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MACÁRIO DA SILVA MUDO
A CAPACITAÇÃO DE CAPRINOCULTORES COMO ESTRATÉGIA DE
EXTENSÃO RURAL
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do programa de Pós-Graduação
em Extensão Rural, para obtenção do título
de Magister Scientiae.
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2008
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da UFV
T
Mudo, Macário da Silva, 1957-
M945c A capacitação de caprinocultores como estratégia de
2008 extensão rural / Macário da Silva Mudo. – Viçosa, MG,
2008.
xvii, 127f.: il. (algumas col.) ; 29cm.
Inclui apêndice.
Orientador: José Norberto Muniz.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de
Viçosa.
Referências bibliográficas: f. 112-115.
1. Caprino - Criação. 2. Caprino - Criação - Inovações
tecnológicas. 3. Extensão rural. I. Universidade Federal de
Viçosa. II.Título.
CDD 22.ed. 636.39
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Tu o fizeste um pouco inferior a um ser divino, tu o coroaste de
glória e esplendor; deste-lhe o domínio sobre suas mãos, tudo
lhe submeteste debaixo dos pés: ovelhas e todos os bois e até
os animais selvagens, as aves do céu e os peixes do mar, tudo
que abre caminho pelo mar.
Salmo 8 (5-8)
ii
AGRADECIMENTOS
Ao grande arquiteto do universo, pela inspiração, iluminação e
sabedoria que me foi concedida no desenvolvimento deste trabalho.
Aos meus pais, incansáveis incentivadores do estudo, pelo esforço,
às vezes sobre-humano, no sentido da formação ética, moral e espiritual,
dentro dos princípios da disciplina
A Sílvia, minha estimada esposa, que sempre esteve presente em
todas as etapas deste trabalho, inclusive quando assumiu a casa por
completo, com a minha presença em Viçosa.
A meus filhos Silvana, Luiza, George, Jefferson e Paulo, pelo estímulo
e pela força que me deram.
Aos colegas Sebastião, José Batista e Adriana, por termos juntos
passado a temporada em Viçosa, um sempre ajudando o outro, de forma
bastante harmônica.
Aos meus irmãos, que são muitos, de Eugênia a Paulo Ney (in
memoriam) e Porcina, pelo apoio e pela vibração positiva que sempre me
passaram.
Aos professores Maria de Fátima Lopes, Sheila Maria Doula, Newton
Bueno, Geraldo Magela Braga, Maria Izabel Botelho e Franklin Daniel, pelas
iii
orientações e pelo direcionamento didático-pedagógico, levando-nos a
mundos completamente desconhecidos
Ao professor Guega, pela sua grande contribuição nas associações
por nós trabalhadas.
A todos os criadores de caprinos e ovinos que colaboraram de forma
direta ou indireta com o nosso trabalho, enriquecendo-nos de informações e
conhecimentos
Aos doutores Gherman Garcia e Ambrósio Ferreira, pela influência
positiva na função de co-orientadores.
Ao Diretor-Geral do CEFET Petrolina, Professor Sebastião Rildo
Diniz, pelo incentivo e apoio ao desenvolvimento deste trabalho.
A todos que fazem a Universidade Federal de Viçosa, em especial ao
Departamento de Economia Rural, pelo apoio irrestrito que nos deram.
Às professoras Assunção Mudo e Jailma Mangabeira, pela inefável
colaboração.
À professora Relma Lucia, pela sua grande contribuição e boa
vontade.
Ao Dr. José Norberto Muniz, orientador zeloso, cujas idéias serviram
de sustentáculo em todas as fases deste trabalho.
iv
BIOGRAFIA
MACARIO DA SILVA MUDO, filho de Antonio da Silva Mudo e Maria
Madalena Mudo, nasceu em 20 de dezembro de 1957, na cidade de
Bodocó-PE.
Graduou-se em Medicina Veterinária e Licenciatura em Técnicas
Agropecuárias, em 1982 e 1994, respectivamente, pela Universidade
Federal Rural de Pernambuco. Especializou-se em caprinocultura em 1995
pela Associação Brasileira de Ensino Agrícola Superior – ABEAS e pela
Universidade Federal Rural de Pernambuco.
Exerceu a profissão de médico-veterinário de agosto de 1982 a
fevereiro de 1991. Ingressou na Escola Agrotécnica Dom Avelar Brandão
Vilela, hoje Centro Federal de Educação Tecnológica de Petrolina, em
agosto de 1991, onde permanece até hoje.
Em 2006, ingressou no Programa de Pós-Graduação em Extensão
Rural, em nível de mestrado, no Departamento de Economia Rural da
Universidade Federal de Viçosa.
v
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS...........................................................................................viii
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................x
LISTA DE GRÁFICOS ........................................................................................ xii
LISTA DE QUADROS.........................................................................................xiii
RESUMO........................................................................................................... xiv
ABSTRACT........................................................................................................ xvi
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................1
2. O PROBLEMA................................................................................................13
2.1 Objetivo.....................................................................................................18
2.1.1 Geral...................................................................................................18
2.1.2 Específicos .........................................................................................18
3. ORIENTAÇÃO CONCEITUAL........................................................................19
3.1 Extensão rural e agente de desenvolvimento local ...................................19
4. METODOLOGIA.............................................................................................29
5. ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS À CAPRINOVINOCULTURA .................36
5.1 Aumento da oferta de alimentos................................................................38
5.2 Ações de sanidade....................................................................................51
5.3 Melhoria genética......................................................................................51
5.4 Instalações................................................................................................54
vi
6. SISTEMAS DE PRODUÇÃO UTILIZADOS PELOS CAPRINOCULTORES...56
6.1 As propriedades e seus produtores...........................................................56
6.2 Uso de tecnologias....................................................................................61
6.3 Força de trabalho e renda.........................................................................65
6.4 Comercialização e crédito.........................................................................67
6.5 Fatores limitantes à caprinocultura............................................................68
7. MANUAL TÉCNICO DA CAPRINOCULTURA................................................69
7.1 Alimentação de caprinos e ovinos.............................................................72
7.2 Instalações................................................................................................84
7.2.1 Principais tipos de instalação..............................................................85
7.3 Manejo sanitário........................................................................................89
7.4 Melhoramento genético de caprinos .........................................................96
7.5 Manejo reprodutivo....................................................................................98
7.6 Controle zootécnico.................................................................................104
7.7 Agronegócio da caprinocultura................................................................105
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................108
REFERÊNCIAS ................................................................................................112
APÊNDICE........................................................................................................116
vii
LISTA DE TABELAS
Página
Tabela 1 - Caprinos e ovinos na microrregião de Petrolina-PE e
Juazeiro – BA
..............................................................................2
Tabela 2 - Balanço entre oferta e demanda estimada de carnes caprina
e ovina para o Nordeste – 1992 a 2000
......................................16
Tabela 3 - Importações de carne de ovinos no período de 1992 a 2000......17
Tabela 4 - Índices da Qualidade de Vida......................................................32
Tabela 5 - Índice do governo local (%) .........................................................32
Tabela 6 - Identificação dos núcleos, número de associações, número
de caprinos ovinocultores e quantidade de caprinos e ovinos
por núcleo, no município de Petrolina-PE
...................................34
Tabela 7 - Manipulação da caatinga: ganhos de produtividade....................39
Tabela 8 - Cultivo estratégico de forrageiras no município de Petrolina-
PE
...............................................................................................41
Tabela 9 - Tecnologias utilizadas no manejo sanitário de caprinos e
ovinos
........................................................................................52
Tabela 10 - Tecnologias de reprodução animal e melhoramento
genético
.....................................................................................54
Tabela 11 - Instalações para criação de caprinos e ovinos no Município
de Petrolina-PE.........................................................................55
viii
Tabela 12 - Caracterização das propriedades pela vegetação, no
município de Petrolina-PE
.......................................................57
Tabela 13 - Armazenamento de forragem e suplementação alimentar no
município de Petrolina PE
.........................................................61
Tabela 14 - Combate a endo e ectoparasitas no município de Petrolina-
PE
.............................................................................................62
Tabela 15 - Instalações zootécnicas no município de Petrolina-PE............. 65
Tabela 16 - Manipulação da caatinga e ganhos de produtividade............... 74
Tabela 17 - Fórmula da mistura múltipla...................................................... 84
ix
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1 - Caprinos em alimentação com restolho da agricultura................ 69
Figura 2 - Caatinga raleada. ....................................................................... 73
Figura 3 - Pastagem dividida. ...................................................................... 74
Figura 4 – Capim-de-rama (Brachiaria mutica)............................................ 75
Figura 5 - Sorgo........................................................................................... 76
Figura 6 - Leucena....................................................................................... 77
Figura 7 - Maniçoba.................................................................................... 77
Figura 8 - Mandioca.................................................................................... 78
Figura 9 - Máquina para triturar a mandioca............................................... 79
Figura 10 - Terraço para secagem da raspa da mandioca .......................... 79
Figura 11 - Palma forrageira........................................................................ 80
Figura 12 - Plantio de palma....................................................................... 80
Figura 13 - Silo trincheira............................................................................. 81
Figura 14 - Silo de anel (cincho).................................................................. 81
Figura 15 - Enfardadeira manual. ............................................................... 83
Figura 16 - Enfardadeira manual. ................................................................ 83
Figura 17 - Aprisco de piso suspenso.......................................................... 86
Figura 18 - Chiqueiro. .................................................................................. 86
Figura 19 - Brete – vista frontal................................................................... 86
Figura 20 - Brete – vista lateral.................................................................. 86
x
Figura 21 - Cocho para ração...................................................................... 88
Figura 22 – Canzil – vista lateral.................................................................. 88
Figura 23 – Canzil – vista frontal.................................................................. 88
Figura 24 - Pneu utilizado como cocho para sal......................................... 89
Figura 25 - Controle de vermifugação.......................................................... 95
Figura 26 - Piolhos....................................................................................... 95
Figura 27 - Tipos de sarna........................................................................... 96
Figura 28 - Reprodutor anglonubiano. ......................................................... 97
Figura 30 - Reprodutor alpino britânico........................................................ 97
Figura 31 - Cabra recém-parida................................................................. 102
Figura 32 - Cabritos desmamados............................................................. 103
Figura 33 - Creep feeding.......................................................................... 103
xi
LISTA DE GRÁFICOS
Página
Gráfico 1 - Manejo do solo e uso de insumos agrícolas no município de
Petrolina-PE.
...............................................................................64
Gráfico 2 - Renda média bruta anual proveniente da caprinocultura no
município de Petrolina-PE.
.........................................................66
Gráfico 3 - Principais fatores que restringem o desenvolvimento da
caprinocultura no município de Petrolina-PE.
.............................68
xii
LISTA DE QUADROS
Página
Quadro 1 – Estados por regiões e situação organizacional.............................27
xiii
RESUMO
MUDO, Macário da Silva, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, maio de
2008. A capacitação de caprinocultores como estratégia de
extensão rural. Orientador: José Norberto Muniz. Co-
orientadores:José Ambrósio Ferreira Neto e Gherman Garcia Leal de
Araújo.
A região do submédio São Francisco, onde está localizado o
município de Petrolina-PE, apresenta duas vocações: a fruticultura irrigada e
a exploração de caprinos e ovinos, principalmente na zona sequeira. Essa
exploração normalmente é feita por pequenos e médios produtores. A
característica básica destes produtores é o baixo nível tecnológico nas
propriedades. Em decorrência da prática rudimentar por eles utilizada, esses
animais, quase sempre, apresentam índices de desempenho bastante
baixos, destacando-se a alta mortalidade e a elevada idade para atingir o
peso ao abate. No entanto, sabe-se da existência de várias pesquisas
voltadas para a caprinocultura. Neste trabalho foram identificadas as
tecnologias disponibilizadas por elas e os sistemas de produção usados
pelos caprinocultores; é também apresentada uma cartilha de capacitação,
para rurícolas envolvidos de forma direta ou indireta com a caprinocultura.
Essa alternativa é apresentada como forma de implementar a extensão rural
na região, ocorrendo sob a convergência do conhecimento tecnológico e
instrumental com o conhecimento dos caprinocultores. O objetivo foi
contribuir para a melhor compreensão do ecossistema semi-árido e
possibilitar melhor convivência com este, colocando as informações
xiv
tecnológicas disponíveis para a sustentabilidade dos sistemas de produção
nas diversas localidades. A pressuposição é de que as áreas de sequeiro
têm muito a oferecer em termos de recursos naturais, podendo a sua
população obter ganhos significativos, se forem orientadas para isso. Elas
devem ser tratadas através de respostas que contemplem as
potencialidades de cada condição encontrada, fazendo-se, na medida do
possível, uso de tecnologias apropriadas.
xv
ABSTRACT
MUDO, Macário da Silva, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, May of
2008. The goat’s producers empowerment as rural extension
strategy. Adviser: José Norberto Muniz. Co-advisers: José Ambrósio
Ferreira Neto and
Gherman Garcia Leal de Araújo.
The sub medium São Francisco region, where is located in Petrolina
PE, presents two vocations, to be known, the irrigated fruitculture and the
goat and sheep exploration, mainly in dry zone. This exploration is often
done by small and medium producers. The basic characteristic of these
products is the low level technology on the farms. As a result of elementary
practices used by them, these animals, most of the times, show a very low
index of performance, showing the high death and also the high age to get
the weight to be butchered. However, it is known the existence of several
researches involving goat’s culture. This dissertation identify the majority of
these available technologies, the production systems used by the goat’s
producers, and shows an enabled speller to rural workers, involved direct or
indirectly with the goat’s culture. With this, to insert the rural extension, as a
complement to the goat’s producers knowledge. It is understood that it can
contribute to a better comprehension of the semi-arid ecosystem and enable
a better relationship with it, putting the technologic information available to
the sustainability of production systems in several localities. The
presupposed is that the dry areas have many things to offer in terms of
natural resources, and with this, their population could obtain significant
xvi
gains, if they were oriented to these. They should be treated by the answers
which contemplate the potentiality of each condition found, and as soon as
possible they use the appropriated technologies.
xvii
1. INTRODUÇÃO
A região Nordeste do Brasil abrange uma área total de 166,2 milhões
de hectares, dos quais 67,3% estão inseridos na zona semi-árida.
Caracterizada por grande diversidade agroecológica e socioeconômica,
apresenta índice de pluviosidade entre 250 e 700 mm, com padrões
irregulares de distribuição.
A vegetação natural, base da alimentação de caprinos e ovinos, é
denominada de caatinga e se caracteriza por hiperxerofilismo e por
apresentar um estrato arbustivo arbóreo às vezes denso, às vezes ralo. É
nessa região onde ocorre grande exploração de caprinos e ovinos,
principalmente pelas populações de média e baixa renda.
O maior rebanho efetivo de caprinos está concentrado na região
Nordeste, com 9.331.460 animais, seguida da região Sudeste, com 236.416,
e das regiões Norte e Sul, com 219.455 e 148.546 cabeças,
respectivamente; com o menor rebanho está a região Centro-Oeste, com
110.011 (IBGE, 2004). Enquanto o Estado de Pernambuco possui um efetivo
de 1,4 milhão de cabeças de caprinos e 815.000 de ovinos, as microrregiões
de Petrolina-PE e Juazeiro-BA, de acordo com dados do Ministério da
Agricultura (2000), apresentam a seguinte população desses animais
(Tabela 1).
Tabela 1 - Caprinos e ovinos na microrregião de Petrolina-PE e Juazeiro –
BA
Caprinos Ovinos Total
Juazeiro 667.000 459.000 1.126.000
Petrolina 253.000 Menos de
200.000
Total 920.000 459.000 1.379.000
Fonte: Ministério da Agricultura (2000)
O plantel de caprinos em Petrolina representa 18% do efetivo da
criação de todo o Estado de Pernambuco. Nessas duas microrregiões, esse
total de animais já envolve um volume de negócios de 171.704 animais/ano,
com um volume de recursos anuais de R$ 8.490.852,00 (MOREIRA et al.,
1997).
Embora numericamente expressivos, os rebanhos caprino e ovino de
corte do semi-árido têm se destacado pela baixa produtividade, apesar de
esses animais se adaptarem muito bem às condições edafoclimáticas da
região. Segundo Medeiros (2001), o cenário da caprinovinocultura no semi-
árido nordestino, em nível de produtor, se caracteriza por:
1 - Baixo nível de organização.
2 - Inexistência de testes de desempenho genético e falta de informações
sobre cruzamentos industriais.
3 - Deficiência de tecnologias para nutrição e acabamento dos animais.
4 - Inadequação do sistema de manejo.
5 - Falta de programas sanitários específicos para cada região.
6 - Deficiência de assistência técnica.
7 - Falta de análise econômica nos diversos sistemas de produção.
Baixo nível de organização
Dados da FAO (2001) mostram que o rebanho mundial de caprinos
em 2000 era de 715.297.550 cabeças, sendo 96% em países em
desenvolvimento e apenas 4% nos países desenvolvidos. O Brasil fica na
décima colocação, com um rebanho de 12.600.000 de cabeças – 1,68% do
rebanho mundial (IBGE, 2001). Alguns conceitos vêm transformando
radicalmente as atividades pecuárias de interesse econômico. Embora não
se esquecendo do papel social da caprinocultura, essa nova realidade deve
ser absorvida. Para Ribeiro et al. (2005), no agronegócio da caprinocultura, o
objetivo não é produzir mais cabritos ou quilo de carne por área ou por
matriz: o objetivo passa a ser a produção de mais lucro por empresário.
Logicamente, certos conceitos complementares não devem ser
desconsiderados, como sustentabilidade do investimento e utilização de
práticas ecologicamente adequadas.
Portanto, trata-se de desenvolver a atividade como negócio, inserido
nos propósitos da cadeia, aqui identificada como a da caprinocultura, com
interconexões entre os seus componentes. No assunto em questão, a
produção de caprinos envolve desde os fornecedores de insumos até o
consumidor final, passando pelos serviços de extensão e pesquisa,
abatedouros, supermercados, açougues, restaurantes, curtumes, indústria
de calçados e de vestuário, entre outros. Entre esses segmentos está o
caprinocultor. Se, por um lado, ele tem sido objeto de investigação e de
intervenções, por outro, ele se constitui no segmento menos organizado.
Por isso, a caprinocultura não tem apresentado mudanças
econômicas ou tecnológicas significativas, constituindo um segmento
marginal na cadeia produtiva, sobrecarregado pelos ônus que lhe é atribuído
pelos componentes precedentes e posteriores à “cadeia produtiva”.
Quanto ao nível de organização, parte-se também da hipótese de que
a não-conscientização do seu envolvimento no agronegócio da
caprinocultura pode se constituir num obstáculo para a sua superação
econômica no desenvolvimento de sua atividade. Por exemplo, Guimarães
Filho (2004) ressalta que, embora desordenadamente, a caprinocultura tem
avançado no setor de processamento, com o suprimento de alguns
abatedouros, iniciando a oferta de produtos de melhor qualidade sanitária,
sobretudo para supermercados e restaurantes especializados.
Assim, os curtumes já se constituem no segmento mais capitalizado e
mais qualificado tecnológica e gerencialmente da cadeia produtiva. No
segmento produtivo, apesar da disponibilidade tecnológica, a apropriação
dessas tecnologias pelos caprinocultores é ainda um processo bastante
lento, carecendo de um apoio mais agressivo em termos de crédito mais
adequado e de uma assistência técnica mais abrangente e qualificada.
Zilbersztajn (1993) salienta que o salto conceitual ocasionado pela visão
sistêmica de agribusiness desafia, ainda hoje, os tomadores de decisão nas
mais diversas áreas, entre as quais o crédito rural, a administração da
qualidade, o planejamento empresarial, o ensino de agronomia e a pesquisa
agrícola, sempre voltados para a produção agrícola e não à cadeia de
agribusiness.
Inexistência de testes de desempenho genético e falta de informações sobre
cruzamentos industriais
Historicamente, diversas raças e tipos de caprinos e ovinos vêm
sendo introduzidos no Brasil com a intenção de promover o melhoramento
da eficiência da produção. Entretanto, a ausência de ações integradas e o
desenvolvimento de políticas sustentáveis não permitem o alcance dos
objetivos almejados. É necessário melhor conhecimento sobre os recursos
genéticos disponíveis para definição dos métodos mais eficientes para a
conservação e melhoramento. Assim, para Lobo (2005), um programa
adequado de seleção deve ser desenvolvido para o melhoramento genético
dessas espécies no Brasil.
Considerando as experiências de pesquisa em melhoramento
genético dos caprinos e ovinos, tem-se que, com os colonizadores, os
animais se originavam, principalmente, de grupos genéticos portugueses e
espanhóis. Em épocas mais recentes, espécies da África, Ásia e Europa
vêm sendo introduzidas. Os primeiros animais passaram por extremo
processo de seleção natural. O ambiente hostil, sobretudo no Nordeste, com
longos e variáveis períodos de seca, contribuiu para o aumento da
resistência e o decréscimo no desempenho produtivo dos animais. Assim, a
importação vem se constituindo em alternativa para melhorar o desempenho
da caprinocultura brasileira. Esse processo originou os grupos genéticos que
hoje se encontram no País: exóticos, naturalizados e mestiços.
Lobo (2005) afirma que o reduzido desempenho desses animais levou
ao interesse, por parte dos produtores, pela importação de animais exóticos.
Normalmente, o uso desses animais em estado de pureza racial não produz
bons resultados, devido a problemas adaptativos. Dessa forma, cruzamentos
são realizados de maneira indiscriminada, e os resultados não têm sido
satisfatórios. Para esse autor, ainda há uma lacuna entre produtores e
pesquisadores no Brasil. O papel dos produtores no processo de pesquisa é
relevante, mas muitos deles, pela ausência de organização e de estímulos à
pesquisa participativa, ainda não percebem essa possibilidade, razão pela
qual o processo de transferência de tecnologia não é tão eficiente. Como
ressalta Muniz (1999), sem a percepção da diferença entre conhecimento
incorporado e conhecimento compartilhado e as suas implicações para a
solução de problemas tecnológicos imediatos, a extensão rural caracterizou-
se pela identificação e delimitação de tarefas dentro de uma perspectiva
extremamente reducionista, envolvendo a tecnologia, como um objeto
“dado”, indiscutível, e o produtor rural, com problemas tecnológicos a serem
solucionados.
Quanto ao melhoramento genético de caprinos e ovinos, é preciso
realçar a capacidade de organização e integração dos criadores, indústria e
órgãos de pesquisa. Considerando-se o volume de publicações sobre esse
assunto, é necessário rever alguns pressupostos da pesquisa, do papel do
caprinocultor e dos mecanismos e instituições de transferência tecnológica.
Por exemplo, o programa de melhoramento genético de caprinos e
ovinos de corte (GENECOC) coordenado pela Embrapa Caprinos tem um
principal objetivo: suporte ao produtor na utilização dos recursos genéticos à
sua disposição, de maneira a atingir seu sistema de produção. É um
programa em andamento, de forma que vai sendo moldado em conjunto
entre técnicos do programa e os produtores interessados. Esse programa
propõe a disponibilização de informações para a escolha criteriosa de
animais em adequado desenvolvimento muscular, visando o ganho de peso,
a boa capacidade de acabamento e o adequado tamanho adulto, com
redução dos custos de manutenção, além da eficiente capacidade
reprodutiva e precocidade sexual.
