Download PDF
ads:
Universidade Federal de Santa Catarina
Curso de os-Gradua¸ao em Matem´atica e
Computa¸ao Cient´ıfica
Algumas Aplica¸oes Alg´ebricas da
Teoria dos Modelos
Jucavo Savie Rocha
Orientador: Prof. Dr. Newton C. A. da Costa
Florian´opolis
Outubro de 2007
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Universidade Federal de Santa Catarina
Curso de os-Gradua¸ao em Matem´atica e
Computa¸ao Cient´ıfica
Algumas Aplica¸oes Alg´ebricas da
Teoria dos Modelos
Disserta¸ao apresentada ao Curso de os-
Gradua¸ao em Matem´atica e Computa¸ao
Cient´ıfica, do Centro de Ciˆencias F´ısicas e
Matem´aticas da Universidade Federal de
Santa Catarina, para a obten¸ao do grau
de Mestre em Matem´atica, com
´
Area de
Concentra¸ao em ogica Matem´atica.
Jucavo Savie Rocha
Florian´opolis
Outubro de 2007
ads:
Algumas Aplica¸oes Alg´ebricas da
Teoria dos Modelos
por
Jucavo Savie Rocha
Esta Disserta¸ao foi julgada para a obten¸ao do T´ıtulo de “Mestre”,
´
Area de Concentra¸ao em ogica Matem´atica, e aprovada em sua forma
final pelo Curso de os-Gradua¸ao em Matem´atica e
Computa¸ao Cient´ıfica.
Prof. Dr. Cl´ovis Caesar Gonzaga
Coordenador
Comiss˜ao Examinadora
Prof. Dr. Newton Carneiro Affonso da Costa (USP-Orientador)
Prof. Dr. Ivan Pontual Costa e Silva (UFSC)
Prof. Dr. Alexandre Augusto Martins Rodrigues (USP)
Prof. Dr. D´ecio Krause (UFSC)
Prof. Dr. Eliezer Batista (UFSC)
Florian´opolis, Outubro de 2007.
ii
Agradecimentos
Em primeiro lugar gostaria de agradecer `a Carolina, o grande amor da minha vida, por
estar ao meu lado em toda essa etapa da minha vida, por sua dedica¸ao, paciˆencia, alguns
empurr˜oes e, claro, muito amor. Obrigado amor, vocˆe fez muito mais por mim do que eu
poderia sequer imaginar.
Ao professor Newton da Costa por ter me dado a honra de ser meu orientador nesta
disserta¸ao e ao longo desse tempo ter me ensinado um modo diferente de ver a ma-
tem´atica.
Ao professor Ivan por todos os semin´arios que fizemos, os quais garantiram a realiza¸ao
deste trabalho. Professor, obrigado pelo apoio em todo este processo. Obrigado tamb´em
ao Jonas que nos acompanhou em todos os semin´arios e ao professor Antˆonio que nos
ajudou muito no come¸co.
`
A minha grande amiga Dayana, por sua eterna e sincera amizade. Estando perto, ou
ao ao perto, vocˆe est´a sempre disposta a ajudar, obrigado minha amiga. Ao Giuliano
por me mostrar que ´e poss´ıvel ser extremamente inteligente e ter uma humildade maior
ainda. Ao meu querido casal de amigos Rodrigo e Grasielli por toda sua ajuda e incentivo.
Obrigado ao professor Eliezer, que me incentivou muito e tamem por sua participa¸ao
na banca examinadora. Obrigado tamb´em aos professores ecio e Alexandre por aceita-
rem participar da banca.
`
A Elisa por sua ajuda e paciˆencia em todo processo.
`
A Capes, por ter me concedido
uma bolsa de mestrado, sem a qual ao teria conseguido fazer esta disserta¸ao.
`
A minha fam´ılia, que mesmo estando distante se preocupava e me incentivava para
que eu persistisse naqueles momentos de desˆanimo.
Por fim, `as minhas meninas Alcione, Helena, Matilde e Suzana por toda alegria que
elas me trouxeram.
iii
Resumo
Seja K um corpo algebricamente fechado. Dizemos que um subconjunto de K
n
, onde n ´e
um n ´umero natural positivo, ´e construt´ıvel se for uma combina¸ao booleana de conjuntos
Zariski fechados.
Na teoria dos modelos, um subconjunto de K
n
´e dito ser defin´ıvel se todos os elementos
desse conjunto, e somente estes, satisfizerem uma determinada propriedade definida por
uma ormula da linguagem de primeira ordem dos an´eis.
Um dos nossos principais objetivos ser´a mostrar, na teoria dos corpos algebricamente
fechados, a equivalˆencia entre os conjuntos construt´ıveis e os conjuntos defin´ıveis. Como
conseq¨uˆencia disso vamos demonstrar alguns resultados alg´ebricos, como o Nullstellensatz
de Hilbert, utilizando t´ecnicas da teoria dos modelos.
iv
Abstract
Let K be an algebraically closed field. We say that a subset of K
n
, where n is a positive
natural number, is constructible if it is a b oolean combination of Zariski closed sets.
In Model Theory, a subset of K
n
is said be definable if every elements of this set, and
only these elements, satisfy a determined property defined by a formula in the first-order
language or rings.
One of our main goals will be to show, in algebraically closed field theory, the equiva-
lence between the constructible sets and the definable sets. Finally, we will prove some
algebraic results, like the Hilbert’s Nullstellensatz, using Mo del Theory techniques.
v
Sum´ario
Introdu¸ao 1
1 Estruturas 3
1.1 Linguagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Estruturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 ormulas e Senten¸cas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.4 Imers˜oes e Equivalˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2 Teorias 16
2.1 Teorias e Modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Conseq¨uˆencia ogica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3 Conjuntos Defin´ıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3 Teorema da Compacidade 28
3.1 Constru¸ao de Henkin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
3.2 Ultrafiltros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.3 Ultraprodutos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
4 Teorias Completas 45
4.1 κ-Categoricidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Teoremas de owenheim-Skolem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.3 Teoria Universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.4 Elimina¸ao de Quantificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5 Corpos Algebricamente Fechados 74
5.1 Teoria CAF . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
5.2 Topologia de Zariski . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
5.3 Conjuntos Construt´ıveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.4 Nullstellensatz de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.5 Decomposi¸ao Prim´aria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
vi
A Extens˜oes Transcendentes 95
A.1 Extens˜oes Alg´ebricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
A.2 Extens˜oes Transcendentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
Referˆencias Bibliogr´aficas 105
vii
Introdu¸ao
Esta ´e uma disserta¸ao expositiva onde apresentaremos alguns resultados importantes
da teoria de modelos, entre eles o teorema da Compacidade e o teorema de owenheim-
Skolem. Tamem veremos alguns resultados alg´ebricos, como o teorema da Base de
Hilbert, Nullstellensatz de Hilbert (Teorema dos Zeros de Hilbert) e o teorema da Decom-
posi¸ao Prim´aria. Por´em, para a demonstra¸ao de alguns desses resultados alg´ebricos,
usaremos a teoria de modelos.
A descoberta que uma teoria matem´atica pode ter mais que um modelo foi feita no
s´eculo XIX, quando Riemann e Klein estabeleceram a independˆencia do postulado das
paralelas construindo um modelo a partir de outros axiomas da geometria no qual o
postulado das paralelas falha. Esse par´agrafo foi retirado de [2].5.§8.
Trabalharemos em ogica de primeira ordem (veja mais em [2]) sob a teoria de con-
juntos ZF com axioma da escolha, o qual ´e equivalente ao princ´ıpio da boa ordena¸ao
e ao lema de Zorn, que usaremos algumas vezes. Veja em [4] maiores detalhes sobre a
teoria de conjuntos ZF e tais equivalˆencias. Trabalharmos em ogica de primeira ordem ´e
essencial para obtermos alguns resultados como o teorema da compacidade e o teorema de
owenheim-Skolem. Estes, em geral, falham em ogica de ordem superior (veja exemplo
em [14]).
No primeiro cap´ıtulo definiremos o que ´e uma linguagem e o que ´e uma estrutura para
essa linguagem. As estruturas nas quais trabalharemos mais ao grupos, an´eis e corpos, e
no ´ultimo cap´ıtulo daremos uma ˆenfase maior em corpos algebricamente fechados. Ainda
no primeiro cap´ıtulo, veremos o que ao termos, ormulas e senten¸cas, e como interpre-
tar esses termos e verificar se uma senten¸ca ou uma designa¸ao para uma ormula ao
verdadeiras numa estrutura. Definiremos tamb´em o que ao homomorfismos, imers˜oes,
isomorfismos e equivalˆencias elementares entre estruturas.
No segundo cap´ıtulo veremos a defini¸ao de teoria, modelo de uma teoria e satisfati-
bilidade de uma teoria. Estudaremos as conseq¨uˆencias ogicas de uma teoria. Dada uma
estrutura, veremos o que ´e um conjunto ser defin´ıvel nessa estrutura. Mostraremos que o
conjunto dos n´umeros reais ao ´e defin´ıvel no conjunto dos n´umeros complexos.
No terceiro cap´ıtulo usaremos a constru¸ao de Henkin para demonstrar o teorema da
1
Compacidade, o qual diz que uma teoria ´e satisfat´ıvel se, e somente se, qualquer subcon-
junto finito dessa teoria for uma teoria satisfat´ıvel. Veremos tamb´em uma demonstra¸ao
para o teorema da Compacidade atraes de Ultraprodutos.
No quarto cap´ıtulo estudaremos as teorias completas. Uma teoria ´e completa se, dada
uma senten¸ca da linguagem, esta senten¸ca ou a nega¸ao dela ´e conseq¨uˆencia ogica dessa
teoria. Na se¸ao de κ-categoricidade veremos que a teoria dos corpos algebricamente fe-
chados de caracter´ıstica p, onde p = 0 ou p ´e primo, ´e uma teoria completa. Depois,
ainda nesta se¸ao, veremos que toda fun¸ao polinomial injetora de C
n
em C
n
´e sobreje-
tora. Na se¸ao seguinte demonstraremos os teoremas de owenheim-Skolem, ascendente
e descendente. Por ´ultimo, estudaremos algumas teorias que tenham elimina¸ao de quan-
tificadores, isto ´e, dada qualquer ormula da linguagem, esta ormula ´e equivalente, em
qualquer modelo dessa teoria, `a outra ormula livre de quantificadores.
No quinto e ´ultimo cap´ıtulo mostraremos que a teoria dos corpos algebricamente fe-
chados tem elimina¸ao de quantificadores. Estudaremos a topologia de Zariski. Veremos
que os conjuntos construt´ıveis (combina¸ao booleana de conjuntos Zariski fechados) ao
exatamente os conjuntos defin´ıveis nos corpos algebricamente fechados. Por fim, provare-
mos o teorema da Decomposi¸ao Prim´aria, isto ´e, dado um ideal radical de K[x
1
, . . . , x
n
],
onde K ´e um corpo algebricamente fechado, podemos representar esse ideal de forma
´unica por uma intersec¸ao de ideais primos que contenham esse ideal.
2
Cap´ıtulo 1
Estruturas
Intuitivamente uma estrutura ´e um conjunto equipado com opera¸oes, rela¸oes e elementos
distinguidos. Enao escolhemos uma linguagem de primeira ordem onde podemos falar
sobre tais opera¸oes, rela¸oes e elementos. Por exemplo, se queremos estudar a estrutura
(N, +, 0, 1) dos n´umeros naturais com adi¸ao e elementos distinguidos 0 e 1, a linguagem
natural para estudar essa estrutura ´e a linguagem onde temos um s´ımbolo funcional
bin´ario e dois s´ımbolos de constante.
1.1 Linguagens
Defini¸ao 1.1.1 Uma linguagem L ´e uma tripla < F, P, C > onde:
F ´e um conjunto de s´ımbolos funcionais e para cada f F existe um n´umero
natural positivo n
f
que indica a aridade de f;
P ´e um conjunto de s´ımbolos de predicados e para cada p P existe um umero
natural positivo n
p
que indica a aridade de p;
C ´e um conjunto de s´ımbolos de constantes.
Obs.: Qualquer um dos conjuntos F, P ou C pode ser vazio.
Para simplificar a nota¸ao, escreveremos
L = {s; s F ou s P ou s C}
onde ficar´a impl´ıcito o conjunto de s´ımbolos ao qual s pertence. Veja os exemplos a seguir:
Exemplo 1.1.2 Linguagem de grupos:
L
g
=
, e
}
Mais precisamente temos que L
g
=< F
g
, P
g
, C
g
> com F
g
= {·} onde n
·
= 2, P
g
= e
C
g
= {e}.
3
Exemplo 1.1.3 Linguagem de an´eis ordenados: L
ao
= {+, , ·, <, 0, 1}
F
ao
= {+, , ·} onde n
+
= n
·
= 2 e n
= 1, P
ao
= {<} onde n
<
= 2 e C
ao
= {0, 1}.
Exemplo 1.1.4 Linguagem pura de conjuntos: L =
Exemplo 1.1.5 Linguagem de grafos: L = {R}
Onde R ´e um s´ımbolo de predicado bin´ario, ou seja, R P e n
R
= 2.
1.2 Estruturas
Defini¸ao 1.2.1 Seja L uma linguagem. Uma L-estrutura M ´e uma quadrupla
M = (M, {f
M
}
f∈F
, {p
M
}
p∈P
, {c
M
}
c∈C
)
onde:
M ´e um conjunto, denominado universo de M;
Para cada f F, f
M
: M
n
f
M;
Para cada p P, p
M
M
n
p
;
Para cada c C, c
M
M.
Obs.: f
M
, p
M
e c
M
ao ditas interpreta¸oes de f , p e c na L-estrutura M e a cardina-
lidade de M ´e, por defini¸ao, a cardinalidade de seu universo M.
Doravante, utilizaremos a mesma letra em tipografias caligr´afica e regular para desig-
nar uma L-estrutura o seu universo , respectivamente. Por exemplo, M ´e uma L-estrutura
com universo M.
Exemplo 1.2.2 Seja L
g
= , e} a linguagem de grupo vista no exemplo 1.1.2.
Uma L
g
-estrutura G = (G, ·
G
, e
G
) ´e um conjunto G equipado com uma fun¸ao bin´aria ·
G
e um elemento distinguido e
G
.
Por exemplo:
G = (R
, ·, 1) ·
G
= · e
G
= 1
G
= (R, ·, 1) ·
G
= · e
G
= 1
N = (Z, +, 0) ·
N
= + e
N
= 0
N
= (N, +, 0) ·
N
= + e
N
= 0
Note que G
e N
ao ao grupos, por´em ao L
g
-estruturas.
4
Defini¸ao 1.2.3 Seja L uma linguagem. Suponha que M e N ao L-estruturas com
universos M e N respectivamente.
Um L-homomorfismo σ : M N ´e uma aplicao σ : M N que preserva a
interpreta¸ao dos s´ımbolos de L. Mais precisamente:
i. σ(f
M
(a
1
, . . . , a
n
f
)) = f
N
(σ(a
1
), . . . , σ(a
n
f
)), para f F e a
1
, . . . , a
n
f
M;
ii. σ(p
M
) = {(σ(a
1
), . . . , σ(a
n
p
)) N
n
p
; (a
1
, . . . , a
n
p
) p
M
} p
N
para todo
p P;
iii. σ(c
M
) = c
N
, para todo c C.
Uma L-imers˜ao η : M N ´e um L-homomorfismo injetor tal que η
1
(p
N
) = p
M
.
Se M N e a inclus˜ao ´e uma L-imers˜ao, dizemos que M ´e uma L-sub-estrutura
de N ou que N ´e uma L-extens˜ao de M.
Exemplo 1.2.4 Seja L = L
g
{p} onde L
g
´e linguagem de grupo e n
p
= 1. Sejam
M = (Z, +, 0, Z
+
) e N = ( Z, +, 0, Z) L-estruturas, ent˜ao id : M N definida por
id(x) = x ´e um L-homomorfismo.
i. id(x + y) = x + y = id(x) + id(y)
ii. id(p
M
) = id(Z
+
) = Z
+
Z = p
N
iii. id(0) = 0
Note que id ´e injetor, por´em ao ´e imers˜ao, pois id
1
(Z) = Z = Z
+
.
Exemplo 1.2.5 Seja η : Z R definida por η(x) = e
x
, ent˜ao η ´e uma L
g
-imers˜ao de
(Z, +, 0) em (R, ·, 1).
i. η(x + y) = e
x+y
= e
x
· e
y
= η(x) · η(y)
ii. P
g
=
iii. η(0) = e
0
= 1
Injetividade: η(x) = η(y) e
x
= e
y
x = y
Exemplo 1.2.6 (Z, +, 0) ´e uma L
g
-sub-estrutura de (R, +, 0).
Proposi¸ao 1.2.7 Seja L uma linguagem. Suponha M e N L-estruturas e η uma L-
imers˜ao de M em N . Se η ´e bijetora ent˜ao η
1
´e uma L-imers˜ao de N em M.
5
Demonstrao
Sejam M e N os universos de M e N , respectivamente.
i. Sejam f F e a
1
, . . . , a
n
f
N
η
1
(f
N
(a
1
, . . . , a
n
f
)) = η
1
(f
N
(η(η
1
(a
1
)), . . . , η(η
1
(a
n
f
)))) =
= η
1
(η(f
M
(η
1
(a
1
), . . . , η
1
(a
n
f
)))) = f
M
(η
1
(a
1
), . . . , η
1
(a
n
f
))
ii. Sejam p P e a
1
, . . . , a
n
p
N
(a
1
, . . . , a
n
p
) p
N
(η(η
1
(a
1
)), . . . , η(η
1
(a
n
p
))) p
N
(η
1
(a
1
), . . . , η
1
(a
n
p
)) p
M
iii. Seja c C
η(c
M
) = c
N
c
M
= η
1
(c
N
)
Obviamente η
1
´e injetora e pelo item ii. temos que (η
1
)
1
(p
M
) = p
N
Defini¸ao 1.2.8 Seja η uma L-imers˜ao. Se η ´e bijetora, dizemos que η ´e um L-isomorfismo.
A pr´oxima proposi¸ao nos deixar´a aptos a trabalhar com subestruturas ao ines de
imers˜oes, sendo que toda imers˜ao p ode ser vista como uma subestrutura.
Proposi¸ao 1.2.9 Sejam A e N L-estruturas e η : A N uma L-imers˜ao. Ent˜ao
existe uma L-estrutura M tal que M N e A M.
Demonstrao
Vamos definir a L-estrutura M.
Seja M = A
˙
(N \ η(A)). Defina a fun¸ao σ : M N por σ|
A
= η e
σ|
N\η(A)
= id
N
. Claramente σ est´a bem definida e ´e bijetora. Vejamos agora
as interpreta¸oes dos s´ımbolos de L.
Se f ´e um s´ımbolo funcional nario de L, enao interpretaremos f em M por
f
M
: M
n
M
(a
1
, . . . , a
n
) − σ
1
(f
N
(σ(a
1
), . . . , σ(a
n
)))
Se p ´e um s´ımbolo de predicado nario de L, ent˜ao interpretaremos p em M
por
p
M
= {(a
1
, . . . , a
n
) M
n
; (σ(a
1
), . . . , σ(a
n
)) p
N
}
6
Se c ´e um s´ımbolo de constante de L, ent˜ao interpretaremos c em M por
c
M
= σ
1
(c
N
)
Portanto M ´e uma L-estrutura, A M e, por constru¸ao, σ : M N ´e um
isomorfismo.
1.3 ormulas e Senten¸cas
Seja S um conjunto abstrato, cujos elementos ao chamados s´ımbolos, que suporemos
uni˜ao de cinco subconjuntos disjuntos denotados por:
vari´aveis: v, v
1
, v
2
, v
3
, . . .
igualdade: =
conectivos booleanos: , ¬
quantificador:
auxiliares: (, [, ), ]
ormulas ser˜ao seq¨uˆencias finitas de s´ımbolos constru´ıdos atrav´es dos s´ımbolos de uma
linguagem e s´ımbolos de S. (Veja mais em [2] e [12])
No que segue, a menos de defini¸ao expl´ıcita, fixamos uma linguagem L arbitr´aria.
Defini¸ao 1.3.1 O conjunto de L-termos ´e o menor conjunto T tal que:
i. c T para todo c C;
ii. cada s´ımbolo de vari´avel v
i
T , para i = 1, 2 , . . .;
iii. se f F e t
1
, . . . , t
n
f
T , ent˜ao ft
1
. . . t
n
f
T .
Exemplo 1.3.2 Seja L
a
= {+, , ·, 0, 1} a linguagem de an´eis. Exemplos de L
a
-termos:
L
a
-termo Nota¸ao
1. ·v
1
+ v
3
1 v
1
(v
3
1)
2. · + v
1
v
2
+ v
3
1 (v
1
+ v
2
)(v
3
+ 1)
3. +1 + 1 + 11 1 + (1 + (1 + 1))
7
O uso da nota¸ao ´e para facilitar a leitura do termo. No item 1. do exemplo acima temos
que 1 ´e termo pelo item i. da defini¸ao e v
1
e v
3
ao termos pelo item ii., assim, pelo item
iii. temos que 1 ´e termo, depois que +v
3
1 ´e termo e finalmente que ·v
1
+ v
3
1 ´e
termo.
Na L
r
-estrutura (Z, +, , ·, 0, 1) podemos pensar nos termos +1 + 1 + 11 como nome para
o elemento 4 e · + v
1
v
2
+ v
3
1 como nome para a fun¸ao (x, y, z) → (x + y)(z + 1).
Suponha que M ´e uma L-estrutura e que t ´e um L-termo constru´ıdo usando s´ımbolos
de vari´aveis de v = (v
1
, . . . , v
m
), para algum m. Queremos interpretar t como uma fun¸ao
t
M
: M
m
M. Para isso, seja a = (a
1
, . . . , a
m
) M
m
, vamos definir indutivamente
t
M
(a) como:
i. Se t ´e um s´ımbolo de constante c, ent˜ao t
M
(a) = c
M
;
ii. Se t ´e um s´ımbolo de vari´avel v
i
, enao t
M
(a) = a
i
;
iii. Se f F, t
1
, . . . , t
n
f
T e t ´e o termo ft
1
. . . t
n
f
, enao t
M
(a) = f
M
(t
M
1
(a), . . . , t
M
n
f
(a)).
Exemplo 1.3.3 Seja L = {f, g, c}, onde c ´e s´ımbolo de constante e f e g ao s´ımbolos
funcionais com n
f
= 1 e n
g
= 2. Considere os L-termos:
t
1
= gv
1
c
t
2
= fgcfv
1
t
3
= gfgv
1
v
2
gv
1
fv
2
Seja M a L-estrutura (R, exp, +, 1), onde f
M
= exp, g
M
= + e c
M
= 1. Ent˜ao
t
M
1
(a
1
) = a
1
+ 1
t
M
2
(a
1
) = e
1+e
a
1
t
M
3
(a
1
, a
2
) = e
a
1
+a
2
+ (a
1
+ e
a
2
)
Defini¸ao 1.3.4 Dizemos que ϕ ´e uma L-f´ormula atˆomica se ϕ ´e:
i. t
1
= t
2
, onde t
1
, t
2
T ; ou
ii. pt
1
. . . t
n
p
, onde p P e t
1
, . . . , t
n
p
T .
O conjunto de L-f´ormulas ´e o menor conjunto W contendo as L-f´ormulas atˆomicas e tal
que:
I. Se ϕ W, ent˜ao ¬ϕ W;
II. Se ϕ, ψ W, ent˜ao ϕ ψ W;
8
III. Se ϕ W, ent˜ao vϕ W.
Obs.: Algumas nota¸oes e abrevia¸oes:
ϕ ψ := ¬(¬ϕ ¬ψ)
ϕ ψ := ¬ϕ ψ
ϕ ψ := (ϕ ψ) (ψ ϕ)
vϕ := ¬(v¬ϕ)
n
i=1
ϕ
i
:= ϕ
1
. . . ϕ
n
n
i=1
ϕ
i
:= ϕ
1
. . . ϕ
n
Exemplo 1.3.5 Seja L
ao
= {+, , ·, <, 0, 1} a linguagem de an´eis ordenados, ent˜ao ao
exemplos de L
ao
-f´ormulas:
1. v
1
= 0 v
1
> 0
2. v
2
(v
2
· v
2
= v
1
)
3. v
1
(v
1
= 0 v
2
(v
1
· v
2
= 1))
Intuitivamente, o item 1. do exemplo acima nos diz que v
1
0, a o item 2. que v
1
´e um
quadrado e o 3. que todo n´umero diferente de zero tem um inverso multiplicativo.
Gostar´ıamos de estabelecer uma rela¸ao precisa entre ormulas e o que elas dizem
sobre estruturas, e em particular, definir o que significa para uma ormula ser verdadeira
ou falsa numa estrutura. Enquanto em qualquer L
ao
-estrutura o item 3. do exemplo acima
´e ou verdadeira ou falsa, os itens 1. e 2. expressam propriedades que podem ou ao serem
verdadeiras para algum particular elemento da estrutura. Por exemplo, na L
ao
-estrutura
(Z, +, , ·, <, 0, 1), 2. ´e verdade para v
1
= 9, mas ao para v
1
= 8.
Para isso, definiremos indutivamente o que significa uma vari´avel, ocorrendo numa
ormula, ser livre.
Defini¸ao 1.3.6 Se ψ ´e uma ormula livre de quantificadores, ent˜ao toda vari´avel
ocorrendo em ψ ´e livre .
Seja
ϕ
uma ormula. Se
ψ
=
vϕ
, ent˜ao toda ocorrˆencia de
v
em
ψ
´e
limitada
em ψ. Al´em disso, se w ´e outra vari´avel ocorrendo em ψ, w ´e limitada em ψ se, e
somente se, w ´e limitada em ϕ. An´alogo para o caso onde ψ = vϕ.
9
Dada uma ormula ψ, dizemos que uma vari´avel v ocorrendo em ψ ´e livre se ela
ao for limitada em ψ.
No exemplo anterior temos que v
1
´e livre nos itens 1. e 2., e limitada no item 3., a v
2
´e limitada nos itens 2. e 3.. Observe que uma mesma vari´avel pode ser livre e limitada
numa mesma ormula. Veja por exemplo a ormula
v[v = w w(w = v)] u(v = u)
As trˆes primeiras ocorrˆencias de v ao limitadas e a ´ultima ´e livre, a primeira ocorrˆencia
de w ´e livre e as outras duas ao limitadas, e as duas ocorrˆencias de u ao limitadas.
Enao dizemos que uma vari´avel v ´e livre numa ormula ψ se ela ocorre ao menos uma
vez em ψ como vari´avel livre. Logo, no nosso ´ultimo exemplo, v e w ao vari´aveis livres,
por´em u ao ´e.
Defini¸ao 1.3.7 Uma L-senten¸ca ´e uma L-f´ormula sem vari´aveis livres.
Dada uma L-estrutura M, veremos que cada L-senten¸ca ou ´e verdadeira ou ´e falsa em
M. Por outro lado, se ϕ ´e uma ormula com vari´aveis livres entre v
1
, . . . , v
n
, veremos
ϕ como expressando uma propriedade de elementos de M
n
. Escreveremos ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
para deixar expl´ıcito quais ao as vari´aveis de ϕ.
Definiremos o que significa ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ser satisfeita por uma n-upla (a
1
, . . . , a
n
) M
n
,
dita ser uma designa¸ao para v
1
, . . . , v
n
em M.
Defini¸ao 1.3.8 Seja ϕ uma ormula com vari´aveis livres v = (v
1
, . . . , v
n
) e seja
a = (a
1
, . . . , a
n
) M
n
. Indutivamente definimos a rela¸ao M ϕ(a), e dizemos que
M satisfaz ϕ(a) ou que ϕ(a) ´e verdadeira em M da seguinte maneira:
i. Se ϕ ´e t
1
= t
2
, ent˜ao M ϕ(a) sse t
M
1
(a) = t
M
2
(a);
ii. Se ϕ ´e pt
1
. . . t
n
p
, ent˜ao M ϕ(a) sse (t
M
1
(a), . . . , t
M
n
p
(a)) p
M
;
iii. Se ϕ ´e ¬ψ, ent˜ao M ϕ(a) sse M ψ(a);
1
iv. Se ϕ ´e ψ α, ent˜ao M ϕ(a) sse M ψ(a) e M α(a);
v. Se ϕ ´e v
j
ψ(v, v
j
), ent˜ao M ϕ(a) sse existe b M tal que M ψ(a, b).
Obs.: Se ϕ ´e uma senten¸ca, ao tem vari´aveis livres, enao ao depende de uma
designa¸ao para verificar sua veracidade, depende apenas da estrutura. Poder´ıamos ver
da seguinte forma: seja ψ a ormula (v = v) ϕ e M uma estrutura, ent˜ao ψ tem uma
1
Usaremos o s´ımb olo , de forma ´obvia, como a nega¸ao da rela¸ao .
10
vari´avel livre v, por´em para todo a M temos que a = a, logo M ϕ sse M ψ(a)
para todo a M.
´
E importante notar que os quantificadores ( e ) agem somente sobre os elementos
da estrutura. Por exemplo, a propriedade de um corpo ordenado ser completo (todo
subconjunto limitado possui supremo) ao pode ser expressa como uma ormula porque
ao podemos quantificar sobre subconjuntos. O fato de estarmos limitados `a quantifica¸ao
sobre elementos da estrutura ´e uma caracter´ıstica fundamental da ogica de primeira
ordem.
1.4 Imers˜oes e Equivalˆencias
Se uma ormula possui um quantificador existencial e ela ´e satisfeita numa determinada
estrutura por uma designa¸ao, ent˜ao existe, nesta estrutura, uma testemunha para esse
quantificador. Se tomarmos uma subestrutura dessa anterior, nada garante que nesta
haver´a tamb´em uma testemunha para tal quantificador. Veja exemplo 1.4.3. Da mesma
forma, se uma ormula p ossui um quantificador universal, e ´e satisfeita numa determinada
estrutura, enao todo elemento desta estrutura tem que ser uma testemunha para esse
quantificador. O que ao necessariamente acontece para uma extens˜ao dessa estrutura.
Veremos agora que se uma ormula sem quantificadores ´e verdadeira em alguma es-
trutura, enao ela ´e verdadeira em qualquer extens˜ao desta.
Nota¸ao: Se M e N ao L-estruturas, a = (a
1
, . . . , a
n
) M
n
e η ´e uma L-imers˜ao de
M em N , notaremos por η(a) a n-upla (η(a
1
), . . . , η(a
n
)) N
n
.
Proposi¸ao 1.4.1 Suponha M e N L-estruturas e η uma L-imers˜ao de M em N . Sejam
a M
n
e ϕ(v) uma ormula livre de quantificadores. Ent˜ao M ϕ(a) se, e somente se,
N ϕ(η(a)).
Demonstrao
Primeiro veremos que se t(v) ´e um termo e b M
n
, ent˜ao η(t
M
(b)) = t
N
(η(b)).
Isto ´e provado por indu¸ao sobre termos:
i. Se t ´e um s´ımbolo de constante c, ent˜ao
η(t
M
(b)) = η(c
M
) = c
N
= t
N
(η(b))
ii. Se t ´e um s´ımbolo de vari´avel v
i
, enao
η(t
M
(b)) = η(b
i
) = t
N
(η(b))
11
iii. Sejam f F e t
1
, . . . , t
n
f
T e suponha η (t
M
i
(b)) = t
N
i
(η(b)) para
i = 1, . . . , n
f
. Se t ´e igual a f t
1
. . . t
n
f
, enao
η(t
M
(b)) = η(f
M
(t
M
1
(b), . . . , t
M
n
f
(b))) =
= f
N
(η(t
M
1
(b)), . . . , η(t
M
n
f
(b))) =
= f
N
(t
N
1
(η(b)), . . . , t
N
n
f
(η(b))) =
= t
N
(η(b))
Vamos agora provar a proposi¸ao por indu¸ao sobre as ormulas
i. Se ϕ ´e t
1
= t
2
, enao
M ϕ(a) t
M
1
(a) = t
M
2
(a) η(t
M
1
(a)) = η(t
M
2
(a))
t
N
1
(η(a)) = t
N
2
(η(a)) N ϕ(η(a))
ii. Se ϕ ´e pt
1
. . . t
n
p
, onde p P, enao
M ϕ(a) (t
M
1
(a), . . . , t
M
n
p
(a)) p
M
(η(t
M
1
(a)), . . . , η(t
M
n
p
(a))) p
N
(t
N
1
(η(a)), . . . , t
N
n
p
(η(a))) p
N
N ϕ(η(a))
Enao a proposi¸ao ´e verdadeira para as ormulas atˆomicas. Suponha que a
proposi¸ao seja verdadeira para ψ e que ϕ ´e ¬ψ, enao
M ϕ(a) M ψ(a) N ψ(η(a)) N ϕ(η(a))
Finalmente, suponha que a proposi¸ao seja verdadeira para ψ
1
e ψ
2
e que
ϕ = ψ
1
ψ
2
, enao
M ϕ(a) M ψ
1
(a) e M ψ
2
(a)
N ψ
1
(η(a)) e N ψ
2
(η(a)) N ϕ(η(a))
Corol´ario 1.4.2 Suponha M subestrutura de N . Sejam a
1
, . . . , a
n
M e ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
uma ormula livre de quantificadores. Ent˜ao M ϕ(a) se, e somente se, N ϕ(a).
Demonstrao
Como M ´e subestrutura de N , a inclus˜ao de M em N ´e uma imers˜ao. To-
12
mando η da proposi¸ao anterior igual a essa inclus˜ao temos
M ϕ(a) N ϕ(η(a)) N ϕ(a)
Exemplo 1.4.3 Contra-exemplo com quantificador.
Sejam L
a
= {+, , ·, 0, 1}, M = (Z, +, , ·, 0, 1) e N = (R, +, , ·, 0, 1).
Tome
ϕ(v) := v = 0 x(x · v = 1)
e
ψ(v) := v = 0 x(x · v = 1)
Note que M ϕ(2), por´em N ϕ(2). E como ψ = ¬ϕ, M ψ(2) e N ψ(2)
Observe que nesse exemplo M ´e subestrutura de N . Se tomarmos uma extens˜ao A de
N , teremos que A ϕ(2). Assim como se tomarmos uma subestrutura B de M, teremos
que B ψ(2). Vejamos ent˜ao um resultado que esclare¸ca melhor essa situa¸ao.
A pr´oxima proposi¸ao nos diz que se ϕ ´e uma ormula sem quantificador universal
satisfeita por uma estrutura M, ent˜ao qualquer extens˜ao desta satisfaz tal ormula.
Proposi¸ao 1.4.4 Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula livre de quantificadores e M N
L-estruturas. Ent˜ao M v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) implica N v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
).
Demonstrao
Suponha que
M v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
enao existe a
1
, . . . , a
n
M tal que M ϕ(a
1
, . . . , a
n
). Assim, pelo corol´ario
1.4.2, N ϕ(a
1
, . . . , a
n
), portanto
N v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
Como corol´ario temos que se ϕ ´e uma ormula sem quantificador existencial satisfeita por
uma estrutura N , enao qualquer subestrutura desta satisfaz tal ormula.
Corol´ario 1.4.5 Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula livre de quantificadores e M N
L-estruturas. Ent˜ao N v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) implica M v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
).
13
Demonstrao
Suponha que
M v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
enao
M ¬∀v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
logo
M v
1
. . . v
n
¬ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
pela proposi¸ao anterior,
N v
1
. . . v
n
¬ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
portanto
N v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
Defini¸ao 1.4.6 Dizemos que duas L-estruturas M e N ao elementarmente equivalen-
tes e escrevemos M N quando M ϕ N ϕ, para toda L-senten¸ca ϕ.
O conjunto das L-senten¸cas ϕ tais que M ϕ, denotado por T h(M) ´e dito teoria de M.
Proposi¸ao 1.4.7 M N se, e somente se, T h(M) = T h(N ).
Demonstrao
Suponha primeiramente que M N , ent˜ao
ϕ T h(M) M ϕ N ϕ ϕ T h(N )
logo T h(M) = T h(N ).
Agora suponha que T h(M) = T h(N ), ent˜ao
M ϕ ϕ T h(M) ϕ T h(N ) N ϕ
logo M N .
14
Proposi¸ao 1.4.8 Suponha M e N L-estruturas isomorfas, e η : M N ´e um iso-
morfismo. Sejam a M
n
e ϕ(v) uma ormula. Ent˜ao M ϕ(a) se, e somente se,
N ϕ(η(a)).
Demonstrao
a vimos que se ϕ(v) ´e uma ormula livre de quantificadores, a proposi¸ao ´e
verdadeira, pois η ´e uma imers˜ao. Basta-nos enao, mostrar que tamem ´e
alida com quantificadores.
Se ϕ(v) ´e igual a wψ(v, w) e a proposi¸ao ´e verdadeira para ψ, enao
M ϕ(a) existe b M tal que M ψ(a, b)
existe c N tal que N ψ(η(a), c)
N ϕ(η(a))
Corol´ario 1.4.9 Se M e N ao isomorfos, ent˜ao M N .
Demonstrao
Imediata da proposi¸ao anterior.
A no¸ao de equivalˆencia elementar, no entanto, ´e estritamente mais fraca do que a
de isomorfismo entre estruturas. No cap´ıtulo 4 veremos com o teorema de owenheim-
Skolem que existem mo delos elementarmente equivalentes com cardinalidades distintas, e
portanto ao isomorfos.
15
Cap´ıtulo 2
Teorias
2.1 Teorias e Modelos
Defini¸ao 2.1.1 Uma L-teoria T ´e simplesmente um conjunto de L-senten¸cas.
Nos referimos freq¨uentemente a L-teorias simplesmente como teorias, se ao houver perigo
de confus˜ao.
Defini¸ao 2.1.2 Dizemos que uma L-estrutura M ´e um modelo de uma teoria T e de-
notamos por M T, se M ϕ para toda senten¸ca ϕ T.
Exemplo 2.1.3 O conjunto T = {∀x(x = 0), x(x = 0)} ´e uma teoria, por´em ao
tem modelo, pois suas senten¸cas ao contradit´orias. Isto ´e, se M x(x = 0), ent˜ao
M x(x = 0).
Defini¸ao 2.1.4 Uma teoria ´e satisfat´ıvel se ela tem algum modelo.
Dizemos que uma classe de L-estruturas K ´e uma classe elementar se existe uma L-teoria
T tal que K = {M; M T}.
Exemplo 2.1.5 Conjuntos infinitos
T = {∃x
1
x
2
. . . x
n
i<jn
x
i
= x
j

