ao contrário do que ocorreu com o verbo parecer (cf. exemplo 7, seção 3.1.1.)
a ocorrência de um clítico dativo junto aos verbos aqui tratados envolve
obrigatoriamente a estrutura de alçamento do sujeito da encaixada e sua
correferência com o clítico, como será mostrado na seção seguinte.
3.2.2 O alçamento padrão
Diversos estudos empíricos mostram que o alçamento padrão (com os verbos
focalizados nesta seção) é uma estrutura extremamente recorrente na fala e na
escrita do PB, diferentemente dos resultados encontrados para o verbo de
alçamento mais prototípico, parecer (cf. Henriques 2005, 2006b; Henriques e Duarte
2006, Duarte 2007). Repetimos, aqui, a tabela 3.9, apresentada no início desta
parte, com a distribuição das duas estruturas, para facilitar a leitura. Mesmo levando
em conta o número reduzido de ocorrências, pode-se dizer que, já partir do Período
I, o alçamento é preferido ao não alçamento, exceto por uma inversão nos períodos
II e V.
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Total
Sem
alçamento
3
(43%)
6
(55%)
0
(0%)
4
(40%)
6
(60%)
0
(0%)
2
(14%)
21
(31%)
77
Alçamento
4
(57%)
5
(45%)
4
(100%)
6
(60%)
4
(40%)
11
(100%)
12
(86%)
46
(69%)
Total 7
(100%)
11
(100%)
4
(100%)
10
(100%)
10
(100%)
11
(100%)
14
(100%)
67
(100%)
Tabela 3.9: Ocorrências das estruturas de alçamento com os outros verbos de alçamento
É interessante notar que essa preferência, embora indo ao encontro da nossa
expectativa de encontrar o crescimento da presença de um elemento à esquerda do
verbo da matriz, vai de encontro aos baixíssimos índices de alçamento padrão com
parecer na fala, sendo preferido o hiperalçamento, como vimos na seção 3.1.4.
Passemos ao exame da expressão do sujeito da encaixada nas construções de
alçamento com os “outros” verbos.
3.2.2.1 A expressão do sujeito alçado
Do total de 46 dados, 5 exibem o clítico dativo numa clara construção de
alçamento, em que o elemento alçado, ao contrário das demais ocorrências, não
ocupa a posição de sujeito do verbo de alçamento, mas se cliticiza a esse verbo,
mantendo-se um expletivo nulo em Spec de IP. A distribuição das 5 ocorrências é
interessante: 4 aparecem com verbo custar+clítico me e estão concentradas no
século XIX: duas no Período I e duas no Período II. A única ocorrência com estrutura
semelhante aparece no Período III, início do século XX, que exibe o verbo convir e o
clítico te. Observem-se os exemplos em (32):
(32) a. Em boa hora o digas. Arre! [
IP
expl
] Custou-me
i
[
InfP
t
i
achar um guarda]].
(Martins Pena - 1838)
b. [
IP
expl
] Custa-me
i
tanto [
InfP
t
i
subir esta escada]]. (França Júnior - 1889)
c. A tal fingida já lhe disse tudo. Não é tanto assim, Senhor Doutor Carlos: a
sociedade não está tão corrompida como julga e [
IP
expl
] custa-me
i
[
PP
a t
i
crer que ainda tão jovem, já esteja tão descrente]]. (França Júnior - 1862)
d. [
IP
expl
] Não te
i
convém [
InfP
t
i
ficar aqui]]. (Gastão Tojeiro - 1918)
Esses resultados, embora numericamente modestos (como, aliás, são todos
os números apresentados nesta pesquisa), são importantes na medida em que
confirmam: (a) a preferência pela posição vazia à esquerda do verbo, mesmo com
alçamento e (b) o progressivo desaparecimento do clítico dativo: a partir do Período
IV, não houve outras ocorrências na amostra. O Português Europeu, que apresenta
78
um sistema produtivo de clíticos (cf. Freire 2000, 2005 entre outros), exibe a
estrutura já ausente do PB em variação com DP nominativo
24
.
Os exemplos em (33) ilustram as ocorrências de alçamento para a posição de
Spec de IP (sujeito) do verbo de alçamento, seja por um DP lexical, um pronome
pleno e um pronome nulo de referência definida ou arbitrária:
(33) a. Não te emagreças por isto não. Daqui a pouco a peste está aí de volta. [
IP
E
o irmão dela
i
tamm não custa [
PP
a t
i
estourar por aí]]. (Antônio Callado -
1954)
b. No final das contas, [
IP
ele
i
acaba [
GerP
t
i
me comendo na soleira da porta]].