Deficiência de tecnologias para nutrição e acabamento dos animais
No Nordeste brasileiro, principalmente nas áreas de semi-árido, o
pasto nativo pode ser usado para terminação durante a época chuvosa e na
época seca, quando há disponibilidade de água para irrigação, porém o mais
recomendável são as pastagens cultivadas. Para Sousa (2005), a irrigação
durante a época seca, as adubações periódicas e a rotação de pastagens
constituem importantes estratégias de manejo para neutralizar os efeitos
negativos da estacionalidade de produção de alimentos sobre a produção de
caprinos.
A viabilidade técnica e econômica da terminação em pasto depende
não somente de um bom manejo do pasto, mas da combinação entre este e
o uso de animais que possuam alto potencial de conversão de pasto em
carne. Ainda com relação à nutrição, Ribeiro (2005) acrescenta que o
principal objetivo deve ser o de maximizar as potencialidades de cada
região, aproveitando da melhor forma possível o que ela pode oferecer.
Portanto, em regiões de terras férteis e clima favorável, deve-se considerar a
utilização intensiva de insumos, buscando-se alta produtividade. Em regiões
menos privilegiadas, deve-se buscar otimizar o seu potencial de produção
sustentável, ou seja, o quanto é possível produzir com investimentos
factíveis de retorno e de forma sustentável, sem degradar a vegetação
existente e sem prejudicar o meio ambiente.
Inadequação do sistema de manejo
Classicamente, existem três sistemas básicos de criação: intensivo,
semi-intensivo e extensivo. Esses conceitos estão associados ao nível de
tecnologia e produtividade bastante elevadas no primeiro e muito precárias
no último. A criação em sistema de pastejo rotacionado pode ser
considerada intensiva, e a utilização racional da caatinga, semi-intensiva.
Ribeiro (2005) afirma que qualquer sistema de criação deve considerar uma
série de áreas de atuação. Todos os itens estão interligados, e os resultados
só serão satisfatórios se a atuação ocorrer em todos os segmentos, de
forma contínua, organizada e coordenada, com o nível de esforço
necessário e compatível em cada setor. É de fundamental importância o
conceito de adequação ao sistema de produção, ou seja, o que funciona em
uma situação não apresentará necessariamente os mesmos resultados em
um sistema com características diferentes.
A concepção que se tem é de que, apesar de esforços nesse sentido,
há uma inadequação do manejo desses animais nas diversas fases de
criação: cria, recria e terminação. Estudos realizados pela Embrapa
Caprinos (2005) mostram que, para o bom funcionamento de um sistema de
produção, uma série de medidas de manejo geral deve fazer parte das
atividades de rotina da propriedade rural. É enfatizado o uso de algumas
práticas de manejo geral, como a escrituração zootécnica, que consiste no
conjunto de práticas relacionadas às anotações da propriedade rural que
possui atividade de exploração animal. É o mecanismo de descrição formal
de toda a estrutura da propriedade: localização, acesso, área, relevo, clima,
divisões, áreas de pastagens, benfeitorias, máquinas e equipamentos;
funcionário; rebanho; práticas de manejo geral – alimentar, sanitário e
reprodutivo; produtos e comercialização; anotações contábeis etc.
Podem-se citar outros manejos bastante utilizados atualmente, como
o descarte orientado, o manejo geral das matrizes, o manejo geral das crias,
a desmama, a marcação, a castração e a descorna.
Falta de programas sanitários específicos para cada região
O manejo sanitário adequado de um rebanho está relacionado
diretamente com a obtenção de sucesso na sua exploração, sendo
necessário para isso o conhecimento prévio de práticas de manejo
adequadas, bem como das condições fisiológicas normais dos animais. São
disponibilizados pela Embrapa Caprinos calendários de vacinações,
vermifugações e controle das diversas enfermidades, parasitárias,
bacterianas e virais. Para Ribeiro et al. (2005), a sanidade do rebanho deve
ser considerada em vários aspectos e momentos. No início da atividade, a
preocupação deve ser definir com bastante clareza os cuidados a serem
tomados para começar um rebanho “limpo”. Esse é o melhor momento,
talvez único, para evitar a entrada de importantes problemas sanitários no
rebanho. A idéia de que no início da atividade não há necessidade de se
preocupar muito com esse aspecto – visto que depois que as coisas tiverem
mais organizadas é possível “limpar” o rebanho – é totalmente equivocada.
A outra linha de atuação diz respeito aos problemas sanitários
introduzidos no criatório, muitos dos quais inevitáveis. Para evitá-los, devem-
se estabelecer práticas de rotina adequadas, a fim de minimizar o seu
impacto. Em alguns casos, o correto é a erradicação da doença. Em outros,
o razoável são as práticas que minimizam os prejuízos e que permitam um
convívio aceitável com a doença.
Deficiência de assistência técnica
Os resultados negativos oriundos do modelo extensionista de difusão
de tecnologias agrícolas do período da “modernização da agricultura”
precisam ser superados, emergindo a necessidade da implantação da
Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural, de modo a
atender às necessidades da sociedade atual. Assim, os princípios de
desenvolvimento sustentável exigem novos enfoques metodológicos e novas
estruturas institucionais. O novo modelo de assistência técnica e extensão
rural supõe uma articulação política capaz de organizar capital humano e
recursos financeiros a partir de parcerias solidárias e comprometidas com o
desenvolvimento e o fortalecimento da agricultura familiar em todo o Brasil,
respeitando-se a pluralidade e as diversidades sociais, étnicas, culturais e
ambientais (MDA-CONDRAF, 2006).
Falta de análise econômica nos diversos sistemas de produção
Toda e qualquer atividade agropecuária precisa ser economicamente
viável. Para isso, são propostos alguns passos que, se seguidos, irão
proporcionar um instrumental de acompanhamento e análise da viabilidade
econômica de sistemas de produção de caprinos e ovinos. Para avaliar
economicamente a viabilidade de se investir na atividade de caprinocultura e
ovinocultura de corte, a Embrapa Caprinos entende que é necessário
informações relacionadas às diversas etapas do processo produtivo deste
sistema. Considerando que a viabilidade econômica tem papel relevante na
tomada de decisão sobre os investimentos a serem feitos dentro da empresa
rural, devem-se levar em consideração os seguintes aspectos:
Uso de coeficientes técnicos – para avaliar a viabilidade
econômica da atividade, é necessário, inicialmente, que sejam observados
alguns coeficientes zootécnicos, como: coeficientes de parição, fertilidade,
prolificidade, mortalidade, descartes, relação reprodutora/matriz, intervalo
entre partos, idade para abate; todos esses índices estão disponibilizados
em tabelas adaptadas da Embrapa Caprinos.
Custos fixos – aqueles que ocorrem independentemente de haver
produção ou não, como as depreciações.
Custos variáveis – aqueles que dependem da escala de produção,
ou seja, sua ocorrência está ligada à produção, como mão-de-obra,
alimentação, energia, reparos de máquina etc.
Receitas.
Lucro (rendimentos).
Rentabilidade – rentabilidade total em percentual seria igual à
divisão do lucro anual pelo total de capital investido, multiplicado por 100.
Observa-se, portanto, a coexistência de fatores que interferem
diretamente na exploração dessas duas espécies de animais no semi-árido
nordestino. A conseqüência está na impossibilidade de esse tipo de
exploração proporcionar retorno satisfatório, que possa contribuir
efetivamente na melhoria dos caprinovinocultores.
Associado a esses fatores está também o fato de o semi-árido
nordestino ser caracterizado por dois períodos do ano bem definidos:
chuvoso e seco. No período seco, há redução significativa na capacidade de
suporte da vegetação nativa e na qualidade da forragem disponível,
afetando a produção de leite das matrizes. Para Araújo Filho (1994), o
caprino tem seu lugar definitivo no semi-árido, porque, devido a sua
versatilidade, amplitude florística da dieta, capacidade e habilidade seletiva
altamente desenvolvida, é capaz de extrair das regiões mais inóspitas –
onde outros herbívoros não sobreviveriam – produtos como o leite, a carne e
a pele. É nesse aspecto que o melhoramento e manejo de pastagens
fundamentados cientificamente em princípios ecológicos e de gerência
conservadora dos recursos naturais renováveis têm o seu papel importante
na produção pastoril dessas áreas.
Como a grande maioria dos criadores de caprinos da região Nordeste
utiliza a caatinga como fonte principal de alimentação desses animais,
cresce a preocupação com a utilização pouco racional desse bioma.
Havendo uma inter-relação de importância de todos os fatores já citados
com relação à produção, a caatinga representa, para os propósitos desta
investigação, um fator dos mais importantes, pois, como destacam
Drumonnd et al. (2000), a utilização da caatinga ainda se fundamenta em
processo meramente extrativista para obtenção de produtos de origem
pastoril, agrícola e madeireiro.
No caso da exploração pecuária, o superpastoreio de caprinos,
ovinos e outros herbívoros tem modificado a composição florística do estrato
herbáceo, quer pela época, quer pela pressão de pastejo. A conseqüência
desse modelo extrativista predatório se faz sentir principalmente nos
recursos naturais renováveis da caatinga. Portanto, a preocupação com a
conservação e preservação dos recursos naturais será condição
indispensável para se prever o uso regular da terra pelos seus proprietários,
bem como para descobrir e desenvolver métodos não-destrutivos de uso de
recursos florestais que sejam aplicáveis à região. Dessa forma, torna-se
evidente e urgente o conhecimento da flora, fauna, solo e clima, com
informações fundamentais para o desenvolvimento de quaisquer estratégias
de ações, evidenciando o valor da biodiversidade, que venha a contribuir
para melhor planejamento de mercado, uso e enriquecimento da caatinga.
Esse aspecto também é ressaltado por Guimarães Filho (2000), o
qual considera que as tecnologias voltadas para a formação e o manejo de
pastos, incluindo o uso mais racional da caatinga, de modo a proporcionar
melhor oferta de forragem aos animais ao longo do ano, devem ser
priorizadas.
Partindo do pressuposto de que a caatinga é um ecossistema
marginal e frágil, pesquisadores da Embrapa Semi-Árido (2000), em
documento elaborado para discussão no GT Estratégias para uso
sustentável, concluíram que falta tradição do segmento florestal na região e
há desconhecimento dos benefícios agropastoris. Por isso, propõem a
introdução de forrageiras adaptadas ao semi-árido (capim-buffel, biloela,
leucena, gliricídia e palma-forrageira) e o aproveitamento das forragens
nativas da caatinga (maniçoba e melancia forrageira) para incrementar a
produção de caprinos e ovinos no semi-árido. Além disso, o documento
acrescenta que a caatinga necessita de estratégias específicas e
planejamento, de modo que o meio ambiente, em geral, e a caatinga, em
especial, sejam incorporados como referências nas diversas ações de
intervenções que envolvem os segmentos sociais nos processos produtivos.
A atividade pecuária, apesar de predominante na região de sequeiro do
município de Petrolina-PE, foi desenvolvida de forma extensiva, explorada à
base de pastos naturais e, em geral, em campos abertos. Para Araújo Filho
(1994), as pastagens nativas são ecossistemas marginais e frágeis em que
um ou mais fatores ecológicos são limitantes, o que impõe a necessidade de
um manejo calcado nos princípios de conservação dos recursos naturais
renováveis. Contudo, esse patrimônio nordestino encontra-se ameaçado. A
exploração feita de forma extrativista pela população local, desde a
ocupação do semi-árido, tem levado a uma rápida degradação ambiental.
Esta dissertação poderá contribuir com informações sobre a biologia
dessas espécies e servirá de subsídio para a elaboração do plano de
manejo delas na região.
2. O PROBLEMA
Tendo em vista os argumentos apresentados no capítulo anterior,
constata-se, portanto, a existência de várias questões práticas na exploração
de caprinos e ovinos na região do semi-árido nordestino. Essas questões,
especialmente na abordagem do segmento produtivo da cadeia, vão desde a
identificação e a introdução de tecnologias adequadas, passando pelo
manejo da pastagem natural, até a comercialização.
Nesse contexto, assume-se a inexistência de um elo que possa levar
essas tecnologias disponibilizadas pela pesquisa até o produtor. Deve-se
ressaltar que esse elo, aqui designado como agente de intervenção,
constitui-se no elemento que intervirá junto aos caprinovinocultores. Como
tal, é ele que deverá ser capacitado para promover as inovações e
implementar programas de assistência técnica, pública ou privada, como
subsídio ao crescimento da atividade e ao aumento de produção e
produtividade e incentivo à permanência do homem no campo, como
ressaltou Medeiros (2001) sobre o cenário da caprinovinocultura no semi-
árido nordestino em nível de produtor.
Esse agente deverá apropriar-se de conhecimentos que superem as
lacunas apresentadas por Medeiros (2001), que são, na prática, os
problemas que envolvem diretamente os caprinovinocultores. Cabe destacar
que a pesquisa sobre a caprinocultura disponibiliza resultados sobre todos
os aspectos abordados anteriormente, faltando a capacitação do agente de
desenvolvimento local para intervir junto ao caprinocultor, de forma a
capacitá-lo a desenvolver a caprinocultura.
O pressuposto desta investigação é de que a capacitação do agente
de desenvolvimento local não decorre apenas do estoque de conhecimentos
existentes, mas do estoque de conhecimento compartilhado pelos
caprinocultores sobre essa atividade econômica. Desse modo, a questão
inicial está em identificar esse estoque de conhecimento existente para, a
partir desta descrição, comparar com os conhecimentos gerados pela
pesquisa técnica/científica, visando à elaboração de um programa de
intervenção para a extensão rural voltado exclusivamente à caprinocultura.
Por outro lado, a exploração de caprinos e ovinos do Brasil é, na
maioria, do tipo extensivo, sendo em geral composto por pequenos e médios
produtores, os quais possuem baixo nível tecnológico. Agrava-se mais o
problema naqueles casos cujos produtores, sentindo a necessidade de
produzir quantidade maior de animais, procuram aumentar o rebanho sem
se preocupar com índices produtivos, lotação adequada nas pastagens,
tampouco com a sanidade dos animais, ou em adotar ou melhorar
tecnologias (ALVES et al., 2002).
No Nordeste, de acordo com Simplicio (2005), dentre as várias
alternativas encontradas para exploração agropecuária racional, destaca-se
a caprinocultura, a qual gera emprego e renda. Deve-se registrar que,
apesar de esses animais apresentarem potencial produtivo ao longo de todo
o ano, a inserção dos caprinocultores nessas atividades não tem se
orientado pelos requisitos básicos de uma atividade voltada para atender às
demandas de um mercado cada vez mais exigente. Assim, a produção de
caprinos e ovinos com base em sistemas empíricos de exploração
tradicionalmente praticados na região Nordeste não mais constitui solução
para a fixação do homem à terra e para geração de renda e emprego.
Por conseguinte, os novos conceitos de organização e gestão da
unidade produtiva, bem como a adoção de tecnologias, são necessários
para a inserção do caprinocultor no mercado da caprinocultura. Por exemplo,
um dos obstáculos, para Pinheiro (2000), é o estado sanitário presente nas
criações de caprinos e ovinos, juntamente com a ausência ou o uso
inadequado de tecnologias. Esses obstáculos são os dois pilares em que se
apóiam as mais importantes causas da baixa produção e rentabilidade dos
caprinovinocultores da região semi-árida nordestina. Para Chiebão et al.
(2006), os parasitas internos dos ruminantes ainda são uma das principais
causas de perdas econômicas na América Latina e o principal problema
sanitário dos rebanhos de ovinos e caprinos. Esses autores acrescentam
que a carne de ovinos é cada vez mais exigida para consumo interno e que,
embora a verminose ovina esteja melhor esclarecida, os estudos
concentram-se nas regiões Sul e Nordeste do País. Em caprinos, sabe-se
que o problema também está presente e tende a aumentar devido ao
incremento da caprinocultura. A saúde do rebanho ovino e caprino depende
de um controle parasitário efetivo para que se possam obter animais
saudáveis e prontos para venda; caso contrário, a criação torna-se inviável
economicamente, devido à baixa produtividade. Embora o parasitismo seja
uma das mais sérias limitações à produção de ovinos e caprinos, verifica-se
grande escassez de informações relativas à ecologia e ao comportamento
dos endoparasitas em pequenos ruminantes.
Por sua vez, o mercado de carne tem se mostrado atraente. Em
estudo de projeção de oferta e demanda do potencial de carne de caprinos e
ovinos, Campos (1999) confrontou estimativas de oferta e demanda no
período de 1992 a 2000 (Tabela 2).
Os dados apresentados nesta Tabela, obtidos através de pesquisas
diretas ou de projeções por modelos matemáticos, revelam a existência de
um mercado interno considerável para carnes de caprinos e ovinos no
Nordeste.
Tabela 2 - Balanço entre oferta e demanda estimada de carnes caprina e
ovina para o Nordeste – 1992 a 2000
Nordeste
Oferta (1.000 t) Demanda (1.000 t) Balanço (1.000 t)
1992 36,4 49,0 -12,6
1993 37,5 49,8 -12,3
1994 38,4 50,5 -12,1
1995 39,2 51,2 -12,0
1996 40,0 52,0 -12,0
1997 40,9 52,9 -12,0
1998 41,8 53,7 -11,9
1999 42,6 54,6 -12,0
2000 43,4 55,6 -12,2
Fonte: Campos (2000).
No entanto, o consumo médio diário de carne/ pessoa/ ano no Brasil é
relativamente pequeno: 1,5 kg pessoa/ano. Pesquisa realizada pelo
SEBRAE-CE (1998) estimou um consumo per capita anual de 0,590 kg para
carne ovina e 0,375 kg para carne caprina, totalizando um consumo per
capita anual de 0,965 kg. Em trabalho de pesquisa desenvolvido por Moreira
et al. (1997) nas cidades de Juazeiro-BA e Petrolina PE, os resultados
obtidos revelaram consumo per capita anual de 10,81 kg em Juazeiro e
11,73 kg em Petrolina, representando um consumo atual em torno de 1.180 t
em Juazeiro e 2.500 t em Petrolina, considerando a população atual das
duas cidades. No Distrito Federal, o consumo anual da carne ovina, em
1998, foi estimado em 300 t, conforme levantamento do SEBRAE-DF (1998),
representando um consumo per capita anual em torno de 0,150 kg. De
acordo com estudo realizado pelo SEBRAE-RN (2001), o consumo per
capita foi estimado em 0,467 kg para carne caprina e 0,430 kg para carne
ovina, totalizando 0,897 kg per capita por ano. Para Simplício (2001), a
carne caprina apresenta teores de gordura saturada e total, proteína, ferro e
caloria similares àqueles de carne de frango, em contraste com os baixos
índices produtivos da caprinovinocultura de corte.
Verifica-se, no entanto, crescimento acentuado da demanda para
carne e peles das duas espécies. Apesar de essa demanda encontrar-se
reprimida, uma fatia considerável do mercado interno é suprida pela matéria-
prima importada de outros países do Mercosul, como demonstra a Tabela 3.
Tabela 3 - Importações de carne de ovinos no período de 1992 a 2000
Anos
Ovinos vivos
(t)
Carcaças de
borregos
(t)
Total de carcaças
(t)
1992 119,5 163,9 2.075,9
1993 2.180,8 309,9 3.702,6
1994 4.628,9 823,5 4.694,5
1995 1.630,9 444,0 3.869,3
1996 5.732,0 325,4 5.715,1
1997 8.674,1 520,6 4.961,2
1998 5.179,4 530,4 6.148,3
1999 4.056,1 231,7 4.343,5
2000 6.245,9 278,6 8.216,4
Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio - MDIC.
Os aspectos ressaltados neste item permitem a identificação de
alternativas distintas e complementares sobre a cadeia da caprinocultura.
Entretanto, o conjunto da exposição permite contextualizar o problema a ser
apresentado a seguir, o qual se centraliza no caprinocultor, considerando-se
a dimensão formal e informal do conhecimento dos atores que estão
envolvidos com essa área. Assim, o problema de pesquisa a ser definido
considera o contexto técnico/científico da realidade da caprinocultura e as
necessidades do caprinocultor de forma integrada, no qual a extensão rural
deve se aprofundar, procurando, pela associação do conhecimento
técnico/científico com o conhecimento dos caprinocultores, alternativas
adaptadas à transferência de tecnologia e de educação não-formal do
caprinocultor.
2.1 Objetivo
2.1.1 Geral
Contribuir para o desenvolvimento da caprinovinocultura, oferecendo
um programa de treinamento sistematizado para os agentes de
desenvolvimento local. Esse programa será fundamentado por um manual
técnico elaborado a partir dos conhecimentos técnicos para a área em
estudo e dos conhecimentos locais resultantes das experiências dos
caprinocultores com a atividade produtiva.
2.1.2 Específicos
Identificar tecnologias disponibilizadas pela pesquisa, na área de
caprinovinocultura apropriada, ao semi-árido nordestino.
Identificar os sistemas produtivos empregados pelos caprinocultores e a
sua coerência ou dissonância em relação às recomendações técnicas.
Estruturar as tecnologias com orientações sistematizadas e
complementares ao desenvolvimento da atividade.
Disponibilizar o programa e o manual técnico às instituições locais de
desenvolvimento.
3. ORIENTAÇÃO CONCEITUAL
3.1 Extensão rural e agente de desenvolvimento local
A extensão rural no Brasil surgiu oficialmente em 1948, em Minas
Gerais, e fez parte de um acordo com agências de desenvolvimento norte-
americanas que pretendiam mudar a estrutura de produção agropecuária do
Estado. O propósito referia-se, principalmente, ao aumento do consumo dos
insumos industriais, transferindo inovações e tecnologias ao sistema
produtivo agropecuário. O programa visava as regiões que ainda não haviam
adotado modelos de crescimento econômico baseados no aumento do uso
de insumos industrializados, conforme ressalta Costa (2001).
Depois da experiência inicial, ocorreu expansão rápida desse tipo de
serviço, com a criação da ACAR (Associação de Crédito e Assistência Rural)
nos Estados da federação. Esse crescimento teve como pólo orientador a
ACAR- MG, que contou com assessores norte-americanos e treinou seu
pessoal nos Estados Unidos. É dessa Associação que saíram os primeiros
extensionistas-instrutores, aos quais coube a tarefa de orientar a
organização de outras entidades e ministrar cursos sobre extensão rural
para os novos extensionistas contratados. Ressalte-se que a AIA (American
International Association for Economic and Social Development) forneceu os
primeiros técnicos americanos, que, com experiência trazida de seu país,
ajudaram a implantar a ACAR nos moldes do Farm Home Administration e
do Extension Service (LUPPI, s. d.).
Foi sob influência do que já foi instituído nos Estados Unidos que, a
partir de 1952, começaram a ser realizados os treinamentos para
extensionistas brasileiros, sendo os primeiros para os supervisores; em
1956, a ACAR fixou uma política de treinamento permanente, como, por
exemplo, os cursos realizados na Fazenda Ipanema, perto de Sorocaba- SP
(ARAUJO et al., 1981).
Com o crescimento das afiliadas do sistema ABCAR, passaram a ser
criados centros de treinamentos regionais – CETREINO (Nordeste),
CETREISUL (RS), CEE (Viçosa- MG) – e logo em seguida surgem os
Centros de Treinamento (CETRE), criado em Florianópolis- SC, onde foram
treinados muitos dos extensionistas gaúchos e grande número de
professores das áreas de Ciências Rurais das universidades brasileiras.