ϕ
n
, para todo n}
Os ´unicos modelos para T ao estruturas de cardinalidade infinita.
Exemplo 2.1.6 Ordem linear L = {<}
ϕ
1
:= x¬(x < x)
ϕ
2
:= xyz((x < y y < z) x < z)
ϕ
3
:= xy(x < y x = y y < x)
16
T
ol
= {ϕ
1
, ϕ
2
, ϕ
3
}
Densidade
ϕ
4
:= xy(x < y z(x < z z < y))
T
old
= T
ol
{ϕ
4
}
Sucessor
ϕ
5
:= xy(x < y z(x < z (z = y y < z)))
T
ols
= T
ol
{ϕ
5
}
Exemplo 2.1.7 Rela¸ao de Equivalˆencia
L = {E} onde E ´e s´ımbolo de predicado e n
E
= 2
ϕ
1
:= xE(x, x)
ϕ
2
:= xy(E(x, y) E(y, x))
ϕ
3
:= xyz((E(x, y) E(y, z)) E(x, z))
T
e
= {ϕ
1
, ϕ
2
, ϕ
3
}
Dois elementos por classe
ϕ
4
:= xy(x = y E(x, y) z(E(x, z) (z = x z = y)))
T
e
= T
e
{ϕ
4
}
Duas classes
ϕ
5
:= xy(¬E(x, y) z(E(x, z) E(y, z)))
T

e
= T
e
{ϕ
5
}
Exemplo 2.1.8 Aritm´etica de Peano
L = {+, ·, s, 0}
ϕ
1
:= x(s(x) = 0)
ϕ
2
:= x(x = 0 y(s(y) = x))
ϕ
3
:= x(x + 0 = x)
ϕ
4
:= xy(x + s(y) = s(x + y))
ϕ
5
:= x(x · 0 = 0)
ϕ
6
:= xy(x · s(y) = (x · y) + x)
e para cada ormula ψ(v, w) defina a senten¸ca:
ϕ
ψ
:= w[(ψ(0, w) v(ψ(v, w) ψ(s(v), w))) (x, w)]
17
T = {ϕ
1
, ϕ
2
, ϕ
3
, ϕ
4
, ϕ
5
, ϕ
6
} {ϕ
ψ
; ψ(v, w) ´e ormula}
Exemplo 2.1.9 Grupos L
g
= {+, 0}
ϕ
1
:= x(0 + x = x + 0 = x)
ϕ
2
:= xyz((x + y) + z = x + (y + z))
ϕ
3
:= xy(x + y = y + x = 0)
T
g
= {ϕ
1
, ϕ
2
, ϕ
3
}
Grupos abelianos
ϕ
4
:= xy(x + y = y + x)
T
ga
= T
g
{ϕ
4
}
Grupos abelianos ordenados L
go
= {+, <, 0}
ϕ
5
:= xyz(x < y (x + z < y + z))
T
gao
= T
ga
T
ol
{ϕ
5
}
Exemplo 2.1.10 An´eis L
a
= {+, , ·, 0, 1}
ϕ
1
:= xyz(x y = z x = y + z)
ϕ
2
:= x(x · 0 = 0)
ϕ
3
:= xyz(x · (y · z) = (x · y) · z)
ϕ
4
:= x(x · 1 = 1 · x = x)
ϕ
5
:= xyz(x · (y + z) = (x · y) + (x · z))
ϕ
6
:= xyz((x + y) · z) = (x · z) + (y · z)
T
a
= T
ga
{ϕ
1
, ϕ
2
, ϕ
3
, ϕ
4
, ϕ
5
, ϕ
6
}
Aeis comutativos
ϕ
7
:= xy(x · y = y · x)
T
ac
= T
a
{ϕ
7
}
Dom´ınios de integridade
ϕ
8
:= xy(x · y = 0 (x = 0) (y = 0))
T
d
= T
ac
{ϕ
8
}
18
Corpos
ϕ
9
:= x(x = 0 y(x · y = 1))
T
c
= T
ac
{ϕ
9
}
Corpos algebricamente fechados
µ
n
:= a
0
. . . a
n1
x
x
n
+
n1
i=0
a
i
x
i
= 0
CAF = T
c
{µ
n
; n N
}
Corpos algebricamente fechados de caracter´ıstica p
ψ
p
:= x x + . . . + x

p vezes
= 0
Se p ´e primo
CAF
p
= CAF {ψ
p
}
Se p = 0
CAF
0
= CAF ψ
p
; p > 0}
Exemplo 2.1.11 Corpos ordenados L
ao
= L
a
{<}
ϕ
1
:= xyz(x < y x + z < y + z)
ϕ
2
:= xyz((x < y 0 < z) x · z < y · z)
T
co
= T
ol
T
c
{ϕ
1
, ϕ
2
}
2.2 Conseq¨uˆencia ogica
Defini¸ao 2.2.1 Sejam T uma L-teoria e ϕ uma L-senten¸ca. Dizemos que ϕ ´e con-
seq¨uˆencia ogica de T, e denotamos por T ϕ, se M ϕ sempre que M T.
Exemplo 2.2.2 Sejam L = L
go
e T = T
gao
, como no exemplo 2.1.9. Ent˜ao a senten¸ca
ϕ := x(x = 0 x + x = 0) ´e uma conseencia ogica de T.
Suponha M = (M, +, <, 0) um modelo de T, isto ´e, um grupo abeliano orde-
nado. Seja a M \ {0}, devemos mostrar que a + a = 0. Bom, temos que
a < 0 ou 0 < a. Se a < 0 ent˜ao a + a < 0 + a = a < 0, e como ¬(0 < 0), temos
a + a = 0. Se 0 < a ent˜ao 0 < a = 0 + a < a + a, logo a + a = 0. Portanto,
19
como tomamos M um modelo arbitr´ario de T e a senten¸ca ϕ ´e verdadeira em
M, temos que ϕ ´e conseq¨uˆencia ogica de T.
Exemplo 2.2.3 Seja T a teoria de grupos onde todo elemento tem ordem 2, ou seja,
T = T
g
{∀x(x + x = 0)}. Ent˜ao ϕ := x
1
x
2
x
3
(x
1
= x
2
x
2
= x
3
x
1
= x
3
) ao ´e
consequencia ogica de T.
Claramente Z
2
´e modelo de T, por´em Z
2
ϕ.
Defini¸ao 2.2.4 Sejam T e T
L-teorias. Dizemos que T
´e conseq¨uˆencia de T se T ϕ
para toda senten¸ca ϕ T
, e denotamos por T T
. Al´em disso, se T
T, dizemos que
T
´e uma axiomatiza¸ao de T.
Exemplo 2.2.5 T
c
T
d
Para isso basta ver que
T
c
xy(x · y = 0 (x = 0) (y = 0))
De fato, sejam M T e a, b M tais que a · b = 0. Suponha que a = 0,
enao, como
M x(x · 1 = 1 · x = x)
M x(x = 0 y(x · y = 1))
M xy(x · y = y · x)
M xyz(x · (y · z) = (x · y) · z)
M x(x · 0 = 0)
existe c M tal que
b = 1 · b = (a · c) · b = (c · a) · b = c · (a · b) = c · 0 = 0
Logo M T
d
e portanto T
c
T
d
2.3 Conjuntos Defin´ıveis
Defini¸ao 2.3.1 Seja M = (M, {f
M
}
f∈F
, {p
M
}
p∈P
, {c
M
}
c∈C
) uma L-estrutura. Di-
zemos que X M
n
´e defin´ıvel se existem uma L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
m
) e
b M
m
tais que X = {a M
n
; M ϕ(a, b)}. Neste caso dizemos que ϕ(v, b) define
X. Tamb´em dizemos que X ´e A-defin´ıvel ou defin´ıvel por A se existem uma L-f´ormula
ψ(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
l
) e d A
l
, onde A M, tais que ψ(v, d) define X.
20
Exemplo 2.3.2 Seja L
a
= {+, , ·, 0, 1} linguagem de an´eis. Suponha M = (R, +, , ·, 0, 1)
um anel. Seja p(X) R[X]. Ent˜ao Y = {x R; p(x) = 0} ´e defin´ıvel.
Suponha
p(X) =
n
i=0
a
i
X
i
Seja ϕ(v, w
0
, . . . , w
n
) a ormula
w
n
v
n
+ . . . + w
1
v + w
0
= 0
Enao ϕ(v, a
0
, . . . , a
n
) define Y , logo Y ´e A-defin´ıvel para qualquer
A {a
0
, . . . , a
n
}.
Exemplo 2.3.3 Suponha L
a
como no exemplo anterior e M = (R, +, , ·, 0, 1) o corpo
dos umeros reais. Ent˜ao Or = {(a, b) R
2
; a < b} ´e defin´ıvel.
Seja ϕ(x, y) a ormula
z(z = 0 y = x + z
2
)
Enao a < b sse M ϕ(a, b), logo Or ´e -defin´ıvel.
Exemplo 2.3.4 Sejam L
ao
a linguagem dos an´eis ordenados e M = (R, +, , ·, 0, 1) o
corpo ordenado dos n´umeros reais. Suponha que X R
n
´e A- defin´ıvel. Ent˜ao o fecho
topol´ogico de X tamb´em ´e A-defin´ıvel.
Suponha que ϕ(v, a), para algum a A
m
, define X.
Seja ψ(v, w) a ormula
ε
ε > 0 y
1
. . . y
n
ϕ(y, w)
n
i=1
(v
i
y
i
)
2
< ε

Enao b est´a no fecho de X sse M ψ(b, a). Portanto X ´e A-defin´ıvel.
Vejamos agora uma caracteriza¸ao para a defini¸ao de conjuntos defin´ıveis.
Defini¸ao 2.3.5 Seja M uma L-estrutura. Dizemos que D = (D
n
P(M
n
); n 1) ´e a
menor cole¸ao tal que:
i. M
n
D
n
;
ii. para todo s´ımbolo funcional f nario de L, o gr´afico de f
M
est´a em D
n+1
;
21
iii. para todo s´ımbolo de predicado p nario de L, p
M
D
n
;
iv. para todo i < j n, {(x
1
, . . . , x
n
) M
n
; x
i
= x
j
} D
n
;
v. se X D
n
, ent˜ao M × X D
n+1
;
vi. cada D
n
´e fechado com rela¸ao ao complementar, uni˜ao e interseao;
vii. se X D
n+1
e π
n
: M
n+1
M
n
´e a proje¸ao definida por π
n
(x
1
, . . . , x
n+1
) =
(x
1
, . . . , x
n
), ent˜ao π
n
(X) D
n
;
viii. se X D
n+m
e b M
m
, ent˜ao { a M
n
; (a, b) X} D
n
.
Lema 2.3.6 Sejam X D
n
e α
n
: {1, . . . , n} {1, . . . , n} uma bije¸ao. Ent˜ao
Y =
(y
1
, . . . , y
n
) M
n
; x
1
. . . x
n
n
i=1
(y
i
= x
α
n
(i)
) (x X)

D
n
.
Demonstrao
Pelo item iv. da defini¸ao, temos que
A
i
= {(y, x) M
2n
; y
i
= x
α
n
(i)
} D
2n
Usando o item v. n vezes, temos que
M
n
× X D
2n
Portanto, pelo item vi. e usando o item vii. n vezes, temos
Y =
(y
1
, . . . , y
n
) M
n
; x
1
. . . x
n
n
i=1
(y
i
= x
α
n
(i)
) (x X)

