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Rússia. Com o passar do tempo, no entanto, o público que primeiro repudiou os filmes
passou a compreender a proposta estética de Vertov e esperar cada nova edição, chegada
aos cinemas com intervalo variado de tempo, pudesse ser de uma semana ou até mesmo de
um mês.
De todos os Kino-Pravda, o 21
o
foi o que mais repercussão causou, por se tratar
daquele que apresentava a morte de Lênin. Leniskaia Kinopravda (1924-25) era dividido
em três partes: Lênin ferido, enfermidade e morte e, finalmente, a permanência de Lênin
entre o povo, apesar de sua morte. O que transparece no filme, de acordo com Porter-Moix
(1968), são as técnicas de montagem de Vertov a serviço de uma dramatização e exaltação
da figura do líder soviético, o que não poderia deixar de ser de outro modo. O filme foi tão
bem aceito pelo público que Vertov realizou depois Lenin está vivo en el corazón de los
campesinos (1925).
Ao lado da esposa Elizaveta Svilova, que era montadora, e do irmão cinegrafista
Mikhail Kaufman, Vertov fundou o grupo dos Kinok, também conhecido como Conselho
dos Três, que por seus manifestos e filmes desejavam encontrar um caminho para o cinema
completamente independente de outras artes, como o teatro e a literatura. Devido a essa
atuação política e apaixonada, Vertov se chocava com as idéias de Lev Kuleshov sobre
cinema, que também buscava uma arte revolucionária, porém por outros caminhos - para o
fundador dos Kinok, era preciso buscar “un arte propio, arte de imágenes y de sonidos
puros, (...) combinando la “radio-oreja” con el “cine-ojo” (PORTER-MOIX, 1968, p. 126).
Kino-Glaz (Cinema-Olho), de 1924, procurava utilizar todos os recursos da câmera
cinematográfica, pois de acordo com as idéias de Vertov, somente a lente, o olho da
câmera poderia enxergar e captar, de maneira verdadeira e direta, o momento histórico
soviético. O filme divide-se em sete segmentos que procuram contrapor temas, como o
conflito entre o mercado capitalista e o sistema cooperativo, a diferença entre a infância e o
período adulto, a valorização do trabalho frente à bebida e às drogas, a vida agrícola em
relação à vida industrial, entre outros.
Termo cunhado pelo próprio cineasta, o cinema-olho é acima de tudo um método
para captar o cotidiano num sentido de urgência, para absorver a realidade dos fatos e
transformá-los aos olhos do espectador, para que eles sejam adequados a um novo
princípio de sociedade, acoplando-se aos ideais da revolução socialista. Essa captação da
realidade deve acontecer por meio de um processo mecânico, intermediado por uma
máquina, do olho mecânico da câmera, segundo Granja (1981) Apud Silva, (2006, p. 14)