A capacitação dos extensionistas consistia, sobretudo, na reprodução
de uma série de conhecimentos sobre ensino-aprendizagem, processos de
adoção, liderança, comunidades e crédito rural.
O objetivo central, no entanto, era ensinar ao extensionista os
métodos e estratégias que deveriam ser utilizados para fazer com que os
agricultores e suas famílias passassem a adotar inovações tecnológicas na
agricultura e no lar, bem como garantir a ideologia que deveria orientar a
ação geral dos extensionistas. A primeira reunião de especialistas em
treinamento (ABCAR. 1958) confirma essa generalização. De acordo com o
documento, considera-se como treinamento de capacitação inicial de técnico
o preparo e aperfeiçoamento teórico e prático a que serão submetidos os
técnicos antes de ingressarem no serviço de extensão rural.
Os especialistas em treinamento decidem pelo estabelecimento de
um currículo mínimo para os treinandos iniciais, constituído por oito
disciplinas: Extensão Rural, Noções de Crédito Rural, Administração Rural e
do Lar, Higiene Rural, Relações Públicas e Associativismo Rural.
A partir dessa iniciativa, a ABCAR passa a garantir a reprodução
ideológica de seus princípios, dando “forma” aos extensionistas que
ingressam no sistema, considerados como agentes de mudanças, aos quais
são impostos deveres e responsabilidades.
A visão de comunidade ensinada aos extensionistas poderia conceber
a comunidade como um grupo de pessoas que vive em uma área definida,
formando uma unidade cultural integrada, tal como um todo composto de
partes independentes (CENTREISUL, 1964). Essa visão funcionalista
implicará os pressupostos teóricos que orientam o desenvolvimento das
comunidades. Vêm daí os segmentos dos chamados “líderes” formais e
informais, que se tornaram auxiliares dos extensionistas.
A extensão é considerada uma “empresa educativa”, porque a
extensão promove educação. Seu objetivo é elevar o nível socioeconômico
da família rural, levando-lhe novos conhecimentos, desenvolvendo
habilidades e, acima de tudo, forçando novas atitudes (CENTREISUL, 1964).
Assim, se o objetivo é informar sobre determinada prática, usa-se a
reunião-palestra; se se pretende ensinar uma habilidade, deve-se adequar o
método, usando uma demonstração, e assim por diante, tratando-se da
reprodução do instituído no exercício da prática do extensionista.
A história da Extensão Rural no Brasil passou por diversas fases
distintas, conforme suas orientações filosóficas. Para Caporal (1998), o
primeiro período é denominado “familiar assistencialista” (1948 a 1960) e se
caracteriza pela introdução da Extensão Rural no Brasil, sua exposição aos
Estados e sua consolidação como serviço público. O objetivo educativo e a
melhoria das condições de vida das famílias rurais eram o conteúdo principal
da proposta, pautado nos pressupostos de uma vida rural de “melhor
qualidade de vida”. Os núcleos de trabalho eram a família e a comunidade,
e as ações eram levadas ao meio rural por dois técnicos: um das ciências
agrárias e outro da economia doméstica; as questões técnicas e as questões
familiares eram abordadas separadamente, com públicos-alvo distintos,
como os que trabalhavam no processo produtivo agropecuário e os que se
envolviam com as atividades domésticas. O período precedente é o
Produtivista. Esse período começa a se desenhar com a avaliação do
sistema nacional de ER, que estava tomando corpo. Com a passagem da
administração da Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural
(ABCAR) para o Ministério da Agricultura, e já sob regime político da
ditadura militar, cada vez mais as atividades da extensão rural se
concentram na modernização das suas atividades econômicas, sob o
pressuposto de que elas seriam suficientes para induzir alternativas de
comportamento e de valores nas demais esferas da vida socioeconômica e
política dos que viviam no setor rural. Na década de 1970 começavam a
emergir críticas ao sistema de pesquisa instalado no País. Segundo Olinger
(1996, citado por COSTA 2001), através de levantamento feito pela ABCAR,
o “acervo de informações praticáveis e úteis, sob o ponto de vista econômico
para produtores rurais, estava longe do esperado”. A partir dessa crítica,
houve evidências que sugeriam a criação da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), visando à instituição de um sistema
centralizado de extensão rural, nos moldes da pesquisa agropecuária. Para
Lisita (2005), essa fase se caracteriza pelas ações da extensão rural dirigida
pela abundância de crédito agrícola subsidiado (1964 a 1980), baseando-se
na aquisição, por parte dos produtores, de um pacote tecnológico
modernizante, com uso intensivo de capital (máquinas e insumos
industrializados). Para esse autor, a extensão rural servia como instrumento
para a introdução do homem do campo na dinâmica da economia de
mercado. A assistência técnica e extensão rural (ATER) visava ao aumento
da produtividade e à mudança da mentalidade dos produtores, do
“tradicional” para o “moderno”.
Sob essa perspectiva, a extensão rural assume propósitos tutorial e
paternalista; e deste modo, ela procurava persuadir os produtores a
adotarem as novas tecnologias, desconsiderando – como eram os
pressupostos da pesquisa agrícola – os conhecimentos locais, as
necessidades específicas e, principalmente, que a tecnologia não era a
condição suficiente para a indução de mudanças e desenvolvimento.
Ainda de acordo com Lisita (2005), do início dos anos 80 até os dias
atuais, devido principalmente ao término do crédito agrícola subsidiado,
iniciou-se no País uma nova proposta de extensão rural, que preconizava a
construção de uma “consciência crítica” nos extensionistas. O planejamento
participativo foi proposto como instrumento de ligação entre os assessores e
os produtores, com base na pedagogia da libertação, de Paulo Freire, em
período denominado como “humanismo crítico”.
Seus preconizadores afirmam que as metodologias de intervenção
rural devem pautar-se nos princípios participativos, que levem em conta os
aspectos culturais do público-alvo. “A grande diferença de orientação entre
os modelos de extensão na era do difusionismo produtivista e o da era do
humanismo crítico” é a questão da participação ativa dos agricultores
(LISITA, 2005).
O desafio dos órgãos de pesquisa, universidades e movimentos
sociais se constituía, então, em alterar procedimentos e perspectivas em
termos dos seguintes aspectos: a) criar estratégias para colocar em prática
metodologias participativas de ATER; b) incluir os agricultores familiares
desde a concepção até a aplicação das tecnologias; e c) assumir que os
agricultores e suas famílias podem ser transformados em agentes no
processo, valorizando seus conhecimentos e respeitando seus anseios.
Siliprandi (2001) salienta que entender a forma como se organizam os
grupos sociais com os quais lida a extensão rural, no seu fazer produtivo, na
vida comunitária, na relação com o poder público e nas diversas esferas da
vida cotidiana, é um pressuposto que deve orientar o trabalho geral de
extensão rural. Sem esse pressuposto, qualquer ação que se pretende
dialógica perde o sentido. O “social” a que se refere a autora abrange a
discussão produtiva e econômica, não só na preocupação com os resultados
físicos ou financeiros ou no entendimento do motivo de se adotar ou não
certa tecnologia, mas na forma como se organiza essa produção, nas
relações de poder que estruturam a ação das pessoas e nas implicações
que os processos de organização social trazem para as mudanças concretas
na vida de todos.
Para Siliprandi (2001), talvez o maior desafio seja a desconstrução de
um “jeito” de olhar para o rural e reaprender na relação com os diferentes
públicos a construir um tecido social mais democrático e equitativo, que
contemple as diferenças de gênero, de geração, de inserção social, de
interesses, de pontos de vista e que parta das experiências já acumuladas
por todos. Os homens e mulheres profissionais da extensão rural têm muito
a contribuir, com esses conhecimentos, habilidades, dedicação, na
construção desse outro desenvolvimento, desde que, estrategicamente,
sejam capazes de perceber que esse caminho é muito mais complexo do
que a simples mudança de um modelo tecnológico.
Enquanto esses pressupostos são elaborados como referências
gerais para as atividades de extensão rural, especificidades de estrutura
agrária passam a se constituir, por conseguinte, em referências empíricas a
que aqueles pressupostos devem se adaptar. Por exemplo, Moura et al.
(2000) admitem que vários são os fatores que ocasionam a situação de
pobreza crescente do pequeno produtor do Nordeste, destacando, entre
eles, o caráter de subsistência da agricultura, o baixo nível tecnológico e o
não-acesso aos serviços públicos (crédito rural, saúde, educação, extensão
rural etc.).Se, por um lado, há pressupostos gerais de como redefinir e
estruturar as atividades de extensão rural, por outro, contrastando com todas
as proposições elaboradas até então, estão as condições restritivas de
pobreza, e o pior, a sua continuidade ao longo do tempo. Como destacam
Moura et al. (2000), a extensão rural ainda se constitui na alternativa para
melhorar o quadro da pobreza, mas pela especificidade regional, requerendo
alternativas mais específicas, como é a proposta por esta investigação.
Constata-se pelos diversos estudos realizados até então a importância da
extensão rural no processo de desenvolvimento, uma vez que, como
instrumento de política, objetiva, através de processos educativos ou não, a
mudança do padrão tecnológico considerado tradicional para um padrão que
incorpore novos métodos, procedimentos e técnicas de organização do
processo produtivo, possibilitando maior produtividade, acréscimo na renda
e, como resultado, a melhoria nas condições de vida das populações rurais.
Ao assumir o princípio de mudança que as atividades de extensão
rural induziram, assume-se a potencialidade dessa função e procura-se
estender para a localidade a ser estudada ações, alternativas
fundamentadas em pressupostos complementares entre a pesquisa e a
extensão rural. O importante é que esses pressupostos não têm sido
considerados nem pela pesquisa nem pela extensão rural, apesar de
potencializar a participação em processo de transferência de tecnologias.
Assume-se que, além da participação dos agricultores nos processos de
pesquisa, há um processo de capacitação necessário, envolvendo agentes
locais de desenvolvimento e fortalecendo as instituições locais, para que a
mudança nos processos produtivos possa ocorrer. Nesse sentido, a
interação pesquisa, extensão rural e agricultores é intensificada pelas
instituições e agentes locais de desenvolvimento. Essa dimensão adicional
nesta investigação é que permite acrescentar às perspectivas de intervenção
uma inovação, pois a capacitação das instituições e agentes locais de
desenvolvimento estaria sob a responsabilidade de um centro tecnológico
regional, fundamentado em material informativo e educativo gerado por esta
investigação.
A questão prática associada à alternativa de intervenção é de formar
agentes de desenvolvimento multiplicadores para o desenvolvimento local,
no contexto do território social. Essa possibilidade deve se inserir nos planos
municipais de desenvolvimento rural, no que diz respeito à gestão social, ao
planejamento estratégico e à elaboração e implantação de projetos advindos
das demandas locais e do balanço de poder entre os membros de conselhos
municipais de desenvolvimento rural. Desse modo, a educação formal
técnica e científica se associa à não-formal para apoiar o produtor rural e
sua família em termos de técnicas de produção agrícola, serviços e sistemas
de produção e comercialização. Segundo Flores e Macedo (1999, citado por
CAPORAL, 2004), a extensão rural, pela diversidade da estrutura agrária,
requer um novo profissionalismo, mas não expressa como obtê-lo. De modo
geral, a extensão rural sempre esteve envolvida com essa necessidade.
Pela descrição apresentada, ele tem ocorrido, mas sempre pautado ou na
pesquisa ou na extensão rural, tendo no produtor o objeto de referência
capaz e suficiente para assimilar as alternativas de concepções e autonomia
de ação e decisão. O pressuposto da presente investigação é de que o
agricultor não possui essa autonomia, especialmente em razão dos fatores
restritivos à sua atividade econômica. Para alterar esse ciclo de
pressupostos, propõe-se e a capacitação técnica de agentes de
desenvolvimento locais, fortalecendo em termos de conhecimento e de
fundamentos necessários às decisões que atores econômicos tomam no
exercício de qualquer atividade.
Conforme enfatiza Caporal (2004), a mudança do paradigma da
extensão rural não se concentra na indicação de receitas ou difusão de
pacotes tecnológicos. Há de se concordar há tempos com essa proposição,
mas não se pode concordar, ainda que a função da extensão rural continue
restrita ao que o referido autor designa como um “facilitador” e consultor. O
que se propõe é que o novo profissional esteja além da função que Caporal
(2004) identifica, não se restringindo a pesquisar, identificar e tornar
disponíveis aos agricultores e suas famílias um conjunto de opções técnicas
e não-técnicas, compatíveis com as necessidades dos beneficiários e com
as condições ambientais em que estão atuando.
O fator adicional está na forma de elaboração de manual técnico e no
envolvimento com a capacitação de agentes de desenvolvimento. Ele deverá
conter orientações metodológicas que poderão auxiliar no trabalho de
sensibilização e organização dos caprinocultores e instituições, bem como
apresentar as alternativas tecnológicas à caprinocultura, considerando o
conjunto de material bibliográfico trabalhado. Não é, portanto, um documento
acabado, mas de orientações iniciais restritas às condições dos
caprinocultores da região em estudo. Para isso, essas alternativas devem
ser fundamentadas em pesquisas de centros nacionais e universidades,
considerando a sazonalidade do período chuvoso e as secas periódicas que
ocorrem na região, o que impõe severas restrições ao suprimento de
forragens e, conseqüentemente, à produção de pequenos ruminantes,
conforme destacam Araújo Filho e Silva (2000). O importante é que a
construção da orientação instrumental se associa à construção do saber
local, identificando variáveis que refletem restrições e potencialidades dos
caprinocultores na execução de suas atividades. A princípio, há apenas a
identificação dessa abordagem, ficando a delimitação desses fatores
dependente da investigação que irá ser realizada, isto é, tem-se como
referência inicial a restrição a fatores financeiros, de informação de suporte
às decisões, de gestão do negócio familiar e da inserção da caprinocultura
nesse negócio.
A partir dessas referências serão obtidos os indicadores empíricos e
associados às orientações técnicas, visando à elaboração do manual
técnico, a proposta de capacitação e treinamento de agentes locais de
desenvolvimento e a definição do Centro Federal de Educação Tecnológica
de Petrolina nesse processo. Isso engloba a produção e divulgação do
manual técnico e reunião com os principais representantes de órgãos
públicos envolvidos com a caprinovinocultura.
Essa nova postura se justifica, inicialmente, numa concepção
construtivista das interações entre sujeitos de saberes distintos. Além disso,
ela se justifica pela forma como a extensão rural tem-se estruturado e
organizado nos diferentes Estados da federação. Por exemplo, o Quadro 1
apresenta essa forma; nota-se que, no Estado de Pernambuco, houve fusão
com instituição de pesquisa. Mais especificamente, ela se institucionaliza
atualmente, sem evidenciar as suas mudanças ao longo do tempo, pela
fusão da extensão com as instituições de pesquisa. Diferentemente de
outros Estados, ela não segue a tendência das EMATERs, que são isoladas,
e muito menos se estrutura com as instituições de desenvolvimento. Essa
peculiaridade é uma justificativa da forma de abordagem desta investigação,
em que se procura associar as atividades de extensão rural sob a estrutura e
organização das instituições e agentes de desenvolvimento com o
envolvimento de um centro tecnológico.
Pela análise dos dados, fica mais explícita a necessidade,
principalmente na região Nordeste, de um programa de treinamento de
produtores, especialmente porque os órgãos que tinham essa função
específica acham-se diluídos em outros objetivos.
Quadro 1 - Estados por regiões e situação organizacional
Regiões
Sul - Sudeste Centro Oeste Norte –
Nordeste
EMATER RGS, PR,
MG, RJ.
DF CE, PI, PB.
PA, RO.
Fusão com a
Pesquisa
SC, ES MT PE
Situação
Organizacional
Fusão com
Instituições de
Desenvolvimento
GO; MS AC, AL, AP;
AM,BA, MA,
RGN, RR,SE,
TO.
Fonte: Muniz et al. (2007).
4. METODOLOGIA
Em termos geográficos, a pesquisa abrangeu a região do submédio
São Francisco, delimitada pelo município de Petrolina – PE. Nessa área,
têm-se caprinocultores e a produção, como está na definição do problema
investigado, de manuais técnicos, que serão aplicados a esses
caprinocultores por um programa elaborado para as instituições e os
agentes de desenvolvimento local. Desse modo, os dados para referenciar a
elaboração do manual técnico advêm, inicialmente, do conjunto de
informações e dados apresentados, até então, pelos centros de pesquisa e
universidades. Trata-se do levantamento inicial do conhecimento
técnico/instrumental disponibilizado. Esse conhecimento foi complementado
pela obtenção de informações e dados provenientes da Embrapa Semi-
Árido. Houve, portanto, entrevistas com os pesquisadores deste Centro, com
o propósito de estruturar e atualizar o conhecimento técnico/instrumental
disponível.
Para complementar o referencial empírico da pesquisa, uma amostra
simples ao acaso foi selecionada entre os caprinocultores do município.
Inicialmente, essa escolha criteriosa ocorreu em visita ao campo, visando
identificar a população e a sua distribuição espacial. A partir dessa
definição, houve a coleta de dados primários decorrentes da aplicação de
questionário, com o objetivo de demonstrar os sistemas empregados pelos
caprinocultores. Evidentemente, todos os procedimentos relatados
referentes à dimensão metodológica serão detalhados após a elaboração do
delineamento aqui proposto.
Caracterização da área de estudo
De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São
Francisco - CODEVASF (2002), a região do Submédio São Francisco
abrange as áreas dos Estados de Pernambuco (PE) e Bahia (BA),
estendendo-se de Remanso (BA) até Paulo Afonso (BA). As principais
cidades dessa região são Juazeiro e Paulo Afonso, na Bahia, e Petrolina
(município onde foi realizada esta investigação), Ouricuri, Salgueiro e Serra
Talhada, em Pernambuco.
O clima da área, de acordo com Köppen, é semi-árido, do tipo estepe,
com chuvas irregulares concentradas entre novembro e abril, sujeita a
anomalias atmosféricas que podem provocar longos períodos de estiagem
cíclicos, que configuram as secas. A média anual de precipitação varia de
300 a 400 mm na região de Juazeiro/Petrolina. A temperatura, afeita a essa
situação, tem pouca oscilação anual, mantendo valores próximos a 27º,
superando com certa constância os 30º.
Os solos dessa região, como em todo semi-árido, são
predominantemente do tipo bruno não cálcico, fase pedregosa, de pouca
profundidade e baixa fertilidade, com altos teores de potássio, cálcio e
magnésio e baixos teores de fósforo e nitrogênio, típicos das áreas de
sequeiro.
Em relação aos recursos hídricos, grande ponto de estrangulamento
para a região, podem-se distinguir as águas de superfície e as águas
subterrâneas. Sobre as águas superficiais destacam-se as bacias
hidrográficas e a de açudes. De todos os rios, o mais importante é o São
Francisco, único que tem curso d’agua permanente. Os açudes, que
compõem a rede regional, são em grande quantidade e de vários tamanhos,
desde pequenos, que não abrigam água, se não por poucos meses, e
garantem o abastecimento para propriedades individuais ou pequenas
comunidades rurais, até grandes, que se conservam por vários anos e
garantem água para municípios inteiros.
Aspectos socioeconômicos
De acordo com a Organização das Nações Unidas – ONU (1991), a
Tabela 4 mostra os indicadores de qualidade de vida do município de
Petrolina – PE, com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que
é um indicador do nível de atendimento, em uma dada sociedade, das
necessidades humanas básicas. Apesar da complexidade envolvida na
identificação dos aspectos de maior relevância para o bem-estar de um
indivíduo, o IDH incorpora três deles:
vida longa e saudável:
acesso ao conhecimento: e
padrão de vida digno.
Para efeito de análise, o Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) estabeleceu três principais categorias, variando de
0 a 1:
- Quando o IDH está entre 0 e 0,499, é considerado baixo.
- Quando o IDH está entre 0,500 e 0,799, é considerado médio.
- Quando o IDH está entre 0,800 e 1, é considerado alto.
Portanto, por essas categorias considera-se médio o IDH do
município de Petrolina. Saliente-se que o Índice de Condição de Vida (ICV)
seria uma extensão do IDH, que incorpora, além das dimensões
longevidade, educação e renda, as dimensões infância e habitação, todas
com a mesma ponderação. A eficácia desses índices como indicadores do
desenvolvimento humano fica evidente diante da nova estratégia para
combater a pobreza e promover o desenvolvimento nas localidades mais
carentes do País (BNDES, 2000). Esse índice também é mensurado com
variáveis de 0 (pior) e 1 (melhor). Diante do exposto, esses índices revelam
um enquadramento do município de Petrolina na categoria média, que não
dista muito do referencial brasileiro.
Em relação à longevidade, a referência é feita à esperança de vida ao
nascer. Esse indicador mostra o número médio de anos que uma pessoa
nascida naquela localidade, no ano de referência, deve viver. O indicador
longevidade sintetiza as condições de saúde e salubridade do local, uma vez
que, quanto mais mortes houver nas faixas etárias mais precoces, menor
será a expectativa de vida.
Complementando esses índices de qualidade de vida, as taxas de
mortalidade infantil representam a relação entre o número de crianças que
morrem entre 0 e 1 ano de idade incompletos, sobre o total de crianças
nascidas vivas em um determinado ano de referência. Essas taxas são
expressas normalmente, em número de mortes para cada 1.000 nascidos
vivos. Esses dados mostram uma média longevidade e uma alta taxa da
mortalidade infantil, sugestivo da carência de mais investimentos na saúde
pública no município de Petrolina – PE.
Tabela 4 - Índices da qualidade de vida
IDH ICV
Longevidade
(anos)
Tx. Mortalidade
Infantil
0,747 0,6 70,4 35,9
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil (2000).
Tabela 5 - Índice do governo local (%)
Capacidade
de poupança
Potencial de
investimento
Grau de
dependência
das
transferências
Capacidade de
arrecadação
Petrolina-PE 5,63 31,01 60,23 9,68
Fonte: IBGE/ BIN (1996).
Esses índices refletem também uma realidade comum no Nordeste,
especialmente no semi-árido. Percebe-se, pelos dados, a média capacidade
de crescimento deste município, pois, diferente de outros municípios do
semi-árido, a sua capacidade de poupança é positiva, porém há
dependência de recursos externos, como mostram os dados relativos ao
grau de dependência de transferência e à capacidade de arrecadação
própria.
Nesse cenário, em conformidade com dados do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (2002), os produtores existentes nas subzonas da
região do submédio São Francisco encontram-se, de maneira sintética,
classificados nas seguintes categorias:
a) Pecuaristas: são aqueles que possuem somente criação de
animais. Neste tipo de produtores foram englobados dois subtipos:
9 Os pecuaristas patronais, com mais de 1.000 cabeças de
caprinos e ovinos.
9 Os pecuaristas familiares, que possuem entre 500 e 1.000
cabeças de caprinos e ovinos.
b) Agropecuaristas familiares de sequeiro: aqueles que possuem
criação de animais e praticam agricultura de sequeiro (chuvas).
São classificados em três subtipos:
9 Médio agropecuarista, com rebanho variando entre 500 e
700 cabeças de caprinos e ovinos.
9 Pequeno agropecuarista, que possui entre 100 e 300
cabeças de caprinos e ovinos.
9 Microagropecuarista, com menos de 100 cabeças de
caprinos e ovinos.
Essa classificação feita pelo MDA ajuda a subsidiar o trabalho
realizado pela Secretaria de Desenvolvimento Rural e Reforma Agrária –
SECDUR (2007) do município de Petrolina, que lançou uma forma
estratégica para o desenvolvimento de atividades, a que atribuiu o nome de
Nucleação.