=
= π
n
. . . π
2n1
n
i=1
A
i
(M
n
× X)
D
n
Teorema 2.3.7 X M
n
´e defin´ıvel se, e somente se, X D
n
.
Demonstrao
Primeiro veremos que os conjuntos defin´ıveis satisfazem as propriedades
(i.-viii.). Como D ´e a menor cole¸ao com tais propriedades, cada X D
n
ser´a defin´ıvel.
22
i. Seja ϕ(v) a ormula v
1
= v
1
, enao
M
n
= {x M
n
; x
1
= x
1
} = {x M
n
; M ϕ(x)}
´e defin´ıvel;
ii. Sejam f um s´ımbolo funcional nario e ϕ(v, w) a ormula fv
1
. . . v
n
= w,
enao
Graf(f) = {(x, y) M
n+1
; f(x) = y} = {(x, y) M
n+1
; M ϕ(x, y)}
´e defin´ıvel;
iii. Sejam p um s´ımbolo de predicado nario e ϕ(v) a ormula pv
1
. . . v
n
, enao
p
M
= {x M
n
; M ϕ(x)}
´e defin´ıvel;
iv. Seja ϕ
ij
(v) a ormula v
i
= v
j
, onde i < j n, ent˜ao
X
ij
= {x M
n
; x
i
= x
j
} = {x M
n
; M ϕ
ij
(x)}
´e defin´ıvel;
v. Suponha que X M
n
´e definido pela ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, a), para al-
gum a M
m
, enao
M × X ´e definido p ela ormula ψ(v
1
, . . . , v
n+1
, a) := ϕ(v
2
, . . . , v
n+1
, a)
vi. Se X M
n
´e definido por ϕ(v, a) e Y M
n
´e definido por ψ(v, b), enao
M \ X ´e definido por ¬ϕ(v, a)
X Y ´e definido por ϕ(v, a) ψ(v, b)
X Y ´e definido por ϕ(v, a) ψ(v, b)
vii. Se X M
n+1
´e definido por ϕ(v
1
, . . . , v
n+1
, a), enao
π
n
(X) ´e definido por ψ(v
1
, . . . , v
n
, a) := v
n+1
ϕ(v
1
, . . . , v
n+1
, a)
viii. Se X M
n+m
´e definido por ϕ(v
1
, . . . , v
n+m
, c) e b M
m
, enao
{a M
n
; (a, b) X} ´e definido por ϕ(v
1
, . . . , v
n
, b, c)
23
Enao, se X D
n
, X ´e defin´ıvel.
Agora mostraremos que se X M
n
´e defin´ıvel, ent˜ao X D
n
.
Primeiro vamos provar por indu¸ao sobre termos que se t(v
1
, . . . , v
n
) ´e um
termo, enao Y = {(x, y) M
n+1
; t
M
(x) = y} D
n+1
.
Se t ´e um s´ımbolo de constante c, ent˜ao por iv. temos
A = {(x, x) M
2
} D
2
e por viii. temos
{c
M
} = {x M; (x, c
M
) A} D
1
Aplicando n vezes v. temos
Y = {(x, y) M
n+1
; t
M
(x) = y} = {(x, c
M
); x M
n
} D
n+1
Se t ´e um s´ımbolo de vari´avel v
j
, enao por i. temos
M
n
D
n
e por iv. temos
Y = {(x, y) M
n
+1
; t
M
(x) = y} = {(x, x
j
); x M
n
} D
n+1
Seja t o termo ft
1
. . . t
m
. Por indu¸ao, supomos que G
i
D
n+1
onde G
i
´e o gr´afico de t
M
i
: M
n
M, i = 1, . . . , m. Seja G D
m+1
o gr´afico de
f
M
. Ent˜ao, para i = 1, . . . , m, por v. temos
A
i
= {(y, z
1
, . . . , z
i1
, z
i+1
, . . . , z
m
, x, z
i
) M
m+n+1
; (x, z
i
) G
i
} =
= M
m
× G
i
D
m+n+1
e
B
= {(x, z, y) M
n+m+1
; (z, y) G} = M
n
× G D
n+m+1
Logo, pelo lema anterior, temos
A
i
= {(x, y, z) M
m+n+1
; (x, z
i
) G
i
} D
m+n+1
24
e
B = {(x, y, z) M
m+n+1
; (z, y) G} D
m+n+1
Portanto, por vi. temos
Y = {(x, y) M
n+1
; t
M
(x) = y} =
= {(x, y) M
n+1
; f
M
(t
M
1
(x), . . . , t
M
m
(x)) = y} =
=
(x, y) M
n+1
; z
1
. . . z
m
m
i=1
(x, z
i
) G
i
(z, y) G

=
= π
n+1
. . . π
m+n
m
i=1
A
i
B
D
n+1
Agora, por indu¸ao sobre ormulas, mostraremos que todo X M
n
-defin´ıvel
est´a em D
n
.
Seja ϕ a ormula t
1
= t
2
, onde t
1
e t
2
ao termos. Enao
X = {x M
n
; t
M
1
(x) = t
M
2
(x)} =
= {x M
n
; y(t
M
1
(x) = y t
M
2
(x) = y)} =
= π
n
({(x, y) M
n+1
; t
M
1
(x) = y} {(x, y) M
n+1
; t
M
2
(x) = y}) D
n
Seja ϕ a ormula pt
1
. . . t
m
, onde p P e t
1
, . . . , t
m
ao termos. Enao,
para i = 1, . . . , m, temos
A
i
= {(z
1
, . . . , z
i1
, z
i+1
, . . . , z
m
, x, z
i
) M
m+n
; (t
M
i
(x), z
i
) G
i
} =
= M
m1
× G
i
D
m+n
e
B = M
n
× p
M
D
n+m
Logo, pelo lema anterior, temos
A
i
= {(x, z) M
m+n
; (t
M
i
(x), z
i
) G
i
} D
m+n
Portanto, por vi. temos
X = {x M
n
; (t
M
1
(x), . . . , t
M
m
(x)) p
M
} =
=
x M
n
; z
1
. . . z
m
m
i=1
(t
M
i
(x), z
i
) G
i
z p
M

=
= π
n
. . . π
m+n1
m
i=1
A
i
B
D
n
25
Suponha que {x M
n
; M ψ(x)}, {x M
n
; M α(x)} D
n
. Ent˜ao
Se ϕ ´e ¬ψ, enao
X = {x M
n
; M ϕ(x)} = {x M
n
; M ψ(x)} =
= M
n
\ {x M
n
; M ψ(x)} D
n
Se ϕ ´e ψ α , ent˜ao
X = {x M
n
; M ϕ(x)} = {x M
n
; M ψ(x) e M α(x)} =
= {x M
n
; M ψ(x)} {x M
n
; M α(x)} D
n
Se ϕ(v
1
, . . . , v
n1
) ´e v
n
ψ(v
1
, . . . , v
n
), enao
X = {x M
n1
; M ϕ(x)} =
= {x M
n1
; existe y M tal que M ψ(x, y)} =
= π
n1
({(x, y) M
n
; M ψ(x, y)}) D
n1
Portanto temos que todos os conjuntos -defin´ıveis est˜ao em D. Agora suponha
X M
n
definido por ϕ(v, a), onde a M
m
. Ent˜ao, seja Y M
n+m
definido
por ϕ(v, w). Note que Y ´e -defin´ıvel, logo Y D
n+m
. Assim, pelo item viii.
X = {x M
n
; M ϕ(x, a)} = {x M
n
; (x, a) Y } D
n
Proposi¸ao 2.3.8 Seja M uma L-estrutura. Se X M
n
´e A-defin´ıvel, ent˜ao, para
qualquer L-automorfismo σ tal que σ(a) = a para todo a A, σ(X) = X.
Demonstrao
Suponha que ψ(v, a) define X, onde a A
m
. Seja σ um automorfismo de M
tal que σ(a) = a e seja b M
n
. Em particular σ ´e um isomorfismo, ent˜ao
M ψ(b, a) M ψ(σ(b), σ(a)) M ψ(σ(b), a)
Portanto b X sse σ(b) X.
Exemplo 2.3.9 Contra-exemplo da rec´ıproca da proposi¸ao anterior.
26
Seja σ : C C um automorfismo.
Enao devemos ter que σ(0) = 0 e σ(1) = 1.
Pelas propriedades de homomorfismo temos que σ(a) = a para todo a Z,
pois se a > 0,
σ(a) = σ(1 + . . . + 1

a×
) = σ(1) + . . . + σ(1)

a×
= 1 + . . . + 1

a×
= a
se a < 0,
σ(a) = σ(a) = (a) = a
Portanto qualquer automorfismo de C fixa Z, por´em veremos no corol´ario 5.3.4
que Z ao ´e defin´ıvel em C.
Corol´ario 2.3.10 O conjunto dos umeros reais ao ´e defin´ıvel no corpo dos n ´umeros
complexos.
Demonstrao
Suponha que R seja defin´ıvel em C. Ent˜ao existe um conjunto A C finito
tal que R seja A-defin´ıvel. Seja K
1
= K[A] o corpo gerado por A e seja
η
1
: K
1
K
1
igual `a identidade. Como A ´e finito, K
1
e seu fecho alg´ebrico
ao enumer´aveis. Assim, existem r, s C com r R e s / R tais que r e s
sejam algebricamente independentes sobre K
1
.
Tome K
2
= K
1
(r, s). Pelo teorema A.2.3, podemos estender η
1
para um
isomorfismo η
2
: K
2
K
2
onde η
2
(r) = s e η
2
(s) = r. Pelo teorema A.2.12,
podemos estender η
2
para um isomorfismo η : C C.
Como supomos que R ´e A-defin´ıvel em C e η fixa todos os pontos de A,
pela proposi¸ao anterior, temos que η(R) = R, o que ´e um absurdo, pois
η(r) = η
2
(r) = s / R. Portanto R ao ´e defin´ıvel em C.
27
Cap´ıtulo 3
Teorema da Compacidade
Sejam L uma linguagem e T uma L-teoria. Ent˜ao T ´e satisfat´ıvel se, e somente se, todo
subconjunto finito de T ´e uma teoria satisfat´ıvel. Claramente todo modelo de T ´e modelo
de qualquer subconjunto de T. Veremos agora, duas formas distintas de provar a outra
implica¸ao.
3.1 Constru¸ao de Henkin
Fixe L uma linguagem.
Defini¸ao 3.1.1 Seja T uma L-teoria. Ent˜ao
T ´e finitamente satisfat´ıvel se todo subconjunto finito de T ´e satisfat´ıvel.
T tem a propriedade do testemunho se, sempre que ϕ(v) ´e uma ormula com uma
vari´avel livre, existe um s´ımbolo de constante c L tal que T (vϕ(v)) ϕ(c).
T ´e maximal se para toda ormula ϕ, ou ϕ T ou ¬ϕ T.
Lema 3.1.2 Seja T uma L-teoria maximal. Ent˜ao ϕ T se, e somente se, T ϕ.
Demonstrao
Se ϕ T, obviamente T ϕ.
Agora, suponha que T ϕ e ϕ / T, ent˜ao, pela maximalidade de T, ¬ϕ T.
Assim, para todo M T, M ¬ϕ o que implica M ϕ, absurdo, visto que
T ϕ M ϕ.
28
Lema 3.1.3 Seja T uma L-teoria maximal e finitamente satisfat´ıvel. Se T ´e finito
e ϕ ent˜ao ϕ T.
Demonstrao
Suponha que ϕ / T, como T ´e maximal, ¬ϕ T. Mas ent˜ao ϕ} ´e
finito e insatisfat´ıvel, pois se M fosse modelo de ϕ}, tamem o seria
de e logo M ϕ o que implica M ¬ϕ, absurdo. Portanto ϕ T.
Lema 3.1.4 Seja T uma L-teoria maximal, finitamente satisfat´ıvel com a propriedade do
testemunho. Ent˜ao T ´e satisfat´ıvel. Aem disso, se κ ´e um cardinal e L tem no aximo
κ s´ımbolos de constante, ent˜ao existe M T com |M| κ.
Demonstrao
Seja C o conjunto de s´ımbolos de constante de L. Dados c, d C, dizemos que
c d sse c = d T.
Note que ´e uma rela¸ao de equivalˆencia. De fato, obviamente c = c T,
e se c = d, d = e T, enao, pelo lema 3.1.3, d = c, c = e T, visto que
{c = d} d = c e {c = d d = e} c = e.
O universo de nosso modelo ser´a M = C/ . Claramente |M| κ.
Denotaremos por c
a classe de equivalˆencia de c e interpretaremos c pela
classe de equivalˆencia, isto ´e, c
M
= c
.
Seja p um s´ımbolo de predicado nario de L. Suponha c
1
, . . . , c
n
, d
1
, . . . , d
n
C
e c
i
d
i
para i = 1, . . . , n, ent˜ao, como c
i
= d
i
T, pelo lema 3.1.3 temos
que
pc
1
. . . c
n
T
n
i=1
c
i
= d
i
, pc
1
. . . c
n
pd
1
. . . d
n
pd
1
. . . d
n
T
pd
1
. . . d
n
T
n
i=1
c
i
= d
i
, pd
1
. . . d
n
pc
1
. . . c
n
pc
1
. . . c
n
T
Portanto pc
1
. . . c
n
T sse pd
1
. . . d
n
T.
Interpretaremos p como
p
M
= {(c
1
, . . . , c
n
); pc
1
. . . c
n
T}
29
Sejam f um s´ımbolo funcional nario de L e c
1
, . . . c
n
C, como T tem a
propriedade do testemunho e vfc
1
. . . c
n
= v, pelo lema 3.1.3, existe
c
n+1
C tal que f c
1
. . . c
n
= c
n+1
T.
T {∃vfc
1
. . . c
n
= v fc
1
. . . c
n
= c
n+1
} fc
1
. . . c
n
= c
n+1
Como anteriormente, se d
1
, . . . , d
n+1
C e c
i
= d
i
T, para i = 1, . . . , n + 1,
enao fd
1
. . . d
n
= d
n+1
T. Al´em disso, por f ser um s´ımbolo funcional, se
e
1
, . . . , e
n+1
C, c
i
= e
i
T, para i = 1, . . . , n, e fe
1
. . . e
n
= e
n+1
T, enao
c
n+1
= e
n+1
T.
Assim, interpretaremos f como a fun¸ao f
M
: M
n
M definida por
f
M
(c
1
, . . . , c
n
) = d
sse fc
1
. . . c
n
= d T
Seja t um termo com n vari´aveis livres v
1
, . . . , v
n
. Mostraremos que, se
c
1
, . . . , c
n
, d C, enao t(c
1
, . . . , c
n
) = d T sse t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = d
.
Suponha que t(c
1
, . . . , c
n
) = d T. Veremos por indu¸ao sobre termos que
t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = d
.
i. Se t ´e um s´ımbolo de constante c C, ent˜ao c = d T e t
M
(c
) = c
= d
.
ii. Se t ´e um s´ımbolo de vari´avel v
i
, enao c
i
= d T e t
M
(c
) = c
i
= d
.
iii. Se t ´e o termo ft
1
. . . t
m
, onde f ´e um s´ımbolo funcional mario de L e,
para i = 1, . . . , m, t
i
´e um termo tal que, se c
i
1
, . . . , c
i
n
, d
i
C, ent˜ao
t
i
(c
i
1
, . . . , c
i
n
) = d
i
T sse t
M
i
(c
i
1
, . . . , c
i
n
) = d
i
. Ent˜ao, pela propri-
edade do testemunho e pelo lema 3.1.3, existem d
1
, . . . , d
m
, e C tais
que, para i = 1, . . . , m, t
i
(c
1
, . . . , c
n
) = d
i
T, f d
1
. . . d
m
= e T e con-
seq¨uentemente f t
1
(c) . . . t
m
(c) = e T. Assim, pela hip´otese de indu¸ao,
para i = 1, . . . , m, t
M
i
(c
1
, . . . , c
n
) = d
i
, f
M
(d
1
, . . . , d
m
) = e
e portanto
t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = e
. Mas t(c
1
, . . . , c
n
) = d T e, novamente pelo lema
3.1.3, d = e T. Portanto d
= e
e t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = d
.
Agora suponha que t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = d
. Ent˜ao, pela propriedade do testemu-
nho e pelo lema 3.1.3, existe e C tal que t(c
1
, . . . , c
n
) = e T. Pelo que
acabamos de mostrar, t
M
(c
1
, . . . , c
n
) = e
, logo d
= e
, conseq¨uentemente
d = e T. Portanto, pelo lema 3.1.3, t(c
1
, . . . , c
n
) = d T.
Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula e c
1
, . . . , c
n
C. Provaremos por indu¸ao
sobre ormulas que M ϕ(c
1
, . . . , c
n
) sse ϕ(c
1
, . . . , c
n
) T.
30
i. Se ϕ ´e igual `a t
1
= t
2
, onde t
1
e t
2
ao termos. Enao, pela propri-
edade do testemunho e pelo lema 3.1.3, existem d
1
, d
2
C tais que
t
1
(c
1
, . . . , c
n
) = d
1
T e t
2
(c
1
, . . . , c
n
) = d
2
T, logo t
M
1
(c
1
, . . . , c
n
) = d
1
e t
M
2
(c
1
, . . . , c
n
) = d
2
. Assim, pelo lema 3.1.3,
M ϕ(c
1
, . . . , c
n
) d
1
= d
2
d
1
= d
2
T t
1
(c) = t
2
(c) T
ii. Se ϕ ´e igual `a pt
1
. . . t
m
, onde p ´e um s´ımbolo de predicado mario e
t
1
, . . . , t
m
ao termos. Enao pela propriedade do testemunho e pelo lema
3.1.3, existem d
1
, . . . , d
m
C tais que, para i = 1, . . . , m, t
i
(c) = d
i
T
e portanto t
M
i
(c
) = d
i
. Logo
M ϕ(c
1
, . . . , c
n
) (d
1
, . . . , d
m
) p
M
pd
1
. . . d
m
T
pt
1
(c) . . . t
m
(c) T
iii. Se ϕ(v) ´e igual `a ¬ψ(v), onde dados d
1
, . . . , d
n
C, M ψ(d
1
, . . . , d
n
)
sse ψ(d
1
, . . . , d
n
) T. Enao
M ϕ(c
1
, . . . c
n
) M ¬ψ(c
1
, . . . c
n
) M ψ(c
1
, . . . c
n
)
ψ(c) / T
¬ψ(c) T
() maximalidade de T.
() T ´e finitamente satisfat´ıvel e {ψ(c), ¬ψ(c)} ao possui modelo.
iv. Se ϕ(v) ´e igual `a ψ
1
(v) ψ
2
(v), onde dados d
1
, . . . , d
n
C, para i = 1, 2,
M ψ
i
(d
1
, . . . , d
n
) sse ψ
i
(d
1
, . . . , d
n
) T. Enao, pelo lema 3.1.3,
M ϕ(c
1
, . . . c
n
) M ψ
1
(c
1
, . . . c
n
) e M ψ
2
(c
1
, . . . c
n
)
ψ
1
(c) T e ψ
2
(c) T ψ
1
(c) ψ
2
(c) T
v. Se ϕ(v) ´e igual `a wψ(v, w), onde dados d
1
, . . . , d
n+1
C, temos que
M ψ(d
1
, . . . , d
n+1
) sse ψ(d
1
, . . . , d
n+1
) T. Enao
M ϕ(c
1
, . . . c
n
) existe d C tal que M ψ(c
1
, . . . c
n
, d
)
existe d C tal que ψ(c, d) T
wψ(c, w) T
() lema 3.1.3.
() propriedade do testemunho.
Portanto M T.
31
Lema 3.1.5 Seja T uma L-teoria finitamente satisfat´ıvel. Ent˜ao existem L
L e
T
T uma L
-teoria finitamente satisfat´ıvel tal que qualquer L
-teoria estendendo T
tem a propriedade do testemunho. Pode-se escolher L
tal que |L
| = |L| +
0
.
Demonstrao
Mostraremos primeiro que existem uma linguagem L
1
L e uma L
1
-teoria
finitamente satisfat´ıvel T
1
T tal que, para qualquer L-f´ormula ϕ(v), existe
um s´ımbolo de constante c L
1
tal que T
1
vϕ(v) ϕ(c).
Para cada L-f´ormula ϕ(v), seja c
ϕ
um novo s´ımbolo de constante. Defina
L
1
= L {c
ϕ
; ϕ(v) ´e uma L-f´ormula}. Para cada L-f´ormula ϕ(v), seja θ
ϕ
a
L
1
-senten¸ca vϕ(v) ϕ(c
ϕ
). Defina T
1
= T {θ
ϕ
; ϕ(v) ´e uma L-f´ormula}.
Vejamos que T
1
´e finitamente satisfat´ıvel.
Seja T
1
finito. Enao =
0
{θ
ϕ
1
, . . . , θ
ϕ
n
}, onde
0
T ´e finito
e, para i = 1, . . . , n, ϕ
i
(v) ´e L-f´ormula. Como T ´e finitamente satisfat´ıvel,
existe uma L-estrutura M tal que M
0
. Seja M
uma L
1
-estrutura com
o mesmo universo de M tal que a interpreta¸ao dos s´ımbolos de L em M
seja a mesma feita em M. Assim, M
0
. Para cada L-f´ormula ϕ(v),
interpretaremos o s´ımbolo c
ϕ
L
1
\ L em M
. Se M vϕ(v), escolha um
elemento a M tal que M ϕ(a) e defina c
M
ϕ
= a, caso contr´ario defina c
M
ϕ
um elemento qualquer de M . Ent˜ao, para i = 1, . . . , n,
M
θ
ϕ
i
M
vϕ
i
(v) ϕ
i
(c
ϕ
i
) M
vϕ
i
(v) ou M
ϕ
i
(c
ϕ
i
)
Logo M
e portanto T
1
´e finitamente satisfat´ıvel.
Analogamente constru´ımos uma seq¨uˆencia de linguagens L L
1
L
2
. . .
e uma seq¨uˆencia de L
i
-teorias T T
1
T
2
. . . tal que se ϕ(v) ´e uma
L
i
-f´ormula, enao existe um s´ımbolo de constante c
ϕ
L
i+1
tal que T
i+1
vϕ(v) ϕ(c
ϕ
).
Seja L
= ∪L
i
e T
= T
i
. Por constru¸ao, se ϕ(v) ´e uma L
-f´ormula, ϕ (v) ´e
uma L
i
-f´ormula, para algum i, logo T
i+1
vϕ(v) ϕ(c
ϕ
) e portanto T
tem
a propriedade do testemunho. Observe que qualquer L
-teoria estendendo T
ter´a a mesma propriedade. Agora, se T
´e finito, enao T
i
para
algum i. Portanto ´e satisfat´ıvel e T
´e finitamente satisfat´ıvel. Finalmente,
se |L
i
| ´e o n´umero de s´ımbolos de L
i
, enao L
i
possui |L
i
| +
0
L
i
-f´ormulas,
logo, por indu¸ao, |L
| = |L| +
0
.
32
Lema 3.1.6 Sejam T uma L-teoria e ϕ uma L-senten¸ca. Ent˜ao, T ϕ se, e somente
se, T ϕ} ao ´e satisfat´ıvel.
Demonstrao
Se T ϕ, enao dado M T, M ϕ. Suponha que existe uma estrutura N
tal que N T ϕ}, enao N T e N ¬ϕ, absurdo. Logo T ϕ} ao
´e satisfat´ıvel.
Por outro lado, se T ϕ} ao ´e satisfat´ıvel, enao ao existe modelo M tal
que M T ϕ}, logo dado N tal que N T, N ¬ϕ, isto ´e, dado N tal
que N T, N ϕ. Portanto T ϕ.
Lema 3.1.7 Sejam T uma L-teoria finitamente satisfat´ıvel e ϕ uma L-senten¸ca. Ent˜ao,
T {ϕ} ou T ϕ} ´e finitamente satisfat´ıvel.
Demonstrao
Suponha que T {ϕ} ao seja finitamente satisfat´ıvel. Ent˜ao existe T
finito tal que {ϕ} ao seja satisfat´ıvel, e pelo lema anterior, ¬ϕ. Seja
Σ T finito. Como Σ ´e satisfat´ıvel e Σ ¬ϕ, dado M um modelo
de Σ, temos que M ¬ϕ e M Σ o que implica M Σ ϕ}, logo
Σ ϕ} ´e satisfat´ıvel. Portando T ϕ} ´e finitamente satisfat´ıvel.
Corol´ario 3.1.8 Seja T uma L-teoria finitamente satisfat´ıvel. Ent˜ao existe uma L-teoria
maximal finitamente satisfat´ıvel T
T.
Demonstrao
Seja X = {Σ T; Σ ´e finitamente satisfat´ıvel}. Considere a inclus˜ao como
ordem parcial de X . Seja C X uma cadeia e tome T
C
=
ΣC
Σ, se T
C
´e
finito, ent˜ao Σ para algum Σ C, como Σ ´e finitamente satisfat´ıvel, ´e
satisfat´ıvel e portanto T
C
´e finitamente satisfat´ıvel. Claramente Σ T
C
, para
todo Σ C, e T T
C
. Enao, toda cadeia de X tem um limitante superior.
Pelo lema de Zorn, existe um elemento maximal T
X , com respeito `a ordem
parcial.
33
Pelo lema anterior, T
{ϕ} ou T
ϕ} ´e finitamente satisfat´ıvel. Como T
´e maximal em rela¸ao `a ordem, ϕ T
ou ¬ϕ T
. Portanto T
´e uma teoria
maximal.
Teorema 3.1.9 (Compacidade) Sejam T uma L -teoria finitamente satisfat´ıvel e κ um
cardinal infinito com κ |L|. Ent˜ao T tem um modelo com cardinalidade no aximo κ.
Demonstrao
Pelo lema 3.1.5, existem uma linguagem L
L e T
T uma L
-teoria
finitamente satisfat´ıvel tais que, qualquer L
-teoria que estenda T
tem a
propriedade do testemunho e a cardinalidade de L
´e no aximo κ. Pelo
corol´ario 3.1.8, existe uma L
-teoria T
T
maximal finitamente satisfat´ıvel.
Como T
tem a propriedade do testemunho, o lema 3.1.4 implica que existe
uma L
-estrutura M
tal que M
T
e |M
| κ. Mas T T
, enao
M
T, e como T o depende dos s´ımbolos de L, podemos tomar M uma
L-estrutura com o mesmo universo de M
tal que M T.
Corol´ario 3.1.10 Sejam T uma L-teoria e ϕ uma L-senten¸ca tais que T ϕ. Ent˜ao
existe T finito tal que ϕ.
Demonstrao
Se T ϕ, ent˜ao, pelo lema 3.1.6, T ϕ} ao ´e satisfat´ıvel. Logo, pelo
teorema anterior, T ϕ} ao ´e finitamente satisfat´ıvel. Portanto existe
T finito tal que ϕ} ao ´e satisfat´ıvel, e novamente pelo lema 3.1.6,
ϕ.
Observe que o corol´ario anterior ´e equivalente ao teorema da compacidade. Vimos que
o teorema implica no corol´ario. Agora se T ao ´e satisfat´ıvel, ent˜ao T v(v = v), mas
pelo corol´ario, existe T finito tal que v(v = v) e portando ao ´e satisfat´ıvel,
conseq¨uentemente T ao ´e finitamente satisfat´ıvel.
Proposi¸ao 3.1.11 Seja T uma teoria com modelos finitos arbitrariamente grandes.
Ent˜ao T tem modelo infinito.
34
Demonstrao
Para n 2, seja ϕ
n
a senten¸ca
v
1
. . . v
n
i<j
v
i
= v
j
Tome
T
= T {ϕ
n
; n = 2, 3, . . .}
Observe que todo modelo de T
, se existir, ´e necessariamente infinito.
Seja T
finito, enao
T {ϕ
2
, . . . , ϕ
m
}
Como T tem modelos finitos arbitrariamente grandes, basta tomar um destes
com cardinalidade maior que m. Assim ´e satisfat´ıvel e portanto T
´e fi-
nitamente satisfat´ıvel. Logo, pelo teorema da compacidade, T
´e satisfat´ıvel.
Assim, como T T
, T tem modelo com cardinalidade infinita.
3.2 Ultrafiltros
Defini¸ao 3.2.1 Seja I um conjunto. Um filtro sobre I ´e uma cole¸ao D P(I) tal que:
i. I D e / D;
ii. se A, B D, ent˜ao A B D;
iii. se A D e A B I, ent˜ao B D.
Proposi¸ao 3.2.2 Sejam κ um cardinal infinito e I um conjunto com |I| κ. Ent˜ao
D = {X I; |I \ X| < κ} ´e um filtro. Se κ =
0
, dizemos que D ´e um filtro de Frechet.
Demonstrao
i. |I \ I| = 0 < κ, logo I D
|I \ ∅| = |I| κ, logo / D
ii. Sejam A, B D, ent˜ao |I \ A| < κ e |I \ B| < κ. Como κ ´e um cardinal
infinito, |I \ A I \ B| < κ, logo |I \ (A B)| < κ e portanto A B D.
35
iii. Sejam A D e A B I, ent˜ao I \ B I \ A, logo |I \ B| |I \ A| < κ
e portanto B D.
Lema 3.2.3 Sejam I um conjunto e x I. Ent˜ao D = {X I; x X} ´e um filtro, e o
denotamos por filtro principal.
Demonstrao
i. x I, logo I D
x / , logo / D
ii. Sejam A, B D, enao x A e x B, logo x A B e portanto
A B D.
iii. Sejam A D e A B I, enao x A B e portanto B D.
Lema 3.2.4 Suponha I um conjunto, D um filtro sobre I e X I tal que X / D. Seja
E = {Y I; Z \ X Y para algum Z D}. Ent˜ao E ´e filtro, D E e I \ X E.
Demonstrao
Vejamos primeiramente que E ´e um filtro.
i. I D e I \ X I, logo I E.
Suponha Z I tal que Z \X , ent˜ao Z \X = o que implica Z X,
logo Z / D, pois caso contr´ario teriamos que X D. Portanto / E.
ii. Sejam A, B E, ent˜ao existem Z
1
, Z
2
D tais que
Z
1
\ X A e Z
2
\ X B
Observe que Z
1
Z
2
D e
(Z
1
Z
2
) \ X = Z
1
\ X Z
2
\ X A B
Logo A B E.
36
iii. Sejam A E e A B I, ent˜ao existe Z D tal que
Z \ X A B
Logo B E.
Agora, se Y D, enao Y \ X Y o que implica Y E, logo D E.
Claramente I D e I \ X I \ X, portanto I \ X E.
Defini¸ao 3.2.5 Sejam I um conjunto e D um filtro sobre I. Dizemos que D ´e um
ultrafiltro se, para todo X I, X D ou I \ X D.
Lema 3.2.6 Todo filtro principal ´e um ultrafiltro.
Demonstrao
Sejam I um conjunto, x I e D = {X I; x X}. Suponha Y I tal que
Y / D, ent˜ao x / Y o que implica x I \ Y , logo I \ Y D. Portanto D ´e
ultrafiltro.
Lema 3.2.7 Sejam I um conjunto e D um filtro sobre I. Ent˜ao existe um ultrafiltro U
sobre I tal que D U.
Demonstrao
Seja X = {F P(I); D F e F ´e filtro}. Considere a inclus˜ao como ordem
parcial de X . Seja C X uma cadeia e tome F
C
=
F C
F . Obviamente
D F
C
. Vejamos que F
C
´e um filtro.
i. I F para todo F C, logo I F
C
.
/ F para todo F C, logo / F
C
.
ii. Sejam A, B F
C
, enao existe F C tal que A, B F , o que implica
A B F F
C
.
iii. Sejam A F
C
e A B I, ent˜ao existe F C tal que A F , logo
B F F
C
.
37
Enao, pelo lema de Zorn, existe um elemento maximal U X .
Vejamos agora que U ´e ultrafiltro. Suponha X I tal que X / U e tome
E = {Y I; Z \ X Y para algum Z U}. Pelo lema 3.2.4 temos que E
´e filtro, U E e I \ X E. Observe que D E, visto que D U. Ent˜ao
E X e como U ´e elemento maximal de X , U = E. Logo I \ X U e
portanto U ´e ultrafiltro.
Corol´ario 3.2.8 Se D ´e um filtro de Frechet sobre I, ent˜ao U ´e um ultrafiltro ao prin-
cipal.
Demonstrao
Seja x I, como D ´e um filtro de Frechet, I \ {x} D U. Portanto U ´e
ao principal.
3.3 Ultraprodutos
Sejam I um conjunto infinito, D um ultrafiltro sobre I e L uma linguagem. Supo-
nha que, para cada i I, M
i
´e uma L-estrutura. Definiremos uma nova L-estrutura
M =
M
i
/D, a qual chamaremos de ultraproduto de (M
i
)
iI
sobre D.
Seja
W =
iI
M
i
=
h : I
iI
M
i
; h(i) M
i
para todo i I
Defina a rela¸ao sobre W por
h g sse {i I; h(i) = g(i)} D
Lema 3.3.1 ´e uma rela¸ao de equivalˆencia.
Demonstrao
Sejam h, g, k W , enao
i. {i I; h(i) = h(i)} = I D, logo h h.
38
ii. Se h g, enao
{i I; g(i) = h(i)} = {i I; h(i) = g(i)} D
Logo g h.
iii. Se h g e g k, ent˜ao
A = {i I; h(i) = g(i)} D e B = {i I; g(i) = k(i)} D
Logo
{i I; h(i) = g(i) = k(i)} = A B D
Mas
{i I; h(i) = g(i) = k(i)} {i I; h (i) = k(i)}
Enao
{i I; h(i) = k(i)} D
Portanto h k.
Definimos o universo de M como M = W/ . Dado h W , denotaremos sua classe por
h. Agora devemos mostrar como interpretar M como uma L-estrutura.
Seja c um s´ımbolo de constante de L, interpretaremos c
M
como a classe de h
c
W
onde h
c
(i) = c
M
i
, para todo i I.
Seja f um s´ımbolo funcional nario de L, interpretaremos f em M por
f
M
: M
n
M
(
h
1
, . . . ,
h
n
) −
h
n+1
onde h
n+1
´e definida, para cada i I, por
h
n+1
(i) = f
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i))
Vejamos que f
M
est´a bem definida. Para isto, sejam g
1
, . . . , g
n+1
W tais que
f
M
(g
1
, . . . , g
n
) = g
n+1
e, para j = 1, . . . , n, g
j
h
j
. Queremos provar que g
n+1
h
n+1
. Assim, para j = 1, . . . , n, temos que
A
j
= {i I; g
j
(i) = h
j
(i)} D
39
Logo
A =
n
j=1
A
j
D
Mas
A B = {i I; f
M
i
(g
1
(i), . . . , g
n
(i)) = f
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i))}
Enao
{i I; g
n+1
(i) = h
n+1
(i)} = B D
Portanto g
n+1
h
n+1
.
Seja p um s´ımbolo de predicado nario de L, interpretaremos
p
M
= {(
h
1
, . . . ,
h
n
) M
n
; {i I; (h
1
(i), . . . , h
n
(i)) p
M
i
} D}
Vejamos que a defini¸ao de p
M
independe de representante de classe. Para isto,
sejam h
1
, . . . , h
n
, g
1
, . . . , g
n
W tais que, para j = 1, . . . , n, h
j
g
j
. Ent˜ao, como
a visto,
A =
n
j=1
{i I; h
j
(i) = g
j
(i)} D
Sejam
B
h
= {i I; (h
1
(i), . . . , h
n
(i)) p
M
i
}
B
g
= {i I; (g
1
(i), . . . , g
n
(i)) p
M
i
}
Suponha que (
h
1
, . . . ,
h
n
) p
M
, ent˜ao B
h
D, logo B
h
A D, mas B
h
A B
g
o que implica B
g
D, portanto (g
1
, . . . , g
n
) p
M
. Analogamente temos que, se
(g
1
, . . . , g
n
) p
M
, enao (
h
1
, . . . ,
h
n
) p
M
.
Lema 3.3.2 (Teorema de os) Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula e h
1
, . . . , h
n
W .
Ent˜ao M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) se, e somente se, {i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D.
Demonstrao
Provaremos primeiro que se t ´e um termo com n vari´aveis livres v
1
, . . . , v
n
e
h
1
, . . . , h
n
, g W , ent˜ao
t
M
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g {i I; t
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g(i)} D
Para isto, usaremos indu¸ao sobre termos.
40
i. Se t ´e um s´ımbolo de constante c L, enao
t
M
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g
h
c
= c
M
= g h
c
g
{i I; c
M
i
= h
c
(i) = g(i)} D
{i I; t
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g(i)} D
ii. Se t ´e um s´ımbolo de vari´avel v
j
, enao
t
M
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g
h
j
= g h
j
g
{i I; h
j
(i) = g(i)} D
{i I; t
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g(i)} D
iii. Seja t ´e o termo ft
1
. . . t
m
, onde f ´e um s´ımbolo funcional mario de L e,
para j = 1, . . . , m, t
j
´e um termo tal que, se k
j
1
, . . . , k
j
n
, l
j
W , enao
t
M
j
(
k
j
1
, . . . ,
k
j
n
) =
l
j
sse {i I; t
M
i
j
(k
j
1
(i), . . . , k
j
n
(i)) = l
j
(i)} D
Tome g
1
, . . . , g
m
W tais que t
M
j
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g
j
, para j = 1, . . . , m.
Assim,
A
j
= {i I; t
M
i
j
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g
j
(i)} D
Conseq¨uentemente
A =
m
j=1
A
j
D
Logo
t
M
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g f
M
(t
M
1
(
h
1
, . . . ,
h
n
), . . . , t
M
m
(
h
1
, . . . ,
h
n
)) = g
f
M
(g
1
, . . . , g
m
) = g
B = {i I; f
M
i
(g
1
(i), . . . , g
m
(i)) = g(i)} D
C = {i I; f
M
i
(t
M
i
1
(h(i)), . . . , t
M
i
m
(h(i))) = g(i)} D
{i I; t
M
i
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g(i)} D
() A B C e A B D, logo C D.
() A C B e A C D, logo B D.
Vejamos, por indu¸ao sobre ormulas, que se ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ´e uma L-f´ormula e
h
1
, . . . , h
n
W , enao
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) {i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
41
i. Se ϕ ´e igual `a t
1
= t
2
, onde t
1
e t
2
ao termos, enao existem g
1
, g
2
W
tais que, para j = 1, 2,
t
M
j
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g
j
Assim,
A
j
= {i I; t
M
i
j
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g
j
(i)} D
e
A = A
1
A
2
D
Logo
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) t
M
1
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = t
M
2
(
h
1
, . . . ,
h
n
)
g
1
= g
2
B = {i I; g
1
(i) = g
2
(i)} D
A B = A C D
C = {i I; t
M
i
1
(h(i)) = t
M
i
2
(h(i))} D
{i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
ii. Se ϕ ´e igual `a pt
1
. . . t
m
, onde p ´e um s´ımbolo de predicado mario de L
e, para j = 1, . . . , m, t
j
´e termo, enao existem g
1
, . . . , g
m
W tais que,
para j = 1, . . . , m,
t
M
j
(
h
1
, . . . ,
h
n
) = g
j
Assim,
A
j
= {i I; t
M
i
j
(h
1
(i), . . . , h
n
(i)) = g
j
(i)} D
e
A =
m
j=1
A
j
D
Logo
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) (t
M
1
(
h
1
, . . . ,
h
n
), . . . , t
M
m
(
h
1
, . . . ,
h
n
)) p
M
(g
1
, . . . , g
m
) p
M
B = {i I; (g
1
(i), . . . , g
m
(i)) p
M
i
} D
A B = A C D
C = {i I; (t
M
i
1
(h(i)), . . . , t
M
i
m
(h(i))) p
M
i
} D
{i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
42
iii. Seja ϕ igual `a ¬ψ, onde para g
1
, . . . , g
n
W, M ψ(g
1
, . . . , g
n
) sse
{i I; M
i
ψ(g
1
(i), . . . , g
n
(i))} D. Enao
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) M ψ(
h
1
, . . . ,
h
n
)
{i I; M
i
ψ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} / D
{i I; M
i
ψ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
{i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
iv. Seja ϕ igual `a ψ
1
ψ
2
, onde para g
1
, . . . , g
n
W , e para j = 1, 2,
M ψ
j
(g
1
, . . . , g
n
) sse {i I; M
i
ψ
j
(g
1
(i), . . . , g
n
(i))} D. Enao
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) M ψ
1
(
h
1
, . . . ,
h
n
) e M ψ
2
(
h
1
, . . . ,
h
n
)
{i I; M
i
ψ
1
(h(i))} {i I; M
i
ψ
2
(h(i))} D
{i I; M
i
ψ
1
(h(i)) e M
i
ψ
2
(h(i))} D
{i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
v. Seja ϕ(v
1
, . . . , v
n
) igual `a wψ(v
1
, . . . , v
n
, w), onde para g
1
, . . . , g
n+1
W ,
M ψ(g
1
, . . . , g
n+1
) sse {i I; M
i
ψ(g
1
(i), . . . , g
n+1
(i))} D. Enao
M ϕ(
h
1
, . . . ,
h
n
) existe g W tal que M ψ(
h
1
, . . . ,
h
n
, g)
existe g W tal que A
g
= {i I; M
i
ψ(h(i), g(i))} D
B = {i I; existe b
i
M
i
tal que M
i
ψ(h(i), b
i
)} D
{i I; M
i
ϕ(h
1
(i), . . . , h
n
(i))} D
() A
g
B, logo B D.
() Tome g W tal que, para todo i B, g(i) = b
i
, onde b
i
´e tal que
M
i
ψ(h(i), b
i
). Ent˜ao, para esse g, temos que A
g
= B. Logo existe
g W tal que A
g
D.
Teorema 3.3.3 (Compacidade via Ultrafiltros) Seja T uma L-teoria finitamente
satisfat´ıvel. Ent˜ao T ´e satisfat´ıvel.
Demonstrao
Se T ´e uma teoria finita, o resultado ´e imediato. Suponha T uma teoria
infinita.
Seja
I = { T; ´e finito}
43
Defina, para cada Θ I,
X
Θ
= { I; Θ }
Observao: se ϕ ´e uma senten¸ca de T, denotaremos X
{ϕ}
por X
ϕ
.
Seja
D = {Y I; X
Θ
Y para algum Θ I}
Vejamos que D ´e um filtro sobre I.
i. X
Θ
I para todo Θ I, logo I D.
Para todo Θ I, X
Θ
= , visto que Θ X
Θ
, logo / D.
ii. Sejam A, B D, ent˜ao existem , Θ I tais que X
A e X
Θ
B.
Observe que X
Θ
= X
X
Θ
.
Σ X
Θ
Θ Σ Σ e Θ Σ
Σ X
e Σ X
Θ
Σ X
X
Θ
Assim, X
Θ
A B, logo A B D.
iii. Sejam A D e A B I, enao existe I tal que
X
A B
Logo B D.
Agora seja U um ultrafiltro sobre I contendo D, e para cada I, seja M
um modelo de ∆.
Defina
M =
I
M
/U
Seja ϕ T, ent˜ao
X
ϕ
= { I; ϕ } D
Como X
ϕ
{ I; M
ϕ},
{ I; M
ϕ} D U
Logo M ϕ e portanto M T.
44
Cap´ıtulo 4
Teorias Completas
Uma L-teoria T ´e dita completa se para qualquer L-senten¸ca ϕ, T ϕ ou T ¬ϕ.
Por exemplo, T h(M), onde M ´e uma L-estrutura, ´e completa. Teorias maximais ao
obviamente completas. Um exemplo de teoria ao completa ´e a teoria de corpos . Pois R
e Q ao corpos, por´em R x(x > 0 y(y
2
= x)) e Q x(x > 0 y(y
2
= x)).
4.1 κ-Categoricidade
Proposi¸ao 4.1.1 Seja T uma L-teoria com modelos infinitos. Se κ ´e um cardinal infi-
nito e |L| κ, ent˜ao existe um modelo de T com cardinalidade κ.
Demonstrao
Sejam I um conjunto de ´ındices com cardinalidade κ, L
= L { c
α
; α I} e
T
a L
-teoria T {c
α
= c
β
; α, β I e α = β}.
Claramente se M T
, ent˜ao M T e M tem cardinalidade pelo menos
igual `a κ.
Seja T
finito, enao
T {c
α
= c
β
; α, β I
0
e α = β}
onde I
0
I ´e finito. Seja N um modelo infinito de T. Podemos interpretar
os s´ımbolos {c
α
; α I
0
} como |I
0
| elementos distintos de N. Assim N ´e
modelo de ∆, logo T
´e finitamente satisfat´ıvel e portanto, pelo teorema da
compacidade, T
possui um modelo M com |M| κ, visto que |L
| = κ.
45
Defini¸ao 4.1.2 Sejam κ um cardinal infinito e T uma teoria com modelos de cardinali-
dade κ. Dizemos que T ´e κ-cateorica se quaisquer dois modelos de T com cardinalidade
κ ao isomorfos.
Exemplo 4.1.3 Seja L = . Ent˜ao a teoria de conjuntos infinitos ´e κ-cateorica para
todo cardinal κ infinito.
T = {∃x
1
. . . x
n
i<jn
x
i
= x
j
; n = 2, 3, . . .}
Exemplo 4.1.4 Sejam L = {E}, onde E ´e um s´ımbolo de predicado bin´ario, e T a
teoria da rela¸ao de equivalˆencia com exatamente duas classes, com infinitos elementos
cada classe. Veja o exemplo 2.1.7, ent˜ao
T = T