(Miguel Falabella -1992)
c. É porque eu
i
pretendo resolver uns negócios e não sei [
IP
quantos dias [ø]
i
levarei [
PP
t
i
para receber o que tenho que receber]]. (Armando Gonzaga -
1937)
d. E, como sempre acontece no Brasil, [
IP
arb
]
i
acabaram [
GerP
t
i
descobrindo
que era homossexual]]. (Millôr Fernandes - 1955)
A distribuição dessas ocorrências se encontra no gráfico abaixo. Lembremo-
nos de que aqui só se encontram as construções com alçamento:
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Período
I
II III IV V V I V II
DP lexical pleno
Pronome pleno
Pronome nulo
Gráfico 3.8: Expressão do sujeito alçado nas construções com alçamento com os “demais
verbos de alçamento (DP lexical, pronome pleno, pronome nulo)
24
Vejam-se os exemplos do PE, extraídos de Duarte (2007: 42):
(i) E depois [
IP
expl
] custa-me
i
imenso [
InfP
t
i
andar a bater-lhe]].
(ii) eh, pá, [
IP
eu
i
custo muito [
PP
a t
i
falar por causa de uma coisa]].
79
Como vimos acima, 5 dos sujeitos alçados se encontram sob a forma de um
clítico. O gráfico acima exclui esses dados. Os resultados apresentados são
bastante significativos para este trabalho. Se nos Períodos I, II e III observamos que
a posição à esquerda dos verbos de alçamento se encontra preferencialmente vazia,
a partir do Período IV, há uma crescente preferência pelo sujeito pleno na oração
matriz, chegando a 75% do total das ocorrências. Esses índices vão ao encontro das
hipóteses levantadas e confirmam os resultados encontrados por Duarte (1993) em
seu estudo diacrônico: a partir do Período IV o paradigma flexional verbal começa a
sofrer alterações, o que teria impulsionado a mudança do PB em direção ao
preenchimento da posição do sujeito pronominal. Em outras palavras, embora o
alçamento tenha sido a opção preferencial em quase todos os períodos, a
representação do sujeito pronominal se fazia por uma categoria vazia. Nos Períodos
IV, VI e VII, a opção pelo pronome pleno é claríssima.
A tabela 3.12, abaixo, apresenta, detalhadamente, a relação sujeito pleno vs
sujeito nulo, segundo a pessoa gramatical. Excluem-se, novamente, os dados com o
clítico dativo junto ao verbo de alçamento na oração matriz:
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
DPs
novos
0/0
(0%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
1/1
(100%)
3/3
(100%)
2/2
(100%)
Pronomes
1ª e
pessoas
0/1
(0%)
0/1
(0%)
0/3
(0%)
2/3
(67%)
1/1
(100%)
4/6
(67%)
5/8
(63%)
Pronomes
de 3ª
pessoa
0/1
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
0/1
(0%)
2/2
(100%)
2/2
(100%)
Sujeito
Arbitrário
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
Total 2
(100%)
3
(100%)
3
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
11
(100%)
12
(100%)
Tabela 3.12: Distribuição dos sujeitos pronominais das encaixadas com os “demais” verbos
em constrões de alçamento, segundo a forma de expressão: pleno vs nulo
Os resultados acima indicam que os pronomes de 1ª e 2ª pessoas aparecem
preferencialmente preenchidos a partir do Período IV. O menor índice de
preenchimento é de 63% no Período VII. Os pronomes de 3ª pessoa aparecem
categoricamente preenchidos, pelo menos na amostra investigada, nos dois últimos
períodos de tempo, o que tamm confirma as nossas hipóteses. Foi encontrado
80
apenas 1 dado com sujeito de referência arbitrária no Período V e 8 dados com DPs
lexicais.