A nucleação tem como lógica agrupar todas as associações
existentes em determinado local em núcleos de acordo com sua proximidade
dos distritos locais. Considerando esse levantamento feito pela SECDUR
(2007), tem-se uma amostragem de criadores de caprinos e ovinos, bem
como a quantidade desses animais (Tabela 6).
Tabela 6 - Identificação dos núcleos, número de associações, número de
caprinos ovinocultores e quantidade de caprinos e ovinos por
núcleo, no município de Petrolina-PE
Número Núcleo
Nº de
associações
Nº de
caprinocultores
Quantidade
de
Caprinos
Quantidade
de Ovinos
01 Capim 06 119 13.408 2.688
02 Izacolândia 15 74 1.443 856
03 Simpatia 08 270 25.420 3.310
04 Caititu 14 294 15.243 7.105
05
Cruz de
Salinas
08 173 11.314 2.085
06 Uruás 10 67 3.379 714
07 Pau-Ferro 14 333 27.415 6.512
08 Rajada 22 260 20.430 12.583
09 Rio Jardim 07 181 7.622 11
TOTAL 104 1771 125.674 35.864
FONTE. SECDUR (2007).
Estrategicamente, a área de sequeiro do município de Petrolina ficou
dividida em núcleos, que agregam as associações circunvizinhas, o que
facilita os trabalhos da extensão rural nos aspectos das discussões entre as
comunidades e no levantamento de pleitos e ações que requerem a
intervenção do poder público. Considerando essa divisão estratégica,
escolheram-se os nove núcleos, constituídos pela SECDUR (Tabela 7); em
cada um desses núcleos foram aplicados, aleatoriamente, cinco
questionários, como parte do referencial empírico, numa amostra de 2,5% do
total de criadores identificados. É factível a utilização desses núcleos neste
trabalho, pelas suas localizações, em vários sítios ecológicos de toda a área
do interior do município. Uma vez que a escolha dos entrevistados foi ao
acaso, não se levou em consideração o público assistido ou não pela
assistência técnica.
Procedimentos para coleta de dados
O instrumento de coleta de dados foi o questionário, que constou de
89 itens, divididos em seis blocos:
CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTORES E DOS
ESTABELECIMENTOS (áreas de pastagens nativas e artificiais, mudanças
na área, procedimentos técnicos, finalidade, tamanho da família,
capacitação, inovações, tamanho do rebanho, pessoas da família
envolvidas).
USO DE TECNOLOGIAS (silagem, fenação, vacinação, combate
a endo e ectoparasitas, melhoramento genético, suplementação alimentar,
inseminação artificial, monta controlada, controle zootécnico).
FORÇA DE TRABALHO (familiar, terceirizada, participantes da
atividade, renda, utilização de subprodutos, consumo).
COMERCIALIZAÇÃO (por quem é feita, a forma, o local, o preço
final, os valores agregados).
CRÉDITO (utilização, linha de crédito, instituições, razões).
PRINCIPAIS LIMITAÇÕES À CAPRINOCULTURA (escassez de
forragem, doenças, assistência técnica).
5. ALTERNATIVAS TECNOLÓGICAS À CAPRINOVINOCULTURA
Nesta seção são apresentadas as alternativas tecnológicas
disponibilizadas pela pesquisa para a caprinovinocultura no semi-árido
nordestino. Considerando o conjunto de material bibliográfico trabalhado,
essas alternativas estão agregadas em quatro grandes grupos:
ações voltadas à oferta de alimentos;
ações voltadas aos cuidados da sanidade animal;
orientações e sugestões relacionadas à melhoria genética do
rebanho; e
instalações do rebanho.
Essas alternativas são fundamentadas em experiências de centros de
estudos e pesquisas, considerando a sazonalidade do período chuvoso e as
secas periódicas que ocorrem na região, o que impõe severas restrições ao
suprimento de forragens e, conseqüentemente, à produção de pequenos
ruminantes, conforme destacam Araújo Filho e Silva (2000).
Nos últimos anos, com a crescente importância da exploração
pecuária, novas alternativas têm sido estudadas, visando melhorar o suporte
forrageiro básico no semi-árido. Estudos têm demonstrado, por exemplo,
que o uso de “bancos de proteínas” pode ser uma ótima alternativa para
suplementação alimentar dos rebanhos em pastejo (ARAÚJO FILHO et al.,
1996; LEITE, 1999). Outrossim, o aumento da disponibilidade e a melhoria
da qualidade da forragem da caatinga têm sido obtidos com a manipulação
da vegetação lenhosa, através do rebaixamento, raleamento e
enriquecimento de estrato herbáceo (ARAÚJO FILHO, 1987; LEITE, 1990).
As práticas de fenação e silagem, embora tenham sido introduzidas há
décadas na região, ainda não foram adotadas na grande maioria das
propriedades. Nesse contexto, o presente trabalho reúne, de forma sucinta,
alguns avanços tecnológicos obtidos no âmbito da alimentação de pequenos
ruminantes.
A manipulação da vegetação consiste em toda e qualquer
modificação induzida pelo homem na cobertura florística de uma área,
visando adequá-la aos objetivos da exploração desejada. O incremento da
produção de forragem na caatinga, para ovinos e caprinos, pode ser obtido
com o emprego de uma ou mais alternativas de manipulação da vegetação,
tendo-se como as mais importantes o raleamento, o rebaixamento e o
enriquecimento.
Ao longo do período seco, são observadas perdas substanciais na
disponibilidade e na qualidade da pastagem nativa (LEITE et al., 1990), com
reflexos na produtividade do rebanho. Em alguns casos, os ganhos obtidos
durante o período de relativa abundância (época chuvosa) pouco mais
fazem que repor o peso animal perdido durante o período de escassez
(época seca). No entanto, existem diversas formas de reduzir ou mesmo
eliminar as perdas verificadas durante o período seco, garantindo melhoria
no desempenho animal. Dentre elas, merecem destaque a suplementação
alimentar com o feno, a silagem e os bancos de proteínas.
As alternativas existentes – deve-se enfatizar – são geralmente
eficientes com relação ao aumento físico da oferta de forragem. Não
obstante, a escolha de diferentes formas para regular o suprimento de
forragem no período de escassez depende das condições físicas e
econômicas de cada propriedade. Nesse contexto, os “bancos de proteína”
têm-se destacado por ocuparem, principalmente, áreas pequenas e por
exigirem manejo simples.
Por outro lado, o manejo sanitário inadequado não só afeta a saúde
dos animais, como também dificulta os manejos reprodutivo e nutricional e,
inclusive, os trabalhos de melhoramento genético que possam ser adotados.
A sanidade abrange uma quantidade de atividades técnicas, e, nesse
sentido, as soluções para manter a saúde dos animais seguem um conjunto
de causas. O uso correto do manejo sanitário implica educação sanitária dos
envolvidos no negócio, dos manejadores, disponibilidade de instalações e
funcionalidade destas na propriedade.
Nessa abordagem, procura-se mostrar as principais tecnologias que
poderão ser empregadas no manejo sanitário das propriedades que
exploram ovinos e caprinos, no melhoramento genético do rebanho, quando
um nível orientado de descartes passa a ser utilizado, bem como na
condição das instalações zootécnicas, que contribuem para a intensificação
da caprinovinocultura. Trata-se de uma tentativa de otimizar a forma de
produzir, em que se procura obter o aumento na produção e produtividade. A
seguir, essas alternativas são apresentadas de forma sistematizada.
5.1 Aumento da oferta de alimentos
Os caprinos e ovinos criados na região Nordeste do Brasil,
especialmente na região do semi-árido, têm como suporte básico de
alimentação a caatinga, uma vegetação xerófila típica do Nordeste
brasileiro, constituída de espinheiros – pequenas árvores que perdem as
folhas durante a estação seca. Por meio da manipulação da caatinga, da
utilização de restolhos de cultura e subprodutos da agroindústria, da
formação de “bancos de proteínas” e de campos forrageiros, bem como
do uso de métodos de conservação de forragem, a oferta de alimentos
pode se tornar suficiente para que haja ganhos na criação desses
animais.
A manipulação da vegetação lenhosa da caatinga consiste no
controle seletivo de árvores e arbustos, visando ao aumento da
disponibilidade e à melhoria da qualidade da forragem. A escolha do tipo
de manipulação depende principalmente do potencial da área em termos
de resposta técnica e econômica e do tipo ou combinação de animais que
se deseja criar. Assim, muitos sítios ecológicos não respondem com o
aumento de produção de forragem à manipulação da vegetação, quer por
serem naturalmente abertos, quer porque não possuem um banco de
sementes de espécies herbáceas forrageiras. Portanto, é fundamental
que exista um conhecimento prévio, a partir de dados de pesquisas,
histórico da área ou observações locais que permitam selecionar o
método de manejo mais adequado. A Tabela 7 apresenta a síntese das
informações necessárias.
Tabela 7 - Manipulação da caatinga: ganhos de produtividade
Situação Produtividade Procedimentos
Caatinga
Nativa
1 a 1,5
ha/caprino/ano
Nenhum
Caatinga
Rebaixada
0,5 a 0,7
ha/caprino/ano
Rebaixamento da
caatinga
Caatinga
Raleada
0,5
ha/caprino/ano
Raleamento da
caatinga
Caatinga
Raleada-
Rebaixada
0,5 a 1,0
ha/caprino/ano
Rebaixamento e
raleamento
simultaneamente
Caatinga
Enriquecida
1,0 a 1,5
ha/bovino/ano
Introdução de
forrageiras
Fonte: Araújo Filho (1994).
De acordo com esta tabela, os ganhos de produtividade dependem
da situação encontrada, caracterizada sob vários aspectos, os quais são
apresentados a seguir.
Rebaixamento da caatinga
O rebaixamento depende do potencial da resposta do estrato
herbáceo, da área e do objetivo da criação. Esta prática provoca aumento
considerável da produção de fitomassa do estrato herbáceo, com
redução de espécies lenhosas. Por outro lado, nem todos os sítios
ecológicos respondem ao raleamento. Assim, é importante, antes de
decidir pelo método, procurar obter conhecimento prévio do potencial
forrageiro e do estrato herbáceo.
Há três tipos básicos de raleamento:
a) Em savanas – consiste em preservar as árvores como indivíduos
isolados. Este método é aplicável onde as árvores se apresentam
isoladas e cercadas por substrato arbustivo.
b) Bosquete - consiste em poupar as árvores em grupos.
c) Faixa – deve ser usado em terrenos acidentados, colocando-se as
faixas perpendiculares ao declive do terreno, a fim de evitar erosões.
A produção de peso vivo animal por hectare e por ano situa-se em
torno de 60 kg para bovinos, 50 kg para ovinos e 37 kg para caprinos
(ARAÚJO FILHO, 1994).
Rebaixamento e raleamento da caatinga
A combinação do rebaixamento com o raleamento é,
possivelmente, a alternativa de manipulação mais adequada aos
diferentes tipos de caatinga do semi-árido nordestino. A técnica consiste
no controle sistemático de arbustos indesejáveis, como o marmeleiro e o
velame, no rebaixamento de espécies lenhosas de valor forrageiro e
consumidas quando verdes, como o sabiá, a jurema-preta e o mororó, e
na preservação de árvores sem valor forrageiro ou cujas folhas só são
consumidas quando secas.Os mesmos cuidados observados, tanto no
raleamento quanto no rebaixamento, devem ser tomados a fim de
minimizar o impacto ecológico sobre o ecossistema, em termos de
cobertura florística e exposição do solo à erosão.
Caatinga enriquecida
No semi-árido nordestino são encontradas áreas que praticamente
já perderam a sua diversificação florística, quer por superpastejo, quer por
uso indiscriminado na agricultura. Nessas áreas, então, podem ser
introduzidas forrageiras nativas ou exóticas adaptadas às condições,
como o capim-buffel (Cenchrus ciliaris) ou a própria leucena (Leucaena
leucocephala). O enriquecimento da caatinga tem resultado em
considerável aumento de produtividade pastoril e capacidade de suporte,
sendo necessário de 1,0 a 1,5 ha por bovino adulto/ano, obtendo-se
produções acima de 130 kg/ha/ano de peso vivo (ARAÚJO FILHO, 1991).
Áreas de caatinga enriquecida, principalmente com leguminosas, têm sido
utilizadas como “bancos de proteínas”, que são áreas plantadas com
forrageiras de alto valor protéico, onde os animais normalmente pastejam
em torno de uma a duas horas por dia; essa suplementação tem
contribuído para maior ganho de peso animal. A leucena é uma forrageira
muito utilizada na formação de bancos de proteína; um exemplo seriam
os animais pastejarem na caatinga e, durante duas horas por dia, na área
de leucena ou outra leguminosa. Com relação ao cultivo estratégico de
plantas forrageiras, elas devem se constituir em outra referência para a
alimentação na caprinovinocultura, pois podem contribuir para a melhoria
da alimentação dos animais no semi-árido nordestino. O propósito é
enfatizar o uso de forrageiras adaptadas à região, quer seja nativa ou
introduzida, conforme explicitado na Tabela 8.
De acordo com a Tabela 8, destacam-se 10 tipos diferentes de
forrageiras, revelando as possibilidades de processos alternativos de
alimentação para a caprinovinocultura. A seguir, são apresentadas as
características de cada uma dessas forrageiras.
Tabela 8 - Cultivo estratégico de forrageiras no município de Petrolina-PE
Nome vulgar Nome científico Características
Mandioca Manihot esculenta Alimento
energético
Sorgo Sorghum bicolor Alimento
energético
Melancia
Forrageira
Citrillus lanatus
cv. Citroides
Reserva de
água
Feijão-
Guandu
Cajanus cajan Fonte protéica
Maniçoba Manihot
pseudoglaziovii
Fonte protéica
Leucena Leucaena
leucocephala
Fonte protéica
Gliricídia Gliricídia sepium Fonte protéica
Palma
Forrageira
Opuntia spp.
Extremamente
resistente à
seca
Palma
Forrageira
Opuntia ficus
indica
Extremamente
resistente à
seca
Palma
Forrageira
Nopalea
cochenilifera
Extremamente
resistente à
seca
Fonte: SECDUR (2001).
Mandioca
Pertencente à família Euforbiaceae, é utilizada para o consumo
humano na fabricação da farinha; é uma ótima forrageira de alto valor
nutritivo para o plantel animal na região de sequeiro. A planta pode ser
totalmente aproveitada para alimentação animal. Todavia, no Brasil, é
geralmente cultivada para exploração econômica de suas raízes e,
eventualmente, da parte aérea na alimentação animal, apesar de seu alto
valor nutritivo e ótima aceitabilidade pelos animais. O Nordeste é a maior
região produtora e consumidora de farinha de mesa produzida das raízes
da mandioca; esse consumo tem diminuído ao longo dos últimos anos,
em virtude da urbanização e de aumento da renda da população
(ARAÚJO; CAVALCANTE, 2000). Muito tolerante à seca e a solos com
baixa fertilidade e elevada acidez, a mandioca pode ser utilizada, na
alimentação animal, fresca, seca, sob a forma de raspa da raiz, feno de
ramas e ensilada. O uso da raspa de mandioca diretamente ou em
substituição parcial aos cereais, na alimentação animal, é aceito
amplamente e utilizado em muitos países desenvolvidos (ARAÚJO,
2000).
Utilização da mandioca fresca: deve-se triturá-la e fazer uma
murcha (condições do ambiente) por um período de 24 horas e somente
depois servir aos animais.Tratando-se apenas da parte aérea, aconselha-
se misturá-la com 50% de outros volumosos, como o feno de
leguminosas, feno de maniçoba, farelo de soja e outros.
Silagem da parte aérea:
a) Colher a parte aérea perto da picadeira.
b) Picar em pedaços inferiores a 2 cm.
c) Encher o silo o mais rápido possível.
d) Compactar o mais rápido possível para retirada do ar.
e) Encher o silo até ficar abaulado.
f) fechar e só abrir após 30 dias.
Feno de mandioca:
a) Colher a parte aérea.
b) Picar em pedaços pequenos.
c) Espalhar o material sobre lona, para ser desidratado.
d) Após a desidratação, o material pode ser armazenado em sacos ou em
galpões e já pode ser oferecido aos animais.
Como produzir: plantada em espaçamentos de 1,6 x 0,4 m. Tem
um ciclo de vida de 360 a 540 dias e 3.000 kg de maniva/semente por
hectare.
Rendimento: pode gerar uma produção de 15.000 kg de raiz por
hectare.
Sorgo
O sorgo é uma gramínea de valor nutritivo semelhante ao do milho,
bastante utilizado na forma de silagem; seus grãos podem ser usados
como alternativa para suprir as necessidades alimentares no período de
seca. A planta é tolerante à seca e tem o crescimento reduzido em
condições de deficiência hídrica.
Como produzir: plantar em curva de nível em rotação com outras
culturas, em espaçamento variando de 100 x 10 cm a 80 x 10 cm, com
densidade de 20 sementes por metro de sulco, usando-se de 10 a 15 kg
de sementes por hectare. Para silagem, deve ser colhido quando os grãos
estiverem pastosos (90 a 100 dias), podendo ter rendimento de 40 a 50
t/ha.
Melancia forrageira
A melancia forrageira pertence à família Curcubitaceae e é utilizada
principalmente como complemento alimentar do rebanho na época da
seca. É originária da África e adaptou-se muito bem às condições
climáticas das regiões secas do Nordeste. Solos leves de boa fertilidade
são os mais indicados, embora possa ser cultivada satisfatoriamente em
outros tipos de solo. É comumente conhecida como melancia do mato, de
cavalo e de porco. A melancia de cavalo não deve ser fornecida aos
animais como fonte única de alimento, pois possui aproximadamente 90%
de água e 10% de matéria seca.
Como produzir: as sementes colhidas só devem ser usadas em
novos plantios após 100 dias da colheita, devido a problemas de
dormência. O plantio deve ser realizado no início das chuvas em cultivo
simples e com espaçamento de 3,0 x 1,0 m, colocando-se três a quatro
sementes por cova, consumindo em torno de 1,5 kg/ha. Pode produzir de
10 a 60 t/ha, embora os frutos possam ser estocados no campo; deve-se
evitar a manutenção prolongada destes, devido a problemas com fungos,
bactérias, insetos e roedores.
Feijão-Guandu
Pertence à família Leguminoseae e oferece várias opções de uso,
podendo ser utilizado como forragem verde, feno, em pastagem
consorciada, no pastejo direto e como componente na produção de
silagem. Segundo dados da Embrapa Semi-Árido (ARAÚJO et al., 2000),
o genótipo mais recomendado é o guandu forrageiro D¹ type, por
apresentar bom desempenho reprodutivo e potencial forrageiro.
Apresenta produtividade de até 5.000 kg por hectare de matéria seca sob
condições normais de chuva.
Como produzir: pode ser plantado em consórcio com gramíneas
para produção de forragem, em espaçamento de 1,60 x 0,60 m. O seu
rendimento é de aproximadamente 30 t/ha de matéria verde e 10 t/ha de
matéria seca.
Maniçoba
É uma planta nativa da caatinga, da família Euphorbiaceae,
encontrada nas diversas áreas que compõem o semi-árido do Nordeste.
Nessa região há grande número de espécies, que recebem o nome vulgar
de maniçoba ou mandioca-brava. Na área do submédio São Francisco
predomina a espécie Manihot pseudoglaziovii (ARAÚJO, 2003). A
maniçoba pode ser considerada uma forragem de alta palatabilidade,
muito utilizada pelos animais como forragem verde na caatinga. No
entanto, deve haver restrições ao seu consumo desta forma, devido à
possibilidade de causar intoxicação. Possui grande resistência à seca em
razão do seu sistema de raízes tuberculadas bastante desenvolvidas,
onde acumula suas reservas. Tem boa adaptação aos solos pobres da
região.
Como produzir: a maniçoba tem problemas com a germinação, por
isso as sementes devem ser colhidas no ano anterior no solo;
posteriormente, faz-se uma separação daquelas mais leves para descarte
(pode-se usar água para descartar aquelas que bóiam); em seguida,
escarifica-se levemente e plantam-se cinco sementes por cova, em
espaçamento de 1,0 x 1,0 m. A produção de forragem fresca pode atingir
até 10.000 kg de forragem/ha.
Leucena
A leucena é uma planta forrageira da família das leguminosas,
utilizada como forragem animal para consumo direto ou sob a forma de
feno ou silagem. É uma das forrageiras mais promissoras para o semi-
árido, principalmente pela capacidade de rebrota mesmo durante a época
seca, pela ótima adaptação às condições edafoclimáticas da região, bem
como pela excelente aceitação por caprinos, ovinos e bovinos. A leucena
é considerada por muitos produtores do Nordeste a “rainha” das
leguminosas, pelo fato de apresentar boa produtividade e possuir
excelente qualidade nutricional.
Como produzir: o baixo índice de germinação das sementes de
leucena, devido à sua casca muito dura, é uma dificuldade que pode ser
superada através da imersão em água, fervendo-se por cinco minutos
(quebra da dormência). O plantio deve ser realizado com mudas no início
das chuvas. O espaçamento recomendado é de 1,5 x 1,0 m, com uma
planta por cova, podendo também ser plantada em consórcio com outras
culturas, como o guandu e o sorgo. Nesse caso, as fileiras devem ser
espaçadas de 10 m. A produtividade varia de 1.500 e 2.500 kg, podendo
atingir até 3.000 kg de feno por hectare. A forma de feno é uma das mais
utilizadas, e seu armazenamento é bastante prático, podendo ser
guardado em sacos ou a granel.
Gliricídia
É uma leguminosa arbórea, de porte médio, crescimento rápido e
enraizamento profundo, o que lhe dá uma maior resistência à seca. É
considerada uma espécie de múltiplo uso, servindo como forragem,
adubação verde e cerca viva. A gliricídia desenvolve-se melhor em
condições quentes e úmidas, tendo seu crescimento limitado por baixas
temperaturas, podendo tolerar prolongados períodos de seca. Não é
muito exigente em solos, mas os solos mais férteis favorecem um melhor
enraizamento, fator que contribui para a manutenção de folhagem verde
no período de seca. A principal vantagem da gliricídia é a facilidade com
que ela pode se estabelecer, pois, além da possibilidade de plantio por
mudas ou diretamente por sementes, não há necessidade de
escarificação.
Palma forrageira
A palma forrageira, da família das cactáceas, é utilizada como
forragem animal e pode ser cultivada nos mais diversos ambientes. As
variedades mais encontradas são a palma gigante, a palma redonda e a
palma miúda, sendo a primeira uma das mais cultivadas; junto com a
palma redonda, tem mostrado mais rusticidade que a miúda. Responde
bem à adubação mineral ou orgânica, por isso é comum seu plantio nos
locais que antes eram ocupados por currais. A palma forrageira é um dos
mais importantes e estratégicos recursos forrageiros do semi-árido
nordestino. É extremamente resistente à seca e se destaca por sua alta
digestibilidade (>60%) e seu alto teor de umidade, considerada também
como uma forma de disponibilizar água para os animais.
Como produzir: o plantio deve ser feito antes do início das chuvas.