e
xx
1
. . . x
n
i<jn
x
i
= x
j
n
i=1
E(x, x
i
)
; n = 2, 3, . . .
Logo T ´e
0
-cateorica, pois cada classe de um modelo de T ter´a exatamente
0
elementos.
Por´em T ao ´e κ-cateorica para κ >
0
, pois poderiam existir modelos com κ elementos
em cada classe e outros com κ elementos em uma e
0
elementos na outra classe.
Sejam L = {<} e OLD a L-teoria da ordem linear densa sem extremos (veja exemplo
2.1.6) enao,
OLD = T
old
{∀xyz(y < x x < z)}
Proposi¸ao 4.1.5 OLD ´e
0
-cateorica.
Demonstrao
Sejam A e B dois modelos enumer´aveis de OLD. Assim, podemos supor
A = {a
0
, a
1
, a
2
, . . .} e B = {b
0
, b
1
, b
2
, . . .}.
Construiremos uma seq¨uˆencia de bije¸oes
f
n
: A
n
B
n
onde, para cada n N, A
n
e B
n
ao finitos, A
n
A
n+1
A, B
n
B
n+1
B,
f
n+1
|
A
n
= f
n
e se x, y A
n
com x < y, ent˜ao f
n
(x) < f
n
(y). Faremos isso de
forma que A =
A
n
, B =
B
n
e existe uma bije¸ao f : A B tal que, para
n N, f|
A
n
= f
n
.
46
Construiremos tais seq¨uˆencias indutivamente. Dividiremos a constru¸ao em
etapas ´ımpares, nas quais garantiremos que A =
A
n
, e etapas pares, nas
quais garantiremos que B =
B
n
.
Etapa 0
Tome A
0
= B
0
= f
0
= .
Etapa n + 1 = 2m + 1
Vamos garantir que a
m
A
n+1
.
Se a
m
A
n
enao tome A
n+1
= A
n
, B
n+1
= B
n
e f
n+1
= f
n
. Suponha que
a
m
/ A
n
. Para adicionarmos a
m
em A
n+1
precisamos achar um b B \ B
n
tal
que
α < a
m
f
n
(α) < b
para todo α A
n
.
Exatamente um dos seguintes casos acontece:
i. α < a
m
para to do α A
n
. Neste caso, como B ao tem extremos e B
n
´e finito, existe b B tal que β < b para todo β B
n
, ou seja, f
n
(α) < b
para todo α A
n
.
ii. a
m
< α para todo α A
n
. Neste caso, como B ao tem extremos e B
n
´e finito, existe b B tal que b < β para todo β B
n
, ou seja, b < f
n
(α)
para todo α A
n
.
iii. Existem γ, δ A
n
tais que γ < a
m
< δ e, para todo α A
n
, α γ
ou δ α. Por hip´otese indutiva, f
n
´e uma bije¸ao de A
n
em B
n
que
preserva a ordem. Como B ´e denso e B
n
´e finito, existe b B tal que
f
n
(γ) < b < f
n
(δ).
Portanto, considerando todos os casos, existe b B \ B
n
tal que
α < a
m
f
n
(α) < b
para todo
α
A
n
.
Assim, tome A
n+1
= A
n
{a
m
}, B
n+1
= B
n
{b} e estenda a bije¸ao f
n
para
f
n+1
: A
n+1
B
n+1
definindo f
n+1
(a
m
) = b.
Etapa n + 1 = 2m + 2
Vamos garantir que b
m
B
n+1
.
47
Se b
m
B
n
enao tome A
n+1
= A
n
, B
n+1
= B
n
e f
n+1
= f
n
. Suponha que
b
m
/ B
n
. Para adicionarmos b
m
em B
n+1
precisamos achar um a A \ A
n
tal
que
α < a f
n
(α) < b
m
para todo α A
n
.
Os casos nesta etapa ao analogos aos casos da etapa anterior. Assim, tome
A
n+1
= A
n
{a}, B
n+1
= B
n
{b
m
} e estenda f
n
para f
n+1
: A
n+1
B
n+1
definindo f
n+1
(a) = b
m
.
Claramente, pela constru¸ao, temos que A =
A
n
e B =
B
n
. Defina
f : A B por f(a) = f
n
(a), onde a A
n
para algum n N. Observe que f
est´a bem definida, pois dado a A, existe n N tal que a A
n
, e se m N
´e tal que a A
m
, temos que f
n
(a) = f
m
(a). Defina tamb´em g : B A
por g(b) = f
1
n
(b), onde b B
n
para algum n N. Claramente g est´a bem
definida e g ´e a inversa de f. Portanto f ´e bijetora.
Agora sejam x, y A. Ent˜ao existe n N tal que x, y A
n
, logo
x < y f(x) = f
n
(x) < f
n
(y) = f(y)
Portanto f ´e isomorfismo.
Sejam L = {+, 0} a linguagem de grupo e GAD a L-teoria dos grupos abelianos com
divis˜ao livres de tor¸ao ao triviais. Sejam
Div = {∀xy(y + . . . + y

n vezes
= x); n = 1, 2, . . .}
LT or = {∀x(x = 0 x + . . . + x

n vezes
= 0); n = 1, 2, . . .}
Veja o exemplo 2.1.9, enao
GAD = T
ga
Div LT or {∃x(x = 0)}
Proposi¸ao 4.1.6 GAD ´e κ-cateorica para todo κ >
0
.
Demonstrao
Primeiramente vamos verificar que modelos de GAD ao essencialmente espa¸cos
48
vetoriais sobre Q. Claramente todo espa¸co vetorial sobre Q ´e um modelo de
GAD. Agora, se G GAD, g G e n N
, ent˜ao, como GAD tem divis˜ao,
existe h G tal que nh = h + . . . + h