3.2.2.2 A estrutura da oração encaixada
A tabela 3.13 apresenta os resultados referentes ao tipo de estrutura
selecionada pelos verbos de alçamento quando ocorre o alçamento do sujeito da
encaixada para a oração matriz. Note-se que há mais uma possibilidade estrutural: o
GerP, tipo de oração selecionada pelo verbo acabar:
Acabar Bastar Convir Custar Demorar Faltar Levar
CP
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
InfP / GerP 31/31
(100%)
0/0
(0%)
1/1
(100%)
3/5
(60%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
PP
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/5
(40%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
7/7
(100%)
Tabela 3.13: Estrutura da encaixada segundo o tipo de verbo nas construções com
alçamento com os “demais” verbos
Os resultados apresentados acima englobam as 5 construções de alçamento
com o clítico dativo. Foram encontrados na amostra dados de alçamento com 5 dos
7 verbos investigados: acabar, convir, custar, demorar e levar. Os resultados para
acabar e levar são mais expressivos devido ao número de dados. Em relação à
estrutura da encaixada quando ocorre alçamento, para todos os verbos
investigados, o resultado é categórico, com 100%. A única exceção é o verbo custar,
que pode selecionar, na construção de alçamento, tanto um InfP (32 a,b) quanto um
PP (32c), com 60% e 40%, respectivamente. É importante apontar que todas as 3
ocorrências de alçamento com tal verbo em que a estrutura selecionada é um InfP
apresentam o clítico dativo na oração matriz. Se por um lado os verbos demorar
(28b) e levar (33c) selecionam um PP + InfP, nas estruturas de alçamento, por outro,
o verbo acabar seleciona um GerP, como pode ser visto em (33 b,d).
O verbo custar, pelo menos na amostra analisada, foi o único verbo de
alçamento em que se verificou a presença e a ausência de preposição na oração
encaixada, levando-se em consideração os dados sem e com alçamento. Os verbos
levar e demorar, em contrapartida, exibem, obrigatoriamente, uma preposição
81
introduzindo a oração subordinada, tanto nas construções sem alçamento quanto no
alçamento.
Em relação às construções com o alçamento do sujeito da encaixada, 3 das 6
ocorrências com o verbo custar exibem a preposição ‘a’ introduzindo a oração
encaixada. Obviamente, não é possível fazer afirmações categóricas, devido ao
reduzido número de dados. Em (34), são apresentadas essas ocorrências:
(34) a. Mas tamm há [
IP
quem
i
[t
vbl
]
i
custe [
PP
a t
i
morrer como o diabo!]]
(Humberto Cunha - 1938)
b. Não te emagreças por isto não. Daqui a pouco a peste está aí de volta. [
IP
E
o irmão dela
i
tamm não custa [
PP
a t
i
estourar por aí]]. (Antônio Callado -
1954)
Tanto nas construções sem alçamento e com alçamento, o verbo de
alçamento demorar exibe, em sua oração encaixada, a preposição ‘para’ (ou a
variação ‘pra’). Como pode ser visto na tabela acima, foram encontrados apenas
dois 2 dados de alçamento com esse verbo. O verbo levar só apresentou
ocorrências de alçamento nas peças investigadas e em todos os dados a oração
encaixada ou é introduzida pela preposição ‘para’ ou pela preposição ‘a’, como pode
ser observado em (35):
(35) a. É porque eu pretendo resolver uns negócios e não sei [
IP
quantos dias [ø]
i
levarei [
PP
para t
i
receber o que tenho que receber]]. (Armando Gonzaga -
1937)
b. [
IP
Oito dias e oito noites [ø]
i
levei [
PP
a t
i
passar pela tua porta]], e tua não
me aparecias; (…). (Martins Pena - 1847)
A opção por uma das preposições, ‘a’ ou ‘para’, não afeta estruturalmente as
construções. Além disso, as sentenças acima parecem não apresentar diferenças
semânticas entre si.
3.2.2.3 Outros fatores estruturais
À semelhança do que foi constatado em relação às construções de alçamento
padrão com o verbo parecer, a observação atenta dos dados com os demais verbos
82
de alçamento mostrou que alguns fatores parecem contribuir para a ocorrência
dessa construção: o traço semântico, o traço de referência e o tipo de oração em
que o verbo de alçamento se encontra. As tabelas relativas ao traço semântico e de
referência se encontram no Anexo 3.
A análise do traço semântico do DP sujeito alçado, que excluiu as ocorrências
com os pronomes de 1ª e 2ª pessoas, revela que o alçamento é favorecido pelo
traço [+hum, +anim], que apresenta 100% de ocorrência nos Períodos I, II, IV e V.
Os índices referentes ao traço [-anim], nos Períodos VI e VII, não ultrapassam 25%
(cf. Tabela VI no anexo 3).