Recomenda-se fazer um sulcamento em curva de nível para distribuição
de esterco no fundo dos sulcos, sendo o plantio realizado sobre estes. A
posição da raquete no plantio deve ser inclinada ou vertical, dentro da
cova, com a parte cortada da articulação voltada para o solo. O
espaçamento recomendado é de 0,80 m de uma fila para outra e de 0,40
m de uma planta para outra. O espaçamento entre ruas é de 3,0 m, o que
facilita os tratos culturais. O primeiro corte normalmente acontece aos
dois anos. A produção pode chegar a 150 t de raquetes, o que
corresponde a 15 t de matéria seca.
Métodos de conservação de forragens
Os métodos de conservação de forragens são recursos usados para
conservar e preservar o valor nutritivo das plantas forrageiras, utilizando-
se técnicas apropriadas, para que essas forragens possam ser
empregadas nos períodos de escassez de alimento. Os principais
métodos são o da silagem e da fenação.
Silagem
A produção de silagem é um dos processos mais importantes na
conservação de plantas forrageiras, para servir de alimento,
principalmente no período de escassez de pastagens, processo este de
grande importância para o semi-árido nordestino, em virtude da produção
irregular das plantas forrageiras durante as estações do ano.
Silagem é o produto obtido por fermentação de forragens, contendo
adequada quantidade de umidade.Toda planta forrageira poderá ser
ensilada; no entanto, algumas, por apresentarem características mais
apropriadas, dão silagem de melhor qualidade – é o caso do milho e do
sorgo. Quando a planta apresentar seu ponto ótimo, ou seja, quando seu
valor nutritivo estiver no ponto mais alto, o material deve ser ensilado. No
caso do milho e do sorgo, quando os grãos estiverem farináceos; em
outras forrageiras, no início da inflorescência.
A silagem é armazenada em diversos tipos de recipientes,
chamados de silos. Existem vários tipos de silo: o trincheira, aéreo,
cisterna, de superfície e cincho. Os mais utilizados atualmente,
principalmente pelo seu menor custo, são o superficial e o cincho. O
material é então cortado e triturado e, em seguida, levado ao silo, onde
deverá ser bastante compactado (por pessoas, por máquinas ou por
animais); após a compactação, o silo é então vedado, com lona plástica
ou alvenaria, quando se dará o processo de fermentação anaeróbica.
Trinta dias depois, o silo poderá ser aberto e a silagem utilizada pelos
animais, que terão, portanto, um alimento volumoso de ótima qualidade e
palatabilidade na estação de escassez de alimentos.
Fenação
Fenação é um processo de conservação de plantas forrageiras.
Consiste na redução do excesso de umidade de 70 a 90% para 12 a 25%,
a fim de que o produto possa ser armazenado por longo tempo sem o
perigo da fermentação, fungos ou mesmo a combustão espontânea. A
planta é cortada e desidratada pelo sol, pelo vento ou outro processo de
secagem, podendo, dessa forma, ser armazenada como feno. O feno é
um produto resultante de uma forragem parcialmente desidratada, que
deve conter quase a mesma composição inicial em princípios nutritivos,
considerando estes no mesmo teor de matéria seca. Após a desidratação,
o material deverá ser compactado de forma manual ou mecânica para
produção dos fardos, que são dimensionados de acordo com a forma
utilizada e a preferência dos produtores.Também pode ser armazenado
em medas, ou seja, no próprio campo, o material é compactado, tomando
a forma de um cone. Essas formas de armazenamento servem muito bem
quando se trabalha com feno de gramíneas. Em se tratando de feno de
leguminosas, poderá ser armazenado a granel, em sacos ou tambores.
As forrageiras mais recomendadas são as que possuem caule mais fino,
como o capim- buffel, e a comum.
A grande vantagem da utilização do feno é o aproveitamento da
sobra de forragem na época de chuva e a sua conservação para ser
utilizado na seca, bem como a sua praticidade e simplicidade no processo
de produção, além da boa aceitação pelos animais.
Além das recomendações apresentadas, pode-se, também,
melhorar a produtividade da caprinovinocultura por meio de outras
estratégias, as quais são apresentadas a seguir.
Utilização de restolhos de culturas e subprodutos da agroindústria
A forma de tornar factível esse processo é por meio da amonização.
Isso implica adicionar amônia a palhadas, restos de culturas ou forragens
muito fibrosas, com o objetivo de transformá-la em um material capaz de
manter o peso dos animais, durante os períodos críticos de escassez de
forragem.
A amônia atua nas partes mais fibrosas do material, deixando maior
superfície de exposição para a atuação dos microrganismos no rúmen.
Com isso há melhora na digestibilidade do material e aumento do seu
consumo pelos animais, bem como do teor de proteína bruta.
Os materiais mais utilizados são as palhas (de milho, de arroz, de
feijão); os capins secos; os fenos de gramíneas e de leguminosas de
baixa qualidade; os resíduos da agroindústria (casca de arroz, bagaço de
cana, resíduos de sisal, do caju e do abacaxi, manivas de mandioca,
sabugo de milho); folhagens e hastes secas de diversas espécies
componentes da vegetação da caatinga.
O material deverá ser triturado, para que haja maior superfície de
exposição. A uréia deverá ser aplicada na base de 4 a 5% do peso do
material a ser tratado – ela deve ser dissolvida, na proporção de 1 kg para
cada 5 litros de água; nas palhadas muito secas, pode-se aumentar a
quantidade de água. O material deverá ser acomodado em camadas de
30 cm; faz-se uma compactação e vai-se aplicando a solução. Concluída
a aplicação de uréia em sua última camada, a meda deve ser rápida e
integralmente fechada com plástico, para impedir qualquer escapamento
de amônia. Após 28 dias, a meda poderá ser aberta. O material deverá
ficar exposto por uns dois dias, para reduzir o cheiro forte de amônia;
posteriormente, pode ser oferecido aos animais.
A sua grande vantagem é a simplicidade do método e o seu baixo
custo, além da utilização dos resíduos, que muitas vezes são até
queimados.
5.2 Ações de sanidade
Essas ações estão voltadas à vermifugação estratégica do
rebanho, por meio da implantação de um cronograma preestabelecido e
de acordo com o tipo de exploração utilizada pelo criador; do controle de
ectoparasitas através de medidas higiênicas, como limpeza de aprisco,
desinfecção de instalações (como a caiação, a flambagem e o uso de
desinfetantes); e da adoção de um calendário profilático de vacinação das
principais doenças – neste calendário será escolhido o mês do ano em
que serão realizadas as vacinações. Entre os cuidados com o recém-
nascido estão o corte e a cura do cordão umbilical nas primeiras horas de
nascimento, usando a tintura de iodo a 10% e o fornecimento do colostro
(primeiro leite produzido pela fêmea parida). Na Tabela 9 são descritas as
principais tecnologias a serem utilizadas no manejo sanitário de caprinos
e ovinos.
5.3 Melhoria genética
Consiste na utilização de métodos de inseminação artificial e
transferência de embriões, assim como na prática de estação de monta,
monta controlada, castração e, ou, separação por sexo e o descarte
orientado. A inseminação artificial é a utilização do sêmen e a sua
deposição no aparelho genital da fêmea através de instrumentos. Esse
método permite o uso do sêmen de reprodutores de qualquer parte da
terra e permite maior rapidez no processo de melhoramento animal. O
desenvolvimento da pecuária caprina e ovina passa necessariamente por
um processo de melhoramento genético; neste processo, é mister o uso
de inseminação artificial. Inclusive, os pequenos produtores poderão
adquirir e utilizar sêmen de alta qualidade através de suas associações, o
que reduz bastante o custo individual e de manutenção de reprodutores
na propriedade.
Tabela 9 - Tecnologias utilizadas no manejo sanitário de caprinos e ovinos
Vermifugação Estratégica
Épocas do ano
Março Junho Agosto Novembro
Procedimentos para o controle de ectoparasitas
Inspeção
periódica do
rebanho
Separação
e
tratamento
de animais
infestados.
Utilização de repelentes
após práticas de manejo
traumáticas, como
castração, descorna etc.
Banhos
periódicos, com
sarnicidas,
piolhicidas ou
carrapaticidas, de
acordo com a
infestação.
Calendário Profilático
Doenças
Época de
vacinação
Ação das vacinas Medidas gerais
Febre aftosa 6 em 6
meses*.
Protege os animais
contra a febre aftosa; é
obrigatória em vários
Estados.
Raiva Anual Protege os animais
contra raiva, doença
comum em várias
regiões do País.
Clostridioses Anual Protege os animais
contra uma série de
doenças provocadas por
clostrídios, como a
enterotoxemia, o tétano,
o botulismo e a
gangrena gasosa.
Isolamento de
animais doentes.
Higiene das
instalações.
Quarentena para
animais
adquiridos.
Primeiros cuidados com os animais recém-nascidos
Procedimentos Vantagens
Mamada do colostro, natural ou
artificial
Imunização passiva e efeito laxante
Corte e cura do cordão umbilical. Reduz riscos de infecção e previne miíases
(bicheira)
*Variáveis em cada Estado.
Fonte: ALVES et al. (2002).
A transferência de embriões (TE) é uma técnica de manejo da
reprodução ainda em fase de consolidação no Brasil. Ela tem como
principal objetivo a maximização reprodutiva da fêmea, explorando assim
seu potencial biológico ao extrapolar suas possibilidades naturais.
Contribui então para a disseminação de animais geneticamente
superiores e redução do intervalo de gerações. A técnica baseia-se na
indução ou sincronização do cio e superovulação das doadoras, seguida
da cobertura ou inseminação artificial e da colheita de embriões através
da lavagem uterina.
A prática de estação de monta consiste em escolher alguns meses
do ano – em geral, três meses por estação – para fazer a cobertura ou a
inseminação artificial dos animais. No caso da monta controlada, o criador
indica o reprodutor a ser utilizado em determinada fêmea.
Um dos grandes problemas do nosso rebanho é a consangüinidade
e a falta de orientação com relação a peso e idade na primeira cobertura.
Existem, portanto, os recursos de castração e, ou, separação por sexo,
logo após a desmama (60 a 90 dias), que podem contribuir para redução
desses entraves produtivos, que só levarão a uma diminuição na
produtividade.
O descarte orientado é uma prática de manejo que consiste na
identificação e na retirada de animais velhos, defeituosos, improdutivos ou
menos produtivos do rebanho caprino e ovino – indivíduos estes muito
comuns nos rebanhos da região (ALVES, 2002). Esta tecnologia pode e
deve ser realizada em todos os rebanhos caprino e ovino do País,
especialmente no Nordeste, onde a carência de alimentos nas pastagens
nativas é muito severa, aliado ainda à falta de um manejo adequado, o
que torna os rebanhos promíscuos e com baixa produtividade. A Tabela
10 explicita as tecnologias usadas nos processos de reprodução animal e
melhoramento genético.
Tabela 10 - Tecnologias de reprodução animal e melhoramento genético
Tecnologias Vantagens
Inseminação Artificial
Melhoria genética mais rápida dos
animais. Economia de pastagem, por
não usar reprodutores.Utilização de
reprodutores de raças melhoradoras.
Cruzamento industrial.
Transferência de Embriões Multiplicação rápida de indivíduos
geneticamente superiores. Redução do
intervalo entre gerações.
Estação de Monta Escolha das melhores épocas do ano
para cobertura. Concentração dos
nascimentos. Uniformidade de animais
para abate e entrada à reprodução.
Monta Controlada Melhoria do controle zootécnico dos
animais. Controle absoluto da
cobertura (local, dia hora, reprodutor).
Castração Técnica utilizada em machos para
controlar as coberturas indesejáveis,
bem como a consangüinidade.
Separação por Sexo Evitar as coberturas indesejáveis.
Descarte Orientado Promove o ingresso imediato de renda
na propriedade, pela venda de animais
descartados. Disponibiliza maior
quantidade de forragem aos animais
remanescentes e mais produtivos.
Melhora o padrão genético dos
animais.
Fonte: Ribeiro (1997).
5.4 Instalações
O objetivo básico das instalações é viabilizar e facilitar o manejo
geral de um rebanho caprino ou ovino, sem causar estresse aos animais,
otimizando o emprego de mão-de-obra, reduzindo custos e favorecendo a
produção e a produtividade da empresa rural. Sua importância está
fundamentada na extrema capacidade que elas têm em buscar a
otimização da relação homem/animal/ambiente dentro de um processo de
produção, isto é, elas facilitam e reduzem o uso de mão-de-obra para as
tarefas diárias; favorecem o manuseio do rebanho e o controle de
doenças; protegem e dão segurança aos animais; dividem as pastagens;
armazenam e reduzem o desperdício de alimentos. Diversos tipos de
instalações para caprinos e ovinos, bem como as suas funções básicas,
são descritos na Tabela 11.
Tabela 11 - Instalações para criação de caprinos e ovinos no município de
Petrolina-PE
Tipos de instalações Especificação
Centros de Manejo
Áreas cercadas para separação
dos animais por categorias.
Saleiros
Estruturas para deposição de sal
mineralizado.
Apriscos
Galpão de abrigo para os animais,
normalmente com parte coberta e
um solário.
Pedilúvio
Estrutura colocada na entrada do
aprisco para desinfecção dos pés.
Currais Para facilitar o manejo animal.
Esterqueira Para depósito de esterco.
Bretes Para contenção animal.
Cercas Divisão das áreas.
Comedouros Reduzir desperdício de alimentos.
Bebedouros Depósito para água.
Galpões
Para depósito de medicamentos e
rações.
Sala de ordenha Para obtenção higiênica do leite.
Fonte: Leite et al. (2005).
6. SISTEMAS DE PRODUÇÃO UTILIZADOS PELOS
CAPRINOCULTORES
Esta seção teve por objetivo apresentar os sistemas de produção
utilizados pelos caprinocultores investigados, bem como a sua coerência ou
dissonância em relação às tecnologias disponibilizadas pela pesquisa. Como
conseqüência, o propósito foi apresentar alternativas e estratégias à
extensão rural, no sentido de introduzir as orientações adequadas aos
sistemas de produção existentes. Para isso, o tópico foi subdividido em
itens, iniciando-se pela descrição das características das propriedades
exploradas e de seus produtores.
6.1 As propriedades e seus produtores
As áreas exploradas pelos produtores participantes da amostra
evidenciam a predominância das maiores propriedades sobre as menores.
Há apenas 2% delas com áreas de até 10 ha. A partir desse estrato, a
proporção de propriedades vai aumentando. Por exemplo, ha 9% delas com
áreas que estão entre 11 a 20 ha; 36% que estão com área de 21 a 50 ha; e
53% com área acima de 50 ha.
Nessas áreas, conforme Tabela 12, observa-se o predomínio da
pastagem natural (caatinga) em relação à vegetação cultivada. Trata-se,
pois, de um ecossistema marginal e frágil, e, sob esta característica, a
orientação técnica sugere que seja introduzida uma parcela maior de área
para um número menor de animais. Ao mesmo tempo, percebe-se que as
áreas de reserva, como, por exemplo, as de palma e maniçoba, ainda são
relativamente pequenas, quando deveriam ser mais exploradas como
estratégia de alimentação para o período da seca, incrementando-se ainda o
uso do capim-buffel, sorgo e leucena, além de outras espécies e
variedades, como o capim-andropogon, bastante resistente à seca.
Tabela 12 - Caracterização das propriedades pela vegetação, no município
de Petrolina-PE
Identificação da vegetação
Área
(ha)
% da Área
Caatinga 2.894,5 83,82
Capim-buffel 425 12,30
Capim-elefante 14 0,40
Palma 32,5 0,94
Sorgo 72,5 2,10
Maniçoba 9 0,26
Leucena 3 0,09
Melancia forrageira 0,5 0,01
Milheto 0,5 0,01
Capim-corrente 2,5 0,07
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Os dados da Tabela 12 mostram a predominância da pastagem
natural nas propriedades exploradas, cuja área é de 83%. Assim, o restante
(17%) destina-se a outras alternativas, sendo o capim-buffel o mais
freqüente entre elas. Ressalte-se que a caatinga é uma excelente fonte de
alimentação para os caprinos e ovinos, principalmente no período das
chuvas, embora apresente as suas limitações no período de estiagem, razão
pela qual os produtores devem utilizar outras alternativas de convivência
para esse período.
Dos produtores entrevistados, 98% possuem em suas propriedades
áreas de caatinga e 73% utilizam capim-buffel como pastagem artificial. Não
obstante, as leguminosas, como a leucena, a maniçoba e o guandu, não
ultrapassam os 12% das áreas das propriedades. Essa relação do homem
branco com a caatinga, segundo João Ambrósio Filho, citado por Barreto e
Pardo (2000), não é recente, tendo vindo do século XVII, no rastro da
pecuária, que ocupava os sertões nordestinos. Tudo começou ao longo do
rio São Francisco, que, à época, foi chamado “rio dos currais”, e de lá se
projetou pelos sertões de Pernambuco, Piauí e Ceará.
Para os produtores entrevistados, nota-se o tempo de experiência que
os envolve com esse cultivo. Entretanto, observou-se a pouca apreensão do
seu uso intensivo, evidenciando a necessidade de ampliar os seus
conhecimentos sobre o potencial da caatinga. Esse conhecimento implica
expor as restrições e necessidades relacionadas a esse tipo de vegetação,
relatando inclusive algumas experiências significativas e de sustentabilidade.
Para isso, há necessidade de introduzir informações sobre o manejo
sustentável e integrado, respeitando o contexto da propriedade adequado ao
perfil do produtor, a fim de possibilitar a sua implantação.
Ao acessar as disponibilidades tecnológicas, notou-se que há
alternativas efetivas para os problemas, que são apresentadas pelas
pesquisas regionais, focalizando os problemas práticos do semi-árido, as
quais podem se constituir em tecnologias apropriadas. Por conseguinte, não
há necessidade de importar conhecimentos e práticas de regiões com
características diferentes, mas devem-se introduzir alternativas para a
transferência dessas informações, difundindo os conhecimentos existentes,
que requerem novos arranjos das instituições que atuam no semi-árido. A
essa alternativa deve-se acrescentar a elaboração de um manual técnico, o
que constitui um dos objetivos desta investigação.
Percebe-se que, pela caracterização das áreas das propriedades, os
criadores continuam praticando uma criação rotineira, à semelhança das
gerações passadas, com resultados muito aquém das possibilidades
técnicas já existentes. Por outro lado, considerando-se o tamanho das
propriedades e as áreas de pastagens, 53% dos criadores possuem até 100
cabeças de caprinos e ovinos; 24%, entre 101 e 200 cabeças; 18%, entre
201 e 500; e 5%, acima de 500 cabeças. Como o objetivo principal, para
96% dos participantes da amostra, é a manutenção da família, os
entrevistados utilizam essa exploração para aquisição de bens de consumo,
como, por exemplo, alimentos, vestuário, material escolar e uma poupança
para uso emergencial. Não obstante, 4% utilizam para o consumo próprio,
ou seja, apenas como fonte de alimentação para a família.
Esses dados demonstram a dependência econômica das famílias em
relação à exploração da caprinocultura, a qual tem-se constituído em uma
alternativa para a sua sobrevivência. Para 84% desses produtores, as suas
famílias dependem comercialmente dessa exploração, ou seja, parte das
despesas familiares é custeada pela comercialização dos caprinos e ovinos
e, em média, 3,8 pessoas estão envolvidas diretamente com essa atividade,
principalmente o pai, a mãe e os filhos, o que contribui para a fixação deles
no campo. Percebe-se a importância da caprinocultura para os produtores
pelo fato de que 71% também utilizam parte dessa comercialização para
introduzir melhorias nas propriedades, como reparos e construções de
cercas, aguadas e aquisição de animais melhoradores; destarte, os
subprodutos, como a pele, o esterco e as vísceras, também fazem parte
dessa comercialização.
O contraste é que, para 69% dos produtores, nenhum critério técnico
é utilizado no dimensionamento e na formação do rebanho. Apenas 31%
levam em consideração a capacidade de suporte das forrageiras, fixando o
número de animais e fazendo rodízio, por época, entre a caatinga e a
pastagem artificial.
Apesar da grande predominância de pastagem natural, apenas 42%
dos entrevistados participaram de algum treinamento relativo ao manejo da
caatinga e 47% em relação ao manejo geral do rebanho. Em todos os
treinamentos, 100% dos participantes eram os chefes das famílias. Os
treinamentos são realizados na própria comunidade, em intervalos médios
de 2,3 anos.
Pelas entrevistas, identificou-se unanimidade na evidente
contribuição dos treinamentos para a melhoria e aprimoramento dos
conhecimentos nas áreas de alimentação e sanidade do rebanho. Como
conseqüência, constatou-se que o melhoramento do processo produtivo da
caprinocultura depende de mais treinamentos na área. Enquanto houve
identificação dessa necessidade, não se obtiveram informações sobre a
quantidade dos treinamentos assimilados pelos criadores e quais os
métodos mais adequados para o aproveitamento das informações
transferidas.
A carência de conhecimentos – que tem como conseqüência o pouco
uso das alternativas tecnológicas – deve ser considerada como referência
para a delimitação de estratégias que possam promover e fortalecer o
desenvolvimento da caprinocultura no semi-árido. Ressalte-se que esse
fortalecimento estará na estreita dependência do acesso desses produtores
ao conhecimento, que por sua vez não deve se restringir apenas às técnicas
de manejo, mas ao gerenciamento, à organização da produção e de
tecnologias, bem como ao envolvimento de toda a família nesse processo, e
não apenas do seu chefe.
Em razão desses resultados, justifica-se a alternativa de elaborar um
manual que atenda a esses requisitos, estando voltado tanto para a
dimensão técnica quanto para as demais dimensões sugeridas pelos
resultados em questão. Nesse contexto, identificou-se que os produtores
têm pouco conhecimento técnico sobre a manipulação da vegetação da
caatinga, além da mínima participação em treinamentos, uma vez que essa
exploração é uma contribuição importante na manutenção da família.
Havendo melhoria nos aspectos produtivos, mesmo em exploração de base
familiar, mas fundamentada na apropriação de conhecimentos e uso de
tecnologias adequadas, a caprinovinocultura surge como geradora de
emprego e renda ao longo de toda a cadeia produtiva.
6.2 Uso de tecnologias
Nesta seção são apresentadas as tecnologias utilizadas pelos
caprinocultores investigados, visando disponibilizar como ocorre o uso
delas. Para isso, este item foi subdividido em cinco, como visto a seguir.
Armazenamento de forragem e suplementação alimentar
Considerando a região semi-árida com praticamente duas estações –
uma que chove e outra de estiagem, sendo esta bastante prolongada –, é
necessário obter o máximo de aproveitamento das forragens no período
chuvoso. Esse aproveitamento refere-se ao armazenamento de alimentos,
sendo feita a suplementação no período seco, para que, no mínimo, os
animais mantenham o peso vivo com o qual se encontravam no período
chuvoso. Pode-se verificar na Tabela 13 o comportamento dos produtores
investigados nesses aspectos.
Tabela 13 - Armazenamento de forragem e suplementação alimentar no
município de Petrolina-PE
Sim Não
Tecnologias
Disponibilizadas
% %
Silagem 60 40
Fenação 13 87
Suplementação Alimentar 100 0
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Do material ensilado, 56% dos produtores utilizam milho, sorgo, capim
e maniçoba, enquanto 44% utilizam apenas o milho e o sorgo. No tocante à
fenação, são mais utilizadas a maniçoba e a leucena. Percebe-se a pouca
quantidade de produtores que utilizam a fenação; não obstante, estão
disponibilizados vários métodos de fenação relativamente simples, com
custo muito baixo e de valor inestimável para ser utilizado no período seco;
no entanto, pouquíssimos produtores utilizam tal prática. No período de
chuva normalmente há abundância de pastagem, que pode perfeitamente
ser armazenada sob a forma de feno.