n vezes
= g, e se f G tal que nf = g, enao
n(h f) = 0, logo, como GAD ´e livre de tor¸ao, h = f e portanto existe um
´unico h G tal que nh = g, denotaremos tal elemento por g/n. Assim, pode-
mos ver G como um espa¸co vetorial sobre Q definindo o produto por escalar
da seguinte forma:
m
n
g = m
g
n
onde g G e
m
n
= q Q, com m Z e n N
.
Sabemos que espa¸cos vetoriais sobre Q ao isomorfos sse tˆem mesma dimens˜ao.
Assim, se G visto como um espa¸co vetorial sobre Q tem dimens˜ao λ ent˜ao
|G| = λ +
0
. Se κ >
0
e G tem cardinalidade κ, ent˜ao G tem dimens˜ao
κ. Portanto, para κ >
0
, GAD ´e κ-categ´orica. Note que GAD ao ´e
0
-
categ´orica, pois espa¸cos vetoriais de cardinalidade
0
podem ter dimens˜oes
1, 2, . . . ,
0
.
Proposi¸ao 4.1.7 CAF
p
´e κ-cateorica para todo cardinal κ ao enumer´avel.
Demonstrao
Sejam F e L corpos algebricamente fechados de caracter´ıstica p e cardinalidade
κ ao enumer´avel.
Se p = 0, ent˜ao podemos ver Q como subcorpo de F e de L, logo
gtr(F/Q) = κ = gtr(L/Q)
Se p ´e primo, podemos ver Z
p
como subcorpo de F e de L, logo
gtr(F/Z
p
) = κ = gtr(L/Z
p
)
Portanto, pelo teorema A.2.12, F e L ao isomorfos.
Lema 4.1.8 Seja T uma L-teoria. Ent˜ao T ´e completa se, e somente se, para todo M e
N modelos de T, M N .
49
Demonstrao
Suponha T uma teoria completa e ϕ uma senten¸ca. Sejam M e N modelos de
T. Enao, se M ϕ, necessariamente temos que T ϕ, pois caso contr´ario,
como T ´e completa, T ¬ϕ o que contradiz o fato de M ser modelo de T.
Logo
M ϕ T ϕ N ϕ
Portanto M N .
Agora, suponha que para todo M e N modelos de T, M N . Seja ϕ uma
senten¸ca. Se T ϕ enao existe um modelo M de T tal que M ϕ, ou
seja, M ¬ϕ. Mas se N ´e um outro modelo qualquer de T, N ¬ϕ, pois
M N . Logo T ¬ϕ e p ortanto T ´e completa.
Teorema 4.1.9 (Teste de Vaught) Seja T uma L-teoria satisfat´ıvel sem modelos fini-
tos que ´e κ-cateorica para algum cardinal infinito κ |L|. Ent˜ao T ´e completa.
Demonstrao
Suponha que T ao ´e completa. Ent˜ao existe uma senten¸ca ϕ tal que T ϕ
e T ¬ϕ. Pelo lema 3.1.6, T
0
= T {ϕ} e T
1
= T ϕ} ao satisfat´ıveis.
Observe que T
0
e T
1
tˆem modelos infinitos, pois todos os modelos de T
0
e
de T
1
ao modelos de T, que ao tem modelo finito. Enao, pela proposi¸ao
4.1.1, existem estruturas M
0
e M
1
de cardinalidade κ tais que M
0
T
0
e
M
1
T
1
. Como M
0
ϕ e M
1
¬ϕ, M
0
e M
1
ao ao elementarmente
equivalentes e portanto ao isomorfas, o que contradiz a κ-categoricidade de
T.
Corol´ario 4.1.10 OLD e GAD ao completas.
Demonstrao
Todo modelo de OLD ´e denso e sem extremos, logo ao ´e finito. Portando,
pela proposi¸ao 4.1.5 e pelo teste de Vaught, OLD ´e completa.
Todo modelo de GAD ´e livre de tor¸ao e ao trivial, logo infinito. Portanto,
pela proposi¸ao 4.1.6 e pelo teste de Vaught, GAD ´e completa.
50
Lema 4.1.11 Todo corpo algebricamente fechado ´e infinito.
Demonstrao
Seja F um corpo algebricamente fechado. Suponha F finito. Ent˜ao podemos
escrever F = {a
1
, . . . , a
n
} para algum n N
. Para cada i = 1, . . . , n
(x a
i
) F [x]
logo
n
i=1
(x a
i
) F [x]
Assim,
1 +
n
i=1
(x a
i
) F [x]
Por´em, para qualquer a F ,
1 +
n
i=1
(a a
i
) = 1
O que contradiz o fato de F ser algebricamente fechado.
Corol´ario 4.1.12 CAF
p
´e completa.
Demonstrao
Pela proposi¸ao 4.1.7, CAF
p
´e κ-categ´orica e, pelo lema anterior, todo modelo
de CAF
p
´e infinito. Logo, pelo teste de Vaught, CAF
p
´e completa.
Veremos agora uma aplica¸ao da completude de CAF
0
.
Lema 4.1.13 Seja ϕ uma senten¸ca na linguagem dos an´eis. ao equivalentes:
i. ϕ ´e verdadeira em C.
ii. ϕ ´e verdadeira em todo corpo algebricamente fechado de caracter´ıstica 0.
iii. ϕ ´e verdadeira em algum corpo algebricamente fechado de caracter´ıstica 0.
51
iv. Existe p primo arbitrariamente grande tal que ϕ ´e verdadeira em algum corpo alge-
bricamente fechado de caracter´ıstica p.
v. Existe m N tal que para todo p primo maior que m, ϕ ´e verdadeira em todo corpo
algebricamente fechado de caracter´ıstica p.
Demonstrao
C ´e um corpo algebricamente fechado de caracter´ıstica 0. Logo, como CAF
0
´e completa, temos a equivalˆencia de i., ii., iii..
v. iv.
Por v. existe tal m, tome p > m primo. Como p ´e primo, existe
um corpo algebricamente fechado de caracter´ıstica p. Novamente
por v., ϕ ´e verdadeira para todo corpo algebricamente fechado de
caracter´ıstica p, portanto iv..
ii. v.
Suponha que CAF
0
ϕ. Pelo corol´ario 3.1.10, existe CAF
0
finito tal que ϕ. Ent˜ao, escolhendo m suficientemente grande,
temos que, para p > m, CAF
p
∆. Portanto CAF
p
ϕ para todo
p > m.
iv. ii.
Suponha que CAF
0
ϕ. Como CAF
0
´e completa, CAF
0
¬ϕ.
Enao, pelo argumento anterior, existe m N tal que, para todo
p > m, CAF
p
¬ϕ, o que contradiz iv. .
Teorema 4.1.14 Toda fun¸ao polinomial injetora de C
n
em C
n
´e sobrejetora.
Demonstrao
Lembrando primeiramente que se S ´e um corpo finito, ent˜ao toda fun¸ao
injetora de S
n
em S
n
´e sobrejetora.
Seja F
p
um corpo com p elementos, denotaremos por F
p
o seu fecho alg´ebrico.
Vejamos agora que to da fun¸ao polinomial injetora
f
: F
n
p
F
n
p
, onde
p
´e primo, ´e sobrejetora. Suponha que ao. Sejam b
1
, . . . , b
m
F
p
os coe-
ficientes de f e (a
1
, . . . , a
n
) F
n
p
\ Im(f). Seja S o subcorpo gerado por
52
a
1
, . . . , a
n
, b
1
, . . . , b
m
. Enao f |
S
n
´e uma fun¸ao polinomial injetora, mas ao
sobrejetora de S
n
em S
n
. O que ´e um absurdo, p ois S ´e um corpo finito, visto
que ´e um corpo de caracter´ıstica p primo gerado por finitos elementos.
Suponha que o teorema seja falso. Seja
f(x
1
, . . . , x
n
) = (f
1
(x
1
, . . . , x
n
), . . . , f
n
(x
1
, . . . , x
n
))
um contra-exemplo, onde cada f
i
C[x
1
, . . . , x
n
] tem grau no aximo igual
`a d, para algum d N.
Seja ϕ
n,d
a senten¸ca
a
(i
1
,...,i
n
)
1
i
j
d
. . . a
(i
1
,...,i
n
)
n
i
j
d

x
1
. . . x
n
y
1
. . . y
n
n
k=1
i
j
d
a
(i
1
,...,i
n
)
k
n
l=1
x
i
l
l
=
i
j
d
a
(i
1
,...,i
n
)
k
n
l=1
y
i
l
l
n
i=1
(x
i
= y
i
)

u
1
. . . u
n
x
1
. . . x
n
n
k=1
i
j
d
a
(i
1
,...,i
n
)
k
n
l=1
x
i
l
l
= u
k

Como vimos anteriormente, F
p
ϕ
n,d
para todo p primo. Ent˜ao, pelo lema
anterior, C ϕ
n,d
, o que contradiz o fato de f ser um contra-exemplo.
4.2 Teoremas de owenheim-Skolem
Defini¸ao 4.2.1 Se M e N ao L-estruturas, ent˜ao uma L-imers˜ao η : M N ´e dita
uma L-imers˜ao elementar se
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) N ϕ(η(a
1
), . . . , η(a
n
))
para toda L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
) e quaisquer a
1
, . . . , a
n
M.
Se M ´e uma sub-estrutura de N e a inclus˜ao ´e elementar, ent˜ao M ´e dita uma sub-
estrutura elementar de N , e denotamos por M N . Neste caso, N ´e dita uma extens˜ao
elementar de M.
Defini¸ao 4.2.2 Suponha M uma L-estrutura. Seja L
M
= L M, onde cada elemento
de M ´e considerado uma nova constante.
53
O diagrama atˆomico de M ´e
Diag(M) = {ϕ(a
1
, . . . , a
n
); ϕ ´e uma L-f´ormula atˆomica
ou nega¸ao de uma, e M ϕ(a
1
, . . . , a
n
)}
O diagrama elementar de M ´e
Diag
el
(M) = {ϕ(a
1
, . . . , a
n
); ϕ ´e uma L-f´ormula e M ϕ(a
1
, . . . , a
n
)}
Obs.: Toda L
M
-estrutura pode ser vista como uma L-estrutura, apenas ignorando a
interpreta¸ao dos novos s´ımbolos de constante.
Lema 4.2.3 Sejam M uma L-estrutura e N uma L
M
-estrutura.
i. Se N Diag(M), ent˜ao existe uma L-imers˜ao de M em N .
ii. Se N Diag
el
(M), ent˜ao existe uma L-imers˜ao elementar de M em N .
Demonstrao
Seja η : M N definida p or η(a) = a
N
.
i. Suponha que N Diag(M).
Se a
1
, a
2
M ao distintos, ent˜ao a
1
= a
2
Diag(M), logo
η(a
1
) = a
N
1
= a
N
2
= η(a
2
)
portanto η ´e injetora.
Se f ´e um s´ımbolo funcional nario de L e f
M
(a
1
, . . . , a
n
) = a
n+1
, onde
a
1
, . . . , a
n+1
M, ent˜ao fa
1
. . . a
n
= a
n+1
Diag(M), logo
f
N
(η(a
1
), . . . , η(a
n
)) = f
N
(a
N
1
, . . . , a
N
n
) = a
N
n+1
= η(a
n+1
)
Se p ´e um s´ımbolo de predicado nario de L e (a
1
, . . . , a
n
) p
M
, enao
pa
1
. . . a
n
Diag(M), logo
(η(a
1
), . . . , η(a
n
)) = (a
N
1
, . . . , a
N
n
) p
N
Reciprocamente, se (
a
1
, . . . , a
n
)
/
p
M
, enao
¬
pa
1
. . . a
n
Diag
(
M
),
logo
(η(a
1
), . . . , η(a
n
)) = (a
N
1
, . . . , a
N
n
) / p
N
54
Se c ´e um s´ımbolo de constante de L, ent˜ao c = c
M
Diag( M),logo
c
N
= c
M
N
= η(c
M
)
Portanto η ´e uma L-imers˜ao.
ii. Suponha que N Diag
el
(M).
Como Diag(M) Diag
el
(M), N Diag(M), logo, pelo item i., η ´e
uma L-imers˜ao.
Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula e a
1
, . . . , a
n
M, ent˜ao
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) ϕ(a
1
, . . . , a
n
) Diag
el
(M)
N ϕ(η(a
1
), . . . , η(a
n
))
e
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) ¬ϕ(a
1
, . . . , a
n
) Diag
el
(M)
N ϕ( η(a
1
), . . . , η(a
n
))
Portanto η ´e uma L-imers˜ao elementar.
Podemos ver tamem a L-estrutura M como uma L
M
-estrutura, interpretando canonica-
mente os novos s´ımbolos. Assim, o item ii. do lema anterior nos diz que quaisquer modelo
de Diag
el
(M) ´e elementarmente equivalente `a M, logo, p elo lema 4.1.8, Diag
el
(M) ´e
uma L
M
-teoria completa.
Teorema 4.2.4 (L¨owenheim-Skolem Ascendente) Sejam M uma L-estrutura infi-
nita e um cardinal κ |M| + |L|. Ent˜ao existem uma L-estrutura N de cardinalidade κ
e uma L -imers˜ao elementar η : M N .
Demonstrao
Como M ´e um modelo infinito de Diag
el
(M), enao, pela proposi¸ao 4.1.1,
existe um modelo N de Diag
el
(M) com cardinalidade κ. E pelo lema anterior,
existe uma L-imers˜ao elementar η : M N .
Em particular, temos o interessante resultado que a Aritm´etica de Peano possui modelos
de todas as cardinalidades
0
.
55
Proposi¸ao 4.2.5 (Teste de Tarski-Vaught) Sejam M e N L-estruturas tais que
M N . Ent˜ao M N se, e somente se, para cada L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) e
a
1
, . . . , a
n
M, se existe b N tal que N ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b), ent˜ao existe c M tal que
N ϕ(a
1
, . . . , a
n
, c).
Demonstrao
Suponha primeiramente que M N . Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) uma L-f´ormula
e a
1
, . . . , a
n
M. Enao
existe b N tal que N ϕ(a, b) N (a, w) M wϕ(a, w)
existe c M tal que M ϕ(a, c)
existe c M tal que N ϕ(a, c)
Agora suponha que para cada L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) e a
1
, . . . , a
n
M,
se existe b N tal que N ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b), enao existe c M tal que
N ϕ(a
1
, . . . , a
n
, c). Sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula e a
1
, . . . , a
n
M.
Pelo corol´ario 1.4.2 temos que, se ϕ ´e livre de quantificadores,
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) N ϕ(a
1
, . . . , a
n
)
Suponha ent˜ao que essa equivalˆencia tamem seja alida para a L-f´ormula
ψ(v
1
, . . . , v
n
, w), e sejam ϕ(v) a ormula wψ(v, w) e a
1
, . . . , a
n
M. Enao
M ϕ(a) existe c M tal que M ψ(a, c)
existe c M tal que N ψ(a, c)
existe b N tal que N ψ(a, b)
N ϕ(a)
Defini¸ao 4.2.6 Uma L-teoria T ´e dita ter a propriedade de fun¸oes Skolem se para
toda L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) existe um s´ımbolo funcional nario f de L tal que
T v
1
. . . v
n
((wϕ(v
1
, . . . , v
n
, w)) ϕ(v
1
, . . . , v
n
, fv
1
. . . v
n
))
Obs.: Tal teoria nos diz que existem s´ımbolos funcionais suficientes na linguagem para
testemunhar todas as formula¸oes existenciais.
Lema 4.2.7 Seja T uma L-teoria. Ent˜ao, existem L
L, com |L
| = |L| +
0
, e
T
T uma L
-teoria tal que T
tem a propriedade de fun¸oes Skolem, e se M T,
56
ent˜ao pode-se interpretar os novos s´ımbolos de L
em M tal que M T
. Denotamos
T
por skolemiza¸ao de T.
Demonstrao
Primeiro construiremos uma seq¨uˆencia de linguagens L = L
0
L
1
L
2
. . .
e uma seq¨encia de teorias T = T
0
T
1
T
2
. . ., onde cada T
i
´e uma
L
i
-teoria.
Defina indutivamente
L
i+1
= L
i
{f
ϕ
; ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) ´e uma L
i
-f´ormula}
onde f
ϕ
´e um s´ımbolo funcional nario.
Para cada L
i
-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w), seja ψ
ϕ
a senten¸ca
v
1
. . . v
n
((wϕ(v
1
, . . . , v
n
, w)) ϕ(v
1
, . . . , v
n
, f
ϕ
v
1
. . . v
n
))
Defina
T
i+1
= T
i
{ψ
ϕ
; ϕ ´e uma L
i
-f´ormula}
Vejamos agora que se M ´e uma L
i
-estrutura e M T
i
, ent˜ao podemos
interpretar os s´ımbolos de L
i+1
\ L
i
em M tal que M T
i+1
.
Sejam c M e ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) uma L
i
-f´ormula. Defina uma fun¸ao g :
M
n
M tal que, se a
1
, . . . , a
n
M e X
a
= {b M; M ϕ(a, b)} = ,
enao, g(a) X
a
, sen˜ao, se X
a
= , ent˜ao g(a) = c.
Assim, se M wϕ(a, w), ent˜ao X
a
= , logo M ϕ(a, g(a)). Portanto,
interpretando f
M
ϕ
= g, temos M ψ
ϕ
.
Sejam L
=
L
i
e T
=
T
i
.
Se ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) ´e uma L
-f´ormula, enao ϕ ´e uma L
i
-f´ormula para algum
i N, logo ψ
ϕ
T
i+1
T
, portanto T
tem a propriedade de fun¸oes
Skolem. a vimos que se M T
i
, ent˜ao podemos interpretar os s´ımbolos
de L
i+1
\ L
i
em M tal que M T
i+1
, assim, indutivamente temos que, se
M T, enao podemos interpretar os s´ımbolos de L
i
\L em M tal que M T
i
para todo i N. Portanto, interpretanto os s´ımbolos de L
\ L em M temos
que M T
. Como adicionamos um s´ımbolo funcional em L
i+1
para cada
L
i
-f´ormula, |L
i+1
| = |L
i
| +
0
, logo |L
| = |L| +
0
.
57
Teorema 4.2.8 (L¨owenheim-Skolem Descendente) Sejam M uma L-estrutura e
X M. Ent˜ao existe N M tal que X N e |N | |X| + |L| +
0
.
Demonstrao
Obviamente M T h(M), enao, p elo lema anterior, existem uma linguagem
L
L, com |L
| = |L| +
0
, e uma L
-teoria T
T h(M) tais que, T
tem
a propriedade de fun¸oes Skolem e interpretando os novos s´ımbolos de L
em
M temos que M T
. Observe que, a princ´ıpio, T h(M) ´e uma L-teoria,
por´em considerando M como uma L
-estrutura, temos que T h(M) ´e uma
L
-teoria, e como T h(M) ´e maximal, T h(M) T
, e portanto T h(M) tem a
propriedade de fun¸oes Skolem. Observe tamb´em que toda L-f´ormula ´e uma
L
-f´ormula, assim, se mostrarmos a existˆencia de uma L
-estrutura N tal que
N M, claramente ignorando as interpreta¸oes dos s´ımbolos de L
\ L em
N e M, vendo-os agora como L-estruturas, ainda teremos que N M.
Seja X
0
= X e defina indutivamente
X
i+1
= X
i
{f
M
(a
1
, . . . , a
n
); n N
, f ´e um s´ımbolo funcional
nario de L
e a
1
, . . . , a
n
X
i
}
Vamos agora definir uma L
-estrutura N .
Seja N =
iN
X
i
, assim X N e |N | |X| + |L
| +
0
= |X| + |L| +
0
.
Seja f um s´ımbolo funcional nario de L
, interpretaremos f em N como
f
N
= f
M
|
N
n
Vejamos que f
N
est´a bem definida. Se (a
1
, . . . , a
n
) N
n
, enao para algum
i N, a
1
, . . . , a
n
X
i
, logo f
M
(a
1
, . . . , a
n
) X
i+1
N.
Seja p um s´ımbolo de predicado nario de L
, interpretaremos p em N como
p
N
= p
M
N
n
Observe que dado (a
1
, . . . , a
n
) N
n
, (a
1
, . . . , a
n
) p
N
sse (a
1
, . . . , a
n
) p
M
.
Seja c um s´ımbolo de constante de L
. Ent˜ao existe uma fun¸ao Skolem
f
c
L
tal que f
M
c
(x) = c
M
para todo x M. De fato, se ϕ(v, w) ´e a ormula
w = c, ent˜ao existe um s´ımbolo funcional f
c
L
tal que
T h(M) v(w(w = c) f
c
(v) = c)
58
Enao, dado x X
i
, para qualquer i N,
c
M
= f
M
c
(x) X
i+1
N
Assim, interpretaremos c em N como
c
N
= c
M
Portanto N ´e sub-estrutura de M.
Agora sejam ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) uma L
-f´ormula de a
1
, . . . , a
n
N. Se b M
e M ϕ(a, b), ent˜ao M ϕ(a, f (a)) para algum s´ımbolo funcional f L
.
Por constru¸ao f
M
(a) N. Logo, pela proposi¸ao 4.2.5, N M.
4.3 Teoria Universal
Defini¸ao 4.3.1 Uma senten¸ca universal ´e uma senten¸ca da forma v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
),
onde ϕ ´e uma ormula livre de quantificadores.
Defini¸ao 4.3.2 Seja T uma L-teoria. A teoria universal de T, denotada por T
, ´e o
conjunto de todas as senten¸cas universais que ao conseuˆencias ogicas de T. Isto ´e,
T
= {ϕ; ϕ ´e senten¸ca universal e T ϕ}.
Lema 4.3.3 Sejam T uma L-teoria e M T
. Ent˜ao T Diag(M) ´e uma L
M
-teoria
satisfat´ıvel.
Demonstrao
Suponha que T Diag(M) ao seja satisfat´ıvel. Enao, pelo teorema da
compacidade, existe = {ψ
1
, . . . ψ
n
} Diag(M) tal que T ao seja
satisfat´ıvel. Sejam c
1
, . . . , c
m
L
M
\ L os s´ımbolos de constante usados em
ψ
1
, . . . , ψ
n
, ent˜ao, para i = 1, . . . , n, ψ
i
´e a L
M
-senten¸ca ϕ
i
(c
1
, . . . , c
m
), onde
ϕ
i
´e uma L-f´ormula livre de quantificadores.
Se existisse um modelo para a L-teoria T {∃v
1
. . . v
m
n
i=1
ϕ
i
(v
1
, . . . , v
m
)},
enao poderiamos ver esse modelo como uma L
M
-estrutura interpretando
c
1
, . . . , c
m
como testemunha para a L-f´ormula existencial, desta forma T
seria satisfat´ıvel. Logo, pelo lema 3.1.6,
59
T v
1
. . . v
m
n
i=1
¬ϕ
i
(v
1
, . . . , v
m
)
o que implica
v
1
. . . v
m
n
i=1
¬ϕ
i
(v
1
, . . . , v
m
) T
contradizendo o fato de M T
, visto que M
n
i=1
ϕ
i
(c
1
, . . . , c
m
).
Portanto T Diag(M) ´e satisfat´ıvel.
Proposi¸ao 4.3.4 Seja T uma L-teoria. Ent˜ao A T
se, e somente se, existe M T
com A M.
Demonstrao
Suponha primeiramente que A T
. Ent˜ao, pelo lema anterior, existe um
modelo N para a L
A
-teoria T Diag(A). Obviamente N T, e pelo lema
4.2.3, existe uma L-imers˜ao η : A N . Portanto, pela proposi¸ao 1.2.9,
existe M T com A M.
Agora suponha M T e seja A M. Como T T
, M T
. Assim, visto
que as senten¸cas de T
ao da forma v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
), temos que para
qualquer N M
M v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) N v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
Logo N T
, em particular A T
.
Corol´ario 4.3.5 Sejam T e T
L-teorias. Suponha que A T
se, e somente se, existe
M T com A M. Ent˜ao T
´e uma axiomatiza¸ao de T
.
Demonstrao
Segue imediata da proposi¸ao anterior.
A T
existe M T com A M A T
60
Defini¸ao 4.3.6 Dizemos que uma L-teoria T tem uma axiomatiza¸ao universal se existe
um conjunto de L-senten¸cas universais Γ tal que, para toda L-estrutura M, M Γ se, e
somente se, M T.
Teorema 4.3.7 Seja T uma L-teoria. Ent˜ao T tem axiomatiza¸ao universal se, e so-
mente se, para todo M T, se N M ent˜ao N T.
Demonstrao
Suponha que T tem uma axiomatiza¸ao universal Γ. Assim, pela defini¸ao,
T Γ e Γ T. Observe que Γ T
, logo T
T, e como T T
, T
tamem
´e uma axiomatiza¸ao universal de T. Sejam M T e N M. Ent˜ao, pela
proposi¸ao 4.3.4, N T
, o que implica N T.
Suponha agora que para todo M T, se N M enao N T. Seja A T
,
enao, pela proposi¸ao 4.3.4, existe M T com A M, logo, por hip´otese,
A T. Portanto T
´e uma axiomatiza¸ao universal de T.
4.4 Elimina¸ao de Quantificadores
Veremos nesta se¸ao que algumas ormulas com quantificadores podem ser equivalentes `a
outras sem quantificadores. Por exemplo, seja ϕ(a, b, c) a ormula x(ax
2
+ bx + c = 0).
Enao
R abc(ϕ(a, b, c) [(a = 0 b
2
4ac 0) (a = 0 (b = 0 c = 0))])
e
C abc(ϕ(a, b, c) (a = 0 b = 0 c = 0))
Em ambos os casos ϕ ´e equivalente a uma ormula livre de quantificadores.
Teorias com elimina¸ao de quantificadores em conjuntos defin´ıveis relativamente aceis
de caracterizar, e, em exemplos espec´ıficos, tˆem estrutura interessante em aplica¸oes.
Defini¸ao 4.4.1 Seja T uma L-teoria. Dizemos que T tem elimina¸ao de quantifica-
dores se para toda L-f´ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
) existe uma L-f´ormula livre de quantificadores
ψ(v
1
, . . . , v
n
) tal que
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
61
Mostraremos que OLD tem elimina¸ao de quantificadores. Para isso precisamos de uma
variante da proposi¸ao 4.1.5.
Lema 4.4.2 Sejam (A, <) e (B, <) modelos de OLD enumer´aveis, a
1
, . . . , a
n
A e
b
1
, . . . , b
n
B tais que a
1
< . . . < a
n
e b
1
< . . . < b
n
. Ent˜ao existe um isomorfismo
f : A B tal que f(a
i
) = b
i
, para todo i = 1, . . . , n.
Demonstrao
Modificando a demonstra¸ao da proposi¸ao 4.1.5, tome A
0
= {a
1
, . . . , a
n
},
B
0
= {b
1
, . . . , b
n
} e f
0
: A
0
B
0
onde f
0
(a
i
) = b
i
, para i = 1, . . . , n. No que
segue, a demonstra¸ao ´e igual.
Teorema 4.4.3 OLD tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Observe primeiramente que Q OLD, e como OLD ´e completa, dada uma
senten¸ca ϕ, O LD ϕ sse Q ϕ.
Agora, se ϕ ´e uma senten¸ca e OLD ϕ, ent˜ao
OLD vϕ v = v
enquanto, se OLD ¬ϕ, ent˜ao
OLD vϕ v = v
Suponha que ϕ ´e uma ormula com vari´aveis livres v
1
, . . . , v
n
, n 1. Mostra-
remos que existe uma ormula livre de quantificadores ψ com vari´aveis entre
v
1
, . . . , v
n
tal que
Q v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
e portanto
OLD v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
Defina uma fun¸ao
σ : {(i, j); 1 i < j n} {0, 1, 2}
62
Seja χ
σ
(v
1
, . . . , v
n
) a ormula
σ(i,j)=0
v
i
= v
j
σ(i,j)=1
v
i
< v
j
σ(i,j)=2
v
j
< v
i
Dizemos que σ ´e uma fun¸ao sinal e que χ
σ
´e uma condi¸ao de sinal.
Observe que se a
1
, . . . , a
n
Q, enao podemos achar uma fun¸ao sinal σ
tal que Q χ
σ
(a
1
, . . . , a
n
). Basta verificar as rela¸oes entre a
i
e a
j
, para
1 i < j n.
Seja
Γ
ϕ
= {σ; σ ´e uma fun¸ao sinal e existem a
1
, . . . , a
n
Q
tal que Q χ
σ
(a
1
, . . . , a
n
) ϕ(a
1
, . . . , a
n
)}
Caso Γ
ϕ
= , temos que
Q v
1
. . . v
n
¬ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
assim,
Q v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) v
1
= v
1
Caso Γ
ϕ
= , defina
ψ
ϕ
(v
1
, . . . , v
n
) :=
σΓ
ϕ
χ
σ
(v
1
, . . . , v
n
)
Note que ψ
ϕ
est´a bem definida, pois Γ
ϕ
´e finito, visto que existem apenas
finitas possibilidades para a fun¸ao sinal σ.
Pela defini¸ao de Γ
σ
, temos
Q v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ
ϕ
(v
1
, . . . , v
n
)
De fato, se a
1
, . . . , a
n
Q e Q ϕ(a
1
, . . . , a
n
), basta tomar uma fun¸ao sinal
σ tal que Q χ
σ
(a
1
, . . . , a
n
). Claramente σ Γ
ϕ
.
Agora suponha que b
1
, . . . , b
n
Q e Q ψ
ϕ
(b
1
, . . . , b
n
). Seja σ Γ
ϕ
tal que
Q χ
σ
(b
1
, . . . , b
n
). Ent˜ao existe a
1
, . . . , a
n
Q tal que
Q ϕ(a
1
, . . . , a
n
) χ
σ
(a
1
, . . . , a
n
)
Pelo lema anterior, existe um automorfismo f de Q tal que f(a
i
) = b
i
, para
i = 1, . . . , n, e pelo teorema 1.4.8, Q ϕ(b
1
, . . . , b
n
).
63
Portanto OLD v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ
ϕ
(v
1
, . . . , v
n
).
Teorema 4.4.4 Sejam L uma linguagem contendo um s´ımbolo de constante c, T uma
L-teoria e ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula. ao equivalentes:
i. Existe uma L-f´ormula livre de quantificadores ψ(v
1
, . . . , v
n
) tal que
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
ii. Se M e N ao modelos de T, A ´e uma L-estrutura contida em M e em N e
a
1
, . . . , a
n
A, ent˜ao
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) N ϕ(a
1
, . . . , a
n
)
Demonstrao
(i. ii.)
Suponha que
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
onde ψ ´e livre de quantificadores.
Seja a
1
, . . . , a
n
A, onde A ´e uma subestrutura comum de M e N , as quais
ao modelos de T. Pelo corol´ario 1.4.2, ormula livre de quantificadores ao
preservadas por subestruturas e extens˜oes. Logo
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) M ψ(a
1
, . . . , a
n
) A ψ(a
1
, . . . , a
n
)
N ψ(a
1
, . . . , a
n
) N ϕ(a
1
, . . . , a
n
)
(ii. i.)
Se T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
), T v
1
. . . v
n
(ϕ(v
1
, . . . , v
n
) c = c), e
se T v
1
. . . v
n
¬ϕ(v
1
, . . . , v
n
), T v
1
. . . v
n
(ϕ(v
1
, . . . , v
n
) c = c).
Suponha que T {∀v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)} e T {∀v
1
. . . v
n
¬ϕ(v
1
, . . . , v
n
)}
ao satisfat´ıveis. Sejam d
1
, . . . , d
n
novos s´ımbolos de constante de L. E seja
Γ(d
1
, . . . , d
n