Em (36) e (37) são apresentadas, respectivamente, ocorrências de alçamento
com o sujeito [+hum, +anim] e [-anim]:
(36) a. Como o homem era importante, o rapaz
i
ficou tolhido, sem [ø]
i
saber como
[ø]
i
explicar o revólver, sem [ø]
i
poder se livrar do homem e [
IP
[ø]
i
acabou
mesmo [
GerP
t
i
desistindo de matar a mulher]]. (Millôr Fernandes - 1955)
b. [
IP
Essa Helene
i
demora muito [
PP
pra t
i
fazer as coisas]]. (Miguel Falabella -
1992)
(37) a. [
IP
Todo passado
i
acaba [
GerP
t
i
sendo ficcional de uma forma ou de outra]].
(Miguel Falabella - 1992)
b. Tá acontecendo alguma coisa, gente. Isso não é normal. [
IP
Esse trem
i
vai
acabar [
GerP
t
i
batendo]]. (João das Neves - 1976)
A análise do traço de referência revela que o traço [+específico] favorece a
implementação do alçamento com os verbos de alçamento focalizados nessa seção.
Apesar de ter sido encontrada apenas 1 ocorrência dessa estrutura no Período I, os
elevados índices encontrados para o tro [+específico] nos Períodos V e VII
atestam a sua supremacia. Entretanto, nos Períodos II e IV, provavelmente devido
ao reduzido número de dados, há um equilíbrio entre os dois traços, com 50% para
cada um. Somente no penúltimo período o traço [+genérico] aparece como
favorecedor do alçamento padrão (cf. Tabela VII no Anexo 3).
Os exemplos apresentados em (38) e (39) ilustram, respectivamente, DPs
sujeito com traço [+específico] e [+genérico]:
83
(38) a. Não te emagreças por isto não. Daqui a pouco a peste está aí de volta. [
IP
E
o irmão dela
i
tamm não custa [
PP
a t
i
estourar por aí]]. (Antônio Callado -
1954)
b. [
IP
Essa Helene
i
demora muito [
PP
pra t
i
fazer as coisas]]. (Miguel Falabella -
1992)
(39) a. Sim, [
IP
as pessoas
i
acabam [
GerP
t
i
se acomodando]], mas se você enfia
três seguidas, aí, não quer mais parar. (Carlos Novaes - 1984)
b. Mas tamm há [
IP
quem
i
[t
vbl
]
i
custe [
PP
a t
i
morrer como a diabo!]]
(Humberto Cunha - 1938)
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Matriz 2/2
(100%)
3/3
(100%)
3/3
(100%)
5/6
(83%)
4/4
(100%)
10/11
(91%)
10/12
(83%)
Completiva
0/2
(0%)
0/3
(0%)
0/3
(0%)
1/6
(17%)
0/4
(0%)
1/11
(9%)
1/12
(8.5%)
Relativa
0/2
(0%)
0/3
(0%)
0/3
(0%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/11
(0%)
0/12
(0%)
Adverbial
0/2
(0%)
0/3
(0%)
0/3
(0%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/11
(0%)
1/12
(8.5%)
Total 2
(100%)
3
(100%)
3
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
11
(100%)
12
(100%)
Tabela 3.14: Tipo de oração vs alçamento com os “demais” verbos
A oração matriz apresenta-se como o tipo de oração mais favorável à
ocorrência do alçamento, como podemos ver na tabela acima. Nos Períodos I, II, III
e V os índices chegam a 100%. E mesmo nos demais períodos, os outros tipos
oracionais apresentam apenas 1 ocorrência, não ultrapassando 17%, como
podemos ver em relação à oração completiva no Período IV. Dessa forma, tanto em
relação a parecer quanto aos demais verbos, pode-se afirmar que o alçamento
padrão ocorre, preferencialmente, quando o verbo de alçamento está localizado em
uma oração matriz. Porém, há algumas diferenças: (i) a oração relativa, nos
Períodos II e III, aparece como um tipo oracional favorável ao alçamento padrão com
o verbo parecer, o que não é constatado na tabela referente aos demais verbos. Não
foram encontradas ocorrências em que os verbos de alçamento estivessem
localizados em uma oração relativa; (ii) por outro lado, diferentemente do que foi
observado para o verbo parecer, foram encontrados mais dados em que os demais
84
verbos de alçamento estivessem localizados em orações completivas (3 ocorrências)
e 1 dado em oração adverbial.