Esse percentual de produtores que não utilizam a ensilagem como
forma de conservação de forrageiras também é alto, visto que este método,
tal como a fenação, mantém o valor nutritivo do alimento, com pequenas
perdas, além de contribuir para manutenção e até ganho na produção dos
animais. Tudo isso interfere diretamente na continuidade do processo
produtivo, minimizando o chamado “efeito sanfona” – compreensão que todo
produtor deveria perseguir.
A suplementação alimentar, utilizada por todos os participantes da
amostra, é feita com a palma e os restos de cultura por 80% dos criadores;
os outros utilizam também a leucena, a maniçoba e a mandioca e, em
alguns casos, os farelos e tortas; exceto esses, todos os outros são
produzidos na propriedade.
Aspectos de sanidade
A prevenção das doenças é fator primordial em qualquer exploração
animal, e uma das formas mais eficientes é a vacinação. Nesse universo de
produtores entrevistados, 51% fazem vacinação e 49% não a praticam; entre
os que a fazem, 86% vacinam apenas contra o botulismo, 8,7% contra o
botulismo e raiva e 5,3% contra enterotoxemia. A recomendação é que se
tenha um calendário anual e sistematizado de vacinação das principais
doenças que ocorrem na região. Não muito diferente está o combate aos
endo e ectoparasitas; a Tabela 14 demonstra a freqüência e o percentual de
criadores que combatem essas doenças.
As aplicações são feitas de forma simultânea para endo e
ectoparasitas. Percebe-se que não há uma uniformidade entre os criadores
com relação a essas aplicações, nem um calendário sistematizado de
vermifugação, já que a verminose é um dos maiores empecilhos na
exploração da caprinovinocultura e merece atenção especial por parte dos
produtores e agentes de desenvolvimento.
Tabela 14 - Combate a endo e ectoparasitas no município de Petrolina-PE
Freqüência de Aplicações %
Uma vez ao ano 11
Duas vezes ao ano 39
Três vezes ao ano 37
Quatro vezes ao ano 13
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Melhoramento genético e reprodução
O melhoramento genético é feito por 58% dos entrevistados e visa
especialmente à melhoria da carcaça, ao ganho de peso e à manutenção da
rusticidade, sempre utilizando reprodutores melhorados em fêmeas mestiças
ou sem raça definida (SRD). O foco na produção de cabritos e cordeiros
prontos para abate, em uma idade não superior aos seis meses, exige que
se façam grandes mudanças nos sistemas de exploração vigentes. Apenas
7% dos entrevistados utilizam controle na monta e 100% não utilizam a
inseminação artificial – método com que, com maior rapidez, se pode
trabalhar o melhoramento de um rebanho. Dessa forma, os dados mostram
a forte tendência ao descontrole reprodutivo, sem prévio planejamento de
nascimentos, desmama e de acabamento. Por outro lado, um fator
característico da pouca organização é a mínima ou nenhuma utilização de
controle zootécnico do rebanho; apenas 11% o fazem e da forma mais
rústica e precária, o que dificulta uma análise dos índices da produção,
descaracterizando a atividade como um verdadeiro negócio. Esses
aspectos serão abordados com mais detalhes no manual técnico para
caprinocultores, no próximo capítulo.
Manejos do solo e uso de insumos agrícolas
O Gráfico 1 demonstra como esses produtores trabalham o solo e
utilizam os insumos agrícolas.
Os recursos tecnológicos utilizados, como se percebe no Gráfico 1,
são bastante simples, com baixos níveis de insumos externos, que
privilegiam o aspecto agroecológico, ajudando a justificar o que hoje se
denomina de produção de “cabrito ecológico” ou “orgânico”. As culturas são
implantadas após preparo do solo, quer com tração animal, quer com tração
mecânica.
0
20
40
60
80
100
120
Produtores
que usam
sementes
melhoradas
Produtores
que usam
adubo
orgânico
Produtores
que usam
adubo
químico
Produtores
que
preparam o
solo com
tração
animal
Produtores
que
preparam o
solo com
tração
menica
P
e
r
c
e
n
t
u
a
l
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Gráfico 1- Manejo do solo e uso de insumos agrícolas no município de Petrolina-PE.
Instalações zootécnicas
A importância das instalações dentro de um processo de produção
está na facilidade e redução de mão-de-obra para as tarefas diárias, na
facilidade de manejo do rebanho, no controle de doenças, na proteção e
segurança aos animais, na divisão de pastagens e no armazenamento de
alimentos, de forma que favoreça a maior eficiência produtiva. Na Tabela 15
encontra-se a infra-estrutura utilizada pelos produtores entrevistados.
Tabela 15 - Instalações zootécnicas no município de Petrolina-PE
Sim Não
Instalações
% %
Galpão/depósito 56 44
Chiqueiro 80 20
Aprisco de chão batido ou
piso elevado
24 76
Brete 7 93
Cercas divisórias na
caatinga
44 56
Cercas divisórias nos
pastos cultivados
100 0
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Para armazenamento de alimentos, normalmente se utiliza o depósito
ou o galpão; para guarda dos animais, a forma mais simples é o chiqueiro,
usado pela grande maioria dos produtores. O aprisco de chão batido ou
suspenso facilita a higiene e ajuda na profilaxia das doenças; no entanto, o
brete, como elemento de contenção dos animais, é utilizado por poucos
criadores, caracterizando um sistema de criação tradicional, em que os
animais provavelmente se misturam quando no pastoreio da caatinga, haja
vista a não- divisão dessas áreas por cercas, que são feitas apenas nos
pastos cultivados.
6.3 Força de trabalho e renda
Apresenta-se neste item o grau de participação das famílias e seu
envolvimento na caprinocultura, assim como a influência desta nos aspectos
econômicos e sociais.
Dessa forma, as famílias participam com 87% da força de trabalho da
caprinocultura, mais mão-de-obra terceirizada. Utilizam exclusivamente a
mão-de-obra da família (13%), com a participação direta na atividade, o que
contribui para o desenvolvimento através da geração de emprego e renda,
bem como o estímulo à dinamização da economia, reduzindo-se o êxodo
para a zona urbana.
Essas famílias constituem 60% dos entrevistados, entre duas e cinco
pessoas; 33%, entre seis e dez pessoas; e 4%, acima de dez pessoas.
Existem em média 2,8 pessoas da família envolvidas diretamente na
atividade, as quais utilizam na sua totalidade os subprodutos da
caprinocultura, como as vísceras, a pele e o esterco; apenas o leite é
utilizado por 53%.
Essa forma de trabalho de envolvimento familiar e local faz com que o
saber dos produtores se desenvolva numa ligação direta com o grupo
doméstico, bem como com o grupo de trabalho, resultando na conduta rural,
que é o acúmulo de conhecimentos que não vêm de livros e textos, mas sim
de uma relação entre as pessoas, seu ambiente e as interações resultantes
dessas correlações. O incremento desses aspectos seria a complementação
por parte da extensão rural, mostrando, através de capacitações, essas
inter-relações de trabalho.
Da comercialização dos animais e seus subprodutos os produtores
obtêm uma renda média bruta anual, conforme demonstrado no Gráfico 2.
0
10
20
30
40
50
60
70
Valores em R$
Percentual
Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Gráfico 2 - Renda média bruta anual proveniente da caprinocultura no município de
Petrolina-PE.
As próprias associações de produtores podem contribuir com um
papel fundamental como agentes indutores da organização e gestão do
processo produtivo, o que certamente implicará melhoria na renda desses
produtores.
6.4 Comercialização e crédito
A maioria dos produtores (84%) comercializa a produção obtida junto
a feirantes e intermediários, sempre realizada pelo chefe da família dentro
da propriedade. São utilizados como critérios de venda: para animais
machos, o peso vivo; para as fêmeas, o descarte. O preço é estipulado pela
qualidade do animal, pelo preço de mercado e pela necessidade de venda
do produtor. Os subprodutos, como as vísceras, a pele e o esterco, também
são comercializados de forma semelhante. As vísceras são avaliadas pela
qualidade, e as peles, pela presença ou não de defeitos, como: perfurações,
ressecamento, cicatrizes e problemas na esfola. O esterco, utilizado na
adubação, é comercializado em metros cúbicos.
Ressalte-se que o crescimento da atividade deve ser focado em
arranjos organizacionais que privilegiem parceria, mediante contrato com
abatedouros, frigoríficos, curtumes e cooperativas de produção e
comercialização. A extensão rural, por sua vez, enfatizaria o envolvimento
social das famílias, das comunidades, por discutirem esses assuntos de
interesse comum, como o crédito rural e a comercialização dos seus
produtos. Juntas, elas devem encontrar as formas estratégicas a serem
implementadas nesses segmentos da cadeia produtiva. Entende-se que o
agronegócio da caprinovinocultura como estratégia de desenvolvimento rural
é fundamental para impulsionar a economia nordestina.
O apoio financeiro das atividades foi utilizado por 47% dos
caprinocultores, sendo 90% oriundos do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), sob a gestão do Banco do
Nordeste do Brasil (BNB). Percebe-se um percentual baixo de produtores
que tiveram acesso ao crédito; entende-se que as políticas governamentais
de créditos devam ser diferenciadas por categorias de produtores e atividade
econômica.
6.5 Fatores limitantes à caprinocultura
Os maiores fatores limitantes, para os caprinocultores investigados,
são: a escassez de forragem, a falta de organização, a pequena quantidade
de capacitações e o deficiente processo de comercialização (Gráfico 3).
Conforme Gráfico 3, entre os fatores que restringem o
desenvolvimento da caprinocultura estão, em primeiro plano, a escassez de
forragem, considerada por 93% dos entrevistados; 80% consideram a falta
de organização dos produtores; 71% julgam a capacitação como um dos
fatores limitantes, pois é pouco freqüente e atinge um número pequeno de
produtores; e 36% afirmam ser o processo de comercialização um fator
limitante, considerado em quarto plano.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Escassez de
forragem
Falta de organização
dos produtores
Falta de capacitação
dos produtores
Processo de
comercialização
deficiente
P
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r
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e
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Fonte: Dados da pesquisa (2007).
Gráfico 3 - Principais fatores que restringem o desenvolvimento da caprinocultura no
município de Petrolina-PE.
7. MANUAL TÉCNICO DA CAPRINOCULTURA
Figura 1 - Caprinos em alimentação com restolho da agricultura.
VIÇOSA- MG
Março/2008
APRESENTAÇÃO
MANUAL TÉCNICO DA
CAPRINOCULTURA
Considerando os dados e informações apresentadas nos capítulos
anteriores, a proposta deste manual técnico é procurar suprir as dúvidas,
corrigir processos produtivos e estimular a exploração da caprinocultura de
forma adequada às recomendações técnicas e às condições sociais das
famílias e ambientais do meio.
Nesse contexto, apresenta-se um manual técnico aos produtores de
caprinos e ovinos do submédio São Francisco, de forma flexível e tomando
por base as informações dadas e os problemas suscitados pelos
caprinocultores que participaram da amostra. Pretendeu-se mostrar
aspectos relativos a alimentação e manejo da caatinga, cuidados sanitários,
manejo reprodutivo e recomendações às diversas fases da exploração: cria,
recria e terminação. Espera-se que este manual possa contribuir para uma
exploração mais racional e que ofereça aos produtores uma orientação
simples, de modo que toda família envolvida tenha o conhecimento e passe
a discutir, questionar e implementar inovações que possam complementar
as já praticadas pela comunidade, para melhoria em todos os aspectos da
exploração, haja vista as possibilidades acenadas pelo mercado consumidor.
A atividade da criação de cabras está ligada ao homem desde o início
da civilização e foi muito importante para ajudar na fixação dos primeiros
núcleos de assentamentos, fornecendo leite, carne e pele. Tomando como
base os sistemas de produção utilizados pelos caprinocultores e as
tecnologias disponibilizadas, esta cartilha parte da premissa de que o
conhecimento, já do senso comum, somado a outros fatores aqui descritos
poderão contribuir para um melhor desempenho da caprinocultura.
Para Simplício (2006), a curto e médio prazo, existem muitos desafios
a serem suplantados para o desenvolvimento sustentável da caprino e
ovinocultura no Brasil. Dentre eles, destaca-se a inserção da exploração
como atividade comercial, segundo os princípios da cadeia produtiva. Para
esse autor, a educação continuada e a qualificação da mão-de-obra são
pilastras fundamentais para a transformação do caprino-ovinocultor em
empreendedor rural.
Levando-se em consideração as fases de desenvolvimento, cria,
recria e terminação, os vários fatores serão considerados, como uma visão
de que a exploração deve ser feita, preferencialmente, a pasto; as
instalações, compatíveis com a produção de pele de boa qualidade; o
intervalo médio entre partos, entre sete e oito meses; e a taxa de
reprodução, focada na fertilidade ao parto, no número de crias nascidas por
fêmeas paridas, na habilidade materna, sobrevivência das crias e
desenvolvimento corporal à desmama, no peso das fêmeas ao entrarem em
reprodução, que são fatores-chave para o desenvolvimento da exploração.
Com a vinda das mudanças nas relações comerciais internacionais,
que propiciaram a abertura dos mercados, vários setores buscaram o
aprimoramento e uma maior eficiência nas atividades produtivas. Com a
caprinocultura não foi diferente: apesar das dificuldades relacionadas a essa
exploração, a intenção foi de subsidiar e oferecer referências para que ela se
torne mais competitiva.
O manual não almeja esgotar os assuntos citados, mas oferecer um
panorama geral da criação, que abranja as várias etapas da exploração de
caprinos, e despertar os produtores para a necessidade de pensar a
produção rural sob a ótica do agronegócio. Pretende-se também despertá-
los para a necessidade de pensar a produção sob o ponto de vista da
sustentabilidade ambiental, social e econômica, bem como fazer com que
eles busquem continuamente melhoria de qualidade, inovação e
competitividade no contexto da cadeia produtiva da caprinocultura.
As limitações estruturais, aliadas às dificuldades de acesso à
tecnologia e aos serviços de assistência técnica, tornam-se bastante
vulneráveis às flutuações de mercado e à ação dos especuladores, além de
levarem à produção de forma isolada, sem uma estrutura associativa
eficiente.
Ressalte-se que os criadores organizados e tecnicamente qualificados
– inclusive todos os que participam da atividade diretamente, como os
jovens rurícolas e as esposas dos proprietários – poderão melhorar a sua
eficiência.
7.1 Alimentação de caprinos e ovinos
Entende-se que o animal é o resultado de três fatores básicos: a
genética, a sanidade e o meio ambiente (alimentação e manejo). Um dos
pontos mais críticos na exploração de caprinos é o fator alimentação. No
período chuvoso, normalmente os animais ganham peso e todo o processo
de produção é acelerado; já no período seco, eles perdem peso e o
processo produtivo é estagnado – e muitas vezes neste período há perda
de animais, ocasionando prejuízo econômico. Já se encontra disponível uma
série de alternativas que podem minimizar esses efeitos.
Pastagem natural
Como utilizar as alternativas mencionadas? A seguir serão feitas
considerações sobre o uso da caatinga.
a) Raleamento da caatinga – consiste em diminuir o número de árvores por
hectare, reduzindo a densidade de espécies de baixo valor forrageiro; com
essa diminuição no número de árvores, em áreas onde há bancos de
sementes de espécies herbáceas, há aumento na disponibilidade destas
para uso na alimentação dos caprinos e ovinos (Figura 2). Uma das
recomendações para a manipulação da vegetação lenhosa da caatinga, em
se tratando do incremento da produção de fitomassa pelo estrato herbáceo,
é de que a cobertura seja reduzida para percentuais de 35 a 40% (ARAÚJO
FILHO, 1982).
Figura 2 - Caatinga raleada.
b) Rebaixamento da caatinga - consiste em cortar a uma altura (em torno
de 70 cm) espécies arbóreas de valor forrageiro, cuja folhagem está fora do
alcance do animal. Esta prática favorece bastante os caprinos, pois têm
preferência por plantas de folhas largas.
c) Enriquecimento da caatinga – consiste em adicionar à vegetação já
existente em uma caatinga raleada outras espécies, principalmente
herbáceas. Esta prática pode incrementar a produção de forragem de uma
caatinga raleada, bem como de áreas onde é feito o raleamento e não existe
banco de espécies herbáceas – como exemplos, poderiam ser usados o
capim-buffel, o corrente e o gramão.
d) As práticas de manejo da caatinga objetivam favorecer o equilíbrio
ecológico e aumentar a oferta de alimentos para os animais. Como enfoque
agroecológico, a caatinga corresponde a conceitos e princípios de ecologia,
da agronomia, da sociologia, da antropologia, da ciência da comunicação e
tantas outras áreas do conhecimento, no desenho e no manejo deste
agrossistema que, espera-se, seja mais sustentável através do tempo.
Outras orientações
Divisão das pastagens – possibilita a rotação, promove o descanso dos
piquetes e permite a separação dos animais por categoria (Figura 3).
Figura 3 - Pastagem dividida.
Determinação da quantidade de animais nas pastagens – lotações altas
constituem enorme perigo para o equilíbrio da vegetação e para produção
de forragem (Tabela 16).
Tabela 16 - Manipulação da caatinga e ganhos de produtividade
Situação Produtividade Procedimentos
Caatinga Nativa 1 a
1,5 ha/caprino/ano
Nenhum
Caatinga
Rebaixada
0,5 a 0,7
ha/caprino/ano
Rebaixamento
da caatinga
Caatinga
Raleada
0,5 ha/caprino/ano Raleamento da
caatinga
Caatinga
Raleada-
Rebaixada
0,5 a
1,0 ha/caprino/ano
Rebaixamento e
raleamento
simultaneamente
Caatinga
Enriquecida
1,0 a
1,5 ha/bovino/ano
Introdução de
forrageiras
Fonte: Araújo Filho (1994).
Pastagem cultivada
As pastagens cultivadas constituem a forma mais indicada para o
aumento da produção de forragem e, conseqüentemente, da produtividade
do rebanho. Para implantação de forrageiras, escolha a área, faça o preparo
da área, faça a análise do solo corrija e adube, se necessário.
Uso de gramíneas
Dentre as espécies de gramíneas mais indicadas para o semi-árido
estão o capim-buffel (Cenchrus ciliaris); capim-gramão (Cynodon dactylus),
cujo plantio é feito por mudas – apresenta excelentes características
agronômicas, sendo uma boa opção para a formação de pastagens
cultivadas, para o enriquecimento de pastagens nativas e para produção de
feno; capim-corrente (Urochloa mosambisensis); e capim-andropogon
(Andropogon gayanus). Esses capins também constituem opções à
formação de pastagens cultivadas, para enriquecimento da pastagem nativa
e produção de feno. Outros grupos de gramíneas (Figura 4) podem ser
utilizados, porém são mais exigentes quanto à fertilidade do solo e
pluviosidade – é o caso das gramíneas do gênero Panicum (tanzânia,
mombaça, colonião e vencedor) e do capim-elefante (Pennisetum
purpureum).
Figura 4 – Capim-de-rama (Brachiaria mutica).
Capineira – é formada por capim de alta produção, para ser cortado e
fornecido na forma verde ou conservado como silagem. Pelo seu grande
potencial forrageiro, havendo condições de implantação, a capineira deve
constituir parte importante do esquema de volumosos – suplemento
garantido para o período de estiagem. Na formação de capineira, o capim-
elefante é o mais indicado. Outras gramíneas, como tobiatã, tanzânia,
mombaça, além do sorgo (Figura 5), do milheto e da cana-de-açúcar, são
opções viáveis no Nordeste.
Figura 5 - Sorgo.
Uso de leguminosas
As leguminosas forrageiras são plantas de grande utilidade na
alimentação animal, devido ao seu alto valor nutritivo, principalmente por sua
riqueza em proteínas. Na formação do banco de proteínas, a leucena é uma
das forrageiras mais promissoras para a região semi-árida, sobretudo pela
capacidade de rebrota durante a época seca, pela adaptação de solo e clima
do Nordeste e pela excelente aceitação por parte dos caprinos e ovinos.
O uso da leucena (Figura 6) em banco de proteínas para pastejo
direto ou para produção de forragem verde, de feno e de silagem, para
enriquecimento de pastagem nativa e da silagem de gramínea mostra-se
como alternativa viável para a agropecuária. O guandu (Cajanus cajan) e a
cunha (Clitoria ternata) também podem ser usados na formação do banco
de proteínas.
Figura 6 - Leucena.
A maniçoba (Manihot glaziovii), da família das euforbiáceas, é uma
cultura nativa do Nordeste e pode ser utilizada como forragem animal;
recomenda-se que a parte aérea da maniçoba (Figura 7) seja ministrada aos
animais na forma de feno, já que em sua forma natural ela pode ser tóxica.
Figura 7 - Maniçoba.
Outras forrageiras
A mandioca (Manihot esculenta) é considerada uma das culturas mais
tradicionais do nosso território (Figura 8). A tolerância à seca e a solos
marginais, com baixa fertilidade e elevada acidez, tem permitido o seu
cultivo em grandes áreas da região semi-árida. A planta pode ser
aproveitada para alimentação animal de diversas formas; como a raspa, o
caule e a parte aérea.
1) Parte aérea fresca – como em toda utilização da parte aérea, esta deve
ser triturada e fornecida aos animais após o murchamento, que leva em
torno de 24 horas.
2) Parte aérea fenada – objetivando a obtenção de um melhor processo de
desidratação, a parte aérea deverá ser previamente triturada, para secagem
ao sol.
3) Parte aérea ensilada – também deverá ser triturada e ensilada com os
cuidados normais que o processo exige; deve-se encher o silo rapidamente,
fazer uma boa compactação e fechar hermeticamente após o enchimento.
4) Parte aérea com as raízes – a parte aérea pode ser triturada juntamente
com as raízes (Figura 9). A secagem pode ser totalmente realizada ao sol
(Figura 10), ou iniciada ao sol e terminada em fornos. Após a secagem, o
produto deve ser triturado novamente, antes do armazenamento.
Figura 8 - Mandioca.
Figura 9 - Máquina para triturar a mandioca Figura 10 - Terraço para secagem da raspa
da mandioca
Cactáceas
Palma forrageira
As espécies mais cultivadas no Nordeste são a palma-doce (Nopalea
cochenilifera), que é menos resistente à falta de água, porém mais palatável
e nutritiva; a palma-gigante (Opuntia ficus indica); e a palma-redonda
(Opuntia sp.), com raquetes em forma arredondada.
A palma é resistente à falta de chuvas, armazena grande quantidade
de água e tem alta digestibilidade. A produção obtida em um hectare de
palma adensada (sistema onde normalmente são utilizados espaçamentos
entre fileiras menores que os normalmente usados pelos agricultores, ou
seja, numa mesma área pode-se plantar quantidade maior de raquetes) é de
aproximadamente 30 toneladas de matéria seca de palma a cada dois anos.
A palma forrageira (Figura 11) é uma cultura adaptada às condições
edafoclimáticas, além de apresentar alta produção de matéria seca por
unidade de área (Figura 12). É uma excelente fonte de energia, rica em
carboidratos não-fibrosos – 61,79% (WANDERLEY et al., 2002) e nutrientes
digestíveis totais – 62% (MELO et al., 2003).
Figura 11 - Palma forrageira. Figura 12 - Plantio de palma.
Conservação de forragens
A distribuição da produção de forrageiras, especialmente no semi-
árido, é estacional, alterando-se durante o ano em períodos favoráveis e
desfavoráveis ao crescimento das forrageiras. Os efeitos desse fato na
caprinocultura são bastante evidentes. Na época favorável, os animais
ganham peso, e na época seca, ao contrário, perdem. Para tentar minimizar
esses efeitos, o produtor pode lançar mão do uso de estratégias, de acordo
com o sistema de produção utilizado na propriedade, como, por exemplo, a
silagem e a fenação.
Alimentos para utilização na seca
A forma mais prática de estocar forragem para o período de escassez
é no próprio pasto. Essa prática é chamada de diferimento de pastagem ou
“feno em pé” e consiste no isolamento da pastagem nos meses de chuva,
para ser usada subseqüentemente na seca. Por essa razão, tal técnica deve
estar associada a uma suplementação protéica, como sal mineral/uréia,
misturas múltiplas, suplementos minerais proteínados e outros.
Uma outra alternativa alimentar é a cana-de-açúcar, que poderá estar
associada à mistura de uréia e sulfato de amônio.
Ensilagem
É um termo usado para definir o material armazenado, fermentado e
conservado na ausência do ar, com propósito de fornecimento nas épocas
críticas do ano. O processo recebe o nome de ensilagem, o local de
armazenamento é o silo e o material é a silagem.
Vantagens da silagem
1 - Manutenção do valor nutritivo, quando feita adequadamente.
2 - Liberação de área mais cedo, para uso de safrinha ou formação de
pastagem.
3 - Requer pequena área de armazenagem.
4 - Alta aceitabilidade.
5 - Contribui para o barateamento do arraçoamento na época crítica.
Embora com todas essas vantagens, a silagem também apresenta
alguns pontos de restrição, pois é necessária a presença de determinados
equipamentos, como picadeiras ou forrageiras movidas por eletricidade ou
combustível, bem como de maior grupo de mão-de-obra disponível para os
processos de corte, transporte, desintegração e compactação, visando à
confecção do silo em menor espaço de tempo possível.
Atualmente são utilizados basicamente três modelos de silos: o silo
trincheira (Figura 13), o silo de superfície e o silo de anel (Figura 14),
também conhecido como silo arco ou cincho.
Figura 13 - Silo trincheira. Figura 14 - Silo de anel (cincho).
Forrageiras para ensilagem
O milho e o sorgo são culturas mais adaptadas ao processo de
ensilagem, resultando geralmente em silagens de boa qualidade, sem o uso
de aditivos ou pré-murchamento. Outras opções para ensilagem seriam:
milheto; raiz e parte aérea da mandioca; e capim-elefante.
Características de uma boa silagem
Cheiro: agradável ou de vinagre.
Cor: clara, verde-amarelada ou cáqui.
Textura: firme, tecidos macios, não destacáveis das fibras.
Acidez: gosto ácido típico.
Fenação
Feno é a forragem desidratada, isto é, com pouca umidade.
Retirando-se a água da forragem, ela mantém todo o seu valor nutritivo e
pode ser armazenada por muito tempo sem se estragar. Em nosso meio, o
feno pode ser feito no próprio campo, utilizando-se para a desidratação
somente a energia do sol e do vento, sem necessidade de galpões ou
máquinas secadoras.
A fenação é um processo simples, econômico e de muitas vantagens,
dentre as quais pode-se citar a possibilidade de fenação pelo pequeno
produtor, através de métodos artesanais ou de processos mecanizados.
A produção de feno na propriedade consiste em quatro operações:
ceifa, viragem, enleiramento e enfardamento.
Quando a quantidade a ser produzida é pequena, o feno pode ser
produzido de forma manual, (Figura 15), utilizando-se ferramentas como
alfanje e garfo.
Para armazenar o produto pode-se construir facilmente uma
enfardadeira (Figuras 15 e 16) ou ainda estocar a granel.
Figura 15 - Enfardadeira manual. Figura 16 - Enfardadeira manual.
Ponto do feno
No instante da ceifa, a forragem contém aproximadamente 85% de
umidade. Com as sucessivas viragens e afofamentos, ela vai sendo “curada”
até atingir 12 a 15% de umidade, que é o chamado “ponto de feno”. Na
prática, recolhe-se esse ponto, torcendo um feixe da forragem; não deve
verter água. Nesse ponto, o feno já está pronto, restando enfardá-lo e
armazená-lo, a salvo da chuva.
Os capins mais recomendáveis para fenação possuem mais folhas do
que caule, como, por exemplo, capim-buffel, capim-corrente, capim-estrela,
capim-pangola, gramão e capim-de-rama.
Mistura múltipla
A mistura múltipla (Tabela 17) também é uma forma de
suplementação alimentar para o período de escassez; essa mistura deverá
ser colocada em cochos preferencialmente cobertos, e seu consumo é
limitado através do sal comum.
Tabela 17 - Fórmula da mistura múltipla
Ingredientes Quantidade
(kg)
Participação
(% )
Milho desintegrado 27 kg 27
Superfosfato triplo 16 kg 16
Uréia 10 kg 10
Farelo de algodão 15 kg 15
Flor de enxofre 1,3 kg 1,3
Sulfato de zinco 600 gramas 0,6
Sulfato de cobre 80 gramas 0,08
Sulfato de cobalto 20 gramas 0,02
Sal comum 30 kg 30
Total 100 kg 100%
Fonte: Embrapa Meio-Norte (2003).
Suplementação mineral
Com relação à suplementação mineral, deve-se levar em
consideração que a melhor mistura mineral é aquela baseada na análise de
solo, forrageiras e água da região. Quando não for possível fazer essas
análises, as misturas comerciais podem ser utilizadas.
7.2 Instalações
As instalações compreendem todas as instalações cobertas, os
saleiros, os bebedouros, as cercas, os pedilúvios, a área restrita a animais
jovens, plataforma para ordenha, etc. Elas devem obedecer a certos
requisitos básicos, como proporcionar abrigo e conforto aos animais e
favorecer a higiene e a realização dos trabalhos diários, além de serem
duráveis e economicamente viáveis, ou seja, devem ser adaptadas às
condições regionais.
O local das instalações deve ser uma área convergente das
pastagens ou permitir fácil acesso a todas elas, a fim de favorecer a
otimização da mão-de-obra no manejo do rebanho. O terreno deve ser de
textura bem consistente e com boa drenagem; a instalação deve ser
preferencialmente construída próximo à casa do manejador.
7.2.1 Principais tipos de instalação
Aprisco
de chão batido – devem-se considerar os aspectos de
localização e também para fins de altura do pé-direito, algo entre 2 e 2,5 m
de altura (Figura 17).
9 Área coberta por categoria de animal
-1,0 m²/matriz
-0,8 m²/jovem de reposição
- 0,5 m²/cria
- 3,0 m²/reprodutor
9 Área descoberta
Recomendações:
Usar o dobro da área coberta por categoria de animal.
Utilizar uma boa compactação e uma declividade de 2 a 5%.
Fazer limpeza quinzenal no período seco e diária no chuvoso.
Construir no compartimento destinado às crias um estrado de madeira
para o piso, com ripões de 3,0 cm de largura, espaçados de 1,0 cm entre si.
Figura 17 - Aprisco de piso suspenso. Figura 18 - Chiqueiro.
Brete
Para facilitar o trabalho de vacinação, marcação, vermifugação, entre
outros, instale um brete de madeira com os seguintes dimensionamentos
(Figuras 19 e 20):
- 25 cm de largura na parte inferior.
- 35 cm de largura na parte superior.
- 85 cm de altura.
Figura 19 - Brete – vista frontal. Figura 20 - Brete – vista lateral.
Pedilúvio
A finalidade do pedilúvio é fazer a desinfecção espontânea dos
cascos dos animais, toda vez que eles entram ou saem do aprisco. Ele deve
ter as seguintes dimensões: 2,0 m de comprimento, 10 cm de profundidade,
e a largura deve ser a mesma da porteira.
Vários produtos poderão ser utilizados nos pedilúvios, como, por
exemplo, solução de formol a 10%, sulfato de cobre a 10% e a cal virgem.
Cercas
Um dos maiores pontos de estrangulamento do planejamento e na
economia de uma empresa rural é o capital investido na construção de
cercas, as quais podem ser de vários tipos:
- Cerca de arame farpado.
- Cerca de arame liso.
- Cerca elétrica.
- Cerca de madeira (varas).
- Cerca viva.
- Cerca de pedras.
Cochos
Podem ser colocados no chiqueiro ou no pasto, devendo ser estimado
um espaço de 30 cm por animal (Figura 21). Há também o cocho com canzil
(Figuras 22 e 23).
Figura 21 - Cocho para ração.
Figura 22 – Canzil – vista lateral. Figura 23 – Canzil – vista frontal.
Bebedouros
Devem ser colocados no aprisco e nos pastos – estimar um consumo
médio diário de 5 a 6 litros por animal adulto.
Saleiro
São pequenos cochos distribuídos estrategicamente em meio às
instalações, com a finalidade de promover a suplementação mineral. Podem
ser feitos de várias maneiras, como, por exemplo, de pneus cortados e
suspensos, no sentido de favorecer o acesso e dificultar a contaminação.
Também poderão ser feitos de madeira ou cimento.
Figura 24 - Pneu utilizado como cocho para sal.
7.3 Manejo sanitário
Quando os animais não são cuidadosamente vistoriados todos os
dias, ou quando suas necessidades básicas não são atendidas, observam-
se altas taxas de mortalidade e de morbidade. A prevenção da saúde do
rebanho é responsável por minimizar os riscos, aumentar o lucro da
exploração e por possibilitar a tomada de decisões para o que deve ser feito
nos casos em que, apesar da prevenção, o rebanho necessite de
tratamento. Animais saudáveis, além de garantirem a produção, não
representam gastos adicionais com medicamentos e serviços veterinários.
Também não significam riscos para a saúde humana nem para os outros
animais. A prevenção é mais barata que o tratamento; alguns fatores devem
ser levados em consideração:
1. Nutrição
2. Higienização das instalações e das pastagens.
3. A não-introdução de animais recentemente adquiridos ao rebanho
(passar por quarentena).
4. Calendário de vacinação.
5. Calendário de vermifugação
Medidas higiênicas
Limpar os chiqueiros e apriscos por meio de varreduras.
Lavar os bebedouros diariamente.
Limpar os comedouros diariamente, não deixando alimentos velhos e
estragados.
Desinfetar as instalações com creolina ou vassoura de fogo,
semanalmente.
Medidas de isolamento
Os animais adquiridos de outras propriedades ou regiões deverão,
inicialmente, ficar isolados do rebanho por pelo menos 30 dias.
Os animais que se apresentam doentes também devem ficar separados
do rebanho até a sua completa recuperação.
Recomenda-se o sacrifício para animais portadores de zoonoses, como a
brucelose e o carbúnculo hemático.
Vacinação
As vacinas são utilizadas para evitar doenças existentes na região ou
que já ocorreram no rebanho. De acordo com orientação do veterinário, as
seguintes vacinas podem ser recomendadas:
Vacina contra febre aftosa – deverá ser aplicada de seis em seis
meses a partir do quarto mês de vida e de acordo com o calendário
estabelecido em cada Estado.
Vacina antirrábica (raiva) – deverá ser efetuada anualmente, a partir
de quatro meses de idade, e apenas em rebanho com histórico da doença
ou de região onde o aparecimento desta é freqüente.
Vacina contra carbúnculo sintomático, enterotoxemia e botulismo –
apenas em regiões ou situações de risco.
Vacina contra ectima contagioso, ceratoconjuntivite infecciosa,
pododermatite infecciosa e leptospirose – poderão ser recomendadas
esporadicamente, quando ocorrem surtos no rebanho.
Endoparasitas
Os endoparasitas, de forma geral, são um dos maiores problemas
para a saúde dos caprinos e ovinos, repercutindo diretamente na capacidade
produtiva dessas espécies, sendo responsáveis pelas maiores perdas do
rebanho. As perdas econômicas causadas pelos vermes são imensas,
sendo observadas na redução da taxa de crescimento, no comprometimento
do desempenho reprodutivo e na redução do potencial para produção de
leite e carne. Os principais fatores que favorecem a maior ou menor
sensibilidade dos ovinos e caprinos são os que se seguem.
Idade
Animais jovens sofrem muito com a verminose, principalmente
quando começam a ingerir alimentos sólidos; em caso de alta lotação de
pastagens e pouca higienização das instalações, esses animais diminuem o
crescimento e, em muitos casos, morrem.
Estado nutricional
Animais malnutridos podem apresentar sinais de verminose e morrer
por causa de um grau de infestação de vermes que, em animais bem
nutridos, poderia passar despercebido.
Estresse
Contribui para a resistência dos animais, o que pode torná-los mais
suscetíveis à verminose. Portanto, é importante estar preparado quando os
animais são submetidos a atividades estressantes, como, por exemplo,
transportes, feiras de comercialização, exposições, manejos, etc.
Estado fisiológico
O final da gestação é caracterizado pelo aumento da necessidade de
nutrientes por parte da fêmea, principalmente de forma qualitativa. Isso se
deve ao fato de que boa parte dos nutrientes é canalizada para a(s) cria(s),
favorecendo assim a sensibilidade da matriz à verminose, devido ao baixo
aporte nutricional. O estresse provocado pelo parto também é outro fator que
contribui para o aumento na postura de ovos de parasitas. Já com relação
aos jovens, o desmame leva a uma condição de estresse, tornando esses
animais também mais sensíveis à verminose. Ainda, se houver o agravante
de manejo sanitário inadequado, tem-se o aumento da mortalidade.
A melhor forma de se ter o controle da carga parasitaria é através da
coleta de fezes, para posterior análise laboratorial. No caso, isso deve
acontecer antes da aplicação e 21 dias após. Observa-se que, quanto maior
for a pressão anti-helmíntica, mais rápida se estabelecerá a resistência
verminótica. Assim, não é recomendada a aplicação mensal de vermífugos
no rebanho.
Deve-se ainda destacar que não é só a aplicação do vermífugo que é
responsável pelo controle de vermes no rebanho. Vários outros fatores
contribuem para o sucesso da desverminação, dentre os quais podem-se
citar os mecanismos a seguir.
Dose do vermífugo
A subdosagem deve ser evitada; por isso, quando as pistolas
dosificadoras são utilizadas, deve-se verificar se estão sendo dosadas
corretamente. Quando não há como pesar os animais, deve-se estimar a
dose com base no animal mais pesado da categoria e utilizá-la para os
demais. Nunca aplicar doses abaixo das recomendadas, pois podem
favorecer a resistência dos parasitas.
Manejo na desverminação
Aplicar corretamente o vermífugo e certificar-se de que todos os
animais foram desverminados.
Hora da aplicação do vermífugo
Quando no manejo de uma propriedade os animais são recolhidos
durante a noite, a desverminação deve ser realizada no fim da tarde, para
que os animais permaneçam por, no mínimo, oito horas presos, diminuindo a
contaminação das pastagens.
Contato com as fezes
Deve-se evitar o contato dos animais com as fezes. Estas devem ser
recolhidas para a esterqueira no mesmo dia da vermifugação.
Aquisição dos animais
Animais adquiridos de outras propriedades ou região devem ser
avaliados através dos exames de fezes. Caso esta prática laboratorial não
seja possível, devem-se isolar os animais, deixá-los descansar e
desverminá-los, antes de serem colocados junto com os demais animais e
nas pastagens.
Pastagens
Atenção especial deve ser dada aos animais quando forem colocados
em novas pastagens que estavam sem animais por um longo período.
Coletas de fezes e desverminações são recomendadas antes de os animais
entrarem nos piquetes, para evitar a contaminação.
Observação dos animais: Sempre que os animais forem manejados para
pesagem, casqueamento ou qualquer outro manejo, devem ser observados
cuidadosamente com relação ao comportamento, à consistência das fezes, à
qualidade do pelo e à coloração das mucosas.
A Embrapa Caprinos recomenda o seguinte esquema de
vermifugação (Figura 25):
1ª Vermifugação – vermifugar todo o rebanho no primeiro mês do período
seco ou quando as pastagens estiverem secas (final de junho ou julho).
2ª Vermifugação – vermifugar 60 dias após a primeira vermifugação (final
de agosto ou setembro).
3ª Vermifugação – vermifugar no penúltimo mês do período seco (final de
novembro).
4ª Vermifugação – vermifugar em meados da estação chuvosa (março).
Figura 25 - Controle de vermifugação.
Fonte: adaptado de Silva et al.(2001).
Ectoparasitas
As ectoparasitoses são afecções parasitárias da pele, causadas por
ácaros ou insetos. As principais ectoparasitoses que acometem caprinos e
ovinos são a pediculose (piolho ) – Figura 26., a sarna (Figura 27) bem
como as miíases (bicheiras).
Figura 26 - Piolhos.
Figura 27 - Tipos de sarna.
Recomendações:
Separar os animais com piolhos e sarnas.
Banhar os animais com produtos carrapaticidas, sarnicidas, utilizando
um pulverizador costal.
Repetir o banho 7 a 10 dias após o primeiro banho.
Banhar os animais recém-comprados antes de incorporá-los ao
rebanho.
7.4 Melhoramento genético de caprinos
A maioria dos caprinos é explorada com um duplo fim: produção de
carne (cabritos) e de leite. Por ser o cabrito um animal de crescimento rápido
no período de aleitamento e sendo ainda mais freqüente o parto múltiplo na
espécie, mesmo que o cabrito seja o objeto principal da criação, a cabra
precisa ser boa leiteira.
Os reprodutores, machos e fêmeas, devem ser escolhidos entre os
filhos das melhores leiteiras. As figuras a seguir mostram alguns tipos de
animais melhoradores (Figuras 28 a 30).
Figura 28 - Reprodutor anglonubiano. Figura 29 - Fêmea bôer.
Figura 30 - Reprodutor alpino britânico.
Admite-se que os melhores cabritos – dentre os quais os reprodutores
que devem ser escolhidos – sejam os provenientes de cabras novas do
quinto ao sexto parto.
Por ser uma espécie bem prolífica, o descarte de refugos pode ser
grande; deve-se reservar para a reprodução apenas animais superiores. O
melhoramento inicial será muito rápido, mesmo pela seleção massal.
O melhoramento de muitos rebanhos que nunca sofreram outra
seleção que a natural poderia ser rapidamente atingido por cruzamento
absorvente em que se empregassem reprodutores superiores de raças que
se adaptam bem a cada região.
Seleção fenotípica – conquanto a seleção fenotípica dos caprinos seja
menos efetiva que a genealógica, ela deve preceder ou ser paralela a esta
última. Neste caso, deve-se considerar:
A conformidade ideal do tipo funcional – para leite, carne ou pele.
A conformação ideal do tipo sexual – masculinidade ou feminilidade.
A conformação ideal do tipo racial, obedecendo ao padrão oficial.
O controle da aptidão.
O controle sanitário – por quarentena, exames, tratamentos e descartes
dos animais portadores de doenças infectocontagiosas, parasitárias ou de
caracteres hereditários ou congênitos indesejáveis.
7.5 Manejo reprodutivo
Normalmente, os rebanhos são compostos por diversas categorias,
como fêmeas secas, fêmeas gestantes, fêmeas paridas, animais recém-
nascidos, animais jovens de ambos os sexos, reprodutores, animais de
abate ou comercialização.
O manejo reprodutivo é um conjunto de medidas voltadas para a
melhoria do desempenho zootécnico e econômico do rebanho. Para que um
programa de manejo reprodutivo seja eficiente e seus objetivos alcançados,
devem ser cumpridas algumas exigências:
1 - Levantamento das condições sanitárias e alimentar.
2 - Capacitação da mão-de-obra.
3 - Eficiência na identificação dos animais.
Puberdade e maturidade sexual
A puberdade é o momento em que o animal mostra capacidade de se
reproduzir, podendo ser fisiológica ou zootécnica. A primeira ocorre na idade
de três a quatro meses. A puberdade zootécnica ocorre quando os animais
estão aptos para a reprodução, ao atingirem a idade de 10 a 12 meses.
É importante frisar a importância do peso vivo do animal no momento
da cobertura – normalmente se considera 70% do peso do animal adulto.
Esse procedimento contribui diretamente em todo o processo de produção,
visto que a cobertura de fêmeas com peso bem inferior interrompe o seu
desenvolvimento, prolonga o intervalo entre partos e, conseqüentemente,
afeta os índices de fertilidade. Os seguintes parâmetros devem ser
observados: intervalo médio entre partos de sete a oito meses; e a taxa de
reprodução.
Quanto à fertilidade ao parto, devem-se observar:
Número de crias nascidas por fêmea parida.
A habilidade materna auferida pela sobrevivência e o desenvolvimento
corporal das crias ao desmame.
A precocidade sexual dos indivíduos.
A idade ao abate.
Sistemas de acasalamento
De acordo com o sistema de criação, poderá ser utilizada a monta
natural, a monta natural controlada e a inseminação artificial.
Na monta natural, as cabras são deixadas constantemente com os
machos, ocorrendo coberturas sem qualquer controle por parte do criador.
No tocante à monta natural controlada, é necessária a detecção do
cio; normalmente usam-se rufiões, sendo cobertas as fêmeas identificadas.
A inseminação artificial, ato realizado pelo homem, tem a finalidade de
introduzir sêmen nas vias genitais da fêmea.
Estação de reprodução
A eficiência reprodutiva de um rebanho é o resultado da interação do
patrimônio genético dos indivíduos e do meio ambiente. Este deve ser
manipulado adequadamente pelo homem na tentativa de oferecer melhores
condições de exploração e, conseqüentemente, alcançar maiores índices de
produção.
A escolha da época para realização de estação de reprodução deve
estar baseada nas condições climáticas da região, na capacidade de
reprodução dos machos e das fêmeas e na disponibilidade de alimentos
durante o período de nascimento das crias e da lactação.
A época do ano destinada à estação de monta, quando se objetiva
um parto ao ano, deverá ter início 90 a 100 dias antes do começo do período
de inverno, dispensando os cuidados com a nutrição da matriz, antes e após
o parto. Entretanto, a preocupação com a alimentação dos cabritos após a
desmama deverá existir.
Quando se pensar em três partos em dois anos, o período das
estações de monta deverá ser alicerçado pelas condições locais e regionais,
não se esquecendo de adotar um adequado manejo sanitário e nutricional
antes e durante as épocas de cobertura. Cuidados especiais devem ser
dados ao terço final da gestação e após o parto. Esse sistema visa a um
melhor aproveitamento do potencial reprodutivo das fêmeas através da
redução do intervalo entre partos, de 12 para 8 meses. Recomenda-se a
estação de monta com duração de 42 a 45 dias e o desmame das crias aos
90 dias de idade.
Manejo da fêmea seca
Essa categoria animal muitas vezes é deixada sob pouca ou quase
nenhuma atenção, mas deve-se lembrar que serão essas fêmeas as mães
das crias do próximo ciclo produtivo; portanto, essa categoria deve ser muito
bem cuidada, recebendo bom aporte nutricional, a fim de estarem em
condições ótimas no ato da cobertura.