d
) = {ψ(d); ψ ´e livre de quantificadores e T ϕ(d) ψ(d)}
64
Mostraremos que T Γ(d) ϕ(d), pois sendo assim, pelo teorema da compa-
cidade, existem ψ
1
(d), . . . , ψ
m
(d) Γ(d) tais que
T {ψ
1
(d), . . . , ψ
m
(d)} ϕ(d)
assim,
T
m
i=1
ψ
i
(d) ϕ(d)
mas cada ψ
i
(d) Γ(d), logo
T ϕ(d)
m
i=1
ψ
i
(d)
como os s´ımbolos d
1
, . . . , d
n
foram tomados de forma arbitr´aria, isto ´e, inde-
pendentes de interpreta¸ao, temos
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
)
m
i=1
ψ
i
(v
1
, . . . , v
n
)
onde
m
i=1
ψ
i
(v
1
, . . . , v
n
) ´e livre de quantificadores.
Vejamos enao que T Γ(d) ϕ(d).
Suponha que T Γ(d) ϕ(d), ent˜ao, pelo lema 3.1.6, seja
M T Γ(d) ϕ(d)}
Seja A M uma subestrutura gerada por {d
M
1
, . . . , d
M
n
}. Tome
Σ = T Diag(A) {ϕ(d)}
Suponha que Σ ´e insatisfat´ıvel. Enao existem ψ
1
(d), . . . , ψ
m
(d) Diag(A)
tais que
T {ψ
1
(d), . . . , ψ
m
(d)} ¬ϕ(d)
assim,
T
m
i=1
ψ
i
(d) ¬ϕ(d)
65
logo
T ϕ(d)
m
i=1
¬ψ
i
(d)
o que implica
m
i=1
¬ψ
i
(d)

ψ
Γ(d)
Como M Γ(d), M ψ, e como ψ ´e livre de quantificadores, A ψ,
contradizendo o fato de que A ψ
i
(d) para todo i = 1, . . . , m. Portanto Σ ´e
satisfat´ıvel.
Seja N Σ. Enao N ϕ(d), e como Diag(A) Σ, pelo lema 4.2.3,
A N . Mas M ¬ϕ(d), enao, por ii., N ¬ϕ(d), contradi¸ao. Portanto
T Γ(d) ϕ(d).
Lema 4.4.5 Seja T uma L-teoria. Suponha que para qualquer ormula livre de quan-
tificadores θ(v
1
, . . . , v
n
, w) existe uma ormula ψ(v
1
, . . . , v
n
) livre de quantificadores tal
que
T v
1
. . . v
n
(wθ(v
1
, . . . , v
n
, w) ψ(v
1
, . . . , v
n
))
Ent˜ao T tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Seja ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula. Queremos mostrar que
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
para alguma ormula ψ(v
1
, . . . , v
n
) livre de quantificadores.
Mostraremos isso por indu¸ao sobre ormulas. Se ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ´e uma ormula
atˆomica, nada a fazer. Suponha que para i = 0, 1
T v
1
. . . v
n
θ
i
(v
1
, . . . , v
n
) ψ
i
(v
1
, . . . , v
n
)
onde ψ
i
(v
1
, . . . , v
n
) ´e livre de quantificadores.
Se ϕ ´e igual `a ¬θ
0
, enao
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ¬ψ
0
(v
1
, . . . , v
n
)
66
Se ϕ ´e igual `a θ
0
θ
1
, enao
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ
0
(v
1
, . . . , v
n
) ψ
1
(v
1
, . . . , v
n
)
Agora suponha que
T v
1
. . . v
n
w
θ(v
1
, . . . , v
n
, w) ψ
0
(v
1
, . . . , v
n
, w)
onde ψ
0
´e livre de quantificadores. Se ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ´e igual `a wθ(v
1
, . . . , v
n
, w),
enao
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) wψ
0
(v
1
, . . . , v
n
, w)
Por hip´otese, existe uma ormula ψ(v
1
, . . . , v
n
) livre de quantificadores tal que
T v
1
. . . v
n
wψ
0
(v
1
, . . . , v
n
, w) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
Portanto
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
Teorema 4.4.6 Seja T uma L-teoria. Suponha que para toda ormula ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w)
livre de quantificadores, se M e N ao modelos de T, A ´e uma subestrutura comum de
M e N , a
1
, . . . , a
n
A e existe b M tal que M ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b), ent˜ao existe c N
tal que N ϕ(a
1
, . . . , a
n
, c). Ent˜ao T tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Sejam M e N modelos de T, A subestrutura comum de M e N e a
1
, . . . , a
n
A. Por hip´otese
M wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) N wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w)
e
N wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) M wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w)
logo
M wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) N wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w)
Assim, pelo teorema 4.4.4, existe uma ormula ψ(v
1
, . . . , v
n
) livre de quantifi-
67
cadores tal que
T v
1
. . . v
n
wϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
Portanto, pelo lema anterior, T tem elimina¸ao de quantificadores.
Defini¸ao 4.4.7 Seja T uma L-teoria. Dizemos que T tem modelos algebricamente
primos, se dado A T
, existem M T e uma imers˜ao i : A M tais que , para
quaisquer N T e j : A N imers˜ao, existe uma imers˜ao h : M N tal que j = h i.
No que segue, vamos considerar GAD, a teoria dos grupos abelianos com divis˜ao livres
de tor¸ao, vista na linguagem L
g
= {+, , 0} por uma quest˜ao de conveniˆencia, pois nesta
linguagem uma subestrutura de um grupo ´e um subgrupo.
Proposi¸ao 4.4.8 GAD
tem modelos algebricamente primos.
Demonstrao
Vejamos primeiramente que GAD
´e uma axiomatiza¸ao da teoria dos grupos
abelianos livres de tor¸ao. Claramente todo subgrupo de um grupo abeliano
com divis˜ao livre de tor¸ao ´e um grupo abeliano livre de tor¸ao.
Agora, seja G um grupo abeliano livre de tor¸ao. Se G = {0}, enao H = Q ´e
um modelo de GAD contendo G, e como vimos na demonstra¸ao da proposi¸ao
4.1.6, H est´a imerso em qualquer outro modelo de GAD. Suponha G um grupo
ao trivial. Seja
X = {(g, n), g G e n N
}
Vamos pensar intuitivamente em (g, n) como g/n. Defina uma rela¸ao de
equivalˆencia em X por
(g, n) (h, m ) mg = nh
Seja H = X/ . Para (g, n) X, denote por [g, n] a -classe de (g, n). Defina
a opera¸ao + em H por
[g, n] + [h, m] = [mg + nh, mn]
68
Vejamos que + est´a bem definida. Suponha (g
0
, n
0
) (g, n), ent˜ao ng
0
= n
0
g,
logo, como G ´e abeliano,
mn
0
(mg + nh) = mmn
0
g + mn
0
nh = mmng
0
+ mnn
0
h = mn(ng
0
+ n
0
h)
portanto
(mg
0
+ n
0
h, mn
0
) (mg + nh, mn)
e
[g, n] + [h, m] = [mg + nh, mn] = [mg
0
+ n
0
h, mn
0
] = [g
0
, n
0
] + [h, m]
O elemento neutro de H ´e [0, 1] e o oposto ´e [g, n] = [g, n].
Claramente H ´e abeliano.
[g, n] + [h, m] = [mg + nh, mn] = [nh + mg, nm] = [h, m] + [g, n]
Se [g, m] H e n > 0, ´e acil ver por indu¸ao que n[g, m] = [ng, m]. Se
(ng, m) (0, k), enao kng = 0, como G ´e livre de tor¸ao, g = 0. Logo
[g, m] = [0, 1] e portanto H ´e livre de tor¸ao.
Suponha novamente [g, m] H e n > 0, ent˜ao n[g, nm] = [ng, nm] = [g, m],
logo H tem divis˜ao.
Defina uma imers˜ao i : G H por i(g) = [g, 1]. Claramente [g, 1] + [h, 1] =
[g + h, 1] e se g = h, [g, 1] = [h, 1].
Portanto, pelo corol´ario 4.3.5, GAD
´e uma axiomatiza¸ao para a teoria dos
grupos abelianos livres de tor¸ao.
Agora suponha H
GAD e j : G H
uma imers˜ao. Seja k : H H
definida por
k([g, n ]) = j(g)/n
Vejamos que k est´a bem definida. Dado g G e n > 0, como H
tem divis˜ao,
existe h H
tal que j(g) = nh, se h
0
H
´e tal que j(g) = nh
0
, ent˜ao
n(h h
0
) = 0, o que implica h = h
0
, pois H
´e livre de tor¸ao. Agora sejam
(g, n), (h, m) X, ent˜ao
(g, n) (h, m ) mg = nh j(mg) = j(nh)
mj(g) = nj(h)
j(g)
n
=
j(h)
m
69
Portanto k est´a bem definida e ´e injetora. Agora vejamos que k preserva a
soma.
k([g, n] + [h, m]) = k([mg + nh, mn]) =
j(mg + nh)
mn
=
=
mj(g) + nj(h)
mn
=
j(g)
n
+
j(h)
m
Logo k ´e uma imers˜ao e dado g G
k i(g) = k([g, 1]) = j(g)/1 = j(g)
Defini¸ao 4.4.9 Sejam T uma L-teoria e M, N T com M N . Dizemos que M ´e
simplesmente fechado em N e denotamos por M
s
N , se para quaisquer ormula livre
de quantificadores ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) e a
1
, . . . , a
n
M, N wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) implica
M wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w).
Proposi¸ao 4.4.10 Sejam G, H GAD com G H. Ent˜ao G
s
H.
Demonstrao
Seja ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w) uma ormula livre de quantificadores, ent˜ao existem ormulas
θ
i
(v
1
, . . . , v
n
, w) atˆomicas ou nega¸oes de atˆomicas tais que ϕ ´e igual `a
r
i=1
θ
i
.
Observe que, para os modelos de GAD, se θ(v
1
, . . . , v
n
, w) ´e uma ormula
atˆomica, enao existem d
1
, . . . , d
n
, m Z tais que θ(v
1
, . . . , v
n
, w) ´e equivalente
`a
n
j=1
d
j
v
j
+ mw = 0
Sejam a
1
, . . . , a
n
G, ent˜ao podemos assumir que ϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) ´e igual `a
s
i=1
n
j=1
d
ij
a
j