Portanto, em relão ao tipo oracional, verificamos que a oração matriz
favorece a ocorrência do alçamento. Abaixo, em (40), (41) e (42), são apresentados
exemplos da amostra que ilustram, respectivamente, os verbos de alçamento
localizados em uma oração matriz, completiva e adverbial:
(40) [
IP
[ø]
i
Acabo [
GerP
t
i
indo para o hospital]], se não for para o cemitério. (Gastão
Tojeiro - 1918)
(41) a. Enfim, quem ia imaginar [
CP
que [
Ip
eu
i
ia acabar [
GerP
t
i
tendo uma filha
francesa?]]] (Miguel Falabella - 1992)
b. Eu sabia [
CP
que [
IP
você
i
ia acabar [
GerP
t
i
me jogando na cara]]]. (João das
Neves - 1976)
(42) Eu não te falei? Olha aí, tá suando tanto [
CP
que [
IP
[ø]
i
vai acabar [
GerP
t
i
manchando o uniforme]]]. (Miguel Falabella - 1992)
Foi encontrada somente 1 ocorrência de alçamento em que o verbo ser
estivesse localizado na oração encaixada (no Período VII), ao contrário do que
ocorreu para o verbo parecer. Os outros dois dados encontrados com o verbo ser na
encaixada ilustram a ocorrência da construção sem alçamento. Abaixo, em (43),
apresenta-se o único dado encontrado de alçamento com tal verbo:
(43) [
IP
Todo passado
i
acaba [
GerP
t
i
sendo ficcional de uma forma ou de outra]].
(Miguel Falabella - 1992)
Em linhas gerais, a análise atenta dos resultados apresentados nos permite
concluir que:
a) o alçamento do DP sujeito da oração encaixada para a posição não temática à
esquerda dos sete verbos de alçamento focalizados nesta seção é uma estrutura
recorrente no sistema já a partir das peças de Martins Pena, no Período I.
Provavelmente, o alçamento com o clítico dativo junto aos verbos custar e convir
85
seja o responsável pelos índices favoráveis a essa construção em um período de
tempo em que o PB ainda se apresentava como uma língua de sujeito nulo
prototípica. O não alçamento prevalece apenas nos Períodos II e V, no entanto, não
foram encontradas ocorrências com essa construção nos Períodos III e VI. (cf.
gráfico 3.6). Os resultados confirmam as nossas hipóteses, pois atestam que o
alçamento com os verbos acabar, bastar, convir, custar, demorar, faltar e levaro é
uma estrutura nova no PB;
b) o sujeito pronominal, na estrutura sem alçamento, aparece preferencialmente nulo
nos séculos XX e XXI. Somente nos Períodos I e VII há concorrência entre as
estratégias de representação do sujeito da encaixada, com 50% para os pronomes
nulos e 50% para DPs lexicais e pronomes plenos. No alçamento, o pronome nulo
se sobrepõe às demais estratégias até o Período III (depois, somente no Período V),
quando ainda predomina o paradigma flexional 1 (cf. Duarte 1993). Nos Períodos IV,
VI e VII, quando o paradigma já sofreu uma simplificação, o sujeito alçado aparece
preferencialmente pleno através de pronomes;
c) o tipo de estrutura selecionada pelo verbo de alçamento se apresenta como um
fator relevante na ocorrência das estruturas de alçamento. Enquanto os verbos
demorar e levar selecionam obrigatoriamente, tanto na estrutura sem alçamento
quanto no alçamento, um PP, o verbo custar oscila entre esse tipo de oração e um
InfP, em ambas as construções de alçamento. O verbo bastar, no não alçamento,
tamm pode selecionar 2 tipos de estruturas: neste caso, um CP e um InfP. Os
verbos faltar e convir, na amostra, selecionam apenas orações infinitivas e o verbo
acabar, que só apresentou ocorrências de alçamento, orações com gerúndio.
