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De forma concisa, portanto, convém ponderar brevemente acerca das
especificidades de cada uma dessas dimensões de objetivos. No que concerne à
preservação, a preocupação central que exige atenção dos atores e que delimita o
âmbito e a natureza das ações a serem concretizadas é o processo de erosão já
avançado dos saberes tradicionais
25
. Dentre as razões que elucidam este processo
convém salientar, em primeiro lugar, a destruição do meio ambiente natural com o
qual as coletividades tradicionais mantêm uma relação de dependência mútua, daí a
importância dos governos nacionais reconhecerem os direitos exclusivos destas
comunidades em relação às suas terras ancestrais. Em segundo lugar, a
desvalorização e o desaproveitamento dos conhecimentos tradicionais pode
favorecer a renúncia das novas gerações a esta sabedoria e, com isso, igualmente
facilitar a erosão
26
. Ainda, em terceiro lugar, frequentemente estas comunidades
permanecem em situações de pobreza avançada, revelando-se imprescindível a
criação de novas oportunidades econômicas para obstar a pauperização das
mesmas.
As amplitudes e as complexidades inerentes aos fatores acima ordenados, e
a outros que igualmente alicerçam o processo de erosão dos saberes tradicionais,
revelam que as medidas de preservação já esboçadas podem estar direcionadas
25
No que tange ao processo de erosão dos saberes tradicionais, quando direcionado para a esfera da perda da
diversidade lingüística dos povos tradicionais, o parágrafo a seguir elaborado por Gonzalo Oviedo, Aimée
Gonzales e Luisa Mafti, apresenta com clareza a extensão do problema. “Numerous studies have drawn
attention to the fact that a crisis of far greater magnitude than the biodiversity crisis is affecting the world’s
diverse cultures and languages. Recent estimates pout the impending rates of species extinction on Earth at
1,000 to 10,000 times (UNEP, 1995)… By contrast, estimates for the proportion of native languages (and
thus, by and large, the cultures expressed by them) that will have gone extinct or face extinction in the next
100 years are as high as 90 per cent over 6,000 currently spoken languages (Kraus 1992, 1996).” OVIEDO.
Gonzalo, GONZALES. Aimée, and MAFTI. Luisa, “The Importance of Traditional Ecological Knowledge
and Ways to Protect It”, In: TWAROG. Sophia and KAPOOR, Promila (Editors), Protecting and Promoting
Traditional Knowledge: Systems, National Experiences and International Dimensions, New York and
Geneva, United Nations Publication, 2004, p. 74.
26
Um estudo recente conduzido pelo professor indiano Anil K Gupta revelou que o desestímulo aos saberes
tradicionais no contexto das comunidades tradicionais resulta de fatores plurais e, variadas vezes, inter-
relacionados. Uma relação sumária destes fatores pode ser analisada no parágrafo que segue: “The rate of
erosion of local knowledge about biodiversity has never been so high. There are several factors which
explain this: changing family structures, from extended to nuclear families; consequential weakening of the
links between the grand-parent generation, which holds much of this knowledge, and the grand-children
generation; a diminished esteem for this knowledge in primary school curricula; the transition from a largely
oral to a largely written or documented culture; and the inability or unwillingness of many older healers and
herbalists to share their knowledge or agree to its transcription, or to transcribe it themselves.” GUPTA.
Anil. K, WIPO-UNEP Study on the role of intellectual property rights in the sharing of benefits arising from
the use of biological resources and associated traditional knowledge, 2004, p. 39, disponível no site:
http://www.iprsonline.org.