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“... as casas respondiam, de maneira satisfatória, a todas as necessidades
de seus moradores. A palha espessa protegia o interior da chuva, do vento
e, sobretudo, do sol. Quando fazia frio, era aquecida pelo calor das
fogueiras. No calor excessivo, bastava afastar as folhas de broto de babaçu
e deixar que a corrente de ar refrescasse o ambiente. Para o índio das
regiões tropicais do Brasil, o importante era o isolamento do calor do sol,
por isso optaram por uma construção fechada, com apenas duas pequenas
aberturas que servem de portas. Uma arquitetura construída, testada e
vivenciada ao longo de centenas de anos...”
No entanto, com a Revolução Industrial e o desenvolvimento de novas
tecnologias e materiais na construção civil, teve início um processo de
desvalorização gradual da preocupação em adaptar as edificações ao clima, onde a
grande variedade de materiais acarretou, muitas vezes, na aplicação inadequada
dos mesmos em relação ao conforto térmico. (SOUZA, 1990)
HOUGH (1998, apud DUARTE, SERRA, 2003, p. 8) menciona que o
condicionamento artificial tornou possível maior controle das condições climáticas
internas dos edifícios, assim, estas passaram a depender quase que exclusivamente
de sistemas mecânicos. RHEINGANTZ (2001, p. 39) inclusive declara que:
“A função climática do abrigo se dilui com os ajustes das formas
arquitetônicas às novas máquinas... A qualidade do abrigo independe cada
vez mais das relações entre cultura e geografia e as condições de conforto
passam a ser garantidas por meio da tecnologia – a ponto de levar o
homem a colocar-se na posição de ‘criar’ a totalidade do mundo em que
vive.”
Uma etapa importante na história da arquitetura, representando um passo
rumo ao retorno da relevância do clima como um determinante de projeto, se dá
através da obra de Le Corbusier e seu invento: o brise-soleil, “que pode ser
considerado como magistral, uma das poucas inovações estruturais criadas neste
século para o controle ambiental.” (MASCARÓ, 1979, p. 80)
Porém, o envolvimento tecnológico experimentado a partir da II Guerra
Mundial deu continuidade à tendência do controle total das condições ambientais
através dos meios mecânicos; só, então, com a crise do petróleo dos anos 70 e 80
foi evidenciada a fragilidade do modelo até então adotado e...
“...neste contexto que o conforto ambiental surge como um novo e
promissor campo de estudos com o objetivo de estudar a vinculação entre
arquitetura e clima, motivado pela necessidade de controlar o desperdício
de energia provocado pela arquitetura globalizada e seus monumentos de
irracionalidade.” (RHEINGANTZ, 2001, p. 40)