g
i
+m
i
w = 0

s
i=1
n
j=1
d
ij
a
j

h
i
+m
i
w = 0

Note que g
i
, h
i
G . Suponha b H tal que H ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b). Se, para
algum i = 1, . . . , s, m
i
= 0, enao b = g
i
/m
i
G, pois G tem divis˜ao, e
portanto G ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b). Por outro lado, suponha que ϕ(a
1
, . . . , a
n
, w)
70
´e igual `a
s
i=1
(h
i
+ m
i
w = 0). Ent˜ao ϕ(a
1
, . . . , a
n
, w) ´e satisfeita por qualquer
elemento de H diferente de h
i
/m
i
, onde i = 1, . . . , s
. Como G GAD, G ´e
infinito, logo existe c G tal que G ϕ(a
1
, . . . , a
n
, c).
Teorema 4.4.11 Seja T uma L-teoria tal que
i. T tem modelos algebricamente primos;
ii. M
s
N sempre que M N ao modelos de T.
Ent˜ao T tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Sejam M
1
, M
2
T, A subestrutura comum de M
1
e M
2
e ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w)
uma ormula livre de quantificadores . Suponha a
1
, . . . , a
n
A e b M
1
tais
que M
1
ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b). Pela proposi¸ao 4.3.4, A T
. Por i., existem
N T e η
1
e η
2
imers˜oes de N em M
1
e M
2
, respectivamente. Por ii.,
N wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w). Logo M
2
wϕ(a
1
, . . . , a
n
, w). Portanto, pelo
teorema 4.4.6, T tem elimina¸ao de quantificadores.
Corol´ario 4.4.12 GAD tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Pela proposi¸ao 4.4.8, GAD tem modelos algebricamente primos, e pela pro-
posi¸ao 4.4.10, G
s
H sempre que G H ao modelos de GAD . Portanto,
pelo teorema anterior, GAD tem elimina¸ao de quantificadores.
Podemos ver exemplos interessantes de conjuntos defin´ıveis em modelos de GAD. Supo-
nha ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
m
) uma ormula atˆomica. Ent˜ao existem inteiros k
1
, . . . , k
n
, l
1
, . . . , l
m
tais que ϕ seja equivalente `a
n
i=1
k
i
v
i
+
m
i=1
l
i
w
i
= 0
71
Se G GAD e b
1
, . . . , b
m
G, ent˜ao ϕ(v
1
, . . . , v
n
, b
1
, . . . , b
m
) define o conjunto
(g
1
, . . . , g
n
) G
n
;
n
i=1
k
i
g
i
+
m
i=1
l
i
b
i
= 0
um hiperplano de G
n
. Como em GAD qualquer ormula ´e equivalente `a uma combina¸ao
booleana de ormulas atˆomicas, qualquer subconjunto defin´ıvel em G
n
´e uma combina¸ao
booleana de hiperplanos. Em particular, se b
1
, . . . , b
m
G e ϕ(v, b
1
, . . . , b
m
) define um
subconjunto de G. Como hiperplanos de G ao apenas pontos, temos que o conjunto
{g G; G ϕ(g, b
1
, . . . , b
m
)} ´e finito ou cofinito. Lembrando que um conjunto ´e cofinito
se o seu complementar ´e finito.
Defini¸ao 4.4.13 Uma L-teoria T ´e dita fortemente minimal se, para qualquer M T,
os subconjuntos defin´ıveis de M ao finitos ou cofinitos.
Exemplo 4.4.14 GAD ´e fortemente minimal
Defini¸ao 4.4.15 Seja T uma L-teoria. Dizemos que T ´e modelo-completa se M N
sempre que M N ao modelos de T.
Teorema 4.4.16 Seja T uma L-teoria. Se T tem elimina¸ao de quantificadores, ent˜ao
T ´e modelo-completa.
Demonstrao
Sejam M N modelos de T e ϕ(v
1
, . . . , v
n
) uma L-f´ormula. Como T tem
elimina¸ao de quantificadores, existe uma ormula ψ(v
1
, . . . , v
n
) livre de quan-
tificadores tal que
T v
1
. . . v
n
ϕ(v
1
, . . . , v
n
) ψ(v
1
, . . . , v
n
)
Sejam a
1
, . . . , a
n
M. Como ormulas livres de quantificadores ao preserva-
das por subestruturas e extens˜oes,
M ϕ(a
1
, . . . , a
n
) M ψ(a
1
, . . . , a
n
)
N ψ(a
1
, . . . , a
n
) N ϕ(a
1
, . . . , a
n
)
Portanto T ´e mo delo-completa.
Teorema 4.4.17 Seja T uma teoria modelo-completa. Suponha que existe M
0
T tal
que M
0
est´a imerso em qualquer modelos de T. Ent˜ao T ´e completa.
72
Demonstrao
Seja M T. A imers˜ao de M
0
em M ´e elementar, pois T ´e modelo-completa.
Em particular, M
0
M. Enao quaisquer dois modelos de T ao elementar-
mente equivalentes. Portanto T ´e completa.
Obs.: Como Q est´a imerso em qualquer modelo de GAD, esta ´e uma outra prova de
que GAD ´e completa.
73
Cap´ıtulo 5
Corpos Algebricamente Fechados
5.1 Teoria CAF
Seja L
a
= {+, , ·, 0, 1} a linguagem dos an´eis. Suponha θ(v
1
, . . . , v
n
) uma ormula
atˆomica. Como ao temos s´ımbolos de predicados em L
a
, temos que θ(v
1
, . . . , v
n
) ´e
igual `a t
1
(v
1
, . . . , v
n
) = t
2
(v
1
, . . . , v
n
), onde t
1
e t
2
ao termos. Mas o s´ımbolo funcional
“-” est´a em L
a
. Assim, t
1
t
2
tamem ´e um termo. Logo, em qualquer L
a
-estrutura
temos que a ormula θ(v
1
, . . . , v
n
) ´e equivalente `a t(v
1
, . . . , v
n
) = 0, onde t ´e um termo.
Agora observe que se t ´e um termo livre de vari´aveis, enao t ´e 0, ou t ´e 1, ou t ´e um
termo envolvendo esses s´ımbolos de constante e os s´ımbolos funcionais +, , ·. Ou seja,
em qualquer estrutura, t ser´a interpretado como um n´umero inteiro. Se t ´e um termo
dependendo de no aximo uma vari´avel v, enao, da mesma forma, temos que t ser´a
interpretado como um polinˆomio em Z[v]. Indutivamente, t(v
1
, . . . , v
n
) ser´a interpretado
como um polinˆomio em Z[v
1
, . . . , v
n
].
Lema 5.1.1 CAF
´e uma axiomatiza¸ao da teoria dos dom´ınios de integridade.
Demonstrao
Se D ´e um dom´ınio de integridade, ent˜ao o fecho alg´ebrico do seu corpo de
fra¸oes ´e um modelo de CAF .
De acordo com o exemplo 2.2.5, CAF T
d
, onde T
d
´e a teoria dos dom´ınios de
integridade. Mas as senten¸cas de T
d
ao todas universais. Logo, pelo corol´ario
1.4.5, toda subestrutura de CAF ´e um dom´ınio de integridade.
Portanto, pelo corol´ario 4.3.5, CAF
´e uma axiomatiza¸ao de T
d
.
74
Teorema 5.1.2 CAF tem elimina¸ao de quantificadores.
Demonstrao
Vamos mostrar que CAF tem modelos algebricamente primos e que se M N
ao modelos de CAF , enao M
s
N , pois assim teremos que CAF tem
elimina¸ao de quantificadores.
Se D ´e um dom´ınio de integridade, enao o fecho alg´ebrico do corpo de fra¸oes
de D est´a imerso em qualquer corpo algebricamente fechado contendo D.
Assim, CAF tem modelo algebricamente primo.
Agora sejam F K corpos algebricamente fechados, ϕ(x, y
1
, . . . , y
m
) uma
ormula livre de quantificadores e b
1
, . . . , b
m
F tais que K ϕ(a, b
1
, . . . , b
m
)
para algum a K.
Como ϕ ´e livre de quantificadores, podemos assumir que ϕ ´e uma conjun¸ao
de ormulas atˆomicas e de nega¸oes de atˆomicas. Na linguagem dos an´eis L
a
,
ormulas atˆomicas θ(v
1
, . . . , v
n
) ao equivalentes, em qualquer L
a
-estrutura, `a
p(v
1
, . . . , v
n
) = 0 onde p Z[x
1
, . . . , x
n
].
Se p(xy
1
, . . . , y
m
) Z[x, y
1
, . . . , y
m
], podemos ver p(x, b
1
, . . . , b
m
)como um po-
linˆomio em F [x]. Ent˜ao existem polinˆomios p
1
, . . . , p
r
, q
1
, . . . , q
s
F [x] tais
que ϕ(v, b
1
, . . . , b
m
) ´e equivalente `a
r
i=1
p
i
(v) = 0
s
i=1
q
i
(v) = 0
Se algum p
i
for ao nulo, enao a ´e alg´ebrico sobre F . Como F ´e algebri-
camente fechado, a F. Suponha enao que ϕ(v, b
1
, . . . , b
m
) ´e equivalente
`a
s
i=1
q
i
(v) = 0
Mas q
i
(v) = 0 tem apenas uma quantidade finita de solu¸oes para cada i s.
Enao existem apenas finitos elementos de F que ao satisfaz ϕ. Como corpos
algebricamente fechados ao infinitos, existe c F tal que F ϕ(c, b
1
, . . . , b
m
).
Logo F
s
K.
Portanto CAF tem elimina¸ao de quantificadores.
No cap´ıtulo anterior, corol´ario 4.1.12, vimos atraes do Teste de Vaught que CAF
p
´e
completa. Agora daremos uma outra demonstra¸ao para esse mesmo fato.
75
Corol´ario 5.1.3 CAF ´e modelo-completa e CAF
p
´e completa, onde p = 0 ou p ´e primo.
Demonstrao
CAF tem elimina¸ao de quantificadores, logo, pelo teorema 4.4.16, CAF ´e
modelo-completa.
Suponha K, L CAF
p
e seja ϕ uma senten¸ca na linguagem dos an´eis.
Como CAF tem elimina¸ao de quantificadores, existe uma senten¸ca ψ livre
de quantificadores tal que
CAF ϕ ψ
Como senten¸cas livres de quantificadores ao preservadas por subestruturas e
extens˜oes, temos
K ψ F
p
ψ L ψ
onde, se p ´e primo, F
p
= Z
p
, que est´a imerso em qualquer corpo de carac-
ter´ıstica p, e se p = 0, F
p
= Q, que est´a imerso em qualquer corpo de carac-
ter´ıstica 0.
Assim
K ϕ K ψ L ψ L ϕ
Logo K L e portanto CAF
p
´e completa.
5.2 Topologia de Zariski
Nesta se¸ao introduziremos uma topologia natural em conjuntos de zeros de polinˆomios.
Defini¸ao 5.2.1 Sejam K um corpo, n N
e R K[x
1
, . . . , x
n
]. Defina
V(R) = {(a
1
, . . . , a
n
) K
n
; p(a
1
, . . . , a
n
) = 0 para todo p R}
Dizemos que X K
n
´e Zariski fechado se X = V(S) para algum S K[x
1
, . . . , x
n
].
No teorema a seguir trataremos de espa¸co top ol´ogico com a topologia de fechados. Para
maiores detalhes sobre espa¸cos topol´ogicos consulte [7].
Teorema 5.2.2 Sejam K um corpo e n N
. Defina
τ = {V(S); S K[x
1
, . . . , x
n
]}
76
Ent˜ao (K
n
, τ) ´e um espco topol´ogico.
Demonstrao
i. = V({1})
K
n
= V({0})
ii. Sejam X = V(S) e Y = V(R) onde S, R K[x
1
, . . . , x
n
]. Defina
SR = {s · r; s S e r R}
Claramente X Y V(SR). Agora seja (a
1
, . . . , a
n
) V(SR) e suponha
que (a
1
, . . . , a
n
) / Y . Ent˜ao existe r
0
R tal que
r
0
(a
1
, . . . , a
n
) = 0
Mas, para todo s S,
(s · r
0
)(a
1
, . . . , a
n
) = 0
o que implica
s(a
1
, . . . , a
n
) = 0
Portanto (a
1
, . . . , a
n
) X.
iii. Sejam (X
λ
)
λΛ
Zariski fechados. Enao existem S
λ
K[x
1
, . . . , x
n
] tais
que
X
λ
= V(S
λ
)
para cada λ Λ. Vejamos que
X
λ
= V(S
λ
)
De fato,
(a
1
, . . . , a
n
) X
λ
se, e somente se, para todo λ Λ,
p(a
1
, . . . , a
n
) = 0
qualquer que seja p S
λ
. O que ´e necess´ario e suficiente para
(a
1
, . . . , a
n
) V(S
λ
)
77
Mais tarde veremos que esse espa¸co topol´ogico ´e compacto e, em geral, ao ´e Hausdorff.
Mas antes observe que K[x
1
, . . . , x
n
] ´e um anel comutativo. Veremos agora alguns resul-
tados relativos a esse anel. Para isso tamb´em veremos a defini¸ao de anel Noetheriano.
Obs.: Se A ´e um anel e S A, denotaremos por < S > o ideal gerado por S.
Teorema 5.2.3 Seja A um anel. Ent˜ao as seguintes condi¸oes ao equivalentes:
i. Todo ideal de A ´e finitamente gerado.
ii. Toda cadeia ascendente de ideais distintos de A ´e finita.
iii. Todo conjunto ao vazio de ideais de A tem um elemento maximal (com respeito `a
ordem parcial de inclus˜ao).
Nesse caso, se alguma dessas e portanto todas essas condi¸oes forem verdadeiras, dizemos
que A ´e um anel Noetheriano.
Demonstrao
i. ii.
Suponha I
1
I
2
I
3
. . . uma cadeia ascendente de ideais de
A. Seja J a uni˜ao desses ideais. Ent˜ao J ´e finitamente gerado.
Sejam j
1
, . . . , j
r
geradores de J, assim cada gerador est´a em algum
I
k
. Ent˜ao existe um ´ındice n tal que
j
1
, . . . , j
r
I
n
Logo
< j
1
, . . . , j
r
> I
n
J =< j
1
, . . . , j
r
>
Portanto vale a igualdade.
ii. iii.
Seja S um conjunto de ideais de A e seja I
0
um elemento de S. Se I
0
ao ´e um elemento maximal, enao existe um ideal I
1
S contendo
propriamente I
0
. Se I
1
ao ´e um elemento maximal, enao existe
um ideal I
2
contendo propriamente I
1
. Indutivamente, se temos I
n
ao maximal, ent˜ao existe um ideal I
n+1
contendo propriamente I
n
.
Dessa maneira poderiamos construir uma cadeia infinita de ideais
de A, o que ´e um absurdo.
78
iii. i.
Sejam J um ideal de A e j
0
J. Se J =< j
0
>, ent˜ao existe j
1
J
tal que j
1
/< j
0
>. Procedendo indutivamente, podemos construir
uma cadeia ascendente de subideais de J, a saber
< j
0
>< j
0
, j
1
>< j
0
, j
1
, j
2
> . . .
onde cada inclus˜ao ´e pr´opria. O conjunto desses subideais tem um
elemento maximal, digamos < j
0
, . . . , j
r
>. Claramente esse ele-
mento ´e igual `a J.
Teorema 5.2.4 (Base de Hilbert) Seja A um anel comutativo Noetheriano. Ent˜ao o anel
polinomial A[x] tamb´em ´e Noetheriano.
Demonstrao
Seja U um ideal de A[x]. Para cada n N, sejam
U
n
= {p U; p tem grau n}
I
n
= {a
n
A; a
n
x
n
+ . . . + a
1
x + a
0
U
n
} {0}
Vejamos que I
n
´e ideal de A. Sejam a, b I
n
, ent˜ao existem p, q U
n
tais
que os coeficientes de x
n
sejam, respectivamente, a e b. Se a = b, enao
a b = 0 I
n
. Se a = b, p q U
n
, visto que U ´e ideal e p q tem grau
n, logo a b I
n
. Obviamente 0 · a = 0 I
n
, agora se 0 = c A, ent˜ao
c · p U
n
, logo c · a I
n
.
Observe que se p U
n
para algum n, enao x · p U
n+1
, conseq¨uentemente
I
0
I
1
I
2
. . .
Como A ´e Noetheriano, pelo item ii. do teorema anterior, existe r N tal
que, para todo s > r, I
s
= I
r
. Enao, pelo item i. do teorema, para cada
i = 0, . . . , r, seja
I
i
=< a
i1
, . . . , a
in
i
>
79
Agora, para cada i = 0, . . . , r e j = 1, . . . , n
i
, seja p
ij
U
i
onde a
ij
´e o
coeficiente de x
i
. Mostraremos que os polinˆomios p
ij
formam um conjunto de
geradores de U.
Seja q U de grau d. Veremos por indu¸ao sobre d que q est´a em um ideal
gerado pelos p
ij
. Sup onha d 0, se d > r, enao os coeficientes de x
d
dos
polinˆomios
x
dr
p
r1
, . . . , x
dr
p
rn
r
geram I
d
. Logo, existem elementos c
1
, . . . , c
n
r
A tais que o polinˆomio
q c
1
x
dr
p
r1
. . . c
n
r
x
dr
p
rn
r
tem grau menor que d, e claramente esse polinˆomio pertence a U. Se d r,
podemos subtrair uma combina¸ao linear para obter o polinˆomio
q c
1
p
d1
. . . c
n
d
p
dn
d
de grau menor que d, tamem pertencente a U. Observe que o polinˆomios
que subtra´ımos de q est˜ao no ideal gerado pelos p
ij
. Por indu¸ao, podemos
subtrair um polinˆomio f no ideal gerado pelos p
ij
tal que q f = 0 e portanto
U ´e exatamente o ideal gerado pelos p
ij
.
Corol´ario 5.2.5 Seja A um anel comutativo Noetheriano. Ent˜ao o anel polinomial
A[x
1
, . . . , x
n
] tamb´em ´e Noetheriano.
Demonstrao
Pelo teorema anterior, A[x
1
] ´e Noetheriano, e claramente tamb´em ´e comuta-
tivo. Assim, podemos ver indutivamente que
A[x
1
, . . . , x
n
] = A[x
1
, . . . , x
n1
][x
n
]
´e Noetheriano.
Sejam A um anel e I A um ideal. Denotaremos por
Rad(I) = {a A; a
n
I para algum n N
}
o radical de I.
80
Defini¸ao 5.2.6 Sejam A um anel e I A um ideal. Dizemos que I ´e um ideal radical
se I = Rad(I).
Defini¸ao 5.2.7 Sejam K um corpo e Y K
n
. Defina
I(Y ) = {p K[x
1
, . . . , x
n
]; p(a
1
, . . . , a
n
) = 0 para todo (a
1
, . . . , a
n
) Y }
Lema 5.2.8 Sejam K um corpo, R, S K[x
1
, . . . , x
n
] e X, Y K
n
, ent˜ao
i. I(X) ´e um ideal radical.
ii. S I(V(S))
iii. X V(I(X))
iv. X Y I(Y ) I(X)
v. S R V(R) V(S)
Demonstrao
i. Sejam p, q I(X) e f K[x
1
, . . . , x
n
]. Se a X, ent˜ao
p(a) q(a) = 0 = f(a) · p(a)
Logo I(X) ´e ideal. Agora se f
m
I(X), ent˜ao f
m
(a) = 0, logo f(a) = 0.
Portanto I(X) ´e ideal radical.
ii. Sejam p S e a V(S), ent˜ao p(a) = 0, logo p I(V(S)).
iii. Sejam a X e p I(X), enao p(a) = 0, logo a V(I(X)).
iv. Seja p I(Y ), ent˜ao p(a) = 0 para todo a Y , em particular para todo
a X, logo p I(X).
v. Seja a V(R), ent˜ao p(a) = 0 para todo p R, em particular para todo
p S, logo a V(S).
Corol´ario 5.2.9 Sejam K um corpo e X K
n
Zariski fechado. Ent˜ao X = V(I(X)).
Demonstrao
Pelo lema anterior, X V(I(X)). Como X ´e Zariski fechado, X = V(S) para
algum S K[x
1
, . . . , x
n
]. Mas pelo lema anterior, S I(V(S)). Logo
V(I(X)) = V(I(V(S))) V(S) = X
81
Corol´ario 5.2.10 Seja K um corpo e S K[x
1
, . . . , x
n
], ent˜ao V(S) = V(< S >).
Demonstrao
Pelo lema 5.2.8, V(< S >) V(S). Agora, sejam a V(S) e p < S >.
Enao existem q
1
, . . . , q
m
S e f
1
, . . . , f
m
K[x
1
, . . . , x
n
] tais que
p = f
1
q
1
+ . . . + f
m
q
m
Logo
p(a) = f
1
(a)q
1
(a) + . . . + f
m
(a)q
m
(a) = f
1
(a)0 + . . . + f
m
(a)0 = 0
Portanto a V(< S >).
Proposi¸ao 5.2.11 Seja K um corpo algebricamente fechado. Ent˜ao K ao ´e Hausdorff
na topologia de Zariski.
Demonstrao
Sejam a, b K distintos.
Suponha A, B K abertos tais que a A, b B e A B = . Assim
X = K \ A ´e Zariski fechado e cont´em B.
Mas X = V(I(X)) e I(X) ´e um ideal. Como K[x] ´e Noetheriano, I(X) ´e
finitamente gerado, digamos por p
1
, . . . , p
n
. Assim, pelo corol´ario anterior,
X = V({p
1
, . . . , p
n
}).
Logo, como K ´e um corpo algebricamente fechado, X ´e finito, e portanto A ´e
infinito. Analogamente prova-se que B ´e infinito, o que ´e um absurdo, visto
que B X.
Teorema 5.2.12 i. Toda cadeia descendente de conjuntos Zariski fechados ´e finita.
ii. Se X
λ
´e Zariski fechado para todo λ Λ, onde Λ ´e um conjunto de ´ındices, ent˜ao
existe Λ
0
Λ finito tal que
λΛ
X
λ
=
λΛ
0
X
λ
82
Demonstrao
i. Seja
X
0
X
1
X
2
. . .
uma cadeia descendente de conjuntos Zariski fechados, ent˜ao
I(X
0
) I(X
1
) I(X
2
) . . .
´e uma cadeia ascendente de ideais radicais. Como K[x
1
, . . . , x
n
] ´e No-
etheriano, essa cadeia ´e finita, logo a primeira cadeia tamem ´e finita,
visto que para todo i N, X
i
= V(I(X
i
)).
ii. Suponha que ao exista tal Λ
0
finito. Ent˜ao existe uma opia de N em
Λ tal que, para todo n N,
n+1
i=0
X
i
n
i=0
X
i
Contradizendo o item i..
Corol´ario 5.2.13 O espco topol´ogico (K
n
, τ), como definido no teorema 5.2.2, ´e com-
pacto.
Demonstrao
Defina os conjuntos abertos em K
n
como sendo os complementares dos con-
juntos Zariski fechados.
Seja (A
λ
)
λΛ
uma cobertura de abertos de K
n
. Ent˜ao, pelo teorema anterior,
existe Λ
0
Λ finito tal que
K
n
λΛ
A
λ
= K
n
\
λΛ
(K
n
\ A
λ
)
= K
n
\
λΛ
0
(K
n
\ A
λ
)
=
λΛ
0
A
λ
83
5.3 Conjuntos Construt´ıveis
Nesta se¸ao mostraremos como a elimina¸ao de quantificadores de CAF permite uma
caracteriza¸ao particularmente interessante dos conjuntos defin´ıveis.
Lema 5.3.1 Seja K um corpo. Os subconjuntos de K
n
definidos por ormulas atˆomicas
ao exatamente aqueles da forma V({p}) para algum p K[x
1
, . . . , x
n
]. Um subconjunto
de K
n
´e definido por uma ormula livre de quantificadores se, e somente se, ´e uma com-
bina¸ao booleana de conjuntos Zariski fechados.
Demonstrao
Se ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
m
) ´e uma ormula atˆomica, enao existe
q(x
1
, . . . , x
n
, y
1
, . . . , y
m
) Z[x
1
, . . . , x
n
, y
1
, . . . , y
m
]
tal que ϕ(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
m
) ´e equivalente `a
q(v
1
, . . . , v
n
, w
1
, . . . , w
m
) = 0
Se
X = {(a
1
, . . . , a
n
) K
n
; ϕ(a
1
, . . . , a
n
, b
1
, . . . , b
m
)}
enao
q(x
1
, . . . , x
n
, b
1
, . . . , b
m
) K[x
1
, . . . , x
n
]
e
X = V({q(x
1
, . . . , x
n
, b
1
, . . . , b
m
)})
Por outro lado, se p K[x
1
, . . . , x
n
], enao existem
q Z[x
1
, . . . , x
n
, y
1
, . . . , y
m
]
e (b
1
, . . . , b
m
) K
m
tais que
p(x
1
, . . . , x
n
) = q(x
1
, . . . , x
n
, b
1
, . . . , b
m
)
Logo V({p}) ´e definido pela ormula
q(x
1
, . . . , x
n
, b
1
, . . . , b
m
) = 0
84
Se X ´e Zariski fechado, ent˜ao existem p
1
, . . . , p
r
K[x
1
, . . . , x
n
] tais que
X = V({p
1
, . . . , p
r
}) = V({p
1
}) . . . V({p
r
})
Como conjuntos defin´ıveis por ormulas livres de quantificadores ao exata-
mente combina¸oes booleanas de conjuntos defin´ıveis por ormulas atˆomicas,
eles ao exatamente combina¸oes booleanas de conjuntos Zariski fechados.
Considere o corpo R. Seja p R[x, y] um polinomio definido por p(x, y) = y. Claramente
V
(
{
p
}
) =
R
× {
0
}
. Assim
R
× {
0
}
´e defin´ıvel em
R
2
. Como vimos no corol´ario 2.3.10
que R ao ´e defin´ıvel em C, a bije¸ao canˆonica de R
2
em C ao ´e um homeomorfismo na
topologia de Zariski.
Defini¸ao 5.3.2 Dizemos que X K
n
´e construt´ıvel se X ´e uma combina¸ao booleana
de conjuntos Zariski fechados.
Teorema 5.3.3 Seja K um corpo algebricamente fechado.
i. X K
n
´e construt´ıvel se, e somente se, ´e defin´ıvel.
ii. (Teorema de Chevalley) A imagem de um conjunto construt´ıvel por uma fun¸ao po-
linomial ´e construt´ıvel.
Demonstrao
i. Pelo lema anterior, os conjuntos construt´ıveis ao exatamente os defin´ıveis
por ormulas livres de quantificadores. Como CAF tem elimina¸ao de
quantificadores, todo conjunto defin´ıvel ´e defin´ıvel por uma ormula livre
de quantificadores.
ii. Seja X K
n
construt´ıvel e p : K
n
K
m
uma fun¸ao polinomial. Ent˜ao
p(X) = {y K
m
; existe x X tal que p(x) = y}
Suponha que X seja defin´ıvel por ϕ(v
1
, . . . , v
n
, c
1
, . . . , c
k
). Ent˜ao
p(X) = {y K
m
; x(ϕ(x, c
1
, . . . , c
k
) (p(x) = y)}
85
Corol´ario 5.3.4 Se K CAF e X K ´e defin´ıvel, ent˜ao X ou K \ X ´e finito. Isto ´e,
CAF ´e fortemente minimal.
Demonstrao
Pela elimina¸ao de quantificadores, X ´e uma combina¸ao finita de conjuntos
da forma V({p}) onde p K[x]. Mas V({p}) ´e o conjunto das ra´ızes de p,
logo, se p = 0, V({p}) ´e finito e se p = 0, V({p}) = K.
5.4 Nullstellensatz de Hilbert
Defini¸ao 5.4.1 Seja A um anel comutativo. Dizemos que S A ao vazio ´e um
subconjunto multiplicativo, se dados a, b S ent˜ao a · b S.
Defini¸ao 5.4.2 Sejam A um anel e P A um ideal. Dizemos que P ´e um ideal primo
se P = A e dados a, b A tais que a · b P implica a P ou b P .
Proposi¸ao 5.4.3 Sejam A um anel e P A um ideal. Ent˜ao P ´e um ideal primo se,
e somente se, P = A e dados G, H A tais que GH P implica G P ou H P .
Demonstrao
Suponha primeiramente que P ´e um ideal primo. Sejam G, H A tais que
GH P . Se G ao est´a contido em P , ent˜ao existe g G\P . Como GH P ,
gh P para todo h H. Mas P ´e primo e g / P , logo h P . Portanto
H P .
Por outro lado, sejam a, b A tais que ab P . Tome G =< a > e H =< b >.
Assim, dados g G e h H, existem r, s A tais que g = ra e h = sb. Logo
gh = rsab P
Conseq¨uentemente GH P . Portanto
a / P G P H P b P
86
Lema 5.4.4 Suponha A um anel comutativo. Sejam S A um conjunto multiplicativo
e I A um ideal tais que S I = . Ent˜ao existe um ideal primo P A tal que I P
e P S = .
Demonstrao
Seja
X = {J A; J ´e ideal, I J e J S = ∅}
com a ordem parcial da inclus˜ao. Note que X = pois I X .
Seja C X uma cadeia. Claramente
JC
J X
Logo, pelo lema de Zorn, X possui um elemento maximal. Seja P um tal
elemento.
Como S = , P = A. Sejam G, H A ideais tais que GH P . Suponha
que G P e H P . Assim, cada ideal P + G e P + H cont´em propriamente
P e portanto tem intersec¸ao ao vazia com S. Conseq¨uentemente, existem
p, q P , g G e h H tais que
p + g = s S
e
q + h = r S
Enao
sr = pq + ph + gq + gh P + GH P
O que ´e uma contradi¸ao, pois sr S e S P = . Portanto P ´e ideal primo.
Teorema 5.4.5 Sejam A um anel comutativo e I um ideal de A. Ent˜ao I ´e um ideal
radical se, e somente se, I = ∩{P A; P ´e ideal primo e I P }
Demonstrao
Seja
J = ∩{P A; P ´e ideal primo e I P }
87
Vamos mostrar que I = J.
Obviamente I J. Ent˜ao suponha que a / I, como I ´e ideal radical, a
n
/ I
para todo n N
. Assim,
S = {a
n
+ b; n > 0 e b I}
´e claramente um conjunto mutiplicativo e S I = . Logo, pelo lema anterior,
existe um ideal primo P A tal que I P e P S = . Mas ent˜ao a / P .
Portanto a / J.
Suponha agora I = ∩{P A; P ´e ideal primo e I P }. Seja a A e n N
tais que a
n
I, enao a
n
P para todo ideal primo P A com I P . Como
P ´e primo, a P , logo a I. Portanto I ´e um ideal radical.
Lema 5.4.6 Sejam K um corpo, P K[x
1
, . . . , x
n
] um ideal primo e L = K[x
1
, . . . , x
n
]/P .
Ent˜ao existe um monomorfismo η : K L.
Demonstrao
Claramente a “inclus˜ao”
ι : K K[x
1
, . . . , x
n
]
´e um monomorfismo. Vamos mostrar que η = π ι ´e monomorfismo, onde
π : K[x
1
, . . . , x
n
] K[x
1
, . . . , x
n
]/P
´e a proje¸ao canˆonica.
Vejamos primeiramente que ι(K) P = {0}. Como ι ´e um monomorfismo,
assumiremos K = ι(K). Suponha que existe k K P , com k = 0, enao
1 =
1
k
k P e portanto P = K[x
1
, . . . , x