3.3 O que dizem os resultados: confrontando parecer e os “demais” verbos
Neste capítulo, foi feita uma análise dos dados encontrados na amostra de
peças teatrais, separando-se as construções com o verbo de alçamento mais
prototípico, parecer, que permite quatro diferentes estruturas, e as estruturas com os
“outros” verbos, que permitem apenas duas. Contrapondo os resultados, pode-se
verificar que:
86
(i) em relação a parecer, a estrutura sem alçamento, a partir do Período IV, começa
a ser preterida pelas outras construções, chegando a 0% de ocorrência na peça de
1992. O alçamento padrão, por sua vez, não se apresenta como uma estrutura
recorrente na amostra, o que fica evidenciado em seus índices (o maior é 38% no
Período VI) e na sua ausência nos Períodos I, V e VII. O hiperalçamento, construção
que, pelo menos na amostra investigada, só ocorre com o verbo parecer, já
apresenta duas ocorrências na peça de 1918 e se torna uma estrutura amplamente
utilizada no Período VII, com 100%. Os resultados aqui apresentados relativos ao
verbo parecer confirmam nossas hipóteses e vão ao encontrado de outros estudos
empíricos, entre eles Duarte (2004, 2007) e Henriques (2005);
(ii) em relação aos “demais” verbos, o alçamento do DP sujeito da encaixada se
mostra uma estrutura recorrente já a partir do Período I e se apresenta como uma
construção amplamente utilizada nos dois últimos períodos de tempo, o que tamm
corrobora resultados apresentados em estudos anteriores (cf. Duarte op. cit.,
Henriques op. cit.). O alçamento com clítico dativo junto aos verbos custar e convir,
que aparece apenas nos três primeiros períodos de tempo, comprova a
obsolescência dessa construção com o clítico em particular, inserida na redução do
quadro de clíticos no PB;
(iii) diferentemente do que foi encontrado para o verbo parecer nas construções sem
alçamento, o sujeito da encaixada aparece preferencialmente nulo ao longo do
tempo. Em contrapartida, em relação ao alçamento padrão, os dois grupos de
verbos analisados neste trabalho apresentam resultados semelhantes: o pronome
pleno surge, com o passar do tempo, como a estratégia favorita de representação do
sujeito alçado. Esse resultado era esperado, pois a partir da peça de Gastão Tojeiro,
em 1918, o PB já começava a caminhar em direção à mudança na marcação do
Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981) devido, segundo Duarte (1993), à
simplificação do paradigma flexional verbal.
Após esse breve resumo dos resultados, passemos às considerações finais.
87
Considerações finais
A representação do sujeito pronominal do Português Brasileiro, tanto o de
referência definida quanto o de referência indeterminada, está se caracterizando
pela preferência pelo sujeito preenchido, como atestam diversos estudos de Duarte
(1993, 1995, 2000). Assim, pode-se observar que o PB, ao longo do tempo, está
mudando sua marcação em relação ao Parâmetro do Sujeito Nulo (Chomsky 1981),
ou seja, está se tornando uma língua [-prodrop].
Essa mudança na marcação do PSN, segundo proposta de Duarte (1993,
1995), estaria associada à redução do quadro de paradigmas flexionais verbais do
PB. O estudo diacrônico da autora confirma essa hipótese: a simplificação do
paradigma e o crescente preenchimento do sujeito pronominal de referência definida
ao longo do século XX caminharam juntos.
Levando em conta o feixe de propriedades que caracterizam o PSN e a noção
de “encaixamento” da mudança, proposto em Weinreich, Labov e Herzog (1968),
supõe-se que alterações tão profundas no sistema causem algum “efeito colateral”,
afetando, por exemplo, os sujeitos não referenciais.
Por isso, neste trabalho, foi investigada a posição do sujeito não referencial à
esquerda de 8 verbos de alçamento ao longo de sete períodos de tempo (da metade
século XIX até o final do século XX): parecer, que permite 4 possibilidades
estruturais, entre elas o hiperalçamento, não incluída nas descrições das gramáticas
tradicionais, e um outro grupo de verbos (acabar, bastar, convir, custar, demorar,
faltar e levar), que permitem apenas 2 construções. Para a investigação proposta,
analisou-se a mesma amostra de peças teatrais utilizada por Duarte (1993) em seu
estudo diacrônico, ampliada por questões metodológicas, mas mantendo o mesmo
tipo e, quando possível, o mesmo autor.
Algumas hipóteses nortearam o estudo; a maioria delas está relacionada à
simplificação do paradigma flexional verbal do PB ao longo do século XX. Partiu-se
do pressuposto de que, devido a essa redução e à orientação parcial do PB para o
discurso, a variedade brasileira apresentaria uma gradativa preferência ao longo dos
períodos de tempo pelo alçamento do DP sujeito do verbo da oração encaixada para
88
a posição não temática disponível à esquerda dos verbos de alçamento. Entretanto,
em relação ao verbo parecer, acreditava-se, com base em resultados sincrônicos,
que o alçamento padrão não se mostrasse uma construção recorrente nos períodos
de tempo mais recentes e que o hiperalçamento começasse a se implementar no
sistema a partir do último quartel do século XX. Para os demais verbos, defendia-se
a supremacia do alçamento padrão a partir do início do século XX.
Os resultados encontrados confirmam e, em certa medida, superam as
nossas expectativas. A construção de hiperalçamento, não é tão nova no sistema,
uma vez que já apresenta 2 ocorrências na peça de Gastão Tojeiro, no Período III
(1918), quando ainda predominava um paradigma flexionalmente rico e, segundo os
resultados das peças teatrais analisadas por Duarte (1993), o PB ainda preferia o
sujeito referencial nulo. A presença tímida dessa estrutura certamente já sinalizava
uma possibilidade no sistema e talvez já fosse um indício de que uma mudança
maior estava em seu início: a preferência pelo sujeito pronominal pleno. Os
resultados referentes às demais construções de alçamento com o verbo parecer
confirmam nossas hipóteses, na medida em que o alçamento padrão se apresenta
como uma estrutura raríssima na amostra e que o não alçamento, concorria, até o
Período VI, com as outras estruturas de alçamento.
A análise dos resultados relativos aos “demais” verbos de alçamento tamm
confirma as expectativas iniciais: o alçamento com esses verbos é uma estrutura
amplamente recorrente, principalmente nos dois últimos períodos de tempo. Nota-se
que tal construção apresenta um elevado índice de ocorrência já no Período I, nas
peças de Martins Pena, o que, de certa forma, vai além das nossas hipóteses. O
alçamento com clítico dativo com alguns desses verbos tamm é interessante, visto
que as ocorrências encontradas se concentram nos três primeiros períodos de
tempo, quando o PB ainda se comportava como uma língua de sujeito nulo
prototípica (cf. Duarte 1993) e apresentava um sistema de clíticos mais produtivo.
De um modo geral, os resultados apresentados neste trabalho corroboram
diversos estudos relativos ao (não) preenchimento do sujeito não referencial dos
verbos de alçamento, entre eles os de Duarte (2004, 2007), Henriques (2005) e
Henriques e Duarte (2006). Mais do que isso: o estudo diacrônico aqui empreendido
comprova que o a posição não temática à esquerda dos verbos de alçamento é
afetada pela mudança na marcação do Sujeito Nulo, que ocorre, conforme hipótese
de Duarte (1993, 1995), devido à simplificação dos paradigmas flexionais.
89
Dessa forma, acredita-se que este trabalho seja uma importante contribuição
para a investigação da mudança paramétrica em progresso no PB. Além disso, a
análise aqui realizada mostra que a colaboração amistosa entre pressupostos da
Teoria Gerativa e da Teoria da Variação permite uma leitura minuciosa dessa
mudança sintática no PB, representando muito bem aquilo que Kato (2002)
considera um “feliz casamento”.
90
RESUMO
Nos últimos anos, estudos empíricos sobre o português falado do Brasil
indicam que a posição do sujeito pronominal (de referência definida ou arbitrária)
vem sendo preenchida. O PB está mudando sua marcação em relação ao Parâmetro
do Sujeito Nulo, um processo que estaria associado à simplificação do paradigma
flexional verbal ao longo do século XX.
É de se esperar que uma mudança tão profunda ocasione algum “efeito
colateral” no sistema ou, nas palavras de Weinreich, Labov e Herzog (1968), um
“encaixamento”.
Neste trabalho, faz-se um estudo diacrônico, utilizando uma amostra de peças
teatrais escritas por autores brasileiros ao longo dos séculos XIX e XX. Investiga-se
o comportamento do sujeito não referencial dos verbos de alçamento ao longo de
sete períodos de tempo e se esse comportamento está relacionado à redução do
paradigma flexional do PB. A principal hipótese é de que o alçamento padrão e o
hiperalçamento se tornem mais recorrentes ao longo do tempo, seguindo a
tendência de preenchimento dos sujeitos referenciais, à medida que o paradigma
flexional se simplifica. Os resultados da nossa análise confirmam a nossa hipótese,
mostrando uma significativa preferência pela representação fonética de um sujeito
na posição de Spec de IP dos verbos de alçamento. A similaridade observada entre
as peças teatrais mais recentes e os resultados encontrados para a fala espontânea
permite considerar as peças populares como uma importante ferramenta para o
estudo da mudança da língua em sincronias passadas.
91
ABSTRACT
Empirical studies focusing on spoken Brazilian Portuguese have shown that
the representation of the pronominal subject (both referential and arbitrary ones) is
changing: the preference for the full pronominal variant is increasing during the last
decades. PB is becoming a [-prodrop] language, a process of change possibly
related to the reduction of the inflectional paradigm in the second quarter of the 20
th
century.
As a consequence of the parametric change in progress in PB, some
consequences, to which Weinreich, Labov and Herzog (1968) refer to as
“embedding”, are expected.
The present study, based on 20 plays written by Brazilian authors along the
19
th
and 20
th
centuries, focuses on the non-referential subject of raising verbs in the
attempt to investigate if the reduction of the inflectional paradigm and the raising of
the embedded subject to the matrix clause are related. The main hypothesis is that
the raising and hyper-raising constructions will increase along the time, following the
tendency to fill referential subjects, as the inflectional verb paradigm reduces. The
results of our analysis confirm our hypothesis, showing significant preference for the
phonetic representation of a “subject” in Spec of IP of raising verbs. The similarity
found in recent plays with the results for spontaneous speech makes the use of
popular plays an important sample to study language change in past synchronies.
92
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Revisão Técnica de Carlos Alberto Faraco. Posfácio de Maria da
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Editorial, 2006.
100
ANEXO 1
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+hum,+anim]
0/0
(0%)
3/6
(50%)
3/4
(75%)
3/3
(100%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
0/0
(0%)
[-hum,+anim]
0/0
(0%)
0/6
(0%)
0/4
(0%)
0/3
(0%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
0/0
(0%)
[-anim]
0/0
(0%)
3/6
(50%)
1/4
(25%)
0/3
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
Total 0
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
3
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
Tabela I: Traço semântico vs alçamento padrão com o verbo parecer
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+específico]
0/0
(0%)
5/6
(83%)
4/4
(100%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
2/2
(100%)
0/0
(0%)
[+genérico]
0/0
(0%)
1/6
(17%)
0/4
(0%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
Total 0
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
Tabela II: Referência vs alçamento padrão com o verbo parecer
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
Ser
0/0
(0%)
4/6
(67%)
0/4
(0%)
0/3
(0%)
0/0
(0%)
1/3
(33%)
0/0
(0%)
Outros
0/0
(0%)
2/6
(33%)
4/4
(100%)
3/3
(100%)
0/0
(0%)
2/3
(67%)
0/0
(0%)
Total 0 (100%) 6 (100%) 4 (100%) 3 (100%) 0 (100%) 3 (100%) 0 (100%)
Tabela III: Presença do verbo ser na encaixada vs alçamento padrão com parecer
101
ANEXO 2
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Pe r ío d o
I
II III IV V VI VII
DP lexical pleno
Pronome pleno
Pronome nulo
Gráfico I: A representação do sujeito alçado para a posição de sujeito de parecer nas
construções de hiperalçamento (DPs lexicais, pronomes plenos, pronomes nulos)
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+hum,+anim]
0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/2
(100%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
3/5
(60%)
[-anim]
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/2
(0%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
2/5
(40%)
Total 0
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
1
(100%)
0
(100%)
0
(100%)
5
(100%)
Tabela IV: Traço semântico vs hiperalçamento com o verbo parecer
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+específico]
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
1/1
(100%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
5/5
(100%)
[+genérico]
0/0
(0%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
0/1
(0%)
0/0
(0%)
0/0
(0%)
0/5
(0%)
Total 0
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
1
(100%)
0
(100%)
0
(100%)
5
(100%)
Tabela V: A referência vs hiperalçamento com o verbo parecer
102
ANEXO 3
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+hum,+anim] 1/1
(100%)
2/2
(100%)
0/0 (0%)
1/1
(100%)
3/3
(100%)
5/6
(83%)
3/4
(75%)
[-anim]
0/1
(0%)
0/2
(0%)
0/0
(0%)
0/1
(0%)
0/3
(0%)
1/6
(17%)
1/4
(25%)
Total 1
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
3
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
Tabela VI: Traço semântico vs alçamento padrão com os “demais” verbos
Período
I
Período
II
Período
III
Período
IV
Período
V
Período
VI
Período
VII
[+específico] 1/1
(100%)
1/2
(50%)
0/0 (0%)
1/2
(50%)
2/3
(67%)
2/6
(33%)
3/4
(75%)
[+genérico]
0/1
(0%)
1/2
(50%)
0/0
(0%)
1/2
(50%)
1/3
(33%)
4/6
(67%)
1/4
(25%)
Total 1
(100%)
2
(100%)
0
(100%)
2
(100%)
3
(100%)
6
(100%)
4
(100%)
Tabela VII: Sujeito espefico / não específico vs alçamento padrão com os “demais” verbos
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