Manejo da fêmea prenha
No terço final da gestação ocorre a maior parte do desenvolvimento
fetal, e é nessa fase que a fêmea merece maiores cuidados. De posse da
informação de prenhez, devem-se retirar as fêmeas no último mês de
gestação do lote original e levá-las a um piquete próximo às instalações, que
seja limpo, com ótimo aporte nutricional e possua água de qualidade à
vontade. Esse manejo simples é responsável por redução acentuada na
morte dos animais jovens.
Manejo da fêmea parida
A parição é o ato pelo qual o organismo materno expulsa o(s) feto(s)
para o meio ambiente. A gestação das cabras e ovelhas dura em média
cinco meses ou 150 dias, com intervalo variando de 140 a 155 dias. Vários
são os sinais que indicam o momento de aproximação da parição, dentre os
quais destacam-se o inchamento da vulva, o aumento do volume do úbere
com intumescimento das tetas e o relaxamento do flanco.
Quando o parto se torna iminente, a cabra começa a deitar-se e
levantar-se com freqüência, passando a cavar o chão como se quisesse
fazer um ninho, e começa a olhar com mais freqüência para os flancos.
Também é observada a procura por locais mais calmos e tranqüilos, além de
ela se tornar mais maternal com outras crias, bem como com o tratador.
O parto de forma normal dura em média uma hora, porém esse tempo
pode ser dilatado em caso de fêmeas de primeira cria ou debilitadas. O parto
dos caprinos e ovinos pode ocorrer a qualquer hora, embora seja mais
freqüente na manhã; ele não é muito freqüente à noite.
Depois de paridas, as fêmeas deverão permanecer no ambiente da
parição por, no mínimo, mais de 15 dias. Tal tempo favorecerá a observação
da matriz e da cria, possibilitando a intervenção humana, caso necessária.
Outro ponto importante é que, nesse período, será favorecido o
desenvolvimento da cria, o que lhe dará melhores condições de
sobrevivência quando a matriz recém-parida voltar ao campo de pastejo
(Figura 31).
Figura 31 - Cabra recém-parida.
Cuidados com os recém-nascidos
Cortar o umbigo, deixando-o com um tamanho de dois dedos.
Mergulhar o coto umbilical (umbigo depois de cortado) em um frasco de
boca larga contendo iodo a 10%.
Fornecer o colostro imediatamente após o parto. A mamada do colostro é
importantíssima, pois a imunidade nessas espécies só é transmitida
através desta substância, que assume a característica de ser, para o
recém -nascido, a primeira vacina de sua vida.
Pesar, identificar e anotar a data do nascimento e o número da mãe.
Manter as crias na instalação durante os primeiros 15 a 20 dias de vida.
Descornar as crias entre o oitavo e o décimo dia de vida.
Fornecer alimentos sólidos a partir da segunda semana de vida.
A prática da castração é utilizada para evitar coberturas indesejáveis; para
isso, é aconselhável castrar os animais no primeiro mês de vida.
Desmame
Fisiologicamente, seria possível desaleitar os cabritos a partir de três
semanas, quando normalmente o rúmen já é funcional. Na prática, o
desaleitamento é feito a partir da quinta semana.
O desaleitamento não deve ser brusco, devendo-se diminuir
gradativamente a quantidade de leite fornecida. Uma boa estratégia é,
quando se utilizam duas refeições diárias, passar a utilizar apenas uma
durante a semana precedente ao desaleitamento (Figura 32).
Figura 32 - Cabritos desmamados.
Para se fazer uma desmama precoce, ou seja, o desmame por volta
dos 45 dias, é necessária a adoção de práticas de manejo a fim de viabilizar
o desmame precoce; o abate por volta dos quatro meses, com peso médio
conhecido como creep feeding (Figura 33), é o primeiro passo para
implantação desse processo. Essa instalação consiste em um reservado a
que só as crias têm acesso, e lá é fornecida uma ração de boa qualidade à
vontade, além de volumoso e suplemento mineral.
Figura 33 - Creep feeding.
7.6 Controle zootécnico
Gerenciar a propriedade com espírito e técnicas empresariais é hoje
uma prática indispensável para quem deseja ser bem-sucedido na atividade
agropecuária. Uma das ferramentas mais importantes para esse
gerenciamento é o controle zootécnico. Por meio dele, o produtor recolhe
subsídios para administrar o seu negócio e tomar as decisões adequadas.
As informações a respeito da propriedade estão na cabeça da maioria
dos produtores, que podem até identificar os animais do rebanho, mas não
possuem um registro básico sobre cada um deles.
A escrituração zootécnica consiste no conjunto de práticas
relacionadas às anotações da propriedade rural que possui atividade de
exploração animal. É o mecanismo de descrição formal de toda a estrutura
da propriedade: localização; acesso; área; relevo; clima; divisões; áreas de
pastagens; benfeitorias; máquinas e equipamentos; funcionários; rebanhos;
práticas de manejo geral e alimentar, sanitário e reprodutivo; produtos e
comercialização; anotações contábeis, entre outros.
Em um sentido restrito, escrituração zootécnica consiste nas
anotações de controle do rebanho, com fichas individuais por animal,
registrando-se sua genealogia, ocorrências e desempenho. Nessas
anotações são registradas as datas, a condição e a extensão de importantes
ocorrências, como nascimento, coberturas, partos, enfermidades, morte,
descarte, além dos registros de desempenho produtivo, como pesagem,
entre outras importantes mensurações, como as medidas morfométricas
(altura, comprimento, circunferência escrotal, condição corporal e medidas
de tipo e conformação). Sua importância encontra-se no fato de se manter
sob controle tudo o que ocorre na propriedade e, assim, tomar decisões
mais acertadas, corrigindo erros que porventura venham a ocorrer. Quanto
mais detalhes das anotações, maior será o benefício que poderá ser
extraído dessas informações.
A escrituração zootécnica pode ser feita de maneira manual ou
informatizada. Na escrituração manual, o produtor utiliza fichas individuais
para o registro do desempenho de cada animal e fichas coletivas para o
controle de práticas de manejo, como coberturas e partos. Essas fichas são
armazenadas em arquivos físicos na propriedade.
Na escrituração informatizada as fichas estão contidas em programas
específicos de computador. Os benefícios desse tipo de escrituração são
grandes, pois, além de permitir maior controle, detalhe e integração da
informação, favorece a disponibilização fácil e rápida para o usuário.
Entretanto, na sua impossibilidade, a escrituração manual pode muito bem
atender aos objetivos propostos de modo prático e eficiente. O mercado
disponibiliza diversos programas de gerenciamento de propriedade. Esses
softwares apresentam várias formas de entrada de dados, controle e níveis
de utilização da informação.
Vantagens:
1. Na produção – dá informações para o descarte ou permanência do
animal no rebanho.
2. Na reprodução – é muito importante, porque cabra seca no pasto é
prejuízo certo. Quando o técnico possui dados anteriores sobre o
animal, o diagnóstico de gestação é muito mais eficiente.
3. Nas ocorrências de aborto – ao se registrar esse tipo de informação
na ficha de controle, será fácil indicar os animais que sofreram aborto.
7.7 Agronegócio da caprinocultura
A qualificação gerencial do caprinovinocultor é fundamental para que
ele possa se inserir no mercado de forma competitiva. É imprescindível
disponibilizar uma assistência técnica permanente, seja ela pública, em seus
diferentes níveis de poder, ou privada. Também se deve investir fortemente
na qualificação dos técnicos, manejadores, magarefes etc. Ainda, entende-
se como de suma importância o crédito constante, a médio e longo prazos, e
com custos compatíveis e diferenciados em função da exploração, isto é,
leiteira ou de corte, e da região geográfica. Em adição, é de fundamental
importância buscar implementar ações que objetivem a modernização da
caprinovinocultura, com ênfase na organização das cadeias produtivas,
priorizando-se o mercado e o marketing.
Ressalta-se que a caprinovinocultura oferece diversas alternativas
para a implementação de sistemas de produção. Naturalmente, a definição
dos objetivos e metas deve estar vinculada diretamente às possibilidades de
negócios acenadas pelo mercado. De modo geral, evidencia-se que a cabra,
quando explorada para leite, além de produzir alimento de elevado valor
biológico, gera mais emprego. Ao mesmo tempo, registra-se que o capital
empregado gira mais rápido do que aquele investido na caprino-ovinocultura
de corte. No Nordeste já se verifica que o leite de cabra não beneficiado é
comercializado por no mínimo R$ 0,70 (setenta centavos) o litro, o que
representa acréscimo em torno 50,0% quando comparado ao preço médio
praticado na bovinocultura leiteira regional.
Para Medeiros (2003), a cadeia produtiva de carne caprina no Brasil é
ainda bastante frágil, havendo deficiência de entrosamento e de
conhecimento dos problemas dos diferentes atores em relação às
dificuldades das diversas áreas que compõem a cadeia. Para melhor
compreensão da complexidade de uma cadeia produtiva, é importante
observar os seus segmentos. O caprinocultor deve ficar atento e buscar em
cadeia, e não de forma isolada, a melhoria dos seguintes fatores:
1. Oferta sazonal de animais para abate.
2. Baixa qualidade dos animais ofertados para abate.
3. Competição com abate informal.
4. Deficiência de tecnologias para melhor aproveitamento da
carne caprina na confecção de embutidos e produtos
derivados. Nesse ponto, os criadores organizados podem fazer
parcerias com o CEFET Petrolina, que possui toda a estrutura
e os profissionais qualificados para esse treinamento.
É imprescindível a união de esforços de todos os segmentos da
iniciativa pública e privada envolvidos na atividade, visando ao
estabelecimento de uma política que envolva todos os atores, como, por
exemplo:
9 Políticas diferenciadas de financiamento.
9 Fortalecimento do associativismo, como forma de organizar a base
produtiva.
9 Implemento do padrão tecnológico, buscando sempre a qualificação
dos produtores.
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise dos dados demonstra que o processo produtivo da
caprinocultura é desenvolvido sob restrições e limitações. Dentre elas,
destacam-se a escassez de forragem nas épocas de estiagem, o insuficiente
processo de capacitação dos produtores, bem como a pequena interação
entre os diversos segmentos da cadeia produtiva da caprinocultura, como os
aspectos de melhoramento genético, sanidade e controle zootécnico, assim
como o uso de instalações zootécnicas.
A premissa básica desse sistema é o uso da caatinga, que, com sua
heterogeneidade de espécies vegetais, torna-se o principal suporte
alimentar dos caprinos. Além da importância biológica, a caatinga apresenta
potencial econômico ainda pouco valorizado no âmbito das plantas
forrageiras, a exemplo de espécies como pau-ferro, catingueira, mororó e
juazeiro, que são utilizadas como opção alimentar para caprinos, ovinos e
bovinos. Além disso, a região Nordeste tem mais de 80% de sua área
coberta pela vegetação nativa da caatinga, a qual, por apresentar em muitas
de suas espécies caule rico em nutrientes e com boa reserva de água, pode
alimentar grande número de caprinos e ovinos. No entanto, durante a época
seca, o uso dessa vegetação como única fonte de alimentos limita o
potencial produtivo e reprodutivo do rebanho; por esse motivo, é feita a
suplementação alimentar, quase sempre numa operação que se pode
chamar de “ prática de salvar animais”.
Teoricamente, há resultados de pesquisas que disponibilizam práticas
de convívio para esse período de estiagem e que permitem minimizar a
perda econômica provocada pelo baixo nível de produção e produtividade
dos caprinos ou, pelo menos, ajudam na manutenção dos animais. Entre
essas recomendações estão a silagem de milho, o sorgo, o capim-elefante,
como também o feno e a amonização, entre outros, que são pouco
utilizados pelos produtores componentes desta pesquisa.
Entende-se que a caatinga é uma excelente fonte alimentar no
período chuvoso. Não obstante, é necessário aumentar o seu potencial
produtivo e a racionalidade do seu uso, como, por exemplo, utilizando o
raleamento, o rebaixamento ou o seu enriquecimento. Além disso, podem-
se, também, utilizar algumas formas de manejo adaptadas, como o sistema
CBL (caatinga, buffel e leucena), desenvolvido por pesquisadores do
CPATSA. Nesse sistema, a caatinga seria utilizada pelo período de três a
quatro meses, quando a oferta de alimentos é satisfatória, tanto em termos
qualitativos quanto quantitativos. Na fase seguinte, quando rareia a
alimentação na caatinga, há também a sugestão de que o rebanho passe a
ser alimentado com capim-buffel. A leucena é uma leguminosa arbustiva que
complementaria a alimentação. Outras alternativas alimentares
recomendadas pela pesquisa técnica poderiam ser introduzidas no sistema,
a exemplo da palma forrageira e da maniçoba.
Não obstante o exposto, entende-se que para ter êxito em qualquer
exploração pecuária é necessário o conhecimento das condições fisiológicas
normais dos animais, as quais são influenciadas pelo ambiente, pelas
práticas de manejo e pelo genótipo. O ambiente e o manejo inadequados
são responsáveis pelo aparecimento de doenças no rebanho; quanto a esse
aspecto sanitário, podem-se citar fatores desfavoráveis, como o descontrole
com as vacinações e vermifugações do rebanho, pois os produtores, na sua
maioria, não trabalham com calendário sistematizado de vacinações e
vermifugações.
Ressalte-se que a manutenção da saúde de um rebanho tem início
com uma adequada educação sanitária das pessoas envolvidas e com uma
equilibrada alimentação. Assim, um rebanho bem alimentado é saudável e
resiste melhor às doenças.
A saúde dos caprinos também recebe influência das instalações.
Quando construídas adequadamente, proporcionam conforto e proteção,
facilitam o manejo e contribuem para manter a saúde desses animais. Por
outro lado, o melhoramento genético e a escrituração zootécnica ainda se
encontram bastante dissonantes das recomendações técnicas.
Deve-se enfatizar que a organização do trabalho nessas propriedades
se assenta basicamente sobre a família, incluindo o próprio proprietário e
seus dependentes. Necessário se faz a implementação de processos
educativos a partir de um enfoque humanista e construtivista, visando à
formação de competências e mudanças de atitudes e procedimentos dos
atores sociais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.
Diante dos aspectos apresentados, nota-se uma semelhança do
modo de exploração dos caprinos com o de gerações passadas, requerendo
uma maior atuação da Extensão Rural, no sentido de uma articulação capaz
de organizar capital humano e recursos financeiros a partir de parcerias
solidárias e comprometidas com o desenvolvimento e o fortalecimento da
caprinocultura.
O intenso processo de modernização da pecuária brasileira,
principalmente a partir dos anos 80, trouxe, por um lado, o aumento da
geração de empregos e renda para os setores mais dinâmicos do
agronegócio e, por outro, o maior distanciamento entre aqueles
tecnologicamente atualizados e os pequenos pecuaristas com baixa
capacidade de absorver tecnologias produzidas pela pesquisa agropecuária.
Para reduzir o fosso entre esses produtores, o papel dos agentes de
extensão rural pode ser crucial.
Nesse contexto, a capacitação surge como um instrumento de
extensão rural que desperta o significado educativo das ações
extensionistas, para o desenvolvimento da caprinocultura no semi-árido
nordestino, levando até os agentes de desenvolvimento rural e aos próprios
caprinocultores o estado da arte na caprinocultura e a convergência deste
com o conhecimento dos produtores. Torna-se, assim, um jogo entre a
produção e a aplicação do saber em um corpo composto por um manual
técnico utilizado pelos agentes de desenvolvimento e caprinocultores, ao
mesmo tempo em que se deve privilegiar o potencial endógeno das
comunidades e territórios, resgatar e interagir com o conhecimento dos
caprinocultores e estimular o uso sustentável dos recursos locais.
Evidentemente, há uma série de fatores que não dependem de
soluções tecnológicas, e sim de políticas públicas voltadas para a
atividade; a organização dos produtores em associações e até cooperativas
pode contribuir bastante para o estabelecimento dessas políticas.
REFERÊNCIAS
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www.intercom.org.br >. Acesso em: 2/09/2006.
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1993.
APÊNDICE
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL
QUESTIONÁRIO PARA CAPRINOCULTORES DO MUNICÍPIO DE
PETROLINA-PE
Questionário nº ______________________
Nome do Produtor
(a)______________________________________________
_____________________________________________________________
Núcleo_______________________________________________________
Associação____________________________________________________
Data_________________
1. Características dos produtores e dos estabelecimentos
1.1 Qual a área da sua propriedade?
a) Até 10 ha
b) De 11 a 20 ha
c) De 21 a 50 ha
d) Acima de 50 há
1.2 Qual a área plantada ou existente com cultivos forrageiros e vegetação
nativa, de acordo com a tabela abaixo?
Caatinga
(ha)
C.
buffel
(ha)
Capim
corrente
(ha)
C.
elefante
(ha)
Guandu
(ha)
Maniçoba
(ha)
Leucena
(ha)
Melancia
forrageira
(ha)
Milheto
(ha)
Palma
(ha)
Sorgo
(ha)
1.2.1 Nos últimos anos, o senhor (a) tem mantido as mesmas áreas de
pastagens?
( ) Sim
( ) Não
1.2.2 Elas sofreram algum tipo de alteração?
( ) Sim
( ) Não
1.2.3 Se a sua resposta foi afirmativa, informar o porquê das alterações.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.2.4. Existe algum procedimento técnico para implantação, manutenção e
conservação das pastagens e manejo da caatinga?
( ) Sim
( ) Não
1.2.5 Caso a sua resposta seja afirmativa, citar quais.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.2.6 Em função de que fatores é determinada a área das pastagens?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.3 Qual a quantidade de caprinos e ovinos criados na sua propriedade?
( ) até 100 cabeças
( ) 101 a 200 cabeças
( ) 201 a 500 cabeças
( ) Acima de 500 cabeças
1.3.1 Qual a finalidade da criação desses animais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.3.2 A manutenção da família depende dessa exploração?
( ) Sim
( ) Não
1.3.3 Quantas pessoas da família trabalham diretamente com caprinos?
________________________________________________________
1.3.4 Quem são? ______________________________________________
________________________________________________________
1.3.5 A exploração desses animais contribui para trazer inovações ou
manutenção de outras atividades na propriedade?
( ) Sim
( ) Não
1.3.6 Quais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4 O senhor (a) utiliza algum critério que determina o tamanho do seu
rebanho?
( ) Sim
( ) Não
1.4.1 Se sua resposta foi afirmativa, citar quais os critérios utilizados.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.2 O senhor (a) ou alguém da família já participou de algum tipo de
capacitação na área de pastagens e manejo da caatinga?
( ) Sim
( ) Não
1.4.3 E com relação ao manejo geral do rebanho de caprinos?
( ) Sim
( ) Não
1.4.4 Há quanto tempo ocorreu o treinamento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.5 Quem participou do treinamento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.6 Onde ocorreu o treinamento (local)?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.7 Quem ministrou o treinamento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.8 Com que freqüência ocorrem os treinamentos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.9 Esse treinamento contribuiu para melhoria do rebanho?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
1.4.10 O que poderá ser feito para melhorar o conhecimento na área da
caprinocultura?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2. Uso de Tecnologias
2.1. Marque as tecnologias que são utilizadas na sua propriedade.
( ) Silagem
2.1.1. Qual material é ensilado?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.1.2. Qual o tipo de silo utilizado?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Fenação.
2.2.1 Que material é fenado?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.2.2 Como é feito o enfardamento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Vacinação.
2.3.1 Contra quais doenças?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Combate a endo e ectoparasitas.
2.4.1 Com que freqüência são adotados esses procedimentos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Melhoramento Genético.
2.5.1Como é feito este melhoramento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.5.2 Qual o objetivo principal?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Suplementação alimentar
2.6.1 Que ingredientes são utilizados?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.6.2 Estes ingredientes são produzidos na propriedade?
Sim ( ) Não ( )
( ) Inseminação artificial.
2.7.1 Por que é feita?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.7.2 Houve melhoria dos índices de produtividade do rebanho quando se
utilizou esta técnica?
Sim ( ) Não ( )
( ) Monta controlada.
2.8.1 Como é feito este procedimento?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
( ) Controle zootécnico.
2.9.1 Quais as principais anotações?
( ) Outras. Citar quais. __________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2.10 O senhor (a) utiliza sementes melhoradas?
Sim ( ) Não ( )
2.11 O senhor(a) utiliza adubo orgânico?
Sim ( ) Não ( )
2.12 O senhor ( ) utiliza adubo químico?
Sim ( ) Não ( )
2.13 O senhor prepara o solo com tração animal?
Sim ( ) Não ( )
2.14 Utiliza a tração mecânica?
Sim ( ) Não ( )
2.2 Instalações. Marque Sim ou Não.
2.2.1 Galpão /Depósito___________
2.2.2 Chiqueiro_____________
2.2.3 Aprisco (de chão batido ou piso elevado)__________
2.2.4 Brete____________
2.2.5 Cercas divisórias na caatinga______________
2.2.6 Cercas divisórias nos pastos cultivados ____________
3. Força de Trabalho
3.1 A força de trabalho utilizada na sua propriedade é:
(a) Exclusivamente familiar.
(b) A família e mais a mão-de-obra terceirizada.
(c) Terceirizada
(d) Meeiro
3.2 Qual o tamanho da sua família?
___________________________________________________________
3.3 Quantos estão envolvidos na atividade?________________________
3.4 Quem são? ________________________________________________
3.5 Qual a renda média bruta proveniente da caprinocultura?
_____________________________________________________________
3.6 A família utiliza os subprodutos dos caprinos?
( ) Sim
( ) Não
3.6.1 Se sua resposta for afirmativa, citar quais.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
3.7 A família utiliza o leite de cabra como fonte de alimentação?
( ) Sim
( ) Não
3.7.1 Por quê?_________________________________________________
_____________________________________________________________
3.7.2 Por quem é utilizado?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4. Comercialização
4.1 Como é feita a comercialização dos animais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
____________________________________________________________
4.2 Quem faz esta comercialização?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.3 Onde é feita a comercialização?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.4 Quais são os critérios utilizados para a venda dos animais, como, por
exemplo, o descarte, o peso vivo, a idade.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.5 Como é estipulado o preço final da venda?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.6 Os subprodutos (pele, vísceras, etc.) dos caprinos também são
comercializados?
( ) Sim
( ) Não
4.6.1 Por quem é feito?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.6.2 Onde é comercializado?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.6.3 O que a família faz para agregar valores aos subprodutos?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
4.6.4 Como é determinado o preço final da venda?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
5. Crédito
5.1 O senhor (a) utiliza ou já utilizou alguma linha de crédito para exploração
de caprinos?
( ) Sim
( ) Não
5.2 Se sua resposta for afirmativa, citar qual a linha de crédito e seus
benefícios.
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
5.2.1
Instituição_____________________________________________________
_____________________________________________________________
6 PROBLEMAS MAIORES DA CAPRINOOVINOCULTURA
( NUMERAR POR ORDEM DE IMPORTÂNCIA)
6.1 Escassez de forragem:_______________
6.2 Doenças:_________________
6.3 Animais de baixa qualidade:_______________
6.4 Falta de assistência técnica:_______________
6.5 Falta de capacitação do produtor:___________
6.6 Insumos e serviços muito caros:______________
6.7 Falta de crédito:__________________________
6.8 Crédito caro:_____________________________
6.9 Preços baixos dos produtos caprinos/ovinos:____
6.10 Processo de comercialização deficiente:_______
6.11 Roubos de animais:_______________________
6.12 Falta de organização do produtor:____________
6.13 Outros
(especificar):________________________
___________________________________________
___________________________________________
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