n
], o que contradiz o fato de P ser um
ideal primo.
Como π ´e homomorfismo, basta mostrar que π|
K
´e injetor. Para isso, seja
a K tal que π(a) = 0. Mas π(a ) = 0 sse a P , logo a = 0. Portanto η ´e
monomorfismo.
88
Teorema 5.4.7 Seja K um corpo algebricamente fechado. Suponha que H e J ao ideais
radicais de K[x
1
, . . . , x
n
] e K J. Ent˜ao V(J) V(H). Aem disso, X → I(X) ´e uma
bije¸ao entre os conjuntos Zariski fechados e os ideais radicais.
Demonstrao
Seja q J \ H. Pelo teorema 5.4.5, existe um ideal primo P H tal que
q / P . Queremos mostrar que existe y V(P ) V(H) tal que q(y) = 0.
Como P ´e ideal primo, L = K[x
1
, . . . , x
n
]/P ´e um dom´ınio. Tome F = F
alg
L
o
fecho alg´ebrico do corpo de fra¸oes de L.
Sejam p
1
, . . . , p
m
K[x
1
, . . . , x
n
] geradores de P , e para j = 1, . . . , n, sejam
a
j
= x
j
/P L F . Pelo lema anterior, podemos ver K como um subcorpo
de F . Assim, temos que
p P p(x
1
, . . . , x
n
)/P = 0 p(a
1
, . . . , a
n
) = 0
Enao
F
m
i=1
p
i
(a
1
, . . . , a
n
) = 0
q(a
1
, . . . , a
n
) = 0
Logo
F v
1
. . . v
n
m
i=1
p
i
(v
1
, . . . , v
n
) = 0
q(v
1
, . . . , v
n
) = 0
Como CAF ´e modelo-completa,
K v
1
. . . v
n
m
i=1
p
i
(v
1
, . . . , v
n
) = 0
q(v
1
, . . . , v
n
) = 0
Assim, existe (d
1
, . . . , d
n
) K
n
tal que, para i = 1, . . . , m, p
i
(d
1
, . . . , d
n
) = 0
e q(d
1
, . . . , d
n
) = 0. Portanto ( d
1
, . . . , d
n
) V(P ) \ V(J).
Agora vejamos que a fun¸ao definida por X → I(X) entre os conjuntos Zariski
fechados e os ideais radicais ´e bijetora.
Claramente tal fun¸ao ´e injetora, pois dados X, Y Zariski fechados,
I(X) = I(Y ) X = V(I(X)) = V(I(Y )) = Y
89
Para ver a sobrejetividade, seja J um ideal radical, ent˜ao
J I(V(J))
Logo
V(J) V(I(V(J)))
Mas
V(J) V(I(V(J)))
O que implica
V(J) = V(I(V(J)))
Portanto, pelo resultado provado neste teorema,
J = I(V(J))
Corol´ario 5.4.8 (Nullstellensatz de Hilbert) Sejam K um corpo algebricamente fechado
e J K[x
1
, . . . , x
n
] um ideal. Ent˜ao Rad(J) = I(V(J)).
Demonstrao
Claramente
I(V(J)) I(V(Rad(J)))
e pelo teorema anterior
I(V(Rad( J))) = Rad(J)
Agora sejam p Rad (J) e a V(J). Ent˜ao p
n
J para algum n N
. Logo
p
n
(a) = 0
o que implica
p(a) = 0
Portanto p I(V(J)).
90
5.5 Decomposi¸ao Prim´aria
Defini¸ao 5.5.1 Sejam K um corpo e X K
n
Zariski fechado. Dizemos que X ´e
redut´ıvel se X = Y Z onde Y e Z ao Zariski fechados, Y = X e Z = X. Caso
contr´ario, dizemos que X ´e irredut´ıvel.
Proposi¸ao 5.5.2 Sejam K um corpo e X K
n
Zariski fechado. Ent˜ao X ´e irredut´ıvel
se, e somente se, I(X) ´e um ideal primo.
Demonstrao
Suponha primeiramente que I(X) ao ´e primo. Ent˜ao existem p, q K[x
1
, . . . , x
n
]
tais que p / I(X), q / I(X) e pq I(X). Sejam
Y = X V({p})
e
Z = X V({q})
Claramente Y X e Z X, pois p, q / I(X). Vejamos que X = Y Z. De
fato,
X V({p})
X V({q})
= X
V({p}) V({q})
= X V({pq}) = X
Portanto X ´e redut´ıvel.
Agora suponha que X seja redut´ıvel. Ent˜ao existem Y X e Z X Zariski
fechados tais que
X
=
Y
Z
. Assim, pelo teorema 5.4.7, temos que
I(X) I(Y )
e
I(X) I(Z)
Logo, existem p I(Y ) e q I(Z) tais que p, q / I(X).
Vejamos que pq I(X). Se (a
1
, . . . , a
n
) X, enao (a
1
, . . . , a
n
) Y ou
(a
1
, . . . , a
n
) Z, logo p(a
1
, . . . , a
n
) = 0 ou q(a
1
, . . . , a
n
) = 0, donde
pq(a
1
, . . . , a
n
) = 0
Portanto I( X) ao ´e ideal primo.
91
Lema 5.5.3 Sejam K um corpo algebricamente fechado e W P(K
n
) uma cole¸ao ao
vazia de conjuntos Zariski fechados. Ent˜ao W possui um elemento minimal.
Demonstrao
Seja
S = {I(X); X W}
Pelo teorema 5.2.3, S possui um elemento maximal. Suponha que I(X
0
)
seja um tal elemento maximal. Portanto, pelo lema 5.2.8, X
0
´e um elemento
minimal de W.
Teorema 5.5.4 Sejam K um corpo algebricamente fechado e X K
n
Zariski fechado.
Ent˜ao existem ´unicos X
1
, . . . , X
m
Zariski fechados irredut´ıveis tais que
X = X
1
. . . X
m
e
X
i
j=i
X
j
para todo i = 1 , . . . , m.
Demonstrao
Seja W = {X K
n
; X ´e Zariski fechado e ao ´e uni˜ao finita de conjuntos
Zariski fechados irredut´ıveis}. Provaremos que W = .
Se W = , ent˜ao, pelo lema anterior, existe X
0
W minimal. Observe que,
pela defini¸ao de W, X
0
´e redut´ıvel. Assim, existem Y X
0
e Z X
0
Zariski
fechados tais que X
0
= Y Z. Como X
0
´e minimal, temos que Y, Z / W,
portanto Y e Z admitem uma decomposi¸ao em n´umero finito de conjuntos
Zariski fechados irredut´ıveis, uma contradi¸ao.
Em conseq¨uˆencia, todo conjunto Zariski fechado admite tal decomposi¸ao.
Agora, se tivermos
X
i
j=i
X
j
92
para algum i = 1, . . . , n, ent˜ao podemos eliminar X
i
da decomposi¸ao, uma
vez que
X
i
j=i
X
j
=
j=i
X
j
Para provar a unicidade, suponhamos
X = X
1
. . . X
m
= Y
1
. . . Y
r
Enao, para cada i = 1, . . . , m,
X
i
= X
i
X = X
i
(Y
1
. . . Y
r
) = (X
i
Y
1
) . . . (X
i
Y
r
)
Como X
i
´e irredut´ıvel, X
i
= X
i
Y
s
para algum s = 1, . . . , r, isto ´e, X
i
Y
s
.
Por outro lado, para esse s, teremos que Y
s
X
k
para algum k. Portanto,
X
i
X
k
, o que implica i = k, pois do contr´ario ter´ıamos X
i
j=i
X
j
.
Corol´ario 5.5.5 (Decomposi¸ao Prim´aria) Sejam K um corpo algebricamente fechado
e J K[x
1
, . . . , x
n
] um ideal radical. Ent˜ao existem ´unicos ideais primos P
1
, . . . , P
m
contendo J tais que
J = P
1
. . . P
m
e
P
i
j=i
P
j
para todo i = 1 , . . . , m.
Demonstrao
Pelo teorema 5.4.7, existe um ´unico X K
n
Zariski fechado tal que
I(X) = J
E pelo teorema anterior, existem ´unicos X
1
, . . . , X
n
K
n
Zariski fechados
irredut´ıveis tais que
X = X
1
. . . X
m
e
X
i
j=i
X
j
93
para todo i = 1, . . . , n. Assim, pela proposi¸ao 5.5.2, para cada i, I(X
i
) ´e um
ideal primo e
J = I(X
1
) . . . I(X
m
)
A unicidade e o fato de
I(X
i
)
j=i
I(X
j
)
para todo i = 1, . . . , m, ao conseq¨uˆencias imediatas do teorema anterior e do
teorema 5.4.7.
94
Apˆendice A
Extens˜oes Transcendentes
Mostraremos neste apˆendice alguns resultados necess´arios para o trabalho sobre extens˜oes
transcendentes. Para isto, precisamos inicialmente de alguns resultados de extens˜oes
alg´ebricas.
A.1 Extens˜oes Alg´ebricas
Veremos nesta se¸ao apenas os enunciados dos teoremas que precisaremos para a pr´oxima
se¸ao. As demonstra¸oes destes teoremas podem ser vistas em [6] e [8].
Teorema A.1.1 Seja R um dom´ınio de integridade considerado como um subanel de seu
corpo quociente F . Se E ´e um corpo e f : R E ´e um monomorfismo, ent˜ao existe um
´unico monomorfismo de corpos f : F E tal que f|
R
= f.
Teorema A.1.2 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e u
1
, . . . , u
m
F . Ent˜ao o
subcorpo K(u
1
, . . . , u
m
) consiste de todos os elementos da forma
p(u
1
, . . . , u
m
)/q(u
1
, . . . , u
m
) = p(u
1
, . . . , u
m
)q(u
1
, . . . , u
m
)
1
onde p, q K[x
1
, . . . , x
m
] e q(u
1
, . . . , u
m
) = 0.
Teorema A.1.3 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e X F . Ent˜ao o subcorpo
K(X) consiste de todos os elementos da forma
p(u
1
, . . . , u
n
)/q(u
1
, . . . , u
n
) = p(u
1
, . . . , u
n
)q(u
1
, . . . , u
n
)
1
onde n N
, p, q K[x
1
, . . . , x
n
], u
1
, . . . , u
n
X e q(u
1
, . . . , u
n
) = 0.
Teorema A.1.4 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e X F . Ent˜ao para cada
u K(X), existe X
X finito tal que u K(X
).
95
Teorema A.1.5 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e X F tais que F = K(X) e
todo elemento de X ´e alg´ebrico sobre K. Ent˜ao F ´e uma extens˜ao alg´ebrica sobre K.
Teorema A.1.6 Se F ´e uma extens˜ao alg´ebrica sobre E e E ´e uma extens˜ao alg´ebrica
sobre K, ent˜ao F ´e uma extens˜ao alg´ebrica sobre K.
Teorema A.1.7 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e u F alg´ebrico sobre K.
Ent˜ao K(u) = K[u]. Al´em disso K(u)
=
K[x]/( p), onde p K[x] ´e um polinˆomio
onico irredut´ıvel com grau n 1 unicamente determinado pela condi¸ao que p(u) = 0.
Teorema A.1.8 Sejam K
1
e K
2
corpos e F
1
, F
2
seus respectivos fechos alg´ebricos. Ent˜ao
todo isomorfismo K
1
=
K
2
se estende para um isomorfismo F
1
=
F
2
.
A.2 Extens˜oes Transcendentes
Defini¸ao A.2.1 Sejam F uma extens˜ao de um corpo K e S um subconjunto de F .
Dizemos que S ´e algebricamente independente sobre K, se para qualquer polinˆomio
p K[x
1
, . . . , x
n
] e para quaisquer s
1
, . . . , s
n
S distintos, p(s
1
, . . . , s
n
) = 0 implica
p = 0. Dizemos que S ´e algebricamente dependente sobre K se ao for algebricamente
independente sobre K.
Obs.: A express˜ao “sobre K pode ser omitida quando o contexto for claro.
Doravante considere K um corpo.
Teorema A.2.2 Seja F K uma extens˜ao e {s
1
, . . . , s
n
} um subconjunto de F algebri-
camente independente sobre K. Ent˜ao existe um K-isomorfismo
K( s
1
, . . . , s
n
) F
K
(x
1
, . . . , x
n
)
onde F
K
(x
1
, . . . , x
n
) ´e o corpo de fun¸oes racionais com n vari´aveis sobre K.
Demonstrao
Seja
η : F
K
(x
1
, . . . , x
n
) K(s
1
, . . . , s
n
)
p(x
1
,...,x
n
)
q(x
1
,...,x
n
)
→
p(s
1
,...,s
n
)
q(s
1
,...,s
n
)
Claramente η ´e um homomorfismo.
Agora seja z K(s
1
, . . . , s
n
), enao, pelo teorema A.1.2, podemos escrever
z =
f(s
1
, . . . , s
n
)
g(s
1
, . . . , s
n
)
96
onde f, g K[x
1
, . . . , x
n
] e g(s
1
, . . . , s
n
) = 0, logo η ´e epimorfismo.
Se p/q F
K
(x
1
, . . . , x
n
) com η(p/q) = 0, ent˜ao
p(s
1
, . . . , s
n
)
q(s
1
, . . . , s
n
)
= 0
mas {s
1
, . . . , s
n
} ´e algebricamente independente sobre K, logo p/q = 0.
Portanto η ´e isomorfismo, e se p/q = c K ent˜ao η(c) = c.
Teorema A.2.3 Sejam F
1
e F
2
extens˜oes de K
1
e K
2
, respectivamente, e para i = 1, 2,
seja S
i
F
i
algebricamente independente sobre K
i
. Se f : S
1
S
2
´e uma fun¸ao
injetora e σ : K
1
K
2
´e um monomorfismo de corpos, ent˜ao podemos estender σ para
um monomorfismo σ : K
1
(S
1
) K
2
(S
2
) tal que σ(s) = f (s) para todo s S
1
. Aem disso,
se f for bijetora e σ for isomorfismo, ent˜ao podemos estender σ para um isomorfismo σ.
Demonstrao
Dado z K
1
(S
1
), pelo teorema A.1.3, podemos escrever
z =
p(s
1
, . . . , s
n
)
q(s
1
, . . . , s
n
)
( I )
onde n N
, p, q K
1
[x
1
, . . . , x
n
], s
1
, . . . , s
n
S
1
e q(s
1
, . . . , s
n
) = 0. Po-
demos assumir que n ´e tal que para i = 1, . . . , n, z depende de cada s
i
e o
desses.
Dado r N
, seja µ
r
: K
1
[x
1
, . . . , x
r
] F
K
2
(x
1
, . . . , x
r
) definida por
µ
r
i
1
,...,i
r
m
a
i
1
,...,i
r
r
j=1
x
i
j
j
=
i
1
,...,i
r
m
σ(a
i
1
,...,i
r
)
r
j=1
x
i
j
j
onde m N
e cada a
i
1
,...,i
r
K
1
. Claramente µ
r
´e um monomorfismo de
an´eis, logo, pelo teorema A.1.1, podemos estender µ
r
para um monomorfismo
de corpos
µ
r
: F
K
1
(x
1
, . . . , x
r
) F
K
2
(x
1
, . . . , x
r
)
( II )
Lembrando que, para i = 1, 2, S
i
´e algebricamente independente sobre K
i
e
f
:
S
1
S
2
´e injetora, se
s
1
, . . . , s
k
S
1
distintos, ent˜ao
{
f
(
s
1
)
, . . . , f
(
s
k
)
}
tamem ´e algebricamente independente sobre K
2
. Logo, pelo teorema anterior,
existem isomorfismos
97
η
1
k
: F
K
1
(x
1
, . . . , x
k
) K
1
(s
1
, . . . , s
k
)
η
2
k
: F
K
2
(x
1
, . . . , x
k
) K
2
(f(s
1
), . . . , f(s
k
))
( III )
Agora defina σ : K
1
(S
1
) K
2
(S
2
) por
σ(z) = η
2
n
µ
n
η
1
1
n
(z)
onde z ´e da forma descrita em ( I ).
Vejamos que σ est´a b em definida. Suponha, assim como em ( I ), que tamem
podemos escrever
z =
g(b
1
, . . . , b
m
)
h(b
1
, . . . , b
m
)
onde m N
, g, h K
1
[x
1
, . . . , x
m
], b
1
, . . . , b
m
S
1
e h(s
1
, . . . , s
n
) = 0.
Como, para i = 1, . . . , n, z depende de s
i
e o desses, e como S
1
´e alge-
bricamente independente, temos que m = n e {s
1
, . . . , s
n
} = {b
1
, . . . , b
m
}.
Portanto σ est´a bem definida, e por ( II ) e ( III ), σ ´e monomorfismo. Agora,
se σ ´e isomorfismo e r N, enao µ
r
tamem ´e isomorfismo, logo η
2
r
µ
r
η
1
1
r
´e
isomorfismo, e se f ´e bijetora, ent˜ao σ ´e isomorfismo.
Seja F uma extens˜ao de K. Defina o conjunto
X = {S F ; S ´e algebricamente independente sobre K}
Considere a ordem da inclus˜ao em X .
Seja C X uma cadeia e tome
T =
SC
S
Vejamos que T X . Dados p K[x
1
, . . . , x
n
] e s
1
, . . . , s
n
T , existe S C tal que
s
1
, . . . , s
n
S. Como S ´e algebricamente independente sobre K, p(s
1
, . . . , s
n
) = 0 o que
implica p = 0. Portanto T X .
Pelo lema de Zorn, X possui um elemento maximal.
Defini¸ao A.2.4 Seja F uma extens˜ao de K. Uma base de transcendˆencia de F sobre
K ´e um subconjunto S F algebricamente independente sobre K e maximal no conjunto
de todos subconjuntos de F algebricamente independente sobre K.
98
Teorema A.2.5 Sejam F K uma extens˜ao, S F algebricamente independente sobre
K e u F \ K(S). Ent˜ao S {u} ´e algebricamente independente sobre K se, e somente
se, u ´e transcendente sobre K(S).
Demonstrao
Suponha primeiramente que u ´e transcendente sobre K(S).
Sejam s
1
, . . . , s
n
S distintos e f K[x
1
, . . . , x
n+1
] tais que
f(s
1
, . . . , s
n
, u) = 0
enao u ´e uma raiz de f(s
1
, . . . , s
n
, x
n+1
) K(S)[x
n+1
].
Mas f K[x
1
, . . . , x
n
, x
n+1
] = K[x
1
, . . . , x
n
][x
n+1
], assim
f = h
r
x
r
n+1
+ . . . + h
1
x
n+1
+ h
0
onde h
i
K[x
1
, . . . , x
n
]. Como u ´e transcendente sobre K(S), temos
f(s
1
, . . . , s
n
, x
n+1
) = 0
logo h
i
(s
1
, . . . , s
n
) = 0 para cada i = 1, . . . , r. Como S ´e algebricamente
independente sobre K, h
i
= 0 para todo i, logo f = 0. Portanto S {u } ´e
algebricamente independente sobre K.
Agora suponha que S {u} ´e algebricamente independente sobre K. Seja
f K(S)[x] tal que f(u) = 0. Podemos escrever
f(x) =
n
i=0
a
i
x
i
onde a
i
K(S). Assim, pelo teorema A.1.3, existem s
1
, . . . , s
r
S tal que,
para i = 0, . . . , n,
a
i
=
p
i
(s
1
, . . . , s
r
)
q
i
(s
1
, . . . , s
r
)
onde p
i
, q
i
K[x
1
, . . . , x
r
] e q
i
(s
1
, . . . , s
r
) = 0.
Seja q = q
0
q
1
. . . q
n
, e para i = 0, . . . , n, tome p
i
= p
i
q
0
. . . q
i1
q
i+1
. . . q
n
.
Observe que q, p
i
K[x
1
, . . . , x
r
]. Ent˜ao
a
i
=
p
i
(s
1
, . . . , s
r
)
q(s
1
, . . . , s
r
)
99
e
f(x) =
n
i=0
a
i
x
i
=
n
i=0
p
i
(s
1
, . . . , s
r
)
q(s
1
, . . . , s
r
)
x
i
=
n
i=0
p
i
(s
1
, . . . , s
r
)x
i
q(s
1
, . . . , s
r
)
Seja
h(x
1
, . . . , x
r
, x) =
n
i=0
p
i
(x
1
, . . . , x
r
)x
i
K[x
1
, . . . , x
r
, x]
Como f(u) = 0 e
1
q(s
1
, . . . , s
r
)
= 0, temos que
h(s
1
, . . . , s
r
, u) = 0
A independˆencia alg´ebrica de S {u} implica h = 0, e conseq¨uentemente
p
i
= 0 para cada i, pois {1, x, . . . , x
n
} ´e linearmente independente. Ent˜ao
cada a
i
= 0 e f = 0. Portanto u ´e transcendente sobre K(S).
Corol´ario A.2.6 Sejam F K uma extens˜ao e S F algebricamente independente
sobre K. Ent˜ao S ´e uma base de transcendˆencia de F sobre K se, e somente se, F ´e
alg´ebrico sobre K(S).
Demonstrao
Suponha que F ao ´e alg´ebrico sobre K(S). Ent˜ao existe u F transcen-
dente sobre K(S). Assim, pelo teorema anterior, S {u} ´e algebricamente
independente sobre K, logo S ao ´e base de transcendˆencia sobre K.
Por outro lado, se S ao ´e base. Enao, por defini¸ao, existe u F tal que
S {u} ´e algebricamente independente sobre K, e pelo teorema anterior, u ´e
transcendente sobre K(S), portanto F ao ´e alg´ebrico sobre K(S).
Corol´ario A.2.7 Seja F K uma extens˜ao e suponha F alg´ebrico sobre K(X), onde
X F . Ent˜ao X cont´em uma base de transcendˆencia de F sobre K.
Demonstrao
Seja
S
X
algebricamente independente sobre K maximal. Tal
S
existe
pelo lema de Zorn. Enao, pelo teorema A.2.5, se u X \ S, ent˜ao u ´e
alg´ebrico sobre K(S). Logo, pelo teorema A.1.5, K(X) ´e alg´ebrico sobre
100
K(S). Conseq¨uentemente, pelo teorema A.1.6, F ´e alg´ebrico sobre K(S).
Portanto, pelo corol´ario anterior, S ´e uma base de transcendˆencia de F sobre
K.
Teorema A.2.8 Seja F uma extens˜ao de K. Se S ´e uma base de transcendˆencia finita
de F sobre K, ent˜ao qualquer base de transcendˆencia de F sobre K tem o mesmo n´umero
de elementos de S.
Demonstrao
Seja S = {s
1
, . . . , s
n
} e T uma base de transcendˆencia qualquer de F sobre
K.
Vamos verificar que existe t
1
T transcendente sobre K(s
2
, . . . , s
n
).
Suponha que ao. Ent˜ao T ´e alg´ebrico sobre K(s
2
, . . . , s
n
). Logo, pelo te-
orema A.1.5, K(s
2
, . . . , s
n
)(T ) ´e alg´ebrico sobre K(s
2
, . . . , s
n
). Como, pelo
corol´ario A.2.6, F ´e alg´ebrico sobre K(T ), F ´e necessariamente alg´ebrico so-
bre K(T )(s
2
, . . . , s
n
) = K(s
2
, . . . , s
n
)(T ). Portanto, pelo teorema A.1.6, F ´e
alg´ebrico sobre K(s
2
, . . . , s
n
). Em particular s
1
´e alg´ebrico sobre K(s
2
, . . . , s
n
),
o que, pelo teorema A.2.5, ´e uma contradi¸ao, pois S = {s
1
, . . . , s
n
} ´e algebri-
camente independente sobre K.
Logo existe t
1
T transcendente sobre K(s
2
, . . . , s
n
), e portanto {t
1
, s
2
, . . . , s
n
}
´e algebricamente independente sobre K.
Agora, se s
1
fosse transcendente sobre K(t
1
, s
2
, . . . , s
n
), enao {t
1
, s
1
, . . . , s
n
}
seria algebricamente independente sobre K, o que contradiz o fato de S ser
base. Assim, s
1
´e alg´ebrico sobre K( t
1
, s
2
, . . . , s
n
), logo K(S)(t
1
) = K(t
1
, s
2
, . . . , s
n
)(s
1
)
´e alg´ebrico sobre K(t
1
, s
2
, . . . , s
n
). Enao F ´e alg´ebrico sobre K(t
1
, s
2
, . . . , s
n
)
e portanto {t
1
, s
2
, . . . , s
n
} ´e base de transcendˆencia de F sobre K.
Analogamente prova-se que existe t
2
T transcendente sobre K(t
1
, s
3
, . . . , s
n
)
e que {t
1
, t
2
, s
3
, . . . , s
n
} ´e base de F sobre K. Procedendo indutivamente,
obtemos t
1
, . . . , t
n
T tais que {t
1
, . . . , t
n
} ´e base de F sobre K. Claramente,
como T ´e algebricamente independente, devemos ter T = {t
1
, . . . , t
n
}.
Teorema A.2.9 Seja
F
K
uma extens˜ao. Se
S
´e uma base de transcendˆencia infi-
nita de F sobre K, ent˜ao qualquer base de transcendˆencia de F sobre K tem o mesma
cardinalidade de S.
101
Demonstrao
Seja T uma outra base de transcendˆencia de F sobre K. Claramente, pelo
teorema anterior, T ´e infinito. Se s S, ent˜ao s ´e alg´ebrico sobre K(T ), pois
caso contr´ario, T {s} seria algebricamente independente sobre K. Assim,
pelo teorema A.1.7, K(T )(s) = K(T )[s] e existe p K(T )[x] irredut´ıvel tal
que p(s) = 0. Ent˜ao, pelo teorema A.1.4, os coeficientes de p aparecem todos
em K(T
s
) para algum T
s
T finito. Logo p K(T
s
)[x] e s ´e alg´ebrico sobre
K(T
s
).
Para cada s S tome T
s
T finito como acima. Note que
T
=
sS
T
s
T
e portanto ´e algebricamente independente sobre K. Como todo elemento de
S ´e alg´ebrico sobre K(T
), temos que K(T
)(S) ´e alg´ebrico sobre K(T
). E
como K(S) K(T
)(S), todo elemento de K(S) ´e alg´ebrico sobre K(T
).
Lembrando que F ´e alg´ebrico sobre K(S), temos que F ´e alg´ebrico sobre
K(T
). Logo T
´e uma base de transcendˆencia de F sobre K e portanto
T
= T .
Observe que os conjuntos T
s
ao ao necessariamente disjuntos. Como estamos
trabalhando em ZFC, podemos dar uma boa ordem `a S e denotar o menor
elemento por s
0
.
Seja T
s
0
= T
s
0
e para cada s
0
< s S defina
T
s
= T
s
\
i<s
T
i
Claramente cada T
s
´e finito e ao tem intersec¸ao com nenhum outro, e
sS
T
s
=
sS
T
s
= T
Para cada s S, escolha uma ordem fixa para os elementos de T
s
= {t
s
1
, . . . , t
s
k
s
}.
Defina a fun¸ao
h :
sS
T
s S × N
t
s
i
→ (s, i )
102
Claramente essa fun¸ao ´e injetora. Logo
|T | =
sS
T
s
|S × N| = |S||N| = |S|ℵ
0
= |S|
Procedendo desde o in´ıcio da demonstra¸ao de forma an´aloga, prova-se que
|S| |T |. Portanto |T | = |S|.
Defini¸ao A.2.10 Seja F extens˜ao de K. O grau de transcendˆencia de F sobre K
(denotado por gtr(F/K)) ´e a cardinalidade |S|, onde S ´e base de transcendˆencia de F
sobre K.
Teorema A.2.11 Se F ´e uma extens˜ao de E e E ´e uma extens˜ao de K, ent˜ao
gtr(F/K) = gtr(F/E) + gtr(E/K)
Demonstrao
Sejam S base de E/K e T base de F/E. Como S E e T ´e algebricamente
independente sobre E, temos S T = .
Enao ´e suficiente mostrar que S T ´e base de F/K, pois neste caso
gtr(F/K) = |S T | = |T | + |S| = gtr(F/E) + gtr(E/K)
Primeiro note que todo elemento de E ´e alg´ebrico sobre K(S), e portanto
sobre K(S T ). Ent˜ao, pelo teorema A.1.5, K(S T )(E) ´e alg´ebrico sobre
K(S T ). Como
K(S T ) = K(S)(T ) E(T ) K(S T )(E)
enao E(T ) ´e alg´ebrico sobre K(S T ). Mas F ´e alg´ebrico sobre E(T ) e
portanto sobre K(S T ).
Agora basta mostrar que S T ´e algebricamente independente sobre K.
Seja p K[x
1
, . . . , x
n
, y
1
, . . . , y
m
] tal que
p(s
1
, . . . , s
n
, t
1
, . . . , t
m
) = 0
103
para distintos s
1
, . . . , s
n
S e t
1
, . . . , t
m
T . Seja
q(y
1
, . . . , y
m
) = p(s
1
, . . . , s
n
, y
1
, . . . , y
m
) K(S)[y
1
, . . . , y
m
] E[y
1
, . . . , y
m
]
Como q(t
1
, . . . , t
m
) = 0, a independˆencia alg´ebrica de T sobre E implica q = 0.
Agora escreva
p(x
1
, . . . , x
n
, y
1
, . . . , y
m
) =
r
i=1
f
i
(x
1
, . . . , x
n
)g
i
(y
1
, . . . , y
m
)
onde f
i
K[x
1
, . . . , x
n
] e g
i
K[y
1
, . . . , y
m
]. Como
p(s
1
, . . . , s
n
, y
1
, . . . , y
m
) = q(y
1
, . . . , y
m
) = 0
temos que f
i
(s
1
, . . . , s
n
) = 0 para cada i. A independˆencia alg´ebrica de S sobre
K implica f
i
= 0 para todo i. Logo p = 0 e portanto S T ´e algebricamente
independente sobre K.
Teorema A.2.12 Sejam F
1
e F
2
respectivas extens˜oes algebricamente fechados dos cor-
pos K
1
e K
2
. Se gtr(F
1
/K
1
) = gtr(F
2
/K
2
), ent˜ao todo isomorfismo K
1
=
K
2
se estende
para um isomorfismo F
1
=
F
2
.
Demonstrao
Suponha σ : K
1
K
2
um isomorfismo. Para i = 1, 2, seja S
i
a base de
transcendˆencia de F
i
/K
i
. Como |S
1
| = |S
2
|, pelo teorema A.2.3, podemos
estender σ para σ : K
1
(S
1
) K
2
(S
2
). Cada F
i
´e algebricamente fechado e
alg´ebrico sobre K
i
(S
i
). Portanto, pelo teorema A.1.8, σ se estende para um
isomorfismo F
1
=
F
2
.
104
Referˆencias Bibliogr´aficas
[1] M. F. Atiyah and I. G. Macdonald. Introduction to Commutative Algebra. Addison-
Wesley Publishing Company, Inc., London, 1969.
[2] J. L. Bell and M. Machover. A Course in Mathematical Logic. Elsevier Science
Publishers B.V., Amsterdam, third impression: 1993 edition, 1977.
[3] C. C. Chang and H. J. Keisler. Model Theory. North-Holland, Amsterdam, 1990.
[4] A. A. Fraenkel, Y. Bar-Hillel, and A. evy. Foundations of set theory. North-Holland,
Amsterdam, 1984.
[5] R. Hartshorne. Algebraic Geometry. Springer-Verlag, New York, 1977.
[6] T. W. Hungerford. Algebra. Springer-Verlag, New York, 1974.
[7] J. L. Kelley. General Topology. Springer-Verlag, Berlin, 1975.
[8] S. Lang. Algebra. Springer-Verlag, New York, revised third edition, 2002.
[9] D. Marker. Model Theory: An Introduction. Springer-Verlag, New York, 2002.
[10] D. Marker, M. Messmer, and A. Pillay. Model theory of fields. Springer Lecture
Notes in Logic 5, 1996.
[11] J. D. Monk. Mathematical Logic. Springer-Verlag, New York, 1976.
[12] J. R. Shoenfield. Mathematical Logic. Addison-Wesley Publishing Company, Inc.,
London, 1967.
[13] A. Tarski and R. L. Vaught. Arithmetical extensions of relational systems. Compositio
Mathematica, 13:81–102, 1956-1958.
[14] J. an¨anen. Second-order logic and foundations of mathematics. The Bulletin of
Symbolic Logic, 7(4):504–520, 2001.
105
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo